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Diagramação│Simone Schneider
Revisão │Brenda Tesch
Capa │Ellen Scofield
Titulo │Meu CEO é um Mafioso
ATENÇÃO
ESSE ROMANCE POSSUI CONTEUDO DARK.
SE VOCÊ É SENSÍVEL A ESTE TIPO DE CONTEUDO,
ACONSELHO A NÃO CONTINUAR A LEITURA
“AGRADECIMENTOS”
O gênero
Anti-herói
É um protagonista oposto de herói, com características morais
questionáveis e que muitas vezes, são inerentemente maus. Na maioria dos
casos é difícil traçar a linha que separa os anti-heróis dos vilões, pois ambos
possuem traços de maldade. Contudo, os anti-heróis têm sempre aprovação,
seja por seu carisma distorcido ou por algum senso se humor sombrio, mas
nunca são julgados como vilões por estarem do lado “certo” da história.
Um exemplo é a mocinha que se apaixona pelo seu sequestrador ou
também aquela que se apaixona pelo seu abusador. Em ambos os casos, o
romance acontece com consentimento da protagonista, mesmo que seja um
amor sombrio e cheio de características duvidosas.
Redenção
Pode ou não acontecer no final do livro e aceitar se de fato o
personagem se “redimiu” vai de cada um.
O desequilíbrio de poder vai mudando ao longo do livro, a mocinha
(que era completamente dominada) vai ganhando força e “caindo em si” ou
até mesmo o anti-herói vai reconhecendo seus erros e cedendo esse poder à
mocinha como forma de redenção. Não é regra, cada livro é um caso e,
muitas vezes, o protagonista não procura de redimir de forma alguma, e a
mocinha segue em frente ou aprende a viver dessa maneira distorcida.
Depende do autor. Os personagens podem até mudar de fato, tornando-se
pessoas melhores e passarem de anti-heróis para heróis ou, ainda, a mocinha
pode se tornar igual ou pior que o cafajeste. São muitas possibilidades!
stou dando uma última olhada pela janela do meu quarto. Posso avistar
E algumas adolescentes a conversar no banco do pátio. Diversas vezes me
sentei no mesmo, somente para ter meu momento de silêncio com um
bom livro nas mãos. Por ter um jeito mais reservado, sempre encontrei
dificuldade em me socializar com as pessoas. Tinha medo de dizer ou fazer
algo que pudesse me levar às broncas, brigas ou castigos aqui dentro do
orfanato.
Sim. Vivi meus dezoito anos nesse local com paredes escuras,
guardada a sete chaves. Nunca pude ir para o lado de fora desses muros e
tampouco houve alguma oportunidade para tal ato, como uma curiosidade ou
até escapatória. A vigilância sempre foi meticulosa pelas funcionárias e
superiores, todas do sexo feminino. De modo algum estive perto de uma
presença masculina, sequer imagino a textura da pele ou a fragrância de um
perfume diferenciado. Mas idealizo, como todas nós no orfanato, encontrar
uma pessoa especial, um amor verdadeiro para a vida inteira que me
apresente um mundo novo fora desses muros.
Solto um suspiro ao mirar pela vidraça sentindo o vento frio percorrer
meu rosto, me arrepiando. Observo um pássaro distante; alegro-me, pois em
minutos estarei livre como ele. A diferença entre nós é que o animalzinho não
tem ansiedade ou expectativas de vida, já eu, estou totalmente nervosa pelo
que me aguarda além desse casarão velho.
Independentemente do que vier, estou feliz. Esperança é tudo que me
alimenta para essa nova etapa de minha existência.
Afasto-me do batente, pegando meu último pertence em cima da cama
e guardando em minha pequena maleta com pouquíssimas roupas. Não podia
deixar para trás minha única lembrança, a de que um dia tive uma família,
que um dia pertenci a algum lugar, que talvez tenha sido querida, ou mesmo
indesejada. Nunca saberei ao certo.
Soube pela minha tutora do orfanato, que o homem que me entregou
neste local se parecia muito comigo, ao menos lembrava-a como estou
atualmente. Talvez fosse um parente — um pai, tio ou irmão mais velho —, o
único resquício que tenho é essa manta cor-de-rosa com as letras “II” na
extremidade. Podem ser as iniciais de dois nomes, um sobrenome, talvez! Eu
sabia que meu sobrenome não era meu realmente, o orfanato dava aos bebês
um único nome na falta de documentação, logo, assim como dezenas de
crianças naquele lugar, eu era Violleta “Santi”. Um membro de uma família
invisível formada por crianças que nunca tiveram direito a um nome, a uma
herança de sangue.
Pergunto-me o que levou a essa pessoa a me abandonar em
definitivo? Por que não me quiserem? Por que não me cuidaram como uma
família normalmente faria?
Sempre senti falta de carinho, atenção e amor. Cresci como uma
jovem insegura, carente e medrosa. Talvez pelos traumas que carrego pelo
esquecimento de uma família que nunca me buscou ou quis saber de mim.
Porém a partir de hoje tudo isso vai mudar! Viverei uma vida de que
fui privada, totalmente liberta, sem limites para meus sonhos com uma nova
casa. Fecho o zíper da mala, dando uma última olhada no quarto que foi meu
confinamento determinada a não pensar mais nele um dia sequer dali para
frente.
— Arrumou tudo, querida? — Viro-me olhando para a senhora
Dolores, que parecia ser a única que sentia uma simpatia por mim nesse asilo
de crianças e jovens moças.
— Sim. Estou pronta. — Suspiro apreensiva.
Observo-a se aproximar com sua roupa desgastada e cabelo oleoso
por trabalhar a anos na cozinha. Ela estende a mão me entregando uma
bolsinha. Pego-a abrindo, ficando boquiaberta com o que vejo dentro.
— Meu Deus. Não posso aceitar. — Fecho e lhe entrego, mas sou
interrompida no percurso.
— Por favor, Violleta. Aceite minhas economias, você está indo para
um mundo novo e precisará estar preparada. — Sem perceber deixo lágrimas
caírem. Ela sempre demonstrou ser muito carinhosa comigo, sempre fui sua
protegida quando outras jovens vinham me bater ou caçoar. — Eu tenho uma
casa e um emprego, e a vida lá fora não é nada fácil. Não é muito, mas te
ajudará a se manter, até arrumar um trabalho na área qual fez seu curso de
secretariado no ano passado.
— Tem certeza de que não te fará falta? — Estou constrangida com
seu ato de bondade. Não quero atrapalhar ou prejudicar ninguém.
Ela segura minhas mãos que ficam unidas com as suas.
— Tenho. Economize o máximo que puder e busque algum imóvel no
centro, onde se têm as melhores chances para um bom emprego. — Aceno
com a cabeça. — Tome cuidado com homens aproveitadores, você é muito
inocente ainda, Violleta. E sua beleza sem cautela pode acabar sendo sua
ruína, querida.
— Um dia, eu vou te recompensar por isso. Eu prometo — digo,
mesmo sem saber o que o futuro me reserva.
— Viva bem, Violleta — diz a mulher com comoção em seus olhos
cansados. — E nunca mais pense neste lugar.
Escuto atentamente seus conselhos e me despeço com um abraço e
beijo terno em seu rosto rechonchudo, sem antes, receber também um lanche
para a viagem. Não tenho palavras para expressar toda a minha gratidão. Eu
certamente não pensaria mais naquele orfanato, não o visitaria nem passaria
perto dele, mas nunca esqueceria aquela senhora e minha dívida para com ela.
Cascittuni de merda…
Com desprezo olho para o corpo sem vida diante de meus pés, queria
informações e quando as consegui, não tive muito trabalho para degolá-lo,
roubando o restante de sua medíocre vida. O desgraçado era um dos poucos
soldati que sobraram do massacre de poucas horas atrás. Ultimamente estou
tendo bastante prejuízo com os chineses, mas esses elos podres da Cosa
Nostra sempre rendiam bons informantes, aqueles cães sicilianos não tinham
respeito. Dessa vez roubaram um contêiner abastecido com um arsenal
avaliado em dois milhões de euros numa emboscada. Agora que sei onde
estão, não perderei mais tempo em recuperar o que é meu.
— Junte os soldati. Quero aquele contêiner no porto em poucas horas
— digo para meu irmão Pietro, que também é meu braço direito dentro da
organização.
Dirijo-me até a sala onde se encontram os armamentos, pego minha
Glock posicionando-a na minha cintura. Depois seguro la mia bellezza
preferita — um rifle com ferrolho de alvo anti-material, capaz de destruir
estruturas, veículos blindados, helicópteros. Irei fazer um grande estrago, só
isso me trará a noite de sono tranquila que desejo.
— Os soldati já estão em seus postos, esperando o seu comando. —
Pietro diz.
— Buona fortuna, viva ‘Ndrangheta! Vamos acabar com aqueles
desgraçados.
Entro no meu carro juntamente com meu irmão. Saímos pelo túnel
subterrâneo. Quando chegamos ao galpão, fico no meu posto observando de
longe com meu fuzil. Pietro e o restante dos soldados, invadiram o local.
Daqui dou assistência, qualquer um que tente chegar perto de Pietro, elimino,
fazendo seus miolos voarem pelos ares. Não demorou muito para que ele
ficasse em perigo, era sempre tão impulsivo quanto um novato. Pela mira
aproximada percebi que não se tratava nem mesmo de um capo, era um
verme de menor posição, um sicário.
— Hora de começar a diversão, irmão — digo pelo comunicador.
Acerto um tiro na cabeça do chefe da gangue provocando um caos de
balas e gritos. Pietro é um excelente atirador e exímio líder tático, foi como
uma brincadeira para ele apagar todos. Ordenei que colocassem bombas
espalhadas, assim que meu contêiner estiver seguro, esse lugar será apenas
destroços. Ninguém rouba o que é meu e quando isso acontece, me certifico
de fazê-lo pagar caro.
Vejo alguns dos meus soldados no chão, eles sabem do risco que
correm todos os dias. Eles vivem para a família e que Deus os tenha.
Quando meu contêiner está na carreta, dou ordem para Pietro ligar o
cronômetro. Todos se preparam para sair de dentro do galpão. Saio do lugar
que estava indo para o carro que me aguardava. De longe ouço a explosão
decretando minha noite bem-sucedida.
Assim que chegamos à sede, ordeno aos soldados para conferir minha
mercadoria. Pietro ficará no comando, pois ainda preciso resolver algumas
pendências na empresa. Hoje se tiver sorte, sairei com uma noiva daquele
lugar. Tomo um banho rápido na sede, partindo logo em seguida.
Também não vejo resquícios de uma aliança em seu dedo, porém isso
não significa que ele não tenha alguma mulher. Uma perfeita encarnação de
Apolo como aquela era impossível que estivesse sozinho. Quando chegamos
ao restaurante, fico com receio pois está vazio, não há clientes, apenas um
garçom, e assim que sentamos na mesa fazemos nosso pedido. Fico sem jeito
de comer na frente de alguém tão importante, além do mais, posso sentir seu
olhar queimar minha pele, pois desde quando nos sentamos o sr. Ferrari não
tira seus olhos de mim, e de repente, fala:
— Não sou de enrolação, então vou direto ao assunto, Srta. Violleta.
— Levo um susto quando ouço seu tom de voz bem mais grave que dê horas
atrás. — O contrato que você preferiu não ler antes de assinar não era
referente a um emprego na firma.
Engasgo com o suco que bebia. Ele deve está caçoando de mim, não
está falando sério, visto que ele continue impotente, com ar de poder e
confiança, indago:
— Como é?
— Era um contrato de casamento.
Era como se eu tivesse sido pega de surpresa por uma avalanche, e
coisas assim eram impossíveis. Minha mente estava em negação.
— O senhor está brincando comigo? — pergunto ainda tentando
parecer jovial esperando que não passasse de um absurdo.
— Não, não estou.
— Deve ter algum engano, pois não estou à procura de um
casamento, se assinei aqueles documentos foi porque pensei que fossem
cláusulas que falavam sobre o emprego, sr. Ferrari — digo pronta para me
retirar da mesa, mas ele segura meu pulso com força.
— Você não entendeu, senhorita, mas eu vou lhe explicar melhor... —
Ele faz um sinal com a mão, e no mesmo momento vejo, entrar no
restaurante, homens fortemente armados. Fico trêmula por não entender o
que está acontecendo. — Acho que não fomos formalmente apresentados, e
como já tenho sua assinatura posso contar judicialmente com sua… discrição.
Fico estática olhando aqueles homens enormes preencherem o
estabelecimento vazio. Onde foi que me meti? O que está havendo?
— Sou Ettore Ferrari.
O nome não me é nem um pouco familiar e ao perceber isso, ele solta
um suspiro aborrecido.
— As notícias não chegavam no seu orfanato? — indagou
retoricamente.
— Como sabe que eu…?
— Eu sei muito sobre você, Violleta, mas o que me deixa intrigado é,
na verdade, não saber nada.
Fecho meus punhos para conter o tremor nas mãos, tudo em volta
indica perigo. Quero correr, fugir, mas a porta parece estar do outro lado do
mundo com dois cães armados de terno guardando-a. Um dos homens
entrega um envelope amarelo para Ettore sobre seu ombro e ele o pega sem
deixar de olhar para mim largando-o sobre a mesa.
— Você não tem sobrenome, não tem raízes… Tem o nome comum
de um orfanato no meio do nada e quer que eu acredite que chegou até aqui
por coincidência?
— O senhor me trouxe aqui para me humilhar?
— Quieta, eu não terminei. — Ele me corta sem nenhuma delicadeza.
— Você não tem para onde voltar, e não tem o que perder. Sabe o que isso
parece, menina?
— Sei sim, que estou desesperada, mas a julgar pelo circo armado
aqui chego à conclusão de que nenhum desespero no mundo vale isso! Passar
bem, sr. Ferrari, seja lá quem você for! — Levanto-me pronta para ir embora
e nunca mais chegar perto dele, meu corpo inteiro vibra de adrenalina e
terror, e tudo isso se intensifica quando dois dos homens me agarram e me
forçam a sentar novamente na cadeira. Sinto as lágrimas ameaçarem cair,
minha garganta arder.
— Você não tem nada além dessa sua maldita beleza, Violetta —
sussurrou ele. — Você sendo ou não espiã da Camorra, dos sicilianos ou da
polícia, eu vou me aproveitar disso. Se for dos Petrov, ah, será o começo do
seu fim.
Ele falava comigo como se eu fizesse alguma ideia do que ele estava
se referindo, como se eu soubesse do que se trata!
— Camorra? Petrov? Mas do que é que você está falando?!
Ele apenas se recostou à cadeira tirando um grosso charuto do bolso,
acendendo-o sem a menor pressa sob meu olhar aterrorizado e confuso. A
fumaça subiu sinuosa entre nós, e senti um frio em minha barriga quando vi a
escuridão em seu olhar, percebi que apesar de não saber do que aquilo se
tratava, eu estava na presença de um homem extremamente perigoso.
— Sou Ettore Ferrari, como já disse. — Mais fumaça subiu. — Bem-
vinda à ‘Ndrangheta, bella mia.
Dio mio, o que está acontecendo?
Imediatamente fico de pé novamente, meu corpo reagindo
inconsciente para se preservar, e todos apontam suas armas para mim. Ettore,
com um pequeno aceno, pede para irem baixando. Ele se levanta, e se
aproxima de mim só então evidenciando o quanto era grande. Seu dedo pousa
sobre minha face, seus olhos percorrem meu rosto com raiva e apreciação
misturados, sinto minhas pernas fraquejarem. Sem muita paciência, e com
brutalidade me puxa pelos cabelos. Fico em choque, totalmente imóvel com a
respiração dele soprando sobre minha boca e a dor na raiz dos fios. Um
homem não deveria tratar uma mulher com tal agressividade. Solto gemidos
de dor, quando o seu aperto aumenta.
— Agora mesmo vamos passar pelo seu apartamento, para pegar
alguns pertences que você queira levar. — Sua voz era calma, mas todo o
conjunto daquela situação a fazia ficar ainda mais assustadora. — Hoje
mesmo você se muda para minha casa.
Ainda com sua mão em volta do meu cabelo, saí me arrastando para
fora do restaurante me jogando dentro do carro sem cuidado algum, fazendo-
me bater a cabeça na porta do carro, como se eu fosse um saco de lixo sem
importância.
Sem conseguir mais segurar o choro — que até agora estava guardado
—, deixei que saísse de uma vez. O silêncio dentro do carro só era quebrado
por meus soluços e tudo o que eu queria era que alguma coisa magicamente
acontecesse que me possibilitasse de fugir dali.
— Poupe suas lágrimas, você ainda nem viu nada, querida. Aconselho
que você guarde isso para depois. — Para o meu desespero ele prontifica.
Lembro-me perfeitamente das palavras da cozinheira do orfanato, seu
último conselho como um aviso sutil.
“Sua beleza sem cautela pode acabar sendo sua ruína, querida”.
Fico sem conseguir acreditar na realidade dos fatos, estou sendo
levada contra minha vontade, e mesmo estando tão pouco tempo com esse ser
diabólico, posso afirmar que meu pesadelo apenas começou.
Assim que chego na sede, Pietro já está com sua típica cara de bunda.
— Você não pensou mesmo que ela não fosse tentar fugir, pensou?
Dê uma chance para a menina!
— Você sabe que não tem essa de "chance", não se preocupe, não vou
matá-la, pelo menos ainda não! Ainda tenho que socar um filho nela antes
que não tenha utilidade.
— Per Dio, Ettore, a garota não fez nada além do esperado! —
justificou meu irmão.
— Não seja mulherzinha, porra! Comporte-se como homem, Pietro!
Quando tiver uma mulher vai deixar ela pisar nas suas bolas assim, caralho?
Entro na sala de “cirurgia”, de cara já vejo Violleta em pânico quando
me vê passando pela a porta. Ela está sentada em uma cadeira com suas mãos
e pés amarrados, seus olhos azuis, agora escurecidos pelo medo, estão
grudados em mim. Confesso que o medo que evapora de seus poros me dá
tesão e adrenalina para o que vem acontecer logo em seguida.
Pego uma cadeira e me sento em sua frente.
— Você acabou com minha diversão, sabia? É sério que você estava
tentando fugir? — Dou uma gargalhada, lembrando da cena patética que vi.
Paro de rir agarrando seu cabelo. — O que foi que eu disse? — Não obtenho
resposta então puxo com mais força. — Fala, porra!
— Para não tentar fazer nada...
— E você fez totalmente o contrário. Agora estou aqui para ensinar
você o que acontece quando me desobedecem!
— Por favor. Eu prometo não fazer mais, não me machuque! — Ela
implora pedindo clemência, mas isso não funciona comigo.
— Eu acho que não, ragazza... você tem que aprender a ter bons
modos, e só assim você aprenderá!
Saio de perto para ir até minha mesa onde se encontra as
ferramentas de tortura, logo vejo o que procuro, nada menos que um alicate.
Vou até meu soldado, e falo, baixo:
— Quero que você saia, e avise a Pietro que me espere na sala de
reuniões, também não quero que ninguém me interrompa!
— Claro, chefe!
Dobro as mangas da minha blusa caminhando em direção a Violleta
com o alicate em mãos. Por que ela fez isso? Eu não queria machucá-la, não
da forma que estou prestes a fazer. Ela está com uma camiseta branca, eu
chego mais perto e a rasgo bem no meio. Ela fica apenas com seu sutiã de
renda da mesma cor. Ela não está usando nenhuma das roupas que comprei.
Garota orgulhosa…
— Não! Por favor, não!
Sem respondê-la, rasgo também seu sutiã, ela dá um pulo de susto, e
eu contemplo seus seios pulando devido ao seu susto. Encaro-os por mais
alguns segundos, eles são tão durinhos e pequenos que chego a salivar para
prová-los. Seus mamilos rosados estão rígidos por conta do frio. Rebecca era
gostosa, mas não chegava nem perto do que Violleta vinha causando em
mim, mas eu não queria trepar com ela até colocar uma aliança em seu dedo.
Não queria engravidá-la e depois mudar de ideia, pois nunca mataria um filho
meu, sangue do meu sangue independente de que boceta veio.
— Ettore, não faça...
Não deixo que termine, aperto o bico do seu seio com o alicate, e
logo suas lágrimas descem com força enquanto ela se contorce de dor. Logo
em seguido faço a mesma coisa, com o outro seio.
— Seu desgraçado! — Ela grita, chorando e, devo confessar, aquilo
me causa um certo prazer, e eu falo ironicamente:
— Olha os modos! — Aperto com mais força, e vejo o sangue
escorrer do mamilo, saio de perto para devolver o alicate para seu lugar de
antes. — Você escolheu do jeito mais difícil, ragazza, hoje você vai sair
daqui marcada, sabendo exatamente a quem pertence! Sabendo que não
escapará nunca do seu futuro marido.
Pego o marcador de ferro, com as iniciais "EF", que mandei fazer há
algum tempo para marcar “mensageiros”, vou até a lareira e coloco o ferro
sobre o fogo, deixando esquentar o bastante para fazer o que tenho em mente.
— Por que você está fazendo isso comigo? Eu nunca lhe fiz nada!
— A partir do momento que você me desobedeceu, já estava fazendo
algo, então, ao invés de estar fazendo outras coisas, estou aqui disciplinando
você!
— Dio mio, perché? Por que? — balbuciava ela baixinho. Seu belo
rosto estava arruinado pelas lágrimas.
— Ouça, querida, vou lhe contar um segredo: Ninguém sai da
‘Ndrangheta vivo para contar histórias, e você certamente não será a primeira
a conseguir.
Afasto-me indo pegar minhas luvas, depois vou até a lareira e pego o
ferro quente. Viro na direção de Violleta e ela me olha com espanto,
implorando:
— Per Dio, e tudo que é mais sagrado, não faça isso comigo, eu não
sou um animal! — As lágrimas molham mais seu rosto pálido.
— Acho que depois de hoje, você vai entender como as coisas
funcionam por aqui.
Vou para trás de sua cadeira e agarro novamente seus cabelos,
forçando sua cabeça contra a mesa e expondo sua nuca. Mirando o ferro
quente na pele de aspecto macio, Violleta solta um grito estridente quando o
calor a marca, não demora muito para que eu sinta o cheiro de carne
queimada no ar. Tiro o ferro vendo meu selo em carne viva, percebo seu
corpo amolecendo sobre a mesa, provavelmente desmaiando.
Desamarro as cordas, vestindo-a com minha camisa social, pego-a nos
braços e a levo para o carro que estava estacionado, já à espera, e logo Pietro
aparece à minha frente.
— O que você fez?
— O que sei fazer melhor. Para casa, agora.
Entro no carro com Violleta nos braços, Pietro vai na frente com o
motorista, olho para ela que ainda se mantém inconsciente, sua testa brilha
com o seu suor, minha blusa está banhada com o sangue que sai de seus
ferimentos. Não queria que fosse assim, mas ela pediu por isso. E se ela não
aceitasse seu destino de uma vez como uma Ferrari, eu poderia sempre fazer
pior.
Acordo com batidas na porta, fico esperando, mas não ouço mais nada
então acho que a pessoa pode ter ido embora. Devagar, estico minhas pernas,
e meus braços para me espreguiçar e me levanto indo para o banheiro, tomo
meu banho com cuidado, para não molhar minha nuca. Quando saio levo um
susto ao ver Sandra sentada na cama.
— Mi scusi se a assustei, eu vim refazer o curativo!
— Eu que estava distraída.
Depois que Sandra refaz meu curativo descemos juntas para tomar o
café da manhã, quando chego na cozinha todos estão sentados nos seus
devidos lugares, assim que me sento Ettore se levanta.
— Quando terminar vá ao meu escritório! — Diz, me olhando,
depois se vira para o irmão e diz: — Mostre a ela onde fica, Pietro!
Ele apenas assente, não parece nada feliz e não é o único.
Fico apreensiva, porém, tentando não demonstrar isso, continuo a
tomar meu café em silêncio, sem me importar com os olhares que o pai de
Ettore me lança. Ele até agora não me dirigiu uma única palavra, talvez o
velho não goste de mim, e não faço questão que goste depois do que Sandra
me mostrou. É tão demoníaco quanto o resto deles.
Assim que termino a refeição, sigo Pietro pelos corredores largos e
suntuosos. O homem ao meu lado parece uma versão “suavizada” de Ettore,
preservando os traços, porém com uma atmosfera muito mais aprazível e com
potencial para ser agradável e simpática. Pergunto-me se todos eles são
assim, dissimulados.
— Violleta, seja o que for que Ettore queira falar com você não o
responda, nem o contrarie, ainda que seja algo que você não concorde,
entendido? — São as primeiras palavras que Pietro me diz, e é exatamente
pedindo para não contrariar seu irmão todo poderoso.
— Entendi, ainda quero manter a refeição dentro do meu corpo —
comento. Ao menos Pietro não poderia tocar em mim ou me machucar.
Ele abre a porta do escritório para que eu possa entrar e volta dali,
fechando a porta atrás de mim. Ettore está sentado em sua cadeira com seu ar
autoritário, olho para seu terno que está quase estourando de tão apertado
agarrado aos seus músculos. Ele poderia me quebrar ao meio se quisesse e
isso me assusta muito.
— Sente-se, e não precisa ficar babando assim ragazza, logo meu
corpo será todo seu. Prometo fazer o meu papel na cama como homem. Fora
dela, sou um livre para comer a boceta que desejar.
Sinto nojo de suas palavras, e quero dizer-lhe que nunca tocará em
meu corpo, não dá forma que pensa, mas faço como Pietro disse, fico calada
sem dizer nada, vou até a cadeira que tem em frente à sua mesa, e me sento.
— Não quero que aconteça novamente o que aconteceu ontem. Você
não terá outra chance, Violleta, não vou ter compaixão de você. Para mim,
homem e mulher têm o mesmo valor, mesmo sendo de minha própria família,
então é melhor andar nos eixos, você é muito bella para ser descartada assim!
— Continuo muda, apenas deixando as lágrimas caírem sem conseguir
segurar. — Hoje você vai, juntamente com mammà e Bianca, resolver alguns
assuntos do casamento, essas coisas que vocês mulheres gostam de fazer.
Até gostaria, se fosse em outras circunstâncias, mas fazer isso vai
ser como organizar meu próprio funeral.
— Pietro vai estar na sua cola, até que eu possa arrumar alguém de
confiança para ser seu segurança particular.
Ele faz a volta na mesa ficando na minha frente, põe uma mão de
cada lado da cadeira ficando bem próximo do meu rosto.
— Qual é o seu problema, o gato comeu sua língua? Onde está aquela
Violleta boca dura, hum? Não pense que estou achando ruim, pois não estou.
Você tem que entender que tudo funciona como eu quero, pense bem no que
eu disse hoje, você não quer estar morta antes que possa se casar não é
mesmo? Responde, porra!
Assusto-me com seu grito repentino, e deixo escapar os soluços
enquanto no seu rosto, vejo transparecer todo seu divertimento.
— Não! — Respondo, sentindo o nó em minha garganta.
— Ótimo, melhor assim. Já terminei, agora saía!
Sem que ele tenha que repetir, eu me levanto e saio às pressas, não
quero ter de ficar nem mais um segundo perto desse louco. Sandra me
encontra no meio do caminho para o meu quarto e me leva até um jardim
onde tem inúmeras roseiras nas quais apenas ela põe a mão.
— Conte-me mais sobre o que fizeram com você — peço. Se eu ao
menos entender como a cabeça de Ettore funciona, posso antecipar seus
movimentos. Quem sabe formar um plano que seja bom para mim…
— Ah, filha, eu já passei por tantas coisas, lutei tanto para que isso
não tivesse que acontecer, para que Ettore não se tornasse pior que o próprio
pai, mas as mulheres na máfia, não têm voz. Nem todos nascem monstros,
para que tenham seu lugar na máfia há uma preparação, e é aí que tudo muda!
— Prefiro ficar calada apenas ouvindo o que ela diz, e ela continua: —
Domenico nunca foi um homem amoroso, ou algo do tipo, pois nesse mundo
não existe esse tipo de coisa. Foram inúmeras agressões, inclusive uma no dia
do nosso casamento. Também me recusei a me casar e então ele veio até meu
quarto para "conversarmos". Quando ele terminou nossa conversa, foi
necessário refazer toda a minha maquiagem, mas, acredite hoje em dia vivo
no paraíso, pois finalmente consegui conquistar meu marido, e o principal,
consegui superar tudo que já passei, Violleta, por isso digo que você vai
conseguir!
Aquilo era completamente absurdo! Amar um homem que fez algo
tão horrível quanto estuprá-la? Não eu não conseguirei, não vou suportar essa
vida. Ettore acabará comigo, seja com torturas ou matando minha alma aos
poucos.
