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PILLOWTALK: República 7 | taeyoonseok by keleaomine

Category: Fanfiction
Genre: boyxboy, bts, jeonjungkook, jikook, junghoseok, kimnamjoon,
kimseokjin, kimtaehyung, kookmin, lgbt, minjoon, minyoongi, namjin,
nammin, parkjimin, pillowtalk, sope, taegi, taeseok, taeyoonseok, vhope,
wattys2019, yaoi, yoonseok
Language: Português
Status: Completed
Published: 2018-10-01
Updated: 2022-12-25
Packaged: 2023-04-01 17:59:46
Chapters: 52
Words: 340,715
Publisher: www.wattpad.com
Summary: Kim Taehyung é um rebelde sem causa. Min Yoongi tem uma vida
perfeita. Jung Hoseok guarda segredos demais. E os três se envolvem em um
paradoxo sobre o amor. "Você diz que me odeia, mas eu acho que você só
morre de medo de assumir que me quer tanto quanto ele." taehyung + yoongi
+ hoseok | poliamor jikook!side | minjoon!side | namjin!side + 18 todos os
direitos reservados a keleaomine (c) capa por @wingsluvs [ X NÃO
AUTORIZO ADAPTAÇÃO DA OBRA X ] começa em 30/11/2018
Language: Português
Read Count: 4,138,285
prelúdio

FANFIC REPOSTADA 04/02/2021

obs: os comentários antigos tendem a não aparecer normalmente quando o


texto da história é revisado.

instagram: keleaomine

••

Daegu.

— Dessa vez você ultrapassou todos os limites, Taehyung!

A voz tempestiva e nervosa não assustou em nada o garoto a qual se referia,


e era exatamente isso que Sanghun mais odiava em toda a situação que se
encontravam.

Certo, não era exagero ou outra daquelas discussões rotineiras dentro da


convivência familiar a qual vivia, passava bem longe disso e nenhuma das
outras três pessoas naquela antessala arriscou interceder no conflito.
Taehyung tinha mesmo ultrapassado todos os limites e seu semblante pleno
só confirmava o que todos sabiam: ele não poderia se importar menos.

— O que você tem na cabeça?! – Sanghun perguntou, mas sentia medo da


resposta. O garoto diante de si, largado em uma poltrona de couro caro e
vestindo roupas mais caras ainda era seu filho caçula, mas nada se
assemelhava com o garotinho doce, gracioso e curioso que vivia agarrado
em suas pernas perguntando mil coisas. Não o reconhecia. – Por que fez
isso?!

— Porque eu quis, appa. – ergueu os ombros largos para demonstrar o


desinteresse, confirmar que toda a cena de mais cedo não alterava em
absolutamente nada sua consciência. – Vocês disseram que eu podia trazer
uns amigos para a festa.
— Eu não sabia que você apareceria aqui com mais de trinta pessoas
bêbadas e vestidas como um clube de motoqueiros! – o homem puxou o nó
da gravata para aliviar o aperto e respirou fundo. – Você sabe o quanto esse
evento é importante para a minha campanha.

— E todas as pessoas que eu trouxe votam, appa. – Tae puxou os lábios


grossos num sorriso retangular, puxando o piercing preso ao inferior com a
língua em seguida. – Estou aumentando sua popularidade!

— Uma garota sentou no colo do líder de partido! Isso é alguma brincadeira


para você?!

— Seulgi noona é muito afetuosa.

— Kim Taehyung!

O homem avançou em sua direção como um touro bravo, mas foi


interceptado pelo outros filhos que sussurraram algo entre si para assentir e
seguida.

Tae encarou primeiro o irmão mais velho em seu belo terno sob medida e
sua altura que sempre o destacava entre os outros homens. Kim Taewoo era,
sem sombra de dúvidas, o mais parecido com o pai em todas as formas
possíveis de ser. De vez em quando pareciam duplicatas que confundem a
mente do caçula. Ele fora planejado e ainda parecia estar mesmo beirando
os trinta anos.

Sequer os movimentos do Kim primogênito eram naturais e sua perfeição


irritava Taehyung todos os dias.

E depois havia Taeseok. O abajur, como apelidado pelo mais novo.

Taeseok não possuía personalidade, carisma ou qualquer coisa que tomasse


a atenção de alguém por mais de alguns segundos. Obedecia sempre, vivia
tentando se igualar ao mais velho e se contentava com o prêmio de
consolação em todas às vezes que falhava. Tal qual um abajur, um objeto
decorativo que, se trocado, não faria diferença alguma.
— Appa, por favor, se acalme, sim? Ainda precisamos voltar para lá e lidar
com a situação. – Taewoo abriu os primeiros botões da camisa branca.

— Podemos pedir aos seguranças para tirarem aquelas pessoas da casa. –


Taeseok abriu um sorriso quase orgulhoso. Quase.

— Deixe de ser burro, Taeseok! – o mais velho rolou os olhos. – Se


fizermos isso chamará mais atenção e não queremos isso! Appa precisa que
esse evento termine bem e com o patrocínio da campanha duplicado.

— Oh, eu pensei por esse lado.

— Porque você é como um burro que apenas pensa com viseiras na cara!

— Meninos, não brinquem.

A única mulher se pronunciou após retocar o batom dos lábios grossos.

E ela era como a chave de ouro da bela família Kim.

Kim Chaewon foi completamente deslumbrante com sua beleza jovem, mas
já fazia alguns anos que tudo se resumia a plásticas recorrentes em busca de
uma aparência que não se encaixava mais na idade que tinha. Então, ela
passava mais tempo em clínicas estéticas que criando seus filhos porque
para si era mais importante aparecer bem nas revistas como uma ótima
esposa e ótima mãe, mesmo que isso não fosse verdade.

Taehyung os assistia em silêncio e é necessário destacar que não, ele não


odeia sua família e deseja se livrar de todos eles. Ele apenas não os
apreciava como costumava ser quando mais novo porque uma criança
fantasiosa transforma negligência em solidão e um quase adulto transforma
em rebeldia.

Se observado de outros ângulos não seria errado o classificar como um


rebelde sem causa, mas Tae observava de dentro; ele era o personagem
principal e pouco se importava com o que outras pessoas diriam.

Borrar o quadro perfeito dos Kim dava mais prazer que qualquer outra
coisa.
— Não vai mandar o meu bebê para longe! – Chaewon exclamou dando
volume à discussão que continuava e isso roubou mais a atenção do caçula.

— Ele não é mais um bebê! É um homem! – o patriarca massageou a testa e


suspirou. – E é só enquanto termina da faculdade.

— Omma, nós precisamos de discrição e muito trabalho duro pelos


próximos dois anos, Taehyung só vai... – Taewoo gesticulou sugestivo e a
mulher negou de novo.

— Seul não é longe assim, mulher! Por favor, compreenda.

— Taehyung não pode ir estudar em Seul, isso não é certo. – a mulher


respirou fundo, retomando a postura de uma dama e passou os dedos
pequenos por todo o cabelo curto, ajeitando-o.

Alguma coisa dentro de Taehyung quis se aquecer ao ouvi-la dizer isso e ele
detestou que a simples hipótese de ainda ser importante mexesse consigo
dessa forma.

— Pode visitá-lo quando quiser, omma.

— Não é isso Taeseokie! Diga-me o que vão pensar quando ele não aparecer
conosco nos eventos da pré-campanha? Nas revistas ou nos noticiários? A
ausência dele só vai gerar mais fofocas!

Ah, então era por isso.

Tae sorriu sozinho e assentiu antes de ficar de pé e puxar a jaqueta que


estava pendurada na poltrona. Os quatro pares de olhos encararam-no como
se fosse uma bomba prestes a explodir e isso levou ao riso.

— Fez outra dessas? – o irmão mais velho percebeu ao apontar para a


clavícula exposta do mais novo, um plástico transparente que protege a
tatuagem recente. – Não cansa de estragar o seu corpo assim?

— E você não cansa de comer a filha da cozinheira, hyung? – questionou


após vestir a jaqueta clara. Taewoo fechou a expressão e apertou o punho
direito.
— Me respeite, sou o seu irmão mais velho, moleque.

— Omma, sabe, está tudo bem me mandarem para Seul e fingirem que eu não
existo durante essa palhaçada política de vocês. – bocejou e penteou o
cabelo para trás com os dedos. – Já existem coisas demais acontecendo
nessa casa e eu tenho tomado tanto suas atenções que não sobra espaço,
talvez depois de se livrarem de mim tenham tempo para lidar com o segundo
aborto da filha da cozinheira que Taewoo engravidou; com o interesse de
Taeseok por meninos novos demais; e o caixa dois que appa mantém para
pagar seus luxos.

— Taehyung não ultrapasse mais os limites. – Sanghun mandou com dentes


trincados e a mulher o segurou pelo pulso. – Arrume suas coisas, você tem
dois dias, deixe que eu cuide das coisas com a universidade e a
transferência. – ajeitou a gravata de seda e assentiu. – Vou colocá-lo em um
avião e você só volta para esta casa quando estiver formado. Formado na
profissão e formado como um homem e não um moleque atrevido.

— Como quiser appa. – se curvou, mas mantinha um sorriso debochado no


rosto. – O senhor é muito generoso.

— Gosta tanto de agir com o deboche, irmãozinho. – Taewoo aproximou-se


de si até apoiar ambas as mãos em seus ombros. – Appa, me dê permissão
para um castigo maior? – perguntou ao pai, mas encarando Taehyung.

— Sim.

— Certo. – o primogênito sorriu. – Vamos pagar sua estadia, seja onde for,
com o dinheiro de sua mesa mensal. – Tae arregalou os olhos. – E você
ficará apenas com o que sobrar.

— O que?!

— É algo justo. – Sanghun concordou. – Cortar os custos é algo muito bom,


como sempre sendo empreendedor Taewoo-ah. – elogiou e Tae rolou os
olhos.

— Deveria aprender mais comigo, Taetae.


— Vai se foder, Taewoo. – sussurrou apenas para o irmão ouvir.

— Oh, não. – negou. – Eu vou foder você, moleque de merda. – sussurrou de


volta. – E eu não vejo a hora.

Taewoo piscou e depois abraçou Taehyung pelos ombros, afagando os


cabelos.

Essa era a família Kim e a ela um ditado popular nunca fez tanto sentido: por
fora uma bela viola, mas por dentro um pão bolorento.

Seul.

— Será que eles não conseguem fazer isso mais baixo?!

Yoongi puxou duas almofadas coloridas e usou para cobrir as orelhas


enquanto tombava de lado no sofá espaçoso. Hoseok riu e atirou três pipocas
nele enquanto Seokjin parecia alheio com seus fones de ouvido cor-de-rosa
e um mangá nas mãos.

— O Joon é mais escandaloso que o Jimin.

— Eles estão transando ou sacrificando um bode?!

— Cala a boca e olha o filme, porra.

— Difícil prestar atenção no Thanos matando todo mundo com o Exorcismo


de Emily Rose acontecendo no andar de cima, Seok.

Enfiou a mão dentro do pote de pipocas e pegou um bocado que encheu sua
boca.

Os três homens largados pela ampla sala de estar eram estudantes da mesma
universidade e dividiam uma casa de 180m2 muito bem organizada entre
sala de estar; sala de jantar; cozinha planejada; um banheiro social; e
lavanderia completa no primeiro andar, além da garagem espaçosa para três
carros. E mais três quartos médios; um banheiro social; e uma suíte no
segundo andar.
Tratava-se de uma propriedade pertencente à família do mais velho morador
da Bangtan Kappa Seven, a república que há três gerações recebia alunos
do país todo que ingressaram seus estudos na Universidade Gyosu.

O mais velho entre eles – e dono da propriedade atualmente – é Kim


Seokjin. Aos 24 anos cursava o último ano de engenharia civil e era o
responsável pela república e os moradores dela. Jin, como prefere ser
chamado, poderia ser descrito em três palavras simples: bonito, espontâneo
e egocêntrico. Muitas vezes sequer parecia o mais velho naquela casa por se
deixar levar e sempre rir nos piores momentos possíveis, entretanto sempre
tinha o respeito dos mais novos. Jin também era abertamente bissexual desde
os dezessete anos.

Os outros dois, Hoseok e Yoongi, quando crianças tinham os apelidos


maldosos de Pink e Cérebro, pareciam organismos que não sobreviveriam
separados. Amigos de infância desde que comiam terra e torturavam
minhocas com um par de luvas pesadas. Hoseok era mais velho apenas por
alguns dias, mas isso não mudava nada.

Yoongi em seu segundo ano no curso de economia se destacava bastante; e


Hoseok não ficava atrás com os projetos de arquitetura que chamavam a
atenção dos professores e docentes da instituição.

Não existiam segredos entre eles, quer dizer, não muitos. A convivência
parecia brilhante levando em conta como as personalidades eram
divergentes porque enquanto Yoongi era calmaria, Hoseok era barulho.
Muito barulho. E todas as probabilidades não resultaram em um laço tão
duradouro e forte, mas resultou e já contava dezoito anos do que ambos
pretendiam serem muitos.

Hoseok era a bateria extra de Yoongi. Mas, ele sempre quis ser algo a
mais.

Meia hora depois daquela tentativa frustrada de assistir ao filme, o quarto


morador da república desceu as escadas sem pressa nenhuma, roubando a
atenção dos melhor amigos, mas não a de Seokjin que sequer ergueu o rosto
de sua leitura.
Namjoon estava sem camisa e com o cabelo molhado, denunciando o banho
recém tomado. Ele se jogou no sofá maior, já puxando o celular para fora do
bolso da bermuda de algodão, mas não fez nada porque sentiu bem os pares
de olhos que o fuzilavam.

— O que foi? – perguntou arqueando uma sobrancelha.

— Você por acaso é padre, Joon? – Hoseok quem falou.

— Eu? Eu sou ateu, porra. – negou fazendo careta.

— Então me diga por que, caralhos, estava exorcizando o Jimin?! – Yoongi


lhe atirou uma almofada. – Não sabem transar baixo?!

— Aí perder a graça, hyung. – Namjoon riu e atirou a almofada de volta.

Kim Namjoon, terceiro ano de direito e um gênio reconhecido nacionalmente


aos quinze anos quando participou de uma olimpíada de cálculos em Ilsan,
sua cidade natal. Joon, como é mais conhecido, é bom em fazer amigos e
debater assuntos importantes em meio a cervejas numa mesa de bar, mas sua
qualidade mais admirada sempre será a empatia e o dom de liderança. Todos
o reconheciam assim.

— Diga que vocês não usaram a minha cama de novo, Namjoon.

— Não usamos Yoon-hyung e só aconteceu uma vez, supere isso.

— Nunca. Você corrompeu o meu ninho. – encheu a boca com mais pipoca. –
O Jimin morreu?

— 'Tá tomando banho. – voltou a mexer no celular.

Um silêncio confortável tomou conta da sala outra vez, apenas à voz de Nick
Fury podia ser ouvida enquanto a cena pós-créditos do filme acabava.
Yoongi foi o primeiro a falar.

— Que filme do caralho!

— Eu odiei. – Hoseok fungou.


— Por que você tá com cara de choro, Seok?

— Ele matou todo mundo!

— Por isso foi bom! Ninguém merece filme pra criança.

— Mimimimimi filme pra criança, pipipipi Marvel colorida popopopo DC é


melhor, vai chupar o pau do Batman.

— Se isso for um insulto saiba que não me ofende, na verdade me dá


vontade. – sorriu e Hoseok lhe mostrou o dedo do meio.

O som da campainha fez Jin puxar um dos fones e olhar ao redor.

— Graças a deus, eu já estava pra morrer de fome. – ficando de pé deixou


de lado o mangá e o IPod para ir em direção a porta com a carteira marrom
nas mãos.

Depois de receber as três pizzas e pagar por elas, Jin foi pra cozinha e
Hoseok o seguiu para ajudar – ou só comer todas as azeitonas porque isso
deixava Yoongi muito puto.

— Hobi, pode pegar os pratos pra mim? – pediu após abrir as caixas. –
Dessa vez não erraram o pedido.

— Aqui, hyung. – entregou os cinco pratos de vidro para o mais velho que os
colocou sobre a mesa. – Jin-hyung, isso não te deixa mal?

Hoseok serviu um pedaço de pizza para si e colocou três azeitonas na boca


de uma vez enquanto encarava o mais velho um pouco sem jeito. Seokjin, por
sua vez, continuou mastigando e lambendo as pontas dos dedos sujos de
queijo. Sobrancelhas erguidas e uma interrogação estampada no rosto.

— O que?

— Eles, hyung. – murmurou cuspindo os caroços verdes na palma da mão.

— Eles quem?
— Namjoon e Jimin. Juntos.

— Ah. – sorrindo e pegando mais um pedaço de pizza, Jin negou. – Não. Por
que me deixaria mal?

— Joon pode não se lembrar do que rolou naquela festa porque 'estava
podre de bêbado, mas eu lembro e o hyung também. Deveria falar com ele.

— E você deveria falar com Yoongi. – rebateu arqueando uma sobrancelha.

— Não sei do que está falando. – riu também.

— Então, eu também não sei do que está falando Hobi. – deu um tapinha no
ombro do mais baixo. – É melhor que nenhum de nós saiba.

Hoseok acabou por concordar em silêncio e voltar para a sala com seu prato
e uma latinha de refrigerante de limão bem gelado; uma quarta pessoa estava
presente agora e foi ela quem roubou uma rodela de calabresa do seu
pedaço.

— Ah, não Jimin-ah! – ralhou erguendo os braços, o menor fez um bico


injuriado e pulou tentando alcançar. – Vai servir um pedaço pra você!

— Hyung o que custa? Não seja ruim!

Park Jimin, atualmente o mais novo naquela república, cruzou os braços e


saiu pisando duro para a cozinha.

Ele estudava direito – calouro de Namjoon – e nas horas vagas também era o
vocalista da banda rock de garagem na qual Hoseok também estava como
baterista, a popular The Cypher. Seus pais ainda viviam em Busan, onde ele
nasceu, e cuidavam da rede de resorts que pertencia aos Park há duas
gerações. Ali ele era o mais popular, por causa da banda, da simpatia e
aparência doce, Jimin encantava qualquer pessoa que colocasse os olhos em
si. Bastava um sorriso largo que transformava seus olhos pequenos em duas
linhas adoráveis e deixavam as bochechas fofas coradas, e pronto: Park
Jimin conseguia qualquer coisa.
Depois de servir dois pedaços de pizza em um prato grande, Jimin voltou
para a sala e sentou ao lado de Namjoon. Os dois dividiram a comida assim
e Hoseok foi o único a notar que Seokjin simplesmente não os olhava em
nenhum momento.

— Os novatos chegam amanhã, hyung? – Namjoon questionou a Jin.

— Uhum. – não o olhou, o celular parecia mais interessante.

— Qual é o nome deles mesmo? – Yoongi roubou uma azeitona do prato de


Hobi e ganhou um tapinha em seguida. – Que violência da porra!

— O que vem de Daegu se chama Kim Taehyung e o que vem de Busan se


chama Jeon Jungkook.

— Teremos dois garotos de Daegu e dois de Busan agora.

— Sim, mas eu nasci primeiro em Busan, então ele que me respeite. – Jimin
disse de boca cheia.

— Eles vão chegar de tarde, eu vou dormir com certeza... Amanhã acordo
super cedo pra resolver umas coisas do meu estágio. – Jin limpou as mãos
num guardanapo. – Recebam os dois, mostrem o quarto e o resto eu faço.

— Sim senhor, senhor! – Jimin bateu continência e Jin riu dele. – Hyung
ficou lindo de cabelo loiro, parece mais jovem.

— Não fiquei lindo, sou lindo. – mandou um beijinho para o mais novo.

— A Got Gama vai dar uma festa no fim de semana. Jaebum mandou
comprar dois barris de cerveja. – Yoongi informou. – Vai ser legal.

— Dá ultima vez o Jackson tirou a roupa e dançou peladão no telhado,


pagaram uma multa fodida pra universidade. – Namjoon lembrou.

— A bunda dele é realmente linda. – Jimin riu.

— Se forem a essa festa só tenham cuidado pra não fazer merda, ok? Vou
tomar um banho.
— Vai sair hyung? 'Tá chovendo.

— Vou buscar minha irmã e o namorado dela.

— Dirija com cuidado, Jin. – Namjoon pediu com um sorriso de covinhas e


o mais velho apenas assentiu num sorriso pequeno.

Quando chegou ao seu quarto, Jin respirou fundo e trancou a porta.

Busan

Jungkook quase não teve dificuldades em fechar o zíper da última mala sobre
a cama de solteiro desarrumada. Ergueu o peso e colocou no chão, próximo
às outras duas de tamanho médio. Chinrae observava o filho ainda encostado
ao batente de madeira da porta; um filme passava por sua mente e ele
começava com um Jungkook recém nascido e de cabelos espetados que
olhava ao redor muito curioso com os olhos grandes e escuros; depois ao
garotinho brincalhão que se escondia e ria sem parar quando era encontrado.
Uma infância doce e cheia de amor, apesar de todos os pesares.

Agora via seu garoto – já um homem feito – arrumar as coisas para se mudar
e estudar na capital. Nunca havia ficado mais que um fim de semana longe do
filho e não conseguia evitar estar nostálgico e de coração apertado.

— Quantas cuecas você está levando?

— Dezesseis. E seis são novinhas. – sorriu mostrando os dentes


sobressalentes como os de um coelho. – Eu só tenho uma cueca branca. –
empurrou os óculos de grau para cima, evitando de escorregarem mais pelo
nariz. – Appa, por favor, não fique triste assim.

— Não estou triste, filho. Estou muito orgulhoso de você, por ter conseguido
essa bolsa, mas não posso evitar ficar preocupado.

— Também 'tô apreensivo. Vou morar com pessoas que não conheço. –
soltou um muxoxo e o pai se aproximou. – Mas é uma oportunidade boa de
me formar e conseguir um bom emprego, então o senhor nunca mais vai ter
de trabalhar.
— Gosto de trabalhar, me ajuda a ocupar a mente. – Chinrae sorriu.- Sobre
essas pessoas novas, seja apenas você mesmo Jungkook-ah e tudo vai ficar
mais fácil. – mexeu nos cabelos escuros do mais novo. – E arrume alguém.

— Appa. – rolou os olhos. – Estou indo estudar e não procurar namoros.

— Mas pode acontecer de uma garota te interessar. Ou um garoto. –


sussurrou a última parte. – Sabe que pra mim tanto faz, só importa que você
seja feliz.

— Não vai ter garota em nem garoto, vou estudar. – negou. – Agora me ajuda
a escolher as melhores meias pra levar.

Jeon Chinrae assentiu sorrindo e os dois começaram a separar pares de


meias boas.

Jeon Jungkook acabara de completar dezenove anos e depois de se destacar


nos estudos conseguiu uma bolsa integral para cursar TI numa das
universidades mais conhecidas de Seul.

Morou com o pai a vida toda e as lembranças que possuía da mãe eram
poucas desde que ela os deixou quando o menino só tinha três anos para
viver em outro país com um estrangeiro. Chinrae trabalhava como mecânico
na pequena oficina e os dois moravam nos fundos do estabelecimento de
onde vinha o sustento de ambos.

Mesmo contra sua vontade, Jungkook sempre foi popular entre as garotas e
os garotos do colégio. Talvez fosse o rosto bonito, ou o corpo bem
desenvolvido e forte por conta dos exercícios que fazia com o pai, ou talvez
até por causa da timidez adorável que o fazia gaguejar um pouquinho.

Mas ninguém sabia que, aos dezenove anos, Jeon Jungkook sequer havia
beijado alguém ou sentido vontade de fazer isso. A preocupação de Chinrae
por conta desse detalheos levou a consultas semanais com um psiquiatra que
no fim de tudo ajudou o garoto a se conhecer melhor e se encaixar como
demissexual.
E estava tudo bem para ele não desenvolver laços ou sentimentos, ajudava a
manter o foco no que era realmente importante porque Jungkook era um rapaz
extremamente centrado e ele tinha planos muito estruturados que não
envolviam outras pessoas além de seu pai. Não estava procurando por laços.

Entretanto, coisas demais vão acontecer nessa história. Isso eu posso


garantir porque na Bangtan Kappa existem alguns segredos que precisam ser
revelados e a chegada de Taehyung e Jungkook vai mudar todos os rumos da
narrativa.

☀🌙⭐

"Consiste a monstruosidade do amor em ser infinita à vontade, e limitados


os desejos de ato escravo do limite... Escravo de sentir-se preso a um ciclo
infinito que não se importa com os destroços que deixa e só continua
vindo. O amor nada mais é que - na maioria das vezes - tragédia, mas a
tragédia que dá vida e sopra sentimentos dentro de nossas cabeças como
um sussurro rouco e doce. E é impossível medir o amor, é impossível
descrever algo que não tocamos, não vemos, só sentimos e, ainda assim,
sentimos de uma forma tão deturpada que nos tornamos míopes de
nascença, míopes o suficiente pra não enxergar o que está a nossa frente.

Então, você ama."

• 30/11/2019 •
trailer & info & cast & playlist

AMBIENTAÇÃO:

Essa história vai se passar em Seul no ano de 2019, mais precisamente ao


redor da vida universitária e as consequências da juventude bem a flor da
pele.

PERSONAGENS:

Kim Seokjin; 24 anos; último ano no curso de engenharia.

Min Yoongi; 23 anos; economia.

Jung Hoseok; 23 anos; arquitetura.

Kim Namjoon; 22 anos; direito.

Park Jimin; 21 anos; direito.

Kim Taehyung; 21 anos; publicidade (transferido no 3o semestre)

Jeon Jungkook; 19 anos; tecnologia da informação.

(outros personagens apresentados no decorrer da história)

PLAYLIST:

TAEYOONSEOK:
Pillowtalk - Zayn

"Então vamos deixar os vizinhos bravos


No lugar que sentimos as lágrimas
No lugar para se perder os medos
Yeah, comportamento imprudente
Um lugar que é tão puro, tão sujo, tão bruto
Ficar na cama o dia todo, cama o dia todo, cama o dia todo
Transando e brigando
É nosso paraíso e nossa zona de guerra"

Clocks - Coldplay
Same Mistake - James Blunt
Love me again - John Newman

SOPE:
Sweet Nothing - Calvin Harris feat. Florence Welch

"Então eu coloquei minha fé em algo desconhecido


Estou vivendo em um doce nada
Mas eu estou cansado esperar e não ter nada para segurar"

TAEGI:
Ghost - Halsey

"Você diz que você não é bom para mim


Porque eu estou sempre puxando sua manga
E eu juro que te odeio quando você se vai
Mas eu gosto disso, de qualquer forma"

VHOPE/TAESEOK:
Enjoy The Silence - Depeche Mode

"Tudo o que eu sempre quis


Tudo o que eu sempre precisei
Está aqui nos meus braços
Palavras são muito
Desnecessárias
Elas só podem machucar"

JIKOOK
The Heart Wants What It Wants - Selena Gomez

"Guarde seu conselho porque eu não vou ouvir


Você pode até estar certo, mas eu não ligo
Há um milhão de motivos para que eu abandone você
Mas o coração quer o que ele quer"

The Blower's Daughter - Damien Rice


Fallinforyou - The 1975

👀 MINJOON/NAMMIN 👀
Too Much To Ask - Niall Horan
Snuff - Slipknot

"Eu só queria que você não fosse meu amigo


Assim, poderia te machucar no final
Nunca afirmei ser um santo
O meu eu foi banido há muito tempo atrás
Tive que perder as esperanças para te deixar partir"

NAMJIN:
Don't Speak - No Doubt
Idfc - Blackbear
Habits - Tove Lo (Jin tema)

"Preciso ficar chapado a vida toda


Para esquecer que sinto sua falta"
1 - bem vindo à selva

tags de gatilhos: alcoolismo, violência física, bulimia, automutilação,


consumo de drogas e pedofilia.

☀🌙⭐

"Bem vindo à selva


Nós temos diversões e jogos
Nós temos tudo o que você quiser."

A Universidade Gyosu se tratava de um conjunto de prédios


localizados Dobong-Gu, rodeado por uma grande área florestal que fazia
divisa com Bukhansan National Park e ocupava um território a perder de
vista.

Construída durante a Guerra da Coréia, seu prédio principal serviu como


hospital militar e posteriormente como um forte. Em 1968 foi inaugurada
como uma das seis universidades mais renomadas do país, contando com um
corpo docente de currículos perfeitos e grades curriculares de dar inveja em
qualquer instituição de menor porte.

E em uma das várias repúblicas espalhadas pelo campus leste, havia aquela
que será o ponto de partida para toda essa história.

A Bangtan Kappa, ou apenas república sete, foi fundada no ano de 1978 por
Kim Jisung, um estudante de medicina que deu início à tradição familiar que
passou de geração em geração até chegar a Kim Seokjin, atual responsável
pela fraternidade.

Sendo uma das mais populares e respeitadas dentro do campus, a BTK –


como é carinhosamente apelidada – é extremamente rigorosa na seleção de
seus membros e perpetua uma infinita lista de nomes influentes de ex-alunos
com o passar das décadas.

Todos queriam fazer parte dela, mas poucos conseguiam.

"Bem vindo a Bangtan Kappa!"

"Um lar familiar e aconchegante que recebe estudantes devidamente


selecionados em todo o país! Os que buscam comodidade, segurança e um
ambiente propício à vida acadêmica podem encontrar tudo isso conosco."

"Nossas acomodações são confortáveis, horários de acordo com a grade


curricular da Universidade Gyosu, e com localização espetacular..."

— Hm. Grande coisa.

Taehyung fechou o pequeno panfleto onde a cor preta predomina a impressão


elegante e suspirou baixo. O veículo se movia sob a garoa fina que
continuava a cair desde antes do dia amanhecer. Ele observou o exterior e
depois as grandes mansões que pareciam sempre as mesmas não fossem suas
sacadas pintadas em cores específicas.

Achou tudo tão entediante.

O celular descarregado e o carregador esquecido dentro de uma das malas


ajudavam, e muito, sua ansiedade aumentar. Não era como se estivesse
esperando muitas coisas, mas desde que desembarcou do avião particular,
horas antes, Tae apenas não conseguia evitar o revirar do estômago ou
aquietar as mãos impacientes.

Era como se algo estivesse prestes a começar.

— Já chegamos, Taehyung-ssi. – o motorista avisou enquanto o encarava


pelo retrovisor. O garoto piscou um pouco confuso e olhou ao redor como se
esperasse reconhecer o ambiente.

— Pode começar a pegar minha bagagem, por favor? – ele retirou o cinto de
segurança e o homem obedeceu às suas ordens sem dizer nenhuma palavra,
logo Tae pode vê-lo sob a chuva retirando as malas idênticas do carro. –
Que droga. – murmurou tentando ligar o celular pela milésima vez. – É um
começo maravilhoso. – riu de si mesmo e desceu do veículo, correndo até a
pequena varanda da casa.

Era uma casa bonita, apesar de ser bem menor do que imaginava. Fez com
que ele se lembrasse da casa da avó no interior de Daegu. Dois carros
esportivos estavam estacionados na garagem dupla ao lado de duas motos
grandes; uma vermelha e outra preta. As outras casas poderiam parecer todas
iguais, menos aquela. Menos a casa de número sete.

A residência era pintada de azul marinho enquanto as portas e janelas eram


brancas como a neve. A casa ostenta elegância e simplicidade inéditas para
ele. E sobre a porta principal se mantinha o emblema da fraternidade, o
colete à prova de balas riscado com a letra grega e abaixo dele apenas uma
frase curta: "Nós somos à prova de balas."

Taehyung achou aquela frase a coisa mais clichê do mundo.

— Preciso voltar agora, senhor. – o motorista explicou após deixar as malas


enfileiradas perto da porta de entrada.

— E quem vai carregar as minhas coisas? – colocou ambas as mãos nos


quadris e o homem, bem mais velho que ele, secou um pouco do rosto
molhado pela chuva com um lenço. De verdade, ele acha aquele moleque
muito insuportável.

— O seu pai foi muito claro, Taehyung-ssi: eu devo auxiliá-lo até aqui,
depois o senhor fará tudo sozinho.

— Então vá de uma vez! Eu me viro! – gesticulou entediado e o motorista


rolou os olhos.

— Boa sorte, senhor. – o senhor se curvou com respeito e Tae assentiu.


Ele observou até o carro sair e sumir depois de virar uma esquina, deixando-
o sozinho naquele quarteirão silencioso e um tanto desconfortável. Tae
buscou no bolso o folheto, virando-o ao contrário para ler as informações
anotadas à caneta pelo pai.

"Responsável pela república: Kim Seokjin."

Respirou fundo antes de apertar a campainha, pressionando o dedo por


vários segundos, cheio de sua comum impaciência. Começava a sentir frio e
a única coisa que queria era dormir por dois dias seguidos.

Então, ouviu alguns passos, alguém xingou um palavrão e outro alguém riu
alto. A voz lhe fez tirar o dedo do botão e o riso o fez querer rir também. E
quando abriram a porta Tae quase perdeu uma respiração. Eram dois
garotos, um deles estava pendurado nas costas do outro com um sorriso
miúdo que mostrava os dentes pequenos e as gengivas rosadas; e o que o
carregava tinha um sorriso grande nos lábios em forma de coração.

— Quem é o apressadinho que está fazendo a campainha de punheta


batendo desse jeito? – o que abriu a porta, dono de cabelos alaranjados,
questionou mantendo o sorriso grande no rosto.

— Kim Seokjin-ssi está?

— Está no sono de beleza dele. – o de cabelos pintados de verde pastel


respondeu ao descer das costas do mais alto. – Quem é você?

— Sou Kim Taehyung, fui transferido e meus pais alugaram um quarto aqui.

— Ah, o novato. – assentiu. – Eu sou Jung Hoseok.

— E eu sou Min Yoongi. – ambos se curvaram um pouco. – Entra aí, seja


bem vindo novato.

Os dois saíram do caminho e voltaram para dentro da casa aos risos antes do
menor outra vez pular nas costas do outro para batucar com as pontas dos
dedos no topo de sua cabeça.
— Hey! E as minhas malas?! – ergueu a voz e teve a atenção de ambos em si.
De sobrancelhas arqueadas.

— O que? Quer que eu diga que elas são bonitas? – Hoseok cruzou os
braços. Yoongi riu e escondeu o rosto em seu ombro. – São lindas, parabéns.

— Quem vai carregá-las até o quarto?

— Hm? Você? – disse óbvio.

— Vocês não têm ninguém aqui que faça isso? Cadê os empregados?

— Empregados? – Hobi quis rir mais. – Olha só Yoon, parece que vamos
dividir a casa com a Cinderela.

— Seok-ah. – o menor desceu de suas costas e riu negando. – Nós não temos
empregados nas repúblicas, Taehyung-ssi. – explicou voltando até a porta e
saindo para a varanda. – Te ajudo, pode ser?

O sorriso daquele cara era simplesmente a coisa mais doce que Tae já vira.
O deixava um pouco lento.

— Pode. – assentiu. – Valeu.

Hoseok descruzou os braços e rolou os olhos antes de ir até eles para pegar
uma das malas pesadas também, ganhando uma piscada agradecida de
Yoongi. Os três colocaram as malas para dentro, deixando-as enfileiradas no
corredor da entrada.

Tae retirou os sapatos e depois a jaqueta pesada. A regata branca deixava


expostas todas as tatuagens coloridas que cobriam a pele de seus braços.
Então, Yoongi mordiscou o lábio e o secou dos pés à cabeça, aproveitando
que o maior estava de costas.

O garoto era bonito para um caralho.

Hoseok percebeu o olhar do melhor amigo e também olhou. Ele olhou


principalmente para o traseiro farto dentro do jeans apertado.
Ele adorou aquela bunda empinada, mas odiou que Yoongi também estivesse
a olhando.

— Jin-hyung deve acordar daqui uma hora. – Hobi quebrou o silêncio e o


garoto se virou para eles assentindo. – O seu quarto é o penúltimo do
corredor, do lado direito... O teu colega de quarto ainda não chegou e-

— Colega de quarto?!

— É. – deu de ombros.

— Eu vou ter de dividir o quarto com alguém?! – parecia indignado e


Yoongi assentiu para ele. – Mas que porra! Caralho, eu não acredito nisso!

— Hey, não é o fim do mundo. – o menor entre eles comentou.

— Ele também é novato, é o bolsista de Busan.

— Só pode ser brincadeira. – Tae riu desarrumando a parte de trás do


cabelo. – Vou ter de dividir o quarto com um caipira.

— Por que alguém de Busan seria caipira?

A voz suave chamou atenção dos três para Jimin que estava recostado ao
batente do portal da cozinha. Sem camisa, descalço e com os cabelos presos
num coque alto que desprendia fios lisos que emolduravam seu rosto. O
piercing solitário no mamilo direito parecia reluzir nas luzes artificiais e o
corpo todo dava um ar confuso de pureza e delicadeza mesmo com o abdome
trincado e a tatuagem grande de uma águia sombreada na lateral dele.

— Jiminie-ah esse é Kim Taehyung, o novato de Daegu. – Yoongi apresentou


com educação. – Esse é Park Jimin, nosso antigo maknae.

Os dois se olharam em silêncio e isso foi extremamente estranho,


principalmente porque um sorriso ladino puxou os lábios grossos de Jimin
enquanto ele levava a garrafa d'água até a boca.

— Muito prazer Park-ssi. – Tae se curvou um pouco com educação.


— Hm. – engoliu o líquido. – Por que você disse que alguém de Busan é
caipira?

— Você é de Busan?

— "Você"? – arqueou uma sobrancelha. – As pessoas em Daegu não sabem


ser respeitosas?

Hoseok olhou de um para o outro e sorriu disfarçadamente. O som da


campainha os fez olhar em direção à porta.

— Eu atendo. – Jimin avisou e os deixou para trás.

Do lado de fora, incomodado com o frio e ensopado pela chuva desde que
caminhou do ponto de ônibus até a república, Jeon Jungkook ajeitou a
mochila pesada nas costas e penteou os cabelos úmidos para trás com os
dedos trêmulos.

Sentia-se nervoso demais, sempre ficava assim quando passava por


mudanças drásticas e perdeu as contas de quantas vezes cogitou descer na
primeira estação e voltar para casa, voltar para o que conhecia.

Não estava acostumado com mudanças.

Também estava com fome, poupou o dinheiro do lanche para alguma


emergência e até se perguntava como eram divididas as despesas naquela
casa enorme, será que a bolsa cobriria tudo?

Jungkook pensava em procurar algum emprego de meio período quando a


porta abriu e seus olhos caíram no garoto mais baixo que entornava uma
garrafa d'água contra os lábios fartos.

Jimin franziu o cenho e abaixou a garrafa para separar os lábios e medir


Jungkook dos pés à cabeça, sem reserva alguma. Bem, ele era assim. Desde
as coxas grossas apertadas num jeans claro, os quadris estreitos e os braços
marcados por conta do moletom úmido.

O garoto o olhava meio assustado e confuso, os olhos enormes eram bonitos


e diferentes, o fato do cabelo estar jogado para trás dava vista a testa lisa e
escapando da roupa, pintando o pescoço branquinho, dava pra notar
tatuagens marcando de ambos os lados.

— Uau. – sorriu e mordiscou o lábio inferior.

— Hm. B-boa tar-de. – Jungkook quis morrer por gaguejar e Jimin quis o
apertar inteirinho. – Meu nome é Busan e eu vim de Jeon Jungkook.

— O que? – ele riu e o som do riso dele aqueceu alguma coisa dentro do
peito de Jungkook.

— Droga. – resmungou baixinho. O rosto estava quente como brasa pela


vergonha. – Sou Jeon Jungkook, vim de Busan. – se curvou atrapalhado.

— Eu sou Jimin. Park Jimin. – encostou ao batente e sorriu ao notar os olhos


do garoto desviando o tempo todo de si. – Sou seu hyung.

— Ah. – se curvou de novo. – Por favor, cuide bem de mim Jimin-hyung.

Jimin sorriu largo e lambeu o lábio inferior, mas Jungkook não viu.

— Ah, eu vou cuidar sim. Com certeza. Muito bem.

Jungkook engoliu a saliva e sorriu sem graça.

☀🌙⭐

— Bem, eu sou Kim Seokjin. – Jin ajeitou o pijama com estampas de alpaca
e sorriu. – Sou o responsável pela república e presidente da fraternidade.
Namjoon é o vice-presidente. – apontou para o outro que estava largado
sobre um dos sofás comendo uma maçã. – Vocês já se apresentaram?

— Eu primeiro. – Hobi ergueu a mão e Tae foi o primeiro a encarar. – Jung


Hoseok, estudo arquitetura, toco bateria numa banda e tenho 23 anos.

— O signo dele é aquário. – Jimin completou.

— Lá vem ele com esse negócio de signo. – Namjoon riu.


— Calado, ateu. Eu sou Park Jimin, estudo direito, canto na banda que ele
toca bateria e tenho 21 anos. – sorriu todo meigo. – Ah, sou libriano. – olhou
pra Jungkook. – Sua vez. – o incentivou. – O seu nome não é Busan, ok? –
brincou para descontrair e o garoto corou.

— Jeon Jungkook. Vou estudar TI, tenho quase 20 anos.

— Seu signo?

— Virgem.

— Tem cara mesmo. – Namjoon sussurrou só pra Jimin ouvir. – Kim


Namjoon, estudo direito e tenho 22 anos. – Jimin o cutucou. – Sou
virginiano! – rolou os olhos.

— Min Yoongi. – Hobi sorriu assim que ele abriu a boca e Tae percebeu. –
23 anos, eu estudo economia e sou de peixes, mas o Jiminie diz que não
parece.

— Kim Taehyung. 21 anos. Publicidade.

Jimin continuou o encarando com uma sobrancelha arqueada e os outros


cinco franziram o cenho porque parecia ter alguma coisa acontecendo
naquela troca de olhares.

— Signo?

— Não acredito nessas coisas. – deu de ombros.

— Hm. Tudo bem. – imitou o gesto. – Detestei ele. – sussurrou para


Namjoon.

— Kim Seokjin, 24 anos e engenharia. Sou sagitariano. – sorriu. – Bem, nós


temos regras aqui e eu quero passá-las a vocês mesmo que estejam em
contrato porque não é todo mundo que compreende aquelas coisas com
facilidade. Existem 4 quartos nessa casa e todos estão atualmente ocupados.
Namjoon e Yoongi; Jimin e Hoseok; e agora vocês dois. – apontou para Tae
e Jungkook. – O meu quarto é a suíte. Sobre a divisão de tarefas.
— Tarefas? – Tae perguntou baixo.

— Jimin e Hobi dividem a cozinha, Yoongi e Namjoon os banheiros, eu fico


com a tarefa de cozinhar e vocês dois vão assumir a limpeza das duas salas e
da garagem. Algum de vocês tem carro?

— Tenho, mas não está aqui.

— Não. – Jungkook negou.

— Eu e Yoongi usamos duas vagas para carros, Hobi e Jimin as duas para
motos e Namjoon não dirige por um bem a população coreana.

— Obrigado, hyung. – agradeceu debochado e Jin riu um pouquinho.

— Jungkook a sua bolsa cobre completamente todos os custos e ainda sobra


um pequeno valor que vou transferir para a sua conta sempre que o benefício
cair, ok? – o garoto respirou aliviado. – As compras são feitas por mim e
Yoongi a cada quinze dias e nela compramos coisas essenciais, outras coisas
vocês mesmos tem de comprar, então funcionamos com o sistema de
etiquetas. – Jin tirou do bolso do pijama dois saquinhos de etiquetas: um era
preto e o outro roxo. – Etiquetem tudo que é de vocês antes de colocar na
geladeira ou na dispensa, coisas sem etiquetas serão devoradas e não adianta
reclamar. Etiquetas rosa são minhas; verdes do Hobi; brancas do Yoon; azuis
do Jimin; vermelhas do Namjoon. E agora... Roxas são do Taehyung e pretas
do Jungkook. – entregou a eles as etiquetas. – Durante o período de provas o
silêncio é indispensável. Fora deles, evitem apenas transformar a casa numa
caixa de som gigante.

— Só fiz isso uma vez hyung. – Hobi riu.

— Cada dupla é responsável pela limpeza e organização de seu quarto. Qual


a orientação sexual de vocês? – perguntou na lata.

— Eu sou bi. – Tae respondeu sem demora.

Todos encararam Jungkook e o garoto parecia prestes a sair correndo.

— Sou hétero. – murmurou e Jimin fez um bico.


— Que pena. – murmurou também e Yoongi gargalhou.

— Aqui nós não temos nenhum tipo de preconceito e não aceitamos também,
ok? Namjoon e Hobi são gays, eu e Yoongi somos bissexuais e Jimin é pan. –
o citado ergueu a mão e acenou. – Você é o primeiro cara hétero que
recebemos depois de um tempo, espero que não tenha nenhum tipo de
problema.

— Seokjin é heterofóbico. – Yoongi brincou e Jin sorriu.

— Não teremos, eu não tenho preconceito nenhum, Seokjin-ssi. – sorriu


nervoso.

— Ótimo. Perguntei isso pra poder falar sobre trazer pessoas pra cá, assim...
Não tem uma regra quanto a isso, nunca teve... Mas procurem ser reservados
se tiver alguém em casa e avisem aos seus colegas de quarto com
antecedência. – tocou os lábios com o indicador, tentando lembrar-se de algo
mais. Namjoon sorriu, Jin ficou ainda mais bonito assim. – Ah, as aulas
começam em cinco dias, mas aconselho que procurem conhecer mais do
campus antes, porque é muito fácil se perder. Meu prédio é perto do de
publicidade e posso te ajudar, Taehyung.

— Eu estudo ao lado do prédio de TI, ajudo o maknae. – Yoongi avisou e o


garoto sorriu agradecido.

— O papo tá bom, mas eu preciso me arrumar. – Hobi ficou de pé e ajeitou o


moletom folgado demais no corpo. – Yoon vai levar a gente, não vou pilotar
nessa garoa chata. – indicou a Jimin.

— Pode ser. – olhou ao redor até encarar os dois novatos. – Deveriam


socializar também. Hm, hoje nós vamos tocar no Wings... É um bar aqui
perto, querem ir?

— O que vocês tocam? – Tae arqueou uma sobrancelha.

— Rock.
— Você canta rock? – perguntou debochado e Jimin sorriu debochando o
dobro. – Nunca pensaria isso.

— Você vem também maknae? – Hobi se aproximou do garoto e sorriu, ele o


fazia sentir confortável.

— Ah, obrigado, mas eu tenho minhas coisas pra arrumar. – e também não
tenho muito dinheiro, ele completou em mente.

— Deixa isso pra depois! Eu até te ajudo! – bagunçou o cabelo dele. – Por
minha conta, ok?

Hobi assentiu. Ele sabia que por ser bolsista, Jungkook era o com menos
condições ali e não conseguia evitar querer ajudá-lo a sentir-se menos
deslocado.

— Ele nunca paga nada pra ninguém, aproveita. – Yoongi sussurrou e o Jeon
riu.

Um a um eles foram rumando para seus quartos, apenas Jimin e Taehyung


ficaram sentados no mesmo lugar se encarando com sobrancelhas arqueadas.
O maior foi quem falou primeiro.

— Tem alguma coisa em você...

— Que te impede de ter respeito? Você deveria me chamar de hyung. – Jimin


soltou o cabelo e depois os prendeu de novo de qualquer jeito. A beleza dele
surpreendia Tae. – Você parece a porra de um super modelo.

— E você se parece com aqueles príncipes da Disney. – retrucou. Os dois


riram um pouquinho. – Tem alguma coisa em você...

— Que dá a sensação que te conheço há muito tempo. – o menor suspirou e


ficou de pé. – Para de me chamar de você, caralho.

— Eu não vou te chamar de hyung. – determinou e Jimin rolou os olhos.

— Então, me chama de Jimin.


— E você me chama de Tae. Meu signo é capricórnio.

Taehyung estendeu a mão para ele e Jimin a encarou antes de apertar. Quase
um reconhecimento instantâneo, eles franziram o cenho com aquela sensação.

No andar de cima Hobi entrava no quarto de Jungkook trazendo a última


mala do garoto que agradeceu se curvando sem parar. Era evidente o quanto
o mais novo parecia inexperiente e perdido ali, até mesmo seu sotaque o
dava um ar de ingenuidade quase doce.

— Obrigado, Hoseok-ssi.

— Me chama de hyung, ok? – o mais novo assentiu. – Jungkook, hm... Se


você precisar de qualquer coisa pode me procurar, deve ser meio assustador
vir pra cá sozinho. – sorriu o confortando.

— O hyung sabe onde eu consigo achar um telefone público? – estava


encabulado. – Preciso ligar pro meu appa, mas o meu celular está
descarregado e eu não sei onde coloquei o carregador.

— Ah, deixa disso, pega! – jogou pra ele o próprio celular. – Pode usar. –
assentiu.

— Tem certeza

— Absoluta. – esfregou as mãos. – Vou me arrumar agora. Se arruma, tira


essa roupa aí molhada e, Jungkook, não sei se isso é algo reconfortante nesse
momento, mas eu vejo muito de mim em você. Bem vindo à selva, maknae.

Hoseok saiu do quarto e caminhando pelo corredor esbarrou em Taehyung


que estava distraído com o celular. Os dois se encararam por breves
segundos, olho no olho.

O mais novo lhe cedeu um sorriso ladino um pouco antes de morder o


piercing preso ao lábio inferior e passar por ele esbarrando o ombro de
propósito.

— Mauricinho do caralho.
Hobi murmurou.
2 - confortavelmente entorpecido

Relaxe
Vou precisar de algumas informações
Apenas coisas básicas
Você pode me mostrar onde dói?

Pink Floyd

Seokjin apenas se jogou na cama confortável e bem arrumada,


imediatamente seus olhos encararam o teto branco do quarto. Ele suspirou
quando as rodinhas da cadeira rasparam contra o chão até que ela batesse
contra o móvel.

— Por que você não bate na porta?

— Porque eu não quero. – deu de ombros e a garota bufou.

— Eu poderia estar nua... Ou com a Lisa.

— Jisoo, você sabe que de qualquer forma eu não bateria antes de entrar.

— Existe algo chamado espaço pessoal, sabia? Não é só porque somos


gêmeos que você pode continuar invadindo o meu. Já não basta o útero da
omma?!
— Eu nasci primeiro, seja respeitosa. – se virou sobre o colchão até estar de
lado, apoiando o cotovelo na cama. – E sou mais bonito também.

— E mais iludido. – a garota ficou de pé e subiu na cama também, deitando-


se ao lado dele. – E aí, o que você veio fazer aqui?

— Senti saudade.

— Seokjin, você mora há três casas daqui e nós nos vimos ontem de tarde,
fala logo o que aconteceu. – Jisoo esticou a mão direita até poder pentear o
cabelo de Jin com carinho, enrolando as mechas nos dedos. – Do que está
fugindo dessa vez?

Jin ergueu os olhos para encará-la e aos poucos o sorriso dele se desfez para
algo quase triste. Então, ele negou e respirou fundo lutando contra o nó na
garganta que sempre o incomodava, em todo caso, Seokjin era ótimo em
ignorá-lo, mas não o tempo todo.

— Ouvi os dois transando ontem.

— Pensei que estivesse ok sobre isso.

— Eu quero estar, mas têm coisas que não dá pra controlar. – mordiscou o
lábio inferior. – Hoseok me perguntou sobre lidar com tudo aquilo.

— E você negou qualquer coisa, certo? – ele assentiu e Jisoo suspirou. – Jin,
essa droga é quase masoquismo! Você não precisa passar por isso!

— Não é grande coisa, Jisoo.

— Como não é? Você ama aquele babaca e ele sabe disso, mas continua te
fazendo mal!

— Ele não sabe de nada-

— Namjoon pode ser muitas coisas, mas ele não é burro. – Jisoo suspirou e
puxou o irmão para poder fazê-lo deitar com a cabeça sobre suas coxas. –
Você sabe Jin... Sabe que ele sabe.
— E eu também sei que ele não tem obrigação nenhuma nisso. Namjoon não
é obrigado a corresponder o meu sentimento, na verdade ninguém no mundo
tem obrigação de fazer isso.

— Pouco me importa que ele não tenha obrigação, mas ele devia parar de te
procurar quando não arruma ninguém pra transar. – Jin encarou a irmã e ela
rolou os olhos. – Ele é tão babaca.

— Ele me procura porque eu aceito, Jisoo. A culpa é minha de qualquer


forma. Eu dou o que ele quer e quando está satisfeito me diz obrigado, pelo
menos.

— Isso é tão irreal. Olha só pra você! Seokjin você é lindo e pode ter quem
quiser!

— Não, maninha. – Jin sorriu de forma conformada e negou. – Eu não posso


ter quem eu quero. Tanto faz, eu não quero mais falar sobre isso.

— Quer falar sobre o que?

— Os novatos da república. Jeon Jungkook e Kim Taehyung.

— Algum deles é bonito?

— Quem é bonito, Jisoo?

A garota se jogou na cama ao lado deles e se esticou até deixar um beijinho


nos lábios de Jisoo e depois um na testa de Seokjin. Lalisa usava roupas de
ginástica e estava suada.

— Os novatos da república. – ele explicou e sorriu ao vê-la erguer uma


sobrancelha. – São dois.

— E por que você estava perguntando se são bonitos? – virou-se para a


namorada. – Achei que fosse lésbica. Tem mentido pra mim há dois anos?

— Uma mulher não pode mais ter curiosidade! – Jisoo riu e Lisa lhe mostrou
a língua. – Muito madura.
— E aí, eles são bonitos? – Jin riu.

— Sim. Taehyung tem cara de garoto problema e Jungkook com toda certeza
do mundo não faz ideia de onde veio morar. Ele é hétero.

— Tadinho. – a morena lamentou. – Ajude ele, Jin.

— Ele é gostosinho. – mordiscou o lábio. – Mas o Taehyung é mais o meu


tipo. – o sorriso malicioso fez a irmã gêmea o beliscar no braço. – Ai!

— Acabou de dizer que ele tem cara de garoto problema! Pelo amor de
Deus, Jin!

— Deixa seu irmão curtir a vida, chatonilda. – Lisa soltou os cabelos


acobreados e se abanou. – Ele precisa ser gentil com os calouros.

— Obrigado cunhada, você é bastante sensata, Jisoo tem sorte.

— Sinceramente. Lalisa vai tomar um banho que você tá cheirando a suor! E


você – empurrou o irmão. – vai pra sua casa se arrumar, ficar ainda mais
bonito porque hoje nós vamos sair.

— Eu pensei em ir ver a Cypher e-

— Não. Nada disso! Nós vamos a uma boate, você vai beijar algumas bocas
e ponto final. – ajeitou o cabelo dele e sorriu. – Eu não vou deixar você se
torturar, pelo menos por hoje.

Jin esticou o corpo até poder deixar um beijo no rosto dela e Lalisa sorriu.

— Vou sair com os irmãos mais bonitos do país, me sinto ótima.

Jungkook apertou a toalha dentro dos dedos e suspirou de novo. Tentava


muito não parecer enxerido enquanto assistia Taehyung desfazer uma das
malas grandes e bonitas. Os olhos grandes do mais novo iam e vinham
acompanhando cada movimento do mais velho.
O garoto não falou com ele, sequer havia o cumprimentado e Jungkook
respeitou isso, mas eles iriam dividir um quarto por no mínimo quatro anos e
por isso precisavam estabelecer algumas coisas.

— Não olhe para as pessoas assim, você parece uma coruja. – Tae
reclamou, mas não o olhou. Carregava alguns cabides nas mãos, todos vazios
que foram jogados sobre a cama.

— Desculpa. – Jungkook abaixou o rosto e apertou a toalha. Ele encarou os


próprios pés descalços. – Eu não tenho muitas coisas... Posso ficar com a
cômoda.

— Tuas coisas vão caber em quatro gavetas? – arqueou uma sobrancelha e


virou até estar de frente para o outro. – Cara... – suspirou. – Eu não sabia
que ia ter de dividir o quarto com alguém e nunca tive de fazer isso na minha
vida. Esse quarto é do tamanho do meu banheiro, pequeno demais.

Jungkook quis dizer a ele que seu antigo quarto era metade do que estava
naquele momento, mas preferiu apenas assentir ao encarar Taehyung.

— Eu vou ficar com o lado esquerdo do closet, ok? E uma das gavetas. – o
garoto tirou da mochila uma caixa grande e completamente preta, de dentro
puxou o vídeo game de última geração; dois consoles sem fios e uma porção
de jogos. – Não tem a porra de uma televisão aqui! – reclamou e respirou
fundo. Ao passar os olhos pelo quarto percebeu Jungkook encarando os
jogos sobre a cama e franziu o cenho. – Curte jogar?

— Que? – ele demorou a entender do que Tae falava. – Ah, sim. Eu


costumava jogar com um amigo meu.

— Qual desses? – apontou para os objetos.

— God Of War. – sorriu um pouco.

— Amanhã vou tentar comprar uma televisão.

— Ok. – assentiu.
— Odeio jogar sozinho, se você quiser a gente jogar juntos. – deu de
ombros.

— Obrigado. – Jungkook sorriu e apertou outra vez a toalha.

— Por que não foi tomar banho ainda? – estranhou. O mais novo quase se
encolheu e o sorriso se desfez.

— Estou esperando o Hoseok-hyung me trazer-

Hobi entrou no quarto sem bater e trazia nas mãos uma sacola azul que
parecia pesar um pouco. Yoongi entrou depois dele e logo sentou na única
cadeira disponível posta a uma escrivaninha.

— Aqui. Foi mal a demora, mas eu acho que não esqueci nada. – ele sorriu e
entregou a sacola nas mãos de Jungkook.

— Obrigado hyung. – ele fez uma reverência. – Prometo que pago logo e-

— Relaxa, Jungkook. – Hobi bagunçou o cabelo dele. – Eu também vivo


esquecendo as coisas.

— Ele já perdeu as chaves da moto pelo menos umas oito vezes esse ano. –
Yoongi entregou e sorriu.

Taehyung continuou calado, desfazendo a mala sem olhar para eles.

— Eu também vou tomar um banho. Você consegue ficar pronto em meia


hora?

— Claro. Consigo sim hyung! – Jungkook assentiu e praticamente correu


para o banheiro.

Os três ficaram no quarto e Hobi olhou para Tae pelo canto dos olhos,
reparando nas roupas caras que o garoto tirava da mala e separava por cores
sobre a cama de solteiro. Mas o que lhe prendeu totalmente a atenção foi o
pacotinho transparente cheio de algo que ele conhecia bem.

Hoseok sorriu ladino e estalou a língua.


— Isso é maconha? – Tae apenas virou o rosto em direção a ele e assentiu.

— Por quê? Esse é um lar cristão? – debochou e Yoongi ficou de pé para


pegar o pacotinho nas mãos grandes.

— Você trouxe de Daegu? – ele assentiu.

— Estou passando por uma inquisição. - sorriu. – Você conhece alguém que
venda por aqui? – se referiu a Hoseok.

— Não me chame assim. – Hoseok corrigiu, mas Tae rolou os olhos. – Por
que eu conheceria alguém?

— Porque você reconheceu a maconha apenas batendo o olho nela. –


arqueou uma sobrancelha.

— Você tem um ponto.

— Nós conhecemos um cara que vende. – Yoongi colocou o pacotinho no


lugar. – Quer que eu te apresente pra ele?

— Eu seria bastante grato. – ele sorriu para Yoongi e mordiscou o lábio


inferior enquanto o olhava da cabeça aos pés. – Vocês têm alguma coisa? –
apontou para os mais velhos.

— O que?! – Yoongi negou e começou a rir, Hobi apenas negou uma vez. Ele
forçou um riso. Taehyung percebeu e estreitou o olhar. – Nós somos
praticamente irmãos.

— É. Praticamente. - Hobi confirmou.

— Por que perguntou isso?

— Por nada. – Tae lambeu brevemente os lábios e retribuiu ao sorriso


gengival do mais velho. – É sempre bom saber.

Os olhos felinos foram capturados pelos olhos de Hoseok. Então, Tae piscou
pra ele e voltou sua atenção para a própria mala.
🌕

Namjoon mordeu a própria mão para não gemer alto demais e segurou com
mais força o box do banheiro. A água quente caía em suas costas e o vapor
já havia embaçado o espelho grande.

— Caralho, Jimin. – sussurrou depois de agarrar o cabelo molhado dele com


força. Jimin lambeu a glande vermelhinha e sorriu. – Abre a boca, coloca a
língua pra fora.

O mais novo assentiu e fez como o outro pedia. A boca rosada ficou ao
dispor da glande inchada que foi esfregada sobre a língua grande. Namjoon
puxou o cabelo dele, juntando os fios compridos dentro da mão e começou a
se masturbar com força, gemendo baixinho.

Mas socaram a porta do banheiro e ele bufou.

— VOCÊS VÃO ACABAR COM A ÁGUA DA ÁSIA! – a voz de Hoseok


estava irritada. – EU PRECISO TOMAR BANHO!

— HOSEOK, NÃO FODE! – ele gritou de volta e gemeu arrastado. – Isso. –


incentivou ao sentir Jimin agarrar suas coxas com força, os dedinhos
pequenos subiram até as nádegas dele e cavaram a carne durinha.

— Goza pra mim, hyung. – o pedido manhoso fez Namjoon xingar e assentir.
– Na minha boca-

— EU VOU DESLIGAR A ÁGUA! CARALHO JIMIN, PORQUE NÃO ME


DEIXOU TOMAR BANHO PRIMEIRO?!

— HOSEOK, EU JURO QUE VOU TE... – Namjoon gemeu mais alto e


gozou forte por todo o rosto de Jimin até mirar dentro da boca dele. – Porra.
– sussurrou enquanto esfregava a glande nos lábios carnudos, pintando de
branco.

Jimin sorriu e lambeu os lábios ao ser puxado para cima, para um beijo
afoito. As mãos grandes de Namjoon seguraram-lhe o rosto e ele deslizou a
boca por toda sua bochecha até lamber a bagunça feita.
— Vem. – pediu afobado, indicando o que queria quando encaixou os dedos
de Jimin entre suas nádegas. – Eu quero sentar em você.

— Hobi-hyung vai arrombar a porta. – sorriu e ouviram mais socos contra a


porta. – A gente termina mais tarde.

— Odeio te deixar na mão, Jiminie. – lamentou e o mais novo beijou os


lábios dele demoradamente.

— 'Tá tranquilo. – assegurou. – Depois do bar a gente vai pra um motel.

— Motel? – estranhou e o menor assentiu. – Você odeia motéis.

— Hyung, a gente é bastante barulhento e tem gente nova aqui agora. – ele
entrou embaixo da ducha e deixou a água quente o limpar dos pés a cabeça.

— E desde quando você se importa de ser ouvido? Você até gosta. –


Namjoon franziu ainda mais o cenho. – Posso te perguntar uma coisa?

— Você sabe que pode me perguntar qualquer coisa, Moni. – Jimin desligou
o registro e abriu o box em busca de uma toalha.

— O que achou dos novatos?

Namjoon também pegou uma toalha e os dois se secaram rapidamente antes


de enrolá-las nos quadris. Jimin o encarou e sorriu até que seus olhos se
tornassem duas linhas adoráveis.

— Achei ok. Taehyung me dá a sensação de reconhecimento, é bem louco.

— E o Jungkook? O que achou dele?

— Ah. – o sorriso doce se transformou em algo malicioso, sedutor e quase


eufórico. Jimin jogou os cabelos descoloridos para trás e Namjoon teve mais
uma vez outra dose daquela dualidade perigosa. Park Jimin era como um
anjo. – Jungkook é diferente.

— Se com diferente você quer dizer virgem, eu concordo. Ele parece um


filhote apavorado no meio de uma savana.
— É. Parece mesmo. Um filhotinho. – assentiu e sorriu. – Pronto pra ser
devorado.

— Eu conheço esse teu olhar, Jimin.

— Sobre o Jungkook, hm, de verdade... Eu o comeria inteirinho.

Ele sorriu de forma doce como se não tivesse acabado de dizer algo assim,
alguma coisa dentro de Namjoon se revirou, mas ele a ignorou
completamente. Conhecia Jimin melhor que ninguém.

Porque Park Jimin era como um anjo, mas Lúcifer também já foi um.

— Muito obrigado!

Yoongi agradeceu depois de receber as duas bebidas que havia pedido


minutos antes e voltou para a mesa, sentando entre Hoseok e Jimin.

— Aqui. Tem certeza que não quer algo mais forte?

— Não hyung, obrigado. – Jungkook aceitou a cerveja e sorriu.

Estava fechada e ele olhou ao redor para procurar um abridor, mas uma mão
pequena com seus dedos cheios de anéis segurou a garrafa e puxou. Jimin
ergueu a regata que estava usando e usou o pano para abrir a garrafa.

— Obrigado, Jimin-hyung. – reverenciou como podia.

— De nada, Kookie.

— Cadê o Jin-hyung? – Hobi estranhou e só então Namjoon percebeu que o


mais velho não estava ali.

— Ele saiu todo arrumado um pouco antes de nós sairmos. – Yoongi apoiou
os cotovelos sobre a mesa e sentiu estar sendo observado. Estava. Taehyung
o encarava do outro lado da mesa, recostado na cadeira e com uma garrafa
de soju nas mãos.
— Ele saiu com Jisoo e Lisa. Foram a uma boate do centro. – Jimin explicou
depois de comer cinco batatas fritas de uma vez. – Ele disse que se voltar
cedo passa aqui.

— Tomara que ele não leve ninguém pra casa. – Namjoon bebeu um gole de
sua bebida e teve os olhares de Jimin e Yoongi sobre si.

— Por que ele não levaria?

— Seria o décimo nos últimos dois meses. – colocou a garrafa sobre a mesa.

— E por que você está contando? – Jimin arqueou uma sobrancelha.

— Eu não estou contando, mas as pessoas comentam sobre isso. – deu de


ombros. – Ele fica com muita gente.

— Namjoon, me diz: Seokjin por acaso implica com o que você faz? Ou ele
atrapalha quando leva alguém pra dormir com ele? – Namjoon negou. –
Então, guarde sua conta para si. Ninguém se importa com ela, muito menos
Jin-hyung.

O mais alto ergueu as mãos na defensiva e riu sem jeito. Hoseok assoviou o
provocando e Jimin sorriu para Yoongi, que o amava quando ele era ácido.

Uma garota se aproximou da mesa e se curvou até sussurrar algo no ouvido


de Hobi que assentiu e puxou a carteira do bolso para separar duas notas de
cinqüenta que foram entregues a ela. Ninguém estranhou aquilo, quer dizer, a
maioria. Jungkook tentou fingir que não estava reparando, mas Taehyung nem
fez questão de fingir nada.

A garota se afastou deles e Hobi guardou a carteira.

— O que foi isso? – o garoto perguntou diretamente a ele.

— O que? – ele franziu o cenho e sorriu debochado.

— Isso. Você deu dinheiro pra ela sem dizer nada.


— Veja só, ele é curioso também. – Jimin riu. – Garoto, eu gosto de você
agora.

— Cuidado, Taehyung. Por aqui a gente acaba comendo o cu do curioso. –


Hoseok piscou pra ele.

Jungkook engasgou.

— Jungkook! – Jimin o acudiu e Namjoon começou a rir.

— Você quer comer o meu, Hoseok? – Tae debochou.

— Eu tô bem, tô bem. – o mais novo entre eles tossia enquanto Jimin o


abanava.

— Ele comprou maconha. – Yoongi explicou segurando o riso. Jungkook


engasgou de novo.

— Ele vai morrer meu Deus! – Jimin bateu nas costas dele. – Jungkook
respira!

— Ai, isso tá sensacional. – Namjoon bebeu toda a cerveja e Jungkook o


encarou com os olhos marejados pelo engasgo. – O que foi?

— Nada. Desculpa. – o garoto abaixou o rosto para a cerveja que segurava.


Namjoon o intimidava.

Conversaram mais um tempo, perceberam ter coisas em comum conforme os


assuntos surgiam e se estendiam até algo que os ligasse, mesmo que de forma
simples. Jungkook falou pouco, na verdade, sentia-se desconfortável com
muitos temas que para os outros cinco eram comuns. Eles falavam
abertamente sobre tudo, contavam fatos e pareciam não perceber que a cada
minuto Jungkook se encolhia mais, apenas os observando como se fosse um
espectador solitário.

Estava prestes a dizer que voltaria para casa, mas outra cerveja foi colocada
diante de si, já aberta e branquinha de tão gelada. Jimin virou a cadeira para
o lado dele e foi como se tivesse fechado uma cortina deixando-os as sós de
forma confortável e gentil.
O mais velho apoiou um dos cotovelos sobre a mesa e comeu mais uma
batatinha.

— Qual é dessas tatuagens? – perguntou num tom mais baixo, apenas para
Jungkook ouvir.

— O meu primo é tatuador. – explicou, pegando a cerveja. Sentia-se nervoso


com a aproximação de Jimin, mas não era ruim.

— Sério? Que sorte! Seus pais não implicaram quando você as fez? São
quantas?

— Eu vivo com o meu appa e ele também gosta de tatuagens. – sorriu


mostrando os dentinhos adoráveis. – Eu tenho seis. Duas aqui, – apontou
para as laterais do pescoço. – aqui, - mostrou o braço direito – e aqui. –
esfregou a lateral da coxa direita.

— Na coxa? – o garoto assentiu. – O que é?

— Um apanhador de sonhos.

— Deve ser muito bonita. – sorriu de forma sedutora. O mais novo começou
a suar. – Gostaria de ver, sabe? Para saber se o teu primo tem um traço legal.

— Ele tem uma página no facebook e lá tem todos os desenhos dele, o hyung
pode ver por lá.

— Ouch! – Jimin fez um bico fofo e sorriu em seguida. – Essa doeu.

— O que? – arregalou um pouco os olhos. – O que doeu?

— Nada. – negou uma vez e comeu outra batata. – Você passou a sua vida
toda em Busan? Qual distrito?

— Mandeok-dong.

— É um distrito muito pequeno. Gostava de viver lá?


— Sim. Bastante. Quando eu me formar vou voltar para lá. – sorriu de forma
orgulhosa. – O hyung é de qual distrito?

— Haeundae.

— No litoral? – Jimin assentiu. – Fui ao litoral algumas vezes, mas estava


muito frio e-

— Jimin. – Hobi deu dois tapinhas no ombro dele e teve sua atenção. – A
gente sobe em dez minutos. – avisou e se afastou em direção ao pequeno
palco do bar.

— Eu preciso ir me preparar agora, mas depois nós continuaremos a falar


sobre Busan.

— O seu dialeto é bom. – elogiou quando o outro deixou transparecer mais o


sotaque na fala.

— Claro que é. Eu nasci primeiro em Busan. – piscou e Jungkook quase


corou. – Espero que goste do show.

Cerca de quinze minutos depois as luzes se tornaram mais baixas para


destacar a iluminação focada no pequeno palco. Hoseok – já sem a jaqueta
pesada – ocupou o lugar atrás da bateria; Park Jinyoung passou pelo ombro a
alça da guitarra e Im Jaebum a do baixo.

Jimin sorriu quando acenou para algumas garotas que gritavam seu nome. O
cabelo preso para o alto destacava ainda mais o rosto bonito e a regata
cavada mostrava bem mais do que deveria.

— Boa noite. – cumprimentou ao microfone. – Obrigado por virem. Por


favor, consuma bastante no bar pra gente poder continuar tocando aqui. –
brincou e muitos deram risada. – Vamos seguir os pedidos feitos mais cedo
primeiro.

Os pratos da bateria puderam ser ouvidos e logo os outros instrumentos


acompanharam para resultar na introdução de uma música que a grande
maioria conhecia.
Taehyung apenas não conseguia parar de olhar para Hoseok ali.

Nas expressões faciais a cada vez que os braços se moviam para dar com as
baquetas nos lugares certos, conduzindo tudo. O cabelo laranja estava sobre
os olhos, um sorriso orgulhoso brincando nos lábios corados.

— Marrento pra caralho. – murmurou apenas para si. – E gostoso no mesmo


nível. – ele bebeu dois goles da cerveja e se virou para observar Yoongi que
começava a sacudir os ombros conforme as batidas da música. — Mandão
demais. – observou ainda num tom baixo. – Gostoso demais.

