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Poder Judiciário
Justiça do Trabalho
Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região

Recurso Ordinário Trabalhista


0011318-37.2015.5.01.0022
Relator: EDITH MARIA CORREA TOURINHO

Processo Judicial Eletrônico

Data da Autuação: 18/06/2020


Valor da causa: R$ 32.000,00

Partes:
RECORRENTE: RODRIGO LUIZ ZINI MATIAS
ADVOGADO: BRUNO VIGNERON CARIELLO
ADVOGADO: RAFAELA OLIVEIRA FONTES
ADVOGADO: LUIZ MIGUEL PINAUD NETO
ADVOGADO: BIANCA PEREIRA MONICA
ADVOGADO: LIA MARCOLINI PINAUD
ADVOGADO: CHRISTIANE DAMASCO DE CASTRO
ADVOGADO: DANIELLE LUCIA FERNANDES FERREIRA
RECORRENTE: VERTIGO COMPUTACAO LTDA
ADVOGADO: ANDRÉ DA SILVA TEIXEIRA
RECORRENTE: REDE NACIONAL DE ENSINO E PESQUISA - RNP
ADVOGADO: AMANDA TORRES HOLLERBACH
ADVOGADO: JOSE LUIZ REZENDE DE ALMEIDA
RECORRIDO: RODRIGO LUIZ ZINI MATIAS
ADVOGADO: BRUNO VIGNERON CARIELLO
ADVOGADO: RAFAELA OLIVEIRA FONTES
ADVOGADO: LUIZ MIGUEL PINAUD NETO
ADVOGADO: BIANCA PEREIRA MONICA
ADVOGADO: LIA MARCOLINI PINAUD
ADVOGADO: CHRISTIANE DAMASCO DE CASTRO
RECORRIDO: VERTIGO COMPUTACAO LTDA
ADVOGADO: ANDRÉ DA SILVA TEIXEIRA
RECORRIDO: REDE NACIONAL DE ENSINO E PESQUISA - RNP
ADVOGADO: AMANDA TORRES HOLLERBACH
ADVOGADO: JOSE LUIZ REZENDE DE ALMEIDA
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PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO

PROCESSO nº 0011318-37.2015.5.01.0022 (ROT)

ACÓRDÃO
9ª TURMA

1. RECURSO ORDINÁRIO. PJOTIZAÇÃO. RELAÇÃO COM A


TOMADORA SOB SUBORDINAÇÃO JURÍDICA.
RECONHECIMENTO DO VÍNCULO DE EMPREGO. Apesar da
contração por meio de pessoa jurídica individual, no sistema de Pjotização
, havendo subordinação e demais elementos conformadores da relação de
emprego, é de se reconhecer o liame jurídico por força dos artigos 2° e 3º-
CLT.

2. DANO MORAL. INDENIZAÇÃO. DIGNIDADE OPERÁRIA. O


direito dos trabalhadores traz em si, para uma sociedade que tem na sua
CRFB, como esteio fundamental, a dignidade da pessoa humana e a
valorização social do trabalho, a necessidade de respeito aos preceitos
jurídicos de proteção do trabalhador em conjunto com a indispensável
valorização da condição humana e do desenvolvimento das sociedades
que, ao final, resultou na elaboração da Declaração Universal dos Direitos
do Homem. Portanto, qualquer "regra" imposta pelo superior hierárquico
que desconstrua ou flexibilize o direito fundamental à dignidade operária
afronta não só a esfera individual do trabalhador, mas à coletividade,
porquanto não há como se afrontar à dignidade humana e ao mesmo
tempo valorizar os princípios/valores sociais do trabalho (art. 1º, incisos
III e IV-CRFB).

3. MULTA DO ART. 477-CLT. DISPENSA ANTES DA DATA-


BASE. RESSALVA DE DIFERENÇAS E QUE FORAM QUITADAS
APÓS A DATA-BASE. MULTA IMPERTINENTE. Se a prova
demonstra que as diferenças constantes na ressalva feita no momento da
homologação rescisória decorriam dos direitos e reajustes advindos ad
futurum, após a data-base, porque a dispensa ocorreu antes disso, não há
razão de ser na aplicação da multa do art. 477-CLT, até porque no
momento da homologação não se havia ainda implementada esta alteração.

