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Poder Judiciário
Justiça do Trabalho
Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região

Ação Trabalhista - Rito Ordinário


1001026-31.2023.5.02.0001

Processo Judicial Eletrônico

Data da Autuação: 11/07/2023


Valor da causa: R$ 348.460,35

Partes:
RECLAMANTE: LUCAS TIMOTEO DE OLIVEIRA
ADVOGADO: LUKAS FERNANDES RIBEIRO
ADVOGADO: RENATHO FERNANDES RIBEIRO
RECLAMADO: ITAU UNIBANCO S.A.

ADVOGADO: LEANDRO GONZALES


PERITO: ANTONIO ROBERTO DOS SANTOS
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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DO TRABALHO DA 1ª VARA DO TRABALHO


DE SÃO PAULO/SP.

Processo nº 1001026-31.2023.5.02.0001

LUCAS TIMOTEO DE OLIVEIRA, já qualificado nos autos em


epígrafe, vêm, por meio de seu advogado, respeitosamente, à presença de
Vossa Excelência, manifestar-se sobre a defesa e documentos:

1. DA AUSÊNCIA DE INÉPCIA DA INICIAL – HORAS EXTRAS – ALEGAÇÃO DE


CERCEAMENTO DE DEFESA E PEDIDO GENÉRICO

A Reclamada alega ser necessária a extinção do pleito


sem julgamento do mérito, pois afirma que a Reclamante não descreveu as
atividades por ela exercidas.

Ora Excelência, é possível verificar o incrível ABSURDO e


total DESESPERO da Reclamada em MAIS UMA VEZ esquivar-se das suas
obrigações trabalhistas, tendo em vista que, o princípio BÁSICO do direito é que
a exceção NÃO SE PRESUME, sendo de responsabilidade total do Reclamado o
ônus da prova de que o Reclamante exercia cargo/função de confiança.

Assim, é espantoso tal “desconhecimento jurídico” por


parte da Reclamada, beirando a MÁ-FÉ PROCESSUAL, uma vez que se trata de
uma das maiores Instituições Bancárias do Brasil, inclusive contendo vasto corpo
jurídico para defesa de seus pleitos.

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Inegavelmente, ao alegar que o Autor exercia cargo de


confiança para enquadrá-la na exceção prevista do §2º do art. 224 da CLT, a
reclamada atraiu para si o ônus probatório, tendo em vista se tratar de fato
impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do Reclamante, não se admitindo
a inversão do ônus da prova.

Desta feita, a regra é o Bancário se enquadrar na jornada


especial de 6 horas, sendo a exceção o cargo de confiança.

Ademais, caso o entendimento do Banco seja no sentido


de que o Reclamante exercia cargo de confiança, é responsabilidade deste
provar tal alegação, afastando assim a hipótese arguida de cerceamento de
defesa e pedido genérico.

Destarte, as alegações da Reclamada não merecem


prosperar, inviabilizando assim seu pleito na presente preliminar.

2. DOS LIMITES DA LIDE

A reclamada em caso de condenação, requer seja a


condenação limitada apenas à 7ª e 8ª hora, tendo em vista a confissão do
Reclamante.

Ocorre que o Reclamante pleiteia as horas extras


excedentes à 6ª hora, devendo para tanto, em caso de condenação serem
consideradas todas as horas extras prestadas a partir da 6ª diária.

3. PROVA EMPRESTADA. INSPEÇÃO JUDICIAL. ADICIONAL DE


PERICULOSIDADE

O reclamado afirma que o pedido de adicional de


periculosidade deve ser julgado improcedente, sob o argumento de que
acostou aos autos inspeção judicial e provas emprestadas, porém razão não
lhe assiste.

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No mesmo sentido, a Reclamante também acostou aos autos


prova emprestada de que o ambiente de trabalho era periculoso.

Ocorre que, a aferição da periculosidade é feita por meio


perícia técnica, por perito judicial de confiança deste MM. Juízo, garantindo,
assim, a imparcialidade e individualização da análise probatória na presente
reclamação trabalhista.

Diante do exposto, os argumentos do reclamado devem ser


afastados e, consequentemente, o pedido de adicional de periculosidade
deve ser julgado procedente.

4. DO PROTESTO INTERRUPTIVO DA PRESCRIÇÃO

A Reclamada requer o reconhecimento da prescrição


quinquenal, e, sucessivamente, da bienal, todavia, tal alegação não merece
prosperar.

O Sindicato dos Bancários da Grande São Paulo moveu


ação civil Pública de protesto interruptivo prescricional em face do Reclamado,
o qual foi distribuído perante a 84ª vara do Trabalho de São Paulo sob o n°
1000774-17.2016.5.02.0084 (Doc. anexo). A referida ação teve como objeto
interromper a prescrição em relação as horas extras para os empregados da
reclamada que exercem a carga horária de 8 horas, porém, enquadram- se no
“caput” do artigo 224 da CLT, dos quais exercem funções técnicas.

A ação judicial retro citada vez reconhecida as atividades


da Reclamante nos termos do “caput” do artigo 224 da CLT,
consequentemente a jornada de 6hs (seis) horas diárias, a prescrição do direito
do obreiro de pleitear as horas extras deverá retroagir à data da distribuição da
Ação Civil Pública (05/05/2016), ou seja, o período imprescrito retroagirá desde
05/05/2011 até a rescisão do contrato de trabalho da Reclamante.

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Desse modo, o presente protesto tem a finalidade de


interromper a prescrição em relação da Reclamante que compõe a base
territorial do Sindicata Autora da ação civil pública em desempenho de função
de natureza técnica, submetidos a jornada de 8 (oito) horas.

Nos termos da Orientação Jurisprudencial 392 da SDI-I, do


C. TST, o protesto judicial encontra-se sedimentado, in verbis:

“O protesto judicial é medida aplicável no processo do trabalho,


por força do art. 769 da CLT e do art. 15 do CPC de 2015. O
ajuizamento da ação, por si só, interrompe o prazo prescricional,
em razão da inaplicabilidade do § 2º do art. 240 do CPC de 2015
(§ 2º do art. 219 do CPC de 1973), incompatível com o disposto
no art. 841 da CLT.”

Ressalta-se que o Sindicato conforme art. 8º, III da


Constituição Federal, é legitimo para defesa dos direitos e interesses coletivos
ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas.

No mesmo sentido tem-se recentes decisões em relação


ao protesto interruptivo em relação a prescrição quinquenal em relação as
horas extras bancárias;

“(...) Prescrição - O Sindicato dos Empregados em


Estabelecimentos Bancários de São Paulo, Osasco e Região
ingressou com Ação Cautelar de Protesto visando interromper o
prazo prescricional para a propositura de ações individuais que,
eventualmente, discutissem o pagamento de horas extras por
funcionários da reclamada, especialmente aqueles submetidos
à jornada de 8 horas diárias. Pois bem. A ação cautelar justifica-
se pelas situações de perigo iminente que, se consumadas,
tornariam inútil o direito reconhecido e, nesse aspecto, é
instrumento processual provisório cuja finalidade é a garantia da
eficácia prática do provimento jurisdicional a ser concedido em
futuro processo de conhecimento ou de execução.

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O artigo 7º, XXIX, da Constituição Federal estabelece a


prescrição dos créditos resultantes das relações de trabalho em
cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite
de dois anos após a extinção do contrato de trabalho.

O art. 202, do CC, por sua vez, estabelece que a interrupção da


prescrição, que somente poderá ocorre uma vez, dar-se-á:

"I - por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a


citação, se o interessado promover no prazo e na forma da lei
processual; II - por protesto, nas condições do inciso
antecedente".

Malgrado no Direito Processual do Trabalho não haja norma


específica que regule a interrupção da prescrição, o protesto
judicial é medida plenamente aplicável também nesta seara,
por força do artigo 769 e 8º, parágrafo único da CLT.

Pondere-se que a medida cautelar de protesto interruptivo da


prescrição caracteriza-se como um procedimento de jurisdição
voluntária, que atribui ao juízo meras providências
administrativas, consoante se extrai do disposto no art. 726,
parágrafo 2º do CPC, que trata das notificações e interpelações
judiciais, in verbis:

"Quem tiver interesse em manifestar formalmente sua vontade a


outrem sobre assunto juridicamente relevante poderá notificar
pessoas participantes da mesma relação jurídica para dar-lhes
ciência de seu propósito. § 2º Aplica-se o disposto nesta Seção,
no que couber, ao protesto judicial."

Daí porque, não comportando qualquer apreciação do mérito,


para que a interrupção da prescrição se opere, basta que a
parte requerente exponha as razões de fato e jurídicas na
petição inicial, demonstrando a existência de animus futuro
para propositura de ação, evidenciando o interesse no exercício
da pretensão, o que foi observado no caso em tela.

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Por oportuno e derradeiro, vale transcrever o entendimento


cristalizado na OJ 392 da SBDI-1/TST:

"Prescrição. Interrupção. Ajuizamento de protesto judicial. Marco


inicial. O protesto judicial é a medida aplicável no processo do
trabalho, por força do art. 769 da CLT e do art. 15 do CPC de
2015. O ajuizamento da ação, por si só, interrompe o prazo
prescricional, em razão da inaplicabilidade do § 2º do art. 240
do CPC de 2015, incompatível com o disposto no art. 841 da
CLT".

Destarte, declaro a interrupção da prescrição, tanto bienal


quanto quinquenal, a partir de 26.10.2016, data da distribuição
da ação.

Ante o exposto, julgo PROCEDENTE a ação cautelar proposta


pelo SINDICATO DOS EMPREGADOS EM ESTABELECIMENTOS
BANCÁRIOS DE SÃO PAULO, OSASCO E REGIÃO em face do
BANCO DO BRASIL para declarar a interrupção da prescrição
em 26.10.2016. ” (80ª Vara do Trabalho da Comarca da
Capital/SP, Dra. Emanuela Angélica Carvalho Paupério,
Processo 1002008-65.2016.5.02.0009, Partes: Sindicato
Empregados Estabelecimentos Bancários de São Paulo e Banco
do Brasil S/A, j. 25/8/2017)

“Em decisões recentes, a SBDI-1 do C.TST tem entendido que, em


controvérsias relacionadas à duração do trabalho (horas extras,
intervalo e adicional noturno), decorrentes de política
trabalhista adotada pela empresa, caracteriza-se a lesão
coletiva (direito individual homogêneo), a ensejar a atuação do
sindicato como substituto processual. O sindicato é, portanto,
parte legítima para intentar o protesto interruptivo da prescrição.

Da mesma forma, o posicionamento do Tribunal Superior do


Trabalho encontra-se sedimentado no sentido de que o protesto

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interruptivo interrompe a prescrição bienal e a quinquenal, não


prosperando a insurgência do réu, neste aspecto.

Por fim, quanto à identidade de objeto, o exame dos


documentos coligidos aos autos e os próprios termos da petição
inicial revelam que o protesto interruptivo foi ajuizado para
interromper a prescrição dos empregados que são submetidos
à jornada de oito horas, mas que não se enquadram no art. 224
da CLT.

Assim, a análise da matéria confunde-se com o próprio mérito


da demanda, estando condicionada ao pronunciamento, por
este Juízo, se as atividades exercidas pela Reclamante possuem
natureza técnica ou se estavam enquadradas como cargo de
confiança. ” (52ª Vara do Trabalho da Comarca da Capital/SP,
Dra. Gerti Baldomera de Catalina Perez Greco,
Processo1000067-14.2017.5.02.0052, Partes: Maria Regina Keico
Fukunishi Yamamoto, Banco do Brasil, J.29/6/2017).

