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Black Swan - Jikook (ABO) Era de Ouro da Pirataria - Livro 1

Leia a bio ☺

Published: 2022
Source: https://www.wattpad.com
Introdução

A história desse livro se passa em um ambiente alternativo chamado


Omegaverso. Neste guia, serão apresentadas algumas informações sobre
esse universo simples e cativante.
O que é o Omegaverso? (Depende de cada autor)
O Omegaverso é um universo alternativo que segue a estrutura da
sociedade dos lobos: Alfas, Betas e Ômegas. Também conhecido pela sigla
ABO, as histórias ambientadas nesse meio costumam envolver híbridos
humano/lobo, onde os personagens permanecem com sua aparência
humana, porém, seus instintos e essências estarão interligados ao
comportamento dos lobos, de acordo com cada classe.
Independentemente de sua nação, todos os personagens falam o mesmo
idioma.
Alfas
Os alfas são os que estão no topo da hierarquia do Omegaverso.
Independentemente de serem machos ou fêmeas, eles possuem estatura e
força física superior, assim como os cinco sentidos mais potentes em
relação às demais classes.
Há aqueles que nascem com o gene de um lobo dominante chamado
lúpus, e se sobrepõe a todas as características de um Alfa comum.
Tendem a ser mais agressivos e territoriais. Quando estão enfurecidos ou
excitados, a coloração de seus olhos costumam se alterar para tons
amarelados, ou vermelho no caso dos lúpus.
Eles possuem um tom de voz específico, onde conseguem fazer com que
as outras classes se tornem mais obedientes.
Rut é o nome dado ao período em que os Alfas tornam-se mais propícios
a engravidar tanto Ômegas quanto os Betas fêmeas. Acontece uma vez por
ano, no caso dos lúpus uma vez a cada seis meses.
Ômegas
São aqueles considerados mais dóceis e geralmente associados a
fragilidade, sendo eles machos ou fêmeas. São fisicamente menores e mais
fracos que os demais gêneros.
Ômegas também podem nascer com um gene lobo dominante, onde suas
características se tornam superiores a dos Ômegas comuns. Como por
exemplo, a voz de comando de um Alfa não é efetiva se usada com um
Ômega lúpus, a não ser que este Alfa também seja lúpus.
Tendem a ser mais gentis e flexíveis. Quando estão enfurecidos ou
excitados, a coloração de seus olhos costumam se alterar para tons
azulados, ou prata no caso dos lúpus.
Ômegas machos podem engravidar devido ao fato de, assim como as
fêmeas, possuírem um útero. Sua cavidade anal possui uma estrutura
biológica onde torna-se possível separar o processo da fecundação, da
remoção de dejetos naturais.
Contudo, Ômegas machos não são capazes de amamentar, sendo
necessário o uso de artifícios como mamadeiras, para auxiliar na
alimentação do bebê.
Heat é o nome dado ao período sexual em que o corpo dos Ômegas
passam por transformações físicas, onde eles se tornam mais férteis e seus
feromônios são liberados com mais intensidade. Acontece uma vez por ano,
no caso dos lúpus uma vez a cada seis meses.
Quando excitado, o corpo do Ômega produz um fluído de cheiro doce.
Funciona como um autolubrificante.
Betas
Os Betas apesar de serem humanos comuns, são capazes de se reproduzir
entre si normalmente. Podem engravidar os Ômegas, e no caso das fêmeas
Betas, elas também podem ficar grávidas dos Alfas.
Não possuem períodos específicos para receptividade sexual.
Gamas
Assim como os Betas, eles são humanos comuns. No entanto, eles
possuem uma ligação com o mundo espiritual e não são atraídos
sexualmente por nenhuma outra classe.
Informações adicionais:
As classes Alfa e Ômega possuem glândulas odoríferas, capazes de
liberar feromônios com aromas diferentes para cada indivíduo. Nos
Ômegas, é comum que seu cheiro seja mais suave e doce, já no caso dos
Alfas, o odor é relacionado a algo forte e acentuado.
Betas e Gamas não possuem feromônios, pois são classes que não dispõe
de uma entidade lobo em seu interior, por se tratar de seres humanos
comuns.
Marca é a união mais forte entre um Alfa e um Ômega. Funciona como
um casamento, onde o casal passa a dividir todas as emoções e essências.
Geralmente acontece através de uma mordida feita pelo Alfa na região entre
o ombro e o pescoço do Ômega, e é visto como uma maneira de mostrar
que um pertence ao outro, de corpo e alma.
Personagens

Uma rápida apresentação de como eu imagino alguns personagens:


(Ou, podem imaginar à sua maneira ❤)
Principais:
Jeon Jungkook - Alfa Lúpus
(Capitão do Black Swan)
Park Jimin - Ômega Lúpus
(Filho do governador)
Alguns membros da tripulação do Black Swan:
Kim Taehyung - Beta
(Navegador)
Kim Seokjin - Beta
(Médico)
Kim Namjoon - Alfa
(Imediato ou Contramestre)
Jung Hoseok - Alfa
(Atirador)
Min Yoongi - Alfa
(Espadachim)
Chaerin - Alfa
(Timoneira)
Dahyun - Beta
(Mecânica)
Junbuu - Beta
(Cozinheiro)
Outros:
Park Jisung - Ômega
(Filho do governador)
Park Shinsung - Alfa
(Governador)
Choi Seunghyun - Alfa
(Comodoro da Marinha Real)
Jo Insung - Alfa
(Tenente da Marinha Real)
Por enquanto é isso.❤
Sei que são muitos personagens pra memorizar, mas qualquer coisa é só
voltar aqui 😔❤
Trailer

A perfeição de trailer feito pela LovelyyGirll97 ❤ ❤ ❤ Muito obrigada


por usar seu talento, se dedicando a criar esse trailer tão lindo e
emocionante ❤❤❤
https://www.youtube.com/watch?v=-I0eSodLLPo
[1] Invasão

Muito obrigada pela capa ggukwhalien linda demais!


Olá, a fanfic foi reescrita recentemente, algumas coisas acabam
passando despercebido... Então se vc ver algo que esteja confuso, por
favor, me marque no comentário ou me manda uma mensagem que eu
volto correndo pra corrigir.
Edit pela iludidaCacheada obrigada 😍❤
Reescrito
Bem vinde a Era Dourada da Pirataria!
Uma ótima leitura! Espero que goste

No Oceano Pacífico, ao lado da costa asiática, um galeão seguia
conduzindo em seu porão, toneladas de moedas destinadas ao Reino da
Coréia. Além da riqueza em prata, o navio também transportava um
governador e seus dois filhos. Alguns oficiais da Marinha Real participaram
da jornada de volta para casa, para garantir a segurança de uma das famílias
mais importantes da Coréia.
A viagem estava em seu quadragésimo dia e todos estavam cansados e
entediados, por estarem cercados apenas por água, sem nada para fazer.
Mas dentre eles havia um Ômega que estava apreciando a viagem, pois ao
contrário de todos a bordo, ele adorava histórias que envolviam o mar, em
especial, sobre piratas. Debruçado sobre a proa, Park Jisung observava o
navio diminuir velocidade conforme a noite chegava.
O comandante da embarcação achou mais seguro diminuir a velocidade
durante a noite, devido a pouco visibilidade que se teria, e assim seria mais
fácil impedir que o galeão colidisse com qualquer outra embarcação.
— Você já pensou em como seria viver em alto mar? — Jisung
questionou ao seu irmão mais velho, que lhe fazia companhia em todos os
momentos durante a viagem.
Jimin, o irmão mais velho, que estava um pouco mais longe da proa,
observou o pavimento do convés com repulsa. A madeira úmida e
ligeiramente mofada, o cheiro da ferrugem causada pela maresia, eram
coisas que o deixavam desconfortável. Sem falar nos ratos que ele teve a
infelicidade de encontrar em seu camarote, embora o cômodo fosse um dos
mais limpos do navio.
— Desconfortável, insalubre e perigoso. — O mais velho respondeu, um
pouco mais longe da proa — Por favor, Jisung, desça daí e afaste-se para
não cair.
Jisung suspirou descontente com a resposta que obteve de seu irmão. O
mais novo tinha outra perspectiva do modo que Jimin enxergava a situação.
Sim, talvez as condições de viagens marítimas não fossem tão confortáveis
e seguras, mas apenas o contraste entre o azul do céu e o do mar, e o brilho
do sol nas ondas que despontava do horizonte em todas as manhãs, já eram
motivos suficientes para considerar fazer de um navio o seu lar. Ele se
afastou da proa e virou-se de frente para o seu irmão:
— Seria fascinante. — Ele suspirou — Muitas são as histórias contadas
sobre Alfas valentes, que levam a vida desbravando os mares em busca de
tesouros.
— Você quis dizer, bandidos. — O irmão mais velho corrigiu, fazendo
Jisung bufar revirando os olhos. — A pirataria não é como contam nos seus
livros de romance, Jisung. Os piratas são Alfas e Betas, bárbaros e cruéis-...
— Mal interpretados. — Jisung o interrompeu. — É óbvio que os oficiais
da Marinha espalham histórias exageradas à respeito desses Alfas. — Ele
ficou um tempo em silêncio, enquanto seu irmão o encarava ainda
incrédulo. — Eu gostaria muito de conhecer um navio pirata e me juntar a
tripulação.
A revelação pegou o mais velho de surpresa. Jimin sabia sobre os livros
que seu irmão costumava ler, mas não imaginava que ele desejava se tornar
um criminoso. Aquilo já estava fugindo do controle.
— Você está louco? Se papai te escuta falando isso, te deixa de castigo
até que se case.
— Eu não quero me casar, Jimin. — Ele lamentou, cruzando os braços.
— Quero ser pirata.
— Não fale coisas bobas! — Jimin o repreendeu com voz baixa, para não
chamar atenção dos marinheiros que trabalhavam pelo convés. — Um bom
Ômega deve se casar e dar filhos ao seu Alfa. Formar uma família e levar
uma vida calma e pacata.
— Fale a verdade, irmão. Você está satisfeito com esse noivado? Quer
mesmo se casar e levar uma vida planejada pelos outros? Casar sem amor?
Jimin suspirou olhando a volta à sua esquerda. Haviam alguns
engradados próximos ao mastro dianteiro, onde continham instrumentos
para manutenção do navio, simples objetos que eram manuseados pelos
Alfas para consertar alguns mastros danificados. Ele observou quando um
desses marinheiros pegou uma ferramenta e se colocou a utilizá-la ao seu
favor.
Por um breve momento, Jimin se imaginou como um desses utensílios,
criado para ser apenas um objeto entregue a um Alfa, para que assim ele o
manipule ao seu bel-prazer. Mas infelizmente esse foi o modo com que
Jimin e seu irmão foram educados. O único dever de um Ômega era a
obediência, embora que fosse contra seus verdadeiros sentimentos. Com
isso, Jimin hesitou antes de responder:
— O Comodoro Choi é um Alfa de boa família. Tenho absoluta certeza
de que seremos muito felizes juntos. E quanto ao amor, ele aparece com o
tempo. — Ele voltou sua atenção ao mais novo: — Aconselho que pare
com essas ideias vulgares, nunca conseguirá um bom casamento se
continuar com esses pensamentos absurdos.
Jisung suspirou entristecido. A conversa não se aprofundou mais naquele
assunto, e logo eles foram chamados ao camarote, para fazer suas refeições
na companhia de seu pai.
Naquela época do ano, a lua não se mostrava tão visível no céu, deixando
que as únicas luzes vistas fossem a das estrelas e do próprio galeão, não
sendo suficiente para iluminar o caminho a se seguir. A velocidade do navio
estava quase nula devido à escuridão que se encontrava.
O breu era tão grande, que ninguém notou quando um navio com velas
negras se aproximou sorrateiro a esquerda. A bandeira hasteada na
embarcação, ostentava o emblema de um cisne com as asas abertas.
Um tiro foi disparado e duas bolas de canhão presas a uma corrente foi
lançada no mastro principal do galeão, partindo-o ao meio e derrubando
algumas de suas velas. Consequentemente, impedindo a sua fuga perante o
ataque repentino. O barulho foi tão grande que chamou a atenção até dos
oficiais que dormiam nas cobertas inferiores. Assim que os marinheiros
saíram do interior do galeão, só então compreenderam o que estava
acontecendo, quando viram as luzes do outro navio ao longe, só agora
acesas. Nada puderam fazer por causa das velas destruídas. Àquela altura
uma fuga seria impossível.
— Preparem os can-... — Antes que o comandante pudesse terminar a
sua ordem, diversos Alfas e Betas surgiram à bombordo, escalando o navio
e subindo através de cordas com ganchos, lançadas e presas na madeira do
próprio galeão.
E mais deles se aproximaram através de pequenos botes.
Um Alfa carregando seis pistolas em seu cinto, apontou uma delas no
rosto do comandante, fazendo-o desistir da ideia de sacar sua própria arma e
erguer as mãos em sinal de desistência. O comandante pediu calma aos
marinheiros e sub oficiais, o caos foi impedido de se instaurar e assim eles
puderam notar finalmente, que aquela se tratava de uma invasão pirata.
Um Alfa alto e imponente, de cabelo branco, andava por meio a todos
com o rosto erguido parecendo um rei. Ele caminhava entre os oficiais e
piratas totalmente despreocupado, como se estivesse andando em verdes
pastos, e não no navio inimigo da Marinha Real, em plena invasão.
— Quem está no comando? — O pirata questionou olhando para seus
Alfas.
— Este aqui. — O Alfa que continha as seis pistolas se aproximou,
trazendo o homem rendido consigo. Sempre apontando a arma para a sua
cabeça calva.
— Boa noite. Meu nome é Namjoon. — O Alfa de cabelo branco se
apresentou, colocando uma mão no peito e mantendo a outra na cabo da
espada ainda embainhada. — Falo em nome do Capitão do Black Swan,
Jeon Jungkook. — Ao dizer aquele nome, o medo cresceu no coração dos
marinheiros e até mesmo do próprio comandante —, e nós gostaríamos que
todos colaborassem, a fim de impedir um banho de sangue desnecessário.
Por isso, rendam-se pacificamente, deste modo, pouparemos suas vidas e
levaremos apenas a sua carga de valor.
— T-tudo bem. — O comandante afirmou gaguejando e erguendo ambas
as mãos vagarosamente. Ele ordenou aos marinheiros: — Não façam nada.
Logo, toda a tripulação do galeão foi amarrada próximos a proa, sendo
vigiados por uma Alfa de longos cabelos prateados e mais alguns outros.
Um pirata loiro com uma cicatriz no olho direito, segurando uma longa
katana, saiu de um dos camarotes trazendo consigo o governador Park.
— Olha só quem eu encontrei. — o pirata disse, sorrindo divertido.
— Seus bastardos malditos, vou mandar enforcar cada um de voc-... — A
fala do governador foi interrompida com um forte soco no rosto, fazendo-o
tombar para o lado e quase cair no chão.
— Amarre-o junto aos demais. — Namjoon ordenou. — Procure por
mais alguém escondido.
— Não! — O governador gritou desesperado. — Não tem mais ninguém
lá dentro. Eu juro!
Namjoon olhou para o Alfa com cicatriz no olho e sorriu de canto. Com
um simples movimento de cabeça, ele o ordenou para entrar nos camarotes
e fazer a busca por mais alguém que estivesse escondido. O governador
ainda tentou impedir, mas levou um chute no rosto que o fez cair
desacordado para o lado.
O Alfa armado com a katana entrou em um dos camarotes e buscou por
mais alguém. Quando teve certeza que estava vazio ele se dirigiu ao outro,
que era um pouco menor. Ele viu entre dois barris a ponta de uma cabeleira
loira, sorriu vitorioso e se aproximou chutando o objeto que servia como
esconderijo. Quando o barril voou batendo na parede, ele viu dois Ômegas
abaixados, um abraçado ao outro.
— Levantem-se os dois. — O pirata ordenou com voz grave. Jimin se
levantou trêmulo, mas seu irmão mais novo ficou parado, ainda em choque
e morrendo de medo. — Eu mandei levantar, porra!
Jisung fechou os olhos e soltou um chiado quando teve seu braço
agarrado de forma brusca. Jimin tentou impedi-lo de machucar seu irmão e
foi empurrado para o lado. Mas ele se levantou e tentou novamente, dessa
vez, se agarrando ao braço daquele Alfa.
— Por favor, senhor. — Jimin implorou, chamando a atenção do pirata
para si. — Ele é apenas um servo, não lhe dará nenhum lucro — Mentiu —
Leve-me no lugar dele, e-eu sou Park Jimin, filho do governador. — O
pirata largou o Ômega mais jovem, agora interessado no que Jimin estava
falando. — Leve-me ao invés dele, e obterá grande lucro com um pedido de
resgate.
O Alfa então agarrou o braço de Jimin e o levou para fora do camarote. O
Ômega mais novo apenas se encolheu no chão em posição fetal e chorou
diante da própria sensação de inutilidade e covardia. Era ele quem mais
gostaria de conhecer os piratas, mas agora estava tremendo de medo e
incapaz de falar qualquer coisa diante deles.
— Este Ômega diz ser filho do governador. — O Alfa com cicatriz
comunicou a Namjoon, ainda segurando seu braço com força.
Namjoon o estudou de perto, Jimin manteve o olhar por breves segundos,
mas logo o desviou. Ele tinha um colar que carregava o mesmo brasão
familiar que tinha no cinto do governador.
— Terminamos. — Um pirata comunicou ao líder. — Levamos tudo o
que estava no porão de carga e todos os outros objetos de valores para os
botes.
— Ótimo. — Namjoon respondeu, voltando sua atenção aos tripulantes
do galeão. — Obrigado por sua cooperação. — Ele girou para o Alfa de
cicatriz: — Leve o Ômega para um dos botes e o amarre.
O Alfa assentiu e logo estava descendo com Jimin, pelas cordas até os
barcos. Assim como o restante da tripulação, remando de volta para o Black
Swan.
Continua...
Obrigada pelas lindas fanarts ❤❤ PerseusGraceDiAngelo
[2] Mudança de Plano

Capa que SSocialFake_Puddinng fez pra mim muito obrigada


Reescrito

Um longo tempo após embarcarem no navio pirata, Jimin se encontrava
no porão do Black Swan, com frio e morrendo de medo. Ele estava preso
por correntes que o ligava ao teto e suas pernas estavam cansadas do tempo
que ficou em pé. O fato de estar em uma parte do navio que ficava
submersa na água, deixava o espaço confinado ainda mais frio, e o restrito
ar presente surgia através da pequena escotilha engradeada que se
encontrava no teto amadeirado na parte de trás do porão.
Diferente do camarote arejado e bem iluminado em que costumava ficar
no galeão, o porão do Black Swan continha apenas algumas lamparinas
com uma luminescência mínima, mas que permitiu ao Ômega concluir que
as únicas companhias que ele tinha eram alguns barris velhos e objetos
quebrados, além das muitas cargas roubadas e baús cheios de prata.
Jimin estava se perguntando o que aqueles piratas iriam fazer consigo. Se
realmente pretendiam pedir um resgate, ou se apenas iriam abusar dele,
matá-lo quando já não tivesse mais nenhuma serventia e depois jogar seu
corpo ao mar.
Mesmo temendo por sua vida, Jimin não se arrependeu nem por um
segundo de ter se entregado no lugar de seu irmão, e daria a sua vida por ele
quantas vezes fossem necessárias.
Assustou-se saindo de seus pensamentos quando a porta do porão foi
aberta. Um outro pirata surgiu, ele se aproximou com um molho de chaves
nas mãos e abriu as correntes libertando-o. Jimin sentiu suas pernas
fraquejarem, mas conseguiu se manter de pé com ajuda do Alfa que logo
agarrou seu braço, levando-o para fora daquele porão. Ele foi conduzido por
meio a alguns Alfas e Betas curiosos quanto à ele. Todos já sabiam sobre o
motivo dele estar alí, mas um Ômega a bordo era muito raro e ainda
chamava a atenção.
A porta da cabine do Capitão foi aberta diante de si e logo ele se viu
dentro de um cômodo iluminado com lamparinas e algumas janelas. Havia
uma cama de casal no canto, algumas prateleiras com diversos livros e
muitos pergaminhos enrolados dentro de baús abertos. Em cima de uma
grande mesa que se encontrava mais a fundo e entre duas janelas, havia
uma esfera armilar, dispositivo astronômico utilizado para traçar
coordenadas, que brilhava envernizado ao lado de um sextante, um
instrumento indispensável para se medir o ângulo entre o horizonte e o sol.
Na mesa ainda tinham mais alguns pergaminhos e atlas marítimos. No
centro dela, um grande livro no qual eram registrados e datados todos os
acontecimentos e descobertas, estava aberto diante do Alfa Capitão do
navio, cujas mãos descansavam ao lado do diário de bordo e um tinteiro
com uma pena dentro. Ele estava vestido inteiramente com roupas em tons
escuros, desde as calças e as botas, ao longo casaco preto que o deixava
com uma aparência ainda mais sombria do que era comentado entre os
vilarejos.
O Alfa que havia trazido ele saiu, deixando-os a sós. Temeroso, Jimin
permaneceu parado junto à porta, mas o Alfa vestido de preto fez um
movimento com a mão, para que ele se aproximasse. Jimin engoliu em seco
e obedeceu, se aproximando a passos lentos.
— Sente-se. — O Alfa indicou a cadeira de frente à mesa e Jimin se
sentou. — Quantos bens e riqueza o seu pai possui exatamente?
— E-eu não sei, senhor. — Jimin respondeu baixo, massageando os
pulsos que estavam avermelhados e bastante doloridos. O Capitão notou
isto, mas ignorou.
— Ele o ama?
Jimin arregalou os olhos. Tudo bem que aquele Alfa era um pirata, mas
até mesmo ele possuía um pai, e mesmo atualmente sendo um bandido
salteador, em alguma parte de sua vida o Capitão deve ter recebido no
mínimo, um pouco de amor dele.
— Está mesmo perguntando isso? — Capitão Jeon ergueu uma
sobrancelha e ficou esperando pela resposta: — Se o que quer saber é se ele
irá pagar o resgate, sim senhor, ele irá pagar qualquer quantia que pedir.
Neste momento, alguém bateu na porta, com o capitão concedendo sua
entrada no mesmo instante. O Beta navegador entrou trazendo consigo
alguns papéis e os colocou em cima da mesa, ignorando a presença do
Ômega. Ao contrário do Capitão, o Beta vestia uma camisa branca de
mangas longas e um colete bege com alguns botões abertos. A franja
crescida quase cobriam-lhe os olhos. Ele abriu um atlas diante de seu
Capitão, apontando para um lugar em específico.
— O Billy diz que uma tempestade se aproxima a noroeste, isso causaria
fortes avarias no navio e atrasaria ainda mais a nossa viagem. — O
navegador abriu um outro mapa por cima do primeiro. Jimin sentiu um forte
hálito de rum vindo do Beta enquanto ele falava, quase curvado sobre a
mesa: — A tripulação acha que devemos seguir pela rota sul e conseguir
outros saques até que o tempo se acalme, para fazermos a troca — Ele
apontou com a cabeça para o Ômega —, e então vamos direto para Nabuco.
O Capitão puxou o mapa a fim de estudar melhor de perto. Com o
movimento, um pedaço de pergaminho surgiu debaixo, chamando apenas a
atenção do Ômega.
— Um fragmento do Imperium. — Jimin comentou consigo mesmo.
— O que disse? — O navegador lançou um olhar surpreso, só agora se
importando com sua presença.
— Este pedaço de papel — Jimin respondeu, apontando para o fragmento
—, não é uma das sete partes do mapa que esconde o maior tesouro do
mundo?
Jeon e seu navegador trocaram olhares surpresos. Aquele pedaço de
papel esteve na posse dos piratas durante anos, mas ninguém nunca soube
dizer exatamente o que significava os rabiscos que estavam escritos nele. A
tripulação somente entendia que aquele pedaço de pergaminho era de
extrema importância.
— Como você sabe disso? — O Beta questionou.
— Bem, o meu irmão gosta muito dessas histórias. Certo dia ele me
contou sobre um pirata chamado Francis Bonny, possuidor do maior tesouro
do mundo. O qual escondeu em algum lugar antes de ser condenado à forca.
Diz a lenda que ele repartiu o mapa em sete partes e as espalhou pelos sete
mares, e aquele que conseguir encontrar e juntar cada parte, encontrará o
caminho para a sua riqueza. O Imperium.
— Você consegue ler isto? — O navegador perguntou impressionado,
aprontando para o fragmento. Para ele e Jeon, o pedaço de papel era simples
e possuía vários traços e riscos disformes, sem nenhum significado
aparente. O Ômega assentiu. — Tem certeza?!
— Sim.
— Como você consegue?
— E-eu não sei. Elas só brilham...
— O quê brilham?! — O navegador puxou o fragmento para mais perto,
tentando ver alguma coisa, mas para ele continuava do mesmo jeito.
Indecifrável. — Diga-me, o que está vendo exatamente?
— Eu não sei ao certo, se parecem com figuras, ou letras... — Jimin
cerrou os olhos tentando compreender. — E parte de um caminho.
— Chame Hoseok, mande que o prenda no porão novamente e descubra
como este Ômega consegue ler o que há no fragmento. — Jeon ordenou.
— E-espere, por favor! — Jimin pediu exasperado, não queria voltar para
aquele lugar sujo e úmido. — E quanto ao meu resgate? O senhor não irá
pedir ao meu pai?
— Mudança de planos. — Jeon afirmou, sorrindo para o navegador.
— Você vai me matar?! Por favor não faça isso. Meu pai pode pagar
qualquer quantia...
— Acalme-se. Eu não mato Ômegas inocentes.
— M-mas... — Neste momento, o Alfa chamado Hoseok entrou na
cabine, segurou no braço de Jimin e o levou novamente para baixo,
prendendo-o outra vez nas correntes no porão de carga.
O Beta permaneceu na cabine com o Capitão, buscando nos livros mais
elementos sobre escritas antigas e mapas incomuns. Talvez o amplo acervo
de registros adquiridos pelo próprio navegador, sugerissem qualquer
resposta quanto aquela lacuna entre Jimin e o mapa.
Mas ambos dispunham de muitas informações, e precisavam encurtar as
buscas para algo mais específico.
— Taehyung — O Capitão chamou o navegador. — O que eles dois têm
em comum?
— Senhor?
— Este Ômega e Francis Bonny — Jeon ponderou. — Até onde eu sei,
eles são os únicos capazes de enxergar seja lá o que tenha escrito nesse
pedaço de pergaminho.
Taehyung estava sentado na mesma cadeira que Jimin ocupou minutos
atrás, enquanto o Capitão manteve-se apoiado na mesa, de frente para ele. O
navegador segurava um livro que narrava as canções sobre o célebre pirata
criador do mapa, e fez uma pausa na leitura para juntar-se a reflexão do
Alfa.
— Não acredito que eles sejam parentes. O Ômega vem de uma família
nobre — Jeon comprimiu os lábios em frustração. Taehyung continuou: —
Contudo, ambos são Ômegas lúpus.
Os olhos de Jeon Jungkook brilharam ao lembrar daquela informação. O
Alfa ergueu-se em um pulo e seguiu até as prateleiras de uma das estantes.
Ele buscou pelas obras que contavam histórias de tempos longínquos, sobre
os primeiros ancestrais com genes lobo e sua antiga forma de comunicação,
utilizada antes que o idioma mundialmente comum se tornasse o único a ser
conhecido.
Jeon passou o dedo indicador sobre as lombadas dos livros, e puxou um
dos exemplares que falava especificamente sobre a classe dominante de
lúpus.
Neste momento, a porta da cabine foi aberta e o Alfa que levou Jimin de
volta ao porão reapareceu. Jeon e Taehyung olharam para ele no mesmo
instante e esperaram pelo que o pirata pretendia. Mas ele hesitou, evitando
olhar diretamente para o Capitão.
— O que foi, Hoseok? — Taehyung o instigou a falar o motivo de sua
aparição repentina.
O Alfa marujo titubeou colocando as mãos nos quadris. Com o ato, a
jaqueta marrom que ele vestia abriu-se na frente exibindo um coldre
vertical, contendo três pistolas em cada lado.
— É o Ômega, Capitão — Hoseok finalmente revelou, evitando encarar
seu líder nos olhos. — Ele está, digamos que apertado.
— Leve-o ao lavabo — Jeon indicou.
— Aí é que mora o problema… É melhor vir pessoalmente.
O Capitão franziu o cenho e trocou olhares confusos com o Beta. Sem
mais delongas, ele entregou o livro para Taehyung e foi guiado pelo outro
pirata, descendo até o piso inferior. No fim do longo corredor onde ficavam
os dormitórios da tripulação, havia uma porta que dava acesso a um
pequeno compartimento com uma latrina de madeira, no qual eles
utilizavam para depositar seus excrementos. Um Alfa chamado Billy
aguardava ao lado de Jimin, que mantinha as pernas unidas e o corpo
inquieto.
Assim que se aproximou de ambos, o Capitão Jeon cruzou os braços à
espera de uma explicação.
— Qual é o problema?
— Ele não quer usar a latrina — afirmou Billy.
— E por que?
— Não está sentindo? — Jimin perguntou. — Está fedendo mais do que
o porão. Eu não vou entrar aí dentro, parece que tem algum animal morto.
Billy inclinou o rosto próximo a porta e inspirou. Instantaneamente ele
enrugou os músculos do rosto fazendo uma careta de aversão ao odor
aspirado e tampou o nariz. Hoseok não se manifestou, mas sua expressão
enojada demonstrava que ele também havia concordado com a fala do
Ômega.
O Capitão fechou os olhos e passou os dedos sobre as pálpebras. Estava
defronte a um problema necessariamente complicado, na tentativa de
descobrir como Jimin conseguia ler os rabiscos do fragmento. Ele não
dispunha de tempo para lidar com a dificuldade que Billy e Hoseok tinham,
para lidar com as objeções do Ômega. Porém, o garoto possuía um
semblante tristonho e abatido, o que fez com que o Capitão entendesse o
impasse daqueles Alfas e sentisse um pouco de compaixão.
Jeon então segurou o antebraço de Jimin, e o levou para cima diretamente
para a popa da embarcação. Ele apanhou um balde com a alça partida que
estava jogado entre alguns barris e o posicionou na frente do Ômega.
— Aí está — O Capitão indicou.
Jimin apontou para o recipiente e olhou com incredulidade para o Alfa.
— Você não está querendo que eu faça… aqui, não é?
— É isso ou a latrina — Jeon cruzou os braços, irredutível.
Até mesmo os quarenta dias de viagem que estava enfrentando no galeão,
não se comparavam as poucas horas que passou a bordo daquele navio
assombroso. O pirata não tirava os olhos dele, e isso o deixava ainda mais
desconfortável.
— Você vai ficar olhando?! — Jimin franziu o cenho.
Jeon ergueu as sobrancelhas completamente pasmo com a ousadia
daquele Ômega. Mas ele tinha de confessar, o garoto ficava muito fofo com
aquele rostinho indignado. Era só olhar para o outro lado, não lhe custaria
nada. O Alfa então virou-se dando as costas para Jimin, e o deixou ter seu
breve momento de privacidade.
Não era muito agradável, mas pelo menos Jimin conseguiria se aliviar
naquele recipiente. O Ômega estava com receio de que o Capitão ouvisse o
som do líquido caindo na madeira, ele abriu a calça e ficou bastante
próximo ao balde, para então urinar. Olhou assustado para o Alfa, mas ele
ainda estava de costas para si, totalmente indiferente para o que Jimin
estivesse fazendo ali.
Assim que terminou, e não querendo que o Capitão visse aquela cena, ele
se aproximou do parapeito e atirou o balde para fora do navio. Jeon
permaneceu o tempo inteiro de costas para ele.
Querendo se aproveitar dos poucos minutos que lhe restavam no
pavimento superior, o Ômega ficou em silêncio enquanto desfrutava da
brisa fresca. Ele devia avisar que já acabou? Talvez. O fato é que ele não
estava preocupado com isso. O Capitão que continuasse lhe esperando.
Mas o breve momento durou pouco, até o Alfa desconfiar de sua demora
e olhar para trás. Assim que notou que Jimin já havia terminado de fazer
suas necessidades, ele ignorou o olhar aborrecido do Ômega e o levou de
volta para o porão, logo depois, Jeon voltou para a cabine e juntou-se
novamente ao navegador.
Taehyung e o Capitão passaram dias dedicando-se à tarefa de encontrar
respostas. Eles mantinham-se quase o tempo inteiro dentro da cabine,
metidos entre livros e pergaminhos, até que o navegador finalmente
conseguiu chegar à uma coerente conclusão do porque o Ômega conseguia
ler o fragmento.
— Capitão. — Ele se aproximou da mesa onde Jeon permanecia
estudando as rotas.
— Sim? — O Capitão respondeu mantendo os olhos nos papéis sobre a
mesa.
— Acho que entendi porque aquele Ômega consegue enxergar o
fragmento — Jeon ergueu os olhos para encarar o Beta. — O mapa foi feito
com runas lunares, e este tipo de escrita especial só é possível ser lida por
Ômega lúpus.
— Chame Namjoon aqui, agora.
Embora antes nunca houvesse uma única pista sobre as informações
daquele simples pedaço de papel, a boa nova trazida pelo navegador deixou
Jeon Jungkook ansioso por finalmente ter um ponto de partida para ir atrás
do tão almejado tesouro. Em questão de segundos, o Alfa contramestre do
navio estava dentro da cabine do Capitão.
— O que foi?
— Encontramos alguém que é capaz de decifrar os fragmentos do
Imperium.
O Alfa arregalou os olhos surpreso.
— Quem?
— O Ômega filho do governador.
— Isso é ótimo! — Namjoon gargalhou. — Quando a tripulação souber...
— Junte todos no convés. — John comandou, com um sorriso ávido no
rosto. Saindo da cabine logo em seguida.
Assim que toda a tripulação foi inteiramente reunida no convés, de frente
a porta da cabine do Capitão, eles se perguntaram o que havia acontecido de
tão especial para serem amontoados alí. Não poderia ser um festejo, visto
que aquele era o dia de folga da banda.
Tudo era feito com uma programação estabelecida antecipadamente. Não
é porque eles eram piratas que seriam completamente desorganizados,
apesar de terem a fama de serem brutos e violentos, eles eram
extremamente disciplinados, e seguiam uma série de regras criadas pelo
Capitão.
Quando projetavam uma rota, eles a seguiam minimamente até obter o
desfecho esperado, e pelo conhecimento de todos, o plano atual era fazer o
pedido de resgate do Ômega sequestrado, e depois partir para a Ilha de
Nabuco, negociar os recentes saques.
Quando o Capitão abriu a porta da cabine e pisou no convés, os piratas
que cochichavam entre si sobre o motivo de o contramestre tê-los retirado
de suas atividades, cessaram os murmúrios para ouvir o seu Capitão falar:
— Imagino que estejam felizes com o saque que fizemos hoje à noite. —
O Capitão iniciou. Todos gritaram e fizeram barulho, eufóricos pela enorme
quantidade de prata, carga roubada do galeão — Mas estão satisfeitos com
apenas isto?
Todos negaram em uníssono.
— Podemos saquear outros navios mercantes enquanto esperamos a
tempestade se afastar de Nabuco. — Um dos piratas sugeriu.
— Parece ser uma ótima ideia Scott. — Jeon admitiu, caminhando pelos
piratas, com as mãos atrás das costas. — Mas, e se eu lhes contar que existe
um tesouro, muito, muito maior do que simples saques a navios mercantes.
Um tesouro tão grande que nem se esvaziasse completamente o porão do
Black Swan, não seríamos capazes de armazêna-lo inteiramente.
Todos se entreolharam interessados naquilo. Uma movimentação e vozes
se formou entre a tripulação, todos falando de uma só vez. Uma voz
sobressaltou as demais, fazendo com que todos se calassem.
— Está se referindo ao Imperium, Capitão?
— Sim, meu caro Seokjin. — Jeon respondeu.
— Pff, isso não passa de uma lenda. — Joe afirmou desacreditado.
— Não. É verdade — Hoseok se manifestou. — Eu ouvi falar sobre um
dos fragmentos no Triângulo da Morte.
— Você por acaso o viu, Hoseok? — Joe questionou de volta, mas o
pirata não respondeu. — Isso não passa de uma lenda.
Uma nova discussão começou a se formar entre os tripulantes. Jeon
suspirou, retirando um pedaço de papel do bolso, erguendo alto deixando
visível à todos e disse:
— O que tenho em minhas mãos é um dos fragmentos do Imperium —
Os marujos se calaram e voltar a atenção para si. — Sim, ele é real.
— E-eu não acredito — Sven afirmou se aproximando. Ele estudou o
papel nas mãos do Capitão. — Mas só há riscos e figuras malucas. Como
saberemos se este é realmente um dos lendários fragmentos?
— Não são riscos e figuras malucas, Sven — O navegador afirmou. —
São runas lunares, uma escrita que apenas Ômegas lúpus conseguem ler.
— E como vamos conseguir um Ômega lúpus? Eles são extremamente
raros. Tão raros quanto esses fragmentos. Eu mesmo nunca vi um na minha
vida.
— Neste momento, nós o temos cativo no porão de carga.
— O filho do governador é um Ômega lúpus? — Jeon assentiu. — E o
que estamos esperando? Podemos pedir uma boa quantia em seu resgate.
O Capitão inspirou profundamente e fechou os olhos, evitando revirá-
los.
— Eu tenho uma ideia melhor — Jeon comunicou. — E se nós
procurarmos pelos outros seis fragmentos? Teríamos uma riqueza
incalculável para cada um de nós.
— Seria o suficiente para dar fim à vida de pirata e viver tranquilo e no
conforto até o fim das nossas vidas — Namjoon argumentou. — Sei que
muitos de vocês desejam isto.
— Então, o que me dizem? — Capitão Jeon indagou, observando as
expressões de cada um: — Continuar com os saques a pequenos navios
mercantes, ou caçar o Imperium?
A resposta foi tão rápida quanto um raio que corta o céu durante uma
tempestade. Por decisão unânime, todos optaram por ir atrás dos fragmentos
do mapa, para encontrar o tesouro de Francis Bonny.
— Taehyung — O Capitão se voltou para o navegador —, mude o curso
para Nabuco.
Continua...
Mais uma fanart linda, enviada por hyolyndragon Muito obrigada ❤
[3] Caminhando na Prancha

Reescrito

Os marinheiros do galeão tentavam inutilmente consertar o mastro
quebrado e erguer as velas, mas tudo o que conseguiam era receber mais
gritos raivosos de seu comandante enfurecido.
Passadas cinco horas à deriva, torcendo para que nenhum outro navio
pirata os abordasse e lhes tirasse aquilo que tinham de mais importante -
suas vidas -, eles foram resgatados por uma embarcação pertencente à
alguns comerciantes que estavam vindo de Nabuco.
- Essa embarcação está sendo confiscada pela Marinha Real - O
governador disse para o capitão do navio mercante. Em seguida ele girou
para o comandante do galeão: - Siga aqueles bastardos.
- Eu sinto senhor, mas não podemos fazer isso.
- Como não? Eles levaram o meu filho!
- Eu vi senhor, acredite, eu também não gosto da situação. Mas não
estamos em condições de fazer isso. Este navio não possui força de fogo
suficiente para uma tentativa de resgate, com todo respeito seria burrice. - O
governador pensou um pouco melhor, ouvindo as palavras do comandante: -
Precisamos levar o galeão para a Coréia e consertá-lo. Em breve irá receber
um pedido de resgate, precisamos estar preparados.
A muito contragosto o governador assentiu e a rota foi marcada de volta
para casa.
Sentado próximo à popa, Jisung observava mais uma vez o rastro de
espuma na água, que o navio deixava para trás, assim como seu irmão que
honrosamente se entregou em seu lugar. Ele estava se sentindo
envergonhado e com o coração cheio de culpa, por ter visto seu irmão ser
arrastado pelo pirata e não ter feito nada para tentar ajudá-lo.
Com lágrimas cortando seu rosto amargamente, ele prometeu a si mesmo
que nunca mais se esconderia atrás do manto da covardia, quando seu irmão
necessitasse de sua ajuda.

Após ser deixado por longos dias preso naquele porão úmido, frio, cheio
de ratos e baratas, Jimin já não se importava tanto com o fato de estar com
suas vestes sujas, fedendo e com o cabelo engordurado. Como ele sempre
havia dito para seu irmão, os piratas eram Alfas e Betas grosseiros, sem a
mínima noção de como tratar um Ômega. As únicas vezes em que era
permitido sair do porão era para fazer suas necessidades, e nos dias em que
o Capitão acordava de bom humor e o deixava passear pelo convés, sempre
sendo vigiado por um Alfa.
Jimin estava furioso pelo tratamento que estava recebendo, se pudesse,
chutaria o traseiro de cada um deles. Até mesmo suas refeições ele era
obrigado a fazer naquele espaço imundo. Ao menos não o deixaram com
fome, o navegador sempre levava alguma coisa para o Ômega comer e
beber. Mas naquele dia em particular, passou-se a manhã, a tarde se foi e
logo veio o anoitecer, e Taehyung não desceu para trazer sua comida.
Imaginou que tinha sido esquecido alí embaixo, sozinho na escuridão.
Chegou até a desejar ver o rosto de um deles novamente, mas mudou de
ideia quando um Alfa abriu o alçapão que dava acesso e entrou com um
único pulo, ignorando a escada. Logo em seguida um outro pirata pulou
atrás.
Quando os Alfas chegaram perto suficiente para poder serem vistos com
clareza, sem saber o porque exatamente, Jimin suspirou aliviado por um
deles ser o mesmo Alfa chamado Hoseok, que o movia pelo navio. Já o
outro, era aquele que tinha uma cicatriz no olho direito. Jimin não tinha
gostado muito desse.
- Vocês já pediram o resgate? - Jimin arriscou perguntar.
- Calado! - O da cicatriz respondeu pronto para acertá-lo, mas foi
impedido pelo outro. - Qual o seu problema?
- O Capitão disse que ele é nosso convidado. - O da cicatriz revirou os
olhos - Ainda não - Hoseok enfim respondeu ao Ômega. - O Capitão quer
falar com você novamente.
Jimin assentiu e seguiu os Alfas, mantendo a cabeça baixa. Foi guiado
novamente até a cabine do Capitão e quando chegou na porta, travou antes
de entrar, recebendo um "incentivo" em forma de empurrão, do Alfa da
cicatriz.
A porta foi fechada e ele se viu novamente sozinho com o líder dos
piratas. O cheiro de refeição levou sua atenção até a mesa. A comida estava
com uma aparência ótima. Para a sua surpresa, Capitão Jeon se levantou e
puxou uma cadeira para ele. Com receio, Jimin se aproximou e sentou-se
nela.
- Acredito que nós começamos com o pé esquerdo - Jeon disse, sentando-
se do outro lado. - Peço desculpas pelas instalações em que foi acomodado.
Por favor, sirva-se à vontade.
Jimin podia sentir a falsidade saindo de suas palavras. Estava com fome,
mas o medo e a ansiedade que sentia, o fizeram rejeitar.
- Estamos indo para a Coréia? Quando vai pedir meu resgate?
- Não. E não haverá pedido de resgate. - Jeon foi direto, tomando um
gole de sua bebida.
- Eu não entendo... o que vai fazer comigo? Por favor, liberte-me.
- Você é valioso demais para ser libertado assim. Não. Tenho outros
planos para você.
- Que tipo de planos?
O Capitão sorriu tomando mais um pouco da bebida. Ele se levantou e
foi até uma das estantes, quando voltou, colocou o pedaço do mapa na
frente do loiro. Jimin observou o fragmento, vendo as mesmas figuras que
brilhavam em tom prateado. Sem entender, ele ergueu o rosto até olhar o
Alfa, esperando que ele lhe explicasse o que queria com aquilo.
- Você vai me dizer o que está escrito nesse fragmento.
- Eu não sei. Não entendo essa escrita - Jeon o estudou com um olhar
desconfiado. - Estou falando a verdade.
- Então traduza. Meu navegador dispõe de uma grande quantidade de
livros, que podem ajudar nessa questão. Vou chamá-lo aqui.
Uma rápido pensamento se passou pela cabeça de Jimin e ele fez as
contas mentalmente. Ele nunca tinha visto aquelas figuras antes,
aparentemente era o único que conseguia enxergá-las. Se a lenda for
verdadeira aquele fragmento era muito valioso, existiam mais seis e
ninguém fazia ideia de onde. Aquele Alfa queria que ele traduzisse de
qualquer jeito e com certeza iria exigir isso com as outras seis partes. Isso
significava que iria ter de ficar na companhia daqueles piratas por um longo
período de tempo, anos, ou talvez para sempre, caso não encontrassem as
outras partes. O Capitão parecia irredutível quanto à isso.
- Não - Jimin disse. Jeon cessou os passos e olhou para trás antes de
chegar na porta. Ele havia escutado sua negativa, mas ficou em silêncio,
dando alguns segundos para o Ômega mudar de ideia. Não sabia se era
coragem ou loucura, mas Jimin estava decidido a não se entregar tão
facilmente. - Eu não vou me juntar à sua tripulação, eu sinto muito sr. jeon.
Quero que me leve de volta para o meu pai, por favor. Encontre outra
pessoa para esta missão.
O Capitão respirou fundo e continuou parado no umbral.
- Apenas Ômegas lúpus podem enxergar as escrituras e não há outro
disponível no momento - Jeon articulou, tentando não perder a calma e
assustar o único que podia lhe ajudar a encontrar o Imperium. - Não estou
pedindo para se juntar à minha tripulação, quero apenas que traduza este
pedaço do mapa.
- Eu entendo que precisa da minha ajuda mas receio que não vou poder
ajudar. Eu tenho uma vida na Coréia. Estou de casamento marcado e meu
noivo está me aguardando - Jimin tentou comovê-lo mesmo sabendo que
isso não adiantaria de muita coisa. Capitão Jeon era um pirata frio e
impiedoso, como todos diziam.
- Eu não me importo com a sua vida na Coréia. Então sugiro que se sente
naquela cadeira e faça o que estou mandando.
- Ou o que, hm? - Jimin andou alguns passos na direção dele. A cabeça
erguida, perigosamente o desafiando. - Conheço meus direitos, Alfa. Sou
livre e você não pode me obrigar a fazer nada.
Jeon ergueu as sobrancelhas, verdadeiramente confuso com aquilo.
Nunca tinha visto um Ômega tão corajoso, todos os que conheceu eram
bastante submissos e medrosos, mas Jimin parecia ser diferente.
Talvez fosse assim por ser um lúpus, ele não sabia explicar. Mas algo
naquela teimosia lhe chamou atenção. O jeito com que o loiro lhe desafiava,
de alguma forma atraía o seu lobo.
- Você é muito corajoso, Ômega - O Capitão reconheceu, se aproximando
a passos lentos. - Até Alfas temem em falar comigo desta maneira.
- Bom... - Jimin engoliu em seco com a aproximação do pirata. - Eu não
sou um de seus Alfas.
Jeon continuou com seus passos vagarosos e só parou quando seu corpo
ficou rente ao do mais baixo. Era incrível a sensação de calor que Jimin
sentiu com o Capitão tão próximo à si. Seu coração batia rápido mas por
incrível que pareça não era medo.
- Você perguntou o que eu farei caso não me obedeça... - Capitão Jeon
questionou em baixo tom. Seus dedos tocaram a pele do Ômega com
suavidade e Jimin quase fechou os olhos se entregando ao toque, quando
repentinamente sentiu aquela mão apertando seu braço e o puxando para sí
com força. - Vou te mostrar o que acontece com os que me desafiam,
Ômega.
Jeon então saiu da cabine com passos pesados, arrastando o Ômega
consigo. Todos que estavam no convés, trabalhando ou conversando,
pararam de fazer suas atividades para assistir a cena que se desenrolava.
- Preparem a prancha! - O Capitão ordenou aos seus Alfas.
Sem entender como as coisas haviam chegado naquela situação, os
piratas apenas assentiram e obedeceram seu Capitão. Todos ficaram
eufóricos, loucos para ver pela primeira vez, um Ômega caminhar pela
famigerada prancha e virar comida de tubarões.
Jeon pegou uma corda e amarrou as mãos do Ômega de frente ao seu
corpo e quando a prancha foi encaixada na lateral do navio, ele o fez subir
na viga de madeira e subiu logo atrás.
Jimin se encontrava encurralado, sendo forçado a dar passos para trás, em
direção a outra extremidade da prancha, conforme Jeon se aproximava
apontando a espada afiada em sua direção.
- Sua última chance, Ômega - O Capitão afirmou alto, para que todos
ouvissem. - Me dê o que eu quero ou estes serão seus últimos momentos
com vida.
Era uma decisão arriscada, sem dúvida. Mas Jimin raramente se esquece
de algo quando escuta. Sempre soube por seu irmão que os piratas possuem
um código. Eles eram foras da lei, bastardos cruéis e sanguinários, mas
haviam aqueles que levavam a honra de sua palavra muito à sério, e o
Capitão Jeon parecia ser um desses Alfas.
- Você não vai fazer isto. - Jimin arriscou, quase na ponta da prancha.
- Como pode ter tanta certeza disso? - O Capitão questionou arqueando
uma sobrancelha.
Os piratas apenas observavam atentos aquela conversa. Um Ômega
amarrado e caminhando sobre a prancha, sob ameaça do Capitão era sem
dúvidas a melhor coisa que eles veriam em anos. E tudo ficava melhor
quando este Ômega, o desafiava diante de todos.
Tentando não tremer mais do que seu corpo já estava, Jimin puxou uma
grande quantidade de oxigênio e o liberou aos poucos.
- Você não mata Ômegas inocentes.
Continua...
Obrigada pelo mimo 😍❤❤ Jen_jennii
[4] Ilha de Folsom

Reescrito

Por um momento, Jimin sentiu que os olhos pretos do Alfa, ficaram mais
escuros e tenebrosos. Ele viu a linha da sua mandíbula ser tensionada e
engoliu em seco, temendo realmente ter passado dos limites. Mas para a sua
surpresa, o Capitão de repente riu soprado e guardou sua espada. Ele olhou
para sua tripulação logo atrás, que assistiam a tudo atentamente.
— Eu não mato Ômegas inocentes... — Jeon repetiu as palavras que
havia dito para Jimin horas atrás. Ele riu mais alto dessa vez, diante da
própria ironia. — Não, não mato.
O Capitão voltou a olhar o Ômega na beira da prancha, quase caindo no
oceano, tentando ao máximo manter-se em equilíbrio. Ele o observou por
apenas alguns segundos, que para Jimin pareceram horas, com seus olhos
profundos e misteriosos.
O Alfa pensava em algo que fizesse com que aquele Ômega abusado o
obedecesse, sem ser necessário usar de violência. Uma ideia brilhou em sua
mente e ele sorriu grande. Caminhou despreocupado até o Ômega,
agarrando seu braço novamente e o puxando de volta para a segurança do
navio. Jimin estava com tanto medo, que seu corpo demorou para reagir e
ele quase caiu tropeçando nos próprios pés.
— Acabei de ter uma ideia muito melhor — Os olhos do Capitão
brilhavam e Jimin não tinha certeza do porque. Mas de uma coisa ele sabia,
a expressão no rosto dele o estava assustando. — Taehyung, mude o curso
outra vez. Vamos para a Ilha de Folsom.
Jimin não fazia ideia do que aquele nome significava, mas ficou confuso
ao ver o sorriso ganhar forma no rosto dos Alfas e Betas da tripulação.
Aquela Ilha parecia ser algo bom, visto que todos ficaram felizes em saber
que estavam indo para lá. O que Jeon estava pretendendo?
— Finalmente! — A timoneira bateu no leme entusiasmada.
Com o auxílio do navegador sobre qual direção tomar, ela girou o leme
rapidamente o máximo permitido para a estibordo, fazendo o navio fazer
uma curva rápida para a direita. Os piratas trabalhavam com gosto,
passando pelo convés, puxando cordas e manuseando as velas com bastante
esforço físico. Não pareciam cansados enquanto vibravam pelo destino
escolhido pelo Capitão.
Jimin estava sentado em um pequeno caixote de madeira, enquanto
observava a tudo sem compreender o motivo de tanta alegria. Um pirata
passou ao seu lado e ele puxou o tecido de sua camisa para chamar sua
atenção:
— Com licença, senhor — O Alfa girou para vê-lo. —, mas o que é a
Ilha de Folsom ?
— Ele me chamou de senhor, vocês ouviram isso? Estou começando a
gostar desse Ômega — O Alfa riu mostrando alguns dentes podres e voltou
sua atenção ao loiro: — Folsom é o paraíso, garoto.
Jimin permaneceu sem entender o que aquilo significava. Seus olhos
percorreram pelo andar inferior do navio e o mesmo piso em que estava,
procurando pelo Capitão Jeon. Mas não o encontrou. Supôs que ele voltou
para a sua cabine em algum momento quando os piratas correram para
levantar mais velas e aumentar a velocidade.
Jimin então permaneceu sentado quieto em seu caixote, enquanto
observava os Alfas trabalharem.

Algumas horas depois e Jimin ouviu a ordem para soltarem a âncora,
vinda do Capitão. Ele se levantou esperando pelo que iria acontecer. O
navio ancorou a certa distância da costa e os piratas rapidamente desceram
alguns botes para levá-los até a margem. Logo ele se viu descendo pelas
cordas novamente, dessa vez sendo ajudado pelo próprio Capitão.
Quando chegaram no litoral, Jimin pode finalmente entender porque a
tripulação havia ficado tão animada em ir para aquela Ilha. O lugar era uma
grande festa ao ar livre repleta de sodomia. Haviam algumas tendas
espalhadas pela praia, onde se podia ouvir gemidos e gritos de prazer. De
longe ele viu algumas construções e foi levado justamente na mesma
direção.
Mesmo nas ruas, ele via Ômegas e até mesmo Betas, machos e fêmeas
circulando usando apenas suas vestes íntimas. Jimin tentava manter sua
cabeça baixa e o olhar longe daquela vulgaridade toda.
O Capitão parou diante de um casarão, cujas paredes pintadas de amarelo
estavam quase totalmente cheias de musgo e marcas da chuva. Logo na
entrada, uma bela Ômega de cabelo ruivo e cacheado recebeu Jeon,
abraçando-o de lado. Outros surgiram e ficaram cada um com um membro
da tripulação.
— Capitão... — A prostituta disse com voz melodiosa. — Faz muito
tempo desde que o vimos por aqui— A Ômega não se importou em vê-lo
acompanhado do garoto loirinho ao seu lado, na verdade, ela já imaginou
que Jeon o trouxe para participar da festa. Ela levou as mãos até os botões
de sua camisa tentando abri-los, mas o Alfa a impediu.
— Ainda não, Rubi. Mais tarde... — Jeon piscou para a ruiva, que
afastou as mãos dele. — Quero falar com Long Vane.
— Ele está lá em cima, em seu escritório — Ela apontou para o alto, no
segundo andar. — Pode subir, segunda porta à direita.
Jeon anuiu e passou entre os prostitutos e clientes bêbados, levando Jimin
junto consigo. Alguns estavam quase transando nas mesas e sofás do
prostíbulo, sem se importar se estavam sendo observados.
Jimin estava sentindo seu rosto pegar fogo, se Jeon não estivesse o
segurando tão firmemente ele já teria saído correndo daquele lugar. O
Ômega ficou aliviado quando o Capitão abriu a porta indicada pela
prostituta e finalmente se viu longe de toda aquela depravação.
— Capitão Jeon! — Um Alfa alto e bastante velho se levantou de uma
poltrona para recebê-lo. — Quanta honra tê-lo novamente em meu humilde
bordel. Temos novos Ômegas se está interessado em descansar os dias
difíceis no mar. — Seus olhos desceram pelo corpo de Jimin e ele inspirou
fundo.
— Talvez depois... agora estou mais interessado em negociar — Jeon
empurrou o Ômega para frente, ele tropeçou até chegar perto do homem
velho, que o amparou antes de cair. Assustado, Jimin se desvencilhou de
suas mãos e voltou a se esconder atrás do Capitão. Jeon sorriu. — Roubei
este Ômega durante uma de minhas investidas. Ele é novo, muito belo e
perfeitamente educado. E o melhor de tudo, ainda é puro. Estou disposto a
vendê-lo pelo valor certo.
Jimin arregalou os olhos sem querer acreditar no que acabara de ouvir.
Ele se afastou do velho dando alguns passos para trás, mas quase gritou
assustado quando teve o braço agarrado por Jeon novamente e ser lançado
outra vez nos braços do velho dono do estabelecimento.
O Capitão Jeon não pretendia vender Jimin de verdade. Sua intenção era
causar grande pavor no Ômega, diante da ameaça de ser vendido para o
bordel. Ele supôs que, para Jimin, ser entregue à prostituição seria muito
pior do que pular de uma prancha direto para o oceano. E estava certo.
— Hmmm... — O velho sorriu enquanto passava suas mãos imundas
pelo corpo do Ômega. — Eu o quero, Jeon, e quero agora. Pago o que você
quiser, mas por favor, venda-o para mim. Diga o valor e eu pago na hora.
— Não! — Jimin gritou mas foi ignorado pelo Capitão. Ele empurrava
suas mãos contra o peito do velho, tentando afastá-lo de si. — Por favor
Jeon?!
O Capitão continuou ignorando enquanto Jimin implorava por sua ajuda.
— Mil moedas de prata. — Jeon lançou seu preço com voz calma.
— Sim! — O velho aceitou a proposta de imediato.
— Não! — Jimin gritou de volta, curvando o corpo para trás, afastando-
se enquanto o velho tentava lhe beijar. — Por favor! Eu faço! Vou decifrar o
frag-... — Foi interrompido pela mão do Capitão que cobriu sua boca antes
que falasse demais.
— Vai me obedecer sem exceções? — Desesperado, Jimin balançou a
cabeça positivamente. Jeon suspirou e olhou para o velho: — Solte-o.
Sem questionar, o velho tirou seus braços do Ômega que caiu tropeçando
para trás, apoiado pelo Capitão.
— O que houve? — O velho questionou desesperado.
— Negócio cancelado. — Jeon afirmou saindo do escritório e levando
Jimin consigo. Eles desceram as escadas e no andar térreo, o Capitão
chamou um dos Alfas para segui-lo, pouco se importando se ele estava
acompanhado. — Hoseok. Tudo já foi resolvido.
Quando chegaram na margem onde os botes estavam presos, Jeon sacou
uma faca do seu cinto e cortou as amarras que prendiam as mãos do Ômega.
Jimin ofegou, massageando seus pulsos.
— Leve-o de volta ao Black Swan.
— Sim, senhor.
— Espera! — Jimin pediu agarrando o braço do Capitão, mas soltou
imediatamente quando este franziu o cenho. — Você ia mesmo me vender
para aquele velho?
Jeon suspirou estudando-o por alguns segundos, mas não respondeu.
Como havia dito, ele não matava Ômegas inocentes, tão pouco os venderia
para um bordel. Além do mais, Jimin era o único que pode ler as runas nos
fragmentos do Imperium. O Capitão voltou sua atenção a Hoseok:
— Diga ao restante da tripulação que ficou no navio, que se alguém
encostar um dedo nele contra a sua vontade, eu corto seu pau fora com uma
faca cega.
Hoseok engoliu em seco assentindo. Ele ajudou Jimin a subir em um dos
barcos e o levou para o navio. Enquanto o Capitão voltava para o centro da
Ilha de Folsom.
Continua...
Fanart linda da Usagii-Chanie muito obrigada pelo presente 😍❤

E esse edit lindo da Scarlat-Dalila muito obrigada anjo 😍😍


[5] Na Companhia de Piratas

Reescrito

O pequeno bote seguia com Jimin e Hoseok na direção do Black Swan. O
Ômega não ousava olhar para trás nem uma vez sequer. Estava torcendo
que o Capitão decidisse zarpar assim que voltasse para o navio.
Aquela Ilha era medonha e Jimin ainda podia sentir os toques daquele
Alfa velho pelo seu corpo, e o cheiro de alguma bebida barata que exalava
de suas vestes. Nunca mais, em toda a sua vida, ele iria querer voltar para lá
um dia. Ele olhou para o pirata que remava sem parar, almejando chegar
logo no navio para enfim poder voltar para a sua diversão que foi
interrompida.
— Quanto tempo vamos ficar? — Jimin quebrou o silêncio.
— Não sei. Depende do Capitão.
— E quanto tempo ele costuma demorar aqui?
— Três à quatro dias mais ou menos. Ele passa mais quando está em seu
período de rut.
— Há muitos Alfas na tripulação... — Jimin pensou consigo mesmo. —
Vocês sempre vem aqui quando... estão... você sabe.
— Se o Alfa tiver a sorte de estarmos próximos à Ilha, sim. Caso
contrário, ele ficará trancado no porão enquanto agoniza sozinho.
— E o... — Jimin limpou a garganta. — O Capitão Jeon também?
— Não. O Capitão é diferente. Ele é um lúpus, não pode ficar sozinho.
Na última vez ele quase... por isso a cada seis meses nós viemos aqui.
Jimin engoliu em seco sentindo um arrepio percorrer todo o seu corpo,
imaginando o quão intenso poderia ser o cio de um Alfa lúpus. Lembrou-se
de quando havia ficado preso no porão, a tortura que foi ficar durante
algumas horas. Pensou nos Alfas que tiveram que ficar lá durante seus dias
de rut. Isso era uma coisa horrível, e Jimin sentiu vontade de vomitar.
Quando chegaram bem próximos ao navio, Hoseok o ajudou a subir
encaixando os pés em uma espécie de escada feita com a corda. Mas ele
permaneceu no barco ávido para voltar a ilha, e mandou Jimin subir
sozinho.
— Eu não consigo sozinho. Vou cair.
O pirata revirou os olhos e esticou os braços para frente.
— Eu vou te agarrar se você cair. Continua, é só subir.
Ainda com bastante medo, Jimin continuou seguindo seu caminho.
Quando estava quase lá em cima, ele olhou para baixo e para seu desespero,
o pirata já estava se afastando com o bote na direção da Ilha.
— Céus... — Jimin sussurrou. — Ei! Você disse q-...
— Sobe logo! — Hoseok gritou quando viu o Ômega hesitar.
— Eu vou cair! — Jimin fechou os olhos e travou suas mãos e pés na
escada.
— Você não vai cair! — Hoseok gritou de volta, mas o Ômega
permanecia parado com os olhos fechados. — Se você não começar a subir
agora mesmo eu subo aí e te derrubo!
Jimin não levou aquelas palavras à sério, ele sabia que aquele pirata não
teria coragem de fazer isso depois da ameaça que seu Capitão fez na praia.
Mas já estava ficando sem forças para se segurar e muito em breve ele iria
cair.
Sentiu duas mãos agarrarem seus antebraços e quando olhou para cima, o
navegador estava lhe segurando com firmeza, com metade do corpo
debruçado para o lado de fora do navio.
— Vem! — Taehyung indicou.
— E-eu tenho medo.
— Estou segurando você — O navegador afirmou ainda com calma. —
Não vou soltar. Sobe.
Taehyung puxou seus braços para cima, impulsionando-o a subir e o
Ômega seguiu seu chamado. Ele ergueu um pé e depois o outro, logo já
estava no topo de sua subida.
Jimin colocou as mãos nos ombros do navegador para se equilibrar
enquanto o outro envolveu sua cintura e o puxou para dentro do navio.
— Obrigado.
— Você confiou em mim — Taehyung o estudou com sua expressão
calma. — Não gosta de piratas, mas confiou em mim.
— Eu não... — Jimin negaria o fato de não gostar de piratas, por
educação. Mas o navegador parecia ser gentil e merecia sua sinceridade. —
Não. Desculpa.
— Tudo bem, nossa fama não é das melhores — Taehyung sorriu sem
graça. — Com o tempo você vai perceber que sempre ajudamos uns aos
outros e somos todos fiéis ao Capitão.
— Bom, pelo menos alguns eu já sei que são bons homens. — Disse se
referindo ao Beta.
Taehyung sorriu assentindo. Ele o estudou enquanto Jimin observava a
Ilha de Folsom pouco distante.
— Sei o que aconteceu lá — Chamou sua atenção e Jimin girou para fitá-
lo. — Está se perguntando se o Capitão faria mesmo aquilo, não é?
— E faria?
— Não. — Taehyung respondeu sem nenhuma hesitação.
Jimin suspirou olhando para a Ilha mais uma vez.
— Ele é um bom Alfa?
— O que seria um bom Alfa para você, Jimin?
Em outra ocasião Jimin responderia que são aqueles que possuem boa
família, um ótimo trabalho e uma posição respeitada na sociedade. Mas ao
conhecer aqueles piratas, tão brutos e ignorantes, mas ao mesmo tempo,
leais uns aos outros, ele lembrou novamente das histórias que seu irmão
mais novo lhe contava, concordando mentalmente que afinal de contas, eles
eram realmente Alfas e Betas valentes e corajosos. Diferente de alguns
amigos do seu pai, que só frequentavam a sua casa mediante algum
interesse financeiro, ou em seus filhos.
Taehyung não insistiu naquilo, ele já sabia que o Ômega havia chegado à
uma conclusão por si só. Ele então girou e caminhou em direção à
passagem que os levaria ao porão.
— Vem.
— Espera... Taehyung, certo? — O navegador olhou para trás e
confirmou: — Por favor, não me deixe naquele lugar escuro. Lá é frio e
nojento. Úmido. Há ratos e insetos por todos os lados.
Taehyung estudou o Ômega sabendo que sozinho, ele não poderia fazer
muita coisa que prejudicasse o navio. Mas também não podia deixá-lo livre,
sem o conhecimento do Capitão. Ele olhou na direção da Ilha, imaginando
que neste momento Jeon estaria bastante ocupado para resolver essa
questão. Taehyung então girou na direção contrária ao porão, seguindo até a
frente da embarcação.
— Vamos falar com Namjoon. — Afirmou passando por Jimin, que o
seguiu de imediato.
Ao passo que se aproximavam, Jimin notou que dois homens estavam
sentados bem próximos, na proa do navio, enquanto tomavam vinho. Eles
riam e conversavam baixo, divertindo-se entre eles.
— Com licença, senhor — Taehyung se aproximou do contramestre: —,
onde devo colocar o Ômega? Ele não quer ficar no porão.
Namjoon suspirou irritado, por ter seu momento com o médico da
tripulação interrompido.
Ele se dirigiu ao Ômega:
— Pensa que está em seu castelo, alteza? — Jimin não respondeu. — Se
está insatisfeito com as acomodações no porão de carga, posso eu mesmo
amarrá-lo do lado de fora do navio se preferir.
Namjoon relaxou o corpo quando sentiu a mão do médico que lhe fazia
companhia naquela noite, pousar suave em sua coxa.
— Vamos ter calma. Jimin, sente-se ao meu lado — Seokjin pediu com
semblante sereno, sorrindo pouco, mas simpático. O Ômega hesitou,
olhando para Namjoon com o canto dos olhos. — Não tenha medo,
ninguém vai machucar você.
Jimin viu que o médico não apresentava nenhuma ameaça para ele,
parecia estar falando a verdade. Ele então resolveu ceder e se sentou em um
caixote ao seu lado.
— Meu nome é Seokjin. — Ele se apresentou, sorrindo calmo — Está
com fome? — Jimin assentiu. — Tae, pede pro Junbuu preparar alguma
coisa para ele comer. Uma sopa talvez.
Taehyung assentiu e foi em busca do cozinheiro.
Quando o médico segurou nas mãos de Jimin, notou como seus pulsos
estavam arroxeados e maltratados.
— Como Jungkook permitiu que fizessem isso? — O médico questionou
incrédulo. — Que absurdo.
— Está falando do seu Capitão, Jin. — Namjoon o lembrou.
— E daí? Sou mais velho que ele. — Seokjin suspirou, examinando os
braços do Ômega. — É um inconsequente. Ele está com marcas nos braços
também...
— E você queria que o Capitão o deixasse livre pelo navio?
— Claro que não, olhe para ele. — O médico respondeu fingindo
preocupação: — Que Ômega feroz, a tripulação corre grande perigo. Ui,
que medo.
Jimin tentou segurar o riso mas não conseguiu, enquanto Namjoon
comprimiu os lábios revirando os olhos.
— O Capitão não vai gostar nada disso.
— Depois eu me entendo com ele. — Seokjin respondeu totalmente
despreocupado. — Seja útil e me arranje algumas gazes.
Namjoon respirou fundo e saiu a procura do que o médico lhe pediu.
— Vocês se parecem um pouco — Jimin comentou, depois que o Alfa e
sua presença intimidadora se retiraram.
— Quem?
— Você e o Capitão Jeon.
— Ah, sim — Seokjin sorriu, assentindo. —, nós somos meio irmãos.
Minha mãe teve um caso com um pirata conhecido como Jeon, o estripador.
Ela engravidou dele e meu pai jurou matar a criança assim que ela nascesse.
Com medo, minha mãe entregou o Jungkook para que uma família de
pescadores o criasse em segredo. Ela sempre me levava para visitar meu
irmão às escondidas. Mas quando completou quatorze anos, Jungkook se
juntou a uma tripulação pirata e só voltou quando se tornou Capitão do
Black Swan. Nossa mãe já tinha falecido e como eu não queria mais viver
ao lado de um pai alcoólatra e abusivo, me juntei ao meu irmão.
— E o que aconteceu com o pai dele?
— Foi preso e condenado à forca — Nesse momento, Namjoon retornou
e entregou as gazes para o médico. — É o destino que aguarda muitos
piratas.
— Vocês não tem medo?
— Não. — O Alfa que respondeu — Essa é a vida que escolhemos, e
todos estamos cientes dos perigos que nos rodeiam. É até excitante.
— Eu nunca vivi nenhum tipo de aventura na minha vida, apenas nas
leituras de alguns livros — Jimin esticou as mãos para que o médico
passasse a gaze pelos pulsos — Estava voltando para a Coréia e ia me casar
na semana que vem.
— Casar? — Seokjin questionou surpreso, já que o Ômega lhe parecia
ser bastante jovem — Quantos anos tem?
— Tenho dezenove.
— Céus! — Seokjin olhou para o contramestre com incredulidade. — É
por isso que desisti da sociedade "civilizada" — disse fazendo duas aspas
com os dedos —, obrigam os filhos a se casarem em troca de contratos
lucrativos ou status.
Taehyung chegou com um prato de sopa e uma colher. Ele a entregou
para o Ômega e assim que inalou o cheiro da comida, Jimin sentiu seu
estômago roncar.
— Obrigado. — A sopa estava com uma aparência muito boa e o sabor
ainda melhor.
Assim que ele terminou de comer, Seokjin tratou de encontrar um novo
lugar para Jimin dormir. Não podia deixá-lo voltar para o porão e muito
menos acomodá-lo nas cobertas inferiores com dezenas de Alfas e mais
alguns Betas.
Seokjin então resolveu tomar uma atitude que muito provavelmente não
agradaria o seu irmão. Ele permitiu que Jimin dormisse em um pequeno
colchão no chão, dentro da cabine do próprio Capitão.
Continua...

Gente, muito obrigada pelas artes e pelo carinho que recebi na


homenagem❤❤❤❤
_laurands

SunyeJK
Vidaalheia
NaomiTzuno24
[6] A Fuga

Reescrito

— Tem certeza que não tem problema? — Jimin perguntou vendo
Sebastian arrumar um colchão no cantinho da cabine do Capitão. Entre a
parede e uma estante.
— Não. Mas vou ter de trancar a porta. Me desculpe por isso.
— Tudo bem — Não estava tudo bem de fato, ele estava com medo e
sentindo falta do irmão e do pai. Mas ficou aliviado em saber que não iria
ter de ficar nem mais um minuto naquele porão imundo. — Mas e se
alguém… se... e se eu...
Ele estava com medo de que algum pirata invadisse a cabine e lhe
tomasse a força. Mas teve medo de ofender o médico e não conseguiu
concluir a sua frase.
— Vou deixar um Alfa de confiança protegendo a entrada — Jimin
abaixou a cabeça envergonhado. — Não se sinta mal. É compreensível que
você esteja com medo, mas como eu lhe falei antes, ninguém aqui vai
machucar você — Ele entregou um cobertor ao Ômega e se dirigiu a saída.
— Qualquer coisa pode chamá-lo — Disse, apontando para o Alfa da
cicatriz —, seu nome é Yoongi. Ele tem essa cara fechada mas não morde.
O Alfa lançou um olhar que pareceu bastante ameaçador, mas Sebastian
passou despreocupado e fechou a porta logo depois.
Jimin suspirou frustrado ao ouvir o barulho da chave girando na
fechadura. Com as mãos na cintura ele estudou tudo ao seu redor. Ele jogou
o cobertor no colchão mas antes de se deitar, olhou para a enorme cama do
Capitão, pensando consigo mesmo em como deve ser confortável dormir
nela. Seus pensamentos foram além, quando ele imaginou seu corpo sendo
abraçado pelos braços fortes do Alfa lúpus.
— Céus... — Tomou um longo suspiro tentando afastar aqueles
pensamentos.
Mas que culpa ele tinha, o Capitão era realmente um Alfa muito atraente.
Gostava de como a linha de sua mandíbula ficava marcada quando ele o
desafiava. Sentia coisas estranhas em seu baixo ventre, coisas que o deixava
envergonhado. Ele se aproximou da cama do Capitão e passou a palma
sobre o tecido macio de seda. O cheiro do Alfa estava espalhado por todo
lugar. Jimin fechou os olhos e inalou um intenso aroma de rosas. Fato que
contrastava bastante em um Alfa com a personalidade como a do Capitão
Jeon.
Jimin piscou confuso ao sentir como seu lobo ficou atraído pelo aroma
do Alfa. Embora não fosse de sua vontade, seu corpo estava se
comportando de modo estranho. Pelo fato de ser um Ômega, nunca lhe foi
permitido saber nada sobre esse assunto, e ele ficou sem entender porque o
cheiro do Alfa lúpus atiçava seu lobo, quando o próprio Jimin desejava
estar longe do Capitão.
Afastou-se rapidamente com medo de algo que nem ao menos sabia.
Talvez o Capitão aparecesse repentinamente e dessa vez, não teria nenhum
pudor em fazê-lo caminhar naquela maldita prancha novamente. Seus olhos
se voltaram para as estantes com livros e outros objetos. Estudou
rapidamente alguns títulos e seguiu mexendo nas coisas do Alfa, como uma
criança curiosa.
Encontrou um punhal com um cisne entalhado no cabo com as iniciais do
Capitão. Era óbvio a quem pertencia o objeto, mas como estava jogado por
ali, talvez Jeon não precisasse tanto, ao contrário do Ômega que se sentia
ainda mais indefeso entre tantos piratas. Ele então decidiu escondê-lo na
bainha de sua calça, mais tarde possivelmente ajudaria em uma fuga.
Depois de passar um bom tempo vasculhando as coisas do Capitão, ele
finalmente se cansou e decidiu dormir um pouco.
Ao contrário do que Seokjin imaginou, o Capitão retornou ao Black
Swan na mesma noite daquele dia. Jeon não voltou para a Ilha na intenção
de se divertir com os prostitutos. Ele queria mais informações sobre os
outros seis fragmentos. Não havia melhor lugar do que onde piratas
bêbados se encontram e deixam a língua solta enquanto lindos Ômegas e
Betas lhe fazem delirar.
Assim que se dirigiu à cabine, estranhou o Alfa espadachim parado de
frente à porta. Yoongi o entregou as chaves e deu de ombros, saindo de sua
posição e descendo para as cobertas inferiores, a fim de descansar.
Jeon sabia que era necessário proteger o fragmento do Imperium, mas
não era tão necessário deixar um Alfa de guarda protegendo-o. Aquilo era
no mínimo estranho. Ele girou a chave, abriu a porta e entrou. A primeira
coisa que lhe chamou a atenção foi um cheiro doce e intenso de jasmim. Ele
sabia que era o mesmo cheiro do Ômega sequestrado, mas não era possível
que depois de tantas horas que o garoto passou por sua cabine, o cheiro
ainda permanecesse impregnado.
Seus olhos passaram pelo cômodo e ele logo viu o motivo daquilo estar
acontecendo. O bendito Ômega estava dormindo no cantinho. Ele se
aproximou irritado, pronto para acordá-lo e o mandar de volta para o porão.
Mas quando viu seu rostinho angelical, dormindo sereno enquanto seu peito
movia com a respiração calma e lenta, ele mudou de ideia.
Seu corpo era tão pequenino e indefeso comparado ao seu. Aquele lugar
parecia desconfortável e fazia frio. O Capitão imediatamente sentiu vontade
de abraçá-lo e esquentar seu corpo daquele frio. Maldito lúpus que se sentiu
atraído pelo lobo do menor.
Sem querer ele rosnou furioso consigo mesmo e acabou acordando o
garoto que dormia tranquilamente. Jimin abriu os olhos e a primeira coisa
que viu foi uma criatura enorme de pé, diante de si. Ele se assustou levando
a mão automaticamente ao cabo da lâmina escondida em sua roupa. Estava
pronto para puxar o punhal quando ouviu a voz do Capitão:
— Calma, sou eu, Ômega — Jeon retornou alguns passos para trás,
constrangido por ser pego no flagra admirando-o enquanto ele dormia. — O
que está fazendo aqui?
— Seokjin disse que eu podia dormir aqui. O porão de carga está repleto
de insetos e ratos.
— E você? — Jeon se aproximou novamente e se agachou ao lado dele,
deixando seus rostos tão próximos que o hálito quente que saía de sua boca
enquanto falava, dançava na franja loirinha do Ômega. — Achou mais
seguro ficar aqui comigo?
— Eu... — Jimin umedeceu os lábios e suspirou, sentindo calor de
repente. Jeon estava muito perto. — Eu acho que entre dormir no porão ou
na cabine do Capitão, a escolha é bem óbvia — Ele se recompôs, passando
a mão em sua franja e jogando seu cabelo para trás.
— Mas eu não me lembro de tê-lo convidado para dormir comigo — Seu
tom se tornou provocante e ele sorriu de lado, assistindo o Ômega corar.
— E-eu não... — Jimin embaraçou-se com as palavras e piscou
lentamente, tomando o controle de sua vergonha. — Ora! Eu não vim com
essa intenção de... de deitar-me em sua cama — Disse a última frase em
tom tão baixo que se o outro não fosse um Alfa lúpus, não teria escutado.
O sorriso do Capitão se alargou ainda mais e ele riu divertido. Em
seguida ficou sério, mordendo o lábio enquanto o fitava de maneira intensa.
— Eu não estava me referindo à isso. — De repente, Jimin sentiu que
todo o sangue do seu corpo se concentrou no rosto.
— Foi para isso que voltou?! — Jimin rosnou. — Para importunar-me ?!
Deveria ter ficado com aquela moça de cabelo vermelho!
Jeon suspirou. Ele se levantou e passou a caminhar pela cabine.
— Não. Tenho coisas mais importantes para fazer. — Ele fitou o Ômega
enquanto mexia dentro de um baú. — Amanhã partiremos para Nabuco.
Jimin sentiu um frio percorrer sua espinha. Não sabia em que direção
essa ilha ficava, mas sabia que era o maior centro comercial de toda a costa
asiática e que viagens até seu pólo eram extremamente longas. Sua tensão
implicava no fato de que, a partir do dia seguinte, ele ficaria ainda mais
longe da sua família e do seu lar.
Com os pensamentos elaborando uma fuga, tentou manter-se calmo para
não despertar a atenção do Capitão. Mas quando este virou-se, caminhando
em sua direção, a frustração ficou estampada em seu semblante ao notar que
ele trazia consigo uma corda.
— Me dê as suas mãos. — Jeon ordenou com firmeza.
Jimin escondeu as mãos atrás das costas, negando-se a obedecê-lo.
— Por favor... — Jimin insistiu, fazendo um biquinho inocente, tentando
sensibilizá-lo. — Meus pulsos estão doloridos.
Jeon hesitou. Era quase uma tortura levar aquilo adiante com aquele
olhar tão fofo. Se não tivesse cuidado, o Ômega iria dobrá-lo facilmente.
— Não amarrarei tão forte — Jeon prometeu, mas Jimin não se moveu.
— Se não fizer o que estou mandando será pior.
Jimin suspirou irritado e juntou as mãos na frente de seu corpo. Assistiu
o Capitão dar um nó fraco, porém firme, ao redor de seus pulsos. Depois,
ele prendeu a outra extremidade da corda em um pedaço de metal que fazia
parte da armação do navio.
— Ainda não confio em você o suficiente, para dormir no mesmo
cômodo com você estando livre — Jeon se explicou — Poderia me matar.
Jimin não respondeu. Apenas virou o rosto, inconformado com a
situação. Entretanto, ele ficou dividido com a ação do Alfa e no fundo
estava agradecido por não ter amarrado tão forte. Aquele nó não estava
machucando.
Seus planos não estavam de todo perdido. Ele ainda possuía o punhal
guardado em suas vestes. Ele se deitou no colchão e esperou Jeon fazer o
mesmo em sua cama. Jimmy esperou por longas horas e quando finalmente
teve a certeza de que o Capitão havia adormecido completamente, ele se
sentou, pegou o punhal e com uma certa dificuldade por estar amarrado, ele
conseguiu cortar a corda que o prendia. Em seguida, ele foi até as estantes,
onde tinha visto uma corrente com duas fechaduras e caminhou sem fazer
nenhum ruído até chegar rente a cama onde o Alfa dormia em seu sono
pesado.
Cauteloso, ele puxou os braços do Capitão até suas mãos ficarem em
cima de sua cabeça e prendeu seus pulsos na corrente, através da cabeceira
da cama, que para a sua sorte, era feita de metal. Ele pretendia amarrar
alguma mordaça para que ele não gritasse pelo ao auxílio dos piratas, mas
quando Jimin concluiu seu pensamento, viu os olhos do pirata abertos e
olhando confuso para si.
Assustado, Jimin se afastou rapidamente dando alguns passos para trás.
Instintivamente, Jeon puxou seus braços, mas por motivos óbvios ele não
conseguiu movê-los. Quando entendeu a situação em que se encontrava ele
fechou os olhos, tomando uma respiração profunda.
— Desculpa. — Jimin murmurou. — Também não confio em você.
Ao ver o que o Ômega pretendia, o Capitão cerrou os punhos e puxou as
correntes violentamente, fazendo um certo barulho incômodo com os
metais. Jimin travou o corpo com medo de que ele iria conseguir se soltar,
mas relaxou quando viu que ele permanecia muito bem preso. O Capitão
lançou-lhe um olhar mortal e rosnou tão ameaçadoramente, que o Ômega
mesmo sendo um lúpus, sentiu seu corpo todo tremer e as pernas ficaram
bambas de medo.
Antes que desistisse da fuga, Jimin seguiu nas pontas dos pés, ignorando
os protestos do Capitão e abriu a porta. Ele espiou o lado de fora e todo o
convés, até ter certeza de que nenhum membro da tripulação estivesse por
alí. Na certa, estavam todos dormindo, com exceção dos que ficaram na Ilha
de Folsom, divertindo-se entre as dezenas de bares e prostíbulos.
Jimin então subiu pela escada feita com corda. Sem perceber, deixou o
punhal caiu no chão do convés. Quando desceu no bote que provavelmente
Jeon havia voltado com ele e, para a sua sorte, o deixou ainda na água
amarrado ao navio, ele soltou o nó fraco e livrou a pequena embarcação.
Com muito esforço, ele conseguiu remar de volta para a margem.
Quando se viu na praia, não sabia qual passo seguir. Ele não podia fugir
naquele bote em pleno mar aberto, seria loucura. Desesperado, ele olhou ao
seu redor vendo alguns pescadores trabalharem, mas não podia pedir ajuda
para eles. Mais ao lado haviam alguns piratas em um círculo, conversando
em baixo tom. Diferente dos demais frequentadores daquela Ilha, eles
pareciam sóbrios.
Jimin viu que era a sua melhor opção no momento e seguiu até onde eles
estavam.
— Com licença, senhores — A voz doce do Ômega chamou a atenção
deles. — Eu fui sequestrado e agora estou perdido nesta Ilha. Sei que são
piratas e nesse exato momento estão pensando em quais coisas horríveis os
senhores podem fazer comigo — Ele fez uma pausa estudando suas
expressões, e continuou: — Meu pai é um Alfa muito importante e influente
na sociedade coreana. Se me levarem para casa em segurança, eu prometo
que serão muito bem recompensados.
Eles eram piratas, assim como a tripulação do Black Swan. Mas Jimin
apostava que eles não sabiam que ele era um Ômega lúpus, e que muito
menos tinham alguma informação sobre os fragmentos do Imperium. Logo,
Jimin considerou que a oportunidade dos piratas conseguirem um resgate
com ele seria a melhor opção para os criminosos.
Os piratas se entreolharam e se comunicaram em linguagem muda.
Assentiram entre si e logo concordaram em levar Jimin consigo.
Assim, o Ômega conseguiu um transporte para tirá-lo daquele lugar
horrível e levá-lo para casa.
Ou, era o que ele imaginava.
Continua...
[7] O Leilão

Reescrito

A grade da cabeceira da cama já estava curvada para frente, de tanto que
o Capitão puxava as correntes que o prendia. Ele transbordava ódio e suas
unhas já estavam machucando suas palmas, devido a força com que seus
punhos se travaram. Ele poderia gritar e pedir ajuda a tripulação. Mas seria
muito humilhante admitir que fôra preso por um Ômega. Alfas já eram
bastante orgulhosos, sendo lúpus então, as emoções se tornavam mais
intensas.
Depois de muito esforço, ele finalmente conseguiu romper a grade e
erguer o corpo da cama. Ele caminhou até sua estante, implorando
mentalmente que o Ômega não tenha sido tão atrevido a ponto de levar a
chave dos grilhões. Suspirou aliviado quando a viu no mesmo lugar onde
tinha deixado. Logo ele se livrou das correntes e ignorou a dor em seus
pulsos. A pele estava bastante avermelhada e machucada devido ao esforço
que fez para se ver livre.
Assim que saiu da cabine, o sol já havia nascido e a tripulação já
trabalhava pelo convés.
- Bom dia, Capitão - Scott falou quando o viu.
- Bom dia o caralho! - Jeon passou por ele como um furacão e se
debruçou ao lado do navio, examinando a Ilha, agora pela manhã pouco
movimentada.
O Capitão estava furioso, quase a ponto de matar um. Ai daquele que se
atrevesse a ficar em seu caminho naquele momento.
- O que houve? - Seokjin perguntou trazendo consigo uma xícara de café.
- O que houve?! - Jeon perguntou entredentes, virando para encarar o
irmão: - A sua ideia estúpida de ontem à noite fez a porra do Ômega fugir!
Logo, uma pequena aglomeração se juntou ao redor deles. Todos
interessados em assistir aquela discussão entre os irmãos.
- A culpa não é minha se você o assustou, tratando-lhe com grosseria -
Seokjin o enfrentou. - Ele estava com você quando isso aconteceu. E saiba
que ele sempre irá fugir se continuar agindo feito um idiota!
Jeon acertou uma tapa forte na mão do médico que segurava a xícara e o
objeto voou longe, fazendo o mais velho se assustar.
Neste momento, Namjoon apareceu com uma enorme cara de sono,
caminhando tranquilamente pelo convés superior. Ele parou ao lado da
timoneira, que também assistia a discussão matinal.
- O que está acontecendo?
- Briga entre irmãos - Ela respondeu. - Parece que o nosso Ômega lúpus
fugiu.
- Merda - Namjoon correu até as escadas e desceu, seguindo ligeiro até
onde o médico discutia com o Capitão. - Precisamos encontrar aquele
desgraçado. Não podemos gastar nosso precioso tempo com discussões.
O Capitão engoliu a raiva que estava sentindo naquele momento e
ignorou as atitudes do seu irmão. Ele se voltou para a tripulação:
- O que estão esperando? Vão procurá-lo! - Ordenou com sua voz de
comando apontando para a Ilha.
Todos então se puseram a descer as cordas com os botes e rapidamente
chegaram na praia. Eles procuraram o Ômega por toda a extensão de
Folsom, mas não encontraram nem sinal do loirinho. Porém, obtiveram uma
valiosa informação dos pescadores que estavam por alí.
- Capitão - Hoseok se dirigiu ao Jeon -, não o encontramos mas os
pescadores o viram seguir para um outro navio.
- Que navio?
- Eles disseram que em sua bandeira havia o desenho de dois punhos
esqueléticos cruzados.
Tempos atrás, quando trabalhou por navios mercantes, o Capitão cruzou
com uma embarcação que continha o mesmo símbolo informado pelo
pirata, ele o reconheceu de imediato. Jeon sentiu uma fúria intensa tomar
seu peito, ele caminhou até a beira do navio e respirou fundo encarando o
horizonte, para logo em seguida informar:
- Já sei para onde eles foram.

Antes...
Jimin seguiu os piratas até os botes, depois foi levado para o navio que
também estava ancorado, mas em outra parte da Ilha. Ao entrar na
embarcação, Jimin foi colocado um tempo a esperar. Logo depois, ele foi
recebido por uma Alfa, ela era a Capitã do navio e o guiou para dentro de
sua cabine. Ela o tratou com bastante cordialidade, o que deixou o Ômega
mais a vontade.
- Não tenho palavras para agradecer a senhora pelo que está fazendo por
mim - Jimin exprimiu, suspirando aliviado, imaginando que estava sendo
levado de volta para a Coréia.
- Não precisa agradecer meu querido - A mulher lhe dirigiu um enorme
sorriso - Tenho um filho Ômega na sua idade, sei que seus pais devem estar
muito preocupados. Principalmente a sua mãe.
- Eu não tenho mais uma mãe. Infelizmente ela faleceu no parto do meu
irmão... - Jimin lamentou. - Mas com certeza ele e meu pai devem estar
muito preocupados comigo.
- Eu sinto muito a sua perda - Ela fez um breve silêncio em respeito. -
Não se preocupe, em breve você estará de volta junto com a sua família.
Agora coma, criança, pois você me parece bem fraquinho.
- Obrigado. - Ele pegou uma porção de comida e levou a boca.
- Isso, agora você deve estar com sede, hm? - Ela serviu um cálice com
suco de uva e ofereceu ao menino. - Agora beba um pouco, para ajudar na
digestão.
- Muito obrigado - Jimin aceitou o copo. - A senhora é muito gentil.
Ela sorriu.
- Sim. Mas beba - Ele assentiu virando o cálice, tomando do conteúdo. -
Isso, beba tudo.
Após o jantar, a Capitã fez questão de acomodá-lo em sua própria cabine.
Jimin ficou encantado em descobrir que nem todos os piratas eram uns mal
educados e grosseiros. Assim que entrou no cômodo, viu a cama da mulher
que também era de casal e automaticamente sentiu um tremor ao lembrar-se
do Capitão Jeon que havia acorrentado à cama.
- Vou deixar que fique com a minha cabine - Ela informou, gentil. - Pode
passear pelo convés se quiser, mas sugiro que fique aqui e descanse, logo
nós estaremos chegando na Coréia...
De repente, as palavras da Alfa tornaram-se distantes e Jimin se sentiu
tonto. Sua visão foi ficando turva rapidamente e suas pernas fraquejaram.
Em questão de segundos ele perdeu a consciência e só não caiu no chão
porque a Capitã o segurou.
Assim que acordou, Jimin se viu dentro de uma espécie de gaiola de
ferro. Sua boca estava seca, ele sentiu a cabeça doer conforme erguia o
corpo do chão duro e se sentava do jeito mais confortável que conseguiu.
Junto com ele haviam mais nove Ômegas presos no mesmo espaço
pequeno. Estava vestido com uma única túnica branca e seus pertences
foram recolhidos pelos guardas.
Desesperado, ele segurou as barras de ferro com força e gritou por ajuda.
- Para de gritar, porra! - Um Ômega grunhiu colocando as mãos nos
ouvidos.
- Não adianta, garoto - Outra Ômega se dirigiu à Jimin: - Estamos presos
no subsolo de Nabuco. Ninguém nunca irá nos encontrar, eles estão
ocupados demais tratando de seus negócios lá em cima.
- O que vão fazer conosco?
- Você não percebeu ainda? - O Ômega que havia se irritado com seus
gritos voltou-se para encará-lo: - Estamos na Boca do Inferno, garoto.
- Que lugar é esse?
O Ômega rolou os olhos, irritado.
- É onde ocorrem leilões clandestinos e coisas são vendidas ou trocadas
entre criminosos da pior espécie.
Jimin finalmente compreendeu a lastimável situação em que se
encontrava. Ele fechou os olhos lamentando ter fugido do Capitão Jeon. O
punhal já não estava consigo e com certeza aquele lugar estava bem
protegido. Seria impossível escapar. Ele olhou a sua volta em busca de
algum plano maluco que o ajudasse a fugir, mas suspirou derrotado ao ver
vários Alfas fortemente armados surgirem através de uma porta.
- Todos vocês, escutem com atenção - Um dos Alfas disse com sua voz
de comando. Todos os Ômegas sentiram-se incomodados menos Jimin, que
era um lúpus. A voz especial de um Alfa comum não fazia efeito algum
sobre si. - Quero que me sigam quietinhos e obedientes, quem ousar me
desobedecer eu não terei compaixão.
Com bastante medo da ameaça, os Ômegas seguiram-no submissos por
um extenso e estreito corredor, úmido e escuro, até serem deixados em uma
pequena sala, todos agrupados e sentados no chão. Os Alfas amarraram seus
tornozelos e pulsos com cordas e vendaram seus olhos. Um a um, os
Ômegas eram levados até uma outra sala que eles não faziam ideia de onde
ficava e para o que servia. Eles só sabiam que todos aqueles que eram
levados, jamais retornavam para contar história.
Quando chegou na vez de Jimin, ele sentiu seu corpo ser erguido do chão
e instintivamente tentou lutar. O Alfa que o segurava acertou seu abdômen
com um soco que o fez curvar o corpo para frente e perder todo o ar.
- Seu imbecil do caralho! - O Alfa estava pronto para disparar um chute
em sua direção, mas foi interrompido por outro.
- Pare com essa merda. O sr. Coal quer os Ômegas vivos e sem
ferimentos, seu idiota.
O Alfa rosnou praguejando alguma coisa e ergueu Jimin novamente,
levando-o para a mesma sala em que os demais estavam. Ele foi posto
curvado para a frente, com sua barriga apoiada em uma espécie de mesa de
madeira. Por estar com os olhos vendados ele não sabia, mas estava de
costas para dezenas de homens e mulheres, todos Alfas e ávidos para
comprar um Ômega, para tê-lo como um escravo.
O Alfa que o trouxe para aquele lugar saiu e Jimin ouviu o som de passos
se aproximar de onde foi deixado. Logo, a voz de um outro Alfa foi ouvida:
- Senhoras e senhores, o que lhes trago agora é um Ômega loiro, com
uma bela educação e ainda intocado - Um coral ansioso se fez ouvir e ele
percebeu que havia mais pessoas alí. De repente, o Alfa levantou a barra de
sua túnica, deixando seu corpo exposto para ser exibido aos possíveis
compradores. Ele passou a mão pela sua pele e acertou uma tapa fazendo
Jimin tremer de pavor. - Dêem seus preços!
- Doze mil moedas de prata! - Um único lance foi sugerido e ninguém
ousou contestar o valor.
- Dou-lhe uma. Dou-lhe duas... - O leiloeiro ambicioso ainda tentou
receber um valor mais alto, mas ninguém parecia querer cobrir. - Dou-lhe
três! Vendido para o cavalheiro de preto.
Continua...
[8] Desejos

Reescrito

O governador Park Shinsung andava de um lado para o outro dentro de seu


gabinete. Ele contou ao Comodoro Choi sobre o rapto de seu filho e obteve
seu apoio imediato.
- Malditos miseráveis! - Park bateu na própria mesa.
- Não se preocupe senhor - Choi o tranquilizou -, dou-lhe a minha
palavra de honra que trarei seu filho de volta, são e salvo.
O governador assentiu.
- Seu filho é a única testemunha - O Tenente da Marinha Real e amigo do
Comodoro também estava na sala. - Será que ele poderia nos dar
informações sobre o pirata que o levou?
- Não sei - Park respondeu pensativo. - Jisung é bastante sensível e ficou
muito abalado com o sequestro do irmão. Eu não quero deixá-lo ainda pior.
- Prometo que não vou forçá-lo a reviver lembranças ruins - O Tenente
insistiu. - Seria de grande ajuda que ele nos desse qualquer informação.
- Tudo bem - Park Shinsung assentiu. - Vou chamá-lo aqui.
Ambos os oficiais esperaram no gabinete e em poucos minutos, o
governador retornou acompanhado de seu filho mais novo. Park Shinsung
manteve-se ao lado do filho e fez sinal para que o Tenente Jo fizesse suas
perguntas.
- Jisung, você lembra da aparência do pirata que levou o seu irmão? Pode
ser qualquer coisa. Qualquer detalhe ajuda.
O Ômega puxou na memória os momentos de terror que viveu durante o
ataque, não era tão fácil, ele chorou bastante. Mas de uma coisa ele nunca
iria esquecer:
- Ele tinha uma cicatriz no olho direito - O menino respondeu convicto.
- Tudo bem sr. Governador. Já estou satisfeito. - Park assentiu e mandou
que uma criada acompanhasse seu filho de volta ao seus aposentos - Este é
Min Yoongi, um ex caçador de piratas.
Choi e seu amigo trocaram olhares tensos.
- Agora sabemos o porque de nunca conseguirmos tê-lo encontrado -
Choi Rosnou. - O maldito juntou-se a tripulação do infame Capitão Jeon
Jungkook.
- O que isso significa? - Park perguntou temeroso.
- Significa que nós vamos precisar de todo apoio da frota naval.

O comprador caminhou até onde Jimin estava depositado, exposto para
que todos o vissem. Ele abaixou o tecido da túnica cobrindo seu corpo
novamente, o pegou no colo e saiu com sua "mercadoria" por uma porta à
esquerda. Jimin permaneceu imóvel, embora seu corpo não parasse de
tremer enquanto era carregado pelo desconhecido. Ele estava com tanto
pavor que não reconheceu o aroma que exalava dele.
Apenas quando o Alfa parou de andar, o colocou sentado em algo que
também parecia ser uma mesa de madeira e arrancou a venda de seus olhos,
foi quando ele pôde ver que o cavalheiro de preto que o havia comprado,
era o Capitão Jeon. Jimin suspirou aliviado, mas esse sentimento logo se
esvaiu quando ele notou o modo com que o pirata estava lhe olhando.
Jungkook estava bravamente se segurando para não dar a surra que havia
prometido a si mesmo assim que colocasse suas mãos no Ômega. Pois era
assim que ele iria tratar qualquer outro prisioneiro que caísse em suas mãos
e fugisse do seu domínio.
Mas não aquele Ômega. Mesmo que estivesse sentindo tanta raiva a
ponto de sentir seu sangue borbulhar, ele não era capaz de levantar um dedo
sequer contra ele, para usar de violência. E isso o deixava ainda mais irado.
- A sua fuga brilhante acaba de me render doze mil moedas - Jeon
afirmou com um tom extremamente irritado, enquanto se afastava do
garoto, ficando de costas para ele. - E olha aonde conseguiu se meter...
Jimin nada disse, ele apenas abaixou a cabeça sem saber o que falar.
Estava morrendo de medo, mas ao mesmo tempo aliviado e agradecido que
o Capitão tenha vindo lhe salvar. Mesmo que o resgate tenha sido por
interesse próprio.
- Eu deveria... - Jeon continuou seu discurso enraivecido. Com a falta de
resposta de Jimin, ele virou seguindo em sua direção e bateu com os punhos
em ambos os lados onde o Ômega estava sentado. Ele se assustou dando um
leve pulinho. - Fala alguma coisa! - Gritou, fazendo com que o choro que o
mais novo estava segurando, fosse rompido de uma vez.
- Eu estava com medo. Você me tirou da minha família, me deixou preso
em um lugar escuro e frio. Quase me vendeu para um bordel porque não
quis fazer o que você mandou... - Ele fungou entre soluços - Eu estava
desesperado e só queria ir para casa.
Jeon se condenou mentalmente por desejar abraçá-lo e consolá-lo. Ele
sabia muito bem no que esse sentimento ia dar. Se apaixonar, para o pirata,
seria o pior erro que ele poderia cometer. Sabia que o Ômega estava em sua
razão, mas não deixava de sentir raiva. Ele estava dividido entre puni-lo ou
apenas deixar passar. Com seu lobo extremamente atraído pelo do pequeno
lúpus.
Jimin fungava ainda de cabeça baixa, ele estava com os olhos
encharcados e ambas as bochechas molhadas pelas lágrimas, trêmulo pelos
acontecimentos recentes. Jeon o observava em silêncio. Estava se sentindo
patético por ver toda a raiva que sentiu do Ômega no instante em que o viu
fugir, ir pelo ralo naquele momento, quando seu lobo só queria consolá-lo.
- Vamos - Jungkook disse, por fim, ajudando Jimin a descer da mesa e o
guiou para fora daquele lugar segurando-o pelo cotovelo.
Desde o dia em que o episódio ocorrido entre o Capitão Jeon e o Ômega
aconteceu, naquele ambiente escuro e funesto onde o mais novo seria
vendido em um leilão, Jimin foi levado para uma pousada na Ilha de
Nabuco e, desde então, não havia visto o Capitão durante os próximos cinco
dias, no qual ele foi trancafiado em um dos quartos e cercado por uma
infinidade de livros, com a finalidade de traduzir a tão antiga escrita
encontrada no pergaminho.
O lado bom era que ele finalmente pôde tomar longos banhos quentes e
vestir roupas limpas. Saborear refeições mais dignas e dormir em uma cama
aconchegante.
Jimin estava sossegado em um quarto arejado e confortável, onde havia
uma pequena cômoda com um espelho, e algumas gavetas com itens nos
quais ele usou para cuidar um pouco mais de sua aparência descuidada. Era
bom finalmente ter um pouco de privacidade, mesmo sabendo que do lado
de fora havia um Alfa loiro, carrancudo e com uma longa katana o
vigiando.
Todavia, aquilo não era de todo ruim, Jimin manteve-se concentrado em
sua tarefa, pois esperava concluir o quanto antes para poder voltar para
casa.
Na manhã seguinte, já descansado e bem alimentado com um apetitoso
café da manhã provido de pão, leite, queijo, e algumas frutas frescas, Jimin
terminava a tradução da primeira parte do mapa, sendo assistido pelo pirata
loiro.
Quando a porta do quarto foi aberta exibindo a figura do Capitão Jeon
adentrando no cômodo, o lobo Ômega novamente sentiu-se atraído pelo
aroma de rosas do Alfa, e Jimin ficou mais uma vez confuso e ligeiramente
agitado.
- E então? - Conrad perguntou.
- Terminei. - Jimin respondeu entregando-lhe a tradução.
Jeon analisou o pergaminho em silêncio, satisfeito por finalmente poder
ver o que aquele fragmento misterioso escondia de seus olhos.
- Esses números, acredito que são partes de uma coordenada - Jeon
afirmou analisando o pergaminho. - E essas palavras; a força da lua. - Ele
estudou aqueles dizeres tentando descobrir o que poderia significar, mas
não conseguiu chegar a nenhuma conclusão. Ele se virou para o Ômega: -
Só tinha isso?
- Sim. - Jimin respondeu baixo.
Jungkook suspirou.
- Deve fazer parte de algum enigma - Ele entregou o pedaço de papel
traduzido à Yoongi - Deixe que Taehyung estude um pouco mais, talvez ele
descubra do que se trata.
Continua...

Olha que lindo esse edit de _little_cute Mto obrigada!


[9] Siga o Coração

Reescrito

A tripulação estava em grande parte reunida na praia. Eles estavam
montando um acampamento com algumas tendas a mando do próprio Jeon.
— Estou lhe dizendo, Capitão — Dahyun, a mecânica do navio afirmou.
— Fez a escolha certa decidindo limpar o casco do navio.
Jeon assentiu, sentado em sua cadeira. Jimin estava ao seu lado. O
Capitão havia decidido que a partir daquele dia, o garoto não sairia debaixo
do seu nariz.
— E o tempo que vamos gastar fazendo isso? — Sven questionou já
pensando no trabalho que eles teriam.
— Será compensado com velocidade — Dahyun respondeu.
— Ela tem razão — Jungkook afirmou. — Preparem-se para trazer o
Black Swan até a praia.
O próprio Capitão se juntou à tripulação para ajudá-los com todo o
trabalho literalmente pesado. Eles conseguiram levar o navio à praia e
amarraram várias cordas em árvores para que mantivesse a embarcação em
linha reta e apoiada por diversas vigas de madeira.
Jungkook se distraiu puxando as cordas apenas por alguns segundos e de
repente o loirinho não estava mais ao seu lado. Buscou ligeiro com os olhos
pela praia, vendo-o na margem na companhia do navegador.
— Taehyung — Jeon gritou —, traga o Ômega de volta!
Ele não viu quando Taehyung comprimiu os lábios, frustrado. O
navegador estava ajudando Jimin a colher lembrancinhas pela areia. O
Ômega levantou triste, já pronto para obedecer a ordem, pois não queria ser
amarrado as árvores como foi ameaçado algum tempo atrás.
— Deixa de ser chato. O menino só está pegando conchinhas — Seokjin
passou pelo Capitão e caminhou na direção da beira mar, fazendo sinal para
que Jimin e Taehyung continuassem lá.
Jeon suspirou e indicou para que Yoongi ficasse de olho neles. O pirata
não se aproximou tanto e ficou sentado em um montante de areia um pouco
mais atrás.
— Olha só essa aqui. — O médico encontrou uma na cor rosa bebê, com
alguns tons coloridos. Ele a entregou para Jimin.
— Nossa, que linda. — o Ômega pegou examinando em suas mãos.
Ele ia devolver mas Seokjin negou, dizendo:
— É sua.
— Obrigado.
— Deixa eu limpar para você — Seokjin ofereceu e Jimin a entregou no
mesmo instante. — Ela vai ficar com a cor muito mais viva e bonita quando
eu terminar.
Taehyung foi se afastando lentamente até ficar sentado ao lado de
Yoongi. O Alfa espadachim lhe contava algumas de suas histórias, da época
em que era um caçador de recompensas e recebia para caçar piratas, em
particular. Jimin olhou para trás e viu o navegador bastante entretido com o
Alfa.
Seokjin era um Beta que, ao seu ver, era bastante maduro, pelo menos em
comparação a pouca idade que Jimin possuía. Ele arriscou que o médico
teria no mínimo trinta anos, e talvez pudesse ajudá-lo com algumas
dúvidas...
— Sr. Seokjin? — Jimin o chamou baixo.
— Eu não sou tão velho. — O médico sorriu com um falso ultraje,
jogando uma conchinha nele. — Tire esse senhor ou me chame apenas de
Jin.
— Jin — Corrigiu-se e o outro assentiu. — Você já sentiu coisas
estranhas no seu corpo?
— Estranhas como? — Jimin não respondeu, mas desviou o olhar para o
mar. — Precisa ser mais específico.
— Eu não sei bem como explicar, mas foi como se o meu lobo tivesse
despertado um certo interesse incomum por um cheiro em específico.
O Ômega respirava lentamente, tentando conter um pouco de sua timidez
ao tratar daquele assunto.
— Um cheiro específico? — Jimin balançou a cabeça positivamente. —
De quê? — ele não respondeu com palavras, mas sua olhadela rápida na
direção em que o Capitão estava junto da tripulação deu uma certa ideia
para o médico compreender — Está falando sobre o aroma do Jungkook?
— Sim… — Respondeu baixinho, quase num sussurro.
— Entendi — Seokjin murmurou para si mesmo. — Mas me conta, o que
seu lobo sentiu?
— Foi como se... — Jimin olhou para trás e novamente, notou que
Yoongi e Taehyung mantinham-se conversando entre si. — Um calor,
sabe?
Seokjin era um Beta, logo não possuía o gene lobo em seu interior. No
entanto, ele compreendeu sobre o que o Ômega estava falando, devido aos
anos de estudos dedicados à medicina das classes. Mas ele teria que ir
devagar com aquilo, explicar com calma. Jimin nunca esteve sozinho com
um Alfa que não fosse o seu pai, era deveras inexperiente quando se tratava
do desejo dos lobos.
— Todos os Alfas e Ômegas estão propícios a sentir isso, Jimin. Saiba
que é completamente normal. Não precisa ficar envergonhado. São coisas
dos lobos...
— O nome disso é tesão. — Ouviram a voz do navegador logo atrás.
— Você estava ouvindo?! — Jimin questionou envergonhado. Ele estava
falando baixo para evitar esse tipo de situação.
— Na verdade foi ele que ouviu — Taehyung respondeu apontando para
Yoongi —, e estava me contando.
— Céus... mas vocês dois heim! — Seokjin os repreendeu com as mãos
na cintura.
— Então é por isso que ele estava na cabine do Capitão naquela noite...
— Yoongi refletiu, lançando um olhar divertido. — Seu safadinho.
Jimin cobriu o rosto com as duas mãos e se jogou de costas na areia.
— Para com isso — Taehyung riu acertando uma tapa no Alfa. — Está
constrangendo o menino.
— Não é nada disso que vocês estão pensando! — Jimin ergueu as costas
do chão, ainda vermelho como um tomate.
— Mas e se for, o que é que tem?
— É pecado — Jimin abraçou o próprio corpo — Eu tenho um noivo.
Os três piratas entreolharam-se, compartilhando do mesmo pensamento
sobre um possível caso entre aquele Ômega e o Capitão Jeon. Não seria
impossível, visto que já ouviram muitas histórias sobre piratas que se
apaixonaram e largaram a vida no mar, para viver ao lado de seus maridos
ou esposas.
Eles ouviram a voz do cozinheiro Junbuu chamando à todos, informando
que o jantar estava pronto.
— Siga seu coração, Jimin — Seokjin comentou ajudando o Ômega a
levantar. — E lembre-se que amar não é pecado.

Duas tendas foram montadas para que os piratas fizessem suas refeições.
Na companhia do Capitão apenas permaneceram seu irmão Seokjin, o
contramestre, e é claro, o próprio Jimin. Eles conversavam sobre o possível
fragmento que poderia estar naquela ilha.
Enquanto esteve em um bordel de Folsom, Jeon obteve essa informação
de uma prostituta, mas não sabia exatamente em qual local estava. O
Capitão desconfiava que poderia estar no leilão, mas quando foi resgatar o
Ômega não ouviu nenhuma conversa sobre isso.
Logo, só restava uma opção: a Fortaleza do Capitão Fenn Barba-Ruiva.
Barba-Ruiva era um pirata conhecido por sua crueldade, em destruir
completamente e matar toda a tripulação dos navios em que fazia os seus
saques. Ele decidiu abandonar os mares quando tomou o controle da Ilha de
Nabuco para si, maior centro comercial da costa asiática, posteriormente
tornando-se o maior centro de contrabando. Todos os piratas escolhiam
aquele lugar para trocar seus saques de maneira clandestina.
— Precisamos entrar naquela Fortaleza de qualquer jeito — Jungkook
articulou.
Jimin apenas comia sua refeição ouvindo a conversa.
— Nós podemos simplesmente invadir aquilo, Capitão.
— Eu sei, Namjoon. Mas esta não é a minha intenção.
— E no que está pensando? Bater na porta dele e pedir por favor? —
Seokjin questionou revirando os olhos.
— Jin tem razão, nós podemos invadir.
— Vocês não estão entendendo. Eu não pretendo invadir — Jeon olhou
para o médico —, muito menos pedir por favor. Nós vamos oferecer um
tributo e quando estivermos lá dentro, iremos roubá-lo.
— Isso é muito arriscado...
— Mais do que tentar invadir e soar um alarme?
— Olha, só... — Seokjin sorriu com diversão, olhando para Namjoon. —
Meu irmão usando o cérebro invés dos músculos.
Jimin cobriu a boca com a mão, tentando esconder o riso junto ao médico
e o contramestre. Ele desceu a mão pelo pescoço e só então descobriu que
algo estava lhe faltando.
— Não... — O Ômega sussurrou, passando os dedos pela região cervical
como se esperasse o item perdido reaparecer. — Meu colar. Eu o perdi.
— Tudo bem, Jimin. Depois você pode comprar outro — Seokjin tentou
tranquilizá-lo.
— Mas esse era muito importante para mim — Jimin suspirou baixando
os olhos para esconder as lágrimas. — Eu me sentia perto da minha família
com ele...
— Oh, Jimin — Seokjin o abraçou de lado —, eu sinto muito.
— Não sei por que essa comoção toda — Namjoon rolou os olhos
mordendo um pedaço de carne. — É só a porcaria de um colar.
Jimin se perguntou o que havia feito para aquele Alfa, para que ele o
tratasse tão friamente desde o primeiro contato que teve com o mesmo.
Estava ciente que Namjoon é um pirata, e os piratas geralmente são rudes
em seu tratamento para com as outras pessoas. Mas os outros tripulantes do
Black Swan também são, e mesmo assim, tratam o Ômega com o mínimo
de respeito e educação. Principalmente Taehyung e Seokjin.
Até mesmo o alfa da cicatriz havia se tornado menos grosseiro.
— Eu já estou satisfeito — Jimin limpou os olhos com as costas das
mãos e afastou o prato. — Eu posso me recolher agora?
— Amanhã discutiremos melhor sobre o plano da Fortaleza — Jeon falou
para Namjoon e em seguida se levantou mirando o Ômega — Vamos.
Seokjin permaneceu sentado, olhando para o contramestre até ele
perceber e ficar incomodado com isso.
— O quê? — Namjoon indagou sem entender.
— Sua sensibilidade me comove — Seokjin ironizou e se levantou,
deixando um Namjoon confuso para trás.

Jimin esperava em pé em um canto, enquanto o Capitão preparava uma
cama para eles dormirem. Assim que ele terminou, o Ômega seguiu até a
cama e sentou na borda.
Para a sua decepção, Jungkook voltou-se para ele segurando uma corda.
— Não, Jeon. Por favor — Jimin suspirou frustrado. — Você não precisa
fazer isso, eu não vou fazer nada. Eu sou muito grato por ter me salvado de
um destino horrível naquele leilão. Mesmo que tenha me tirado da minha
família, eu não seria capaz de fazer uma coisa dessas. Não vou tentar matá-
lo, por favor acredite nisso.
— Tudo bem — O Capitão cruzou os braços, estudando-o. — Acredito
em você. Mas pode tentar fugir outra vez.
— Ah, não. Eu não vou — Jimin riu pensativo. — Não depois do que
aconteceu. Eu não conheço nada fora dos limites da Coréia. Posso ser
capturado por outros piratas ou coisa pior. Eu já aprendi minha lição.
— Prefiro não arriscar — Jeon se aproximou para agarrar seu braço, mas
Jimin segurou o seu primeiro, pegando-o de surpresa.
— Escute-me, por favor — Jimin mantinha a cabeça erguida e os olhos
encarando profundamente o rosto do Capitão. Jeon olhou para seus lábios
enquanto aquelas palavras eram ditas e em seguida mirou em seus olhos
intensos e tão azuis quanto o mar. — Eu estou lhe dando a minha palavra de
que não tentarei fugir novamente.
Sem perder o contato visual, as mãos de Jimin seguiram até as do Alfa.
Jeon hesitou, mas logo depois ele cedeu e o Ômega conseguiu tirar a corda
das suas mãos.
— Tudo bem. — Jungkook respirou profundamente, se afastando. —
Mas se voc-...
— Eu já sei, você já disse — Jimin o interrompeu. — Se eu tentar fugir
outra vez, vai me deixar amarrado no alto de um coqueiro.
O Capitão assentiu e caminhou pela tenda pensando no que fazer em
seguida. Não foi impressão sua, aquele Ômega acabara de tomar o controle
da situação. Aquilo nunca aconteceu antes. Algo o incomodava.
— Deite-se e durma — Jeon apontou para a cama. — Preciso sair.
Jimin levantou os olhos para contestá-lo mas apenas encontrou a tenda
vazia. Ele vestiu uma roupa mais leve e se deitou na cama improvisada.
Continua...
[10] A Escolha Certa

Reescrito

Jungkook saiu da tenda sentindo-se perturbado com seus desejos e
pensamentos. Sempre foi um Alfa livre desse tipo de sentimento, teve um
Ômega em que havia se apaixonado mas não chegou a ser tão profundo
quanto o que estava despertando pelo garoto loirinho. Depois disso,
conheceu outros Ômegas e nenhum nunca lhe despertou o mínimo interesse
que não fosse apenas dominar seu corpo, apenas pela necessidade carnal.
Mas quando olha para Jimin, quando sentia o cheiro de jasmim, o modo
como ele o desafiava e a sua personalidade, Conrad sente que vai muito
mais além disso. Aquele Ômega não mexe apenas com seu lobo, mas
também com sua mente e coração
Aquilo o deixava muito confuso.
— Porra! — Jeon chutou um punhado de areia no alto de uma pequena
colina.
— Joga na mãe! — Alguém gritou e ele franziu o cenho ao ouvir uma
voz sair da parte baixa.
Jeon fez a volta na pequena colina e quando chegou lá embaixo, viu
Seokjin passar as mãos no cabelo, sacudindo a cabeça pra tirar o excesso de
terra que havia caído quando Jungkook chutou o montinho de areia.
O Capitão riu com a cena.
— Não vi você aí, Seokjin. Me desculpe.
— Eu devia fazer você comer essa areia — O mais velho bufou irritado.
— O que veio fazer aqui sozinho?
— Estou limpando essa conchinha para o Jimin e pensando no enigma do
fragmento e você, com o que está irritado? — Ele franziu o cenho — Cadê
o Jimin ?
— Na tenda, dormindo — Jeon respirou fundo. Sabia que podia confiar
em seu irmão qualquer coisa e apenas dele, Jungkook não escondia nada. —
Ele conseguiu fazer com que eu o deixasse livre, Jin. Eu não o prendi e não
mandei ninguém ficar de olho nele — Confessou irritado.
— Jungkook, você só está agindo com o coração. Tudo bem deixar isso
acontecer — Seokjin viu o irmão suspirar confuso. — Você acha que ele
pode tentar te fazer algum mal ou fugir outra vez?
— Eu não tenho certeza — Jeon passou as mãos pelo cabelo e fitou o
irmão. — Que merda está acontecendo comigo?
— Acho que você já sabe o que é.
— O médico sorriu. — Só precisa se deixar sentir.
— Isso não é bom — Jeon afirmou encarando o oceano completamente
escuro. — Estou ficando fraco e manipulável.
— Por que você é tão cabeça dura? — Seokjin suspirou. Ele examinou a
concha rosa e quando ficou satisfeito quanto à sua aparência, ele a entregou
para o Alfa — Pode entregar ao Jimin?
O Capitão pegou a pequena concha e viu o médico seguir de volta para o
acampamento.
Assim que ele também voltou para a sua tenda, percebeu que o Ômega
ainda estava acordado, sentado na cama enquanto lia um livro.
— Eu encontrei este exemplar por aqui, estava sem sono e resolvi ler um
pouco — Jimin se explicou, envergonhado por ter mexido nas coisas do
Capitão novamente.
Jeon ponderou antes de indicar:
— Taehyung possui uma vasta coleção de livros. Pode pegar mais com
ele se quiser.
— Ah, obrigado — Jimin sorriu e guardou o livro.
O Ômega ficou pensativo desde que o Capitão Jeon o deixou sozinho, ele
refletiu sobre as coisas estranhas que seu lobo sentiu na cabine do Capitão,
e a conversa que teve com Seokjin.
Após uma boa leitura, Jimin sentiu que estava pronto para dormir. Mas o
Capitão começou a andar de um lado para o outro, como se estivesse
querendo fazer alguma coisa, e isso chamou a atenção do pequeno.
— Precisa de algo? — Jimin perguntou observando-o dar as suas voltas.
Jeon parou e olhou para ele. Caminhou na direção da cama possuindo
algo em sua mão direita.
— Sei que não é a mesma coisa e não possui o mesmo valor sentimental
para você — Jeon disse, entregando-lhe o objeto. — Mas pode usar este por
enquanto.
O que Jimin recebeu em suas mãos foi um lindo colar feito com pérolas,
com a concha rosa que ganhou de Seokjin como pingente.
— Que lindo... — Jimin suspirou observando o objeto. — Você que fez?
— Sim. Sei que não vai substituir o da sua família, e não precisa usar se
não quiser-... — Disse firme, tentando não parecer interessado na opinião
do Ômega.
— Eu adorei — Jimin o interrompeu com suavidade. — Muito obrigado.
É realmente muito lindo.
Jimin entregou o colar nas mãos do Alfa e ficou de costas. Jungkook não
entendeu o que ele pretendia a princípio, mas logo soube que a intenção
dele era que o próprio Capitão o ajudasse a colocar o acessório.
Jeon pegou o objeto e com cuidado, o prendeu no pescoço do Ômega.
Jimin passou os dedos pelas pérolas, virou-se de frente para ele e
perguntou:
— E então, como ficou?
— Ficou bom — Jeon confirmou em voz alta e pensou: “Céus, ele
conseguiu ficar ainda mais belo”.— Deite-se no canto. Eu vou dormir na
ponta.
Jimin olhou para a cama e depois para o Alfa. Ele engoliu em seco.
— Vamos dormir na mesma cama?
— Você quer dormir no chão? — Jimin negou com a cabeça. — Eu
também não.
O Ômega desviou o olhar envergonhado e tomou um longo suspiro. Ele
subiu no colchão, engatinhou até o cantinho e se deitou de costas para o
Capitão. Jungkook retirou a parte mais pesada de suas roupas e fez o
mesmo. Ambos adormeceram de costas um para o outro.

Jimin acordou sentindo o cheiro de rosas presente, mas Jeon não estava
mais alí. Ele se levantou e vestiu suas roupas, saiu da tenda e viu que os
piratas já estavam no trabalho da limpeza do casco do navio.
Jimin seguiu até a tenda que ficava a cozinha improvisada, para fazer seu
desjejum. Ele entrou e viu Seokjin ainda sentado em uma cadeira.
— Bom dia — disse o médico, pegando um prato e o entregando ao
Ômega. — Guardei um pouco para você.
— Obrigado.
Enquanto comiam, Seokjin notou o novo item que ele estava usando em
seu pescoço.
— Que lindo — Afirmou apontando para o colar.
— Foi o Capitão Jeon que me deu. Ele mesmo o fez — Jimin informou,
mordendo o lábio com um sorriso.
— Vejo que gostou bastante.
— Foi muito gentil da parte dele.
Seokjin o estudou mas não disse mais nada, deixando o Ômega comer
tranquilamente. Ao terminar, Jimin chamou o mais velho para uma nova
conversa:
— Jin, há algo que está me preocupando muito. Então eu pensei que você
pudesse me ajudar.
— Sim, pode dizer. O que eu puder fazer para ajudar, eu farei.
Jimin assentiu, suspirando aliviado.
— Bom, como você sabe eu nunca me entreguei à um Alfa... — Ele se
referia à conotação sexual. — Meu primeiro heat foi aos quatorze anos e
desde então eu venho tomando um chá para que eu não sinta nada durante
esse período... Hoseok me contou como os Alfas da tripulação passam seus
ruts e eu não quero ficar trancado no porão.
— Entendo. Qual chá você costuma tomar?
— É o chá de uma flor de nome nenúfar.
— Creio que não temos dela conosco — Seokjin afirmou pensativo. —
Mas estamos em Nabuco, com certeza no centro do comércio deve ter. Vou
pedir ao Tae que leve você para comprar algumas.
— Mas e o Capitão?
— Não se preocupe, vamos falar com ele.
— Eu nem sei como te agradecer.
— Não precisa agradecer. Eu sou o médico da tripulação e minha função
é cuidar das pessoas — Ele segurou na mão do mais novo. — E é claro,
faço muito gosto em ajudá-lo.
Jimin sorriu agradecido e o seguiu na procura pelo navegador. Assim que
encontraram Taehyung, eles foram ter com o Capitão, que, neste momento,
conversava com alguns piratas sobre o plano para obter o fragmento.
— Jungkook — Seokjin o chamou um pouco mais afastado, com Jimin e
Taehyung ao seu lado. — poderia vir aqui um instante?
O Capitão assentiu e se aproximou deles.
— O que quer?
— Jimin precisa ir ao centro da cidade comprar algumas coisas, eu pedi
para que Taehyung o acompanhe.
— Do que ele precisa? Posso ordenar que alguém da tripulação faça isso.
— Não é bem assim... é um assunto particular. Coisa de Ômegas...
O Capitão estudou Jimin, que mantinha o olhar baixo, envergonhado. Ele
suspirou assentindo, não queria se aprofundar naquele conversa já
imaginando o que poderia ser.
— Tudo bem — Jeon girou para os piratas logo atrás deles — Hoseok e
Yoongi, acompanhem eles até a cidade.
Os dois assentiram e se juntaram à Taehyung e Jimin, onde partiram para
as compras no comércio local.
— Belo colar — Seokjin afirmou e seu irmão o olhou surpreso. — Não
sabia que tinha esse dom para joalheria.
— Junbuu está com dor nas costas — Jeon mudou de assunto — Por que
não vai dar uma olhada nisso?
— Meu irmãozinho está ficando com o coração mole... — Seokjin
piscou, vendo o outro revirar os olhos.
Jungkook resmungou algo e logo em seguida saiu irritado, voltando a
reunir-se com Namjoon e outros bucaneiros.

Jimin caminhava um pouco mais na frente, observando todas as
barraquinhas de uma feira no centro da praça comercial de Nabuco.
Taehyung seguia logo atrás, com ambos os Alfas ao seu lado.
— Eu comprei para você — Hoseok abriu a palma e mostrou ao
navegador uma bússola dourada.
— Uau! — Taehyung a pegou e observou o objeto, com os olhos cheios
de encanto. — Obrigado, Hoseok!
— Tae — Yoongi chamou sua atenção: — Hoje a noite depois do jantar,
você gostaria de tomar um pouco de tequila comigo? Você poderia me
ensinar como navegar observando as estrelas.
— Com certeza! — Taehyung respondeu de imediato.
Hoseok fitou o outro Alfa com um olhar irritado. Ambos trocavam
olhares ameaçadores ao passo que tentavam chamar a atenção do
navegador. Distraídos, eles não notaram quando Jimin acabou se afastando
um pouco mais e rapidamente, já o haviam perdido de vista.
— Cadê o Jimin? — Taehyung questionou cessando seus passos.
— Merda! — Hoseok rosnou e acusou o espadachim: — A culpa é sua
que fica nos distraindo com essa conversa idiota sobre estrelas.
— Você que fica babando feito um cachorrinho olhando para o Tae, em
vez de prestar atenção no Ômega!
— Parem os dois! — Taehyung deliberou. — Vamos nos separar e
procurar. Se voltarmos para o acampamento sem ele, o Capitão vai fazer
picadinho de nós três.
Os Alfas concordaram e cada um seguiu por um caminho diferente.
Jimin estava tão distraído com tantas flores, frutas, ervas, legumes e
outras diversidades, que saiu caminhando na frente e se afastou demais dos
outros sem a intenção. A certa distância, ele pôde ver alguns oficiais da
Marinha Real entrando em uma taberna. Claro que eles ainda não faziam
ideia sobre o seu sequestro, mas se o vissem desacompanhado, sem dúvida
iriam querer saber o que o filho do governador fazia sozinho por Nabuco.
Jimin estava realizando a compra das flores em uma barraca, com as
moedas que recebeu de Seokjin. A vendedora muito gentil lhe entregou
uma cestinha com as flores e sem pensar duas vezes, ele tentou se misturar
entre os muitos transeuntes, para que sua presença não fosse notada pelos
oficiais. Ele entrou em uma viela entre dois prédios e encostou-se na parede
respirando profundamente.
Jimin parou para pensar e ficou sem entender por que estava se
escondendo dos oficiais. Essa era a sua chance de buscar ajuda e finalmente
ser levado para casa. Com certeza eles o levariam para o governador são e
salvo, não havia motivos para temer. Mas então por que suas pernas não
acompanharam o mesmo raciocínio lógico e ele permaneceu alí parado?
Jimin não queria pensar nisso, mas seu coração já tinha a resposta. Ele
nunca concordou com o que a sociedade estipulou aos Ômegas. Sempre
fingiu muito bem ser um Ômega submisso como seu pai ensinou, como a
maioria das pessoas esperam.
Naquela época, casamentos arranjados estavam em seu apogeu. Os
nobres buscavam as melhores famílias para casarem seus filhos Ômegas
com Alfas respeitados e de posição elevada na sociedade. Assim como os
Alfas que procuravam o melhor acordo econômico e um belo Ômega para
garantir seus descendentes.
Do mesmo modo se deu com a família Park. Mas Jimin nunca quis se
casar com o Comodoro Choi. Aceitou o noivado por ser um Ômega
recatado e obediente. Ele, escondeu durante toda a vida sua verdadeira
natureza astuta e sagaz. Sua família e a sociedade pareciam não querer
saber mas Jimin tinha suas próprias vontades.
Embora estivesse sob a custódia do Capitão Jeon, ele se sentia mais livre
conhecendo um novo mundo na companhia dos piratas, do que jamais foi
na Coréia, preso entre aulas de como ser um bom Ômega.
“Estou ficando louco” — Jimin pensou consigo mesmo.
Estudou o lado em que os oficiais haviam passado, mas não os viu.
Quando julgou ser seguro sair de seu esconderijo, Jimin seguiu na direção
contrária. Quase derrubou a cestinha de flores quando sentiu uma mão
segurar seu braço.
— Por onde esteve? — Era Hoseok. O Alfa parecia bravo e aliviado ao
mesmo tempo.
— Comprando flores — Jimin respondeu levantando a cesta e o pirata
assentiu, soltando seu braço.
— Não se afaste novamente. Vamos encontrar os outros e voltar para o
acampamento.
Jimin o seguiu sempre olhando para trás, preocupado se tinha sido notado
pelos oficiais. Como não viu nenhuma movimentação diferente, ele julgou
que realmente havia passado despercebido.
Continua...
[11] Fenn Barba-Ruiva

Reescrito

No momento em que chegaram no acampamento, Hoseok, Taehyung e
Yoongi juntaram-se aos demais bucaneiros na organização para o encontro
com o Fenn, enquanto Jimin rumou sozinho para a tenda do Capitão. Eles
entregariam dois baús cheios de moedas de prata, na intenção de distrair o
ex pirata, a fim de roubar o fragmento do Imperium que desconfiam estar
em seu poder.
É certo que a tripulação do Black Swan poderia simplesmente invadir a
fortaleza e tomar o pergaminho na base da brutalidade. Eles poderiam pelo
menos tentar. Mas não seria uma boa ideia. Havia muito em jogo no caso de
atacar abertamente, o Alfa que gerencia todo o comércio ilegal e que
favorece centenas de piratas. Barba-Ruiva tinha a força de seus piratas o
protegendo, assim como outras tripulações que lhe serviam. Não por
lealdade, mas pelo interesse de receber uma parte maior nos lucros obtidos
com o contrabando. E querendo ou não, Barba-Ruiva fez a Ilha de Nabuco
ser o que é hoje.
Jimin entrou na tenda que estava dividindo com o Capitão. Jeon se
preparava em particular, verificando se as suas duas pistolas possuíam
pólvora e chumbo o suficiente. Além das suas adagas e o punhal que Jimin
havia encontrado no navio.
— Encontrou o que estava procurando? — Jungkook perguntou,
terminando de abotoar sua camisa.
— Sim — Jimin colocou a cestinha em cima da mesa à vista do pirata e
se sentou na cama, sentindo-se ansioso.
— Flores? — Jeon olhou para o Ômega, e este balançou a cabeça
positivamente, à respeito da sua pergunta. Ele notou seu comportamento
inquieto, mas não comentou. — Deixarei Sully, Gary, Dominick e Bill Lee
de guarda.
Jimin suspirou irritado.
— Eu ví oficiais da Marinha Real no centro da cidade — O Ômega
afirmou com a cabeça erguida.
Se o Capitão ainda não confiava nele, então Jimin o faria ver o quanto
estava sendo ridículo.
— E por que voltou? — Jeon estava estranhamente calmo.
— Porque ao contrário do que você pensa, eu tenho palavra — Jimin se
levantou e ficou próximo ao pirata. — Eu te fiz uma promessa. Disse que
não tentaria fugir, e não o fiz — Ele suspirou decepcionado, voltando a
sentar na cama. — Talvez devesse ter fugido, assim você ficaria satisfeito
por estar certo.
Jungkook possuía seu semblante despreocupado. Ele se aproximou do
Ômega que mantinha a cabeça baixa, colocou os dedos em seu queixo e
ergueu seu rosto com delicadeza.
— São corsários — Jeon afirmou e o garoto franziu o cenho. — Eles
saqueiam, matam, sequestram, estupram... São como piratas, Jimin. Mas
diferente de nós, eles estão protegidos sob a lei, porque fazem isso à mando
de alguém muito maior.
— Está dizendo que eles podem fazer o que querem e não serão
julgados?
— Se estiverem à mando de alguém, sim — Jeon fez uma pausa
observando as feições do mais jovem. Jimin parecia estar realmente por
fora de como funcionava as leis de seu próprio mundo. — Como reis e
governadores.
Jimin curvou as sobrancelhas, com uma expressão irritada pela ofensa
que tomou sendo dirigida diretamente ao seu pai.
— Por acaso está insinuando que o meu pai pode ter participação nisso?
— Não estou insinuando nada — O Capitão afirmou calmo e adicionou:
— Estou afirmando.
Jimin se levantou repentinamente, fazendo o Alfa dar um passo para trás.
Choque desenhava sua expressão quando apontou um dedo no rosto do
Capitão.
— O meu pai é um Alfa honrado! Nunca mais repita esse tipo de coisa.
Jungkook ficou pasmo com a reação dele. Nenhum de seus Alfas teria
coragem de falar com ele desta maneira. Se fosse qualquer outra pessoa,
Jeon quebraria seu dedo por tamanha insolência. Novamente, ele sentiu-se
confuso e girou dando as costas para o Ômega.
— Não ordenei que ficassem aqui para impedi-lo de fugir — O Capitão
admitiu, caminhando até a entrada da tenda. — Ficarão para protegê-lo.
Sem esperar a resposta do Ômega, ele saiu ao encontro dos outros
bucaneiros, a fim de colocar o plano para roubar o possível fragmento em
prática. Mesmo que ele tivesse ficado, Jimin não teria uma resposta pronta
para aquilo. O Capitão Jeon realmente o surpreendia de todas as formas.

A tripulação seguiu por um caminho alternativo, querendo evitar chamar
atenção dos demais habitantes e comerciantes pelas ruas. A trilha entre os
enormes rochedos era sinuosa e escura. Haviam também muitas árvores e
vegetação crescida, impedindo que a luz do luar iluminasse o caminho. Os
piratas só puderam enxergar o que havia em sua frente, devido as inúmeras
tochas que levaram justamente por causa da escuridão que acercava naquela
época do ano.
Ao chegarem diante da enorme porta dupla que dava passagem à
Fortaleza, eles estranharam o fato de que não havia um pirata sequer,
cuidando da aproximação de algum intruso. Só o que ouviram foram gritos
de horror vindos do lado de dentro e também as vozes de inúmeros homens
e mulheres, eufóricos com algum espetáculo medonho que acontecia no
interior do Forte.
À mando do Capitão Jeon, um dos piratas seguiu até a porta e bateu forte
na madeira. Um farfalhar em um arbusto foi ouvido por Jungkook e
automaticamente, ele sacou uma de suas pistolas, apontando na direção do
barulho.
Jimin se levantou de imediato, com os braços erguidos.
— Oi. — O Ômega sorriu amarelo.
O Capitão respirou fundo guardando a sua arma. Ele se aproximou do
menino e o puxou pelo cotovelo.
— O que pensa que está fazendo aqui? — Jeon perguntou tentando ser
paciente.
— Como você iria saber qual fragmento é o verdadeiro se não consegue
enxergar o que tem escrito? — Jimin perguntou, astuto.
Jungkook não o queria naquela investida por motivos óbvios, mas ele
teve que reconhecer que Jimin estava certo. Ele soltou o cotovelo do garoto
e o fitou com seriedade.
— Certo — Jeon retirou o próprio punhal do seu cinto e o colocou no de
Jimin, escondendo-o com o tecido da camisa. — Fique perto de mim. Não
fale com ninguém, muito menos olhe para alguém. Faça apenas o que eu
mandar. Você entendeu?
— Posso respirar pelo menos?
— Jimin, você me entendeu? — Jeon perguntou novamente, com menos
paciência dessa vez. O garoto apenas assentiu.
Finalmente uma das portas foi aberta e um Alfa barbudo e com tranças
no cabelo apareceu. Seus olhos seguiram dos baús para a tripulação.
— O que querem?
— Fizemos um grande saque próximo à costa coreana — Namjoon
articulou. — Viemos oferecer um tributo.
— Você aparece com toda uma tripulação em nossa porta e espera que o
Capitão Fenn os deixe entrar? — O Alfa sorriu exibindo seus dentes
amarelados e a falta de alguns deles. — É mais burro do que imaginei.
— Diga à ele que Jeon Jungkook está aqui.
O Alfa que estava na porta murchou o sorriso e engoliu em seco ao ver o
dono daquela voz, um pouco mais atrás entre os outros Alfas e Betas. Ele
não conseguiu ver o Ômega, já que Jimin estava atrás de Jeon.
— Desculpe senhor — O homem abriu a porta com a cabeça baixa. —
Eu não sabia que se tratava da tripulação do Black Swan. Podem entrar, se
houver algo que eu possa fazer para-...
Jungkook entrou no Forte junto a sua tripulação, sem se incomodar em
ouvir o que aquele infeliz estava falando. Jimin fez como o Capitão havia
lhe dito e não saiu de perto dele, principalmente quando adentravam mais a
fundo e ele pôde ver a quantidade de Alfas mal encarados que circulavam
por ali.
Logo, eles puderam identificar o motivo de toda a gritaria ouvida do lado
de fora. No centro da Fortaleza, haviam vários Alfas e Betas,
ridicularizando um homem cujo corpo estava erguido e crucificado no
centro do lugar. Ele estava todo machucado, com uma fratura exposta
horrível em seu braço esquerdo, diversas lacerações pelo corpo e também
queimaduras nos pés.
Jimin, que estava colado às costas do Capitão, observou aquela cena com
grande choque em seus olhos. Sentiu imenso medo e pavor, seu coração
começou a bater descompassado e tão alto, que o próprio Jeon podia ouvir.
Jungkook encontrou a mãozinha do Ômega e a segurou com firmeza.
— Capitão Jeon Jungkook — Todos ouviram a voz estridente de um Alfa
mais velho, corpulento e de aparência assustadora. Ele tinha uma longa e
grossa barba cor de cobre, seus cabelos chegavam até os olhos e se
emaranhavam lateralmente junto a barba. — A que devo a honra da sua
ilustre visita?
— Barba-Ruiva — Jungkook deu um passo à frente, sem largar a mão de
Jimin. — Trouxemos tributos de um grande saque feito há algumas
semanas.
— Eu estou muito surpreso com este ato, mas satisfeito que finalmente
tenha reconhecido a minha soberania. Prata é algo de muito valor — Com
um gesto de cabeça, Fenn passou uma ordem silenciosa e seus Alfas logo
assentiram, recolhendo os baús cheios de prata. Sorriu quando viu um par
de olhos azuis espiá-lo detrás do Capitão Jeon. — Vejo que carrega algo
ainda mais valioso consigo.
Fenn se aproximou ignorando o olhar ameaçador do Capitão Jeon na sua
direção, atento a qualquer coisa que pretendesse fazer. Barba-Ruiva ergueu
a mão na direção do rosto do Ômega, mas Jeon o deteve:
— Não o toque.
Barba-Ruiva hesitou a poucos centímetros da bochecha de Jimin, mas
então abaixou a mão. Ele deu dois passos para trás.
— Eu o quero.
— Não — Jeon rosnou. Fenn curvou as sobrancelhas. — Ele é meu.
Barba-Ruiva soltou uma enorme gargalhada, tão alta e sombria que quase
abalou as estruturas da Fortaleza.
— Quando eu me tornei o que sou, você ainda mijava nas calças, garoto
— A tripulação de Fenn riu e ele caminhou até chegar próximo da cruz
onde o outro Alfa agonizava. — Isto é o que acontece com quem ousa
desobedecer minhas ordens — Jimin sentiu uma terrível sensação se
apoderar do seu corpo. Seu coração mais parecia que iria saltar pela boca,
apenas com o fato de imaginar Jungkook no lugar daquele Alfa. O Capitão
Fenn girou a cabeça encarando Jeon: — Entregue-me o Ômega.
Jungkook estava pronto para negá-lo outra vez, mas Jimin foi mais
rápido e soltou-se de sua mão, dando alguns passos na direção do Fenn.
— Na verdade, sr. Barba-Ruiva... — Jimin podia sentir o olhar de
Jungkook queimando de raiva logo atrás dele. — Eu sempre quis conhecer
um Forte. O senhor faria a bondade de me mostrar?
Fenn sorriu ardiloso. Ele se colocou diante do Ômega e como se fosse
um cavalheiro, ofereceu sua mão para que Jimin segurasse.
— Oh — Fenn exprimiu, enfeitiçado com a beleza do Ômega. — Eu terei
enorme prazer em mostrá-lo.
Jimin apoiou a sua mão, na enorme palma do Fenn. Com isto, Jeon sacou
sua pistola e apontou na cabeça do Barba-Ruiva, mas no mesmo instante,
centenas de armas e espadas foram empunhadas em sua direção.
Desesperado, Jimin olhou para o Capitão e negou, sibilando com os lábios
para que ele não fizesse nada. Assim como os piratas do Black Swan.
— E então, o que vai fazer Capitão Jeon? — O Barba-Ruiva questionou.
— Capitão — Jeon ouviu a voz de seu contramestre e levou os olhos até
ele.
Cautelosamente, Namjoon inclinou a cabeça para o lado e Jeon viu que
escondido na escuridão e sem que ninguém o notasse, estava o mais temido
espadachim da época. O ex caçador de piratas, Min Yoongi, observando a
tudo sem expor sua presença.
Jungkook suspirou e abaixou sua pistola. Mesmo sabendo o perigo que
Jimin estava correndo, ele confiava nas habilidades do espadachim. Sabia
que conseguiria tirá-lo da Fortaleza e levá-lo de volta a tripulação.
— Caolho — Barba-Ruiva rosnou e uma criatura pequena surgiu entre os
Alfas. Ele era um Beta e usava um tampão em um de seus olhos: —
Acompanhe o Capitão Jeon e sua tripulação para fora da Fortaleza.
Barba-Ruiva girou com o Ômega e o levou para as dependências do
Forte. Jungkook assistia a cena enquanto segurava-se para não enfiar um
disparo no centro da cabeça do Fenn.
Caolho começou a pular e rir feito uma hiena. Mesmo diante a olhares
ameaçadores dos piratas do Black Swan, ele seguiu trotando estranhamente
animado e seguindo a ordem de seu Capitão.
Continua...
[12] O Segundo Fragmento

Reescrito

Assim como Jimin imaginou, Barba-Ruiva não lhe mostrou nenhuma
parte do interior da Fortaleza, que não fosse o caminho até seu cômodo
particular. Seguindo através de corredores pouco iluminados, ele tentou
memorizar com precisão as direções tomadas pelo Alfa:
Vinte passos ao norte até entrarem em uma grande construção, próxima
de uma torre com diversas avarias causadas por canhões. Logo na entrada
subiram uma escadaria. Na bifurcação viraram a esquerda. Depois direita e
esquerda novamente, até encontrarem outras escadas. Quando chegaram ao
que parecia ser o último andar, seguiram por um longo corredor até a última
porta.
— Pensei que ia me mostrar o Forte, Capitão. — O Ômega comentou,
dando passos para dentro do quarto.
O cômodo era espaçoso e iluminado por um candelabro que estava
disposto no centro de uma mesa, entre garrafas vazias e vários papéis
espalhados, alguns castiçais nas duas mesas de cabeceira ao lado de uma
enorme cama, e em cima da cômoda, onde também havia uma pequena arca
de madeira, com jóias e alguns objetos de ouro incrustados com pedras
preciosas. Cortinas leves em tons de areia adornavam algumas portas que
estavam trancadas, e que davam acesso a uma varanda.
Ainda parado próximo a porta e obstruindo a passagem, o velho pirata já
havia retirado seu casaco, abriu alguns botões da camisa encardida e agora,
desfazia-se de seu cinto, enquanto o Ômega circulava pelo quarto.
Jimin observou nas paredes algumas pinturas contando a história daquele
Forte. Seguindo uma por uma, ele atentou-se a um quadro na parede atrás
da cama, com um pedaço de papel emoldurado. Era um dos fragmentos do
mapa, o Ômega podia ver com clareza as runas brilhando em tons
prateados.
O ruído de uma corrente próximo às estantes e alguns baús logo chamou
a atenção de Jimin, ele ficou horrorizado ao ver uma dúzia de Ômegas,
machos e fêmeas, acorrentados ao chão no canto do quarto.
Tentando pensar em um plano rápido para escapar das garras do Fenn, ele
virou-se para encará-lo e quando mal fez isso, recebeu um forte golpe no
rosto com as costas das mãos de pirata ruivo. Jimin caiu no chão
ligeiramente desorientado, sentindo uma forte dor em seu couro cabeludo
quando Barba-Ruiva agarrou seu cabelo e o arrastou, jogando-o na cama.
— Tenho uma ideia muito melhor! — O pirata sorriu, com seus grandes
olhos que transbordavam insanidade.
Ao passo que Jimin se recuperava da leve tontura, sua visão foi clareando
aos poucos e focando no Alfa logo acima dele, que ávido por possuí-lo
tentava despir suas vestes. Barba-Ruiva rasgou uma parte de sua roupa na
altura da clavícula e Jimin tentou segurar a ânsia de vômito quando sentiu o
pirata explorar seu corpo, e aquela barba e cabelo arranhando sua pele.
Jimin não tentou lutar contra, até porque seria um gasto inútil de sua
preciosa energia, já que sua força não se comparava à de um Alfa enorme
como Barba-Ruiva. Com certa dificuldade, ele conseguiu levar a mão até o
punhal posto por Jungkook e com um gesto totalmente instintivo, ele enfiou
a lâmina na lateral do pescoço do Fenn.
O pirata caiu em cima do corpo de Jimin, quase sufocando-o, mas livrou-
se da agonia quando o pirata deslizou para o lado. Barba-Ruiva levou a mão
ao pescoço e puxou a arma atirando-a para o chão, tentando controlar a
perda do sangue pressionando a mão no pescoço. Jimin se assustou quando
viu a quantidade de sangue que tinha nele e em cima do colchão. O Alfa
fazia barulhos horripilantes, se engasgando com o próprio sangue.
Jimin sobressaltou o corpo quando um Alfa entrou no quarto. Yoongi
olhou para o corpo de Barba-Ruiva enquanto via sua vida se esvaindo. Ele
olhou para o Ômega e depois para o pirata novamente, que continuava
lutando para sobreviver.
— E-eu matei um Alfa... — Jimin gaguejou com a voz trêmula e os olhos
bem abertos — Eu vou ser condenado à forca. E-eu o matei...
Yoongi agarrou o punhal no chão e se voltou para o Ômega que
permanecia em uma espécie de choque, murmurando coisas como “eu o
matei”.
— Ele ainda está vivo. — Yoongi o informou, apontando para Barba-
Ruiva que movia sua boca tentando chamar seus Alfas, mas tudo o que
conseguia articular eram murmúrios inaudíveis.
— Mas ele vai morrer e a culpa será minha. Eu que-... — Antes que
Jimin pudesse terminar, ele viu Yoongi cravar sua katana exatamente no
coração do Fenn.
Yoongi repetiu o mesmo processo pelo menos três vezes, com gestos
rápidos, até o corpo de Barba-Ruiva ficar imóvel em cima da cama.
— Pronto. Eu, o matei. — Ele agarrou o braço de Jimin e o puxou da
cama. Mas ficou surpreso quando o menino fez força contrária e escapou do
seu aperto.
— É uma parte do mapa — Jimin apontou para o papel emoldurado. —
Um fragmento do Imperium.
O Alfa subiu na cama e com um soco forte quebrou o vidro que protegia
o papel, pegou o fragmento e o guardou em seu bolso. Ele desceu
novamente com um rápido pulo, e franziu o cenho quando Jimin puxou seu
braço e apontou para os demais Ômegas presos por correntes.
— Não podemos deixá-los aqui. — Jimin apontou para os demais
Ômegas presos por correntes.
— Não dá tempo, precisamos ir agora! — Yoongi agarrou o braço de
Jimin novamente e o Ômega tentou lutar contra — Oh, merda!
Com um gesto rápido ele ergueu o corpo de Jimin e o jogou em seu
ombro, saindo apressadamente do quarto e ignorando os protestos do
garoto. Eles encontraram três Alfas pelo longo corredor. Os piratas logo
tentaram atacá-los mas Yoongi, que ainda empunhava sua katana, decepou a
cabeça do primeiro, se abaixou para desviar de um golpe e ao mesmo tempo
passou a lâmina de sua katana abrindo a barriga do segundo adversário.
Quando o terceiro surgiu na sua frente, teve o coração transpassado pela
lâmina do espadachim.
Jimin se agarrou a ele e manteve os olhos fechados durante a luta. Yoongi
continuou seguindo e desceu pelas escadas. Eles ouviram passos e outros
inimigos se aproximando, mas o Alfa não passou pelo mesmo caminho que
o Jimin havia feito na companhia de Barba-Ruiva.
— Ponha-me no chão! — Jimin exigiu.
Ao chegarem em uma janela, Yoongi o desceu do ombro mas apenas para
abraçar seu corpo firmemente pela cintura e pular da janela segurando uma
corda. Automaticamente, Jimin se agarrou no pescoço dele e fechou os
olhos durante o tempo em que ficaram no ar, até seus pés encontrarem o
chão firme.
Antes que pudesse se recuperar do breve passeio, Yoongi segurou em seu
pulso e o puxou levando-o consigo. Guiado pela adrenalina, Jimin apenas o
seguiu enquanto corriam escondidos na escuridão da noite. Passaram por
uma abertura que provavelmente pertencia à um dos diversos canhões que
protegiam o Forte e seguiram embrenhados entre as rochas e arvoredos.

