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Curso de Formação de Instrutores de Yoga 1

KRIYÁ ATIVIDADE DE PURIFICAÇÃO

Kriyá significa atividade. Os kriyás são exercícios de purificação típicos do Yoga.


Consistem em uma verdadeira arte de limpar o corpo, por fora e por dentro, atentando
para filigranas de fazer corar qualquer um de nós que se supusesse uma pessoa asseada.
Para perplexidade do arrogante ocidental moderno os kriyás foram elaborados
numa época em que a maioria dos povos hoje tidos como cultos nem tomava banho, nem
escovava os dentes. Nessa época os yogis já estavam mais preocupados com o fator
higiene do que nós hoje em dia, mais que todos os povos de qualquer época.
Eles sabiam, por exemplo, que não adianta só lavar o lado de fora, a face visível
do corpo, se deixarmos imunda a parte que não é vista. Tinham consciência de que isso
não é lá muito honesto, pois parece-se muito com jogar a sujeira para baixo do tapete.
Só que o tapete, nesse caso, é o nosso corpo!
Os principais kriyás são seis, denominados shat karma.
1) Kapálabhati: Limpeza do cérebro e dos pulmões. Também pode ser catalogado como
pránáyáma.
2) Trátaka: Limpeza dos globos oculares e treinamentos para melhorar a visão. Tem
atuação muito rápida para astigmatismo e hipermetropia.
3) Nauli: Limpeza dos intestinos e dos órgãos abdominais por massageamento.
4) Nêti: Limpeza das narinas e do seio maxilar com água (jala nêti) ou com uma sonda
especial (sútra nêti).
5) Dhauti: Limpeza do esôfago e do estômago com água (jala dhauti) ou com uma gaze
(vasô dhauti).
6) Basti (vasti) Limpeza do reto e do cólon com água. Foi o ancestral do clister.

Os kriyás não são isentos de riscos e por isso só ensine ao seu aluno o que você
pratica!
Não custa, entretanto, deixar registradas três advertências.
I Se você já conhece alguns destes kriyás, saiba que a lavagem frequente do seio
maxilar ou dos intestinos pode causar dano à flora bacteriana.
II. Não introduza no seu corpo nenhum líquido que não seja água filtrada e fervida.
Não proceda ao jala basti imerso nas águas de um rio, como induz a ilustração desse
exercício em alguns livros de autoria hindu.
II. Não recomendamos os kriyás que utilizem outros recursos além do ar ou da
água. Nenhum instrumento deve ser usado, além do Lôta e duchas para lavagem
intestinal e vaginal.

SHANKA PRAKSHALÁNA

Trata-se de uma lavagem intestinal feita ingerindo-se grande quantidade de água


ou chá e expelindo-a sucessivas vezes pelos intestinos, com o auxílio de ásanas ou de
nauli.
A variedade mais popular desse kriyá é realizada com ásanas pela simples razão
de que a maioria dos aspirantes não consegue executar o nauli. Contudo, para quem
consegue praticar essa técnica de movimentação da musculatura abdominal involuntária,
a variedade que utiliza o nauli no lugar dos ásanas é bem mais simples, confortável e
autêntica, por ser mais antiga do que a outra forma popularizada, cujas características

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são notadamente modernas. A execução do shanka prakshalana é simples, não tem


nenhum mistério e não merece a aura de suspense que alguns novatos tecem em torno
dele.
A água deve ter sido filtrada e fervida. Para cada litro de água acrescente uma
colher das de café, de sal. Não mais do que uma pequenina colher das de café, rasa! Deve
ser ingerida quente como um chá. Aliás, tomar chá —ou melhor, infusão — no lugar da
água é uma excelente alternativa para tornar o exercício mais agradável e, de quebra,
não introduzir o sal assassino no seu corpo. Uma infusão rala de erva-doce ou de
camomila pode ter efeitos muito benéficos para os aparelhos digestivo e excretor.
Antes do exercício é bom estar em jejum de, no mínimo, oito horas. Depois, não
deve fazer jejum. O primeiro alimento será uma papinha de arroz branco bem cozido e
regado com ghee ou, melhor ainda, com azeite de oliva extra virgem. Mais tarde,
alimentação leve, de preferência legumes cozidos sem condimentos.