Assinado eletronicamente por: CLAUDIA DE SOUZA GOMES FREIRE - 03/11/2021 09:54:57 - c2a2f09
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Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de recurso ordinário em


que são partes: RODRIGO LUIZ ZINI MATIAS (Dr. BRUNO VIGNERON CARIELLO - OAB:
RJ0137667-D), VERTIGO COMPUTAÇÃO LTDA (Dr. ANDRÉ DA SILVA TEIXEIRA - OAB:
RJ0084892-D) e REDE NACIONAL DE ENSINO E PESQUISA - RNP (Drª. AMANDA TORRES
HOLLERBACH - OAB: RJ0189513-D) como recorrentes e recorridos.

Insurgem-se as partes em face da r. sentença de ID. eb369e8, fls. 452/458,


complementada pela decisão de ID. 81fa7b6, fls. 491/492 da lavra do exmº juiz LEONARDO
SAGGESE FONSECA da 22ª VARA DO TRABALHO DO RIO DE JANEIRO que julgou
parcialmente procedente a pretensão inicial. Recorrem nos termos de ID. fd3881a, fls. 504/515 - RNP,
pugnando pela reforma decisória alegando nulidade processual; outrossim, aduz haver impertinência na
incidência do art. 9º-CLT considerando os termos do art. 422-CCB no tema reconhecimento de vínculo
de emprego; horas extras; PLR; indenização por danos morais. O autor, conforme ID. 08e9019, fls. 496
/503, nos temas horas extras (art. 384-CLT); indenização por dano material (plano de saúde); multa do
art. 477-CLT; por reuniões relâmpago e por deslocamento; e adicional de periculosidade. Por fim, VERT
IGO, conforme ID. 798d8fd, fls. 521/525, nos temas responsabilidade solidária; horas extras e
indenização por danos morais.

Depósito recursal e custas conforme ID. 30e3241, fls. 725/726 e ID.


f5eda0c, fls. 784 e ID. a04585a, fls. 786.

Contrarrazões conforme ID. 62cd83c, fls. 791/800 e ID. c0a9d3e, fls. 802
/808.

Acórdão - ID. a203923, fls. 554/558 anulando a decisão de origem.

Nova sentença conforme ID. 42cf0f6, fls. 687/694 e decisão embargos de


declaração conforme ID. 8a9409f, fls. 736/737.

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Novos recursos interpostos conforme, autor, ID. f3c5023, fls. 739/743,


RNP ID. 480e614, fls. 709/722 com aditamento de ID. 4531440, fls. 744/761 e VERTIGO - ID.
e1ed025, fls. 780/782.

Deixo de encaminhar os autos ao douto Ministério Público do Trabalho,


eis que não configuradas quaisquer das hipóteses previstas no art. 85, I, do Regimento Interno, do E.
Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região.

É o relatório.

FUNDAMENTAÇÃO

DO CONHECIMENTO

Conheço dos recursos interpostos por preenchidos os pressupostos de


admissibilidade.

Não conheço do recurso da RNP no tema PLANO DE SAÚDE eis que


não há sucumbência no específico carecendo, portanto, de interesse. Acolhe-se, portanto, a preliminar
alegada em contrarrazões.

MÉRITO

RECURSO DA RECLAMADA RNP

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DO VÍNCULO DE EMPREGO

A recorrente aduz tratar-se de, antes de agosto de 2012, relação jurídica de


natureza civil, com contratação de pessoa jurídica no setor de TI por meio de terceirização lícita, não
havendo que se falar em vínculo de emprego. Busca a reforma decisória, no particular.

Como bem lembrado na origem, é incontroverso o fato de o autor ter


trabalhado para a recorrente entre 03.10.2011 a 13.08.2014, sendo que até 01.08.2012 através de
intermediação de mão-de-obra do primeiro acionado, consoante inclusive contrato de prestação de
serviços juntados com a defesa (ID. 61d42be, fls. 73/78).

Pela prova oral colhida - ID. cbc7be2, fls. 621/622 - a exemplo do que
declarou a testemunha da recorrente, Sergio Leal Fonseca, havia como sempre houve, relação
subordinada: "(...) exerce a função de coordenador de equipe; que o objeto comercial da 2ª reclamada é
a operação de telecomunicações voltada à área de ensino e pesquisa pública; que, quando o depoente
foi contratado, a ré estabeleceu como sua meta organizar e formalizar os processos de trabalho
relacionados ao trabalho de desenvolvimento de sistema de computador; que na equipe do depoente
havia 2 empregados; que apenas o reclamante era o subordinado do depoente; que, pelo que percebeu,
quando de seu ingresso, não havia qualquer controle ou método de trabalho utilizados pelos
empregados; (...)".

