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Excelentíssimo (a) Senhor (a) Doutor (a) Juiz (a) de Direito da 29ª Vara Cível da Comarca de Belo
Horizonte – Minas Gerais

Processo nº 5120409-10.2020.8.13.0024

UNIMED BELO HORIZONTE COOPERATIVA DE TRABALHO


MÉDICO, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ/MF sob o nº 16.513.178/0001-76, com
sede na Rua dos Inconfidentes, nº 44, Funcionários, Município de Belo Horizonte, Estado de Minas
Gerais, CEP nº 30.140-120, vem, perante Vossa Excelência, por seu advogado que esta subscreve, nos
autos do processo em epígrafe que lhe move Maria Candida Costa Vieira Santos, tendo em vista a
sentença proferida nos autos interpor RECURSO DE APELAÇÃO, na forma do art. 1009 do Código de
Processo Civil, conforme razões expostas.

Outrossim, requer a remessa dos autos para o Egrégio Tribunal


de Justiça para seu processamento e julgamento.

Termos em que pede deferimento.


Belo Horizonte, 17 de agosto de 2022.

Thiago Mahfuz Vezzi


OAB/MG nº 153.604

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Origem: 29ª Vara Cível da Comarca de Belo Horizonte – MG

Processo Originário nº: 5120409-10.2020.8.13.0024

Apelante: Unimed Belo Horizonte Cooperativa de Trabalho Médico

Apelada: Maria Candida Costa Vieira Santos

RAZÕES APELAÇÃO

Egrégio Tribunal,

Colenda Turma,

Insignes Desembargadores.

1. Da admissibilidade do recurso

A apelante é considerada parte legítima, com interesse


sucumbencial, devidamente representado, conforme se verifica, portanto, integralmente preenchidos
os pressupostos objetivos e subjetivos de admissibilidade.

O preparo foi devidamente recolhido, conforme guias e


comprovantes de pagamento em anexo.

No que concerne à representação processual, o presente


recurso é assinado pelo patrono da recorrente, cujos poderes lhe foram outorgados pela procuração
já acostadas aos autos.

2. Da tempestividade

Tendo em vista que o prazo para interposição do presente


recurso é de 15 dias, a ser contado em di/as úteis, e levando em conta que a ciência da sentença, pela
requerida, ora Apelante, foi realizada 04/08/2022 (quinta-feira), o termo para apresentação do
presente se dá no dia 26/08/2022 (quarta-feira), ante existência do feriado municipal ocorrido em
15/08/2022, portanto, comprovada a tempestividade da presente apelação.
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3. Dos fatos

Em brevíssimo resumo tem-se que, alega a parte autora, em


síntese, ser beneficiária da Unimed e que teve seu abdômen queimado por mau uso, durante seu
parto.

Informa ter ajuizado ação anterior que foi extinta, por ter sido
proposta em Juizado Especial, e tratar-se de causa complexa. Aduz que então se submeterá a cirurgia
estética reparadora, tendo feito orçamento e quer imputar à Ré o custo com tal procedimento.

Em razão dos fatos narrados recorreu a este respeitável Juízo


com intuito que seja condenada a Ré, a arcar com a quantia de R$22.500,00 (Vinte e dois mil e
quinhentos reais), a título de danos materiais.

Em sede defensiva, a parte requerida, ora apelante,


demonstrou que a parte autora, ora apelada, deixou de instruir a inicial com documentos essenciais
para comprovar suas alegações, vez que apenas juntou um orçamento da cirurgia a ser realizada sem
qualquer comprovação de que a requerida tenha negado ou sequer sido inquirida sobre o feito. Diante
das afirmações realizadas em sua petição demonstra-se necessária a juntada dos documentos
comprobatórios, vez que o ônus de comprovar a constituição do direito parte do autor plano da parte
autora, ora apelada.

Ato contínuo, a apelante demonstrou que agiu integralmente


conforme previsto, sem possibilidade de invocação do CDC visto que não houve comprovação de
negativa ao procedimento cirúrgico a ser realizado pela parte autora, ora apelada.

