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*Artigo publicado nos anais e no livro do IV CEURCA – Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura
e Desenvolvimento. ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil
RESUMO
ABSTRACT
It´s been a while that traditional communities have been priority targets of the
invasion of enterprises, marginalized from implementation to operation. This article
aims to discuss the invisibility and criminalization processes brought to these
territories. To this end, a study case was conducted in Cumbe, a maroon community
in Ceará, that with the invasion of intensive shrimp farming, in the 1990s, and the
installation of 67 wind turbines on the surrounding dunes in 2008, has been seeing its
way of life be destroyed and its fight threatened. Through experiences and historical
analysis of local conflicts and their relation, it appears that many of the people who
resist have been criminalized and live under constant threat. Even with all the
difficulties and the prospect of conflict to intensify before the announcement of the
expansion of the tanks and wind turbines areas, fishermen remain in the fight, with
the priority agenda of territory regularization.
Keywords: Invisibility. Criminalization. Cumbe.
ENTRE A INVISIBILIZAÇÃO E A CRIMINALIZAÇÃO DE
COMUNIDADES TRADICIONAIS: O CASO DO CUMBE,
ARACATI-CE.
1 INTRODUÇÃO
A história humana, sempre repleta por injustiças das mais variadas formas, vê
ressurgir o acirramento, sobretudo nas últimas décadas, dos mais diversos conflitos,
principalmente em torno da posse da terra e dos bens naturais não comerciais,
como sementes, água, vento, fauna, flora, solo, combustíveis fósseis e fontes
alternativas de energia tidas como limpas. Esses tipos de embates desencadeiam,
invariavelmente, processos que, didaticamente, passaram a ser chamados de casos
de injustiças ambientais.
A noção de justiça ambiental surge dentro de um movimento de
ressignificação da questão ambiental. Resulta da inserção na temática ambiental de
dinâmicas sociopolíticas tradicionalmente envolvidas com a construção da justiça
social. Esse processo está associado à reconstituição das arenas onde se dão os
embates sociais pela construção de futuros possíveis (ACSELRAD, 2010).
Com o intuito de fortalecer o combate dessas injustiças, em 2001, foi criada a
Rede Brasileira de Justiça ambiental que estabeleceu Justiça Ambiental como uma
categoria de luta, ampliando o conceito e definindo um conjunto de princípios e
práticas. Nessa ocasião, elaborou-se uma Declaração de Princípios da Rede na qual
os próprios participantes estabeleceram o que compreendiam por injustiça e justiça
ambiental. Definiu-se, então, injustiça ambiental como:
Ao contrário do que possa parecer não se trata apenas de dois lados com
objetivos incompatíveis e que disputam determinados bens entre si ou de
ambientalistas radicais com seus ideais conservacionistas, conflitos ambientais são
conflitos de classe e, sendo assim, como afirma Schmid (1997), a estrutura social é
de tal forma, que os ganhos de uma das classes são as perdas de outra.
Nessa perspectiva, não se pode considerar que o desequilíbrio ambiental é
democrático, ou seja, que pessoas de diferentes classes sociais o sentem de
maneira similar. Murphy (1994) sugere que as sociedades estão se organizando em
“classes ambientais” – umas que ganham com a degradação e outras que pagam os
respectivos custos ambientais.
A adoção desses conceitos deve considerar que as classes ambientais são
apenas espelhos das classes sociais, ou seja, que, na realidade, há um
entrelaçamento entre ambas. Essa postura é essencial na busca de soluções para o
problema, a fim de que as ações não se limitem apenas a medidas paliativas.
Acselrad (2010) considera que a injustiça social e a degradação ambiental
têm a mesma raiz, o modo de distribuição – desigual – de poder sobre o ambiente
natural. Portanto, a solução seria retirar dos poderosos a capacidade de transferir os
custos ambientais do desenvolvimento para os mais “despossuídos”.
Essas desigualdades são decorrentes, principalmente, da manutenção de
mecanismos de privatização do uso desordenado dos bens não comerciais, como
solos, florestas, minerais, ar e água, que os transformam em objetos do capitalismo,
sistema econômico predominante atualmente, parasitário dos ecossistemas. Tudo é
transformado em mercadoria e, para isso, invariavelmente, há destruições na
natureza e de atividades artesanais desenvolvidas pelos povos étnicos, raciais e
comunidades tradicionais.
