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Introdução

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Em r99r, um memorando de circulaçáo restritâ aos qua-
t
dros do Banco Mundial trazia a seguinte proposição:

Cá entre nós, o Banco Mundial não deveria incen-


I
tivar mais a migração de indústrias poluentes para
os países menos desenvolvidos?

Lawrence Summers, então economista chefe do Banco


e autor do referido documento, apresentava três razões

( para que os países periféricos fossem o destino dos


: ramos industriais mais danosos ao meio ambiente:
r) o meio ambiente seria uma preocupâção "estética"
tipica apenas dos bem de vida; z) os mais pobres, em
I sua maioria, não vivem mesmo o tempo necessário
I
para sofrer os efeitos da poluição ambiental. Segundo
ele, alguns países da África ainda estariam subpolui
dos. Nesse sentido, lamentou que algumas atividades
poluidoras não fossem diretamente transportáveis, tais
como produção de energia e infra-estrutura em geral;
I 3) pela "lógica" econômica, pode-se considerar que as
mortes em paises pobres têm um custo mais baixo
do que nos países ricos, pois seus moradores recebem
salários mais baixos.
O Memorando Summers, como ficou conhecido, depósitos de lixo tóxico, a moradia de risco, a desertifi-
acabou sendo divulgado para além do âmbito do Banco .ação, entre outros fatores, concortendo para suas más
Mundiall e teve uma repercussão negativa para a ins- ;ondiçóes ambientais de vida e trabalho.
tituição. Diante do mal-estar criado, o referido econo- Para designar esse fenômeno de imposição des-
mista explicou que se tratava apenas de uma espécie proporcional dos riscos ambientais às populações
dc exercício para provocar a discussáo.2 menos dotadas de recursos financeiros, políticos e
De qualquer forma, náo obstante a tentativa de informacionais, tem sido consagrado o termo injustiça
se desmentir que o Banco Mundial tivesse intenções ambiental. Como contraponto, cunhou-se a noção de
ambientalmente perversas contra as nações pobres, iustiça ambiental para denominar um quadro de vida
injustiça
Summers, conforme observou o escritor Eduardo tuturo no qual essa dimensáo ambiental da
sido utili-
Galeano, não é uma espécie de "poeta surrealista, social venhà a ser superada. Essa noção tem
mas sim um autor da exitosa corrente do realismo zada, sobretudo, para constituiÍ uma nova persPectiva

capitalista".3 Suas declaraçôes admitem e justifrcam um a integrar as lutas ambientais e sociais.

quadro realmente existente de desigualdade em termos O presente livro visa fornecer didaticamente um Pa-
de proteçáo ambiental no planeta. Conforme indica o norama geral desse nexo inovador entre a questão social
e a questáo ambiental, que, conforme discutiremos,
está
r-etelido memorando do Banco Mundial, é para as regiões
na contramão do pensamento ecológico mais consagra-
pobres que se têm dirigido os empreendimentos econô-
micos mais danosos em termos ambientais. Do mesmo do. Para tanto, trataremos dos princíPios que norteiam

modo, é nas áreas de maior privação socioeconômica a atuação das organizações e dos movimentos sociais

e/ou habitadas por grupos sociais e étnicos sem acesso que agem sob tal PersPectiva, das Principais estratégias

às esferas decisórias do Estado e do mercado que se de luta e resistência empregadas, do diagnóstico que
se faz acerca das causas da injustiça ambiental, bem
concentÍam â falta de investimento em infra-estrutura
de saneamento, a ausência de políticas de controle dos como da trajetória de experiências concretas de luta'
Por vezes, sintetizamos o pensamento elaborado
pelas
r \rer o aÍtigo Let Them Eât Pollution, me Econoftist, I fev. 1992, diversas redes e organizações que articulam a noção de
p.66. iustica ambiental. Em outros casos, refletimos sobre as
2 A mesma revista que publicou o memorando à revelia do autor,
.*periên.ia, concretas verificadas no Brasil, em parti-
aírmou, no número seguinte, que a lógica econômica ali presente
era "perfeita". Elogiou o debate abeÍto pelo memorando, larnen- cuiar aquelas desenvolvidas por entidades associativas
tando apenas que o autor utilizasse uma linguâgem um tanto articuladas na Rede Brasileira de |ustiça Ambiental'a
grosseira.
3 cALBANo, B, La Ecologia en el marco de la impunidad. ln; utnes, por
r. et al. Ecología Solidaria. Barcelonar Editorial Trotta/ Fundación I Â Rede Brasileira de Justiça Ambiental foi criada em zoor'
ocasiâo do Seminário Internacional Justiça Ambiental e Cidadania'
r\lfonso Comín, t996.

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Espera-se que o presente volume contribua para um Movimentos por
maior entendimento e para uma maior diwlgação da
perspectiva dajustiça ambiental, que tem se mostrado justiça versus senso
cnrcial na experiência dos movimentos sociais envolvi
dos na busca de alternativas aos modelos de desenvol- comum ambiental: a
vimento excludentes, que concentram em poucas mãos
o poder sobre os recursos ambientais do país. degradação ambiental
não e "democrátici'
É comum identificarmos genericamente a "humanida-
de", o "homem" ou "toda a sociedade" como vítimas
da crescente degradação ambiental planetária, não
importando a maneira ou onde as pessoas vivem.
Por intermédio das escolas, da rv, dos discursos dos
governos, das organizações não governamentais, dos
órgãos multilaterais, dos jornais e demais meios de
disseminação de valores, representações e imagens
sobre as relações sociais entre os homens e o que se
defrne como seu "ambiente natural", aprende-se que
a degradação do meio ambiente é um dos grandes
males que acometem as sociedades contemporâneas.
As manchetes dos jornais trazem advertências sobre
o "efeito estufa" e 'as mudanças climáticas globais".
Difunde-se a idéia de que estamos todos igualmente
sujeitos aos efeitos nocivos de uma "crise ambiental"'
0s riscos inerentes às práticas poluidoras e destrutivas
realizado em setembro de zoor nâ cidade de Niterói, reunindo que as técnicas produzem, mas não controlam, pode-
representaçôes de diferentes movimentos sociais, oNGs, pesqui- riam atingir qualquer ser humano, independentemente
sâdores de diferentes regiôes do Brasil, além de um certo número
de origem, credo, cor ou classe. Assume-se que todos
de pesquisadores e representantes do moyimento de fustiça
Ambiental dos ru,c., entreos quais Robelt D. Bullard. Ver sirewwu somos vítimas em potencial porque vivemos no mesmo
justicambiental.org.br. macro-ecossistema globai - o planeta Terra.