Ato contínuo, a despeito das provas juntadas aos autos, foi


proferida sentença de procedência, nos seguintes termos:

“III – DISPOSITIVO. Isso posto, julgo procedente o pedido contido na petição


inicial, para condenar a ré a pagar à autora o valor de R$ 22.500,00 (vinte e dois
mil quinhentos reais) – Id 571445030 -, de forma que a ré deverá pagar tal
valor à autora, o qual deverá ser corrigido com base na tabela da Corregedoria
de Justiça do Poder Judiciário deste Estado, a partir da data do orçamento –
18/05/2019 -, acrescida de juros de mora de 1,0% ao mês, desde a citação.

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Condeno a demandada ao pagamento das custas processuais e honorários


advocatícios, que fixo em 15% sobre o valor da condenação, nos termos do artigo
85, § 2º, CPC”.

Diante dos termos mencionados, veio a apelante interpor o


presente recurso, para que seja reformada a r. decisão em busca do melhor direito.

4. Preliminares

4.1. Da inépcia da inicial não analisada. Ausente documento


obrigatório.

Conforme alegado em sede defensiva, a ora apelada não


carreou sua exordial com documentos que comprovem a negativa de autorização para o procedimento
pleiteado, pela ora apelante.

Os documentos que compõem os autos são meramente


relatórios médicos e orçamentos realizados pela autora com médico de sua preferência e em momento
algum comprovou a negativa do réu, tampouco que tenha sido realizado contato com a Ré para custeio
dos procedimentos pretendidos, ou ainda consulta sobre a possibilidade de realização de cirurgia
reparadora pelo plano de saúde.

Ora nobre julgadores, é claro e cristalino que apenas juntar


orçamento realizado de forma particular, tendo a autora, ora apelada, escolhido, inclusive, qual é o
médico a realizar tal procedimento não significa que a ré, se negou a realizar ou a cobertura de todos
os procedimentos citados.

Lado outro, importante ressaltar que o requerimento das


provas emprestadas, não elucidam o caso em comento dada a particularidade dos fatos alegados. Visto
que o direito da parte autora fora garantido por sentença em processo anterior, sem a determinação
de que a responsabilidade da ré, ora apelante, se daria conforme determinado nestes presentes autos.

Desta forma, resta claro que a parte autora deixou de instruir a


inicial com documentos essenciais para comprovar suas alegações, vez que o ônus de comprovar a
constituição do direito parte do autor, conforme artigo 319 e 320 do Código de Processo Civil:

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Art. 319. A petição inicial indicará:

(...)

VI - as provas com que o autor pretende


demonstrar a verdade dos fatos alegados;

Art. 320. A petição inicial será instruída


com os documentos indispensáveis à propositura da ação.

Por conseguinte, ainda que no CDC haja previsão da inversão do


ônus da prova como direito básico do consumidor, isto não libera a parte requerente de provar
qualquer fato constitutivo mínimo de seu direito.

Nesse sentido já decidiu o egrégio Superior Tribunal de Justiça,


in verbis:

“Não ocorre a inversão automática do


ônus da prova na hipótese de relação jurídica regida pelo CDC, uma vez que é
indispensável a verossimilhança das alegações do consumidor ou sua
hipossuficiência, não bastando apenas o fato de a relação ser consumerista,
pois a facilitação da defesa dos direitos do consumidor não significa facilitar a
procedência dos seus pedidos, mas a elucidação dos fatos por ele narrados,
transferindo o ônus da prova a quem, em tese, possua melhores condições de
fazê-lo, em razão da assimetria técnica e informacional existente entre as partes
em litígio.” (REsp 927.457/SP, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, 4ª Turma, j. em
13.12.11, DJe 01.02.12). (Grifos nossos).

Não haveria portanto, condição de que a requerida, ora


apelante, efetuasse a tomada de qualquer providência no sentido de realização da cirurgia autoral,
ante completa ausência de contato por parte da apelada.

