Apostila Módulo 3

Kriyás - shatkarmas
Ações de purificação

APRESENTAÇÃO

Olá queridos alunos! Já estamos no terceiro módulo e é hora de limparmos

mais profundamente o nosso corpo físico e como conseqüência limparmos os
nossos corpos emocionais, mentais e energéticos. É um dos angas (partes)
que eu mais gosto no Yoga, pois ele promove bem estar, qualidade de vida,
saúde, prevenção e longevidade.

Nessa fase dos nossos estudos vamos utilizar técnicas que limpam vários
órgãos do nosso corpo físico, que devem ser aprendidas para serem utilizadas
no dia a dia ou conforme precisar.

Ótimas limpezas e Bons estudos!

Pérola de Souza

KK
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 kriyás

Técnicas de limpeza do Yoga

CURSO DE FORMAÇÃO DE INSTRUTORES

E APERFEIÇOAMENTO EM YOGA

PROFª PÉROLA MACHADO DE SOUZA

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Existem muitos procedimentos de purificação no yoga e o elemento mais
utilizado é a água, o que é bem óbvio, afinal de contas o corpo humano é
praticamente 70% água. Portanto o primeiro ensinamento para limpeza
corporal é tomar bastante água e não somente líquidos. O elementos de
limpeza estão agrupados em seis conjuntos conhecidos com Shat karmas (seis
ações) e sua principal referência está na escritura Gheranda Samhitá que cita
que a purificação é o primeiro passo para o yoga. ´

Shat karmas também são conhecidos como Kriyá (ação de limpeza). São
técnicas de purificação das mucosas oriundas do Yoga antigo. São ações de
limpeza por fora e por dentro do corpo. Os yogis antigos eram mais
preocupados com o fator higiene do que os seres humanos atuais e sabiam
que não adiantava lavar só o lado de fora do corpo para ter saúde.

ADVERTENCIAS TÉCNICAS

A maioria dos kriyas não é isento de riscos e devem ser aprendidos

diretamente com um instrutor formado. É importante saber que a lavagem
freqüente do seio maxilar ou dos intestinos pode causar danos à flora
bacteriana. Também é bom deixar claro que não deve se introduzir no corpo
nenhum líquido que não seja água filtrada ou fervida. Em prática de Yoga o
ideal é usar os kriyas secos. Os kriyas citados neste estudo são para referência
e é necessário aprofundamento antes de praticar.

Os principais Kriyás ou Shat Karma são:

Kapalabhati – “Crânio brilhante” - Limpeza do cérebro e dos pulmões. O

cérebro dilata e por isso dá a sensação de brilho, por conta de uma carga extra
de oxigênio, aumentando a autoconfiança e despertando percepções sutis.
Também está catalogado como pranayama (técnicas respiratórias).
Proporciona uma limpeza completa nas vias respiratórias aumentando a
capacidade pulmonar, fortalece o sistema nervoso e tonifica o organismo. Por
conta do movimento no abdômen revigora os órgãos internos e a musculatura
abdominal. Deve ser evitado por hipertensos, cardiopatas e na gravidez.

Descrição:

A expiração deve ser ativa e dinâmica e a inspiração deve ser passiva e

natural. Deve se começar eliminando todo o ar dos pulmões e depois inspirar
lenta e profundamente. Sem reter o ar deve-se expirar pelas narinas com vigor
e recolhendo o abdômen. Pode iniciar fazendo dez vezes. Entre um ciclo e
outro deve se dar um intervalo um pouco maior que o bhástrika (fole) que é um
pranayama parecido. É bom utilizar um lenço sob as narinas por conta do risco

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de eliminar excessos de mucosidade. Pode-se fazer também de forma
alternada, tomando cuidado para não forçar os ouvidos. Por isso é indicado
fazer com a boca um pouco aberta para não dar pressão nos tímpanos.

Trátaka – Limpeza dos olhos e prática para melhorar e prevenir problemas de

visão, tonificar os músculos e nervos ópticos e descansar a vista. Tem ação
eficaz para astigmatismo e hipermetropia. É uma limpeza nos canais lacrimais
e também atua como fortalecimento da musculatura ocular. É um ótimo
exercício de Dharana (concentração pra estado de não mente), desenvolvendo
a concentração e estimulando os centros nervosos favorecendo a meditação.
Por trabalhar o Ajna (chakra controlador no centro da testa) é indicado também
para desenvolver a intuição. Antes de começar os exercícios, o praticante deve
tirar o óculos ou as lentes de contato.

