Os povos e comunidades tradicionais se relacionam de modos particulares com a natureza e os
recursos naturais, geralmente de modo sustentável, mas não estão isolados da sociedade urbana e industrial nem da lógica de produção capitalista. Eles precisam se relacionar e negociar com essas sociedades para se manterem. Entretanto, as atividades, os saberes, os territórios e os modos de vida de muitas comunidades e povos tradicionais, como os dos faxinalenses e os das quebradeiras de coco babaçu, são ameaçado constantemente pela expansão da atividade agrária monocultura, dos extrativismo e das atividade industrial. As grandes empresas quem que realizam esse tipo de atividade mantém representantes de seus interesses no meio político do país. Um dos argumentos usados por esses representantes, para explorar os locais em que vivem as comunidades tradicionais ou impedi-las de acessar os recursos de que precisam para sobreviver, é o de que nem todas elas conservam o meio ambiente. Para isso, alegam que as práticas desses povos não se encaixam na definição de conservação ambiental de acordo com o pensamento capitalista. Outro argumento usado é o de que esses povos obteriam lucro com arrendamento de suas terras para grandes grupos capitalistas, por exemplo, os que seria mais vantajoso do que manter suas tradições produtivas. Seriam, desta maneira, submetidos à lógica do capital pela promessa do Lucro, o que lhes garantiria a intensificação do consumo. Esses argumentos se baseiam no que a antropóloga Manuela Carneiro da Cunha denomina “essencialização” do relacionamento entre as populações tradicionais e a natureza, ou seja, na ideia de que as comunidades e povos tradicionais definem se pela sua relação com o meio ambiente. As relações entre os povos e comunidades tradicionais e a natureza, entretanto, vão além de uma visão essencialista ou ambientalista. Tanto a definição da antropologia quanto a definição do Marco legal não discriminamos apenas as relações com a natureza para a caracterização desses grupos. Nesse sentido, a visão do cientista social Antônio Carlos Diegues amplia a compreensão sobre as sociedades tradicionais. Segundo o autor, essas sociedades se caracterizam: a) ... Por uma relação de simbiose entre a natureza. Os círculos naturais e os recursos naturais renováveis com os quais se constrói um modo de vida; b) pelo conhecimento aprofundado da natureza e de seus círculos que se reflete na elaboração de estratégias de uso e de manejo dos recursos naturais. Esse conhecimento é transferido por oralidade de geração em geração; c) pela noção de território o espaço onde o grupo social se reproduz economicamente e socialmente; d) pela moradia e ocupação desse território por várias gerações; e) pela importância dia das atividades de subsistência, ainda que a produção de mercadorias possa estar mais ou menos desenvolvida; f) pela reduzida acumulação de capital; g) pela importância que é dada a unidade familiar, doméstica ou comunal e as relações de parentesco ou compadrio para o exercício das atividades econômicas, sociais e culturais; h) pela importância das simbologias, mitos e rituais associados à caça, à pesca e a atividades extrativistas; i) pela tecnologia utilizada que é relativamente simples, d impacto limitado sobre o meio ambiente; j) pelo fraco poder político, que em geral reside com os grupos de poder dos centros urbanos; k) pela autoidentificação ou identificação pelos outros de se pertencer a uma cultura distinta das outras.