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Poder Judiciário
Justiça do Trabalho
Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região

Ação Trabalhista - Rito Ordinário


0101121-69.2016.5.01.0483

Tramitação Preferencial
- Idoso

Processo Judicial Eletrônico

Data da Autuação: 03/06/2016


Valor da causa: R$ 100.000,00

Partes:
RECLAMANTE: PAULO ROBERTO GOULART MARINHO
ADVOGADO: DOUGLAS CARNEIRO RODRIGUES
RECLAMADO: PETROLEO BRASILEIRO S A PETROBRAS

ADVOGADO: FELIPE SIQUEIRA DE CARVALHO


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Fls.: 2

PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO

PROCESSO nº 0101121-69.2016.5.01.0483 (RO)


ACÓRDÃO
9ª TURMA

A obrigação patronal não se restringe ao pagamento do salário. Ao


empregador se impõe, também, o dever de dar trabalho ao empregado e,
bem assim, de possibilitar a execução normal da prestação de serviços,
velando por sua integridade física, moral e psicológica. Nada justifica,
portanto, a submissão do empregado à situação de inação ou de
"ociosidade forçada", assim exposto a constrangimentos perante os
colegas, a sua família e no meio social e comunitário, como se fosse um
ser humano inútil. Os fatos narrados na inicial - e que, inclusive, se
apresentaram como incontroversos nos autos - denotam que foi o
empregado relegado/condenado à inação ou ao denominado "ócio
compulsório", e em consequência, inequivocamente atingido em sua
dignidade. Presente, pois, a violência psíquica, devida a reparação do
prejuízo de ordem moral sofrido.

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos do Recurso Ordinário, em


que são partes: PETRÓLEO BRASILEIRO S.A. - PETROBRAS, como Recorrente, e PAULO
ROBERTO GOULART MARINHO, como Recorrido.

Inconformada com a r. sentença (ID a00c107) proferida pelo D. Juiz


Jonny Gonçalves Vieira, da MM. 3ª Vara do Trabalho de Macaé, que julgou Parcialmente Procedentes
os pedidos constantes da inicial, interpõe a Damandada o presente Recurso Ordinário (ID 983d21e),
redarguindo a prejudicial de prescrição total; de outro giro, sustenta que a adesão do Demandante ao
PDV importa transação quanto ao extinto contrato de trabalho, devendo, assim, ser Resolvido o Mérito
na forma do art. 487, III, "b", do CPC/2015. Pugna, por fim, pela exclusão da condenação ao pagamento
de indenização por danos morais ou, ao menos, a redução do valor arbitrado, com a fluência de juros
somente a partir da prolação da sentença.

Contrarrazões, ID b719b65.

É o relatório.

VOTO

Assinado eletronicamente por: ANTONIO CARLOS DE AZEVEDO RODRIGUES - 25/07/2017 17:19:46 - 5080e72
https://pje.trt1.jus.br/primeirograu/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=17053014381777600000078972301
Número do processo: 0101121-69.2016.5.01.0483 ID. 5080e72 - Pág. 1
Número do documento: 17053014381777600000078972301
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CONHECIMENTO

Conheço do Recurso interposto, vez que preenchidos os pressupostos


legais para sua admissibilidade.

DA PREJUDICIAL DE PRESCRIÇÃO

Aduz a Ré que a pretensão deduzida na exordial decorre de suposta


submissão do empregado à inação forçada, a qual, segundo a exordial, teria se originado em 21.06.2011.
Desta forma, sustenta que a pretensão manejada somente em 03.06.2016 encontra-se fulminada pela
prescrição.

Razão não lhe assiste, no entanto.

Conforme a narrativa da inicial, a situação de inação verificou-se desde


21.06.2011 e se protraiu até a efetiva cessação do pacto, ocorrida em 06.06.2014, mediante a adesão
do Autor ao PDV oferecido pela empregadora. Trata-se, assim, de lesão continuada e, nessa situação, a
fluência do prazo prescricional somente se inicia com consolidação da ofensa, o que somente veio a se
concretizar com a efetiva extinção do contrato de trabalho, não se verificando, in casu, a extrapolação do
biênio previsto no inciso XIX do art. 7º, da CRFB/88.

Rejeito.