— Acalme-se Capitão — Namjoon tentava impedi-lo de iniciar um
ataque suicida ao Forte. — Não podemos fazer isso agora. Você viu, há
muitas tripulações lá dentro.
— Dane-se! — Jeon rugiu. — Ele levou o meu Ômega diante dos meus
olhos!
Meu.
Os membros da tripulação se entreolharam, mas não tiveram coragem de
falar coisa alguma.
Neste ínterim, Seokjin os encontrou quase totalmente sem fôlego, a
mecânica estava com ele e igualmente cansada. Suas mãos estavam sujas de
sangue mas ele não parecia estar ferido.
— Aconteceu uma coisa no acampamento, vocês precisam ver! — O
médico informou e a tripulação o seguiu pelo mesmo caminho em que
vieram. Jungkook se viu obrigado a fazer o mesmo.
Assim que chegaram na praia, todas as tendas estavam destruídas e havia
sinal de luta por todo lugar. Os corpos de Sully, Gary, Dominick e Bill Lee,
estavam sem vida e espalhados pelo chão. Tomado por uma postura
enfurecida, o Capitão Jeon virou-se para voltar ao Forte mas foi impedido
pelo irmão, que se colocou na frente dele.
— Não faz isso. Eles estão com o Jimin. Você sabe o que aquele louco
pode fazer com ele se tentar fazer essa loucura que estou pensando.
— Eu nunca deveria ter permitido que ele ficasse naquele lugar! —
Jungkook rosnou frustrado e irritado.
— Para começo de conversa, aquele Ômega nunca deveria ter deixado o
porão de carga — Namjoon articulou. — Ele está nos causando muitos
problemas. E se o Yoongi não conseguir tirá-lo de lá? Vamos perder o
tradutor e nunca vamos conseguir encontrar outro assim tão facilmente.
Seokjin o fitou indignado e disse:
— Com licença, mas o problema não é este. Mesmo que Jimin não fosse
um Ômega lúpus, não iríamos deixá-lo entregue às torturas daquele lugar.
— É claro que não — O contramestre riu zombeteiro. — O Capitão já
está caído de quatro pelo Ômega. Olhe pelas decisões que ele está tomando.
Onde já se viu, deixá-lo passear por Nabuco para comprar flores!
Os olhos de Jeon tornaram-se mais escuros do que a própria noite. Ele
girou na direção do contramestre, parando a poucos centímetros dele.
— Se está insatisfeito com as coisas, Namjoon, tome-me a capitania. —
Jeon disse calmo, porém, as suas palavras saíram com frieza.
O contramestre engoliu em seco desviando o olhar para o chão, antes de
responder:
— Sabe que eu nunca faria isso, Capitão. Eu o acompanho há sete longos
anos. Sou leal à você.
— Então não abra sua boca pra falar merda — Jungkook girou para
perguntar a tripulação: — Mais alguém está insatisfeito com a minha
liderança e queira tomá-la de mim?
Nenhum pirata teve a coragem de se manifestar. Mesmo que até certo
ponto eles estivessem concordando com o contramestre. O Capitão Jeon
realmente estava ficando mais amolecido. Em outros tempos, ele manteria o
Ômega preso e não iria admitir qualquer ato de insubordinação de sua parte.
Mas Jimin parecia fazer o que quer e quando queria, e isso era algo novo
para eles.
— Preparem seus corpos. — Jeon finalmente ordenou se referindo aos
mortos e caminhou para o que sobrou de sua tenda.
Ele parou na metade do caminho quando ouviu a timoneira falar:
— São eles!
O Capitão virou-se para olhar na direção apontada por Chaerin e suspirou
com grande alívio quando viu Yoongi trazendo Jimin consigo. Ele não
esperou que ambos se aproximassem e seguiu a passos rápidos em sua
direção. Seus olhos desceram pelo corpo de Jimin e ele curvou as
sobrancelhas quando viu parte das vestes dele rasgadas, e a parte superior
do corpo quase todo coberto por sangue.
— Não é dele — Yoongi afirmou ao ver a preocupação no olhar do
Capitão. — Barba-Ruiva está morto.
Jeon olhou confuso para o espadachim e depois para Jimin. O Ômega
estava com os olhos arregalados e as pupilas dilatadas. Ele respirava
ofegante e parecia estar com os pensamentos em outro lugar.
— Céus! — ouviram a voz de Seokjin quando ele se aproximou, e
segurou a mão de Jimin. Ele tentou levá-lo consigo mas encontrou
dificuldades. Jungkook estava segurando os ombros do menor, enquanto
passava os olhos pelo seu corpo em busca de algum ferimento — Capitão?
— Chamou pela primeira vez mas foi ignorado. Seokjin insistiu: —
Jungkook?
— Sim?
— Deixe-o ir, preciso examiná-lo para ter certeza se está bem. — Com
cuidado, Jeon retirou as mãos do ombros do Ômega, deixando que Seokjin
o levasse consigo.
— Que merda foi que aconteceu? — o Capitão se voltou ao Alfa
espadachim.
— Encontrei o Barba-Ruiva jogado na cama, sangrando através de um
ferimento no pescoço — Ele levou a mão até a área citada e mostrou. —
Jimin o acertou bem aqui. Com o seu punhal. — Acrescentou, entregando a
arma ao verdadeiro dono.
— Ele conseguiu golpear o Barba-Ruiva? — Namjoon questionou
surpreso. — Um Alfa quase duas vezes maior que ele?
Yoongi assentiu.
— Ele é perigoso, estou lhes falando... — Namjoon tentou insistir mas se
calou ao ver o olhar que Jeon o lançou. Ele suspirou derrotado e saiu em
busca do que fazer.
— Levem o Black Swan à água. Vamos zarpar imediatamente.
— Agora? — Sven perguntou.
— Não. Vamos esperar que toda as tripulações comandadas pelo Barba-
Ruiva descubram que o infeliz foi assassinado e venham aqui nos dizimar.
— Sven engoliu em seco diante do sarcasmo vindo do Capitão.
Ele e os demais bucaneiros se juntaram a árdua tarefa de levar o navio de
volta às águas.
Continua...
[13] Triângulo da Morte

Reescrito

Algumas horas depois de zarpar da Ilha de Nabuco, o Black Swan seguia
seu curso a lenta velocidade. A tripulação seguia em direção à um novo
possível local onde o terceiro fragmento do Imperium se encontrava. Pelo
menos assim era como Hoseok havia dito.
Todos estavam cansados devido aos fatos ocorridos na Ilha. Junbuu levou
Taehyung consigo para abastecer o navio enquanto a tripulação estava no
Forte de Barba-Ruiva, e enquanto isso, os demais bucaneiros levaram um
longo tempo até conseguirem levar o navio ao mar, logo mereciam um
descanso.
Após o funeral dos quatro bravos piratas que perderam suas vidas em
represália do Barba-Ruiva, sendo seus corpos lançados ao mar, alguns
preferiram dormir e descansar e outros permaneceram no convés inferior,
bebendo e conversando.
Seokjin ajudou o Ômega a limpar o sangue de Barba-Ruiba que estava
em seu corpo, e depois disso não queria deixá-lo sozinho, Jimin estava bem
fisicamente, mas seu emocional estava abalado pelas mortes violentas que
presenciou. Um pouco mais tarde ele se recolheu na cabine do Capitão e
sem pensar em mais nada, deitou na cama dele.
Jeon decidiu descansar um pouco depois e assim que entrou na cabine,
viu o Ômega deitado em sua cama. Nunca havia dito que ele poderia ficar
alí, o pequeno colchão ao qual foi destinado à ele, ainda estava no cantinho
do quarto. Jimin estava de costas, mas ele sabia que o Ômega não estava
dormindo, podia ouvir seus fungados e soluços baixos. Jeon não sabia o que
dizer, nunca teve que consolar alguém antes, então optou por deixá-lo
quieto na dele, guardou suas armas, tirou suas roupas pesadas e subiu na
cama, deitando na ponta de costas para o Ômega.
O Capitão fechou os olhos tentando ignorar os ruídos baixos do outro,
mas falhou miseravelmente. Não pelo barulhinho que Jimin fazia, mas
aquilo estava lhe incomodando de um outro jeito. Era quase como uma
tortura ouvi-lo chorar.
— Pare de chorar e durma. — Jeon disse sem jeito, mas com uma voz
suave.
— Não consigo. — Jimin respondeu baixinho.
— Não foi culpa sua. Ele atacou você. Estava apenas se defendendo.
Ambos estavam conversando ainda de costas um para o outro. Jimin
ficou um tempo sem responder, e então confessou em um sussurro:
— Eu estou com medo.
— Do que você tem medo? — Jungkook virou o corpo e ficou de frente
para ele.
— Sempre que eu fecho os olhos eu vejo Barba-Ruiva em cima de mim,
e todo aquele sangue... — Jimin fez uma pausa. O choro intensificou e os
soluços ficaram mais altos. — Eles virão atrás de mim e vão fazer comigo o
mesmo que fizeram com aquele pirata que estava na cruz...
A voz de Jimin falhou e ele parou de falar, dando lugar ao choro
intensivo. O Capitão então fez algo que nunca imaginava que faria, nem em
uma centena de anos. Ele se aproximou um pouco mais do corpo do Ômega
e o abraçou, encaixando seu corpo no dele. Jimin se assustou com o ato
repentino e deixou o corpo rígido. Os olhos arregalados e seu coração
acelerou, mas ele não tentou se afastar, e se acalmou a medida que
Jungkook sussurrava na altura de seu ouvido:
— Está seguro comigo, Jimin. Não vou deixar ninguém machucar você
— Conforme ia sentindo o cheiro suave de rosas que exalava do Capitão,
ele relaxou o corpo e parou de chorar, passando a respirar mais calmamente.
— Feche os olhos.
Jimin sentiu suas pálpebras pesarem, ele estava com sono mas não estava
conseguindo dormir. Assim que fechou os olhos, ele se aninhou um pouco
mais dentro do abraço do Alfa, e o calor que sentia de seu corpo assim
como seu cheiro, o deram uma sensação de estar protegido. O Ômega
conseguiu adormecer quando finalmente sentiu que estava no lugar mais
seguro do mundo; entre os braços do Capitão Jeon.

Quando abriu os olhos na manhã seguinte, Jimin teve o pensamento de
que o Alfa já havia se levantado para dar início as suas obrigações daquele
dia. Mas ele sentiu um peso na lateral do seu corpo e notou que se tratava
do braço do Capitão, que ainda permanecia abraçado à ele na mesma
posição que ficaram na noite anterior. Jimmy sorriu suspirando e continuou
onde estava. O abraço do Capitão era quente e seu aroma natural de rosas o
deixava sereno. Era bom estar alí.
Por um breve momento desejou não sair daquela cama nunca mais, mas a
vida ainda continuava lá fora e logo um pirata bateu na porta para saber
quais seriam as ordens de seu Capitão. Jeon acordou e abriu os olhos. O
Ômega fingiu que ainda estava dormindo, enquanto ele se levantava com
cuidado para não acordá-lo.
— O vento está forte, Capitão. — Taehyung o recebeu informando sobre
as boas condições do tempo.
Todos estavam ansiosos por estarem em posse do segundo fragmento. A
ansiedade era grande, eles sentiam que estavam cada vez mais próximos de
encontrar o tesouro de Francis Bonny. Jeon caminhou pelo convés até
chegar na proa e observou o horizonte à frente. Haviam apenas água e o
imenso azul céu. Logo atrás, a tripulação aguardava ansiosa pela sua
próxima ordem.
— Subam todas as velas! — Jeon comandou.
— Vocês ouviram o Capitão. — Namjoon acrescentou logo depois: —
Ao trabalho!
Os tripulantes vibraram e correram cada um a sua função. Aqueles pirata
nunca trabalharam com tanta vontade como naquele dia.
— Manejem os cabos! — O contramestre ditava ordens ao lado do
Capitão.
— Todas as auxiliares à barlavento!
Os piratas seguiam correndo de um lado para o outro. Jimmy apareceu no
convés superior e ficou observando lá de cima o vai e vem deles. Para o
Ômega, tudo parecia uma enorme confusão e ele não estava entendendo
nada. Mas os Alfas e Betas sabiam exatamente o que estavam fazendo,
nenhum esbarrava no outro.
— Segurem a retranca da gávea!
A embarcação logo ganhou velocidade e os bucaneiros gritaram e
vibraram entre si, conforme o Black Swan avançava a caminho do
horizonte. Estavam seguindo em direção ao Triângulo da Morte, mas
ninguém pareceu se importar com este detalhe. Eles apenas queriam
encontrar a terceira parte do mapa. Estavam julgando-se invencíveis.
— Chaerin — o Capitão chamou a Alfa enquanto subia até onde Jimin
estava. — Assuma o leme.
— Sim, senhor.
O Capitão se apoiou na grade de proteção, ao lado do Ômega. Com a
velocidade atingida, o vento batia e espalhava os cabelos de ambos. Jeon
achou aquela cena adorável, Jimin ainda estava com sinais de sono no rosto,
as bochechas levemente avermelhadas e os fios bagunçados. Já o Ômega
sorriu ao ver como o Capitão ficava diferente com suas madeixas negras
livres ao vento. Jimin possuía um pedaço de pergaminho em sua mão, que
ele logo tratou de entregar ao Capitão.
— O que é isto? — Jeon perguntou, recebendo o pergaminho.
— A tradução do segundo fragmento.
Jeon abriu e leu em voz alta:
— Quando a derradeira luz. — Ele olhou para o Ômega que deu de
ombros, sem entender o que aquilo significava — O que isso quer dizer?
— Eu acredito que só vamos obter respostas concretas quando
encontrarmos todos as outras cinco partes.
Jungkook assentiu e desceu para a cabine, reunindo-se com seu
contramestre e logo depois, contando aos demais membros da tripulação
sobre a nova parte traduzida. Como esperado, ninguém soube identificar ou
dar sentido àquelas palavras.
Durante os dias de viagem, eles seguiam na mesma velocidade, só
diminuindo temporariamente durante a noite, para evitar colisões acidentais
com outras embarcações.
Demoraram cerca de um mês até chegarem próximos ao misterioso
Triângulo da Morte, onde muitas coisas misteriosas e inexplicáveis
aconteciam à todos que ousavam passar por aquela região. Como a maioria
imaginou, o primeiro desagrado que ocorreu foi uma repentina tempestade
que apareceu, aumentando ainda mais a força do vento, que,
consequentemente, arrastava o navio em sua direção.
— Tempestade pela proa à bombordo. — Chaerin informou em voz alta.
— Estamos indo na direção dela a mais de dez nós — Namjoon virou-se
para o Capitão: — Capitão?
— Diminuam as velas! — Jungkook ordenou.
Os piratas voltaram ao trabalho temendo a forte mudança no tempo. O
vento estava extremamente forte, causando ondas enormes, tão gigantescas
que se atingissem o navio, corria o risco de destruí-lo.
— Protejam as escotilhas!
— Soltem a âncora e segurem firme!
Os esforços da tripulação pareciam estar cada vez mais inúteis. As ondas
e os ventos empurravam o Black Swan e faziam com que ele quase virasse
sobre o mar bravo.
Jimin estava dormindo na cabine do Capitão quando foi acordado pelo
movimento brusco do navio, sendo lançado para fora da cama e indo parar
no canto da parede. Ele sentiu seu braço doer fortemente e se levantou com
dificuldade. Perguntou-se se estavam sofrendo algum ataque e decidiu sair
para entender o que ocorria do lado de fora. Ele se assustou ao ver a
escuridão que cercava o navio e a sua volta. Ainda era dia, mas a
tempestade estava tão forte que deixava o clima sombrio.
Jimin tentou voltar para a cabine mas uma grande onda bateu contra a
embarcação e o lançou ao chão alguns passos a frente.
— Cortem os cabos! — Ouviu Namjoon gritar antes que uma segunda
onda, dessa vez muito maior, o atingisse arrastando com força e lançando-o
para fora do navio.
— JIMIN! — Jeon gritou soltando as cordas e correu na mesma direção
onde o garoto foi lançado. Sem pensar duas vezes, ele pulou atrás do
Ômega fazendo o restante da tripulação ficar abismada.
O navio logo foi seguindo o curso do vento, e sem as velas para
atrapalhar a sua direção, o Black Swan se viu longe da perigosa agitação.
Os tripulantes desceram botes e procuraram durante horas pelo Capitão
Jeon e o Ômega, mas não havia nenhum sinal deles.
Continua...
[14] Náufragos

Reescrito

Em meio as gigantescas ondas avassaladoras, a forte tempestade
desempenhava o papel de antagonista, no dia mais assustador da vida de
Jeon Jungkook. Não que o Capitão do Black Swan nunca tenha presenciado
uma tempestade desta magnitude. Ele já viu e esteve em muito piores. Mas
em nenhuma delas havia um Ômega em que ele estivera tão ligado. Jeon
nunca teve tanto medo de perder alguém, quando viu Jimin ser lançado para
fora da embarcação.
Naquele momento ele não se importou com coisa alguma. Ele só agiu
com seus instintos, sem se importar com o que aconteceria consigo mesmo.
Jimin estava caindo, ele precisava salvá-lo.
Jeon procurou em todas as direções, mas não o vira. Na certa, as
correntes marítimas estavam puxando o Ômega para o fundo do oceano. Ele
então inspirou uma grande quantidade de oxigênio e submergiu. Um par de
olhos vermelhos procurava pela escuridão das águas, fazendo-o enxergar
muito melhor do que se estivesse com seus olhos "normais". Ele viu o
Ômega balançando seus braços enquanto tentava subir, mas a força da água
estava elevada e as correntes puxavam-no para o fundo. Jimin estava quase
perdendo a consciência quando o Alfa nadou até ele e o agarrou, levando
ambos de volta a superfície.
O Black Swan estava sendo afastado gradativamente, enquanto as ondas
levavam os dois que ficaram para trás, em outra direção. Jungkook
obviamente não tinha força física para seguir a embarcação a nado, muito
menos levando um passageiro consigo. Jimin estava fraco demais para
nadar sozinho, e o próprio Jeon também estava perdendo suas forças. Mas
ele aguentou. Ele se agarrou ao Ômega e manteve-se emergido a maior
quantidade de tempo que conseguira.
Tentou nadar e encontrar algum pedaço de terra, para que pudesse
naufragar. Jimin estava agarrado ao seu pescoço, tentando respirar em meio
as ondas que eram jogadas sobre ambos, ele não sabia exatamente o que
havia acontecido, mas estava aliviado por não estar sozinho.
Muitas foram as vezes que os dois foram puxados, empurrados ou
simplesmente afogados pelas ondas que ainda se formavam. Uma última,
antes da tempestade se afastar, caiu sobre eles com tanta força que os
separou, lançando-os para lados contrários. Jimin perdeu a consciência, mas
Jeon logo o agarrou novamente e nadou levando ambos em uma direção, na
qual ele rezou mentalmente para que encontrassem terra firme.
Após longos momentos sem saber qual seria seus destinos, o universo
finalmente pareceu conspirar a seu favor e logo Jeon viu uma pequena faixa
de terra ao longe. Ele estava terrivelmente fatigado, seus músculos estavam
doloridos, seu corpo todo pedia para se entregar ao cansaço, mas ele
continuou nadando até conseguir colocar Jimin deitado em terra firme. E
apenas quando se certificou de que o Ômega ainda estava respirando, ele
caiu ao seu lado e deixou que a escuridão tomasse conta de sua consciência.
Enquanto isso, os Alfas e Betas do navio tentavam se recuperar da forte
tempestade que os apanhou. Duas das velas haviam sido destruídas, eles
perderam alguns botes, mas nada se comparava a terrível perda. O
sentimento entre a tripulação estava dividido. Alguns estavam de luto,
enquanto outros acreditavam fielmente que seu Capitão havia sobrevivido,
e com ele o pequeno Ômega.
— O que faremos agora, senhor?
Com a ausência do Capitão, era o contramestre quem assumiria o
comando.
— Vamos continuar seguindo a rota para o Triângulo da Morte. —
Namjoon decidiu.
— Espera! — Seokjin protestou. — Devíamos ficar um pouco mais e
procurar por eles!
— Não há mais nada que possa ser feito, Jin.
— Quê? Você acha que eles morreram?!
— Óbvio que não. O Capitão é experiente e muito forte, ele com certeza
pode sobreviver. É um lúpus.
— Jimin também é lúpus. — Taehyung adicionou — E ele é igualmente
forte.
Namjoon soltou uma gargalhada.
— Pff. Você só pode estar brincando. — Seu sorriso murchou quando viu
que ambos os Betas continuavam sérios — O Capitão tem grandes chances
de sobreviver se aquele peso morto não estiver com ele.
— Do que está falando?! — O médico ficou perplexo com a fala do Alfa
— Pare de dizer tais absurdos! Tomara que Jimin também esteja vivo, e nós
vamos continuar com as buscas sim!
O contramestre suspirou irritado.
— Não é você quem decide isso.
— Então é isso o que você faria se fosse eu no lugar do Jimin?
— É claro que não! Você é diferente, você é-...
— Eu sou o irmão do Capitão! — Seokjin o interrompeu — Eu q-...
— Estamos a bordo do Black Swan, aqui você é apenas o médico da
tripulação. — Namjoon tomou a fala por cima do Beta — Eu sou o
contramestre, seu superior! Você me deve obediência.
Outros piratas entraram naquela discussão e ela foi se tornando mais
calorosa e violenta. Um tiro foi disparado para o alto e automaticamente
todos pararam de falar.
— Por que não fazemos uma votação? — Hoseok, o autor do disparo,
supôs, guardando sua pistola.
— Muito bem. Quem quer permanecer aqui, procurando pelo Capitão e
pelo Ômega? — Namjoon questionou. Alguns poucos ergueram as mãos —
Quem prefere seguir o curso estipulado pelo próprio Capitão, encontrar o
terceiro fragmento e alegrá-lo com esta boa notícia quando o
encontrarmos?
Não foi preciso muito esforço para saber que a segunda opção
prevaleceu. Seokjin negou com a cabeça e seguiu com Taehyung para
dentro da cabine. Não havia dúvidas de que pelo menos a maioria da
tripulação era fiel ao Capitão Jeon, mas eles sabiam que nesses casos, era
perda de tempo e recursos ficar parado em um mesmo lugar, durante dias e
até semanas procurando por algo que jamais encontrariam por alí. Mas para
os piratas, Seokjin e Taehyung estavam agindo pelo emocional. Afinal, era
o irmão de um e o amigo de ambos que havia desaparecido.

Jimin acordou alguns minutos depois. Abriu os olhos vagarosamente e a
primeira coisa que ele viu foi a imensidão azul do céu, sem nenhuma
nuvem sequer. Ele sentou-se e olhou ao seu redor, para se situar. O coração
acelerou e medo definiu suas feições, quando viu o Capitão ainda
desacordado ao seu lado. Ele o examinou e teve a certeza de que ainda
estava com vida, desse modo, respirou aliviado e procurou por alguma coisa
que pudesse protegê-lo do sol.
Não havia nada que pudesse ajudá-lo a criar algum tipo de guarda-sol na
praia. Jimin então pegou o punhal que estava preso no cinto do Alfa e
seguiu na direção em que levava para uma densa floresta que tomava conta
da pequena ilha. Ainda no começo ele encontrou grandes folhas de palmeira
e com ajuda da lâmina, partiu alguns ramos e os levou para a beira da praia.
Jimin os posicionou de modo que fizesse sombra no rosto do Alfa, pelo
menos. Ele não queria deixá-lo alí sozinho, mas ao mesmo tempo, sentiu a
necessidade de explorar aquele lugar. Ele queria ter certeza de que estavam
seguros, então agarrou nas mãos do Alfa e tentou arrastá-lo da margem até
o início da floresta, onde o sol não conseguia alcançar, mas seu corpo era
demasiado grande, e Jimin mesmo que fosse um Ômega lúpus, não
conseguiria levá-lo sozinho. Ele bufou frustrado e cansado pela tentativa em
vão, recolocou as folhas de palmeira para protegê-lo dos raios solares e com
muito cuidado retirou as armas que ainda estavam em posse dele; duas
pistolas e aquela adaga.
Jimin não sabia como manuseá-las, no período em que estivesse ausente
alguém poderia aparecer e tomar posse delas, então o Ômega achou
prudente guardá-las em uma espécie de esconderijo, dentro de uma árvore
com um buraco oco. Ele seguiu para dentro da mata, empunhando apenas a
adaga.
Quando Jungkook abriu os olhos, ele não entendeu o que estava acima de
sua cabeça e instintivamente se levantou, derrubando sem querer a pequena
cabaninha que Jimin fez para que ele não fosse queimado pelo sol. Ele
procurou pelo Ômega e fechou os olhos respirando profundamente quando
não o viu em parte alguma. Passou as mãos pelo torso e logo se preocupou
quando não encontrou as armas.
Diversas situações passaram pela sua cabeça e a pior de todas estava
prevalecendo: Algum navio pirata apareceu e levou Jimin. O medo que
sentiu não era pela sua situação, mas pela do Ômega. Buscou algum indício
de que o levasse a certeza daquele pensamento, e logo descartou essa
possibilidade quando viu pegadas pequenas sobre a areia. Ele as seguiu e
entendeu que elas pertenciam ao Ômega, e que aparentemente só tinham os
dois alí.
— Ah, você acordou. — Jeon ouviu a voz do Ômega e soltou todo o ar
preso em seus pulmões, quando o viu sorrir seguindo com pressa em sua
direção.
Em suas mãos haviam algumas frutas. Jeon também notou que o punhal
estava preso no cós da roupa do Ômega.
— Você está machucado? — O Capitão perguntou.
— Não. Eu estou bem.
— Onde estão minhas armas?
— Eu as guardei em segurança. — Jimin girou o corpo apontando para a
árvore seca — Estão bem alí.
O Capitão passou por ele e procurou pelas duas pistolas. Ambas estavam
em perfeito estado devido a mecânica dos objetos, e ele as guardou nos
coldres de sua vestimenta. Jimin retirou o punhal de seu cinto e também o
entregou.
— Vou verificar se estamos apenas nós dois aqui. — Jeon determinou.
— Estamos.
— Como você sabe?
— Bom, eu fiz uma ronda pela floresta. Demorou um pouco mas acho
que consegui cobrir toda a extensão — O Capitão arqueou as sobrancelhas.
— Eu também encontrei uma pequena fonte de água que podemos beber,
tamb-...
— Você andou por aí sozinho?
— Sim?
— VOCÊ FICOU MALUCO?! — O Alfa gritou fazendo Jimin
sobressaltar e deixar as frutas caírem no chão. — Poderia ter se machucado!
Poderia ter encontrado algum outro náufrago nessa maldita floresta e ele
teria feito de você a presa perfeita!
— E o que eu deveria ter feito?! — Jimin gritou de volta. — Ficado na
praia velando seu corpo sem saber o que nos aguardava lá na floresta?!
Você estava desacordado e eu estava com medo e com fome, mesmo assim
eu tomei coragem para ver se esse lugar estava seguro para nós dois! Se
tinha comida, água...
— Você deveria ter ficado perto de mim.
— Mas você estava desacordado.
— NÃO IMPORTA! — Jimin se assustou outra vez com o grito dele —
Eu pulei daquele navio para salvar a sua vida e você simplesmente se
embrenha na floresta desconhecida sozinho e arrisca a sua vida assim?!!
— Então que não tivesse pulado! — O Ômega agiu ligeiro quando girou
sobre os calcanhares e correu na direção da floresta.
Continua...
[15] Sob as Estrelas - Parte 1

Reescrito

Jeon ficou tentado a ir atrás dele, mas estava muito irritado e sabia que se
fosse, aquela discussão poderia se tornar algo pior. O garoto havia dito que
não encontrou mais ninguém naquela floresta, então o Alfa julgou que se
tivesse de ter acontecido alguma coisa, já teria acontecido enquanto ele
estava desacordado. Ele explorou toda a circunferência da Ilha, constatando
que não era tão grande quanto parecia, pois logo ele estava de volta ao
ponto inicial de partida.
O Capitão se sentou no chão e observou o oceano, se perguntando onde
estaria sua tripulação e se alguém iria encontrá-los. Viu algumas folhas de
palmeira largadas onde ele estava deitado momentos antes e marcas na
areia, como se alguém tivesse tentado arrastá-lo. As frutas espalhadas pelo
chão estavam em quantidade suficiente para cerca de duas pessoas. Foi
então que o Alfa fechou seus olhos e refletiu:
— Merda.
Tomando um longo suspiro, ele se colocou de pé novamente e rumou
para a floresta, procurando pelo Ômega. Quando o encontrou, Jimin estava
sentado embaixo de uma enorme raiz, abraçando as pernas dobradas e o
queixo apoiado nos joelhos. Seu olhar estava distante. Ele havia notado a
presença do Alfa, mas preferiu fingir não se importar.
— Estava te procurando. — Jungkook tentou iniciar uma conversa mas o
Ômega continuava ignorando sua presença — Daqui a pouco vai escurecer,
precisamos voltar a praia. — A única resposta que obteve foi um suspiro.
Aquilo estava o irritando, mas entendia que o Ômega tinha motivos para
estar chateado — Jimin... desculpa por ter falado com você daquele jeito.
— Novamente sem resposta, Jungkook insistiu: — Fala alguma coisa.
Jimin virou o rosto para finalmente encará-lo. Seus olhos estavam
levemente avermelhados, indicando que estava chorando.
— Eu sei que sou fraco e não deveria ter andado sozinho... mas você
estava desacordado e eu não sabia quando ou até mesmo se iria acordar. Eu
tinha de ter certeza que estávamos sozinhos aqui, encontrar água e comida
para você, já que parecia tão esgotado fisicamente. E eu também estava
com fome.
Jeon fechou os olhos. O peso da culpa caindo em cima dele como uma
baleia cachalote. Desde o momento em que Jimin subiu a bordo do navio, a
última coisa que ele demonstrou foi fraqueza, e o Capitão sabia muito bem
disso, ele era a prova da valentia do Ômega. Seu próprio lobo Alfa sentiu-se
enormemente atraído pelo do pequeno lúpus, desde o primeiro momento
que ele o enfrentou.
Com o passar das semanas, a convivência fez com que o Alfa observasse
mais daquele garoto loirinho, e entendesse que ele era muito mais do que
um objeto de troca para obter qualquer lucro. Jimin era inteligente, astuto e
tinha um sorriso que valia mais do que o ouro que Jungkook pretendia
surrupiar do pai dele.
— Você não é fraco, Jimin. Nunca foi. Desde a primeira vez que coloquei
os olhos em você eu senti a sua força. Aquilo me assustou mas ao mesmo
tempo me deixou fascinado... — Jeon se agachou e sentou-se ao lado do
Ômega. — Eu que sou um covarde, que me escondo por trás do medo de...
— Sua voz falhou.
Nem por todos os anos em que viveu pelos mares, o Capitão tinha visto
um azul tão bonito e intenso quanto os olhos do Ômega, que o encarava
esperando por suas palavras. As folhas nas árvores balançavam suavemente
quando uma delicada brisa atravessou a parte da floresta em que estavam. O
cheiro de rosas espalhou-se intenso com o vento, à medida que o lobo do
Alfa agitava-se e o coração de Jungkook batia forte.
Jeon estava tão próximo do mais novo, que podia notar o leve aroma de
jasmim que provinha do Ômega. Ignorar este fato era inevitável, o Capitão
sabia perfeitamente bem o que estava sentindo. Já não se importava com o
pedido de resgate, e no fundo, sentiu até medo de quando essa aventura
chegasse ao fim e eles encontrassem o Imperium, onde Jimin voltaria para
casa e seria entregue ao seu noivo.
— De? — Jimin o incentivou.
O Alfa estava completamente perdido naquele sentimento. Estava tão
claro como a luz do dia, e negar, seria loucura. Poucas coisas na vida
assustaram o Capitão Jeon, e uma delas estava sentado bem diante dele.
Jungkook então respirou fundo aquele aroma de jasmim e observou os
traços delicados no rosto do Ômega, para então confessar:
— De aceitar que estou apaixonado por você.
Jimin esperava qualquer outra coisa menos aquilo. Jeon o encarava
intensamente, enquanto o Ômega não conseguia manter o olhar fixo nele
por muito tempo. Jimin olhava para o Alfa e logo desviava para qualquer
outra direção, sem saber ao certo como reagir.
— E-eu não sei o que dizer...
— Tudo bem, não precisa. — Jeon afirmou, sorrindo pequeno. —
Desculpe por ter gritado com você.
Jimin o encarou surpreso. Nunca, durante o tempo em que permaneceu
com aquele pirata, o Ômega iria se imaginar escutando o que acabara de
ouvir. O tão famoso e terrível Capitão Jeon lhe pedindo desculpas.
Jungkook olhou para cima, o céu podia ser visto minimamente através
dos galhos de algumas árvores mais altas. Pela luz fosca que preenchia a
clareira, ele tinha uma certa noção de quanto tempo faltava para que a noite
chegasse, e com ela, os perigos que a escuridão oculta.
— Quero que fique com isto. — Disse o Alfa, entregando uma pistola ao
mais novo.
Jimin o olhou surpreso.
— Eu não sei como usar.
— Eu te ensino. — Jeon levantou e estendeu a mão para ele. Jimin
aceitou e logo também ficou de pé.
— Não acho que seja uma boa ideia. — O Ômega ponderou enquanto
manuseava a pistola.
— Por que não?
— Porque da próxima vez que gritar comigo daquele jeito, eu vou usar
isto em você. — Disse, exibindo a arma e saiu caminhando em direção à
praia.
Jungkook ergueu as sobrancelhas chocado com aquela afirmação e riu
soprado, seguindo o garoto até a praia.

—... E então você aperta o gatilho. — O Alfa ensinava enquanto Jimin
mirava em um alvo invisível — Mas não podemos treinar sua precisão
ainda, só temos cinco disparos em cada uma.
— Entendi. — Jimin suspirou olhando para o céu — Se chover estaremos
bem encrencados.
— Não acho que vai chover hoje. Mas precisamos de um abrigo, nunca
se sabe nos dias seguintes. Há meses em que muitas tempestades assolam
esse lugar. — Meses. A palavra despertou medo no Ômega, ele tentou não
demonstrar isso, mas Jeon percebeu — Mas é claro, vamos ser resgatados
antes disso.
Jimin estudou as feições do Capitão, ele parecia realmente exausto, as
pálpebras pesadas e as olheiras profundas. Imaginou que ele deve ter gasto
muita energia e força física para conseguir levá-los até aquela praia. Talvez
o Alfa estivesse certo em ter ficado bravo quando ele decidiu desbravar a
ilha sozinho. O Capitão precisava de descanso.
— Vamos dormir? Amanhã à gente vê isso de abrigo. — Jimin sugeriu.
Seus olhos correram o local procurando pela melhor opção para passar a
noite — Podemos dormir embaixo daquela árvore.
Jungkook assentiu e olhou na direção em que o Ômega apontou. Entre as
árvores que se encontrava no início da floresta, haviam algumas palmeiras
baixas com um tronco fino e resistente, e as folhas bem volumosas, onde
eles podiam se abrigar do sereno ou da chuva caso o tempo mudasse de
repente.
Jimin se ocupou a grama crescida embaixo da vegetação e ficou deitado
de costas, com as mãos sobre o abdômen. Jungkook fez o mesmo bem ao
lado.
O loiro começou a sentir-se um pouco inquieto, mais uma vez dormindo
ao lado daquele Alfa e sentindo seu aroma tão de perto. O Ômega entendeu
que não conseguiria dormir com os meneios de seu lobo dentro de si. Ele
respirou fundo e mudou de posição, agora ficando de lado, de costas para
Jungkook e de frente para o oceano.
Jimin tentou se concentrar no cheiro da brisa marítima, no barulho das
ondas do mar e o som do vento batendo nas folhas das árvores.
Pode não ter chovido, mas Jeon viu como o Ômega estava inquieto e
encolhendo-se, tentando se proteger do frio que aumentou no início da
madrugada.
— Você está com frio. Eu posso esquenta-lo... — O Capitão comentou,
observando a reação do Ômega conforme chegava mais perto dele.
Jeon se posicionou atrás do mais novo, com o peito colado nas costas do
loiro, e contornou o braço em volta da cintura dele, para mantê-los o mais
próximos possível e esquentar um ao outro com o calor de seus corpos.
Com a aproximação, Jimin sentiu os batimentos acelerar, e logo em seguida
diminuírem aos poucos. Dentro do abraço do Alfa, ele adormeceu
tranquilamente, se sentindo confortável e seguro.
Assim que o sol apontou no horizonte, Jeon foi o primeiro a acordar. O ar
gélido da alvorada furtigava na pele do Ômega, fazendo-o encolher-se em
seu corpo, sentindo a falta do abraço que lhe aqueceu na noite anterior.
Jungkook retirou seu casaco e o depositou cobrindo o pequeno corpo que
tremeluzia sob o frio. Foi ligeiro em colher algumas frutas, se alimentou e
deixou algumas protegidas por folhas, para o Ômega.
O Capitão viu que aquele espaço onde eles dormiram poderia servir de
base para um ótimo abrigo. Era plano, estava cercado por algumas árvores e
dava vista ao mar, onde eles poderiam espectar qualquer embarcação que se
aproximasse. Ele adentrou na floresta tendo o cuidado de não se distanciar
demais e começou com os trabalhos. Coletou galhos de várias árvores e as
empilhou próximo de onde seria o abrigo, sentou-se no chão e começou a
criar várias estacas e varas resistentes.
— O que está fazendo? — Ouviu a voz cheia de sono do Ômega. Jimin
ainda estava deitado, olhando para ele com curiosidade.
Jungkook sorriu e mostrou as madeiras, troncos, estacas e varas de todos
os tamanhos e espessuras.
— Estou fazendo a armação do nosso abrigo. — Jeon apontou para o
lugar onde havia deixado as frutas — São suas.
O Ômega agradeceu e se alimentou à medida que ainda despertava do
seu sono. Enquanto observava o Alfa trabalhar, Jimin pensou com mais
clareza na confissão de Jeon no dia anterior, e com isso, sentiu como seu
lobo agitou-se quando as palavras ditas pelo Capitão ressoaram pelos seus
pensamentos mais uma vez.
Lembrou-se da conversa que teve com Seokjin na praia da Ilha de
Nabuco, de como os lobos se comportam de acordo com seus desejos. E
embora o médico tenha lhe dito que aquilo era algo normal, isso ainda o
deixava um pouco assustado, pois Jimin nunca havia passado por nada
parecido antes.
E mesmo tão confuso, naquele momento o Ômega perguntou-se
mentalmente se o seu noivo também estava apaixonado por ele. Se o lobo
do Comodoro Choi vibrava sempre que sentia seu aroma, porque, da parte
do Ômega, nunca aconteceu dele sentir-se atraído pela essência do oficial
da Marinha. Ao contrário do que sempre acontecia ao sentir o intrínseco
cheiro de rosas do Capitão, e de como Jimin se sentiu estimado pelo que ele
é, não pelo que seu pai poderia oferecer.
Enquanto isso, o Capitão permanecia concentrado em sua atividade, sem
fazer ideia dos pensamentos que invadiram a cabeça do Ômega logo pela
manhã. E era incrível como o Alfa parecia saber exatamente o que estava
fazendo. Tudo parecia muito bem feito, aquele abrigo ficaria muito seguro e
Jimin também quis ajudar em algo.
— O que posso fazer para ajudar?
— Vamos precisar de cipós para preparar a estrutura. — Jeon pegou o
punhal e o entregou para ele — Você vai precisar disso para cortar. Eu vou
limpar o terreno.
Jimin anuiu e foi procurar pelos cipós.
Enquanto isso, o Alfa retirava galhos secos e pedras para deixar o chão
mais plano. Ele também fez uma espécie de calha ao redor de onde seria
construído o abrigo, para impedir entrada de água no caso de dias chuvosos.
— Aqui estão. — Jimin voltou, colocando alguns ramos que conseguiu,
no chão — É o suficiente?
— Acredito que sim. Se não, depois pegaremos mais.
O Ômega viu Jeon fincando as estacas no chão, parecia ser um trabalho
fácil mas quando ele pegou uma das estacas para ajudá-lo, viu que
precisava de bastante força para fazer a madeira adentrar na areia o
suficiente, para permanecer firme e sem risco de desabar a armação.
— Fica em pé, porcaria! — Jimin bradou enfurecido. Jungkook riu
enquanto o menino brigava com a vara.
— Deixa que eu faço isso. Por que você não vai passando os cipós entres
elas? — Jimin largou as estacas e colocou-se a fazer o que o Alfa indicou
— Tenta fazer os nós bem firmes.
— Sim senhor, Capitão! — Jimin falou com voz firme e em tom de
brincadeira.
Jungkook sorriu e ambos continuaram seus serviços.
Na parte da tarde já haviam duas paredes erguidas. Eles então decidiram
fazer uma pausa para descansar. Jeon pegou uma das estacas e prendeu o
punhal na ponta, criando uma espécie de lança aperfeiçoada.
— Não podemos sobreviver apenas com essas frutas. — Jungkook
articulou — Tenta encontrar troncos e galhos secos para fazermos uma
fogueira. Eu vou tentar pescar alguma coisa.
A medida que o Alfa tirava sua camisa, exibia um peitoral cheio de
cicatrizes e algumas tatuagens que seguiam até os braços, o Ômega
observou atentamente cada desenho, perguntando-se o que eles poderiam
significar. Ele engoliu em seco ao notar que o Alfa estava lhe encarando,
enquanto o mais novo lhe observava. Jimin corou desviando o olhar, e
saiu pela beirada da floresta coletando os materiais necessários.
Em alguns minutos de pesca o Alfa conseguiu alguns peixes e os limpou
antes de levá-los ao acampamento, já que estripá-los na frente do Ômega
não seria o ato mais cavalheiro do mundo. Com a ajuda de duas pedras e
folhas secas, Jeon conseguiu criar fogo e o alimentou com os galhos. Logo
as chamas cresceram tomando conta das madeiras mais grossas. Eles
assaram os peixes e comeram até ficarem satisfeitos.
— Eu nunca comi um peixe tão bom quanto esse. — Jimin falou com
sinceridade — Queria poder comer isso quando voltar para casa.
Quando voltar para casa. Aquela frase inquietou o Alfa mas ele não
demonstrou.
— Até isso eles controlam?
— Se você quer saber, eu só posso respirar se meu pai permitir. — Jimin
riu sem graça, abaixando a cabeça — E assim será quando eu me casar. Fui
educado para ser assim.
— Não precisa voltar se não quiser.
Jimin ergueu o rosto e o fitou por alguns segundos. Jeon estava sério e
olhava-o de volta como se esperasse por uma resposta, mas o Ômega ainda
não sabia como reagir a tantas emoções recentes.
— Vamos voltar ao trabalho? — Jimin se levantou e voltou à construção,
sendo acompanhado pelo outro.
Continua...
[16] Sob as Estrelas - Parte 2

Reescrito

Logo após duas semanas, toda a estrutura do abrigo já estava
devidamente pronta. Eles cobriram as paredes com argila que encontraram
próximo a margem do lago. Jimin construiu uma cama grande e
confortável, na medida do possível. Ele utilizou vários ramos e camadas de
folhas largas. A única coisa que restava era o teto. Este, que o Alfa já estava
trabalhando em adicionar. Ele o construiu com uma certa inclinação, para
que a água da chuva pudesse escorrer sem o perigo de criar poças em cima
e consequentemente, goteiras dentro do abrigo. Entretanto, as folhas de
palmeira estavam deslizando, algumas caindo ou ficando fora do lugar.
— Fica aí, inferno! — O Alfa resmungou e Jimin teve que fazer um
grande esforço para não rir.
O Ômega estava sentado em um tronco, próximo à fogueira que eles
mantinham acesa para se aquecer do frio.
— Como você se tornou Capitão do Black Swan? — Desde o princípio,
Jimin imaginou que os capitães de navios pirata eram todos muito mais
velhos do que Jungkook aparentava ser.
— Eu morei com uma família de pescadores durante um tempo na
Coréia. Eles eram bons, mas eu estava cansado de levar uma vida de
fugitivo, me escondendo de todos sem ter cometido crime algum. Consegui
uma vaga em um navio mercante e comecei a trabalhar nele, fazendo alguns
serviços como limpar o convés, carregar caixas, ajudar na cozinha, fazer
entregas... essas coisas que todo grumete de quatorze anos faz. — Jimin
assentiu, embora não estivesse familiarizado com aquilo — Certo dia, a
embarcação foi atacada por um outro navio, sendo ele cheio de piratas. O
Capitão deles era bastante cruel e impiedoso, ele mandou que matasse a
todos mesmo que o comandante tivesse se rendido.
— Nossa, que bárbaro. Isso me lembra um pouco o Barba-Ruiva.
— Eu me escondi atrás de uma escotilha mas ele me viu. O próprio
Capitão. Eu implorei para que ele não me matasse e que me aceitasse em
sua tripulação. Não era exatamente o que eu queria, mas era o necessário
para sobreviver naquele momento.
— E ele aceitou obviamente. — Jimin supôs e o Alfa assentiu.
— Mas a partir daí as coisas ficaram ainda piores. O Capitão era muito
sanguinário. Enquanto a tripulação queria ir em busca de tesouros e saques,
ele só queria encontrar mais vítimas para matar. Ele gostava de amarrar ao
mastro os oficiais da Marinha que capturava, cortava suas línguas e os
faziam comê-la na frente de todos.
Jimin colocou a mão na boca e automaticamente, sentiu vontade de
vomitar.
— Que horror.
— Conforme os anos passavam ele se parecia cada vez mais com um
monstro. A própria tripulação o temia, mas não era por respeito, era medo
de acabar sendo torturado por ele. Alguns se opuseram à sua tirania
absurda, mas outros o apoiavam fielmente e uma grande briga se formou.
Muitos foram os mortos, alguns desertaram e acreditaram que aquele era o
fim. O Capitão havia enlouquecido de vez e começou a matar todos que
estavam à sua frente, até mesmo seus aliados. Ele estava completamente
insano.
— Nossa. Ele era tão forte assim?
— Ele era um Alfa lúpus. — Jimin se perguntou se todos os capitães do
Black Swan pertenceram a classe de lúpus, mas ficou calado esperando
Jungkook continuar: — Eu passei cinco anos seguindo suas ordens e
loucuras, fazendo coisas terríveis e cruéis à mando dele. Mas já estava
cansado de tudo isso e o estopim foi o assassinato dos meus companheiros
bem diante dos meus olhos.
— Você o matou?
— Sim. Decepei sua mão que segurava a espada e o joguei para fora do
navio. Ele foi puxado pela água e foi destruído pelo fundo da embarcação.
— E então você tomou a capitania ?
— Não. A tripulação que me escolheu.
Jimin não fez mais perguntas, e por alguns minutos apenas refletiu. A
história de Jeon era triste e sua vida foi extremamente difícil. Tendo que
fugir de seu próprio país, para que o marido de sua mãe não o matasse. Teve
que sobreviver sozinho pelos mares, fazendo coisas terríveis e sendo
atacado, lutando e quase morrendo nas mãos de outros piratas sanguinários
e cruéis. Ele era realmente um Alfa muito forte, não apenas fisicamente.
Passou por tantas dificuldades e mesmo assim não se tornou alguém como
seus mestres foram. Ele tinha traços gentis, era justo. E o Ômega o
admirava.
— Eu juro que vou destruir tudo se esse caralho continuar caindo! —
Jimin foi tirado de seus pensamentos ao ouvir os resmungos do Alfa.
— É claro que vão cair — Jimin constatou o óbvio, tentando segurar o
riso — O telhado está inclinado, precisa nivelar isso.
— Vou ter que desmontar e fazer tudo de novo. — O Capitão afirmou
revirando os olhos e Jimin mordeu os lábios, tentando não rir.
O Alfa puxava as varas com fúria, enquanto as folhas de palmeira caíam
uma a uma.
— Calma, Jeon... — Alguns risos escapavam — Assim vai derrubar tudo
em cima de você.
Mas o Capitão ignorou o aviso do Ômega. Passara dias se dedicando
àquela armação, para que ficasse perfeita e os protegesse da água da chuva.
Mas pelo visto o abrigo não queria cooperar consigo, e todo o trabalho que
teve foi em vão.
— É isso que você queria seu filho da puta?! — Jeon indagou ao abrigo
enquanto tirava o telhado com raiva.
Toda a estrutura cedeu e acabou caindo por cima dele, que se
desequilibrou e caiu junto no chão. Dessa vez, Jimin não conseguiu segurar
o riso e gargalhou alto, e riu ainda mais quando viu a cabeça do Alfa surgir
entre as folhagens, cipós e varas.
— Para de rir! — Jeon exigiu, mas acabou que também já estava rindo da
própria desgraça. Jimin colocou as mãos na barriga, não estava conseguindo
parar de rir. Haviam pequenos galhos e folhas presas no cabelo do Alfa —
Ah, não vai parar?
Capitão Jeon se levantou avançando contra ele, mas Jimin agiu rápido e
correu pela praia. Pensou que o Alfa teria desistido mas quando olhou para
trás, sentiu um frio na barriga quando viu o Jungkook logo atrás correndo
na sua direção. Jimin tentou apressar as passadas mas logo sentiu dois
braços o agarrar pela cintura e ser levado ao chão. Tentou se levantar mas o
Alfa se colocou em cima dele e o imobilizou, prendendo suas mãos contra a
areia.
— Para de rir! — Jeon exigiu mas o Ômega negou com a cabeça e
continuou rindo — O que eu faço com você?
Na posição em que estava, a única opção do Ômega era esperar pelo que
Jeon iria fazer. Por um momento, o Capitão apenas ficou o encarando,
observando seus traços, cada característica do seu rosto. Jimin era
verdadeiramente o Ômega mais lindo que ele já viu.
Os olhos do Capitão desceram até seus lábios, e ele desejou provar
daquela boca e descobrir se ela é tão macia e gostosa quanto aparenta ser.
Aquela era a oportunidade perfeita. Jungkook umedeceu os lábios se
aproximando lentamente.
— O que está fazendo? — O Ômega franziu o cenho, confuso.
Jeon parou a poucos centímetros do rosto dele.
— Eu quero te beijar, Jimin. — A afirmação saiu mais como um pedido.
Jimin abriu a boca para responder mas se embaralhou com as próprias
palavras, sentindo as bochechas corar. Ele queria dizer, sim. Que também
desejava aquilo, mas apenas o encarava de volta, envergonhado.
Isso posto, Jimin apenas fechou os olhos e esperou, até sentir os lábios do
Alfa serem pressionados contra os seus. O mesmo valor queimou dentro
deles outra vez. Jimin sentiu coisas estranhas em seu estômago, enquanto a
língua do Alfa explorava sua boca. Jeon o libertou e desceu as mãos até
acomodá-las na curva da cintura dele.
O Ômega não sabia ao certo o que fazer com suas mãos agora livres, e
apenas tocou sobre os ombros do Capitão, com suavidade. Jungkook abriu
os olhos para observá-lo e lá estava ele novamente, com seus olhos ainda
fechados, a boca ligeiramente avermelhada enquanto esperava por mais
daquele contato. Jeon logo cuidou de juntar suas bocas novamente e dar
início a um novo beijo.
Jungkook sentiu o sangue pulsar pela sua região íntima e interrompeu o
beijo repentinamente. Jimin abriu os olhos confuso, sem entender o motivo
dele ter parado com algo que estava tão bom.
— Precisamos terminar o abrigo. — Jungkook indicou saindo de cima
dele com pressa e ofegante.
Jimin ergueu as costas do chão mas permaneceu sentado, observando o
Alfa se afastar sem olhar para trás. Ele tomou um logo suspiro e cobriu a
boca com uma mão, tentando conter um enorme sorriso de genuína
felicidade.
Continua...
[17] Sob as Estrelas - Parte 3

Reescrito

Jeon estava distraído quando um soco quase acertou sua mandíbula.
Graças aos seus reflexos, ele conseguiu interceptar o punho do Ômega com
sua mão.
— Muito bem! — Jungkook o elogiou.
Estava ensinando o garoto a lutar há pelo menos três dias, e essa tinha
sido a primeira vez que o pequeno quase conseguiu lhe atingir.
— Não foi nada bem, ainda não consegui te acertar um soco. — Jimin
lamentou — E estou cansado, suado e com fome.
— Vamos fazer uma pausa então. Você pode tomar banho quando quiser,
estamos cercados por água, eu vou pe-... — O Alfa parou de falar
repentinamente e girou a atenção ele — Espera, por que você quer me bater
?
— Oh... não é bem assim, não quero agredi-lo, eu só... bom, eu só queria
conseguir acertar uma única vez.
— Jimin, você foi criado a vida toda como se fosse um boneco de
porcelana. Eu estou há mais de dez anos no mar, claro que-... — Jeon parou
de falar ao notar o olhar cabisbaixo do Ômega. O que ele estava falando era
de fato verdade, mas não iria lhe custar nada falar alguma coisa que
realmente o motivaria. Ele cerrou o punho que havia interceptado o golpe
de Jimin, atrás das costas, fazendo com que sua palma fosse pressionada
com força pelos dedos — Além do mais, seu soco foi bem forte. A minha
mão está doendo até agora.
Jimin mordeu o lábio, desconfiado.
— Só está falando isso para que eu me sinta melhor.
— Então veja você mesmo. — Jeon abriu a mão mostrando sua palma
avermelhada.
O Ômega a encarou perplexo e um sorriso logo apareceu em suas feições.
— Uau... quer dizer, desculpa. Não quis bater tão forte. Estava
empolgado...
— Não se preocupe. — O Capitão apontou para a água — Tome seu
banho.
— Mas só tenho essas roupas, a noite faz bastante frio mesmo com o
abrigo.
— Então tire-as.
Choque rasgou o rosto de Jimin.
— Não vou me despir na sua frente!
— Pode ficar apenas com as íntimas. — A expressão no rosto do Ômega
permanecia a mesma — Jimin, eu já vi tudo. Você estava bastante exposto
naquele leilão.
— M-mas é diferente… o que está fazendo ?! — Questionou pasmo
quando o Alfa começou a despir-se.
— Não é óbvio? — Jungkook retirou a camisa de botões e a jogou no
chão — Estou tirando a minha roupa para dar um mergulho.
De uma só vez, ele abaixou as calças juntamente com a peça íntima. O
Ômega ficou mais vermelho que um tomate, e imediatamente ele cobriu o
rosto com as mãos.
— Pelos céus, Jeon! Vista-se!
— Só se você tirar a roupa também.
— Não! Vista pelo menos a roupa debaixo que eu... e-eu tiro.
Jungkook riu divertido, balançando a cabeça. Ele fez o que Jimin pediu e
cobriu suas partes íntimas.
— Pronto.
— Está coberto?
— Sim.
— Jeon, se você estiver ment-...
— Vai logo. — o Alfa interrompeu.
Jimin abriu uma pequena brecha entre o indicador e o dedo médio, para
espiar se o Alfa realmente havia cumprido com sua palavra. Ele abaixou as
mãos quando o viu vestido com apenas sua roupa íntima. Jungkook sabia
que se ficasse olhando, ele nunca teria coragem de tirar a roupa na sua
frente, então se ocupou pegando sua lança enquanto fingia verificar se o
punhal estava bem posto na arma que usaria para pescar.
Jimin respirou fundo e tirou primeiro as suas calças, em seguida se livrou
da camisa, dobrou-as direitinho e as empilhou em cima de uma pedra.
Quando ele se voltou para o Alfa, viu que Jungkook já estava dentro do
mar, com a água mais ou menos cobrindo metade de suas coxas.
“E, que coxas...” — Jimin pensou.
Eram bem desenhadas, assim como todo o corpo do Alfa. Ele não era
exageradamente musculoso, mas seu corpo era bastante definido. Ele
poderia ficar o dia inteiro alí, assistindo o Capitão fincar sua lança na água,
e pescando seus peixes para as próximas refeições. Mas a maré estava
branda, Jimin aproveitaria para banhar-se com calma e se refrescar. O dia
estava bastante quente.
Jimin caminhou devagar até que as pequenas ondas, vez ou outra,
cobrisse seus pés por completo. Ele viu que dentro da cesta feita com o
material da própria floresta, já estava com peixes suficiente para os dois e
um pensamento divertido lhe veio a mente.
Jungkook estava parado feito uma estátua, com o braço que empunhava a
lança erguido, pronto para lançar a arma e capturar um peixe azarado que
passe pela sua mira. Subitamente, Jimin se lançou exatamente onde alguns
peixes estavam. Ele causou uma grande movimentação na água, fazendo
com que todos os peixes fugissem para longe.
— Você tá espantando os peixes. — O Capitão tentou repreender de uma
forma séria, mas logo sorriu ao ouvir a risada do Ômega.
— Já tem o bastante. — Jimin explicou, apontando para a cesta — Por
que quer pescar tantos ? Quer fazer um banquete? — Jungkook colocou as
mãos na cintura e só agora percebeu o quanto já havia pescado. Assustou-se
quando um jato de água foi lançado em sua direção — Vamos nos divertir,
só um pouquinho...
Jungkook fechou os olhos e passou a mão no rosto. Novamente, outro
jato de água foi lançado nele.
— Jimin-ssi... — Em meio a um sorriso ele limpou o rosto outra vez,
jogando a lança na areia e virou-se para o Ômega: — É melhor você fugir...
Jimin soltou um gritinho quando o Alfa mergulhou na sua direção, e
então apressou-se na tentativa de fugir dele. Enquanto tentava correr dentro
da água, ele lançava mais água para trás, tentando atrapalhar a vista do
Capitão. Sua estratégia não funcionou por muito tempo, e logo Jungkook
conseguiu alcançá-lo. Ele o agarrou pela cintura e o ergueu, jogando seu
corpo na água mais ao fundo. Jimin submergiu, demorando para aparecer. O
Alfa não se preocupou, pois sabia que ele estava brincando, só não esperava
que o Ômega iria aparecer bem diante dele.
Quando emergiu, Jimin apoiou as mãos em seus ombros e o afundou na
água, fugindo outra vez. Jeon voltou a persegui-lo, enquanto Jimin lançava
mais água como da primeira vez. Eles permaneceram durante um bom
tempo brincando e se divertindo na água, até que ficaram cansados e a fome
se fez presente.
Jimin ficou com a tarefa de buscar mais lenha e galhos secos, enquanto
Jungkook limpava os peixes, retirando suas escamas e vísceras. Após a
refeição, eles se colocaram a terminar de construir a enorme fogueira que
serviria como sinal, para quando alguma embarcação fosse avistada e eles
pudessem ser socorridos. Estavam perdidos naquela ilha há quase três
semanas, mas a esperança de serem resgatados continuava forte no coração
do Ômega. O Capitão parecia mais realista, acreditava que nunca seriam
encontrados, mas demonstrava seu otimismo pelo garoto.
À noite logo após o jantar, Jimin sentou-se em um pequeno tapete
esverdeado, onde pequenas graminhas faziam fronteira com a areia da
praia. Haviam algumas nuvens no céu, mas ainda nenhum sinal de chuva.
Os únicos pontos que iluminavam aquela noite, eram as estrelas.
Jimin passos atrás de si, e perguntou quando o Alfa se sentou ao seu lado:
— O que você acha que eles estão fazendo?
— Minha tripulação? — Jimin assentiu — Pelo que conheço do meu
contramestre, eles estão procurando o terceiro fragmento.
— Mas depois disso eles tentarão encontrá-lo, certo? Você é o Capitão
deles.
— Claro. — Jungkook sorriu ao afirmar, mas por dentro ele duvidava
disso. Haviam alguns membros totalmente fiéis à ele, mas ele também sabia
que se tratando de piratas, a riqueza em ouro e prata valia muito mais que a
lealdade — Mas eu não me importo em ficar perdido nessa ilha para
sempre, se você estiver comigo.
O Alfa apoiou ambas as mãos atrás da nuca e deitou no chão de frente
para o céu. Jimin refletiu suas palavras mas ficou em silêncio, logo fazendo
o mesmo movimento, e também deitou-se sobre o chão gramado.
— Incrível como o céu está lindo hoje. — Jimin afirmou cortando a
quietude — Cheio de estrelas.
— Taehyung disse que quando o céu está assim, é porque a lua voltará a
iluminar a noite.
Jimin assentiu. Seus olhos varreram pela vasta imensidão escura do
firmamento, mas ainda não tinha visto nem sinal da lua. O tempo se
estendeu na completa calmaria. Estava tudo tão quieto, que os únicos sons
que Jimin escutava eram o barulho das ondas beijando a praia, e seus
próprios pensamentos. Ele fechou os olhos e pôde ouvir a voz do seu pai,
quando anunciou que arranjara um marido para ele, quando tinha apenas
quinze anos:
“ — Filho, este é o Comodoro da Marinha Real, Choi Seunghyun. —
Jimin fitou o oficial com curiosidade, não fazia ideia do porque estavam
sendo apresentados. Logo, seu pai fez questão de explicar: — Eu o escolhi
como seu noivo, e a partir de hoje ele lhe fará visitas para cortejá-lo. Para
que assim se conheçam melhor.
O homem que era visivelmente bem mais velho do que Jimin, se
aproximou tomando sua mão e beijando as costas dela, afirmou:
— Com todo respeito, sr. Park, mas seu filho é ainda mais belo do que
imaginei.
Jimin queria apenas livrar a sua não daquele desconhecido e correr
para trancar-se no quarto. Ele sabia que esse momento iria chegar um dia,
mas não imaginou que seria tão cedo. Mal fazia um ano em que tivera seu
primeiro heat, e seu pai já estava lhe empurrando um casamento.
Conquanto ele não quisesse isso com todas as suas forças, Jimin apenas
reprimiu esse sentimento e sorriu cumprimentando o Comodoro.
— É uma honra conhecê-lo, Sr. Choi. ”
Embora não fosse tão experiente de vida, Jimin sabia exatamente o que
estava sentindo. O receio sempre o fizera temer seus próprios sentimentos,
mas durante o tempo em que conviveu com o Capitão Jeon, ele os
expressou tão naturalmente que aquilo o assustou um pouco.
Seu destino já estava selado, desse modo, ele não poderia se interessar
por nenhum outro Alfa. Ele pertencia ao Comodoro e sempre teve medo de
se impor contra isso. Mas, não mais. Jimin estava farto de reprimir seus
verdadeiros sentimentos.
Se mesmo o Capitão, que também parecia ir contra a corrente,
camuflando suas emoções por trás de uma máscara dura, baixou sua guarda
e confessou a ele seus sentimentos. Jimin devia ao Alfa, a mesma atitude.
Ele abriu os olhos e notou que Jeon permanecia concentrado, observando as
estrelas. E após longos minutos em silêncio, o Ômega tomou um longo
suspiro e o chamou:
— Jungkook?
Aquela foi a primeira vez que Jimin o chamou pelo seu primeiro nome. O
Alfa franziu o cenho e o fitou com curiosidade.
— Sim?
— Eu sinto o mesmo.
— O que quer dizer com isso? — Jeon indagou, desconfiado.
Jimin pousou sua mão no peito do Alfa, exatamente acima do coração.
Ele podia senti-lo bater tão rápido, assim como o seu estava.
— E-eu ainda não sei direito, mas… acho que eu sinto o mesmo que
você. — Jungkook o encarou ainda confuso, sem entender onde o Ômega
queria chegar com aquilo, até que o mesmo continuou: — Eu acho que
também estou apaixonado por você.
A pequena mão de Jimin subiu do peito, até se encaixar no rosto do Alfa.
Ele se aproximou até encostar suavemente seus lábios nos dele. Jungkook
aprofundou o beijo conforme curvava o seu corpo para frente, ficando
acima do de Jimin. Ele continuou beijando-o enquanto retirava cada
botãozinho de sua camisa, deixando seu peito e abdômen completamente
expostos.
— Você tem certeza? — Jungkook perguntou, interrompendo o beijo.
Jimmy assentiu balançando a cabeça positivamente. Ele estava com o
rosto corado, mas manteve o contato visual com o pirata. Todo o sangue do
Alfa parecia querer se concentrar em seu pênis, e ele o sentiu ficar
completamente ereto sob o tecido de suas calças. Jeon mirou seus lábios
novamente, dessa vez com mais voracidade. Ele deixou sua boca seguindo
caminho pela linha da mandíbula e pescoço, enquanto Jimin inclinava a
cabeça para trás, dando-lhe mais acesso a sua área cervical.
Descendo um pouco mais, o Alfa deteve-se em seu peito, a língua
explorava a área fazendo o Ômega ofegar, curvando as costas para obter
mais daquele contato. Jungkook sentiu uma das mãos do Ômega explorar
seus cabelos com os dedos, indicando que ele estava gostando daquilo. Os
dedos do Alfa prenderam-se no cós de suas calças, e com cuidado, ele as
puxou para baixo juntamente com sua roupa íntima.
O pênis de Jimin também estava rígido e melado por seu pré-semen,
assim como seu ânus lambuzado pela sua doce e particular lubrificação, que
escorria conforme ficava cada vez mais excitado, ao toques de Jungkook. O
Alfa acomodou-se no meio das pernas dele e admirou por alguns segundos,
a forma de um Ômega sendo tocado pela primeira vez.
Jimin deixou que um gemido escapasse de sua garganta, no instante em
que o Alfa tomou sua ereção entre os lábios e a chupou com vontade, se
deliciando com aquele delicado sabor. Jungkook abriu a boca e acomodou
todo o falo, chupando e lambendo enquanto seu dedo já inteiramente úmido
pelo lubrificante, seguia explorando a área anal do Ômega.
Jeon pressionava o seu indicador, fazendo círculos ao redor. Até que, sem
aviso, seu dedo deslizou para dentro e Jimin mordeu o lábio tentando conter
um outro gemido. Jungkook sentiu que seu pênis ficou ainda mais rígido
ouvindo o pequeno gemer tímido daquele jeito. Um segundo dedo deslizou
para dentro, e o Ômega dessa vez moveu os quadris, sentindo seu interior
ser massageado pelos dedos longos do Capitão. Jimin estava extremamente
excitado, seu corpo não parava de expelir seu fluído natural e ele movia os
quadris necessitando de mais contato. Ele queria que o Alfa fosse mais
fundo, e Jeon também já não estava aguentando vê-lo se contorcer. Ele
precisava preenchê-lo completamente antes que o Ômega gozasse.
Jeon retirou os dedos de dentro dele, e o Ômega choramingou em
protesto, o Alfa foi ligeiro quando abriu a calça e expôs para fora o seu
pênis que também já estava encharcado pelo seu líquido pré seminal. O
Alfa abriu e espalhou as coxas do loirinho um pouco mais, encaixou a ponta
do seu membro no ânus do Ômega e curvou o corpo para frente até estar
com o rosto rente ao de Jimin, o suficiente para sentir sua respiração
ofegante tocar suas faces. Ele manteve o peso do seu corpo sobre os
antebraços e moveu os quadris para penetrá-lo.
Vagarosamente, Jeon ia tomando mais da cavidade do Ômega. Obrigando
suas paredes internas a dilatarem-se para receber seu membro. Jimin fechou
os olhos com força, e seus dedos agarraram a grama ao seu lado.
— Oh… céus... — O Ômega choramingou e mordeu o lábio com força.
Assim que acomodou-se inteiramente dentro do corpo do Ômega,
Jungkook permaneceu imóvel por um tempo. Ele sabia que Jimin estava
sentindo um certo incômodo inicial, aquela era a sua primeira vez e
machucá-lo era a última coisa que ele queria na vida.
Com cuidado, Jeon inclinou o corpo ainda mais, até que seus abdômens
estivessem encostados um no outro. Jungkook depositou diversos beijos
pela derme do Ômega, ao passo que acariciava seu rosto e movia as mãos
entre os fios loiros, que tornaram-se úmidos com o suor.
— Vai passar, meu amor... — Jeon sussurrou em seu ouvido e logo
depois chupou o lóbulo de sua orelha — Não vou me mover até que diga
que eu posso.
Jimin abriu a boca e ofegou, deixando que alguns gemidos escapassem.
Seu corpo reagia positivamente aos toques do Alfa, sua pele se arrepiava a
cada contato quente e úmido que a língua de Jungkook proporcionava, ao
morder levemente e chupar cada centímetro da pele que cobria sua delicada
clavícula.
Sendo um lúpus, Jimin também possuía o gene mais forte, e com isso,
seu interior se adaptou com mais facilidade. A dor que sentia foi sendo
substituída por uma nova sensação. Seu pênis se contraiu quando o Capitão
beijou e em seguida, chupou a curva de sua mandíbula. O corpo de Jimin
moldou-se as suas necessidades, ele sentiu seu ventre contrair-se a medida
que ansiava por mais de seus toques.
— Jungkook… — Jimin murmurou baixinho.
Ao ouvi-lo chamar seu nome, o Alfa mostrou-lhe toda a sua atenção:
— Sim, meu coração — Capitão Jeon respondeu, deixando um simples
beijinho em sua bochecha. Timidamente, Jimin arriscou mover os quadris e
olhou diretamente nos olhos do Alfa, com um mudo pedido para que Jeon
se movesse dentro dele — Posso fazer isso?
Jimin mordeu o lábio e assentiu. Jeon moveu seu quadril lentamente
saindo de dentro dele, no momento seguinte ele deslizou penetrando-o
novamente. Jeon estava atento as expressões feitas pelo pequeno Ômega,
ele sentia o quanto o corpo menor necessitava mais daquilo e investiu outra
vez, agora com mais intensidade. Jimin gemeu quando sentiu o membro do
Alfa entrar mais fundo em seu canal e tocar em seu ponto mais sensível.
Seu corpo movia juntamente com o do Ômega, a medida que investia
gradativamente mais febril.
Jeon beijava seu pescoço e chupava sua pele delicada com avidez. Aquilo
com certeza deixaria marcas. Quando Jimin abriu os olhos, a primeira coisa
que ele viu foi a lua. Gigantesca, ela reinava sobre o firmamento cercada
por diversas estrelas. Ambas testemunhando a união entre um Alfa e um
Ômega. As mãos de Jimin deslizavam pelos braços de Jungkook, e se
acomodaram entre seus torsos. Ele sentiu cada músculo abdominal do Alfa
contraírem-se, a medida que Jeon movimentava seu corpo sobre o dele.
O Capitão uniu suas bocas novamente, beijando-o com mais afinco e
desejo. O Ômega apertou suas pernas ao redor dos quadris de Jeon quando
sentiu um formigamento surgir em seu baixo ventre, sendo seguido por
contrações em sua musculatura anal. Ele gemeu ofegante contra os lábios
do Alfa, e logo estava explodindo de prazer, enquanto seu falo expulsava
todo o seu gozo entre seus corpos. Ao sentir que as paredes do Ômega se
contraíram ao redor de seu pênis, Jeon sentiu que ele havia tido o seu
primeiro orgasmo, e que depois daquilo não conseguiria aguentar por muito
tempo. Alcançou seu ápice pouco tempo depois, preenchendo o corpo do
Ômega com seu fluído quente.
Jimin desatou as pernas que ainda cercava os quadris do Alfa e sentiu seu
corpo amolecer sob o dele. Jeon sentiu o mesmo mas não deixou que todo o
peso do seu corpo caísse sobre ele, em razão disso, ao se retirar do corpo do
Ômega ele deslizou para o lado e fechou os olhos. Por alguns segundos,
eles ouviram apenas o barulho do mar mesclando-se ao som de suas
respirações arfantes. Jungkook puxou Jimin com cuidado, e deitou a cabeça
dele em seu peito, passando os braços ao redor de seu corpo e o pequeno
Ômega se aninhou no quentinho do Capitão.
— Como você está? — Jeon perguntou.
— Incrivelmente bem. — Jimin suspirou ao receber um beijo no topo de
sua cabeça.
— De todas as coisas boas que já aconteceram na minha vida, você, de
longe, é a melhor delas.
Jimin deslizava a ponta dos dedinhos sobre a pele do Alfa. Seu peito
estava suado, causando um pequeno brilho devido a luz da lua. O Ômega
ponderou sobre o que acabara de acontecer e sobre seus futuro, enquanto
observava o peitoral do Alfa subir e descer com sua respiração calma.
— Eu quero ir com você, Jungkook. — Jimin exprimiu — Quando nos
resgatarem, eu quero ir com você. Seja lá para onde for, eu quero ficar com
você.
Jeon inspirou profundamente. Seu abraço se tornou mais forte ao redor
do pequeno quando respondeu:
— Eu jamais deixaria você ir à algum lugar sem mim.
Continua...
[18] Marinha Real

Reescrito

A tripulação do Black Swan — salvo algumas exceções —, festejava
sobre o convés bebendo tequila e cantando enquanto riam alto. Eles
estavam sob a posse do terceiro fragmento, que estava escondido dentro de
uma caverna, onde alguns animais furiosos faziam morada.
— Devo restabelecer o curso para procurarmos o Capitão, senhor? —
Taehyung inquiriu ao contramestre.
— É claro. — Seokjin respondeu no lugar de Namjoon — Nem precisa
perguntar.
— Na verdade, eu estive pensando... — O contramestre articulou com
cuidado — Escute, nós já estamos com três partes do mapa. O Capitão com
certeza pode aguentar mais um pouco, enquanto damos uma passada rápida
em outro lugar.
— Você esqueceu de mencionar o Jimin. — Taehyung o lembrou.
— Não precisamos dele.
— Suponho que você saiba o que está escrito aí. — Seokjin apontou para
o mapa, e assim como esperado o Alfa não soube responder — Foi o que
pensei.
— Se você escutar o que tenho para falar talvez entenda meu raciocínio.
— Namjoon disse, ficando irritado.
Seokjin riu alto.
— Você deixou de raciocinar há um bom tempo, só que ainda não
percebeu.
Namjoon revirou os olhos.
— Você vai me deixar falar?
— Fale, superior. — Seokjin respondeu, irônico.
— Você não vai esquecer isso, não é? — O médico permaneceu calado,
esperando que o Alfa contasse sobre seus planos — O Ômega é coreano,
então já temos um ponto de partida para procurar outro lúpus e o raptar para
usá-lo em nosso favor.
— Boa sorte procurando um Ômega lúpus por toda a Coréia, enquanto é
caçado pela Marinha Real.
— Talvez não precisamos fazer isto. Havia outro com ele, no dia em que
sequestramos Park Jimin. Era loiro assim como ele, só que um ou dois anos
mais jovem. Provavelmente irmãos.
— Esquece. — Eles ouviram a voz de Yoongi, que até então escutava
calado toda a conversa — O garoto com certeza não era um lúpus. Assim
que me viu ele se encolheu todo e começou a chorar.
— Isso não quer dizer nada.
— Como não?! Namjoon, pelos céus! Você não está querendo voltar até a
Coréia, quando toda a Marinha deve estar nos caçando a procura do filho do
governador, querendo encontrar outro Ômega lúpus para ler essa porcaria
de mapa!
— Sim, é justamente isso o que vamos fazer. — Namjoon rugiu
voltando-se para o navegador:— Ajuste o curso para a Coréia. Vamos
encontrar um outro lúpus e mostrar ao Capitão que não precisamos daquele
garoto — o Beta hesitou — Insubordinação, Taehyung?
— Não, senhor. Só não estou certo se a tripulação concorda com isso.
— Mas eu estou. Trocar o nosso tradutor vai ser para o bem do Capitão.
Um que não consiga manipulá-lo tão facilmente. E que fique devidamente
preso no porão.
Seokjin e Taehyung trocaram olhares chocados, enquanto Namjoon
voltou para a cabine do Capitão. Chaerin, a timoneira, levava o navio de
volta à Coréia, e naquela mesma noite, o médico foi em busca de obter
ajuda com o navegador.
— Precisamos fazer alguma coisa. — Taehyung observava o outro Beta
mover-se de um lado para o outro, quando ele parou de supetão: — Eu já
sei. Vamos prendê-lo em algum lugar, e tomar o comando no navio.
— Você está falando sobre prender um Alfa do porte do Namjoon? —
Taehyung questionou — Nós dois?
— Não. — Seokjin disfarçou apontando na direção da popa — Dois
Alfas.
O navegador olhou para trás e viu Hoseok e Yoongi próximos na traseira
da embarcação. Cada um parecia fazer suas atividades ignorando a presença
um do outro.
— Isso é insubordinação. — Taehyung negou com a cabeça — Nunca
vão fazer isso.
— Vão, se você pedir.
— Serão expulsos da tripulação. Eles não vão ajudar.
— Eles vão, e você sabe. — Seokjin se aproximou e falou mais baixo: —
Eles fazem tudo o que você quer.
— Você quer que eu me aproveite deles?!
— Uhm... É por um bem maior...
— Mas eu vou ter de recompensar eles depois, de algum jeito...
— Você gosta que eu sei.
Taehyung lançou um olhar chocado, mas logo deu lugar à um sorriso
devasso quando respondeu:
— Eu adoro.
Seokjin aguardou na proa, e alguns minutos depois o navegador voltou
informando que os Alfas já haviam conseguido dominar o contramestre.
— Eles querem saber onde exatamente devem deixá-lo.
Seokjin voltou-se para o Beta:
— Diga para eles trancá-lo no porão de carga, já que ele considera
aquelas acomodações tão boas para um Ômega.
— Onde está o imediato? — Eles ouviram Junbuu questionou.
— Neste momento ele se encontra incapacitado. — Seokjin respondeu
alto para toda a tripulação ouvir: — Eu estou assumindo o controle do
Black Swan, alguém tem algo contra? — Ninguém se manifestou —
Chaerin, dê meia volta e quando Taehyung voltar, siga suas orientações.
Nós iremos voltar para o Triângulo da Morte e resgatar o Capitão e o
Jimin.

Em algum momento, Jimin adormeceu sobre o peito do Capitão Jeon.
Quando abriu os olhos naquela manhã, ele franziu o cenho confuso ao notar
que estava deitado sobre a cama improvisada, dentro do abrigo. A medida
que se levantava, ele também percebeu que já estava completamente
vestido, e seu corpo estava limpo do líquido expelido por ambos. Ele sorriu
aí constatar o óbvio; Jungkook o pegou em seus braços e o trouxe para
dentro da cabana. Ele até mesmo teve o zelo de limpá-lo, utilizando água e
um lenço. Jeon o fez com extremo cuidado, para que não acordasse o
Ômega.
Jimin sentiu um certo incômodo em seus quadris e no meio de suas
pernas. Corou quando lembrou-se do que fizeram na noite anterior,
perguntando-se onde o Alfa estava. Ele viu que ao seu lado estavam
algumas frutas, e assim deduziu que seriam para ele. Jimin as comeu com
muito gosto. No momento em que saiu do abrigo, quase perdeu as forças
nas pernas, quando viu o Comodoro Choi de pé, diante dele, e alguns
marinheiros desembarcando na praia.
— Jungkook... — Jimin murmurou baixo pensando no que poderia ter
acontecido ao Alfa.
Choi estudou o Ômega de cima a baixo. As marcas em seu pescoço eram
visíveis, assim como o cheiro do Capitão Jeon que estava impregnado em
seu corpo.
— Você não sabe o quanto eu estou feliz em te ver, Jimin. Pensei que o
perderia para sempre. — Choi tentou segurar na mão dele, mas o Ômega se
afastou depressa — Não precisa ter medo, vou levá-lo à salvo de volta para
seu pai.
— Eu não quero.
Choi franziu o cenho.
— Como não? Vejo que foi violentado por aquele porco imun-...
Foi interrompido pelo Ômega:
— Está enganado! Ele não me forçou a nada. Foi eu quem quis me
entregar a ele.
O Alfa piscou lentamente respirando fundo.
— Vamos. — Tentou segurar a mão dele outra vez, mas Jimin afastou-se
ainda mais, indo para trás.
— Eu já disse que não vou a lugar algum com você!
— Não tem escolha, Jimin, você é um Ômega. Seu pai ordenou que o
levasse de volta.
Enquanto o oficial tentava convencer Jimin, alguns marinheiros surgiram
da floresta, com o Capitão Jeon preso por correntes, em seu domínio.
— Ora, mas se não é o tão famigerado Capitão Jeon Jungkook. — O
Comodoro sorriu em sua vitória — Não me parece tão ameaçador como
dizem.
— Jungkook! — Jimin tentou correr ao seu encontro, mas foi impedido
por uma grande mão agarrando seu braço.
— Nos deixe em paz! — o Ômega rugiu.
— Você escolhe, Jimin; ou vem comigo de boa vontade, ou eu mato esse
criminoso aqui mesmo e levo você de qualquer jeito para aquele navio.
— Tudo bem! Eu vou com você, mas não o mate por favor!
Choi ficou enfurecido ao ver toda aquela preocupação do seu noivo, para
com aquele pirata. Ele soltou o braço de Jimin e estendeu a mão para que
ele a segurasse. Mas o Ômega apenas passou por ele com passos pesados,
seguindo até os botes. O Comodoro virou-se para os seus subordinados:
— Levem o Capitão Jeon sob custódia, e mostrem à ele o seu devido
lugar.
Os marinheiros assentiram e logo após alguns minutos, todos estavam à
bordo do galeão coreano.
Jimin foi deixado trancado em um camarote, sem saber ao certo o que
estava sendo feito com o Capitão Jeon. Mas ele sentia que não seria boa
coisa. A porta do quarto foi aberta, exibindo a figura do Comodoro.
— O que estão fazendo com ele? — O Ômega se colocou de pé para
enfrentá-lo.
— Mostrando seu verdadeiro lugar na sociedade. — Seus olhos
estudaram as marcas em seu pescoço novamente — Eu vou ignorar o fato
de ter se comportado como uma meretriz, e manter isso em segredo para
que o nome da sua família não caia em desonra... — O Alfa mal terminou
de falar e logo recebeu um soco forte no nariz, fazendo um filete de sangue
escorrer.
Outros golpes teriam sido desferidos contra seu rosto, mas o Alfa se
recuperou do ataque repentino e interceptou ambas as mãos do Ômega. Ele
o empurrou contra a parede e o prendeu lá.
— Solte-me! — Jimin tentou avançar o corpo para frente, mas não
conseguiu sair de sua prisão. Ele rosnou em fúria: — Maldito!
— Se fizer isso novamente eu não vou me conter em lhe aplicar um
corretivo!
— Meu pai o mataria! — Jimin tinha razão, seu pai nunca permitiria
nenhum tipo de agressão física contra seus filhos, e isso fez o Alfa conter
sua vontade de devolver-lhe o soco. — Nunca me casarei com você!
— Não é você quem escolhe isso, o acordo já foi selado. Eu vou levá-lo
de volta à Coréia e nós iremos nos casar. Eu farei com que veja aquele
bastardo ser enforcado e você nunca mais verá a cor do mar novamente,
nem sequer entrará em um navio. — Choi praticamente estava cuspindo as
palavras no rosto de Jimin — Você será um bom Ômega, obediente e
submisso. Me dará muitos herdeiros… e aquele maldito pirata não vai
salvar você.
O Alfa sentiu uma dor alucinante percorrer entre suas pernas, quando
Jimin o golpeou fortemente com o joelho. Choi o largou, curvando o corpo
enquanto rosnava sentindo que aquela joelhada poderia tê-lo deixado
estéril. Jimin agarrou um vaso de cerâmica que estava em cima de uma
cômoda e o atingiu, fazendo o Alfa cair no chão, completamente zonzo.
— Eu o salvarei! — O Ômega rosnou, pegando as chaves e uma pistola
que estavam com o Comodoro.
Continua...
[19] O Resgate

Reescrito

O galeão da Marinha seguia seu curso à toda a velocidade, de volta à
Coréia. Os marinheiros trabalhavam no convés alheios ao que acontecia nos
compartimentos inferiores. Enquanto isso, Jimin seguia sorrateiro,
segurando a pistola do Comodoro. Ele caminhava pé ante pé, sabendo que
se algum oficial percebesse o que estava tentando fazer, ele não teria chance
sozinho contra todos. Afinal, Jungkook lhe assegurou que aquelas pistolas
só carregavam munição suficiente para cinco disparos.
Haviam muitas portas, as quais o Ômega não sabia o que iria encontrar
do outro lado. Com bastante cautela, ele tentou ouvir algum ruído por trás
da madeira de cada uma, a medida que seguia procurando pelo Capitão.
Lembrou do tempo em que permaneceu como prisioneiro do Black Swan,
logo imaginando que Jungkook seria levado para o mesmo compartimento
em que ficou preso. Ele abriu uma escotilha e desceu a escada que dava
acesso ao porão de carga. Havia uma espécie de cela de metal, acoplada à
madeira da embarcação. Logo ele viu o Capitão dentro, preso a correntes e
com o rosto machucado, coberto por sangue. Seu coração se encheu de
angústia quando o viu com os olhos fechados.
— O que faz aqui? — Ouviu a voz de um Alfa que mantinha guarda —
O Comodoro Choi não vai ficar satisfeito em vê-lo aqui, senhor. Por favor,
volte para o seu quarto.
Jimin sacou a sua arma e apontou diretamente para o Alfa. Ele segurava
firme, tentando não tremer, e mantinha um olhar ameaçador, esperando que
o oficial o levasse a sério.
— Segure no cabo da sua arma com dois dedos, e a jogue com cuidado
na minha direção. — O Ômega impôs.
Ele mantinha as costas eretas e os olhos atentos a cada movimento do
Alfa. Como Jungkook havia lhe ensinado na ilha.
— Senhor, abaixe essa arma com cuidado, vai acabar se machucando...
— O Alfa tentou distrair Jimin, levando a mão vagarosamente até seu
coldre, mas o Ômega percebeu seu movimento e pressionou o dedo no
gatilho.
— Pare agora mesmo, Alfa! Não me faça atirar em você.
O guarda parou, mas ainda manteve sua mão próxima da pistola.
— Sr. Park, não vai querer fazer isso...
— Não me chame assim. A partir de hoje meu nome é Jeon Jimin, um
dos piratas da tripulação do Black Swan — Ele avançou dois passos. — E
você será um homem morto se não fizer o que estou mandando
imediatamente.
O Alfa negou com a cabeça arquitetando um plano para tomar a pistola
dele. Jimin nunca havia disparado uma arma antes, mas sabia que seria
impossível de errar aquela distância tão curta.
Ignorando suas ordens, o oficial levou a mão ao cabo de sua pistola, mas
o Ômega estava atento à todos os seus movimentos e apertou o gatilho. O
sangue espirrou forte quando a mão do Alfa foi atingida, deixando um
buraco no lugar.
— Arghh!! — O guarda rosnou segurando a mão ferida — Seu pequeno
maldito!
Outro disparo foi efetuado, e o corpo do Alfa foi levado ao chão. Sem
perder tempo, Jimin correu até a cela e passou a chave na fechadura, em
seguida ele libertou o Capitão das correntes.
— Jimin? — Capitão Jeon ergueu a cabeça com dificuldade.
— Estou aqui, vim salvar você. — Um sorriso desenhou a face do Alfa,
cheio de orgulho.
Jimin passou o braço do alfa em seu próprio ombro, e o apoiou
segurando firme em sua cintura.
— Precisamos-...
— Não tão rápido. — Alguns marinheiros que haviam escutado os
disparos, surgiram através do buraco da escotilha. Todos empunhando suas
armas apontadas diretamente para os outros dois.
A alegria dos marujos durou apenas alguns segundos, até a embarcação
balançar fortemente e todos serem lançados ao chão. Ao lado do galeão,
estava o Black Swan e seus vinte canhões apontados em sua direção.
— Fogo! — Hoseok, o atirador da tripulação, rugiu e uma nova saraivada
de canhões foi lançada contra a embarcação da Marinha.
— Onde está o Comodoro?! — O tenente Jo questionou com fúria para si
mesmo, ao ver que os marinheiros manuseavam os poucos canhões que a
embarcação dispunha. Eram apenas dez.
— Se o Capitão e Jimin estiverem aí podemos acertar eles. — Taehyung
alertou o médico.
Seokjin comprimiu os lábios com medo e voltou-se ao atirador:
— Hoseok?
— Jimin deve estar nos camarotes superiores e o Capitão com certeza no
porão. — Ele sorriu convencido e piscou para o médico — Sei o que estou
fazendo.
O navio da Marinha tentou inutilmente atacar de volta, mas os canhões
estavam mal posicionados e apenas alguns acertaram o Black Swan,
causando pouco estrago. Ao contrário do galeão, que seguia com diversas
avarias graves, principalmente na popa.
Enquanto isso, no porão da embarcação da Marinha, os oficiais, Jimin e o
Capitão Jeon trocavam disparos. Jungkook pegou a arma do sentinela
jogado no chão, e conseguiu derrubar dois.
Mais dois oficiais desceram pelas escadas, e logo atrás deles uma katana
surgiu, e transpassou o corpo de ambos. Yoongi passou seus olhos elo porão
e sorriu quando viu Jimin ajudando seu Capitão a ficar de pé. Eles seguiram
subindo até chegar no piso superior, onde piratas e marinheiros lutavam
com suas espadas, adagas e machados.
— Estamos com eles! — Yoongi gritou para os bucaneiros — Podemos
voltar!
Os piratas assentiram. Seokjin foi claro quando ordenou que, assim que
resgatassem Jimin e o Capitão, retornassem ao Black Swan imediatamente.
Assim que o último Alfa atravessou as pranchas dispostas entre as
embarcações, o Comodoro Choi surgiu através da porta de um dos
camarotes. Ele mantinha uma mão na cabeça, exatamente onde Jimin o
acertou com o objeto de porcelana.
— Quais suas ordens, Capitão? — Hoseok questionou.
Antes que o Alfa respondesse, Choi disparou com sua pistola e um
bucaneiro foi atingido, tendo o corpo lançado para trás.
— Sven! — O médico correndo ao seu socorro — Dahyun, Taehyung,
me ajudem!
Ambos os Betas seguiram para auxiliá-lo.
— Afundem o galeão! — O Capitão Jeon rosnou, encarando o Comodoro
diretamente nos olhos.
Mais quarenta tiros de canhões foram disparados, criando mais buracos e
destruindo a armação do galeão. Os marinheiros desesperados diante do
naufrágio iminente, baixavam os botes para tentar salvar suas vidas.
O Comodoro Choi rosnava de ódio, boiando em seu pequeno barquinho,
enquanto observava o navio pirata se afastar gradativamente. Naquele dia,
ele descobriu pessoalmente que atacar o Black Swan não era tão fácil
quanto pensava.
Após estabilizar o bucaneiro atingido pela arma de fogo, o médico se
colocou a cuidar dos ferimentos do Capitão. Ele fez um breve resumo sobre
tudo o que se passou em sua ausência, à pedido do próprio Alfa.
— Você vai matá-lo? — Seokjin perguntou a respeito das atitudes
tomadas pelo contramestre.
— Eu devia fazê-lo andar na prancha! — o Beta não disse nada, mas seu
irmão percebeu a preocupação em suas feições — Mas ainda estou
pensando no que fazer com ele.
Seokjin não conteve um suspiro de alívio. O contramestre estava agindo
de maneira egoísta nos últimos dias, mas o Beta possuía sentimentos fortes
por ele, e sabia que, de fato, Namjoon não era essa pessoa na qual estava se
comportando.

Jimin abriu a pequena porta que dava acesso ao porão de carga e desceu a
escada com cuidado. Ouvira alguns membros da tripulação comentarem que
o imediato estava preso há vários dias no porão. E no último deles, ninguém
ainda tinha ido lá para alimentá-lo.
Jimin levou consigo uma caneca com água. Ele se aproximou lentamente,
sendo acompanhado pelo olhar severo do Alfa.
— Eu trouxe para você. — Jimin mostrou o copo de longe, com receio de
se aproximar.
— Então você sobreviveu. — Namjoon falou com amargura, ignorando o
gesto bondoso do Ômega.
— Sim. — Jimin respondeu firme — E voltei para ficar.
O Alfa franziu o cenho.
— O que disse?
— Você ouviu — Arriscou um outro passo. — Jungkook e eu estamos
juntos.
Namjoon balançou a cabeça em negação.
— Não acredito que ele fez isso.
— O que eu fiz para você? — Namjoon não respondeu, ele parecia
refletir sobre alguma coisa — Você se apaixonou por ele?
— Não fale bobagens!
— Então me diz por que você me odeia tanto?
— Eu não odeio você! — O Alfa bufou irritado — Inferno... você acha
que foi o primeiro Ômega por quem ele se apaixonou?
— Eu... — Jimin não soube o que responder.
Namjoon moveu os braços e o barulho do metal batendo um no outro
chamou a atenção do Ômega.
— Claro que não sabe. Ficou na ilha brincando de casinha, pensa que
conhece ele e agora quer brincar de pirata. Quando se cansar, vai voltar
correndo para o papai e trair o Capitão.
— Eu não sei de quem você está falando, mas eu não sou assim.
— O inferno que não!
— Você não me conhece. Não pode me condenar sem que eu tenha
cometido crime algum. Eu não sei o que esse Ômega fez à ele-...
— Traição. — Namjoon o interrompeu — Todos sabem que trazer um
Ômega a bordo trás má sorte. Está no próprio código pirata. Mas, mesmo
assim, ele o trouxe para a tripulação. O resultado disso? O Capitão quase foi
morto.
— O que o Ômega fez exatamente?
Namjoon suspirou movendo os braços outra vez.
— Ele o traiu. Armou uma emboscada para ele, e o entregou a Marinha.
Fui eu quem o salvou. Eu quem ficou ao seu lado, enquanto ele passava
dias bebendo sem ligar para nada. Eu quem o trouxe de volta.
Saber disso realmente foi um choque para Jimin. Nunca imaginou que
Jungkook havia se apaixonado, e pior, traído pelo Ômega que amava. Agora
ele entendia a preocupação do contramestre. Entretanto, Jimin não deu
motivos para que desconfiasse dele.
— Então ele não o amava. — Jimin afirmou, se referindo ao Ômega —
Eu ataquei o Comodoro, atirei contra um oficial da Marinha para salvar a
vida do Jungkook. Agora com certeza serei considerado um traídor da
Coroa. Eu abdiquei do meu nome, da minha vida com a minha família para
ficar ao lado dele, e em troca disso tudo você acha que eu simplesmente o
trairia?
Namjoon o fitou mas não respondeu. Jimin então continuou:
— Não pensei que fosse tão burro. Sinceramente? Jin merece bem mais...
— O que disse?! — Rosnou furioso usando sua voz de comando, e é
claro, não fez efeito algum sobre o Ômega. Namjoon respirou fundo —
Maldito lúpus...
— Essas correntes realmente machucam muito. — Jimin articulou
enquanto se afastava e logo em seguida, trazia consigo um pequeno caixote
— Se eu te soltar, você vai tentar me machucar?
— Não usaria minha força contra você. Não sou covarde.
Jimin colocou o pequeno caixote de madeira na frente do Alfa e o usou
para poder alcançar as correntes que prendiam os pulsos de Namjoon, em
um lugar mais alto. Quando sentiu-se livre, o Alfa o fitou surpreso e ao
mesmo tempo desconfiado. Ele esticou o corpo sentindo as mesmas dores
que o Ômega sentiu quando ficou em seu lugar.
— Obrigado. — Namjoon massageou os pulsos e sentou em um canto do
porão. Ele pegou a caneca que Jimin trouxe e bebeu toda a água. Ele
realmente estava com sede. — Não precisa se preocupar se vou fazer
alguma coisa contra você. O Capitão vai me expulsar da tripulação, tenho
certeza disso.
Jimin pensou em dizer alguma coisa, mas não encontrou nada que
pudesse falar. Ele apenas achou melhor deixá-lo sozinho com seus
pensamentos.
— Quem o libertou? — Assustou-se ao ouvir a voz de jungkook
repentinamente.
O Capitão se aproximou devagar, com uma expressão desconfiada no
rosto, a espera de uma explicação.
— Foi eu. — Jimin confessou — Desculpa... eu só…
— Tudo bem. — Jungkook lançou-lhe um sorriso — Taehyung está
esperando para decifrar o terceiro fragmento.
Jimin assentiu subindo a procura do Beta. Deixando ambos os Alfas para
conversarem à sós.
Continua...

Cakemochi_ Obg por essa homenagem ❤


[20] Aprendizado

Reescrito

O Capitão se aproximou do contramestre calmamente, e sentou-se no
caixote que o Ômega havia utilizado para soltá-lo.
— Respeitarei sua decisão seja qual for. — Namjoon falou.
Ele não tentou se justificar ou implorar por clemência. Sabia que havia
cometido uma falta grave, mas a sua consciência estava tranquila.
— É até engraçado você falar isso, já que estamos nessa situação
justamente porque você não respeitou minha decisão. — O contramestre
anuiu sobre o que foi a grande ironia em suas palavras — Você acha que eu
sou o mesmo de cinco anos atrás.
— Esse Ômega...
— Jimin não é Sungjae.
— Não. Seu poder de persuasão é muito maior. — Jungkook riu
balançando a cabeça em negação — Mas creio que não há nada que eu
possa falar que o faça enxergar isso. Afinal, é sua vontade.
— Minha vontade, meu caro contramestre, foi expusá-lo desse navio
desde o primeiro momento em que soube de suas façanhas imbecis.
— Entendo completamente. — Namjoon se levantou, pronto para deixar
o navio.
— No entanto — ele parou ao ouvir o Capitão —, a tripulação decidiu
que você merecia uma segunda chance… e eu também. Por tudo o que
passamos juntos.
O Contramestre ergueu as sobrancelhas completamente surpreso. Motins
era algo considerado imperdoável entre tripulações pirata, e por isso,
receber uma segunda chance do Capitão significava que Jungkook possui
grande confiança nele. Namjoon sentiu-se imensamente grato, e nunca teve
tanta certeza de que escolheu seguir o Alfa certo. Prometeu a si mesmo que
nunca mais decepcionaria o Capitão Jeon novamente, enquanto pertencesse
àquela tripulação.
— Obrigado, Capitão.
— Mas no segundo em que eu perceber que é uma ameaça para o meu
Ômega, você vai implorar para ser expulso.
O olhar sombrio que o Capitão lhe dirigiu, fez todas as células do Alfa
congelarem.
— Compreendo. — Namjoon disse, engolindo em seco.
— Vamos voltar lá para cima. Temos uma questão importante a ser
discutida.
Namjoon assentiu, respirando tranquilo. O mar era a sua casa e a
tripulação do Black Swan sua família. Ele não teria nenhum outro lugar
para ir, e muito menos queria deixar seu lar, entre seus companheiros.
— Então, o que faremos a seguir? — Sven questionou.
Todos estavam na cabine do Capitão, em torno de sua mesa, enquanto
examinavam os mapas dispostos sobre ela.
— Iluminar a entrada. — Taehyung leu em voz alta, a tradução do
terceiro fragmento — Eu sugiro que...
— Como você consegue saber onde devemos ir? — Sven o interrompeu
— Está sempre bêbado.
— Ora, que conversa! Não estou bêbado...
— Estou sentindo o cheiro de rum daqui.
— Por que você não cala sua boca? — Hoseok se dirigiu a Sven —
Deixe ele falar.
Taehyung o lançou um sorriso agradecido e voltou à sua reflexão:
— Como eu estava dizendo, eu sugiro que devemos direcionar nosso
curso à linha dos comerciantes. Como não sabemos onde estão os demais
fragmentos, pelo menos nós podemos fazer alguns saques. Nosso estoque
de prata está quase vazio.
— Claro. O Capit-... — Sven interrompeu o que seria uma crítica pelos
gastos exagerados que Jungkook fez, para libertar Jimin do leilão e no
tributo à Fenn Barba-Ruiva, mas o Capitão lançou-lhe um olhar tão sombrio
que o pirata engasgou com sua língua e fechou o boca no mesmo segundo.
— Diga, Sven. — Jeon se aproximou do Alfa.
— Eu ia falar que concordo com o nosso navegador.
— Vou falar com Chaerin. — Taehyung disse saindo da cabine.
— Namjoon — O Capitão se voltou para o contramestre — No próximo
saque eu quero que leve Jimin consigo.
— Mas ele não sabe-...
— Leve-o.
Namjoon comprimiu os lábios, mas nada fez além de concordar com a
ordem recebida.

A taça que estava na mão do governador Park Shinsung trincou, até partir
em dezenas de pedaços de vidro. O sangue escorreu por seu antebraço,
pingando no chão. O Comodoro acabara de lhe contar sua falha tentativa de
resgatar o filho dele. Ao seu lado, estava o oficial que recebeu um tiro na
mão, do próprio Jimin.
— Ele disse que agora é um pirata. — o Alfa informou — Que pertence a
tripulação do Black Swan e... e que seu nome é Jeon Jimin.
— Ele o seduziu! — Park rosnou, atirando no chão os cacos que restaram
em sua palma — Jimin nunca faria algo assim.
— Saia. — Choi ordenou ao outro oficial e ele se retirou — Seu próprio
filho disse que se entregou àquele patife. Nessas condições eu acredito que
não tenho outra escolha, a não ser cancelar o contrato.
— Está dizendo que meu filho não é digno de você? — fúria exalava das
feições do governador — É muita audácia da sua parte.
— Ele se entregou à outro Alfa, Senhor.
— Então eu sugiro que você procure outro emprego. Porque no momento
em que desistir desse casamento e manchar a honra do meu filho, você será
expulso da Marinha.
— Ele não me quer. — Choi ainda tentou insistir.
Ele era um Alfa que mantinha o mesmo pensamento arcaico que a
maioria das pessoas de sua época. Para ele, um Ômega deve comparecer ao
leito de núpcias ainda intocado. Mas Jimin além de ter entregue seu corpo a
um outro Alfa, fez questão de mostrar o quanto estava orgulhoso daquele
comportamento. Casar-se com um Ômega assim, era de extrema
humilhação para o Comodoro.
— Jimin é um Ômega, ele não tem esse poder de escolha e nós dois
sabemos disso. Ele vai se casar com você, eu responderei por ele diante do
padre. Agora vá e encontre um jeito de conseguir trazê-lo de volta.
O Comodoro assentiu e saiu do gabinete, deixando o governador sozinho.

Jimin estava sentado na proa do Black Swan conversando com o médico
da tripulação. Após cuidar dos machucados do seu irmão, Seokjin ouvia
feliz o depoimento do Ômega, sobre suas façanhas ao salvar Jungkook e
também, os momentos em que ficou perdido na ilha com o Capitão Jeon.
— Pirata Jeon Jimin, hm? Quem diria.
— Eu não sei porque disse isso. Eu nem sei como eu fiz aquilo tudo... —
O Ômega respondeu sorrindo nervoso — Minhas mãos ainda estão
tremendo, veja.
— Você foi muito forte. Salvou o nosso Capitão — Seokjin o elogiou —
Parece que agora você é um pirata, não é?
O Ômega sorriu um pouco ruborizado, e ficou pensativo com a pergunta.
Ele não se enganou a respeito dos piratas, eles eram sim Alfas e Betas
cruéis e dispostos a tudo para obter riquezas. Contudo, ele tinha que admitir
que aquela tripulação se distinguia das demais em alguns aspectos.
— Eu acho que é isso... — Jimin sorriu incerto, mordendo o lábio
inferior. — Sabe, pode parecer um pouco precipitado, mas é como se eu
estivesse começando a viver agora.
Jimin não tinha dúvidas do quanto amava o seu pai e também o irmão,
entendia que tudo o que seu pai fez foi na intenção de que tivessem uma
boa vida. Mas Jimin nunca se sentiu ele mesmo sempre que fazia de tudo
para agradar o governador. Aquele Jimin era apenas uma peça que se movia
de acordo com o que a sociedade exigia, e isso o deixava infeliz, embora
escondesse tão bem. Agora, estava se sentindo livre pela primeira vez, para
ser quem ele realmente era.
— E eu estou muito orgulhoso. — Ambos olharam na direção daquela
voz, e viram Jungkook se aproximar.
Neste momento, Namjoon também se aproximava da proa, e quando
Seokjin o viu de longe, se levantou no mesmo instante. O Beta ainda estava
chateado pelo comportamento prepotente do Alfa de semanas atrás. Ele se
levantou no mesmo instante em que o Namjoon se juntou a eles.
— Tenho coisas importantes a fazer, com licença. — Seokjin saiu sem
dirigir ao menos um olhar ao contramestre.
Namjoon olhou para seu Capitão e o mesmo deu de ombros.
— Você que lute.
O contramestre logo tratou de rumar para outro canto, ajudando alguns
bucaneiros pelo convés inferior.
— Então, Jeon Jimin... — o Capitão se aproximou do Ômega e o abraçou
quando uma rajada de vento forte os cortou — Está muito frio aqui fora, por
que não vem me fazer companhia em nossa cabine?
— Estava pensando em algo...
— Conte-me.
Jimin desceu da mureta e encarou o Alfa de frente.
— Na noite em que fui levado pelo Barba-Ruiva até os aposentos dele.
Eu vi Ômegas presos em seu quarto. Eu queria soltá-lo mas Yoongi me
levou para fora com ele...
— Embora seja um excelente espadachim, ele não seria capaz de salvar
todos vocês. Assim que os soltasse, eles seriam capturados novamente.
— Mas eles estão presos e sabe-se lá os tipos de torturas que estão
fazendo... eu quero salvá-los, Jungkook.
— Estamos muito longe de Nabuco. A tripulação já decidiu que vamos
passar pela rota dos comerciantes. — Jimin suspirou com tristeza — Mas
assim que possível nós vamos voltar à Nabuco, e vamos libertá-los.
— Está falando sério?
— Eu lhe dou a minha palavra.
— Obrigado. — Jimin abraçou o próprio corpo, protegendo-se do vento
gelado.
— Está frio. Vamos entrar.
— Ah, o Tae vai me mostrar como navegar seguindo as constelações.
Jungkook olhou para cima, o céu estava bastante estrelado. Ele então
retirou seu casaco e o encaixou nas costas do Ômega.
— Tudo bem. Mas fique com isso.
Jimin assentiu e o mais velho entrou.
Ele apertou o manto negro em volta do seu corpo, e inalou o aroma
natural do Capitão que provinha dele. Era quentinho e cheirava a rosas.
Taehyung, juntamente com Yoongi se juntaram à ele e juntos aprenderam
com o Beta, noções de orientação e navegação sem o auxílio de uma
bússola.

Na manhã seguinte, Sven enxergou um navio mercante através da lente
de sua luneta, no alto do mastro. Ele desceu eufórico e logo comunicou ao
restante da tripulação.
— Vamos interceptá-los pela lateral. Se eles tentarem alguma coisa,
conhecerão o fundo do Pacífico. — Jeon comandou.
Os piratas assentiram e conduziram as velas e mastros à bombordo. A
experiente timoneira, girou o leme com habilidade e com extrema rapidez
eles se aproximaram da embarcação mercante. Ao verem a aproximação do
navio de velas negras, os tripulantes do navio mercante subiram bandeiras
brancas, simbolizando sua rendição imediata. Assim, o Black Swan pôde se
aproximar, sem a necessidade de descerem os botes. Pranchas foram
dispostas através das duas embarcações, para levar os piratas até o outro
lado.
Jimin seguiu na frente junto ao Contramestre. Alguns minutos antes,
Namjoon havia lhe ensinado como falar com a tripulação e render todos os
Alfas, desde os grumetes ao comandante. Jungkook também fôra junto
dessa vez, para ver como o Ômega iria se sair em seu primeiro saque.
Com a cabeça, Namjoon fez sinal para que o Ômega começasse.
Jimin engoliu em seco.
— B-boa tarde... — ele disse em voz baixa — Meu nome é-...
— O quê?! — um dos Alfas rendidos questionou forçando a audição.
— Não estou ouvindo nada. — um Beta adicionou.
— Fale mais alto. — Namjoon indiciou e o Ômega assentiu.
— Meu nome é Jimin! Eu quero as... as… eu...
— Você atirou contra um oficial da Marinha. — Namjoon o lembrou —
Vamos, fale o que ensinei.
— Eu estou nervoso... — Jimin tentou engolir o nervosismo e suspirou,
começando mais uma vez: — M-meu nome é Jimin. Eu-...
— Isso nós já ouvimos. — um Beta rendido disse com um tom de riso —
Difícil vai ser saber o que a gracinha deseja se não p-parar de g-g-gaguejar
— ele gaguejou forçadamente para imitar o Ômega, arrancando risos dos
demais tripulantes.
— É — um Alfa concordou, entrando na brincadeira — F-fala logo d-d-
de uma vez.
E todos os tripulantes da embarcação mercante caíram outra vez em uma
gargalhada irritante. Eles pararam de rir ao verem o Capitão Jeon, que ainda
estava sobre uma das pranchas, descer as escadas até o convés da
embarcação.
Jungkook se dirigiu ao Ômega e acariciou sua face, ignorando todos que
os assistiam.
— Por que você não volta ao Black Swan, meu coração? — ele indagou
com voz suave e um sorriso terno. — Ajude Taehyung a encontrar aquilo
que procuramos, entre os pergaminhos que iremos mandar.
Jimin suspirou assentindo e retornou ao Black Swan. Assim que ele
atravessou a prancha completamente e sumiu das vistas de Jungkook, o
Capitão levou a mão as duas adagas presas em seu cinto e voltou-se aos
Alfas e Betas que estavam zombando do seu Ômega.
A tripulação do Black Swan ignorou os gritos de desespero que os Alfas
e Betas da embarcação mercante exprimiam, enquanto levavam as cargas de
valor. Eles tentavam manter suas bocas fechadas, outros tossiam
engasgados com o próprio sangue, gemendo de dor. O chão, estava repleto
com dezenas de dentes que foram arrancados de forma violenta pelo
Capitão jeon.
— Terminamos, Capitão. — Hoseok informou, ignorando as lamúrias
vindas dos rendidos.
Jungkook limpou as lâminas de suas adagas que estavam sujas de sangue,
na roupa de um dos Alfas e assentiu.
— Obrigado pela cooperação e não deixem de sorrir. — disse
ironicamente, e logo após subiu nas pranchas para deixar o navio e retornar
ao Black Swan.
Continua...
[21] Sempiterno

Reescrito

O governador estava em sua mesa conferindo alguns papéis, no que
deveria ser seu trabalho, mas se perguntassem para ele o que estava escrito
naqueles documentos, ele não saberia responder. Seus pensamentos estavam
todos voltados ao seu filho primogênito. Jimin sempre foi um Ômega
responsável e obediente, assim como lhe foi ensinado. Se nesse meio tempo
alguma coisa tinha mudado, tudo era culpa do maldito Jeon Jungkook. Ele
havia seduzido o seu filho, e o levado a renegar sua família.
Mas isso era algo que Park Shinsung não deixaria passar barato. Estava
prestes a quebrar outro copo, quando foi interrompido ao ouvir batidas na
porta.
— Entre. — Ele disse. O Comodoro Choi entrou e não estava sozinho.
Ele trouxe consigo um homem de aparência vil, e o primeiro pensamento
que o governador teve era que se tratava de um criminoso — Do que se
trata?
— Encontrei a pessoa que é capaz de trazer o seu filho de volta. — Choi
informou.
Os olhos do governador estudaram a tal pessoa, que vestia na parte
superior do corpo um capuz conectado às vestes, que apresentavam forro
azul ao longo do tronco. Ao redor da cintura havia uma faixa vermelha
presa, bem como um cinto com dois coldres de pistola e uma katana. Ele
usava botas marrons que se estendiam até o joelho, com calças escuras.
O Alfa era um lúpus e parecia não dar tanta importância ao governador,
mais do que dava ao seu gabinete. Ele observava cada centímetro do
cômodo.
— E quem é esta pessoa?
— Jackson Wang. Ele é um notável caçador de recompensas. — Choi o
apresentou.
— Terá seu peso em ouro se trouxer o meu filho sem nenhuma arranhão.
— Trago a cabeça do Capitão Jeon — Jackson se dirigiu ao governador
—, se me permitir agir livremente sem ter a Marinha Real interferindo nos
meus negócios.
— Se me trouxer a cabeça daquele bastardo, poderá até mesmo chutar o
traseiro da rainha se quiser.
Jackson sorriu sem mostrar os dentes.
— Temos um acordo, então.
— Choi, leve a Marinha para auxiliá-lo.
— Não quero os cães a me atrapalhar. — Jackson afirmou saindo do
gabinete despreocupado.
— Tsc, maldito! Tem certeza que este Alfa é confiável? — Park
perguntou.
— Sua fama é respeitada.
— Tudo bem, que seja. Mas leve a Marinha junto.
— Sim, senhor.
— Papai? — A reunião entre os Alfas foi interrompida, por um par de
olhos azuis que espiava por uma brecha na porta.
— Jisung, entre meu anjinho.
— Desculpe, não quis atrapalhar. — o Ômega disse quando olhou para o
Comodoro.
— Não atrapalha. — Choi sorriu respeitoso — Vou cuidar para que a
missão seja iniciada, com licença.
— Então, filho, aconteceu alguma coisa?
— Eu só queria saber se encontraram o Jimin.
— Ele foi encontrado, mas infelizmente está sendo forçado a viver entre
os piratas. Não conseguimos trazê-lo de volta mas não se preocupe, logo ele
estará entre nós.
— A culpa é toda minha. — Jisung afirmou com seus olhos cheios de
lágrimas — O pirata da cicatriz ia me levar, mas o Jimin interveio e eu não
fiz nada para ajudar.
— Você não podia fazer nada meu anjinho, não se culpe. — ele abraçou o
Ômega e depositou um beijo no topo de sua cabeça — Hoje a noite darei
um jantar para lhe apresentar um Alfa, que eu mesmo escolhi para ser o seu
futuro marido.
— Mas, já?
— Nunca é cedo demais para prevenir o futuro de um Ômega com um
bom Alfa.
— Mas eu só tenho dezessete anos, meu pai.
— Não se preocupe meu pequeno, não vai se casar antes que complete
seus dezoito anos. É apenas uma apresentação, assim como fiz com o Jimin.
Agora ande, vá procurar a sua roupa mais bonita e se arrume para receber
seu futuro noivo.
— Sim, senhor. — Jisung tentou forçar um sorriso mas seus olhos não
conseguiram mentir com a mesma habilidade, e ele rumou tristonho a
seguir a ordem de seu pai.

O cheiro de comida boa estava invadindo cada compartimento do Black
Swan. Na cozinha, Jimin cantarolava enquanto ajudava Junbuu a descascar
batatas, na companhia de Taehyung, Hoseok, Scott e Sven.
— Está deixando a batata toda ir embora junto com as cascas, Sven, seu
inútil. — Junbuu repreendeu o Alfa.
— Faz melhor, então.
— Você está brincando, não é? — Hoseok riu.
— Chupa meu pau, você também!
— Olhem como fala — Scott os repreendeu — O Ômega do Capitão está
aqui.
— Tudo bem, Scott. — Jimin respondeu fazendo uma pausa em sua
cantoria, mas logo retornou.
— Por que está tão feliz? — Taehyung questionou, assim que Jimin
começou a cantar uma outra música.
— Ah, é que... sabe... hoje é o meu aniversário...
— Não, não. Parem o que estão fazendo. — Taehyung se levantou,
largando a faca e uma batata na mesa — Precisamos comemorar.
— Não precisa... — Jimin respondeu tímido quando todos os olhares se
voltaram para si.
— Como não? — Seokjin, que havia escutado o fim da conversa ao
entrar na cozinha, indagou — Não é todos os dias que um mocinho
completa vinte anos.
— Tragam o rum! — Taehyung bradou se dirigindo aos piratas.
E todos seguiram para buscar as bebidas no porão.
— O Capitão sabe? — Seokjin perguntou, e Jimin negou com a cabeça
— Por que não contou?
— Ah, eu nem pensei nisso...
Seokjin sorriu balançando a cabeça.
— Vem, vamos subir. — o médico segurou na mão do Ômega e o levou
para cima.
No convés, eles se juntaram aos demais tripulantes. Todos estavam com
copos e garrafas nas mãos, mas ninguém ainda havia bebido uma gota
sequer, esperando pelo aniversariante.
— Toma, primeiro você. — Taehyung entregou ao Ômega um copo com
um pouco de rum dentro.
O lúpus hesitou.
— Eu nunca bebi. Quer dizer, meu pai me permitia tomar um pouco de
vinho em ocasiões especiais...
— Jimin, não enrola e toma só um gole.
— Tudo bem, mas só um pouco...
— Claro, só um pouco.
Taehyung e Hoseok trocaram olhares divertidos.
Tomado por uma imensa coragem, mediante ao apoio prestado por todos
os Alfas e Betas que o olhava ansiosos, Jimin levou o copo até a boca e
bebeu apenas um pouco. Ele tossiu enquanto uma careta desenhava em seu
rosto.
Os piratas gritaram erguendo seus copos e tomaram suas bebidas logo em
seguida.
— Vai ter que esvaziar o copo. — Taehyung indicou.
Jimin lançou-lhe um olhar de “você não pode estar falando sério” e
Taehyung lhe devolveu outro que poderia ser lido como “ah, eu estou sim”.
Logo, o Ômega não só havia esvaziado apenas um copo, mas dois, três,
quatro... Por conseguinte, ele estava com uma garrafa em suas mãos,
enquanto dançava com Scott. A tripulação cantava e bebia alegremente, não
notando quando a porta da cabine do Capitão foi aberta, e dois Alfas se
aproximavam da aglomeração.
— O que está acontecendo aqui? — Jeon perguntou ao irmão.
— Estamos comemorando o aniversário do Jimin. — Seokjin respondeu.
Jungkook franziu o cenho com aquela informação e seus olhos seguiram
até Ômega, que dessa vez, dançava com Dahyun.
— Eu sou o próximo a dançar com o loirinho! — Sven gritou animado, e
quando deu por si, Jungkook estava bem ao seu lado olhando-o com um
semblante sério — Com todo o respeito, Capitão.
De repente, Jimin largou a mecânica e girou, seguindo cantando entre os
Alfas Betas. Sorrindo até chegar à mureta e subir, equilibrando-se em cima
dela.
— Uhm humhumhum... — Ele cantarolou — Eu sou um pirata... — Ele
ergueu a mão que segurava a garrafa e cantou mais alto: — Bebei amigos,
yo-ho!
— Yo-ho! — os piratas responderam, todos cantando animados e
bebendo.
— Jimin! — O Capitão exclamou e o seguiu. Ele o segurou pela cintura e
o desceu, para que o pequeno não se desequilibrasse e acabasse caindo no
mar — Acho que já bebeu demais. — disse retirando a garrafa de sua posse.
Jimin encaixou as duas mãos no rosto do Alfa e o observou por algum
tempo, com certa atenção.
— Alguém já disse que você parece um coelho fofinho? — a tripulação
riu. Até mesmo Namjoon não conseguiu se conter. Ele puxou a garrafa de
volta e desvencilhou-se dos braços do Capitão. — Eu sou bandido do mar.
Ninguém diz o que eu tenho que fazer. Sou um pirata fora da lei!
Jimin levou a garrafa até a boca e tomou mais um pouco de rum.
— É isso aí, Jimin! — Taehyung ergueu o punho e quando o Capitão o
olhou ferozmente, ele abaixou a mão, sorrindo amarelo.
O Ômega mal conseguia se manter de pé, de tão ébrio que estava. Jeon
tomou a garrafa de suas mãos mais uma vez e bebeu todo o conteúdo de
dentro. Jimin cambaleou alguns passos em sua direção e tomou a garrafa de
volta. Ele tropeçou e foi amparado pelo Capitão. Mas quando foi beber,
notou que a garrafa já estava vazia.
— Por que acabou com o rum, Jungkookie?
— Você está bêbado demais. — Jungkook o afirmou.
— Que nada, eu estou bem. Posso perfeitam-... — Jimin conteve sua fala
ao ver o cozinheiro se aproximar da popa com uma bacia e despejar o
conteúdo de dentro no mar — O que é isso, Junbuu?
— Tripas de peixe.
O sangue fugiu do rosto de Jimin e ele foi ficando pálido, com uma
expressão nauseada. Logo, ele estava colocando tudo o que havia comido e
bebido para fora. Debruçado sobre a mureta, ele vomitava pelo tempo que
pareceu uma eternidade, apoiado pelo Capitão. Quando finalmente
terminou, Jeon o ajudou a caminhar até a cabine.
Na privacidade do cômodo, ele o deitou em sua cama enquanto o Ômega
resmungava, gemendo baixinho. Estava todo suado e com uma terrível
sensação de mal estar. Munido de um balde com água e uma pequena
toalha, Jungkook limpou o rosto do Ômega e após abrir alguns botões de
sua camisa, o loiro conseguiu respirar com mais facilidade.
— Eu nunca mais vou beber daquele jeito. — Jimin lamentou.
Jungkook sorriu, olhando-o com ternura.
— Descanse um pouco. Depois eu volto para trazer algo para você
comer.
Jimin não teve forças para contestar, pois logo suas pálpebras foram
ficando pesadas e em seguida, ele caiu em sono profundo.

Naquele mesmo dia, durante a noite, Jimin abriu os olhos e estava se
sentindo muito melhor. Ele ergueu o corpo apoiando-se em ambos os
cotovelos e viu que o Capitão estava sentado na cama, observando-o.
— Quanto tempo eu dormi?
— Bastante. Já é noite. — Jimin ergueu as sobrancelhas surpreso e
quando notou uma bandeja com comida em cima da cama, destinada para
ele, foi quando percebeu o quanto estava sentindo o corpo fraco. — Trouxe
para você.
— Obrigado.
Jimin se alimentou sentindo-se muito melhor. A comida de Junbuu era
realmente deliciosa e fazia qualquer um recuperar sua energia.
— Quero te mostrar uma coisa. Vem comigo. — Jimin franziu o cenho
sorrindo com curiosidade, mas logo se levantou da cama e seguiu seus
passos.
O Capitão segurou em sua mão e o guiou para fora da cabine. Jimin
notou que o convés estava completamente vazio. Apenas o silêncio estava
ao seu redor, conforme seguia os passos do Alfa.
Quando chegaram a um certo ponto, Jungkook o ajudou a subir pelos
mastaréus. O vento suave batia no rosto de Jimin e espalhava vários fios de
seu cabelo a medida que entravam dentro da cesta do mastro. Ele sentiu os
braços do Alfa abraçarem-no firmemente, aquecendo seu corpo no frio que
os atingia.
Assim que Jimin finalmente olhou ao seu redor, ele teve a sensação de
que estava flutuando entre as estrelas. Elas iluminavam o céu noturno, com
milhares de pontinhos luminosos pelo firmamento. A luz da lua tocava na
escuridão do mar, e a água brilhava como se eles realmente estivessem no
centro do universo. Ele abriu a boca mas permaneceu mudo, incapaz de
falar qualquer coisa. Ele já havia contemplado o céu a noite, mas nunca
tinha o visto daquele ângulo.
— Você é muito mais belo do que todas elas juntas. — Jungkook disse se
referindo as estrelas e Jimin virou o rosto para fitá-lo nos olhos.
Por um momento, o Ômega se perdeu na escuridão daquelas olhos negros
e profundos, mas foi guiado pelo sorriso de Jungkook e seus olhos
desceram até os lábios do Alfa.
— Você já se sentiu completamente cheio de... — subiu os olhos até os
do Alfa novamente — Eu não sei como explicar...
Jungkook sorriu assentindo.
— É exatamente como eu me sinto quando estou com você.
Jimin levou uma das mãos até o rosto do mais alto e fechou os olhos a
medida que ele se aproximava, e juntava seus lábios suavemente. Eles
ficaram durante toda a noite juntos na na cesta do mastro, sendo observados
pelas estrelas que testemunhavam o sentimento mais puro desabrochar no
coração de dois lúpus.
Continua...
[22] Sem Escolha

Reescrito

O Black Swan seguia pelas rotas comerciais nos mares da Oceania. Não
possuíam informações sobre os demais fragmentos do Imperium, e seu
plano atual seria continuar saqueando navios mercantes e seguir para as
Índias.
Os golfinhos da costa australiana recebia o Black Swan com pulinhos
divertidos e curiosos, a medida que apostava corrida com a embarcação.
Jimin estava debruçado na mureta enquanto sorria encantado, apontando
para eles e mostrando para o navegador. O Beta já estava acostumado com
aquilo devido aos anos de navegação, mas mostrou-se extasiado a cada vez
que o loirinho lhe apontava um dos golfinhos.
— Olha aquele lá! — O Ômega estava tão encantado com os golfinhos,
que quase sentiu vontade de pular no mar e ir nadar com eles. — Você viu o
pulo que ele deu?
— Eles estão brincando com você.
— Olá, senhores golfinhos! — Jimin os saudou, acenando com a mão.
Do outro lado da embarcação, Jeon o observava com um sorriso bobo no
rosto. Era realmente adorável ouvir os risos do Ômega, enquanto este
admirava algo tão bobo para ele quanto simples golfinhos.
— Olha lá — Hoseok cutucou o espadachim com o cotovelo. — o
Capitão bobão.
Yoongi riu.
— Ele vai te jogar para fora do navio.
— Ele não está ouvindo.
— Ele é um lúpus — Yoongi se levantou revirando os olhos. — É claro
que ele ouviu — E saiu, deixando o outro Alfa paranóico.
Um pequeno alvoroço se formou no convés inferior chamando a atenção
do Capitão. Jungkook olhou para baixo e viu Scott acompanhando seu
irmão, Sven, passando pela escotilha que os levava mais abaixo e sumindo
de suas vistas. Um pouco depois, Scott retornou subindo pelas escadas a
procura do Capitão. Ele o viu falando com Chaerin e Dahyun, logo
rumando em sua direção.
— O leme ficou travado do nada — Chaerin, a alfa responsável pelo
timão resmungou.
— Capitão — Scott chegou interrompendo a conversa. — Sven entrou
em seu rut.
— Verifique isso — Jeon disse para a mecânica e girou para o outro Alfa:
— Prenda-o no porão.
— Mas Capitão…
— Você quer que eu desenhe? — Scott balançou a cabeça temendo
insistir no assunto. Jungkook voltou sua atenção à mecânica: — Quando
encontrar uma solução para isso me comunique. Enquanto isso vou mandar
baixar as velas.
Dahyun assentiu. Ela e Jungkook tomaram rumos diferentes, com Scott
seguindo no encalço do lúpus. O Capitão se voltou a tripulação e ordenou
que descessem as velas, pelo tempo em que a mecânica encontraria a
solução para o problema com o leme.
— A presença do Ômega e seu cheiro, são como uma tortura para o
pobre Sven — Scott insistiu.
Jungkook cessou seus passos e olhou para o bucaneiro como se estivesse
pensando em uma alternativa para aliviar o sofrimento do irmão dele.
Estava óbvio para o próprio Scott que o Capitão não poderia fazer nada, a
não ser que cedesse o Ômega para saciar o desespero carnal de Sven em seu
rut anual.
Mas é claro, isso era algo que Jungkook jamais o faria.
— Parece que nosso estimado bucaneiro terá dias difíceis, então —
Jungkook disse e seguiu o olhar de Scott, que alternava entre ele e o
Ômega. Jeon seguiu até o espadachim no convés logo abaixo — Yoongi,
não deixe Jimin passar para as cobertas inferiores.
Scott fitou o Capitão com amargura enquanto ele se afastava. Ele não
ousou pedir, mas seu desejo era claro que o Ômega fosse entregue ao seu
irmão. Despreocupado, Jungkook voltou a sua cabine sabendo que o Alfa
não iria conseguir passar pelo espadachim se tentasse levar Jimin consigo.

Noite do jantar na casa do governador…
— Onde está Jisung? — Park Shinsung questionou a uma das criadas.
— Em seu quarto, senhor.
— Mande-o vir imediatamente. Nossos convidados já estão chegando —
a mulher assentiu e seguiu a cumprir a ordem.
A mulher bateu na porta de Jisung mas não obteve resposta. Ela então
entrou em seu quarto, vendo o garoto sentado mirando o próprio reflexo no
espelho.
— Está muito lindo, senhor — distraído, o pequeno Ômega apenas
suspirou — Seu pai o chama no salão de jantar.
A mulher sentiu pena quando ele girou para fitá-la. Não havia
maquiagem, jóias caras ou roupas bonitas, que escondesse o semblante
abatido do Ômega, que sentia-se como se estivesse indo para o abate.
Ele a seguiu até encontrar com seu pai.
— Mais belo do que qualquer arranjo de flores. — Shinsung recebeu o
filho, beijando o topo de sua cabeça e cochichou em seu ouvido: — Sorria
mais, assim parece que está indo para um funeral.
Mas era exatamente assim que o Ômega se sentia. Não querendo
contrariar seu pai, ele sorriu um pouco mais.
— Mais — o mais velho exigiu, colocando dois dedos em sua bochecha e
forçando um sorriso mais aberto no rosto do filho — Mostre seus dentes.
Assim.
Jisung abaixou a cabeça para que seu pai não visse seus olhos
lacrimejarem. Seus pensamentos se voltaram ao seu irmão mais velho, e ele
desejou fortemente que pelo menos ele estivesse ali para segurar sua não.
Mas Jimin não estava e ele precisava ser forte. Devia isso à ele, que se
entregou bravamente em seu lugar
Ao ouvir as vozes dos convidados se aproximando pelo salão, ele cerrou
os punhos e engoliu o choro.
“Posso fazer isso” — pensou consigo mesmo. “sorria, Jisung”.
Um Alfa alto e de aparência bonita se aproximou do governador. Ele
possuía uma expressão séria mas quando seus olhos desceram até o Ômega,
ele suavizou, sorrindo para ele.
— Seu filho é realmente lindo — O Alfa elogiou e o governante sorriu
orgulhoso e cheio de si.
Eles se acomodaram cada um em suas cadeiras. O governador na
extremidade da mesa, Jisung ao seu lado, Choi no outro e o Tenente Jo ao
lado de Jisung.
— Tenho ótimas notícias para o senhor, governador. — Choi afirmou —
Partiremos em nossa missão ao amanhecer.
— Ótimo.
A conversa seguia-se animada durante o jantar. Pelo menos entre os
Alfas, pois o Ômega parecia mais como uma decoração. Parado e bonito.
Não ousava falar sem que alguém se dirigisse à ele.
— Confesso que por um momento imaginei que o fato dele ser pelo
menos vinte anos mais jovem, você talvez não ficasse interessado nele. —
Comentou o governador como se seu filho fosse uma mercadoria e não
estivesse alí, ouvindo tudo.
A resposta que veio do Tenente, quase fez Jisung vomitar:
— Ômegas são como as frutas, quanto mais jovens melhores, em minha
opinião.
O Comodoro riu.
— Que conversa estranha. Você come frutas verdes, Jo? — e voltou-se
para o governador — Com todo respeito, senhor.
O governador fez um gesto com a mão indicando que estava tudo bem,
enquanto tomava de seu vinho.
— Eu discordo. Prefiro as frutas maduras — Shinsung admitiu e o
Comodoro levantou seu cálice concordando.
— E você, Jisung — Choi finalmente se dirigiu ao Ômega —, precisa
ficar maduro rapidamente, para meu amigo apressadinho poder colhê-lo.
— Não sou uma fruta, sr. Choi. Sou um ser humano. Se o sr. Jo está
interessado em uma, pode simplesmente adquiri-la no mercado da cidade.
— Touché. — O Comodoro olhou para seu amigo e sorriu — Suas
comparações não agradaram seu noivo.
O governador deu de ombros, mas aquela resposta não agradou o
Tenente. Ele desceu a mão por baixo da mesa e agarrou a coxa do Ômega,
com bastante força capaz de deixar uma marca. Jisung sobressaltou
assustado e olhou para o Tenente com os olhos arregalados.
— Nada como uma boa mão firme para educar nossos Ômegas.
— Está insinuando que meu filho não foi bem educado, Tenente? — o
governador indagou ofendido — E o que quis dizer com mão firme?
Pretende agredir meu filho? Não vou admitir isso.
— Não, nada disso senhor. — O Tenente intensificou o aperto na coxa do
Ômega e Jisung engoliu um chiado doloroso, seus olhos já estavam
lacrimejando outra vez — Pretendo tratar seu Ômega com a maior
delicadeza possível.
— Fico feliz em ouvir isso — Park Shinsung suspirou aliviado, sem
imaginar o mal que aquele Tenente fazia ao seu filho naquele momento —
Meus filhos são os meus maiores tesouros. Minha intenção é acima de tudo,
que eles sejam felizes e bem tratados.
— Ele com certeza será muito bem tratado. — o Tenente subiu a mão até
estar próxima a virilha do Ômega e apertou novamente — Serei muito
gentil e cordial com minha frutinha.
O governador assentiu satisfeito e logo voltou a atenção ao Ômega, que
estava explicitamente incomodado com algo.
— Está se sentindo bem, filho?
— Papai… — O menino soluçou e engoliu tentando prender o choro.
Quando o governador se levantou de sua cadeira caminhando preocupado
até o Ômega, o Tenente Jo o livrou de seu aperto asqueroso.
— Filho, você está pálido.
— Eu não estou me sentindo bem. — Jisung confessou — Posso tomar
um pouco de ar lá fora?
Sua voz estava trêmula e ele mantinha a cabeça baixa e a mão na boca,
para continuar segurando o choro e a imensa vontade de vomitar.
— Claro meu filho, tenho certeza de que o Tenente não se incomodará
com isto. — Jo assentiu e Park Shinsung ajudou o filho a se levantar,
puxando sua cadeira para trás — Quer que eu o acompanhe?
— Não… — Jisung esquivou-se de seu pai e correu em direção a entrada
principal.
Parado na varanda, o Ômega liberou o ar que estava preso em seus
pulmões e com ele algumas lágrimas desceram. Um barulho de metal
raspando chamou sua atenção, e ele olhou para o lado. Havia um Alfa
sentado próximo à uma coluna, afiando a lâmina da sua katana com uma
pedra, fitando-o com olhos castanhos e profundos. Sua expressão estava
entre surpreso e curioso.
A troca de olhares foi rápida. Jisung ouviu passos logo atrás e pensando
se tratar do seu pai, ele correu na direção do jardim para se esconder. Mas
foi o Tenente Jo que saiu em sua busca.
— Jackson — o Tenente se dirigiu ao Alfa que afiava sua katana — viu
um Ômega passar por aqui?
— Não.
— Tsc... Esteja pronto, partiremos ao amanhecer. — Jo voltou-se para
dentro.
Jackson olhou na direção ao jardim mas não viu nem sinal do Ômega.
Ele então voltou a tarefa de aprimorar sua arma.
Continua...
[23] Impacto das Ações

Reescrito

Na manhã seguinte, porto estava bastante movimentado, por marinheiros
que seguiam carregando provisões para a longa viagem que fariam e
também alguns mercadores que comercializavam por ali. Jackson convocou
alguns dos melhores capangas que conhecia para acompanhá-lo. Eram os
piores criminosos da região; ladrões e assassinos. Alfas de aparência vil e
com modos rudes. Mas o caçador não estava preocupado com isso, já que
os mercenários eram capazes de fazer qualquer coisa mediante pagamento
em prata.
Os Alfas levavam barris cheios de bebidas para dentro da embarcação.
Estavam abertamente felizes e satisfeitos por enfim voltarem a encher seus
bolsos. Um dos que carregavam as provisões esbarrou no Tenente Jo, quase
lançando-o ao chão.
— Olha por onde anda, marginal! — o Tenente resmungou enfurecido.
A resposta veio através de um rosnado animalesco e uma cuspida no seu
sapato lustroso.
— Porco fardado! — rugiu o bandoleiro.
Outros Alfas do bando riram da cena.
— Por que esses sujeitos precisam ir conosco? — um oficial questionou
ao Comodoro. — Eles não tem modos. Parecem animais.
— São peças descartáveis, Siwon — O Comodoro respondeu
calmamente e acenou com a cabeça para o caçador, que estava examinando
seus pertences do outro lado. — São eles que farão todo trabalho pesado, e
felizmente morrerão em nome da causa. E toda a glória ficará para nós.
O oficial riu assentindo.
— Captei a vossa mensagem.

Como em todos os dias, desde que se juntou oficialmente à tripulação,
Jimin desceu até o convés inferior e seguiu até a passagem que levava à
cozinha para ajudar Junbuu. Na porta, ele encontrou o Alfa espadachim, e
obteve certa dificuldade para poder passar pelo mesmo.
— Não pode passar, loirinho — Yoongi afirmou pela segunda vez. —
Não insista.
— Mas por que não?
— É, por que não? — Scott se aproximou de ambos e cruzou os braços.
— Por que o Capitão não deixa ele descer?
— Como assim? — Jimin questionou confuso, mas Yoongi não lhe deu
atenção e girou para o outro Alfa:
— É uma ordem. Tudo o que você precisa fazer é obedecer.
— E o Sven que se dane! Se fosse o Capitão aposto que iríamos atracar
em algum porto... — Jimin se aproveitou da pequena discussão entre os
Alfas e tentou passar de fininho, mas Yoongi esticou o braço e o puxou de
volta, enquanto ainda fitando os olhos furiosos de Scott. — Ah, quer sabe?
Foda-se.
Yoongi e Jimin observaram o Alfa voltar para a coberta superior, pisando
duro. O Ômega então se voltou para Yoongi:
— Eu poderia passar por você, mas não quero. — Yoongi riu
desacreditado, mas nada falou, e Jimin saiu atrás de Scott.
O Ômega encontrou-o mexendo nos caixotes do convés. Parecia estar
furioso, então Jimin permaneceu afastado alguns passos e o chamou
cuidadoso:
— Scott?
O Alfa ergueu os olhos para fitá-lo. Por mais que estivesse chateado com
a situação, sabia que Jimin não era culpado de nada, quando ouviu chamá-
lo com um tom de voz tão doce e viu seu olhar curioso, ele respirou fundo
tentando afastar a raiva, para não tratá-lo com a grosseria que não merece.
— Sim?
— Você sabe por que o Capitão não quer que eu desça para as cobertas
inferiores?
— Sei — Scott largou as ferramentas que estavam dentro do caixote e
girou para encará-lo. — Meu irmão está em seu período de rut. Sua
presença neste navio é como uma tortura para ele. O coitado está neste
momento sentindo seu cheiro doce, e o desejando mais do que tudo. Ele
está sofrendo, Jimin.
— M-mas Scott, eu sou do Capitão. — Jimin respondeu, constrangido.
— Não posso… você sabe…
— Mas não estou vendo nenhuma marca em você.
— No meu coração eu pertenço à ele. É como eu desejo, não preciso de
uma marca para provar isso.
— Escute, não me entenda mal. Eu não quero que Sven o estupre. Mas
você poderia dar uma mãozinha à ele, se é que me entende…
Jimin abriu a boca e ergueu as sobrancelhas indignado com a proposta.
Ele não soube o que responder. Mas não conseguia enxergar a diferença.
Para ele, em todo o caso, ainda seria como um abuso.
— Scott! — A voz do Capitão soou como um estrondo do convés
superior.
O Alfa sentiu seu corpo paralisar. Foi como se sua vida estivesse
passando diante dos seus olhos. Lentamente, ele girou para encará-lo.
— Sim, Capitão?
— Quando eu pedi para que me trouxesse as ferramentas, estava me
referindo para hoje mesmo, não na semana que vem.
— Estou indo. — Scott voltou-se para a caixa e erguendo-a do chão,
seguiu para as escadas.
Jungkook, que estava com um semblante sério no rosto, levou o olhar até
o Ômega e suavizou as feições, sorrindo e piscando com um olho. Jimin
mordeu o lábio e sorriu de volta. Mas quando o Capitão lhe deu as costas,
logo o que Scott havia dito começou a incomodá-lo fortemente.
Mesmo que não fosse sua intenção, ele estava contribuindo para o
sofrimento do pobre bucaneiro. Então se tivesse algo que Jimin pudesse
fazer, ele o faria. Ele passou os olhos pelo convés, ponderando no que
poderia ser feito, mas não conseguiu pensar em nada que ajudasse de fato.
Mas quando viu Taehyung observando algum lugar distante com sua luneta,
ele logo seguiu em direção à ele.
O navegador é inteligente, logo saberia o que fazer.
— O que tanto vê de interessante? — O Ômega questionou se colocando
ao lado dele.
— Veja você mesmo. — Taehyung sorriu entregando o objeto ao outro.
Jimin pegou a luneta e elevou com curiosidade. Ele viu uma grande faixa
de terra ao longe e outras pequenas ao seu redor.
— Por que não podemos ancorar?
— Porque essas terras são um pouco... bem, há muitos animais estranhos
e não catalogados por aqui. Essas ilhas estão repletas de criaturas mortais, o
que se sabe é que ninguém que tenha ido até lá voltou vivo para contar as
histórias.
— Se ninguém voltou, como sabem dos perigos que tem lá?
Taehyung olhou para ele e sorriu dando de ombros.
— Você é inteligente. Mas é o que dizem, sabe?
— Sim… uhm, eu preciso da sua ajuda.
— Pode falar.
— O Sven está trancado no porão...
— Eu sei. É o que acontece com todos os Alfas da tripulação quando
entram em no período do rut. Bem, alguns...
— Sim, o Capitão… já explicaram isso.
— Namjoon, Yoongi e Hoseok também não passam por isso sozinhos. Jin
ajuda nosso contramestre. E eu… — Taehyung umedeceu os lábios. — Eu
tenho trabalho em dobro.
— Oh… eu não quero ofender mas, nesse período particular de um alfa,
eu pensei que apenas um Ômega era capaz de…
— Satisfazê-los? — Jimin assentiu, envergonhado. — Não ofendeu. Você
tem razão em parte... eu não sei o Jin, mas eu dou conta, sabe?
— Sim...
— Você é muito adorável. — Taehyung riu da expressão envergonhada
do Ômega. — Mas não entendi no que você quer a minha ajuda
exatamente.
— Scott contou que a minha presença é como uma tortura para o Sven.
Então eu pensei que você soubesse de alguma coisa que pudesse ser feita…
mas agora que vi aquelas ilhas, talvez eu possa descer um bote e ficar por lá
esses dias.
— É muito nobre da sua parte. Entendo que queira ajudar e eu mesmo o
levaria e ficaria com você lá, mas só se o Capitão deixar. E eu acho difícil
que ele permita isso.
— Podemos ir escondidos.
O Beta comprimiu os lábios.
— Sinto muito, Jiminie. Mas sem a permissão do Capitão, eu não posso
fazer nada.
Jimin suspirou derrotado, mas entendia a situação do Beta. Até admirava
sua lealdade. Ele o deixou a observar as terras envoltas de mistérios e
seguiu cabisbaixo pelo convés. Jimin olhou para os botes e as grossas
cordas que o prendiam nas laterais do navio, pensando consigo mesmo que
não precisava da ajuda de ninguém. Olhou para os lados e quando percebeu
que ninguém estava por perto, tentou libertar os botes. Bufou irritado depois
de longos minutos na tentativa frustrada de desfazer os malditos nós.
Estavam muito firmes.
— O que está aprontando? — Ouviu a voz do contramestre e quase teve
um ataque cardíaco.
— Eu só estava conferindo se os nós estavam firmes.
— Mentira — Namjoon se aproximou vagarosamente, e Jimin retrocedeu
alguns passos. — Fale o que está fazendo, Ômega.
Ele viu que Jimin estava com medo e parou cruzando os braços,
esperando pela resposta. De repente, algo passou pela cabeça do Ômega;
Namjoon nunca gostou dele, então seria possível obter a sua ajuda se ele
contasse sobre sua verdadeira intenção. Era isso, ou o Alfa recorreria ao
Capitão, na intento de obter sua confiança outra vez.
— Eu estava tentando descer um dos botes e acampar em uma daquelas
ilhas até que o rut do Sven passasse. — falou firme, com o rosto erguido.
Namjoon ficou calado durante alguns segundos, estudando as feições do
Ômega. Algum tempo depois, ele articulou:
— E ia fazer isso escondido do Capitão, eu suponho.
— Ele não se mostrou muito preocupado com a situação do Sven.
— Não é apenas ele. Ninguém liga. Por que você se importa?
— Porque é desumano! Se eu desembarcar ajude um pouco no
sofrimento dele, então eu preciso fazer isso.
Namjoon o estudou desconfiado. O Ômega estava apenas com uma
pequena faca em sua posse, era muita inocência da sua parte pensar que
estaria seguro se fosse sozinho para aquelas ilhas, portando apenas uma
simples adaga. Mas havia sinceridade em suas palavras.
— Vá em frente. Estamos ancorados.
Jimin o olhou surpreso.
— Não vai mesmo me impedir?
— Não.
Desconfiado, o Ômega se voltou para as cordas, com o contramestre
ainda observando com seus braços cruzados.
Novamente ele não conseguiu desatar os nós.
— Será que você poderia me ajudar? — Jimin perguntou receoso e
pronto para receber um sonoro não.
Mas o Alfa revirou os olhos e Jimin se afastou rapidamente, saindo de
seu caminho quando ele se colocou a desfazer os nós que prendiam o bote,
e o desceu devagar.
— Desça e espere por mim. Vou buscar algumas coisas que iremos
precisar.
Jimin o olhou confuso mas antes que a pergunta saísse de sua garganta, o
Alfa se afastou e desceu para as cobertas inferiores. Jimin então olhou para
os lados, e como ninguém o observava, ele desceu e se acomodou no
barquinho, aguardando o Alfa assim como ele havia lhe dito. Um tempo
depois, Namjoon apareceu lá no alto e desceu pelas cordas trazendo consigo
algumas provisões.
— Você também vai? — Jimin perguntou surpreso e o Alfa confirmou,
balançando a cabeça.
— Essas ilhas são perigosas para um Ômega sozinho.
— Você se preocupa comigo…
— Não se iluda. Você é o único Ômega lúpus que temos no momento.
Não seria inteligente da minha parte deixá-lo se matar, quando dependemos
de você para decifrar o mapa.
Jimin suspirou entristecido. Ele ficou quieto, observando Namjoon pegar
dois remos e levá-los na direção das ilhas.
Continua...
Obg Mxltixbabe pela arte linda ❤
[24] Clandestino Inesperado

Reescrito

O capítulo possui TENTATIVA de estupro.
Vou deixar isso aqui ⚠ pra marcar quando começa e quando
termina a cena ❤
Boa leitura:

Dias após zarpar da baía coreana, a frota da Marinha Real seguia com
uma mínima ideia de onde seus inimigos poderiam estar. A última
localização exata que tinham, era próximo da ilha onde Jimin fôra
encontrado. Ao ser deixado boiando à deriva, o Comodoro tinha apenas a
certeza de que o Black Swan seguiu navegando para o sul.
— Estamos à toda velocidade, senhor.
— Ótimo — respondeu o Comodoro. — Onde está o caçador ?
— Acredito que em seus aposentos.
— Excelente. Não lhes passem qualquer informação sobre localizações
ou nossos planos. E fiquem de olho naqueles selvagens.
— Sim, senhor.
Choi estava obviamente se referindo aos bandoleiros contratados por
Jackson. A eles foram atribuídas as acomodações do porão de carga, onde
dormiam em redes no aperto dividido com os suprimentos. É claro que
esses Alfas não permaneciam todo o tempo no abafado do porão, e subiam
para os pisos superiores, onde bebiam e farreavam vulgarmente, para
infortúnio dos marinheiros. Ninguém era capaz de controlá-los a não ser o
próprio Jackson, e este não se importava com o bem estar dos oficiais da
Marinha, deixando com que aqueles Alfas bárbaros fizessem o que bem
entendessem.
Durante o jantar, um dos oficiais teve a coragem de exigir do caçador um
posicionamento mais firme sobre os Alfas criminosos.
— Você trouxe um zoológico para dentro do nosso navio. Bestas
imundas! — o marinheiro acusou, enquanto o caçador comia
tranquilamente. — Controle-os.
Os Alfas bandoleiros rosnaram mas na presença de Jackson, nada fizeram
além de proferir ameaças e xingamentos.
— Agora entendo porque não conseguiu recuperar seu Ômega,
Comodoro Choi — O caçador afirmou em tom de zombação. — Seus Alfas
são fracos, deveriam estar em casa assando biscoitos e fazendo bordados.
Os bandoleiros gritaram e deram altas gargalhadas, zombando dos
marinheiros, enquanto estes ameaçavam inutilmente jogá-los ao mar.
— E você acha que sua vida é melhor que a nossa, caçador ? — Jo se
pronunciou. — Nós somos os verdadeiros afortunados. Choi e eu vamos
nos casar com os filhos do governador. Ômegas no qual você nunca terá a
chance nem de olhar, sequer. Continue na companhia desses bastardos
imundos, que nós ficamos com nossas beldades.
— Pobres Ômegas... aposto que eles possuem mais virilidade do que
vocês dois teriam em dez vidas — Jackson se levantou e caminhou até a
mesa em que os oficiais estavam. Temerosos, alguns logo sacaram suas
pistolas, e o caçador parou com um sorriso debochado e as mãos erguidas.
— Se precisar de um Alfa de verdade na sua noite de núpcias, ajudarei com
enorme prazer.
Jogando seu prato e caneca em uma das bacias, o caçador foi o primeiro a
se retirar da cozinha, deixando para trás o Tenente Jo quase borbulhando de
raiva. Ele passou um tempo pelo convés, observando o céu noturno e cheio
de estrelas, e logo depois recolheu-se em seus aposentos.
Assim que deitou em sua cama, lembrou-se do Ômega loirinho que o
fitou com aqueles olhos assustados e saiu correndo, sumindo entre os
jardins. No mesmo instante, afastou o pensamento estranho e aleatório,
fechou os olhos e adormeceu. Mas não demorou muito até ser desperto
ouvindo uma voz muito estranhamente presente. Ele abriu os olhos de
modo repentino e apontou a sua pistola na direção da porta. Jackson riu de
si mesmo, acreditando que se tratava de um pesadelo e quando estava
prestes a voltar a dormir, ouviu a voz e o que ela dizia, agora com mais
clareza:
— Não! Eu não quero me casar... não!
Era a voz de um Ômega jovem e se seus sentidos não estivessem
enganados, ele estava embaixo de seu leito.
Jackson desceu da cama e agachou-se para espiar debaixo dela. Como ele
havia desconfiado, realmente havia um Ômega embaixo da sua cama, e não
era qualquer Ômega, era o loirinho que vira na casa do governador. Ele
guardou a pistola e foi até a beirada da cama, segurou os pés do Ômega e o
puxou para fora do seu esconderijo. Com o movimento brusco, Jisung abriu
os olhos assustado e ficou ainda mais apavorado quando viu aquele Alfa
intimidador olhando-o com os braços cruzados.
— O que está fazendo aqui? — O menino permaneceu calado, todo
encolhido e morrendo de medo. — Vamos, explique-se.
— M-meu pai diz que não devo falar com estranhos. — Foi o que disse,
encolhendo os ombros.
O Alfa revirou os olhos.
— Você é Park Alguma Coisa e eu sou Jackson Wang. Estamos
apresentados. Agora diga-me, o que estava fazendo embaixo da minha
cama? Não sou tão paciente quanto aparento.
— Jisung.
— O quê?
— Meu nome é Jisung.
— Certo, Jisung. Mas ainda estou esperando uma explicação.
O menino se levantou, segurando uma bolsa.
— Eu fugi de casa, para encontrar meu irmão e ficar com ele.
— E pretendia fazer isso escondido embaixo da minha cama. Como iria
se alimentar? — Jackson olhou para a sacola na posse do Ômega e com um
puxão brusco tomou-a dele. — Pão, alguns biscoitos, um pouco de água...
— Foi listando as poucas coisas que tinha dentro. — Acha que ia
sobreviver com apenas isto durante semanas no mar? É muito inocente,
garoto.
— Não. Isso foi o que consegui trazer comigo escondido.
— E o que iria comer quando acabasse suas provisões? Os ratos que
conseguisse capturar embaixo da cama? — Jisung apenas comprimiu os
lábios e abaixou a cabeça— Vou levá-lo para seu noivo.
— Não! Por favor, deixe-me ficar escondido.
Jackson entendia o motivo dele ter fugido, qualquer um o faria se fosse
noivo do Tenente Jo ou do Comodoro. Seja lá qual fosse o seu noivo, eram
duas lástima.
Mas ele não tinha nada a ver com isso. Durante toda a vida ele viveu
como um lobo solitário, agindo de acordo com suas próprias vontades e
fazendo diversos tipos de coisas para garantir sua sobrevivência. Para
manter-se vivo durante todo esse tempo, o caçador aprendeu a não tomar as
dores de ninguém. Ele não se importava com ninguém além de si mesmo.
Então sem nenhum peso na consciência, ele se encaminhou até a porta e a
abriu.
— Vamos.
— Por favor?
— Você vai sair sozinho ou prefere que eu o coloque para fora?
Seu olhar era irredutível e não havia nada que Jisung pudesse fazer.
Chegara o fim de sua jornada. Eles voltariam a Coréia e quando seu pai
soubesse de seu comportamento vergonhoso, o manteria trancafiado em seu
quarto até chegar o dia de sua sentença; o casamento com Tenente Jo.
Com os ombros caídos, ele saiu do cômodo passando pelo Alfa e sendo
seguido de perto pelo mesmo. No mesmo corredor, Jackson bateu na porta
do primeiro quarto em que vira, e foi justamente o do Tenente Jo.
— O que-... Jisung? — o Tenente olhou o Ômega com espanto e voltou a
atenção para o caçador. — O que está fazendo com meu noivo?
— Ele estava escondido no meu quarto.
— Por que? Como ele conseguiu entrar no navio?
— Pergunte isso à ele... se me der licença eu pretendo dormir ainda hoje.
— Jackson girou sobre os calcanhares e voltou para seus aposentos, sem ao
menos olhar para trás.
Ele fechou sua porta e dormiria o sono dos justos. Sem nenhum remorso.
Jo escancarou a porta e apontou para dentro do quarto.
— Entre — O Ômega suspirou e fez o que o Tenente havia mandado.
Após alguns passos para o interior do cômodo, ele ouviu a porta ser fechada
e ficou parado ao ouvir os passos do Alfa logo atrás. — Então, o que faz no
navio? Ah, não precisa responder, eu já sei. Estava tão ansioso quanto eu
para nos vermos, não é mesmo?
Jisung não respondeu, ao invés, fez uma outra pergunta por cima:
— Vai me levar de volta à Coréia?
— Não… — O Tenente foi direto, devorando o corpo do Ômega com os
olhos. — Confesso que essa maldita viagem vai me sair melhor do que eu
previa. Deite-se na cama.
— Estou sem sono.
O Alfa sorriu e inspirou profundamente, o leve cheiro de lavanda do
Ômega.
— Obedeça seu noivo. — Derin ordenou com voz calma e paciente, mas
com um certo tom de comando — Deite-se.

Sem ter o mínimo conhecimento sobre o que o Alfa pretendia, Jisung
sentou-se primeiramente e aos poucos foi inclinando as costas, até estar
completamente deitado sobre o colchão. Alarmou-se quando o Jo subiu na
cama e tentou erguer corpo, mas o Alfa espalmou em seu peito, fazendo-o
se deitar outra vez, ao passo que ficava de vez sobre dele.
— O que está fazendo? — Jisung questionou ficando assustado com
aquela investida do Tenente.
Já sentia medo dele desde seu comportamento completamente repulsivo
durante o jantar na casa do governador. Agora temia que ele fizesse algo
pior, dessa vez, não teria ninguém para auxiliá-lo.
— Shhh... — O Tenente inclinou o corpo para frente, até manter o
Ômega encaixado entre seus braços. E mesmo que Jisung o empurrasse
fortemente, Jo permaneceu no mesmo lugar, mantendo-o sob seu domínio.
— É um presente dos deuses.
— Por favor, não...
— Fique quieto — Ordenou Jo, calando-o com um dedo em seus lábios.
— Vamos nos casar de qualquer jeito, eu tenho esse direito. Não quero
esperar até que um padre diga quando posso tocar em meu Ômega... quando
posso fazê-lo agora.
— Eu não quero. — Jisung tentou impor-se com mais ímpeto contra o
Alfa, acertando alguns golpes contra ele.
Sem nenhum esforço, Derin bloqueou seus ataques. Estava exalando
fúria e tentava inutilmente encondê-la, quando rosnou cada palavra:
— Tsc, tsc, tsc... se lutar vai ser pior. — Ele fechou os olhos e inspirou
outra vez o aroma de lavanda, e os abriu novamente quando ouvir o Ômega
fungar baixinho — Ah, meu querido, pode chorar. Assim eu fico mais
excitado...
Quando o Tenente curvou o rosto para frente no intuito de beijá-lo,
Jisung virou o rosto para o lado, tentando ao máximo fugir de sua investida.
O Tenente mal teve tempo para repreendê-lo, quando ouviu batidas em sua
porta.
— Quem é? — Derin rugiu cheio de ira.
— Sou eu, senhor, Diwon — o oficial identificou-se e continuou logo em
seguida: — Interceptamos uma embarcação mercante, eles dizem ter sido
abordados por um navio pirata de velas negras, e juram que foram a
tripulação do Black Swan. Senhor, eles... eles estão todos sem os dentes.
— Diga ao Choi que já estou indo.
— Sim, senhor.
Derin bufou frustrado e voltou sua atenção ao Ômega.
— Eles nos interromperam meu querido, mas eu logo irei retornar para
continuarmos de onde paramos — Ele aproximou os lábios do seu ouvido e
avisou: — Estamos cercados pelo oceano, não há nenhum lugar que possa
ir. Quando eu voltar, espero que você ainda esteja deitado do mesmo modo
em que o deixei. Se eu voltar aqui e não encontrá-lo em minha cama, vou
fazer com que se arrependa... você entendeu, minha frutinha?
O Ômega apenas assentiu balançando a cabeça, mantendo os olhos
fechados. Jo sorriu satisfeito e saiu de cima dele, saindo do cômodo em
seguida. Jisung permaneceu parado na mesma posição em que estava, até
que sua respiração foi se tornando mais calma, a medida que seus
pensamentos retornavam para o lugar. O choro se tornou mais alto e os
soluços quase incontroláveis. Ele se sentou na cama e colocou as mãos
contra a boca, tentando se recompor.

