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É comparada a obra de Hobbes com a obra de Jean Bodin (1576). Há uma grande
diferença no método. Ao invés de partir de casos históricos, o método de Hobbes tenta
construir o direito a partir de um fundamento puramente racional. Hobbes desafia
Aristóteles, contrapondo a hipótese do homem natulier social com a hipótese do homo
homini lupos (o homem é o lobo do homem). "Hobbes faz tabula rasa de todas as opiniões
ante riores e constrói sua teoria sobre as bases sólidas, indestru tíveis, do estudo da
natureza humana e dos carecimentos que essa natureza expressa."
Precisamente porque estado de natureza e estado civil são concebidos como dois
momentos antitéticos, a passagem de um para outro não ocorre necessariamente pela
própria força das coisas, mas por meio de uma ou mais convenções, ou seja, por meio de
um ou mais atos voluntários dos próprios indivíduos interessados em sair do estado de
natureza, ou seja, em viverem conforme a razão.
Diferente mente do que ocorre com qualquer outra forma de sociedade natural, em que o
homem pode viver independentemente de sua vontade, o princípio de legiti mação da
sociedade política é o consenso.
Modelo aristotélico
À medida que apresenta a evolução da so ciedade humana como uma passagem gradual
de uma socie dade menor para uma mais ampla, resultante da união de várias sociedades
imediatamente inferiores, pôde fácil e docil mente ser estendido a outras situações, à
medida que as di mensões do Estado, ou seja, da sociedade auto-suficiente e como tal
perfeita, cresciam, passando da cidade à província, da província ao reino, do reino ao
império.
Essa forma de pensar foi estendida a vários pensadores ao longo dos séculos, como
Tommaso Campanella, Bodin e Johannes Althusius. São mostrados trechos de seus livros
em que isso fica claro.
No modelo aristotélico, a passagem de uma fase para outra é uma transformação não
qualitativa, mas predominantemente quantitativa. Assim, a passagem de um estado para
outro não parte de uma convenção, como no modelo hobbesiano, mas ocorre através do
efeito de causas naturais, através da ação de condições objetivas, tais como a ampliação
do terri tório, o aumento da população, a necessidade de defesa, a carência de obter os
meios necessários à subsistência, a divisão do trabalho, etc.
Uma das diferenças mais relevantes da interpretação histórica dos modelos é a relação
sociedade/indivíduo. No modelo aristotélico, está no início a sociedade (a sociedade familiar
como núcleo de todas as for mas sociais posteriores); no modelo hobbesiano, está no
princípio o indivíduo. No primeiro caso, em que a sociedade familiar no estado pré-político é
entendida como a organização da casa, já há uma relação entre superior e inferior, ou seja,
uma relação de desigualdade (pai e filho, senhor e servo). No segundo caso, em que os
indivíduos são isolados, há um estado de liberdade e igualdade, de independência
recíproca. Enquanto estado de indivíduos livres e iguais, o estado de natureza é o local dos
direitos individuais naturais.
A particular importância desse contraste se revela no fato de ser a ele que se refere
principalmente a interpretação corrente que faz do modelo jusnaturalista o reflexo teórico e,
ao mesmo tempo, o projeto político da sociedade burguesa em formação. Algumas
características do estado de natureza devem ser destacadas:
a) O estado de natureza é visto como o local das relações mais elementares entre os
homens, i.e, das relações econômicas. É feita uma distinção entre a esfera econômica e a
esfera política; entre a esfera privada e a esfera pública. Isso se encaixa no contexto
histórico da época, em que se tornava mais clara a distinção entre poder político e poder
econômico.
O estado de natureza
O modelo hobbesiano teve várias variações na literatura dos séculos XVII e XVIII, que
podem ser agrupadas em torno de três temas fundamentais:
Já em Hobbes, o estado de natureza é uma pura hipótese. É algo que nunca existiu e
jamais existirá. O que existiu e continua a existir de fato é um estado de natureza não
universal mas parcial. Eles ocorrem de três maneiras: (i) na relação entre grupos sociais
independentes, ou seja, estados soberanos; (ii) o estado em que se econtram os indivíduos
durante uma guerra civil; (iii) o estado em que se encontram certas sociedade primitivas.
Locke também pergunta se já houve homens e estado de natureza e passa alguns casos: o
dos soberanos de governos independentes, o de dois homens numa ilha deserta, o de “um
suíço e um indiano nas florestas da América” , e o do soberano de um Estado em face de
um estrangeiro em seu território. De resto, tal como Hobbes, também Locke considera a
dissolução do Estado como um retorno ao estado de natureza: numa passagem, identifica
explicitamente o estado de natu reza com a anarquia.
Rousseau, por outro lado, apresenta o estado de natureza como um estado histórico. Ele
identifica o estado de natureza com o estado primitivo da humanidade, inspirando-se na
literatura sobre o “bom selvagem”. Mas trata-se de uma história imaginária que tem uma
função exemplar. Serve para demonstrar a decadência da humanidade a partir do momento
em que esse saiu desse estado para entrar na “sociedade civil”, bem como a necessidade
de uma renovação das instituições que não pode andar separada de uma renovação moral.
b) se é pacífico ou belicoso
Também Locke descreve o estado de natureza como um estado de paz. Mas, enquanto
estado de paz universal, é tão hipotético quanto o estado universal de guerra de que fala
Hobbes. Para Rousseau, o estado originário do homem era feliz e pacífico. Mas era um
estado que não podia durar; por uma série de inovações, a principal das quais foi a
instituição da proprie dade privada, ele degenerou na sociedade civil.
Tal questão serviu como critério de discriminação das várias tendências de filosofia política
durante o século XVIII. Os que defendiam um estado social foram chamados de socialistas.
Se por “socialistas” se entendem os que continuaram a transmitir a concepção aristotélica
do homem como animal naturalmente social, nenhum dos escritores que contri buíram para
formar e desenvolver o modelo jusnaturalista pode ser caracterizado com essa
denominação.
O princípio individualista em que se inspiram as teorias jusnaturalistas não exclui que exista
um direito natural social, ou seja, um direito das sociedades naturais, como a família, e, por
conseguinte, que existam sociedades diversas da sociedade civil ou política. O que se
exclui é que a sociedade política seja concebida como um prolongamento da sociedade
natura:a sociedade política é uma criação dos indivíduos, é o produto da conjunção de
vontades individuais.