DA TRANSAÇÃO DECORRENTE DA ADESÃO AO PDV

Insiste a Demandada no argumento de que a adesão do Autor ao PDV


importa transação quanto a todas as pretensões decorrentes do contrato de trabalho, devendo, assim, ser
Resolvido o Mérito na forma do art. 487, III, "b", do CPC/2015.

Conforme já decidido no Julgamento do R.E. n. 590415 SC, com


repercussão geral reconhecida, e bem destacado pelo I. Magistrado a quo, o Excelso STF fixou a seguinte
tese:

"A transação extrajudicial que importa em rescisão do


contrato de trabalho, em razão de adesão voluntária do
empregado a plano de dispensa incentivada, enseja
quitação ampla e irrestrita de todas as parcelas objeto
do contrato de emprego, caso essa condição tenha
constado expressamente do acordo coletivo que

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Número do documento: 17053014381777600000078972301
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aprovou o plano, bem como dos demais


instrumentos celebrados pelo empregado". (g.n.)

No caso sub examine, não houve sequer alegação, e menos ainda, a


demonstração de existência de pactuação entre as partes, no sentido de que o empregado daria
ampla e rasa quitação quanto ao extinto contrato de trabalho, mediante o recebimento da
"indenização" prevista no PDV, não prosperando, assim, a irresignação recursal, no particular.

Rejeito.

MÉRITO

DA INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS

A inicial noticia que o Demandante foi admitido em 20.07.1987, sendo


que, desde o início do pacto esteve lotado nas instalações da Ré, situadas na Rod. Amaral Peixoto,
Cabiúnas - Macaé. Todavia, em 21.06.2011, recebeu um comunicado de que deveria se apresentar ao AB-
CR/RH/ARH, na sede da Ré, na cidade do Rio de Janeiro, onde lhe foi comunicado que "aguardasse em
sua residência até posterior contato".

Asseriu o Autor que, seguindo a orientação da empresa, permaneceu em


casa, recebendo normalmente seus salários. Nada obstante, "sentindo-se afrontado em sua dignidade,
protocolou diversas correspondências requerendo designação de um novo posto de trabalho", não
logrando, no entanto, obter resposta alguma. Aduziu que de tanto persistir, conseguiu uma vaga na
"PETROBRAS S.A. E&P-Serv/US-AP", onde fez um estágio de 90 dias, logrando ser aprovado e
obtendo uma "autorização" de transferência para este posto, em 19.03.2012. No entanto, a referida
"autorização" foi inexplicavelmente cancelada, sendo novamente relegado à ociosidade, em sua
residência.

Afirmou, outrossim, que, sentindo-se "humilhado por ser submetido ao


constrangimento moral de ficar recebendo salário sem desempenhar nenhuma função", decidiu por fim a
essa situação, tomando a iniciativa de romper o contrato de trabalho em 06.06.2014, mediante adesão ao
PDV instituído pela Ré.

Em razão desses fatos, buscou o pagamento de uma indenização por


danos morais, no valor de R$100.000,00 (cem mil reais).

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Em defesa, a Acionada alegou que o Autor, cedido à TRANSPETRO


desde o início do pacto, foi por esta "devolvido" em 2011, por não mais atender às suas necessidades,
haja vista "o longo período de absenteísmo do empregado até 2011 (quase 06 anos)", consistente em
diversos e sucessivos afastamentos em decorrência de adoecimento. Aduziu, no entanto, que, finda a
cessão do empregado, "buscou de todas as formas encontrar para o Autor, algum novo setor de trabalho
que comportasse suas atribuições, porém sem sucesso", sendo que, nesse período, o Acionante percebeu
sua remuneração, normalmente, sem nenhum prejuízo, tendo aderido ao PIDV e desligado a pedido em 06
/06/2014. Sustentou, assim, que a situação vivenciada pelo obreiro longe está de caracterizar a ocorrência
de "assédio moral", capaz de render ensejo a qualquer compensação.

O D. Julgador a quo, consignando que a invocação dos afastamentos do


Autor, durante sua permanência na TRANSPETRO não justificam o "ócio forçado" por quase três anos, m
axime porque foram motivados por problemas de saúde, e se persistentes, caberia à Ré tê-lo encaminhado
ao serviço médico ou mesmo ao INSS. Assinalou, ainda, ser inverossímil a alegação de que "buscou de
todas as formas encontrar um novo posto de trabalho para o Demandante", sobretudo, considerado o
porte da Acionada. Então, verificando caracterizado o assédio moral, em virtude do "ócio forçado",
houve por bem condenar a Ré ao pagamento de uma indenização por danos morais, no importe de
R$30.000,00 (trinta mil reais).

