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Poder Judiciário
Justiça do Trabalho
Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região

Ação Trabalhista - Rito Ordinário


1001579-57.2023.5.02.0008

Processo Judicial Eletrônico

Data da Autuação: 24/10/2023


Valor da causa: R$ 76.207,34

Partes:
RECLAMANTE: ANDERSON FERNANDES DE SOUZA
ADVOGADO: ERICK CORREIA DA ROCHA
ADVOGADO: RODRIGO DIAS DE MOURA
RECLAMADO: FIDELITY NATIONAL SERVICOS E CONTACT CENTER LTDA.

ADVOGADO: ALESSANDRA MARIA LEBRE COLOMBO BAGNOLESI


RECLAMADO: BANCO BRADESCO S.A.
ADVOGADO: ROSANO DE CAMARGO
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Fls.: 2

PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO
8ª VARA DO TRABALHO DE SÃO PAULO
ATOrd 1001579-57.2023.5.02.0008
RECLAMANTE: ANDERSON FERNANDES DE SOUZA
RECLAMADO: FIDELITY NATIONAL SERVICOS E CONTACT CENTER LTDA. E
OUTROS (1)

TERMO DE JULGAMENTO

Processo nº 1001579-57.2023.5.02.0008

Na data de 05 de abril de 2024, houve a apreciação do feito pela


Meritíssima Juíza do Trabalho Titular Lávia Lacerda Menendez, da 8ª Vara do Trabalho
de São Paulo (Foro Central – Barra Funda), em que são partes:

Reclamante: ANDERSON FERNANDES DE SOUZA

Reclamadas: FIDELITY NATIONAL SERVIÇOS E CONTACT CENTER


LTDA e BANCO BRADESCO S.A.

Ausentes e inconciliadas as partes, foi proferida a seguinte

S E N T E N Ç A.

ANDERSON FERNANDES DE SOUZA, qualificado na inicial,


ajuizou Reclamação Trabalhista, em 24/10/2023, em face de FIDELITY NATIONAL
SERVIÇOS E CONTACT CENTER LTDA e BANCO BRADESCO S.A., aduzindo admissão em
04.06.2019, com anotação na CTPS em 04.06.2019, na função de Técnico Operacional I,
com remuneração de R$1.416,45 e resilição em 14.03.2023. Postulou as seguintes
verbas: horas extras e reflexos; intervalo intrajornada e reflexos, responsabilidade
subsidiária da segunda reclamada. Atribuiu à causa o valor de R$ 76.207,34. Juntou
procuração e documentos.

Não houve conciliação inicial.

Assinado eletronicamente por: LAVIA LACERDA MENENDEZ - Juntado em: 05/04/2024 19:22:49 - ff1dc2a
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Em defesa, as reclamadas pugnaram pela improcedência dos


pedidos (id 3f7524a e 7972dd6). Foram juntados procuração e documentos.

Em audiência foram colhidas provas orais (Id 12eabfc).

Encerrada a instrução processual.

Proposta final de conciliação frustrada.

Razões finais pelo reclamante (id f9f5beb), pela primeira


reclamada (id 459308c) e remissivas pela segunda reclamada.

É o relatório.

FUNDAMENTAÇÃO

DO VALOR DA CAUSA

O montante de R$76.207,34 atribuído à causa pelo reclamante, é


compatível com o benefício pecuniário postulado, resultando da soma das pretensões
descritas na inicial, razão pela qual não vislumbro qualquer irregularidade.

Ademais, o art. 840 da CLT sequer elenca o valor da causa como


pressuposto da inicial, salvo a discriminação em caso de rito sumaríssimo, não sendo o
caso dos autos. Observe-se que ao processo do trabalho não se aplica o requisito
previsto no art. 319 do CPC.

Também não oferece prejuízo, quer às reclamadas, quer aos


cofres públicos, porquanto o patamar fixado é alto e serve apenas à improcedência da
demanda, para cálculo de custas, e fixação de valor da multa, em caso de litigância de
má-fé.

Por fim, a Lei nº 5.584/70 previu o recurso de revisão em razões


finais e somente para o caso de fixação de valor da causa pelo juiz, razão pela qual
rejeita-se a impugnação ofertada.