Passei o restante do dia cuidando dos preparativos do casamento,
apenas olhando e concordando com Sandra e Bianca, que estavam eufóricas
com os detalhes. Eu, sinceramente não conseguia pensar em nada a não ser
no arrependimento que sinto quando me lembro que assinei sem ler aqueles
documentos. Agora não adianta mais tentar ir contra Ettore Ferrari, pois ele
tem o poder, e a força que eu não tenho. Não sou capaz de declarar guerra a
ele, pois sairia destruída, machucada, senão morta, e se pretendo sair dessa
prisão com vida tenho que ser cautelosa com Ettore e ganhar sua confiança, e
quando ele estiver nas minhas mãos, vou acabar com sua vida, assim como
ele fez com a minha.
bro meus olhos, mas continuo deitada na cama, para minha infelicidade o
A restante da semana passou extremamente devagar. Hoje é o dia em que
toda minha desgraça se tornará permanente, tentei me preparar para esse
momento e tudo que viria depois dele, mas não é preparação o que preciso, e
sim de muita força para passar por isso sem deixar que Ettore me mate.
Preciso ser forte, porque eu sei que vou ter minha vingança, custe o que
custar.
Levanto e vou até a varanda, vejo cerca de cinco pessoas cuidando do
altar no imenso jardim enquanto outras estão fazendo a decoração, toda a
cerimônia será feita ao ar livre, mas a festa vai ser em algum outro local,
onde costumam fazer as festas da organização, não me interessei muito
quando Sandra me disse, não me importo com nada, estou sendo forçada a
tudo, nada disso me faz feliz, ou me deixa minimamente contente.
Ouço uma batida na porta, me viro e vejo minha futura sogra com
Bianca ao seu lado.
— Ragazza, você ainda está assim? — Sandra indaga, entrando no
quarto.
— Dio, Violleta, os maquiadores já chegaram, ainda temos unha e
cabelo! — Bianca continua, já me puxando pela mão, mas eu me recuso a
levantar emburrada:
— Não sairia desse quarto se fosse escolha minha — respondo,
desanimada.
— Lembre-se do que eu disse, querida. Invente uma história e tente
vivê-la apenas para não morrer. — Sandra diz com ar de seriedade, Bianca a
encara tão melancólica quanto. Se as coisas funcionavam como eu achava,
ela também passaria por isso em algum momento com outro homem. —
Agora, vá tomar seu banho, que vamos esperá-la lá em baixo.
Quando as duas saem do quarto, vou me arrastando para o banheiro,
com todo o desânimo do mundo tomo um banho. Quando termino visto uma
de minhas poucas roupas, penteio meus cabelos e desço. Assim que chego na
cozinha, encontro algumas pessoas que nunca vi e outras que estavam no dia
do jantar. Ettore se levanta bruscamente e me puxa pelo braço, me levando
para longe de todos.
— Mas, que merda é essa, porra? — Ele fala, enraivecido.
— Você poderia ser específico? — Eu devolvo, cinicamente.
— Não me teste, caralho, que roupa é essa? Até um pano de chão
ficaria melhor, você quer me envergonhar na frente dos capos?
— Não tenho necessidade de estar bem vestida para ninguém, me
sinto muito bem com esse “pano de chão" e não vou vestir roupas que custam
tão caras que poderiam colocar comida na mesa de várias pessoas só para me
mostrar para assassinos e loucos sanguinários, que obrigam mulheres
indefesas a se casarem!
Meu rosto queima com o tapa que levo, e sem dizer nada, ele agarra
meus cabelos me puxando até o quarto, sem muito esforço ele rasga o vestido
simples que estava vestida. Fico toda descoberta em sua frente, apenas com
minhas roupas íntimas, por um momento o vejo encarar meu corpo, mas tento
me cobrir com as mãos.
— Você prefere assim, não é? Pois bem, eu também prefiro, então
pegue uma das roupas que estão na porra desse closet e se vista. Se você
descer sem estar no mínimo apresentável, você vai até àquele altar de cadeira
de rodas!
Sem dizer mais nada ele sai do quarto, limpo minhas lágrimas e vou
procurar uma roupa que o contente. Agora, com que cara vou conseguir
descer e ficar na frente de todos, depois dessa humilhação?
“Sua beleza sem cautela pode se tornar sua ruína”, as palavras da
cozinheira voltaram à minha mente enquanto eu me olhava no espelho
despida. Se eu já estava arruinada, então que essa beleza maldita se tornasse a
ruína de Ettore Ferrari também. Procurando entre as roupas, encontro algo
perfeito para começar minha vingança. Um vestido vermelho vivo, bem
apertado marcando minhas curvas, pego também um sapato de salto altíssimo
que possa combinar com o vestido. Vou até o espelho novamente e vejo os
cincos dedos bem marcados em minha bochecha esquerda, faço uma
maquiagem leve para esconder a marca de sua mão, mas passo um batom
vermelho para destacar meus lábios carnudos. Olhando-me assim, até parece
que vou algum lugar luxuoso, mas se é para estar bem apresentável, bom,
agora estou.
Desço mais uma vez as escadas, e quando chego à cozinha todos me
olham, parecendo estarem impressionados. Os olhos de Ettore se abrem bem
quando me veem, ele me encara com luxúria e dominação, mas vejo também,
que não gostou muito da minha escolha devido aos olhares direcionados para
mim, mas em minha defesa tenho a garantia de que se as roupas estão no
closet, eu posso vesti-las, certo?
Ele me encara e tenho o prazer de lançar um sorriso de lado, para que
ele saiba que não serei seu saco de pancadas sem revidar, depois, sento-me ao
lado dele e de frente para Bianca, que me olha e fala, baixinho:
— Os capos vão acabar babando na comida. — Eu olho para ela e
respondo, ironicamente:
— Grazie! Meu querido noivo estava certo — digo, notando a raiva
de Ettore transparecer na maneira como segura o garfo e engulo seco. —
Preciso começar a parecer com uma Ferrari.
Ele continua a me olhar fixamente, mas depois dá um sorriso
enigmático e volta suas atenções ao prato. Disfarço o arrepio gélido que subiu
por minha espinha.
— Ragazza, vamos comer rápido, porque temos muita coisa para
fazer. — Sandra fala percebendo minha ironia. Depois de muita conversa,
terminamos a refeição, quase ao mesmo tempo em que os cabeleireiros e os
maquiadores chegam, cada uma fica com um profissional à disposição para
que terminemos juntas.
O dia mais importante da vida de uma mulher está para se tornar a
confirmação da perda de minha liberdade e o início de uma guerra.
Acordo antes do dia clarear, pego uma calça de moletom, e desço para
a academia que fica na parte de baixo da mansão. Faço meus exercícios
pensando nos assuntos que tenho para resolver ainda hoje. Preciso interrogar
o russo para saber onde eles estão infiltrados aqui na Itália, tenho que passar
na empresa para fechar alguns contratos de compras de propriedade falidas,
das quais sei que posso obter bons lucros. Eu só queria um minuto de paz
nesse caralho.
Esta noite será a festa de noivado da filha de uns dos capos e não
posso faltar, preciso avisar Violleta para que esteja pronta quando eu chegar,
não gosto de me atrasar para compromissos. Termino meus exercícios e volto
para o quarto, quando entro, Violleta já não está mais na cama, mas ouço o
barulho do chuveiro ligado, tiro minha calça e entrando no banheiro, tenho a
maravilhosa sorte de ver Violleta passando o sabonete no seu corpo dentro do
box cheio de vapor.
Por um momento sinto inveja do líquido que desliza pelo seu corpo.
Ainda sem perceber minha presença, ela continua deslizando delicadamente o
sabonete por seus seios, barriga, e pescoço, até que chega a hora da sua
intimidade... Meu pau já está duro a muito tempo, deixando minhas bolas
doloridas pelo tesão que sinto ao presenciar a cena à minha frente.
Sem fazer barulho vou andando em sua direção, assim que chego
perto o suficiente, eu a seguro, ela faz menção de se virar, mas eu a mantenho
na posição anterior, e ouço seu pedido:
Noto um pouco de medo em seu semblante e ela se encosta à parede
molhada para ficar longe de mim, e respondo:
— Fique calma, bella mia, ainda não fiz nada! — digo passando
minhas mãos pelas laterais do seu corpo, e ela se vira de frente para mim,
com os olhos arregalados.
Porra de mulher que me deixa louco, minha vontade era pegá-la à
força, mas não quero fazer isso, não a quero desta forma, também não quero
usar deste meio para tê-la. Estaria mentindo se dissesse que não a quero, pois
quero muito. Tenho muitas mulheres para satisfazer-me, mas ainda não pude
desfrutar da minha própria mulher, e isso é uma vergonha.
— Tenho sido paciente com você, Violleta. Paciente demais. Fiz a
gentileza de esperar que você se acostumasse com sua nova realidade, mas
estou ficando cansado. Amanhã vou viajar para resolver alguns assuntos da
organização e quando eu voltar, não vou querer nenhuma puta, vou querer a
minha mulher, está me entendendo?
O olhar de Violleta sobe para o meu, está carregado de ódio e isso me
excita.
— Eu nunca vou me entregar de bom grado. Agora que sei as merdas
que tem coragem de fazer, eu te asseguro que nunca vou dar o que você quer.
— Ela me responde com a ferocidade estampada no rosto. — A única pessoa
cansada aqui sou eu, Ettore. Se você quer o que eu tenho, saiba que vai te
custar muito caro.
Ao soar daquela provocação, enrolo meus dedos em volta de seu
pescoço pressionando sua cabeça à parede. Vejo-a fechar os olhos esperando
pela dor, mas ela não vem, pois a imobilizo lentamente… Gentilmente. Isso a
faz me encarar com ainda mais receio.
— Está me ameaçando, Violleta? — pergunto muito perto de seu
rosto, sua respiração soprando suave em minha boca úmida. Ela não
responde, está ofegante, preparando-se para o pior e essa é minha melhor
recompensa. — É bom mesmo que esteja, porque eu tenho ideias muito
criativas sobre como responder a isso.
Então esmago sua garganta com a força da mão fazendo-a engasgar e
arregalar os olhos, e sem muito esforço a jogo para fora. Violleta escorrega
no chão molhado e acaba batendo a cabeça no chão, ouço seu choramingo de
dor e vejo-a apalpar o ponto do impacto. Um fio vermelho escorre por sua
têmpora.
— Vá limpar isso antes que arruíne o meu chão com seu sangue
imundo.
Fecho o vidro do box finalmente focando em me limpar. Continuo
meu banho com as lembranças de Violleta dominando meus pensamentos,
mas que inferno! Nunca quis tanto uma mulher, agora estou assim, feito um
adolescente de pau duro, só de pensar na garota que está afim.
Quando saio do banheiro Violleta não está mais no quarto, passo pelo
closet, pego meu paletó vestindo-o, penteio meu cabelo e por fim passo meu
perfume e desço. Chegando na cozinha vejo todos sentados, me esperando
para o café da manhã, inclusive Rebecca, que assim que me vê abre um
sorriso, vou para meu lugar de sempre, olho para Violleta que permanece de
cabeça baixa, e faço minha refeição calado, apenas observando todos
conversarem até que Violleta se pronuncia, dirigindo-se a mim:
— Posso falar com você, no escritório, um instante, Ettore? — Até
me surpreendo quando ela fala, pois dificilmente, me dirige a palavra, mas
concordo:
— Claro, mas seja breve, não tenho muito tempo! — Levanto
saindo e entro com Violleta no escritório. — O que foi?
— Ouvi hoje, sua mãe conversando com Bianca, sobre as duas
saberem atirar, então estava pensando se você poderia me ensinar.
Fico encarando-a, em silêncio, por um segundo, tentando assimilar
seu pedido.
— Está brincando, não está?
— Não.
Solto um riso. Aquele era o pedido mais absurdo que ela poderia me
fazer.
— Você acha que eu sou idiota, Violleta? — questiono. — Acha que
eu vou te entregar uma arma e esperar que você não promova um massacre
aqui dentro?
— Até me lisonjeia você pensar que sou capaz de fazer algo assim
sozinha, até então achava que eu não passava de uma boceta para você.
— Olhe como fala comigo, menina! — aviso fechando a cara. Eu não
estava com saco para argumentar com ela àquela hora da manhã. — Não vou
te dar uma arma nem agora nem nos próximos vinte anos, tire isso da cabeça.
— Eu não estou te pedindo para me dar uma arma, Ettore — disse
determinada. — Estou te pedindo permissão para aprender a me defender.
— De quem? Você está segura aqui!
— Você vive rodeado de inimigos, se um deles chegar a mim, eu não
vou esperar que me enfiem uma bala na cabeça como já faço estando aqui
com você! Preciso saber como me defender, Ettore!
A despeito de sua boca grande, ela tem razão. Mamma, de fato, sabe
atirar muito bem, e Bianca não era tão ruim. Com a situação se agravando
com os russos, eu não poderia me dar ao luxo de deixar a futura mãe do meu
herdeiro totalmente dependente, porém preciso encontrar uma pessoa que
possa ensiná-la.
— Tudo bem, vou falar com Pietro para arrumar alguém que possa
lhe ensinar, pois não tenho tempo para cuidar disso agora, mas sempre que
possível vou dar uma olhada para saber como está se saindo!
Eu sabia que meu irmão estava ocupado tentando achar mais maneiras
de fazer o russo falar, mas se eu o ordenasse arranjaria tempo para Violleta.
Quando ela já está saindo me lembro de avisá-la sobre nosso compromisso.
— Hoje teremos uma festa de noivado para comparecer, então preciso
que esteja pronta quando eu chegar, agora saia, e peça Rebecca para entrar.
Ela me olha enojada, mas não diz nada, em poucos instantes Rebecca
passa pela porta toda assanhada, não posso sair sem esvaziar minhas
frustrações, e não há nada melhor do que uma foda bem dada antes de ir para
o trabalho.
ETTORE FERRARI
Violleta somente desliza para o meu colo, desfalecendo; sinto algo
quente sobre minhas mãos, meu peito se aperta, isso não é nada bom, olho
apenas para confirmar minhas suspeitas, sim, é sangue. O peso dela é tragado
para o asfalto enquanto as balas ainda passam a centímetros de nós dois.
— Não, não, não… Violetta! — Tento acordá-la, mas não consigo. Só
quero aquela porra de tiroteio pare. Acordando para a realidade, a levo de
volta para o carro. — Gregory!
Meu motorista me ajuda a colocá-la no carro assim que a vê, meus
soldati aos poucos neutralizam a ameaça, deixando o caos no meio da
rodovia. Isso com certeza viraria notícia na manhã seguinte, precisávamos
sair dali e eu tinha que salvar Violleta!
Sua respiração está fraca. Viro-a de costas em meu colo para ver se
encontro o machucado, e vejo próximo às suas costelas o ferimento à bala,
tem muito sangue saindo, tiro meu paletó para estancar um pouco do sangue,
mas não para. Grito ordens desconexas, sendo tomado pelo desespero:
— Gregory, para o hospital da sede, agora! Vai, vai... — Volto minha
atenção para Violleta. — Ragazza, acorde. Fique consciente.
Mas não adianta, Violleta apenas me olha, com seus olhos cheios de
lágrimas, e eu me recuso a acreditar que isso está, de fato, acontecendo.
Violleta me olha profundamente, como se quisesse marcar algo em sua
memória, mas não é isso que me intriga e sim o sorriso triste que está nos
seus lábios, esses que tanto estava protelando para beijar. Percebo finalmente
e com detalhes que seus olhos são de um azul escuro profundo.
— Parece que acabei com seus planos… seu filho da puta —
sussurrou com um sorriso mais aberto. Não pude deixar de rir também.
— Não conte com isso — respondi segurando seu rosto. — Tem mais
alguma afronta para dizer?
— Agora você quer… que eu te insulte? — A voz dela ficava cada
vez mais fraca.
Merda, ela não pode morrer, não agora, não dessa forma, preciso
dessa mulher. Não pensei em nenhum dos meus receios sobre ela, apenas
coloquei na cabeça que não poderia perdê-la assim!
— Estamos chegando ao hospital, não durma.
Tento conversar com ela para distraí-la e mantê-la acordada, mas não
adianta muita coisa, e ela perde a consciência nos meus braços. Brigando
com o desespero, chegamos enfim, ao hospital, e eu desço do carro com
Violleta em meus braços, já gritando para trazerem uma maca. Quando os
enfermeiros a levam por um corredor extenso onde já não a vejo mais, me
viro para o médico parado próximo a mim. Sei que agora sou eu quem
precisa dele para salvar a vida da minha mulher, mas, não me furto a ameaçá-
lo:
— Se minha mulher morrer, você e sua família estão fodidos, deu
para entender? — digo gritando enquanto estou com minhas mãos no seu
pescoço lhe sufocando.
— Faremos o possível para salvá-la! — Ele diz e desaparece pelo
enorme corredor.
Sento-me em uma das cadeiras, me preparando para esperar e saber
de alguma notícia, ligo para mamma explicando o que houve. Cada minuto
que passo nessa droga de hospital, sem saber de notícias é uma tortura, não
deveria me importar, droga por que estou preocupado? Por que estou
sentindo meu coração queimar? Por que os olhos dela não me saem da
cabeça?
Quando estava pronto para me levantar e sair atrás de notícias, vejo o
Dr. Heron, e ouço atentamente o que ele me diz:
— Sra. Violleta já não corre nenhum perigo, a bala errou os órgãos
vitais, tivemos um certo trabalho para retirar, mas conseguimos. Mas…
— Ótimo, posso vê-la agora? — perguntei por mera formalidade, pois
mesmo que ele dissesse que não, eu entraria.
— Senhor Ferrari… — O médico tentou dizer, mas minha expressão
o fez desistir e acatar.
Assim que entro no quarto, a primeira coisa que vejo é Violleta
deitada em uma cama, com um tubo na boca e fios por seu corpo, ela está
mais pálida do que o normal. Chego mais próximo de sua cama.
— Mais o que deu em você, ragazza, para querer sair do carro no
meio de um confronto?
Talvez devesse ter escolhido outra mulher, mas assim que coloquei os
olhos em Violleta, já sentia que seria minha. Agora por minha causa, ela
quase havia morrido. Malditos russos!
— Ela talvez não acorde tão cedo. — Ouço o Dr. Heron dizer atrás de
mim.
— Como é que é?
— Ela teve algumas complicações durante a cirurgia — informou o
médico, seu rosto estava temeroso. — Teve uma parada cardíaca e quase não
conseguimos trazê-la de volta.
— Per Dio…
Liguei para mamma para vir ficar com Violleta, hoje preciso estar no
México para uma nova aliança, os mexicanos pediram nossa ajuda para uma
guerra que eles estão travando com os chineses. Não posso faltar ou parecerei
atingido pelo ataque de ontem. Horas mais tarde encosto minha cabeça no
banco do avião olhando para o céu escuro, minha cabeça está uma confusão
com as lembranças do tiroteio. Eu havia torturado um homem por dia,
degolado a mãe dele…
O sangue de Violleta não deveria me chocar. Mas chocou.
E eu tinha que voltar logo para casa.
VIOLLETA FERRARI
Aos poucos vou abrindo meus olhos, com dificuldade por causa da
claridade, mas me esforço para abri-los até que consigo. Ouço um barulho de
máquinas ligadas, quando percebo onde estou, o barulho fica irregular, mais
alto, vejo a porta sendo aberta e Sandra passar por ela. Minha garganta dói e
está seca.
Chegou até perto da cama, parecia feliz em me ver embora fosse
minha confirmação de que ainda estava vivendo um pesadelo.
— O que aconteceu? — pergunto com dificuldade.
— Você não se lembra? Meu anjo, você foi baleada. — As
lembranças veem como um vendaval, piorando toda a dor que sinto agora. —
Você e Ettore sofreram uma emboscada na rodovia.
— Há quanto tempo estou aqui?
— Há quase uma semana. Você estava em coma induzido para se
recuperar. Como está se sentindo?
Agora sim, eu quero morrer.
— Eu preciso sair daqui! — digo querendo me levantar, mas Sandra
me impede.
— Nada disso mocinha, fique bem aqui vou chamar o médico!
— Preciso de água. — Começo a me sentir sufocada.
Ela sai me deixando com meu desespero e volta quase no mesmo
instante com um homem de jaleco.
— Olá, sra. Ferrari, como se sente?
— A meio caminho de morrer. Preciso de água.
— Isso pode ser rapidamente resolvido — diz gentilmente e logo
outra enfermeira entra com uma jarra d’água. Bebo como se não houvesse
amanhã e sinto minha garganta doer pela secura interrompida.
— Quando poderei ir embora? Será preciso ficar aqui por muito
tempo? — Pergunto, angustiada.
— Tenha calma. Não levará muito tempo, só vou fazer novos exames
para conferir seu estado, se os resultados forem satisfatórios você será
liberada ainda hoje, no mais tardar, amanhã. Por ora, a senhora precisa ficar
em total repouso pelos próximos dias.
— Preciso de um banho…
— Eu sei, mas sugiro evitar qualquer esforço por enquanto. Você saiu
do coma há apenas algumas horas, precisamos fazer um eletroencefalograma,
exames de sangue, pressão… Assim que estivermos certos de que está
recuperada, receberá alta.
— O dr. Heron está aqui para fazer os novos exames! — Outra
enfermeira surge na porta para avisar e logo sai.
— Tudo bem, já estou terminando!
Faço todos os exames necessários, fico aguardando os resultados,
ansiosa, reclamando da demora. Sandra fica apenas sorrindo com meu jeito,
perguntei por Ettore, ela me disse que ele fez a tal viagem e não sei dizer
quando volta, tenho que me preparar para a sua volta, e sei bem o que terei
que fazer quando ele voltar.
— Pelos resultados, está tudo dentro da normalidade, porém seu caso
ainda inspira cuidados, deverá permanecer em repouso e voltar aqui uma vez
por semana no próximo mês. — decreta. — Vou lhe passar alguns
medicamentos, e a senhora pode ir pra casa. Caso se sinta mal, deve voltar
imediatamente. Aqui está receita dos remédios que deverá tomar.
Ele me entrega alguns papéis, saindo do quarto logo em seguida.
Sandra pega minhas coisas e saímos do hospital diretamente para uma
farmácia. Chegando à farmácia, Sandra vai em busca dos remédios, e eu
aproveito que ela está fazendo as compras, para falar com o farmacêutico.
— Vocês têm algum anticoncepcional, que eu possa comprar sem
receita? — Pergunto apreensiva, com medo de Sandra ouvir. O farmacêutico
me olha incerto e diz:
— Senhora, sua receita prevê o tratamento com um antibiótico leve
por pelo menos um mês, o uso de um anticoncepcional tem uma pequena
chance de ser comprometido por isso.
— O quê? — Estou perplexa. Como vou poder evitar uma gravidez
sem remédios? — Há algum outro método que eu possa usar?
Ele balança a cabeça e retira um pacote de camisinhas de baixo do
balcão.
— Ainda é o mais seguro depois do celibato — brincou. — Caso seja
imprescindível o uso do contraceptivo, sugiro que espere o tratamento
terminar e inicie o uso da pílula ou da injeção.
Celibato com Ettore Ferrari estava se tornando uma ideia inviável, ele
se casou comigo com o único objetivo de ter um filho!
— Você pode voltar quanto o tratamento terminar e administro a
primeira dose, o mais indicado ainda é se consultar com seu ginecologista
antes de qualquer coisa.
Saio frustrada com os remédios na mão, a cada minuto naquela casa
com medo de que ele chegue e queira começar a “ser um marido” me deixa
assustada. Nós nos casamos apenas para isso e é tudo o que eu mais quero
evitar, ficar presa a Ettore Ferrari para sempre. Dar minha virgindade a ele já
parecia ruim, mas ter um filho do homem que me sequestrou é um destino
pior que o inferno.
— Por que demorou, querida? — Sandra pergunta.
— Estava vendo algumas besteiras! — respondo parecendo natural,
mas meu coração bate descompassado.
— Você quer levar alguma coisa?
— Não obrigada, não vi nada do meu agrado. Vamos?
— Sì!
Chegando em casa, Bianca e Pietro estão à minha espera, mesmo
sendo tudo tão louco, a recepção deles foi muito gentil e fico aliviada por não
ver Ettore ali. Sinal de que ele ainda não havia retornado de sua viagem ao
México, segundo o que me contou Sandra.
Vamos todos imediatamente para a sala de jantar para almoçar e deixo
as conversas alheias fluírem enquanto guardo meu silêncio. Pietro está de
frente para mim bem concentrado em sua refeição, então pergunto:
— Quando começam as minhas aulas?
— Você mal se recuperou e já quer mexer com armas? — Pietro diz,
com seu um sorriso espontâneo.
— Fiquei seis dias desacordada por não saber como me defender,
preciso começar o mais rápido possível.
— Você tem razão, vou providenciar para que comece semana que
vem, não se preocupe com isso por enquanto. A segurança foi reforçada em
toda a casa.
Dificultando ainda mais minha fuga. Russos desgraçados.
Alegando cansaço, subo para o quarto fechando a porta atrás de mim.
Finalmente na companhia do silêncio posso ter paz e não perco tempo ao ir
para o chuveiro e encher a banheira. Já dentro dela sentindo o perfume na
água quente deixo meu corpo relaxar e o lavo com cuidado para não arruinar
os curativos. Quero pensar numa solução para o anticoncepcional e para
Ettore, mas me sinto tão esgotada…
Após o banho, sigo para o quarto ficando apenas de calcinha e me
deito na cama, não demoro muito para sentir o relaxamento do sono.
Desperto com uma entrada sem aviso no quarto e logo que abro os olhos vejo
Pietro se aproximando, porém assim que vê meu estado arregala os olhos e se
vira, envergonhado e eu procuro a primeira coisa que vejo para me cobrir,
sobressaltada!
— Dio santo, me perdoe! — diz ele se afastando tão rápido quanto
chegou quase escondendo o rosto. — Eu espero lá fora, me desculpe. Achei
que poderia estar… acordada.
Aquela era a primeira vez em várias semanas que eu via um Ferrari
constrangido, e foi ainda mais curioso pensar no que Ettore faria se soubesse
que Pietro quase me pegou nua. Assim que a porta é fechada e o silêncio
reina novamente e desconhecendo minha própria reação desencadeio uma
crise de riso que durou uns bons cinco minutos.
Quando saio já arrumada, ele está parado ao lado da porta, não
consegue olhar para mim.
— Não se preocupe, ele nunca vai saber se depender de mim.
— Vai sim — responde. — Ele sempre sabe.
— Foi um acidente, não acho que Ettore irá te punir por um acidente.
— Ele já matou gente por menos, Violleta. Você viu.
— Se ele mexer com você, fale comigo — digo como se pudesse
impedir meu marido de fazer qualquer coisa com qualquer um ou até mesmo
comigo.
Pietro me leva para uma parte da casa que ainda não tinha conhecido
ao lado da garagem subterrânea. Lá aparentemente funciona o treinamento
dos soldados e vai ser também o meu. Alguns deles treinam artes marciais,
como boxe, jiu jitsu e é assustador. Ainda bem que ficarei apenas no estande.
Um homem nos espera no local, está concentrado nas armas distribuídas
sobre a mesa. Era alto, muito alto e Pietro me apresenta a ele.
— Violleta, quero lhe apresentar Stefano, atirador de elite do clã —
diz. — Mais de sessenta mortes confirmadas pela Interpol italiana, será um
excelente professor para você.
Ele então se vira para mim, me encarando muito de cima com um
sorriso sutil, mas amistoso. Stefano é bronzeado, de cabelos longos e loiros, e
olhos muito azuis. Totalmente diferente dos homens italianos que sempre
vejo. É tão grande quanto Ettore e tem o porte de um militar, as calças táticas
e as botas pesadas dão a impressão de ser um homem habilidoso com todas
aquelas armas. Era uma surpresa, pois até então nunca o havia visto por ali.
— É um prazer, Stefano — digo educadamente, cumprimentando-o
com um aperto de mão.
— O prazer é meu, sra. Ferrari — corresponde olhando para todo o
meu rosto apesar de manter-se profissional. — Pode deixar comigo, Pietro.
Antes que você a assuste no primeiro dia com meu currículo.
— Duvido — rebate, com humor. — Bom, se me dão licença, tenho
outros compromissos, os soldados vão ficar por perto, pode chamá-los se
precisar de alguma coisa.
Pietro se despede, e sai do galpão. Stefano vai até uma mesa, pega
uma das armas, se vira em minha direção e começa a explicar:
— Vamos começar por essa aqui, uma pistola M1911, ela é
semiautomática, é a melhor para você, que não tem muita experiência, vou
lhe ensinar a melhor maneira de lidar com ela — diz me mostrando a posição
certa. — Basta mirar no alvo que você quer acertar e apertar o gatilho, não
puxar. Assim…
Stefano segura a arma com as duas mãos, sua postura é perfeita, seu
olhar é focado. Se ele puxasse o gatilho poderia acertar um alvo a
quilômetros só com a confiança com a qual segurava a pistola!
Ele me passa a arma, miro no alvo que está a uns três metros de mim,
aperto o gatilho mirando na cabeça, e dou um tranco para trás, o tiro acerta no
painel atrás do meu alvo.
— Isso é mais difícil do que pensei — digo examinando meu
desempenho desastroso.
— Não foi tão ruim, apenas uns quarenta centímetros à esquerda —
comenta com bom humor e isso me tranquiliza um pouco. — Não tem
problema errar na primeira vez, você nunca atirou, não tem familiaridade
com armas, temos tempo para que aprenda.