“O que Jimin faria ?” — questionou-se mentalmente.
A resposta veio logo a seguir com suas ações. Ele se levantou e seguiu
sorrateiro até a porta, com medo de que a qualquer momento o Tenente Jo o
encontrasse fora da cama. Quando abriu a porta e espiou o corredor,
suspirou aliviado ao notar que estava completamente vazio.
Sem pensar direito no que estava fazendo, ele seguiu pé ante pé até o
quarto do caçador, já que foi o único Alfa em que o menino não notou
nenhum tipo de olhar depravado sobre o corpo dele. Decidido a barganhar
pelo auxílio de Jackson, Jisung bateu em sua porta algumas vezes mas não
obtendo resposta, resolveu girar a maçaneta e entrar.
— Sr. Jackson? — Chamou baixinho, e logo descobriu segundos após,
que o Alfa dono daquele quarto não estava lá.
Jisung encostou a porta novamente. Ainda sem saber o que fazer, ele
olhou ao seu redor e resolveu se sentar no chão, no cantinho entre a parede
e uma cômoda. Ainda chorando silenciosamente, ele aguardou por seja lá
qual for o Alfa que entrasse naquele cômodo.
Continua...
Eu vou começar a deixar a posição atual das embarcações principais,
só pra vocês terem uma certa ideia de onde eles estão, caso alguém
esteja perdido quanto à isso.
Sempre que eles mudarem de posição, ou surgir outra embarcação
principal, eu volto com o mapinha pra atualizar.
Frota da Marinha Real - X azul.
Black Swan - X preto.
Imagino quem alguém esteja se perguntando como a tripulação sabia
que era o terceiro fragmento quando encontraram na caverna.
Bom, eles não sabiam kkksj conseguiram o pergaminho através de
informações que Hoseok obteve de que havia um dos fragmentos no
Triângulo da Morte.
Julgaram ser o certo apenas pelos riscos disformes e figuras
parecidas com os demais fragmentos que eles já possuíam.
E deram sorte.
Foi apenas isso.
[25] Animais Fantásticos

Reescrito

Com os olhos inchados de tanto ter chorado, e a marca das lágrimas secas
sobre as bochechas, Jisung sobressaltou ao ouvir a porta ser aberta. Ele se
encolheu ainda mais no cantinho de seu esconderijo, temendo ser o Alfa
Tenente que veio a sua procura. Estava com a cabeça baixa quando ouviu os
passos se aproximarem, e o sujeito parar próximo a ele.
“Será que ele não me viu?” — perguntou-se. Tomado por um pouco de
coragem, o Ômega ergueu a cabeça e seu coração quase pulou para fora do
peito, quando viu o Alfa caçador o encarando com os braços cruzados e um
semblante sério.
— Você de novo. — Jackson proferiu.
Jisung suspirou cansado.
— Não me leve de volta para ele.
— Eu não me importo com seus dramas, Ômega. Agora levante-se, antes
que eu perca o último resquício de paciência que me resta.
— Por favor, eu imploro sr. Jackson — O Ômega se colocou de joelhos e
juntou as mãozinhas, em uma atitude completamente desesperada ele pediu
enquanto voltava a chorar pesadamente: — Faço o que o senhor quiser...
deixe-me escondido aqui ou apenas me mate, mas não me faça voltar para
ele
Jackson ficou surpreso com aquelas palavras tão pesadas, para serem
ditas pela boca de um Ômega tão jovem. O que poderia ter acontecido de
tão grave, para que aquele pequeno estivesse tão desesperado a ponto de
preferir a morte.
— Tudo bem, apenas pare de chorar. — O Alfa suspirou.
— Vai me deixar ficar?
— Pare de chorar e levante-se desse chão sujo — Jisung fez como ele
disse, ficando de pé e limpando suas vestes. — Sente-se na cama.
Aquelas palavras despertaram medo no Ômega e ele voltou alguns passos
para trás, encostando-se na parede.
— Prefiro ficar em pé.
— Que seja — Jackson deu de ombros e puxou uma cadeira para sentar-
se de frente para o Ômega. — Agora conte, por que prefere ficar no meu
quarto ao invés de ser entregue ao seu noivo?
— Ele me quer em sua cama. Quer fazer coisas com o meu corpo, contra
a minha vontade. Ele tentou fazer isso mas um oficial apareceu chamando
ele e mencionou algo sobre o Black Swan e marujos sem dentes.
O caçador franziu o cenho confuso, mas logo se levantou e caminhou até
a porta.
— Espere! — o Ômega pediu. — Você vai chamá-lo?
— Não. Espere aqui, eu já volto.
— Mas e se ele aparecer aqui?
— Apenas eu tenho a chave — Jackson hesitou, apontando para a cama.
— Pode descansar na minha cama... ou no chão se achar mais confortável.
Antes que o Ômega pudesse agradecer, a porta foi trancada, deixando-o
sozinho.

Reunidos na popa do Black Swan, estavam Jungkook e sua mecânica,


analisando os danos que fizeram com que o leme ficasse travado. A
embarcação levou dias para cobrir uma curta distância, que poderia ser
percorrida em pouco tempo. Eles estavam atrasados em sua busca, de
acordo com o itinerário estipulada pelo navegador.
A timoneira e alguns outros piratas também estavam por ali, aguardando
novas ordens de seu Capitão. Todos ansiosos para saber os motivos do
atraso, temendo que os recursos se esgotassem rápido, justamente naquela
localidade, próximo as misteriosas ilhas onde ninguém pelo que se sabe,
sobreviveu para contar o que de fato havia por lá.
— Então foi isso, um golfinho preso no leme.
— Morto — Billy acrescentou. — Está todo-...
— Já entendemos, Billy — Dahyun interrompeu o que seria um
depoimento detalhado sobre a carcaça do pobre animal preso no material do
navio. — Não precisa entrar em detalhes.
O Alfa deu de ombros.
— Muito bem — Jungkook decidiu. — Billy e Scott irão revezar com
Jared e Chaerin.
— Por que eu? — A timoneira questionou incrédula.
— Porque foi você quem passou por cima dele. Espero que tenham um
bom fôlego, porque eu não vou levar o Black Swan àquelas ilhas. Os Alfas
escolhidos engoliram em seco. Teriam de fazer o trabalho dentro da água,
seria complicado, mas era possível.
— Se o Jimin souber do que aconteceu com o golfinho... — Taehyung
comentou triste.
— Não contem para ele. — Jungkook ordenou e todos assentiram
concordando.
Enquanto isso, Jimin estava bem longe da embarcação, conforme
Namjoon remava sem sinal de cansaço nos braços, levando-os na direção de
uma das ilhas. Assim que chegaram na margem, o Alfa puxou o bote para
prendê-lo em algum lugar.
Jimin afastou-se um pouco, subindo em algumas pedras e quando viu
algo que chamou sua atenção, se abaixou para olhar mais de perto. Havia
uma pequena criatura, amarela com anéis acinzentados, e ao perceber a
presença do Ômega, os mesmos anéis tornaram-se azuis. Jimin ficou
impressionado com aquelas cores tão vibrantes do pequeno animal. Ele
levou a mão para segurá-lo por um instante, mas antes que pudesse tocá-lo,
sentiu uma mão agarrar seu braço e o puxar para longe.
— Fique por perto. — Namjoon ditou enfurecido, pelo Ômega ter se
afastado.
O Alfa estava quase se arrependendo de ter levado o mais novo para
aquelas ilhas. O Ômega parecia uma criança curiosa que não parava quieta,
se qualquer coisa o acontecesse, ele estava certo de que o Capitão Jeon lhe
faria cem vezes pior. Jimin deu de ombros e o seguiu floresta a dentro. Sem
perceber, eles passaram por aranhas, cobras e outras criaturas peçonhentas,
que estavam ocultas pelo caminho. Além dos diversos tipos de vegetação
desconhecida, mas que escondem os mortais e mais terríveis venenos.
O sol forte reinando sozinho pela imensidão do céu, deixava o clima
quente durante o dia, e o calor extremo fazia com que Namjoon e Jimin se
cansassem mais depressa durante a caminhada que durou alguns minutos.
Apesar das árvores serem muito altas, elas eram muito próximas umas das
outras e o pouco espaço que eles tinham para se locomover, tornava-se cada
vez mais quente e abafado.
Quando eles encontraram um espaço mais aberto e com melhor
ventilação, o Alfa finalmente parou a caminhada e decidiu que aquele seria
um bom lugar para eles ficarem. Agachado, ele começou a guardar seus
itens no meio de duas raízes grandes e grossas.
Pássaros voavam entre os ninhos nas copas das árvores, com seu canto
lindamente se misturando ao som das folhas que dançavam ao vento. Jimin
estava ao lado do contramestre, apenas observando enquanto o Alfa mexia
em suas coisas. Ele sobressaltou ao ouvir um barulho que veio do alto e
muito semelhante ao de um grande felino. Ambos olharam para cima, e
viram um macaco pular de um galho para o outro.
— Não acho que vai chover. Então só precisamos de-... — A voz de
Namjoon falhou quando ele notou com a visão periférica, uma serpente se
aproximar traiçoeira bem ao seu lado.
A cobra curvou o corpo como a letra S, pronta para atacar. Sem nenhuma
reação e apenas esperando pelo bote, Namjoon engoliu em seco e fechou os
olhos.
Mas ao invés de sentir a picada, ouviu o grito do Ômega e quando abriu
os olhos, ele viu Jimin segurar a cobra pela ponta do rabo e a lançar para
longe, correndo na direção do Alfa para ajudá-lo a ficar de pé. A serpente
retornou, rastejando ligeira para tentar repetir seu ataque, mas Namjoon
rapidamente sacou sua pistola e atirou na cabeça do réptil.
— Que inferno de lugar é esse? — Ele questionou olhando para o
Ômega. Logo, eles estavam recolhendo suas coisas e saindo daquela
clareira. — É melhor a gente ficar pela margem.
— Mas o Jungkook não vai ver a gente?
— Estamos longe o suficiente... mas é melhor não arriscar. Vamos
contornar a ilha e ficar mais a noroeste.
Jimin assentiu e eles seguiram com a caminhada. Assim que chegaram no
ponto de acesso à praia, eles viram de longe, diversos crocodilos
descansando na margem.
— Puta que pariu! — o Alfa rosnou com raiva sacando sua arma e
apontando para os bichos. — Vão morrer todos!
Mas antes de atirar, sentiu as mãos do Ômega sobre as suas, o obrigando
a baixá-las.
— Eles são muitos e enormes — Jimin observou. — Repare bem em suas
peles, parecem armaduras. Mesmo que use todas as suas armas, só vai
chamar mais a atenção deles ou de qualquer outro 'monstro' que habite
aqui.
Namjoon comprimiu os lábios, sendo obrigado a concordar.
— Vamos voltar para o barco, pelo menos lá eu não vi nenhum tipo de
ameaça. E sinceramente, eu prefiro lidar com o Capitão bravo do que essas
criaturas medonhas.
Jimin anuiu pensando na mesma coisa. Sem muita dificuldade, eles
seguiram o caminho de volta. O Ômega caminhava na frente e tomou um
grande susto ao ser puxado pelo Alfa contra uma árvore e ter uma grande
mão pressionada contra sua boca. Ele tentou lutar mas Namjoon sussurrou:
— Shh, fica quieto. Não estamos sozinhos...
Jimin arregalou os olhos e encarou o Alfa esperando alguma explicação,
mas Namjoon mantinha a atenção ao seu redor, tentando captar qualquer
outro ruído que o ajudasse a identificar quem quer que estivesse por ali. O
barulho do disparo da arma do Alfa quando ele matou a cobra, não só
espantou alguns animais, mas também chamou atenção do povo que viviam
secretamente naquelas ilhas.
— Eles não devem ter ido muito longe. — Ouviram uma voz entre as
árvores.
— Precisamos encontrá-los logo. Eu tô com fome. Faz anos que não
comemos carne deles.
Jimin agradeceu mentalmente pelo Alfa ainda não ter tirado a mão de sua
boca, porque depois daquela última afirmação, ele quase soltava um chiado
de pavor.

Os piratas ainda mantinham-se revezando no trabalho de limpar o leme
do navio. Já estavam se aproximando do horário da próxima refeição e eles
queriam terminar a tarefa o quanto antes. Chaerin e Jared saíram da água e
subiram pelas cordas de apoio, no mesmo segundo, Scott e Billy
mergulharam em direção ao aparelho.
— Ainda falta muito? — Dahyun questionou a timoneira.
— Não. Só mais um pouco e o leme está livre — Chaerin olhou para a
água com grande horror, quando ela começou a mudar sua cor para
vermelho. — Capitão! — Exclamou apontando para baixo.
Jungkook e os outros piratas se debruçaram sobre a popa e olharam
chocados enquanto Billy e Scott tentavam lutar contra um enorme tubarão
branco. Billy acertou com uma faca um dos olhos do animal e assim ele
largou a perna do outro Alfa, fugindo nadando para longe.
— Subam eles! — Jeon ordenou segurando as cordas e com ajuda dos
demais bucaneiros, eles conseguiram trazer os Alfas para cima em
segurança.
A perna de Scott estava arrancada logo abaixo do joelho, e ele delirava
gritando de dor, enquanto seu sangue jorrava como uma cascata.
— Precisamos cauterizar, chamem Seokjin!
— Vou chamar Namjoon pra segurar ele, precisamos de alfas fortes. —
Billy disse e o Capitão assentiu.
Momentos depois, o médico apareceu e mesmo que em seus olhos tivesse
o horror e espanto para a cena que presenciava, ele manteve-se calmo. O
Alfa se debatia enquanto o médico tocava sua perna, Seokjin quase foi
chutado quando Scott sentiu a lâmina rasgar sua carne.
— Onde está Namjoon?! — O Capitão perguntou impaciente.
— Por que está torturando ele? — Chaerin perguntou ao médico, mas
Seokjin estava tão concentrado que ignorou a pergunta dela.
— Namjoon não está em parte alguma, Capitão. — Hoseok disse.
— Como um Alfa pode desaparecer sem que ninguém saiba?
— Também não vi o Jimin. — Taehyung acrescentou.
No mesmo instante, Jungkook largou uma das pernas de Scott que urrou
de dor quando a mesma foi de encontro ao piso.
— Segure-o firme. — Jeon ordenou para Hoseok e em um segundo, o
atirador estava segurando a perna que foi solta pelo Capitão.
Jeon olhou para baixo e o Alfa espadachim negou com a cabeça.
— Ele não passou por aqui. — Yoongi conformou.
Um tiro foi disparado ao longe, e todos olharam em apenas uma direção.
Estavam longe de qualquer coisa que pudesse ser vista a olho nú, e quando
o lúpus tomou a luneta para enxergar melhor, ele travou a mandíbula
respirando fúria quando viu as pequenas faixas de terra ao longe.
— Desçam os botes. — O Capitão deliberou.
Continua...
Atualização de personagem, porque o par romântico do Jisung seria
o Yoongi, mas eu não quero separar os Taeyoonseok.
Jackson Wang ( alfa lúpus )
Caçador de recompensas - 26 anos
Uma pergunta:
qual seu personagem favorito até o momento ?
[26] Os Canibais Kangaroo

Reescrito

Os marinheiros que circulavam trabalhando pelo convés, eram castigados
pelo calor vindo dos raios do sol. A temperatura estava fortemente elevada,
deixando o tempo seco e difícil para respirar. Eles olhavam com caras feias
para os Alfas bandoleiros, enquanto estes, continuavam com sua exibição
de grosseria e imundice.
— Onde está o meu Ômega? — Jo rosnou exacerbado assim que viu o
Comodoro Choi conversando com o caçador.
— Do que está falando? — Choi indagou.
— Jisung não conseguiu se conter de saudade, e se escondeu no navio
para me ver — Jo mentiu, explicando ao seu superior. — Ele estava com
este infeliz. Eu o deixei no meu quarto e agora ele não está mais lá.
— Está no meu quarto. — Jackson admitiu.
— Espera... Park Jisung está a bordo deste navio? — Choi perguntou
ainda sem entender a situação e o Tenente assentiu — Temos que voltar.
— Estamos muito longe. Isso atrasaria a missão em dias, semanas, talvez
até meses. Sou seu noivo, ele ficará sob a minha guarda. Traga-me ele aqui,
caçador, ou então eu o buscarei à força.
— Você não vai querer fazer isso. — Jackson sorriu de canto, pousando a
mão no cabo de sua katana.
— Devolva o Ômega ao Tenente, sr. Wang. Sua missão é apenas resgatar
Park Jimin, e trazer a cabeça do Capitão Jeon.
— Para esse porco o molestar?
— Jo? — o Comodoro olhou chocado para o seu amigo.
— Ele é o meu noivo.
— Então é verdade? O que tem na cabeça Jo?!
— Ah! Que se dane as doutrinas do clero. Nós vamos nos casar!
— Não se você estiver morto. — Jackson acrescentou.
— Está vendo — O Tenente apontou para o caçador. — Veja o tipo de
gente que você arrumou.
— É o tipo de gente que fará com que tenhamos êxito em nossa missão.
Jo revirou os olhos colérico e voltou-se ao caçador:
— Por que atrapalha os meus planos? Você não é nada dele!
Jackson deu de ombros.
— Sei lá. Não fui com sua cara.
— E o que nos garante que você não vai fazer nada com ele?
— Eu não preciso forçar um Ômega para que ele se deite em minha
cama. Eles o fazem por vontade própria.
— Deixe-nos à sós, Jo. — O Comodoro pediu
— Mas, Choi-...
— Agora.
O Tenente lançou um último olhar ameaçador para Jackson, e se retirou a
mando de seu superior.
— Vou permitir que o Ômega fique aos seus cuidados, mas apenas com
uma condição.
— Não me lembro de ter pedido sua permissão.
— Certo, apenas me escute... aqueles Alfas estão deixando esse navio
com cheiro de algum animal morto. Isso não se diz respeito apenas à nós da
Marinha, mas a todos que estão a bordo. Todos sabemos o que acontece
quando uma moléstia se abate sobre a tripulação de um navio.
— Tudo bem, darei um jeito nisso.
— Obrigado. Faça sua parte e eu manterei o Tenente Jo longe do Ômega.
— Ora, não consegue nem controlar seu próprio Ômega, vai conseguir
manter aquele porco na linha... — Jackson comentou rindo do Comodoro e
se voltou aos bandoleiros: — Limpem o convés, seus bastardos!
Em menos de um segundo, os Alfas pararam o que estavam fazendo e
correram para pegar baldes e esfregões, para limpar a própria porqueira que
haviam deixado por lá.
Jisung estava lendo um pequeno livro de bolso, quando escutou o
sapateado dos marujos no piso logo acima. Ele ignorou o barulho repentino
e voltou a sua leitura. Ouviu um outro barulho, dessa vez na porta, e pensou
que se tratava do caçador, mas logo fortes golpes na madeira fizeram seu
coração acelerar e o medo começar a dominá-lo.
— Sei que está aí, Jisung — Era a voz do Tenente Jo. — Abra a porta e
eu prometo que não vou machucá-lo.
O Ômega arregalou os olhos, suando frio. Sua respiração tornou-se
acelerada e o coração ameaçava saltar para fora do peito a cada segundo
que se passava. Ele não acreditou nas palavras mentirosas daquele Alfa,
mas temia que o Tenente conseguisse derrubar a porta. Houve um minuto
de silêncio, e com a ausência de resposta, o Alfa socou a madeira,
enfurecido.
— N-não tenho a chave. — Dominado pelo pavor, o Ômega respondeu.
— Tudo bem... eu vou te dar uma chance, Jisung. Assim que aquele
maldito abrir a porta, venha para o meu quarto. Estarei esperando
ansiosamente.

— Assim que eu sair, você vai correndo, sobe no bote e rema de volta
para o Black Swan. — Namjoon falou apontando na direção da praia.
Sem dar tempo ao Ômega de responder, ele saiu embrenhando-se entre as
árvores rasteiras, contornando os nativos daquela ilha. Sentiu uma picada
no pescoço e acertou uma tapa no irritante mosquito, que não tinha nada de
mosquito. Ao invés, ele puxou um pequeno espinho da derme atingida, a
visão tornou-se escurecida e ele desmaiou. Os dois Alfas que estavam
procurando pelos piratas, se aproximaram de seu corpo largado no chão, e o
estudaram.
— Ele é grande. — Um deles observou em voz alta, passando a língua
entre os lábios.
O outro, por sua vez, apertou as coxas de Namjoon e sorriu com bom
humor.
— E tem muita carne. Vai dar uma bela de uma refeição.
Passos foram ouvidos e mais dos nativos se juntaram à eles.
— Tinrey já tem tudo pronto para o ritual e vocês aqui brincando com a
comida!
— Estávamos estudando as proporções.
— Cadê o outro?
— Uh… — Os nativos entreolharam-se hesitantes. — Ainda não o
encontramos, Bilong.
— Suas bestas quadradas! Vão atrás dele! — Os dois assentiram diversas
vezes com a cabeça, pegaram suas lanças e correram. Bilong voltou-se para
os demais que o acompanhava: — Vamos levá-lo pra aldeia.

Cinco botes se aproximaram da margem, cada um com oito piratas. Eles
foram arrastados e presos em suportes fixos no chão, para que não fossem
levados pelas ondas.
— Não acho que eles estejam aqui — Jared comentou. — Não vejo
nenhum barco por perto, além dos nossos.
— E de quem você acha que são essas pegadas? — Chaerin questionou
apontando para o chão.
— E são muitas — Hoseok acrescentou. — Mais do que apenas dois
pares.
Estavam analisando as pegadas na areia, que levavam a várias direções.
Sendo a principal delas a floresta logo a frente.
— Eles devem ter fugido juntos. — Billy pensou em voz alta e todos os
olhares se dirigiram à Jungkook.
O lúpus abriu a boca para responder aquela afirmação, mas o som alto de
um tambor, com intervalo de dois segundos entre cada batida, o
interrompeu. O som misterioso foi acompanhando por um longo e profundo
toque de flauta feita de bambu, chamando a atenção dele e dos demais.
— Merda! Não, não... — Taehyung andou de um lado para o outro,
olhando na direção das árvores. — Não pode ser.
— O que foi?
— Este toque... — O Beta parou para escutar um pouco mais, analisando
algo em sua mente para obter certeza. — É como descrito nos livros sobre
ritos tribais.
— Por que você leria livros sobre esse tipo de coisa? — Jared indagou.
Taehyung o ignorou e correu agitado até o Capitão.
— São os Kangaroo.
— Que diabos é isso? — o lúpus questionou confuso.
— Um tipo de povo que costumava viver nas terras de Kwanza. Os livros
falam sobre sua total extinção mas agora sabemos porque nunca mais foram
vistos. Estavam vivendo por estas ilhas... Isso é fascinante!
— Provavelmente Namjoon e Jimin foram capturados por eles. Vamos.
— Jeon girou na direção da floresta sendo seguido pelos outros piratas.
— Esperem, vocês precisam saber de duas coisas... — Taehyung
chamou.— Eles são um povo extremamente violento.
— E a outra?
— Eles praticam antropofagia.
— Que merda isso quer dizer? — Jared indagou furioso.
— Eles comem carne humana em parte de um ritual para obter o 'poder'
de seu inimigo.
— E você só diz isso agora?! — Jeon indagou cheio de espanto —
Vamos! Matem todos que entrarem em seu caminho!
O Capitão disparou com pressa para dentro da floresta, sendo seguido
pelos piratas. Yoongi puxou sua katana e fez uma breve dancinha antes de
correr com um enorme sorriso na mesma direção que os demais.
— Credo — Hoseok afirmou. — Esse cara é um sanguinário.
— Eu gosto. — Taehyung comentou ao lado dele.
— Sério? — O Beta assentiu. Hoseok sacou duas das seis pistolas que
portava — Pois hoje eu acordei com vontade de matar! — e correu,
embrenhando-se na mata.

Namjoon estava sentado sobre uma enorme pilha de madeira, com as
mãos amarradas nas costas, presas à um mastro fincado no chão. Ele
despertou quando recebeu uma forte tapa no rosto, e franziu o cenho
quando viu Jimin olhando apreensivo para si.
— O que está fazendo aqui?! — Namjoon questionou furioso e surpreso.
— Eu mandei você correr para praia, entrar no bote e fugir para o Black
Swan!
— Você não manda em mim — Namjoon revirou os olhos enquanto
Jimin tentava cortar as cordar. — Eu vim aqui te salvar seu mal agradecido!
— Cala a boca!
— Cala a boca já morreu, quem manda na minha boca sou eu! —
Namjoon revirou os olhos diante da resposta infantil, enquanto o Ômega
continuava a sua tentativa de libertar o pirata, sem ver o olhar espantado
que o contramestre lançou para algo que surgiu por cima de seus ombros.
Uma sombra apontou atrás de Jimin e no mesmo instante ele sentiu uma
forte dor na região da cabeça, desmaiando logo em seguida.
— Esse aqui a gente pode comer duas vezes. — disse um Alfa nativo da
ilha.
— Pare de inventar coisas e me ajude a amarrá-lo.
Quando acordou, Jimin estava igualmente amarrado sobre uma pira de
madeira ao lado do Alfa.
— Está feliz agora? — Namjoon questionou quando viu o outro
despertar.
— Não. Mas vou ficar assim que ouvir um obrigado seu.
— Porra! — Rosnou.
— Caralho! — Jimin gritou de volta, usando o mesmo tom — Também
sei rosnar!
Namjoon o olhou boquiaberto e no mesmo instante começou a rir.
— O que foi? — O Ômega questionou confuso com aquela reação.
— É realmente uma merda que vamos morrer logo quando eu comecei a
gostar de você.
— Sério? — Os olhos do Ômega brilharam. Namjoon assentiu. — Agora
eu posso morrer feliz. — um nativo se aproximou com mais alguns galhos
secos e os jogou na pira que Jimin estava — Não! Retiro o que disse! Não
vou morrer feliz! Não estou nada feliz! — ele começou a se debater
desesperado, tentando soltar os pulsos.
— Obrigado — Ele parou de lutar ao ouvir o Alfa falar ao seu lado,
calmamente. — Foi uma honra ter navegado com você no Black Swan.
Vários outros nativos surgiram entre passagens e arvores. Alfas, Betas e
Ômegas, e se posicionaram em dois grupos lado a lado e de frente as piras,
com um espaço aberto. Eles começaram a jogar várias folhas de ervas no
chão, e um Alfa velho surgiu no meio deles, se colocando no centro de
todos.
— Uliá, uliá! — O velho exclamou. Estava todo coberto por um tipo de
pó branco e seu cabelo era enorme e chegava até os calcanhares —
Coungshit u boreaul crueaul!
— Iiiiiiiiiiiiiiiihhhhh! — Os nativos gritaram e em seguida começaram a
bater os pés no chão, fazendo barulho com a língua batendo no lábio
superior.
— Junpiyja, burik, aterú! — O velho nativo exclamou erguendo os dois
braços para o céu. — Chisp, jah foks, ku coungshit Kangaroo!
Três crianças, uma Alfa, uma Beta e um Ômega, surgiram na multidão e
caminharam até ele
A Alfa o entregou um filhote de canguru contido por cordas.
A Beta, uma pequena lâmina bastante afiada.
E o Ômega, levou consigo um pequeno recipiente de barro.
Os três saíram deixando o mais Alfa velho sozinho novamente. Os
nativos fizeram silêncio. O homem velho fechou os olhos e murmurou
algumas palavras, em um tom inaudível e muito rapidamente, no antigo
idioma Kangaroo. Em seguida, ele pegou a lâmina, rasgou a gargante do
pobre animal indefeso e despejou todo o sangue no recipiente trazido pela
criança Ômega.
— Iiiiiiiiiiiiiiiihhhhh! — Os nativos gritaram outra vez, batendo os pés
no chão e fazendo o mesmo barulho de antes com suas línguas.
O velho Alfa encheu as mãos em forma de concha com o sangue do
canguru, e passou no rosto. Ele pegou galhos de algumas ervas e separou
em duas porções, uma em cada mão, mergulhou no sangue e começou a
ungir os nativos com aquele sangue. Em seguida, ele começou a dançar,
girar e pular ao redor das duas piras, com seu povo fazendo cada vez mais
barulho, com seus pés e línguas.
Continua...
[27] O Quarto Fragmento

Reescrito

Após todo o ritual dançante, os nativos fizeram silêncio outra vez. O
xamã jogou cada porção de ervas aos pés das piras de cada sacrifício.
Assustado, Jimin automaticamente chutou a parcela que estava próxima
dele. O velho Alfa o olhou com uma expressão muito brava e assustadora,
pegou os ramos e os colocou de volta, dessa vez, em um lugar onde o
Ômega não pudesse alcançar.
O velho, ainda de costas para os nativos, pegou duas pedras e criou fogo
a partir delas, em algumas palhas que estavam no chão. Ele acendeu um
pedaço de madeira e entregou a tocha à um de seus Alfas. Quando o xamã
girou, ficando de frente ao seu povo, ele caminhou até eles, que logo
abriram caminho para que pudesse passar e ficar no centro novamente.
Porém, ele cessou os passos quando viu uma criatura parada do outro lado,
na beira da floresta. Um Alfa estava parado de frente para eles, e uma de
suas mãos empunhava uma longa katana. Linda, afiada e mortal.
— A gente vai viver! — Jimin gritou quando viu Yoongi, e sorriu. O
nativo que segurava a tocha, a largou no chão e empunhou uma arma,
correndo na direção do xamã para protegê-lo. O fogo bateu em alguns
gravetos na pilha em que Jimin estava e ele logo lamentou: — A gente vai
morrer!
Pensando que estavam na vantagem, os Kangaroo correram afoitos na
direção de Yoongi, e então os piratas da tripulação pularam entre as árvores
e a luta se iniciou. Jungkook surgiu por trás de Jimin e usando uma de suas
adagas, ele cortou as amarras que o prendia, e do outro lado, Chaerin fez o
mesmo com Namjoon.
— Quantas vezes eu vou precisar te salvar, hm? — Jimin o abraçou com
força, inalando seu forte cheiro de rosas e o alívio percorrendo todo seu
corpo. Jeon separou o abraço e o encarou com um semblante sério. —
Quando voltarmos para o Black Swan a gente vai ter uma longa conversa.
— Como é bom te ver! — O Ômega exprimiu, ignorando o fato de que
levaria uma grande bronca por ter "fugido" do navio sem que o Capitão
soubesse.
— Hora de treinar tiro ao alvo, coração — Jeon retirou suas duas pistolas
de seu cinto e as entregou ao menor. — Como eu te ensinei... — Jimin
empunhou as pistolas e Jungkook que estava atrás dele, ergueu a mão do
Ômega, apontou para um nativo que se aproximava segurando uma lança e
apertou o gatilho, levando o inimigo ao chão. — Apontar e atirar. Fácil,
não?
Jimin assentiu e logo disparou contra outro nativo que vinha correndo a
esquerda.
Namjoon recuperou suas armas com a ajuda da Alfa, e Jimin se juntou à
eles, deixando Jungkook menos preocupado e podendo agir livremente,
enquanto manuseava com bastante habilidade suas duas adagas. Do outro
lado da batalha, Yoongi deixava uma pilha de corpos pelo chão, conforme
brandia sua katana e dilacerava a carne dos nativos.
Uma figura branca, meio acinzentada chamou sua atenção ao lado, e ele
viu que se tratava do velho xamã que estava dançando momentos atrás. O
xamã estava parado, com os braços esticados para os lados e ambos os
olhos fechados. O espadachim se aproximou com cautela, com o cenho
franzido se perguntando o que aconteceu com aquela criatura estranha, para
ficar parada daquele jeito.
Devagar, Yoongi inclinou o rosto para frente até estar bastante próximo
do rosto dele, e de repente, o xamã esbugalhou os olhos e gritou:
— Aaaaaaaaahhhh!
O corpo do pirata sobressaltou e ele gritou de volta:
— Aaaaaahh! — Yoongi girou sua katana e cortou-lhe o pescoço.
A cabeça do xamã caiu no chão, com seus olhos e boca ainda bem
abertos.
Yoongi notou que havia uma pequena bolsa de pele presa no torso do
velho, ele se agachou e recolheu o pedaço de pergaminho que ele guardava
dentro. Um nativo se aproximou por trás do pirata com um machado nas
mãos, pronto para acertar suas costas, mas um tiro o acertou no meio das
sobrancelhas e ele caiu por terra. Sem entender, Yoongi ergueu os olhos e
viu Hoseok carregado com suas seis pistolas. O atirador sorriu para ele e
piscou.
— Você me deve uma.
Yoongi levantou-se rapidamente e lançou a ponta de sua katana alguns
milímetros acima do ombro do outro Alfa, e atravessou com a lâmina o
coração do inimigo que estava atrás de Hoseok. O espadachim sorriu,
piscando de volta.
— Não mais.
Jimin atirava em todos os nativos que se aproximavam. Seu sangue
estava fervendo e seus sentidos mais aguçados. Ouviu passos apressados
atrás de si e logo girou para disparar contra um outro Alfa. Quando
descobriu que a pólvora das duas pistolas havia acabado, ele não se
assustou, ao invés, soltou um rosnado enfurecido. Estudou os arredores e
viu Jungkook lutando contra alguns nativos, Jimin correu até ele e
desembainhou sua espada. Quando girou para frente para procurar um novo
inimigo, eis que o Alfa que segurava a tocha surgiu, Jimin deu dois passos
para frente, transpassando a espada em sua barriga.
Um som alto e retumbante surgiu das colinas mais distantes, e a
tripulação soube que mais daqueles nativos iriam surgir.
— Voltem para a praia! — Jeon gritou, segurou na mão de Jimin e o
puxou consigo, correndo na direção em que citou.
Na margem, eles encontraram Taehyung, Jared, Billy e Dahyun. Assim
que viram os nativos surgirem da mata correndo com pressa, eles cortaram
as cordas que prendiam os botes e com ajuda dos que acabaram de chegar,
os empurraram de volta à água. Alguns nativos apareceram com flechas e
começaram a disparar contra a tripulação. Yoongi conseguiu interceptá-las
com sua katana, e Jungkook com suas duas adagas.
Desse modo ainda seria difícil que todos embarcassem nos botes, mas
Hoseok sacou duas pistolas que ainda continham pólvora e disparou rápido
e certeiro contra os nativos, eles deram as costas e voltaram correndo para
se esconder na floresta. A tripulação finalmente entrou nos botes e remaram
de volta para o navio. Enquanto se aproximavam do Black Swan, Yoongi
lembrou-se do pedaço de papel e o mostrou para Jimin.
— Loirinho, esse seria um dos fragmentos ?
Jimin estudou o pergaminho e rapidamente assentiu.
— Sim, eu posso ver as runas.
Os Alfas e Betas entreolharam-se, vibrando pela conquista inesperada.
Já no navio, os bucaneiros subiram a âncora e com o leme livre de
qualquer impedimento, eles seguiram continuando sua viagem, rumando
para o Oceano Índico.
Jungkook estava conversando com seu contramestre, sozinhos na proa, e
após o repreender severamente, ele seguiu até sua cabine. Assim que abriu a
porta e entrou, ouviu sem querer um trecho da conversa entre o Ômega e
seu navegador:
— ... E aí eu girei e atirei nele, e salvei a vida da Chaerin! — Jimin
contava empolgado ao beta.
— Taehyung, deixe-nos à sós.
O Beta assentiu e imediatamente se retirou da cabine.
— Sua espada... — Jimin entregou a arma ao Capitão, sorrindo amarelo.
— Antes que você comece, eu devo informar que Namjoon não teve culpa
alguma no que aconteceu. Ele me acompanhou porque ficou preocupado
com minha segurança.
— Admiro sua sinceridade. Quan-...
— E acrescento em meu favor — Jimin o interrompeu com cuidado —,
que só fiz isso porque estava preocupado com um Alfa da tripulação.
— Quem falou para você que eu me importo com o rut do Sven ou de
qualquer outro Alfa aqui?
— Ninguém, mas ele estava sofrendo.
— Dane-se o Sven! Ninguém liga para um Alfa em seu rut. Ele é um
pirata, Jimin! Já passou por coisas bem piores. Ele aguenta.
— Ele é um ser humano. E não precisa falar desse jeito. Eu percebo que
errei...
— Não, você não percebeu ainda. Fica criando argumentos para refutar
tudo o que eu falo — Dessa vez o Ômega permaneceu calado. — Se você
pertence realmente a essa tripulação precisa entender que quem dá as
ordens por aqui sou eu. Você não pode fazer tudo o que lhe der na telha sem
o meu consentimento, Jimin.
— É mesmo? E se eu não quiser? E se eu achar que suas ordens são frias
e cruéis?, se eu não obedecer, vai fazer o que ? Me vender para um bordel?
Ou me fazer andar na prancha? Porque se fizer isso de novo eu mesmo
pulo!
Jimin sobressaltou quando teve um braço agarrado e foi puxado de forma
brusca, até bater contra o peito do Alfa. As mãos de Jungkook desceram até
a cintura dele e encaixaram com força controlada.
Jeon o estudava com uma expressão colérica, sua mandíbula tratava e a
respiração pesada passavam uma impressão completamente diferente de
seus olhos. Ah, as orbes negras e misteriosas do Capitão Jeon. Jungkook o
fitava com desejo. Jimin podia ver, e quase perdeu-se dentro daquela
galáxia escura e profunda, que eram aqueles olhos.
— Que vai fazer? — O Ômega lúpus insistiu, com os lábios entreabertos,
em um sopro de voz.
— Vou amarrá-lo em minha cama e domá-lo até que me obedeça. —
Jimin arquejou e fechou os olhos, esperando ser tomado pelos lábios do
Capitão.
— Capitão — uma voz surgiu na porta. Era o Alfa Billy — o Scott
acordou.
Jimin sobressaltou abrindo os olhos, e assim como Jungkook, ele olhou
para a porta. O Capitão pegou uma de duas adagas e lançou na porta. Só
não acertou Billy, porque este, arregalou os olhos e fechou-a rapidamente.
— Para o inferno com Scott! — o Capitão rugiu.
Jimin levou a mão a boca tentando conter o riso.
— Ah — Foi até a mesa do Alfa e lhe entregou a próxima tradução que
encontraram. — E o vermelho escarlate. É a tradução deste.
Jungkook segurou o fragmento e o olhou confuso.
— Isso fica cada vez mais estranho. — Disse, e o Ômega concordou.
Continua...
[28] Caminho das Índias

Reescrito

Jisung estava sentado na beirada da cama do caçador, próximo a
cabeceira. Seus pensamentos estavam longe e quando a porta foi aberta,
olhou assustado na direção, pensando ser o Tenente Jo. O caçador viu o
menino desviar o olhar, se aproximou e colocou um prato em cima da mesa.
Quando ele se sentou na cama, mesmo que na outra ponta, o Ômega se
levantou imediatamente e se afastou um pouco mais.
- Touxe para você. - Jackson disse, apontando para o prato.
- Uhum... obrigado.
- Quê que foi agora? Já disse que não vou entregá-lo aquele Tenente.
- Ele veio aqui me procurar. Disse que está me esperando e que quando
você abrisse a porta, eu deveria ir para o quarto dele.
- Você acabou se tornando um problema meu, e agora está sob a minha
proteção. Ele não vai tocar em você - Ele apontou para a mesa novamente. -
Coma.
O Ômega assentiu e sentou na cadeira. Ele olhou para a comida em seu
prato; carne e alguns legumes. Estavam com uma boa aparência, mas para
ele, ainda faltava algo alí.
- Onde estão os talheres?
- Como é?
- Não dá para comer assim.
Incrédulo, Jackson piscou duas vezes antes de se levantar, sentar em
outra cadeira e puxar o prato para si. Era só o que faltava, aquele Ômega até
pouco tempo atrás estava com um saco de pano velho com alguns poucos
biscoitos, pão e água, que mal conseguia sustentá-lo por alguns dias, caso
soubesse racionalizar. Agora estava se recusando a comer simplesmente
porque não tinha talheres.
- Então não coma - O Alfa pegou um pedaço de carne com a mão e
mordeu. - É bom que não fico sem a refeição que abri mão para você. Já
que sua educação não permite que coma feito um animal.
- Me desculpe, por favor, não quis ofendê-lo. Não acho que seja um
animal. Talvez tenha modos um pouco rudes... - Jackson parou de mastigar
e o olhou ainda mais incrédulo. - Desculpe. Uh, mas você me disse que
abriu mão da sua refeição, eu não entendi.
- As provisões foram calculadas para a exata quantidade de Alfas que
estão a bordo deste navio. Assim como os demais que nos acompanham na
frota. Ninguém contava que um Ômega fosse invadir a embarcação.
- E não vão parar para abastecer?
- Segundo o Comodoro, não. Ele quer velocidade máxima na busca pelo
seu noivo fujão. Aliás, você e seu irmão tem isso em comum, não?
Jisung abaixou o olhar, sorrindo constrangido.
- Eu estou muito agradecido sr. Jackson, foi muito gentil e atencioso da
sua parte compartilhar de seu alimento comigo - Seus olhos desceram para
a comida no prato, e ele que sentia-se fraco por estar se alimentando tão mal
há pelo menos três dias, apontou para outro pedaço de carne e perguntou: -
Posso?
Jackson assentiu. Jisung levou a mãozinha hesitante até a porção, pegou-
a e levou até a boca, mordendo com delicadeza a pontinha da carne.

- Como ganhou essa cicatriz? - Jimin questionou ao Alfa espadachim.
Após a manutenção do leme, semanas se passaram e os piratas estavam
navegando pelo Oceano Índico, e da cesta situada no mastro central, já era
possível enxergar através de uma luneta, o cume dos altos picos de Sri
Lanka.
Os dias de viagem estavam muito mais cansativos depois da aventura na
ilha dos Kangaroo. Scott se recuperava lentamente, aos olhos do médico,
que pouco podia fazer com os recursos limitados que possui. Sua esperança
era finalmente chegar no grandioso reino das Índias, e adquirir as ervas e
utensílios necessários para ajudar o Alfa que perdeu parte de sua perna.
Além do tédio que cercava a tripulação, estavam os dias extremamente
quentes. A única alternativa para tomar banho era soltar a âncora e
mergulhar no mar, já que a água potável armazenada no navio, só era
utilizada para beber e fazer as refeições.
- Ah, foi o Capitão - Yoongi respondeu simples. - Estava tentando
capturá-lo para receber a recompensa e acabei me juntando à ele no fim das
contas. Mas eu também deixei uma na bochecha dele, mas é pequena.
- Tão pequena que nem dá para ver. - Scott zombou. Ele estava sentado
no convés próximo a proa junto aos demais, e Seokjin trocava as faixas de
seu coto.
- Igual o seu pau. - Yoongi respondeu.
- Woooh! - Os piratas exclamaram em um coral e começaram a rir.
- Poderia ter ficado sem essa, né. - Seokjin indicou.
- E você Tae - Jimim continuou com suas perguntas -, como se juntou a
tripulação?
- Não foi nada de interessante como lutas e espadas. O Capitão apenas
me salvou de ser brutalmente espancado após eu ter ganho uma aposta
honestamente.
- E você Hoseok?
- Eu já era da tripulação do Alma Negra.
- O antigo Capitão do Black Swan? - o Alfa confirmou - Chaerin?
A timoneira riu soprado.
- Eu só queria uma carona até o Japão, mas estou aqui até hoje.
- E você e seu irmão, Scott?
- Também éramos da tripulação antiga. Nós, Hoseok, o contramestre e
Jared.
- E você, Billy?
- Ah, essa é até engraçada... eu era um dos que queria bater no Taehyung
- ele se voltou ao navegador. - E você não ganhou honestamente.
- Se você diz. - O Beta deu de ombros.
Jimin ignorou o pequeno desentendimento e girou para a mecânica:
- Dahyun?
- Eu só queria um emprego.
- E você, Junbuu? Não me parece alguém que estaria em uma tripulação
pirata.
- Tá me chamando de velho, garoto? Quer sair no braço comigo? Te
mostro o ancião.
- Não, desculpa - Jimin tentou não rir. - Não foi isso o que quis dizer.
- Hm. Bem, eu era cozinheiro no palácio da família Real.
- Uau, sério? - Billy questionou surpreso.
- Não, eu fui a bailarina principal da corte... é óbvio! Mas os demais
criados não gostaram de trabalhar comigo e eu fui demitido. Então eu soube
que um jovem Capitão estava procurando membros para sua tripulação e o
procurei, oferecendo meus serviços como cozinheiro.
- Nossa. - Jimin suspirou olhando o restante dos piratas.
Seria apenas mais uma tripulação. Piratas que saqueavam e matavam
friamente. Que não tinham escrúpulos para conseguir o que almejam,
cheios de ambições, com seus porões repletos de riquezas, e baús enterrados
contendo mais de seus roubos, espalhados pelos mais diversos lugares.
Mas também eram Alfas e Betas que possuíam uma história muito antes
de se tornarem piratas. Eram pessoas comuns, com sonhos e objetivos, que
por algum desígnio do destino, hoje levam a vida desbravando mares,
empunhando suas espadas em busca de tesouros e aventuras. Ninguém
nasce pirata, torna-se um. E o pequeno lúpus estava seguindo pelo mesmo
caminho.
Jimin apoiou as costas no parapeito do navio e suspirou pensativo,
observando a tripulação discutindo ainda sobre as histórias de cada um. Seu
olhar desviou para o pavimento que cobria todo o chão do convés, a
madeira ainda estava embolorada, e o odor característico ainda era forte e
estava presente em todos os compartimentos, principalmente no interior da
embarcação.
Jimin ainda observou a estrutura que mantinha a estabilidade e dava
velocidade a embarcação, ele não entendia muito bem como todas aquelas
vergas e mastros funcionavam, ou como cada cabo mantinha as velas na
posição ordenada pelo Capitão, mas ele sabia obviamente que elas tinham
uma função grande naquele navio, assim como cada membro da tripulação,
assim como ele próprio.
O Ômega saiu de seus pensamentos quando ouviu o barulho que os
piratas estavam fazendo, eles jogavam cartas para passar o tempo, já que
não tinham mais nada para fazer, a não ser ficar olhando um para a cara do
outro. Após vencer pela terceira vez seguida, Seokjin se levantou do caixote
e desceu para as coberturas inferiores, a fim de cuidar da perna do pirata,
que cicatrizava lentamente.
— Entra no lugar dele, Jimin. — Jared chamou o Ômega, para que ele
ocupasse o espaço deixado pelo médico.
O tédio estava consumindo o Ômega, assistir os piratas jogando era um
ótimo jeito de passar o tempo, mas se juntar à partida parecia mais
divertido, era uma proposta tentadora. Mas o sol escaldante fez o Ômega
desistir, e ele decidiu se recolher na cabine.
— Fica para a próxima. — Jimin se levantou e rumou para o camarote do
Capitão.
Assim que abriu a porta, ele viu o pirata sentado em sua mesa, anotando
algumas observações no livro de registro. Seu casaco preto estava apoiado
nas costas da cadeira, e Jeon estava vestido apenas com uma camisa da
mesma cor, com as mangas dobradas na altura do cotovelo e alguns botões
abertos, mostrando parte do peitoral e algumas tatuagens. Ao lado do livro,
estava um cálice com um pouco de licor.
O Capitão olhou em sua direção com um breve sorriso, e logo voltou a
fazer suas anotações.
- Ainda está muito quente lá fora? - questionou sem tirar os olhos dos
livros.
- Como o inferno. - o Ômega lamentou jogando as costas sobre o
colchão.
Jungkook sorriu novamente e negou com a cabeça. Jimin, que estava
olhando diretamente para o teto amadeirado, estudou algumas teias de
aranha que se estendiam até o canto das paredes.
Suspirou enquanto brincava com o tecido de seda que cobria a cama,
entre os dedos. Em seguida, ele ficou deitado de lado, com um braço
curvado e apoiando a cabeça com sua mão, observando o Capitão. Sentado
naquela posição, o Alfa parecia ainda mais imponente.
Mesmo que tenha várias marcas e cicatrizes que ganhou ao longo da
vida, isso não o deixava menos bonito, era muito pelo contrário. De certa
forma, aquilo o deixava ainda mais atraente, aos olhos de Jimin. Mas não
era apenas o físico que chamava a atenção do Ômega, como um líder,
Jungkook transborda confiança e sua bravura é incomparável.
Jimin respirou fundo, assistindo o Alfa em sua concentração. O aroma de
rosas do Capitão se sobressaia ao cheiro salgado de salitre, que mesmo com
as janelas fechadas, estava presente naquele cômodo. Jimin enrolou o dedo
no lençol, sentindo seu lobo ficando mais febril. Jungkook pegou o cálice e
tomou mais um pouco de sua bebida.
- Capitão Jeon?
- Hm?
- Eu estou entediado.
Jungkook ergueu os olhos e viu o Ômega deitado na cama olhando para
si. Seu olhar era ansioso e estava com o lábio inferior entre os dentes. O
Alfa fechou o diário no mesmo instante e se levantou para ir até ele. Jeon
subiu na cama e se colocou em cima do Ômega, mas logo Jimin girou
ambos, mudando suas posições e ficou sentando sobre ele, com uma perna
de cada lado.
O ato foi totalmente inesperado e pegou o Alfa de surpresa, mas ele
gostou.
- Você está suado. - Jimin comentou.
- Então tire as minhas roupas.
Jimin sorriu corando, mas levou os dedos até o primeiro botão.
- Você é sempre assim, tão direto?
- Apenas quando eu quero alguma coisa. - As mãos do Capitão subiam
pelos quadris do Ômega, enquanto tinha seu torso completamente exposto.
As mãos de Jimin foram deslizando sobre o abdômen do Capitão,
sentindo as curvas de sua musculatura abdominal. Ele inclinou o corpo para
frente e beijou os lábios do Alfa.
Jungkook subiu as mãos dos quadris até as costas de Jimin. Ele o abraçou
enquanto correspondia ao beijo e novamente mudou as posições em que se
encontravam até então. Rosnou frustrado ao mover o quadril para frente, e
sentir a barreira imposta por suas roupas.
- Calma. - Jimin riu da pressa dele enquanto removia suas roupas de
baixo.
- Não era você que estava entediado? - Jungkook questionou, chupando a
região de seu pescoço a medida que o penetrava.
Jimin apenas ofegou ao sentir a rigidez dentro dele. E gemeu. Gemeu
ainda mais alto quando as investidas tornaram-se mais fortes. Subitamente,
um pensamento se apoderou dos pensamentos do Ômega e ele tentou
enxergar a porta por cima do ombro do Alfa.
- Acho que não fechei a porta... - constatou ao passo que ofegava
recebendo mais profundamente, o pênis do Alfa em seu interior.
- E daí? - Jungkook parou com os movimentos e o fitou.
- E se alguém entrar aqui e pegar a gente?
Jungkook sorriu ardiloso, também ofegante. Juntando o calor
insuportável com o fato do que estavam fazendo, seu cabelo estava todo
encharcado de suor.
- Eles com certeza já ouviram seus gemidos.
Jimin arregalou os olhos, completamente ruborizado. O Alfa aproveitou o
segundo de distração e moveu o quadril para frente novamente,
preenchendo-o completamente de uma só vez. E o Ômega gemeu alto mais
uma vez, e desesperado, levou as mãos a boca para contê-los.
Jeon achava aquela atitude muito adorável, embora adorasse ouvir a voz
do Ômega gemendo e gritando seu nome. Após ambos desmancharem-se
em seus orgasmos, permaneceram abraçados no calor de seu leito.
Continua...
Mapa atual das localizações:
Marinha Real - X azul
Black Swan - X preto
[29] Velho Conhecido

Reescrito

Quando Jimin abriu os olhos na tarde do mesmo dia, ele viu o Capitão já
todo vestido enquanto mexia em suas coisas. Ele esticou o corpo
vagarosamente e cheio de preguiça notando que ainda estava sem suas
roupas, mas que Jungkook teve o cuidado de cobri-lo com uma manta. E em
silêncio, ficou admirando os movimentos do Capitão, até que o mesmo
percebeu que ele já havia despertado do seu breve cochilo.
— Nós vamos ancorar em algumas horas. Não vai arrumar suas coisas?
Jimin deu de ombros.
— Eu não tenho nada. Só essas roupas que o Tae me emprestou, e que
mesmo assim ficaram um pouquinho grandes em mim.
Jungkook o estudou por um tempo, ponderando alguma coisa que
guardou para si mesmo e fechou a gaveta da mesa na qual estava mexendo.
Ele caminhou até o Ômega e beijou sua cabeça.
— Eu já volto.
No lado de fora, os bucaneiros já estavam no trabalho de preparar o navio
para ancorar no Porto de Chenbuk. Manuseando cabos e baixando algumas
velas. O Capitão se juntou ao seu contramestre e a timoneira, já que a
mesma seria responsável por manobrar a embarcação, assim que chegassem
no cais.
Não demorou muito para que o Ômega também saísse da cabine,
sentindo a brisa fresca do entardecer. Estava bastante ansioso para conhecer
o tão famoso Império das Índias.
— Hey, Jiminie. — Hoseok o chamou. Ele estava encostado na lateral à
estibordo, junto com Taehyung, Yoongi, Seokjin e Scott.
O Ômega se aproximou. Todos estavam sorrindo, ele então sorriu de
volta.
— Como estão?
— Nós estamos bem — Yoongi respondeu trocando olhares entre seus
companheiros, e estes assentiram. Em seguida, ele fitou o Ômega e piscou
com um olho. — Mas você deve estar bem melhor, sim?
— Não entendi. — Jimin respondeu sorrindo nervoso.
— Seu botão está fora do lugar. — Seokjin apontou para a camisa torta
do Ômega.
— Oh. — Jimin rapidamente se colocou a consertar o erro.
— E seu cabelo está bagunçado. — Taehyung acrescentou.
A essa altura, ele mal conseguia se conter com o Ômega ruborizado.
Assim como os outros, que o fitavam com seus olhares divertidos.
— Ah, foi o vento. — Jimin explicou, tentando pentear com os dedos.
— Claro — Yoongi articulou. — Porque o vento não assobia... ele geme.
— E essas marquinhas — Taehyung acrescentou apontando para sua área
cervical. — Vento mais violento, esse...
O Ômega arregalou os olhos, completamente constrangido e vermelho.
Levou as mãos até a clavícula, abriu a boca para dizer alguma coisa, mas
sua garganta não foi tão rápida quanto os pensamentos.
— Já chega, parem — Dessa vez foi Seokjin, arrumando sua postura
relaxada. — O menino vai explodir de tão vermelho que está.
Mesmo com o pedido do médico, os outros três continuaram com seus
olhares significativos para o Ômega, que rapidamente deu meia volta e
sorriu para Dahyun, caminhando até ela. A Beta olhava distraída em uma
certa direção, onde a timoneira guiava atentamente a embarcação. Jimin
seguiu o mesmo olhar e logo entendeu a situação.
— Vai falar com ela.
Dahyun suspirou triste e o fitou.
— Sem chances, Jimin — Deu de ombros. — Não sou uma Ômega. Sou
uma simples Beta.
— E o que isso tem a ver? O Tae é um Beta também, e tem dois Alfas
disputando ele.
— Ah, Taehyung é o Taehyung, né? Eu, sou apenas eu.
— Você é Dahyun! Linda, atenciosa e super inteligente. Você
simplesmente faz a coisa toda funcionar. Se não fosse por você, este navio
nem estaria aqui agora.
— Você é tão gentil, Jimin. Obrigada — Ela apontou para algo acima dos
ombros dele. — Já estamos chegando.
Jimin olhou para trás e viu de longe, o navio se aproximando do porto
gradativamente.

Embora a temperatura ainda estivesse alta, o calor não era algo que
Jisung poderia reclamar naquele momento. Passava a maior parte do tempo
trancado no camarote do caçador, lendo um livro que o mesmo lhe
emprestou.
Não era tão envolvente quanto os romances que costumava devorar em
sua casa, mas o enredo lhe chamou a atenção, por se tratar da história de um
indivíduo que queria chegar à Lua, para provar que existe uma civilização
que vê a Terra como sua própria Lua.
Poucas vezes na semana, Jisung saía para tomar um pouco de sol. Certo
dia, estava sentado próximo a proa, onde em tempos remotos costumava
passar suas tardes na companhia do seu irmão, quando faziam longas
viagens marítimas. Tomou um susto quando Jackson, que sempre mantinha
uma guarda silenciosa ao lado dele, se aproximou repentinamente.
O caçador comprimiu os lábios, não era tão visível, mas ele ficava
incomodado com o fato do Ômega sempre se assustar quando ele se
aproximava. O Alfa entendia seus motivos, mas não estava satisfeito com
aquilo. Sua intenção era realmente proteger aquele Ômega, mesmo que não
fosse receber nada em troca. Aquela situação era algo que precisava ser
tirado a limpo.
— Você tem medo de mim? — Jisung apenas assentiu balançando a
cabeça. — Você sabe o que eu sou?
— Um caçador de recompensas.
— Exato. E sabe quais coisas eu faço?
Jisung acabou ficando sem resposta. Poderia saber o que ele era, mas o
que ele realmente fazia, não. Possuía apenas uma vaga informação de que
em sua maioria, seus alvos eram piratas.
— Não exatamente.
— Pessoas me pagam para capturar outras, em sua maioria são Alfas,
Betas e até mesmo Ômegas considerados traidores da Coroa. Eu mato
quando preciso, para atingir meu objetivo. Posso fazer qualquer coisa que
me solicitam — Ele se aproximou do Ômega, com cautela. — Mas se tem
uma coisa que eu jamais faria é machucar você. Nem que me pagassem.
Não precisa ter medo de mim, estou disposto a protegê-lo até que seja
entregue ao seu pai.
— Ah — tudo estava muito bonito até Jisung ouvir a última afirmação.
— Claro... você vai me levar de volta para casa.
— Pensei que gostasse do seu pai.
— Eu o amo. Quem não gosta do próprio pai?
— Eu.
— Por que não? — Jisung parecia chocado.
Jackson desviou a atenção e respirou fundo, observando o horizonte a ser
alcançado pelo galeão. Algumas poucas memórias onde esteve na
companhia de seu pai, lhe encheram a mente.
Lembranças de como aprendeu a usar a espada, e de quando o viu pela
última vez. Era doloroso, e o Alfa tentava não pensar muito nos fantasmas
do seu passado. Mas Jisung o encarava aguardando ansioso por uma
resposta.
Jackson relaxou a postura, apoiando seu antebraço no parapeito da
embarcação, ele girou para o Ômega, e então respondeu:
— Para começar, ele foi um pirata.
— Eu iria adorar se tivesse um pai pirata. Teria mais liberdade.
— Liberdade, é? Você me parece muito novo para isso.
— Onde você estava quando tinha a minha idade?
— Pelo mundo.
— Então pronto — Jackson sorriu quando o pequeno cruzou os braços
decidido. — Posso não ter tanta experiência de vida, mas sei o que quero.
— E o que você quer?
— Ser livre.
— Hm... Só não se torne um pirata, se não vou ter que caçar você.
Mesmo que o aviso parecesse sério, havia traços de humor nas
expressões do Alfa. Jisung desviou o olhar, sorrindo. Ele interpretou a fala
do caçador como algo normal, uma simples forma de descontrair.
O medo que sentia dele foi se tornando algo mais distante, à medida que
seu lobo se habituava ao aroma natural de menta que provinha do Alfa
caçador, e assim, Jisung começou a ficar mais à vontade perto dele, e
passou a vê-lo mais como um protetor.
— Posso ficar aqui fora mais um pouco? É entediante ficar lá dentro.
Gosto de ver o mar.
— Mas não tem nada aqui para ver. Apenas céu e água.
— Céu e água? — Jisung riu olhando ao redor. — Há um mundo inteiro
a conhecer. Cheio de vida.
Jackson não deu muita importância. Já viajou grandes distâncias e
atravessou muitas fronteiras, não tinha nada que o Alfa não tenha visto. Já
estava acostumado às coisas do mundo e, para ele, não havia nada de
interessante nisso.
— Fique um pouco e depois volte para o quarto. Aqui está a chave,
tranque bem a porta e só abra quando ouvir minha voz. Vou falar com o
comandante.
O Ômega assentiu e permaneceu pela proa, entre alguns marinheiros que
trabalhavam para manter as velas na direção correta. O navio estava veloz,
e uma brisa forte espalhou os cabelos do Ômega.
Jisung olhou à sua frente e observou o céu, não havia nenhum pássaro
sobrevoando acima dele, apenas algumas nuvens com formatos divertidos.
O mar estava calmo e lindo, com seus diversos tons variando entre o azul e
o verde, além do brilho forte sol que refletia as ondas.
Assim como Jackson o instruiu, Jisung voltou para a coberta inferior logo
quando a temperatura ambiente se tornou mais agradável. Enquanto descia
pelas escadas que dava acesso ao corredor dos camarotes, seu corpo
paralisou assim que ele ouviu uma voz atrás de si:
— Ora se não é um cabritinho perdido.
Jisung olhou para trás e correu ao constatar aquilo que seus ouvidos
avisaram, e seu coração mais temia. Ele correu tentando chegar até a porta
do quarto, mas o Tenente Jo o alcançou antes disso e o agarrou com um
braço, usando a mão livre para impedi-lo de gritar.
— Eu te dei uma chance, Ômega. Mas parece que você gosta quando as
coisas se tornam um pouco mais violentas.
— Solte-o. — A voz de Jackson ecoou pelo corredor.
Jo girou para dar de cara com o caçador, que se aproximava com passos
decididos, e com a mão segurando o cabo da arma.
— Não se meta nisso, caçador. Ele é meu noivo!
— Não me faça matá-lo aqui, Alfa. — Jo engoliu em seco diante da
grave ameaça.
Com relutância, o Tenente foi soltando o Ômega aos poucos, até que este
se viu completamente livre e correu até entrar no camarote de Jackson.
— Isso não vai ficar assim, caçador. — Jo avisou, passando por ele
enquanto rosnava de ódio.

Logo após longas semanas de viagem, o Black Swan finalmente ancorou
no Porto de Chenbuk. Conforme a tripulação desembarcava, eles já
encontravam alguns mercadores oferecendo seus produtos locais. A mistura
de cheiros era forte e intensa. Diversos tipos de ervas, temperos e
especiarias, expostos para todos que entravam e saíam daquela cidade
através do porto.
Em sua maioria, a tripulação seguiu pelas ruas da cidade já conhecida por
eles, a caminho do bar onde quem chegava de suas longas viagens, entrava
para beber e descansar. Jimin não sabia exatamente para onde olhar. As ruas
pareciam um enorme mercado a céu aberto, com tantos artigos expostos em
tendas. Tecidos, roupas e diversos acessórios, tudo muito bonito e colorido.
— Pode comprar o que você quiser. — Disse o Capitão, ao observar o
olhar encantado de Jimin.
— Sério? — O Capitão assentiu.
— Eu também vou. — Taehyung se colocou ao lado dele, e Jimin sorriu
empolgado.
— Dahyun, quer vir com a gente?
— Quero sim. — ela se colocou do outro lado de Jimin.
E após alguns requisitos impostos pelo Capitão, os três seguiram para
suas as compras. Jimin sentia o tecido leve de algumas echarpes com os
dedos, enquanto ponderava sobre qual cor deveria levar.
— Por que não leva todas? — Taehyung lhe perguntou.
— Ah, eu não quero exceder...
— O Capitão disse para você comprar o que quiser, não foi ? Então, ele
que pague.
— Eu acho que ele tem razão. — Dahyun opinou.
Jimin olhou para os dois Betas, e eles sorriram dando de ombros.
— Tae? — Também examinando os tecidos, o navegador murmurou algo
para que Jimin continuasse: — O que você acha sobre relacionamento entre
Alfas e Betas?
Dahyun logo o fitou, querendo que Jimin percebesse que ela não queria
espalhar esse assunto. Mas Taehyung a surpreendeu, mostrando que
também já havia notado seu interesse na timoneira.
— Eu estava me perguntando quando você ia tomar coragem para falar
com ela. — Taehyung argumentou.
— Não é tão fácil...
— Complicado que não é. Você só precisa colocar para fora, a Beta que
existe em você.
— Será?
— Ele tem razão. Chaerin vai ser uma boba se não enxergar isso.
— Obrigada meninos, eu estava mesmo precisando ouvir isso.
Jimin amarrou uma echarpe lilás elegantemente em torno do pescoço da
Beta.
— Esse ficou lindo em você.
Os três seguiram entrando mais a fundo do mercado popular e bastante
movimentado. Nele, haviam muitas tendas vendendo de tudo um pouco,
desde pescados frescos, artigos em pele de grandes felinos, tecidos
coloridos, enfeites simples em madeira e outros mais sofisticados, de ouro
com pedras preciosas. Muitas lembranças da cidadela e outros produtos do
artesanato local.
A grande variedade de itens fazia do mercado, o melhor destino para
viajantes que querem encontrar um pouco de tudo no mesmo lugar. Jimin
sentiu-se em um mundo totalmente novo, entre uma diversidade de coisas
pouco familiares, mas que de certa forma o atraiu bastante.
— Melhor a gente ir — Comunicou Taehyung. — Daqui a pouco o
Capitão aparece com toda a tripulação te procurando.
Os três seguiram para a estalagem que sempre costumavam ir quando
ancoravam em Chenbuk.
De longe, podia-se ouvir a algazarra dos clientes bêbados dentro da
taverna. Por fora, o local era uma grande construção com vários andares,
que ofereciam quartos para que os viajantes pudessem descansar, mediante
o pagamento de uma taxa diária. No térreo, havia um grande salão
iluminado por velas e várias tochas, com longas mesas de madeira ocupadas
não somente por viajantes, mas também por moradores locais. O espaço
tinha um forte cheiro de curry e também dos vários tipos de bebidas que ali
eram servidas.
A maioria dos bucaneiros estavam por ali, espalhados pelas mesas,
enquanto aguardavam serem servidos. Avistando Namjoon sentado sozinho
em uma das mesas, os três se aproximaram dele e ocuparam os lugares
vazios.
— Onde está o Jin? — Dahyun perguntou.
— Saiu com Sven e Scott em busca de um entalhador. Ele vai usar uma
perna de pau.
Uma Ômega parou na mesa e após receber os pedidos, ela se retirou para
buscá-los. Jimin girou os olhos pelo local, admirando a arquitetura
enquanto esperava a Ômega trazer as bebidas. No canto esquerdo que dava
acesso ao estoque, ele viu algo que chamou sua atenção. Jungkook estava
conversando com um Ômega moreno. Eles pareciam estar discutindo.
— Nam, você sabe quem é aquele que está falando com o Jungkook?
O Alfa franziu o cenho curioso e quando olhou na direção em que Jimim
apontou, sua expressão mudou de curioso para colérico.
— Maldito desgraçado — O contramestre socou a mesa e voltou a
atenção para o loiro: — Foi ele que traiu o Capitão, Jimin.
Jimin encarou o contramestre e arqueou as sobrancelhas completamente
surpreso. Ele olhou novamente na direção em que o Capitão Jeon estava
com o outro Ômega, se perguntando sobre o que aqueles dois poderiam
estar conversando.
Continua...

Marinha Real - X azul


Black Swan - X preto
Atualização dos personagens:
Yook Sungjae - ômega
( Ex do Capitão ) 24 anos
[30] Provocações

Reescrito

Todos os que estavam no interior da taverna, presenciaram Jungkook
agarrar o braço de um dos Ômegas que servia as mesas e arrastá-lo sem
modos para os fundos do estabelecimento. Mas ninguém nada fez para
ajudar. O Ômega sentiu uma forte dor nas costas quando foi jogado com
brutalidade contra a parede, no beco atrás do bar.
- Se arrependeu o caralho! - Jungkook rosnou e o Ômega se encolheu
ainda mais.
- Me arrependi! Eu juro! - Sungjae choramingou sentindo o aperto nos
braços. - Aaii, você vai quebrar os meus braços!
- Eu deveria quebrar seu pescoço!
- Eu não queria fazer isso, e-eu fui obrigado. Por favor?! Tá
machucando!
Jungkook o lançou contra um monte de lixo que os funcionários da
taverna jogavam ali, para serem incinerados. Sungjae se levantou com
dificuldade, massageando os braços doloridos.
- Eu deveria matá-lo.
- Se serve de alguma coisa, eu não recebi nem uma única moeda pelo que
fiz. Ele também me traiu. Passei dias trancado naquele porão imundo com a
tripulação dele fazendo coisas horríveis comigo. Eu já paguei muito caro,
Jungkook, por favor não me mate.
- De quem você está falando?
- Dele, é claro, o Capitão Alma Negra.
- Ele está morto. Não acredito em você.
- Você pode não acreditar, mas ele está bem vivo e sabe que você não
morreu. Ele o quer de volta, está procurando pelo Black Swan.
"Então o maldito sobreviveu" - Jungkook pensou consigo mesmo.
Na ausência de resposta, Sungjae continuou:
- Ele esteve aqui há oito meses.
- E para onde ele foi?
- Eu não sei bem, mas ouvi rumores de que iria desbravar o Mar
Tenebroso - Jungkook permaneceu em silêncio, ponderando sobre as
chances de encontrá-lo. - Você ficou bem mais forte, em todos os sentidos,
não é o mesmo de cinco anos atrás... Mas e então, eu te dei essas
informações, você vai me matar assim mesmo?
Jungkook o encarou, sério. Sungjae não significava mais nada para ele,
sempre sentiu vontade de se vingar pela tradição, sonhava com a chance de
encontrar o maldito Ômega e rasgar a sua garganta bem lentamente. Quase
foi executado por causa dele.
Mas agora que finalmente o encontrou, toda a raiva que sentiu um dia já
não existia mais, e sabendo do sofrimento que o Ômega passou nas mãos de
Bloodthirsty, decidiu que pouparia sua vida, pelo castigo que já havia
recebido.
- Não entre no meu caminho - Joeon avisou, passando por ele e entrando
no bar novamente.
Na mesa, todos pareciam distraídos enquanto bebiam e conversavam
alegremente. Apenas Jimin que ainda olhava na direção que o Capitão havia
saído com o Ômega. Quando Jeon reapareceu, suspirou aliviado ao passo
que ele se aproximava.
- Taehyung, o quanto você conhece sobre o Mar Tenebroso? - Jeon
perguntou.
- Pouca coisa... sei que é bastante turbulento, cheio de tempestades,
monstros e criaturas estranhas. Também dizem que há um enorme
penhasco, que já levou inúmeras embarcações ao abismo profundo.
Sungjae surgiu pela porta dos fundos, sendo repreendido pelo dono do
bar, pegou uma bandeja com algumas bebidas e voltou a servir os clientes.
- Você não o matou? - Namjoon questionou surpreso. - Porra, Capitão!
Deveria pelo menos ter dado uma boa lição nele.
- Ele já foi castigado o suficiente.
- Não por você, que foi o traído na coisa toda.
- Sungjae não significa nada para mim e não vou perder meu tempo com
ele agora - Jeon e girou para o Beta: - Quero que me mostre nos mapas,
todos os pontos que você conhece.
O navegador assentiu e se levantou, sendo acompanhado pelo Capitão
para um dos quartos. Além de taberna, o local possuía também um primeiro
andar, com cômodos para abrigar os que estavam longe de casa.
Jimin ainda estava calado, observando o contramestre murmurando
irritado o quanto o Capitão havia amolecido, e que se fosse em outra época,
teria feito Sungjae pagar.
- Vão querer mais alguma coisa? - A voz do Ômega em questão, fez
Namjoon levantar em um sobressaltou cheio de ira.
- Vou. Quero esganar esse seu pescocinho cheio de veneno!
O Ômega tomou um susto e voltou alguns passos. Quando ergueu o olhar
e viu de quem se tratava, ele sorriu curvando os ombros.
- Oi, Namjoon. Há quanto tempo, não?
- Seu pequeno maldito do caralho! Filho da puta...
- Tá, eu já sei - Sungjae o interrompeu. - Você me odeia, quer me matar...
"você traiu o Capitão"... - Disse, tentando imitar a voz de Namjoon. - Mas
veja, são mágoas passadas. O próprio Capitão já me perdoou.
- Mas eu não.
Sungjae suspirou, largando a bandeja em cima de uma mesa e fazendo
bico com seu olhar prostrado em falsa lamentação.
- Tudo bem, vá em frente. Vingue-se por ele. O que eu posso fazer contra
um Alfa do seu tamanho? Pode me bater, só não me mate por favor.
Namjoon olhou para o Ômega, magro e com os ombros encolhidos. Por
mais que sentisse muita raiva daquele rapaz, não seria capaz de agredi-lo
tanto quanto sua raiva desejava.
- Maldito! - Namjoon rugiu saindo com ira e descontando nas cadeiras e
mesas pelo caminho que passava.
Assim que ele sumiu de suas vistas, Sungjae sorriu vitorioso, pensando
no quão fácil era enganar um Alfa, apenas se fazendo de pobre coitado e
indefeso.
- Namjoon, espera! - Jimin se levantou para ir atrás do Alfa, mas parou
ao ouvir a voz de Sungjae:
- Oh... você é o namoradinho dele? Que houve com o médico, morreu?
- O Jim está muito bem. E não, eu não sou namorado do Namjoon.
Somos amigos.
- Ah... - Sungjae cruzou os braços, examinando o outro Ômega dos pés à
cabeça. - Acho que não o conheço. Ainda não fomos apresentados. Sou
Yook Sungjae e você?
- Jeon Jimin.
O sorriso no rosto do Ômega mais velho se desfez. Ele estudou o loiro a
sua frente, era bastante bonito, não podia negar. Mas lhe parecia bastante
novo, e Sungjae viu a oportunidade perfeita para entrar na mente dele.
- Ah, você é o novo Ômegazinho do Capitão. Sabia que fui o primeiro
amor da vida dele? Eu tinha mais ou menos a sua idade.
- Eu sei muito bem quem você é. Um traidor repugnante.
Sungjae fez sua experiente cara de inocente, levando uma mão até o
peito.
- Você é um Ômega, deveria entender mais do que qualquer outro, o
quanto sofremos nas mãos de Alfas opressores.
- Sua sedução barata não funciona comigo - Jimin cruzou os braços e
sentenciou: - Quero você longe do Capitão.
A expressão de Sungjae mudou na mesma hora de surpresa, para um riso
debochado.
- Cuidado bebê, ciúme mata.
- Não, o que mata é isso aqui - Jimin puxou o punhal que o Capitão lhe
deu, e o manuseou calmamente. Sungjae engoliu em seco, dando mais um
passo para trás. - E se você cogitar em fazer algum mal contra o meu Alfa,
vou fazê-lo desejar a morte.
Jimin estava falando sério, mas seu timbre doce, calmo, e a aparência
angelical, fizeram com que Sungjae apostasse que ele não seria capaz de
matar uma mosca.
- Você se parece comigo quando tinha sua idade. Eu também era assim, a
cadelinha do Capitão.
A resposta foi tão rápida que Sungjae só percebeu o que havia
acontecido, quando se recuperou. Jimin o esbofeteou tão fortemente, que o
fez cair para o lado da mesa.
Chocado, Sungjae levou a mão trêmula a face que ardia avermelhada
com a marca da mãozinha de Jimin. Deixando-se levar pela aparência, só
agora Sungjae percebeu o quão pesada era a mão de um Ômega lúpus.
- Não me compare a você, seu vadio. Fique longe do meu Alfa, está
avisado - Jimin girou nos calcanhares deixando Sungjae massageando a
bochecha.
- Você não me conhece, garoto. - Sungjae murmurou para si mesmo.
Bastante enraivecido, ele pensou em um jeito de se vingar do tapa que
recebeu, mas pouca coisa podia fazer contra um Ômega lúpus, quando ele
próprio apenas um comum. Mesmo sentindo a ardência no rosto, ele sorriu,
pois havia conseguido provocar o mais novo.
Talvez, se ele continuasse com suas provocações, conseguiria plantar a
desconfiança em seu coração e mostrar para ele que seu poder de sedução é
tão grande, que seria capaz de conquistar o Capitão Jeon outra vez.
Sungjae o viu descer as escadas conversando com o Beta navegador, e se
aproximou como uma cobra sorrateira.
- Capitão - Sungjae o chamou com voz suave. - Tenho mais informações
sobre o Alma Negra, se quiser eu posso compartilhá-las com você.
- Por que você faria isso?
Sungjae deu de ombros.
- Eu só quero me redimir.
Jungkook o estudou sabendo que suas intenções não eram boas, pelos
meses que passou se relacionando com aquele Ômega, Jeon o conhecia o
bastante para saber que ele não fazia nada de graça.
Principalmente se levado em conta o motivo que fez Sungjae deixar a
tripulação. Ele definitivamente não era confiável, mas precisava das
informações. Caso o Capitão percebesse o mínimo resquício de mentira,
poderia ele mesmo cortar fora a língua do Ômega.
-Tudo bem. Esteja aqui quando o bar fechar. Taehyung, avise a
tripulação.
Sungjae evitou revirar os olhos, mantendo sua expressão calma e sonsa.
Ele queria ficar à sós com o Capitão, e agora teria de bancar o bonzinho na
frente de todos. Mas não tinha problema, ele conseguiria. Iria enganar a
todos como sempre fez. É a sua marca registrada.
Estava tão feliz como não esteve em meses. Não imaginava o quão
sortudo ele era. Conseguiu encontrar o Capitão outra vez, era a sua chance
de se reerguer e sair daquela vida miserável.
Com certeza o Alfa havia feito grandes saques e aquilo seria sua porta de
entrada para uma vida mais digna. Talvez esse comportamento não o
tornasse um santo, mas foi desse jeito que o Ômega conseguiu sobreviver
sozinho no mundo.
Sungjae foi abandonado na porta de uma igreja assim que seus pais
descobriram que seu filho era um Ômega, passou grande parte da infância
passando por lares adotivos e sofrendo violência por parte daqueles que
prometeram cuidar de si. Não mais suportando todo aquele sofrimento sem
fim, o Ômega decidiu viver sozinho, e ele perambulou pelas ruas, passou
fome e frio, até conseguir uma carona até a Ilha de Nabuco e ser recrutado
por uma Alfa para trabalhar para si, vendendo o próprio corpo.
E foi quando ele conheceu o Capitão Jeon, na época, um simples
bucaneiro pertencente a tripulação do terrível Paul Bloodthirsty.
Sungjae era um Ômega muito belo, seria fácil seduzir o Capitão Jeon
novamente, em sua opinião. Mas para isso, precisava de uma roupa nova e
alguns acessórios, e claro, ele merecia alguns mimos. Ele trocou o avental
de trabalho por uma bolsa e saiu até o mercado para fazer suas compras.
Coincidência ou não, ele encontrou Jimin conversando com Sebastian e
um Alfa já conhecido que andava mancando, usando uma perna de pau.
Assim que se aproximou, ouviu pouco sobre a conversa deles:
- Com o tempo você se acostuma. - Sven animou o irmão.
- Nossa, Scott, o que houve com sua perna? - Sungjae chegou, já se
intrometendo na conversa.
- Não é da sua conta, chispa daqui.
- Grosso.- O Ômega revirou os olhos - Teria sido melhor se tivesse
morrido.
- Sungjae, sai daqui - Seokjin falou sem paciência. - Vai procurar o que
fazer antes que Jungkook te veja dando sopa por aí, e dê o que você merece.
- Meu queridinho, nós já nos encontramos. Inclusive, marcamos de nos
ver hoje à noite quando o bar fechar.
- Como é?! - Jimin indagou.
Sungjae sorriu, erguendo uma sobrancelha.
- É isso mesmo que você ouviu - com o nariz em pé, ele girou a atenção
para Seokjin. - O Capitão não conseguiu se vingar de mim, na verdade ele
nem me encostou um dedo sequer. Deve ter se lembrado dos momentos
bons que tivemos. Sentiu falta de ter um Ômega de verdade em sua cama...
Ele parou de falar quando Jimin avançou contra ele, mas o Beta se
colocou entre ambos.
- Não caia nas provocações dele.
- Não são provocações e você sabe disso, Seokjin. São apenas fatos. Eu
pintei bolinha com o Capitão, fiz ele se apaixonar por mim, coitado. Fui o
primeiro amor da vida dele, e todos sabem que ninguém esquece o primeiro
amor. Mesmo com esse daí, ele ainda não conseguiu me tirar da memória,
me viu e já quer me foder. Eu vou levar uma coleira preta para combinar
com as roupas negras...
Seokjin não conseguiu conter o lúpus quando este se desvencilhou de
seus braços e avançou contra o outro Ômega. Sungjae não esperava ter o
corpo lançado para trás, quando o Jimin se jogou contra ele.
Sungjae gritou tentando se defender como pôde, enquanto Jimin segurou
fortemente em seu cabelo enquanto desferia golpes em seu rosto.
- Céus! - Seokjin exclamou, e um círculo de curiosos se formou ao redor
dos Ômegas, que brigavam no meio da rua. - Sven, para de rir e ajuda a
separar!
- O quê? Deixe-o apanhar. Quebra a cara dele Jimin! Isso! Uma de
esquerda agora!
Sungjae choramingava com gritos e pedidos de socorro, mas ninguém
teve coragem de se aproximar do lúpus raivoso. Ainda mais quando ele
estava com seus olhos em tons prata, e sacou um punhal, erguendo-o para
apunhalar o peito de Sungjae. Seokjin, que tentava tirar Jimin de cima dele,
conseguiu interceptar o golpe antes que o lúpus conseguisse acertá-lo. Ele
agarrou o pulso que segurava a lâmina poucos centímetros do peito de Max.
- Sven, se não me ajudar agora mesmo o próximo a apanhar vai ser você!
- Tsc, mas que merda! - O Alfa revirou os olhos e o ajudou a retirar Jimin
de cima do Ômega.
Sungjae estava completamente machucado. O rosto começando a inchar
e ferido nos lábios, nariz, e o sangue escorrendo de alguns pontos. Com
dificuldade, ele se levantou e saiu correndo tropeçando pelos cantos.
- Jimin, se acalma. É exatamente isso o que ele quer! Que você perca o
controle - O Ômega ainda respirava pesadamente e o sangue circulava em
seu corpo como a lava de um vulcão. - Eu entendo que você é muito jovem,
e pela criação que teve não conhece muito da vida, é normal que se sinta
inseguro, mas o Jungkook te ama...
- Eu sei que ele me ama, Jin! Disso eu nunca duvidei. E não me sinto
inseguro. - Jimim puxou os braços de Sven que ainda o segurava e guardou
o punhal. - O que me irritou foi aquele vagabundo ficar falando do
Jungkook daquele jeito. Ele o fez sofrer e ainda fica zombando dele! Que
ódio! Maldito! Eu quero matar ele!
- Jimin, acalme-se! Respira fundo. - Aos poucos, a respiração do Ômega
foi se normalizando e ele ficou calmo novamente - Menino? Eu concordo
com Sven que esses foram tapas muito, mas muito bem merecidos. Mas não
manche sua alma matando aquela peste. Faça melhor. Mostre à ele que nada
que ele diga te afeta, e muito menos afeta o Jungkook. Mostre o quanto
vocês dois estão ótimos juntos, e que ele foi apenas uma simples farpa que
espetou o dedo do meu irmão, mas que já foi jogado no lixo há muito
tempo.
Jimin assentiu, e eles encontraram com Taehyung, que os informou sobre
a reunião contada de mal jeito por Sungjae.
Continua.
Mapa atual:
Frota Marinha Real - X azul.
Black Swan - X preto.
Caso alguém desconheça essa informação, o Mar Tenebroso é como
era conhecido o nosso Oceano Atlântico.
[31] O Reencontro

Reescrito

Quando a noite chegou, o movimento dentro do bar aumentou ainda
mais. Muitos Alfas que não tinham dinheiro suficiente para pagar um
profissional do sexo, tentavam aquecer seus corpos com o calor das bebidas
alcoólicas.
Apenas quando a maioria já havia ido embora, os membros da tripulação
se reuniram em algumas mesas próximas. Não todos, pois alguns acabaram
se embebedando e não estavam em condições de estarem em uma reunião.
Muitos dos clientes eram também hóspedes do lugar, desse modo não era
possível expulsá-los com o fechamento da taverna. Sungjae estava com um
véu cobrindo parte da face, deixando apenas os olhos de fora. E quando viu
que Jimin não estava presente, logo tratou de se sentar de frente para
Jungkook e retirar o tecido que escondia seus machucados e hematomas.
— Nossa, o que aconteceu com seu rosto? — Taehyung questionou sem
disfarçar a cara de riso, já sabendo o que havia acontecido.
— Posso falar logo de uma vez? — Sungjae indagou fingindo voz de
choro, para que o Capitão ficasse com pena. — Eu só quero voltar para o
meu cantinho e esquecer dessa agressão covarde.
— Não teve nada de covarde, Jimin também é um Ômega. — Disse
Sven.
— Um lúpus. — Sungjae acrescentou. — Você esqueceu disso, ele tem
mais força do que eu.
— Para de drama Sungjae, todos já sabemos que você mereceu. —
Seokjin disse já sem paciência.
— Sem falar que o Jimin ainda vivia sob as asas do pai até praticamente
ontem, gente. É um neném. — Chaerin articulou — E você pelo que sei,
não passa de uma ratazana velha que já passou pelos piores esgotos do
mundo.
— Se fosse eu, teria rasgado a garganta dele. — Yoongi disse
calmamente.
— Eu não vim aqui para ser humilhado. — Sungjae se levantou fazendo
drama.
Ele não estava sentido por falarem com ele daquele jeito, já lhe falaram
coisas piores. Sua intenção era apenas que o Capitão o defendesse.
— Sente-se. — Jeon ordenou friamente — Deixem ele falar de uma vez.
Todos se calaram e deixaram que Sungjae contasse tudo o que sabia
sobre Alma Negra e sua tripulação. Não foi bem uma defesa, mas Jungkook
estava alí por causa dele, mandou que todos se calassem apenas para ouvi-
lo falar.
Sungjae respirou fundo, com um sorriso campeão no rosto, e quando
abriu a boca para falar, o olhar do Capitão se dirigiu as escadas quando
Jimin apareceu, descendo-as. Assim como Jungkook, a tripulação também
observou o Ômega descer cada degrau, se aproximar e sentar de lado, no
colo do Capitão. Ele cruzou os braços em seu pescoço, ignorando
totalmente a presença de Sungjae, que estava com seus olhos em chamas.
— Jungkook eu estou cansado, vou dormir porque amanhã quero acordar
bem disposto para comprar mais algumas coisas. — Jimim falou, com voz
mansa — Boa noite, meu amor.
Percebendo com o canto dos olhos que Sungjae pretendia falar alguma
coisa, Jungkook ergueu a mão para que ele ficasse quieto. Ele abraçou o
loiro pela cintura e o beijou. E não foi um simples beijo. Ele foi quente e
demorado. Ninguém ousou interromper.
— Boa noite, meu coração. Daqui a pouco eu subo. — Jeon disse,
deixando mais alguns beijinhos nos lábios do Ômega.
— Estou te esperando em nossa cama. — Jimin abraçou o Capitão uma
última vez, se levantou e deu um "tchauzinho" para Taehyung, Seokjin e
Dahyun, que estavam sentados um ao lado do outro.
O silêncio permaneceu até que o Ômega lúpus subisse as escadas e
entrasse em seu quarto.
— Caralho. — Chaerin articulou abanando-se com uma das mãos — Está
quente aqui ou sou apenas eu ?
Após esconder o rosto novamente, por baixo do véu, Sungjae continha
seus rosnados, e quase havia esquecido as coisas que iria contar.

Alguns dias haviam se passado e a tripulação permanecia na busca de
alguma informação sobre algum dos fragmentos. Era possível que Sungjae
soubesse de algo, mas ninguém confiava nele o suficiente para fazer
perguntas sobre. Sem falar que, após a noite da reunião, ele andou evitando
à todos.
Após a Frota de navios da Marinha Real ancorar no Porto do mesmo
Reino que o Black Swan se encontrava, com o total de quatro embarcações,
os marinheiros foram alojados em albergues simples, enquanto os oficiais
acomodaram-se nas melhores instalações da cidade. Jisung ganhou um
quarto só para ele, para que as pessoas não falassem de sua honra. Mas
Jackson alojou-se em um quarto ao lado do dele.
— Já que vou voltar para Gaeul, eu gostaria de pelo menos levar algumas
lembranças da Nidras — O Ômega disse, enquanto fazia seu desjejum na
companhia dos oficiais. — Já que é o senhor que está no comando, sr. Choi,
eu gostaria de ter sua permissão para sair e conhecer o mercado.
— Claro, Jisung — O Comodoro respondeu com um sorriso. — Mas
deverá ser escoltado para sua própria segurança.
— Eu o levarei. — Como era de se esperar, o caçador se ofereceu.
— Certo. — Choi confirmou, e seu amigo Jo não disfarçou o incômodo,
saindo do salão quase levando algumas cadeiras junto.
Um pouco mais tarde, enquanto caminhavam pelas ruas, Jisung
encontrou uma tenda onde uma senhora vendia flores. Sentiu o cheiro de
jasmim e logo se lembrou de Jimin.
— Sinto tanta falta do meu irmão.
— Logo vocês vão se ver.
— Espero que sim. — Jisung olhou para o Alfa e sorriu, seu olhar desceu
para algo que ele carregava sobre o peito e só agora pôde ser visto, porque
ele estava com a camisa desabotoada. Jisung franziu o cenho, curioso — O
que é isso, sr. Jackson?
— Não precisa me chamar assim, não sou Senhor de nada... foi minha
mãe que me deu, pediu para que eu guardasse com cuidado, mas tenho
certeza que pertenceu ao estrume do meu pai. Deveria ter me livrado disso
há muito tempo.
— É uma lua? É muito bonito.
O Alfa acionou algo em seu pingente, e mais três luas, cada uma em sua
fase surgiram formando um círculo maior.
— A lua e suas quatro faces. — Jisung olhou encantado para o objeto
pendurado no pescoço do Alfa.
Nunca tinha visto algo tão bonito quanto aquela jóia. Com a prévia
autorização do caçador, Jisung tocou no objeto e passou os dedos sobre o
formato do pingente de prata.
Do outro lado da rua estava Jimin, que, após sair em companhia de
Taehyung e Dahyun, perdeu-se de ambos pelas ruas tão parecidas do grande
mercado. Não fazia ideia que a poucos metros de onde estava, o seu querido
irmão mais novo estudava um lindo objeto cheio de encanto.
Os irmãos, que foram violentamente separados há meses desde o assalto
do Black Swan ao galeão da Marinha, sempre mantiveram os seus corações
na esperança de se encontrarem novamente. Mesmo com o passar do tempo,
e com as diversas situações assustadoras nas quais os Ômegas passaram,
eles nunca deixaram de pensar e de se preocupar um com o outro.
Em todos os momentos terríveis desejaram fortemente poder segurar a
mão um do outro, mas ao invés, tiveram que lidar com a saudade que a cada
dia que se passava, apertava ainda mais. Mas eles tinham certeza de que um
dia eles iriam se reencontrar, disso nunca duvidaram. Só não imaginavam
que este dia havia chegado.
Quando Jimin girou para seguir seu caminho, viu um casal do outro lado
e de frente um para o outro. Seus olhos naturalmente puxados se abriram
quando ele viu que o garoto loiro ao lado do Alfa, era o seu irmão, Jisung.
Seus batimentos aceleraram à medida que ele atravessava a rua caminhando
na direção em que o mais novo estava.
Se seus olhos poderiam tê-lo enganado, o olfato lhe deu a única certeza
de que precisava, quando o aroma de lavanda, o doce cheiro do seu irmão,
foi captado por Jimin.
— Jisung... — o Ômega ouviu uma voz conhecida e franziu o cenho,
quando olhou para trás, ele viu seu irmão parado a apenas alguns passos.
Por um momento Jisung pensou que estava vendo coisas, que era apenas
uma ilusão provocada pela sua cabeça, pelo fato de ter sentido o cheiro de
jasmim em uma floricultura momentos atrás. Porém, assim que viu o sorriso
de Jimin aumentar, o mais novo correu ao seu encontro, ignorando o Alfa
ao seu lado.
— Jimin! — Os Ômegas se abraçaram fortemente, com um desejo de
suprir toda a saudade que sentiram um do outro. — Me perdoa, me perdoa
por favor!
— Eu senti tanto sua falta! Por que está pedindo perdão, meu pequeno?
— Porque eu fui um covarde que não fiz nada quando você foi levado.
Ambos estavam chorando, mas ao invés de secar as próprias lágrimas,
Jimin passou os dedos suavemente pelas bochechas úmidas do mais novo.
— Não fale coisas bobas! — O repreendeu como sempre fazia. Jisung
sorriu, sentia falta até mesmo das censuras do irmão mais velho. — Não se
desculpe por isso, faria aquilo quantas vezes fossem preciso. Eu sempre vou
te proteger! Mas o q-...
Jimin parou de falar quando sentiu o cano gelado de uma pistola, ser
pressionado contra sua têmpora. Sua mão estava no cabo do punhal, mas
chegou tarde demais.
— Tire sua mão daí. — Jackson ordenou, e o Ômega ergueu as mãos. —
Me acompanhe e não faça nenhuma gracinha. — ele girou para Jisung: — E
se você fugir eu aperto esse gatilho.
Jackson agarrou o punhal de Jimin e o guardou sob sua posse. Ele puxou
o cinto de tecido que prendia sua camisa e amarrou as mãos do Ômega
lúpus atrás das costas.
— Por favor, Jackson, deixe-nos ir. — o Ômega mais jovem pediu.
— Quem é você? — Jimin perguntou.
— Calem a boca. — Jackson encostou a pistola nas costas de Jimin. —
Não chamem atenção de ninguém. Andem.
Ao passarem pelas instalações onde a tripulação do Black Swan estava,
Jimin olhou para as janelas esperando ver algum deles, e desejando
desesperadamente poder gritar por ajuda. A única pessoa que o viu fôra
Sungjae, e este sorriu ao vê-lo amarrado sendo conduzido forçadamente por
um Alfa armado.
As pessoas nas ruas já estavam acostumadas a cena corriqueira onde
caçadores passavam com seus capturados, levando-os para as autoridades
locais. Mas este não era o destino de Jackson. Ele o levou diretamente para
onde estava alojado. Aproveitou que os oficiais estavam na casa do
Imperador Tossif, e assim não teve problemas ao subir com os Ômegas
diretamente para o seu quarto.
— Eu sei que você é uma pessoa boa. — Jisung tentou mais uma vez. —
Por favor, deixe-nos fugir.
— O que pretende? — Jimin, sem saber ao certo o que estava
acontecendo e como seu irmão estava com aquele desconhecido, girou para
o mais novo. — Quem é este Alfa, Jisung? E o que você está fazendo aqui,
com ele?
— Ele é um caçador, Jimin. Nosso pai o contratou para encontrá-lo e o
levar de volta para casa.
O lúpus abriu a boca chocado, mas não articulou uma única palavra.
— Preciso fazer algumas coisas, mas eu volto logo. — Jackson avisou —
E nada de gritos, ou quem vai aparecer aqui são os oficiais da Marinha, e eu
sei que vocês dois não gostam deles.
O Alfa saiu do quarto, trancando a porta e deixando os irmãos sozinhos,
por hora.
Continua...
[32] Ao Seu Favor

Reescrito

Jimin aguardou durante algum tempo até ter a certeza de que o caçador
realmente havia ido embora, para pedir ao irmão que ele tentasse desatar os
nós que prendiam suas mãos.
— Tá muito apertado. — Jisung desistiu após passar vários minutos
tentando desfazer o nó que o caçador fez com o cinto. — Desculpa, não
consigo.
— Tudo bem.
— Ah! Seu aniversário! Eu pensei em você o dia todo e dormi no seu
quarto, para me sentir pertinho de você.
— Me dá um abraço! Eu não consigo.
Jisung sorriu e envolveu o irmão com seus braços, abraçando-o apertado.
— Eu tive tanto medo de nunca mais te ver.
— Eu também. Aconteceram tantas coisas comigo...
Jimin contou para seu irmão, todas as aventuras em que ele havia
passado. Desde a última vez que o viu, até o presente momento.
— Como eles são? Os piratas.
— Como eu sempre te falei, são bárbaros e cruéis. Eu vi coisas que... —
Jimin lembrou-se do homem crucificado no Forte de Nabuco, os Ômega
presos no quarto de Barba-Ruiva, os que seriam vendidos no leilão e outras
coisas. —... mas também há Alfas e Betas bons. Como o Capitão Jeon e sua
tripulação.
— Eu não sei, Jimin. Aquele Alfa da cicatriz me pareceu muito mau.
— Ah, ele me dá medo as vezes, também — Jimin confessou —, mas é
apenas o jeitinho dele.
— Jeitinho? Eu tive pesadelos com ele.
— É sério, depois que você conhece cada um deles, percebe como são de
verdade. — Jisung deu de ombros, mas para ele, o Alfa da cicatriz ainda era
muito assustador — E esse tal caçador, ele não te fez nenhum mal, não é ?
— Não, não. Ele me protegeu do Tenente Jo.
— Acho que sei quem ele é. Amigo do Comodoro ? — o mais novo
assentiu — Por que ele precisou proteger você do Tenente ?
— O papai escolheu ele para ser meu noivo. Ele tentou me tomar à força.
— notando o semblante chocado do irmão, Jisung apressou-se em explicar:
— Mas eu estou bem, ele não conseguiu... e então o Jackson vem me
protegendo esse tempo todo.
— Nosso pai sabe disso?
— Não. Aconteceu no navio.
— Eu vou matar esse desgraçado! — Jimin rosnou imaginando diversas
formas de como torturar um Alfa — Mas ainda não entendi como ele
deixou você viajar sozinho no meio de tantos Alfas.
— Então... — Jisung sorriu amarelo — Ele não sabe. Eu fugi para te
encontrar e ficar com você. Mas agora nós vamos ser levados de volta...
Jimin admirou o irmão em silêncio por um tempo. Jisung sempre foi
medroso e chorão. Mesmo que sua vontade de viver uma aventura fosse
gigantesca, se um pirata bater o pé no chão ele se encolhe todo. E no
entanto, ele estava alí. Havia fugido sozinho e estava disposto a continuar
para levar uma vida livre, sem as obrigações matrimoniais impostas pelo
pai.
— Não se preocupe, não voltaremos para casa nem tão cedo.
— Mas como...?
— Vamos fugir daqui. Procura por uma garrafa de vidro, um espelho,
qualquer coisa cortante.
Jisung anuiu e se levantou a procura de algum objeto que pudesse cortar
as amarras do irmão. Ele vasculhou nas coisas do caçador, nas gavetas e
baús. No banheiro, ele encontrou um espelho sobre a pia.
— Pega aquele castiçal, enrola um pano para não fazer barulho e joga
nele. Mas fica longe pra não se machucar. — Jimin o instruiu e seu irmão
fez assim como ele disse.
O barulho do vidro se quebrando foi abafado pelo tecido de uma roupa, e
com cuidado, Jisung pegou um dos pedaços que se espalharam. Jimin virou
de costas e o mais novo começou a cortar o pano como podia. Assim que a
porta foi aberta, ele se assustou e deixou o caco de vidro cair no colchão.
— Que estão fazendo? — O caçador perguntou, olhando desconfiado.
— Nada. Nadinha. Só conversando sobre coisas de irmãos. — O mais
jovem disse, tentando disfarçar. Jackson estudou o Ômega lúpus que a essa
altura, já havia escondido o pedaço de vidro entre as mãos — Já vai nos
levar de volta?
— Não. Ainda falta matar o Capitão Jeon.
Mesmo sabendo que era esse o trabalho do caçador, Jisung não pôde
deixar de fitá-lo em choque. Já o seu irmão, começou a rir alto.
— Jimin?!
— O quê? Ué, foi engraçado. — deu de ombros — Esse palhaço
realmente acha que vai conseguir matar o Capitão.
Jackson ergueu os olhos para encará-lo, e Jisung temeu que ele pudesse
fazer algo contra seu irmão, quando este se aproximou de ambos. O Alfa
curvou o corpo até ter o rosto próximo ao do lúpus. Havia um pequeno
sorriso em seu rosto.
— Não só vou matar, como entregarei o resto do corpo aos cães. Porque
seu papai só quer a cabeça. — Instintivamente, Jackson fechou os olhos
quando Jimin cuspiu em seu rosto. Com paciência, o caçador passou a mão
no rosto e o limpou — O Comodoro vai ficar muito feliz em vê-lo.
Já sem nenhum traço do sorriso de alguns segundos atrás, Jackson
agarrou o braço de Jimin e o levou para fora do quarto. Jisung tentou ir
atrás mas a porta foi trancada antes que ele pudesse sair.
Jackson bateu na porta do Comodoro, assim que ele abriu, o caçador
nada disse quando empurrou o Ômega para dentro. Choi olhou para o
Jimin, que caiu no chão de seu quarto, e novamente para o caçador, sem
entender.
— Aí está o seu Ômega. — E voltou para seu próprio quarto.
Choi ficou aturdido por alguns segundos, mas logo fechou a porta e girou
para encarar Jimin, que já estava de pé. Ele se aproximou do Ômega e o
atingiu com uma tapa no rosto, fazendo-o tropeçar para o lado.
— Isto foi por ter quebrado um vaso na minha cabeça.
— Pena que foi o vaso que quebrou. — Jimin afirmou, agora com uma
das maçãs do rosto avermelhada — Onde está sua dignidade, Comodoro?
Mesmo depois de tudo ainda cruza oceanos atrás de mim.
— Como se eu quisesse me casar com um Ômega desonrado. Seu pai
ameaçou tomar minha posição na Marinha se eu não me casar com você.
— E você é um covarde que não sabe se impor.
— Pense o que quiser, Jimin. Seu pai é poderoso suficiente para acabar
comigo. Você é belo, posso me casar com você, mesmo que não seja mais
puro, ainda vou sair ganhando tendo você como meu esposo. Isso, se não
pegou nenhuma doença com aquele pirata. — Jimin tentou chutá-lo no
meio das pernas, mas o Comodoro agarrou seu joelho — Agora estou
preparado.
— Pode conseguir um outro emprego, talvez possa trabalhar testando a
durabilidade dos vasos usando sua cabeça.
— Eu poderia até soltá-lo, mas só por causa dessa gracinha você vai
permanecer assim. — Jimin deu de ombros, sem se importar — Por que não
se salva agora, hm? Hum... Vou contar a bela novidade ao Jo.
Assim que o Alfa saiu do quarto, Jimin moveu o pedaço do espelho com
cuidado, tentando terminar de cortar o tecido que o pendia.
Enquanto isso, no quarto ao lado, Jisung estava sentado de costas para o
caçador, como um ato de protesto, depois de ter insistido para ele ajudar
quando Jackson voltou ao cômodo, e ter seus pedidos negados friamente.
A princípio Jackson não se importou, até achou fofa aquela atitude. O
deixaria quieto em seu pequeno momento de fúria, mas reparou que
algumas coisas estavam fora do lugar.
— Você mexeu nas minhas coisas? — ele indagou mas Jisung não
respondeu — Lembra de quando eu falei que minha paciência é quase
inexistente?
— Hum, humhum... Hum, hum, humhum... — o Ômega começou a
cantarolar, ainda o ignorando.
— O mar não é lugar para Ômegas.
— O lugar de um Ômega é onde ele quiser. O Jimin estava feliz com o
Capitão Jeon. Eles se apaixonaram e estavam caçando o Imperium juntos.
Mas você tinha q-...
— Imperium?
— Tesouro do Francis Bonny, nunca ouviu falar?
— Já... mas sobre caçar o Imperium, isso é mentira. Ninguém jamais
conseguiu decifrar um fragmento sequer.
— Mas acontece que o Jimin é um Ômega lúpus, o único que consegue
ler as runas.
— Espera um instante. — Jackson saiu do cômodo deixando um Ômega
confuso para trás.
E quando ele entrou no quarto do Comodoro, quem se encontrou confuso
foi ele, quando viu Jimin livre de suas amarras.
— Larga esse vidro. — o Alfa ordenou, mas seu tom era calmo. Jimin
negou, ficando em posição de defesa — Okay, já sei como sua mente
funciona, então vamos pular a parte em que eu pego minha espada e vou até
seu irmãozinho e-...
Ele parou de falar no mesmo instante em que Jimin jogou a parte do
espelho no chão.
— Bom garoto, agora venha comigo. — Jimin hesitou por um momento,
mas quando o viu entrar no quarto em que estava com Jisung, ele correu
para encontrar o irmão novamente.
— Ele te machucou? — Jimin perguntou examinando o menor.
— Não, eu já te disse. Ele não faria nada para me machucar. Ele mesmo
prometeu.
Jimin olhou para o Alfa sentindo-se um tolo por ter caído em sua
manipulação. Jackson foi até suas coisas e tirou de dentro um pergaminho,
abriu-o e mostrou para o lúpus.
— O que tem escrito aqui?
Aquele era de fato um dos fragmentos. As pupilas de Jimin dilataram-se,
assim como sempre acontecia quando lia uma daquelas escritas brilhantes.
— Nada.
Jackson riu baixinho.
— Não precisa mentir, seu irmão já me contou.
Jimin olhou para seu irmão, apenas para confirmar, e Jisung murmurou a
palavra “desculpa” com os lábios sem produzir som.
— Não entendo o idioma.
— Imaginei que não. É a língua morta dos seus antepassados Ômega
lúpus. Mas como sabemos, você conseguiu traduzir as outras partes com
ajuda dos livros.
— Por que ficou interessado no tesouro? Você não é um pirata.
— Não é no tesouro que estou interessado.
— É em quê, então?
Jackson hesitou, mudando de assunto.
— Vamos fazer uma visita a tripulação do Black Swan. Tenho um
proposta irrecusável para seu Capitão.
Continua...
Eu tô reescrevendo os capítulos usando os textos que eu já editei pro
livro físico, e algumas leitoras me alertaram sobre erros na hora de
mudar os nomes. Se acontecer de aparecer algum nome “estranho” por
exemplo, Sebastian, Noah, Victor... Pode me avisar que eu volto pra
corrigir ❤
[33] Uma Possível Aliança

Reescrito

Taehyung e Dahyun estavam feito loucos procurando Jimin pelo
mercado. No momento em que compravam suas próprias coisas, o Ômega
se afastou tão encantado com os acessórios, que acabou se perdendo de
ambos.
- Achou ele? - Taehyung perguntou a mulher.
- Não.
- O Capitão vai matar a gente e jogar nossos pedacinhos aos tubarões.
- Talvez ele voltou para hospedaria.
- Você acha?
- Só tem um jeito de saber...
Com os semblantes preocupados mas cheios de esperança, eles voltaram
para o Open Chenbuk bar. E no momento em que chegaram, viram que a
tripulação se encontrava alvoroçada.
- Sim, Capitão, eu mesmo fui verificar. - Jared disse com certeza na voz -
São três galeões e um nau.
- Fodeu... - Taehyung cochichou para a Beta. Eles estavam ouvindo a
conversa atrás de uma coluna.
- Não subam as velas ainda, na certa eles não perceberam. Eles devem
estar atrás do Jimin, vamos ter de ir embora. Não chamem atenção. -
girando na direção em que os Betas estavam escondidos, o Capitão
perguntou: - Onde está o Jimin?
Sorrindo nervosos, os Betas saíram de seu esconderijo.
- Ele-... - Dahyun começou mas foi interrompida por Taehyung.
- Está no mercado ainda.
- Sozinho? Vocês ficaram malucos? Vão lá e o tragam de volta. Não é
mais seguro ele ficar sozinho por aí.
Dahyun puxou o navegador para o lado de fora.
- Por que você não disse a verdade?
- Você não viu a cara dele? Fiquei com medo... vamos falar com Yoongi,
ele já foi um caçador, deve saber como encontrá-lo.
Sem outra opção, a Beta apenas concordou e o seguiu.

Sungjae aproveitou que não tinha clientes para limpar as mesas do bar,
quando dois Betas surgiram o cercando.
- Jarsa quer as moedas dele, Ômega. - um deles exigiu.
- Eu vou pagar.
- Quando?! - o outro Beta questionou dando um empurrão na mesa que o
Ômega limpava.
- Eu não sei, não tenho o dinheiro agora mas posso conseguir...
- Meu ovo que você vai conseguir. Já fazem três meses e nada das
moedas.
- Parece que você vai ter que pagar de outro jeito.
Sem aviso, o Beta agarrou Sungjae enquanto o arrastava para os fundos
do bar.
- NÃO! - o Ômega gritou tão alto que teve a sensação de que sua
garganta havia se rasgado.
- Que vocês estão fazendo?! - Uma voz furiosa surgiu descendo as
escadas - Mas que merda é essa?
Scott desceu com cuidado, mancando em sua perna de pau, já segurando
uma pistola em sua mão.
- Ele está nos devendo, já que não tem moedas, vai pagar com o próprio
corpo.
- Não! Isso não!! - O Ômega chorou desesperado.
- Tivesse pensado nisso antes de ter ido pedir fundos ao Jarsa.
- Não vai forçá-lo à isso. - Scott avisou.
- Não se mete perna de pau.
Scott apontou a pistola na direção deles e iniciou a contagem:
- Um... dois... - antes que chegasse no três, os dois Betas saíram em
disparada, fugindo para salvar suas vidas.
- Obrigado. - Sungjae suspirou mais do que aliviado.
- Não fiz isso por você. O Capitão não tolera estupros na tripulação, e se
eu presencio um e não faça nada para ajudar, é como se eu fosse cúmplice.
O Alfa expressou uma careta de dor e conteve um chiado, guardou a
pistola e subiu com dificuldade, voltando para o seu quarto mancando ainda
mais. Poucos minutos depois, Sungjae surgiu na porta do cômodo,
segurando uma pequena cumbuca.
- Chispa daqui. - o Alfa disse assim que o viu.
- Eu só vim agradecer pelo que fez por mim.
- Qual a parte do chispa daqui, você não entendeu?
- Está sentindo dores em sua perna amputada, não é? - mesmo com o
olhar ameaçador do Alfa, Sungjae insistiu - O Capitão Alma Negra também
sentia no braço que ele perdeu a mão. Eu fazia massagens e ele se sentia
melhor. Deixe-me ajudá-lo.
- Apenas porque você de repente ficou muito bonzinho... Sei bem como
você é seu putinho. Suma daqui.
- Você já foi forçado por vários Alfas no porão imundo de um navio
durante dias? Porque eu já, e não iria suportar se fizessem isso comigo de
novo. Mas você não deixou isso acontecer e acredite, eu estou muito grato.
Deixe-me fazer isso.
Scott estudou a cumbuca na mão do Ômega, e o mesmo parado no
umbral. Com um gesto de cabeça, mandou que ele se aproximasse.
- Se você fizer qualquer merda que piore o estado dela, não importa que
você seja um Ômega, eu vou te bater.
Sungjae lembrou-se da surra que levou do Ômega, sabendo que seria
muito pior se fosse de um Alfa. Ele engoliu em seco.
- Mensagem recebida.
Scott estava sentado na cama e com muito cuidado, ele retirou o encaixe
da perna de madeira com uma expressão terrível de dor. O Ômega se
aproximou, e sentou sobre os calcanhares diante do Alfa.
A perna de Scott, mais precisamente, o ponto em que foi cauterizada,
estava quase completamente cicatrizada, mas com uma aparência
avermelhada devido ao uso da perna de pau.
- Nossa, você não acha que deveria deixar que se cure completamente
antes de andar com essa coisa? - Sungjae perguntou, apontando para a perna
de madeira.
- Você é médico por acaso? Seokjin disse que posso usar.
- Aposto que ele disse para você não exagerar no uso como tem feito. -
Scott rosnou irritado, e o Ômega ergueu as mãos - Tudo bem, você que
sabe. A perna é sua, ou o que sobrou dela...
- Faz logo essa merda!
- Está bem, calma... Não precisa gritar.
Sungjae afundou a ponta dos dedos em uma mistura de ervas e espalhou
pelas palmas. Com cuidado, ele levou as mãos até a área inchada e Scott
gritou de dor assim que ele fez contato com sua perna. O Ômega se
encolheu, protegendo-se com os braços e já esperando pela agressão. Mas o
Scott tomou algumas Respirações profundas e mandou que ele continuasse.
A medida que Sungjae movimentava suas mãos com bastante leveza pela
área dolorida, a mistura ia penetrando na carne do pirata e o alívio
começava a surgir.
Sungjae estudou as expressões do Alfa, e este, mesmo alguns minutos
após o Ômega passar a mistura em sua perna, já não estava sentindo tanta
dor, e respirava calmamente com o alívio recebido. Sungjae colheu mais um
pouco da mistura espalhada pelas palmas e agora, moveu as mãos
embebidas pelo óleo sobre a coxa do pirata, onde a dor se estendia um
pouco mais acima. Ele deslizou as mãos para dentro da coxa e apertou
suavemente. Sungjae continuou a massagem fazendo círculos com as
pontas dos dedos.
Scott respirou fundo, enquanto o Ômega continuava deslizando a mão na
parte debaixo da coxa, pressionando os músculos. O Alfa fechou os olhos,
completamente perdido naquele bálsamo. As mãos de Sungjae, ainda
úmidas com o óleo feito a partir de algumas ervas e sementes, subiu um
pouco mais e enquanto apertava a coxa do pirata, seus olhos seguiram até o
membro do Alfa, e então percebeu que ele estava com uma modesta ereção
e parou a massagem.
Scott abriu os olhos, confuso com a parada repentina, e quando notou que
Sungjae percebeu seu vacilo, ele e o empurrou
- Acabou. Agora pode ir. - virou o rosto, fingindo reparar alguma coisa
em sua perna de madeira, mas na verdade ele estava irritado consigo mesmo
e constrangido.
Mas o Ômega não saiu, ele observou Scott, pensando na reação dele.
Ainda grato pelo que fez, ele resolveu contar o que tinha visto mais cedo
pela janela.
- Eu vi um caçador levar o Ômega que está com o Capitão.
- Não minta.
- Não estou. Também tinha um outro garoto de cabelo loiro.
Scott franziu o cenho e neste ínterim, seu irmão apareceu no quarto.
- Temos problemas. - seus olhos seguiram até Sungjae - Que ele faz aqui?
- Ele disse que viu um caçador levar o Jimin.
- Bom, então vamos descer porque é exatamente sobre isso que estamos
discutindo lá embaixo.
O Capitão rugia de raiva quando Taehyung e Dahyun voltaram sem
Jimin. Yoongi os fez contar para ele que o Ômega havia desaparecido.
- A Marinha está aqui, Jimin desaparecido... O que mais de pior pode
acontecer? - indagou retórico.
- Sungjae diz saber onde ele está. - Sven afirmou, ajudando seu irmão a
descer as escadas, com o Ômega logo atrás.
- E vocês acreditam nesse vadio mentiroso? - Chaerin indagou revirando
os olhos.
- Ele disse que viu Jackson Wang levar Jimin e um garoto também loiro.
Sungjae não conhecia o Jimin, não sabia que ele tem um irmão.
- Como você sabe que esse caçador é o Jackson? - Yoongi perguntou,
desconfiado.
- E quem não conhece Hack Wang? O lendário caçador de recompensas.
- E não é que o miserável apareceu por essas bandas... - O espadachim
riu, pensativo.
- Você parece muito animado com isso. - Taehyung constatou.
- Somos amigos.
- Seu amigo sequestrou o Jimin.
- É o trabalho dele. - deu de ombros - E o meu é pegar o loirinho de
volta.
- Você viu para onde ele os levou ? - Jungkook perguntou para o Ômega.
- Entraram no mesmo prédio que os oficiais da Marinha estão.
Uma pequena comoção se iniciou entre a tripulação, enquanto Yoongi
refletia sozinho sobre o cenário. O espadachim passou anos de sua vida
como um caçador, até foi treinado no mesmo local que Jackson e orientado
por um mentor em comum.
Sempre foram ensinados a pensar em todas as possibilidades e estar um
passo a frente do seu inimigo. Apesar de vez ou outra prestarem serviços
aos oficiais, os caçadores não possuíam um vínculo de lealdade com a
Marinha, e eles não confiavam integralmente nas forças armadas da Coréia.
Neste caso, Yoongi sabia que Jackson usaria a situação ao seu favor, para
obter alguma vantagem com a situação e não ser passado para trás, pela
Marinha.
- Vamos ataca-los - Jungkook afirmou. - Quero que coloquem aquela
construção abaixo!
- Talvez tenhamos outras opções - Yoongi argumentou. - Jackson é um
caçador, sabe que não se pode confiar inteiramente na Marinha. Eles são
corruptos.
- Onde você quer chegar com isso? - Namjoon inquiriu.
- Se eu estivesse em seu lugar - Yoongi explicou, se referindo ao caçador
-, buscaria analisar quais opções eu teria. Comprar uma briga com os piratas
ou com a Marinha?
- Continue - o Capitão consentiu.
- A pesar de serem os nossos principais alvos, não se pode negar que os
caçadores e piratas tem muita coisa em comum. Ambos cometem crimes
para atingir seus objetivos - Yoongi voltou a explicação. - Bom, o que eu
quero dizer é que há uma chance do Jackson nos procurar em busca de uma
melhor proposta.
- Confesso que eu prefiro estar ao lado de um caçador, do que de um cão
sarnento da Marinha. - Billy cuspiu no chão. - O que vamos fazer, Capitão?
- Se Yoongi estiver certo, o caçador não vai querer fazer isso aqui na
cidade, onde pode ser visto pelos oficias - Jungkook ponderou. - Voltemos
ao Black Swan, se o caçador não aparecer com meu Ômega, então pegamos
nossas armas e vamos invadir o albergue.

Quando a tripulação chegou no Black Swan, tudo estava calmo à
primeira vista. O navio se encontrava estranhamente silencioso demais.
Fazendo sinal para seguirem sorrateiros, Jungkook foi o primeiro a cruzar a
rampa e subir na embarcação. Ele levou a mão à sua arma e a ergueu no
segundo em que notou três silhuetas próximas ao mastro da proa.
Namjoon foi o próximo seguido de Yoongi e os demais. O espadachim
estava certo em sua aposta, Jackson realmente procurou a tripulação muito
provavelmente em busca de um pagamento maior.
- Mas que demora, Min Yoongi. - O caçador comentou. Jimin e Jisung
estavam sentados dividindo um caixote ao lado dele - Ficou muito lerdo
depois que se juntou à esses piratas.
- Ah seu desgraçado. - o espadachim se aproximou do caçador e o
cumprimentou - Pode ir, loirinho.
Jimin não pensou duas vezes quando se levantou e segurando na mão do
irmão, seguiu para perto de Jungkook. Jisung ainda olhou para trás, e viu o
caçador olhando para si.
- Você está bem? - Jeon perguntou e Jimin assentiu. Ele voltou sua
atenção ao Alfa: - O que veio fazer aqui?
- Vim oferecer a minha ajuda para encontrar o Imperium.
Até mesmo Yoongi olhou surpreso para ele.
- Como você sabe? - O espadachim perguntou se referindo ao tesouro.
- Deram com a língua nos dentes - Jackson revelou olhando para Jisung,
e este abaixou a cabeça com as sobrancelhas curvadas.
- O que o faz pensar que precisamos de sua ajuda? - O contramestre
perguntou.
- Ele tem uma parte do mapa. - Jimin os alertou.
- E nós, quatro. - Hoseok afirmou - Não precisamos dele. Podemos
simplesmente matá-lo e tomar o fragmento.
- Cale a boca. - Yoongi disse revirando os olhos.
- Vocês podem ter todas as sete partes do mapa, Jeon - O caçador
articulou. Ele puxou o pingente que usava em seu colar e exibiu à todos -
Mas sem isso aqui vocês não vão conseguir nada.
- O que é isso? - Yoongi questionou.
- Era do meu pai. Minha mãe me entregou antes de morrer e pediu para
que guardasse em segurança.
- E por que a bugiganga do teu pai pode ajudar? - Jared perguntou rindo.
- Porque eu sou filho de Francis Bonny.
Continua...
Obrigada As_Ideia pelo edit lindo ❤❤
[34] Interesses em Comum

Reescrito

— Você só pode estar brincando. — Billy concluiu em voz alta.


— Gostaria muito, afinal, ser filho de um pirata é o pior que pode
acontecer a alguém... Sem ofensa aos presentes.
— Mas e o que isso faz? — ainda um pouco surpreso com a afirmação,
Yoongi questionou se referindo ao objeto.
— Ah, isso aqui? — Jackson ergueu o pingente em forma de lua e todos
prostraram-se ansiosos para ouvir — Não faço a menor ideia.
Os piratas começaram uma pequena agitação, decepcionados. Cada um
com uma ideia diferente e uma mais absurda do que a outra, do que poderia
ser aquilo.
— Mas você não gosta de piratas, e quer se juntar a tripulação? — Jared
levantou a questão, tirando o foco do objeto e levando todos ao verdadeiro
motivo de estarem alí.
— Não quero me juntar a vocês. Só estou propondo uma aliança por
termos algo em comum. Mas depois que tudo acabar você será o primeiro a
quem irei caçar.
— Ora, seu-...!
— Suponhamos que aceitemos você — Jungkook considerou,
interrompendo o protesto de Jared —, porque seria mais útil levá-lo
conosco ao invés de simplesmente matar você e tomar o que carrega?
Jackson abriu a boca para responder, mas Jimin foi mais veloz:
— Não! Ele quer matar você. Foi o que ele disse. A missão dele é me
levar de volta e entregar sua cabeça a meu pai — Jimin o avisou com um
semblante aflito, e voltou-se para Jackson: — Não é mesmo, caçador?
— Sim. — a sinceridade dele chocou o Ômega — E respondendo sua
pergunta Capitão Jeon, sou mais útil vivo ajudando contra a Marinha na
qual passei semanas navegando junto e observando seu comportamento, do
que morto.
— Confiar ou não, eis a questão... — Seokjin lançou a dúvida no ar.
— Eu confio. — A afirmação impressionante veio de quem menos se
esperava se impor. Até o momento, ninguém notou que aquele Ômega ainda
estava ali, exceto por Jimin que ainda segurava sua mão — Ele me protegeu
contra a maldade do Tenente Jo.
— Ownn... Alguém está apaixonado. — Yoongi expressou divertido e
recebeu um olhar severo de Jimin.
— Quem acha que devemos aceitá-lo? — Jungkook perguntou e a
maioria ergueu a mão.
Todos ansiosos e com interesse apenas em encontrar o tesouro. Sendo
Jackson filho do próprio Francis Bonny e possuidor de uma relíquia do
mesmo, talvez fosse mais fácil encontrar o Imperium, afinal.
— Então está decidido.
— Mas Jungkook-... — Jimin ainda tentou protestar, mas foi suavemente
interrompido pelo Capitão.
— Não se preocupe, meu bem, leve seu irmão à nossa cabine e fique com
ele. — Hesitante, o Ômega chamou seu irmão e fez como o Capitão
sugeriu.
Jackson saiu do lugar dando uma passo na direção dos piratas, mas parou
imediatamente quando eles sacaram suas pistolas de maneira automática e
apontaram para ele. O caçador sorriu, erguendo as mãos e mostrando que
suas intenções não eram mortais. Ele suspirou e começou com cuidado:
— Há um grande estoque de pólvora e bebidas nos três galeões, e
também no nau. Sabem o que isso quer dizer, não?
— Kaboom! — Billy imitou o que seria uma explosão.
A tripulação gritou e riu empolgada, e o maior sorriso de todos era o de
Hoseok.
— Depois eu que sou o sanguinário. — Yoongi olhou para ele com um
sorriso irônico.
— Hoseok e Dahyun, vocês cuidam disso. — Jeon escolheu mais alguns
outros marujos para ajudá-los.
— Ah o fragmento está na hospedagem. — Jackson informou
calmamente.
— Mas é um idiota mesmo. — Namjoon bateu a mão na testa.
— Depois nós é que somos burros. — Jared negou com a cabeça.
— Se vocês fossem me matar, pelo menos não ficariam com a minha
parte do mapa.
— Não vai com ele Capitão, deve ser uma armadilha. — Seokjin pediu.
— Não vou, Jin. Há outra coisa que pretendo fazer. — Jungkook afirmou
tranquilizado o seu irmão — Vou tomar o nau. Ele deve guardar a maioria
das cargas já que não possui muitos canhões.
— Sozinho!? — Jeon assentiu — Leve Namjoon pelo menos.
— Tudo bem, Namjoon vem comigo.
— Eu vou com o Jackson. — Yoongi afirmou — A essa altura eles já
devem saber que Jimin e o irmão foram levados.
— Organizem o porão para receber mais cargas. — Jeon indiciou — E
estejam de volta antes do amanhecer.

Alguns clientes bêbados foram praticamente enxotados pelo dono da
taverna. Ele era um Alfa velho, resmungão e rígido quanto as regras, e que
não permitia badernas em seu estabelecimento. Os únicos que podiam
permanecer alí eram os clientes.
Scott estava sentado em uma das mesas, quando seu irmão chegou
informando sobre os planos da tripulação.
— Partiremos antes do alvorecer. — Sven avisou, subindo para seu
quarto
Os dois Betas de antes entraram no bar, a procura do Ômega devedor.
Sungjae assim que os viu, correu para ficar rente a mesa que Scott ocupava.
Os Betas apenas o fuzilaram com um olhar ameaçador, e se retiraram do
local. Sungjae respirou aliviado e quando pensou em voltar ao serviço,
sentiu uma mão agarrar seu pulso.
— Você tem mais daquela mistura? — o Alfa perguntou. Sua expressão
dizia claramente que estava sentindo dor.
— Tenho, vou buscar. — Sungjae saiu e logo retornou trazendo três tipos
de ervas diferentes e mais outra coisa — É uma mistura dessas três. Precisa
fazer um óleo com essa semente aqui também.
— Precisa encontrar outro lugar para ficar. Eu vou partir ao amanhecer e
aqueles Betas vão fazer o que quiserem com você.
— Não tenho para onde ir. O dono da taverna me deixa trabalhar aqui em
troca de comida e um teto. Ele não me paga.
— Eles vão machucá-lo.
O Ômega sentiu como se ocorresse uma tempestade de neve dentro dele.
A velha conhecida sensação de repulsa, apenas de imaginar o que eles
pretendiam fazer consigo.
— Eu vou ficar bem. Sou um sobrevivente, Scott. — O Alfa sabia que
ele estava blefando — Você que deveria cuidar dessa perna antes que caia o
que sobrou.
— Venha comigo.
— Para o Black Swan? — Ele assentiu — você ficou doido? Eles me
odeiam, principalmente aquele Ômegazinho arrogante.
— Vou falar com o Capitão.
— Por que está tão decidido a me ajudar? Você disse que não se importa
comigo.
Scott travou, fazendo a mesma pergunta a si mesmo. Por que se
importava com aquele cara? Só por que ele fez desaparecer a lancinante dor
em sua perna? Ou porque o aroma daquele Ômega atiçou seu lobo? Talvez
fosse porque o Alfa queria sentir outra vez, aquelas mãos suaves lhe
proporcionando um alívio imenso.
— Não é por você. Preciso de alguém para cuidar da minha perna.
— A tripulação tem um médico.
— Namjoon não vai permitir que o macho dele fique passando a mão nas
minhas pernas.
Sungjae o estudou hesitante. Ele nunca mais entrou em um navio,
temendo o que poderiam fazer consigo, mas Scott o salvou duas vezes.
Talvez suas intenções fossem realmente boas, e entre aquele Alfa e os Betas
cobradores, Sungjae não tinha dúvidas sobre quem escolheria.
— Tudo bem. Vou pegar minhas coisas.
— Ainda está aí? — Sven questionou descendo as escadas — Se apresse,
macho.
Scott assentiu e caminhou devagar até os degraus, subindo até seu quarto.
Ele estava exagerando no uso da perna de pau, e sempre que seu coto estava
quase finalmente curado, o Alfa magoava a cicatriz com seus esforços
supérfluos na tentativa de voltar a ser “normal”. Ele juntou seus pertences e
quando voltou, quase caiu da escada, mas foi amparado pelo Ômega.
— Ai, cuidado. É melhor tirar essa perna.
— Não. Vou assim mesmo.
— Você vai cair e é muito pesado para eu te amparar.
— Siga-me ou fique para trás. — o Alfa ignorou a dor e continuou
andando a caminho da embarcação.
— Alfa teimoso dos infernos! — Sungjae resmungou muito baixo e o
seguiu de perto.

Yoongi seguia furtivo junto ao caçador, pelas sombras da cidade
portuária. Haviam muitos marinheiros pelas ruas, todos a procura dos
Ômegas, assim como Yoongi preveniu. Eles estavam cercando o prédio da
hospedaria, buscando uma abertura para entrarem sem serem vistos.
— Nunca imaginei que o lendário caçador Min Yoongi, se tornaria pirata
um dia.
— É, o mundo dá voltas. Mas você continua chupando as bolas do
pessoal da Marinha, trabalhando para eles.
— Ócios do ofício. Veja, aquela janela está destrancada.
Seguiram agachados e conseguiram adentrar sem serem vistos. O quarto
que invadiram foi justamente o do Tenente Jo, e assim que eles abriram a
porta que dava ao corredor, eles deram de cara com o mesmo.
— Parece que o universo conspira ao favor dos bons. — o Tenente sorriu
perverso e Jackson puxou sua katana avançando para cima do mesmo, que
recuou desembainhando sua espada.
— Meu quarto fica a dois desse. — Jackson informou enquanto lutava
com o Tenente. — Pegue o pergaminho.
Yoongi anuiu e correu para o cômodo indicado. Mas antes que chegasse
até lá, os Alfas bandoleiros que Jackson contratou, surgiram em seu
caminho.
— Você não tem alimentado seus cães direito, caçador. — Jo afirmou,
com muita dificuldade em manter o duelo — Eu os subornei. Ajudem-me!
Os Alfas assentiram mas Yoongi também empunhou sua katana e se
colocou entre eles.
— É hora da festa, rapazes. — Um dos bandidos ditou animadamente e
os outros seguiram seus passos.
Todos atacaram o espadachim covardemente de uma só vez. O Alfa
empurrou um jarro grande de flores para atrapalhar a investida de alguns
deles, e girou a katana para interceptar o ataque de outro Alfa, cortando-lhe
e braço e dando um chute forte em seu torso. O corpo voou por cima do
mezanino e caiu no andar de baixo.
Outros Alfas surgiram logo atrás, sendo recebidos da mesma forma,
tendo punhos cortados, cabeças decepadas e corpos transpassados. Os
bandoleiros que conseguiram passar pelo espadachim, encontraram o
caçador assim como os marinheiros que subiam pelo outro lado, indo ao
auxílio de seu oficial superior. Yoongi rapidamente agarrou as coisas do
caçador e logo voltou para ajudá-lo a aniquilar os inimigos.
O Tenente fugiu mancando, sendo amparado por um Alfa, com seu corpo
todo machucado gravemente. Suas roupas claras estavam manchadas de
sangue e se não fosse pela ajuda obtida, ele teria morrido muito antes nas
mãos do caçador.

Haviam pouco mais de dez Alfas tomando conta do nau atracado. A
embarcação guardava a maioria dos suprimentos e os itens de valor dos
oficiais. Assim que Jeon saltou para dentro três Alfas surgiram cercando-o,
mas o Alfa lúpus puxou suas adagas com agilidade e apunhalou no coração,
os dois que estavam nas laterais, ao passo que chutava o estômago do que
estava na sua frente. Ele puxou as adagas e juntando-as, cravou no peito do
Alfa caído a sua frente.
Namjoon subiu logo atrás e impediu que o restante dos marinheiros
atacassem seu Capitão covardemente, ceifando-os com sua espada.
— Alce a âncora. — disse Jungkook — Vamos levar o nau conosco.
— Tem certeza, Capitão? O nau não tem velas suficiente para
acompanhar a velocidade do Black Swan.
— Em compensação ele é menor e mais leve. Tem muita coisa aqui, se
levarmos para o Black Swan o peso vai nos deixar mais devagar.
Namjoon fez alguns cálculos mentalmente e logo concordou com a
lógica do Capitão. Ele se colocou a subir a pesada âncora enquanto Jeon
manejava os cabos e preparava os mastros para içar as velas.
Continua...
Lindas fanarts feitas por Usagii-Chanie. muito obrigada! 😍
[35] Bravura e Compaixão

Reescrito

Hoseok, Dahyun e outros Alfas saíram do último galeão, levando consigo
o último resquício de pólvora e fazendo uma linha passando pelo convés até
a popa. Yoongi e Jackson também já haviam voltado para o Black Swan, os
últimos que faltavam eram o Capitão, seu contramestre e também o
bucaneiro Scott.
O nau da Marinha zarpou na direção em que o Black Swan estava, ao
mesmo tempo em que Scott chegava trazendo consigo algo inesperado.
— Pensei que estava vindo com uma perna só! — Seokjin bradou pela
demora do pirata, e logo percebeu que a piada não caía mais bem se o
relacionado fosse ele — Desculpa Scott, eu esqueci...
— Tudo bem. Onde está o Capitão?
— Ainda não voltou. — Billy quem respondeu. — O que devemos
fazer?
— Pergunte ao contramestre.
— Seu idiota — Billy revirou os olhos diante da pergunta estúpida de
Sven — Namjoon está com o Capitão.
— O que essa serpente está fazendo aqui? — Seokjin perguntou
preferindo-se a Sungjae.
— Aquilo alí não é um nau? — Scott ignorou sua pergunta fazendo todos
olharem na mesma direção.
— Preparem os canhões! — Hoseok gritou.
— Merda! — Seokjin forçou a visão — Esperem, deixem os canhões
onde eles estão. É o Capitão, ele que está conduzindo. Namjoon também
está junto.
— O que ele pretende? O plano não era este. — Chaerin indagou.
— Não sei. Mas levantem a âncora e as velas. — Seokjin se colocou na
frente da rampa, impedindo o Ômega de passar — Você não vai entrar aqui.
— Ele está sendo ameaçado. — Scott argumentou.
— E quem disse que isso é problema nosso?
— Seokjin — Hoseok que o chamou — A Marinha está se aproximando.
O Beta saiu de sua posição e seguiu Hoseok até as muretas laterais,
vendo vários marinheiros rumando para os galeões. Scott aproveitou sua
distração e puxou o Ômega para dentro do navio.
— O Capitão está fazendo gestos estranhos. — Billy disse olhando
confuso.
Seokjin pegou a luneta para enxergá-lo com mais clareza, e logo
entendeu o que Jungkook estava dizendo.
— Ele disse para seguirmos com o plano. Ele vai levar o nau.
— Em que sentido devemos apontar os canhões?
— Não é necessário. — Hoseok pegou uma de suas pistolas e apontou na
direção do primeiro galeão. Ele fechou um olho para ajudar na mira precisa,
e aguardou.
Os marinheiros subiam um atrás do outro, ignorando o caminho feito
com pólvora que levava até o porão de carga, cheio dela e de álcool. Eles
estavam mais preocupados em levantar as velas e impedir a fuga dos
piratas.
— Vai logo, Hoseok. — Dahyun o apressou.
— Calma, deixa ficar mais cheio deles. — O Alfa mantinha a mesma
posição fixa. Parado como uma estátua, o olho atento em seu alvo, sem ao
menos piscar.
Quando os marinheiros conseguiram içar todas as velas, Hoseok disparou
no primeiro galeão, e repetiu o ato mais duas vezes nos dois seguintes. O
disparo atingiu a ponta da linha de pólvora e as faíscas foram seguindo o
caminho até descer para o porão de carga.
O que se teve a seguir foi uma enorme explosão, seguindo de mais duas.
Os corpos de vários Alfas foram lançados no ar juntamente aos pedaços das
embarcações, conforme uma grande bola de fogo se alastrava e destruía as
armações que restaram nos navios.
À medida que se afastavam do cais, os piratas dispararam ofensas contra
a Marinha e gritavam eufóricos com o feito. O barulho fez com que Jimin
saísse da cabine para ver o que estava acontecendo.
— Onde está o Capitão?
— Conduzindo o nau. — Seokjin respondeu.
Jimin viu a embarcação logo a frente e respirou aliviado. Seus olhos
varreram pela extensão do Black Swan e ele viu o outro Ômega parado ao
lado de Scott.
— O que ele está fazendo aqui?
— Scott?!! — Seokjin indagou incrédulo — Eu disse que ele não ia
entrar!
— Você não é o Capitão e muito menos o contramestre.
— Ah, vai tomar no seu cu! Tirem ele o do navio. — O Beta ordenou
para Billy e Sven.
Mas Scott se colocou na frente do Ômega.
— Não. Eu preciso dele.
— Para quê?
— Estou sentindo fortes dores na perna e ele passou uma mistura que
causa um enorme alívio.
— Eu posso muito bem fazer isso.
— Só que não fez.
— Eu não sabia. Você não me disse nada.
— Também não disse nada para o Ômega, mas ele percebeu e cuidou de
mim. — Sungjae mantinha a cabeça baixa, evitando que Seokjin visse seu
rosto, já que o Ômega tinha o dom de irritar qualquer um que apenas
olhasse para ele.
— O que você acha, Jimin?
— Eu não sei... — Jimin olhou para o cais e novamente para o Beta —
Está muito longe para ele voltar nadando.
— Vamos entregar um bote e pronto. — Billy disse simples.
— E ficar com um faltando? — Seokjin perguntou rindo incrédulo. — Só
na sua cabeça mesmo.
— Então vamos deixar ele aqui até o Capitão voltar.
— Jimin bateu com a cabeça? — Jared perguntou — Esse Ômega é uma
escória! Vamos jogá-lo no mar e pronto.
— Não.
— Mas por que não? É tão simples!
— Porque apesar de tudo, ele é um ser humano.
— Para mim ele não passa de um lixo.
— Jimin, o que está fazendo? — Jisung surgiu na porta da cabine,
olhando curioso a movimentação pelo convés.
— Estamos decidindo sobre o que fazer agora.
— Hm... E já decidiram? Não quero ficar aqui sozinho.
Jimin olhou para Seokjin e o Beta anuiu.
— Tudo bem, vou ficar aí com você. — Jimin olhou uma última vez para
Sungjae que ainda mantinha a cabeça baixa, e seguiu para a cabine.

Logo após estarem a uma boa distância em milhas náuticas, o Capitão
guiou o navio à bombordo, se aproximando do Black Swan com cuidado até
estarem próximos o suficiente para encaixar uma prancha que os conduzisse
para o outro lado. Ele atravessou pela viga de madeira, enquanto Namjoon
assumia o timão.
— Você muda os planos de repente, sem dizer nada... — Seokjin o
recebeu com uma repreensão — Imagina se não tivesse dado certo,
estaríamos todos tomando no meio do-...
— Mas deu. — Jungkook o interrompeu descendo e finalmente pisando
no chão do convés — Onde está meu Ômega?
— Na cabine com o irmão. — o Capitão se dirigiu a esta direção, mas foi
impedido pelo médico — Temos um problema.
Jungkook girou para fitá-lo.
— O quê?
— Ele. — Seokjin apontou para o Ômega junto à Scott.
— O que ele está fazendo aqui?
— Aah, essa é a pergunta que não quer calar. — Seokjin riu sem graça —
Pergunte ao Scott, foi ele que teve essa brilhante ideia.
Jungkook cruzou os braços e caminhou parando de frente ao Alfa.
— Estou esperando.
— Preciso dele para ajudar a curar a minha perna. Ele entende dessas
misturas curativas. Ele faz as dores sumirem.
— Já temos um médico na tripulação. Seokjin não pode fazer isso?
— Se pode não fez.
— Eu estava ocupado cuidando da minha vida. Você é um Alfa adulto,
Scott. Eu não vou ficar segurando na sua mão. — Seokjin se defendeu —
Se você ou qualquer um da tripulação estiver sentindo alguma coisa, devem
vir à mim. Ainda não possuo o dom da clarividência para adivinhar o que
você está sentindo, e muito menos fico prestando atenção no que você faz
ou deixa de fazer.
— Nossa, Seokjin. — Billy riu.
— É isso mesmo, Billy. Agora esse idiota vai ficar jogando a culpa em
mim, quando já é bastante visível quais são suas verdadeiras intenções aqui.
— Não entendi o que você quis dizer. — Scott pareceu confuso.
— Ah, vai bancar o sonso agora? Você quer um Ômega pra garantir o
próximo rut do seu irmão e o seu próprio.
Sungjae olhou confuso e assustado para o Alfa.
— É claro que não! Escute a merda que você está falando! Eu n-...
— Calem-se os dois. Estou pensando. — disse o Capitão, e a discussão
parou no mesmo instante — O que Jimin acha disso?
— Ele disse para esperar você decidir.
— Okay, esperem aqui. Eu já volto.
Seokjin e Scott voltaram a discutir enquanto o Capitão entrava na cabine,
a fim de conversar com Jimin antes de tomar uma decisão.
— Jungkook! — o Ômega se levantou e o abraçou assim que o viu —
Graças que está bem.
Jisung se levantou com as postura ereta, fitou o Capitão e logo se
apresentou:
— Sou Park Jisung, senhor.
— Olá, Jisung. Seja bem vindo... Pode, hm, se sentar. — O Ômega
assentiu e voltou a sentar na cama — Preciso falar com você.
— Sobre o Sungjae? — Jimin adivinhou.
— Sim. Scott diz que precisa dele. O que para mim é apenas uma
desculpa para mantê-lo por perto.
— Você acha que Scott planeja algo?
— Não. Confio em cada membro da tripulação. O que quero dizer é que
ele está interessado no Ômega. Sungjae é muito lindo... — Jimin arqueou
uma sobrancelha e o Alfa logo adicionou: — Não tanto quanto você.
Jimin não se conteve e riu.
— Acho bom... mas enfim, o que você pretende fazer com ele?
— Não podemos desperdiçar um bote com ele. A única solução é jogá-lo
no mar. Ele sabe nadar...
— Jungkook?? — Jimin o interrompeu — Estamos muito longe, ele vai
morrer antes mesmo de chegar na margem.
Jeon o fitou confuso, com o cenho franzido.
— Você está com pena dele?
— Não... estou... só um pouco... — Jimin ergueu o olhar para ele, e o
Alfa continuava com a mesma expressão confusa — Eu sou mesmo
patético, não é?
Jungkook encaixou ambas as mãos no rosto do Ômega, fazendo-o erguer
a cabeça e olhar diretamente para ele, sem chance de desviar o rosto.
— Você está se tornando cada vez mais forte e valente. Não tem nada de
patético. — ficou alguns momentos em silêncio, admirando-o — És tão
lindo por fora, quanto por dentro. Está se tornando um verdadeiro pirata, e
mesmo assim não deixa de sentir compaixão pelos outros. Você nunca para
de me surpreender.
— Então você vai deixá-lo ficar?
— Vou, até atracarmos em outro lugar. Então deixaremos ele lá e
seguiremos nossa viagem.
Jimin assentiu, abraçando-o pela cintura.
— Você também não para de me surpreender. — ele se colocou na ponta
dos pés e beijou os lábios do Alfa.
— Hum hum... — Jisung pigarreou, fazendo com que os lúpus não
deixassem o beijo se tornar mais profundo.
— Vou falar para os outros o que decidi. — Jungkook afirmou saindo da
cabine.
Ainda no convés, os piratas discutiam a respeito da situação de Sungjae.
Todos desejavam sua expulsão imediata, com exceção de Scott e seu irmão,
que permanecia ao seu lado em qualquer ocasião.
Possivelmente pela circunstância em que se encontra, ninguém poderia
dizer, mas o Ômega em questão sentiu-se profundamente arrependido de ter
causado tanto alvoroço assim que reencontrou sua antiga tripulação.
Se soubesse que as coisas terminariam desse jeito, jamais teria destratado
o Ômega do próprio Capitão. E se pudesse voltar um pouco mais no
passado, jamais teria feito a infeliz escolha de trair aquele que lhe deu a
mão, em um dos piores momentos de sua vida.
Quando o Capitão abriu a porta da cabine, todos os olhares se voltaram
para ele. O Alfa caminhou encarando nos olhos de cada um, sabendo o que
sua tripulação desejava ouvir. As mãos de alguns piratas estavam quase
coçando para pegar a prancha e encaixá-la na lateral da embarcação.
— E então, Jungkook? — Seokjin perguntou quebrando o suspense.
— O Ômega fica até ancorarmos em outro porto.
O Beta respondeu profundamente negando com a cabeça, e rolando os
olhos.
— Obrigado, Capitão. — Scott agradeceu.
— Mas não o quero livre pelo navio. Prenda-o no porão de carga.
— Não! — pela primeira vez Sungjae expressou algo, gritando
desesperado — No porão, não! Por favor, não! Não quero ficar no porão!
— Agora vai querer escolher o lugar que vai ficar. — Billy disse, e
perguntou com tom de zombação: — Não quer ficar na cabine do Capitão?
— Eu não quero ficar no porão, por favor? — O Ômega o ignorou
girando para Scott — Fico em qualquer lugar. Posso dormir no convés.
— A noite faz muito frio, você ficaria doente. — Seokjin informou.
— Não tem problema, eu aguento. Só não quero ir pro porão.
Seokjin olhou para seu irmão, esperando que ele se pronunciasse.
Jungkook rolou os olhos.
— Deixem-no aí mesmo. — lançou a mão na direção do convés — Mas
acorrente um de seus pés, não quero ele andando livremente pelo navio,
quando pode tentar alguma façanha idiota.
— Sim, Capitão. — Scott assentiu e procurou por uma corrente.
Seokjin cruzou os braços e caminhou até o Ômega.
— Se você ficar doente não vou deixar que passe nenhuma moléstia para
os membros da tripulação. — avisou com um semblante sério — Eu mesmo
vou atirar você para fora deste navio.
Sungjae engoliu em seco quando o Beta se afastou, e foi procurar o lugar
mais confortável do convés para dormir.
Continua...
[36] Novas Rotas

Reescrito

Ainda na cabine, Jimin mostrava ao seu irmão as traduções que ele e
Taehyung já haviam feito, e também terminava de decifrar a quinta parte
encontrada. Eles estavam sentados, com livros e pergaminhos espalhados
pela cama, já que na mesa estavam o Capitão e seu navegador traçando
rotas pelo oceano desconhecido.
- Caminho ao Imperium.
- Elas são tão estranhas. - Jisung observou, juntando as partes - Isso seria
uma profecia?
Jimin parou de escrever e fitou seu irmão com ar entusiasmado.
- Jisung! - o mais novo arregalou os olhos sem entender - Eu nunca tinha
pensado nisso. Tae, você por acaso tem livros que falam sobre profecias?
- Acho que devo ter algum exemplar. Deve estar pelo porão de carga, vou
buscar para você.
- Não precisa, deixa que eu vou. Você está ocupado.
Jimin se ausentou por um tempo, enquanto seu irmão permanecia
distraído com as escrituras, abrindo bem os olhos para tentar enxergar
alguma runa. Mas, por ser um Ômega comum, ele não conseguiu.
- Eu acho que aquele pingente é a chave de alguma coisa
- Ou será parte do tesouro?
Jisung permanecia mexendo nos livros, fingindo estar alheio ao seu
redor, porém, ele estava atento a conversa sobre o caçador. Tão distraído,
que quando seu irmão abriu a porta, ele levou um susto.
- Eu não quero ele no mesmo navio que você. - afirmou Jimin ao captar
parte da conversa, se referindo ao caçador. Ele carregava dois livros consigo
- ele quer te matar, não vou conseguir dormir tranquilo sabendo que a
qualquer momento ele pode entrar aqui e tentar fazer alguma coisa.
- Não tenho medo dele. - Jungkook afirmou despreocupado, marcando
alguns pontos no mapa.
- Houve relatos de uma criatura gigantesca, que puxou embarcações para
o fundo do oceano nessa área aqui. - Taehyung indicou algo, e Jimin se
aproximou, espiando os mapas mas não estava entendendo quase nada.
- E se isso tudo for apenas parte do grande plano dele? - Jimin
questionou.
Jisung não acreditava nessa possibilidade. Queria poder falar que o
caçador era sim, digno de confiança. Que ele era um Alfa que não quebrava
sua palavra quando prometia algo. Mas sempre foi criado para se manter
calado, então calado ele permaneceu.
Jungkook parou o que estava fazendo e ergueu o olhar lentamente para
encarar Jimin, com um sorriso divertido.
- Você fica tão sexy quando está preocupado comigo.
O rosto do Ômega corou.
- Jungkook! Eu não... - Jimin viu pela visão periférica que o Beta tentava
não rir - Eu só... não quero ele no Black Swan. Manda ele para o nau, por
favor?
- Particularmente eu prefiro ficar de olho nos meus inimigos. - Jeon
largou a lupa em cima da mesa e segurou o Ômega pelo queixo de maneira
carinhosa, erguendo seu rosto e contemplou sua beleza em silêncio. Em
seguida, ele suspirou e disse: - Vou mandá-lo junto à alguns membros da
tripulação para ficar com o Namjoon no nau. Está bom assim?
- Está ótimo.
- Vou fazer isso agora mesmo. - Jungkook deixou um simples selinho nos
lábios dele e se retirou da cabine.
- Será que se você pedir pra ele sapatear no convés, ele sapateia? -
Taehyung questionou.
- Para com isso! - Jimin riu jogando um rolo de pergaminho no Beta.

