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Imunidade – Remessa de Valores ao Exterior por Entidades de Apoio a

Igrejas e Missionários – Comentário

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A limitação imposta à cobrança de impostos sobre templos de qualquer


culto encontra assento no artigo 150, VI, “b”, que combinado com o parágrafo 4º do mesmo
artigo da Constituição Federal dão um sentido mais amplo ao “templo”, ”, contemplando o
patrimônio, renda e serviços relacionados às finalidades essenciais da entidade religiosa
r
detentora ou usuária de local de culto e suas adjacências.

Essa é a linha que vem sendo seguida pelo Supremo Tribunal Federal
(STF), como faz crer o acórdão destacado:

EMENTA: Recurso extraordinário. 2. Imunidade tributária de


templos de qualqueruer culto. Vedação de instituição de impostos
sobre o patrimônio, renda e serviços relacionados com as
finalidades essenciais das entidades. Artigo 150, VI, "b" e § 4º,
da Constituição. 3. Instituição religiosa. IPTU sobre imóveis de
sua propriedade que se encontram alugados. 4. A imunidade
prevista no art. 150, VI, "b", CF, deve abranger não somente
os prédios destinados ao culto, mas, também, o patrimônio, a
renda e os serviços "relacionados com as finalidades
essenciais das entidades nelas mencionadas". 5. O § 4º do
dispositivo constitucional serve de vetor interpretativo das
alíneas "b" e "c" do inciso VI do art. 150 da Constituição
Federal. Equiparação entre as hipóteses das alíneas
referidas.[...] (STF - RE 325822 / SP - Tribunal Pleno -
Relator(a): Min. ILMAR GALVÃO - Relator(a) p/ Acórdão: Min.
GILMAR MENDES - Julgamento: 18/12/2002)

Sem fugir desse entendimento, cumpre


cumpre notar interessante interpretação
dada pela Receita Federal do Brasil/Coordenação
Brasil/Coordenação Geral de Tributação (COSIT), que tratou de
solucionar
ionar duas divergências internas envolvendo polêmica quanto à exigência do imposto
sobre operações financeiras (IOF)
( sobre remessa de valores.

Também eme relação ao IOF a jurisprudência admite, de certa forma, uma


análise mais abrangente, como pode ser observado no acórdão transcrito.

EMENTA: CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. IMUNIDADE.


ENTIDADE ASSISTENCIAL. EXTENSÃO AO IMPOSTO
SOBRE OPERAÇÕES FINANCEIRAS - IOF. ART. 150, VI, C
DA CONSTITUIÇÃO. VINCULAÇÃO DO BENEFÍCIO ÀS
ATIVIDADES ESSENCIAIS. CARÁTER VINCULADO VINCULAD DO
LANÇAMENTO. IMPOSSIBILIDADE DE ACOLHIMENTO DE
RAZÕES GENÉRICAS. 1. Esta Corte já definiu que a
imunidade tributária (art. 150, VI, c da Constituição) também se
aplica ao imposto previsto no art. 153, V, comumente chamado
de "Imposto sobre Operações Financeiras - IOF". 2. Devido ao
caráter plenamente vinculado da atividade administrativa de
constituição do crédito tributário, descabe acolher afirmativa
genérica de que o resultado da atividade que se tem por imune
deve estar vinculado à atividade essencial
essenci da entidade.
Necessidade de reexame de fatos e provas, que não podem
ser meramente pressupostos. 3. Ademais, a manutenção de

Publicado no site <www.plantaofiscal.net>, em 16/11/2014. Este artigo é uma colaboração PFnet. Os dispositivos
legais citados no artigo podem sofrer alterações com o tempo, fato que deve ser observado pelo leitor. É permitida a
reprodução total ou parcial do material, desde que citada a fonte.
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investimentos pode ser instrumento útil para a formação de
recursos destinados às atividades filantrópicas. Desde que
respeitadoss os limites da imunidade (não privilegiar atividade
privada econômica lucrativa e não afetar a livre iniciativa), a
imunidade tributária será aplicável ao produto das operações
financeiras. Agravo regimental ao qual se nega provimento.
(STF - RE 454753 AgR / CE - Segunda Turma - Relator(a):
Min. JOAQUIM BARBOSA - Julgamento: 20/04/2010)

O caso levado à apreciação da COSIT envolvia duas posições internas


conflitantes, uma tratando como imune a entidade com atividades de apoio a diversas igrejas e
a missionários religiosos,, equiparando-a
equiparando a “templo de qualquer culto” (SC nº 22, da 9ª Região
RF); e outra não reconhecendo como imunes essas entidades e as que auxiliam igrejas
evangélicas no envio de obreiros para trabalhos missionários transculturais,
transculturais, no Brasil
Bras e no
exterior (SC nº 130, da 8ª Região RF).
RF)

Reinterpretando a questão a Solução de Divergência nº 16 (24/10/2014)


confirmou um dos entendimentos,
entendimentos aquele que não garantia a imunidade à entidade constituída
unicamente com o fim de colaborar ou cooperar com igrejas, auxiliá-las las ou prestar-lhes
prestar
qualquer serviço relacionado às finalidades essenciais do templo.
templo

“ [...] A imunidade atende ao preceito constitucional que visa à


proteção dos locais de culto e a assegurar, por intermédio dos
templos, o livre exercício
cício dos cultos religiosos. A imunidade
não tem a finalidade de subvencionar cultos ou igrejas, mas
sim afastar do campo de incidência do tributo seu patrimônio,
renda ou serviço, a fim de não lhes embaraçar o
funcionamento. [...] A fim de cumprir essa finalidade
nalidade o templo
pode ampliar e prolongar os locais de culto, dando-lhes
dando
dimensões que escapam às limitações físicas, mas sem perder
a unidade e a vinculação à instituição religiosa que se
qualificou como templo em busca da imunidade. [...] Por outro
lado,, se há inovações quanto à extensão dos locais de culto,
não há quanto ao conceito de templo, especialmente para fins
de imunidade. O templo imune é a instituição religiosa por
intermédio da qual se concretiza o direito constitucional ao
‘livre exercício dos
os cultos religiosos’. O que determina a
imunidade é a finalidade essencial do templo e não o universo
onde ele cumpre essa finalidade. [...] O envio de missionários,
obreiros, sacerdotes ou qualquer autoridade religiosa para
qualquer parte do mundo, depende, de, em regra, de um conjunto
de ações relacionadas a preparação, treinamento,
capacitação, manutenção e permanência ou estada no local de
destino. A própria instituição religiosa imune, se habilitada,
pode realizar tais ações sem prejuízo da sua imunidade. [...]
Não se aplica, pois, à entidade que se constitui com a
finalidade de colaborar ou cooperar com igrejas, auxiliá-las
auxiliá ou
prestar-lhes
lhes qualquer serviço relacionado às finalidades
essenciais do templo. [...]” (SD/COSIT nº 16/2014).
16/2014)

Essa abordagem pode também ser estendida a outros impostos,


impostos de modo
a não confirmar a imunidade a terceiros contratados por entidade religiosa para atuarem em
atividades paralelas ao exercício do culto religioso,
religioso, como por exemplo, a contratação de
terceiros para tratar da organização de passeios e viagens; de central de atendimento para
arrecadar contribuições; de estruturas, som e imagem em eventos e festas,
festas, e outros.

Publicado no site <www.plantaofiscal.net>, em 16/11/2014. Este artigo é uma colaboração PFnet. Os dispositivos
legais citados no artigo podem sofrer alterações com o tempo, fato que deve ser observado pelo leitor. É permitida a
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