A TÉCNICA

Beba um copo daquela água quente ou infusão fraca. Em seguida faça o nauli
repetidas vezes. Vá ao banheiro e tente evacuar. Não importa se conseguiu ou não.
Repita toda a operação. Tente evacuar outra vez. E assim sucessivamente. Depois de
algum tempo você começará a evacuar e seguirá eliminando até que já não haja fezes e
você passe a evacuar o líquido ingerido. Seus intestinos estarão perfeitamente limpos
quando a bebida que for eliminada por eles sair absolutamente límpida. No caso, a água
permite observar essa limpidez melhor do que a infusão, pois sairá clara.

DRISHTIS

Os drishtis são variedades de trátaka que podem ser utilizados sob duas
interpretações: como kriyás ou como exercício de dháraná. No primeiro caso são
denominados bahiranga trátaka (externos) e no segundo caso, antaranga trátaka
(internos). Como kriyás, o sádhaka não precisa atentar para a concentração mais do que
o necessário à boa consecução da técnica.
Sendo, os drishtis, exercícios de fixação do olhar, os músculos oculares são muito
solicitados e os globos oculares ficam lavados pelo lacrimejamento. Por isso mesmo, se
feitos com moderação podem beneficiar os olhos e reduzir alguns problemas visuais.
Mas, ao contrário, feitos com exagero poderão lesionar o mecanismo da visão.
Na variedade de exercício para concentração, o yogin deve esforçar-se por não
deixar o pensamento evadir-se do objeto da fixação. Por exemplo, se o objeto é uma
estrela, procurar ficar sem piscar o máximo possível de tempo, dentro do racional,
mantendo a atenção fixa na estrela.
Os drishtis mais comuns são:
1) naságra drishti fixação na ponta do nariz;
2) bhrúmadhya fixação na raiz do nariz, entre as drishti sobrancelhas;
3) shaktí drishti ou fixação nos olhos do parceira ou parceiro.
4) shakta drishti rishti fixação na imagem (pintura, símbolo ou fotografia) do Mestre
5) agni drishti fixação no fogo (chama de uma vela, fogueira, tocha, etc.)
6) táraka drishti fixação numa estrela;
7) chandra drishti fixação na lua;

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8) súrya drishti fixação no sol (só no nascente e no poente, mesmo assim, apenas naquele
momento em que não fira os olhos).

MAUNA

O mauna é considerado um recurso de purificação. Mauna significa silêncio. Voto


de mauna é o voto de permanecer em silêncio por um determinado lapso de tempo como
tapas. Teve origem provavelmente nos mosteiros, onde a observância do silêncio
facilitava a imposição da disciplina. No Shivánanda Ashram encontra-se escrito em
dêvanágarí na parede de algumas salas: “mauna kripá”, que significa silêncio, por favor.
Ao praticar mauna, mantenha-se extremamente simpático e sorridente,
procurando participar de tudo com a maior naturalidade. Se alguém lhe dirigir a palavra,
sorria e mantenha todas as atitudes normais do seu relacionamento com essa pessoa,
reforçadas com uma dose extra de carinho e simpatia.

JEJUM (UPASANA)

Jejum não é kriyá, mas contribui para à purificação do organismo. O melhor jejum
é o curto e frequente: 36 horas, uma vez por semana, tomando muita água mineral. Um
dia antes, alimentação comedida, laxante natural (como uma infusão laxativa, ou caroços
de mamão, ou água de ameixa deixada de molho durante a noite e bebida pela manhã),
e um clister. Para terminar, frutas doces como mamão ou manga, antes de ingerir
alimentos mais pesados.
Jejuns longos agridem demais o corpo, consomem massa muscular e podem
comprometer a saúde. Devem ser evitados. Não obstante, podem ser utilizados em casos
de extrema necessidade. Se forem praticados, só com muita prudência e
acompanhamento médico.

EKADASH

Jejum realizado no 11º dia depois da Lua Cheia. Recomenda-se tomar o café da
manhã e almoçar até meio dia. Depois deste horário começa o jejum total (nem água).
Para iniciantes pode tomar água, sopas mais ralas e sucos de frutas, mas o ideal é
abandonar totalmente a comida. Consulte o professor sobre como proceder com este
Jejum.

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Trātaka, a prática (Texto de Pedro Kupfer)


Fixando a chama da vela
Tempo: 30 a 40 minutos.
Nível: básico e intermediário.
Sinopse: A fixação ocular é essencial para aumentar a concentração, o foco e a força de
vontade.