Tae sorriu da própria constatação e negou uma vez.

A voz de Jimin explodiu por todos os lados e ele arregalou os olhos.

— Wake up! Grab a brush and put on a little make up! Hide the scars to
fade away the shake up...

— É o Jimin?! O mesmo Jimin que estava sentado aqui agora?!

— Já ouviu falar em dualidade? – Namjoon sorriu e apontou para Jimin com


a cerveja. – É o Jimin.

Jimin segurava o microfone com as duas mãos enquanto o corpo se movia


conforme as batidas de Hoseok, cantando como se tivesse nascido para fazer
aquilo. Dominado completamente, hipnotizando a quem o assistia,
prendendo-os à sua vontade.

E Jungkook estava paralisado.

Uma sensação desconhecida parecia esquentar sua barriga, revirava-o por


dentro bem devagar, caminhando à passos arrastados. Ele apertou a cerveja
com mais força, não conseguia parar de olhar para Jimin.

Não notou quando outra pessoa sentou ao seu lado até que ele lhe falasse.

— Não dá pra parar de olhar. – a voz de Seokjin o fez engolir a saliva. – Ele
é incrível.
— Hyung não tinha ido para o centro? – Namjoon franziu o cenho e Jin
negou.

— Achei melhor voltar. Não quis segurar vela pra Jisoo e Lisa. – sorriu. –
Yoongi, você pode beber hoje? – se preocupou.

— Relaxa hyung, eu tô bem. – sorriu e brindou a cerveja com a que o mais


velho segurava. – Que bom que veio ficar com a gente.

— Alguém tem de ser o responsável aqui. – piscou e se virou para Taehyung.


– E você Tae, gostou do lugar?

— Não é ruim. – deu de ombros. – Ficou melhor quando o hyung chegou. –


brincou.

— Jungkook, tudo bem?

O garoto apenas assentiu e corou vergonhosamente, tentando esconder


melhor aquela confusão que assistir Park Jimin estava causando em suas
calças. Ele estava ficando assustado.

— Sabe onde tem um banheiro? – o Kim mais novo perguntou.

— Uhum. Vem, eu te mostro.

Yoongi ficou de pé e ajeitou a jaqueta preta nos ombros. Saiu na frente e Tae
o seguiu de perto, passando entre as pessoas enquanto a voz de Jimin cantava
sobre estar confortavelmente entorpecido. Em certo momento ele visualizou
apenas as costas do mais baixo, a nuca branquinha de aparência macia.

Descendo até o traseiro pequeno, mas empinado que com certeza caberia
bem em suas mãos. Min Yoongi era todo pequeno e Taehyung adorava isso.

Chegando aos banheiros, o mais velho o direcionou até uma das cabines
particulares e riu abafado quando esse o puxou junto, para dentro do espaço
apertado. Taehyung o empurrou contra a divisória azul marinho e espalmou
as mãos na superfície, prendendo Yoongi com o corpo.

— O hyung me trouxe até aqui por quê?


— Porque você perguntou onde ficavam os banheiros. – ele mordeu a boca e
sorriu em seguida.

— Poderia só ter me indicado o caminho. – Tae se aproximou mais dele e


soprou contra seus lábios cheinhos que sempre se curvaram em bicos quando
ele falava. – O que o hyung quer?

— O que você quer?

Os acordes de Whole Lotta Love os fizeram rir um pouco. O mais velho


segurou a jaqueta do mais novo e o puxou mais para frente, até estarem quase
colados. Ele sorriu ladino e piscou os olhos pequenos de forma lenta.

— Eu quero descobrir se o hyung é todo pequeno.

— Hm. Tem algo que não é pequeno não. – provocou.

— Então, vamos descobrir.

Tae avançou para ele e o beijou afoito, arfando quando abraçou a cintura
firme com os braços, quando a língua com sabor de cerveja se enroscou na
sua. Yoongi agarrou-se à nuca dele, juntando o cabelo castanho entre os
dedos, esticando-se nas pontinhas dos pés para poder o puxar ainda mais
para si.

As cabeças se moviam, encaixando de um jeito perfeito, não dando espaço


para quebrar o ósculo que se tornou ainda mais intenso ao que Tae esfregou
a semi ereção contra a de Yoongi.

Eles gemeram baixinho e o mais novo quebrou o beijo para encarar. Os dois
ofegavam alto.

— Me chupa. – pediu com a boca grudada ao ouvido de Taehyung. A voz


grossa o fez tremer inteiro. – Ajoelha e me chupa.

Foi solto e observou, com um sorriso lindo, o mais novo se ajoelhar no chão
do banheiro o encarando intensamente. Não conseguiriam explicar como
tanto tesão podia ter nascido assim do nada. Conheciam-se há menos de doze
horas, era absurdo.
Nenhum dos dois poderia se importar menos.

Yoongi vasculhou os bolsos até achar um preservativo com uma embalagem


vermelha. Tae abriu a calça dele e puxou para baixo, expondo o pau rosado
e as coxas pálidas. O mais velho abriu a camisinha e desenrolou em si numa
velocidade impressionante. Segurou-o pelo cabelo e esperou.

Taehyung lambeu de onde a camisinha cobria até a glande e sorriu.

— Cereja. – confirmou o sabor e Yoongi assentiu. – Isso me faz lembrar de


algo.

— O que?

— Nada. Um devaneio bobo. – descartou o pensamento e beijou o pau do


mais velho. – Fode a minha boca.

Abriu a boca e esperou. Yoongi se empurrou inteiro para dentro e gemeu


baixo, jogando a cabeça para trás.

Ele sorriu mostrando as gengivas. Era incrível.

Durante o primeiro intervalo da banda todos voltaram para suas mesas e


Hoseok franziu o cenho ao não encontrar Yoongi onde estava antes. Jimin
sentou ao lado de Namjoon e bebeu uma garrafinha de água numa vez só.

— Cadê o Yoongi? – perguntou a Jin.

— Ele foi ao banheiro com o Taehyung. Há uns trinta minutos. – ele esperou
a reação do mais novo e quase sorriu quando viu Hoseok trancar a
expressão, os lábios se curvando para baixo, a mandíbula se remexendo por
causa do ranger dos dentes. – Você é péssimo pra disfarçar. – lamentou e
Jungkook ficou confuso.

Hoseok o encarou com raiva e saiu andando em direção a saída. Jimin ficou
de pé para ir atrás dele, mas Jin o segurou pelo braço e negou.
— Eu vou. Fica aqui. – pediu.

O mais novo assentiu e sentou outra vez.

Deixados ali, Jimin, Jungkook e Namjoon se encararam até o mais velho se


aproximar de Jimin para sussurrar. O Jeon desviou o olhar e continuou
quieto. Não queria ouvir do que eles falavam, mas ficava difícil por estar tão
perto. Trocar de lugar seria uma falta de educação.

— Eu mudei de ideia. Só isso. – Jimin explicou, ele parecia um pouco


nervoso.

— E por quê? Foi você quem disse para irmos pra um motel, não eu!

— Estou cansado. – deu de ombros.

— Jimin, me dê um motivo!

— Caralho, que saco! – ele ficou de pé. – Eu não preciso te dar droga de
motivo nenhum, Namjoon! Você sabe muito bem que isso me faz mal!

O silêncio entre eles foi terrivelmente desconfortável.

— Vou ao banheiro.

Jimin saiu andando e Namjoon xingou baixinho, praticamente jogando


cerveja na mesa. Jungkook se assustou e isso o fez encará-lo profundamente
sem dizer uma palavra. O mais velho saiu da mesa soltando um "foda-se" e o
mais novo ficou sozinho ali, olhando ao redor quase choramingando pela
situação.

Resolveu que ir atrás de Jimin era o mais certo desde que Namjoon não
parecia ir muito com a sua cara. Ele fez o mesmo caminho que vira o Park
fazer, atravessou um corredor pouco iluminado e chegou a uma porta que
indicava ser o banheiro para funcionários.

Ia bater, mas algo o fez parar com a mão fechada em punho no ar.
Jimin, dentro do banheiro, ajoelhado no piso sujo e segurando o cabelo para
o auto com uma das mãos, vomitava as poucas batatas fritas que tinha
comido mais cedo. Vomitava tudo, empurrava o dedo na garganta para
vomitar mais. Coloca para fora o que não queria em si.

Era a segunda vez naquele dia, e, caso ele comesse de novo, não seria a
última.

— Hyung?

A voz preocupada de Jungkook o fez piscar e se afastar do vaso sanitário


assustado, puxando o papel higiênico para limpar a boca.

— Já vou.

— Tudo bem, Jimin-hyung?

Ouviu a descarga e segundos depois a porta abriu.

Jimin tinha o rosto suado e corado, os olhos marejados e o cabelo preso de


qualquer jeito.

Mas ele sorria.

— Acho que aquelas batatinhas me fizeram mal. – fechou a porta atrás de si.

— Tome algum remédio quando for para casa, eu tenho um que meu appa
sempre compra.

— Obrigado. Mas eu acho que já passou. Preciso voltar pro palco daqui a
pouco.

— Certo, hyung.

Quando voltaram para a mesa, Yoongi estava sentado nela mexendo no


celular e com uma dose de uísque servida diante de si. O rosto corado e um
sorriso satisfeito nos lábios. Jimin sentou de frente para ele e o olhou
desconfiado.
— O que foi?

— Min Yoongi, o que aprontou? – arqueou uma sobrancelha.

— Quase nada. – deu de ombros. – Jungkook, essa cerveja aí já virou chá.


Vou pedir outra pra você.

Fora do bar, no beco úmido entre ele e uma pizzaria fechada, Hobi lambeu a
seda antes de acabar de enrolar o baseado. Tirou da bolsa da calça o
isqueiro verde e acendeu puxando e assoprando devagar.

Depois de aceso ele tragou forte, com habilidade.

Jin estendeu a mão e ele passou o baseado para o mais velho.

— Você disfarça tão mal, Hobi. – repetiu e recebeu do outro um olhar que
claramente dizia: cale a boca.

— Sabe muito bem que Yoongi deveria tomar cuidado com que se envolve, a
gente nem conhece esse garoto.

— Yoongi não é feito de vidro e ele odeia quando você o trata como se ele
fosse.

— Ele não é feito de vidro agora.

— Ele é adulto, Hobi. Sabe muito bem o que faz e também sabe lidar com o
que faz. E talvez nem tenha rolado nada entre eles.

— Acredita mesmo nisso? – debochou e Jin suspirou, depois de passar o


baseado para ele de volta.

— Se toda essa situação te incomoda porque não diz a ele?

— Não tenho nada pra dizer pra ele.


O som alto vindo do bar impediu que eles ouvissem os passos suaves de
quem se aproximava pela calçada, mas Taehyung franziu o cenho ao ouvir a
voz de Hoseok e parou onde estava, esperando.

— Você tem algo a dizer pra ele desde que tinham doze anos, Hobi.

— Não vou arriscar. Deixa tudo como está.

— E você vai continuar definhando de raiva todas as vezes que souber ou


que ver ele com outra pessoa? Hoseok, você sequer tenta! – Hobi tragou do
baseado.

— E você tenta, Seokjin-hyung?!

— É completamente diferente e não adianta nada você tentar jogar algo pra
cima de mim! – suspirou. – Você ama o Yoongi!

— Ele é o meu melhor amigo, claro que eu o amo. – abriu um sorriso


debochado e soltou a fumaça no ar.

— Porra, para de mentir desse jeito pra si mesmo! Eu sei muito bem que o
Hobi é o melhor amigo do Yoongi, mas o Hoseok é completamente
apaixonado por ele.

— Chega, eu não quero falar disso. Eu preciso voltar daqui dez minutos.

— Como eu posso te ajudar se você-

— Não pedi ajuda de ninguém, hyung. – cortou de forma grosseira e Seokjin


suspirou.

— Ok. – assentiu. – Só dá pra ajudar quem quer ser ajudado.

Os passos dele assustaram Taehyung que rapidamente se virou e tirou o


celular do bolso, usando o poste de luz como barreira ele fingiu estar
falando ao telefone e Jin não percebeu que era ele.

Assim que o mais velho entrou no bar foi interceptado por Namjoon,
esbarrando contra ele que riu o segurou pelos braços.
— Hyung, cuidado. – Jin assentiu.

— Valeu.

— Eu já tô indo pra casa. – coçou a nuca. – Paguei a conta.

— Ah, valeu. De novo. – assentiu. Estar próximo assim dele era quase
tortura. O cheiro, o calor, o tom de voz rouco. Jin tentou passar em direção
as mesas, mas a mão do mais alto em sua cintura o fez parar e prender a
respiração. – Namjoon, eu-

— Vamos comigo? Pra casa? – sorriu mostrando as covinhas adoráveis e Jin


quis dizer que não, quis se afastar dele. Mas sequer moveu um passo. – Eles
não vão voltar agora.

— O Jimin-

— Jimin está ocupado. – explicou e deixou os dedos brincarem com o tecido


da camisa preta que o mais velho usava. – Você 'tá tão lindo com essa roupa,
hyung. – ele aproximou a boca até estar perto do ouvido do menor. – Você é
tão lindo.

— Não faz isso... – praticamente implorou quando um beijinho fora deixado


em seu pescoço. – Não faz-

— Vai ser gostoso, hyung. – o riso rouco quebrou, mais um pouco, o coração
de Jin. – Vamos?

Namjoon se afastou para encarar o mais baixo, o sorriso bonito o fazia


tornar-se irresistível para qualquer pessoa, imagine então para Seokjin que
era um homem extremamente forte, porém possuía fraquezas.

E a maior delas era Kim Namjoon.

Ele assentiu e sorriu. Sabia que era um erro. Deixar Namjoon bagunçar seus
lençóis de novo, bagunçar seu corpo e o coração teimoso demais para só
deixar pra lá.
Só que o mais alto entrelaçou os dedos com os seus, apertou com firmeza e
beijou seus lábios brevemente antes de guiá-lo para fora do bar. E todos os
pensamentos conscientes explodiram.

Hoseok quase gritou ao notar Taehyung o observando em silêncio, recostado


à parede úmida de braços cruzados. O garoto suspirou e se aproximou dele
lentamente, estendendo a mão para pedir o baseado quase no fim.

Ele o levou aos lábios e tragou de olhos fechados, satisfeito pela leveza que
imediatamente embalou seu corpo. Hobi recostou a parede e enfiou as mãos
nos bolsos da calça.

— Acabou. – Tae mostrou o baseado apagado.

— Precisava de mais uma tragada para relaxar. – lamentou e o mais novo se


aproximou dele, invadindo seu espaço pessoal.

— Abre sua boca.

Parou diante dele Hoseok separou os lábios e ficou imóvel. Tae aproximou a
boca e soltou a fumaça mirando-a, passando para o mais velho que recebeu
de olhos fechados. Não se tocaram um palmo e meio os afastava do contato
corporal, mas ainda assim suas terminações nervosas pareciam sofrer
pequenos choques apenas pela proximidade.

O mais velho queria entender porque fazia aquilo quando deveria socar a
cara linda do mais novo depois dele ter sumido com Yoongi. Não era burro e
sabia o que eles fizeram.

— Cadê o Yoongi? – Tae sorriu quadrado.

— Na mesa. Seguro como um tesouro nacional. – recostou a lateral do corpo


na mesma parede que o Hobi estava, encarando o perfil bonito. Sentiu
vontade de lamber aquela mandíbula perfeita.

— Onde vocês estavam?


— No banheiro. Quer saber o que estávamos fazendo também?

— Não. – encarou os Balenciagas que calçava e sorriu sem humor. –


Caralho, você mal chegou e eu já sei que não gosto de você.

— Deve ser porque gosta do Yoongi.

Hoseok arregalou os olhos e o encarou assustado.

— De onde tirou isso?

— Ele é seu melhor amigo, certo? Isso é óbvio. – jogou se divertindo com o
quase desespero de Hobi. – Não é?

— O que você quer?

— Nada. – deu de ombros.

Ele lambeu os lábios e o outro se sentia tão leve graças à maconha que
sorriu preguiçoso e lambeu os lábios também. Hobi endireitou a coluna e se
virou para Tae.

— Não se meta comigo, Taehyung. – avisou num tom baixo.

— Ou? Sabe, essa história vai começar agora, desse ponto aqui onde eu
apareci. E Hoseok, eu não vou embora. – sorriu de lado.

Ele foi preso contra a parede pelo corpo do mais velho, os narizes quase se
tocando, mãos distantes dos toques. Hobi soprou um riso e Taehyung mordeu
o lábio inferior.

— Ou eu vou foder a porra da sua vida. – sussurrou palavra por palavra,


encarando os olhos do garoto que só conseguia olhar para a boca dele.

Ele se afastou de costas, saindo do beco. Hobi piscou pra ele antes de sair
do campo de vista. Taehyung soltou uma respiração que nem sabia estar
segurando e sorriu quadrado, penteando o cabelo escuro para trás.

— Certo. Isso vai ser divertido. – falou sozinho e assentiu.


3 - venha junto

✨ deixa um votinho ✨

"Ele diz: eu o conheço, você me conhece


Uma coisa que eu posso dizer pra você é que você tem que ser livre."

The Beatles

Quando o dia amanheceu Jungkook foi o primeiro a acordar e estranhar a


cama vazia do outro lado do quarto. As malas de Taehyung estavam sobre o
colchão desarrumado, abertas e reviradas, mas não havia sinal algum de que
o mais velho havia estado ali.

Ele arrumou com cuidado sua própria cama, separou roupas limpas e rumou
para o banheiro ao fim do corredor. A porta estava fechada e ele podia ouvir
bem o som da descarga e da torneira ligada, então recostou o corpo à parede
para esperar. Quase dormindo em pé, bocejando sem parar enquanto coçava
o pescoço.

A última porta daquele corredor se abriu e Seokjin saiu por ela sonolento e
parecendo procurar algo enquanto os olhos cansados miravam todos os
lados. Ele caminhou até o primeiro quarto – o que pertencia a Namjoon e
Yoongi – e abriu a porta sem bater primeiro, apenas observou por uns
segundos e fechou com cuidado.
Jungkook ajeitou a postura quando o viu se aproximar.

— Bom dia, Jungkook.

— Bom dia, Jin-hyung. – curvou-se um pouco.

— Não precisa fazer isso sempre que nos ver, é sério. – bocejou de novo. –
Quem está no banheiro?

— Eu não sei. – deu de ombros. – Quando eu cheguei aqui já estava


ocupado.

— Deve ser o Jimin, ele tem um compromisso antes das dez e-

O som da porta abrindo tomou a atenção de ambos e a figura de Namjoon


sem camisa e com uma toalha azul enrolada nos quadris fez Jungkook desviar
o olhar para o chão. O mais alto entre eles penteou os cabelos úmidos para
trás e encarou Seokjin.

— O que foi?

— Por que você não me acordou? – o tom baixo deixava evidente que queria
ser discreto.

O Jeon não sabia o que fazer. Não queria ouvir aquela conversa, mas não
podia apenas empurrar Namjoon para o lado e entrar no banheiro. Também
não podia voltar para o quarto, seria extremamente constrangedor.

— Por que eu te acordaria, hyung? – o Kim mais alto arqueou uma


sobrancelha.

— Ah. Eu imaginei... É que... A gente podia tomar café, sei lá. Posso fazer
algo gostoso. – Seokjin sorriu completamente sem jeito, aquela postura não
combinava em nada com sua personalidade e isso o fazia quase entrar em
desespero. – Se você achar legal.

Não queria estar pedindo algo assim, não queria sequer ter ido atrás dele
depois de acordar sozinho... Mas era inevitável. As pernas pareciam agir
sozinhas. Eles tinham transado durante a madrugada, Namjoon o tratou com
carinho e repetiu tantas vezes o quanto ele era lindo enquanto lhe fodia a
boca, repetido que era o melhor. Talvez ele realmente fosse.

— Hyung, eu vou sair e-

— Joon, vai logo! Eu preciso me vestir, e você também ou vai se atrasar!

A voz apressada de Jimin o cortou e Namjoon foi empurrado para fora do


banheiro aos risos. O Park também usava uma toalha ao redor dos quadris,
mas era branca e o corpo ainda estava coberto por gotinhas d'água morna.

Jungkook não conseguiu evitar olhá-lo e corar até a pontinha das orelhas
quando Jimin o flagrou encarando.

— Bom dia Kookie. – ele sorriu até seus olhos diminuírem. – Bom dia, Jin-
hyung!

— Bom dia. – Jungkook acenou com a cabeça e abaixou o rosto.

— Bom dia, Jiminie.

Seokjin sorriu largo e engoliu à seco o nó que se formou na garganta. Ele deu
um passo para o lado, abrindo passagem para o corredor largo com
educação. Por fora tudo continuava igual, mas por dentro ele quebrava mais
um pouco. E Namjoon notou, sendo sincero: ele sempre notava porque era
inteligente, e atento demais.

Namjoon era profundamente empático com qualquer pessoa e situação, mas


apenas não conseguia ser assim sobre Seokjin.

— Então, hyung eu vou sair... Meus pais estão chegando hoje e-

— Tudo bem. – cortou rapidamente, sendo desdenhoso, querendo mostrar


que sequer era importante. – Tudo bem. Não precisa explicar. – virou-se
para Jungkook. – Jungkook, você quer me ajudar com o café da manhã?
Depois do teu banho?

— Claro hyung! – assentiu. – Eu não vou demorar.


— Hyung, eu poderia te ajudar também, mas estou atrasado. – Jimin ofereceu
prestativo e Jin sorriu.

— Obrigado, Jiminie. Pode ir preparando o café.

Jin voltou para o próprio quarto e fechou a porta. Namjoon abraçou Jimin
por trás e beijou-lhe os cabelos antes de deixá-lo ir para o próprio quarto.
Depois, estando a sós com Jungkook, ele encarou o garoto e cruzou os
braços. Os olhos grandes do mais novo pareciam vidrados em Jimin, ele mal
piscava.

Dedos foram agitados diante de seu rosto e ele se assustou um pouco ao ver
Namjoon tão perto. Dava pra sentir o cheiro gostoso de sabonete e xampu
cítrico.

— Ele é muita areia pro seu caminhãozinho. – sorriu de forma debochada.

— O que? – estranhou.

— O Jimin. Ele é muito pra você.

— Eu não sei do que o hyung está falando. – negou, estava ficando nervoso.

— E eu não te deixei me chamar de hyung. – corrigiu arqueando uma


sobrancelha. – Você quer ter problemas comigo, Jungkook?

— Não. – negou. Os olhos estavam arregalados e assustados.

— Ótimo. Então, não tente carregar mais do que consegue, entendeu?

— Sim. Namjoon-ssi.

Jungkook assentiu duas vezes e entrou no banheiro com pressa, fechando a


porta atrás de si e derrubando as roupas no chão enquanto procurava pelo
celular velho no bolso do moletom. Ele sentou no chão e buscou pelo contato
que mais se comunicava, empurrando o aparelho contra o rosto enquanto
tocava.
Uma das mãos livres apertou o pano da calça sobre o joelho, apertou com
força e depois cobriu os lábios para abafar a voz quando a chamada foi
completada.

— Bom dia Kookoo, você não vai acreditar, mas eu estava prestes a te
ligar, filho!

— Appa, eu posso voltar pra casa?

A voz chorosa fez Chinhae largar as ferramentas que usava sobre uma mesa
enferrujada e dar toda atenção ao filho.

— Jungkook, o que aconteceu?

— Nada. – mentiu segurando o choro.

– Eu só quero voltar para casa.

— Não minta pro teu pai.

— Appa... Eu não vou conseguir fazer isso. – recostou a cabeça contra a


porta e fungou, secando os olhos com a barra da camiseta. – É muito difícil.

— Kookoo, você está aí há dois dias. – suspirou. – Preste atenção no que


eu vou te dizer, ok?

— Ok. – assentiu e abafou um soluço com a mão.

— Você é um homem muito forte, filho... Você me dá forças para continuar,


sabia? E esse é o seu sonho, você merece essa bolsa e essa oportunidade
porque se esforçou! Ninguém tem o direito de tirar isso de você.

— E se eu não conseguir?

— Não tem problema. O appa te busca e te ensina a consertar o carro. –


brincou e Jungkook sorriu. – Mas você precisa tentar ok?

— Uhum. – fungou. – Eu vou tentar appa.


— Isso. Eu tenho certeza que você vai conseguir, Kookoo. Você é o meu
garoto de ouro.

Yoongi se espreguiçou na cama assim que acordou, gemendo com a voz


rouca por conta da preguiça. Ele abriu os olhos e piscou algumas vezes,
visualizando o teto branco para se acostumar com a claridade natural.

Então, jogaram uma jaqueta em sua cara e ele se assustou.

— Mas que porra?!

— Você ficou com o Taehyung?

Hoseok continuou sentado na cama de Namjoon, de pernas abertas e


descalço. Yoongi franziu o cenho e empurrou a jaqueta para o lado, erguendo
o tronco da cama para esfregar o rosto sonolento.

— Que horas são?

— Quase dez horas da manhã.

— Puta merda, eu tô atrasado pra caralho.- reclamou puxando o cobertor


branco. Ele vestia apenas uma boxer vermelha, a pele pálida estava exposta
e Hobi nem tentou não encarar, não lamber os lábios assim que o viu de
costas vasculhando a cama em busca do celular. – O que você me perguntou?

— Se você ficou com o Taehyung ontem.

— A gente trocou uns beijos e ele me chupou. – deu de ombros. Yoongi não
escondia nada de Hoseok. Pena que isso não era recíproco. – Depois eu
fiquei bêbado, você sabe que eu não fico com ninguém assim.

— Claro que sei. Você esqueceu? – murmurou. – Você conheceu o garoto


ontem e já ficou com ele? Porra, Yoongi.

— E o que tem? – arqueou uma sobrancelha enquanto coçava o cabelo


colorido. Hobi respirou fundo. Era difícil manter um foco quando o tinha
assim tão perto, seminu e com o rosto amassado pelo sono. Cada pedaço
dele implorava para tocá-lo, pra correr os dedos por toda a pele macia. Mas
ele não faria nada. – Você faz pior, Hoseok.

— Com pessoas que eu nunca mais vou ver na minha vida! O garoto vai
morar aqui! – gesticulou.

— E isso é ruim? – sorriu ladino. – Não é como se essa casa fosse um


templo de homens puros. Ele disse que eu preciso retribuir o favor. – deu de
ombros.

— Eu não quero que você fique com ele.

Os melhores amigos se encararam em silêncio até o sorriso de Yoongi dar


lugar a uma expressão confusa. Ele sentou na cama que lhe pertencia e
deixou o celular de lado.

— Ok, Hobi. – suspirou. – Por que isso?

— Porque eu não gosto dele, não fui com a cara dele.

— Não pareceu ser isso. – jogou com deboche. – O jeito que você olha pra
ele...

— Ele come você com os olhos, Yoongi. – os lábios curvados mostravam


que estava nervoso. – Ele é um mauricinho insuportável! Ele não é pra você!

— Você está falando igual a minha mãe. – zombou. – Relaxa, eu sei me


cuidar. – ficou de pé.

— Não! Você não sabe! – o imitou.

— Hoseok, não começa. – pediu respirando fundo. – Para de bancar a porra


de uma babá!

— Eu não sou uma babá! Eu sou teu amigo!

— Caralho, isso é tão cansativo! Eu pensei que tinha parado com essa merda
de querer controlar com quem eu tô transando!
— Eu não estou fazendo isso, Yoongi. Eu só quero o seu bem!

— Você quer ficar com ele, não é?! – explodiu colocando as duas mãos nos
quadris estreitos. – Fala logo!

— Que?! – arregalou os olhos. – Não! Puta que pariu esse mauricinho do


caralho chegou há dois dias e a gente já tá brigando por causa dele!

— Não 'tô brigando contigo! Eu 'tô te pedindo pra parar com essa merda!
Hoseok eu não sou uma criança, eu não sou indefeso... Eu não estou mais
doente.

Hobi odiou ver nos olhos de Yoongi aquela tristeza que não via há algum
tempo e isso o fez sentir culpa. O ciúme sempre o levava a momentos assim,
a ser o causador de lembranças tão difíceis para ambos.

— Droga, foi mal. Eu exagerei... É que eu não gosto dele, Yoongi.

— Isso é ótimo porque eu gosto. – decretou e Hoseok assentiu, mas não


sabia disfarçar a raiva. – Agora eu vou tomar banho, preciso sair.

— 'Ta.

Yoongi saiu do quarto com uma toalha sobre o ombro e deixou a porta
aberta, deixou Hoseok sozinho e de cara feia. No corredor bocejou duas
vezes e sorriu de forma preguiçosa quando viu Taehyung sair do lugar
secando o cabelo com e usando roupas largas demais, arrastando os pés
descalços pelo chão.

— Bom dia, hyung. – desejou encostado ao batente da porta.

— Bom dia Taehyung.

O mais novo o mediu dos pés à cabeça, mordendo a boca e sem disfarçar
alguma coisa sobre o desejo explícito no olhar intenso. Yoongi entrou no
banheiro e procurou pela escova de dentes vermelha para colocar a pasta e
começar a escovar os dentes pequenos.
— O hyung vai estar ocupado mais tarde? – Yoongi o encarou de perfil e
negou. – Sabe, nós somos de Daegu e eu sou apenas um garoto do campo em
uma cidade tão grande e o hyung deveria me ajudar com isso. – um bico
adorável inflou os lábios rosados e carnudos. Yoongi quis tanto beijá-lo.

Ele cuspiu a espuma na pia e sorriu.

— Preciso ser um bom conterrâneo, você está certo. Me diga onde esse belo
rapaz do campo quer ir?

— Podemos começar pelo Burger King. – deu de ombros.

— Oh, sim. Começarmos pela culinária que nos leva a obesidade. – assentiu.
– Eu tenho um compromisso agora, mas volto no fim da tarde.

— Tudo bem. – mordeu o lábio inferior. – Hm, sabe que tem algo muito
interessante sobre mim: eu gosto muito do sabor da pasta de dente.

— Você quer sentir o sabor da minha?

Yoongi se virou até recostar o corpo a pia, ainda segurando a escova


molhada. A pele ao redor de seus lábios estava úmida e um pouco suja com
a espuma, principalmente o queixo pequeno. Tae entrou no banheiro outra
vez e assentiu enquanto o corpo morno pelo banho praticamente prendia o
menor em si. Ele curvou um pouco para frente e apoiou as mãos enormes na
porcelana branca, um sorriso presunçoso brincava em seus lábios.

— Quero.

— Você tem sorte por eu ser um hyung tão bom.

Ele suspirou se fazendo e grunhiu baixinho quando sentiu a língua do mais


novo lamber-lhe do pomo-de-adão até o queixo, fazendo uma trilha úmida de
saliva. Tae chupou a pele do queixo de Yoongi e mordeu antes de encaixar
os lábios aos dele, roubando um beijo molhado e com sabor de creme dental.

E foi essa visão que Hoseok teve ao sair do quarto, foi isso que o fez parar e
apertar a maçaneta da porta com força. Ele sentiu raiva, mas havia algo
misturado a ela... Algo que ele não sabia explicar de jeito nenhum, mas lhe
revirava o estômago.

Viu as bocas se encaixando enquanto os corpos ficavam ainda mais próximos


e as mãos tocavam tudo. Principalmente as mãos de Taehyung. Elas pareciam
redesenhar cada contorno de Yoongi, deslizando pelas laterais do corpo dele
até agarrarem o traseiro por cima da cueca vermelha.

Então, eles sorriram dentro do beijo e Hobi engoliu a seco.

Porque ele nunca havia visto algo tão lindo em toda a sua vida.

— Eu sabia que ela cabia direitinho dentro das minhas mãos. – o mais alto
sussurrou com a boca grudada a do mais baixo.

— Garoto você é doido. – riu e puxou o lábio inferior dele com os dentes.

Hoseok sacudiu a cabeça para tentar tirar dela o conflito estranho que se
formava. Ele, de propósito, bateu a porta com força e assustou os outros dois
que se afastaram um pouco.

— Yoongi, seus pais estão esperando. – a voz estava séria, quase autoritária.

O Min rolou os olhos e suspirou.

— Eu preciso tomar um banho. O chuveiro do banheiro do meu quarto está


queimado faz uma semana. – explicou para Tae. – Aqui. – entregou a ele o
celular. – Coloca o teu número.

— Claro, hyung. – assentiu e pegou o IPhone para salvar o próprio número.


– Eu vou comprar uma televisão. – sorriu e não se importou com a presença
de Hobi antes de beijar a trave dos lábios de Yoongi. – Até mais tarde.

— Até.

Ele saiu do banheiro e Yoongi fechou a porta.

— Bom dia, Hoseok.


— Vai se foder. – virou as costas e rumou para o próprio quarto. Tae correu
para alcançá-lo e bloqueou seu caminho. Hoseok tentou passar pela direita,
ele não deixou. Pela esquerda, a mesma coisa. – Caralho, o que você quer? –
bufou.

— Marrentinho. – brincou e Hobi rolou os olhos. – Eu percebi que você vai


bancar a omma do Jungkook.

— Taehyung, sinceramente, vai tomar no seu cu. – tentou passar de novo,


mas foi impedido. – Sai.

— O garoto estava chorando no quarto. Ele acha que eu não vi. – deu de
ombros.

— O Jungkook? – franziu o cenho.

— Sim, o teu protegido. – sorriu e se aproximou de Hobi, com as mãos para


trás e um sorriso atrevido nos lábios. – Eu te dei uma informação importante.

— E? – arqueou uma sobrancelha.

— Você não vai me agradecer? – o bico magoado era completamente


fingido, mas Hoseok não evitou encarar a boca dele.

A boca que minutos antes estava beijando a de Yoongi.

— Não. – negou. – Agora sai da minha frente.

— Por que está olhando pra minha boca? Hm? – aproximou-se mais e Hobi
não se moveu. – O gosto dele ainda está na minha língua. – provocou e
sorriu quadrado.

— Se você não sair da minha frente eu vou arrancar a porra da tua língua,
seu mauricinho do caralho. – ameaçou num sussurro.

— Hoseok, até parece que você está com ciúmes. – negou apenas uma vez. –
Está com ciúmes do teu irmãozinho?

— Vai pro inferno.


Hobi o empurrou para abrir caminho e Tae riu baixinho, vendo-o entrar no
quarto e bater a porta. O garoto recostou-se na parede e só então percebeu
que estava sendo observado por Jimin, que de braços cruzados, negava com
o rosto.

— Taehyung, eu já sei o que você está fazendo. – entregou.

— Não é como se eu estivesse tentando ser discreto. – deu de ombros com


desinteresse.

— Por que está fazendo isso?

— Porque eu preciso me divertir um pouco, Jimin-hyung. – debochou e o


mais velho suspirou.

— Você está brincando com algo que não deveria. Hoseok não é bonzinho.

— Não? Se você falou isso pra me fazer parar fique sabendo que acabou de
me encorajar a continuar. – caminhou até o mais baixo. – Eu tive de vir pra
cá contra a minha vontade e não vou ficar entediado.

— Não diga que não te avisei. – descruzou os braços. – Vamos tomar café e
eu te dou uma carona até o centro.

Os dois desceram para a cozinha.

Duas batidas na porta fizeram Jungkook desviar a atenção das roupas que
dobrava, Hobi entrou no quarto e sorriu para ele. Aquele hyung o fazia sentir
bem.

— Está desfazendo as malas?

— Uhum, logo as aulas começam e eu também pretendo procurar um


emprego de meio período.

— Ah, eu posso te ajudar com isso. – sentou na cama dele. – Lá no Wings


sempre estão precisando de uma ajuda e paga bem, você quer?
— Sério?! – os olhos se arregalaram e ele até deixou de lado as camisetas
brancas. – Eu quero muito, hyung! De verdade!

— Vou falar com o Heechul-hyung sobre você, não se preocupe.

— Muito obrigado Hoseok-hyung! – se curvou e Hobi o negou.

— Não precisa fazer isso, JK. – apelidou. – Eu quero te ajudar, eu sei que
começos são difíceis. – gesticulou. – Já tomou café?

— Ainda não. – na verdade ele estava esperando Namjoon sair para poder
descer até a cozinha.

— Você deveria ir logo! Eles comem iguais umas dragas! – ficou de pé. –
Vem, vamos tomar café e depois você arruma isso daí.

— Hyung? – chamou e coçou a nuca. – Eu prefiro descer quando Namjoon-


ssi sair.

— O Namjoon?! Por que isso?! – estranhou.

— Não é nada, só acho que ele não gostou muito de mim. – sorriu sem jeito e
Hoseok negou rapidamente.

— O Namjoon ladra demais, só isso. – assegurou. – Ele te fez algo? Disse


algo? – Jungkook negou e abaixou o rosto. Então, o mais velho compreendeu.
– Jungkook, por acaso você demonstrou algum interesse no Jimin?

— O que?! Não! – ergueu as mãos negando sem parar. – Eu não! Eu não


sou... Quer dizer, não! Eu sou hétero!

— Eu não perguntei isso, mas tudo bem. – fez careta. – Escuta, o Namjoon
tem essa coisa besta de ficar ameaçando quem demonstra interesse no
Jiminie, mas ele não faz nada porque o que eles têm é só caso, nada sério.

— Mas eu não-

— Eu sei que você é hétero, já entendi. – rolou os olhos. – Só não liga pro
Namjoon, ok? Se ele te falar alguma coisa me diz, pode ser?
— Pode, hyung. – assentiu.

— Agora vamos tomar café. – o puxou pelo braço. – Depois vamos


conversar.

Uma confusão de vozes tomou a mesa de jantar para dez pessoas. Conversas
paralelas sobre diversos assuntos enquanto hashis eram usados e mais café
era feito na cafeteira de última geração.

— Quem quer mais? – Jimin perguntou quando o bip da cafeteira anunciou


que estava pronto.

— Eu! – Yoongi ergueu a xícara do Kumamon e Jimin foi para a cozinha


buscar a jarra de vidro.

— Olha Namjoon, teus pais apareceram num site de fofocas. – Hoseok


mostrou o celular a ele que fez careta e empurrou o celular para longe.

— Eles vivem dizendo que não querem atenção, mas fazem de uma chegada
ao aeroporto uma estreia de filme. – lamentou. A exposição deles o
incomodava.

— Essa cafeteria foi a melhor aquisição que a gente fez. – Yoongi lembrou
enquanto bebia um gole generoso de café. – Hoje a noite vai rolar a festa da
Got Gama. – comentou.

— Vocês vão?

— Eu não vou. – Jin anunciou. – Tenho um encontro.

— Jin-hyung sempre tem encontros, mas eu entendo... Ele é tão lindo. – Jimin
elogiou e comeu um bolinho de arroz.

— Encontro? Com quem?

— Nossa Namjoon, para de ser chato! – Hoseok atirou uma tampinha de


suco nele.
— Eu só queria saber. – deu de ombros e encarou Seokjin, não foi
retribuído. Jin parecia sequer vê-lo ali. – Eu já vou.

— Eu também, você quer uma carona? – Yoongi limpou a boca e ficou de pé.
– Deixo você na casa dos teus pais, é caminho.

— Obrigado hyung.

Depois dele Jimin saiu com Taehyung e Seokjin voltou para o quarto dizendo
que voltaria a dormir para estar bonito mais tarde. Jungkook e Hoseok
ficaram encarregados de lavar as louças.

— E agora?

— Agora você aperta aqui. – mostrou o botão azul do lava louças e


Jungkook o apertou. – Viu?

— Eu nunca tinha visto uma dessas antes. – ele parecia bem maravilhado. –
É bem legal.

— Deve ser. – voltou para a sala de estar e por estar mexendo no bolso da
jaqueta grande não notou que havia deixado algo cair no chão. Jungkook, que
o seguia, se abaixou para pegar o pequeno pacotinho transparente com dois
comprimidos coloridos dentro.

— Hyung? Deixou cair.

Hoseok se virou e arregalou os olhos quando viu o que o mais novo


segurava. Ele tomou com pressa, guardou outra vez e ficou calado. Bem,
Jungkook bem sabia que aqueles não eram comprimidos normais, no entanto
não disse nada. Deveria dizer?

— Não vai perguntar? – Hobi o questionou.

— Não, hyung. – negou. – Mas isso não é bom.

— Ah. Relaxa, eu só preciso quando fico pilhado com a faculdade, a banda e


essas coisas. – sorriu. Um sorriso de coração muito bonito. – Vou te pedir
pra não contar... Yoongi e Jimin não entendem isso.
— Não vou contar hyung. Eu juro.

— Obrigado. – coçou a nuca e assentiu. – Vamos, vou te ajudar a desfazer


suas malas.

Jungkook apenas concordou e o seguiu para o quarto.

Acontece que aquele era o segundo segredo que o garoto descobria


acontecer ali.

E ainda havia muitos.


4 - "bebê" chorão

E você jura simplesmente não saber porque


Mas você sabe, querido, que sempre vou
Eu sempre estarei por perto, se você por acaso me quiser
Venha e chore, chore querido, chore querido, chore querido

Janis Joplin.

Assim que o carro teve de parar no primeiro semáforo fechado da avenida,


Yoongi abaixou o volume do rádio e suspirou de forma cansada encarando
Namjoon. O mais novo franziu as sobrancelhas e bloqueou a tela do celular
que mantinha dentro das mãos um pouco inquietas.

— Ontem você e o Jin-hyung foram embora juntos e quando eu cheguei de


madrugada não te vi no dormitório, Namjoon. Me diz que você não fez
aquilo de novo.

— Ok, eu não fiz. – deu de ombros.

Yoongi rolou os olhos.

— Namjoon!

— Porra, acabou de me pedir pra dizer que não fiz. – gesticulou. – Se


decide.
— Por que você está levando isso como uma brincadeira?! – trocou a
marcha do carro e voltou a trafegar pelas ruas. – Eu te pedi tanto pra não
fazer isso de novo, Namjoon.

— Até parece que eu obriguei o Seokjin a transar comigo, você está sendo
dramático. – desbloqueou o celular e bufou ao notar que a mensagem sequer
havia sido visualizada. – Eu não fiz nada sozinho.

— Você sabe como o hyung se sente sobre você, sabe que ele... – Yoongi
apertou o volante e respirou fundo. – Por que você foi atrás dele?

— Como tem tanta certeza que eu fui atrás e não o contrário? – o mais velho
o encarou de soslaio e Namjoon bufou. – Eu estava indo embora, o Jimin me
deixou puto e o hyung estava voltando pro bar... Esbarrei nele e me deu
vontade, só.

— Só? Só?! – repetiu indignado. – O hyung nem olhou pra sua cara durante o
café e eu sei que toda essa sua agonia com o celular é porque ele não
visualiza suas mensagens, ele não te responde com quem vai sair mais tarde.

— As pessoas ficam falando sobre ele sair com muita gente e-

— E isso não te diz respeito, Namjoon! Isso não é da sua conta! O corpo é
dele, a vida é dele... Pelo amor de deus, você transou de madrugada e de
manhã já estava enfiado num chuveiro com o Jimin! – aumentou o tom de
voz. – E sabe o que me emputece nisso tudo?!

— Eu não sei...

— Que você não é assim! – ele teve de parar o carro outra vez, respeitando
o cruzamento fechado. – Namjoon, você não é uma pessoa má. – o olhou.

— Talvez eu seja, hyung. – deu de ombros e verificou o celular outra vez.

— Ainda está indo ver o psicólogo? – não teve resposta. – Namjoon, você
está indo às consultas?

— De vez em quando.
— Puta que pariu...

— Hyung, me diz o que adianta? Ok, eu vou até lá e converso com um


desconhecido que está mais interessado no cheque dos pais do que em
realmente ouvir o que eu tenho pra dizer! Não ajuda em nada! O tempo que
vou perder lá, gasto com as audiências gratuitas e os estudos de casos...
Como o meu... O hyung sabe.

— Não, eu não sei! Eu não sei como um cara que faz tanta coisa assim pra
ajudar os outros não consegue se ajudar, não consegue parar de agir como
um canalha com uma pessoa que o ama!

— Seokjin hyung não me ama. – rolou os olhos. – Ele gosta de mim porque
nós somos ótimos no sexo e depois do sexo. Amor é uma palavra muito
séria. – ele encarou Yoongi e arqueou uma sobrancelha. – E você sabe muito
bem disso.

— É por saber bem que estou falando contigo sobre isso agora. Deixa o Jin-
hyung em paz. Ele não vai te procurar, ele não vai pedir pra ficar com
você...

— Mas ele não vai me dizer não caso eu o procure. – murmurou verificando
o celular de novo. As duas mensagens foram visualizadas, mas não foram
respondidas. – Quer dizer, eu acho. – sorriu de forma triste e guardou o
celular no bolso do casaco grande e pesado.

— Nós vamos falar sobre sua terapia quando voltarmos pra casa, ok?

— Hyung...

— Você precisa continuar. – parou o carro em frente a um prédio alto e muito


bonito. – Diga pra tia Eujin e para o tio Hanguk. – destravou as portas e
Namjoon retirou o cinto de segurança.

— 'Ta. Eu tenho certeza absoluta que eles preferiam uma visita sua a minha.
– rolou os olhos. – Se eu não voltar é porque eles me obrigaram a bancar a
família perfeita.
— Ok. – segurou o braço dele. – Eu sei que não é fácil pra você, mas eu sou
teu amigo, ok? – os dois assentiram. – Tchau.

— Tchau, hyung.

Ele observou o mais alto se identificar na portaria e ter autorização para


entrar no condomínio, apenas depois disso saiu com o carro outra vez.
Dirigiu por mais algumas quadras, cantarolando baixinho às músicas que
tocavam aleatoriamente no som do veículo. Até que uma delas o fez encarar
o painel eletrônico de forma pensativa enquanto aguardava o sinal abrir.

Uma onda de memórias o fez sorrir pequeno, nostálgico e perdido em


pensamentos até a buzina do carro seguinte assustá-lo um pouco. Yoongi
xingou e arrancou com o carro depois de mudar a música. Aquela não era
mais bem vinda.

— Me deixe vê-lo direito, Yoonie-ah. – as mãos macias da mulher


seguraram o rosto de Yoongi com carinho, amassando as bochechas e
espremendo os olhos já pequenos. – Está tão magrinho.

— Omma, eu estou no peso certo. – ralhou e Hyeri estalou a língua o


abraçando mais apertado. – Omma, está me esmagando.

— Eu senti tantas saudades de você, Yoonie.

— Isso é verdade. Sua omma se lembra de vocês dois sempre. – o homem


sorriu e entregou ao enteado uma caixa de trinta centímetros completamente
azul marinho. – Comprei em Viena, imaginei que ia gostar.

— Byung! Eu lhe disse para não trazer isso pra ele! – Hyeri largou o filho
para reclamar com o marido. – Já não basta a bendita moto que deu pra
Chaerin?!

— Minha deusa, escute, teus filhos são adultos e gostam de coisas de


adultos. – abraçou-a e deixou um selo na testa dela. – Mas aposto que
Yoongi vai amar as miniaturas de Kumamon que você comprou pra ele.
Yoongi sorriu e colocou a caixa sobre a mesa de jantar para abrir e tirar dela
uma garrafa de uísque escocês, um dos mais caros.

— Nossa! Valeu, Byung-hyung. – se curvou um pouco.

— Não beba tudo de uma vez, se você beber uma dose por semana está
ótimo e...

— Omma, eu sei. – deixou a garrafa sobre a mesa e foi até a mãe. Era bem
mais alto que ela. Min Hyeri sorriu para o filho caçula e assentiu. – Eu sei,
ok? Está tudo bem. Eu não estou mais magro, estou pesando dois quilos a
mais do que quando viajaram.

— Tem ido ao médico? – estendeu a mão para pentear os cabelos coloridos


dele para trás, expondo a testa branquinha.

— E o Hoseok me permite não ir? – brincou. - Omma, eu 'tô bem.

— Ela sabe disso, Yoongi. – o padrasto se aproximou de ambos e abraçou a


esposa por trás, deixando um beijinho no ombro dela. – Só que sua omma se
preocupa muito. Agora é melhor irmos para o restaurante, ou Chaerin vem
nos buscar aos gritos.

Byung foi até o aparador de entrada para buscar as chaves do próprio carro.

— Querido, não se importa se eu for com Yoongi no carro dele, não é?


Quero conversar um pouquinho com o meu menino.

— Claro que não me importo. – sorriu. – Pelo menos eu posso ouvir Twice
sem você reclamar que estou apaixonado pela Mina.

— Lee Byung-Suu eu estou de olho em você! – Hyeri ralhou e o homem lhe


mandou um beijo antes de seguir para o elevador. – Vamos?

— Vamos omma.

Dentro do carro, protegidos do frio e da fina garoa que não parava de cair,
Hyeri observava o filho com um sorriso nos lábios e isso deixava Yoongi
bastante constrangido, sua mãe conseguia sufocá-lo de vez em quando.
— Como vão os meninos? Ando pensando em convidá-los para jantar
conosco no meu aniversário. Eles sempre estão tão animados.

— Estão bem. Agora temos dois moradores novos na casa, omma.

— Oh! Sério?! Como se chamam?

— Jungkook e Taehyung. Jungkook é o mais novo, veio de Busan e Taehyung


veio de Daegu, como a nossa família.

— E como são? Deram-se bem?

— Eles chegaram há quatro dias, não dá pra definir alguma coisa. – deu de
ombros e sorriu ladino. – Mas o Taehyung é interessante.

— Min Yoongi controle o seu pinto!

— Omma! – arregalou os olhos, mas riu.

— Não me venha com isso de omma! Controle o seu pinto dentro das suas
calças, o garoto chegou há quatro dias!

— Tarde demais. – deu de ombros e Hyeri negou massageando a testa. –


Omma, sério, ele é muito lindo. E tem uma pegada... – encarou a mãe riu
quando a mulher não pode evitar rir também.

— Você não tem jeito Yoonie-ah. – negou. – Ah, eu pensei que o Hobi-ah
viria com você... Dahye-noona me ligou mais cedo, nos convidou para um
jantar na semana que vem.

— Hoseok ia ver os pais depois do almoço. – o sorriso murchou e Hyeri


notou, ela sempre notava. – Vou dizer que perguntou por ele.

— Como está tudo entre vocês dois, filho?

— Como estaria? – estranhou e trocou a marcha do carro. – Normais, omma.


Como devem ser. – assentiu. – Ele implicou porque eu fiquei com o
Taehyung, disse que não foi com a cara dele... Mas eu sei o motivo.
— Sabe? Me diga.

— Ele quer ficar com o Taehyung também. Hoseok acha que me engana, eu
o conheço mais do que me conheço.

— E como você está lidando com tudo isso? Quis ficar com o Taehyung por
causa disso?

— Que?! Claro que não, omma! Taehyung é lindo, ele sabe flertar e beija
muito bem.

— E se Hobi-ah quiser ficar com ele?

Yoongi pareceu refletir antes de dar de ombros e sorrir ladino.

— Eu não ligo.

Hoseok respirou fundo depois de desligar a moto. Ele encarou a construção


grande e mordiscou o canto do lábio inferior guardando ambas as mãos nos
bolsos do moletom preto. Havia pessoas na calçada detonada; algumas delas
fumavam e conversavam já outras apenas dividiam uma garrafa de bebida
barata.

Ele puxou o capuz da blusa para cobrir o cabelo e parte do rosto que a
máscara branca escondia.

Caminhou até um grupo de quatro garotos e um deles se desencostou da


parede quando o viu se aproximar. Era alto, usava roupas folgadas e tinha
um cigarro aceso entre os dedos ossudos.

— E ai? – Hoseok cumprimentou.

— 'Tá atrasado, eu já estava pra ir embora. – tragou do cigarro e soprou a


fumaça fétida pelas narinas.

— Tive de resolver umas paradas com um amigo. – tirou a mão esquerda do


bolso para buscar a carteira no bolso do jeans escuro. – Vou querer o mesmo
da última vez.

— Ok. – o homem assentiu. – Vem, quero te mostrar uma coisa.

Saiu andando, rumando o beco iluminado entre as duas casas abandonadas.


O homem tirou de dentro do bolso da jaqueta um pacotinho de maconha e
entregou a Hobi em troca das notas novas de wons.

— O que quer me mostrar? – guardou o pacote no bolso.

— Uma parada que vou começar a distribuir agora. – sorriu e apagou o


cigarro pisando nele. – Você me disse que precisava de algo pra ficar mais
produtivo, isso aqui ajuda bastante. – ele estendeu a mão e mostrou o
conteúdo. Dois pinos brancos com um pó da mesma cor dentro.

— Cocaína?!

— É. Já experimentou?

— Não! E eu nem quero! – Hoseok negou e ergueu as mãos gesticulando com


ambas. – Essa merda vicia.

— Hoseok, tudo que a gente usa demais vicia. – deu de ombros. – É só


saber usar com controle.

— Lucas, eu acho que-

— Aqui, vai como amostra grátis. – colocou os pinos dentro da mão do mais
velho. – Se você não curtir nem te ofereço mais. Porra, vamos expandir as
opções Hope. – sorriu.

Hoseok encarou os dois pinos e suspirou. Não usaria aquilo, mas era um
jeito de fazer Lucas o deixar ir embora.

— 'Tá bom. – os guardou no bolso. – Valeu, cara. Agora tenho de ir.

— Beleza. – assentiu. – Se precisar de alguma coisa me liga.

— Eu sei. – sorriu e saiu do beco.


🌙

A comida não parecia ter sabor algum, então os hashis só cutucavam as


folhas de repolho como se as arrumasse o prato de porcelana.

Hobi posicionou cada coisa ali sem pressa nenhuma: desenhando uma
refeição digna de aplausos.

Verduras, legumes e a carne picada em pedacinhos cuidadosamente cortados


iguais. Era uma mania sua querer tudo sempre o mais perfeito possível e era
assim desde criança, nunca procurou saber os motivos disso. Jung Hoseok
era metódico.

— Hoseok.

O pequeno tomate cereja foi colocado sobre as folhas verdinhas e ele


posicionou os hashis atravessados no prato, buscou uma posição por alguns
segundos e sorriu quando acreditou estar perfeito.

— Hoseok?

Sacou o celular do bolso e rapidamente tirou várias fotos da refeição até que
uma o agradasse. Buscou a rede social mais utilizada e upou a imagem com
uma legenda simples digitada rapidamente.

— Hoseok?!

"Jantar em família"

— Hoseok?! Eu estou falando com você!

Foi puxado de volta à realidadee encarou o pai que o olhava de volta com
um semblante irritado.

— Nada de celular a mesa, Hobi. – a mãe corrigiu e viu o filho guardar o


aparelho. – Seu appa te fez uma pergunta.

— Me desculpe, pode repetir por favor?


— Onde anda sua cabeça, garoto? – Yoseob franziu as sobrancelhas. – Eu
perguntei se já havia comprado os livros desse semestre.

— Comprei há uma semana. – sorriu e assentiu. – Precisei encomendar dois


deles, então fui procurar mais cedo para ter todos os livros quando as aulas
começarem.

— Você é tão organizado, filho. Me dá muito orgulho. – Dahye sorriu e


serviu mais suco para o filho. – Espero que seja um aluno modelo como no
último semestre.

— Vou me esforçar omma.

— Quer que procure um estágio assim que as aulas começarem, logo cobrão
suas horas extracurriculares...

— Appa, eu não sei se vou ter tempo. – remexeu o arroz. – Eu tenho a banda
e o curso de dança.

— Mas isso não é prioridade. Já conversamos sobre você estabelecer


prioridades. – Yoseob limpou os lábios com um guardanapo. – Concordamos
que você tivesse essas distrações porque é bom que jovens ocupem seu
tempo, mas essa fase já está acabando, precisa agir como adulto.

Hoseok chegou a querer retrucar, mas apenas suspirou e assentiu.

— No domingo nós vamos à missa. – a mulher disse. – Sempre perguntam


sobre você, quer ir conosco?

— Eu adoraria omma. – encheu a boca com comida.

— Hm, a filha de Leeteuk começou a frequentar nossa diocese. – Yoseob


ajeitou os óculos no rosto. – É uma garota muito bonita.

— Appa... – suspirou. – O senhor sabe que eu não gosto de garotas.

— Eu sei que você está passando por uma fase confusa, Hoseok-ah e logo
isso passa, então quero que conheça a garota e converse um pouco. É uma
garota tradicional e muito inteligente.
— Não é uma fase. – murmurou e Dahye encarou o filho com preocupação.

— Vou cuidar para que não aconteça outro erro em nossa família. – bebeu
um gole da água gelada e estranhou ao ouvir um riso baixo do filho. – O que
é tão engraçado.

— O senhor chamou Jiwoo de erro.

— Eu não chamo Dawon de erro, eu chamo o modo como ela vive. Ajeite
sua postura. – mandou e Hoseok obedeceu – Existem coisas certas e erradas,
filho. Isso que anda fazendo é uma coisa errada, mas eu sou o seu pai é meu
dever colocá-lo no caminho certo. Não me importo se Hyeri-ssi concorde
com a forma que Yoongi anda vivendo, mas o mesmo não vai acontecer com
você.

— Certo, appa. – sorriu outra vez.

— Querido você mal tocou na comida. – a mãe observou. – Precisa se


alimentar bem, meu amor.

— Eu estou com pouca fome omma, mas como bem todos os dias.

— Notei que usou o cartão de crédito em um motel há uma semana, Hoseok.


– Yoseob deixou os hashis sobre o prato, havia terminado de comer. – E
sacou dinheiro antes de vir pra cá.

— Jin-hyung vai fazer as compras da quinzena amanhã e pediu que déssemos


o dinheiro hoje. Sobre o motel, eu saí com uma pessoa. – explicou.

— Uma pessoa. Era um homem?

— Yoseob, não devemos invadir assim a intimidade dele, por favor. –


segurou a mão do marido. – Você sabe como são os jovens de hoje em dia.

— Eu sei sim, eu dou aulas para muitos deles. – suspirou. – Você tem sorte
de ter nascido homem. Não precisa se guardar para um bom casamento.

— Hobi-ah eu fiz aquele pudim com avelã que você gosta, quer um pedaço?
— Quero sim, omma.

— Eu peço desculpas, mas preciso voltar a trabalhar meus planos de aulas.


– o homem ficou de pé. – Não vá embora sem se despedir de mim, filho.

Aproximou-se para deixar um beijo no topo da cabeça de Hoseok e saiu da


sala de jantar. Dahye encarou o filho em silêncio e estendeu a mão pela mesa
até entrelaçar os dedos aos dele, acarinhando a pele morna com o polegar.

— Você lembra que sempre dormia quando eu fazia carinhos?

— Lembro. Jimin diz que eu costumo me acariciar enquanto durmo, eu acho


que é por isso. – sorriu.

— Dawon, mesmo sendo menina, não gostava muito de ser tocada e já você
sempre me pedia. Me diga, filho, Yoongi ainda lhe faz carinho para você
dormir? – brincou.

— Às vezes. – deu de ombros. – Omma, eu não quero ir à missa no domingo,


a senhora sabe que eu não gosto.

— Hobi, é muito bom procurar por Deus de vez em quando. Você sempre nos
acompanhou-

— Eu era criança, não tinha outra escolha. – ralhou.

— Hoseok. – repreendeu.

— Desculpa. – suspirou. – Eu não quero ir.

— Queremos que conheça a garota, que tente se aproximar e quem sabe...

— Omma eu sou gay. – Dahye respirou fundo e afagou mais a mão dele. – Eu
sou gay.

— Não. Você não é isso. É uma fase e fases passam, filho. – assentiu.

— A fase de Jiwoo não passou. A senhora também vai me negar quando


perceber que não é isso? – ele não sorria mais.
— Você é diferente, sabia? Eu planejei você, eu sempre quis ter você. Eu já
tinha sonhado como seria a sua vida enquanto ainda estava no meu ventre. –
sorriu mais e Hoseok quis sair daquela sala de jantar desesperadamente. –
Você vai se formar, vai se casar com uma boa moça e me dar netos lindos
com sorrisos como o seu.

— Omma... – lamentou.

— Fique aqui. – ela o soltou. – Vou pedir que nos sirva a sobremesa para
comermos juntos. Você quer sorvete também?

Hobi apenas assentiu e a mulher o deixou ali sozinho.

Na verdade tudo que ele queria era que os pais parassem de fingir, mas ele
também fingia. Talvez tivesse aprendido com eles. Puxou o celular do bolso
e viu a quantidade de interações que a fotografia recebera, eram tantas.
Tantas pessoas comentando sobre como ele se alimentava bem ou o quanto
deveria ser gratificante estar com a família.

Depois Hoseok encarou o prato praticamente intocado. Bonito, colorido e de


dar inveja... A analogia o fez sorrir sem humor nenhum. Aquela refeição
parecia tanto com sua própria vida: perfeita, mas insossa.

Mas estava tudo bem, ninguém precisava saber da verdade.

Depois de estacionar o carro na garagem, Yoongi recolheu o presente do


padrasto e travou tudo com o pequeno controle. Eram quase nove da noite e
a quantidade de carros estacionados indicava que a comentada festa na
república vizinha começaria em breve.

Ele subiu os degraus largos da entrada e buscou as chaves da porta dentro


dos bolsos.

— Está aberta, Yoongi.

O susto o fez dar um pulinho para a direita e arregalar os olhos.


— Caralho! Quer me matar do coração, porra?!

— Foi mal. – Hobi soprou a fumaça para o alto e voltou a atenção para o
nada, encarando um ponto específico e vazio.

— O que 'tá fazendo sozinho aqui fora? – aproximou-se dele e sentou ao seu
lado, no chão mesmo. Recostando na mureta gelada.

— Pensando. – tragou o baseado e encarou o menor. – Quer?

— Quero. - aceitou o cigarro e levou até os lábios rosados. Hobi observou


cada movimento como se acontecesse em câmera lenta. Sentia-se chapado e
lento, mas a sensação não era ruim. – Byung-hyung me deu uma garrafa de
uísque escocês. – apontou para a caixa. – Minha omma te mandou um beijo.

— Obrigado. Não bebe essa merda de uma vez, é muito forte. – Yoongi
revirou os olhos.

— Eu sei. Como foi com os seus pais?

— Como sempre é. – deu de ombros. – Vão me apresentar pra uma garota no


domingo, na missa.

— Inacreditável. – reclamou. – Eles precisam parar de fingir que você não é


gay.

— Quando eles pararam de fingir que minha noona não era lésbica,
começaram a fingir que ela não existe. – tragou do baseado. – Eu prefiro que
eles continuem me deixando existir, Yoongi.

— Essa merda é muito complicada. – lamentou. – Você tá legal?

— Não sei. – sorriu sem humor, brincando com o cadarço dos tênis. – Eu
nunca sei. – a voz embargou e Hobi ainda sorria quando as lágrimas
inundaram seus olhos. – Mas eu preciso estar.

— Vem aqui. – o puxou, praticamente o colocando sentado sobre si e


abraçou o corpo dele até Hoseok deitar a cabeça em seu ombro. – Pode
chorar, Seok-ah.
Então, Hoseok chorou agarrado a Yoongi.

Chorou por frustração, pelo medo absurdo de decepcionar os pais, por saber
que a fase nunca passaria e ele teve mais certeza disso quando se
aconchegou contra o peito de Yoongi e conseguiu ouvir o coração dele
batendo.

Era seu som favorito no mundo.

Aquela fase nunca passaria porque Hoseok sabia que era gay desde que
notou estar completamente apaixonado por Yoongi, aos catorze anos.

E ali camuflados em uma bolha de sentimentos calados pelos receios, Hobi


chorou nos braços dele e foi consolado com todo o carinho do mundo.

Nenhum dos dois notava que Taehyung os observava de dentro da casa.


5 - sob pressão

deixa um votinho

Sob pressão
Que traz um edifício para baixo
Divide uma família em duas
Coloca pessoas nas ruas

Queen

A música alta explodia dentro dos ouvidos de Jimin e o corpo dele se movia
conforme cada batida. Ele mantinha os olhos fechados, mas sabia que todos
os outros olhos naquela festa logo ficaram hipnotizados por si.

E bem, era verdade.

A república vizinha, mesmo sendo um pouco menor que a residência


Bangtan, suportava muitas pessoas nos espaços destinados aos convidados
da Festa de Boas Vindas. Um evento que deveria ser coordenado pela
docência da universidade para ser pacífico e se enquadrar nas normas da
universidade. Deveria.

As luzes coloridas piscavam sem parar; a bebida parecia nunca acabar;


havia comida que ninguém comia; e pelos cantos menos iluminados alguns
casais trocavam carícias enquanto outros estudantes ficavam chapados
dentro das crises de risos por nenhum motivo aparente.
Hoseok costumava chamar o Cannabis de plantinha da alegria e, parando pra
pensar, até fazia sentido.

Um dos anfitriões, Wang Jackson era ótimo em fazer todo mundo se sentir à
vontade, então ele ia de grupinho em grupinho pra distribuir sorrisos e
gentilezas que fariam qualquer um sentir-se em casa. Jaebum observava tudo
com olhos de águia, bancando o líder enquanto evitava a todo custo os
olhares de Jinyoung e Youngjae. Afinal não era só Bangtan Kappa que
escondia segredos a sete chaves.

Muitas coisas aconteciam ao mesmo tempo naquele lugar enquanto Firestone


soava pelas caixas de som especificamente localizadas.

— E ai? – Mark se recostou na mesma parede onde Hoseok se mantinha


segurando um copo colorido com bebida.

— Aqui. – enfiou a mão livre no bolso e tirou de lá dois baseados perfeitos


que entregou ao mais velho. – Hyung, o Lucas veio me oferecer uma parada
estranha. – Mark o encarou já com o cigarro entre os lábios, pronto para
acender com o isqueiro dourado.

— O que? – tragou forte, com habilidade e guardou o isqueiro de volta no


bolso. – O Bam me contou que ouviu umas conversas estranhas sobre o
Lucas.

— Cocaína. – disse baixo. – Até inventou de me dar amostra grátis porque


eu neguei. – bebeu um gole pequeno da mistura doce. – Onde ele conseguiu
essa merda?

— Ele tem andando com uns veteranos estrangeiros. – deu de ombros. – Faz
muito tempo que ele parou de ouvir meus conselhos. Você fez o que com a
amostra que ele te deu?

— Eu escondi. Não vou usar aquilo. – negou.

— Joga fora, Hobi. – aconselhou. – Você não vai usar, então joga na privada
e dá descarga, se livra daquilo, ok?
— Ok, hyung. – sorriu. – Não se preocupa. – gesticulou.

— Cadê o Yoongi? – olhou ao redor franzindo o cenho. – Vocês estão


sempre juntos.

— Ele saiu com um cara. O garoto novo. – deu de ombros e Mark arqueou
uma sobrancelha.

— Entendi. Então, o Jackson convidou um amigo dele que... É de outra


universidade... Ah, sem enrolação: ele gostou de você, 'tá afim?

Hoseok sorriu e bebeu mais um gole, o último na verdade. Não era um


costume dele ficar com pessoas aleatórias, mas ele não julgava quem o fazia.
Fosse um momento qualquer negaria, diria que estava bem ali só bebendo e
ficando chapado aos pouquinhos quem sabe até arriscar a dançar com Jimin
pra extravasar. Mas aquele momento não era qualquer porque Hobi estava
sorrindo e as pessoas se animavam perto dele, no entanto, por dentro sentia-
se horrível.

Ciúme é igual a um monstro pegajoso que se agarra ao corpo de alguém e se


arrasta por sua pele lentamente, pouco a pouco, espalhando aquela umidade
asquerosa.

E estava se arrastando pelo corpo dele.

— 'Tô afim. – assentiu. – Vamos lá.

Mark sorriu e tragou do baseado enquanto abria caminho em meio às outras


pessoas sendo seguido pelo mais novo. Jackson sorriu largo quando o
namorado o abraçou por trás e deixou um beijo morno na pele de seu
pescoço exposto. Quase se derreteu feito gelo.

— O Hope quer. – sussurrou rente a orelha do baixinho e sorriu ao notar os


pelos se arrepiando completamente.

— Me deixe apresentar vocês dois. – Jackson assentiu. – Hoseok-ah esse


aqui é o Jiwon. – apontou para o rapaz que ajeitou a postura e a regata clara
que usava.
— Pode me chamar de Bobby. – o sorriso ladino dele era uma covardia.

Hobi sorriu também, o outro cara era absurdamente bonito. Cabelos escuros
raspados nas laterais, mesma altura que ele, braços fortes e um sorriso de
desestabilizar o sistema de qualquer um.

— Só se você me chamar de Hope. – deu de ombros.

— Amor, vamos dançar. – Jackson puxou o namorado e Hoseok riu da


sutileza dele em sua pressa para deixá-los sozinhos.

— Acho que você é mais velho que eu. – Bobby levou o copo até os lábios e
sorveu da bebida enquanto os olhos não saiam dos lábios de Hoseok.

— Eu sou de 94.

— Então, eu sou mais novo hyung.

O Jung chegou mais pertinho até recostar a lateral do corpo ao lado do corpo
do mais novo e o medir dos pés a cabeça enquanto mordiscava o lábio
inferior.

— Você quer que a gente siga alguma ordem para saber um pouco mais do
outro ou prefere ir pra um lugar mais tranquilo comigo?

— Vamos pra um lugar tranquilo e depois a gente conversa. Eu gosto muito


de conversar depois de transar. Hope-ssi também gosta?

— Vem.

Hoseok sorriu e ofereceu a mão cheia de anéis prateados para Bobby que
não demorou a segurá-la para ser guiado em direção a saída da casa.

— Obrigado.

Yoongi sorriu para o rapaz que lhe entregou a nota do pedido e guardou o
cartão de crédito na carteira enquanto voltava para a mesa localizada
próxima às janelas grandes do local.

Taehyung parou de digitar no celular e bloqueou a tela quando o mais velho


sentou de frente pra ele. Apoiou os braços na mesa depois de arregaçar as
mangas da camisa folgada e passou a girar o anel grande usava no polegar
esquerdo.

— Acho que logo fica pronto, 'tá bem tarde.

— Hyung come bastante pra alguém tão magrinho. – sorriu e Yoongi recostou
o corpo no estofado macio.

— Meu aspecto físico já foi pior, acredite.

— Não tem nada de errado no seu aspecto físico. Eu te achei lindo quando te
vi. – deu de ombros.

— É que muita gente diz que eu pareço frágil. – gesticulou. – É bem


cansativo lidar com isso.

— Eles estão errados. – desdenhou puxando um guardanapo limpo só para


amassar e brincar com bolinha macia. – Pra mim o hyung parece tão forte. Eu
não sei explicar.

— Você. – Yoongi sorriu.

— Hm?

— Pode me chamar de você. – deu de ombros também.

Os dois se encararam em silêncio por um breve momento. Algo nos olhos


grandes de Taehyung prendia a atenção de Yoongi como uma teia de aranhas
prende insetos menores para ser devorados... E bem, ele sentia-se um pouco
preso naquela tensão que os esmagava deliciosamente, nenhum deles
reclamaria.

Até porque somos carne e a carne cai em tentação. Yoongi quis ceder.

— Número 98!
O atendente chamou tocando o sininho irritante sobre o balcão e isso os
despertou para a realidade. Eles foram juntos buscar as bandejas lotadas de
lanches e refrigerante, sentaram-se nos mesmos lugares e começaram a
comer.

— Posso te perguntar uma coisa? – Tae mordeu um pedaço enorme do


sanduíche e Yoongi assentiu. – Rola alguma coisa entre o Namjoon-ssi e o
Seokjin-ssi.

— O que te levou a pensar isso? – arqueou uma sobrancelha. Uma pequena


porção de batatas fritas foi colocada dentro da boca.

— Intuição. – ergueu os ombros. – Quando a gente chegou de madrugada eu


ouvi as vozes deles vindo do quarto do Seokjin-ssi... Gemendo. Mas eu sei
que o Namjoon-ssi e o Jimin são pinto amigo um do outro.

— Não é como se eles disfarçaram algo – sugou o refrigerante pelo canudo


de papel. – Digamos que o que acontece entre o hyung e o Namjoon é
complicado demais pra que eu explique.

— A impressão que eu tive hoje de manhã é que o Namjoon-ssi é meio


babaca sobre isso. – fez careta. – Durante o café o clima parecia pesado
entre eles.