DA LEGITIMIDADE PASSIVA

Legitimidade passiva é condição de processamento da ação. Em


princípio, tem legitimação passiva aquele em face de quem o titular do interesse

Assinado eletronicamente por: LAVIA LACERDA MENENDEZ - Juntado em: 05/04/2024 19:22:49 - ff1dc2a
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postula a pretensão. A legitimidade ad causam envolve a indagação de quem deve


responder à demanda.

As reclamadas FIDELITY NATIONAL SERVIÇOS E CONTACT


CENTER LTDA e BANCO BRADESCO S.A. alegam carência de ação, por ausência de
legitimidade passiva para a segunda reclamada responder a demanda.

Primeiramente, não cabe à primeira ré arguir a ilegitimidade da


segunda, pertencendo somente a esta a alegação correspondente. Aliás, enseja erro
crasso a alegação de ilegitimidade de parte pela tomadora de serviços, mormente sob
o fundamento de que não há pleito de vínculo empregatício em relação a si, restando
completamente descabido o fundamento da preliminar.

Patente a pertinência subjetiva para a lide da reclamada, uma


vez que a FIDELITY NATIONAL SERVIÇOS E CONTACT CENTER LTDA é prestadora de
serviços para a BANCO BRADESCO S.A. A tomadora dos serviços se beneficia com a
força de trabalho, sendo passível de acionamento, em caso de alegação de
inadimplência da prestadora.

De fato, o reclamante indica as rés como responsáveis pelos


consectários legais, em decorrência da relação havida entre elas. Sendo indicadas com
participantes da relação jurídica de direito material controvertida, mister se faz a
rejeição da preliminar.

DA LEI nº 13.467/2017

No que toca ao direito material, o trabalho posterior a


11.11.2017, data do início da vigência da Lei nº 13.467/2017, passou a ser regido pelo
novo ordenamento.

DA LIMITAÇÃO AOS VALORES INDICADOS NA PETIÇÃO INICIAL

Não há que se falar em limitação de valores de condenação aos


valores indicados na exordial, por não se tratar de ação de cobrança de quantia certa.
Da mesma forma, desnecessária uma planilha de cálculos para acompanhamento da
inicial. Trata-se de estimativa aproximada do valor da causa, que não esteja
completamente dissonante da realidade.

DAS HORAS EXTRAS

Assinado eletronicamente por: LAVIA LACERDA MENENDEZ - Juntado em: 05/04/2024 19:22:49 - ff1dc2a
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A extensão da jornada de trabalho afronta a saúde física e


psicológica do trabalhador, bem como o esforço comum de âmbito internacional pela
redução efetiva da jornada. Há mais de 100 anos, a primeira Convenção da OIT definia
que a jornada diária não poderia ultrapassar 8 horas diárias e em 1935 definiu a
jornada máxima semanal de 40 horas. Conforme dados obtidos no endereço eletrônico
da OCDE (https://data.oecd.org/emp/hours-worked.htm), países com menor índice de
desenvolvimento, como México e Costa Rica, com média superior a 49 horas de
jornada semanais, laboram 54% mais horas do que países desenvolvidos, como
Dinamarca, Noruega e Alemanha, cuja média semanal alça 32 horas por semana, e
possuem o melhor patamar sócio-econômico e social que uma nação pode oferecer
aos seus cidadãos. Daí se conclui que o nível de desenvolvimento sócio-econômico-
social de um país passa pela quantidade de jornada semanal efetivada por seus
trabalhadores: quanto maior a jornada, menos desenvolvida a nação se revela. Isso
porque a sobrejornada diminui a produtividade, aumenta o acometimento de doenças
e retira do laborista a possibilidade de produzir outros bens que não somente o
trabalho, restringindo suas possibilidades de desenvolvimento cultural, educacional,
social e familiar. O serviço extraordinário não representa a melhor condição de longo
prazo para o trabalhador ou para a sociedade. Daí porque somos conclamados a
empreender esforços pelo banimento do uso indiscriminado de horas extras.

Feita essa observação, passo à análise do caso presente nos


autos.