É, minha vida toda ou até que eu resolva atirar em mim mesma.
— Você não é italiano — ressalto enquanto tento novamente mirar no
alvo de papel. — Quero dizer, seu sotaque é diferente.
— Tem razão, eu sou alemão na verdade, apenas minha mãe era
italiana — contou. — Alinhe a mira ao máximo possível.
— “Era”? — indago e puxo o gatilho. Acerto a parede novamente,
porém quarenta centímetros para a direita. — Merda!
— Meus pais morreram quando eu era criança.
— Sinto muito — falei com sinceridade olhando-o. Ninguém mais do
que eu ali sabia o que significava viver sem uma família. — Meus pais me
largaram num orfanato quando eu ainda nem sabia dizer meu nome.
Atirei de novo e consegui acertar um pouquinho mais perto, o
suficiente para fazer a folha se mexer.
— Pelo menos você sabe que alguém te tirou deles, você não pôde
fazer nada — concluo olhando para o alvo ainda sem nenhum furo. Quando
vi Ettore atirar com aquele fuzil pareceu tão fácil para ele, tanto quanto para
Stefano em sua demonstração.
— Vamos tentar com alguma coisa ainda mais leve, sim? — propôs e
logo se afastou de novo, pegando da parede de armas uma pistola muito
menor, era preta e fosca. Ao me entregar, ela quase não coube em minha
mão, mas se ajustou bem melhor que a anterior. — Glock 43. Menor recuo,
encaixa bem melhor em mãos pequenas. Tente de novo e se concentre na
respiração.
Assenti e voltei a mirar, respirei fundo e soltei a respiração devagar.
Quando estava pronta, apertei o gatilho e vi a bala acertar com sucesso o
ombro do desenho.
— Bem melhor. — Ele parabenizou e me senti muito bem. Pela
primeira vez em semanas me senti realmente boa em algo, capaz de fazer
algo. — É muito cedo para tentar acertar a cabeça, então mire no peito e no
abdômen. Se a vítima não morrer na hora, com certeza morre depois.
Ele estava sendo tão gentil que me surpreendeu. Era paciente e
educado, e apesar de ter uma extensa ficha de assassinatos, por algum motivo
não senti medo dele mesmo sabendo que deveria ter. Aquele homem matava
por Ettore, colocava seus inimigos debaixo da terra ou em lugar pior. Não era
um santo.
Saí de casa antes que Violleta acordasse, mas não deixei de admirar
seu corpo nu sobre a cama. Pedi à mammà para avisá-la que hoje vamos para
a festa do capo, sei que tudo tem seu preço, não sei qual será o dele, mas
estou disposto a pagar.
Quando estou terminando de assinar alguns papéis vejo a porta sendo
aberta e Rebecca passando por ela com Carlota logo atrás.
— Desculpe, sr. Ferrari, mas não tive como impedi-la!
— Tudo bem, eu resolvo, pode se retirar.
Rebecca faz a volta e senta-se em cima da mesa. Vejo pela sua cara
que não está de bom humor. Já eu não posso dizer o mesmo, depois da noite
maravilhosa que tive com Violleta não poderia ser de outra forma.
— Vamos Rebecca, diga logo o que quer, mas já vou adiantando que
não estou com tempo!
— Pensei que você fosse passar no meu apartamento quando chegasse
de viagem! — Ela fala, fazendo bico. Minha paciência com ela, que já não é
das maiores, se esvai. Eu mereço mesmo!
— Pensou errado. Não sou nada seu para ter alguma obrigação de
passar primeiro em seu apartamento, antes mesmo de chegar na minha casa!
— Ettore, você não é mais o mesmo... — comentou encarando-me
estranhamente, então sua expressão mudou para uma conclusão interna. —
Você trepou com ela.
Olho incrédulo para ela.
— Trepou com ela e agora acha que está apaixonado. Puta merda…
Rebecca levanta da mesa e começa a andar de um lado para o outro.
Longe disso, não estou apaixonado por ninguém, mas não vou me explicar
para ela.
— Não é da sua conta, querida Rebecca, agora saía da minha sala, não
tenho mais tempo para suas idiotices! — Ela abaixa a cabeça, para em
seguida, me olha novamente.
— Isso significa que não vamos ter uma rapidinha agora?
— Não... talvez depois, agora vá antes que eu mesmo a coloque para
fora.
Ela solta um riso amargo antes de dizer:
— Essa idiota deve ter uma boceta de ouro mesmo…
Ela não diz mais nada, apenas sai da sala. Só uma mulher está em
minha mente neste momento. Quando estive fora não se passou um único dia
em que eu não a olhasse pelas câmeras, como estava muito atarefado só pode
vê-la durante a noite, e não podia acompanhar seu treino de tiro, pois naquela
sala não podia haver câmeras. O arsenal do clã estava naquela sala, não seria
prudente deixar à vista de qualquer espertinho com um computador.
Sem demora, pego meu celular, conectando-o às câmeras de
vigilância, e acesso, diretamente, as câmeras de nosso quarto, assim que entro
tenho o prazer de ver Violleta despertando do seu sono, seu cabelo está
bagunçado porém isso a deixa mais sexy, ela se levanta, fica sentada na
cama, e noto uma careta em seu rosto, talvez seja há noite agitada que
tivemos. Vejo um lindo sorriso brotar no seu rosto, para em seguida se
desmanchar, deixando-a séria, aposto que no fundo ela gostou, mas não
admitiria nem para si mesma.
Desligo o celular voltando minha atenção para o trabalho, não posso
perder tempo pois hoje ainda terei que passar na sede da máfia para resolver
algumas pendências.
Assim que dou meu dia por encerrado, venho para a sede, chegando
aqui Pietro me atualizou sobre muita coisa, enquanto estava fora tentaram um
novo ataque, porém sem êxito.
— Hoje será a festa, quer que eu fale com Stefano para fazer a guarda
pessoal de Violleta?
— Não precisa, pode deixar, quero falar pessoalmente com ele, aliás
mande-o chamar agora mesmo!
Fico olhando documentos e fazendo algumas transações que
precisava, preciso providenciar um cartão de crédito para Violleta e um
celular também, assim que termino, a porta se abre e Pietro e Stefano passam
por ela.
— Senhor? — diz com suas mãos para trás, me encarando.
— Estou reajustando sua função. — Ele confirma com um aceno. —
Quero que de hoje em diante, você faça a segurança da minha mulher, não
saia da sombra dela por nada, nem mesmo para respirar, está entendendo?
— Sim, senhor. — Acena de novo. — Se me permite perguntar, tem
algo a ver com os ataques de semana passada?
— Tem, os russos têm alguém aqui dentro, suspeito que possa ser
minha esposa. Notou alguma coisa estranha no comportamento dela nesses
últimos dias?
Stefano engoliu em seco, e pareceu pegar da memória qualquer
resposta que fosse útil.
— Não acho que seja ela, se de fato tiver um impostor aqui.
— Por que diz isso?
— A sra. Ferrari não tem nenhuma experiência com armas, não acho
que a máfia russa ou qualquer outra colocaria um espião tão despreparado
quanto ela.
— Talvez queiram que ela seja eliminada facilmente…
— Se tivessem algum interesse na morte dela, deixariam que o senhor
o fizesse e não armariam um circo tão grande na rodovia para isso.
— Em sua experiência como militar, o que me diz desse
comportamento?
— Queriam apenas assustá-lo. Matamos um deles semanas atrás, um
membro importante. Retaliação é quase esperado, querem mostrar que
continuam observando de perto.
— Vigie-a, quero ser reportado de qualquer movimento estranho, o
menor que seja — ordeno e ele assente. — Se algo acontecer à Violleta, você
morrerá de qualquer forma. Seu trabalho começa agora. Hoje acontecerá uma
festa e quero que você esteja por perto, agora pode se retirar!
Ele sai, me deixando a sós com Pietro.
— Achei que eu fosse seu conselheiro.
— Dá um tempo, eu preciso de todas as opções que tenho, se eu
falhar todos nós morremos.
— Uhum… Vamos almoçar. Você com fome é insuportável o dobro,
irmão — diz Pietro.
— Eu não estava com ciúme do alemão.
Assim que chegamos ao restaurante fazemos nossos pedidos e
enquanto esperamos degustamos um bom vinho branco. Olho na direção de
uma morena que está no balcão bebendo algo que não consigo identificar. Ela
me olha sem nenhuma discrição, oferecendo tudo o que um homem deseja,
porém, hoje não estou disposto a ser o objeto sexual de ninguém, apesar de
nunca me negar a um bom sexo.
— Você não está mesmo desconfiando de Violleta, está? — pergunta
ele.
— Desconfio até de minha sombra, Pietro.
Quando o pedido chega, fazemos nossa refeição em silêncio. Ao final
da refeição volto para a empresa, preciso terminar tudo, tenho pressa em
voltar para casa, hoje haverá a festa do capo, e quem vai fazer sua
apresentação serei eu. Dependendo de sua lealdade ou da falta dela, o
receberia na Ndrangheta com uma chuva de balas.
Chegando em casa me sento no sofá para falar um pouco com
Domenico, meu pai já não é mais o mesmo, mammà conseguiu amansar a
fera. Depois daquela noite com Violleta, temo que meu destino seja o mesmo.
— Acredite, meu filho. Não é prudente ter uma guerra no próprio
quarto quando se pode ter o paraíso — diz Domenico. — Arrisco dizer que
no seu caso, pode ser um nível acima.
Deixo um sorrisinho escapar.
Tudo que me tornei devo a ele, e não existe mulher no mundo que
possa mudar o que me tornei, não será uma boceta que vai me tirar isso.
— Tentei dominar sua mãe à força por muito tempo, fiz coisas
horrendas com ela e não me arrependo de nada — continuou dizendo. — Mas
ela me ensinou a melhor coisa sobre mulheres… O vício é mais poderoso que
o medo.
— O quê? Quer que eu vicie Violleta no meu pau? — Arqueio a
sobrancelha.
— Por que não? Se ela viciar, vai passar a te defender com unhas e
dentes, tudo o que se espera da esposa de um chefe. Você tem a vida inteira
para fazer isso e sugiro que comece o mais rápido possível.
Quando terminamos nossa conversa subo e entro no quarto, mas não
vejo Violleta, vou ao banheiro para ver se ela está lá, mas não a vejo, desço
novamente para procurá-la. Pergunto aos soldados se sabem de algo, e me
avisam que ela ainda está em seu treinamento, vou na direção do galpão para
ver como está se saindo.
Fico olhando, escondido pelo vidro fumê, seu desempenho. Ela está
indo melhor do que poderia esperar, entro na sala olhando os dois, Violleta
está do lado de Stefano ainda com a arma em suas mãos, quando percebe
minha presença me olha surpresa, mas logo percebo a mudança em sua
expressão, suas bochechas ficam rosadas e seus olhos se arregalam. Não
gostou nada de me ver chegar.
— Vejo que está fazendo um ótimo trabalho, Stefano.
— Ela é empenhada, isso já ajuda bastante.
— Isso é ótimo, mas por hoje basta, temos compromisso. Vamos
Violleta, não quero me atrasar.
Ela não responde nada, apenas passa por mim, como um furacão,
mas que diabos deu nessa mulher?
Entro no quarto logo atrás dela, tiro meu terno, a camisa social e fico
apenas de calça, me dirijo a ela, questionando-a:
— Vai me dizer qual é o problema?
— Não quero ir a essa festa! — Era só o que me faltava. — Não
depois do que houve na última.
Os tiros, a confusão. Desta vez estaríamos preparados, era diferente. E
eu não deixaria nada de ruim acontecer com ela.
— Não estou pedindo que vá, Violleta, você vai comigo. Por bem ou
por mal, por favor, não me obrigue a fazê-la ir por mal. Meu dia foi cheio
demais para ter que lidar com você também.
Ela me olha, enquanto eu massageio minhas têmporas, tentando
aliviar a dor de cabeça. Vendo que não mudarei de ideia, ela diz, entredentes:
— Eu te odeio, sabia? — Dou um passo em sua direção, mas ela não
ousa dar um passo atrás, e com isso ficamos frente a frente. A diferença de
altura me dando ainda mais vantagem sobre ela, digo:
— Você me odiou ontem à noite também? Enquanto eu metia meu
pau em você?
Levanto-a em meus braços, segurando seu cabelos para lhe dar um
beijo, ela não me rejeita, pelo contrário, me beija com fervor, rapidez e
urgência. Levanto sua blusa e a jogo na cama. Em um movimento rápido tiro
seu shorts, já com meu pau pronto para se enfiar na sua boceta, que agora está
encharcada à minha espera.
Quando entro no meu paraíso deixo escapar um suspiro de satisfação,
nunca vou me cansar dessa mulher. Soco com força, enquanto nossas línguas
se entrelaçam, em uma dança erótica. Beijo seu pescoço deixando marcas, ela
suspira de satisfação e excitação, assim como eu.
Quando chegamos ao limite vamos para o banheiro tomar um banho,
eu saio antes, deixando-a terminar o banho dela enquanto me arrumo.
Quando termino, desço para esperá-la, e me sirvo de uma dose de whisky.
— Já está tudo pronto? — Pergunto a Pietro que está do meu lado, já
pronto.
— Sim.
Quando ia responder a Pietro, vejo Violleta descendo as escadas,
maravilhosamente linda usando um vestido na cor verde, com um decote em
"V" nas costas, os cabelos em um penteado de lado, que deixa seu pescoço
esguio a mostra perfeitamente maquiado para esconder as marcas que fiz ali.
Um verdadeiro espetáculo de mulher.
Pego em sua mão indo para o carro, ela se senta ao meu lado e
fazemos o caminho curto num silêncio agradável, sem nenhum problema
durante o trajeto.
— Não estão aqui simplesmente por que não gostei de seus olhos
castanhos ou porque estavam andando por aí, à toa. Se eu não tivesse agido
primeiro, sido mais rápido e mais inteligente teriam enfiado a porra de uma
bala na sua cara! — digo em alto e bom tom, ela soluçava a cada palavra. —
Eles não merecem a sua piedade! Agora, faça o que mandei.
Com dedos trêmulos e vacilantes, ela segura a arma que estendo.
Nunca vi Violleta mais assustada, mais aterrorizada. Vou em sua direção e
fico atrás dela, coloco a pistola em uma mão e ordeno que segure firmemente
com as duas, levanto seus braços por trás, seguro a pistola, miro em um deles
e atiro. Um deles já foi, direto para o inferno com o grito de minha esposa
ecoando na sala e o sangue respingando na barra de seu vestido claro.
— Vamos lá, só faltam dois, meu bem!
— Eu não quero continuar com isso, por favor, não quero mais fazer
isso, Ettore! — Ela implora chorando, sinto o tremor em seus braços.
— Então você prefere que eu continue torturando-os? Sem problemas,
vou mandá-los novamente para a sala de cirurgia.
— Não, isso não Ettore, por favor!
— Então, vamos, conte comigo!
Ela atira enquanto conta, a cada disparo suas mãos tremem e as
lágrimas correm por seu rosto, quando finalmente termina o serviço, me dou
por satisfeito e saio de trás dela, solto suas mãos e a encaro, suas roupas e seu
rosto estão sujos, respingados de sangue. Impressionante como ela fica linda
com o sangue dos outros manchando seu rostinho de anjo, mas, ainda assim,
prefiro olhar para ela sem essa sujeira toda.
— Pronto, meu bem, a ameaça que existia contra nós foi exterminada
— falo, indo até ela para limpar sua bochecha. — E por você, bella mia.
— Você é um monstro, sabia? — Sorrio, para corroborar a sua
afirmação.
— Eu sei. Agora saia. Stefano vai levar você de volta.
Ela sai correndo da sala e eu saio logo em seguida, vou andando passo
a passo, ao encontro de Stefano e peço-lhe que siga Violleta e a leve, em
segurança, para casa, pois vou demorar um pouco mais por aqui.
Sigo para minha sala pois ainda tenho algumas coisas para resolver
hoje, ainda hoje chega minha nova remessa de armas. Pego meu notebook, e
espero algumas horas até a carga chegar, quando chega, mando Pietro checar
tudo, para saber se tudo está ok, termino o que tinha para fazer e volto para a
mansão para treinar um pouco de boxe no subterrâneo. Faz alguns dias que
não treino e já estava sentindo falta. Subo no ringue, e desafio três dos meus
soldados para lutarem comigo de uma só vez.
No começo eu não dava conta, mas agora que já passei por vários
tipos de treinamento, ninguém é capaz de me derrubar no ringue. Ter a
sensação de ossos sendo quebrados ou deslocado, é magnífico. Ao longo
desses anos, transitei por diversos tipos de luta como Judô, Karatê, Krav
Maga, Tae-kwon-do, Kung-fu, Capoeira, entre outras, e lutar é uma das
poucas coisas que gosto de fazer, é ótimo para desestressar. Quando termino,
tomo um banho rápido ali mesmo no vestiário.
Minha cabeça dói pois não consegui dormir direito, Ettore está no
banheiro tomando seu banho, provavelmente para ir para a empresa. Quando
penso que tudo o que estou passando é por causa dessa maldita empresa, o
ódio toma conta de mim. Se não fosse aquela ligação de Carlota e o meu
desespero por conseguir um emprego, eu não teria assinado sem ler, aqueles
malditos papéis, e não estaria aqui, teria seguido minha vida, teria ido à
procura de outras empresas para trabalhar.
Saio dos meus pensamentos quando vejo Ettore sair do closet,
impecável em seu terno bem alinhado.
— Acordada tão cedo, mia bella? Não vá me dizer que você teve
pesadelos?
Não suporto o deboche que ele usa comigo, e antes que eu possa
pensar com clareza, me levanto da cama, partindo para cima dele, batendo em
seu peito, enquanto grito:
— Por que você fez isso comigo? Eu não queria matar aquelas
pessoas e você me obrigou a fazer aquilo! — Ele segura meus braços olhando
para mim, enquanto eu choro, desesperada. — Eu pensei que pudesse ter
alguma coisa boa, alguma compaixão dentro de você, mas estava totalmente
enganada, porque você é um monstro.
Ele me olha demoradamente, mas não demonstra nenhuma emoção e,
sem dizer, nada sai do quarto. Recomponho-me e entro no banheiro para
tomar um banho, saio bem rápido para me arrumar, tenho que descer antes
que Ettore saia de casa. Quando chego na cozinha ele já está de saída, espero
ele chegar mais próximo, e falo baixo, receosa.
— Gostaria de pedir permissão para ir até o shopping, quero comprar
outro vestido. Preciso substituir… aquele.
A roupa suja de sangue ainda está atrás da porta do banheiro, não
consegui pegá-lo para jogar fora.
— Por mim tudo bem, hoje à noite vamos a um jantar na casa de
Leonardo e Soffia, então aproveite e compre algo especial para vestir.
Ele saí sem dizer mais nada, me sento na mesa para tomar café da
manhã e assim que termino aviso para Sandra que vou sair. Já do lado de fora
cumprimento Stefano que abre a porta do carro para que eu entre.
Quando chegamos ao shopping, peço para os soldados me darem um
pouco de espaço e apenas Stefano continua próximo a mim.
— Bom, estamos aqui, agora me diga o que tem para me dizer! —
digo, caminhando, para os soldados não perceberem nada.
— Violleta, eu sei que vai parecer um pouco estranho, mas preciso
que você confie em mim.
— Nada de bom veio depois que alguém disse isso para mim,
Stefano.
Entramos numa loja e ele pede para os três soldados extras esperarem
do lado de fora. Pega uma peça qualquer e me conduz para o trocador ao
fundo dispensando educadamente a atendente. Antes que eu pudesse sequer
entender o que estava pretendendo, Stefano entra comigo na cabine e tranca a
porta. Estamos espremidos um contra o outro, ele toma todo o espelho da
parede com suas costas largas. Está olhando para mim tão de cima…
— Eu sei quem é seu pai — sussurra contra minha boca, nossas
respirações se misturam, os olhos dele estão perto. Um arrepio me invade e
tento me controlar à luz daquelas palavras.
Estou incrédula, não é possível, não mesmo, será que o mundo seria
pequeno o bastante para que eu conhecesse alguém que tivesse conhecimento
do paradeiro dos meus pais?
— Como assim? Eu fui deixada num orfanato, não tenho pais.
— Eu sei que não faz sentido, mas também sei que não é o que você
pensa.
— Quem é meu pai? — pergunto, sem rodeios, de uma vez e ele me
olha, pensativo, e fala, também sem rodeios:
— Seu pai é uma das cabeças da Bratva.
— Bratva? — Com alguma dificuldade lembro-me do atentado ao
carro na rodovia. Aquela foi a palavra que o motorista gritou antes de todo o
caos se erguer e eu levar um tiro. — Então, se for verdade, ele me odeia mais
do que eu pensava. Se me lembro bem eles foram os responsáveis por tentar
me matar no meio da estrada! Sendo meu pai ou não, ele me quer morta.
Stefano desvia o olhar parecendo impaciente e temeroso de que
alguém nos interrompa.
— Aquilo não foi uma tentativa de execução, Violleta. Foi uma
tentativa de resgate.
Está ficando cada vez mais absurdo para acreditar. Toda a minha vida
foi passada na crença de que minha família não me queria, que meus pais me
abandonaram naquele buraco e agora Stefano, o matador número um da
Ndrangheta, me diz que os tais russos estavam tentando me resgatar? E que o
chefe deles era meu pai?
Poderia muito bem ser um teste de Ettore. Queria provar que eu
estava envolvida com seja lá o que for e iria traí-lo.
— Por que eu deveria acreditar em você? — perguntei.
— Eu poderia ter minha cabeça arrancada só por estar aqui assim com
você, Violleta. De ambos os lados do conflito — sussurrou voltando a me
encarar.
— Você não me ensinou aquilo tudo para que eu soubesse me
defender, fez aquilo para que eu matasse para ele. — falei, amarga. — A
única pessoa que ainda tem o que perder aqui sou eu, Stefano. Então, eu não
acredito em você.
Ele para um segundo, nossos olhares estão presos um no outro. Seu
hálito de maçãs sopra em meu rosto a centímetros de distância e quero
acreditar que seja real, que não é mais um jogo de Ettore e que ele não está
usando o único amigo que eu tenho para dar-lhe motivos para se livrar de
mim. A boca de Stefano se encaixa na minha, sinto sua língua separar meus
lábios e meu corpo se incendeia quando ele se afasta, sinto minha entrada se
apertar em si mesma. O estalo do beijo continua na minha cabeça, e volto a
encarar seu rosto, sua boca… O peito dele sobe e desce arfante como o meu.
Num acesso de loucura o braço dele se enrola em minha cintura, me
pressionando contra a parede e novamente sua língua se encontra com a
minha. A boca dele é macia e se move tão deliciosamente que sinto minha
cabeça ficar leve e meu corpo totalmente excitado! Ele segura meu rosto com
gentileza enquanto me beija profundamente e nunca me senti tão quente na
vida.
— Agora eu tenho o que perder — murmura contra minha boca,
seguido de um último beijo rápido. — Eu só estou aqui por você, Violleta.
Você é minha missão.
Continuávamos colados um no outro, se algum dos soldados nos
pegasse ali estaríamos mortos! Stefano seria assassinado da pior maneira
possível e eu sabia que Ettore tinha o dom de fazer a morte demorar a chegar.
— Quando Ettore me pediu para investigar você ainda não tinha
certeza, mas agora sei que é você. Você é Aurora Petrova, filha de Ivan
Petrov — disse antes de descer os dedos delicadamente por minha face. — E
você tem os olhos da sua mãe…
Sinto as lágrimas encherem meus olhos, o choro apertar minha
garganta e um arrepio subir por meu peito. Há muito tempo não me sentia
assim, provavelmente nunca deveria ter experimentado isso, mas podia dizer
que o que eu estava tendo se assemelhava ao que chamavam de “esperança”.
— Tudo que precisa saber é que seu pai sempre esteve à sua procura e
que ele quer encontrar você mais do que todo o dinheiro e o poder do mundo.
Ele ama você.
Não posso acreditar nisso. Ettore sempre soube da verdade e nunca
me disse nada, se casar comigo não foi uma coincidência, foi uma estratégia.
Ainda que eu não tivesse assinado aqueles papéis, não conseguiria escapar
dele. Como fui estúpida esse tempo todo.
— Por favor, me ajude a fugir, Stefano. Eu imploro, eu não aguento
mais!
— Mas é claro que vou lhe ajudar, Violleta, estou aqui para isso, para
te tirar daquele lugar. Mas precisamos ser cuidadosos, os Ferrari são
perigosos demais, então preciso que você continue agindo naturalmente,
como se nada tivesse mudado, pois Ettore é muito esperto, e se acaso ele
souber, ou ao menos desconfiar, nós morreremos antes de sequer tentar algo.
Ouço atenta tudo que ele diz, depois de alguns minutos tentando
assimilar tudo, resolvo comprar algumas coisas para que ninguém desconfie
de nada. Finalmente conseguirei me livrar desse pesadelo, e talvez ser feliz.
— Antes de tudo preciso ir a um lugar — disse a ele. — Preciso de
um anticoncepcional.
ncontrei Aurora Petrova.
E O ponto final de uma missão de três anos, e de mais de vinte para
Ivan… Porém nunca poderia imaginar que chegaria a experimentar sua
boca como fiz saindo completamente da linha. Tê-la beijado daquele jeito
poderia se tornar o meu passaporte para o inferno, mas encarando seus olhos
azuis cheios de esperança me fizeram perceber o quanto eu precisava cumprir
aquela missão.
Na máfia você sempre sofre as consequências e ela lhe dá de presente
mesmo você não querendo, é um pacto para o resto da vida e infelizmente eu
tinha uma dívida com aquele mundo. Eu não havia mentido para Violleta,
perdi meus pais num ataque e desde então tudo tomou um rumo tão cruel… E
tão específico.
Meu pai era conselheiro de Petrov, cresci cercado pela família dela e
fui tratado por seus pais como se fosse filho deles. Quando meus pais se
foram na mesma noite em que Violleta foi levada, o próprio me criou como
filho, e isso me coube sacrifícios específicos. Assim que completei dezoito
anos, Ivan me enviou para o SVR russo. Durante cinco anos eu me
transformei no melhor soldado, o melhor espião, o homem de várias faces.
Sua arma perfeita, desenvolvida com um único propósito. E quando chegou a
hora, fiz algo digno do governo russo inteiro dormir com um dos olhos
abertos toda noite e me tornar um assunto de segurança interna gravíssimo.
Agora eu era alemão, era capacitado, e um expatriado. Isso chamou a atenção
dos Ferrari e não demorou muito para Ettore me encontrar e me querer
desesperadamente que eu fizesse parte de seu time de elite. Pouco a pouco eu
me arrastei por baixo da pele daquele clã maldito.
Quando estávamos perdendo as esperanças, vi Violleta pela primeira
vez, já casada com Ettore. Eu tinha certeza que era ela, pois suas feições eram
a reprodução perfeita das de sua mãe, Ivana, mas tive comprovação no dia em
que vi Violleta no jardim, desenhando. E como o destino não poderia ser
mais irônico, ela desenhava o rosto da própria mãe, sem saber. Agora tudo
que tenho que fazer é tirar Violleta das garras de Ettore, e levá-la para o seu
pai e para o lugar de onde ela nunca deveria ter saído e finalmente cumprir
minha missão.
Estou aqui para devolver uma garota ao pai, mas isso não faz de mim
um santo, muito menos um herói. Sou um monstro e não posso negar, porém
beijar Violleta Petrova me tornou algo ainda pior.
tefano pareceu preocupado quando mencionei o anticoncepcional, mas
S concordou em parar numa farmácia antes de seguirmos para casa, tinha
feito sexo várias vezes com Ettore sem nenhuma proteção ou medicação, e
eu não queria acabar grávida estando prestes a finalmente sumir da vida dele.
As consequências que isso traria… Chegando na farmácia, entro sozinha,
compro coisas aleatórias, para não chamar atenção por não ter levado nada, e
me dirijo ao atendente:
— Bom dia, vim aqui há algumas semanas, não sei se lembra de mim
— digo ao mesmo rapaz que me atendeu quando saí do hospital e ele pareceu
me reconhecer. — Preciso tomar aquele remédio…
— Perdão senhora, mas todas as injeções estão em falta!
Provavelmente chegarão na semana que vem.
Bate o desespero, pois não posso ficar sem essa injeção, não quero
correr o risco!
— Então o que eu faço? — O rapaz dá um sorriso, como que se
desculpando e fala, calmamente.
— A senhora pode tomar a pílula anticoncepcional, o efeito é o
mesmo e posso lhe vender para três meses também.
— Não tenho outra escolha, não é? Então me dê o mais eficiente.
— A senhora já tomou esse tipo de medicação antes?
— Não, nunca — respondo um pouco ruborizada.
— Então devo avisar que a pílula só atinge a eficácia prometida
depois de um mês de uso, até lá é mais seguro usar preservativo.
Engulo em seco. Mais essa? Como eu era ingênua sobre esses
assuntos! Achava que bastava tomá-las e pronto!
