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Tudo que eu quero para o Natal

Braydens – especial de Natal

Meara Platt
Capítulo Um

Londres, Inglaterra
Dezembro de 1836

O NATAL ERA a época favorita do ano de Lady Aurora


Brayden, e com tantos membros da família Brayden na
cidade, assim como a família de sua mãe, os Crofts, suas
celebrações seriam memoráveis. Ela teve que envolver as
relações Farthingale na mistura familiar porque os Brayden
eram tão intrincadamente ligados a eles pelo casamento, que
nunca poderiam ser esquecidos. Todos eles passariam em
casa na próxima semana para jantar e uma terem uma
animada noite de decoração.
— Hyacinth, se apresse, — disse Aurora, com os braços
carregados de pacotes para segurar a mão de sua prima
enquanto corriam pela neve que caía e lotavam Oxford Street
em direção ao Gardênia Tearoom, o lugar favorito e particular
da elite da sociedade que desfrutava de uma trégua após um
dia agitado de compras. — Minha mãe estará nos
encontrando e não podemos nos atrasar.
— Aurora, vá mais devagar. — Sua prima Hyacinth riu,
pois as duas estavam fazendo malabarismo com pacotes nos
braços. — Oh, você deixou cair suas fitas. É melhor alcançá-
las antes que algum idiota de botas grandes pise nelas e as
esmague na neve.
— Oh céus! Não posso perder essas fitas. — Ela acabara
de se virar para refazer seus passos para encontrá-las,
quando viu um cavalheiro bem vestido se curvar para pegá-
las e colocá-las de volta no embrulho que havia se
desenrolado e feito com que elas caíssem.
— Eu presumo que é seu? — Ele ergueu as que havia
salvado.
— Sim, muito obrigada. Que gentileza sua em me ajudar.
— Ela colocou o resto de seus pacotes ao lado dela e se
abaixou para pegar o último pacote. — Espero que não
estejam arruinadas.
Ela mordiscou o lábio, agora preocupada porque havia
esvaziado o estoque de fitas vermelhas das lojas de Oxford
Street e teria que procurar em outro lugar por mais se esse
carretel não pudesse ser salvo.
— Acho que as recolhemos a tempo, — disse o homem
com uma risada amável. — Ai está. Seu Natal foi salvo.
Ele tinha uma voz esplêndida, profunda e ressonante,
cobrindo-a contra o frio como se fosse uma deliciosa porção
de mel quente.
— Obrigada, senhor. — Ela olhou para ele quando eles
se levantaram juntos. — Eu...
A respiração ficou presa em seus pulmões.
Ele franziu a testa.
— Algo está errado?
Existia um homem mais bonito?
— Não, senhor. Eu só ... — O que ela poderia dizer sem
se revelar uma idiota? — Estamos atrasadas, só isso.
E ela não conseguia se recuperar do quão bonito ele era.
Com cabelos escuros.
Olhos lindos sombrios, da cor de esmeraldas.
Esmeraldas de fogo, pois seu olhar disparou chamas
através dela.
Apesar do frio do inverno e da neve caindo ao redor deles
em flocos grandes e macios, de repente ela se sentiu muito
quente em seu sobretudo.
— Agradeço novamente, senhor. Feliz Natal para você e
sua família.
Ela estava recolhendo o resto de seus pacotes enquanto
falava, deixando cair alguns e tentando juntá-los, apenas
para derrubar mais. Pegando-os novamente e colocando-os
em pilha até alcançar o queixo para mantê-los no lugar, mas
vários caíram de qualquer maneira. Mais caíam quando ela se
abaixava para pegá-los.
Céus, ele estava vendo?
Ele devia pensar que ela era a maior idiota que existe.
O cavalheiro riu novamente.
— Você parece estar tendo um pouco de dificuldade.
Posso carregá-los para você? Você está indo muito longe?
— Apenas para o salão de Gardênia Tearoom. — Mais
pacotes caíram de seus braços. — Está logo ali virando a
esquina. Você conhece?
— Nunca estive lá, mas acontece que estou indo justo
para lá. Uma feliz coincidência. — Ele se abaixou para pegar
os pacotes, então se levantou e facilmente pegou os que ela
estava segurando em seus braços também. — Eu acho que é
mais seguro se eu levar isso e acompanhá-las.
Céus novamente.
Ela não ia recusar sua oferta. Seria pecado dela notar o
corte fino de seu corpo? Ele era tão alto quanto os homens de
sua família, o que já era o bastante porque os homens
Braydens eram grandes. Ele tinha ombros largos firmemente
fixados em braços musculosos.
— Senhor, eu agradeço sua ajuda.
— De jeito nenhum. Acontece que estarei encontrando
uma velha amiga por lá. Pela sua aparência, acho que deve
conhecê-la. Lady Westcliff, e ex-Abigail Croft? Ela é Abigail
Brayden agora.
Hyacinth ofegou enquanto caminhava ao lado deles.
— Essa é a mãe de Aurora.
— Você a conhece? — As mãos de Aurora estavam agora
livres para pegar alguns pacotes de sua prima, pois Hyacinth
estava igualmente sobrecarregada com compras. Mas ela
deixou cair um, surpresa com a surpreendente coincidência.
— Minha mãe não me disse uma palavra sobre você.
Seu sorriso se tornou indulgente e incrivelmente atraente
enquanto a olhava fixamente.
— Você é Aurora? Eu deveria ter adivinhado
imediatamente.
Ela acenou com a cabeça e rapidamente se abaixou para
recuperar o pacote antes que eles continuassem a caminhar.
— E eu sou Hyacinth, — sua prima gorjeou. — Nossos
pais são primos. Meu pai é Romulus Brayden. Você o
conhece? Ou minha mãe, Violet?
Ele balançou sua cabeça.
— Eu não tive o prazer.
— Você conhece o pai de Aurora? Seu nome é Tynan e
ele é o conde de Westcliff.
Ele assentiu.
— Eu o conheço. Mas conheço melhor o lado da família
de Lady Westcliff, os Crofts.
Aurora agora estava intrigada.
— Você os conhece há muito tempo?
— Desde os nove anos.
— Que adorável! E você não conheceu Aurora em todo
esse tempo? — Hyacinth não deu a ele um momento para
responder antes de retomar a conversa. — Eu tenho
dezesseis, e Aurora tem dezenove, por falar nisso. Quantos
anos você tem?
— Hyacinth! Nem sabemos o nome do cavalheiro.
— Perdoe o descuido. Eu sou Perin Marsh. Ao seu
serviço, miladies. — Ele baixou a cabeça, tendo o cuidado de
segurar com força os pacotes de Aurora, para que não
caíssem na neve, que havia coberto completamente o solo e
estava começando a se acumular para valer.
A carruagem Westcliff estava na rua em frente ao salão
de chá quando eles viraram para a praça tranquila onde o
encantador estabelecimento estava localizado.
— Sr. Marsh, vou deixar esses pacotes na carruagem.
Nosso cocheiro irá mantê-los seguros enquanto tomamos
nosso chá.
Aurora notou que ele era surpreendentemente educado
com o cocheiro, conversando um pouco enquanto os dois
guardavam suas compras e as de Hyacinth. Poucos em seu
círculo se dignavam a agradecer aos empregados domésticos,
uma tradição que ela sempre achou bastante fria. Seus pais a
ensinaram a respeitar todos os que trabalhavam para eles. Na
verdade, eles a criaram para ser gentil e educada com todos, a
menos que fosse dada razão para ser cautelosa.
Ela estava feliz, Sr. Marsh conhecia seus pais, pois ela
não queria ser cuidadosa com ele. Ela agradeceu enquanto ele
segurava a porta aberta para eles entrarem no salão de chá.
Hyacinth a cutucou nas costelas.
Ela se virou em dúvida para sua prima.
— O que foi?
Enquanto o Sr. Marsh estava ocupado dando os
sobretudos para uma das anfitriãs, Hyacinth sussurrou em
seu ouvido.
— Você acha que ele é casado?
O rubor atingiu as bochechas de Aurora.
— Calma, Hyacinth! Ele vai te ouvir.
— Você não quer saber? Claro que você quer. Você esteve
olhando para ele com a lua cheia o tempo todo brilhando nos
olhos. Vou perguntar a ele, já que você vai ser covarde sobre
isso.
Ele se virou para elas, sorrindo.
Céus! Ele tinha ouvido seus sussurros?
Havia um buraco grande o suficiente para ela se
esconder?
— Não, Hyacinth. Eu não sou casado.
Hyacinth ofegou e começou a rir estupidamente.
Aurora só queria se esconder. Ela até se contentaria com
um minúsculo buraco de minhoca se isso a ajudasse a
desaparecer.
— Aí está sua mãe, Aurora. Oh, a minha está aqui
também. Elas chegaram antes de nós e já estão sentadas. —
Hyacinth correu para se juntar a elas. — Tia Abigail, você
nunca vai adivinhar ...
— Parece que fomos abandonados. — Sr. Marsh ofereceu
o braço para acompanhá-la até a mesa.
— Eu sinto muito, Sr. Marsh.
— Não sinta. Eu também estava olhando para você. Mas
aprendi a ser discreto em esconder meus olhares. Isso é o que
se desenvolve por ser cínico e dissimulado.
Hyacinth beijou as duas mães e depois se jogou em uma
das cadeiras vazias.
— Temo que tenhamos estragado a surpresa. Já
conhecemos o Sr. Marsh. Ele veio em socorro de Aurora
quando seus pacotes caíram na rua.
Ambas as mães estavam agora olhando para ela quando
se aproximou sob a escolta do Sr. Marsh.
Olhando e sorrindo.
Na verdade, não havia mesmo nenhum buraco de
minhoca por perto?
Aurora decidiu que a única coisa pior do que ser
descoberta boquiaberta olhando o homem era ser pega sob os
olhos vigilantes de uma mãe. Este seria o chá mais
desconfortável que ela já havia tomado em sua vida.
Poderia ficar pior?
Piorou quase imediatamente.
— Bem, Sr. Marsh, o que você achou? — sua mãe
perguntou, um largo sorriso no rosto. — Você ainda vai se
casar com Aurora?
Capítulo Dois

AURORA ENTROU EM ERUPÇÃO EM acessos de tosse.


