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DIREITO CONSTITUCIONAL

Inês Espinhaço Gomes

T2 e T3 | 2022/2023
SEMANA 1| SUMÁRIO
• Apresentação.
• Enquadramento do Direito Constitucional e da Teoria da Constituição.
• A Constituição como norma: superioridade e autoprimazia normativas
• O conceito universal, ideal e contemporâneo de Constituição:
Constituição como o estatuto fundamental de uma comunidade política
estadual.
• As funções atuais da Constituição.
• As formas constitucionais.
• O conceito material de constituição.

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APRESENTAÇÃO

Email: iegomes@ucp.pt

• Campus online
- Power point e materiais em Recursos > Turmas 2 e 3
• Email institucional
• Programa/sumários disponíveis no campus online

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BIBLIOGRAFIA

- Manuel Afonso Vaz, Teoria da Constituição: O que é a Constituição, hoje?, 2.ª ed.,
Universidade Católica Editora, Porto, 2015

- Manuel Afonso Vaz, Catarina Santos Botelho, Raquel Carvalho, Inês Folhadela e Ana
Teresa Ribeiro, Direito Constitucional. O sistema constitucional português, 2.ª ed.,
Universidade Católica Editora, Porto, 2015

- Manuel Afonso Vaz, Catarina Santos Botelho, Raquel Carvalho, Inês Folhadela e Ana
Teresa Ribeiro, Direito Constitucional. Questões e casos práticos, 2.ª ed., Universidade
Católica Editora, Porto, 2015

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AVALIAÇÃO CONTÍNUA
1. Componente escrita - 50%
• Teste de avaliação contínua (semana de testes – dia a determinar)
2. Componente de oralidade - 50%
• Assiduidade; participação na aula; resolução de casos práticos em aula; participação
ativa em conferências/aulas abertas recomendadas pela Equipa Docente*; sabatina final

* Para estudantes inscritos em avaliação contínua será obrigatória a participação em duas


conferências:
• 6 de março, às 14:30: aula inaugural de Direito Constitucional, proferida pela Prof. Doutora
Graziella Romeo (Università Bocconi): “Law and Politics: How constitutions try to tame political
disagreement”
• 13 de março (painel a definir): Conferência “Que revisão constitucional”
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WWW.MENTI.COM

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v Teoria da Constituição

• Cap. II – Direito Constitucional e Constituição:


noções fundamentais
• Cap. III – Dinâmica constituinte: origem e
evolução da Constituição
• Cap. IV – A força jurídica da Constituição

v Direito Constitucional: o sistema constitucional português

• Cap. I – Organização do poder político. Reserva


orgânica da Constituição
• Cap. II – A Constituição como a norma das normas.
Reserva orgânica da competência legislativa
• Cap. III – A fiscalização da constitucionalidade. Reserva
orgânica do controlo da constitucionalidade
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A CONSTITUIÇÃO
COMO NORMA

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v O lugar da Constituição no ordenamento jurídico
• Art. 3.º, n.º 3 CRP – princípio da constitucionalidade
- Superioridade normativa (lex superior)
> Posição hierárquico-normativa superior

- Autoprimazia normativa
> carácter primário da Constituição: única norma primária emanada e validada pelo
poder constituinte

- Norma das normas (norma normarum)


> supremacia formal e material: procedimento + conteúdo valorativo

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O CONCEITO E AS FUNÇÕES
DA CONSTITUIÇÃO

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EVOLUÇÃO HISTÓRICO-VALORATIVA
v Conceito universal de Constituição (Antiguidade, Idade Média, Estado Moderno)
> Todas as sociedades politicamente organizadas têm uma Constituição

v Conceito ideal de Constituição (Movimento Constitucional – Revoluções Liberais do séc. XVIII)


Art. 16.º da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789):
“A sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos
nem estabelecida a separação dos poderes não tem Constituição.”