— Taehyung...

— Tae. Só Tae. – sorriu e o mais velho assentiu.

— Tae, o Namjoon não é um cara ruim... Ele só... A mente dele é de um


gênio e ainda assim tem muita coisa que ele não sabe como lidar. – suspirou.
– Mas ele é uma pessoa boa.

— Eu acredito em você, Yoongi. O Jimin também falou algo assim mais


cedo, enquanto me ajudava a escolher uma televisão.

— Achei que vocês não se dariam bem. – brincou.

— É esquisito, mas parece que eu o conheço há muito tempo. – Tae ajeitou o


piercing do lábio inferior e voltou a comer. – E ele tá realmente a fim de
pegar o Jungkook.

— Jimin não é sutil, mas o Jungkook é meio ingênuo demais. Ao menos


parece ser.

— Por que nós estamos falando de outras pessoas se a gente pode falar de
nós mesmos? – arqueou uma sobrancelha, a que havia um segundo piercing
preso.

— E o que você quer saber sobre mim, Taehyung-ssi? – ele abriu o papel
que envolvia o sanduíche e sorriu mostrando as gengivas rosadas. Tae por
pouco não suspirou.

— Tudo. Tudo que você quiser me contar. Eu aceito.

— Então, precisa ser uma troca. Você vai me contar tudo que quiser contar.

— É justo. – disse de boca cheia. Ele fazia um bico adorável enquanto


comia e quase não combinava com todas as tatuagens e piercing, mas o fazia
ainda mais bonito.

— A minha família se mudou para Seul pouco antes dos meus pais se
separarem, eu tinha seis anos. – engoliu o que mastigava. – Eu tenho uma
irmã mais velha chamada Chaerin e atualmente ela mora no Japão a trabalho.
Minha omma se casou de novo há cinco anos...

— Quando conheceu o Hoseok?

O sorriso de Yoongi quase vacilou, mas ele o manteve acreditando que isso
houvesse passado despercebido ao olhar atento de Taehyung. O mais velho
abriu um pacotinho de catchup e outro de mostarda.

— Assim que me mudei. Ele morava na casa ao lado. – parecia nostálgico. –


Eu não era uma criança muito sociável e meus pais me super protegiam. –
Yoongi despejou o molho vermelho dentro do sanduíche. – O Hobi passava o
dia brincando no quintal da casa, para cima e para baixo com uma raquete de
tênis nas mãos. Eu preferia cavar buracos no quintal e minha irmã não
brincava muito comigo. – Taehyung o deixava falar, a voz dele lhe causava
sensações boas. – Era sábado de manhã e eu estava cavando quando a bola
de tênis caiu na nossa casa. Seok-ah bateu palmas e pediu para pegar,
tínhamos sete anos. – sorriu. – Depois disso a gente comeu uma minhoca.

— O que? – fez careta.

— Eu o desafiei – deu de ombros. – Não foi tão ruim... Os remédios tinham


um gosto pior. – sussurrou a última frase.

— Remédios?

— Ainda não. – negou e sugou o refrigerante. – Ainda não quero falar disso.

— Tudo bem. – assentiu. – Bem, eu sou o caçula de três irmãos homens, meu
appa está tentando entrar pra política em Daegu e minha omma gosta muito
de aparecer nas revistas da cidade como uma futura primeira dama perfeita.
– abriu o segundo sanduíche.

— Por que você veio pra cá?

— Porque ele está tentando o apoio do partido para se candidatar e eu o


atrapalhava. – mordeu e mastigou com um bico nos lábios. – Digamos que eu
não seja o filho que eles querem que eu seja.

— Como?

— Como o meu irmão mais velho. Perfeito. Mas eu sequer tento ser como
ele. – encheu a boca com batatinhas.

— Seu relacionamento com sua família é ruim? – tentou com cuidado.

— Não existe um relacionamento para poder qualificar Yoongi. Só nas


revistas e jornais, lá nós somos praticamente os Obama. – riu um pouquinho.
– Eu vim pra cá como um castigo. Sem ajuda financeira, sem algum suporte
familiar... Mas precisava desaparecer. As fotos familiares ficam mais
bonitas sem a minha presença.

— Isso é impossível. Você deixa qualquer ambiente que esteja ainda mais
bonito.
— Está tentando me deixar corado?

— Eu estou conseguindo? – arqueou uma sobrancelha e Tae riu. – Isso não


precisa ser um castigo pra você, Tae.

— Até agora não está sendo. – prendeu o olhar do mais velho outra vez.

— Vamos pedir um saco de papel no balcão, colocar todos esses lanches


dentro e sair... Quero te mostrar um lugar. – piscou e o Tae assentiu.

— Tira a mão.

Jimin empurrou as mãos da pessoa que estava o abraçando por trás e se


afastou emburrado, praticamente marchando para a parte externa da casa
enquanto penteava os cabelos suados para trás.

Tirou a jaqueta escura para amarrar nos quadris e aceitou a lata de cerveja
que alguém lhe ofereceu com um sorriso encantador. Ele bebeu tudo quase de
uma vez.

Recostou-se à parede lateral da construção e buscou pelo celular. Uma


mensagem dos pais perguntando se havia chegado bem, outra da irmã mais
velha confirmando o almoço no dia seguinte e o resto ele ignorou.

Ignorou principalmente porque estava em uma daquelas semanas que sentia-


se exausto de toda atenção que recebia; dos encontros; dos flertes ousados;
dos elogios infinitos.

Ele bebeu o resto da cerveja e jogou a lata dentro de uma lata de lixo
improvisada que estava por perto. Queria encontrar Hoseok e pedir pra
deixá-lo dar alguns tragos na plantinha da felicidade pra ver se assim a
mente parava de funcionar tão depressa, mas havia visto o amigo ir embora
com um cara lindo e não o atrapalharia.

Ali quietinho deixou o vento gelado secar o suor quente por conta da dança,
roeu a unha do polegar e respondeu as mensagens da família com palavras
carinhosas. Não notou quando alguém se aproximou, mas o perfume doce
foi a primeira coisa que percebeu e automaticamente ergueu a cabeça.

— Oi Jimin.

— O que você está fazendo aqui? – perguntou num tom baixo.

— O Yugyeom me convidou. – deu de ombros. – Você engordou.

— Por que eu não estou surpreso por você vir até aqui só pra me chamar de
gordo? – sorriu sem humor.

— Porque você sabe que eu sempre vou reparar tudo em você, Jimin.

— Não me chame assim. – o tom de voz agressivo fez ela sorrir e estalar a
língua. – Eu vou embora.

— Espera. – o segurou pelo braço, mas Jimin puxou e se afastou dela. –


Calma, Ji... Eu só quero conversar contigo. – ergueu as mãos na defensiva.

— Se você encostar de novo eu não vou responder por mim, sua filha da
puta! – ergueu a voz e apontou o dedo no rosto da garota.

— Jimin, cuidado com a tua língua.

— Ah, vai pro inferno! – tentou se afastar, mas foi segurado de novo, dessa
vez mais forte até ter as costas batidas contra a parede. – Me larga!

— Por que você está agindo feito um doido?! – Jimin usou os braços para se
desvencilhar rapidamente, e sem nenhum cuidado, fazendo com que a garota
se desequilibrasse e caísse sentada no chão. – Porra, Jimin!

— Não toque em mim! – ele estava vermelho, tremia de raiva. – Não quero
machucar você!

— Você vai me bater? – ela ajeitou o cabelo enquanto levantava e


massageou a nádega ligeiramente dolorosa e suja graças a queda. – Você não
seria capaz disso, e talvez eu fosse mais forte que você, Ji. Você é tão fraco.
— Minseo, eu tô falando sério! Eu não vou mais deixar você fazer o que
quiser!

— Eu venho te ver, cheia de saudade depois desses seis meses e assim que
sou tratada? O que aconteceu com o meu Chimmy? – se fez de desentendida,
aproximando-se outra vez. – Eu fiquei sabendo que você anda passando a
boca por todo mundo da universidade, que complexo de vagabunda te deu?

— Não chegue perto! – gritou. – Me deixa em paz!

— Deixar você em paz? Mas, eu nunca tirei a sua paz! A gente ainda se ama
e você sabe.

— Minseo o que você tá fazendo aqui? – Jinyoung, atraído pelos gritos de


Jimin, se aproximou deles e parou ao lado do mais baixo, notando que ele
tremia por inteiro.

— Eu fui convidada. – deu de ombros. – E vim dizer oi pro Chim.

— É melhor você ir embora. Eu não quero confusão na minha casa. –


gesticulou. – Se o Seokjin-ssi ou Yoongi-ah vêm aqui...

— Os cães de guarda. – riu de forma forçada, mas assentiu.

— Garota, existe uma ordem de restrição. – Jinyoung suspirou. – E você não


está há mais de 400 metros dele. – apontou para Jimin. – O que você quer
aqui?

— Só dizer oi. – enfiou as mãos nos bolsos do jeans. – Voltei pra cidade e
quis ver rostos familiares. – olhou para o Park mais baixo. – Aluguei um
apartamento no centro, aquele perto da roda-gigante, lembra?

— Minseo, só vai embora. – o anfitrião pediu sendo mais grosseiro. – Ou eu


ligo pra polícia.

— Hey, calma! – ergueu as mãos. – Estou indo. – assentiu. – Tchau, Chimmy.


– sorriu. – Você sabe, eu tenho de ficar longe... Mas você pode ficar perto se
quiser. – piscou.
Oh Minseo se afastou deles sem pressa e com toda calma. Jinyoung se virou
para o primo, preocupado e com raiva da situação. Jimin respirou fundo e
fungou penteando os cabelos para trás outra vez.

— Eu vou conversar com os garotos, ela não é bem vinda na minha casa. – o
menor assentiu. – Você tá bem?

— 'Tô, hyung. – assentiu e sorriu. – Hm, eu vou pra casa, 'tô cansado.

— Quer que eu te leve? É aqui do lado, mas eu vou.

— Não, relaxa. É melhor o hyung cuidar dessa festa. O Bam estava


propondo strip-poker para umas pessoas. – franziu o cenho.

— Merda! – Jinyoung xingou e correu pra dentro da casa.

Jimin deu a volta na casa para não ter de passar por outras pessoas,
caminhou sem muita pressa até sua república e destrancou a porta sem
cuidado, deixou que ela batesse e não olhou para lugar nenhum antes de subir
em direção aos quartos.

Ele não notou Jungkook sentado em um dos sofás assistindo o canal de


receitas caseiras.

O Park agradeceu em pensamentos quando não viu Hoseok no quarto,


invadiu o banheiro e trancou a porta. As mãos tremiam enquanto buscavam
pela escova de dente com cabo amarelo, a tampa do vaso sanitário foi
puxada com pressa enquanto a escova era empurrada para dentro da boca,
até tocar a garganta e provocar ânsia. Ele se curvou e vomitou.

Vomitou o almoço, as bebidas alcoólicas, tudo.

Ajoelhou-se no chão, o cabelo descolorido caia pelo rosto, sujando as


pontas com a mistura fétida, grudando na pele pelo suor.

Jimin vomitava e não era apenas pela obsessão camuflada pelo ego constante
alimentado; ele vomitava pra expurgar a mente de pensamentos ruins.
Tentava vomitar os sentimentos junto da comida, e até funcionava, mas a
cada dia o efeito durava menos.
Ele sentou ao lado do vaso e passou as mãos pela boca, sufocando o choro
agoniado e a raiva que despertava ao parecer sentir de novo os toques de
Minseo em si.

Por que ela não o deixava em paz?

Despiu as roupas suadas, deu descarga e entrou num banho quente e


demorado. Esfregando a pele dos braços com força, até avermelhar,
limpando como precisava ser limpo.

Com a toalha enrolada nos quadris e o cabelo molhado pingando e fazendo a


água escorrer pelas costas, se encarou o espelho embaçado e respirou fundo,
procurando recuperar a bela aparência serena que gostava de usar.

Se vestiu com um pijama amarelo, penteou o cabelo de qualquer jeito e


recolheu as roupas sujas para lavar. A casa estava silenciosa, mas ao se
aproximar da lavanderia pode ouvir uma música baixa, uma voz doce
cantarolar de forma afinada.

Jimin parou no portal e viu Jungkook de costas, atento demais ao rótulo do


amaciante enquanto uma pequena caixa de som vermelha, sobre a lavadora, o
incentivava a cantar a letra de uma música sobre gostar de ser independente,
mas às vezes querer alguém para abraçar. Ele estava todo de cinza, o cabelo
escuro parecia úmido e os pés calçados em meias do Iron Man fizeram
Jimin rir, o riso dele fez Jungkook notá-lo.

— Ah. Hyung. – curvou um pouco, atrapalhado. Ele ajeitou os óculos quando


arrumou a postura.

— Você não precisa se curvar sempre que ver a gente, Kookie-ah. – negou e
entrou na lavanderia. – Está lavando roupas?

— Uhum. Eu gosto de lavar roupa. – apontou para o amaciante. – Esse aqui é


muito bom.

— É sim. Hm, vai demorar muito? – fez um biquinho. Jungkook sorriu e


Jimin o achou ainda mais adorável. – Jungkook?!
— Quê? Ah! Não, quer dizer... Eu acabei de colocar pra bater. – coçou a
nuca. – Mas eu posso tirar as minhas e-

— Aish, claro que não. – caminhou até a lavadora e abriu a tampa. – Tudo
bem eu lavar as minhas com as suas? – o encarou.

— Tu-Tudo. – assentiu várias vezes. Jimin jogou as roupas dentro da


máquina e fechou. Jungkook encarava tudo, menos o mais velho. Era tão fofo.

— Não quis ir à festa?

— Ah, não. Hobi-hyung me chamou, mas eu não gosto muito de festas. –


negou.

— É uma pena. Você ia fazer tanto sucesso com as garotas, Kookie. – com
um pulinho conseguiu sentar sobre a secadora para sacudir os pés para frente
e para trás. – Essa música é legal. Qual o nome dela?

— Dear No One. Tori Kelly, conhece?

— Hm, não me lembro. – negou e mordiscou o lábio inferior. – Você curte


músicas assim?

— Gosto de tudo um pouco. – ele ainda estava parado no meio da


lavanderia, completamente tenso e sem olhar para Jimin.

Jimin suspirou, não ia desistir assim tão fácil.

— Você gosta de rock?

— Gosto.

— A minha música favorita é Losing My Religion do R.E.M, já ouviu? – o


mais novo assentiu e ergueu o rosto para olhá-lo. – Você é muito bonito,
Jungkook... Não deveria ficar assim com o rosto baixo. Me diz, qual a sua
música favorita?

— Black. Pearl Jam.


As sobrancelhas de Jimin se arquearam e ele sorriu largo, até seus olhos
virarem duas pequenas linhas brilhantes.

— Wow. Um clássico. Você tem bom gosto. Por que ela é a sua favorita?

— Não sei. – deu de ombros. Ele sabia, mas não era um assunto bem vindo.
– O hyung canta muito bem.

— Obrigado. Você também. Te ouvi cantarolar quando cheguei. – o garoto


corou e ajeitou os óculos de novo. – Você sabe tocar algum instrumento?

— Eu tentei. Sempre desistia no meio. – coçou a nuca de novo. – Mas


arranho um pouco no violão.

— Eu posso te ensinar. – ofereceu. – Sou um bom professor. Eu ensinei o


Yoongi-hyung.

— Mas eu não tenho um violão.

— Te empresto o meu. – sorriu. – Quer?

— Muito obrigado! – ele ia se curvar de novo, mas Jimin negou com as


mãos.

— Pare com isso, sim? Nós todos aqui acabamos amigos e amigos não ficam
se curvando um pro outro o tempo todo.

— É que eu... Não tenho muitos amigos... Então eu não sei bem como
funciona.

— Ah, não tem problema. A gente te mostra. Você é o nosso maknae. –


assentiu. – Já jantou?

— Ainda não. O Jin-hyung me disse para preparar algo, mas aquela cozinha
parece um escritório Shield.

Jimin gargalhou, jogando o corpo pra frente ao ponto de quase cair não fosse
os braços de Jungkook o mantendo no lugar. O mais velho soprou a franja
longa.
— Valeu. Eu tenho um problema danado com a gravidade.

Jungkook o encarava assustado.

Reparando em cada detalhe dele. Na pequena cicatriz em um dos olhos, em


como a pálpebra parecia levemente inchada; as bochechas naturalmente
coradas; as pintinhas salpicadas pela face lavada; e os lábios.

Nunca havia visto um tom rosado como aquele antes, mas lhe fazia lembrar
dos chicletes de morango que o pai sempre o trazia no fim do dia. Olhar para
Jimin lhe deixava nervoso.

— Tudo bem, Jungkook? – perguntou estranhando o silêncio do mais novo.

Jungkook o soltou como se ele pegasse fogo, assentindo sem parar.

— Eu vou pedir comida. – desceu da lavadora. – Pra nós dois e nem adianta
negar. Já assistiu Bird Box? Taehyung me disse que é bom.

— Não assisti. – negou.

— Ok, vamos assistir então. Aquela festa estava chata mesmo. – deu de
ombros e caminhou para fora. – Você come peixe?

Jimin o deixou sozinho na lavanderia e só então Jungkook respirou fundo,


tragando oxigênio para dentro dos pulmões como se emergisse de um
oceano.

Dentro do peito, protegido do conhecimento alheio, o coração batia


acelerado como nunca batera antes.

A fumaça subia em direção ao teto e os olhos preguiçosos de Hobi


acompanhavam cada movimento como se o resto do mundo estivesse em
pausa. O corpo ainda nu e coberto de suor descansava após o segundo
orgasmo da noite.
Bobby o encarou de perfil e se remexeu até deitar de bruços, abraçando o
travesseiro macio com cheiro bom de lavanda.

— Essa é a pior pergunta que eu poderia fazer, mas a gente vai se ver de
novo?

Hoseok sorriu e tragou uma última vez do baseado antes de apagá-lo no


cinzeiro pesado sobre a mesa de cabeceira.

— Quer me ver de novo? – o encarou.

— Odeio alimentar o ego de alguém, mas puta merda você é incrível.

— Você também é. Muito. – dobrou o braço até apoiá-lo sob a cabeça. – Me


disse que gosta de conversar. De onde conhece o Jackson?

— Ele estudou comigo no fundamental, a gente gostava de ficar fazendo rap


durante os intervalos. Depois eu fui estudar na Austrália e voltei maior de
idade, a gente entrou em contato e o resto dá pra imaginar. – sorriu. – Eu
fiquei de olho em você assim que te vi na festa, sabia?

— Ficou? – assentiu. – Por quê?

— Porque você é muito o meu tipo de cara. Eu já tinha te visto algumas


vezes, com o Lucas.

O sorriso de Hoseok murchou um pouco.

— O conhece?

— Eu também sou cliente dele. – riu. – Relaxa. Seu segredo fica seguro
comigo. – piscou. – O Lucas e eu já tivemos um casinho.

— Ele não é hétero? – franziu o cenho.

— Gay. Passivo. Muito. – riu. – Me fala sobre você.

— Ah, eu não sei se tenho muito que falar. – mordeu a boca. – Eu estudo
arquitetura, moro na república vizinha a do Jackson, dou aulas de dança
numa ONG ligada à universidade, para crianças e só.

— E também é muito lindo. – elogiou. – Das outras vezes sempre vi você


com um cara baixinho, bem pálido...

— É o Yoongi. Meu melhor amigo.

— Ah. – assentiu. Hoseok agora encarava o espelho preso ao teto. – Tenho


uma coisa.

Bobby se esticou até alcançar a jaqueta de couro jogada sobre o par de tênis,
buscou nos bolsos por alguma coisa e sentou na cama quando achou. Hobi
franziu as sobrancelhas quando o garoto lhe mostrou dois pinos de cocaína.

— Um pra mim e um pra você, Hope.

— Eu não... – Hoseok sentou na cama. – Não uso isso daí, Bobby.

— Sério? Por quê? – abriu um pino com os dentes.

— Você também não deveria usar isso. Vicia.

— Tudo vicia. A gente só precisa saber usar com moderação. – deu de


ombros e colocou um pouco do pó fino na ponta do indicador, depois ele
aspirou por uma das narinas e fungou. – Quer experimentar? – ofereceu.

Hobi encarou os pinos e depois o outro.

Ele negou.

— Não. Obrigado. Você quer uma carona pra casa?

— Eu não quero ir pra casa. – deixou os pinos sobre a cama e engatinhou até
Hobi, empurrando o corpo dele no colchão. – Quero você de novo.

Eles se beijaram. As mãos do mais velho se agarram ao cabelo do mais novo


e eles começaram tudo outra vez.


De madrugada, exatamente às duas e quarenta e cinco da manhã. Namjoon
desceu para pegar uma garrafa de água gelada. Depois de chegar da casa dos
pais acabou caindo no sono e esquecendo completamente de festas e outras
coisas.

Tudo estava apagado, mas dava pra ouvir que a festa ainda acontecia na casa
ao lado. Ele abriu a geladeira, procurou pela garrafa da cor que lhe
correspondia e bocejou, coçando o olho direito.

Segurou um grito quando viu Seokjin recostado a pia bebendo água como se
estivesse chegando do deserto.

— Porra, hyung! Que susto!

Jin se virou para ele e secou a boca com as costas das mãos. Estava sem
camisa, o cabelo escuro suado grudando na testa exposta. Ele usava apenas
uma cueca vermelha e também estava descalço.

— Desculpa. – foi até a geladeira e guardou a garrafa.

— Que horas chegou? Como foi o encontro? – tentou puxar assunto, mas
Seokjin sequer o olhava.

— Boa noite, Namjoon.

— Hyung, eu fiz alguma coisa que te chateou?

Jin não ia ficar, ele estava convencido que ignorar Namjoon era a melhor
opção, mas ainda havia sangue em suas veias e a pergunta do mais novo fez
esse sangue ferver.

Girou nos calcanhares e o encarou nos olhos, sem dizer nada até que o
sorriso debochado repuxar os lábios inchados e vermelhos.

— Na verdade, não. Você não fez nada. Eu fiz. – deu de ombros. – Mas eu
não vou mais fazer.

— Do que 'tá falando? – arqueou uma sobrancelha.


— É inacreditável. – negou. – Você, Namjoon, é inacreditável.

— Ficou chateado por eu não ter aceitado tomar café de manhã? Por ter
saído do quarto sem te acordar? O Jimin me mandou uma mensagem e-

— E você correu pra ele feito o cachorro sem dono que é. – simplificou.

— Não me ofenda, hyung. – pediu.

— Eu quero que você vá pra casa do caralho! – o mais novo arregalou os


olhos e Jin respirou fundo. – Não quero ter essa conversa, discussão, sei lá –
gesticulou. – não agora.

— A gente pode conversar no seu quarto? Sabe que não precisa sentir raiva
de mim, a gente sempre se dá tão bem, hyung. – sorriu e se aproximou do
mais velho.

No entanto, passos suaves fizeram olhar para o portal que dava na sala de
estar. Havia uma garota, ela tinha longos cabelos pintados de azul e estava
descalça. Ela usava a camisa de Seokjin.

— Oppa? – chamou baixinho e Jin se virou pra ela. Ele sorriu e ela
retribuiu. – Ainda estou com sede.

— Eu já estava indo, baby. – piscou e voltou até a geladeira para pegar uma
garrafa de água transparente. – Não ande descalça assim... – ignorou a
presença de Namjoon, ele abraçou a garota por trás e ela riu quando teve o
pescoço mordido. – Seu corpo está quente.

— Estava demorando. – sussurrou.

Os dois subiram e logo foi possível ouvir a porta da suíte ser fechada.

Namjoon ficou parado ali por um tempo que ele sequer contou. Havia um nó
desconfortável na garganta, uma sensação desgostosa na boca do estômago.
Subiu para o próprio quarto, observou Yoongi dormir completamente
encolhido e deitou na cama que lhe pertencia, encarando o teto de forro
branco.
Quando o dia amanheceu Seokjin e a garota pegaram no sono, já ele...
Sequer conseguiu voltar a dormir.
6 - venha como você é

Venha como você é, como você era


Como eu quero que você seja
Como um amigo, como um amigo
Como um velho amigo

Nirvana

A música estava baixa, mas ainda era possível escutar do lado de fora. Tae
amassou o papel que envolvia o último sanduíche e Yoongi lhe estendeu uma
sacola cheia de lixo para que colocasse dentro.

O mais alto limpou as mãos em um guardanapo e sugou de uma vez o


refrigerante que restava no copo de plástico.

— Como descobriu esse lugar, Yoongi?

— Ali. – ele ergueu o braço para apontar em direção a uma construção


grande. – É um hospital. Dos quartos da ala direita dá pra ver aqui.

— Você esteve naquele hospital?

— Uhum. – assentiu e também bebeu o refrigerante. – É bonito pra caramba.

Ele se referia à vista aberta que havia diante deles, naquele ponto alto da
cidade em uma pequena colina arborizada onde o parque florestal começava.
Dava pra ver bem as construções altas, os prédios comerciais e residenciais
da parte nobre da cidade.

Mas, Tae o encarava de perfil e foi a isso que se ele referiu quando
respondeu:

— Uhum. É lindo.

— Eu gosto daqui porque é tranquilo, não tem muito barulho nem durante o
dia. – sorriu. – Depois que recebia alta sempre fazia o Hobi me trazer pra
cá.

— Ele é muito presente na sua vida. – guardou as mãos dentro dos bolsos do
moletom vermelho e olhou em direção a paisagem.

— Acho que sim. Eu não me lembro de um momento da minha vida em que


Hoseok não esteve.

— E acha isso ruim? – Yoongi o encarou de lado. – O fato de não ser ele
aqui com você agora?

— Taehyung, eu não sou burro. – sorriu e deixou a sacolinha sobre o capô do


carro. – Você sempre pergunta sobre ele e se eu falo sobre ele insinua
alguma coisa.

— Eu me espantaria se você fosse burro, mas eu acho que vocês dois


escondem coisas demais para melhores amigos.

— O que quer dizer com isso? – franziu o cenho.

— Quero dizer que eu quero te levar pra dentro do carro e te beijar até o dia
amanhecer sem me preocupar com a existência do Hoseok.

— A existência dele não vai interferir em nada disso, Taehyung. – ele riu de
forma debochada. – Hobi é o meu melhor amigo.

— Tem certeza disso? – arqueou uma sobrancelha. – Ele é só o teu melhor


amigo?
— Tenho. Ele é o meu melhor amigo e você é o cara pelo o qual estou afim.
– deu de ombros.

— Venha aqui.

Tae o puxou pela cintura, encostando os corpos. Abriu as pernas e o


encaixou entre elas, abaixando-se até estarem na mesma altura. Yoongi sorriu
e o abraçou pelo pescoço, os dedos grandes adentraram a nuca. Brincando
com os fios macios do mullet.

— Alguém já te falou que você parece um gato?

— O que?! – o mais velho gargalhou. O som do riso dele arrepiava o corpo


de Taehyung completamente. As gengivas rosadas ficavam expostas. Os
olhos pequenos se espremiam por conta das bochechas: lindo.
Covardemente lindo.

— Caralho, você é lindo Yoongi. – a mão livre o segurou pelo pescoço,


cobrindo a pele macia até o polegar raspar contra os lábios que não
demoraram a se encolher num bico cheio. Ele beijou a ponta do dedo de
Taehyung e depois lambeu lentamente. – Porra.

— Você também é lindo. – sorriu e aproximou a boca dele. – E gostoso pra


caralho. – Yoongi mordiscou o piercing preso ao lábio inferior do mais novo
e depois lambeu do queixo até ali. Uma das mãos grandes de Tae deslizou
para se encher com a nádega direita dele, apertou forte e depois bateu pra
apertar mais. – Garoto atrevido.

— Só um pouquinho. – sussurrou contra a boca dele. Ambos provocavam,


raspavam os lábios de propósito para afastar e sorrir. Yoongi juntou o
cabelo da nuca de Taehyung dentro de uma mão, grunhiu quando sentiu outro
tapa na bunda e o lambeu sobre o piercing de novo, devagarinho. – Me beija
logo.

O mais velho riu, mas o beijou.

Os dois gemeram pelo alívio de finalmente chegarem ao ósculo, encaixando


as bocas enquanto moviam as línguas devagar, aproveitando cada contato,
massageando uma a outra de um jeito tão gostoso. Ambos já haviam se
envolvido com um número considerável de pessoas, principalmente
Taehyung, mas nenhum deles saberia como descrever a sensação única dos
beijos que vinham trocando nos últimos dois dias.

Talvez sim, as coisas estivessem acontecendo rápido demais, porém desde o


primeiro olhar Taehyung e Yoongi foram como imãs se atraindo e atraindo
até estarem colados como naquele momento.

A atração entre eles não permitia qualquer sobra de tempo para possíveis
questionamentos sobre o quanto era incrível, então deixavam acontecer e ia
acontecendo.

Os dois ainda não notaram, mas a cada segundo aquilo tornava-se mais
intenso.

Afastaram-se para respirar, mantendo os lábios próximos. Yoongi mordeu o


inferior e esfregou os quadris contra os do mais alto, querendo sentir que ele
estava igual a si. E estava.

— Acho que eu te devo algo. – sussurrou e o garoto sorriu ladino.

— Não estou te cobrando, Yoonie-ah.

— Mas eu quero. – deixou que uma das mãos descesse até a barriga de
Taehyung, depois puxou o moletom até conseguir abrir o jeans com
facilidade, os dedos frios brincaram com o elástico da cueca preta. Yoongi
olhou para baixo e puxou o elástico, encarando o que havia dentro dela. –
Puta que pariu. – ele riu e Tae riu também.

— O que foi? – se fez de desentendido. Yoongi enfiou a mão dentro da cueca


e o segurou pela base, puxando para fora. – Hm. – ele gemeu baixinho e
mordeu a boca. – Não faz assim, eu sou sensível.

— Você é enorme. – masturbou devagar e lambeu os lábios. – Sério, o seu


pau é enorme.
— Sou um homem abençoado. – piscou e apertou a bunda de Yoongi de
novo.

— Não sei se cabe na minha boca. – o bico era tão adorável que Taehyung o
mordeu.

— Você não vai se saber se não tentar. – deu de ombros e o mais velho riu.
Yoongi o masturbava devagar, deixando o polegar se esfregar sobre a glande
úmida. – Vamos pro banco de trás do carro.

Yoongi assentiu e se afastou para que ele arrumasse as calças. Tae segurou a
mão dele, entrelaçou os dedos e o puxou em direção ao carro. No banco de
trás não demorou até estarem se beijando feito loucos, se livrando das
roupas grossas em forma de moletons e jaquetas, fazendo os vidros escuros
embaçar por conta das respirações e do calor que emanava.

O som do carro estava ligado, uma playlist qualquer tocava enquanto o mais
novo colocava o mais velho sentado sobre suas coxas, louco por um pouco
de pressão sobre a ereção que latejava.

E quando uma música em questão começou a tocar, Yoongi estava gemendo


por conta das mordidas que recebia no pescoço, mas foi impossível
controlar as lembranças que nunca respeitavam sua vontade.

Ele franziu o cenho, agarrou-se mais ao corpo de Taehyung, beijou a pele


dos ombros dele, mas a estranheza no comportamento já fora notada, então o
mais novo o segurou pela nuca o encarou.

— Tudo bem? – sussurrou. Os dois estavam bagunçados, as respirações


pesadas, o tesão causando suor.

— Uhum. – assentiu.

Tae o acarinhou no quadril, depois adentrou a mão sob a camisa preta e


sentiu a maciez da pele. Ele estava próximo da lateral direita quando Yoongi
o segurou pelo pulso.
Mas, Tae era insistente e tocou mais acima, tocou até sentir sobre os dedos a
carne esponjosa de uma cicatriz. Ela media pouco mais de sete centímetros,
chegava até o as costelas. Yoongi o encarou em silêncio, esperando qualquer
reação. Boa ou ruim.

— Quer ver? – sussurrou ainda mais baixo.

— Quer que eu veja? – o maior respondeu.

Yoongi suspirou e segurou a barra da camisa, puxando-o para tirar. Ele a


jogou no banco da frente e encarou a cicatriz rosada na pele tão pálida. Tae a
contornou com o polegar, atento às reações do mais velho.

— Eu a tenho desde os doze anos.

— Não precisa me explicar nada que não queira. – sorriu. – Cicatrizes são
como lembranças de que estamos vivos. Todo mundo tem algumas, nem
todas são visíveis assim. – Tae olhou dentro dos olhos dele. – Eu também
tenho as minhas.

Selou os lábios aos de Yoongi demoradamente.

— Obrigado. – assentiu. – Você é diferente.

E, verdade seja dita, ele era. Taehyung era completamente diferente.

Jungkook já estava acordado quando ouviu a campainha tocar duas vezes


seguidas.

Ele até pensou em ir até a porta, mas Namjoon foi primeiro e quase o
empurrou do caminho. O mais velho parecia extremamente mal humorado.
Não abriu a boca durante o café da manhã – enquanto dividia a mesa com o
mais novo, Jimin, Hoseok e Seokjin – e ao contrário dele, Jin parecia reluzir
de tão bem humorado.
— Alguém acordou virado no demônio. – Hobi assoviou e bebeu mais um
gole de café. – Jungkook, Taehyung estava dormindo quando você desceu?

— Uhum. Eu nem vi quando ele chegou.

— Droga, porque tem de ser tão doce?! – Jimin empurrou a tigela com cereal
e leite. – Odeio assim.

— Não vai comer? – Jin já estava pegando a tigela. – Eu como. Tô cheio de


fome.

— Também, depois da canseira que deu naquela garota. – o Park mordeu


uma torrada pura. – Hyung, achei que estava matando a menina.

— Aigo, não exagera.

— Oh, oppa... Isso, mais forte! Oppa! Não para, vai! – Hoseok imitou
fazendo caras e bocas. Jin o chutou sob a mesa, Jimin gargalhou e Jungkook
corou até as orelhas, de rosto abaixado. – Vai sair com ela de novo?

— Vou. – disse de boca cheia. – Ela é muito divertida, Jisoo nos apresentou
tem um tempinho.

— Ah hyung, eu torço pra que dê certo! – Jimin sorriu. – Ela é muito linda.

— Visita pra você Jimin. – Namjoon anunciou sentando de volta à mesa, do


lado de Hoseok.

— Park Jimin, por que não avisou pra mim que a Minseo te procurou?!

A voz autoritária de Solar fez Jimin se engasgar com o suco. Ele se virou
para a irmã mais velha tossindo e de olhos arregalados. Solar estava de pé,
as duas mãos nos quadris e uma expressão enfurecida enquanto encarava
Jimin.

— Bom dia, noona.

— Nada de "bom dia"! Responda minha pergunta!


— Minseo procurou você?! – Jin deixou a comida de lado e Jimin gemeu.
Nunca era bom quando Seokjin deixava a comida de lado. – Quando?

— Eu não falei com ela direito.

— Jimin, você não deveria sequer falar com ela. – Hobi era mais
compreensivo. – E ela chegar perto de você é praticamente crime.

— Jinyoung me ligou pra avisar, porque aparentemente você esqueceu, não é


Jimin?!

— Solar... – ele lamentou.

— Vamos subir. Quero falar com você a sós.

Ela apontou para o teto e saiu em direção às escadas. Jimin suspirou e ficou
de pé.

— Depois dela, você – Jin apontou pra ele. – Vai conversar comigo. –
apontou para si.

— Eu 'tô fodido. – suspirou.

Ele subiu as escadas pulando de dois em dois degraus.

— É a noona dele? – Jungkook perguntou baixinho.

— Não, é a avó. – Namjoon rolou os olhos.

— Namjoon. – Hobi o censurou com um olhar. – É a noona dele sim, o nome


dela é Yongsun, mas todo mundo a chama de Solar.

O barulho de passos arrastados fez com que eles olhassem para a escada.
Taehyung bocejava e coçava os olhos. Estava descalço, sem camisa e
completamente descabelado.

— Wow. Ele é forte. – Jin brincou e ergueu a xícara. – Deus te abençoe,


criança.
— Ele pode te abençoar também, basta o hyung querer. – devolveu com um
sorriso preguiçoso. Hobi rolou os olhos. – Bom dia.

— Tome café, Taehyung. Tem bastante comida. Vou fazer compras hoje, quer
algo em especial? Hoseok vai comigo.

— Ah. Ele vai? – sentou ao lado de Jungkook, de frente para Hobi. – Eu


preciso de camisinha. – disse o encarando. – Pode trazer pra mim, Hoseok?

— Vai tomar no seu-

— Sem palavrões, ofensas ou ameaças de morte à mesa. – Jin interveio. –


Tem camisinha no banheiro do corredor, na segunda gaveta. Camisinha,
lubrificante e essas coisas. – gesticulou.

— Meu deus. – Jungkook disse baixinho, de olhos arregalados.

— Aigo, você é tão fofo, Jungkookie. – o hyung mais velho riu. – Quer ir
comigo e o Hobi? Você precisa sair um pouquinho.

— Na volta vamos ver aquilo sobre o emprego pra você.

— Emprego? – Namjoon franziu o cenho. – Vai trabalhar, moleque? – riu


debochado. – Às vezes eu esqueço que é bolsista.

— Engraçado. – Tae, segurando uma xícara de leite e chocolate, comentou. –


Eu não consigo esquecer o quanto você é chato.

Namjoon o encarou com raiva.

— Jin-hyung, pensei que ofensas à mesa eram proibidas. – Jin rolou os


olhos.

— Ele não ofendeu. Ele disse a verdade.

— Aí! – Hobi zombou.

— Perdi a fome. – Namjoon largou o café e saiu da mesa, indo em direção a


porta da frente.
— Quando você arrumar um emprego nós vamos comemorar, eu vou
cozinhar algo que você goste muito, ok? – Jin sorriu e Jungkook assentiu.

— Muito obrigado, hyung.

— Oh, eu também quero ser mimado. – Tae fez um bico. Isso irritou
profundamente Hoseok, tudo naquele cara o irritava. – O que eu preciso
fazer pro hyung me mimar também? – arqueou uma sobrancelha e Seokjin
mordeu o lábio inferior.

— Não me tente, Taehyung. – avisou.

— Vou tomar banho e espero vocês para irmos. – Hoseok empurrou a


cadeira, fazendo barulho. Ele bateu as mãos na mesa e trocou um olhar
rápido com Taehyung.

No andar de cima, precisamente o quarto que Jimin e Hoseok dividiam,


Solar jogou a bolsa sobre a cama e se virou para o irmão de braços
cruzados. Jimin sentou na cama que não lhe pertencia e suspirou.

— Fale. – ela mandou.

— Eu estava na festa e sai pra respirar, então ela apareceu. – deu de ombros.

— Jimin. – Solar suspirou e caminhou até sentar ao lado dele. – Eu confio


em você, mas eu preciso muito que você seja sincero comigo. Você ligou pra
ela?

— Não.

— Você a procurou?

— Solar, não...

— Juro que não vou te julgar, eu-

— Eu não fiz isso! – aumentou a voz.


— Tudo bem. – ela assentiu e sorriu. – Eu acredito em você, mochizinho.

— Para com isso. – reclamou, mas o bico fez Solar o beijar na bochecha. –
Ela disse que voltou pra cá, que estava com saudades de mim.

— Ela é maluca, ok? Minseo sabe como manipular as suas emoções e você
não pode mais deixar que ela te faça isso. – Jimin assentiu. – Vou avisar aos
advogados que ela te procurou.

— Noona, não... Ela só disse oi... Não precisa...

— Jimin, por favor, não a proteja. – pediu com carinho, segurando a mão
dele dentro das suas.

— Eu não estou fazendo isso, noona.

— Você faz sem perceber. Olha pra mim. – Jimin a encarou. – Minseo é uma
pessoa perigosa e por isso não pode se aproximar de você, se ela te procurar
avise alguém, não fique sozinho com ela, não vá a lugar nenhum com ela.

— Eu sei. Não vou fazer nada disso, eu juro.

— Omma pediu para que você a ligasse mais tarde, ela ficou preocupada.
Appa não sabe.

— Não diga pra ele. Não quero que ele passe mal de novo. – Solar penteou
os cabelos dele para trás e deu um beijo sobre a testa macia.

— Eu te amo muito. – sorriu. – Sabe que pode me contar qualquer coisa, não
sabe?

Jimin assentiu. Ele quis desesperadamente contar a Solar como vinha se


sentindo, mas não queria enchê-la com preocupações.

— Eu vi um rosto novo lá embaixo, quem é?

— É o Jungkook, ele é um dos novatos. – ele sorriu e a irmã mais velha


conhecia muito bem aquele sorriso. Ela arqueou uma sobrancelha. – O que?
— Jimin, o que você anda aprontando?

— Meu deus, você acha que eu sou o que? – se defendeu de forma adorável.

— Garoto, eu te ensinei a usar o penico, me poupe. Desembucha. –


gesticulou.

— Eu não fiz nada! Ainda. Ai noona, ele é tão fofo, mas tem um corpo
incrível, aquela carinha de menino... – ele se abanou. – Me dá uma vontade
de sentar nela.

— Eu ficaria chocada, mas eu sinto orgulho. – deu de ombros. – Já pegou?

— Ele é hétero. – soltou um muxoxo.

— Que morte horrível. Forças, mochi.

— A vida é injusta. – o lábio inferior se puxa num bico. – Vou superar. Cadê
sua namorada?

— Está trabalhando, uma das artistas teve um surto de inspiração e voltou a


pintar. Lembra da Jeongyeon? Ela.

— Lembro. Oh, se lembro. Ela tem muito talento.

— Não a chame assim, isso me faz lembrar aquela festa. – a careta da garota
em resposta fez Jimin rir.

— Noona, supere isso. – rolou os olhos.

— Impossível. – ficou de pé. – Vou te levar pra almoçar, se arruma. Depois


a gente vai naquele salão da sua amiga, quero cortar o meu cabelo.

— 'Tá bem. – assentiu. – Vou tomar banho.

— E eu vou descer para presentear seus amigos com a minha ilustre


presença.
Jimin sorriu e a foi até ela para abraçá-la apertado, fechando os olhos
enquanto as mãos delicadas afagavam suas costas.

— Eu te amo, Solar. Muito. Obrigado.

— Eu também te amo, bolinho. – ela sorriu. – Vai tomar banho, você tá


fedendo.

Ela o empurrou em direção ao banheiro e Jimin gargalhou.

-flashback-

Era um dia abafado. O sol estava a pino quando Hoseok revirou os olhos
pela milésima vez e negou duas vezes ao pedido manhoso de Yoongi.

— A gente não pode fazer isso.

— Para de ser medroso! – Yoongi o empurrou pelo braço. – Minha omma


só vai chegar mais tarde.

— Você não pode entrar na piscina, amanhã precisa fazer aquele exame.

— Isso não tem nada a ver! – o menor bufou. – Vamos Hobi, 'tá tão quente!
A gente pode nadar um pouco.

— Mas amanhã você precisa fazer o exame, e se ficar resfriado?!

— Não vou ficar! É só um dia! Vai, por favor, brinca comigo?

O olhar pidão fez Hoseok suspirar.

Ambos tinham doze anos e não se desgrudam nem por um minuto. Naquele
dia passavam a tarde de domingo na residência de Yoongi, intercalando
entre jogar vídeo game e beber os sucos naturais que uma das empregadas
fazia.
Estava tudo bem, Hobi nem se importava em perder nos jogos se isso
deixasse Yoongi feliz, mas o Min se entediou e já fazia vinte minutos que
pedia ao melhor amigo para brincarem na piscina da mansão.

No dia seguinte Yoongi passaria por um procedimento médico importante,


mas Hoseok parecia mais ansioso do que ele: cheio de cuidados, sempre de
olho no menor para ter certeza que estava bem.

Foi muito difícil ficar longe quando ele esteve internado há três meses e
Hobi não queria que acontecesse de novo.

— Tudo bem, mas só um pouco, 'tá?

— Obrigado! – Yoongi se animou e abraçou o amigo apertado. – Vamos


colocar as sungas.

Correram até o closet do Min, se livraram das bermudas e cuecas sem


pudor, eram crianças. Yoongi vestiu uma sunga vermelha e Hoseok uma
preta, desceram para o deck e o menor pulou na água com um grito
empolgado.

Hobi fez o mesmo em seguida.

Brincaram com uma bola grande e amarela, apostaram corrida


exercitando a natação, apostaram que ficava mais tempo embaixo da água
e conversaram sobre os planos de cada um para o colégio novo.

— Estou com fome. – Hobi resmungou.

— Eu vou pedir para Eun-ssi fazer alguma coisa pra gente comer. – nadou
até a borda. Ele sentia uma dor chata nas pernas, mas acreditava ser por
conta do esforço na água. Yoongi segurou com os dois braços o corrimão
da escada de ferro e içou o corpo para cima. Ele subiu os dois primeiros
degraus.

— Quero comer doce. Pede pra ela fazer... Yoongi?

O menor fez um careta, as forças dos braços e pernas estavam esvaídas,


tremia sem entender o motivo. Hobi se apressou para nadar até ele, mas
não deu tempo. O corpo de Yoongi cambaleou para frente, a cabeça bateu
contra a borda da piscina, o pé direito escorreu no degrau úmido e fez a
lateral do corpo raspar completamente no ferro. Ele desmaiou.

— YOONGI?!

Hoseok parou de nadar quando a água ao redor de Yoongi ficou vermelha,


tremia tanto que o corpo afundou pesado para o fundo. Não conseguia se
mover.

Ouviu gritos, a voz de Eun-ssi os chamando em desespero. Hobi engoliu


água, os olhos arregalados embaixo da água conseguiam ver Yoongi
afundar mais, deixando um rastro vermelho por onde passava.

Depois ele foi tirado da água e só despertou de verdade quando Dawon o


abraçou e lhe disse que estava tudo bem.

-flashback-

— Hoseok?! – o sacudiram um pouco. Ele piscou e visualizou o rosto de


Seokjin diante de si. – 'Tô te chamando tem uns dez minutos. Vamos.

— Foi mal. Vou pegar minha carteira. – avisou depressa, correndo até o
próprio quarto. Achou a carteira sobre a mesinha, junto das chaves e do
celular. Colocou tudo nos bolsos e quando se virou encontrou Yoongi
encostado ao batente da porta o encarando.

— Bom dia, Hobi.

— Bom dia. – assentiu.

— Vai sair?

— É dia de compras. – sorriu. – Tudo bem?

— Uhum. E você? Como foi a festa?

— Igual às outras. – deu de ombros. – Eu vou descer, Jin-hyung está me


esperando.
— Você ficou com alguém? – Hoseok franziu o cenho. – Seu pescoço. –
apontou. – Tá marcado.

— Ah. – ele tocou o próprio pescoço e alisou a área onde sabia haver uma
chupada. – O Mark-hyung me apresentou pra um cara.

— Ah. – sorriu. – Quando eu cheguei passei aqui, mas você estava dormindo
e eu não quis te acordar. – Yoongi suspirou. – Hobi, eu não gosto quando a
gente fica estranho um com o outro... Eu não sei por que você implica tanto
com o Tae, mas eu realmente gosto de ficar com ele. Isso não quer dizer
nada, só 'tô curtindo o momento e quero poder falar sobre isso com o meu
melhor amigo.

— Tae. – repetiu e assentiu. – Você quer me falar como é ficar com ele?

— Hoseok, para com isso. – entrou no quarto e caminhou até ele. – Eu quero
poder falar sobre qualquer coisa com você.

— Você transou com ele? – perguntou num tom baixo.

— Isso vai mudar alguma coisa? Por que está agindo assim?!

— Eu não gosto dele.

— Sinceramente 'tá parecendo que você gosta sim dele. – respirou fundo. –
Eu sei que você quer me proteger o tempo todo, que 'tá acostumado a cuidar
de mim sempre, mas você precisa entender que eu sou um homem adulto,
Hobi! Se todas as vezes que eu me envolver com alguém a gente brigar... –
ele parou de falar e chegou mais perto de Hoseok, invadindo o espaço dele,
o tocando nos braços. Era como uma tortura, a pele do mais alto parecia
queimar a cada toque. Até mesmo o cheiro de Yoongi o machucava. – Hobi,
eu amo você demais, eu não quero te perder... Você não tem ideia do que eu
faço pra não te perder. – sorriu.

— Eu também amo você. – a frase era carregada de desespero. Ao mesmo


tempo em que temia ser mal compreendido, era também o que ele mais
queria. – Eu te amo demais, Yoongi.
— Então, pare com isso. – pediu baixinho. Ele sorriu e o abraçou, esticando-
se na ponta dos pés para abraçar os ombros largos, deitou a cabeça no
ombro dele e fechou os olhos.

Hoseok o abraçou de volta aspirando o cheiro único, a mistura natural de


sabonetes e o cheiro do Yoongi. Apertou o tecido do pijama entre os dedos,
apertou também os olhos na tentativa boba de não desabar ali mesmo.

Como no incidente na piscina, doze anos antes, Hoseok estava se afundando


durante todo esse tempo... Afundando e observando Yoongi de longe.

Sem conseguir se mover, mas com os olhos nele.

Sobrevivendo a base de um nada doce.

De noite, com todas as luzes apagadas e espalhados pela sala de estar, os


sete compartilhavam a companhia, pipoca salgada, cerveja e um filme de
terror que fazia Hoseok reclamar o tempo todo.

— Vamos ver outra coisa. – ele pediu pela milésima vez.

— Pra alguém tão marrento, você é muito medroso. – Tae provocou e


recebeu um dedo do meio do Jung.

— Não o provoque. – Yoongi, que estava sentado entre as pernas dele, pediu
baixinho. Tae rolou os olhos e encheu a boca com pipoca.

— Depois a gente assiste Bambi de novo, Hobi-hyung, aí você não tem


pesadelos. – Jimin virou a garrafinha de cerveja e Hobi lhe atirou uma
almofada. – Grosso!

— E grande. – Jin, Hobi e Yoongi disseram juntos.

— Namjoon, não dorme não! – Yoongi o sacudiu pelo braço. – Vai começar
a roncar e ninguém escuta mais nada. Parece um trator.

— Se esse filme não fosse tão chato. – bocejou.


— Chato é você. – Jimin reclamou. Ele havia escolhido o filme. – AI MEU
DEUS!

— AI MEU DEUS O QUE?! CADÊ?

Hoseok gritou também e escondeu o rosto com o cobertor azul, xingando


todas as gerações de Park Jimin.

Jungkook riu dos dois.

— Não precisa ter medo Jimin-hyung.

— Você vai me proteger?

— Hm? Essa freira é de mentira, é uma pessoa.

— Nossa. – Tae se manifestou. – Jimin quer uma corda? Pra amarrar o seu
toco?

— Vai se foder. – mostrou o dedo e Tae riu. Yoongi riu também.

Jungkook ficou confuso.

— Calem a boca, me deixem ver o filme! AH! INFERNO! QUE SUSTO! –


Jin xingou e levou a mão até o peito. – Freira desgraçada.

Namjoon sorriu, pela primeira vez no dia, olhando pra ele.

Taehyung colocou a mão por dentro da camisa de Yoongi, sobre o cobertor


branco que o menor usava para se enrolar feito um bolinho. Ele acarinhou
abaixo do umbigo com movimentos circulares, depois arriscou adentrar a
bermuda de elástico, passando os dedos sobre o pau dele.

Yoongi abriu mais as pernas e Tae sorriu.

— AH, MAS NEM PENSAR! – Jimin assustou todo mundo. – EU TÔ


VENDO ISSO VIU?!

— O que hyung? – Jungkook franziu o cenho.


— Cubra os ouvidos, bebê. – ele encarou Taehyung e estreitou os olhos
pequenos. – Nada de masturbação durante o cinema em família! Yoongi-
hyung, que sujeira!

— O que é isso?! Que falta de vergonha na cara! – Jin cruzou os braços.

— Ninguém estava fazendo nada, Jimin ficou doido!

— E essa sua cara vermelha igual um tomate maduro é por quê? Fala! Cadê
a sua voz agora, Min Yoongi-ssi?

— Cala a boca! – jogou uma almofada nele.

— Eu vou subir. – Hoseok ficou de pé e juntou travesseiro e cobertor nos


braços. – Esse filme é uma merda. – usou a desculpa. Ninguém disse nada,
as risadas cessaram enquanto ele deixava a sala e subia as escadas.

Taehyung o encarou até que não pudesse mais. Depois ele sorriu e beijou a
nuca de Yoongi.

— PUTA QUE PARIU! QUE FREIRA DESGRAÇADA! – Jin gritou do nada


e Namjoon riu dele outra vez.

Taehyung desceu as escadas bocejando, os pés descalços se arrastavam com


preguiça pelo sono interrompido. Ele atravessou a sala de estar e de jantar,
na cozinha acendeu as luzes e foi até a geladeira para procurar algo
comestível. Encarou os pequenos potes etiquetados com a cor de Jimin e deu
de ombros, depois o explicaria.

Abriu o menor deles e sorriu para os pedaços de melão picados. Colocou um


na boca e apagou a luz para voltar ao quarto, mas parou no caminho ao notar
a luz da lavanderia acesa. Só dava pra ver a sombra de alguém ali, então
caminhou até lá e espiou pela fresta até ver Hoseok encostado a secadora
com um cigarro nos lábios e o celular na mão.

Ele sorriu automaticamente e entrou no lugar tomando a atenção do outro.


Hobi o encarou, revirou os olhos e respirou fundo.

— Só pode ser brincadeira. – resmungou tragando o baseado e voltando a


atenção para o celular, para responder as mensagens de Bobby.

— Oi. – cumprimentou e encostou a porta atrás de si.

— Taehyung, me deixa. – pediu sem olhar.

— Quer melão? – ofereceu o pote.

— Eu quero que você me deixe em paz. E isso é da dieta do Jimin.

— Me dá um trago? – Hobi ergueu o olhar para ele. – E eu vou te deixar em


paz aqui, prometo. – beijou os dedos e sorriu.

O mais velho lhe estendeu o baseado e bloqueou a tela do celular. Ele estava
com uma regata folgada e branca, o short que vestia era folgado e os pés
calçados em meias brancas. Tae tragou do baseado e fechou os olhos,
sentindo-o. E Hobi não queria, mas era impossível não reparar no quanto
aquele garoto insuportável era bonito. Aproveitou para observar desde os
pés descalços até os cabelos penteados para trás de um jeito bagunçado.

As tatuagens que cobriam os braços magros, o piercing prateado no mamilo


esquerdo, os poucos pelos que escapavam do moletom até o umbigo
pequeno. Tudo em Taehyung o deixa incomodado.

Incomodado.

Preferia nomear assim.

O mais novo ergueu a cabeça e soltou a fumaça devagar, depois devolveu o


baseado ao mais velho.

— Pronto, agora desaparece.

— Ounch, você é tão mau comigo. – reclamou comendo mais um pedaço da


fruta. Ele caminhou até parar de frente para ele, até recostar os quadris a
lavadora. – A gente tinha de se dar bem, sabia?
— Por que, caralhos, eu deveria me dar bem com você? – arqueou uma
sobrancelha.

— Porque eu moro na mesma casa que você e estou pegando o seu melhor
amigo. – sorriu. – Yoonie ficaria feliz.

Hobi o encarou e tragou forte, sem dizer uma palavra. Depois ele sorriu e
negou uma vez, deixando o celular sobre o eletrodoméstico. Apoiou a mão
no mesmo lugar e lambeu o lábio inferior antes de falar:

— Caralho, você quer muito foder comigo, não quer? Esse seu joguinho
idiota... Taehyung você ainda está aprendendo, eu dou aulas. – sorriu mais. –
Você acha que está chegando a algum lugar? Sério? Ok, você sabe sobre o
que eu sinto pelo Yoongi, parabéns, mas e daí? Vai esfregar na minha cara
que 'tá transando com ele como se isso fosse me machucar? – negou. – Já
tiveram tantos antes de você, não se sinta tão especial. Você não é. – Hoseok
se afastou da secadora, caminhou até prender invadir o espaço de Taehyung
enquanto tragava pela última vez o baseado.

Tae mordeu o melão e sorriu ladino.

— Você vai ser mau comigo, Hobi?

Hobi o segurou pelo queixo, com força, e puxou até que os lábios carnudos
estivessem abertos. Soprou a fumaça dentro da boca com hálito de melão e
depois aproximou os lábios o suficiente para sentir o calor, mas não tocar os
dele.

— Quer tanto assim que eu seja mau com você, seu mauricinho do caralho? –
sorriu e Tae encarou a boca dele. – Quer que eu acalme todo esse teu fogo,
eu mal te toquei e o teu pau quer rasgar o pijama. – olhou para baixo e riu da
ereção evidente do mais novo. Tae trincou os dentes, começou a sentir raiva.
Ele tentou beijar o mais baixo, mas Hoseok se afastou um pouco e negou. –
Oh, não, neném. – negou. – Não. – acertou um tapinha fraco na lateral do
queixo dele e sorriu ladino. – Não sou pra você, entendeu? – bateu de novo.
– Boa noite, mauricinho.

Afastou-se e piscou antes de sair da lavanderia.


Taehyung respirou fundo e olhou para baixo, para o volume na calça do
pijama.

— Filho de uma puta.

Resmungou e comeu o último pedaço de melão.

Ele esperou cerca dez minutos antes de voltar para o quarto e no corredor,
encostado no batente da porta do outro quarto, Jimin bocejou e sorriu.

— Quer uma corda pra amarrar esse toco, Taehyungie? - riu baixinho. -
Compre outro melão pra mim de manhã. Boa noite.
7 - protetor

"Porque talvez
Você será aquela que me salva
E no final de tudo
Você é minha protetora"

Oasis

— Jesus lhes respondeu: "Não são os que têm saúde que precisam de
médico, mas sim os doentes. Eu não vim chamar justos, mas pecadores ao
arrependimento." – o padre ergueu o olhar e observou o grande salão da
igreja de uma ponta a outra. Os óculos pequenos continuavam pendurados na
ponta do nariz.

Hoseok abaixou o rosto e observou as mãos. Estranhou a ausência dos anéis


que sempre usava, estranhou até mesmo não estarem pintadas de preto como
na semana passada, mas um pigarro o fez lembrar as razões disso.

— Filho, preste atenção ao sermão do padre. – Yoseob o corrigiu baixinho e


ele assentiu se atentando outra vez ao que o homem de batina dizia.

— Jesus não veio à Terra para salvar os justos, essa não era sua missão. Ele
veio pelos pecadores, eles são os que precisam de ajuda. – o padre retirou
os óculos e os colocou ao lado da bíblia, sobre o altar de madeira maciça e
mármore caro. – Em Atos, capítulo três e versículo nove, podemos ler
"Arrependam-se, pois, e voltem-se para Deus, para que os seus pecados
sejam cancelados" Eu lhes digo que: pedir perdão, arrepender-se de seus
pecados é o único caminho para a salvação, caso contrário no dia do Juízo
sofrerão as consequências: o inferno.

O Jung mais novo apertou os dedos.

— Amém.

Murmurou junto aos outros que participavam da missa.

Quando acabou viu-se em meio a cumprimentos educados de pessoas que


sequer lembrava os nomes, mas sempre sorria quando lhe perguntavam como
ia à faculdade ou coisas assim. Dahye o mantinha junto de si, o braço
entrelaçado ao do filho como se Hoseok fosse algum tipo de troféu que ela
temia largar; ela fazia questão de falar sobre as conquistas acadêmicas do
filho caçula e se enchia de felicidade quando outra pessoa também o
elogiava.

E Hoseok sentia-se como um boneco.

— Antes de irmos, quero lhe apresentar uma pessoa, filho. – Yoseob o


conduziu até a sacristia, chegou a desamassar a camisa azul clara na região
de seus ombros e quando se aproximaram de duas mulheres, se curvaram
com respeito. – Hoseok, lembra-se de Hyelim-ssi?

— Sim. Como vai, Hyelim-ssi? – curvou-se de novo. Lembrava pouco da


mulher, sabia que ela era uma das responsáveis pela comunidade cristã
daquela região e engajada com projetos voltados à família.

— Hoseok-ah, continua tão bonito. – ela elogiou. Era baixinha e vestia


roupas bonitas. – Esse belo sorriso nunca muda.

— Obrigado.

— Essa é minha filha Momo. – apresentou.


A garota sorriu e se curvou. Era linda. Alta, dona de longos cabelos escuros
e pele leitosa. Hoseok sorriu de volta e se curvou também. Por dentro estava
completamente desconfortável.

— É a garota da qual lhe falei. – o pai murmurou apenas para ele ouvir.

— Muito prazer, Momo-ssi.

— Muito prazer, oppa.

— Hyelim-ssi, diga ao seu marido que agradeço muito por ter autorizado que
Momo possa passar algum tempo com Hoseok na próxima semana.

Os olhos de Hobi quase saltaram dos orbes. Ele encarou o pai com as
sobrancelhas arqueadas, mas o Yoseob o ignorou completamente.

— Momo está na idade para essas coisas. – Hyelim assentiu. – E eu confio


completamente na criação que deu ao seu filho, Yoseob-ssi.

A garota estava corada dos pés à cabeça sequer erguia os olhos, mas sorria
sem parar.

— Agora, se nos derem licença, precisamos ir. Foi um prazer.

Os dois se curvaram e juntos caminharam para fora da construção grande e


muito bonita. No carro, Hoseok não disse nada. Ocupando o banco do
passageiro preferia encarar a paisagem externa e ignorar a conversa dos pais
sobre qualquer assunto que não lhe despertava interesse.

Sentia-se sufocado demais ali.

Era estranho demais sentir isso na presença das pessoas que ele deveria
tanto apreciar, mas não sentia nada. Isso o fazia sentir culpa, deveria ser um
filho melhor e a cada dia percebia mais e mais não era possível. Não havia
nada em si que fosse o que os pais queriam e Hobi nem tinha ideia de como
se tornar.

— Você vem na sexta feira depois das aulas. É melhor que no sábado esteja
disposto.
— O que? – franziu o cenho e encarou o pai. Yoseob suspirou.

— Lhe disse que Momo vai almoçar conosco no sábado, por isso você
precisa vir pra nossa casa na sexta de tarde.

— Eu toco com a banda às sextas, appa.

— Isso não é prioridade. – afastou uma das mãos do volante para gesticular.
– É algo até eficiente, já que dessa forma você se afasta dessas coisas.

— O que achou de Momo, filho? Ela é muito bonita! – Dahye sorriu, estava
sentada no banco de trás. – Eu tenho certeza absoluta que meus netinhos
serão lindos.

— Omma... – suspirou.

Ele fechou os olhos e esfregou as mãos suadas contra o jeans. As palavras


de negação se acumulavam na garganta, prontas para serem despejadas
dentro daquele carro. Fazer uma cena, gritar que não ia obedecer à porra
nenhuma, bater a porta do carro e ir andando pra casa. Casa.

Desde novinho odiava carros. Odiava sentir-se preso numa caixa de metal
com rodas. Odiava sentir-se preso em qualquer lugar porque era dono de um
espírito livre... Livre, mas enclausurado naquele retrato de família perfeita
onde cresceu.

Porque Hoseok entendia que ele era errado, que era uma peça com defeito.
Gostaria de ser um homem correto como o pai ou se rebelar como a irmã
mais velha e, no entanto, não fazia nada, vivia duas realidades cansativas
onde em uma era guiado feito um boneco sem vida e na outra era livre.

— Vou comprar um presente, mulheres gostam de coisas como ursos e etc. e


você a presenteia. Tente ser gentil, não esqueça que Momo é uma garota de
família, Hoseok, não é como essas que

você leva pra motel. Faça tudo direito.

Hoseok suspirou.
Outra vez, ele não disse nada.

Jungkook riu quando Jimin se esticou completamente tentando alcançar o


bloco de notas que Seokjin erguia bem alto. A risada do hyung mais velho
era extremamente engraçada.

— Hyung, me dá! – o menor pulou e tropeçou, teria caído não fosse Yoongi o
puxar pelo capuz do moletom. – Inferno!

— A lista está feita, você não vai acrescentar mais uma garrafa de bebida,
entendeu?!

— Consegui encomendar o bolo de tiramisu e os docinhos. – Namjoon


guardou o celular no bolso e sentou em dos bancos altos distribuídos ao
redor do balcão da cozinha. – Vou buscar no dia.

— Eu posso ajudar em algo? – o mais novo entre eles perguntou animado.


Jimin sorriu para ele e ajeitou o cabelo.

— A gente vai precisar de ajuda com a decoração. Hobi-hyung gosta muito


de flores coloridas e eu pensei em transformar a sala de estar num jardim,
quer me ajudar com isso?

— Eu vou te ajudar, Jimin. – Namjoon arqueou uma sobrancelha.

— E eu lá sou maluco de te deixar com uma tesoura na mão?! – colocou as


mãos nos quadris. – Você vai pendurar as coisas. – olhou ao redor e encarou
Taehyung com os braços cruzados. – Não vai fazer nada Taehyung?

— Eu? – sorriu. – Se essa festa não fosse surpresa e eu não morasse aqui,
Hoseok agradeceria se eu não participasse. – deu de ombros.

— Tae? – Yoongi o chamou e sorriu um pouco. – Por favor?

Taehyung suspirou, rolou os olhos e assentiu.


— Ótimo! Vai me ajudar, vamos ao mercado e depois comprar um presente
pro Hobi. – Jin anotou outra coisa no bloco de notas. – Namjoon?

Todos ficaram quietos. Eles não se falavam diretamente há alguns dias e até
mesmo Namjoon franziu o cenho antes de responder.

— Eu.

— Consegue cuidar da playlist? O seu gosto musical é igual ao do Hobi. –


sorriu.

— Claro, hyung. – ele sorriu também.

Yoongi suspirou.

— Podemos convidar gente de fora? – Jimin observava uma forma de


recuperar o bloquinho.

— Melhor não, é meio de semana e as aulas já começaram. – Yoongi


caminhou até a pia para deixar a xícara vazia de café. Tae o puxou um pouco
para beijá-lo na lateral da testa.

— Melhor todo mundo se apressar. – pediu guardando o bloquinho bolso.


Jimin fez um bico. – A faxina não se faz sozinha.

Cada um foi para um canto da casa.

Yoongi sorriu ao ouvir música vinda da sala e reconhecer a voz de Jimin


cantarolando o início de Wonderwall. Ele separou os talheres e depois os
copos e xícaras, procurou pelo sabão específico sob a pia e não notou ter
companhia outra vez até o Park deixar dois pratos sujos junto ao resto da
louça.

— Hyung, você e o Tae estão juntos?

Yoongi arqueou uma sobrancelha.

Park Jimin não era de fazer rodeios e essa era uma dos milhares de coisas
que tanto admirava nele. Jimin não gostava de meias palavras ou dúvidas, se
queria saber de algo perguntava e esperava por respostas.

— Não. A gente tá ficando.

— Hm. É que já faz um mês que ele chegou e vocês estão sempre
grudadinhos. – sorriu e recostou o corpo ao balcão. – Ficam bonitos juntos,
hyung.

— Obrigado, Jiminie.

— Fazia um bom tempo desde que o hyung ficou assim com alguém, mas
parece mais animado agora. – ele mordiscou o lábio e Yoongi o encarou.

— Pergunte logo, eu sei que você quer perguntar. – rolou os olhos.

— Você não é cego. – disse num tom mais baixo. – Acho que entre nós é o
mais observador, hyung. O que está acontecendo?

— Eu não sei. – negou e suspirou. Deixando o sabão sobre o balcão, Yoongi


passou as duas mãos pelo rosto e sorriu de um jeito cansado. – Eu percebi na
primeira semana. As negativas dele, a implicância, o jeito que encara
ficando inquieto... E é recíproco, Jimin.

— Acha que rolou alguma coisa?

— Não. O Hoseok me contaria na hora. – mordiscou a pele do lábio


superior. – Eu não quero abrir mão.

— Eu não acho que precise. – deu de ombros. O mais velho franziu o cenho.
– Hoseok e Taehyung parecem duas bombas relógio prestes a explodir por
aproximação, essa merda toda de implicância é uma tensão sexual ferrada. –
ele sorriu pequeno. – E você, hyung, não precisa abrir mão de nada, não
precisa ser o cara que corta os fios certos para desarmar um deles... Se olhar
da forma como eu olho, vai perceber que é o cara que dá conta das duas
explosões. Juntos.

— Jimin-hyung, achei o que... - Jungkook parou de falar e ficou constrangido


quando notou ter interrompido. – Desculpa!
— Tudo bem, bebê. – se virou para o mais novo e assentiu, depois voltou a
Yoongi de novo. – Eu já disse o que eu queria dizer, por favor, olhe ao redor
hyung.

Jimin saiu da cozinha levando Jungkook pela mão, tagarelando sobre aulas
de violão e músicas acústicas.

Yoongi, ali sozinho, encarou a embalagem do sabão e negou duas vezes.

— Jimin nunca fala nada com nada. – sorriu.

Os braços de Jungkook queimavam, mas ele não reclamou em momento


algum enquanto carregava as caixas pesadas de bebidas para dentro do bar,
pela porta dos fundos.

Era o sétimo dia de trabalho e até se acostumar com a rotina nova procurava
manter a calma como o pai sempre pedia nas ligações desesperadas no meio
da madrugada.

Ninguém disse a ele que seria fácil, mas também não disseram que seria
difícil. Sentia falta de casa, da bagunça familiar, das noites preguiçosas ao
lado do pai consertando um carro velho ouvindo músicas do século passado.

E não era culpa de ninguém.

Não era culpa de Namjoon e sua forma grossa de tratá-lo; nem de Taehyung e
sua mania de falar dormindo sobre suas experiências pessoais; não era culpa
de Hoseok e seu cuidado; nem de Yoongi e seu silêncio acolhedor; nem de
Seokjin e suas brincadeiras engraçadas.

E muito menos de Jimin. Porque, de longe, ele era o que mais lhe fazia sentir
em casa.

Ainda assim, não era sua casa.


Os outros eram mais velhos, quase não tinham pudores demais, falavam
sobre qualquer coisa em qualquer momento... O fazia sentir deslocado
enquanto se encaixava aos pouquinhos nas personalidades fortes e distintas
daquela casa.

Quando falavam sobre suas vidas, sobre relacionamentos, sexo ou a o


melhor filme de super heróis iam de uma margem a outra do oceano, então
Jungkook se sentia à deriva. Isso o assustava até o momento em que um dos
mais velhos lhe estendia a mão e remava para uma direção; ali ele se
encontrava e gostava de ficar até perceber estar em alto mar de novo.

Numa comparação mais simples: Jeon Jungkook ia de ilha em ilha e em cada


uma delas descobria coisas novas sobre si.

Então, valia à pena. Até quando parecia não valer.

Naquele fim de noite, quando chegou a casa e descalçou os coturnos, ele


caminhou até a cozinha para ver se havia sobrado algo do jantar. Encontrou o
prato feito dentro do forno microondas, sabia que fora Hoseok e sorriu
puxando a proteção plástica com pressa e fome.

Colocou pra esquentar, buscou uma garrafa de água na geladeira e se


assustou um pouco por achar ter escutado uma voz. Esperou em silêncio até
ouvir de novo. Vinha da sala de estar, então ele foi até lá. Reconheceu a voz
na terceira vez que ouviu.

Era Namjoon.

O mais velho estava deitado no sofá grande de um jeito desconfortável, um


livro pesado sobre o peito e outro menor jogado no chão. Os óculos de
lentes grossas parecem tortos graças ao braço do estofado.

Ele dormia e enquanto isso também resmungava.

— Não... Não quero... Não...

Jungkook olhou ao redor, não queria acordá-lo, aquele cara o intimidava


demais, mas sabia como era ruim ter pesadelos, odiava quando sonhava com
aqueles personagens dos jogos que tanto gostava.

Namjoon se debateu um pouco e franziu o cenho, as mãos grandes se


fecharam em punho ao redor do cós do moletom.

— Para! Eu não quero! Não! – a primeira lágrima escapou do olho direito


ainda fechado. Ele arfou e se debateu outra vez. – Não! Me solta! Me solta...

— Namjoon-ssi?! – chamou baixinho, preocupado demais para conseguir se


controlar.

— Por favor... Para... Por favor...

O choro veio mais forte e silencioso, as mãos não largaram o cós do


moletom, mas tremiam. Jungkook largou a garrafa no chão e se abaixou para
segurá-lo pelos ombros.