Descrição:

São vários tipos de trátaka e basicamente começam com a fixação firme do

olhar em um ponto, drishti trataka, ou fazer movimentos de rotação para
trabalhar músculos e nervos ópticos.

Existem três categorias:

O primeiro tipo é o bahirāṅgatrātaka, exercício externo que pode ser feito na

posição de meditação, onde possa realizar a fixação do olhar em algum ponto,
objeto, algo da natureza como uma flor, um símbolo e até mesmo uma chama
de uma vela, dipa trataka. Pode usar também os braços estendidos com a mão
na reta do dedo, fixar o olhar na ponta do dedo e movimentá-lo em várias
direções, inclusive longe e perto. Pode também fazer com movimentos
circulares, diagonais, cruzados e alternados onde a cabeça não deve se mover.
Pode ainda fazer o movimento com os olhos se usar os dedos só
movimentando aleatoriamente fazendo várias vezes para todas as direções.

Por fim, deve se esfregar as palmas das mãos, uma na outra até produzir calor
e cobrir os olhos com as palmas, sem apertá-los deixando que os olhos
assimilem o calor das mãos, podendo utilizar visualizações de cura e
fortalecimento.

O antarāṅgatrātaka, exercício interno, que envolve visualização de um símbolo

(yantra) ou um objeto no espaço escuro dentro da cabeça, entre as
sobrancelhas, até conseguir ver o objeto com se estivesse olhando para ele de
olhos abertos.

O terceiro e último tipo é o antarbahirāṅgatrātaka, que combina os outros dois,

fazendo de forma alternada. Este exercício ajuda a aliviar os sintomas da
miopia ou do astigmatismo e prepara para técnicas mais avançadas do yoga.

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Nauli

Nauli ou Laulika significa ondulação ou rolamentos.

O Nauli kriya é praticado com a intenção de fortalecer os músculos abdominais,

remover a preguiça do estomago, intestino e fígado. É um exercício que ativa o
fogo digestivo, agni. Os movimentos estimulam o funcionamento digestório e
de vários órgãos, provocando a limpeza das mucosas a liberação de partículas
acumuladas no sistema.

Descrição:

É um auto massageamento com a força do abdômen nos intestinos e órgãos

abdominais contra a espinha dorsal. Primeiro é importante aprender o
isolamento do músculo reto abdominal, de forma que ele pressione os órgãos
internos e elevando ao máximo o diafragma. Isto deve ser feito com os
pulmões vazios e as costelas devem ficar saltadas. A partir daí deve se
imprimir um movimento ondulatório com os músculos do reto abdominal. Deve
fazer sempre com os pulmões vazios. Quando os músculos abdominais giram
em sentido horário, o exercício recebe o nome de dakshinah nauli. Ao girar em
sentido anti-horário, chama-se vámah nauli. Ao isolar os músculos ao centro,
temos o madhyama nauli.

É melhor começar a praticar em pé pois fica mais fácil sentir os músculos, deve
curvar-se para frente, deixar os pés separados um pouco mais que a reta do
quadril, apoiar as mãos nas coxas com os dedos para dentro, deixar os joelhos
um pouco flexionados. Após uma inspiração profunda, deve soltar totalmente o
ar dos pulmões e contrair vigorosamente a parede abdominal para cima e para
dentro, forçando o reto abdominal a projetar-se à frente. Depois começar a
projetar o reto abdominal para os lados até conseguir isolá-lo. Assim que
conseguir isolá-lo conseguirá deslocá-lo como quiser, para qualquer lado,
inclusive provocar movimentos ondulatórios.

No início, vinte e cinco contrações a cada retenção é um número razoável.

Porém, quando estiver devidamente treinado poderá ultrapassar facilmente 108
contrações por sessão. Lembre, no entanto de fazer igual número de
contrações em cada sentido, para trabalhar a musculatura de forma
equilibrada.

Como treinamento para o Nauli Kriyá, pode se utilizar o Uddiyana bandha, que
é o recolhimento do abdômen, pressionando os órgãos internos contra a
espinha dorsal e elevando ao máximo o diafragma, que fica totalmente
encolhido e elevado.

Deve ser feito com o estômago vazio e evitado por pessoas com crises
digestivas ou intestinais ou que tenham feito cirurgia recente nessas regiões.