O rapaz pega a caixa de comprimidos, me entregando logo depois,
assim que pago por tudo saio do local, e entro no carro. Tenho que ter muito
cuidado para esconder esses comprimidos, pois se Ettore descobrir, estou
morta, sem dúvidas.
Durante o caminho de volta não consigo pensar em outra coisa a não
ser as revelações de Stefano. Minhas mãos suam, meu coração está acelerado.
Agora sei que tenho um pai, uma família que está procurando por mim, que
não era o que eu estive pensando desde sempre. Pela primeira vez eu tinha
opção, porém ainda havia tantas perguntas! Não vou arriscar minha vida
contrariando Ettore. Não sei se tenho razões para estar feliz, pois pelo que
Stefano falou, meu pai também é da máfia. Quando foi que tudo
desmoronou?
ETTORE FERRARI
Assim que terminarmos o jantar, voltamos para casa, Violleta está
muito pensativa, posso dizer que até um pouco nervosa. O silêncio dela, seu
estado de espírito, me incomodam ainda mais depois do oral delicioso que fiz
nela. Percebi que prefiro ouvi-la falando, mesmo quando seja para brigar
comigo e me afrontar. Seu silêncio é algo com o que não sei lidar. Eu sinto
vontade de simplesmente contar que sei sobre o anticoncepcional, eu o havia
achado mais cedo antes que saíssemos para a casa de Leonardo. Eu a tinha
visto esconder a medicação embaixo da cama pelas câmeras.
No primeiro momento não senti nada, não esbocei reação, não quis
quebrar nada nem mesmo xingar. É duro confessar, mas senti como se tivesse
levado um tiro. Violleta, embora parecesse enlouquecer comigo madrugada a
dentro e sentir mais prazer, não queria ter um filho meu. E pensar que foi por
esse motivo que tive de obrigar alguém a se casar comigo. Eu era um
monstro, um desgraçado fodido… Violleta sabia disso, fiz questão que
soubesse naqueles últimos três meses em que estivemos casados.
Estou sentindo coisas desde aquela noite, estou tentando reprimir esse
sentimento, mas fica mais difícil a cada dia que se passa, sei que ela me acha
um demônio, e realmente sou, e não posso mudar isso, por que o estrago já
está feito.
VIOLLETA FERRARI
Entro no carro aérea, tentando encontrar uma forma para conseguir
ajudar Soffia sem que ninguém me descubra. O mais provável é que eu fuja
também, então, não tenho por que temer as consequências do que farei, certo?
Olho para Ettore, que me olha fixamente, meu coração diz que tem algo de
errado, meu subconsciente diz para pular desse carro, mas não farei isso. Não
vou correr riscos por causa de Ettore, ele não merece nada de mim, nem
mesmo minha morte.
— Tenho mais uma coisa para você hoje. — Olho para Ettore, já do
lado de fora do carro, estendendo sua mão para que eu possa pegá-la.
Dou um sorriso lembrando-me do sexo delicioso, mas muito
apreensiva pelo que poderia ser. Ettore era imprevisível, ainda mais quando
era gentil.
— Está tudo preparado! — Um de seus soldados diz, o que me deixa
ainda mais confusa quando tomamos a direção dos fundos da casa.
Não consigo dizer nada, minhas pernas ficam bambas, pois não sei o
que esperar. Ele me conduz, passando pelo jardim, vamos andando até que
avisto uma mesa com velas em meio a várias rosas, tudo está impecável para
um lindo jantar romântico. Automaticamente meu corpo relaxa, não é nada
do que pensava, talvez esteja muito nervosa com essa história toda que
Stefano me contou.
— Eu sei que já jantamos, porém queria que fossemos somente nós
dois neste fim de noite — disse.
Ele afasta a cadeira para que eu possa me sentar, depois faz a volta na
mesa sentando-se também. Um garçom se aproxima nos servindo de
champanhe, e depois dos nossos copos cheios, ele levanta sua taça.
— Quero propor um brinde! — Ele abre um largo sorriso me
assustando.
— E eu posso saber o que nós estamos comemorando? — Ele me
olha, desfazendo o sorriso, e nesse momento sei que tem algo de errado,
talvez eu tenha cantado vitória cedo demais.
— A sua gravidez, é claro, querida! — Nesse momento meu mundo
desmorona. — Somos sexualmente ativos e não usamos preservativo, e a não
ser que eu tenha sido azarado o suficiente para escolher uma esposa estéril,
acho que você já está esperando um filho meu. Porém, eu descartei essa
possibilidade quando achei isso!
Ele tira do bolso o anticoncepcional e eu sinto como se um abismo se
abrisse sob meus pés, as lágrimas vêm como um tsunami e eu temo pelo que
acontecerá comigo, Ettore não aceitará minhas lamentações. Cheguei a
pensar no início da noite que teria ao menos um pouco de sossego, mas
estava enganada e agora tudo o que eu queria era sumir!
— Tudo que você deveria fazer era trazer uma criança ao mundo, mas
você preferiu me contrariar. — Ele fala, de modo tão calmo, que fico com
ainda mais medo, mas não posso me acovardar, então enfrento-o.
— Não vou colocar uma criança para viver nesse mundo de merda,
você é um monstro e eu jamais deixaria que meu filho se tornasse algo
parecido com você.
— ESTA É A MINHA VIDA, PORRA! — Ele grita, exasperado,
virando a mesa para longe de onde estamos. Meu coração quase sai pela
boca, grito de susto! Você não pode mudar como as coisas são!
— O que vai fazer?
— Não vou violentá-la, pois sou um homem que não aprecia este tipo
de coisa, mas você vai engravidar, Violleta. Não quero mais saber de você
tomando esta merda, e caso não tenha um filho meu nos próximos meses,
você irá para um dos bordéis da famiglia, e lá, eu garanto, você não terá
escolha muito menos a vida boa que eu te dou!
Ele segura meu braço, me puxa e passamos pelo bosque que fica atrás
da propriedade, olho para frente, tem um celeiro, e algo que penso ser um
depósito, nunca quis me aventurar pela propriedade para não causar
problemas, então não estou familiarizada com este lado. Fico cada vez mais
assustada, quando nos aproximamos mais da propriedade.
— Por que me trouxe aqui, Ettore?
— Para você pensar um pouco sobre as suas afrontas e desaforos,
acredito que ficar aqui despertará o seu instinto materno.
Ettore abre as portas, e de imediato meu estômago revira por conta do
mau cheiro, e eu gostaria de não saber o motivo daquele cheiro horrível,
porém, sei que vou descobrir mesmo a contragosto. Ele me joga para dentro
do celeiro. Tropeço, caindo no chão e me deparo com um cadáver! Está roxo
e de aparência horrível! Mal se parece com uma pessoa.
Dou um grito, me levanto, correndo para seus braço, mas ele me
afasta, dizendo com escárnio.
— Esse será seu castigo por me desobedecer, me desafiar; e agradeça
por não estar sendo torturada, por não estar apanhando ou coisa pior.
Agradeça, porque lá no fundo, eu gosto de você, e não quero que passe por
isso novamente Violleta, se você colaborar não precisará passar nunca mais!
Ele se vira, fecha as portas e me deixa na escuridão. Fico desesperada
gritando, enquanto bato nas portas, sinto alguma coisa passar pelos meus pés.
Tento enxergar em meio a escuridão e quando consigo habituar meus olhos,
vejo que se trata de um rato, volto a bater nas portas, grito a plenos pulmões,
mas é em vão.
Com o mau cheiro, o medo e o nervosismo que sinto, acabo
vomitando todo o jantar de horas antes, quando termino, caminho tentando
encontrar algum lugar seguro, onde eu possa descansar. Ainda não acredito
que terei que passar a noite nesse lugar, me encolho em um canto, o mais
afastada possível do cadáver.
Não vou suportar passar mais de uma noite aqui, Ettore Ferrari não
sabe o que lhe espera, quando sair daqui vou ajudar Soffia e logo depois, com
a ajuda de Stefano, eu também vou embora.
VIOLETTA FERRARI
TRÊS DIAS DEPOIS.
Ando de um lado para o outro, hoje faz três dias que Soffia foi
embora, e estou preocupada pois ela ainda não entrou em contato comigo.
Talvez seja melhor assim, ela ficará mais segura se não nos comunicarmos.
Soube, por alto, que Leonardo está enfurecido como o próprio diabo na terra
para descobrir o paradeiro da esposa. Fico feliz que minha amiga esteja bem
longe disso tudo, e espero que jamais volte para as garras desse monstro.
Mas, não é só pela falta de contato de Soffia que estou aflita assim.
Stefano me disse que amanhã é o grande dia, finalmente, o sofrimento que
me foi imposto terá fim e vamos fugir. Estou feliz, mas também desesperada,
e muito, muito apreensiva, pois, se algo der errado, morreremos, os dois.
Temo, principalmente, pela vida de Stefano, jamais me perdoaria se algo de
ruim acontecesse a ele por minha culpa, nem ao meu bebê. Era arriscado para
todos.
Fico atenta quando Ettore entra no quarto onde estou desde do dia em
que peguei ele com Rebecca, ele se senta na poltrona tirando seu terno,
quando encosta na poltrona, solta um suspiro.
— Esses dias não tem sido fácil, sabia Violleta? — Ele diz, me
encarando. — Leonardo está infernizando todos ao seu redor, ele é meu
melhor capo e olha, que são muitos, por diversos países. Ele está pedindo
minha ajuda para encontrar Soffia. O problema é que não gosto de perder
meu tempo com coisas desnecessárias!
Ele apoia os braços sobre os joelhos, se inclina para a frente, continua
me encarando e eu, continuo sentada na cama.
— E por que você está me contando isso? Não tenho nada a ver com
esse assunto, e não acredito que eu possa ajudá-lo. — Tento parecer
confiante, porém sinto meu coração batendo na garganta. Ettore dá um
sorriso de lado, como se detivesse uma informação que ninguém mais tinha.
— Você se engana... Pelo contrário, você tem tudo a ver com este
assunto, e sabe do que me lembrei, do dia da festa? — Balanço a cabeça em
negativo. — Que você, querida esposa, passou um bom tempo conversando
com Soffia, e, quando saímos, se bem me lembro, estava muito nervosa. Sem
dúvidas, ela comentou algo com você!
— Não seja imbecil, Ettore! — digo ficando de pé. — Soffia jamais
falaria algo sobre isso, para mim sabendo de quem sou esposa.
Ettore também fica de pé, ele se aproximar mais de mim.
— Violleta... Violleta... Violleta... Estou no ramo há tempo suficiente
para saber quando uma pessoa está mentindo. Não se esqueça que identifico
inimigos todos os dias, lido com pessoas que têm experiência em enganar,
mentir, blefar, então, não banque a espertinha comigo, querida. É melhor me
dizer o que Soffia lhe disse naquela festa, e onde ela está agora, porra! — Ele
grita, me deixando apavorada, e fazendo minhas lágrimas escorrerem pelo
meu rosto.
— Ela não me disse nada, Ettore, e se não confia na mulher com a
qual se casou, eu sinto muito, mas, não tenho nada para lhe dizer! — Ele
segura meus braços, apertando, e sinto que está se controlando para não me
machucar.
— Violleta, ouça bem, eu não quero lhe fazer nenhum mal, acredite
em mim, porém, você já me deu provas de que não merece minha confiança.
Enquanto isto estava entre nós dois, eu podia lidar com a desconfiança,
porém, agora, tem um marido atrás de sua mulher, você deve saber que
Leonardo não é uma pessoa muito amigável, principalmente, quando está
descontrolado, então se você sabe de alguma coisa, não me obrigue a fazê-la
falar sob tortura, porque é isso o que vai acontecer. Não tolero traição, e isso
é o que está acontecendo nesse momento, porra!
E agora como vou sair dessa? Ettore não pode fazer nada que possa
me machucar, pois estou grávida. Eu jamais colocaria a vida do meu filho em
risco, mas, por outro lado não posso contar que estou grávida.
le me segura pelo braço e me tira do quarto, me arrastando pelo corredor
E que leva até o quarto escuro. Ettore continua segurando meu braço
enquanto desce as escadas. Quando chega em frente a porta, do tal quarto,
ele abre e me joga para dentro. Caio de joelhos no chão, coloco minhas mãos
sobre minha barriga, em uma tentativa, desesperada, de proteger meu bebê, e
minhas lágrimas caem no chão frio. Em uma fração de segundos ele rasga
meu vestido e me deixa somente de calcinha.
— Você se lembra do que eu lhe disse da última vez que estivemos
aqui?
Ele faz a volta por trás de mim, ouço um barulho no fundo do quarto,
e, quando me viro para ver do que se trata, vejo Ettore, caminhando em
minha direção, segurando um chicote, e o desespero toma de conta de mim.
— Eu disse a você que esse quarto não foi criado para dar prazer...
Minha imaginação vai longe quando estou aqui para castigar alguém,
principalmente, se for alguma puta, como você faz questão de chamá-las.
Mas, quando trago alguma delas para cá, garanto a você que elas gostam do
castigo, porém, acredito que você não vai gostar, por isso, espero que você
me diga o que eu quero saber!
— Já lhe disse que não sei de nada! — Eu grito, chorando, a ponto de
implorar, se for necessário.
— Resposta errada, minha querida. — Ele desfere a primeira
chicotada, e sinto arder a minha alma. Arqueio meu corpo, para amenizar a
dor que sinto, minha vontade é de sair correndo, mas sei que não tenho para
onde ir nesse momento, sinto algo escorrer pelas minhas costas. — Não me
obrigue a fazer isso com você… Eu juro que não quero, Violleta, mas, você
não facilita as coisas, e sei que Soffia lhe falou algo, então me diga o que foi.
Entre lágrimas, soluçando, consigo balbuciar.
— Não vou falar nada, está perdendo seu tempo!
— Tenho todo o tempo do mundo.
Depois da primeira, foram outras cinco chicotadas, posso sentir o
sangue escorrer pelas minhas costas, não tenho forças para aguentar isso por
muito tempo, ele vai acabar matando meu filho, deitada no chão, de bruços,
tento olhar para ele, que está com sua blusa cheia de respingos de sangue.
— Ela não me falou nada! — Respiro fundo, e falo, baixo, sentindo
dor em cada célula do meu corpo. — Apenas que tudo estava pronto para a
sua fuga. E para a minha segurança e a segurança dela mesma, preferiu não
me dizer para onde estava indo. Eu juro que não sei de mais nada!
— Se era apenas isso, por que não me disse logo, Violleta? Você
preferiu passar por tudo isso para salvar a vida de outra pessoa. — Ele fala,
baixo, abaixando-se ao meu lado e me levanta do chão em seus braços. Sinto
minhas costas arderem onde seu braço encosta, mas ele me leva para o nosso
quarto me deitando na cama de bruços.
Vejo-o indo para o banheiro e quando volta traz uma maleta de
primeiros socorros nas mãos. Ele passa alguma coisa gelada em cada
centímetro dos ferimentos, depois põe uma pomada para finalizar. Mas,
depois coloca algumas faixas ao redor do meu corpo, para tampar os
ferimentos e só depois volto a me deitar de bruços.
Continuo ali, de bruços, chorando, enquanto ele vai até o banheiro e,
passados alguns minutos, ele volta, usando somente calça de pijama, se senta
muito próximo a mim, me encarando, passa a mão sobre meu rosto, e as
lágrimas que rolam dos meu olhos molham suas mãos.
— Você vai lamentar tudo que me fez passar, só não sabe ainda. Vai
pagar por cada lágrima que derramei por sua causa. — Ele me olha, e posso
ver uma grande tristeza nos seus olhos, porém acho que devo estar delirando
pela dor que sinto, pois esse homem não tem piedade.
— Se um dia eu sofrer, será merecido. Agora durma, você precisa
descansar! — Fecho meus olhos, e deixo que o cansaço e a dor, me dominem.
“Ettore,
Hoje estou muito feliz por estar me vendo livre de você, porém sinto
um grande vazio no peito, por estar saindo assim como uma fugitiva, quando
na verdade só estou indo atrás da minha liberdade que foi roubada por um
monstro como você. Mas tem uma coisa que está me incomodando, por que
eu deveria te odiar, com todas as minhas forças, mas quando você me
mostrou o verdadeiro Ettore, ao se declarar para mim, percebi que esse
chefe da Ndrangheta não passa de uma carcaça, uma armadura que você
criou e mantém por conta das batalhas.
Sandra estava certa. Esse não é você.
Fico feliz que você tenha finalmente aberto o coração, e mesmo não
confiando em você, sei que tudo o que disse é verdade. Porém, não posso
continuar vivendo com o demônio porque o anjo é covarde demais para lutar
contra ele, essa luta é sua e ter me arrastado para ela não vai mudar isso.
Não serei hipócrita dizendo que quero o melhor para você, pois
espero que sofra muito até conseguir se libertar de verdade; que sinta tanta
dor quanto me fez sentir nesse pequeno período em que passamos juntos.
Espero nunca mais ver você.
E que o filho seu que carrego agora nunca conheça o inferno que é
estar ligada a você.
Adeus.
— Violleta.”
VIOLLETA PETROVA
Durante o trajeto para onde Stefano disse que era minha verdadeira
casa, mal consigo conter a ansiedade. Desde que entramos no pequeno avião
particular, até pararmos na Grécia e depois na última descida em Istambul,
não consigo parar de tremer. Estou morta de medo. A presença de Stefano me
faz bem, mas não diminui meus pensamentos. E se esse homem não for meu
pai? E se ele estiver errado? E se não me reconhecer ou me rejeitar? Não terei
para onde ir.
Mesmo assim, fico impressionada quando passamos pelos os grandes
portões, a segurança é a mesma de sempre, um verdadeiro batalhão no alto
dos muros, mas a casa parece muito mais arejada e bonita que a de Ettore. Na
verdade, parecia mais um antigo palacete, com paredes de pedra e grandes
janelas. Era mais aberto, com mais verde e numa encosta alta próxima ao
mar. Eu conseguia sentir o cheiro salgado do litoral e isso me fez tão bem.
Quando Stefano estaciona o carro em frente a enorme porta de
madeira, ele desce para abrir a porta do carro para mim. Fico intimidada ao
ver a fileira de empregados esperando à porta, em posições serenas e rostos
pacíficos. Esperando por mim?
Caminhamos pelo cascalho da entrada e cumprimento todos as
pessoas em pé ali, e vejo sinceridade em todas as saudações. Ao erguer meus
olhos para o alto dos degraus da entrada vejo um homem em pé ali. Esguio,
grisalho, e não está sorrindo. Aproximamo-nos cada vez mais e acabo vendo
que seu rosto está congelado em aflição olhando para o meu, tentando me ver
direito. Posso ver seu peito subir e descer sob as roupas, está tão nervoso
quanto eu.
Stefano segura minha mão caminhando para uma porta de vidro que
se abre quando nos aproximamos. Ficamos frente a frente enfim, e percebo
que ele é um pouco mais alto que eu, vejo as rugas nas laterais dos olhos, a
barba por fazer grisalha e o rosto bem feito.
— Saí daqui há uma década com a promessa de que a traria de volta
— disse Stefano ao meu lado. — Hoje eu a cumpro e te entrego sua filha,
Aurora Petrova.
O homem não para de me olhar, acho que nem ouviu o que Stefano
falou, e hesitante deu um passo na minha direção erguendo sua mão na
direção do meu rosto. Parou um pouco, como se pedisse minha permissão
para me tocar, e respondendo a essa pergunta silenciosa, tomei sua palma e a
encostei em minha bochecha.
Eu pude jurar que algo se destravou dentro de mim. Uma espécie de
emoção incontrolável, de felicidade e êxtase, tão forte que as lágrimas
escorreram sem muito esforço e eu só pude sorrir com aquilo. Ele sorriu
também, extremamente emocionado e logo pousa a outra mão em minha face.
— Você ainda tem os olhos dela… — sussurra encostando sua fronte
na minha com tamanho carinho que me faz soluçar. — Os olhos dela…
Chega mais perto e então me abraça, e eu retribuo. Sinto algumas
pontadas nas costas, mas tendo não gemer para não chamar a sua atenção
para elas, pois não sei como ele reagiria ao saber que estou ferida. Entretanto,
só consigo me deixar afogar no perfume bom e doce dele fazendo uma
sensação de paz se espalhar por meu ser.
Estou finalmente com meu pai, e apesar de todos esses anos afastados,
tenho um amor muito forte por ele. Ele alisa o topo da minha cabeça fazendo
carinho de leve e ficamos assim por um momento, só apreciando a presença
um do outro, aproveitando cada segundo, até que ele me solta.
— Minha filha, senti tantas saudades. Foram infindáveis noites sem
dormir, esperando por esse momento, meu amor.
— Tive medo que não me reconhecesse… pensei a vida inteira que
tinham desistido de mim.
— Nunca desisti, minha querida. Você está em casa agora… está
segura e não vou deixar que nada de ruim aconteça a você.
Eu quero responder, mas não sei como devo me dirigir a ele. Fico
indecisa se devo chamá-lo de pai, senhor, ou simplesmente Ivan.
Saímos abraçados, rumo às escadas, olho para trás e Stefano me dá
um aceno, seguido de um sorriso ficando no hall. Chegamos a um longo
corredor e ele para em frente a uma porta cor de rosa claro. Quando abre fico
emocionada. Desenhos belos nas paredes, bichinhos de pelúcia por todo o
lugar… Era um quarto de bebê.
— Esse era o seu quarto — diz com os olhos cheios de lágrimas. —
Eu o mantive intocado desde que foi tirada de nós.
Entro para observar melhor o lugar, vejo várias fotos de uma
menininha linda, que sei que sou eu junto com a mesma mulher que eu
desenhava, que aparecia nos meus sonhos. Era minha mãe… O rosto em
meus pensamentos, em minhas telas. Tudo parece novo, como se ninguém
tivesse usado nada do que tem aqui.
— Onde ela está? — perguntei, queria conhecê-la, queria dizer a ela
que eu estava bem.
— Depois que você se foi, ela não aguentou. Nunca aceitou o seu
desaparecimento. Se ainda não fiz nada contra Domenico é por que ainda
tinha esperança de encontrá-la, e agora que a encontrei, não há mais nada que
me impeça, e dessa vez, não vou deixar passar!
— Domenico? — perguntei sem entender.
— Você não sabe? — Ivan suspirou. — Domenico tirou você de mim,
minha filha. Ele é o grande culpado por você ter passado o que passou.
Aquilo estava confuso demais. Como o pai de Ettore poderia ter sido
responsável por meu casamento se foi pura coincidência eu ter aparecido
naquele escritório?
— Deve haver algum engano, casei com o filho dele por acidente.
Assinei um contrato de casamento por engano, como ele pode ser o
responsável por isso?
Ivan sentou-se numa poltrona no canto e suspirou.
— O quê?
— Eu não estava com os Ferrari esse tempo todo — revelei. — Passei
minha infância e minha adolescência num orfanato perto de Vibo Valentia.
Ter casado com Ettore foi um acidente.
Eu esperava que aquilo não significasse que eu estava errada e que ele
não fosse mesmo meu pai.
— Não foi um acidente, querida. Foi uma coincidência — concluiu.
— Uma enorme e infeliz coincidência. Domenico foi o homem que te raptou.
— Por que ele faria isso? Eu não entendo!
— Pelo mesmo motivo que todos fazem. Poder.
Então ele me contou. Na época estavam prestes a selar um acordo que
deixaria ambos no topo de suas cadeias alimentares. Ambos dividiriam rotas
de negócios, parceiros e influência. Tudo estava acertado, porém a ganância
de Domenico o fez decidir que guerrear com o clã Petrov o traria muito mais
lucros. As duas famílias entraram em guerra, e os Ferrari tomaram dele os
irlandeses e os mexicanos, principais veículos de comercialização de armas e
drogas.
— Ele é um filho da puta ganancioso e o filho dele não é diferente —
terminou com dureza e ódio na voz e contive o impulso de tocar meu ventre.
— E quando a hora chegar, querida, vou matá-lo e trazer o coração dele numa
bandeja. Eu prometo que vou estripar aquele…
— Eu estou grávida.
Soltei num único fôlego atraindo o olhar chocado dele.
— Estou grávida de Ettore Ferrari.
— Minha nossa — diz surpreendido, chocado.
— Eu não tive escolha… — Meu medo aumenta, medo de que ele me
jogasse para fora como se eu fosse nada ao saber disso. — Tentei tomar
contraceptivos para evitar isso, mas ele descobriu e…
— Ele… — sua voz falha. — Ele forçou você? Ettore te violentou?
— Não, disse que não era esse tipo de homem, mas houve vezes em
que…
Sou interrompida por um riso amargo de desconfiança de Ivan.
— Eu sinto muito. Não é o que eu queria, acredite em mim, eu nunca
colocaria um filho no mundo com aquele monstro. Mas vou entender
perfeitamente se o senhor quiser que eu vá embora depois disso.
— Não — disse se levantando e voltando a se aproximar de mim,
envolvendo-me em seus braços. — Não, eu não quero você longe de mim
nunca mais, meu amor. Porém… Se você não quiser ter esse filho, eu posso
cuidar para que…
Ele estava mesmo sugerindo isso? Gelei inteira. Nunca poderia fazer
algo assim.
— Não! Não. Eu não sou capaz disso. Aliás — olho novamente o
porta-retratos —, tenho certeza de que não é o que ela faria.
— Está certa. Sua mãe nunca iria querer isso para você, portanto,
também não quero. Só quero que saiba que agora tem todas as opções do
mundo e é livre para fazer o que quiser.
— Obrigada… pai.
Ele sorri ao ouvir aquela palavra.
— Agora venha, vou lhe mostrar onde vai ficar.
Diferente do outro quarto, este tem uma aparência mais adulta, mas
não perde o charme feminino. Tudo muito luxuoso, mobiliado com móveis de
qualidade, em tons claros com detalhes dourados. Elogio cada canto daquele
cômodo e posso ver sinceridade em sua expressão de orgulho por ter me
agradado.
E assim, eu e meu pai passamos o resto da tarde na varanda. Ele
conversa comigo tão amigavelmente que o medo inicial de ouvi-lo gritar
comigo ou me repreender por algo que eu disse se dissipa. Ivan Petrov é uma
companhia extremamente agradável, e seus olhos, ao contrário dos olhos dos
Ferrari, são gentis e carinhosos. Conta-me sobre a propriedade, sobre sua
sede em São Petersburgo, em como lá é lindo e sua vontade de me mostrar as
famosas noites brancas no barco da família.
Tudo isso parece tão mágico, tão bom para ser real… Mal vi que a
noite havia chegado e que estávamos juntos há horas. O relógio de pulso dele
marcava quase onze da noite, então Ivan decidiu se despedir.
— Vou deixá-la em silêncio um pouco, amanhã temos muito mais a
conversar. Agora, descanse, querida.
Ele dá um beijo no topo da minha cabeça, olho para ele saindo do
quarto, e nem posso acreditar que estou ao lado do meu pai, isso parece um
sonho. Não posso crer que ele me aceita, que é carinhoso, que me quer perto
dele e mal se passou um dia!
Fico um bom tempo deitada na cama, até que crio coragem para me
levantar e ir para o banheiro, ligo o chuveiro, tiro minhas roupas, enquanto a
água esquenta, e em seguida, entro embaixo do chuveiro. Sinto-me relaxar, à
medida que a água quente escorre pelo meu corpo, pego o sabonete e vou
deslizando pela minha pele, quando chego na minha intimidade, fico
ofegante. Não havia mãos masculinas ali junto às minhas, apenas eu e o
silêncio. Havia dias que não fazia sexo, e por mais que eu odeie admitir, meu
corpo instintivamente pede por isso.
Mas isso terá que mudar, pois não pretendo ter suas mãos sobre mim,
nunca mais.
Saio do banho enrolada na toalha, entro no closet para ver se tem algo
que eu possa usar, e opto por um camisetão, mais discreto e menos nua, ao
invés das várias camisolas sexys, que poderiam levar um homem à loucura.
Quando termino resolvo descer para tomar um pouco d'água, e assim que
abro a porta do quarto, dou de cara com Stefano, saindo do quarto ao lado, e
ao contrário de mim, ele está com uma calça de moletom e sem camisa. Seus
músculos estão desenhados pela pouca luz do corredor.
— Não está conseguindo dormir? — perguntou caminhando para
perto de mim.
— Ainda nem tentei dormir, eu e Ivan… eu e meu pai, conversamos
muito essa noite. Acho que não sei se quero ser Aurora. Passei tanto tempo
sendo Violleta… — Estava indo tomar um copo de água antes de ir para
cama.
— Então vamos juntos, eu estava indo para a cozinha também.
Tento focar meu olhar no seu rosto, mas está difícil.
Ele está sem todo aquele aparato militar e mesmo assim não parece
menor! Seu peito é volumoso e marcado por tatuagens. Quando chego na
cozinha bebo minha água, mas não paro de olhá-lo andar pela cozinha para
preparar um sanduíche mais alto que os saltos que eu usava. Encostada na
ilha de mármore da cozinha enquanto bebia minha água, não resisti em
perguntar sobre as tattoos.