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Segundo essa representação dominante do mundo .ostuma condicionar a busca da sua solução. Assim
e de seus males, a chamada "crise ecológica" é enten- )ucede neste caso. À concepção dominante do que
dida como global, generalizada, atingindo a todos de lenha a ser a questão ambiental, pouco sensível às suas
naneira indistinta. Nessa concepçâo, o meio ambiente dimensões sociológicas, concorreu para que o tema do
-desperdício" ou da "escassez" de matéria e energia se
é percebido como naturalmente escasso, uno e homo-
gêneo. Os "seres humanos" - vistos igualmente como apresentasse, mundialmente, como o mais imPortante
um todo indiferenciado - seriam os responsáveis pelo no debate ecológico. Simultaneamente, Por essa Pers-
processo de destruição das formas naturais, do am- pectiva, a questáo ambiental costuma ser vista como de
biente, da vida. ordem meramente técnica, alheia a qualquer discussão
No seio das próprias ciências humanas, corriqueira- acerca dos fins pretendidos com a apropriação extensiva
mente se articula uma noção socialmente indiferenciada e intensiva do meio ambiente na escala em que hoje
das populações afetadas: conhecemos. Tornou-se um PressuPosto, notadamente
a partir da difusão do ideário neoliberai verificada nos
A ecotoxicidade afeta potencialmente a todos, produ- decisões tomadas "pelo mercado" se
ono, r99o, que
zindo uma contaminação genérica, por substâncias ",
realizariam sempre com o máximo de racionalidade,
químicas que atingem indiretamente o meio ambiente
qual seja, com economia de meios, inclusive dos meios
por meio de áreas de despejo de detritos, esgotos e
materiais do ambiente. É com essa lógica que opera o
por outros canais,
Memorando Summers comentado acima: ao destinar
é o que afirma o sociólogo Anthony Giddens'. sistematicamente os danos ambientais aos países, re-
Procuraremos mostrâr que esse raciocínio é simplista giões e grupos sociais mais pobres, o mercado - supõe
e escamoteia a forma como tais impactos estáo dis- o seu autot - elevaria a eficiência global do sistema
tlibuidos tanto em termos de incidência quanto de capitalista e faria com que, em algum ponto no futuro,
intensidade. Isso porque é possível constatar que sobre tecnologias mais limpas viessem a beneficiar também
os mais pobres e os grupos étnicos desprovidos de poder os mais pobres.
recai, desproporcionalmente, a maior parte dos riscos É preciso lembrar que esse esforço teórico de se
ambientais socialmente induzidos, seja no processo de compatibilizar a questáo ambiental com o pensamento
extração dos recursos naturais, seja na disposição de desenvolvimentista e economicista ocorre exatâmente
resíduos no ambiente. no período de consolidação do pensamento neoliberal
Sabe-se que a forma de se diagnosticar um problema em escala global. Os ajustes estruturais foram impos-
tos pelas instituições de Bretton-Woods em todas as

croorus, em Para cllm da esquerda e da direiÍa. Sâo Paulo: Unesp,


economias periféricas do mundo capitalista, dissemi-
1996, p.256. nando os programas de estabilização macroeconômica,

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t2
liberalização financeira e comercial, desregulação dos da desertificação, que preocupa seriamente os países
mercados e privatizaçáo das empresas estatais. Nesse inenos desenvolvidos, foi deixado de lado.
contexto, a discussáo ambiental foi incorporada pela Essa combinação entre uma concepção socialmente
mesma 'utopia" de um bem-estar alcançável a partir do homogênea da questáo ambiental e estratégias neoli-
livre jogo das forças de mercado. Sob essa ótica, quem berais vem constituir o pensamento ecológico domi-
melhor para combater os desperdícios ambientais se nante nos meios políticos, empresariais e nas agências
não as próprias forças de mercado, que estariam se- nultilaterais. Assim, de um modo geral, o debate
cularmente combatendo os desperdícios de recursos ecológico deixa de interpelar o conteúdo do modelo de
produtivos? desenvolvimento, naturalizando-se seus Pressupostos
O termo "modernização ecológica" ficou conhe- atuais em seus três âmbitos: acerca do que se produz,
cido por designar uma série de estratégias de cunho de como se produz e para quem se produz.
neoliberal para o enfrentamento do impasse ecológi- A concentração dos benefícios do desenvolvimento
co sem considerar sua articulaçáo com a questão da nas máos de poucos, bem como a destinaçáo despro-
desigualdade social. A estratégia da modernização porcional dos riscos ambientais Para os mais Pobres e
ecológica é aquela que propõe conciliar o crescimento para os grupos étnicos mais despossuídos, Permanece
econômico com a resoluçáo dos problemas ambientais, ausente da pauta de discussão dos governos e das gran-
dando ênfase à adaptação tecnológica, à celebração da des corporações.
economia de mercado, à crença na colaboração e no
consenso. Além de legitimar o livre-mercado como pensamento crítico do movimento
O
melhor instrumento para equacionar os problemas
arrbientais, esta concepçâo procurou fazer do meio de justiça ambiental
ambiente uma râzão a mais para se implementar o Contra o pensamento dominante, que considera "de-
programa de reformas liberais. mocrática" a distribuição dos riscos ambientais e que se
A questáo ambiental foi combinada de tal forma atém ao tema da escassez e do desperdício, consagrando
com a agenda do mercado que, das três convenções o mercado como mecanismo por excelência para re-
internacionais criadas a partir da Conferência da ouu gular as questões do meio ambiente, insurgiram-se os
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio-92 movimentos por justiça ambiental. Estes não fizeram,
- mudança climática, diversidade biológica e desertifl- porém, uma crítica abstrata. Pelo contrário, uma nova
caçâo -, sonente as duas primeiras receberam maior deflnição da questão ambiental, que incorporasse suas
atenção da comunidade internacional, por interessarem articulações com as lutas por justiça social, foi uma
diretamente aos países mais ricos. O tema da seca e necessidade sentida por movimentos populares de base,
que se viram em situaçôes concretas de enfrentamento

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do que entenderam ser uma "proteção ambiental justiça ambiental afirma, por outro lâdo, o
:10ção de
desigual". direito de todo trabalhador a um meio ambiente de
Na definição do Movimento de ]ustiça Ambiental rrabalho sadio e seguro, sem que ele seja forçado a es-
dos nvt, justiça ambiental; iolher entre uma vida sob risco e o desemprego. Âfirma
rambém o direito dos moradores de estarem livres, em
[É a condição de existência social configurada] através juas casas, dos perigos ambientâis PÍovenientes das
do tratamento justo e do envolvimento significativo
açÕes físico-químicas das atividades produtivas.
de todas as pessoas, independentemente de sua
raça, cor ou renda no que diz respeito à elaboração,
desenvolvimento, implementação e aplicaçáo de po- Gênese e desenvolvimento
líticas, leis e regulações ambientais. Por tratamento
0 Movimento de ]ustiça Ambiental constituiu-se nos
justo entenda-se que nenhum grupo de pessoas,
incluindo-se aÍ grupos étnicos, raciais ou de classe,
EuÀ nos anos 198o, a Partir de uma articulação criativa
entre lutas de caráter social, territorial, ambiental e de
deva suportar uma parcela desproporcional das
Jireitos civis. |á a partir do final dos anos 1960, haviam
conseqüências ambientais negativas resultantes da
sido redefinidos em termos "ambientais" os embates
operação de empreendimentos industriais, comerciais
;ontra as condiçôes inadequadas de saneamento, de
c municipais, da execução de políticas e programas
contaminaçáo química de locais de moradia e trabalho
federais, estaduais, ou municipais, bem como das
e de disposição indevida de lixo tóxico e perigoso. Fora
conseqüências resultantes da ausência ou omissão
então acionada a noção de "eqüidade geográfica":
destas políticas.2
[Refere-se] à confrguraçáo espacial e locacional de
A noção de justiça ambiental implica, pois, o direito
comunidades em sua proximidade a fontes de con-
a um meio ambiente seguro, sadio e produtivo parâ
taminaçáo ambiental, instalaçóes perigosas, usos
todos, onde o "meio ambiente" é considerado em sua
do solo localmente indesejáveis, como depósitos de
totalidade, incluindo suas dimensões ecológicas, físicas
lixo tóxico, incineradores, estaçóes de tratamento de
construídas, sociais, políticas, estéticas e econômicâs.
esgoto, refrnârias etc.3
Refere-se, assim, às condições em que tal direito pode
ser Iivremente exercido, preservando, respeitando e \essa mesma época, certas análises sobre a distribuição
realizando plenamente as identidades individuais e de dos riscos ambientais haviam chegado à conclusáo de
grupo, a dignidade e a autonomia das comunidades, A
BULLARD, R. D. Errironmefital Justice: Strategies for Building
2 BULLARD, R, D, Drrflpingin Dixie: Race, Class and Environmental Healthy and Sustainable Communities. Pâper presented at the tI
Quality. San Francisco/Oxford: Westview Press, r994. woRLD socrAL FoRUM, Porto Âlegre, fen 2oo2, P.8.