No mais colacionamos o entendimento das Turmas do C.


TRT da 2ª Região acerca do tema em discussão:

“(...)PROCESSO Nº 1001345-09.2018.5.02.0022 - 4ª TURMA

RECURSO ORDINÁRIO DA 22ª VARA DO TRABALHO DE SÃO


PAULO

RECORRENTES:

1. PAULO CANDIDO DE ALMEIDA

2. ITAÚ UNIBANCO S/A

“(...) 2.2. DO RECURSO ORDINÁRIO DA RECLAMANTE

2.2.1. Protesto interruptivo prescricional

Pleiteia a Autora pela procedência do pleito de horas extras.

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Requer a reforma da r. sentença para que a prescrição relativa


às horas extras,

retroagir aos 5 anos anteriores a data da distribuição do Protesto


Interruptivo, ou seja, 05.05.2016, assim o período imprescrito
retroagirá desde 05.05.2011 até a rescisão do contrato de
trabalho.

Justifica seu pedido alegando que: "Primordialmente, insta


consignar que nos exatos termos noticiados na exordial,
esclareceu a Reclamante que o Sindicato dos Bancários da
Grande São Paulo moveu ação civil Pública de protesto
interruptivo prescricional em face do Reclamado, o qual foi

distribuído perante a 84ª vara do Trabalho de São Paulo sob o n°


1000774-17.2016.5.02.0084 (Doc 3.0 à 3.5 da exordial). A referida
ação teve como objeto interromper a prescrição em relação as
horas extras para os empregados da reclamada que exercem a
carga horária de 8 horas, porém, enquadram- se no "caput" do
artigo 224 da CLT, dos quais exercem funções técnicas. (...)".(fl.
1894 do PDF).

Com razão.

(...)

Em face do exposto, dou provimento ao recurso no tópico, para


declarar a prescrição quinquenal dos pleitos anteriores ao
ajuizamento da ação de protesto, ou seja, de 05.05.11, devendo
assim retroagir a condenação da ré no pagamento de horas
extras à data da distribuição do protesto.

Recurso provido no tópico. (...) “

PROCESSO TRT/SP NO 1001444-14.2018.5.02.0075

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RECURSO ORDINÁRIO DA 75ª VARA DO TRABALHO DE SÃO


PAULO

RECORRENTES: ITAU UNIBANCO S.A. E JOSE AUGUSTO MARTINS


Duarte RECORRIDOS: OS MESMOS

JUÍZA PROLATORA DA DECISÃO: DR. WALDIR DOS SANTOS FERRO

DO PROTESTO INTERRUPTIVO DA PRESCRIÇÃO

QUINQUENAL. Incontroverso que o Sindicato dos Empregados


em Estabelecimentos Bancários de São Paulo ingressou com a
ação civil pública (processo de nº 1000774.17.2016.5.02.0084),
para tratar sobre o protesto interruptivo da prescrição em face
da demandada Itaú Unibanco S/A. O objetivo da referida ação
era o de preservar os direitos dos bancários submetidos à
jornada de 8 horas diárias, sem o devido pagamento das 7ª e 8ª
horas como extraordinárias, aos empregados que efetivamente
se enquadravam ao caput do art. 224 da CLT (fls. 26/28).
Considerando o ajuizamento da ação de protesto preclusivo em
05.05.2016 (fl. 24), restou interrompida a contagem do prazo
prescricional, protegendo assim as parcelas vencidas nos cinco
anos anteriores ao ajuizamento da referida ação, conforme
entendimento disposto na OJ 392, da SDI-1, do C. TST, que ora
transcrevo: "392. PRESCRIÇÃO. INTERRUPÇÃO. AJUIZAMENTO DE
PROTESTO JUDICIAL. MARCO INICIAL. (republicada em razão de
erro material) - Res. 209/2016, DEJT divulgado em 01, 02 e
03.06.2016 O protesto judicial é medida aplicável no processo do
trabalho, por força do art. 769 da CLT e do art. 15 do CPC de
2015. O ajuizamento da ação, por si só, interrompe o prazo
prescricional, em razão da inaplicabilidade do § 2º do art. 240
do CPC de 2015 (§ 2º do art. 219 do CPC de 1973), incompatível
com o disposto no art. 841 da CLT."

Desta feita, reforma-se a decisão de Origem para reconhecer a


prescrição quinquenal, referente ao pedido de horas extras e

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respectivos reflexos, às pretensões anteriores a 05.05.2011. Aos


demais pedidos, que seja observada a prescrição reconhecida
na Origem (fl. 2253).

Outra sorte não socorre a reclamante senão seja acolhida


a pretensa interrupção de prescrição.

Outrossim, nem alegue a reclamada a prescrição quanto


ao referido requerimento sob a argumentação de que decorrido o prazo
quinquenal para o ajuizamento da ação com tal pretensão. Isto porque,
primeiramente o trânsito em julgado da demanda que interrompeu a
prescrição somente ocorreu em 25.11.2016, ou seja, em se tratando de causa
interruptiva judicial, a citação válida tem o condão de interromper o prazo
prescricional independentemente do desfecho dado ao processo se com ou
sem julgamento de mérito, fazendo com que a fluência do prazo prescricional
se reinicie, por inteiro, apenas após o último ato do processo, qual seja, o trânsito
em julgado, nos termos do parágrafo único do art. 202 do Código Civil.

E não fosse apenas isto, se quer há que se falar em decurso


de prazo para tal requerimento, haja vista que, o decurso do prazo quinquenal
não obsta o ajuizamento de ação posterior, como demonstrado a seguir.

Nesse sentido, primeiramente, cumpre ressaltar que o


protesto é um procedimento não contencioso e meramente conservativo do
direito em tese existente.

Conforme explicam Luiz Guilherme Marioni e Sergio Cruz


Arenhart, “Na realidade, essas medidas ostentam caráter de clara jurisdição
voluntaria, em que o judiciário é utilizado apenas como veículo para
manifestação da intenção do requerente. (...) Em todos estes casos, como se
vê, não há propriamente atuação jurisdicional, no sentido de que nenhuma
providencia se espera do órgão judicial, a não ser o encaminhamento ao
requerido da manifestação apresentada pela Autora. Não há, portanto, decisão
judicial nestas medidas de modo que não cabe ao magistrado pronunciar-se

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sobre a mora, sobre a dívida, sobre o contrato, etc.” (Curso de processo civil:
processo cautelar, Vol.4,6ª ed., São Paulo, Editora Revista dos Tribunais,2014,
pp.300-301)

Ainda, na mesma linha, Humberto Theodoro Junior afirma


que “O protesto não acrescenta nem diminui direitos ao promovente. Apenas
conserva ou preserva direitos porventura preexistentes. Não tem feição de litigio
e é essencialmente unilateral em seu procedimento. O outro interessado apenas
recebe ciência dele”. E mais: “Da unilateralmente e não contenciosidade do
protesto, interpelação e notificação, decorre a impossibilidade de defesa ou
contraprotesto nos autos em que a medida é processada (art 871). Nem,
tampouco, se admite a interposição de recurso contra seu deferimento” (Curso
de direito processual civil, Vol.II, Rio de Janeiro, Forense, 2014,p.p. 668-670)

Pois bem.

Diante disto, não há que se falar em prescrição quanto ao


pleito requerido neste tópico, haja vista que, primeiramente, a ação em
comento apenas conservou o direito da Autora e nos termos do artigo 202 do
Código, a interrupção da prescrição somente poderá ocorrer uma única vez.
Logo, o prazo prescricional da Reclamante para propor tal pleito contar-se-á
apenas quanto ao disposto no artigo 7ª, inciso XXIX da Constituição Federal.

Ainda, a doutrina é uníssona ao afirmar que a interrupção


somente ocorre uma única vez para determinado prazo prescricional e por tal
razão, não poderá a Reclamante ter seu prazo prescricional precluído em razão
do trânsito em julgado da ação do protesto sem se quer, ter iniciado, de fato, o
seu prazo prescricional para ingressar com a ação nos termos da Constituição
Federal, haja vista que o protesto interruptivo é um procedimento conservativo
ao direito da reclamante e não terminativo e por tal razão, não há também que
se alegar ferimento ao artigo 11 da CLT.

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Ademais, para que não restem dúvidas, destacamos o


seguinte entendimento:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO EM


RECURSO DE REVISTA AÇÃO COLETIVA ANTERIOR INTERRUPÇÃO
DA PRESCRIÇÃO REINÍCIO DA CONTAGEM DO PRAZO TRÂNSITO
EM JULGADO DA DECISÃO OMISSÃO CONFIGURADA
ESCLARECIMENTOS Conforme consignado no acórdão
embargado, o ajuizamento da ação coletiva anterior
interrompe a fluência do prazo prescricional, seja bienal, seja
quinquenal Configurado o trânsito em julgado da decisão na
primeira ação em 25 3 2006 com ajuizamento da segunda ação
em 14 7 2010 não incide a prescrição quinquenal Isso porque,
interrompido o prazo prescricional, o reinício da contagem
opera se com a consumação da sua causa interruptiva, ou seja,
com o trânsito em julgado da decisão proferida na ação
anterior, e não com o ajuizamento da ação que gerou a
interrupção, na conformidade do art 202 parágrafo único, do
CC No caso, o fato de a primeira ação ter sido ajuizada em 11
11 2003 como registrado pelo TRT, não tem relevância, pois o
reinício do prazo ocorre com o trânsito em julgado da decisão,
e não a partir da propositura da primeira ação Embargos de
declaração providos para prestar esclarecimentos, sem efeitos
modificativos (TST ED AIRR 6849520105050102 Data de
Julgamento 29 04 2015 Data de Publicação DEJT 04 05 2015).

Destarte, requer que seja acolhida a preliminar pelo do


protesto interruptivo em favor da Reclamante, nos termos da Ação Civil Pública,
processo n.º 1000774-17.2016.5.02.0084, que tramitou na 84º Vara do Trabalho
da Capital – São Paulo, e, consequentemente, afastada a tese patronal.

5. DA INAPLICABILIDADE DA LEI 13.467/2017

Considerando que a Lei 13.467/2017 não trouxe normas


específicas de transição, há de se esclarecer que é pacífico entendimento de

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que as novas normas de direito material somente se aplicam às relações


jurídicas não consumadas na vigência da nova lei, de modo a não ferir o artigo
5º, XXXVI, da Constituição Federal, que trata do direito adquirido, do ato jurídico
perfeito e da coisa julgada.

No caso em tela, importa observar que o contrato de


trabalho foi firmado sob a égide do Decreto Lei nº 5.452 de 1943, portanto, são
inaplicáveis as alterações da Consolidação das Leis de Trabalho por intermédio
da Lei 13.467/2017 que possa causar prejuízos ao obreiro sob pena de violação
dos princípios constitucionais fundamentais.

Tal entendimento é corroborado também no artigo 468 da


CLT que determina: “nos contratos individuais de trabalho só é lícita a alteração
das respectivas condições por mútuo consentimento, e ainda assim desde que
não resultem direta ou indiretamente, prejuízos ao empregado, sob pena de
nulidade da cláusula infringente dessa garantia”.

Destarte, requer que sejam resguardados todos os direitos


adquiridos no transcurso do contrato de trabalho da obreira.

6. DA IMPOSSIBILIDADE DE LIMITAÇÃO DO VALOR DA CAUSA

A reclamada pleiteia a limitação da condenação ao valor


atribuído à causa, porém razão não lhe assiste, vejamos.

O valor da causa se destina, especificamente, à


determinação do rito processual, podendo ser considerado como teto em caso
de condenação nesta Justiça Especializada.