— São todas da Ndrangheta? Nenhuma da Bratva?
— Desde que meus pais morreram Ivan me treinou para ser um
infiltrado, eu não poderia ter marcas de outra máfia se quisesse garantir um
lugar com os Ferrari. As únicas que tenho são do exército russo.
— Então você foi militar de verdade? — pergunto curiosa ainda.
— Fui. Primeiro fui Spetsnaz, depois SVR, o Serviço de Inteligência
Estrangeiro até Ivan me pedir para sair. — Stefano colocava tanta coisa
dentro daquele sanduíche que eu nem sabia se ele conseguiria fechá-lo. —
Hoje eu estou no topo dos mais procurados da Federação Russa e aliados.
— É um currículo impressionante… — comentei com um sorrisinho.
— Agora dá para imaginar porque Ettore quase implorou para que eu
entrasse no “clube” dele, não é?
— Verdade… — concordei. — Então você passou todos esses anos se
preparando, treinando… por mim?
Ele parou de montar seu monumento.
— Eu devo muito a Ivan, ele me adotou quando meus pais morreram,
me deu um teto e algo para chamar de família. Era o mínimo que eu poderia
fazer.
— Ainda é um pouco difícil para mim acreditar que um chefe de
máfia pode ser tão… — pensei na palavra com dificuldade — correto.
— Meu pai era conselheiro dele, Ivan se sentiu responsável.
Eu mais do que ninguém sabia como era viver sem as pessoas mais
importantes da vida, e mesmo que eu tivesse encontrado uma parte delas não
poderia esquecer aqueles anos de solidão. Aproximei-me dele e toquei seu
ombro em sinal de apoio.
— Eu sinto muito, Stefano.
— Obrigado — disse com honestidade. — Quer metade?
Encarei a montanha entre dois pães e dei um risinho:
— Eu passo, meu estômago não é tão grande assim.
Volto para a cama decidida a descansar, mas sinto um aperto estranho
no peito ao me perceber completamente sozinha. Apago as luzes, fechando os
olhos e acabo por ver novamente os olhos de Ettore Ferrari se fechando sobre
mim, sua boca se abrindo com um gemido de puro tesão enquanto se enterra
bem fundo entre minhas pernas.
Desperto com a luz do sol clareando o quarto, vou para o banheiro fazer
minha higiene, e quando termino, desço e tenho a sorte de ver meu pai
fazendo sua refeição.
— Bom dia, Aurora!
— Bom dia. — digo um pouco incomodada. — Pai, se importa de
continuar me chamando de Violleta? Acho que o nome já se impregnou em
mim.
— Sem problemas, meu amor. Como foi sua noite?
“Sonhei com meu ex-marido psicopata gozando em cima de mim”,
minha mente respondeu, mas minha boca falou:
— Melhor não poderia ser, obrigada por perguntar!
— Ótimo, quando você terminar vamos ao meu escritório!
— Claro!
Assim que termino meu café da manhã, acompanho ele até lá, a sala
não é diferente dos outros cômodos, é luxo por todos os cantos.
Sento em uma poltrona de frente para ele.
— Minha querida, vou começar por sua gravidez, você vai fazer seu
pré-natal aqui em casa mesmo, não posso permitir que você saia, não por ora,
até resolver o que vou fazer com a ameaça dos Ferrari. Eles ainda têm muitos
contatos aqui na Turquia.
— Tudo bem, como o senhor achar melhor, pai.
— Você precisa saber de uma coisa. Uma coisa que eu não te contei
ontem e que pensei muito na noite passada…
— Fale… não pode ser tão ruim quanto os últimos meses.
Ivan suspirou antes de começar.
— Como de costume, a filha mulher é prometida a um capo, ou seja
você, desde que nasceu, era prometida uma pessoa!
Fico assustada, não quero ter que me casar novamente.
— Não me diga que vou ter que me casar mais uma vez.
— Aí é que está, Violleta, você já está casada com ele. Desde aquela
época.
— Como assim? Eu… Meu marido é Ettore, como já posso estar
casada?
— Ele mesmo era seu prometido. Só não sei onde foi que tudo deu
errado, onde eu errei, pois nossas famílias eram muito amigas. Não sei o que
houve para eles quererem roubar você de nós!
— Estou confusa, como assim, eu já era prometida do Ettore?
— Minha querida, sua mãe era uma grande amiga de Sandra, se não a
melhor amiga dela, assim como eu era de Domenico. Ettore era criança
quando resolvemos isso, lembro muito bem que ele não tirava você dos
braços, na época ele tinha uns dez anos, se não me falha a memória, você era
um bebezinho lindo, sorridente, e isso se intensificava quando estava nos
braços dele.
Minhas mãos começam a suar.
— Hoje, vejo que a máfia modificou você, endureceu o seu jeito, e sei
que é por tudo o que ele andou fazendo com você meu, anjo.
São muitas informações, e eu fico cada vez mais confusa. Será que
Ettore já me amou? Fui prometida a ele, esse tempo todo estive ao seu lado e
ele nem se quer notou!
— Ele não se lembra de mim?
— Quando soube que ele tinha se casado, precisei ter certeza.
Domenico sabia onde você estava e do modo como as coisas aconteceram, eu
pensei que ele a havia tirado do esconderijo apenas para esfregá-la na minha
cara como esposa do filho dele, como para me mostrar que pegou tudo o que
me era mais precioso.
A história de Sandra me vem à cabeça. A garota por quem Ettore era
apaixonado, a garota morta! Não… A garota desaparecida.
A única mulher que ele já amou fui eu.
— Tem certeza de que os Ferrari foram os responsáveis por isso?
— Tenho provas de que foram eles. Durante anos, me senti culpado
por não estar aqui naquele dia, por não proteger você e sua mãe, por estar
lutando para defender o meu domínio na máfia ao invés de defender vocês —
diz com uma tristeza no olhar. — Mas isso faz parte do passado, agora você
está aqui, dará continuidade às suas aulas de tiro, e será mandada em algumas
missões, mas não precisa se preocupar, não será nada que cause qualquer mal
a você ou ao seu filho. Será apenas para que se torne uma mulher forte, sem
que perca sua essência. Nenhum homem tocará em você, a não ser para lhe
dar alegria e amor, e somente se você assim o desejar
Fico envergonhada com suas palavras, mas ele não parece se
importar.
— Não fique assim, filha, pois é a verdade. Stefano continuará a fazer
seu treinamento e segurança. Ele será boa companhia para você…
— E o que eu faço agora? — perguntei olhando para o jardim amplo e
o azul da praia ao fundo.
— Aproveite sua casa — respondeu meu pai com um sorrisinho.
Finalizamos alguns assuntos sobre minha volta, ele sugere uma festa
de boas-vindas em minha homenagem, e eu fico feliz por meu pai gostar de
mim e me receber com o carinho de que tanto senti falta. Saio do escritório
pronta para a minha nova vida e começo me aventurando pelo império do
meu pai, avisto um estufa e caminho apressada para ver se está em uso.
Quando entro, fico maravilhada com o arco-íris de rosas que vejo naquele
lugar.
O que vejo lá dentro é espetacular, eu poderia facilmente me perder
aqui, caminho entre as flores, um perfume suave invade minhas narinas, as
cores são fantásticas, uma mais linda do que há outra.
— Sua mãe, Ivana, quem plantou e cuidou enquanto viveu aqui. —
Assusto-me com a voz potente de Stefano atrás de mim. — Desculpe, não foi
minha intenção assustá-la!
— Não tem problema, é que eu estava distraída! — Viro para as
rosas, novamente. — Elas são lindas!
— Sim, elas são. Você quer que eu te mostre os outros lugares?
— Claro, quero sim. Por favor.
Minha manhã foi perfeita, repleta de risadas. Stefano me fazia sorrir a
cada momento em que falava de sua infância aqui, fico feliz por meu pai ter
criado ele como um filho. Estou feliz por ter uma família, pequena talvez,
mas é a melhor família que eu poderia ter, e disso não tenho dúvidas. Espero,
sinceramente, que Ettore um dia possa mudar e se tornar um homem melhor,
pois aqui, estou realizada ao lado de quem me ama.
esço as escadas, saindo do meu escritório para ir até uma das salas de
D tortura que mantenho aqui na sede. Comprei uma nova remessa de armas,
e o desgraçado do entregador achou que eu não perceberia as armas com
defeitos entre elas. Agora ele me paga, vou descontar, nele, toda a raiva que
tenho acumulado durante esses dias.
Hoje faz duas semanas que não vejo, nem toco em Violleta, estou
ficando louco sem ela comigo. Minha raiva só aumenta desde que ela se foi já
matei inimigos com mais crueldade do que o necessário, para tentar acabar
com o estresse e essa raiva que me consome a cada dia por não conseguir
achar minha diabinha.
Entro na sala e vejo o desgraçado amarrado, esperando por mim,
assim que ele me vê, noto o terror tomar seu rosto, sorrio com isso, pois gosto
dessa sensação de saber que tenho a vida deste monte de merda em minhas
mãos. E, de antemão, já sei que ele sofrerá, pois hoje ainda não descontei
minha ira em nada nem ninguém.
— Vejam só o que temos hoje aqui? Um caro amigo que tenta
enganar qualquer um por dinheiro. Mas errou quando pensou que faço parte
desses idiotas que você costuma enganar, errou mesmo!
Dou uma risada enquanto ele tenta falar e a mordaça o impede, ando
ao redor da mesa de instrumentos, enquanto tiro meu paletó e dobro as
mangas de minha camisa até acima dos cotovelos.
— Não... você não vai falar. Hoje eu quero ver seu choro, o pavor no
seu rosto, quando eu cortar cada parte do seu corpo até que morra. Sabe,
estou muito puto hoje, e estou muito desapontado por tentar me enganar
desse jeito, pensei que tivesse amor à sua vida, mas vejo que é burro o
suficiente para tentar uma coisa desse tipo. — Vejo seus olhos ficarem
úmidos, ele balança a cabeça em negativo, e enquanto isso, vou até a mesa de
instrumentos, escolho uma arma que está entre meus brinquedos, e vou até
ele, me alimentando de seu medo
— E, então, vamos brincar um pouco?
Pego minha Glock, e disparo em cada um de seus joelhos, ele tenta
gritar, mas mais uma vez a mordaça o impede. Dou vários socos em sua face
até que sinto minhas mãos feridas, pego um bisturi e faço vários cortes em
seus braços e barriga, desamarro a mordaça, pego um alicate, e arranco seus
dentes, um a um, enquanto ele tenta gritar. Quando termino, coloco
novamente a mordaça e a vejo se ensopar com o sangue do desgraçado.
Pego uma de suas mãos para enfiar agulhas em suas unhas, enquanto
vejo elas ficarem vermelhas como se tivessem sido pintadas, escorrendo
sangue, que fazem uma pequena poça próximo de seus pés. Ele chora como
uma criança, mas seus gritos são abafados pela mordaça, que não deixa
escapar mais que gemidos de dor.
— O quê? Já não aguenta mais? Mas começamos agora, meu amigo.
Ainda não acabou a brincadeira! — digo dando um sorriso, e ele fica, ainda
mais assustado!
Depois de fazer tudo que tive vontade, perdi minha paciência e
mandei que meus soldados o levassem para o canil, deixaria que meus bebês
terminassem o serviço.
Já é tarde da noite e todos estão dormindo, somente eu estou aqui
acordado pensando em meu anjo. Fico imaginando onde ela pode estar a uma
hora dessas. Se já esqueceu de tudo o que a fiz sentir. Se em algum momento,
sente a minha falta. Eu sinto. Mas, a cada dia, juntamente com a saudade,
cresce também a raiva dentro de mim. Não sinto nenhuma piedade pelas
coisas que faço, já não sentia antes e agora, estou muito pior. Tenho prazer
em matar e quando não estou torturando, me pego pensando em Violleta. Não
sei mais o que faço, estou ficando louco com tudo isso, fecho os olhos
tentando dormir, mas sei que será mais uma noite insone.
Entro em casa, indo direto para o quarto, tomo um banho mais relaxante,
janto e deito para tentar dormir um pouco. Amanhã será um dia tão cheio
quanto hoje, e espero não estar tão cansado. Fico pensando na ligação que
recebi, e tentando imaginar que Ivan está tramando, mas, mesmo sendo
arriscado, vou comparecer a sua festa, nem que, para isso, tenha que ir com
roupas blindadas.
VIOLLETA FERRARI
Duas semanas se passaram desde que fugi da casa dos Ferrari e da
vida miserável que vivia com Ettore. Posso afirmar, sem sombra de dúvidas,
que essas foram as melhores semanas da minha vida. Poder estar ao lado do
meu pai, me sentir amada, saber finalmente, que pertenço a algum lugar, não
tem preço.
Nessas duas semanas aconteceram muitas coisas, uma delas foi a
continuidade ao meu treinamento com Stefano, como já sabia atirar,
intensifiquei as lutas ainda com cuidado devido à minha condição. No
começo fiquei relutante, porém, meu pai me disse que seria preciso, assim
conheceria o funcionamento das famílias da máfia. Na verdade, espero que
nunca seja necessário que eu use algo desse tipo, não tenho coragem de
machucar uma mosca, e apesar de Ettore ter me obrigado a matar, eu jamais
puxaria o gatilho por vontade própria novamente.
Amanhã será minha consulta com a doutora Laura, vai ser o início do
meu pré-natal, não sei com quantos meses estou por conta da menstruação,
que por sinal continua vindo mesmo eu estando grávida, mas amanhã tirarei
essa e muitas outras dúvidas que me perseguem. Olho para as estrelas através
da janela do meu quarto, e me pergunto como estará Ettore.
Será que está me procurando ou simplesmente me esqueceu? No
fundo, devo admitir, sinto falta de Sandra e Bianca por mais que já tenha me
irritado com elas, foram muito gentis comigo e também sofriam. Mas por
Ettore, acabei criando um sentimento que ainda que não definitivamente não
é amor, mas algo pior e viciante que me atrai como um imã. As noites de
sexo eram quentes, era incrível como ele me possuía de todas as maneiras,
despertando sensações indescritíveis pelo meu corpo. Porém, quando
acabava, tudo voltava ao seu normal, eu, uma menina casada com um
psicopata, e ele um mafioso compulsivo, sem dúvidas, bipolar.
Lembro bem do seu olhar quando fui baleada e fiquei à beira da
morte, ele parecia se importar de verdade. Mas depois conseguiu fazer
comigo algo que eu considero pior do que levar um tiro, ele me obrigou a
matar aquelas pessoas, e por fim, me chicoteou por me recusar a dar detalhes
sobre a fuga de Soffia. Ela já deveria estar longe agora.
E mesmo fazendo tudo, ao se declarar para mim, ele demonstrou um
arrependimento que eu não esperava. Sim, pode ser que tenha se arrependido,
mas foi tarde demais, pois não tem coisa melhor do que viver livre, sem ter
que se preocupar se será castigada a qualquer momento.
Naquela tarde, Stefano e mais uma dúzia de soldados me levaram ao
estilista que faria meu traje da grande noite de boas-vindas que papai daria
para mim, e acho que nunca fui tão bem tratada em toda a minha vida.
Stefano até deu alguns palpites na minha roupa, e eu estava gostando de tê-lo
por perto sem toda a pressão de quando estávamos na casa dos Ferrari.
Quando chego em casa deixo papai conversando com ele e vou para o
meu quarto, amanhã além do meu pré-natal tem a tal festa, e para falar a
verdade, estou bastante nervosa. Papai disse que virão alguns primos e tios
por parte da minha mãe, e isso está me deixando muito apreensiva, pois até
poucos meses atrás, eu era sozinha no mundo.
Tomo um banho rápido, para relaxar, visto uma camisola confortável
e me deito, para tentar dormir. Amanhã o dia será cheio e preciso estar
preparada.
Depois de tudo, voltamos para casa, com papai ainda mais bobo pelo
neto e eu, com um sorriso estampado no rosto. Preciso descansar um pouco
antes da festa, pelo que sei não será aqui na mansão, mas sim em um dos
hotéis que papai tem espalhados pelo país, disse que é um dos mais luxuosos
da Europa. Decidimos que eu teria o bebê aqui mesmo em Istambul, onde o
clima é ameno, gostoso e quente, diferente do clima invernal e rigoroso da
Rússia. Assim que meu filho tivesse meses suficientes, nós iríamos para
nossa verdadeira casa em São Petersburgo.
Como sempre minha tarde foi repleta de alegria ao lado de papai,
Stefano também esteve presente. Agora estou terminando de me arrumar, me
olho no espelho e fico impressionada comigo mesma, estou radiante com o
vestido que papai mandou fazer para mim.
Ele é na cor salmão claro, com um grande decote nos seios,
valorizando minha cintura, quem não souber que estou grávida, jamais
imaginará, pois o vestido tem um corte perfeito, e o trabalho de costura e
bordado foi primoroso. Não consigo nem imaginar o valor desse vestido,
tentei argumentar com papai que iria com um dos que tenho no closet, porém
ele disse que eu precisava estar deslumbrante, pois teríamos convidados
importantes na festa, então fiz sua vontade, e agora, agradeço por isso, pois
realmente o vestido está maravilhoso no meu corpo.
Desço as escadas olhando para meu pai e Stefano, que estão embaixo,
os olhos dele fazem um raio x em todo o meu corpo, e tento não ficar
incomodada.
— Filha, você está lindíssima.
— Realmente, você está mais que maravilhosa, Violleta! — É a vez,
de Stefano fazer o seu elogio.
— Eu estou me sentindo, realmente maravilhosa, obrigada rapazes,
pelos elogios!
— Já que está pronta minha filha, vamos, a limusine já está à nossa
espera!
Papai sai do carro e estende sua mão para que eu possa sair também,
entramos pelos fundos do hotel, e pergunto a ele o motivo, ele me diz que é
para que ninguém me veja antes da hora, gosto de vê-lo tão entusiasmado e
me alegro também. Fico aguardando em uma espécie de sala, e pelo que eu
entendi, vou subir ao palco, para ser, literalmente, apresentada, então, agora,
é só aguardar, pois hoje, serei, finalmente, apresentada como filha do grande
Ivan, que, apesar, do título de capo, não me parece ser igual os outros, e por
isso, não entendo abriga, que se estende por anos com os Ferrari, e do porquê
eles me sequestrar.
ETTORE FERRARI
Enquanto tomo um banho, vou pensando em todos os acontecimentos
dos últimos dias. Desde que me tornei capo e assumi a responsabilidade que a
máfia nos dá, tenho atitudes que qualquer ser humano comum desaprovaria.
Lembro que nem sempre foi assim, e apesar de ter sido criado e
preparado para assumir uma fração da Ndrangheta, sempre achei que era
muita responsabilidade em minhas mãos. Todo o fardo dos negócios está
sobre mim, qualquer decisão que eu tome afeta a vida de centenas de pessoas,
é muita coisa para uma pessoa só.
O mais poderoso capo, como diria os mais antigos. É uma enorme
responsabilidade e além de tudo isso, ainda sou extremamente visado, minha
família está sempre na linha de fogo, pois sabem que atingindo a eles,
afetarão a mim. Eu sou Ettore Ferrari, aquele que comanda um império, que
dá as cartas no mundo dos negócios, que mata ao estalar de um dedo, e que,
de uma hora para outra, começa amar uma mulher, que o deixa louco de
todas as maneiras possíveis, que foge dele e de seu compromisso com o
casamento, e que mesmo assim não faz com que ele deixe de amá-la e fazer
tudo por ela.
Se alguém me dissesse, há um ano atrás, que eu estaria desse jeito
hoje, eu riria na cara da pessoa. Eu, Ettore Ferrari? Jamais!
E agora o amor da minha vida, o meu primeiro, retornou. Isso está
dividindo meu coração. Fico entre sentir falta da mulher que já tive em minha
cama, em minha boca, e a que perdi muito antes de sentir seu gosto, muito
antes de ouvi-la dizer meu nome… Era inexplicável.
Entro no closet escolho um dos meus ternos para mais um dia de
empresa e sede. Meu dia passa lento e trabalhoso, mas ao cair da noite, sinto
a ansiedade tomar conta de mim, e a adrenalina percorrer meu corpo. Hoje é a
festa de apresentação da filha de Ivan, e somente o fato de que vou vê-la,
depois de tantos anos já mexe comigo. Minha Aurora…
Não sei como ela vai me receber ou como me sentirei ao revê-la.
Volto para casa, preciso me arrumar para esta noite. Escolho um blazer que
combina com minha calça, poderia colocar um smoking, mas a festa não é
black tie, e poderia ficar exagerado. Para o mundo eu sou um homem de
negócios, e homem de negócios se vestem de maneira elegante, porém, com
discrição. Termino de me arrumar, passo um pouco de perfume, penteio meu
cabelo, coloco meu relógio, as luvas, e desço. Quando chego à sala, todos já
estão prontos, mamma está impecável e Bianca está maravilhosa, ambas com
um grande sorriso.
Pietro vai no carro comigo, enquanto as madames vão no outro carro,
com alguns seguranças, logo atrás, não vou me precipitar, preciso de
segurança pois estamos indo para o desconhecido.
— Os soldados já estão em seus postos? — perguntou depois de um
tempo.
— Sim todos já estão lá, a postos.
— Perfeito, não quero ter surpresas desagradáveis.
Falamos sobre outras coisas, e alguns minutos depois chegamos ao
hotel onde está acontecendo a festa. Me viro para Pietro, e falo, ranzinza:
— Não se distraía, estamos na casa do inimigo, aqui eles tem a
oportunidade de fazer o que quiserem, aqui eles dão as cartas, tente obter
qualquer informação que seja de alguma valia para nós, entendeu?
— Sim, irmão, entendi. Tome cuidado também! — Pietro fala
enquanto saímos do carro.
Tiro minhas luvas e coloco no bolso, alinho meu blazer e logo em
seguida, entro passo pelo hall e chego ao salão onde está sendo realizada a
festa. Está lotado de mesas e cadeiras, as pessoas mais influentes da máfia e
da sociedade italiana estão aqui, e todos se viram para me olhar. Quando
veem que estão diante de um capo da Ndrangheta, todos acenam com a
cabeça em sinal de respeito, mas logo voltam às suas conversas. Não demora
muito para que eu veja Ivan caminhando em minha direção. Ele está bem
mais velho do que eu me lembrava, cabelos grisalhos, barba por fazer, mas
aquele mesmo olhar. E em seguida, vejo Pietro, Domenico e alguns dos meus
seguranças se aproximarem também.
— É um prazer recebê-lo — cumprimenta com um aperto de mão, e
se vira para meu pai. — Domenico, você não mudou nada, é como se os anos
não tivessem passado para você. Vejo que soube criar muito bem seus filhos!
É uma pena o que houve com sua nora.
Meu sangue ferve, minha vontade é de provocar uma chacina, mas
mantenho a calma.
— Obrigado Ivan, fico feliz que tenha conseguido recuperar sua filha,
e agora que está com ela, acredito, e espero, que tenha tirado dessa sua
cabeça dura que foi minha família quem a tirou dos braços de Ivana! —
Domenico diz um tanto quanto agressivo, mas o russo não se abala.
— Não se preocupe com isso, hoje muita coisa será esclarecida, e não
os convidei para fazer nada contra vocês. Hoje, a noite é para celebração,
agora vamos, vou levá-los aos seus lugares.
Ele vai na frente, e nós o acompanhamos, ele para quando chegamos
em frente do grande palco.
— Fiquem a vontade, logo estarei com minha filha no palco, mas, já
quero convidá-los para, depois da festa fumarmos um charuto, só nós,
homens!
— Tudo bem Ivan, quando terminar a festa, é só nos procurar!
Ele dá um aceno e sai do local, nos sentamos à mesa e o garçom nos
serve de whisky e outros aperitivos. Não sei o que Ivan quer conversar, mas
quero ouvi-lo. Muitos minutos se passam e nada de apresentação, já estou na
terceira taça de champanhe de tanto nervosismo, mas preciso controlar minha
ansiedade.
Enquanto Ivan conseguiu sua filha de volta, eu perdi minha mulher,
justamente por culpa desse meu jeito explosivo, e de minhas atrocidades. Sei
que nada é perfeito, mas fui estúpido o bastante para fazer minha diabinha
fugir. De repente uma luz se acende no palco, e vejo Ivan pegar um
microfone, ele alinha seu terno antes de começar a falar.
— Quero agradecer a todos que estão aqui hoje. Estou muito feliz
porque, finalmente, minha filha retornou ao lugar de onde nunca, jamais,
deveria ter saído. Hoje estou, novamente, com minha amada filha, e sou a
prova viva de que nunca devemos perder a esperança. Quero apresentá-los,
então, à pessoa mais importante da minha vida hoje, já que sua mãe, Ivana,
não está mais entre nós. — Ele para por um breve instante, olha para todos,
mas se demora sobre a nossa mesa. — Por favor, recebam, minha adorável
filha e herdeira. Entre, querida.
Todos ficamos de pé, as cortinas se abrem, e nesse momento, me
arrependo, amargamente por estar de pé, pois quem eu vejo entrar no palco
me faz ter a sensação de que o chão se abriu sob meus pés, afrouxo o nó da
minha gravata, o ar me falta nos pulmões, um calor sobe pelo meu corpo e
sinto o suor escorrer por minha testa, minha visão ficar turva. Eu não estou
bem.
Violleta, minha Violleta, está deslumbrante no seu vestido impecável,
que por sua vez é muito nu. Tento me segurar para subir no palco e tirá-la de
lá a força, para que ninguém a veja dessa maneira. Que brincadeira era
aquela?
Não é possível que todo esse tempo passei ao lado da minha menina
e nunca percebi, sinto uma forte dor de cabeça, e um princípio de vertigem
que me faz sentar, novamente. Como eu pude causar tanta dor ao meu anjo,
aquela menininha, que tanto quis proteger, desde que era apenas um bebê?
Sinto meu peito apertando, tento respirar, mas o ar não vem. Olho para
mammà que também está emocionada, mas percebe minha agonia e vem para
o meu lado.
— Filho, o que houve? O que está sentindo?
Não consigo responder, a dor fica mais forte no exato momento em
que olho para o palco e meus olhos se encontram com os do meu anjo, que
me parece estar assustada com toda aquela situação. Seus olhos são as
últimas coisas que vejo, antes de tudo ficar em total escuridão e eu cair no
chão desacordado.
E stou prestes a entrar no palco, estou nervosa.
Stefano estende seu braço para que eu possa enlaçá-lo, quando
chegamos atrás da cortina, ele me olha. Já faz um bom tempo que papai
saiu e não voltou, e se ele demorar mais, é capaz de meus saltos fazerem
buracos nesse concreto. Quando já estava impaciente vejo a porta abrir, e ele
passar por ela.
— Já não aguentava mais, papai! — Ele sorri com minhas palavras.
— Desculpe querida, me entreti cumprimentando alguns dos
convidados, mas já vou anunciar sua entrada!
— Desculpe papai, acho que são os hormônios que me deixam assim,
é que estou muito nervosa, ansiosa.
— Fique tranquila, esse nervosismo todo não faz bem para o bebê!
— É, o senhor tem razão. Preciso me acalmar.
— Então vamos. Vou apresentar você e depois aproveitamos a festa!
— Fique aqui até que eu lhe chame, meu bem. Não se preocupe,
estarei ao seu lado a todo instante, haja o que houver!
Balanço minha cabeça confirmando, e pouco tempo depois ele
desaparece através da cortina me chamando para o palco. Seguro o meu
vestido, criando coragem para subir as escadas e ver aqueles rostos
desconhecidos que me conheciam apenas pelo nome.
Entro no palco e imediatamente uma luz me ilumina e todos
aplaudem, com entusiasmo. Sinto um frio na barriga, corro com meus olhos
todo o salão, e por último, olho para as mesas que estão bem em frente ao
palco.
Meu coração falha uma batida quando meus olhos se encontram com
os mesmo olhos com quais tenho sonhado, os olhos do homem do qual tanto
quis estar longe. Mas agora, vendo-o tão perto, sinto um turbilhão de
sentimentos, e um deles é saudade. De repente ele fecha os olhos caindo no
chão, vejo Sandra se ajoelhar diante do seu corpo, Pietro se aproxima, e
começa a fazer massagem cardíaca. Imediatamente saio do palco e desço as
escadas, com as lágrimas escorrendo pelo meu rosto. Chego próximo ao seu
corpo, também me ajoelhando.
— Ele está perdendo pulsação! — Pietro diz enquanto continua
fazendo a massagem.
Fico desesperada, pois apesar de tudo ele é o pai do meu filho, e se ele
tiver que morrer que seja pelas as minhas mãos. Empurro Pietro para longe,
com dificuldade levanto meu vestido e subo em cima do corpo de Ettore, uma
perna de cada lado, e freneticamente começo a desferir murros no seu peito,
enquanto as lágrimas continuam a rolar.
— Vamos, acorde, seu desgraçado! — Continuo a bater. — Você não
pode morrer dessa forma. — Dou mais socos, já perdendo as esperanças. —
Você é o grande e temido Ettore Ferrari, você não pode morrer!
