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Magistratura Estadual
CURSO EXTENSIVO
Direito Tributário
Limitações constitucionais ao
poder de tributar VI (de imunidade
religiosa até o fim)
MATERIAL DE APOIO
coordenador:
Jamil Chaim
1. IMUNIDADE TRIBUTÁRIA RELIGIOSA
Nos termos do art. 150, VI, b e §2º, CF/88, é vedado à União, Estados, DF e Municípios:
Embora o texto constitucional se refira apenas aos “templos”, a imunidade religiosa deve
abranger não somente os prédios destinados ao culto, mas também o patrimônio, a renda e
os serviços “relacionados com as finalidades essenciais das entidades”.
Com esse entendimento, o STF entende que o aluguel de imóvel pertencente à entidade
imune, por si só, NÃO desnatura a imunidade, desde que os valores recebidos a esse título sejam
empregados em suas finalidades essenciais.
Também decidiu a Corte Suprema que a imunidade religiosa é aplicável aos cemitérios que
funcionem como extensões das entidades religiosas, desde que não tenham fins lucrativos. 1
Por fim, mencione-se que o STF perfilha o entendimento de as maçonarias NÃO são desti-
natárias da proteção constitucional, pois não são consideradas uma religião, mas sim uma ideo-
logia de vida.
Decidiu o STJ, em julgado noticiado no informativo n.º 534, que “em se tratando de entidade
religiosa, há presunção relativa de que o imóvel da entidade está vinculado às suas finalida-
des essenciais, o que impede a cobrança de impostos sobre aquele imóvel de acordo com o art.
150, VI, “c”, da CF. Nesse contexto, a descaracterização dessa presunção para que incida ITBI
sobre imóvel de entidade religiosa é ônus da Fazenda Pública municipal, nos termos do art.
333, II, do CPC”.
Portanto, para o STJ, o imóvel sobre o qual se assenta o templo religioso goza de presunção
em relação às atividades que nele desenvolve, restando protegido, a priori, pela imunidade religiosa.
Todavia, em relação aos demais bens e extensões, como as rendas de aluguel e cemitérios,
segundo Ricardo Alexandre, é do ente imune, e não do Fisco, o ônus da prova de sua relação com
as finalidades essenciais da entidade.
ÔNUS DA PROVA SOBRE O VÍNCULO DO BEM COM AS FINALIDADES ESSENCIAIS DA
ENTIDADE RELIGIOSA
O imóvel sobre o qual se assenta o templo As extensões patrimoniais das entidades religio-
goza de presunção em relação às suas ativida- sas não gozam de presunção em relação à sua
des essenciais. O ônus da prova em contrário adequação às finalidades essenciais. Para não
é do Fisco (STJ, info 534) serem tributadas, o ônus de provar o vínculo é do
ente imune (Ricardo Alexandre).
Nos termos do art. 150, VI, c e §2º, CF/88, é vedado à União, Estados, DF e Municípios:
Pela leitura do dispositivo acima transcrito, infere-se, ainda, que a imunidade das entidades
educacionais e assistenciais foi estabelecida em norma de eficácia limitada, condicionando-se, por-
tanto, às prescrições legais reguladoras (nesse sentido, por exemplo, Ricardo Alexandre). Nada obs-
tante, importante destacar que o STF já considerou essa norma como de eficácia contida (norma
autoaplicável, porém de eficácia contida):
A regulação da referida regra imunizante é feita pelo art. 14 do CTN, que tece os seguintes
requisitos para que as entidades em questão gozem da imunidade:
I – não distribuírem qualquer parcela de seu patrimônio ou de suas rendas, a qualquer título;
Da mesma forma como ocorre com as entidades religiosas, os imóveis das pessoas referi-
das no art. 150, VI, c, da CF/88, mesmo quando alugados, são acobertados pela proteção imu-
nizante, desde que o valor dos aluguéis seja aplicado nas atividades essenciais de tais enti-
dades. Nesse sentido, é o teor da novel súmula vinculante n.º 52 do STF: 3
“Ainda quando alugado a terceiros, permanece imune ao IPTU o imóvel perten-
cente a qualquer das entidades referidas pelo art. 150, VI, “c”, da Constituição,
desde que o valor dos aluguéis seja aplicado nas atividades para as quais tais
entidades foram constituídas”
Para o STF, no caso do ICMS, que é tributo indireto (translação do encargo econômico-finan-
ceiro a terceiro juridicamente responsável), desinteressa a aferição de quem suporta o ônus de pagar
efetivamente o tributo. Para a imunidade incidir, os entes imunes devem ser contribuintes de di-
reito, mesmo que seu patrimônio não seja faticamente onerado com a despesa da exação.
De outra forma, se os entes imunes forem adquirentes, ou seja, contribuintes de fato, sobre
o bem adquirido incidirá ICMS, se o vendedor (contribuinte de direito), no caso, não for protegido
pela imunidade.