Nessa esteira, o Colendo Tribunal Superior do Trabalho já


se posicionou inúmeras vezes, conforme transcrição de uma dessas decisões:

"Recurso de revista do Reclamante. Apelo sob a égide da


Lei 13.467/2017. Pedidos líquidos. Limitação da
condenação aos valores de cada pedido. Aplicação do

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artigo 840, § 1º, da CLT, alterado pela Lei 13.467/2017.


Transcendência reconhecida. (...) Assim, a discussão
quanto à limitação da condenação aos valores
constantes nos pedidos apresentados de forma líquida na
exordial deve ser considerada apenas como fim estimado,
conforme normatiza o parágrafo 2º do artigo 12 da IN
41/2018 desta Corte. A decisão regional que limitou a
condenação aos valores atribuídos aos pedidos na inicial
configura ofensa ao artigo 840, § 1º, da CLT. Reconhecida
a transcendência jurídica do recurso de revista. Recurso
de revista conhecido e provido. PROCESSO Nº TST-ARR-
1000987-73.2018.5.02.0271, 6ª Turma, ministro relator:
Augusto César Leite de Carvalho Data: 14/10/2020.
Agravo de instrumento em recurso de revista - 1 - limitação
do valor da condenação - Não se divisa ofensa aos arts.
141 e 492 do CPC, na forma elencada pela alínea 'c' do
artigo 896 Consolidado, na medida em que, nas causas
sujeitas ao rito ordinário, o montante atribuído à causa não
pode ser reconhecido como limite máximo do crédito
trabalhista, pois se destina especificamente à atribuição
de competência, à fixação do rito procedimental e às
custas processuais arbitradas ao sucumbente no objeto da
demanda. (...) Agravo de instrumento conhecido e não
provido. (TST - AIRR11612-14.2015.5.15.0018 – 8ª Turma,
relatora ministra Dora Maria da Costa, 2/10/2020)". (grifo
nosso)

Tendo em vista a finalidade específica de fixar


competência, rito procedimental e custas processuais da atribuição ao valor da
causa, conforme pacífica jurisprudência do C. TST, os argumentos da
reclamada não devem prosperar.

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Diante do exposto, requer o Reclamante que o valor da


condenação não seja limitado ao valor atribuído à causa.

7. DA INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA E INAPLICABILIDADE DA CLÁUSULA 11ª


DA CCT – TEMA 1046

A reclamada pleiteia pela aplicação da Cláusula 11 das


Convenções Coletivas de Trabalho, porém razão não lhe assiste.

Apesar da disposição contida no artigo 611-A da Lei nº


13.467/2017 que se refere a prevalência do negociado sobre legislado, urge
destacar que no caso em testilha o contrato de trabalho foi firmado sob a égide
do Decreto Lei nº 5.452 de 1943, portanto, são inaplicáveis as alterações da
Consolidação das Leis de Trabalho por intermédio da Lei 13.467/2017 que possa
causar prejuízos ao obreiro sob pena de violação dos princípios constitucionais
fundamentais que trata do direito adquirido, do ato jurídico perfeito e da coisa
julgada (5º, XXXVI, da Constituição Federal).

A Convenção Coletiva do Trabalho de 2018/2020, dentro


de suas disposições, traz no Parágrafo Primeiro, da Cláusula 11º, a
compensação da gratificação de função pelas horas extras na hipótese de
juízo afastar o enquadramento do cargo de confiança previsto no artigo 224, §
2º da CLT, contrariando não só o entendimento consolidado da Súmula nº 109
do TST como também o princípio constitucional da vedação do retrocesso
social, bem como tem como finalidade secundária limitar o poder jurisdicional
do Estado.

Vejamos, a Cláusula em comento:

CLÁUSULA 11 – GRATIFICAÇÃO DE FUNÇÃO


O valor da gratificação de função, de que trata o § 2º do
artigo 224, da Consolidação das Leis do trabalho, não será
inferior a 55% (cinquenta e cinco por cento), à exceção
do Estado do Rio Grande do Sul, cujo percentual é de 50%

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(cinquenta por cento), sempre incidente sobre o salário do


cargo efetivo acrescido do adicional por tempo de
serviço, já reajustados nos termos da cláusula primeira,
respeitados os critérios mais vantajosos e as demais
disposições específicas previstas nas Convenções
Coletivas de Trabalho Aditivas.
Parágrafo primeiro – Havendo decisão judicial que afaste
o enquadramento de empregado no trabalho prestado
além da 6ª (sexta) hora diária, de modo que a jornada
somente é considerada extraordinária após a 8ª (oitava)
hora trabalhada, o valor devido relativo às horas extras e
reflexos será integralmente deduzido/compensado, com o
valor da gratificação de função e reflexos pagos ao
empregado. A dedução/compensação prevista neste
parágrafo será aplicável às ações ajuizadas a partir de
1º.12.2018.
Parágrafo segundo – A dedução/compensação prevista
no parágrafo acima deverá observar os seguintes
requisitos, cumulativamente:
a) será limitada aos meses de competência
em que foram deferidas as horas extras e nos quais tenha
havido o pagamento da gratificação prevista nesta
cláusula; e
b) o valor a ser deduzido/compensado não
poderá ser superior ao auferido pelo empregado, limitado
aos percentuais de 55% (cinquenta e cinco por cento) e
50% (cinquenta por cento), mencionados no caput, de
modo que não pode haver saldo negativo.” (Grifo nosso)

Vale dizer que da análise literal da norma, verifica-se que


a norma coletiva visa alterar a natureza da verba paga à reclamante.

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A referida cláusula está revestida de inúmeros vícios que a


tornam inaplicáveis ao caso concreto, vejamos:

Conforme determina o art. 166, II e VI, do Código Civil, é


nulo no negócio jurídico quando for ilícito, impossível ou indeterminável o seu
objeto e/ou tiver por objeto fraudar lei imperativa, sendo esse o caso dos autos.

Salvo em casos de cargo de confiança, é direito do


bancário a jornada especial de 6 horas diárias. Sendo assim, conforme
inequivocamente demonstrado nos autos, o reclamado, ao enquadrar o
reclamante na exceção prevista no §2º do art. 224 da CLT, sem sombra de
dúvidas, teve a intenção de impedir a aplicação da legislação trabalhista.

Sendo assim, é impossível concluir que a gratificação de


função paga pelo réu remunerou a sétima e a oitava horas como extras.
Ninguém pode se valer a própria torpeza, não se podendo recompensar quem
comete um ato ilícito, nulo de pleno direito, nos moldes do art. 9º da CLT.

Ainda, a autonomia da negociação coletiva encontra


limites em normas constitucionais que asseguram direitos mínimos ao
trabalhados, em especial o art. 7º da Constituição Federal.

A remuneração do serviço extraordinário está


expressamente garantida no art. 7º, XVI, da CF e, portanto, não pode a
convenção coletiva de trabalho negociar a compensação de uma verba de
natureza jurídica diversa da verba destinada à remuneração pelo labor
extraordinário, por violar expressamente o texto constitucional e, portanto, ser
nulo de pleno direito, nos moldes do art. 9º da CLT.

Vale dizer, também, que no julgamento do processo nº


1001081-63.2016.5.02.0021, a 1ª Turma deste E. TRT da 2ª Região, sob a relatoria
do I. Desembargador Willy Santilli, por unanimidade de votos, concluir que,
conforme disposto no art. 611-A da CLT, ao analisar a convenção coletiva, o
magistrado deve atender o disposto no art. 8ª, §3º, da CLT, que remete

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expressamente aos elementos essenciais do negócio jurídico, nos termos do art.


104 do Código Civil.

Assim, como é notório, a autonomia privada coletiva, não


pode dispor sobre negócio jurídico invalido, como aquele que consubstancia
objeto ilícito, sob pena de inequívoca inobservância dos princípios da lealdade,
transparência e boa-fé.

Vale transcrever o trecho da r. decisão supracitada:

“De fato, o artigo 611-A, § 1º, da CLT impõe à Justiça do


Trabalho, no exame de norma coletiva, a observância do
conteúdo do artigo 8º, § 3º, da CLT, que, por sua vez,
remete à análise exclusiva da conformidade dos
elementos essenciais do negócio jurídico, nos termos do
artigo 104 do Código Civil, segundo o qual a validade do
negócio jurídico requer objeto lícito, possível, determinado
ou determinável.
Portanto, a autonomia privada coletiva (art. 7º, XXVI, da
CRFB/88) não pode dispor sobre negócio jurídico inválido,
como aquele que consubstancia objeto ilícito, conclusão
a que se chega igualmente à luz dos princípios da
lealdade, da transparência e da boa-fé, que devem reger
a conduta das partes durante todo o processo de
negociação coletiva (artigos 113 e 422 do Código Civil).
Concluo, portanto, ser nulo o negócio jurídico quando for
ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto e quando
tiver por objetivo fraudar a lei imperativa (artigo 166, II e VI,
do CCB), como a que estabelece o direito do bancário à
jornada de seis horas diárias e 30 semanais, salvo na
hipótese de efetivo exercício de funções de confiança e
recebimento de gratificação não inferior a um terço do
salário do cargo efetivo (artigo 224 e § 2º, da CLT).

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No caso vertente, como visto, a reclamada contrariou a lei


ao enquadrar o autor na exceção prevista pelo § 2º do
artigo 224 da CLT sem comprovar, sendo seu esse encargo,
que o reclamante realmente teria ocupado cargo de
confiança.
Por corolário lógico, não há como admitir que a
gratificação de função paga tenha remunerado a 7ª e 8ª
horas diárias trabalhadas, as quais guardam nítido caráter,
no caso específico, de sobrejornada.
Aliás, a vingar a tese da reclamada, poderá ela
descumprir os dispositivos legais a que está obrigada pela
legislação mais abrangente, pois, caso determinada
norma coletiva a ampare em sua prática
aprioristicamente ilegal, estará, de forma contraditória e
absurda, albergada, em tese, pela mesma lei. Isso porque,
ao dizer que o artigo 611-A da CLT consagraria de forma
absoluta a premissa de que a negociação coletiva
prevalece sobre a legislação, qualquer cláusula coletiva
poderia, em tese, superar disposição legal em sentido
contrário. Verdadeiro sofisma, entretanto, que derruído
pela previsão do § 1º do artigo 611-A da CLT, que, por sua
vez, como já mencionei, remete ao artigo 8º, § 3º, do
mesmo diploma legal, o qual, por seu turno, aponta para
o teor do artigo 104 do Código Civil, dispositivo esse que só
imprime validade ao negócio jurídico se tratar de objeto
lícito, neste não enquadrados, por óbvio, os ilegais.
Em suma, a tese de o artigo 611-A da CLT consagraria a
tese da prevalência do "negociado sobre o legislado" não
pode servir de panaceia para todo artifício que se ponha
contra a lei, sob pena de não mais se respeitar sequer a
existência essencialmente estrutural do estado