Sendo assim, requer seja declarada a inépcia da petição inicial


por ausência de comprovação fática das questões alegadas, reformando a sentença combatida para
determinar a extinção do feito sem julgamento do mérito e condenando a parte autora, ora apelada,
no ônus da sucumbência.

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5. Das razões de reforma

5.1. Da inaplicabilidade do art. 14 do Código de Defesa do

Consumidor – responsabilidade subjetiva – obrigação de

meio

Ultrapassa da intransponível preliminar arguida, importante


ressaltar a inaplicabilidade do disposto pelo caput do art. 14 do Código de Defesa do Consumidor ao
caso em comento, vez que, estando a apelada a questionar exclusivamente ato médico, a eventual
responsabilidade da Cooperativa é subjetiva, ou seja, reclama para a averiguação da existência de
culpa, ao contrário do que a apelada pretendeu se fazer crer.

Do contrário, teríamos uma discrepância de ordem prática e um


desequilíbrio de tratamento relevante ao ponto de configurar manifesta e direta violação à Súmula
341 do STF e aos mais basilares preceitos trazidos pelo Código Civil concernentes à responsabilidade
civil, pois presumir-se-ia a culpa da Cooperativa por ato oriundo de profissional liberal mas em relação
a este discutiria se houve ou não culpa.

Este entendimento já foi, inclusive, consolidado pela


jurisprudência do E. TJMG, senão vejamos:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE


INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS. RESPONSABILIDADE CIVIL
MÉDICA. CIRURGIA MAMÁRIA REPARADORA (MAMOPLASTIA). HOSPITAL.
RESPONSABILIDADE SUBJETIVA. OBRIGAÇÃO DE MEIO E NÃO DE RESULTADO.
ERRO MÉDICO. NÃO CONFIGURAÇÃO. INEXISTÊNCIA DE ATO ILÍCITO. DEVER DE
INDENIZAR AFASTADO. APELO IMPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA.

Profissionais liberais, categoria em que se incluem os médicos,


são regidos pela responsabilidade subjetiva quanto ao desempenho de seus ofícios, a teor do disposto
no art. 14, §4°, do CDC. Discutida a responsabilidade civil por erro supostamente ocorrido em cirurgia,
aplicável o regime de responsabilidade subjetiva tanto ao médico, quanto ao hospital. Entendimento
consolidado do Superior Tribunal de Justiça e adotado por parte relevante da doutrina.

Não cabendo, por fim, determinar a responsabilidade da ora


apelante nos presentes autos como objetiva, mas sim subjetiva, demonstrando assim a
inaplicabilidade do art. 14 do Código de Defesa do Consumidor ao caso presente, passa-se a
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demonstrar a ausência de falha na prestação de serviços por parte da Unimed BH, o que
inevitavelmente deverá ser analisada para que seja revista a r. sentença para que sejam julgados
improcedentes os pedidos iniciais.

5.2. Da ausência do dever de indenização por danos

Materiais. Ausente negativa pela apelante.

Restou demonstrado que não houve juntada ou qualquer outra


forma de comprovação de qualquer responsabilidade da requerida, ora apelante, pelos fatos narrados
na inicial, isso porque a requerida prestou todos os serviços contratados com louvor, inexistindo
demonstração de falha da mesma e de seus profissionais.

Os fatos narrados na inicial não foram causados pela apelante,


vez que as alegações são exclusivamente em face conduta do médico que assistiu a autora, não sendo
mencionada nenhuma falha na prestação de serviço da requerida, sendo necessário esclarecer ainda
que conforme amplamente comprovado, inexistiu qualquer erro médico, seja por negligência,
imprudência, imperícia ou mesmo por omissão.