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Antes de iniciar esta prática coloque uma lamparina ou uma vela acesa diante de
si, de forma que a chama fique exatamente na altura dos seus olhos. Estando muito alta
ou muito baixa, criará desconforto.
Primeiramente, ajuste a sua posição de forma que você fique a um braço de
distância da chama da vela. Feche os olhos. Suas mãos estão em jñána mudrá sobre os
joelhos.
Confira o conforto e a estabilidade da sua posição sentada. Inspire
profundamente e vocalize junto comigo o mantra Oṁ por três vezes: Oṁ, Oṁ, Oṁ.
Mantenha os olhos fechados. Permaneça consciente do seu corpo. Construa uma
imagem mental do seu corpo. Ou sinta seu corpo.
Permaneça consciente do seu corpo inteiro. Tome consciência da sua espinha
dorsal, que está perfeitamente ereta, sustentando o pescoço e a cabeça.
Tome consciência da posição equilibrada dos braços e pernas. Consciência total
no seu corpo inteiro. O corpo inteiro, dos pés à cabeça.
Imagine-se como se estivesse crescendo a partir do chão, como se fosse uma
árvore. Suas pernas são as raízes da árvore. O resto do corpo é o tronco. Vivencie isto
com intensidade. Você está crescendo a partir do chão, fixando-se no chão.
Absolutamente estável. Absolutamente imóvel. Como se fosse uma árvore enorme e
forte. Perceba-se, vivencie-se crescendo a partir do chão. Fixando-se no chão.
Unindo-se com o chão. Não há diferença entre o corpo e o chão. Você está
absolutamente estável. Absolutamente imóvel. Consciência intensa (1/2 minuto em
silêncio).
Concientize-se das partes do corpo, começando pela cabeça. Visualize a sua
cabeça e mantenha consciência total nela. Faça o mesmo com o pescoço. Visualize o seu
pescoço e mantenha consciência total nele.
O ombro direito. O ombro esquerdo. O braço direito. O braço esquerdo. A mão
direita. A mão esquerda. Permaneça consciente. As costas inteiras. O peito. O abdômen.
O glúteo direito. O glúteo esquerdo. A perna direita. A perna esquerda. O pé direito. O pé
esquerdo. O corpo inteiro de uma só vez. Consciência total no seu corpo inteiro. O corpo
inteiro, como uma unidade (1/2 minuto em silêncio).
Agora visualize o exterior do corpo. Como se você estivesse se vendo num
espelho. Veja seu corpo na posição de meditação. Pela frente. Pelo lado direito. Pelo lado
esquerdo. Por trás. Por cima. E depois, de todos os lados ao mesmo tempo. Esteja
consciente do corpo. Consciência total no seu corpo inteiro. Seu corpo inteiro, como uma
unidade.
Agora tome consciência das sensações físicas que o seu corpo experimenta.
Consciência total em todas as sensações físicas. Permita que estas sensações se
transformem num foco para o seu pensamento. Consciência total.
Agora faça um saṅkalpa: tome a resolução de permanecer absolutamente estável
e imóvel durante toda a prática. Repita mentalmente: “durante toda a prática fico
absolutamente estável, absolutamente imóvel. Absolutamente estável e imóvel.”
Fique atento aos sinais de desconforto do corpo. Consciência total em todos os
sinais de desconforto: dor, coceira, formigamento, necessidade de deglutir, o que for. E
permaneça absolutamente firme e imóvel.
Quando você se prepara para permanecer atento e evitar todo e qualquer
movimento, o corpo permanece imóvel e rígido como uma estátua. E você percebe uma
sensação de levitação astral.

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Se houver algum movimento inconsciente, tome consciência desse movimento.