Nos demais depoimentos - ID. 4d4e661, fls. 448/451 - também restou


evidenciado que o autor trabalhava desde o início, por intermédio da VERTIGO, nas dependências e sob
coordenação dos prepostos da RNP. O depoimento pessoal do preposto da recorrente também evidencia
que não houve alteração nas circunstâncias de fato da atividade laborativa de sorte que não há se acolher
a tese revisional.

Terceirização hoje é cabível inclusive em atividade-fim, como decidido


pelo E. STF, mas não autoriza a fraude à legislação operária, de sorte que comprovados os elementos

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caracterizadores do liame de emprego, notadamente a subordinação, ainda que estrutural, a relação é de


emprego e não puramente prestação de serviços sob o estatuto civilista. No caso, não se verifica efetiva
terceirização mas pura intermediação de mão de obra, coisas distintas.

Nega-se provimento.

DAS HORAS EXTRAORDINÁRIAS

Data venia da pretensão revisional, mas como bem ressaltado na origem,


O depoimento do Sr. Sergio Leal Fonseca não modificou os fatos anteriormente apurados, ou seja, labor
em regime extraordinário, a única diferença, confessada pelo autor em depoimento, é que após a
regularização da relação jurídica, ou seja, a contratação como empregado da tomadora, as extras eram
regularmente registradas e pagas.

Sendo assim, não há razão para a reforma da sentença que condenou os


reclamados ao pagamento das horas extras entre 21.09.2010 e 20.08.2012, considerando a média
mensal apurada no período registrado regularmente.

Nada há no apelo que desconstrua referido convencimento, notadamente à


luz do entendimento encartado na OJ-233-SDI1-TST, verbis: "A decisão que defere horas extras com
base em prova oral ou documental não ficará limitada ao tempo por ela abrangido, desde que o
julgador fique convencido de que o procedimento questionado superou aquele período.". (os grifos são
meus).

Nega-se provimento.

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DA PLR - CONDENAÇÃO SOLIDÁRIA

A recorrente alega ser empresa sem fim lucrativo de sorte que a


condenação relativa ao pagamento da PLR não lhe seria imputável. Data venia, mas a argumentação é
impertinente, porquanto a condenação se deu de forma solidária de maneira que o fato de ser ente sem
fins lucrativos não lhe isenta de responsabilidade quanto à verba em si. De outro lado, não há
argumentação no apelo que traga outro fundamento que dê suporte à revisão perseguida.

Nega-se provimento.

DA INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS

Não há razão para extirpar da condenação a indenização decorrente da


violação moral. Como bem decidido na origem: "(...) No que concerne ao pedido de dano moral, entendo
estarem configurados os pressupostos que autorizam a condenação. No caso em tela, indiscutível que o
reclamante foi exposto a situação vexatória e constrangedora ao ser compelido, por seu superior
hierárquico, a ter que reportar por escrito qualquer ausência da sala, uma vez que esse procedimento
sequer era observado na empresa. Também chamou a atenção o autor trabalhar numa pequena sala de
cerca de 10 m2 junto com a testemunha Danilo e o coordenador Sérgio e este somente se comunicar com
os dois através de e-mail, além de exigir por escrito a informação de ausências para café e banheiro. A
testemunha também relatou que o autor era deixado por semanas sem qualquer tarefa. (...)".

O trecho acima destacado não adveio de ilações intelectuais do Juízo, mas


da prova produzida. Esses elementos colocam o trabalhador em condição de sub-humanidade, com
restrição, sem paradigma de regra interna empresarial (que seria já questionável), idas ao banheiro ou
mesmo ausência da sala de trabalho. Sala essa com 10 metros quadrados onde o contato se dava
exclusivamente (por exigência do superior hierárquico) por meio de e-mail e, ainda, deixa de dar trabalho

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ao reclamante - maior obrigação do empregador na relação de emprego - por semanas, impondo o ócio
remunerado no ambiente laborativo, ou seja, desconstruindo a natureza inclusiva do trabalho e sua função
social.

Cumpre destacar que o Direito do Trabalho corresponde à dimensão mais


significativa dos Direitos Humanos. Por meio deste ramo jurídico se proporcionou maior espaço de
evolução aos Direitos Humanos, ultrapassando as fronteiras originais, vinculadas basicamente à
dimensão da liberdade e intangibilidade física e psíquica da pessoa humana. Não é possível, dessa
maneira, deixar de conceder ao direito do trabalho o status de regulação jurídica pertencente aos direitos
humanos.