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democrático de direito com sua tripartição de poderes. Se


a tese da reclamada prevalecer, basta que, por norma
coletiva, as partes convencionem qualquer cláusula
aprioristicamente contra legem e essa cláusula passa a
valer. Portanto, o princípio da intervenção mínima do
Poder Judiciário na autonomia da vontade coletiva não
implica o abandono de sua função jurisdicional, como
parece pretender convencer o recorrente. Ainda que
mínima, ela ocorrerá sempre que necessário, em especial
quando constatar ilegalidade, como no vaso vertente.
E nem se diga que, tendo a cláusula resultado de
negociação entre as partes, teria havido contrapartida
favorável aos trabalhadores, sob o argumento de que, em
tese, os bancários seriam mais beneficiados pelo fato de
receberem gratificação de função de 55%, superior,
portanto, à exigência legal de que fosse ao menos de 1/3
do salário efetivo. Não. Em rigor, o suposto benefício nada
mais seria que uma forma oblíqua de remunerar as 7ª e 8ª
horas diárias trabalhadas ao bancário que, em rigor,
deveria trabalhar apenas 6 (seis) horas por dia, nos termos
do caput do artigo 224 da CLT. Ocorre que, se,
efetivamente, o bancário que deveria ser submetido à
jornada de seis horas diárias, por não exercer,
efetivamente, cargo de confiança bancária, foi obrigado
a trabalhar oito horas, a ilegalidade foi cometida e sua
constatação pelo Judiciário não dá direito àquele que
descumpriu a lei de beneficiar-se de sua prática. E as
demais vantagens coletivamente negociadas não podem
se contrapor à ilegalidade ora demonstrada.
E não é só. Embora o artigo 611-A, V, da CLT preveja a
possibilidade de negociação inclusive quanto à

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identificação dos cargos que se enquadram como


funções de confiança, não foi esse o caso. Em nenhum
momento as normas coletivas trataram desse aspecto,
razão pela qual prevalece a apuração judicial dos fatos,
como concretamente se deram, não se podendo sequer
afastar a conclusão de que, no caso vertente, o
reclamante não estava enquadrado como exercente de
cargo de confiança bancária.
Também não pode ser aceita a argumentação de que,
sujeitando-se à jornada de oito horas, um terço superior à
de seis, do bancário comum, o ocupante de cargo de
confiança teria essa majoração da carga horária
remunerada pela gratificação de função de exato 1/3 em
relação ao salário base. Primeiro, porque a gratificação de
função não se presta a remunerar o acréscimo da jornada
e sim a especial fidúcia do cargo. Aliás, assim não fosse,
não haveria razão para a distinção da confiança
bancária. Portanto, é mais um sofisma argumentar que a
gratificação de função remuneraria as 7ª e 8ª horas diárias
trabalhadas.
Portanto, está correta a sentença ao afastar a aplicação
da norma coletiva em análise, devendo ser observado o
teor da Súmula nº 109 do TST, ao dispor que "o bancário
não enquadrado no § 2º do art. 224 da CLT, que receba
gratificação de função, não pode ter o salário relativo a
horas extraordinárias compensado com o valor daquela
vantagem", não havendo falar em violação dos
dispositivos constitucionais e infraconstitucionais
mencionados no recurso, especialmente 7º, XXVI, e 8º, III e
VI, da CF e 224, caput, 513, 611, § 1º, da CLT.” (grifo nosso)

Vale destacar que, tal fundamento foi utilizado para

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afastar a aplicação da referida cláusula em r. sentença proferida em


24/07/2022, nos autos do processo nº 1000647-46.2020.5.02.0082.

Portanto, denota-se que a negociação coletiva possui


objeto ilícito e notória intenção de fraudar a lei, o que não se admite por força
do próprio art. 611-A da CLT. Além do mais, há notória inobservância de
requisitos básicos e elementares de validade dos negócios jurídicos (art. 104 do
Código Civil).

Nessa mesma esteira, a negociação que deu origem à


referida cláusula feriu os princípios da lealdade, da transparência e da boa-fé
(art. 113 e 422 do Código Civil).

Portanto, de acordo com o art. 166, II e VI, do CPC (que


trata especificamente dos negócios jurídicos) combinado com o art. 9º da CLT
que trata de qualquer ato praticado com o objetivo de desvirtuar, impedir ou
fraudar a aplicação dos preceitos contidos na CLT), a referida cláusula é nula.

Veja excelência, além de não cumprir os requisitos básicos


e elementares previstos no código de civil, a CLT ainda traz a previsão de
nulidade de QUALQUER ato praticado, que inequivocamente abrange a
elaboração convenções coletivas ou inclusão de determinadas cláusulas,
como é o caso dos autos.

Portanto, independentemente do ângulo que se olhe para


o caso em tela, a única conclusão possível é pelo afastamento da referida
cláusula.

Em julgamento recente sobre o tema 1046 o STF, decidiu


que: "São constitucionais os acordos e as convenções coletivos que, ao
considerarem a adequação setorial negociada, pactuam limitações ou
afastamentos de direitos trabalhistas, independentemente da explicitação
especificada de vantagens compensatórias, desde que respeitados os direitos
absolutamente indisponível” (grifos nossos)

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E uma vez reconhecido o enquadramento do Reclamante


no caput do artigo 224 da CLT, o recebimento das horas extras além da 6ª diária
se torna um direito não somente fundamental e, portanto, indisponível conforme
a própria Constituição Federal.

Não havendo, assim, que se cogitar ou falar em aplicação


da convenção coletiva, a qual nitidamente visa fraudar o direito constitucional
do reclamante.

Nesse mesmo sentido temos o julgamento ADPF 381 dia


01/06/2022, que julgou inválidas as normas de cláusulas de acordos e
convenções coletivas que excluía a obrigação das empresas em realizar o
controle de jornada dos motoristas de carga, pois tais normas ferem as leis
trabalhistas.

Vale destacar a fundamentação utilizada pelo MM. Juízo


da 24ª Vara do Trabalho de São – SP, nos autos do processo nº 1000386-
27.2021.5.02.0024:
“Da análise literal da norma verifico que a depender do
resultado do julgamento do processo, a norma coletiva
determina que a prova documental produzida nos autos
pela reclamada, quanto à natureza do que pagou em
favor do Reclamante, pode assumir natureza distinta
daquela que foi
declarada no recibo de salário.
Então, se esta magistrada entender que o cargo é de
confiança, nos termos do art. 224, §2º, da CLT, o recibo de
salário no qual consta a rubrica “COMISSÃO DE CARGO”
prova pagamento de comissão de cargo, valendo a
declaração que foi feita no documento (caput da
cláusula 11).
Lado outro, se esta magistrada afastar o referido
enquadramento, negociou-se, coletivamente que a

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mesma rubrica, “COMISSÃO DE CARGO”, “é a


contrapartida ao trabalho prestado além da 6ª (sexta) hora
diária, de modo que a jornada somente é considerada
extraordinária após a 8ª (oitava) hora trabalhada”
admitindo-se a compensação integral da condenação
com o valor que já foi pago à reclamante, não podendo
haver saldo negativo.
A norma, tal como redigida, diz muito mais do que
simplesmente autorizar a compensação do que foi pago
a título de gratificação de função com a condenação de
horas extras acima da 6ª hora diária de trabalho.
E, importa notar, diz intencionalmente mais porque
pretendia impor à solução judicial “saldo zero” na
liquidação, partindo da premissa (i) da
“dedução/compensação” integral e (ii) da limitação da
jornada extraordinária apenas às horas sobressalentes à 8ª
hora diária de trabalho.
Concluo que a norma coletiva ultrapassa os limites do art.
104, do CC, porque pretende negociar matéria de ordem
processual, infensa à negociação. Adentra ao campo do
Direito
Público ao pretender alterar a força probante de
documento (recibo de salário) conforme o resultado da
atividade jurisdicional.
A CLT é expressa quando exige recibo como prova de
pagamento do salário (art. 464). Quanto à valoração dos
documentos, o art. 412, do CPC, aplicável
subsidiariamente ao
processo do trabalho (art. 769, da CLT), estabelece:
“Art. 412. O documento particular de cuja autenticidade
não se duvida prova que o seu autor fez a declaração que

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lhe é atribuída.
Parágrafo único. O documento particular admitido
expressa ou tacitamente é indivisível, sendo vedado à
parte que pretende utilizar-se dele aceitar os fatos que lhe
são favoráveis e recusar os que são contrários ao seu
interesse, salvo se provar que estes não ocorreram.”.
A declaração feita nos recibos de salário é válida e vincula
a reclamada. Não podem as partes, nem sequer no
âmbito coletivo, atribuir diferente valor de prova ao
documento juntado
aos autos, após e a depender da conclusão do julgador,
com o objeto de anular os efeitos da condenação em
liquidação.
Pelos fundamentos, afasto a aplicação da norma contida
no parágrafo primeiro da clausula 11, da CCT 2018,
concluo que os recibos de salários acostados aos autos
provam o pagamento
de comissão de cargo em favor do Reclamante, verba
que se justifica na medida da maior responsabilidade do
seu cargo, restando indevida a sua compensação
(Súmula 109 do C. TST).”

Ainda, vejamos casos análogos onde o E. TRT da 2ª Região


andou pelo mesmo caminho:1001139-04.2019.5.02.0040, 1000093-
40.2020.5.02.0041, 1001710-69.2019.5.02.0041, 1000098-37.2020.5.02.0017,
1001064-19.2019.5.02.0022, 1001409-08.2018.5.02.0058, 1000452-
78.2020.5.02.0044, 1000299-64.2020.5.02.0070, 1000433-27.2019.5.02.0717,
1000029-05.2019.5.02.0384.

A compensação de verbas trabalhistas é um tema


pacífico na Justiça do Trabalho, portanto, não se pode confundir que uma
verba criada para remunerar responsabilidade com uma verba que serve para

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remunerar a atividade em horas extraordinárias de labor, como é o


entendimento C.TST:

Súmula nº 109 do TST. Gratificação de função


“O bancário não enquadrado no § 2º do art. 224 da CLT,
que receba gratificação de função, não pode ter o salário
relativo a horas extraordinárias compensado com o valor
daquela vantagem.”

Destarte, a referida Cláusula ignora o fato de que, para


haver compensação deve existir reciprocidade de crédito. Tendo em vista que
a parte reclamante não é devedor do reclamado e, consequentemente, por
óbvio, o reclamado não é credor do reclamante na presente lide, o requisito
mais básico da compensação de verbas não está preenchido no caso em tela.

Não obstante, o Ministério Público do Trabalho da 2ª


Região, na Notícia de Fato NF nº 007604.2018.02.000/1, ao receber a denúncia
para apuração das ilegalidades, encaminhou os autos à Procuradoria Geral do
Trabalho com caráter de urgência para que possam ajuizar uma ação
anulatória buscando a declaração de nulidade com repercussão geral do
parágrafo primeiro, da cláusula 11º, da convenção coletiva de trabalho dos
bancários de 2018/2020 (Doc. anexo na exordial – Denúncia MP).

Nessa esteira, não há que se falar em litisconsórcio passivo


necessário, uma vez que o pleito elaborado pelo reclamante não se trata de
nulidade da cláusula 11ª da CCT, mas de sua inaplicabilidade ao caso
concreto, não devendo prosperar, portanto, as alegações do reclamado no
sentido de haver litisconsórcio passivo necessário.

Destarte, a inaplicabilidade do parágrafo primeiro, da


cláusula 11ª da convenção coletiva de trabalho de 2018/2020 é a medida que
se impõe o que desde já se requer.

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De toda sorte, a parte Reclamante faz jus ao pagamento


das horas extras até 01/12/2018, pois, já alcançado constitucionalmente o seu
direito pela incidência dos artigos 5º, XXXVI, da Constituição Federal e 6º, § 2º,
da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro.

Ante ao exposto, com fulcro no art. 5º, XXXV e XXXVI, da


Constituição Federal e na Súmula 109 do E. TST, requer a inaplicabilidade do
parágrafo primeiro, da cláusula 11ª da Convenção Coletiva de Trabalho que
dispõe sobre a compensação da gratificação de função pelas horas extras na
hipótese do juízo afastar o enquadramento do cargo de confiança previsto no
artigo 224, § 2º da CLT.

