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JUSTIÇA PENHORA DÍZIMOS DE IGREJA EVANGÉLICA

(GILBERTO GARCIA)


Numa decisão inédita o Superior Tribunal de Justiça (STJ), determinou que os dízimos sejam
penhorados para quitação de dividas de alugueres em ação de despejo por falta de pagamento
proposta pela Empresa proprietária de imóvel locado pela Igreja Evangélica.

Referido julgamento pela mais alta corte judiciária de leis do país, eis que o Supremo Tribunal
Federal só se ocupa de questões jurídicas que afetem a Constituição Federal, firma
jurisprudência e abre precede relativo à ótica legal de que dízimos, por serem receitas, estão
sujeitos a penhora para pagamentos de dividas assumidas pela Igreja - Pessoa Jurídica.

Esta notícia publicada no Site do STJ logo após o julgamento nestes termos: “...As doações
dos seguidores e simpatizantes dos cultos religiosos são consideradas receitas da pessoa
jurídica e podem ser penhoradas nos casos em que a devedora não possua bens que
garantam a execução. Isso é possível desde que o percentual fixado sobre a receita diária da
igreja não inviabilize as suas atividades. (...). Para a igreja, a arrecadação de um templo, seja
ele católico, apostólico, evangélico, budista, ou qualquer outra modalidade de seita religiosa, é
indiscutivelmente impenhorável. (...)”.

De acordo com o voto do relator, ministro José Arnaldo da Fonseca, "(...) ainda que os templos
de qualquer culto gozem da isenção tributária expressa por disposição constitucional, esta
imunidade restringe-se aos tributos que recairiam sobre seus templos. As demais obrigações,
como os encargos assumidos em contrato de locação, não estão abrangidas pelas normas
constitucionais (...)".

"(...) Embora ponderáveis os argumentos da locatária, pelo fato de ela não endereçar parte de
sua receita diária, voluntariamente, ao pagamento de sua obrigação, é lícito que ela seja
penhorada, desde que observadas as cautelas necessárias ao bom desempenho de suas
atividades normais", destacou o ministro José Arnaldo, decidindo pelo não-conhecimento do
recurso especial interposto pela igreja. Os demais ministros da Quinta Turma acompanharam o
voto do relator. (...)”.

Entrevistado pelo Jornal Valor Econômico asseverei na condição de quem ao longo de mais de
duas décadas tem atuado na defesa de Igrejas Evangélicas: “...é a primeira vez que se vê uma
decisão do STJ penhorando o dízimo. (...) a lei deixa claro que as doações são imunes de
impostos, mas que são caracterizadas como receita de templos. O templo não é só o espaço
físico, diz o advogado. ´A Constituição Federal deixa claro que eles são formados por renda,
bens e serviços e o Supremo Tribunal Federal (STF) já pacificou a questão` ”.

Enfatizei para o Valor que os dízimos são contribuições voluntárias dos fiéis, membros ou
congregados, e que a Igreja não tem qualquer controle sobre os valores entregues por eles, eis
que oriundos de ato de fé, por isso as Igrejas não podem, em hipótese alguma, cobrar ou
mesmo processar judicialmente um fiel para receber dele judicialmente suas doações.

Perguntado pelo jornalista se o pastor poderia ter seus bens pessoais atingidos, em caso de a
Igreja não honrar com a quitação da divida civil, destaquei que na condição de pastor-
presidente, administrador legal da pessoa jurídica, bem como, demais diretores estatutários,
esta possibilidade só seria efetivada, se comprovadamente caracterizado ato de má-fé.

O Código Civil dispõe no artigo 50, que é aplicável a todas as pessoas jurídicas de direito
privado, entre as quais a Igreja, de todas as confissões de fé, na condição de Organização
Religiosa, também está enquadrada, admite a desconsideração da pessoa jurídica, desde que
comprovado cabalmente a ocorrência de abuso do direito, ou, de ato ilícito, ou, ainda da fraude
a terceiros, com o atingimento dos bens pessoais dos administradores, que são seus diretores
estatutários, e no caso das organizações associativas, de seus associados.

É tempo da Igreja Evangélica, que também é corpo de Cristo, estar atenta que para a
sociedade ela é uma Organização Religiosa, condição legal extensiva a todas as outras
manifestações de fé, seja católica, mulçumana, judaica, espírita, cultos afros, oriental etc, às
quais tem seus direitos assegurados na ordem jurídica pátria, tendo a prerrogativa
constitucional de difundir sua fé, visão espiritual, e perspectiva religiosa em todo o mundo.

Contudo, é vital ressaltar que este mesmo sistema jurídico nacional atribui deveres as Igrejas
imputando-lhes a responsabilidade de cumprir com os todos os preceitos legais da ordem civil
estabelecida, nas diversas áreas de abrangência, que são, entre outras, civil, associativa,
estatutária, tributária, trabalhista, criminal, financeira, previdenciária, fiscal, administrativa,
imobiliária etc, estando sujeitas as autoridades constituídas, inclusive à luz de Rom.13: 3-4,
frutos do Estado Democrático de Direito, graças a Deus, vigente no Brasil.

A juíza Daniela Dejuste de Paula, da 21ª Vara Cível Central da Capital, determinou a
penhora sobre 20% da receita diária da Igreja Renascer para pagamento de indenização
de vítima de desabamento do templo, em janeiro de 2009.
Em 2012, a sentença condenou a instituição a pagar R$ 10 mil de indenização por
danos morais. A decisão foi recorrida e, no último dia 23, após a intimação para
pagamento não ser atendida, foi deferida a penhora de 20% da arrecadação do caixa do
culto, até o valor atualizado de R$ 27.546. A determinação foi dada em razão da ausência
de bens que garantam a execução, já que não foram localizados valores em contas
bancárias ou bens imóveis em nome da Igreja para garantia do débito.
A magistrada também determinou, para analise de possibilidade e administração da
penhora, a nomeação de uma perita. “Constatada a viabilidade da penhora, a perita fará
jus a uma remuneração mensal correspondente a 15% do valor penhorado mensalmente,
até integral satisfação do débito, entregando mensalmente o balancete do período
correspondente e efetuando o depósito da quantia penhorada. Fica a executada obrigada
a entregar à administradora judicial todos os documentos por ela requisitados, sob pena de
incidir em ato atentatório à dignidade da Justiça, com a aplicação de multa de até 20% do
valor do débito, na forma do artigo 774, II, III, IV e § do CPC, sem prejuízo da adoção de
outras medidas coercitivas e a caracterização do crime de desobediência.”
Processo nº 0202636-34.2009.8.26.0100

Comunicação Social TJSP – AG (texto) / AC (foto)


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