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Poder Judiciário
Justiça do Trabalho
Tribunal Regional do Trabalho da 14ª Região

Ação Trabalhista - Rito Ordinário


0000088-33.2022.5.14.0008

Processo Judicial Eletrônico

Data da Autuação: 14/02/2022


Valor da causa: R$ 50.406,00

Partes:
RECLAMANTE: JANIO FLAVIO TEIXEIRA
ADVOGADO: SAMUEL DE JESUS BARBOSA
RECLAMADO: EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUARIA
ADVOGADO: ANDRE ALEXANDRE TAVARES LEMOS
ADVOGADO: JULIANA DA ROCHA COELHO
PERITO: WELLINGTON SANTIAGO PEREIRA
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PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 14ª REGIÃO
8ª VARA DO TRABALHO DE PORTO VELHO
ATOrd 0000088-33.2022.5.14.0008
RECLAMANTE: JANIO FLAVIO TEIXEIRA
RECLAMADO: EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUARIA

SENTENÇA

RELATÓRIO

Janio Flavio Teixeira  ajuizou reclamação trabalhista em face


de Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, partes qualificadas, alegando que foi
admitido em 22/07/2003, para exercer a função de técnico – trabalhador rural, estando
o contrato de trabalho em vigência. Alega que faz jus a horas extras pela supressão de
pausa térmica, justiça gratuita e honorários advocatícios. Atribuiu à causa o valor de
R$50.406,00. A reclamada compareceu à audiência inicial, apresentou defesa e
documentos. Foi realizada perícia técnica. Foram colhidos os depoimentos de
testemunhas. Não havendo outras provas a serem produzidas, a instrução foi
encerrada.

Razões finais na forma de memoriais pelas partes.

Frustradas as propostas conciliatórias, vieram os autos


conclusos para sentença.

É o relatório.

FUNDAMENTAÇÃO

DIREITO INTERTEMPORAL

Tendo em vista que o contrato de trabalho em epígrafe teve


início em 22/07/2003, encontrando-se vigente, o direito material disposto pela Lei
13.467/2017 será aplicável tão somente para as ocorrências posteriores a 11/11/2017.

Sob outro viés, as normas de direito processual encontram


aplicação imediata, nos termos do art. 14 do CPC, observando-se a teoria do
isolamento dos atos processuais.

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INÉPCIA DA INICIAL

O reclamante apresenta pedidos certos e determinados, com


estimativa do valor correspondente (Instrução Normativa 41/2018, TST), de modo
inadmissível falar-se em desrespeito ao art. 840, §1º, da CLT e consequente extinção do
feito sem resolução do mérito.

De acordo com o aludido dispositivo legal, para que a petição


inicial trabalhista seja válida, basta que haja exposição dos fatos e dos os pedidos
decorrentes, o que restou observado no presente caso.

Rejeito.

PRESCRIÇÃO QUINQUENAL

A prescrição trabalhista está regulada pelo art. 7°, XXIX, da


Constituição Federal, devendo a ação ser ajuizada no prazo de dois após o término do
contrato laboral, podendo o trabalhador pleitear o pagamento das verbas referentes
aos últimos cinco anos, contados do ajuizamento (Súmula 308 do C. TST).

No caso vertente, oportunamente arguida, pronuncio a


prescrição das parcelas condenatórias eventualmente exigíveis anteriormente a 14/02
/2017, porquanto a presente demanda foi intentada em 14/02/2022.

Acolho.

PAUSA TÉRMICA – HORAS EXTRAS 

O reclamante afirma que prestava serviços com exposição a


calor acima dos limites de tolerância, sem que fossem concedidas as pausas previstas
pela NR-15, anexo III, quadro 1. Deseja, assim, o pagamento do período na condição de
horas extras.

Em defesa, a empregadora rechaça a pretensão, negando que o


trabalho fosse desempenhado sempre com exposição solar. Argumenta, ainda, que a
norma invocada não garante a concessão de pausas.

