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AULA: 20/09/23 PRÉ-VESTIBULAR= PROEJAI CAP UERJ – FILOSOFIA.

• FILOSOFIA SOCIAL E POLÍTICA - CONTRATUALISTAS.


• Contexto Histórico:

Na virada histórica para a Modernidade, ocorreram transformações profundas que moldaram a base
da filosofia política. Este período marcou a transição do humanismo renascentista para o
antropocentrismo moderno, no qual o homem emerge como um indivíduo no papel de senhor da
natureza através do poder da razão técnica e científica. A crença na inesgotabilidade dos recursos
naturais e a noção de progresso linear tornaram-se elementos centrais desse contexto.
Além disso, essa época testemunhou a laicização da política, na qual o homem se transformou em um
sujeito histórico, rompendo com a ideia de que a organização política era fundamentada em uma
ordem natural ou divina. Surgiu a noção de autonomia política e de historicidade das formas de
organização social. O homem moderno passou a compreender-se como parte ativa de uma história
moldada por ele mesmo, assumindo a responsabilidade por seu próprio destino.
Nesse cenário, o contratualismo surgiu como um princípio fundamental, que enfatizava a
necessidade de pactos sociais que permitissem o homem estabelecer os limites e vínculos de suas
relações políticas. Esta é a essência da filosofia política que será explorada nos tópicos subsequentes,
à luz do pensamento de Hobbes e Rousseau.

• Pensamento Político de Hobbes:


Thomas Hobbes (1588-1679), um filósofo inglês cuja vida foi marcada por tumultos políticos e
conflitos armados, desempenhou um papel crucial no desenvolvimento da filosofia política
contratualista. Seu pensamento político se baseia em dois pilares fundamentais: a concepção do
estado natural dos homens e a proposta de um pacto social que retiraria a humanidade desse
estado de natureza caótico.
Hobbes parte de uma visão antropológica que retrata o ser humano como inerentemente egoísta e
propenso à violência em busca de seus interesses individuais. Ele descreve o estado natural como
uma condição de guerra de todos contra todos, na qual os interesses conflitantes dos indivíduos
levam à competição, desconfiança e busca pela glória. Nesse cenário, a ausência de regras e limites
comuns levaria à destruição mútua, muito bem sintetizada em sua célebre concepção de que “[...] O
homem é o lobo do próprio homem.”

§ O Estado como o Soberano (Leviatã):


Para Hobbes, os valores morais são relativos e derivam das convenções estabelecidas pela sociedade.
Portanto, sua existência depende dessas normas gerais para se manifestar. Ele argumenta que a
sociedade civil só pode ser estabelecida quando os indivíduos concordam em abandonar o estado de
natureza, submetendo-se a restrições comuns que regulamentam seus direitos e deveres. O Estado
surge como uma resposta a essa necessidade, atuando como um artifício humano que introduz
valores morais na convivência social.

No livro "O Leviatã", Hobbes estabelece 19 regras fundamentais para a vida em sociedade,
promovendo a busca pela paz e a renúncia dos direitos naturais dos indivíduos em favor da
submissão a um poder constituído pelo contrato social. Ele argumenta que além das leis e regras de
conduta, é necessário um poder capaz de fazer cumprir essas normas. Hobbes fundamenta a teoria do
Estado absolutista não mais no direito divino, mas sim na livre convenção dos próprios seres
humanos. Nessa concepção, todas as esferas da vida são submetidas ao Estado, que ele chama de
Leviatã, detentor do poder de usar a força e a violência, pois, para Hobbes, sem a espada, os pactos
seriam apenas palavras vazias.

O pensamento de Hobbes, com sua visão realista e a ênfase na necessidade de um poder soberano
para manter a ordem social, influenciou profundamente o debate político e filosófico, tornando-se
uma referência importante na história da filosofia política contratualista.
•Pensamento Político de Rousseau:
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), filósofo nascido na atual Suíça, é uma figura central no
contratualismo, mas com uma perspectiva fundamentalmente diferente da de Hobbes. Enquanto
Hobbes pintou um quadro sombrio do estado natural do homem, caracterizando-o como egoísta e
violento, Rousseau propôs uma visão contrária, acreditando que o homem em seu estado natural é,
em essência, íntegro e moralmente justo. Para Rousseau, o egoísmo e a maldade surgem da
injustiça e das desigualdades na sociedade, especialmente da instituição da propriedade privada,
que cria competição e conflito.
No livro "O Discurso sobre a Desigualdade", Rousseau explora como a desigualdade e a violência
emergem com a introdução da propriedade privada. Ele estabelece a antítese entre natureza e
cultura, entre o estado primitivo e o estado civil. Para Rousseau, a solução reside em restaurar o
equilíbrio com a natureza por meio de uma transformação no espírito humano, alcançada por meio
da educação.

§ A “Vontade Geral”:
Rousseau defende a supremacia da coletividade sobre a individualidade, em contraste com a visão
de Hobbes. Ele acredita que a transição da liberdade natural para a liberdade civil ocorre por meio de
um pacto coletivo no qual os indivíduos renunciam a seus interesses particulares em favor do
interesse coletivo. Esse pacto não é baseado na submissão a um poder soberano, como em Hobbes,
mas sim na igualdade e na justiça entre os homens. A vontade geral da comunidade é o princípio
orientador da vida social, estabelecendo leis justas que emanam do consenso do povo.

Para Rousseau, a chave para essa transformação é a educação, que visa suprimir o egoísmo e
promover uma nova conduta social. Ele advoga a existência de um estado democrático no qual o
poder emana da comunidade, fundamentado na igualdade entre os cidadãos. Nesse contexto, as leis
são formuladas de acordo com a vontade geral da população, garantindo uma nova forma de
interação humana baseada em valores coletivos e no bem comum.

O pensamento de Rousseau oferece uma perspectiva única dentro do contratualismo, enfatizando a


importância da educação e da justiça social na busca por uma sociedade mais igualitária e
harmoniosa. Sua visão da democracia como expressão da vontade geral do povo continua a
influenciar debates políticos e filosóficos até os dias de hoje.

QUESTÕES:

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