Data Máxima Vênia, caso não seja esse o entendimento


de Vossa Excelência, com fulcro no artigos 5º, XXXVI, da Constituição Federal e
6º, § 2º, da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, requer que seja
deferido o pagamento de horas extras (7ª e 8ª hora) até a data de 01/12/2018
que corresponde o início de vigência da Convenção Coletiva do Trabalho
2018/2018, pois, já alcançado constitucionalmente o seu direito pela incidência
dos artigos 5º, XXXVI, da Constituição Federal e 6º, § 2º, da Lei de Introdução às
Normas do Direito Brasileiro.

No mais, o Reclamante reitera integralmente o pleito da


exordial.

8. DA IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DO TERMO ADITIVO À CCT 2018/2020


E DA CLÁUSULA 11 DA CCT 2020/2022

O reclamado, sem razão, pleiteia a aplicação do termo


aditivo à CCT e 2018/2020 e da cláusula 11 da CCT 2020/2022, porém, seu
pleito deve ser afastado de plano.

O referido tema é matéria de discussão desde que a CLT


entrou em vigência e, portanto, já pacificada nos Tribunais de todo país,
inclusive no C. TST.

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As convenções coletivas de trabalho e aditivos


elaborados a partir de 2018 possuem o nítido condão de fraudar a legislação
trabalhista pátria, o que não se admite em qualquer hipótese, nos moldes do
art. 9º da CLT.

A jurisprudência é pacífica no sentido de que, para a


caracterização do cargo de confiança, é necessário o cumprimento dos
requisitos objetivos e subjetivos, ou seja, não basta o mero pagamento de
gratificação de função, mas o efetivo exercício de função de confiança, não
sendo este último o caso dos autos, conforme inequivocamente demonstrado
em sede de audiência de instrução.

Além do mais, o direito ao recebimento de horas é


garantido constitucionalmente e, portanto, conforme se verifica na própria
decisão do STF ao julgar o tema 1046, não pode ser suprimido por convenção
coletiva.

Ainda, alterar a natureza jurídica da verba a depender


do resultado do processo é, literalmente, FRAUDAR a legislação trabalhista, o
que é vedado, nos moldes do art. 9º da CLT.

Nessa mesma esteira foi o entendimento do MM. Juízo da


61ª Vara do Trabalho de São Paulo, processo nº 1000393-68.2022.5.02.0061, em
1708/2022, ao julgar os embargos de declaração opostos pelo reclamado,
vejamos:

“Aplicabilidade da cláusula 11, §3o da CCT 20/22 – O art.


224, §2o, da CLT não trata do pagamento da
gratificação de função, mas sim do exercício do cargo
de “confiança bancária”, mediante o pagamento de
gratificação correspondente. Deste modo, o mero
pagamento da gratificação, per si, não tem o condão de
alterar automaticamente a jornada de trabalho do

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empregado. Na realidade, o pagamento da gratificação


ao empregado que não exerce cargo de confiança
bancária, como no caso do autor deste processo, é mero
artifício para burlar o art. 224, caput, da CLT (fraude), e
portanto é nulo de pleno direito, conforme art. 9o, da
CLT.” (Grifo nosso)

Diante de todo o exposto, o pleito patronal deve ser


rejeitado, uma vez que a intenção das CCTs e aditivos caracterizam inequívoco
artifício para burlar a legislação trabalhista.

9. DA MANIFESTAÇÃO DO SINDICATO SOBRE A CLÁUSULA 11 DA CCT

Inicialmente, nos moldes do art. 435 do CPC, o reclamante


informa que o presente tópico, bem como a juntada de documento é
tempestiva, uma vez que não tinha acesso ao referido documento no ato da
distribuição da presente demanda.

Nos autos do processo nº 0000852-19.2022.5.12.0026, o


sindicato foi intimado para se manifestar acerca da inaplicabilidade da
cláusula 11 da CCT de 2018/2020 e seguintes e, conforme restará
inequivocamente demonstrado, o próprio sindicato discorda da aplicação da
referida cláusula (manifestação anexa), vejamos.

Vale destacar que, conforme exposto pelo próprio


sindicato, a cláusula 11 da CCT foi incluída em meio a um cenário hostil contra
o trabalhador e o sindicato, uma vez que a negociação ocorreu no ano de
2018, ano seguinte à reforma trabalhista (Lei 13.467/17), que extinguiu a principal
fonte de renda do sindicato (contribuição sindical).

Inclusive, o sindicato afirmou categoricamente nos autos


do referido processo que, caso tivesse condições mais favoráveis, não faria tais
concessões nas negociações, vejamos:

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“Para melhor entendimento da questão, é importante


compreender o cenário em que se deram as negociações
coletivas do ano de 2018, a primeira realizada após a
implantação da reforma trabalhista de 2017 que, com todas as
modificações introduzidas de viés fortemente neoliberal, veio a
atacar e abalar de maneira nunca vista o mundo do trabalho
como tido até então.

Neste cenário bastante complicado e adverso, com todos os


desafios trazidos pela reforma implantada, tais como o fim da
ultratividade da convenção coletiva – extremamente nociva
para o lado dos trabalhadores, que passaram a ter que correr
contra o tempo para conseguir a renovação da CCT -,
terceirização total e irrestrita – inclusive da atividade fim da
empresa-, eliminação das fontes de custeio do movimento
sindical além de muitas outras medidas nocivas para o mundo
do trabalho, as quais não cabe aqui explicitar, o movimento
sindical encontrou um ambiente extremamente inóspito de
negociação.

Fato é que , entende-se, a Comissão Nacional de Negociação,


diante de tão nefasto cenário procurou fazer o melhor possível
no sentido de preservar a imensa maioria dos direitos
conquistados pela categoria bancária ao longo dos anos,
superiores ao previsto na legislação ordinária, tendo que realizar
algumas concessões, que certamente , sob condições mais
favoráveis, não as faria.

Neste cenário, os bancos encontraram o momento propicio


para incluir na negociação a cláusula em questão sob o
argumento de que precisavam ter maior segurança jurídica na
relação de trabalho , evitando o pagamento em duplicidade
da 7ª e 8º trabalhada, haja vista já efetuarem o pagamento de
função de confiança no valor de 55% do salário do empregado.

(...)

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Assim, entende-se que a introdução do parágrafo primeiro da


clausula 11 da CCT , anseio antigo dos empregadores, foi fruto
de um momento de negociação coletiva extremamente difícil e
complicado, com forte desequilíbrio entre as partes no processo
de negociação, em que o movimento sindical encontrava-se
fragilizado e acuado diante de um cenário profundamente
adverso, tendo sido uma imposição por parte dos bancos, que
contavam com todos os elementos a seu favor.” (Grifo nosso)

Veja excelência, é notório que não houve paridade de


armas na negociação das referidas convenções coletivas, sendo os Bancos
contaram com a inequívoca vantagem econômica e um momento de extrema
fragilidade das conquistas trabalhistas para tirar vantagem e burlar a aplicação
da legislação vigente. O sindicato também se manifestou nesse sentido,
vejamos:

“Passados 05 anos da criação da aludida cláusula, o que tem se


observado na categoria bancária por parte dos empregadores
é a adoção de práticas abusivas e que ultrapassam os limites da
boa-fé objetiva com relação a jornada de trabalho dos
empregados .

As instituições tem abusado da prática de tentar revestir funções


absolutamente técnicas e cargos meramente operacionais ,
que nada tem de função gerencial, de supostos atributos de
função de confiança, mediante simples alteração da
nomenclatura dos cargos, através da realização das chamadas
“reestruturações internas”, que na prática, nada mais são do
que simples mudanças de nomenclatura dos cargos, utilizando-
se de denominações mais pomposas e em que se abusa da
nomenclatura “gerente” para cargos antes de mera assessoria
e sem efetivamente qualquer poder de decisão, dando a
entender tratarem-se de funções de confiança e com isso
atraindo a incidência da jornada de 08 horas, sem no entanto
realizar a atribuição de poderes efetivos de fidúcia e gestão

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aptos a justificar tal jornada, ou mesmo, em muitos casos, realizar


qualquer alteração na atividade real desempenhada pelo
empregado, entre o antes e o depois da alteração promovida.

Entende-se e constata-se que a referida cláusula , incluída na


CCT por imposição dos empregadores, em um cenário de
bastante desequilíbrio entre as partes na negociação coletiva ,
na pratica tem servido para fazer com que as instituições
financeiras de maneira consciente e deliberada burlem a
legislação trabalhista , fazendo com que o disposto no artigo 224
da CLT que estabelece a jornada de trabalho especial de 06
horas para o trabalhador bancário se torne letra morta para a
grande maioria da categoria.

Deste modo, ante o visível desvirtuamento das relações de


trabalho por parte de algumas instituições financeiras, através
da adoção de condutas conscientes e deliberadas , com a
utilização de subterfúgios para burlar a legislação trabalhista,
como visivelmente parece ser o caso discutido nos presentes
autos, entende-se que o questão envolvendo a prevalência do
negociado sobre o legislado introduzido pela reforma trabalhista
e , lamentavelmente referendada pelo STF - pois no país conta-
se nos dedos as categorias profissionais que tem efetivo poder
de negociação frente a seus empregadores, e estas poucas
ainda enfrentam dificuldades de fazer frente ao avanço das
políticas neoliberais de exploração e precarização das relações
de trabalho - , deva ser mitigada, e analisada a pertinência ou
não de sua aplicabilidade ao caso concreto.

Entende-se que o poder judiciário não pode em absoluto


compactuar e ser conivente com práticas e atitudes que
visivelmente tenham como finalidade servir de burla e fraude a
legislação trabalhista, devendo pautar-se pela sua
independência na análise dos fatos, tendo por elemento
norteador o consagrado principio da primazia da realidade.”
(Grifo nosso)

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Resta evidente, portanto, que a referida cláusula foi


inserida pelos empregadores de forma abusiva e, pior, os próprios bancos estão
se utilizando da cláusula para BURLAR a legislação trabalhista pátria, criando
“reestruturações” fantasiosas de cargos, apenas alterando as suas
nomenclaturas para se esquivarem de pagar eventual 7 e 8 horas deferidas em
juízo.

Vale destacar que o poder judiciário não pode ser


utilizado para referendar e validar as ações de quem se utiliza da própria
torpeza para se beneficiar, sendo exatamente o caso dos autos, nessa esteira,
o sindicato se manifestou da seguinte forma:

“E, além de não permitir a aplicação de tal dispositivo, que seria


premiar a instituição a medida em que esta dolosamente , por
assim dizer, age em desacordo com a legislação, tal prática
inclusive deva ser denunciada ao Ministério Público do Trabalho,
para que tome as ações pertinentes.

Por fim ressalte-se que a redação do dispositivo em questão


efetivamente afronta diversos fundamentos jurídicos já
pacificados na Justiça do Trabalho.” (Grifo nosso)

Diante de todo exposto, nota-se que a única conclusão


possível para a presente demanda é a declaração de inaplicabilidade da
cláusula 11 da Convenção Coletiva de Trabalho, uma vez que, além de afrontar
diretamente temas pacificados na legislação e na jurisprudência pátria, foi
inserida na convenção coletiva de trabalho com a única finalidade de burlar e
desvirtuar a aplicação da legislação trabalhista, o que não se admite.

10. DAS HORAS EXTRAS E DA INEXISTÊNCIA DE CARGO DE CONFIANÇA


BANCÁRIO

Alega a reclamada que, como Analista de Negócios


Digitais, o Reclamante detinha cargo de confiança, fundamentando no mero
recebimento da gratificação de função, bem como que as atividades

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exercidas pelo reclamante demandavam fidúcia diferenciada.