Não eram tosses suaves tampouco.
Perin colocou o braço em volta dela, sem saber o que
mais fazer para acalmá-la.
— Ela está apenas brincando com você, Lady Aurora. É
uma brincadeira particular entre a família Croft e eu.
— Uma brincadeira? — Seus olhos estavam lacrimejando
com a tensão, então ele correu o polegar ao longo de sua
bochecha para enxugá-las.
— Sim. Verdadeiramente. — Só que ele não tinha tanta
certeza se queria que continuasse sendo uma simples
brincadeira. A garota era incrivelmente adorável. Se ele
pudesse beijá-la aqui e agora, o teria feito. No entanto, ele não
tinha o desejo de morrer e não era tão tolo a ponto de tentar.
Seu pai e seus irmãos viriam atrás dele com rifles nas mãos,
não para forçá-lo a subir ao altar, mas para atirar nele e
sepultá-lo sob uma pedra.
Ele não era adequado para se casar com a filha de um
conde, e todos sabiam disso.
Mas um beijo?
Talvez ele desejasse morrer, afinal, porque iria beijá-la.
Ele ainda não sabia onde ou quando.
Claro, ele não faria isso contra a vontade dela.
Mas ele conhecia mulheres, e ela o olhara com desejo. No
entanto, ela era inocente demais para entender seus próprios
sentimentos.
Quanto a ele, não era nada inocente.
Mas ainda assim sentira aquele chute no coração no
momento em que ela se abaixou para pegar seus embrulhos
caídos e olhou para ele com olhos grandes da cor vibrante de
um bom conhaque. O mundo parou para ele naquele
momento. Nada e ninguém agora existia para ele, exceto
Aurora.
Era uma sensação absurda.
Isso iria passar, é claro.
No tempo certo.
Quanto tempo levaria, ele não sabia.
Talvez isso nunca passasse e ele nunca a esquecesse.
Sim, provavelmente esse seria seu destino infeliz.
Essa garota era inesquecível.
Ela tinha covinhas profundas nas bochechas sempre que
sorria, e seus olhos sempre pareciam brilhar. Havia tons
avermelhados em seu cabelo ruivo, perceptíveis quando o sol
brilhava sobre ela. Pequenos fios soltos haviam saído de seu
cabelo elegantemente preso e se enrolado em torno de suas
orelhas.
Ele queria mordiscar suas orelhas.
Beijar sua boca adorável e macia.
Plantar beijos por todo seu rosto em forma de coração.
Ele levou uma xícara de chá aos lábios dela.
— Tome um gole, Lady Aurora.
Ela lançou-lhe um sorriso gentil, as mãos tremendo
enquanto pegava a xícara.
— É melhor eu segurá-la, — ele disse, desejando que
fosse sua boca e não a xícara que ele estava colocando em
seus lábios. — Você vai derramar sobre si mesma.
Ela assentiu enquanto ele a ajudava.
— Melhor agora?
— Sim, Sr. Marsh. Obrigada. — Ela permitiu que ele a
acomodasse em uma cadeira ao lado de sua mãe, e ele pegou
a cadeira vazia em frente a ela. Ele não se importava com a
distância. Isso permitia uma visão melhor dela.
Assim que fizeram os pedidos, Hyacinth se voltou para a
mãe de Aurora.
— Tia Abigail, você pode nos contar como que foi a
brincadeira?
Ela acenou com a cabeça.
— Posso contar a eles, Perin?
— Seja gentil comigo, Lady Westcliff, — disse ele com um
gemido. — Eu prefiro que sua filha não pense em mim como
um completo idiota.
— Bobagem, — disse Aurora. — Eu sou aquela que fez
papel de boba.
— Não, Lady Aurora. Você é absolutamente encantadora.
Hyacinth deu uma risadinha.
— Oh, nossos bolos estão aqui.
As mães dividiam uma fatia de bolo de gengibre entre
elas.
Aurora e sua prima pediram sorvete de morango cada
uma.
Ele não havia pedido nada para si, satisfeito com uma
xícara de chá.
A mãe de Aurora comeu um pedaço do bolo de gengibre,
engoliu-o com um gole do chá e começou a explicar a
brincadeira.
— Seu pai e eu, junto com meus irmãos e suas esposas,
fomos a Torquay para celebrar o casamento de nosso irmão
mais novo, Peter, com sua adorável Annie. Estávamos todos
esperando para jantar na pousada quando Peter e Annie
correram para se juntar a nós. Eles trouxeram um menino
que parecia ser pouco mais do que um moleque de rua, mas
rapidamente encantou a todos nós.
Perin lembrava-se do dia muito bem, embora tivesse sido
há dezoito anos. De muitas maneiras, aquele momento foi um
momento decisivo em sua vida. Como e por quê era muito
complicado explicar aqui.
— Eu era um pirralho arrogante de nove anos na época,
atirando palavras para fora da minha boca para causar efeito
e não pensava sobre o que estava dizendo.
Lady Westcliff lançou-lhe um sorriso afetuoso.
— Você rapidamente encantou todos nós. Estávamos nos
segurando para não rir muito de seus comentários insolentes.
Aurora olhou para ele.
— Mamãe, o que ele disse?
— Oh, para começar, ele chamou seu pai de cabeludo.
Aurora tinha acabado de colocar uma colher de seu
sorvete de morango na boca, mas rapidamente engoliu e caiu
na gargalhada.
— Você disse isso ao papai? E você ainda está vivo? —
ela brincou.
— Então ele acusou meu irmão Gideon de olhar
maliciosamente para sua esposa a noite toda, dizendo que ele
deveria rolar a língua de volta a boca antes que a servente
tropeçasse nela. — Sua mãe fez uma pausa,
momentaneamente incapaz de conter sua própria alegria. — E
ele não conseguiu se surpreender com a esposa de William,
Aislin, sendo filha de um pirata.
Ele gemeu novamente.
— Por favor, Lady Westcliff. Não diga mais nada.
Hyacinth bateu palmas.
— Não, devemos ouvir tudo isso!
Aurora estava sorrindo para ele, seus lindos olhos
brilhando.
— Oh, mamãe. Vá em frente. O que mais o Sr. Marsh
disse?
— Você poderia me tomar com um burro, — sua mãe
continuou, agora imitando a voz de um menino. — Eu nunca
conheci a filha de um pirata antes. Achei que você estaria
carregando uma espada, com aros de ouro nos dentes e
temperando sua conversa com argh e companheiro.
Aurora soprou, incapaz de suprimir sua risada.
— Sr. Marsh, gostaria de tê-lo conhecido naquela época.
Eu pagaria qualquer coisa para ver suas expressões enquanto
você murmurava para eles, especialmente meu pai. Ele não é
cabeludo, e você sabe.
Perin deu uma risadinha.
— Eu sei. Como disse, eu estava falando assim porque
era impetuoso e estúpido demais para segurar minha língua.
Gosto de pensar que estou mais sensato agora.
— Estou certo que você está. — Ela lançou-lhe um
sorriso com covinhas.
— Ele era o jovem mais inteligente que já conheci, —
insistiu a mãe de Aurora. — Depois de chamar seu pai de
cabeludo, ele se virou para mim e perguntou se tínhamos
uma filha. Você era apenas um bebê, muito jovem para viajar
conosco, então nós a deixamos com sua avó, Miranda. Eu
disse a ele que tínhamos uma filha.
Aurora tomou outra colher de seu sorvete de morango,
seus lábios se fecharam sobre a colher com delicadeza sem
esforço e sua língua se lançou para lamber uma gota perdida.
— E o que ele disse a seguir?
— Você acha que eu poderia conhecê-la quando ela tiver
idade para se casar? Porque se ela se parecer com você, eu
gostaria de me casar com ela.
Aurora começou a tossir novamente.
Ao pegar a xícara de chá, ela acidentalmente derrubou o
sorvete de morango que virou lama. Ela se levantou de um
salto para se afastar da mesa antes que o sorvete derretido se
espalhasse em seu vestido e, ao fazê-lo, derrubou a cadeira.
— Aurora! — Perin também se levantou de um salto para
dar a volta e pegá-la, porque ela estava prestes a tropeçar na
cadeira. Felizmente, ele chegou bem a tempo, capaz de puxá-
la a seus braços antes que ela sofresse uma queda feia.
Ela fechou os olhos e gemeu.
A vontade de beijá-la apareceu novamente.
Bem, essa vontade nunca o deixou.
Nem simplesmente se aproximou dele, mas o atingiu
como um aríete.
— Tenho certeza de que você está aliviado por não
estarmos realmente noivos. — Ela estava obviamente
mortificada por sua falta de jeito. Mas ele sabia que ela não
era tão desajeitada quanto inocente sobre os homens e lutava
com essas novas sensações de anseio e desejo.
Isso era tão novo para ela que ainda não aprendera a
escondê-lo.
Ele gostava muito disso nela.
Quando ela se apaixonasse, o homem afortunado saberia
disso nas profundezas de sua alma.
Ele não ousava considerar que poderia ser esse homem.
Não, sua família nunca permitiria. Ser um moleque
atrevido poderia ser fofo e adorável, mas ele era um homem
adulto agora e costumava lidar com rufiões, às vezes sendo
ele mesmo um deles. Ele não era um marido adequado para a
filha de um conde.
O fato de ele parecer culto foi uma boa influência de seu
tio. Na verdade, ele era um homem melhor por ter conhecido
Peter Croft e sido guiado por ele enquanto crescia em
Torquay. No entanto, embora suas bordas externas fossem
polidas, o homem interior não era.
Isso não impedia que seu coração disparasse em
espasmos por causa de Aurora.
Apesar de todas as arestas e barreiras construídas em
torno de seu coração, apesar de sua experiência com
mulheres e habilidades de sedução, ele sabia que era o que
estava em maior perigo de se apaixonar.
Já houve um anjo mais perfeito criado por Deus do que
Aurora?
Ele desviou o olhar e a soltou, uma vez que ela estava
firme em seus pés. Eles ficaram juntos enquanto uma das
funcionárias limpava o sorvete derramado.
— Eu sinto muito, — disse Aurora à jovem.
— Você não precisa se preocupar, m'lady, — a garota
amável respondeu. — Uma boa fervura na toalha vai tirar
essa mancha. Acontece o tempo todo.
Assim que a garota terminou, Perin endireitou a cadeira
e a estendeu para Aurora. Ela também se desculpou com ele.
Suas bochechas estavam manchadas de rosa para marcar
seu constrangimento quando ela sentou em sua cadeira.
Ele voltou a sua, totalmente ciente dos olhares de todos.
— Perin, — disse a mãe de Aurora, — vamos ter nossa
tradicional celebração de Natal na próxima sexta-feira. Por
favor, junte-se a nós. Até meu marido cabeludo ficará feliz em
vê-lo.
Ele riu e balançou a cabeça.
— Como posso recusar tal convite?
Aurora estava olhando para seu colo, mas de repente
ergueu os olhos e olhou para ele com os olhos arregalados.
— Sr. Marsh, realmente? Você vai aceitar?
— Sim, Lady Aurora. — Depois de um momento, ele se
levantou e fez uma reverência para as ladies. — Foi um
prazer.
Ele acertou a conta, disse à proprietária para enviar
qualquer cobrança adicional para ele, então agarrou seu
casaco e saiu para a neve que caía suavemente.
O frio revigorante não o esfriou nem um pouco, e ele
sabia que passar mais tempo perto de Aurora seria brincar
com fogo.
A lógica e a razão sugeriam que ele deveria enviar uma
nota para transmitir educadamente suas desculpas e não
comparecer à festa de Natal de Westcliff. Mas ele não
conseguia ser razoável nem lógico quando se tratava de
Aurora.
O que ele deveria fazer?
Ele pensaria um pouco.
Ele não queria Aurora constrangida por conhecê-lo, pois
não importava o quanto desejasse, sabia que nunca poderia
se transformar em algo mais sério. Este convite para o chá
tinha sido um gesto educado feito como uma gentileza com ele
por insistência do irmão de Lady Westcliff, sem dúvida.
Isso não significava mais nada.
E quanto a ele?
Era tarde demais para proteger seu coração.
Talvez tivesse sido tarde demais para ele desde a
primeira menção do nome de Aurora, dezoito anos atrás.
Aurora.
Ela o havia marcado desde então.
O que ele faria com ela agora?
Capítulo Três