> Documento escrito


> Organização e limitação do poder público (princípio da separação dos poderes)
> Consagração dos direitos fundamentais dos cidadãos
> Estado abstencionista (Status Negativus), função garantística
Constituição como estatuto jurídico de organização e limitação do poder 11
v Transformação do paradigma liberal: conceito “contemporâneo” de Constituição
> Sociedade técnica de massas, miscigenação do Estado e da sociedade
> Direitos à ação estadual + princípios retores da vida social + abertura constitucional
> Estado intervencionista (Status Activus e Positivus)

Funções atuais:
Integradora – unidade política
Compromisso entre complexidade social e ordem justa
• Valores políticos fundamentais da sociedade
• Garantia de procedimentos políticos de composição de interesses
Conformadora – unidade jurídica da comunidade
• Valores jurídicos fundamentais
• Princípio da constitucionalidade

Constituição como estatuto jurídico fundamental de uma comunidade política


Princípio da essencialidade Âmbito pessoal e territorial da
soberania, forma de Estado12 e de
AS FORMAS
CONSTITUICIONAIS

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1. ESCRITA E NÃO ESCRITA

v Escrita: um documento escrito sistemático e global


ex. CRP, constituições continentais europeias

v Não escrita: costumes, usos, jurisprudência, doutrina


ex. constitucionalismo britânico
(Magna Charta (1215), Petition of Rights (1628), Instrument of Government, Habeas
Corpus Act (1679), Bill of Rights (1689), Act of Settlement (1701), Human Rights Act
1998, Equality Act 2010, European Union Withdrawal Agreement Act 2020...)

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2. MATERIAL E FORMAL
v Material (materialidade/dignidade constitucional): conjunto das regras e princípios
fundamentais da comunidade política, independentemente da sua consagração numa
constituição formal

v Formal (superioridade formal): conjunto de normas ao qual se reconhece superioridade


formal em relação às leis ordinárias, por estarem consagradas no texto constitucional (relação
com constituição escrita)

Assim, podem existir:


Normas só materialmente constitucionais (Constituição peca por defeito)
Normas só formalmente constitucionais (Constituição peca por excesso è fere princípio
da essencialidade/autocontenção)
Normas formal e materialmente constitucionais 15
3. RÍGIDA E FLEXÍVEL
v Rígida: distinção formal entre direito constitucional e direito ordinário
i) Escrita + ii) Procedimento especial e mais agravado de alteração (=revisão) das leis
constitucionais*

Limites formais: temporais, processuais e circunstanciais


Limites materiais: substantivos

> Medida da rigidez constitucional è grau de agravamento do procedimento*


> Motivos: identidade da Constituição + sem impedimento do seu desenvolvimento

v Flexível: sem distinção formal entre direito constitucional e direito ordinário


Não existe procedimento agravado de alteração da Constituição 16
4. ESTATUTÁRIA E PROGRAMÁTICA
v Estatutária (normas-preceito, precetivas): definem o estatuto do poder e da organização
política* + consagram direitos fundamentais dos cidadãos* + sem planos de ação
Ex. Constituições oitocentistas, Constituição federal norte-americana

v Programática (normas-programa, programáticas): além disso*, estipulam programas,


diretrizes, metas da atividade do Estado nos domínios económico, social e cultural
Ex. Constituição federal brasileira (1988), CRP 76 tendencialmente programática
(pendor socialista)

Constituições hodiernas do Estado de Direito Social: equilíbrio


Art. 80.º vs. Art. 81.º CRP | Arts. 41.º vs. 64.º, n.º 3 CRP
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5. SIMPLES E COMPROMISSÓRIA
v Simples (unidade valorativa): princípios fundamentais compatíveis, sem conflito è sem
necessidade de conciliar valores
Ex. Constituições liberais (liberdade); Constituições socialistas (igualdade)

v Compromissória (ordem valorativa plural e complexa): Complexidade e diversidade de


princípios è necessidade de harmonização
Ex. CRP 76 (liberdade Û igualdade Û justiça Û solidariedade)

