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Assistência integral e humanizada de enfermagem na saúde mental e

seus transtornos.

SOBRENOME, Leticia.

Sabe-se que os cuidados com a saúde são de suma importância, visto


que essa atenção traz diversos benefícios para o indivíduo. Todavia, muitas
vezes é difícil para o sujeito identificar que tem alguma doença. Canguilhen
(2009) traz o conceito de saúde sob a perspectiva de Diderot, o qual alega que
essa é o funcionamento silencioso e invisível das funções orgânicas, ou seja,
quando algo está errado o corpo irá demonstrar isso através dos sintomas, no
caso, a doença.

Todavia, o conceito de saúde é definido segundo normas e costumes de


determinada cultura visando o bem estar, sendo assim, assume o papel de
delegar como o indivíduo deve agir, regras a seguir e como se comportar, ou
seja, cada grupo vai ter uma definição do que é saúde e do que é doença. Tem
se como exemplo, o período da Idade Média, onde pessoas consideradas
loucas, bruxas ou que praticavam misticismo, dentre outros eram consideradas
anormais perante a Igreja e por isso eram queimadas vivas. Isto posto, fica
evidente que os critérios de normalidade são construções históricas e culturais
e estão em constante mudança (CANGUILHUEN,2009).

Conforme encontrado na literatura, a história da psiquiatria tem seu início


marcado no século XVIII, os locais que abrigavam os sujeitos ditos loucos,
conhecidos como manicômios ou hospícios, tratavam os indivíduos com extrema
crueldade e condições desumanas, visto que eram considerados pessoas
indesejáveis para a sociedade. Por conta dessa crueldade surgem movimentos
que visam eliminar essa prática e propor melhorias na assistência a esses
pacientes, o que mais tarde deu início a reforma psiquiátrica (CLEMENTINO, et.
al, 2019).
Mais tarde, em 1961, quando Franco Basaglia assume a direção do
Hospital de Goriza na Itália, demonstra completa indignação com a forma com
que os pacientes eram tratados na época. Com isso optou por outros métodos e
pretendia estabelecer um atendimento mais humanizado e que preservasse a
dignidade dos sujeitos. Esse cenário não era muito diferente no Brasil, não
existiam profissionais qualificados e os que tinham especialização atendiam
somente pessoas influentes, os locais onde as pessoas ficavam eram
extremamente precárias. Foi só a partir da Declaração de Caracas, na qual
constava o reconhecimento dos ditos loucos como portadores de transtorno
mentais e que tinham o direito aos princípios de cidadania, que foi repensado o
cuidado e a necessidade da criança de locais apropriados e serviços mais
qualificados (CARRARA, et. al, 2015).

O filósofo e psiquiatra Karl Jaspers, relata que se deve tomar cuidado para
que o indivíduo não seja reduzido a conceitos psicopatológicos. Não é possível
compreender o homem por completo, dado que a ciência visa um conhecimento
sistemático e pautado por regras, entretanto quanto mais as vivências dos
sujeitos são conceituadas e ditas como certas ou erradas com base nas
experiências dos demais, mas difícil fica a compreensão do homem, perdendo
conceitos importantes como questões éticas e existenciais (MARTINHAGO e
CAPONI, 2016).

Tendo isso em vista, é dever do profissional descartar todo tipo de


inferência, seja ela baseada na religião, no social, psicológico ou biológico,
sendo de extrema importância que esse conhecimento esteja sempre passando
por revisões sistemáticas e pesquisas a fim de garantir um melhor diagnóstico
para o sujeito. Isto posto, é fundamental a observação e análise das vivências
e padrões de comportamento do sujeito, visto que pessoas com algum tipo de
doença mental tendem a ter experiências diferentes comparado ao que se pode
considerar “normal”, vale ressaltar também que essas experiências psicológicas
são complexas, e não sempre fogem do que pode ser considerado normal
(BERRIOS,2012).
Isto posto, a enfermagem aparece com o intuito de auxiliar o paciente de
forma humanizada, deixando de lado os preceitos impostos anteriormente,
visando não somente o cuidado integral do paciente, mas também dos
familiares/cuidadores com a intenção de garantir as melhores condições
possíveis para seu tratamento. Faz-se necessário a atuação desse profissional
em um contexto interdisciplinar, visando estabelecer uma rede de assistência
integral, humanizada e pautada na ética e moral, e não mais no contexto
psiquiátrico, passando a ter um olhar mais afetuoso com o paciente que ali se
encontra e necessita de cuidado (FIORAMONTE, et. al, 2013).