— AURORA, VOCÊ PEGOU a atenção do homem mais bonito


da sala, — sua amiga, Justine de Veres, sussurrou enquanto
eles estavam em meio à multidão de convidados no salão de
baile cintilante de Lady Dexter.
— Que homem? — ela perguntou distraidamente, ainda
sem ter recuperado a compostura depois de conhecer Perin
Marsh. Ela o viu pela primeira vez ontem, mas sentia como se
o conhecesse por toda a vida. Era uma sensação tão estranha
ter essa conexão forte com um homem que não era mais do
que um estranho para ela.
— Ele está parado perto das portas da varanda. —
Justine beliscou a mão dela. — Olhe! Eu me pergunto quem
ele é? Talvez o sobrinho de Lady Dexter tenha descido das
Terras Altas? Ele tem aquela aparência rude. Ou talvez a
velha morcega tenha arranjado um amante.
— Não seja grosseira, Justine. Lady Dexter é uma
mulher adorável e dedicada ao marido.
Sua amiga encolheu os ombros.
— Quando você ficou tão chata? Você deve admitir, ele
tem aquela expressão de vou te levar pro quarto. Oh, que
menino travesso. Ele está olhando para você de novo.
Aurora finalmente se virou para ver o que estava
acontecendo, não para encontrar o olhar deste homem, mas
para evitá-lo caso ele se aproximasse dela.
— Eu não o vejo. Ele saiu?
Embora os homens de sua família fossem altos, essa
característica não foi transmitida às suas filhas. Ela era de
estatura média. Na verdade, um tanto pequena para a média,
e não conseguia ver acima da aglomeração de convidados de
pé entre ela e as portas de varanda.
Não que isso importasse.
Justine não tinha muito bom gosto para homens, e elas
nunca achavam os mesmos atraentes. Ela fixou o olhar em
Lady Dexter enquanto seu marido a levava para a pista de
dança para abrir seu magnífico Baile Nevada e receber
aplausos educados de todos os presentes.
O salão de baile deles foi transformado em um palácio de
gelo cintilante para marcar o início das festividades de Natal
que agora aconteceriam por toda Londres enquanto as
famílias se reuniam para comemorar.
Justine a cutucou.
— Você o vê agora?
— Não, pelo amor de Deus. — Ela não queria ouvir mais
nada sobre rapaz no salão. Se ao menos Perin Marsh
estivesse aqui, mas ele não poderia estar presente. Nenhum
convite era mais procurado pela elite da sociedade do que o
Baile Nevado de Lady Dexter.
Como o pai de Aurora era Tynan Brayden, conde de
Westcliff, sua família foi uma das primeiras a receber os
convites. A maioria de seus tios eram nobres do reino, e
aqueles que não eram heróis militares altamente
condecorados e muito solicitados em bailes, então eles
também não foram convidados. Na verdade, ela era parente
de muitos dos convidados.
Sentia-se reconfortada em saber que poderia olhar para
qualquer lugar e encontrar um rosto familiar, pois aquele era
seu primeiro baile e ela nunca havia estado em um evento tão
esplêndido.
Talvez seja por isso que ela sentia algo mágico no ar.
— Você o viu, Aurora? — Harriet, outra amiga, correu e
começou a rir como um passarinho louco. — Ele não é lindo?
Rodrick e seus amigos falaram que vão dar um soco no nariz
dele se ele se atrever a se aproximar de você. Não seria
emocionante?
Justine juntou-se às risadas.
— Espero que vejamos os punhos voando.
— Não! — Querido Deus, isso seria terrível. Quantas
vezes ela teve que rejeitar aquele idiota para que ele a
deixasse em paz? — Eu vou socar Rodrick e seus amigos
arrogantes se eles ousarem.
O encanto deste baile estava desaparecendo
rapidamente. Era uma pena terrível, pois Lady Dexter
obviamente havia trabalhado muito para criar o lindo efeito
de um palácio de inverno. Como se fosse um comando, a neve
estava caindo lá fora, o céu noturno coberto com flocos
brancos e macios. Alguns foram apanhados pela brisa e
flutuaram no ar, enquanto outros caíram no solo frio e nítido
como pedaços de algodão. O efeito era fascinante.
— Não parece que estamos presos em um globo de neve?
Suas amigas a ignoraram, pegaram taças de champanhe
da bandeja de um lacaio que passava e continuaram a
sussurrar sobre o misterioso homem.
Harriet engoliu o champanhe.
— Eu o quero. Ele é muito atraente para deixar passar.
Justine terminou sua taça de champanhe e pegou outra.
— Se Aurora não o tiver, então eu o quero primeiro.
Elas achavam que seu comportamento não era nada
grosseiro?
Ela comentou sobre isso.
— Não sejam gansas, — disse Justine com um sorriso
zombeteiro. Ela se inclinou para Harriet, e as duas
começaram a sussurrar, fazendo comentários mais obscenos
sobre o que desejavam fazer com o estranho, de modo que ela
quase sentiu pena do homem. Mas nem tanto. Quem era esse
suposto Adônis pelo qual as duas estavam lutando?
Provavelmente algum senhor degenerado, nascido do
privilégio e não tendo nada melhor para fazer do que seduzir
moças nos bailes da sociedade.
Nem suas amigas pareciam ter nada em mente a não ser
se deixar seduzir.
Aurora tentou não parecer chocada, mas estava.
Justine de repente ofegou e agarrou seu braço.
— Ele está vindo em nossa direção.
As duas amigas mais uma vez deram uma risadinha
embriagada e começaram a mexer no corpete de seus vestidos
de seda. Todas as mulheres eram obrigadas a usar branco,
enquanto os homens usavam gravata preta e fraque. Rendas,
fitas e adornos de pérolas eram permitidos para as mulheres,
mas apenas se fossem brancas. O objetivo era que as
mulheres parecessem flocos de neve.
Aurora não tinha ideia de como os homens deveriam se
parecer.
Harriet a cutucou levemente com o quadril.
— Oh, Aurora. Pare de se comportar como uma
professora pedinte. Você nunca ...? Não, suponho que você
nunca tenha feito isso.
Harriet e Justine eram suas amigas mais íntimas quando
eram crianças, frequentando uma das elegantes boutiques da
praça Mayfair que só as famílias mais ricas podiam pagar. Ela
não as via há vários anos e lamentava sua decisão de renovar
sua antiga amizade.
Ela respirou fundo quando o homem em questão parou
diante dela.
— Lady Aurora, posso ter esta dança?
— Você de novo, — ela brincou, sorrindo para Perin
Marsh. Como ele conseguiu um convite? Apesar de sua boa
aparência e ar polido, ela achava que ele não tinha as
conexões sociais. Não era de se admirar que Justine e Harriet
estivessem se comportando como pavões.
Elas a empurraram em seus braços antes que ela
pudesse aceitar seu pedido.
— Eu sinto muito, — ela disse com um suspiro quando
seu corpete colidiu com seu peito duro como pedra, e seus
braços musculosos se fecharam ao redor dela para mantê-la
firme.
— É uma forma de nos conhecermos melhor, — disse ele
com um humor irônico.
Ela olhou para ele, sem saber o que dizer.
— Já que agora você está em meus braços, — disse ele
com um sorriso gentil, — você pode muito bem aceitar dançar
comigo.
— Eu não ia recusar. É bom vê-lo novamente, Sr. Marsh.
Não consigo parar de cair em seus braços.
— Eu não estou reclamando. — Ele a levou para a pista
de dança.
Ela tentou não parecer afetadamente casual quando ele
colocou um braço em volta de sua cintura e a colocou em
posição para a valsa. Mas ela era péssima em esconder seus
sentimentos, formigamento e rubor, e incapaz de juntar duas
palavras inteligentes.
— Suponho que esta seja sua primeira valsa, — ele
disse, seu olhar não perdendo nada de sua luta interior.
— Não, só minha primeira valsa com você. Não que eu
tenha muita experiência. Principalmente, eu danço com meus
tios e primos. Perdoe-me, não estou acostumada a estar nos
braços de um homem como você ... bem, tão opressor quanto
você. Eu juro, geralmente não sou tão estranha assim.
— Você é perfeita, e eu falo sério. — Ele pegou a mão
dela e envolveu-a na sua.
Havia algo maravilhosamente protetor na maneira como
ele a abraçava. Ela se sentiria assim nos braços de qualquer
outro homem?
A orquestra deu as primeiras notas da valsa. Os casais
começaram a se mover no ritmo da música. O Senhor Marsh
a girou e a guiou com uma facilidade fluída.
— Você é um excelente dançarino, — ela comentou.
Mas ela suspeitava que este homem fosse bom em
muitas coisas.
— Você é fácil de ser uma boa parceira. Você tem uma
graça natural.
Ela riu e balançou a cabeça.
— Essa é uma grande mentira. Mas obrigada.
Na verdade, ele a conduzia com tanta maestria que ela se
sentia como se estivessem dançando nas nuvens.
Ela o pegou franzindo a testa quando eles terminaram
sua primeira curva.
— Como você se misturou com aquele lote de moças
desagradáveis?
Ela olhou para Harriet e Justine e viu que elas estavam
com outro conhecido de sua infância, o Honorável Rodrick
Fasswell, herdeiro do visconde Milne. Ele era conhecido entre
os amigos como o Desonroso Rodrick Fasswell, pois o homem
nada fazia além de beber, jogar e seduzir moças, como faziam
a maioria de seus amigos igualmente desonrosos que agora se
reuniam ao lado de Harriet e Justine.
— Amigas de infância.
E todos eles estavam olhando para ela.
Sr. Marsh estava certo.
Seria sensato se distanciar delas.
— Cuidado com Fasswell, em particular, — disse ele com
um tom de voz áspero. — Ele está de olho em você desde que
entrou.
— E você não tem estado também?
Ele sorriu ironicamente.
— Culpado da acusação.
Havia algo bastante inebriante em Perin Marsh. Talvez
tenha sido a maneira como a segurou em seus braços, como
se ela fosse um presente precioso e ele a valorizasse. Era uma
sensação muito boa. Quando eles foram forçados a se
aproximar em meio à multidão de dançarinos, ela sentiu o
cheiro de sândalo em sua pele. Seus lábios estavam quase em
seu pescoço.
Ele ficaria ofendido se ela tocasse os lábios no pescoço
dele?
Deus do céu! O que ela estava pensando?
— Eu não estava olhando para você para nenhum
propósito inescrupuloso, — assegurou-lhe ele. — Quanto a
Fasswell, evite cantos isolados com ele.
— Você se nomeou meu anjo da guarda? Eu não deveria
estar evitando você também? Seu propósito pode ser honroso,
mas certamente você sabe que é perigosamente atraente.
— Lady Aurora, eu nunca a machucaria.
Ela encontrou seu olhar.
— Por respeito à minha família?
Ele tinha que ser tão bonito de tirar o fôlego?
Ele lançou-lhe um sorriso derretedor.
— Por respeito a você.
— É uma coisa adorável de se dizer, Sr. Marsh. Oh, não
podemos deixar de ser tão formais? Por favor, me chame de
Aurora. Posso te chamar de Perin?
— Sim, sempre achei essas formalidades educadas muito
restritivas.
Ela ficou em silêncio, esperando que ele dissesse mais.
— Perin…
— Sim, Aurora?
— Não há algo mais que você deseja me dizer?
Ele pareceu confuso por um momento, então acenou com
a cabeça.
— Me perdoe. Eu deveria ter elogiado sua aparência
antes. Você está encantadora, facilmente a moça mais bonita
do baile.
Ela agradeceu educadamente.
— Mas esse não era o meu ponto. Você não vai me pedir?
Ele franziu a testa levemente.
— Perdão, mas o que eu devo pedir a você?
— Por que você está aqui, Perin? Repentinamente
invadiu minha vida e não sei o que fazer com você. Nunca
esperei que você aparecesse neste baile de elite ou me
convidasse para dançar. Você mencionou que suas intenções
eram honrosas. Isso significa que você deseja se casar
comigo?
Ele parou bruscamente.
Outros dançarinos esbarraram neles.
Ele a puxou para longe da multidão e em direção às
portas da varanda.
— Aurora, você não pode estar falando sério. Sim eu
disse isso sobre você desde a infância. Mas, como você
apontou, não tínhamos nos conhecido até ser apresentados
ontem no salão de chá. Eu nem te beijei.
— Isso é facilmente remediado, não é?
Ele a encarou por um momento interminável.
Ele iria beijá-la ou não?
De que adiantava olhá-la com fogo nos olhos se não
planejava fazer nada a respeito? Ou ela não estava se
comportando melhor do que suas grosseiras amigas? Supôs
que elas eram uma má influência para ela, encorajando-a a
dizer coisas que jamais diria de outra forma.
Ele olhou ao redor.
— Venha comigo.
No momento seguinte, ele empurrou as portas e puxou-a
para a varanda. A neve caía ao redor deles, e houve uma
picada no ar de frio. A lua estava obscurecida por causa da
neve, mas tochas foram acesas ao longo da balaustrada para
fornecer alguma luz para as almas corajosas que ousariam
pisar ao ar livre.
Ele a puxou para um dos cantos escuros e abriu sua
jaqueta para envolver os dois nela.
— Isso significa que você vai me beijar agora?
— Claro que vou. Abençoados santos, você é linda, — ele
disse, esmagando sua boca na dela e começando a beijá-la
sem sentido.
Capítulo Quatro

