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Marina Eduarda Armstrong de Oliveira
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Renato Alves Ribeiro Jr.
grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas
próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como
condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando
conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição.
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Graduanda do 4º ano do curso de Geografia da Universidade Federal do Paraná, vinculada ao Centro de
Estudos de Geografia do Trabalho (CEGET) – Curitiba/PR. E-mail: malyoliveira@yahoo.com.br
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Graduando do 3º ano do curso de Geografia da Universidade Federal do Paraná, vinculado ao Centro de
Estudos de Geografia do Trabalho (CEGET) – Curitiba/PR. E-mail: cherenato@gmail.com
que suas memórias e sua história estão inseridas no contexto sócio-espacial. Da mesma forma,
dentro dos Novos Movimentos Sociais, o lugar concide com o território tradicional, e tem uma
significação pelo fato de essas comunidades nutrirem uma relação afetiva com seu meio, o que
explica todo o arraigo territorial que elas demonstram. Porém, em muitas situações, Comunidades
Tradicionais são obrigados mudar-se para a cidade ou outros lugares para dar espaço a plantações
de pinus, eucalipto, arroz, banana, pastagens e especulação imobiliária. Assim, há agentes, tanto
públicos quanto privados, que os encurralam, rompendo com seus territórios tradicionalmente
ocupados, agem pela lógica do “local” (como veremos a seguir), não possuindo a mesma relação
afetiva e de interdependência com o lugar que essas comunidades possuem. Interessa, portanto, que
diferenciemos os conceitos de local e lugar.
O local, segundo RIBEIRO (2009) é determinado por constituir o lócus de realização de
projetos definidos por atores das outras escalas da realidade social e, para os agentes do local, se
produz um o corte radical com a história, tendo em vista que a própria densidade dos contextos
impede a total abstração de característica do espaço herdado; O lugar, no entanto, opõe-se ao
pensamento único, e também ao politicismo e ao economicismo. Ele é, sobretudo, vida social,
memória coletiva, sociabilidade e ação espontânea. Para os autores do lugar, é o mergulho nas
tradições.
A partir, então, dessa reflexão, os Novos Movimentos Sociais têm uma ligação direta e
íntima com o lugar, o que dá outro significado à defesa do território frente à imposição de infra-
estruturas, plantações de monocultura, implantação de unidades de conservação e avanço de
indústrias por atores de outros contextos sócio-espaciais que desconsideram totalmente a ligação dos
Povos Tradicionais com o lugar. Dessa forma, levam o lugar e as formas de configurar o mundo que
ali existem para a invisibilidade, relevando sua construção cultural.
A lógica geográfica impositiva do capitalismo e do desenvolvimento liberal gera uma
marginalização dos vários movimentos sociais (não apenas no Brasil, mas também em toda a
América Latina), porque neste contexto de globalização o lugar é “periferializado”. No entanto, o
território e o lugar são os grandes trunfos dos novos movimentos sociais que não podem ser
entendidos separadamente do processo de reorganização social do mundo (BRINGEL, 2007).
O território pelo qual os Novos Movimentos Sociais tanto lutam não se trata apenas de
um espaço com limites fixados, mas de um espaço que também está impregnado de significação, de
cultura, de relações. A ocupação do território é vista como algo gerador de raízes e identidade sócio-
cultural inarredavelmente ligadas aos atributos do espaço concreto. É comum estes territórios
romperem com os limites de fronteiras do Estado ou do municípios, pois o território tradicionalmente
ocupado pelas comunidades vão além de limites fronteiriços impostos pela divisão politica e
económica, desta forma o conflito que os Povos e Comunidades Tradicionais enfrentam, se
expandem para outros lugares, não ficando somente localizado em determinadas regiões específica,
mais se estendem para outros segmentos e identidades tradicionais.
Disputas por território
Além deste vínculo com o território, os Povos e Comunidades Tradicionais possuem uma
relação de interdependência com o meio em que vivem. Dessa forma, a sobreposição de infra-
estruturas, parques nacionais, áreas de proteção ambiental e propriedades privadas ao território
tradicionalmente ocupado implica em uma série de conflitos. Como exemplo, citaremos o caso dos
Pescadores Artesanais de Superagüi/PR, e dos Cipozeiros da Mata Atlântica do Paraná e Santa
Catarina.