Muitos projetos são licenciados, entretanto, com base em estudos
insuficientes e ineficientes, ancorados no paradigma ambiental dominante, que
acredita na “modernização ecológica”, ou seja, na capacidade das tecnologias
preverem e reduzirem os riscos e efeitos inerentes às atividades humanas,
trabalhando dentro da racionalidade econômica instrumental. Dessa forma,
configuram-se como ações políticas direcionadas pela lógica econômica, “atribuindo
ao mercado a capacidade institucional de resolver a degradação ambiental”
(ACSERALD, 2004b, p.23), através de medidas mitigadoras e compensatórias. Esse
modelo dominante, chamado de “paradigma de adequação ambiental”, opõe-se ao
“paradigma da sustentabilidade” (ZHOURI et al., 2005).
No “paradigma da adequação”, a obra assume lugar central, apresentando-se
de forma inquestionável e inexorável. O ambiente é tratado como externalidade a ser
modificado e adaptado aos objetivos do projeto técnico. Dentro desse processo,
arranjos e ajustes tecnológicos, orientados por medidas mitigadoras e
compensatórias, funcionam como adequação. A propósito, a “necessidade” e a
viabilidade socioambiental da obra não são levadas em consideração. Já o
paradigma da sustentabilidade – ao contrário do que se costuma ver ou ouvir falar,
de maneira deturpada, como abordagem desse conceito - vem de encontro com
esse modelo, ao colocar no debate os padrões de produção e consumo,
demandantes desse tipo de obra, além dos interesses e valores que estão
envolvidos em sua construção e seus verdadeiros beneficiários. Para isso, esse
paradigma pressupõe a análise efetiva da viabilidade socioambiental da obra, que
contemple as potencialidades do ambiente a que pretende inserir-se e sua relação
com os usos e significados já conferidos localmente ao território (ZHOURI e
OLIVEIRA, 2007).
Acreditar que se pode solucionar um conflito espacial, por exemplo, apenas
por meio de mecanismos técnicos e/ou tecnológicos é desconsiderar a natureza
sistêmica intrínseca a eles e, sobretudo, invisibilizar populações tradicionais,
marginalizadas e vulnerabilizadas, inclusive pela carga de danos imputada a elas.
As diversas ideologias e maneiras de pensar a natureza revelam muitas
contradições históricas em uma complexa relação de aparente domínio antrópico
sobre o universo natural.
Na realidade, à medida que o homem tenta controlar a natureza através de
suas inovações tecnológicas reforça dinâmicas naturais intrínsecas que
preponderam diante desse comportamento humano, transformando-o em um ser
ultrapassado e inconsequente, e, contraditoriamente, torna-o cada vez mais
dependente.
Essa tentativa dos homens de dominar a natureza vem exaurindo a natureza
e, concomitantemente, desencadeando outra forma de servidão, ao capital
(BARREIRA, 1991). Populações que antes retiravam da natureza a subsistência
familiar, após a invasão de empreendedores externos e a destruição do meio
ambiente que vêm acontecendo, ficam reféns dessa lógica de produção que
mercantiliza tudo que vê pela frente, até os seres humanos. Com isso, necessitam
buscar outros meios de sobrevivência, fragilizando e, muitas vezes, abandonando
seus costumes e modos de vida tradicionais.
Na zona costeira brasileira, por exemplo, devido a sua localização privilegiada
e particularidades ambientais, muitos dos atributos que proporcionam fartura na
mesa dos pescadores/as, marisqueiras e moradores/as que vivem nestas áreas, ao
mesmo tempo, despertam interesses particulares crescentes por obtenção de lucros
com os quais se chocam com essa realidade, comprometendo a manutenção da
soberania alimentar e econômica dos grupos sociais.
Essa expansão da fronteira econômica do mercado global vem acontecendo
através da intensificação do uso de áreas economicamente marginalizadas, nas
áreas historicamente ocupadas por atividades de subsistência familiar e pelas
minorias étnicas, numa total harmonia com o território tradicional e os bens não
comerciais.