Delgado traz interessante lição acerca do vínculo existente entre o Direito


do Trabalho e os Direitos Humanos:

"O universo social, econômico e cultural dos Direitos Humanos passa, de modo lógico e
necessário, pelo ramo jurídico trabalhista, à medida que este regula a principal
modalidade de inserção dos indivíduos no sistema socioeconômico capitalista,
cumprindo o papel de lhes assegurar um patamar civilizado de direitos e garantias
jurídicas, que, regra geral, por sua própria força ou habilidade isolada não
alcançariam. A conquista e afirmação da dignidade da pessoa humana não mais podem
se restringir à sua liberdade intangibilidade física e psíquica, envolvendo, naturalmente,
também a conquista e afirmação de sua individualidade no meio econômico e social,
com repercussões positivas conexas no plano cultural, o que se faz, de maneira geral,
considerando o conjunto mais amplo e diversificado das pessoas, mediante o trabalho e,
particularmente, o emprego, normatizado pelo Direito do Trabalho."

O direito dos trabalhadores traz em si, para uma sociedade que tem na sua
CRFB, como esteio fundamental, a dignidade da pessoa humana e a valorização social do trabalho, a
necessidade de respeito aos preceitos jurídicos de proteção do trabalhador em conjunto com a
indispensável valorização da condição humana e do desenvolvimento das sociedades que, ao final,
resultou na elaboração da Declaração Universal dos Direitos do Homem.

Nenhum pretexto, portanto, de ordem econômica deve sobrepor-se aos


preceitos jurídicos atinentes aos direitos sociais, pois estes se caracterizam como essenciais para a
valorização do trabalho, a consequente promoção do bem comum e a elevação da própria condição

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humana. Dessa forma, se os ajustes econômicos e jurídicos não forem suficientes para assegurar uma
existência digna a todos, não se pode conceber como solução o rebaixamento do patamar civilizatório e a
redução da dignidade de cada trabalhador.

No tocante a esse entendimento, lembrando artigo de Renata Prince


Junqueira de Andrade, Gabriela Neves Delgado assevera que, "onde o direito ao trabalho não for
minimamente assegurado (por exemplo, com o respeito à integridade física e moral do trabalhador, o
direito à contraprestação pecuniária mínima), não haverá dignidade humana que sobreviva". - DELGAD
O, Gabriela Neves. Direito Fundamental ao Trabalho Digno. São Paulo: LTr, 2006, p. 207.

Portanto, qualquer "regra" imposta pelo superior hierárquico que


desconstrua ou flexibilize o direito fundamental à dignidade operária afronta não só a esfera individual
do trabalhador, mas à coletividade, porquanto não há como se afrontar à dignidade humana e ao mesmo
tempo valorizar os princípios/valores sociais do trabalho (art. 1º, incisos III e IV-CRFB).

Quanto ao valor de R$ 10.000,00, uma passada de vista no TRCT - RNP -


ID. 43657ac, fls. 83/85, revela que ao tempo da rescisão contratual a remuneração do acionante girava
em torno de 7.620,00/mês. Considerando que a prestação laborativa com vínculo foi reconhecida desde
2011, à luz do tempo sob o qual o trabalhador ficou sujeito às ofensas, o valor expresso na condenação,
até pela média, é razoável e, portanto, não cabe a redução perseguida para R$ 2.000,00, aliás sem
qualquer fundamentação para tanto.

Veja-se, por fim, que se aplicássemos a regra do art. 233-G, § 1º-CLT,


inciso I-CLT, pós-reforma, (o de menor taxação, do que não se trata data venia), o valor devido seria
(poderia ser) superior a vinte e um mil reais.

Nega-se provimento.

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RECURSO DA VERTIGO

DA RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA

Data venia da pretensão revisional mas mesmo sob a ótica civil, conforme
art. 932, II c/c 933 e 942-CCB/2002, não há como se afastar a responsabilidade solidária reconhecida na
origem.

Portanto a solidariedade reparatória encontra amparo no tecido jurídico


aplicável na espécie. Ademais, ficou clara a fraude trabalhista ante o reconhecimento do liame de
emprego eis que comprovados os requisitos da relação de emprego.

Nega-se provimento.

DO RECURSO DO RECLAMANTE

DA INDENIZAÇÃO MATERIAL DO PLANO DE SAÚDE NÃO CONCEDIDO AO TEMPO


ANTERIOR AO CONTRATO DE EMPREGO RECONHECIDO PELA TOMADORA E DA
MULTA NORMATIVA

Data venia mas a pretensão não tem amparo legal, tampouco normativo
em sede coletiva. A cláusula normativa alegada pelo recorrente assegura o plano de saúde como parte do
salário indireto mas de espécie não se trata. Para se entender pela reparabilidade o reclamante deveria ter
trazido aos autos momentos, recibos, ou outros elementos de convicção de que teve necessidade de

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assistência médica e com isso teve que arcar com os custos. Disso não se tem prova e não se discutiu nos
autos.