— Namjoon-ssi?! – o sacudiu um pouco. – NAMJOON!

Namjoon abriu os olhos e o encarou assustado, as mãos se agarram a jaqueta


de Jungkook enquanto o choro o fazia respirar fundo. O mais novo não se
moveu.

— Por favor, pode chamar o Jimin ou o Yoongi pra mim? – sussurrou de


forma embargada.

Jungkook assentiu e o deixou ali para correr até os quartos do primeiro


andar, batendo na porta do dormitório de Jimin e Hoseok meio desesperado.

— Já vai, porra!

Lá embaixo, Seokjin chegava da aula exausto. A mochila pesava demais por


causa dos livros, o estágio supervisionado o tomava muito tempo. Ele largou
a bolsa junto às dos outros, chutou os sapatos e acendeu a luz do hall. Viu
Namjoon sentado no sofá maior e estranhou.

Ele abraçava as próprias pernas e escondia o rosto entre os joelhos,


murmurando coisas inaudíveis.
Foi até ele devagar e em silêncio, tentando ouvir o que ele dizia.

— Um, dois, três quatro, cinco. Cinco, quatro, três, dois, um. Um, dois, três
quatro, cinco. Cinco, quatro, três, dois, um.

— Namjoon? – chamou-o e ele ergueu o rosto. – O que aconteceu? – se


preocupou demais. Mais do que deveria. O mais novo estava com os olhos
marejados, a pontinha do nariz vermelha e os lábios sendo mordidos demais.
– O que aconteceu?

— Um, dois, três, quatro, cinco. – murmurou de novo e Jin sentou ao lado
dele.

— Namjoon! – Jimin apareceu feito um furacão, Yoongi estava ao lado dele.


– Calma.

O mais alto o abraçou forte, era tão maior, mas ali pareceu ao contrário. Ele
agarrou a camisa de Jimin e escondeu o rosto no ombro dele.

— Foi um pesadelo. – o acalmou. – Calma. Conta comigo: um, dois, três...

— Um, dois, três quatro, cinco. – ele sussurrou.

Yoongi voltou da cozinha com um copo de água e separou um comprido


branco na palma da mão, entregando a Namjoon.

Seokjin observou tudo aquilo como um espectador inútil. O coração batendo


na garganta pela angústia de ver o Kim mais novo naquele estado,
desesperado para niná-lo em seus braços até fazer passar o que fosse.

No entanto, falhas as pernas que não se moviam ou os braços que não se


estendiam. Falhos, mas sensatos. Nada daquilo lhe era obrigação ou direito;
suas pernas e braços nunca seriam suficientes e precisava compreender na
mente para conseguir convencer o coração.

Ficou de pé e desapertou o nó da gravata que estava usando. Abria os


primeiros botões da camisa quando encontrou Jungkook sentado no segundo
degrau da escada observando tudo de forma assustada e confusa.
Os olhos grandes e escuros pararam em si, questionando qualquer coisa,
qualquer informação. Jin bagunçou os cabelos dele e sorriu por fora.

— Está tudo bem, ok? Você deveria jantar e ir descansar. Namjoon já tem
quem o cuide.

O mais novo assentiu e Jin subiu.

Alguns minutos depois, quando Namjoon se acalmou e disse que iria se


deitar, ele encarou o maknae da casa e sussurrou algo que só eles dois
puderam ouvir.

— Obrigado.

Talvez o garoto nunca fosse entender aquele agradecimento, mas Namjoon


sim. Jungkook havia acordado de um pesadelo quase real, uma lembrança
ruim.

Naquela noite, Jeon Jungkook estava prestes a descobrir mais um segredo.

Hobi franziu o cenho quando sentiu o colchão afundar, mas o cheiro


inconfundível de sabonete de algodão o fez sorrir e se virar até estar deitado
de barriga para cima.

— Oi. – Yoongi se acomodou no travesseiro que sobrava.

— Oi.

— Feliz aniversário. – sorriu e procurou pela mão menor no colchão,


tateando até entrelaçar os dedos aos dele. Era meia noite e ele fazia questão
se sempre ser o primeiro. – Te comprei um presente bem legal, mas só chega
daqui a dois dias.

— Ai não vai ser mais meu aniversário, Yoon.

— Reclame com os correios. – rolou os olhos. Ambos fitavam o teto do


quarto, mas as mãos continuavam juntas. – Lembra do seu aniversário de
quinze anos?

— Claro. O meu favorito. – sorriu. – Eu nunca mais comi um bolo tão bom
como aquele.

— Foi um muffin da lanchonete do hospital, Hoseok.

— E daí? Eu adorei, me dá licença?

O polegar de Yoongi acarinhou as costas da mão de Hoseok, suavemente


como se não quisesse ser notado. O coração do aniversariante parecia estar
sendo esmagado outra vez, enquanto o de Yoongi se deixava sentir de novo
coisas que ele já havia aberto mão há um tempo.

Omissões demais.

— Estou me apaixonando pelo Taehyung. – sussurrou mais para si. Era bom
dizer aquilo em voz alta.

Hoseok se remexeu na cama e umedeceu os lábios com a ponta da língua.

— Em um mês?

— Eu sei, parece a coisa mais doida do mundo. – respirou fundo.


Consequentemente, o cheiro de Hoseok encheu suas narinas. Baunilha. Como
sempre ficava impregnado nos lençóis ou quando ele o abraça: doce e forte.

— Eu só quero que fique feliz.

— Eu também só quero ver você feliz. Sempre. – girou o rosto até poder
observá-lo pelo perfil. As luzes artificiais do lado de fora da casa deixava
ver pouco dos traços bonitos, mas era o suficiente para que engolisse em
seco e a velha sensação emergisse dentro dele de uma vez. – Sempre.

Como quando nos tiram uma venda dos olhos, ele encarou Hoseok igual
costumava encarar há alguns anos. Despido dos disfarces apenas para si
mesmo. Yoongi olhou. Ele olhou e viu na pele alheia, nos detalhes da face,
na curvatura perfeita do nariz e até nos lábios curvados todos os motivos que
o fizeram se apaixonar antes, durante e agora.
A bomba mais perigosa, àquela que ele sempre quis tocar e foi impedido.

— Você gosta dele também? Do Tae? Por causa disso implica assim com
ele?

— Yoongi... – suspirou cansado. Hobi fechou os olhos brevemente.

— Quer que eu abra mão dele? Você sabe que eu faço tudo por você.

— Eu não quero nada disso. – negou e virou o rosto para encará-lo. Estavam
tão perto e não é como se nunca estivessem antes, mas ali sussurrando
baixinho para não acordar Jimin na outra cama, tudo parecia diferente.

Hoseok era diferente.

— Você está mentindo pra mim. Eu sei. Eu 'tô vendo isso nos teus olhos.

— Algumas verdades não precisam ser contadas.

— Por quê?

— Porque elas machucam.

— Hoseok, por favor, para de me proteger de tudo. – sussurrou buscando


manter o controle das sensações que aquela proximidade começava a causar
em si. – Para de se machucar por minha causa. – a mão livre se moveu até
tocar o rosto do maior, o polegar afagou a pele da bochecha e depois
contornou o nariz que Yoongi tanto adorava, até a pontinha pequena. Hoseok
fechou os olhos e engoliu a seco. O coração batia como um tambor, o
deixava surdo por dentro. – Se você quiser, eu termino com o Taehyung e
vocês dois...

— Por que você não consegue ouvir aquela música? – perguntou ainda de
olhos fechados. Yoongi parou de mover os dedos sobre o rosto dele e piscou
confuso. – Eu sei que você não consegue, me diz o motivo.

— Do que está falando? – foi à vez de ele engolir a seco.

— Você sabe. – o encarou. – Você lembra.


Yoongi piscou algumas vezes, mas não conseguiu negar nada estando preso
naquele olhar intenso de Hoseok.

Ele lembrava. Todos dos dias. Acordado ou dormindo. Lembrava das luzes,
do efeito alcoólico o deixando tonto, da música sobre um nada doce, do
sorriso de Hoseok dançando consigo, do cheiro do suor dele. Da textura dos
lábios sob os seus, do sabor doce da língua molhada exigindo contato, do
aperto das mãos em seu corpo.

Lembrava de cada pequeno detalhe com mais força do que tentava esquecer.

Yoongi encaixou a mão na nuca alheia e avançou ruma a sua queda livre,
mergulhando em Hoseok esquecendo-se completamente do fato de não saber
nadar.

Ele o beijou outra vez.

Pressionou os lábios contra os dele, desesperado por um pouco mais dele


ofegou aliviado quando as mãos fortes agarraram sua cintura e puxaram pra
perto.

Enquanto ele era só impulso, Hobi era o desalinho.

Bebeu do beijo sedento, tomando mais do que podia aguentar, cavando com
a língua em busca do coração daquele que o tinha nas mãos desde sempre.

Beijaram-se de um jeito bagunçado, temerosos por terem de parar e se


encarar sem palavras pra dizer.

Mas, como uma piada maldosa aos sentimentos que crescem, nascem e
reaparecem na narrativa de tudo isso, Taehyung acordou com fome outra vez
e sonolento desceu para furtar outra marmita de frutas de Jimin. E quando
subiu, disposto a acordar o Park para avisar que não haveria abacaxi e
melancia pro café da manhã, se arrependeu quando abriu um pouco da porta
branca.

"É muito perigoso se apaixonar."

E, Deus sabe, era mesmo.


Ele fechou a porta e segurando a maçaneta respirou fundo, ergueu o queixo
tentando ignorar a droga de aperto no peito, a droga do nó na garganta. A
mão que segurava a pequena marmita tremia um pouco e foi sobre ela que
pingou aquilo que Tae não via há um tempo.

A primeira lágrima deu aval para as outras e ele não entendia, ele não sabia
por que estava chorando. Ele não queria chorar. Taehyung odiava chorar.
Mas ali estava ele fazendo o que odeia fazer, então riu de si mesmo. Riu da
situação fodida que se via... Ele nem gostava tanto assim de Yoongi, não é?
Provocar Hoseok era só um passatempo divertido, não é?

Então, porque vê-los se beijando machucava tanto?

Aquilo não machucava por ciúmes de um com o outro e era estranho demais
assumir para si que o que mais doía era o fato de não estar ali.

Junto deles.

"É muito perigoso se apaixonar."

Ainda mais por duas pessoas diferentes


8 - sultões do swing

E uma turma de jovens garotos está zoando em um canto


Bêbados e vestidos em suas melhores calças marrons e seus calçados
plataforma

Dire Straits

Quando o dia amanheceu, o sol não quis aparecer por trás das nuvens e o
tempo nublado combinava com o clima estranho dentro da república número
sete.

Hoseok não conseguiu se entregar ao sono depois de Yoongi fugir de seus


braços como se eles fossem fogo; Yoongi sentia-se em choque demais para
ter qualquer reação; e Taehyung obrigou-se a dormir enquanto tentava
entender o que estava acontecendo dentro de sua cabeça.

Nenhum deles sabia o que fazer no dia seguinte, mas ambos optaram pela
mesma opção: fingir que nada aconteceu.

Assim, Hobi acordou e não viu Jimin na outra cama. Nem notou quando o
amigo deixou o quarto tropeçando pelo sono. Ele arrumou as camas, tomou
um banho demorado e estranhou ao ver Jungkook parado no meio do quarto
com um sorriso acanhado nos lábios quando saiu do banheiro.
— O que foi, Jungkookie? – se preocupou.

— Hm... – o garoto abaixou o olhar. Hoseok estava de toalha e isso o


deixava desconfortável. Os ombros ainda estavam úmidos e com uma toalha
menor o mais velho secava os cabelos alaranjados. – Feliz aniversário,
Hobi-hyung! – ele se curvou e Hoseok sorriu.

— Ah! Isso. Pare de se curvar assim, já te disse. Obrigado, Jungkookie! –


sorriu.

— Eu quero convidar o hyung para almoçar comigo! Como um presente de


aniversário. – coçou a nuca e o mais velho franziu o cenho.

— Almoçar? Que horas são?

— Quase uma da tarde, hyung.

— Caralho! Puta merda! – correu até a cama para pegar o celular. – Merda!
– Hobi conectou-o ao carregador antes de sentar na cama. – Deixa eu me
arrumar rapidinho e vou almoçar com você, 'tá bom?

— Tá bom, hyung! – a felicidade o garoto fez Hobi rir. – Eu peguei o meu


primeiro salário ontem.

— Está gostando de trabalhar lá?

Hoseok ficou de pé e foi até o pequeno closet, à procura de uma cueca limpa
e roupas quentes. Jungkook ficou parado no mesmo lugar sem saber direito o
que fazer com a missão dada por Seokjin. Deveria tirar Hobi de casa até que
os mais velhos organizassem a surpresa e isso não seria nenhum sacrifício,
Hoseok era divertido.

— Estou sim. É legal.

— O bom é que te sobra tempo pra estudar... – ele continuou falando, mas a
atenção de Jungkook foi completamente atraída para a cama de solteiro
embaixo da janela grande. Muito arrumada, cheia de travesseiros e com uma
regata preta jogada sobre um deles.
Era a cama de Jimin.

Ele caminhou até ela e passou a ponta dos dedos pela madeira da cabeceira
bonita ocupada por inúmeros mangás de One Piece, contornando os
pequenos relevos decorativos de cada um deles. A camisa estava bem perto,
muito perto e ficaria tudo bem se Jungkook não tivesse a mania de cheirar
tudo que lhe parece interessante.

Espiou dentro do closet, conseguiu ver as costas nuas de Hoseok e por isso
pegou a regata com a mão direita para se aproximar do nariz e mergulhar.
Não era algo maldoso, ele de verdade não pensava assim, mas estava
curioso sobre o cheiro de Jimin ali. Já havia sentido antes, mas não como
gostaria.

Como sua curiosidade mandava.

Se algumas pessoas definiam as outras por conversas ou primeiras


impressões, Jungkook as definia pelo cheiro.

Ele fungou mais forte e o cheiro era tão bom que o fez querer sentir mais.
Forte, amadeirado com notas metálicas que faziam cócegas na ponta do
nariz. O garoto segurou a regata com as duas mãos e praticamente mergulhou
o nariz em meio ao algodão tingido.

Bem, para ele não era algo maldoso ou estranho, mas para Hoseok a cena era
completamente esquisita.

— Hm. Você quer ficar sozinho com a roupa do Jimin?

O pulo de Jungkook fez Hobi gritar de susto. Então, o garoto gritou também e
os dois gritavam sem parar até Seokjin surgir na porta do quarto com uma
frigideira em mãos pronto para atacar qualquer coisa.

— CADÊ?! – olhou ao redor e Hoseok esfregou a palma da mão contra o


peito.

— Que susto hyung! – o mais novo largou a camisa disfarçadamente e se


afastou da cama.
— Que gritaria foi essa?! – Jin abaixou a frigideira. – É barata? Pelo amor
de deus me diz que não é barata!

— O Jungkook estava... Distraído e assustado. – Hobi fechou o jeans e


vestiu a camiseta larga e simples. – Nós vamos sair pra almoçar, hyung.

— Ah, feliz aniversário, Hobi-ah. – Jin o abraçou apertado, erguendo-o do


chão enquanto sorria. – Mais tarde vamos tomar uma bebida juntos, ok? – o
mais novo pegou também um moletom verde escuro que estava pendurada na
cabeceira de sua cama.

— Ok, hyung, obrigado. Me empresta o teu carro? – Hoseok deixou o celular


carregando e pegou a carteira sobre a cama. – Vamos, Jungkook?

— A chave está no lugar de sempre. – bateu com a frigideira na bunda dos


mais novos.

O garoto só assentiu e o seguiu para fora do quarto. A sala estava vazia, a


casa silenciosa e Hoseok até estranharia se não estivesse tão desligado de
tudo. Quando Seokjin ouviu a garagem fechar, bateu com a panela contra a
mesa de jantar e os outros quatro apareceram carregando enfeites, sacolas e
caixas pequenas.

— Como mudamos os planos por motivos que eu desconheço. – Jin arqueou


uma sobrancelha encarando Yoongi. Ele deveria distrair Hoseok, mas se
negou. – Tae ajuda o Jimin com os enfeites, Yoon e Namjoon me ajudam na
cozinha.

— Sim senhor, senhor! – Jimin brincou batendo a mão contra a testa. –


Vamos Taehyung, essas bexigas não se enchem sozinhas!

Os três mais velhos foram para a cozinha e Jimin aproveitou para despejar
sobre a mesa todos os enfeites que comprou dois dias antes. Eram flores
coloridas, faixas cheias de pequenos sóis sorridentes e bexigas de todas as
cores. Ele estranhou muito quando o mais alto não reclamou das ordens e
apenas abriu um pacote de bexigas para encher com a bomba de ar elétrica.
Tae parecia sério e cansado, o cabelo se escondia abaixo de uma toca preta
e havia olheiras que confirmavam a noite em claro.

Ele não notou quando Jimin foi até a cozinha e voltou com uma duas latas
pequenas de coca, mas franziu o cenho ao ter uma oferecida a si.

— Aqui, o Jin não vai deixar a gente beber cedo assim. – rolou os olhos. –
Vamos fingir que é algo alcoólico e bancar àqueles caras que desabafam num
boteco.

Taehyung pegou a lata e abriu. Os dois sentaram sobre o carpete limpo.

— Não dá pra ouvir da cozinha.

— O que te faz pensar que eu vou te falar alguma coisa?

— Prefere remoer sozinho? – Jimin bebeu dois goles da bebida gelada. –


São quase duas da tarde e você não fez nenhum comentário ácido ainda...
Também não chegou perto do Yoongi-hyung.

— O que você tem de pequeno também tem de enxerido. – encheu a primeira


bexiga e deu um nó.

— Vai tomar no cu. – reclamou e passou a procurar pelas letras coloridas


que formavam o nome do aniversariante. – O que aflige o seu coração?

— Não é problema seu, Jimin. – suspirou. – Acordei de mau humor.

— Certo, vamos fazer isso do jeito grosseiro. – rolou os olhos. – Eu sei que
eles se beijaram, o meu sono é leve e o Yoongi-hyung saiu tropeçando feito
bêbado quando percebeu o que tinha rolado. Ele te falou sobre o beijo?

— Hm. E se eu não estivesse sabendo? Você teria entregado os dois agora.

— Eu sei. – deu de ombros. – Mas eu sei que você sabe, Tae.

— Como? – franziu o cenho.


— Tem alguma coisa aqui. – Jimin gesticulou no espaço entre eles. – Entre a
gente, você não sente? E é super estranho! Nunca me dei bem com os
capricornianos... Não rola os olhos para a minha astrologia.

— Eu sinto. – sorriu um pouco. – Não acredito nessas merdas de signos, mas


eu acredito em você. Mesmo sem saber o porquê. – suspirou de novo. –
Yoongi não me contou nada, eu vi. Sem querer, ia te avisar sobre comer suas
frutas...

— De novo?! – apontou um S para ele como se fosse uma arma. – Amanhã


mesmo a gente vai comprar as minhas frutas, entendeu?! São da minha dieta.

— Dieta? Por que você faz dieta? – sorriu ladino e mordiscou o lábio
inferior. – Você é gostoso pra caralho.

— Como você pode ter tanta certeza? – arqueou as sobrancelhas e sorriu. –


Você precisa comer pra saber se alguma coisa é gostosa, Taehyung. – eles se
encararam enquanto sorriam e Jimin sacudiu o rosto duas vezes. – Mantenha
o foco Park Jimin! Anda, fala logo!

— Eu não tenho o que falar, cara.

— Você gosta do Yoongi-hyung? Digo gostar mesmo.

— Eu gosto de ficar com ele, de conversar e tal. – gesticulou. – Eu gosto do


quanto ele parece livre comigo. – deu nó na sexta bexiga e bebeu mais da
coca. – Não sei explicar isso, mas ele parece sempre tão cuidado com tudo,
mas quando a gente fica... É diferente.

— Hm. Tipo, quando vocês transam?

— A gente não transou ainda. – murmurou. Jimin ficou confuso e piscou


algumas vezes.

— Por que não? Tae, eu sinto a tensão sexual entre vocês de longe!

— A gente fez umas coisas... Yoongi tem uma boca maravilhosa...


— Boca de veludo. – riu e Taehyung atirou uma bexiga vazia na cara dele. –
Eu menti?!

— Nem quero saber como você chegou a essa conclusão.

— Bons tempos. – suspirou. – Foco, Jimin! Ok, agora me diz, o que rolou
entre os hyungs te deixou triste?

— Que?! Triste?! Por que eu ficaria triste?

— Não se faça de sonso pra cima de mim. Esqueceu que eu sei sobre seus
encontros noturnos com Hobi-hyung na lavanderia?

— Só aconteceu uma vez e não aconteceu nada entre nós dois.

— Porque ele não quis. – provocou e o mais alto o encarou bem sério. – Eu
não 'tô nesse mundo pra julgar alguém, mas eu acho que você não deveria
provocar o Hobi-hyung, Tae. – ia ser interrompido, mas gesticulou para que
o mais novo esperasse. – Me escuta primeiro, ok?

— Ok. – rolou os olhos.

— O que rola entre você e o Yoongi-hyung é legal, eu sei que ele gosta muito
de ficar contigo...

— Gosta tanto que estava pegando o Hoseok de madrugada.

— Essa situação é muito complicada, eu sei disso. Aqueles dois são


complicados e eu até agora estou me perguntando por que fizeram aquilo de
se beijar outra vez.

— Outra vez?

Jimin fechou os olhos e estapeou a própria coxa frustrado por falar demais.

— Puta que pariu! – resmungou. – Tae, presta atenção, ok? O que não existe
entre os hyungs é muito complicado e não precisa te atingir! Se você gosta de
ficar com o Yoongi-hyung e-
— O Yoongi estava brincando com a minha cara, é isso? Por que eu
perguntei pra ele se havia algo entre eles dois, Jimin! Eu perguntei e ele me
veio com o papinho de meu melhor amigo e não sei o que! Ele acha que eu
sou idiota?!

— Não! Porra, você 'tá entendendo tudo errado.

— Errado?! Eu não sou santo nem nada, mas ele poderia ter me dito a
verdade quando eu perguntei. Porra, eu odeio mentiras. Ele quer o que?
Ficar com os dois? Comigo e com o Hoseok?

— Por que está sendo tão dramático? Você queria fazer a mesma coisa!

Jimin acusou e Taehyung se calou. Não conseguiu manter o olhar por muito
tempo, continuou enchendo as bexigas de látex, fazendo os nós apertados e
as jogando para o meio da sala de estar.

— Nós somos humanos, Tae. – começou baixinho, num tom de voz gentil. –
A gente passa mais da metade da nossa vida errando. A gente tem atitudes
que parecem certas até quando alguém faz a mesma coisa com a gente...
Nesse caso, eu tenho certeza que o Yoongi-hyung não fez de propósito... Mas
você estava fazendo.

— Eu não sou uma pessoa boa, Jimin.

— Claro que você é. – sorriu. – Jungkookie me contou que você o defendeu


quando o Namjoon-hyung foi grosseiro, você ajuda sempre o Jin-hyung
quando ele precisa cozinhar... Você me trata bem.

— Ser uma pessoa ruim não é como ser ruim o tempo todo.

— Posso te perguntar uma coisa? – Tae assentiu. – Por que você quer ser
mau com o Hoseok-hyung?

Jimin já havia separado as letras que compunham o nome de Hoseok e foi


sobre elas que o olhar de Taehyung caiu. Colorido demais, cheio de detalhes
perfeitamente encaixados, do tamanho certo. Perfeito.
E era isso mesmo que ele não soubesse ainda como expressar, mas aquela
perfeição na qual Hoseok se enquadra o enfurecia demais.

Eram como água e óleo; opostos; insolúveis; diferentes.

Sempre sorrindo, rodeado de amigos e colegas, o centro das atenções, multi


talentoso, bonito, simpático, prestativo e aluno modelo... Tudo aquilo que
sua família esperava que ele também fosse, tudo aquilo que ele chegou tanto
a se esforçar pra ser e fracassava vez atrás de vez.

Enquanto Yoongi o fazia sentir em paz, Hoseok o fazia sentir no inferno.

— Porque ele é perfeito, mas não existem pessoas perfeitas.

— Hobi-hyung não é perfeito, Tae.

— É arrogante, marrento e insuportável. – atirou outra bexiga para a sala


com um tapa. – Mas fica bancando o cara perfeito com aquele sorriso... Eu
quero arrancar aquele sorriso prepotente da cara dele.

— Por quê? – tentou de novo.

— Porque ele é tudo que eu deveria ser. – sorriu sem humor e Jimin
suspirou.

— Quero te dizer isso outra vez, mas eu sei que você não vai me ouvir.
Taehyung, o que aconteceu entre os hyungs não deve atrapalhar o que você
tem com Yoongi-hyung, ele realmente gosta de você. E, eu 'tô falando sério,
não mexa com o Hoseok-hyung.

— Ainda bem que você sabe que eu não vou te ouvir. – deu de ombros. – Se
o Yoongi pode brincar com nós dois, eu não vejo problema nenhum em
continuar com a minha brincadeira também.

Jimin assentiu e mudou de assunto.


Depois de entregar o cardápio para um garçom muito educado, Hoseok
apoiou os braços sobre a mesa de madeira e encarou Jungkook com os olhos
bem estreitos. O mais novo abaixou o rosto e Hobi sorriu.

— Eu não vou te perguntar nada, Jungkook. Relaxa.

— O hyung deve me achar estranho.

— Só um pouquinho. – mostrou os dedos e o mais novo sorriu.

— Muita gente me acha estranho. – passou a brincar com um dos


guardanapos abaixo do copo de água gelada. – Eu acho que sou estranho.

— Eu também me acho estranho. Todo mundo é um pouco estranho.

— Tenho rinite. – começou e Hobi assentiu confuso. – O meu olfato é muito


sensível e eu tenho essa mania de cheirar as coisas, sabe?

— Por isso usa aqueles produtos de bebê? – o garoto assentiu. – Eu me


acaricio enquanto durmo, e isso é muito esquisito. – deu de ombros.

Jungkook sorriu e o garçom voltou à mesa para servir os refrigerantes de


ambos.

— Obrigado, Hobi-hyung.

— De nada. Mas porque está me agradecendo? Eu que te agradeço pelo


convite. – sorriu.

— O hyung sempre me faz sentir normal.

— Jungkook, você é normal, para de dizer isso. Enfim, me diga, porque você
se acha anormal? – entrelaçou os dedos e apoiou o queixo sobre eles.

— Eu... Eu...

— Está tudo bem se não quiser falar, você sabe que eu não vou te pressionar
nunca, mas eu gostaria de saber o que te segura tanto, Jungoo.
— Me segura? Como assim?

— Você mora na mesma casa que eu há mais de um mês e só toma banho


quando ninguém está acordado, nunca te vejo à vontade, sabe? Sempre cheio
de roupas, sempre sentado no lugar mais distante do sofá. Fica sem graça
quando vê um de nós sem camisa, sai quando a gente começa a falar de
sexo... – cantarolou a última palavra e Jungkook corou até as orelhas. – Fica
sempre vermelhinho assim. – brincou. – Você é muito fofo. Eu me preocupo,
não quero que sempre se sinta desconfortável na casa onde mora.

— Hyung... – coçou a nuca e olhou ao redor antes de se curvar um pouquinho


para frente, encarando Hoseok. – Eu sou virgem.

— Eu sou aquariano. – Hobi assentiu. – Mas o Jimin entende mais disso e-

— Não, hyung... – suspirou. – Eu sou virgem... Eu nunca fiz... Sexo.

— Ah.

O silêncio deixou ambos pensativos. Jungkook voltou a brincar com o


guardanapo e Hoseok coçou o cabelo.

— Por falta de oportunidade ou por falta de vontade? Você segue aquele


negócio de "escolhi esperar"?

— Um pouco disso tudo aí. – gesticulou. – No colégio eu sempre me sentia


desconfortável nas aulas de saúde, ou quando tinha de tomar banho na frente
dos outros garotos. – ele falava, mas o rosto continuava baixo. – Uma vez eu
chorei muito pra não participar mais das aulas de educação física por causa
dos banhos no vestiário, então meu appa me levou a uma psicóloga por
recomendação do professor. – ele arrancou um pedaço de papel e fez uma
bolinha. – Eu sou demissexual.

— Ah. – repetiu e tentou puxar na mente a definição daquela classificação,


mas para não falar besteira decidiu perguntar. – Pode me explicar melhor?
Se estiver confortável sobre isso.
— É um tipo de zona cinza dentro da escala assexual. A psicóloga me disse
que eu só vou sentir atração por outra pessoa se antes desenvolver algum
laço emocional, afetivo ou intelectual com ela. – ergueu os olhos grandes
para observar o mais velho. Jungkook parecia assustado e constrangido. –
Mas eu sou homem, hyung.

— E?

— E as pessoas esperam um comportamento diferente, não é? Esperam que


eu seja como os hyungs são.

— Como nós somos?

— Normais.

Hobi encarou bem o garoto diante de si e foi como um soco no estômago.


Logo ele ouvir aquilo sobre normalidade, logo ele que vivia sob a pressão
familiar para ser normal e Jungkook lhe parecia completamente perdido em
busca de ser como ele, de se comportar como ele.

O mais velho respirou fundo e esticou o braço até bagunçar os cabelos lisos
do mais novo.

— Você é incrível do seu jeitinho, ok? Pra muita gente nenhum de nós é
normal, Jungkook. Eu sou gay e isso não é algo bem visto na sociedade...
Sem contar o meu baseado de cada dia. Eu não sou perfeito e nem você
precisa ser. – sorriu. – Quer falar mais? – o garoto assentiu. – Fala.

— Nunca beijei. – negou envergonhado. – Eu vou fazer vinte anos e nunca


beijei.

— O primeiro beijo é algo especial, se não aconteceu é porque o momento


especial ainda não chegou.

— Como foi o seu primeiro beijo, hyung?

— Uma porcaria. – os dois riram. – Na época eu ainda fingia ser hétero e a


garota também nunca tinha beijado. Um resumo: dava pra nadar em tanta
saliva. – a careta do mais novo foi engraçada.
— E sua primeira vez?

— Dolorida. – bebeu do refrigerante de limão. – Primeiro eu fui passivo. –


explicou e sorriu. – Precisa parar de ficar tão vermelho, você quem
perguntou.

— Estou tentando hyung! – ralhou e esfregou o rosto.

— Depois fui ativo e gozei em menos de cinco minutos, uma vergonha. –


negou. – Hoje em dia não tenho mais esses problemas.

— Nunca fez isso com uma mulher?

— Eu tentei, não deu certo. Não consigo, não sobe de jeito nenhum. –
Jungkook riu baixinho.

— Quando teve certeza que é gay?

— Por que me pergunta isso? – arqueou uma sobrancelha. Jungkook fez um


bico engraçado e desviou o olhar. – Você é demissexual e nunca sentiu
atração por outra pessoa? – ele assentiu. – Então, como você sabe que é
hétero? – não teve respostas e suspirou. – Você acha que é hétero porque ser
hétero é normal?

— Hyung... – lamentou e assentiu. – Desculpa.

— Por que está se desculpando?

— Porque eu pareço homofóbico.

— Você não é homofóbico, não diz isso nunca mais ok? – o mais novo
assentiu. – Você só não entende e está tudo bem, as coisas vão te acontecer
no teu tempo e ponto. Jungkook você é um cara lindo, esforçado, inteligente e
qualquer pessoa no mundo que te fizer sentir amor vai ser muito sortuda...

— Eu gosto muito dessa palavra hyung. – sorriu.

— Qual?
— Pessoa. – repetiu devagar. – É como o Jimin-hyung diz não é? Que ele
gosta de pessoas?

— Uhum. – bagunçou o cabelo dele outra vez. – Pessoas.

Os dois ajeitaram a postura quando os pratos foram servidos. Hoseok


espetou um camarão com o garfo e o colocou na boca, Jungkook observou a
massa no próprio prato e sorriu sozinho.

— Hyung?

— Hm?

— Obrigado.

Seokjin experimentou a carne e mastigou devagar para conseguir sentir o


sabor.

— Yoongi, coloca mais sal. Só um pouquinho.

— Ok, hyung. – ele assentiu e buscou pelo pote de sal dentro do armário.
Chegou a separar um pouco com os dedos, mas antes de colocar sobre a
carne Namjoon segurou-o pelo pulso e afastou da panela. – O que?

— Isso é açúcar, hyung. – apontou para o pote.

— Certo. – Jin colocou a colher de pau sobre a pia e cruzou os braços. –


Pode me dizer agora o que está acontecendo, Min Yoongi.

— Não está acontecendo nada. – ralhou e lambeu os dedos sujos de açúcar,


guardando o pote no lugar.

— Namjoon acabou de te mostrar que trocou sal por açúcar. O Namjoon! –


apontou pro mais alto. – Ele nem sabe a diferença se não estiver escrito na
embalagem!
— Mas que porra! Todo mundo dessa casa resolveu me arrasar! – Namjoon
choramingou.

— Continue cortando as cebolas. – os dois mais velhos falaram ao mesmo


tempo. Ele suspirou e assentiu.

— O que você tem Gi? – Jin falou de forma carinhosa. – O que foi?

— Hyung... – Yoongi respirou profundamente. – Eu fiz merda.

— Uma merda que pode te levar preso? Se for isso o Namjoon pode te
ajudar.

— Não envolve nada civil. – o mais velho suspirou aliviado e Namjoon


sorriu. – Eu beijei o Hobi.

Os outros dois arregalaram os olhos e o encararam como se uma segunda


cabeça estivesse nascendo em Yoongi. Já ele cruzou os braços e recostou o
corpo contra a geladeira inox.

— Você fez o que?!

— Ele beijou o Hoseok! – Jin respondeu a pergunta de Namjoon. – Yoongi,


porque você fez isso?!

— Eu não sei! – negou. – Eu fui até o quarto dele querendo desejar feliz
aniversário e quando eu vi...

— Porra, um presentão. – debochou e passou as mãos pelo rosto. – Mas


você não 'tá ficando com o Taehyung?!

— Hyung, pelo amor de deus, não me deixa mais pilhado!

— Ok. – suspirou. – Vamos agir com maturidade. Foi só beijo?

— O Jimin estava na cama do lado! Meu deus, Namjoon!

— E desde quando isso é empecilho dentro dessa casa?! – cruzou os braços


e Jin o olhou feio. – Eu não 'tô mentindo!
— Isso não vem ao caso agora. – voltou-se para Yoongi. – Foi por isso que
você não quis levar o Hobi pra almoçar?

— Eu não sei o que falar pra ele! Achei que ele ia dizer alguma coisa, mas
ele nem me procurou...

— Você fugiu depois de beijá-lo? – o Min assentiu. – Porra, você queria o


que? Pela segunda vez você faz a mesma coisa, Yoongi!

— O que eu ia dizer pra ele?!

— Dizer alguma coisa é melhor que dizer nada. – Namjoon murmurou e


voltou a cortar suas cebolas roxas. Jin encarou as costas largas dentro da
regata vermelha e quis perguntar o que ele sugeriu ao dizer aquilo. Mas
Namjoon precisava deixar de ser importante em sua vida.

— Resolva isso Yoongi. Sério, resolve de uma vez. Ninguém aqui é criança
e você envolveu uma terceira pessoa porque está ficando com o Tae...

— Parece até que eu casei com ele. – rolou os olhos. – A gente só fica. Só
isso. Ninguém nunca falou sobre exclusividade e-

Jin arregalou os olhos e Yoongi xingou baixinho antes de se virar e ver Jimin
e Taehyung perto. O mais baixo olhou ao redor completamente constrangido
e o mais alto só assentiu.

— A gente precisa do Namjoon pra pendurar as bexigas no teto. – Jimin


girou a tesoura no polegar. – Eu tenho medo de subir naquela escada safada
que o Hobi-hyung comprou e o Taehyung tem labirintite, doença de velho.

— Cala a boca. – Tae o empurrou e riu. – Dá pra ajudar a gente, Namjoon-


hyung?

— Já terminei com as cebolas, hyung. – Namjoon foi até a pia para lavar as
mãos e Jin apenas assentiu.

— Tae... A gente pode-


— Relaxa Yoongi. – deu de ombros. – Eu já entendi. – ele piscou e saiu da
cozinha.

— Eu tô com o pressentimento que essa festa vai virar velório.

Seokjin suspirou e voltou sua atenção para a panela quente.

— SURPRESAAAAA!

Hoseok gritou pelo susto e tropeçou tombando pra cima do sofá menor. Jimin
ria tanto que Yoongi teve de pegar o bolo pequeno de suas mãos e Jungkook
ajudou o aniversariante a ficar de pé.

— Caralho, que susto! – Hobi riu meio nervoso e soprou as velas coloridas
enquanto levava tapas doloridos de Namjoon e Seokjin nas costas. – Quando
vocês fizeram isso?

— É muito fácil te distrair, Hobi-hyung. – Jimin se aproximou e o abraçou


apertado, deixando um beijinho carinhoso no pescoço cheiroso. Depois o
encarou e sorriu. – Tenho um presente pro hyung.

— Eu tenho muito interesse nesse presente. – Hoseok apertou a cintura fina


do mais novo.

— Seu safado! Eu te comprei baquetas novas! – se afastou e deu um tapa no


braço dele. – Nessa casa só tem tarado, vou me mudar. – saiu resmungando.

— Feliz aniversário. – Namjoon estendeu um embrulho grande e pesado a


Hobi. – Espero que goste. – o abraço não foi muito demorado, mas os dois
sorriam.

— Obrigado, bro.

— Aqui, para com essa coisa hétero. – Jin empurrou Namjoon para o lado e
estendeu seu presente embrulhado em papel rosa pastel. – Se não couber
pode trocar em até sete dias. – o abraçou também.
— Obrigado, hyung. Com certeza vai ficar bom.

Hoseok colocou os presentes sobre a mesa e tirou do corpo o moletom


pesado. Ele estava o amarrando na cintura quando seus olhos caíram em
Taehyung recostado ao portal da sala de estar com os braços cruzados. Um
sorriso provocador brincava em seus lábios.

— Feliz aniversário. De novo. – a voz baixa de Yoongi o fez desviar o olhar.


– Aqui. É o seu favorito.

— Obrigado, Yoon. – ele segurou o bolo com ambas às mãos e aproveitou


para raspar o polegar por toda a cobertura só pra lamber devagar depois. –
Você tá legal?

— Uhum. – assentiu. – E você? – puxando as mangas da camiseta para cobrir


as mãos, Yoongi não conseguia manter o sorriso nervoso nos lábios.

— Também. – deu de ombros.

Taehyung, que assistia a cena em silêncio, negou e rolou os olhos antes de


sair de perto em busca de uma bebida forte o suficiente para derrubá-lo.

Minutos depois, quando o aniversariante voltou para a sala de estar de banho


tomado e com roupas confortáveis, Namjoon já havia ligado o som e a voz
de Kendrick Lamar enchia o ambiente sem exageros desde que ainda era
quinta feira.

Jimin, Jungkook e Taehyung brincavam de virar doses de soju mais rápido;


Seokjin se aproximou deles e segurou dois copinhos entre os dedos longos,
virando-os de uma vez só na boca, sem desperdiçar uma gota. O Park gritou
e bateu palmas.

— Crianças, por favor, aprendam com adultos. – o mais velho serviu mais
quatro doses e eles brindaram. – Jungkook, eu não tinha idéia que você
gostava de beber. – comentou depois de sentar sobre o balcão de mármore
escuro.
— A minha família bebe muito. – o garoto colocou o copinho sobre o
mármore. – Mas eu não bebo sempre.

— Jimin também bebe. Bebe até demais... Deve ser coisa de quem nasce em
Busan.

— Jungkookie está aprendendo com o hyung, não é? – Jimin o abraçou pelo


ombro e o garoto ficou nervoso, assentiu sem parar e arregalou os olhos. –
Ele é tão fofo.

Taehyung estreitou o olhar e segurou a risada.

— Hobi, está com fome? – Jin perguntou assim que o viu entrar na cozinha.

— Eu ainda me sinto cheio pelo almoço, hyung.

— Não quero ninguém bebendo de estômago vazio. Se vomitar vai limpar,


sabem as regras. – bebeu mais uma dose e desceu do balcão. – Vamos, quero
comer bolo.

Mais de uma hora depois, quando todos eles já haviam passado um pouco da
linha da embriaguez, as vozes estavam mais altas e o volume da música
também. Era algo que gostavam de fazer, mesmo com as festas e todos os
eventos que a vida universitária proporciona aos garotos da república sete,
eles sempre preferiam estar apenas entre a companhia deles mesmos.
Bebendo, compartilhando histórias, escrevendo novas.

E até mesmo Taehyung que de longe era o que mais se mostrava resistente a
essa intimidade não conseguia resistir à sensação de familiaridade que os
outros lhe causavam. Era como nadar contra a correnteza e a cada dia
parecia mais certo só a deixar levá-lo.

Por isso ele sorriu mais quando viu Jimin se achegar para seu lado,
movimentando o corpo de acordo com as batidas da música de hip hop que
Namjoon parecia escolher tão bem. Tae abriu as pernas e Jimin dançou entre
elas, girando o corpo enquanto erguia a garrafa verde e pequena de cerveja.

— Sua bunda é incrível – elogiou quando o menor ficou de frente a ele.


— A sua também é. – Jimin sentou sobre a coxa dele e o deu de beber da
própria garrafa. – Por que está aqui isolado?

— Não estou isolado, estou refletindo. – lambeu os lábios. A mão grande foi
até o cabelo de Jimin para soltá-lo do coque, deixando os cair ao redor do
rosto bonito. – O garoto não sabe disfarçar. – sussurrou e Jimin franziu o
cenho. Os olhos de Tae encararam algo à direita e ele entendeu, logo fazendo
o mesmo de forma discreta.

Jungkook os encarava de cinco em cinco segundos, o rótulo da garrafa de


cerveja era arrancado pelos dedos nervosos e não parecia nada atento ao
que Hoseok o falava. Jimin estranhou e encarou Tae outra vez.

— Como assim?

— Ele é não é hétero, eu tenho certeza. – bebeu do líquido que preenchia o


seu copo. – Eu acho que ele é afim de você, Jiminie.

— O quê?! – olhou para o garoto de novo. – Por que acha isso?

— Sei lá. – deu de ombros. – Eu só acho.

— Atenção! – Jin ficou de pé e subiu na poltrona erguendo o copo que lhe


pertencia. – Atenção aqui!

— Cuidado hyung. – Namjoon chegou perto, temia que o mais velho caísse.

— Quero uma cerimônia de iniciação. – anunciou e Jimin começou a rir.

— Quer o que? – Taehyung estranhou.

— Ritual de iniciação. – explicou enquanto sorria. – Eu, como o mais velho,


preciso iniciar os novatos. – apontou para ele e Jungkook.

— Ele quer beijar vocês. – Jimin sussurrou no ouvido de Tae e o mais alto
se arrepiou.

— Jin-hyung, o Jungkook não precisa-


— Tudo bem, hyung. – murmurou apenas para Hoseok ouvir. Ele o encarou
com a seriedade que o álcool permitia e suspirou.

— Ele vai te beijar. – informou e o mais novo arregalou os olhos. – Jin-


hyung, o Jungkook não-

— Não! – o mais novo negou e respirou fundo. – Eu beijo.

— Você não precisa fazer isso...

— Ora essa! Até parece que é um sacrifício me beijar! – Jin se ofendeu.

Jungkook estava bêbado, ele riu fraco e falou sem pensar:

— É que eu nunca beijei ninguém hyung!

Todos os cinco pares de olhos ficaram encarando como se esperassem uma


correção a frase, mas o garoto começou a rir nervoso e Hoseok quis rir
também.

— Ele nunca beijou, Jin-hyung. – explicou.

— Por quê?! – Jimin saiu do colo de Tae. – Tipo, olha pra ele!

— Cada pessoa tem o seu tempo, Jiminie. – Yoongi sorriu e afagou o cabelo
de Jungkook. – Tem certeza? É o seu primeiro beijo.

— Ele vai beijar um homem mundialmente lindo.

— Você não é hétero, garoto? – Namjoon cruzou os braços.

— Eu... Hm... Não... Não sei... Eu...

— Hey, relaxa. – Jin se aproximou dele e tocou o rosto bonito com carinho.
– O hyung vai ser bom pra você, ok?

— Ok.
Ele parecia hipnotizado pelo olhar de Seokjin, pelo toque que a mão fazia
em sua pele. Engoliu à seco quando ele chegou mais perto, apertou os olhos
pelo nervoso e Jin sorriu.

Os outros assistiam a cena como se fosse algo imperdível.

Jin selou os lábios de Jungkook com cuidado e depois se afastou um


pouquinho só para observá-lo lambê-los em busca de sabor. Jungkook
parecia adorável.

— Abra os lábios, JK. – sussurrou e o garoto o fez, soltando o ar quente, o


hálito alcoólico. – Bom menino.

Então, o beijou de verdade. Prendeu o lábio inferior do mais novo entre os


dele e sugou antes de empurrar a própria língua para dentro da boca dele,
buscando a alheia que timidamente aceitou o contato. A mão de Jin adentrou
o cabelo da nuca de Jungkook, acariciou para relaxá-lo mais.

A mente do garoto estava confusa demais, o corpo parecia não reagir direito
ao estímulo e mesmo sendo estranho, não o fazia sentir desconfortável. O
beijo era bom, aquele contato novo lhe causava euforia, as mãos nervosas
seguraram a camisa do hyung e ele continuou de olhos fechados quando
acabou, um bico adorável nos lábios vermelhinhos.

Hoseok assoviou e Yoongi bateu palmas.

— Você beija bem pra quem nunca beijou na vida. – Jin lambeu os lábios e
passou o polegar pelos lábios de Jungkook, os limpando. – Gostou?

— Uhum. – assentiu envergonhado. Hoseok o abraçou pelo ombro e deixou


um beijinho na testa dele.

— Tudo bem? – sussurrou e o mais novo assentiu. – Por favor, não pire
amanhã quando acordar ok? Mas se você pirar, me procure.

Jimin encarava tudo sem piscar, mas um sorriso cheio de segundas intenções
puxou seus lábios quando Jungkook o encarou.
— Sua vez, Taetae. – Jin deixou o copo na mão de Namjoon, nem olhou pro
rosto dele, mas se dirigiu a Taehyung sorrindo. – Contigo eu não preciso ser
suave.

— Eu faço questão que não seja.

Jin o puxou pela nuca e Tae o abraçou pela cintura, as bocas se chocaram
enquanto ainda sorriam, os dentes do mais novo puxaram o lábio inferior do
mais velho e eles se beijaram completamente oposto ao que fora entre Jin e
Jungkook.

Hoseok desviou o olhar e Yoongi fechou a expressão. Um bolo se formou em


sua garganta e era amargo demais.

O beijo continuava acontecendo, os rostos se movendo pro encaixe, os


braços tatuados de Tae se apertando ao redor da cintura de Seokjin, a mão
direita descendo até espalmar a lombar sobre a camisa branca. Eles
pareciam em outro mundo.

Porém o que quase ninguém notou, mas ainda assim aconteceu, foi o fato de
Namjoon virar os dois copos de bebidas com raiva.

Era evidente a química entre Tae e Jin, mas ela também pareceu perigosa.

— WOW! – Jimin gritou e bateu palmas.

Os que se beijavam se separaram com sorrisos nos lábios vermelhos, Tae


ajeitou o piercing e Jin secou a boca com as costas da mão.

— Agora sim a festa começa! – Jin riu. – Bem vindos! Aumenta essa música
Namjoon.

Ele obedeceu e saiu da sala puxando Jimin pela mão, em direção ao


corredor que dava para a lavanderia. Jungkook, sem saber o porquê, não
gostou disso.

Jin puxou Hoseok para o meio da sala e começou uma dança estranha que fez
o mais novo gargalhar e começar a dançar com ele. Yoongi sentou na
poltrona maior e aceitou outra cerveja que lhe foi oferecida por Jungkook.
— Dança comigo. – Tae puxou-o sem dar tempo de negar, mas o garoto ficou
sem saber o que fazer quando o outro praticamente lhe virou de costas e
começou a dançar atrás de si. – Relaxa. – Taehyung sussurrou e o segurou
pelos quadris. – Olhe só esses quadris bonitos, você consegue mexer com
eles? Aposto que o Jiminie gostaria de vê-los dançando.

— Mas ele 'tá com o Namjoon-ssi. – lamentou sem notar que dera a
Taehyung exatamente o que ele queria. O mais velho sorriu.

— Não gosta de vê-lo com o Namjoon? – Jungkook apenas negou uma vez.

— Eu não sei, Tae-hyung. – foi virado até estar de frente ao outro. – Não sei
o que 'tá acontecendo.

— Você sente alguma coisa quando me vê com o Yoongi? – o garoto negou. –


Quando ficou sabendo que Jin-hyung e o Namjoon ficavam, sentiu algo?

— Não.

— Se fosse o Hoseok, sentiria algo?

— Também não.

— Mas sente quando é o Jimin?

— Uhum. – assentiu. – Por que eu sinto?

— O que você sente, Jungkook?

— Eu sinto que não gosto, mas eu não sei o motivo de não gostar. – fez
careta. – Acho que vou dormir, hyung.

— Você deveria. – assentiu. – Sobe, toma um banho e dorme. – deu um


tapinha no ombro dele. – Você bebeu demais.

— Tá bom, hyung. – ele entregou a garrafa a Taehyung e foi em direção às


escadas.
Hoseok deixou Seokjin dançando sozinho para acender um baseado no canto
da sala e enquanto encarava as costas dele, Tae sorriu e decidiu que era à
hora agir. Yoongi parecia alheio a tudo enquanto mexia no celular, Hobi
sentou na poltrona oposta, deitando a cabeça no encosto para soprar a
fumaça pro alto e não notou quando o mais novo se aproximou até que ele
tocasse com a ponta do dedo em seu queixo.

O encarou e rolou os olhos.

— O que você quer?

— Também tenho um presente pra você. – sorriu.

— Não quero nada de você. – tragou demoradamente e tossiu.

— Vou te conceder uma dança.

— Claro que vai. Porque você é apenas uma camponesa pura. – liberou a
fumaça pelo nariz e boca. – Não fode, Taehyung.

— Hm, parece até que você tem medo de chegar perto de mim, hyung. –
provocou. – Tudo bem, eu respeito o seu medo.

Hoseok o encarou de baixo e sorriu ladino antes de ficar de pé, com o nariz
quase tocando o nariz de Taehyung levou o cigarro até os lábios e o deixou
ali enquanto encaixava ambas as mãos nos quadris do garoto para virá-lo de
costas para si. Hobi o empurrou até o meio da sala ao mesmo tempo em que
uma música mais agitava saia pelas pequenas caixinhas de som do home.

O mais novo sorriu quando o sentiu encostar completamente a seu corpo,


quando o sentiu mover os quadris devagar levando os seus próprios juntos.
A mão direita de Hobi o soltou para segurar o baseado entre os dedos, ele
soprou a fumaça para o lado e com a mesma mão enforcou o pescoço de Tae
por trás, tomando cuidado com o cigarro o forçou um pouco até curvar a
coluna dele.

O encaixando onde queria: com a bunda em cima do pau dele.


Tae rebolou um pouco, seguindo o ritmo da música e Hoseok rebolou
também, os movimentos da dança simulavam coisas demais... Coisas essas
que afetam Yoongi diretamente.

Ele não ia prestar atenção, tentou muito manter os olhos na rede social onde
procurava qualquer coisa interessante, mas Taehyung estava de frente para si
e não era impressão, não era algo sem querer!

Taehyung olhava pra ele.

Enquanto esfregava o corpo contra Hoseok.

O mais novo sorriu e mordeu o piercing antes de apoiar as mãos nos joelhos
e rebolar devagarzinho junto dos quadris soltos de Hobi.

Seokjin via tudo em silêncio, mas um semblante preocupado tomava conta de


seu rosto.

A mão ao redor do pescoço de Tae se apertou mais, Hobi o fez ficar parado
enquanto simulava estocadas ritmadas enquanto os quadris batiam contra ele.
Tragou do baseado quando o mais novo ajeitou a postura e ficou de frente
para si. O agarrou pela cintura, a outra mão cuidadosa se mantendo longe;
Tae o abraçou pelo pescoço e colocou o corpo ao dele, colou as testas e
lambeu os lábios enquanto ambos ondulavam o corpo devagar, esfregando
tudo que podiam numa necessidade doida de contato.

Uma das mãos de Tae procurou pelo pulso de Hobi, os dedos brincaram com
as pulseiras e depois capturaram o cigarro quase no fim, ele se afastou para
trazer aos lábios, tragando lentamente enquanto os olhos de Hoseok não
saiam de seus lábios. Ele sorriu e se virou de novo, empinando o corpo
rebolando satisfeito por sentir a ereção alheia contra a própria bunda. As
mãos do mais velho agarram os quadris alheios, puxaram para si em busca
de pressão e foi só então que os olhos dele caíram em Yoongi.

No entanto, não parou.

No entanto, Yoongi não queria que ele parasse.


Muito menos Taehyung.

O mais novo soltou a fumaça e estendeu o baseado ao mais velho que aceitou
e fumou enquanto o via sorrir, movimentando o corpo junto do de Hobi.

Seokjin se perguntou que porra estava acontecendo.

Quase no fim da música, quando nenhum dos três conseguia negar que algo
diferente estava acontecendo ali, Tae se virou outra vez para Hoseok e o
abraçou pelo pescoço, prendendo o lábio inferior entre os dentes.

— Caralho, você quer muito foder comigo, não quer? – jogou as mesmas
palavras que ouvira dias antes.

Hoseok abriu a boca para responder, mas o que ele sentiu foi a língua de
Taehyung dentro dela. O beijo o deixou quase paralisado, mas não demorou
muito a corresponder.

A mão esquerda de imediato agarrou o cabelo da nuca, enchendo-se com o


mullet macio enquanto a direita junto do braço envolvia a cintura dele para
si. Tinha gosto de cerveja, bolo de aniversário e raiva.

O beijo era quase violento, as respirações se tornavam altas, as línguas


brigavam por controle da mesma forma que as mãos exigiam sentir mais,
apertar mais, mais e mais.

E Yoongi não conseguia se mover.

Ele assistia aquilo e muitas coisas aconteciam ao mesmo tempo dentro de si,
dentro da cabeça confusa e errada. Errada porque dentre todas as coisas que
deveria sentir, ela não sentia a principal!

Era confuso, intenso, hipnotizador. Era tesão, raiva, medo.

Mas não era ciúme.

Foi Taehyung quem acabou com o beijo, afastando-se e sorrindo atrevido


enquanto tentava disfarçar o quanto estava afetado com tudo aquilo. Então,
ele se virou para Yoongi e o sorriso quase vacilou.
— Eu fiquei curioso, sabe? – a voz dele parecia embargada, não se encaixa
com a expressão debochada. – Para saber como era, já que ontem você
pareceu gostar tanto enquanto o beijava naquela cama.

— Tae...

Ele apenas ergueu as mãos e negou.

Taehyung saiu daquela sala e Hoseok encarou Yoongi completamente sem


ação.

A música agora era outra, uma que falava sobre coisas que demônios fazem
e ela tragicamente se encaixava no cenário desenrolado ali. Yoongi ficou de
pé e Hoseok o bloqueou meio desesperado.

— Yoon, desculpa... – tentou tocá-lo

— "Eu não sinto nada por ele" – repetiu o que Hobi disse. – Mentiroso do
caralho!

— O que? Você vai mesmo virar essa merda pro meu lado?! O Jin também
beijou ele!

— Cala a boca, Hoseok! Você sabe que é diferente! – o empurrou pra


conseguir passar.

— Ah, então você vai fugir de novo?! Você é um covarde de merda!

— Vai se foder! – quase gritou. – Babaca!

Yoongi o deixou para trás e subiu para o quarto.

No corredor, Jimin abriu os olhos quando ouviu passos, mas Namjoon


continuou deixando beijos em seu pescoço enquanto a mão grande o
acariciava por dentro da cueca. Viu quando Taehyung passou feito um vulto,
batendo a porta da frente com força.

— Namjoon, espera...
— Não é problema nosso, Jimin... – sussurrou contra a pele macia.

— Espera! – o segurou pelos ombros. O mais velho suspirou e o encarou. –


Acho que a gente pode terminar isso depois.

— Precisa parar com essa mania de querer ajudar todo mundo. – reclamou e
se afastou. Jimin fechou a calça e ajeitou a ereção. – Não é problema nosso,
a gente já tem problemas demais!

— E se eu não conseguir resolver os meus problemas vou ajudando quem


precisa de mim. – sorriu.

— Pagando de bom samaritano pra depois socar uma escova de dente na


garganta. – rolou os olhos. – A gente não precisa de mais ninguém.

O sorriso de Jimin se desfez conforme as palavras de Namjoon saiam.

— Você é tão babaca.

— Merda. – ele apoiou os braços contra a parede e lamentou. – Desculpa, eu


não deveria ter dito isso.

— Mas você disse. – Jimin o empurrou devagar. – E eu quero que você vá se


foder. Sozinho.

O deixou ali e foi atrás de Taehyung.

Namjoon voltou para sala e encontrou Seokjin sozinho. Os dois estavam


bêbados e ele acreditou que a embriaguez serviria como uma desculpa pra
qualquer coisa. Ultimamente nada parecia ir bem para si, mas quando ele
estava com o mais velho conseguia se sentir melhor.

Aproximou-se devagar e Jin o encarou desconfiado, as defesas se erguiam


como se um alarme de emergência soasse dentro de sua cabeça. Namjoon era
como um predador, e ele precisava muito se proteger.

— O que você quer?

— Nada. – deu de ombros e ocupou o lugar que Yoongi estava antes.


— Cadê o Jimin?

— Bancando Jesus Cristo.

— Você não acredita em Jesus Cristo. – rolou os olhos.

— Ainda assim preciso assumir que ele seria muito altruísta. – Jin se
aproximou e o ofereceu o copo cheio, ele bebeu e devolveu. – Está bêbado o
suficiente pra gente ficar?

— Eu nunca precisei estar bêbado pra ficar contigo. – gesticulou. – Você


veio atrás de mim porque o Jimin te dispensou.

— Hyung...

— Não foi uma pergunta, Namjoon. Eu estou afirmando. – suspirou. – Qual é


a porra do seu problema? Você acha que eu tenho algum tipo de prêmio de
consolação?

— Eu nunca disse isso.

— Tem coisa que não precisa ser dita. – ele virou a bebida. – O mais
conflitante nessa merda toda é o fato de que você realmente gosta de ficar
comigo, eu percebo isso quando se desmancha nos meus braços. – riu sem
humor e deitou no sofá maior. – Infelizmente não vai mais acontecer.

— Infelizmente? O hyung lamenta não ficar mais comigo.

— Eu lamento.

— Por quê?

— Porque você é cara mais burro que eu já conheci. O seu QI não condiz
com a sua burrice. – Jin começou a rir e Namjoon franziu o cenho. – E eu sou
bonito demais pra isso. – suspirou.

O mais alto ficou de pé e sem rodeios montou sobre o corpo do mais velho,
espalmando as mãos na barriga firme. Jin soltou o copo vazio no chão e o
segurou pelos quadris, fazendo-o ficar parado. Eles se encaram e em
silêncio, a música baixinha deixava tudo mais intenso.

— Se lamenta assim, a gente pode parar com tudo isso de uma forma mais
digna.

— Você acha digno que eu foda com você outra vez pra amanhã e manhã o
meu coração quebrar em mais alguns pedaços? – perguntou baixo, a bebida o
deixava solto demais. – Por que você faz isso comigo?

— Porque você é o único que me faz sentir vivo.

Jin respirou fundo e passou uma das mãos pelo cabelo.

— É a última vez. – o coração, dentro do peito, se apertava demais. –


Depois disso você vai se sentir morto pelo resto da sua vida.

Os olhos de Namjoon estavam marejados, mas ele assentiu e sorriu levando


as mãos até o rosto do mais velho.

— Vamos pro meu quarto. – Jin ergueu o tronco e afundou o rosto no


pescoço dele, aspirando o cheiro que o machucava tanto.

Na garagem, Jimin encontrou Taehyung sentado entre os carros, recostado ao


pneu úmido. De olhos fechados ele beliscava a pele do antebraço até que
ficasse muito vermelha. Respirava alto, pela boca apenas.

Jimin sentou de frente pra ele afagou os ombros largos com carinho.

— Tae?

— Sai daqui! – o afastou e voltou a se beliscar.

— Eu não vou dizer nada, mas eu vou ficar aqui com você. – assegurou.

Jimin encarou o antebraço que ele beliscava, as tatuagens coloridas que


seguiam cobrindo completamente a pele cobrindo tudo. Mas relevos
imperfeitos próximos aos pulsos o deixaram curiosos para tocar, para sentir
com a ponta dos dedos as cicatrizes paralelas, umas mais grossas e outras
nem tanto.

Imperceptíveis graças às tatuagens.

— Não! – Tae se encolheu, sequer parecia o garoto atrevido de minutos


atrás. Os olhos vermelhos denunciavam o choro contido. – Sai daqui!

— Eu tenho bulimia. – sussurrou e Tae o encarou confuso. – Um segredo por


outro, ok? – os olhos dele estavam embargados. – Você quer ser o cara
fodido? Tudo bem, eu vou ser com você... Mas não vou te deixar sozinho. Eu
não consigo fazer isso.

Tae fungou e assentiu.

— Eu não quero que você consiga. Obrigado.


9 - sonhe

Eu sei que ninguém sabe


De onde vem e para onde vai
Eu sei que é o pecado de todo mundo
É preciso perder para saber vencer

Aerosmith
🌙

Eles pareciam confortáveis naquele silêncio.

Jimin sentou ao lado de Taehyung, encostou o corpo à lataria gelada


do carro e sorriu quando sentiu o maior deitar a cabeça sobre seu ombro.

O abraçou como pode, aconchegando-o contra si em busca de calor


desde que a madrugada castigava quem não estava devidamente aquecido.
Tae fechou os olhos e chorou em silêncio, aos poucos deixando de beliscar a
pele machucada o antebraço graças ao carinho que os dedos mornos de Jimin
faziam em sua nuca.

Se perguntassem a ele o motivo daquelas lágrimas, não saberia dizer


e choraria mais um pouco por causa disso. Desde muito novo Kim Taehyung
detestava chorar em público ou sozinho, odiava sentir o sabor salgados das
lágrimas ou o ranho enjoado que ficava escorrendo do nariz. Sentia-se muito
fraco quando acontecia, mesmo que não se considerasse forte.

Lágrimas o faziam lembrar-se do irmão mais velho e do quanto ele


parecia satisfeito em fazê-lo chorar por qualquer coisa. Desde um brinquedo
quebrado até coisas que ele preferia esquecer para sempre.

Mas ali, aninhado ao corpo menor de Jimin, estranhou a


confortabilidade daquilo que nunca conheceu daquele chamego que aos
pouquinhos aliviava o turbilhão de sentimentos que implodiram sem parar
dentro de sua cabeça.
Todos eles ligados a Hoseok e Yoongi.

Era como uma faca de dois gumes, exemplificando o que ele não
compreendia, Taehyung era a ponta mais afiada e perigosa, entretanto
também era a ponta escondida e quase cega.

A intenção na atitude vingativa de beijar Hoseok foi mirada pela


parte afiada, mas golpeada por aquela mais sensível. Beijar Hobi deveria
fazê-lo rir da brincadeira, zombar do incômodo de Yoongi e mostrar aos
dois que naquele jogo era ele quem dava as cartas.

Porém, ganhar nunca foi tão amargo daquela forma.

— Beijei o Hoseok. – fungou e Jimin suspirou.

— Claro que beijou.

— Na frente do Yoongi.

— Por quê?

— Porque eu quero que eles briguem.

— Por quê? – repetiu com paciência. A falta de resposta o fez


assentir. – Você está apaixonado pelo Yoongi-hyung?

— Não sei. – foi sincero e secou o nariz com as costas da mão. –


Como é estar apaixonado por alguém?

— Nunca esteve? – o maior negou. – O que você sente quando está


com o hyung?

— Eu sinto como se a minha vida não fosse tão merda. – riu sem
humor. – Eu gosto da voz dele... Do quanto ela parece preguiçosa quando
resmunga sobre qualquer coisa. Gosto porque ele parece frágil, mas não é.

— Se você gosta de tanta coisa assim nele, porque beijou o Hobi-


hyung na frente dele, Tae?
Taehyung se remexeu e ergueu os olhos para encará-lo, estavam
muito vermelhos pela tentativa de segurar as lágrimas. Jimin esperou por
uma resposta, mas inexplicavelmente conseguia ler muitas coisas naquele
olhar, naquela expressão confusa.

— Tae, por que beijou o Hoseok-hyung?

— Eu o odeio. – murmurou e o mais velho negou.

— Diz a verdade. – pediu.

— Não tem verdade nenhuma, Jimin! – se exaltou, mas Jimin o


segurou no abraço.

— Por favor, confia em mim.

— Não tem verdade nenhuma! Eu odeio tudo nele! Odeio que ele
seja tão arrogante, que seja sempre tão perfeito, que seja tão popular, que o
Yoongi pareça tão bem perto dele!

— Sente ciúmes? Ciúmes do Yoongi-hyung com ele? – o mais novo


negou. – Por favor, confia em mim. – afagou o mullet e sorriu um pouco. –
Me deixa te ajudar.

— Eu... Entendo... O Yoongi. – respirou fundo, piscando para evitar


as lágrimas.

— Entende?

— Eu entendo os motivos que o fazem querer o Hoseok e o odeio


ainda mais por esses motivos serem tão convincentes

— Tae. – o abraçou de novo, deixando um beijo carinhoso sobre o cabelo


dele.

— Eu não faço ideia do que está acontecendo na minha cabeça... Eu nunca


fui uma pessoa totalmente sã, mas estar perto daqueles dois me deixa louco!

— Eu vou cuidar de você...


— Jimin-ah... – negou.

— Vou tomar a responsabilidade por você. – sorriu.

— Eu não quero ferrar você com as minhas merdas. – se afastou um


pouquinho e Jimin riu.

— Jungkook é o único que não é ferido nessa casa, acredite. – Jimin puxou
os braços para longe do corpo de Tae e fuçou nos bolsos do moletom até
encontrar um baseado enrolado. – Tem fogo?

— Pra você? Sempre. – ele secou as lágrimas e sorriu entregando o isqueiro


vermelho ao mais velho. Jimin acendeu e tragou forte, apertando os olhos
enquanto sentia o efeito relaxante no corpo quentinho. Ofereceu ao outro que
aceitou e antes de tragar o olhou curioso. – Você tem bulimia.

— Tenho. – assentiu de olhos fechados. – Desde os dezoito anos.

— Por quê? - soltou a fumaça. – Quer dizer, eu acho que todas as merdas são
por culpa de um trauma...

— A sua merda é por causa de algum trauma? – apontou para os antebraços


do maior e encostou a cabeça à lataria do carro, o encarando de perto.

— O meu hyung mais velho. – Tae tragou outra vez. – Os meus pais. Um
pacote completo.

— A minha família é daquelas de comercial de margarina. – sorriu


preguiçoso. – Meu appa é um homem de negócios e minha omma também.
Solar é bem sucedida e resolvida, nunca tivemos problemas quanto a ela ser
lésbica e eu pan, nenhum galho arrancado dessa árvore genealógica. – deu de
ombro e aceitou o cigarro de volta.

— Então?

— Então, aos dezessete anos eu conheci Oh Minseo. – Jimin fechou os olhos


outra vez e soltou a fumaça para o alto. – E ela fodeu com tudo... Quer
dizer... Nós dois ferramos com tudo.
— Quer falar sobre isso?

— Não sei. Eu nunca contei isso completamente, nem pra polícia.

— Polícia? – o mais velho assentiu. – No que você se meteu?

— Eu? Em nada ilícito, mas os meus pais envolveram a justiça quando


Minseo... – Tae o viu suspirar. – O Namjoon é a única pessoa que sabe de
tudo.

— Qual é a dele?

— Nossas histórias são parecidas. – deu de ombros. – A gente se reconhece.


Você quer ouvir?

— Vamos fazer uma promessa?

— Acho que você já 'tá chapado. – os dois riram baixinho. O efeito já estava
ali.

— Eu também acho. – ele estendeu o dedo mindinho e Jimin rolou os olhos.


– Vamos, não me deixe no vácuo! Entrelaça esse dedinho aqui no meu.

— Idiota. – ele estendeu o mindinho também é Tae fungou, mas sorriu. –


Qual promessa?

— O que você quer que eu seja pra você?

— Qualquer coisa? – sorriu pequeno.

— Uhum. Pode ser.

— Eu quero que você seja como a minha luz, Tae. Não parece, mas de vez
em quando eu tenho medo do escuro. – ele olhou para os dedos entrelaçados.

— Você pode ser o meu cenário. – Tae lhe tomou a atenção de novo. – Só
preciso que você esteja perto. Não parece, mas eu tenho pavor de ficar
sozinho.
Os olhares estavam conectados, até mesmo as respirações pareciam
sincronizadas enquanto o mundo ao redor ficava em silêncio. Jimin sorriu e
usou a mão onde cigarro estava preso entre os dedos, para acariciar o rosto
de Taehyung, desenhando a linha da mandíbula com a ponta do polegar.
Aproximou-se um pouco mais, raspando o nariz contra o dele, arrancando
um arfar baixinho.

— Eu me vejo em você, Taehyung.

Tae deslizou o polegar da testa até o queixo dele, traçando um caminho cheio
de curvas.

— Não sei como, mas eu acho que amo o meu reflexo em você.

Os lábios secos de Jimin encostaram-se aos dele, pressionando com carinho


num tipo de promessa selada que ambos compreendiam. Depois veio o
encaixe, as bocas que se abriram para apreciarem o sabor peculiar de soju,
cerveja, bolo de aniversário e maconha.

Lentamente, apreciando cada toque porque era único. Havia paz naquele ato,
havia o reconhecimento de muitas e muitas vidas, a sensação de completude
que findou o beijo com sorrisos adoráveis.

De testas coladas, respirando pesado e esquecidos do cigarro que queimava


entre os dedos do mais velho, eles se olharam e o polegar de Tae secou as
lágrimas que inundavam os olhos inchados de Jimin.

— Dorme comigo?

— Mas você nem me pagou um café antes.

— Idiota. – Tae riu e beijou a testa do mais velho. – Ninguém nunca dormiu
comigo, sabia?

— Como não? Quem ousa desperdiçar esse peito confortável? – fungou.

— O mundo é muito cruel, Jimin-ah.


— Eu sei que é. Vou ser o primeiro cara a dormir com você, isso é uma
honra.

Ele apagou o cigarro no chão mesmo e ficou de pé, puxando o maior com as
duas mãos. Subiram as escadas em silêncio, mas de mãos dadas. No quarto
de Jimin, ambos estranharam a cama vazia de Hoseok, mas não se
importaram. Não naquele momento. Tiraram as roupas e vestindo apenas as
cuecas deitaram na cama de solteiro confortável, o mais velho deixou ser
abraçado de conchinha e sorriu quando sentiu o beijo demorado em seu
ombro.

— Se você ficar de pau duro eu vou te chutar pra fora da cama.

— Vou evitar olhar para a sua bunda embaixo do cobertor.

— Você ainda quer saber sobre a minha merda?

— Se você quiser me contar. – acomodou o rosto próximo a nuca dele,


aspirando o cheiro da pele.

— Minseo era amiga da minha noona. Cinco anos mais velha que eu e
também filha de amigos dos meus pais. Quando eu a conheci ainda era
criança, mas eu sempre a achei linda... De verdade, ela é linda. – ele falava
baixinho. – Um dia a noona me deixou ir junto para uma dessas festas
universitárias, eu não sabia da minha sexualidade e não tinha problema com
isso também, mas foi muito foda quando a amiga mais velha da minha noona
demonstrou interesse em mim. Tipo, eu era gordinho e desengonçado...

— Não consigo te imaginar assim.