- Nós combinamos que Namjoon irá assumir o controle do nau. -
Jungkook informou a sua tripulação. Estavam todos os bucaneiros reunidos
no convés - Preciso que alguns de vocês vão com ele.
Algumas mãos ergueram-se e com um aceno do Capitão, eles seguiram
para a outra embarcação. Jeon ainda estudou a artilharia do Black Swan e
seguiu até onde seu atirador estava.
- Hoseok, preciso que esteja lá. O nau é composto por poucos canhões,
ele precisa de alguém com a precisão perfeita.
- Sim, Capitão.
- Você também. - Jungkook informou ao caçador. - Quero que fique no
nau.
- Não sou da sua tripulação. - Jackson afirmou despreocupado, sem
seguir a ordem.
- Eu não perguntei. Estou falando que você vai ficar no nau. - Jeon deu as
costas para falar com Chaerin, sobre manter o curso próximo a embarcação
ao lado.
Jackson deu de ombros e se levantou para trocar de navio. De qualquer
modo, ele não se importava em qual embarcação ele iria navegar, e se
mudar de navio o deixasse livre de qualquer chateação, então que seja.
- Vamos, Scott? - Sven chamou seu irmão.
- Prefiro ficar aqui.
- Então eu também vou ficar.
- Eu vou com o Namjoon. - Seokjin informou ao Capitão. - Gostei da
ideia de afastar o caçador de você, mas também não vou dormir tranquilo
sabendo que Jackson está no mesmo navio que o meu Joonie.
- Tudo bem, mas tenha cuidado. - Jungkook avisou.
O médico anuiu e pediu para o navegador:
- Fique de olho naquele Ômega por mim. Ele é traiçoeiro.
- Pode deixar.
Seokjin seria o último a atravessar para o outro lado, quando se
aproximou da passarela, ele ouviu sem querer a conversa entre alguns
piratas:
- Sabe o que é pior do que ter um Ômega à bordo quando se está no rut? -
esperou que os outros respondessem, mas como ficaram calados, Scott
mesmo disse: - Ter três Ômegas.
Os piratas concordaram.
- Então é só vocês falarem com o Scott - Seokjin afirmou com sarcasmo,
subindo na rampa. Os piratas o olharam confusos, e ele explicou: - Você
pode disponibilizar aquele belo ser acorrentado na escotilha da proa. Já que
Ômegas só servem para dar uma "mãozinha" para os Alfas em seu período
de necessidade, não é mesmo Scott?
- Você deve ser a pessoa que mais guarda rancor no mundo. - Scott
revirou os olhos - Não sei como Namjoon te aguenta.
- Se você fala suas merdas depois aguente as consequências. E no caso
do Namjoon, ele é um Alfa muito diferente de você, e é por este motivo que
é você quem está sozinho.
Sem querer dar mais corda para a discussão, Scott ficou calado e virou o
rosto comprimindo os lábios, esperando o Beta atravessar a viga de
madeira.
- Cara chato da porra. - Scott resmungou ao ver que o médico já estava
na outra embarcação.
- Mas pior que é verdade, Scott. E agora que você perdeu seu pé e parte
da perna, nenhum Ômega vai se interessar por você. - Jared ponderou.
- Ele pode pagar seus idiotas. - Sven argumentou - Folsom está aí para
isso.
- Mas vai custar muito caro. Se eu fosse um prostituto não me deitaria
com alguém faltando uma perna.
Scott apenas ouvia a conversa sem expor sua opinião. Ele olhou na
direção de Sungjae pensando em como um Ômega tão desonesto como ele,
poderia ser tão bonito, e ter as mãos tão macias. Ele viu o irmão de Jimin
caminhar passando a mão nas bordas dos muros de proteção do navio.
Jisung estava com o olhar atento na outra embarcação. Vez ou outra se
colocava na ponta dos pés, tentando enxergar mais além do que apenas as
partes superiores do nau.
- Está procurando pelo caçador?
Jisung ouviu a voz de um Ômega logo atrás de si, e quando girou o
corpo, viu Sungjae sentado no chão com uma corrente presa em seu
tornozelo.
- Não - Jisung respondeu - Só estava contando os canhões. Eles tem
apenas cinco.
- Me engana que eu finjo que acredito. - Sungjae sorriu balançando a
cabeça - Sei que está louco para se jogar nos braços dele. Mas não te julgo,
até eu ficaria. Ele é muito gostoso.
- Desculpe mas essa conversa não é muito apropriada.
- Deixe de ser bobo, menino. Se quer ficar perto dele, por que não vai
para o outro navio?
- Eu não posso... - Jisung o olhou pensativo, estudando o pé dele preso na
escotilha - Por que eles prenderam você?
- Porque eles não confiam em mim.
- Você é perigoso?
- Olha para mim e fala se eu sou. - Sungjae sorriu como se a pergunta do
outro fosse tola.
- Eu não sei. Não devemos temer apenas os grandes e fortes. As rosas são
lindas e delicadas, mesmo assim podem te machucar com seus espinhos. Já
ouviu falar que não se deve julgar um livro pela capa? - Sungjae piscou sem
resposta e apenas negou com a cabeça - Então, você pode ter a aparência de
alguém indefeso, quando na verdade pode significar um perigo mortal para
todos.
Sungjae piscou mais algumas vezes, aturdido e com as sobrancelhas
erguidas. Ele riu soprado e suspirou.
- Você é bem esperto.
- Gosto de ler livros sobre piratas.
- E quem disse que piratas são espertos?
- Você também não.
Sungjae o olhou chocado.
- Eu enganei um dos maiores, sabia? É claro que sou esperto e muito
astuto.
- Se realmente fosse inteligente não estaria nessa situação.
- Eh... - Sungjae permaneceu com a boca aberta, mas não encontrou
nenhum argumento que pudesse refutar a afirmação do Ômega mais novo.
- Estou faminto. - após algum tempo de silêncio, Jisung afirmou - Se me
der licença, vou voltar para a cabine do Capitão.
Sungjae foi deixado sozinho na escuridão da noite, enquanto a tripulação
se reunia para a última refeição do dia. Sem escolha, ele permaneceu preso
a escotilha da proa, torcendo para que Scott não esquecesse de que ele
também precisa se alimentar.
Um pouco mais tarde, foi Jimin quem pegou um prato e o levou até
Ômega preso na frente da embarcação. Embora estivesse com muita fome,
Sungjae ficou algum tempo olhando para o alimento, estudado sua
aparência e procurando por algum sinal de que estivesse adulterado.
- Eu não envenenei sua comida. - Jimin falou, cruzando os braços - Se
fosse te matar, não seria desse jeito. Sabia que só está aqui porque eu
permiti.
- Não preciso da sua compaixão. - disse irritado.
- Ah, não? A temperatura da água deve estar muito agradável com esse
clima frio. - Jimin falou com sarcasmo - Vamos ver, então, até onde você
chega com esses seus braços finos.
Jimin tirou a chave do bolso e inclinou o corpo para soltar as correntes.
- Não! - Ele parou, erguendo uma sobrancelha e esperando que Sungjae
continuasse. O Ômega mais velho respirou profundamente e engoliu o
orgulho - Obrigado por me deixar ficar.
- Quando eu vim parar no Black Swan, fui deixado preso no porão de
carga. Você deveria ser mais agradecido.
- Pois eu prefiro que você me mate, do que entrar no porão de um navio
outra vez.
- O que eles fizeram com você no porão do Alma Negra, pode ser feito
em qualquer lugar. Até mesmo aqui na proa. O problema não é o lugar no
navio, Sungjae, são os tipos de Alfas que estão a bordo. Nenhum pirata do
Black Swan forçaria você a se deitar com eles. Pense nisso, vai ficar doente
aqui fora e eu não vou impedir Seokjin de fazer o que ele prometeu.
Assim que Jimin deu as costas, Sungjae olhou para o seu prato e
confiando na palavra dele, comeu o que lhe foi servido.
Continua...
É assim que eu imagino o Black Swan, só que com mais canhões:
Atualização dos personagens porque me perguntaram como eu
imagino o Scott. Bom, quando criei os irmãos Scott e Sven me baseei
em Sam e Dean de Supernatural :3
Então:
Scott - alfa
(Bucaneiro)
Sven - alfa
(Bucaneiro)
E os outros:
Jared - alfa
(Bucaneiro)
Billy - alfa
(Bucaneiro)
[37] Péssima Ideia

Reescrito

Todos os dias pela manhã, Jisung acordava, fazia seu desjejum e subia até
o convés superior só para ver o caçador passar e falar com Namjoon, que
assumira o leme e o controle da outra embarcação. Ficou tão acostumado a
presença do Alfa, que estava sentindo falta de sua companhia.
O Black Swan de repente não lhe parecia mais tão interessante, se o
aroma de menta não estivesse presente. Sempre que via o menino, Jackson
acenava em sua direção, mas logo desaparecia de suas vistas, ocupando-se
com um trabalho qualquer pelo nau.
— Feliz aniversário meu amor! — Sobressaltou o corpo assustado
quando recebeu um abraço surpreso do irmão. Jisung girou para encará-lo.
— Ah, oi... obrigado.
Jimin o estudou, curioso a respeito da sua reação pouco empolgada, e o
interesse no navio ao lado. Jisung sempre quis estar em um navio pirata, e
quando finalmente pôde conhecer, estava mais interessante em um navio de
cunho mercante.
— Nunca pensei que acharia um navio comercial tão interessante. Mais
do que um navio pirata. — Jimin brincou.
— Não estou interessado no nau… é só que... Eu acho que seria mais
vantajoso se estivéssemos todos juntos. O porão do Black Swan é grande,
caberia as cargas do nau facilmente. Desse modo não seria necessário
dividir a tripulação.
— Seria vantajoso para o caçador que quer matar meu alfa. Não, Jisung.
Sei que você confia nele, e eu também acho que ele não faria nada que
fosse prejudicar você. Mas com o Jungkook é diferente.
— Eu entendo. — Jisung forçou um sorriso.
Ele realmente compreendia o medo do seu irmão. Tinha maturidade
suficiente para entender que ele estava certo em querer proteger seu Alfa,
mas isso não significa que também não queira proteger o seu.
Mesmo que ainda não tivesse certeza, é como ele sentia. Era confuso.
Queria estar perto do caçador. Preferiu ficar calado, do que decepcionar seu
irmão contando que estava interessado no Alfa que, provavelmente, iria
matar a pessoa que ele ama.
— Desculpa, não tenho nada de especial que posso fazer para o seu dia.
Mas tem alguma coisa que você gostaria de fazer, que esteja ao meu
alcance?
Jisung pensou por algum momento e logo respondeu cheio de
entusiasmo:
— Quero conduzir o leme um pouco.
— Acho que a Chaerin não teria nada contra em deixar. — ele segurou na
mão do mais moço e ambos subiram as escadas que levavam até o timão.
— Olá. — Chaerin sorriu simpática — Que fazem aqui em cima?
— Será que você poderia deixá-lo guiar o navio? Só um pouco. — Jimin
pediu, já que seu irmão ainda não teria essa coragem. A cara que a Alfa fez
dizia claramente que a resposta seria um não, mas o lúpus se adiantou: —
Só um pouquinho?
— Tudo bem, mas tenha cuidado pois a pressão da água é forte e o deixa
pesado.
O Ômega mais novo se aproximou quando a mulher abriu espaço. Ele se
colocou na frente do leme e segurou em duas malaguetas. Jisung olhou
confuso para a Alfa, vendo que ela ainda mantinha uma mão segurando o
aparelho. Ele reforçou o aperto na madeira e firmou os pés no chão.
Respirou fundo antes de falar com certa convicção:
— Pode soltar. — Ainda um pouco desconfiada, Chaerin foi soltando aos
poucos.
— Mantenha o curso. — Ela avisou. Estava perto para qualquer
incidente.
— Tudo sob controle. — Jisung assentiu sorrindo.
Mas no mesmo instante, o leme deu uma rápida e forte guinada para
estibordo e todos foram jogados para a direita. A Alfa se levantou e correu
para assumir o controle.
— Desculpa, não sei o que aconteceu. — Jisung explicou ao se recompor.
— São correntes marítimas. — a Alfa disse. — Estão ficando cada vez
mais frequentes.
A porta da cabine foi aberta e o Capitão saiu sendo seguido pelo seu
navegador. Ambos olhando automática acima, procurando pela timoneira.
— O que houve?
— Eu-... — ela estava pronta para assumir a culpa, quando foi
interrompida por Jimin.
— A culpa foi minha. Pedia para que ela deixasse o Jisung assumir o
leme por se tratar de seu aniversário. Só queria que ele fizesse algo
divertido.
— Hoje é aniversário do seu irmão ? — Taehyung perguntou e Jimin
confirmou com a cabeça — Tragam o rum!
— Não! — Jimin logo gritou de volta. Lembrou-se do estado
constrangedor em que ficou, logo não queria o mesmo para seu irmão —
Nada de rum.
— E que tal só um pouco? — o Beta ainda tentou insistir.
— Só um pouco você diz, como em quando eu fiquei completamente
embriagado?
Taehyung sorriu dando de ombros.
— Quando foi isso? — Jisung olhou curioso para o irmão.
— Uh... Você quer subir na cesta do mastro e observar o horizonte?
— Quero!
— É muito alto. — Jungkook avisou.
— Eu sei, mas ele está comigo. — Jimin ignorou e passou pelo Capitão,
levando o irmão todo animado.
— Eu quis dizer para os dois. — Jungkook explicou, mas o Ômega lúpus
fez um gesto de positivo e seguiu seu caminho.
— Não entendo o que está acontecendo. — Chaerin afirmou pensativa —
Tudo estava tranquilo e de repente o leme perde o controle. É como se as
águas estivessem mais profundas e intensas.
Jungkook e o navegador trocaram olhares.
— Estamos entrando no mar tenebroso. — Taehyung confirmou o que
eles imaginaram.
— Oh céus, Jimin, eu vou cair!
Jungkook olhou para trás e viu os Ômegas parados na metade do
caminho.
Jisung estava agarrado nas cordas com os olhos fechados, enquanto Jimin
tentava convencê-lo a continuar subindo.
— Se você não abrir os olhos não vai saber onde deve pisar, Jisung. —
Jimin colocou os braços ao redor do irmão e segurou nas cordas. — Não
vou deixá-lo cair.
— Se cair eu seguro vocês. — o Ômega ouviu a voz do Capitão logo
abaixo e abriu os olhos para fitá-lo.
— Nós dois?
— Os dois.
Jimin também olhou para baixo e sorriu para o Alfa muito agradecido
pelo que disse, pois logo no mesmo instante, seu irmão voltou a subir.
Já no alto, ele admirou toda a vista à sua volta.
— Uau! É tão lindo aqui de cima.
Jimin sorriu assentindo e pegou a luneta para observar mais de perto, os
pontos mais distantes.
— Quer tentar? — ofereceu o objeto ao mais novo e ele aceitou, levando
ao olho.
— Ué. — Jisung falou confuso, procurando por alguma coisa pela
extensão.
— Viu alguma terra?
— Não. Quer dizer, não sei.
— Deixa eu ver? — Jimin segurou a luneta novamente e tentou enxergar
alguma coisa na mesma direção em que o outro Ômega estava olhando —
Não vejo nada.
— Aí é que está o problema. Eu vi alguma coisa mas então ela sumiu,
antes que eu pudesse identificar.
— Acho que pode ter sido uma baleia.
— Que linda! — Jisung sorriu animado, mas logo ficou triste — Papai
me disse que o óleo usado em nossas lamparinas, são retirados de dentro da
cabeça das baleias. Por que fazem isso, Jimin?
— Por que as pessoas são egoístas e cruéis. Mas tente não pensar nisso.
Aquela baleia deve estar muito feliz, até subiu a superfície para te desejar
um feliz aniversário. — disse brincando para mudar o assunto — Gostaria
de ter visto ela também. Nunca vi uma, devem ser muito lindas.
— Sim. Muito lindo.
Jimin estranhou a forma como o irmão se referiu à baleia e notou que ele
estava olhando na direção do nau. Para Jimin, não havia nada demais a não
ser vários piratas fazendo seus trabalhos.
— O nau?
— Oi? Sim. O nau, ele é bem bonito.
Jisung o respondeu ainda olhando para uma figura entre aqueles piratas,
manuseando cabos pelo piso superior da embarcação, enquanto Jimin
conversava com Jungkook através de sinais e leitura labial.
— Vamos descer? — Jimin sugeriu guardando a luneta — Eu preciso
fazer uma coisa na cabine.
O mais novo assentiu e eles voltaram a descer. Assim que chegaram no
piso, Jisung o abraçou fortemente e emocionado.
— Obrigado por ter me proporcionado essas coisas, Jimin. Melhor do
que ler nos livros, é vivenciar pessoalmente.
— Que bom que gostou. Há outras coisas que quero te ensinar. Bom, se
você vai ser um pirata precisa aprender muita coisa ainda.
— Mal posso esperar! — Jimin o abraçou pela última vez e olhando por
cima do ombro dele, viu Jungkook parado no umbral da cabine, com os
braços cruzados e um pronto sorriso convidativo quando girou nos
calcanhares e entrou.
— Eu vou resolver uma... uma questão de... algo que precisa envolver
dois lúpus... — Jimin falou com cuidado.
— Ah, sim — Jisung fingiu ter entendido — depois você me conta como
foi.
— Err... — Jimin estava corando e desviou o olhar — conto... claro... —
e saiu com pressa antes que ele notasse.
Jisung olhou para trás e acompanhou seu irmão seguindo até a cabine do
Capitão, entrando e fechando a porta. Ele não desconfiou de nada, e por
isso, seguiu seu passeio pela proa. Mais uma vez, ele passou pelo Ômega
acorrentado.
Sungjae parecia bastante entediado passando os dedos pelos espaços
entre a grade da escotilha. Jisung não sabia ao certo o que ele havia feito de
tão grave para ser tratado daquele jeito. Sempre ficava sozinho a não ser
pelo Alfa Scott, que as vezes lhe fazia companhia. Estava sentindo pena por
vê-lo largado alí, então resolveu puxar assunto, para distraí-lo nem que
fosse só um pouco.
— Sabia que hoje é meu aniversário?
Sungjae ergueu o rosto para fitá-lo e negou com a cabeça
— É por isso que estava subindo lá? — apontou para a cesta e o outro
Ômega assentiu.
— Sim, foi um lindo presente do meu irmão. Eu vi uma baleia.
— Que bom. Parabéns.
— Obrigado.
— O caçador sabe?
— O quê? Ah... não.
— Conte para ele.
— Não dá. Ele está no outro navio e eu não posso simplesmente gritar
que hoje é meu aniversário. Nem somos nada um do outro. Isso seria um
absurdo. Ele deve me ver como um garotinho tolo.
— Apenas se você se comportar como um.
— Ah, e ele deve estar fazendo suas coisas e nem lembra da minha
existência.
— Então para quem você acena todas as manhãs, sorrindo feito bobo?
Jisung o olhou chocado.
— Você fica me seguindo?!
— Se eu pudesse sair daqui, faria algo bem mais interessante. — disse,
mostrando a corrente.
— Desculpa, eu esqueci.
— Falando em algo interessante... por que você não vai até o outro lado,
assim como quem não quer nada... apenas dar um passeio e ops, esbarra
nele.
— Jimin nunca deixaria.
— Ele não é seu pai, é?
— Mas é perigoso... — mesmo criando argumentos contra, Jisung estava
tentado a fazer.
— Por isso mesmo que vai ser bom para você. O caçador vai ficar todo
preocupado.
— Você acha?
— Tenho certeza. Ele passa pelo convés todas as manhãs, no mesmo
tempo que você está sentado alí. Você quer ter certeza de que ele está bem.
Bom, eu posso dizer que ele também quer o mesmo... eu poderia te ajudar,
mas estou preso aqui.
— A chave está com o Jimin, e ele está com o Capitão na cabine fazendo
coisas de lúpus.
Sungjae deixou o queixo cair e riu achando o mais novo muito fofo, por
não ter entendido o que seu irmão havia ido fazer na cabine com o Capitão.
— Entendi... olha, não precisa de uma chave. Posso abrir isso com um
grampo, ou até mesmo esse broche que você está usando. — Jisung
ponderou por um tempo. Aquele Ômega não parecia ser do tipo agressivo,
mas se ele estava preso à correntes tinha algum motivo — Sei que está com
medo de me libertar. Mas veja, estamos cercados por Alfas, se eu der um
passo errado vão atirar na minha cabeça. Não vou matar ninguém, menino.
Pode me revistar, não tenho armas.
— Não estou certo quanto as suas verdadeiras intenções.
— Eu achei você fofo e só quero te ajudar. — Sungjae fez sua cara de
inocente, mas como já deveria ter aprendido, isso não funcionava com
outros Ômegas. Ele suspirou rolando os olhos — Está bem! Eu só queria
esticar minhas pernas um pouco.
Jisung olhou para a corrente, tão pequena que mal permitia o Ômega de
se mover. Sungjae era do seu tamanho, se tentasse contra si, Jisung poderia
se defender muito bem. Ele então retirou o broche com o brasão de sua
família e o entregou ao prisioneiro. Demorou um pouco, mas logo Sungjae
conseguiu se livrar da corrente. A primeira coisa que fez foi massagear a
área que estava presa ao grilhão. Ele ficou em pé e caminhou um pouco
travado.
— Nossa — Sungjae parou alongando o corpo e sentindo um grande
alívio percorrer seu corpo — Obrigado.
— E agora, o que a gente faz?
Sungjae observou a Alfa no alto do timão, ela olhava adiante e atenta ao
caminho que seguia. Os bucaneiros estavam nas cobertas inferiores, alguns
aproveitando o tempo livre para dormir, outros ajudando Junbuu a preparar
a próxima refeição. As embarcações seguiam o mesmo ritmo desacelerado e
estavam bastante próximas uma da outra. O Ômega mais velho caminhou
até a viga de madeira encostada na mureta e tentou erguê-la sozinho.
— Isso é muito pesado, me ajuda aqui.
Com ajuda de Jisung, eles conseguiram colocar a prancha maior de pé, e
a empurraram de modo que a outra extremidade caiu em cima da mureta do
nau.
— Pronto. Agora só precisamos atravessar essa passarela.
Jisung o olhou hesitante.
— Agora que já estamos aqui eu estou com medo.
— Vamos logo. Ou vai desistir?
— Céus, isso é muita burrice. — Jisung pensou consigo mesmo em voz
alta.
— É uma aventura. — Sungjae subiu na viga e passou os olhos pelo
convés do nau. Havia pouca movimentação mas a qualquer instante eles
poderiam notar o que almejavam fazer — Precisamos ir logo ou vão nos
impedir.
Em uma rápida decisão Jisung subiu logo atrás, e assim eles seguiram
com cuidado, caminhando até chegarem na outra embarcação.
— Viu? Não caímos. — Sungjae afirmou calmo por fora e quase
morrendo por dentro.
— Mas poderiam ter caído. — ouviram a voz do caçador e logo giraram
para encará-lo.
— Você viu a gente atravessando? — Sungjae questionou com o
semblante chocado.
— Óbvio. Qualquer um que tentar invadir este navio eu vou perceber.
Mas o que vieram fazer aqui?
— É exatamente o que quero saber. — disse Namjoon, ao se aproximar
com os braços cruzados.
Quando viu a ira nos olhos do contramestre, Sungjae tropeçou para trás
e tentou voltar correndo para o Black Swan, mas Namjoon o alcançou sem
ao menos sair do lugar, e o puxou de volta pelo braço. Jisung olhou para o
caçador esperando ele fazer alguma coisa, mas Jackson apenas ficou parado
observando.
— Ele só queria me ajudar. — Jisung explicou, tentando interceder pelo
outro Ômega.
— Não, ele planeja alguma coisa. É egoísta demais para ajudar sem obter
nada em troca. — com a ausência de resposta, o Alfa o sacudiu —
Responda!
— Só queria andar um pouco. Estava com o corpo dolorido.
— Sempre se aproveitando dos outros. Sempre! Sempre! — Namjoon
rugiu, lembrando-se da época em que traiu seu Capitão em troca de algumas
moedas — Queria caminhar? — Ele abriu a escotilha que dava acesso ao
porão de carga com a ponta do pé, e o atirou em direção a abertura. Sungjae
tropeçou em desequilíbrio e caiu dentro do compartimento — Terá bastante
espaço para se exercitar aí dentro!
Quando ergueu o rosto para encarar o outro Ômega, Namjoon foi
recebido por uma forte tapa na bochecha.
— Estúpido! — Jisung rosnou e saiu correndo em direção a popa.
O tapa não doeu, mas o Alfa levou a mão até a área atingida, sentindo
apenas uma leve ardência. Jackson deixou para trás o contramestre ainda
aturdido, e seguiu o Ômega que se agachou atrás de alguns barris.
Continua...
Só lembrando que, com a fanfic reescrita, nesse aniversário o Jisung
completou 18 anos, e Jimin possui 20. Então, se houver alguma idade
diferente dessas me marque nos comentários pra eu corrigir. Acabo
deixando algumas coisas passarem batido 😩
[38] Prelúdios

Reescrito

Assim que passou pelo batente da cabine, Jimin foi surpreendido por
duas mãos que agarraram seus quadris e o pressionaram contra a porta,
fechando-a no mesmo instante. Sorriu ao sentir os lábios de Jungkook
deixando marcas na sua pele alva, mordendo e chupando. Jimin inclinou a
cabeça para trás dando-lhe mais acesso e as mãos subiram até seus cabelos,
entrelaçando os dedos entre os fios escuros.
— Você deveria dar mais atenção ao seu Alfa. — Jeon falou entre os
beijos.
A sensação do hálito quente saindo de sua boca, varrendo pela pele de
Jimin, fazia-o sentir arrepios pelo corpo, sensações cálidas e úmidas entre
as pernas.
— Mas eu dou...
— Hoje eu acordei e você não estava.
— Ah, porque é o dia em que o Jisung completa dezoito primaveras.
— Hm... Agora tenho que dividir o que é meu com ele.
— Céus, que Alfa carente. — Jeon o ergueu do chão repentinamente e o
lançou sobre a cama. — Quando meu pai souber que seus dois filhos se
juntaram a uma tripulação pirata, vai ficar louco.
— Eu é que estou ficando louco — Jungkook segurou ambas as coxas do
Ômega e as abriu, metendo-se no meio delas — Eu quero você.
Ao invés de abrir, ele rasgou as calças de Jimin, assim como sua roupa de
baixo. Ele abriu a sua própria, colocando o pênis para fora e já pronto para
invadir o Ômega. Mesmo que estivesse excitado, Jimin não estava
totalmente pronto para ser penetrado. Estava tudo indo muito rápido e
selvagem, para alguém com tão pouca experiência sexual, se comparado ao
Alfa.
Um Ômega como ele carecia de mais estímulos e atenção com seu corpo.
Cuidados que Jungkook estava avançando. Jimin ergueu o corpo e colocou
as mãos no peito dele para empurrá-lo, porém, o Capitão o empurrou contra
a cama segurando seus ombros com estupidez.
— Ai! Jungkook?!!— Jimin reclamou, mas Jeon já estava novamente
chupando e arranhando sua clavícula com a ponta dos caninos — Para!
Jungkook ergueu o rosto para fitá-lo e largou o ombro dele quando viu o
olhar confuso do Ômega. Jimin teve a impressão de ter visto seus olhos
avermelhados, mas ignorou o fato quando ele perguntou:
— Eu te machuquei?
Jimin sentiu o aperto violento nos ombros, mas nada que fosse tão
doloroso. No entanto, o que o Alfa poderia fazer caso continuasse?
— Eu estou bem. Mas você precisa ir mais devagar.
— Me desculpa... eu sempre fico mais agressivo quando meu rut está
mais próximo. E um pouco possessivo também.
— Você não acha que é melhor tomar um pouco de chá? Jin trouxe vitex
do mercado da Índia, ele disse que ajuda no cio de um Alfa.
— Ainda faltam algumas semanas.
“Se ainda faltam algumas semanas e já está assim, imagina quando
acontecer” — Jimin guardou os pensamentos para si.
— Está bem. Qualquer coisa você já me ensinou a atirar, então...
Embora estivesse com a expressão séria, era brincadeira, é claro. Jeon
sorriu, acariciando sua bochecha com o polegar.
— Vou cuidar muito bem de você, meu coração. — dessa vez, ele
inclinou o rosto para frente e beijou a testa de Jimin, com muito mais afeto.
Ele desceu um pouco mais, agora beijando a ponta do narizinho dele e
depois deixou um selinho na boca. Em seguida, estava passando a língua
entre seus lábios e sendo muito bem recebido pela do Ômega. A medida
que se beijavam, seus sexos roçavam um no outro e Jungkook podia sentir o
quanto Jimin o desejava, sentindo a umidade em seus dedos que já
exploravam aquela área tão sensível e agora, tão sedenta. Ao sentir o pênis
do Alfa invadindo-o vagarosamente, Jimin levou ambas as mãos até sua
boca, para desta vez conseguir conter os gemidos.
— Por que está fazendo isso? — Jungkook perguntou movendo seus
quadris lentamente.
Ainda com as mãos tapando a boca, Jimin apenas moveu os olhos até a
porta da cabine e negou com a cabeça. O Alfa entrou tomou suas mãos e as
prendeu contra o colchão.
— Não... — Jimin enfim respondeu, falando baixo — ... eles vão ouvir.
— Eles quem?
— A tripulação.
— Deixe que ouçam. Você é meu, afinal.
— Mas-...
— Shh... quero ouvi-lo... — Jeon voltou a mover-se dentro dele,
enquanto beijava a região próxima de sua orelha —... sua voz é linda.
Assim que foi liberto, Jimin abaixou os braços mas o Alfa colocou suas
mãos novamente onde estavam.
— Não se contenha.
Muito relutante, Jimin largou suas mãos repousando na cama. Ele
agarrou o lençol que cobria o colchão e mordeu o lábio inferior na tentativa
de conter-se um pouco mais. Mas parecia que o Alfa fazia de propósito,
tocando em todas as suas partes delicadas e sensíveis. Movendo-se com
impulso conforme investia dentro dele. E o Ômega não se contendo gritou
seu nome e as mãos desceram até agarrarem os ombros do Alfa.
Jungkook segurou os cabelos dele, não para machucar, mas firme o
suficiente para fazê-lo ficar com o rosto fixo olhando o seu, e voltou a
mover-se mais vagarosamente.
Eram muito baixos, mas Jungkook podia ouvir seus gemidos agudo e
compassado. Como um miado de um gatinho manhoso. Ele investiu
fortemente contra Jimin, a cama rangeu e um murmúrio mais alto fugiu da
garganta do Ômega. Ele o invadiu novamente e mais rápido, até que seus
corpos vibrassem um contra o outro, a medida que o orgasmo os atingia.
Jungkook o observou por alguns segundos, enquanto ele se recuperava de
uma respiração arfante. Ele gostava de ver a expressão no rosto do Ômega,
era como se ele tivesse ido ao paraíso e voltado no mesmo instante. Um
anjo caído em sua cama.
— Eles devem ter ouvido. — Jimin contou, sentando.
Sua intenção era levantar e vestir uma outra roupa, já que o Alfa havia
rasgado a sua. Mas Jungkook o puxou, abraçando-o por trás.
— O que tem de mal nisso, hm? — Jeon questionou, beijando atrás da
orelha dele — Eles sabem o que fazemos aqui. Não tem porque tentar
esconder.
— Eu sei, mas eles ficam falando coisas, eu fico tão constrangido...
— Se você quiser posso fazê-los parar.
— Não. Está tudo bem.
Jungkook assentiu e o beijou na bochecha, deixando-o se levantar e
escolher uma nova roupa.

Alguns dos tripulantes andavam em círculos diante da cabine, ainda
decidindo qual deles seria o bendito que iria chamar o Capitão para avisar
sobre a passarela posta e a travessia dos dois Ômegas para a outra
embarcação.
— Da última vez, o Capitão quase me acertou com uma de suas adagas.
— Bando de Alfas covardes. — o médico revirou os olhos.
— Então vá você chamar eles, Seokjin. — Billy propôs sentindo-se
ofendido — Prefiro enfrentar um leviatã do que o Capitão Jeon bravo.
— Vira essa boca pra lá! — Taehyung o repreendeu — O Capitão não
destrói navios nem devora tripulações inteiras.
Billy deu pouca importância ao que o Beta afirmou. A porta da cabine foi
aberta e os bucaneiros respiraram aliviados por não precisarem interromper
o momento íntimo do Capitão. Mas logo esse sentimento se esvaiu quando
eles se lembraram que ainda precisavam contar sobre os Ômegas.
Na outra embarcação, Jackson se aproximou dos barris dispostos na
popa, vendo Jisung sentado no chão encostado neles. Ele estava com o
semblante sério e os braços cruzados, mas seus olhos estavam marejados.
Jackson era um caçador de recompensas, matava pessoas se necessário
para atingir seu objetivo, era o seu trabalho. Mesmo tendo a companhia de
sua mãe por um tempo, ainda sentia-se solitário. Tudo piorou quando ela
veio a falecer e ele rumou para o mundo sozinho, conhecendo desde cedo as
perversidades da vida e a maldade humana. Assim ele criou uma armadura
em torno de si, impossibilitando qualquer um de se aproximar e também
dele mesmo criar laços com alguém. Nunca conseguiu se importar tanto
com uma pessoa, quanto com aquele Ômega.
Quando Jisung ergueu o rosto para fitá-lo, Jackson sentiu vontade de
agarrar o pescoço do contramestre e jogá-lo ao mar. Mas ao invés disso, ele
se agachou e sentou ao lado do Ômega.
— O que veio fazer aqui? — Jackson perguntou imaginando que não
seria respondido, mas para a sua surpresa ele o fez, mesmo que com a
cabeça baixa.
— Eu... hoje é meu aniversário.
— E por isso você quis se aventurar em uma viga de madeira entre um
navio e outro, sobre um mar profundo e desconhecido.
— Não, eu... eu queria que você soubesse disso.
Jackson não era bobo e sabia do interesse que o Ômega despertou por
ele. Se fosse qualquer outro Ômega seria fácil seduzi-lo e levá-lo para a
cama. Faria isso com qualquer um, mas não com ele. Jisung era apenas um
jovem Ômega muito puro e virtuoso para alguém como ele. Um Alfa
devasso e com mais pecados do que poderia contar. Ele não queria se
aproveitar da sua inocência. Sabia que o pequeno era alguém que precisava
de um Alfa cuidadoso e gentil. Alguém que com toda a certeza não era ele.
— Você precisa voltar para o seu irmão. — não era a resposta que o
Ômega desejava ouvir. Ele abaixou a cabeça novamente.
Jackson segurou delicadamente o seu queixo, fazendo-o erguer a cabeça,
e então deixou um beijo carinhoso na bochecha dele.
Continua...
[39] Ataque Repentino

Reescrito

Com ajuda de Jackson, Jisung se levantou do chão e uma dúvida lhe
encheu a cabeça.
- Por que não fez nada para ajudar o Sungjae?
- Não me importo com ele.
- Não o ouviu gritar? Como pôde não se comover com isto?
Jackson ficou um tempo em silêncio e olhou para baixo, tentando captar
algum ruído vindo da coberta de baixo, mas nada foi captado.
- Ele parou.
- Onde está o contramestre?
- Não sei. Mas seu irmão está vindo aí. - jackso disse, apontando para a
passarela.
Jimin passou quase correndo, sendo seguido pelo Capitão e outros
piratas.
- Onde ele está?! - Jimin perguntou, procurando seu irmão entre os
piratas do nau. - Jisung?!
- Estou aqui, Jimin. - Jisung se aproximou acanhado.
- Céus! - o Ômega lúpus aliviado abraçou o mais jovem- Que susto me
deu. Por que fez isso? E o que houve com Sungjae?
Os olhos de Jisung procuraram pelo contramestre, encontrando-o do
outro lado, com feições severas e os braços cruzados.
- Está onde deveria. - Namjoon respondeu - No porão de carga, e ficará lá
até ancorarmos em uma ilha.
Chocado, Jimin voltou sua atenção para Jungkook, mas o Alfa apenas
deu de ombros.
- Namjoon que está no comando do nau. Ninguém vai molestar ele,
Jimin, relaxe. - Jeon tentou tranquilizar.
- Eu sei, mas ele deve estar revivendo lembranças terríveis em sua mente
neste momento.
- Posso descer? - Scott indagou, referindo-se ao porão.
- Isso aqui não vai virar um bacamal. - Namjoon avisou - Volte para o seu
navio, Alfa. Precisa recuperar essa perna.
- Você prendeu a pessoa que está cuidando dela em seu porão.
- Você já tem os materiais necessários para fazer isto. Não precisa mais
dele.
- Mas eu insisto.
- Namjoon, por favor? - Jimin interveio.
Era óbvio que havia notado o vínculo criado entre Scott e Sungjae,
embora que não fosse algo sério, sabia que o Alfa não machucaria ele. Eles
não eram amigos, mas Jimin não não deseja o mal do Ômega.
- Ele não vai sair. - O contramestre ditou para o Alfa e ele assentiu.
Scott abriu a tampa da escotilha e desceu devagar por causa da sua perna.
A princípio não viu Sungjae, mas a medida que o procurava pela dimensão
do lugar ele encontrou traços de vômito pelo chão. O barulho de madeira
tocando no chão indicou ao Ômega que alguém se aproximava. Ele estava
todo encolhido no cantinho dentre duas paredes, e se encolheu ainda mais
quando o som dos passos ligeiramente familiar se aproximaram.
- A-afaste! - Sungjae rosnou sem muita confiança. O Alfa cessou os
passos e se abaixou próximo a ele - Não me toque!
- Não vou tocá-lo. - Scott avisou com calma - Vim para que passe o
composto em minha perna.
Lentamente o Ômega ergueu o olhar para ele, desconfiado. Seus olhos
demonstravam o quanto já tinha chorado, mas o semblante do Alfa
continuou inexpressivo. Ele não queria dar a entender ao Ômega que estava
alí para machucá-lo, assim como a tripulação asquerosa de Alma Negra.
- É só isso mesmo? - Sungjae indagou hesitante.
- Sim. - Scott esticou o braço e deixou a cuia no chão próxima do Ômega
para não tocá-lo, e começou a retirar o encaixe de madeira da sua perna -
Você está fazendo um bom trabalho. Ela já não dói tanto como antes.
Sungjae estudou seu rosto e logo depois a perna, ele suspirou e pegou a
cuia, colocando-se sentado de frente para o Alfa, em uma posição que
pudesse passar a mistura na perna dele.
- Se deixasse de usar esse troço pelo menos por alguns dias, estaria bem
melhor. - o Ômega afirmou. Ele parecia bem mais calmo e não estava
tremendo quando começou a deslizar as mãos pela perna do pirata. Scott
sentiu algo bom com isso, e sorriu minimamente - Mas é claro, é mais
teimoso do que uma mula.
- Sou um Alfa forte.
Sungjae mirou o Alfa das pernas a cabeça e umedeceu os lábios.
- Disso eu não tenho dúvida. Mas seu corpo é de carne e osso como o de
todo mundo, e precisa de cuidados também.
Scott conteve um breve sorriso. Nunca teve um Ômega que demonstrasse
qualquer interesse em seu bem estar, o fato de que Sungjae estava fazendo
isso significava alguma coisa.
Sempre desejou ter dois filhotinhos, mas quando perdeu parte da perna,
imaginou que teria de deixar suas ambições de lado, e que seria condenado
a viver para sempre sem um corpo para lhe esquentar na velhice. Ele notou
que o Ômega estava com os movimentos do braço direito limitados.
- Seu braço está machucado. Eles feriram você?
Sungjae negou balançando a cabeça.
- Eu caí de mal jeito quando fui posto aqui dentro.
O Alfa inclinou o corpo para frente e pegou um pouco da mistura.
- Vire o braço. - Sungjae o olhou confuso quanto a sua atitude, mas fez
como ele pedira.
Scott passou a mão delicadamente pela extensão do braço do Ômega,
espalhando a mistura pela área machucada.
- Obrigado.
Scott sorriu novamente e quando foi ajeitar sua postura no caixote, o nau
saculejou e ele foi lançado para frente, caindo de joelhos.
- Porra! - rugiu ao sentir a dor na perna.
- Você está bem? - Sungjae o ajudou a ficar de pé. - O que foi isso?
- Eu não sei. - o Alfa ergueu o olhar para o teto da coberta, ouvindo os
vários passos e vozes nervosas da tripulação logo acima - Vamos ver.
Scott segurou na mão do Ômega e sem pensar no que estava fazendo, o
puxou consigo para a abertura da escotilha. Ele levantou a tampa e subiu
apenas o suficiente para sua cabeça e torso passarem.
- O que está acontecendo? - Scott indagou confuso ao ver os Alfas e
Betas correrem de um lado para o outro, segurando arpões enormes.
- Uma criatura pavorosa está tentando derrubar o navio. - um dos Alfas
afirmou.
- Vem. - Scott terminou de subir e puxou o Ômega para cima.
Havia muita correria e gritos confusos vindos de todas as partes. Uma
cauda como a de uma serpente enorme emergiu da água e acertou o centro
da embarcação, causando grande estrago.
- Não gastem munição com a cauda seus idiotas! - Namjoon rugiu ao ver
a tripulação atirando os arpões e disparando com suas pistolas - Encontrem
a cabeça e mirem nela!
- Onde ela está?! - Billy gritou a procura da parte superior do monstro.
Os piratas estavam procurando ao redor do nau, mas uma grande
movimentação nas águas fez com que as embarcações balançassem para o
mesmo lado, quando uma criatura começou a surgir do outro lado do Black
Swan. O corpo enorme do bicho ergueu-se imponente mostrando sua
verdadeira forma. Ele possuía a cabeça como a de um dragão, chifres e
espinhos provinham do topo descendo ao longo de sua nuca e costas.
Nas laterais da cabeça, haviam longas barbatanas e quando ele abriu a
enorme boca cheia de dentes pontiagudos e ferozes, um rugido furioso saiu
de sua garganta, quase ensurdecendo os piratas.
- É um leviatã! - um Alfa afirmou desesperado.
- Abandonar navio! - um outro gritou prestes a pular na água.
- Fiquem onde estão seu bastardos imundos! - Namjoon gritou - Estou
mesmo fodido se a minha vida depender de vocês, bando de inúteis!
- Hoseok - o Capitão chamou seu atirador - não vai ser possível usar os
canhões de modo tradicional...
- Entendi, Capitão. - o Alfa sorriu e chamou alguns bucaneiros para
acompanhá-lo.
Os Alfas pegaram as bolas utilizadas em canhões e ascenderam os pavios
manualmente, lançando-os contra o leviatã. Os balotes que o atingiram,
destruíram sua grossa pele escamosa e a besta rugiu de fúria e dor,
acertando o nau mais uma vez com sua cauda cravejada de lanças. Entre a
correria sem fim, Jungkook puxou seu Ômega consigo e o lançou dentro da
cabine.
- Fique aí! - Ele correu na direção dos cabos que davam acesso ao alto
das velas.
Jackson também fez o mesmo e puxou Jisung, o Ômega olhou para trás e
viu Sungjae com Scott.
Jisung estendeu a mão para ele.
- Vem! - Scott olhou para Sungjae e assentiu, o Ômega correu junto com
Jisung e Jackson. O caçador os deixou na cabine, e voltou-se para se juntar
aos demais piratas na batalha contra o leviatã.
Jimin estava procurando pelas suas armas dentro do cômodo e quando
girou o corpo para sair, deu de cara com os outros dois Ômegas. Sem tempo
para discussões, ele puxou seu irmão para perto e o abraçou.
- Fique aqui dentro e não saia por nada! - Jimin pediu quase ordenando e
o mais novo apenas assentiu. Ele ainda voltou-se para o outro Ômega: -
Fique com ele.
Sungjae anuiu e correu com Jisung para ficarem escondidos embaixo da
mesa, e evitar que os objetos que estavam sendo lançadas das prateleiras os
atingissem.
A criatura mergulhou de cabeça contra o Black Swan, rompendo parte da
armação e balançando a embarcação fortemente, fazendo todos que estavam
nela caírem espalhados pelo convés. O leviatã ergueu o corpo outra vez
para um novo ataque, mas foi surpreendido por um Alfa que estava no alto
de um mastro. Jungkook disparava com sua pistola contra os olhos da besta
enquanto empunhava uma espada com a outra, tentando se equilibrar em
cima do mastareu que segurava as velas. O leviatã chicoteou Jungkook com
sua língua longa e bifurcada, fazendo-o tropeçar e quase cair.
A espada que segurava escapou de sua mão e caiu fincada no chão quase
no mesmo instante em que Jimin surgiu para ajudá-lo. O Ômega segurou no
cabo da lâmina e se aproximou da lateral do navio, onde se encontrava parte
da barriga do animal. Ele girou a espada e rasgou parte de sua carne,
fazendo o bicho guinchar.
- Eu mandei você ficar na cabine! - Jeon rugiu quando viu seu Ômega
exposto ao perigo no convés.
O leviatã ergueu uma de suas fortes nadadeiras e lançou contra o
loirinho, só não o atingiu porque Yoongi se lançou contra ele derrubando-o
no chão. Quando movimentou seu braço cartilaginoso de volta, Jackson
agarrou na ponta e rapidamente o espadachim se levantou do chão para
partir a nadadeira da criatura ao meio.
Jungkook cravou suas duas adagas na garganta do leviatã e desceu
deslizando e rasgando todo o centímetro vertical da fera. A besta rugiu alto
e cessou seu ataque, submergindo novamente e sumindo pela escuridão das
águas.
Continua...
[40] À Flor da Pele

Reescrito

A turbulência nas águas foi diminuindo conforme a criatura se afastava, e
logo a calma tomou conta do lugar. Haviam pedaços de madeira, cabos
partidos e velas soltas no Black Swan.
Na outra embarcação o estrago fôra pior, além das avarias, havia um
terrível rastro de sangue espalhado pelo convés. Pelo olhar do imediato,
aquele sangue não era apenas do leviatã. Jungkook passou o olhar pelo
convés do Black Swan, tinham alguns feridos mas todos estavam bem. Ele
caminhou até a borda e olhou para o contramestre no nau. Namjoon negou
com a cabeça.
— Quantos? — o Capitão questionou do outro lado.
— Três. — Eles estavam se referindo ao número de mortos.
— Temos um problema Capitão. — Dahyun surgiu atravessando a
passarela — A criatura abriu uma fenda no porão. Não é tão grande mas a
água está invadindo. É só questão de tempo para que o nau afunde.
— O que faremos, Capitão?
Jungkook fechou os olhos inspirando profundamente. Ele pensava no que
fazer quando uma comoção entre alguns piratas se iniciou.
— Eu digo a vocês que devemos voltar! — Joe opinou.
— Isso é só o começo. — um outro pirata concordou — Perguntem ao
navegador, nós apenas acabamos de entrar no mar tenebroso.
— Covarde!
— Ele tem razão. Nós fomos amaldiçoados desde que esse Ômega se
juntou a tripulação. — Joe continuou. Jungkook abriu os olhos e o olhou,
mas ele não percebeu. — Todo mundo sabe que trazer um Ômega a bordo
trás má sorte.
— Verdade. E ele sendo lúpus deve ser até pior.
Joe olhou para seu companheiro assentindo, e continuou com seu
discurso:
— Esse tesouro não vai valer de nada se perdermos nossas vidas.
Deixemos o nau de lado, ele vai afundar de qualquer jeito. Nós colocamos
os três Ômegas lá e vamos emb-… — antes que pudesse concluir, a mão de
Jungkook agarrou sua garganta e apertou fortemente.
Joe olhou para seu Capitão, os olhos esbugalhados, a boca aberta
enquanto guinchava em agonia e a coloração avermelhada pintava seu rosto
e suas orbes. A pressão tornou-se mais forte e alguns podiam jurar que
ouviram o som de osso se quebrando.
— Quem mais quer expor sua opinião ? — Jeon virou-se para a
tripulação, e os piratas que estavam concordando com Joe, deram um passo
para trás — Jimin é meu Ômega e qualquer palavra dita contra ele, será
considerada uma ofensa à mim.
Namjoon fez sinal para que Sven e Jared recolhessem o corpo de Joe e o
jogasse no mar.
— Você está se sentindo bem? — Seokjin foi o único que teve coragem
de se aproximar do lúpus naquele momento.
— Estou. — Jeon respondeu e em seguida voltou-se para a tripulação —
Tragam as cargas do nau para o Black Swan. Dahyun, estude as avarias e
diga-nos o que pode ser feito para consertá-las.
A Beta assentiu e se colocou a analisar o navio.
— Eu ajudo. — Chaerin se juntou a mecânica.
— Eu vou preparar um pouco de chá de vitex para você.
— Já disse que estou bem, Seokjin.
O médico observou o mais novo com os olhos semicerrados. Ele tinha
acabado de matar um dos bucaneiros apenas porque ele se posicionou
contra a ideia de ter Ômegas a bordo, estava claro para o Beta o que se
passava com o seu irmão.
Dentro da cabine, Jimin estava examinando o irmão e os danos causados
pela criatura nos aposentos do Capitão.
— Está bem mesmo? — Jimin perguntou.
— Sim. Estava quase entrando em pânico, mas o Sungjae me
tranquilizou.
— Obrigado, Sungjae.
— Ah, ele estava me deixando nervoso...
— Não precisa se envergonhar porque fez uma coisa boa.
Sungjae desviou o olhar, certamente porque estava ruborizando.
— O Scott!
— Ele está bem. — Jimin teve certeza que viu Sungjae suspirar aliviado
— Está lá fora ajudando a limpar o convés.
— Vou ajudar. — Sungjae saiu deixando os irmãos sozinhos.
— Jimin, eu quero falar com você. — Jisung pediu hesitante.
— Bom, podemos conversar enquanto arrumamos essa bagunça. — o
mais jovem assentiu e eles começaram com as estantes, levantando-as.
— Sabe o motivo de eu ter ido para o nau?
— Era justamente isso que eu ia te perguntar antes do ataque.
— Então... eu… — Jisung começou, mas hesitou sem conseguir
continuar.
— Sabe que pode me contar tudo, não é? Sou seu irmão e eu amo muito
você, Jisung. É por causa do caçador?
— Como sabe?
— Não sabia, mas você acabou de confirmar. Era só uma suspeita.
— Desculpa, Jimin.
— Por que está se desculpando? Você ficou um tempo com Jackson, e ele
te protegeu daquele tenente nojento. É natural que tenha desenvolvido
afeição por ele.
— Eu não sei o que sinto... mas gosto de estar perto dele. Eu gosto muito
de ouvir a voz dele.
— Oh, meu amor. — Jimin largou alguns mapas em cima da mesa e
segurou as mãos dele — Eu não acho que Jackson seja do tipo que cria
raízes em algum lugar. Mas se você quiser ficar com ele, eu não vou brigar
com você. Não tenho esse direito e só desejo a sua felicidade.
— Ele não me quer, Jimin. Falei que queria vê-lo, e ele me mandou
voltar pra você.
— Então ele é um idiota.
— Quem é um idiota? — Taehyung apareceu na porta — Não quis
atrapalhar, só queria saber se todos estavam bem.
— Você não atrapalha. — Jimin fez um gesto para que ele se
aproximasse — estamos mesmo precisando de ajuda aqui.
— Céus, os mapas estão todos bagunçados. — o navegador lamentou
vendo os papéis espalhados pela mesa.
— Eu não sabia como organizá-los então só os deixei na mesa.
— Tudo bem, vou cuidar muito bem dos meus bebês.
— E quanto ao Jackson, Jimin? — Jisung perguntou, acabrunhado.
— Hm... eu acho que... — sendo apenas doiz anos mais velho e
igualmente criado para ser um boneco de porcelana, Jimin não tinha um
bom conselho para ele.
— Já entendi. — Taehyung articulou — Jackson é o idiota a quem se
referem. Hm... amor não correspondido? Você deveria parar de correr atrás
dele.
— Como você sabe?
— É muito claro pelo modo que você olha para ele. É como o jeito que
Hoseok olha para mim, igualzinho.
Os Ômegas ficaram pensativos, tentando lembrar do olhar do Alfa para
com o navegador. Coincidentemente, naquele mesmo instante, Hoseok
abriu a porta.
— Tae, eu preciso falar algo sério com você.
O Beta olhou para trás e novamente para os Ômegas.
— Viram? Desse mesmo jeito.
Jimin e seu irmão sorriram, desviando o olhar quando o Alfa os fitou
confuso.
— Do que estão falando?
— De nada, Hoseok. Taehyung só estava nos ajudando mas pode ir com
ele, Tae. Vamos separar os mapas e livros na mesa, depois você vem aqui
dar uma arrumada neles.
— Jisung, seja mais decidido. — O navegador aconselhou — Você está
livre das regras do seu pai. O único que você precisa obedecer é o Capitão,
caso contrário ele vai quebrar seu pescoço.
— Do que está falando? — Jimin o indagou confuso.
— Nada… o que eu estava falando mesmo? Ah, sim, Jisung você precisa
se mostrar mais independente. Ter mais personalidade sabe? Sei que é
tímido mas talvez com um pouco de rum você se soltaria mais...
— Nada de rum. — Jimin o avisou.
— Certo, nada de rum. — Taehyung confirmou — Eu vou falar com o
Hoseok e depois eu te dou umas dicas a mais.
O Beta piscou para Jisung e logo saiu da cabine. Hoseok o segurou pelo
cotovelo, delicadamente, e o puxou para uma área longe de todos.
— O que aconteceu hoje — Hoseok começou —, essa besta terrível que
nos atacou e a decisão do Capitão de seguirmos com a viagem me fez
pensar que a vida é muito curta para guardarmos as coisas para nós
mesmos.
— O que está querendo dizer com isso?
— Eu te amo, Kim Taehyung.
— Eita...
— Não precisa me dizer nada agora, sei que pode estar confuso com essa
confissão tão repentina. Então pode levar o tempo que quiser para pensar.
— Então é aí que você está. — Yoongi surgiu com os braços cruzados —
Fugiu do trabalho e me deixou amarrando os cabos sozinhos não foi,
Hoseok?
O atirador revirou os olhos, girando para fitá-lo.
— O que foi? Não está alcançando os mastaréus? — Hoseok riu, devido
a baixa estatura do espadachim — Fica na pontinha dos pés que você
consegue.
— Vou te mostrar o que consigo ou não... — Yerik avançou contra ele
mas o Beta se colocou entre os dois.
— Não vamos perder nosso tempo brigando quando se tem muito
trabalho a fazer. Hoseok, eu... — Taehyung olhou rapidamente para o
espadachim que prestava bastante atenção em suas palavras — Eu vou
pensar no que me falou.
— Mas pensa com carinho.
— Claro, pensarei. Agora ande logo, as velas não irão se instalar
sozinhas.
Taehyung viu Hoseok se afastar, mas franziu o cenho quando viu que
Yoongi permaneceu parado, no mesmo lugar.
— Você agiu rápido hoje salvando a vida do Junbuu. — Yoongi o elogiou
— Eu fiquei bem impressionado.
— E você salvou o Jimin.
— Pois é, somos uma boa equipe... eu quero te falar uma coisa há muito
tempo.
— Ai, de novo… — Taehyung suspirou em voz alta, sorrindo nervoso.
Assim como da primeira vez, sem saber como se comportar.
— O que disse?
— Nada... continue.
— Sabe eu... eu... mas que merda! Não sei como falar essas coisas.
— Respire — Taehyung se aproximou do Alfa segurando em uma de
suas mãos, quanto a outra ele encaixou em uma face dele — Fale com
calma. Não precisa ter pressa.
Yoongi ficou um tempo em silêncio, apenas admirando as feições do
Beta. A harmonia em sua beleza, e o modo calmo com que lidava com as
coisas.
— Eu não sei como... eu só... — Yoongi ergueu a mão do navegador que
segurava a sua, e a espalmou em seu peito — Pode sentir isso?
— Está batendo rápido, e forte...
— Por você. — Yoongi confessou — Você me faz ficar assim. E é por
isso que meu coração é seu.
Taehyung abriu a boca para falar, mas por cima dos ombros do Alfa, ele
viu Hoseok puxando os cabos das velas junto com os outros piratas. Seus
olhos marejaram e ele sentiu um aperto dentro de si.
— Eu...
— Não diga nada. Sei que estava olhando para o Hoseok agora mesmo.
Está dividido e eu entendo, mas precisa se decidir. Voltarei ao trabalho e
enquanto isso você pensa. Quando estiver pronto me procure.
— Hm... okay.
Yoongi anuiu e voltou para o convés, onde todos os piratas estavam
trabalhando para consertar os estragos deixados pela besta marinha.
Desde que foi recrutado para fazer parte da tripulação, Taehyung se
tornou rapidamente íntimo do atirador. Embora lide com as armas mais
pesadas da embarcação, Hoseok era gentil e sempre sorridente, atencioso e
compreensivo. Sua confissão repentina não foi algo totalmente surpreso,
pois o navegador sabia que o Alfa possuía sentimentos fortes por ele, e
claro, era recíproco.
Taehyung passou por diversos momentos ao longo de sua vida,
constantemente cheia de triunfos e também desventuras, o Beta sempre
estava pronto para qualquer sorte, à exceção de dois Alfas de quem ele
gostava muito, declarando seu amor pelo mesmo.
Taehyung sentou-se em uma caixa de madeira, apanhou sua bússola
dourada que estava no bolso frontal do colete e encarou a agulha por baixo
do material transparente. Ele se distraiu observando a peça de metal girar
conforme movia o objeto em várias direções.
Tendo em mente que uma bússola sempre aponta para o norte, Taehyung
fechou os olhos e respirou fundo, lembrando-se das palavras que ouviu dos
dois Alfas , momentos atrás.
Quando Yoongi se juntou aos piratas, seu jeito único e peculiar chamou a
atenção do navegador justamente por ser completamente o oposto de
Hoseok, que sempre foi natural em expressar o que sente, diferentemente do
espadachim, que sempre se mantinha mais calado, e tinha um jeito mais
introvertido e bruto de demonstrar suas emoções.
Mas Taehyung sabia que ambos tinham algo em comum, e descobriu aos
poucos que eles eram mais parecidos do que demonstravam por fora. Os
Alfas eram destemidos, inteligentes, fortes, de uma beleza singular e acima
de tudo, protetores.
Taehyung não planejou ficar emocionalmente ligado entre duas pessoas,
mas aconteceu, e agora, ele estava em uma situação tão complicada, quando
se é estar perdido no meio do oceano sem uma bússola para se orientar.
Mesmo que possuísse tal objeto, ele sabia que a agulha só mostraria uma
única direção, um único norte, e no mapa da vida do Taehyung ele possuía
dois, Hoseok e Yoongi.
Taehyung abriu os olhos e caminhou até a borda na parte de trás do
navio. Sempre considerado tão inteligente, agora ele não sabia responder
como seguir duas direções ao mesmo tempo. Ele olhou para o céu e
observou as estrelas, que aos poucos, foram tornando-se turvas à medida
que os olhos do Beta ficaram úmidos. Ele tentou buscar através das
constelações, uma orientação que o ajudasse a tomar uma decisão, sobre
qual caminho seguir.

Jackson estava afiando a lâmina de sua katana. Era algo que costumava
fazer sempre que estava prestes a embarcar em uma missão, ou apenas
quando queria se distrair dos pensamentos. Ele notou quando um indivíduo
se aproximou pela esquerda. O aroma doce de jasmim já indicava quem era,
ele não se deu o trabalho de ergueu a cabeça e continuou fazendo sua
atividade.
— Acho que precisamos conversar. — Jimin avisou.
— Se você diz.
O Ômega cruzou os braços após tomar a pedra do caçador, colocando-a
em cima de um caixote com pouca paciência.
— Meu irmão gosta de você. Sei que já percebeu isso e eu só vim aqui
pra te falar uma coisa, caçador. — Jackson estudou o Ômega dos pés a
cabeça. Viu o punhal e as duas pistolas que carregava em seu cinto, mas os
ignorou, encarando-o com atenção — Machuque o Jisung e eu vou fazer
picadinho de você.
— Minha carne não é muito saborosa.
— Não estou brincando. — Jimin mantinha o semblante sério. Embora
seus traços fossem de uma polidez amável, seus olhos demonstravam uma
certa ferocidade que Jackson não deixou de notar — Ele é o ser mais
precioso desse mundo e não merece derramar uma lágrima sequer por causa
de um Alfa tão insensível como você, que não se importa com nada além de
si mesmo.
— Você tem razão, eu não me importo com nada, muito menos com sua
ameaça. Posso matá-lo desarmado e com uma mão nas costas.
— Morreria antes mesmo que tentasse. — o Capitão Jeon afirmou se
aproximando de ambos. Ele encarou o caçador com fúria controlada e girou
para o Ômega — Quero falar com você.
Jimin assentiu.
— Depois terminamos essa conversa. — Jimin disse para o caçador.
— Não, nós já terminamos por aqui. Não tenho a intenção de ferir os
sentimentos dele, e é por isso que não me aproveitei de todas as chances
que tive para tomá-lo.
Jackson guardou sua arma e o amolador, e seguiu para o nau, a fim de
ajudar no transporte das cargas.
— Bastardo! — Jimin rosnou.
— O que aconteceu?
— Jisung está gostando dele. Mas esse maldito não se importa, porque
ele é seco por dentro.
— Quer que eu o mate?
— Não. Eu cuido disso. O que queria falar comigo?
— Quando o deixei na cabine, foi para a sua própria segurança. Sei que é
um Ômega forte e que pode lutar contra inimigos diversos. Mas não contra
um leviatã, Jimin.
— Está enganado e você sabe. Ele ia te matar mas eu salvei sua vida!
— E eu mandei você ficar na cabine! — Jeon gritou, mas logo diminuiu
o tom da voz quando viu que estava chamando atenção de outros piratas —
Quando eu mandar você fazer uma coisa, você deve me obedecer. Não sei o
que faria se algo te acontecesse.
— E o que eu faria se você fosse morto? Sei que se preocupa comigo,
mas eu também temo que se machuque. Quando vai entender isso? Eu daria
a minha vida por você.
Jungkook segurou em seus quadris, aproximando-o.
— Quando me viu pela primeira vez só sabia gaguejar, tremendo de
medo. Agora está aqui me enfrentando, o seu Capitão.
— Antes de ser meu Capitão, você é meu Alfa, e eu vou encarar qualquer
coisa para te manter a salvo. Mesmo que para isso eu tenha que te enfrentar
primeiro. Não sou seu protegido, sou seu Ômega e companheiro. Estarei
com você em todas as situações.
Jungkook sorriu, acariciando a face dele, escondendo seus fios loiros
atrás da orelha.
— Vim aqui para te repreender, mas você só me deixou ainda mais
apaixonado e orgulhoso. Estamos atrás do Imperium, mas o maior tesouro
de todos está bem diante de mim.
Ele inclinou o rosto e tomou os lábios do Ômega, beijando-o sem se
importar com os olhares dos demais alfas e betas.
E assim a noite caiu. Após todo o trabalho custoso de transferir toda a
carga entre as embarcações, o nau foi deixado para trás. Ainda faltavam
alguns consertos na estrutura do Black Swan, mas eles precisavam de
materiais que não tinham no momento. Logo, eles iriam ancorar na primeira
ilha que encontrassem.
Se houvesse alguma por aquela região.
Continua...
Black Swan - X preto
Marinha Real - X azul
[41] Decisões

Reescrito

O silêncio no gabinete do governador não era por falta de pareceres. O
Comodoro Choi havia acabado de regressar após meses de ausência,
trazendo consigo não os galeões e o nau repleto de recursos. Mas três
navios emprestados pelo Imperador das Índias.
Não havia sombra dos Ômegas e muito menos do Capitão Jeon. Tudo o
que estava diante do governador, era o oficial e sua palpável vergonha.
— Como diabos você explica a perda de três galeões e o roubo de um
nau, por apenas uma tripulação de malditos piratas!?
— O caçador se juntou a eles.
— O caçador vale por uma frota inteira, Comodoro?
— Não, senhor.
— Você será rebaixado a capitão de mar-...
— Se me der mais uma chance eu posso-...
— Não me interrompa seu imprestável! Uma chance para quê?
Envergonhar ainda mais o nome da Marinha? Você já fez o suficiente.
Recebi uma proposta do Marajá Tossif, ele vai assumir a missão de prender
o Capitão Jeon, e em troca irei diminuir os impostas coletados sobre o
comércio da Ilha de Nabuco.
— Nós recuperamos o controle de Nabuco?
— Um pirata até então desconhecido matou o maldito que dominava a
região, e o Reino da Coréia tomou o poderio novamente... mas isso não vem
ao caso no momento, você e aquele seu subordinado servirão
momentaneamente aos oficiais da Marinha das Índias.
— Mas-...
— Isso é tudo, Comodoro Choi.
O Alfa saiu do gabinete do governador com um sentimento de derrota
queimando suas entranhas. Ele encontrou seu parceiro Jo, que aguardava
ansioso por saber dos resultados. Pela expressão sombria que o Comodoro
carregava, o Tenente entendeu que as notícias não eram nada boas.
— Ele passou para o Reino das Índias.
— Velho estúpido! — Jo socou a parede — Mas e nosso noivado com os
filhos dele?
— É com isso que você está preocupado? Há vários Ômegas de boa
família que podemos nos casar, Jo. Aqueles já caíram em desonra.
— Tsc! Não importa. Eu o quero! Aquele pequeno miserável! E aquele
irmão dele, você não deseja se vingar?
— Desejo manter apenas o que restou da minha dignidade. Fui rebaixado
a capitão de mar e guerra.
— Tudo por culpa daquele caçador desgraçado! Ele nos traiu, Choi. Eu
quero matar aquele maldito.
Choi nada disse, além de um longo suspiro, enquanto ouvia as maldições
ditas por seu amigo.

— Nós cruzamos tudo isso?! — Jisung perguntou muito impressionado.
Taehyung estava junto ao Ômega, ambos se distraindo pelos dias tediosos
que se seguiram. Ele mostrava as rotas e lugares que conheceu, e aqueles
desconhecidos que eles estavam desbravando. Assim como o navegador,
Jisung possuía bastante inteligência e logo compreendeu os macetes da
náutica.
— Sim. Com a força do vento podemos percorrer grandes distâncias em
pouco tempo. Mas com duas velas perdidas não tenho muita certeza se
chegaremos em algum lugar no tempo em que previ.
— E se não tiver nada do outro lado?
— Dizem que há um grande abismo. — Jisung o olhou pasmo — Mas
claro que deve haver alguma coisa do outro lado, ou Alma Negra não teria
vindo para essas direções.
— Mas dizem que ele é louco.
— E não somos todos? — Taehyung riu divertido — Piratas insanos.
— Piratas insanos. — O Ômega repetiu baixinho, cheio de encanto.
Estavam distraídos com os mapas, e não viram o caçador se aproximar
caminhando diretamente na direção deles.
— Tem um tempo? — Jackson perguntou ao Ômega, ignorando
totalmente que ele estava conversando com o navegador.
Taehyung olhou de esguelha para o Ômega e em sigilo, balançou a
cabeça indicando para o mais jovem negar a pergunta.
Rapidamente o Ômega recebeu a mensagem.
— Estou ocupado.
— Tenho certeza que o Beta tem algo mais importante para fazer.
— Na verdade, não. — Taehyung ergueu o rosto para encarar o alfa.
Jackson o encarou de modo duro e intenso, na intenção de intimidá-lo,
mas o Beta permaneceu firme. Sabia que ele não encostaria em si, não
enquanto houvesse dois Alfas a bordo e prontos para matar qualquer um
que ousasse tentar contra sua vida. O olhar foi desviado para Jisung, mas o
Ômega não agiu como Taehyung e abaixou a cabeça, olhando para o chão.
Jackson suspirou dando meia volta e indo para outro lugar.
— Oh, céus — Jisung soltou o ar que estava preso dentro dos pulmões —
o que foi isso?
— Isso foi você dando a ele o gostinho de ser ignorado.
— Eu acho que ele ficou irritado.
— Pena... — Taehyung completamente despreocupado — Vem, vamos
continuar...

Antes de ter certeza de que todos os botões estavam nas casas certas, seu
cabelo estava devidamente arrumado e que não tinha nenhuma marca
suspeita a vista em seu corpo, Jimin saiu da cabine olhando ao seu redor,
vendo os piratas trabalharem espalhados pelo piso inferior. Ele viu Jisung
logo na proa, debruçado como gostava de ficar, para ver a água quebrando
contra o casco dianteiro.
Jackson não estava em seu campo de visão, mas Jungkook saiu da cabine
logo depois, deixou um beijo em sua têmpora e seguiu para falar com o
contramestre, que estava próximo de seu irmão.
— Vamos ajudar o Junbuu a cortar cebolas? — Taehyung o convidou.
Jimin aceitou de imediato. Não tinha nada mais para fazer além de ver o
tempo passar, lento e entediante.
Assim que abriram a porta que dava acesso ao piso da cozinha, yoongi
surgiu subindo a escada.
— Já tem uma resposta?
— Céus, eles brotam do nada. — Taehyung levou uma mão ao peito e fez
sinal para Jimin: — Pode ir na frente que já chego lá.
O Ômega assentiu e desceu.
— Não quero te pressionar, mas você está demorando muito. Olha, se
você quiser ele, é só falar...
— Não, eu... — Yoongi o encarou sério com os braços cruzados. Seu
jeito indiferente e o modo despreocupado com que lidava com as coisas o
deixava fofo e mortal ao mesmo tempo. Em contrapartida, Hoseok tinha
uma personalidade diferente, era completamente claro com suas emoções e
só demonstrava frieza quando se tratava de fazer um bom trabalho.
Taehyung não sabia quem escolher ou negar, logo, só tinha uma resposta
para dar: — Quero você.
Yoongi sorriu e se aproximou dele. Ele segurou no queixo do Beta e
deixou um selinho em seus lábios.
— Escolheu bem.
Mas o navegador não fez sua escolha, ele apenas disse que o Alfa queria
ouvir. Satisfeito com a resposta, Yoongi saiu de seu caminho e o deixou
seguir. Assim que chegou na cozinha, Taehyung viu Jimin sentado ao lado
de Hoseok, estava prestes a dar meia volta e fingir que esqueceu das
cebolas, mas o Ômega lhe viu primeiro e o chamou para sentar perto dele.
— Hoseok estava te procurando — anunciou Jimin — Então eu disse
para ele te esperar aqui, porque você logo se juntaria a nós.
— Estava, é? —Taehyung sorriu amarelo.
— Sim. — O Alfa confirmou — Você já chegou a uma resposta?
— Então... — Hoseom o fitava cheio de esperança. Estava sorrindo como
se já esperasse por uma resposta positiva. “Como dizer não para alguém que
eu quero dizer sim?”, Taehyung se questionou mentalmente. Novamente ele
só teve uma resposta: — Quero você.
O sorriso do Alfa se alargou tanto que iluminou o ambiente.
— Que bom. — Hoseok segurou as mãos do Beta e beijou as costas delas
— Vou ver se eles precisam de mim lá em cima.
Assim que o Alfa sumiu pelo buraco da escotilha, Jimin virou-se para
Taehyung:
— Poxa, Yoongi já sabe?
— Então, Jiminie, eu fiz uma grande estupidez.
— O que você fez? — Sem coragem para falar, o Beta permaneceu em
silêncio. Jimin rapidamente entendeu o que estava acontecendo — Ah, você
não fez isso...
— Ah, eu fiz sim...
— Tae…!
— Jimin… e agora, o que eu faço?
— Eu não sei. Acho que... o que você realmente quer?
— Eu gosto dos dois, Jimin. Eles pensam que estou confuso, mas não é
verdade. Quero mesmo estar com os dois. Eles são completamente o
oposto, mas se parecem tanto… é muito egoísmo da minha parte, não é?
— Eu acho que não, Tae. Seus sentimentos são puros e sinceros. Mas eles
merecem a verdade, você precisa conversar com eles e falar como
realmente se sente.
— Você tem razão, mas quem disse que eu tenho coragem?
Jimin suspirou pensativo, almejando poder ajudar seu amigo mas não
tinha nada que pudesse fazer. Sua parte ele já fez, aconselhando-o da
melhor maneira que pôde. Agora, tudo dependia do Beta.

Após a última refeição do dia, Jisung combinou de aprender um pouco
mais sobre navegação com Taehyung. Ele o aguardava na parte de trás da
embarcação, onde quase ninguém os atrapalhava. Estava organizando os
mapas quando ouviu alguém se aproximar, sorriu olhando animado
pensando se tratar do navegador, mas quando viu o caçador parado diante
de si, quase sentiu a alma deixar seu corpo.
— Então agora que não precisa mais da minha proteção, vai apenas
ignorar a minha existência. — Jackson afirmou.
— Não é nada disso. Eu estava conversando com Taehyung.
— Ele não está aqui agora. Qual vai ser a desculpa dessa vez? — Jisung
não respondeu. Ele se abaixou ao lado do Ômega e sentou em um caixote
— Está chateado comigo. Você não percebe que não sou o Alfa certo para
você?
— Por que não?
— Você é só um menino. Eu não-...
— Eu estou farto disso! — Jisung rugiu, levantando-se do chão, com os
punhos cerrados. — Meses atrás meu pai me apresentou ao meu noivo.
Com dezessete eu já estava com idade para casar. Mas agora que tenho
dezoito anos não posso decidir o que quero? Para o inferno todos vocês!
Jisung girou para se retirar, mas foi puxado pelo cotovelo.
— Solte-me. Sou muito novo para você. — Jisung afirmou com
sarcasmo, ele puxou o braço e se viu livre.
— Eu não quero me casar e ter filhotinhos.
— E quem disse que eu quero? — Jisung ergueu uma sobrancelha. —
Você está muito emocionado, Alfa.
O caçador avançou devagar e em silêncio, fazendo-o regressar os passos
até bater com as costas em um dos mastros que suportava as velas traseiras.
— O que... — Jisung perdeu a voz quando sentiu a mão do Alfa tocar em
sua bochecha, o polegar contornando seus lábios e os olhos castanhos
mergulhados no infinito azul azul do Ômega — Jack-...
— Então o que quer? — a voz enérgica do Alfa sobressaiu acima da sua
— Está percorrendo por um caminho perigoso, menino.
— Do que tem medo, caçador?
A pergunta pegou o Alfa de surpresa.
— Eu não temo nada.
— Pois o que eu vejo é insegurança por trás dessa máscara de-... —
Jisung foi interrompido pelos lábios do Alfa, comprimidos contra os seus.
Se não estivesse apoiado entre o mastro e o caçador, Jisung certamente
teria caído. Ele não sabia o que fazer e apenas seguiu os movimentos do
Alfa, sentindo a língua dele sobre a sua. A mão do caçador estava apoiada
em sua nuca, enquanto a outra segurava firmemente sua cintura.
Após separar seus lábios, Jackson fitou seu rostinho corado e os olhos
ainda fechados do Ômega, que só os abriu quando sentiu a testa do Alfa
encostar na sua. E Jackson estava sorrindo. Um sorriso grande e sincero,
como nunca tinha visto nele antes. Jisung olhou para o pingente de lua no
peito do Alfa, e logo em seguida ergueu o olhar para o rosto dele.
— Eu estou perdido. — Jackson afirmou, arrancando uma gostosa risada
do Ômega.
— Eu também.
— Você é bem teimoso.
— É o que Jimin sempre diz...
Taehyung vinha se aproximando, mas ao ver o casal juntinho na popa,
sorriu e deu meia volta, deixando-os sozinhos quando o Alfa puxou o
pequeno para beijá-lo novamente.
Continua...
[42] Mar Tenebroso

Reescrito

A timoneira ganhou um tempo de descanso, depois de semanas guiando a


enorme embarcação. Em seu lugar, o próprio Capitão assumiu o leme
juntamente com seu ômega.
Jimin estava segurando nas malaguetas e o Alfa logo atrás para dar
sustentação ao equipamento, que se mostrava pesado a cada corrente
marítima. Eles não queriam um outro incidente como quando Jisung
assumiu o controle, e lançar os tripulantes sem delicadeza para um lado
específico.
— Só falta um papagaio no meu ombro. — Jimin brincou fazendo o mais
velho rir.
— Eu acho que você tem lido muito romance.
Logo na dianteira, Jisung estava sentado na mureta com os pés para fora
do navio, com Jackson logo atrás com os braços ao redor de seu torso,
impedindo-o de cair.
— Hm...
— Se você quiser… — Capitão Jeon iniciou, mas Jimin o interrompeu.
— Eu já sei, você mata ele se eu quiser. Mas não quero, Jackson não fez
nada que me faça querer matá-lo. Só estou de olho mesmo.
— Tem certeza? Estamos em um ângulo em que eu posso acertar uma
adaga direto no olho esquerdo.
— Jungkook! — Jimin riu. — Não brinca com essas coisas.
— Quem disse que estou brincando? — O Ômega olhou para trás e
Jungkook piscou para ele, sorrindo.
O navio inteiro rangeu e o timão travou momentaneamente. Os ventos
estavam ficando mais fortes assim como a água que puxava a embarcação
na direção contrária em que o leme estava virado.
— Uma tempestade se aproxima. — o Capitão afirmou olhando para o
céu no horizonte.
— Mas o tempo está lindo.
— Confie em mim, sei o que estou dizendo. Melhor você ir para a cabine
e ficar por lá até que seja seguro.
— Nós já conversamos sobre isso. — Jimin comprimiu os lábios.
Jungkook suspirou pacientemente e o virou para si com uma das mãos,
sem largar uma das malaguetas.
— Eu sei, meu bem. Mas nesse caso não pode. Você não tem experiência
em manusear as peças da embarcação. Você não tem força para segurar e
manter um cabo, ele puxaria você para o alto e o lançaria para longe. A
tripulação não vai ter cuidado com um Ômega zanzando pelo meio deles e
alguém sempre vai esbarrar em você. Não quero ser rude, mas nesse caso só
vai atrapalhar, meu coração. Estou pedindo por favor, fique na cabine com
seu irmão.
— Está bem. Mas e o Sungjae?
— Acho que ele já perdeu seu trauma de estar no porão.
— Mas o porão está repleto de cargas. Com o movimento da embarcação
alguma delas pode cair por cima dele e machucá-lo.
— Quer levá-lo para a cabine também?
— Sim. Ele não parece ser o mesmo de antes. Está mudando, só não quer
aceitar. — Jimin sorriu balançando a cabeça. — Ele é orgulhoso. Mas eu até
entendo, deve ter sido a forma que conseguiu se manter seguro por todos
esses anos.
— Você precisa tomar cuidado com sua bondade.
— Não é o mal que governa o mundo, Jungkook. É cada ato de bondade
e empatia. As pessoas erram, eu erro, você erra. E está tudo bem. Perdoar
não é burrice, é uma virtude. Aprendi com o tempo que é muita prepotência
da nossa parte querer condenar uma pessoa para sempre. Não somos
perfeitos e muito menos deuses.
— Eu sei, meu coração. Mas nem todo mundo vai ter dó e piedade de
você.
— Você tem razão, mas a minha parte eu faço. Não tenho conta com a
consciência dos outros.
— As vezes eu fico em dúvida se você é um anjinho ou um diabinho.
— Posso ser as duas coisas — Jimin piscou para ele — tudo depende da
ocasião.
O navio deu uma forte sacudida e o Ômega foi prensado contra o leme
quando o corpo de Jungkook foi empurrado contra o dele.
— Péssima hora para ficar excitado. — Jimin sorriu enquanto era
beijado. O beijo foi separado por outra estremecida da embarcação. —
Maldição! Melhor você ir.
— Toma cuidado, por favor. — Jimin deixou mais alguns selinhos em
seus lábios e logo depois desceu, entrando na cabine com os outros
Ômegas.
— Eu estou com medo, Jimin. — O irmão mais novo revelou.
O Ômega lúpus segurou na mão dele e o levou até a cama. Sungjae
puxou uma cadeira e a ocupou próximo a mesa.
— Não se preocupe, Jungkook e os outros têm muita experiência com
tempestades.
— Mas não com uma tempestade em pleno Mar Tenebroso. — Sungjae
deixou escapar em voz alta e recebeu um olhar severo de Jimin. — O quê?
Estou sendo realista.
— Não dê ouvidos a esse bobão. Tudo vai ficar bem. — Jimin disse,
tentando convencer também a si mesmo.
— É claro que vai, sou muito jovem para morrer.
— Sungjae, você não está ajudando.
— Tá, vou calar a boca. — O Ômega mais velho passou os dedos sobre
os lábios como se estivesse fechando um zíper.
Jimin sorriu balançando a cabeça e eles cuidaram de ficar longe das
estantes e seguraram firme em partes sólidas, para não serem lançados
contra o chão ou paredes, quando a embarcação começou a movimentar-se
com pouco controle.

— Prenderam bem os botes? — Namjoon questionou ao passo que


ajudava Billy e Jared baixarem as velas.
— Sim, eu mesmo fiz isso. — Scott respondeu logo ao lado.
Nuvens pesadas se aproximaram muito rapidamente, trazendo consigo
uma forte ventania que fazia as ondas crescerem metros acima do normal e
chocar-se contra a embarcação.
A neblina formada pela precipitação dificultava a visão dos bucaneiros
devido ao vapor da água existente na atmosfera. A luz que provinha do sol
também foi interrompida e os impedia de enxergar as fortes ondas que se
formavam, chegando facilmente aos seus quinze metros.
Em uma delas, o Black Swan pendeu a estibordo e quase virou, lançando
todos os seus tripulantes para o lado direito. Billy quase caiu, mas Scott foi
mais rápido e o segurou pelo tornozelo, puxando-o novamente para dentro
do navio.
Novas ondas atingiram o convés, varrendo tudo o que estava nele para
fora do navio, exceto pelos objetos presos e os piratas que se agarraram aos
cabos. Um mastro foi partido e quase caiu em cima de um Alfa. No porão,
as cargas só não foram lançadas e destruídas porque os Betas que foram se
abrigar no compartimento, amarraram-nas juntas o máximo que
conseguiram. Com a força das ondas, o navio praticamente saltava sobre
elas e também, era encoberto pelas mesmas.
— Por que ainda não baixaram a âncora?! — Jungkook rosnou furioso,
vendo o aparelho ainda preso.
Sven ouviu seu Capitão e correu para soltar a peça de ferro e dar mais
estabilidade ao navio. Mesmo com as velas baixas e a ancoragem, as ondas
e ventos continuaram balançando o Black Swan com força absurda, quase
ao ponto de virá-lo.
— Chaerin, vire a proa na direção das ondas!
— Sim, Capitão. — A Alfa girou o leme e fez como ordenado.
Assim que a frente do Black Swan foi posicionada contra as ondas, as
guinadas tornaram-se menos violentas. Um raio atingiu a cesta do mastro
mas o fogo não se alastrou, sendo apagado pelas próprias ondas que
conseguiam atingir o convés.
— Há um turbilhão pela popa a bombordo. — Namjoon garantiu.
— Içar velas! — O Capitão ordenou.
O vórtice puxava a embarcação para o centro do redemoinho, que mais
parecia com a boca de uma enorme criatura sombria e faminta, cheia de
dentes, pronta para abocanhar o Black Swan.
Com a mínima estabilidade do navio, a potência do vento os empurrou na
direção contrária. Quando ergueram a âncora ganharam o dobro de
velocidade e para a sorte dos tripulantes, uma breve faixa de terra pode ser
vista além da neblina escura.
— Há uma ilha mais a frente, Capitão. — Jared informou, observando
com uma luneta. — Devemos ancorar nela ou seguir adiante?
— Ancorar é óbvio. Precisamos consertar as avarias.

Mastros quebrados, velas rasgadas, cabos partidos e vigas destruídas,
essa era a visão que o Black Swan tinha por fora. No porão, o estrago só
não foi maior porque os Betas foram rápidos em amarrar as cargas e objetos
pesados.
Dentro da cabine, assim como nas cobertas inferiores onde dormia a
tripulação, tudo estava revirado. Apesar dos estragos e dos feridos, não
houve nenhum morto. Eles desceram os botes e foram cautelosos em
direção a ilha, temendo encontrar mais nativos canibais.
— Hoseok, Namjoon, Billy e Jared — chamou o Capitão. — Sondem o
perímetro.
— Eu também vou — Taehyung se ofereceu — Quero cartografar esse
lugar.
— Ótimo, vamos voltar a comer a merda que o Jared chama de comida.
— Disse Sven, ao constatar que Junbuu estava com um braço quebrado.
— Porra!
— Que inferno.
— Parem de reclamar seus imundos. — Rosnou Junbuu. — Quem está
sentindo dor aqui sou eu! Argh! Seokjin seu maldito, vai arrancar o meu
braço! AAAAAHH!
— Desculpe, é o máximo que posso fazer. Precisa imobili-... — Médico
tentou explicar.
— AAAHH!! — O cozinheiro gritou mais uma vez, interrompendo o
médico. — DESGRAÇA!
— Não mexa, preciso colocar seu braço no lugar certo. Ou ficará
aleijado.
— Coloque o seu traseiro no lugar! — O velho rugiu. — Deixe como
está! Isso dói como o inferno.
O médico revirou os olhos.
— Jungkook, segura esse velho teimoso.
— Eu ajudo. — Jackson se prontificou.
Ambos eram Alfas lúpus e agarraram os outros membros de Junbuu
deixando-o imóvel, para que Seokjin fizesse seu trabalho corretamente. O
velho gritou mas logo a tortura havia acabado e seu braço estava enfaixado
com uma tala.
— Jimin, me ajuda a procurar uma concha bem bonita. — Jisung pediu
ao descer de um dos botes. — Quero um colar bonito igual o seu.
— Yoongi — o Capitão chamou. — Acompanhe-os.
O espadachim assentiu e seguiu os Ômegas através da margem.
— Capitão — Sungjae se aproximou dele, hesitante —, eu vou ser
deixado nessa ilha?
Jungkook o estudou, tentado a fazer isso. Mas lembrou-se do que Jimin
havia lhe dito há um tempo e pensou melhor.
— Não. — Jeon respondeu. — Ajude Seokjin com o que ele mandar.
O Ômega respirou profundamente aliviado e correu para ajudar o
médico.
Os cinco que adentraram pela floresta da ilha para verificar se tinham
companhia, decidiram se separar, a fim de cobrir uma área maior em pouco
tempo. Uma pequena cordilheira se concentrava no centro da região,
enquanto uma vegetação alta se espalhava ao redor da ilha.
— Vem aqui. — Taehyung sentiu seu braço ser puxado e quando deu por
si, Hoseok estava abraçando-o inclinando o rosto para beijá-lo.
— Alguém pode ver. — O Beta sorriu, deixando-se levar.
— E daí? Deixe todos saberem que você é só meu.
— Mas... calma... ahn... — Como era difícil lutar contra algo que se
gosta. — Olha essa mão boba!
— Aqui? — Hoseok sorriu, descendo a mão pela virilha do navegador.
Taehyung olhou na direção da praia e não viu ninguém. Nas outras
também não havia sinal de que alguém estava por perto. Então ele se deixou
levar e continuou beijando o atirador.
Mas acontece que o breve passeio de Jimin e seu irmão pela praia rendeu
para eles lindas conchinhas rapidamente. Eles se sentaram próximos a
Seokjin e Sungjae, que faziam os curativos nos feridos.
Sem mais ninguém para escoltar ou outra coisa para fazer, Yoongi se
embrenhou na mata atrás de encontrar algum possível inimigo. Em dado
lugar, ele notou que os piratas haviam se separado, contudo, dois em
particular foram juntos em uma só direção. E ele os seguiu. Após alguns
metros de caminhada solitária, Yoongi ouviu o som de duas pessoas que
pareciam estar se divertindo. Avançando um pouco mais, ele se surpreendeu
ao ver seu Beta agarrado a Hoseok.
Hoseok puxou sua pistola e apontou na direção do espadachim, quando
este desembainhou sua katana.
— O que foi? — Taehyung perguntou inocentemente, e quando olhou
para trás quase teve uma parada cardíaca. — Ai, ferrou.
Continua...
Atualização do mapa:
Marinha Real - X azul.
Black Swan - X branco.
[43] Terra à Vista

Reescrito

- Céus! - Taehyung agarrou o braço de Hoseok e o fez abaixar a pistola,


apontando para o chão. Ele olhou para Yoongi, mas o espadachim fitava o
outro Alfa como se ele fosse uma presa a ser abatida. - Guarda essa katana,
por favor.
- É, e sai daqui pois está atrapalhando. - Hoseok rugiu.
- Eu vou te matar bem lentamente - Yoongi tentou atacar Hoseok mas o
Beta permaneceu entre os dois. - Sai da frente, Taehyung!
- Por que vocês querem se matar se foi eu que de certo modo enganei os
dois? - Os Alfas piscaram confusos e, ao mesmo tempo, moveram o olhar
para Taehyung. - Oh, bem... não foi minha atenção. Não foi bem assim...
- Como assim enganou os dois? - Hoseok indagou confuso.
- Você ainda não entendeu, seu idiota? - O espadachim guardou a lâmina.
- Ele respondeu o mesmo para nós dois. Não conseguiu se decidir.
- Mas que filho da mãe.
- Escutem, os dois. - Taehyung pediu - Eu não quis enganar ninguém,
mas acontece que vocês me deixaram em uma situação difícil.
- Difícil o quê? É só escolher. - Yoongi concluiu e o outro Alfa
concordou.
- Como eu posso escolher entre duas pessoas que eu amo? - Os Alfas se
entreolharam sem saber o que responder. - Hoseok, o que você sente por
mim é recíproco, pode ter certeza disso... Yoongi, você me deu seu coração,
então também quero lhe entregar o meu. Posso ser inteiramente dos dois,
mas não consigo escolher, isso não é possível para mim.
- Então está querendo que a gente divida você? - Hoseok perguntou.
- Sim... não, não. O que eu sugiro é uma espécie de...
- Nem termine. - Yoongi cruzou os braços. - Somos Alfas.
- Quê que tem? - Para a surpresa de ambos, foi Hoseok que perguntou. -
Eu já me envolvi com Alfas. Você não?
- Não. - Yoongi respondeu como se a ideia fosse um grande absurdo.
Hoseok sorriu, se aproximando do outro Alfa que mantinha suas feições
fechadas.
- Para tudo há uma primeira vez.
Taehyung se aproximou pelo outro lado, colocou uma mão nas costas
dele e a outra apoiou em seu ombro. Ele se aproximou da orelha e
perguntou baixo:
- Você já fez com dois ao mesmo tempo?
Yoongi estudou o outro Alfa de baixo a cima e sorriu de canto. Ele virou
o rosto para olhar o Beta e assentiu. Taehyung ficou de frente para ele e o
beijou no pescoço. Hoseok que vinha logo se adiantando, ficou atrás do
Beta e por cima do ombro dele, beijou os lábios do espadachim. Suas mãos
desceram pelos quadris de Taehyung, e este moveu-se, sentindo o membro
dos dois Alfas, um na frente e o outro atrás.
- O Black Swan possui rupturas. - Yoongi avisou - P-precisam de... - sua
voz falhou quando sentiu as mãos grandes do outro Alfa adentrarem suas
calças.
- Estamos explorando... - Taehyung argumentou.
Mesmo que relutante no início, Yoongi se deixou levar pelas mãos dos
outros dois. Pensando menos e sentindo mais. Sem se importarem de estar a
céu aberto, os três descobriram emoções novas, principalmente o
espadachim.
À medida que o sol desaparecia através das colinas, eles voltaram para a
margem. Taehyung viu o olhar preocupado de Jimin, mas logo fez sinal
para ele, indicando que estava tudo bem.
"Tudo se encaixou perfeitamente bem" - O Beta pensou, sorrindo ao ver
Hoseok e Yoongi se juntarem aos demais, rindo das provocações dos piratas
destinadas a Billy.
- Eu acho que este é o fim, senhoras e senhores. - Billy afirmou, sentado
na areia com as pernas esticadas.
- Fim do quê? - Sven questionou.
- Da jornada. Não há mais nada para explorar.
- E o oceano além desse lugar?
- Quem sabe lá onde isso vai nos levar... sobrevivemos a um leviatã e
essa tempestade que quase destruiu o Black Swan. O que mais nos aguarda?
O que há do outro lado? O abismo profundo ou algo pior?
- O que poderia ser pior do que o abismo profundo, Billy?
- Uma terra cheia de Billys. - Jared respondeu em seu lugar.
- Porra - Billy resmungou -, ah, eu vou embora.
- Poxa, vamos sentir sua falta. - disse Scott.
- Sério mesmo?
- Sim. - Scott respondeu, e em menos de um segundo perguntou: - Posso
ficar com sua cama? Estou dividindo o meu com o Sungjae, mas é pequeno
demais para nós dois.
O queixo de Billy quase caiu no chão. Os piratas começaram a rir.
- Pois tire seu cavalinho da chuva, porque eu não vou a lugar algum, seu
maldito.
- Se as madames já terminaram com sua prosa, está na hora de voltarmos
para o navio. - Namjoon avisou. - E tomem cuidado com o mastro central,
ele não está cem por cento.
Como já estava anoitecendo, eles decidiram fazer os últimos reparos
apenas no dia seguinte. Não mudaria muita coisa, a velocidade da
embarcação iria diminuir, mas não o suficiente para fazê-los se desviar da
rota anteriormente traçada pelo navegador.

Longos dias se passaram e as palavras ditas por Billy começaram a


ganhar notoriedade na mente da tripulação. Nem um único vislumbre de
alguma ilha foi vista. Apenas o céu, água e um sol escaldante.
Para uma tripulação que passou pelas desventuras vividas desde que
partiram da costa asiática há meses, era apenas questão de tempo para que
eles chegassem na borda do mundo, e caíssem no abismo para o mundo dos
mortos.
Mas o tédio e a ansiedade eram tão imensos, que em certo momento, tudo
o que eles queriam era uma tempestade para animar os músculos, ou uma
criatura abissal para sacudir o esqueleto. Eram piratas, estavam
acostumados a viver no mar. Mas passaram tanto tempo navegando, e tão
pouco em terra desde que saíram das Índias, que poderiam enlouquecer.
- Eu acho que o Alma Negra morreu. - disse Jared, querendo levar a sua
opinião de que nada mais os aguardava.
- Pode ser. - Sven seguiu o mesmo raciocínio e acrescentou: - Escutem, o
único pedaço de terra que vimos foi há vários dias e não tinha nada lá. Por
que acham que daqui para frente ainda tem alguma coisa?
- Eu estou farto do pessimismo de vocês. - Seokjin bufou virando para o
navegador: - Fale pra eles, Tae, o que você acha?
Taehyung estava deitado olhando para o céu. Distraía-se observando o
formato das nuvens, e foi preciso Seokjin repetir sua pergunta para que ele
começasse a articular uma resposta.
- Eu acho que... - Taehyung iniciou com pouco interesse. Estava mais
preocupado em decifrar se a nuvem atual era um cão ou um gato, quando
algo pequeno cortou rapidamente seu campo de visão. - Um pássaro.
- Como disse?
- Eu vi um pássaro. - Sem demora, Taehyung se colocou de pé, puxou sua
luneta e subiu no ponto mais alto da embarcação.
- O que há com ele? - Dahyun perguntou.
Billy deu de ombros.
- Deve ter ficado louco.
Mas o navegador estava na verdade procurando de onde aquele pássaro
teria vindo. Se ele estava voando por ali, significava que havia outro local
de pouso no qual ele se originou.
Taehyung continuou procurando, enquanto alguns bucaneiros
lamentavam ainda mais o fato de que agora o navegador estava louco, e eles
ficarem perdidos à deriva até morrerem de fome e sede.
Mas é claro, também tinham os que acreditavam que aquelas rotas
estavam corretas, e que Taehyung sabia muito bem o que estava fazendo. E
o fato de confiarem em seu navegador, os levaram a crer que sempre
estiveram com a razão quando Taehyung gritou em alto e bom som:
- Terra à vista!
Todos olharam em sua direção. Seus olhos não estavam equivocados,
havia uma grande extensão de terra a bombordo. Billy foi o primeiro a
gritar e murchou logo quando recebeu olhares dos demais piratas.
- Eu estava errado, eu admito. - Billy disse, dando de ombros.
Chaerin esperou por uma ordem de seu Capitão e ele acenou para que ela
continuasse. Para surpresa da tripulação já havia uma pequena cidade ali,
onde eles pensavam existir um grande abismo, ou apenas terras inabitadas.
Comerciantes locais logo se aproximaram dos recém chegados,
oferecendo seus produtos.
- Oh, vocês são orientais? - Um Alfa perguntou, outros ouviram e logo
um aglomerado de gente se formou ao redor deles.
- Que lugar é esse?
- Ah, aqui é o Brasil.
- Brasil? - O Capitão olhou para seu navegador e ele negou com a cabeça,
indicando que nunca tinha ouvido falar daquele reino. - Quem é seu líder?
- Agora o senhor me pegou - disse o Alfa, coçando a cabeça -, atualmente
nós pertencemos ao Reino de Portugal, mas eu mesmo nunca vi o rosto do
rei.
- Eles são fracos. - informou Billy. - Capitão, eles nunca tiveram sucesso
pelo Mar Mediterrâneo, e se aventuram tentando chegar nas Índias pela rota
do Mar Tenebroso.
- Vocês já estiveram nas Índias? - o Alfa curioso continuou com suas
perguntas - Como é lá? Trouxeram especiarias?
- Hum, imbecis. - Namjoon articulou.
- Oh, não senhor. Somos muito espertos. Esse lugar não é apenas uma
ilha, ele é enorme e repleto de riquezas.
- Cale a boca seu paspalho! - Um Beta se aproximou acertando o Alfa
com uma panelada na cabeça. - Quer que o povo da China venha tomar o
que é de Portugal?!!
- Não somos chineses. - Namjoon explicou sem paciência.
- Seu puxa saco do rei! - o Alfa ignorou a informação dada por Namjoon
e continuou sua discussão com o Beta.
- Venham - uma Ômega chamou os piratas -, se querem se hospedar no
melhor lugar da região. Venham antes que os nativos vejam vocês.
"Nativos?" - Os piratas se perguntaram mentalmente se eram os mesmos
da Ilha dos Kangaroo.
Sem pressa para descobrir, eles seguiram a mulher até o centro da cidade,
onde se espalharam por estalagens e se acomodaram como podiam.

Continua...

Atualização do Mapa:
Marinha Real - X azul
Black Swan - X preto
Estrela da Morte - X vermelho
(Navio do Alma Negra)
[44] Colônia

Reescrito

Após se instalarem nas diversas tabernas da cidade, sem que as pessoas


temessem ou soubessem de sua terrível reputação, os piratas vagaram
livremente usufruindo do livre comércio.
A única moeda que transitava no local era a de bronze, e os mercadores
saíam de suas mesas e quitandas atrás dos novos clientes, a fim de obter a
espécie de maior valor, suas moedas de prata.
Claro que com a agitação crescendo entre os povos de Portugal e Brasil,
o governante da região se interessou em descobrir quem havia chegado em
seu domínio.
Alguns dos piratas estavam pelo porto voltando do Black Swan, quando
uma frota de navios acabara de chegar ancorando na baía. De dentro dele,
dezenas de Alfas, Betas e Ômegas começaram a descer uma rampa que
dava acesso à cidade.
Eram machos e fêmeas, todos estavam com uma triste aparência
debilitada, famintos e acorrentados. Mesmo assim, alguns Alfas que os
guiavam estavam munidos de chicotes e sempre usavam de violência,
quando um deles atrasava os demais.
— Maldito! — Jimin rosnou com uma mão no cabo de sua pistola. Ele
sentiu a mão de Jungkook segurar seu pulso, impedindo-o de atirar contra o
Alfa que agitava o chicote. — Deixe-me, eu vou matar esse embuste.
— Não, você vai ficar na sua. — O Capitão disse. — Estamos aqui para
procurar os fragmentos.
— Mas-...
— Não me contrarie! — Jimin franziu o cenho incomodado com o tom
do Alfa, mas ignorou quando alguns oficiais se aproximaram.
— Caros viajantes, o regente José da Silva solicita a vossa presença na
repartição do governo.
— Recuso. — Jungkook disse simples e tentou seguir seu caminho, mas
alguns cavaleiros os cercaram puxando suas espadas.
— Eu insisto. — O Alfa disse com um sorriso arrogante.
Jeon respirou fundo, se controlando para não fazer o mesmo que Jimin
queria há alguns minutos.
— Não quero ir. — Jimin informou ao Capitão. — Quero conhecer mais
o local com o Tae e o Jisung.
— Tudo bem. Mas Yoongi e Hoseok vão com vocês.
— Meu bem, nós navegamos durante tantos meses que eu diria que
devemos estar do outro lado do mundo.
— Mesmo assim.
— Mas não tem Marinha da Coréia aqui, aliás, ninguém me conhece
aqui.
— Esqueceu o que aconteceu quando você se aventurou sozinho por
Folsom?
— Aquilo foi diferente, eu fui idiota. Agora estou bem mais experiente.
Não estarei sozinho, Tae e Jisung irão comigo.
— Seu Ômega está seguro. — disse o oficial local. — Os bárbaros
seguiram para outra de nossas terras. E os selvagens não costumam
aparecer na cidade.
— Bárbaros e selvagens?
— Sim. Os bárbaros são bandidos na verdade. Seu líder é chamado de
Alma Negra, e ele é um Alfa que… bom, vou deixar que nosso governador
lhe explique melhor. Quanto aos selvagens, são povos totalmente gentios e
primitivos. Nós os chamamos assim, porque eles se negam a conviver com
a civilização. Preferem morar na floresta.
— Viu? Estou seguro, você que precisa deles. — Jimin falou, olhando de
soslaio para os oficiais.
Jungkook hesitou, mas visto que não tinha nenhum motivo para mandar
sua tripulação escoltá-lo, ele resolveu ceder.
— Tudo bem, mas não demore. E não se meta em confusão — seu aviso
era referente às pessoas que estavam acorrentadas.
— Quando fala em confusão você quer dizer…?
— Qualquer coisa que me dê dor de cabeça. — Jimin sorriu ansioso mas
o Capitão compreendeu aquele olhar e logo acrescentou: — No sentido
genérico.
— Não quer escrever uma lista, meu dono, do que posso ou não fazer?
Os oficiais ficaram surpresos, achando muito interessante a pequena
discussão entre o Alfa e o Ômega. Jungkook suspirou profundamente.
— Vá. Depois a gente conversa.
Jimin deu as costas para ele, com Taehyung e Jisung o seguindo. Quando
teve a certeza de que o Capitão Jeon não poderia mais ouvir e muito menos
vê-los, o Beta preveniu:
— Jimin, não abusa…
— Eu não preciso de escolta, você sabe. Posso me defender, sei usar
muito bem isso aqui. — Jimin articulou, apontando para suas armas. — Ele
fica me tratando feito criança, “não faça nada que me dê dor de cabeça” —
ele imitou a voz do Capitão fazendo os outros dois rirem. — Parece até que
não confia em mim.
— Ele confia. Só está preocupado.
— Não precisa, aqui sou apenas mais um no meio da multidão.
Governador Park Shinsung? Ninguém ouviu falar. Além do mais, você e
Jisung estão comigo.
Taehyung deu de ombros e eles seguiram seu curso pelo mercado. Era
grande a diferença entre Brasil e as Índias, ao menos nos produtos
oferecidos. Enquanto nas Índias tudo era muito brilhante e colorido, no
Brasil eram as peças mais sofisticadas com toque clássico.
O passeio estava divertido e agradável, até a situação em que os Alfas,
Ômegas e Betas acorrentados trazidos pelos navios, foram levados pelas
ruas. Todos com as cabeças baixas.
— Que cena triste. — Jisung lamentou.
Mas o Ômega lúpus estava olhando em outra direção. Ele fitava o Alfa
perverso que carregava o chicote. Ele ria despreocupado conversando com
outros na sombra, enquanto a pequena multidão de pessoas jazia no sol
tórrido.
— Isso é horrível. — Taehyung concordou com o mais novo. — A cena
mais miserável que já vi. E olhe que sou um pirata.
— Olhe aquele Ômega. — Jisung apontou para um dos machos menores,
ele estava quase desmaiando com uma tosse terrivelmente seca.
Jisung olhou ao seu redor e estando próximo a um poço, pegou uma cuia
e recolheu um pouco de água, correndo até ele. O Ômega se assustou mas
ao ver o líquido se aproximar de seu rosto, instintivamente abriu a boca e o
tomou como se nunca tivesse bebido antes.
— Obrigado. — o rapaz Ômega agradeceu.
— Qual seu nome?
— Kunta e o seu?
— Jisung. Por que estão assim?
— Somos escravos. Eles nos trouxeram de nossas casas para trabalhar
em minas de ouro e plantações.
— Mas vocês são tantos. Como eles conseguiram trazê-los de sua casa?
— Onde eu morava as tribos rivais se enfrentam, e quem se sai vitorioso
vende os derrotados. Minha tribo perdeu e eu e meus irmãos fomos
vendidos.
— Que absurdo!
— De qualquer jeito, se isso não tivesse acontecido eu seria pego pelos
Alfas estrangeiros que sequestram pessoas em meu reino para escravizá-las.
Há muitas formas de se obter um escravo, Jisung.
— Você nasceu livre…
— Mas não sou mais.
— Ei! — O capataz gritou. — O que pensa que está fazendo?!
O escravo Kunta sentiu todo o corpo tremer e encolheu-se com medo de
alguma agressão. Ao ver o Alfa se aproximar agressivamente, Jimin se
colocou diante dos outros Ômegas.
— Veja como fala com meu irmão, seu bastardo. — o Alfa observou
Jimin, vendo sua mão descansando no cabo da pistola.
— Ele estava importunando a minha mercadoria.
— Mercadoria? São pessoas!
— Ômegas… — O capataz revirou os olhos rindo em escárnio. —
Jamais entenderão de negócios.
— Eu não estava importunando ninguém! — Jisung explicou. — Eles
estão com muita sede. Eu só estou dando-lhes de beber.
— Ah, os animais estão com sede? Posso mijar na boca de cada um se
você quiser.
Jimin tentou novamente puxar sua arma, mas dessa vez foi impedido pelo
Beta. Taehyung segurou em seu pulso e o levou para longe. Jisung os
seguiu.
— Lembra do que o Capitão disse?
— E daí? Ele não se importa com essas pessoas, mas eu sim.
— Mas ele é o Capitão.
— Jungkook não manda em mim.
— Eu acho que Jimin tem razão. — Jisung opinou.
— Claro que tem. Quer dizer… ele tem razão em querer ajudar essas
pessoas, mas existem melhores jeitos de ajudar. Libertando-os, por
exemplo. Matar um capataz não vai mudar a situação deles. — Os olhos dos
Ômegas brilharam — Oh, não. Você não está pensando em…
— Libertá-los? — Jimin continuou e o Beta assentiu. — Nós vamos fazer
isso, e você vai me ajudar.
— Eu também vou! — Jisung disse animado.
Taehyung lamentou ter uma boca grande demais, mas ao mesmo tempo
sentiu orgulho do Ômega e do seu irmão, por querer ajudar aquelas pessoas.
O mínimo que ele poderia fazer era prestar seu apoio. Mesmo que corresse
o risco de levar uma reprimenda do Capitão.
Um pouco mais adiante, enquanto discutiam planos de libertar os cativos,
eles passaram por uma Beta que gritava alto oferecendo seus produtos. A
mulher vendia frutas de cor bem preta e pequeninas. Apenas o milésimo de
segundo que Jisung olhou em sua direção, a Beta se aproveitou e logo
chamou por ele.
— Ei, menino, vem aqui. Venha provar da suculenta e docinha
jabuticaba. Eu aposto que você nunca experimentou nada igual.
— Jabuticaba? — Jisung se aproximou, curioso.
— Sim, sim. Prove, é uma fruta. — ela pegou uma e o entregou.
Como a mulher havia dito, a fruta era realmente saborosa e logo o
Ômega se voltou para o irmão:
— Jimin, isso é uma delícia!
— Quanto custa? — o mais velho perguntou à mulher.
— Cinco moedas de prata.
— Mas que absurdo. — Eles ouviram uma cliente que estava por perto
dizer.— A senhora acabou de me vender um saco por uma moeda de
bronze.
— Cale a boca — a Beta sussurrou —, eles são estrangeiros, não estraga
meu negócio.
— Tenha vergonha, minha senhora. Faça um preço justo para todos.
— Mas é justo, eles são ricos. Veja as roupas deles. E o menino adorou a
jabuticaba.
— Que inclusive, pode encontrar nessa floresta facilmente.
— Eu quero colhê-las, Jimin. — Jisung pediu entusiasmado e marchou
em direção a mata.
— E-ei, esperem. Não vão comprar nada ? — A comerciante ainda
tentou insistir, mas os três já haviam sumido pelas ruas. — Olha o que você
fez, olha o que você fez! Espantou os meus clientes.
— Corrupta!
— Tsc… tomara que um selvagem espete o seu traseiro com uma lança!
A mulher rolou os olhos e deu as costas para a vendedora, que
rapidamente voltou a anunciar sua mercadoria:
— JABUTICABA É 1 MOEDA!
Continua...
[45] O Sexto Fragmento

Reescrito

Diversas jabuticabeiras carregadas de frutos fizeram a alegria dos


Ômegas e do Beta. Além desta, descobriram uma incrível variedade de
outras árvores frutíferas, e seguiram provando de cada uma delas.
— E se algum desses frutos for na verdade um grande perigo?
— Eu acho que se fossem, não deixariam elas tão acessíveis. — Jimin
articulou, e eles continuaram com a exploração.
— Não devemos nos afastar muito da cidade, não conhecemos esse lugar.
— Taehyung aconselhou. — Podemos nos perder.
— Eu concordo. — afirmou Jimin. — Não se afaste muito, Jisung.
— Está bem. — Jisung concordou tentando alcançar algumas frutas mais
altas. — Tae, me ajuda aqui?
O Beta sorriu com a cena fofa e engraçada do Ômega na pontinha dos
pés, sem conseguir tocar na goiaba.
— Ela está muito madura — Taehyung advertiu. — deve estar cheia de
bichinhos dentro.
— Eu acho que não. — Jisung deu pouca importância ao que o mais
velho disse. Mas quando ele espremeu a fruta e a partiu em duas, pôde ver
várias larvas pequenas se mexendo — Eca!
Jimin, por sua vez, havia se distraído com uma colônia de formigas que
passava carregando alimento para dentro do formigueiro. Pelo cantos dos
olhos ele viu uma figura oculta passar entre as árvores, ergueu o rosto mas
só o que viu foi uma silhueta atrás de ramos baixos. Ele olhou para trás e
viu que Taehyung e Jisung mantinham-se ocupados com as goiabas, alheios
a quem ou o quê os espreitava.
A coisa se afastou e Jimin se levantou indo atrás. Se fosse um perigo para
seus amigos, seria ele mesmo a abater esse mal, sem interferir na diversão
deles. Ele mantinha os olhos fixos nos movimentos da figura desconhecida,
mas pôde jurar que ela desapareceu diante dos seus olhos.
O Ômega lúpus parou, procurando em todos os lados, mas ele havia
sumido feito fumaça. Estava curioso a respeito de sua identidade, mas era
um alívio de certa forma, vai que ele representasse uma ameaça real...
entrementes, no momento em que girou para voltar aos seus, viu um Alfa
alto e forte parado diante de si. Ele estava seminu e todo pintado de
vermelho e preto.
Jimin levou a mão às suas armas mas em um piscar de olhos, o Alfa
posicionou a ponta de uma lança no queixo dele. O Alfa balançou a cabeça
e indicou para que erguesse as mãos.
— Você não é daqui. — Alfa constatou, recolhendo as armas dele e as
guardando em uma espécie de bolsa lateral. — Quem é você e de onde
veio? — Jimin hesitou, o Alfa empurrou a ponta da lança contra o queixo
dele, fazendo-o inclinar a cabeça para trás — Responda.
— Meu nome é Jimin. Sou de muito longe.
— O quão longe?
— Uhm… Coréia? Eu não quero problemas. Só estava colhendo algumas
frutas, se me der licença… — ele deu um passo para trás, mas o nativo
avançou também um.
— Vou levar você até minha tribo.
— Por que?
— Ande. — o Alfa ignorou a pergunta e guardou a lança, indicando para
que ele seguisse na frente.
Sem escolha, Jimin apenas seguiu fazendo como indicado.
— Você é um... — Jimin lembrou do modo que o oficial se referia aos
nativos, e imaginou que aquilo era algo aceito por eles. —... um selvagem?
O Alfa ficou muito irritado. No mesmo instante ele rugiu alto e
respondeu:
— Sou aborígene desse lugar!
— Desculpa, não quis ofender...
O Alfa lançou um último olhar, estudando o Ômega dos pés à cabeça e
ignorou o assunto. Jimin ainda tentou descobrir a identidade daquele Alfa,
mas o sujeito não estava disposto a colaborar e continuou ignorando suas
tentativas.
Após alguns minutos de caminhada, eles chegaram em um espaço onde
tinham quatro construções de grandes dimensões, cada uma medindo no
máximo 30 metros de comprimento. A estrutura era feita de galhos de
taquara e troncos de árvores. Já o teto, com palha e folhas de palmeira.
Dentre elas, havia muitas pessoas circulando. Crianças, Alfas, Ômegas e
Betas. Machos e fêmeas. Não era necessário ser um gênio para saber que
aquilo se tratava do lar deles.
Uma fêmea com o mesmo porte do Alfa se aproximou, mas ao invés de
uma lança, ela possuía um arco. Seu olhar desconfiado passou por Jimin até
se concentrar no macho ao seu lado.
— Que está fazendo?
— Onde está Byue? — o nativo perguntou ignorando totalmente a
pergunta dela.
— Por que faz essas coisas? Primeiro ajuda aqueles escravos e agora
isso? — ela disse apontando para Jimin, visivelmente indignada. — Vai
arrumar problemas com os Alfas estrangeiros para nós.
— Faz o seu, Kauana. Chame quem realmente entende das coisas.
A Alfa rolou os olhos e saiu para fazer aquilo que o outro pediu.
— Vocês vão me matar antes de me cozinhar? — Jimin perguntou.
— Do que está falando? — O Alfa indagou decididamente perplexo.
— Não vão me comer?
O Alfa ficou ainda mais pasmo. Ele estudou o Ômega dos pés à cabeça.
— Não.
Jimin respirou aliviado.
— Bom... ah, é verdade que você ajuda os escravos? Porque eu vi muitos
sendo levados pela cidade de maneira completamente desumana e cruel,
você bem que poderia me ajudar a salvar eles.
O Alfa ainda o estudava com curiosidade, quando Kauana voltou, dessa
vez na companhia de Byue. O macho que estava com ela não parecia ser um
Alfa, nem um Ômega e muito menos um Beta. Ele era mais velho e possuía
marcas diferentes pelo corpo.
— Sou Byue. — Ele se apresentou. — O xamã da nossa tribo. Sou um
Gama.
Gamas são extremamente difíceis de se encontrar, são mais raros que os
próprios Ômegas lúpus. Trata-se de pessoas conectadas com o nosso mundo
e o espiritual.
Jimin não sabia o que dizer então ficou calado. O Gama continuou:
— Você é um Ômega lúpus. A mãe da minha mãe também era. Venha,
quero lhe mostrar uma coisa.
O mais velho puxou Jimin consigo para uma das moradias coletivas. A
Alfa tentou segui-los mas foi impedida.
Dentro da construção haviam apenas alguns móveis simples de madeira,
feitos à mão, e também uma espécie de santuário. O Gama deixou Jimin
sentado diante dele e agachou-se ao seu lado. Ele procurou entre algumas
coisas e puxou uma tábua. Nela, havia algo que para o choque do Ômega,
era um dos fragmentos do Imperium.
— Você consegue ver, não é? — Jimin confirmou com a cabeça. — Foi
um presente da Lua.
— De quem? — Jimin piscou confuso.
— Da Lua. — O Gama repetiu. — Apenas os tocados por ela podem
enxergar os segredos que tem escrito. Você é um deles e por isso estou te
mostrando o nosso presente especial, mas ninguém mais pode ver ou tocar.
— Oh, céus… — Jimin lamentou em voz alta. Aquele fragmento era um
objeto sagrado daquele povo, como eles iriam tomar posse? — Deve ser
muito protegido, então…
— Kauana protege para nós. É nossa melhor guerreira, ninguém passa
por ela.
“Só ladeira abaixo” — o Ômega pensou.
— Será que eu poderia ir agora ? — Jimim perguntou. — Meu amigo e
irmão devem estar preocupados. Assim como meu Alfa.
— Claro. Vou pedir para que Yahto o acompanhe.
O xamã instruiu o mesmo Alfa que trouxe Jimin, a levá-lo de volta. No
caminho, Yahto, como o Alfa era chamado, explicou ao Ômega como
exatamente conseguiu libertar alguns escravos, e também um pouco sobre a
história de seu povo.

O oficial deixou Jungkook e alguns membros da tripulação, que com ele


estavam, dentro de uma sala que não continha nada além de três caseiras e
uma mesa entre duas bandeiras. Quando voltou, trouxe consigo um Alfa
mais velho.
O Alfa caminhou com o queixo erguido e se sentou atrás da mesa.
Jungkook e Namjoon sentaram-se nas duas cadeiras de frente ao Alfa
enquanto os demais, piratas e militares, permaneceram em pé.
— Sei o que vocês são. Piratas. — José da Silva afirmou. — Há alguns
meses um Alfa intitulado Alma Negra apareceu por aqui. Um Alfa terrível e
carniceiro. Trouxe-nos muitos problemas. Mandei que estudassem o
comportamento de vocês e cheguei a conclusão de que não são como eles.
— E onde ele está?
— Recolhendo nossos lucros em outro lugar. Mas ele vai voltar…
— E então vocês precisam da nossa ajuda. — Namjoon supôs,
lembrando-se que Billy já havia informado sobre eles — Típico.
— Mandei uma carta para o meu Reino pedindo ao rei que envie tropas
ao Brasil, mas ainda não obtive resposta. Não sei se o navio naufragou e
minha mensagem não foi entregue, ou se eles apenas querem que eu me
foda sozinho por aqui.
— Tropas? — Billy riu, zombando — Vocês são fracos, eu sei. Não
tiveram sucesso pelo-…
A fala de Billy foi interrompida pela risada do governador, assim como
as dos seus Alfas.
— Portugal é a maior potência econômica mundial. Se não insistimos em
passar pelas rotas do Mediterrâneo, foi porque somos os únicos com
recursos suficientes para desbravar o Novo Mundo. Nós somos o progresso,
nossa força militar é incomparável. Você é um inglês ignorante.
Billy engoliu em seco e murchou no canto, sem abrir mais a boca.
— O que quer, afinal? — Jungkook indagou.
— Pensei em propor uma aliança momentânea, para quando aquele
calhorda voltar.
— O inimigo do meu inimigo é meu amigo. — Namjoon refletiu. — Mas
não precisamos de ajuda. Podemos lidar com uma tripulação de piratas.
— Não é apenas uma tripulação. Ele possui três navios e cerca de
trezentos Alfas. Vocês podem lidar com isso?
— Nós não-…
— Vamos pensar. — Jungkook interrompeu seu contramestre. — Quando
eu tiver uma resposta você saberá. Vamos.
Assim que eles foram embora e seguiram para o bar da hospedagem,
Namjoon questionou a atitude de seu Capitão:
— Está com medo do Alma Negra?
— Não. Mas você o subestima demais.
— Mas e o que faremos depois?
— O que sempre fazemos. — Jeon respondeu simples. Dahyun estava
conversando com a timoneira, quando eles chegaram na taberna. — Jimin já
chegou?
— Ainda não. — Chaerin respondeu.
O Capitão Jeon aquiesceu e subiu até o quarto que estava dividindo com
o Ômega.

Continua...
[46] Rut

Reescrito

O firmamento escureceu e Jimin não havia chegado. Jungkook mandou


que a tripulação o procurasse mas não tiveram sucesso. Ele estava em seu
quarto, andando de um lado para o outro transbordando mau humor. O
único que chegava para atualizá-lo das notícias, era seu irmão Seokjin.
Da última vez, levou uma caneca com chá de vitex, planta responsável
por conter o rut de um Alfa.
— Beba, eu mesmo preparei. — Seokjin exigiu.
— Não quero.
— Jungkook, eu sou o médico aqui e estou dizendo para beber. Não é
apenas por você, mas pela tripulação que não merece sofrer com a
instabilidade no seu humor.
Jeon aceitou a caneca fazendo cara feia, quando o Beta deu as costas
caminhando até a janela, ele jogou o líquido dentro de um vaso com planta.
— Por que eu tenho a leve impressão de que eu vou me irritar quando
Jimin chegar? — Jungkook indagou a ele mesmo.
— Não vai brigar com ele.
— Por que ele simplesmente não faz o que eu mando?! — Questionou
irritado. Seokjin ergueu uma sobrancelha, mas não disse nada. — Minha
vontade é de amarrá-lo nessa cama, para que não saia por aí arrumando
confusão.
— Jimin agora é livre, Jungkook. Ele não precisa obedecer o pai e muito
menos um noivo que nunca desejou. Ele não voltará a ser o que era antes
jamais, e não será você o novo ditador na vida dele. Você pode tentar, mas
ele nunca vai te obedecer. Ele não é um Ômega comum. Jimin é um lúpus e
só se prestará a submissão se ele quiser.
— Eu sei. Tenho muito orgulho disso. Acontece que, não sei se você
percebeu, ele tem o dom para se meter em confusão.
— Mas veja, essas confusões sempre nos deixam no caminho certo.
Temos cinco fragmentos, um objeto que pertenceu a Francis Bonny... eu
acho que muito em breve ele vai aparecer e teremos uma boa notícia. Eu
sinto isso.
— Espero que sim. — Jeon respondeu ligeiramente desacreditado.
— Vou deixar você aqui refletindo. — Seokjin pegou a caneca e saiu
satisfeito por pensar ter feito seu irmão tomar o chá.
Jungkook ainda ficou um tempo sentado em sua cama, lembrando de
todas as situações que passou para salvar seu pequeno Ômega. Também das
vezes que Jimin se arriscou para ajudá-lo. Ele se levantou caminhando até a
janela, pensando no quanto também era afortunado, por ter alguém como
Jimin ao seu lado.
Estava olhando o movimento das pessoas nas ruas, quando viu seu Jimin
de longe, sorrindo enquanto se aproximava da taberna. Para desgosto do
Capitão ele não estava sozinho.
Um Alfa alto e forte o acompanhava de perto, também sorrindo. Eles
estavam conversando alegremente, mas não foi isso que despertou uma
fúria incandescente no Capitão, mas o fato de esse Alfa estar seminu, e eles
estarem vindo da direção da floresta.
Jungkook quase derrubou a porta quando saiu do quarto e em poucos
segundos estava lá embaixo, do lado de fora. Yahto mal teve tempo de
entender de onde veio o ataque, ele apenas sentiu uma mão agarrar seu
pescoço e ser pressionado contra a parede que cercava a taberna.
— O que estava fazendo com meu Ômega? — Jeon questionou,
perigosamente furioso.
— Jungkook, solta ele! — Jimin tentou intervir, vendo que Yahto não
estava conseguindo falar com o aperto em sua garganta.
— Entre. — O Capitão rosnou. — Não discuta comigo e entre na
hospedaria!
Apenas para evitar que a situação se tornasse mais calamitosa, o Ômega
cedeu e entrou em busca de ajuda.
— Jimin, onde esteve ? — Jisung perguntou, aliviado em vê-lo bem.
— É uma longa história... Jin, preciso de ajuda. Jungkook vai matar um
Alfa lá fora, e ele não fez nada...
— Deve ser o rut, o chá ainda não fez efeito mas acredito que leve tempo
para o corpo absorver as propriedades. Em todo o caso, é melhor você não
dormir com ele hoje. Ele está muito violento.
— Não tenho medo dele. Tenho medo do que possa acontecer a ele.
Seokjin teria muitos argumentos contra, mas aquele não era o melhor
momento para uma discussão, visto que seu irmão estava prestes a tirar a
vida de um Alfa.
— Namjoon, vem comigo. — Seokjin pediu e o contramestre seguiu-o.
Quando eles chegaram do lado de fora, o nativo estava quase vermelho,
perdendo a consciência.
— Jungkook, solte-o, Jimin está bem. — Seokjin pediu, tentando fazer
seu irmão se acalmar.
Com muito custo, Namjoon e Seokjin conseguiram apartar os Alfas.
Yahto quase caiu no chão, amparando-se na parede para recuperar o ar.
— Quem é você? — o Beta perguntou.
— Me chamo Yahto. Encontrei o Ômega na floresta, não vi nenhuma
marca nele — explicou, olhando para Jungkook e em seguida para Seokjin
—, não fizemos nada com ele. Eu o acompanhei até aqui apenas para
mantê-lo em segurança.
— Ele não precisa disso. — o Capitão rosnou.
— Vá. Logo. — Seokjin indicou.
Sem pensar duas vezes, Yahto retornou para onde veio.
— Se ele aparecer por aqui novamente eu vou matá-lo. — Jungkook
ditou girando para voltar as estalagens.
— Céus... — Seokjin respirou aliviado por ter conseguido impedi-lo, e
constatou logo em seguida: — Ele não tomou a porcaria do chá.
Jimin acabara de sair do banho quando o Capitão entrou no quarto. Ele
podia ouvir o som da respiração lenta e profunda do Alfa, que estava parado
encostado no umbral.
Jungkook retirou sua camisa, enquanto observava todos os movimentos
dele. Jimin agora arrumava os lençóis da cama para deitar e dormir. Estava
vestindo apenas um robe rosa, que levantou quando ele se inclinou para
ajeitar os travesseiros, mostrando a parte de trás de suas coxas.
Um arrepio percorreu suas pernas quando as mãos do Alfa curvaram-se
em seus quadris, e ele sentiu um grande volume resvalar em suas nádegas.
Jimin fechou os olhos fazendo grande esforço para se desvencilhar dele, e
caminhou até a janela.
— Eu odeio quando você grita comigo daquele jeito. Entendo que seus
sentimentos estão bem mais aflorados neste período, mas mesmo assim...
— Jimin fez uma pausa esperando que o Alfa dissesse algo mas ele
permaneceu calado, então Jimin continuou: — juro que fiquei por um triz
de te acertar um soco. Mas eu-... — Parou de falar subitamente quando foi
interrompido pelo Alfa.
— Eu vou te agarrar, te jogar nessa cama e fodê-lo se não sair desse
quarto agora mesmo.
Jimin se engasgou com as palavras. O Alfa não estava mais apenas
próximo do período de rut... Jungkook havia acabado de entrar nele.
O Ômega virou para encará-lo, vendo que Jeon já estava com o botão da
calça aberto, o cinto estava no chão e seus olhos estavam completamente
avermelhados, deixando visível seu instinto lúpus. Ele estava parado, se
segurando para não fazer o prometido.
O aroma de Jungkook estava se espalhando pelo quarto, tão fortemente
que, embora o mais novo ainda estivesse longe de seu época mais fértil, que
acontecia a cada seis meses, o lobo Ômega sentiu-se estimulado pelos
feromônios do Alfa, fazendo com que Jimin entrasse instantaneamente em
seu heat, ou seja, seu período fértil foi antecipado.
Desse modo, Jimin sentiu as primeiras mudanças físicas, indicando que
seu corpo estava se adaptando para acompanhar o rut do Alfa, ficando mais
resistente e preparado para suportar a quantidade de dias em que ficaria
naquele estado. A secreção íntima e particular que cada Ômega possuía,
começou a ser produzida com mais intensidade, e Jimin sentiu um aumento
na umidade entre suas pernas.
A troca de feromônios entre Alfa e Ômega, fez com que a libido entre
ambos aumentasse de modo ardente, e Jimin sentiu uma imensa vontade de
ser tocado por ele. De ceder àquela sensação e sentir o membro do Alfa
dentro de si.
O heat de um Ômega consegue ser tão mais intenso quanto o rut de um
Alfa. Jimin não apenas estava pronto para recebê-lo, seu corpo necessitava
disso. A sua natureza Ômega chamava pelo Alfa, Jungkook podia sentir
através do intenso cheiro de jasmim.
Jimin sentia calor, seu corpo estava inflamando de dentro para fora, ele
caminhou até onde o Capitão Jeon estava conforme desatava o nó que
prendia o robe em sua cintura, deixou ele deslizar por seus ombros até cair
no chão, e parou diante do mais velho.
— O que está esperando? — Jimin questionou, com um ávido sussurro.
Arquejou quando o Alfa o agarrou pelos braços, para em seguida ser
lançado com cuidado para trás, onde caiu sentado na cama. Ele umedeceu
os lábios e permaneceu esperando enquanto Jungkook livrava-se do que
restou de suas roupas.
Jimin acompanhava atentamente cada movimento do Alfa, seus olhos
fixaram-se nos antebraços do pirata que estávamos com as veias saltadas,
quando este agarrou o tecido de suas calças com bastante ímpeto e rasgou
com um forte puxão. Os olhos de Jimin desceram até as coxas salientes do
Alfa, que ficaram evidentes assim que se livrou da roupa que as cobria.
Jimin puxou uma grande quantidade de oxigênio e mordeu o lábio
inferior com ansiedade, assim que o Alfa livrou-se de sua roupa íntima e,
agora, completamente despido, se aproximou do loiro até estar com a
virilha próxima do rosto dele.
Jungkook o segurou pelo queixo fazendo-o erguer a cabeça e admirou
sua beleza por um tempo. Com o rosto ligeiramente corado, Jimin o
encarava de volta, olhando diretamente nos olhos escuros do Alfa.
Jeon então contornou os lábios carnudos do Ômega com o polegar
pressionando levemente, até escorregar para dentro, e o loiro
automaticamente o chupou. Jungkook inspirou profundamente ao sentir a
língua quente e molhada do Ômega cobrindo o seu dedo enquanto o sugava,
e seu membro pulsou. Ele removeu o polegar e foi seguindo o contorno de
sua mandíbula com a mão até posicioná-la na nuca de Jimin.
— Abra a boca. — ditou e o Ômega prontamente o fez.
Jeon guiou seu membro até a boca do Ômega. Jimin chupou a glande e
passou a língua por ela, sentindo os dedos do Alfa percorrer entre seus fios,
para então segurá-los. Jungkook agarrou uma mecha deixando a cabeça do
Ômega parada e moveu seus quadris para frente um pouco mais, fazendo-o
tomar seu órgão aos poucos, até estar quase inteiramente dentro de sua
boca.
Os olhos de Jimin ficaram marejados quando ele sentiu o membro do
Alfa tocar o fundo de sua cavidade. Vagarosamente, Jungkook moveu-se
entrando e saindo da boca dele. Jimin posicionou as mãos nas nádegas do
Alfa e apertou, fechando os olhos e sentindo ondas de satisfação percorrer
seu corpo e descer pela virilha, apenas com a sensação de ter o membro do
Capitão Jeon invadindo sua boca.
Quando retirou seu genital completamente da boca de Jimin, Jungkook
fez o Ômega ser deitado com as costas no colchão, com os joelhos dobrados
e cada pé apoiado em um lado da cama, completamente exposto. Ele olhou
para baixo e viu o Alfa abri-lo ainda mais, aproximando o rosto de sua
intimidade. Podia sentir o calor da respiração de Jungkook batendo contra
sua umidade, e gemeu quando a ponta da língua do Alfa tocou sua pele
enrugada.
Jimin inspirou profundamente segurando nos lençóis com força. Ele
inclinou a cabeça para trás quando Jeon pressionou sua língua com mais
anseio, e mais de seu fluído doce foi expelido, à proporção que ficava mais
excitado.
Jungkook gostava daquele sabor, era muito agradável ao paladar de um
Alfa, e através dos feromônios do lobo Ômega ele podia sentir o quando
Jimin o desejava, e não apenas através disso, mas em como o loiro se
contorcia na cama a medida que tinha sua entrada estimulada pela língua
quente e úmida do Alfa.
Jeon ia desde sua fenda até o membro, e tomava a ereção do Ômega
inteiramente, chupando enquanto esfregava dois dedos entre a fenda
molhada do mais novo. Mesmo com os lábios selados, alguns gemidos
anasalados foram espancando da garganta de Jimin.
O Alfa estava rosnando baixo enquanto beijava cada parte do abdômen
de Jimin, e os olhos do Ômega o seguiu, até chegar em sua clavícula e
chupar sua pele branquinha, deixando marcas conforme subia pelo
pescoço.
As mãos de Jimin seguiram dos ombros largos do Alfa até a nuca, e ele
agarrou os cabelos escuros do Capitão Jeon, guiando-o até roçar o nariz
dele no seu, e suas respirações misturaram-se uma na outra, até juntarem
seu lábios novamente, cheios de cobiça e desejo.
Jungkook, que apoiava-se em um cotovelo, usou a outra mão para
deslizar por baixo da coxa do Ômega e erguer sua perna, deixando-a
apoiada em seu quadril. Ele moveu-se até seu órgão escorregar pela fenda
do Ômega, e este gemeu baixinho e impaciente, achando que o receberia
naquele momento.
Jimin ergueu a outra perna apoiando-a do mesmo modo que a outra
estava no quadril de Jungkook, e cruzou seus pés, deixando o Alfa preso
entre suas pernas. Quando Jeon moveu-se novamente, todo seu membro
entrou deslizando para dentro de sua entrada molhada. Jimin jogou a cabeça
para trás, à medida que seu canal se esticava para receber cada centímetro
do Alfa, até estar completamente preenchido. O órgão duro e espesso do
Alfa estava tão perfeitamente acomodado, que Jimin podia senti-lo tocando
cada nervo de seu canal.
Jimin deslizou uma das mãos, arranhando levemente as costas do Alfa,
enquanto este chupava e beliscava com os dentes a lateral de seu pescoço.
A entrada do Ômega contraiu quando Jungkook se retirou lentamente, para
então invadi-lo outra vez.
Jimin gemeu arqueando as costas, ele fechou os olhos pelo choque em
seu corpo, daquela sensação maravilhosa de ter o órgão do Alfa deslizando
pelos seus músculos internos. O corpo do Alfa movia-se sobre o de Jimin
mais rápido, enquanto o tomava com investidas fortes e firmes.
— Aahn... — Jimin arfou quando sentiu o membro do Alfa tocar em seu
ponto mais sensível.
O Ômega abriu os olhos novamente, tendo a visão do Alfa encarando-o
de volta, com seus olhos tão escuros quanto a noite. Seu rosto bonito estava
suado, e Jimin sentiu o cabelo úmido do Alfa quando ele inclinou o rosto
para frente e mordeu o lóbulo de sua orelha. Ele agarrou os braços de
Jungkook quando gozou fortemente, ouvindo os gemidos de prazer do mais
velho, quando este chegou ao seu ápice.
Após o intenso orgasmo, Jimin ainda respirava ofegante quando sentiu
Jeon agarrando os seus quadris para inverter sua posição, e virá-lo de
barriga para baixo. Com o seu heat antecipado pelos feromônios do Alfa,
seu lobo Ômega fazia com que seu corpo estivesse completamente
preparado para receber seu Alfa novamente, e em todos os momentos
durante o tempo em que ele estivesse em seu estágio mais fértil.
A cama rangia conforme Jeon investia fortemente contra a entrada do
loiro, e Jimin já não conseguia esconder o quão maravilhosamente bem
estava se sentindo, enquanto gemia ligeiramente alto, com seu corpo
implorando por mais.
Com o lobo do Alfa completamente insaciável, o corpo do Capitão Jeon
não dava sinais de fraqueza, mesmo após as próximas horas terem sido
exatamente exaustivas. Seu vigor parecia ser renovado a cada orgasmo que
tinham, e o Ômega podia sentir isso perfeitamente bem, quando Jungkook o
invadiu contra a parede.
Jimin moveu os braços em busca de um suporte fixo para se segurar, mas
suas mãos foram de encontro a um quadro que estava pendurado, e ele
acabou derrubando-o. Eles não deram importância à pintura quebrada,
tendo em vista que Jeon permaneceu o tomando em todos os cantos
possíveis, e nas mais diversas posições.
Seja na mesa, onde todos os objetos que nela estavam foram lançados
contra o chão, na escrivaninha, em que a mesma batia ferozmente contra a
parede conforme o Alfa lançava seus quadris contra os do Ômega, ou até
mesmo na tina do lavabo enquanto eles se banhavam.
Na manhã seguinte, quando despertou, Jimin se sentou na cama ainda
sonolento, cansado demais para refletir sobre qualquer coisa. Ele olhou ao
redor e viu que o quarto estava praticamente todo destruído. Desceu da
cama com cuidado para não acordar o Alfa que, até então, dormia
calmamente ao lado.
Assim que pisou no chão, tentou se manter firme com suas pernas
trêmulas, e seguiu até o lavabo sentindo uma certa tensão entre os quadris.
Jimin apoiou as mãos na bancada e encarou sua aparência esgotada no
reflexo do espelho sobre a pia. Passou os dedos entre os fios de seu cabelo
bagunçado, enquanto seus olhos desceram pelas marcas deixadas em seu
pescoço, clavícula e peito.
Jimin ouviu batidas na porta enquanto lavava o rosto, vestiu o robe rosa
largado no chão e correu até a mesma enquanto enxugava o rosto com uma
pequena toalha.
Assim que abriu a porta, Seokjin e Taehyung romperam em sua visão,
parados no corredor. O médico trouxe chá feito com algumas ervas capazes
de trazer alívio e minimizar qualquer desconforto que o Ômega estivesse
sentindo fisicamente. Enquanto o outro Beta segurava uma bandeja com um
saboroso e reforçado café da manhã.
— Estou morrendo de fome. — Jimin confessou baixinho.
— Trouxemos para você. — Taehyung entregou a bandeja ao Ômega.
— Obrigado.
— Isso aqui vai ajudá-lo a se sentir melhor. — Jimin equilibrou a bandeja
em um antebraço, para receber uma xícara de chá das mãos de Seokjin
O Ômega colocou a bandeja sobre a mesa e buscou a cadeira que estava
jogada do outro lado do quarto para se sentar. Depois de fazer seu desjejum,
ele se aproximou da janela com a xícara em mãos e observou a rua através
do tecido rendado da cortina, enquanto tomava de seu conteúdo, já tendo
em mente que precisava descansar para quando Jungkook acordasse, e eles
continuassem, até que o mesmo estivesse satisfeito.
Após sentir o seu corpo relaxar sob efeito do chá que Seokjin o entregou,
Jimin pode se deitar novamente ao lado do Capitão Jeon, e adormecer
profundamente.
Ainda que estivesse fora de si durante os dias de seu rut, o Alfa
sustentava a sua saúde física através da força de seu lobo interior, onde
naturalmente ele não necessitava consumir alimentos para conservar sua
energia.
No cair da noite, o Ômega acordou sentindo uma mão acariciar-lhe os
cabelos, e um braço forte se acomodar ao redor de sua cintura, puxando-o
para mais perto. Jimin sentiu a mão do Alfa descendo pelo seu abdômen e
chegando em seu genital. Sua boca se abriu em um gemido silencioso, à
medida que Jungkook o estimulava e o local entre as suas pernas contraiu-
se úmido.
Ao entregar-se inteiramente ao Alfa, Jimin sentiu-se completamente
inteiro. Era como se Jeon pudesse ler suas emoções, a cada toque. Cada
parte do seu corpo estava conectado ao dele. E mesmo que três dias de um
intenso ciclo sexual tenham se percorrido, ambos não sentiram o tempo
passar.
Jimin não se submeteu ao Alfa simplesmente porque ele estava em seu
rut e necessitava de um Ômega. Ele não se sentiu imposto pelo lobo do
Alfa, mas atraído tão profundamente, que poderia ficar ali, naquele quarto,
durante um período de tempo indeterminado. O cheiro de rosas estava
suave, mesclando-se ao de jasmim e espalhados pelo cômodo.
Abaixo do Alfa, o Ômega gemia baixinho conforme Jeon investia
lentamente, enviando sensações maravilhosas pelo seu corpo. Ele podia
sentir as presas do Alfa roçando levemente em sua pele, enquanto o mesmo
chupava a pele de sua clavícula.
Jimin mantinha seus olhos fechados, à medida que desfrutava de cada
centímetro dentro dele. Quando o orgasmo os atingiu, o órgão do Alfa se
dilatou de modo a ficar preso no interior do Ômega, e eles permaneceram
conectados fisicamente, por breves minutos.
Durante esse momento, as mãos de Jimin percorreram entre os fios de
cabelo do Alfa, e ele os apertou ligeiramente assim que uma dor rápida e
aguda o atingiu na curva de seu pescoço, quando duas presas penetraram
sua pele.
Jungkook o marcou como seu Ômega, e a partir daquele momento,
ambos sentiram suas emoções tão profundamente como se fossem apenas
um. Tudo o que um sentia, o outro podia vivenciar na mesma intensidade.
Estavam perpetuamente unidos, de corpo e alma.

Após os longos e cansativos dias que se passaram, Jimin despertou


naquela manhã ouvindo o ressonar calmo do Alfa, que dormia recuperado
ao seu lado. Seu rut finalmente havia chegado ao fim, e com isso, o
antecipado heat do Ômega também.
Jimin sorriu ao lembrar-se dos dias anteriores, cada momento ainda
estava tão nítido em sua memória, e no entanto, sentia-se sereno. Uma
incrível sensação de paz e felicidade atravessou seu coração, apenas com o
fato de estar ali, ao lado de Jungkook. Ele dormia tão sossegado, que Jimin
tentou não acordá-lo enquanto descia da cama.
Já no banheiro, o Ômega encarou-se no reflexo do espelho e sorriu. Além
do rastro deixado por Jungkook, agora havia uma marca em seu pescoço
que o ligava ao seu Alfa para sempre. Jimin tocou a marca ainda
ligeiramente dolorida e então suspirou, sem saber exatamente o que pensar,
mas sentia-se livre e ao mesmo tempo preso àquele sentimento.
Seu sorriso cresceu quando viu a imagem do Alfa refletida no espelho
logo atrás de si, com seu cabelo completamente bagunçado. Jungkook o
abraçou com um braço e tocou delicadamente em seu ombro, no lado em
que estava a marca. Ele a estudou por um tempo, compartilhando do mesmo
sentimento do Ômega.
— Está doendo muito? — Perguntou se referindo a mordida.
— Só um pouco. — Jimin respondeu. Ele suspirou ao receber um beijo
carinhoso na lateral do rosto. — Você não está com fome?
— Não muito. — O Ômega franziu o cenho um pouco confuso, afinal,
Jungkook havia ficado todos esses dias sem se alimentar. Ele explicou: —
Em um rut, nosso lobo assume total controle. Ele não sente fome, logo,
nesse período, eu também não.
Jimin assentiu, pensativo. Ambos aproveitaram que já estavam no lavabo
e banharam-se juntos, para logo em seguida descer até a taberna.
O Capitão precisava se inteirar sobre os últimos dias em que esteve
ausente, diante disso, ele saiu em busca do contramestre, enquanto Jimin
permaneceu no estabelecimento e ocupou sozinho uma das mesas.
Continua...
[47] Três Ômegas e Um Segredo

Reescrito

Enquanto fazia seu desjejum, o Ômega lembrou-se do fragmento que viu
na posse dos nativos. Pelo que ele conheceu de Yahto, eles eram um povo
bastante unido e guerreiro, que sofreram ao longo dos anos sendo
enganados por pessoas que só pensavam em enriquecer seus bolsos com
ouro e prata. Ele não queria que outra matança como a da Ilha dos
Kangaroo acontecesse.
Jimin entendia que é isso o que os piratas fazem. Matam e tomam o que é
dos outros. Mas os canibais pelo menos foram um perigo para a tripulação,
já os aborígenes do Brasil não demonstraram ser uma ameaça. Eles apenas
viviam em suas tribos sem fazer mal a ninguém. Nem perto da cidade eles
gostavam de chegar.
Mas é claro que Jimin não deixaria essa oportunidade passar, estamos
falando do sexto fragmento. Depois desse, só restaria mais um e pronto,
teriam o mapa completo e todas as informações necessárias, para finalmente
irem atrás do suposto tesouro.
— Será que se eu pedir por favor eles me darão? — Jimin suspirou,
pensando em voz alta.
— Darão o que? — Taehyung perguntou.
O navegador chegou de surpresa e acabou assustando o Ômega, que nem
notou sua presença de tão concentrado que estava em buscar uma solução
pacífica para a situação.
— Então... eu descobri algo que pode mudar a vida de muitas pessoas.
— Fale.
— Primeiro quero que me prometa que não vai contar a ninguém. Se o
Jungkook ficar sabendo é capaz de mandar a tripulação fazer uma coisa
terrível...
— Depende. Esse segredo, se o Capitão descobrir, a minha cabeça será
separada do meu corpo?
— Não. Você tem minha palavra.
— Então você também tem a minha. Pode contar.
— Eu descobri onde está o sexto fragmento... — Jimin contou sobre a
Tribo e tudo o que se passou por lá. Chocado, o Beta não disse nada a
princípio. — Entende a situação ?
— Claro. Mas você sabe que a gente vai ter que pegar essa parte, não é?
— Eu sei... me ajuda a pensar em alguma coisa?
— Ajudo sim, mas antes eu preciso ir com o Yoongi encontrar um bom
ferreiro. Alguns piratas precisam trocar suas armas.
— Está bem. Ah, quase ia me esquecendo, já que você vai fazer isso
aproveita e tenta descobrir para onde aqueles escravos foram levados?
— Lá vem...
— Por favor? Juro que não faremos nada perigoso. — Taehyung ergueu
uma sobrancelha, sem acreditar. Jimin corrigiu: — Nada muito perigoso...
— E para onde pretende levá-los?
— Um amigo meu vai cuidar disso.
— Por acaso esse seu “amigo” anda por aí com um mínimo pedaço de
tecido cobrindo as partes íntimas?
— Credo, Tae. Do jeito que você falou parece que ele é um dos
prostitutos da Ilha de Folsom... mas sim, é ele mesmo.
— O que é que eu estou fazendo da minha vida? — Taehyung questionou
retoricamente. — Vou ver o que consigo descobrir.
Jimin anuiu satisfeito e quando o Beta saiu, ele chamou seu irmão para
passearem pela cidade. Não tinha nada de tão interessante que eles já não
tenham visto, pelo menos na pequena área em que eles costumavam
circular. A pedido do Capitão, Jimin não se aventurou por tão longe.
Por hora...
O lúpus levou Jisung para uma feirinha e comprou da flor nenúfar,
responsável por conter o heat de um Ômega, para ajudar o seu irmão. Jimin
já não precisava do tal chá, visto que estava marcado por um Alfa.
Ainda no centro, eles encontraram Taehyung voltando sozinho e logo
foram ao seu encontro.
— Você não ia em busca de um ferreiro com o Yoongi?
— Sim, mas o Scott encontrou a gente e foi com ele. Ele quer uma
prótese com uma lâmina, para combates.
— Uau... nossa, se ele pisar no pé de alguém então...
— Acho que ele só vai usar em ocasiões de ataque.
— Quase me esqueci, você descobriu para onde os escravos foram
levados?
— Claro que você não ia esquecer… — Taehyung suspirou balançando a
cabeça. — Hm, sim. Alguns já foram vendidos e os que restaram aguardam
sua vez no mercado, caso eles não sejam comprados, eles retornam para
uma espécie de galpão ao anoitecer.
— Jimin, será que o Kunta já foi vendido? — Jisung perguntou, com um
terrível sentimento fulminando em seu interior.
— Não sei, mas podemos descobrir. Tae, leva a gente nesse mercado? —
O Beta hesitou. — Se você não levar, nós vamos sozinhos.
— Eu estou com um péssimo pressentimento… — Taehyung refletiu.
— Isso é seu medo falando. Vai dar tudo certo, confie em mim. Temos o
Yahto do nosso lado.
— Aquele nativo vai mesmo ajudar?
— Bem, sim... mas ele não sabe que será hoje.
— Hoje, Jimin?!
—Sim!? Fale baixo. Escute, quanto mais a gente demorar com isso mais
daquelas pessoas serão vendidas e levadas para serem exploradas.
— Eu já disse que estou com um péssimo-...?
— Sim, você já disse isso — Jimin o cortou. — Hoje após a última
refeição, me encontrem no saguão depois do corredor.
Mais uma vez o Beta lamentou por “falar demais”. Não era pessimismo,
mas em seu ponto de vista o plano de Jimin não tinha nada para dar certo,
por ser totalmente improvisado.
Sentia muito por isso, mas gostava demais dele para vê-lo fazer essa
loucura. Não que duvidasse da capacidade dele, Jimin estava aprendendo
rápido e quando as coisas se tornavam sérias ele sabia como lidar, mesmo
sendo tão novo e com a criação que teve. Taehyung nunca iria se perdoar se
algo acontecesse àquele Ômega e ao seu irmão, logo, a primeira coisa que
fez ao chegar na taberna foi falar com seu Capitão.
— Precisa ficar no pátio essa noite. — Taehyung falou por alto, próximo
a Jeon.
Jungkook o olhou sem compreender. O navegador estava mais estranho
do que costumava ser.
— Do que está falando? Seja direto.
Taehyung se sentia mal por fazer aquilo, mas era para o próprio bem dos
Ômegas.
— Jimin... escravos...
O Capitão respirou fundo rolando os olhos.
— Eu sabia que ele não ficaria quieto. Inferno de Ômega teimoso do... —
A voz do Capitão foi desaparecendo à medida que ele se afastava.
— Jimin vai me matar... — Taehyung pensou em voz alta.

Após o jantar, Jungkook fez como o Beta aconselhou, foi direto para o
saguão e ficou sentado em um banco de pedra. Estava com os braços
cruzados e olhando para a única passagem conhecida que dava acesso
àquele lugar.
O primeiro a surgir foi Taehyung, ele se aproximou de seu Capitão e
sentou ao seu lado, tentando convencê-lo a ajudar os Ômegas. Mas Jeon era
um pirata que não se importava com esse tipo de coisa, sendo assim a sua
fama tão conhecida.
Enquanto isso, Jimin passava pelo corredor dos quartos superiores
juntamente com Jisung ao seu lado, seguindo na direção do pátio em que o
Capitão Jeon e Taehyung estavam, quando alguém interrompeu seu
caminho.
— Preciso falar com você.
— Agora não, Sungjae. Estou com pressa.
Jimin contornou o Ômega mas parou quando ao ouvi-lo dizer:
— Se eu fosse você não desceria por aí.
— E por que não?
— Por um acaso um ouvi o navegador falando com o Capitão sobre os
escravos, e envolvia você. Eles estão lá no saguão sentados, te esperando.
— Não acreditamos em você. — Jisung afirmou, olhando para Jimin e
esperando o irmão confirmar.
— Não tenho tanta certeza, Ji — o Ômega lúpus falou — Eles são sim
muito fiéis ao Capitão. E também, creio que as intenções do Tae foram
boas, ele deve estar preocupado com nossa segurança.
— E agora? O que vamos fazer? Kunta precisa da gente.
Jimin olhou para Sungjae, desconfiado.
— Podemos ir pela passagem dos escravos. — Sungjae propôs. — Por
que essas carinhas de espanto? Pensou que essas pessoas que servem na
taberna são o quê?
— Vamos começar por elas então. — Jimin decretou. — Mas o que me
choca realmente é você querendo ajudar.
— Não é que eu queria ajudar. Mas será pior se eu ficar aqui e o Capitão
descobrir o que eu fiz. É mais seguro para mim se eu ficar com você.
— Bom, obrigado pela sinceridade. — Jimin disse, confuso com as
próprias palavras. — Leve-nos para essa tal passagem.
Sungjae assentiu e caminhou na frente, com os Ômegas mais novos
seguindo-o de perto. Jimin estava atento a qualquer coisa, porém, Sungjae
realmente os levou para o local em que os escravos ficavam alojados.
Jimin tentou convencê-los a fugir, mas eles se negaram.
— Você está vendo alguém vigiando a gente sobre a mira de uma
chibata? Não somos castigados e andamos livremente por aí. Somos bem
tratados aqui e não comemos restos. Preferimos ficar, mas agradecemos a
sua boa intenção.
Os Ômegas mais jovens lamentaram a decisão deles, mas era
compreensível.
Os três seguiram para o mercado e aguardaram pacientemente enquanto
os comerciantes organizavam suas coisas para guardar a "mercadoria" que
restou. O pequeno Kunta estava lá. Ainda não foi comprado porque a
preferência na maioria das vezes era por Alfas grandes e fortes, para
realizar trabalhos pesados nas lavouras ou serem levados para as minas.
Os escravos foram levados para senzalas provisórias, onde apenas um
Alfa tomava conta. Ele estava armado com um fuzil de pederneira e duas
pistolas presas em seu cinto, além de uma tira grossa de couro e um molho
de chaves. Era o mesmo Alfa que Jimin viu maltratando os escravos.
— Posso derrubá-lo. — Jimin afirmou olhando fixamente para ele.
— Não com um ataque direto. — Sungjae argumentou. — Se você atirar
vão ouvir o disparo. Se tentar se aproximar, ele é um Alfa e pode facilmente
subjugá-lo. Isso se não matar você por estar invadindo propriedade privada.
— E se a gente distrair ele? — Jisung sugeriu.— Assim podemos pegar
ele de surpresa — disse, mostrando uma faca. — Peguei isso do Jackson,
ele nem viu.
— Céus — Jimin o olhou surpreso. — Não, guarde isso. Eu vou lidar
com aquele maldito, você ainda não sabe como fazer isso.
— Jackson disse que só preciso acertar um ponto vital.
O queixo de Jimin caiu.
— Vocês vão ficar discutindo? — Sungjae indagou. — Eu distraio ele e
você ataca.
— Como vai fazer isso?
— Sério que não sabem? — Os irmãos se entreolharam com dúvidas e
negaram com a cabeça. — Vocês ainda são muito inocentes, céus... Vocês
sabem que todo Alfa tem aquela maldita voz de comando, certo? Talvez
com você não funcione já que é um Ômega lúpus.
— Não. — Jimin respondeu. — Acho que só a de um Alfa lúpus, mas
Jungkook nunca usou comigo.
— Sortudo. Mas onde eu realmente quero chegar é que Ômegas também
possuem um tipo de habilidade especial. Não possuímos uma voz
dominante, mas temos algo que se soubermos usar, podemos dominar
qualquer Alfa.
— E o que seria isso?
— Nosso charme e inteligência. — Sungjae ajeitou as roupas e o cabelo.
Os mais novos entreolharam-se novamente, sem compreender ao certo.
— Observe. — Sungjae se levantou e caminhou na direção do Alfa.
— Eu estou com medo e vergonha, Jimin. — Jisung confessou.
— Somos dois...
Continua...
X azul - Marinha Real
X preto - Black Swan
X vermelho - Estrela da Morte
[48] Maquinações

Reescrito

Seus passos eram decididos, porém leves. Sungjae andou gracioso e


elegante até estar diante do capataz de aparência rude. Jimin estava
segurando seu punhal com tanta força que salientava os nós dos dedos.
Jisung permaneceu quieto ao seu lado, com medo pelo Ômega mais velho e
prestando atenção em tudo o que ele fazia. Ele olhou para seu irmão, mas
Jimin não tirava os olhos do Alfa.
Com a aproximação de Sungjae, o capataz apertou o cano do fuzil e
apontou para ele, mas ao notar que se tratava de um Ômega belo e jovem, o
Alfa rapidamente mudou sua postura.
— O que essa doçura está fazendo sozinho por aqui, uma hora dessas?
Sungjae o encarou durante três segundos e desviou o olhar, sorrindo de
canto e simulando estar envergonhado. Por dentro ele sentia náuseas. Ele
colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha e ergueu minimamente o
rosto, com falsa timidez e um olhar esbanjando inocência.
— Estou perdido, poderia me ajudar a chegar em alguma taberna? — A
voz de Sungjae estava tão suave que parecia ser feita de algodão.
Seu aroma docinho combinado a aparência delicada e submissa atiçava a
imaginação do Alfa, que estava cheio de más intenções diante da presa
fácil.
“Hoje é meu dia de sorte” — o Alfa pensou já sentindo o membro agitar-
se por baixo das roupas.
— Te levo para onde quiser, coisinha linda. Só preciso me certificar de
que esses animais estão bem presos. — Com um sorriso, Sungjae assentiu
esperando o Alfa entrar na senzala e verificar se todas as celas estavam
trancadas. Ele olhou disfarçadamente para trás e viu que Jisung estava
sozinho. — Pronto, doçura. Agora vou te mostrar como chegar ao paraíso.
— Mas, moço, eu só quero chegar em uma taberna.
O Alfa sorriu, abraçando-o pela cintura.
“Não vomite” — Sungjae ordenou a si mesmo, mentalmente.
— Claro, claro. Por aqui.
O capataz o guiou na direção de uma viela ao lado da senzala, um
caminho esquisito e com pouca iluminação. Assim que sumiram na semi
escuridão, o Alfa apertou a bunda dele e o empurrou para frente.
— Fica de quatro para o papai.
O Alfa mal teve tempo de abrir as calças quando sentiu uma mão agarrar
seu ombro e uma lâmina deslizar por sua garganta. Os joelhos dele cederam
e o encontro com a morte foi iminente, poucos segundos após cair
desmazelado no chão. Responsável pelo assassinato, Jimin surgiu logo
atrás.
— Obrigado. — Sungjae agradeceu.
— Você não devia andar desarmado...
— Menino, o que você acha que a tripulação vai fazer se me pegarem
com uma arma?
— Oh, céus. — Jisung se aproximou com a mão na boca, tentando conter
o choque. — Ele morreu mesmo?
— Sim. E sujou meu punhal, esse nojento. — Jimin respondeu se
abaixando e limpando a lâmina suja de sangue nas roupas do alfa.
— Será que ele tem família? — Jisung questionou, se sentindo um pouco
mal diante de um assassinato.
— Tem, sim. Seu pai se chama satanás e ele deve estar sentado no colo
dele nesse momento. — Sungjae respondeu muito despreocupado enquanto
esvaziava os bolsos do alfa.
— Você tá roubando ele?! — Jimin perguntou boquiaberto.
— Por que o espanto? Você é um pirata. Toma as chaves. O que vamos
fazer com essas armas?
— Levar, é claro. — Jimin pegou as duas pistolas e entregou uma para
Sungjae e a outra para Jisung, mas o Ômega recusou com a cabeça. — Meu
amor...
— Acho que ele está um pouco traumatizado.
— Jura? — Jimin indagou irônico e voltou sua atenção ao irmão: — Ele
era uma pessoa muito ruim, imagina o tanto de coisas perversas que ele
deve ter feito e que ainda ia fazer com essas pessoas? Com o Kunta.
— Você tem razão. Só estou um pouco assustado mas vou ficar bem.
Jimin sorriu compreensivo para ele e guardou uma pistola no cinto,
permanecendo com o fuzil de pederneira na mão. Com a outra segurou na
mão do mais novo. Assim que abriram as grades, os escravos Ômegas e
alguns Betas mais jovens se encolheram nos cantos, já os Alfas
permaneceram parados, com expressões desconfiadas.
— Olá... — Jimin começou tímido, sendo o primeiro a entrar. Mesmo se
tratando de um Ômega aparentemente indefeso, os escravos ainda
permaneciam temerosos e desconfiados. Aquilo foi o que deu mais força
para que ele conseguisse dizer o que pretendia: — Meu nome é Jimin, estes
são Jisung e Sungjae. Estamos aqui para libertá-los.
— Onde está o capataz?
— Eu o matei.
O grande Alfa de beleza ímpar, caminhou devagar até estar diante do
Ômega, com seus olhos estudando-o atentamente.
— Você? — O Alfa perguntou novamente, para ter certeza. Jimin ergueu
uma sobrancelha e confirmou. — Meu nome é Kinte e eu agradeço o que
fez em nome do meu povo.
Jimin foi surpreendido pelo abraço do Alfa, ficando alguns segundos sem
saber como reagir. Quando retribuiu, o maior gemeu um pouco devido às
marcas que possuía nas costas.
— Me desculpe.
— Tudo bem. — O Alfa se virou e mostrou as feridas do castigo que
recebeu. — Aquele maldito fez isso porque não deixei ele atacar meu
irmão.
— Precisamos ir logo.
— Mas para onde vai nos levar? — Um outro Alfa se pronunciou. —
Irmão, e se for alguma armadilha?
— Então vai lá fora ver o espetáculo — disse Sungjae. — O corpo dele
ainda está lá.
Os Alfas se entreolharam e um deles saiu receoso, deu a volta na varanda
e ao lado da senzala, viu o corpo do capataz jazendo no chão. Ele voltou
para os seus e confirmou a versão.
— Vamos, chegou nossa hora. — Kinte se virou para eles e os escravos
se ergueram animados.
Um outro capataz que sempre trocava de turno com o dito que foi
assassinado, entrou na senzala com as sobrancelhas franzidas e uma
expressão de choque, que foi se transformando em fúria.
— Mas que merda é essa?
Jimin estava de costas para ele e quando ouviu sua voz, virou-se de
imediato. Com o ato, o Alfa automaticamente puxou sua pistola, mas foi
atingido por um tiro no meio do peito e caiu no chão agonizando, enquanto
seu sangue se espalhava.
O disparo saiu da pistola de Sungjae.
— Ferrou gente, ferrou. — Sungjae disse correndo até a porta. — O que
estão esperando?!
De imediato, Kinte chamou seu povo e eles o seguiram na direção da
saída. Ele foi com Jimin rapidamente pelas outras celas e libertou dezenas
de cativos que aguardavam ali até serem comprados.
Com o barulho do tiro e a fuga em massa dos escravos, alguns
desesperados e se espalhando pelas ruas, foi o suficiente para chamar a
atenção dos sentinelas que mantinham a segurança da cidade.
— Não! — Jimin lamentou olhando para todas as direções em que os
Alfas, Betas e Ômegas corriam. — Precisamos entrar na floresta e encontrar
o Yahto.
— Yahto? — Kinte indagou atento.
— Ele é um amigo que ajuda quando seu povo é trazido à força. Mas não
vamos conseguir se eles continuarem correndo e se perdendo pelas ruas.
— Merda... — naquele momento, Kinte tinha que agir rápido e tomar
uma decisão. Era óbvio que os que tomaram seus próprios rumos sozinhos
iriam ser recapturados novamente, mas se voltasse para ajudar, nenhum
deles teriam chance, sendo assim, eles precisavam deixá-los para trás e
seguir com a fuga adiante, levando consigo o maior número de pessoas
possível. Ele girou para Jimin e pediu: — Guie-nos.
Muitos dos escravos permaneceram perto do Alfa Kinte, pois
acreditavam em seu julgamento e liderança. Não que os demais que fugiram
na frente o subestimassem, mas estavam tão desesperados que tudo o que
viram foi uma porta aberta e o caminho livre.
Nesse meio tempo, Kinte e seu povo seguiram correndo juntamente com
os três Ômegas e adentraram na densa floresta, em busca de sua liberdade.

