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Aos dez de outubro de 2019, às 17:00 horas, na sala de audiências da 8ª Vara do

Trabalho de Contagem/MG, presente o Dr. Mário Baêta, Juiz do Trabalho, foi


realizada a audiência de leitura e publicação de sentença nos autos da ação trabalhista
postulada por Maria do Rosário em face de Lojão do Povo Ltda.
Aberta a audiência foram, de ordem do MM. Juiz do Trabalho, apregoadas as partes.
Ausentes.
A seguir, passou o Juiz a proferir a seguinte decisão:
Vistos etc...
MARIA DO ROSÁRIO, qualificada no preâmbulo da inicial, ajuíza ação trabalhista
em face de LOJÃO DO POVO LTDA. alegando ter sido contratada pelo réu em
10.12.2017, para o exercício da função de vendedora, percebendo salário equivalente a
comissões no importe de 5% sobre o valor das vendas. Narra que, ao longo de todo o
contrato, laborou em jornadas que se iniciavam às … . Pede as horas extras pela
extrapolação da carga semanal e o pagamento de indenização de trinta minutos pela não
concessão regular do intervalo intrajornada, além dos reflexos das horas extras. Alega
que a sua dispensa foi nula, eis que está acometida de grave doença, marcada por
estigma, o que ensejou a extinção contratual. Pugna pelo retorno às atividades com o
pagamento dos salários desde a dispensa ilícita - 08/10/2019 - e até o seu efetivo
retorno. Com a inicial vieram os documentos de fls. xx, a procuração e a declaração de
pobreza.
Citada, fez-se representada a Ré em audiência onde, recusada a conciliação, apresentou
sua defesa alegando que as comissões remuneram todas as horas laboradas, sendo
indevidas as horas extras pleiteadas. Ademais, no que concerne ao intervalo
intrajornada, argumenta ter combinado com a obreira, em acordo verbal, a sua redução
para trinta minutos. Resiste quanto à nulidade da dispensa, argumentando não ter
obrigação de manter em seus quadros uma empregada que não tenha plenas condições
de trabalho. Acrescenta que detém o direito potestativo de resilição contratual, não
tendo uma decisão judicial (referindo-se ao entendimento sumulado do TST) o condão
de limitá-lo. Com a peça de resistência juntava os documentos de fls. xxx, carta de
preposição e procuração.
Após manifestação da Autora, quanto aos documentos apresentados com a contestação,
na mesma assentada, foi ouvida a obreira e duas testemunhas arroladas pelas partes
(uma trazida pela autora e a outra pela ré). Foi indeferida a oitiva do depoimento
pessoal do preposto, sob protestos da autora.
Encerrada a instrução, produziram, as partes, suas razões finais orais.
Julgamento sine die.
É o relatório.
INDEFERIMENTO DA OITIVA DO DEPOIMENTO PESSOAL DA RÉ
Sem lugar o protesto da Autora.
A teor do art. 765, da CLT, compete ao juiz a ampla direção do processo, aí incluídas as
prerrogativas de determinar a realização das provas necessárias para a instrução do feito
e indeferir aquelas entendidas como desnecessárias, em atendimento aos princípios da
celeridade processual e do livre convencimento.
Ressalte-se que, em consonância com o artigo 5º, do CPC/15, as partes devem
"cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e
efetiva", justificando-se, em nome da celeridade, o indeferimento de pleitos
desnecessários.
Logo, nada havendo a acrescentar, eis que o convencimento do juízo já havia se
formado, inexiste necessidade/utilidade processual na oitiva do depoimento pessoal do
preposto da ré.
JORNADA
I.I. HORAS EXTRAS
Improcede a pretensão da obreira relativa às horas extras e reflexos.
De fato, laborando por 10 horas e 30 minutos diários, o que foi comprovado pela prova
oral, percebendo a contraprestação mensal por comissões, estas já remuneram todo o
período laborado. Aliás, a quitação do período de trabalho, a partir do salário variável,
suplanta a previsão constitucional do art. 7º, inciso XIII, pois quanto mais trabalhar,
maior será a renda auferida. Não há que se falar em limitação de jornada ou de carga de
trabalho para empregados comissionistas.

I.II. INTERVALO INTRAJORNADA. INDENIZAÇÃO INDEVIDA.