PERIN raramente ficava chocado.


Na verdade, ele nunca foi pego despreparado.
Ele afastou os lábios da boca flexível de Aurora, sem
saber mais qual era o caminho para cima e qual era para
baixo.
Um toque de seus lábios nos dela, e a garota estava
batendo nas paredes que ele ergueu ao redor de seu coração,
quebrando todas as suas camadas protetoras em pedaços. Ele
nunca tinha experimentado nada tão delicioso como a
sensação de Aurora em seus braços ou o doce sabor dela em
sua língua.
— É melhor voltarmos para dentro.
Deus o ajudasse, até sua voz estava rouca.
A neve continuou a cair em flocos grandes e macios que
se agarraram a seus longos cílios negros e brilhavam em seus
cabelos ruivos. Se eles não voltassem ao salão agora, ele
nunca encontraria forças para deixá-la ir.
Seu coração nunca deixaria que ela se fosse.
— Perin, o que está acontecendo conosco? Você não acha
que é algo especial?
— Não, Aurora. — Ele não conseguia desviar o olhar de
seus grandes olhos cor de conhaque. — Você não sabe nada
sobre mim.
Ela mordiscou seu delicioso lábio inferior.
— Isso é verdade. Mas minha família sabe. Por que isso
não deveria contar?
— Ser aceito como amigo pela família está muito longe de
ser aceito como marido para você. Tire isso da sua cabeça.
Isso não vai acontecer.
Ela o encarou por um longo momento.
— Oh, que estúpido da minha parte. Você apenas queria
me beijar. E agora que beijou, você não quer mais nada
comigo. Como você é melhor do que Fasswell ou seus amigos
idiotas? Baixei minha guarda porque confiei e acreditei em
você. Eu sou uma idiota por isso.
— Nunca diga isso, Aurora. Você acha que eu não estou
afetado? Eu não deveria ter vindo ao Baile Nevado esta noite.
Mas não consegui ficar longe. Eu sabia que você estaria aqui
e queria vê-la.
— Com que propósito? Roubar um beijo e seguir seu
caminho alegremente? Eu o parabenizo, pois foi muito
convincente. Você me fez sentir como se sua alma fosse
murchar e morrer se não me tivesse. Mas suponho que seja
assim que você beija todas as suas conquistas. Isso é tudo
que sou para você, não é? Outra vitória? Esse era o seu
objetivo? Beijar a filha de um conde e saber que ela deixaria?
— Eu só queria a dança. Era tudo o que desejava, uma
espécie de presente de Natal para mim mesmo. Dançar com
Lady Aurora era tudo o que queria para mim. Eu nunca
esperei... isso. Eu não deveria ter trazido você aqui. Me
desculpe por ter te beijado.
Ele percebeu que ela iria chorar.
Ele tinha sido um idiota egoísta e a fazia se sentir
péssima.
— Aurora, não derrame lágrimas por mim. Eu não valho
a pena. — Ele pegou sua mão trêmula. — Mas saiba disso...
Eu a beijei porque não sobreviveria este dia sem pensar em ti
e não poderia ter sobrevivido mais um dia sem tocá-la. Você é
meu sonho.
— Hah! Isso é uma brincadeira.
— Eu gostaria que fosse. Eu não estaria nesta agonia
agora. — Ele acariciou sua bochecha. — Você está em meu
coração desde o momento em que sua mãe mencionou seu
nome para mim, dezoito anos atrás. Aurora. Isso foi tudo que
você precisou para se inserir em minha alma.
Ela olhou para ele com surpresa.
— Aurora, — Ele repetiu em um sussurro rouco. — Eu a
beijei esta noite porque tudo o que eu sou, tudo que
conquistei, devo a você.
— Como isso é possível?
Ele a envolveu em seus braços novamente e a puxou
contra a quentura de seu peito, sua jaqueta ao redor deles
para fornecer calor para esta menina dolorosamente bonita.
— Você se tornou minha inspiração. Eu era apenas um
moleque juntando xelins sempre que podia. Eu queria ser um
homem melhor para você. Não zombe. Você era meu sonho.
— Oh, Perin.
— Em meus momentos mais sombrios, pensar em você
era a única coisa que me fazia continuar. Quando sua mãe
me convidou para o chá ontem, eu tinha que ir. Eu tinha que
vê-la, tocar em você. Parte do motivo foi para tirar você da
minha alma. Eu esperava que você fosse uma garota grande e
bruta com cabelos feios saindo pelas orelhas e narinas, e com
punhos tão grandes quanto peças de presunto.
Ela riu e balançou a cabeça.
— Patético, não é? Sentir tudo isso por alguém que eu
nunca tinha conhecido? Para construir um império com um
único objetivo. Aurora. Você preencheu meus sonhos. Você
encheu meu coração. Você encheu minha alma. De que outra
forma eu poderia te beijar do que dessa forma escaldante?
— Perin, isso é verdade? — Ela procurou em seu rosto,
tentando ler sua expressão. Ele aprendeu a nunca revelar
seus pensamentos, poderia escondê-los muito bem.
Mas não com Aurora.
Ela era muito importante para ele.
Ele não queria que o rejeitasse porque mentiu para ela.
Ele queria apenas a verdade entre eles.
— Eu precisava trazê-la aqui para libertar minha alma
miserável de você. — Ele beijou levemente sua bochecha
porque ela era suave e bonita. — Em vez disso, você se
aprofundou mais.
— Você acha que eu também não estou afetada? Eu não
o encontrei por acaso na rua tropeçando e me atrapalhando
desde que te conheci?
— Pense bem sobre isso, Aurora. Não sou nada mais do
que aquele garoto esperto de palavras rápidas na boca pelas
ruas de Torquay. Você não pode tirar o moleque de rua de
mim. É por isso que você não deveria me querer. Você merece
algo muito melhor.
— E se não houver homem melhor para mim? Eu poderia
me apaixonar por aquele moleque de Torquay.
— Nem mesmo contemple isso. Me amar? Isso é
impossível.
— Por que isso é impossível? Se eu posso ser o seu
sonho, por que você também não pode ser o meu? Por que
você deve nos negar a chance?
— A filha de um conde? Você cresceu em uma bela casa.
Eu cresci em um casebre. Eu costumava pensar em você
quando acordava na escuridão do inverno e colocava meus
pés nas pedras gelada. Eu queria desesperadamente rastejar
de volta para a cama porque estava com frio, mas nunca me
permitiria esse luxo. Eu queria me tornar um homem de
quem você se orgulharia.
Ela colocou a palma da mão contra o coração dele, seu
toque agora impresso ali para sempre.
— Mas olhe para você agora, Perin. Você recebeu seu
convite para o baile de Lady Dexter. Apenas a nata da
sociedade tem permissão para comparecer.
— Eu salvei o filho dela da raiva de um marido traído,
isso é tudo. Você sabe como ganhei minha riqueza? Você
conhece o tipo de negócio que dirijo?
— Você tem vergonha deles?
— Não, mas você teria. Sua família também. Aurora, não
balance a cabeça. Se eu te contasse como alcancei minha
riqueza, sei que você pensaria menos de mim.
— Cabe a mim decidir, não acha? Você não está sendo
justo comigo, Perin. Você já traiu alguém?
— Não, eu nunca faria isso. — Ele suspirou e balançou a
cabeça. — Mas eu aproveito seus vícios. Menti para mim
mesmo todos esses anos, convencido de que assumiria
negócios mais respeitáveis assim que fizesse minha fortuna.
Mas eu não fiz. O garotinho que eu era queria ser alguém
para você, Aurora. Aquele garotinho pensou que um dia
ficaria diante de você com a cabeça erguida e ficaria
orgulhoso de suas realizações. Mas a sabedoria vem com a
maturidade. Enlouqueci ao pensar que algum dia poderia me
livrar daquele moleque de rua. Eu nunca serei nobre. Eu
nunca serei um herói como seus tios são.
— Então você acha que eu devo me casar com alguém
como Rodrick Fasswell?
— Não, nunca um dissoluto como aquele homem.
— Então quem? Por que você deve me privar de minha
escolha?
Ele riu.
— Você está carrancuda para mim. Por quê? Você me
conhece pouco, pela duração de uma dança, pela duração de
um beijo e pela duração de uma xícara de chá. Como posso
ser sua escolha?
— Como pode meu coração não ser seu depois do que
você me disse? — Ela soltou a respiração. Uma leve trilha de
vapor formou-se ao redor de sua linda boca porque o ar
estava muito frio. — Ou isso é tudo que você sempre quis que
eu fosse? Seu sonho. Nunca real. Nunca a mulher que
compartilharia sua vida, com quem envelheceria e construiria
lembranças. É isso?
— Eu não sei. — Ele a conduziu de volta para dentro,
esperando que ninguém tivesse sentido falta deles nos poucos
minutos em que se foram. A valsa estava chegando ao fim. —
Deixe-me acompanhá-la de volta aos seus pais. Você deve
ficar longe de suas supostas amigas. Elas são rápidas em
encrencas.
— Muito bem, mas não espere que eu nunca esqueça de