Razão não assiste à reclamada, vejamos.

Tendo em vista a alegação no sentido de que o autor


exercia cargo de confiança, a reclamada atraiu para si o ônus da prova,
conforme se extrai do art. 373, II, do CPC:

“Art. 373. O ônus da prova incumbe: (...)

II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo,


modificativo ou extintivo do direito do autor.”

Inegavelmente, ao alegar que o Autor exercia cargo de


confiança para enquadrá-la na exceção prevista do §2º do art. 224 da CLT, a
reclamada atraiu para si o ônus probatório, tendo em vista se tratar de fato
impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do Reclamante.

Vale destacar que a CLT, em seu art. 57, exclui


expressamente o art. 62 da CLT do trabalhador bancário, portanto, é impossível
a configuração do art. 224, §2º da CLT no caso em tela, uma vez que este artigo
trata do bancário que possui subordinados, gestão de pessoas, gestão
orçamentária, etc., que normalmente são aqueles que ocupam cargo de
gerente geral de agência, gerente de departamento, superintendente etc.

“Art. 57 - Os preceitos deste Capítulo aplicam-se a todas


as atividades, salvo as expressamente excluídas,
constituindo exceções as disposições especiais,
concernentes estritamente a peculiaridades profissionais
constantes do Capítulo I do Título III.”

Inicialmente, cumpre destacar que o primeiro artigo do


Título III a que se refere o art. 57 da CLT é justamente o art. 224 e seguintes,
também da CLT, que tratam da jornada especial dos bancários.

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Há EXPRESSA e INEQUÍVOCA exclusão do bancário ao art.


62, II, da CLT pelo legislador pátrio, não podendo o julgador se esquivar da
exceção legislativa, salve reconhecimento de inconstitucionalidade, NÃO
sendo o caso dos autos.

Por consequência lógica, se o bancário está


EXPRESSAMENTE excluído da previsão do art. 62, II, CLT, há apenas dois tipos de
jornada possível para o bancário: a jornada de 6h prevista no caput do art. 224
da CLT e a jornada de 8h prevista no §2º do art. 224 da CLT.

Portanto, tendo em vista que o Reclamante, nunca atuou


com amplos poderes, nunca teve subordinados e, uma vez reconhecida a
inaplicabilidade do art. 62, II, da CLT aos bancários por expressa determinação
legal, é impossível o seu enquadramento no art. 224, §2º da CLT, sob pena de
fazer da exceção à regra, uma vez que este dispositivo exige expressamente o
exercício de função “direção, gerência, fiscalização, chefia e equivalentes ou
que desempenhem outros cargos de confiança”.

Ainda que consideradas as atividades da defesa, o que


não se espera, é notório que as referidas atividades não demandam fidúcia
diferenciada, vejamos as atribuições elencadas pela Reclamada à
Reclamante:

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Inicialmente, vale destacar que as atividades descritas


pela reclamada da defesa não demandam qualquer fidúcia diferenciada,
conforme se verifica na transcrição supra transcrita.

Conforme exposto pela própria reclamada, o Reclamante


em suma elaborava gráficos e planilhas, não havendo qualquer fidúcia
diferenciada, cumprindo apenas tarefas comuns a qualquer analista de dados.

Em relação a suposta remuneração elevada, cabe


ressaltar que a Reclamada afirma que entre todos os proventos ANUAIS (salários,
13º, férias + 1/3, PLR) o Reclamante teria auferido um montante total de
R$119.000,00, valor que seria supostamente superior ao recebido pelos caixas
que seria anualmente de R$ 37.801,20 sem sequer fazer prova do alegado.

Ocorre que é de conhecimento público que o salário de


um caixa do banco Itaú ultrapassa R$3.943,00, de modo que contando férias
+1/3, 13º salário, PLR e adicional de quebra de caixa, a média anual de um
caixa ultrapassa R$80.000,00:

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Assim, resta demonstrado que o Reclamante não possuía


remuneração muito acima do piso dos bancários, pelo contrário.

Porém, caso Vossa Excelência não entenda dessa forma,


vale destacar que, tais alegações da reclamada são MENTIROSAS, uma vez que
as atividades do Reclamante não exigiam qualquer fidúcia diferenciada. A
verdade é que o Reclamante desempenhava funções meramente
burocráticas, sempre dependendo do aval ou do “de acordo” de seus
superiores hierárquicos, bem como, apenas cumprindo o “checklist” pré-
determinado pela reclamada, não possuindo autonomia em suas atividades.

Portanto, a Reclamada não fez prova alguma em relação


ao alegado, tendo em vista que o Reclamante não possuía qualquer
autonomia para desempenhar suas atividades, sendo que todas as suas tarefas
eram minuciosamente descritas em check list, do qual o Reclamante JAMAIS
poderia fugir, uma vez NÃO POSSUÍA qualquer autonomia no exercício de suas
funções, tampouco tomava qualquer decisão, uma vez que sempre dependia
do aval de seus superiores hierárquicos e, portanto, não tinha qualquer
autonomia.

Além disso, todas as suas atividades eram revisadas e


fiscalizadas por seus superiores hierárquicos e outras áreas do banco
reclamado, ficando, assim, nitidamente estampado que o Reclamante NUNCA
exerceu qualquer atividade que lhe demandasse qualquer tipo de fidúcia
diferenciada ou lhe enquadrasse como empregada com cargo de confiança.

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Inclusive, por isso, NOVAMENTE, seria impossível o


Reclamante causar prejuízo para a Reclamada, uma vez que apenas cumpria
funções de acordo com o check list que lhe era enviado, bem como, suas ações
eram revisadas e/ou autorizadas por seus superiores hierárquicos, ou pelos
setores específicos da reclamada, não sendo possível então causar dano, uma
vez que suas atividades não se revestiam de autonomia.

No mais, restam impugnadas todos os demais argumentos


da reclamada em relação às atividades desempenhadas pelo Reclamante.

Além do mais, diferentemente do alegado, o Reclamante


não tinha qualquer acesso a informações sigilosas de clientes e/ou do
reclamado.

Ainda, o mero recebimento de gratificação não implica no


exercício de cargo de confiança. A verdade é que, no caso do Reclamante,
não foram cumpridos os requisitos subjetivos para o efetivo exercício de cargo
de confiança.

Nessa mesma esteira, a convenção coletiva e seus aditivos


não podem suprimir os requisitos subjetivos legais para a caracterização ou não
do exercício de função de confiança. Caso contrário, não faria qualquer
sentido existir a exceção do §2º do art. 224 da CLT, bastaria qualquer banco
decidir arbitrariamente quem detém ou não o cargo de confiança e, tendo em
vista os princípios que regem o Direito do Trabalho, essa prerrogativa não deve
estar exclusivamente nas mãos do empregador, a fim de se evitar fraudes e
excessos, que é EXATAMENTE o que o reclamando tenta fazer no caso em tela.

Portanto, resta inequivocamente provado que o


Reclamante não possuía qualquer autonomia para o desempenho de suas
atividades e, consequentemente, não possuía qualquer fidúcia que a elevasse
ao status disposto no art. 224, §2º, da CLT.

Conforme já explicitado supra, a cláusula 11ª da CCT é

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inaplicável ao caso em tela. Porém, na remota hipótese de não ser esse o


entendimento de Vossa Excelência, que seja aplicada apenas a partir de
01/12/2018, data de sua entrada em vigor expressa na própria convenção
coletiva de trabalho.

Ademais, a reclamada não acostou aos autos qualquer


prova de que o Reclamante efetivamente realizava as atividades elencadas na
defesa, portanto, as atividades elencadas pela reclamada restam
especificamente impugnadas, uma vez que o Reclamante não as exercia. Suas
atividades eram meramente técnicas e burocráticas.

Além do mais, o fato de o Reclamante possuir


determinadas certificações/acessos, não faz qualquer presunção do exercício
de cargo de confiança dentro dos quadros do reclamado, uma vez que para
a configuração do cargo de confiança é necessário que a prova inequívoca
do efetivo exercício de atividades que demandam fidúcia diferenciada, o que
não reflete a realidade dos fatos no caso do Reclamante.

O simples fato de a reclamada não ter acostado qualquer


elemento que prove que o Reclamante desempenhava as atividades
elencadas na defesa, por si só, é suficiente para afastar a alegação de
exercício de cargo de confiança pelo Reclamante, porém, ainda que se
considere as atividades elencadas na defesa, é notório que não se tratam de
atividades que demandam qualquer fidúcia diferenciada, o que também leva
ao afastamento da tese patronal.

Caso não seja esse o entendimento de Vossa Excelência,


o Reclamante desde já pleiteia pela inversão do ônus da prova, nos moldes do
art. 373, II, do CPC, bem como requer a produção de prova oral em audiência,
tanto pela oitiva das partes, quanto das testemunhas, a fim de fazer prova e
contraprova do alegado pela reclamada.

Portanto, é notório que a jurisprudência é pacífica e

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converge no sentido de que as atividades do Autor não configuram cargo de


confiança nos quadros da reclamada. Nessa esteira, vale dizer a mera
nomenclatura do cargo não deve ser utilizado como critério de exercício de
função de confiança, tampouco a faixa salarial do Reclamante.

Uma vez que indubitavelmente a reclamada não


demonstrou que o Reclamante exercia cargo de confiança, bem como que a
jurisprudência é pacífica no sentido que as atividades inerentes ao cargo do
Reclamante não demandam qualquer fidúcia diferenciada, o Reclamante
desde já requer o afastamento as alegações da reclamada, com o
consequente reconhecimento de que estava enquadrada no caput do art. 224
da CLT e condenar a reclamada ao pagamento das horas extras além da 6ª
diária, nos moldes da exordial.

11. DOS REFLEXOS DAS HORAS EXTRAS

Tendo em vista que as horas extras pagas habitualmente,


que é o caso do pleito do Reclamante, possuem natureza jurídica salarial, essas
devem integrar nos repousos semanais remunerados (RSR’s) e as integrações
dessas verbas à remuneração, notadamente, nas férias vencidas e
proporcionais, acrescidas de 1/3, gratificações natalinas vencidas e
proporcionais, saldo de salário, FGTS, gratificações contratuais e eventuais
direitos legais oriundos do contrato de trabalho.

Inclusive, esse é o entendimento cristalizado na Súmula 376


do C. TST, vejamos:

“Súmula nº 376 do TST

HORAS EXTRAS. LIMITAÇÃO. ART. 59 DA CLT. REFLEXOS


(conversão das Orientações Jurisprudenciais nºs 89 e 117
da SBDI-1) - Res. 129/2005, DJ 20, 22 e 25.04.2005

I - A limitação legal da jornada suplementar a duas horas

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diárias não exime o empregador de pagar todas as horas


trabalhadas. (ex-OJ nº 117 da SBDI-1 - inserida em
20.11.1997)

II - O valor das horas extras habitualmente prestadas


integra o cálculo dos haveres trabalhistas,
independentemente da limitação prevista no "caput" do
art. 59 da CLT. (ex-OJ nº 89 da SBDI-1 - inserida em
28.04.1997)” (Grifo nosso)

Sendo assim, o Reclamante requer o afastamento do


pleito patronal e, consequentemente, o reflexo das horas extras pleiteadas em
todas as verbas trabalhistas, nos moldes da Súmula 376 do C. TST e da exordial.

12. DA BASE DE CÁLCULO DAS HORAS EXTRAS E DIVISOR

Para efeito de cálculo das horas extraordinárias, estas


deverão ser pagas a partir da 6ª hora diária, observando-se o divisor 180, nos
termos da súmula 124 do TST, com os devidos acréscimos previstos nas
convenções coletivas de trabalho respectivamente na cláusula 8º das
convenções anexas aos autos.