Depois de longos minutos esperando pelo Ômega lúpus, Jungkook se


voltou para seu navegador, que assim como ele estava completamente
confuso.
— Você deve achar que eu não tenho nada para fazer.
— Eu não entendo-...
— Shh — Jeon o cortou erguendo uma mão.
O som das janelas e portas se abrindo, e das pessoas saindo de suas casas
para ver o que estava acontecendo nas ruas chamou a atenção do Capitão,
ele correu até uma das saídas para espiar. No fundo, imaginando que tinha
dedo de Jimin naquilo.
Taehyung o seguiu e eles viram quando alguns escravos passaram
correndo, enquanto a milícia e alguns capatazes seguiam caçando-os e os
capturava um por um.
— Jimin... — disseram os dois ao mesmo tempo.
Jungkook sacou uma pistola e desceu as escadas ainda sendo seguido
pelo Beta, que também se armou.
— Para onde ele disse que iria?
— Para a floresta... — Taehyung evitou em falar o nome de Yahto,
temendo o que o Capitão pudesse fazer com o nativo.

Sem saber ao certo o caminho a seguir, Jimin, Jisung, Sungjae e os


fugitivos avançavam com o único intuito de colocar um amplo espaço de
tempo entre eles e seus perseguidores. Mas os Alfas responsáveis por
capturar escravos fugitivos, eram muito experientes no que faziam e logo
estavam alcançando-os.
— Até quando a gente vai correr? Para onde ele está nos levando?
— Você sabe para onde está indo? — Kinte indagou a Jimin.
A luz da lua mal conseguia iluminar o caminho entre as árvores da densa
floresta. Estava tão escuro, que eles sequer podiam enxergar cinco passos à
sua frente.
Repentinamente, um Alfa surgiu entre os galhos de um arbusto, com as
mãos erguidas, demonstrando que sua intenção não era de atacar:
— Posso ajudá-los.
— Quem é você? — Jimin perguntou.
— Sou Martim. Eu costumo ajudar os escravizados trazidos para o
Brasil.
Jimin entregou o fuzil de pederneira à Kinte e disse:
— Não temos tempo para averiguar isto. É sua liberdade e a do seu povo
que está em jogo.
O Alfa segurou a arma e respirou fundo, pensando rápido. Ele a ergueu e
mirou contra o Alfa desconhecido.
— Que seja, mostre-nos o caminho. Mas se nos trair, será o primeiro a
morrer. Não tenho nada a perder.
Martim assentiu e todos o seguiram pela escuridão da mata. Ao longe,
eles já podiam ver quatro grandes construções entre as árvores, mas antes
de chegarem mais próximos, eles foram cercados por alguns guerreiros da
tribo que faziam a ronda protegendo seus membros. Um deles era o próprio
Yahto.
— Jimin, que bom te ver! — Ele caminhou até o Ômega e o
cumprimentou. — Você que trouxe todas essas pessoas?
— Sim, me desculpe. Não sabia exatamente como falar com você e
precisava fazer algo para ajudá-los o quanto antes.
— Mas você trouxe muitos — Yahto disse espantado. — Talvez cinco ou
seis vezes mais do que eu costumo libertar.
— Sério? Eu pensei que você os libertava todos de uma vez.
— Não. Muitos de uma só vez podem trazer graves consequências.
— Eu trouxe problemas para vocês... Oh, céus.
— Não se preocupe, vamos dar um jeito. Venham.
Com o consentimento de outros nativos, os escravizados foram levados e
acolhidos temporariamente. Também foram alimentados e tratados em seus
ferimentos.
Jimin viu Kauana sair da tenda onde o fragmento do Imperium era
mantido, e passar em disparada seguindo caminho até onde os escravizados
foram levados. Alí estava a sua oportunidade perfeita. Kauana sendo a
melhor guerreira dos nativos, seria impossível passar por ela e tomar o
pedaço do mapa. Mas agora que ela saiu, era a sua chance de tomar posse
do fragmento sem que um combate fosse necessário.
Jimin dava dois passos e depois parava, pensando:
“Isso é roubo...”
E novamente voltava a caminhar:
"Que se dane, sou um pirata...”
E parava outra vez:
“Mas é algo sagrado para eles...”
Por fim, ele respirou profundamente, parado diante da porta de entrada.
“É apenas um empréstimo.”
E entrou, para obter a sexta parte. Assim que colocou os olhos no altar
onde o fragmento era mantido, Jimin seguiu cauteloso até ele, se abaixou e
o retirou da tábua. Antes mesmo de se levantar, ele ouviu uma voz vinda do
canto, na escuridão da oca:
— Eu sabia que você iria voltar.
Para o seu choque e surpresa era Byue, o gama, quem estava lá.

Continua...
[49] Monopólio

Reescrito

De forma automática, Jimin levou a mão ao cabo do punhal mas não o


retirou do cinto. O velho manteve-se sentado, apoiado em seu cajado
enquanto observava o Ômega levantando-se devagar.
— Não é o que está pensando...
— Não? Você está segurando a nossa relíquia sagrada. Presente da
própria Lua. — Jimin olhou para as suas mãos e sem ter uma resposta ficou
calado. — Eu não sinto maldade em você, mas por que está nos roubando?
— Nós precisamos...
— Para quê? Obter riquezas? — Envergonhado, Jimin abaixou a cabeça.
Era como se o Gama lesse cada entrelinha em seus pensamentos. — Eu
confiei em você.
— Eu...
— Devolva-nos — o Gama pediu se aproximando e estendendo a mão —
e vão embora.
Jimin suspirou entregando o pedaço de pergaminho. Ele estava com suas
pistolas e o punhal, poderia abater o velho xamã facilmente. Mas fazer isso
com um Gama bom e justo, ainda por cima ele sendo um ser espiritual,
seria o pior sacrilégio a ser cometido. Ele então fez a única coisa que podia
executar naquele momento, deu meia volta e saiu da habitação.
Os outros dois Ômegas ainda estavam juntos aos fugitivos, os nativos
que saíram curiosos de suas habitações e o Alfa desconhecido que os havia
ajudado.
— Vamos embora. — Jimin disse ao se aproximar deles.
— Mas já? — Jisung suspirou com tristeza.
Jimin notou que Kauana estava de olhos atentos neles, como uma ave de
rapina. Ele olhou para trás e viu o xamã fitando-o de longe.
— Sim. Vamos.
— Estou em dívida com você. — Kinte se aproximou de Jimim — Se
precisar de mim, não hesite em me chamar.
Mas o Ômega lúpus negou com a cabeça.
— Não. Vocês já passaram por muitas coisas ruins. Vão e sigam suas
vidas.
— Obrigado, Jisung. — Kunta reconheceu emocionado — Você foi a
pessoa mais gentil e corajosa que conheci.
— Corajoso, eu? — Indagou o Ômega, sorrindo e apontando para os
outros dois mais velhos, Jimin e Sungjae.— Eles sim são corajosos.
— Mas eu jamais esquecerei aquele que me deu água na cidade, diante
de todos. Ninguém nunca ousou fazer isso.
Jisung sorriu e o abraçou uma última vez. Yahto agarrou sua lança e
caminhou até eles.
— Vou levar vocês três até a cidade.
— Não precisa — Jimin o deteve. — Mas obrigado mesmo assim.
Yahto acenou com a cabeça.
— Tudo bem.
Logo após as despedidas, e ter a certeza de que os recém libertos seriam
levados para uma região segura, onde eles encontrariam mais gente do seu
povo, os três Ômegas seguiram de volta através do caminho pela floresta.
— Vocês três são muito valentes. — Martim disse enquanto eles
caminhavam. — Nunca conheci Ômegas iguais.
— Como você sabia que estávamos fugindo com os escravizados? —
Jisung perguntou.
— Eu moro perto do mercado e vi pela janela do meu quarto aquelas
pobres almas fugindo pelas ruas. Fiquei impressionado ao ver que eram três
Ômegas os responsáveis. Vocês foram incríveis.
— Ah, nós apenas matamos dois Alfas e abrimos algumas portas... —
disse Sungjae, dando de ombros. — Nada de mais.
— E se não fosse por você — o Alfa sinalizou. Ele caminhava na frente
sendo seguido de perto — Vocês nem ao menos teriam conseguido sair
daquela hospedaria.
Os três Ômegas trocaram olhares e pararam de caminhar.
— Não me lembro de nenhum de nós ter contado sobre isso. — Jimin
falou, segurando no cabo da arma e quando o Alfa girou para encará-los, ele
e Sungjae apontavam suas pistolas em sua direção.
Mesmo estando sob a mira de suas armas, Martim mantinha uma
expressão calma.
— É uma pena que eu não fizesse parte da tripulação do Alma Negra
naquela época. — o Alfa disse olhando para Sungjae, em meio a um sorriso
desprezível. — Eu teria-...
O som de um disparo na arma de Jimin o fez parar de falar.
— Cale-se, verme! — Jimin rugiu.
O Alfa rosnou de ódio e ignorando o comando do Ômega lúpus, tentou
intimidá-lo utilizando sua voz de comando:
— Largue a arma. — Jisung se encolheu e Sungjae fez o que ele
comandou.
Mas Jimin permaneceu firme, quando perguntou:
— Quem é você?
O vento trouxe um cheiro forte de rosas e foi o que levou a distrair o
Ômega apenas por alguns segundos, tempo suficiente para que Martim
agarrasse suas mãos e guiasse a arma aos poucos, contra ele. Um soco forte
o atingiu na lateral da cabeça, fazendo Martim ser lançado para o lado.
Quando deu por si, Jimin viu o Capitão Jeon subir em cima do Alfa e
socá-lo até deixar seu rosto irreconhecível. O Alfa lúpus ergueu o olhar e
quando viu Sungjae perto dos outros Ômegas, imaginou que ele foi o
responsável pelo que havia acontecido e ergueu-se em fúria para ir até ele.
Sungjae correu e se escondeu atrás de Jimin.
— Ai socorro, ele vai me matar.
Jimin ergueu as mãos para que o Alfa parasse. As do Capitão estavam
cobertas por sangue, mas Jungkook não deu a mínima quando seguiu direto
e agarrou um dos braços do loiro.
— Voc-...
— Antes que você comece a gritar comigo feito um histérico, deu tudo
certo. — Jimin disse, o interrompendo.
— Meu irmão é doido... — Jisung comentou baixo para Sungjae.
Nesse meio tempo, Taehyung verificava os pertences junto ao cadáver no
chão.
— Deu tudo certo?! — Jungkook questionou furioso — Oficiais estão
pela cidade procurando os responsáveis por roubar quase todos os escravos
deles. — E acrescentou rosnando: — Eu disse que não queria chamar
atenção!
— É, ele tem a marca da tripulação do Alma Negra. — Taehyung disse
sobre o Alfa morto, se levantando e olhando para Sungjae.
— Eu não o conheço. — Sungjae logo tratou de esclarecer. — Ele deve
ser novo na tripulação.
Jimin colocou a pequena mão dele em cima da de Jungkook suja de
sangue, que ainda segurava seu braço.
— Solte. — Pediu com voz suave. O Alfa franziu o cenho e o aliviou do
aperto aos poucos. — Você está tão, tão estressado... — suas mãos subiram
pelo peito dele até curvarem sobre os ombros — Olha isso, precisa de uma
massagem, meu amor...
— A tripulação precisa saber. — O Beta avisou. — Alma Negra deixou
Alfas dele pela cidade. Esse não deve ser o único.
Por cima dos ombros de Jimin, o Capitão olhou para Sungjae. O Ômega
lúpus percebeu e o chamou:
— Você sabe que a ideia foi toda minha, deixe-o. Se quer descontar sua
raiva em alguém faça-o em mim.
— Então vocês se tornaram amiguinhos... — Jimin deu de ombros. —
Vamos para a taberna e de lá, para o Black Swan.
— Vamos zarpar? — Taehyung indagou enquanto eles voltavam.
— Não. Sungjae disse que ele o quer de volta. — Jeon respondeu se
referindo a Alma Negra estar procurando pelo Black Swan. — Vamos
defender nosso navio.
— Você acha que o Capitão está muito bravo com o Jimin? — Jisung
perguntou a Sungjae, preocupado com o irmão.
— Com certeza. Mas não se preocupe, seu irmão bate bem forte.
— Você já apanhou dele?
— Uhm... já.
— Jimin?!
— Foi assim que ele tomou jeito... — Jimin disse calmo. Mas vendo o
olhar pensativo do irmão, ele acrescentou depressa: — Mas não devemos
resolver as coisas na violência.
— Ah, você jura? — Sungjae questionou.
— Seu caso é diferente. Você estava implorando por isso.
Assim que eles atravessaram os limites da floresta e chegaram na cidade,
encontraram o próprio regente do lugar andando pela rua montado em seu
cavalo. Sempre acompanhado de seus guardas.
— O que os senhores fazem na rua, a essa hora da noite?
Ninguém respondeu.
José da Silva arregalou os olhos, ao passo que sua guarda desembainhou
as espadas. Mas com um sinal de mão do regente, eles as guardaram
novamente.
— Algumas de nossas mercadorias fugiram.
— Isso não é problema meu. — Jungkook tentou seguir, mas alguns da
cavalaria se colocaram em seu caminho.
Jeon olhou para o regente, sua respiração parecia mais um rosnado e seus
olhos escuros estavam quase em um tom vermelho.
— Deixe-o passar. — José comandou — Temos algo a fazer. Venham.
— Eles vão atrás do Yahto e da Tribo! — Jimin sobressaltou quando os
Alfas se afastaram.
— Temos coisas mais importantes para nos preocuparmos agora — O
Capitão deliberou. — Taehyung, diga para os que ficaram no navio que
Alma Negra está por perto.
Taehyung assentiu e eles seguiram caminhos diferentes. O cais não ficava
tão distante da praça central, e logo o navegador estava no deque, seguindo
entre as diversas cargas que circulavam pelo porto a todo momento.
Assim que chegou na rampa de subida para o Black Swan, o Beta notou
uma pequena movimentação estranha a bordo do navio. Aquilo era um
tanto suspeito, e neste caso, ele decidiu não arriscar. Assim que girou para
voltar a taberna e avisar ao Capitão, deparou-se com o cano de uma pistola
apontada diretamente para o seu rosto.
— Aonde pensa que vai? — O Alfa que apontou a arma para ele
perguntou, sorrindo insano.
O Beta ergueu as mãos quando um outro que estava junto ao Alfa se
aproximou para tomar posse de suas armas, e logo ele foi obrigado por
ambos a embarcar no Black Swan.
Assim que pisou no pavimento superior, Taehyung viu que a pequena
movimentação estranha era algo muito maior do que ele imaginava. Além
do piso em que estava, havia dezenas de piratas que não pertenciam a
tripulação do Black Swan espalhado pelo convés inferior. Todos de
aparência vil e fortemente armados até os dentes, encaravam o navegador
com seus sorrisos repugnantes.
Taehyung viu que ainda no piso inferior, haviam sido subjugados alguns
piratas de sua tripulação, entre eles estavam Namjoon e Hoseok. O Beta
estremeceu quando ouviu a porta da cabine ser aberta alguns metros atrás
de onde ele estava, e passos pesados se aproximarem atrás dele. Devagar,
ele girou o corpo até ver Alma Negra parado diante de si. Um Alfa lúpus
corpulento, que trajava um grosso casaco cinza escuro, encardido e com
manchas de sangue impregnadas no tecido, e um chapéu preto que chamou
sua atenção por estar com uma longa pluma vermelha.
— Prenda-o no mastro e arranque sua pele aos poucos, Capitão! — Um
inimigo solicitou e vários outros gritaram em apoio.
Alma Negra sorriu demente ao ouvir a sugestão do pirata, exibindo
alguns dentes de ouro. Ao se aproximar do Beta, ele franziu o cenho
estudando sua face com atenção. Taehyung desviou o rosto devido ao odor
fétido exalava da boca do capitão. O lúpus pressionou o gancho que usava
no lugar de sua mão na bochecha do Beta, fazendo virar o rosto para si
novamente.
— Você… eu o conheço. — Alma Negra articulou, aumentando o sorriso
e arregalando os olhos. — É o cartógrafo que mapeou o famoso Triângulo
da Morte.
— Faça-o desenhar o mapa do Imperium, Capitão — Um dos piratas
pediu, sendo acompanhado por muitos.
Alma Negra puxou sua espada e cortou a garganta do mesmo. O Alfa
caiu de joelhos enquanto engasgava desesperado, até desabafar no piso do
convés. Logo a agitação entre os piratas voltou ao perturbador silêncio, e só
o que ouviam era o som dos passos do capitão, conforme ele caminhava ao
redor do Beta.
— Menos um idiota no mundo — Alma Negra comentou.
— Não posso ler os fragmentos do mapa. — Taehyung revelou com
cuidado.
— Isso eu sei, mas ainda vou precisar de você — O lúpus apontou para o
corpo do pirata no chão, com desdém. — Acabei de perder meu navegador.
O Beta engoliu em seco. Com um gesto de mão, Alma Negra ordenou
que seus Alfas prendessem Taehyung junto aos demais prisioneiros. Por
fim, o lúpus girou para encarar sua tripulação.
— Agora que temos o melhor navegador de nossa época. Só falta o
maldito Ômega lúpus e o fragmento dos primitivos. — A última frase ele
disse olhando para um dos oficiais do Brasil.
— Eu não sei o que é esse fragmento que o senhor está falando. —
Respondeu o Alfa, com voz trêmula. — Mas o Ômega do Capitão Jeon eu
tenho certeza de que ele é um lúpus e está aqui. E-e nós vamos trazê-lo aqui
para o senhor.
— E então deixará este lugar intacto. — um outro oficial inteirou.
Alma Negra apenas sorriu, frio e calculista.
Continua...
Obrigada Procura-se_cornos eu amei demais! ❤❤❤
[50] Alma Negra

Reescrito

Assim que chegaram na hospedaria, Jimin viu seu irmão seguindo para o
corredor em que ficava o quarto do caçador, antes que pudesse dizer
qualquer coisa, ele foi rebocado até seu quarto pelo Capitão.
Jungkook fechou a porta, retirou as botas e foi lavar as mãos na pia do
lavabo, enquanto Jimin caminhava aflito até a janela. Ele espiou a rua
pouco movimentada e o caminho até a floresta.
— Você ignora totalmente minhas ordens. — O Ômega girou para
encará-lo e viu o Capitão saindo do banheiro, sem camisa. — Eu sou uma
piada para você?
— Não! Jungkook, você não acha nem um pouquinho errado aquelas
pessoas serem vendidas como escravos?
— O problema é que eu não me importo com elas, Jimin. Parece que
você esqueceu o que eu sou.
O Ômega suspirou caminhando até estar diante dele. Jimin elevou a mão
e a pousou do lado esquerdo do peito do Alfa
— Não é possível que nesse coração não tenha sequer um pingo de
compaixão.
Jungkook encarou aqueles olhos azuis e intensos, mas não respondeu.
Jimin segurou em seus braços girando seu corpo, e o empurrou fazendo o
Alfa cair sobre o colchão.
Jimin subiu logo atrás. O Capitão ainda foi se levantar e sem pensar
direito no que estava fazendo, o loiro acertou uma tapa na bunda dele. Ele
olhou para o Ômega com o cenho franzido. Jimin levou a mão até a boca,
escondendo o riso.
— Sua massagem... fique deitado.
Jungkook soltou um suspiro e encostou a bochecha no colchão, com
Jimin posicionado em cima dele, sentado bem em cima da parte traseira das
coxas do Capitão. Ele fechou os olhos quando sentiu as mãos do Ômega
trabalharem entre suas costas e os ombros.
— Eu não faço isso de propósito — Jimin começou. — Não é minha
intenção ignorar suas ordens...
— Pois para mim, parece que você faz de propósito. — Jeon fez uma
pausa e logo depois acrescentou: — Se eu usasse minha voz de comando,
você me obedeceria.
Jimin apertou os ombros dele com força e o Alfa gemeu.
— Prometa que nunca vai fazer isso!
— Não preciso prometer, nunca faria isso com você. Nunca usei com
Ômega algum.
— Hm...— a massagem voltou a ser suave. — Então seu ponto fraco são
os Ômegas...
Jungkook girou o corpo e agora ficou deitado, de frente para Jimin.
— Meu ponto fraco é você. E ao mesmo tempo, o meu forte.
Jimin se acomodou novamente, dessa vez sentado sobre os quadris do
Capitão.
— Eita que não é apenas seu ombro que está duro...
— Você me deixa assim. — Jeon fixou as mãos em sua cintura e o puxou
para si.
Jimin inclinou o corpo para frente, até encontrar os lábios do Capitão. As
mãos do Alfa já entrando por dentro da roupa do mais novo, explorando-o.
— Mas não fazem nem duas semanas que teve seu rut... — Jimin
articulou respirando com dificuldade, ao passo que Jeon o estimulava.
— Preciso estar no cio para desejar o meu Ômega? — Jimin sorriu
erguendo os quadris para que o Alfa retirasse sua calça e a roupa íntima.
Jimin imaginou que depois de ser marcado, a libido do Alfa diminuiria
consideravelmente, visto que o lobo de Jimin já pertencia ao dele, e vice
versa. Mas estava obviamente enganado.
Jungkook os virou, invertendo as posições. O membro dele ficava mais
coberto pelo lubrificante do Ômega, à medida que escorregava entre suas
coxas. Com um único movimento de quadril, ele o penetrou deslizando até
o fundo. Jimin gemeu seu nome, sem se incomodar se alguém poderia
ouvir. Ele estava amando o seu Alfa e não tinha nada de errado nisso.
Jimin deslizou as mãos pelas costas de Jungkook, fincando as unhas na
pele e arranhando-o levemente. Tudo estava mais intenso. Ambos podiam
sentir seus toques de um jeito mais acentuado. A marca os conectava de
uma forma, como se eles fossem um só. Até mesmo o orgasmo um do outro
eles sentiam, o que deixava o ato ainda mais febril.
— Eu amo você. — Jeon afirmou, deixando alguns selinhos pelo rosto
dele.
O Ômega sorriu, retribuindo:
— Eu também te amo. — Jimin estava deitado de barriga para cima, o
Alfa então desceu um pouco mais e deitou a cabeça em seu peito,
abraçando-o pela cintura. Jimin inclinou a cabeça e beijou o topo da cabeça
dele.
Ainda com os pensamentos nos escravizados libertos e nos nativos, Jimin
permaneceu encarando o teto, reflexivo. Jungkook, por outro lado, havia
adormecido sentindo os dedos do Ômega deslizando entre seus fios negros.
Jimin sentia-se muito envergonhado pensando no que tentou fazer –
roubar o pedaço do mapa –, não conseguia dormir com o peso na
consciência. Muito menos agora que estava quase certo de que a aldeia seria
atacada. Ele olhou para baixo e viu que Jeon ainda dormia sereno. Com
certo esforço, conseguiu sair debaixo dele, sem acordá-lo, pegou as armas e
saiu do quarto, com cuidado.
No andar térreo, ele encontrou os Alfas e Betas da tripulação se
preparando para voltar ao Black Swan.
— Preciso da ajuda de vocês.
— E o que seria? — Yoongi indagou e os outros também prestaram
atenção.
— Os nativos estão com um grande problema e a culpa é toda minha...
— Por causa dos escravizados? — Chaerin presumiu. — Era de se
esperar. Você libertou todos de uma só vez, Jimin. Claro que os donos deste
lugar não iam ficar calados.
— Sim. Céus... por isso que eu preciso da ajuda de vocês.
— O Capitão mandou a gente ir direto para o Black Swan — Jared os
lembrou. — Foi mal aí, Jimin.
— Eu sei, mas...
— Eles que se fodam. — Outros piratas concordaram.
— Eles possuem um dos fragmentos. — Jimin os interrompeu com a
revelação, e isso fez com que todos parassem o que estavam fazendo. — Eu
o vi quando fui lá. Até tentei roub... pegar emprestado, mas fui pego em
flagrante.
— Eu fiquei dias procurando, em todos os lugares desse maldito inferno
e você só diz isso agora?! — Billy esbravejou.
— O Capitão precisa saber — Yoongi afirmou. — E ele vai ficar uma
fera...
— Não! — Jimin exclamou. — Ele vai ficar muito bravo e é bem capaz
que mande matar toda a aldeia só de raiva.
Yoongi olhou ao seu redor, e deu de ombros quando nenhum dos que
estavam presentes se manifestou.
— É. Acho que ninguém se importa.
— Veja, nós podemos juntar o útil ao agradável. Ele vai ficar muito,
muito bravo, vai querer descontar toda a raiva em alguém, e ele não vai
fazer isso em mim. Vocês sabem, sou o Ômega dele. Já a tripulação...
Imaginem, o Capitão Jeon de mau humor durante semanas...
— Já entendemos. — Jared o cortou. — Podemos pegar o fragmento
enquanto damos uma passada por lá. O Black Swan não vai sair do lugar.
Pegamos o fragmento e depois vamos para o navio.
— E vão ajudar a aldeia também. — Jimin acrescentou.
— Eu também vou. — Sungjae afirmou.
— Eu não quero atrapalhar, então vou ficar aqui. — Jisung disse, subindo
as escadas — Vou para o meu quarto arrumar minhas coisas.
Jimin respirou aliviado ao ver o irmão sumir pelo corredor. Saber que
Jisung ficaria a salvo, era menos uma preocupação para ele.
— Vamos. — Até mesmo Jackson, que queria encontrar o tesouro o
quanto antes, se prontificou.
Os piratas seguiram sendo guiados por Jimin, e como o Ômega imaginou,
assim que chegaram na aldeia, estava acontecendo uma batalha entre os
aborígenes, a guarda Real e alguns Alfas de aparência abominável.
A tripulação logo se juntou à luta, que estava mais vantajosa para os
guardas. Kauana estava sozinha contra um grupo de cinco Alfas, e a
construção que guardava o fragmento estava completamente exposta.
Para todos os lados tinham corpos caídos espalhados pelo chão. Jimin viu
o xamã entrando na habitação e correu atrás, quando viu um Alfa seguir o
mais velho. Byue tentava proteger a relíquia sagrada quando foi atacado, o
golpe só não foi fatal porque Jimin atirou nas costas do Alfa, fazendo o
mesmo perder a precisão de seu ataque e acertar o Gama no braço.
Jimin atirou novamente, e o Alfa caiu no chão sem vida.
— O que faz aqui? — Byue perguntou, pressionando o ferimento do
braço.
— Eu senti que isso ia acontecer, por causa das pessoas que ajudei a
libertar. Eu precisava fazer alguma coisa para ajudar vocês. Sei que me
expulsou mas...
Byue o interrompeu, segurando em suas mãos.
— Você é um bom Ômega. Corajoso, de alma forte e pura. Tenho certeza
que esse ataque não foi porque você libertou aquele povo. Yahto sempre faz
isso e nunca aconteceu tamanho ato covarde. A Lua está nos castigando
porque me recusei a enxergar que você é o verdadeiro possuidor da relíquia.
— O xamã retirou a fragmento da tábua, o enrolou como pergaminho e o
entregou para o lúpus — Tome.
— Tem certeza?
O xamã assentiu.
— Só você pode enxergar o que tem escrito, então é com você que a Lua
quer que ele fique.
— Obrigado.
Mais do que a satisfação de ter conseguido o sexto fragmento, era o
alívio de não ter que ver a tripulação tomando-o com mais violência.

Jungkook acordou com um disparo de uma arma. Ele estava abraçado a


um travesseiro com cheiro de jasmim. Ele se levantou da cama, vestiu sua
roupa, calçou as botas e empunhou todas as suas armas.
Assim que saiu do quarto, viu Jisung parado no fim do corredor, com
uma expressão assustada e olhando para todos os lados, completamente
perdido sobre o que fazer. Jungkook correu até ele, e ao passar pelas
escadas, viu rapidamente que uma tripulação estava invadindo as
estalagens.
— Onde está o Jimin? — Jeon perguntou. O Ômega abriu a boca mas
estava nervoso demais para responder, ou estava com medo da reação do
Capitão. Jungkook viu algo em seu ombro e franziu o cenho enquanto
retirava uma pistola do cinto. — Está machucado?
— Não! — Jisung respondeu nervoso, puxando a camisa para cobrir o
ombro.
— Está marcado... — o Ômega abaixou o olhar, envergonhado e outro
disparo junto ao som de um grito desesperado fez o Alfa voltar a si. — Sabe
atirar?
— Não.
Jungkook pegou a pistola e a colocou entre as mãos do mais novo, com o
dedo já no gatilho.
— Só precisa apertar isso daqui quando mirar em alguém. — Jeon tentou
ensinar rapidamente. O Ômega sem querer apontou para ele, Jeon então
guiou a arma para outra direção. — Não em mim!
— Desculpe.
— PEQUENO JUN, SEI QUE ESTÁ AQUI — A voz de Alma Negra
soou alto nos ouvidos de todos que estavam naquele local.— NÃO VAI
VIR DAR UM OLÁ AO SEU CAPITÃO? NÃO TEM MAIS NINGUÉM
PARA MATAR AQUI... ESTÁ FICANDO CHATO, MALDIÇÃO!
— Quem é? — Jisung questionou baixinho.
— Meu antigo capitão... Fique atrás de mim.
Jisung assentiu e segurou o cabo da pistola com mais força, enquanto
seguia o Alfa lúpus colado às suas costas. Eles estavam no andar de cima,
era muito alto para pular com o Ômega, logo, o único caminho era este, ou
esperar que a tripulação subisse para buscá-los.
Jungkook mantinha uma pistola apontada para o Alma Negra e uma
espada na outra mão, sempre olhando ao seu redor.
— Quanto tempo, Jeon Jungkook. Nem parece que foi aquele grumete
assustado implorando pela vida.
— Como vai a sua mão? — Jeon questionou.
O sorriso de Alma Negra diminuiu. Ele notou outro par de pernas atrás
do Alfa e ignorou a pergunta irônica.
— Não me diga que o Ômega lúpus é essa coisinha pequena atrás de
você. Tsc, tsc, tsc... Você cuidou muito bem do meu navio, sendo assim, se
me entregar o Ômega sem resistir, eu prometo que vou te matar
rapidamente e sem sofrimento.
— Você, tentando negociar... — Jungkook sorriu, à medida que
caminhava de costas, guiando Jisung atrás dele, até uma das saídas. — Se
não te conhecesse diria que está com medo de mim.
— Escolha errada. — Alma Negra pressionou o dedo no gatilho.
Jungkook atirou de volta e gritou para Jisung:
— Fuja!
O Ômega assentiu e girou correndo em disparada na direção do único
lugar que conhecia, a aldeia dos nativos. Jungkook não o seguiu, para
segurar a tripulação do navio Estrela da Morte e também, o próprio Capitão
dele, Alma Negra.

Continua...
[51] Covardia!!!

Reescrito

Jisung correu sem olhar para trás, mas sabia que estava sendo perseguido.
Subestimando o pequeno Ômega, apenas um Alfa o seguiu para capturá-lo,
erroneamente imaginando que ele era o lúpus.
Ao adentrar na floresta e após ouvir os passos do Alfa cada vez mais
perto, Jisung olhou para trás e tropeçou em algumas raízes quando o viu a
cerca de três metros, e caiu de costas no chão. O Alfa sorriu, avançando
contra ele.
Quando já estava quase em cima, Jisung apontou a pistola, fechou os
olhos, como o Capitão Jeon o ensinou ele apertou o gatilho. O barulho do
disparo só não foi mais alto que o grito do próprio Ômega, quando ele
sentiu o corpo do Alfa cair sobre o seu.
Assim que sentiu que seu perseguidor estava morto, ele grunhiu ao passo
que tentava sair debaixo dele, e continuou correndo, trêmulo e com os olhos
embaçando em lágrimas.
Para a sua sorte, a primeira pessoa que encontrou em meio a uma luta
entre piratas, guardas, nativos e agora, os recém libertos que se juntaram a
defesa do lugar, foi o seu irmão.
— O que está fazendo aqui?! — Jimin perguntou, escondendo-se com
seu irmão atrás de uma árvore.
— Alma Negra... está na taberna… Capitão Jeon — Falou quase sem
fôlego mas foi o suficiente para que o mais velho entendesse o recado.
Jimin retirou o pergaminho de seu bolso e o colocou no do seu irmão.
— Caçador! — Ele gritou, tendo a atenção do Alfa, que logo se
aproximou matando mais inimigos pelo caminho, e perplexo por ver seu
Ômega onde não deveria estar. — Cuide dele.
Jackson olhou confuso para Jisung e logo depois para o Ômega lúpus que
saiu correndo deliberadamente na direção da cidade.

Alma Negra seguia avançando com seus ataques utilizando a sua espada
e um punhal encaixado em seu outro punho, no lugar da mão perdida. A sua
gargalhada era alta e aterrorizante. Os membros da sua tripulação atacavam
todos de uma vez o Capitão Jeon, que se defendia com sua espada e
disparando contra os inimigos com sua pistola.
Quando a pólvora chegou ao fim, Jeon a substituiu pelo punhal,
interceptando um golpe no peito, afastando o metal para longe. Um Alfa
correu pela lateral segurando uma machadinha, pronto para abatê-lo, mas
Jeon se agachou e o golpe acertou um outro Alfa que estava do outro lado.
A arma ficou presa no meio do crânio dele.
Jungkook se aproveitou e cravou o punhal no coração do Alfa que
tentava puxar o machado de volta. Seguindo com os ataques, Jeon
desenterrou a machadinha e a lançou para trás, acertando o centro do peito
de um outro Alfa que correu para lhe atacar covardemente pelas costas.
No mesmo instante, outros dois piratas chegaram pelas laterais, ele
lançou o punhal contra Alma Negra, distraindo-o por tempo suficiente para
que Jeon se abaixasse, ele girou o corpo e deslizou a lâmina da espada,
abrindo o abdômen dos dois piratas.
— GRRR!! — Alma Negra rugiu de odio, puxando o punhal que cravou
em seu braço. — Maldito!
Alma Negra ergueu a espada avançando em um ataque mortal, Jungkook
girou no chão para o lado e passou por debaixo de uma mesa. Enquanto se
levantava se defendendo de novos ataques, Jeon recebeu um chute no rosto
que o fez tombar para o lado, brevemente atordoado.
Alma Negra lançou a mesa para longe, acertando sem querer – ou não –
os seus próprios companheiros. Jungkook girou para atacá-lo, mas o pirata
desprezível também lançou-se em um ataque, fazendo as lâminas se
chocarem uma na outra. Jeon sentiu um pé acertar seu peito e ele perdeu
todo o ar que tinha em seus pulmões, sendo lançado para trás. Ele bateu de
costas contra uma parede.
Mais piratas do Estrela da Morte chegaram pelos lados, e Jeon os acertou
com sua arma. Alma Negra o atacou de frente, a espada foi interceptada
pela de Jungkook, já o punhal deslizou para dentro da carne de seu ombro, e
ele rosnou de dor. Alma Negra riu alto.
A mão que segurava a espada fraquejou devido ao golpe, mas Jeon não a
largou, girando o braço para que a lâmina acertasse Alma Negra, mas pirata
mais velho foi mais rápido e puxou um Alfa para servir de escudo. O dito
atingido teve o peito rasgado e caiu no chão sem vida. Jungkook estava
cada vez mais cansado, devido a enorme quantidade de inimigos que
enfrentava. Dentro da taberna haviam cerca de quarenta Alfas, e mesmo que
tivesse ceifado a vida de alguns deles, o número apenas parecia aumentar.
Uma lâmina vinda entre vários corpos, rasgou o braço de Jungkook e
junto a vários ataques seguidos, ele deixou a espada cair no chão. Com a
visão do Capitão Jeon turva devido ao sangue e suor, Alma Negra
conseguiu acertar-lhe um soco fazendo-o cair sobre uma mesa, e quando
Jeon se reergueu com as costas apoiadas na parede, foi recebido pela ponta
de uma espada, que transpassou a lateral de seu abdômen e o fixou contra a
parede de madeira.
— Parem! — Alma Negra gritou, e os Alfas que estavam prontos para
dar fim a vida de Jungkook, obedeceram no mesmo instante. — Ele é meu!
Jungkook abriu a boca e uma golfada de sangue escorreu junto a um
gemido de dor. Alma Negra ergueu o punho que possuía uma lâmina em
vez de uma mão e o posicionou para cravar o punhal no olho do Capitão
Jeon.
Jimin surgiu pulando sobre uma janela, correu por cima das mesas e se
jogou contra o corpo montanhoso do Alma Negra. O pirata mais velho,
surpreso com seu ataque, se desequilibrou dando alguns passos para o lado.
Um Alfa surgiu e agarrou o Ômega por trás, puxando-o de seu Capitão, e
tentando se defender dos ataques, enquanto o Jimin se debatia. Mais três
piratas o ajudaram a contê-lo.
Quando Jimin viu o seu Alfa preso na parede com uma espada na lateral
do seu corpo, ele gritou em meio a angústia:
— JUNGKOOK! — Jimin chutou quem o segurava tentando salvar seu
Alfa.
A lâmina que Jimin utilizou em seu ataque ficou cravada no alto das
costas de Alma Negra, que só agora a sentiu e puxou o objeto de metal.
Jimin lançou a cabeça para trás, acertando o nariz de um Alfa, pisou
fortemente no pé de outro e conseguiu se libertar. Ele tentou atacar Alma
Negra novamente, mas foi impedido quando uma mão enorme se apoderou
do seu pescoço, e o ergueu do chão.
— Então é você, seu pestinha! — Alma Negra rosnou sorrindo, com seus
olhos vermelhos.
Diante da cena, Jungkook rugiu de ódio e agarrou a lâmina da espada
com as mãos nuas e a puxou para fora de seu corpo, fazendo mais jatos de
sangue vazarem do grave ferimento.
— Solte-o! — Jeon gritou, avançando com a espada coberta pelo próprio
sangue.
Jungkook estava mais devagar e zonzo, devido aos ataques e a alta perda
de sangue. Alma Negra lançou o Ômega para o lado, fazendo-o cair sobre
algumas mesas, e com a ajuda de dois membros de sua tripulação
interceptou facilmente o golpe de Jungkook.
Alma Negra se aproximou do Capitão Jeon e o chutou algumas vezes,
pisou na lateral de seu rosto contra o chão, fazendo-o olhar na direção em
que os Alfas mantinham Jimin imobilizado.
— Sabe o que vamos fazer com seu Ômega quando ele não tiver mais
serventia? — Alma Negra questionou, e logo depois ele e sua tripulação
asquerosa riram alto.
Alma Negra então retirou seus pés imundos do rosto do Capitão Jeon e
agarrou o braço do Ômega, levando-o consigo à força. Jungkook tateou
pelo chão e recuperou seu punhal. Ele se ergueu apoiando-se nas cadeiras e
mesas jogadas e avançou contra Alma Negra, mas recebeu o golpe de uma
clava nas costas, que o fez cair de joelhos.
— Mas que decepção… — Alma Negra comentou, ao ver Jungkook
ainda tentando se levantar e impedi-lo de levar seu Ômega. — Matem-no.
Como se já não bastassem as críticas lesões em seu corpo e ver seu
Ômega ser levado pelo Alfa mais bárbaro que ele já conheceu, Jungkook
teve o caminho até ele bloqueado pelos Alfas da tripulação inimiga, que o
cercaram como um bando de hienas inquietas ao ver uma presa,
aparentemente fácil.
Jeon encolheu o ombro machucado e colocou uma mão no ferimento do
abdômen. Munido com seu punhal na outra mão, ele foi se defendendo dos
ataques até quando não aguentou mais e caiu de costas em uma mesa.
Os Alfas discutiram rapidamente sobre quem daria o golpe final, o
vencedor empunhou uma espada e quando a ergueu, pronto para enterrar no
coração de Jungkook, Yoongi e Jackson foram os primeiros a surgir pela
porta, sendo seguidos pelo restante da tripulação do Black Swan.
Ao ver o pirata com a lâmina perto de ceifar a vida de seu Capitão,
Yoongi lançou sua katana como uma lança, e esta, atravessou o tórax do
Alfa. Notando que sua tripulação estava cuidando dos malditos, Jeon se
levantou e seguiu tombando até a porta, ainda querendo seguir Alma. Ele
deu de cara com Seokjin que vinha chegando, e o Beta quase caiu para trás
ao ver o irmão mutilado daquele jeito.
— Sungjae, pegue a minha bolsa no quarto! — o médico ordenou.
— Não! — Jeon rosnou empurrando-o. — Jimin… Vão atrás dele! Alma
Negra o levou!
Sungjae parou no terceiro degrau e precipitou-se:
— O quê?! Não! Precisamos salvá-lo!
— Sungjae, você não ouviu o que eu disse?! — Seokjin gritou de volta,
mas foi ignorado pelo Ômega que parecia fora de si.
— Ele…
— Você vai morrer se não me deixar cuidar disso! — Seokjin gritou,
impedindo-o de se levantar.
— E o que você acha que vão fazer com ele?!
— Céus! Jimin… — Jisung começou a chorar ainda mais.
Aproveitando-se da distração do médico, Jungkook o empurrou de seu
caminho e se levantou.
— Espera… — Yoongi considerou. — Hoseok estava no Black Swan…
— Namjoon também… — Seokjin sentiu uma pontada no coração.
O espadachim franziu o cenho e olhou para o Capitão.
— Onde está o Taehyung?
— Eu o mandei para o navio. E onde vocês estavam que não foram para
o Black Swan quando mandei?!
Os piratas hesitaram.
— Fomos com o Jimin proteger a aldeia. — Sungjae revelou.
Todos os Alfas e Betas olharam enfurecidos para o Ômega, que estava
bem protegido perto de Scott.
— Eles tinham um fragmento. — Billy acrescentou, como se fosse
diminuir o fato de terem desobedecido.
— O q-… — uma corrente de dor fez o Capitão fazer uma breve pausa e
respirar profundamente. — Isso não importa agora… vamos tomar um
navio e ir atrás deles imediatamente!
Pouco se importando se Seokjin terminou o curativo provisório,
Jungkook pegou suas adagas, seguindo até a porta.
— Mas Capitão — Junbuu os lembrou — São quase trezentos Alfas...
não temos chance.
Jungkook o ignorou. No lado de fora, ele ficou surpreso ao ver uma
enorme quantidade de Alfas, Betas e Ômega. Todos estavam munidos de
arcos e lanças feitos manualmente com materiais da própria floresta. O
Capitão piscou atônito, perguntando-se quem seriam aquelas pessoas e por
que estavam ali. Logo atrás dele, o restante da tripulação foi saindo aos
poucos da taberna, e Jisung parou ao lado do lúpus, igualmente
impressionado.
— Quem é essa gente toda? — Jackson indagou, próximo ao Ômega.
— Kunta… — Jisung murmurou olhando para o Ômega em questão, e o
mesmo sorriu para ele.
Os olhos do Capitão moveram-se lentamente encarando cada uma
daquelas pessoas, até pararem diante de um Alfa que estava à frente dos
demais.
— Sou Kinte. — O Alfa se apresentou, dando um passo à frente. —
Devo a minha vida àquele Ômega, e se com ela eu puder ajudar a salvá-lo, a
minha lança é sua. — Ele ergueu a arma, e os demais do seu povo fizeram o
mesmo.
A princípio, Jeon ficou sem reação. Aqueles eram os que seu Ômega
ajudou a libertar, quando ele próprio se negou a permitir tal ato. No entanto,
no momento em que ele mais precisava de reforços, aquela multidão de
Alfas, Betas e Ômegas estavam dispostas a arriscar suas vidas, para resgatar
o Ômega dele.
Jeon encarou o Alfa, reconhecendo que nada fez para merecer aquele
auxílio, mas assentiu, apreciando a postura altruísta daquelas pessoas.

Continua...
[52] Contra-Ataque

Reescrito

Passando pelas ruas do Brasil, Jimin era conduzido por Alma Negra e seu
bando de Alfas sórdidos. Seus ataques ao Capitão dos piratas lhe rendia
apenas risadas de chacota. O homem era bastante corpulento, sendo maior
que o próprio contramestre do Black Swan.
Um grupo de dez guardas locais faziam a apreensão dos produtos de uma
Beta na baía, que os vendia em local julgado por eles como inapropriado.
Jimin olhou na direção deles e gritou por auxílio, mas os guardas olharam
para ele e se comportaram como se não estivessem vendo um Ômega ser
sequestrado.
Passando pelas laterais do convés superior, Jimin viu alguns membros da
tripulação mantidos no piso inferior. Ele foi levado até a proa e amarrado ao
mastro principal.
- Eu vou te matar. - Jimin afirmou enquanto Alma Negra recebia um
punhado de pergaminhos.
Eram os cinco fragmentos do Imperium que estavam com a tripulação do
Black Swan, e um outro que achava-se na posse de Alma Negra.
- Onde está a parte que nos falta? - O Capitão perguntou ao seu
subordinado.
- Não estava com os selvagens. - O bucaneiro respondeu com a cabeça
baixa e bastante medo na voz.
Jimin riu satisfeito, lembrando-se de ter colocado nos bolsos de seu
irmão.
Alma Negra franziu o cenho e olhou para ele.
- Onde está?
- O quê? - Jimin questionou, com falsa inocência.
O Capitão agarrou o pescoço do Ômega e apertou, impedindo qualquer
passagem de ar.
- Capitão, como ele vai falar se o senhor está enforcando ele? - O
bucaneiro perguntou, e em resposta, recebeu um tiro no peito.
Jimin tossiu quando Alma Negra o livrou do aperto, tentando não
vomitar com os respingos de sangue que o acertaram. O Capitão segurou o
corpo do Alfa morto e o atirou para fora do Black Swan.
- Está com fome? - Alma Negra perguntou, retirando uma faca do cinto.
Jimin não entendeu se a pergunta seria para ele, então permaneceu calado -
Abra a boquinha, Ômega.
A tripulação sorriu entusiasmada, se aproximando da proa para assistir o
espetáculo, ávidos para assistir o Capitão Alma Negra fazer o Ômega comer
a própria língua. O Alfa forçou os dedos contra as bochechas de Jimin,
fazendo-o abrir a boca.
- Já que não tem a informação que quero, não vai precisar da sua língua. -
Alma Negra cantarolou. Em desespero, Jimin balançou a cabeça, tentando
se livrar do aperto e murmurando coisas impossíveis de decifrar. - Calma,
Ômega guloso. Fique quieto e será mais fácil.
- Eu posso ajudar! - Taehyung gritou. Alma Negra parou a lâmina da faca
a alguns centímetros da boca do Ômega e olhou na direção do piso inferior,
onde estavam os prisioneiros - Eu não consigo enxergar as runas mas já
compreendo esse tipo de escrita. Deixe-me um minuto com ele e eu o
convenço a me ditar as figuras. Você ainda precisa decifrar o pedaço do
mapa que está em sua posse, certo? Sem ele não vai conseguir, a não ser
que tenha outro Ômega lúpus disponível.
Alma Negra largou o rosto de Jimin e caminhou descendo as escadas até
estar próximo ao Beta navegador. O Capitão se abaixou ao lado dele,
Hoseok sacudiu o corpo, tentando se livrar das amarras que o prendia, mas
não obteve sucesso.
- Não o toque! - Hoseok avisou.
Namjoon acertou um pontapé no quadril do atirador, e este lhe devolveu
um olhar gélido.
- Calma, Hoseok. Sua hora vai chegar. - O Capitão ordenou aos seus
Alfas: - Preparem a prancha e dêem meia volta. Vamos buscar a última
parte.
- Seu maldito... - ignorando os avisos de Namjoon, Hoseok continuou
esbravejando - Eu juro que se fizer qualquer mal à ele...
- Eu nunca vi ração de tubarão falar! - Alma Negra ditou e seus marujos
riram alto, preparando a viga de madeira. Ele então voltou sua atenção ao
Beta: - Se você fizer qualquer coisa que me deixe irritado, vou fazer você
comer suas bolas.
Taehyung assentiu e foi libertado pelo Capitão. Seguindo cauteloso entre
os bandidos, o Beta subiu as escadas e caminhou até o mastro que Jimin foi
amarrado, portando um dos fragmentos que estava com Alma Negra, e que
ainda faltava ser traduzido.
- Jimin, por favor, me fale as figuras que você vê?
- Eu não vou contar nada para esse nojento!
Alma Negra puxou um dos piratas do Black Swan pelo cabelo, inclinou
sua cabeça para trás e cortou a garganta dele sem nenhuma piedade. Choque
rasgou as expressões de Taehyung e Jimin, quando o corpo do Alfa caiu
prontamente sem vida.
- Eu tenho todo o tempo do mundo! - Alma Negra sorriu e puxou o
cabelo de Namjoon, pronto para ceifar mais uma vida.
- Um traço vertical! - Jimin apressou-se em dizer. - Outro com um ponto
para o lado esquerdo... - e continuou a descrever as runas que estava
enxergando, à medida que tentava conter as lágrimas.
As mãos do Beta tremiam conforme a pena deslizava sobre o pedaço de
papel em branco. Ele continuou a escrever, tentando ignorar o atirador ser
levado para a prancha, com as mãos atadas às costas.

Os poucos comerciantes que foram permitidos continuar no cais, eram


aqueles que pagavam o maior tributo ao regente do lugar. Os guardas
estavam terminando de recolher seus lucros, quando dois espadachins
surgiram, um de cada lado, sem dar qualquer chance de defesa. Eles
deceparam as pernas de dois, rasgaram o peito de mais outros e em seguida,
atravessaram o tórax dos que sobraram.
O Capitão Jeon seguia pelo meio enquanto as mortes aconteciam, munido
com duas pistolas, uma em cada mão. Ele entrou no primeiro navio e o
primeiro marinheiro que o viu, deu de cara com o cano de uma arma e
seguidamente, a pólvora estilhaçando sua face.
Os demais que estavam cuidando das cargas no convés ouviram o
barulho dos tiros, mas assim que se colocaram de pé para defender suas
posições, foram recebidos por novos disparos pelas armas do Capitão, que
seguia sem se importar com as dores em seus ferimentos. Seokjin conseguiu
fazer pelo menos um curativo mais resistente, o que impedia a perda
excessiva de sangue.
Um Alfa estava na escotilha da proa, segurando a engrenagem da âncora.
- Quer que eu puxe para o senhor? - Ele pediu, com medo de ser morto.
Jungkook o chutou na altura das costelas, fazendo-o voar por cima da
mureta e ser jogado no mar. Ele mesmo segurou na engrenagem e cerrou os
dentes quando uma dor atravessou seu outro ombro machucado.
- Eu ajudo. - Jackson segurou do outro lado e o ajudou a subir a pesada
âncora.
- Icem todas as velas e alimentem os canhões! - Jeon gritou e a tripulação
correu para obedecer.
- Com licença, Capitão Jeon, mas o que eu faço? - Jisung perguntou.
Jungkook estudou o pequeno Ômega, imaginando que ele não poderia
ajudar em nada, ao invés, sua presença só iria atrapalhar visto que não tinha
nenhuma experiência em navios piratas. Jeon então puxou uma luneta e a
entregou para ele.
- Venha. - Jungkook subiu até o piso superior para tomar conta do leme e
puxou o cunhado consigo. - Diga-me se encontrar qualquer coisa.
Jisung estava ao lado dele. O Ômega segurava a luneta como se fosse a
coisa mais importante que ele recebeu na vida e colocou-se a buscar no
horizonte por indícios de algum navio.
Na outra embarcação, Dahyun assumiu o comando e o leme ficou por
conta de Chaerin. Eles seguiam atrás, levando todos os escravizados que
não possuíam nenhuma experiência em navios, visto que sempre eram
transportados de maneira desumana nos porões. Mas sendo orientados pelos
piratas, eles ergueram as velas, e ajudaram a manusear os cabos.
Não demorou para que os navios roubados da Marinha do Brasil
encontrassem o rastro das embarcações inimigas.
- Eles estão pela proa a bombordo! - Jisung gritou. - Estão vindo na nossa
direção!
Boquiaberto, Jungkook olhou para o Ômega, que mantinha sua atenção
na esquerda.
- Dê-me a luneta. - Jeon exigiu. De fato, Jisung estava certo e ele
reconheceu as velas negras do Black Swan algumas milhas a frente, um
pouco à esquerda, e muito próximo a ele estava o navio de Alma Negra e
mais duas fragatas. - Chaerin - ele gritou, tendo a atenção da Alfa -
contorne o Estrela da Morte.
- Mas e o Black Swan, Capitão? - Dahyun correu a mureta e perguntou,
como medo de que seus vinte canhões sob a posse de Alma Negra,
destruíssem os galões em que eles estavam.
- Deixe-o destruir as embarcações em que estamos. - O Capitão
respondeu do outro navio. - Não vamos precisar delas quando tomarmos
nosso navio de volta.
- Entendido! - a Beta sorriu, respirou fundo e repassou as ordens para a
tripulação.

Hoseok seguia caminhando pela prancha, com Alma Negra logo atrás,
segurando uma pistola apontada para ele.
- Capitão, há dois galeões se aproximando pela popa. - um Alfa
informou, mas Alma Negra manteve seus olhos mirando os de Hoseok.
- É o pequeno Jun - o Capitão dos inimigos afirmou, sorrindo insano. -
Ele veio trazer o último fragmento.
- Quais suas ordens? - um bucaneiro questionou com medo da
aproximação de Jeon.
- Se jogue no mar. - Alma Negra rosnou enfurecido, sabe-se lá com o
que. Na maioria das vezes, o simples fato de falar com ele, era motivo
suficiente para ser condenado à morte.
- Perdão? - o bucaneiro ainda tentou insistir.
Alma Negra voltou sua atenção ao Alfa, com seus olhos vermelhos tal
como duas labaredas infernais. Hoseok chutou a mão do Capitão e a pistola
voou, ganhando altura. Um bucaneiro que estava próximo a Jimin e
Taehyung sacou sua arma, mas o Beta perfurou seu olho com a pena que
escrevia no pergaminho.
Taehyung puxou uma adaga que o adversário possuía presa na perna e
jogou para Namjoon. A arma caiu no chão e o contramestre a puxou com os
pés. Alma Negra puxou sua espada e com um ataque direto, tentou
esburacar o peito de Hoseok, mas este conseguiu se esquivar e fez com que
a lâmina cortasse as cordas que o prendia.
O velho Alfa o acertou com uma cotovelada, fazendo-o cair no chão do
convés. Um pirata apontou sua pistola para Hoseok, mas foi morto pela faca
que Namjoon empunhava.
Outros piratas libertos pelo contramestre tentaram lutar e recuperar suas
armas, alguns foram mortos e em meio a confusão, os dois galeões que
estavam sendo comandados, um pelo Capitão Jeon e o outro por Dahyun, se
aproximaram e cercaram o Estrela da Morte, que seguia à frente do Black
Swan.
- Ordens, Capitão? - os piratas da tripulação de Alma Negra que haviam
ocupado o Black Swan, questionaram desesperados, quando viram um
navio ao lado do seu, e o Capitão Jeon guiando o leme.
O galeão conduzido por Jungkook, estava entre o Estrela da Morte e o
Black Swan, em uma posição em que seria facilmente destruído caso as
duas embarcações abrissem fogo contra ele. Já o navio guiado por Chaerin,
estava do outro lado do Estrela da Morte.
- Fogo! - Capitão Jeon gritou e os canhões dos dois galeões rugiram
contra ambos os lados do Estrela da Morte.
Recuperando o controle de sua mínima sanidade, o velho lúpus ordenou
que seus Alfas atirassem com toda a força de fogo que o Black Swan
possuía, contra o galeão em que Jungkook estava. Com a ordem em atraso e
o motim causado pelos piratas do Capitão Jeon, eles só conseguiram
destruir o fundo da embarcação.
Jungkook girou o leme para contornar e dar a volta, deixando o navio
ficar com seus canhões apontados para a popa do Estrela da Morte, que
estava completamente avariado pelas laterais e ainda mais lento.
- Fogo! - Jeon rugiu outra vez. Quinze bolas de canhões foram disparadas
contra o navio inimigo.
Os outros dois navios pertencentes a Alma Negra, seriam as fragatas, e
elas vinham ao auxílio do velho Alfa, assim como o Black Swan que ficou
lado a lado com o galeão outra vez.
No meio tempo em que o fogo cruzava entre as duas embarcações, Jimin
olhou na direção do galeão e viu seu Alfa também o olhando de volta. Um
pirata correu até o mastro em que Jimin estava ainda amarrado, mas antes
de chegar próximo do Ômega, o Capitão Jeon acertou um tiro que
atravessou seus ouvidos.
Vigas foram postas na direção do Black Swan, e embora os piratas de
Alma Negra atirassem contra todos que começaram a cruzar caminho até o
navio de velas negras, eles continuaram avançando até que o primeiro
marujo pulou invadindo o Black Swan, sendo seguidos pelos demais.
Continua...
[53] Capitão Jeon

Reescrito

As fragatas sob a posse de Alma Negra voltaram-se contra o galeão


conduzido por Jungkook. O Estrela da Morte estava completamente
avariado, a água penetrava em seu interior com rapidez, fazendo com que o
navio ficasse ainda mais pesado e impossibilitado de se mover.
Com as escotilhas dos canhões destruídos, a poderosa embarcação serviu
apenas como palco para uma luta sangrenta entre os piratas. Chaerin
manobrou o navio majestosamente, impedindo que o galeão em que o
Capitão Jeon estava fosse alvejado pelas fragatas.
Chaerin ainda girou o leme inteiramente para a direita e deixou todos os
canhões apontados para uma das embarcações que cercou Jungkook. Os
navios trocaram disparos e pedaços de madeira voaram quando as bolas de
ferro invadiram os compartimentos, destruindo tudo o que viam pela frente.
Hoseok conseguiu se apoderar de duas pistolas e disparava com extrema
precisão, contra todos que se aproximavam da proa, dando cobertura a
Jimin e ao navegador. Taehyung estava com dificuldade em desatar os nós
feitos por Alma Negra.
- Será que dá para ir mais rápido?! - Hoseok questionou ao notar que já
estava ficando sem munição.
Um Alfa segurando um machado girou o cabo da arma tentando acertar o
atirador, Hoseok apontou a pistola para ele mas não houve disparo. A
pólvora havia chegado ao fim. Ele tropeçou, dando passos para trás e
olhando para os lados procurando por uma arma. Yoongi surgiu pulando
através de um dos mastaréus e cortou o braço do Alfa que segurava o
machado.
Taehyung correu para pegar a arma e usá-la para libertar Jimin, mas
quando girou na direção dele, viu o Capitão Jeon descer por uma das velas,
evitando contato direto com a batalha no piso do Black Swan. Jungkook
pulou na frente do Ômega, puxou sua faca e com um movimento rápido o
libertou das amarras. Jimin o abraçou rapidamente.
- Meu amor!
- Você está bem? - Jeon questionou e deixou um breve beijo em seus
lábios, enquanto Jimin puxava uma pistola do cinto dele.
Jeon o olhou preocupado, não tendo tempo para argumentar sobre o fato
de ter escondido a informação do fragmento que estava com os nativos. A
batalha ainda acontecia e outros Alfas avançaram contra eles. Os dois lúpus
ergueram as armas e cada um atirou contra o inimigo que vinha pelas
costas, um do outro.
- Não há tempo para as suas preocupações agora. - Jimin afirmou
atirando contra outros piratas.
Jungkook ergueu as sobrancelhas e sorriu. Ele desembainhou a espada e a
entregou para o menor.
- Uma hora a pólvora acaba.
- Voc-...
- Confio em você, meu coração. - Jeon deixou outro beijo na testa do
Ômega. - Mas tenha cuidado.
Jimin assentiu quando o Alfa se afastou depressa, e um corpo caiu entre
eles, sem vida. Com a visão periférica, Jungkook viu Alma Negra rugir de
ódio e dilacerar Alfas e Betas tentando chegar até ele.
Quando o último disparo derrubou um pirata que estava no topo da
escada que dava acesso ao piso superior, Alma Negra surgiu logo atrás dele,
com uma longa espada afiada em uma mão, e um gancho no lugar da outra.
Ele atacou o Capitão Jeon, que dessa vez não estava sozinho e pode se
defender mais habilmente dos seus ataques.
Mesmo que estivesse gravemente ferido, Jungkook foi ligeiro quando
puxou duas adagas e as cruzou diante do rosto, impedindo que a espada do
Capitão do Estrela da Morte lhe atingisse.
Traiçoeiro, Alma Negra tentou atacá-lo por baixo e lançou o gancho
afiado contra o abdômen de Jungkook, mas ele se afastou rapidamente
girando sobre um pé e chutou o queixo do velho lúpus com o calcanhar.
Alma Negra cambaleou para o lado e só teve tempo de desviar uma
segunda vez, tropeçando para trás, quando o Capitão Jeon seguiu com seus
ataques e pulou pronto para cravar as duas adagas no peito do mais velho.
As lâminas acertaram a espada de Alma Negra e chisparam faíscas no ar.
O velho girou sua arma para atingir as pernas dele, mas o Capitão Jeon
pulou equilibrando-se na mureta do navio, segurou em uma corda e subiu
para fugir de um novo ataque. Jeon pulou por cima dele e aterrissou logo
atrás de seu corpo, quando Alma Negra girou para enfrentá-lo, foi recebido
pelas lâminas do Capitão Jeon, que puxou as adagas em formato de xis e
decepou o braço do velho lúpus que empunhava a espada.
- Grrr! Aaahh! - Alma Negra urrou olhando para o seu punho que jorrava
sangue como uma cascata.
Enquanto a luta se desenhava no piso do Black Swan, alguém chutou a
mão do sombrio Capitão Alma Negra, e ela deslizou pelo chão até cair
dentro do buraco de uma escotilha que dava acesso ao porão de carga.
Jisung estava atrás do leme, correndo ao seu redor e tentando fugir de um
pirata que segurava uma faca. O Alfa sorriu se divertindo, como se
estivesse brincando com sua presa.
- Ratinho teimoso, porque você corre?
Lembrando-se do que o Capitão Jeon havia dito sobre ele não ter força
para conseguir manter um cabo fixo, Jimin segurou na corda que ligava o
topo de uma das velas mais altas ao chão e a cortou na parte de baixo.
Instantaneamente, o cabo o puxou com bastante impulso e ele foi lançado
do Black Swan, até o galeão onde viu seu irmão ser encurralado pelo pirata.
Com a arma em punho, Jimin soltou a corda e caiu de pé atrás do Alfa,
que só percebeu que tinha alguém ali quando a espada do Ômega lúpus
atravessou suas costas e a lâmina surgiu do outro lado. Jimin puxou a
espada e o Alfa caiu no chão.
- Jimin! - O Ômega mais novo respirou aliviado.
Jimin assentiu para ele, mas viu o sorriso desaparecer do rosto do irmão
quando Jisung viu um grupo de piratas em cima do caçador. Jisung agarrou
um caixote vazio no convés, o ergueu acima da cabeça e jogou nas costas
de um dos Alfas que atacavam o caçador.
Com a pequena distração, Jackson rasgou a garganta do Alfa atingido
pela caixa. Jisung correu até ele para ajudar, mas com a falta de habilidade
em batalha, travou quando um pirata avançou contra ele. Enquanto lutava
contra um Alfa, Jackson atirou uma faca contra um outro que surgia pela
esquerda e quando viu um pirata atacando Jisung, atravessou a arma no
coração de seu inimigo e correu até eles.
- Meu Ômega não, seu maldito! - Jackson girou a katana e decepou a
cabeça do pirata inimigo.
O caçador segurou na mão de Jisung e o manteve por perto. Defendendo-
o à medida que avançava contra os adversários.
Jimin desceu até o convés e se juntou a Kinte e seu povo, na luta contra
os rivais hostis. O Alfa manuseava com agilidade a sua lança, perfurando
todos que ousavam golpeá-lo de frente.
Com a ajuda de Namjoon, Billy, Jared, Dahyun e demais bucaneiros,
Hoseok se apossou dos canhões do Black Swan. Ao seu comando, os
canhões foram postos contra uma das fragatas que destruiu um dos galeões.
- Fogo! - Hoseok gritou e os piratas acenderam os pavios.
Vinte disparos soaram contra a embarcação, destruindo seu corpo
amadeirado.
Alma Negra ainda tentou fugir do jovem lúpus que avançava cheio de
fúria, empunhando duas adagas. Ele girou o braço e tentou atingi-lo com a
lâmina em forma de gancho, mas Jungkook sustou seu ataque e a ponta do
gancho cravou na madeira, deixando Alma Negra preso.
O Capitão Jeon desceu as lâminas e cortou os ligamentos do cotovelo do
pirata mais velho. O antebraço dele permaneceu ligado ao gancho preso em
um caixote. Alma Negra rugiu, recebendo um forte chute que certamente
quebrou algumas costelas e caiu de joelhos no chão.
- Ajudem-me! - Alma Negra gritou - Matem esse miserável!
Os Alfas ouviram as ordens de seu capitão e avançaram todos juntos
contra Jeon. Jungkook ignorou as pontadas em seu ombro e contra-atacou
com toda fúria os piratas que o cercaram. Jeon rasgou o peito de um,
perfurou o centro da garganta de outro e os dois seguintes sentiram a ponta
das adagas do Capitão atravessar seus olhos ao mesmo tempo.
Alma Negra se levantou do chão, zonzo com a perda de sangue e tentou
fugir para um dos botes que alguns piratas tentavam escapar, para ser
levado por eles. Jungkook olhou para o seu rival, andando cambaleante. Ele
guardou as adagas e caminhou devagar até o mesmo.
Alma Negra tropeçou caindo no chão, quando Jungkook o empurrou
dando um chute em suas costas.
O velho pirata virou-se com as costas no chão e cuspiu sangue quando
começou:
- Eu poupei a sua vida. - Jeon parou ao lado dele, de pé. - Eu o acolhi em
minha tripul-...
Alma Negra foi interrompido com um golpe, quando Jungkook pisou em
seu rosto com força. As marcas da bota do Capitão Jeon ficaram desenhadas
no rosto dele.
- O que disse que ia fazer com meu Ômega? - Capitão Jeon questionou,
ainda forçando o pé contra o rosto do pirata.
Alma Negra sufocou com o sangue que jorrava do nariz, murmurando
palavras abafadas.
- Aag...grr...
- Não estou ouvindo. - Jungkook pisoteou novamente o rosto de Alma
Negra, afundando seu nariz.
O Alfa sacudiu os braços enquanto rugia pela garganta, já que seu rosto
estava praticamente destruído, e nem ele mesmo conseguia distinguir onde
ficava sua boca. Jeon se agachou ao lado do velho pirata, Alma Negra
apenas tremia e jorrava sangue. Jungkook puxou uma das adagas e a
posicionou em cima do peito dele.
- Você e sua tripulação - Capitão Jeon ergueu os olhos para os piratas que
assistiam a cena, eles sobressaltaram assustados e pularam no mar. A adaga
deslizava lentamente, atravessando o coração de Alma Negra. Jeon voltou
sua atenção ao mais velho: -, não vão encostar um dedo nele.
O corpo de Alma Negra sacudiu uma última vez, antes de paralisar sem
vida.
Chaerin conduziu muito bem a embarcação, mas como estava sendo
atacada pelas duas fragatas ao mesmo tempo, o segundo galeão começou a
afundar lentamente. O mar estava cheio de estilhaços, pedaços de madeiras,
velas, Alfas e Betas que pertenciam à tripulação do Estrela da Morte, e
alguns do Black Swan.
Os que não conseguiram subir na fragata mais intacta, tentavam salvar
suas vidas se agarrando aos pedaços dos cascos dos navios ou nadando e
enfrentando as fortes ondas do Mar Tenebroso.
A tripulação do Capitão Jeon e o povo africano subiram todos a bordo do
Black Swan. O espaço era pouco e devido ao peso e algumas avarias, a
velocidade do navio diminuiu consideravelmente. Mas eles conseguiriam
navegar até chegarem em seu próximo destino.
Os piratas que fugiram na fragata, olhavam aflitos o navio de velas
negras se aproximar pela popa. Devido ao número de velas ser superior, o
Black Swan alcançou a embarcação menor ficando lado a lado com a
mesma.
- Suas ordens, Capitão? - Namjoon questionou e todos olharam para
Jungkook.
Jeon estava com uma mão no ferimento abdominal e a outra apoiada nos
ombros de Jimin. Ele olhou para seu Ômega e sorriu com ternura, antes de
desviar a atenção para a fragata.
- Fogo!
Os Alfas e Betas da fragata correram para se jogar no mar, para evitar
serem destruídos juntos com o navio. O estrondo dos canhões destruindo
cada centímetro da embarcação inimiga e os gritos desesperados dos piratas
foram seguidos por várias grandes explosões e em poucos minutos, o que
sobrou da fragata foi engolido pouco a pouco pelas águas profundas e
misteriosas do Mar Tenebroso.
O Black Swan seguiu deslizando calmamente em meio a harmoniosa
sinfonia das ondas quebrando contra seu casco.

Continua...
[54] Boa Notícia

Olha a perfeição que a Mochi_Aninha fez 😍❤😍❤😍❤😍❤


Reescrito

A tripulação gritava eufórica, festejando não apenas a grande vitória, mas


também porque estavam sob a posse dos sete lendários fragmentos, que o
Beta navegador logo se ocupou em guardá-los.
— Para onde devo estabelecer o curso, Capitão? — Taehyung perguntou,
tão ansioso quanto os demais.
Jungkook olhou para o convés inferior e viu os escravizados. Alguns
comemorando entre si, outros como Kinte, aguardavam para saber qual
seria seu destino.
— Leve-os para casa. — O Capitão deliberou ainda fitando o Alfa, e este
suspirou acenando com a cabeça.
Jimin estava sorrindo vendo os piratas festejarem, quando percebeu que o
Capitão estava apoiando seu peso nele, cada vez mais. Jimin olhou para o
Alfa e se assustou ao notar como ele estava pálido e com a respiração fraca.
— Estou bem. — Jeon murmurou, apoiando o rosto no ombro do Ômega.
Mas no segundo que se passou, a escuridão tomou conta de Jungkook e
todo seu peso caiu de vez sobre Jimin. Ele o agarrou pela cintura e deu
alguns passos para trás, até ser ajudado por Namjoon, a segurar o corpo
desfalecido do Capitão.
— Seokjin, ajuda aqui!
O médico correu até eles e ditou:
— Leve-o para a cabine, rápido.
Namjoon ergueu sozinho o corpo do seu Capitão e fez como Seokjin
indicou. O Beta olhou para Jimin, percebendo como ele estava distante,
com os olhos abertos e a respiração desregulada.
Jimin abriu a boca arriscando dizer algo, mas engasgava a cada palavra
que tentava proferir. Ele estava paralisado, olhando seu Alfa ser levado para
a cabine. Seokjin segurou em seu rosto e desviou a atenção dele para si.
— Jimin, ouça minha voz. Fique comigo e respire devagar. — o médico
fez uma pausa e puxou o ar lentamente, soltando-o logo em seguida pela
boca — Olhe para mim.
O Ômega tentou fazer como Seokjin indicou, mas o pânico queria tomar
conta dos seus sentidos. Jimin colocou a mão no ombro e seu coração
acelerou ainda mais.
— Jung... — Dizia engasgando com o ar.
— Só respire. — Com muita paciência, Seokjin inspirou novamente,
deixando o ar escapar aos poucos pela sua boca — Faça como eu.
Prestando atenção no rosto do Beta, Jimin fez como ele e tomou longas
respirações. Até sentir-se mais brando e recuperar o controle.
— A marca. — Jimin conseguiu falar, agora mais calmo — Está fraca.
— E por isso ele precisa de você. — Seokjin disse. — Eu sou médico,
não vou deixar que nada de ruim aconteça. Confie em mim.
Jimin anuiu, engolindo um bolo de preocupação e aflição. Sentiu o Beta
segurar em sua mão e o puxar na direção da cabine. O Capitão estava
deitado na mesa, desacordado e completamente vulnerável a qualquer
ameaça.
O médico retirou a camisa de Jungkook com a ajuda de Namjoon, e
começou a limpar o ferimento mais grave, com Sungjae o auxiliando. Jimin
ficou do outro lado da mesa, segurando a mão de Jeon. Talvez ele não
soubesse, mas aquele ato ajudou o Alfa.
O médico se concentrou em cuidar do ferimento na lateral do abdômen.
— Vou suturar e cuidar do ombro.
— Vai ficar uma cicatriz horrível. — Sungjae afirmou.
— Você é um serzinho bastante inconveniente, não? — Seokjin reclamou
enquanto cuidava do ferimento. — Há coisas mais importantes do que mais
uma cicatriz, além das tantas que ele já tem. Não seja tão fútil.
— Não estou sendo. Foi só um comentário. Seokjin, você é muito grosso.
— Eu te conheço, cocada de sal.
— Se eu realmente me importasse com esse tipo de coisa, estaria
namorando um cara sem uma perna?
Seokjin arregalou os olhos, desviando momentaneamente a atenção da
lesão, para Sungjae. O Ômega estava cada vez mais próximo do bucaneiro
Scott durante as últimas semanas, mas nada além do que já tenha sido
observado pelos tripulantes.
Se eles estavam envolvidos mais intimamente, então o fizeram
escondidos, durante todo esse tempo. Aquela informação pegou o médico
de surpresa.
— Eu sabia que aquele bucaneiro sem vergonha estava com segundas
intenções. — Seokjin reiterou, voltando sua atenção ao abdômen de
Jungkook. — Scott jura que me engana.
— Não é nada do que você imaginou — Sungjae contrapôs. — Ele só
queria cuidar de mim...
— Escuta, eu vou te dar um conselho; cuidado com esses Alfas. Não é
boa ideia se apaixonar por eles.
Sungjae apoiou as mãos nos quadris e franziu as sobrancelhas, quando
encarou o médico com uma expressão relaxada.
— E você não está envolvido com um?
Seokjin abriu a boca para dar uma resposta, mas não tinha o que dizer,
ele realmente estava em um tipo de relacionamento com o contramestre.
Não era nada formal, Namjoon e ele apenas não gostavam de rotular as
coisas. O médico comprimiu os lábios e limpou a garganta, incomodado
com o rumo da conversa.
— Pare de falar, está me atrapalhando.
— Sim, mestre. — Sungjae disse, ironicamente.
O médico suspirou irritado pronto para uma resposta a altura, mas ouviu
Jimin rir baixo. Seokjin e Sungjae trocaram olhares confusos e voltaram a
atenção para ele.
— Você está bem?
— Sim. Agora estou. — Jimin respondeu, apertando a mão do Alfa
contra seu peito — Estava tendo pensamentos horríveis, mas a discussão
dos dois me distraiu.
— Sei que é o óbvio a se dizer a alguém, mas não custa nada reforçar;
Não fique pensando nessas coisas. Não dê espaço para isso. Como está a
marca?
Jimin colocou a outra mão no ombro e fechou os olhos. Quando abriu,
um sorriso se formou, tão grande que Seokjin não precisava de uma
resposta para saber do resultado.
— Está tão forte quanto no dia em que ele me marcou.
— Foi você — Sungjae informou. — Vocês estão dividindo tudo.
— Como sabe tanto?— Jimin perguntou e Seokjin também ficou curioso.
— Você já foi marcado?
Sungjae desviou o olhar e suspirou antes de responder:
— Já. Um pirata do Estrela da Morte ficou empolgado e me marcou. Mas
Alma Negra matou ele. Eu era a diversão da tripulação dele, não podia ser
mais, se pertencesse a apenas um Alfa.
— Eu fico muito feliz em saber que todos eles estão queimando no
inferno agora! — Jimin esbravejou, visivelmente com raiva.
— Eu também. — Sungjae sorriu — Mas não vamos falar sobre aqueles
imundos. Seokjin, deixa eu fazer o curativo do ombro?
— Está louco? Não vou deixar você treinar no ombro do Capitão.
Estamos falando do meu irmão. Se ele ficar aleijado? Se perder o
movimento do braço? E se o braço dele cair?!
Sungjae bufou revirando os olhos.
— Eu confio nele, Jin. — Jimin afirmou. — Sei que você fez um ótimo
trabalho ensinando o Sung. E com sua supervisão sei que nada disso vai
acontecer.
— Hm... — o médico observou seu aprendiz. Sungjae já havia
demonstrado seu sangue frio e calma diante de situações que presenciou
com Seokjin e alguns membros da tripulação. Até a perna do próprio Scott,
que ele encarregou-se praticamente sozinho, e hoje o pirata a utiliza
extremamente bem. — Tudo bem. Pode fazer.
Sungjae tentou conter a empolgação, e apenas anuiu sorrindo. Ele pegou
os instrumentos necessários e começou a fazer sua tarefa, sob os olhos
atentos de Seokjin. Após terminar de fazer o curativo, o Beta avaliou o
desempenho dele e assentiu, satisfeito.
— Agora vamos deixá-lo descansar. — Seokjin afirmou recolhendo os
materiais — Namjoon, coloque Jungkook na cama.
— Eu quero ficar com ele. — Jimin determinou.
— Tudo bem. De qualquer forma, estamos longe do nosso destino, você
pode ajudar Taehyung a traduzir os fragmentos depois.
— Não é uma boa ideia fazer isso com tanta gente aqui — o contramestre
opinou. — Taehyung os guardou em segurança, quando esse povo
desembarcar nós voltaremos a buscar o tesouro.
— E qual o problema de fazer isso com eles aqui? — Jimin questionou
ofendido. — Eles não são ladrões.
— O ouro corrompe as pessoas. — Namjoon disse. Fez-se um silêncio
após suas palavras, e logo após ele se dirigiu até a porta. — Vou me
certificar de que estão fazendo seus trabalhos e falar com a Chaerin. Ela
precisa ter cuidado, ainda estamos no Mar Tenebroso.
Seokjin e Sungjae o seguiram, deixando Jimin e o Capitão Jeon sozinhos
na cabine. Jungkook estava deitado de barriga para cima, ainda sem camisa
mas com uma manta o cobrindo até o pescoço. Jimin estava de lado, ainda
segurando a mão dele entre as suas, logo abaixo do queixo. Também estava
cansado depois de tudo o que passou, e acabou adormecendo minutos
depois.
Quando o Capitão acordou, viu seu Ômega dormindo tranquilamente,
segurando sua mão. Ele sorriu tentando se levantar, mas uma careta de dor
desenhou em sua face, quando sentiu seus ferimentos latejando e ardendo.
Jungkook permaneceu deitado, observando a respiração calma do
loirinho e seu cabelo já crescido, batendo nos olhos. Ele gostava de
observá-lo dormir em sua quietude. Se acordado Jimin não parava quieto,
dormindo ele parecia um anjinho.
Jimin abriu os olhos e resmungou algo baixinho. Ao ver que Jungkook já
estava acordado, ele sorriu esticando o corpo.
— Como se sente?
— Estou bem, não se preocupe.
Jimin o observou por alguns segundos. Capitão Jeon era um Alfa muito
forte, não só fisicamente. Foi ferido tão gravemente, quase morreu e mesmo
assim se mantém firme diante de seu Ômega e de toda a tripulação.
Jimin viu seus lábios secos e se levantou.
— Vou buscar água para você.
— Não. — o Alfa apontou para uma das estantes. — Traga-me um pouco
de rum.
— Mas... tudo bem, vou pegar.
Jimin pegou uma garrafa e despejou um pouco da bebida em uma caneca,
levou até o Alfa e o ajudou a beber um pouco.
— Agora sim. — Jungkook suspirou e Jimin balançou a cabeça sorrindo.
— Chame Namjoon aqui.
— Ele estava aqui enquanto estávamos cuidando de você. Não se
preocupe com nada, apenas descanse.
— Você nunca me obedece e agora está me dando ordens. Daqui a pouco
eles vão chamar você de Capitão.
— Até que não é uma má ideia... — Jungkook o olhou boquiaberto,
Jimin então riu da expressão do Alfa. — Estou brincando. E acho que já
está na hora de começar a obedecer o Capitão desse navio.
— Certo... vá até a cozinha e traga algo para seu Capitão. Depois, quero
que se deite em minha cama e fique comigo. — Ordenou. Jimin ergueu uma
sobrancelha, sabendo que ele estava fazendo aquilo de propósito. — Por
favor?
O Ômega riu alto e beijou o Alfa pelo rosto e depois na boca.
— Sim, meu Capitão. — Jimin se levantou da cama e caminhou até a
saída.
Desceu até a cozinha, e à ordem de Seokjin, Junbuu já estava preparando
uma comida leve para o Jungwon. Jimin aguardou até que ficasse pronta e
subiu novamente.
Quando passou pela escotilha, ele viu Scott encostado na mureta
enquanto manuseava algo. Quase derrubou a comida do Capitão quando viu
com o que o Alfa estava mexendo.
— De quem é essa mão?! — Jimin perguntou surpreso.
— Não sei. Encontrei no porão de carga.
— Credo, joga isso fora. — Scott ignorou e continuou mexendo na mão.
Jimin suspirou irritado e buscou por alguém no convés — Sungjae, vem ver
com o que Scott está mexendo!?
Jimin aguardou até o outro Ômega se aproximar.
— Isso é uma mão? — Sungjae questionou espantado.
— Sim. — o Alfa respondeu — Olha como é grande. Deve ser do Alma
Negra.
— Que nojo, Scott! — Jimin segurou o riso quando ouviu Sungjae
reclamando com o Alfa e seguiu para dentro da cabine — Joga essa
porcaria fora, parece até que é doido!
— Tsc, é só uma mão.
— Uma mão, o cacete! — Sungjae a tomou do Alfa e lançou no mar.
— Ow! Você tá muito bravinho... vem aqui.— Scott tentou abraçá-lo,
mas o Ômega se afastou.
— Sai daqui com essa mão suja de Alma Negra. Vá se limpar antes. —
Scott comprimiu os lábios incomodado. O Ômega colocou as mãos na
cintura — Agora Scott!!
Scott bufou revirando os olhos e desceu para as cobertas inferiores, com
Sungjae atrás dele ainda resmungando. Os piratas que estavam trabalhando
no convés e observaram a cena, começaram a rir.
Continua...
*Especial*

Boa leitura:
A tripulação estava reunida no bar onde os hóspedes faziam suas
refeições, ou passavam o tempo bebendo e se divertindo.
O Capitão Jeon estava de mau humor e ninguém ousava ir falar com ele
além de Seokjin, é claro.
O beta estava na cozinha. Com a permissão do proprietário da pousada,
ele preparava um chá específico para alfas, com a intenção de entregar ao
Capitão.
Jisung estava bastante preocupado com Jimin, e sentia-se responsável
pelo quer que tenha acontecido para ele não ter aparecido ainda.
Mesmo que Taehyung tenha lhe dito que com Jimin era assim mesmo. O
lúpus estava lá e no mesmo instante desaparecia diante dos olhos de todos.
Ele encostou os cotovelos na bancada e descansou o queixo sobre as
mãos. Ficou observando curioso enquanto o beta amassava as flores da
planta.
— Está vendo ? — Seokjin questionou, tirando o ômega de seus
pensamentos. — É assim que devemos fazer. Um pouco disso e o rut de um
alfa é interrompido.
Jisung assentiu.
— Acho que entendi.
— Você não sabe nada sobre o cio, não é ?
— Um pouco... sei que alfas e ômegas entram nesse período uma vez no
ano. Mas com os lúpus, acontece a cada seis meses.
— Isso mesmo. Mas quando estão marcados, isso não acontece mais.
— Por que não ?
— Eu não sei. A medicina ainda não está tão avançada. Mas eu acredito
que seja porque ambos já pertencem um ao outro, e não há a necessidade de
encontrar um parceiro para acasalar e procriar... — Seokjin parou de falar
observando o ômega com a cabeça baixa, mexendo nos dedos. Ele estava
constrangido com aquela conversa, o beta então resolveu mudar de assunto.
— Onde está o caçador ?
— No quarto. Estou preocupado com meu irmão, não vou subir até que
ele chegue.
— Entendo. — o beta terminou de preparar o chá. — Vou levar isso aqui
pro Capitão, quando eu voltar a gente pode conversar sobre os fragmentos.
Jisung assentiu mais animado e ficou na cozinha aguardando ansioso
pelo mais velho.
Quando voltou, Seokjin trouxe consigo alguns pergaminhos já traduzidos
por Jimin e Taehyung. Juntos, eles ficaram criando teorias sobre o que
aquelas frases poderiam significar e tentaram reajustá-las na ordem certa.
Através da porta, Jisung viu seu irmão entrar afobado na hospedaria, e
correu para encontrá-lo. Seokjin foi junto.
— Jimin, onde esteve ? — Jisung perguntou, aliviado em vê-lo bem.
— É uma longa história... Jin, preciso de sua ajuda. Jungkook vai matar
um alfa lá fora e ele não fez nada...
— Deve ser o rut. O chá ainda não fez efeito mas acredito que leve
tempo para o corpo absorver as propriedades...
Jisung observava os mais velhos discutirem, a coisa parecia ser séria.
Seokjin chamou o contramestre e ambos saíram para impedir que o Capitão
fizesse uma besteira.
— Você está bem mesmo ?
— Sim. — Jimin afirmou. — Só preciso de um banho.
— Tudo bem. — Jisung soltou um suspiro. — Fiquei tão preocupado.
O lúpus sorriu acariciando a bochecha do mais novo e subiu as escadas,
seguindo para o próprio quarto. Alguns minutos depois, Jungkook passou
por eles sem olhar para ninguém e subiu logo atrás.
— O Capitão parece bravo.
— O idiota não tomou o chá. — Seokjin passou por ele, indo até a
cozinha. — Me ajude a guardar isso aqui, é melhor irmos dormir.
Jisung assentiu e ajudou o beta a organizar cada um dos fragmentos.
Antes de ir para o próprio quarto, ele tomou banho e comeu algumas
jaboticabas.
Já no quarto, Jackson ainda estava acordado, observando a rua pela
janela.
— Pensei que já estivesse dormindo.
— Estava esperando você. — O ômega sorriu tímido e caminhou até ele,
sendo abraçado pela cintura. — Seu cunhado quase mata o nativo.
— Ele está... naquele período...
— Rut ? — Jisung confirmou com a cabeça. — ele não tomou o chá ?
— Seokjin disse que não. Você...
Jackson ficou esperando o ômega concluir sua fala, mas Jisung ficava tão
constrangido quando se falava sobre esse assunto, que o alfa logo soube que
ele não iria terminar.
— Eu não gosto de perder o controle. Sou um lúpus então eu tomo.
— Ah, sim... — Jisung mordeu o lábio com seus pensamentos
automaticamente, imaginando o rut de um alfa.
Como se pudesse ler pensamentos, o caçador sorriu e se levantou,
guiando-os até a cama. Ele se sentou ao lado do ômega, que permanecia
prestando atenção a tudo o que ele fazia.
Jackson passou a mão na franja do menor e a guardou atrás da orelha.
Jisung parecia ser apenas um menino confuso, filhinho mimado do papai.
Não era o tipo de pessoa que costumava se envolver, mas ele o queria mais
do que já desejou qualquer outro ômega.
O ômega olhou para ele e sorriu. Fechou os olhos quando o alfa inclinou
o rosto e beijou-lhe a testa, a bochecha e em seguida a boca. Quando sentiu
a mão dele subir pela sua coxa, Jisung sobressaltou assustado e interrompeu
o beijo.
Ele estava com os olhos arregalados e a respiração acelerada assim como
seus batimentos cardíacos.
Não era medo. Ele confiava no caçador.
Mas algumas lembranças fizeram com que ele experimentasse uma
sensação ruim que atravessou seu corpo, causando um arrepio desagradável.
— Desculpa. — Ele se apressou em dizer, ao ver a expressão confusa do
alfa. — Eu só... — Jackson afastou suas mãos dele e permaneceu quieto,
observando-o. — Sei que você não é assim, mas eu me lembrei do Tenente,
quando ele tentou me tocar...
Jackson suspirou, entendendo a situação. Ele lamentou por não ter tirado
a vida de Jo Insung quando teve a chance. Ele fechou os olhos tentando
manter o controle para não socar o próprio rosto, sentindo raiva de si
mesmo.
— Você está bravo ? — Jisung questionou pela falta de diálogo.
Ele estava com medo de ter dito algo errado, e magoado sem querer os
sentimentos do caçador. Mas para seu alívio e surpresa, Jackson abriu os
olhos e sorriu para ele.
— Posso segurar na sua mão ? — Jisung assentiu e o alfa segurou a mão
dele e beijou as costas com muita delicadeza. — Perdoe-me por tê-lo
forçado a voltar para o camarote daquele porco, enquanto estávamos no
navio da Marinha.
Jisung abriu a boca mas ficou um tempo sem saber o que dizer. O
caçador sempre teve uma pose imponente e sem nada a perder. Seu olhar
nunca demonstrava medo ou fraqueza, mas naquele momento, o ômega
percebeu algo de diferente.
Suas sobrancelhas estavam curvadas para baixo, a respiração inquieta
enquanto aguardava pela resposta. Jisung olhou dentro dos olhos do alfa, e
mergulhou em sua profundidade. Ele estava realmente arrependido.
— Se eu estou aqui é porque você me ajudou. — Ele parou por alguns
instantes e negou com a cabeça. — Está tudo bem, não fiquei ressentido
com isso.
Jackson assentiu e então finalmente eles foram dormir.
O caçador saiu antes do amanhecer, para realizar um trabalho a pedido do
regente do lugar. Eles ficaram sabendo de sua fama e logo recorreram aos
seus serviços.
Jisung ficou por um tempo na cama. Já havia acordado, mas estava com
muita preguiça de levantar. E ficar deitado entre os lençóis que tinham o
cheiro do alfa, era tentador.
Quando a fome apertou, ele se levantou e desceu para fazer seu desjejum.
No caminho, ele encontrou Taehyung e Seokjin subindo com uma cesta
repleta de comida e bebida.
— Pra quem é isso tudo ?
— Pro Jimin. Ele precisa manter as forças pra... — O mais velho cutucou
Taehyung para que ele controlasse o modo com que estava prestes a
responder. —... pra continuar com uma boa saúde.
Jisung assentiu vendo os betas seguirem seu caminho.
— Ele já tem idade pra entender essas coisas. — Taehyung afirmou.
— Eu sei. Mas você também sabe como são os ômegas. Ficam
constrangidos com qualquer coisa.
Jisung logo entendeu sobre o que eles estavam falando e agradeceu
mentalmente ao beta mais velho, por ele ter impedido o outro de falar
coisas que o deixaria envergonhado.
Quando Jackson retornou, ele estava sentado junto com Scott e Sungjae,
que conversavam após terem tomado o café da manhã juntos.
O caçador sorriu para ele e subiu direto para seu quarto. Jisung
permaneceu com os outros dois, mas logo a curiosidade lhe atiçou a mente.
Que tipo de serviço Jackson fez por alí, afinal ?
Jisung se despediu do casal e subiu, na intenção de perguntar ao alfa
sobre seu trabalho. Quando passou pelo corredor do quarto em que Jimin
estava dividindo com o Capitão, ele se assustou ao ouvir um corpo ser
pressionado contra a porta seguidas vezes.
Sem pensar no que estava fazendo, ele levou a mão até a maçaneta, mas
parou ao ouvir a voz do irmão:
— Jungkook-ah, aahn...
Jisung colocou a mão na boca se perguntando porque seu irmão estava
gritando e gemendo daquele jeito. E o que seria todo aquele barulho ?
Ele então correu até seu próprio quarto a procura do caçador. Ele abriu a
porta tão precipitadamente, que assustou o alfa. Jackson se levantou e o
olhou confuso.
— Jack, eu não sei o que está acontecendo naquele quarto mas acho que
o Jimin está sofrendo. Ele... ele está gritando e há alguns barulhos...
Jackson arqueou as sobrancelhas e o sorriso veio se formando em
seguida. Ele tentou segurar o riso mas não conseguiu e logo estava rindo
alto e divertido.
Jisung franziu o cenho sem compreender. Ele segurou o pulso do alfa e
tentou puxá-lo até a porta, mas Jackson se manteve firme no mesmo lugar.
— Não estou entendendo. Por que está rindo ? Jimin precisa de ajuda.
Jackson puxou o ômega e segurou em seus ombros, mantendo a atenção
dele para si.
— Meu pequeno, seu irmão não está precisando de ajuda. —
Controlando a vontade de rir, Jackson suspirou olhando o rostinho confuso
do ômega. — Como você é adorável.
— Mas então...
— Eles estão transando. — O queixo o ômega caiu, assim como suas
bochechas que tomaram uma coloração avermelhada. — Vamos passear um
pouco e eu te explico...
Ainda muito constrangido, Jisung segurou a mão do alfa e o seguiu pelo
corredor, tentando ignorar os gemidos que vinham do quarto em questão.
Enquanto seguiam caminhando, Jackson contou do seu jeito, como
acontecia o ato sexual. O ômega ficou a maior parte do tempo apenas
ouvindo. Algumas vezes ele teve coragem de fazer algumas perguntas.
Mesmo que em sua cabeça, centenas de dúvidas despontassem uma atrás
da outra.
— Eu não tenho coragem de voltar pra hospedaria. — Por fim, ele
confessou.
Eles estavam no cais. Jackson olhou ao seu redor e teve uma ideia.
— Podemos ficar no Black Swan.
Com um grande sorriso no rosto, o ômega assentiu. Eles seguiram pela
rampa que dava acesso ao navio e encontraram alguns bucaneiros
guardando a embarcação.
Eles estavam entediados, queriam sair. Conhecer a cidade, talvez até
alguns bordéis. Se divertir. Mas o Capitão foi bastante claro em sua ordem,
quando disse para não deixarem o navio sozinho.
— Vocês vão ficar aqui ? — um dos piratas perguntou esperançoso.
— Vamos. — Jackson respondeu.
— Então poderiam ficar de olho no navio ? Eu quero dar umazinha e
minha mão não é o suficiente, cara.
— Quebra esse galho pra gente, caçador.
Jisung olhou confuso para o alfa.
— Ele quer foder. — Jackson lhe explicou curto e grosso. — Vão logo.
Em meio a gritos eufóricos, os bucaneiros pularam para fora do navio e
saíram correndo na direção da cidade.
Jisung estava caminhando sozinho até a popa. Ele parou quando chegou
no limite, e observou o oceano logo a frente. Ele suspirou ao sentir o alfa
encaixar seus braços em volta dele.
— No que está pensando ?
— Em algo que queria te perguntar antes de... — Estava se referindo ao
barulho que ouviu vindo do quarto de Jimin. Ele virou lentamente, até estar
de frente ao caçador. — Bom, o que você foi fazer hoje cedo ?
— Um serviço.
— Isso eu sei. Mas que tipo de serviço ?
Jackson hesitou antes de responder.
— Matei um alfa que estava causando problemas para o governo.
Para surpresa do caçador, a resposta não chocou o ômega. Ao invés, ele
perguntou mais sobre o ocorrido.
— Foi tão fácil assim ? Quero dizer, você voltou rápido.
Jackson deu de ombros.
— Fui treinado para isso. Na Coreia, eu pertenço a uma Ordem de
caçadores. Nós somos direcionados a missões de acordo com o grau de
dificuldade. Eu fui indicado para trabalhar diretamente no caso do
governador Park. Porque eu sou o melhor.
Jisung sorriu, dando um leve tapa no alfa.
— Seu convencido.
— Estou falando sério.
— Hmm... Então quer dizer que você é o melhor caçador de toda a
Coreia ?
— Do mundo. Pessoas de todos os reinos me conhecem, e já pediram os
serviços de nossa Ordem, sempre solicitando por mim.
Os olhos do ômega brilharam e ele umedeceu os lábios. Ainda cheio de
perguntas.
— Para caçar e matar ? — Jackson assentiu. — Você mata inocentes ?
— Ninguém é inocente nesse meio. Mas respondendo sua pergunta, eu
não mato pessoas como você.
— Como eu ? — Jisung ergueu uma sobrancelha. — Como assim,
pessoas como eu ?!
— Está se sentindo ofendido ?! — O ômega assentiu. Jackson riu
soprado, incrédulo. — Pessoas como você. Fracas.
A intenção do caçador não era ofender o ômega, e de fato, ele não o
achava fraco. Ele tinha plena certeza do quanto o baixinho era inteligente,
aprendia rápido e seria um excelente caçador. Ele apenas queria testá-lo.
Jisung cerrou os punhos e o encarou de maneira intensa.
— Me desculpe se não sou como você.
Jackson manteve-se firme, mas por dentro estava achando o pequeno
ataque de fúria daquele ômega a coisa mais fofa do mundo. Mas sua
intenção era que o loiro colocasse sua raiva para fora.
Jisung era submisso demais e acatava tudo o que lhe diziam. Estava na
hora dele se impor, e Jackson iria lhe ajudar.
— Não, não é. Você depende muito das pessoas.
— Dependo ? Hm... Eu salvei sua vida. Se eu não tivesse jogado aquele
caixote naquele alfa provavelmente você estaria morto.
— E depois ? Se eu ou seu irmão não estivéssemos alí ? Sabe o que você
ia fazer ? Se encolher e chorar.
Tomado por uma fúria repentina, Jisung curvou o braço para acertar um
tapa mal calculado no rosto do caçador, mas o alfa o viu como se estivesse
em camera lenta e facilmente agarrou seu pulso, virando-o de costas e
mantendo suas duas mãos presas as costas.
— Solte-me! — ele exigiu.
Jackson ignorou seu comando e curvou o corpo até estar com o rosto
próximo ao ouvido do menor.
— Me prove que você não é fraco.
Jisung puxou os braços mas ficou ainda mais irritado vendo-se
imobilizado.
— Eu não consigo e você sabe! Me solte! — ele sacudiu o corpo
tentando se livrar da prisão, mas quanto mais se esforçava mas frustrado ele
ficava. — Isso é tão injusto, você é um alfa!
— Isso não é desculpa. Seu irmão também é um ômega, veja as coisas
que ele já fez. — Jisung parou de lutar e ficou quieto, prestando atenção nas
palavras do mais velho. — Há vários ômegas na Ordem e você poderia ser
um deles.
Finalmente Jackson soltou o ômega e ele girou, ficando se frente para ele
novamente.
— Há ômegas caçadores ? — Jackson assentiu e ele ponderou, enquanto
massageava os pulsos. — Mas você disse que sou fraco, como eu poderia
ser um deles ?
— Não acho que seja. Só falei isso pra ver sua reação. Você só precisa de
treinamento. — ele se aproximou, tocando na face do menor. — E confiar
mais em si mesmo. Você é inteligente, sabe que tem capacidade pra fazer o
que quiser.
— Você me treinaria ?
Jackson estendeu a mão para que o menor a segurasse e o puxou para si.
— Já estou fazendo isso.
Jisung sorriu e se colocou na pontinha dos pés, pronto para beijar seu
alfa, mas o momento foi interrompido pela chuva, e ele correu para dentro
da cabine.
Jackson sorriu com a cena e logo o seguiu.
O ômega pegou uma toalhinha e secou algumas partes do seu corpo que
estavam molhadas, quanto o caçador, retirou a camisa por ter ficado mais
tempo na chuva.
Jisung estava sentado na cama, observando o alfa depositar sua camisa
nas costas de uma cadeira e se virar para ele. Seus olhos percorreram o
corpo do caçador até subir e notar que Jackson o fitava de volta.
Ruborizado, Jisung desviou o olhar e sentiu o coração acelerar, a medida
que o lúpus se aproximava até se sentar na cama, ao lado dele.
— Não precisa ficar nervoso, não vou tocá-lo.
Jisung o olhou novamente. O aroma do caçador estava acentuado, e era
uma tentação não olhar para aquele corpo molhado pela chuva e tão bem
desenhado.
Ele umedeceu os lábios quando seus olhos lhe traíram e desceram pelo
corpo exposto do alfa.
— Você quer me tocar ? — Jackson perguntou com voz suave.
O ômega se assustou e ergueu o olhar para ele novamente.
— E-eu..
— Não vou fazer nada, pode me tocar. — ele segurou a pequena mão do
loirinho e a colocou em seu peito.
Jisung engoliu em seco quando sentiu como o corpo do alfa estava
quente e o coração dele, assim como o seu, acelerado.
Ele respirou profundamente e desceu a mão vagarosamente, sentindo
cada curva da musculatura do alfa, até chegar no abdomem. Ele ergueu a
outra mão e tocou o braço dele.
Aqueles toques estavam atiçando o alfa em seu interior, mas como
prometido, ele não se moveu um centímetro. Ele apenas observava o ômega
explorar seu corpo.
Jisung sentiu seu membro começar a enrijecer-se e um fluído sair de sua
entrada, e molhar sua roupa íntima.
— Está gostando ?
De todas as sensações que o mais novo estava sentindo naquele
momento, o desejo se sobressaiu e ele assentiu com a cabeça. Sem retirar as
mãos do peitoral do alfa, ele sentiu o alfa chegar mais perto.
Jackson passou a mão próxima a têmpora dele, ainda sem encostar na
pele. Desceu pela curva da mandíbula, Jisung estava com os olhos fechados
mas podia sentir o calor da mão do alfa próximo ao rosto dele.
— Jack... — Ele sussurrou ainda com os olhos fechados. — Toque-me...
Ao contrário dos toques possessivos do Tenente Jo, o lúpus o tocou
suavemente, com uma mão no rosto e a outra na cintura. Ele o beijou na
bochecha e com a permissão do ômega, ele o ajudou a retirar a camisa.
Seu tato era tão suave, que Jisung sentiu-se perdido em suas mãos. Ele
ficou tão mole e entorpecido, que quando percebeu, ele já estava deitado
com o corpo do alfa sobre o seu.
Já completamente despido, ele jogou os braços sobre a cama e se
concentrou nas mãos e nos beijos do alfa. Ele fechou os olhos e apenas
sentiu, cada pedacinho seu ser tomado por uma onda ardente de excitação.
Ele era tão pequeno que Jackson teve medo de machucá-lo, mas o alfa
estava tão excitado, tão duro e o desejava tanto. Ele tinha o ômega
completamente exposto e entregue a ele, estava tão somente pronto, e
Jisung o desejava da mesma forma.
O ômega puxou o lençol da cama quando sentiu uma dor atingi-lo assim
que Jackson o penetrou. Mas aquela sensação de ardência logo deu lugar a
um prazer que o mais jovem jamais sonhou em imaginar.
Ele abraçou os ombros do alfa e deixou-se ser queimado completamente,
pelo fogo que os consumia naquele instante. E algum tempo depois ambos
atingiram seus ápices ao mesmo tempo.
Embora tenha feito aquele ato milhares de vezes com centenas de
pessoas, para Jackson aquele momento foi unicamente precioso, tanto
quanto foi para Jisung.
Ele chegou a um nível de prazer tão elevado, que não se segurou quando
sentiu a pele quentinha e leitosa do ombro de Jisung, e cravou seus dentes
alí mesmo.
O ômega sobressaltou abrindo os olhos confuso com a dor aguda e
repentina, e com a enxurrada de sensações que invadiram seu âmago.
Ele tocou nos ombros do alfa e o empurrou suavemente. Jackson ergueu
o rosto e o olhou com um pequeno sorriso no rosto.
— Por que fez isso ?
Jackson deixou um selinho na boca dele e tirou alguns fios que estava
grudados na testa dele.
— Porque você é meu ômega.
— Jimin vai te matar. — a resposta veio com um outro beijo.
— Ele não vai matar o alfa do irmão dele.
Jisung sorriu grande e o puxou pela nuca, beijando-o novamente.

[55] Dificuldades

Reescrito

Cerca de três semanas após a batalha entre os navios, Jungkook se


encontrava recuperando-se de suas lesões. Ainda não podia fazer nada de
tão excessivo fisicamente, mas com os cuidados de Seokjin, logo ele estaria
completamente renovado.
Jimin passava a maior parte do tempo na cabine, fazendo-lhe companhia,
e quando o Alfa estava dormindo, ele gostava de ajudar em outras funções
do navio. Contudo, durante os últimos dias, Jimin sentia-se diferente, de
certa forma, o seu corpo havia mudado, era como se o Ômega estivesse
sentindo uma nova essência dentro dele, além do Alfa.
Jimin estava com as mãos apoiadas no parapeito da popa, com os olhos
fechados e sentindo o vento esvoaçar seu cabelo ligeiramente crescido,
quando sentiu as mãos do Capitão Jeon curvarem-se em seus quadris. Ele
inspirou o aroma de rosas e sorriu, olhando para trás.
— Devia estar em repouso. — O Ômega afirmou.
— Se eu ficar mais um dia naquela cabine vou enlouquecer — O Capitão
suspirou, intensificando o abraço. — Você parece diferente…
Jimin franziu as sobrancelhas, virando-se para ficar de frente para ele.
— Você também sentiu?
O Alfa balançou a cabeça confirmando. As mãos de Jimin desceram até
pousarem em seu ventre.
— É como um… — Jimin fez uma pausa, sentindo um pouco mais. —
Como um coração batendo.
O sorriso cresceu no rosto do Alfa, ele repousou a mão por cima da de
Jimin, e a outra ele acariciou seu rosto. De certo modo, Jeon também podia
sentir aquilo pela marca, um pouco menos intenso, um impulso contínuo e
firme.
— Se for isso que estou pensando… — Os olhos do Capitão brilhavam,
como duas duas pérolas negras. Ele agarrou a mão do mais novo e o puxou
na direção do convés: — Precisamos falar com o Jin.
Jimin mordeu o lábio assentindo com um sorriso.
— Seokjin?! — Jeon seguiu chamando pelo médico. — Onde diabos esse
Beta se meteu?
— Já vou! Já vou! — Ouviram uma voz surgir dos pavimentos inferiores,
enquanto o médico subia as escadas até o convés, resmungando: — Será
que uma pessoa não pode nem mais cuidar da própria vida, que já ficam
gritando seu nome feito loucos…
— Cabine. — O Capitão acenou com a cabeça e caminhou até o
camarote, levando Jimin consigo e sendo seguido pelo Beta. Já dentro do
cômodo, Jungkook indicou; — Quero que o examine.
Jimin sentou na cama, com as costas apoiadas na cabeceira, Seokjin
dispôs-se ao seu lado, enquanto o Capitão Jeon permaneceu de pé, próximo
a eles. O médico verificou a temperatura do Ômega e analisou sua boca
quando o mesmo colocou a língua para fora.
— O que está sentindo? — Seokjin perguntou, enquanto ainda o
examinava.
— Não são dores — O Ômega explicou, passando a mão pelo baixo
vente. — Sinto um pulsar por essa parte.
Seokjin assentiu, e examinou a região exposta pelo Ômega. Jungkook
debruçou-se um pouco mais, atento a tudo que o médico fazia e assim como
Jimin, ansioso por uma resposta do mais velho. Seokjin seguiu com o
exame, até se dar completamente satisfeito. Ele arrumou a postura para
então comunicar:
— Parabéns aos dois, serão papais. Jimin está grávido. — O Beta viu um
enorme sorriso e felicidade surgir entre o Alfa e o Ômega. Ele se levantou
quando concluiu: — Sinto como se vocês já soubessem disso.
— De certa forma... — Jeon sentou-se onde o médico estava e segurou
nas mãos do Ômega, quando ambos encostaram a testa uma na outra. — Só
precisávamos de uma certeza.
— Precisam também decidir um local para ancorar provisoriamente, não?
— Seokjin indicou. — Bom, se me derem licença, eu vou espalhar para
toda a tripulação que eu serei titio.
Desde quando o médico saiu da cabine, o Capitão Jeon permaneceu
pensativo, com uma mão no queixo enquanto encarava fixamente um ponto
qualquer no chão. Jimin despertou sua atenção quando o empurrou pelo
ombro.
— Não vamos fazer isso — o mais novo decidiu. — Não estou enfermo,
essa viagem pode continuar.
— Seokjin pode ter razão — o Alfa argumentou. — É perigoso estar a
bordo de um navio, principalmente nesse mar agitado.
— Jungkook! — Jimin protestou. — Estamos tão perto de encontrar o
tesouro. Por favor, nós iremos continuar. Eu sei que preciso ser muito mais
cuidadoso, mas eu serei, prometo. Posso até obedecê-lo durante esse
período que eu estiver grávido.
O semblante tenso e preocupado do Alfa, foi substituído por feições mais
leves e um pequeno sorriso.
— Que ótimo, porque eu tenho uma lista do que não vai mais poder fazer
— Jungkook afirmou, e o loiro sorriu nervoso. — Tudo bem, vamos seguir
com a viagem.
Enquanto isso, nas partes inferiores do navio, Junbuu estava parado
diante da porta que dava acesso onde a comida era armazenada. Além da
pouca água que ainda restava, os estoques de alimento estavam perto do
fim. Era quase possível contar os poucos grãos de arroz ou de farinha que
ainda tinham. O cozinheiro procurou Namjoon e lhe informou sobre as
provisões, buscando por uma solução por parte do contramestre.
— Afundamos navios abastecidos. — Namjoon comentou olhando para o
mais velho. — Nosso porão está praticamente vazio...
— Somos idiotas, não somos?
O contramestre apenas murmurou algo e subiu novamente. Ele encontrou
com os bucaneiros que estavam espalhados pelo convés, assim como os
passageiros que pegavam carona até a África.
— Ouçam todos — Namjoon pediu alto, chamando a atenção deles. —
Nossa comida está escassa e a água potável está quase acabando. Taehyung,
quantos dias estamos do próximo porto?
O navegador abriu um mapa e calculou rapidamente.
— Se os ventos continuarem favoráveis, eu diria que chegaremos dentro
de uma semana.
— Certo. — o contramestre continuou: — A partir de hoje, todos terão
direito a cem gramas de comida por dia, e uma caneca de água.
— O quê?!
— Isso não dá nem para encher o buraco do dente!
Uma leve comoção entre os piratas teve início. O povo africano ficou
quieto, pois já estavam acostumados a passar fome durante as viagens que
eram forçados a fazer. Além do sentimento de que a culpa da comida estar
se acabando tão rapidamente, era deles.
— Eu não vou comer vento! — Billy gritou acima de todos, e eles se
calaram. — É isso aí, meus camaradas. Nós trabalhamos no pesado,
embaixo desse sol escaldante... — ele parou de falar quando viu que os
piratas não prestavam atenção apenas nele, mas em alguém que estava atrás
dele. Billy engoliu em seco. — O Capitão está atrás de mim, não é?
Jungkook passou por ele, Billy paralisou, e até mesmo jurou que
conseguiu ver uma luz no fim de um longo túnel escuro que surgiu à sua
frente. Jeon olhou por todo o convés, e viu que os escravizados mantinham-
se sempre juntos.
Não podia simplesmente negar comida àqueles que o ajudaram a resgatar
seu Ômega. Muito menos jogá-los ao mar, à própria sorte. Seria muita
covardia, além de uma tremenda traição.
— Capitão — Kinte deu um passo à frente se aproximando de Jeon —,
podemos pescar.
O Alfa praticamente leu os pensamentos de Jungkook. Trabalharam
juntos, sim, por uma causa em comum. Mas se tratando de piratas, eles
eram criminosos do mar, e agiam apenas pelo próprio bem, Kinte logo
compreendeu que os primeiros a serem descartados seriam aqueles que não
faziam parte da tripulação.
— Só atrasaria a viagem além do gasto de energia. — Taehyung
articulou, sincero.
— Nossos Ômegas podem fazer uma ampla rede com linho e pescar
grandes quantidades de peixes. — Kinte insistiu.
— Façam. — Assim que o Capitão permitiu, o povo africano foi
confeccionar a rede, entrelaçando fios de linho. — Mas não vamos parar o
navio.
— Não será necessário. — Kinte salientou e Jungkook assentiu.
— Como Jimin está? — Seokjin indagou assim que se aproximou do
Capitão.
— Está deitado. Sente-se um pouco enjoado.
— Traga ele aqui, para fora. Passear pelo convés, tomar um ar. Vai fazer
bem a ele.
— Ele não quer se levantar da cama.
Seokjin olhou para o irmão, com as mãos na cintura.
— Ele ainda está no primeiro mês. Que Ômega manhoso. — Jungkook
deu de ombros. — Faça-o se exercitar um pouco. Traga ele para o convés.
— Mas-... — Sem dar ouvidos, o Beta continuou seu caminho. Jeon
então voltou-se para o seu contramestre: — Fique de olho neles. — Ele
estava se referindo aos passageiros. Namjoon assentiu.
Jungkook voltou para a cabine. Lá, ele encontrou seu Ômega ainda
deitado na cama e com os olhos fechados, mas não estava dormindo.
— Seokjin disse que precisa sair um pouco.
— Não quero. — Jimin abriu os olhos e disse com voz manhosa: — Não
estou me sentindo bem...
— Vai se sentir melhor se sair um pouco.
Jungkook estendeu a mão e aguardou pacientemente, até que o Ômega a
segurou e se levantou da cama.
Jimin se agarrou ao braço dele e suspirou manhoso, acompanhando seus
passos até a porta. Chegando na proa, o vento bateu forte no rosto do
Ômega. Ele fechou os olhos inalando profundamente e deixou o oxigênio
invadir seus pulmões.
— Bem melhor, não? — Jungkook indagou.
Jimin olhou para o mais alto e sorriu assentindo, guardando a franja
crescida atrás da orelha. Os passageiros confeccionavam a rede de pesca
rapidamente, sentados e espalhados pelo piso superior. Alguns dos piratas
assistiam ao trabalho dos Ômegas.
— Eu posso ficar sem água. Mas sem carne já é demais. — Jared
comentou. — Se essa pescaria não der certo, eu vou tentar caçar ratos pelo
porão.
— Já comeu cozido de ratos? — Billy questionou animado com a ideia
do amigo. — Fica ótimo com algumas batatas.
No mesmo instante, Jimin correu até a mureta e se debruçou,
regurgitando o pouco que havia comido. Ele sentiu a mão de Jungkook
deslizando por suas costas e ergueu o rosto para fitá-lo.
— Estou bem. — Jimin o assegurou.
— Você precisa se alimentar. Repor o que colocou para fora. —
Jungkook insistiu.
— Deve ser fome de carne, Capitão. — Sven sugeriu.
Billy olhou para Jared, e este assentiu.
— Ele gosta de rato assado? — Billy questionou, realmente preocupado
com a situação do Ômega. — Pegamos os filhotes e os colocamos em um
espeto...
Jimin levou a mão até a boca, sentindo a vontade de vomitar crescer
outra vez. Jungkook olhou para ele e para os piratas que estavam
conversando, depois olhou para o Ômega novamente, entendendo que o
motivo do seu pequeno estar passando mal daquele jeito, era pela conversa
que os bucaneiros estavam tendo.
— ... Podemos cortar cebolas e tomates-... — o pirata continuou.
— Billy. — Jeon o cortou.
— Sim, Capitão?
— Se abrir a boca nas próximas duas semanas, vou fazê-lo andar na
prancha. — O bucaneiro arregalou os olhos, mas manteve seus lábios bem
cerrados. Jungkook girou para o Ômega e disse com um tom de voz firme:
— Voltarei com algo para você comer.
O Ômega estava cansado para refutar naquele momento, e apenas rolou
os olhos, cansado. Ele viu o Capitão se afastar e ignorou os piratas fazendo
diversas perguntas inúteis à Billy. O pobre bucaneiro apenas respondia
balançando a cabeça, ou fazendo gestos com as mãos.
Jimin ainda permaneceu na proa por algum tempo, até decidir voltar para
a coberta. Antes de entrar em seu camarote, foi parado pelo irmão.
— Podemos conversar? — Jisung questionou.
— Claro. Aconteceu alguma coisa?
— Sim... — o Ômega mais jovem segurou na mão de Jimin e o guiou
para dentro da cabine. Ele abriu alguns botões de sua camisa, deixando à
mostra parte do ombro. — aconteceu isso.
— Oh, céus... — Por um instante, Jimin quase se esqueceu de respirar e
engasgou com oxigênio.
— Não mate o Jackson, por favor. — Jisung se apressou em pedir. —
Você disse que deseja a minha felicidade.
— Sim... mas, uma marca? Você ainda é tão novo...
— Você é apenas dois anos mais velho.
— Sim, mas coisas aconteceram entre o Jungkook e eu...
— Coisas também aconteceram entre o Jackson e eu...
— Oh, céus… — Jimin cobriu a boca com a mão e o outro Ômega
desviou o olhar, ruborizado.
— Ah, Jimin. Eu seria do Tenente Jo de qualquer jeito. Não acha melhor
me entregar ao Alfa que eu gosto, do que ser forçado a um casamento que
nunca desejei?
— É claro que sim! Mas para tudo há seu tempo. Você é tão novinho
ainda.
— Falou o Ômega que com vinte anos já está grávido. — Jisung rebateu
cruzando os braços.
O queixo de Jimin caiu por alguns segundos.
— Não é para seguir meu exemplo e fazer bobagens! — Jimin colocou as
mãos no ventre ainda imperceptível — Desculpa, filhote. Você não é uma
bobagem, você é o amor da minha vida todinha. — E ergueu o rosto para
encarar o irmão novamente — Quero falar com esse caçador agora mesmo.
Agora mesmo, Jisung.
— Está bem! — Jisung caminhou até a porta e buscou pelo Alfa. —
Jackson, você pode vir aqui um minuto?
No mesmo instante, Jackson largou o que estava fazendo e se dirigiu à
cabine. Ele viu o olhar desconfiado que Jisung tentava esconder, além do
semblante sério do Ômega mais velho, mas não disse nada. Ele apenas
cruzou os braços esperando pelo que viria.
Jimin também cruzou os braços e se aproximou do Alfa, com os olhos
semicerrados.
— Acho que precisamos ter uma séria conversa sobre a marca do Jisung.
— Quê? — Jackson franziu o cenho. Ele olhou para Jisung buscando
respostas, mas o Ômega achou mais interessante examinar uma viga de
madeira que segurava as prateleiras de uma estante.
— Você sabe que essa marca liga vocês dois para sempre — Jimin
continuou. — Você já viajou por muitos lugares, deve ter conhecido muita
gente… Diga-me, está realmente livre para ser apenas do meu irmão?
— Não, eu não estou livre. Aliás, tenho uma família em cada cidade que
já passei e filhos espalhados pelo mundo todo. — Jimin respirou
profundamente revirando os olhos. — Vá procurar algo de mais útil para
fazer.
Jackson deu meia volta e saiu da cabine, deixando o Ômega lúpus
chocado com sua atitude para trás.
— Volte aqui, Alfa! — Jimin ainda tentou. — Ainda não acabamos!
— Jimin! Para com isso! — Jisung pediu rindo, segurando no braço dele
— Ele me marcou, acha que seria louco de fazer isso se realmente não
gostasse de mim? A marca é a ligação mais profunda entre um Ômega e um
Alfa, sabe disso.
— É… — Jimin coçou a nuca, concordando que talvez tenha exagerado
um pouco.
— Além do mais, o Jackson vai me levar com ele. Vou ser caçador e ele
vai me treinar...
— Espera… o quê? Você quer ser um caçador?
— Sim. Agora que conheci pessoalmente as condições de vida de um
pirata, não estou certo se realmente quero passar minha vida fugindo da
Marinha.
— Mas vai ter de perseguir piratas e criminosos da pior espécie.
— Eu sei.
— Hm...
— Você disse que deseja a minha felicidade... — Jisung o lembrou
novamente.
— Eu não imaginava que sua felicidade seria longe de mim.
— Não fica assim... podemos nos ver sempre que desejarmos. E eu só
vou com ele quando a gente encontrar o Imperium. Jackson quer ver algo
nesse tesouro.
— O que ele quer ver?
Jisung deu de ombros.
— Não sei. Na verdade nem ele mesmo sabe. Mas eu acho que ele quer
encontrar alguma mensagem do pai dele, sabe?
— Hm... — Jimin ficou pensativo.
O lúpus foi retirado de seus pensamentos quando a porta da cabine foi
aberta pelo Capitão Jeon. Ele trazia consigo um prato com uma pequena
quantidade de comida.
— Vou deixá-los à vontade. — Jisung afirmou, saindo logo em seguida.
— Aconteceu alguma coisa? — Jungkook questionou colocando o prato
em cima da mesa.
— Jisung foi marcado pelo caçador.
— Sim, já sabia disso.
— E por que não me contou?
— Achei que seu irmão devesse fazer isso. — Jimin ponderou por alguns
segundos e concordou. O Alfa segurou seu braço delicadamente e o fez
sentar em uma das cadeiras. — Trouxe para você. Coma.
Jimin olhou para o prato, que possuía algumas ervilhas e cenouras
cozidas.
— Eu ouvi quando Namjoon disse que cada um de nós só terá direito a
cem gramas de comida por enquanto. Aqui tem pelo menos o dobro disso.
— Eu sei. Minha parte está aí.
— E o que você vai comer?!
— Não precisa se preocupar com isso. Apenas coma.
— Não! Eu vou comer só metade. Você não vai ficar com fome.
— Você disse que vai me obedecer pelo menos enquanto estiver grávido.
— Mas-...
— Vai mesmo quebrar uma promessa?
— Eu não prometi...
O Alfa fechou os olhos inspirando profundamente. Era incrível como
Jimin conseguia fazê-lo ter mais paciência do que já teve em toda a sua
vida.
— Eu tenho muitos anos de experiência a mais do que você, Jimin. Sei o
que estou fazendo.
Jimin lamentou por ter dito que o obedeceria enquanto estivesse grávido.
Ele ainda estava no primeiro mês, e muito haveria de acontecer até que ele
descansasse.
— Tudo bem...
O Ômega suspirou derrotado e começou a comer. Ele ainda tentou uma
ou duas vezes, fazer Jungkook comer alguma parte da refeição, mas o Alfa
sempre negava. E muito a contragosto, Jimin comeu tudo sozinho.
Continua...
[56] O Mapa

Edit maravilhoso de ___xiu_min___


Ficou muito perfeito, obrigada por compartilhar seu talento conosco
❤❤❤❤ 😔
Reescrito

A rede foi lançada no anoitecer do mesmo dia. Em formato de um saco e


com cerca de vinte metros, a armação estava sendo puxada na mesma
velocidade da embarcação, permitindo que peixes e até mesmo alguns
crustáceos ficassem retidos dentro dela.
Na manhã seguinte, os pescadores puxaram a rede na esperança de colher
uma grande quantidade de peixes, que pudesse alimentar todos que estavam
a bordo. Mas a quantidade ainda era pouca. O lugar em que eles estavam
era carente de peixes, eles escolheram aguardar um pouco mais.
Na cozinha, Junbuu preparava a única refeição do dia. E os piratas
aguardavam ansiosos pois, obviamente, estavam com muita fome. Assim
como no dia anterior, o Capitão estava disposto a se desfazer de sua parte
novamente, para que Jimin ficasse com a mesma. Porém, algo inesperado
aconteceu.
Taehyung falou para o cozinheiro que ele podia retirar uma certa fração
de sua parte, para que Jimin recebesse um pouco mais. Outros piratas
ouviram e também ofereceram a subtração de suas partes, para que o
Ômega pudesse fazer pelo menos três refeições.
— Obrigado. — Jimin agradeceu enquanto comia um pedaço de pão com
metade de uma banana cozida — Acho que não ia aguentar comer tão
pouco.
— É importantíssimo que você se alimente bem. — o médico salientou
— Está comendo por dois.
— Mas me sinto mal porque vocês só comem uma vez e ainda assim,
estão dividindo comigo.
— Não se sinta mal. — Taehyung disse — Fizemos isso porque
gostamos de você. Está grávido, não pode ficar sem comer.
— É o Ômega do Capitão, e está carregando o filho dele. — Scott
lembrou. — É como se você fosse o segundo Capitão.
— Uhum, hum hum hum... — Billy murmurou com a garganta. Sempre
mantendo a boca fechada.
Os que estavam por perto e ouviram, franziram o cenho sem
compreender.
— Ele disse que sim, e que você não deve se preocupar. — Jared fez o
favor de traduzir.
Billy confirmou com a cabeça.
— Como você sabe o que ele tá falando? — Sven quis saber.
Jared deu de ombros e respondeu:
— Somos íntimos...
— Oh, que maldade — Jimin afirmou segurando o riso. — pode falar
Billy. Jungkook não vai fazer nada com você.
Billy olhou para o Capitão. Jeon comia tranquilamente, sem nenhum
sinal de que estava prestando atenção na conversa deles. O bucaneiro olhou
para Jimin e negou com a cabeça.
— Deixa como está, garoto. — Junbuu aconselhou ao Ômega — Pelo
menos ele não vai ficar falando tanta besteira.
Billy mostrou ao velho o dedo do meio, e em resposta recebeu várias
ameaças. Os bucaneiros riram.
A conversa se estendeu um pouco mais e na parte da tarde, os
escravizados finalmente sentiram a rede mais pesada e decidiram puxar a
armação para ver qual seria o resultado. A consequência de todo o trabalho
duro e espera que tiveram, foi uma rede cheia de peixes de diversos
tamanhos.
A felicidade estampou o rosto de todos os tripulantes, e os piratas se
juntaram aos africanos na tarefa de limpar os peixes. Eles estavam
vibrantes, gritando de felicidade – com exceção de Billy, que apenas abriu a
boca e gritou mudo –, pois não teriam que sobreviver uma semana com
poucas migalhas, e caçar ratos já não seria mais necessário.
Comeram peixe durante toda a semana que se passou, e um dia antes de
chegarem ao Porto de Kethe, os porões ficaram completamente vazios. Se
antes o Capitão não tinha a mínima intenção de ancorar, agora ele se viu
obrigado a fazê-lo, para poder abastecer os estoques novamente.
— Obrigado pelo que fez por nós. — Kinte agradeceu, enquanto seu
povo desembarcava.
O Alfa estendeu a mão e apertou a do Ômega lúpus. Com um enorme
sorriso, Jimin apenas assentiu, vendo o mais alto se afastar em seguida.
Kunta se despediu de Jimin, Jisung e Sungjae abraçando-os, e também
agradecendo pelo que fizeram por ele.
— Um dia a gente se vê outra vez. — Kunta afirmou.
— Espero que sim. — Jisung confirmou — Quero muito isso.
Os jovens Ômegas se abraçaram novamente e logo depois, Kunta seguiu
seu caminho junto ao irmão e seu povo.
Alguns bucaneiros foram com Junbuu até o mercado para comprar as
provisões e ajudá-lo a levar a carga para o porão do Black Swan. Outros
seguiram o Capitão e Dahyun. Com o auxílio da mecânica, eles levaram
ferramentas e materiais necessários para fazer os consertos das avarias que
se abateram sobre a embarcação.
Jimin estava passeando pelo cais, observando grandes navios zarpar em
diferentes direções. O porto se parecia como outro qualquer, com exceção
da mercadoria que estava sendo levada para as embarcações; Alfas, Betas e
Ômegas, todos acorrentados.
— A minha vontade é explodir todos eles. — Jimin comentou, se
referindo aos navios.
Jimin franziu o cenho ao sentir uma mão agarrar a sua. Ele foi puxado
por Taehyung para a rampa que dava acesso ao navio e apenas se deixou ser
levado. O Beta caminhou com ele até entrarem na cabine do Capitão. Ainda
sem entender, Jimin apenas assistiu o amigo organizar os sete fragmentos
em cima da mesa, e também alguns pergaminhos com as palavras
traduzidas.
— Precisamos terminar. — O Beta se apossou de uma pena com tinta e
dois pedaços de papel em branco. Para o Ômega, ele entregou o sexto e o
sétimo fragmento. — Estou muito ansioso.
Jimin olhou para os fragmentos juntos, colocados em uma ordem que
parecia incorreta, pois os desenhos não se encaixavam. Mas como apenas
ele conseguia enxergá-los, o Ômega ignorou o fato por enquanto.
Taehyung transcreveu tudo o que o Ômega lhe falava e assim que
terminou de traduzir ambas as partes, o Beta leu em voz alta:
— Indicará o verdadeiro e brilhará eternamente.
— Eu pensei que traduzindo as partes que faltavam, nós finalmente
saberíamos o que significa. — Jimin afirmou curvando os ombros e
apontou para os fragmentos na mesa — Posso tentar?
Taehyung assentiu e observou Jimin mover as partes, trocando suas
posições. Ao terminar de reorganizar, o Ômega abriu a boca enquanto
olhava admirado, mas não disse nada.
— O que vê? — o Beta questionou ansioso.
— É um mapa, de fato, mas desconheço essa localização. — Jimin disse,
inclinando a cabeça para o lado.
Taehyung foi até as estantes e agarrou alguns mapas e livros, voltando até
a mesa logo em seguida. Ele abriu uma bússola dourada e a colocou em
cima do seu novo atlas atualizado.
— Veja — Taehyung apontou para uma certa parte e disse —, estamos
aqui. Quais são as coordenadas?
— Essas. — Jimin anotou os números em um pedaço de papel e as
entregou ao Beta.
O navegador olhou cada uma e estudou no mapa.
— Norte... — Taehyung murmurou para si mesmo. — Noroeste… mil
milhas...
— Quê? — Jimin indagou mas o navegador estava tão concentrado que
não o escutou.
O Beta estava praticamente debruçado sobre a mesa. Uma mão segurava
a bússola e a outra estava espalhada pela grande carta náutica.
— Taehyung? — Jimin insistiu — Eu não estou entendendo nada.
Mas o navegador continuou com seus murmúrios e o rosto praticamente
colado ao mapa. Os olhos bastante abertos. Ele não tirava a atenção
enquanto seguia com um dedo, subindo pela carta até um ponto específico.
Taehyung olhou para a bússola uma última vez, apenas para confirmar,
pegou um pequeno alfinete com uma bolinha vermelha na ponta e o pregou
na parte em que segurava com o dedo. Em seguida, ele fez algumas
anotações e, finalmente, voltou sua atenção ao Ômega.
— Aqui está. — O Beta afirmou, com um sorriso no rosto e esperando o
menor vibrar de emoção.
Mas Jimin desceu o olhar para o local marcado e tudo o que ele viu foi a
cor azul.
— O tesouro fica no centro desse mar?
O Beta expirou negando com a cabeça.
— Não. Lembra do que te falei naquela noite com Yoongi?
— Se há estrelas podemos navegar?
— Exatamente! — Taehyung puxou um mapa antigo e indicou um lugar
qualquer.— Veja, pensávamos que aqui tinha um grande abismo, mas foi
exatamente onde encontramos o Brasil. Olhe o novo mapa — por cima da
carta náutica antiga, Taehyung colocou a atualizada — O Brasil, bem aqui.
— Entendi. — Jimin sorriu animado — Se encontramos o Brasil onde
deveria ser um grande abismo, isso significa que ali deve haver terra
também.
— Isso! O desgraçado escondeu o tesouro em um lugar ainda não
cartografado para nós — Taehyung deu a volta na mesa e pegou uma das
velas. — Vamos colar o mapa do Imperium e contar a tripulação.
Jimin assentiu e o ajudou a reunir as partes nos lugares corretos. Quando
terminaram, o Beta foi encontrar a tripulação, enquanto Jimin desenhava
todo o mapa em um grande pergaminho, para que assim todos pudessem
ver.
A porta da cabine foi aberta e Jimin não precisou olhar para trás, para
saber quem era. O cheiro de rosas chegou até ele, e o Ômega logo sorriu.
— Então é isso que você enxerga — Jungkook disse apontando para o
desenho feito pelo loiro. — Interessante.
— Quase isso, eu não desenho muito bem. — o Ômega disse sem jeito
— E também tem as figuras que você pode ver nos livros comuns. Mas para
mim é diferente, porque elas tem um brilho que não sei explicar, mas que
lembra-me a lua.
— No mapa elas foram feitas com runas, então só você pode enxergar. —
Jimin assentiu. Jungkook agarrou o desenho dele e o abraçou pelo ombro.
— Vamos, todos estão esperando.
Do lado de fora da cabine, a tripulação estava reunida, ansiosa e cheios
de especulações. O Capitão Jeon acenou e Namjoon se colocou ao lado
dele, enquanto Taehyung ficou ao lado de Jimin.
— Eis o mapa do Imperium. — Jungkook anunciou, desenrolando o
pergaminho.
Ele olhou para Jimin e o Ômega assentiu com um enorme sorriso.
— Então já sabemos onde o tesouro está? — Namjoon questionou,
segurando o mapa.
— Sim. — Jimin respondeu olhando para o navegador — Tae conseguiu
descobrir a localização.
— É o meu macho, caralho! — Hoseok esmurrou um mastro, animado.
— Nosso! — Yoongi o sobrepôs.
A tripulação gritou animada, jogando chapéus e até mesmo botas para
cima. Eles se abraçaram e riram alto. Barris foram dispostos no convés e a
comemoração se deu início.
— Eu mereço ou não, o melhor rum da região? — Taehyung questionou
segurando uma garrafa.
— Do mundo, meu querido Tae. — Sven disse alto e os piratas
concordaram erguendo suas canecas.
Continua...
Marinha Real - X Azul
Black Swan - X Preto
[57] A Caminho do Desconhecido

Reescrito

Duas semanas após zarpar do Porto de Kethe, a tripulação do Black Swan


mal conseguia conter sua ansiedade. Estavam todos de bom humor
exagerado, e mesmo que diante de seus olhos e lunetas, eles pudessem
enxergar apenas as águas do misterioso Mar Tenebroso, eles acreditavam no
navegador e tinham a plena convicção de que estavam no caminho certo. E
realmente, estavam. Taehyung é um navegador diferente dos demais, pois
consegue decifrar até mesmo lugares que não constam nos mapas.
Chaerin mantinha seu curso ao Norte, com uma leve inclinação a
Noroeste. A velocidade da embarcação era calculada, pois ainda estavam
navegando pelo Oceano tão desconhecido. No entanto, era possível notar a
diferença na rapidez do navio, desde que os escravizados desembarcaram.
Mesmo com novas cargas, o peso diminuiu consideravelmente, e nesse caso
era mais fácil guiar o leme.
Durante as manhãs era o período que Jimin mais sentia enjoos, logo ele
tentava se esconder da vista de todos, para evitar de comer alguma coisa.
Ele viu quando Jungkook vinha subindo pela escotilha que dava passagem a
cozinha, e correu para se esconder na popa.
Jimin estava abaixado atrás de um barril, quando o Capitão passou
olhando tudo ao seu redor. Confuso por não ver o Ômega por alí, ele voltou
para as cobertas inferiores. Antes que pudesse respirar aliviado, o Ômega
ouviu um pigarro logo atrás, e quando se virou, viu Jackson sentado no alto
da traseira da embarcação.
— Você parece um fantasma. — Jimin resmungou, massageando o peito.
— Fica aparecendo assim, sorrateiro…
— E você parece um fugitivo da lei… ah, não. Espera. Você é um.
Jimin o fitou com os olhos semicerrados mas logo desviou a atenção. Ele
se sentou no chão apoiando as costas nos engradados e observou o
horizonte.
Jackson continuou sentado na mesma posição, tomando um pouco de
vinho.
— Por que odeia tanto os piratas? — O Ômega perguntou após alguns
minutos de um silêncio desconfortável. — O que teu pai fez de tão ruim, a
ponto de você guardar esse sentimento negativo dentro de si por tanto
tempo?
— Já disse. Ele era um pirata.
— E isso é motivo? — O caçador não respondeu. — E o que você quer
encontrar no tesouro, afinal?
— Se isso fosse da sua conta eu responderia.
— Grosso.
— E grande também. — o Alfa completou calmamente.
Jimin olhou para ele com uma expressão bastante zangada, mas o
caçador se manteve impassível. Sempre que tentava manter um diálogo com
ele, o Alfa vinha com suas piadinhas grotescas. E toda a antipatia vinda da
parte do caçador, era pelo simples fato do Ômega ser um pirata. Jackson os
odiava abertamente. Fazia questão de demonstrar sua aversão pela atividade
criminosa desenvolvida por eles.
— Se acha melhor do que nós, não é...? — Jimin questionou se
levantando — Mas não passa de um ogro, mal educado!
Jackson ergueu as sobrancelhas com a resposta afiada do Ômega. Sua
atenção foi desviada para alguém que se aproximava logo atrás. O olhar
dele por cima do ombro de Jimin, fez o loiro sentir um leve arrepio logo
imaginando quem era o dono daqueles passos.
— Então é aqui que você se esconde. — Jungkook declarou se
aproximando do Ômega. — Já se alimentou?
— Eu...
— Vem. — O Capitão segurou no braço de Jimin sem dar chance do
Ômega escapar, e o levou consigo até a cabine. Ele apontou para a mesa,
em cima dela havia um recipiente com algumas uvas e morangos. —
Vamos, pode comer tudo.
Jimin olhou para aquela quantidade. Era suficiente para ele, não havia
exageros. Mas a terrível experiência de estar quase sempre regurgitando o
que ingeria, fazia-o correr até mesmo de um grão de arroz.
Jimin esticou a mão, pegou uma uva e comeu olhando para o Alfa,
esperando que ele ficasse satisfeito com aquilo. Mas Jungkook cruzou os
braços e apontou com a cabeça para o pote, indicando que ele comesse
mais.
— Você sabe como eu fico quando como pela manhã... — Jimin
lamentou, caminhando até a cama e sentando-se nela.
O Ômega mantinha a cabeça baixa enquanto observava os próprios dedos
moverem-se inquietos em seu colo. Seus olhos estavam úmidos, e o Alfa só
percebeu esse fato quando se aproximou dele levando consigo o alimento.
— Você está chorando? — Jeon questionou curvando o rosto para tentar
observar os olhos do Ômega. Jimin tentou esconder, mas o Alfa segurou seu
queixo e ergueu a cabeça dele com cuidado — Meu amor — ele disse
deixando um beijo suave na bochecha do mais novo —, não precisa chorar
por causa disso.
— É que eu estou me sentindo culpado... — Jimin confessa,
choramingando. — O bebê precisa que eu me alimente bem, mas eu não
consigo comer. Parece que minha garganta está travada.
O Capitão ponderou por algum tempo e sem demora, ele chegou a uma
solução.
— E se eu comer com você?
— Como? — O Ômega indagou confuso.
Jungkook subiu no colchão e ficou encostado na cabeceira da cama. Ele
estava com as pernas abertas e bateu no colchão, no meio delas, para que o
Ômega se sentasse ali.
A princípio Jimin o olhou sem entender qual era a intenção do Alfa, mas
logo ele fez o que Jeon indicou e sentou apoiando as costas no abdômen
dele.
— Eu como um pedaço — Jeon contou, mordendo metade de uma uva.
— E você o outro.
Jungkook levou a outra parte até a boca do Ômega. Jimin franziu o cenho
mas automaticamente abriu a boca, recebendo sua pequena parcela da fruta,
e mastigando logo em seguida.
Jimin percebeu que daquele jeito até que não era tão ruim, comer pela
manhã. Estava mais sensível devido aos seus hormônios, e nada como
atenção e afeto para driblar o fastio que o abatia todas as manhãs. Sem
perceber, ele acabou comendo mais do que imaginou que conseguiria. E
dessa vez, não sentiu os tão costumeiros enjoos.
Jimin virou o rosto para olhar o Capitão e encaixou uma mão na curva da
mandíbula dele.
— Você é tão importante para mim. — Ele revelou, dando-lhe um beijo
no canto da boca. — É meu tudo.
O Ômega nem mesmo precisava expor seu agradecimento em palavras,
pois Jungkook sabia como ele estava se sentindo pela marca. Era como se
estivesse caminhando por uma longa estrada, mas tendo a mão segurada
pela pessoa que você mais ama.
— Eu sinto você, Jimin. Não está sozinho — o Ômega fechou os olhos,
sentindo o calor das mãos do Alfa pousarem sobre seu ventre. — Vamos
fazer isso juntos.
Ainda olhando Jungkook por alguns segundos, Jimin inclinou a cabeça
para trás e a apoiou no ombro do Capitão. Ele fechou os olhos, mas sorriu
ao sentir os beijos do Alfa na lateral de seu rosto.

Ao anoitecer da terceira semana, alguns Alfas e Betas se encontravam no


convés conversando animados sobre o que fariam, cada um, com sua parte
do tesouro. Pelos cálculos do navegador, faltava cerca de sete dias para que
eles chegassem no presumível local em que o lendário tesouro estaria
escondido. Animação e ansiedade, eram as duas palavras mais precisas para
definir o sentimento de todos.
Após uma entusiasmada discussão sobre o fato de que Scott desejava
trocar a perna de pau por uma de ouro, com todos evidenciando os prós e
contras daquela escolha, finalmente a maioria da tripulação se recolheu,
ficando apenas o médico e o contramestre.
Ambos seguiram para a proa, e deram início ao antigo hábito de tomar
vinho na companhia um do outro, enquanto conversavam alegremente,
sobre diversos assuntos. Em sua fase nova, a lua não podia ser vista no
firmamento. A única fonte de luz eram as estrelas e uma lamparina, que o
casal depositou em cima de um caixote.
A porta da cabine foi aberta e eles viram Jimin saindo de dentro. O
Ômega abraçou o próprio corpo sentindo o frio da noite em seu apogeu. Ele
caminhou sozinho pelo convés, parecia pensativo, até ver Seokjin e
Namjoon sentados juntos na parte da frente do navio, e se aproximou deles.
— Não deveria estar dentro da cabine? — Namjoon perguntou. — Está
muito frio aqui para você.
Jimin deu de ombros.
— Eu tive um pesadelo...
— Oh, coitadinho — Seokjin lamentou e puxou um caixote. — Sente-se
conosco. Quer falar sobre?
Os olhos do Ômega começaram a lacrimejar e uma lágrima desceu,
seguida de mais uma. Ele cobriu o rosto sentindo o abraço de Seokjin. O
Beta e o Alfa entreolharam-se. Namjoon pegou um pequeno copo e colocou
uma certa quantidade de vinho.
— Toma, bebe um pouco. — O contramestre ofereceu ao Ômega.
Jimin aceitou e tomou um pouco da bebida. Seokjin e Namjoon
permaneceram em silêncio, esperando pelo tempo necessário até que o
Ômega bebesse mais um pouco do vinho e tomasse um longo suspiro para
dizer em seguida:
— Sonhei que o Jungkook... — Jimin engoliu em seco. — Sonhei que...
eu sonhei que perdia meu Jungkookie...
— Mas perder como? — Seokjin indagou alarmado. — Ele morreu em
seu sonho?
Jimin apenas assentiu com a cabeça, sentindo as lágrimas novamente
cegar seus olhos.
— Como? — Namjoon quis saber.
— Enforcado em uma praça pública de Busan.
— Quem foi enforcado? — Os três sobressaltaram ao ouvir a voz do
Capitão logo atrás.
— Você. — Jimin afirmou baixo.
Jungkook franziu as sobrancelhas sem entender, Seokjin o explicou:
— Ele teve esse pesadelo.
— Hmm... — Jeon exprimiu pensativo — Interessante.
— Interessante!? — Jimin rosnou, se levantando e derrubando o caixote
quando fez isso. — Você acha interessante morrer e me deixar sozinho com
nosso filho?!
— Você estava bebendo? — O Alfa ignorou a pergunta de Jimin,
sentindo o hálito de vinho.
— Só foi um pouco — Seokjin o tranquilizou. — Não tem nenhum
problema nisso.
— E se ele ficar bêbado, tropeçar, cair e bater com a cabeça? — Jeon
rebateu. — Não. Melhor que não beba.
— Para de drama, Jungkook — O Beta disse. — Você sabe que ele faz o
que quer.
— Errado. Ele vai me obedecer durante essa gravidez sim.
Os irmãos olharam para Jimin, para confirmar o que o Alfa estava
falando, mas o Ômega estava pensativo. Ele ergueu a cabeça e encarou o
Capitão.
— Não brinca com essas coisas. Eu não quero te perder.
Jungkook o puxou para um abraço quentinho.
— Isso não vai acontecer. — Jeon ditou com seriedade. — Quando
descobrimos que você podia ler os fragmentos, eu sonhei que conseguíamos
o tesouro e mais uma bela quantia com o otário do seu pai, entregando você
de volta à ele. E olha como estamos agora.
— Então é por isso que você acordava de bom humor às vezes?
— Sim. — O Alfa deu de ombros e sorriu da expressão indignada de
Jimin — Não vai me perder, coração. Tenho um Ômega forte para me
proteger.
Jimin sorriu enrubescido e satisfeito com a última afirmação. Estava
orgulhoso do Ômega que havia se tornado, e ouvir isso da boca de seu Alfa,
lhe garantiu sensações tão boas que ele logo se esqueceu do terrível
pesadelo que teve, e voltou com o Capitão para dentro da cabine.

Continua...