você ... ou o perdoe por nos negar a chance.
Ele tinha pensado que conhecê-la encerraria seu sonho,
pois ele havia se tornado bem-sucedido e não precisava mais
da inspiração dela para impulsioná-lo na vida.
Mas ele se apaixonou por Aurora.
Estava feito e nunca poderia ser desfeito.
Ele soube no momento em que reuniu suas fitas e se
olharam fixamente.
Serviu bem para sua arrogância.
Seus pais o saudaram calorosamente quando ele
acompanhou Aurora de volta a eles. Eles falaram do irmão de
Lady Westcliff. Como Perin costumava ir a Torquay para ver a
irmã, sempre fazia questão de visitar Peter Croft também. O
homem tinha sido um pai para ele depois que Peter perdeu o
seu próprio filho.
Não se esquece das pessoas boas da vida.
Ele observou os pais de Aurora parados juntos. Tynan e
Abigail, era assim que como garoto impetuoso que era, os
chamava quando os conheceu. Ele podia ver o quanto eles
ainda se amavam, os pequenos gestos de afeto, a maneira
como seus olhos se iluminavam quando se olhavam.
Como um conde rico e velhaco libertino em sua época,
Tynan poderia ter qualquer mulher que quisesse, mesmo
depois de se casar com Abigail. Mas esses Braydens nunca se
desviaram da rota depois que se apaixonaram. Nem os
homens da família de Abigail, os Crofts.
Ele poderia ser como eles?
Fiel a uma mulher durante toda a sua vida? Ele não
tinha acreditado que fosse possível até encontrar Aurora esta
noite. Seu coração não se cansava dela.
É assim que o amor é sentido?
Insaciável.
A mãe de Aurora o chamou de lado para fazer mais
perguntas sobre seu irmão e sua família.
— Tynan e eu estamos determinados a visitar Torquay
neste verão. Já se passou muito tempo desde a última vez que
vimos Peter e Annie. Seus meninos estão crescendo tão rápido
que não consigo acompanhar suas desventuras. Annie deve
estar com as mãos ocupadas.
Enquanto conversavam, ele notou que um jovem se
aproximava de Aurora e a convidava para dançar. A dor o
rasgou quando ela aceitou e caminhou para a pista de dança
por seu braço. O que mais ela deveria fazer depois que ele a
rejeitou?
Mas como ele poderia pedí-la em casamento?
Conhecê-la em seus sonhos não contava. Não podia
ignorar a realidade do que ele era. Ele não pertencia a este
círculo de elite.
Ele não gostava de suas amigas.
E sua família? Roubar o coração de Aurora era uma
forma de recompensá-los por toda a bondade que haviam
mostrado para com ele?
Ele nunca cairia tão baixo a ponto de machucá-los.
— Perin, — disse a mãe de Aurora suavemente, — você
tem seu coração em evidência.
— Aurora é alguém muito especial. Não precisa se
preocupar se eu algum dia vou envergonhá-la ou a você, —
ele a assegurou. — Eu sei quem eu sou e de onde venho.
Ela franziu o cenho.
— Foi isso que você disse a Aurora? Não é de admirar
que os olhos dela tenham perdido o brilho.
Sua expressão ficou sombria.
— Eu não deveria ter dançado com ela.
Lady Westcliff arqueou uma sobrancelha.
— Nem deveria tê-la beijado. Oh, não me olhe
horrorizado. Não vou dizer nada a Tynan. Ele vai esganar você
se souber.
— É exatamente por isso que não vou ver sua filha
novamente. Não que eu tenha medo de levar alguns socos.
Não seria a primeira vez que eu teria o recheio do estômago
chutado para fora de mim. Minha única preocupação é com
Aurora. Ela é um anjo. Eu nunca vou querer machucá-la.
— E você acha que ficar longe dela é a coisa certa a
fazer?
Ele assentiu.
— Eu também posso lhe dar minhas desculpas pessoais
e desistir de seu convite para o jantar na sexta-feira. É o
melhor, eu acho.
A expressão de Lady Westcliff ficou dolorida.
Ótimo, agora ele tinha insultado mãe e filha.
— Não se zangue comigo, Lady Westcliff. Sua filha é uma
dama. Eu não sou um cavalheiro. — Ele curvou-se sobre a
mão dela. — Ultrapassei as minhas boas-vindas a este baile.
Desejo-lhe boa noite. Foi um prazer revê-la.
Ele acenou com a cabeça para o conde e saiu.
Mas ele não tinha dado mais do que alguns passos fora
do salão de baile quando de repente foi cercado pelo
Desonroso Rodrick Fasswell e cinco de seus amigos. Rodrick
deu-lhe um empurrão hostil.
— Quem disse que você poderia dançar com Lady
Aurora? Você não está apto para polir as botas dela.
— Coloque suas mãos em mim de novo e eu as
quebrarei, — Perin rebateu, talvez não fosse um de seus
comentários mais brilhantes. Mas eles estavam do lado de
fora do salão de baile, com convidados por perto e lacaios
entrando e saindo. Se ele fosse atacado por esses idiotas, eles
não acertariam mais do que alguns socos antes que a luta
terminasse.
Rodrick tentou empurrá-lo novamente.
— Fique longe dela, verme.
Ele tinha avisado o homem.
Ele agarrou seu braço e o torceu até que Rodrick caiu de
joelhos com um uivo. Mas ele teve o cuidado de não quebrar o
braço do salteador, embora o miserável lorde merecesse muito
pior.
Seus amigos foram até ele, dois deles agarrando seus
braços enquanto os outros três o socavam. Ele mesmo deu
alguns bons socos, pois dois lordes insignificantes não iriam
segurá-lo por muito tempo.
Onde estavam os lacaios?
Ele derrubou dois daqueles supostos cavalheiros, mas
ainda faltavam quatro, e um deles conseguiu acertar um soco
da pálpebra do olho de Perin com o anel de sinete em sua
mão, deixando-o com um corte sangrando acima do seu olho.
Ele nocauteou o homem e partiu para os outros quando
os lordes repentinamente começaram a voar para longe dele.
Finalmente, os malditos lacaios perceberam.
Mas quando o último deles foi empurrado para longe
dele, ele percebeu que era o próprio Conde de Westcliff e... oh,
inferno... Aurora, jogando-os para longe. Ela tinha um
castiçal na mão e acertou Rodrick na cabeça com a peça. Ela
poderia ter conseguido dar mais um ou dois acertos neles
com aquela arma altamente polida.
— Seus infiéis pagãos, — ela estava gritando para os seis
lordes, que agora estavam esparramados no chão e gemendo.
— Como ousam! E para insultar Lorde e Lady Dexter com
seus comportamentos! Vocês não tem vergonha? Vocês não
tem honra?
— Você está bem, Perin? — Ele percebeu que o irmão
mais velho de Lady Westcliff estava agora ajoelhado ao lado
dele. Claro, William Croft, outro irmão de Peter, também
estava expulsando os agressores. William passou a ser o
Barão de Whitpool.
Ótimo, um conde, um barão e a filha de um conde
vieram em seu socorro. Haveria alguma chance de eles não
serem assunto de fofoca da primeira página dos jornais de
Londres? Ou que seu nome e casas de jogos não seriam
mencionados?
— Estou bem. — Ele sorriu enquanto observava Aurora
ainda de pé sobre os lordes castigados, acenando com o
castiçal enquanto continuava a criticá-los por seus
comportamentos.
William deu uma risadinha.
— Ela é magnífica, não é?
Perin acenou com a cabeça.
O pai de Aurora se ajoelhou ao lado dele.
— Você tem um corte feio no olho direito. Dr. Farthingale
está aqui. Ele cuidará disso.
― E eu segurarei sua mão enquanto ele faz isso, —
Aurora insistiu, agora balançando o castiçal para ele para
interromper seu protesto. — É minha culpa que aquelas feras
te atacaram.
— Não foi sua culpa. Eles estavam apenas protegendo
seu território de intrusos.
Ela se ajoelhou ao lado dele e colocou o lenço em seu
corte.
— Eu não sou território de ninguém.
— Eu não me referi especificamente a você, — disse ele.
— Eles são descendentes de nobres ingleses. Eles governam a
Inglaterra desde a época da Magna Carta.
— Mais ou menos depois de algumas rebeliões
sangrentas — Aurora murmurou.
— Meu ponto é, eles estavam protegendo seu modo de
vida. Eles me veem como parte da maré que está prestes a
tirá-los do poder.
Ela lançou-lhe um olhar cínico.
— Quão perspicaz da sua parte, Perin.
— Você está sendo sarcástica comigo, Lady Aurora?
Ela enxugou o sangue na lateral do olho dele.
— Sim, eu estou. Você se importa?
— Não, nunca me importarei com o que você me disser.
Eu preciso ser colocado no meu lugar de vez em quando.
Como você sabe, às vezes posso ser um idiota.
— Mas um muito bom, — ela disse e então se afastou
enquanto o médico cuidava dele.
Ele estava cometendo um erro com Aurora?
Seria possível que ela pudesse ser mais do que um sonho
para ele?
Ele ousava ter esperança?
Capítulo Cinco