r6 t7
que os impactos dos acidentes ambientais estão desi contudo, conseguir mudar a agenda pública a parür das
gualmente distribuídos por raça e por renda:{ áreas de evidências reuni das. Em ry76-77, diversas negociaçôes
concentração de minorias raciais têm uma probabilidade toram realizadas tentando montar coalizões destinadas
desproporcionalmente maior de sofrer com riscos e a fazer entrar na pauta das entidades ambientalistas
acidentes ambientais. Esses estudos também demons- rradicionais o combate à localização de lixo tóxico e
travam que há uma atuação do Estado que concorre perigoso, que era predominante em áreas de concen-
para a aplicação desigual das leis ambientais: rração residencial de população negra.
A constituiçáo desse movimento se afirmou, Porém,
l{á um recorte racial na forma como o governo norte-
.om a experiência concreta de luta desenvolvida em
americano limpa aterros de lixo tóxico e pune os
tfton, no condado de Warren, na Carolina do Norte,
poluidores. Comunidades brancas vêem uma ação
em 1982. A partir de lutas de base contra iniqüidades
mais rápida, melhores resultados e penalidades
ambientais em nível local, similares à de Afton, o
mais efetivas do que comunidades em que os negros,
llovimento elevou a "justiça ambiental" condição de
à
hispânicos e outras minorias vivem. Essa desigual
questão central na luta pelos direitos civis. Ao mesmo
proteçáo também ocorre independentemente da
tempo, ele induziu a incorporaçáo da desigualdade
comunidade ser rica ou pobre.5
ambiental na agenda do movimento ambientalista
Nos anos r9zo, sindicatos preocupados com a saúde tradicional. Como o conhecimento científico foi cor-
ocupacional, grupos ambientalistas e organizações rentemente evocado pelos que Pretendiam Íeduzir as
de minorias étnicas se articularam para etraborar, em polÍticas ambientais à adoção de meras soluções técnicas,
suas respectivas pautas, o que entendiam por 'questões o Movimento de )ustiça Âmbiental estruturou suas es-
ambientais urbanas". Alguns estudos já apontavam a rratégias de resistência recorrendo de forma inovadora
distribuição espacialmente desigual da poluição se- .rprodução própria de conhecimento. Lançou-se mão
gundo a raça das populações mais expostas a ela, sem, então de pesquisas multidisciplinares sobre as condições
da desigualdade ambiental no país. Um momento crucial
dessa experiência foi a pesquisa realizada por Robert D.
I O livro de Cole & Foster sobre o racismo ambientale o nascimen-
Bullard em r987 a pedido da Comissão de Justiça Racial
to do moyimento por iustiça ambiental contém um abrangente
apêndice onde estácompitada uma bibliografia dos estudos sobre da United Church ofChrist, que mostrou que "a compo-
os impactos despÍoporcionais dos acidentes ambientais por raça e, siçáo racial de uma comunidade é a variável mais apta
em menormedida, porrenda. cor,s, L.w, & FosrER, s.R. Froln rIá a explicar a existência ou inexistência de depósitos de
Ground Up:En-viror,mental Racism and the Rise ofEnvironmental
rejeitos perigosos de origem comercial em uma área".6
Justice Movement, New York and London: New York University
Press, zoor, p.55.
j colÉ & FosrER, op. cit., p.jz L^rruRr, M. e KrRB! Finding Fâirness inAmericat Cities? The
^.

18 t9
Evidenciou-se naquela ocasião que proporçâo de resi
a ,.1.{pA 1. Distribuição dos depósitos de lixo tóxico nos
dentes pertencentes a minorias étnicas em comunidades . -..r, mostrando a coincidência entre a sua localização

que abrigam depósitos de resíduos perigosos era igual , ,,s locais de moradia de minorias étnicas.

ao dobro da proporção de minorias nas comunidades


desprovidas de tais instalações. O fator raça revelou,
se mais fortemente correlacionado com a distribuição
locacional dos rejeitos perigosos do que o próprio fator
baixa renda. Portanto, embora os fatores raça e classe it Ê
de renda tivessem se mostrado fortemente interligados,
a raça revelou-se, naquele contexto e circunstância, um \ Àii/.
indicador mais potente da coincidência entre os locais oo
onde as pessoas vivem e aqueles onde os resíduos tóxicos ^to
são depositados (ver Mapa r). ---1
o a ie /BL.rr
Ioi a partir dessa pesquisa que o reverendo Benjamin ^lúÀ
qlr
Chavis cunhou a expressão "racismo ambiental" para
designar "a imposição desproporcional - intencional lontei BULLÀRD, R. D. Co'nÍrofiting EfiYironmental Racisffi - Voices
.om the Grassroots.Boston: South End Press, r983, P.25.
ou náo - de rejeitos perigosos às comunidades de cor".7
Dentre os fatores explicativos de tal fato, foram alinhadas
a disponibilidade de terras baratas em comunidades evidente que forças de mercado e Práticas discrimi-
de minorias e suas vizinhanças, a falta de oposição da natórias das agências governamentais concorriam de
população local, por fraqueza organizativa e carência de rorma articulada para a produção das desigualdades
recursos políticos - condições típicas de comunidades ambientais. E que a viabilizaçáo da atribuição desigual
de "minorias" -, a falta de mobilidade espacial dessas dos riscos se encontra na relativa fraqueza política
"minorias" em razáo da discriminaçáo residencial e, por dos grupos sociais residentes nas áreas de destino das
Êm, a sub-representação desses mesmos grupos nas instalaçÕes perigosas, comunidades ditas "carentes
agências governamentais responsáveis pelas decisões de conhecimento", "sem preocuPações ambientais"
de localização dos rejeitos. Ou seja, procurou-se tornar ou "fáceis de manejar", na expressão dos consultores
detentores da ciência da resistência das populações à
Search for Environmental Equity in Everyd ay Life.ln Jourral of implantaçáo de fontes de risco.8
t
Social Issues,v. So, n. 994, p.r2r.
7 fTNDERHUGHEs, R. The Impact ofRace on Environmental Qualityl
Àn Ernpirical and Theoretical Discussion, So cíologiul Perspectiv e s, 8 Cerell Âssociates, Politicâl Dificulties Facing Waste-to-Energy
v,39, n.2,p. z4r, t9g6. Conversion Plant Siting, r,r, c.l, t984, apud DICHIRo, G., La iusticia