Paro de tentar reanimá-lo, e me deito em seu peito.
— Eu te amo… Ettore!
E para mim é tão esquisito dizer isso, que parece que é uma outra
pessoa dizendo e que eu estou à parte, assistindo. Por tudo que Ettore fez
comigo, por tudo o que me fez passar, eu deveria odiá-lo, ter repulsa, e querer
mesmo que ele morresse. Mas, neste caso, não seria eu, não sou assim e nem
pretendo ser. Para que se dê o troco em outra pessoa, não precisa,
absolutamente, desejar o mal à ela, existem muitas maneiras de ensiná-la.
E agora que estou diante do corpo inerte de Ettore, me arrependo. Por
ter fugido, por não ter lutado pelo meu casamento, ainda que tenha sido
forçado, e que eu não o amasse no princípio. Preferi deixá-lo, mesmo quando
ele disse que me amava, mesmo quando me disse que se arrependia por tudo
e que não me faria nenhum mal.
Agora meu marido está aqui, sem vida diante de mim. Não posso
perdê-lo, não quero isso pra nós, precisamos de mais tempo, mais uma
chance. De repente, sinto meu corpo ficando mole, fico tonta e minha visão
fica turva, meu corpo cai sobre o corpo de Ettore e tudo fica escuro.
ETTORE FERRARI
Estou consciente de tudo. Ouço as pessoas ao meu redor, sinto as
enfermeiras mexendo no meu soro, arrumando meus travesseiros e
cobertores, ouço o barulho da máquina à qual estou ligado, mas não consigo
me mexer ou falar, e isso é desesperador para mim.
O que mais me faria feliz neste momento é poder abraçar minha
mulher e me ajoelhar diante dela, suplicando seu perdão, mas não consigo.
Ouvir suas palavras me confortam de algum modo, talvez estar aqui não seja
de todo ruim, não se for para tê-la ao meu lado. É claro que a situação em que
me encontro é horrível, pois adoraria tocar meu anjo, dizer o quanto sou
louco por ela, o quanto esperei por ela, o quanto sou completamente
apaixonado por tudo que venha dela. Mas estou preso nessa cama, em coma,
sem chances de poder dizer qualquer coisa para confortá-la.
Depois de alguns longos minutos sinto ela se levantar da cama, meu
coração aperta só de pensar que ela se vai, e vou ficar aqui sozinho.
— Até logo, meu amor… Volte para nós, Ettore.
Tento fazer qualquer sinal para que ela perceba que estou aqui, mas é
inútil. Talvez esse seja meu castigo por tudo que fiz com meu anjo, estar
perto dela e não poder tocá-la. Ouço quando a porta é fechada, de repente
sinto um frio tomar conta do meu corpo, e, sem que eu consiga explicar
como, estou olhando para o meu corpo, deitado sobre a cama, com fios me
ligando às maquinas.
Uma espécie de neblina toma conta do quarto e o ambiente fica
pesado. Isso é surreal, só posso estar em alguma espécie de pesadelo.
Do chão surgem mãos, uma delas agarra meu tornozelo, me puxando
para baixo, tento me soltar, mas não tenho forças. Sou levado a um lugar
escuro, sinto um calor insuportável, à ponto de querer tirar minhas roupas, e
vejo labaredas subindo do chão.
Meus pés ardem, como se eu estivesse em cima de uma frigideira e
ela estivesse esquentando aos poucos. De longe, vejo vultos se aproximarem,
olho para eles, tentando reconhecer seus rostos, mas é uma tarefa impossível,
pois são borrões escuros. Eles seguram em cada um de meus braços me
levando para algum lugar que não faço ideia de onde seja.
Isso só pode ser o inferno ou algo parecido. Eu sempre soube que, em
consequência de tudo o que fiz ao longo da vida, eu não iria para o paraíso,
mas isso é assustador. Enquanto caminho, vejo pessoas caídas no chão, se
contorcendo, com suas peles derretendo. Sou arrastado até uma sala, e de
repente tudo fica branco, já não tem mais ninguém próximo a mim.
Estou em uma casa velha e muito suja, o mau cheiro aqui é forte,
fazendo meu estômago revirar, nada do que já presenciei fede como este
lugar. Violleta aparece no meu campo de visão, ela está mais magra, e muito
suja, com roupas velhas, esfarrapadas. Ela parece não me ver, pois passa por
mim para se sentar em um sofá velho, que está num canto, mais afastado.
Sai do cômodo uma garotinha nas mesmas condições que Violleta, ela
se aproxima e se senta ao lado da minha mulher. As duas estão cabisbaixas,
como se viver fosse uma tortura para as ambas. Com os olhos lacrimejando, a
garotinha olha para Violleta, e diz, no seu tom infantil:
— Mamãe, estou com fome! — Violleta olha para a menininha, alisa
seu rosto com carinho, chorando.
— Filha, mamãe não tem o que fazer, sem seu pai aqui, não tenho
como nos alimentar.
— Sinto falta dele mamãe, ele não deveria ter morrido, por culpa dele
estamos sozinhas!
A menina diz chorando, e meu coração se quebra em pedaços, sou o
pai dessa menina, e não estou com elas para cumprir com o meu dever de pai
e marido. As duas choram, abraçadas, e não suporto ver esse sofrimento todo,
não posso acreditar que tudo acabará assim, que não vou ter a oportunidade
de voltar e fazer tudo diferente.
Mais uma vez o cenário muda, e agora estou no jardim de uma linda
casa. Olho para um canto e vejo Violleta sentada, próximo a uma piscina que
fica bem no centro. Ela me parece feliz, e vejo seus olhos fixos em um ponto,
olho para ver do que, ou de quem, se trata. Stefano entra pelo portão
principal, segurando as mãos de duas crianças, gêmeas, uma menina e um
menino e fico atordoado quando os dois correm para os braços de Violleta,
enquanto ela beija Stefano com paixão. Será que isso teria acontecido se eu
ainda estivesse ao lado dela? Será que ela me trocaria por ele? Isto é, de fato,
surreal!
Mais uma vez, vejo um clarão e o cenário mudar. Agora estou em
casa, vejo Violleta correr para o quarto, sigo atrás dela para ver o que ela vai
fazer, quando chego ao andar de cima consigo ver Violleta trancar a porta, e,
curiosamente, consigo ver através dela. Olho para o canto e, novamente, vejo
Violleta encolhida, chorando.
De repente ouço batidas na porta, ela se encolhe ainda mais, as
batidas são fortes, mas param, ouço um tiro e a porta se abre. Vejo a mim
mesmo passar por ela, eu pareço estar fora de controle, e estou com minha
Glock na mão. Fico desesperado quando miro na cabeça de Violleta, que
esboça nenhuma reação, apenas olha para mim, com as lágrimas grossas
inundando seu rosto.
Corro para me colocar à frente dela, para que não aconteça nada com
meu anjo, mas quando o tiro dispara passa por mim, olho para trás e vejo meu
anjo caído no chão. Isso é demais para mim. Eu jamais teria coragem de fazer
isso com ela. Ou teria?
Será que sou esse monstro que estou vendo? Quero ter a oportunidade
de fazer tudo diferente, não posso abrir mão do meu amor assim, ou permitir
que outro a faça feliz, esse dever é meu e de mais ninguém.
Novamente, tudo desaparece, mas agora estou só, em uma sala
branca, em uma cadeira, e com apenas uma tela enorme à minha frente. O
telão se ascende, e nele começa a passar a minha vida, desde o dia em que vi
Violleta pela primeira vez, quando ainda era apenas um bebê.
Os momentos mais difíceis foram aqueles em que a fiz sofrer, o dia
em que a fiz assinar aquele contrato sem ler, o dia em que a marquei, o dia
em que a chicoteei. Foram dias em que realmente ultrapassei todos os limites
do bom senso. Por estes e outros, eu realmente mereço morte. E isso ainda
seria pouco para mim.
Ela foi o que de mais precioso sequer sonhei em possuir. Um anjo,
que prometi proteger, cuidar, amar, e falhei. Como um demônio, eu a destruí,
e portanto, não a culpo por ter fugido. Mais uma vez, sem aviso prévio, tudo
desaparece, e agora estou, novamente, no mesmo lugar pelo qual entrei aqui,
o calor me consome, me deixando desesperado por água, sinto minha
garganta ressecada.
Este será meu destino a partir de hoje. Não terei uma segunda chance,
e ainda que tivesse, sei que não sou merecedor. Fui um verdadeiro demônio,
fazendo sofrer aquela que prometi a mim mesmo que cuidaria quando ainda
era um bebê. Tudo o que fiz não tem mesmo perdão, e só o fato de saber que
não terei uma oportunidade para consertar as coisas, já me sinto castigado.
VIOLLETA FERRARI
Abro meus olhos, que agora doem com a claridade, e sei que estou
num hospital. Desespero-me pelo bebê e por não saber o que vai acontecer a
partir de agora. Sinto uma dor muita forte na minha cabeça, minha barriga e
todo meu corpo também estão doendo. Escuto passos apressados de longe e
ouço a voz, desesperada de Sandra, próxima a mim.
— Dios mio, o que aconteceu com ela? Ela vai ficar bem? E o bebê,
como ele está? — Ouço Sandra falar, e em seguida, meu pai, também
desesperado, fala:
— Por favor, me falem o que aconteceu com minha filha e o bebê! —
Ele diz com a voz embargada. — Doutor, por favor, me diga algo!
— O carro em que sua filha estava foi encontrado capotado a alguns
quarteirões daqui. Quando os paramédicos chegaram ela já estava
inconsciente e sangrando muito, teremos que fazer uma cesárea de
emergência, não podemos esperar mais.
— Diga como ela está. Ela está bem, doutor? Por favor, não me
esconda nada, só tenho ela e meu neto, não posso perder os dois assim!
— O estado dela é grave, não sabemos se os dois irão sobreviver, mas
faremos todo o possível para que os dois fiquem bem. Agora, se me der
licença, começaremos a prepará-la para o parto.
— Por tudo que é mais sagrado, não deixe que que os dois morram!
— Pai?
— Oi, minha filha? — Ele aparece do meu lado, vejo seus olhos
vermelhos, e fico triste com isso.
— Está tudo bem, não chore, está bem? Logo estaremos ao seu lado
para te fazer sorrir, então não olha para mim assim, sorria, eu estou bem, o
meu bebê também! — Falo para ele, que sorri para mim com os olhos cheios
de água, e eu fico no mesmo estado.
— Tudo bem, filha, tudo bem. Vou esperar você aqui até que volte
com seu bebê nos braços, e me faça chorar igual um avô babão de felicidade.
Te amo, minha pequena. Tenha força, vai dar tudo certo!
— Também, te amo, pai — falo para ele e solto sua mão que segurava
a minha. As dores, contrações, voltam, e desta vez, estão mais fortes. Grito de
dor, dói muito e não sei o que fazer.
Os médicos me levam para uma sala fechada e logo me deitam em
outra maca. Aplicam alguma coisa e começam a me preparar para o parto.
Eles põem um pano em frente ao meu rosto, me impedindo de ver o que eles
estão fazendo, cobrem meus cabelos com um touca, e sinto, aos poucos a
sensação de relaxamento, causada pela anestesia, minha visão fica turva, e
bem de longe posso ouvir um chorinho se espalhar pela sala de cirurgia.
— É um menino! — O médico fala enquanto me mostra o rostinho do
meu bebê, e em seguida o coloca sobre meus seios.
Choro por saber que Ettore não está aqui para ver o milagre da vida
acontecendo, por não ver o quanto nosso menino é parecido com ele. Tão
pequeno, ainda tão indefeso, e eu já o amo tanto.
Enquanto seguro meu bebê no colo sinto mais uma vez aquela dor
infernal na minha cabeça, está latejando muito, parece que tem uma bomba
na minha cabeça de tão pesada e dolorida que está agora, e só piora a cada
segundo. Os aparelhos que antes estavam regulares agora começam apitar
freneticamente.
Minha visão embaça mais uma vez, e os médicos, que antes sorriam
diante da linda cena de mãe e filho, ficam em alerta, com os olhos
arregalados, correm até mim. Já não escuto nada do que eles falam e meu
bebê já não está comigo. O frio, que antes era suportável, agora estar
congelante. E, de repente, o mundo para. Não sinto mais dor. Não escuto
mais nada. Minha respiração vai ficando cada vez mais fraca, e eu me sinto
flutuar, como se estivesse num lago de águas calmas e mornas. As cenas da
minha vida começam a se descortinar diante de mim. Cenas dos momentos
bons, dos poucos momentos em que fui, de fato feliz. E meu último
pensamento, é para Ettore.
— Ah! Ettore, me perdoe, amor, estou muito cansada. Agora sou eu
que me despeço. Cuide do nosso filho, faça-o saber o quanto eu o amei, fique
ao lado dele, por favor, dê a ele o amor que não poderei dar.
É como, se de alguma forma, Ettore pudesse me ouvir. Antes que
meus olhos se fechem totalmente, vejo-o entrar na sala e olhar para mim. Ele
está suado, chorando, como nunca o vi. Ele parar antes de chegar até mim, eu
olho para ele, e sorrio. Lentamente consigo mover meus lábios, dizendo que o
amo, e depois disso fecho meus olhos, e deixo que a escuridão, pela última
vez, me abrace.
M ais uma vez, ouço Violleta se sentar do meu lado e colocar minha mão
sobre sua barriga. Sempre que faz isso, sinto o bebê se mexer como se
soubesse que é o seu pai quem o está tocando naquele momento. Não sei
descrever a felicidade que me dá todas as vezes que ela me faz sentir essas
coisas. Tocá-la, sentir o calor de sua pele, e ao mesmo tempo nosso bebê, me
faz sentir cada vez mais vontade de me levantar dessa cama e abraçá-la com
toda minha força, e beijar sua barriga.
Sei que faz algum tempo que estou neste estado, pois sua barriga está
maior em comparação a quando cheguei aqui. Não sei quanto tempo faz, mas
me desespero toda vez que vejo que vou perder minha consciência
novamente. Sempre que isso acontece, vejo coisas horríveis, insuportáveis,
que me causam dor, sofrimento, parece uma espécie de inferno pessoal onde
o desespero, o choro, e os gritos das pessoas ao meu redor torna tudo cada
vez mais horripilante. Às vezes acho que vou enlouquecer se ficar mais
tempo aqui, mas me mantenho firme, pois sei que as pessoas que mais amo
no mundo estão aqui na esperança de que eu volte logo.
Escuto minha mãe chamar Violleta e pedir que ela vá para casa
descansar. Elas conversam por algum tempo, e em seguida, escuto a porta se
fechar e Violleta começar a falar comigo, de novo, como sempre faz quando
vem me visitar. Ela sempre fala sobre o quanto está triste por me ver neste
estado, e o quanto ela e nosso bebê precisam de mim. Ela fala tudo que
guarda dentro de si, enquanto chora, e sei que já está desesperada com isso
tudo, não queria, nem por um momento, deixá-la sozinha. É muita pressão
para ela e saber disso me dói ainda mais. Ela fala, para por um momento, sei
que está limpando seu rosto, e sinto um beijo em meus lábios, e depois disso
ela vai embora.
Sinto um frio na barriga, sinto todo o meu corpo arrepiar, e em meu
pensamento tento pedir para que Violleta volte para ficar comigo, mas nada
sai de meus lábios, tento me mexer, mas também não adianta, não quero que
ela vá. Isso não está certo. Tem algo muito errado acontecendo. Posso sentir.
Por que eu sinto toda essa tristeza?
Mas, ela se vai, fecha a porta e se vai. E mais uma vez, toda a
escuridão que me rodeia volta a me consumir. Dessa vez estou em um lago,
lindo de se ver, e não se parece com nada do que vi até agora. A água calma,
límpida, reflete minha imagem. Caminho em torno do lago e me sento na
grama, aqui tudo é lindo, me transmite paz e apenas coisas boas. Fico
admirando a paisagem ao redor, descanso um pouco e volto a andar depois de
algum tempo.
Vou andando até escutar alguém cantando uma canção. Sei que é uma
canção de ninar. É uma mulher, me parece familiar, e mesmo estando de
costas sei que é bonita. Ela veste um vestido totalmente branco e seus cabelos
longos, castanhos claros, vão até sua cintura, emoldurando o restante de seu
corpo.
Chego mais perto e vejo o bebê lindo que ela está segurando, ela vira
seu rosto em minha direção e vejo que é ela. Violleta segura um bebê
pequeno nos braços. Ele parece tanto comigo, e pelo jeito, nasceu há poucos
instantes.
— Estava lhe esperando, meu bem! — Ela diz, suave, como nunca
antes ouvi ela falar comigo.
— Por que está aqui? — pergunto, achando estranho já que quando
ela foi para casa, ainda estava grávida.
— Porque preciso que cuide dele por nós dois, ame ele, fique ao lado
dele e sempre o proteja contra tudo que lhe fizerem de mal. — Ela fala e
entrega-o em meus braços.
— E por que somente eu? Você não vai ficar? — Ela sorri para mim e
beija meus lábios, em seguida, começa a se afastar, até que eu não possa mais
vê-la, apenas ouvir o sussurro de sua voz.
— Eu não vou estar aqui, só vocês dois vão estar. Só quero que saiba
que amo muito vocês!
— Não... Não, você não pode ir. O que aconteceu? Por que você está
indo? — Grito, já desesperado. Ouço seu riso, e em meio às lágrimas, ouço
sua voz pela última vez dizendo: — Quando você acordar, entenderá tudo.
Cuida bem de vocês pra mim. Adeus, amor!
E depois disso, não vejo mais nada à minha frente. Escuto bips
rápidos e enfermeiros entrando no quarto, e mais uma vez, sei que algo muito
errado está acontecendo.
— Meu filho também não, por favor, Dios do céu!
Ouço a voz chorosa da minha mãe, enquanto os enfermeiros também
estão falando algo. Meu coração acelera e logo minha cabeça dói, tento abrir
meus olhos e só vejo a claridade das luzes do quarto, pisco algumas vezes,
me levanto e sento na cama de uma vez, mas me arrependo. Estou fraco, e
meu corpo não consegue sustentar meu próprio peso, então volto a me deitar
automaticamente. Meu olhos aos poucos vão se acostumando novamente com
a luz.
Vejo dois enfermeiros e minha mamma, me olhando com os olhos
arregalados. Tento falar, mas minha voz não sai de jeito nenhum, minha
garganta está seca e fracasso em qualquer som que tento pronunciar. O
enfermeiro me dá um copo com água, bebo em pequenos goles, pois minha
garganta, além de seca, dói.
Olho para mamma que está com os olhos inchados e o rosto
vermelho, sei que chorou muito, e infelizmente tenho certeza que não foi por
minha causa.
— Violleta… Onde ela está? — pergunto, com a voz esganiçada
percebo-a estremecer, os enfermeiros vão saindo da sala, a pedido de mamma
nos deixando a sós. — Cadê ela, mãe?
Refaço a pergunta com o desespero tomando conta de mim apenas por
observar sua expressão.
— Ela está em trabalho de parto neste momento, meu filho! — Ela
fala, mas sei, posso sentir, que isso não é tudo.
— Mamma, por favor, me diga o que realmente aconteceu com a
minha mulher, e nosso bebê.
— Você precisa se acalmar, filho. Acabou de acordar de um coma de
meses, depois falamos sobre isso! — Fico sem paciência nenhuma, pois sei
que tem coisa errada e se eu estiver certo, não quero ser poupado.
— Mamma, estou lhe pedindo, em nome de todo amor que sei que
tem por mim, per favore, me diga o que aconteceu com os dois! — Eu peço,
suplico, e ela fala, de uma só vez.
— Violleta sofreu um acidente de carro enquanto ia para casa agora à
noite, seu carro capotou algumas vezes. Chegou em estado grave aqui no
hospital, estão fazendo uma cesárea de emergência, para que pelo menos o
bebê tenha chances de sobreviver, pois pela gravidade dos ferimentos, talvez
Violleta não resista até o final do parto.
Fala com o rosto banhado em lágrimas, como se tivesse se segurado
somente por mim. E antes que ela termine de falar já estou puxando os fios
que me ligam ao maquinário de monitoramento.
— Chame um enfermeiro, com uma cadeira de rodas. Quero ver
minha mulher.
Em poucos minutos estou andando pelos os corredores do hospital
com a ajuda do enfermeiro. Chego na área da maternidade, aonde todos da
família estão sentados. Bianca, Pietro e Ivan estão com cara de choro,
Domenico está sentado com a cabeça baixa.
O enfermeiro chega mais perto até que eles me vêm e me olham com
cara de assustados. Olho para a porta em frente aonde eles estão sentados e
escuto um chorinho forte sair, olho para todos, meus olhos passam pelo rosto
de cada um, vendo a preocupação, e alívio de todos eles.
— Ele não pode ficar aqui! — O médico grita. — Tire-o.
— Um caralho que eu vou sair! E se tocar em mim arranco seus
dedos! — Devolvo com igual autoridade.
Escuto o choro do bebê, mas percebo também a correria dentro da
sala, os médicos falando algo sobre emergência. Meu corpo arrepia inteiro ao
escutar, juntamente com a correria dos médicos, os equipamentos de
monitoramento apitarem juntos, num alarme infinito. Sei o que isso quer
dizer, e não é nada bom.
Entro na sala e evidentemente, os médicos não me param, por
saberem quem eu sou e quem manda.
Olho para Violleta, toda machucada sobre a maca, com nosso filho
sobre os seios, sorrindo e chorando ao mesmo tempo. Ver aquela cena me
emocionou de um jeito muito profundo, e não consigo sair do lugar.
Vejo os médicos tirarem o bebê dela, e ela não esboçar reação
nenhuma com isso. Acho estranho, tudo parece estar em câmera lenta, vejo-a
fechar e abrir os olhos, e, novamente, olhar para mim. Quando me vê, abre
aquele sorriso, aquele que ela dá quando está feliz com algo, e eu poderia,
deveria retribuir, se não estivesse vendo seu estado.
Os médicos e enfermeiros aplicam alguma coisa nela, ela deveria
reagir, mas seus sinais vitais continuam baixando, gradativamente, minuto
após minuto. Olho mais uma vez para o seu rosto e vejo ela dizer, balbuciar,
as três palavras que mais esperei ouvir, dela, em toda minha vida.
— Eu te amo!
Ela sorri, novamente, soltando um suspiro lento, e não demora para
seus olhos fecharem, e os aparelhos que estão ligados a ela começarem a
apitar continuamente.
Os enfermeiros me tiram da sala, e continuo sem reação, não consigo
falar e nem fazer nada. Olhos curiosos estão sobre mim, eu olho para eles e
olho mais uma vez para a porta atrás de mim, sem acreditar no que acabou de
acontecer.
— Não... Ela não...
Alguém vem até mim e me ajuda a sentar. Olho para minhas mãos, e
inoportunamente, me pergunto onde está minha aliança. A cena, que acabei
de presenciar, vai e volta, na minha mente, milhões de vezes por segundo. O
médico que estava cuidando dela aparece na porta olhando para todos, e para
em frente a mim. Sei o que ele vai falar. Quero mandá-lo calar a boca, dar um
tiro nele para que não fale, mas não tenho forças. E ele diz o que eu jamais
gostaria de ouvir:
— Senhor, o parto de sua esposa foi de um risco muito grande,
conseguimos fazer com que o bebê nascesse bem, mas a mãe teve um
traumatismo craniano, e não conseguimos conter a hemorragia. O parto foi
bastante complicado, sua pressão arterial estava muito alta e assim que o bebê
nasceu, ela veio a óbito, eu sinto muito! — Ele fala e se retira em seguida.
Eu tento assimilar o que ele falou. Tento encontrar algum sentido no
que está acontecendo, mas não vejo nenhum. E nego, simplesmente me
recuso a aceitar aquilo.
— Não é verdade... Ela não morreu!
Escuto Bianca começar a chorar e vejo Ivan se desesperar assim que o
médico se vai. Sinto minhas lágrimas rolarem sem controle. Nunca fui um
homem de chorar, e, na verdade, nem me lembro se alguma vez, na vida, eu
chorei, por alguma coisa ou por alguém, mas, agora, isso não importa. Choro
até que as lágrimas molhem meu rosto por inteiro, inclino o pescoço para trás
e encosto a cabeça na parede, pensando em tudo que a fiz passar, as vezes
que lhe bati, humilhei, traí… Fiz tantas coisas ruins, e mesmo assim, no final
ela me amou e esteve do meu lado.
Por que eu não pude ficar com ela agora?
Queria ter visto sua barriga, ter ido em suas consultas e ter ido
comprar as coisas do bebê. Queria ter estado ao lado dela para abraçá-la e
dizer para ela que jamais estaria sozinha. Queria dar todo o meu carinho e
amor para apagar todo mal que fiz. E agora ela estar morta? Por que, Dio?
Por que a tirou de mim, quando ainda nem a fiz feliz de verdade? Eu nem
pude pedir perdão!
Levanto da cadeira em que sentei e saio cambaleando sem rumo pelo
hospital. Penso, repenso, e não vejo sentido em nada do que está
acontecendo. Tudo que me vem à cabeça continua sendo ela e a maldita
pergunta que me atormenta:
Por que ela?
Quero vê-la, beijá-la, poder abraçar aquele corpo que fica tão pequeno
nos meus braços, que se encaixa a mim com tanta perfeição.
Continuo andando até que chego na área dos berçários, hesito um
pouco, eu ainda não o vi. A ansiedade faz meu corpo tremer, eu me aproximo
ainda mais e uma enfermeira, que certamente sabe quem eu sou e o que acaba
de acontecer, me olha com compaixão.
Ando, devagar, até chegar ao vidro que nos separa e uma outra
enfermeira levanta um pacotinho, enroladinho numa manta azul clara,
bordada com seu nome.
— Dante!
Nome lindo esse que ela escolheu, não poderia ser outro. A
enfermeira, com ele no colo, vem em minha direção e pergunta, baixinho, se
eu quero segurar ele.
Com minha resposta afirmativa, ela me conduz para dentro do
berçário, onde vejo algumas poltronas ao lado de bercinhos minúsculos, e
com sua ajuda, consigo me sentar, higienizar minhas mãos e finalmente, tê-lo
em meus braços.
Ela me ajuda a segurá-lo, direitinho, e de forma que eu não o
machuque. Quando consigo, finalmente, segurá-lo sozinho, olho para seu
rostinho e ele está me encarando de volta, acredito que ainda não entenda que
sou seu pai, mas logo ele entenderá, e saberá que sou capaz de qualquer coisa
por ele, para protegê-lo, para vê-lo feliz.
Agora, ele é o centro do meu mundo, e eu juro, que ele jamais ficará
só. Ali, sentado, com Dante em meus braços, sinto o peso do dias em coma, a
fraqueza do meu corpo e a tristeza em meu coração, me recosto na poltrona, o
abraço ainda mais apertado, e, mais uma vez, choro. As enfermeiras apenas
me observam de longe, me deixando em conexão com meu filho. Sei que
preciso ser examinado pelo médico, o meu estado não deve ser dos melhores.
Então chamo as enfermeiras e aviso que preciso ir. Entrego o pacotinho
delicado para uma delas, e ela o coloca de volta no bercinho dele.
Fico mais um pouco olhando para ele, que vai, devagarinho,
resvalando para o sono, e se tornando, a cada minuto, o meu único motivo
para continuar vivendo. Meu filho me fez encontrar a calma diante de tudo o
que está acontecendo, me fez entender que não posso desistir agora, pois o
tenho comigo e vou cuidar com todo o amor que eu puder lhe dar.
Saio do berçário e vou para onde todos estão sentados, aguardando
por outras notícias. Todos estão tristes, assim como eu, e neste momento
creio que ninguém ficaria em um estado diferente disso. Perder Violleta, uma
pessoa tão importante para nós, abriu uma lacuna em nossa família. Jamais
conseguirei expressar, com palavras, o que estamos sentindo. Providências
precisam serem tomadas, e alguém precisa encaminhar as coisas. Então eu
digo:
— Vou ver o médico agora, para que possa realizar os exames finais e
me liberar, para ir para casa. Acho que todos devem fazer o mesmo, vão para
casa, não podemos fazer nada agora. Espero que descansem, pois a partir de
amanhã teremos muitas coisas a serem feitas e muitas decisões a serem
tomadas. — Digo olhando para todos.
— Tem razão meu filho, é melhor descansarmos mesmo. Por favor,
vá ver o médico, você acabou de sair de um coma, não era nem para estar
fora da cama — diz mamma, que estava chorando até esse momento.
— Eu vou, mas não há nada que me segure neste hospital nem mais
um dia. Não esqueçam de irem ver o neto de vocês. — Falo olhando para
meu pai, minha mãe, e também Ivan, que até agora estava quieto, no canto,
com os pensamentos longe. — Estou indo, mas logo chegarei em casa.
Volto para a área onde fiquei internado e uma enfermeira vem ao meu
encontro e me conduz para a sala do médico. Apesar do coma e da loucura da
última hora, ele diz que estou em ótimo estado de saúde e me libera para
voltar para casa, desde que, guardando o repouso necessário.