TRÊS dias de passou desde o baile, e Aurora não tinha


notícias de Perin. Não pensou mais nele, pois ela e sua mãe
estavam ocupadas se preparando para a festa de Natal que se
aproximava. Mas seu coração afundou quando a nota de
Perin foi entregue, enviando seu declínio a festa.
— Mamãe, ele diz que não pode vir.
— Aurora, eu sinto muito, — disse sua mãe com um
aceno de cabeça. — Pedi a ele que reconsiderasse, mas
suponho que sua decisão seja firme. Eu sei o quanto você
gosta dele.
Ela lançou a sua mãe um olhar de dor.
— Mamãe, acho que estou apaixonada por ele. Você e
papai o aprovariam?
— Eu não o teria convidado para o chá naquele dia se
seu pai e eu não o considerássemos adequado. Talvez ele
mude de ideia quando o escândalo daquela luta no baile
acabar. Chamaram você de Helena de Troya de Londres e
fizeram de Perin o vilão da peça, roubando-a daquele horrível
Rodrick, como se aquele inchado libertino já tivesse
reivindicado você. Seu papai e eu nunca teríamos permitido.
Rodrick sempre foi uma doninha chorona, desde criança.
— Isso não importa. Ele tomou sua decisão. É melhor eu
me preparar, ou vou me atrasar para o concerto em Reitoria
de St. Martin’s. Justine e seu pai chegarão em breve para me
buscar. Harriet também vem conosco.
— Eu pensei que você não estava mais se relacionando
com essas suas amigas?
— Não irei depois desse show, mas os ingressos foram
comprados semanas atrás, nossos planos foram feitos antes
do incidente no baile. O recital é em uma igreja, então o
passeio deve ser inofensivo o suficiente. Hinos para os
feriados é o programa. — Ela acariciou a bochecha de sua
mãe. — Estarei em casa com bastante tempo para o jantar.
Mas assim que chegaram a Igreja de St. Martin’s o pai de
Justine as abandonou na escada e partiu em sua carruagem.
Aurora observou seu excelente meio de transporte decolar
rapidamente, quase derrubando os transeuntes ao virar a
esquina rápido demais.
— Justine, o que está acontecendo? Seu pai deveria
servir como nosso acompanhante.
— Ele está indo ver sua amante, — disse ela, parecendo
bastante imperturbável sobre isso.
Harriet revirou os olhos.
— Você não acha que nós realmente planejássemos ir ao
recital, não é? Em uma igreja, nada menos?
Idiota. Idiota. Idiota.
Ela deveria ter sabido melhor do que confiar nelas.
— Na verdade, eu achava. Onde vocês duas estão indo?
— Para encontrar Rodrick e seus amigos, — Justine
disse, apontando para uma carruagem preta e lustrosa
conduzida por um par de éguas baias lindas paradas na rua.
— Junte-se a nós. Papai estará de volta para nos buscar em
duas horas. Está tudo arranjado.
— Não, eu vou entrar. Vejo vocês aqui quando o recital
terminar.
Harriet encolheu os ombros.
— Vamos, Justine. Rodrick está acenando para nós.
Aurora tremia de raiva, principalmente de si mesma, por
ter pensado que esse passeio seria inofensivo. Ela não tinha
certeza do que fazer agora. Ela parou nos degraus da frente,
ignorando o vento frio enquanto olhava para as enormes
portas da igreja.
Ela deveria entrar?
Chamar um coche e ir direto para casa?
Ela puxou a capa com mais firmeza, desejando ter
pensado em trazer um lenço. Mas ela não tinha planejado
ficar do lado de fora por muito tempo, nem percebeu como o
dia estava ficando frio.
— Aurora?
Ela reconheceu a voz profunda e ressonante e sorriu de
alívio quando Perin chegou ao seu lado.
— Você vai ao recital também?
Ele arqueou uma sobrancelha, a que havia sido cortada
na luta no baile e agora estava machucada e com crostas. Ele
ainda parecia devastadoramente bonito.
— Não, eu moro na esquina. Você está aqui com seus
pais?
Ela balançou a cabeça.
— Eu vim com Justine e Harriet. O pai de Justine
deveria ser nosso acompanhante.
— Deveria ser? O que aconteceu?
Ela rapidamente disse a ele como as amigas haviam
decolado e a deixado na escada.
— É tudo minha culpa por confiar nelas. Eu nunca
esperei... bem, não me ocorreu que o recital na igreja fosse
um disfarce para suas escapadas ilícitas. Agora estou sozinha
e devo encontrar meu caminho para casa.
— De Veres abandonou você?
Aurora pensou que se ele estivesse com mais raiva, a
fumaça sairia de seus ouvidos.
— Justine disse que ele voltaria para nos buscar em
duas horas. Não tenho certeza se acredito nela.
— Não se pode contar com um homem assim. Ele
também não parece se importar com o que sua filha e suas
amigas fazem sozinhas. Justine não é uma donzela virtuosa.
Nem aquele gansa boba, Harriet. Mas eu não gosto que você
esteja associada a elas.
— Eu também não gosto. Tenho me chutado
silenciosamente por minha estupidez nos últimos dez
minutos. Já tinha planejado cortar laços com elas depois de
hoje.
— Venha comigo. Deixe-me deixar esses papéis em casa
e me lavar rapidamente. Tenho carregado barris de cerveja... e
não pergunte nada. Alguns dos meus trabalhadores estão
doentes. Eu insisto que eles fiquem em casa para não
infectarem os outros. Eles recuperarão o salário perdido
assim que estiverem melhores. Mas o trabalho precisava ser
feito hoje, e estou apto a isso. Mandarei trazer minha
carruagem para levá-la para casa. Quanto as suas amigas,
meu criado irá esperá-las e Lorde de Veres assim que
terminar o recital. No entanto, eu apostaria toda a minha
fortuna para que elas não voltaram por você.
— Obrigada, Perin. Infelizmente, acho que você está certo
sobre isso.
Ela colocou o braço no dele enquanto ele a levava para
sua residência, que era bem perto, em uma praça tranquila
chamada Bedford Place.
— Perin…
— Sim, Aurora?
— Você enviou suas desculpas para não ir ao jantar de
minha mãe.
Ele suspirou.
— Agora você também vai ficar com raiva de mim.
— Não, apenas desapontada. Eu estava ansiosa para vê-
lo novamente. Eu esperava que fosse em nossa festa de Natal.
Eu nunca esperei que fosse aqui e agora. Mas estou feliz por
ter encontrado você novamente. Por que você decidiu não
aceitar nosso convite?
— Quando você vir onde eu moro, vai entender. É melhor
assim, Aurora.
— Ainda está tomando decisões por mim? Está tudo bem
se você não me quiser. Pare de inventar desculpas educadas
para poupar meus sentimentos. Eu prefiro ouvir a verdade,
não importa o quão dolorosa seja. Você pode apenas dizer
isso, por favor? Caso contrário, continuarei a ter esperança.
Ele parou na frente de uma casa geminada muito bem
cuidada que tinha uma aldrava em forma de um escaravelho
de rubi fixada na porta.
— É aqui que eu moro.
— O Ruby Scarab Club? É o inferno de jogo mais
exclusivo de Londres. Esta é a sua casa?
— Eu resido nos andares superiores. Mas sou dono da
casa de jogo e do clube. Este e vários outros. Eles não são tão
elegantes. Alguns são infernos de jogos nas partes mais
sórdidas da cidade.
Um homem gigante abriu a porta para deixá-los entrar.
— Des, esta é Lady Aurora. Acompanhe-a ao meu
escritório, sim? — Ele se virou para ela. — Des é meu criado.
Quer um chá? Chocolate quente? Bolos? Seu nariz está rosa
de frio. Dê-me um momento para guardar esses papéis e me
tornar apresentável, e eu irei me juntar a você.
Ela o observou subir as escadas de dois em dois degraus
antes de seguir seu valete pelo corredor.
— Des, suponho que você seja mais um porteiro do que
um cavalheiro. Obrigada por cuidar do Sr. Marsh. Eu gosto
dele, sabe.
Ele assentiu.
— É óbvio, Lady Aurora.
— O que o Sr. Marsh pensa de mim?
— Não é minha função dizer. — Ele abriu a porta para
revelar um escritório surpreendentemente bonito com painéis
de madeira de cerejeira e estantes de livros que estavam
cheias de tomos. O chão estava quase completamente coberto
por um enorme tapete oriental de um azul profundo, marrom
e dourado. As cortinas eram de seda grossa e destacavam o
azul do tapete. Uma grande escrivaninha ficava no fundo da
sala com duas poltronas grandes de couro na frente dela. Ao
lado, havia duas cadeiras menores com um padrão floral mais
delicado ao lado de uma mesa em meia-lua.
Des mostrou a ela a pequena mesa.
— Sinta-se em casa, Lady Aurora. Voltarei em breve com
refrescos. Posso pegar sua capa?
Ela sorriu para o grande homem.
— Sim. Obrigada, Des.
Quando ele saiu, ela deu uma olhada nos livros nas
prateleiras de Perin e ficou surpresa ao descobrir que seu
gosto era bastante eclético.
— Filosofia, história, economia. Shakespeare. Poesia? —
Ela sorriu, sabendo que tinha que provocá-lo sobre isso.
Mas ela sabia que Perin ou Des voltariam em breve, e ela
estava curiosa para ver o resto do Ruby Scarab Club. Claro,
seus pais a trancariam por uma década se descobrissem que
ela esteve aqui. Se eles iriam ficar com raiva dela por entrar
na casa de um cavalheiro solteiro, e ainda pior, em seu clube
de jogo, ela iria explorar o máximo que pudesse antes de ser
pega.
Além disso, ela estaria segura o suficiente enquanto
bisbilhotava.
A casa era obviamente elegante e bem cuidada. O mais
importante, ainda não estava aberto para negócios. Não havia
valentões bêbados tropeçando com garrafas de champanhe
nas mãos, tornando-se incômodos como os filhos mimados
dos nobres costumavam fazer.
Perin trouxe outras moças aqui?
A possibilidade a entristeceu, então ela tirou isso de sua
mente enquanto caminhava na ponta dos pés pelo corredor.
No entanto, o sigilo era desnecessário, já que o lugar estava
vazio e provavelmente não encheria até muito tarde da noite.
A sala de jogos principal era surpreendentemente
aconchegante, as paredes pintadas de maneira atraente em
um amarelo suave com detalhes em branco. As cortinas eram
de seda. As pinturas eram de boa qualidade, assim como
todos os móveis. Havia várias mesas de dados, outras poucas
mesas com rodas pintadas de vermelho e preto, mas
principalmente mesas de cartas espalhadas pela sala.
Ela caminhou na ponta dos pés e viu uma sala menor ao
lado do salão principal. Esta tinha tapetes tão elegantes
quanto o do escritório de Perin e painéis de cerejeira
igualmente requintados, adequados para uma residência
ducal. As cortinas e os móveis também eram da melhor
qualidade.
Havia apenas uma mesa de cartas no centro, obviamente
para os jogadores de apostas altas. Sérios jogos de cartas
aconteciam aqui. Ao longo de uma parede havia um elegante
gabinete abastecido com os melhores conhaques, bourbons e
vinhos. Ao longo de outra parede havia um bufê onde
provavelmente haveria comida para os jogadores.
Ela se virou para sair e viu Perin parado na porta, os
braços cruzados sobre o peito. Ele havia tirado o paletó e a
gravata de modo que vestisse apenas uma camisa de boa
qualidade, calça escura e botas engraxadas. Suas mangas
estavam arregaçadas e o colarinho aberto na garganta.
Ela sabia que ele era grande, tinha suspeitado que era
bem musculoso... e era, ela podia ver os braços esculpidos
sob o tecido de sua camisa.
— Eu estava prestes a me lavar, então percebi que você
estaria cutucando com seu nariz onde não pertence, assim
que Des virasse de costas. A sua curiosidade está satisfeita?
— Não, — disse ela com um sorriso. — Você se importa
terrivelmente se eu continuar a explorar? Há algum lugar que
eu não deva ir?
A diversão surgiu em seus olhos.
— Se eu te contar, tenho certeza de que é para onde você
vai correr primeiro.