Aduziu o reclamante jornada das 07h30 às 15h50, de segunda a


sábado, com intervalo de 30 minutos e com duas pausas de 10 minutos cada. Pleiteou
o pagamento de horas extras além da 6ª hora diária e da 36ª hora semanal, com
adicional legal de 50% e reflexos em DSR, férias e seu terço constitucional, gratificações
natalinas, FGTS e sua multa de 40%, por todo o pacto laboral, com exceção do período
de home office (março a agosto de 2020).

A defesa impugnou a jornada declinada na inicial, alegando que


os horários estão refletidos nas folhas de ponto e que eventuais horas extras foram
devidamente pagas ou compensadas.

À vista deles, o laborista impugnou tais documentos, sob o


fundamento de que não refletiam sua verdadeira jornada.

Em audiência, o reclamante confirmou a jornada apontada na


inicial.

A primeira reclamada, por sua vez, em desacordo com os


registros dos controles de ponto, confessou que o autor saía por volta das 15 horas,

Assinado eletronicamente por: LAVIA LACERDA MENENDEZ - Juntado em: 05/04/2024 19:22:49 - ff1dc2a
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iniciava a jornada, antes das 8 horas e trabalhava na escala 6x1 durante todo o pacto
laboral (id 12eabfc).

Por fim, a testemunha do reclamante confirmou a alegada


fraude nos controles de ponto.

Pelo exposto, não há como se acolher os controles de ponto


juntados pela defesa, prevalecendo a jornada apontada na exordial.

Assim, tenho como verdadeira a jornada das 07h30 às 15h50, de


segunda a sábado, com intervalo de 30 minutos e duas pausas de 10 minutos cada, nos
períodos de 04.06.2019 a 29.02.2020 e de 01.09.2020 a 14.03.2023.

Quanto ao período de 01.03.2020 a 31.08.2020, o reclamante


afirmou que trabalhou em home office e confessou que não laborou em sobrejornada,
além de ter usufruído corretamente do intervalo intrajornada, não havendo pleito de
pagamento de horas extras relativo ao referido lapso temporal.

Restou incontroverso que a jornada do reclamante deveria ser


de seis horas diárias e de trinta e seis horas semanais e de que fazia jus a duas pausas
de 10 minutos cada, além do intervalo intrajornada, conforme reconhecido pela
primeira reclamada, em defesa.

Observe-se que há horas extras quitadas a 50% e 100% (ID


3f9cb8c e seguintes).

Devido o adicional legal de horas extras de 50% para as horas


extraordinárias em dias regulares.

Assim, procede o pagamento das diferenças de horas


excedentes à 6ª diária e 36ª semanal, acrescido de adicional de 50%, com divisor 180,
observado o horário das 07h30 às 15h50, de segunda a sábado, com intervalo de 30
minutos e duas pausas de 10 minutos cada, nos períodos de 04.06.2019 a 29.02.2020 e
de 01.09.2020 a 14.03.2023, os dias efetivamente trabalhados, com exclusão do
período de home office (01.03.2020 a 31.08.2020), e dos períodos das férias e
afastamentos constantes do documento de id 8101a44, calculado sobre as verbas
salariais, considerada a evolução salarial do reclamante. Ficam excluídas da base de
cálculo as verbas de natureza indenizatória.

Em consequência, procedem os reflexos das diferenças de horas


extras em DSR, gratificações natalinas, férias acrescidas do terço constitucional, FGTS e
sua multa de 40% (pedido de nº 3 da inicial).

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Fica autorizada a dedução de eventual pagamento de horas


extras no período, conforme comprovantes já juntados aos autos até esta sentença,
com quitação dos mesmos títulos, observada a época própria das parcelas.

DO INTERVALO

Até o advento da Lei nº 8.923/94, prevalecia o entendimento de


que o desrespeito ao intervalo para refeição e descanso era mera infração
administrativa. Com o advento do art. 71, § 4º, da CLT, tornou-se obrigatório o
pagamento pelo descumprimento da norma, com pagamento do período todo do
intervalo devido, fosse 15 minutos ou 1 hora, conforme a jornada. Agora, com a nova
redação do §4° do art. 71, dada pela Lei nº 13.467/2017, somente é devido o
pagamento do período suprimido do intervalo.