Por outro lado, quanto à multa normativa prevista na aludida cláusula 53ª
do pacto coletivo, data venia, a única interpretação que tenho ser a razoável é a de que esta pressupõe a
existência em tempo real da atividade laborativa reconhecida e contratada como tal. Portanto, teria
toda incidência cláusula desse tipo no período do liame de emprego assim contratado.

No caso dos autos o reconhecimento foi feito pelo Judiciário e porquanto


retroativo dá acesso ao recorrente/reclamante aos direitos previstos nas normas e assim foi reconhecido.
Mas à multa em questão seria um contrassenso deferi-la; a uma, porque as reclamadas não mantinham
relação de emprego (formal) mas sim terceirização Pjotizada e com empresa criada pelo trabalhador cuja
existência não foi desconstituída ou desconstruída pela decisão de origem. Não incidiam as regras
normativas, portanto, ao tempo da prestação que são os motivos da existência da multa se acaso fossem
descumpridas. A duas, porquê ao se reconhecer o vínculo de emprego as parcelas/direitos cujos esteios
se encontram nas normas coletivas foram reconhecidas como devidas e foram motivos de condenação
no sentenciado, de sorte que, tratando-se de decisão de cunho constitutivo, não se pode dizer que
descumpridas à luz da interpretação teleológica que se deve dar à regra normativa em questão, porque só
foram impostas às reclamadas no momento da condenação.

Nega-se provimento.

DA MULTA DO ART. 477-CLT

A pretensão revisional não tem razão de ser, no específico. Na origem,


decidiu-se que: "(...) A incorreção dos valores quitados pelo empregador ou simples existência de
diferenças de verbas rescisórias em prol do empregado, somente reconhecidas em juízo, não caracteriza
a mora do empregador apta a gerar a aplicação da multa prevista no §8º, do artigo 477 CLT, pois esta

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decorre do não pagamento das verbas nos prazos fixados no §6º do mesmo artigo. O mencionado
dispositivo dispõe sobre o atraso na quitação de verbas resilitórias incontroversas e não por pagamento
insuficiente.(...)". O postulado revisional tem a seguinte fundamentação: "(...) conforme devidamente
demonstrado nos autos, o Recorrente foi dispensado a 13.08.2014 e recebeu somente parte de suas
verbas rescisórias no dia 22.09.2014. Sendo que o restante das verbas rescisórias foi quitado apenas em
03.10.2014, conforme comprova o TRCT de fls. 82/85, ou seja, fora do prazo disposto no §6o, b, do
artigo 477 da CLT. Portanto, deve ser reformada a r. sentença ora recorrida para que as Empresas
Recorridas sejam condenadas ao pagamento da multa do §8o do artigo 477 da CLT em virtude da mora
do pagamento integral das verbas resilitórias. (...)".

Ora, a simples leitura da ressalva posta no momento da homologação


rescisória revela a razão de ser de duas rescisões - em tempos curtos de tempo - ID. 43657ac, fls. 86. O
afastamento deu-se no mês de agosto e a data-base ocorrera somente no mê de setembro, portanto
garantiu-se para quando da sua implementação as diferenças daí decorrentes. Não verifico onde haja, aí,
qualquer violação legal a dar ensejo à multa pretendida.

Nega-se provimento.

CONCLUSÃO

Pelo exposto, CONHEÇO dos recursos interpostos, acolho a preliminar


de não conhecimento do recurso da RNP no tema plano de saúde e, no mérito, NEGO-LHES
PROVIMENTO, na forma da fundamentação supra.

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A C O R D A M os Desembargadores que compõem a 9ª Turma do


Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, por unanimidade, nos termos da fundamentação do voto da
Exma. Sra. Relatora, CONHECER dos recursos interpostos, acolher a preliminar de não conhecimento
do recurso da RNP no tema plano de saúde e, no mérito, NEGAR-LHES PROVIMENTO. Sustentou
oralmente a Dra. Danielle Lucia Fernandes Ferreira, representando o reclamante.

Rio de Janeiro, 26 de outubro de 2021.

CLAUDIA DE SOUZA GOMES FREIRE


Desembargadora Relatora

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Assinado eletronicamente por: CLAUDIA DE SOUZA GOMES FREIRE - 03/11/2021 09:54:57 - c2a2f09
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Número do processo: 0011318-37.2015.5.01.0022 ID. c2a2f09 - Pág. 12
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