Ela riu.
— Provavelmente. Há mais salas de jogos lá em cima?
— Não, esses são meus aposentos privados. Ninguém
tem permissão para subir lá.
— Nem mesmo amigos?
Ele lançou-lhe um sorriso irônico.
— Não tenho amigos aqui em Londres. Sua sociedade
gentil não vai me aceitar, e eu não tenho nenhum desejo de
ser amigo dos elementos inferiores desta cidade.
— Eu poderia ser sua amiga, Perin. Minha família
conhece você. Eles gostam de você. Isso não conta para
alguma coisa? Talvez se eu te apresentasse...
— Para gente como Rodrick Fasswell e suas duas amigas
que estavam me dando olhares a noite toda para vir aqui?
Acho que não. — Ele balançou a cabeça e gemeu. — Você e eu
nunca poderemos ser amigos. Eu olho para você e quero te
devorar.
Ela engoliu em seco.
— Este não é um bom começo?
— Para quê?
— Para você me cortejar.
Ele suspirou.
— Volte para o meu escritório. Des entrará com o
carrinho de chá em breve. Qual foi o programa na Reitoria de
St. Martin’s que você gostaria tanto de desfrutar?
— Hinos para os feriados.
— Ah, canções natalinas para pessoas piedosas.
— O que deveria ter me dado uma dica de que Justine e
Harriet não tinham intenção de comparecer ao recital. Você
vai dizer ao meu pai que eu estive aqui?
— Sim, se ele me perguntar. Não vou mentir para ele,
nem você deveria.
— Eu nunca minto para meu pai. — Ela lançou-lhe um
sorriso estremecido. — No entanto, há algumas coisas que
não menciono, a menos que seja especificamente solicitado.
Eles começaram a caminhar de volta para seu escritório.
— Você nunca traz ninguém para seus aposentos
privados? Não me refiro apenas a amigos. Quero dizer... você
sabe... ladies que... e mulheres que... hum ...
Ele riu.
— Seu rosto está vermelho como uma cereja. Não é da
sua conta, sabe.
Ela acenou com a cabeça.
— É atrevimento da minha parte perguntar.
Ele acariciou sua bochecha.
— Não, Aurora. Eu não trago mulheres desse tipo aqui.
— E minhas amigas, Harriet e Justine? Quero dizer, elas
sempre vêm aqui para jogar?
— Nunca as considere amigas. Você é uma dama. Elas
não são, e não estou me referindo aos seus títulos,
obviamente. Elas não estiveram aqui, mas visitaram outros
infernos de jogos meus uma ou duas vezes com Rodrick e sua
ralé. Eles bebem de meu champanhe e abusam de minha
hospitalidade. Mas ser visto misturado a mim em meio a sua
elegante sociedade? — Ele apontou para o corte acima de seu
olho. — Esta foi a mensagem que recebi por ter aparecido no
Baile Nevado.
Ela estendeu a mão para tocar levemente ao redor da
crosta agora formada ao longo do lado de seu olho.
— Isso dói?
— Não, está curando. — Ele pegou a mão dela e a levou
de volta ao escritório. — Fique parada desta vez. Dê-me sua
promessa, Aurora.
Ela franziu os lábios para marcar sua irritação, mas
nunca poderia ficar realmente zangada com Perin. Ele tinha
vindo em seu socorro, e ela estava feliz por estar em sua
companhia novamente.
— Eu prometo.
Ele deu uma risadinha.
— Isso soou tão doloroso quanto uma extração de dente.
— Ora! Eu adoraria ver o resto deste lugar. Mas vou
manter a minha palavra.
Ele correu o polegar levemente ao longo de sua
bochecha.
— Eu sei que você vai.
Ele voltou para cima para terminar de se vestir.
Ela voltou a examinar seus livros.
Des entrou com o carrinho de chá logo depois.
Que nome estranho para um homem gigante.
Seu semblante era assustador, mas ele foi muito gentil
com ela e lançou-lhe um sorriso terno quando começou a
preparar o serviço de chá e os bolos.
— O homem é enorme, — disse ela, sua voz quase um
sussurro quando Perin voltou, e Des os deixou em
privacidade. — Você o chama de seu criado, mas ele deve
realmente ser seu guarda-costas, eu suponho?
— Nós temos o ocasional perdedor zangado. É incrível
como a raiva de um homem se dissolve rapidamente quando
confrontado por um obstáculo do tamanho de uma
montanha. Des nunca bateu em ninguém em sua vida. Os
homens têm uma maneira de ver a razão no momento em que
ele levanta os punhos.
— Isso é mais conveniente para você.
Ele se acomodou na cadeira ao lado dela e cruzou os
braços sobre o peito, parecendo ser esta a sua postura
quando em repouso.
— Eu nunca procuro problemas. Às vezes, o problema
me encontra de qualquer maneira. — Ele apontou para o
olho.
— Problemas não são a natureza do negócio de jogos?
— Eu dirijo jogos honestos, e não... Eu ofereço apenas
jogos de dados, jogos de cartas e assim por diante. Nada
sórdido acontece aqui. — Ele serviu chá para ela enquanto
falava.
— Eu não quis dizer que sim. — Ela cortou fatias de bolo
de limão para cada um deles e os colocou nos pratos. — Bem,
eu estava curiosa.
— Você é uma pequena bisbilhoteira determinada. Você
olhou na minha mesa?
— Não, droga. Isso nunca passou pela minha cabeça. Eu
deveria ter olhado. Que segredos vou encontrar nela?
Seu sorriso era dolorosamente terno.
— Não seriam segredos se eu te contasse.
Assim que terminaram, Aurora ficou melancólica. Ela
havia gostado tanto de seu tempo com Perin e não queria que
isso acabasse. Tinha que acabar, é claro. Ela olhou para ele,
querendo muito beijá-lo.
Ele gemeu.
— Não me olhe assim, Aurora.
— Você sabe que não posso evitar. — Ela emitiu uma
respiração irregular. — Gostei da sua companhia, Perin. —
Ela se levantou para sair e bateu no carrinho de chá de modo
que várias colheres e o pote de açúcar caíram no carpete. Ela
rapidamente se ajoelhou para pegar as colheres e começar a
tirar os grãos de açúcar do carpete. — Eu não posso nem
culpar você por querer se livrar de mim. Eu sou uma
desajeitada.
Ele se ajoelhou ao lado dela para ajudar.
— Droga, eu odeio quando você faz isso.
Ela acenou com a cabeça.
— Derrubar as coisas?
— Não. Não me importo com o que você derrube... há
coisas encantadoras em você, Aurora.
— Não diga isso. Você só vai me fazer chorar. Além disso,
você pode ser o único em Londres que acha minha falta de
jeito bonita e nada ofensiva. Seu bolo de limão estava
delicioso, por falar nisso.
— Minha cozinheira é uma maravilha. Ela prepara as
refeições leves que servimos aos nossos convidados no salão
principal e os banquetes que servimos aos nossos jogadores
privados. Claro, ela cozinha para mim também. O nome dela é
Sra. Quinn, e ela está comigo há quase dez anos.
Aurora franziu o cenho.
— Mas isso significa que você a contratou quando tinha
apenas cerca de... nem mesmo vinte anos, tenho certeza.
— Eu tinha dezessete anos.
— Tão jovem?
— Eu estava brigando pela sobrevivência desde que meu
pai morreu e me deixou no comando das mulheres da minha
família. Avó, mãe e irmã. Eu tinha quase uma década de
experiência sob o meu próprio comando quando fiz dezessete
anos. Seu tio Peter me ajudou a adquirir minhas primeiras
propriedades, mantendo-as em seu nome porque eu ainda
não era considerado maior de idade.
— Qual foi o seu primeiro investimento?
— Um lar decente para minha mãe, avó e irmã. Sra.
Quinn tinha ficado viúva recentemente e perdeu o dela, então
nós a acolhemos e lhe demos hospedagem e alimentação em
troca de cuidar da minha avó e irmã. Acabou sendo uma
excelente troca para mim. Liberou-me para encontrar as
próximas ofertas, e aquela mulher sabe cozinhar. Nunca
fomos tão bem alimentados em nossas vidas.
— Conte-me mais, Perin. Quantas propriedades você
possuía quando tinha vinte e um anos?
— Cinco, todas em Torquay e cidades vizinhas.
Propriedades à beira-mar. Dei uma para minha irmã e seu
marido como presente de casamento quando se casaram.
— E sua avó e sua mãe?
Um lampejo de dor atingiu seus olhos.
— Elas morreram.
— Oh, Perin. Eu sinto muitíssimo. — Ela estendeu a mão
e tocou a dele, então a puxou quando ele não fez nenhuma
tentativa de pegá-la. — Você vai ficar em Londres no dia de
Natal?
Ele assentiu.
— A Sra. Quinn, Des e eu jantamos juntos. Somos um
grupo estranho. Um trio de desajustados, mas somos a coisa
mais próxima de uma família, um para o outro. Minha irmã e
seu marido jantarão com seu tio Peter e Annie.
— Perin, eu não irei tirar você deles no dia de Natal. Mas
você poderia, por favor, reconsiderar e se juntar à minha
família para a ceia da véspera de Natal? Por favor. Minha mãe
não teria convidado você se ela e meu pai não o aprovassem.
— Aurora, por que não me deixa fazer a coisa honrosa e
ficar longe de você?
— Porque é uma tolice, não é honra. É justo que se junte
a nós, já que foi você quem salvou minhas fitas. — Ela riu e
balançou a cabeça. — A família toda está aqui. Tias, tios e
primos. Colocamos as tigelas do coquetel wassail, castanhas
assadas na fogueira da nossa lareira e comemos muito. Papai
sempre põe visco e beija minha mãe embaixo. Ele ainda acha
que ela é a mulher mais bonita que existe. Eles se amam
muito. E se você e eu pudéssemos ficar como eles, Perin?
— Aurora, você me conhece há menos de uma semana.
— E eu gostaria de conhecê-lo para o resto da vida. —
Ela entendia o que ele estava sentindo, todas as mágoas e
desprezos que ele deve ter sofrido ao longo dos anos. — Peça
um desejo, Perin. Um desejo de Natal. Pense no que você mais
deseja no mundo. O que o deixará mais feliz?
— Eu não acredito nessa bobagem.
— Sim, você precisa acreditar. Aliás você acredita nisso
mais profundamente do que qualquer outra pessoa. Eu era o
seu sonho e você acreditou em mim. Peça e faça seu desejo de
Natal.
Ele pegou a mão dela e a levantou.
— Des vai limpar tudo o que derrubamos. Minha
carruagem já deve ter sido trazida para a frente.
— Perin…
— Sim, Aurora?
Ela ficou na ponta dos pés e beijou-o com firmeza na
boca, esperando com todas as esperanças que estivesse
fazendo certo, porque ela só beijou uma vez, e ele tinha
beijado quase sempre.
— Homem teimoso, — ela murmurou. — Você é tudo que
eu quero no Natal. Você é tudo que eu sempre desejarei. Se
você não vai fazer o seu desejo de Natal, então eu farei o meu.
Tudo que eu quero no Natal é você.
— Aurora, é uma loucura.
— Diga, Perin. O que você quer de Natal? Basta fechar os
olhos e dizer o que você mais deseja no mundo. Não precisa
ser eu. Ficarei desapontada, é claro. Mas vou entender.
Apenas deixe escapar o que há de mais profundo em seu
coração.
— No fundo do meu coração? — Ele passou os braços
firmemente ao redor dela e puxou-a contra ele. — Santos
Céus. Existe alguma dúvida do que eu mais desejo neste
mundo?
— Diga, Perin.
— Eu te amo, Aurora. Agora. Para sempre. Para sempre.
— Ele a beijou com um desejo profundo e eterno. — Tudo que
eu quero no Natal é você.
Queridas leitoras,
Quando Dragonblade pediu aos seus autores para
escreverem uma história para esta antologia de Natal baseada
em uma música natalina, eu soube imediatamente qual
queria escolher. A maioria das minhas histórias de romance
históricas são esperançosas, bem-humoradas e edificantes, e
esse é exatamente o sentimento que eu queria expressar ao
escrever a música que escolhi. All I Want For Christmas tinha
que ser única. Cantada por Mariah Carey, sua versão foi
minha inspiração. Senti o anseio, a esperança e o belo
otimismo na música. É isso que desejo para todas, que seus
sonhos e esperanças se realizem e que tenham o melhor ano
de todos.
Com amor,
Meara
All I Want For Christmas Is You