Comprovada a não concessão do intervalo regular para


descanso e alimentação e repudiadas as assertivas atinentes ao interesse exclusivo da
reclamante no descumprimento da norma, procede o pedido, mas como indenização.
De fato, uma coisa é a indenização pelo descumprimento da norma; outra é o labor
naquele horário implicar em jornada extraordinária. Além da ausência de intervalo
ensejar, por vezes, a majoração da jornada, ela também acarreta o descumprimento de
uma norma de saúde e medicina do trabalho (Súmula do TST nº 437, I, com a redação
de 25.09.2012), devendo ser, por isso, indenizada.

A redução do intervalo só seria possível através de ato do


Ministério do Trabalho, e para aqueles que não laborassem em sobrejornada. Note-se,
destarte, que não basta a estipulação da redução por instrumento normativo coletivo,
porquanto é norma de ordem pública, não podendo as partes transigir sobre ela.

Repita-se que o intervalo atende não somente à refeição, mas


também ao descanso do empregado. Se o período de 1 hora foi descumprido, a norma
foi afrontada e não atingiu seu objetivo – a higidez física e mental do trabalhador.

Entretanto, não se aplica o adicional normativo para as horas


extras, quer por se tratar de indenização, quer em vista de percentual expresso em lei.

Tendo em vista que todo o período trabalhado é posterior à Lei


nº 13.467/2017, computa-se apenas o período não fruído de intervalo (30 minutos).

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Procede, portanto, uma indenização pela supressão do intervalo


, consistente no pagamento equivalente a 30 (trinta) minutos diários de 04.06.2019 a
29.02.2020 e de 01.09.2020 a 14.03.2023, acrescidos de 50%, nos dias efetivamente
trabalhados, com divisor 180, sem reflexos.

Em vista da infração, oficie-se à DRT, para as providências


cabíveis.

DO ENQUADRAMENTO SINDICAL

O enquadramento sindical do empregado observa, regra geral, a


base territorial da prestação dos serviços e a atividade preponderante do empregador,
integrando o obreiro a categoria profissional correspondente, independentemente da
função por ele desempenhada na empresa, salvo em se tratando de empregado
pertencente a categoria profissional diferenciada, nos termos do parágrafo 3º do artigo
511 da CLT.

Por sua vez, o entendimento consolidado da Súmula 374 do TST


é no sentido de que o empregado pertencente a categoria profissional diferenciada
não tem o direito de obter de seu empregador as vantagens previstas em norma
coletiva de cujo processo de produção não tomou parte a empresa ou o sindicato de
sua categoria econômica.

O reclamante alega a representatividade do SINTRATEL


(Sindicato dos Trabalhadores em Telemarketing e Empresas de Telemarketing da
Cidade de São Paulo e Grande São Paulo), em detrimento do SINTETEL (Sindicato dos
Trabalhadores em Empresas de Telecomunicações e Operadores de Mesas
Telefônicas no Estado de São Paulo).

Entretanto, no caso, resta prejudicado o pleito de


reconhecimento do enquadramento sindical visto que a reclamatória se resume aos
pedidos de horas extras e reflexos e intervalo intrajornada, não tendo sido requerida a
aplicação de qualquer norma prevista em acordo ou convenção coletiva, nem mesmo
no que se refere ao adicional de horas extras.

DA RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA

Tendo havido terceirização lícita de mão-de-obra, deve a


empresa tomadora responder, subsidiariamente, por eventual inadimplemento da

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prestadora de serviços, quanto às verbas decorrentes da condenação estabelecida em


sentença, por haver fruído da força de trabalho despendida.

É a reclamada tomadora quem escolhe a prestadora de serviços,


não cabendo escusar-se de responsabilidade por eventual inadimplemento, porquanto
terá incorrido em culpa in eligendo, por ocasião da contratação, e, posteriormente,
culpa in vigilando, por ausência de fiscalização. Neste sentido, a Súmula 331 do TST,
item IV. Não há que se falar em inconstitucionalidade de Súmula do C. TST, porquanto
não é lei, nem vincula o Juízo.

A condenação subsidiária, por sua vez, limita-se ao lapso


temporal de prestação de serviços d* laborista, comprovado nos autos, em prol das
tomadoras.