Irresignada, a Demandada busca a exclusão da condenação, reforçando os


argumentos defensivos, pugnando, ao menos, a redução do quantum fixado, que alega excessivo.

Inicialmente, esclareça-se que o assédio moral é a conduta abusiva, de


natureza psicológica, que atenta contra a dignidade psíquica do indivíduo, de forma reiterada, tendo
como objetivo a sensação de exclusão do ambiente de trabalho e do convívio nesse ambiente, conduzindo
o assediado a ter a relação de trabalho como de impossível, ou muito difícil, continuação, enquanto o dan
o moral é o dano extrapatrimonial que, maxime, pode ser gerado pelo assédio, ou seja, é a violação de
um direito da personalidade, causada pela conduta do assediante, que logrou seu intento de excluir o
assediado da situação funcional em que se encontrava.

Há de restar comprovada a ocorrência de tortura psicológica, destinada a


atingir e golpear a autoestima do empregado, corroendo-a.

Assim se posiciona a doutrina:

"Assediar é submeter alguém, sem trégua, a pequenos


ataques repetidos com insistência, cujos atos têm
significado e deixam na vítima o sentimento de ter sido
maltratada, desprezada, humilhada, rejeitada. É uma
questão de intencionalidade. A forma de agir do
perverso é desestabilizando e explorando

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psicologicamente a vítima. O comportamento perverso


é abusivo, é uma atitude de incivilidade. Os efeitos do
assédio têm estilo específico que deve ser diferenciado
do estresse, da pressão, dos conflitos velados e dos
desentendimentos. Quando o assédio ocorre é sempre
precedido da dominação psicológica do agressor e da
submissão forçada da vítima." (CJ - 21.11.2002)

É incontroverso que, após o término da cessão do Autor à


TRANSPETRO, ocorrida em 21.06.2011, e até a cessação do pacto em 06.06.2014, o Demandante
somente prestou serviços pelo curto interregno de 90 dias, lapso no qual foi transferido para a
"PETROBRAS S.A. E&P-Serv/US-AP", permanecendo durante todo o período remanescente, em regime
de "ociosidade forçada", em casa, nada obstante, auferindo normalmente sua remuneração.

Neste passo, cabe destacar que, a obrigação patronal não se restringe ao


pagamento do salário. Ao empregador se impõe, também, o dever de dar trabalho ao empregado e, bem
assim, de possibilitar a execução normal da prestação de serviços, velando por sua integridade física,
moral e psicológica.

O documento encartado sob o ID 471224a revela que no período


compreendido entre 18.05.1995 e 31.05.2011, o Demandante se afastou por 1.383 dias em decorrência
de "licenças médicas" e/ou gozo de "auxílio-doença". Ressalte-se, todavia, que nem ao menos houve
alegação de que, quando de seu retorno à Ré, estivesse o Autor incapacitado para o trabalho. De
todo modo, ainda que essa fosse a situação - e enfatize-se, tal circunstância sequer foi alegada, e menos
ainda demonstrada -, não se justificaria a submissão de "ociosidade forçada" ao Acionante, antes se
impondo à empregadora a iniciativa de encaminhá-lo ao serviço médico ou ao INSS, tal como bem
destacado pelo D. Magistrado a quo.

Não colhe, tampouco, o argumento de que a Demandado envidou todos os


esforços possíveis na busca pela realocação do obreiro. Conforme, mais uma vez, bem observado pelo D.
Juiz a quo, em se tratando de uma empresa do porte da Ré, que além do mais possui várias subsidiárias, a
alegação é por demais inverossímil, para dizer-se o menos.

Ressalte-se que vários instrumentos são colocados à disposição do


empregador, quando este, efetivamente, não dispõe de um posto de trabalho para o empregado: férias
coletivas, licença remunerada, licença não remunerada para requalificação profissional (art. 476-A, da
CLT), reaproveitamento em outra função (art. 456, §1º, da CLT), conversão da jornada integral para
jornada parcial, com autorização normativa (art. 58-A, da CLT) e, se nenhuma dessas medidas de
conservação do contrato de trabalho se tornar viável, só restará mesmo a dispensa do empregado. Mas,
em nenhuma hipótese o ordenamento jurídico coloca à disposição do empregador a "ociosidade
forçada".