— Mas eu era. – sorriu. – Sem confiança ou autoestima. A maioria das


garotas só queria ser minha amiga porque achava divertido ter um amigo
gordinho como pet, e eu não sabia direito como me sentia em relação a sexo.
Minseo trabalhava como modelo desde muito nova, ela tinha um tipo de
obsessão com o próprio corpo e aos poucos isso foi passado para mim, nada
muito alarmante sabe? Eu perdi minha virgindade com ela, eu queria casar
com ela. – Tae riu baixinho. – Sério! Casar é ter quatro filhos. – ele sorriu
sem humor e respirou fundo. – Mas Minseo também tinha atitudes que pra
mim não eram erradas, mas eram. Ela abusava de mim psicologicamente. Ela
me fazia sentir pequeno, inútil e fraco... Sempre dizia coisas ruins sobre
mim, principalmente na frente dos amigos mais velhos que eu... Uma vez ela
me fez acreditar que era minha culpa quanto ficava com outras pessoas,
principalmente quando eu engordava um pouco, sabe? Aos poucos ela foi
dominando a minha vida, tomando decisões que deveriam ser minhas...
Chegava a me obrigar a pintar o cabelo porque eu ficava melhor com ele
preto e só... Às vezes, quando ficava muito nervosa me agredia ou atirava as
coisas em mim. Quando eu fiz dezenove anos, os pais dela acharam melhor
que Minseo procurasse ajuda profissional, os surtos violentos estavam
ficando mais comuns e ela ficou quatro meses numa clínica de repouso...
Mas nesse meio tempo, mesmo indo visitá-la percebi que não a amava mais
como antes, eu errei...

— 'Tô tentando cogitar um erro seu no meio de toda essa história e nada me
vem à cabeça.

— Me envolvi com outra pessoa. Um homem. O nome dele é Taemin. A


gente se conheceu num jogo de futebol do terceiro ano e... Rolou. – deu de
ombros. – Quando ela saiu e eu 'tava decidido a terminar, não por causa
dele, mas por causa de mim... Eu me sentia péssimo o tempo todo. Nunca
pedi desculpas tantas vezes na minha vida.

— Ela aceitou?

— Não. Ela gritou, quebrou o quarto inteiro e me bateu... Ela é mulher eu


sei, tipo eu sou mais forte, mas não conseguiria machucar uma mulher nunca!
Eu a deixei descontar a raiva em mim, depois fui embora e disse que voltava
depois para conversar... No meio do caminho ela me ligou... Minseo havia
cortado os pulsos...

— Porra.

— Nunca esqueço aquela cena dela no chão do banheiro, aquele sangue


todo. – a mão de Tae procurou a dele, entrelaçando os dedos. – Ela disse
para os pais que queria se matar por minha causa... Caralho, eu só tinha
dezenove anos... O vestibular estava me deixando louco, minha sexualidade
também e era tanta coisa pra juntar com a culpa! Não terminei com ela.
Minseo fingia que aquilo nunca tinha acontecido, que Taemin jamais existiu.

— As coisas melhoraram?

— Não. Ela começou a me machucar de verdade física e emocionalmente.


Eu aceitei quando ela propôs morar perto da universidade, pra mim era
melhor poder manter meus olhos nela, pra que ela não se machucasse outra
vez. Quando notei estava praticamente morando com Minseo. Ele tomou o
controle de tudo, Tae. Tudo. Minha alimentação, meus horários, até mesmo o
que eu gostava. Os meus amigos eram os amigos dela, eu precisava passar
por dietas malucas com ela... Tudo. Ela passou a ter acesso às minhas contas
bancárias e quando via algo diferente tinha crises.

— Diferente como?

— Eu errei muito. Hoje eu consigo ver que deveria ter terminado com ela
quando vi que não sentia mais nada, mas eu tinha receio... Eu a traí mais
duas vezes, com duas pessoas diferentes... Numa dessas vezes foi com o
Namjoon. – ele respirou fundo. – A gente se conheceu no Wings, eu era
calouro e ele ficou responsável por mim como veterano... Quando ela
descobriu acabou me trancando no quarto, gritando que nunca mais ia me
deixar sair dali, então eu arrombei a porta e a vi quebrando meu celular além
das chaves da minha moto. Solar-noona notou que algo estava errado, eu não
estava bem e era evidente, mas a Minseo fingia que estava tudo bem dizendo
que eu tinha de ficar do lado dela pra sempre, caso contrário...

— Ela se mataria? – ele assentiu e Tae suspirou.

— Minha bulimia começou porque comer me acalmava, me fazia sentir


bem... Mas ela me fazia sentir culpa, me fazia sentir gordo, feio,
desengonçado e eu provocava o vômito pra ver se conseguia tirar de dentro
de mim tudo... A comida, a frustração, o medo.

— Medo?

— Medo de ser culpado pela morte de alguém. Tentei terminar tantas vezes,
ela nunca aceitava, me chantageava e envolvia nossas famílias. Há dois anos
eu acho que chegamos ao estopim final. Ela engravidou. – o silêncio no
quarto era pesado e ficou assim até ele voltar a falar. – Eu sempre usei
camisinha, não gostava que ela tomasse anticoncepcional porque fazem mal e
os remédios controlados também poderiam prejudicar, mas no meu
aniversário eu fiquei bêbado e rolou... Hoje eu percebi que rolou porque eu
não estava mesmo sóbrio, eu nem sentia mais tesão por ela. Os meus pais
não gostaram, mas guardaram a insatisfação por respeito... Um mês depois
disso tivemos uma briga, ela havia procurado uma colega de classe minha
para tirar satisfações sobre mensagens que trocamos, mas era sobre um
trabalho... Minseo tentou quebrá-lo de novo, mas eu não deixei... Sai daquele
apartamento completamente puto! Eu estava prestes a mandar tudo pro ar...
Encontrei o Namjoon-hyung e rolou outra vez... Quando eu acordei no outro
dia havia mil ligações e mensagens.

— O que ela fez?

— Ela tentou se matar outra vez e isso provocou um aborto. Por mais que ela
negue, dias depois no hospital Minseo cuspiu as palavras na minha cara:
matei nosso filho por sua culpa. – Tae apertou a mão dele e Jimin fungou. –
De todas as coisas que aconteceram essas duas eu não consigo esquecer,
Tae. O sangue do banheiro da primeira vez e ouvir isso da segunda.

— Não foi sua culpa.

— Todo mundo me diz isso. – sorriu sem humor. – Mas se fosse contigo?
Não se sentiria assim? – Tae não respondeu. – Terminei com ela dois meses
depois, daquela vez até mesmo seus pais acharam melhor, mas ela não
entendia. Minseo passou a me perseguir, perseguir as pessoas que se
aproximavam de mim... Até que me viu saindo com uma garota e jogou o
carro contra a minha moto...

— A polícia. – ele relembrou.

— Sim. Meu appa abriu um processo, foi tentativa de homicídio.

— Ela 'tá presa? – ele negou. – Como não?

— Eu retirei a queixa, Tae. – ele parecia envergonhado.


— Por quê?!

— Eu a visitei num dia, a gente conversou. Existe uma ordem de restrição,


ela não pode se aproximar de mim.

— Jimin, ela é uma pessoa desequilibrada e perigosa!

— Ela está doente, só isso.

— Então, precisa ser internada!

— A família dela prefere esquecer tudo. Eu devo isso a ela.

— Deve?! Você não deve absolutamente nada a essa mulher! – ele virou
Jimin para si e o encarou de pertinho. – Yoongi comentou com Jin-hyung
sobre ela ter procurado você recentemente.

— Faz mais de um mês. – rolou os olhos.

— Ela te procurou outra vez? – Jimin negou, mas Tae arqueou a sobrancelha.
– Por favor, não minta sobre isso, ok?

— Ok.

— Promete pra mim? – estendeu o mindinho outra vez.

— Eu prometo. – entrelaçou os dedos e assentiu. – Por favor, não conta pra


ninguém.

— Nunca. – se remexeu até beijar a testa do menor. – Nunca, Jimin.

Hobi apagou o cigarro dentro do cinzeiro e suspirou antes de ficar de pé e


conferir se Jungkook estava mesmo dormindo. O garoto, encolhido na cama,
roncava baixinho e ainda tinha o cabelo úmido por conta do banho recente.

Porque mesmo extremamente nervoso com o acontecido na sala de estar,


Hoseok não pode ignorar o maknae que vomitava as até as tripas no banheiro
social da casa.

O ajudou até o enjoo o deixar ficar de pé, deu-lhe um banho quase frio e
vestiu nele uma cueca folgada com estampas de coelhinhos que o fez rir.
Depois Jungkook resmungou um bom tempo sobre coisas demais,
principalmente por acreditar ser um viado assumido após o beijo trocado
com o hyung mais bonito do mundo.

Hobi o cobriu e arriscou acarinhar o cabelo escuro do garoto até que


pegasse no sono.

Deixou sobre a mesa de cabeceira uma garrafinha com água e duas aspirinas,
e também deixou um beijinho sobre o cabelo do mais novo. No quarto alheio
se pegou encarando a cama bagunçada e vazia, encarando os travesseiros
roxos e até mesmo a toalha branca sobre os lençóis revirados.

Tudo ligado a Kim Taehyung parecia uma bagunça.

Apagou as luzes e fechou a porta ao sair do cômodo. As pernas traidoras


levaram-no até a porta à direita, lutando internamente entre abrir de uma vez
ou deixar para lá.

Odiava dormir brigado com Yoongi, mas não entendia as razões da raiva
dele.

Respirou fundo e abriu a porta, notando que o abajur mantinha uma luz baixa
no quarto. A cama de Namjoon estava vazia e Yoongi encolhia na cama que
lhe pertencia. Estava acordado, o sono não vinha mesmo com o álcool no
sangue, a mente parecia disposta a dar pane. Sentiu o perfume inconfundível
de Hoseok, a fragrância única e não se moveu. Não queria ou sabia como
encará-lo para responder todas as perguntas que fazia a si mesmo quando
pensava sobre ele, sobre as respostas que o devia.

— Eu sei que não está dormindo. Você ronca feito um gato quando dorme,
Yoongi. – continuou parado na porta, segurando a maçaneta. – Não precisa
falar se não quiser, mas eu quero dizer uma coisa. – ele abaixou o rosto e
suspirou. – Eu não faço ideia do que você quer, mas eu sei o que eu quero há
muito tempo. Eu menti sobre não sentir atração por ele, eu sinto. Mas é só
isso e não quero atrapalhar em nada o teu envolvimento com ele. – Yoongi
não se moveu de novo. – Diz pra ele ficar longe de mim.

Ele saiu e fechou a porta, segurando a vontade de entrar outra vez para
sacudir o mais velho até ele dizer alguma coisa que acalmasse seu coração
confuso. Caminhou em direção ao próprio quarto, louco por um banho quente
e dormir por uma semana, mas quando entrou ali Hoseok levou quase um
minuto para conseguir digerir a cena que seus olhos viram.

O mundo gira mais rápido do que imaginamos.

Taehyung e Jimin dormiam abraçados. O mais novo com o rosto mergulhado


na nuca do mais velho, a perna nua de Jimin jogada para fora da cama fazia
parecer que estavam nus.

Eles não estavam, mas quem se importa?

Hoseok não se importava.

Ele apertou a maçaneta com força, a mandíbula se apertou e os olhos se


estreitaram, a própria face da raiva tomando forma. Ele entrou, agarrou o
cobertor e o travesseiro que eram seus, saiu fechando a porta sem cuidado, e
sozinho no sofá maior da sala só conseguiu pegar no sono quando o dia
estava prestes a amanhecer.

Namjoon sorriu quando sentiu o cheiro de Seokjin no travesseiro macio.


Esticou o corpo grande na cama e tateou o colchão em busca do mais velho,
querendo esquentar o corpo junto do dele.

Mas o que achou foi o vazio.

Abriu os olhos com preguiça, os esfregando enquanto bocejava. A luz estava


acesa, os passos do mais velho denunciavam que ele estava andando de um
lado para o outro e foi próximo ao banheiro que Namjoon o viu.
Já vestido para o estágio, com a gravata azul marinho pendurada nos ombros
e o cabelo penteado para o lado. Jin o encarou pelo reflexo do espelho
grande e se virou.

— Bom dia, hyung. – a voz rouca, o rosto sonolento e o sorriso preguiçoso


de Namjoon quase o fizeram vacilar. Quase.

— Eu tenho uma reunião com a construtora daqui a uma hora e meia e quero
deixar o meu quarto arrumado.

— Toma café comigo?

Jin sorriu e negou, desacreditado.

— Você é inacreditável, Namjoon. – ele começou a dar o nó da gravata,


encarando o próprio reflexo numa tentativa de ignorar o mais novo. – Sai do
meu quarto.

— Esse comportamento não combina com você, hyung. – ele ergueu o tronco
e penteou os cabelos castanhos para trás. Jin o observou ficar de pé,
completamente nu antes de vestir a cueca branca que estava jogada num
canto do colchão. A cueca que lhe pertencia. – Não precisamos nos tratar
assim. – ele o abraçou, afundando o rosto no pescoço do mais baixo para
deixar beijos na pele macia e cheirosa.

— Olha pra mim. – mandou e o mais alto ergueu os olhos, o encarando pelo
espelho. – Olha bem pra mim e diz que preciso viver das tuas migalhas,
Namjoon.

— Até parece que eu te peço por inteiro. – ele devolveu no mesmo tom. – Eu
não te dou migalhas quando transo contigo...

— Mas faz um caminho delas quando me deixa depois disso. Sai do meu
quarto.

— Por que está fazendo isso?! – ele se afastou e Jin se virou para ele. –
Seokjin eu nunca te prometi porra nenhuma!
— Foi à última vez. – ele respirou fundo. – Eu não vou mais ser o teu
recipiente de porra quando o Jimin te dispensar, não vou te deixar descontar
no meu corpo qualquer merda que te faça agir feito um babaca quando as
coisas não saem do jeito que quer! – gesticulou. – Quer saber por que eu
estou fazendo isso?! Eu digo! PORQUE EU NÃO AGUENTO MAIS
DEFINHAR POR DENTRO POR TUA CAUSA!

— Por minha causa?! – Namjoon franziu o cenho. – Jin, eu nunca te obriguei


a nada! Nunca coloquei uma arma na tua cabeça pra você me comer ou dar
pra mim!

— Meu deus, você é tão idiota. – Jin colocou ambas as mãos nos quadris e
riu, riu como se isso fosse amenizar o nó na garganta. A vontade de gritar. –
Namjoon, pelo bem da convivência dentro dessa casa, sai da minha frente.

— Oh, claro! Porque é muito mais conveniente você me pintar de vilão outra
vez?! Fazer todo mundo dessa casa me tratar mal, me excluir só porque eu
não correspondi aos sentimentos do doce Seokjin?! Você é uma piada. – ele
caminhou até as roupas jogadas pelo chão do quarto, suas roupas. – Eu não
sou obrigado a te am-

Ele se calou.

Os olhos arregalados encararam o mais velho que ergueu o rosto e franziu o


cenho.

— O que você ia dizer?

— Nada. – ele vestiu uma calça jeans.

— Diz! FALA! FALA O QUE VOCÊ IA FALAR!

— Você me mandou sair, não é? Eu vou sair!

Antes que chegasse até a porta Jin o interceptou, as mãos fortes empurraram
o peito nu do mais alto que voltou dois passos e respirou fundo. Namjoon
estava nervoso, mas Jin também estava.

— Fala!
— Não!

— Covarde. Você é um covarde. Um cuzão do caralho! – Jin chegou perto, o


encarando como se fosse três vezes maior. – Tem coragem de vir atrás de
mim, de foder com a minha cabeça! Você me rodeia feito a porra de um
homem carente demais pra lidar com os próprios problemas... Geme o meu
nome me pedindo por mais, pra se sentir vivo porque é vazio Namjoon.

— Cala a boca.

— Você vai morrer sozinho porque está vazio. Não importa o quão fundo eu
chegue dentro de você, não acho nada. – sorriu pequeno. – Porque não tem
nada.

— Tudo isso é porque eu não te amo de volta? – os olhos estavam


marejados, mas ele se recusava a perder.

E nessa competição iam apenas só machucando mais um ao outro.

— Tudo isso porque você sabe que eu te amo e ainda assim faz de mim um
tapete.

— Eu só piso naquilo que se deixa pisar, Seokjin. – uma lágrima rolou por
sua bochecha e duas pelo rosto do mais velho.

— Você me disse que eu te faço sentir vivo. – ele sorriu e engoliu o choro. –
Que quando está nos meus braços se sente vivo... – Jin se esforçou para não
cair no choro de vez. – De vez em quando eu tive certeza que o meu coração
só batesse por sua causa, mas você... Agora, o matou de vez. De qualquer
forma, você não é obrigado a me amar, Namjoon... E eu não sou obrigado a
ser responsável pela sua vida.

— Minha causa mortis vai ser abandono? – ele lambeu os lábios e Jin deu
espaço para que ele saísse do quarto.

— Não. – ele negou uma vez. – Suicídio.

Jin o viu sair pela porta e não se moveu por alguns segundos.
Caminhou até a cama, sentou sobre o colchão e observou sobre a poltrona
localizada no canto do quarto o moletom branco alheio. Revirado e
amassado, esquecido pelo dono.

Era igual ao próprio coração.

Negligenciado desde que caíra de amor por quem nunca fora obrigado a
amá-lo de volta.

Yoongi foi o primeiro a descer de manhã.

Ele estava vestido para a primeira aula e verificando a mochila, por isso não
notou que Hoseok estava no sofá tomando uma xícara de café quente. Ele
procurou pela pequena marmita colorida na geladeira, a ajeitou dentro de
uma bolsa térmica e se serviu de café diretamente da cafeteira.

Fez uma careta ao primeiro gole.

Não era o café de Seokjin.

Jimin desceu depois, cantarolando baixinho e descalço. O cabelo molhado


estava bagunçado e sobre os olhos pequenos pelo sono. Ele desejou bom dia
aos hyungs e estranhou o olhar sério de Hoseok sobre si.

Jungkook veio minutos depois, massageando a cabeça denunciando a


ressaca. Taehyung e Jin desceram ao mesmo tempo e Namjoon foi o último.
O clima estava pesado, não acontecia nenhuma conversa paralela no que
deveria ser um café da manhã animador. O mais novo, comendo cereal
colorido e bebendo leite de banana, encarou cada um dos hyungs com
curiosidade.

O que aconteceu depois que foi dormir?

— Hyung, acordou cedo? – Jimin, tentando melhorar tudo, sorriu para


Hoseok.
— Uhum. – ele não o olhou.

— Não vi o hyung na cama de manhã.

— Eu dormi no sofá.

Yoongi franziu o cenho.

— Por quê? – mas foi Namjoon que perguntou.

— Por que o Jimin resolveu ocupar o nosso quarto pra foder com o
Taehyung. – soltou de forma venenosa, bebericando do café mal feito.

— Que?! – Seokjin, que estava calado até então, perguntou surpreso.

— Do que você tá falando Hoseok?! – Yoongi deixou a xícara sobre a mesa.


– Jimin?!

— Ah, mas porque estão surpresos? – Hobi fingiu desdém. – Será que
ninguém notou que esse garoto quer dar pra todo mundo dessa casa? Fica
contigo, beija o Seokjin, me beija e no fim da noite vai parar na cama do
Jimin.

— Hyung! – Jimin se manifestou. – Não-

— Deixa Jimin. – Tae pediu baixinho. – Eu não ligo para o que ele pensa.

— Tae? Você e o Jimin... Vocês...

— E daí Yoongi?! Qual é o problema? – ele deixou a xícara com chocolate


quente sobre a mesa e sorriu. – Você mesmo disse que a gente só fica... Eu
fiquei com ele também. – deu de ombros e Jimin suspirou.

— Puta merda, você é muito baixo. – Hobi rolou os olhos.

— Jimin? – Namjoon chamou por ele, os olhos estavam arregalados. – Quer


dizer que você me dispensou com a desculpa de bancar Jesus Cristo desse
jeito?!
— Taehyung é a própria Maria Madalena.

— Hoseok, cala a boca! – Yoongi ergueu a voz.

— Vai defender ele, claro. – zombou. – Quem não tem pecados que atire a
primeira pedra.

— Hoseok, para. – Jin massageou a testa, estava ficando com dor de cabeça.
– Ninguém tem nada a ver com quem eles transam, eles são solteiros.

— Tae-hyung... – Jungkook murmurou e só Namjoon o ouviu. – Mas... Ele é


meu amigo... Por quê...

— Ah, hyung, pelo amor! A gente vai ficar fingindo que esse garoto não tá
trazendo problema para essa casa?! – apontou para Tae. – Qual é o problema
de vocês?!

— Qual é o seu problema?! – Taehyung empurrou a cadeira para trás e ficou


de pé, Hobi fez o mesmo. – Tá com inveja porque eu parei na cama do Jimin
e não na tua?! É isso?!

— Caralho, você é muito maluco, sinceramente. – negou. – Se eu quiser


foder com vagabundo eu arrumo em qualquer esquina.

— Hoseok! – Yoongi gritou quando Tae avançou na direção do mais velho,


empurrando o que tinha pela frente. – Tae, para!

— Engraçado que ontem quando eu te beijei você pareceu bem interessado


no vagabundo aqui. – ele o encarou de perto, puxou o braço que Yoongi
tentava segurar e Hoseok sorriu debochado. – Filho de uma puta marrento do
caralho!

— Ainda acha que eu tenho medo de você?!

— Mas você tem medo. – chegou mais perto, fazendo o nariz encostar no
dele. Perto demais. – Você morre de medo de mim, Hoseok. – sussurrou só
pra ele Yoongi ouvirem.

— Eu odeio você. – sussurrou de volta.


— Você diz que odeia, mas eu acho que só morre de medo de assumir que
me quer tanto quanto ele. – Tae sorriu ladino e sorriu em seguida. – E tem
medo que eu não sinto o mesmo por você... Igual a ele.

Acabada a frase ele deu a Hoseok e Yoongi outra prova de que seu
atrevimento não possuía limites. Taehyung selou os lábios aos de Hoseok e
riu. O mais velho se afastou assustado e arregalou os olhos, a raiva o fez
avançar para o mais novo, mas Yoongi o puxou e ficou entre eles.

— HOSEOK CHEGA! – Seokjin ficou de pé e bateu na mesa.

— VOCÊ VIU O QUE ELE FEZ?!

— Eu só falei a verdade! Falei que toda essa sua marra comigo é por ciúmes
do Yoongi, porque tem medo de que ele sinta por mim o que nunca sentiu por
você em todos esses anos! – sorriu mais. – Porra, você é tão escroto que nem
ele consegue gostar de você, Hoseok.

— Tae, não faz isso. – Jimin o puxou. – Não faz isso.

— TAEHYUNG CALA A BOCA! – Seokjin massageou o rosto e respirou


fundo. – Meu deus eu vou acabar matando todos vocês!

Hobi lambeu os lábios e assentiu apenas uma vez, os olhos estavam


vermelhos e foi assim que ele saiu daquela sala, trancando-se no quarto em
seguida. Jin olhou ao redor por falta de Jungkook.

— Cadê o Jungkook?! – ninguém soube responder.

Mas na lavanderia, sentado entre a lavadora e a secadora, o garoto apertava


o celular contra o rosto e chorava baixinho, apertando o próprio joelho com
força enquanto a chamada completava.

Sentia dor de cabeça, estava enjoado, assustado e alguma coisa lhe doía bem
no peito, parecia até que uma mão fria estivesse agarrada ao coração e não
soltava nunca.

Daquela vez o pai não atendeu, daquela vez ele temia procurar por Hoseok,
daquela vez não sabia o que fazer. Abaixou o rosto, escondendo-o entre os
joelhos para chorar mais um pouquinho. Não notou quando se aproximaram,
quando sentaram perto dele, mas ergueu o rosto ao sentir o carinho no
cabelo.

Arregalou os olhos e se encolheu mais, de todas as pessoas do mundo não


entendia porque justamente ele estava ali. Fungou e secou o nariz com a
manga da blusa, tentando parecer menos assustado.

— Você não gosta de brigas? – Jungkook negou. – Eu também não. Quando


eu era mais novo principalmente. – suspirou. – De vez em quando a gente
briga nessa casa, é normal... Pessoas são assim.

— Hoseok-hyung pareceu muito bravo.

— O Hoseok 'tá legal, ele sabe se virar. – ele enrolou uma mecha do cabelo
de Jungkook no dedo e sorriu. – Está chorando só por causa da briga?

— Minha cabeça está doendo.

— É ressaca. – ele sorriu mais, até que seus olhos se tornassem duas linhas
brilhantes. – Tudo bem faltar um dia, ainda mais sexta feira. Fica em casa,
pode até comer os meus biscoitos, ok? Não gosto de doce.

— Hyung...

— Hm?

Ele desviou o olhar e negou, mas o mais velho o tocou no queixo, erguendo
seu rosto.

— Está assim porque beijou o Seokjin-hyung ontem?

— Eu sou gay? – murmurou e Jimin sorriu outra vez, bagunçando o cabelo


dele. Não negaria nunca que Jungkook o atraia de várias formas, mas
naquelas situações, quando ele parecia perdido e vulnerável demais para o
mundo, tudo que mais queria era apenas cuidá-lo. – Eu sou?

— Não sou eu quem deve responder essa pergunta, bebê. Só você que pode.
Agora, me conta porque você está chorando?
Jungkook o encarou e piscou algumas vezes.

Não podia dizer a verdade desde que nem ele conseguia compreendê-la. Era
porque beijar Seokjin o deixava confuso, transbordando milhões de
perguntas de uma vez dentro da cabeça dolorida de ressaca. Porque o
amargo da boca combinava com o amargo do nó formado na garganta quando
ouviu Hoseok dizer que Jimin e Taehyung fizeram... Quer dizer... Taehyung
era amigo dele, certo? Taehyung o ouviu dizer que não gostava de ver Jimin
com Namjoon, então porque ele fez a mesma coisa?

Principalmente: por que ver Jimin com outras pessoas o incomodava


tanto?

— Hyung, eu não sei. – mentiu e assentiu. – Desculpa.

— Tá tudo bem, bebê. – chegou mais pertinho e praticamente o puxou para o


colo, abraçando-o e afagando o cabelo escuro do mais novo. – Eu acho que
hoje nós dois devemos faltar, o que acha?

— Não quero prejudicar o hyung.

— Você não vai. – sorriu e negou. – Vou te levar num lugar legal.

Jungkook assentiu e deitou a cabeça no ombro de Jimin, fungando e secando


o nariz com a camisa e acabou sorrindo um pouco, porque mesmo com as
narinas afetadas pelo choro, conseguiu sentir o cheiro dele.

E o cheiro de Jimin o acalmava.

No quarto que pertencia a Tae e Jungkook, o primeiro entrou e ouviu a porta


bater atrás de si. Yoongi respirou fundo e eles se encararam.

— Você transou com o Jimin?

— Isso é relevante?

— Só me diz se sim ou não porra! Só isso!


— Você não quer minha resposta, Yoongi, você acreditou no Hoseok no
momento em que ele abriu a boca. – gesticulou. – Deveria ir atrás dele.

— Meu Deus, eu não aguento mais vocês dois fazendo isso! Me jogando de
um lado pro outro desse jeito!

— Você está deixando isso acontecer! Puta que pariu, para de olhar pro seu
umbigo e olha ao redor! Você está adorando isso! De dia fica comigo e de
noite fica com ele, depois eu sou o vagabundo.

— Cuidado com o que você diz, Taehyung. – avisou erguendo as mãos. –


Cuidado.

— O Hoseok tá certo! Eu sou um puto, ok? Eu quero trepar com todo mundo
dessa casa, quero infernizar a vida de vocês e-

— Para de dizer essas coisas! – Yoongi chegou perto dele o segurou pelo
rosto, juntando os lábios aos de Tae brevemente. – Para. Por favor, Tae.

— Yoongi, é melhor a gente parar de ficar.

— Você não quer isso, eu sei que não quer. – negou. – Olha pra mim. – o
mais novo olhou. – Eu tô apaixonado por você, Tae. Eu acredito em você,
ok?

— E ele? – até tentou parar os movimentos, mas o abraçou pela cintura e


respirou fundo. – Agora, você olha pra mim. – a mão grande segurou o rosto
do menor. – Você também sente isso por ele.

— Tae eu-

— Não foi uma pergunta. – suspirou e juntou a testa a dele. – Yoongi o que
você quer?

Ele mordiscou o lábio inferior e respirou fundo, escolher não era algo que
queria, mas as coisas estavam tomando um rumo perigoso demais e Yoongi
sabia da necessidade de se direcionar... Acredita que o caminho era feito pra
dois.
Não podia ser diferente.

— Eu quero você, Tae. – tentou sorrir, não estava sendo convincente. Ele
queria Taehyung, queria demais... Mas ele também queria Hoseok. – Eu e ele
nunca aconteceu antes, não vai acontecer agora.

Taehyung assentiu e o abraçou apertado, acolhendo o corpo menor inteiro


contra o próprio.

— Não rolou nada com o Jimin.

— Eu sei. 'Tá tudo bem.

E no quarto oposto com porta trancada e luzes apagadas, Hoseok continuava


deitado em sua cama encarando o teto enquanto nos fones de ouvido ouvia
uma música qualquer só para se livrar dos sons ao redor.

A franja alaranjada lhe caía sobre os olhos, lágrimas finas escorriam para o
travesseiro macio e um baseado aceso continuava preso entre os dedos da
mão direita.

Na esquerda ele brincava com um pino pequeno.

Passeando com ele entre os dedos, indo e vindo na mesma ordem.

O ergueu diante dos olhos, o polegar pressionou a ponta e bateu devagar


contra ela, observando o pó branco se mover no espaço apertado.

Ele tragou o cigarro e com a mesma mão desbloqueou o celular, buscando


pela janela do aplicativo de mensagens, digitando rapidamente apenas seis
palavras breves.

"Oi, sou eu. Quero te ver."

A resposta veio em seguida, parando a música numa campainha enjoada


padronizada.

Bobby [19/02/2019]
Claro que você quer.

por último, mas não menos importante, feliz aniversário pro meu sol, meu
binho, minha esperança.

escrevi um poema sobre ele, quero compartilhar com vocês!

• meu lado azul •


obrigado por ler!!
usa a tag #PillowFic no tt!!
10 - pronto para amar

tags da fanfic que talvez possam causar gatilhos: alcoolismo, violência


física, bulimia, automutilação, consumo de drogas.

Estou pronto para amar


Oh baby, eu estou pronto para amar

Ready to Love - Bad Company

— Para onde você vai, Jimin?!

Namjoon bateu a porta do quarto e cruzou os braços, encarando o mais novo,


que enrolado em uma toalha branca fuçava as roupas de Yoongi.

— Vou sair.

— Sair? Como vai sair sem me explicar que porra foi aquela que o Hoseok
disse?!

— Eu não tenho que te explicar nada, Namjoon. – deu de ombros.

— Você transou com o Taehyung? – descruzou os braços e sentou na própria


cama. – Diz.
— Não. – ele achou a jaqueta que estava procurando. – E não seria um
problema seu se eu tivesse transado.

— Escuta, eu sei que você tá chateado pelo o que eu falei ontem, eu-

— Não, eu não tô chateado. Eu tô magoado, Namjoon! – gesticulou. O


cabelo estava preso para o alto, o peito ainda molhado pelo banho recente e
isso fez o mais velho sentir vontade de tocá-lo, que trazê-lo para perto. Era
tão confuso. – Você precisa parar de usar essas coisas pra me magoar! Não
foi a primeira vez!

— Eu fiquei com ciúmes...

— Então nós temos duas coisas erradas aqui! – gesticulou nervoso. Eles se
encararam e Jimin respirou fundo. – Namjoon você não deve ter ciúmes de
mim!

— Acha que eu tenho ciúmes porque eu quero?! – riu sem humor.

— Nós não estamos em um relacionamento!

— Eu sei.

— Eu não sou seu namorado-

— Eu sei! – ergueu a voz e Jimin passou as mãos pelo rosto.

— Então me diz... Explica pra mim: se você sabe, por que está fazendo
isso?! Por que me trata mal quando me vê com outra pessoa? Por que você
está aqui agora me cobrando satisfação sobre ter transado com o Taehyung?!

— Porque eu tenho medo de te perder! – disse baixo. – Eu tenho medo de


que você melhore... – ele lamentou. – Eu sou um filho da puta egoísta, mas
eu gosto da nossa semelhança, Jimin-ah. Você é a única pessoa do mundo que
sabe como eu me sinto...

— Namjoon – suspirou e foi até ele, sentando do lado dele – a gente precisa
de ajuda. – ele afagou as costas largas do maior. – Eu tenho pensando sobre
isso.
— Terapia? – debochou. – Contar pela décima vez o que aconteceu e
esperar até que meus pais transformem tudo em um filme como quiserem
antes? – sorriu, negando. – Eu não confio em ninguém... Só em você Jimin.

— Então para de me magoar desse jeito porque eu ainda quero ficar perto de
você! Mas eu preciso que você pense mais antes de falar... Eu ouvi os gritos
mais cedo, seus e do Jin-hyung...

— Você sabe de tudo que rola nessa casa. – suspirou.

— Não, eu não sei o que rola entre vocês dois... Jin-hyung é fechado quanto
a isso e quando eu perguntei se vocês estavam ficando, pra poder tirar meu
time de campo, ele me mandou continuar fazendo o mesmo... Ele me mandou
cuidar de você. – ele se afastou e ficou de pé. – Namjoon eu não sei o que
aconteceu entre vocês, não é da minha conta, mas eu te peço uma coisa...

— O que?

— Não magoe o hyung, ele é tão bom... E você já o magoou não foi?

— Realmente achou que seria o contrário? Você sabe que eu não sirvo pra
alguém como ele. – gesticulou. – É melhor que ele me odeie... – deu de
ombros e Jimin respirou fundo.

— Mas ele poderia te ajudar também, Joon.

— Não quero ninguém sentindo pena de mim. – negou. – Eu odeio isso.

— Poderia tentar, não acho que sentiriam pena de você... Eu não senti.

— Porque você sabe como é. – ele se encolheu. Sequer lembrava o homem


imponente de sempre e essa fragilidade sempre dobrava o coração empático
de Jimin. Ele se aproximou mais e deixou que Namjoon o abraçasse pela
cintura, escondendo o rosto no abdome definido de olhos fechados. – Me
desculpa por ontem, eu fui um babaca com você.

— Sim, você foi. – afagou o cabelo dele. – Mas eu sou trouxa demais pra
ficar com raiva. – suspirou. – Olha pra mim, Joon. – o segurou pelo rosto. –
Vai pra sua aula, pro seu estágio e depois passe um tempo sozinho...
Escrevendo sobre esses sentimentos que estão te fazendo agir ruim assim.

— Fica comigo? – sorriu de lado. – A gente podia jantar fora e-

— Eu vou sair com o Jungkook. Prometi a ele.

Namjoon franziu o cenho e se afastou um pouco.

— Por quê?

— Ele estava chorando assustado com a briga de mais cedo e eu o convidei


para que ele se distraísse um pouco.

— Jimin... – estreitou o olhar. – Você está afim dele?

— Eu não minto. – deu de ombros. – Jungkook me atrai, mas eu não acho que
ele seja pra mim, em todo caso. Ele é imaturo e muito inocente, eu sinto
vontade de cuidar dele.

— Então, depois de cuidar do garotinho sai comigo? A gente precisa


terminar o que começamos ontem, Jiminie.

— Oh, não. Ainda estou magoado. – o bico em seus lábios era adorável. –
Contente-se com essa sua mão enorme e aquele teu vibrador com a cara do
Ryan. – os dois sorriram. – É o teu castigo. – ele se curvou e beijou a testa
de Namjoon. – Você precisa de um tempo, sabe disso.

— Uhum. – assentiu. – Obrigado.

— Agora preciso fazer o Hobi-hyung abrir a porta do quarto e não me dar


um soco. – lamentou.

— Eu te defendo.

— Cala a boca, você nem sabe brigar... – riu e caminhou em direção a porta.
– Vou usar a chave extra de qualquer forma.


Jungkook aceitou o capacete vermelho que lhe foi entregue e ficou confuso
sobre o que fazer com ele enquanto Jimin empurrava a moto pesada para fora
da garagem. Ele vestia calça jeans e uma jaqueta de couro pesada, já
Jungkook, se virava com jeans e um moletom fino demais.

O mais velho encarou e fez uma caretinha.

— Você tem alguma roupa mais quente?

— Essas são as roupas mais quentes que eu tenho. – deu de ombros olhando
a própria roupa. – O hyung não gosta?

— Não é isso bebê. – negou e sorriu. – É que está garoando e nós vamos de
moto, não quero que você fique doente... – ele puxou o pedal de suporte da
moto a deixou parada no lugar. – Espere aqui. – entregou o capacete preto
também.

O garoto assentiu e esperou no lugar, trocando o peso dos pés e observando


a moto grande e bonita. Era completamente preta, parecia cara demais e ele
se conteve a tocá-la, morria de medo de quebrar coisas que não podia pagar.

Jimin voltou minutos depois, trazia nas mãos uma jaqueta pesada de couro e
pegou o capacete para entregá-la ao mais novo.

— É do Hoseok-hyung. – explicou. – Ele só me respondeu por que eu falei


que era pra você. – riu. – Hyung teimoso. – negou. – Veste e nós vamos.

Assentindo ele colocou o capacete sobre o batente da janela e vestiu a


jaqueta pesada e com cheiro de amaciante. Ele viu o mais velho subir na
moto e conferir alguma coisa no celular antes de encará-lo com um sorriso.

Jungkook quase suspirou. Jimin lhe parecia mais bonito todas às vezes em
que o olhava.

— Sabe colocar o capacete?

— Uhum.
— Então, coloca. – riu de um jeito engraçado. Jungkook colocou o capacete
e caminhou até estar perto. – Sobe... Segura em mim, 'tá bom?

Obedeceu e montou atrás de Jimin, encaixando os pés nos suportes laterais


não soube que fazer com as mãos nervosas até que a de Jimin, coberta por
uma luva de couro preta, puxasse para lhe abraçar a cintura.

— Hyung...

— Você precisa me segurar, Kookie... Não queremos nenhum acidente,


certo?

— Ce-certo. – assentiu e o abraçou pelo abdômen, chegando perto para


colocar o peito às costas dele. – Estou segurando, hyung.

— Ok.

Ele deu partida, acelerando em direção a rua principal. Jungkook fechou os


olhos, mas não tinha medo desde que se sentia inexplicavelmente seguro
naquele lugar, agarrado ao corpo menor enquanto as ruas passavam depressa
e a chuva lhe embaçava um pouco a viseira do capacete. Não era nada
parecido com medo, mas o assustava igual.

Será que Jimin conseguia sentir, por conta da proximidade, o quando o


coração dele estava acelerado? Ele se arrepiava com sua respiração tão
rente a nuca branquinha? Jimin estava gostando de ser abraçado? Temia estar
o deixando desconfortável e por isso afrouxou o aperto, lamentando não
poder aspirar o cheiro dele de bem perto.

Mas a mão coberta por luvas pousou sobre seu pulso e acariciou um pouco e
Jungkook ficou parado.

— Está tudo bem. – Jimin disse com a voz abafada. – Assim a gente se
mantém quentinho. – ele sorriu, mas Jungkook não poderia ver.

Foram cerca de trinta minutos até que Jimin estacionasse no subsolo de um


shopping realmente grande do centro. Ele deixou os capacetes no guarda-
volumes do local e sorriu ao ver Jungkook lhe encarando com os olhos
grandes cheios de curiosidade.

— Você sabe patinar no gelo?

— Nunca tentei. – negou.

— Pois hoje é o seu dia de sorte.

Juntos foram até a pista de patinação e trocaram os coturnos por patins


brancos ouvindo as instruções do profissional responsável pela atividade.
Era uma pista oval e que se estendia numa circunferência muito grande.
Havia de crianças a adultos que iam e vinham sobre seus patins que
desenhavam no gelo formas abstratas.

— Me dê suas mãos. – Jimin entrou primeiro para a área da pista e estendeu


os braços até que Jungkook agarrasse suas mãos pequenas. – Eu não sou uma
pessoa muito coordenada, então vai ser um trabalho em equipe.

— Hyung... E se eu... Hyung! – exclamou quando escorregou um pouco, mas


Jimin riu dele e o ajudou a se equilibrar melhor. – Vamos cair em equipe,
isso sim!

— Me dê um voto de confiança, Jungkook! – começou a mover os pés,


patinando para o meio da pista e o trazendo junto. – Precisa ser com um pé
de cada vez, vê? – olhou para os próprios pés. – Um e dois, um e dois...

— O Victor fez isso parecer tão fácil! – resmungou e soltou a mão de Jimin
para ajeitar os óculos.

— Victor?! Não me diz que você assistiu Yuri On Ice? – franziu as


sobrancelhas e Jungkook assentiu envergonhado. – Não deixe o Jin-hyung
saber disso ou ele vai nos fazer maratonar pela quinta vez.

— Eu não me importaria. – deu de ombros. – Aquelas crianças patinam


melhor que eu.

— Aquelas crianças praticam desde muito novinhas, Kookie. – sorriu. –


Você 'tá indo bem, olha só.
Então o mais novo percebeu que realmente se sentia mais seguro sobre os
patins, mas segurar as mãos de Jimin tinha grande culpa nisso. Passados
alguns minutos ele riu quando o hyung o soltou para patinar ao seu redor,
cantarolando a música de abertura do anime enquanto arriscava movimentos
que só o deixavam mais bonito.

E enquanto ele girava, enquanto ele sorria e ensaiava pulinhos contidos com
o cuidado necessário para não se machucar, Jungkook riu e arriscou girar
também, num pé só.

Ele arfou por conseguir e Jimin bateu palmas, patinando de costas para
longe.

— Can you hear my heartbeat? – o mais velho cantarolou e piscou. – Eu


ouvi o seu mais cedo.

O garoto corou dos pés à cabeça.

— Vem! – o chamou e rodopiou de novo, caindo com uma perfeição que


hipnotizava os olhos escuros de Jungkook. – Consegue patinar até mim?
Pode vir, eu vou segurar você. – assentiu.

Jungkook assentiu e encarou os próprios pés que se moveram para frente,


para a direção em que Jimin o esperava com os braços estendidos. Ele riu
adoravelmente por conseguir, pode rapidamente chegar até o hyung que bateu
palmas e segurou-o pela mão, entrelaçando seus dedos enquanto o puxava
pela pista, o levando consigo.

E aquele era o momento mais emocionante da vida de Jeon Jungkook.

— Obrigado. – a voz eletrônica agradeceu enquanto Yoongi subia os vidros


do carro e jogava sobre o painel o cartão de crédito dourado.

— Você já veio aqui?


— Uma vez só. Tem algum tempo. – ele manobrou o carro com habilidade e
a porta da garagem fechou automaticamente dando a ambos a privacidade
que tanto queriam.

Tae desceu primeiro e pegou as duas mochilas jogadas no banco de trás,


Yoongi desceu depois de guardar o cartão dentro da carteira que foi deixada
no porta luvas. O quarto estava fechado, mas ele usou o cartão magnético
para abri-la e logo entraram. Não era clichê como a maioria dos motéis, a
aparência lembrava a um quarto de hotel caro. Nada de cama redonda ou
espelho no teto, nada de pornô na televisão antiga.

Valia cada centavo.

Yoongi olhou ao redor e não viu quando Taehyung largou as mochilas para ir
até ele, para abraçá-lo por trás e começar a deixar beijos chupados pela
nuca macia e branquinha, afundando o nariz dentro do cabelo liso pra sentir
o cheiro dele, mas se derreteu inteiro nos braços tatuados e fortes,
praticamente gemendo pelo alívio de finalmente poder desfrutar dele por
inteiro.

Ele se virou e o abraçou pelos ombros, esticando-se na ponta dos pés para
poder beijar os lábios grossos do mais novo. As mãos grandes de Tae
passearem pelo corpo alheio, elas desceram até encaixar a bunda empinada
dentro das palmas que apertaram com força enquanto ele mordia o lábio.

— Eu me sinto estranhamente nervoso. – sussurrou.

— Por quê? – deitou o rosto pro lado. O bico que puxava seus lábios o fazia
parecer ainda mais lindo, jogava com o tesão de Taehyung, o prendia.

— Porque é você, Yoongi. – mordeu o queixo dele. – Não sei se tem


explicação... É você.

Yoongi sorriu e o empurrou em direção à cama com força, fazendo-o sentar


sobre o colchão confortável. Tae riu baixinho e apoiou as palmas das mãos
sobre os lençóis apenas para apreciá-lo quieto.
O viu tirar o moletom preto e bagunçar os cabelos esverdeados no processo,
apenas ficando mais bonito. Yoongi se livrou da camiseta do Metallica e do
All Star vermelho. O jeans detonado foi chutado para o lado e Taehyung
gemeu sugando o ar entre os dentes ao ver a calcinha preta de renda que o
mais velho usava.

— Porra. – lambeu os lábios.

— Fiquei com receio de você não curtir. – deu de ombros e chegou mais
perto.

— Você curte? – Yoongi assentiu e sentou no colo dele, sentando o traseiro


sobre a ereção que estava evidente marcando a calça folgada. – Quando é
que eu vou parar de me surpreender contigo? – sorriu.

— Espero que nunca. – moveu os quadris lentamente, esfregando-se no mais


novo. – Eu fico bonito assim?

— Yoongi, é impossível que você fique feio. – deixou os dedos tocarem as


coxas pálidas, apreciando como um pouco mais de pressão era o suficiente
para marcá-lo. Tae massageou as nádegas durinhas e estocou pra cima, com
força. – Caralho, você é tão gostoso, Yoon.

Tae beijou o pescoço dele e mordeu, pouco preocupado em marcar a pele


desde que Yoongi só fez oferecer mais aos dentes alheios. Ele se ocupou em
empurrar a jaqueta pesada que o mais novo usava, o despindo com pressa.
Tae ergueu os braços para se livrar da camiseta detonada e quando se virou
livre dela ficou de pé com Yoongi em seu colo, o beijando de um jeito sujo,
brincando com a língua rosada que provocava a sua. Caminhou com ele até
jogá-lo na cama.

Sobre os lençóis levemente amassados, Yoongi abriu as pernas e enfiou a


mão para dentro da calcinha, para começar a se masturbar devagar enquanto
assistia Taehyung abrir a calça sem pressa. Ele olhou para as mãos cobertas
de tatuagens e mordeu a boca, passeando com o olhar pelos braços fortes, os
ombros largos e o cabelo que lhe caía como uma franja pesada sob o olhar
excitado.
Desfez-se da calça e da cueca de uma vez, dando a Yoongi finalmente a
visão do corpo completamente nu. Taehyung sorriu e se curvou, para
abocanhar um dos mamilos rosadinhos, chupando-o e mordiscando enquanto
o ouvia gemer baixinho. Ele beijou a pele do mais velho com devoção,
resvalando os lábios até a lateral do quadril estreito onde prendeu a renda
entre os dentes ali e no polegar do lado oposto para puxá-la para as pernas
esguias que se ergueram para facilitar.

— Eu não vou devolver. – piscou.

— Vai usar pra mim também?

— Quem sabe. – colocou a calcinha sobre a mesa de cabeceira e viu Yoongi


se virar na cama, ficando de bruços ao que empinava a bunda pro alto. –
Puta que pariu. – ele encheu a mão com uma das nádegas e apertou depois de
bater com força. Yoongi gemeu e sorriu.

— Eu já me preparei, 'tá tudo bem. – informou quando sentiu Tae beijar sua
lombar, lambendo de ali até a nuca que foi mordida. O mais novo separou as
nádegas para ver o que queria e teve de segurar o mais velho quando
penetrou a língua na entrada dilatada, fodendo forte e estapeando a coxa
esquerda.

— Aí, caralho! – grunhiu e rebolou a bunda contra a boca alheia, buscando


por mais profundidade do músculo que o fodia sem parar. As unhas curtas e
roídas se agarram aos lençóis limpos, a boca se abriu contra o travesseiro
num gemido abafado. – Isso!

Tae sorriu e secou os lábios com as costas das mãos antes de o virar para si
outra vez. Ambos se arrastaram para o meio da cama, Yoongi lambeu os
lábios e sorriu quando o mais novo o segurou pelas coxas e ergueu suas
pernas, apoiando-as nos ombros. Olhou para baixo, para onde ele manuseava
o pau, encaixando-se na entrada dilatada.

— Eu não te aguento sem lubrificante. – negou, mas os quadris se remexiam


sem parar.
— Não vou meter tudo ainda, eu quero só sentir um pouquinho. – o tom
manhoso fez Yoongi gemer e assentir. – Deve ser apertado pra caralho. –
olhou para baixo e forçou um pouco para dentro dele.

— Coloca um pouquinho. – sussurrou e se apoiou nos cotovelos para


conseguir ver. – Só a cabecinha, vai?

— Yoongi... – avisou, mas o olhar pidão o fez morder a boca e se forçar


mais, penetrando a ponta do membro. – Porra. – xingou ao sentir o aperto lhe
acolher.

— Fode assim, vai? Devagarzinho. – gemeu manhoso.

— Vai machucar você, Yoon...

Yoongi sorriu ladino e lambeu a própria mão para alisar a entrada e pau de
Taehyung, lambuzando o que já estava lambuzado.

— Você é um safado do caralho. – riu e estocou devagar, só a ponta. –


Merda...

— Eu preciso de mais. – choramingou em um bico manhoso, se masturbando


lentamente. – Tae...

Taehyung se afastou para buscar a mochila jogada perto da porta e Yoongi se


masturbou mais forte ao ter a visão da bunda dele e das costas largas onde a
tatuagem de um tigre alaranjado cobria boa parte da pele. O garoto voltou
para a cama com o lubrificante e algumas camisinhas que foram jogados
sobre os travesseiros.

Abriu a camisinha com os dedos e a desenrolou em si antes de espalhar


lubrificante na entrada entre as nádegas de Yoongi, empurrando dois dedos
para dentro só para vê-lo gemer agoniado por mais.

O puxou pelas pernas, colocando-o na mesma posição que antes e se


empurrou para dentro dele lentamente, o prendendo com olhar viu Yoongi
abrir a boca num arfar mudo, agarrando seus ombros e assentindo para o que
recebia, deixando de se masturbar para dar atenção apenas a sensação do
pau de Taehyung lhe invadir duro feito pedra, fazendo arder de um jeito
sublime.

Ele puxou Taehyung para lhe morder a boca e assentir mais, pedindo por
mais.

— Mete tudo. – sussurrou baixinho. – Vai, tudo.

— Você é pequeno, eu não quero ferrar a nossa foda te machucando. – gemeu


empurrando-se com cuidado.

— Taehyung. – o segurou pelo queixo e sorriu. – É pra foder direito... Você


acha que eu vou pegar leve quando te colocar pra quicar em mim? – negou e
lambeu o queixo dele até chegar ao ouvido. – Me fode gostoso, vai.

O mais novo soltou as coxas do mais velho e sorriu antes de estocar inteiro,
o arrastando pela cama. Gemeram juntos, extasiados pelo prazer
incomparável e pelo reconhecimento que arrepiou cada pelo do corpo.

Tae fodeu com força, num fôlego invejável, estocando sem parar enquanto
Yoongi se agarrava a ele e praticamente gritava abafado contra o ombro
suado. A cama rangia, o frio parecia não atravessar as paredes daquele
quarto que se tornava mais e mais quente.

O virou de bruços um tempo depois, puxando os quadris até que ficasse de


quatro e tivesse os cabelos esverdeados entre os dedos, parando de meter só
vê-lo rebolar fodendo-se nele. O puxou pelo cabelo, de forma bruta, para
recostar as costas contra seu peito e roubar o resto do fôlego com um beijo
desajeitado, um beijo cheio de língua e saliva que escorria pelo canto dos
lábios. Os dedos de Taehyung passaram a maltratar os mamilos inchados,
beliscando e puxando depois de dar tapinhas doloridas por cima.

— Porra! – Yoongi arfou e ficou de quatro outra vez, deitando o peito sobre
os travesseiros pra se empinar mais. – Que pau gostoso do caralho. –
choramingou pouco antes de morder a fronha para abafar a voz.

— Não. – o afastou pelo cabelo, aproximando-se o suficiente pra conseguir


morder o lóbulo da orelha dele. – Geme gostoso, gatinho... Eu quero te
ouvir gritar pra mim.

Uma estocada certeira e o mais velho realmente gritou, acertando um soco no


travesseiro, tremendo inteiro.

— Não para! – mandou.

— Porra você é tão gostoso. – ele bateu contra nádega avermelhada pela
marca de seus dedos e estocou com mais força. – Cu apertado do caralho. –
grunhiu e sentiu o orgasmo tomar forma em sua virilha, ergueu a cabeça e
lambeu os lábios. – Porra, eu quero gozar.

— Goza. Goza em mim... – pediu afobado. – Em mim, Tae.

— Puta merda! – Taehyung arfou e se puxou pra fora, arrancando a


camisinha com pressa antes de virar Yoongi de barriga pra cima e se
masturbar sobre ele, masturbar com força. Ele ofegou quando o jato de porra
acertou o pescoço do mais velho e gemeu demoradamente quando os outros
fizeram uma bagunça na pele pálida, escorrendo para a barriga magra. –
Caralho. – riu e Yoongi percebeu que ele tremia. – Isso foi...

— Foi sim. – assentiu sorrindo ladino. – Agora é a minha vez.

— O que você quer? – ficou de joelhos entre as pernas dele e penteou o


mullet para trás.

— Eu quero que você sente em mim.

Taehyung o viu brincar com a porra sobre a barriga e percebeu que ainda
estava duro. Ele assentiu e o beijou de novo.

Em motel longe dali, um que não era tão caro como o que Taehyung e Yoongi
estavam, Hoseok desabou na cama depois do orgasmo. Respirando alto,
incomodado com o cabelo que gruda na testa.

Não estava satisfeito.


A droga da frustração tomava conta dele feito um vírus.

Sequer olhou quando Bobby ficou de pé e caminhou em direção ao banheiro,


mas acendeu um cigarro e fumou quieto, quase em silêncio não fosse pela
música que continuava tocando baixinho.

Ele vestiu a cueca vermelha e procurou por qualquer coisa alcoólica no


frigobar do quarto, se contentando com uma mini garrafa de vodca. Odiava
aquela merda, mas sentia que precisava esquecer.

Havia um embrulho em seu estômago que não se desfazia.

Bobby o observou de costas e sorriu antes de subir na cama para engatinhar


até ele, para abraçá-lo pelos ombros enquanto deixava beijos carinhosos
pela nuca suada. Os toques dele não eram ruins, o sexo não era horrível...
Mas não era o suficiente.

Hoseok tragou e lhe ofereceu o cigarro.

— Sabe, a gente pode conversar depois de transar. – Bobby sorriu. – Acho


que você precisa disso.

— De sexo?

— Também. Quer dizer, você me fodeu como se quisesse expulsar o


demônio do corpo... Não estou reclamando, mas queria saber o motivo.

— São muitos motivos. Foi mal se peguei pesado.

— Você é bom pegando pesado, Hobi. – lhe devolveu o cigarro. – Então, nós
vamos fingir que você não gemeu dois nomes hoje e nenhum deles foi o meu?

Hoseok bateu com o cigarro sobre o cinzeiro vagabundo e bagunçou o


cabelo como se isso lhe ajudasse a desembaralhar os conflitos que a cabeça
pensava.

— Pensei que não tinha ouvido. – apagou o cigarro.


— Eu não me importo que você chame por outro cara enquanto tá fodendo
comigo, sabe? Se me fizer gozar, 'tá tudo bem.

— Você não tem muito amor próprio, Bobby.

— Nunca me serviu pra nada. – deu de ombros. – Mas você gemeu dois
nomes diferentes e isso é interessante. – sorriu.

— Quer mesmo saber? – o mais novo assentiu.

— Eu sei que Yoongi é o seu melhor amigo. – Hobi assentiu. – Mas quem é
Taehyung?

— É o cara com quem ele tá transando.

— Oh. Acho que 'tô começando entender essa sua cara de apavorado. –
desenhou nas costas dele com a ponta do dedo. – Já pensou em propor um
treesome?

— Cala a boca. – negou, mas riu.

— Por quê?

— Porque eu odeio o Taehyung...

— Hobi, isso não faz sentido, sabe? Você gemeu o nome dele...

— Porque o filho da puta é gostoso pra caralho. Só isso.

— Tesão de ódio, as melhores fodas da minha vida foram assim. – sorriu. –


Notei que não quer falar sobre isso.

— Eu realmente não quero. Mas também não quero voltar para casa.

— Hm. Tem uma festa, é algo mais íntimo, na casa de um amigo meu... Quer
ir?

Hoseok o encarou e arqueou uma sobrancelha. Sabia exatamente do tipo de


festa que Bobby falava, sabia que ir até lá não era uma ideia genial, mas a
cabeça só queria um pouco de sossego, então ele assentiu e o mais novo
sorriu.

— Você vai gostar, eu tenho certeza.

— Eu nunca comi tanto na minha vida. – Jimin suspirou e empurrou o prato


pra longe, negando. – Você ainda aguenta comer mais?

— Meu appa diz que eu estou em fase de crescimento. – disse de boca cheia
e Jimin se aproximou com o guardanapo para limpar o queixo dele que
estava sujo de molho. – Obrigado hyung. – corou e abaixou o rosto.

— Não fique envergonhado assim, você é muito bonito pra manter esse rosto
lindo escondido.

— O hyung me acha bonito? – Jimin assentiu. – Eu também.

— Também se acha bonito? Amor próprio é importante mesmo. – fez um


bico e Jungkook negou, sacudindo as mãos.

— Não... Eu quis dizer que o hyung também é bonito... – ele parecia


nervoso. – Muito bonito...

— Tudo bem bebê, eu 'tô brincando contigo. – ele sorriu até seus olhos se
tornassem duas linhas pequenas.

Jungkook engoliu o pedaço de hambúrguer que mastigava e piscou algumas


vezes antes de sorrir e fazer Jimin franzir o cenho.

— Um mochi. – ele disse.

— O que? – o mais velho não entendeu.

— O hyung me lembra um mochi doce, daqueles branquinhos.

— Um mochi?! – estranhou e Jungkook assentiu. – Ok. – deu de ombros. – E


você gosta de mochi?
— Gosto muito. – assentiu outra vez. – O hyung não gosta?

— Não gosto muito de coisas doces. – gesticulou.

— Não consigo comer coisas amargas ou azedas, me dão azia.

— Por isso que evita beber café?

— Uhum. Mas eu adoro o cheiro de café, eu sempre acordava com o cheiro


de café do meu appa.

— Eu notei que você nunca falou sobre a sua omma... – o sorriso do garoto
se desmanchou. – Oh, desculpe? Não fique triste, por favor, eu lhe trouxe
aqui pra te fazer sorrir.

— Tudo bem , hyung. – sorriu falsamente e isso apertou o coração de Jimin.


– Só não gosto de falar sobre isso.

— Não precisa falar, esqueça, me fale sobre o seu appa... Ele é bonitão
como você? – apoiou o cotovelo na mesa e Jungkook sorriu de verdade.

O garoto ficou sem graça quando o mais velho recusou sua ajuda com a conta
e disse que da próxima vez ele pagaria. O estômago revirou apenas pela
possibilidade de um segundo encontro com Jimin.

Então, ele perguntou se aquilo era mesmo um encontro.

Se Jimin estava vendo daquela forma também.

Caminharam lado a lado pelo shopping que aos poucos parecia se tornar
mais cheio. Logo teria de ir para o trabalho, mas não conseguia sentir
vontade de ir embora. Seguiu Jimin para dentro de uma loja de roupas
masculinas, ficou quietinho enquanto o mais velho perambulava pelos
corredores vazios. Até arregalou os olhos quando puxou a etiqueta de uma
jaqueta preta que achou bonita. Custava mais que um salário inteiro!

Jimin se aproximou dele e também olhou a jaqueta. Era despojada e


confortável, na verdade lhe parecia grande demais, mas combinava com o
estilo de Jungkook. O Park tinha nas mãos duas peças de roupa.
— Achou bonita?

— Uhum. É bonita. – assentiu. – Mas é muito cara hyung. – sussurrou apenas


para ele.

— Me deixa ver. – olhou a etiqueta e estalou a línguas. – É da coleção de


inverno da Balenciaga. Hobi-hyung quase comprou uma.

— O que é Balenciaga, hyung? – franziu as sobrancelhas.

— É uma marca da Gucci, conhece a Gucci?

— Tae-hyung tem muitas roupas dessa Gucci. São bonitas. – sorriu.

— Jungkook, no último corredor estão as meias, você pode pegar quatro


pares pra mim? Apenas as brancas.

— Uhum. – o garoto assentiu e se afastou.

Jimin procurou por uma jaqueta tamanho G e a tirou do cabide, indo


depressa até o balcão onde uma garota sorridente lhe atendeu com gentileza.
Jungkook trouxe as meias, se assustou porque eram as meias mais caras que
ele já havia visto, mas Jimin sequer conferiu o valor antes de passar o cartão
de crédito.

Os dois saíram da loja e foram direto para o estacionamento depois de


pegarem os capacetes. Mas antes que Jungkook colocasse um na cabeça,
Jimin puxou da sacola um embrulho azul marinho e ofereceu a ele.

— O que é isso hyung?

— Um presente. – sorriu e sacudiu o embrulho pesado. – Vai, abre logo!

Desconfiado, o garoto pegou o embrulho e abriu com cuidado, tirando de


dentro dele a jaqueta que havia visto na loja. Ele arregalou os olhos e
encarou Jimin completamente chocado.

— Hyung?! Isso é muito caro!


— Teu pai nunca te ensinou que a gente não pode falar essas coisas quando
ganha um presente?!

— Não posso aceitar. – negou e ofereceu a jaqueta a Jimin que negou


também. – Eu não posso!

— Não é caro pra mim. – deu de ombros. – É um presente pra você, Kookie.
Olha, eu reparei que suas roupas de inverno são muito fininhas e você sai
cedo, chega bem tarde... Ninguém quer que você fique doente, bebê.

— Mas hyung...

— Vou ficar ofendido se você não aceitar, quer me ofender? Quer partir o
meu pobre coração Jeon Jungkook?! – ele se fez ofendido e o garoto negou
várias vezes, desesperado. – Então, aceite. Vai ficar linda em você, porque
você é lindo.

— Obrigado, hyung. – ele se curvou um pouco.

— Me agradeça com um abraço, vamos. – piscou e abriu os braços.

Jungkook, timidamente, aproximou-se dele e foi envolvido em um abraço


quente, um abraço que era capaz de acalmar a mais violenta tempestade
dentro de si.

Jimin despertava muitas coisas ao mesmo tempo.

— Obrigado hyung. – repetiu e Jimin beijou a bochecha dele, para depois


sorrir.

Já estava anoitecendo e Yoongi não conseguia parar de passear com os


dedos sobre a pele dos antebraços de Taehyung.

Em silêncio ele questionava as razões de nunca ter percebido os relevos


cicatrizados ali, escondidos pelas tintas coloridas das tatuagens que
pareciam servir como uma camuflagem perfeita.
Conseguia sentir a respiração pesada contra sua nuca, o sono tranquilo
embalava o garoto que se agarrava ao seu corpo por inteiro não encaixava
com a agonia que aqueles cortes carregavam.

Queria acordá-lo para cobrar respostas, para se desculpar pela ausência de


percepção, para dizer que sentia muito sem saber o motivo. Taehyung o fazia
sentir coisas demais e nenhuma delas era ruim.

Então, ele beijou a pele cicatrizada com carinho, depositando em cada selar
o sentimento que acreditou ser necessário para curar. Ele beijou até que seus
olhos pequenos transbordassem em lágrimas. Yoongi cobriu a boca com a
mão e se encolheu mais dentro daquele abraço, buscando mais e mais...

Porque, de qualquer forma, alguma coisa parecia estar faltando.

Tae se remexeu e ele engoliu o choro temendo ter de dar explicações, mas o
mais novo só suspirou fundo antes de resmungar baixinho. Não era novidade
alguma aquele hábito de ele falar dormindo, mas naquele momento era novo
sussurrar aquele nome.

— Hoseok...

No entanto, sequer sentiu raiva ou ciúme, no entanto não reagiu mal.

Aquele mesmo nome se repetia sem parar dentro de sua cabeça também.

Alguém estava faltando.

— O que você sente?

Bobby fungou enquanto limpava o pó que sujava a ponta de seu nariz, mas
ergueu o olhar para Hoseok que continuava com o mesmo copo de bebida na
mão.

— Você nunca experimentou?

— Não.
— Eu sinto que estou no topo do mundo. – ele sorriu e abriu outro pino,
despejando pó na curva da mão. – O tempo passa no meu ritmo, os meus
problemas somem. – ele aspirou outra vez e secou o nariz com a manga do
moletom.

— Dura pouco tempo?

— Você parece interessado. – sorriu. – Acho que te ajudaria com esses


problemas, sabe? Desligar um pouco o modo ferrado.

— Eu não vou cheirar essa merda. – negou e bebeu mais um gole da bebida
gelada.

— Você quer esquecer? Quer esquecer que precisa voltar pra casa?

— Bobby, eu não vou-

— Eu sei. – riu. As pupilas dele estavam dilatadas. – Tenho uma parada. –


enfiou a mão no bolso do jeans e tirou de lá um saquinho pequeno de
plástico azul. Dentro dele dois comprimidos amarelos que sorriam feito
emojis de aplicativo. – Você vai ficar bem.

— Quando eu 'tô pilhado com a faculdade eu tomo uma parada parecida. –


apontou. - Anfetamina. Meio comprimido.

— Hoje você toma dois. – ele rasgou o saquinho e jogou os comprimidos


dentro do copo de Hoseok. – Vamos nos divertir, Hobi. – abraçou-o pelo
pescoço. – Eles estão se divertindo sem se importar com você. – deu de
ombros. – Mas eu me importo e quero que sinta bem.

Hobi encarou os comprimidos que se desfazem dentro da bebida e sem


pensar muito virou o copo, bebendo tudo de uma vez, amassando e jogando
no lixo antes de puxar Bobby para um beijo bruto. O garoto sorriu e
retribuiu.

Ele só queria esquecer e se aquela era a única forma, tudo bem, ele faria.
11 - eu quero saber o que é o amor

tags da fanfic que possam causar gatilhos: alcoolismo, violência física,


bulimia, automutilação, consumo de drogas.

Eu quero saber o que é o amor

Eu quero que você me mostre

I Want To Know What Love Is - Foreigner

— Tae, para com isso.

O riso de Yoongi encheu aquele quarto de motel.

Ele se debateu um pouco, tentando escapar das mãos do mais novo, mas
Taehyung estava decidido a continuar seus beijos mordidos por toda a carne
dura e macia da bunda dele.

— Você tem a bunda mais linda e incrível que eu já vi na minha vida. – ele
sorriu e beijou a nádega direita de Yoongi, apertando a esquerda depois de
acertar um tapa sonoro.

— Quê? – franziu o cenho. – Você já viu a bunda do Jimin?!


— Eu gosto da sua, Yoon. – segurou-o pelas coxas, subindo as mãos grandes
até que elas envolvessem completamente o bumbum arrebitado que estava
coberto apenas pela calcinha de renda. – Gosto de como ela cabe dentro das
minhas mãos.

Yoongi sorriu, mostrando as gengivas rosadas, e o encarou sobre o ombro.


Observando o maior que se mantinha agarrado a suas pernas dando beijos e
mordidas em tudo da lombar para baixo. Em uma caixinha de som vermelha,
encaixada de forma discreta entre os vidrilhos da parede que separava a
suíte do banheiro espaçoso, a voz única de Klaus Meine cantava entre os
assobios a letra de Wind Of Change.

Havia uma garrafa vazia sobre o móvel ao lado da cama, um cinzeiro de


vidro onde Yoongi batia as cinzas do cigarro aceso entre os dedos magros e
o isqueiro engraçado por causa da estampa de flores coloridas por todo o
comprimento.

Ele encarou aquele objeto e mordiscou o lábio inferior, incapaz de evitar os


pensamentos de irem até o dono dele.

— Quando falou sobre cada um ter suas cicatrizes... Referiu-se aos cortes
nos seus braços?

Tae parou ao deixar um beijo demorado na lombar dele, a boca pairou sobre
a pele branquinha e as mãos foram usadas para içar o corpo pra cima,
engatinhando até deitar com a cabeça sobre os travesseiros e um dos braços
abaixo dela. Ele encarou o teto e Yoongi se virou para olhá-lo melhor,
ficando um pouco mais deslumbrado por aquela beleza que o deixava tonto.

O braço forte, os poucos pelos na axila, o peito largo que subia e descia
conforme a respiração exigia. Taehyung brincou com o piercing preso ao
lábio inferior e depois sorriu fraco.

— Comecei a fazer isso aos treze anos. – ergueu o braço livre até observar
as tatuagens coloridas que faziam de sua pele uma tela e também serviam
para esconder as cicatrizes. – Eu escolhi cada desenho dessas tatuagens com
a convicção de que as cores me fariam esquecer o que tem por baixo... Mas
toda vez que eu olho é como se não existisse nada além dos cortes.
— Você ainda se corta?

— Não. – negou e abaixou o braço. – Eu descobri outras formas de sentir.


Meus pais me fizeram ir a um psiquiatra duas vezes por semana e colocaram
duas babás no meu pé vinte quatro horas. – ele deu de ombros. – Tinha de
tomar banho com a porta aberta. – sorriu e Yoongi chegou mais perto dele,
segurou-lhe o braço com carinho e deu um jeito de deitar usando-o como
travesseiro enquanto deixava os próprios dedos tocarem os traços das
tatuagens que camuflavam os cortes antigos.

— Por quê?

— Porque eu odiava estar naquela família e odiava ainda mais o fato de eles
também não me quererem nela. – Yoongi ergueu a cabeça e o encarou,
hipnotizado pelos cílios grossos que se moviam lentamente a cada vez que
os olhos castanhos piscavam. – Eu odeio o meu irmão mais velho.

— Quer falar sobre ele? – Tae negou uma vez. – Tudo bem, então não vamos
falar sobre ele.

— Ele não é uma pessoa boa, Yoongi. Não como quando a gente vacila
sobre qualquer coisa... Taewoo tem uma natureza ruim e eu sei de coisas que
ele fez. Coisas que ele não quer mais ninguém sabendo.

— Você tem medo dele?

— O tempo todo. – assente. – Mas eu não deixo que ele saiba mais. – o
abraço trouxe Yoongi pra mais perto, praticamente fazendo-se enroscar no
corpo maior feito um gato manhoso. – Foi bom ter vindo pra cá.

— Eu 'tô feliz que você esteja aqui, que tenha vindo morar no mesmo lugar
que eu... Por ter te conhecido. – sorriu. – Quando a gente fica, tenho a
sensação de que posso fazer qualquer coisa, Tae.

— Mas você pode fazer qualquer coisa. – franziu o cenho.

— Quando eu era criança e adolescente... – começou a desenhar círculos


sobre o abdômen do mais novo. – Tive um problema... Foi muito sério e por
causa disso até hoje os meus pais cuidam muito de mim, sempre me
limitando sobre muitas coisas. – rolou os olhos. – Como se eu fosse feito de
vidro, sei lá.

— Quer me contar?

— Já ouviu falar de anemia falciforme? – a careta de Tae fez Yoongi rir um


pouquinho. – É uma doença hereditária, meu avô paterno teve. Alteração de
glóbulos vermelhos do meu sangue. As células alteradas se rompem muito
fácil e causa anemia... Severa. Minha hemoglobina não transportava oxigênio
do jeito que devia. É muito raro em asiáticos, mas aqui estou para quebrar
essa raridade. – sorriu debochado.

— Como descobriu que tinha isso?

- Começou com sintomas leves, eu sempre fui magro e pálido como o meu
appa, mas depois que fiz seis anos as coisas ficaram mais sérias. Não era
natural um garotinho de sete anos sentir tanta dor nas articulações como um
idoso... Eu passava dias chorando e sem conseguir me mover. Eram duas
vezes ao ano, sempre quando esfriava ou quando meus pais brigavam
demais. – suspirou. – Meus pés ficaram inchados e vermelhos, então depois
de alguns exames descobrimos o que era.

— Demorou até se curar?