Realizada perícia técnica, o laudo foi conclusivo nos seguintes


termos:

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“Com base nas avaliações in loco onde foram analisados os


riscos potenciais  a  saúde  do  trabalhador  seguindo  as  orientações  técnicas
contidas  na  legislação  vigente,  das  medições  realizadas  e  das  análises
qualitativas    no    pacto   laboral, o    IBUTG    médio   foi    de 30,10, ultrapassando os
limites estabelecidos no quadro “200  kcal/h”, com  máximo  IBUTG “30,0”, assim,
concluo  sob  o  ponto  de  vista  de higiene  e  segurança  do  trabalho
o  enquadramento  das  atividades
desenvolvidas  pelo Reclamante  como  insalubre em  Grau Médio (20%) pelo  Anexo 03
da NR-15, que  esteve vigente até a Portaria 1359 de 09/12/2019”.

Importante notar que, apesar da impugnação apresentada pela


reclamada, o laudo não restou infirmado, de forma contundente, por outros elementos
de prova.

No particular, cabe destacar que, conforme descrito no laudo


pericial, o documento foi elaborado considerando as atividades descritas em relatório
da própria empregadora.

Nesse contexto, as assertivas das testemunhas ouvidas a convite


da reclamada não bastam para infirmar as conclusões do laudo pericial no sentido de
que a maior parte das atividades desempenhadas pelo reclamante eram em campo,
com exposição ao agente físico calor.

Observe-se, nesse particular, que as testemunhas indicadas pela


reclamada consistem em empregados que prestam serviços principalmente na área
administrativa e técnica, não comparecendo diariamente em campo.

A testemunha ouvida a convite do reclamante, por sua vez,


consiste em técnico agrícola, que também trabalha em campo, sendo que confirmou a
tese de que a maior parte dos trabalhos era nessa condição.

Nesse contexto, acolho a conclusão técnica, no sentido de que o


reclamante estava exposto ao agente calor acima dos limites de tolerância, sendo o
IBUTG médio de 30,1.

Compulsando a NR-15, anexo III, com redação vigente até 10/12


/2019, denota-se, no quadro 1, previsão de regime de trabalho intermitente, com
descanso no próprio local de trabalho.

Considerando que o perito técnico atestou que as atividades do


reclamante eram moderadas, bem como tendo em vista o IBUTG médio de 30,1, infere-
se que o regime deveria ser de 15min de trabalho seguidos de 45min de descanso.

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Contudo, a parte reclamada não demonstrou, de forma


satisfatória, que os serviços eram prestados no aludido regime intermitente.

Analisando as apurações do perito técnico, constata-se que o


ciclo de trabalho do reclamante era desenvolvido na média de 48min de trabalho e
12min de descanso.

Além disso, a prova oral autoriza a conclusão de que entre


7h30min e 8h o reclamante não prestava serviço em campo, efetuando tão somente os
preparativos para tanto, como café da manhã e deslocamento.

Também exsurge da prova oral que os empregados eram


liberados do trabalho de campo, para devolução de ferramentas e eventual troca de
roupa, às 12h no turno da manhã e às 16h no turno da tarde.

Diante disso, reputa-se que havia 6h30min de trabalhos diários


em campo.

Nesse contexto, diante da supressão de 33min (45min - 12min)


da pausa térmica total que deveria ser concedida, cabível a condenação no pagamento
do período na condição de horas extras, por aplicação analógica ao art. 71, §4º, da CLT.

Nesse sentido, colhe-se da jurisprudência deste E. TRT:

“RECURSO ORDINÁRIO PATRONAL. SUPRESSÃO DO INTERVALO


PARA RECUPERAÇÃO TÉRMICA. EXPOSIÇÃO AO CALOR. ANEXO 3 DA NR 15. HORAS
EXTRAS DEVIDAS. PERÍODO EFETIVAMENTE EXPOSTO. O entendimento da Corte
Superior Trabalhista é de que o empregado que desempenha atividades laborais com
exposição ao calor excessivo, em atividades de grau leve, moderado ou pesado,
conforme Anexo 3 da NR 15, tem direito a intervalos para recuperação térmica,
considerados esses períodos de descanso tempo de serviço para todos os efeitos
legais, conforme dispõe a norma regulamentadora. Com isso, a supressão do intervalo
pretendido enseja o pagamento de horas extras, conforme arts. 71, §4º, e 253 da CLT.
Recurso patronal improvido (Proc. Nº 0000976-86.2019.5.14.0402; 2ª Turma; Relatora:
Desembargadora Socorro Guimarães; sessão de julgamento virtual realizada nos dias
1º a 6 de dezembro de 2021)”.