Portanto, outra não é a conclusão à qual se chega, senão a de


que a parte autora, ora apelada, ajuizou presente demanda em face da requerida de forma
manifestamente desnecessária, movendo a máquina do Poder Judiciário para solução de lide que,
simplesmente não existe. Evidente é o fato de que não houve, por parte da ré, qualquer transgressão
de norma; e tampouco qualquer evidência de prática de ação ou omissão voluntária, negligência ou
imprudência.

Ante a inexistência de responsabilidade da Apelante ou


qualquer ação que possa ter gerado os danos indicados pela autora em sua peça exordial, não há que
se falar em obrigação da requerida em custear qualquer tipo de procedimento estético/reparador na
autora, sendo ônus da mesma o custeio de eventual procedimento para melhora da cicatriz inerente
ao procedimento realizado para restabelecimento de sua saúde.

Não foi comprovado nenhuma ofensa a ordem material ou


moral da autora por ato ilícito da requerida, que não negou nenhum procedimento, se disponibilizando
seus serviços a tempo e modo. De igual forma, havendo somente reclamação da parte autora, ora
apelada, sem que haja nenhuma comprovação do pedido e de eventual ato ilícito da requerida, sendo

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inexistente qualquer ato que enseje o dever de ressarcir a autora ou a indenizá-la, vez que inexistente
conduta ilegal da requerida.

Ainda, quanto a distribuição do ônus probatório processual,


assim estabelece o CPC/2015:

Art. 373. O ônus da prova incumbe:

I - ao autor, quanto ao fato constitutivo


de seu direito;

II - ao réu, quanto à existência de fato


impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor. (Grifo nosso)

Ante ausência de qualquer comprovação ou negativa por parte


da apelante quanto a responsabilização sobre a cirurgia a ser realizada pela ora apelada, resta
cristalino a ausência de responsabilidade da requerida no caso em questão, não existindo
possibilidade de manutenção da condenação da mesma por eventual ato ilícito, sendo imperativa a
revisão do julgado de piso para que sejam reconhecidos improcedentes os pedidos exordiais.

Em respeito ao princípio da eventualidade e caso


ultrapassados todos os argumentos alhures expressados, requer a ora apelante, que caso os doutos
julgadores entendam por manter a procedência do pleito exordial, que seja determinado a
realização de pelo menos 3 orçamentos médicos distintos, bem como seja verificada a possibilidade
de realização do procedimento cirúrgico, por médico e em instituição cooperada da ora apelante.

Ato contínuo, caso seja mantido a determinação de reembolso


pela parte ré, ora apelante, que este seja limitada aos valores que seriam gastos caso a cirurgia fosse
realizada por médicos e em estabelecimento cooperado, evitando desequilíbrio na relação
existente.

6. Dos pedidos

Ante o exposto, requer o


conhecimento e provimento do presente Recurso de Apelação, a fim de reformar a sentença in totum,
pela improcedência dos pedidos exordiais, acolhendo as presentes razões recursais. Eventualmente,
caso vossas excelências entenda pela manutenção da condenação que seja determinado a realização
de pelo menos 3 orçamentos médicos distintos, bem como seja verificada a possibilidade de realização
do procedimento cirúrgico, por médico e em instituição cooperada da ora apelante, ou ainda, que,
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mantido a responsabilidade de arcar/reembolsar a realização da cirurgia, que este seja limitada aos
valores que seriam gastos caso a cirurgia fosse realizada por médicos e em estabelecimento
cooperado, evitando desequilíbrio na relação existente.

Por fim, requer que todas as publicações e atos processuais


sejam proferidos em nome do advogado Thiago Mahfuz Vezzi, regularmente inscrito na OAB/MG sob
o número 153.604, com escritório na Avenida Paulista, 171, 8º andar, Bela Vista, São Paulo/SP, CEP
01311-904, onde recebe intimações e notificações, sob pena de nulidade, por força do artigo 77, inciso
V, e artigo 272, § 5º, ambos do Código de Processo Civil.

Termos em que pede deferimento.


Belo Horizonte, 17 de agosto de 2022.

Thiago Mahfuz Vezzi


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