É importante que esse profissional esteja disposto a sempre aprender


novas estratégias para melhor auxiliar o outro, visto que seu trabalho exige uma
atitude baseada na dignidade, acolhimento, criação de vinculo e cuidado com o
próximo, deve deixar de lado suas crenças e preceitos e utilizar de todas as
técnicas que lhe forem possíveis, tendo uma postura mais humanizada e próxima
do sujeito e não técnica como visto geralmente no contexto hospitalar, dado que
esse paciente está ali necessitando de cuidados e de atenção e a criação de
vínculos entre ele e enfermeiro pode ajudar muito mais em seu tratamento do
que uma atitude mecanizada e comum antes da reforma psiquiátrica como visto
anteriormente (CAIRO, et. al, 2020).

Isto posto, fica evidente que com as constantes mudanças advindas da


reforma psiquiátrica, ainda assim muitas são taxados como perigosos e
excluídos da sociedade, entretanto o indivíduo que ali se encontra não deixa de
ser uma pessoa que necessita de cuidados e muitas vezes implora por atenção,
sendo de suma importância que esse profissional deixe de lado todas as crenças
que rodeiam esses pacientes e centrar sua atuação na prática integral e
humanizada do indivíduo, fazendo com que tenha um convívio melhor na
sociedade e a redução de danos futuros.
Referências

BERRIOS, German E. Psicopatologia descritiva: aspectos históricos e


conceituais. Rev. Latinoam. Psicopat. Fund., São Paulo, v. 15, n. 1, p. 171196,
março 2012. Disponível em:
<https://www.scielo.br/j/rlpf/a/gCJgcVwJFvfTrVTHhXrxFyk/?format=pdf&lang=pt
>. acesso em: 19 maio 2022.

CAIRO, João Vitor Ferreira, et. al. Enfermagem em saúde mental: a


assistência em um cenário de mudanças. Global Academic Nursing
Journal, [S. l.], v. 1, n. 3, p. e56, 2020. Disponível em:
https://www.globalacademicnursing.com/index.php/globacadnurs/article/view/4.
Acesso em: 21 maio. 2022.

CANGUILHEM, Georges. O normal e o patológico. Rio de Janeiro: Forense


Universitária, 6ª edição, 2009. Disponível em:
https://app.uff.br/slab/uploads/GeorgesCanguilhem-ONormaleoPatologico.pdf.
acesso em: 20 maio 2022.

CARRARA, Gisleangela Lima Rodrigues, et al. Assistência de enfermagem


humanizada em saúde mental: uma revisão da literatura (Humanized nursing
care in mental health: a review of the literature). Revista Fafibe On-Line,
Bebedouro SP, v. 8, n. 1, p. 86–107, 2015. Disponível em:
<https://unifafibe.com.br/revistasonline/arquivos/revistafafibeonline/sumario/36/
30102015183642.pdf>. Acesso em: 21 maio 2022.

CLEMENTINO, Francisco de Sales, et. Al. Atendimento Integral e comunitário


em saúde mental: avanços e desafios da reforma psiquiátrica. Trabalho,
Educação e Saúde [online]. 2019, v. 17, n. 1. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/tes/a/9nfWK3fTNSC6gRgFZ3KjxRK/?lang=pt. Acesso em
20 maio 2022.

FIORAMONTE, Anderson, et. al. Cuidado à pessoa com transtorno mental e


sua família: atuação do enfermeiro na ESF. Ciência, Cuidado e Saúde, v. 12,
n. 2, p. 315 - 322, 29 ago. 2013. Disponível em:
https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/CiencCuidSaude/article/view/20362.
Acesso em 19 maio 2022.

MARTINHAGO, Fernanda ; CAPONI, Sandra. Breve história das


classificações em psiquiatria. Revista Internacional Interdisciplinar, v. 16,
n. 1, p. 73–90, 2019. Disponível em:
<https://www.15snhct.sbhc.org.br/resources/anais/12/1473771677_ARQUIVO_
Artigohistorico_seminario.pdf>. acesso em: 21 maio 2022.

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