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Claro também, não é indicado para gestantes por conta da contração forte que
exerce no interior do corpo.

Neti

Neti significa “isso não” porque normalmente espanta as pessoas pela

impressão que causa nelas por serem ações que não são da nossa cultura de
limpezas. É uma lavagem das narinas e do seio maxilar com água (jala neti
com Lota) ou com sonda específica (sutra neti) para purificar as mucosas
nasais. Existem muitas formas como o sútra neti, onde se usa um cordão, jala
neti, onde se usa a água, dgudha neti com leite e o ghrita neti, na qual usa-se
ghee, manteiga clarificada. É indicado contra as doenças dos seios frontais e
nasais, como sinusite, enxaquecas, rinites, corizas ou resfriados. Favorece a
saúde das regiões cerebral, cervical e escapular.

Não deve ser utilizado por pessoas que sofrem de hemorragias nasais
freqüentes ou tenham tarefas ou atividades que a cabeça fique muito submersa
em água (surf, mergulho e natação). Jala neti é a limpeza das narinas feita
com água sutilmente salgada. Para fazer este kriyá necessita-se de um
pequeno bule de cerâmica próprio, chamado lota. A água utilizada deve ser
mineral ou fervida, deve estar morna e salgada na proporção de uma colher de
sobremesa de sal para um litro de água. Se a água estiver pouco ou
demasiado salgada, poderá sentir uma leve dor na altura dos seios frontais e
ardência na mucosa nasal. Deve ser feito em pé, com o tronco ligeiramente
inclinado para frente e inclinar a cabeça para o lado direito. Coloca-se o bico do
lota na narina esquerda e inclinando-o, permitindo que a água entre por essa
fossa e saia pela outra. A passagem da água deve ser natural e sem esforço.
Isto vai depender da inclinação da cabeça. A boca deve ficar entreaberta para
poder respirar por ela. Havendo esvaziado o recipiente, deixe o tronco na
mesma posição e o rosto agora voltado para baixo. Não se deve fazer
kapalabhati (expiração forte) a fim de extrair o restante da água e deve deixar
que ela saia naturalmente, olhando para baixo, pois a água poderá entrar na
trompa auditiva. Em seguida, observando as mesmas instruções, deve-se
repetir para o outro lado.

Dhauti

É a lavagem do esôfago e do estômago com água (Jala dhauti) ou com gaze

(vaso dhauti) com a intenção de realizar uma purificação da mucosa digestiva.
Existem quatro tipos de dhauti kriyá: antar dhauti, que compreende diversas
técnicas para a limpeza dos órgãos internos; danta dhauti que engloba um
grupo de exercícios para asseio dos dentes e órgãos dos sentidos; hrid dhauti,

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que é descrito como purificação do coração, mas que também atua sobre os
órgãos internos e múla shodhana, que consiste em fazer a lavagem do reto.
Dhauti significa limpar, lavar, purificar.

O Gheranda Samhitá, diz que este dhauti purifica o corpo, evita diversas
enfermidades e aumenta a secreção do suco gástrico. Também existe o Jihva
dhauti onde ao escovar os dentes, deve-se passe a escova dental na língua,
desde a raiz para a ponta, com bastante água, até remover toda a camada
esbranquiçada e junto com esta, resíduos de alimentos e bactérias. A limpeza
da língua também pode ser feita utilizando uma colher para raspar e remover o
excesso de mucosidade ou esfregando-a com os três dedos maiores e
lavando-a com muita água. Existem muitas outras limpezas nesse grupo, mas
que devem ser feitas com um instrutor que conheça bem as técnicas e possa
ensiná-las pessoalmente.

A mais comum para ser ensinada nas práticas de yoga é a purificação com
água (kunjara kriya), que tem um poderoso efeito de limpar toda a mucosa do
trato digestivo, muito utilizado no caso de intoxicação alimentar.

Descrição:

Em jejum, deve se tomar de uma só vez de quatro a seis copos de água morna
com sal. Em seguida deve realizar uddiyanana-bandha ou nauli kriya. Em
seguida deve colocar o dedo indicador e médio no fundo da garganta (cuidando
para não arranhar). Em seguida vomite a água ingerida. Se não conseguir
vomitar, não há problemas, pois toda esta água será expelida pela bexiga.