Na medida em que a utilização de um espaço ambiental ocorre em detrimento
do uso que outros segmentos sociais possam fazer de seu território, configura-se em
assimetria na apropriação social da natureza, gerando uma má distribuição
ecológica e, portanto, conflitos ambientais (MARTINEZ-ALIER, 1999; 2001;
ACSERALD, 2004a). Com isso, criam-se zonas de conflito e, devido à
desproporcionalidade de poder entre as classes em disputa, resultam em contínua
expropriação das populações locais.
Também se podem classificar esses conflitos como sociais, ao passo que,
conforme Opschoor (1995), a concepção de tais projetos industriais acontece dentro
de uma política de desenvolvimento voltada para o crescimento econômico com
ênfase na exportação, concentradora de “espaço ambiental”.
Quando os bens naturais são apropriados segundo a lógica de acumulação
capitalista, há uma constante divisão entre sociedade e natureza. A análise
separada de sociedade e natureza é uma consequência da lógica interna capitalista
(SMITH, 1988).
A apropriação e comercialização do ambiente natural o ressignifica para bem
de troca e, rapidamente, transforma a primeira natureza em segunda natureza, não
apenas devido à modificação da natureza, mas também à produção de espaços,
embora essas ações estejam imbricadas.
A respeito disso, pensadores ultraliberais contra-argumentam afirmando que
não há injustiça quando as pessoas decidem, voluntariamente, aceitar esses riscos
desproporcionais em troca de vantagens econômicas (PERHAC, 1999).
Primeiramente, para que um ser humano aceite viver em um ambiente
arriscado em troca de dinheiro, esse antes deve estar vulnerabilizado
economicamente. Como pensar no futuro incerto dos filhos, diante da ameaça dos
perigos aos quais serão expostos, perante a carência financeira que não permite se
ter o básico? Como condenar alguém que, dominado pelas ideologias capitalistas
propagadas pela mídia burguesa, vê o aumento de seus recursos financeiros como
oportunidade de melhorar sua qualidade de vida?
Portanto, o modo de produção capitalista, propositadamente, vulnerabiliza
economicamente as pessoas para dominá-las com mais facilidade. Entretanto, na
contramão dessa lógica, muitos lutam pela manutenção de seus modos de vida e
pela visibilização de sua identidade e práticas culturais.
3 NÃO SOMOS FANTASMAS: A INVISIBILIZAÇÃO DE COMUNIDADES
TRADICIONAIS
Por volta de 1500, Portugal invadiu o Brasil a fim conquistar mais terras,
ampliar seu comercio e expandir seu domínio continental. Diante da possibilidade de
invasão por outros países, a mando da corte portuguesa, em 1530, como medida
inicial, o militar Martim Afonso de Souza chegou com sua expedição trazendo a
bordo os primeiros colonos na incumbência de se instalar definitivamente no
território invadido, fundar vilas, povoados e, segundo eles, expandir a economia
local. Talvez quem não conheça a história ou tenha conhecimento apenas através
dos clássicos livros de história do Brasil, imagine que não existia ninguém nessas
terras. Esse episódio, certamente, marcou o princípio, no país, da prática de vários
conceitos mais tarde teorizados, como invisibilização social e injustiça ambiental.
Os primeiros habitantes da Terra não conheciam a propriedade territorial,
viviam em comunidade de bens, não tinham apego às coisas materiais, facilmente
abandonavam um lugar onde o sustento se tornasse difícil, queimando todos os
utensílios e partiam para outro (THÉBERGE, 1973). O que importava era a obtenção
do sustento diário, não existia acumulação de riquezas de maneira individual.
Com a chegada da colonização dos portugueses, esse modo de vida passou
a ser inferiorizado, desprezado, substituído a contra gosto, na maioria das vezes. A
ideologia europeia passou a ser difundida como verdadeiro dogma, utilizando-se
inclusive de representantes da religião como intermediários no processo.
Dando continuidade ao projeto de expansão de suas fronteiras, Portugal
instaura as capitanias hereditárias instituindo, definitivamente, o conceito de posse
da terra em um local onde tudo era de todos e todos tinham tudo. Embora, nesse
sistema, os posseiros não tinham autorização para a venda, a terra, bem essencial à
vida e que nenhum ser humano deveria ser impedido de ter acesso, foi transformada
em propriedade privada, o que deflagrou uma gama de injustiças, intensificadas,
continuamente, nos dias de hoje, inclusive com a apropriação de terras públicas com
aval do Estado.