20 2t
Á partir de r987 as organizaçôes de base começaram Em r99r, os seiscentos delegados presentes na I Cúpula
a discutir mais intensamente as ligações entre raça, \acional de Lideranças Ambientalistas de Povos de Cor
pobreza e poluição, e os pesquisadores expandiram rprovaram os 'r7 Princípios da Justiça Ambiental",
seus estudos sobre as ligações entre problemas am. estabelecendo uma agenda nacional para redesenhar a
bientais e desigualdade social, procurando elaborar os rolÍtica ambiental dos rue a fim de incorporar a pauta
instrumentos de uma "avaliação de eqüidade ambien. ;.rs "minorias", das comunidades ameríndias, latinas,
tal" que introduzisse variáveis sociais nos tradicionais ::ro-americanas e asiático-americanas, tentando mu-
estudos de avaliaçáo de impacto. Nesse novo tipo de ;.ar o eixo de gravidade da atividade ambientalista
avaliação, a pesquisa participativa envolveria, como :.:quele país.e
co-produtores do conhecimento, os próprios grupos O Movimento de Justiça Ambiental consolidou-se
sociais ambientalmente desfavorecidos, viabilizando essim como uma rede multicultural e multirracial
uma integração analítica apropriadâ entre os processos racional, e em seguida internacional, articulando
biofÍsicos e sociais. Postulava-se, assim, que aquilo .'ntidades de direitos civis, grupos comunitários, or-
que os trabalhadores, grupos étnicos e comunidades :anizações de trabalhadores, igÍejas e intelectuais no
residenciais sabem sobre seus ambientes deve ser visto .nfrentamento do "racismo ambiental", visto como
como parte do conhecimento reievante para a elaboraçâo ima forma de racismo institucional. Buscou-se assim
não discriminatória das políticas ambientais. :undir direitos civis e preocupações ambientais em uma
Ocorreram, entâo, mudanças no âmbito do próprio resma agenda, superando-se vinte anos de dissociâção
Estado. Pressionado pelo Congressional Black Caucus, e suspeita entre ambientalistas e movimento negro.
em r99o, a Environmental Protection Agency do gover- E têtivamente, o Movimento por lustiça Ambiental ado-

no dos nue criou um grupo de trabalho para estudar o lou estratégias de luta históricas dos movimentos pelos
risco ambiental em comunidades de baixa renda. Dois .lireitos civis, tais como protestos, passeatas, petiçôes,
anos mais tarde, esse grupo concluiria que faltavam .obá1 relatórios, apuração de fatos e audiências para
dados para uma discussão da relação entre eqüidade e instruir a comunidade e intensificar o debate público
meio ambiente e reconhecia que os dados disponíveis sobre a questáo.
apontavam tendências perturbadoras, sugerindo, por Os críticos do modelo industrialista energético-
essa razão, uma participação maior das comunidades intensivo culpam os capitais que detêm o controle
de baixa renda e das minorias no processo decisório da indústria de combustíveis fósseis e apontam que,
relativo às políticas ambientais. quando ocorrem catástrofes climáticas, os Pobres

social ylaiusticia ambiental en los Estados Unidos: la naturaleza BRÀDEN, A. Justice Enyüonnementale etjustice sociale aux États
como comunidad. Int Ecologia Pol[tjca,n 1Z p.ro5) 1999. lJnis.ln: Écolo§e Politique, n. Lo, éÍé 1994.

2Z 23
pagam o preço do consumismo dos ricos - ou, como :civindicaçáo Por justiça ambiental - comPreendida
no caso do furacão Katrina, que atingiu Nova Orleans ,,,)mo o tratamento justo e o envolvimento pleno dos
nos EUA em 2oo5, Pagaram os custos da concentração :rupos sociais, independentemente de sua origem ou
dos recursos públicos na invasão do Iraque.to Os afro' :.'nda, nas decisões sobre o acesso, a ocupação e o uso
americanos constituíam 67% da populaçáo de Nova J.os recursos ambientais em seus territórios - alterou
Orleans e foram proporcionalmente mais vitimados : configuração de forças envolvidas nas lutas ambien-
pelo furacáo e suas conseqüências. As imagens dos :ais ao considerar o caráter indissociável de ambiente
corpos das vítimas demonstraram a cor dos que não . sociedade politizando a questão do racismo e das
conseguiram escapar, levando a revista Newsweek de ;e sigualdades ambientais.

setembro de zoo5 a publicar em sua caPa uma foto


das vítimas com os dizeres "Pobreza, raça e Katrina -
Princípios e estratégias
lições de uma vergonha nacional". Eric Klinenberg já
mostrara, na seca de t995 em Chicago, como os negros .i partir da década de r98o, nos EUA, uma série de

pobres mais idosos, socialmente isolados e desprovidos .rius qu. articularam a questão ambiental com a da
de recursos foram as vítimas fatais.lr .:esigualdade social foram capazes de dar fôlego a uma
No âmbito da sociedade civii norte-americana, a :et.lexão e a uma mobilizaçáo social mais abrangentes,
emergência do Movimento por Justiça Ambiental rea- ;ue extrapolavam os limites das experiências anteriores,
lizou um duplo deslocamento: por um lado, promoveu .ocalizadas e específicas. Naverdade, aqueles militantes
uma aproximação do movimento pelos direitos civis ie base e/ou acadêmicos que inicialmente levantaram
com as questões ambientais a partir da explicitação de .i bandeira da "justiça ambiental" diagnosticaram pro-

que também nesse camPo os náo-brancos eram penali riemas e estabeleceram princípios e estratégias de luta
zados; por outro, despertou as entidades ambientalistas :ue foram capazes de se fazer reconhecer e identificar
tradicionais para as lutas contra a desigualdade.l'z A ror uma série de outras experiências mundo afora.
\luito além da problemática especíÊca das relações
.ntre a alocação de resíduos tóxicos e das lutas pelos
ro No caso do furacão Katrina, é sabido que os planos de evacuação lireitos civis dos negros dos ru.r', impulsionou-se uma
rão deramâtenção à População "com baixa mobilidade" - fatores
reflexão geral sobre as relações entre risco ambiental,
como raça e classe foram considerados dimensões fundame[tâis
da catástÍofe. robreza e etnicidade.
1r DRErER,p. KatÍinain PersPective: The Disa§ter Rais€s Key Que§tions
About the Role ofGovernmenl in Âmelican Society. In: Disseír'
summer,2oot.
gem, mas que,num dado momento, ajudou a barrar um projeto de
12 Este teria sido o caso, por exemplo, da entidade Earth Firsth!, que
costumava atuar meramente no camPo da defesa da fauna selva- lonstruçao de um incinerador no centro-sul de Los Angeles'

25
24
,, cerco contra emPreendimentos ambientalmente
Princ{pios
rerversos, impedindo que qualquer tipo de população
Mas, no que se constitui esse conteúdo capaz de unir :oiiticamente mais fraca sofra suâs conseqüências.
experiências tão diversas a ponto de engendrar uma Adotando tal comportamento, os movimentos por
rede nacional de lutas solidárias e que, conforme se 'ustiça âmbiental vêm pondo em xeque as correntes sim-
verá mais adiante, mais tarde logrará se tornar inter' rirstas da sociologia do meio ambiente, que reduziram
nacional? Eis, a seguir, os princípios e estratégias mais ,s conflitos ambientais à disputa interlocal movida pela

gerais que têm orientado a constituição das redes de :ecusa generalizada de relaçôes de proximidade com
justiça ambiental. :. fontes de danos ambientais - os movimentos NIMBY
em inglês: not in my backyard - "não no meu quintal").
t. Poluição tóxica para ninguém .io contrário da dinâmica individualista do NtuBv,
"Poluiçâo tóxica para ninguém" tornou-se um dos prin- :.quelas lutas colocam em discussão os principios de
cipais lemas do Movimento, como forma de declarar sua :rstiça que orientam as decisões locacionais dos males
diferença diante dos embates ambientais que se guiam :mbientais. Negando a hipótese de que é generalizada
pela lógica do chamado "individualismo possessivo"'3 ": postura individualista que busca empurrar os males

