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Resumo:
1.Introdução
2 Professora graduada em Letras e Língua Espanhola pela Universidade Estadual de Montes Claros-
UNIMONTES. Mestranda do Programa de Pós Graduação strictu senso da UFVJM, na linha de pesquisa:
Linguagem, Cultura e Sociedade.
3 Advogada. Graduada em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Mestranda do
Programa de Pós Graduação strictu senso da UFVJM, na linha de pesquisa: Política, Cultura e Sociedade.
4 FERNANDES, Eliana; GUIMARÃES, Flávio; BRASILEIRO, Maria do Carmo (ORGS). O fio que une as
pedras: A pesquisa interdisciplinar na pós-graduação. São Paulo: Ed.Biruta, 2002.
escolarização de sujeitos de comunidades campesinas do Vale do Jequitinhonha”; “Produção
artística/intelectual dos indígenas Xacriabás” e “Políticas públicas capazes de implementar
direitos humanos às comunidades quilombolas da zona rural de Serro/MG”.
Vislumbramos que o caminho da interdisciplinaridade enriquece e amplia não apenas
os resultados das pesquisas, bem como transforma o objeto e os próprios pesquisadores
envolvidos. A interdisciplinaridade supera os processos de apropriação rompendo com
tradições de modo a descortinar novos sentidos.
Isso significa afirmar que cada disciplina movimenta-se diante de um determinado
horizonte e de seus pré-juízos (incluímos aqui os referenciais teóricos e os jargões linguísticos
de cada área de conhecimento).
Esses pré-juízos são caracterizados por Gadamer (1999, p.281) como “a realidade
histórica de seu ser”, e confirmam a premissa de que “a realidade dada é inseparável da
interpretação” (GADAMER, 2002, p.391). Pois bem, no jogo interdisciplinar não se negam as
bases epistemológicas ou metodológicas de cada jogador, mas as expomos a uma autocrítica
em prol de um esforço de nova operacionalização.
Esse é um caminho possível, mas não previsível, da fusão de horizontes das
pesquisas interdisciplinares. Essa fusão não se dá na origem do processo, mas se constrói
durante o momento em que questionamos as nossas próprias verdades disciplinares sob o
olhar de outros paradigmas, como um diálogo de fronteiras que elabora uma nova forma de
transitar através e com essas diferenças.
Diante desta fusão de horizontes, percebemos que o território rural como ambiente de
disputa entre grandes empreendimentos, fazendeiros e comunidades tradicionais apresentava-
se como um primeiro eixo em comum das pesquisas.
A história da ocupação territorial brasileira, realizada com fins extrativistas,
desalojou e dizimou indígenas, trouxe mão-de-obra africana escravizada para o país e teve por
base legal a concessão de terras a partir das capitanias hereditárias e sesmarias.
As pequenas comunidades de agricultores camponeses se estabeleciam dentro dessas
sesmarias, em áreas permitidas pelos donos, ou em áreas de pouco interesse por parte dos
fazendeiros. Da mesma forma as comunidades indígenas foram sendo comprimidas a zonas de
resistência, fosse pela dificuldade ambiental, como florestas mais densas, barreiras
geográficas, ou pelo pouco interesse em ocupação de determinados locais. Os
afrodescendentes como forma de resistência também estabeleceram comunidades isoladas
quando fugiam do cativeiro, e após a Lei de Terras passaram a ocupar locais marginais onde
poderiam se estabelecer (OLIVEIRA, 2001; NOZOE, 2006).
Dentro do recorte do presente artigo, é necessário frisar que as "comunidades rurais"
compreendem uma diversidade de identidades (geraizeros, vazanteiros, arrendatários,
meeiros, coletores de flores, indígenas, quilombolas, assentados, sem-terra, reassentados, etc),
entretanto, partindo da proposta interdisciplinar dos projetos de pesquisa em questão, nosso
segundo eixo em comum consiste em questionar os rumos das identidades quilombolas,
indígenas e de campesinos pertencentes ao meio rural.
Vislumbramos ainda que o desenvolvimento urbano no Brasil se deu de forma lenta,
visto que a base da economia sempre fora agrícola. No entanto, em meados do século
passado, com a implantação de programas de desenvolvimento industrial e territorial, inicia-se
o investimento em infraestrutura que interconectasse regiões isoladas do país, tendo seu ápice
no final do século XX, em que ocorre em poucas décadas uma inversão da proporção de
habitantes urbanos e rurais no país (RIBEIRO, 2007; SERVILHA, 2012).
Neste contexto, as políticas modernizantes, a exemplo de todas as políticas de
desenvolvimento adotadas anteriormente, levavam em conta aspectos e parâmetros que
beneficiavam apenas as camadas superiores do estrato social (grandes latifundiários,
empresários e empresas). A lógica de modernização capitalista adotada acabou então por
aprofundar as desigualdades sociais e regionais (RIBEIRO, 2007; SERVILHA, 2012).
Por outro lado, a amplificação do ideal de modernidade, que tinha por base a lógica
de produção capitalista também possibilitou a percepção nas camadas subalternas da noção de
direitos, organização e luta política. Fato é que historicamente, camponeses, indígenas ou
quilombolas necessitaram desenvolver as mais variadas formas de resistência e valorização,
em razão da insistente e cruel invisibilidade frente a políticas públicas e/ou sociais.