— Na verdade eu não estou curado, mas eu 'tô bem e posso viver


normalmente se tomar alguns cuidados. – sorriu.

— A cicatriz. – Tae tocou o quadril dele.

— Um pequeno acidente num verão abafado. – resumiu. – Mas foi algo que
agravou tudo porque descobriram que era muito mais grave do que parecia
ser. Foi quando eu aceitei morrer.

— Aceitou?

— É. – assentiu. – Eu cheguei a escrever cartas de despedida, mas o


Hoseok-
Ele se calou mordiscando o lábio inferior.

Tae ficou quieto.

Os dois ficaram quietos pelo tempo do refrão de I Don't Wanna Talk About
It porque Rod Stewart parecia compreender melhor que ambos os conflitos
que aconteciam dentro de suas mentes.

Nenhum deles queria falar sobre Hoseok. Não ali, não enquanto nus naquela
cama, não nos braços um do outros... Não propensos a possibilidade de
deixar transparecer o quanto ele afetava tudo.

— Ele achou a carta que escrevi pra ele... – disse baixinho. – E me fez
prometer que ficaria vivo, mesmo que ninguém pudesse prometer algo assim.

— Mas você prometeu.

— Como sabe disso? – o encarou depois de deitar sobre o corpo dele,


apoiando o queixo sobre as mãos espalmadas no peito nu de Taehyung.

— Porque você 'tá aqui agora. Você prometeu e cumpriu. – retirou as mechas
da franja esverdeada, penteando para trás até expor a testa lisa. – Tenho
pensando muito sobre você, Yoongi.

— É recíproco. – sorriu um pouco.

— Eu detesto rotular coisas então, não acho que a gente precise dar nomes
ao que a gente é.

— Eu concordo com você. – assentiu. – A gente é. E está tudo bem assim.


Sem pressa?

— Eu só sinto pressa quando é pra te beijar de novo e de novo e de novo. –


sorriu quadrado e o virou na cama, invertendo as posições enquanto Yoongi
ria. – Gatinho. – sussurrou preso dentro do olhar felino.

Yoongi sorriu e assentiu uma única vez, eufórico pela paixão que o queimava
de dentro para fora, que o levava a crer que aquele era sim o lugar certo
para estar.
E Taehyung sabia que era porque sentia que os braços foram feitos para ter o
mais velho dentro deles...

No entanto, o lugar certo ainda não estava inteiro e sobrava espaço dentro
daquele abraço.

— Filho, me desculpa não te atender mais cedo.

Jungkook sorriu e fechou a porta dos fundos com cuidado. O bar estava para
abrir, mas não demoraria muito de qualquer forma.

— Tudo bem appa, não se preocupe.

— Me ligou três vezes, aconteceu alguma coisa?

Jungkook mordeu a ponta do polegar e encarou o avental preto que usava.


Estava frio, flocos pequenos de neve caiam sem parar pintando tudo de
branco até onde ele conseguia enxergar.

— Jungkook?

— Appa, ontem foi o aniversário do Hoseok-hyung. – encostou a lateral do


corpo na porta.

— Diga que eu desejei muitas coisas boas pra ele.

— Eu vou dizer, appa.

— Agora me conte o que aconteceu? – Chinhae suspirou do outro lado da


linha. – Você sabe que somos amigos, Jungoo.

— Nós fizemos uma festa surpresa para o hyung, apenas nós sete. – ajeitou
os óculos. – Tinha comida, bebida e bolo de chocolate. – o bico ansioso o
deixava adorável. – Appa eu beijei o Jin-hyung.

— Oh. Ok. Isso é... Certo. Antes de qualquer coisa: você queria beijá-lo?
— Sim. – assentiu. – Hobi-hyung disse que eu não precisava, mas eu quis.

— Certo. E como se sentiu?

— Não tenho muito com o que comparar, mas eu gostei. – ele estava
envergonhado. – Eu sou gay?

— Jungoo, você sabe que outras pessoas não podem definir o que você é
ou o que sente. Se sente atraído por Jin?

— Atraído?

— Você gostaria de beijá-lo outra vez?

— Ah. Não... Quer dizer... Jin-hyung é um homem muito bonito appa, ele é
legal e engraçado, mas... Só.

— O que você sentiu quando se beijaram e o que sente agora quando o vê?

— Eu me senti nervoso e ansioso, também senti gosto de chocolate. –


Chinhae riu e Jungkook sorriu. – Quando eu o vejo ainda acho que ele seja
muito bonito, mas o Hobi hyung também é bonito... Appa eu beijei um
homem, isso faz de mim gay.

— Filho, você beijou. Não fique martelando na sua cabecinha a


importância do sexo da outra pessoa. São pessoas. – Jungkook assentiu. –
Você não precisa se rotular, diz pra mim: por que acha necessário definir o
que você é quanto a isso?

— Porque eu quero ser normal, appa.

— Jungkook... – ele suspirou. – O que eu sempre te digo?

— Que sou especial.

— Você é especial e único! É o meu garoto de ouro, e um gênero não vai


mudar isso... Beijar garotos ou garotas não quer dizer nada sobre
ninguém, mas o seu caráter sim. Quer dizer que se Jin fosse uma mulher,
você seria hétero mesmo nunca ter sentido interesse por garotas?
Jungkook mordeu o polegar de novo e refletiu.

O pai estava certo.

— Não, appa... É que...

— Hm? Conte pra mim, vou te ajudar.

O garoto ficou quieto, a ponta do tênis surrado começou a desenhar círculos


na neve que derretia sobre o piso de madeira escura. Ele observou a mão, os
dois anéis prateados que enfeitava polegar e indicador, depois a manga da
jaqueta.

A jaqueta que Jimin lhe dera.

Tão bonita.

Sorriu um pouco e respirou fundo.

— Appa... Quando o Jimin-hyung sorri pra mim eu me sinto estranho.

— Estranho? Como?

— O meu coração... Bate mais rápido. – agarrou a camisa branca na região


do peito. – Eu li na internet que garotos da minha idade, quando sofrem
infartos, morrem rápido!

— O que?! Jungkook você não vai ter um infarto! – o Jeon mais velho
estava gargalhando.

— Como não?! Appa, eu 'tô falando sério? Bate rápido demais, é assustador.

— Fique tranquilo, você não está enfartando filho. Isso acontece porque o
sorriso de Jimin te deixa feliz.

— Subir de nível no Overwatch me deixa feliz, mas o meu coração não


acelera assim.
— É um tipo diferente de felicidade. Responda-me uma coisa... Só o seu
coração reage assim a Jimin?

— Como assim?

— O seu corpo, Jungoo. Você sente outras coisas? – o silêncio fez o


homem suspirar. – Você fica de pau duro?

— APPA?! – ele arregalou os olhos. – O que... Como que... Meu Deus!

— Se acalma! Para com isso! Eu cansei de ver esse a sua cenourinha,


garoto.

— Eu vou desligar! – ameaçou e Chinhae gargalhou. – Não é uma


cenourinha!

— Sempre será. Responda a pergunta, filho.

— Hm... Quando eu o vejo cantando... Eu fico quente, só isso.

— Quente? Ele é bonitão?

— Ele é pequeno, appa. Mas é forte e tem um cheiro bom.

— Diz que você não cheirou as roupas dele, Jeon Jungkook.

— Uma vez só. Ontem. – deu de ombros. – Vou te mandar uma foto dele mais
tarde.

— Mande sim, quero ver o bonitão que te fez pesquisar sobre infartos. – os
dois riram um pouco. – Ele é bom com você?

— Uhum. – encarou outra vez a manga da jaqueta e sorriu. – Ele me levou


para patinar na neve... E depois para almoçar.

— Um encontro?

— Acho que não. – negou. – Jimin-hyung só é legal comigo.


— Deveria perguntar pra ele, sabe? Se foi um encontro e se ele disser que
sim, o convide para ir ao cinema.

— E se ele disser que não foi?

— Você o convida para que seja um encontro.

Jungkook se virou quando viu a porta abrir, quase caindo para dentro da
cozinha.

— Ah, você 'tá aqui! Preciso da sua ajuda. – Heechul sorriu. – Por favor?

— Claro! – o garoto assentiu. – Appa eu preciso desligar agora.

— Tudo bem, bom trabalho. Eu te amo, filho.

— Também te amo, appa.

Ele desligou e o dono do bar sorriu, lhe bagunçando os cabelos escuros.

— Isso me fez sentir falta do meu appa. Vou ligar mais tarde. Agora me ajuda
com aquelas caixas de cerveja, use esses braços musculosos.

Jungkook sorriu e entrou com Heechul.

Namjoon soprou dentro das mãos curvadas em concha, tentando aquecê-las


depois de ter esquecido as luvas em casa. Apertou a campainha outra vez e
sorriu ao ouvir os latidos animados dos dois cachorros grandes que
correram para o portão.

— Oi! Vocês também estão com frio? – os cães latiram, eram dois vira-latas
pequenos, mas muito energéticos que não paravam de pular em busca de
carinho e atenção.

— Jack e Rose, parem com essa bagunça. – a voz cansada fez Namjoon
sorrir ainda mais. A velha senhora caminhou até o portão e abriu usando as
chaves barulhentas. – Oi, Joonie-ah.
— Oi halmeoni. – ele a abraçou, erguendo o corpo pequeno nos braços
fortes. A senhora gritou e lhe deu um tapinha no ombro, mas acabou por
sorrir e dar um beijo na bochecha dele. – Que saudade.

— Sente saudade porque é um sem vergonha que não me visita! – Namjoon


trancou o portão e seguiu a mulher para dentro da pequena casa pintada de
rosa claro. – Vem aqui, deixa eu te ver direito.

Kang Nari era baixinha. Os cabelos brancos se mantinham curtinhos e soltos


desde sempre, mas muito bem penteados. Recentemente completou sessenta e
cinco anos, mas sua vitalidade não permitia que a idade influenciasse no dia
a dia.

Não era avó de Namjoon, nenhum laço sanguíneo os ligava além do laço
sentimental. Para ambos, esse sim era importante.

— Essas bochechas estão cheinhas. – ela sorriu depois de ele se curvar um


pouco. – Mas esses olhos... Tão tristes. – negou. – Acho que previ a sua
visita, eu fiz hotteok. Vem, vamos lanchar.

Namjoon aceitou ser levado pela mão. Não demorou até os dois estarem
sentados ao redor de uma pequena mesa de madeira e ferro compartilhando
os hotteok e também chá quente hortelã e frutas vermelhas.

O casaco pesado dele estava pendurado atrás da porta e os cachorros


deitados perto de seus pés. Nari colocou a xícara sobre a mesa quando notou
que ele parecia nostálgico.

— No que está pensando?

— A senhora sempre fazia hotteok quando eu chegava da escola. Eu comia


no quarto.

— Mas sem deixar farelos. – lembrou e ele sorriu. – Eunji-ssi detestava que
as refeições fossem feitas nos quartos.

— No entanto, nunca estava em casa pra compartilharmos aquela mesa de


jantar enorme. – suspirou. – Appa me ligou ainda a pouco, falou sobre a
estréia de um drama novo...

— Querem que você vá?

— Ele disse que comentam sobre o único filho nunca estar ao lado deles...
Não é por sentir minha falta. – Nari suspirou. – Sabe que não estou
mentindo.

— Eu sei que você é teimoso. – ela serviu-se de mais chá. – Eles querem
trazer você para perto, mas você não permite.

— Tenho os meus motivos.

— O primeiro passo para que as coisas se ajeitem é que vocês conversem,


Namjoon.

— Perdoar a negligência com um almoço em família? – negou. – Eu não sou


bom o suficiente pra isso.

— Namjoon... – ela suspirou. – Você não precisa assumir esse papel, não
precisa ser o cara mau... Não sente vontade de superar tudo isso?

— Ainda tenho pesadelos, ainda sou um babaca egoísta com quem não
merece... O que eu mais quero é superar isso... Mas eu não consigo,
halmeoni.

— Deveria voltar a fazer terapia.

— É um prato cheio pra trazer aquela merda toda de volta, não dá pra
confiar... Não quero ser material para investigação no jornal das dez outra
vez. – negou e sorriu sem jeito. – Acho que vou embora.

— Namjoon...

— Eu machuco as pessoas que estão ao meu redor, eu não me encaixo em


lugar nenhum e não acho que sentiriam a minha falta. – deu de ombros.

— Existem pessoas que precisam de você...


— E que ficariam melhores sem mim...

— Eu preciso de você, Joonie-ah. – Nari segurou a mão dele e fez carinho,


sorrindo enquanto algumas lágrimas pingavam sobre a mesa. – Sei que talvez
eu nem dure mais alguns anos, mas preciso de você.

— Não chora. – ele negou e se atrapalhou a pegar um guardanapo,


estendendo para a mais velha. – Eu não vim aqui pra te fazer chorar, me
desculpa?

— Faz muito tempo... – ela secou os olhos. – Que não vou ao cinema.

— Ah, então a senhora me daria a honra de levá-la ao cinema, halmeoni?

— Um rapaz tão bonito quer sair comigo? – ela afagou a bochecha de


Namjoon. – Será um prazer.

Namjoon riu e começou a recolher as xícaras e pratos, colocando-os na pia.


Nari o observou em silêncio. Não havia nada daquele garotinho assustado no
homem que quase derrubava suas xícaras de porcelana, mas mesmo que por
fora Kim Namjoon parecesse tão forte, por dentro aquele menino ainda
existia.

E ele ainda vivia assustado.

— Ok, eu vou atrás dele! – Jimin guardou o celular no bolso do jeans, mas
antes que saísse, Jaebum o segurou pelo braço.

— Jimin-ah, calma.

— Não dá pra ficar calmo! Hobi-hyung nunca fez isso! – gesticulou. O


cabelo estava preso para o alto, num coque desajeitado que parecia perfeito
demais pra ser normal. Ele usava preto, a jaqueta de couro era comprida
demais e lhe escondia as mãos pequenas... Do outro lado do bar, Jeon
Jungkook não conseguia parar de olhar pra ele. – Não atende o celular, nem
visualiza as mensagens!
— Ele só se atrasou.

— Hoseok não se atrasa, Jaebum... Eu confesso que também 'tô preocupado.


– Jinyoung tirou a guitarra que estava pendurada no ombro e a colocou em
um canto do palco pequeno. – Ele detesta atrasos.

— Eu vou atrás dele.

— Jimin, você nem sabe por onde começar a procurar, daqui a pouco esse
lugar vai encher e a gente precisa de você aqui...

— Jinyoung-hyung, eu 'tô com um pressentimento... – ele respirou fundo. –


Vou ligar pro Yoongi-hyung.

Ele sacou o celular, mas o primo segurou-lhe o pulso e negou.

— Pergunta pessoalmente. – apontou para a entrada onde Yoongi e Taehyung


entraram de mãos dadas, acenando para Jungkook.

Jimin pulou do pequeno palco, as botas pesadas fizeram barulho e Yoongi


ficou confuso ao ver o semblante preocupado dele.

— Hyung, cadê o Hobi-hyung?!

— Que? – ele franziu o cenho e Tae também. – Eu...

— Falou com ele hoje? Sabe onde ele tá?

— Não Jimin, eu estava com o Tae... Ficamos juntos o dia todo. – negou. –
Eu não sei do Hoseok... Mas, por quê?

— Ele não chegou ainda.

— O cara deve 'tá atrasado, sei lá... – Taehyung deu de ombros, as mãos
livres tateavam os bolsos da roupa em busca dos cigarros. – Que drama.

— Hoseok não se atrasa. – o mais velho entre eles murmurou. – Nunca.


Ligou pra ele Jimin?
— O dia todo. Ele ficou sozinho em casa, mas quando eu e Jungkook
chegamos não estava mais.

— Eu vou ligar para os pais dele. – Yoongi pegou o celular entre as mãos.

— Por que você precisa fazer isso? – Jimin encarou Tae e ficou confuso.

— Porque eles são amigos? – debochou. Yoongi já fazia a ligação.

— E isso faz dele babá do Hoseok também? – sorriu com desdém. – Isso é
ridículo.

— Sem tempo pra você agora, Taehyung, sério. – o Park negou e Yoongi se
afastou para falar ao telefone. – Não aja como um babaca.

— Não estou agindo, só acho esse drama todo um exagero. – deu de ombros
e acendeu um cigarro mentolado.

— Me arruma um desses.

— Pensei que odiasse mentolados.

— Vai logo, 'tô nervoso caralho.

Jimin pegou o cigarro e colocou entre os lábios grossos, aceitando que o


mais novo o acendesse com o isqueiro de prata. Jungkook, que os observava
de longe, desviou o olhar e empurrou a língua na bochecha cheinha.

— Yoseob-ssi disse que não fala com Hobi desde ontem, agora fodeu de vez
porque ele ficou bravo. – suspirou e fez outra ligação.

— Tá ligando pra quem?

— Pro Hoseok.

— Inacreditável. – Tae rolou os olhos e soprou a fumaça pro alto. -


Inacreditável.

— O que?
— Esquece.

Ele saiu andando e Yoongi guardou o celular antes de ir atrás dele.

— E lá vamos nós novamente. – Jimin suspirou e caminhou até o balcão do


bar, chamando a atenção de Jungkook que organizava copos em uma
prateleira preta. – Bebê, pode me servir uma dose de uísque?

— Uhum. – o garoto assentiu e se virou para preparar a bebida.

— Puro. – Jimin tragou e soltou a fumaça pro lado, observando as costas


largas do garoto. – A jaqueta ficou bem em você.

— Obrigado, hyung.

— Você fica bem nessas roupas enormes, te fazem parecer ainda mais forte.

— São confortáveis. – ele colocou o copo com a bebida na frente de Jimin e


anotou na comanda branca que levava o nome de Park Jimin. – Hyung?

— Hm? – ele bebericou e fez uma careta horrível. Jungkook riu. Ele era fofo.

— Se o gosto é ruim, por que está bebendo?

— Porque a vida é assim. Nem sempre ela é doce, mas a gente precisa
continuar vivendo. – sorriu. – Você queria me perguntar isso?

— Não. – negou e coçou a nuca. – Hoje... Quando fomos patinar... Foi... Foi
como um encontro?

Jimin franziu o cenho e deixou o copo sobre o balcão, tragando


demoradamente o cigarro antes de apoiar o cotovelo também. O garoto
parecia ansioso para a resposta, os olhos grandes lhe fitavam quase sem
piscar. A ponta do nariz de Jungkook estava vermelhinha, as orelhas também
e isso fez o mais velho sorrir.

Aquela timidez o encantava.

— Você já foi a um encontro?


— Não.

— Você gostou de sair comigo hoje? – o mais novo assentiu e sorriu. –


Então, foi um encontro sim.

— Sério?

— E foi um dos encontros mais divertidos que eu já tive. – piscou e


Jungkook quase acreditou que estava enfartando, o coração batia mais rápido
do que nunca. – Mas você patina muito mal.

— O hyung quer... Quando tiver tempo... Ir ao cinema? Se não quiser, eu


entendo! Jimin-hyung é ocupado com as aulas e a banda, também com suas
coisas... Ah, eu não quero atrapalhar o hyung, desculpa? Deixa isso pra lá e-

— Eu quero, Jungkook. – ele apagou o cigarro e sorriu. Jungkook fungou e


coçou o nariz com a manga da jaqueta. – O que foi? É o cigarro? – ele negou.
Jimin pegou o cinzeiro e ergueu até próximo ao nariz dele que começou a
espirrar e fungar. – É o cigarro. Jungkook você vive numa casa cheia de
marias-fumaça, por que não disse que te faz mal?

— Não quero atrapalhar ninguém, hyung.

— Ninguém mais vai fumar perto de você naquela casa. – negou. – E, por
favor, quando algo te incomodar diz pra gente, bebê. – ele estendeu a mão
pequena e Jungkook a encarou antes de entrelaçar os dedos aos dele. Eram
pequenos, mas tão fortes. – Promete?

— Uhum, eu prometo Jimin-hyung. – assentiu e sorriu. Uma euforia


inexplicável lhe aquecia os pés a cabeça. – Obrigado.

— Eu estava morrendo de preocupação, mas conversar com você me


acalmou então eu que agradeço. – sorriu e se esticou para frente até deixar
um beijinho na bochecha do mais novo. – Não vou te atrapalhar mais.

Ele puxou a mão e se afastou, outra vez tentando ligar para Hoseok. E
Jungkook ficou ali o olhando, hipnotizado e com o coração descompassado.

Hoseok não apareceu.


A Cypher se desculpou pela ausência inédita do baterista e tocaram baladas
românticas que não exigiam uma percussão forte. O bar lotou. Seokjin
apareceu com a garota de cabelo azul e a apresentou como Sunmi, não
demorou até que a simpatia da garota a fizesse ter espaço naquela mesa
compartilhada com Yoongi e Taehyung.

Eram duas da manhã quando chegaram em casa, deixando uma torre de


sapatos para trás e empilhando casacos para neve nos ganchos presos à
parede do corredor estreito.

Namjoon estava acordado, deitado no sofá e embolado em cobertores


grossos.

— Namjoon, o Hoseok tá aqui? – ele estranhou, mas negou a resposta de Jin.

— Não. Ele não estava com vocês?

— Você falou com ele hoje?

— Não. Só de manhã, na hora da briga. – ele ficou de pé e calçou as


pantufas felpudas que combinavam com o pijama listrado. – Ele não 'tá com
vocês?

— Não apareceu pra tocar, não atendeu ou visualizou as mensagens. – Jimin


tentou ligar de novo, xingando um palavrão ao ouvir pela milésima vez a
mesma mensagem de voz da operadora. – Merda!

— Ligaram para os pais dele?

— Eu liguei, não falam com ele desde ontem. – Yoongi sentou no sofá e
respirou fundo. – Ele nunca fez isso.

— Eu acho que é um exagero. – Tae deu de ombros.

— Taehyung, é o seguinte... – Jin colocou as mãos nos quadris. – Eu quero


que se foda essa birra idiota entre você e o Hobi, mas aqui nesta casa nós
somos uma família e uma família se importa! – ergueu a voz.

— Vou ligar para uns amigos nossos, perguntar se alguém viu o Hobi hoje...
– Namjoon tirou o celular que estava carregando num canto da sala. –
Alguém tentou falar com a Jiwoo-noona?

— Acha que talvez a gente deva ir até os hospitais aqui perto? Ele saiu de
moto e pode ter caído...

— Calma, Jimin-hyung... Não chora. – Jungkook sentou ao lado dele, no


degrau da escada. – Jimin fungou e assentiu. – Eu posso ir junto, a gente
procura ele e-

Então tocaram a campainha.

Os seis olharam em direção a porta, mas Taehyung estava mais perto e foi
até ela para abrir. Ainda conseguiram ouvir o motor de um carro barulhento
dar partida antes de ela ser aberta.

O vento frio atingiu o rosto de Tae e ele franziu o cenho, não havia ninguém
ali, mas abaixou os olhos e o que viu pareceu atingir em cheio no peito.

— Hoseok?!

Ele se foi até os degraus da entrada, ajoelhou no chão e segurou o rosto do


mais velho.

— Hoseok?!

Os outros cinco correram, trombando um no outro ao passar pelo corredor.


Hobi estava desacordado, suas roupas cheiravam a vômito e álcool. Nos pés
apenas meias sujas o calçavam e havia hematomas pelo rosto úmido.

— Hobi? – Yoongi ajoelhou também, as mãos tremiam enquanto tocavam


Hobi. – Hoseok... O que fizeram contigo...

— Jimin tira sua moto. – Jin já estava calçando os sapatos, as chaves do


carro nas mãos e o controle do portão da garagem ao lado, piscando. –
Namjoon me ajuda a pegar ele.
— Taehyung, sai...

— Não... Eu...

Jimin o puxou com força para trás, dando espaço para Namjoon e Seokjin
pegarem Hoseok com cuidado. Yoongi caiu sentado na neve e observou tudo
como em câmera lenta.

Namjoon colocou Hobi no banco traseiro, Jimin sentou e ajeitou a cabeça do


hyung sobre suas coxas, pouco preocupado com o vômito azedo que escorria
pelo pescoço dele.

Yoongi ficou de pé, descalço correu para dentro da casa e voltou com as
chaves do próprio carro em mãos, mas tremia tanto que Tae segurou suas
mãos e pegou as chaves para si.

— Eu dirijo, 'tá bom? – o mais velho assentiu.

— Eu só vou pegar um casaco. – Namjoon correu para dentro da casa, mas


parou para encarar Jungkook que de olhos arregalados o olhava de volta. –
Calce seus sapatos, ok? – o garoto assentiu. – Pegue o seu casaco e entra no
carro do Yoongi.

— Sim... Namjoon-ssi...

— Hyung. – negou uma vez. – Só hyung.

Jungkook assentiu e seus olhos se encheram de lágrimas.


12 - não chore

Sei como você se sente por dentro


Já passei por isso antes
Algo está mudando dentro de você
E você não sabe

Don't Cry - Guns n Roses

O corredor do hospital estava vazio pelo pouco fluxo de pessoas e


funcionários, mas seis homens continuavam apreensivos a qualquer sinal que
pudesse indicar a aproximação de alguém desconhecido.

Namjoon segurava um copo de café quente; Seokjin, de olhos fechados,


procurava manter-se calmo; Yoongi trocava mensagens com Jiwoo enquanto
Tae o abraçava por trás fingindo não ler o teor da conversa; e Jimin se
encolhia em uma dos bancos confortáveis ao lado de Jungkook.

— Quer um café? Eu pensei em pegar um pra mim.

— Jungkook, você não gosta de café. – ele murmurou e respirou fundo. – Eu


queria que alguém dissesse se ele 'tá bem.

— Você sabe que notícias ruins chegam logo, devem estar cuidando dele
Jiminie. – Namjoon jogou o copo vazio no lixo. – Vou pegar outro, alguém
quer alguma coisa?

— O meu é sem açúcar. – Yoongi não tirou os olhos do celular. – Por favor?

— Não quero nada. – Tae negou e encostou a cabeça na parede fria atrás de
si.

— Seokjin-hyung? – Jin arqueou as sobrancelhas ao ouvir seu nome e abriu


os olhos para encarar Namjoon e lambeu os lábios secos assentindo. – O de
sempre?

— Por favor.

— Hm, eu não vou conseguir trazer tudo sozinho, quer vir comigo Jungkook?

O garoto arregalou os olhos e assentiu três vezes. O convite o deixou


nervoso, mas a mão pequena de Jimin afagou seu braço mesmo que olhos
marejados não o encarasse.

— Vamos?

Os dois saíram em direção ao elevador e Yoongi guardou o celular no bolso


da jaqueta pesada, relaxando o corpo contra o de Taehyung.

— Os pais dele estão vindo pra cá. – lamentou e Jimin bufou.

— A gente não pode ficar pensando que é algo ruim, nós estávamos
preocupados e por isso tivemos de ligar pra eles. – Jin ajeitou a postura. – A
gente não sabe o que aconteceu.

— Alguém o largou ali, alguém que sabe onde ele mora. Não tem nada na
carteira dele além dos documentos. Dinheiro, cartão de crédito... Nada. –
Jimin passou as mãos pelo rosto. – Mas era alguém que ele conhecia.

— Porque esse alguém sabe onde ele mora. – Yoongi completou. – Mas o
rosto dele está machucado, bateram nele... – a raiva o fazia tremer dos pés a
cabeça, Tae acabou o soltando quando percebeu que o mais velho queria
caminhar pelo corredor de um lado ao outro. – Ninguém sabe com quem ele
saiu?
— Você deveria saber. É o melhor amigo dele. – Jimin murmurou.

— Jimin. – o mais velho entre eles suspirou. – Agora não é o momento.

— O que você quer dizer com isso?

— O que o hyung acha que eu quero dizer? – arqueou uma das sobrancelhas.
– Se é o melhor amigo e não sabe com quem ele estava, como nós íamos
saber?

— Ser melhor amigo do Hoseok não me obriga a estar grudado com ele vinte
e quatro horas por dia, Jimin!

— Mas te obriga a se importar! Depois daquela briga só ignorou ele e não-

— E você está me cobrando? Você foi consolar o Taehyung!

— Porque eu pensei que você iria tentar conversar com o Hobi-hyung! –


Jimin ficou de pé.

— Pelo amor de deus parem de brigar, esse não é o momento! – Jin rolou os
olhos. – Jimin senta essa bunda grande no banco e Yoongi senta essa sua
bunda magra no outro. – apontou. Ele estava sério demais.

Seus olhos cansados encararam o único silêncio naquele corredor e se


estreitaram ao notar o semblante preocupado. Jin suspirou e teve certeza que
alguma coisa estava acontecendo na mente do mais novo.

O som de uma porta abrindo os fez encarar o final do corredor, apreensivos


com a aproximação de uma enfermeira baixinha e de cabelos curtos. Ela leu
algo em um tablet e encarou os quatro.

— Familiares de Jung Hoseok?

— Nós mesmos.

— Aqui consta que vocês moram juntos, mas não são parentes.
— Moça pelo amor de deus sem tempo pra isso, fala se o meu hyung tá bem!
– Jimin gesticulou e a mulher suspirou assentindo.

— Ele está em observação. – ela guardou o tablet dentro do jaleco. –


Hoseok-ssi sofreu uma queda brusca de pressão depois de uma arritmia
cardíaca causada pelo consumo excessivo de álcool e anfetamina.

— O que?! – Yoongi quase gritou.

— Agora ele está em observação, mas eu preciso que vocês acionem um


advogado.

— Advogado? Como assim? – Taehyung se manifestou.

Seokjin já tinha o celular em mãos e mandava mensagens para Namjoon


voltar o mais rápido possível. Jimin tomou a frente da situação e assentiu,
ele compreendia melhor.

— Nos dê apenas uma hora, por favor?

— Eu não controlo isso, sou apenas plantonista, o hospital já deve ter


acionado a polícia. – lamentou, ela via o desespero nos olhos dos jovens. –
Mas terão de esperar até que ele acorde, isso dá tempo.

— Ok, muito obrigado. – ele se curvou e a mulher fez o mesmo antes de sair.
– O Namjoon tá subindo? Eu ainda não posso fazer essas coisas...

— Ele 'tá vindo. – assentiu. – Nós precisamos que os pais do Hobi cheguem
logo.

— Por quê? Ela falou da polícia! Vão prender o Hoseok?!

— Yoongi o que ele fez é ilegal. – explicou pacientemente. – A polícia vai


fazer perguntas pra ele principalmente pra saber de quem ele comprou,
entendeu? Ninguém vai prender o Hobi, a gente não vai deixar.

Namjoon caminhou apressado até eles, entregando os dois cafés nas mãos de
Taehyung enquanto Jungkook entregava dois nas mãos de Seokjin.
— Eu vou pedir para o meu chefe do estágio me orientar, mas já sei o que
fazer. – assentiu. – Preciso falar com o Hobi antes da polícia e eu quero que
você... – encarou Jimin. – Vá até a república e procure entre as roupas dele,
nas coisas dele, tudo! Se você achar qualquer coisa se livra, ok?

— Ok. Eu não sei dirigir bem e-

— Aqui, Jungkook vai com você. Ele dirige. – Yoongi colocou as chaves
dentro da mão de Jungkook. – Por favor, vão logo.

Os dois saíram apressados.

— Ele 'tá acordado?

— Não sei. – Jin negou. - Não tem ninguém por aqui, foda-se, vamos entrar.

A primeira coisa que Hoseok visualizou quando abriu os olhos foi uma
cereja.

Ele franziu o cenho e se sentiu tonto, o estômago revirou depressa e sentiu


muito frio. Piscando sem parar conseguiu compreender que o que via se
tratava de um pequeno quadro a tinta óleo pendurado na parede branca.

A nuca doía tanto quanto o lado direito do rosto que ele tocou para notar o
inchaço acima da bochecha, aos poucos retomando a consciência do que
havia acontecido. Entretanto, Hoseok só se lembrava até certo ponto depois
disso tudo era um apagão.

Remexeu o corpo se virando com cuidado graças à agulha do soro preso a


mão direita, gemendo pelas dores nas costas até a porta abrir e quatro
pessoas entrarem por ela.

— Hobi.

Yoongi correu até o leito e o abraçou, praticamente subindo sobre o corpo


machucado. Hobi gemeu de dor, mas o abraçou de volta, afagando as costas
dele como podia. Tae ficou parado assistindo aquela cena sem dizer nada, os
olhos grandes pareciam assustados com a confusão de sentimentos dentro
dele. Alívio, ciúmes, medo, preocupação e vontade.

Vontade de fazer a mesma coisa que Yoongi estava fazendo.

Tudo era tão confuso.

— Ai, ai... Yoon... Calma! – Hoseok choramingou.

— Me desculpa! Desculpa! – se afastou e o segurou pelo rosto. – Você tá


bem? Tá sentindo dor?! O que aconteceu?

— Yoongi, se acalma... A gente precisa falar bem rápido antes que venham
tirar a gente daqui. – Jin se aproximou da cama.

— Hobi o hospital acionou a polícia.

— Que?! – ele arregalou os olhos.

— Eu preciso que você seja muito sincero comigo, entendeu? – ele assentiu
para Namjoon. – Você usou alguma coisa além de maconha ontem? – Hobi
assentiu. – Ok.

— Hoseok?!

— Yoongi, agora não! – Jin pediu sem paciência e Tae puxou o menor para
perto, negando um pouco.

— Tinha anfetamina no seu organismo... Você comprou isso ou alguém te


deu?

— Bobby... Ele colocou duas no meu copo e depois dividimos um


comprimido.

— Bobby? Quem é Bobby?

— Como eu vim parar aqui? – Hobi penteou o cabelo para trás, com a mão
livre do soro. – Me lembro de subir pro quarto com ele... A gente ficou e
depois aconteceu uma briga... Depois disso eu não... Cadê o Bobby?

— O Bobby largou você desacordado na varanda de casa. – O Min disse


com deboche. – Quem é ele?

— Quando a polícia te perguntar você vai contar o que eu vou te dizer agora.
– Hobi assentiu. – Vai dizer que foi para essa festa com um cara, que só o
conhecia naquele lugar e que ele colocou alguma coisa na sua bebida... Você
sabe o nome real desse cara?

— O que? Não, eu não vou jogar isso pra cima do Bobby! – negou. – Ele não
me obrigou a nada.

— Hoseok o cara te largou!

— Não foi ele! Você nem o conhece e provavelmente ele tá fodido igual a
mim! – Yoongi estava ficando vermelho de tão nervoso. – Cadê o meu
celular?

— Roubaram! O teu celular, teu dinheiro, teus cartões! Você não conhece
esse tal de Bobby, ele te roubou!

Todos encaram Taehyung.

Ele parecia tão nervoso quanto Yoongi, as mãos grandes gesticulavam


enquanto a voz aumentava mais e mais até o fim da frase. Hoseok franziu as
sobrancelhas e ficou preso dentro do olhar dele, mergulhado naquela
angústia que estranhamente tão parecida com a que existia dentro dele.

— É a sua cabeça ou a do Bobby, o que você prefere? – Namjoon perdeu a


paciência de vez. – Você encheu a porra do teu rabo de bebida e droga
Hoseok, eu nem acredito em deus, mas juro por ele que quero muito te socar
do outro lado do rosto... Eu não quero você preso! – gesticulou. – Nenhum
de nós quer! Eu 'tô pouco me fodendo pra essa tua amizade instantânea com
esse cara ou só você 'tá trepando com ele mais chapado que nunca! Eu não
vou te deixar ser preso.
— Não vou citar o nome dele. – negou e o estudante de direito assentiu
impaciente. – De resto, faço o que você me mandar fazer.

— Você 'tá gostando desse cara? Por isso 'tá protegendo ele?!

— Yoongi...

— Quer saber? Faz o que você quiser!

Ele caminhou até a porta e saiu sem olhar para trás.

— Vai com ele. – Jin pediu e Tae assentiu, trocando um olhar silencioso com
Hoseok antes de também sair do quarto.

— Me escuta com atenção. – Namjoon respirou fundo.

No estacionamento a céu aberto do hospital Yoongi caminhou com pressa até


lembrar que seu carro não estaria ali, então ele chutou o pneu de um veículo
alheio e xingou até sentir os braços fortes de Taehyung ao redor de si, até
sentir o beijo demorado que foi deixado na nuca.

— Ele 'tá bem. – sussurrou e o beijou de novo. – Você viu, ele 'tá inteiro.

Yoongi ofegou e assentiu. Lágrimas grossas escorriam pelas bochechas


coradas, ele deitou a cabeça no ombro do maior e soluçou.

— Desculpa...

— Por favor, não me pede desculpas. Eu fui muito babaca mais cedo, eu não
respeitei a preocupação de vocês.

— Eu tô te pedindo desculpas porque eu menti Tae. – mordeu o lábio


inferior e se virou pra ele, esticando o corpo às pontas dos pés até poder
beijar os lábios dele. – Eu menti.

— Mentiu? – Tae o afastou um pouco pelos ombros. – Como assim?


— Quando eu disse que nunca aconteceu... – o mais alto franziu o cenho. –
Eu e o Hoseok... Eu menti...

— Eu sei. – lambeu o lábio inferior e assentiu. – Isso está escrito nos teus
olhos. Você não sabe mentir quando se trata dele.

— Desculpa... Tae. – secou as lágrimas e chegou mais perto dele. – Entre eu


e ele nunca mais vai acontecer alguma coisa.

— Nunca mais vai acontecer? Por quê? – franziu ainda mais o cenho. – Por
quê? Yoongi você só 'tá comigo porque não pode ficar com ele? É isso?

— Não! – negando diversas vezes ele chorou mais um pouco. – Eu nunca


tive com ninguém o que eu tenho contigo, o que eu sinto por você... Mas eu...

— Você? – pressionou.

O toque do celular assustou a ambos. Yoongi pegou o aparelho e atendeu


apressado, secando o rosto com a manga da jaqueta.

— Sim... No quarto andar Yoseob-ssi, ele está acordado. – fungou. – Estou


no estacionamento lateral, mas já vou subir. – assentiu. – Ok, certo.

Ele desligou e guardou o celular. Taehyung o encarava sério, então respirou


fundo e o puxou para si, abraçando-o e deixando um beijo demorado nos
cabelos esverdeados.

— Depois...

— Eu sei, agora nenhum de nós dois vai saber como lidar com isso... Seja lá
o que for. – suspirou. – Você quer subir agora?

— Uhum. – assentiu. – Obrigado.

Jungkook dirigia quieto, mas os olhos sempre davam um jeito de encarar


Jimin encolhido no banco do passageiro. Ele tirou os coturnos pesados e
suas meias eram amarelas com pequenos patinhos estampados.
Essas pequenas coisas fazem o mais novo compreender melhor sobre o que
Jin falava quando definia Park Jimin como dualidade.

Ele sabia ser imponente, exalava uma força esmagadora em cada gesto
quando queria, fazia-o sentir seguro até quando não era a intenção; seduzia
naturalmente qualquer pessoa que lhe cedesse mais do que alguns segundos
de atenção... Jimin roubava fôlego.

Então, ele também era doce.

Gentil, prestativo e infinitamente atencioso com qualquer pessoa.

Talvez por isso fosse tão popular, talvez fosse esse um dos motivos da
admiração que crescia mais a cada dia dentro de Jungkook. Talvez por isso
sentia-se tão incomodado ao vê-lo triste.

— O hyung sabia que o homem nunca mais pisou na Lua por medo?

Jimin franziu o cenho e o encarou. Jungkook lutou bravamente contra a


timidez para continuar:

— Eles têm medo de descobrir que dá pra gente viver lá porque se isso
acontecer, nós faremos disso uma meta. Então, da mesma forma que
adoecemos a Terra, podemos adoecer a Lua.

— Isso é você tentando me animar? – Jimin arqueou uma sobrancelha.

— Desculpa.

— Tudo bem. – sorriu um pouco e secou as bochechas. – Funcionou. Você


moraria na Lua, bebê?

— Sim. Mas o governo não pode saber disso. – negou e Jimin riu um pouco.
– Eles têm essa conspiração contra os humanos que sabem. Mas pode ser
bem solitário de qualquer jeito... O meu appa me diz que eu sentiria falta das
coisas aqui.

— Você morreria de sede, lá não tem água.


— E é exatamente assim que eles querem que você pense, hyung. – segredou
e Jimin deitou a cabeça no encosto do banco. – Quem foi que disse que
qualquer ser vivo precisa de água para sobreviver? Talvez os alienígenas
sobrevivam tomando leite de banana.

— Leite de banana? – fez careta. – Por quê?

— Eu não sei. – deu de ombros. – Mas é bom.

Jimin riu mais um pouco e o carro parou de se mover para esperar o


semáforo abrir. O garoto segurou o volante com ambas as mãos e continuou
olhando para frente até notar que o olhar de Jimin estava sobre si, ele sorriu
nervoso e empurrou os óculos direito.

— Eu moraria na Lua com você.

Jimin disse baixinho.

O coração de Jungkook o deixava assustado, sempre batendo tão rápido


quando Jimin estava perto, quando falava com ele, quando sorria... Só
existindo. Park Jimin o catalisava

— Você ficou corado.

— Não fiquei, hyung. – negou.

Jimin se esticou e acendeu a luz interna do carro.

— Você está corado. – repetiu. – Obrigado, Jungkook. Você deve estar


assustado com todas essas coisas, eu sinto muito que essas coisas estejam
acontecendo, mas eu quero que você saiba que-

— Somos uma família, hyung. – sorriu. – A gente se ajuda e se cuida... Eu


fico assustado, mas... Namjoon-hyung me disse algo quando descemos para
pegar café.

— Ele te disse algo ruim?

— Não. – negou e acelerou o carro. – Ele me disse que eu sou da família.


— Ele disse a verdade. Você é. É o nosso maknae.

Jungkook assentiu e se atentou a direção apertando o volante enquanto o


pensamento sobre uma tarde importante passava por sua cabeça. Jimin
voltou a fechar os olhos, abraçando as próprias pernas.

— Hyung, se nós somos família devemos cuidar um do outro sempre, não é?

— Sim, bebê.

— Mesmo que isso nos obrigue a contar segredos?

Jimin franziu o cenho e assentiu.

— Sim.

— Hyung... Na minha primeira semana aqui... Eu vi que Hobi-hyung tinha


comprimidos... Anfetamina.

A policial deixou o quarto depois de uma reverência educada a Yoseob.


Hobi aceitou o copo de água que a mãe lhe oferecia e sorriu ao carinho que a
irmã mais velha fez em seu cabelo.

— Ainda sente dor, meu amor?

— Não omma. – negou. – Obrigado.

— Só assim pra ver você Hobi, não se sente um irmão negligente? – Jiwoo
beijou o cabelo dele. – Não me assuste assim.

— A polícia vai monitorar você por um tempo. – o homem caminhou até


próximo ao leito do filho e cruzou os braços. – Vou levar sua mãe para casa,
ela precisa descansar. Depois volto, nós vamos conversar.

— Com licença. – Jimin abriu a porta e entrou no quarto, acompanhado de


Jungkook. – Bom dia. – ambos se curvaram.
— Bom dia, Jimin-ah. – Dahye sorriu. – Você deve ser o Jungkook.

— Sim. Muito prazer senhora. – se curvou outra vez.

— Trouxemos roupas limpas, Hoseok-hyung. – Jimin colocou a mochila


sobre o pequeno sofá e Hobi estranhou o mau humor dele, mas não disse
nada.

— Vamos, Dahye. – Yoseob entregou a ele o casaco.

— O senhor vai continuar fingindo que eu não estou aqui, appa? – Jiwoo
suspirou depois de a mãe lhe dar um beijo no rosto.

Ele não disse uma palavra, sequer dignou um olhar a filha mais velha antes
de sair.

— Não liga pra isso, noona. – Hobi pediu.

— Você sabe que isso não me afeta mais... Eu tenho medo que afete você,
Hobi. – afagou os cabelos dele. – Não deixe o appa te sufocar... Amanhã
quando você tiver alta venho te buscar. – beijou-lhe a testa. – Te amo.

— Também te amo noona.

Jimin continuava em silêncio.

Os braços cruzados e impacientes quase não deixavam transparecer que seus


punhos tremiam de raiva. Ele não sorriu quando Jiwoo brincou com Hoseok
sobre o medo dele de injeções e muito menos forçou-se a ser cordial demais
quando os pais dele saíram antes.

E quando ficaram a sós, depois de Jungkook fechar a porta e caminhar com


timidez até perto de Jimin, ele tirou do bolso da jaqueta o saquinho com os
pequenos comprimidos de anfetamina.

Jogou-o sobre o colo de Hoseok e se aproximou enfurecido.

Hobi arregalou os olhos e procurou pelo rosto de Jungkook só para


confirmar a culpa estampada na postura acanhada do garoto.
— Desculpa Hobi-hyung...

— Jungkook fica calado! – Jimin respirou fundo. – Hoseok que porra você
'tá fazendo?

— Onde achou isso?

Jimin riu desacreditado.

— Você tem tanta sorte de estar nessa porra de leito porque se não estivesse
eu te faria estar! Que porra é essa?!

— Primeiro, eu não gosto que mexam nas minhas coisas e você-

— Foda-se! Você queria que a polícia achasse isso?! Queria passar anos na
cadeia?!

— Jimin-hyung, calma...

— Jungkook fica quieto! – quase gritou e Hoseok lamentou pelo garoto. –


Onde você compra essa merda? Você está usando isso há quanto tempo?

— Não faz sentido eu te dizer de quem eu compro, eu tomo uma vez ou outra
quando preciso dar conta de muita coisa... Não é um hábito.

— Olha pra onde você tá agora! Olha o teu estado! A polícia vai monitorar
você por causa dessa merda! – apontou para os comprimidos. Seus olhos
estavam marejados. – Hyung... Por que está fazendo isso?

— Não seja tão dramático, você fuma tanto quanto eu.

— Então, é por isso? O fato de pedir pra dar um tapa no teu baseado aceso
me proíbe de ficar puto por te ver foder com a tua vida desse jeito?! Sério?!

— Eu não sou a porra de um viciado!

— É engraçado te ouvir dizer isso depois de ficar coberto com o teu vômito
enquanto não te deixava engasgar com depois de ser largado na porta de casa
cheio de porrada... Você me pareceu um.
Os dois ficaram em silêncio.

Jungkook, de rosto baixo, apertou as mãos em punho e respirou fundo.

— Eu só contei porque nunca mais quero ver o hyung como vi de madrugada.


– ele disse e teve a atenção de Hoseok em si. – Porque eu não quero que
nada de ruim aconteça.

Hobi passou a mão pelo rosto e puxou o cobertor pesado que lhe cobria as
pernas. Ele ficou de pé, a camisola hospitalar estava torta ao corpo, então
ele caminhou até o banheiro e rasgou o saquinho para despejar os
comprimidos dentro da privada. A descarga acionada levou embora todos
eles de uma vez.

Jimin ainda parecia furioso, os punhos tremiam.

Como alguém tão adorável conseguia parecer tão assustador.

— Olha pra mim... – ele parou Hoseok com o corpo. – Hyung, olha no meu
olho e promete que nunca mais vai usar essas coisas.

— Jimin...

— Hoseok, promete! – a voz embargou e ele apertou ainda mais as mãos. –


Se eu souber... Hyung, eu te respeito demais e te amo como um irmão e juro
por deus, vou te dar uma surra.

— Eu não sou uma criança.

— Hyung, por favor... – pediu baixinho. – Por favor...

— Eu prometo. – assentiu. – Me perdoa. – suspirou e puxou Jimin para um


abraço. – Também te amo, Jiminie.

Ele beijou o cabelo platinado e Jimin se agarrou a ele, chorando baixo.

Confiando demais.


Era quase oito da noite quando Hobi se assustou ao voltar do banheiro e ver
o pai de pé perto da janela do quarto espaçoso. Ele fechou a porta e
caminhou até a cama, levando junto o cabide do soro ligado a mão, então
Yoseob se virou e tirou as mãos dos bolsos da calça social.

— Sente-se melhor?

— Sim, appa. – subiu na cama e se cobriu.

— Eu não disse nada mais cedo porque você é um homem e não um menino,
algumas coisas apenas homens devem discutir. – ele assentiu. – Hoseok,
chega.

— Como assim?

— Chega. Você fez de mim um balde onde uma goteira não para de pingar
dentro, desde que nasceu... Hoje eu transbordei. – Yoseob umedeceu os
lábios. – Chega de banda, chega de festas, chega do meu dinheiro sendo
torrado, chega dessa promiscuidade... Chega. Você vai fazer exatamente o
que te mandar fazer...

— Appa eu sou um adulto...

— Ah, você é? Um adulto que se droga até ser largado na porta de casa por
desconhecidos? Que se envolve com outros homens como se isso fosse
normal?

— Eu sou normal...

— Não! Você não é normal... Mas eu vou fazer com que seja, eu vou
consertar você! – ergueu um pouco a voz. – Você não vai mais me
envergonhar.

— Não era a minha intenção. Só gosto de me divertir, eu exagerei ontem,


mas isso nunca mais vai acontecer... – ele procurou por calma. – Appa eu
estudo, minhas notas são as mais altas, minha frequência é impecável...
Mesmo com a banda ou a dança nunca me atraso ou me canso e-
— E você quer que eu lhe presenteie por fazer o que sua obrigação? –
desdenhou. – Hoseok eu nunca me envergonhei tanto em toda a minha vida...
Consegue imaginar o que falarão da nossa família depois disso? Você jogou
nosso nome no lixo!

— O filho do seu amigo se envolveu com coisas piores-

— Não me preocupo com os filhos dos outros.

— Então, porque os outros têm de se preocupar com os seus? – ergueu a voz.

— Fale baixo. – avisou num tom autoritário.

— Appa eu não sou perfeito... Ninguém é! Eu errei! Pessoas erram o tempo


todo! – gesticulou. – O senhor me sufoca!

— Oh, eu te sufoco? Eu sustento seus luxos, tua vida inteira... Sustento até
mesmo as drogas que você usa e dessa forma lhe sufoco? – ergueu a voz
também. – Você é um insolente.

— E o senhor me odeia porque sabe que sou igual a você!

O tapa acertou em cheio o lado machucado do rosto de Hoseok.

Ele apertou os olhos e segurou as lágrimas. Engolindo o nó que machucava


sua garganta.

— Nunca mais... Preste atenção, nunca mais repita isso! – sibilou. – A única
coisa que tento fazer é não permitir que você queime no inferno... Estou
fazendo por você o que o meu appa fez por mim... Salvando a sua alma. – ele
segurou o rosto do filho, apertando o queixo entre os dedos com força. –
Hoseok eu vou consertar você...

— Eu não preciso de conserto. – murmurou e Yoseob o apertou mais.

— Se eu não te consertar, eu mesmo tiro você desse mundo. – avisou e o


soltou de uma vez. – Chega. – se afastou um pouco. – Você vai fazer o que eu
mandar. – ajeitou a camisa e assentiu. – Primeiro vai parar com essa besteira
de banda e dança; segundo vai voltar a frequentar a igreja e terceiro... Você
vai começar um relacionamento com Momo.

— Eu não quero... – negou.

— Isso é pro seu bem.

— Não... Isso é pro seu bem!

— Você vai ter relações com ela. – mandou e Hoseok negou, as lágrimas
grossas molhavam suas bochechas. – Você vai!

— Appa, eu não consigo... Por favor...

— Você vai! – se alterou. – Eu vou consertar você. – chegou perto para


abraçá-lo pelos ombros. Hoseok não conseguia se mover. – Estou salvando
sua alma, Hoseok. – sussurrou. – Deus vai te amar de novo.

Hobi engoliu o choro e não disse nada mesmo que por dentro estivesse em
pânico.

Quando Yoseob foi embora, deixando para trás apenas uma bagunça em tudo
que era Hoseok, não se importou com a expressão inerte do filho. Sequer
pareceu preocupado.

Ele não via que havia alguém sentado em um dos bancos da sala de espera.

Mas quando a porta foi novamente aberta, Hobi demorou a virar o rosto para
ver quem era, às lágrimas atrapalharam a reconhecer a silhueta e sua
expressão mudou quando aconteceu. Ele secou o rosto com pressa e
pigarrou.

— O que você quer? O que está fazendo aqui? Se quiser me provocar vai
pro inferno, me deixa em paz.

— Eu não sei. – deu de ombros. – Desde pequeno eu tenho essa mania


horrível de ouvir atrás da porta.
Hobi arregalou os olhos e desviou o olhar para a janela, para a neve que
caia devagar.

— Ótimo, pode usar isso pra infernizar mais a minha vida. Quem sabe assim
eu canse dela mais rápido. – debochou.

— Você não precisa de conserto, Hoseok.

A frase dita num tom baixo teve direção exata ao coração de Hobi. Ele
disfarçou o choro e não se moveu. Sentiu o peso alheio do corpo maior
sobre o leito, o perfume incomum de flores e canela, então respirou fundo e
uma calma estranha o levou a suspirar baixinho.

— Me deixa sozinho.

— Eu não vim brigar. O que aconteceu me assustou demais.

— Eu não preciso da tua pena, Taehyung. – o encarou. – Eu não preciso de


nada que venha de você.

— Nós dois não somos quebrados... – ele levou a mão até o rosto de Hobi,
o mais velho fechou os olhos e negou. – O mundo é certinho demais.

— Não. – sussurrou ao sentir a respiração quente contra sua pele. – Não faça
isso.

— Então, não me deixe fazer.

Hobi abriu os olhos e encarou os dele.

O reconhecimento da angústia diluída dentro do castanho escuro.

Era como um espelho.

Chegava a assustar.

Quando os lábios se tocaram, minimamente, o mais velho arfou e tentou se


afastar. Mas ele foi pego. O lábio inferior capturado pelos dentes fortes, o
corpo enlaçado pelo calor alheio, o coração obrigado a assumir... Estava
pego.

E foi só isso, mesmo assim era tanto.

Apenas um selar demorado, uma curva mal feita. Hobi negou e encostou a
testa no ombro de Taehyung.

— Não. – negando fungou devagar. – Não vou fazer isso com o Yoongi.

— Eu não quero fazer isso com ele, eu 'tô me apaixonando por ele. –
confessou. - Mas eu consigo entender os motivos que o fazem amar você.

— Vai embora. – pediu e se afastou.

Tae assentiu e ficou de pé, notando que mais uma vez Hobi encarava a janela
do quarto. Ele saiu, foi embora, voltou pra casa de táxi e passou a noite
velando o sono de Yoongi agarrado a ele numa cama apertada de solteiro.

Tudo parecia tão confuso.


13 - nada mais importa

Eu nunca me abri deste jeito


A vida é nossa, nós a vivemos do nosso jeito
Todas estas palavras que eu não apenas digo
E nada mais importa

Nothing Else Matters – Metallica

Dias depois.

— Hoseok acorda.

Hobi encolheu o corpo e puxou o cobertor para evitar a luz do dia que entrou
depois de Dahye prender as cortinas verdes. Ela caminhou pelo quarto
verificando tudo, procurando qualquer objeto fora do lugar ou a mínima
desorganização.

Mas o quarto de Hoseok sempre fora impecável.

— Seu appa quer tomar café em família antes de você voltar para a
república.

— Eu não 'tô com fome, omma. – murmurou de olhos fechados.


— Hobi... – a mulher suspirou e sentou perto dele para afagar o cabelo que
desbotava aos pouquinhos para a cor laranja sem vida. – Não jantou ontem,
você precisa comer bem... Está magrinho.

— Eu como depois, só quero dormir mais um pouco.

— Não desobedeça ao seu appa, ele quer um café da manhã em família...


Nós teremos visita também.

O tom risonho fez Hobi descobrir parte do corpo para encarar a mãe com
desconfiança. Dahye sorria animada, o sorriso de coração como o dele
deixava evidente a expectativa da mulher pelo que aconteceria.

— Que visita?

— O padre Yejun junto de Hyelim-ssi e Momo-ah. – assentiu. – Vêm para


um café da manhã conosco.

— Eu não vou descer, omma. – negou e respirou fundo. – Porra, por que
estão fazendo isso?!

— O palavreado, Hoseok. – corrigiu ficando de pé. Dahye ajeitou o belo


vestido delicado que usava e também o cabelo longo. – É por atitudes como
essas que pedimos ao padre para vir ver você, precisa ser o bom garoto que
sempre foi. – ela suspirou. – Levante dessa cama e tome um banho, desça ou
o seu appa vem lhe buscar e ele não é carinho como eu sou.

Dahye se curvou para deixar um beijo suave na testa do filho e saiu do


quarto fechando a porta.

Hoseok deitou de barriga para cima e chutou o cobertor verde para fora da
cama, vestia apenas um calção de algodão azul e meias listradas. Encarou o
teto limpo, as lâmpadas acesas e até mesmo os detalhes das molduras de
gesso pra tentar desviar os pensamentos ruins que flutuam por sua mente.

Ele não era um bom garoto e nem nunca foi, mas era ótimo em fingir ser e
isso fazia as pessoas ao redor acreditarem. Hoseok mentia tanto sobre isso
que de vez em quando chegava a acreditar também, mas isso cansava
demais.

Vez ou outra sentia vontade de ser apenas ele, agora ele sentia vontade disso
o tempo todo. Então, ele levantou e arrumou os lençóis perfeitamente; depois
procurou por roupas limpas no closet e as deixou sobre a cama feita. No
banheiro escovou os dentes encarando no espelho limpo o próprio reflexo
abatido, cuspiu a espuma dentro do lavado e enxaguou a boca sem pressa.

E no banho, sob o chuveiro de água quente, Hobi chorou baixinho. Talvez um


passo adiante de tudo que aconteceria quando descesse até a sala de jantar e
compartilhasse a mesa com outras pessoas que o faziam sentir sufocado,
porque se cada um de nós possui um mundo inteiro dentro de si... O mundo
de Hoseok estava um caos.

Depois da alta o pai exigiu que ele fosse para a casa, exigiu sua presença em
cada refeição ou momento familiar dos últimos dez dias e pode parecer
pouco quando sua mente não se sente coagida, aprisionada, mas para Hobi
era o inferno.

Jung Hoseok, que tanto temia ir para o inferno, sentia-se vivendo dentro
dele.

Yoseob queria uma família perfeita, Dahye projetava para o filho um futuro
encantador e a pressão empurrava-o rumo ao desespero, mas nenhum deles
via como algo ruim desejar o melhor para o filho. É algo universal desde
que o mundo é mundo: pais sempre vão acreditar que sabem o que é melhor,
que a pressão não é nada além de amor e proteção, que suas escolhas são as
únicas cogitáveis... Se Hoseok pudesse escolher... Ele optaria pelo silêncio.

Quando deixou o banheiro, com uma toalha ao redor dos quadris, encontrou
o pai sentado em sua cama. Usava calça social e camisa, impecavelmente
arrumado fazendo jus a sua postura séria. Hobi sentiu vergonha, sempre
sentia isso quando tão exposto a Yoseob porque ele o avaliava o tempo todo.

— Precisa cortar o cabelo. E tirar essa cor horrível. – desdenhou e apontou


para as roupas sobre a cama. – Vista isso, aquelas outras são informais
demais... Você mistura muito as cores Hoseok, quer chamar atenção o tempo
todo. – suspirou e ficou de pé para deixar sobre o colchão dois cartões
pretos, um vermelho e notas de dinheiro dobradas. – Fui ao banco para pedir
seus cartões novos, tivemos sortes que quem te roubou não tentou usar. O
vermelho é debito, aqui tem dinheiro o suficiente para você arcar com sua
parte da república... E vamos procurar um carro, motos são coisas de
pessoas irresponsáveis.

— Appa...

— Não é uma opção. – colocou ambas as mãos nos bolsos da calça. – Agora
se vista e desça. Seja pontual como sempre é.

Yoseob assentiu e saiu do quarto. Hoseok respirou fundo e em silêncio se


vestiu.

Momo era perfeita.

Não era necessário olhar por muito tempo para perceber que tudo na garota
reluzia feito ouro e Dahye fazia questão de relembrar suas qualidades
sempre que tinha uma brecha dentro do assunto. Hoseok a achou linda e
extremamente educada, dona de uma postura invejável e sorrisos adoráveis...
Mas nada além. A culpa não era da garota ou de qualquer outra pessoa, ele
só não se sentia atraído por mulher alguma.

— Hoseok está no terceiro ano de arquitetura e em breve também vai iniciar


um estágio remunerado na construtora de um amigo próximo. – Yoseob
serviu-se de mais café, mas notou o sorriso de Dahye murchar depois da
palavra amigo ser mencionada.

— Hobi-ah sempre foi muito estudioso e dedicado, fico feliz que ele esteja
focado na carreira profissional. – o padre sorriu gentilmente e Hoseok
assentiu para ele.

— Eu curso odontologia. – a garota disse um tanto envergonhada, mas sendo


encorajada pela mãe. – Estou no primeiro ano, oppa.
— E você gosta? – perguntou tentando muito ser simpático desde que Momo
não tinha culpa de absolutamente nada.

— Gosto sim. Quero trabalhar com crianças. – ela parecia nervosa, as mãos
sobre a mesa tremiam um pouco e isso quase partiu o coração de Hobi.

— Momo tem essas ideias muito modernas. – Hyelim gesticulou, então,


Momo abaixou o rosto. – Mas ela sabe que depois de casada precisa da
autorização do marido para essas coisas. – disse diretamente a Hoseok. –
Ela é obediente e muito prestativa, Hobi-ah.

— Ah, mas disso não existem dúvidas! – Dahye sorriu. – Momo é perfeita! É
tão bonita como uma boneca, não acha Hobi? – cutucou-o no braço, mas ele
estava atento às mãos trêmulas da garota.

— Hyelim-ssi a senhora me dá permissão de caminhar um pouco com


Momo-ssi? Pelo jardim da casa mesmo, não vamos demorar. – deu o melhor
sorriso e a mulher franziu o cenho.

— Hoseok é um rapaz decente, não se preocupe. – Yoseob pareceu feliz com


a iniciativa do filho.

— Ah, mas deixe que eles conversem um pouco sozinhos, Hyelim-ah! – o


padre gesticulou. – Os jovens de hoje gostam muito de se conhecer melhor
antes de começarem um relacionamento e nós devemos confiar na criação
que damos a nossos filhos. – sorriu. – Vá Momo! Aproveitem que hoje o dia
não está tão nublado.

Hyelim se curvou até sussurrar algo no ouvido da filha que assentiu e ficou
de pé, aceitando a mão que Hoseok lhe ofereceu. Os dois saíram da sala de
jantar e depois da casa, indo em direção ao pequeno jardim dos fundos. Ele
parou longe o suficiente da casa e de onde sabia dar visão pelas janelas
longas e se virou para a garota que o encarava um tanto assustada.

— Respire.

Sussurrou. Momo franziu o cenho tentando compreender o que ele dizia


porque um zumbido parecia ensurdecer seus ouvidos desde o momento que
entrara naquela mansão. Hobi segurou suas mãos e respirou fundo,
mostrando-a como fazer.

— Respira. Respira fundo.

Ela assentiu e o fez aspirando o ar puro do lado de fora, o frescor do clima


do fim de inverno e enquanto o fazia lágrimas marejaram seus olhos e o
lábio inferior tremeu brevemente.

— Desculpa...

— Não me pede desculpa, não é sua culpa... Só respira, se você voltar pra lá
nervosa desse jeito eles vão perceber. – Momo assentiu e fungou. As
lágrimas grossas despencaram pelas bochechas cheinhas, borrando a
maquiagem leve dos olhos grandes que o encarava quase sem piscar. – Acho
que sei o que você 'tá sentindo.

— Minha omma me disse que eu preciso conquistar o oppa... Mas eu... Eu...

— Escuta, você não precisa fazer isso Momo-ssi.

— Pode me chamar de Momo. – assentiu. – Eu preciso fazer isso, oppa.

— Por quê?

— Pelo mesmo motivo que o oppa também está fazendo. – fungou. –


Esperam que a gente faça isso... Todo mundo espera que eu me case e que eu
seja obediente ao meu marido porque é assim que uma boa mulher é vista
aqui. Meus pais dizem que é o melhor pra mim.

Hobi não disse nada depois de entregar a ela o guardanapo que guardou no
bolso antes de sair para o jardim. Momo limpou as lágrimas e depois o nariz
delicado enquanto encarava os próprios pés refletindo de forma breve o que
ela dissera.

Porque ele questionou os motivos de Momo enquanto sequer conseguia


compreender os motivos que o prendiam ali... Que não o deixavam sair pela
porta e levantar os dois dedos do meio em direção ao controle do pai e as
fantasias da mãe.
Ele queria muito se libertar, mas a liberdade resultava no sofrimento dos
pais que ele incondicionalmente amava. Resultava na vergonha ao clã da
família, no desgosto de Yoseob... Na repetição do passado que ainda trazia
mal estar a mesa sempre que o amigo próximo ao pai era citado.

Hoseok não queria ser a vergonha, ele temia o desprezo e morria de medo
das consequências.

Morria de medo do inferno e talvez fingindo que seja digno do céu, até Deus
acreditasse em suas mentiras.

— Jimin-hyung eu preciso da fita adesiva.

— Aqui! – entregou nas mãos do mais novo a fita e voltou sua atenção para
os balões coloridos que Namjoon enchia. – Namjoon-hyung estoura cinco
balões a cada um que enche.

— Por que a gente deixa essa parte com ele? – Yoongi franziu o cenho e um
bico fofo puxou seus lábios ao encarar a faixa que Jungkook estava
pendurando. – Ainda está torta.

— Porque Namjoon é o que menos fuma e os pulmões dele são bons. – Jin
colocou uma panela sobre a mesa comprida e pendurou o pano de prato no
ombro. – Atenção em mim! – bateu palmas. – Eu não quero saber de brigas,
isso aqui é uma celebração à volta do Hobi e se alguém caçar confusão juro
por Lady Gaga que faço todos assistirem Shallow de novo!

— Hyung isso é obsessão! Já vimos esse filme umas oito vezes! – Jimin
bufou. - E o nome do filme é Nasce Uma Estrela!

— E ainda faço o Namjoon cantar comigo, vocês querem ele fazendo a parte
da Allie?!

— Puta que pariu vocês me deixa no meu canto! - Namjoon ralhou.

— Ok, nada de confusão! – todos disseram e Namjoon xingou um palavrão.


— Taehyung? – Jin cruzou os braços e o garoto franziu o cenho ainda
segurando o outro lado da faixa.

— O que?

— Sem confusão, ok? – arqueou uma sobrancelha.

— Não vou abrir a boca hyung. Relaxa. Se vocês quiserem fico no quarto ou
saio, sei lá.

— É uma comemoração em família, Tae-hyung. – Jungkook sorriu pra ele. –


A gente tem de comemorar juntos.

— Isso, aí bebê! – Jimin ergueu a mão pequena e Jungkook bateu com a dele
num toque animado. Na outra tinha o celular. – A noona disse que vai buscar
o Hobi-hyung daqui meia hora, vamos terminar isso de uma vez!

Os seis aumentaram o ritmo das tarefas que faziam e logo a sala de estar
estava enfeitada com balões coloridos e uma faixa grande que levava o nome
de Hoseok e letras coloridas. Sobre a mesa os pratos favoritos dele, além de
uma torta de tiramissu comprada mais cedo. Eles se amontoaram ao redor
do móvel e Jimin ligou a filmagem do celular quando Hobi entrou na casa
acompanhado da irmã mais velha, que bagunçou seus cabelos, quando a
surpresa o fez sorrir emocionado.

Yoongi o abraçou primeiro, mergulhando o rosto na curva do pescoço


quentinho, aspirando o cheiro de baunilha e xampu. Seu coração estava
aliviado, algumas lágrimas não puderam ser evitadas. Hoseok o abraçou de
volta, de olhos fechados e deixando um beijo casto no ombro pálido que
estava amostra graças a regata cinza folgada demais.

Tae, de longe, sorriu.

— Senti saudade, Hobi. – murmurou contra o ombro dele, abraçando-o mais.


– Minha bateria extra voltou pra casa. – brincou e ambos sorriram. – Você 'tá
bem? – segurou-lhe o rosto. – Você emagreceu.
— Eu 'tô bem, Yoon. Eu 'tô com casa. – o alívio naquela afirmação aqueceu
o coração de Yoongi.

— Ok, chega dessa cena de drama gay. – Jin empurrou Yoongi pro lado e
abraçou Hoseok, erguendo-o do chão. – Jay Hope! – gritou e Hobi riu. – Que
bom que voltou, não aguentava mais o Jimin abraçado com a sua foto
ouvindo All By Myself pela casa. – o sorriso aos poucos se tornou sério. –
Nunca mais me assuste desse jeito, ok? Eu te proíbo.

— Ok. Hyung. – assentiu.

Depois Namjoon o abraçou e disse que conversaram sobre a questão


jurídica da situação; Jungkook – acanhado por uma culpa infundada –
abraçou seu hyung favorito e pediu desculpas algumas vezes sempre ouvindo
Hoseok dizer que estava tudo bem, que o entendia.

Jimin chorou e quando ele chorou, Seokjin sorrateiramente colocou All By


Myself pra tocar no celular e junto de Yoongi ergueu um isqueiro como se
estivesse em um show da Celine Dion. Então, Jimin ficou emburrado e
Jungkook o consolou segurando o riso.

Taehyung se aproximou um tempo depois e era estranho ver alguém tão


imponente sem jeito como ele parecia estar, mas foi um pouco mais estranho
quando ele estendeu a mão para Hoseok e sorriu um pouco.

— Bem vindo de volta, Hoseok.

Hobi o encarou e depois a mão estendida. Yoongi mordiscou o lábio, sentia-


se nervoso com aquela cena. O mais velho suspirou e apertou a mão do mais
novo com firmeza, assentindo algumas vezes.

— Obrigado, Taehyung.

— É mesmo o apocalipse. – Seokjin resmungou e rolou os olhos. – A paz


precisa reinar nessa casa.

Como era de esperar, Hobi sentiu-se em casa. Ele devorou dois pratos
cheios levado por um apetite que não tinha há dias e metade de torta comeu
sozinho sob as caretas de Jimin para algo tão doce. Jiwoo ficou um pouco e
mimou o irmão mais novo com carícias discretas em seus cabelos porque
sabia ser ali o ponto fraco dele.

— Mina e eu vamos deixar aquele quarto de bagunças livre. – comentou


quando estavam sentados lado a lado no sofá. Perto deles, Jimin e Jin
cantavam Starry Night do Mamamoo no karaokê respeitando as coreografias
da música. – Sabe, se você quiser.

— 'Tá me chamando pra morar com vocês, noona? – sorriu e comeu mais um
pedaço da torta que tinha nas mãos.

— Você mora aqui e eu fico tranquila porque confio muito nos garotos... 'Tô
falando de você morar comigo quando precisar ir pra casa dos nossos pais,
Hobi.

— Noona...

— Não sei o que levou você a usar essas coisas, mas eu sei o quanto Yoseob
e Dahye podem sufocar usando a velha desculpa de proteção... Eles quase
me sufocaram, mas eu consegui perceber que aquele amor não é saudável. É
tóxico.

— Você não ama nossos pais?

— Hobi, claro que eu os amo, mas isso não significa que eu deva concordar
com tudo que eles dizem, entende? Eles precisam entender que nós dois não
somos extensões deles. – ela sorriu e puxou Hoseok para deitar a cabeça em
seu ombro. – Quando você nasceu eu só sabia te chamar de solzinho.

— Você é estranha.

— Você sorria o tempo todo, aquilo me encantava e me deixava apreensiva


ao mesmo tempo. – suspirou. – Hoseok, por favor, quando a sua mente
estiver barulhenta demais não guarda isso, não deixa acumular... Conversa
com um dos meninos ou me procura, mas não extravasa isso com alguma
coisa que vai te prejudicar.
— Sinto muito por ter preocupado você, noona.

— Você sempre sente muito pelas outras pessoas e nunca sente muito por si
mesmo. – ela afagou as costas dele. – O quarto vai estar vago pra você,
quando você quiser.

— Obrigado. Eu te amo, noona.

— Eu também te amo muito, solzinho.

— Você está feliz.

Yoongi se virou e sorriu antes de aceitar os braços de Taehyung ao redor de


sua cintura. O mais alto o beijou na testa e respirou fundo.

— Isso te incomoda? Me ver feliz desse jeito?

— Não, Yoongi. Me deixa feliz também. – o encarou.