Nos termos da Súmula 264 do C. TST, as horas extras


deverão ser calculadas com base na remuneração total do Reclamante. Além
disso, a Reclamada deixou de pagar os salários decorrentes das integrações
das horas extras nos repousos semanais remunerados (RSR’s), bem como as
integrações dessas verbas à remuneração, notadamente, nas férias vencidas e
proporcionais acrescidas de 1/3, gratificações natalinas vencidas e
proporcionais, FGTS e demais verbas rescisórias, em conformidade com a
jurisprudência dos Tribunais Trabalhistas, e a Súmula nº 172 do E. TST e artigo 7º,
“a”, da Lei nº 605/49.

Considerando que as horas extras eram prestadas durante


toda a semana, o Reclamante faz jus ao valor correspondente ao repouso

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semanal remunerado, inclusive, sábados e feriados, consoantes às convenções


coletivas de trabalho, evidenciada no parágrafo 1º da cláusula 8º das
convenções anexas aos autos.

Portanto, requer a utilização do salário final do


Reclamante como base para os cálculos, incluindo as horas extras, comissões e
demais verbas de natureza salarial, conforme requerido na exordial.

13. DA IMPOSSIBILIDADE DE DEDUÇÃO / COMPENSAÇÃO DAS HORAS EXTRAS


COM A GRATIFICAÇÃO DE FUNÇÃO

Mais uma vez, a reclamada pleiteia pela dedução ou


compensação das horas extras com a gratificação de função, porém,
conforme já exaustivamente demonstrado, tanto na exordial, quanto na
presente manifestação, razão não lhe assiste.

Nessa esteira, a jurisprudência é pacífica em reconhecer


a impossibilidade de compensação/dedução de verbas de natureza jurídica
diferente, vejamos:

“Súmula nº 109 do TST

GRATIFICAÇÃO DE FUNÇÃO (mantida) - Res. 121/2003, DJ


19, 20 e 21.11.2003

O bancário não enquadrado no § 2º do art. 224 da CLT,


que receba gratificação de função, não pode ter o salário
relativo a horas extraordinárias compensado com o valor
daquela vantagem.” (Grifo nosso)

Além da jurisprudência consolidada na Súmula 109 do C.


TST, conforme transcrição supra, esse também o entendimento das Turmas do E.
TRT-2:

Processo: 10016709820175020060

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“EMENTA
Dedução. Gratificação de função. Horas extras. A
gratificação de função recebida pelo bancário que não
exerce cargo de confiança remunera apenas a maior
responsabilidade da função e não as duas horas
extraordinárias além da sexta (TST, Súmula 102, VI), sendo
incabível, portanto, a dedução de tal quantia do valor das
horas extras reconhecidas na sentença (TST, Súmula 109).”
(Grifo nosso)
“PROCESSO TRT/SP PJE Nº 1001039-22.2017.5.02.0007
RECURSOS ORDINÁRIOS
RECORRENTES: 1. MAURO CÉSAR TERRA PINTO
ADV: GERSON LUIZ GRABOSKI DE LIMA
2. CAIXA ECONÔMICA FEDERAL
ADV: JOSÉ BAUTISTA DORADO CONCHADO
ORIGEM: 7ª VARA DO TRABALHO DE SÃO PAULO
JUÍZA SENTENCIANTE: JULIANA PETENATE SALLES
(...)
2. Horas extras. Compensação. Gratificação de função
O recorrente pretende a reforma da decisão de origem
que, não obstante o deferimento de horas extras
excedentes ao limite de 6 (seis) horas diárias, teria
determinada a compensação com a parcela paga a
título de gratificação de função, aplicando o disposto na
Orientação Jurisprudencial Transitória nº 70 da SBDI-1 do
TST.
A citada orientação jurisprudencial estabelece que:
70. CAIXA ECONÔMICA FEDERAL. BANCÁRIO. PLANO DE
CARGOS EM COMISSÃO. OPÇÃO PELA JORNADA DE OITO
HORAS INEFICÁCIA. EXERCÍCIO DE FUNÇÕES MERAMENTE
TÉCNICAS. NÃO CARACTERIZAÇÃO DE EXERCÍCIO DE

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FUNÇÃO DE CONFIANÇA. (DEJT, divulgado em 26, 27 e


28.05.2010).
Ausente a fidúcia especial a que alude o art. 224, § 2º, da
CLT, é ineficaz a adesão do empregado à jornada de oito
horas constante do Plano de Cargos em Comissão da
Caixa Econômica Federal, o que importa no retorno à
jornada de seis horas, sendo devidas como extras a sétima
e a oitava horas laboradas. A diferença de gratificação
de função recebida em face da adesão ineficaz poderá
ser compensada com as horas extraordinárias prestadas.
No caso vertente, tem-se que a citada Orientação
Jurisprudencial Transitória nº 70 da SBDI-1 do TST refere de
forma específica à Caixa Econômica Federal, ora
recorrida, relativamente à nulidade da adesão do
empregado ao Plano de Cargos em Comissão para fins de
cumprimento de jornada contratual de 8 (oito) horas
diárias.
(...)
Assim sendo, não é possível a aplicação da compensação
a que refere a Orientação Jurisprudencial Transitória nº 70
da SBDI-1 do TST, tratando-se de aplicar a regra geral para
o trabalho bancário inserta na Súmula nº 109 do TST a seguir
transcrita:
109. GRATIFICAÇÃO DE FUNÇÃO (mantida) - Res. 121/2003,
DJ 19, 20 e 21.11.2013.
O bancário não enquadrado no § 2º do art. 224 da CLT,
que receba gratificação de função, não pode ter o salário
alterado relativo às horas extras compensado com o valor
daquela vantagem.

Portanto, há que se reformar a decisão de origem para


excluir a determinação para compensação da

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gratificação de função com as horas extras.” (Grifo nosso)

Portanto, percebe-se nitidamente que a reclamada, na


verdade, tenta ludibriar Vossa Excelência apresentando uma tese desprovida
da melhor técnica jurídica, visando apenas esquivar-se de suas obrigações e
responsabilidades trabalhistas. Logo, trata-se apenas de uma forma de fraudar
a legislação trabalhista vigente, o que não se admite.

Diante do exposto, requer o afastamento dos argumentos


lançados pela reclamada, com o consequente reconhecimento da
impossibilidade de qualquer redução ou compensação dos valores deferidos a
título de horas extras com a gratificação de função recebida pelo Reclamante.

14. DA NULIDADE DA GRATIFICAÇÃO DE FUNÇÃO

Ainda que Vossa Excelência não entenda pela


inaplicabilidade da cláusula 11ª da Convenção Coletiva de Trabalho, impõe-se
a necessária declaração de nulidade da gratificação de função da parte
reclamante, nos moldes do art. 9º da CLT, vejamos.

Uma vez que a parte reclamante sempre se enquadrou no


caput art. 224 da CLT, evidencia-se o abuso de poder do empregador na
tentativa fraudulenta de enquadrar a parte reclamante na exceção prevista no
art. 224, §2º, da CLT, o que não se admite.

Nos moldes do art. 9º da CLT, é nulo de pleno direito


qualquer ato praticado com a finalidade de desvirtuar, impedir ou fraudar a
aplicação da legislação trabalhista pátria.

Sendo assim, impõe-se a declaração de nulidade da


gratificação de função ou equivalentes paga à parte reclamante, devendo, os
valores pago sob esse título serem considerados como salário-base para todos
os fins, sob pena de incentivar a aplicação inadequada da legislação.

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Diante do exposto, caso Vossa Excelência não entenda


pela inaplicabilidade da 11ª cláusula da CCT, a parte reclamante requer a
declaração de nulidade da gratificação de função ou equivalentes e a sua
integração no salário-base, não havendo que se falar, portanto, em
compensação das horas extras pelas referidas verbas.

15. DO ADICIONAL DE PERICULOSIDADE

A reclamada alega genericamente que a reclamante


não laborava em área de risco, porém razão não lhe assiste.

O Reclamante, do período imprescrito até o início da


pandemia de Covid 19 em março de 2020, laborou nas dependências do
Reclamado na Alfredo Edydio Aranha, 100, Torre WMS, Parque Jabaquara, São
Paulo – SP, CEP 04344-902, e, no exercício de suas atividades, trabalhou em
condições perigosas, desempenhando suas funções em áreas de risco
acentuado, pois seu local de trabalho era próximo a tanques de
armazenamento de líquidos inflamáveis (óleo diesel) para alimentação do
grupo gerador, localizado nas dependências do edifício.

Nessa esteira o reclamante faz prova cabal e


incontroversa do alegado os laudos periciais judiciais POSITIVO (prova
emprestada acostada à exordial) com adicional de periculosidade do mesmo
local de labor dA Reclamante, senão vejamos:

DOCUMENTO ANEXO

Processo nº 1001450-53.2018.5.02.0711

Local: Alfredo Edydio Aranha, 100, Torre WMS, Parque

Jabaquara, São Paulo – SP, CEP 04344-902

Data da perícia 24/01/2019

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“CONCLUSÃO: “O reclamante, no desempenho de suas


atividades, se ativou em área de

risco conforme os preceitos da NR 16, Anexo 2 e OJ-SDI1-


385, sendo

assim:

“Há caracterização de periculosidade nas atividades do


reclamante, fazendo jus ao adicional de 30%”

Ocorreu que, a reclamado não pagou o adicional


de periculosidade devido, nos termos do artigo 193, § 1º da CLT e Súmula 361,
do C. TST. Desta forma, faz jus O Reclamante ao adicional de periculosidade,
nos exatos moldes requeridos na exordial.

Denota-se ainda dos laudos periciais judiciais que os


períodos dos contratos de emprego são compatíveis com o contrato da
Reclamante.

Sendo assim, há inequívoca demonstração de que o


ambiente que a reclamante prestava labor deve ser considerado como
periculoso, uma vez que havia geradores de energia e tanques de óleo diesel
instalador irregularmente.

Diante de todo o exposto, a reclamada dever ser


condenada ao pagamento do adicional de periculosidade nos exatos moldes
da exordial.

16. DA JUSTIÇA GRATUITA

Encontra-se o reclamante impossibilitado de arcar com as


custas e despesas processuais, sem prejuízo de seu sustento e de seus
dependentes, requerendo a concessão dos benefícios da justiça gratuita.

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Primordialmente, sobreleva notar-se que a Lei nº


13.467/2017 fere o princípio constitucional da isonomia. Isso porque o legislador
ordinário pretendeu instituir tratamento mais gravoso, restritivo e prejudicial ao
demandante na Justiça do Trabalho do que o dispensado ao litigante na
Justiça Comum, submetido às regras do CPC. Esse tratamento mais gravoso não
é constitucionalmente permitido, tendo em vista o princípio da isonomia (art. 5º,
caput, da Constituição), eis que ignora as exigências relativas ao tratamento
judicial dos créditos trabalhistas, inclusive em termos de acesso à Justiça (art. 5º,
XXXV, da Constituição).

No que tange aos princípios que gerem a Justiça do


Trabalho, encontra-se por pressuposto a facilitação do acesso à justiça, o que
inclui a noção de “jus postulandi” e de assistência judiciária gratuita, ou seja, a
gratuidade, inclusive, é um princípio do processo do trabalho, como se sabe, e
deve abranger todas as despesas do processo.

Neste certame, o devido processo legal e o direito à


ampla defesa, na Justiça do Trabalho, têm contornos historicamente bem
definidos, tendo como norte o princípio do amplo acesso à Justiça do Trabalho,
pelo qual busca-se facilitar ao trabalhador a defesa judicial de seus direitos.