Infere-se da inicial, confrontando-se com as defesas, aliados à


confissão por desconhecimento sobre o período trabalhado pelo reclamante que a
responsabilidade subsidiária se deu pela 2ª reclamada BANCO BRADESCO S.A., por
todo o pacto laboral, ou seja, de 04.06.2019 a 14.03.2023.

Diante dessas considerações, declaro a responsabilidade


subsidiária do BANCO BRADESCO S.A., por eventual inadimplemento da empregadora
1ª reclamada FIDELITY NATIONAL SERVIÇOS E CONTACT CENTER LTDA, quanto às
verbas decorrentes da condenação estabelecida em sentença, no período de
04.06.2019 a 14.03.2023.

Apenas as obrigações de fazer estão excluídas da


responsabilidade subsidiária, não havendo que se falar em ausência de
responsabilidade por obrigações de natureza personalíssima, vez que não presentes
no feito. Note-se que mesmo as multas por ausência de efetivação de obrigação de
fazer, os recolhimentos fiscais, previdenciários e o FGTS decorrem do contrato de
trabalho, merecendo, pois, responsabilidade subsidiária da tomadora de serviços.

DA LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ

Requereu o reclamante a aplicação da pena de litigância de má-


fé para a segunda reclamada, alegando o falseamento da verdade, nas pretensões da
defesa.

Indefere-se a aplicação da penalidade, porquanto as alegações


da segunda reclamada não consubstanciam quaisquer das hipóteses de má-fé
processual capituladas pelo art. 80 do CPC.

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DA COMPENSAÇÃO

A reclamada empregadora não demonstrou ser credora de


quaisquer verbas de natureza trabalhista.

Por outro lado, havendo consectários pagos a mesmo título que


os deferidos em sentença, nos mesmos períodos de vencimento, devem ser abatidos
do crédito do reclamante, conforme fundamentação específica, em tópico próprio.

DA GRATUIDADE JUDICIÁRIA

Considerando-se que a demanda foi distribuída após


11.11.2017, já vigente a Lei nº 13.467/2017, que alterou o art. 790 da CLT, cumpre-se a
imposição de custas aos reclamantes, salvo se abrangidos pelos benefícios da Justiça
Gratuita.

Diante da nova redação do art. 790, o requisito para a concessão


dos benefícios da gratuidade judiciária é a percepção de salário igual ou inferior a 40%
do limite máximo dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social (§3°). Caso a
autoria perceba valor superior ao limite fixado pela lei, necessária a comprovação de
insuficiência de recursos para o pagamento das custas do processo (§4°).

No caso, o laborista asseverou que percebia R$ 1.416,45, salário


inferior a 40% do limite máximo dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social e
inexiste prova de suficiência econômica, razão pela qual deferem-se os benefícios da
gratuidade judiciária, isentando-se o reclamante do pagamento de custas e das
despesas processuais. Ressalte-se que esse direito não abrange litigância de má-fé.

DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

A presente ação foi ajuizada em 24/10/2023, após a entrada em


vigor da Lei nº 13.467/2017, a qual introduziu o artigo 791-A da CLT.

Com relação aos honorários de sucumbência e novos


parâmetros para concessão da gratuidade judiciária, introduzidos pela Lei nº 13.467
/2017 (artigos 791-A e 790, § 3º da CLT), somente são aplicáveis às ações ajuizadas a
partir de 11 de novembro de 2017, como é o caso. O questionamento de sua
constitucionalidade, em tese, como pedido declaratório de inconstitucionalidade da lei
ou de artigo, não é da competência funcional deste Juízo. De fato, no julgamento ADIn

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5766, o STF fixou tese de que os honorários advocatícios e periciais não podem ser
deduzidos do crédito do trabalhador, razão pela qual fica vedada essa modalidade de
quitação.

Segundo o artigo 791-A da CLT, ao advogado, ainda que atue em


causa própria, serão devidos honorários de sucumbência, fixados entre o mínimo de
5% (cinco por cento) e o máximo de 15% (quinze por cento) sobre o valor que resultar
da liquidação da sentença, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível
mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa.

Foi atribuído à causa o valor de R$76.207,34, que corresponde à


soma dos valores dos pedidos da inicial, mais honorários advocatícios.