Mesmo com a ardorosa resistência dos índios, os colonos conseguiram
invadir o interior do país, através de muitas prisões, escravidões e tomadas de terras
para o desenvolvimento da pecuária. Posteriormente, solicitavam o reconhecimento
da propriedade a Portugal (PANTALENA, 2012).
A invasão das terras brasileiras, tradicionalmente ocupadas pelos indígenas,
foi uma extrema violação de direitos inerentes à vida humana, pois, além de não
respeitar a historicidade ambiental local, invisibilizou homens e mulheres que há
muito tempo estavam naquele espaço, com suas crenças e tradições.
De maneira semelhante, hoje, as comunidades invadidas por projetos
econômicos, públicos e/ou privados, são ignoradas ou ludibriadas desde o momento
do planejamento até a instalação, ficando à margem de toda tomada de decisão.
Fuks e Perissinotto (2006) consideram que os constrangimentos
socioeconômicos, simbólicos e políticos podem funcionar como um poderoso
obstáculo à participação ou até mesmo aprofundar a desigualdade política.
Há alguns conflitos que ainda se encontram em estado de latência, ou seja,
nem se manifestaram politicamente no espaço público formal, porque os grupos
sociais envolvidos são politicamente marginalizados ou mesmo invisíveis aos olhos
do Estado (LITTLE, 2006).
A discriminação política, a qual grande parte da população é submetida, não
acontece por acaso, faz parte de todo um ciclo gerador do conflito, alimentado e
fortalecido por legislações vazias e inutilizadas, e, inclusive, instituições públicas
descompromissadas com suas funções.
Como na atual forma de governo quem, na realidade, decide sobre as formas
de uso dos territórios são, prioritariamente, o Estado e a burguesia, muitas
comunidades se sentem impotentes diante do novo que lhes é imposto e findam
como expectadores dessa lógica perversa dos novos usos do território,
marginalizados e vulnerabilizados, sem perspectivas condizentes com suas
realidades.
Em muitos casos, as políticas e medidas públicas para preservação e
conservação ambiental funcionam apenas para legitimar os empreendimentos, pois
se limitam, no máximo, a elencar condicionantes e medidas de mitigação ou de
compensação aos projetos econômicos apresentados, desconsiderando os danosos
riscos aos quais as pessoas e/ou o meio ambiente estão sendo expostos. Nessa luta
desigual de interesses, os povos atingidos, seus modos de vida e suas percepções
quase sempre são invisibilizados.
Os conflitos envolvem interesses imiscuídos que vão do individual ao coletivo
em uma mesma situação (BARBANTI JR, 2002). A tentativa de consenso entre as
partes se torna uma negligência, pois o que está em questão são modos de pensar,
agir e ser totalmente distintos e inegociáveis. Nesses casos, o mais grave é a
ocorrência do círculo vicioso do poder na forma capitalista de dominar os bens
naturais, o qual determina injustiças ambientais.
Nesse processo, diversidades socioculturais são anuladas devido a uma visão
parcelar legitimada pela cientifização e juridificação das políticas e de sua imposição
com o argumento de representar o bem comum (ZHOURI, 2008).
Essa tese de defesa da coletividade é enfatizada pela teoria do consenso,
pela qual o conflito permanece mascarado ou menosprezado. Discute-se mediante
um recorte simplista do caso, no qual a proteção ambiental figuraria como objeto
unificador de vários setores da sociedade em prol de uma causa comum. Nessa
lógica, a “consciência ecológica” se basearia em valores e interesses universais, os
quais transporiam fronteiras sexuais, raciais, nacionais e de classes.
A consolidação dessa ideologia ambientalista caminharia em direção à
construção de posicionamentos consensuais, já que setores diversificados
participariam e convergiriam para a elaboração de um diálogo em que diagnósticos
comuns seriam realizados sobre problemas caracterizados como ambientais
(VIÉGAS, 2009).