— Eu 'tô feliz porque o Hobi voltou pra casa, Tae. – apoiou ambas as mãos
nos ombros largos do mais alto. – Ele é o meu melhor amigo.

— Nós dois sabemos que ele é mais que isso pra você, não é? – tocou o
queixo pequeno do mais velho. – Passou os últimos dias aflitos por que ele
não estava aqui...

— Tae...

— Você não deixou nada faltar pra mim Yoongi. Você não me fez sentir mal e
isso é muito estranho, mas eu não acho que posso te cobrar qualquer coisa
sobre a gente... Eu realmente tô gostando muito de ficar contigo.

— Eu também gosto muito de ficar contigo. – sorriu um pouco e o abraçou


mais. – Obrigado por me entender.

— Não me agradeça. – negou. – Não faço ideia de o porquê estar


entendendo o fato de que você ainda parece incompleto quando 'tá nos meus
braços... A sombra do Hoseok paira sobre a gente.

— A gente? – arqueou as sobrancelhas e Tae suspirou. – Como...

— Yoongi eu-

— Ah, desculpa! – a voz de Hobi fez ambos olharem para o portal da


cozinha. O casal se afastou. Ele segurava um prato vazio e um copo
descartável. Hoseok abaixou o olhar e caminhou até a pia para deixar a
louça suja. – Foi mal, achei que não tinha ninguém aqui.

Saiu sem encará-los e Yoongi suspirou, uma culpa desconhecida apertou seu
peito. Taehyung respirou profundamente e o puxou para beijar seu cabelo
esverdeado.

— Vocês dois precisam conversar, mas eu não sei se quero 'tá aqui pra
correr o risco de bancar o babaca e interromper isso...

— Tae...

— Eu vou chamar o Jimin e o Jungkook pra sair, dar uma volta... –


gesticulou. – Conversa com o Hoseok... Acho que ele precisa disso.

— Por que está dizendo essas coisas? O que aconteceu? – ergueu o rosto
para olhá-lo nos olhos. – Diz pra mim.

— Ele vai te dizer, Yoon. – o beijou nos lábios. – Me liga se precisar, ok? –
Yoongi assentiu.

Taehyung saiu da cozinha e Yoongi ficou parado ali encarando o piso de


madeira como se ele pudesse lhe dar as respostas que tanto necessitava.

Ele não bateu na porta antes de entrar no quarto e muito menos pediu
permissão para deitar ao lado de Hoseok, roubando mais do pouco espaço
da cama de solteiro. Hobi sorriu porque o que Yoongi tinha de pequeno
também tinha de espaçoso.
— Eu adorei os livros. Obrigado. – apontou para os três livros empilhados
sobre a escrivaninha onde dois notebooks estavam fechados.

— Tenho outro presente. – se remexeu todo até puxar de sob a cama uma
sacola transparente para dá-la nas mãos do mais alto.

— Não é o meu aniversário.

— Foda-se. É um presente de boas vindas então. E você precisa já que


roubaram o antigo.

Hoseok tirou a caixa preta com o IPhone de dentro da sacola e sorriu.

— Obrigado.

— Meu número já está salvo ai. – murmurou e Hobi riu baixinho assentindo.
– Conseguiu rastrear o outro?

— Eu nem tentei. Liguei e pedi para bloquear tudo além de deslogar das
contas. – colocou a caixa sobre o móvel ao lado da cama. – Não tinha nada
muito importante além de algumas nudes.

— Não tá preocupado com fotos dessa sua bunda seca estarem rondando por
aí? – arqueou uma sobrancelha.

— Na verdade são nus frontais. – se gabou.

— Grande coisa. – zombou bocejando.

— Supere o fato de ser maior que o teu, Min Yoongi. – rolou os olhos.

— Vai se foder! Isso faz anos, eu amadureci seu idiota.

— Dois centímetros a mais realmente te frustram tanto assim? – provocou se


fazendo de inocente e Yoongi lhe acertou uma cotovelada nas costelas. –
Porra!

— A gente tinha oito anos! Oito! Como foi que eu aceitei medir meu pau com
uma régua escolar? Você tinha as piores ideias do mundo Hoseok!
— E você gostava de todas elas. – se gabou. – Quando a gente pegava as
roupas das noonas pra brincar de Grease você sempre ficava animado.

— Você me fez comer uma minhoca, sinceramente.

— E você me fez trocar meu vídeo game por uma revista de mulher pelada!

— Lembra daquela casa na árvore? – Hobi assentiu. – As regras eram


ridículas.

— Nada de meninas, mães e irmãs.

— Mentiras não podem ser contadas.

— E nunca brigar dentro da casa da árvore... A gente brigou umas mil vezes.

— Porque você era teimoso.

— E você medroso. Chorou feito um bebê quando eu coloquei aquele


besouro na sua roupa... "Aigo Yoongie, aigo... Por que fez isso? Por quê?" –
imitou rindo e Hoseok o beliscou na coxa. – Ai, caralho!

— Fui um garoto sensível...

— Você era um frouxo, isso sim. – riu mais um pouco. – Eu acho que vivi
quase todas as experiências da minha vida do teu lado.

— Temos algumas histórias boas pra contar, Yoon.

— Hobi... – Hoseok o encarou de perfil e notou os olhos pequenos


marejados, talvez fosse o riso. – Eu entendi o que você sentia.

— Como assim?

— Quando achou aquela carta onde eu me despedia porque tinha aceitado


morrer, você chorou demais e ficou tão bravo... Eu nunca tinha te visto
daquele jeito, então você me fez prometer continuar vivendo como se algum
de nós dois pudesse controlar isso. – ele fungou. – Quando eu te vi lá fora
naquele frio, quando eu te sacudi e você não reagiu... Eu quis chorar, mas eu
também fiquei tão... Tão bravo com você... Porque eu senti a mesma coisa
que você sentiu naquele tempo. – a mão dele procurou pela mão de Hoseok,
ele entrelaçou os dedos e suspirou. – Promete pra mim?

— O que Yoon?

— Que você vai continuar vivendo, que não vai me deixar... Eu não posso te
perder Hoseok. – ele estava sussurrando, sentia-se contando um segredo. –
Às vezes eu penso que só 'tô vivo porque eu te prometi continuar, porque o
teu sorriso me fazia querer viver... Por favor, não faça mais aquilo... Por
favor?

— Shi, vem aqui. – Hoseok o puxou para um abraço, acolhendo o corpo


menor contra seu corpo para afagar as costas magras sobre o algodão da
regata que Yoongi usava. – Desculpa... Yoongi, me desculpa.

— Não faz mais aquilo, por favor...

— Aquilo passou. Eu tô aqui contigo agora. – beijou o cabelo dele. – Não


chora, odeio te ver chorando. Eu prometo.

— 'Tá, eu sei... – assentiu e se afastou um pouco para secar o rosto. – Eu sei.


– Hoseok o encarou de pertinho e respirou fundo. Tudo, exatamente tudo em
Yoongi o encantava demais. – Se você não quiser falar sobre isso vou
entender, mas eu preciso te perguntar uma coisa.

— O que?

— Taehyung me disse que tem algo que você tem de me contar, algo que ele
não se sentiu no direito de dizer.

Hoseok lambeu o lábio inferior e assentiu. O abraço se findou quando ele


deitou de barriga pra cima e cobriu os olhos com o braço direito. Yoongi
sentou na cama, apoiando as costas na parede fria para esperar o que fosse.

— No dia seguinte da parada que rolou... O meu appa foi ao hospital


conversar comigo... Dizer às coisas que ele sempre diz.

— O que ele te disse?


— Ele quer que eu largue tudo que não seja a faculdade, Yoongi. E tem uma
garota que frequenta a igreja...

— Porra, o seu appa não cansa?

— Ele quer que eu me relacione com ela. Quer dizer... Ele mandou.

— Hoseok...

— Ele me mandou transar com ela. – por ter o rosto coberto não pode ver
como os olhos pequenos de Yoongi se arregalaram ao ouvir aquilo, como ele
se apavorou só de lembrar o que acontecera anos antes e de como aquilo
afetou os dois. Um segredo dele.

— Você acha que ele vai fazer a mesma coisa que fez quando você tinha
dezessete anos? – murmurou.

— Eu sou maior de idade agora. Hoje dividi a mesa do café da manhã com
meus pais, um padre e a garota junto da mãe. O nome dela é Momo.

— Ah. Como ela é? Quer dizer... Ela é bonita?

— É uma garota linda, mas você sabe... Eu não me atraio. – respirou fundo
de novo e abaixou o braço. – Taehyung estava na sala de espera, eu não faço
ideia do motivo, mas quando appa saiu ele entrou no quarto...

— Ele foi provocar você?! Porra, eu não acredito que ele-

— Não. Yoon, ele não me provocou. – negou. – A gente conversou sobre


coisas que ele ouviu... E depois... A gente se beijou...

Yoongi piscou algumas vezes, digerindo a informação enquanto Hobi


aguardava a reação negativa ou agressiva dele. No fundo entenderia, no
fundo sabia que estava errado.

— Não foi um beijo como aquele do meu aniversário. Yoongi eu parei tudo
bem rápido, eu juro pra você... Mas eu vou entender se ficar puto comigo e-

— O que você sentiu?


O maior franziu o cenho e Yoongi deu de ombros.

— Que?

— O que você sentiu quando o beijou? Nas duas vezes.

— Por que está me perguntando isso?!

— Porque eu preciso saber, Hoseok. – passou as duas mãos pelo rosto e


suspirou. – A minha mente parece uma zona de guerra e eu não sei como
lidar com isso... Eu sinto ciúmes, mas ao mesmo tempo eu...

— Eu não sinto nada. Não senti nada.

— Não mente. Vamos nós dois colocar as todas as cartas na mesa agora...
Essa cama aqui... – bateu contra o colchão. – É a nossa casa da árvore! Não
mente.

— Isso vale pra você também? – Yoongi assentiu. – Eu só sinto tesão. O


Taehyung me deixou com tesão. – jogou sem receios.

— Eu tô olhando nos teus olhos... Você mente mal demais.

— Não 'tô mentindo pra você. – negou. – Se você consegue ler os meus
olhos vai notar que eu não sei Yoongi. Eu não sei o que eu tô sentindo.

— A gente vive cometendo os mesmos erros sem parar. – murmurou e


abraçou os joelhos ossudos e pálidos. – Eu não deveria ter fingido que não
lembrava o que aconteceu entre a gente naquele festival.

— Por que você fingiu?

— Porque isso pareceu mais fácil que arriscar perder você, Hobi. – Hoseok
ergueu o tronco da cama e sentou de frente pra ele. – O nosso tempo já
passou, nós somos melhores como amigos.

— Você não acha egoísmo ter decidido isso sem ter me perguntado o que eu
achava? Eu correspondi você Yoongi, eu quis aquilo tanto quanto você.
— Não é simples assim. – negou e apoiou a cabeça na parede. – Não é.

— Não tô te pedindo pra ficar comigo porque eu respeito a tua decisão de


ficar com o Taehyung... Eu consigo perceber o quanto ele te faz bem... Mas
eu só queria entender porque o nosso tempo passou sem que eu tivesse a
chance de tentar porque você decidiu que era melhor não, por nós dois. –
lambeu os lábios. – Isso foi injusto pra caralho comigo.

— Eu não conseguia olhar pra você sem querer te beijar e te fazer ficar perto
de mim... Hoseok, quando eu te beijei foi principalmente por estar no meu
limite... E isso é tão fodido porque eu... Droga. – Yoongi arfou e passou as
mãos grandes pelo cabelo.

— Você o que?

— Porque eu estou no meu limite outra vez... Você está aqui na minha frente
e eu estou admirado com a minha força por não te beijar de novo! Pra não
ferrar o que eu tenho com a Taehyung porque eu quero beijar ele também!

— Você gosta de nós dois? – o mais velho assentiu e Hoseok assentiu


resignado. – Não quero te deixar assim tão agoniado Yoongi, eu sempre
odiei magoar você... O nosso tempo passou e a única coisa que eu quero é te
ver feliz. – sorriu um pouco, mas os olhos marejados denunciavam a dor que
ele sentia por dentro. – O quão soberbo eu sou por fazer parecer que estou
abrindo mão de você sendo que você nunca foi meu. – deu de ombros. – O
nosso tempo passou.

— Não quero perder você...

— Você não está me perdendo Yoongi. De qualquer jeito eu sempre vou ser
teu melhor amigo. O que uma minhoca uniu ninguém separa. – esticou a mão
para tocar o rosto dele. – Eu amo você.

— Eu também amo você, Hobi.

Havia amor demais mesmo que ele ainda não fosse amadurecido o suficiente
para compreender que sim, o tempo dos dois havia passado... Mas um tempo
novo iniciava-se diante deles de forma contida e esse tempo era a três.

— Acho que esse atraso é um sinal pra gente desistir. – Namjoon jogou a
revista sobre a outra poltrona e Jimin preferiu ignorá-lo enquanto folheava a
que tinha em mãos. – Esse consultório é muito suspeito, você não acha?

— Eu acho que você é chato. – cantarolou e suspirou ao ver o mais velho se


emburrar e cruzar os braços. – Namjoon. – Jimin guardou a revista e
caminhou até ele para sentar sobre as coxas fortes, deixando beijinhos pelo
rosto dele. – Solar-noona que indicou, ele é amigo dela.

— Isso me assusta demais. – o abraçou pela cintura.

— A mim também, mas é algo que vai nos ajudar, lembra? Você prometeu
fazer isso comigo.

— Porque você me manipula com esse seu jeitinho todo fofo quando quer
alguma coisa. – ralhou e Jimin lhe mordeu o queixo. – Aí!

— Estou tão orgulhoso por estarmos aqui, Joonie-ah. – sorriu e sentou ao


lado dele. – Você deveria estar também.

— Ah, boa tarde! – um homem tão alto quando Namjoon saiu por uma porta
branca e se curvou. – Sou Lee Hyun. – ele sorriu e ajeitou os óculos
redondos que escorregaram pelo nariz. – Desculpe o atraso.

— Ah, tudo bem! – Jimin ficou de pé e se curvou também. – Sou Park Jimin.

— Sou Kim Namjoon. – fez o mesmo.

— Bem, aqui diz que Kim Namjoon é o primeiro, pode me acompanhar, por
favor? – a gentileza do homem fazia Jimin sorrir mais.

— Ok.

Jimin ergueu um punho e sussurrou "lute" para o maior que apenas assentiu e
seguiu o psicólogo para dentro do consultório.

Era gelado.
A decoração era simplista, mas rústica graças aos detalhes de madeira que
iam dos móveis sob medida até os quadros pendurados nas paredes pintadas
de amarelo pastel. Estranhou a falta de uma mesa enquanto direcionado até a
poltrona confortável que ficava próxima a janela grande com vista para o
rio.

— Quero me apresentar a você de uma forma menos séria, Namjoon.

— Por quê? – franziu o cenho. Sentia-se tão incomodado.

— Porque eu prefiro quando meus pacientes me veem como alguém


semelhante a eles.

— Puff. Pode apostar que não temos nada em comum. – desdenhou.

— Me chamo Lee Hyun, tenho quarenta e três anos. Nasci em Busan, me


casei com vinte e cinco anos e tenho dois filhos. Um tem quinze e o outro
doze, minha esposa é dona de casa e eu gosto muito de cachorros. – sorriu e
Namjoon assentiu. – Quer falar sobre você?

— Kim Namjoon. Vinte e três anos, filho único e estudante de direito. Meu
cachorro morreu atropelado quando eu tinha sete anos. – deu de ombros.

— O seu antigo psicólogo... – ele leu algo em sua caderneta. – Dr. Choi
Seung Ho... Diagnosticou você com ansiedade, tendências depressivas-

— Ele fez isso enquanto gravava nossas conversas para vender na mídia. –
sorriu com desgosto. – Filho da puta.

— Ele teve sua licença cassada e proibida, não atua mais como psicólogo. –
assegurou. – Me disse que estuda direito, sempre quis ser advogado.

— Não. Eu queria ser astronauta. – o olhar se focou em alguns objetos


coloridos que estavam sobre um banco de madeira. – Seria o primeiro
asiático a pisar na Lua... Meu professor de ciências dizia que eu era
inteligente e conseguiria fazer isso.

— O seu QI é realmente alto, Namjoon. Você é um rapaz muito inteligente. –


elogiou de forma branda. – O que te levou ao direito?
Ele ficou em silêncio e puxou as mangas da camisa grande com nervosismo.

— Certo, vamos deixar isso para depois. Me fale sobre seus pais.

— Eles são atores. Omma já trabalhou em muitos filmes e appa também, mas
agora apenas dirige séries.

— Devia ser divertido crescer em um lar de artistas...

Namjoon olhou ao redor e sorriu até as covinhas ficarem evidentes. Lee


esperava por isso.

— Onde está o gravador?

— Eu não estou gravando você, Namjoon.

— E por que eu acreditaria no que diz?

— Eu não sei. – deu de ombros. – Você só precisa confiar.

— Não confio em ninguém. – negou. Sentia-se enclausurado, os olhos


procuravam em todos os cantos do consultório por algo que ele nem sabia. –
Sabe da história, não sabe?

— Eu sei o que li nas notícias, mas eu gostaria de saber através de você.

— Por quê?

— Porque a sua versão é a verdadeira, Namjoon.

Namjoon apoiou ambas as mãos nos braços da poltrona e respirou fundo,


seus pés batiam sem parar contra o piso limpo. Lee deixou de lado a
caderneta e esperou. Esperou até que o rapaz diante de si o encarasse nos
olhos para dizer aquilo que não dizia em voz alta há anos.

— Fui molestado aos doze anos por uma babá e os meus pais venderam isso
à mídia como um circo... Um circo. E eu era o animal exposto no picadeiro
Dr. Lee... Eu. – negou e um sorriso transtornado tomou seu rosto. – O senhor
não tem nada em comum comigo, ninguém tem. Eu sou a estrela desse
espetáculo.
14 - permanecer

tags da fanfic que possam causar gatilhos: alcoolismo, violência física,


bulimia, automutilação, consumo de drogas.

Mas eu estou tão envolvido


Você sabe o quanto sou uma tola por você
Você me tem atada entre seus dedos

Linger - The Cranberries

Namjoon não aceitou o copo com água, mas o manteve entre as mãos
enquanto o silêncio do consultório pesava sobre seus ombros largos. Por
dentro uma avalanche de memórias enterrava todo aquele castelo de cartas
sob o qual ele sentia-se protegido, contando sem parar num murmúrio
vergonhoso por se sentir tão exposto outra vez.

— Como é o relacionamento com os seus pais? – Lee ajeitou os óculos e


descruzou as pernas. Namjoon observava cada movimento dele, tentava lê-lo
movido pelo medo de que gravadores espalhados pelo cômodo estivessem a
postos para recriar o mesmo inferno de antes.

— Eu não odeio os meus pais...


— Não disse que os odiava. Você acha que seria capaz de odiar alguém,
Namjoon?

Ele desviou o olhar e encolheu os lábios até que o queixo fosse projetado
para frente. A ponta do indicador desenhou a borda do copo e só então ele
dá de ombros numa resposta indiferente. Lee assentiu.

— Costuma falar com eles diariamente? – ele negou. – Há quanto tempo não
fala com seus pais?

— Eu falo com eles por mensagens toda semana.

— Vou perguntar isso de uma forma mais clara: há quanto tempo você não
conversa com seus pais?

— Ah. – lambeu os lábios. – Desde o dia treze de agosto de dois mil e


catorze.

— Isso foi bastante específico, existe um motivo? – ajeitou a postura.

— Depois de uma briga. Eu percebi que eles não me ouviam e parei de falar
sozinho. – esticando o corpo deixou o copo no chão. – Uma semana antes o
meu appa me mostrou um roteiro, o primeiro que ele escreveu. Entrou no
meu quarto sem bater e eu tentei me animar por causa da euforia dele. –
Namjoon gesticulou um pouco. – Me pediu pra ler, disse que era uma
promessa de sucesso, então eu li e nós brigamos.

— O roteiro era sobre o que?

— Era sobre mim. – sorriu de forma triste e deu de ombros. – Eles queriam
vender detalhes do que aconteceu, conseguir lucrar mais um pouco mesmo
depois de toda aquela droga em cima de mim. Quer dizer, eu só tinha
dezesseis anos e eles queriam levantar o tapete.

— O que isso quer dizer?

— Toda a merda que foi varrida para baixo do tapete. – simplificou. –


Levantar e expor.
— Isso foi difícil para você. Seus pais parecem não entender a gravidade do
que aconteceu.

— Acho que eles entendem, mas é mais fácil lidar com os fantasmas dos
outros. – o olhar dele se fixou em um dos objetos de madeira, um em forma
de barco com velas de papel e cordas de barbante. – Quando Nari me salvou
eles estavam viajando, mas chegaram no dia seguinte... Aquela foi a primeira
vez que voltaram tão rápido por minha causa e eu não entendia bem porque
brincar com Yangmin era mais importante que o meu vulcão de papel machê
para a feira de ciências. – Lee não o interrompeu quando a pequena pausa
jogou Namjoon dentro de uma nostalgia amarga. – Omma chegou chorando e
me abraçou, ela me olhou inteiro, mas appa não se aproximou por um tempo
e continuou me olhando como se eu estivesse doente. Entendi tudo dias
depois quando uma psicóloga me explicou que aquelas brincadeiras eram na
verdade a babá me molestando... Só aí eu entendi o olhar do meu appa e o
choro da minha omma.

— Como você se sentiu depois de compreender?

— Com vergonha. – deu de ombros e abaixou o rosto, as mãos grandes


começaram a brincar com os cadarços do moletom preto. – Tudo que eu mais
queria era sumir, esquecer.

— Mas eles não deixaram? – o mais novo. – Quando tudo veio à tona a
mídia foi desrespeitosa com a situação. Como lidou com isso?

— Eu tive de parar de frequentar a escola. De todas as coisas que abri mão,


a pior delas foi parar de ir à escola... Crianças podem ser mais maldosas do
que a gente pensa e os pais não queriam que ficassem perto de mim então, eu
cheguei a conclusão de que talvez eu fosse tão sujo quanto ela porque se eu
era mesmo uma vítima, por que as outras pessoas me tratavam daquela
forma?

— Pessoas são confusas, Namjoon. É como você disse: é mais fácil lidar
com fantasmas alheios. No seu histórico li que costuma tomar calmantes, mas
não de forma contínua.
— Pesadelos. – apontou. – Às vezes eles acabam comigo e eu só durmo se
me dopar.

— Você consegue responsabilizar alguém por tudo que aconteceu?

Namjoon continuou encarando o barco de madeira, mas se calou. As mãos se


apertavam sem parar, logo as pernas longas sofrem espasmos breves e quase
imperceptíveis, depois vinha a sensação de estar sufocando. Engoliu a saliva
amarga e coçou a nuca, respirando o mais profundo que conseguia e Lee o
esperou continuar.

— Não é culpa de ninguém, só dela. Na primeira vez que aconteceu, os meus


pais estavam em uma premiação e eu pedi para dormir mais tarde, queria vê-
los pela televisão... Ela barganhou e disse que deixaria se eu brincasse de
um jogo novo... Então, eu brinquei.

— Disse que ela o molestava. – Lee cruzou as pernas. – Mas na ficha


criminal está descrito como estupro de vulnerável, os laudos médicos
confirmaram isso.

— Eu não me lembro. – ele ficou mais nervoso, as mãos puxavam o tecido


da calça até que as juntas de seus dedos perdessem a cor. – Não quero
lembrar.

— Está tudo bem, Namjoon. – a voz branda de Lee não o deixava sentir
coagido. – Está tudo bem.

— Pensar dessa forma faz isso doer mais dentro de mim e eu já me odeio o
suficiente.

— Odeia mais alguém? – Namjoon negou. – E quem você ama?

O pequeno sorriso fez aparecer suas covinhas.

— Nari. Ela é como uma avó pra mim. Ele foi minha babá e a conheço desde
que me entendo por gente. – ele juntou as mãos entre as pernas. – Amo o
Jimin. Às vezes eu não sei se eu o amo como a pessoa que quero passar o
resto da minha vida ou como aquele que eu sempre me agarro quando estou
afundando. Eu nunca quis que Jimin afundasse comigo, mas eu não quero
perdê-lo. – Lee assentiu.

— Park Jimin é o seu namorado?

— Não. – negou e deu de ombros. – Ele é o Jimin. Eu não acredito em deus,


mas eu tenho certeza absoluta que Jimin é um anjo...

— Vocês têm um relacionamento amoroso?

— A gente transa. – ajeitou a postura. – Mas eu não acho que sexo defina
uma relação, quer dizer, tanto faz... Estou falando sobre mim. Jimin e eu
estamos, nós somos... Só isso, sem completar o verbo com alguma coisa a
mais.

— Existe outra pessoa com quem você deseja estar ou ser?

O mais novo piscou algumas vezes enquanto o pequeno sorriso dava lugar a
uma mordida de lábios demorada e forte que prendia a carne macia e soltava
diversas vezes. Se machucando. Algo confuso demais borbulhando por
dentro apenas pela memória contraditória do corpo reagindo tão submisso
aos toques de Seokjin; da falta exacerbada dos beijos e da voz suave
chamando por seu nome vez após vez.

Então, depois da queda, Namjoon se arrastava para fora daquelas


memórias como um cão arrependido que sequer possuía o direito de
lamentar.

— Jimin é o meu anjo, mas Seokjin é como a força vital que me faz sentir
vivo... Ele chega perto e eu respiro, eu trago do oxigênio como um doido
porque eu sei que no final vou empurrá-lo para longe. – suspirou. – Jin
merece alguém melhor.

— Isso é contraditório de se dizer por que você vive uma relação com Jimin,
acredita que seja o suficiente para um, mas não para o outro?

— Não é como se Jimin fosse viver do meu lado para sempre. Uma hora ou
outra ele vai achar alguém e perceber que merece mais do que eu dou, sendo
sincero não dou nada a ele, mas exijo muita coisa. Mas existe um detalhe que
diferencia ambos no meio dessa minha bagunça toda. – Namjoon ergueu a
cabeça e encarou Lee. – Seokjin me ama.

— E isso é ruim?

— Isso é péssimo. Eu sou um idiota e a minha falta de sensibilidade é


ridícula. Afasto todo mundo e acabo sendo um escroto com quem deixo
chegar perto... Com o Jimin por exemplo: eu o amo de volta, mas não da
forma que ele precisa ser amado.

— Esse comportamento... Você o associa ao trauma?

— O que aconteceu comigo não justifica as minhas atitudes, mas eu não


consigo evitar ser exatamente como eu sou.

— Quer mudar?

— De vez em quando eu não quero existir. Tenho medo de ficar sozinho, mas
eu me isolo o tempo todo. – deu de ombros e se encolheu. – Eu não quero ser
eu, não quero me sentir um monstro. Não quero ser o garoto daquelas
matérias, o rosto chorando na capa de uma revista, o roteiro promissor pro
meu appa. – a voz dele embargou, então respirou fundo antes de continuar. –
Não quero ter nascido pra ser triste e ter de sofrer pra ser feliz. Toda essa
dor que me sufoca é o meu destino, então porque eu devo arrastar alguém pra
dentro disso? Eu sou tão covarde que ao invés de acabar com isso de vez,
vivo me agarrando às outras pessoas pra continuar vivendo porque todas às
vezes que penso em morrer noto que preciso estar vivo pra conseguir.

— Já teve pensamentos suicidas?

— Todos os dias.

— Você já tentou se matar?

— Uma vez só. Eu sou covarde demais. Eu só estou aqui hoje porque Jimin
disse que precisamos de ajuda.
— Não está aqui por si mesmo? – Namjoon negou. – Você veio para ajudar
Jimin, isso é altruísta porque eu penso que ele esteja aqui pelo mesmo
motivo: ajudar você. Mas o mais importante entre tudo isso é que ambos
precisam de ajuda e estar aqui agora, falar como você falou é um passo
importante Namjoon. – Lee assentiu. – Nós podemos fazer isso juntos, então,
preciso que confie em mim mesmo que seja difícil porque esse é outro passo
que você dará: confiar.

— Não sei se vou voltar aqui, doutor Lee.

— Eu sinceramente espero que volte. – disse com sinceridade. – Mas é algo


que deve partir de você.

Namjoon assentiu e olhou ao redor antes de ficar de pé e se curvar em


respeito ao psicólogo.

Sentia-se menos sufocado depois daquela conversa.

Jimin rodou o celular entre os dedos e jogou as chaves da moto sobre o


aparador próximo a porta de entrada. Namjoon pendurou os dois capacetes
próximos ao capacete preto de Hoseok e chutou os sapatos observando o
menor com curiosidade.

— Você está calado.

— Impressão sua. – sorriu e também deixou as botas pesadas ao lado dos


tênis brancos de Jin. A etiqueta ainda estava presa ao cadarço. – Acho que
sobrou comida do jantar, 'tá a fim de almoçar?

— Preciso terminar um trabalho, vou comer no quarto mesmo.

— Yoongi-hyung vai te xingar.

Namjoon sorriu e o puxou pela cintura, abraçando-o enquanto abria mais as


pernas e apoiava as costas na parede fria. Jimin o abraçou pelo pescoço e
fechou os olhos ao sentir um beijo demorado em seu pescoço. Ele sempre se
arrepiava quando o tocavam ali.

— Você tá calado, Jiminie. E não foi por causa da consulta, saiu do


consultório bem... Ficou assim depois que a gente parou para abastecer. –
penteou uns fios de cabelo longo para trás e Jimin lambeu os lábios. – O que
aconteceu?

— Você acha que eu seja uma pessoa ruim? – o maior franziu o cenho.

— De onde tirou isso? – beijou-lhe na ponta do nariz e Jimin sorriu. – Você


é a pessoa mais incrível que eu já conheci. Um anjo.

— E uma fada. – completou.

— Uma fada anjo. – eles sorriram e Jimin fez carinho no rosto dele,
contornando as bochechas até as orelhas por baixo da touca cinza.

— Estou orgulhoso de você, Joonie. Muito orgulhoso por ter aceitado ir


comigo, por ter aceitado a minha ajuda.

— Obrigado por se importar mesmo que eu nem mereça isso... Às vezes eu


não sei por que você não desistiu de mim, Jimin.

— Porque quando eu olho nos olhos eu só consigo ver um garoto assustado.


– olhou-o nos olhos e Namjoon o abraçou mais. – Te conheço há um tempo e
nunca te vi sorrir por inteiro... Mas eu tenho certeza que deve ser uma visão
linda, então eu vou te fazer sorrir Namjoon. Por favor, não desista.

— Jimin... – lamentou.

— Por favor. – segurou o rosto dele. – A gente faz isso juntos. Por favor?

Namjoon o encarou e assentiu uma vez, suspirando e ganhando uma porção


de beijinhos rápidos pelo rosto. Beijinhos que logo se tornaram mais
demorados quando Jimin desceu para o pescoço dele. O menor beijava e
mordiscava a pele macia, aspirando o cheiro gostoso e suave do perfume
que vinha dela. Riu baixinho quando as mãos grandes desceram até sua
bunda e apertaram forte, enchendo-se no jeans apertado.
— Jiminie, eu tenho de terminar o trabalho. – choramingou ao se encolher
graças as lingua quente do outro em sua orelha. – Porra, covardia isso.

— Te ajudo com o trabalho. – barganhou e Namjoon suspirou. – Vamos


aproveitar que a casa tá vazia, Joonie.

— Você é uma fada, é um anjo, mas também é uma peste. – ajeitou o corpo e
se virou para que Jimin montasse em suas costas. – Se prepara para uma
síntese sobre direito constitucional.

— Que? Não! Me coloca no chão! Esqueça a foda, eu cancelo. – ele tentou


descer, mas Namjoon o segurou e riu baixinho. – Namjoon. – choramingou.

— Você acordou o gigante, agora aguenta.

— Broxei legal. – zombou e o maior mordeu rolou os olhos. – Não faça


piadas, é horrível.

O complexo do campus da universidade era composto por um total de oito


prédios organizados de A até H. Divididos por área e interligados por uma
gigantesca biblioteca, além do ambulatório destinado aos alunos de saúde.
Era o intervalo da maioria dos estudantes e por isso Hoseok estava
ocupando uma das mesas na parte aberta de uma lanchonete acompanhado de
mais três amigos.

— Obrigado, eu não sei como vou fazer para colocar tudo em dia, mas vou
tentar. – amassou a embalagem dos biscoitos que acabara de comer e
encarou de novo o bloco de folhas que estava dentro do próprio fichário.

— Relaxa. – Wheein deu dois tapinhas no ombro dele e sorriu. – O


importante é que você 'tá de volta e 'tá bem. Não assuste a gente assim.

— As aulas do Choi-ssi não tem graça nenhuma sem você pra fazer aquele
velho chato falar menos sobre a vida e mais sobre cálculo. – Kihyun
bocejou. – Puta merda, quero minha cama.
— Isso que dá ficar acordado até tarde namorando. – Sehun deu de ombros e
continuou mastigando sua refeição. – A gente precisa resolver o projeto de
gestão ambiental.

— Ainda prefiro o que a Wheein propôs.

— Claro que prefere, você é preguiçoso.

— Vai se foder, Sehun. Chato pra caralho.

— Vocês parecem meus pais. – Wheein rolou os olhos.

Hobi riu um pouco e abriu a garrafinha de suco de laranja, mas ao passar os


olhos pelo ambiente franziu o cenho ao ver uma figura conhecida o
observando. Há uns dez metros, recostado no muro do prédio de engenharia
e com um cigarro aceso entre os dedos longos, Taehyung o chamou com um
gesto de cabeça.

— Eu já volto. – informou ficando de pé.

— Hobi não me deixa sozinha com eles, eu vou matar os dois.

— Sehun cadê o seu namorado? O seu problema deve ser falta de sexo!

— Pois saiba você que a minha vida sexual não é da sua conta, cara de
esquilo!

— Pelo menos eu não pareço um louva-deus!

— Vocês têm o que? Sete anos?

Hoseok os deixou naquela mesa e caminhou até Taehyung, parando de frente


a ele quando o garoto tragou pela última vez e jogou o cigarro na lata de
lixo.

— 'Tá fazendo o que aqui?

— Quero falar contigo.


— Se você veio encher o meu saco pode dar meia volta porque eu 'tô sem
tempo para suas-

— Vim falar do Yoongi, Hoseok.

Hobi assentiu uma vez e cruzou os braços.

— Fala.

— Não aqui, tem muita gente. Me segue.

Rolando os olhos, Hoseok o seguiu em direção a quadra poliesportiva que


fora recentemente reformada para os eventos esportivos da universidade.
Era coberta e estava quase vazia, não fosse um grupo pequeno de garotas que
pareciam entretidas com qualquer coisa. O mais encostou-se à parede e
colocou ambas as mãos dentro dos bolsos da jaqueta folgada.

— Falou com ele sobre o que rolou no hospital?

— Se a tua preocupação é que eu tenha te ferrado, pode ficar tranquilo, eu


sei que vacilei tanto quanto você.

— Quando você falou pra ele, o que Yoongi te disse?

— Por que tá me perguntando isso? – franziu o cenho.

— Porque hoje de manhã ele me perguntou o que eu senti.

— Ele perguntou a mesma coisa pra mim. – deu de ombros.

Tae assentiu e respirou fundo, olhando ao redor. Hoseok não queria, mas
acabou por reparar em como ele estava bonito. Então só engoliu a saliva e
ajeitou a postura.

— Era só isso? Tenho mais o que fazer. – a mão pesada do mais novo o
segurou pelo bíceps, mas soltou rapidamente. – O que você quer?!

— Cara, o Yoongi é teu melhor amigo e eu realmente quero ficar numa boa
com ele... A gente podia, sei lá, tentar.
— Tentar? Ah, você quer bancar o amigão da vizinhança? – sorriu
debochado. – Sinceramente, depois de tudo que já dissemos um pro outro.

— É pelo Yoongi, porra! Ele fica mal de ver a gente se matando!

— E eu já disse pra ele o que tinha de dizer. Não é só porque ele é meu
melhor amigo que eu tenha de ser seu amigo.

— Puta que pariu, como você é marrento! Porra Hoseok, facilita! – passou
ambas as mãos pelo rosto.

— O que mais eu tenho de facilitar pra você?! – chegou perto dele, perto o
suficiente para ser escutado em sussurros. – Eu já abri mão... Não vou dizer
que tirei o meu time de campo porque nunca me deixaram jogar! Taehyung eu
preciso ver o cara que eu amo nos teus braços e ficar feliz com isso, então
soca essa tua empatia momentânea no seu cu e me deixa em paz.

— O que você respondeu quando o Yoongi perguntou o que sentiu quando a


gente se beijou?

Hobi piscou confuso e se afastou um pouco. Sua mente levou certo tempo até
processar as intenções que recheavam as palavras do mais novo, até notar o
perigo que era estar tão perto assim porque seu corpo se movia sem
controle... Era atraído, era puxado.

— Eu não vou trair o Yoongi. – sussurrou erguendo o queixo.

— Responde o que eu te perguntei, Hoseok. – Tae pressionou e o mais velho


franziu ainda mais as sobrancelhas. – Quer saber o que eu respondi?

— Não.

— Eu não menti pra ele...

— Eu não quero saber!

— Eu não gosto de você!

— Cala a porra dessa boca, caralho! – Hobi ergueu a voz.


— Mas eu me sinto atraído por você.

— Você é ridículo, eu não sei como o Yoongi consegue sentir alguma coisa
por você. – cuspiu as palavras e Tae assentiu. – Quer ficar numa boa
comigo? Então, finja que eu não existo!

— Cuidado com o que você fala, eu não sou obrigado a engolir teus surtos.

— Foda-se!

— Fala baixo! – ele também aumentou a voz. As garotas que estavam


distraídas se calaram e cochicharam entre si. – Marrento de merda!

— Você está aqui na minha cara dizendo que sente atração por mim sendo
que anda fodendo com o cara que eu amo, caralho, você é ridículo! – riu sem
humor, mas isso só serviu para deixar Taehyung mais nervoso.

— 'Tô tentando conversar contigo sem querer te mandar tomar nu cu, mas
isso é inevitável! Você é tão insuportável que fica óbvio porque o Yoongi
nunca te deixou entrar em campo.

— Que porra vocês dois estão fazendo?! – a voz grossa de Yoongi os fez
olhar em direção a entrada da quadra. Ele vinha carregando uma mochila no
ombro direito e olhando ao redor. – Dá pra ouvir de fora! Querem tomar a
porra de uma advertência?! – ele caminhou até entrar na frente de Taehyung,
encarando o melhor amigo. – Hoseok você 'tá vermelho pra caralho, que
merda, você não pode ficar nervoso desse jeito!

— 'Tô legal.

— Taehyung, o que você fez?! – se virou.

— Eu não fiz nada! – se defendeu erguendo as mãos. – Eu só-

— Ele não fez nada Yoongi, relaxa. – olhou para o mais alto. – Eu que fiz.
Preciso voltar, tenho aula daqui a pouco.

Hoseok deixou os dois para trás e Yoongi respirou fundo. Ele passou a mão
pelo rosto e coçou o queixo.
— Por que estavam brigando?

— Porque ele é um marrento insuportável do caralho, por isso!

— É sobre o que a gente falou mais cedo? – Tae suspirou. – Taehyung eu


preciso saber o que você quer.

— Eu quero você, Yoongi. O que sinto por você não eu sinto por mais
ninguém.

— Então, por que veio atrás do Hobi?

— Queria tentar viver em paz com ele! Eu sei que você fica chateado quando
a gente briga, mas ele é marrento demais pra isso.

— Depois eu falo com ele, ok? Só o deixe quieto. – o mais novo assentiu. –
Já comeu?

— Estava te esperando.

— Vamos, tô morrendo de fome.

Os dois saíram da quadra lado a lado e em silêncio. Caminharam rumo à


lanchonete e na fila para o atendimento Tae tentava ler as letras pequenas do
menu pendurado na parede enquanto Yoongi procurava por uma mesa vazia.

O que ele achou foi Hoseok sentado em uma delas, mas acompanhado.
Estaria tudo bem porque a popularidade de Hobi o fazia estar sempre
acompanhado, mas Yoongi não fazia a mínima ideia de quem era aquele
outro cara que falava tocando-o e tão perto.

— Não pode ser...

— O que?

— Não é possível! – Tae olhou na mesma direção e franziu o cenho.

— Quem é?
— Eu conheço todos os amigos do Hoseok, mas aquele cara ali não...

— Então... Yoongi?! – o chamou, mas ele já caminhava enfurecido até a


mesa. – Yoongi?

Yoongi empurrou a cadeira para o lado com força, assustando as outras


pessoas ao redor. Hoseok arregalou os olhos e Bobby se virou antes de ser
puxado pela jaqueta.

— Qual o teu nome?

— Que?! Me larga, porra!

— Yoongi que porra é essa?! Larga o Bobby!

— Bobby, bom saber.

Então, ele socou com força o rosto de Bobby. O garoto caiu sobre a mesa e
levou junto alguns objetos. Ele socou outra vez do mesmo lado, mas os
braços de Taehyung o seguraram e puxaram para trás.

— Hoseok sai daqui! – o garoto mandou olhando ao redor. – Vai logo!

— Que?

— Se te pegarem metido em briga, vão avisar o teu pai. Sai daqui!

Hobi pareceu entender e só assentiu, juntando o fichário e a mochila antes de


sair da lanchonete apressado. Tae empurrou Yoongi para trás e quando notou
o vigilante do campus se aproximando, puxou Bobby pelo cabelo e acertou o
terceiro soco.

— Olha pra mim. – mandou baixinho e Bobby o empurrou. – Você já fodeu


demais a vida do Hoseok, seu filho da puta.

— Hey! Vocês dois! Parados bem ai!

O vigilante gritou e Tae ergueu os braços para assentir e se afastar de Bobby.


— Tae... – Yoongi lamentou baixinho.

— Atenção base... Tumulto na lanchonete próximo ao prédio G. – o homem


informou no rádio. – Dois indivíduos.

Taehyung sorriu para Yoongi, piscando um dos olhos e dizendo num sussurro
que estava tudo bem.

— 'Tá aberta.

Jin tirou os óculos e bocejou vendo Jungkook entrar no quarto timidamente.


O garoto coçou a nuca e obedeceu quando o mais velho bateu no colchão o
chamando para sentar junto dele na cama espaçosa de casal.

— Desculpa por atrapalhar o hyung.

— Eu já tinha acabado, só estava revisando. – sorriu. – Tudo bem?

— Uhum. Eu... Queria pedir uma coisa, mas eu entendo se o hyung não
quiser.

— Ah, Jungkook, eu não posso casar contigo... Sinto muito. Não é você, sou
eu.

— Hyung! – a risada de Jin o fez rir também. – Não é isso, não.

— Então, me diga. – cruzou as mãos sobre o colo.

— Bem. Eu convidei o Jimin-hyung para ir ao cinema, então preciso que o


hyung me ajude com algumas dicas do que fazer num encontro.

— Hm, então vocês vão sair num encontro? – Jungkook assentiu. Jin suspirou
e preferiu não pedir muitos detalhes, conversaria com Jimin depois. – Já
sabe que filme vai ver?

— Eu nunca vi A Star Born, mas eu não sei se ainda está em cartaz.


— Shalow é um filme maravilhoso.

— O nome é A Star Born, hyung.

— Garoto, eu falo como eu quiser, me respeite. – Jungkook assentiu. – Vou


procurar um cinema que ainda esteja em cartaz. Vamos lá, primeiro... – se
esticou até pegar as chaves do próprio carro sobre o móvel. – Aqui, se você
que convidou, você que vai levá-lo. O tanque está cheio.

— Jin-hyung eu-

— Não quero saber, fique quieto. – o mais novo assentiu de novo. – Lembra
que o Jimin não gosta de coisa doce, mas ele adora aquelas balas de goma
sabe? Com formato de ursinhos. Ah! Depois do filme leva ele pra comer
frango apimentado e beber cerveja. – sorriu.

— Ok. – ficou calado e Jin franziu o cenho.

— Você está gostando do Jimin? – Jungkook não respondeu, sequer o


encarava. – JK?

— Ele me deixa nervoso, mas não de um jeito ruim... Eu me sinto meio


fascinado pelo Jimin hyung... Mas eu não sei.

— 'Tá tudo bem não saber. – afagou o cabelo dele. – Quando você souber, se
quiser conversar sabe que o hyung vai estar aqui pra você, não sabe?

— Obrigado, Jin-hyung.

— Aigo, Jungkookie tem um encontro! Filhos crescem tão rápido! – o puxou


para apertar as bochechas. – Aigo!

— Hyung, para com isso! – ele riu e empurrou as mãos de Jin.

Na tarde do dia seguinte, Jungkook estava na garagem diante de Jin e


Hoseok, mas nervoso do que nunca.
— Aqui. Tem balinhas para mau hálito e camisinha. – Jungkook arregalou os
olhos.

— Jin-hyung ele não vai precisar de camisinha. – rolou os olhos.

— E daí? Me deixa viver o momento. – deu de ombros. – O endereço do


cinema já tá no GPS. Se precisar me liga.

— Vocês parecem o meu appa. – resmungou e guardou no bolso do porta-


luvas as coisas que Jin lhe dera. – Hobi-hyung para com isso! – pediu
afastando o mais velho que ajeitava mechas de seu cabelo.

— Vou apressar o Jimin! Parece que vai casar! – Seokjin deu um tapa na
bunda de Jungkook e os deixou sozinhos.

— Não fica nervoso Jungoo. O Jimin é tranquilo.

— Acho que eu não estaria tão nervoso se fosse outra pessoa. – sussurrou e
Hoseok arqueou uma sobrancelha.

— Acho que a gente precisa conversar quando você chegar. Aqui, pega isso.
– estendeu pra ele algumas notas de dinheiro enroladas.

— Hyung, não precisa não, eu economizei bastante.

— Eu tenho certeza que sim, pega isso aqui pra emergências e se você não
usar é só me devolver amanhã, ok? É uma prevenção. Jin-hyung vem com as
camisinhas e eu com a parte financeira.

Jungkook riu e assentiu. O dinheiro ele guardou no bolso da jaqueta que


Jimin lhe dera.

— Obrigado, hyung. – sorriu mostrando os dentes sobressalentes.

— 'Tô pronto! – Jimin chegou sendo escoltado por Seokjin. – Vamos?

— Crianças já sabem, né? Juízo. Não façam nada que eu faria.

— Tchau, Jin-hyung.
Os dois entraram no carro e Jin abraçou Hoseok pelo ombro, observando-os
sair ele suspirou e deitou a cabeça no ombro livre do mais novo.

— Quero ter mais um.

— Um o que? – estranhou.

— Um filho. Agora quero uma menina. O nome dela vai ser Hojin.

— Sunmi está ciente disso?

— Nós ainda não falamos sobre filhos, estamos namorando há três dias e-

— Espera aí! Calma! – se virou para ele. – Como assim namorando? –


sorriu.

— Pois é meu caro amigo eu fui laçado por aquela mulher. – deu de ombros.
– Eu quero fazer dar certo, Hobi.

— Eu torço para que dê certo hyung. Vocês dois merecem isso. – afagou as
costas dele. – Eu tô feliz por te ver superar.

— Não acho que eu tenha superado, mas eu tenho certeza que continuar como
antes só me faria mais infeliz... Eu mereço tentar. – sorriu e assentiu. – Eu
gosto muito da Sunmi e ela também gosta de mim, já é alguma coisa.

— Claro que sim. Sabe, saber disso me faz querer superar também.

— Isso é bom, Hobi. É muito bom de verdade.

Hoseok assentiu,

🌙
A voz única de Eddie Vedder saia abaixo pelos alto-falantes do carro e
Jungkook gostava de como a voz de Jimin acompanhava a letra de Black
distraidamente, olhando para a paisagem exterior das ruas iluminadas
artificialmente.
— Ainda me lembro que é a sua música favorita.

— É sim.

— Nunca tinha reparado muito na letra, mas depois que você disse ser a sua
favorita eu me atentei e nossa... É muito intensa.

— O hyung acha? – Jimin assentiu. – Eu acho triste.

— Por isso é a sua música favorita? Por ser triste?

— Eu nunca pensei por esse ângulo. – deu de ombros e apertou o volante


com cuidado.

Jimin ficou quieto e o observou de perfil. O queixo pequeno, o lábio inferior


mais inchado que o superior, o nariz grande e quase arrebitado... Tudo em
Jungkook era de tirar o fôlego principalmente quando mesclado a suavidade
da inocência das ações do garoto. O mais velho deitou a cabeça no suporte
do carro e mordeu o lábio. Jeon Jungkook o fascinava sem esforço algum.

— Hobi-hyung comentou que viu uns desenhos que você fez. Não sabia que
você era talentoso.

— Ah, são uns rabiscos só. – negou tímido. – O meu appa desenha muito
melhor.

— Eu posso ver seus desenhos? Fiquei curioso. – sorriu.

— Pode, mas não é grande coisa hyung.

— Aposto que são incríveis. Você faz tudo tão bem, bebê.

— Quer apostar o que? – entrou na brincadeira e Jimin arqueou uma


sobrancelha.

— Me deixa pensar. – bateu com o indicador sobre os lábios. – Se eles


forem bons, você vai me desenhar...

— De-desenhar?! – o olhou depressa.


— Sim. E do jeitinho que eu pedir...

— Tu-tudo bem... Mas se eles não forem bons...

— Isso é impossível, mas se não forem bons... Você pode me pedir qualquer
coisa.

— Qualquer coisa? – o mais velho assentiu. – O-Ok.

— Aish, você é tão fofo, bebê.

Dentro da sala de cinema se acomodaram sem escolher muito porque estava


quase vazia e ficaria assim. Jungkook tentou demais não ficar curioso ao ver
o mais velhos digitando rapidamente no celular enquanto o filme não
começava. Os dedos de Jimin eram rápidos, as mensagens trocadas eram
enviadas e recebidas instantaneamente, e sem querer ele leu apenas uma
delas: a última enviada por Jimin para um contato desconhecido.

"Me deixa em paz."

Ele não questionava, temia ser invasivo e afastar Jimin de si, mas era
impossível evitar a preocupação que apertava seu coração.

— Jin-hyung já me fez assistir esse filme duas vezes.

— Eu sinto muito, quer ver outro? – disse com a boca cheia de pipocas
doces.

— Não, relaxa, eu quero ver você agora. – ele desligou o celular e o


guardou no bolso. – Tenta não chorar muito.

Jungkook não conseguia manter a atenção ao filme, nem mesmo com a cena
bonita de Lady Gaga cantando e tocando piano, porque todos os seus
sentidos estavam alertas ao fato da mão de Jimin continuar acariciando a
dele.

Os olhos grandes muito atentos aos dedos grossos que se moviam lentamente
sobre a pele pálida; a boca seca; os ouvidos zumbindo sem parar; a mão
imóvel pelo receio de perder o contato; e até o olfato apurado que aspirava
devagar o cheiro do mais velho se misturando ao cheiro do chocolate meio
amargo que envolvia as pipocas que segurava com firmeza.

Aquilo era assustador, mas Jeon Jungkook só não sabia como fazer parar
todos os sentimentos que pareciam explodir por dentro dele. Como um
coração pode bater tão depressa e não ser caso de risco de vida?

Os toques de Jimin o deixavam entorpecido e eufórico... Talvez fosse essa


uma boa palavra para definir tudo que o hyung lhe fazia sentir e pensando
sobre isso Jungkook sorriu e o olhar ladino de Jimin flagrou quando os
ombros largos dele se encolheram um pouco.

— Tudo bem? - o sussurro preocupado o fez assentir. - Você está curtindo o


filme?

— Tô sim hyung, e você?

— Acho que eu curtiria fazer qualquer coisa contigo, bebê.

Ele sorriu outra vez e aos pouquinhos isso se desfez para dar lugar a uma
expressão confusa porque Jimin estava tão perto... E tudo nele era tão lindo.
Os olhos pequenos, a pele de aparência macia, o nariz pequeno como um
botãozinho e ainda havia os lábios.

Os lábios de Park Jimin eram os mais lindos que Jeon Jungkook já vira em
toda sua vida.

Então, quando o mais velho se aproximou, ele apertou o balde de pipoca e


ficou parado. Jimin sorriu outra vez e estendeu a mão, raspando o polegar
pelo lábio inferior do mais novo, recolhendo o chocolate que o sujava.

Depois disso ele lambeu o doce e mordeu o lábio inferior.

— O hyung não gosta de coisas doces. - sussurrou.

— Eu gosto se estiver em você.

Virou-se outra vez para a tela grande e Jungkook suspirou.


Estava certo, aquela palavra servia muito para definir tudo que Jimin lhe
causava... Era euforia.

— Toma, pode assoar o nariz.

Jungkook aceitou o pedaço de papel e assoou o nariz ainda fungando


baixinho. Jimin o achava tão fofo, mas o garoto queria explodir de vergonha.

— É um filme tão bonito. – fungou.

— Eu chorei quando vi pela primeira vez, chorei muito. É lindo. Você


gostou?

— Gostei sim hyung. – assentiu. – Acho que só perde para O Bom


Dinossauro.

— Você gosta de O Bom Dinossauro?!

— Gosto.

— Garoto, você não é uma alucinação minha? – Jungkook riu e negou. – É


um dos meus filmes favoritos, mas ninguém gosta de rever comigo.

— A gente pode rever... Se o hyung quiser.

— 'Tá decidido! Nosso próximo encontro vai ser na sala de estar assistindo
o Spot. – sorriu até seus olhos se fecharem e Jungkook suspirou. Seu coração
estava eufórico.

— Então... O hyung sairia comigo de novo?

— Por que eu não sairia? Jungkook você é bobo. – riu baixinho. – Eu vi um


filme legal, estou prestes a comer frango apimentado, essa cerveja 'tá gelada
e eu tenho de companhia um homem lindo. – o rosto do mais novo esquentou.
– Eu gosto do teu sorriso.

— Obrigado. Eu gosto quando o hyung me faz sorrir.


Uma garota os serviu e compartilhando frango apimentado com cerveja os
dois conversaram sobre diversos assuntos. Conhecendo mais um pouco de
suas vidas, rindo vez ou outra de alguma história engraçada, atentos quando
se tratava de algo mais detalhado e sério.

Jungkook sentia-se leve enquanto Jimin, pela primeira vez em muito tempo,
estava cem por cento em um lugar sem deixar-se levar por pensamentos
demais. Era bom estar com Jungkook, conversar com Jungkook, pensar sobre
Jungkook.

Era hipnotizante vê-lo falar e gesticular, às vezes demorando em busca de


uma palavra útil enquanto seus olhos escuros e grandes piscavam lentamente.
O garoto desligava e voltava, parecia ter um mundo próprio de onde vinha
aquele jeito de menino num corpo de homem... Aquele charme másculo
mesclado a suavidade da juventude.

Olhar para Jungkook era genuíno. Então, Jimin apenas não conseguia tirar
seus olhos dele.

No estacionamento, encostados ao carro de Seokjin para encarar a Lua cheia


que se escondia um pouco por trás das nuvens ainda conseguiam ouvir o
rádio ligado e Linger sendo entoada no penúltimo refrão antes do solo de
violão.

— Black me lembra minha omma.

Jungkook disse baixo.

— Lembrar da sua omma te deixa triste?

— Não. Porque eu lembro pouco, hyung. Quando ela foi embora eu ainda
dizia o meu nome errado.

— Não tenho uma história pra contar sobre a minha música favorita. – deu
de ombros. – Às vezes eu queria ter. – suspirou e encarou a Lua. – Será que
um dia vão morar na Lua?

Jungkook sorriu.
— Eu gostaria de morar lá. A vista deve ser linda.

— Não tão lindo quanto essa. – o mais novo franziu o cenho e encarou o
mais velho. Jimin olhava para ele, a vista a qual se referia era ele. –
Obrigado pelo encontro, Jungkook. Foi o segundo melhor porque te ver
patinando ainda está em primeiro. – sorriu.

Jungkook assentiu e o viu desviar o olhar para o céu de novo.

Engoliu a seco.

As mãos dentro dos bolsos se apertaram.

O nervosismo é bom.

Ele respirou fundo e se moveu depressa, prendendo o corpo do mais velho


contra a lataria. Jimin segurou o riso e esperou o observando de pertinho.
Jungkook apertou os olhos com força e selou os lábios dele. Frango
apimentado e cerveja. Um gosto breve, rápido e desajeitado.

Um selinho e ele se afastou de olhos arregalados, a vergonha o deixando


completamente corado.

Então, Jimin o segurou pela jaqueta e o trouxe para perto com carinho, a mão
esquerda serpenteia até a nuca alheia e a direita o segurou pelo rosto. Olhou
dentro daqueles olhos escuros assustados, sorriu e suspirou.

— Fecha os olhos, bebê.

Jungkook quase desmanchou antes de obedecer e ser beijado.

Sob a Lua, trêmulo pelo nervosismo da atitude, inebriado pelo toque...


Descobrindo que Park Jimin, aos poucos, tomava mais e mais espaço onde
ninguém sequer pisara antes.

Ele ia o ganhando.

🌙
15 - o amor dói

deixa um votinho

É cientificamente comprovado que existe um intervalo de tempo até que uma


droga se torne um vício para o organismo de seres vivos, e durante as aulas
maçantes de química durante o ensino médio, Jimin chegou a compreender
um pouco sobre esse tema.

Lembrava-se de quase nada sobre o que havia aprendido, mas ali, enquanto
Jungkook o beijava de um jeito afobado e desesperado, concluiu que o beijo
daquele garoto deveria ser classificado com uma elevada propensão ao ser
adicto.

Era diferente de qualquer outra coisa que já havia provado e convenhamos,


os lábios de Park Jimin não eram os mais puros. Naquela dinâmica, não
havia mãos passeando por cima das roupas pesadas, muito menos por baixo
e tampouco beijos rumando para qualquer pedaço exposto de pele.

Jungkook o beijava devagar, movendo a língua tímida de encontro à dele,


deixando o corpo maior aquecê-lo inocentemente. E aquecia demais, aquecia
por inteiro de um jeito tão novo que revirava o estômago na típica euforia
que ele não conseguia mais sentir a um bom tempo.
Beijar Jungkook era igual às manhãs de natal e pode soar estranho caso a
mente de Jimin não seja exposta para poder explicar o quanto isso é
importante para si. Manhãs de natal eram as melhores quando criança. Podia
correr para a sala de estar sem escovar os dentes, podia rasgar o papel de
presente e comemorar pelo Papai Noel ter acertado em cheio o brinquedo
que mais queria. Sua mãe o deixava comer a sobremesa antes da refeição e o
seu pai o permitia bebericar um pequeno gole do vinho sem que ninguém
mais visse.

Jimin não acreditava mais em Papai Noel, dava-se conta que sequer tinham
uma chaminé em casa, então aquela euforia nunca mais foi a mesma até
aquele beijo acontecer.

Até sentir o sabor de Jungkook, até tê-lo contra o seu corpo, até o coração
acelerar ao ponto de ser quase assustador. Manhãs de natal eram únicas para
o Jimin criança, então o beijo de Jeon Jungkook era único para o Jimin
adulto.

Por causa disso ele sorriu quando o garoto se afastou respirando fundo, os
olhos grandes vidrados em si e dilatados pelo contraste do rubor sobre as
bochechas geladas. Jimin sorriu até que fosse difícil enxergar e não deixou
que o mais novo se afastasse para sucumbir na vergonha pelo ato anterior.

— Você é lindo, Jungkook. – elogiou baixinho, penteando o cabelo escuro


entre os dedos, colocando-os para trás da orelha cheia de brincos e piercing.
– Por que está com vergonha? Não gostou de me beijar?

— Eu gostei, hyung. Muito. – abaixou o rosto, mas o menor o ergueu outra


vez tocando-lhe o queixo com a ponta do polegar. – Eu deveria ter
perguntado antes...

— É um pensamento muito bonito da sua parte, bebê. – continuou com o


carinho e Jungkook quase se derretia nos braços dele. – A gente sempre
precisa respeitar o espaço das outras pessoas, mas eu também queria muito
beijar você.

— E por que não me beijou?! – ele soou confuso e isso o deixou mais
envergonhado enquanto Jimin ria um pouco. – Quer dizer...
— Porque eu estava respeitando o teu espaço. – as mãos grandes do mais
novo continuavam coladas à cintura de Jimin, ele não as movia sequer um
centímetro pelo receio de estar indo longe demais e por mais que o mais
velho quisesse muito ser tocado, não conseguia evitar o quanto aquela
atitude o deixava admirado. Jungkook definitivamente era uma manhã de
natal. – Eu não quero assustar você.

— É o meu jeito? Pode dizer hyung. Eu sou estranho.

— Você é incrível. – os dedos pequenos desenharam a mandíbula dele e


depois os lábios inchados e corados pelo beijo. – Como é que alguém
poderia te definir como estranho? O que faz de nós únicos é justamente a
peculiaridade de cada um. – ergueu a mão direita e abaixou os dedos para
deixar só o mindinho esticado. – Olha só, os dedos das mãos são irmãos e
vivem juntos, mas não são iguais. O meu mindinho, por exemplo, é muito
menor que os outros... Achatado e parece uma mini salsicha...

— Hyung... – o garoto riu um pouco e observou o dedinho. – É fofo.

— Claro que é fofo! Mas muita gente não achava isso no colégio, um motivo
idiota pra caralho só pra poder implicar comigo.

— E o que o hyung fez?

— Eu mandei todos irem tomar no cu, ai omma me deixou de castigo por um


mês inteiro. – deu de ombros. – Valeu à pena

— Então, eu tenho de mandar quem me acha estranho tomar no cu? – arqueou


uma sobrancelha e Jimin riu jogando a cabeça para trás, fazendo-o rir
também.

— Jungkook – negou e respirou fundo – se você quiser fazer isso tudo bem,
mas o ponto é... Assim como o meu dedinho. – mostrou o dedo outra vez. –
Ou meus dentes meio tortos. Essas coisas fazem de mim único, entende? Tem
pessoas que não gostam de mim, não gostam do meu jeito e etc., mas eu não
posso obrigá-las a mudar de ideia, então eu vou me amando do jeito que eu
sou. – o mindinho contornou o lábio inferior de Jungkook e ele sorriu. – Você
não é estranho, não tem nada de errado com o seu jeito... Você é único.
— Isso faz o hyung gostar de mim? – sussurrou e fechou os olhos quando a
carícia chegou até sua nuca, quando a ponta dos dedos frios deslizaram por
sua pele até sumirem dentro da jaqueta pesada. – Por que talvez o hyung não
entenda, mas pra mim isso é muito único.

— Acho que eu não consigo tirar meus olhos de você desde quando me disse
que se chamava Busan e vinha de Jeon Jungkook. – o mais novo sorriu e
abaixou a cabeça até que a franja escondesse um pouco dos olhos escuros. –
Olha pra mim. – Jungkook ergueu o rosto e engoliu a seco quando a língua do
mais velho umedeceu o lábio inferior rosado e cheio. Seu coração estava
acelerando outra vez, as coisas ao redor perdiam o foco e o som... Só existia
Jimin. Ali, diante dele, o encarando... Só Jimin.

Era assustador.

Era estranho não saber o que sentia e ao mesmo tempo sentir tanto.

Respirou fundo.

— Não precisa dizer nada se você não se sentir confortável para isso, faça o
que você quer fazer.

Jungkook o beijou de novo. Afobado demais, mas ao mesmo tempo com todo
o cuidado que podia. Outro beijo lento, cheio de respirações pesadas e das
salivas que se misturavam enquanto Jimin aceitava a língua alheia dentro da
boca, acariciava-a com a própria e esquentava por dentro.

O foco do incêndio, por mais confuso que possa parecer, era o coração.

Namjoon largou a caneta sobre o caderno aberto e tirou os óculos de grau


antes de esticar os braços e bocejar demoradamente. Estava cansado e com
fome, mas precisava terminar os exercícios para a aula da manhã seguinte.
Às vezes ser monitor assistente era cansativo, mas o espírito de liderança
dentro dele o motivava a continuar.
A casa estava quase silenciosa, sabia que Hoseok estava no quarto
estudando; que Yoongi e Taehyung tinham saído; e Jimin outra vez bancando
a babá de Jungkook. Mas não sabia sobre Jin.

Ele se afastou da mesa de jantar e arrastou os pés calçados em meias até a


cozinha, buscando alguma coisa gostosa na geladeira. Arriscou surrupiar o
cereal de Yoongi e rapidamente preparou tudo com leite gelado em uma
tigela de vidro colorido voltando aos estudos.

Deu quatro colheradas até ouvir passos no corredor do andar superior,


depois disse vozes abafadas e o riso inconfundível de Jin que roubou
completamente sua atenção. Namjoon deixou a tigela sobre a mesa e secou o
leite que sujava seu queixo com a manga do moletom cinza, mas ao ver
Sunmi descer primeiro, vestindo o uma blusa que pertencia a Jin, ele abaixou
o rosto e voltou aos livros.

— Sunmie-ah, essa é terceira blusa minha que você furta.

— Vai mesmo fingir que não é sua culpa, Seokjin? – ela se virou e ele a
abraçou pela cintura, deixando um beijo demorado nos lábios rosados. –
Ninguém mandou você rasgar a minha blusa. – disse baixo, mas Namjoon
ouviu.

— Odeio botões. – negou e ela riu até que seus olhos maquiados caíssem no
outro sentado na mesa de jantar. Sunmi ajeitou a postura e cutucou Jin
mostrando que não estavam sozinhos. – Ah, Namjoon. – cumprimentou num
aceno de cabeça.

— Boa noite, hyung. Boa noite...

— Sunmi. – a garota respondeu e sorriu indo até ele para estender a mão.
Não era um cumprimento típico da cultura, muito menos para uma mulher...
Mas Sunmi transbordava confiança a cada gesto. – Muito prazer.

— Namjoon. – apertou a mão menor e sorriu sem mostrar os dentes, apenas


as covinhas. – O prazer é meu.
— Jin me contou que você estuda direito, é bem difícil, deve ser bastante
inteligente.

— Obrigado. – assentiu desconfortável. A simpatia dela o sufocava. Os


olhos nervosos escapavam para encarar o mais velho que continuava
abraçado a ela. Eles ficaram lindos juntos.

— Baby, você vai acabar se atrasando. – Jin roubou a atenção dela e


Namjoon respirou fundo.

— É mesmo! – assentiu. – Então, posso marcar para o domingo?

— Uhum. Tem certeza que o seu appa gosta de licor? – Sunmi assentiu
sorrindo. Jin abraçando-a por trás, ia em direção a porta. – Eu passo pra te
pegar antes do meio-dia.

— Não fique nervoso com isso, ok? – ela se virou para abraçá-lo pelo
pescoço, esticando-se a ponta dos pés para deixar um beijinho rápido na
ponta do nariz dele. – Eu tenho certeza que eles vão adorar você, é
inevitável adorar você.

— Eu sei. – piscou e ela rolou os olhos. – Quando chegar me avisa. – Jin


beijou os lábios dela depois as costas de ambas as mãos. – Boa noite, baby.

— Boa noite, Jinnie.

Ele abriu a porta e ganhou uma tapinha na bunda antes de a garota sair da
casa.

Namjoon sentia-se enjoado.

O cereal esquecido não parecia mais tão apetitoso, os livros mais confusos
que o normal, então ele encarou Jin ir até a lavanderia e não pensou muito
antes de segui-lo e abordá-lo no pequeno cômodo frio.

Seokjin respirou fundo, mas o ignorou enquanto tirava suas roupas da


secadora para colocar dentro de um cesto cor de rosa. Namjoon não sabia o
que dizer, mas sentia que palavras demais estavam engasgadas em sua
garganta desesperadas para sair e ser vomitadas ali entre eles.
O ciúme feito um monstro nojento e pegajoso ia se agarrando inteiro nele,
tomando tudo que podia aos poucos porque Seokjin estava ao alcance de
suas mãos nervosas, mas ele não conseguia esticá-las até poder tocá-las.

— O que você quer, Namjoon? Eu preciso ir pro quarto. – Jin suspirou


ajeitando o cesto nos braços.

— Vai conhecer os pais dela? Por quê?

O mais velho suspirou alto e lambeu os lábios.

— Isso não te diz respeito. Você sabe.

— Eu sei. – assentiu. Jin tentou passar, mas ele não deixou. – Só me diz o
porquê, por favor.

— Namjoon... – bufou.

— Por favor.

O menor usou a mão livre para massagear a testa enquanto respirava fundo,
era injusto demais que Namjoon estivesse fazendo aquilo logo naquele
momento, logo quando as coisas começavam a caminhar. Quando a tentativa
havia se tornado o seu foco.

Era injusto demais que chegasse tão perto, que o encarasse tão assustado e
agoniado, que usasse de suas fraquezas para outra vez conseguir o que
queria.

Porque ambos sabiam que Namjoon era a maior fraqueza de Seokjin.

— Nós estamos namorando.

Deu de ombros e manteve o ar altivo enquanto o outro parecia murchar


dentro de seu um metro e oitenta. O mais novo o encarou em silêncio, os
olhos pequenos piscando vez ou outra confirmando que o tempo não tinha
congelado só pra eternizar aquela cena muda o suficiente deixando ser
possível ouvir um coração se partindo em dois.
Talvez fosse o coração de Namjoon porque o de Jin estava aos pedaços há
um bom tempo.

— Você está usando ela pra me esquecer?

— O que? – Jin franziu o cenho. – Qual é a porra do teu problema? Eu nunca


usaria alguém, Namjoon... Pelo amor de deus seja menos arrogante!

— Há dois meses você disse que me amava... Pra mim parece demais que
você está colocando aquela garota no lugar que queria que estivesse.

— Eu vou sair daqui antes que eu soque a sua cara. – Jin tentou passar, mas
Namjoon o impediu de novo. – Caralho, Namjoon... Para. – avisou num tom
calmo demais.

Todos naquela casa sabiam que aquilo não era bom.

— Quanto tempo vai levar até você perceber que ela não é eu?

— E quanto tempo você vai levar até perceber que eu estou com ela
justamente por Sunmi não ser você? – jogou de volta. – Por que ela me faz
bem, ela me faz sentir de um jeito que você nunca fez...

— Está mentindo.

— A porra do teu ego coloca como mentira tudo o que não te agrada,
Namjoon. – chegou mais perto dele. – Ela me faz sentir seguro.

— E segurança é o suficiente para manter um relacionamento?

— É pra mim. É depois de tanto tempo transando com você pra acordar
angustiado no dia seguinte, com medo de abrir os olhos e saber que você não
estava mais na minha cama... É quando eu engolia o meu orgulho pra poder
ter um pouco de você e era desprezado como se não tivesse te deixado fazer
o que queria comigo.

— A única coisa que eu quero é que você não viva se enganando, Jin.
Jin o encarou estreitando os olhos até que um sorriso debochado abrisse em
seus lábios, seguido do riso seco diante das palavras que ouvira. Ele negou
algumas vezes e depois deixou o cesto sobre a lavadora.

— Acha que me envolver com outras pessoas é viver enganado? Namjoon


nós vamos falar sério agora, eu quero que você diga isso olhando nos meus
olhos. – se aproximou. – Engole a porra do teu ego e me responde: o que eu
sou pra você?

Então, olhou mesmo dentro dos olhos dele. Era como estar paralisado, no
entanto seria mentir dizer que gostaria de escapar.

Podia dizer que Jin era como a força vital que o mantinha ali, o sorriso que
mais apreciava admirar, a voz que reconheceria em qualquer lugar. Seokjin
era o fio que o mantinha ligado à vida. Ele sabia, mas enquanto a convicção
vinha de forma tão clara, em contrapartida os medos se encarregaram de
limitar a sinceridade. Não se tratava apenas de um fio solitário, eram
muitos... Eles o prendiam, o sufocavam ao redor do pescoço e dos pulsos,
qualquer movimento exagerado gerava o medo de se sufocar ali.

Então, ele se agarrava aos fios de Jimin e pedia que ele o ajudasse a
desfazer cada nó sem a necessidade de precisar ficar... Mas Seokjin...
Namjoon sempre quer que ele fique e por causa disso vai embora primeiro.
Acorda antes, depois de uma noite de sexo intenso e o observa dormir,
observa a beleza desconcertante se perguntando mais de mil vezes o que fez
para merecer o amor dele. Ele vai embora primeiro, recolhe as roupas e
deixa a cama quente para trás porque é um covarde preso no medo incurável
de arrastá-lo para dentro da bagunça que o define.