A condenação soma aproximadamente o valor de R$76.000,00.

No caso, houve sucumbência total das reclamadas, razão pela


qual é devido pela parte vencida o pagamento de honorários advocatícios ao patrono
da outra parte vencedora, proporcionalmente ao labor dos advogados e,
principalmente, conforme o princípio da razoabilidade.

Assim, condena-se a reclamada FIDELITY NATIONAL SERVIÇOS E


CONTACT CENTER LTDA ao pagamento de honorários advocatícios em favor do
advogado do reclamante, ora arbitrado em R$3.800,00.

Condena-se a reclamada BANCO BRADESCO S.A. ao pagamento


de honorários advocatícios em favor do advogado do reclamante, ora arbitrado em
R$1.900,00.

No que toca à correção monetária sobre honorários advocatícios


, aplica-se aquela julgada pelo STF, sob pena da utilização de dois pesos e duas
medidas para o crédito que remunera o trabalho do reclamante e aquele que
remunera o labor do advogado. Destarte, aplicável a taxa SELIC, a partir da fixação dos
honorários advocatícios em sentença (05 de abril de 2024). A taxa mencionada já
abrange os juros.

DA CORREÇÃO MONETÁRIA e DOS JUROS SOBRE VERBAS


TRABALHISTAS

Em que pese a correção monetária trabalhista prevista no art.


39 da Lei nº 8.177/91 e a modificação instituída na CLT pela Lei nº 13.467/17, em

Assinado eletronicamente por: LAVIA LACERDA MENENDEZ - Juntado em: 05/04/2024 19:22:49 - ff1dc2a
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11.11.2017, que explicitou a aplicação da TR pelo art. 879, §7º, da CLT aos créditos
trabalhistas, houve determinação do STF para a aplicação de outra correção monetária,
que não a prevista em lei, no julgamento da ADC 58.

Da mesma forma, apesar da previsão de juros de 1% ao mês,


nos termos do art. 39 da Lei nº 8.177/91, a partir do ajuizamento da ação, conforme o
art. 883 da CLT, bem como não ter sido objeto da ação declaratória, houve a
modificação da aplicação de juros pelo STF, julgamento com efeito vinculante para este
Juízo.

Como a data de citação na Justiça do Trabalho não tem a


certificação da Justiça comum, para se evitar discussão na fase de liquidação e por se
tratar de fase pré-judicial, adota-se a data da distribuição como parâmetro da correção
monetária e juros aplicáveis.

Assim, conforme o STF, sobre as verbas trabalhistas vencidas,


aplicável a correção monetária pelo IPCA-E mensal, mais juros equivalentes à TR, até o
dia anterior ao da distribuição da ação e, a partir do ajuizamento («Ajuiz»), aplica-se a
taxa SELIC, apenas.

Note-se que os juros constam do voto principal da Ação


Declaratória de Constitucionalidade nº 58, que equiparou a correção do crédito
trabalhista ao comum, razão pela qual são devidos os juros da fase pré-judicial, em que
pese não haver constado do dispositivo dos Embargos de Declaração apreciados pelo
Supremo Tribunal Federal.

Observe-se a impossibilidade de se aplicar juros compostos, sob


pena de bis in idem, não cabendo, portanto, fazer alusões ao corpo do fundamento do
voto condutor do acórdão do Supremo Tribunal Federal. Assim, é devida a SELIC da
Receita Federal, usada no PJECALC deste TRT.

Nas parcelas salariais, aplica-se o índice de correção monetária e


juros pro rata die do mês subsequente ao da prestação de serviços (Súmula 381 do
TST), a partir do primeiro dia do mês, porquanto o favor legal de pagamento até o
quinto dia útil posterior serve à quitação oportuna das verbas trabalhistas, não
aproveitando ao inadimplente. No caso das demais cominações, a correção monetária
e juros incidem a partir do vencimento da parcela, ressalvada determinação específica
no tópico próprio.