Assim, por exemplo, se um partido político comprar feijão, a fim de doar em campanhas elei-
torais, deverá suportar os encargos de ICMS, pois, nesse caso, posiciona-se apenas como contribu-
inte de fato (consumidor). Por outro lado, se o mesmo partido abrir uma loja para vender itens parti-
dários (camisas, bonés, bandeiras e etc.), tem-se por aplicável o benefício imunizante, já que, nessa
situação, a agremiação partidária figuraria como contribuinte de direito.
Somente as entidades fechadas de previdência social privada nas quais NÃO há con-
tribuição dos beneficiários gozam de imunidade tributária (Súmula 730 do STF).
STF. 1ª Turma. RE 163164 AgR/SP, Rel. orig. Min. Dias Toffoli, Red. p/ o acórdão Min. Marco
Aurélio, 12/06/2012
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Comentários: Dizer o Direito
Neste julgado foi discutido se determinada entidade de previdência privada gozaria ou não de
imunidade tributária.
A discussão sobre o caso concreto não interessa para fins de concurso, razão pela qual será
explicado aqui apenas a Súmula 730 do STF, que foi o fundamento para a decisão prolatada.
O art. 150, VI, da CF/88 prevê que as instituições de assistência social, sem fins lucrativos, e
que atendam os requisitos previstos na lei gozam de imunidade tributária quanto aos impostos. Em
outras palavras, essas instituições de assistência social não pagam impostos.
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União,
aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
As entidades de previdência privada alegaram que tinham direito a essa imunidade porque
poderiam ser enquadradas como “entidades de assistência social”, considerando que auxiliam o Es-
tado no desempenho da “previdência social”.
O STF afirmou que a análise do tema deveria ser dividida da seguinte forma:
ABERTAS FECHADAS
São acessíveis a qualquer pessoa que as São mantidas por grandes empresas ou grupos de
queira contratar para fazer um plano de pre- empresa para oferecer planos de previdência pri-
vidência privada. vada aos seus funcionários. 5
Ex: previdência privada do Banco Bradesco, Essas entidades são normalmente chamadas de
do Banco Itaú etc. “fundos de pensão” e não possuem finalidade lu-
crativa.
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Essas entidades fechadas podem ser:
NÃO gozam de imunidade tributária, con-
siderando que possuem fins lucrativos. 1) Com contribuição do beneficiário: o benefici-
ário paga uma parte e a empresa (chamada de
“patrocinador”) paga o restante para a formação
do fundo.
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Portanto, somente serão imunes as entidades fechadas de previdência social privada e nas
quais não haja contribuição dos beneficiários.
Nos termos do art. 150, VI, d e §2º, CF/88, é vedado à União, Estados, DF e Municípios:
Historicamente, o STF, para fins de incidência da imunidade cultural, tem dado interpreta-
ção contida ao termo “papel”, constante do art. 150, VI, d, da CF/88.
Dessa maneira, o Tribunal entende que apenas o papel e os materiais a ele relacionados 7
(papéis fotográficos, filmes e etc.) são acobertados pela proteção constitucional, que não se es-
tende, por exemplo, aos barbantes, colas, tintas e outros insumos.
Nesse sentido, transcreve-se a Súmula 657 do STF:
Embora seja esse o entendimento que deva ser levado para as provas de concurso público,
recomenda-se atentar para um julgado turmário do STF, datado de 2011. Trata-se do RE 202.
149/RS, em cujo julgamento se assentou que a imunidade cultural apanha, também, o maquinário
e os insumos utilizados na confecção de livros, jornais e periódicos.
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A jurisprudência tradicional do STF sempre foi no sentido de que a imunidade cultural NÃO
se estendia às mídias que dão suporte físico aos livros eletrônicos (CD-ROM, DVD, fitas de vídeo
e etc.).
Ocorre que, em 08/03/2017, a Suprema Corte alterou esse entendimento. O STF apre-
ciou o caso sob a sistemática da repercussão geral e fixou a seguinte tese:
A imunidade da alínea “d” do inciso VI do art. 150 da CF/88 alcança componentes eletrôni-
cos destinados, exclusivamente, a integrar unidade didática com fascículos.
STF. Plenário. RE 595676/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 8/3/2017 (repercussão geral)
(Info 856).
A imunidade tributária constante do art. 150, VI, “d”, da Constituição Federal (CF), aplica-se
ao livro eletrônico (“e-book”), inclusive aos suportes exclusivamente utilizados para fixá-lo.
STF. Plenário. RE 330817/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 8/3/2017 (repercussão geral) (Info
856).
Dessa forma, atualmente, entende-se que o livro pode ser veiculado em diversos tipos de 8
suporte, seja ele tangível (ex: papel) ou intangível (ex: digital). O papel passa a ser um elemento
acidental (e não essencial) do conceito de livro (existe livro mesmo sem papel).
Importante: A partir de uma interpretação teleológica conclui-se que a regra de imunidade al-
cança também os aparelhos leitores de livros eletrônicos (“e-readers”) confeccionados exclusiva-
mente para esse fim.
Ex: um Kindle (Amazon), Lev (Saraiva), Kobo (Livraria Cultura) também estariam protegidos pela
imunidade tributária.
Nos termos do art. 150, VI, e e §2º, CF/88, é vedado à União, Estados, DF e Municípios: