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Estado do Rio de Janeiro Poder Judiciário

Tribunal de Justiça
Comarca da Capital 1357
Cartório da 21ª Vara Cível
Av Erasmo Braga, 115 Salas 373,375,377DCEP: 20020-903 - Centro - Rio de Janeiro - RJ Tel.: 2588-2248 e-mail:
cap21vciv@tjrj.jus.br

Fls.
Processo: 0478652-36.2015.8.19.0001
Processo Eletrônico

Classe/Assunto: Procedimento Sumário (CADASTRO OU CONVOLAÇÃO ATÉ 17.03.2016) -


Dano Material - Outros/ Indenização Por Dano Material; Dano Moral - Outros/ Indenização Por
Dano Moral

Autor: LUIZ FERNANDO JOPPERT


Réu: MARCELO BRAKARZ
Réu: CONDOMÍNIO DO EDIFÍCIO VAN GOGH
Interessado: DANIEL ROCHA MAIA
Perito: SELMA FUKS BENCHIMOL

___________________________________________________________

Nesta data, faço os autos conclusos ao MM. Dr. Juiz


Luiz Eduardo de Castro Neves

Em 25/01/2024

Sentença
Relatório

Trata-se de ação proposta por Luiz Fernando Joppert em face de Marcelo Brakarz e outro. Em sua
inicial, o autor alega, em síntese, que é proprietário do apartamento 102 localizado no condomínio
réu; que em agosto de 2012 verificou sinais de infiltrações na cozinha de sua unidade; que, ao
longo dos anos, fez diversas reclamações, sem êxito; que apenas em 2014 começaram as obras
para conserto do problema; que o fato causou inúmeros problemas ao apartamento do autor.

Manifestações das partes (index 168, 170, 175, 191).

Audiência de conciliação (index 210).

Em sua contestação (index 215), o primeiro réu, Marcelo Brakarz, sustenta, em síntese, que há
prescrição; que não há prova de que há parcialidade no laudo apresentado; que não há prova de
que os problemas indicados na inicial tenham sido causados pelo réu; que não há dano moral a
ser indenizado.

Em sua contestação (index 232), o segundo réu, Condomínio do Edifício Van Gogh, apresenta
impugnação ao valor da causa e preliminar de inépcia da inicial e, no mérito, sustenta, em síntese,
que há prescrição; que os orçamentos apresentados são superiores ao dano ao imóvel; que as
obras foram realizadas; que as infiltrações são provenientes da unidade 202; que não há dano
moral a ser indenizado; apresenta impugnação aos danos materiais pretendidos.

Manifestações das partes (index 301, 305, 353, 356, 358).

Foi proferida decisão acolhendo a impugnação ao valor da causa (index 362).

110 LUCIANABARCELOS
Estado do Rio de Janeiro Poder Judiciário
Tribunal de Justiça
Comarca da Capital 1358
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Av Erasmo Braga, 115 Salas 373,375,377DCEP: 20020-903 - Centro - Rio de Janeiro - RJ Tel.: 2588-2248 e-mail:
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Apresentada petição emendando a inicial para adequar o valor da causa (index 373).

Manifestações das partes (index 377).

Decisão saneando o processo (index 383), afastando a preliminar de inépcia.

Manifestações das partes, da perita e do assistente técnico (index 394, 397, 405, 416, 424, 429,
431, 442, 451, 454, 456, 472, 480, 485, 492, 495, 511, 522, 526, 535, 544, 557, 571, 584, 590,
596, 598, 607, 626, 713, 773, 861, 895, 905, 945, 953, 956, 962, 966, 978, 986, 990, 1004, 1061,
1065, 1069, 1089, 1113, 1131, 1133, 1194, 1267, 1323, 1326, 1348, 1350).

É o relatório.

Fundamentação

Inicialmente, cabe observar que desnecessária a remessa dos autos à perita que, diante de
questionamentos feitos, já prestou diversos esclarecimentos adicionais (index 861, 945, 1112 e
1323), tendo analisado o caso de forma adequada, diante das informações existentes no momento
da realização da perícia.

Note-se que o laudo (index 626) registra que "o apartamento não possuía ponto de infiltração
ativa, ou seja, os problemas já haviam sido sanados, dessa forma testes não puderam ser
realizados buscando a origem da infiltração."

Neste particular, cabe destacar que os vazamentos se iniciaram em 2012 e a ação foi proposta em
2015. Assim, quando a perícia foi realizada em 2020, os problemas já tinham sido sanados, o que
dificultou a apresentação de alguns esclarecimentos que, como se verá, não impediram a
elaboração de laudo e verificação de responsabilidades pelos vazamentos identificados.

A perita registrou que a "1ª e 2ª diligências periciais ocorreram a aproximadamente 5 (cinco) anos
após o primeiro Parecer Técnico de seu assistente técnico, fato esse extremamente relevante para
justificar a dificuldade na apuração de alguns itens." Assim, natural que existissem algumas
dificuldades para elaboração do laudo.

Cumpre observar, ainda, que o relato feito na inicial e as provas produzidas demonstram que
ainda que tenha havido alguma demora do autor em propor a ação, também fica evidente o
enorme esforço do autor em resolver a questão de forma administrativa, com inúmeras
reclamações feitas com os réus, que, como também resta demonstrado nos autos, foram inertes
em solucionar a questão, o que somente foi feito após o ingresso da ação.

Assim, não há motivo para que sejam prestados novos esclarecimentos pela perita, razão pela
qual nova remessa dos autos à perito retardaria injustificadamente o julgamento do processo, sem
benefícios para a solução do caso.