Relaxem que eu não mato nenhum dos meninos em minhas fanfics. E


também não mato os demais personagens queridos. Minhas histórias só
tem final feliz 😌
Marinha Real - X Azul
Black Swan - X Preto
[58] Oak Island

Reescrito

Tradução do título: Ilha do Carvalho

Uma semana depois, a lua se encontrava no fim de sua fase crescente. O


céu estava iluminado, mas o Black Swan seguia navegando com velocidade
reduzida.
Taehyung estava sentado no convés, segurando uma lamparina e com um
mapa no colo. Enquanto Jisung tentava enxergar qualquer vestígio de terra,
com a luneta.
— Está por aqui em algum lugar. — o navegador murmurou. — Tem
certeza que não vê nada?
— Não. — Jisung disse, girando a luneta por toda a extensão do
horizonte — Nada.
— Nada, nada?
— Nada. — O Ômega guardou o objeto e virou para o navegador. — Só
água.
— Não se preocupe. — Jimin, que também fazia companhia a eles, disse
— Vamos encontrar esse lugar.
— Vocês confiam em mim, certo? — O navegador indagou, com os
ombros curvados — A tripulação anda meio descrente.
Jimin passou a mão carinhosamente pelo ombro do Beta e sorriu doce.
— Claro que confiamos. Eu, o Jisung e também o Capitão. — Jimin
apontou para alguns piratas que estavam na proa, entre eles, Hoseok e
Yoongi — Muitos ainda confiam em você. Não pode desanimar agora.
— A pergunta é — Sungjae apareceu, trazendo consigo algumas canecas
com chá —, você confia em si mesmo?
— Claro que sim. — Taehyung respondeu confiante — Sei muito bem o
que estou fazendo. O local desse mapa está por aqui.
— Então dane-se o que a tripulação acha. — o Ômega mais velho
declarou.
— O Capitão Jeon está seguindo suas orientações, é o que importa. —
Jisung reforçou.
— É isso. — Sungjae confirmou — Esses bucaneiros são mais burros do
que uma porta. Ninguém liga para a opinião deles.
— Você vai ver como amanhã alguém vai gritar alto de cima da cesta do
mastro, dizendo que enxergou um pedaço de terra ao longe. — Jimin ditou.
Foi com esse sentimento reconfortante que o Beta navegador recolheu
seus mapas e desceu para descansar junto aos demais tripulantes, nas
cobertas inferiores. E assim como Jimin havia dito, logo que os primeiros
raios solares matinais anunciaram o novo dia, Sven puxou com bastante
força a corda do sino, situado na cesta do mastro. O bucaneiro ficou
responsável pelo segundo turno da noite, e assim que espiou pela luneta ao
seu redor, encontrou uma extensa faixa de terra, com algumas ilhas.
Logo, o convés ficou cheio dos tripulantes e a notícia foi espalhada. Os
que estavam duvidando do navegador, foram os primeiros a fazer os
preparativos para acampar na ilha.
Chaerin manobrou o navio, até que ele se aproximasse da margem. A
âncora foi lançada e dentro de pouco tempo, o Black Swan encontrava-se
ancorado no litoral de uma das ilhas. A Marinha local percebeu a
aproximação deles, e pela engenharia bastante parecida com a dos navios
que percorriam pelos mares do Caribe, eles logo identificaram que se
tratava de um navio pirata.
A princípio eles temeram um ataque a uma das províncias pertencentes à
França, mas como a embarcação ancorou em uma das menores ilhas, e as
autoridades locais estavam tão mais preocupadas em expulsar colonos de
outros lugares, que não deram muito importância a um único navio que
talvez estivesse alí apenas para fazer consertos em sua estrutura. Era
comum naquela região.
Mesmo assim, eles decidiram enviar uma pequena embarcação até a ilha,
para saber quais seriam as intenções daqueles piratas. Enquanto a tripulação
do Black Swan erguia tendas pela margem oeste da ilha misteriosa, alguns
oficiais da Marinha desembarcaram na praia, e foram recebidos pelo
próprio Capitão.
— Bom dia, aventureiros. — um dos oficiais disse — Por qual motivo
resolveram ancorar em uma ilha de nossa jurisdição?
— Estamos consertando algumas avarias. — Jeon respondeu.
Os oficiais esticaram o pescoço e viram detrás do Capitão, que o navio
realmente possuía algumas rupturas em seu casco e poucas velas em
situação deteriorada.
— E pretende partir logo que terminarem, certo?
— Pretendo partir quando eu achar conveniente. — O Capitão
respondeu.
— Entendo... era apenas isso. — disse o oficial que parecia ser o líder
deles — Se virem alguns ingleses, por favor, chutem o traseiro deles.
O comandante começou a rir de sua própria piada e os marinheiros
fizeram o mesmo. O Capitão permaneceu com seu semblante sério. O
comandante parou de rir e seus subordinados também.
— Bom, temos uma província para colocar em ordem.
Os oficiais seguiram para a pequena embarcação e voltaram para o local
de domínio Francês.
— O que eles queriam, Capitão? — Namjoon questionou, se
aproximando do mesmo.
— O que eles sempre fazem. Me aborrecer. Convoque todos na tenda
oeste. — Jungkook determinou seguindo até ela.
Jimin, Taehyung, Jisung e Jackson estavam ao redor de uma mesa, onde
o mapa traduzido do Imperium se encontrava exposto no centro. Eles
tentavam retirar alguma pista das frases que continham em cada fragmento.
O mapa continha as formações da ilha, mas nada que indicasse onde o
tesouro estava. Jungkook entrou na tenda e se reuniu com eles. Namjoon se
juntou logo depois e mais alguns outros bucaneiros.
— Já podemos pegar as pás? — Billy perguntou, satisfeito por já poder
usar sua voz.
— Ainda nem sabemos onde o tesouro foi enterrado. — Jared que
respondeu.
— Quando a derradeira luz iluminar a entrada, a força da lua brilhará
eternamente e o vermelho escarlate indicará o verdadeiro caminho ao
Imperium. — Taehyung leu em voz alta todas as frases dos sete fragmentos,
na ordem correta. — O que isso significa? Onde vamos encontrar essa tal
entrada e o que ela pode ser?
Os piratas olharam para o caçador.
— Eu não tenho nenhuma ideia. — Jackson afirmou, erguendo as mãos.
— Então por que veio se não serve de nada? — Billy indagou irritado.
— Ele é muito mais útil aqui do que você, então cala a boca. — Jisung
rosnou.
Todos voltaram sua atenção ao Ômega. Até mesmo Billy, com seus olhos
arregalados. Jisung encolheu os ombros e se escondeu atrás do caçador.
— Sabemos que precisamos do Jimin — Taehyung voltou a falar. — Um
Ômega lúpus, a força da lua...
— Vermelho escarlate. — Disse Sven, o interrompendo. — Sangue?
— Um sacrifício, talvez? — Jimin supôs.
— O sacrifício de um Ômega lúpus... — Jackson pensou em voz alta.
Por um instante, o silêncio que se fez presente foi tão absurdo, que se um
fio de cabelo caísse no chão todos ouviriam. Jungkook percebeu um brilho
estranho no olhar de alguns piratas. Eles entreolharam-se e depois voltaram
sua atenção ao Ômega lúpus.
O Capitão puxou Jimin para trás dele e empunhou suas duas notórias e
letais adagas. Yoongi fez o mesmo com sua katana.
— Terão de passar por mim. — Jungkook rosnou segurando firmemente
o cabo das armas. Seus olhos ficaram vermelhos.
Pouco a pouco, os demais iam compreendendo o que estava acontecendo
ali. Uma certa quantidade de bucaneiros, estavam realmente dispostos e
sacrificar o Ômega, mesmo ele estando grávido.
— Por mim também. — Taehyung afirmou indo para o lado de seu
Capitão.
— E por nós! — Jisung puxou Jackson consigo. O caçador o olhou
confuso, mas se deixou levar.
— Por todos nós. — Namjoon rugiu e logo após, Seokjin, Hoseok, Scott,
Sven, Sungjae, Chaerin, Jared, Dahyun, Billy e outros, também se juntaram
e a maioria ficou ao lado do Capitão e de Jimin.
Junbuu permaneceu sentado em sua cadeira confortável. Suas costas
estavam doendo, mas ele não precisava se levantar para demonstrar em suas
feições, que também estava do lado do Capitão.
— Tem razão. — Yejun afirmou. — Não precisamos sacrificar o garoto.
Podemos pegar um animal qualquer e cortar a garganta dele, como aqueles
canibais malucos.
— É. — uma outra Alfa de nome Minah se pronunciou. Ela não tirava os
olhos de Jimin, até desviá-los para Jungkook. — Nós vamos procurar por
essa tal entrada, Capitão.
— Talvez ela tenha alguns caracteres estranhos — Taehyung apanhou um
dos livros que possuía a antiga escrita utilizada nas runas e mostrou aos
demais — como esses aqui.
— Devem fazer isso até o pôr do sol então. — Sven sugeriu — O mapa
fala sobre a luz, lembram?
— Pode ser a lua. — Jackson os lembrou — Ainda há luz após o
anoitecer.
— Por segurança é melhor encontrarmos antes do sol se pôr. — Hoseok
indicou — Vamos nos dividir em grupos e procurar por ela. Quem encontrar
primeiro chama os outros.
— Você fica comigo. — Jeon determinou falando com Jimin e guardando
suas lâminas.
— Mas eu estava pensando em ir com o Jisung. — Jimin confessou —
Nunca mais fizemos nada juntos, seria interessante se fizéssemos isso.
Jeon negou com a cabeça.
— Você não vai sair do meu lado. — Ele ditou com seriedade — Sem
discussão.
— Está bem, está bem. — Jimin se rendeu, erguendo as mãos. — Eu vou
ficar com você.
— Ele pode vir conosco, não vejo nenhum problema nisso. — Jeon disse,
se referindo ao irmão de Jimin. Ele depositou uma mão no ventre do
Ômega, sentindo um pequeno relevo, quase imperceptível, e sorriu beijando
a testa dele — Vamos.
Seokjin permaneceu na tenda com Junbuu, Scott, Sungjae e alguns
piratas. Outros bucaneiros ficaram no navio, para guardá-lo.
Os outros grupos foram divididos da seguinte maneira:
Grupo 1: Jungkook, Jimin, Jisung e Jackson.
Grupo 2: Taehyung, Hoseok, Yoongi, Chaerin e Dahyun.
Grupo 3: Namjoon, Billy, Jared, Sven e Minah.
Do quarto grupo em diante, cada equipe permaneceu com 4 a 5 membros.
O grupo 1 seguiu direto pela floresta, buscando qualquer vestígio que
indicasse ser a referida entrada. Estavam com a vantagem de estarem com o
Ômega lúpus, então acreditava-se que este seria o primeiro grupo a
encontrar o local exato do tesouro.
O grupo de número 2 optou por contornar a ilha pela margem. Hoseok
acreditava que Francis Bonny e sua tripulação teria enterrado o tesouro
abaixo das camadas de areia, e os outros seguiram sua ideia. Já os demais
grupos também adentraram na floresta, mas seguiram por direções
contrárias.
O de número 3, seguiu um caminho que acabou os levando a um enorme
pântano escuro. Era possível ver alguns troncos de madeira boiando, plantas
aquáticas e uma misteriosa calmaria por baixo de seu manto negro.
A essa altura, o sol começava a se pôr, e ninguém havia visto qualquer
sinal da entrada ou de qualquer outra coisa que indicasse que o tesouro
estivesse por ali. Billy enxergou um brilho idêntico ao ouro, por dentro de
um dos troncos que boiavam na superfície das águas calmas. Ele chamou
Namjoon e apontou para o que poderia ser uma moeda.
— Talvez seja algum vestígio do Imperium. — Jared cogitou em voz alta.
Minah, que estava por perto, acabou ouvindo também. Ao contrário dos
outros de seu grupo, ela tinha em mente a ideia de roubar todo o tesouro
que estivesse escondido naquela ilha, assim como os demais que pensaram
na possibilidade de sacrificar Jimin.
Enquanto os outros tentavam alcançar o tronco com o auxílio de um
galho. A Alfa gritou chamando seus companheiros, logo, Yejun surgiu
trazendo consigo os dois grupos de piratas traiçoeiros.
— Ainda não temos certeza se aquilo é realmente uma moeda, Minah. —
Namjoon a repreendeu. — Vai distrair os demais.
— Dane-se seu idiota! — A Alfa rugiu. Ela apontou para o tronco de
árvore e bradou para os seus: — O tesouro está abaixo do pântano.
— Rápido! — Yejun gritou em seguida — O sol já está se pondo.
Alfas e Betas correram entrando nas águas escuras. O grupo 3, com
exceção de Minah, tentou impedi-los, mas pararam no instante em que
viram o grupo de afobados serem engolidos pela lama preta que se escondia
por baixo da camada fina de água.
— Ajudem-nos! — eles gritavam, forçando o corpo para cima.
Mas nada que fizessem iria adiantar, e todo o esforço que faziam para
tentar sair, parecia piorar a situação.
— Minah, nos ajude! — continuaram implorando, à medida que seus
corpos afundavam.
— Caralho... — a Alfa sussurrou assustada, quando a cabeça do último
bucaneiro sumiu na camada pantanosa.
Continua...
Marinha Real - X Azul
Black Swan - X Preto
O mapa não está errado. A Marinha está realmente em dois lugares.
[59] Imperium

Reescrito

O céu encontrava-se alaranjado, indicando que logo mais a noite iria


surgir. O primeiro grupo ainda seguia desbravando pela parte oeste da
floresta. Jimin estava atento a qualquer coisa que brilhasse diante dos seus
olhos. Eles ouviram o rugido de Minah, mas como depois disso o silêncio
voltou a predominar, o grupo descartou a ideia de que tivessem encontrado
alguma coisa de concreto.
Um pouco mais a frente, Jisung se sentiu cansado devido aos longos
minutos de caminhada. Todos resolveram fazer uma parada, e quando o
jovem Ômega sentou-se encostado em uma rocha, algo ao seu lado lhe
chamou a atenção. Ele engatinhou até estar próximo ao que parecia uma
grande pedra circular, com cerca de 1 metro de diâmetro. Ele passou as
mãos por cima, para afastar as folhas, gravetos e pedregulhos que a
cobriam.
— Jimin, gente — Jisung chamou, sem tirar os olhos da pedra —, acho
que encontrei a entrada.
Ao ouvirem o que o Ômega dissera, os demais se aproximaram dele.
Assim que Jimin mirou a pedra, seus olhos se arregalaram e ele apertou a
mão de Jungkook.
— É ela! — Jimin afirmou, com uma visível expressão de
contentamento. — Há quatro camadas em círculo e em cada uma delas,
uma fase da lua. Mas estão desalinhadas.
Jimin agachou-se e apontou com o dedo, explicando onde cada lua se
encontrava.
— As camadas nós estamos vendo. Só não dá para ver as luas. O que
mais você vê? — Jackson perguntou interessado.
— Mais nada. Apenas isso.
— O sol já se pôs e pelo visto nada aconteceu... — Jisung afirmou
olhando para Jimin, o Ômega lúpus confirmou. Ele observou o céu
ligeiramente escuro e acrescentou: — Daqui a pouco a lua vai aparecer.
Talvez seja ela.
— Vamos chamar os outros.
Quando finalmente todos os grupos, incluindo os que permaneceram na
tenda, se reuniram ao redor da pedra, a lua enorme e cheia iluminava o céu
em sua magnificência.
— Onde estão Yejun e os outros? — Scott perguntou ao dar pela falta
deles.
— Estão mortos. — Sven respondeu.
— Correram para dentro do pântano e foram engolidos pelo aguaçal. —
Namjoon acrescentou.
— E o que eles foram fazer lá? — Jungkook indagou.
O contramestre olhou rápido para Minah e logo em seguida, desviou para
o Capitão, respondendo:
— Pensamos ter visto uma moeda de ouro dentro de um tronco. Eles
correram na frente e começaram a afundar. Não pudemos fazer nada.
O Capitão Jeon não deu nenhuma importância ao fato. Ele voltou sua
atenção a Jimin e questionou:
— Mudou algo?
— Não. — Jimin respondeu.
— Está iluminando a entrada. — Billy disse frustrado — A lua está
cheia. É impossível que não esteja iluminando-a.
— De fato, está. — Seokjin confirmou — Dá para ver bem a luz tocando
sobre ela.
— O que você disse? — Jisung perguntou a Billy.
— Está iluminando a entrada?
— Não, depois disso.
— A lua está cheia?
— Isso! — Jisung caminhou até a pedra — Tae, qual a última fase de um
ciclo lunar?
— Minguante. — O navegador respondeu se aproximando. — Quando
sua parte iluminada está voltada para o leste.
— Me empresta sua bússola? — Jimin pediu e o Beta o entregou. Ele
aproximou o objeto da pedra e confirmou sua suspeita — A última camada,
é uma lua minguante.
— Quanto tempo até essa fase? — Jeon indagou ao seu navegador.
— Bom, já estamos na cheia, a próxima será a minguante. Pela posição
da lua nesse exato momento... — o navegador fez silêncio, calculando
mentalmente. — Eu diria que em cerca de três a quatro dias ela estará no
auge da última fase.
— Já estamos aqui e vocês querem esperar mais o quê?! — dessa vez foi
Dojun que se manifestou. — Vamos abrir essa porcaria logo de uma vez!
O Alfa se aproximou a passos pesados da pedra. Taehyung, Jimin e
Jisung saíram de seu caminho. Os demais apenas observaram quando o Alfa
se abaixou e segurou nas bordas da grande pedra. Ele fez grande esforço,
mas a pedra não se moveu.
— Junseo, Jaewoo, Hamin — Dojun chamou alguns de seus amigos. —
Ajudem-me aqui.
Os três Alfas se juntaram ao outro e eles tentaram mover a pedra para os
lados, ou erguê-la. Novamente não obtiveram sucesso.
— Mas que desgraça de pedra! — Dojun esbravejou.
Meio segundo depois, ele colocou as duas mãos na barriga e contorceu-se
de dor, vomitando sangue. Grandes quantidades do líquido vermelho caíam
de sua boca como uma cascata. Logo em seguida, o mesmo começou a
acontecer com Junseo, Jaewoo e Hamin.
Os Alfas acometidos por tal episódio, grunhiam tentando exprimir algo.
Talvez, um pedido desesperado de socorro. Eles caíram no chão e
começaram a arranhar o pescoço, como se suas vias estivessem entupidas
com o sangue que não parava de jorrar, de todos os orifícios de seus corpos.
Sungjae tentou correr em seu socorro, mas Scott o impediu segurando-o
pelo braço.
— Foram amaldiçoados. — O Alfa disse negando com a cabeça.
— Seokjin? — Sungjae voltou-se para o médico.
— Scott tem razão. — o Beta respondeu calmo. — Não se aproxime
deles.
Todos permaneceram em silêncio diante do horror que era aqueles quatro
piratas agonizando até a morte. Seus corpos finalmente pararam de se
mexer pouco mais de um minuto após o evento ter iniciado.
— Então é isso o que acontece com todos que tentarem forçar a entrada.
— Jared afirmou — Vamos ter de esperar esses dias.
— É bom que não se aproximem dessa pedra antes do tempo certo. —
Jungkook ditou para que todos ouvissem — A não ser que queiram ter o
mesmo destino que esses idiotas.
A tripulação engoliu em seco, e obviamente a decisão de esperar um
pouco mais foi unânime.
Nos dias que se passaram, ninguém ousou tocar naquela pedra. A única
vez em que se aproximaram daquele lugar, foi para enterrar os corpos dos
bucaneiros. Eles usaram vigas de madeira para transportar os corpos, com
medo de que a maldição caísse sobre aquele que tocasse os cadáveres.
Exatamente no quarto dia após o sucedido, a tripulação retornou ao local
onde a pedra permanecia intacta. A lua já se encontrava em sua última fase,
e quando Jimin se aproximou da pedra, sua expressão mudou para surpresa
e animação. A tripulação percebeu isso e seus olhos brilharam. Mas eles
ainda permaneceram em silêncio, enquanto o Ômega se abaixava diante da
pedra.
No centro dela, onde antes não havia nada, Jimin pode ver quatro
cavidades no formato das quatro fases da lua, formando um círculo. Ele se
lembrou do pingente do caçador e logo solicitou a ele:
— Entregue-me seu colar.
Jackson franziu o cenho confuso, mas puxou o objeto de seu pescoço e o
entregou ao Ômega. Jimin abriu o pingente, fazendo com que as quatro luas
ficassem ordenadas, assim como no côncavo do centro da pedra. Ele
encaixou o pingente nas 4 cavidades e logo algo aconteceu. Assim que as
camadas do círculo começaram a se mover, Jimin puxou o pingente de volta
antes que Jungkook o puxasse para trás.
As luas se alinharam, criando uma espécie de linha curva em seu
diâmetro horizontal. As duas partes se afastaram para seus respectivos
lados, abrindo uma passagem no chão e uma escada surgiu à medida que as
duas metades da pedra se afastavam uma da outra.
— Eu vou primeiro. — Scott afirmou — Se acontecer alguma coisa, que
seja eu a perder a vida. Só tenho uma perna mesmo. Sou o mais descartável.
— Não! — Sungjae protestou — Eu sou o mais descartável. Foi eu quem
abandonou a tripulação e traiu o Capitão. Então nada mais justo do que eu
seja o teste.
— Não vou permitir isso. — Scott disse firme.
— Scott, por favor?
— O casal vai ficar discutindo aí ou o quê? — Billy indagou. — Alguém
precisa descer. Eu é que não vou.
— Permita que eu vá. — Scott solicitou ao Capitão.
Jungkook permitiu, assentindo com a cabeça.
Jared pegou uma das tochas e a entregou ao corajoso bucaneiro. Scott a
segurou e caminhou até estar diante da entrada. Ele apontou a luz da chama
para dentro e conseguiu iluminar até certo ponto da escada.
Sungjae também se apossou de uma das tochas e correu até estar ao lado
de Scott, segurando firmemente a mão do mais alto.
— Eu vou com você. — O Alfa comprimiu os lábios pronto para negar,
mas Sungjae foi mais ligeiro e começou a descer as escadas — Vamos!
Vamos! Estou descendo...
Scott nada pôde fazer a não ser acompanhá-lo. Eles desceram pela escada
ainda de mãos dadas, seguindo pelo túnel estreito até cerca de 27 metros de
profundidade. No fim, eles se viram em um grande espaço circular, com 4
aberturas no formato de portas comuns, exibindo quatro túneis que levavam
a caminhos diferentes.
Na parede entre duas das passagens, havia uma outra pedra na qual Scott
e Sungjae não podiam enxergar as escrituras. O Alfa voltou alguns degraus
da escada e anunciou em voz alta:
— Capitão, você precisa ver isso. Traga o Jimin também.
A tripulação estava tensa no aguardo lá em cima. Eles respiraram
aliviados ao ouvirem a voz de Scott. Jeon segurou na mão de Jimin e eles
foram os segundos a descer. As tochas iluminavam o caminho até que eles
chegassem ao fim. Alguns piratas também apareceram e a maioria ficou no
grande espaço circular. Alguns poucos permaneceram nos últimos degraus
da escadaria, por falta de espaço.
— Jimin? — O Capitão inquiriu ao olhar a pedra.
O Ômega se aproximou da mesma, com os olhos semicerrados, como se
tentasse se lembrar de tudo o que aprendeu com a escrita antiga. Com certa
dificuldade ele conseguiu traduzir sozinho e leu para todos:
— Apenas um caminho o levará ao Imperium.
— E os outros? — Sven perguntou.
Ninguém soube responder. Um silêncio perturbador predominou por
algum tempo. Todos imaginando uma palavra em comum: morte.
— A hora é agora. — Minah começou — E o vermelho escarlate indicará
o verdadeiro caminho. Precisamos de um sacrifício. — Ela disse, olhando
para Jimin.
— E o que estamos esperando!? — um pirata sacou sua pistola mas antes
que pudesse usá-la, a lâmina de uma das adagas do Capitão perfurou sua
nuca e a ponta surgiu pela boca.
O Capitão Jeon puxou sua adaga e o corpo do Alfa caiu no chão, sem
vida. Ele já estava observando o grupo que cogitou o sacrifício de Jimin,
dias atrás, na tenda.
— Quem mais quer tentar matar meu Ômega?! — Jungkook rosnou
puxando a outra lâmina.
Novamente, seus olhos ficaram vermelhos e todos sentiram a aura
dominante de um Alfa lúpus. Isso fez com que alguns daquele grupo de
traiçoeiros recuassem alguns passos.
— Vamos deixá-los para trás! — Minah sugeriu — Escolhemos qualquer
caminho, uma hora nós vamos encontrar o tesouro e será apenas nosso!
A Alfa correu para dentro de uma das passagens, sendo seguida por mais
três Alfas. Um grupo formado por dois Betas e dois Alfas hesitaram por um
momento, mas logo decidiram escolher uma outra passagem e
atravessaram-na.
— Esperem... — Jisung disse para os que restaram — Não é apenas o
sangue que é vermelho... os olhos de um Alfa lúpus também é.
A tripulação em peso voltou a atenção para o Capitão e o caçador. Jeon
respirou mais calmo e assim que ergueu o rosto, passando o olhar pelas
passagens seu queixo quase caiu no chão. Jackson teve a mesma reação.
— Capitão? — Namjoon segurou em seu ombro — Está vendo algo?
— São figuras... — Jungkook respondeu. Ele olhou para Jackson e o
mesmo confirmou que estava vendo a mesma coisa — Estão pelas paredes,
nessa direção. — Concluiu, apontando para uma das passagens.
— Estão este é o caminho verdadeiro. — Yoongi afirmou o óbvio.
Munidos com as tochas, a tripulação seguiu pelo caminho guiado pelo
Capitão e o caçador. Aqueles túneis se tratavam de um imenso labirinto, e
aquele que não soubesse o verdadeiro caminho, ficaria perdido para sempre.
Ou até sucumbir à loucura, antes de morrer de fome e sede.
Todos continuaram seguindo os Alfas lúpus, até pararem diante de uma
grande porta dupla. Ela estava desgastada pelo tempo e condições em que
estava entregue. Jungkook empurrou uma das portas segurando a tocha,
iluminando um pouco do que havia do outro lado, mas a princípio não pôde
enxergar muita coisa, apenas uma pequena descida.
Na parede, ele encontrou um suporte para lamparinas e ateou fogo no
primeiro pavio. A chama se espalhou acendendo as demais e clareando o
que havia dentro daquela câmara. Quando o último candelabro inflamou, o
recinto finalmente se tornou visível e a tripulação foi entrando aos poucos.
Ninguém foi capaz de expressar uma única palavra naquele momento.
Havia pilhas e mais pilhas de moedas de ouro espalhadas por todo o recinto,
jóias, pedras preciosas e outros itens de valor. Diversas arcas estavam
abertas, expondo o ouro dentro delas.
A quantidade de ouro era tamanha, que quando Billy deu um passo para a
descida, pisando em cima do ouro, sua perna foi encoberta pelas moedas e
afundou até o joelho. Jared o seguiu, pulando em cima do tesouro. Ele
apanhou um punhado de moedas e jogou para cima quando gritou:
— É tudo nosso!
Jimin e Jungkook entreolharam-se sorrindo radiantes. Jeon o puxou pela
cintura e beijou sua boca ardentemente.
— Eu nunca vi tanta moeda junta. — Seokjin afirmou, ainda boquiaberto
com toda aquela riqueza.
— E é tudo de ouro! — Billy gritou, mordendo uma das moedas — Ai
meu dente!
Ao encerrar o beijo, Jungkook e Jimin permaneceram com os rostos
próximos. A ponta nariz encostando um no outro e os olhos fechados.
— Conseguiu, Capitão Jeon. — Jimin falou com voz baixa — Encontrou
o tesouro.
— Eu encontrei o meu tesouro há muito tempo. — O Alfa disse, beijando
a testa do Ômega.

Continua...
[60] Despedida

Reescrito

— Eu odeio atrapalhar a comemoração particular — Seokjin disse se


aproximando do casal —, mas precisamos tirar esse ouro daqui.
O Alfa lúpus olhou para o irmão e assentiu.
— Levem o ouro para o porão do Black Swan. — Jeon ordenou à
tripulação.
— Não vai dar. — Junbuu disse. Ele já estava acostumado a transitar
entre o porão de carga e a cozinha. Conhecia cada centímetro daquele porão
— Mesmo que joguemos as cargas fora. É muito ouro.
— Podemos colocar na coberta em que dormimos! — Jared supôs,
desesperado com a possibilidade de deixar uma única moeda para trás.
— E nós vamos dormir em cima do ouro? — Sven questionou.
— Poxa, que coisa difícil. Dormir em cima de toneladas de moedas de
ouro. — Jared disse sarcástico — Pobre Sven, como vai conseguir
sobreviver a isso...
Sven revirou os olhos.
Billy estava deitado com os braços e pernas esticados, movendo-os na
intenção de criar o formato de anjo em cima das moedas.
— O que está fazendo, Billy? — Jisung questionou.
— Um anjo mas moedas. — o Alfa se levantou e apontou para o lugar
em que estava — Veja.
Yoongi se aproximou e espiou o formato deixado pelo bucaneiro.
— Está parecendo um demônio.
— Ah — Jared afirmou — Continuou com seu formato Billy.
— Vocês me amam. — Billy resmungou, agarrou um dos baús com Jared
e seguiu os outros piratas através do túnel.
O Capitão Jeon os guiou pelo caminho, colocando as tochas nas paredes,
para que os piratas soubessem por onde seguir, enquanto davam voltas e
mais voltas para transportar todo o tesouro.
Jisung encontrou uma arca pequena e a encheu com algumas moedas de
ouro e também jóias com pedras preciosas. O caçador passou pelas moedas,
cavando com as mãos e retirando baús do lugar. Ele procurou em cada
canto do enorme recinto, mas não encontrou nenhuma mensagem do seu
pai, diário de bordo ou coisa parecida.
— Vamos embora. — Jisung se assustou ao ouvir a voz do Alfa tão perto
dele.
— Mas e o tesouro?
— Não quero uma única moeda desse maldito tesouro.
Jisung suspirou entristecido pela frustração do Alfa.
— Não encontrou o que estava procurando, não é? — o lúpus negou com
a cabeça — Já parou para pensar que o que você está procurando, está bem
diante dos seus olhos?
— O que? — Jackson cruzando os braços.
— O enigma gira em torno de um Ômega e um Alfa lúpus. Seu pai era
um Ômega lúpus. Você é um Alfa lúpus. Não percebe? — Jisung indagou
achando tudo muito óbvio, mas o caçador permaneceu calado — Eu acho
que ele arquitetou tudo isso pensando em você.
— Não seja ridículo.
— Você que está sendo. Criou uma imagem do seu pai à sua maneira, e
acredita ser a verdade universal sobre ele. Agora se recusa a enxergá-lo de
outra forma. Seu pai era um gênio.
— Um gênio que abandonou a família para sair pelo mundo saqueando e
juntando um tesouro que nem ao menos utilizou. Uau, que gênio. — Jisung
negou com a cabeça. Ele estava segurando um objeto feito de madeira, que
encontrou dentro da pequena arca. O Alfa viu e ficou curioso — O que é
isso?
— Um brinquedo. Mas está sem um braço. — Jackson franziu a testa e
puxou o objeto das mãos do menor. Ele o examinou por um tempo, parecia
chocado — Era seu?
— Sim... — O objeto se tratava de um boneco feito de madeira, com uma
pequena espadinha entalhada em uma mão — Eu procurei em todo canto.
Desapareceu ao mesmo tempo que aquele miserável.
— Não fala assim do seu pai.
Jackson olhou para o boneco em suas mãos por mais alguns segundos,
em seguida ele o atirou contra uma parede.
— Meu pai foi um desgraçado ambicioso e egoísta. Assim como o seu.
— Meu pai sempre foi muito amoroso comigo e com o Jimin. — Jisung
se levantou, rebatendo — Seu comportamento reflete a sociedade em que
vivemos e pela forma que ele foi educado. Mas ele nunca deixou de nos dar
carinho e amor.
Jackson fitou o pequeno Ômega e como ele se sentiu ofendido com
aquela acusação. Teria muito o que ensinar a ele. “Ainda vai quebrar muito
a cara na vida” — pensou.
— Vender os filhos para dois Alfas velhos, para obter mais poder na
Marinha. Grande demonstração de amor. — O caçador afirmou, com tom
de sarcasmo. Jisung olhou o boneco no chão e suspirou com tristeza —
Despeça-se do seu irmão. Vamos pegar uma carona com o pessoal da
Marinha. Partiremos amanhã.
— E para onde vamos?
— Coréia. Preciso me apresentar ao líder da minha Ordem.
— Mas por que não podemos voltar com o Black Swan?
— Não temos nada para fazer com eles. E eu prefiro viajar por terra. —
Jackson notou o olhar preocupado do Ômega e acrescentou: — Não se
preocupe, você está marcado. Seu pai não tem nenhuma autoridade sobre
você.
— Está bem.
— Seu irmão voltou para o navio.
O Ômega assentiu e acompanhou o caçador, passando pelo caminho do
labirinto marcado pelas tochas, juntos com os demais piratas que ainda
transportavam o tesouro.
À medida que seguiam em segurança pelo corredor, eles podiam ouvir o
eco dos gritos de Minah e dos demais piratas que se aventuraram por
caminhos diferentes. Estavam desesperados após longos minutos que
pareceram horas, perdidos dentro do labirinto. A luz da tocha que eles
carregavam já estava chegando ao fim, e ficava cada vez mais difícil
enxergar as criaturas pavorosas e medonhas que habitavam as profundezas
da terra.
Jisung e Jackson subiram a escadaria e saíram do esconderijo. O Alfa
acompanhou o mais novo até o Black Swan, e aguardou enquanto Jisung
subiu pela rampa e foi se despedir do irmão.
Jungkook estava no porão de carga, enquanto Jimin descansava na
cabine. Jisung bateu na porta com medo de estar interrompendo algo
importante. Quando ouviu a voz do irmão autorizando sua entrada, ele abriu
a porta.
— Jimin, preciso falar com você...
O lúpus estava sentado em uma cadeira, lendo um livro. Ele o fechou e
guardou em cima da mesa.
— Ah, por favor — Jimin o fitou temeroso —, não me diga que você está
grávido...
— Não! Ai... não, Jimin. Céus... — O mais velho suspirou aliviado — Eu
vou embora com o Jackson... amanhã.
— Mas já?! Para onde vocês vão?
— Coréia. Ele precisa se encontrar com a Ordem dele, algo assim.
Jimin correu até o irmão e o abraçou com força. Por um momento, ele
considerou as propostas de Jungkook, sobre matar o caçador.
— Meu pequeno — O lúpus choramingou, com os olhos cheios de
lágrimas —, queria que ficasse comigo no Black Swan. Mas já que é da sua
vontade se tornar um caçador, e viver ao lado daquele Alfa, eu só posso
desejar que você seja muito feliz!
— Obrigado! — O mais jovem também secou algumas lágrimas — Para
onde vocês vão?
Jimin franziu o cenho, ainda não tinha pensado sobre isso.
— Não sei. Acho que primeiro precisamos esconder esse tesouro em
outro lugar, o porão está cheio e agora estão depositando no dormitório.
— Um dia você vai voltar para Coréia?
— Mas é claro que sim! — Jimin disse convicto, colocando as mãos no
ventre — Esse filhote precisa conhecer o titio.
Jisung sorriu grande, curvou o corpo e beijou o pequeno relevo que era a
barriga de Jimin.
— Até algum dia, neném. — Jisung sussurrou para o feto e em seguida
abraçou o irmão novamente — Eu te amo.
— Também te amo muito!
Jimin acompanhou o irmão até o convés. Jungkook estava do lado de
fora, controlando a entrada do ouro que estava sendo depositado em
caixotes na popa.
O Ômega mais jovem se aproximou dele, meio sem jeito, e ofereceu a
mão como um comprimento.
— Obrigado por tudo, Capitão Jeon. Você é o exemplo de pirata que
sempre imaginei lendo meus livros. Foi maravilhoso pertencer a sua
tripulação por esse tempo.
Jungkook assentiu sorrindo para ele, e disse:
— Você é muito inteligente. Fiquei impressionado com seu raciocínio
rápido.
Jisung agarrou uma pistola e a ofereceu ao Capitão.
— Sua pistola. Aquela que me entregou na hospedaria no Brasil.
— Pode ficar.
Jisung sorriu agradecido e guardou a pistola de volta em seu cinto.
Enquanto isso, Jimin desceu a rampa e caminhou até estar próximo do
caçador.
— Acho bom você cuidar muito bem do meu irmão. — Jimin afirmou
com os braços cruzados.
— Relaxe. — o caçador respondeu despreocupado.
— Estou falando sério, Jackson. Cuide bem dele.
O Alfa assentiu.
Jisung também desceu pela rampa e abraçou o irmão uma última vez. Ele
e Jackson encontraram Yoongi e Taehyung enquanto seguiam na direção da
cidade.
— Então chegou a hora. — Taehyung disse e o Ômega novo assentiu —
Não é muita coisa, mas espero que ajude você a se tornar o melhor caçador
que esse mundo já teve.
O Beta entregou para ele uma bússola e um livro sobre navegação.
— Muito obrigado.
— Hey, seu baixinho medroso. — Yoongi proferiu, se referindo a Jisung.
O Ômega se assustou com a voz dele, engoliu em seco quando o viu se
aproximar. Jisung olhou para Jackson esperando uma reação dele, mas o
lúpus permaneceu despreocupado. Mas para a sua surpresa, Yoongi
desprendeu a bainha que acomodava a katana de seu cinto, e a entregou
para o Ômega, juntamente com a arma.
— Para você rasgar a garganta daqueles que tentarem te assustar.
— M-mas...
— Fique. É sua. Eu estava mesmo querendo uma nova. — O Alfa deu de
ombros e chamou o Beta: — Vamos logo, o Capitão precisa definir uma
nova rota.
Taehyung assentiu e o seguiu na direção do Black Swan.
— Sr. Min — Jisung correu alguns passos para alcançar o Alfa e o
segurou pelo ombro —, muito obrigado. Vou treinar bastante, até estar ao
seu nível de habilidade.
— Certo. — Yoongi sorriu pequeno e voltou a seguir seu caminho.
— Ainda tem medo dele? — Jackson perguntou ao menor.
— Não. — Jisung respondeu — Ele até ficou fofo sorrindo.
Jackson o olhou com uma sobrancelha erguida. O Ômega fez um grande
esforço para não rir, achando ainda mais fofo como aquele lúpus conseguia
esconder bem seus sentimentos na maioria do tempo, mas não conseguia
esconder o ciúme.
— Hm. Vamos. — Foi o que Jackson exprimiu, antes de dar meia volta e
seguir caminho na direção de Quebec.
Jisung correu até conseguir alcançá-lo.

Após conseguirem guardar todo o ouro dentro do Black Swan, uma certa
quantia de prata foi retirada do porão, para comprar novos suprimentos e
renovar o estoque de provisões.
— Amanhã eu vou até a cidade comprar. — Junbuu se adiantou —
Preciso de uma rota, para calcular o que vamos precisar.
— Já tem um lugar em mente, Capitão? — Taehyung questionou.
— Eu sugiro a Ilha dos Canibais. — Namjoon disse — Há várias
criaturas medonhas pela margem. Ninguém se aproxima daquele lugar e
quem ousar fazer isso ainda vai ter que lidar com os nativos.
— O Triângulo da Morte também. — Jimin os lembrou abraçando
Jungkook pela cintura — Pensei que ia morrer mas acordei em uma ilha
muito bonita, completamente inabitada e afastada de tudo.
— Vamos esconder um pouco em cada lugar. — O Capitão determinou e
logo as rotas foram traçadas.
Após um mês que partiram de Oak Island, eles aportaram em uma cidade
africana para reabastecer os estoques. A pedido de Jimin, eles procuraram
pelos amigos que fizeram no Brasil, mas infelizmente só encontraram
alguns.
Kunta e Kinte estavam em outros reinos, foi o que disseram. O Black
Swan zarpou em alguns dias e eles continuaram seguindo viagem.
Outro mês havia se passado, e eles estavam entrando no Oceano das
Índias. Aos quatro meses e indo para o quinto de gestação, Jimin estava
sentado na proa conversando com seu amigo, Jimin. A conversa parecia
mais um monólogo, pois o Beta contava sobre como essa foi a mais
emocionante viagem de sua vida, e o Ômega mantinha seus pensamentos
longe.
Jimin pensava em várias coisas ao mesmo tempo, sendo duas delas; o seu
filhote e o seu irmão. Mas uma palavra dita pelo Beta, chamou sua atenção
como nenhuma outra.
— Acho que vou comprar uma taberna em Nabuco. — Taehyung
articulou.
As sobrancelhas de Jimin se curvaram para cima e seus olhos faiscaram.
— Nabuco! — Jimin afirmou alto e desceu de um caixote,
completamente estabanado.
— Está se sentindo bem? — Taehyung o amparou, temendo que caísse.
— Sim. Eu preciso falar com Jungkook.
Taehyung franziu o cenho, confuso, mas o deixou ir. Ele acompanhou o
Ômega com os olhos até vê-lo desaparecer atrás da porta da cabine do
Capitão.

continua...
Marinha Real - X Azul
Black Swan - X Preto

Um desenho muito fofo feito pela Euzinhamexma_ Ela se sentiu


inspirada, começou a desenhar, e se lembrou de Black Swan ❤❤❤
❤ obg neném ❤
Gente os ossos do Francis não estavam no tesouro kkkkkkkk teve
tantos comentários sobre esses ossos... É tão errado mas eu ri muito
Ele foi capturado e enforcado pouco depois que espalhou os sete
fragmentos. Ele arquitetou tudo isso pra depois viver uma grande
aventura com o filho dele (Jackson). Só que infelizmente ele morreu e o
Jack ainda era criança.
O Francis não era do mau, como Alma Negra e Fenn Barba-Ruiva.
Eu só não faço uma fanfic contando a história dele, pq é muito triste
e o final não é feliz, já que ele morre... E só a título de curiosidade, a
cria dos Jikook é tipo a reencarnação do Francis...
Mas é isso, Francis Bonny foi um ômega lúpus e o maior pirata da
história (na fanfic) com uma inteligência muito acima da média, forte,
destemido e com um ótimo senso de humor. Por favor, não imaginem
ele como um cara do mau.
Até a próxima ❤
[61] Infortúnio

Reescrito

Jeon estava sentado diante de sua mesa, atualizando o diário de bordo.


Haviam muitas coisas que ainda não foram armazenadas nas informações
dos livros, assim como a terrível tempestade que os castigou alguns dias
atrás. Ele pensava na ideia de passar pelas Índias antes de contornar as ilhas
da Austrália, quando a porta da cabine foi aberta abruptamente, e o cheiro
de jasmim se espalhou pelo recinto.
Jungkook ergueu a cabeça para fitar seu Ômega e continuou sentado,
esperando o mesmo se aproximar da mesa. Jimin deixou um simples beijo
em seus lábios e se posicionou atrás dele, fazendo uma massagem bastante
relaxante nos ombros tensos do Alfa.
Quase imediatamente, o Capitão sentiu a mão que segurava a pena
amolecer, assim como suas costas que afundaram na cadeira e ele sentiu que
suas pálpebras ficaram um pouco mais pesadas.
— Jimin... Jimin... — O Alfa suspirou, com os olhos fechados e um
sorriso sagaz — O que você está querendo?
Jimin franziu a testa chocado, cessando a massagem imediatamente. Ele
ficou algum tempo sem saber o que responder, e também porque não
esperava que o Alfa fosse perceber isso dessa vez.
Mas acontece que Jeon já havia notado a muito tempo, que sempre que
seu Ômega queria alguma coisa, ele chegava todo manhoso e cheio de
carinho. Era realmente muito adorável, na opinião do Alfa.
— Está dizendo que eu não cuido do meu Alfa? Que faço as coisas
apenas por interesse? — Ele questionou tentando inverter a situação.
Jungkook abriu os olhos quando Jimin o empurrou levemente pelos ombros
— É isso o que está dizendo?
Jungkook segurou a mão do Ômega que estava apoiada em seu ombro, e
o guiou para que se sentasse de lado em seu colo. Jimin ainda o olhava
desconfiado. O Alfa segurou o queixo dele e lhe beijou na bochecha.
Eles ficaram um tempo se encarando até o Alfa dizer:
— Eu te conheço. No que está pensando?
Jimin mordeu o lábio, examinou alguma coisa nas costas de sua mão e
finalmente respondeu:
— Nos Ômegas da Fortaleza do Barba-Ruiva. — Jungkook não disse
nada, mas o Ômega sentiu o longo suspiro que ele deu — Você me
prometeu...
— Você e Yoongi mataram o Fenn. Não acha que com isso, o Forte caiu e
aqueles Ômegas foram libertados?
— Não. Você é mais inteligente que isso, pense... — Jungkook arqueou
as sobrancelhas, Jimin estava empolgado — Se tinham várias tripulações a
disposição dele, alguma delas deve ter tomado o poder. Você acha que o
capitão de alguma daquelas tripulações iria libertar Ômegas que encontrou
naquele quarto? Ele vai se aproveitar, com certeza.
— Não é algo fácil tomar o controle de um Forte, de uma ilha como
Nabuco. Ela é o maior centro comercial da costa asiática. Há muito mais do
que piratas de olhos naquela região.
— Não estou falando para tomarmos o controle da ilha, só para invadir o
Forte outra vez e libertar os Ômegas. Isso é pedir muito? Eu consigo de
novo.
— Você? De jeito nenhum. Jimin, está louco? — Por um momento o Alfa
ficou sem palavras, de tão absurdo que aquilo soou — Não vou permitir
isso.
— Então você vai libertar eles por mim?
— Como pode ter certeza de que eles ainda estão vivos?
— Não tenho. Só iremos saber se fomos checar.
— Tudo bem. Vamos para Nabuco depois de esconder um terço do
tesouro nas ilhas dos Kangaroo.
Jimin ficou tão feliz e animado, que segurou o rosto do Alfa com as duas
mãos e deixou vários beijinhos em seus lábios e no rosto. Após aquela
conversa, o Capitão procurou seu navegador, o contramestre, a timoneira e
também o cozinheiro para afirmar sobre o novo rumo.


Dois meses depois…

— Eles devem ter migrado para outro lugar depois daquele ataque. —
Namjoon afirmou se referindo ao povo Kangaroo.
Parte da tripulação havia percorrido o perímetro da ilha, procurando
pelos canibais, mas não encontraram nenhum vestígio vivo deles. Haviam
muitos esqueletos na área em que se teve a batalha, o mato havia crescido
absurdamente e apenas algumas ruínas indicavam que um dia, um povo
viveu por alí.
— Ótimo. — Jungkook afirmou — Comecem a cavar.
Os piratas trabalharam durante uma semana, quando finalmente
conseguiram cavar um enorme buraco e bastante espaçoso para os lados.
Eles revestiram o chão e as paredes com troncos de bambu. Criaram um
alçapão com o mesmo material, para dar acesso ao ouro que ficaria
escondido dentro. Em seguida, soterraram e deixaram que a natureza
cuidasse do resto.
Após voltarem para o navio, o Black Swan seguiu seu curso pelas águas
do Pacífico, e semanas depois, eles finalmente ancoraram próximo a Ilha de
Nabuco.
— Eu queria tanto ir... — Jimin lamentou.
Alfas desciam um bote, para que o Capitão e alguns marujos seguissem
para a ilha. A missão seria rápida, era apenas invadir o Forte e libertar os
Ômegas, se eles ainda estivessem sendo mantidos em cativeiro. Era algo
que não necessitaria toda a tripulação.
— Eu sei, mas nessas condições — Jungkook respondeu paciente,
tocando a barriga crescida do Ômega —, é melhor que fique no navio.
Jimin assentiu.
E depois de receber um forte abraço do Ômega e um beijo carinhoso, o
Capitão Jeon desceu para o bote, juntamente com Billy, Yoongi, Taehyung e
Sven. O Beta foi junto para comprar alguns equipamentos de astronomia.
Jimin ficou encostado no lado direito da embarcação, enquanto
observava o bote ser levado na direção do lado oposto da ilha. Ele ficou
observando, até ver o Capitão e seus companheiros desaparecerem por entre
as grandes rochas da margem.
— Oh, céus! — Jimin exclamou, chamando a atenção dos piratas que
trabalhavam pelo convés — Aahh..!
— O que foi, menino?! — Sungjae questionou assustado.
— Está sentindo alguma coisa, Jimin? — Seokjin se aproximou
preocupado.
— Sim... eu estou sentindo muita vontade de comer uma torta de
abacaxi! — Seokjin e Sungjae se entreolharam boquiabertos. — Vocês não
estão entendendo. Eu preciso comer essa torta, cadê o Junbuu? Alguém
pega os abacaxis!
Jimin passou pelo meio de ambos e desceu pela escotilha em busca do
cozinheiro. O Beta olhou para Sungjae e avisou com voz firme:
— E o senhor que não me invente de ficar grávido também!
O Ômega começou a rir negando com a cabeça e seguiu o mais velho
para o porão de carga.

Na Ilha de Nabuco, o Capitão Jeon e seu grupo se espalharam entre as


ruas da cidade portuária. Rapidamente eles obtiveram a informação de que
aquele local estava sob domínio da Coréia novamente.
— Eles são uns malditos — Sven opinou —, mas acredito que os
Ômegas foram libertados.
— Eu prometi para o Jimin que ia entrar na fortaleza, e eu vou. — Jeon
respondeu convicto.
Os piratas estavam em uma das tabernas com menos movimento, para
não chamar a atenção da Marinha.
— Então o plano continua o mesmo — Yoongi exprimiu —, Billy causa
uma distração e nós invadimos o Forte.
— Eu sou ótimo com distrações. — o bucaneiro afirmou. — E o
Taehyung?
— Está pelo mercado. — o espadachim respondeu — Ele vai nos
encontrar aqui quando terminar de comprar as coisas dele.
— Precisam de mais alguma coisa, rapazes? — a atendente perguntou,
gentil.
— Traga mais um pouco de rum. — Yoongi solicitou.
A Beta assentiu fazendo uma reverência e voltou para trás do balcão,
ignorando o falatório e risos altos de alguns Alfas que já haviam passado da
conta, mas que permaneciam bebendo mais.
Enquanto enchia a garrafa pela torneira de um barril, a Beta reparou em
alguns cartazes de procurados, que estavam colados na parede interna da
bancada. Disfarçadamente, ela olhou para a mesa onde os quatro Alfas
conversavam. Seus olhos quase saltaram das órbitas quando ela os
reconheceu.
— Eunji — a Beta chamou baixinho por uma Ômega que limpava o chão
— diga aos oficiais que a tripulação do Black Swan está aqui. Vá depressa.
— sussurrou por trás do balcão.
A Ômega seguiu engatinhando e conseguiu sair pela porta do estoque,
sem ser notada. Pouco depois ela voltou com um pequeno frasco em mãos,
dando o recado:
— É para colocar na bebida deles. — Eunji explicou.
A Beta assentiu e despejou o líquido dentro da garrafa.
— Leve para eles e peça desculpas pela demora. Diga que é por conta da
casa.
A Ômega anuiu e levou a garrafa até a mesa do Capitão.
— Com licença. — ela chegou interrompendo uma conversa.
— Pensei que ainda estava fabricando. — Sven reclamou.
— Perdão, senhor — a Ômega abaixou a cabeça e deixou a garrafa em
cima da mesa — Ficará por conta da casa.
— Assim que eu gosto! — Billy falou entusiasmado e serviu os copos de
seus amigos quando a Ômega se retirou.
— Estamos ricos.— Yoongi o lembrou, sendo o primeiro a levar o copo
até a boca e tomar certa quantidade do líquido.
— Eu sei — Billy deu de ombros. — Força do hábito.
Os quatro piratas beberam mais alguns goles do rum adulterado e
permaneceram conversando sobre a investida de mais tarde. Yoongi sentiu
que sua visão estava ficando turva e sua audição foi perdendo a
sensibilidade. Aos poucos, os sons das risadas escandalosas e das conversas
estava ficando distante, assim como a voz de Sven, que falava com ele:
— Deixa de ser fracote, não bebeu nem dois copos.
O Alfa loiro ergueu o rosto e abriu a boca, tentando dizer algo para seu
Capitão, mas no momento seguinte ele desabou na mesa. Sven e Billy
começaram a rir.
Jungkook olhou para dentro de seu próprio copo e o cheirou. Não havia
nada de estranho lá, e no entanto, os outros dois piratas desmaiaram logo
em seguida, da mesma forma que Yoongi.
O Alfa lúpus tentou puxar suas armas, mas ele conseguiu alcançar apenas
uma. Sua visão estava escurecendo e ele girou a lâmina da adaga quando
sentiu alguém se aproximando. Não conseguiu atingir seu alvo, mas logo
sentiu um forte golpe no rosto e caiu para o lado, derrubando a cadeira.
— É assim que se pega um tigre, Jo. — Disse um Alfa de nome Zhang,
vestido com o uniforme da Marinha chinesa — Se atacar diretamente, ele
vai te destruir. Você precisa abatê-lo de longe.
— Seja como for — Jo respondeu —, O Choi vai ficar muito satisfeito
por finalmente se tornar o governador desse lugar, e eu vou me tornar o
próximo Comodoro.
— A Marinha agradece a sua colaboração. — Siwon, um oficial da
Marinha disse, entregando um saco de moedas para a Beta que reconheceu
os procurados.
A Beta espiou dentro do saco e cruzou os braços.
— Mas no cartaz diz que a recompensa será paga em ouro. — disse ela,
indignada.
— Para aquele que capturar o Capitão Jeon e qualquer membro de sua
tripulação. — Siwon a lembrou — Você não capturou ninguém.
A Beta engoliu a raiva e com medo de receber alguma punição por
rebeldia, se contentou com as moedas de prata e voltou para detrás do
balcão.
— Leve-os para o navio. — Jo ordenou.

Continua...
Olha que perfeição de fanart da kimsoowa133 O Jimin de Black Swan.
Ficou muuuuito lindo, muito obrigada 😍❤❤❤❤
O edit perfeito da blogjimin ficou maravilindo, obrigada meu bem 😍❤❤

O Black Swan feito pela JikookianaDePlanto ficou muito perfeito, eu
adorei! Obrigada! ❤❤❤😍
Fanarts da ehissai ela enviou duas porque ficou em dúvida sobre qual
escolher. Eu também fiquei porque as duas estão perfeitas 😍 ❤ ❤ ❤
Obrigada!
[62] Angústia

Reescrito

Taehyung acabou se distraindo e ficando pelo mercado um pouco mais


do que o previsto. Ele encontrou alguns objetos para bebês e ficou
encantado, logo decidindo comprar alguns para presentear Jimin.
Quando finalmente se deu por satisfeito, o Beta seguiu caminho
tranquilamente pelas ruas de Nabuco, na direção em que ficava a taberna
escolhida pelo Capitão. Estava em uma parte menos povoada do mercado,
mas mesmo assim ele conseguiu encontrar muitas coisas boas e seus bolsos
estavam cheios de moedas de ouro, poderia comprar o que quisesse.
Como estava um pouco distante do local combinado de encontro, ele
decidiu que seria melhor voltar pelo centro, para não atrasar a missão ainda
mais. O Capitão foi claro quando disse que pretendia voltar para o Black
Swan ainda naquele dia.
Taehyung entrou por uma travessa estreita e saiu na rua mais
movimentada da ilha. O Capitão informou para tomarem caminhos menos
conhecidos, para não chamarem atenção, mas, mesmo com muito mais
pessoas rondando por ali, sua trajetória seria bem mais rápida.
Quando Taehyung já estava na metade do caminho, ele notou que a partir
dali havia alguns cartazes espalhados pelas ruas. Rostos de piratas estavam
estampados em alguns pilares e dentre eles, estava o do Capitão Jeon. Seus
olhos quase saltaram das órbitas e ele puxou um capuz para cobrir a cabeça
e esconder parte do seu rosto.
Com pressa, ele percorreu rapidamente o caminho restante e quando
entrou na taverna para reencontrar os seus companheiros, ele não viu
nenhum sinal deles. O bar estava estranhamente vazio, com exceção da
Beta que arrumava bebidas atrás do balcão. Taehyung se aproximou dela
enquanto observava ao seu redor.
— Escuta — ele iniciou —, por que a taberna está vazia?
A Beta quase deixou cair algumas garrafas, com o susto que teve, e girou
para encará-lo.
— Tivemos alguns problemas com-... — Ela parou de falar ao perceber
com quem estava falando.
Os olhos dela desceram para os cartazes e subiram para o navegador
novamente. Ela engoliu em seco, olhando para as saídas, em busca de
algum oficial. Como não viu nenhum, ela abriu a boca para gritar, mas
Taehyung foi mais rápido e puxou uma pistola apontando para a mesma.
— Shh. — ele sussurrou, colocando um dedo na frente dos lábios e
balançando a cabeça. — Quem os levou?
A Beta ergueu as mãos trêmulas, com os olhos cheios de lágrimas ela
negou com a cabeça.
— Não me mate, por favor.
Taehyung segurou o cabo da arma com mais intensidade, e o dedo
deslizou pelo gatilho.
— Responda! — A Beta olhou para a porta e soltou um grito. Seguindo
seu olhar, Taehyung virou o rosto e viu dois oficiais parados na porta.
Os Alfas atiraram contra o Beta, Taehyung se abaixou rapidamente e
correu para os fundos, atirando na retaguarda. Os oficiais dispararam contra
ele, e um dos tiros atingiu a Beta que havia entregado a localização dos
piratas.
Taehyung seguiu correndo desvairado pelas ruas, empurrando quem
estava na sua frente e tentando despistar os oficiais que permaneciam em
seu encalço. Uma grande confusão se formou à medida que mais tiros
foram disparados.
A perna de Taehyung foi atingida e consequentemente ele diminuiu sua
velocidade. No entanto, a grande anarquia que se formou pelas ruas serviu
de distração para os oficiais, e o Beta conseguiu chegar até a margem. Ele
subiu no bote e remou acelerado na direção do Black Swan.
Alguns piratas jogavam cartas no convés, tentando se distrair até o
retorno de seu Capitão. Jared estava na cesta do mastro. Ele se divertia
tentando revelar com quais cartas cada Alfa estava em mãos, e sendo
ameaçado de morte por todos eles.
— Eu vou enfiar essa luneta no teu cu, seu desgraçado! — Scott rugiu
olhando para cima.
Em resposta, Jared mostrou seu dedo do meio, se acabando de rir. O Alfa
pegou a luneta e espiou Nabuco ao longe. Seguindo da margem até as
águas, ele viu o Beta navegador dentro do bote, remando e voltando para o
navio sozinho.
— Taehyung está voltando. — Jared gritou de cima — Mas está sozinho.
Assim que chegou próximo ao navio, os Alfas lançaram a escada feita de
corda, e o Beta subiu gemendo de dor e com muita dificuldade. Quando
chegou em cima, os bucaneiros o ajudaram a passar pela mureta.
— Seokjin! — Scott o chamou — Aqui no convés, rápido!
O médico abriu a porta da cabine com pressa, sendo seguido por Jimin.
Seokjin correu até o Beta ferido e buscou por mais ferimentos em seu
corpo.
— Só tem esse da perna. — Taehyung grunhiu e os avisou: — Eles
levaram o Capitão e os outros! A Marinha é quem domina Nabuco agora.
— Marinha... — Jimin sussurrou tão baixo, que nem ele mesmo escutou.
O lúpus se lembrou de cada palavra, quando o seu ex noivo disse que
enforcaria Jungkook. O sonho que teve há alguns meses também veio como
um grande pontapé e foi o estopim para a atitude completamente impulsiva
que teve naquele momento.
Enquanto Seokjin tratava da perna de Taehyung, Jimin subiu na mureta e
começou a descer pela escada até o bote. Sungjae viu e correu até ele.
— Jimin, não! — o Ômega mais velho gritou olhando para baixo e vendo
o lúpus seguir resoluto.
Mas Jimin estava muito atordoado para ouvi-lo, e continuou descendo,
piscando os olhos fortemente para afastar as lágrimas que o cegavam
momentaneamente.
Seokjin ouviu a cena que se desenhava, mas não podia tirar a atenção da
perna que cuidava. Não enquanto ainda retirava estilhaços de pólvora da
carne do Beta.
— Segurem ele! — O médico gritou se referindo ao navegador que
sacudia o corpo involuntariamente, devido a dor. — E tragam o Jimin de
volta!
Scott desceu pelas cordas e foi seguido por Sungjae. Jimin estava sentado
no meio do barco. Ele forçava os remos contra as águas, para levar o bote
para a ilha e ir atrás do seu Alfa. Mas para seu dissabor, o bote foi puxado
de volta pelas mãos de Scott.
— Volta pro navio, Jimin — Sungjae implorou, subindo no bote — Você
está grávido...
— Eles vão enforcá-lo — o Jimin chorou, balançando a cabeça — Solta
o barco, Scott!
— Ele tem razão, Jimin — O Alfa tentou a vez — Nós vamos trazer o
Capitão de volta. Apoie-se em Sungjae e volte para o Black Swan.
Jimin considerou as palavras dos dois. Ele fechou os olhos e passou as
costas das mãos para secar as lágrimas.
Sungjae segurou na mão dele para ajudá-lo a subir a escada, quando uma
dor violenta atingiu o baixo ventre do Ômega lúpus, descendo pelos
membros inferiores. Jimin sentiu uma imensa fraqueza nas pernas e caiu
sentado no chão do barco.
— Cuidado, vem devagar — Sungjae advertiu. Ele segurou nos braços de
Jimin para ajudá-lo a se levantar, mas notou que sua roupa de baixo estava
molhada — Ai...
— O que foi? — Scott perguntou.
— Eu acho que o neném já quer nascer... — Sungjae respondeu.
— E ele já tem a quantidade de meses certo?
O Ômega mais velho negou com a cabeça. Jimin gemeu com as mãos
agarrando as bordas do bote.
— Chama o Jin, rap-... — Sungjae acionou e antes de continuar a frase,
foi interrompido pelo Alfa.
— SEOKJIN!!
Alguns segundos depois, o médico gritou de volta apoiado no parapeito:
— O que estão esperando?!
— O bebê está nascendo! — Sungjae respondeu.
Seokjin correu até Taehyung, o navegador havia escutado a conversa aos
gritos.
— Pode ir, estou bem. — E realmente estava, sua perna já estava
enfaixada. E embora estivesse sentindo dor, não havia muito que Seokjin
pudesse fazer.
— Segura o barco, vou pegar ele e levar lá para cima. — Scott propôs.
O Alfa trocou de lugar com Sungjae e quando tentou erguer o grávido,
Jimin gemeu ainda mais alto e negou chorando. O médico pegou seu kit de
instrumentos e desceu pela escada de corda.
— Tira as calças dele. — Seokjin indicou.
— Como é o negócio!? — O Alfa engasgou quando engoliu em seco.
— Vai logo, ajuda ele, Scott! — Sungjae o apressou.
O Alfa se aproximou de Jimin e desatou o botão da calça. Ele já estava
sem o cinto, pois não o utilizava fazia algumas semanas.
“Agora vou ficar sem as mãos” —, o Alfa pensou, já imaginando o que o
Capitão faria se soubesse que ele estava despindo o Ômega dele.
— Desculpa, Jimin... eu não... — Scott estava nervosamente o ajudando
a tirar a roupa de baixo.
Mas Jimin sentia tanta dor que não se importava com isso. Além de que
seus pensamentos estavam todos direcionados em Jungkook.
Seokjin subiu no bote e pediu:
— Me ajude aqui, Sungjae. — O Ômega soltou a escada e fez como o
médico indicou — Scott, seja um apoio para ele. O barco é rígido, ele pode
se machucar.
O Alfa assentiu e se colocou atrás de Jimin, apoiando as costas dele em
seu peito. Seokjin posicionou-se no meio das pernas de Jimin, e de fato, já
podia ver que o Ômega estava com dilatação suficiente para o parto.
— Preciso de sua ajuda, Jimin. Quero que faça força... — O médico
pediu. O Ômega assentiu e fez como ele disse — Um pouco mais...
Outra contração o atingiu e uma fisgada de dor atravessou seus quadris
novamente.
— Oh! — Jimin se contorceu quase não aguentando. Era uma verdadeira
tortura.
— Precisa fazer mais força. — Seokjin incentivou outra vez.
Sungjae estava com um pequeno lenço dobrado, secando o suor que
escorria pelo rosto de Jimin. Uma onda forte colidiu contra o lado do barco.
Scott abraçou Jimin pelos ombros, para que ele não batesse na lateral
amadeirada da embarcação. Já Sungjae se desequilibrou e quase caiu fora
do barco, mas Seokjin agiu rápido e o segurou pelo braço.
— Obrigado. — Sungjae respirou tranquilo e voltando para o mesmo
lugar.
A essa altura, o bote já estava quase chegando na margem, e Jimin
praticamente não tinha mais forças. Suas pernas escorregaram, se fechando.
— Vamos, Jimin, não pare. — O médico pediu abrindo as pernas dele no
mesmo instante.
— Ele está cansado. — Sungjae disse.
— Eu sei, mas ele precisa continuar, ou a criança não vai nascer. —
Seokjin recordou — Vamos, Jimin. Estou com você. Força.
Jimin segurou uma mão de Scott, e com a outra ele agarrou a mão de
Sungjae. Ele fechou os olhos, respirou profundamente e cerrou os dentes,
antes de fazer um enorme esforço para que seu filho nascesse.
Todo o restante de energia que tinha, ele concentrou naquele esforço. E
quando o barco sustou na margem da praia, ouviu-se um choro fraco de um
recém nascido. Seokjin recolheu o bebê nos braços. Jimin fechou os olhos,
deixou as costas e a cabeça desabarem no peito de Scott. Lágrimas desciam
de seus olhos ainda fechados.
— Ele é tão pequeno... — Sungjae comentou, se referindo ao bebê.
— Está frágil, precisa do pai. — O médico envolveu a criança em um
tecido limpo e esticou os braços para entregá-lo à Jimin.
Mas o Ômega virou o rosto para o lado, fraco demais para se escolher em
seu próprio corpo. Com o coração cheio de dor e medo, ele fechou os olhos
novamente. O choro de Jimin, tão intenso e contínuo, era abafado pelas
ondas se desmanchando na margem.

Continua...
[63] Contagem Regressiva

Reescrito

— Jimin — Sungjae o chamou — Seu filho...


Mas o Ômega lúpus permaneceu com o rosto virado e os olhos fechados,
chorando silenciosamente. Seokjin o estudou por alguns segundos e logo
em seguida entregou a criança para Sungjae. O médico verificou a
temperatura de Jimin e também a sua pulsação.
— Vou levar a gente de volta. — Disse Scott, movendo-se com cuidado
para alcançar os remos.
Mas Seokjin o deteve.
— Ainda não. Se não encontrarem o Capitão e os outros pela ilha,
teremos de ir para a Coréia. — O médico olhou ao seu redor, viu algumas
casas simples pela orla e apontou na mesma direção — Tragam eles.
Scott retirou o casaco e cobriu Jimin para que ele não ficasse tão exposto
e o ergueu nos braços, enquanto Sungjae continuava mantendo o pequeno
filhote em seu abraço. Ambos caminharam seguindo Seokjin, que ia na
frente até encontrar uma Alfa e dois Ômegas crianças, ajudando-a a trançar
uma rede de pesca.
— Está tudo bem com ele? — A Alfa indagou se referindo a Jimin.
— Hm, sim... bem, ele acabou de ter um bebê... precisamos de um lugar
para que ele e a criança possam descansar em segurança. — Seokjin
explicou.
— Aaaah sim. Venham, minha casa é simples mas todos são bem vindos.
O grupo seguiu a Alfa e as crianças. De fato, a casinha era humilde, mas
muito bonita e aconchegante. Uma bela casa de uma família de pescadores.
— Jennie. — A Alfa chamou — Temos visitas.
Uma Ômega surgiu da cozinha, ela estava com uma criança no colo.
— Quem são esses, Lisa? — A Ômega questionou.
— São... — A Alfa iniciou mas parou sem saber o que falar e esperando
que o Beta se pronunciasse.
— Sou Seokjin. Eu sou um médico, estes são; Scott, Sungjae, Jimin e...
— Disse apontando para cada um, e por último parou no bebê — E essa
criaturinha ainda não tem nome.
— Aah... — As duas exprimiram juntas.
Seokjin continuou:
— O Jimin acabou de passar por um parto difícil... — Jennie olhou para
o Ômega lúpus, que ainda mantinha o olhar distante, encolhido nos braços
de Scott — Está passando por um tipo de batalha interna... então
precisamos de um local seguro, onde ele e a criança possam descansar um
pouco. Se não for incomodar.
— Sim, claro — a Ômega respondeu de imediato — Lisa, amor, leve-os
para o nosso quarto, é o único com uma cama de casal, o Ômega pode ficar
com seu filhote. Eu preciso terminar de fazer o almoço, com licença.
A Ômega correu para a cozinha, quando um leve cheiro de queimado
começou a se espalhar pela casa.
— Sigam-me. — a Alfa ditou e os outros o fizeram.
O quarto era pequeno, tinha apenas a cama, um pequeno baú no canto e
uma cômoda com uma vela. Scott deixou Jimin sobre o colchão macio e o
cobriu rapidamente as pernas com um lençol. Seokjin pegou um travesseiro
e ajeitou nas costas dele, para que ficasse mais confortável.
— Seu neném... — Sungjae se aproximou para entregar o pequenino a
Jimin, mas o médico o interrompeu.
— Saiam. Daqui a pouco estou indo. — Seokjin indicou. Scott assentiu e
foi o primeiro a sair do quarto. Sungjae permaneceu hesitante, olhando
confuso para o Beta. Seokjin insistiu: — Faça como eu disse, eu já vou.
Sungjae suspirou triste olhando para o bebê em seus braços, mas
finalmente saiu e se juntou a Scott na sala.
— Jimin, eu preciso saber como você se sente fisicamente. — o médico
informou, examinando-o.
— Estou bem. — O Ômega respondeu com um suspiro. — Só um pouco
cansado.
— Entendi. Isso é bom. — Seokjin constatou — Você estava com sete
meses, foi um parto muito arriscado. É quase um milagre que nada de grave
tenha acontecido com você ou o bebê.
— Eles vão matá-lo, Jin. — Jimin afirmou, em prantos — Meu pesadelo
está acontecendo.
— Se está se referindo ao Jungkook, você não deve nos conhecer mesmo.
— O Beta respondeu, com as mãos na cintura e um falso tom de repreensão
— Somos do Black Swan, Jimin. Não vamos deixar aqueles bastardos
imundos matar nosso Capitão. A tripulação foi procurá-los em cada parte
dessa ilha, e se não os encontrarmos, nós vamos atrás deles na Coréia.
Seokjin fez uma pausa para que Jimin falasse alguma coisa, mas o
Ômega permaneceu quieto com seus pensamentos. O médico continuou:
— Isso não é algo que esteja ao seu alcance no momento. Mas seu filho
está aqui e precisa de você. Ele é um Ômega macho, muito pequenino e
frágil.
Jimin fechou os olhos, e várias linhas de lágrimas se formaram em suas
bochechas de uma só vez. Ele inspirou profundamente algumas vezes, para
controlar a intensa vontade de chorar, e passou as costas das mãos nas
pálpebras, para retirar o excesso do choro.
— Eu sou um péssimo pai...
— Não diga isso. Eu sei como você ama seu filho, desde que ele era
apenas uma sementinha germinando em seu útero. É compreensível como
você se sentiu, mas eu te conheço e sei como é forte.
— Como ele está? — Jimin perguntou se referindo ao bebê.
— Não sei ao certo, mas está bem aparentemente. Eu preciso examiná-lo
para ter certeza. Ele está lá fora com o Sungjae.
— Por favor, veja se ele está bem.
— Eu irei. É bom que você durma um pouco e descanse. — O médico
sugeriu — Está muito abatido.
Com efeito, Jimin sentiu que suas pálpebras estavam muito pesadas. Ele
esticou o corpo sobre a cama e disse a Seokjin:
— Obrigado, Jin.
O médico apenas sorriu assentindo e saiu do quarto. Jimin estava tão
cansado que adormeceu em poucos segundos.

A tripulação do Black Swan buscou incansavelmente pelo Capitão e os


outros que haviam sido levados, mas quando souberam que um galeão da
Marinha havia partido naquele mesmo dia, com destino para Coréia, eles
souberam que aquela busca em Nabuco era uma grande perda de tempo.
Namjoon ordenou que o estoque de pólvora, balas de canhão, bombas e
demais armas fosse renovado. O Black Swan estava carregado de artilharia
pesada. Os canhões foram limpos e a estrutura do navio estava sendo
fortificada.
Enquanto isso, Jungkook, Yoongi, Billy e Sven, estavam no calabouço
frio e úmido no subsolo da Coréia, aguardando o dia do julgamento deles.
Uma semana havia se passado desde a captura dos piratas. Só restavam
alguns dias para que eles fossem expostos em uma praça pública, e se
fossem considerados culpados, seriam executados e qualquer um poderia
assistir.
O governador Park em pessoa compareceu ao calabouço, fazendo
questão de ver o tão famoso Capitão Jeon, que – ao seu ver –, havia
seduzido seu filho mais velho. Choi, futuro governador da Ilha de Nabuco,
o acompanhou.
Mesmo que estivesse preso atrás de grossas grades de ferro e contido por
correntes em seus pulsos e tornozelos, O Capitão Jeon exalava perigo
apenas com seu olhar. E Park Shinsung manteve uma certa distância da cela
em que Jungkook estava.
— Lixo imundo. — O governador cuspiu — Quero eu mesmo colocar a
corda em seu pescoço.
— Você vai morrer. — O governador se assustou ao ouvir a voz de
Yoongi na cela ao lado, como um rosnado profundo — Vou enfiar minha
lâmina bem lentamente no seu coração.
— É mesmo? — Choi indagou sorrindo vitorioso — E por que não faz
isso agora mesmo?
Jungkook permaneceu quieto em seu canto, observando o governador e
Choi do outro lado da cela. As respirações pesadas de Billy e Sven podiam
ser ouvidas, como rosnados furiosos.
— Silêncio, Choi! — O governador rugiu, se aproximando da cela em
que o espadachim estava. Ele cerrou os olhos e reconheceu a cicatriz no
olho dele — Foi você o maldito que assustou meu pequeno Jisung. Será o
primeiro a morrer.
— Amanhã será um dia de glória. — Choi ousou dizer.
Park Shinsung sorriu e completou:
— Vou mandar que sirvam um banquete para todos os cidadãos e
cidadãs, em comemoração.
— É uma ótima escolha, Senhor. — disse Choi.
O governador se virou para fitá-lo.
— Eu sabia que havia escolhido o Alfa certo para meu filho. — Park
disse olhando fixamente para o Choi e sorrindo com os olhos, cheio de
orgulho — Quando esse infeliz morrer, a marca desaparecerá e assim você
poderá se casar com meu Jimin.
Choi já não gostava da ideia de se casar com Jimin. Era algo vergonhoso
e repulsivo para ele. Mas ele estava disposto a fazer esse sacrifício, para
poder se tornar o governador da Ilha de Nabuco, tendo o apoio de Park
Shinsung e sua grande influência junto a Coroa.
— Vamos Choi. — o governador proferiu — O reverendo quer falar com
essas bestas. — ele estava se referindo aos piratas.
Choi assentiu e saiu seguindo o mais velho.
Continua...
[64] Ômega Lúpus

Reescrito

Todas as manhãs, Sungjae caminhava pelo pequeno perímetro de frente a
casa dos pescadores, passeando com o filhote de Jimin e Jungkook.
Jimin ainda estava um pouco fraco e abatido, então o Ômega mais velho
se prontificou a cuidar do bebê, até que Jimin se sentisse melhor. Era tão
cedo, que apenas uma pequena parcela do sol havia aparecido no horizonte
e o céu alaranjado encobria o firmamento, brilhando levemente acima das
águas.
Dois braços curvaram-se ao redor de Sungjae. Era Scott, abraçando os
dois Ômegas de uma só vez.
- Imagina; eu, você, dois filhos e-... - O Alfa começou mas foi impedido
pelo Ômega, desvencilhando-se do seu abraço e girando para ficar de frente
a ele.
- Pode ir parando por aí. - Sungjae o deteve.
- Amor, eu quero um filhotinho também. - Scott reclamou.
- Então engravide você mesmo e tenha seu filhote.
- Tsc! Mas que... - Scott segurou o que seria um xingamento e pensou
alto: - Mas o que custa ter um filho comigo? Um ou dois...
- Eu não seria um bom pai.
- Seria sim. - O Alfa ditou com firmeza, acariciando a bochecha de
Sungjae.
O Ômega suspirou ao sentir o calor da mão dele, sem mais nada a dizer.
Uma movimentação chamou a atenção dele logo atrás de Scott. Era Jimin
saindo da casa, agasalhado com uma manta em seus ombros. O lúpus ainda
não tinha segurado seu filho, por isso se aproximou hesitante, até estar
próximo aos três.
- Seokjin disse que os primeiros raios solares fazem bem para os bebês. -
Sungjae explicou - Realmente faz. Olha como ele está coradinho.
Jimin sorriu assentindo. O bebê Ômega estava dormindo tranquilamente.
- Eu... - Jimin iniciou inseguro, olhando para o bebê com o lábio inferior
entre os dentes -... eu quero segurar meu filho.
Sungjae assentiu e o passou com bastante cuidado, para que Jimin
segurasse o neném.
Assim que o teve em seus braços, Jimin sentiu uma agitação quente
percorrer seu corpo. O pequenino sentiu o calor de seu pai e abriu os olhos.
Mas ele não chorou e olhou o lúpus tão sereno, como quando estava
dormindo.
Jimin inclinou o rosto e beijou a testa do bebê. De algum jeito, ele podia
sentir seu Alfa, e também sabia que Jungkook os sentiu naquele momento.
Jimin sentiu seus olhos ficarem úmidos e sussurrou para o pequeno em seus
braços:
- Me desculpe, meu amor. Papai está aqui, agora. - Ele piscou
demoradamente e duas lágrimas desceram - Eu te amo, meu coração. Papai
Kookie também te ama, e eu vou buscá-lo de volta para nós.
- Jimin?- Sungjae o chamou, preocupado.
Jimin ergueu o rosto para fitá-lo. Sungjae o encarou de volta. Ele teve a
sensação como se os olhos do Ômega lúpus estivessem em chamas.
- Eu vou destruir quem o levou. - Jimin rosnou entre dentes - Seja quem
for. Ele vai se arrepender de ter levado meu Alfa.
- Conte comigo, Jimin. - Scott afirmou convicto.
Jimin assentiu agradecido e perguntou:
- Qual o estado atual do Black Swan?
- Pronto para uma guerra.
- Ótimo. - Jimin disse firmemente - Quero que a Coréia queime!
Scott e Sungjae se entreolharam, espantados e admirados pelo tom usado
pelo Ômega lúpus.
Os quatro entraram na casa novamente, e fizeram seu desjejum na
companhia de Seokjin, e as donas da casa. Eles contaram sobre os planos de
Jimin, de invadir a Coréia e resgatar os piratas. E é claro, o médico
concordou com tudo.
- Só tenho uma dúvida. - Seokjin afirmou e em seguida perguntou a
Jimin: - Se você também vai, quem vai ficar com o seu filho?
- Eu. - Sungjae que respondeu - Se por acaso alguma desgraça acontecer
e nem você, nem o Jungkook voltar, eu vou cuidar dele como se fosse meu
filho. Vou dar muito amor a ele, pode ter certeza, Jimin.
- Céus! - Seokjin bradou furioso, assustando a todos. Em seguida ele
abaixou o tom da voz - Desculpem, mas esse garoto... Sungjae, amado,
você se ouviu?
- Eu sei... eu não consigo controlar as bobagens que falo às vezes. - O
Ômega mais velho respondeu - Desculpa, Jimin.
- Tudo bem, era mesmo o que eu queria ouvir. - O Ômega lúpus
respondeu calmo - Eu vou voltar com o Jungkook e vamos juntos criar o
nosso filhote. Mas eu fico feliz em ouvir isso. É bom saber o quanto meu
filho é amado e protegido.
Durante o dia, a tripulação executou os últimos preparativos para a
viagem. Dahyun verificou junto ao contramestre, todos os pontos da
embarcação. Hoseok analisou cada canhão mais de cinco vezes, ficando
mais do que satisfeito com o desempenho que cada um deles apresentou.
Na noite daquele mesmo dia, Jimin se recolheu com seu filhote. Ainda
não tinha escolhido um nome para ele. Estava sentado próximo a janela
com o pequeno Ômega no colo, observando as estrelas e cantando baixinho:
"É apenas mais outra noite, e estou encarando a lua. Eu vi uma estrela
cadente e pensei em você..."
- Você é muito amado, Jungwon. - Jimin disse após um momento de
silêncio. O bebê sorriu, parecendo gostar do nome que recebeu - Agora
vamos dormir, porque amanhã papai tem algo muito importante para fazer...
Jimin se deitou na cama gentilmente cedida pelas donas da casa. Ele e o
bebê adormeceram logo alguns minutos depois.
Algumas horas mais tarde, quando abriu os olhos, Jimin viu a luz do sol
invadir o quarto, infiltrando-se pela cortina. Entre seus braços, Jungwon
ainda dormia sereno. Ele então deixou um beijo carinhoso na cabeça do
pequeno, acariciou seu bracinho e ficou admirando-o dormir por um tempo.
Quando se levantou da cama alguns minutos depois, o café da manhã já
estava posto e ele se juntou aos demais. Após a refeição, Jimin, Seokjin e
Scott arrumaram-se para partir. Sungjae os acompanhou até a porta, assim
como Jennie, Lisa e seus filhos.
- Espero que isso cubra todos os gastos e problemas que causamos. -
Jimin afirmou, entregando ao casal um saco cheio de moedas de ouro.
- Céus! - a Ômega arquejou - Mas isso é muito!
- Por favor, aceitem. Como forma de agradecimento pelo que fizeram por
nós. - Jimin insistiu.
- Muito obrigada. - As duas curvaram o corpo para frente em uma
respeitada reverência, e guardaram o saco de moedas.
Sungjae estudou o Alfa, desconfiado. Ele se aproximou devagar, segurou
as mãos do mais alto e o puxou para que Scott inclinasse seu rosto para
baixo. O Ômega então deixou o beijo carinhoso na bochecha dele e um
outro na boca, mais demorado.
- Se você voltar para mim, eu prometo que vou pensar no assunto. -
Sungjae sussurrou no ouvido do Alfa.
- Sobre um possível filhote? - Scott perguntou entusiasmado.
- Sim.
- Então pode ir se preparando. - Scott o surpreendeu com um abraço pela
cintura e o ergueu do chão - Porque a gente vai tentar muito quando eu
voltar.
Sungjae sorriu e retribuiu o beijo iniciado pelo Alfa. Logo depois, Scott o
colocou no chão e virou-se para seguir com o Ômega lúpus e o médico na
direção do Black Swan.
- Até depois, Jimin. - O Ômega mais velho acenou com a mão. Jimin
sorriu para ele e acenou de volta.

No momento em que entrou no navio, Jimin foi diretamente para a cabine
e ficou um tempo sozinho. Fazia uma semana, mas o cheiro do Capitão
permanecia no local. O Ômega sentou-se na cama e passou as mãos sobre
os lençóis. Ele fechou os olhos e inalou o aroma de rosas deixado por ele.
Jimin sentiu os olho ficarem úmidos, mas com um longo suspiro ele
afastou a vontade de chorar. Não era hora para aquilo. Ele vestiu outra
roupa, arrumou o cabelo e também suas armas no cinto. Quando saiu da
cabine, a tripulação estava toda no convés, olhando para ele.
- Suas ordens, Capitão? - Namjoon indagou sério.
Jimin demorou um tempo para entender que a pergunta foi dirigida para
ele. Ele avançou dois passos e olhou para o rosto de cada um, antes de
responder:
- Eles levaram nosso Capitão, e nossos amigos. Não vamos deixar isso
barato. - Jimin fez uma pausa olhando para a estrutura do navio - Hm...
façam aquelas coisas com as velas... - disse, movimentando as mãos e olhou
para Taehyung: - Leve-nos para a Coréia.
- Sim, Capitão. - o navegador afirmou com um sorriso e correu para se
juntar a timoneira.
- A âncora. - Namjoon ditou baixo, apenas para Jimin ouvir.
O Ômega o olhou agradecido e assentiu.
- Levantem a âncora! - Jimin ordenou, Jared e Hoseok puxaram a
engrenagem. O lúpus ainda arriscou: - Içar todas as velas!
Namjoon sorriu orgulhoso e fortificou:
- Vocês ouviram o Capitão! Manejem os cabos, Alfas!
A tripulação operou o serviço animada. Não havia preguiça ou cansaço, e
quanto mais eles puxavam as cordas e moviam as pesadas velas, mais força
eles encontravam para continuar.
Jimin observou de cima do convés superior, o tráfego dos piratas entre a
meia-nau. Como sempre, ele não entendia muito o que eles estavam
fazendo, mas sabia que em pouco tempo, ele estaria com seu Alfa
novamente.
Com a velocidade máxima atingida, eles levaram pouco tempo para
chegarem no mar da China Oriental. Só restavam alguns minutos a mais
para entrarem nos limites marítimos da Coréia.

Na praça de Busan, o povo se encontrava reunido para assistir ao
julgamento dos quatro piratas, capturados na Ilha de Nabuco. Jungkook,
Yoongi, Billy e Sven estavam em uma construção de pé, expostos em um
tablado de madeira. Eles estavam presos por correntes e vários oficiais da
Marinha os guardava, para que não tentassem fugir.
Também estavam presentes o reverendo, o governador Park, Choi, Jo e
alguns membros da alta sociedade.
Após a sentença ser lida, o governador Park subiu no tablado e iniciou
seu discurso:
- Aqui estão os malditos que despertaram seus instintos mais bárbaros e
se tornaram uma terrível ameaça contra nós, Alfas, Betas e Ômegas
tementes a deus. - Disse, apontando para os quatro prisioneiros - Eles nos
trouxeram dias terríveis e medo, com sua atividade grosseira e roubos,
assassinatos, sequestros... Ameaçaram o nosso progresso comercial...
O povo começou a gritar interrompendo o governador, pedindo que a
execução fosse feita logo. Os guardas exigiram a ordem e a população fez
silêncio novamente.
Park Shinsung continuou:
- Mas, exultai-vos, porque deus está do lado dos bons! - O governador
pegou a corda da forca e a guiou para colocar no pescoço de Yoongi.
O povo vibrou.
- Senhor - Jo gritou - Comece pelo Capitão deles.
Park Shinsung olhou para Jungkook, ele estava bem ao lado do
espadachim, tranquilo e sem demonstrar um pingo de medo. O governador
colocou a corda no pescoço dele, e sorriu.
Shinsung caminhou até a alavanca que estava ligada ao piso que o Alfa
lúpus estava. Quando Park a puxasse, um alçapão seria aberto e Jungkook
seria enforcado.
Nada seria mais satisfatório do que ver aquele maldito pirata que havia
seduzido seu pequeno Ômega, ser hostilizado diante de todos, enquanto
estrebuchava com uma corda em seu pescoço. O governador respirou
profundamente, muito satisfeito com os gritos da população, que o
apoiavam abertamente, naquele espetáculo pavoroso.
Enquanto isso, Jimin e a tripulação já haviam desembarcado do Black
Swan, o lúpus conseguiu obter um cavalo que estava preso no cais, o
montou e seguiu às pressas para a praça onde as execuções aconteciam,
enquanto os piratas invadiam a cidade e se posicionavam para iniciar o
ataque.
O Capitão Jeon não temia a morte, e realmente esperava ter o mesmo
destino que seu pai, no entanto, partir desse mundo sem ao menos ter
tocado em seu filho, ou pelo menos visto o rosto dele, era doloroso demais.
Mas o pirata não demonstrou. Seus olhos seguiam os movimentos do
governador, tão firmes que o mais velho evitou encará-lo nos olhos.
Mesmo que o maldito pirata estivesse prestes a ser enforcado, era Park
Shinsung quem mais estava sentindo medo ali, sentindo-se intimidado
apenas com a mera presença do lúpus. Jungkook direcionou seus
pensamentos até seu Ômega, tentando fazer com que Jimin sentisse naquele
momento, que ele o amou até o fim.
Quando o velho Alfa colocou sua mão no apetrecho, ele viu uma
movimentação entre o público que olhavam para trás, entre murmúrios. O
governador ergueu o rosto para observar o que de mais importante havia
acontecido, para que a população deixasse de prestar atenção na execução
de um pirata.
Seus olhos quase saltaram das órbitas quando viu um Ômega montado
em um cavalo, atrás do público. Era seu filho, Jimin. O governador ficou
paralisado, observando-o. O Ômega estava com uma pistola apontada na
direção do palanque. Seus olhos estavam bem abertos e a coloração
acinzentada.
Park Shinsung sentiu como se o mundo tivesse parado naquele momento.
Faziam meses que não via seu filho mais velho, Ficou sim, muito
decepcionado ao saber sobre as escolhas do Ômega, mas ainda era seu filho
e ele o amava incondicionalmente.
Seus olhos ficaram presos aos de Jimin por alguns segundos, e ele
finalmente compreendeu que aquele já não era o seu pequeno filhotinho
obediente, mas um Ômega lúpus forte e valente.
Atento aos movimentos do seu pai, Jimin mantinha sua mira na corda da
forca que mataria o Capitão Jeon. Sentiu tristeza ao ver seu pai prestes a
matar a pessoa que o Ômega mais amava, não queria que as coisas tivessem
terminado daquele jeito, mas ele não permitiria que seu pai e ninguém
tirasse seu Alfa de si.
O Tenente Jo juntamente ao Comodoro, notaram a leve hesitação do
governador, e chamaram pelo seu líder para que o mesmo desse
continuidade a execução.
Quando o governador voltou a si, ele acionou a alavanca, para que o
Capitão Jeon fosse executado, mas Jimin apertou o dedo no gatilho e o
disparo acertou o alto da corda que servia como forca, fazendo com que
Jeon ao invés de ser enforcado, caísse com os pés chão.
No mesmo instante, tiros de canhão foram ouvidos e acertaram o alto dos
prédios, destruindo as paredes e iniciando o caos. O Black Swan estava
próximo do cais, com seus canhões apontados diretamente para a praça de
Busan e lançando bolas de ferro carregadas com pólvora. Cada construção
atingida, explodia e começava a pegar fogo.
A população se dispersou correndo em todas as direções. Grito e choro
foram ouvidos, em meio ao desespero.
- Não os deixem fugir! - O governador gritou e em seguida ordenou para
outro grupo de guardas: - Tragam meu filho para mim!
Os oficiais correram na direção de Jimin, tentando capturá-lo. O Ômega
disparou contra eles e quando sua munição acabou, ele desceu do cavalo
com uma espada em mãos e a fúria de seu lobo despertada, matando todos
que se aproximavam.
Mesmo preso pelos pulsos com correntes, Yoongi tentou fazer como
prometido e partiu para cima do governador. No entanto, Jo estava por perto
e o chutou para o chão, ele puxou uma pistola e apontou para o pirata.
Uma espada surgiu na lateral de seu abdômen e sua mão amoleceu,
largando a arma. Quando virou-se, ele deu de cara com Jisung. Jo tentou
atacá-lo, mas o Ômega apontou a katana para ele e a lâmina atravessou o
umbigo do Alfa.
O Tenente Jo caiu de joelhos diante do Ômega, olhando-o surpreso e com
pavor. O sangue jorrava de seus ferimentos e também de sua boca. Jisung
deu um passo a frente e girou a lâmina, decepando a cabeça do Alfa que um
dia o assustou tanto.
Sentado no chão, Yoongi assistia a cena boquiaberto, mas cheio de
orgulho. Jisung agarrou um molho de chaves preso no cinto do Alfa morto e
abriu as correntes que prendiam o espadachim.
- Onde está o Jackson? - Yoongi questionou, se apoderando das armas do
Tenente Jo.
- Está em uma missão... - Jisung respondeu hesitante, coçando a nuca -
Ele não sabe que estou aqui... eu vi quando vocês foram levados para o
calabouço, tentei libertá-los mas não tive como. Soube que a execução seria
hoje, então vim escondido.
- Jisung!? - Park Shinsung gritou ao ver o filho.
O governador pensou em correr até o filho mais novo, mas Yoongi se
colocou em seu encalço e o velho saiu correndo em desespero, clamando
pelos guardas para que o protegessem.
Billy e Sven viram o pequeno Ômega com as chaves e foram até ele,
sendo libertos e entrando na batalha logo em seguida.
No meio das lutas e confusão, Jungkook ainda estava preso pelas
correntes e enquanto se atracava com o Choi pelo chão. A poeira subiu ao
redor dos Alfas, e Choi achou que estava na vantagem pelo fato das mãos
de Jungkook estarem presas. Mas o Capitão Jeon conseguiu dominá-lo e
passou as correntes pelo pescoço de Choi, asfixiando-o.
O rosto de Choi inchou vermelho e pouco tempo depois, ele paralisou
sem vida. Jisung correu até eles e libertou o Capitão Jeon. Jungkook acenou
para ele em agradecimento, pegou duas espadas e entrou na luta do jeito
que sempre gostou, com lâminas em ambas as mãos. Ele era ágil e mesmo
que as espadas fossem diferentes das adagas no quesito tamanho, ele
conseguiu o mesmo desempenho positivo.
Lutando contra seus inimigos, Jimin e Jungkook estavam de costas, se
aproximando gradativamente. Quando sentiram suas costas se tocarem, eles
se viraram assustados e apontaram suas armas um para o outro. Ambos
sorriram, mas isso durou apenas alguns segundos.
Antes de poder abraçar seu Alfa, um marinheiro atacou Jimin, mas o
Ômega recuou e o atacou de volta com sua espada. Outro Alfa surgiu para
atacá-lo pelas costas, mas Jungkook girou as duas espadas e partiu-o em
dois.
Jimin foi até ele e o beijou na boca, finalmente sendo abraçado por seu
Alfa.
- Ele tem seus olhos. - Jimin disse emocionado - O nosso filhote.
- Onde ele está? - Jeon perguntou confuso.
- Está bem longe daqui e a salvo aos cuidados do Sung. Com uma família
de pescadores.
Hoseok continuava disparando contra a cidade. Ele estava com muita
munição ao seu dispor e para ele, destruir uma cidade como aquela, e nas
condições atuais, era mais do que divertido. Busan estava literalmente
pegando fogo.
Um incêndio se apossou da cidade tão fortemente, que estava
praticamente impossível conter as chamas. As ordens do Capitão Jeon, a
tripulação retornou para os botes e voltaram para o Black Swan. A medida
que o navio se afastava, eles podiam ver a fumaça ainda subindo da cidade
castigada.
Continua...
[65] Família

Oioioi! Primeiramente, MUITO OBRIGADA pelos 4,5M de leitura!!! Pelos


700k de votos e por taaaaantos comentários que me divertem tanto!! kkk
Eu nunca imaginei que BS iria crescer tanto, muito menos que um dia
iria virar livro físico. Eu devo isso tudo a vocês, e não há obrigada no
mundo que pague essa felicidade que vocês me proporcionaram. (No final
do capítulo tem aviso sobre o livro físico)
Voltei aqui (finalmente) depois de muito tempo com um capítulo que
faltou na história. Eu recebi algumas cobranças em relação ao fato de que
eu não tinha colocado a cena do Jungkook conhecendo o filho dele, e segui
sem adicionar essa parte. Mas com o tempo eu percebi que havia
decepcionado muita gente com essa falta, algumas pessoas chegaram para
expressar isso e eu senti que devia isso a vocês, por todo carinho e apoio
que me deram com essa fanfic
Leitores novos, ignorem os transtornos e continuem lendo
Boa leitura:
A paisagem desolada de Busan tornava-se cada vez mais distante, à
medida que o Black Swan se afastava da costa. A tripulação ainda
comemorava mais uma vitória sobre a Marinha, desta vez, em solo coreano.
Nessas condições, o sabor da conquista era ainda melhor.
Embora estivesse feliz e aliviado por ter chegado a tempo de salvar seu
Alfa, Jimin lamentou não poder ter trocado duas palavras com seu irmão.
Em meio ao alvoroço da batalha, ele viu Jisung segurando um molho de
chaves, libertando Billy e Sven. Não houve tempo para um reencontro, ou
para se preocupar com o sangue que banhava a katana que o Ômega mais
novo portava.
Jimin estava apoiado na balaustrada, encarando o horizonte. Ainda que o
vento espalhasse o cheiro originado das ondas do mar, o Ômega notou um
aroma a mais se propagando à sua volta. Rosas. O cheiro particular de seu
Alfa, paralelamente suave e intenso.
- Você disse que o nosso filho está a salvo.
Jimin o encarou confuso. Ele guardou uma mecha de cabelo atrás da
orelha antes de responder:
- E está. Eu o deixei com o Sungjae. Estão com uma família de
pescadores em Nabuco.
- Então por que está tão tenso? Estou sentindo medo e preocupação em
você.
- O Jisung... - Jimin revelou, movendo o corpo para ficar de frente ao
mais velho. - Você o viu?
Jungkook pensou um pouco, tentando lembrar se tinha visto o cunhado
em algum outro momento. Haviam muitas pessoas no local em que
aconteceria a execução.
- Da última vez que o vi ele estava libertando as correntes do Billy e
Sven.
- Eu também... - Jimin suspirou frustrado. - Depois disso eu me
concentrei ainda mais na batalha, e então viemos pro Black Swan.
- Não podemos voltar. Eu sinto muito - Jungkook informou lamentando
não poder fazê-lo. - Acredito que essa foi a maior vergonha que passaram.
Perder pros piratas em terra firme. Vão gastar até mesmo o que não tem
para garantir que não chegaremos perto da costa.
- Eu odeio a Marinha... - Jimin afirmou, sentindo-se fraco fisicamente.
- Você está bem? - Jungkook o apoiou em seus braços. - Está exausto,
precisa descansar.
Jimin apenas suspirou fundo e assentiu. Com efeito, todas as fortes
emoções recentes, o nascimento de seu filho e a luta na praça de Busan,
fizeram o Ômega ir além de seus limites. Ele se deixou ser levado para a
cabine e adormeceu pouco depois, recebendo carinho do Alfa.
No convés, a banda tocava animada enquanto Billy e Sven contavam
sobre os dias que passaram sob o domínio da Marinha. Acrescentando
alguns detalhes a mais, para a história ficar mais interessante. Os únicos que
poderiam confirmar as versões eram o Capitão Jeon e Yoongi, mas o
primeiro estava na cabine com seu Ômega e o espadachim, pensativo na
popa da embarcação.
No meio da batalha, quando correu atrás de Park Shinsung, o governador
e ele entraram em uma luta extremamente fácil para o espadachim.
Enquanto os guardas mantinham-se ocupados lidando com os piratas,
Yoongi rendeu o Alfa, e antes do golpe final, Jisung surgiu para intervir
pelo pai. Shinsung ainda tentou se esquivar, mas levado pelos instintos
Yoongi arrastou a lâmina na garganta dele.
O Alfa caiu sendo amparado pelo filho mais novo, cujo rosto estava
manchado com respingos de sangue. Mesmo sendo um assassino
experiente, após tanto tempo no ofício, Yoongi sentiu algo que não
experimentava há anos. Remorso. Não pelo governador, mas pelo Ômega.
Quando o encarou, Jisung carregava nos olhos uma dor inexplicável. Ele
abraçou o corpo do pai e chorou excessivamente, sem se importar com o
que acontecia ao seu redor.
- Não, não... - o Ômega sussurrava para si mesmo. - Papai...
Yoongi impediu que um oficial se aproximasse disparando contra o
mesmo com sua pistola. Ele ouviu quando o Capitão Jeon ordenou que
voltassem para o Black Swan, mas não podia deixar o Ômega largado ali
sozinho.
- Jisung?!
Em meio a tantas vozes e gritos, o Ômega ergueu o olhar e viu que
Yoongi o chamava. Ele ignorou e voltou a atenção para o corpo do pai,
manchado por trás das lágrimas que o cegavam.
- Não pode ficar aqui sozinho. - Yoongi insistiu.
Mesmo naquela situação trágica, o Ômega entendeu as palavras dele.
Logo a praça estaria cheia com mais oficiais da Marinha, e sendo filho do
falecido governador Jisung seria levado por eles. Jackson não estava, o que
tornava aquele instante ainda mais fatídico.
Namjoon fortaleceu as ordens de seu líder mais uma vez. Jisung e Yoongi
ouviram o sinal. Em um ato desesperado, o Ômega buscou encontrar Jimin
a sua volta e o viu sendo levado por Jungkook, na direção do cais.
Não precisava trocar duas palavras, ele só necessitava de um abraço
depois de tantos meses sem ver seu irmão. Depois da perda terrível que
experimentou. Jisung respirou profundamente e secou as lágrimas com o
dorso da mão.
Yoongi notou suas intenções e guardou a katana na bainha, segurou os
braços de Jisung e o impediu de seguir atrás de Jimin. Ele sabia que quando
o Ômega chegasse no cais, Jimin já estaria próximo do Black Swan.
- Jisung, presta atenção! Vai pra casa!
Mas naquele instante, Jisung só queria o apoio do seu irmão mais velho.
Como em todas as vezes que Jimin segurou a sua mão, nos momentos mais
difíceis.
- Solte-me! Eu preciso do meu irmão!
- Vai pra casa e espere pelo seu Alfa! - Yoongi gritou por cima,
empurrando o Ômega na direção contrária. - Agora, Jisung!
Jisung ignorou e tentou avançar contra ele, mas dessa vez foi impedido
por um Ômega de cabelo vermelho que chegou ao seu lado, segurando-o
pelos ombros.
- Yoonie tem razão, Jisung.
- Leve-o para um lugar seguro. - Yoongi solicitou ao Ômega ruivo.
Yoongi conhecia aquele Ômega do tempo em que serviu na Ordem, ele
era um caçador também, e dos mais confiáveis na sua opinião. Desse modo,
ele deixou Jisung aos seus cuidados sem mais preocupações.
Horas depois, sentado na balaustrada traseira da embarcação, Yoongi
ainda podia ouvir em seus pensamentos os gritos do Ômega chamando pelo
irmão. Foi a última coisa que ouviu após deixar a praça de Busan e rumar
para o Black Swan.
- Todos estão se divertindo - ele ouviu a voz de Hoseok. O Alfa se
aproximou do espadachim trazendo consigo uma caneca com bebida dentro.
- Você devia estar comemorando. Não foi enforcado hoje.
- Eu matei o pai do Jimin. - Yoongi foi direto.
- Como é?! - O atirador quase engasgou enquanto tomava sua bebida. -
Como isso aconteceu?
- Rasguei a garganta dele.
- Não, calma - Hoseok sentou ao lado dele. - Eu vi quando ele correu e
você foi atrás dele...
Yoongi confirmou e contou seu relato sobre o que de fato aconteceu. Não
apenas isso, ele revelou a Hoseok seu receio de contar a Jimin o que fez.
Park Shinsung era um homem de caráter duvidoso e pensamentos arcaicos,
porém, ele amava seus filhos e o sentimento era recíproco.
- Como eu faço pro Jimin entender que eu sinto muito? Você é bom
mostrando o que sente. Faz muitos anos que não me sinto assim.
- Seja sincero. Você acha que não sabe demonstrar sentimentos, mas para
mim é como um livro aberto.
Uma cantoria animada se aproximou do lado da embarcação, logo pela
lateral da cabine. Eram os Betas Dahyun e Taehyung, provavelmente
bêbados enquanto dançavam girando e rindo.
- Uepa! - O navegador inclinou-se para trás, quando ela se desequilibrou
e quase derrubou parte da bebida em cima dele.
- Desculpa... - Ambos começaram a rir. - Eu vou buscar mais.
- Vai, e cuidado onde pisa.
Dahyun fez sinal de positivo enquanto seguia para o outro lado do
convés, onde havia um barril de rum. Taehyung a acompanhou com os
olhos e quando não mais a viu deu meia volta e rumou para a popa, onde
encontrou Yoongi e Hoseok conversando.
- Hmmm, vieram fazer uma festinha particular e nem me chamaram. - O
Beta afirmou desinibido. - Nossa, que caras de velório. Parece até que
alguém morreu.
Os Alfas trocaram olhares. Yoongi informou:
- Park Shinsung está morto.
- Ah... sério?
Hoseok assentiu e ainda acrescentou:
- Yoongi o matou e agora não sabe como contar pro Jimin.
- Calma, é muita informação... - Taehyung pediu. Ele tomou o restante do
rum e refletiu em silêncio por um tempo. - Ele não vai fazer falta alguma.
Apenas sinto muito pelo Jiminie e pelo Jisung.
- Você tem mesmo que contar? - Hoseok indagou.
- Ele vai saber de qualquer jeito, prefiro que seja por mim.
Taehyung verificou a bússola, as condições do tempo e as velas.
- Se os ventos continuarem fortes, vamos chegar em Nabuco em dois
dias. Acho melhor você contar antes disso.
- Ele foi descansar na cabine com o Capitão.
Dahyun voltou com a bebida e permaneceu com os três na popa do Black
Swan. Não havia o que Yoongi pudesse fazer naquele momento, então ele
esperou.

Na manhã seguinte, ansioso para reencontrar seu filho, Jimin levantou
cedo e caminhou pelo convés pensando em como Jungwon estaria neste
exato momento. Ele sorriu automaticamente quando pensou no sorriso do
pequeno Ômega, que lembrava um pouco o de Jungkook.
A luz da aurora ainda estava em seu primeiro estágio, mas Jimin notou
que havia mais alguém além dele. Um pirata na cesta do mastro que
provavelmente adormeceu durante sua guarda, e o espadachim que lhe
observava em silêncio.
- Está um pouco frio aqui fora - Jimin se aproximou dele. Ele olhou para
o alto e depois para o Alfa. - Tá fazendo companhia àquele dorminhoco ali?
Yoongi negou balançando a cabeça.
- Quero falar algo com você. Só não sei como...
- Já está falando - Jimin brincou. O Alfa confirmou. Em meio a expressão
séria do espadachim, o Ômega mudou a postura. - Por favor, fale de uma
vez. Eu não suporto suspense, fico nervoso e começo a roer-...
- Eu matei seu pai em Busan, ontem.
A princípio Jimin não esboçou qualquer emoção. Ele encarou o Alfa
esperando ele confessar que era apenas uma brincadeira. Mas Yoongi
permaneceu sério, analisando as expressões dele.
- Oh, céus... isso aconteceu mesmo? - Ele cobriu a boca quando o
espadachim confirmou com a cabeça.
Várias lembranças preencheram a mente do Ômega naquele segundo.
Momentos felizes que passou ao lado do pai e do irmão. A possibilidade de
que poderia vê-lo outra vez, que não fosse em circunstâncias tão terríveis.
Naquele instante tudo se partiu diante dele, e as lágrimas começaram a se
formar. Lembrou-se que Jisung estava na cidade e levantou subitamente.
- Temos que voltar! Meu irmão tá sozinho...
- Não, Jimin. - Yoongi o impediu, segurando pelo antebraço. - A Marinha
deve tá em peso pela costa. Seu irmão não está sozinho, ele tem o Jackson e
um amigo confiável com ele. Não podemos voltar, eu... sinto...
O Alfa parou de falar quando Jimin sentou em um caixote, fechou os
olhos e chorou em silêncio. Pensou em sair e deixá-lo ter seu momento de
luto, mas não tinha certeza se era o melhor a se fazer. No mais, ele resolveu
esperar pela reação do Ômega quanto ao que ele havia feito.
Houve um momento em que Jimin parou de chorar, e ficou apenas
observando o chão do convés em silêncio.
- Se você me odiar por isso eu entendo. - Ele ouviu a voz de Yoongi e
ergueu o olhar até ele.
- Eu não odeio você. Meu pai criou muitos inimigos ao longo da vida, um
dia isso iria acontecer. - Ambos olharam na direção da cabine quando a
porta foi aberta. O Capitão buscou algo pelo convés e quando viu os dois
conversando próximos da proa, seguiu na mesma direção. Jimin voltou a
atenção para o Alfa loiro: - Qualquer um poderia ter feito isso, até mesmo o
Jungkook.
- O que aconteceu? - O Alfa lúpus perguntou ao seu aproximar. - Por que
estava chorando?
- Meu pai morreu no conflito em Busan.
Capitão Jeon ergueu as sobrancelhas, surpreso. Nem ele mesmo sabia que
isso havia acontecido, mas entendeu a situação já que era o espadachim que
estava com o Ômega. Entendeu quem foi o responsável e teve uma certa
ideia de como aconteceu.
Jimin suspirou quando o Capitão lhe abraçou lateralmente. Aquele aroma
de rosas que sempre lhe acalmava fez o mesmo efeito tranquilizante,
deixando o Ômega relaxar em seus braços. O desejo de voltar para Busan
diminuiu quando ele percebeu que aquele seria o mesmo apoio que Jisung
encontraria em seu Alfa.
- Seu irmão vai ficar bem. - Jungkook afirmou, como se tivesse lido os
pensamentos do Ômega.
- Eu sei... - Jimin se aninhou nele ainda mais. - Ficaremos bem.
Jungkook sorriu para ele, beijou a região temporal e depois a bochecha.
Yoongi limpou a garganta e coçou a nuca olhando à sua volta, disfarçando.
Logo em seguida ele deixou o casal em seu momento íntimo e começou a
subir os cabos até a cesta do mastro principal. Ele tocou o sino que
despertou o pirata dorminhoco.
- Hã?! O que?! - Jared acordou com um sobressalto. Quando se situou,
ele encarou o espadachim e riu. - Eu morri e acordei no inferno?
- Eu vou te jogar daqui de cima. - Yoongi segurou o riso. - Sai pra lá.
Jared abriu espaço para o loiro passar. Ambos observaram o horizonte
com a luneta, em busca de algum navio que estivesse por perto. Para a sorte
do que estava de guarda, eles eram os únicos a navegar por aquela extensão.
Ainda restava muita munição sobrando para lidar com qualquer
eventualidade pelo caminho. Contudo, assim como o navegador previu, o
Black Swan ancorou próximo a Nabuco dois dias após deixarem a cidade
devastada, as únicas embarcações que eles cruzaram pelo caminho foram
alguns navios menores, cujo saque o Capitão Jeon não estava interessado.
Scott desceu um bote com ajuda de outros piratas, e juntos eles foram
buscar Sungjae e Jungwon. Com pouco tempo eles retornaram para o navio,
Jimin recebeu o filho assim que eles pisaram no convés. O Capitão estava
na cabine com o contramestre.
- Tae, chama o Jungkook aqui por favor? - Jimin pediu.
Taehyung assentiu e fez como o Ômega solicitou. Assim que bateu na
porta e falou com o Capitão, Jimin sorriu ao ver que levou apenas alguns
segundos para o Alfa sair da cabine e seguir ansioso diretamente para ele.
Jungkook parou a alguns passos de Jimin e o observou segurando o
filhote entre os braços. Tão pequenino. O sorriso dele foi crescendo à
medida que voltava a se aproximar lentamente. As mãos grandes e ásperas
do Alfa tocaram suavemente o rosto de Jungwon, o menino estava acordado
e o encarava fixamente nos olhos.
- Jungwon, esse é o papai Jungkookie. - Jimin sussurrou.
- Jungwon? - Jungkook olhou para Jimin e ele confirmou. - É um lindo
nome.
Um pouco sem jeito, ele recebeu o filho das mãos de Jimin. O Capitão
Jeon era um pirata acostumado a violência e demais atividades criminosas.
Todavia, naquele momento, ele segurou o pequeno Ômega com tamanha
delicadeza.
Jungwon olhou o pai Alfa, já em seus braços, e sorriu para ele. Jungkook
sorriu de volta e brincou com o pequeno. Quem estava no convés e assistia
a cena, nunca havia visto o Capitão Jeon daquele jeito. O sorriso era
enorme, e cresceu ainda mais quando Jimin revelou para que todos
ouvissem:
- É um Ômega.
- Vai ser forte igual o papai... - Jungkook afirmou e Jimin enrubesceu. -
Vou ensinar tudo o que sei... - Ele afirmou e Jimin foi assentindo. - Um dia
ele vai dominar os mares... - Jimin também concordou. - Vai matar muita
gente.
- Jungkook! - Jimin o repreendeu tentando remover o bebê dos braços
dele.
O Alfa girou, para impedi-lo.
- Assim que aprender a andar-....
- Não, não! - Jimin o abraçou por trás. - Pare com isso, vai machucar ele.
Jungkook riu divertido e virou-se de frente para o loiro, beijou a testa de
Jungwon e o entregou para Jimin.
- Ele não vai fazer nada perigoso até que tenha idade suficiente pra essas
coisas... - O Ômega advertiu.
- Ele é tão fofo. - Dahyun comentou.
Jimin sorriu satisfeito. Alguns piratas o cercaram para ver o herdeiro do
Capitão. Jungwon era um Ômega macho e pequenino, de cabelo
inteiramente preto e olhos da mesma cor. Apesar de pouco tempo de vida,
era possível observar nele alguns traços de Jimin e Jungkook.
Por ordens do Capitão, os piratas levaram o Black Swan para mais
distante da costa asiática. Jungwon parecia muito satisfeito sempre que
Jimin ou Jungkook passeavam com ele pela proa do navio. O pequeno
gostava de sentir o cheiro do mar que era exalado à medida que a
embarcação avançava na direção do oceano.
Era muito perceptível a mudança no semblante do Capitão enquanto
circulava com o filho pelo convés, ficava todo sorridente conforme
conversava e brincava com o mesmo. Quando algum pirata se aproximava
para lhe perguntar alguma coisa, ele mudava da água para o vinho:
- Não, agora não pode - ele disse com voz doce. Jungwon fez um som
como se não tivesse gostado. - Não pode, meu coração. Uma pistola é muito
grande pra você segurar sozinho.
- Capitão? - Bob se aproximou.
O enorme e aberto sorriso que Jungkook direcionava ao filho, mudou
completamente para uma expressão austera quando encarou o pirata.
- Que foi?
- Há um navio tentando fugir pela proa.
- Tsc... - O lúpus estalou a língua por ter seu momento com o filho
interrompido. - Diga a Namjoon que inicie um ataque.
Dito isso, o Capitão desceu até a camada mais baixa do navio e entregou
Jungwon para que ficasse aos cuidados de Seokjin e Sungjae.
Posteriormente, ele voltou para liderar o saque ao ao lado de Jimin.
Uma bandeira branca foi erguida assim que o Black Swan se aproximou
do navio mercante. Como não ofereceram resistência, o lúpus seguiu para a
cabine, a fim de iniciar os registros do saque no diário de bordo.
Enquanto isso, Jimin acompanhou o transporte das cargas até o porão,
permitindo que a embarcação mercante ficasse com suprimentos suficientes
para sobreviver até ancorar no próximo porto. Mesmo após a invasão,
Hoseok continuou em alerta, mas o comandante do navio atacado iniciou
uma fuga o mais rápido possível.
A noite havia chegado e Jimin finalmente entrou na cabine para
descansar. Ele encontrou Jungwon deitado na cama, e o Alfa fazendo
gracinhas para ele. De vez em quando, o bebê sorria animado e soltava um
gritinho.
Jimin subiu na cama, se deitou ao lado do filho e de frente para ele
enquanto o acariciava.
- Ele é tão esperto. - O Ômega mais velho comentou quando teve o dedo
agarrado pela mãozinha de Jungwon. - Sim, minha vidinha? Papai tá aqui.
- Ele é muito inteligente. - Jungkook afirmou, orgulhoso. - Ele já sabe a
diferença entre...
Jimin franziu o cenho e encarou o Alfa.
- Entre?
- Entre... - o Alfa continuou sem jeito. - Entre alguns objetos que
apresentei à ele... - Jungkook mudou de assunto quando ergueu o filho da
cama: - Agora tá na hora de dormir, né?
Jimin esticou o corpo na cama, enquanto o Alfa levava o filho para um
pequeno cantinho que havia adicionado dentro da cabine há dois mês, para
Jungwon.
- Como estou exausto.
- Descansa, meu coração - Jungkook voltou para a cama. - Você merece.
O Ômega assentiu sorrindo, e se aninhou perto do Alfa entre as cobertas
que Jungkook colocou sobre eles. Jimin fechou os olhos e adormeceu
rapidamente, enquanto Jungkook ainda ficou acordado por um tempo,
passando alguns dedos entre os fios loiros do mais novo.
De repente, Jungwon se agitou em seu cantinho e começou a chorar.
Jimin acordou imediatamente e com isso, o Alfa fechou os olhos e fingiu
que estava dormindo.
- Eu sei que você tá acordado. - O Ômega suspirou, voltando a deitar-se.
- Vai você ver o que ele quer, eu já trabalhei demais hoje.
Jungkook abriu os olhos e sorriu amarelo quando o Ômega lhe dirigiu um
olhar severo, por ter fingido que estava dormindo só para não ter que se
levantar. Ele caminhou até o filho e o pegou nos braços. Jungwon continuou
chorando.
- O que foi que meu coraçãozinho tá chorando? - O Alfa tentou acalentar
o pequeno, mas ele continuou chorando. - Tá com fome, hm?
Jimin os observou da cama, sorrindo e achando a cena muito adorável.
- Tem que comer muito pra crescer bastante... - Jungkook comentou,
enquanto colocava uma manta ao redor do bebê, para levá-lo até a cozinha.
Ele adicionou antes de sair da cabine: - Acho que o papai Jimin não comeu
tanto assim...
O sorriso no rosto de Jimin murchou dando lugar a um cenho franzido.
Ele se levantou da cama em um pulo e foi atrás do Alfa.
- O que está querendo dizer com isso, Jungkook?!
O Capitão apressou os passos quando ouviu que seu Ômega estava vindo
logo atrás, para tomar satisfação. Desse modo, ele conseguiu fazer com que
Jimin fosse com ele até a cozinha para lhe ajudar a preparar uma mamadeira
para o pequeno Jungwon.
Continua...
Eu sei que não coloco muita coisa sobre o livro físico, mas é porque ele
ainda está passando pelas mãos de pessoas que estão revisando a história,
para que fique tudo certinho. Eu já conversei sobre minhas idéias pra capa e
pras demais artes e vai ficar tão lindoooo aaaaaaAAAAAAA eu to muito
ansiosa!! A ilustradora é um amorzinho e muito talentosa, e eu estou muito
feliz que o tempo para publicar Black Swan está cada vez mais próximo.
Respondendo as dúvidas mais frequentes:
Black Swan vai ser publicado por qual editora? R: Pela Editora Euphoria,
vocês podem acompanhar qualquer novidade pelas redes sociais da mesma.
Há uma data prevista para o lançamento? R: Infelizmente não. Sei que o
previsto era pra 2021, mas ocorreram alguns imprevistos, e agora, há a
possibilidade de BS ser lançado entre fevereiro e março de 2022. Vamos
torcer para que as coisas continuem seguindo um fluxo positivo!
Mais uma vez, muito obrigada por todo o apoio
[66] Novos Rumos - FINAL

Jikoka-ssimi Obrigada pelo edit meu anjinho ❤ ❤❤


keikoschan fez dois, eu fiquei apaixonada pelas duas de tão lindas
que estão ❤❤❤ obg anjinho❤
Reescrito

Um ano depois...

Do ataque liderado por Jimin, a China tomou conhecimento tarde demais,


porém, um bloqueio fôra montado entre os mares que cercavam as regiões
do Nabuco, Japão, Coréia e a própria China, para impedir que qualquer
navio pirata se aproximasse e atacasse qualquer um destes reinos.
O bloqueio se encontra até os dias atuais, e por este motivo, o Black
Swan não navegava pela costa asiática, haviam pelo menos doze meses. No
momento atual, ele seguia seu curso tranquilamente pelos mares do oceano
Índico.
O pequeno Jungwon estava sentado em um canhão, brincando com a
cordinha do pavio. Hoseok o segurava para que o Ômega não caísse, e o
ensinava como manusear aquele aparelho:
-... é aí mesmo que você ateia o fogo. - O atirador disse, como se o
Ômega estivesse compreendendo o que ele dizia. Ou talvez estivesse, já que
ele estava brincando justamente com o objeto que o Alfa explicava - A
bolinha vai sair do outro lado e destruir qualquer coisa que estiver em seu
caminho. Legal, não é?
Yoongi estava sentado na mureta próximo a eles, rindo do entusiasmo de
Hoseok. Ele desceu, puxou um punhal e se colocou diante de Jungwon.
- Mas isso aqui é bem mais legal. - Yoongi afirmou, exibindo a lâmina
para o pequeno. Jungwon foi atraído pelo brilho da lâmina e ficou prestando
atenção no que o Alfa espadachim dizia: - Você segura ela assim, bem
firme, e rasga a garganta de qualquer um.
Dito isso, Yoongi deslizou a ponta do punhal na madeira do navio,
arranhando-o instantaneamente.
- Vocês estão assustando ele. - Taehyung disse se aproximando para
retirar o pequeno Ômega dali.
Mas para a sua surpresa, Jungwon começou a sorrir batendo palminhas.
Yoongi repetiu o processo e o pequeno sorriu ainda mais, batendo com as
mãos no canhão.
Hoseok sorriu orgulhoso e indagou:
- Vocês viram isso? Ele quer atirar. - Ele se virou para Jungwon: - Você
quer atirar? eu deixo. Deixa só o tio Hobi ver um alvo para você.
- Ensinar à ele os dons da cura é muito mais producente. - Seokjin disse,
juntando-se a eles.
Uma leve discussão se formou entre eles. Cada um com seu ponto de
vista e discordando da opinião um do outro.
Enquanto isso, próximo ao anoitecer, Jungkook ensinava Jimin sobre os
mastros, cabos e velas. A utilidade de cada um dos componentes, que dão
velocidade ou diminuem a distância percorrida por um navio.
- Capitão. - Chaerin o chamou.
- Sim? - Jimin e Jungkook responderam ao mesmo tempo.
Jungkook o olhou para o pequeno com o cenho franzido. Jimin mordeu o
lábio inferior, segurando o riso. Ele abaixou a cabeça ruborizando e coçou a
nuca. O Alfa sorriu, achando-o adorável.
- Há um navio se aproximando pela proa a estibordo. - Chaerin
continuou.
- Deixe-me saqueá-lo. - Jimin disse.
Jungkook suspirou estudando-o e assentiu no segundo seguinte. Chaerin
manobrou o navio e a tripulação diminuiu as velas para que o Black Swan
deslizasse calmamente, até estar lado a lado com a outra embarcação.
A tripulação do navio mercante renderam-se inteiramente quando viram
o navio de velas negras se aproximar sorrateiro. Quando vigas de madeiras
foram postas entre as embarcações, estavam todos com as mãos erguidas e a
cabeça baixa.
Namjoon, Yoongi, Billy e alguns outros piratas cruzaram o caminho até o
navio mercador, Jimin seguiu por último. Tão calmo que nem parecia que
estava prestes a roubar as cargas de um navio.
Ao descer pela rampa, o seu cheiro doce de jasmim chamou a atenção
dos Alfas e Betas que estavam no navio comercial. O próprio comandante
ergueu a cabeça e olhou confuso quando, ao invés do Alfa maior - Namjoon
- liderar aquele ataque, era o Ômega loirinho e de aparência angelical que
estava no comando.
- Se renderam... - Jimin pensou em voz alta, caminhando entre os Alfas e
Betas - Que bom, vejo que são inteligentes. Seria uma pena se houvesse um
banho de sangue desnecessário.
Quando Jimin passou pelo comandante, ele sentiu o Alfa apertar sua
bunda. No mesmo instante, Jimin puxou sua pistola e girou, apontando a
arma na cara do Alfa.
- Ah, você vai atirar, coisinha linda? - o comandante riu alto - Mas que
traseiro gostoso você tem. - ele umedeceu os lábios com a língua, descendo
o olhar pelo corpo do Ômega - Vai machucar suas mãozinhas delicadas se
apertar esse gatilho. É melhor que use essa mão para fazer o que os Ômegas
sabem fazer de melhor. Pegar no pau de um Alfa.
Ainda encarando o Alfa nos olhos, Jimin desceu a mão que segurava a
pistola e a apontou diretamente para o pênis do comandante. O Alfa só teve
tempo de arregalar os olhos, e no mesmo segundo, o Ômega apertou o
gatilho e o disparo destruiu o órgão do comandante, que caiu urrando de
dor, colocando a mão em sua região íntima e assustando-se ao notar que já
não existia mais nada lá.
- Billy? - Jimin o chamou.
- Sim, Capitão? - o bucaneiro respondeu no mesmo instante.
Os marujos do navio mercante ficaram pasmos ao ouvirem aquele
Ômega ser chamado de capitão. Eles só ouviram falar em um Ômega que
conquistou esse posto em navios piratas, e o mesmo já havia sido executado
há anos.
- Tire esse lixo da minha frente. - Jimin ordenou.
Billy assentiu. Ele agarrou o comandante que agonizava no chão, e o
atirou em um outro canto do navio.
- Caramba... - um dos Alfas rendidos sussurrou baixinho.
- Obrigado.
Jimin sorriu para Billy e deu um largo passo a frente, para não pisar no
chão sujo de sangue. Ele passou a mão na franja e jogou o cabelo para trás,
caminhando até a cabine.
- Senhor, por favor, leve tudo de valor que temos. É tudo seu. - Um dos
Alfas gritou desesperado. Jimin parou de andar e o fitou, esperando que ele
terminasse de falar - Mas não faça isso...
- Isso o quê, Alfa? - O Ômega lúpus indagou desconfiado.
O marujo olhou para a cabine e depois para Jimin. Não era preciso que
ele dissesse mais nada, o Ômega logo entendeu do que ele estava com
medo.
- Acalme-se. - Jimin ditou, e virou para Namjoon: - Podem levar as
cargas do porão.
O contramestre assentiu e junto à ele, outros piratas desceram para
saquear o estoque.
Jimin abriu a porta da cabine com cuidado e entrou devagar. Seus olhos
percorreram toda a extensão do cômodo, e ele não encontrou mais ninguém,
além de duas crianças escondidas atrás de uma estante.
Instantaneamente ele se lembrou dele mesmo e do seu irmão, quando o
navio em que eles estavam seguia seu curso para a Coréia, e do quanto eles
estavam assustados quando a tripulação do Black Swan invadiu o galeão.
- Olá. - Jimin falou com voz suave, sorrindo gentil - Sei que estão
escondidos atrás dessa estante. Tudo bem, são muito espertos.
Jimin se aproximou um pouco mais e parou no instante que viu um par
de olhos verdes o espiar por entre dois livros, e uma voz surgir logo depois:
- Você é um pirata?
- Sou sim. - Jimin respondeu firme.
- Mas você é um Ômega. - Outra voz disse.
- Isso não me impede de ser o que eu quiser. - Jimin contrapôs - Ômegas
podem fazer tudo o que Alfas fazem, e até melhor.
Curiosos a respeito daquilo, dois garotinhos surgiram detrás da estante.
Eram dois Ômegas, sendo um deles pouca coisa maior que o outro.
- Primeira vez que eu vejo um Ômega pirata. - o menor disse.
- E o que acharam? - Jimin perguntou.
Os garotos entreolharam-se. O mais alto deu de ombros e respondeu:
- Bem legal.
Jimin sorriu, assentindo. Ele retirou duas moedas de ouro do bolso e as
entregou para os pequenos.
- Comprem vários brinquedos quando chegarem em casa. - Jimin piscou
para eles, sorrindo com a reação bastante animada que as crianças tiveram.
O Ômega lúpus então saiu da cabine e indicou que Jared ficasse
guardando a porta.
- Não permita que ninguém entre nessa cabine. - Jimin exigiu e o Alfa
assentiu.
Ao caminhar de volta para a rampa de madeira, Jimin viu com o canto
dos olhos que os Alfas rendidos estavam olhando para ele. Quando girou a
rosto para encará-los de volta, todos os Alfas abaixaram a cabeça.
Jimin guardou a arma no cinto e cruzou o caminho de volta para o Black
Swan.
- Jimin - Sungjae o chamou com voz baixa - Como você soube que
estava grávido?
Jimin abriu a boca e a cobriu no mesmo instante, com uma mão.
- Sung...
- Shh! - O mais velho chiou, para que Jimin não fizesse alarme - Eu acho
que estou grávido... sinto-me um pouco enjoado esses dias.
- Fale com o Jin.
- É né... - Sungjae sorriu amarelo, já imaginando a reação do médico.
Percebendo a hesitação na voz do mais velho, Jimin decidiu resolver a
situação naquele momento, e chamou pelo Beta.
- Jin, precisamos de sua ajuda. - Jimin afirmou se aproximando da proa, e
levando consigo o outro Ômega.
- Em que posso ajudar? - Seokjin indagou.
Jimin fez um gesto com a cabeça, para que Sungjae contasse ao médico
de sua suspeita.
- Acho que estou grávido.
- Eu sabia! - Seokjin disse, com as mãos na cintura - Saiba que não vou
correr atrás de abacaxi para ninguém!
Os Ômegas entreolharam-se e riram.
- Eu nem gosto de torta de abacaxi. - Sungjae deu de ombros.
O médico examinou o Ômega rapidamente, e logo constatou que ele
realmente estava gestante. Com cerca de oito semanas.
- O Scott já sabe? - Seokjin perguntou.
- Não. Ele ainda não me marcou, então nem deve fazer ideia.
- O quê?! - O Beta rosnou - Aah, mas... Scott! Venha aqui, agora!
Jimin tentou conter o riso, colocando uma mão na boca e saiu de fininho,
caminhando na direção da cabine.
- O que eu fiz dessa vez? - O Alfa perguntou quando se aproximou.
- Sungjae está grávido. - O médico foi direto.
- Sério!? - Scott indagou e o Ômega apenas confirmou com a cabeça. O
Alfa abraçou Sungjae tão fortemente, que quase o fez sufocar - Precisamos
pensar nos nomes...
- Precisa marcar o seu Ômega, isso sim. - Seokjin o lembrou - Pensa que
é fácil sustentar uma gravidez sozinho, seu irresponsável...
O Beta seguiu com seu sermão por um tempo, com Sungjae concordando
com cada palavra, e Scott evitando de revirar os olhos, para não apanhar
dos dois.
Já dentro da cabine, Jimin estava sorrindo feito bobo, observando seu
Alfa brincando com Jungwon. Porém, seu sorriso murchou quando ele
percebeu com qual objeto o pequeno Ômega estava brincando.
- Uma pistola, Jungkook?! - Jimin se aproximou bravo.
- Não está carregada.- O Alfa não deu importância.
Jimin estendeu a mão e o olhou com um semblante assustador. Jungkook
pegou a arma das mãos do pequeno e a entregou para Jimin. Ele foi até a
mesa e a depositou em cima, pegando um chocalho de brinquedo em seu
lugar, e o entregou para o Alfa.
Jungkook pegou o objeto e o chacoalhou duas vezes, olhando para ele.
Jimin não conseguiu manter sua expressão zangada e começou a rir,
achando muito fofo um Alfa lúpus brincando com um chocalho de bebê.
O Alfa entregou o brinquedo para o filho, e logo Jungwon se distraiu,
chacoalhando-o.
- Eu ouvi um tiro. - Jungkook afirmou.
- Ah, foi eu castrando um idiota. - Jimin respondeu simples.
Jungkook apenas assentiu. Ao voltar sua atenção para Jungwon, ele se
assustou ao notar que o Ômega já não estava sentado próximo a ele, mas
perto de uma estante, tentando alcançar um objeto brilhante.
- Parece que nisso, ele puxou a você. - Jungkook declarou, sobre a
habilidade que ambos os Ômegas tinham em comum, de desaparecer diante
das pessoas.
Jimin riu, se sentando na cama.
- Se ele for parecido em tudo, então, futuramente será sequestrado por
uma outra tripulação de piratas e-...
- Eu mato todos eles. - Jungkook disse, interrompendo-o - Quero ver o
Alfa que vai levar meu filhote daqui.
- Mas que papai mais ciumento... - Jimin articulou, ainda sorrindo.
- Papapapa... - Jungwon gritou, irritado por não conseguir alcançar o que
tanto desejava na estante.
Ambos olharam na direção dele e Jungkook caminhou até onde ele
estava. Ele olhou surpreso para Jimin, ao perceber o que Ethan estava
querendo.
- Ele é um lúpus? - Jungkook perguntou.
- Não sei. Jin falou que só é possível saber por volta dos quatro anos. Por
que?
- Esse não é o mapa do Imperium? - Jungkook perguntou para confirmar,
erguendo o pergaminho e mostrando para Jimin.
- É sim. Posso ver as runas claramente.
Jungkook pegou o filho no colo, o levou até a cama e o colocou sentado
no colchão, entre Jimin e ele. Também colocou o mapa diante do
pequenino. No mesmo instante em que seus olhos tiveram contato com o
mapa, Jungwon levou os dedinhos até as figuras e traçou o caminho certo
de cada uma delas, com a ponta do dedinho.
- Céus... - Jimin falou, boquiaberto - Ele é realmente um Ômega lúpus.
Jungwon continuou estudando o mapa muito atentamente. Ele murmurou
alguns sons que não eram possíveis de se entender, já que ele ainda estava
aprendendo a falar.
Jimin tentou retirar o mapa dali, mas Jungwon segurou na outra ponta e o
pergaminho se rasgou. O pequeno começou a chorar no mesmo instante.
Jungkook agarrou os dois pedaços e o levou até a mesa, também pegou uma
vela e os colou novamente.
Jimin pegou o filhote no colo e o balançou para que ele parasse de chorar.
- Não chora, meu amor. O mapinha é todo seu. Papai Kookie está
consertando para você. Vamos ver a lua?
Assim que saiu da cabine, Jimin seguiu com o choroso Jungwon nos
braços e caminhou até estar na popa da embarcação, onde eles podiam ver a
lua mais claramente.
Quando viu o corpo celeste no céu, o pequeno Ômega parou de chorar, e
olhou para a lua com os olhinhos úmidos e brilhantes.
- É a lua. - Jimin explicou.
Jungwon não piscava, olhando-a encantado.
Quando Jungkook saiu da cabine, procurou pelos Ômegas, encontrando-
os poucos segundos depois na parte de trás da embarcação. Jeon caminhou
até eles levando consigo o pergaminho enrolado, e o entregou ao filhote.
Jungwon agarrou o mapa enrolado e o escondeu, encolhendo-se dentro do
abraço de Jimin.
- Ele parece gostar bastante desse mapa. - O Alfa falou - Deve gostar das
runas brilhando.
- Elas são realmente lindas. - Jimin articulou - Quando ele crescer, vou
contar a história desse mapa e de toda a aventura que tivemos em busca do
Imperium.
- Eu imagino que sim. - Jungkook disse, aquecendo ambos os Ômegas
dentro de seu abraço. Jimin riu baixo, soprado - O que foi?
- Estava pensando em como eu estaria agora, se tivesse me casado com o
Comodoro Choi. Provavelmente, minha vida seria bastante infeliz. Sempre
fui otimista quanto isso, por causa do que me ensinarem. Oh céus, como eu
era tolo.
- Você não era tolo, era inocente.
Jimin ergueu o rosto e o fitou em silêncio por algum tempo, antes de
falar:
- Obrigado por ter me tirado de um destino sem amor. Você me fez ser
quem eu sou hoje.
Jungkook tomou um longo suspiro.
- Você sempre foi forte.
- Ele dormiu. - Jimin sussurrou - Aqui está frio, melhor levá-lo para
dentro.
Jungkook concordou e ambos seguiram de volta para a cabine. Assim
que entraram no cômodo, Jimin subiu na cama e se deitou no cantinho,
abraçado a Jungwon.
- Está frio, hoje. - Jimin articulou - Poderia aquecer seus Ômegas?
- Que tipo de Alfa eu seria se não fizesse isso? - Jungkook indagou
sorrindo, subindo na cama e logo em seguida, passando os braços entre eles.
Jungwon se moveu, zunindo alguns resmungos, e os dois mais velhos
pararam de conversar. Jimin começou a cantar uma canção, em um tom
muito baixo. Jungwon rapidamente caiu em um sono profundo.
Jimin sentiu a tranquilidade do pequeno e sorriu olhando para Jungkook.
Mas o Alfa acabou adormecendo juntamente com o filhote. Ele sorriu
grande, observando a respiração calma do Alfa e o quanto ele e Jungwon
eram parecidos, até mesmo dormindo.
Jimin tomou um longo suspiro, beijou o topo da cabeça do pequeno,
fechou os olhos encostando a testa no peito do Alfa, ele adormeceu algum
tempo depois.

FIM.

Muito obrigada por ter acompanhado a história até o fim, sinta-se bem
vinde para voltar quantas vezes quiser
Bônus I

Olaaaaa :3 Por favor, leia os avisos antes de ir para o capítulo, para que
possam entender melhor esse bônus ❤
Eu ia trazer um capítulo bônus com o filhote dos Jikook e tal, mas então
me surgiu várias inspirações e o "bônus" se tornou a segunda temporada.
Sim! Black Swan vai ter uma continuação assim que eu concluir Hunter.
Me aguardem...
*Algumas informações para entender esse capítulo bônus*
Esse capítulo conta um pouquinho da história e como cada membro
(principal) se tornou pirata da tripulação do Black Swan. Além de, é claro,
contar como o Jungkook se tornou o Capitão do navio.
Será por ordem, então vou começar pelos que já eram antigos tripulantes
do Black Swan, até o último a se juntar à tripulação, que foi o Yoongi.
Lembrando que:
*Sungjae foi o último verdadeiramente, mas nós já sabemos como
aconteceu dele se juntar ao navio, então não vai entrar nesse bônus.*
*Também não vai entrar no bônus o breve romance do Sungjae com o
Jungkook.*
Eu tentei resumir cada história, mas o bônus ficou com 18k de palavras,
eu acho grande demais pois gosto de capítulos pequenos, mas não quis
dividir em dois.
Então fique confortável, pegue um suquinho, um biscoitinho e boa leitura


A EPOPÉIA DE UMA TRIPULAÇÃO
Capitão Jeon, Namjoon, Hoseok, Jared, Scott e Sven.
O Black Swan estava ancorado próximo a Nabuco. Era um dos poucos
navios pirata que conseguia se aproximar daquela Ilha, sem ser atacado. Os
marujos festejavam ao som da banda há pelo menos três dias, e ninguém
parecia se importar com a situação do navio.
O mastro traseiro estava deteriorado, a principal vela da proa já não
operava corretamente e a engrenagem da âncora estava ficando tão oxidado,
que parecia nunca ter visto uma manutenção na vida.
Mas o Capitão achou mais necessário gastar todo o saque que haviam
feito há duas semanas, com bebida e Ômegas. Afinal, eles eram os reis dos
mares. Em sua opinião, Francis Bonny que foi um tolo, por ter guardado
toda sua fortuna sem ter a chance de gastar uma única moeda.
Alma Negra tomava sua bebida completamente despreocupado. O líquido
era desperdiçado quando descia pela sua barba e molhava suas vestes. Mas
a verdade era que o porão estava vazio, sem uma única moeda de bronze, e
os barris com rum, vinho e tequila não eram infinitos.
- Capitão - Sid, o contramestre, se aproximou do lúpus. Temeroso, pois as
notícias não eram boas. - Já não temos moedas para pagar aos Ômegas.
- E qual é o problema? - Alma Negra indagou. - Se não podem pagar,
pegue-os à força.
- Obrigado Capitão!
- Traga um para a minha cabine também - Alma Negra ordenou. - O mais
belo de todos.
O pirata assentiu e correu até seus companheiros, para informar sobre a
nova ordem do capitão. Todos vibraram felizes, exceto um pequeno grupo
que estava sentado na escuridão, junto à popa.
- Esse navio vai naufragar - Sven comentou.
- Ah, você acha? - Jared perguntou com sarcasmo e revirou os olhos. - O
que seria de nós, se não fosse você para nos informar o óbvio.
- Ele só falou o necessário - Scott saiu em defesa do irmão. - O que
ninguém tem coragem de dizer.
- E no quê isso ajuda? - Jared rebateu. - Falar não muda nada. Esse
maluco vai matar a todos nós.
- Alguma coisa precisa ser feita - Hoseok argumentou. Eles se referiam
ao Capitão Alma Negra. - Não podemos continuar assim. Quando não está
matando a própria tripulação com sua espada, o Capitão nos condena à
míngua com esses gastos exagerados e sem sentido. Não há mais nada no
porão.
- Está falando sério? - Namjoon perguntou.
- Infelizmente sim - Hoseok respondeu. - Há um balaço em cada canhão,
mas não há possibilidade de recarregá-los após o uso - Ele apontou na
direção da ilha de Nabuco e ainda afirmou: - Se o Barba-Ruiva souber
disso, estaremos fodidos.
- Jungkook? - Namjoon se aproximou do Alfa.
O jovem lúpus estava sentado e com as costas apoiadas no mastro
traseiro, enquanto riscava um engradado utilizando o seu punhal. Ele ergueu
a cabeça e encarou o pequeno grupo que o observava em silêncio.
- Sim?
- Você é forte. É um lúpus. O único que pode bater de frente com o
Capitão.
- Ele possui números... a maioria estão com Alma Negra.
É claro que Jungkook já havia pensado na possibilidade de um motim,
ele apenas queria saber até onde iria a vontade daqueles piratas.
- Mas eles não tem o que nós temos - Hoseok afirmou, trocando olhares
com os demais. - Um líder.
- E até onde estão dispostos a ir com isso?
- Até o fim - Namjoon afirmou oferecendo a mão.
Jungkook aceitou de imediato e mirou nos olhos de cada um, antes de
comunicar:
- Faremos o seguinte...
***
Alguns Ômegas conseguiram fugir do domínio dos piratas e pularam do
navio. Eles nadaram juntos tentando chegar na margem, sendo recebidos
por alguns pescadores e outros frequentadores da ilha.
Os que não conseguiram este fato, ainda sofreram nas mãos dos
desprezíveis piratas. A farra seguiu pela terceira noite adentro, e perdurava
pela madrugada. Com a escassez de bebida, os piratas tornavam-se ainda
mais desequilibrados e miravam suas atividades em mais atos de violência,
uns contra os outros, e contra os Ômegas.
Alma Negra quase destruiu a porta ao sair da cabine, e agarrou o pescoço
do primeiro marujo que encontrou.
- Vão buscar mais bebidas! - O Capitão exigiu. - Sid?! Onde está, seu
inútil?!!
O contramestre subiu pela escotilha da proa, correndo para atender seu
mestre:
- Sim, Capitão?
- Leve um grupo consigo e traga mais bebida.
- Não temos moedas. Precisamos fazer algum saque, Capitão. - Sid
sugeriu.
Alma Negra sacou sua pistola e mirou no peito do contramestre.
- É desse jeito que você vai trazer mais bebidas. Diga que Alma Negra
solicita alguns barris, se alguém for burro o bastante para negar, mate.
- Sim, senhor - Sid engoliu em seco e respondeu com voz trêmula. Em
seguida ele ordenou: - Vocês aí do convés, desçam alguns botes. Hoseok,
você também vai.
- Eu vou no lugar dele - Jungkook se ofereceu.
- Não é você quem decide isso, garoto - Sid negou.
- Deixe-o ir - Alma Negra ordenou e logo depois dirigiu-se para sua
cabine. - O garoto é um lúpus, colocará medo em quem ousar se abster em
entregar as bebidas.
Quando Sid virou-se para entrar em um dos botões, Jungkook puxou
Hoseok em segredo e sussurrou para que apenas ele e Namjoon, que estava
ao lado, ouvissem:
- Façam como combinamos.
- Mas Jungkook...
- Façam!
O jovem lúpus girou na direção dos botões e desceu junto aos demais
bucaneiros.
- O que ele está fazendo? - Jared questionou.
- Foi no meu lugar - Hoseok respondeu. - É melhor abortar o motim.
- Não - Namjoon determinou. - Façam como Jungkook disse. O plano
segue.
Os piratas assentiram e cada um se posicionou no lugar onde Jungkook
determinou. Hoseok, Scott, Sven e Jared foram para os canhões, enquanto
Namjoon subiu até o convés superior.
Capitão Alma Negra voltou para a cabine onde seu Ômega o aguardava.
Alguns minutos após a visita dos infames piratas às tabernas da ilha,
mediante a violência e bestialidade dos bucaneiros, ninguém ousou desafiar
as ordens de Alma Negra, principalmente quando diante de um lúpus
portando duas letais adagas.
Assim que os piratas encheram os botes com barris cheios de rum e
tequila, eles remaram de volta para o navio.
Hoseok estava diante dos canhões superiores, seus olhos atentos à
movimentação dos piratas na margem. Quando os barcos estavam a uma
certa distância do Black Swan, ele esperou até que estivessem na mira.
- Fogo! - Hoseok vociferou. Ele, Jared, Scott e Sven dividiram-se e
acenderam cada pavio.
Os canhões dispararam simultaneamente e atingiram os botes cheios de
piratas e barris. Jungkook não sofreu nenhum dano pelo fato de ter saltado
do barco segundos antes de Hoseok ter dado a ordem.
O barulho dos disparos chamou a atenção de Alma Negra, que se divertia
com o desafortunado Ômega. Ele tentou abrir a porta, mas Namjoon saltou
de cima do convés superior e trancou-a pelo lado de fora.
- Vermes miseráveis, o que estão fazendo?! - O Capitão rosnou chutando
a porta.
Alguns piratas que permaneceram no navio, surgiram pelas escotilhas
armados com seus punhais, machados e espadas. Hesitaram ao ver Hoseok,
Namjoon, Sven, Scott e Jared também armados e em posição de ataque.
- É um motim, Capitão! - Matt bradou. - Estão tentando tomar o navio!
- Abram essa maldita porta! - Alma Negra rugiu.
Ginny tentou atender a ordem do Capitão, mas Namjoon direcionou sua
espada contra ela e a Alfa recuou. Apesar dos piratas que explodiram nos
botes, outros bucaneiros surgiram tomando suas posições.
Alguns eram fiéis ao Capitão e se opuseram à rebelião. Outros, puseram-
se a puxar suas armas e ficaram ao lado dos agitadores, quando o combate
teve seu início pela espada impetuosa de Jerome.
Após vários socos a porta da cabine foi destruída. Todos os piratas
paralisaram ao ver a imagem do Capitão de pé no umbral. Ele segurava uma
pistola em uma mão e uma espada na outra. Seus olhos estavam vermelhos
e de sua garganta ouvia-se um rosnado profundo e furioso.
- Estamos do seu lado Capitão! - Alguns bucaneiros gritaram com medo
de serem atingidos por ele. - Estamos do seu lado!
O anúncio não foi considerado. Alma Negra ergueu sua arma e disparou
contra todos que estavam em seu caminho. Scott e Sven juntos atacaram o
grande lúpus, mas ambos foram lançados ao chão quando o pirata mais
velho lançou sua espada contra eles.
Enquanto a luta se desenrolava no piso do convés, os agitadores e até
mesmo os aliados de Alma Negra buscavam se afastar do velho lúpus, mas
o pirata conseguia alcançá-los agitando sua espada ou disparando com sua
pistola.
Enquanto isso, Jungkook diminuiu a distância entre ele e o Black Swan
nadando incansavelmente. Quando chegou rente ao casco, ele subiu através
das cordas que pendiam lateralmente na embarcação.
Um pirata surgiu na mureta e sorriu alucinado quando o viu subindo
pelas cordas. Ele usou uma faca e começou a cortar os cabos. Ao ver o que
o pirata pretendia, Jungkook puxou seu punhal e o lançou no meio das
sobrancelhas do bucaneiro, que instantaneamente caiu morto de costas no
chão.
Assim que chegou no alto, Jungkook pulou para dentro do navio. Chutou
um Beta que caiu na sua frente e puxou suas duas adagas, pronto para entrar
no embate.
Alma Negra lançava sua espada contra Jared e quase o acertou, se não
fosse por Namjoon tê-lo defendido com um escudo feito com os destroços
da porta da cabine. O Capitão rugiu e lançou um caixote em sua direção,
mas Namjoon desviou sendo amparado por Sven.
Hoseok disparava contra os aliados de Alma Negra. Sempre que a
pólvora em suas armas chegava ao fim, ele puxava outras duas pistolas em
uma velocidade impressionante, que mal dava tempo de os piratas o
atacarem.
Alma Negra girou com toda a sua fúria contra Sven e Namjoon, mas o
que encontrou em seu caminho foi um jovem Alfa com a mesma coloração
avermelhada em seus olhos.
- Você vai me matar, Jungkook? - O pirata gargalhou. - Está na hora de
ensinar-lhe uma última lição!
O Capitão rugiu insano e lançou sua espada com toda fúria contra o mais
novo. Jungkook ergueu as adagas e interceptou o ataque. Alma Negra o
empurrou e girou o corpo tentando golpeá-lo lateralmente, mas Jungkook
novamente conseguiu se esquivar e lançou a ponta de uma adaga contra o
abdômen do velho pirata.
Alma Negra pulou tropeçando para trás e só teve tempo de se jogar no
chão ao lado, quando Jungkook ergueu as duas adagas e cravou-as no chão,
poucos segundos antes de onde Alma Negra estava.
Enquanto tentava se reerguer, Alma Negra foi chutado pelo lúpus mais
novo e caiu de lado, tentando apoiar-se em uma das mãos. Quando
Jungkook se aproximou, o Capitão volveu sua espada e rasgou a carne da
perna do jovem pirata, que caiu com um joelho no chão.
O Capitão se levantou rapidamente, segurou no cabo da espada com
apenas uma mão e lançou seu último ataque contra o mais novo, que ainda
estava apoiado no chão sobre o joelho da perna machucada.
Jungkook defendeu-se de um pirata que chegou covardemente para atacá-
lo, suspendendo a adaga da mão esquerda para atravessar seu coração. Com
a mão direita, ele ergueu a outra adaga e decepou a mão de Alma Negra que
empunhava a arma.
A espada caiu no chão e Alma Negra tombou para o lado, segurando o
seu punho dilacerado. Ele apoiou-se na mureta da embarcação e rugiu tão
alto e colérico, que os mastros estremeceram. Jungkook ergueu-se do chão e
avançou contra o velho Capitão, lançando-o para fora do navio.
Os piratas prostraram-se ao lado do navio para ver Alma Negra sendo
puxado para o fundo do navio pelas correntes marítimas.
- Conseguimos! - Namjoon recebeu o lúpus com um forte abraço e os
demais piratas gritaram festejando a vitória.
Hoseok puxou a última pistola com pólvora e a descarregou atirando para
o alto.
- Precisamos comemorar! - Dojun sugeriu e foi bem aceito pela maioria.
- Não. Vamos escolher nosso Capitão, primeiro - Jared supôs.
- E vocês ainda tem dúvidas? - Hoseok perguntou. - É claro que é o
Jungkook!
- Ele é muito jovem para ocupar tal cargo - Minah afirmou.
- Eu tenho o dobro da idade dele - Bill Lee concordou com a pirata.
- O dobro da idade mas não consegue fazer nem um décimo do que ele é
capaz - Namjoon argumentou. - Vamos votar.
- Eu voto no Jungkook - Jared ergueu a mão.
Scott e seu irmão fizeram o mesmo. Sendo seguidos por outros piratas. E
a grande maioria ergueu as mãos direcionando seus votos ao jovem lúpus.
- Temos um resultado, então - Namjoon afirmou. - A partir de hoje, Jeon
Jungkook é o Capitão do Black Swan - Ele fez uma pausa olhando nos
rostos dos que não votaram em Jungkook - A não ser que algum de vocês
queira demonstrar com suas espadas, que são melhores do que ele.
Os bucaneiros olharam para o lúpus, Jungkook inclinou a cabeça para o
lado esperando alguém se atrever a lutar com ele, mas os piratas apenas
assentiram, respeitando a decisão da grande maioria.
- Qual sua primeira ordem, Capitão? - Hoseok perguntou.
Todos se prostraram ansiosos. Jungkook estudou todo o piso da
embarcação, ele viu uma pequena movimentação na proa e comandou em
voz alta:
- Levem os Ômegas de volta a Nabuco.
- Não deveríamos comemorar? - Junseo bradou. - Vamos aproveitar que
os Ômegas ainda estão aqui.
Alguns bucaneiros gritaram vibrantes com a sugestão.
- Não. - O silêncio se instaurou quando ouviram a negativa do Capitão
Jeon. - Se vão mesmo permanecer nessa tripulação, terão de se adaptar às
novas regras - Ele caminhou entre os piratas olhando nos olhos de cada um
e cessou os passos para continuar: - Estupros não serão tolerados, eu não
aceito insubordinação e muito menos traição. A punição para quem
desobedecer qualquer uma das regras citadas, será a prancha! - Os piratas
entreolharam-se mas ninguém disse nada. Jungkook continuou: - Todos os
saques serão repartidos igualmente entre todos. Qualquer um terá direito a
opinar quanto as decisões, mas a palavra final sempre será a minha.
Capitão Jeon esperou algum bucaneiro se manifestar contra. Como
ninguém teve coragem de argumentar qualquer palavra contrária, ele
deliberou:
- Hoseok e Jared, levem os Ômegas de volta a Nabuco.
Os dois piratas assentiram e prepararam os botes que restaram, ajudando
os Ômegas a embarcarem.
- Namjoon - O Capitão chamou o alfa e apontou para a cabine.
- Capitão?
Jungkook sorriu.
- Todo navio precisa de um contramestre.
Namjoon sorriu assentindo e o acompanhou. Quando Jungkook entrou na
cabine, viu um Ômega sentado na cama, e este encolheu-se ainda mais
quando viu os alfas entrarem no quarto.
Jungkook se aproximou devagar, agarrou as roupas do Ômega no chão e
jogou-as para ele. O garoto pegou as roupas e vestiu sem tirar os olhos de
ambos os alfas. Assim que se vestiu completamente, o Ômega ficou de pé,
com os ombros encolhidos e esperando pelo que viria.
O Capitão abriu a porta inteiramente e com um movimento de cabeça,
indicou para que o Ômega saísse. Mas ele não saiu. Ao invés disso, ele
ficou parado diante do Capitão, sentia muito medo naquele momento, mas
ainda conseguiu criar coragem para pedir:
- Deixe-me ficar na sua tripulação?
- Ômegas não podem ser piratas. - Namjoon afirmou, rindo.
- O maior pirata da história foi um Ômega.
- Um forte Ômega lúpus - Namjoon corrigiu. - Você é uma coisinha
pequena.
O Ômega não deu atenção a Namjoon, voltando sua atenção para o
Capitão:
- Eu posso não ter habilidades com lutas, mas posso limpar o navio! Veja
como ele está imundo. Aposto que a tripulação não gosta de fazer isso.
O Capitão ouvia os argumentos do Ômega ao passo que se distraia com
seus olhos cor de amêndoas. Ele era realmente muito lindo, foi quase um
pecado ter passado pelas mãos imundas e violentas de Alma-Negra.
- Qual seu nome? - O Capitão quis saber.
- Sungjae.
Jungkook o estudou por um tempo. Não precisava de um Ômega para
limpar o navio, os próprios Alfas e Betas podiam fazer isso, mesmo não
gostando da ideia. Porém, o maldito lobo dele era fortemente atraído por
Ômegas corajosos, e aquele pequeno falava com a cabeça erguida, ao
contrário dos demais Ômegas que fugiram correndo quando tiveram a
oportunidade, lhe chamou a atenção.
- Muito bem, Sungjae. Eles fizeram a maior porqueira no convés - o
Capitão estava se referindo a festa dos piratas de Alma Negra. - Pegue um
balde e o esfregão. Ao trabalho!
O Ômega respirou profundamente aliviado. Não iria mais precisar vender
seu corpo para obter dinheiro. Eles eram piratas. Piratas que roubam muitas
quantidades de moedas. Um dia, quando tivesse a oportunidade, Sungjae
poderia deixar o navio e seguir sua vida livremente.
Sungjae correu até o porão em busca de um esfregão. Ele subiu de volta
para o convés e nunca fez uma faxina tão feliz da vida.
Na cabine, Jungkook pegou alguns mapas e os colocou em cima da mesa.
O lupus estudou alguns lugares e um pedaço de pergaminho surgiu em sua
visão. Ele pegou o fragmento para olhá-lo mais de perto, sem compreender
o que estava escrito.
- Se tivéssemos todas as partes, talvez poderíamos desvendar o mistério
por trás desse mapa - Jungkook afirmou. Ele pegou uma vela e colocou o
pedaço de papel contra a luz.
- Não adianta, Capitão. - Namjoon disse. - Já tentamos de tudo. É
impossível saber o que está escrito aí.
- Talvez se conseguirmos um bom navegador... - O Capitão pensou em
voz alta.
Namjoon sorriu assentindo. Ambos estudaram os mapas e traçaram a
próxima rota.
Assim que saíram da cabine, os piratas buscaram por novas ordens.
- O que faremos agora, Capitão? - Jared indagou.
- Vamos saquear pequenos vilarejos e recrutar mais Alfas e Betas para a
tripulação. Alcem a âncora, icem as velas! Eu vou assumir o leme. - O
Capitão ordenou subindo para o convés superior. - Nós vamos para a
Coréia.
A notícia foi bem recebida pelos bucaneiros, que gritaram eufóricos pelo
novo destino traçado.
- O que estão esperando?! - Namjoon rugiu. - Ao trabalho!
Os piratas correram pelo convés, para cumprir a ordem determinada pelo
Capitão. A âncora foi erguida e as velas negras soltas ao vento.
Quando o navio chegou em alto mar, os corpos de alguns bucaneiros
mortos foram lançados no oceano, e a embarcação ganhou velocidade com
as fortes rajadas de vento favoráveis, levando o Black Swan de volta à
Coréia.