Outrossim, trata-se de meio inerente à ampla defesa (art.


5º, LV, da Constituição) no âmbito da Justiça Especializada, de modo que o
critério da gratuidade de justiça se justifica diante da natureza alimentar dos
créditos trabalhistas e encontra respaldo, ainda, nos princípios do valor social
do trabalho (art. 1º, IV, da Constituição) e da função social da propriedade (art.
5º, XXIII, da Constituição).

Vale ressaltar que corrobora com o referido entendimento


os termos dos enunciados aprovados na 2ª Jornada de Direito Material e
Processual do Trabalho, em sua Comissão 7, Enunciado 3.

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Não obstante a tais princípios, o artigo 790, § 3º da CLT


dispõe que:

CLT - Art. 790 - § 3º É facultado aos juízes, órgãos julgadores


e presidentes dos tribunais do trabalho de qualquer
instância conceder, a requerimento ou de ofício, o
benefício da justiça gratuita, inclusive quanto a traslados e
instrumentos, àqueles que perceberem salário igual ou
inferior a 40% (quarenta por cento) do limite máximo dos
benefícios do Regime Geral de Previdência Social.

Neste sentido, verifica-se que a lei se refere àqueles que


perceberem salário igual ou inferior a 40% (quarenta por cento) do limite
máximo dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social, no presente
caso, em cenário atualizado, o Reclamante, em que pese esteja empregada,
eventual condenação em despesas processuais e/ou honorários advocatícios
comprometeriam seu sustento próprio e de sua família, principalmente diante
de sua gravidez.

Vale destacar o entendimento cristalizado pelo C. TST na


Súmula 463 expressamente diz que basta a juntada de declaração de
hipossuficiência dos autos para que os benefícios de gratuidade de justiça
sejam concedidos, vejamos:

“Súmula nº 463 do TST

ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA.


COMPROVAÇÃO (conversão da Orientação
Jurisprudencial nº 304 da SBDI-1, com alterações
decorrentes do CPC de 2015) - Res. 219/2017, DEJT
divulgado em 28, 29 e 30.06.2017 – republicada - DEJT
divulgado em 12, 13 e 14.07.2017

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I – A partir de 26.06.2017, para a concessão da assistência


judiciária gratuita à pessoa natural, basta a declaração
de hipossuficiência econômica firmada pela parte ou por
seu advogado, desde que munido de procuração com
poderes específicos para esse fim (art. 105 do CPC de
2015);“

Ainda, vale destacar que o STF, na ADIn 5766, declarou


inconstitucionais os arts. 790-B, caput e § 4º, e 791-A, § 4º, ambos da CLT,
vejamos:

“Decisão: O Tribunal, por maioria, julgou parcialmente


procedente o pedido formulado na ação direta, para
declarar inconstitucionais os arts. 790-B, caput e § 4º, e 791-
A, § 4º, da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT),
vencidos, em parte, os Ministros Roberto Barroso (Relator),
Luiz Fux (Presidente), Nunes Marques e Gilmar Mendes. Por
maioria, julgou improcedente a ação no tocante ao art.
844, § 2º, da CLT, declarando-o constitucional, vencidos os
Ministros Edson Fachin, Ricardo Lewandowski e Rosa
Weber. Redigirá o acórdão o Ministro Alexandre de
Moraes. Plenário, 20.10.2021 (Sessão realizada por
videoconferência - Resolução 672/2020/STF).”

Portanto, uma vez deferido o pedido de justiça de justiça


gratuita, o Reclamante deve ficar isento dos honorários periciais e honorários
advocatícios sucumbenciais.

Portanto, requer o Reclamante os benefícios da Justiça


Gratuita, haja vista, este não possuir condições financeiras de demandar sem
prejuízo do próprio sustento e da sua respectiva família. Observa-se que a
isenção de custas atende aos ditames da Lei 7.117/83, no art. 1º e da Lei

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1.060/50, uma vez que informa seu estado de pobreza através da declaração
acostada aos autos.

17. DA CORREÇÃO MONETÁRIA

A reclamada pleiteia pela inaplicabilidade do IPCA-E


como índice de correção monetária, porém razão não lhe assiste.

O Supremo Tribunal Federal, no julgamento de 14.03.2013


da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 4.357, declarou inconstitucional a
utilização da TRD (Taxa Referencial Diária) como fator de atualização:

“[...] 5. O direito fundamental de propriedade (CF, art. 5º,


XXII) resta violado nas hipóteses em que a atualização
monetária dos débitos fazendários inscritos em precatórios
perfaz-se segundo o índice oficial de remuneração da
caderneta de poupança, na medida em que este
referencial é manifestamente incapaz de preservar o valor
real do crédito de que é titular o cidadão. É que a inflação,
fenômeno tipicamente econômico-monetário, mostra-se
insuscetível de captação apriorística (ex ante), de modo
que o meio escolhido pelo legislador constituinte
(remuneração da caderneta de poupança) é inidôneo a
promover o fim a que se destina (traduzir a inflação do
período). 6. A quantificação dos juros moratórios relativos
a débitos fazendários inscritos em precatórios segundo o
índice de remuneração da caderneta de poupança
vulnera o princípio constitucional da isonomia (CF, art. 5º,
caput) ao incidir sobre débitos estatais de natureza
tributária, pela discriminação em detrimento da parte
processual privada que, salvo expressa determinação em
contrário, responde pelos juros da mora tributária à taxa
de 1% ao mês em favor do Estado (ex vi do art. 161, §1º,

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CTN). Declaração de inconstitucionalidade parcial sem


redução da expressão "independentemente de sua
natureza", contida no art. 100, §12, da CF, incluído pela EC
nº 62/09, para determinar que, quanto aos precatórios de
natureza tributária, sejam aplicados os mesmos juros de
mora incidentes sobre todo e qualquer crédito tributário. 7.
O art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com redação dada pela Lei
nº 11.960/09, ao reproduzir as regras da EC nº 62/09 quanto
à atualização monetária e à fixação de juros moratórios
de créditos inscritos em precatórios incorre nos mesmos
vícios de juridicidade que inquinam o art. 100, §12, da CF,
razão pela qual se revela inconstitucional por
arrastamento, na mesma extensão dos itens 5 e 6 supra. 8.
O regime "especial" de pagamento de precatórios para
Estados e Municípios criado pela EC nº 62/09, ao veicular
nova moratória na quitação dos débitos judiciais da
Fazenda Pública e ao impor o contingenciamento de
recursos para esse fim, viola a cláusula constitucional do
Estado de Direito (CF, art. 1º, caput), o princípio da
Separação de Poderes (CF, art. 2º), o postulado da
isonomia (CF, art. 5º), a garantia do acesso à justiça e a
efetividade da tutela jurisdicional (CF, art. 5º, XXXV), o
direito adquirido e à coisa julgada (CF, art. 5º, XXXVI). 9.
Pedido de declaração de inconstitucionalidade julgado
procedente em parte.

(ADI 4357, Relator: Min. AYRES BRITTO, Relator p/ Acórdão:


Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em 14/03/2013,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-188 DIVULG 25-09-2014
PUBLIC 26-09-2014)”

Tendo em vista que já reconhecida a

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inconstitucionalidade da TR como índice de correção monetária, justamente


por não ser idônea à correção de valores, bem como que a flutuação dos
preços aos consumidores segue o IPCA-E, uma vez que as verbas trabalhistas
visão garantir a sustento do trabalhador, não se deve aplicar qualquer índice
ou taxa diverso do IPCA-E para a atualização dos créditos trabalhistas.

Diante do exposto, requer o afastamento do pleito


patronal, a fim de que seja reconhecido o IPCA-E como índice de correção
monetária aplicável ao caso em tela.

18. DOS HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS

A reclamada não pagou à reclamante as referidas verbas


nas épocas próprias.

Via de consequência, em sendo devidas à reclamante as


verbas discorridas nesta exordial, nos termos do artigo 791-A DA Lei 13.467/2017,
corroborado com o entendimento do artigo 85 do CPC/2015, a parte
perdedora no processo o deverá arcar com os honorários do advogado da
parte vencedora, entre o mínimo de 5% (cinco por cento) e o máximo de 15%
(quinze por cento) sobre o valor da condenação.

Desta feita, requer a condenação da Reclamada ao


pagamento de honorários advocatícios, em razão da mera sucumbência, à luz
do artigo 791-A DA Lei 13.467/2017, bem como artigo 85, § 2º, do CPC/2015.

Conforme o v. acórdão da ADI nº 5766 do E. STF, o §4° do


artigo 791—A da CLT foi declarado inconstitucional, ou seja, não se aplica a
condição suspensiva de exigibilidade do pagamento de honorários
sucumbenciais ao beneficiário da justiça gratuita.

Decisão: O Tribunal, por maioria, julgou parcialmente


procedente o pedido formulado na ação direta, para
declarar inconstitucionais os arts. 790-B, caput e § 4º, e 791-

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A, § 4º, da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT),


vencidos, em parte, os Ministros Roberto Barroso (Relator),
Luiz Fux (Presidente), Nunes Marques e Gilmar Mendes. Por
maioria, julgou improcedente a ação no tocante ao art.
844, § 2º, da CLT, declarando-o constitucional, vencidos os
Ministros Edson Fachin, Ricardo Lewandowski e Rosa
Weber. Redigirá o acórdão o Ministro Alexandre de
Moraes. Plenário, 20.10.2021 (Sessão realizada por
videoconferência - Resolução 672/2020/STF). (grifo nosso)

Ademais, importante destacar a seguinte passagem no


voto do Min. Roberto Barroso:

“(...) É importante consignar que a mera existência de


créditos judiciais, obtidos em processos trabalhistas, ou de
outra natureza, não é suficiente para afastar a situação de
pobreza em que se encontrava a parte autora, no
momento em que foram reconhecidas as condições para
o exercício do seu direito fundamental à gratuidade da
Justiça. […] (ADI 5766/DF, Rel. Min. Roberto Barroso. Voto
Vogal Min. Edson Fachin, p. 11.

Sendo assim, tendo em vista que foi reconhecida a


inconstitucionalidade do art. 791-A, § 4o da CLT, introduzido pela Lei 13.467 de
2017 (ADI 5766), se faz necessária não apenas suspender, mas sim, excluir a
exigibilidade do Reclamante no pagamento de honorários advocatícios
sucumbenciais.

19. IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA DOS DOCUMENTOS ACOSTADOS PELA


RECLAMADA

Tendo em vista que os documentos acostados pela


reclamada são de produção unilateral, o reclamante desde já os impugna

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Fls.: 56

especificamente no que diverge com o alegado na exordial.

20. DEMAIS REQUERIMENTOS

O reclamante pleiteia pela produção de prova e


contraprova de todos os fatos alegados por todos os meios em direito admitidos,
em especial a oitiva das partes, testemunhas e provas documentais.

21. CONCLUSÃO

Tendo em vista todo o exposto nos autos, o Reclamante


requer o afastamento de todos os argumentos lançados pela reclamada e,
consequentemente, a procedência total dos pedidos feitos na exordial, como
medida de plena e inequívoca Justiça!

Nestes termos,
pede deferimento.
São Paulo, 06 de novembro de 2023.

Renatho Fernandes Ribeiro


OAB/SP 406.996

55
Rua São Bento, 365, 1º andar, Centro, São Paulo – SP
www.fernandesribeiroadv.com.br
Tel. (11) 93397-4600

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Número do processo: 1001026-31.2023.5.02.0001
Número do documento: 23110610381422100000323964699

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