Mariah Carey

Não quero muito para o natal


Só preciso de uma coisa
Eu não me importo com os presentes
Debaixo da árvore de natal
Eu só quero você para mim
Mais do que você poderia imaginar
Faça meu desejo se tornar realidade
Tudo que eu quero no natal é você, sim
Não quero muito para o natal
Só preciso de uma coisa (e eu)
Não se preocupe com os presentes
Debaixo da árvore de natal
Eu não preciso pendurar minha meia
Lá em cima da lareira
Papai Noel não me fará feliz
Com um brinquedo no dia de natal
Eu só quero você para mim
Mais do que você poderia imaginar
Faça meu desejo se tornar realidade
Tudo que eu quero no Natal é você
Você baby
Oh, não vou pedir muito neste Natal
Não vou nem desejar neve (e eu)
Eu só vou continuar esperando
Debaixo do visco
Não vou fazer uma lista e mandar
Para o Polo Norte para São Nicolau
Eu nem vou ficar acordado
Ouça aquelas renas mágicas clicando
Porque eu só quero você aqui esta noite
Me segurando tão forte
O que mais posso fazer?
Oh baby, tudo que eu quero no natal é você
Você baby
Oh, todas as luzes estão brilhando
Tão intensamente em todos os lugares (tão
intensamente, baby)
E o som das risadas das crianças enche o ar (oh, oh
yeah)
E todo mundo está cantando (oh, sim)
Eu ouço os sinos de trenó tocando
Papai Noel, você não vai me trazer aquele que eu
realmente preciso? (Sim, oh)
Você não vai, por favor, trazer minha baby para mim?
Ai não quero muito no natal
Isso é tudo que estou pedindo
Eu só quero ver você baby
Parado bem na minha porta
Oh, eu só quero você para mim
Mais do que você poderia imaginar
Faça meu desejo se tornar realidade
Oh baby, tudo que eu quero no natal é você
Você baby
Tudo que eu quero no natal é você, baby
Tudo que eu quero no natal é você, baby
Tudo que eu quero no natal é você, baby
Tudo que eu quero no natal é você, baby
Tudo que eu quero no natal é você, baby

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