Vasti

Vasti significa baixo abdomen e é a purificação do reto, do cólon, órgãos

intestinais e órgãos genitais. O Jala (água) vasti é a lavagem dos intestinos
feita com água e a prática aumenta a saúde de um modo geral, o vigor físico e
a imunidade. Existem muitos métodos antigos e modernos e o praticamente
precisa pesquisar e descobrir qual é o método mais adequando para si mesmo
e o quanto realmente é necessário realizar. Uma alternativa moderna é usar
um tubo de plástico com diâmetro de um centímetro (clister medicamentoso),
introduzindo no canal anal e sugar a água, criando um vácuo usando os
músculos abdominais. O vasti é subdividido em: Jala-vasti – lavagem intestinal
com água via reto (enema) e Shushka-vasti- lavagem intestinal a seco.

E além desses seis mais tradicionais, ainda existem outros vinte catalogados.
São eles:

- Agnisara dhauti: limpeza das vísceras e redução do abdômen.

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- Bahiskrita dhauti: limpeza do reto com água ou com ar.

- Chakshu dhauti: lavagem dos olhos.

- Danta dhauti: limpeza dos dentes.

- Danta múla dhauti: limpeza da raiz dos dentes.

- Dhauti karma: limpeza do esôfago e do estômago com uma gaze.

- Hrd dhauti: limpeza do coração.

- Jíhva shôdhana: limpeza da língua.

- Jihva dhauti: o mesmo que jihva shôdhana.

- Kapálarandhra dhauti: limpeza dos seios frontais e da pineal.

- Karna dhauti: limpeza dos ouvidos.

- Múla shôdhana: limpeza do ânus e do reto.

- Shit krama: limpeza da boca e narinas, absorvendo água pela boca e

expulsando-a pelo nariz.

- Sthala vasti: limpeza do reto com ar, no viparita karanyásana.

- Sukha vasti: limpeza do cólon com água.

- Yôní vasti: lavagem vaginal com água.

- Vamana dhauti: lavagem do estômago com água.

- Varisara dhauti: lavagem de todo o tubo digestivo com água, desde a boca
até o reto.

- Vasô dhauti: o mesmo que dhauti karma, citad acima.

- Vátasára dhauti: limpeza do estômago com ar.

- Vyut krama: lavagem das narinas introduzindo água pelo nariz e retirando
pela boca.

Glossário

Agni – Fogo.

Antarāṅgatrātaka - Exercício interno.

Antarbahirāṅgatrātaka – Combina exercício interno e externo de forma

alternada.

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Bahirāṅgatrātaka - Exercício externo.

Dakshinah nauli - Quando os músculos abdominais giram em sentido horário.

Dhauti - limpar, lavar, purificar.

Dipa trataka – Fixação na vela (dipa).

Drishti trataka – Fixação em um ponto único.

Jala dhauti - Lavagem do esôfago e do estômago com água.

Jala Neti – Lavagem com Lota.

Jala-vasti – Lavagem intestinal com água via reto (enema)

Jihva dhauti – Limpeza da língua e dos dentes.

Kapalabhati – Crânio brilhante.

Kriyá - Ação de limpeza.

Lota – Pote de cerâmica para lavagem das narinas.

Madhyama nauli - Isolar os músculos abdominais ao centro.

Nauli ou Laulika - Ondulação ou rolamentos.

Neti - “isso não”.

Shat karmas - Seis ações.

Sutra neti - Purificação das mucosas nasais.

Trátaka – Limpeza da mucosa ocular.

Uddiyana bandha - Recolhimento do abdômen.

Vámah nauli - Girar o abdômen em sentido anti-horário.

Vasti - baixo abdômen.

Yantra – símbolo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BORELLA, Ana; André de Rose; Carlos Eduardo G. Barbosa e Marcos

Taccolini. O Livro de ouro do Yoga. Ediouro Publicações S.A. Rio de Janeiro,
2007.

PACKER, Maria Laura Garcia. A Senda do Yoga. Editora Teosófica. Brasília.

2008.

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SOUTO, Alicia. A Essência do Hatha Yoga. Editora PHorte. São Paulo, 2009.

Sites:

http://www.mestresergiosantos.com.br/index.php/filosofia/kriya-purificacao-do-
corpo-fisico

https://www.yoga.pro.br/

http://www.humaniversidade.com.br/boletins/email_kundalini_08_01_2016/kriya
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