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Esclareça-se, por oportuno, que não se está aqui a afirmar que, na situação
dos autos, caberia à Ré lançar mão de todas ou de alguma das medidas supradestacadas, afinal, algumas
delas - como, por exemplo, a conversão da jornada integral para jornada parcial, que, na situação dos
autos, exigiria, além de autorização normativa, também a anuência do empregado (art. 58-A, §2º, da
CLT) - seriam de remota aplicação à situação sub examine. Os exemplos lançados objetivam,
exclusivamente, evidenciar que o "ócio forçado" não constitui uma opção para o empregador.

Nada justifica, portanto, a submissão do empregado à situação de inação


ou de "ociosidade forçada", assim exposto a constrangimentos perante os colegas, a sua família e no seu
meio social e comunitário, como se fosse um ser humano inútil.

Os fatos narrados na inicial - e que, inclusive, se apresentaram como


incontroversos nos autos - denotam que foi o empregado relegado/condenado à inação ou ao
denominado "ócio compulsório"e, em consequência, inequivocamente atingido em sua dignidade.
Presente, pois, a violência psíquica, devida a reparação do prejuízo de ordem moral sofrido.

Assim também, a jurisprudência:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE


REVISTA. PROCESSO SOB A ÉGIDE DA LEI
13.015/2014. 1. RESCISÃO INDIRETA.
CONFIGURAÇÃO DA HIPÓTESE PREVISTA NO
ART. 483, "D", DA CLT. MATÉRIA FÁTICA.
SÚMULA 126/TST. 2. INDENIZAÇÃO POR DANOS
MORAIS. OCIOSIDADE FORÇADA.
ESVAZIAMENTO DAS FUNÇÕES. DESRESPEITO
AOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA
DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA, DA
INVIOLABILIDADE PSÍQUICA (ALÉM DA
FÍSICA) DA PESSOA HUMANA, DO BEM-ESTAR
INDIVIDUAL (ALÉM DO SOCIAL) DO SER
HUMANO, TODOS INTEGRANTES DO
PATRIMÔNIO MORAL DA PESSOA FÍSICA.
DANO MORAL CARACTERIZADO. MATÉRIA
FÁTICA. SÚMULA 126/TST. 3. VALOR
ARBITRADO PARA A INDENIZAÇÃO.
PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E DA
RAZOABILIDADE OBSERVADOS. 4. BENEFÍCIO
DA JUSTIÇA GRATUITA. PESSOA JURÍDICA.
ENTIDADE FILANTRÓPICA. 5. RECOLHIMENTO
PREVIDENCIÁRIO. COTA-PARTE DA
EMPREGADORA. ISENÇÃO. REQUISITOS PARA
A CONCESSÃO. NÃO COMPROVAÇÃO. A
conquista e a afirmação da dignidade da pessoa
humana não mais podem se restringir à sua liberdade e
intangibilidade física e psíquica, envolvendo,
naturalmente, também a conquista e afirmação de sua
individualidade no meio econômico e social, com
repercussões positivas conexas no plano cultural - o
que se faz, de maneira geral, considerado o conjunto
mais amplo e diversificado das pessoas, mediante o
trabalho e, particularmente, o emprego. O direito à
indenização por dano moral encontra amparo no art. 5º,
V e X, da Constituição da República e no art. 186 do

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CCB/2002, bem como nos princípios basilares da nova


