Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Joinville
2017
ANA CAROLINA MOURA CARDOSO
LUCIANO RAITER
Joinville
2017
PATRIMÔNIO GENÉTICO E CONHECIMENTO TRADICIONAL:
DOIS VALORES NA BERLINDA
RESUMO
O termo pode ser novo, mas a atitude não: a chamada biopirataria é praticada
desde a época das grandes navegações. Introduzir elementos ‘exóticos’ nos biomas
das colônias era algo comum, assim, sem qualquer critério, recolhiam-se sementes e
animais que eram disseminadas por outros lugares. Um dos casos mais expressivos,
ocorreu no início do século passado, trata-se da “Seringueira (Hevea brasiliensis), que
foi um dos principais produtos da economia nacional entre 1870 e 1920, quando era
responsável por 25% das exportações (...), perdendo apenas para o café. (...) um
produto que deixou de ser exclusivo do Brasil quando sementes contrabandeadas
permitiram a outros países explorarem a espécie”, foi o botânico inglês Henry
Wickman, quem levou sementes de seringueira para serem cultivadas na Ásia e
Malásia (PENSAMENTO VERDE, 2014).
O caso ilustra o quanto o descaso, o desconhecimento e ineficácia
governamental prejudicam o desenvolvimento nacional e o meio ambiente. É possível
dizer que as sementes das seringueiras, plantadas fora do Brasil, levaram consigo
também a possibilidade de uma vida melhor para as comunidades daquela região,
Araújo et al (2006, p.15), afirma que:
A legislação, no entanto, era frágil, posto que ainda não estava totalmente
regulamentada. No dia 17 de novembro de 2015, entrou em vigor a Lei da
Biodiversidade (Lei nº 13.123, de 5 de maio de 2015, já citada).
Considerações finais
“As plantas realmente curam, porque elas são medicamentos. Isso não é
crendice” (Revilla, 2014). Esta afirmativa, baseada em inúmeras pesquisas realizadas,
não apenas na região amazônica, mas em outros biomas existentes na fauna e flora
brasileiras, por si só, já exigiria um sistema de proteção da biodiversidade mais eficaz.
A biopirataria é fato consumado no extenso território nacional e a morosidade nas
ações do legislativo perante a questão (notadamente a demora de 14 anos em relação
à regulamentação da Lei da Biodiversidade), tornam a fiscalização e aplicação de
sanções e multas ainda mais difícil. O conhecimento tradicional, no entanto, encontra
ainda menos amparo jurídico, visto que muitas comunidades tradicionais sequer
fazem o registro de seus conhecimentos por escrito, o conhecimento tradicional é
passado por gerações através da oralidade, das práticas culturais, do conhecimento
ancestral.
O reconhecimento destas práticas através do registro do patrimônio imaterial
parece poder contribuir na salvaguarda de direitos das comunidades tradicionais. Por
tratar-se de um registro formal, que relata as práticas coletivas do patrimônio cultural,
a patrimonialização não legitima mais ou menos esta prática, mas pode garantir
comprovação de que a mesma está relacionada aos conhecimentos tradicionais
associados ao patrimônio genético. Caberia, nesta inferência, aos agentes
relacionados ao Patrimônio Cultural, difundir as relações interdisciplinares do
patrimônio imaterial com as práticas, manejos e usos da biodiversidade, ampliando o
debate acerca dos registros das comunidades, no intuito de proteger os
conhecimentos tradicionais e as reservas biológicas nacionais da biopirataria.
Referências