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ABSTRATC
1. INTRODUÇÃO
É necessário buscar uma trajetória da reforma psiquiátrica brasileira para melhor
descrever o serviço ofertado na atualidade pelo Centro de Atenção Psicossocial – CAPS
com o intuito de refletir a problemática da saúde mental ao longo do tempo até chegar à
atualidade. Esse ponto é balizar para construir nossa perspectiva de análise social
contemporânea no âmbito da saúde mental.
A nossa reflexão parte para compreender o movimento do capital tardio na atual
conjuntura do Estado neoliberal para relacionar com as estratégias de retrocessos e
desmonte da política de saúde mental no Brasil.
Para finalizar essa abordagem é importante compreender as possibilidades de ações
do Serviço Social diante da política pública de saúde mental como estratégia de mudança
diante da realidade.
2. UM BREVE CONTEXTO DA REFORMA PSIQUIÁTRICA ATÉ OS EQUIPAMENTOS
SUBSTITUTIVOS NO BRASIL.
No Brasil, os primórdios traços para o tratamento do uso abusivo de substâncias
psicoativas era realizada como um julgamento moral do indivíduo na relação
médico/paciente. Os médicos seguiam as bases conceituais de exclusão, ou seja,
internação. As pessoas ditas não normais não poderiam conviver com a família ou em
sociedade. Em outras palavras, “... os médicos advogavam a necessidade de um asilo
higiênico e arejado, onde os loucos pudessem ser tratados segundo os princípios do
tratamento moral” (COSTA, 2007, p. 39).
Em 1927, os atendimentos psiquiátricos avançaram para a criação de uma nova
administração. “... Cria-se o Serviço da Assistência aos doentes mentais no Distrito
Federal...” (COSTA, 2007, p.41), o qual tinha como fundamento coordenar e administrar os
estabelecimentos públicos do Rio de Janeiro. Em 1930, este mesmo serviço assume a
responsabilidade de todos os serviços psiquiátricos no Brasil.
Importante destacar que nesse período a internação é à base da proposta da
psiquiatria no Brasil. A Liga Brasileira de Higiene Mental seguia as bases teóricas da
psiquiatria francesa, tendo como princípio a internação em hospitais psiquiátricos, no qual
esse modelo era defendido como “proteção a sociedade”. Nesse contexto se constituiu os
primeiros atendimentos em saúde mental, em espaço fechado que atendesse isoladamente
os loucos no Brasil.
A questão é que todos que não se enquadravam na concepção moral da sociedade
eram forçados sem o menor critério ao tratamento psiquiátrico e excluídos do convívio
social, onde
“Submetidos a condições de vida extremamente inumanas, os negros e brancos
pobres foram forçados, para sobreviver, a recorrer à marginalização,
vagabundagem, à prostituição e ao alcoolismo. O alcoolismo era uma constante
nesta situação social e, por isso, os psiquiatras tornaram-no como causa da
desorganização moral e social da sociedade” (COSTA, 2007, p. 91).
São nesses contextos que o modo de produção impõe novas regras na relação
capital trabalho, isso influencia diretamente o comportamento do Estado na esfera política,
econômica e social. Assim, as medidas para superar as crises do capital exigiram uma
adequação no modelo de Estado, com isso, a precarização das políticas públicas como:
saúde, educação, habitação, entre outras, são essenciais e estratégicas, dando ao capital
privado a ideia de mais eficiência, que consiste em avanços significativos a um modelo de
Estado cada vez mais liberal, ou seja, Estado mínimo, inviabilizando a garantia de direitos,
melhores condições de vida e justiça social. Ou que... “mais exatamente, no capitalismo
monopolista, as funções políticas do Estado imbricam-se organicamente com as funções
econômicas” (NETO, 2009, p.25).
Sob o exposto, sinaliza-se uma crescente dificuldade de manter na atual conjuntura a
garantia aos direitos já conquistados, como o acesso à seguridade social – saúde,
previdência e assistência social. Se não conseguimos manter a seguridade social como tripé
essencial na proteção social das pessoas, como garantir a Reforma Psiquiátrica no Brasil?
De um lado o Estado garante os avanços ao capital imperialista no Brasil, do outro,
como estratégia, a permissão de investimento no campo social. Essa dinâmica política e
econômica vêm sendo uma ofensiva cruel nesse desenho da contemporaneidade e, mesmo
com a luta dos movimentos sociais não se altera as bases fundamentais na ordem
burguesa, na qual
“... não foram alteradas pelo equilíbrio conjuntural da luta de classes nos anos de
1980 e 2000, de maneira que, no que lhe é fundamental, a forma política brasileira
continua sendo o Estado Burguês que tem por principal característica organizar o
domínio de uma pequena parte da sociedade (na origem uma aliança burguesa
oligárquica que se desenvolveu para um bloco burguês monopolista em aliança com
o imperialismo e o latifúndio, culminado num bloco monopolista em seus diferentes
segmentos com o capital imperialista) sobre a maioria da população, dos
trabalhadores e demais segmentos explorados pela ordem capitalista burguesa, que
só podem chegar a uma inserção precária na ordem democrática nos termos de
uma democracia de cooptação ou restrita” (IASI, 2019, p. 420).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
COSTA, Jurandir Freire. História da Psiquiatria no Brasil. 3ªed. São Paulo, Cortez, 2009.
IAMAMOTO, Marilda Villela. Serviço Social em Tempo de Capital Fetiche: capital financeiro,
trabalho e questão social. Vol.7, São Paulo, Cortez, 2012.
NETTO, José Paulo. Capitalismo Monopolista e Serviço Social. 7ªed.,São Paulo, Cortez,
2009.
IASI, Mauro Luis. Cinco Teses sobre a Formação Social Brasileira. In: Serviço Social &
Sociedade, São Paulo, nº136, 2019, p.417-438.