Já no que concerne às horas extras fictas, mais uma vez, não há respaldo jurídico a
amparar a pretensão da autora.
Privilegia-se a autonomia da vontade individual. Considerando que as partes acordaram
a redução do intervalo intrajornada para 30 minutos, certamente atende aos anseios e às
particularidades da relação jurídica. Aliás, a redução do intervalo intrajornada para 30
minutos, mediante acordo prévio entabulado, está autorizada pelo artigo 611-A, inciso
III, da CLT.
Logo, por tais fundamentos, julgo improcedente o pedido de indenização pela não
concessão do intervalo intrajornada de forma regular.

II. VALIDADE DA DISPENSA


Argumenta a autora que a sua dispensa foi inválida, pois estaria acometida de neoplasia
maligna (câncer).
Inicialmente, insta destacar que a autora não logrou êxito em comprovar que a ré tinha
ciência inequívoca da doença que lhe acomete, à época em que a dispensou. Não se
olvida que as provas dos autos demonstram o estado avançado em que a moléstia se
encontra, mas não pode ser o empregador responsabilizado pelas mazelas que assolam
as vidas dos empregados que lhes prestam serviços.
A presunção da discriminação na ruptura contratual exige prova robusta do ato
antijurídico patronal, o que não se verifica, in casu. Desconsidero, pela parcialidade
evidenciada, o depoimento da testemunha arrolada pela autora que afirmou ter ouvido a
chefe do setor de pessoal dizer que "não dá mais para segurar os problemas dos outros.
É hora de substituir a Aurora".
Julgou improcedente a pretensão.
Apresentada a declaração de pobreza, defere-se a justiça gratuita.
Com estes fundamentos, julgo improcedentes os pedidos formulados por MARIA DO
ROSÁRIO em face de LOJÃO DO POVO LTDA., condenando a Autora no
pagamento das custas processuais no importe de R$1.000,00, calculadas sobre R
$50.000,00, valor atribuído à causa, isenta.
Dispensadas as intimações.
A seguir, encerrou-se a audiência.
Você foi procurado por MARIA DO ROSÁRIO que pediu-lhe que recorresse,
outorgando-lhe poderes por meio de uma procuração.

AO JUÍZO DA 8ª VARA DO TRABALHO DE CONTAGEM - MG

Processo nº …

MARIA DO ROSÁRIO, já qualificada nos autos da Ação Trabalhista em


epígrafe que move em face de LOJÃO DO POVO LTDA., vem perante Vossa
Excelência, por meio de seu advogado infra assinado, irresignada com a
sentença de fls., interpor tempestivamente, no prazo de 8 dias úteis, sendo o
termo final o dia 22/10/2019, com fulcro no art. 895, I da CLT, o presente
RECURSO ORDINÁRIO, pelas razões inclusas.

Requer a juntada da procuração para constituir novo advogado, em nome do


qual deverão ser feitas as futuras intimações, sob pena de nulidade.

Ante o deferimento da gratuidade de justiça, deixa a Recorrente de recolher


custas.

Requer, assim, seja o recurso admitido, aberta vista ao Recorrido para se


manifestar no prazo legal e, na sequência, remetidos os autos ao Tribunal
Regional do Trabalho da 3ª Região, para que seja conhecido e provido o
recurso, a fim de cassar ou, eventualmente, reformar a sentença para julgar
procedentes os pedidos conforme razões inclusas.

Nestes termos, pede deferimento.

Local … Data … Advogado … OAB …

AO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 3ª REGIÃO


RAZÕES DO RECURSO ORDINÁRIO

Pela parte recorrente, MARIA DO ROSÁRIO

Egrégia turma,
1. PRELIMIMINAR

CERCEAMENTO DE DEFESA

Na segunda assentada, a Recorrente requereu o depoimento pessoal da


Recorrida, o que foi indeferido e registrado o protesto. Na sentença, manteve-
se o indeferimento, sob o fundamento de que compete ao Juízo a definição das
provas a serem produzidas.

Da leitura conjugada dos arts. 820 e 848 da CLT e do art. 385 do CPC,
percebe-se que o depoimento pessoal da contraparte é um direito da parte
interessada, sendo certo que o indeferimento pelo Juízo configura manifesto
cerceamento de defesa, em atenção ao art. 5º, LIV e LV da CR/88.