Também nessa direção, colaciona-se a jurisprudência do C. TST:

“RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO A ACÓRDÃO PUBLICADO NA


VIGÊNCIA DA LEI N.º 13.467/2017. CALOR EXCESSIVO. INTERVALO PARA RECUPERAÇÃO
TÉRMICA. SUPRESSÃO. HORAS EXTRAS. CUMULAÇÃO COM O ADICIONAL DE
INSALUBRIDADE. POSSIBILIDADE. TRANSCENDÊNCIA POLÍTICA RECONHECIDA. 1 - Trata-

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se de controvérsia acerca do pagamento de horas extras decorrente da supressão do


intervalo para recuperação térmica, em caso de exposição a calor excessivo. 2 - A
jurisprudência iterativa, notória e atual desta Corte superior é no sentido de que a não
concessão do intervalo destinado à recuperação térmica, em razão da exposição a
calor excessivo, gera para o empregado o direito ao pagamento de horas extras
correspondente ao intervalo suprimido. 3 - Ademais, este Tribunal Superior possui
entendimento firme no sentido de que o adicional de insalubridade decorre da
exposição do empregado ao agente insalubre (calor), enquanto o pagamento das
pausas é devido ante a ausência de sua concessão no respectivo período. Consistem,
dessa forma, em verbas distintas, merecidas a títulos diversos. 4 - A tese esposada pela
Corte de origem, no sentido de não reconhecer ao obreiro o direito a horas extras
decorrente da supressão do intervalo para recuperação térmica, contraria a
jurisprudência dominante nesta Corte superior, resultando evidenciada a
transcendência política da causa e a necessidade de reforma da decisão recorrida. 5 -
Recurso de Revista conhecido e provido (Proc. TST-RR nº 604-37.2019.5.13.0024; 6ª
Turma; Relator: Ministro Lelio Bentes Correa; DEJT de 11/03/2022)”.

À vista do exposto, diante da supressão de parte do intervalo


para recuperação térmica, cabível a condenação da parte reclamada no pagamento,
como hora extra, do período de 3h34min por dia laborado (33min a cada hora
laborada em campo), o que é devido entre 14/02/2017 (marco prescricional) e 10/12
/2019 (vigência da redação que ampara na NR-15). Adicional legal de 50%, divisor 200 e
base de cálculo composta pelo conjunto de parcela salariais (Súmula 264 do C. TST).
Haverá reflexos, tão somente até 11/11/2017 (art. 71, §4º, da CLT), em RSR, férias
(acrescidas do terço constitucional), 13° salário e FGTS, observadas as disposições da OJ
394 da SDI-1 do C. TST.

Procedente, nesses termos.

JUSTIÇA GRATUITA

Concedo ao reclamante os benefícios da justiça gratuita,


porquanto se presume verdadeira a declaração de hipossuficiência econômica firmada
por ocasião do ajuizamento da presente demanda (arts. 790, §3º e §4°, da CLT e 98 e
seguintes do CPC).

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

Nos termos do art. 791-A da CLT e considerando que os pedidos


foram julgados procedentes, deferem-se honorários de sucumbência em favor dos

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advogados do reclamante de 10%  sobre o valor que resultar a liquidação, sem a


dedução dos descontos fiscais e previdenciários (OJ 348, SDI1, do C. TST). 

Os honorários são fixados considerando o grau de zelo dos


procuradores, o lugar de prestação do serviço, a natureza e a importância da causa, o
trabalho realizado pelos procuradores e o tempo exigido para os seus serviços (art. 791-
A, §2º, CLT).

HONORÁRIOS PERICIAIS

De acordo com o disposto no art. 790-B, CLT, a parte


sucumbente no objeto da perícia deve arcar com o pagamento dos honorários. No
presente caso, tal ônus deve ser suportado pela reclamada, vez que foi reconhecido
labor insalubre.

Considerando a complexidade da perícia e as circunstâncias em


que a diligência foi cumprida, fixo honorários periciais no valor de R$ 2.000,00

CORREÇÃO MONETÁRIA

Em relação ao tema, assim decidiu o E. STF nas ADC’s 58 e 59 e


ADI’s 5.867 e 6.021:

"6. Em relação à fase extrajudicial, ou seja, a que antecede o


ajuizamento das ações trabalhistas, deverá ser utilizado como indexador o IPCA-E
acumulado no período de janeiro a dezembro de 2000. A partir de janeiro de 2001,
deverá ser utilizado o IPCA-E mensal (IPCA-15/IBGE), em razão da extinção da UFIR
como indexador, nos termos do art. 29, § 3º, da MP 1.973-67/2000. Além da indexação,
serão aplicados os juros legais (art. 39, caput, da Lei 8.177, de 1991).