Seokjin

O pôr do sol já não é mais o que era antes. Até mesmo os pássaros mais
alegres pareciam estar cantando de um jeito mais melancólico. Uma semana
após a última homenagem à sra. Kim, e as flores do seu jardim começaram
a morrer, pela falta de cuidados.
A residência estava quase completamente silenciosa, se não fosse pelo
barulho de alguns vasos de porcelana quebrando, toda vez que o sr. Kim
chegava em casa completamente embriagado e esbarrando nos móveis.
- Jin?! Onde você está?! - Pela falta de resposta, o velho Alfa rosnou
irritado e largou o corpo no sofá, esperando o único filho chegar.
Mas naquela noite Seokjin não retornaria para casa. Era de sua
preferência permanecer no hospital em que trabalhava mesmo após seu
horário de expediente, ao ter de aguentar as discussões com o pai bêbado.
Desse modo ele ia ser mais útil, e sua saúde mental seria preservada.
- Não amarre tão forte, Andy - Seokjin aconselhou seu ajudante. - Pode
comprometer a circulação sanguínea desse membro.
- Sim, senhor - Andy assentiu.
Após imobilizar o braço fraturado de um beta, o Ômega ajudante
acompanhou o paciente até seus familiares e informou as condições em que
teriam de cuidar daquela lesão.
- Esse foi o último. - O Ômega avisou.
Seokjin suspirou frustrado. Isso significava que ele teria de voltar para
casa e encontrar aquele Alfa. O seu pai.
- Eu vou ficar. - O médico afirmou.
- Outra vez? Não temos nenhum paciente em espera. Devia ir para casa
descansar.
- Acredite, Andy, estarei mais descansado se eu ficar.
- Então eu também vou ficar.
- Tem certeza?
O Ômega assentiu com a cabeça.
- Além do mais, eu gosto de aprender com o senhor.
Seokjin sorriu encantado com o entusiasmo do jovem Ômega.
- Certo. Então sente-se nessa cadeira, porque eu vou te ensinar coisas que
não estão no cânone da medicina.
Os olhos de Andy brilharam e ele fez como o mais velho disse.
Era seu grande sonho ser um curandeiro como Seokjin, mas pela sua
natureza Ômega, nunca lhe foi permitido tal realidade. Logo, a forma mais
próxima com que ele conseguiu realizar esse sonho, era sendo ajudante de
um médico.
Seokjin o ensinou vários artifícios medicinais utilizando ervas, sementes
e outros recursos naturais como auxílio no tratamento de certas moléstias, e
até mesmo na contenção de algumas dores mais leves.
Ambos estavam distraídos em uma agradável conversa, quando gritos
foram ouvidos no andar térreo do prédio hospitalar. Eles correram na
direção em que ouviram uma pequena aglomeração de pessoas e viram um
Ômega na frente de todos, carregando uma pequena Alfa nos braços.
- Doutor, salve a minha garotinha! - O Ômega implorou com lágrimas
nos olhos.
- Coloque-a nesta sala - Seokjin informou e perguntou ao pai da criança:
- O que aconteceu?
- E-eu não sei. Ela estava brincando e de repente começou a vomitar e
sentir uma forte dor na barriga.
- Dói muito! - a Alfa exprimiu. - É como se houvesse uma lâmina me
rasgando por dentro.
O Ômega ajudante do médico viu a menina com as mãos travadas em
certa parte da barriga e tentou retirá-las, mas a Alfa gritou ainda mais.
- Não a toque - Seokjin ordenou e o Ômega afastou-se dando espaço ao
Beta. O médico examinou a pequena alfa e logo chegou a um diagnóstico: -
É a doença do lado. (Apendicite aguda)
Andy olhou para o médico com espanto. O Ômega pai da criança
percebeu a troca de olhares e entrou em desespero.
- O que é isso? Ela vai morrer?! Por favor, doutor, salve a minha filha!
- Eu vou operá-la - Seokjin determinou. - Andy, você vai me ajudar.
- Mas doutor-...
- O que estão falando? - O pai da menina os interrompeu. - Por que não
estão fazendo nada?
- Por favor, espere lá fora - O médico solicitou.
- Não deixe a minha pequenina morrer! - O Ômega pediu e logo em
seguida saiu, sendo amparado por familiares e amigos.
- Seokjin, você vai mesmo abrir essa garota? - Andy perguntou alarmado
ao ver o Beta separar alguns itens que iria precisar. - Você já fez isso antes?
- Já... - Seokjin pigarreou e corrigiu-se: - Estudei o cadáver de um
homem que morreu com essa mesma doença.
- Não é a mesma coisa. Isso é loucura!
- Isso é medicina - o Beta retrucou. - Agora traga um pouco de ópio.
Andy negou com a cabeça mas foi em busca do que o médico pediu.
- Eu vou morrer? - a alfa perguntou com a voz trêmula, tentando suportar
a dor. Seokjin apenas a observou com o cenho franzido. Não teve uma
resposta concreta para aquela pergunta. A menina tomou algumas
respirações e continuou com certa dificuldade: - Eu não posso morrer, meu
pai ficará sozinho.
Neste momento, Andy retornou trazendo o remédio consigo. Seokjin
recolheu o pequeno frasco e se aproximou da menina:
- Isso vai fazer você dormir um pouquinho - A criança aceitou o
conteúdo. - Qual é o seu nome?
- Anne.
- Eu não sei dizer se você vai morrer, Anne. Não me foi dado tal
conhecimento. Mas eu farei o possível para salvar você.
A pequena Alfa assentiu. Seokjin permaneceu ao lado enquanto os
sentidos da garota eram adormecidos gradativamente, até ela perder a
consciência.
- Seokjin-... - O Ômega ainda tentou, mas foi interrompido pelo médico.
- Não posso fazer isso sozinho, Andy. Mas se você for apenas atrapalhar,
saia.
O Ômega olhou para a garota desacordada, pegou uma tesoura e cortou
suas roupinhas na parte do torso.
Após toda a preparação e cuidados, Seokjin respirou fundo e abriu a
barriga da menina. Ele buscou pelo lugar onde a moléstia se manifestava
mas teve dificuldade devido a grande quantidade de sangue, diferentemente
do cadáver em que manuseou em seus estudos.
- Sinais vitais? - Seokjin perguntou mantendo sua atenção no interior da
incisão.
- Respiração lenta, mas o coração está acelerando.
Foi longa a procura. Seokjin manteve-se estável durante todo o momento.
A garota quase acordou em alguns momentos, mas Andy a sedou em todas
as vezes.
- Bisturi. - O médico solicitou quando encontrou a fonte daquela
condição.
Por insistência do pai da criança, Andy permitiu que o Ômega entrasse
enquanto Seokjin passava as ataduras. Assim que viu o Ômega se
aproximar, ele explicou:
- Ela precisa descansar. Não temos certeza de que sobreviverá.
- Eu só queria vê-la.
Seokjin anuiu e deixou o pai com a menina durante algum tempo.
***

O médico estava sentado no chão e com as costas apoiadas na parede. Suas


pálpebras estavam pesadas e os olhos se fechavam a cada instante.
- Devia ir para casa, Jin - O Ômega ajudante sugeriu. - Você está muito
cansado, precisa descansar.
- Estou bem, não se preocupe.
- Tudo bem, mas e como os pacientes ficam? No estado em que você se
encontra não consegue diagnosticar nem mesmo uma lepra.
Seokjin bocejou e passou as mãos nos olhos.
- Você tem razão. Eu estou exausto. Tomara que aquele Alfa não estava
em casa... - A última frase foi dita em tom muito baixo e o Ômega não
escutou.
- O que disse?
- Nada. Até mais tarde.
- Até, Jin.
O Beta seguiu do hospital diretamente para casa. Era cedo pela manhã e
Seokjin imaginou que talvez seu pai estivesse jogado em qualquer parte da
casa, ou quem sabe no quarto dormindo. Caso tivesse conseguido subir as
escadas.
Seokjin tomou um longo banho e largou seu corpo no colchão macio. Ele
perdeu a consciência poucos minutos. Sonhou que estava no jardim com
sua mãe, ajudando a cuidar das plantas.
Foi acordado por seu estômago faminto. Ele desceu as escadas até a
cozinha e assustou-se ao ouvir seu pai resmungando naquele cômodo.
- Ah, então você resolveu dar o ar de sua graça - O Alfa disse assim que
viu o filho.
- Bom dia, está com fome? - Seokjin tentou ser gentil. - Vou peg...
- Bom dia só se for para você! - Sr. Kim o interrompeu com ignorância,
massageando as têmporas. - Minha cabeça vai explodir.
- Há algumas ervas no jardim. Eu vou buscá-las e fazer um chá para o
senhor.
- Não vai trazer feitiçaria para dentro da minha casa! - O mais velho
bradou lançando uma xícara na parede. Ele estremeceu com o barulho e
encolheu os ombros. - Onde esteve essa madrugada?
- No hospital.
- Virou a sua casa, agora? Fica no meio daqueles moribundos, arriscando
trazer alguma maldita doença. Se eu pegar lepra eu mato você.
Seokjin respirou fundo e saiu para o jardim para tomar um pouco de ar.
Na presença do seu pai era quase impossível respirar. Ele o sufocava com
suas palavras, sempre agressivas e maldosas.
Sentiu tristeza ao ver todas as flores murchas. E observando-as, Seokjin
lamentou o quanto era tênue a linha entre a vida e a morte.
Não querendo suportar a presença do seu pai nem por mais um segundo,
o Beta voltou ao hospital mais cedo do que pretendia. Visitou alguns
pacientes e sorriu ao ver que Anne estava se recuperando bem. Aquilo pelo
menos alegrou o seu dia.
Enquanto atendia um paciente que estava perdendo sua visão, ouviu o
barulho de uma confusão vinda do lado de fora e se alastrando para dentro
do hospital. Andy correu até onde o médico estava e com voz pesarosa ele
comunicou:
- Seu pai está aqui. Ele está completando embriagado.
As pupilas de Seokjin se dilataram e a sua frequência cardíaca aumentou
drasticamente. Ele deixou o paciente aos cuidados do Ômega e desceu para
tentar impedir o seu pai de destruir aquele lugar.
- Quem ousar tocar-me, eu mato! - sr. Kim rosnou segurando uma garrafa
de vidro quebrada.
- Pai, volte para casa. - Seokjin afirmou com voz calma, porém firme.
- Aí está! O filho que prefere estar acompanhado de uma corja de
desconhecidos do que com o próprio pai! Engraçado, se acha um deus
curando esses malditos. Mas é um inútil que foi incapaz de salvar a própria
mãe!
- Coloque essa garrafa no chão.
- Você não manda em porra nenhuma - Sr. Kim rosnou. Dois médicos se
aproximaram à esquerda, na tentativa de desarmá-lo, mas o Alfa percebeu e
girou a mão com a garrafa tentando atingi-los: - Afastem-se!
Seokjin pegou uma vassoura, e num ato completamente arriscado, ele
lançou o lado das cerdas contra a mão do pai. O sr. Kim deixou a garrafa
cair no chão, os médicos se aproveitaram da ocasião e conseguiram conter o
Alfa.
- Chamem os guardas! - Um dos médicos anunciou.
Em pouco tempo a baderna foi dispersada quando o Alfa bêbado foi
levado para fora do hospital. Seokjin se colocou a recolher todos os cacos
de vidro da garrafa, mas parou ao sentir a mão em seu ombro.
- Deixe que Andy faça isso - um outro médico afirmou. - E não precisa
ficar aqui hoje.
- Eu prefiro ficar.
- Você está abalado, eu posso ver isso. Mesmo que tente se manter calmo.
Seokjin assentiu. Ele não queria deixar o hospital, era o único lugar em
que conseguia se sentir útil, e não pensar em como sua vida havia
desandado desde que sua mãe morrera. Mas nada podia fazer, aquele era
seu superior.
O Beta perambulou pelas ruas da cidade, sem um destino certo. Ele ouviu
quando algumas crianças comentaram que havia um navio pirata na costa.
Imediatamente ele se lembrou do seu irmão mais novo, que partiu para
trabalhar em um navio mercante quando tinha quatorze anos.
Foi com esse pensamento que Seokjin decidiu que faria uma visita a
família de pescadores que criou seu irmão durante a infância.
A casa era pequena e simples, como as demais da periferia. Mas o Beta
sentiu-se confortável assim que se aproximou da porta. Aquele lugar lhe
trazia um sentimento nostálgico da época em que a Sra. Kim o trazia para
visitar o seu irmão.
Seokjin bateu na porta e foi recebido por Madalena, a dona da casa.
- Oh, venha ver, marido. É o Jin! - A Ômega o abraçou. - Como você
está? Faz tempo que não o vemos. Entre.
- Com licença...
Seokjin entrou e apertou a mão de Jaekwon, o Alfa esposo de Madalena.
- Você chegou em um ótimo momento - Jaekwon afirmou apontando para
um dos quartos. - Vá...
O Beta franziu o cenho, mas seguiu desconfiado para o cômodo indicado
pelo mais velho. Antes mesmo de entrar, notou que havia um Alfa de costas
para ele, vestido inteiramente de preto.
- Você fala tão alto que eu ouvi sua voz daqui - O Alfa pronunciou. Ele
virou-se devagar e quando ficou de frente para Seokjin, abriu um grande
sorriso vendo a cara de espanto do Beta. - Que foi? Parece até que viu um
fantasma.
Seokjin correu até o irmão e o abraçou fortemente. Ele respirou
profundamente e fechou os olhos ao inalar aquele inconfundível perfume de
rosas.
- Cinco anos, Jungkook!? - A voz retornou a garganta do Beta. - Você
esperou cinco anos até voltar e visitar sua família?!
O Alfa se afastou, coçando a cabeça.
- Eu estive ocupado...
- E o que você estava fazendo, afinal? _ Seokjin estudou o irmão e
arregalou os olhos ao notar as armas que carregava. - Você se tornou um
pirata?
- Sim.
- Oh, céus - O Beta parou para respirar um pouco. Ele voltou a falar
quando lembrou-se de algo: - A nossa mãe...
- Eu sei. Como aconteceu?
- Contraiu a peste branca. (Tuberculose)
- E o seu pai?
Seokjin hesitou antes de responder:
- Conseguiu o ato incrível de se tornar uma pessoa pior. Os vícios dele só
aumentaram. Está mais violento... ele invadiu o hospital ainda hoje.
- Por que insiste em continuar aqui? Não há nada para você nesse lugar.
- E para onde eu iria?
- Venha comigo.
- M-mas assim? De repente? Me tornar um... pirata? Sem ofensa.
- Não ofendeu.
- Desculpe... não posso.
Jungkook ouviu uma movimentação e seguiu até a sala, onde encontrou
um membro de sua tripulação tomando chá com Madalena.
- A senhora é muito gentil - O pirata afirmou com um sorriso. - E esse
chá está delicioso.
- Hoseok? - O lúpus indagou confuso.
- Capitão! - O Alfa se assustou, mas sua expressão logo mudou para uma
surpresa quando viu Seokjin ao lado dele. - Oh, eles se parecem mesmo.
Bem que a senhora disse.
- E não é? - A Ômega riu.
- Por que está aqui? - Jungkook cortou o assunto.
- Já fizemos o... - O pirata estava se referindo aos saques, mas hesitou
devido aos pais adotivos de Jungkook: - Aquilo que viemos fazer aqui. A
tripulação está voltando para o navio.
Capitão Jeon assentiu, depositou um saco de moedas em cima da mesa e
disse ao seu pai:
- Compre um barco e redes melhores. - Ele girou para Seokjin: - Está
certo de sua decisão?
- Sim.
Jungkook nada pode fazer a não ser aceitar a escolha do seu irmão. Para
ele, Seokjin iria definhar aos poucos se permanecesse na companhia funesta
do próprio pai. Mas era uma decisão que cabia apenas a Seokjin.
O Capitão Jeon despediu-se de seus pais adotivos e de Seokjin, e rumou
com Hoseok a caminho do cais.
***
Os piratas estavam organizando as cargas dentro dos botes, para
transportá-las até o navio. Jungkook foi o último a subir em um dos barcos,
quando ouviu de longe a voz do seu irmão:
- Jungkook! - Seokjin gritou correndo pela praia.
- Esperem - O Capitão ordenou.
O Beta chegou até onde eles estavam quase colocando os pulmões para
fora. Ele segurava uma maleta e recuperou o fôlego antes de perguntar:
- Ainda há uma vaga para mim nesse barquinho?
- Minah, vá para o outro bote. - Capitão Jeon disse a Alfa que ocupava
um lugar no mesmo bote que ele. Jungkook indicou o espaço que ficou
vazio ao seu lado. - Sente-se aqui, Seokjin.
Assim que os botes chegaram no Black Swan. As cargas foram levadas
ao porão e o Capitão apresentou o mais novo membro a tripulação:
- Este é Seokjin. Ele será o médico do navio.
- Sabe doutor, eu estou com uma dor bem aqui... - Um dos piratas se
aproximou, com a mão na região íntima.
- Isso acontece porque ele enfia esse pau murcho em qualquer buraco que
encontra no navio - Jared comunicou.
- Cale-se! Eu não falei com você!
Uma pequena discussão iniciou-se, Seokjin pigarreou alto:
- Eu vou examinar cada um de vocês. Há algum lugar onde eu possa
fazer isso em particular e com calma?
- Bom, tem as cobertas inferiores, que é onde dormimos - Hamin contou.
- O porão de carga, a cozinha...
- Claro, Hamin - Jared riu com ironia. - Porque o médico vai examinar
esse teu pau mole bem onde eu preparo a comida!
Seokjin revirou os olhos e respirou fundo.
- Eles são assim trinta horas por dia - Um pirata anunciou. - E só param
quando estão dormindo.
- Mas um dia só tem vinte e quatro horas - Seokjin afirmou.
O pirata começou a contar nos dedos.
- É melhor se acostumar, você vai ouvir coisas bem piores - Um outro
pirata se aproximou. - A propósito, sou Namjoon.
Seokjin sorriu para o pirata e ofereceu-lhe a mão para um cumprimento
um pouco mais caloroso.
- Onde fica o dormitório?
- Por aqui... - Namjoon indicou o caminho para o médico.
***
O médico recebeu cada membro da tripulação separadamente. Ele ficou
satisfeito ao concluir que nenhum dos piratas estava com alguma doença
grave e transmissível.
Quando o último bucaneiro foi examinado, Seokjin esticou as costas e
decidiu dar uma volta pelo convés, para se adaptar melhor ao novo estilo de
vida. Haviam poucos piratas circulando entre a meia-nau, a maioria deles se
encontrava na popa, jogando cartas.
O Beta caminhava distraído, observando os enormes mastros que
suportavam todas aquelas velas. Ele admirou por algum tempo a brilhante
engenharia de um navio.
- Inferno! - Uma voz irritadiça chamou sua atenção e ele seguiu mais a
frente, até a proa.
Um alfa estava mexendo em um apetrecho na frente da embarcação. Era
Namjoon, o contramestre. Sua cara de bravo indicava que estava tendo
problemas com aquele instrumento.
- Olá? - O médico chamou.
- Olá, o que faz aqui? - O pirata se levantou limpando as mãos.
- Só dando uma volta... e você?
- Tentando consertar a âncora - Ele mostrou certa parte do aparelho. -
Aqui nesta parte interna é onde onde os aros da corrente se acomodam...
desculpe, você não deve se interessar por isso.
- Ah, não... continue. Eu quero ouvir a sua explicação.
Namjoon sorriu assentindo.
- Você bebe rum? - O médico franziu o cenho e negou com a cabeça. -
Vinho? - Seokjin assentiu. - Espere aqui.
Namjoon ausentou-se por alguns minutos, mas logo retornou trazendo
uma garrafa de vinho e duas canecas. Ele serviu a ambos e voltou a contar
como funciona a estrutura de uma âncora.
A partir desse dia, tornou-se um hábito para ambos passar longas horas
na companhia um do outro, na proa do Black Swan, tomando vinho e
conversando alegremente.

Junbuu
O palácio da família real estava mais movimentado do que de costume. A
chegada do Imperador do Japão mobilizou a morada da Rainha pelo menos
algumas semanas antes da chegada do monarca.
Tudo deveria estar impecável, por isso, mais servos foram contratados
para ajudar na preparação das formalidades. Floristas entravam e saíam com
carroças cheias de arranjos e dividiam-se entre o enorme jardim e o palácio.
A cozinha era o local mais exigente de todos. Os alimentos eram os de
melhor qualidade e o manuseio dos ingredientes era feito com todo o
cuidado. Se um simples ramo de tomilho caísse no chão, era motivo para o
cozinheiro chefe esbravejar nos ouvidos dos ajudantes.
- Imprestáveis! - Junbuu gritou cravando a faca numa tábua. - Pedi que
me trouxessem assistentes e o que me deram foi uma legião de burros!
- Não precisa falar com eles desse jeito - Um Alfa segundo no comando
afirmou.
- Escute aqui, seu merdinha - Junbuu se aproximou movimentando a faca
afiada. - Quem manda nesta cozinha sou eu. Ou você aceita ou tira esse seu
traseiro atrevido aqui!
O Alfa engoliu em seco ao ver a ponta da lâmina apontada para si.
- Precisamos terminar esse banquete.
Os demais cozinheiros e ajudantes assentiram e voltaram ao trabalho.
Sempre recebendo gritos do velho Beta.
Assim que terminaram os preparativos para a cerimônia inicial, um dos
supervisores chamou Junbuu em um canto para lhe informar sobre as
queixas recebidas.
- Desse jeito não pode continuar - o supervisor informou. - Pode pegar
suas coisas e vá embora.
Junbuu permaneceu alguns segundos aéreo, sem entender o que estava
acontecendo. Depois de anos trabalhando na cozinha do palácio real, ele
simplesmente foi demitido por um Beta que não sabia ao menos fritar um
ovo.
- Então é isso o que eu recebo depois de anos de dedicação... - Junbuu
pensou em voz alta.
- Como disse?
- Tire o ouvido do cu, que você vai ouvir!
- É justamente por causa desse comportamento repulsivo, que o senhor
está sendo afastado de suas funções.
- Ah, vá tomar no seu cu! - Junbuu esbravejou e saiu derrubando tudo
que estava em seu caminho. - Eu não preciso disso!
De fato, o velho Junbuu nasceu com um verdadeiro dom para cozinhar.
Desde a despensa cheia do palácio real a um simples barril de legumes, o
Beta sabia fazer uma deliciosa refeição.
Contudo, todos os seus bons atributos não foram o suficiente para
encobrir a sua personalidade ríspida e o seu desequilíbrio para trabalhar em
equipe.
O Beta tentou ingressar em um albergue. E o resultado foi parecido com
seu emprego anterior. Ele estava na cozinha discutindo sobre a próxima
refeição, com um dos donos do estabelecimento.
- Você pode fazer creme de milho com galinha? - O Ômega sugeriu. - Os
clientes adoram.
- Sim, mas onde está a galinha?
- Ora, está no galinheiro ali nos fundos - Junbuu foi em busca da ave
enquanto o Ômega continuou falando sozinho sem perceber: - Mas pode
deixar, meu Alfa vai abater a galinha porque ele faz de modo que ela não
sofra tanto-...
O Ômega perdeu a voz quando se virou para continuar sua explicação, e
deu de cara com o Beta segurando a ave em cima da mesa. Junbuu ergueu
uma machadinha e cortou o pescoço da galinha com um único golpe.
- Aaaah! - O Ômega gritou cobrindo os olhos. - Que horror!
- Deixa de ser fresco e comece a depenar.
Junbuu jogou o animal sem cabeça para o Ômega segurar, mas ele ainda
estava com os olhos cobertos, e gritou mais uma vez quando sentiu o corpo
da ave bater contra seu peito.
- Aaaah!
A porta dos fundos foi aberta abruptamente, com um Alfa entrando logo
em seguida.
- O que está acontecendo aqui? - O Alfa perguntou puxando seu Ômega
para si.
- Olha o que ele fez - O Ômega mostrou a roupa suja de sangue. Ele
estava com os olhos cheios de lágrimas.
Junbuu estava abaixado erguendo a ave que estava no chão, e colocou-a
junto com a cabeça em cima da bancada.
- Esse Ômega é um molenga - Junbuu afirmou.
Quando ergueu a cabeça para encarar o Alfa, foi recebido por um soco
em seu olho esquerdo, que o fez girar e cair estabanado contra o chão.
- Fora daqui! - O Alfa rugiu apontando para a porta.
O Beta se levantou resmungando muito baixo e saiu sem olhar para trás.
Ele cuspiu um dente cheio de sangue enquanto seguia pelas ruas da cidade,
frustrado por ter sido demitido mais uma vez. Injustamente, ao seu ver.
- Não está vendo que eu não vou cozinhar para uma tripulação de piratas
- O velho ouviu dois Betas conversarem. Não era de seu interesse a vida
alheia, mas os dois falavam tão alto que foi impossível não ouvir: - Eles são
um bando de bastardos grosseiros e estúpidos. Não trabalho para animais...
Grosseiros e estúpidos. Aquelas palavras chamaram a atenção de Junbuu.
Em seu subconsciente elas lhe eram íntimas. Ele se aproximou dos rapazes
e os chamou para perguntar:
- Onde estão recrutando para essa tripulação?
- Há um jovem Alfa na taberna - Um dos Betas respondeu. - Acho que é
o Capitão deles.
Junbuu agradeceu e rumou para o local indicado. Alí estava um trabalho
onde o velho Beta não seria demitido por seu comportamento indelicado.
- Onde está a tripulação em busca de marujos?
Os clientes da taberna olharam para o velho e riram de sua pergunta.
Junbuu os ignorou e observou toda a extensão do local. Haviam dois Alfas
ocupando uma mesa, um deles não parecia dar atenção a ninguém ao seu
redor. Apenas tomava sua bebida e conversava com o que o acompanhava.
- Quero me juntar a sua tripulação - Junbuu afirmou assim que se
aproximou da mesa. - Sou cozinheiro.
- Vá procurar outro lugar para morrer, velho - Namjoon respondeu.
- Eu falei com o Capitão, não com seu lacaio.
- O que disse?! - Namjoon rosnou batendo na mesa.
Jungkook ergueu a mão e fez sinal para que seu contramestre se
controlasse e ele voltou a se sentar.
- Já temos um cozinheiro - Capitão Jeon informou, sem olhá-lo.
- Seu cozinheiro sabe fazer uma refeição saborosa com apenas cenouras e
ervilhas? Ou sabe como preservar a carne durante as longas viagens no
mar? A gororoba que ele deve fazer compensa os gastos?
- Ele é útil não apenas na cozinha, mas em qualquer situação - Jungkook
afirmou. - Você sabe segurar uma espada?
- Eu tenho duas mãos que podem segurar qualquer arma, e sei
exatamente como usá-las. Eu não temo a morte, Capitão - Jungkook ergueu
o olhar para encarar o Beta. - Me dê uma chance para provar que eu posso
ser útil, e se eu não superar suas expectativas pode me entregar como
alimento para os tubarões.
- Acho que isso pode ser interessante - Namjoon afirmou.
- Tudo bem, pode se juntar a nós.
Levado ao navio, o Beta cozinheiro desceu até a cozinha e encontrou
alguns Alfas tentando fazer o que parecia ser a próxima refeição. Um deles
estava cortando uma abóbora e jogava as cascas em uma caixa
- Jogue isso - Jared entregou a caixa a Sven.
- Ficou maluco, garoto? - Junbuu entrou no meio. - Vai jogar alimento
fora quando se pode aproveitar?
- Ninguém come cascas aqui, velho - Jared afirmou. Ele e o outro Alfa
começaram a rir.
O Beta se aproximou de Jared, mantendo o semblante sério e avisou:
- Eu tenho um nome, e é Junbuu. Da próxima vez que me chamar de
velho, eu sirvo a sua cabeça na próxima refeição.
O queixo de Jared caiu e Sven ergueu as sobrancelhas. Ambos
entreolharam-se mas permaneceram mudos.
Junbuu tomou a caixa com as cascas.
- Você chegou aqui agora, cara - Jared recuperou a voz. - Eu estou há
muito mais tempo. Você precisa respeitar a hierarquia.
- Você é o Capitão desse navio? - Jared negou com a cabeça. - Então suas
palavras e bosta, para mim, são a mesma coisa.
O Alfa rosnou.
- Deixa ele - Sven segurou o amigo. - Deixe-o servir cascas ao Capitão.
Ele vai conhecer a prancha antes que possa dizer parola.
Ambos os Alfas voltaram a rir do velho, que continuava tranquilo
fazendo seu trabalho e ignorando-os.
Durante a noite, Jared e Scott não cabiam de ansiedade, para ver o que o
Capitão faria com aquele velho ousado quando percebesse que ele lhe
serviu cascas na hora do jantar. Porém, até mesmo eles admitiram que
aquele arroz cremoso, que foi feito juntamente com as cascas das abóboras,
estava simplesmente magnífico.
- Essa foi a melhor coisa que eu já comi na vida - Joe afirmou, lambendo
os dedos. - Eu quero mais!
- Se for assim eu também quero! - Scott ergueu o prato.
- Até tu, Scott? - Jared indagou frustrado.
O Alfa deu de ombros e se levantou para repetir.
E assim, o velho Junbuu provou o seu valor e permaneceu no domínio da
cozinha, para a felicidade dos piratas. Incluindo Jared.

Chaerin e Dahyun

O Black Swan havia ancorado no porto de Taiwan, para reabastecer o


estoque. Os piratas aproveitaram as poucas horas que teriam para se
divertirem em terra, antes de voltar ao árduo trabalho no navio.
Próximo ao grande Império Chinês, aquele porto era um dos lugares mais
movimentados de toda a região. Perdendo apenas para a Ilha de Nabuco.
Uma Alfa entre os muitos trabalhadores que descarregavam os navios,
buscava ingressar em uma das embarcações. Mas sem nenhuma moeda nos
bolsos, sua entrada foi barrada em todos os navios mercantes.
Chaerin lamentou dia e noite desde que deixou sua vida na Coréia, para
se aventurar em busca de novas oportunidades próximo a China. Sempre foi
uma Alfa aventureira e a falta de freios a levou até a situação em que se
encontrava.
Seu próximo alvo era a Terra do Sol Nascente. Mas sem moedas, aquela
opção estava longe de se tornar realidade. Ela sentou em um caixote e
amaldiçoou cada navio ancorado no cais.
- Tomara que todos afundem e vão para as profundezas do inferno. - A
Alfa estudou as embarcações à procura do que mais parecia o primeiro que
ia conhecer o fundo do oceano.
Seus olhos pararam em um cujo a cor, desde o casco até o mais alto dos
mastros, era preto.
- E temos o vencedor - Ela riu cruzando as pernas.
- Se você derramar um grão dessa maldita pólvora-... - Um Alfa vinha
resmungando no ouvido de outro.
Chaerin observou os Alfas seguirem pelo cais, carregando caixas em
direção ao navio de velas negras. O primeiro pensamento da Alfa foi
imaginar aqueles dois piratas em desespero, assim que o navio deles
começasse a afundar no meio do Pacífico.
Em seguida, ela teve uma ideia que poderia levá-la ao destino desejado.
Ela se aproximou dos Alfas e chamou por eles:
- Estão indo para o Japão?
- Por que quer saber? - Um dos Alfas perguntou. O outro depositou o
caixote em cima do seu e a madeira rangeu. - Olha que porra você tá
fazendo!
- Isso tá muito pesado, Hoseok.
- Foda-se. - O Alfa respondeu. - Se perdermos essa carga eu vou tirar
pólvora do seu cu para alimentar os canhões.
- Tsc... Você só sabe-...
- Quero uma carona - A Alfa interrompeu a discussão.
- Olha pra gente e diz se temos cara de quem damos carona?
A Alfa estudou o bucaneiro e suspirou desinteressada, voltando sua
atenção para Hoseok:
- Eu posso pagar.
- De quanto estamos falando?
- Uhm... - Chaerin hesitou. - Com trabalho.
Os piratas entreolharam-se e riram desacreditados.
- Por que você não trabalha para conseguir algumas moedas e depois
tenta outra vez?
- Estão esperando as cargas embarcarem sozinhas? - Jungkook perguntou
ao se aproximar da rampa para o navio.
- Desculpe, Capitão - Joe respondeu. - Essa Alfa nos parou pedindo
carona.
- Mentira - Chaerin revelou. - Vocês pararam aqui porque não
aguentaram o peso dessas caixas.
- Fica na tua Alfa - Hoseok rolou os olhos. - Só estávamos calculando a
distância...
- Parem de perder tempo e embarquem logo de uma vez - Jungkook
deliberou e virou-se para voltar a Cabine.
- Capitão! - Chaerin o chamou, vendo que esta seria a sua última chance.
O lúpus voltou-se para ela e esperou. - Seu navio vai naufragar.
Jungkook franziu o cenho.
- Como sabe?
- Pelo modo que o timoneiro manobra o seu navio - Ela apontou para o
casco. - Estaciona sem se preocupar em atingir o deque. Talvez não afunde
de imediato, mas se continuar com essas avarias, é só questão de tempo...
eu posso manobrá-lo para o senhor, se me levar até o Japão.
- E se não estivermos indo para o Japão?
- Julgando pelas suas transações, eu diria que uma hora ou outra vai
passar por lá.
- Tudo bem, suba aqui e mostre o que sabe fazer.
A Alfa sorriu grande e suspirou feliz. Estava tão entusiasmada por
finalmente poder sair daquele lugar, que agarrou a caixa de Joe e a levou
para dentro do navio.
O Capitão a guiou até o leme, e esperou que ela fizesse como prometido.
Chaerin segurou nas malaguetas e respirou fundo.
Era como um maestro guiando uma orquestra. Ela girou o leme fazendo
parecer fácil, e manobrou o navio para fora da angra. O Black Swan
deslizou imperturbável rumo ao norte, tão suavemente quanto um cisne nas
águas de um lago.
E para maior felicidade de Chaerin, o navio realmente estava subindo a
caminho do Japão.
***
Após alguns dias de viagem, a tripulação foi obrigada a fazer uma nova
parada. Não estavam interessados no que o Arquipélago de Ryukyu tinha a
oferecer, mas o visível desgaste dos mastaréus fazia com que o navio
perdesse consideravelmente a sua velocidade.
Eles trocaram as velas há pelo menos algumas semanas, mas a estrutura
do navio já necessitava de reparos urgentemente.
No cais pouco movimento da cidade, havia uma Beta recém formada, em
busca de tirar seu diploma do baú e mostrar o que aprendeu na escola de
engenharia. Mas a pouca idade aliado à falta de experiência, fazia com que
ninguém quisesse arriscar contratar os seus serviços. Afinal, prata não
cresce em árvores.
Dahyun perdeu as contas de quantos "nãos" recebeu só naquele dia.
Desistir não era algo que estava em seu vocabulário, mas chega uma hora
em que o coração aperta quando você não consegue expor todo o seu
potencial, porque simplesmente não acreditam na sua capacidade. E a Beta
estava começando a sentir que não tinha um lugar no mundo.
- Eu devia aceitar o trabalho na lavanderia, Jean - Dahyun afirmou para o
Alfa. - E não estaria dependendo da sua boa vontade. Sinto que estou-...
- Pode ir parando agora mesmo, Dahyun! - Jean exigiu. - Você é um
gênio. Deveria estar na melhor construtora, mas você sabe como esses
lugares funcionam. Ainda mais nesse fim de mundo... eu aposto que se você
fosse uma Alfa, já teriam aceitado sua falta de experiência.
- Mas acontece que eu não sou, e eu tenho contas para pagar. Não posso
viver aqui para sempre. Um dia você vai encontrar um Ômega e vai se
casar.
- Você sabe que pode ficar aqui o tempo que for - Jean afirmou com
sinceridade. - Mas você já pensou em trabalhar em algum navio mercante?
Eu sei que viagens de navio são bastante demoradas e cansativas, mas
geralmente ninguém quer trabalhar em navios, então...
- Eu já tentei. Busquei comandantes que ancoraram aqui, mas nem ao
menos quiseram me ouvir.
- Você pode comprar uma passagem e quando estiver lá dentro, mostra
pra eles.
- É muito caro. Eu não sei se devo gastar todas as minhas economias em
algo que eu não tenho certeza.
- Eu pago.
Dahyun já sentia-se mal por estar vivendo dependente do Alfa, seu
orgulho não iria suportar causar mais esse transtorno. Ou pelo menos era
como ela via a situação.
- O que é a vida se não nos arriscarmos alguma vez, não é verdade? Pode
deixar, Jean. Eu mesma vou comprar essa passagem e depois vou voltar
aqui e mostrar para esse mundo de construtoras seletivas o que elas
perderam.
O Alfa a puxou para um abraço carinhoso.
- Você vai conseguir. Eu sei disso.
***
Dahyun chegou cedo no porto, em busca de uma passagem. Para a sua
decepção, o valor que tinha nos bolsos não era suficiente para custear uma
passagem nem mesmo para a Ilha ao lado. Mesmo na embarcação mercante
mais simples
A Beta resolveu dar uma volta pelo cais, para se distrair e pensar no que
faria da sua vida. Não podia simplesmente voltar e contar ao amigo que não
tinha moedas para a passagem, seria humilhante. Ela sabia que além dos
navios mercantes, os piratas também faziam seu comércio naquela parte da
ilha. Ilegal, mas faziam.
Dahyun só queria adquirir um pouco de experiência, não importava
como. E daí que piratas roubam, sequestram, torturam e matam suas
vítimas? Ela poderia trabalhar para eles, sem se tornar uma criminosa.
A Beta leu nos livros que piratas adoram pechinchar, logo, das moedas
que lhe restavam ela poderia manter boa parte consigo. Pelo menos era o
que ela tinha em mente. Mas esqueceu de considerar o fato de que, sim, os
piratas amam pechinchar, mas em benefício próprio.
Buscou pelo navio pirata com as piores condições. Havia uma
embarcação com as velas inteiramente rasgadas e em boa parte mal
remendadas. Os mastros estavam partidos e os cabos tinham tantos nós, que
talvez em um século eles conseguissem consertar sua estrutura. Não.
Extremo demais. Nem ela estava tão desesperada a esse ponto.
Outra embarcação estava em condições melhores, mas os bucaneiros
possuíam uma aparência medonha, vil. A Beta sentiu apenas de olhar para
aqueles marujos, que esta seria sua última viagem caso embarcasse naquele
navio.
Havia uma embarcação mais distante. Velas gastas, casco mal cuidado,
balaustrada partida e alguns mastros talvez, mal posicionados. Ela não tinha
tanta certeza pois estava ligeiramente distante para enxergar. Mas de uma
coisa ela tinha certeza; aquela seria sua passagem para o sucesso.
O navio era lindo. Um pouco mal cuidado. Um pouco, não. Vamos falar a
verdade; aquela embarcação estava parecendo uma banheira velha. Mas de
fato, para os olhos engenhosos da Beta, aquele navio era magnífico, só
precisava de uma boa mão.
A âncora da embarcação começou a subir, e Dahyun viu que se quisesse
alguma chance de embarcar deveria correr como nunca correu na vida. A
Beta disparou na direção do navio e quase esbarrou em um Alfa enorme de
cabelos inteiramente brancos.
- Desculpe! - Dahyun ofegou ao receber um olhar extremamente zangado
do pirata. O Alfa comprimiu os lábios e seguiu para a rampa. Mas parou ao
sentir o braço sendo puxado. - Leve-me nesse navio, eu pago.
Namjoon franziu o cenho, e sua expressão suavizou quando viu a Beta
balançar um saquinho de moedas. Ele puxou de sua mão e abriu
examinando a quantia.
- Isso aqui não é um navio mercante - Ele avisou.
- Eu sei, eu só quero ir para o oeste.
- Estamos indo para o norte.
- Eu também. Quanto isso vai me custar?
- Tudo o que você tem.
- Mas eu pensei que piratas gostassem de pechinchar.
- Piratas gostam de ouro, riquezas. Não essa mixaria que você carrega.
- Desculpe, mas essas são minhas economias de meses-...
O pirata a interrompeu devolvendo o saco de moedas, jogando contra ela.
- Então fique com suas economias.
- Tudo bem! - Ela estendeu o saco para que aceitasse novamente. - Eu
aceito, pode ficar.
Namjoon suspirou indeciso, mas com um gesto de cabeça indicou para
que Dahyun embarcasse. E a Beta finalmente pode sentir que sua vida ia se
transformar.
Assim que pisou no convés, Dahyun caminhou olhando para cima e ficou
encantada com o desenho da bandeira. Um cisne com as asas abertas,
totalmente imponente. Uma pena que o navio não estava fazendo jus àquela
figura.
- Estamos virando a companhia dos benfeitores, agora? - Minah
perguntou.
- Não fode, Minah - Hoseok afirmou rolando os olhos. - Tá sempre
reclamando de tudo, que Alfa insuportável.
- Ela pagou. São negócios - Namjoon esclareceu a Alfa. - Agora você
deve estar com tempo de sobra para ficar aqui insinuando coisas, não?
Pegue um esfregão e limpe esse convés!
A Alfa conteve um rosnado de fúria, e foi em busca de fazer o que o
contramestre ordenou.
- Você pagou apenas pela viagem - Namjoon voltou-se para a Beta: -
Então se não pretende morrer de fome é melhor contribuir com algum
trabalho.
- Os canhões precisam ser polidos. São vinte - Hoseok disse quando se
aproximou. Ele entregou um pedaço de pano a Beta e acrescentou: - Em
cada lado.
- Parece que você já encontrou um serviço - Namjoon afirmou e saiu para
cuidar de outros assuntos.
- Eu gosto de fazer isso todos os dias - Hoseok ainda comentou. - Para
que o desempenho deles seja mais preciso.
Dahyun assentiu. O Alfa se retirou, deixando-a sozinha com os canhões.
Antes de iniciar a limpeza, ela olhou para cima e estudou a armação dos
mastros. Não era de se esperar que a velocidade estivesse tão fraca.
- Ótimo - Ela ironizou. - Terei de limpar esses canhões por seiscentos
dias antes que esse navio percorra três milhas.
***
Enquanto limpava os aparelhos, Dahyun não deixou de olhar na direção
em que ficava a cabine do Capitão. Quatro dias já haviam se passado desde
que embarcou no Black Swan, mas nunca teve a chance de falar com o
Capitão. Nem ao menos viu o rosto dele.
Após limpar os dez canhões superiores do lado esquerdo, a Beta decidiu
que tentaria se arriscar e seguiu sorrateira até a cabine. Ela se assustou
quando uma Alfa surgiu ao seu lado e cruzou os braços junto a porta, ela
perguntou:
- Aonde a senhorita pensa que vai?
- Eu só estava dando uma volta.
- E por que você não vai dar uma volta no piso inferior? Lá está cheio de
canhões para você limpar. Não foi isso que Hoseok mandou você fazer?
- Sim, eu...
- Ou você quer ficar sem jantar?
- Minah, você não tem mais nada para fazer? - Uma voz suave surgiu
através da porta da cabine, quando esta foi aberta. O médico da tripulação
balançou as mãos indicando um lugar distante qualquer. - Procura outro
para importunar, vai.
- Você se acha só por que o é irmão do Capitão, não é Beta?
- Pois é, Minah. Eu sou o irmão do Capitão. Você vai fazer o que, hm? -
Seokjin cruzou os braços, esperando que a Alfa tivesse a coragem de fazer
alguma coisa. Ou melhor, a loucura.
Minah engoliu a raiva e saiu resmungando em forma de rosnados
coléricos. Dirigindo inúmeras pragas ao médico do navio. Mas nunca iria
passar disso, pois teria um destino pior do que a morte caso tentasse contra
a vida daquele Beta.
- Você é o irmão do Capitão? - Dahyun indagou surpresa.
- Sim. O irmão mais bonito - Ele riu divertido e em seguida recobrou a
postura. - Por que o interesse?
- Eu... só... pensei... - Embora estivesse falando sem gaguejar, a Beta
dizia cada palavra tão pausadamente que estava impossível de entender. -
Que... talvez-...
Seokjin a interrompeu.
- Calma, mulher. Respira comigo - Ele inalou uma boa quantidade de
oxigênio, em seguida, expirou devagar. A Beta seguiu o exemplo e aos
poucos foi se tranquilizando. - Pode falar.
- Eu só queria enunciar que um cavalo marinho poderia ultrapassar esse
navio se assim o quisesse... - Seokjin deixou o queixo cair. - Desculpe, eu
fui deveras inconveniente.
- Não se desculpe. É difícil ter uma conversa inteligente aqui, uma ou
duas se salvam. Eu confesso que notei a lentidão desse navio, mas imagino
que seja devido às condições de desgaste.
- Não é apenas isso. Eu sei de um jeito de aumentar a velocidade, apesar
das avarias.
- Como você sabe tanto?
Dahyun respirou fundo quando respondeu:
- Eu sou engenheira mecânica.
- Espere um minuto. Não saia daqui. - Seokjin voltou a entrar na cabine e
fechou a porta.
Naquele momento o medo começou a dominar a Beta e as paranóias
invadiram sua mente:
"Eles vão me matar pela ousadia. Eu não devia ter vindo. Onde eu estava
com a cabeça?"
Dahyun roeu as unhas e quase saltou para trás quando a porta foi aberta
novamente, e dessa vez, um Alfa apareceu junto ao médico. Os três ficaram
durante alguns estranhos segundos se encarando.
Seokjin cutucou a Beta com o cotovelo:
- Conte para ele sua ideia sobre aumentar a rapidez do Black Swan.
- Ah, sabe... não é bem uma ideia. É a lógica... - Os irmãos entreolharam-
se com o cenho franzido. - Não estou dizendo que sua lógica está errada, na
verdade piratas são muito inteligentes-...
- Fale de uma vez - O Capitão a interrompeu.
- Aquele conjunto de velas alí - A Beta apontou para o alto. - Aquelas
duas parecem reter uma boa quantidade de vento, mas não é o que está
acontecendo. Então se retirar uma delas e criar mais auxiliares, teria espaço
para o sotavento circular com mais liberdade. Não criaria um bolo
desnecessário entre os mastaréus. Isso é parte do que está causando a
lentidão...
Dahyun parou de falar e observou o Capitão olhando para cima. Ela
torceu para que ele estivesse entendendo o que ela falou. Mas é claro que
saberia, ele é o Capitão de um enorme navio. As paranóias estavam
entrando em cena mais uma vez.
- Jared - Jungkook chamou o bucaneiro.
- Sim, Capitão? - O pirata engoliu em seco, pois imaginou que seria
repreendido por estar escondido ouvindo a conversa.
- Mude a posição das velas secundárias. Transforme-as em auxiliares.
- Todas?
O Capitão olhou para Dahyun.
- As de gávea não será necessário.
Jared assentiu e começou a subir pelos mastaréus.
Jungkook escancarou a porta da cabine e moveu a cabeça indicando para
que Dahyun o acompanhasse.
- Entre.
A Beta olhou para Seokjin e este assentiu. Ela então respirou fundo e
entrou, sendo seguida pelo Capitão.
- Você não é uma simples passageira - Jungkook afirmou, sentando em
uma cadeira do outro lado da mesa.
- Não pretendo me tornar uma pirata. Mas é verdade que tinha planos
quando embarquei nesse navio.
- Continue.
Dahyun explicou os motivos de suas escolhas. Foi totalmente sincera
quando disse que aquela foi sua última opção.
- Conheço lugares onde vendem materiais com melhor custo-benefício.
São de ótima qualidade. Eu não conheci esse navio em seu auge, mas só de
olhá-lo eu posso ver do que ele é capaz, se for consertado pelas mãos certas.
- E as suas são essas mãos, eu imagino.
- Sim. Eu provei do que sou capaz.
- Você mudou uma vela de lugar. Qualquer um poderia ter feito isso.
- Mas não fizeram. Isso significa que precisa de alguém com um olhar
mais técnico sobre a armação do navio. Eu não vou mandar em nada, e você
poderá determinar o que será feito ou não...
Jungkook riu.
- Obrigado por me permitir tomar as decisões do que será feito no meu
navio. - O tom de sarcasmo não passou despercebido.
Dahyun sentiu-se corar.
- Eu me expressei errado. Desculpe. Eu quis dizer... bom, eu ofereço
meus serviços e habilidades à sua disposição.
- Mediante pagamento - Jungkook supôs.
- Sim, senhor.
O Capitão puxou um pedaço de pergaminho em branco, molhou a ponta
de uma pena no tinteiro e começou a escrever. Ele assinou o próprio nome
no fim da folha e entregou-a para a Beta.
- Veja se está de acordo com os termos.
Dahyun leu cada linha daquela espécie de contrato. Sendo bastante
sincera, a quantia recebida não era o que ela esperava, mas era o que tinha
para o momento. Ela molhou a pena no tinteiro e assinalou seu nome no
lugar apropriado.
O Capitão apresentou a nova mecânica do Black Swan a tripulação.
Dahyun ocupou-se bastante durante a viagem. Tinham muitas coisas a
serem revistas no navio. Ela subiu até o convés superior e estudou a
timoneira guiando o leme.
- Posso ajudar em alguma coisa? - Chaerin perguntou, sentindo-se pouco
confortável ao ser observada pela Beta.
- Você faz isso parecer fácil.
- E é - A Alfa respondeu sorrindo. - Pena que esse brinquedinho não está
em suas melhores condições.
- Eu posso dar uma olhada?
Chaerin deu um passo para trás, deixando espaço para a Beta trabalhar.
Dahyun estudou o interior do timão e logo puxou uma chave de boca. Ela
manuseou a ferramenta entre as engrenagens daquele aparelho e o olhar
atento de Chaerin.
- Tenta agora - a Beta se afastou.
Assim que Chaerin voltou a assumir o leme, a resposta veio através do
seu sorriso. Ela olhou extasiada para a Beta e acertou um tapa no braço da
mesma.
- Você é foda, garota!
-Ai! - Dahyun massageou a área atingida.
- Desculpa, eu me empolguei.
- Sem problemas - "que mão forte" a Beta pensou, observando a
timoneira dos pés à cabeça.
- Ficará conosco até os consertos serem finalizados?
- Sim, e você?
- Até o Japão.
Dahyun assentiu e permaneceu conversando com a Alfa um pouco mais.
Em seguida, ela deixou a timoneira trabalhar e rumou para o porão, quando
a chamaram para consertar algumas rupturas.
Durante a viagem, Dahyun costumava conversar bastante com Seokjin.
Quando não estava na companhia do outro Beta, ela gostava de admirar o
trabalho da timoneira.
Era encantador vê-la guiando a embarcação, no lugar mais alto do navio.
O vento batia contra seu cabelo e jogava seus fios platinados para trás. Era
como uma obra de arte. E quando Chaerin passava, deixava para trás um
delicioso aroma de maracujá.
Quando finalmente o Black Swan se aproximou da costa japonesa,
chegou o momento em que Chaerin passaria o comando do leme para uma
outra pessoa. No entanto, a Alfa mudou de ideia quando o Capitão foi
assumir o dispositivo.
- Eu posso continuar no comando do leme?
Jungkook pensou a respeito. Mesmo em águas turbulentas, o navio
permaneceu com boa estabilidade sob as mãos daquela Alfa. Chaerin
realmente faria falta ao Black Swan, se desembarcasse agora.
- Por que a mudança repentina? - O Capitão quis saber.
Chaerin correu os olhos pelo convés inferior, e viu Dahyun trabalhando
com o contramestre na proa. Na estrutura da âncora, exatamente.
- Eu gostei da tripulação. Quero permanecer nesse navio até não me
considerar mais útil.
O Capitão permitiu.
- Tudo bem. Que seja, então.
***
Após os consertos necessários, o Black Swan pareceu aumentar de
tamanho. Além da velocidade que nunca havia atingido antes. Satisfeito
com os serviços da mecânica, Jungkook ofereceu um lugar fixo na
tripulação.
Dahyun não hesitou em aceitar, quando soube que a timoneira também ia
permanecer no navio.
O interesse de uma era desembarcar quando a outra o fizesse. Mas como
nenhuma das duas revelou a verdadeira natureza de suas escolhas,
permaneceram com a tripulação até os dias atuais.

Taehyung e Billy
O conhecimento é a maior riqueza que o ser humano pode adquirir.
Existem pessoas que são como verdadeiras raposas em busca de sabedoria.
Conhecer o mundo, para muitos, era mais do que um passatempo banal.
Haviam aqueles que em nome da ciência e do progresso, percorriam
regiões onde ninguém mais ousava desbravar. O desconhecido sempre foi
uma ameaça para muitos. Ilhas com criaturas medonhas, canibais, o frio
extremo das terras do gelo, ou o temido Triângulo da Morte.
Só um louco para percorrer aquele caminho. Um louco, ou um jovem
Beta amante da cartografia. Como muitos de sua época, ele não possuía
uma grande quantidade de ouro, apenas poucas moedas adquiridas com
pequenas excursões ou venda de alguns mapas desenhados por ele mesmo.
Taehyung estava no bar, saboreando um delicioso rum enquanto folheava
as páginas de uma enciclopédia, quando uma forte tempestade alcançou o
navio em que viajava.
Para infelicidade da tripulação, as ondas enormes e grandes tiveram força
suficiente para virar a embarcação e destruir boa parte do casco, levando a
um naufrágio iminente.
De todos os tripulantes, apenas o Beta havia sobrevivido quando foi
levado pelas ondas até uma ilha localizada naqueles arredores. Ele acordou
após dois dias na completa escuridão de sua consciência, e quando se
descobriu sozinho, o desespero só não foi maior porque havia uma garrafa
de rum jogada na areia ao seu lado, e sua bolsa contendo os mapas estava
presa pela alça em seu torso.
O Beta ergueu as costas do chão, abriu a garrafa e tomou alguns goles da
bebida.
- Nada mal. Acho que posso sobreviver até que alguém venha me
resgatar.
Taehyung encontrou um bom abrigo, comida e até construiu uma grande
fogueira com galhos e matos secos. A esperança é a última que morre, eis o
seu lema preferido.
Contudo, os dias de entusiasmo chegaram ao fim, junto com as últimas
gotas de rum contidas naquela doce garrafa.
Taehyung sacudiu o objeto para que a última partícula caísse em sua
boca, e quando não restou mais nada, ele suspirou:
- Agora eu estou triste de verdade.
Desanimado, ele largou as costas sobre a areia novamente e fechou os
olhos. O sono o atingiu poucos minutos depois, e ele sonhou que estava na
melhor taverna da ilha de Nabuco, tomando o melhor rum da região
enquanto admirava seus mapas.
Devido ao tempo em que ficou exposto ao sol, o Beta sofreu uma terrível
insolação. Quando acordou, não conseguiu caminhar dois passos e logo foi
acometido pela escuridão novamente.
***
- Ele está acordando - A voz de uma criança foi ouvida.
- Eu vi. Ele piscou os olhos - De uma outra também.
- Saiam de perto - Um Alfa adulto se aproximou. - Deixem espaço para
ele respirar.
As crianças se afastaram quando Taehyung tentou se levantar da cama,
mas estava muito debilitado para isso e voltou a deitar-se novamente.
- Onde estou?
- Indo para Nabuco. Esse barco é de minha propriedade - O Alfa
explicou. - Meu nome é William e encontramos você desacordado em uma
ilha deserta.
Taehyung passou os olhos pela cabine. Era pequena e possuía alguns
artigos de pesca. Ele arregalou os olhos de repente.
- Meus bebês!?
- Calma, é melhor permanecer um pouco quieto. Você está muito fraco
ainda - O Alfa fez uma pausa com uma expressão de pesar. - Desculpe, eu
não encontrei nenhuma criança.
- Não. Eu estou falando dos meus mapas.
O pescador ergueu as sobrancelhas e tossiu limpando a garganta.
- Suas coisas estão em cima da mesa. Já estão secas.
Taehyung suspirou aliviado, e voltou a descansar. Após alguns dias, sua
energia estava quase completamente restaurada. Embora estivesse um
pouco magro, ele ajudou os pescadores a voltar mais rápido para Nabuco,
através de uma rota estipulada por ele.
- Poxa, como você é inteligente. Economizamos muitos recursos com
essa viagem rápida - O Alfa afirmou enquanto desembarcavam. - Por que
não fica conosco?
- Eu confesso que sua profissão é extremamente necessária. Mas viver
limitado em um certo perímetro quadrado de mar não é o que almejo. Eu
sou como um pássaro e o oceano é o meu céu. Gosto de estar livre,
descobrir coisas novas. A monotonia não me encanta.
O Alfa piscou sem ter entendido metade do que Taehyung quis expressar,
mas no fim ele sorriu, assentindo.
- Pelo menos aceite isso - O pescador ofereceu algumas moedas de
bronze. - Sei que é pouco, mas talvez o ajude a se estabilizar.
- Muito obrigado - Taehyung recolheu um pergaminho da sua bolsa e o
entregou ao pescador. - Um atlas marítimo completo das melhores zonas de
pesca.
- Como você...? - O Alfa sorriu perplexo.
- Eu já viajei bastante e registro tudo o que vejo - O Beta se despediu. -
Mais uma vez, obrigado por ter me salvado.
Após se despedir, Taehyung rumou para o centro da cidade, disposto a
fazer a primeira coisa que sonhou enquanto estava perdido naquela olha.
Sim, estamos falando de uma bela garrafa de rum.
- Aqui está algo em que vale a pena gastar - Ele ergueu a garrafa e
brindou consigo mesmo. - Ao rum.
Algumas mesas atrás, estava um grupo de Alfas bebendo e rindo
animados enquanto jogavam cartas. O Beta se aproximou e assistiu ao jogo,
assim como os demais curiosos. Ele estudou por um tempo as jogadas de
cada um.
- Não tenho mais nada para apostar, eu quero sair - Um Alfa se levantou
irritado, após perder tudo o que tinha.
- Eu entro - Taehyung afirmou.
- Aqui só jogamos apostando - Um dos que estavam na mesa disse.
- Eu percebi - o Beta colocou as moedas de bronze sobre a mesa.
O Alfa assentiu e indicou para que Taehyung se sentasse.
Logo na primeira jogada ele faturou o dobro do que havia apostado. Em
um lance mais alto, ele triplicou e até algumas moedas de prata foram para
a sua posse.
A essa altura, a quantidade de curiosos ao redor daquela mesa havia se
multiplicado, assim como as moedas que o Beta mal conseguia contar.
Furioso, um Alfa socou a mesa e destruiu o jogo armado sobre ela.
- Ele está roubando!
- Senta essa bunda aí, Billy! - Um dos jogadores exclamou. - Só fala isso
porque é o que mais está perdendo.
- A culpa não é minha se você é tão previsível em suas jogadas.
- Devolva as minhas moedas! - Billy exigiu apontando para o Beta. - Não
estão vendo isso? Ele está trapaceando. É impossível alguém vencer tantas
vezes seguidas.
- Quando se usa a intel-... - Taehyung foi interrompido pelo rugido de um
Alfa.
- Billy tem razão. Eu nunca perdi tantas moedas como hoje.
Uma pequena comoção foi se tornando algo muito maior. Taehyung se
levantou devagar e tentou recolher as moedas, mas foi agarrado pela gola da
camisa e teve as costas pressionadas contra a parede.
- Eu vou te matar!
- Vamos conversar como duas pessoas civilizadas... - Mal tendo tempo de
terminar sua frase, o Beta foi atingido por um soco no nariz.
Taehyung despencou sobre uma mesa, rolou e caiu no chão. Seus mapas
caíram de sua bolsa e se espalharam. Entre aquela multidão de curiosos, um
Alfa lúpus se abaixou e pegou um dos mapas. Ele o observou e ficou
impressionado com a riqueza de detalhes.
- A quem isso pertence? - O lúpus questionou erguendo o pergaminho.
- Àquele camarada ali que está apanhando. - Uma mulher apontou na
direção que um Beta engatinhava por baixo de uma mesa, tentando fugir da
fúria de um Alfa.
- Vai, Billy! - Um dos jogadores gritou. - Pega ele, frita ele, faz purê!
Billy jogou a mesa para o alto e Taehyung encolheu os ombros quando o
Alfa avançou contra ele pronto para socá-lo mais uma vez. Ele freou
bruscamente quando um outro Alfa surgiu e agachou-se na frente do Beta,
bloqueando seu caminho.
- Ei!
Capitão Jeon ignorou o Alfa e mostrou o mapa a Taehyung:
- Você que fez isso? É um navegador?
- Sim. Quase isso. Sou um cartógrafo.
- Ei cara, está atrapalhando - Billy esbravejou. - Sai daqui e espera a sua
vez.
Jungkook lançou um olhar vermelho e furioso para o Alfa e rosnava
ameaçador. Billy engoliu em seco e recuou alguns passos.
- Pode ler qualquer mapa? - O Capitão voltou sua atenção ao Beta.
Taehyung olhou para Billy por cima dos ombros do lúpus. Através de
leitura labial, o Beta conseguiu entender o aviso de Billy:
"Eu vou te quebrar"
Taehyung então voltou sua atenção ao rosto de Jungkook.
- Sim! Eu consigo ler e decifrar qualquer mapa.
- Seja meu navegador - O Capitão convidou.
Outros Alfas se colocaram ao lado de Billy, segurando barrotes de
madeira. Taehyung foi ligeiro em perguntar ao lúpus:
- Quando eu começo?!
O Capitão Jeon ergueu o olhar para o seu contramestre, e ambos sorriram
pensando na mesma coisa. O fragmento do Imperium. Jungkook ajudou o
Beta a se levantar e um outro membro da tripulação recolheu seus mapas.
- E lá se foi o maldito com as suas moedas, Billy.
- Isso não vai ficar assim - afirmou Billy. Ele os seguiu até o cais, antes
de Jungkook embarcar, ele o chamou: - Capitão, sou muito habilidoso com
espadas, trabalho em qualquer condição e estou disposto a me juntar a sua
tripulação e ser inteiramente fiel ao senhor.
- Não vai fazer do meu navio um palco para o seu ajuste de contas.
- Eu só quero recuperar as moedas que perdi. E sei que posso ganhar
muito mais me juntando a sua tripulação.
Capitão Jeon estudou o Alfa, sabendo que sua verdadeira intenção era se
vingar do Beta. Mas resolveu dar uma chance a Billy, caso fizesse qualquer
bobagem, era só matá-lo.
***
Ainda sem uma rota definida, o Black Swan rompeu pelo horizonte, a
caminho de um novo saque. O ânimo entre a tripulação cresceu quando
souberam que um navegador estava a bordo. Era só questão de tempo para
que o Beta os guiasse pelo caminho certo em busca de ouro.
Encontravam-se dentro da cabine; Jungkook, Namjoon e Taehyung. O
Beta estava sentado diante da mesa do Capitão, examinando um pedaço de
pergaminho. Ele parecia encantado diante daquele papel, enquanto os Alfas
estavam de braços cruzados, esperando que ele revelasse o que estava
escrito.
- Fascinante... - O mistério só crescia quando o Beta murmurava algumas
palavras. - Incrível...
O Capitão e seu contramestre trocavam olhares ansiosos.
O navegador examinou cada pedacinho daquele fragmento. E parecia
descobrir algo novo a cada vez que deslizava os dedos por cima dos riscos
contidos em sua superfície.
- Vai ficar nessa o dia todo? - Namjoon perguntou impaciente. - Fala logo
o que isso significa. O que esses riscos querem dizer?
- Oh, eu não sei - A confissão do navegador foi como um choque.
- Você disse que consegue decifrar qualquer mapa - Jungkook o lembrou.
- Qualquer mapa. Mas isso é apenas um fragmento... - Taehyung
respondeu. O Capitão respirou fundo quase como um rosnado. - Mas eu
posso ajudar a encontrar os outros...
- É um inútil - Namjoon refletiu. - De que nos serve encontrar as outras
partes se ninguém vai conseguir ler, oh gênio?
- E se encontrar alguém que possa ler? - Taehyung contrapôs. - Vai
precisar de um navegador para ajudá-lo.
- Ninguém consegue ler esse mapa. Você era a nossa última esperança -
Namjoon explicou.
- O mapa foi criado por alguém, então obviamente ele pode ser lido. Isso
já é certo.
- Vai ver só o Francis consegue entender. O maldito Ômega fez todo
mundo de idiota.
- O tesouro dele é incalculável... - Jungkook pensou em voz alta
encarando o nada.
- Capitão? - Namjoon o chamou. Jungkook olhou para ele. - Quais suas
ordens?
- Se me permite - Taehyung ergueu a mão com cuidado. Os Alfas
olharam para ele e Jungkook assentiu com a cabeça. - Eu sugiro a linha dos
comerciantes. Não posso lhe dar o significado desse fragmento, mas eu
garanto as melhores rotas para emboscar os mais ricos galeões.
- Eles são protegidos pela Marinha - Namjoon ponderou.
- É por isso que temos o melhor atirador e estrategista - O Capitão sorriu
e aprovou a sugestão do navegador. - Crie um itinerário.
O navegador foi deixado sozinho na cabine estudando os mapas e criando
as novas rotas para o Black Swan. Minutos depois, a porta foi aberta e um
Alfa aproximou-se da mesa.
Taehyung estava tão concentrado nos atlas que não deu atenção ao
sujeito. O Alfa pigarreou alto, fazendo o Beta erguer a cabeça em um
sobressalto.
- Pois não?
- O Capitão me mandou aqui para falar com você - O Alfa puxou uma
cadeira e sentou-se. - Sou Hoseok, o atirador.
- Taehyung - O Beta se apresentou.
- Eu sei - Ambos se encararam por alguns segundos. Pela falta de
diálogo, Hoseok sorriu e perguntou: - E então?
- Então o que? - Taehyung indagou, descendo os olhos pelo corpo do
Alfa. - Nossa, quantas pistolas.
Hoseok passou as mãos pelo torso coberto pelas armas e perguntou:
- Gostou? - o Beta umedeceu os lábios. - São as melhores companheiras
na hora da ação.
Taehyung sorriu.
- Não tenho dúvidas - Ele mostrou uma planta do Black Swan. - Qual
lado da embarcação você acha melhor para buscar um navio?
- Qualquer um.
- Está falando sério?
Hoseok assentiu com a cabeça.
- Posso afundar qualquer navio em qualquer ângulo que esteja.
Era um Alfa muito interessante, Taehyung pensou. Além de fisicamente
muito bonito, também era inteligente. Guardou suas notas pessoais para si
mesmo e continuou a elaborar as rotas.
- Obrigado. Saber disso vai ajudar bastante.
O Alfa sorriu satisfeito. Taehyung não imaginava, mas ele não era o
único a fazer suas notas mentalmente. Para Hoseok, por exemplo, aquele
Beta ficava muito sexy diante de todos aqueles mapas, estudando cada
centímetro dos lugares por onde iriam percorrer.
O Capitão retornou a cabine e lhe foram apresentados os planos para o
próximo saque. Ele ficou muito satisfeito com a cooperação entre o
navegador e o atirador e decidiu que eles iriam trabalhar juntos mais vezes.
***
Enquanto caminhava pela popa observando as constelações, Taehyung
fazia novas anotações quando foi surpreendido por um Alfa.
- Devolva as minhas moedas!
- Ainda com isso, Billy?
- Você trapasseou!
- O melhor vencedor é aquele que aceita a derrota - Taehyung tentou
passar mas o Alfa agarrou seu braço.
- Pela última vez, devolva as minhas moedas - Billy inquiriu com voz
calma, porém seus olhos em tons amarelos não demonstravam a mesma
paciência.
- Tentando intimidar um Beta? - Os dois ouviram uma voz logo atrás, e
quando Billy girou a cabeça eles viram o atirador encostado na parede
externa da cabine, com os braços cruzados enquanto observava-os. - Por
que não encara alguém do seu tamanho?
- Não se mete que isso não é assunto seu - Billy avisou.
- Eu me meto sim - Hoseok afirmou se apeoximando. - Por que acontece
que eu estou entendiado e não fui com essa sua cara feia.
Billy rosnou enfurecido e Hoseok fez o mesmo. Antes que aquela
pequena confusão se transformasse em dois Alfas mortos no chão da popa,
Taehyung os afastou segurando em seus ombros.
- Guardem as presas, lobinhos. Ninguém precisa morder aqui - Taehyung
virou-se para Hoseok: - Você é muito bonito para morrer - E depois, para
Billy: - E você... eu realmente não sei para quê serve... mas escuta, eu
realmente não trapasseei naquela aposta. Você é muito previsível e é fácil
ler suas expressões.
- Mas isso é trapassa - Billy bateu o pé no chão, reafirmando sua opinião.
- Eu sou burro e você usou sua inteligência contra mim.
Hoseok e Taehyung trocaram olhares sem acreditar no que estavam
ouvindo.
- Certo. E se eu te ensinar alguns truques?
- Como assim? - Billy indagou, desconfiado.
- Te ajudo a identificar quando o outro jogar está blefando. Quando ele
está com uma boa carta... e você esquece o incidente da taberna.
- Tudo bem, eu aceito.
Taehyung suspirou aliviado. Hoseok ainda observou o Beta ensinando
Billy e dando algumas dicas essenciais para sempre vencer em um jogo de
cartas.
Satisfeito pela aula recebida, Billy sorriu estufando o peito, sentindo-se
mais sábio do que há dois minutos.
- Quero testar minhas habilidades.
- Melhor que não seja comigo - Taehyung logo esclareceu.
- Por que não?
- Porque é melhor começar com alguém mais estúpido do que você.
Billy franziu o cenho.
- O que quer dizer com isso?
- Nada...
- Eu conheço alguém que se encaixa perfeitamente - Hoseok afirmou. - O
Jared.
- Onde ele está? - Billy perguntou interessado.
- Nas cobertas inferiores.
Billy anuiu e correu para descer até o local indicado.
- Obrigado.
- Pelo quê? - Hoseok ficou confuso.
- Me ajudou a dar um fim a esse assunto.
- Ah, que bom - O Alfa sorriu. - Eu vou te mostrar uma coisa, vem
comigo...
Taehyung franziu as sobrancelhas mas o seguiu sem contestar. Assim que
chegaram no convés, Hoseok apontou para a artilharia pesada do navio.
- Canhões?
- Sim. Vou ensinar como usá-los - Hoseok respondeu, batendo a mão em
um deles. - Você gosta de aprender coisas novas, certo?
O Beta olhou de Hoseok para os canhões e então para ele novamente.
Sem uma resposta, o Alfa concluiu:
- Foi uma péssima ideia.
Pela falta de uma resposta imediata, era o que realmente parecia. Mas a
verdade era que Taehyung ficou tão encantado com aquele ato, que as
palavras sumiram. O ato fofo de Hoseok, de ter prestado atenção no Beta
foi o que lhe chamou mais a atenção.
- Não... - Taehyung suspirou. - Essa é a coisa mais interessante que
alguém já tentou me ensinar. É diferente. Eu não esperava por isso.
Hoseok sorriu grande.
- Sabia que eles são como uma pistola gigante? - Ele fez suspense e o
Beta negou com a cabeça, muito concentrando na explicação. - Você coloca
fogo nessa cordinha, ela aciona um martelo que bate na pólvora e causa
uma explosão, lançando o balote em direção ao alvo.
A aula particular manteve-se durante o restante da noite. Com Hoseok
muito entusiasmado e Taehyung prestando mais atenção no atirador, do que
no objeto da explicação.

Yoongi

Durante séculos uma organização dominou o que se tornou conhecido como


o submundo da Coreia. Onde Alfas, Betas e Ômegas dotados das mais
extremas habilidades, são treinados para lidar com todo tipo de situação.
Desde encontrar pessoas desaparecidas, fugitivos, torturas e assassinatos.
Tudo pode ser encomendado. A reputação dessa organização rapidamente
ultrapassou as fronteiras da Coréia, espalhou-se pela Ásia e hoje, pessoas do
mundo inteiro recorrem aos serviços da chamada Ordem de Caçadores.
Na Coréia, todos os caçadores estavam alvoroçados pela notícia que se
espalhou pelos inúmeros túneis da sede subterrânea. Um alvo, há muito
tempo temido pela Marinha e o motivo de inúmeros fracassos de tentativa
de captura, foi aceito como missão por um caçador.
Min Yoongi, o espadachim. Considerado o melhor quando se trata do
ofício de assassinar. Seus olhos presenciaram mais mortes do que pode
contar, e sua katana se tornou um dos objetos mais temidos de sua época.
- Você tem certeza? - Seungho, o líder da prestigiada Ordem perguntou.
- Sim - A resposta do espadachim foi curta.
Embora todos admirassem Lee Seungho, Yoongi era um dos únicos que
não possuía o mesmo sentimento pelo seu líder.
"Um Alfa que só fala", era o que pensava do Lee.
- Muito bem, desejo-lhe sorte - O tom usado por Seungho não
correspondia aos seus verdadeiros sentimentos.
Se traduzido para o idioma comum, aquilo poderia ser entendido como:
"Foi bom te conhecer."
Na opinião do líder, Yoongi era algo como um mal necessário para a
Ordem. Porém, se morresse, não faria tanta falta.
Quando saiu da sala de Seungho, o espadachim foi recebido por dezenas
de olhares curiosos. Alguns negavam com a cabeça, desaprovando a
decisão do jovem Alfa. Ele havia se tornado um caçador há apenas dois
anos.
Yoongi tentou se misturar na multidão e sair da Ordem a caminho da sua
próxima missão, porém, um par de olhos castanhos o viu em sua tentativa
de ser furtivo e seguiu até onde o amigo estava.
- Deveríamos fazer isso juntos - Jackson afirmou.
- Não. É algo que eu preciso fazer sozinho. Se eu não consiguir capiturar
um maldito pirata, então não sirvo para ser um caçador.
- Se você morrer, eu te mato - Yoongi riu da afirmação do amigo. -
Quando o encontrar, mate-o.
- O contrato diz vivo ou morto.
- Morto é mais desejável.
Yoongi riu outra vez, negando com a cabeça.
- Cuida das coisas enquanto eu estiver fora. Não deixe aquele cara
manchar nossa reputação.
- Aquele cara... você quer dizer, o nosso líder?
- Tanto faz.
- Você sabe, nossa reputação só cresce com a liderança dele.
- Isso é discutível. Eu não o respeito e pareço ser o único que o enxerga
verdadeiramente como o covarde que ele é.
- Você devia cuidar mais do que diz - Jackson avisou em tom amigável. -
Está falando do seu líder.
- Ora, o que é isso? Eu estou no tribunal do santo ofício? - Yoongi
brincou. - Você, mais do que qualquer um, deveria entender o que estou
falando.
- Eu não vou entrar no mérito da questão.
Yoongi deu de ombros.
- Não importa. Melhor eu ir, meu transporte partirá em alguns minutos.
Jackson e Yoongi deram as mãos e o espadachim partiu, antes que outros
caçadores o parassem para fazer seus questionamentos indesejados e
despedidas incômodas.
Pelas viagens que já fizera em missões anteriores, o caçador embarcou
em um navio mercante que estava a caminho da Ilha de Folsom. Um dos
maiores destinos procurados pelos piratas. A ilha não era muito de seu
agrado, mas havia uma chance do seu alvo estar naquele lugar.
Quando desembarcou na dita ilha - assim como imaginava -, alguns
Ômegas se aproximaram do Alfa, buscando nele um novo cliente em
potencial. No entanto, o interesse do espadachim naqueles Ômegas chegava
quase a ser zero. Seu olhar pouco simpático e o brilho da katana que exibia
intencionalmente, foi o que afastou aqueles que ele apelidou como
"carrapatos incômodos".
Após uma detalhada varredura na ilha, o caçador concluiu que o seu alvo
não estava em Folsom.
- Viagem perdida - Yoongi refletiu. Ele estava sentado em uma taberna,
enquanto apreciava um pouco de hidromel.
O caçador formulava seu próximo passo, quando sentiu um doce aroma
preencher o espaço ao seu redor. Imaginando se tratar de mais um rameiro,
o espadachim moveu a mão para afastá-lo, porém, o Ômega ignorou e
revelou o motivo de ter se aproximado:
- Me disseram que há um caçador na taberna, é você? - Pela falta de
resposta, o Ômega continuou: - Estou precisando dos seus serviços - Ele
agarrou um saco contendo algumas moedas e o entregou ao Alfa.
Após examinar a quantia, só então Yoongi lhe deu atenção. Já que seu
alvo não estava naquele lugar, seria produtivo aceitar algum serviço que não
fosse atrapalhá-lo no andamento de sua missão principal.
- O que quer que eu faça?
- Meu Alfa me expulsou de casa e não permite que eu veja meu filhote.
Quero que o traga para mim.
"Fácil" - Yoongi pensou.
- Onde ele está?
O Ômega suspirou aliviado e no mesmo segundo, indicou ao espadachim
onde se localizava sua antiga casa, onde o Alfa mantinha seu filhote cativo.
- Você tem a chave?
- Não. Ele mandou que um marceneiro trocasse as fechaduras - O
caçador se aproximou da porta e o ômega tentou avisar: - Tenha cuidado,
ele é um pouco agre-...
Antes que o Ômega pudesse concluir seu aviso, o caçador chutou a porta
da casa, arrombando-a de imediato.
Ouvia-se um grunhido assustado seguido de gritos raivosos.
- Que porra está acontecendo? - O Alfa dono da residência questionou do
alto da escada. Ele travou na metade do caminho, para impedir que o
espadachim chegasse no andar de cima. - Fora da minha casa.
Yoongi o ignorou, e quando o outro tentou impedi-lo de subir avançando
contra ele, o caçador foi rápido quando o atingiu com um golpe e lançou-o
por cima do corrimão. O Alfa caiu estatelado, batendo as costas na quina de
um suporte.
Uma criança estava encolhida em sua cama, e fechou os olhos apavorada
quando o caçador se aproximou. Mas ao sentir o cheiro do seu pai, ele abriu
os olhos novamente e estendeu os braços feliz, quando foi erguido pelo
Ômega.
- Estou aqui meu pequeno. Estou aqui.
- Vamos - Yoongi deliberou e foi seguido pelo Ômega.
No andar térreo, o Alfa ainda estava no chão e gemendo com as mãos nas
costas. Ele praguejou e rosnou ameaças completamente inúteis contra o
Ômega.
- Se dobrar o valor eu o mato - O caçador ofereceu.
- Céus! Não... não quero que mate o pai do meu filho. Não precisa disso.
Voltarei para a casa dos meus pais em Nabuco. Ele tem medo de pisar
naquela ilha por causa dos piratas que a frequentam constantemente.
- Piratas?
- Sim. Aquele lugar é o maior centro de comércio ilegal. Sei disso porque
meus pais são proprietários de uma pousada lá, e eles contam que a cada
dez clientes, pelo menos sete são piratas.
Agora a conversa se tornou muito interessante e proveitosa. Se havia uma
chance do Capitão Jeon estar naquela ilha, mesmo que fosse mínima, então
este seria o próximo destino do caçador.
Yoongi embarcou com o Ômega e seu filhote. E após mais alguns dias
navegando pelo mar da China Oriental, eles saltaram no cais de Nabuco e
seguiram para a pousada da família do Ômega.
Mal tendo se hospedado, o caçador não poupou esforços para agilizar
seus negócios naquela ilha. Embora Nabuco fosse extremamente grande em
hectares, ele obteve um mapa da região e destacou os lugares onde teria a
maior chance de localizar o seu alvo.
Além disso, o caçador precisava lidar com o controle de Fenn Barba-
Ruiva. Não havia ninguém que pudesse entrar naquela ilha sem que o
terrível pirata não ficasse sabendo. E como os caçadores e piratas são
inimigos declarados, o espadachim precisava manter-se fora de vista, sem
chamar atenção. Era algo que dificultava seu trabalho, de fato. Mas não o
impossibilita de ser feito.
Foi a oeste da ilha que o caçador encontrou a embarcação comandada
pelo seu alvo. Um navio por inteiro sombrio, destacava-se pelas velas
completamente negras e a bandeira com o desenho de um cisne, que
temeluzia ao vento forte da costa. O Black Swan.
O espadachim analisou a movimentação dos piratas no cais durante dois
dias, quando ficou satisfeito ao concluir que, pelo menos em certa hora da
noite, o Capitão Jeon voltou sozinho ao navio para se recolher em sua
cabine.
Yoongi sorriu confiante. O melhor jeito de capturar um alvo que está no
comando de uma grande tripulação, seria emboscá-lo de modo que seus
marujos não surgissem para dificultar as coisas.
Mais tarde, o espadachim iria descobrir que o Capitão Jeon não dependia
de sua tripulação para ser salvo.
***
Os piratas bebiam e farreavam em uma das tabernas da ilha. Estavam
ancorados em Nabuco há pelo menos duas semanas, esperando a confecção
de alguns materiais solicitados pela mecânica.
Não era de interesse do Capitão amanhecer em uma taberna sem um
pingo de sobriedade, tombando pelos cantos ou metendo-se em desavenças
desnecessárias. Então, como havia feito em todos os outros dias, o Alfa
retornou para o navio a fim de tentar compreender o significado do
misterioso fragmento que possuíam.
Caminhando pelo deque vazio, ele parou quando chegou diante da viga
de madeira que dava acesso ao Black Swan. Havia um Alfa de cabelo loiro
sentado no alto da rampa, obstruindo a passagem entre o pirata e sua
embarcação.
- Saia do meu caminho se não quiser morrer - O Capitão avisou.
O canto da boca de Yoongi curvou-se em um pequeno sorriso.
- Alguém vai morrer hoje e nós dois sabemos que não será eu - O caçador
respondeu, passando a ponta dos dedos sobre o cabo da katana ainda
embainhada. - Você prefere vir comigo e aceitar seu destino, ou dificultar as
coisas?
O Capitão Jeon puxou sua pistola e disparou contra o Alfa. Yoongi
ergueu as sobrancelhas e pulou rápido, quase sendo atingido pelos
estilhaços da pólvora. Quando caiu de pé no chão do deque, ele já estava
sobre a mira da arma do lúpus novamente.
Jungkook não deu chance do espadachim se recuperar, quando voltou a
disparar em sua direção. Yoongi se jogou atrás de alguns engradados de
farinha e rosnou baixo:
"Filho da puta!"
O barulho dos disparos cessaram quando a munição da pistola chegou ao
fim. Yoongi empurrou uma das caixas na direção do lúpus, e este desviou-a
com um chute.
- Acabou o show? - Yoongi indagou com o mesmo sorriso,
desembainhando a katana.
O Capitão Jeon fez o mesmo puxando suas duas adagas, e esperou pelo
que o espadachim faria a seguir. O Alfa avançou contra o pirata movendo
sua katana para atacá-lo, o barulho do metal triscando um no outro indicou
a defesa bem sucedida do lúpus, ao erguer as adagas em formato de xis.
Yoongi pulou recuando e faíscas romperam no ar quando ele puxou a
katana. Dessa vez o Capitão Jeon investiu contra ele com uma adaga
tentando perfurar seu coração, e a outra, ele moveu-a de modo que rasgaria
o peito do caçador, caso este não tivesse recuado mais uma vez.
O lúpus não daria chances para o espadachim contra-atacar, e prosseguiu
contra ele agitando suas adagas em um ataque rápido e preciso. Yoongi teve
dificuldade para escapar da última investida, e teve que apoiar uma mão no
chão para impulsionar o corpo para o lado e fugir de um golpe fatal.
Com a íris de seus olhos amarelados, ele conseguiu acompanhar a
velocidade do lúpus, quando este, atacou mais uma vez investindo as
adagas e prontas para cravar cada lado de seu corpo. Yoongi posicionou a
katana no meio de ambas e girou a lâmina para desarmar o pirata e decepar
seus antebraços.
Jungkook largou o cabo das adagas e puxou seus braços segundos antes
que a lâmina afiada do espadachim o atingisse. Por um breve momento, as
suas armas ficaram livres no ar quando ele lançou um chute no abdômen do
caçador, lançando-o para trás. Antes das adagas caírem, o Capitão agarrou-
as novamente, e assim que Yoongi ergueu-se do chão, ele viu um par de
olhos vermelhos que acompanhava atentamente cada movimento seu.
- Você faz jus a fama que tem - Yoongi reconheceu.
- Se me conhece tão bem, sabe que nunca perdi uma luta - Jungkook
afirmou, em forma de aviso.
- Para tudo há sempre uma primeira vez - O espadachim deu de ombros.
O ruído de vozes há alguns metros atrás do lúpus, mostrava que alguns
dos piratas já estavam retornando ao navio. O Capitão Jeon acompanhou a
movimentação nos olhos de Yoongi, desse modo, sem precisar olhar para
trás, ele soube exatamente o número certo de bucaneiros que estavam atrás
de si. Mas ignorou.
- Não vai pedir a ajuda deles? - O caçador sugeriu.
Jungkook sorriu quando afirmou:
- Quem tá precisando de ajuda aqui é você - E avançou mais uma vez
fazendo o espadachim defender-se enquanto recuava dos ataques do lúpus.
Yoongi pulou do deque e aterrissou no chão de areia, enquanto o Capitão
Jeon contornou pelas escadas, descendo calmamente e seguindo atrás do
espadachim.
"Um dia da caça, outro do caçador". O ditado cabia perfeitamente bem
naquela situação.
Embora estivesse em desvantagem naquele momento, Yoongi sentiu-se
completamente diferente. Algo como motivação. Não no sentido de
capturar aquele pirata e concluir sua missão, mas no desejo de seguir
alguém como o Capitão Jeon. Ele sim, era digno de ser chamado de líder.
O embate continuou quando o lúpus o alcançou, e seguiu com suas
adagas tentando acertar o caçador ao passo que se defendia da fúria em
forma de katana. Os ataques não se resumiam apenas às lâminas, os dois
também usavam o próprio corpo para infligir dano um ao outro. Seja com
chutes, socos - no caso de Yoongi que possuía arma de apenas uma mão - e
cotoveladas.
Em dado momento, os ataques eram aflingidos com tamanha força que as
armas de ambos foram lançadas cada uma para um lado, e caíram cravadas
na areia.
Com o punho antes livre, Yoongi acertou um soco no rosto do pirata que
o fez curvar o corpo para trás. Jungkook girou a perna e deu uma rasteira no
caçador, fazendo-o cair de costas no chão. O pirata ainda o chutou
novamente, na altura do queixo, deixando o espadachim zonzo durante
alguns segundos.
Jungkook aproveitou o momento, segurou o caçador pela gola da roupa e
o arrastou até a água. Ele agarrou com ambas as mãos o pescoço de Yoongi
e o forçou a submergir para afogá-lo e dar um fim aquela luta.
O caçador balançou seus braços para cima, tentando atingir seu algoz de
algum modo. Mas seus braços foram curtos para sua envergadura se
sobrepor ao do lúpus. Engasgando-se com a água salgada, Yoongi debatia-
se tentando se salvar da morte que estava prestes a acontecer.
Enquanto movia seus braços tentando afastar o pirata, suas mãos foram
de encontro ao cabo de um punhal que estava preso na cintura do Capitão.
Sem pensar duas vezes, o caçador puxou a arma e conseguiu atingir o lúpus
com a ponta da lâmina.
Mesmo o golpe só atingido em sua bochecha minimamente, aquele
ataque foi suficiente para distrair o pirata por breves segundos, e fazer com
que Yoongi conseguisse chutá-lo para trás.
O caçador emergiu tossindo ofegante e tentando recuperar o oxigênio
perdido, enquanto tombava de volta para areia em busca de sua katana.
Jungkook fez o mesmo e conseguiu apoderar-se de suas adagas novamente.
Era realmente uma pena que eles fossem inimigos, pois o caçador passou
a admirar seu alvo em poucos minutos de uma luta em que jamais tivera
igual. E diferentemente do líder da Ordem, o líder dos piratas não se
escondia por trás de sua tripulação.
Enquanto Lee Seungho manda seus caçadores livrar-se dos inimigos, o
próprio Capitão Jeon se encarrega disso. E com uma extrema habilidade.
Até aquele dia, Jungkook considerava o Capitão Alma Negra o pior
adversário que já tivera em sua vida. No entanto, aquele caçador superou
essa perspectiva.
Morrer não era uma opção. Mas deixar esse mundo pelas mãos daquele
espadachim, seria mais do que honroso.
Em um último ataque, Yoongi lançou a ponta da katana contra o lúpus.
Ela passou direto quando Jungkook desviou e girou o corpo, acertando uma
cotovelada na boca do caçador. O Capitão Jeon ainda puxou a mão direita
para cima, Yoongi inclinou rapidamente a cabeça para trás e a ponta da
adaga rasgou a pele do Alfa no lado direito do rosto.
Sangue escorreu do arranhão que ia do meio da bochecha até pouco
acima da sobrancelha do espadachim. Se não tivesse desviado a tempo, ele
quase teria perdido o olho direito.
Jungkook colocou-se em uma posição de defesa, mais uma vez esperando
pelo que o caçador faria e aproveitando para se recuperar. Yoongi levou a
mão até o olho, sentindo a umidade, ele examinou a palma da sua mão e
encarou o sangue por um breve momento.
Ao mesmo tempo em que ele se assombrou por alguém tê-lo atingido
pela primeira vez com uma lâmina, ele estava admirado pelo fato ocorrido.
Yoongi não se colocou em posição de defesa e muito menos contra-atacou,
ao invés, ele encarou o lúpus nos olhos e o surpreendeu quando pediu:
- Deixe-me entrar para a sua tripulação.
Capitão Jeon permaneceu quieto. Ele franziu o cenho e estudou o
caçador, quanto a sua verdadeira intenção com aquela pergunta. Porém,
antes que qualquer teoria começasse a fazer sentido, o espadachim lançou
sua katana na direção do lúpus, de modo que a lâmina cravou no chão ao
lado dele.
O caçador o entregou a própria arma, e fez o mesmo com a adaga do
Capitão, quando a lançou com cuidado para que o lúpus a agarrasse.
Jungkook guardou as adagas e o punhal, à medida que se inclinava
devagar para o lado até agarrar o cabo da katana. Ele puxou a arma do
espadachim e apontou diretamente no coração do Alfa loiro. Yoongi não
recuou, não piscou, não moveu um centímetro de seu corpo. Ele manteve o
olhar no lúpus que igualmente o encarava de volta.
O Capitão se aproximou devagar, mas em vez de acabar com a vida
daquele Alfa, ele abaixou a arma vagarosamente, devolveu a katana ao
espadachim e assentiu ao seu pedido.
- Você costuma aceitar em sua tripulação todos que tentam te matar? -
Yoongi perguntou fazendo o outro rir.
- Você é o primeiro que tentou, desde que me tornei Capitão.
- Por que decidiu me aceitar? Não teme que eu tente matá-lo enquanto
estiver dormindo?
Jungkook negou balançando a cabeça.
- Se quisesse realmente me matar, teria me apunhalado no coração
enquanto eu o afogava.
Yoongi sorriu. Aquela afirmação era verdadeira. Foi escolha do
espadachim atingi-lo na bochecha, apenas para conseguir se livrar do
afogamento.
Os dois estavam acabados. Cheios de escoriações pelo corpo e
encharcados com a água do mar. Enquanto se aproximavam caminhando
lado a lado pelo deque, os piratas que já estavam a bordo e sem saber onde
seu Capitão estava, assim que os viram de longe, alguns puxaram suas
armas e outros ficaram confusos sem saber o que fazer.
- Que merda aconteceu? - Namjoon perguntou, estudando os dois dos pés
à cabeça.
- Ele tentou me matar e agora faz parte da tripulação - Jungkook afirmou
como se aquilo não fosse nada, subindo a rampa.
Os piratas arregalaram os olhos e entreolharam-se ainda mais confusos.
Yoongi deu de ombros e também seguiu para dentro do navio.
- Capitão - O contramestre ainda tentou: - Com todo o respeito mas, você
ficou louco?
- É o que parece... - Jungkook refletiu e ficou observando o nada por um
tempo. A tripulação o encarou esperando quando de repente, o Capitão
concluiu: - Mas eu sei o que estou fazendo. - E rumou para dentro da
cabine, sendo seguido por Namjoon e Seokjin.
Os piratas não tiravam os olhos do mais novo membro.
- Mas que katana grande... - O navegador comentou, umedecendo os
lábios.
- Parece pequena olhando daqui - Hoseok argumentou.
- É porque você não imagina o estrago que posso fazer com ela - Yoongi
piscou para o atirador.
- Vem - Taehyung se aproximou do espadachim: - Vou te mostrar as
cobertas inferiores.
Quando os dois desceram pela escotilha do convés, Billy chegou junto de
Hoseok e aconselhou:
- Se eu fosse você, ficava de olho nesse aí...
- Por que? - Hoseok indagou desconfiado.
- Você e o navegador se tornaram bastantes íntimos esses meses... e
agora, ele está sozinho com o espadachim... - Billy fez uma expressão de
dúvida. - Sei não, heim...
Hoseok franziu o cenho e ficou pensativo por um tempo. Em seguida, ele
ergueu as sobrancelhas parecendo ter chegado a alguma conclusão e rumou
com pressa para as cobertas inferiores.
- Você é o diabo - Jared comentou rindo.
- Que os jogos comecem - Billy respondeu, sorrindo de volta.
***
Anos depois...
No Oceano Pacífico, ao lado da costa asiática, o Black Swan seguia pela
rota dos comerciantes à procura de seu próximo saque. Segundo Taehyung,
aquela passagem era repleta de navios que transportavam a maioria da prata
que circulava pela Coréia.
Os bucaneiros trabalhavam pela meia-nau, movendo os cabos a todo
instante, sendo orientados pelo contramestre, para melhor aproveitarem a
circulação do vento.
Durante a chegada da noite, o número de velas foram diminuídas a fim
de impedir qualquer colisão. Mesmo através dos olhos de um lúpus, era
praticamente impossível enxergar o Black Swan na escuridão daquela noite.
O navio era completamente negro e se camuflou perfeitamente.
Mas nada poderia passar despercebido aos olhos de quem estivesse a
bordo do Black Swan. Com sua luneta, o navegador enxergou um navio
com velocidade reduzida, e logo chegou em seu Capitão para informar.
A tripulação estava reunida no piso superior esperando pelo que
aconteceria, quando Jungkook tomou a luneta para si. Ele analisou a
movimentação pelo convés da outra embarcação e concluiu:
- É um galeão. A Marinha está a bordo.
- Deve ter cargas de muito valor naquele porão - Namjoon anunciou.
- Muito mais do que isso - Taehyung afirmou pensativo enquanto ainda
analisava o galeão - Devem estar transportando alguém muito importante.
- O que faremos, Capitão?
Jungkook pensou por alguns segundos e voltou-se para a tripulação:
- Vamos invadir o galeão - Os piratas sorriram ávidos. - Hoseok, destrua
o mastro principal deles. Namjoon, assuma o controle da invasão. Yoongi,
encontre quem eles estão protegendo. Vamos fazer um valioso pedido de
resgate...
Namjoon escolheu os melhores bucaneiros para acompanhá-los naquela
investida. Os botes foram descidos e quando os piratas estavam próximos
do navio, um tiro de canhão foi disparado através do Black Swan e dois
balotes ligados a uma corrente foram lançados e destruíram o mastro
principal do galeão.
O Capitão Jeon acompanhou o início da invasão de longe, e sorriu
satisfeito ao ver que seu contramestre não teve dificuldade para render os
que estavam a bordo. Ele estalou o pescoço e dirigiu-se para sua cabine,
onde receberia a pessoa raptada pela sua tripulação.

É isso gente. Espero que tenham gostado, pq eu me diverti muito
escrevendo esse bônus ❤
Até a próxima ❤
Fiquem com as lindas artes de duas leitoras que resolveram homenagear
a fic com seu talento. Muito obrigada meus amores ❤❤❤❤
da Alohaboo
E da cherryblueksj_
Bônus II

Eu não vou me alongar aqui, porque ninguém gosta de ler avisos


Obrigada pelo seu carinho, e por ter acompanhado Black Swan até o
fim
Este capítulo bônus conta (em resumo) a história de Francis Bonny,
então tem muito drama, luta, sangue e choro. Como quem leu Black
Swan sabe, o maior de todos foi enforcado (em 1691)... então, vai estar
presente na história dele esse momento ;-;
Enfim…
Boa leitura
☠ ☠
Ilha de Nabuco - 1669
As ondas da maré forte batiam contra as bases do deque do Porto de
Nabuco. Um jovem Ômega de cabelo castanho estava sentado no cais,
observando o sol nascendo e iluminando o céu em mais um dia.
Aos poucos, o Porto tornava-se movimentado à medida que os
comerciantes e navios chegavam, com seus produtos para serem comprados
ou vendidos.
— Francis!? — O Alfa dono do estaleiro deliberou. — Onde está esse
menino?!
De repente, ele viu o garoto correndo pelo deque, vindo ao seu encontro.
Alguns piratas desembarcavam suas cargas, com expressões tenebrosas e
discutindo por um lugar.
— Chamou, pai?
— Onde você estava? — O mais velho abriu as portas do estaleiro. —
Leve isso à oficina.
— Eu vou arrancar sua cabeça e entregar aos tubarões! — Um pirata
ameaçou o outro, um pouco atrás.
O Ômega recebeu uma caixa com alguns equipamentos utilizados por seu
pai para consertar peças de navios.
Yejun Bonny gostaria de conceder ao seu único filho uma vida mais
digna e segura, mas como dono de um estaleiro onde os próprios piratas
ditam seus preços, o Alfa vivia de consertar navios e recebia aquilo que os
capitães decidiam ser o justo.
— Fique longe desses animais — o Alfa avisou baixo, para que apenas
seu filho escutasse. — O filho de Minjee desapareceu essa semana. Não
desvie do seu caminho e-...
— Tome cuidado. — O menino completou a fala do pai. — Já sei. Você
diz isso todos os dias.
— Estou falando sério, Fran. — O Alfa acariciou a bochecha do menor.
— Eu só tenho você.
— Não se preocupe.
O Ômega segurou a caixa com mais firmeza e seguiu seu caminho ao
longo do cais. No auge de seus quinze anos, o garoto estava começando a
atrair a atenção de Alfas e Betas por onde passava.
Geralmente os Ômegas de sua idade começavam a se interessar por
moças e rapazes Alfas ou Betas. Mas o jovem Francis apreciava ajudar seu
pai na oficina, porque lá ele podia ouvir histórias dos marinheiros, sobre
aventuras em alto mar.
Quando foi descoberta pela Marinha coreana, Nabuco rapidamente se
tornou um grande centro de comércio marítimo, sua localização facilitava o
transporte de mercadorias para locais mais distantes. Mas isso também
chamou a atenção dos piratas.
Os chamados demônios do mar chegaram em Nabuco um pouco depois,
mas não conseguiram o domínio da ilha logo a princípio. Na tentativa de
mascarar seu comércio ilegal, um grupo de piratas criaram o que ficaria
conhecido como Submundo.
Ômegas começaram a desaparecer por toda Nabuco, e boatos diziam que
eles eram levados para o tal covil onde bandidos da pior espécie se reuniam,
para praticar seu comércio clandestino. Yejun temia que o mesmo
acontecesse ao seu filho, por isso se enchia de cuidados.
Sempre que Francis demorava a retornar, o mecânico largava o serviço
para procurar pelo Ômega. Mas naquele momento, Yejun se encontrava
com o maior capitão da atualidade, William Rivers.
— Por que tanto olha para a janela, Bonny? — William indagou. — Eu
acho que é uma grande falta de respeito não dar atenção ao seu cliente.
— Desculpe, eu só… — Yejun saiu da janela e voltou à mesa de
negócios. — Então fica por vinte moedas?
— Não. Mudei de ideia. Agora são dezenove, por sua audácia e falta de
respeito.
— Mas-...
— Dezoito. Continue e o preço cairá a cada vez que abrir essa maldita
boca.
— Pai, cheguei! — Os Alfas olharam para o lado quando a porta foi
aberta. — Eu me atrasei um pouco porque estava… Capitão Rivers?
— Seu filho, Bonny? — Yejun assentiu, incomodado com o modo
interessado que Rivers olhava para o Ômega. O capitão ofereceu a mão para
cumprimentá-lo. — Estou impressionado que ele não tenha nascido com
sua cara de rato de esgoto.
— Você já se olhou no espelho, por acaso? — O Ômega perguntou,
apertando a mão do pirata com força. — Sua cara parece que tá do avesso!
— Francis! — Yejun repreendeu por medo do capitão castigá-lo pelo
insulto. — Mais respeito! Entre e sirva alguma bebida ao Capitão Rivers.
— Café. — Willian solicitou. Ele observou o garoto entrar por outra
porta, e voltou sua atenção ao mecânico: — Seu filho tem a mão forte.
— Ele é um lúpus, e está acostumado ao serviço pesado da oficina.
— Ele é muito bonito. Tem feições delicadas mas possui um olhar feroz.
Só precisa tomar cuidado com a língua, pode ficar sem ela a qualquer
momento.
— Ele é apenas uma criança, perdoe-o. Façamos o seguinte, as peças
ficam por quinze moedas.
— Parece que você aprende rápido. — Rivers sorriu satisfeito, ficando
mais à vontade na cadeira.
Alguns piratas de sua tripulação entraram no escritório do estaleiro,
ocupando outros lugares. Yejun se manteve o tempo todo tentando fazer
com que o capitão esquecesse a ofensa que seu filho dirigiu a ele.
A conversa havia tomado outros rumos, mas alguns piratas conseguem
ser tão desprezíveis quanto sua fama valia. Quando Francis retornou
trazendo consigo um bule para servi-los, sentiu uma mão subir pela coxa e
apertar sua bunda.
— O que-...?! — O Ômega sobressaltou, virando para o pirata.
— Vai fazer o que, ratinho? Morder a minha canela?
Os piratas riram. Yejun estava prestes a mandar Francis deixar o café na
mesa e se retirar, ele conhecia bem o filho que tinha. Mas antes que
pudesse, o Ômega abriu a tampa do bule e despejou todo o conteúdo quente
sobre o colo do Capitão Rivers.
— AAAHH! — O Alfa rugiu. Ele lançou as costas da mão no rosto do
Ômega, que foi jogado ao chão de imediato. — Agora te ensino uma lição,
seu merdinha!
Rivers se levantou desengonçado, o líquido quente havia queimado suas
partes íntimas. Ele puxou uma pistola e apontou para o Ômega caído, mas
sua atenção foi desviada para o Alfa que tentava intervir pelo filho.
— Leve de graça! É tudo seu! — Yejun gritou desesperado, sendo
contido pelos outros piratas. — Não o machuque! Vingue-se em mim!
— Você irá fornecer materiais de graça e vai trabalhar para mim, pelo
que resta da sua vida miserável! — Rivers sentenciou balançando a arma
contra o rosto do Alfa. — Farei com que seu sobrenome seja pior do que os
vermes que rastejam pela sarjeta, Bonny!
Rivers acertou um soco nas costelas de Yejun, rosnou para o Ômega que
ainda estava no chão e logo depois se retirou com seus Alfas.
Francis encarou o pai, com a mão no rosto. Havia sangue perto de sua
boca. O mais velho puxou uma cadeira para sentar, respirou fundo e
chamou o filho para ir até ele. O menino se levantou e seguiu obediente.
— Por que você faz isso, Fran? — Ele examinou o rosto machucado do
filho. — Eles são piratas! Não se importam se você é um Ômega.
— Aquele nojento passou a mão em mim, pai. Devia ter cortado aquela
mão imunda e enfiado no cu dele!
— Ei! Já conversamos sobre esse linguajar grosseiro dos piratas,
mocinho. Por isso não gosto quando você fica ouvindo nossas conversas, só
aprende o que não presta. Tenha modos, menino!
— Ai! — O Ômega resmungou quando o pai passou um curativo em seu
rosto.
— É pra doer mesmo! Quem sabe assim você não aprende, e deixa de se
meter em confusão!
— Ele me desrespeita na sua frente e você vem brigar comigo?!
— Eu sei, meu filho, eu sei. Você tem razão e eu invejo sua valentia e
coragem. Mas eles são pessoas perigosas, e quando não temos forças para
lutar, o melhor que fazemos é abaixar a cabeça.
— Eu jamais farei isso. — Francis afirmou com convicção. — Jamais
vou abaixar a cabeça para um Alfa, Beta, Ômega ou o diabo que for!
— Com pensamentos assim você vai apanhar muito na vida.
— É assim que se aprende a lutar, não é? — O Ômega sorriu.
Yejun negou balançando a cabeça e suspirou, observando o filho limpar a
bagunça que ficou pelo chão. Ele se preocupava, mas no fundo tinha muito
orgulho daquele Ômega.
O garoto não tinha medo de absolutamente nada. Muitas foram as vezes
que se meteu em confusões, desde a infância, enquanto brincava com as
crianças da ilha. Chegava em casa todo machucado, e escondia do seu pai
que havia apanhando dos Alfas, para que o mesmo não fosse tomar
satisfação.
Havia perdido seu outro pai muito cedo, para uma terrível doença. Mas
Yejun nunca deixou que faltasse amor em sua criação.
☠ ☠
Algumas semanas depois, Francis ajudava seu pai como de costume, no
estaleiro. Estava sujo de graxa com o cabelo bagunçado e as roupas
encardidas, quando Yejun o chamou para uma pausa.
— Ainda tem muita serviço, pai. Tem certeza que podemos parar agora?
— Sim, depois continuamos. Aliás, olhe para você, está parecendo um
porquinho. — Francis olhou para si mesmo e riu junto. — Por que não vai
tomar um banho? Eu vou fazer a janta.
— O senhor vai cozinhar? — O Ômega olhou para o céu. — Vai chover.
— Pare com isto. Hum… eu comprei uma roupa para você também.
Quero que vista ela hoje.
— Por que?
— Eu vou… te apresentar… — Yejun pigarreou. — Um amigo…
— Pai…
Yejun estava preocupado que, quando morresse, Francis ficasse sozinho
no mundo. Ele não poderia proteger o filho para sempre, estava disposto a
conseguir um bom casamento para o Ômega, e desse modo assegurar o
futuro do menino.
— É um Alfa de boa família. Um oficial da Marinha Real.
— Que nojo.
— Faça o que eu disse. Tome banho, se arrume e vista-se para recebê-lo.
— Eu não quero conhecer este rapaz.
— Ele é um bom Alfa. Tem status e um bom nome para você. Ele é até
bonito e jovem.
— Pare de repetir isso. Se o acha tão interessante, case-se com ele o
senhor!
— BASTA! — Yejun bateu a mão sobre a mesa. — Vá tomar seu banho
e vestir a porcaria da roupa, Francis! Agora!
O Ômega rosnou irritado, seu pai percebeu a ira em seus olhos prateados,
quando o menino se levantou e foi fazer como o mais velho disse.
Yejun dirigiu-se à cozinha, para deixar tudo pronto para o jantar. Doía-lhe
fazer aquilo, mas para ele, deixar seu filho para sofrer no mundo sozinho,
seria pior do que obrigá-lo a se casar. Se preocupou em encontrar um Alfa
que fosse jovem, bonito e gentil, mesmo sabendo que nada disso faria
diferença.
Logo mais a noite, batidas foram ouvidas do lado de fora da porta. Yejun
foi receber o convidado. O Alfa estava vestido formalmente com o
uniforme da Marinha coreana, parecia ter em torno de seus vinte anos, ou
seja, era recém formado na escola de aprendizes.
— Boa noite, senhor Bonny.
— Boa noite, Hyunsik. Pode entrar, ele o aguarda na sala.
O oficial adentrou na casa modesta, sendo guiado pelo mais velho até um
outro cômodo. Havia um Ômega vestido elegantemente, o cabelo penteado
adequadamente para o lado com uma expressão emburrada.
— Francis, este é o Hyunsik. — O menino não se moveu. — Por favor,
mostre a educação na qual lhe criei.
O Ômega suspirou, levantou-se do sofá e cumprimentou o oficial. Não
foi rude em nenhum momento, mas também não se mostrou interessado no
rapaz de uniforme.
Francis seguiu o protocolo, obedecendo o pai. Mas de maneira nenhuma
iria fingir estar interessado naquele casamento.
Após o jantar, Hyunsik pediu a autorização de Yejun, para dar uma volta
com o mais novo, pelo cais. O Alfa permitiu, ignorando o olhar irritado do
filho.
— Eu adorei jantar em sua companhia e do seu pai. — Hyunsik
expressou, enquanto caminhava lado a lado com o Ômega.
— Que bom.
— Seu pai cozinha muito bem.
— Também acho.
— Gostaria de comer mais vezes lá. Quem sabe em um almoço?
— Almoço? — O menor parou de andar. — Você pretende voltar?
— Sim. Para acertar melhor as coisas do casamento, não?
— Hm…
— Você não parece muito feliz com isso.
— Claro que estou. Será que não vê? Estou dando pulos de alegria. — O
Alfa ergueu as sobrancelhas, surpreso. Francis fechou os olhos, suspirando.
— Me desculpe, eu sou um estúpido.
— Tudo bem.
— Não, não está tudo bem. Você é um bom Alfa, está sendo muito gentil.
Eu fui realmente idiota com você. Me desculpe mesmo. Não tenho nada
contra você, só estou chateado.
— Por que não me conta? Converse comigo.
— Sinceramente? Eu não quero me casar com você. Estou sendo
obrigado pelo meu pai, porque ele acha que preciso de alguém pra cuidar de
mim quando ele morrer.
De repente, Hyunsik começou a rir. Francis o olhou com o cenho
franzido.
— O que há com você?
— É que… me desculpe — o Alfa respirou fundo, se recuperando. —
Bom, é uma situação engraçada, você não acha? Seu pai tem medo que
você fique sozinho. Está buscando desesperadamente por alguém para
cuidar de você, quando está claro que não precisa.
— Obrigado.
— Você é muito bonito, embora seja um pouco arisco…
— Decida-se, você quer me elogiar ou insultar?
— Não me entenda mal. Eu considero uma qualidade, principalmente nos
Ômegas. Você não leva desaforo pra casa.
— Não mesmo. — Francis cruzou os braços.
— Direi ao seu pai que não quero me casar com você.
— De verdade?!
— Sim. Mas ele com certeza vai tentar encontrar outro Alfa…
— Por que você tinha que acabar com meu breve momento de
felicidade?
— Nossa… se casar comigo seria tão terrível assim?
— Até que não…
— Será que agora tenho chance?
— Não.
— Foi o que pensei.
O Ômega desarmou o semblante austero e riu. Os dois permaneceram
conversando por um tempo, até que chegaram nos limites do deque onde
geralmente os navios maiores ancoravam, devido a profundidade.
— O que pretende fazer? — Hyunsik perguntou.
— Eu não sei… Não vou conseguir fugir por muito tempo, uma hora vai
acontecer. Meu pai tá muito decidido. Acho que, talvez, o máximo que eu
possa fazer é nunca permitir que meu marido me toque.
— Você sabe lutar?
— Mais ou menos.
— Me mostra o que você sabe…
Das muitas brigas em que esteve metido, Francis aprendeu alguns
truques, e aplicou naquele breve treinamento que Hyunsik estava guiando.
O Alfa ainda lhe ensinou melhor a se defender contra investidas vindas por
parte de alguém maior e mais forte.
O Alfa ficou impressionado pelo quanto aquele menino era engenhoso e
hábil. Francis mostrou uma força incrível enquanto lutava contra o oficial.
Hyunsik podia sentir, aquele lobo era indestrutível.
No momento em que retornaram para casa, o oficial cumpriu como
prometido e cancelou as visitas que faria. Yejun recebeu a decisão com
muita surpresa, pois o Alfa havia se mostrado muito interessado.
Yejun esperou até que estivesse sozinho com seu filho, para obter uma
resposta mais coesa. Uma nova discussão se iniciou, dessa vez, mais
calorosa.
— Eu não estarei aqui para sempre, Francis! Será que não entende que
estou fazendo isso para o seu próprio bem?!
— Pai, um Ômega pode muito bem viver sozinho! Posso cuidar do
estaleiro, o senhor me ensinou bem!
— Não, não pode! Você viu o que William Rivers faria com você! Estará
morto assim que eu deixar este mundo!
— Eu não vou casar! Pode trazer quantos Alfas quiser, direi não a todos
eles.
— Ah, você vai… — Yejun baixou o tom de vez. — E já tem outra
pessoa.
— Do que está falando, pai?
— Bill, o dono da taberna perguntou por você esses dias. Ele também
ficou interessado. Eu não considerei, mas-...
— O quê?!
— Mas agora, já que descartou Hyunsik e está disposto a fazer o mesmo
com qualquer bom rapaz que eu traga aqui, talvez eu não deva perder meu
tempo e posso trazer o Bill mesmo...
— Você está falando isso apenas para me assustar.
— Procure Hyunsik amanhã, e diga que mudou de ideia.
— Eu não vou fazer isso.
— Então você não me deixa escolha… Eu realmente não queria fazer
isso, Francis, mas se for preciso eu responderei por você. É um Ômega. É o
que diz a lei, você não pode fazer nada.
O mais novo ficou em silêncio por um momento, as lágrimas que se
formaram em seus olhos falavam por si. O pai tentou se aproximar, mas ele
recuou.
— Você não faz ideia do quanto está me magoando — o menino
murmurou encarou o pai profundamente. As lágrimas continuaram
descendo. — Ser um Ômega não faz de mim seu objeto, pai. Não pode
decidir isso por mim.
— Sabe que pela lei eu posso. — Yejun respondeu com cuidado.
Francis sentiu uma dor forte no peito, mas a engoliu.
— Que seja, então… se me obrigar a ter uma vida infeliz vai lhe deixar
com a consciência tranquila, tenha uma boa noite.
— Espera… — o Ômega sequer olhou para trás, quando seu pai chamou
mais uma vez: — Francis?!
Yejun fechou os olhos quando ouviu a porta do quarto do filho bater
ferozmente. Ele sentou em uma cadeira próximo a janela, e encarou o
oceano. Seu coração doía pelo que estava fazendo, mas temia seu filho
sozinho em um mundo tão avassalador.
Desse modo, ele imaginou que quando ficasse mais velho, o jovem
Ômega entenderia seus motivos.
Contudo, na manhã seguinte, assim que se levantou para dar início a um
novo dia de trabalho, o Alfa encontrou um pedaço de pergaminho em cima
da mesa, com a letra de seu filho:
“Uma vez que me ensinou a voar, não vou permitir que corte as minhas
asas. Eu te amo muito, pai. Espero que um dia possa me perdoar.”
Yejun segurou o bilhete com força, o papel foi amassado
instantaneamente em sua palma. Não sentiu raiva. Na verdade, havia um
pouco de arrependimento. Ele conhecia bem o filho que tinha, Francis
nunca aceitaria se casar e levar uma vida planejada pelos outros. Era
independente demais.
Pode-se dizer que, naquele instante, o Alfa estranhamente sentiu uma
dose de alívio e orgulho percorrer o seu interior. Com lágrimas nos olhos,
ele caminhou até a janela.
— Voe, Francis. — Yejun sussurrou encarando o oceano. — Voe alto!
☠ ☠
Na noite em que havia discutido com seu pai, dor, revolta e fúria enchiam
o coração do Ômega. Não era do tipo que se entregava sem lutar, mas nada
podia fazer contra a vontade de seu pai.
— Sociedade estúpida! — Ele tentou atirar um livro na parede, mas
acabou passando direto pela janela. — Porcaria!
Francis se debruçou na abertura e procurou pelo objeto no escuro. O livro
havia caído um pouco distante, ele então pulou a janela e caminhou até
recolhê-lo.
Haviam algumas embarcações ancoradas, entre elas, o Ranger, navio
capitaneado pelo afamado Capitão Benjamin Hornigold. Por um momento,
passou em sua mente que poderia se juntar aquela tripulação, mas o brilho
da ideia se desfez ao lembrar-se do código mais estúpido em que já ouvira
falar sobre a pirataria:
“Ômegas não são permitidos a bordo. Quem embarcar pessoas
disfarçadas é punido com a morte.”
Descartou a possibilidade enquanto voltava para seu quarto, mas quando
apoiou as mãos no batente da janela, percebeu que havia sujado suas palmas
com algo de cheiro forte. Alcatrão.
— Que ódio! — O Ômega lamentou, passando as palmas na parede. O
cheiro forte adentrando suas narinas acenderam uma luz em sua mente outra
vez. — Ômegas não são permitidos a bordo. Mas ninguém precisa saber…
Era uma ideia um tanto estúpida, mas ficar em Nabuco e se casar com
Bill, o Alfa mais escroto de toda a Ilha seria uma opção muito pior. Até a
morte era mais bem vinda.
Com o plano de se disfarçar de Alfa em mente, Francis entrou em seu
quarto novamente, pegou algumas roupas e poucas moedas que talvez fosse
precisar, e escreveu o bilhete para seu pai, deixando-o em cima da mesa.
Ele deu uma última olhada no velho Alfa que havia adormecido no sofá.
Em seguida, ele recolheu dois frascos cheios de óleo de baleia e passou
um pouco em sua pele. O cheiro era terrível, mas serviria para esconder seu
aroma doce de chocolate. Ele pulou a janela outra vez e rumou na direção
do centro da Ilha, em busca de Benjamin Hornigold em alguma taberna.
— Sua fama diz que ele é rico… — o Ômega caminhava enquanto
murmurava consigo mesmo. — Mas se ele ancorou tão exposto, significa
que não tem nada que possam roubar, logo ele não tem muito o que
gastar…
Francis parou de caminhar e olhou à sua volta, em busca da taverna
menos luxuosa. Porém, antes de entrar, ele ponderou um pouco mais:
— Não. Benjamin Hornigold é um capitão famoso. Quando estão na
falência, Alfas sobrevivem de blefe… — Ele girou, olhando na direção da
taverna mais movimentada. — E quem não gostaria de pagar uma bebida
para um capitão com boa fama?
Com isso, o Ômega rumou até a taberna escolhida. Assim que entrou no
estabelecimento, lá estava o bendito capitão. Tomando rum alegremente,
com dois Ômegas sentados ao seu lado.
— Mais uma, por conta da casa, Capitão! — O Beta dono da taberna
ofereceu.
— Eu gostaria de pagar, mas já que você insiste...— Hornigold aceitou,
sorrindo convencido. — Se for assim, vai ter que servir minha tripulação
também!
Todo mundo queria sentar na mesa com Hornigold, o Alfa era uma lenda.
Famoso, forte e bem sucedido. Além de ser extremamente simpático.
Francis tentou chegar o mais próximo possível daquele Alfa, para ouvir a
conversa. Ele acabou se sentando em uma mesa com alguns piratas
desprezíveis, mas por sorte, eles estavam bêbados demais para notar o
pequeno sentado ali.
— O que vai querer? — Uma Ômega perguntou a ele.
— Traga-me um pouco de rum.
A Ômega assentiu e se retirou.
— Yo! — O pirata que estava ao lado ergueu uma caneca. Com o
movimento, um pouco da bebida caiu em cima do Ômega.
Enquanto se limpava, ele ouviu quando uma outra pirata levantou um
questionamento que chamou sua atenção. A mesma perguntou quando seria
o próximo saque do Capitão Benjamin. Francis forçou a audição para
conseguir ouvir a resposta, já que Alfas e Betas bêbados faziam barulho em
toda a taberna.
— Em breve! — Hornigold respondeu. — Há um grande carregamento
de ouro japonês que eu pretendo saquear.
— Aqui está. — A Ômega serviu Francis.
— Obrigado. — Ele sorriu, a moça recolheu o pagamento e se retirou.
— Em breve, quando? — Um Beta inquiriu. — Está nos dizendo isso há
muito tempo, Capitão. Onde está o ouro japonês que nos prometeu?
— Acontece que eu preciso de mais Alfas e Betas. É muito ouro, é claro
que está bem protegido! — Hornigold gargalhou.
“Muito ouro”. Duas palavras que encheram os olhos dos muitos
ambiciosos que se encontravam naquela taberna.
— Me aceite em sua tripulação!
— Eu também quero, Hornigold!
Uma chuva de Alfas e Betas avançaram na mesa em que o capitão estava.
Todos tentando garantir um espaço em seu navio, para receber uma parte do
referido tesouro.
Francis tentou fazer o mesmo, mas a aglomeração era violenta e parecia
como um enorme muro entre ele e Benjamin. Recebeu uma cotovelada e
caiu no chão, mas não iria desistir. Ele se abaixou e engatinhou por entre as
pernas daqueles Alfas, até chegar do outro lado, bem na frente do famoso
Capitão.
— Aceite-me na sua tripulação! — O Ômega tentou soar firme.
— E você quem é? — O Alfa riu, encarando-o dos pés à cabeça. —
Quantos anos tem?
— Farei dezesseis em breve. Mas sou muito habilidoso no conserto de
navios.
— Desculpe, garoto. Não aceito Ômegas em minha tripulação.
— Mas eu não sou um Ômega!
Hornigold franziu o cenho, se concentrando no olfato para identificar se
era verdade. O cheiro forte de óleo o impediu de sentir o verdadeiro aroma
de Francis.
— Você é muito pequeno para um Alfa da sua idade. Tenho alguns
grumetes na minha tripulação que são mais altos que você.
— Se o senhor busca por altura, pode recrutar os coqueiros da ilha. Como
disse, sou habilidoso consertando navios.
— Mas como é malcriado esse grumete da língua ferina. — Hornigold
riu divertido. Ele deu de ombros. — Tudo bem. Quanto mais Alfas melhor.
Francis suspirou aliviado, sua fuga para longe daquela ilha e do
casamento com Bill estavam garantidos. Agora, só precisava continuar
fingindo ser um Alfa até ancorar em um outro lugar, e enfim poder
recomeçar sua vida.
☠ ☠
Assim que os suprimentos para uma nova temporada no mar foram
armazenados, todos os novos e velhos tripulantes embarcaram e o Ranger
finalmente zarpou do Porto de Nabuco, pouco antes do amanhecer. Francis
observou o estaleiro se distanciar, à medida que o navio avançava na
direção do oceano.
Sabia que iria sentir muita falta do seu pai, e talvez ele não o perdoasse
nunca mais. Mas não podia aceitar aquele destino para si. Era hediondo.
— E ai, novato? — Ouviu a voz de um Alfa e olhou para trás.
Dois garotos que aparentavam ter sua idade estavam se aproximando.
Um tinha o cabelo preto e era um pouco mais alto, já o outro possuía o
cabelo da cor de cobre e era um pouco mais gordo.
— Eu sou Edward Teach e este é meu irmão, Fenn.
— Eu posso me apresentar! — O ruivo rugiu.
— Vai mesmo fazer uma cena na frente do novato?
— Por que você sempre faz isso?!
— O quê? — Edward suspirou irritado.
— Foda-se! — Fenn girou, deixando-os sozinhos na popa.
— Por favor, ignore. — Edward sentou perto do Ômega. — O que ele
tem de grande, tem de infantil.
— Estou vendo.
— A propósito, você é o…? — O Alfa ofereceu a mão.
— Francis Bonny. — Ele aceitou e apertou a mão do outro, mas franziu
as sobrancelhas quando Edward não o soltou.
— Que fato curioso… — os olhos de Edward encaravam os de Francis
profundamente.
O Ômega tentou puxar sua mão, mas o Alfa segurou com mais força.
— O que está fazendo?! Solte a minha mão!
— Como conseguiu?
— Do que está falando?
— Ômegas não são permitidos a bordo.
— Eu não sou um Ômega.
— E eu sou uma sereia. Confia... — Edward riu sozinho. — Você pode
enganar a todos aqui, mas não um lúpus. Sinto seu aroma de longe. Tenha
certeza de uma coisa, senhor Alfa, chocolate é uma delícia.
O coração do Ômega acelerou, e ele sentiu algo gelado percorrer seu
corpo. Edward sentiu a palma dele tornar-se úmida.
— Se quiser que eu solte a sua mão, tudo bem. Mas no momento em que
fizer isso, eu vou contar ao Capitão que temos um Ômega aqui.
— O que você quer?
— Eu só exijo uma coisa... — Edward se aproximou um pouco mais.
Francis virou o rosto quando o Alfa inalou seu aroma mais de perto. — Não
quero passar meus ruts sozinho.
— Como é!?
— Você é da minha idade, então já deve ter seu heat. Vai precisar de mim
também. Veja isso como uma troca de favores.
— Não vou fazer isso.
— Então você prefere morrer? Está em um navio pirata, sua morte não
será tão rápida. Principalmente porque você enganou o capitão. — O
Ômega encarou o oceano, pensativo. — O que foi? Você é virgem? Não se
preocupe, eu posso ser carinhoso na sua primeira vez.
— Você é extremamente nojento.
— Resposta errada, Francis Bonny. Meu próximo rut vai ser em duas
semanas, vou te dar um tempo para pensar, mas é bom que não demore
porque se eu me irritar, talvez não seja tão carinhoso.
— Vai me oferecer ao seu irmão também? Seu porco.
— Não. — Edward sorriu, soltando a mão dele. — O Fenn não é lúpus, e
eu não gosto de dividir as minhas coisas.
Com isso, o Alfa se retirou deixando-o sozinho e pensativo. Estava
perdido. Deveria ter adivinhado que teria um maldito Alfa lúpus a bordo.
Mas de maneira alguma iria se sujeitar às chantagens daquele miserável.
Francis tinha duas semanas para encontrar uma forma de se livrar de
Edward Teach.
Durante os próximos dias, ele passou a observar o comportamento e
decisões do capitão. Benjamin Hornigold parecia um morcego cego
navegando pelos mares, em busca do tal galeão japonês e seu tesouro
colossal.
Pelo que ouviu nas conversas entre o capitão, o contramestre e o
navegador, aquele itinerário estava certo. Eles apenas não sabiam dizer, o
dia exato em que o navio carregado com o tesouro iria passar por aquela
rota, ou se já haviam passado, o que era mais provável.
Logo após a primeira semana, Francis se encontrava sentado no
parapeito, ao lado do timoneiro. O Beta lhe contava algumas histórias sobre
as aventuras que tivera ao lado de Hornigold, o menino ouvia atentamente.
— Se as vigas de madeira deste navio falassem… — o Beta gargalhou.
— Aliás, já naufragamos tantas vezes que nenhuma parte deste navio deve
pertencer a armação original.
Um brilho repentino cintilou na mente do Ômega. Ele desceu do convés
superior com um único salto, e correu até a cabine do Capitão.
Assim que o contramestre saiu, a sua entrada foi permitida. Ele encontrou
Hornigold sentado de frente a mesa, bebendo tequila enquanto examinava
os mapas.
— Está se dando bem com a tripulação, grumete?
— Sim, senhor. Hm… — Francis examinou os mapas. — Quanto, ao
tesouro…
— Se veio para me cobrar é melhor parar por aqui mesmo — o Alfa
ergueu a mão. — Prometi ao meu contramestre que o próximo que viesse
me perguntar sobre isso, eu atiraria para fora do navio. Você ainda é muito
jovem para morrer, então tenha cuidado com o que vai perguntar.
— Na verdade, senhor, tenho uma observação a fazer.
Hornigold encarou o menino. Aquela era apenas a segunda vez que
conversava com ele, mas gostava de fazê-lo. O garoto tinha um ar
inteligente, e o melhor de tudo, suas respostas sinceras lhe eram divertidas.
— Pois não? Faça sua observação, estou ouvindo.
— Acredito que o galeão japonês tenha naufragado.
O Alfa arregalou os olhos.
— Eles desconfiam que esteja mentindo, mas o senhor fala com tanta
convicção sobre esse tesouro que me convenceu. — O Ômega continuou.
— É comum que naufrágios aconteçam por essa região? Não estou muito
familiarizado com viagens marítimas.
— Eh… Eu… Sim… Deixe-me ver — Benjamin removeu alguns objetos
que estavam em cima do mapa. — Estamos aqui — ele indicou um lugar.
— E aqui se encontra o Triângulo da Morte.
— Já ouvi falar.
— É possível que naufrágios aconteçam sim, mas é raro longe do
Triângulo. — O Alfa explicou enquanto o menino puxava o mapa para si, e
tomava uma bússola que também estava em cima da mesa. — Ei, o que está
fazendo?
— Pensando… — Francis respondeu, sem tirar a atenção do objeto.
Benjamin ficou em silêncio, enquanto o Ômega murmurava baixinho
consigo mesmo: — Estamos seguindo nessa direção, hm, certo. Isso
significa que o vento está soprando pra lá…
Francis apontou numa direção, ainda mantendo a atenção no mapa.
Hornigold olhou no sentido em que o dedo do garoto apontava, depois
voltou a olhar o mapa quando Francis guiou seu dedo para lá novamente,
seguindo em linha pelo mar no pedaço de papel.
— Estamos na rota do tesouro, se o galeão naufragou… — O Ômega
continuou. — Seus destroços foram levados até aqui. — Ele parou com o
dedo exatamente em uma ilha pequena, e ergueu o rosto para encarar o
Alfa. — O que o senhor acha?
Mas Benjamin Hornigold não tinha o que falar. Sua expressão estupefata
confundiu o Ômega, e Francis estava se perguntando se ele havia passado
pouco óleo sobre sua pele, e o capitão acabou descobrindo o seu segredo.
— Capitão Hornigold? — Engoliu em seco.
— Você… — Francis largou a bússola na mesa e regressou os passos
conforme o Alfa avançava devagar em sua direção. — Qual é o seu nome
mesmo?
— Francis Bonny.
— Francis Bonny… — O Alfa repetiu quando parou de andar. — Você é
a minha galinha dos ovos de ouro!
— Quê? — O menino franziu o cenho.
— Onde está dormindo atualmente?
— No porão. Não há mais espaço nos dormitórios.
— A partir de hoje você ficará em minha cabine. Não se preocupe, farei
com que meus Alfas tragam uma cama confortável pra você. — Francis
ficou parado observando o capitão seguir até as estantes. — Vamos virar
essas duas pra cá, e então você pode dormir nesse canto aqui.
— Senhor, foi apenas uma observação. Tem certeza disso? Não estou
reclamando, mas…
— Você não tem ideia da enorme dor de cabeça que esse tesouro vem me
causando… Essa foi a observação mais inteligente que alguém já fez em
relação a este maldito.
— E se eu estiver errado?
— Você e seu cérebro astuto continuarão comigo nesta cabine. —
Hornigold sentenciou. — Agora vá buscar suas coisas.
O Ômega deu de ombros e desceu até o porão. Estava rezando para que o
tesouro estivesse naquela ilha, dessa forma, conseguiria moedas suficientes
para começar uma nova vida em outro lugar, além de nunca mais ter que
olhar na cara de Edward Teach novamente.
A tripulação levou apenas um dia para chegar na ilha em questão. Ela era
pequena e inóspita, possuía alguns rochedos enormes que formavam um
precipício à beira do mar. De longe era possível enxergar apenas parte do
galeão destruído. Mas conforme os botes que desceram do Ranger se
aproximavam do lugar, o brilho do outro espalhado por baixo da água rasa
da margem cintilavam nos olhos dos piratas.
Logo, toda a tripulação estava desembarcando na praia. Os destroços do
navio estavam espalhados por todos os lados, assim como baús quebrados
exibindo muitas moedas de ouro ainda dentro. Também haviam moedas
dentro da água, e os piratas levaram alguns dias até conseguirem remover
todo o outro daquele local.
Com o tempo que havia se passado, também se foi junto o prazo dado por
Edward Teach. O Alfa já estava começando a perceber os sinais de seu rut,
quando todos embarcaram no Ranger novamente.
— Já tomou sua decisão? — Ele puxou o Ômega para seu quarto,
enquanto o mesmo passava pelo corredor. — Estou pegando fogo!
— Pois entre em combustão e queime sozinho! — Francis soltou o braço
e rumou para fora.
Edward o puxou novamente e fechou a porta, o empurrando contra a
madeira. Seus olhos estavam vermelhos.
— Caiu nas graças do velho Hornigold, agora tá se achando o tampa, não
é?! Deixa ele saber que você não passa de um Ômega!
— Tire suas mãos imundas de mim! — Ele exigiu quando Edward o
abraçou fortemente. — Pare!
O Alfa ignorou tentando beijá-lo. Quando passou a língua contra os
lábios do Ômega, Edward o largou no momento em que sentiu uma aguda e
forte dor quando foi mordido. Sangue fluía de sua boca através do
ferimento. Quando deu por si, tomou um chute no abdômen e perdeu o
equilíbrio, caindo para trás.
Francis abriu a porta e saiu correndo, na direção do convés. Mas não
havia para onde fugir, a não ser que ele pulasse no mar.
Pouco depois, Edward apareceu no convés, com sua boca, suas mãos e
roupa sujos de sangue. Seus olhos ainda permaneceram da mesma cor
enquanto procurava pelo outro.
— Há um Ômega a bordo do navio! — Ele rugiu para que todos
ouvissem.
— Do que ele está falando? — Os piratas se aproximaram.
— Ele acabou de me agredir no dormitório porque descobri seu segredo
sujo — Edward contou, exibindo o sangue. — É o preferido do capitão!
Francis Bonny!
Benjamin estava na porta, prestes a perguntar o que era toda aquela
gritaria. O contramestre surgiu trazendo consigo o Ômega pelo braço. Ele o
empurrou e Francis caiu no chão, diante da tripulação.
— Não pode ser… — Benjamin murmurou.
— Ah, não? Pois então veja isso, Capitão… — Edward agarrou um balde
com água e jogou em cima de Francis.
A espuma juntamente com a água removeu boa parte do óleo, e o cheio
de chocolate finalmente foi sentido pelos demais marujos. Era doce e
intenso. Não restava dúvidas, aquele menino todo encharcado e encolhido
no pavimento, era um Ômega.
— Como permitiu que ele subisse a bordo, Capitão?! — As acusações
iniciaram.
— O miserável enganou a todos nós!
— E se eles estiverem juntos?
— É um complô para nos roubar!
— Quietos! — O Capitão rosnou.
— O que devemos fazer?
— Amarrem ele no mastro — Hornigold decidiu. — Preciso pensar um
pouco a respeito…
— Pensar?! Não tem o que pensar!
— Façam o que mandei! — Benjamin bateu a porta quando se trancou na
cabine.
Os Alfas pegaram cordas e obedeceram o Capitão, deixando o Ômega
preso no mastro da proa.
— Vou pedir ao capitão pra deixar a gente se divertir com ele um pouco
— um pirata lambeu os próprios lábios.
— Eu vou ser o primeiro. — Um outro se aproximou.
— Sai daqui, seu porra! A ideia foi minha!
Uma briga se formou no convés, e Francis os encarava com espanto
conforme eles disputavam sobre quem o tocaria primeiro, rosnando
ameaças e contando o que faria com o menino.
Aqueles Alfas eram terrivelmente violentos, sujos e tenebrosos. Alguma
coisa precisava ser feita. Seu raciocínio foi interrompido quando Edward
Teach parou diante dele.
— Você poderia simplesmente ter feito o que mandei. Tenho certeza que
iria gostar, mas agora, olha pra isso… — Ele exibiu os Alfas e Betas se
agarrando no chão, brigando feito cachorros no cio. — Eu não gostaria de
estar na sua pele agora.
— Nem eu. — Fenn riu.
— Talvez o Capitão me deixe usar você primeiro, já que fui eu quem o
denunciou.
— Eu também quero! — O irmão dele solicitou. — Você fica uma hora
com ele, depois é minha vez.
— Estou em meu rut, animal! Preciso dele comigo durante todos esses
dias. — Edward respirou fundo, controlando-se para não tocar no Ômega.
— Ali está, lá vem o Capitão.
Assim que Hornigold abriu a porta, os piratas cessaram a briga e ficaram
de pé, esperando o líder se aproximar para enfim dizer seu veredito.
— Ninguém toca nele. — O Capitão decidiu, para o choque da
tripulação.
— O senhor enlouqueceu?!
— Parece que teremos de fazer uma votação e trocar de capitão...
— Vocês já viram como é que tá a porra do porão? — Hornigold
perguntou. — Aqueles baús cheios de ouro só estão conosco porque este
Ômega nos levou até o local exato. Querem matá-lo? Tudo bem, afinal
vocês são a maioria. Mas estejam certos de que estarão jogando fora, as
chances de obtermos sucesso em nossas próximas investidas.
— Está superestimando ele. — O Contramestre argumentou.
— Não, eu não estou. — Benjamin se aproximou e cortou as cordas que
mantinham o Ômega preso. — Acreditem em mim, esse garoto é um gênio.
— Capitão! — Edward se aproximou ofegante. — Já que eu descobri a
verdade, permita que ele passe o meu rut comigo.
— Eu sinto muito, Ed — Hornigold encarou o jovem Alfa com o olhar
cheio de pena. — Não vou danificar a minha galinha dos ovos de ouro.
— Mas-...
— Sei que é um lúpus e seu rut é mais intenso. Mas essa é a minha
decisão final. — O Capitão acenou para que Francis o acompanhasse. —
Tente encontrar alguma coisa no porão e se satisfaça sozinho. Você é forte,
sei que ficará bem.
Edward Teach podia sentir suas veias saltarem devido a fúria que
ferozmente circulava pelo seu corpo. Ele viu quando o Ômega olhou para
trás e sorriu, mostrando o dedo do meio.
— Maldito Hornigold!
— Calma, Ed — Fenn tocou em seu ombro. — Esse miserável tá com os
dias contados.
— Se você falar um pouco mais alto ninguém vai ouvir, seu idiota! —
Edward rosnou com sarcasmo.
O Alfa lúpus rugiu com ira, devido aos olhares de pena que os piratas lhe
dirigiam. Ele esbarrou contra alguns bucaneiros que estavam em seu
caminho e desceu até o porão, onde passaria o restante de seus dias de rut
em agoniante isolamento.
☠ ☠
Conforme os dias se passavam, o jovem Francis ganhava ainda mais a
admiração do Capitão Hornigold. Em contrapartida, a tripulação ainda não
se sentia confortável com o fato de terem um Ômega a bordo.
Para eles, a presença de Francis Bonny traria à tona maldições sobre a
tripulação. Devido às superstições ignorantes, a maioria o desprezava e
faziam questão de humilhá-lo sempre que tinha uma chance.
— Limpe o convés. — O contramestre exigiu.
Francis não reclamou. Ele apenas assentiu, pegou um balde, uma escova
e se colocou de joelhos, esfregando o chão engordurado do pavimento
superior.
Quem passava por onde ele estava cuspia no chão ou batia a sola dos
sapatos, para sujar ainda mais. Ele ignorava as ofensas pois mantinha em
sua mente que, em breve, estaria livre e rico para viver sua vida.
No entanto, à medida que acompanhava os piratas em saques e lutas
empolgantes, o Ômega sentia-se mais vivo. Ganhou até mesmo uma longa
espada do próprio capitão, no qual desenvolveu grandes habilidades
treinando sozinho, ou nos próprios ataques feitos pela tripulação.
Após mais um saque bem sucedido os piratas estavam comemorando,
bebendo na proa ao som da banda.
— Viva o Capitão Hornigold! — Alguém ergueu uma caneca com rum.
— Viva! — Todos responderam.
— Não, meus amigos — Benjamin negou balançando a cabeça. Ele
passou o braço pelo ombro do único Ômega a bordo, e afirmou com um
sorriso orgulhoso: — Um brinde a Francis Bonny. O sucesso dessa
emboscada foi um plano dele, não se esqueçam disso.
— Parece que esse ratinho é um bendito de um cara muito esperto. —
Um pirata riu.
— Talvez ter um Ômega a bordo não seja tão agourento como dizem. —
Outro afirmou.
— É a minha galinha de ovos de ouro!— Hornigold brindou.
A tripulação parecia estar muito satisfeita com o rumo dos
acontecimentos. Benjamin estava sorrindo contente com o aumento de sua
riqueza. Os bons anos de abundância finalmente voltaram, depois de um
longo período de decepções.
O Capitão temia que, cedo ou tarde, um motim seria criado para expulsá-
lo do comando. Como todos sabem, um líder só permanece no poder
enquanto trás grandes conquistas à tripulação. Mas graças àquele Ômega,
Benjamin conseguiu reconquistar a confiança dos bucaneiros.
Pelo menos era como Hornigold imaginava, mas por trás de tanta euforia
dos piratas, havia alguns que se comportavam ligeiramente incomuns.
Quando se voa muito alto, acredita-se que não há ninguém acima, mas eles
estão lá, tentando derrubar a todo custo.
Francis estava um pouco mais afastado, observando a comemoração dos
piratas enquanto bebericava um pouco de rum. Ele via olhares, sorrisos e
abraços. Analisava as expressões de cada pirata, e percebia que nem todos
estavam sendo sinceros.
Acreditando que se tratava devido a sua presença, ele resolveu anunciar
ao capitão Hornigold sobre seu desejo de deixar a tripulação. Embora
tivesse se apaixonado por aquela vida, não queria viver para sempre em um
lugar onde seria diariamente odiado e humilhado. Foi justamente por isso
que fugiu para não se casar.
— Capitão, eu gostaria de receber a minha parte dos saques. Pretendo
desembarcar no próximo Porto.
— Por que? — O Alfa fechou o livro de registros e o encarou. —
Alguém está ameaçando você?
— Não, senhor.
— Pensei que estivesse gostando da pirataria.
— E estou… Mas a tripulação nunca vai se acostumar com o fato de ter
um Ômega a bordo. Essa situação me deixa desconfortável. Não me
encaixo aqui.
— Escute, Francis. Não se trata de ser aceito ou se encaixar. Pirataria se
trata de riqueza, do quanto você consegue saquear e acumular. Apenas isso.
— Não considera importante o que sua tripulação acha?
— Sim. Mas se eles são contra minhas posições, eu permaneço firme no
que acredito. E no momento eu acredito que você é muito bem vindo aqui.
— Ficou feliz em saber disso.
— Se você ainda quiser ir embora, eu entendo. Mas se aceitar um
conselho de uma pessoa mais velha, eu acho que você não tem que fugir
para sempre. Vamos encontrar dificuldades em todos os momentos da nossa
vida, principalmente você por ser um Ômega. Mas se decidir ficar e lutar,
você conseguirá um coração tão forte que ninguém conseguirá destruir.
— Obrigado, Capitão. — O Ômega sorriu com os olhos marejados. As
palavras de Hornigold haviam lhe tocado. — Não vou mais fugir. A partir
de hoje, serei aquele que ficou, lutou e venceu.
— Muito bem. Seu pai ficaria orgulhoso. Há quanto tempo não o vê?
— Há pouco mais de um ano.
— Se sente saudade, pode voltar a Nabuco…
— Estou bem. Pertenço a uma tripulação agora. Tenho obrigações com
meu Capitão.
Hornigold sorriu, assentindo. Ambos sobressaltaram quando a porta da
cabine foi aberta abruptamente pelo contramestre.
— Marinha se aproximando pela proa!
— Preparam os canhões! — O Capitão ordenou, saindo da Cabine. O
Ômega puxou a espada e o seguiu.
Uma embarcação da Marinha Real coreana se aproximava a toda
velocidade na direção do Ranger. O galeão era menor, mas possuía um
poder de fogo superior. O navio de Hornigold era grande em tamanho para
conseguir armazenar uma maior quantidade de cargas.
— Eles estão se aproximando a mais de dez nós! — O atirador observou
com uma luneta.
— Timoneiro, vire a embarcação a estibordo! — O capitão ordenou. —
Preparem-se para a batalha!
— Aquele galeão tem pólvora suficiente para nos mandar pelos ares! —
O contramestre avisou. — Temos de fugir!
— Podemos atacar diretamente em seu ponto fraco! — Francis opinou
encarando o galeão de aproximar.
— E qual seria? Eles possuem praticamente o dobro de canhões a mais
do que nós!
— Exatamente isso — o Ômega sorriu. — Seus canhões!
— O quê?! Esse menino enlouqueceu, Capitão.
— Vamos trombar! — Francis falou com o líder, sem dar atenção ao que
o contramestre dizia. — Vire a proa contra a lateral do galeão.
— Assim vamos ficar em pedaços. — Hornigold avaliou.
— E destruir os canhões deles. — o Ômega acrescentou. — Somos
maiores, Capitão. Um arranhão no casco não derruba esse navio.
— Façam o que ele diz! — Benjamin ordenou. — Icem todas as velas!
Velocidade máxima contra o galeão!
Conforme os navios se aproximavam, entravam na mira um do outro. O
galeão virou seus canhões para que ficassem apontados contra o Ranger, e
sob as ordens do comandante, tiros foram disparados contra a embarcação
pirata.
— Fomos pegos!
— Os botes viraram estilhaços!
O galeão coreano permaneceu com seus disparos, criando buracos e
destruindo a armação do navio pirata. O comandante imaginou que eles
fariam uma curva para ficar lado a lado, e tentar usar seus canhões mais de
perto. Mas o navio pirata continuou avançando de frente, contra a lateral da
Marinha.
— Preparem-se para o impacto! — Hornigold bradou.
O comandante do galeão ao se deparar com o enorme navio vindo
extremamente rápido em sua direção, tentou impedir a colisão ordenando
aos seus oficiais que movessem o navio imediatamente. Mas não houve
tempo para tal.
A proa do Ranger chocou-se contra os canhões laterais do galeão. O
impacto afundou o casco do navio da Marinha, fazendo seus canhões serem
retraídos em suas posições, tornando-os consequentemente inutilizáveis.
Os piratas invadiram o galeão, ao passo que o timoneiro da marinha
tentava remover o navio, mas estavam presos e a água começou a invadir o
interior da embarcação.
Alguns marinheiros pularam no convés do Ranger, na tentativa de
subjugá-los e tomar o navio. No meio da luta, Francis encontrou um Alfa
que não via há muito tempo.
— Hyunsik!
— Francis?! — Ele atirou contra um pirata e virou-se para o Ômega: —
Por Deus, como o mundo é pequeno!
— Conseguiu se casar, finalmente? — O Ômega se defendeu de um
ataque, investindo no mesmo instante contra outro inimigo.
Hyunsik riu, lembrando-se do motivo pelo qual viu o Ômega pela última
vez, onde Yejun Bonny tentou uni-los em matrimônio. Não houve tempo
para responder, os piratas retornaram para o Ranger e sendo maioria, os
oficiais não tiveram outra escolha a não ser fugir.
Em meio ao alvoroço, Francis viu quando Edward Teach ergueu uma
caixa com pólvora se preparando para lançar contra o Capitão Hornigold.
Sem pensar duas vezes, o Ômega puxou sua pistola, mirou na caixa e
disparou.
A caixa explodiu a milímetros da cabeça de Edward, e o jovem Alfa
gritou, sentindo parte do rosto queimando e derretendo.
O barulho da explosão chamou a atenção de Hornigold. O Alfa olhou
para trás e viu Edward gemendo com a mão no rosto, rugindo e
amaldiçoando o mundo inteiro.
— O galeão está afundando! — Um pirata avisou.
— Recuar! — Benjamin ordenou e as velas foram posicionadas de modo
que o navio pirata se libertasse das entranhas do galeão.
A tripulação comemorou o triunfo em cima da Marinha. Hyunsik e
outros que conseguiram escapar da morte, tentavam se salvar do naufrágio
em botes, enquanto o Ranger se distanciava.
O navio estava literalmente caindo aos pedaços, mas conseguiria navegar
por pelo menos alguns dias.
— Cuidem dos feridos. — Hornigold ordenou.
Edward e mais outros bucaneiros que foram feridos gravemente durante a
batalha, foram levados pelos companheiros até o médico na enfermaria.
— Para onde iremos, Capitão?
— Nabuco é a melhor opção! — Alguém opinou.
— Não. Nabuco é um ninho de cobras. — o Capitão afirmou. — Acerte o
curso para Cabuga.
— Mas em Nabuco teremos mais recursos para consertar as avarias! —
O contramestre tentou fazê-lo mudar de ideia.
Hornigold ponderou. O contramestre não estava completamente errado,
mas Benjamin precisava de uma opinião que, ao seu ver, era a mais
confiável.
— O que você acha, Francis?
— O quê!? — o Contramestre se colocou diante do Capitão. A tripulação
assistia em silêncio. — Você considera o que essa coisinha fala mais
importante do que eu, o seu braço direito?!
— Eu só pedi a opinião dele. Calma, Cirilo. Não precisa se descontrolar.
O contramestre rosnou, encarando o Ômega, assim como os outros Alfas
e Betas que esperavam pela resposta dele.
— Concordo com Cirilo que Nabuco possui mais recursos — Francis
iniciou. — Contudo, nas condições do navio-...
— Lá vem bosta! — O Contramestre interrompeu.
— Deixe ele continuar. — Hornigold solicitou.
— Nas condições do navio, a Marinha vai terminar o serviço antes
mesmo de chegarmos no Porto. Cabuga pode ter menos recursos, mas é
uma ilha pirata. Estaremos mais seguros lá.
— Está decidido. — O Capitão deliberou com sua voz de Alfa, para não
deixar dúvidas de que ainda estava no comando. — Quem estiver achando
ruim, pegue um dos botes que restou e desembarque agora mesmo.
Os piratas trocaram olhares, alguns concordando, outros nem tanto.
Mesmo que o Ômega tivesse um ponto, pelo menos metade da tripulação
acreditava que Benjamin Hornigold já não era o mesmo. O Alfa não dava
um passo sem a devida orientação de Francis Bonny.
Com a tripulação dividida, a vontade do Capitão se sobressaiu. As velas
do Ranger foram içadas e o navio levado até a Ilha de Cabuga, para reparos.
A viagem de quatro dias foi mais longa do que o esperado. O clima entre
os piratas não era dos melhores. Edward Teach mantinha um curativo em
seu olho esquerdo, e estava mais fechado do que o habitual. Conversava
apenas pelos cantos entre os seus, o que deixou Francis desconfiado.
Hornigold manteve-se em sua cabine a maior parte do tempo. Não queria
encarar sua tripulação. Esperava que assim que chegasse em Cabuga, o
conserto do Ranger elevasse a confiança dos piratas em si.
— Capitão, eu não quero me precipitar fazendo acusações… — Francis
comentou baixinho, enquanto os piratas se preparavam para ancorar. —
Mas eu acho que-...
— Então não faça. — Hornigold o encarou com um semblante sério. —
Eu aprecio a sua opinião quando estou interessado. Agora não é o
momento.
— Eu vi quando Edward Teach tentou lançar um barril de pólvora no
senhor. — O Ômega ignorou.
— Você deve ter visto errado, eu conheço aquele garoto há mais tempo
que você. Acolhi ele e o irmão quando se tornaram órfãos. Os dois são
extremamente gratos por isso.
— Tudo pronto, Capitão. — Cirilo avisou.
Benjamin e Francis disfarçaram, seguindo cada um para um lado
diferente. O contramestre os observou por um tempo, em seguida levou
alguns bucaneiros consigo para o esteiro da ilha.
Conforme as semanas se passavam, Hornigold não observava nada de
estranho se passando ao seu redor, estava mais preocupado com o conserto
da proa e as avarias causadas pelos canhões do galeão.
Mas um grupo de piratas liderados por Cirilo tinham a intenção de tomar
o posto do Capitão, já que uma votação não seria suficiente pelo fato de a
tripulação estar dividida.
No dia em que os consertos do Ranger finalmente chegaram ao fim, a
tripulação solicitou a permissão de Hornigolg para comemorar. O Capitão
autorizou, é claro, ele mesmo queria estar entre os festejos.
A banda tocava no convés e os bucaneiros tomavam rum
despreocupadamente, quando as luzes foram subitamente apagadas. A
escuridão se espalhou pelo navio, Benjamin questionou sobre o que estava
acontecendo, mas quem estava com ele não saberia responder, e os que
saberiam, obviamente não iriam se manifestar.
— O que está acontecendo? — O Capitão se levantou. — Acedam as
luzes imediatamente!
O barulho agoniante de uma Alfa engasgando com o próprio sangue
alarmou os bucaneiros. Ela caiu no chão com a mão na garganta, tentando
conter a perda de sangue. Mas faleceu segundos depois.
Ouviram-se lâminas sendo desembainhadas, e segundos depois um grupo
de piratas atacaram o Capitão Hornigold. Quem ainda era fiel a ele,
puxaram suas armas e se juntaram a ele em sua defesa.
Cirilo avançou contra o Benjamin, e ambos entraram na cabine onde a
luta continuou. Francis viu quando seu Capitão havia sido encurralado e
correu para ajudá-lo, mas os irmãos Edward e Fenn se colocaram em seu
caminho.
— Você escolheu o lado errado, Ômega. — Edward comentou e seu
irmão sorriu apoiando. — E vai se arrepender por ter me feito isto!
O Alfa puxou os curativos de seu rosto, exibindo que não havia nada ali
além de uma pele derretida, cobrindo o que um dia foi seu olho. A
queimadura se estendia até mais da metade da face, e deixava a bochecha
um pouco recaída.
Edward e Fenn atacaram Francis covardemente ao mesmo tempo. Mas o
Ômega agarrou um cabo e o cortou, sento instantaneamente puxado para
cima. Ele se equilibrou na trave que suportava uma das velas, puxou a
pistola e disparou contra eles.
Os irmãos correram para se proteger, trocando disparos com ele.
— Suba até ele! — O mais velho rosnou.
— Você não manda em mim, Edward! — Fenn atirou outra vez, mas foi
surpreendido por um Beta que o atacou na retaguarda, por pouco ele não
conseguia se defender.
O próprio Alfa lúpus decidiu subir atrás dele. Ele cortou um outro cabo e
fez o mesmo que o Ômega, equilibrando-se do outro lado da viga em que
Francis estava.
— Lute de espada comigo — Edward pediu. Francis estava com a pistola
apontada na direção dele. — Prove que você vale o tanto que Hornigold
acha.
— Não preciso provar nada a você.
Edward rosnou soltando o cabo que ainda segurava. Francis apertou o
gatilho mas não acertou o Alfa. O tecido da vela solta o cobriu, impedindo-
o de enxergar. Mas ele ouviu os passos de Teach vindo em sua direção,
ergueu a espada cortando o tecido e ao mesmo tempo, evitando que a
lâmina do Alfa chegasse em seu peito.
Ambos lutavam com suas espadas, ao passo que tentavam se equilibrar
na mais alta trave que segurava as velas presas aos mastros. Edward rugia a
cada golpe defendido por Francis, e seu único olho estava vermelho e cheio
de fúria.
O Alfa bradou a espada, cada vez mais empurrando o menor para a
extremidade da trave. Ele ergueu o braço e lançou a arma, na tentativa de
pôr um fim àquela luta, quando o Ômega segurou no apoio de cima e pulou
por cima de Edward.
Quando o Alfa girou o corpo para confrontá-lo novamente, foi recebido
por uma espada que perfurou seu abdômen. Francis o chutou e o corpo dele
foi lançado para trás. De cima, ele viu quando Edward caiu no mar. Ele
ainda olhou na direção da cabine quando ouviu um disparo, e então desceu,
indo ao auxílio de seu Capitão.
Assim que chegou na porta, ele encontrou o corpo de Hornigold no chão,
enquanto Cirilo se preparava para desferir o golpe final. Quando notou que
o Ômega estava na cabine, o contramestre virou-se contra ele para se
defender.
Francis sacou a pistola mas foi surpreendido quando o Alfa agarrou seu
pulso e lançou seu corpo contra o dele. O Ômega caiu de costas na mesa,
com o outro logo acima.
A mão que segurava a pistola estava presa contra a mesa, enquanto a
outra segurava o pulso do Alfa, impedindo-o de perfurar seu olho. A lâmina
descia à medida que ele não conseguia conter a força de Cirilo, mas um
chute no meio das pernas do Alfa o desestabilizou completamente.
Cirilo cambaleou para trás e caiu de vez, quando finalmente o Ômega
acertou o centro de seus olhos com um disparo da pistola. Francis correu até
Hornigold e caiu de joelhos ao seu lado. O Capitão cuspia sangue conforme
respirava com dificuldade.
— F-Francis…
— Não fale nada! Eu vou chamar o médico! — Ele tentou se levantar,
mas Benjamin segurou no tecido de sua roupa, fazendo-o voltar. —
Capitão?!
— Não há nada que possa ser feito — o Alfa tossiu. — Este é o meu fim.
— Não diga isso! — Os olhos de Francis encheram-se de lágrimas.
— Escute, Francis, não temos muito tempo. — Ele tossiu novamente,
dessa vez respirando com mais debilidade. — Me perdoe, eu não ouvi você
quando tentou me advertir.
— Poupe suas forças.
— Seja forte. Seja grande. Faça o mundo conhecer a força de um Ômega.
De repente, a mão que segurava o tecido da roupa dele perdeu a força.
Lágrimas desceram pelas bochechas do mais novo, e ele apoiou o rosto no
peito de Benjamin.
Mas não havia tempo para lamentações, Francis ouviu passos se
aproximando através da porta e imediatamente puxou sua pistola, olhando
para trás com seus olhos prateados e cobertos por lágrimas. Ele disparou à
medida que se levantava, derrubando o Beta que mal tinha avançado dois
passos para dentro da cabine.
Com uma pistola em uma mão e a espada na outra, o Ômega avançou
contra aqueles que traíram seu Capitão. Obtendo apoio de outros que ainda
eram fiéis a Hornigold. Seu coração ardia de raiva e tristeza. O cheiro do
sangue escorrendo pelo convés, era menos fétido que a traição que
presenciou.
Seu rosto, cabelo e roupas estavam sujos de sangue e suor, quando o
último dos traidores perdeu sua vida sob a mira da pistola dele. Francis
caminhou até a popa da embarcação e encarou o oceano sozinho.
Os piratas que restaram, juntavam os cadáveres enquanto discutiam sobre
o que seria feito. Devido ao motim, Capitão e contramestre foram mortos,
logo não havia nenhum outro que pudesse assumir a liderança naquele
instante.
— Vamos pra outro lugar — Um Alfa chamado Abel ponderou. —
Quando as outras tripulações souberem do motim, vão querer tomar o
Ranger para si.
— Mas e os mortos? Eles eram camaradas decentes…
— Jogaremos seus corpos no mar. — Todos ergueram o rosto quando
ouviram a voz do Ômega, e viram ele se aproximando. — Abel tem razão, é
hora de partir.
Os piratas assentiram e colocaram-se a limpar os vestígios da sangrenta
luta. Outros içaram a âncora e soltaram as velas. Em poucos minutos o
Ranger estava navegando novamente, rumo ao oceano.
Após os corpos dos bucaneiros amigos serem lançados ao mar, Francis
estava na cabine organizando a bagunça deixada pela batalha, enquanto
pensava em Benjamin e nos ensinamentos que o Alfa lhe deixou, assim
como em suas últimas palavras. Ele abriu o diário de bordo sobre a mesa,
registrando tudo o que havia acontecido a Hornigold, quando a porta foi
aberta e Abel entrou, junto ao timoneiro.
— Hm… Oi — o Alfa parou próximo a mesa, o Beta ficou um pouco
mais atrás. — Então… eu estava verificando o porão, Hornigold gastou
bastante com os consertos e comemorações.
— A tripulação já decidiu o que será feito? — O Ômega guardou o
diário.
— Não… — Abel fez uma pausa, olhando para o timoneiro. Depois
voltou a encarar o Ômega. — Estamos esperando você decidir.
Francis piscou com uma expressão confusa desenhando seu rosto.
— Por que eu? — Ele de fato jamais havia cogitado ficar no lugar do
Capitão.
— Nós conversamos no convés e concordamos que se o Hornigold
confiava em você, é porque devemos fazer o mesmo.
— Estão desesperados por um líder e com medo de serem os próximos a
serem traídos. — Francis cruzou os braços, encostando na mesa. — O
Ômega aqui seria a melhor opção para o teste, estou errado?
Abel olhou para trás novamente, mas o Beta desviou o olhar. Com isso,
ele voltou a encarar o Ômega.
— Não… Claro que não.
— Vai ter que se esforçar mais se quiser me enganar, Abel. — Francis lhe
encarou profundamente, deixando o Alfa desconcertado.
— Está bem, ninguém decidiu nada além do Jihoo e eu. — Abel
confessou. — Você é o mais novo e mais inexperiente de todos nós. Vai ser
fácil descobrir se alguém aqui ainda está tramando alguma coisa se você for
o próximo Capitão.
— E para descobrir isso vocês querem me jogar como sacrifício?
— Não leve para o lado pessoal.
— Você deve ter testículos no lugar do cérebro.
O Beta riu. Abel rosnou, e o timoneiro voltou a ficar sério novamente.
— É mesmo, Ômega dotado de toda inteligência? — Francis suspirou,
sorrindo. O Alfa se aproximou um pouco mais, até ficar a meros
centímetros de distância. — Diga-me, então, o que pretende fazer?
— Aceitar sua proposta.
— Como é?! Você acabou de falar que preciso de muito para te enganar,
e agora está simplesmente aceitando de bom grado?
— Não confunda as coisas. Estou aceitando por que eu quero, não porque
faz parte dos seus planos. — O Ômega ficou de pé, Abel regressou alguns
passos para lhe dar espaço. — Vamos ver o que eles acham disso.
Após o motim, a tripulação com cerca de cem Alfas e Betas caiu para
pelo menos metade disso. Os que não morreram, fugiram com medo do
mesmo fim.
Os piratas se encontravam reunidos no convés, formando um grande
círculo. Abel indicou Francis para novo capitão do Ranger e Jihoo o apoiou.
Contudo, a maioria se mostrou ainda em dúvida, e logo os questionamentos
vieram:
— Não podemos ir contra o código pirata. Ele nem mesmo pode estar a
bordo deste navio, quem dirá ser capitão.
— Vai ver foi por causa disso que essa desgraça aconteceu ao pobre
Hornigold. Fomos amaldiçoados!
— Não pode colocar a culpa das más ações das pessoas nos Ômegas. —
Abel defendeu. Francis o encarou com um olhar desconfiado. — Nossa
tripulação diminuiu consideravelmente, e ainda querem perder mais
membros?
— Seja você o nosso Capitão, Abel!
— É, Abel — o Ômega cruzou os braços, sorrindo com sarcasmo. —,
seja você o capitão.
Abel respirou fundo quando o encarou de volta, tentando controlar a
raiva.
— Eu não posso.
— Por que não? — Os piratas inclinaram-se ansiosos.
— Não sei o que fazer. — Houve murmúrios incômodos entre a
tripulação.— Se acham ruim, assumam o comando!
Os piratas começaram uma discussão, com ameaças e maldições, um
querendo rosnar mais alto que o outro. Francis respirou fundo, revirando os
olhos. Aqueles Alfas sempre resolviam suas questões com brigas e
xingamentos, e os Betas iam pelo mesmo caminho.
— Vamos saquear pequenos navios mercantes. — A voz do Ômega fez
os demais se calarem por um momento.
— A gente precisa ir pra Nabuco recrutar mais Alfas. — Thon opinou. —
Nossa tripulação foi cortada pela metade.
— É isso — ele recebeu apoio. — Assim que a gente chegar em Nabuco,
eles vão implorar pra entrar no Ranger. É sempre assim.
— Eu não contaria com isso — o Ômega refutou. — Hornigold
conseguia ser bastante convincente, mas sem ele, vamos precisar de mais do
que apenas palavras.
— E o que você sugere, então? Como vamos saquear navios com poucos
Alfas?
— Não temos tão poucos assim. A tripulação do Hornigold que era
grande mais. — Abel disse.
— Por acaso eu ouvi muitas conversas enquanto trabalhei no estaleiro do
meu pai — Francis iniciou. — O Capitão do Vulture conseguia seus saques
por uma rota pouco conhecida, onde o transporte de seda é a principal fonte
de comércio.
— E por onde fica essa rota?
— Não sei.
— Você só pode estar brincando.
— Eu nasci em Nabuco. Deixei a ilha pela primeira vez em dois anos, o
que vocês queriam? Eu não entendo muito bem de mapas… Onde está o
navegador afinal?!
— Morreu em batalha.
— Eu posso ajudar com isso — Abel ergueu a mão. — Eu entendo um
pouco de navegação.
— Estamos começando muito bem — um pirata riu com sarcasmo. —
Um Ômega no comando, um navegador que sabe pouco do ofício, um
timoneiro pau mandado... Perdemos os melhores e agora somos um grande
grupo de fracassados.
— Mas sempre tem um que só sabe reclamar — Abel virou-se para ele.
— Em toda tripulação tem um cara que quando abre a boca só fala merda.
Em nosso caso é você.
— Vou te mostrar quem-...
— Vocês vão ficar o dia todo rosnando e mostrando sua presas um para o
outro, ou vão içar a porra das velas?! — O Ômega rugiu. — Nunca vamos
conquistar nosso objetivo se ficarmos navegando em círculos.
— Vocês ouviram. Ao trabalho! — Abel fortificou. — Vamos mostrar a
eles que o Ranger continua firme e forte!
— Sobre isso… — Francis articulou. — Eu vou rebatizar o nome do
navio.
— Por que isso agora? Estava bom assim.
— Não, não — Abel interrompeu. — Acho que vai ser uma boa ideia
deixar o antigo nome para trás, com toda a merda que aconteceu. Se vamos
recomeçar, que seja com uma nova identidade.
— E qual vai ser?
Os piratas entraram em uma nova discussão, em busca de uma insígnia
que seria o novo símbolo da tripulação. Francis olhou para o céu e embora
ainda estivesse claro, a lua já estava lá, se preparando para iluminar o mar a
noite.
— Luna. — o Ômega afirmou. A tripulação ficou em silêncio quando ele
virou-se para encará-los: — A vida, assim como a lua, é feita de fases
diferentes; o importante é que ela nunca perca o seu brilho.
— Eu gostei. — Jihoo defendeu. — Eu sei desenhar bandeiras, posso
criar a insígnia.
— Ótimo — Francis sorriu para ele. — Venha, Abel. Temos um itinerário
para criar.
Abel assentiu e acompanhou o Ômega. Os piratas sentiram-se inspirados
com a sensação de recomeço, e logo trataram de mover as velas para
aproveitar o que restava da luz solar, e percorrer a maior distância possível
até que o breu cobrisse a face das águas.