e que são indiferentes ao fato de se acârretâr um deslo- :mbientais "para o quintal dos outros", o Movimento
camento espacial da poluição, "exportando a injustiça Je Justiça Ambiental critica o critério "sempre no
ambiental" para os bairros, cidades ou países onde iuintal dos pobres e negros", politiza o debate sobre o
os trabalhadores estejam menos organizados. Para o :nfrentamento da poluiçáo e propõe "poluiçáo tóxica
Movimento, ao contrário, atribui-se à noção de justiça :ara ninguém".
ambiental uma luta de caráter solidário, que busca
colocar na pauta pública a denúncia do que seria uma :. Por um outro modelo de desenvolvímento
verdadeira 1ógica sociopolítica promotora da desigual- Como conseqüência lógica do princípio da "poluição
dade ambiental. Sua configuração em redes nacionais :ara ninguém", o Movimento é levado a contestar o
vem justamente atender a essa demanda de se fechar próprio modelo de desenvolvimento que orienta a dis-
rribuição espacial das atividades. Até aqui o modelo de
r3 O termo "individualismo possessivo" tem sua origem na obra de desenvolvimento tido como ambientalmente perverso
constitucionalistâs e teóricos do Estado contemporâneo, e éutilizado viria se mantendo porque configurou um padrão so-
para designar a corrente contratualista de meados do século xvn, ;iopolítico que sobrecarrega de malefícios à saúde e
que teve como um de seus ideais a defesa e a garantia irrestrita,
ao bem-estar as populações destituídas de recursos
pelo Estado, das propriedades dos indivÍduos (cfl ulcrxrnsoN,
c,R. A teoria polltíca do inditidualismo possessivo de Hobbes até nnanceiros ou
políticos.
loc,te. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979).

26 27
Os partícipes do Movimento acreditam que prote' ...rstrializados para onde as transnacionais tenderiam
gendo os despossuídos da concentração dos riscos se :.nsferir suas "fábricas sujas".
estará criando resistência à degradação ambiental em Outra razão para que se levante a bandeira da tran-
geral, posto que os impactos negativos não poderáo , !o justa é por preconizarem uma aliança estratégica

mais ser transferidos, como de praxe, para os mais ::r os sindicatos. Considera-se que os trabalhadores
pobres. A propensão de todos os atores sociais a iden' ::anizados são aliados fundamentais, dado que pos-
tificar e eliminar as fontes do dano ambiental tenderá, -cm um conhecimento privilegiado do que se Passa no
conseqüentemente, a se intensificar, :erior das unidades produtivas. Assim, eles seriam um
Acredita-se ser legítima a discussão ambiental ma' 'r decisivo - e, até agora, reconhecidamente pouco
joritária tendo por base a preocupaçáo com a economia ::,.,bilizado - para se obter mudanças substantivas nos
de recursos ambientais - água, solo fértil, florestas. Mas, : ,.irôes tecnoiógicos e locacionais do modelo
produtivo,
numa perspectiva de justiça e democracia, agrega-se a , ,rnbatendo seus impactos danosos na saúde ambiental
essa preocupaçáo um questionamento quanto aos fins , io trabalhador.
pelos quais esses recursos estáo sendo usados - são eles Por sua vez, diversos sindicatos e centrais sindicais
usados para produzir o quê, para quem e na satisfação :i:r âderido às redes de justiça ambiental. Eles mostram-
..' cada vez mais motivados pela§ lutas ambientais
de quais interesses? Para produzir tanques ou arados?
Para servir à especulaçáo fundiária ou para produzir :.rando percebem que tais lutas podem favorecer o
alimentos? Para dar prioridade à geraçáo de lucros ..:abelecimento de novos tipos de alianças entre atores
para as grandes corporações ou para assegurar uma .:ndicais e náo sindicais, ajudando inclusive as próprias

vida digna às maiorias? Eis aí o cerne da discussão ::rtidades sindicais a se estrutuÍarem em períodos re-
que se abre sobre a necessidade de um novo modelo ,:ssivos, quando o desemprego ameaça particularmente
de produçáo e consumo.
.:a capacidade de mobilizar os trabalhadores.la

j. Por uma transição justa . Por políticas ambientais democraticafiente

Afirma-se a necessidade de se discutir e transformar :':stituídas - politização vers\s crença no mercado


o modelo de desenvolvimento dominante, mas consi .i expusemos aqui que a
perspectiva da modernização
é uma
derando os passos graduais que se fazem necessários, .;ológica supÕe que a degradação ambiental
Tratou-se assim de discutir a pauta da chamada "transi
ÀcsELRAD, H, Justiça Ambiental - novas articulaçõ€s entÍe meio
çâo justa' de modo
que a luta contra a poluição desigual
ambiente e democracia. In: Ibase/cur-R/tPPUR-uFRL Movimento
não destrua o emprego dos trabalhadores das indústrias Sindical e Defesa do Meio Ambiente - o debate inteÍnacíonal,
poluentes ou penalize as populaçÕes dos países menos série Sindicalismo e lustiça Ambíental,v.3, Rio de laneiro, zooo,
P.7'r2,

29
28
dinâmica cega às desigualdades sociais, de onde se : irratégias
infere que bastaria economizar "matéria e energia
pela ativação crescente de mercados para se promovel t democratizaçáo dos processos decisórios implicaria
, pleno envolvimento informado das comunidades e
o bem-estar socioambiental. O que se almeja, nesta
perspectiva conservadora, é o encurtamento do espaço ,rrganizaçôes sociais de base nas decisões acerca da
da política e a extensão da esfera das relações mercantis .:locação de empreendimentos, sejam eles de infra-
sobre o social. r:trutura, produtivos ou de descarte de substâncias,
.:pondo-se sempre, portanto, a socialização integral
)á os movimentos por justiça ambiental adotam a
perspectiva diametralmente oposta, identifi cando que .::s consultas e das informações sobre os riscos que
a ausência de uma regulação efetiva sobre os grandes :.tes empreendimentos geram.
agentes econômicos do risco ambiental é o que possibili
tâ que estes procurem livremente as comunidades mais : Produção de conhecimento próprio
carentes como vítimas preferenciais de suas atividades . ,rmo o conhecimento científico tem sido correntemen-
danosas. Não se almeja um fortalecimento das relações ::
evocado pelos que pretendem reduzir as políticas
mercantis, pois estas já seriam onipotentes e onipresen. : nbientais à adoção de meras soluções técnicas, o
tes o suficiente para submeterem os territórios dos pobres \lovimento de fustiça Ambiental estrutura suas estra-
e etnicamente marginalizados a serem os receptadores :.rias de resistência recorrendo de forma inovadora a
por excelência dos empreendimentos que a sociedade -:-ra produção própria de conhecimento. Conforme
ern geral recusa ter como vizinhos. A universalização .r:nos, na experiência norte-americana destacou-se a
dos benefícios socioambientais via decisões tomadas :esquisa socioespacial que mostrou que "a composiçáo
pelos agentes econômicos mais "eficientes", apregoada ::.ial de uma comunidade é a variável mais apta a
pelos ideólogos da modernização ecológica, seria uma . rplicar a existência ou inexistência de depósitos de

falácia comprovada pela própria motivação das lutas :tieitos perigosos de origem comercial em uma área".
por justiça ambiental que vêm emergindo. . rando da discussão de impactos de empreendimento,
Portanto, acredita-se que a injustiça ambiental cessa. ::ualmente se procura construir um quadro abran-
rá apenas com a contenção do livre-arbítrio dos agentes :.nte, incorporando questões de participação pública,
econômicos com maior poder de causar impactos am- .:stitucional e política e incluindo a consideração das
bientais, ou seja, pelo exercício mesmo da política, nos ::mensões sociais, culturais, econômicas e institucio-
marcos de uma democratização permânente. -.: is vivenciadas pelos grupos atingidos, assim como os
,:.itos dos empreendimentos nos modos de subjetivaçáo
. ra saúde física e mental de indivíduos e grupos. A
::lrdução de conhecimento para a chamada Avaliaçáo