7. Em relação à fase judicial, a atualização dos débitos judiciais


deve ser efetuada pela taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia –
SELIC, considerando que ela incide como juros moratórios dos tributos federais (arts.
13 da Lei 9.065/95; 84 da Lei 8.981/95; 39, § 4º, da Lei 9.250/95; 61, § 3º, da Lei 9.430/96;
e 30 da Lei 10.522/02). A incidência de juros moratórios com base na variação da taxa
SELIC não pode ser cumulada com a aplicação de outros índices de atualização
monetária, cumulação que representaria bis in idem".

Aplicável, assim, a correção monetária consoante o índice IPCA-


E, mais juros legais, conforme decidido pelo STF, nos termos do art. 39, caput, da Lei n.

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8.177 (TR na qualidade de juros, portanto), devendo ser considerada a época própria
para o adimplemento das obrigações, nos termos do art. 459, §1º da CLT. A partir
ajuizamento, os débitos devem ser atualizados conforme a SELIC, índice que abrange
os juros e a correção monetária. Salienta-se que tanto juros, como correção monetária
são pedidos implícitos (art. 322, §1º do CPC).

RECOLHIMENTOS PREVIDENCIÁRIOS E FISCAIS

Ressalta-se que não há competência da Justiça do Trabalho para


apuração de diferenças e execução das contribuições previdenciárias no tocante aos
valores quitados no decorrer do contrato laboral, sendo corrente o entendimento de
que essa competência se verifica apenas em relação às parcelas que são deferidas em
juízo (Súmula 368 do C. TST).

A reclamada deverá comprovar nos autos a realização dos


depósitos previdenciários incidentes sobre as verbas que integram o salário de
contribuição (art. 28 da Lei 8.212/91) deferidas nesta sentença, apurados mês a mês,
na forma da Súmula 368 do C. TST, autorizada a dedução do percentual devido pela
reclamante.

Os recolhimentos fiscais serão apurados mês e mês e terão por


base de cálculo as parcelas de natureza salarial, podendo a reclamada reter o
percentual devido pela reclamante.

Do crédito apurado, será descontado o imposto de renda devido


pela reclamante (artigo 46 da Lei 8.541/1992), que deverá incidir mês a mês, conforme
artigo 12-A da Lei 7.713/1988 e item II da Súmula 368 do C. TST, sobre as verbas
deferidas que se identifiquem com os rendimentos tributáveis, conforme art. 43 do
Decreto 3000/99, com a ressalva de que verbas indenizatórias, como, por exemplo,
juros de mora (artigo 404, parágrafo único, última parte, do CC e OJ 400, SDI-1, do C.
TST), não se enquadram no conceito jurídico de renda e, por isso, estão excluídas da
respectiva base de cálculo.

DISPOSITIVO

Ante o exposto, na reclamatória trabalhista ajuizada por  Janio


Flavio Teixeira em face de  Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, decido, na
forma da fundamentação, julgar procedentes os pedidos para condenar a reclamada
no pagamento de horas extras em virtude de supressão de parte da pausa térmica,
observadas as limitações temporais descritas na fundamentação.

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Concedo ao reclamante os benefícios da justiça gratuita.

Honorários advocatícios e periciais na forma da fundamentação.

Correção monetária na forma da fundamentação.

Custas pela reclamada, no valor de R$ 800,00, correspondente a


2% do valor da condenação provisoriamente arbitrado em R$ 40.000,00.

Intimem-se as partes.

Nada mais.  

PORTO VELHO/RO, 11 de julho de 2022.

SABINA HELENA SILVA DE CARVALHO RODRIGUES


Juiz(a) do Trabalho Substituto(a)

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https://pje.trt14.jus.br/pjekz/validacao/22071117292277000000017282218?instancia=1
Número do processo: 0000088-33.2022.5.14.0008
Número do documento: 22071117292277000000017282218

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