Portanto, o terceiro e último ponto interdisciplinar do presente artigo, exsurge pelas
lutas históricas dessas comunidades, demandando políticas públicas capazes de assegurar-lhes
e implementarem direitos individuais e coletivos, que reconheçam e efetivem a sua cidadania,
visto que historicamente excluídos e marginalizados pela sociedade e pelo Estado Moderno.
Esses povos e comunidades por muito tempo foram obrigados, por força do Estado,
ou por força do poder econômico e político a se conformar em subsistir em áreas onde não
havia interesses maiores. Nesse processo de expulsão encontram-se as grilagens, as
concessões florestais, as unidades de conservação, empreendimentos de mineração, dentre
outros.
Stuart Hall (1992) ao discutir sobre a identidade na pós- modernidade reflete sobre
um fenômeno denominado por ele de tradução:
Ressalta-se que as pessoas pertencentes a essas culturas híbridas têm sido obrigadas a
renunciar ao sonho ou à ambição de redescobrir qualquer tipo de pureza cultural "perdida" ou
de absolutismo étnico. Elas estão irrevogavelmente traduzidas. A palavra "tradução", observa
Salman Rushdie, "vem, etimologicamente, do latim, significando "transferir"; "transportar
entre fronteiras". Escritores migrantes, como ele, que pertencem a dois mundos ao mesmo
tempo, "tendo sido transportados através do mundo, são homens traduzidos" (Rushdie, 1991).
Eles são o produto das novas diásporas criadas pelas migrações pós-coloniais. Eles devem
aprender a habitar, no mínimo, duas identidades, a falar duas linguagens culturais, a traduzir e
a negociar entre elas. As culturas híbridas constituem um dos diversos tipos de identidade
distintivamente novos produzidos na era da modernidade tardia (Hall, 2003, p. 84).
Com essa nova era diaspórica é possível não mais dizer de que ponto surgiu a cultura
e como ela se define, pois a globalização tem o poder de redefini-la a cada instante. Sobre
esse assunto, Stuart Hall, expõe que:
É importante ver essa perspectiva diaspórica da cultura como uma subversão dos
modelos culturais tradicionais orientados pela nação. Como outros processos
globalizantes, a globalização cultural é desterritorializante em seus efeitos. Suas
compressões espaço-temporais, impulsionadas pelas novas tecnologias, afrouxam os
laços entre a cultura e o “lugar”. (HALL, 2009, p.36)
O local da cultura é conhecido, porém não é mais possível dizer de sua origem, pois
esse processo globalizador fez a dispersão de seu significado e de sua particularidade. Em
decorrência da globalização, a cultura passou por uma disseminação de informações, de
mensagens, de modos de vida, para um processo de hibridização. Nesse processo de
hibridização, Hall postula que,
Silva afirma que não podemos nos esquecer dos reais motivos que levaram o
surgimento de uma cultura Hibrida. Assim, ele afirma que:
De acordo com os autores, a hibridação não ocorreu de maneira natural, mas através
de um processo forçado devido à colonização. Fato é que essa inserção/colonização
desenvolveu uma nova maneira de “fazer cultura”, novas perspectivas que não as destruíram,
porém permitiu-lhes o desenvolvimento de seres distintos, híbridos e plurais por excelência.
Podemos ressaltar que alguns autores veem o processo da globalização como algo
que descaracterizou “a cultura”, tendo em vista que esta deixou de ser particular e local para
se tornar pública e global. Afetando assim, significativamente, as identidades dos povos e
nações. Outros já veem o processo de mudança como algo natural e inevitável, pois segundo
estes não houve destruição das culturas, mas sim uma ressignificação, uma nova maneira de
perceber o mundo na era moderna.
Importante destacar a distinção feita por Stuart Hall (2003, p.52-3) entre
multicultural e multiculturalismo:
Boaventura de Souza Santos e João Arriscado Nunes (2003) referem que os termos
multiculturalismo, justiça multicultural, direitos coletivos, cidadania plurais são utilizados
para tratar as questões que envolvem diferença e igualdade, “entre a diferença de
reconhecimento da diferença e a redistribuição que permita a realização da igualdade”.
Assim, podemos verificar que a cidadania pode ser concebida como um movimento
político e social continuado, um processo em permanente potência de libertação das opressões
sociais, ou então perderá seu sentido.
Em síntese, percebemos que há nas últimas décadas uma movimentação das camadas
“subalternas” no sentido de garantir o acesso a direitos individuais e coletivos, bem como aos
chamados “direitos humanos” tão propagados e instituídos no processo modernizador do país,
entretanto, as especificidades destas minorias vulneráveis são enfatizadas a fim de garantir seu
reconhecimento formal/legal, bem como material/substancial, resistindo deste modo, às
tensões homogeneizadoras que historicamente firmavam desigualdades sociais, políticas e
econômicas.
5. Considerações Finais
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DAYRELL, Carlos. A rebeldia nos Sertões. Agriculturas, v.8, n.4, p.11-14, dezembro 2011.
________ . Verdade e método II: complementos e índice. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002
SILVA, Tomaz Tadeu da. A produção social da identidade e da diferença. In: ______.
(Org.). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes, 2000.