DOS RECOLHIMENTOS TRIBUTÁRIOS

Assinado eletronicamente por: LAVIA LACERDA MENENDEZ - Juntado em: 05/04/2024 19:22:49 - ff1dc2a
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O recolhimento das contribuições previdenciárias deve ser feito


sobre as parcelas de natureza salarial deferidas em sentença, previstas no art. 28, I, da
Lei nº 8.212/91, excetuadas as contidas no § 9º e outras não constantes expressamente
da norma, apurando-se a incidência mês a mês (art. 276, §4º, do Decreto n º 3.048/99) e
aplicando-se as alíquotas previstas no art. 198 do Decreto nº 3.048/99, observado o
limite máximo do salário-de-contribuição (Súmula nº 368 do TST). Note-se que, em se
tratando de parcela tributária, a norma não poderia ensejar dúvida sobre o que
representa base de cálculo e o que consiste em parcelas isentas. Assim, há de se
interpretar o art. 28 da lei previdenciária de forma restritiva, em consonância com as
parcelas salariais descritas na CLT e, ausente a previsão, isentar outros valores da
incidência da contribuição. Por este prisma, sofrem a incidência da contribuição
previdenciária os salários, inclusive por comissão, percentagem ou in natura, gorjetas,
adicionais, gratificações, prêmios, bônus, bem como gratificações natalinas e férias
gozadas ou adquiridas. São base de cálculo, ainda, restituição ou reembolso de
descontos e horas extras e reflexos em DSR, gratificações natalinas e férias gozadas.
Indenizações não constituem base de cálculo. Ausente qualquer disposição legal
expressa sobre as demais, também não constituem base de cálculo previdenciária.

A reclamada responsável deverá fazer o recolhimento com a


escrituração das contribuições previdenciárias no eSocial do reclamante (evento S-
2500), confessadas em DCTFWeb - Reclamatória Trabalhista (evento S-2501) e
recolhidas mediante DARF, gerado pela DCTFWeb, nos termos do Ato Declaratório
Executivo Corat nº 13, de 27 de novembro de 2023, dispensando-se a utilização de
GFIP. Deverá considerar eventuais alterações salariais reconhecidas em sentença.
Devida a cobrança de juros Selic (art. 13 da Lei n.º 9.065/95) e multa (Lei n.º 8.212/91,
art. 34), ao INSS, somente a partir da prolação da sentença de liquidação, quando
postos os valores devidos, sendo possível, a partir daí, o adimplemento.

Os recolhimentos de Imposto de Renda devem ser efetivados


pela empregadora sobre as parcelas de natureza salarial descritas acima, apurando-se
os valores de cada parcela e observando-se o número e os meses de vencimento de
cada uma (art. 12-A da Lei nº 7.713/88, incluído pela Lei nº 12.350, de 20.12.2010), a fim
de se aplicar a tabela progressiva ora vigente (anexo da Instrução Normativa RFB nº
1.127, de 07.02.2011), incluída apenas a correção monetária, calculada ao final,
conforme o art. 46 da Lei nº 8.541/92, deduzidas as contribuições previdenciárias (art.
12-A da Lei nº 7.713/88, §3º, II). O Imposto de Renda não incide sobre os juros de mora,
por refletirem indenização pela intempestividade do pagamento, conforme
interpretação dada pelo STJ ao art. 404 do Código Civil de 2002 (REsp. 1037452, Rel.
Min. Eliana Calmon, 2ª T, j. 20.5.2008, DJ 10.06.2008). Em razão disso, não incide IR
também sobre a taxa SELIC.

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Fls.: 14

Fica autorizada a dedução das quantias de INSS devidas pelo


reclamante até o valor do que seria recolhido à época oportuna. Quanto à dedução do
IR, fica autorizada a dedução da mesma forma, no que ultrapassar o limite imposto
pela novel legislação. A reclamada responsável deverá comprovar no processo ambos
os recolhimentos tributários (art. 28 da Lei nº 10.833/2003 e art. 889-A, § 2º, da CLT).

Fica vedada a dedução para contribuição a terceiros, por


incompetência desta Justiça do Trabalho para a execução.