3o 31
de Eqüidade Ambiental busca evidenciar os efeitos so' :ncineradores no estado da Califórnia e a lei que
cioarnbientais desiguais de qualquer atividade pública :,dicionou a implantação de grandes projetos de
ou privada que altere de maneira indesejada a maneira . ,noculturas de eucalipto à elaboração de planos de

como as pessoas moram, trabalham, relacionam-se :reamento ecológico-econômicos nos estados do Rio
umas com as outras, elaboram sua expressão coletiva ..: Janeiro e do Espírito Santo. Ambas as inovações
e seus modos próprios de subjetivação. - irslativas - embora, no caso brasileiro, desfeitas

:teriormente pelos grandes interesses - foram con-


.:{uidas a partir de muita mobilização, construção de
2. Pressão pela aPlicaçõo universal das leis
Dentro dâ perspectiva da "poluição tóxica para nin' , .raços públicos de debate e canais de conversação dos

guém", uma estratégia fundamental é reivindicar a ::ovimentos com parlamentares.


eqiiidade na aplicação da lei, argumento que concede
Iegitimidade social às lutas do Movimento, Parte-s€ : por nottas racionalidades
Pressão

de uma percepçáo de que o cumprimento desigual da .' exercício do Poder estatal

legislação tem sido uma condição básica para a ocor- - m dos principais desafios do Movimento tem sido,
.. eÍinitivamente, o de alterar a "cultura" das entidades
rência da proteção ambiental desigual' 0 dispositivo
.- .rblicas responsáveis pela intervenção estatal sobre
para a proteção muitas vezes existe em lei, mas esta
costuma ser desconsiderada pelos órgáos licenciadores meio ambiente, que se caracterizam poÍ teÍem um
e fiscalizadores quando a população impactada é pobre ladrão de
intervenção tecnicista e a posteriori, portco
.ensíveIàs variáveis sociais e culturais do gerenciamento
e/ou etnicamente discriminada.
Tem-se como alvo o aparato estatal, cuja atuaçáo .:o risco ambiental.
possui um padrão de permissividade e incentivo à Nos ru,r., já há algum tempo o Movimento atua pro-
da pro-
alocação dos riscos ambientais sobre os socialmente :urando evidenciar as dimensÕes socioculturais
'eçáo ambiental para as próprias agências reguladoras
mais fracos, seja nos países ricos ou periféricos.
.:o Estado. Graças à pressão, aos poucos vem se obtendo
j. Pressão pelo aperfeiçoamento da .:esses órgãos a adoçáo do "princípio de precaução" como

legislação de proteção ambiental ,rgica de atuaçáo, confrontando a antiga mentalidade


Dependendo da tocalidade, das características de .egitimista de se conceder licenças tacitamente e com
sua legislaçáo ou da natureza do conflito, a pressão rase em percepções de risco alheias aos moradores das

pela instituiçáo de novas leis torna-se uma estratégia .ircunvizinhanças dos empreendimentos.
necessária. A título de exemplo, podemos citar pelo Por vezes, as cobranças pela introdução de vari-
menos dois casos de êxito nesse sentido: a conquista .rveis socioambientais no aparato estatal de regula-
da exigência de estudos de impacto para a instalação :áo e fiscalização obtêm êxitos no próprio campo da

33
32
institucionalidade. Conforme apresentamos no tópico estabeleceu como um de seus objetivos principais o
sobre a gênese do Movimento nos ru.c,, a Environmental desenvolvimento de metodologias de "avaliação de
Protection Agency, pressionada pelo Congressional Black eqüidade ambiental" como alternativas aos métodos
Caucus, criou um grupo de trabalho para estudar o :radicionais, como os rrAs/rrMAs (Estudo de Impacto
risco ambiental em comunidades de baixa renda. Dois \mbiental/Relatório de Impacto Âmbiental). Considerou-
anos mais tarde, esse grupo concluiria que havia falta !e que estes últimos têm sido incapazes de retratar a
de dados para uma discussão da relaçáo entre eqüidade :njustiça ambiental contida em determinados projetos,
e meio ambiente e reconhecia que os dados disponíveis :ervindo, implicitamente, à legitimação de ações e im-
apontavam tendências perturbadoras, sugerindo, por :actos inaceitáveis, se consideradas apropriadamente
essa razão, uma participação maior das comunidades .rs dimensôes socioculturais. Conseqüentemente, eles
de baixa renda e das minorias no processo decisório :êm sido mais apropriados pelos interesses econômicos
relativo às políticas ambientais. : nvolvidos nos projetos e na própria elaboraçáo repetida
:e estudos de impacto, formalmente padronizados e
5. Introdução de procedimentos de .ocialmente vazios, produto do que se configurou como
Avaliação de Eqüidade Ambiental :ma espécie de "indústria de rres-nruls".
Como forma de desenvolvimento da estratégia descrita
acima, o Movimento tem buscado elaborar alternativas : Ação direta
de avaliação de impacto ambiental. Os métodos tradi I)a mesma forma que a maioria dos movimentos de
cionais de avaliação de atividades produtivas e projetos iontestação de base popular, o Movimento de fustiça
de desenvolvimento têm sido fortemente criticados por r mbiental também recorre às açôes políticas do tipo
separarem o meio ambiente de suas dimensões socio. :cào direta". Os negros nos EUA iá possuíam uma vasta
políticas e culturais. Eles produzem com freqüênciâ :\periência com ações desse tipo desde as lutas pelos
uma separação indevida entre os processos biofísicos :rreitos civis que tiveram auge nos anos 196o.
e a diversidade de implicações que estes têm quando No Brasil, o Movimento Nacional de Atingidos por
relativos ao uso e significaçáo próprios aos diferentes 3arragem (uen) também costuma adotar práticas dessa
grupos sociais que compartilham o território. Os :.atureza, como ocupar canteiros de obras de barragens
diversos elementos do meio, vistos como bióticos ou < os prédios das empresas empreendedoras.
abióticos, lênticos ou pedológicos etc., via de regra As estratégias que estamos denominando aqui como
não sáo associados à diversidade sociocultural dos .:e "ação direta" constituem principalmente uma for-
que deles dependem, seja em termos de renda, raça, :ra de questionar os empreendimentos e de abrir um
gênero ou etnia. :ebate sobre a pertinência ou não de que estes sejam
Por isso, a Rede Brasileira de Justiça Ambiental :talmente levados a cabo no território, em conjunturas

34 35
nas quais as populações impactadas são pouco ou nada Em primeiro lugar, desconsidera o fato de que a
consultadas .::iustiça ambiental é muitas vezes engendrada exata-
;rente pela grande mobilidade que os empreendimentos