Sigo, então para casa, para o conforto que sei que minha família me
proporcionará, mas, só de pensar que Violleta não estará lá, a tristeza volta,
com força, me fazendo lembrar que a partir deste momento, eu não a terei
mais, não verei mais seu sorriso, não ouvirei sua voz.
Violleta Ferrari
Ettore chega cambaleando no quarto e tenho que prender o riso para
que ele não veja, quase caí de cara no chão e trava uma luta com os botões da
camisa social, toda amassada, que veste. Ajudo ele a tirar a camisa, e depois
ele segue para o banheiro. Fico receosa de que ele possa cair e se machucar, e
por isso chego bem próximo à porta, que está entreaberta. E conforme me
aproximo, vejo ele embaixo do chuveiro, com a água escorrendo por seu
corpo. É uma imagem de tirar o fôlego, Ettore é quente por natureza, e assim,
todo molhado, faz meu ventre esquentar.
Ele deixa que a água caia abundante sobre si, despeja um pouco de
sabonete líquido na mão, começa a se masturbar e a cena à minha frente faz
crescer uma vontade louca dentro de mim. Fico olhando aquela cena, e
pensando no quanto eu queria estar cavalgando sobre ele, agora, ou de quatro
enquanto soca em mim com força.
Ele aumenta seus movimentos, e seus gemidos roucos fazem uma
bagunça com minha libido. Na hora de gozar, ele olha diretamente em meus
olhos, não era para ele me ver, mas não consegui parar de olhar. Está
evidente, em meus olhos, o desejo que me queima, por ele, agora. Ele goza,
de olhos fechados, e, para que eu não perca a minha força de vontade, saio do
banheiro e vou, direto, me deitar.
Não quero olhar em seus olhos, nem mesmo falar qualquer coisa,
estou quente demais, necessitada demais, e sei que acabaria cedendo ao
desejo de fazer amor com ele e realizando todas as nossas vontades, mas, não
posso fazer isso. Ele tem que pagar por tudo que me fez, e já sei exatamente o
que fazer.
Mais tranquila fecho meus olhos antes que ele venha para a cama,
logo o sono me toma e deixo-me levar.
*****
A despeito de toda a tensão sexual da noite, eu consegui dormir
rápido, e agora quando acordo, me espreguiço e me levanto rápido, indo
direto para o banheiro, tomo um banho, me visto e vou para o quarto do meu
bebê. Quando entro ele está nos braços da babá que está brincando com ele, e
me diz:
— Bom dia senhora, já dei banho no pequeno, e ele está pronto para
mamar! — Eu, como sempre, fico maravilhada com tamanha perfeição e me
preparo para alimentar o meu principezinho.
— Bom dia, deixe só que eu me acomode e pode me passar ele. —
Como sempre acontece, eu esqueço do mundo ao meu redor quando estou
com meu filho nos braços, o nosso vinculo é muito forte, ele me olha
enquanto mama, e eu passo a conversar com ele: — Está na hora do seu café
da manhã, não é, meu amor? A mamãe está aqui, você pode mamar o quanto
quiser.
Falo, enquanto o acomodo no outro seio. Ele sorri para mim com
aquele sorrisinho banguela que tanto amo. Quando percebo que está satisfeito
o coloco para arrotar, e depois de tudo, vou com ele para a sala de jantar,
onde todos já estão acomodados para o café da manhã, menos Ettore.
Dante é a alegria da casa, e todos brincam com ele um pouco, Ettore
chega, e logo depois fazemos nossa refeição.
Termino e sigo com Dante para o jardim, onde meu material de
desenho já está disposto, me esperando. Brincamos um pouco até ele
cochilar, coloco-o no bebê conforto e começo a fazer um desenho dele. O
desenho fica realmente muito bom, mas não foi difícil desenhá-lo, meu filho
é uma perfeição.
No acidente fiquei com muito medo de que algo acontecesse comigo,
mas tive muito mais medo de perdê-lo, mas graças a Deus o tenho comigo,
salvo, e muito bem de saúde. Faço mais um desenho enquanto ele dorme e
quando ele acorda o levo para dentro, pois Bianca pediu para ficar com ele
um pouco.
— Vamos para a titia, meu amor? — falo levando-o até Bianca, que
não resiste a mimar o sobrinho.
— Ele é tão lindo, nem parece ser filho daquele brutamontes do
Ettore! — fala sorrindo, enquanto brinca com Dante, em seu colo.
— Muito pelo contrário, é a cara dele, só espero que não tenha o
mesmo temperamento.
— Ele não terá, será criado como uma criança normal, não como
alguém que vai assumir a chefia da máfia, um dia. E é para isso que
cuidaremos dele, para que não aconteça isso!
— Sim, graças a Deus, posso contar com vocês para me ajudar nessa
missão, ele terá um futuro lindo e espero que ele aproveite, sem
arrependimentos, mas que seja com bondade e sabedoria.
— E é assim que vai ser não é, Dante? A titia vai cuidar de você com
todo amor, viu, meu pequeno?
Bianca faz uma voz de criança enquanto fala com ele, e Dante se
acaba nas risadas, como se entendesse tudo. Sorrio com isso, pois sei que está
rodeado de pessoas que o amam muito, e isso me deixa muito feliz.
Ficamos até a hora do almoço conversando, e quando Ettore chega,
pega Dante para a tarde dos meninos enquanto eu saio, com Bianca e Sandra
para comprarmos algumas coisas.
Em breve, acontecerá a apresentação de Dante para todos, como
prometido, desde o começo. Fico um pouco apreensiva, mas sei que tudo dará
certo, pois Ettore prima pela segurança de nossa família. Desde o início, o
intuito do nosso casamento, foi que Ettore tivesse um filho, um herdeiro, e
agora que o temos, ele precisa ser apresentado a todos, pois é o herdeiro do
Chefe da Ndrangheta.
Não penso em meu filho como o próximo capo, mas como alguém
que seguirá o caminho que ele quiser, o caminho que ele escolher, e não o
que lhe será imposto pelas regras da máfia. O meu desejo é que ele seja feliz,
e não me importo se sua felicidade virá com ele sendo um médico, um
advogado, ou até um capo da família mais poderosa da máfia italiana, como
todos de sua família são, o que me importa é que ele seja algo que, realmente,
queira ser.
Compramos nossos vestidos e também compro um terno em miniatura
para Dante. Não resisto à esses mimos e já imagino meu filho usando essa
roupinha tão linda. Sandra comprou um vestido na cor salmão, e Bianca
comprou um preto que parecia moldado exclusivamente para o seu corpo; já
eu, comprei um vestido vermelho escarlate, tomara-que-caia, que modela
minhas curvas. Sei que Ettore ficará de boca aberta quando me ver nesse
vestido, e esse será mais um passo no saldo da dívida moral que ele tem
comigo.
Terminamos nossas compras e retornamos para casa. Quando entro,
não vejo ninguém na sala, e me recordo que todos estão na reunião que iam
ter hoje, com Ettore. Acabo subindo direto para o quarto, para deixar as
compras que fiz hoje, e tão logo guardo as sacolas, vou direto ver meu
pequeno, que está com a babá, em seu quarto, brinco com ele um pouco, dou
banho, coloco uma roupinha fofa e dou de mamar.
Apesar de a babá estar aqui para fazer essas coisas, quero fazer de
tudo um pouco com ele, e não deixar nenhuma experiência passar, pois sei
que essa fase passa muito rápido e logo, logo ele cresce e eu não fiz quase
nada, então quero aproveitar todos os momentos possíveis. Ainda mamando
Dante dorme e eu o coloco no berço, agora sim, deixando-o sob os cuidados
da babá.
— Violleta o jantar está para ser servido, só estamos esperando você.
— Sandra me avisa e caminha até Dante, dando-lhe um beijo na testa.
— Me espere, já estou indo também!
Descemos e todos já estão à mesa, cumprimento-os e vou até meu pai,
para lhe dar um beijo na bochecha, depois me sento do lado do Ettore. Todos
me cumprimentam também, e logo depois, nos servirmos.
Terminamos de comer, me despeço de meu pai e de todos na mesa, e
sigo para o quarto para tomar um banho. Está na hora de dar mais um passo e
vou começar desde já.
Tomo um banho demorado de banheira, me seco suavemente, passo
meus cremes e coloco uma lingerie para dormir que é um pouco transparente,
mas, que mostra apenas o suficiente, penteio meus cabelos e os deixo soltos;
sigo para o quarto de Dante e fico um pouco com ele, enquanto dorme.
Fico observando meu filho, e muitas vezes, ainda não acredito que fiz
essa lindeza. Deixo meu príncipe dormindo, ligo a babá eletrônica e vou para
o quarto, pelo horário Ettore já terminou seu trabalho. Conheço seus hábitos,
sei que que ele gosta de tomar banho com a água apenas morna, sei que
quando ele termina de tomar banho desce para beber água, então, aproveito
que todos já foram dormir e vou para a cozinha.
Invento de fazer um chocolate quente para mim, e fico encostada no
balcão, esperando que termine de aquecer o leite. Sinto uma presença atrás de
mim e sei que é ele, pelo cheiro que se espalha por todo local. O cheiro de
Ettore é inconfundível. finjo que não o vi, abro a geladeira para ver o que
posso comer acompanhando o chocolate, vejo o que sobrou de uma torta de
chocolate na parte de baixo, me inclino para pegar e escuto um grunhido atrás
de mim. Sorrio, satisfeita, para mim mesma, por saber que está dando certo.
— Pensei que já estivesse deitado.
— O que ainda está fazendo aqui a uma hora dessas?
— Estou faminta, queria comer alguma coisa doce e vim fazer um
lanche!
Levanto, e trago a torta comigo, o vejo encostado na parede e parece
que terminou de tomar banho agora, pois ainda tem alguns pingos de água
pelo corpo, ele está somente com uma calça fina, de pijama, que já está
mostrando o formato de seu pau totalmente duro, seus olhos estão totalmente
escuros de excitação. Mordo meus lábios, olho para ele e em seguida, me viro
para terminar de fazer meu chocolate quente.
— E você o que veio fazer aqui uma hora dessas? — pergunto, de
costas para ele.
— Vim pegar uma água, mas não imaginei que você estivesse aqui, e,
ainda por cima, vestida desse modo. Você não pode andar pela casa vestida
deste jeito, Violleta… — Ele fala a última parte quase como um sussurro,
mas eu ainda o escuto.
— É mesmo? Eu estava com Dante ainda há pouco, desci assim por
que achei que todos já estivessem em seus quartos, mas numa próxima vez eu
me cubro mais, não se preocupe! — digo, com ar inocente.
— Está bem, vou beber minha água e voltar para o quarto! — Ele fala
e sua voz rouca, e gostosa de se ouvir, demonstra todo o tesão que posso ver
através da calça. Estou dando pulinhos por dentro, por ver o quanto ele está
excitado agora.
— Tudo bem, já vou me deitar também, boa noite!
— Boa noite!
Ele sai da cozinha rápido e assim que termino meu lanche, vou para o
quarto. Ele não está na cama, talvez esteja no banheiro. Sorrio e vou me
deitar, me viro para o lado oposto a ele. Fico em uma posição estratégica,
nem muito coberta e nem muito exposta, mas de modo que ele não possa
deixar de olhar. Fecho meus olhos, e ouço ele sair do banheiro, tenho certeza
que tomou outro banho.
— Caralho. Essa mulher ainda vai acabar comigo. Se eu não morrer
desidratado de tanto bater punheta…
Ele resmunga, baixo, para si mesmo, e eu continuo quietinha, até que
ele se deita. Leva algum tempo para que eu sinta sua respiração ficar leve,
mas assim sei que dormiu. Este dia da missão está completo, e espero que ele
aguente firme, pois em breve coisas piores virão.
Depois disso vou dormir até mais leve, tamanha a alegria que
observar a excitação dele me causou.
epois de Dante dormir em meus braços, vou deixá-lo em seu quarto, e
D com cuidado, o coloco no berço. Fico velando seu sono por alguns
minutos, e então saio do quarto para resolver algumas coisas. Desço para
a sala, e apenas Domenico está.
— Cadê as mulheres dessa casa? — pergunto.
— Todas saíram, foram comprar as roupas para a apresentação de
Dante!
— Mas já? Elas são bem rápidas quando o assunto é gastar ou festa!
— A porta se abre e Pietro entra ao lado de Ivan.
— Como vai, Ivan? — digo, cumprimentando-o. É estranho estar
próximo de um homem que odiamos por tanto tempo sem motivo.
— Olá, Ettore, vou bem.
— Violleta saiu com mamma e Bianca, Dante está dormindo. Agora,
só nos resta, então, falarmos de negócios. Vamos para o escritório, lá
ficaremos mais à vontade.
Vamos juntos ao escritório e enquanto eles se sentam nas poltronas eu
pego uma garrafa de whisky, coloco gelo nos copos e sirvo a todos, em
seguida, faço a volta na mesa, me sento, pego um charuto e acendo.
— Já está mais que claro que não foi meu pai o mentor e realizador da
operação para sequestrar sua filha, que só depois descobrimos ser Violleta —
digo a Ivan.
— Sim, você está certo.
— Você disse que estava em uma missão naquele dia, e que era seu
irmão quem estava cuidando das coisas enquanto passava esse tempo fora!
— Isso mesmo, foi ele quem me ligou, dizendo que Domenico estava
chefiando a operação e… foi morto logo depois, supostamente por seu pai.
— Que você saiba — completa meu pai. Ainda não estava cem por
cento gostando da ideia de ter Ivan por perto depois da rixa de anos, mas
estava disposto a provar sua inocência. Abriu uma foto no celular e mostrou a
Ivan.
O russo empalideceu ao reconhecer o rosto.
— Ele está bem vivo, eu asseguro — diz Domenico. — Então,
acredito que temos um suspeito muito provável.
Ivan dá um longo suspiro.
— Viktor… As circunstâncias da morte dele sempre foram
misteriosas… Sem corpo, apenas um dedo e a língua — divagou o russo.
Quase esbocei um sorriso, meu pai era realmente bom nesse tipo de coisa,
mas aparentemente alguém conseguia imitá-lo à perfeição. — Lembro-me
que você era um mestre com corpos.
Meu pai meneou a cabeça aceitando o elogio de Ivan.
— E agora, o que pretende fazer a respeito? Precisamos saber qual era
a sua intenção ao retirar Violleta do convívio familiar.
Olho para ele pensativo, e algo me ocorre ao checar novamente a foto.
Eu conhecia aquele rosto…
— Como eu suspeitava, ele é o capo irlandês — digo olhando para
meu pai. — Foi ele quem me passou a localização de sua sede em São
Petersburgo. Ele é a nossa ponte com o IRA.
— Meu irmão? Ele é um capo? Tem certeza disso, Ettore? Tive
muitos problemas com essa organização, mas, nunca soube quem era o chefe,
ou onde ele se escondia!
— Ele não é exatamente um capo, ele age como uma conexão de
organização para organização e estávamos prestes a vender um enorme
arsenal para os irlandeses, a coisa seria mediada por ele — explicou
Domenico.
— Tem certeza que é ele? Isso é muito irreal, eu enterrei um caixão
vazio por não saber onde o resto dele estava — lembrou-se Ivan.
— Sim, tenho certeza. Tudo faz sentido — digo ligando os fatos. —
Se Violleta desaparecesse, jamais haveria um herdeiro seu para que
assumisse o seu posto. Ele queria Violleta longe porque sabia que quando ela
tivesse um filho, ele ficaria com tudo. E, com nosso casamento, uniríamos
duas das famílias mais poderosas do submundo, as possibilidades seriam
inesgotáveis. O poder seria absoluto. Não percebe o que aconteceu? Violleta,
ela tem um filho agora, e sendo ele seu neto e meu filho, Dante herdará dois
dos mais importantes braços da máfia, a Ndrangheta e a Bratva. Ironicamente
Violleta, que eu não sabia ser a sua filha desaparecida, veio parar no lugar ao
qual sempre pertenceu.
— O que vamos fazer, agora que sabemos de tudo isso? — Domenico
pergunta, e eu olho para Ivan.
— Você escolhe, Ivan. A única certeza que tenho neste momento é
que seu irmão morrerá. Se pelas suas mãos, ou pelas minhas, você escolhe. E,
independente de quem o mate, ele deverá sofrer, sua morte será com
requintes de crueldade para que pague por todos os momentos de agonia que
nos fez passar. Nossas famílias terão essa vingança.
— Prefiro que seja pelas suas mãos, Ettore. Apesar de saber que é o
correto a ser feito, não tenho essa coragem. Não devemos aceitar tamanha
traição, mesmo que tenha partido de alguém que é sangue do nosso sangue,
então pode ir em frente!
— Considere feito, Ivan. Devemos esperar passar a apresentação de
Dante, e então daremos início ao plano. Manteremos a máxima discrição
possível, para que não desconfiem de nada. Apenas nós, e Pietro, temos
conhecimento deste plano, o que deixar escapar algo, morrerá junto com o
capo irlandês.
Acabamos a reunião, tomamos mais uma rodada de whisky e
descemos para jantar. A reunião se estendeu mais que o previsto e já está um
pouco tarde. Terminamos o jantar, nos despedimos de Ivan e eu subo para o
quarto com Violleta logo atrás. Espera ela tomar um banho antes de dormir e
logo em seguida, faço o mesmo. Hoje está fazendo muito calor, me enxuguei
apenas o suficiente pra não molhar a calça fina de pijama que visto, e como
de costume, desço até a cozinha. Quando chego vejo Violleta de costas, com
uma camisola um pouco transparente, mexendo algo no fogão.
Que diabos ela está fazendo aqui uma hora dessa? E ainda mais
vestida assim, sinto um desconforto por debaixo da calça e tento acomodar
meu pau da melhor forma possível, para que ela não perceba. Pergunto a ela
o que faz um hora dessa aqui desse jeito, ela me diz que queria fazer um
chocolate quente, mas no fundo sei que quer me provocar. Posso sentir a
provocação em suas palavras e em todos os seus calculados movimentos.
Eu engulo um pouco de água e volto para o quarto, praticamente
fugido. Eu tentei não me importar, tentei agir com naturalidade, mas quando
ela se inclinou para pegar a torta de chocolate na geladeira toda minha força
de vontade e minha decisão de dar a ela o tempo necessário para se lembrar;
me abandonaram e eu corri de volta para o quarto, deixando-a na cozinha,
com seu chocolate quente e sua torta sabor pecado.
Se antes estava calor, agora parece que estou caminhando sobre
labaredas. Tudo que mais quero é jogar Violleta na cama e fodê-la até que
meu pau fique em carne viva e nós dois não tenhamos mais forças. Apesar de
ter acabado de tomar banho, volto ao banheiro e mais uma vez tenho que me
aliviar com minhas próprias mãos.
Essa mulher quer acabar comigo, e esse pensamento se torna uma
certeza quando saio do banheiro e a vejo deitada, com aquela camisola que
não cobre nada, de bunda para cima. Ela não sabe mais está brincando com
fogo e se ela quer jogar eu posso entrar neste jogo também.
Acordo primeiro que Violleta, entro no banheiro sem levar minhas roupas,
faço minha barba, tomo meu banho tranquilamente, saio do banheiro e volto
para o quarto, nu. Violleta está sentada na cama se espreguiçando, ainda com
os olhos fechados, mas quando os abre, seu olhar vai direto para o meu pau,
que em resposta ao desejo que observo em seus olhos, começa a se animar. É
impossível manter a compostura com ela me olhando desse jeito, mas não
vou me precipitar.
Quando seu olhar sai do meu pau e encontra meus olhos, eu apenas
dou uma piscadela para ela, saindo do seu campo de visão e indo para o
closet.
Este é um jogo onde dois podem jogar, querida.
Quando termino de me vestir vou para o quarto de Dante, assim que
entro digo a babá para ir tomar café, para que eu fique sozinho com meu
filho. Pego ele em meus braços, seu cheirinho é maravilhoso e faz com que
entre num estado de paz indescritível, e quando ele sorri me arranca um
sorriso também.
— Posso? — Violleta diz atrás de mim, não percebi que estava aqui,
ela entra no quarto e estende seus braços em minha direção.
— Mas é claro que sim!
— Obrigada! — Violleta se senta na poltrona e eu, com todo cuidado
do mundo coloco Dante em seus braços, com delicadeza, e um amor que não
pode ser comparado a nenhum outro sentimento, ela o amamenta, e, enquanto
faz isso, vai conversando com ele.
Finalmente, depois de tudo que passamos, minha família está reunida,
depois do terrível inferno que vivi desde do sumiço de meu anjo até depois
que a reencontrei. É só questão de tempo para que eu acabe com o
desgraçado que nos fez passar por esse inferno.
— Vou descendo, pois preciso falar com Pietro, sobre as providencias
para a apresentação de Dante daqui a dois dias, tudo bem?
— Tudo bem, eu desço daqui a pouco.
Saio do quarto descendo as escadas, todos estão na mesa, depois que
faço minha refeição aviso à Pietro tudo que deve ser feito hoje. Antes de ir
para a empresa, darei uma passada na sede, pois já faz um bom tempo que
não vou até lá, preciso ver como as coisas estão.
***
Quando chego, vou direto para o escritório, e encontro alguns papéis
em cima da minha mesa que Pietro já tinha ajeitado. Olho tudo com calma,
assino alguns papéis, e quando estou terminando, vejo meu celular brilhar em
cima da mesa, olho para ver quem é, e vejo o nome de Leonardo na tela.
— Leonardo, a que devo a honra da sua ligação? — Digo assim que
atendo.
— Como vai, Ettore? Pietro acabou de me ligar, avisando sobre a
apresentação de seu filho, Dante.
— Meu amigo, agora que tenho minha família novamente comigo,
vou muito bem. Vou apresentar meu filho, meu herdeiro, para todos da máfia.
Já está mais do que na hora, não é?
— Fico feliz por vocês. Será um prazer compartilhar com vocês um
momento tão feliz. Amanhã mesmo vamos viajar para a Florença.
— “Vamos”? — Estranho a colocação, no plural, já que Leonardo não
tem mais Soffia ao seu lado.
— Ah! Ettore, você não soube? Conseguir recuperar minha mulher,
Soffia está de volta.
Fico pesaroso pela menina, chego a sentir pena dela, pois Leonardo é
um psicopata, perturbado e dissimulado, que perde o controle pelos mais
simplórios motivos. Ao contrário dele, tenho o controle de tudo, sempre, sei o
que estou fazendo, e antes de qualquer coisa, analiso todas as possibilidades,
para obter sucesso.
Já Leonardo não quer saber das consequências, não tem piedade por
nada e nem ninguém à sua volta. E depois que perdeu seus pais, tudo piorou.
— Fico feliz por vocês estarem juntos novamente.
— Obrigado, amigo, agora vou deixar você voltar ao que estava
fazendo antes de minha ligação, até logo. Nos vemos na festa.
Ele desliga o celular, e fico pensando se devo contar a Violleta sobre
Soffia, apesar que, de nada adiantaria, já que ela não se lembra de nada. Volto
minha atenção para os papéis em cima da mesa, quando termino vou para o
ringue, suar um pouco.
Violleta Ferrari
Estou na defensiva, me corroendo de ciúmes de Ettore. Sei que
minhas palavras o machucaram, e sei também que ele não aceitará isso por
muito tempo, o seu ego não permitirá. Volto para o quarto e em poucos
minutos Ettore sai do banheiro, já vestido. Ele não diz nada, apenas saí do
quarto, e pior, ele sai somente de calça de moletom, sem camisa. Não
acredito que ele vai ficar deste jeito na frente daquela safada oferecida.
Minha vontade é de descer atrás dele, e trazê-lo para o quarto
novamente. Abro a porta e vou até o topo das escadas, procuro por ele, mas
não o vejo por perto, e muito menos a tal Penélope. Desço as escadas às
pressas e pergunto por Ettore, para Sandra, e ela me diz que ele está no
escritório, mas que não estava só.
Deixo-a falando e corro para o escritório, se Ettore pensa que vou
perdoá-lo dessa vez, ele está muito enganado. Com brutalidade, abro a porta
do escritório, mas fico sem graça quando vejo Ettore sentado na poltrona,
atrás de sua mesa, enquanto Penélope está do outro lado da sala, sentada no
sofá. Os dois me olham sem entender nada.
— Desculpem, não queria atrapalhar! — Olho para Penélope. —
Preciso falar com meu marido, a sós, por favor!
— Depois continuamos a conversa, primo! — Ela saí, fechando a
porta atrás de mim.
— O que houve, Violleta? Aconteceu alguma coisa com Dante?
— O que você faz com essa mulher, Ettore, dentro do seu escritório,
só vocês dois?
— Pensei que não estivesse com ciúmes, afinal você nem se lembra
de mim.
— E não estou! — Vou para mais perto de sua mesa, e digo, lhe
encarando: — Escute bem, por que só vou lhe avisar uma vez, Ettore,
baseado em tudo que você me disse, já sofri demais por sua causa. Você está
tendo a oportunidade de se redimir, e se você perder essa oportunidade, pode
ter certeza de que vou morar com meu pai, e você nunca mais me verá. Nem
a mim e nem ao seu filho. — Ele se levanta, de súbito, da poltrona, ficando
bem próximo a mim; tão próximo, que posso sentir sua respiração.
— Não se preocupe meu amor, não vou lhe fazer nenhum mal,
Penélope veio apenas me pedir ajuda para resolver um problema, só isso.
Prometo que não é nada demais, nem cheguei perto dela. O que eu tenho que
fazer para você entender que eu te amo de verdade, e que nunca mais vou te
trair ou fazer algo que a machuque? Eu quero você mais que tudo, Violleta.
Eu amo você e o nosso filho. — Minha vontade é de chorar por ele está,
tentando me reconquistar, e sei que tudo o que diz é verdade, mas ainda não
estou satisfeita.
— E se eu nunca conseguir amar você, Ettore? O que vai fazer? Por
que não pretendo viver com alguém que não amo. Vim ver o que você estava
fazendo apenas para ter certeza se tudo o que me diz é realmente verdadeiro.
Se fosse a antiga Violleta, talvez ela o perdoasse facilmente, mas eu? Eu
perdi a memória, e, sinceramente, não sei se quero lembrar de algo que venha
de sua parte.
— Eu não suportaria viver sem você, Violleta! — Ele passa seu
polegar por meus lábios, fecho meus olhos sentindo seu toque. — Eu te amo.
Vou te amar por toda a minha vida.
Abro meus olhos, ele aproxima seus lábios dos meus, mas, antes que
possa me beijar, eu viro o rosto. Afasto-me dele, sem dizer nada, saio do
escritório e volto para o nosso quarto. Estou determinada a acabar com essa
mentira depois da apresentação de Dante, não consigo passar nem mais um
dia sem ter Ettore ao meu lado, como meu marido.
ego meu vestido vermelho tomara que caia em cima da cama, ele é muito
P justo ao corpo, então optei por não usar calcinha, para não marcar. Assim
que termino me olho no espelho, estou belíssima. Todos já estão me
esperando, inclusive a babá que está com Dante, lá embaixo. Desço as
escadas perante o olhar de todos, e quando chego na sala, pego meu filho nos
braços. Ettore me acompanha até o carro, e abre a porta de trás para que eu
entre e me acomode, com nosso bebê no colo.
Quando chegamos ao salão onde está acontecendo a festa, fico
impressionada com a quantidade de gente no local, muitas delas não vi nem
no meu próprio casamento, mas pelo que eu entendi Dante é herdeiro de duas
importantes famílias da máfia, os Ferrari da Ndrangheta e os Petrov da
Bratva, então acredito que muitos estejam aqui por parte de meu pai. Ettore
cumprimenta algumas pessoas, olho ao redor para ver se encontro alguém
conhecido, até que me deparo com o homem mais bonito e doce que
conheço; Stefano está do outro lado do salão, com uma taça de champanhe na
mão, me olhando com um sorriso.
Entrego Dante para a babá e vou em sua direção. Quando chego perto
lhe dou um abraço forte, e sinto seu coração disparar. Depois que me ajudou
a fugir, trabalhou em algumas missões, e pouco depois se afastou, saiu sem
dizer quando voltava.
— Pensei que tinha voltado para a Rússia — falo olhando-o com
carinho. Eu devia tanto a ele.
— Você não achou que eu iria perder a apresentação do meu
sobrinho, né?
Eu havia esquecido que lugares ocupávamos naquilo tudo, embora
tenhamos trocado aquele beijo quente no trocador da loja nós dois éramos
praticamente irmãos.
— Estava com saudade de você. — Ele sorri ao ouvir-me.
— Eu também. Senti muita saudade.
Tantas vezes me perguntei se teria sido feliz ao lado dele. Porém
agora, com Ettore, tudo está diferente.
— Você vai ficar por quanto tempo? — pergunto interessada.
— Só essa noite, preciso voltar logo.
— Bom, sinta-se à vontade para passar a noite aqui, você conhece o
lugar bem melhor que eu, afinal não é? — brinco e arranco um sorriso de
assentimento dele. — Foi muito bom te ver.