Torne-o consciente. Consciência total no corpo e na estabilidade. Consciência total no
corpo e na imobilidade.
Seu corpo está totalmente estável e imóvel. Absolutamente firme e descontraído.
Esta é a forma da sua consciência agora (1/2 minuto em silêncio).
Você está preparado para manter esse estado. Sinta seu corpo ficando mais e
mais rígido. Mais e mais firme. Tão rígido e firme que, depois de algum tempo, você não
consegue mais se mexer.
Consciência total no corpo e na rigidez. Consciência total no corpo e na firmeza.
Seu corpo está absolutamente rígido e firme. Rígido e firme, porém, perfeitamente
descontraído e relaxado. Absolutamente imóvel.
Consciência intensa (1/2 minuto em silêncio). Ao manter a consciência centrada,
você sente o seu corpo ficar cada vez mais leve, cada vez mais sutil. Tão leve e sutil, que
a consciência do corpo se esvai. A consciência do corpo se esvai (1/2 minuto em silêncio).
Abra os olhos. Olhe para o centro da chama. Para o pavio. Olhe diretamente para
o centro da chama. Para a língua de fogo. Não feche os olhos. Não pisque. Relaxe os olhos.
Quanto mais você conseguir relaxar os olhos, mais fácil fica. Quanto mais você se
esforçar para não piscar, mais difícil. Fixe o olhar no topo do pavio, no meio da chama.
Focalize a atenção na chama.
Concentre-se. Não há nada além dela. Se sentir muita necessidade de pestanejar,
faça-o. Mas só se for realmente uma necessidade imperiosa.
Na medida do possível, olhe fixamente para a chama, sem piscar (1/2 minuto em
silêncio). Tente atravessar o centro da chama com a sua visão. Concentre-se (1/2 minuto
em silêncio). Fixe a visão na chama.
Permita que a chama atraia seu olhar, como o imã atrai a agulha. Sinta como a
sua atenção e o seu olhar são atraídos pelo fogo (1/2 minuto em silêncio).
Depois, feche os olhos (1 minuto em silêncio). Preste atenção à imagem que você
percebe com os olhos fechados. Se você perceber a imagem da chama, concentre-se
nela. Se não conseguir vê-la, não se preocupe.
Apenas preste atenção ao que acontece diante dos seus olhos fechados. Seja
testemunha. Não se envolva com as percepções que possam surgir. Veja-as como se
estivessem acontecendo fora do seu corpo. Como algo externo, alheio. Mantenha-se
alerta (1/2 minuto em silêncio).
O que acontecer perante seus olhos, deve ser apenas observado. Não reprima
nada (1/2 minuto em silêncio).
Agora abra os olhos e novamente fixe o olhar na chama da vela. Concentre-se no
centro da chama. Relaxe os olhos, mas não pestaneje. Sinta a atração magnética da
chama (1/2 minuto em silêncio).
Não há nada além da chama. Absorva-se totalmente na contemplação da chama.
Procure atravessar o centro da chama com a visão (1/2 minuto em silêncio). Consciência
total na chama.
Atenção absoluta (1/2 minuto em silêncio). Agora feche os olhos. Novamente, fixe
a atenção na impressão que a imagem da chama deixou nas suas retinas. Se você não
conseguir vê-la, concentre-se no espaço vazio frente aos seus olhos fechados. Permaneça
atento ao que acontecer nesse ponto. Seja testemunha. Seja observador. Não se envolva
com as percepções. Apenas observe. Nada mais (1/2 minuto em silêncio).

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Continue concentrando-se na imagem da chama. Se você perceber outras


imagens ou visões, observe-as como se estivesse assistindo a um filme. Não interfira nem
se comprometa com as imagens. Apenas observe (1/2 minuto em silêncio).
Abra os olhos. Focalize por última vez a visão na chama da vela. Olhe para o centro
da chama. Olhe para o coração da chama. Não pestaneje. Mas procure manter os olhos
relaxados.
Lembre que quanto mais você conseguir relaxar os olhos, mais fácil fica. Quanto mais
você se esforçar para não piscar, mais difícil será. Se não se esforçar demasiado, será mais
fácil. Focalize a atenção na chama e em mais nada (1/2 minuto em silêncio).
Olhe no coração da chama. Coloque toda a sua atenção no coração da chama.
Não há nada além dela (1/2 minuto em silêncio).
Concentração total na vela (1/2 minuto em silêncio).
Agora feche os olhos. Permaneça observando a imagem que a chama deixou
impregnada em sua retina. Se não conseguir enxergá-la, coloque a sua consciência no
espaço atrás dos olhos fechados. Observe-se. Seja testemunha. Não interfira. Apenas isso
(1/2 minuto em silêncio).
Lembre de não se apegar às imagens que possam aparecer. Apenas observe (1/2
minuto em silêncio).
Aqui conclui o trátaka. Mantenha os olhos fechados. Faremos agora a vocalização
do mantra Oṁ durante cinco fôlegos. Concentre-se e procure sentir a vibração do Oṁ.
Sinta o Oṁ originando-se no coração e preenchendo o seu corpo inteiro. Cada célula do
corpo vibra com o Oṁ. Inspire fundo e vocalize junto comigo: Oṁ, Oṁ, Oṁ, Oṁ, Oṁ.
Mantenha os olhos fechados por um minuto ainda. Fique atento ao momento
presente, aos seus sentimentos, ao efeito da prática, ao lugar onde você está. Então,
movimente-se devagar. Abra os olhos. A prática de trātaka está completa. Oṁ śāntiḥ
śāntiḥ śāntiḥ Oṁ.

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