7. Difusão espacial do movimento ,nbientalmente perversos têm assumido, principal-


Em condiçôes de desigualdade social e de poder, bem ::rente a partir da década de r97o. Hoje, uma empresa
corno de liberdade irrestrita de movimento para os capi .:eslocalizada" de uma região por alguma eventual
tais, a fraqueza dos instrumentos correntes de controle .'ressão social que tenha sofrido pode facilmente "se
ambiental tende a favorecer o aumento da desigualdade :elocalizar" em ouüo ponto onde a legislação e/ou o
ambiental, sancionando a transferência de atividades :'.tencial de mobilização política sejam mais débeis.
predatórias para áreas onde a resistência social é menot. :rifrca-se, correntemente, o fato de que as lutas por
A solidariedade interlocal, eventualmente internacio' .:stiça ambiental nos diferentes países têm se dado
nal, é justifrcada como forma de evitar a exportação . jntra as mesmas empresas. A internacionalização do
'.lovimento como forma de enfrentar a exportação dos
da injustiça e de dificultar a mobilidade irrestrita do
-.cos é, assim, uma conseqüência necessária para esses
-.
capital, que tende a abandonar áreas de maior organi'
zação política e dirigir-se para áreas com menor nível -:!rre§ que pensam a luta ambientalista na Perspectiva
de organização e capacidade de resistência. As lutas pol .:: ganhos na esfera dajustiça social.
justiça ambiental constituem, assim, uma potente forma Em segundo lugar, tal juízo desconhece as signifi-
de resistência organizada contra os efeitos perversos .:tivas especificidades que os movimentos por justiça
da mobilidade espacial do capital e dos esforços que .:Ibiental vão adquirir nos diferentes paÍses, do mes-
os grandes interesses econômicos empreendem para :r!r modo como a própria rede norte-americana de
instaurar diferentes padrões socioambientais para suas :ganizaçÕes pela justiça ambiental conta com certas
atividades - normas mais rigorosas em países e áreas .- :rticularidades, como é o caso, por exemplo, das lutas
ricas, normas mais frouxas em países e áreas pobres. ...:s comunidades de língua espanhola. Neste mesmo
Por essa razáo, vem se observando uma dinâmica .:pítulo, apresentaremos um tópico dedicado ao caso
de internacionalização das bandeiras e articulações em ,.pecífico da rede brasileira. Além do Brasil,
alguns
torno da justiça ambientai, o que reflete o perfil cada : \emplos da constituição de redes nacionais sólidas de
nas
vez mais globalizado dos processos de sobreposição dos .:ras contra a injustiça ambiental vêm ocorrendo
riscos sociais e ambientais transferidos aos mais pobres : .lpinas e na África do Sul, neste último caso com o
' :,vironmental |ustice Networking Forum (rlNr).
Alguns, numa tentativa de deslegitimação do Movimento,
argumentam que a justiça ambientai seria uma causa Uma das importantes mostras do Processo gradativo
"importada" ou "copiada" de forma acrítica. Tal juízo ... internacionalizaçáo do Movimento foi a realização de
desconsidera, porém, dois aspectos importantes. ,::r colóquio internacional em fohanesburgo, com mais

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de trezentos participantes de diversas nacionalidades.. nudança climática, considerando que são os mesmos
durante a Conferência Rio + 10, em setembro de 2oo2. ,:e mais se confrontam, em suâs comunidades de base,
Pode-se citar também a realização dos encontros entre ,.,Ín as empresas responsáveis pela emanaçáo industrial
representantes de vários países em diversas edições do :t notadamente aquelas que trabalham com
qases estufa,

Fórum Social Mundial, em debates específicos sobre as :).tração, transporte e refino de combustíveis fósseis.
lutas por justiça ambiental. Sem dúvida nenhuma, um dos principais méritos do
Surgiram igualmente entidades ambientalistas com iebate sobre ajustiça climática é contraPor-se ao senso
atuação internacional cujas intervenções se norteiam --,mum ecoiógico num aspecto que é correntemente
essencialmente pela perspectiva dajustiça ambiental. É o :.rnsiderado um dos mais "democráticos" da degra-
caso da organização Environmental )ustice Foundation, :-ição ambiental, a saber, o do aquecimento global. O
baseada na Inglaterra, com forte atuação na Índia e no :rovimento por justiça climática procurou demonstrar
Camboja. Verifica-se também uma especialização temá' .::e não há questáo ambiental a ser resolvida anterior-
tica no interior do debate: é o caso do Fórum de Justiça ::ente à questáo social.
Climática, realizado em Haia, Holanda, paralelamente à
6a Conferência das Partes da Convenção Mundial sobre , ;aso da rede brasileira de iustiça ambiental:
a Mudança Climática. O Fórum de |ustiça Climática :;oecificidades de um país perifericots
reuniu entidades da África do Sul, Nigéria, Nicarágua,
El Salvador, Equador, Colômbia, México e sue. i.presentantes de algumas redes do Movimento de
'rstiça Ambiental dos pur. estiveram no Brasil em
Na ocasião, diagnosticou-se que as comunidades
mais pobres e discriminadas são também aquelas mais .,98, procurando difundir sua experiência e estabelecer
vitimadas pelos processos de alteração do clima. De um ::lações com organizaçôes locais dispostas a formar
modo geral, elas estão mais expostas às emanações de :.ianças na resistência aos processos de "exportação
gases das indústrias poluentes, com os microclimas l.r injustiça ambiental". Desenvolveram na ocasião
de onde vivem sendo afetados de forma muito mais :,rntatos com organizações não governamentais e pes-
intensa e acelerada do que a média global. Tanto piol :'.r isadores, que promoveram uma mesa de discussão no

quando se leva em conta as populações indígenas e tra' rrjo das atividades da greve que entáo se desenvolvia
dicionais em geral, pequenos agricultores e pescadores :..i Universidade. Participaram do Encontro com o
\ lçr'imento de Iustiça Ambiental, realizado no campus
artesanais, para quem a alteração do clima desestabiliza
os recursos naturais dos quais dependem diretamente :r Praia Vermelha da urnJ - Universidade Federal
para sua reprodução material e simbólica. .:,., Rio de Ianeiro - em junho de 1998, representantes

Ao mesmo tempo, aqueles grupos sociais foram


identificados como a vanguarda da luta mundial contra Este tópico foi redigido com a colaboração de Julianna Malerba

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do Southeast Regional Economic Justice Network, do . .:iáo por injustiça ambiental o mecanismo pelo qual
Southern Organizing Committee, do Southwest Public . ;iedades desiguais, do ponto de vista econômico e
Workers Union, do Environmental and Economic '.,cial, destinam a maior carga dos danos ambientais
.:,r desenvolvimento às populações de baixa renda,
]ustice Project, todos dos rue, e da Cordillera Peoplet
Alliance, das Filipinas. , ,s grupos raciais discriminados, aos povos étnicos
Um primeiro esforço de releitura da experiência ::adicionais, aos bairros operários, às populações
'::arginalizadas e vulneráveis.
norte-americana de justiça ambiental por entidades
brasileiras fora realizado por ocasiáo da produçáo de justiça ambiental, ao contrário, designou-se o
Por
um material de discussão publicado por iniciativa da . rnjunto de princípios e práticas que:
oNc Ibase, da representação da Central Sindical cur - asseguram que nenhum grupo social, seja ele étnico,
no Rio de ianeiro e de pesquisadores da urnJ. Os três ::;ialou de classe, suPorte uma Parcela desproporcional
volumes da série "sindicalismo e )ustiça Ambiental"" :rs conseqüências ambientais negativas de operações
tive ram circulação e imPacto restrito, mas estimularam , -onômicas, decisões de políticas e programas federais,
outros grupos da universidade, do mundo das oNcs e .itaduais, locais, assim como da ausência ou omissão
do sindicalismo a explorar o veio de tal debate, o que .:e tais políticas;
levou à organização do Seminário Internacional Justiça - asseguram acesso justo e eqüitativo, direto e indi
Ambiental e Cidadania, realizado em setembro de zoot :ito, aos recursos ambientais do país;
na cidade de Niterói, reunindo representações de di - asseguram amplo acesso às informações relevantes
.,.,bre o uso dos recursos ambientais, a destinação de
ferentes movimentos sociais, oNcs, pesquisadores de
diversas regiões do Brasil, além de um certo número ::ieitos e a localização de fontes de riscos ambientais,
de pesquisadores e representantes do Movimento de rem como processos democráticos e particiPâtivos na
pue, entre os quais o sociólogo .:efrniçáo de politicas, planos, programas e projetos que
Justiça Ambiental dos
Robert Bullard. .:es dizem respeito;
Por ocasiáo desse seminário, foi criada a Rede - favorecem a constituição de sujeitos coletivos de
Brasileira de fustiça Ambiental, que, após os debates, :ireitos, movimentos sociais e organizações populares
de modelos
elaborou uma declaraçáo expandindo a abrangência das :'.1ra §erem protagonistas na construção
denúncias para além da questão do racismo ambiental :lternativos de desenvolvimento que assegurem
a

na alocação de lixo tóxico que fundara a organizaçáo .:emocratização do acesso aos recursos ambientais
ea

nascida no movimento negro dos rua. Definiu-se .r stentabilidade do seu uso.