☠ ☠
Poucas semanas após a escolha do novo capitão, o Luna navegava
próximo a um conjunto de ilhas adjacentes às Filipinas. A embarcação cuja
bandeira hasteada carregava o emblema de uma lua em sua fase crescente,
estava oculta por uma enseada de uma ilha, aguardando um pequeno navio
mercante se aproximar.
Assim que chegaram perto o suficiente, as velas do Luna foram içadas e
o navio cercou a embarcação mercante. Assustados com a repentina
aparição, os mercadores correram para chamar seu comandante.
— Preparem os canhões! — Abel determinou.
— Não. — Os piratas hesitaram quando ouviram a voz do Capitão. —
Ainda não.
— Não podemos dar tempo para eles pensarem. Eles vão fugir!
— Eles irão fugir se virem uma artilharia pesada mirando neles. É
instinto. — O Ômega explicou. — Alcem a bandeira preta.
— Deixe-os tentar — Abel sorriu insano. — Iremos pegá-los de qualquer
jeito.
— Por que gastar recursos e munição, se podemos simplesmente fazê-los
se render?
— Odeio a sua lógica — Abel bufou. — Não é nem um pouco divertida.
Na embarcação mercante, os marujos aguardavam ordens do comandante
para fugirem imediatamente. Mas o líder ponderava porque eles não
estavam atacando.
— Senhor, precisamos fugir! É um navio pirata. Não conheço aquela
bandeira, mas a julgar pelo número de canhões…
— Não estão ativados — o comandante avaliou através da luneta. —
Vejam! Eles içaram a bandeira preta! Isso significa que terão piedade em
uma invasão.
— Podemos fugir!
— Eles possuem mais velas. Uma fuga seria impossível — o comandante
determinou. — Icem a bandeira branca.
Com a rendição anunciada, o timoneiro do Luna aproximou o navio perto
o bastante até que as vigas de madeira foram encaixadas entre os navios.
Francis foi o primeiro a cruzar as embarcações, seguido por Abel e outros
Alfas. Os marujos do navio mercante paralisaram conforme os piratas
ocupavam o espaço no convés.
— O meu nome é Francis Bonny — o Ômega caminhou entre a
tripulação rendida. Ele parou diante do comandante e sorriu quando
anunciou: —, e eu estou assumindo o controle deste navio.
— Onde está o capitão daquele navio? — o comandante perguntou ao
Ômega.
— Você está falando com ele.
— Como é…?! — Os marujos entreolharam-se confusos.
Aquela era a primeira vez que eles estavam vendo um Ômega como
capitão de um navio pirata. Aliás, eles nunca tinham visto Ômega algum no
comando de qualquer embarcação.
Talvez ainda houvesse a chance de recuperar o controle, diante de uma
liderança “frágil”. O comandante levou a mão vagarosamente até a pistola
em seu coldre, mas engoliu em seco quando sentiu a ponta da espada do
Ômega sendo pressionada contra sua garganta.
— Faça qualquer gracinha, comandante, e eu usarei seus ossos como
carvão no meu navio. — Ele pressionou um pouco mais, o Alfa tremeu
recuando. — Será que fui pouco claro?
— N-não!
— Abel, verifique as cargas no porão — Francis comandou, e o Alfa
assentiu.
Aquela foi a primeira das inúmeras invasões sofridas pelos navios
mercantes. O porão do Luna estava repleto de seda, farinha, açúcar e pedras
preciosas.
À medida que as embarcações saqueadas retornavam para seus reinos,
rumores de que havia um Ômega dominando o contrabando nos mares ao
Sul, se espalharam pelos vilarejos.
Depoimentos sobre a sua aparência chamavam a atenção, devido ao fato
de ser completamente diferente das bestas raivosas que estampavam os
cartazes de procurados.
Quando ancorou no Porto de Folsom, o Luna já era conhecido por toda
costa asiática. Os locais comentavam sobre um navio com uma lua
crescente na bandeira, que estava parado na costa, cheio de cargas.
Após uma longa temporada no mar atacando e saqueando, os piratas
receberam de seu capitão a recompensa mais benquista de todas; alguns
dias para se divertirem nos famosos bordéis de Folsom.
Como eram feitos para agradar apenas Alfas e Betas, Francis frequentava
uma das poucas tabernas onde os profissionais dos bordéis não
compareciam para oferecer seu trabalho.
— Você vem aqui todos os dias, sozinho — o Beta que guarda o bar
comentou enquanto limpava as mesas. A taberna estava vazia, com exceção
dele e de Francis. — Onde está sua tripulação?
— Estão ocupados.
— É claro… Mas você é muito bonito, poderia estar com quem quiser
agora.
— Já ouviu falar naquele velho ditado? — O Beta negou, se
aproximando para ouvir a resposta: — Antes só, do que mal acompanhado.
— Nossa… — o Beta sorriu, colocando a mão sobre o peito. — Foi uma
indireta?
— Eu não sei. — Francis sorriu também. — Me diga você.
— Eu acho que não… — Ele apoiou as mãos na mesa em que o Ômega
estava. — Você é durão, não é à toa que se tornou capitão de um navio
pirata. Se eu estivesse incomodando, você faria mais do que jogar indiretas.
— Está certo.
— Viu? Sou diferente de um Alfa, pois ainda me resta um pouco de
cérebro.
Francis riu divertido, negando com a cabeça.
— Está tentando me agradar?
— Tá tão na cara assim? — O Ômega balançou a cabeça assentindo. —
E eu consegui, pelo menos?
— Está no caminho certo.
— Ravi, estou me recolhendo — um Alfa mais velho avisou, subindo as
escadas.
— Você tem que fechar a taberna agora? — O Beta negou com a cabeça.
— Por que não se senta um pouco?
— Não posso beber com os clientes. Mas nada me impede de pagar uma
bebida para um Ômega que estou conhecendo… Você aceita?
— Eu gosto de rum...
— Ótimo. Eu já volto.
Francis acompanhou com o olhar o Beta seguindo até o bar. Ele apanhou
uma garrafa de rum e uma caneca, e logo retornou à mesa para sentar-se
junto ao Ômega.
— Há algo que tem me deixado curioso desde que ouvi falar em você. —
Ravi informou. — Você não parece ter mais do que vinte anos. Quantos
anos tem?
— Dezoito.
— Uau…
— O que foi?
— Você é apenas dois anos mais novo, e já comanda um navio conhecido
em muitos mares. Enquanto eu vivo de limpar mesas e vômitos de bêbados
nojentos.
— A vida é mesmo uma caixinha de surpresas.
— Por que diz isso?
— Até um tempo atrás eu estava limpando o convés do navio, sendo
humilhado pela tripulação. Hoje sou o Capitão deles. — Francis indicou
com orgulho. O Beta assentiu. Não tinha o que falar, logo ficou admirando
o Ômega em silêncio. — Por que me olha desse jeito?
— Nada…
O Beta desviou o olhar, e Francis sorriu para ele. A garrafa de rum ainda
estava na metade, e assim continuou. Eles estavam tão distraídos em uma
conversa harmoniosa, que se esqueceram da bebida.
Um barulho na porta do primeiro andar fez o Ômega entrar em alerta,
levando a mão ao cabo da pistola.
— O que foi isso?
— Provavelmente foi o meu pai. Aquele Alfa que subiu as escadas. Ele é
sonâmbulo. Deve estar sonhando que está destelhando o prédio mais uma
vez.
— Está tão tarde assim?
— Por que? Você precisa ir a algum lugar?
— Não… Voltar pro navio, talvez. Mas estou com preguiça. — Francis
relaxou, apoiando a testa na mesa.
— Meu quarto fica apenas a alguns metros daqui… — o Ômega ergueu a
cabeça com o cenho franzido. — Eu fui muito direto?
— Imagina... — respondeu com sarcasmo.
— Desculpa.
— Tudo bem, eu gosto de sinceridade.
— Então, gostaria de conhecer o meu quarto?
— Está me convidando pra dormir com você ou apenas conhecer o
cômodo?
— Eu não pretendo dormir, Capitão Francis… Se também for da sua
vontade, é claro.
O sorriso presunçoso do Ômega deu lugar a um rosto corado. Ele
apanhou a caneca de rum e tomou todo o conteúdo restante de uma só vez.
— Mostre-me o caminho.
Ravi levantou e de maneira respeitosa, ofereceu a mão para ajudar o
Ômega a se levantar. Francis aceitou e se deixou ser guiado por um
corredor que os levou até o quarto do Beta. Ele deu passagem e esperou que
o mais novo entrasse primeiro, logo após também entrar no aposento ele
fechou a porta.
— É bem modesto. — O Beta comentou a medida que Francis observava
os detalhes do quarto.
O cômodo era semelhante aos demais quartos das pousadas que às vezes
o pirata descansava, com uma cama, uma pequena mesa com duas cadeiras
e uma cômoda.
Simples lamparinas iluminavam o ambiente. O que o diferenciava dos
demais quartos era a decoração, que parecia mais pessoal. Haviam quadros
retratando paisagens pela parede, todos muito bonitos. Mas apenas um
chamou de fato a atenção do pirata, por se tratar de uma pintura de algum
Ômega completamente sem roupas.
— Eu deveria ter tirado isso daí… — Ravi disse sem jeito, coçando a
nuca.
— Parece que você não é tão diferente dos Alfas, afinal de contas… — O
Ômega riu.
— Nunca foi crime apreciar o que é belo.
Ravi se aproximou devagar, parando rente às costas do Ômega. Quando
virou-se de frente para ele, Francis sentiu os batimentos acelerarem quando
o Beta tocou em seu rosto. Ele estava muito perto.
Francis Bonny ficou conhecido por ter saqueado dezenas de navios
mercantes, sem ter disparado um único tiro de canhão. Além de ser descrito
como um Ômega muito feroz em batalha. Quando seus olhos se tornavam
prateados, era melhor sair de seu caminho, diziam.
Contudo, depois de longos meses navegando pelo Oceano Pacifico, de
Norte a Sul. De tantas lutas, invasões e saques, ele nem sequer havia sido
beijado uma única vez.
Quando mais moço, ele gastava seu tempo ajudando o pai no estaleiro, e
à medida que se tornava mais velho, tornou-se assustador para a maioria
dos Alfas. Os que tinham coragem de se aproximar nem sequer ousavam
cogitar a possibilidade de cortejá-lo. Aquele Ômega era diferente de
qualquer outro já visto.
É como dizem; os Alfas têm medo dos Ômegas fortes e inteligentes.
— Não tenha medo… — Ravi sussurrou quando o beijou carinhosamente
na bochecha.
— Não estou com medo. — Ele de fato não estava, mas o Beta podia
sentir um pouco de hesitação da parte dele.
Ravi não contestou, apenas sorriu para ele e continuou beijando-lhe pelo
rosto, vagarosamente, como se estivesse ganhando sua confiança.
Francis manteve os dois braços largados ao lado do corpo, não tinha
certeza do que fazer naquele momento, apenas aguardou. Ravi então
segurou as mãos dele e as guiou até seus ombros.
— É como uma dança. — O Beta afirmou.
— Eu nunca dancei.
— Posso guiá-lo se quiser.
O Capitão assentiu balançando a cabeça lentamente. Ravi se aproximou
devagar, aproveitando cada segundo daquele instante, admirando os lábios
do Ômega poucos segundos antes de juntá-los com os seus.
Francis teve a sensação de estar em um barco à deriva, sem se preocupar
com a direção do vento, apenas se deixando levar em águas calmas. Ravi
tinha toques suaves, e entender cada centímetro do Ômega era como
desbravar um oceano desconhecido. Era preciso cuidado e muita atenção.
O Beta entendeu que Francis não era o único sentindo algo novo alí. Ele
se deu conta de que havia aprendido pela primeira vez o que realmente era
amar o corpo de alguém. Aquela noite foi diferente de qualquer outra que já
tenha passado com algum outro Ômega ou Beta.
Logo que amanheceu, Ravi foi o primeiro a despertar. Ele aproveitou que
o Ômega ainda estava dormindo para admirá-lo um pouco mais. Mas não
demorou muito, e logo Francis abriu os olhos e piscou algumas vezes se
situando. Ele sorriu quando viu Ravi lhe observando em silêncio, e foi
retribuído.
— Como se sente? — O Beta perguntou, acariciando o cabelo castanho.
— Bem, e você?
— Eu estou ótimo. — O sorriso dele cresceu. — Melhor impossível.
Ambos ficaram alguns minutos deitados na cama, conversando ou
simplesmente apreciando o momento. Um tempo depois, Ravi se levantou
na intenção de preparar uma refeição para eles e levar até o quarto, mas foi
pego de surpresa quando saiu da cozinha e viu o Ômega ocupando uma das
mesas da taberna.
— Eu ia levar até você. — Ele colocou a bandeja em cima da mesa.
— Estou faminto.
Ravi sorriu vendo o Ômega servindo-se. Ele também fez o mesmo.
Um pouco mais tarde, o pai de Ravi abriu as portas da taberna, dando
início a mais um dia de expediente. Ao invés de voltar ao navio, Francis
decidiu ficar ali mesmo, conversando com o Beta e assistindo-o trabalhar.
Preocupado com a ausência de seu Capitão, Abel decidiu procurá-lo
pelas tabernas da cidade, encontrando-o em pouco tempo de busca.
Assim que entrou no estabelecimento, ele viu quando um Beta que
segurava uma toalha e uma bandeja, beijou a bochecha de seu Capitão, bem
ali, diante de todos. Tomado por um sentimento de fúria, ele se aproximou
com visível raiva estampando suas feições.
— Que pensa que está fazendo, Beta? — Ele se colocou na frente do
Ômega, como uma proteção. — Afaste-se do meu Capitão!
— O que deu em você? — Francis o virou para si.
— Ele estava se aproveitando do senhor.
— Ninguém estava se aproveitando de mim, Abel.
— Quem é ele? — Ravi observou curioso e surpreso.
— Meu contramestre.
— Devo içar a âncora, Capitão?
— Não.
— Mas não íamos zarpar hoje cedo?
— Mudei de ideia. Ficaremos mais dois dias em Folsom. Tenho certeza
que a tripulação concorda com isso. Avise aos demais.
— Não acho que seja uma boa ideia.
— Qual o problema aqui exatamente, Abel?
— Será que podemos conversar sem que um Beta enxerido escute?
Francis ergeu as sobrancelhas. Abel sempre foi um Alfa prudente, e foi
exatamente por isso que foi escolhido como braço direito. Não havia
motivos para estar se comportando daquela maneira.
— Com licença. — Ravi apoiou a pequena toalha no ombro e se retirou.
— Vai me explicar que porra ta acontecendo aqui? — O Capitão indagou.
— Eu não gostei do jeito que aquele Beta estava te tratando.
— Quem tem que gostar sou eu, não você.
Abel respirou profundamente antes de tentar beijar o Ômega. Francis se
afastou, com choque expressando suas feições.
— Não faça isso.
— Desculpe… Me desculpe, Capitão. Eu… — O Alfa passou a mão no
rosto. Em seguida, segurou na mão do Ômega e o puxou consigo para um
canto menos movimentado da taberna. — Eu gosto de você.
— O quê!?
— Eu me apaixonei por você. Esperava que fosse correspondido. Não
devia ter demorado pra contar.
— Abel, me ouça — O Ômega chamou calmamente. Tendo a atenção do
mais alto para si, ele continuou: — Eu gosto de você, mas não do jeito que
deseja.
— É por causa daquele Beta desgraçado, não é?
— Não importa. O fato é que esse sentimento que você tem por mim não
é recíproco, eu sinto muito. Isso é tudo. Quero que respeite o meu espaço.
— Como desejar… — O Alfa olhava para Ravi com fúria nos olhos.
Francis percebeu suas intenções.
— Abel, olhe para mim. — Este o encarou. — Fique longe dele. Não
ouse tocar em um fio de cabelo dele. Se você o prejudicar de alguma
maneira vai se ver comigo, eu fui claro?
— Sim, senhor.
— Ótimo. Agora volte pro navio, ou para um dos bordéis em que
perambulou por esses dias.
Francis não esperou por qualquer resposta, e mesmo que esperasse, Abel
não saberia o que dizer. Ele realmente havia passado todos aqueles dias se
divertindo com os profissionais dos bordéis. Além de que não fazia sentido
algum cobrar qualquer sentimento do Ômega por si.
— Me desculpe por aquilo. — Francis murmurou assim que voltou a
sentar no mesmo lugar de antes.
— Tudo bem. Parece que ele ficou um pouco bravo por ter me visto com
você. Espero não ter trazido problemas sérios.
— Problema algum. Esses Alfas às vezes pensam que possuem algum
controle sobre mim. Algumas vezes preciso mostrar quem está no comando.
Ravi sorriu, inclinando o corpo para murmurar no ouvido do Ômega:
— Você falando desse jeito fica muito tentador.
Francis sorriu quando respondeu no mesmo tom:
— Vai ter que esperar até a noite.
— Você duvida eu colocar todos pra fora e fechar essa taberna agora
mesmo? É só dizer sim.
— Pare com isso. Seu pai vai brigar com você.
O Beta suspirou em um lamento evidente, mas aceitou. Ele trocou
olhares significativos com o Ômega conforme trabalhava servindo ou
limpando as mesas. No fim do expediente, Ravi fechou a taberna e apreciou
cada instante que teve com o Capitão Francis.
O Ômega também fez o mesmo. Foi divertido passar esses dias na
companhia do Beta.
E na manhã do segundo dia, Ravi já não queria que Francis o deixasse.
— Você realmente tem que ir? — O Beta abraçou-o fortemente na cama.
— Já me estendi demais por aqui.
— Sabe que sempre que voltar para Folsom, será muito bem vindo aqui,
certo?
— Fico feliz em saber disso. — Francis lhe concedeu um último beijo, e
logo estava de pé, vestindo-se para finalmente partir.
Ravi o acompanhou até o Porto, onde se despediu do Capitão Francis,
com quem compartilhou dias inesquecíveis de uma paixão rápida, porém
intensa.
Assim que subiu a bordo do Luna, Francis buscou pelo contramestre, e
este, parecia ter deixado para trás todo sentimento que havia confessado.
☠ ☠
Ilha de Nabuco - 1672
Yejun Bonny estava sentado em sua oficina tomando café enquanto
observava a figura do seu filho, ilustrando um pergaminho com uma certa
quantia oferecida em sua captura.
— Este lugar continua com o mesmo cheiro terrível de alcatrão —
William Rivers comentou assim que entrou na oficina do estaleiro.
— Capitão Rivers? — Yejun se levantou, quase derrubando a cadeira.
— Onde estão as peças que solicitei semana passada?
— Ainda não estão prontas. Eu falei com a ferreira e ela-... — A fala de
Yejun foi cortada quando Rivers bateu em uma bigorna com violência,
derrubando a ferramenta.
— Você quer que eu toque fogo nessa choupana que você chama de
estaleiro?!
Yejun estremeceu temendo que o Capitão Rivers cumprisse o prometido.
Ele agarrou uma lamparina e ameaçou jogar sobre as cordas e tecidos
utilizados para consertar velas.
— Não vai fazer isso! — Uma voz firme soou na entrada da oficina.
William Rivers rosnou quando olhou para trás. Os olhos de Yejun quase
saltaram assim que viu seu filho entrar no escritório, e outros Alfas logo
atrás.
O cabelo castanho estava oculto por um chapéu, e ele vestia um longo
casaco de veludo. Por cima de uma faixa que ornamentava a cintura, havia
um coldre com duas pistolas e uma espada embainhada.
Seu rosto, embora em aparência parecesse o mesmo de quando deixou a
ilha há cerca de dois anos, parecia igual, exceto por uma cicatriz que
cortava uma de suas sobrancelhas. Havia algo a mais naqueles olhos
castanhos de que Yejun se lembrava.
— Olha só, então o ratinho voltou pra toca. — Rivers riu.
— Capitão Francis, pra você. — Abel avisou.
— Capitão? — William olhou surpreso. — Então qualquer um se torna
capitão hoje em dia.
— Cai fora. — Francis exigiu.
— E quem vai me tirar daqui? — Rivers avançou contra o Ômega, mas
parou imediatamente quando os Alfas da tripulação dele puxaram suas
armas e apontaram para si. — Parece que você possui alguns cães de
guarda.
— Você vai deixar meu pai em paz.
— Sairei daqui, mas antes quero minhas peças.
— O que você quer é irrelevante.
— Eu tenho um acordo com ele.
— Estou refazendo os termos. Você vai embora e não levará nada, e eu
pouparei sua vida.
— Você acha que pode rosnar mais alto que eu?
Francis removeu a pistola do coldre e mirou o cano no meio dos olhos do
Alfa. Rivers nada fez, além de observar em silêncio. Se movesse um
centímetro, seria alvejado pelas armas dos demais piratas do Luna.
— Rosnar mais alto não vai impedir que eu deixe um buraco no meio da
sua cara.
William Rivers era, até então, o Capitão mais temido dos sete mares. Foi
extremamente humilhante para ele, ser expulso do estaleiro por um jovem
Capitão que ainda estava começando a ficar conhecido.
Assim que o Alfa se retirou, Yejun deu alguns passos até ficar próximo
do filho. Francis não sabia o que esperar, havia fugido de casa e sumido por
cerca de três anos, agora estava ali, diante de seu pai.
Yejun observou o filho com seus próprios olhos, em silêncio por alguns
segundos. Ouviu falar sobre ele e suas conquistas pelos mares do Sul, mas
para ele, Francis Bonny continuava sendo aquele pequeno Ômega que
corria pelo estaleiro no meio dos Alfas, e chegava em casa tarde da noite,
com o cabelo bagunçado e sujo de graxa.
— Oi, pai… — disse, olhando-o hesitante.
— Meu filho! — Yejun o abraçou fortemente.
Uma sensação de conforto tomou conta dos dois. O Alfa dormia todas as
noites rezando para que Netuno, o deus dos mares, protegesse o seu
pequeno e o trouxesse de volta para si, para que pudesse abraçá-lo pelo
menos uma última vez.
Suas preces foram ouvidas e seu filho estava ali, na proteção de suas
asas. Ele já não era o mesmo Ômega de antes. Era o Capitão de um navio.
Mas ainda assim, era seu pequeno Francis.
— Perdoe seu velho pai. Tudo o que eu queria fazer era pensando no seu
bem.
— Acredito no senhor, pai. Está tudo bem. Eu o amo muito! — Francis o
abraçou novamente.
— Senti a sua falta — o mais velho expressou. — Todos os dias.
— Agora acredita que posso me cuidar sozinho?
— Oh, Francis. Agora estou mais preocupado do que nunca. — O Alfa
confessou, rindo e secando algumas lágrimas. — Mas sim. Você retornou,
como Capitão de um navio. Estou muito orgulhoso do quanto és forte.
Bonny abraçou o filho mais uma vez, para senti-lo tanto quanto
necessitou durante todo o tempo em que ele esteve longe. Francis contou ao
seu pai sobre as histórias e desventuras que passou, o mais velho ouvia
atentamente cada palavra.
Em outra ocasião, Yejun fez questão de fazer uma vistoria e aperfeiçoar o
Luna. O navio estava deixando a desejar, embora tenha sido consertado em
outros Portos, não havia ninguém melhor do que o velho Bonny para fazê-
lo desempenhar suas funções de maneira exímia.
Muitas cargas foram vendidas, o que chamou atenção não apenas dos
comerciantes de Nabuco, mas daqueles Alfas e Betas que ainda não
pertenciam a nenhuma tripulação, ou estavam cogitando trocar de capitão.
O assunto que chegou a uma das tabernas mais movimentadas de
Nabuco, era de um navio ancorado cuja insígnia era de uma lua crescente, e
seu Capitão um Ômega. O próprio Francis Bonny entrou naquela taberna,
em busca de marujos para sua tripulação.
— É ele… — murmúrios foram ouvidos.
Alfas e Betas olhavam disfarçadamente para a mesa em que Francis
estava, outros nem tanto. O fato era que todos queriam ver com seus
próprios olhos, quem era o famigerado Capitão Ômega que obteve tanto
lucro, em tão pouco tempo.
— Todos estão olhando na nossa direção. — Abel comentou. Ele
ocupava a mesa com o Capitão Francis e mais alguns Alfas.
A maioria era de apenas curiosos. Alguns se ofereceram para entrar na
tripulação, mas não a quantidade que estavam esperando. Mesmo com
todos aqueles saques, ainda havia aqueles que duvidavam da liderança de
um Ômega.
Contudo, Francis já havia imaginado um baixo número de candidatos.
Mas aquilo era apenas o começo. O que ele não esperava era que o Capitão
Rivers fosse até a taberna em que ele estava, em busca de uma retaliação.
— Onde está o Ômega que brinca de ser pirata? — Ele entrou esbarrando
em quem encontrava pela frente. Assim que o viu ocupando uma das mesas,
ele caminhou diretamente até o mesmo. — Temos contas a acertar.
— Eu não tenho nada a tratar contigo.
Rivers chutou a cadeira em que o Ômega estava sentado, fazendo-o
balançar para o lado.
— Será que eu deveria matar cada membro da sua tripulação? — O Alfa
puxou a pistola e mirou diretamente no cozinheiro. — Pra ver você
correndo de volta pro papai quando estiver sozinho?
Antes que pudesse apertar o gatilho, Francis desembainhou a espada e o
Alfa teve segundos para se defender, usando a pistola como escudo para
bloquear a lâmina de acertar seu ombro esquerdo.
As mesas foram desocupadas de supetão quando a luta teve início. Os
Alfas de William Rivers não permitiram qualquer intervenção por parte da
tripulação do Luna,
Rivers teve de trocar a pistola pela espada rapidamente, assim que quase
teve o braço decepado ao tentar mirar no Ômega. Francis era muito ágil em
seus ataques, e o Alfa mal tinha tempo de se defender, sendo seguidamente
lançado para trás, para esquivar dos ataques.
Próximo da porta, o Ômega bateu com o cabo da espada no rosto de
William quando usou a lâmina para se defender. Ele chutou o Alfa que
instantaneamente se desequilibrou e caiu escada abaixo, indo parar no chão,
no meio da rua.
Quem estava dentro da taberna saiu para continuar assistindo a luta, e
outros curiosos que passavam pelo local, se juntaram à multidão fazendo
um círculo ao redor de ambos.
Francis se aproximou para continuar com seus ataques, quando foi pego
de surpresa por uma nuvem de areia que cobriu seus olhos. Rivers se
recuperou no mesmo instante, e lançou-se contra o Ômega. Ele manteve o
peso do próprio corpo em cima do menor, e puxou seu cabelo para que
erguesse a cabeça quando rosnou para que todos ouvissem:
— Você me fodeu naquele estaleiro, agora chegou a minha vez de foder
você!
Rivers largou o cabelo dele para abrir o próprio cinto, acreditando que
estava mantendo-o sob seu controle, embaixo de si. Mas o Ômega lançou a
cabeça para trás, batendo contra o nariz de William. O Alfa caiu para trás,
sentindo-se ligeiramente atrapalhado.
Francis sentiu dificuldade para enxergar, mas encontrou sua espada
novamente quando sentiu seu pé pisando em algo firmemente sólido. O
Alfa mantinha a mão no nariz, onde o sangue que escorria indicava que
estava quebrado. Ele engoliu um rosnado, para não entregar ao Ômega sua
localização.
Rivers ergueu a espada e caminhou em silêncio. A cada passo que dava,
seu nariz pintava sangue no chão. Francis estava segurando com firmeza o
cabo da espada, respirando profundamente enquanto se concentrava nos
passos do Alfa.
O vento entregou Rivers quando ele tentou lançar seu ataque contra o
Ômega. Assim que investiu a espada contra Francis, este se abaixou ao
mesmo tempo que erguia a própria arma, para impedir de ser atingido pelas
costas. Ele girou e assim que sentiu o Alfa logo a sua frente, avançou com a
espada perfurando o abdômen dele.
William regressou alguns passos conforme o Ômega avançava contra ele,
quem estava no caminho abriu passagem imediatamente. Rivers teve as
costas pressionadas contra a parede de um outro prédio. Ele cuspiu uma
grande quantidade de sangue quando Francis puxou a espada de seu corpo
e, seguindo os instintos de seu lobo Ômega lúpus, lançou a lâmina em uma
altura suficiente que cortou a garganta do Alfa.
Francis voltou dois passos quando Rivers desabou de joelhos em sua
frente, engasgando com o sangue que escapava de sua boca e garganta. Ele
caiu de frente para o chão, e dentro de poucos segundos a vida o deixou. O
Ômega ainda lançou a espada para o lado, quando ouviu alguém se
aproximar.
— Calma, Capitão! Sou eu! — Era a voz de Abel. — Mostre seus olhos.
O Ômega sentiu alívio à medida que a água limpava a areia de seus
olhos. Quando finalmente voltou a enxergar, ele viu uma poça de sangue
sobre seus pés, e o corpo de William Rivers estendido no chão.
A população o olhava com medo e espanto, mas também com admiração
e encanto. Foi assustadoramente assombroso assisti-lo enfrentando o
Capitão Rivers, mesmo de olhos fechados. Todos foram testemunhas.
Ao contrário do que William Rivers garantiu, o sobrenome Bonny se
tornou uma lenda em Nabuco, e as canções sobre o valente Ômega lúpus
que enfrentou e venceu o terrível Capitão atravessaria os mares, e chegaria
aos ouvidos de de todos os vilarejos pelo mundo afora.
☠ ☠
Em algum lugar do Oceano Índico - 1675
Com uma tripulação em maior número e um navio fortemente armado, o
Luna navegava pelos mares próximo da Índia. Estava perseguindo uma
outra embarcação pirata que covardemente tentava fugir do navio
comandado por Francis Bonny.
— Prepare os morteiros. — O Capitão Ômega ordenou. Ele observava o
convés do outro navio ao longe, utilizando sua luneta ornamentada em ouro.
— Destruam o mastro deles.
O atirador assentiu. Havia Alfas dispostos em cada aparelho quando o
Capitão Francis deu a ordem, os canhões soaram disparos contra o navio
logo a frente. Bolas de ferro conectadas por uma corrente, acertaram os
mastros do outro navio, destruindo-os instantaneamente.
Sem velas suficientes para dar continuidade à fuga, o navio foi
rapidamente alcançado pelo Luna. Os piratas inimigos não demonstraram
intenção de se renderem, e uma contenda foi iniciada até que finalmente a
tripulação foi rendida.
— Vocês são idiotas ou o que? — Capitão Francis indagou, passando
pelos mortos no convés do navio inimigo. — Poderiam ter evitado essas
perdas se apenas tivessem se rendido.
— Seu maldito Ômega desgraçado! — Uma voz familiar chegou aos
ouvidos de Francis. Quando olhou para trás, ele reconheceu de imediato o
Alfa ruivo que conheceu há alguns anos, mas que agora possuía uma longa
barba e muitas cicatrizes pelo rosto. — Deveria ter morrido com o
Hornigold!
— Fenn Teach? — O Ômega se aproximou, com o cenho franzido. —
Onde está seu irmão para lhe dizer o que fazer?
— Eu não preciso daquele merdinha, e não me chame por este
sobrenome nojento! Eu sou Barba-Ruiva, o terror dos mares! — Ele rosnou,
exibindo as presas.
— Nossa — Francis sorriu. — Realmente, estou tremendo de medo.
O contramestre do Ômega o chamou, e ele virou-se para ouvir:
— Capitão, há vários baús com ouro e pedras preciosas na cabine e
também no porão.
— Leve tudo pro Luna. Não deixe uma única moeda. — Francis indicou.
— Não me dê as costas! — Fenn rugiu, mas não pôde se aproximar já
que estava sendo contido por alguns Alfas. — Eu estou falando com você!
— Vai catar os piolhos da tua barba! — O Ômega balançou a mão,
fazendo careta. — Não tenho tempo pra lidar com você agora.
Ignorando os rugidos, pragas e maldições de Fenn Barba-Ruiva, Francis
retornou à cabine do Luna e anotou no diário de bordo os registros dos
saques daquele dia.
Enquanto terminava as anotações, ele podia ouvir a tripulação
comemorando a gigantesca obtenção com o navio de Fenn.
Com o porão repleto de mercadorias, o Capitão Francis não tinha outra
escolha a não ser retornar a Nabuco, para vendê-las por um valor
considerável. Em troca de suas cargas, o Ômega aceitava apenas moedas de
ouro. Por este motivo, o Luna também era chamado de a Lua Dourada.
Ilha de Nabuco - 1676
Assim que o Luna ancorou em Nabuco, diversos comerciantes já se
encontravam no cais, tentando obter as cargas valiosas do afamado navio
pirata. Em seu poder não havia apenas uma grande quantidade de produtos,
mas também eram da melhor qualidade.
Após um longo dia negociando suas mercadorias, o Capitão Francis e sua
tripulação seguiram para uma taberna, onde finalmente puderam descansar
os dias cansativos no mar. O Luna era um navio extremamente grandioso, e
seu porão estava em grande quantidade ocupado por baús cheios de moedas
de ouro, jóias e pedras preciosas.
Embora o navio não fosse um dos mais bem armados, não havia uma
única alma corajosa o bastante, capaz de tentar saquear o navio capitaneado
por Francis Bonny.
Contudo, havia uma instituição conhecida pela alcunha de, a Ordem,
responsável por diversos tipos de serviços como, assassinato, sequestro,
torturas e etc. Além disso, eles recebiam uma grande quantidade de moedas
quando caçavam piratas e os entregavam à Marinha Real, visto que a
mesma sequer era capaz de fazer seu próprio trabalho.
A instituição era secreta e misteriosa, ninguém sabia sua localização
exata, mas tinha-se conhecimento que eles estavam espalhados por todo o
mundo. A Ordem enviava constantemente caçadores para capturar os
piratas.
No caso do Capitão Francis Bonny, o valor era bem maior. Com isso, era
necessário enviar o melhor de todos à sua procura. Lee Seungho não era
exatamente o prodígio da instituição, mas sua linhagem próxima dos
antigos líderes da Ordem, deu-lhe a chance de receber a missão de capturar
o notório pirata.
Lee passou uma semana observando os passos do Capitão Francis, para
que seu plano saísse exatamente como havia planejado. Ele iria esperar o
Ômega passar por uma viela a noite, e o pegaria de surpresa em uma
emboscada. Ninguém enxerga melhor na escuridão, do que um Alfa lúpus.
Naquela noite, enquanto esperava o seu alvo, Lee mantinha-se
concentrado olhando na direção em que Francis sempre voltava da taberna.
Estava tudo arquitetado para capturar o pirata, quando de repente ele sentiu
um cano gelado de uma pistola sendo pressionado contra sua nuca, que o
fez estremecer da cabeça aos pés.
— Está perdido? — Era com certeza a voz de um Ômega.
Lee engoliu em seco. Só podia ser ele.
— Perdão? — Ele tentou virar o corpo, mas o som da trava sendo
desativada o fez congelar. — Vamos conversar… — Lee não sabia o que
dizer, estava perdido. O máximo que poderia fazer era ocupar o Ômega por
tempo suficiente para pensar em uma estratégia. Ele pigarreou, antes de
continuar: — Estou apenas observando o vai e vem dos transeuntes.
Sentiu alívio ao escutar uma risada atrás de si.
— Essa é a sua melhor desculpa?
— Sou um admirador seu.
— Own, que fofo. Eu quase acreditei. — O Alfa engoliu um rosnado.
Francis segurou na pistola com mais firmeza. — Vou te dar um tempo pra
pensar numa resposta mais convincente… cinco, quatro…
Nada do que Lee tentasse iria convencer o Ômega de que era verdade, e
ele só tinha alguns segundos para sair daquela enrascada. Usar sua voz de
lúpus poderia ser arriscado com ele apontando a pistola em sua nuca. Caso
desse errado, o Ômega ficaria muito bravo e aí sim, seria o seu fim.
Talvez, ser sincero fosse a única coisa que o manteria vivo por mais
tempo.
— … três, dois-
— Sou um caçador! — Lee Seungho confessou em meio ao desespero.
— Hmm, agora ficou mais interessante. — O Ômega regrediu um passo,
apenas para dar a volta e ficar frente a frente com o Alfa. E não era um Alfa
comum, era um lúpus. Alto, ombros largos, corpo em forma e o inferno de
bonito. — Muito interessante...
— Se vai me matar-
— Eu não vou te matar — Francis o cortou, observando-o dos pés à
cabeça. — A não ser que você faça algo muito estúpido.
— Como o quê, por exemplo?
— Usar sua voz.
— Eu poderia fazer isso. Tomaria a sua arma e o entregaria à Marinha
agora mesmo.
— E por que não faz? — O Ômega sorriu, o que deixou Lee hipnotizado
por alguns segundos. — Se acha que é capaz de tal proeza, então faça. O
que te impede, caçador?
Lee Seungho ponderou por um tempo.
— Não irei subestimá-lo. Eu fiz o meu dever de casa. Não estava
mentindo quando disse que sou um admirador seu.
— Só está dizendo isso porque tenho uma arma apontada pra você.
— Talvez pareça realmente, mas estou dizendo a verdade.
— É… acho que isso pode ser divertido… — Francis balançou a arma
indicando uma direção. — Anda.
— O que pretende?
— Apenas faça o que estou mandando.
Lee suspirou contra, mas não tinha o que fazer contra o Ômega
segurando a pistola. Ele apenas caminhou na frente enquanto era seguido de
perto. Estava se perguntando o que seria feito consigo, quando percebeu
que estava sendo levado diretamente para o navio do pirata.
Assim que subiram a rampa que dava acesso ao convés, alguns
bucaneiros que continuaram no Luna viram quando Francis seguiu até a
cabine, levando um Alfa consigo.
— Eita! parece que a noite do Capitão vai ser boa — Alguns deles riram.
— Foquem em guardar o tesouro que está no porão, seus imbecis! —
Abel rosnou, olhando para a porta da cabine incomodado.
Dentro do cômodo do Capitão Francis, Lee Seungho foi guiado até uma
coluna de madeira que ajudava a manter o teto firme. O Ômega colocou a
cadeira encostada nessa mesma coluna, e indicou que ele sentasse.
— Dê-me suas mãos. — Francis estava atrás dele. Ele usou correntes
para manter o Alfa preso em sua cadeira, ligado à coluna logo atrás.
— O que pretende?
— Você não queria conversar? — Ele amarrou os pés do Alfa junto às
pernas da cadeira, assim como suas mãos nas costas. — Então vamos
conversar.
O caçador estava completamente imobilizado, mesmo que usasse a sua
voz de lúpus, não teria muito o que fazer preso àquela cadeira. O que lhe
restava era continuar seguindo o jogo do Ômega.
Francis puxou outra cadeira para si, e sentou de frente ao Alfa. Ele
cruzou as pernas e colocou a pistola sobre o colo, apoiando as mãos no
joelho.
— E então?
— Então o quê? — Lee tentou manter-se calmo.
— Não vai se apresentar?
— Por que você não me desamarra daqui? Aí a gente conversa de igual
para igual.
— E você conversa com a boca, ou com o seu corpo?
— Você entendeu o que eu quis dizer.
Francis estava se divertindo com aquela situação. O Alfa era enorme,
mas naquele momento parecia um cachorrinho assustado, tentando fingir
coragem.
Lee, por sua vez, embora estivesse preocupado com a situação em que se
meteu, mantinha viva uma pequena esperança dentro de si. Se fosse
qualquer outro pirata ele teria sido morto no momento em que foi pego, mas
se estava vivo, significa que ainda tinha uma pequena chance de sobreviver.
— Qual é o seu nome?
— Lee Seungho.
— Por que estava me seguindo? — Lee ficou em silêncio. — Pretendia
me matar?
— Não.
— Então por que estava me espreitando na surdina? — O Alfa se
manteve em silêncio novamente. — Parece que eu vou ter que usar outros
métodos…
O Ômega se levantou para então remover o casaco de veludo que vestia,
e logo depois o chapéu. Ele guardou a pistola em cima da mesa e quando
virou-se para Lee, este o observava muito atentamente.
— Devo avisar que na Ordem eu fui treinado para resistir a todo tipo de
interrogatório.
Francis sorriu quando se aproximou. O Alfa estava preparado para
qualquer ato de violência menos para o que lhe aconteceria em instantes. O
Ômega sentou em seu colo de frente para ele, com uma perna de cada lado
e segurou suavemente em seu rosto.
— E para isso, estava preparado? — Ele sorriu diante do choque do Alfa.
O pirata estava muito próximo, tão perto que ele podia sentir o aroma de
chocolate através de sua respiração. — Quais são as suas intenções comigo?
Lee podia virar o rosto a qualquer momento, o Ômega não estava lhe
segurando com força. Mas ele não queria. Estava envolvido pela voz dele,
pelo cheiro. Por aquele sorriso astucioso, como se já tivesse o mundo nas
mãos.
— Eu… — Os olhos de Lee subiam e desciam entre os lábios e os olhos
do Ômega. — Pretendia entregá-lo à Marinha.
— Você sabe o que a Marinha faz conosco? — Francis estava se
referindo aos piratas. Sua voz entrava suavemente nos ouvidos do Alfa.
Lee respirou profundamente e, por um breve instante, conseguiu recobrar
o controle de suas ações. Ele fechou os olhos e engoliu saliva, antes de
responder.
— Isso não é problema meu.
— Agora é. Já que está aqui em minha cabine, sob o meu domínio. — O
Alfa umedeceu os lábios e engoliu em seco mais uma vez. — Quero saber
mais algumas coisas...
Francis prosseguiu com seu interrogatório, retirando do Alfa toda e
qualquer informação que julgou necessariamente importante, sem a menor
dificuldade. Ele obteve localizações, nomes e tudo que o ajudaria a manter-
se fora do alcance da Ordem.
Assim que conseguiu o que queria, ele se levantou repentinamente do
colo de Lee, deixando-o confuso.
— Já terminou? — Ele parecia decepcionado. — Não tem mais
perguntas?
— Não. — O Ômega caminhou despreocupadamente até a mesa, e com
um sopro suave apagou uma das lamparinas. — Estou satisfeito.
— O que vai fazer?
— Eu estou cansado. — Ele suspirou, enquanto removia as botas. — Vou
dormir, é claro.
— E eu!? Vai me deixar aqui?! — O Alfa estava claramente frustrado. —
Eu pensei que…
— Pensou o que? — Francis removeu o coldre que portava suas armas e
o colocou em cima da mesa. Ele ainda desabotoou alguns botões da camisa
para ficar mais à vontade.
— Que eu seria recompensado por ter cooperado... — Ele baixou o olhar
para o próprio colo.
O Ômega fez o mesmo. Havia uma notável ereção por baixo das calças
de Lee Seungho. Embora tenha notado enquanto estava sentado ali, Francis
ergueu as sobrancelhas, chocado pela ousadia daquele Alfa.
— Você ainda está respirando. — O Capitão suavemente apagou a chama
de uma outra lamparina. — Esta é a sua recompensa.
Através de uma janela de vidro que ficava ao lado da cama do Ômega, a
única luz presente no cômodo era a da lua. Ele subiu confortavelmente em
sua cama, e dormiu ignorando os resmungos do Alfa.
Lee permaneceu a noite inteira acordado, não apenas pela posição
desconfortável em que se encontrava, mas pela frustração. Podia sentir o
suave aroma do Ômega enquanto ele dormia tranquilamente. A cálida luz
da lua enobrecia-o, e Seungho nada podia fazer a não ser observá-lo. O
Ômega estava tão perto mas ao mesmo tempo tão longe. Malditas correntes.
☠ ☠
Na manhã seguinte, quando despertou, Francis esticou o corpo na enorme
cama de casal que dormiu confortavelmente sozinho. Ainda deitado, ele
olhou na direção em que o Alfa foi deixado. Lee ainda estava acordado,
com olheiras e um semblante terrível.
O barulho dos piratas no convés indicava que o sol já havia nascido há
um bom tempo. O Capitão se levantou, lavou o rosto e fechou a camisa
novamente. Lee apenas o observou em silêncio, enquanto ele pegava o cinto
com as armas e o prendia em volta de seu corpo.
— Liberte-me. — Seungho arriscou.
— Hmm… — Francis ponderou enquanto arrumava o cabelo utilizando
os próprios dedos. — Ainda não.
Lee Seungho rosnou balançando o corpo ferozmente, tentando se libertar
da cadeira. O Ômega apenas suspirou, negando com a cabeça. Ele girou o
corpo e quando abriu a porta, deu de cara com Abel com o punho erguido,
pronto para bater na madeira.
— Bom dia, Capitão.
— Bom dia. — Francis caminhou passando direto e puxou a porta. Antes
de ser fechada, Abel ainda o vislumbre de um Alfa sentado, preso a uma
cadeira. — Como estamos de negociação? Foram todos vendidos?
— Sim, com exceção da cabeça de javali. — Abel afirmou quando
seguiu logo atrás dele. — Um dos compradores disse que é amaldiçoada, e
ninguém mais quis. Todos ficaram com medo.
— E ela é, de fato? — O Ômega franziu o cenho.
— Não sei dizer, mas só há um lugar em que poderá negociá-la. No leilão
do Submundo de Nabuco.
— Tudo bem, eu irei até lá.
— Capitão, não é querendo faltar com respeito, mas… — Abel hesitou.
— Ômegas não são permitidos lá embaixo.
— Veremos. — Francis sorriu para ele. — Fique de olho naquele Alfa
que está em minha cabine.
— Se me permite saber, quem é ele?
— Um caçador que a Marinha mandou atrás de mim.
— E por que ele ainda está vivo?! Devemos matá-lo agora mesmo!
— Não mate. Pretendo abandoná-lo em uma ilha qualquer.
Abel assentiu, para ele aquele castigo realmente era pior do que morrer.
Capitão Francis recebeu a cabeça de javali, um objeto feito de bronze e
olhos de safira, desceu a rampa, falou com seu pai no estaleiro e logo em
seguida, rumou sozinho para o Submundo de Nabuco.
Não era de grande importância a venda daquele item, ele poderia
simplesmente jogar aquela cabeça em um lixo qualquer. Mas não era do
feitio dos piratas desperdiçar qualquer coisa que lhe trouxesse lucro.
Diferentemente do que Abel imaginou, Francis Bonny não teve
dificuldade em garantir uma vaga no leilão do Submundo, assim que exibiu
o item que levava consigo. Além dele ser nada menos que o grande Capitão
Ômega, que acumula riquezas tão rápido quanto um raio que corta uma
tempestade.
O leilão ficava em uma das camadas mais sombrias do Submundo, e
enquanto seguia para tal lugar, Francis encontrou pelo caminho um mercado
de runas. Um brilho prateado semelhante à lua chamou sua atenção, e ele se
aproximou com grande interesse.
— São runas lunares — um Alfa fechou a tampa onde ficava exposta sua
mercadoria. — Custam cem moedas de ouro.
— Isso tudo?!
— Poderá levar essas aqui também. — O Alfa ofereceu um saco com
alguns itens dentro. — Na promoção.
— E o que é isso?
— Também não sei.
Francis não estava alí para perder valores, mas sim para ganhar através
da venda de seu item. Contudo, enquanto segurava no cabo de sua espada,
sentiu que ela ficaria esplêndida se aquelas runas fossem entalhadas no
cabo. Ele então decidiu que a compra valeria a pena e adquiriu o produto.
Seguindo seu rumo pelas profundezas do lugar, ele encontrou a passagem
descrita como a dos compradores. Ele percebeu olhares sobre ele, mas
nenhum dos que estavam perambulando por ali, sequer ousou chegar perto
dele.
Uma porta foi aberta diante do Ômega. Um Alfa lúpus anotou seu
codinome ao lado de um número, recebeu a cabeça de javali e indicou uma
outra porta. Ele seguiu através dela e logo se encontrou em uma sala cheia
de cadeiras, diante de um palanque.
Francis e demais Alfas que estavam naquela sala, ocuparam cada um
uma cadeira quando o leilão teve seu início.
Algumas peças, uma mais horripilante que a outra, foram vendidas de
início. A cabeça do javali foi o quinto item a ser leiloado, e rendeu ao
Ômega uma boa quantia. Quando estava prestes a se retirar, ficou paralisado
sem saber ao certo se era engano de seus olhos, ou se aquela cena realmente
estava acontecendo.
Uma Ômega vestida com uma única túnica branca foi colocada sobre
uma mesa e exibida diante de todos. O leiloeiro apresentou a “mercadoria”
e tirou Francis de seu transe quando gritou:
— Dêem seus preços!
— Cinquenta moedas de prata! — Alguém gritou.
Logo, outras vozes se juntaram ao coro, oferecendo valores para comprar
a Ômega.
— Oitenta!
— Cento e dez!
— Mas que porra é essa!? — Francis se dirigiu ao Alfa lúpus que o
recebeu. — Estão leiloando Ômegas?!
— Este leilão vende qualquer produto que um Alfa deseja, e Ômegas
estão no pacote principal. Você foi permitido estar aqui devido ao seu
valioso item e, é claro, por ser quem é. Mas não vamos admitir uma
rebelião aqui dentro. Portanto, ou o senhor volta para a sua cadeira e
continua participando do leilão, ou pode recolher seus ganhos e se retirar
imediatamente.
— Ou eu posso cortar sua maldita garganta e usar seus órgãos como
isca! — Antes mesmo de puxar suas espada, dezenas de armas foram
apontadas em sua direção.
— Essa opção não existe. — O Alfa permaneceu calmo.
Francis respirou profundamente, largando o cabo da espada devagar. Ele
olhou para trás e voltou a se sentar em sua cadeira, ouvindo os Alfas
continuarem a lançar seus preços.
Poderia matar alguns daqueles Alfas e fugir sem nenhum problema, mas
com isso, tinha cem por cento de certeza que aquela pobre Ômega pagaria
brutalmente por isso.
— Trezentas moedas de prata!
— Mil moedas! — Capitão Francis gritou por cima. Ouviu-se um
murmurinho de vozes espantadas entre os compradores. O Alfa que havia
dado o último valor, abriu a boca para cobri-lo com mais um lance, quando
o Ômega lúpus adicionou: — De ouro.
O Alfa fechou a boca e a manteve desse jeito. Ninguém contestou o
valor, e a Ômega foi vendida para o Capitão Francis. Ela foi entregue
apenas quando o lúpus retornou trazendo mais moedas, e pagou pelo
“produto”.
A garota manteve-se com a cabeça baixa durante o percurso. Assim que
deixaram aquele lugar funesto, Francis cortou as amarras que prendiam as
mãos dela e perguntou seu nome. Ela respondeu com voz baixa e trêmula:
— Haesun…
— Olhe para mim — ele pediu com voz calma, erguendo seu rosto com
suavidade. — De onde você é?
— Busan… fui tirada dos meus pais em uma invasão na cidade.
— Levarei você até seus pais.
— Está falando sério?
— Sim. — Ele sorriu, surpreso quando a Ômega o abraçou.
— Obrigada! Não sei como lhe agradecer.
— Apenas mantenha-se forte.
Francis segurou firmemente na mão da garota, e a guiou até seu navio.
Ele ordenou que comida fosse servida a Ômega e dirigiu-se até a cabine.
Tinha esquecido completamente que havia deixado um Alfa amarrado ali.
Ele abriu a porta e caminhou até a mesa, onde apoiou ambas as mãos e
ponderou com a cabeça baixa:
— Aquele lugar… Como eles ousam fazer isso?! — Ele socou a mesa.
— Mas nem que seja sozinho, eu vou acabar com esse maldito leilão!
— Do que está falando? — Seungho o lembrou de que ainda estava ali.
Francis não respondeu. Ele abriu o diário de bordo e anotou algumas
informações, em seguida, ele transferiu Lee Seungho no porão, para
acomodar Haesun em sua cabine.
E lá o Alfa permaneceu até que foi deixado em uma ilha, dois dias após
partirem da Ilha de Nabuco.
— Você não pode me deixar aqui! — O caçador estremeceu com a ideia
de ficar sozinho naquela ilha.
— Há muitas árvores nessa ilha, você não vai morrer de fome. — Francis
suspirou, observando a faixa de terra.
— Mas-
— Você prefere a prancha?
Lee não respondeu. O Capitão permitiu que ele continuasse com uma
pequena faca, mas a katana e demais armas foram confiscadas.
O Luna seguiu navegando para o Norte, e dentro de alguns dias, eles já
estavam ancorados próximo a costa coreana. O navio ficou escondido em
uma enseada, enquanto os piratas desceram botes para chegar até a cidade
de Busan, por meio de uma praia distante do Porto, para não chamarem
muita atenção.
Capitão Francis acompanhou de longe quando Haesun foi recebida com
surpresa e grande alegria pelos pais. Com as runas lunares em sua posse, ele
procurou por um ferreiro que fosse habilidoso o bastante para conseguir
entalhar no cabo de sua espada, algo que ele meramente enxergava de
maneira diferente.
— O que é isso? — O ferreiro perguntou ao abrir a pequena arca.
— Runas.
— Runas? Eu nunca vi runas desse jeito.
— Elas são um pouco diferentes devido ao brilho. — O ferreiro encarou-
lhe com o cenho franzido. — Encontrei elas no Submundo de Nabuco.
— Oh, Nabuco… O comércio está voltando a crescer por lá? — Ele
perguntou, enquanto fazia seu trabalho.
— Mais ou menos… tudo depende do quanto você tem para vender ou
comprar.
— Eu gosto de Nabuco. Um dia eu voltarei para aquela ilha indômita.
O ferreiro sorriu para ele e foi retribuído. O Capitão aguardou enquanto
as runas eram entalhadas, não pretendia ficar passeando pela cidade,
arriscando topar diretamente com oficiais da Marinha. Embora não tenha
visto muitos desde que pisou na cidade.
— Aqui está — o Ferreiro entregou a espada, meio sem jeito. — Espero
que tenha ficado como esperava.
— Está perfeito! — Francis encarou o objeto com grande sorriso, o que
para o ferreiro foi um pouco estranho, já que para ele não havia nada
demais alí. — Obrigado. — Ele entregou um saco com o pagamento e
guardou a espada na bainha.
Conforme ele voltava para a enseada em que os botes foram presos, o
Ômega ouviu uma discussão calorosa vindo da praça mercantil. Curioso por
ouvir a voz de algum de seus Alfas, ele decidiu averiguar o que estava
acontecendo e resolver o impasse.
Os piratas estavam discutindo com uma Alfa de cabelo longo e preto. Ela
mantinha uma pistola apontada para um Alfa, mesmo que mais três
estivessem em sua direção.
— O que está acontecendo aqui? — O Ômega se aproximou.
— Essa insolente jogou uma pedra na minha cabeça! — O pirata que
estava na mira da pistola, e que também apontava a sua contra a Alfa,
explicou.
— Você derrubou um vaso muito caro! — Ela rosnou. — Vai pagar por
ele!
Os piratas voltaram a gritar, despejando ameaças e maldições a
comerciante.
— Chega! — O Capitão deliberou. — Eu disse para não chamarem
atenção, e vocês fazem esse escarcéu bem no caralho da praça! — Os Alfas
trocaram olhares encabulados e baixaram as armas. — Desapareçam daqui!
Os piratas fizeram como o Capitão ordenou e sumiram como fumaça,
evitando assim que uma aglomeração se firmasse em volta da briga, e
chamasse atenção dos oficiais.
A Alfa, que mantinha a pistola ainda mirando nos piratas, voltou sua
atenção para o Capitão Francis mas franziu as sobrancelhas quando o viu
recolhendo os resquícios do vaso. Ela apontou a arma na direção dele e
observou, mas o Ômega não ofereceu qualquer ameaça.
Assim sendo, ela guardou a pistola no próprio cinto e cruzou os braços,
enquanto assistia o outro tentando consertar a bagunça.
— Quanto custa esse vaso?
— Dez moedas de prata.
— Tudo isso!? Quem pagaria por essa coisa feia?
— Pessoas que entendem da sensibilidade das coisas… — Ela respondeu
muito ofendida. — Para um Ômega, você não parece muito sensível.
— Não devia rotular as pessoas assim. — Ele entregou as moedas.
— E você deveria manter a coleira dos seus Alfas presa, Capitão Francis.
— Você sabe quem eu sou?! — Ele indagou chocado.
— Claro que sei — Ela puxou um pergaminho entre suas coisas e o abriu
diante do Ômega. Era um cartaz de procurado, em seu nome.
— Está errado, a cicatriz na minha sobrancelha fica do outro lado… — E
indicou no próprio rosto. — Espera, por que você guardou um cartaz meu?
— Não é da sua conta. — A Alfa dobrou o papel de qualquer jeito e o
guardou novamente.
Na verdade, ela havia considerado aquele Ômega muito belo, e seu
sorriso encantador. Por isso havia guardado quando o cartaz foi distribuído
por toda a cidade. Não queria usar para identificar o procurado, mas para
admirar sua beleza.
— Nossa… — Francis não esperava por aquilo. Geralmente, a maioria
dos Alfas temiam simplesmente falar com ele, e até mesmo se aproximar
apenas. Mas aquela florista o tratou como alguém comum, mesmo sabendo
quem ele era. Aquilo soou divertido e interessante, para ele. — Você é
sempre tão grossa assim com todos?
— Sim, com quem merece. Por exemplo, pessoas que fazem pouco da
minha arte. — Ela contou as moedas para conferir. — Mas com os meus
clientes eu sou um amorzinho.
— Hmm… pois então eu gostaria de comprar algumas flores, por favor.
— Você é mesmo um-... — A Alfa suspirou, rapidamente
compreendendo a intenção de Francis, quando ele sorriu. — Tudo bem, o
que vai querer?
— Eu não entendo muito bem, senhorita…?
— Sarah.
— Pois então, poderia fazer o favor de me explicar, Sarah?
A Alfa assentiu. Primeiramente, ela escolheu um ramalhete de flores
amarelas e começou a explicar, seguindo de outros pequenos ramos de cada
espécie de flor.
Francis inclinou um pouco mais para prestar atenção. Era curioso como
Sarah mudou tão drasticamente a sua personalidade, de uma hora para
outra. Nem mesmo parecia aquela Alfa arisca de minutos atrás. Ela falava
sobre as flores com tamanha delicadeza e doçura.
— E aquelas ali atrás? — O Ômega mostrou alguns ramos escondidos
embaixo de uma lona.
— Ah, essas não chamam muita atenção por serem as mais baratas. —
Ela pegou alguns ramos de cada cor e adicionou sobre a bancada, na frente
do Ômega. — São tulipas.
— São lindas, imagine um jardim inteiro cheio delas... Cada pétala
parece que foi adicionada à mão, com muita delicadeza e cuidado... — ele
afirmou. — Do jeito que você gosta, certo?
Quando ergueu o olhar para encarar a florista, Francis percebeu que ela
estava sorrindo para ele.
— Sim. Isso mesmo. Como o vaso que seu subordinado quebrou.
— Você o fez à mão? — Ela assentiu. — Desculpe… não quis ofender
naquele momento. Ele realmente era feio… — Sarah cruzou os braços com
o cenho franzido. Ele prosseguiu: — Mas é muito lindo como você defende
o que gosta.
— As pessoas não dão o devido valor às coisas simples… — Ela
lamentou tocando em uma pétala, desfazendo a postura defensiva. — É
bom reservar um momento e fazer algo você mesmo, para depois apreciar.
Não vendo flores apenas pelo lucro que vou obter. Eu realmente gosto
disso. Gosto de mexer com a terra e plantar cada bulbo… você consegue
me entender?
— Não tenho certeza… mas eu amo navegar. Gosto quando as velas são
içadas, e o navio atinge maior velocidade rumo ao oceano.
— Sim. É por esse caminho… Já escolheu?
— Quero as tulipas.
— Foi uma ótima escolha, Capitão Francis. Combina com você.
— Está me chamando de Ômega barato? — Ele colocou a mão no peito,
e fingiu estar ofendido.
— Não! — Ambos riram. Pegando uma por uma, a Alfa começou a criar
um ramo colorido conforme explicava: — Tulipas são consideradas flores
inferiores. São menosprezadas e subestimadas. Assim como os Ômegas. Só
quem entende o quanto tulipas são especiais, consegue enxergar o
verdadeiro valor de um Ômega. — Ela concluiu, entregando o ramalhete.
O Capitão recebeu as flores e inalou seu perfume suave, quase inodoro.
Ele apreciou as tulipas coloridas por um momento, sentindo-se tocado pelas
palavras sutis da Alfa.
— Sua comparação foi muito gentil. Me sinto honrado. — Ela assentiu
com um sorriso sincero. — Quanto custa?
— Não precisa pagar. Fique, como um pedido de desculpas pela minha
grosseria de antes.
— Tudo bem… — Francis olhou à sua volta. A movimentação estava
tranquila, sem a Marinha aparentemente. — Eu tenho que ir.
— Tem mesmo?
— Sim… A não ser que haja um motivo que me faça ficar.
— Conhecer um jardim é motivo suficiente?
— Depende da companhia.
— Bom, eu fecho o estande ao entardecer caso esteja interessado.
O Ômega se afastou lentamente, olhando para trás de vez em quando, só
para ver se Sarah ainda estava observando. A Alfa não tirava os olhos dele,
e fazia questão de demonstrar isso.
Assim que voltou ao navio, Francis decorou sua cabine com as tulipas.
Os piratas estavam aguardando o Capitão retornar, para decidir o próximo
itinerário e partir imediatamente. Mas ele abriu o diário de bordo e registrou
informações sobre a Alfa florista que havia conhecido. Não estava em seus
planos zarpar tão cedo de Busan.
Quando deixou a cabine, foi para informar que ficariam naquela enseada
um pouco mais. Os piratas receberam a decisão com incertezas.
— Por que vamos ficar? — Abel perguntou. — Pensei que iríamos
apenas deixar a garota e continuar com os saques.
— Houve uma mudança nos planos… — O lúpus comentou, caminhando
até o parapeito do navio. Estava pensando.— Vamos ficar um pouco mais.
— Eu ainda não entendi porque essa repentina mudança. Só está
atrasando nossos planos.
— Você não percebeu como o Luna está mais lento? — Ele girou, agora
de frente a tripulação. — Vamos limpar o casco do navio.
— Não vejo nenhum sentido nisso. — O contramestre cruzou os braços.
— Um nó a menos em velocidade não faz diferença alguma.
O Capitão poderia simplesmente fazer valer a hierarquia e seu poder, mas
não era um tirano. Ele acreditava que a tripulação tinha voz e merecia sim
ser ouvida. Mas o contramestre estava dificultando demais.
— Imaginem o seguinte cenário... — Francis caminhava entre a
tripulação, estudando suas expressões enquanto articulava: — Um galeão
repleto de jóias caríssimas e moedas de ouro... — os olhos dos piratas
brilhavam. Eles já podiam sentir suas mãos naquele tesouro. Ele
prosseguiu: — Além do porão cheio de produtos-...
— Vamos saqueá-lo! — Alguém gritou, os piratas festejaram jogando
chapéus para o alto.
— Agora imaginem o Luna perseguindo este galeão…
— Já consigo ver o desespero deles… — Outro indicou, também sendo
bem recebido.
— Sim, sim! — Francis disse com grande entusiasmo. Os piratas sorriam
de uma orelha a outra. — Mas não vamos conseguir. Não vamos chegar
nem perto do galeão — os sorrisos murcharam —, porque temos um nó a
menos em velocidade, que não faz diferença para o nosso contramestre.
O Ômega estava diante de Abel, atrás dele estavam os muitos Alfas e
Betas indignados. Ele estava com os braços cruzados e sorriso presunçoso,
encarando o Alfa contramestre.
— Os corais invadiram sua cabeça, Abel!? — A tripulação se revoltou.
— A gente vai limpar a porra do casco! — Apontaram o dedo para dele,
esperando alguma oposição de sua parte.
— Tudo bem. — Abel engoliu em seco, e ergueu as mãos em desistência.
— Não está mais aqui quem falou.
— Ótimo, podem começar amanhã mesmo. — O Ômega afirmou,
caminhando até a rampa. — Enquanto isso… podem festejar no convés.
— Está falando sério, Capitão?
— Sim. Agora tenho um compromisso, até mais tarde… — Ele desceu,
acenando para os Alfas e Betas.
Os piratas foram buscar os barris, muito animados com a farra. Abel
apoiou as mãos no parapeito e observou de longe o Ômega se distanciar.
Sarah estava desmontando sua exposição e guardando os produtos que
não foram vendidos, organizando-os na carroceria de uma carruagem. Ela
olhou para cima e observou o céu começando a ganhar um tom alaranjado.
Não havia nem sinal do Ômega.
— Sarah, sua idiota. Por que tinha que ficar dando coices tal como uma
égua? É por isso que os Ômegas se afastam de você... — a Alfa comentou
com si própria. — É claro que ele não voltaria. Por que ele iria voltar? Ele é
bonito, amável e inteligente. Ele é o Capitão da porra de um navio! — Ela
concluiu, acomodando os últimos ramos.
Quando fechou a porta e dirigiu-se até o lugar do cocheiro para guiar os
cavalos, Sarah teve uma agradável surpresa. Francis já estava sentado no
banco ao lado das guias, esperando por ela.
— Você veio…
— Claro que viria. — Ele sorriu.
A Alfa subiu ao lado dele e segurou as rédeas, para logo em seguida
conduzir a carruagem, guiando os cavalos pelas ruas de Busan.
Sarah era uma Alfa diferente dos demais, porque não olhava o Ômega
cobiçando o que ele poderia ter para lhe oferecer. É claro que sentiu-se
atraída por ele, afinal, Francis era um Ômega atraente e muito bonito. Mas
acima disso ele tinha muito mais a oferecer, e ela apreciava isso.
A cada vez que partia e passava uma longa temporada pelos mares,
saqueando e multiplicando sua riqueza, o Capitão Francis sempre voltava
para a Alfa. Sarah o recebia como se nunca tivesse se ausentado.
Embora o mar fosse a sua casa, era com aquela Alfa que ele se sentia
acolhido. Era com a Alfa que ele sentia uma espécie de proteção, não
somente material mas psicológica também. Sarah era o seu lar. Ela despiu-
se completamente para ele, e por ela Francis permitiu-se ser marcado.
☠ ☠
Mar Tenebroso - 1682
O Luna enfrentava uma tempestade pior do que as que aconteceram no
Triângulo da Morte. O mar agitado jogava a embarcação para os lados, e as
fortes ondas quase partiu os mastros. Contudo, as velas não conseguiram se
manter com a mesma estabilidade.
— Vamos naufragar!
— De jeito nenhum! — Abel rosnou. — Eu me recuso a deixar todo
nosso ouro no fundo desse mar.
— Mas não podemos continuar. Nós vamos afundar!
— Não iremos. — Capitão Francis afirmou.

O Ômega estava na proa segurando um cabo enquanto o vento e as ondas


fortes atingiam o convés. Sem medo algum ele enfrentava a tempestade de
frente, mesmo que o firmamento escuro ocultasse a lua e as estrelas.
Raios cortavam o céu à medida que os Alfas e Beta seguiam seus
comandos. O Luna conseguiu sair da tempestade e retornar a calmaria do
Oceano Índico.
Os planos de percorrer o mar tão envolto de mistérios foram adiados, por
hora, e a tripulação retornou à costa asiática, mais precisamente, o Reino da
Coréia.
Como em todas as vezes, Sarah recebeu seu Ômega com muito
entusiasmo, mas dessa vez ele não retornou sozinho. A Alfa podia sentir
algo desenvolvendo-se dentro dele, além de, é claro, o ventre ter crescido na
metade da gestação.
— Você faz ideia do quão arriscado foi deixar terra firme e navegar a
caminho do Mar Tenebroso, na situação em que está?! — Embora feliz, a
Alfa estava brava e preocupada. — Por que você escondeu isso de mim?! É
claro! Você sabe que eu iria impedi-lo de voltar!
— Eu não sabia… — O Ômega confessou. Ele estava sentado no sofá,
com as mãos apoiadas no ventre. — Comecei a sentir quando já estava
longe demais. Não tinha como voltar.
— É claro que tinha! Você é o Capitão deles!
— Por que está gritando comigo?
— Ore, porque-... — Ela hesitou.
Diferentemente do costumeiro sorriso que sempre estampava as feições
do Ômega, ele parecia cansado e seus olhos estavam marejados. A gravidez
estava deixando-o muito sensível.
— Me desculpe… — Sarah diminuiu o tom. Sentando-se ao lado dele,
ela segurou em sua mão. — Só estou preocupada.
— Não precisa se preocupar. Estamos bem.
— Você pode ser temido por todo o mundo, mas nessa casa não.
— Onde você quer chegar? — Ele a encarou desconfiado.
— Está decidido; a partir de hoje, você não vai sair de Busan até que
tenha nosso filho.
— O quê?
— Usarei minha voz se for necessário, Francis Bonny, mas de perto de
mim você não sai.
— Sabe que não pode, certo? — O sorriso vaidoso retornou. — Eu sou
um lúpus. Sua voz não faz nenhum efeito em mim.
— É verdade… mas, que raiva! — Ela acabou sorrindo junto. — Sinto
que você só ficará seguro se estiver comigo.
Sarah tinha noção de todas as coisas perigosas que seu Ômega fazia. Ele
era o Capitão mais rico e respeitado da era dourada da pirataria. Não havia
falhas em suas invasões, até mesmo os galeões de guerra da Marinha Real
recuam diante da bandeira de lua crescente.
Até mesmo capitães como Alma Negra, Fenn Barba-Ruiva e Edward
Teach o temiam. Eles evitavam o Luna a todo custo.
Mas todos os Alfas se tornam extremamente cuidadosos quando seus
companheiros engravidam. Com Sarah não poderia ser diferente.
— Me desculpe… — Ele expressou, deixando-a confusa. — Eu sempre
viajo e fico semanas, até meses fora. Mas você sempre me recebe com
muito amor, e agora está preocupada. Eu sou muito egoísta mesmo.
— Você não é. Eu o conheci nessa vida e sabia exatamente o que me
aguardava quando me envolvi com você. — Ela suavemente encaixou a
mão no rosto dele. — Nunca permitiu que ninguém te dissesse o que fazer.
Mas eu gostaria de acompanhar isso com você. É muito importante pra
mim.
— Tudo bem. Eu ficarei.
Ela o beijou e abraçou logo em seguida.
— O mundo não vai acabar porque o Capitão Francis ficou longe dos
mares por alguns meses.
— Quem disse que vou ficar longe do mar? — Ele sorriu. — Iremos para
Nabuco. O Luna não pode ficar por tanto tempo assim em Busan. Ainda sou
o Capitão deles e preciso cuidar da minha tripulação também.
— Estou de acordo. Estremeço só de imaginar que a qualquer momento a
Marinha pode entrar aqui e levar você.
Sarah e Francis permaneceram juntos na casa de Yejun durante os meses
que restavam para completar a gestação. Nabuco estava infestada de piratas,
logo a Marinha Real não tentaria invadir, por enquanto.
A tripulação recebeu permissão para cometer pequenas invasões pelos
arredores, e quando o pequeno Alfa nasceu, o Luna já estava ancorado no
Porto de Nabuco novamente, trazendo consigo um grande aborrecimento
que Sarah não permitiu chegar em seu Ômega, pelo menos durante algumas
semanas.
— Vocês deveriam ficar em Nabuco — Yejun comentou, enquanto
passeava com seu netinho pelo cais. — Eu poderia ajudar a cuidar do
Jack…
— Eu não gosto dessa ilha — Sarah foi sincera. — Ela é vulgar.
— Tomara que o Jackson não tenha essa sua personalidade, quando
crescer...
— Meu pequeno vai ser forte como o pai, e sincero como a mãe.
— Não dê ouvidos a ela, Jack — O Alfa sussurrou. — Seja amável
quando crescer…
O pequeno Alfa sorriu, mexendo nos botões da camisa do avô. Três
meses haviam se passado desde o nascimento de Jackson, e os piratas
sentiam que já estava na hora de revelar ao Capitão o grave incidente
envolvendo parte do ouro que o Luna transportava.
— Nós fomos atacados... — Abel foi o portador da notícia. — Alma
Negra levou apenas quatro baús, porque o porão do Black Swan já estava
cheio de cargas.
Capitão Francis fechou os olhos, inspirando profundamente. Poderia
estrangular sua tripulação, um por um, mas estava com seu filhote nos
braços, por isso se controlou.
— Por isso ele passou por aqui de tão bom humor… Aposto que todas as
tabernas de Nabuco sabem. Ele me fez de idiota!
— Ele não te fez de idiota, você não tem nada a ver com isso — Abel
opinou. — Fomos nós que perdemos o ataque.
— Eu tenho tudo a ver com isso. Eu sou o Capitão do Luna.
Os piratas entreolharam-se encabulados. Conseguiram pôr uma mancha
no histórico impecável do Capitão Francis, em apenas algumas semanas.
— Eu vou resolver isso. — Ele beijou a testa do bebê, e seguiu sozinho,
conversando com ele pelo deque.
Jackson adorava a companhia do pai. Ficava mais animado e soltava
gritinhos quando ele brincava consigo. Francis cantava para ele, sentado no
cais e de frente pro mar. Os olhos do pequeno Alfa brilhavam, quando
prestava atenção no som da voz do Ômega.
Ao anoitecer, Francis voltou para casa, onde passou as últimas horas ao
lado de sua Alfa e filho, para logo em seguida retornar para os mares.
Seguindo as informações adquiridas pelas tabernas, a tripulação levou o
Luna na rota em que Alma Negra navegava com o Black Swan. Tiveram
sorte de encontrá-lo dois dias após zarpar do Porto de Nabuco. Mas ele não
estava sozinho…
— Parece que ele está em um confronto. — A Alfa que estava na cesta
do mastro informou.
Capitão Francis alcançou sua própria luneta e observou de longe. O navio
de velas negras disparava seus canhões contra o de Edward Teach, e era
igualmente atacado de volta.
— O que faremos, Capitão? — Abel chegou junto.
— Prepare os canhões — o lúpus ordenou puxando a espada. —
Timoneiro, aproxime-se do Black Swan!
— Sim, senhor!
Abel seguiu com o atirador e outros Alfas e Betas até os canhões. O
Capitão estava com a espada em punho, no ponto mais alto na frente da
embarcação. Ele sorria ansioso e cheio de si, conforme o navio se
aproximava dos demais com velocidade.
— O Luna está se aproximando pela proa, senhor! — Black Caesar
avisou.
Todos os piratas que estavam no Black Swan e também no Queen Anne's
Revenge, olharam ao mesmo tempo na direção apontada pelo contramestre
de Edward.
O timoneiro do Luna girou o leme, fazendo a embarcação virar, deixando
seus canhões direcionados para a frente dos navios inimigos.
— Fogo! — Capitão Francis rugiu.
A proa do Black Swan e do Queen foram recebidos por balaços dos
canhões do Luna, as bolas de ferro fizeram buracos no casco dos navios,
destruindo tudo pela frente.
Os piratas se jogaram no chão do convés no momento dos disparos, para
não serem atingidos. Tudo foi muito rápido. Quando se ergueram
novamente, viram um Ômega lúpus com os olhos prateados, portando uma
espada, pulando para dentro do Black Swan, segundos após os disparos dos
canhões.
O vapor dos tiros ainda pairava sobre o convés quando ouviram o som de
uma espada perfurando o abdômen de alguém, e sendo removida segundos
após. À medida que o vento dispersava a fumaça, eles viram o Capitão
Francis avançando contra os marujos com sua espada.
Ninguém era capaz de pará-lo. O Ômega era simplesmente genial com
seus ataques ágeis e certeiros. Nada o fazia temer. Nem mesmo Alma
Negra, com seus olhos vermelhos e diabólicos vindo em sua direção.
— Então você está de volta.
Francis puxou a espada que estava enterrada no peito de outro marujo, o
movimento fez o sangue que ficou na lâmina acertar o rosto de Alma
Negra. Ele rosnou.
— Eu vim buscar o que é meu! — O Ômega apontou a espada para ele.
— Deveria ter ficado cuidando do seu filhotinho. — Teach riu.
— Credo, Edward — uma expressão de nojo assumiu o semblante do
Ômega. — O que houve com seu rosto?
Quando alguém tentou lhe atacar lateralmente, ainda encarando o Alfa,
Francis sacou a pistola e atirou para o lado. O pirata caiu morto
instantaneamente ao lado.
— Não me chama de Edward! — Rugiu. — Eu sou Barba-Negra!
— Barba-Ruiva, Barba-Negra… Um verdadeiro show de criatividade. —
Francis riu, desviando de um ataque e fazendo Alma Negra bater com o
rosto contra um mastro.
— Maldito Ômega! — Alma Negra avançou contra ele.
Os três navios trocaram mais tiros de canhão, estremecendo toda a
estrutura de madeira. Os marujos do Luna também entraram na luta, e
Edward Teach achou que aquela seria a melhor oportunidade para sua
vingança, pelo Ômega tê-lo impedido de tomar o antigo Ranger.
Francis lutava contra Alma Negra quando uma espada surgiu em seu
campo de visão. Ele inclinou para trás e a lâmina passou direto. Quando
olhou para o lado, viu Edward Teach puxando a arma para logo em seguida
lançar contra ele novamente.
— Essa luta não é nossa, capitão! — Black Caesar tentou advertir. —
Vamos embora!
Mas Teach não deu ouvidos, e atacava o Ômega com fúria, junto ao
capitão do Black Swan. Alma Negra lançou um barril contra Francis, que o
acertou enquanto o Ômega se defendia de Edward.

Francis bateu com as costas no parapeito, e quando Edward lançou sua


espada para rasgar sua garganta, o Ômega escorregou caindo sentado no
chão. Ele chutou o joelho do Alfa, fazendo-o quebrar para trás, e ele caiu
com um joelho apoiado no chão.
O grito de Teach foi abafado quando a espada de Francis atravessou seu
ombro. O Ômega errou, estava mirando o coração. Mas não tinha tempo
para ser preciso no momento, estava lutando contra dois Alfas lúpus.
Francis rolou para o lado quando Alma Negra apontou a pistola para ele,
e disparou. Ele teve de se defender quando o Ômega ficou de pé e investiu a
espada contra ele. Black Caesar ajudou Edward Teach, e junto a outros
Alfas carregou o capitão deles até o Queen Anne's Revenge.
— Agora é só você e eu. — O Ômega disse, apontando a espada para
Alma Negra. Estava respirando pesadamente devido a intensa luta.
Alma Negra estava com o braço rasgado, apoiado em uma caixa grande
que continha alguma carga.
Com a fuga de Barba-Negra em seu navio, agora só restava a Alma
Negra se render, ou lutar até a morte. Mas era covarde demais para a
segunda opção, e ainda acreditava que poderia vencer.
Mas Francis Bonny lhe mostrou através da espada, porque ele era
considerado o maior pirata da história. O Ômega lhe fez recuar a cada
investida vigorosamente feroz.
Alma Negra podia ver a sua morte se aproximar através daqueles olhos
prateados.
— Ajudem-me! — O Alfa rugiu quando caiu no chão próximo da cabine,
segurando a coxa rasgada. — Matem esse Ômega desgraçado!
— Eu acho que não... — Francis sorriu, parado de pé diante dele. Logo
atrás, estava a tripulação do BlackSwan rendida no convés. Ele se abaixou
até ficar na mesma altura que o Alfa. — Há uma grande diferença entre nós.
Lembre-se disso, antes de ousar atacar o Luna novamente!
Abel e demais Alfas entraram na cabine e recuperaram os quatro baús,
que Alma Negra estava ostentando em seu cômodo. Além disso, o Capitão
Francis ordenou que todas as cargas que estavam na posse do infame pirata,
fossem transportadas para o porão do Luna.
— Devemos afunda-los, Capitão? — Abel perguntou, quando já estavam
a bordo de seu próprio navio.
Francis encarou o navio inimigo. Do casco até aas velas mais altas, ele
era completamente negro. A embarcação estava toda acabada, mas como
filho de um mecânico ele sabia que o Black Swan poderia ser bem mais que
aquilo.

O Ômega olhou para cima e observou por alguns segundos o cisne


sombrio, com as asas abertas, que estampava a bandeira do navio.
— Não. — Ele por fim respondeu.
— Alma Negra não merece sua compaixão!
— Não estou fazendo por ele — Francis suspirou, ainda encarando a
bandeira. — Esse navio é magnífico. Seria um pecado mandá-lo para o
fundo do Pacífico assim. Além do mais, eu acredito que um dia o Black
Swan terá um Capitão digno que fará jus a ele.
— Se está dizendo. — Abel deu de ombros.
— E quando foi que estive errado, Abel?
— Capitão, com todo o respeito, o senhor é um exibido!
Francis riu divertindo-se, o Alfa também.
— Vamos pra casa — o Ômega decidiu. — Quero ver meu filho e minha
Alfa.
Abel assentiu e junto ao timoneiro marcou a rota de volta para Nabuco.
☠ ☠
Retornando para a Ilha de Nabuco, Francis recebeu a notícia de que seu
pai havia decidido mudar-se para Busan, para ficar mais perto de seu neto.
A princípio o Ômega não entendeu bem a decisão, Yejun amava aquele
estaleiro e estava decidido a jamais entregá-lo em outras mãos.
— Agora tenho algo mais importante — o Alfa explicou. — Tenho meu
pequeno netinho para ensinar a consertar coisas. Assim como ensinei meu
pequeno Ômega. Para isso eu preciso estar em Busan, já que a Sarah não
quer ficar em Nabuco.
— Não mesmo. — A Alfa disse com os braços cruzados, irredutível.
— O senhor vai gostar de Busan — Francis sorriu para o pai. — E vai ter
muito para gastar.
— O estaleiro não vale tanto assim. Isso se eu encontrar alguém que
queira comprar.
— Não se incomode com isso. Não precisa mais trabalhar tanto. — O
Ômega argumentou. — Seu filho tem um porão cheio de ouro. Aproveite a
aposentadoria.
— Acho que tem razão. Dei meu sangue por esse estaleiro, e a troco de
quê? Está na hora de descansar.
Francis levou o Luna com sua família até a Coréia. Eles tiveram de
ancorar um pouco distante, escondidos na enseada de uma praia um pouco
distante, como sempre. Yejun se instalou na casa de Sarah, a pedido da
própria e do filho.
Busan - 1688
Com os anos que se passaram, o Capitão Francis e sua tripulação
continuaram enchendo o gigantesco porão do Luna, com tudo o que há de
mais valioso. Sempre que podia, o Ômega retornava rapidamente para a
Coréia, não aguentava ficar tanto tempo longe de sua Alfa e filhote.
Mesmo tendo um Ômega Capitão pirata, extremamente bem sucedido,
Sarah manteve a profissão de florida, pois ela realmente amava aquela
atividade.
Certo dia ela trouxe alguns bulbos de tulipa e os plantou no jardim. A
floração das tulipas durou cerca de quinze dias, até que na frente da casa
estava exibido um lindo tapete de flores roxas.
O pequeno Jackson de apenas seis anos estava sentado entre elas, com
seu bonequinho de madeira observando o pai lhe mostrar sua habilidade
com a espada.
— Papai, me ensina a lutar assim também, com sua espada.
— Você ainda é muito pequeno, poderia se machucar. — O Ômega
embainhou a espada, pegou uma vassoura e caminhou até ele. — Mas
podemos usar isto.
— A gente vai varrer a rua ou algo do tipo? — Jackson cruzou os braços.
Francis forçou a vassoura no muro e usou seu peso quando quebrou o
cabo em duas partes, entregando uma para o menor. O menino desfez o bico
irritado e recebeu sua arma improvisada, com muito entusiasmo.
Jackson tentou imitar os movimentos de seu pai, achando que seria muito
fácil vencê-lo. Mas em todos os ataques ele era lançado ao chão.
— Contra um adversário mais forte, seja ágil — Francis ensinou,
ajudando-o a ficar de pé novamente. — Use a força dele contra ele mesmo.
— E quando ele for muito forte e muito ágil? — Jackson perguntou.
Estava se referindo ao próprio pai.
— Encontre um ponto fraco. Todos têm.
— Não é por nada, mas… — o Alfa iniciou, disfarçando enquanto mexia
nas flores. — Papai, qual é seu ponto fraco?
Francis ergueu as sobrancelhas, chocado. Ele instantaneamente começou
a rir. Jackson era muito fofo, tentando desesperadamente encontrar uma
abertura para vencê-lo. Nem ao menos conseguia disfarçar.
— Seu inimigo não vai revelar isso pra você, meu pequeno. — O Ômega
sorriu, acariciando o cabelo castanho do menino. — Precisa descobrir
sozinho.
— E como eu posso fazer isso?
— Pensando. Não ataque apenas cegamente, observe bem seu adversário,
como se mexe, como se apóia, se usa pouco algum membro. Pense, Jack.
— Entendi… — o Alfa suspirou. — Eu vou treinar muito até ficar forte
igual a você, e aí vou te vencer!
O Ômega sorriu orgulhoso.
— Eu acredito que vai conseguir. É um garoto muito forte e esperto.
Jackson também sorriu, e acompanhou com o olhar o pai se distanciando
e entrando dentro de casa. Com isso, o Alfa voltou a brincar, dessa vez,
usando o cabo partido que recebeu.
— Toma isso! — Ele lançou vários ataques contra as tulipas, destruindo
todo o jardim. — Morra, tulipa maldita! Você não é páreo para o Capitão
Jackson!
Minutos após o ataque de fúria às pobres plantas indefesas, Jackson
escutou o chamado de seu pai e voltou para dentro de casa. Eles estavam
com Yejun, terminando de fazer o jantar quando ouviram a Alfa rugir assim
que chegou em Casa:
— Meu jardim! — Sarah encarava as tulipas destruídas com fúria nos
olhos. — Quem destruiu as minhas flores?!
Francis ouviu os rugidos da Alfa, e percebeu que seu filho estava com os
olhos arregalados.
— Jack… — O Ômega cobriu a boca.
— Essa molecada dos infernos entrou aqui e destruiu todo o jardim! —
Sarah entrou, rosnando irritada. — Vocês viram quem foi?
Jackson e seu pai trocaram olhares, e negaram com a cabeça. Yejun, que
estava mais inocente na história, também não sabia dizer quem fez aquilo.
Sarah ficou brava durante dias. Seu humor foi estabilizando quando seu
Ômega juntamente com o filho, ajudaram a refazer o jardim destruído,
plantando mais bulbos. E no período de quinze dias, as flores estavam
ostentando sua beleza novamente.
Francis passou a ficar mais tempo em terra firme, o que não agradou
muito sua tripulação. Mas foda-se. Ele tinha um filho e uma Alfa, e não
podia simplesmente abandoná-los para viver apenas no mar. Queria
acompanhar ao máximo o crescimento do seu filho.
Jackson gostava de ouvir as histórias que Francis contava, sobre suas
aventuras em alto mar. O Ômega queria muito que seu filho enxergasse as
lindas runas que brilhavam na mesma tonalidade que a lua, mas ao invés,
por acidente, ele descobriu que o menino podia ver além das runas do sol,
algo que ele não podia.
Era a antiga escrita utilizada entre os Alfas lúpus. Assim como as runas
lunares eram para os Omegas.
A felicidade era algo presente naquela residência. A casa tinha uma
aparência alegre, com flores decorando os cômodos. Nada muito exagerado.
Mas com o passar do tempo, uma desolação se abateu quando uma doença
que estava se fortalecendo na época abateu-se sobre Yejun.
Com o corpo marcado pelo trabalho de longos anos, o Alfa não
conseguiu resistir por muito tempo. O sorriso que sempre estampava o
semblante de Francis Bonny foi substituído por lágrimas de uma tristeza
incapaz de descrever.
Mas ele não estava sozinho. Francis podia sentir o imenso amor e apoio
de sua Alfa através da marca, e do símbolo máximo do sentimento que um
nutria pelo outro cada vez mais, seu filho Jackson.
Sarah criou um lindo jardim no local em que Yejun Bonny iria descansar
por toda a eternidade. E a tristeza que se abateu sobre o Ômega foi
substituída pela certeza de que Yejun estava apenas descansando em um
lugar muito bonito, ao lado de seu outro pai Ômega.
☠ ☠
Ilha de Nabuco - 1689
Alguns meses após realizar os últimos saques, o Luna estava de volta à
ilha para negociar as cargas que haviam conseguido. Mais ouro foi
adicionado ao porão, dividindo o espaço com as provisões de viagem, e
agora estava impossibilitado de armazenar uma única moeda.
— Precisamos esconder esse tesouro. — Abel comunicou em uma
reunião. — Saqueamos mais do que conseguimos gastar. Vamos esconder
todo o ouro, para assim poder conseguir mais.
— Que ambicioso — um Beta riu, mas concordou logo em seguida: —
quanto mais riqueza melhor.
— Temos um verdadeiro império em nosso porão. Somos os mais ricos
de todo o mundo!
— Um império… — Francis murmurou, vendo a euforia dos piratas. —
É assim que ele será chamado. O nosso tesouro. Imperium.
— Gostei — Jihoo assentiu. — Demonstra poder.
— É o que somos. — Abel parou ao lado do Capitão. — Os mais
poderosos, os mais temidos. Somos a maior e melhor tripulação!
Francis sorriu, observando o entusiasmo dos piratas.
— Precisamos de um lugar muito bom pra esconder o Imperium. Mas
onde?
— Nos mares além do Mar Tenebroso. — O Capitão sugeriu.
— É muito perigoso — Abel engoliu em seco.
— Por isso mesmo. Você disse que somos os melhores, então… Prepare
o itinerário. Mas antes eu preciso passar em Busan.
— Sim, senhor.
Antes de partir na longa jornada, o Capitão Francis retornou a sua casa na
Coréia, para informar a Sarah sobre a possibilidade de passar meses longe
de casa.
— Tanto tempo assim? — A Alfa andou de um lado para o outro. — Esse
mar por onde pretende navegar, eu já ouvi histórias sobre ele…
— Nós vamos conseguir. — Francis a tranquilizou. — Voltarei pra você e
pro Jack. Eu sempre volto.
— Não demore muito… — Sarah observou o céu pela janela.
— Não irei. — Ele se aproximou e a abraçou carinhosamente.
— Papai… — o abraço foi desfeito quando ouviram o chamado do
pequeno Jackson. — Você vai voltar logo?
Francis agachou-se na frente dele, ficando na mesma altura que o filho.
— Sim. Lamento não poder levá-lo agora, mas quando você crescer um
pouco mais, eu vou te levar pra conhecer o mundo!
— O mundo todinho?!
O Ômega confirmou balançando a cabeça.
— E no final de tudo, você terá uma grande surpresa.
— Que surpresa?
— Não será uma surpresa se eu contar. — O Ômega sorriu, piscando com
um olho.
— Tá bom! Eu serei um bom menino e vou esperar.
Francis sorriu, abraçando o filho fortemente. Ele o encarou por um
tempo, apreciando como Jackson poderia fisicamente com ele, apesar de
possuir alguns traços de Sarah também.
— Eu te amo, Jack. — Ele o beijou na testa. — Cuide da sua mãe.
— Pode deixar, papai!
Após a despedida, o Luna zarpou mais uma vez rumo a um oceano tão
desconhecido. Enfrentaram tempestades inimagináveis durante o tempo em
que navegaram pelo Mar Tenebroso, conheceram lugares exóticos e muito
especiais. Contudo, nenhum deles foi eficaz o suficiente para a tripulação
decidir esconder o Imperium.

Quando finalmente Luna ancorou próximo de uma ilha situada ao Norte


do Mar Tenebroso, a tripulação finalmente pode descansar da longa e
cansativa viagem.
— O mapa já está pronto? — O contramestre perguntou enquanto eram
levados por botes até a praia.
— Como poderia, Abel? — O Capitão franziu o cenho. — Nem sabemos
onde exatamente vamos esconder o tesouro.
— Essa ilha me parece ótima. Está longe de tudo, deve ser
definitivamente o fim do mundo. Somente os loucos viriam até aqui, e isso
quer dizer, apenas a gente.
Francis riu, concordando.
A tripulação havia decidido, aquele seria o local para esconder o
Imperium. E tudo melhorou quando eles descobriram que havia um poço
naquela ilha, onde as lendas locais dizem que escondia uma enorme
quantidade de ouro.
Animados com a informação, os piratas decidiram procurar pelo tal lugar,
mas nada encontraram além de um enorme fosso profundo, que levava a um
espaço com mais quatro passagens, na qual eles não faziam ideia de para
onde levavam.
— Faremos o seguinte, quatro duplas seguem os túneis e volta aqui para
dizer o que tem do outro lado. — Ele resolveu, distribuindo quatro tochas.
— E se não tiver nada? — Alguém perguntou.
— Então você retorna para reportar. — Abel suspirou irritado. — Será
possível que vou precisar explicar como se anda, também?
— Não, senhor.
Todas as quatro duplas seguiram cada uma através de um túnel. Havia
um acampamento montado ao redor da entrada do fosso, apenas esperando
descobrir se era possível esconder o Imperium ali.
Dentro de poucos minutos, a primeira dupla retornou afirmando que
haviam encontrado um grande salão vazio, nada mais. Mas a tripulação
decidiu esperar pelos demais, para saber se realmente já existia algum
tesouro por lá.
Contudo, horas haviam se passado e as três duplas restantes não
retornaram. Outros decidiram ir atrás, mas igualmente não retornaram. Nem
nas horas seguintes, nem mesmo em dia algum.
— O que acha que aconteceu com eles? — Francis perguntou ao
contramestre.
— Quem se importa? O salão é grande o suficiente para esconder todo o
tesouro.
— Eles eram bons companheiros.
— Que pena… — O Alfa fingiu. — Já podemos então levar o Imperium
até o salão?
— Sim, vão na frente. Vou terminar o mapa e estarei indo logo em
seguida.
O contramestre assentiu, deixando o Ômega em sua tenda. Assim que se
viu sozinho, Francis começou a desenhar o mapa, escrevendo algumas
informações com as runas lunares, para que apenas ele conseguisse
enxergar.
Como um amante da Lua, Francis era fascinado por suas fases, ele
acreditava que cada uma delas manifestava uma força diferente, além de
interferir no estado das marés. Assim que concluiu, ele deixou o mapa sobre
a mesa e desceu o fosso, para encontrar-se com demais bucaneiros.
O grande salão no final do primeiro túnel estava repleto de um tesouro
imensurável. Era literalmente um verdadeiro Império que foi depositado alí.
O esforço de saques, batalhas, perdas e glórias estava bem diante deles.
— As pessoas se matarão, para tentar encontrar esse tesouro. — Abel riu.
— E somente nós sabemos onde está. Terminou o mapa certo, Capitão?
— Sim, eu terminei. — O Ômega adicionou junto ao tesouro uma
pequena arca, onde dentro estava algo de mais valioso para ele. — Vamos
embora.
— Mas já? Eu queria saborear este momento um pouco mais.
— Vai poder saborear o porão do Luna cheio de ouro novamente — Abel
afirmou. — Eu já quero voltar com os saques!
— Poxa, Abel. Precisamos de um tempo!
— Se quer tempo para vadiar, está na tripulação errada.
Os Alfas retornaram pelo túnel, com o Capitão seguindo logo atrás. Ele
marcou as paredes de terra com runas do sol, onde as mesmas foram
absorvidas pelo material, e desapareceram aos seus olhos. Apenas um Alfa
lúpus poderia enxergar aquele caminho. Em sua mente, este seria o seu
filho, Jackson.
Assim que todos chegaram na superfície, trataram de encontrar alguma
espécie de porta para adicionar a entrada daquele fosso. Se os locais
acreditavam que havia um grande tesouro escondido ali, muito em breve
poderiam encontrar o Imperium em suas buscas.
Os piratas encontraram uma grande pedra circular e levaram até a
entrada. Ela era extremamente pesada, então alguns consideraram o
suficiente para impedir a entrada de curiosos no esconderijo.
O Capitão Francis escreveu algumas palavras no extinto idioma lúpus, na
parte inferior da pedra. Em seguida, eles adicionaram-na sobre o fosso,
ocultando a entrada.
— Ótimo. Terminamos.
— Na verdade, eu não acho que esteja muito seguro. Qualquer idiota
pode quebrar essa pedra.
— Não vão conseguir. — O Ômega interrompeu o início de uma
discussão. — A pedra foi selada, ninguém jamais conseguirá movê-la.
Aquele que tentar quebrar ou utilizar qualquer arte para entrar no fosso, será
amaldiçoado e morrerá sofrendo com grande hemorragia.
— E como vamos fazer para entrar e pegar o nosso tesouro?! — Abel
quase surtou.
— Assim… — O Ômega sentou de joelhos diante da pedra, e utilizando
runas da lua, ele desenhou quatro fases alinhadas um pouco distante uma da
outra. — Pronto.
— Pronto o quê?
— O mapa explicará tudo… — O Capitão disse, tocando em seu colar.
— Vamos.
Mesmo confuso o contramestre assentiu, e logo após desmontar o
acampamento, eles comparam mais suprimentos para a viagem de volta.
Mar Tenebroso - 1690
Enquanto o Luna descia seguindo a rota pelo Sul, todos os piratas
continuavam satisfeitos por finalmente estarem voltando para casa, ou seja,
as invasões e saques a navios mercantes.
Abel foi o único que ficou pensativo sobre o mapa criado pelo Capitão.
Depois de muito consultar o pedaço de pergaminho que mostrava onde
encontrar o Imperium, mesmo que tenha participado de tudo, o Alfa não
conseguia apontar a localização correta em um atlas, seguindo a orientação
do mapa.
— Não há nada aqui além de riscos e figuras desconhecidas — Abel se
queixou ao Capitão. — É o mapa mais confuso que já vi em toda minha
vida.
— Essa era a intenção. Desse jeito ninguém vai conseguir encontrar
nosso tesouro.
— Com isso nós estamos incluídos também. Exceto você. Era o seu
plano desde o início, não era? Assim ficaremos impossibilitados de traí-lo.
— Você encontrará as respostas que procura nos livros. — Francis
suspirou, terminando de fazer as anotações no diário de bordo. — Eu não
pretendo voltar ao esconderijo do Imperium sem vocês.
— Prove!
O Capitão franziu o cenho. Ele segurou o mapa, podia enxergar cada
palavra, cada coordenadora e curva do desenho. As runas brilhavam para
ele, e para qualquer outro Ômega lúpus que pusesse seus olhos sobre aquele
mapa.
— Tudo bem… — para surpresa e espanto do Alfa, Francis começou a
rasgar o mapa. Ele jogou para cima e sete fragmentos voaram se
espalhando. — Está satisfeito?
— O que você fez!? — Abel se jogou, tentando recuperar os pedaços. —
Vamos colar!
— Não, não vamos colar. Vamos espalhar cada parte do mapa pelos sete
mares. Então eu não terei mais acesso ao mapa, assim como nenhum de
vocês.
— Isso é completamente insano!
— O que seria da vida sem uma dose de desafios, Abel?
— Capitão? — Alguém bateu na porta. — Há um navio se aproximando
pela popa.
— Deixe-o se aproximar. — Francis sorriu para o contramestre. — Aí
está. Entregue um dos fragmentos para eles.
— Então vamos ter de juntar todos os pedaços se quisermos encontrar o
Imperium novamente?
— Isso não o deixa mais tranquilo? Apenas nós dois sabemos disso. Não
posso fazer isso sozinho e certamente você também não.
— Tudo bem. Eu que criei o itinerário, logo tenho a vantagem aqui. — O
Alfa disse, entregando as outras seis partes ao Capitão. Ele exibiu uma
delas: — Vou entregar isso aqui a quem quer que esteja lá fora.
Era um navio seguindo seu rumo para o Brasil. O comandante da
embarcação recebeu o fragmento com curiosidade, sem entender ao certo
sobre o que se referia.

O comandante fingiu estar muito agradecido, e quando o navio pirata se


afastou, ele simplesmente jogou o fragmento em um canto qualquer do
navio, que posteriormente iria parar nas mãos dos nativos do Brasil.
O Luna seguiu navegando para o Oceano Pacifico, deixando cada
fragmento em algum lugar específico. Um deles foi guardado na cabine de
uma embarcação mercante, junto às posses do comandante.
Certa noite, um Alfa dessa tripulação roubou o comandante do navio e
tentou fugir para uma ilha que se localizava na Austrália. O Alfa foi
capturado pelos nativos canibais e assim, um dos fragmentos permaneceu
com o xamã dos nativos, na Ilha dos Kangaroo.
O último fragmento foi deixado em uma ilha próxima do Triângulo da
Morte. A tripulação se perguntou o que estavam fazendo naquele lugar, já
que aparentemente não fizeram nada por ali.
— Foi apenas uma parada técnica. — Abel anunciou. — Ora, depois
conversamos sobre isso.
Francis o encarou desconfiado, porém, nada disse. Estavam mais
próximos de casa a cada milha que percorriam. O Ômega podia sentir por
meio da marca o quanto Sarah sentia sua falta.
Sua desconfiança aumentou com o passar dos dias. O ambiente estava
exatamente igual aos dias que precederam o motim contra Benjamin
Hornigold. Os piratas não conseguiam disfarçar, eram muito sinceros com
suas expressões.
À noite, enquanto o Luna navegava com velocidade reduzida, Francis
chamou seu contramestre no convés superior, para uma conversa longe dos
demais bucaneiros.
Ambos estavam apoiados no parapeito, Francis observando o oceano
completamente escuro, e Abel estava inquieto. Se ele o tinha chamado para
conversar, então por que não estava falando nada?
— Diminuímos as velas como solicitou, Capitão. — O silêncio
desconcertante o fez iniciar um diálogo.
— Eu vi. — O Ômega continuou encarando o oceano.
— Por que me chamou aqui?
— Eu quero que você seja sincero comigo… — Francis suspirou quando
virou o rosto para encarar o Alfa. — Pretende me trair, Abel?
— O quê!? Não! De jeito nenhum! Jamais, em toda a minha existência!
Por que eu faria algo assim? Eu sou completamente fiel ao senhor…
Francis voltou a encarar o oceano enquanto Alfa explicava e repetia
diversas vezes o quão fiel ele era. Parecia mesmo desesperado para provar
sua inocência. Quanto mais exageradamente as pessoas se explicam, mais
mentiras saem de suas bocas.
— Entendo. — O Ômega se retirou, sem dizer nada mais.
— Capitão?
Francis continuou seguindo sem olhar para trás, desceu as escadas,
entrou no cômodo e trancou a porta. Ele ouviu passos apressados no teto
logo acima de sua cabeça, provavelmente Abel correndo para alarmar a
tripulação.
O contramestre contou à tripulação a sua versão dos fatos e envenenou a
todos a bordo, sobre as verdadeiras intenções do Capitão. Decidiram eles
mesmos serem os únicos a saber sobre o Imperium e o mapa. Para isso, era
preciso que o Capitão Francis fosse silenciado.
O Ômega andou de um lado para o outro, puxou grande quantidade de
oxigênio e o liberou aos poucos. Precisava manter a calma ou Sarah
perceberia. Alguém bateu na porta, chamando por ele.
— Capitão? — Era a voz de Abel. — Capitão Francis?!
Francis olhou para a porta, mas não respondeu. As batidas começaram a
ficar mais fortes. Ele correu até a mesa e abriu o diário de bordo. As batidas
na porta foram sendo substituídas por chutes, e a madeira estava começando
a ceder.
O lendário Capitão Ômega molhou a pena em um tinteiro e abriu o diário
na mais recente página utilizada. Sua impecável letra saiu tremida quando
escreveu seu último registro:
22 de setembro, 1691
“Estou trancado na cabine enquanto eles tentam derrubar a porta.
Cometi um erro confiando demais nesses Alfas. Eu não tenho medo da
morte, mas lamento não poder encontrar o Imperium com você, Jack. Mas
lembre-se; enquanto a Lua brilhar no céu, eu estarei lá por você.”
A madeira da porta veio ao chão, o primeiro a entrar na cabine foi o
contramestre. Ele e demais Alfas e Betas estavam armados, se aproximando
lentamente. Francis ergueu o olhar e encarou cada um deles, enquanto
fechava o diário.
— Não faça nada precipitado… — Abel tentou argumentar, mas engoliu
em seco quando o Ômega colocou a mão no cabo da espada e deu a volta na
mesa, na direção deles.
— Se vai mesmo seguir com essa merda, então faça isso direito. — Ele
sorriu, desembainhando a espada.
Não havia medo em seus olhos. Ele avançou contra os traidores, alguns
recuaram. Sentiu uma forte dor em seu ombro quando foi atingido por um
disparo, mas ignorou.
Quem segurava espada recuou pela porta e fugiram para o convés, os
demais que estavam armados com pistolas dispararam para que ele parasse,
não queriam matá-lo com suas próprias mãos. Eram covardes demais para
isso.
Embora estivesse com seu ombro e perna feridos, o Capitão Francis
atingiu um Alfa com sua espada e virou a lâmina acertando outro que estava
ao lado e tentou fugir. Outro disparo na coxa o fez cair de joelhos. Alguém
se aproximou para contê-lo e a mão que segurava a espada firmemente
ainda teve força para lançar um último ataque, rasgando o pescoço de Jihoo,
o timoneiro.
Francis viu o chão da cabine se tornar escuro, e sons distantes tornando-
se confusos em sua percepção, conforme perdia a consciência.
Abel saiu do cômodo, enquanto o médico cuidava dos ferimentos do
Capitão, para em seguida amarrá-lo para que não tivesse chance de fuga.
Alguns piratas seguiram o contramestre. Abel parecia distante, caminhando
pelo convés sem rumo certo.
— Abel? — Um Alfa chamou mais uma vez. — Está me escutando,
porra?! Não tá pensando em voltar atrás, hein?
— Não há mais como voltar atrás… Vamos levá-lo até Nabuco e… —
Ele pigarreou, recobrando a postura. — Algum caçador dará conta do resto.
☠ ☠
Enquanto estava inconsciente, Francis se viu brincando com Jackson no
jardim de Sarah, a Alfa estava tratando os bulbos de suas tulipas, sorrindo
enquanto observava os dois.
Vagarosamente a consciência lhe foi chegando, e quando abriu os olhos
ele se viu sentado em uma cadeira. Sentia dor nos ferimentos mal cuidados,
assim como em seus membros que estavam presos com bastante firmeza.
Em sua frente estava Lee Seungho, o Alfa caçador que havia abandonado
em uma ilha. Ele conseguiu sobreviver por semanas até que uma
embarcação mercante o encontrou e lhe deu carona até Nabuco. De lá, ele
partiu para Busan e se reportou ao seu líder.
Foi compreendido que a missão era deveras difícil para ele, e por isso lhe
foram atribuídas outras em seu lugar. Mas o Alfa jamais deixou de pensar
em Francis. Ficou obcecado, e jurou que um dia o pegaria. E este dia
chegou, com ajuda da tripulação do Luna.
O Alfa estava na ilha quando soube que havia piratas em busca de
caçadores. Sabendo que se tratava de tal tripulação, o Alfa se reuniu com
Abel e claramente aceitou o encargo de levar Francis Bonny até a Marinha.
— O que eu deveria fazer com você? — Lee sorriu, sentando de frente ao
Ômega. — Talvez decepar suas mãos e abandoná-lo em uma ilha? O que
você acha?
Francis apenas tossiu um pouco, sentindo a garganta seca.
— Imagine o que vão dizer, quando souberem que o futuro líder da
Ordem de caçadores capturou o tão famoso Francis Bonny?
O Ômega encarou Lee e não conseguiu se conter. Ele riu, negando com a
cabeça. Não era sua intenção provocar, mas aquele Alfa era patético
demais.
— Quem vai acreditar em você?
— O medo da forca o deixou burro de repente? — Lee gargalhou. —
Estou te levando pra Coréia. Todos saberão que eu o levei à forca.
— Pessoas inteligentes irão contestar a sua versão. Está estampado na
sua cara o quanto é patético.
Seungho deu de ombros, desacreditando. Ninguém seria esperto
suficiente para subentender que as circunstâncias em que Francis Bonny foi
capturado por Lee, eram suspeitas.
Assim sendo, o Alfa deixou o Ômega sozinho no cômodo, e só voltou a
vê-lo quando o navio ancorou em Busan. O Capitão foi levado até o quartel
da Marinha, e rapidamente a notícia de que o célebre pirata havia sido
capturado se espalhou pela cidade.
Sarah precisou esperar por cerca de uma semana para que fosse liberada
a única visita permitida ao condenado. Crianças não eram permitidas, o que
era uma grande hipocrisia, visto que as execuções eram feitas em praça
pública e todo mundo podia comparecer, inclusive as próprias crianças.
— Francis… — Sarah se aproximou devagar.
O Ômega estava sentado no fundo do calabouço. Ele abriu os olhos e
respirou fundo quando enxergou sua Alfa do outro lado da cela, com os
braços esticados.
Francis levantou e caminhou com pressa. A velocidade estava reduzida
devido às correntes presas em seus tornozelos e também aos machucados
em seus membros.
— Eu vou te tirar daqui! — Eles se abraçaram como pôde, com a grade
de ferro entre os dois. — Eu vou te salvar!
— Onde está o Jack?
— Não deixaram ele vir.
— Eu quero que entregue isso a ele — o Ômega se afastou apenas para
retirar seu colar e entregar a ela. — Diga a ele que é importante. Que não o
perca.
— Não! Diga você! Você o verá novamente!
— Sarah…
— NÃO! Eu me recuso! Francis… — a voz dela falou. — Eu não
posso…
— Você consegue, você é forte!
— Eu não posso sem você…
— O Jack precisa de você.
— Eu não vou suportar.
— Acabou! — Um oficial bateu na porta. — Hora de ir.
— Escuta, olha pra mim. — O Ômega pediu. Estavam ambos chorando
pesadamente. — Cuida do Jack.
— Eu te amo... — Sarah fechou os olhos e encostou a testa na do Ômega.
— Você pode me sentir? Eu estarei com você até o fim…
— Eu te amo, Sarah. — Eles foram separados com aspereza pelo oficial
da Marinha. — Diz pro Jack que eu amo ele! Eu sinto muito!
A última visão que Sarah teve de seu Ômega, foi o mesmo encostado nas
grades da cela, sorrindo para ela. Aquele sorriso era a personificação das
coisas perfeitas, e ficaria eternizado em sua memória.
A praça de Busan estava lotada de curiosos. Vieram até mesmo pessoas
de outros reinos para assistir a execução com seus próprios olhos. Alfas,
Betas, Ômegas e crianças esperavam a aparição do tão famoso Capitão.
Ninguém gritou ou vaiou quando Francis Bonny foi guiado até o tablado
de madeira, montado para execuções de piratas. O silêncio era melancólico,
o público jamais ouviu falar em qualquer atrocidade cometida por aquele
Ômega. Apenas histórias contando o quanto o mesmo era incrivelmente
forte e astuto.
Essas histórias correriam de pai para filho, por longos anos. Francis
Bonny estava eternizado como o maior pirata de toda a história. Não havia
Marinha ou Lee Seungho capaz de mudar isso. Seu nome seria temido até
mesmo quando ele não estivesse ali.
O atual governador subiu no tablado e começou a discursar. Ninguém
prestava atenção em suas palavras, eles estavam ali para ver o pirata.
Francis sorria para as pessoas, confirmando tudo o que já ouviram falar
sobre ele. O Ômega não temia nada, nem mesmo a morte. Estava prestes a
ser executado, mas não tirava o famigerado sorriso presunçoso.
Dois irmãos estavam se espremendo entre a multidão, tentando enxergar
alguma coisa. O mais velho era um Beta e tinha 14 anos, o outro, um
pequeno Alfa de 9 anos.
— A mamãe vai me matar se souber que você está aqui! Vamos voltar,
Jungkook!
— Não! Sai Jin! Eu quero ver! É o Francis Bonny!
— Vem! Menino teimoso!
— Me solta! — Os dois começaram a trocar tapas.
Do outro lado, outro Alfa tentava enxergar além da multidão. Jackson
possuía a mesma idade que a outra criança Alfa, e fugiu escondido de sua
mãe, para estar presente ali. Ele puxou um pequeno caixote e subiu, assim
podendo enxergar o seu pai.
Além da multidão estavam presentes o reverendo, alguns oficiais da
Marinha, o suposto caçador que havia capturado o pirata e outras pessoas
“importantes”, como o futuro governador, Park Shinsung. Seus dois filhos
estavam em casa, longe de toda aquela violência.
O mais velho, que se chamava Jimin, contava 3 anos de idade. Ele estava
em cima de um banquinho para poder enxergar o mar pela janela de seu
quarto. Já o mais novo, Jisung, possuía apenas 1 ano, e dormia
tranquilamente em um berço um pouco mais atrás.
— Onde está seu tesouro? — O Governador se aproximou de Francis.
— Muito bem escondido. Mas qualquer um pode encontrar…
— Como? — O Alfa inclinou-se ansioso. Era sabido que Francis Bonny
possuía o maior tesouro do mundo, e todos desejavam pôr as mãos em sua
riqueza.
— O Imperium… — O Ômega murmurou. — Você o quer?
— Sim!
Francis riu.
— Há sete fragmentos do mapa espalhados pelo mundo. Encontre-os, e
terá o mapa que leva ao tesouro.
— Está blefando!
— Talvez sim, talvez não… — O Ômega suspirou. — Somente saberá
aqueles que realmente forem dignos de encontrar o Imperium.
— Acabou. — O Governador afirmou.
— Você acha? — Francis o encarou, mantendo o sorriso. — Muitos
outros virão depois de mim. Ômegas fortes, inteligentes e corajosos. — No
exato momento em que Francis respondia o governador, Jimin estava com
seus olhinhos brilhantes admirando o oceano, sem ao menos imaginar o que
estava acontecendo naquela praça. — Esses Ômegas estão por aí, e um dia
serão temidos e respeitados, como merecem.
— Em seus sonhos. — O Alfa rosnou, encaixando a corda e saindo de
perto logo depois.
— Por que tanto medo?
— Não tenho medo de você! — O Governador rosnou mais uma vez, se
distanciando do Ômega preso por correntes e sendo vigiado por dezenas de
marinheiros armados.
O Ômega suspirou negando com a cabeça, e voltou a encarar a
população. Seus olhos de repente bateram contra os de Jackson. O menino
estava paralisado, observando de longe a execução acontecer.
“Eu te amo”.
O Alfa leu as palavras nos lábios de Francis, seus olhos encheram de
lágrimas quando o carrasco levou a mão à manivela. Ele queria correr e
salvar seu pai, mas não tinha forças. Jackson apenas virou de costas quando
aconteceu.
O Ômega fechou os olhos, sentindo-se sufocado. O Ar faltou. Mas em
sua marca, ele podia sentir a dor de sua Alfa, mas também o imenso amor
que a mesma tinha por si. A escuridão o levou.
O aperto em seu coração e a sensação de sufocamento haviam
desaparecido. Ainda mantinha os olhos fechados quando ouviu uma
familiar voz chamando seu nome:
— Francis?! — Ele franziu o cenho. A voz continuou: — Não tenha
medo. Abra seus olhos!
O Ômega fez assim como a voz aconselhou. Ao invés das muitas pessoas
que estavam na praça de Busan, em sua frente estava o oceano que
observava todas as manhãs. Ele estava sentado no cais, e podia ouvir o
som das ondas batendo contra a coluna que sustentava o deque.
Podia sentir o cheiro da maresia e ver o céu tornando-se claro à medida
que o sol aparecia no horizonte. Ele se levantou, olhou para trás e seguiu
em busca da voz.
Yejun estava parado, no lugar em que costumava ser o estaleiro, ao seu
lado estava seu outro pai Ômega. Ambos estavam no centro de um jardim
com muitas flores coloridas, inclusive tulipas, e sorriam para ele.
Francis sorriu de volta e correu, abraçando-os, e instantaneamente
sendo correspondido.
Jackson desceu do caixote quando um coral, lamentando, se espalhou
pela multidão. Ele saiu correndo quase sem enxergar devido às lágrimas.
Passou por baixo de uma janela onde o filho mais velho de Park
Shinsung estava encarando o oceano. Jimin viu quando um menino Alfa
passou correndo, chorando. No mesmo instante ouviu seu pequeno irmão
começar a chorar também, e correu chamando pelas babás.
Jackson esbarrou em muitas pessoas até chegar em sua casa. Sarah estava
sentada no sofá, encarando o nada. Já não sentia mais a marca no seu
Ômega, isso lhe dava a resposta do que havia acontecido.
— Eu odeio ele! — Jackson parou diante da Alfa, seus olhos vermelhos
minavam lágrimas a cada palavra dita com fúria e dor. — Por que os piratas
tinham que existir, mãe!?
— Jack… — Embora quisesse abraçar o filho, ela quase não tinha forças
para sequer respirar.
— Se a pirataria não existisse, isso nunca teria acontecido! Meu pai
estaria aqui! EU ODEIO PIRATAS! — Ele passou as pequenas mãos no
rosto. — Eu o odeio! Espero que esteja no inferno!
— Jackson! Não fale essas coisas! — A Alfa se levantou quando o
menino correu, mas sentiu as pernas falhando e caiu no sofá novamente.
O Alfa subiu correndo as escadas até seu quarto, e em um ataque de fúria
começou a destruir todos os móveis. Ele não odiava seu pai de fato, e não
desejava realmente aquilo que gritou. Ele odiava o fato de tê-la perdido, e
de não ter sido forte o suficiente para impedir.
Os dois irmãos que antes brigavam pela praça, caminhavam lado a lado,
também de volta para casa. O mais novo estava quieto, mas parecia muito
impressionado.
— Eu disse a você, Jungkook. Aquilo não é coisa pra criança ver. Aliás,
não é coisa pra ninguém ver. Agora você está abalado, e nossa mãe vai
comer meu couro!
— Eu não estou abalado, Seokjin! Eu só… Você não ouviu o que ele
disse? Outros virão em seu lugar.
— E o que é que tem?
— Imagine outros como ele… Isso seria muito foda, não é?
O mais velho arregalou os olhos, surpreso com o linguajar utilizado pelo
outro.
— Onde você aprendeu isso?!
O Alfa ergueu as sobrancelhas e cobriu a boca, correndo para espaçar da
inquisição do irmão.
— Volte aqui! — Seokjin o perseguiu até a casa em que seu irmão mais
novo vivia com um casal de pescadores.
☠ ☠
Triângulo da Morte - 1691
Abel e demais piratas da tripulação do Luna estavam navegando pelo
Pacifico Sul, em busca do fragmento que deixaram na ilha perto do
Triângulo da Morte. Estavam ansiosos para conseguir o mapa de volta.
Diferente do que imaginou, Abel não se sentia mais tão entusiasmado. O
remorso lhe devorava as entranhas, e não havia uma noite sequer, que o
Alfa não se lembrasse da terrível traição. O tesouro já não lhe importava
mais, havia perdido sua alma.
— Capitão Abel? — O atual contramestre o chamou. — O cozinheiro
está nos chamando para o jantar.
— Já estou indo. — Abel permaneceu ainda pensativo na proa.
Ninguém ali, incluindo ele próprio, merecia estar a bordo daquele navio.
Embora eles fizessem parte da tripulação que juntou e escondeu o
Imperium, ninguém de fato merecia usufruí-lo.
Era tarde demais para arrependimentos, mas Abel tomou uma decisão
que, talvez não fizesse nenhuma diferença, mas ele não iria permitir que
aqueles piratas seguissem suas vidas como se nada tivesse acontecido.
Abel desceu até o porão e espalhou pólvora e alcatrão por todas as
cobertas, com exceção da cozinha. O cheiro forte começou a chamar a
atenção dos marujos, e ele rapidamente subiu até o convés, travando todas
as escotilhas para que ninguém mais conseguisse subir.
— O que está acontecendo aqui?! — Um Alfa rosnou, empurrando a
grade.
Abel apareceu caminhando vagarosamente, até parar a vista deles.
— Abel? Abra este caralho imediatamente!
— Não. — O Alfa respondeu calmamente.
— É algum tipo de piada?!
— Piada é…? — O atual capitão riu. — Levarei todos nós a um lugar em
que realmente pertencemos.
— Do que está falando?! Abel?
— Nos vemos no inferno. — O Alfa puxou uma pistola e caminhou até a
escotilha da proa.
Ignorando os gritos desesperados dos piratas, Abel disparou em uma
trilha de alcatrão, material altamente inflamável, fazendo uma chamada
surgir e seguir caminho pela madeira e se espalhando rapidamente.
Várias explosões partiram do interior do Luna, no momento em que o
fogo entrou em contato com a pólvora e outras substâncias. A embarcação
afundou no Oceano Pacifico levando consigo todos os membros da
tripulação que haviam traído o Capitão Francis, incluindo Abel.
Busan - 1693
Sarah não poderia ser chamada de mãe desnaturada. Ela tentou se manter
forte, seguindo a vida e criando seu único filho. A dor de ter a marca
arrancada tão violentamente, ainda acompanhou a Alfa durante meses.
A única fonte de força que tinha era direcionada inteiramente para cuidar
de Jackson, assim como seu Ômega pediu. Mas a debilidade em sua mente
e coração chegaram ao corpo, e uma doença oportunista da época se abateu
sobre ela.
Além de ter perdido o pai há dois anos, um ano depois havia perdido sua
mãe. Agora, Jackson se encontrava sozinho no mundo. Ele tentou se virar
como pôde, para sobreviver. Roubando coisas do mercado central.
Contudo, depois que soube que um garoto ruivo que também praticava
pequenos furtos na região, havia sido levado por um caçador, ele resolveu
dar fim às atividades criminosas.
Isso o levou a um longo período de fome, mas não iria permitir que os
cães da Marinha pusessem as mãos nele também.
Estava sentado na cozinha, com a testa apoiada na mesa, tentando pensar
em algo que não fosse uma comida deliciosa, quando ouviu alguém
entrando em sua casa. Alarmado, ele agarrou uma faca e esperou o invasor
aparecer.
Era um Alfa alto, vestido elegantemente. Adulto, mas ainda jovem.
Assim que viu a criança armada com uma faca, ergueu ambas as mãos para
mostrar que não tinha intenções maldosas.
— Olá, Jackson. Meu nome é Lee Seungho, eu sou um caçador.
O menino ergueu as sobrancelhas. Já ouviu falar sobre eles antes. As
pernas começaram a tremer, mas conseguiu se manter firme, segurando o
cabo da faca.
— Você veio pra me matar?
— Não. Eu vim aqui para levá-lo, se quiser vir comigo, é claro.
— Me levar pra onde…?
— Para a Ordem.
O Alfa continuou explicando sobre a instituição na qual se tornou líder
por “seu grande feito”. Ele contou sobre as inúmeras regras, prós e contras
de se tornar um caçador.
Parecia ser algo muito difícil, se tornar um, mas apenas uma informação
recebeu toda a atenção do pequeno Alfa.
— Então eu vou poder matar piratas?
— Recebemos constantemente esse tipo de pedido. Então sim. Se você
for aceito.
— Eu quero ir.
Lee conteve um sorriso vitorioso. Aquilo estava mais perfeito do que
imaginava. Além de ter se tornado o respeitado líder da Ordem, teria o filho
de Francis Bonny para si.
O próprio Lee treinou Jackson pessoalmente por um tempo, mas logo as
obrigações de seu cargo o impediram de acompanhar o progresso do Alfa
de perto, quando o garoto foi enviado para ser treinado por outra pessoa.
Um jovem caçador foi designado para ser mentor dos novatos. Ensinar
não estava em sua especialidade, o Alfa gostava mais quando se tratava se
infligir dor física. Tortura era a sua arte. Mas ele aceitou.
Um grupo de Alfas, Betas e Ômegas aguardavam-no em um centro de
treinamento, quando ele surgiu muito despreocupado e sorrindo para todos
eles. Poderia ser uma cena normal, não fosse pela mancha de sangue em seu
rosto.
— Ele parece ser bom. — Um Alfa de cabelo loiro comentou.
— Ele é um fracote, Yoongi — Um Ômega ruivo revirou os olhos. — Vai
por mim.
Jackson estava muito próximo deles, e suspirou irritado por que os dois
aprendizes não paravam de cochichar.
— Olá a todos. Sou Chanyeol, seu mentor.
— Jura? — O Ômega ruivo questionou baixinho.
Yoongi e ele riram.
— Imagino que vocês já tenham uma certa ideia do que um caçador é
capaz de fazer... — Chanyeol iniciou, escrevendo em um quadro algumas
especialidade dos caçadores.
— Ei, Baek — Yoongi chamou o Ômega. — Aposto que aquele sangue
no rosto dele foi de algum alvo que ele assassinou.
— Tenho certeza que ele apenas esbarrou com a cara na porta. — Eles
deram as mãos. — Tá apostado.
— Com licença? — Jackson ergueu a mão.
— Sim? — Chanyeol olhou para trás.
— Esses dois não param de conversar. Eu estou tentando me concentrar
aqui, mas assim fica difícil.
— Ô Alfa metido — Baekhyun bateu as mãos na mesa quando ficou de
pé. — Qual é o seu problema?
— Calma, gente — Chanyeol sorriu erguendo as mãos. — Não vamos
nos exaltar.
— Os únicos que parecem ter algum problema aqui são vocês dois. Não
param de falar nem por um minuto — Jackson ignorou o mentor, apontando
para Baekhyun e Yoongi. — Não precisam aprender mais nada aqui. É só
começar a falar e vão levar qualquer alvo à morte instantânea.
— Posso te levar a uma morte instantânea também — Yoongi afirmou,
ainda sentado. — Te garanto que não será com palavras.
— Vocês são namorados ou algo do tipo? — Jackson franziu o cenho.
Um lápis jogado por Baekhyun voou acertando a cabeça dele. Jackson
partiu para cima do Ômega e Yoongi finalmente se levantou para ajudar o
ruivo. Alguns outros também entraram na briga.
Chanyeol apenas sentou na mesa e assistiu os aprendizes batendo uns nos
outros. No final da confusão, ele ainda ofereceu um prêmio para aquele que
ele havia considerado o vencedor, ou seja, aquele que mais bateu.
Na aula seguinte ele levou os aprendizagem até uma das câmaras de
tortura da Ordem. Os olhos de Chanyeol brilhava a cada aparelho que
mostrava, o que fez com que todos os alunos permanecessem estranhamente
quietos.
Como um bom mentor, ele observou os melhores da turma, mas que
também não eram lá tão unidos como ele pretendia. Com isso, decidiu que
algumas das pequenas missões de treinamento que fariam, seria em trios.
É claro, ele fez questão de escolher os três melhores entre todos os
aprendizes para ficarem juntos, na tentativa de uni-los. E funcionou.
Dentro de algumas semanas, ele notou algo de diferente. As ofensas e
ameaças continuavam, porém, havia um certo respeito entre eles, e até
mesmo admiração.
☠ ☠
Costa Leste da Ilha de Nabuco - 1696
Um navio mercante zarpou da ilha no momento em que todas as cargas
foram acomodadas no convés. À medida que a embarcação seguia rumo ao
seu destino, a tripulação transportava as caixas do pavimento superior até o
porão.
Os novatos com idade inferior a dezesseis anos, chamados de grumetes,
eram os mais explorados apenas por pertencerem à hierarquia mais inferior
a bordo de um navio. Sem descanso, após levarem as cargas para o navio
mercante, eles foram agora atribuídos pelos marinheiros a levar os produtos
até o porão.
— Por que a gente tem que fazer isso? — Uma Alfa grumete resmungou.
— Cala a boca, Saori — Um outro exigiu, sussurrando. — Se eles
ouvirem são capazes de-...
— Vocês dois! — Um marinheiro se aproximou. — Quais são seus
nomes?
Os grumetes responderam respectivamente:
— Saori.
— Jungkook.
— Saori e Jungkook… — o mais velho analisou. Os dois estavam
ajudando a transportar os barris. Sua mãos estavam com feridas de tão
calejadas. — Quando terminarem aqui, vão limpar todo o convés.
— Sim, senhor — o menino abaixou a cabeça, agarrou o barril e
continuou seu caminho.
— Isso é um absurdo! — Ele ouviu a voz de Saori e parou na intenção de
observar por uma fresta. — Estamos cansados e esgotados! Nossas mãos
estão em carne viva, isso porque vocês, marinheiros vagabundos, estão com
preguiça de exercer suas funções!
Os olhos do Alfa brilharam amarelos quando lançou o dorso da mão no
rosto da menina. Saori caiu no chão de maneira imediata. Ele ainda
distribuiu alguns chutes, e isso fez Jungkook largar o barril no chão com a
intenção de correr ao seu auxílio, mas parou quando o marinheiro chamou
outros:
— Prendam essa grumete no mastro. Ela será açoitada por tamanha
insolência.
Ainda através da fresta, Jungkook observou a amiga ser levada pelos
marinheiros até onde seu campo de visão limitado permitiu, mas ele pôde
ouvir o barulho do chicote sendo desferido e lacerando-a.
O jovem grumete ergueu o pesado barril carregado com água novamente,
e seguiu seu caminho trabalhando exaustivamente. Assim que terminou de
acomodar toda a carga, ele apanhou um balde e um esfregão, e colocou-se a
limpar o piso do convés sozinho.
Com o canto dos olhos ele viu Saori ser retirada do mastro, estava tão
débil que mal conseguia andar sozinha. Os marinheiros não tiveram sequer
o cuidado de tratar seus ferimentos. Havia médicos a bordo, mas não para
os grumetes.
Jungkook esfregava o chão removendo a gordura e sujeira, pensando no
quão cruel foi o castigo atribuído à Alfa, e como são cruéis os comandantes
de navios mercantes. O que o menino não sabia era que existiam aqueles
que eram ainda piores, mas ele estava prestes a descobrir isso.
Assim que jogou mais um balde com água e espuma, ouviu a correria e
desespero da tripulação em virtude da aproximação de um navio pirata.
— Bandeira vermelha! — O comandante gritou.
Aquela cor significava que os piratas não teriam clemência em sua
invasão. Em vão os marujos se armaram para defender o navio mercante,
mas nada puderam fazer mediante o ataque iminente.
Jungkook viu um navio inteiramente negro se aproximando a bombordo,
estava severamente avariado, mas possuía vinte canhões muito poderosos
em cada lado, e que ainda funcionavam perfeitamente bem.
Se distraiu admirando a bandeira sombria com o insígnia de um cisne,
não percebendo quando o convés estava inteiramente cheio de piratas,
matando a tripulação do navio mercante sem dó, mesmo que já tenham se
rendido.
Jungkook olhou ao seu redor em busca de uma fuga rápida, mas estava
cercado pelo oceano. Ele correu para se esconder atrás de uma tampa de
escotilha aberta, mas o próprio Capitão o encontrou.
— Olha só, um rato se escondendo — Alma Negra gargalhou mirando a
pistola nele.
— Não me mate… — Jungkook sussurrou.
— O quê?! — O pirata franziu o cenho. — Pede isso direito! A sua vida
vale tão pouco assim?!
— Não me mate. — O mais novo repetiu com mais firmeza.
— Por que eu deveria poupar a sua vida? — Alma Negra encostou o
cano da pistola no queixo dele e ergueu seu rosto. — Você não é nada!
Jungkook respirou profundamente, encarando o capitão em seus olhos.
Alma Negra viu seus olhos mudando para uma coloração avermelhada, o
lúpus do mais novo estava furioso pelo que o capitão estava fazendo.
Alma Negra franziu as sobrancelhas, se afastando para observá-lo
melhor. Ele suspirou vendo que sua tripulação havia executado toda a
tripulação do navio mercante, depois olhou para o menino outra vez.
Jungkook ainda o encarava intensamente, porém, seus olhos voltaram
para a cor negra natural. Alma Negra pensou que talvez seria uma boa
vantagem ter aquele lúpus a sua disposição. O menino ainda era bastante
jovem, logo ele poderia educá-lo à sua maneira e usá-lo como arma.
— Vamos levar este aqui. — O Capitão disse, puxando o mais novo pelo
braço e seguidamente o empurrando. — Bem vindo ao Black Swan,
grumete.
Jungkook tropeçou quando foi empurrado. Ele seguiu os piratas até a
embarcação de velas negras, e assim que pisou no convés do navio pirata,
Alma Negra ordenou que seus Alfas afundassem o navio mercante, e vinte
tiros de canhão afundaram-no alguns instantes depois.
— Fique atento às regras do Capitão — o contramestre levou o novo
membro consigo. — Aborrecer Alma Negra em qualquer ato que seja
resultará em morte… Qual é o seu nome?
— Jeon Jungkook. — Ele respondeu observando tudo ao redor.
— Jeon? Por acaso você é filho do Estripador?
O garoto de fato era filho de Jeon, o Estripador, mas não respondeu.
— Vamos batizá-lo em Folsom! — O cozinheiro gritou.
— Sim! — Outros concordaram.
Alma Negra gargalhou, considerando a ideia estupenda. Logo, o navio
desviou seu curso para a ilha referida.
Jungkook tentou se adaptar àquela tripulação. O que dificultava era o
comportamento extremamente selvagem dos piratas. Foi obrigado a
cometer atos violentos contra inúmeras embarcações, como a que aconteceu
no navio mercante em que havia sido encontrado.
Sabendo que a punição para qualquer desobediência era a morte, ele
seguia estritamente as ordens que lhe eram atribuídas. Ações que ele
mesmo considerava bárbaro demais para sequer cogitar em fazer, contudo,
haviam algumas coisas que ele tinha a liberdade de decidir por si mesmo, já
que não influenciava diretamente o Black Swan.
Mas ele não era o único que se distinguia daquela terrível tripulação.
Jungkook se uniu a alguns Alfas que, assim como ele, estavam a bordo do
Black Swan apenas para sobreviver.
Por enquanto…
☠ ☠
Japão - 1700
O recém eleito governador, Park Shinsung, estava em sua primeira
viagem diplomática para garantir o desenvolvimento pacífico entre os
Reinos.
Sempre que fazia viagens, levava seus dois filhos consigo. Não confiava
deixar os dois Ômegas aos cuidados de qualquer um. Eles poderiam entrar
em contato com as “coisas do mundo ”, logo, o próprio Alfa teria um
melhor controle da situação se sempre os mantivesse embaixo do seu nariz.
Um jantar foi oferecido pelo próprio Imperador, como um regalo de boas
vindas. Os pequenos Jimin e Jisung estavam vestidos com seus trajes
sofisticados, que custavam mais do que o salário dos empregados daquela
mansão.
A mesa da cozinha estava repleta de comidas deliciosas, prontas para
serem servidas a qualquer instante. As crianças olhavam para os doces com
os olhinhos brilhantes, mas não eram permitidos sequer entrar na cozinha.
— Aqueles bolinhos pareciam tão bons — Jisung comentou passando a
mão sobre a barriga. — Queria pegar pelo menos um, escondido.
— Não podemos — Jimin respondeu. Estavam dividindo um pequeno
banquinho no jardim.
— Mas eu tô com fome… Será que ainda vão demorar?
O mais velho olhou na direção do salão, onde os adultos conversavam
distraídos. É claro que iriam demorar. Estavam ocupados demais com seus
assuntos entediantes.
— Você pode esperar só um pouquinho? — Jimin virou a atenção para o
mais novo. Jisung suspirou entristecido, mas balançou a cabeça com um
sim.
Esse “pouquinho” do mais velho havia se tornado vários longos minutos.
Jisung estava quieto com o queixo apoiado na mão, mexendo nas folhas de
uma roseira que enfeitava bem ao lado. Com o tempo que se passou,
obviamente sua fome havia aumentado.
Jimin sentiu vontade de comunicar ao seu pai, mas teve medo de ser
repreendido. Precisava agir como um bom Ômega, e levar contrariedades
ao seu pai não seria um comportamento exemplar. Mas não podia deixar seu
irmão mais novo com fome.
— Escuta, Ji… — Ele chamou o menor.
— Hm?
— Eu tive uma ideia pra conseguir pegar alguns bolinhos… está disposto
a ajudar?
— Sim! — Jisung pulou do banquinho.
— Precisa fazer exatamente o que eu disser…
Os adultos ainda conversavam no salão, quando Jisung caminhou
distraidamente entre eles. Ele fingiu tropeçar nos próprios pés e se jogou no
chão, com uma expressão chorosa.
— Ai, meu pezinho!
Todos imediatamente puseram sua atenção sobre o pequeno Ômega em
prantos. Park Shinsung correu preocupado, com a intenção de amparar seu
filho.
— Está doendo muito, filho? — O menino balançou a cabeça
confirmando. — Mandem um médico imediatamente!
— Oh, coitadinho… — diziam algumas pessoas.
O alvoroço chamou a atenção daqueles que estavam na cozinha, e no
momento em que eles saíram para espiar o que havia acontecido, Jimin se
aproveitou para roubar quatro bolinhos e mais alguns doces para eles.
Quando saiu da cozinha e estava prestes a passar pela janela, para fazer
sinal ao seu irmão, um Alfa amigo de seu pai que fumava do lado de fora
entrou em seu caminho. Estava tão distraído observando o corpo do
menino, que não se importou com o que ele poderia estar levando consigo
naquela bolsinha.
— Olá, Jimin. É bom vê-lo bem.
— Olá, sr. Guggenheim. — Ele parou para cumprimentá-lo.
— Que adorável. Diga-me, com quantos anos está?
— Doze.
— Hmmm… E já tem um noivo? — Ele pigarreou quando o menino
arregalou os olhos. Jimin apenas balançou a cabeça negando. — Mas já
teve seu primeiro heat, certo?
— O que é heat?
— Oh, nada... — Ele tocou no ombro de Jimin e suspirou com um sorriso
simpático. — Vou conversar com seu pai. Foi bom falar com você. Até
breve.
Jimin sorriu com com educação, mas não respondeu. Ele não queria
conversar com aquele Alfa, e muito menos vê-lo outra vez.
Assim que se viu livre dele, Jimin acenou para seu irmão da janela e logo
Jisung se sentiu curado de uma hora para outra, antes do médico chegar.
Os meninos comeram os docinhos, escondidos no jardim. Jimin sempre
com um lencinho limpando as bochechas do irmão, para que este não fosse
visto sujo, como filho de um qualquer. Como bons Ômegas, precisavam
estar sempre bem vestidos e impecáveis. Jimin entendia e fazia de tudo para
cumprir com suas obrigações.
Os irmãos foram acomodados no quarto ao lado do governador Park. À
noite, após o jantar, Jimin e seu irmão estavam se preparando para dormir,
quando ouviram o barulho estrondoso de um trovão.
— O que foi isso?! — Jisung sobressaltou na cama.
— Parece que há uma tempestade se aproximando — Jimin observou da
janela. Ele fechou as cortinas e voltou para a própria cama. — Não se
preocupe, estaremos seguros aqui dentro.
— Podemos deixar a lamparina acesa, por favor?
— Tudo bem. — Jimin viu que o irmão estava bastante assustado,
olhando para os cantos mais escuros do cômodo. Ele foi mais um pouco
para o lado, deixando um espaço em sua própria cama. — Você quer dormir
aqui comigo?
— Quero! — Jisung respondeu sem enrolação, só estava esperando o
mais velho perguntar.
O Ômega desceu de sua cama apenas para subir na do lúpus, e se
acomodar deitado lado a lado com o irmão. Ele sentiu a mão de Jimin
segurar a sua com firmeza, embaixo do lençol, e fechou os olhos suspirando
tranquilo.
Enquanto Jimin estivesse segurando sua mão, nada de mal iria lhe
acontecer.
FIM.
Obrigada por ter lido, espero que tenha gostado
A Sarah e o Francis feitos por Anyavoeg 😍
Livro Físico

Olá
Pra quem não usa twitter e nem Instagram, e pediu para que eu avisasse
por aqui, o livro físico de Black Swan (Cisne Negro) já entrou em pré-
venda e está disponível no site da Editora Euphoria

Obrigada por me permitirem ter um sonho e ficarem comigo para mostrar


que o Sol sempre nasce após uma madrugada escura

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