ordem constitucional, mormente naqueles que dizem
respeito à proteção da dignidade humana, da
inviolabilidade (física e psíquica) do direito à vida, do
bem-estar individual (e social), da segurança física e
psíquica do indivíduo, além da valorização do trabalho
humano. O patrimônio moral da pessoa humana
envolve todos esses bens imateriais, consubstanciados
em princípios fundamentais pela Constituição.
Afrontado esse patrimônio moral, em seu conjunto ou
em parte relevante, cabe a indenização por dano moral,
deflagrada pela Constituição de 1988. Na hipótese, o
Tribunal Regional, atendendo aos fatos e às
circunstâncias constantes dos autos, manteve a
sentença que considerou caracterizado o dano
moral a ser reparado, por assentar que "ficou
comprovada a conduta inadequada por parte da
reclamada, consubstanciada no tratamento
inoportuno de relegar a empregada a uma situação
de ociosidade forçada". Assim sendo, diante do
contexto fático delineado pelo TRT, constata-se que
as situações vivenciadas pela Reclamante, de fato,
atentaram contra a sua dignidade, a sua integridade
psíquica e o seu bem-estar individual - bens
imateriais que compõem seu patrimônio moral
protegido pela Constituição -, ensejando a
reparação moral, conforme autorizam o inciso X do
art. 5º da Constituição Federal e os arts. 186 e 927, c
aput, do CCB/2002. Outrossim, para que se pudesse
chegar, se fosse o caso, a conclusão fática diversa, seria
necessário o revolvimento do conteúdo probatório
constante dos autos, propósito insuscetível de ser
alcançado nesta fase processual, diante do óbice da
Súmula 126/TST. Agravo de instrumento desprovido.
(AIRR - 1000104-81.2015.5.02.0611, Relator Ministro:
Mauricio Godinho Delgado, Data de Julgamento: 08/03
/2017, 3ª Turma, Data de Publicação: DEJT 10/03
/2017) - (grifos acrescidos)

No que pertine ao quantum indenizatório, cumprem algumas


considerações.

Tema inquietante e gerador de tormentosa atividade jurisdicional pela


ausência de enfrentamento por texto legal é o arbitramento de compensação - termo mais condizente que
indenização, porque não se pode vislumbrar com o pagamento que se tornou o credor indene ou ileso na
íntegra, mas tão somente compensado da dor ou sofrimento experimentado - por danos morais na
medida, senão exata ao menos justa, como reparação possível.

Ficam no terreno da esterilidade expressões como "extensão" ou


"potencialidade do dano" e cada vez mais o julgador há de enfrentar no caso concreto o respeito à
proporcionalidade, a observância do equilíbrio, a visão do que é razoável e equitativo, diante da
inexistência de uma definida tarifação legal.

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O ofendido atributo da personalidade, sem um balizamento pré-


concebido, desafia o sentido de equidade do julgador, que não pode deixar-se refém da indignação ou da
apatia, e há de buscar simetria entre os diversos julgados submetidos à sua apreciação, sopesando com
imparcialidade o valor entre os limites do imoderado e do insignificante.

Nesta ordem de ideias, não se afigura minimamente razoável a fixação do


valor arbitrado pelo D. Magistrado a quo - R$ 30.000,00 (trinta mil reais) - a título de indenização pelos
danos morais experimentados pelo Autor, afinal, não se pode olvidar que no período de "ócio" não
deixou o Acionante de auferir a íntegra remuneratória, logo, não experimentando qualquer prejuízo
financeiro, logo, a compensação há de ser dar em função, apenas, da justificativa inibitória à Ré, para que
assim não prossiga agindo.

Desta forma, entendo plenamente razoável arbitrar a indenização em


R$2.000,00 (dois mil reais).

Quanto aos juros incidentes, equivoca-se a Recorrente, sendo aqui de se


aplicar mesmo o entendimento cristalizado na Súmula n. 439, do C. TST, segundo o qual, nas
condenações por dano moral, os juros incidem desde o ajuizamento da ação, conforme estatuído no
art. 883 da CLT.

Dou Parcial Provimento.

ANTE O EXPOSTO, conheço do Recurso interposto pela Demandada, rej


eito a prejudicial de prescrição, bem como a arguição de existência de "transação" abrangente do objeto
da presente ação, e, no mérito, DOU-LHE PARCIAL PROVIMENTO para reduzir ao patamar de
R$2.000,00 (dois mil reais) o valor da indenização por danos morais.

JBR

ACORDAM OS COMPONENTES DA NONA TURMA DO


TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA PRIMEIRA REGIÃO, por unanimidade, nos termos
da fundamentação do voto do Exmº. Sr. Relator, conhecer do Recurso interposto pela Demandada,

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rejeitar a prejudicial de prescrição, bem como a arguição de existência de "transação" abrangente do


objeto da presente ação, e, no mérito, DAR-LHE PARCIAL PROVIMENTO para reduzir ao patamar de
R$2.000,00 (dois mil reais) o valor da indenização por danos morais.

Rio de Janeiro, 18 de julho de 2017

DESEMBARGADOR ANTÔNIO CARLOS DE AZEVEDO RODRIGUES


Relator

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