A partir de uma ampla crítica às opções que regeram
desenvolvimento brasileiro implementado
r6 Ibase/cur-Rl/IPPUR-uFRJ, série Sirdicalisfio e Justiça Ambiental' rnodelo de
3 v., Rio de |aneiro, :ooo, 64P.
, partir dos anos t99o, buscou-se assinalar que: a) são

4r
40
os trabalhadores e os grupos sociais marginalizados ::ais permissiva para incinerá-Ios. Construiu-se, a partir
e de menor renda que estão mais sujeitos aos riscos ::ssa ação, uma forma de resistência integrada à deslo-
decorrentes da proximidade de seus locais de moradia ::lização de passivos e riscos ambientais e elaborou-se
dos depósitos de lixo tóxico, das plantas industriais :m posicionamento coletivo que motivou outras ações
poluentes, das encostas perigosas e dos esgotos a céu .ontra a exportação das injustiças ambientais.
aberto, pela ausência de saneamento em seus bairros; Em zoo4, a Rede lançou uma campanha, desta vez
b) são esses mesmos grupos que se vêem privados do ::ticulada com movimentos internacionais, questionan-
ace§so aos recursos naturais de que dependem para :.r a Petrobras por sua intenção de iniciar a exploração
viver ao serem expulsos de seus locais de moradia para :e petróleo no Parque Nacional Yasuni e no território
a instalaçáo de grandes projetos hidroviários, agrope. .rdígena Huaorani, no Equador. Considerando que
cuários ou de exploraçáo madeireira ou mineral; c) os :o Brasil não é permitida a exploraçáo de petróleo em
modos de produção e as formas de organização social :.rras indígenas e Parques nacionais, âs entidades da
náo-capitalistas são pouco a pouco destruídos pelo lede denunciaram a adoção de um duplo padrão: im-
mercado, por não atenderem à dinâmica lucrativa dos -dida em seu país de explorar áreas reconhecidamente
capitais, que váo se apropriando das áreas comunais e :rágeis, como são os parques nacionais e os territórios
terras indÍgenas, aproveitando-se da anuência relativa .rdígenas, a empresa se aproveitava de uma regulação
do Estado e da baixa capacidade de mobilizaçáo das :ais permissiva no Equador.
populaçôes que possuem menores recursos financeiros Em zoo6 houve uma mobilização contra a tentativa
e políticos. :a União Européia (ur), através da Organizaçáo Mundial
Ao longo de sua existência, a Rede envolveu-se em um :o Comércio (ouc), de obrigar o Brasil a importar pneus
certo número de iniciativas coletivas e campanhas que :erormados, proibidos pela legislaçáo brasileira. A União
permitiram articular seus membros, Em zoo3, a mobi. iuropéia havia solicitado à Organização Mundial do
painel arbitral contra a
lização de trabalhadores urbanos ligados à luta contra '-omércio a abertura de um
a contaminação ambiental e ocupacional favoreceu a Jecisão do governo brasileiro de proibir a importaçáo
criação de um grupo de trabalho que procurou respon. .:e pneus reformados por razões ambientais e de saúde

der aos desafios da aproximação dos movimentos de rública. Nesse mesmo ano, os europeus haviam sido
trabalhadores do debate ambiental a partir do enfoque :roibidos, por uma diretiva interna da própria ur, de
dajustiça ambiental. Esse grupo foi responsável por uma jispor seus pneus inservíveis nos aterros sanitários da
campanha contra a transferência de resíduos tóxicos :egiá0. Também deviam reduzir a queima dos pneus com
de Sio Paulo - onde a legislação para descarte é mais . objetivo de prevenir e limitar a poluição atmosférica,

rígida - para a Bahia - onde a indústria que Produzift jado que a queima desse resíduo libera gases altamente
tais resíduos pretendia se aproveitar de uma legislação :oxicos e perigosos. Essas restrições fizeram com que a

42 43
uE encontrasse na exportaçáo de seus resíduos a solu . :biicização de denúncias de conflitos ambientais tive-
',rn lugar a partir da Rede Brasileira: campanhas contra
ção "ambientalmente aceitável" para o destino de seus
passivos. 0s mesmos grupos da Rede que náo aceitaram ::lndes empreendimentos, em especial contra barragens
que o passivo tóxico que estava sobre seus "quintais" em :ronoculturas; pelo banimento de substâncias tóxicas;
mobilizaram para não .ntra a vlolência no campo, onde grupos indÍgenas,
Sáo Paulo fossem para a Bahia se
permitir que a ue conseguisse, através da or"tc, obrigar :ilombolas e populações que vivem do extrativismo
-.ro vítimas de agressÕes que produzem desigualdade
o Brasil a abrir seu mercado à importaçáo de pneus
usados ou reformados. Nesse caso, houve uma aliança -:nbiental; de questionamento da ideologia do cresci-
com setores acadêmicos da Fiocruz, que decidiram :rento econômico a qualquer custo. A paralisação das
':.rnsferências de resíduos para a Bahia, a discussão da
realizar uma reunião de articulação regional entre os
membros do grupo de trabalho da Rede, movimentos .;ença da Petrobras em Yasuni, a vitória do Brasil na
e redes nacionais e internacionais, para discutir ações ':ganizaçâo Mundial do Comércio (ouc) podem ser
contra a incineração - um dos destinos dados no paÍs ..guns exemplos de sua ação. Paralelamente, observou-
.., no Brasil a multiplicação do número de estudos
a esse resíduo - e se posicionar contra a postura da ue
Nesse encontro, foi produzido um documento, enviado .::stinados a verificar a pertinência e a oferecer uma
-
ao Governo, que serviu de subsídio para a açáo política :se empírica às denúncias da vigência de desigualdade
. nbiental em nosso pais, como veremos a seguir.
das organizações à frente da campanha.
Tais ações, reivindicando o fortalecimento da le.
gislação e das regulamentações, permitiram ao grupo
de trabalho ocupar espaços em conselhos e elaborar
documentos destinados a influenciar as políticas pú
blicas - como o relatório sobre a incineraçáo no Brasil
produzido em uma oficina de trabalho do grupo em
zoo6 - e denunciar o padrão e as práticas produtivas
que expõem populações e trabalhadores à contaminaçáo
Exemplo disso foram as ações de denúncia na mídia.
repudiando a flexibilizaçáo da legislaçáo referente aos
níveis de emissão atmosférica e de descarte de óleo pelas
plataformas marítimas e as campanhas permanentes
pelo banimento de substâncias tóxicas como o amianto
e o mercúrio.
Outras campanhas de reivindicação de direitos e

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