Outro conceito bastante utilizado, regido por essa crença de que é possível
um consenso, é governança. Para Zhouri (2008) governança remete à ideia de
gestão e acredita em uma possível conciliação entre interesses econômicos,
ecológicos e sociais, eliminando dessas dimensões as relações de poder que, de
fato, transpassam a dinâmica dos processos sociais.
A parte da sociedade chamada a se envolver, por influência dessa
governança, é a “organizada”, nos moldes determinados pelos setores que a
dominam. A grande maioria dos cidadãos, sobretudo moradores de comunidades
rurais e étnicas ou das periferias urbanas, não preenche os pré-requisitos
estabelecidos como condição à participação, permanecendo excluída (ZHOURI,
2008).
Governança ambiental se assemelha bastante ao paradigma de “adequação
ambiental”, procedimento tributário peculiar à visão de mercado inerente à lógica
capitalista. Com esse instrumento, conforme as especificidades de cada caso,
medidas de compensação e mitigação são utilizadas com o propósito de
compatibilizar projetos técnicos, já instituídos previamente, ao ambiente natural e às
comunidades atingidas, com “externalidades” ambientais viáveis economicamente
para o empreendimento. Esse mecanismo, apresentado como uma ação que visa à
preservação do meio ambiente, em muitos casos é, inclusive, utilizado para
transmitir à sociedade uma imagem de empresa sustentável, como é o caso de
desmatamentos de florestas nativas compensados pelo reflorestamento de
monoculturas de eucalipto. Configura-se, na realidade, mais uma vez, na
invisibilização de direitos de sujeitos coletivos para dar preferência aos interesses
dos atores particulares.
A adequação dos processos produtivos, por exemplo, dá destaque a apenas
uma possível “revolução da eficiência” em detrimento à fundamental “revolução da
suficiência” (SACHS, 2000), ou seja, à mudança nos modelos de produção e
padrões de consumo.
Portanto, de acordo com Viana (2005), a expectativa de um momento de
institucionalização da questão ambiental fundada no enfrentamento e na negociação
de interesses díspares unindo diferentes setores da sociedade na defesa de
bandeiras comuns enfrenta, necessariamente, dificuldades estruturais e, portanto,
constitui mitos.
Essa problemática pode ser constatada nas injustiças geradas pela instalação
arbitrária de parques eólicos e tanques para criação intensiva de camarão em
cativeiro (carcinicultura) em comunidades tradicionais que recorrem ao ambiente
físico do entorno para manter seus modos de vidas peculiares. Nesse caso, por
exemplo, ações de “mediação” inevitavelmente anulam um dos interesses em jogo,
omitindo as relações de poder e opressão na análise dos conflitos e estimulando a
manutenção e/ou reprodução desse círculo vicioso.
Esse modo de agir demonstra a ausência do Estado no atendimento de
necessidades básicas das populações, como o direito de ir e vir e direitos territoriais,
colocando-as no item derradeiro a ser considerado nas decisões.
Ao contrário, o Estado vem legitimizando os projetos ditos de
desenvolvimento, atuando na desapropriação de terras e pagamentos de
indenizações em áreas de substituição de culturas, liberando créditos pelos bancos
públicos aos empresários que fixarem suas produções nestas áreas, investindo em
pesquisas tecnológicas e infraestruturas necessárias como apoio logístico
(RODRIGUES, 2007).
Direitos culturais e/ou sociais desconsiderados pelo Estado só passam a ser
inseridos no cenário político a partir do momento em que os direitos em conflito são
identificados em debates amplificados, transvestidos de medidas compensatórias
e/ou mitigadoras. Dessa maneira, os dois discursos, hegemônico e contra-
hegemônicos, e a relação entre eles ganham destaque, muito embora a assimetria
de poderes não permita que, pelos caminhos formais, as pautas das populações
atingidas sejam atendidas, reforçando novamente sua invisibilização.
Os direitos humanos e sua inscrição na legislação somente avançam quando
setores sociais oprimidos ou explorados fazem com que a sociedade compreenda,
através da persuasão ou até pela violência, a profunda injustiça que eles estão
sofrendo (LEROY, 2011).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
OPSCHOOR, J. B. Ecospace and the fall and the rise of throughput intensity.
Ecological Economics, 15 (2): 137-140, 1995.