Ante o flagrante erro de procedimento, que foi devidamente protestado e que


acarretou prejuízos à Ré ante a improcedência de pedidos pela ausência de
provas, impõe-se o acolhimento desta preliminar para cassar a sentença em
razão de sua nulidade, remetendo-se os autos à instância de origem para que
se retifique a instrução e, ao final, seja proferida nova sentença.

Eventualmente, que se reconheça a nulidade da sentença e seja o mérito


julgado por este Tribunal, por força da teoria da causa madura preceituada no
art. 1.013, CPC.

2. MÉRITO

2.1. HORAS EXTRAS

A Recorrente, comissionista pura, laborou das 08:00 às 19:00, com trinta


minutos de intervalo intrajornada, seis dias na semana, o que já constitui fato
incontroverso nestes autos. Contudo, ainda que evidente o direito ao adicional
pelo período extraordinário, entendeu o Juízo que as comissões já remuneram
todo o período laborado.

Os arts. 58 da CLT e 7º, XIII da CR/88 fixam a jornada máxima de 08 horas,


inclusive para empregados comissionistas, sendo certo que os arts. 7º, XVI da
CR/88 e 59, §1º da CLT prevêem que a remuneração da hora extra será pelo
menos 50% superior à da hora normal. E, em relação ao comissionista puro,
como as comissões já pagam as horas extras, ele tem direito tão somente ao
adicional, a teor da súmula nº 340 do TST.
Destarte, tendo a Recorrente desempenhado jornada de 10 horas e 30
minutos, fato incontroverso e corroborado pela prova testemunhal, a sentença
há de ser reformada para que a Recorrida seja condenada ao pagamento
apenas do adicional de horas extras sobre 2 horas e 30 minutos por dia
durante todo o pacto laboral.

2.2. INDENIZAÇÃO PELO INTERVALO SUPRIMIDO


*Art. 444 da CLT → empregado hiper suficiente.

A Recorrente, que desempenha jornada superior a 6 horas, gozara de intervalo


intrajornada de apenas 30 minutos, o que já é fato incontroveso. Apesar de
evidentemente inferior ao mínimo legal, entendeu o magistrado primevo pela
validade de suposto acordo verbal que teria reduzido referido intervalo para 30
minutos.

Fixa o art. 71 da CLT que para as jornadas superior a 6 horas é impositiva a


concessão do intervalo intrajornada mínimo de uma hora, sendo que a
concessão parcial exige o pagamento do período suprimido com acréscimo de
50% sobre o valor da hora normal, nos termos do §4º daquele mesmo artigo e
da súmula nº 118 do TST.

Ainda, consoante se observa também do art. 71 e do inciso III do art. 611-A da


CLT, referido patamar mínimo só pode ser reduzido por convenção coletiva ou
acordo coletivo de trabalho.

Dessa forma, ante a inaptidão do suposto acordo verbal regular a redução do


intervalo intrajornada, a sentença deve ser reformada para que a Recorrida
seja condenada ao pagamento do intervalo suprimido de 30 minutos acrescido
do adicional de 50%, durante todo o pacto laboral.

3.3. DA NULIDADE DA DISPENSA

Entendeu o Juízo a quo, mesmo reconhecendo o avançado quadro clínico de


neoplasia maligna da Recorrente, que a mesma não faz jus à reintegração
porque não comprovou que a Recorrida tinha ciência inequívoca da doença
quando da dispensa e tampouco fez prova da discriminação na ruptura
contratual.

Ocorre que, nos termos da súmula nº 443 do TST, como se presume


discriminatória a dispensa do empregado portador de doença grave, o ônus da
prova é do empregador — no caso, a Recorrida.
Ainda que não se pense dessa forma, trata-se a doença e seu conhecimento
pela Recorrida de fato incontroverso nos termos do art. 374 do CPC, haja vista
que esta matéria não foi objeto de impugnação no bojo da defesa e, inclusive,
restou confirmada pela prova testemunhal.

Assim, na medida em que a Recorrente se desincumbiu de seu ônus probatório


e que se trata de fato incontroverso, a sentença deve ser reformada para que o
pedido de reintegração seja julgado procedente na forma deduzida na inicial.

3. CONCLUSÃO

Pelo exposto, requer seja conhecido e provido o Recurso Ordinário para cassar
ou eventualmente reformar a sentença, julgando-se procedentes os pedidos
iniciais, invertendo-se os ônus sucumbenciais.

Local e data.

Advogado e OAB. Endereço profissional. Endereço eletrônico.

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