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Há séculos os Pescadores Artesanais da Vila de Superagüi, pertencente ao município
de Guaraqueçaba/PR, vinham praticando agricultura com cultivo rotativo, pesca e coleta de materiais
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da floresta (madeira para consumo próprio, plantas decorativas e ervas medicinais) . Isso ocorreu até
o momento em que, no ano de 1989, foi implantado, através do Decreto n.º 97.688, o Parque
Nacional do Superagüi, o que constituiu, desde então, um impedimento à continuidade das práticas
agrícolas e de extrativismo, comprometendo o modo de vida e de reprodução social, econômica e
cultural da Comunidade.
Desta forma, a atividade que antes era complementar à renda, a pesca artesanal,
passou (e até o momento ainda é) a ser principal. Porém, a partir do momento em que foi instituída a
lei de milha (onde há proibição da pesca dentro dos limites da primeira milha náutica (1.852m)) pela
Instrução Normativa n.º 29 do Ministério do Meio Ambiente, em 2004, o território de pesca artesanal
propriamente dito sofreu com a sobreposição da legislação, o que reduziu as possibilidades da
Comunidade também no mar, condenando-a à concorrência desleal com a atividade de pesca
industrial que, ao contrário da pesca artesanal com seus barcos de pequeno porte e apetrechos
rudimentares, dispõe de todo um arsenal tecnológico de ponta, barcos de grande porte e que realiza
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Dados retirados do fascículo nº 16 da Nova Cartografia Social dos Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil
– Pescadores Artesanais da Vila de Superagüi.
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Na lei n.º 11.959 de 29 de junho de 2009, classifica-se como pesca artesanal a atividade comercial “quando
praticada diretamente por pescador profissional, de forma autônoma ou em regime de economia familiar, com
meios de produção próprios ou mediante contrato de parceria, desembarcado, podendo utilizar embarcações de
pequeno porte” (Art. 8º §I, a).
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É importante ressaltar que o manejo tradicional dos recursos é realizado de forma a possibilitar a recomposição
dos mesmos. Este manejo, inclusive, é reconhecido e incentivado em Tratados Internacionais assinados pelo
Brasil, como, por exemplo, a Convenção sobre Diversidade Biológica (Art. 8, j).
pesca diuturna, extremamente prejudicial ao meio ambiente e impactante para comunidades como
esta.
Estes dois conflitos revelam a postura conservacionista adotada pelo Estado. Esta
postura tem sido adotada desde o início do século XIX, quando passaram a ser criados, nos Estados
Unidos, espaços de conservação, de “natureza intocada” para conservação da beleza estética e
também como um refúgio para os que vivem em regiões urbanas (DIEGUES, 2001). Então, esta
criação de espaços de conservação foi transposta para outras realidades, como a brasileira. Porém,
isto “entrou em conflito com a realidade dos países tropicais, cujas florestas eram habitadas por
populações indígenas e outros grupos tradicionais que desenvolveram formas de apropriação
comunal dos espaços e recursos naturais” (idem, 2001).
BENATTI (2001) faz considerações a esse respeito, quando afirma que é necessário que
os princípios de criação das unidades de conservação e seus conceitos (anteriores à Constituição, e
que desconsideram o aspecto cultural) em vigor sejam revistos, para que estejam consoantes à
Constituição de 88, que oferece proteção ao patrimônio cultural material e imaterial, pois esta
disparidade constitui um conflito, que tem “de um lado a Constituição que tutela os elementos
naturais, artificiais e culturais, de outro a lei ordinária ambiental que desconsidera o aspecto cultural”
(idem, 2001).
Além do entrave representado por legislações ambientais semelhantes às supracitadas,
é possível encontrar outros também em relação ao surgimento de propriedades privadas em
territórios tradicionalmente ocupados. Neste tipo de situação citaremos como exemplo o caso dos
Cipozeiros da Mata Atlântica do Paraná e Santa Catarina.
Há gerações, os Cipozeiros, autodenominados como Comunidades Tradicionais que
vivem da retirada do cipó imbé e do artesanato[1], vêm praticando a coleta deste produto, que
depende de que o Cipozeiro adentre a Mata Atlântica e retire, então, com o manejo tradicional
adequado, o cipó e, a partir deste processo inicial o cipozeiro irá , confeccione seu artesanato.