DISPOSITIVO

Diante do exposto, o Juízo da 8ª Vara do Trabalho de São Paulo,


Foro Central, no processo nº 1001579-57.2023.5.02.0008, julga PROCEDENTES os
pedidos feitos na Ação proposta por ANDERSON FERNANDES DE SOUZA em face de
FIDELITY NATIONAL SERVIÇOS E CONTACT CENTER LTDA e BANCO BRADESCO S.A., a
fim de condená-las a satisfazerem as seguintes obrigações, na forma da
fundamentação:

1. diferenças de horas excedentes à 6ª diária e 36ª semanal, acrescido de adicional


de 50%, com divisor 180, observado o horário das 07h30 às 15h50, de segunda a
sábado, com intervalo de 30 minutos e duas pausas de 10 minutos cada, nos
períodos de 04.06.2019 a 29.02.2020 e de 01.09.2020 a 14.03.2023, os dias
efetivamente trabalhados, com exclusão do período de home office (01.03.2020 a
31.08.2020), e dos períodos das férias e afastamentos constantes do documento
de id 8101a44, calculado sobre as verbas salariais, considerada a evolução salarial
do reclamante. Ficam excluídas da base de cálculo as verbas de natureza
indenizatória;
2. reflexos das diferenças de horas extras em DSR, gratificações natalinas, férias
acrescidas do terço constitucional, FGTS e sua multa de 40% (pedido de nº 3 da
inicial);
3. indenização pela supressão do intervalo, consistente no pagamento equivalente a
30 (trinta) minutos diários de 04.06.2019 a 29.02.2020 e de 01.09.2020 a
14.03.2023, acrescidos de 50%, nos dias efetivamente trabalhados, com divisor
180, sem reflexos.

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Fls.: 15

Onde cabível, observe-se a evolução salarial do laborista e os


dias efetivamente laborados, excluídos os afastamentos já comprovados no processo.
Utilize-se como base de cálculo o salário base, conforme fundamentação e documentos
já juntados, ressalvada a inclusão expressa de outras verbas em tópico próprio.

Autoriza-se a dedução das parcelas parcialmente quitadas a


mesmo título e no mesmo período de vencimento, conforme deferido na
fundamentação e documentos já juntados ao processo.

Concedem-se os benefícios da gratuidade judiciária para o


reclamante.

Condena-se a reclamada FIDELITY NATIONAL SERVIÇOS E


CONTACT CENTER LTDA ao pagamento de honorários advocatícios em favor do
advogado do reclamante, ora arbitrado em R$3.800,00.

Condena-se a reclamada BANCO BRADESCO S.A. ao pagamento


de honorários advocatícios em favor do advogado do reclamante, ora arbitrado em
R$1.900,00.

Os honorários serão atualizados pela taxa SELIC, a partir da


fixação em sentença (05 de abril de 2024).

Correção monetária das verbas trabalhistas vencidas pelo IPCA-


E mensal na fase pré-judicial, com juros mensais equivalentes à TR e, a partir de 24/10
/2023, atualização pela taxa SELIC, ressalvado vencimento específico.

Recolhimentos de imposto de renda e contribuições


previdenciárias pela responsável tributária, conforme a fundamentação, autorizada a
dedução da parte do reclamante quanto ao INSS, até o limite do que seria devido se o
adimplemento fosse oportuno, comprovando-se no processo.

A reclamada BANCO BRADESCO S.A. responde subsidiariamente


por eventual inadimplemento de parcelas pela reclamada FIDELITY NATIONAL
SERVIÇOS E CONTACT CENTER LTDA.

Custas pelas reclamadas no importe de R$1.520,00,


correspondente a 2% sobre o valor da condenação, fixado em R$76.000,00.

Cumpra-se a decisão no prazo de 08 (oito) dias da publicação


desta sentença.

Expeça-se ofício à DRT em razão da fraude nos controles de


ponto e na irregularidade na concessão do intervalo intrajornada.

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Fls.: 16

Oficie-se à União.

Atentem as partes à boa-fé processual.

Cientes as partes na forma da Súmula 197 do TST.

SAO PAULO/SP, 05 de abril de 2024.

LAVIA LACERDA MENENDEZ


Juíza do Trabalho Titular

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Certificado por TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2A REGIAO:03241738000139
https://pje.trt2.jus.br/pjekz/validacao/24040514023018700000342254386?instancia=1
Número do processo: 1001579-57.2023.5.02.0008
Número do documento: 24040514023018700000342254386

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