Da mesma forma, não há razão para designação de novo perito, já que uma nova perícia
enfrentaria as mesmas dificuldades de exame do caso que a perícia realizada encontrou e,
obviamente, também retardaria o julgamento do feito sem benefícios para a instrução do caso.

No mérito, cabe afastar a alegação de prescrição, já que quando a ação foi proposta ainda não
tinham sido concluídas as obras de reparo necessárias para sanar as infiltrações, razão pela qual
ainda não tinha começado a fluir o prazo prescricional.

110 LUCIANABARCELOS
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Em relação aos problemas narrados na inicial, o exame feito pela perita é conclusivo em
demonstrar que os vazamentos ocorridos causaram danos ao apartamento do autor e em indicar o
prejuízo de R$ 33.361,02 (trinta e três mil, trezentos e sessenta e um reais e dois centavos), valor
aferido em 24/01/2021. Note-se que a quantia foi devidamente fundamentada em razão da
metragem do imóvel, dos prejuízos apurados e dos custos estimados em razão do mercado (index
861).

Note-se que a perita esclarece que "após a conclusão dos reparos, isto posto com o cessar das
infiltrações, e ainda decorridos mais de 5(cinco) anos após a constatação dos vazamentos, é
impossível deduzir qual o percentual caberia para cada um dos réus, nos danos da cozinha e área
de serviço do apartamento 102" (fls. 862).

De todo modo, a perita conclui que a responsabilidade pelos vazamentos é conjunta dos réus, já
que "ocorreram dois reparos, já sanados por ocasião das diligências, mas que de certa forma
corroboram com a Perita sobre a responsabilidade conjunta dos danos na cozinha e área de
serviço".

Com efeito, segundo a perita "Seguindo o raciocínio da responsabilidade conjunta, de acordo com
minuciosa análise durante as diligências realizadas, levando-se em consideração que o
deslocamento do fluído (água) sempre busca o caminho mais fácil, mas nem sempre o mais
evidente a olho nu. Fato este que sugere que a origem da infiltração não necessariamente precisa
estar imediatamente em cima do dano, tendo em vista fatores como declividade, diferença de
materiais envolvidos e outros. Dessa forma, a Perita mantém seu entendimento de que a
responsabilidade da infiltração da cozinha e da área de serviço é de responsabilidade conjunta."

De fato, é bastante lógica a constatação feita pela perita, já que os reparos feitos conjuntamente
pelos réus sanaram o problema, sendo, de fato, bastante provável que os vazamentos fossem
causados pelos dois réus. Aliás, se tal situação não ocorresse, certamente apenas um dos réus
teria feito o conserto e o outro, que não teria qualquer responsabilidade pelo problema, certamente
se recusaria a realizar reparos.

Note-se, ainda, que eximir os réus de suas responsabilidades de indenizar o autor pelos prejuízos
causados seria verdadeira injustiça com o autor que não deu causa ao problema e teve o prejuízo
devidamente comprovado nos autos.

Nestes termos, o prejuízo imposto ao autor deve ser dividido pelos réus, já que ambos deram
causa ao problema de forma conjunta, nos termos acima indicados.

Cumpre destacar que ainda na manifestação de index 945, a perita demonstra a parcialidade do
assistente técnico ao tentar eximir a responsabilidade do condomínio, tese que não pode
prevalecer.

Não há dúvida que os transtornos inerentes dos vazamentos ocorridos e a demora dos réus em
resolver a situação causaram angústias e sofrimento, de forma a caracterizar o dano moral, a ser
indenizado observando os valores envolvidos na demanda. A responsabilidade é igualmente
solidária, nos termos acima indicados.

Por fim, tendo em vista que o problema já foi sanado, houve perda do objeto em relação ao pedido
"c" da inicial, sendo certo que eventual problema relacionado a vazamento que volte a ocorrer,
será um fato novo e poderá ensejar o ingresso de nova ação, resguardado o direito de defesa das
partes.

Dispositivo

110 LUCIANABARCELOS
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Diante do exposto, julgo procedente o pedido para condenar os réus, solidariamente, a pagar ao
autor R$ 33.361,02 (trinta e três mil, trezentos e sessenta e um reais e dois centavos), trinta e três
mil, trezentos e sessenta e um reais e dois centavos), quantia a ser corrigida e acrescida de juros
legais desde 24/01/2021, data de apuração de tal débito.

Condeno os réus, solidariamente, a pagar ao autor R$ 10.000,00 (dez mil reais), pelos danos
morais, valor a ser corrigido a partir da data deste julgado, nos termos da Súmula 97 do E.
Tribunal de Justiça, e acrescido de juros de 1% (um por cento ao mês) na vigência do CC/2002,
desde a citação.

Julgo extinto o pedido "c" da inicial, nos termos do artigo 485, VI do CPC.

Condeno os réus em custas e honorários de 10 % sobre o valor da condenação, nos termos do


artigo 85, § 2º do CPC. PRI.

Rio de Janeiro, 01/02/2024.

Luiz Eduardo de Castro Neves - Juiz Titular

___________________________________________________________

Autos recebidos do MM. Dr. Juiz

Luiz Eduardo de Castro Neves

Em ____/____/_____

Código de Autenticação: 43GV.AM2P.BRX2.D7U3


Este código pode ser verificado em: www.tjrj.jus.br – Serviços – Validação de documentos
Øþ

110 LUCIANABARCELOS

LUIZ EDUARDO DE CASTRO NEVES:24118 Assinado em 01/02/2024 16:07:02


Local: TJ-RJ

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