Porém, com a especulação imobiliária, atualmente toda a área de uso dos Cipozeiros em
Garuva é propriedade privada, o que cria um impasse, pois,
Alem da „permissão‟ pela lei, o cipozeiro precisa da autorização do dono da terra onde está a
floresta com cipó imbé – toda a área de uso dos Cipozeiros em garuva é propriedade
privada. A maioria são fazendeiros de grandes empresas. Os acordos são diversos, variando
de uma escala que vai da liberação sem restrições, passando pelo pagamento de taxas de
uso, até conflitos armados. (NOVA CARTOGRAFIA SOCIAL, fascículo 9, Cipozeiros de
Garuva).
Isto constitui uma grande tensão entre os proprietários e os Cipozeiros que dependem
deste recurso natural para manter seu modo de vida e reprodução sócio-cultural, pela falta de uma
legislação específica que garanta o acesso destas Comunidades à seu território tradicional. A
expansão da especulação imobiliária, como chácaras e resorts, e a implantação de infra-estruturas
para escoamento de produção, como a estrada de Itapoá, que adentra o território dos cipozeiros,
ocasionam uma redução do território tradicionalmente ocupado, e uma restrição do acesso aos
recursos.
A Cartografia Social como uma oportunidade de reação perante os conflitos territoriais
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Diversos fascículos da Nova Cartografia Social podem ser encontrados no site www.novacartografiasocial.com
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A Nova Cartografia Social, processo no qual há um protagonismo de Povos e Comunidades Tradicionais em
mapear e demarcar seu território tradicional e os conflitos que enfrentam, foi realizada nesta Comunidade
durante o ano de 2009, tendo como produto final um fascículo (dentre outros realizados por outras comunidades,
que podem ser vistos no site www.novacartografiasocial.com.br) que foi lançado no início do ano de 2010.
e também de redes hoteleiras, se houver, e as Comunidades Tradicionais de Pescadores Artesanais
sobre o território tradicionalmente ocupado.
Referências Bibliográficas
BRINGEL, Breno Marqués. O lugar nos movimentos sociais e o lugar da geografia na teoria dos
movimentos sociais. - Boletim Goiano de Geografia Goiânia - Goiás - Brasil v. 27 n. 2 p. 35-49 jan. /
jun. 2007
DIEGUES, Antonio Carlos Sant'ana . O Mito Moderno da Natureza Intocada. 3. ed. São Paulo:
HUCITEC e NUPAUB, 2001. v. 1.
LACOSTE, Yves. A geografia: isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra. 4. ed. Campinas:
Papirus, 1997.
NOVA CARTOGRAFIA SOCIAL. Fascículo 16. Pescadores Artesanais da Vila de Superagüi, série
Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil. Guaraqueçaba/PR, 2010.
RIBEIRO, Ana Clara Torres. Cartografia da ação social, região latino-americana e novo
desenvolvimento urbano. Le Monde diplomatique, Brasil, ano 2, n° 24, julho 2009.
SOUZA, Marcelo Lopes de . "Território" da divergência (e da confusão): Em torno das imprecisas
fronteiras de um conceito fundamental. In: SAQUET, Marcos Aurélio; SPOSITO, Eliseu Savério.
(Org.). Territórios e territorialidades: Teorias, processos e conflitos. 1 ed. São Paulo e Presidente
Prudente: Expressão Popular, 2009, p. 57-72.
SOUZA, Roberto Martins de. Da invisibilidade para a existência coletiva: Redefinindo fronteiras
étnicas e territoriais mediados pela construção da identidade coletiva de Povos Faxinalenses. In:
Seminário Nacional Movimentos Sociais, Participação e Democracia. Florianópolis, UFSC: 2007.
Legislação Consultada
Decreto n.º 97.688 de 25 de abril de 1989, que cria o Parque Nacional do Superagüi.
Decreto n.º 2.519 – Convenção sobre Diversidade Biológica. Publicado no Diário Oficial da Unição em
16 de março de 1998.
Instrução Normativa do Ministério do Meio Ambiente n.º 29 de 06 de dezembro de 2004, que institui a
milha náutica.