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6. NORMATIVA, NOMINAL E SEMÂNTICA (KARL LÖWENSTEIN )
v Normativa (operacionalidade): espelha a realidade constitucional è comunidade política
reconhece força vinculativa
Ex. CRP 76

v Nominal (inadaptação): desfasamento entre texto e realidade constitucionais è comunidade


política não reconhece força vinculativa
Ex. Constituição Portuguesa de 1933

v Semântica (momento histórico, político e cultural): retrata o contexto específico do momento da


sua elaboração, pretensão de o eternizar
è torna-se nominal (se texto constitucional é superado pela realidade constitucional) ou
normativa (se acompanha a realidade constitucional )
Ex. CRP 76, na sua versão original, antes das revisões de 1982 e 1989 19
TEXTO ORIGINAL DA CRP DE 76
ARTIGO 2.º
(Estado democrático e transição para o socialismo)
A República Portuguesa é um Estado democrático, baseado na soberania popular, no respeito e na garantia
dos direitos e liberdades fundamentais e no pluralismo de expressão e organização política democrática, que
tem por objetivo assegurar a transição para o socialismo mediante a criação de condições para o exercício
democrático do poder pela classes trabalhadoras.

ARTIGO 3.º
(Soberania e legalidade)
1. A soberania, una e indivisível, reside no povo, que a exerce segundo as formas previstas na Constituição
2. O Movimento das Forças Armadas, como garante das conquistas democráticas e do processo
revolucionário, participa, em aliança com o povo, no exercício da soberania, nos termos da Constituição
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A CONSTITUIÇÃO EM
SENTIDO MATERIAL

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v Conceção ideal/Constituições liberais oitocentistas: constituição formal (escrita) e
material (valores fundamentais: liberdade fundamentais, separação dos poderes)

v Conceção positivista/logicismo formalista (Kelsen): constituição formal


- Força normativa do texto constitucional
- Ordem jurídica sem valoração política, religiosa ou ideológica (“pureza jurídica”)
- Constituição reduz-se a um “sistema de normas jurídicas”, independentemente do seu
conteúdo de valor

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v As teorias realistas, integracionistas e espiritualistas: insuficiência da vertente formal da
Constituição > Constituição assente na realidade sociopolítica ou nos valores

Teorias realistas (Lassale) e integracionistas (Smend e Heller) – perspetiva fáctica e sociológica

Configuração jurídica é a conformação de uma


Constituição escrita (“mera folha de papel”) comunidade viva > relevância dos dados
¹ Constituição real > Constituição material é a sociológicos e culturais ao nível das fontes de
expressão da realidade constitucional Direito

Teorias espiritualistas (Radbruch) – perspetiva cultural e de valores


Constituição material é a expressão da cultura constitucional (conjunto valores transcendentes,
pré-constitucionais, suprapositivos)

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v Tese da força normativa e tridimensionalidade: revalorização do texto constitucional a par
da realidade e cultura constitucionais

Tese da força normativa


- Normatividade do texto constitucional/norma (permanência)
- Desde que: comunicação com a realidade e valores constitucionais (abertura)

Tridimensionalidade constitucional
1. Realidade constitucional (substrato sociológico, político e fáctico)
2. Valores axiológicos/cultura constitucional (substrato valorativo e cultural)
3. Texto constitucional (substrato formal)
Equilíbrio entre:
> Permanência e abertura
> Texto e realidade e cultura
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v A importância do texto e dos valores: positivismo vs. jusnaturalismo
• Informadores que, durante o regime nazi, denunciaram pessoas por condutas contrárias ao
regime, que eram ilegais e punidas com pena de morte (Julgamentos de Nuremberga 1946, the
Grudge Informer case 1949, the Puttfaken case)

• 2 guardas que, ao serviço da RDA, mataram um jovem que tentava atravessar o muro para o
lado ocidental (RFA), em 1984 (the Berlin Wall Shooting Case – Tribunal Federal Alemão 1992;
TEDH, Streletz, Kessler and Krenz c. Alemanha, 2001)

Dilema do órgão decisor:


Não punir: são atos atrozes e imorais, mas os indivíduos
atuaram de acordo com a lei em vigor – segurança jurídica
(nullum crimen, nulla poena sine lege)

Punir: o direito não pode compactuar com atos imorais,


mesmo que isso signifique ignorar/contrariar a lei - justiça
(lex injusta non lex est) www.menti.com 25
PARA A PRÓXIMA AULA PRESENCIAL

ANÁLISE DO TEXTO: “O CONCEITO OCIDENTAL DE CONSTITUIÇ Ã O”, DE ROGÉRIO SOARES

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