Troco mais um beijo amigável com Stefano e o deixo em paz com sua
bebida para assediar as “princesas mafiosas”. Saio de perto dele e volto para
onde está Ettore, que me olha estranho, e no mesmo instante me dou conta da
burrada que acabei de fazer. Ele viu minha conversa com Stefano, só que,
para Ettore, eu não lembrava de nada, como pude vacilar desse jeito?! Preciso
resolver isso, e tenho uma ideia.
— Você não vai acreditar, Ettore. Eu tenho um irmão! — Ele me
olha, incrédulo. — Stefano! E acho que me lembro dele.
— Você está me dizendo que se lembrou do homem que lhe ajudou a
fugir, mas não lembrou de mim? — Diz, parecendo uma criança mimada.
— Não tenho culpa Ettore, o médico disse que os detalhes vêm e vão
aleatoriamente. — Eu digo, inocentemente, e dou de ombros. — Ao menos
estou feliz por saber que minha família é um pouco maior.
— Vamos fazer logo essa apresentação — sussurra em meu ouvido,
então. — Quero te fazer lembrar de algumas coisas boas essa noite…
Sinto um arrepio subir por minhas costas onde a mão dele toca. Ele
me guia até o palco principal, Dante está sorridente em meus braços, e tudo o
que mais quero, a partir de hoje, é ser feliz, sem interferências, só ser feliz.
Ettore pega o microfone chamando atenção de todos.
— Quero agradecer a presença de todos que estão aqui, hoje. Que
vieram celebrar a chegada do mais novo herdeiro da Ndrangheta. É com
muita honra e muita, muita alegria, que lhes apresento meu filho, Dante
Ferrari, herdeiro da máfia italiana e também, da máfia russa.
Todos aplaudem com muita alegria, e eu me alegro também, mas, no
fundo, não é esse o destino que quero para o meu filho. A máfia pode ser
destrutiva, e mesmo que eu diga, que ele será o que quiser, vou sempre
desejar o melhor para ele, nós, mães, sempre querermos o melhor para os
nossos filhos.
Dante acaba dormindo em meus braços, entrego ele para a babá que
volta para a casa. Meu marido e eu, ficaremos até o final da festa, pois somos
os anfitriões e temos regras de etiqueta a cumprir.
Olho para Ettore, e ele está conversando com alguns parentes e
amigos, olho em volta para ver se acho alguém conhecido, mas só vejo
Sandra, conversando com algumas mulheres, das quais não gosto. Vou ao
banheiro retocar a maquiagem, e quando entro não vejo ninguém, caminho
até o espelho e abro minha bolsa de mão para pegar um batom, caminho em
direção à saída, e paro próximo à porta, pois ouço um fungado, como se
alguém estivesse chorando.
— Olá? — Falo para ver se alguém responde. A porta de um dos
sanitários é escancarada, e nesse instante levo um susto.
— Violleta! — Soffia está chorando, com o rosto muito vermelho, e
sua maquiagem borrada.
— Soffia? O que faz aqui? O que aconteceu?
— Aquele monstro conseguiu me capturar, Violleta! — Ela me
abraça, envolvo seu corpo frágil em meus braços, e me sento no chão frio,
com ela.
— E agora, o que faremos?
— Não faremos nada. No fundo, eu sabia que não chegaria muito
longe de Leonardo. Aquele homem é o meu inferno aqui na terra, e agora que
ele conseguiu me ter, novamente, tudo está mil vezes pior, o meu sofrimento
só piorou, Violleta, e eu não posso fazer nada!
Antes que eu pudesse falar alguma coisa para consolá-la, a porta do
banheiro é empurrada, brutalmente, e olhamos juntas na direção do barulho.
Leonardo está impecável, como sempre, e olha para nós, no chão, sem
demonstrar reação alguma.
— Vamos, Soffia! — diz, calmamente, e Soffia olha para mim, como
que pedindo ajuda. Olho para minha amiga, com muita pena de sua situação,
mas não posso fazer nada, desta vez. Não posso me meter mais uma vez na
mesma confusão. — Vamos levante, ou vai querer que eu mesmo lhe tire daí?
— Vamos, querida. Seja forte — digo, ajudando Soffia a levantar, me
condenando por dizer a mesma coisa que sempre me falavam quando tudo o
que eu queria era fugir. — Não se preocupe, depois vou pedir a Ettore que me
leve até sua casa, para que possamos conversar um pouco!
— Adeus, Violleta!
A angustia aperta meu peito quando vejo ela partir dizendo aquilo, sei
o quanto homens como Leonardo e Ettore podem ser cruéis e nos machucar,
e sabendo que Leonardo pode ser ainda pior que meu marido, fico com mais
medo ainda, temendo pela segurança de Soffia, mas é algo que está fora de
meu alcance.
Volto para a festa, Ettore está no mesmo lugar de antes, a música está
um pouco lenta demais, e sinto a presença de alguém próximo a mim, e
quando me viro, Stefano está perto demais.
— Concede essa dança, senhorita Petrova? — pede, estendendo sua
mão como o cavalheiro que é.
— Claro que sim.
Ele me conduz até o centro do salão, a música está ótima, ele me
conta algumas coisas engraçadas que aconteceram com ele durante o tempo
que passou fora, também me disse que conheceu uma mulher, porém não
entrou em detalhes. Era bom saber que estava vivendo de novo fora da
responsabilidade que tinha comigo e sua promessa ao meu pai. Eu sentiria
falta dele quando fosse embora.
Quando a música acaba olho para ver se encontro Ettore, mas não o
vejo em lugar algum, então vou até Pietro, que está conversando com uma
loira, muito bonita por sinal.
— Pietro, você viu Ettore?
— Não, da última vez que o vi, ele estava conversando com os sócios!
— Não, não está mais.
— Vou ligar para ele! — Ele liga, mas Ettore não atende. —
Esquisito, ele não está atendendo!
— Eu vou lá fora, para ver se o carro está estacionado!
Saio, e dou uma olhada geral, mas não vejo seu carro em lugar
nenhum. Vou até onde estão alguns dos soldados, e um deles me diz que
Ettore saiu com o motorista já faz alguns minutos, disse-me que ele foi para
casa, pois não estava se sentindo bem, mas Ettore não parecia estar sentindo
algo.
Peço para que o outro motorista me leve para casa, preciso saber o
que aconteceu, para ele sair dessa forma sem ao menos me avisar o porquê de
sua partida repentina.
Ettore Ferrari
Acordo sentindo um enjoo infernal, pela droga, e pela bebedeira de
ontem. Ter usado depois de tanto tempo, realmente, não me fez bem. Lembrei
de tudo que fiz ontem, e fiquei pensativo, remoendo tudo que aconteceu. Ver
a cena de Violleta dançando com Stefano, na festa, foi como reviver os
pesadelos de quando eu estava em coma, e ali eu vi que realmente não teria
outra chance para me redimir com ela.
Pensei, seriamente, que ela seria mais feliz com ele, que cuidaria
melhor de nosso filho ao lado de alguém que ela se lembrasse de ter tido
somente bons momentos. Lembrar disso me faz um mal danado, que eu,
sequer, saberia descrever. Doeu... Doeu tanto, que eu cheguei a sentir o
aperto no peito, a dor física, me consumindo. Me senti um lixo vendo aquela
cena, milhões de pensamentos fervilhando em minha cabeça, em outras
circunstâncias, eu tiraria Violleta dos braços do Stefano e o mataria ali
mesmo, mas, ao mesmo tempo, eu sabia que se fizesse isso, ela não me
perdoaria de jeito nenhum.
Levanto, e Violleta só vira para o meu lado e abraça meu travesseiro,
isso me faz abrir um sorriso por saber que até dormindo ela quer me ter por
perto. Vou preparar uma surpresa para ela hoje, estamos bem, quero mostrar
para ela que realmente mudei e que quero fazê-la feliz.
Tomo um banho, coloco um terno, meu relógio, perfume, escrevo um
bilhete para ela e sigo para baixo onde todos estão, inclusive os parentes que
vieram para a festa de apresentação.
— Buongiorno a tutti! — cumprimento, sentando.
— Buongiorno! — Todos respondem e logo voltar a conversar entre
si.
Tomo meu café e vou para o escritório, faço todas as coisas que
preciso e deixo algumas coisas para Pietro cuidar depois, dou andamento aos
meus planos.
Violleta Ferrari
Não vi Ettore o dia inteiro, e isso me deixou apreensiva, fiz tudo que
tinha que fazer pela manhã, e depois fiquei com Dante e nossa família no
jardim. Brinquei com as crianças, conversei com Sandra, Bianca e algumas
tias e primas delas. Ao cair da tarde, eu entro para colocar Dante para dormir,
pois ele está um pouquinho enjoado, acho que está cansado.
Dou banho, dou de mamar e logo ele está capotado, como eu imaginei
que aconteceria, meu anjinho ficou muito cansado por ontem e hoje serem
dias tão agitados. Deixo ele no berço, com a babá a postos, e sigo para o
quarto onde encontro Ettore de costas, na beirada da sacada, ele está vestido
com roupas simples, somente uma calça jeans, a camiseta branca e uma
jaqueta preta por cima. Chego de fininho, por trás, e o abraço, ele se assusta,
acho que ele estava com os pensamentos longe, já que nem percebeu que eu
estava atrás dele.
— Oi — falo, quando ele se vira, fica de frente para mim e me abraça.
— Oi, meu amor! — Ele sorri, me aperta em seus braços e volta a
olhar para as pessoas que estão lá embaixo.
— Por que está aqui sozinho? Por que não desceu e ficou com todos
lá em baixo?
— Estava cuidando de algumas coisas para mais tarde. Cheguei
agora, ainda não tive tempo de ir cumprimentar todos.
— Hum... E o que está preparando para mais tarde? — pergunto,
tentando controlar a curiosidade.
— É uma surpresa. Algo para nós dois, e espero que goste! — Ele
fala, e apoia seu queixo em minha cabeça.
Um lapso de medo me trespassou ao pensar na última surpresa que
Ettore me fez. A noite havia terminado com ratos e um cadáver.
— Espero que não tenha nada a ver com o celeiro — falo, olho para
ele de novo, e envolvo seu pescoço com meus braços.
— Nunca mais. Vista algo leve, te espero lá em baixo. — Ele fala me
dá um beijo de leve.
— Até daqui a pouco, então. Prometo que não demoro.
Retribuo o beijo, e sigo para dentro do quarto para me preparar. Tomo
um banho de banheira, lavo meus cabelos e hidrato bem minha pele, quando
termino o banho, vou para o closet, passo um creme de pele que me deixa
ainda mais macia, escovo meus cabelos, e os deixo soltos, escolho uma
lingerie bonita e um vestido que é colado dos ombros até a cintura e que é
solto em baixo, termino de me vestir, coloco um par de sandálias baixas, faço
uma leve maquiagem, e estou pronta.
Vou até o quarto e Dante está dormindo, dou um beijo nele e sigo
para a sala aonde todos estão, inclusive Ettore.
— Boa noite, à todos!
— Boa noite! — Eles me respondem.
Sorrio de volta e meus olhos encontram aquele que tanto quero. Ettore
vem até mim, me beija, pega minha mão e sai da sala onde todos estavam.
— Está linda, sabia?
— Obrigada, amor. — Sorrio e volto a beijá-lo.
— Agora eu posso saber para onde vamos? — pergunto, ansiosa para
descobrir de uma vez.
— Quando chegarmos você saberá. Acredito que gostará muito! —
Ele fala e entramos no carro, seguindo para onde apenas ele sabe.
♡♡♡♡♡♡♡
Ettore para em frente a uma casa linda e descemos do carro, ele pega
em minha mão e nos conduz direto para a porta, quando paramos, ele me
entrega uma chave.
— Abra a porta, meu anjo!
Ele sorri, se divertindo com a minha cara de quem não está
entendendo nada. Faço o que ele pediu e acabo abrindo a porta, mas dentro
da casa, tudo está escuro. Quando dou um passo adiante, as luzes se acendem,
e eu posso ver o quão lindo é tudo aqui dentro.
Ettore me mostra todos os cômodos da casa, que é enorme, o único
cômodo que não me mostra é o quarto principal, mas pelo tamanho do
restante da casa, posso imaginar que o quarto seja fora do comum. A única
coisa que ainda não entendi é o porquê de estarmos nesta casa.
— O que você achou de tudo?
— Não entendi por que estamos aqui, mas achei a casa maravilhosa.
— Já que você gostou tanto assim, seja bem-vinda a sua nova casa!
— Ele fala, e eu fico sem fala ao saber que esse lugar todo é nosso.
— Eu... Nem sei o que falar. Está me dizendo que tudo aqui é seu?
— Não, estou dizendo que tudo isso é nosso. Nosso e de nosso filho.
— Meu Deus, Ettore... Obrigado! Obrigado! Obrigado! É tudo tão
lindo. Todos os cômodos, móveis, o local, tudo é perfeito!
— Mas falta um lugar que você ainda não viu, não é mesmo?
— Sim! É claro que falta.
— E qual é? — Ele pergunta chegando mais perto, minha respiração
acelera quando ele me abraça por trás e respira perto da minha nuca,
enquanto fala.
— Nosso quarto! — Minha voz falha, por causa da excitação que
começa a crescer, por imaginar o que faríamos nele.
— E o que você acha de irmos ver?
— Acho uma excelente ideia!
Ele segura minha mão e seguimos para o andar de cima, andamos até
uma porta diferenciada das outras duas.
— É aqui? — Eu pergunto, apenas para confirmar.
— Abra e veja. — Já emocionada, faço como ele pede.
Meu coração dispara, e as lágrimas descem quando me deparo com a
surpresa que ele fez. Tem fotos nossas, dentro de vários balões, que flutuam
pelo quarto. São fotos de nós dois, quando éramos crianças, antes que eu
fosse levada de meus pais. Fotos do nosso casamento, de eventos que
comparecemos juntos, e com o Dante, brincando juntos. Todas nossas
recordações boas estão no quarto.
Pelo chão do quarto, seguindo até a cama, está coberto de pétalas de
rosas, próximo da cama tem uma cesta, onde vejo os meus chocolates
favoritos, as frutas de que mais gosto e um balde de gelo, com uma garrafa de
vinho e duas taças. Ao fundo, uma música lenta e baixa, o quarto à meia luz.
Tudo muito lindo e bem preparado. Não me lembro de já ter recebido,
de alguém, algo tão lindo e especial. E mesmo que eu já tivesse recebido, ter
sido feito por Ettore, torna esse sonho ainda melhor. Mas sei que isso não é
um sonho, pelo contrário, estamos aqui, juntos, e esta é a mais linda
realidade.
— Espero que tenha gostado do quarto, e se não gostou, eu mando
fazerem um que goste, o que acha?
— É lindo de todos os modos, e ser recebida desta forma, no nosso
quarto, torna este lugar um paraíso particular, de nós dois. Eu estou amando
estar nesse quarto, com você, Ettore. Obrigada, meu amor! — Falo, deixando
que as lágrimas, de felicidade, rolem pelo meu rosto enquanto ele me abraça
por trás e beija meu pescoço.
— Faço qualquer coisa para que, a partir de agora, você só tenha
motivos para sorrir, e que cada lágrima que eu a fizer derramar seja de alegria
e jamais de tristeza, pois você e Dante são meu mundo. Te amo Violleta, e
espero, realmente, que seja feliz ao meu lado, pois vou me esforçar todos os
dias para que você acorde com um sorriso feliz, e durma do mesmo modo,
assim como nosso filho! — Ele fala me deixando ainda mais emocionada e
feliz.
— Obrigada amor, nunca pensei que pudesse te amar tanto quanto te
amo agora, e espero poder te fazer feliz do mesmo modo que você me faz
neste momento. Eu te amo muito e espero que sejamos todos felizes, pois ao
seu lado, eu já estou sendo!
Falo e o beijo, lentamente, e mostro todos os sentimentos que tenho
por ele. Ettore aprofunda o beijo, e estamos cada vez mais quentes, carentes
um do outro.
— Hoje não quero transar, fazer sexo ou o que quer que seja. Hoje,
pela primeira vez durante o nosso casamento, quero fazer amor com a minha
mulher. Vou te possuir e foder, mas com todo o amor que tenho por você.
— Estou esperando por isso desde que te vi na casa do meu pai. — Eu
digo, já mole nos braços dele. Sorrio e voltamos a nos beijar, logo estou
encostada nos pés da cama, Ettore beija minha nuca por trás e minhas costas,
que estão à amostra por causa do vestido.
Ele beija minhas costas, vai até em baixo e sobe, passando a mão por
minha cintura e seios, desce a alça do meu ombro e beija em seguida, fazendo
o mesmo com o outro lado, ele vai tirando meu vestido, beijando o caminho
por onde o vestido e suas mãos passam, e em pouco tempo estou somente de
lingerie.
Ele para e me olha com os olhos cheios de admiração, amor e
excitação, o que me faz soltar um leve gemido.
— Como pode ser tão linda? Tão pequena junto ao meu corpo e ao
mesmo tempo tão perfeita desse jeito?
— Me faça sua, Ettore. Quero ser sua em todos os dias, de nossas
vidas. Minha faça sua…
— Não fala assim, quero me segurar para fazer algo romântico, mas
falando assim, você desperta o meu lado mais selvagem, amor.
— Então faça, amor, eu estou esperando isso há muito tempo! — falo
e sorrio de um jeito safado para ele, deito na cama, enorme, lentamente,
enquanto ele tira suas roupas, sem desviar os olhos de mim.
— Não se arrependa, minha bruxinha. Não me peça para parar! —
Fala, sorrindo, safado e vem até mim.
Ettore me beija, voraz, enquanto se coloca entre minhas coxas e
aperta minha bunda de lado, beija meu pescoço e chupa, de leve, aonde tenho
certeza, terá uma marca amanhã.
Ele beija meu ombro e desce indo direto para meus peitos onde ele
reveza entre sugar, chupar e morder, no outro aperta meu bico e massageia, e
isso, por si só, está me deixando louca.
Ele desce o caminho de beijos pela minha barriga, chega até o meu
ponto mais sensível e começa a lamber, sugar, me fazendo soltar um gemido
de surpresa e prazer. Ele me chupa com toda sua devoção, enquanto enfia um
dedo e começa a massagear, tento fechar as pernas, mas ele abre ainda mais e
não para de fazer seus movimentos.
Seguro seus cabelos, e não consigo me segurar, gozo em sua boca, e
ele continua me chupando. Minhas pernas tremem e minha boceta está
latejando, sob o efeito do orgasmo recente. Ele se levanta, deixando um
vazio, e eu gemo em frustação por ele ter parado agora.
— Calma, estamos só começando, amor!
Ele lança um sorriso safado, pega um gelo do balde onde está o vinho
e coloca na boca, e em seguida, volta a me chupar, misturando o frio do gelo
e o quente da sua boca, já estou suada e, provavelmente, descabelada pelo
orgasmo intenso que ele me proporcionou. Ele se levanta mais uma vez, me
dá um beijo, e eu sinto meu gosto em sua boca.
— Preparada, minha bruxinha?
— Me fode, Ettore. Preciso de você dentro de mim, agora.
Falo, gemendo pela excitação, seu pau massageia meu clitóris, e ele
começa a enfiar a cabecinha na minha entrada, pouco a pouco, sinto ele entrar
inteiro em mim. Ettore começa dando leves estocadas, meu corpo inteiro
responde a ele, e a medida que ele vai aumentando a força de suas investidas
dentro de mim, gemo seu nome, e o arranho, desde a bunda até seus ombros.
O prazer é indescritível, e ele aumenta ainda mais a velocidade
quando o arranho. Ele me coloca de quatro e enrola meus cabelos em uma de
suas mãos, enquanto com a outra segura minha cintura. Ele puxa meus
cabelos até que minhas costas encostem em seu peito, e volta a investir, ainda
mais fundo do que antes, ele beija minha nuca, marca meu pescoço, morde
minhas costas e bate na minha bunda vezes seguidas, enquanto gemo seu
nome.
— Gostosa do caralho. Senta em mim, vem!
Ele fala e se deita, eu sento sobre ele, acomodo seu pau em minha
abertura e vou descendo, lentamente, até que ele esteja, por completo em
mim. Ele segura em minha cintura e me conduz numa cavalgada intensa, me
fazendo gemer mais do que antes.
Lentamente, rebolo em cima dele, ele joga sua cabeça para trás,
soltando um urro de prazer, que me fez ficar mais molhada ainda. Começo a
cavalgar rápido e nossos gemidos preenchem o quarto. Enquanto cavalgo em
cima dele, ele beija meus peitos, os suga, segura meus cabelos e me guia até
sua boca, me dando mais um beijo e assim seguimos, a noite toda nos dando
prazer, até que dormimos, cansados, nos braços um do outro.
Ettore Ferrari
Estou terminando minhas coisas aqui na empresa quando o meu
celular toca. Atendo, é o hacker que contratei para descobrir o paradeiro do
irmão de Ivan.
— Alguma novidade?
— Senhor, as notícias não são boas, sua esposa acionou o colar de
emergência para localização, estamos monitorando-a por aqui, e quando
pararem saberemos para onde a levaram e o gravador nos mostrará o que
acontecerá com ela.
— Fique de olho para identificar o local para onde a estão levando, e
quem está por trás disso. Quero ser informado, descubram a sua localização,
em alguns minutos estarei aí!
Saio às pressas da empresa, e no caminho ligo para Ivan e Pietro e os
deixo a par do que está acontecendo. Peço a minha secretaria que mande
todos os funcionários saírem do prédio, aos poucos, sem dar maiores
explicações, e saio também.
Meus seguranças já estavam me esperando do lado de fora, com a
porta do carro aberta, eu entro e, em minutos estou a caminho da sede,
quando chego, já está uma correria para todos os lados, vou direto para a sala
de comunicação e aviso a todos.
— Já sabe em que local ela está?
Pergunto, e ele rapidamente me mostra as imagens do local, eles estão
conversando. O garoto trabalha rápido e em pouco tempo, tenho as imagens
no telão e consigo ouvir toda a conversa se desenrola. Eu fico prestando
atenção enquanto procura a localização. Tudo está uma loucura, minha casa
está sendo atacada, e Violleta sequestrada.
Pietro entra e vê o que está se passando no telão, vejo-o fica branco
quando falo tudo que ocorreu.
— Quero que cuide de pegar os que estão dentro da mansão, dê
detalhes para Ivan do que está acontecendo, digá-lhe que faça uma limpa na
sede, e na casa dele também, e mande metade dos soldados dele para cá, eu
vou atrás da Violleta, não quero falhas Pietro, e mantenha a postura, é nossa
família que está em risco agora, e não podemos falhar, com nenhum deles!
— Já vou fazer tudo que me pediu, Ettore. Tome cuidado também,
irmão! —Diz, saindo logo em seguida.
Volto a minha atenção para o telão, minha mulher parece está
amarrada, o desgraçado bate nela. Isso me deixa louco, quando eu colocar
minhas mãos nesse desgraçado, farei com que sofra. Seus gritos serão
melodia para meus ouvidos. Mas o que me deixa possesso é um segundo
homem aparecer. A conversa entre os dois, não me deixa satisfeito.
— Senhor encontrei a localização, é no lado sul, nos arredores da
cidade a 17 km daqui! — O hacker diz, chamando minha atenção.
Ele me fala a localização correta e saio correndo, dando ordens para
que todos se prepararem, eu faço o mesmo. Pego minhas armas e sigo para
onde meus soldados, e os outros já me esperam.
— Pessoal precisamos ser o mais cautelosos possível, minha mulher
está com ele, e minha família também está na mira deles, não podemos deixar
nada passar e tudo deve ser executado perfeitamente, nos mínimos detalhes,
fui claro?
— Sim, senhor! — Todos me respondem, e saímos, cada um com
uma coisa a fazer. Não tinha um plano, mas uma certeza eu tinha: A minha
mulher voltaria comigo!
Chego com meus soldados ao local e eles vão para seus postos, para cobrir a
localização de cada segurança do galpão. Meus atiradores à uma distância
considerável, abatem alguns, outros são degolados pelos soldados que
chegam mais perto. Depois de todos estarem mortos, entramos no galpão e
rendemos alguns que estavam mais perto.
De longe consigo ver minha mulher sendo levada por um homem, me
apresso em acabar com alguns dos soldados juntamente com minha equipe.
Não tenho medo de ficar na linha de frente, pela a minha famiglia sou capaz
de tudo sem restrições, não quero saber se estou colocando minha vida em
risco, sou homem suficiente para não ficar atrás de uma mesa enquanto dou
ordens para fazerem o trabalho sujo por mim.
Vou avançando na direção do desgraçado que ousou sequestrar minha
mulher, porém sou surpreendido quando o tal homem misterioso derruba e
rende ele. Aos poucos os tiros já não são mais ouvidos, me aproximo mais do
homem e pergunto:
— Por que fez isso? — pergunto, pois minutos atrás pensei que ele
estava do lado desse merda.
— Digamos que ele tinha algo que é meu, e que agora não tem mais
— explica, um pouco distante olhando para o corpo desmaiado no chão. —
Acredito eu que ele está em boas mãos. — Volta a dizer me encarando.
— Sim, ele está. — Respondo.
— Bom, meu trabalho aqui está feito. Sua mulher está segura, sinto
muito pelo que aconteceu.
Ele estende sua mão para me cumprimentar antes de dar as costas, e
se retirar. Vou até a sala onde Violleta está mantida, imediatamente ela se
joga nos meus braços chorando.
— Meu amor eu estava com tanto medo que pudesse acontecer
alguma coisa com nossa família. — Diz, com dificuldade chorando contra
meu peito.
— Não se preocupe amor, agora estou aqui com você. Nossa família
está a salva.
Todos saímos do galpão, logo em seguida tudo vira cinzas. Os
soldados jogam o monte de merda no porta mala do carro, depois saímos.
Tenho algo preparado na minha sala de tortura para Viktor, antes de mandá-
lo para o inferno acabarei eu mesmo com a sua raça aqui na terra.
TRÊS ANOS DEPOIS
arece que foi ontem que tudo começou, a primeira vez que vi Ettore
P naquela sala todo senhor de si e confiante de que iria me levar para sua
casa e me obrigaria a casar com ele. Hoje está acontecendo a mesma
coisa, com a diferença de que vou me casar por amor, pela a paixão que sinto
por ele e por tudo que ele me deu, mesmo sem saber. Através dele,
reencontrei meu pai e hoje posso dizer que tenho uma família, e o mais
importante, tenho meu filho, o maior presente que eu poderia ganhar.
Hoje, mais do que nunca, estou feliz por finalmente me sentir
realizada, Ettore mudou bastante, é bem verdade que ele continua bruto e um
escroto com a maioria das pessoas ao seu redor, mas comigo ele se mostra
cada vez mais apaixonado, é um homem completamente diferente do que era
no passado. Muitos vão me dizer que sou louca por permanecer ao lado de
um homem que me fez sofrer tanto, mas não mandamos no coração. Até
tentei lutar contra tudo isso, mas foi em vão, valeu a pena tudo que passei,
pois hoje tenho o melhor homem do mundo ao meu lado. Estou colhendo os
frutos da minha paciência e persistência.
Estou me sentindo uma princesa, meu vestido, um tomara que caia
com uma linda calda na parte de traz, é rendado, bordado com fios de ouro e
com incontáveis cristais. O sapato é do mesmo estilo, dá até pena de pisar no
chão de tão lindo que é, tenho uma coroa no topo da cabeça para simbolizar
que sou a mulher do chefe da Ndrangheta, a rainha da máfia. Ouço uma
batida na porta, e vejo meu pai entrar.
— Está pronta, filha?
— Mais do que nunca, pai!
Ele sorri, e me estende o braço, enlaço-o com o meu, e saímos do
quarto. O casamento é no jardim da casa, preferi assim, e quando chegamos à
porta que dá para o jardim, vejo Dante com as alianças acomodadas em uma
almofada, também bordada. Começam a tocar a marcha nupcial, e seguro
firme no braço de papai. Ettore, como sempre, está lindo com seu smoking
preto com o sapato da mesma cor, seus cabelos estão impecáveis. Finalmente
chego ao arco de flores, papai me entrega a Ettore, que segura minha mão e a
leva aos lábios, deposita um beijo e depois me lança o mais lindo dos
sorrisos.
Depois que o padre faz todo a cerimônia, pude sentir os lábios do meu
marido colados aos meus, e fomos, todos, curtir a festa, todos estão muito
animados, dançando, até mesmo Domenico tirou Sandra para dançar.
Quando a festa acabou Ettore e eu nos despedimos de todos para
seguirmos para nossa lua de mel, que até então, para mim, seria uma
surpresa, já que Ettore não me deu informação nenhuma a respeito. Já no
avião, acabo dormindo por estar exausta por conta dos preparativos do
casamento.
FIM.
Outras Obras
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SINOPSE
Leonardo Antonelli, um homem implacável, sem escrúpulos, que não
conhece termo medo. Ele é um dos mafiosos mais temidos, sem o mínimo de
piedade para matar qualquer um que cruzar seu caminho. Na sua vida não
existe compaixão ou perdão, independente de qual for o tipo da traição...
Tudo muda quando aparece sua prometida perante seu mundo sombrio.
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