Enquanto Seokjin continua bem ali parado diante dele determinado com toda
a força que possuía, mas ciente de que não precisaria muito para ceder de
novo, porque o amor é traiçoeiro demais.

— Você me faz sentir vivo. – repetiu o que sempre dizia. Jin estava cansado
demais de ouvir aquilo.

— Então você me usava pra se sentir vivo, Namjoon. Você vivia se


enganando.
— Não é minha culpa se não posso corresponder aos sentimentos.

— Nunca disse que era. Existe uma diferença fundamental entre culpa e
responsabilidade. Você só pode ser culpado por um ato que cometeu, mas
você é responsável por tudo aquilo que deixou de fazer.

— O que eu deixei de fazer?

— Eu nunca te pedi pra corresponder, você nunca me obrigou a ceder... Mas


mesmo sabendo o quanto isso tudo fodia a minha cabeça, você continua me
procurando... Você deixou de ter respeito.

Ambos falavam baixo.

Namjoon respirou fundo e lambeu os lábios. Nada do passado justificava o


presente, mas a teoria é mais fácil que a prática. Ele esticou a mão e segurou
a mão de Jin – que não evitou o toque – entrelaçou os dedos tortinhos aos
seus e assentiu uma vez.

— Você está feliz, hyung? – a pergunta surpreendeu o mais velho. – Agora,


nesse momento... Está feliz?

— Por que está perguntando isso? – franziu o cenho e encarou as mãos


juntas.

— Porque eu não posso te fazer feliz do jeito que merece...

— Namjoon? Do que você está falando? – se agoniou. – Por que está


dizendo isso?

— Porque é a verdade. 'Tá feliz, hyung? – Jin assentiu uma vez e estranhou
ao ver os olhos do mais alto marejaram. – Desculpa te perturbar.

— Namjoon? – chamou quando sua mão foi solta e o mais novo abriu a porta
da lavanderia. – Namjoon?!

Namjoon não o olhou, caminhou até a mesa para recolher o material de


estudos em silêncio.
— Por que você disse aquilo?! – Jin o seguiu. – Namjoon?! Eu 'tô falando
com você! Responda!

— Hyung, eu vou dormir. – anunciou depois de fechar a mochila.

— Aigo, você não vai! Você vai me dizer por que falou aquelas coisas!

— É melhor pra nós dois... Que... A gente pare por aqui.

Jin piscou algumas vezes até entender.

Parar por ali. Era estranho compreender. Dar fim a algo que sequer existiu.

Seus ombros se encolheram e ele assentiu uma vez, era melhor afinal, Sunmi
merecia sua lealdade e respeito acima de tudo.

Namjoon chegou perto dele e o tocou no pescoço exposto, deixou os dedos


gelados resvalaram a pele macia para arrepiar a nuca alheia. Jin o encarou
assustado, os lábios entreabertos pra respirar pela boca só pra não arriscar
sentir mais do cheiro do mais novo.

Fechou os olhos quando os lábios cheios tocaram a maçã do rosto, quando


um beijo demorado o fez tremer dos pés à cabeça.

Tinham de parar por ali, no entanto, nenhum deles sabia como frear o corpo
todo.

Namjoon beijou-o com carinho, afagando a nuca macia, fechando os olhos


para aspirar o perfume tão pessoal que só Seokjin tinha. Arrastou a boca
medrosa até chegar rente a orelha que estava vermelha pela atenção que o
dono dela recebia. Então, ele riu baixinho por notar aquilo e Jin suspirou.

Depois num sussurro breve disse:

— Eu não mereço você...

— Por quê? – a agonia da pergunta era evidente. Talvez se tivesse a resposta


seria mais fácil parar por ali.
— Porque eu sou uma bagunça, Jin. Eu não sirvo pra amar ninguém, não
sirvo pra ser amado.

Beijou outra vez a bochecha do mais velho e o deixou parado ao lado da


vasta mesa de jantar encarando um ponto qualquer.

Talvez eles estivessem certos, talvez parar fosse a melhor opção, mas o
amor é traiçoeiro.

Duas semanas depois do encontro de Jimin e Jungkook, também da conversa


confusa entre Namjoon e Seokjin, Hoseok chegou até a república
completamente exausto com uma leve dor de cabeça que pesava seus olhos.
Ele deixou a mochila pesada sobre o sofá, tirou as meias e o moletom para
dobrá-los com cuidado.

Sempre era o primeiro a chegar e estranhou ao ouvir passos, na verdade


ficou assustado e fez silêncio para prestar atenção no barulho que vinha do
andar superior da casa.

— Seok-ah? – a voz grossa de Yoongi o levou a suspirar aliviado. Nenhum


serial killer tinha invadido a casa deles.

— Aqui na sala.

Mais passos e logo Yoongi estava no último degrau da escada carregando um


pequeno bolinho felpudo e marrom. Hoseok franziu o cenho e esperou que
ele chegasse mais perto. O menor estava desconfiado, um bico puxando os
lábios pequenos e os ombros encolhidos.

Hobi o conhecia bem o bastante para compreender que Min Yoongi estava
aprontando.

— Oi.

— Por que está em casa tão cedo?


— Eu acordei com dores. – rolou os olhos, mas Hoseok já estava alerta e o
encarando dos pés a cabeça para conferir se tudo estava no lugar. – 'Tá tudo
bem, eu acho que é por causa da dieta.

— Você não está comendo direito, Yoongi?!

— Mais ou menos. – sorriu sem graça e Hobi suspirou. – Mas o Jin-hyung já


me deu um sermão... Ele disse que vai me entupir até o cu com espinafre e
brócolis.

— Mas e as dores?

— Passaram depois de tomar o remédio. – ele assentiu e o bolinho felpudo


em seus braços se mexeu o suficiente para Hobi perceber que se tratava de
um pequeno cachorrinho.

— Yoongi, o que é isso? – passou a mão na testa.

— Ele estava tremendo de frio praticamente dentro do pneu do meu carro! –


explicou. – Eu o tirei de lá, mas aí ele ficou chorando e eu...

— Você trouxe pra casa. – concluiu e o menor sorriu mostrando as gengivas


rosadas antes de sentar ao lado dele. O filhotinho foi colocado sobre as
coxas de Hoseok. Era muito pequeno, parecia ter saído de um banho e não
demorou nada até escalar o peito dele para poder lamber seu queixo. – Ei,
calma aí.

— Ele é carente. – explicou encantando com o sorriso de Hobi brincando


com o cachorrinho. – O que nós vamos fazer com ele?

— Como assim nós? – estranhou.

— Seok-ah!

— Não vem com essa chantagem emocional pra cima de mim! Se o Jin-hyung
ficar sabendo pode até deixar, mas daqui uma semana o Jimin vai ter trazido
todos os gatos que achar na rua e pronto! Ele vai virar aquela velha de Os
Simpsons que atira gato nas pessoas, você sabe que sim!
— Mas não é minha culpa se o Jiminie é obcecado por gatos!

— Yoongi, sabe como funciona: se um pode, todos podem.

— Mas onde o Holly vai ficar?

— Diz que você não deu um nome pra ele. – lamentou e o cachorrinho se
aconchegou sobre sua coxa esquerda para encarar o menor. – Depois de dar
um nome é doloroso se despedir.

— Como você pode me dizer pra largar o Holly?

— Eu não te falei pra largar! A gente procura um abrigo, sei lá, alguma coisa
assim.

Nenhum deles ouviu quando outra pessoa se aproximou e se jogou na


poltrona vazia completamente à vontade mordendo uma maçã vermelha.
Hobi rolou os olhos e ignorou a presença de Taehyung.

— Eu disse a mesma coisa, ele é teimoso feito uma porta.

— Sinceramente, vocês dois têm pedras no lugar do coração! – o menor


entre eles se indignou e pegou o cachorrinho nos braços. – Vou cuidar dele
sozinho!

— Como que você vai esconder um cachorro dentro dessa casa? Ainda mais
do Jimin? O Jimin simplesmente surge do nada! Eu tenho medo de olhar pro
lado e ele tá sentadinho aqui me encarando!

Hoseok não queria rir, mas era verdade. O sorriso contido puxou seus lábios
para baixo e uma expressão adorável estampou o rosto cansado. Os outros
dois notaram.

— Holly é pequeno.

— Você também é pequeno. – Yoongi mostrou o dedo do meio para Tae que
lhe mandou um beijinho no ar.
— Não é saudável para filhotes viverem presos ou limitados, você sabe
disso Yoon. É melhor contar e pedir pra ficar com ele.

— Eu já sei! – os olhos felinos se iluminaram. Tanto Hoseok quanto


Taehyung respiraram fundo. – Vou pedir como presente de aniversário. – deu
de ombros e se virou para caminhar em direção à cozinha. – E você vai ficar
comigo, ok? Eu sou o seu papai. – afinou a voz para falar com Holly.

Sozinhos naquela sala nenhum deles disse nada por uns minutos. Taehyung
assistiu o mais velho tirar da mochila alguns livros para empilhá-los sobre a
mesinha, do maior para o menor, ajeitando os espaços com cuidado e várias
vezes. Franziu o cenho, mas observou mais um pouco.

Hoseok abriu o estojo preto e apontou os dois lápis de grafite, conferiu se


suas canetas estavam devidamente fechadas e limpou as réguas esquisitas
com um lenço azul.

— Você tem TOC? – a voz grossa o fez erguer os olhos. Hobi suspirou e
negou. – Então, pra que fazer tudo isso?

— Eu sou organizado, mas você estranha porque vive numa bagunça.

— Tem reparado na forma que vivo? – arqueou uma sobrancelha e o mais


velho rolou os olhos.

— É bom que você esteja aqui, eu queria te falar uma coisa Taehyung. –
guardou os lápis e canetas de volta no estojo. – As provas me deixaram
ocupado, mas eu não esqueci o que você fez naquele dia que o Bobby me
procurou. – suspirou, sentia-se desconfortável. – Você me ajudou, mesmo
que eu não tenha pedido por isso, mas ajudou... O que você quer?

— Como assim?

— Você me ajudou a não conseguir uma advertência da reitoria, quero saber


o que você quer em troca. Eu não gosto de dever nada pra ninguém, não vou
dever logo pra você.
— O Yoongi me disse que vocês conversaram e o tal do Bobby explicou que
também foi largado. Igual eles fizeram contigo. – Tae ajeitou a postura, mas
as pernas continuam abertas. – Por que você acredita nele?

— Acho que isso não te diz respeito, Taehyung. – deu de ombros.

— Ainda 'tá saindo com ele? Com o cara que te fodeu? – Hobi apenas sorriu
ladino e o ignorou. – Ele deve 'tá te fodendo gostoso no outro sentido pra
você continuar saindo com ele depois daquela merda toda. – debochou
jocoso, gesticulando suavemente as mãos grandes.

— Vai dizer o que você quer ou prefere continuar sendo insuportável? –


fechou o zíper da mochila.

Tae o encarou e lambeu o lábio inferior, deixando que a língua rosada


brincasse com a argola de metal presa a carne. Ser tão convicto dos próprios
sentimentos nunca lhe pareceu tão incômodo quanto nos últimos dias
conforme a resolução daquela confusão dentro de sua mente ia tomando
forma, expondo de pouco em pouco o que ele mais queria evitar.

Os dias passavam devagar, mas ele ia afundando depressa. Sentia-se pesar


toneladas e a impossibilidade de se manter na superfície o assustava. Ia
mergulhar em Yoongi diariamente, entregando-se a ele em cada conversa,
cada beijo, cada transa, cada vez que o observava cochilar em seus braços e
se perguntava onde diabos estava se metendo ao deixar que outra pessoa
tomasse tanto espaço dentro de si. Então, fazendo sátira a isso, também era
tragado por Hoseok. Pelo sorriso iluminado, a marra típica de quem tem
medo de se expor e, principalmente, quando conseguia enxergar nos olhos
dele que o desejo era recíproco.

Aqueles pensamentos estavam tomando sua mente o tempo todo, mas


Taehyung não sabia como dizê-los em voz alta. Sequer sabia se queria.

— No aniversário dele... Vamos tentar não brigar. – disse num tom nada
agressivo. A sinceridade em carne e osso, nada da arrogância que irritava
tanto Hobi. – Ele quer ir ao Wings, quer ouvir vocês tocando e comer...
— Um bolo de chocolate com só cinco velas. – completou. – Não vou
estragar o aniversário dele, não precisa me pedir isso. Yoongi é o meu
melhor amigo.

— Bandeira branca, então? – estendeu a mão e Hobi a encarou. Os anéis


prateados combinam demais com as pequenas tatuagens sobre os dedos
longos e ossudos. – Por Yoongi.

— Por ele. – segurou a mão maior, apertando e sendo apertada num pacto
que não necessitava de mais palavras.

Mas o toque... O calor de pele com pele, a firmeza quase bruta do aperto
entre eles criam faíscas que chiavam apenas para eles, e para Yoongi que
com Holly nos braços sorriu ao vê-los de mãos dadas. Sorriu principalmente
porque se sentia ansioso por dentro, porque o coração bateu mais depressa.

Ele beijou o pelo de Holly e assentiu.

— Ainda me lembro de quando ele chegou à república. – Jin limpou as


lágrimas falsas e Jimin riu mais. – O cabelo laranja, um corte estranho, cheio
de correntes...

— Era uma fase hyung, todo mundo tem fases. – Yoongi reclamou, mas Jin o
ignorou.

— Uma fase horrível.

— 'Tá falando do que Hoseok? Você era um guerreiro do hip-hop igual a ele!
– Jin entregou e Namjoon terminou de organizar os pequenos copinhos de
tequila sobre a mesa. – Escuta, Yoongi... Hoje você vai encher o cu de
bebida porque sua dieta volta na segunda-feira! Aí a única coisa que vai
entrar no seu cu, além do pau dele, – apontou para Taehyung. – vão ser
alimentos saudáveis.

— Hyung! – Jungkook arregalou os olhos e Jimin fez carinho nas costas dele,
bem acima do pequeno laço que prendia o avental preto ao corpo dele.
— Pegue o sal! – Hobi disse em voz alta e os sete despejaram um pouquinho
de sal entre o polegar o indicador. – Feliz aniversário, Yoon. – desejou para
o menor, deixando um beijo demorado sobre o cabelo verde desbotado.

Ao mesmo tempo lamberam o sal, beberam a tequila e chuparam as pequenas


fatias de limão que estavam dentro de um prato branco. Namjoon fez careta e
negou; Jimin e Jungkook riram; Jin ergueu o copo e gritou que amava a todos
eles.

A careta de Taehyung fez Hoseok e Yoongi rirem dele. Yoongi se esticou


para beijar os lábios grossos do mais novo e isso fez Hobi desviar o olhar.

Demorou um pouco até Jungkook poder se juntar a eles e deixar o balcão do


bar aos cuidados do dono. Ele sentou entre Jimin e Hoseok, logo o menor
estava fazendo carinho em suas costas e isso o deixava nervoso, mas muito
disposto a trocar mais beijos com o hyung.

Vinham fazendo isso sempre sobrava tempo entre as provas, o estágio de


Jimin e o trabalho de Jungkook. Os outros já tinham notado o clima que
acontecia entre eles, notavam os sorrisos e a forma como o maknae sempre
dava um jeitinho de ficar perto do Park. Mas nenhum deles disse alguma
coisa, respeitavam o espaço de ambos.

Entretanto, aquilo começou a incomodar Namjoon demais.

— Gostou do meu presente? – Tae sussurrou rente a orelha do


aniversariante.

— Eu fiquei me perguntando por que não me devolveu a calcinha naquele


dia. – sorriu, ambos falavam baixinho. – Eu adorei o presente, Tae.

— 'To muito feliz de estar com você hoje, de passar essa data especial do
teu lado. – beijou os lábios rosados com carinho e sorriu ao sentir os dedos
de Yoongi desenhando círculos sobre seu joelho.

— É um dos melhores aniversários que eu já tive. Desde que você chegou,


eu me sinto mais completo.
Estavam em um tipo de bolha, os olhares não se perdiam quase nunca e o
quase se restringia a prestar atenção em uma terceira pessoa que digitava
sem parar no celular. Quando Hoseok o guardou no bolso e ficou de pé,
Yoongi o segurou pelo pulso e franziu o cenho.

— Aonde você vai?

— O Bobby 'tá chegando com uns amigos. – explicou e o sorriso de Yoongi


se desfez de vez. – Relaxa, eles não vão ficar na nossa mesa. – sorriu e
piscou antes de sair.

Jimin observou Yoongi virar de uma vez o copo com soju e suspirou.
Taehyung passou as duas mãos pelo rosto e respirou fundo. Deixou Jungkook
em uma conversa com Namjoon e Seokjin, moveu-se até estar no lugar que
Hobi estava e esticou o corpo até poder falar com o casal.

— Sinceramente? – deu de ombros. – Não sejam egoístas ao ponto de sentir


raiva por ele sair com outras pessoas. Vocês estavam sendo o casal perfeito
bem diante dos olhos dele... Não gosto do Bobby, mas ele gosta e nenhum de
nós pode se meter nisso.

Ergueu os olhos ao ver Hobi se aproximar abraçado ao mencionado antes,


ele sorria um pouco e prestava atenção ao que ele dizia. Jimin voltou ao seu
lugar. Yoongi encarou Taehyung e nenhum deles disse algo.

Hoseok não trouxe o garoto à mesa, não o apresentou a ninguém, mas o levou
até próximo do balcão e pediu duas garrafas de cerveja, ainda abraçado a
ele e conversando com as bocas tão próximas que vez ou outra sorriam e
mordiam os lábios se provocando. Depois recostado à parede puxou Bobby
e o beijou.

Yoongi e Taehyung quase arregalaram os olhos.

Bobby o abraçou pelos ombros, empinando-se todo enquanto movia a cabeça


conforme o controle de Hoseok mandava. Uma mão dele segurou-o pelo
pescoço e a outra desceu para se enfiar no bolso do jeans apertado depois de
se encher com a carne firme do traseiro empinado.
Jimin observou a reação do casal e segurou o riso, escondendo o rosto no
ombro de Jungkook. A pegada de Hobi os deixavam confusos entre o ciúme
e o tesão de estar no lugar de Bobby, de sentir o puxão na nuca e a mão
atrevida contornar a costura do bolso da calça jeans enquanto chupava a
língua alheia simulando demais.

Yoongi já vira Hobi com outras pessoas, aquilo não era novidade, mas era
diferente. Tanto que quando sentiu a mão de Tae em sua coxa, apertando com
força, arfou e lambeu os lábios antes de encará-lo.

— Tae... – sussurrou e mordeu o lábio.

— Eu sei. – assentiu e beijou os lábios dele. – Por mim tudo bem.

Trocaram um olhar cúmplice.

— Vocês vão foder com tudo. Literalmente. – Jimin sussurrou lamentando.

Mais tarde, quando a Cypher tomou lugar naquele pequeno palco, Yoongi
aproveitou cada música porque Jimin lhe disse que a banda tocaria suas
favoritas. Bebeu mais doses de tequila, mais alguns copos de cerveja e
compartilhou dos cigarros que Taehyung acendia sob o olhar atento de
Seokjin.

Junto de Namjoon gritou a letra de Numb do Linkin Park, abraçou cada um


dos amigos ali na mesa e fez do colo de Taehyung seu lugar favorito. Depois
da primeira pausa estranhou ao ver Hobi tomar o lugar de Jimin e com um
sorriso lindo dizer "oi" ao microfone.

Algumas pessoas gritaram, ele piscou e penteou os cabelos suados para trás
com ambas as mãos. Estava lindo, mais do que o normal. A regata preta, os
anéis grossos ao redor dos dedos, as unhas pintadas de preto e aquele
jeitinho iluminado que conseguia fazer tanto Yoongi quanto Taehyung
suspirar.

— Porra, eu não faço isso tem um bom tempo. – ajeitou a altura do


microfone e Jimin começou a afinar a guitarra que pendurou o ombro.
Jaebum tomou a bateria. – Mas, hoje é um dia especial... É aniversário do
meu melhor amigo...

— Eu! – Yoongi ergueu o braço e as pessoas gritaram. – Sou eu!

— Todo mundo sabe que é você. – rolou os olhos. – Então, vou arriscar isso
como um presente de aniversário. – olhou para Jimin que assentiu. – Feliz
aniversário, Yoon.

Quando os primeiros acordes da guitarra em posse de Jimin se iniciaram,


Yoongi fechou os olhos e assentiu. A bateria logo acompanhou, junto do
baixo e bastou a primeira frase cantada na voz de Hoseok para tudo ao redor
parar.

— On a cobweb afternoon in a room full of emptiness by a freeway, I


confess...

De olhos fechados, Hoseok canta afinadamente às letras de Like A Stone


deixando ambas as mãos ao redor do microfone. O corpo movia-se um
pouco seguindo as batidas e os acordes da guitarra que Jimin tocava com
habilidade. Os dedinhos pequenos, cheio de anéis, não dificultavam em
nada.

Jungkook suspirou, seus olhos só conseguiam ver Jimin ali. O cabelo longo
preso no alto, os fios que escapavam para emoldurar o rosto lindo, a
mandíbula perfeita. No solo, quando Hobi se virou para dar espaço a ele, os
gritos – em maioria femininos – quase o assustaram.

Mas o sorriso de Jimin diante deles o deixou desconfortável.

Já Yoongi e Taehyung estavam presos a figura de Hoseok e a voz rouca que


saia pelas caixas de som do bar.

Taehyung temia piscar e perder qualquer movimento, admirava-o por todas


as partes, então abraçava Yoongi com mais força porque o cheiro dele era
incrível. Porque tê-lo em seus braços era sublime.
Mais um pouco da resolução se tornava clara. Quando a música acabou Tae
virou uma dose de tequila e observou Yoongi abraçar Hoseok em
agradecimento.

Jungkook ria alto enquanto Namjoon mostrava os passos de dança para a


música que vinha das caixas pequenas da home. Ele bateu palmas e Jimin
virou um copo de cerveja.

Jin não voltou pra casa com eles e não precisou dar muitas explicações
depois de atender uma ligação de Sunmi.

Os seis estavam na sala de estar, latas e copos espalhados pela mesinha,


Kendrick Lamar cuidando da trilha sonora do momento. Namjoon tropeçou
no tapete e caiu no sofá maior, rindo e deixando que Jimin o ajeite melhor
com a ajuda de Jungkook.

— Mini? – chamou de forma embolada e o menor riu dele. – Jimin você 'tá
comendo o Jungkook?

— O que?! – Jungkook, bêbado igual, negou diversas vezes e Jimin riu mais.

— Acho que vou ter de cuidar de vocês dois, que saco! – Jimin segurou
Jungkook quando ele quase caiu por cima de Namjoon.

— Os deixa eles dormirem juntos, vai ser interessante. – Tae brincou


apagando o cigarro no cinzeiro de metal. – Quer dormir com o Namjoon,
JK?

— Ele ronca. – choramingou. Ele ficava um tanto manhoso quando


embriagado. Era fofo. – Quero dormir com o Jimin-ssi!

— Garoto? – Hoseok gritou e Yoongi riu. – Nada disso!

— Seu pai proibiu, não pode bebê. – o Park brincou e deu um tapinha na
mão de Namjoon que tentava apertar sua coxa esquerda. – Vem Joon, vou
colocar você na cama.
— Você vai dormir comigo?

— Eu pedi primeiro!

— Durmam os três juntos. – Yoongi encheu o corpo com mais bebida e Jimin
o encarou com um sorriso atrevido.

— Hyung? Isso é algum tipo de mensagem subliminar?

Yoongi mostrou o dedo do meio pra ele.

— Vem, vamos logo! – ajudou Namjoon a ficar de pé e abraçou Jungkook


pela cintura.

— Você é tão forte, Jiminie.

— Sou sim. E vocês dois pesam, então colaborem!

Jimin rebocou Namjoon e Jungkook cheio de paciência a cada vez que um


deles dizia algo sem sentido. Hoseok, sentado em uma poltrona oposta ao
casal que ocupava o sofá menor, acendeu um cigarro e deitou a cabeça quase
embriagada no estofado. De olhos fechados soprou a fumaça para o alto.

Yoongi mordeu a boca e Tae apoiou os pés sobre a mesa de vidro. Ambos
tinham o cabelo úmido pelo banho recente e vestiam pijamas folgados
compostos por short e camiseta.

O mais novo começou a deixar beijos pelo pescoço branquinho do mais


velho, cheirando a pele macia e mordendo próxima a orelha pequena. Yoongi
mordeu a boca com mais força e assentiu, a mão enorme de Tae apertou a
coxa dele e entrou por baixo do short de tecido fino para apertar mais.

Não estavam sóbrios, mas sabiam bem o que faziam desde aquele olhar
cúmplice no bar.

Hoseok só notou o que acontecia quando levou o cigarro aos lábios e abriu
os olhos, o choque o fez parar com o filtro próximo aos lábios entreabertos.
Ele soltou a respiração numa lufada e quis muito, quis demais sentir raiva...
Sentir ciúme... Qualquer coisa era melhor que aquele desejo fodido que o
quebrava ao meio.

Tae lambeu o pescoço de Yoongi, a mão grande se encheu com a bunda


macia por baixo do short e apertou com força o suficiente para o mais velho
gemer baixinho.

Hobi trago o cigarro e a mão livre cavou o estofado, arranhando-o. Yoongi


percebeu isso e o encarou, a boca de Taehyung deixava marcas por sua pele
e apertava sua bunda com força... E era demais.

Se derretendo nas mãos e na boca de Tae enquanto era devorado pelo olhar
de Hobi. Ele gemeu mais alto.

É como dizem: quando o álcool entra, a verdade sai.

E estava saindo como se vazasse dos três, se juntava no meio daquela sala
de estar feito três rios distintos que precisam desaguar no mesmo lugar.

Taehyung se afastou do mais velho, abriu mais as pernas e bateu com a mão
na coxa exposta graças ao short curto chamando-o para si, para sentá-lo de
lado em seu colo. Yoongi imediatamente prendeu os dentinhos pequenos no
pescoço bronzeado, mordendo feito um gato arisco e arrancando do maior
um grunhido que atingiu a cheio Hoseok. Ele se remexeu, o pau pesando
entre as pernas de tão excitado porque tudo estava contra ele.

A batida da música, as luzes baixas, o álcool no sangue, o tesão fodido.

Tae sorriu pra ele passando a língua nos dentes, revirando os olhos pelas
mordidas e chupões que recebia até a clavícula.

O outro tragou o cigarro uma última vez abrindo mais as pernas para aliviar
o incômodo da ereção e o mais novo entre eles gemeu só em vê-lo fazer isso
tendo a absoluta certeza de que queria demais tocá-lo também.

Então, ainda de lado, Yoongi rebolou a bunda em cima da ereção de


Taehyung e gemeu baixo abrindo a boca pequena e inchada pelos beijos que
deixou no pescoço dele.
Hoseok chegou a querer avançar até eles, mas o resto da sobriedade não
deixou. Ele negou, as pernas quase moles pelo tesão e as mãos trêmulas.
Apagou o cigarro no cinzeiro e ficou de pé, sequer quis disfarçar que estava
excitado, mas não disse nada antes de subir e deixar o casal ali: frustrados e
medrosos.

— Amanhã, ele vai estar tão puto. – Yoongi lamentou se aconchegando ao


peito de Tae. – Eu sei que isso não é legal e a gente...

— Ele quer tanto quanto a gente. Mas marrento demais pra assumir. –
suspirou. – Vamos subir gatinho. – beijou o queixo dele.

No banheiro, mais precisamente sob o chuveiro e a água gelada, Hoseok


apoiava uma mão ao azulejo azul e a outra se masturbava com força,
segurando os gemidos ao lembrar as cenas que ficaram eternamente em sua
mente. Ele gozou rápido demais, xingou um palavrão por isso e acertou um
murro abafado na parede.

Foi para o quarto puto, insatisfeito e com tanto tesão que nem deitar em uma
geleira resolveria. Secou o corpo e o cabelo, vestiu uma calça de moletom
velha e não se preocupou com a ausência de Jimin ali, mas estranhou as
batidas na porta antes de abri-la e se deparar com Yoongi parado ali:
descabelado, sem camisa e com a expressão que sempre usava quando
queria algo dele.

— Yoongi... – suspirou.

— É o meu aniversário. – deu de ombros e sorriu um pouco. – Você pode


fingir que não rolou nada amanhã.

— O que você quer? – lambeu os lábios.

— Jin-hyung me deixou usar o quarto dele... Eu e o Tae estamos bebendo...


Ele acendeu um baseado... Você é bem vindo, Seok-ah.

Hobi recostou o corpo ao batente e respirou fundo, o banho ajudou com a


embriaguez, ele não poderia culpar o álcool no dia seguinte... Mas, ninguém
precisava saber disso. Yoongi mordiscou o lábio inferior e sorriu quando
teve a cintura enlaçada e o corpo posto contra a porta, ele segurou os
antebraços nus e ainda gelados pelo banho.

— Você sabe que pra mim não é só isso, não é só tesão.

— Eu sei. – assentiu. – Mas eu quero lamentar por isso amanhã, não agora.
Só hoje, nós três... Porque eu sei que isso não sai da nossa cabeça. Você
sabe. O Tae sabe. Hoje a gente perde o orgulho, perde o medo... Vamos ser
imprudentes. Hoje. Essa zona de guerra vira um paraíso, Hoseok.

Hobi respirou fundo e fechou os olhos, mil coisas diziam que não... Mas
eram nada perto do desejo, perto do coração acelerado que queria escapar
do peito para gritar que sim.

Então, ele assentiu.

Yoongi entrelaçou os dedos junto dos dedos dele e o puxou em direção ao


último quarto, a suíte espaçosa de Seokjin. Eles entraram no cômodo e Tae
caminhou até ele para entregar um copo cheio da mistura de vodca e
refrigerante de limão. Bebeu dois goles, aceitou o baseado que lhe foi
passado e sentou na cama encostando-se à cabeceira de madeira.

As portas de correr estavam entreabertas, um vento frio agitava um pouco as


cortinas de um rosa pastel e Yoongi escolheu a música a dedo, subindo na
cama em seguida para ficar de pé e dançar um pouquinho cantarolando a
letra de SICKO MODE. Hoseok riu dele, e Tae o deu de beber do próprio
copo, puxando-o com cuidado para ficar de joelhos entre suas pernas. O
cabelo verde estava jogado em sua testa suada, as bochechas coradas como
os lábios inchados.

— Seok-ah. – chamou engatinhando até ele, lambendo os lábios antes de ter


o baseado encaixado entre os lábios. Ele puxou forte, o encarando sem parar
e antes que pudesse soltar teve a nuca agarrada pela mão livre dele. Hobi o
beijou com força, provando o sabor da maconha e da língua. O menor
chupou sua língua, brincou com ela o lambendo feito um gato, fugindo do
beijo para provocar. – Você é tão gostoso. – sussurrou e sorriu atrevido.
Virou o rosto e assentiu para Tae, chamando para si.
Tae o beijou, puxando-o para seu colo numa tentativa de aliviar a dorzinha
em sua ereção. Hoseok tragou e mordeu o lábio inferior, vendo como as
mãos do mais novo se enchiam com a carne do mais velho, expondo a bunda
branquinha conforme o short folgado subia.

Era estranho, já havia participado de algo assim antes, mas das outras vezes
sentia-se excluído. Alí, Hoseok sentia-se agraciado com a visão dos outros
dois.

Yoongi puxou a camisa do mais novo para cima e atirou longe, saiu de seu
colo e virou o copo de Hoseok de uma vez, bebendo tudo. Ele sorriu, a
embriaguez voltou aos poucos. Tomou o baseado, tragou sensualmente e
sentou com pernas de índio no meio do colchão.

— Me deixem ver aquilo outra vez. – gesticulou com a mão que segurava o
cigarro artesanal. – Pode explodir.

Lambeu os lábios ao lembrar uma conversa com Jimin há meses. Tae sorriu
ladino e se virou para encarar Hobi com a expressão mais atrevida que o
outro já vira. Hoseok assentiu uma vez, Taehyung gemeu antes mesmo de ser
beijado porque a força daquelas mãos em si era mais do que imaginava, não
fazia jus ao que já provara.

Hoseok puxou os cabelos longos do mullet, cavou sua cintura com os dedos
finos e mergulhou a língua dentro da boca dele, sedento e movido ao tesão, à
raiva, a aquela paixão que bagunçava sua mente.

Yoongi soprou a fumaça para o alto, apertou o próprio pau por cima do short
e gemeu. Tae lambeu a boca alheia, lambuzou de saliva o território, a mente
ciumenta querendo mostrar que mais ninguém era bom como ele, como
Yoongi.

O ego é algo complexo.

Quando se separaram, respirando alto, Yoongi engatinhou até o meio deles e


beijou Hobi, a mão grande trazendo Tae para perto. Variou entre um e outro,
lambendo as bocas e brincando com elas até o momento em que os três
faziam ao mesmo tempo, o beijo triplo causando sensações até então
desconhecidas, mas genuínas.

Tae gemeu ao sentir o pau ser apertado por uma mão, ele olhou pra baixo e
gemeu de novo porque era a mão de Hoseok, o polegar habilidoso
esfregando-se a glande, espalhando pelo tecido o pré-gozo. Yoongi arfou e
assentiu porque recebia o mesmo carinho em si.

— Tirem. – sussurrou e afastou a mão. – Eu quero chupar vocês.

— Gatinho safado. – Tae sorriu e acertou um tapinha no rosto dele,


segurando o queixo pequeno entre os dedos.

Tae puxou o short e ficou nu, uma mão puxou Yoongi para um beijou a outra
começou a masturbar o pau. Hoseok olhou e quase riu de si mesmo por sentir
tanta água na boca. Ele se livrou do moletom, se masturbou apertando o pau
do jeito que gostava e Yoongi gemeu baixinho vendo ambos nus diante de si.

Era complexo, não sentiam pudor muito menos vergonha de estarem expostos
porque parecia ser certo.

Sentaram lado a lado, Tae não demorou a fazer do pescoço de Hobi seu alvo
com beijos e mordidas dolorosas, daquelas que ficam marcadas por dias.
Yoongi acendeu outro baseado e entregou para ele, ficou de quatro com uma
perna de cada um entre as suas e lambeu o pau de Hoseok da base à glande,
puxando o pré-gozo com a ponta da língua rosada.

— Tão gostoso. – gemeu ao sentir o sabor e Tae sorriu. Depois que o menor
abocanhou-o até onde conseguia, as bochechas murcharam pela sucção
deliciosa.

— Ai, caralho! – Hobi gemeu assentindo, a mão juntando o cabelo


esverdeado entre os dedos. – Isso, chupa desse jeito.

— Ele é bom pra caralho nisso. – Tae sussurrou rente ao ouvido dele e
sorriu para o formato de coração de cabeça pra baixo, lambendo-o devagar.
– Ele adora chupar, troca qualquer coisa pra ter um pau fodendo essa
boquinha linda. – a voz dele, o boquete de Yoongi... Hobi gemia cada vez
mais. – Você gosta, Hoseok?

Yoongi o tirou da boca com um estalo e continuou o masturbando enquanto se


curvava em direção a Tae, lambendo-o também.

— Você gosta, Seok-ah? – perguntou antes de chupar o mais novo, os olhos


felinos cravados em Hoseok.

— Se chupa tão bem quanto é marrento, caralho... Essa boca deve ser
mágica.

— Vai se foder, mauricinho do caralho. – sorriu ladino e o segurou pelo


pescoço, Tae gemeu e ergueu os quadris para foder a boca de Yoongi. –
Aqui, chupa.

Tae sorriu e mordeu os dois dedos antes de sugá-los para dentro da boca,
chupando devagar o suficiente para saliva se espalhar e escorrer no pulso de
Hobi, até o relógio caro. Yoongi o levou à garganta e segurou, os olhos
pequenos arderam e o garoto parou de chupar pra gemer.

— Isso, gatinho... Hm, Eu vou gozar, Yoongi... Chupa! – segurou-o pelo


cabelo e Yoongi o chupou mais depressa, os gemidos foram calados pelo
beijo que Hoseok lhe roubou, socando a língua dentro de sua boca conforme
Yoongi fodia o pau dele. Taehyung gozou num arfar, os olhos presos aos de
Hoseok e as mãos em Yoongi. A porra quente sendo engolida, escorrendo
pelo canto dos lábios pequenos e lambuzados enquanto Yoongi erguia-se em
sua beleza quase pura para encarar Hoseok e ir até ele.

O beijou de uma vez, partilhando com ele o sabor de Taehyung, gemendo


junto dele pela compreensão disso. Hobi lambeu seu queixo, lambeu o canto
dos lábios, limpou aquela bagunça e foi pego pelo sorriso felino do menor.

— Você gostou de sentir o gosto do Taehyung, Seok-ah?

— Você é um filho da puta safado, Min Yoongi.


— Me conhece tão bem. – brincou levando a mão até o meio das pernas
dele, acariciando o pau, depois as bolas e descendo mais um pouco até tocar
o períneo sensível. Hobi arfou baixinho. – Não faz ideia de como eu imagino
você rebolando em mim, esses quadris... Ah, Seok. Ele também. – Tae,
saciado com o orgasmo, sorriu ladino e mordeu o ombro de Hobi com força.
– Você ainda quer gozar pra mim?

— Uhum. – assentiu. – Me chupa, Yoon.

— Abra as pernas. – ele ajoelhou entre as pernas dele e se curvou para


voltar a chupá-lo, descendo e subindo a boca pelo comprimento duro,
sentindo cada veia com a ponta da língua. Hoseok gemia, seu pescoço era
judiado pela boca do mais novo e tudo dobrou de intensidade quando um dos
dedos de Yoongi desceu, quando ele tocou sua entrada. – Dobra a perna,
Seok. – deu um tapinha na coxa macia e Hoseok dobrou a perna, abrindo-as
o quanto podia. O dedo voltou a tocá-lo, ele estava úmido, mas não quis
saber do quê, Tae não parava de mordê-lo, de beliscar seus mamilos e puxar.
Quando foi penetrado, lentamente e com cuidado, gemeu desconfortável.
Yoongi o chupou mais forte, relaxando-o até que pudesse começar a
empurrar e tirar o dedo com mais facilidade. Hobi tremeu e Tae sorriu.

— Isso...

— Assim? – o mais novo perguntou assentindo. – Você gosta assim,


marrentinho?

— Eu vou gozar... – assentiu também e abriu a boca num gemido mudo, os


olhos se curvaram numa expressão manhosa.

— Caralho, você consegue ser ainda mais lindo assim. – murmurou e Yoongi
os observou. – Goza gostoso pra gente, Seok. Enche aquela boquinha de
porra, me deixa sentir o teu gosto na língua dele também.

Hoseok gozou num urro aliviado, um sorriso preguiçoso puxou seus lábios
mordidos enquanto Yoongi engolia a porra que tinha na boca e masturbava-o
para tirar até a última gota que escorria entre seus dedos pálidos. Tae
agarrou-lhe o pulso e abocanhou os dedos melados, limpando-os com a
língua, recolhendo o sabor de Hoseok.
Tão absurdo de assumir que ansiavam beber da fonte e a confusão em suas
mentes os levavam a gostar de ter Yoongi como o fio desencapado que os
ligava.

Yoongi tirou o short, expôs para ambos a nudez e gostou da forma que foi
admirado. Apreciaram cada pequena curva da cintura estreita, dos quadris
ossudos, das coxas roliças... Até mesmo do caminho de pelos ralos que
desciam do umbigo até o pau rosado que brilhava pelo pré-gozo.

Ele precisava demais ser tocado.

Hoseok e Taehyung se encararam e Yoongi sorriu satisfeito ao sentir cada um


lhe beijando de um lado do pescoço. Porque enquanto Tae era suave, Hobi
era bruto e juntos resultam na perfeição dele.

Fechou os olhos, deixou-se ser adorado pelos beijos e pelas mãos


habilidosas que o moldavam feito argila.

Era o paraíso, mesmo que os dois homens que o amam, os dois homens que
ele ama fossem como duas bombas... Mesmo que aquela situação fosse como
um campo de guerra, também era o seu paraíso. E enquanto sucumbia aos
gemidos altos, acordando a casa inteira... Sendo tão puro, tão sujo e tão
bruto poderia continuar ali o resto da vida. Transando e brigando, brigando e
transando sem se tornar complexo e exigir discussões cheias de "mas" e
"porém".

Pela primeira vez, sentiu-se inteiro.

E concluir isso o assustava.

Yoongi encarou o teto e gemeu de novo, ele agarrou o cabelo de Hoseok e


gemeu o nome dele enquanto os dentes grandes puxavam seu mamilo
esquerdo. Gemeu por Taehyung quando a boca dele o acolheu inteiro: quente
e sedenta. Tragando-o como se fosse o melhor entorpecente do mundo.

Hobi beijou-lhe o abdome e depois mordeu a pele próxima ao umbigo raso,


lambeu ao redor dele e pediu num sussurro excitado.
— Olha pra mim. Olha pra nós dois, Yoon.

Ele olhou. Yoongi viu quando ambas as bocas úmidas subiram por seu pau,
as línguas contornando cada veia arroxeada para se encontrarem no topo.
Tae o lambeu, Hoseok capturou a língua dele e o beijo era tão intenso que o
menor gemeu extasiado, perdido em meio ao prazer e os conflitos nublados
dentro da mente embriagada.

Quando o álcool entra, a verdade sai.

E estava saindo, mesmo que nenhum deles tenha notado, ela estava
transbordando naquele quarto, estava escapando de cada pedaço dos três,
tomando o espaço que teimava em não dar.

Quando sentiu as bocas famintas em si outra vez, ele ofegou como se


estivesse respirando pela primeira vez, assentindo em desespero pelo
orgasmo que se aproximava furiosamente.

Amava Hoseok e isso não deixaria de ser verdade simplesmente por fingir
que era mentira. Estava completamente apaixonado por tudo em Taehyung e
caminhava rumo a um sentimento mais forte ainda.

Yoongi gozou deixando a voz sair alta, pouco preocupado com os outros
ocupantes da casa, queria conseguir expressar ali o prazer inumano que
sacudiu seu corpo feito um terremoto.

Gozou tão gostoso que os olhos felinos transbordam em lágrimas grossas


com a incapacidade de administrar todas as sensações que explodiam junto
aos espasmos musculares do orgasmo.

O melhor de sua vida.

Sem precisar de muito.

O silêncio caiu naquele quarto, mas ele não era pesado. Ainda. Deitaram nus
na cama, Yoongi entre eles ainda respirando alto. Cobertos de suor,
embriagados pelo sexo e pelo álcool.

O baseado esquecido foi aceso outra vez, então ficaram em silêncio.


As músicas agitadas davam lugar a outras melodias e até inconvenientes. Tae
os encarava em silêncio, deitado de lado e com uma das mãos sob o
travesseiro confortável.

Ele observava os perfis amolecidos pelo torpor do cigarro e foi assim que
se flagrou, por fim, a resolução de seus conflitos. Diante de seus olhos, claro
como a água. Transparente e despido de qualquer máscara.

O homem pelo qual estava indo além de uma paixão e o homem que o fazia
pulsar como um nervo, tragando-o igual traga do baseado apertado entre os
lábios bonitos.

Pensou em dizer algo, pensou em deixar sair mais um pouco daquela verdade
conflituosa e na manhã seguinte seguir como se nada precisasse ser dito ou
lembrado, entretanto ainda estava na mesma cama que Yoongi e Hoseok, mas
já sentia saudade.

Saudade do quê? Daquela conversa muda de travesseiro?

Aquela cena era como uma repetição. Os corpos enroscados, a nudez


confortável, o cheiro bom que resultava quando se misturavam... Um
caminho sendo percorrido às cegas.

— Obrigado.

Yoongi murmurou depois de soltar a fumaça para o alto.

Então, aquilo bastava. A bandeira branca poderia se recolher caso


necessário, as coisas voltavam ao lugar.

Entretanto, baseando-se além do tesão que impulsionou o ato, havia três


corações em risco.

A verdade saiu no sexo, ela exigiu um lugar para si e ela ficaria ali.

No dia seguinte, tudo seria diferente.


16 - quebrado

"Porque eu estou quebrado quando estou sozinho..."

Seether

Yoongi sempre teve o sono leve e essa era uma das razões de ele geralmente
acordar de mau humor. Bastava alguém se mexer perto dele e já estava
desperto. Foi esse o motivo de ter coçado os olhos e olhar ao redor confuso
quando ouviu o farfalhar dos lençóis daquela cama confortável.

A dor de cabeça, resultado da ressaca, veio acompanhada de um enjoo típico


de quando se mistura álcool demais num organismo não muito resistente. Ele
se encolheu e gemeu baixinho. Hoseok ia ignorar aquilo, ele sequer olhou
para trás enquanto vestia o corpo nu com a calça amassada, mas bastou
suspirar e se conformar com o quanto era babaca por apenas não sair
daquele quarto.

— Vem. – sussurrou enquanto puxava o menor para ficar de pé, tomando


cuidado com o corpo mole pelo sono interrompido. O conhecia tanto que
chegava a ser sádico reconhecer que estava fazendo aquilo por um costume
antigo.

Hobi o levou para o banheiro da suíte, não reparou na organização das


coisas conforme as manias de Seokjin, não havia tempo nenhum pra isso.
Fechou a porta depois de observar Tae agarrado a um travesseiro, roncando
baixo preso num sono inabalável. Ele ajoelhou Yoongi sobre o tapete cinza
antiderrapante, penteou os cabelos esverdeados para trás e o segurou com
cuidado, curvando o rosto em direção a privada.

— Hobi... – choramingou sentindo a bile subir, o enjoo azedo da ressaca.

— Vomita. – sussurrou e Yoongi vomitou.

Toda a bebida amarga, os espetinhos de carneiro, o bolo caseiro que Jin lhe
deu... Uma mistura nojenta e fedida que só parou de ser expelida quando não
havia mais nada dentro de seu estômago. A dor de cabeça mal o deixava
abrir os olhos, era como se estivessem pressionando suas têmporas com
placas de aço. Ele limpou o queixo com as costas da mão, respirou fundo
quando sentiu as mãos mornas do maior o erguendo de novo... Um cuidado
que ele sabia bem não merecer.

Apoiou ambas as mãos trêmulas contra o azulejo azulado do box quando


sentiu a água morna começar a banhar seu corpo e fechou os olhos pra que
molhasse desde o topo da cabeça. Hoseok apertou a descarga e procurou no
pequeno armário arrumado por uma escova de dentes nova. Abriu-a, colocou
a pasta com cheiro de hortelã e escovou os dentes porque odiava sentir
aquele gosto azedo na boca quando acorda de ressaca. E quando acabou,
quando ele secou a boca em uma toalha de rosto cor de rosa, não teve tempo
de fugir.

— Você deve estar me odiando agora. – Yoongi penteou os cabelos molhados


para trás e fez um careta pela dor de cabeça.

— Jin-hyung tem remédio aqui. – bateu com os dedos na porta do armário. –


Toma alguma coisa pra sua dor de cabeça e vá ao médico, você tá mais
pálido que o normal.

— Hoseok. – chamou de forma séria. Hobi respirou fundo e se virou para


ele. – Se eu disser que sinto muito vou mentir e odeio mentir pra você.

— Você odeia mentir pra mim. – deu de ombros. O menor fechou a mão em
punho porque havia mágoa naquele tom de voz, havia dor que ele mesmo
plantou. Em contrapartida tudo em si era atraído com força em direção ao
melhor amigo... Mais forte do que nunca, quase impossível de evitar. –
Yoongi eu queria que você odiasse ferrar com a minha cabeça também, quem
sabe assim não me usasse.

— O que? – franziu o cenho. – Eu não usei você, - negou.

— Não? – Hobi gesticulou um pouco. – Quando eu sair desse quarto volto a


ser o seu melhor amigo enquanto você e o Taehyung continuam o casal
perfeito, então diz pra mim... Isso não faz parecer que você me usou?

— Não te obriguei a...

— Eu disse que me obrigou?! Ninguém aqui é criança. – deu de ombros. –


Vim porque quis, fiquei com vocês dois porque eu quis ficar.

— Então, por que está dizendo que eu te usei?

— Porque você sabe que eu te amo. – disse baixo, o barulho do chuveiro às


vezes parecia alto demais. – Quando você fica com ele na minha frente,
quando vocês me provocaram de madrugada, quando bateu na minha porta e
me convidou pra vir... Você sabia que eu não diria não... Porque eu te amo.
Porque você consegue ver na minha cara que não consigo parar de pensar no
Taehyung também e usou disso.

— É confuso pra mim também, Hobi! – esfregou o rosto molhado. – Eu não


sei o que fazer e acabo fazendo tudo errado.

— A gente precisa parar de cometer os mesmos erros sempre. – suspirou. –


O que a gente fez... Quando abri os olhos e vi vocês dois ali na mesma cama
que eu... Yoongi a minha cabeça é uma bagunça e a última coisa que eu
preciso é que bagunce mais ainda.

— E se a gente tentar...

— Tentar?! Tentar o que?! – abriu os braços e negou. – Você 'tá se ouvindo?!


Quer tentar agora?! Depois de tanto tempo me deixando de fora de campo
por uma decisão que você tomou sozinho? Algo que dizia respeito a nós
dois?! Você quer tentar depois do que aconteceu ontem, depois de ter me
feito assumir o quanto o Taehyung também mexe comigo?! – Yoongi fungou e
se encolheu um pouco. – Me disse que não sabe o que fazer, então, por
favor... Não faz nada. Por favor, não me use, não me machuque desse jeito...
– Hoseok piscou para espantar as lágrimas e Yoongi quis tanto abraçá-lo,
trazê-lo para perto. No entanto, sabia que não tinha o direito para fazê-lo. –
Não me olha desse jeito, por favor.

— Me desculpa... – um soluço agoniado libertou o choro culposo dele. Os


ombros estreitos tremem sob a água morna enquanto Yoongi se encolhia
dentro do box abafado. E no interior dele, numa pequena parte complexa de
seu coração confuso e apertado, ele chegou a crer que Hoseok cederia de
novo as suas lágrimas arrependidas. Ele acabaria com o espaço entre eles e
seria o imprudente de sempre para tomá-lo nos braços prometendo que
ficaria tudo bem. Que estava ali e ficaria ali.

Mas as coisas seriam diferentes.

— Não precisa me pedir desculpas porque eu quis tanto quanto vocês. –


Hoseok fungou e deu um passo para trás. – Mas agora a única coisa que eu
quero é esquecer.

Quando ele saiu e fechou a porta, Yoongi levou algum tempo para perceber
que pela primeira vez desde que se conheciam Hoseok não o consolou, ele
não ficou... Porque nenhum deles sabia como fazer isso.

Tae parou de esticar o corpo quando viu o mais velho sair do banheiro.

Os dois se encararam em silêncio. Hobi secou os olhos com a ponta dos


dedos e ergueu a cabeça querendo disfarçar tudo que sentia com a arrogância
de sempre.

Mas as coisas eram diferentes.

O cheiro dele estava impregnado em si, as marcas dos dentes e da boca


atrevida que fazia questão de provocá-lo sempre. Aquelas coisas sujas ditas
no tom de voz grosso ainda estavam presas dentro dos ouvidos. Porque eles
foram pegos naquele beijo desajeitado no hospital, eles continuavam caindo
em direção um ao outros e depois de tudo que aconteceu na madrugada
anterior sabiam que não dava mais para desfazer.

O mais novo ficou de pé e com alguns passos chegou ao mais velho, a mão
direita segurou o rosto dele e deixou que o polegar afastasse a pele úmida
pelas lágrimas.

— O que você está fazendo? – Hobi sussurrou mais para si porque apenas
não sabia como se afastar.

— Eu não faço ideia. – Taehyung confessou. A voz rouca pelo sono arrepiou
cada pelo do corpo de Hoseok. – Quando eu te vejo triste... Eu não consigo
me parar de querer.

— Querer o que? – segurou o pulso dele e o encarou nos olhos sonolentos e


inchados, agoniado porque por dentro tudo era uma bagunça, mas restava
espaço para que o coração cansado se enchesse de sentimentos confusos.

Absolutamente tudo em Taehyung o desestabilizava. Até as coisas ruins.

— Querer arrancar essa tristeza de dentro de você, Hobi.

Hoseok fechou os olhos e suspirou afastando a mão alheia de si, abaixando-a


até que não corresse o risco de permitir que o toque continuasse lhe
causando coisas demais. Tae respeitou porque para ele a resolução estava
ali, de nada adiantaria gritar e espernear.

— Yoongi 'tá passando mal. – ele engoliu o choro e fungou secando o nariz
com as costas da mão. – Tem remédio no armário do banheiro. Faça ele
comer alguma coisa doce e beber água.

— Quer ficar? – tentou sem entender o motivo. – Quer cuidar dele junto
comigo?

— Taehyung... – lamentou sentindo-se nervoso. Ser usado estava ferindo


demais seu orgulho. – O que eu disse pra ele vale pra você também.
— Eu-

— O que aconteceu ontem... De madrugada, a gente só tem de esquecer.

— Você vai dizer que não sentiu nada quando a gente se beijou? – sussurrou
e Hobi negou se afastando. – Não precisa ser orgulhoso agora.

— Orgulho? – franziu o cenho. – Vocês dois acham que se trata de orgulho?


Só isso? – negou. – Só me deixem em paz.

Gesticulou e saiu do quarto batendo a porta, sem olhar para trás. Tae
respirou fundo e passou as mãos pelo cabelo bagunçado, penteando as
mechas entre os dedos trêmulos. O barulho do chuveiro chamou sua atenção,
então ele entrou no banheiro e o vapor quente o envolveu inteiro, assim
como o olhar felino e choroso de Yoongi.

O mais velho estava sentado dentro do box, abraçando as pernas parecendo


menor do que nunca. Tae se despiu da cueca com pressa e se juntou a ele,
trazendo-o para seus braços, espalhando beijos por toda a pele branquinha
pouco corada graças à água quente. Yoongi se deixou inteiro nas mãos dele,
de uma forma que nunca fizera com outra pessoa antes.

— Sou uma pessoa horrível. – soluçou ao sentir um beijo demorado em sua


testa, sob alguns fios de cabelos que grudaram a pele úmida.

— Se estiver falando sobre o que a gente fez, eu também vou me considerar


ruim.

— Desde quando eu decidi sozinho que nós dois não ia existir nunca.

— Olha pra mim. – o segurou pela nuca molhada, prendendo-o dentro do


olhar sério. – Você perguntou pra nós dois, pra mim e pra ele, o que a gente
sentiu quando se beijou. – o mais velho assentiu. – É a sua vez de dizer... –
Yoongi mordeu o lábio inferior. – O que você sentiu quando ficamos juntos?
Os três?

Tae o observou fechar os olhos, sentiu as mãos grandes afagando seus braços
e contra o próprio peito o coração alheio que batia acelerado, forte. Yoongi
piscou algumas vezes porque a água acumulada em seus cílios embaçava a
visão e ele queria continuar preso no olhar poderoso de o maior enquanto
assumia.

— Inteiro. Eu me senti inteiro. – fungou. – Eu não mereço você ou ele, eu 'tô


fazendo tudo errado Tae. – lamentou limpando o nariz com a mão úmida. –
Magoando o Hoseok e te jogando nisso! Porque você topou por minha causa
e-

— Não. – o menor franziu o cenho. – Eu também me senti inteiro. Yoongi,


eu acho que tô amando você e eu nunca amei alguém antes, eu não sei como
lidar com isso... Eu só sei que preciso estar perto de você, sentir você, tocar
você o tempo inteiro... Te carregar para qualquer lugar que eu vá. Isso é
amor, não é?

— É. Eu acho. – assentiu.

— Então, por ser amor eu quero que tudo entre nós dois seja claro. – lambeu
os lábios. – Eu aceitei que você chamasse o Hoseok porque eu também
queria, porque eu penso nele enquanto penso em você também, porque por
mais que ele seja tão marrento eu percebi que gosto do som da voz dele
Yoongi...

— Por isso você o provoca... Porque ouvir a voz dele te faz bem. – os olhos
felinos estavam um pouco assustados, toda a culpa o consumia mais
lentamente e por todos os lados. Yoongi chegava à conclusão da gravidade
do que fez ao propor tudo àquilo porque Tae estava colocando suas cartas na
mesa, Hoseok fizera o mesmo enquanto ele não tinha nada. Mãos vazias e o
coração cheio, transbordando enquanto preso dentro do olhar alheio. – O que
você sente pelo o Hoseok, Taehyung?

— Você quer a verdade?

— Quero.

— Quase tudo que eu sinto por você. – mordiscou o lábio inferior. – Isso te
machuca?
— Não. – negou e seus olhos pequenos ficaram marejados de novo. – E esse
é o problema. O que a gente faz agora?

— A gente respira fundo. – afagou a nuca macia, massageando com a ponta


dos dedos. – Eu preciso cuidar de você, Yoongi. Porque quero fazer isso e
porque ele pediu que eu fizesse.

Yoongi assentiu duas vezes e se remexeu para deixar a cabeça no ombro do


maior, deixando que o calor dele e do vapor no banheiro o embalasse com
calma. Numa paz que não merecia, que não lhe era justa desde que sentia
culpa.

Então, ali quieto ele se lembrou de uma conversa que escutou escondido,
lembrou do flagra e das palavras que comumente pairavam dentro de sua
mente. A ameaça explícita a carta reescrita mil vezes que foi tomada de suas
mãos ainda adolescentes por declarar o que não devia. Encolheu-se mais e
Tae o abraçou mais forte inconsciente que o ato lhe passava proteção.

Num suspiro fraco pelo choro recente, Yoongi encarou a cicatriz rosada em
seu quadril e sentiu os dedos de Tae acarinhando a área numa devoção
silenciosa.

— Tae? – chamou baixinho.

— Hm?

— Você pode guardar um segredo? – ergueu o rosto para encará-lo.

— Todos que você precisar.

— Quando eu decidi por mim e por Seok que era melhor não tentarmos
algo... Eu estava o poupando. – Tae franziu as sobrancelhas. – O pai dele... –
engoliu a saliva e apertou os dedos nervosos. – Yoseob-ssi achou a minha
carta.

O mais novo piscou de forma confusa.

— Me explica isso, Yoongi.


Jimin não disse nada quando Hoseok entrou no quarto, mas o encarou
disfarçadamente.

Continuou arrumando a própria cama, dobrando o cobertor pesado e


desamassando os travesseiros para empilhar todos perto da cabeceira baixa.
Os pés aquecidos em meias brancas quase não faziam barulho a cada passo
dele e o pijama amarelo continuava puxado para todos os lados por ser
muito maior que seu corpo.

Ele estava de costas, não queria parecer invasivo e sabia bem que entre
todos os amigos, Hoseok era aquele que raramente recorria aos seus
cuidados. Ali Jimin era visto como o mais adulto, aquele que estava sempre
pronto a consolar, animar ou dar sermões dolorosos. Entretanto, Hobi
sempre lhe parecia tão pleno que o Park procurava respeitar seu espaço
constantemente. Então, qual foi sua surpresa ao ouvi-lo soluçar e desabou
num choro sufocado.

Hoseok estava sentado em sua cama, as mãos tremiam de encontro ao rosto


enquanto seus ombros se moviam a cada soluço doloroso. Jimin largou o
cobertor e foi até ele apressado e assustado, abaixando-se diante do mais
velho para afagar suas coxas com carinho e proteção.

Vê-lo daquele jeito era assustador porque para si Hoseok era o mais forte,
mas naquele momento o hyung cheio de alegrias poderia caber em seu bolso.

— Hyung... O que aconteceu? – perguntou baixinho, mas já sabia e queria


parecer não saber para não soar invasivo. Ele sabia desde que Tae e Yoongi
trocaram olhares cúmplices no bar, desde que o casal apenas não sabia como
parar de encarar Hoseok com desejo... Sabia por causa dos gemidos altos
pela casa... Mas Jimin também sabia que alguém se quebraria no dia seguinte
e era ruim confirmar que estava certo. Hoseok parecia aos pedaços.

— Você sabe. – Hobi murmurou fungando.

— 'Tá arrependido?
— Jimin... O que mais me frustra é isso. – encarou o mais novo. – Eu não me
arrependo de nada. Eu fui usado e agora, aqui... – apertou as mãos. – É
como se tivesse lutando contra o meu corpo inteiro porque ele quer correr de
volta pra eles.

— Ainda ama o Yoongi-hyung?

— Eu amo o Yoongi mais do que eu queria amar.

— E o Tae? – foi cuidadoso, não sabia onde pisava e temia uma explosão
que não merecia. Hobi ficou quieto, mas os olhos cansados continuaram
encarando Jimin como se silenciosamente implorasse ajuda, como se
precisasse usar a voz alheia para confessar o que não sabia dizer sozinho. –
Quer que eu especifique isso, hyung? – Hobi assentiu. – E o Taehyung... Sim
ou não?

Hoseok encolheu-se como um filhote acuado e lambeu os lábios inchados


após engolir a saliva com gosto de creme dental. Suas mãos bonitas se
fecharam em punho, as unhas com esmalte descascado se esconderam assim
como todo o seu orgulho... Então, ele assentiu uma vez só e Jimin sentiu os
olhos marejados.

— Sim. Eu odeio isso, mas sim. – segredou em sussurro, ele temia dizer alto
e se tornar ainda mais real. – Jimin eu tenho vivido a minha vida inteira
procurando um jeito de me sentir inteiro, de sentir que eu existo além dos
planos dos meus pais pra mim... Além dos sonhos que eles sonham por mim.
Eu tento me encaixar em cada projeção porque morro de medo de
decepcioná-los... Eu não quero ser alguém ruim.

— Hobi-hyung... Você não é ruim. – negou.

— Isso é injusto demais. – lamentou enquanto lágrimas grossas escapavam


de seus olhos. – Eu tenho vivido procurando um lugar onde me encaixo...
Então, eu me encaixo entre Taehyung e Yoongi! Mato em mim o que não
agrada aos meus pais porque eu quero existir, Jimin... Eu quero ser de
verdade... Mas ontem... – fungou. – A cada pedaço meu que eles tocavam eu
notava que existo... Que eu sou real. Isso é tão injusto. – secou o nariz com
as costas da mão. – Porque eles estão juntos e eu vou continuar existindo
sozinho.

Jimin suspirou e secou as próprias lágrimas porque ver Hoseok chorando o


enfraquecia demais depois dos acontecimentos recentes. De tê-lo
desacordado em seus braços, machucado e prestes a se engasgar com o
vômito fétido... De jurar por deus que o quebraria na porrada caso o fizesse
outra vez porque Jimin não sabe lidar com perdas desde muito novo.

Mas Hoseok estava quebrado bem diante de seus olhos.

De novo.

— Eu costumo odiar o seu altruísmo. – confessou e sentou ao lado do maior.


– A forma como você sempre acha um jeito de ceder às outras pessoas e se
deixar para depois porque eu sei o quanto é absurdo quando explode. Eu
disse pro Taehyung não se envolver contigo mais de mil vezes porque ele
começou fazendo isso inconscientemente quando se envolveu com o Yoongi.
Hyung... Diz o que eu posso fazer pra te ajudar. – pediu com um desespero
oculto. Jimin estava com raiva. – Por favor.

— Sempre tenho receio de te sobrecarregar ainda mais com os meus


problemas, eu te vejo sendo tão forte o tempo que-

— Por favor...

— Jimin. – respirou fundo e mais lágrimas molharam suas bochechas. – Eu


me sinto quebrado por dentro e por fora, mas eu preciso continuar de pé.

— Então, eu vou manter o hyung de pé. – o abraçou como podia, agarrando-


se a Hobi como um coala. O mais velho assentiu e se deixou embalar nos
braços mornos dele. – Eu te amo, Hobi-hyung.

— Eu também te amo, Jiminie. – assentiu. – Obrigado por cuidar de mim.

— Toma um banho. – sorriu um pouco e afagou o cabelo desbotado do


maior. – Eu vou preparar algo pra você comer.

— Tranca a porta, eu sei que o Yoongi vai vir atrás de mim e-


— Ele vai ter de passar por mim primeiro. – assegurou de forma séria. – Eu
já volto. – Jimin ficou de pé e deixou um beijo demorado sobre a testa de
Hobi. – Vou trancar a porta.

Hoseok assentiu e o viu sair do quarto em silêncio.

Então, sentado ali sozinho, ele observou o velho porta-retratos sobre o


móvel entre as camas. Observou desde a moldura de ferro pintado de azul
até a fotografia familiar. Yoongi e ele no auge de seus dezesseis anos. O
menor ainda usava a roupa hospitalar e preguiçosamente erguia o polegar
enquanto Hobi o abraça pela cintura e sorria numa felicidade contagiante.

A foto tirada quando a anemia foi controlada, quando o tratamento surgiu


efeito e aquela carta de despedida foi jogada no lixo.

Ele não sabia, mas naquele mesmo dia o seu pai fez Yoongi desistir de se
declarar e a outra carta nunca foi entregue.

Era quase duas da tarde quando um grito de Seokjin fez Namjoon derrubar a
garrafa de água e fez Jimin agarrar-se ao braço de Jungkook enquanto tocava
violão na varanda da casa.

Yoongi respirou fundo e trocou um olhar com Taehyung.

Jin desceu as escadas pisando duro e resmungando, as orelhas estavam mais


vermelhas que nunca e quando ele chegou a sala de jantar parou de frente a
Yoongi – este deixou o lámen de lado – então, estendeu a mão direita com a
palma para cima.

— Vamos ser práticos. Me dá seu cartão e a senha, Yoongi.

— Hyung eu arrumei tudo. – resmungou fazendo bico. Namjoon voltou a


sentar à mesa para continuar comendo.

— Arrumou?! E você acha que isso adiantou?! Vocês dois! – apontou pro
casal e Tae assentiu. – Tem porra grudada no meu travesseiro!
— Caralho, eu 'tô comendo! – Namjoon resmungou.

— Ah Namjoon, até parece que você não adora jatada na cara! – Jin
explodiu gesticulando sem parar.

— Cubra os ouvidos. – Jimin, que tinha entrado ao lado de Jungkook, riu


quando notou o mais novo com os olhos arregalados.

— Essa é uma informação que eu não precisava saber, mas achei válida. –
Tae coçou a nuca e Namjoon rolou os olhos. – Quem diria, Namjoon-ssi.

— Eu vou processar vocês dois! – o mais velho estava furioso. – Quando


você me pediu o quarto eu até sabia que iam transar nele, mas que caralho
vocês fizeram?! NÃO É PRA DIZER! – gritou quando Tae abriu a boca.

— Na verdade três. – Namjoon arqueou a sobrancelha de forma debochada.


– Hoseok estava junto.

Então, todos ficaram em silêncio. Jin franziu o cenho abaixando as mãos, o


olhar passou de irritado a surpreso... Quem sabe um pouco chocado. Ele
respirou fundo e puxou uma cadeira, sentando de frente ao casal antes de
passar as palmas pela face de forma exasperada.

— O que aconteceu?

— A gente ficou. – Tae deu de ombros. Não queria expor mais nada de toda
a situação, seus planos eram outros.

— Cadê o Hoseok? – suspirou.

— Ele 'tá dormindo. – Jimin respondeu enquanto guardava o violão dentro


da capa que Jungkook segurava. – Ele tomou café e eu dei um dos calmantes
do Namjoon pra ele descansar.

— Você dopou o ele?! – Yoongi ergueu a voz e Jimin assentiu não se


abalando. – Ele acabou de ficar mal por causa de droga e você dopa ele?!

— Hyung, sinceramente, você realmente se importa?


— O que você quer dizer? – Yoongi empurrou a cadeira para trás e ficou de
pé. – Olha Jimin desde aquele dia no hospital eu 'tô pra dizer pra não se
meter entre mim e o Hoseok.

— Sério? Pena que eu não ligo. – deu de ombros. Jungkook colocou o violão
sobre a mesa e ficou apreensivo. Imaginar Jimin nervoso o deixava
angustiado. – É meio difícil pra mim isso de não se meter quando vejo
alguém que amo se quebrando inteiro por causa de quem nem merece isso.

— Você não sabe de nada.

— Eu sei que o Hoseok 'teve uma crise de choro por causa do que
aconteceu, que ele 'tá péssimo e precisou ser dopado pra dormir enquanto
vocês dois almoçam juntinhos como casal ideal dois mil e dezenove. Não
fode, Yoongi.

— Jimin. – Seokjin o parou e bastou um olhar dele para Jimin assentir e


ficar calado. – Eu não quero mais problemas dentro dessa casa.

— Nós vamos conversar com o Hobi, hyung...

— Ele não quer conversar com vocês! – o Park quase gritou. – O deixa em
paz!

— Jimin, cala-a-boca! – Tae o olhou. – Não se mete nisso!

— Vocês não têm o direito de fazer isso com ele! Todo mundo sabe o que
Hobi-hyung sente pelo Yoongi-hyung e do quanto ele abriu mão pra vocês
ficarem por todos os cantos dessa casa bancando os pombinhos, bem na cara
dele! Ainda acham que tem direito de sentir ciúmes quando ele fica com
outras pessoas! – Jungkook, inconsciente, prendeu a barra da camisa de
Jimin entre os dedos como se tentasse mantê-lo perto. Detestava brigas. – Ai
o chama pra fazer ménage, aproveitando da fraqueza dele e nem querem
respeitar o espaço dele?! Hoseok-hyung não quer conversar com vocês!

— Sinceramente Jimin, vai se foder! – Yoongi explodiu. – Quem é você pra


me cobrar alguma coisa se fica trepando com o Namjoon enquanto Jin-hyung
tem sentimentos por ele?!
Jimin arregalou os olhos pequenos e Jin ficou de pé, exasperado com o rumo
que as coisas tomavam. Namjoon não disse nada.

— Yoongi, não seja tão cretino. – o mais velho sorriu ladino. – Jimin não
tem obrigação de negar quando Namjoon o procura só por minha causa...

— Hyung eu...

— Você sabe que 'tá errado e por isso jogou o meu nome como justificativa
pro teu ato, uma coisa não tem nada a ver com a outra. Eu e Namjoon não
temos um relacionamento e nunca tivemos... Jimin não deve satisfações pra
ninguém. Mas você deve. Quer que eu seja sucinto? Eu vou ser porque
envolver o meu nome nisso me deixou puto. Yoongi, o que você quer? Beija
um, transa com outro, briga por um... Faz os dois cederem ao teu fetiche
sexual de foder com ambos e no dia seguinte posa como uma vítima do
destino, das tuas dúvidas?

Yoongi piscou até seus olhos ficarem marejados, mas não disse nada em
oposição às palavras duras de Seokjin. Não se sentia no direito de dizer.
Então, Tae largou os hashis sobre a mesa e ficou de pé, o olhar furioso foi de
Jimin a Seokjin, ele puxou o Min para trás de si e entrelaçou os dedos aos
dele.

— Vocês acham que essa merda é uma maravilha? Que ficar confuso o tempo
inteiro é tranquilo? O problema não é ter dúvidas, é ter certezas. Parem de
se meter. – Tae soltou a mão alheia pra abrir a carteira de Yoongi que estava
sobre a mesa, ele puxou um cartão cinza e jogou. – A senha é 180294. –
guardou a carteira no bolso e assentiu. – Compra uma cama nova, faz o que
quiser. – virou-se para Yoongi. – Vamos sair daqui.

Então, eles saíram.

De noite a casa estava silenciosa, não fossem as vozes que vinham da


animação que passava na televisão grande na sala de estar. Jimin e Jungkook
dividiam um cobertor quentinho, um balde de pipocas e dois copos enormes
de refrigerante.
Era a folga do mais novo e o segundo encontro oficial depois do cinema.
Jungkook ainda parecia ter mil borboletas nos estômago por ficar perto do
hyung baixinho e tudo triplicou quando se beijavam até perder o ar. No meio
de tudo isso sentia que poderia derreter quando as mãos menores que as suas
afagavam sua pele com delicadeza, quando os dedos curtos desenhavam
círculos perfeitos em partes que ele nem sabia serem sensíveis.

A intensidade dos atos de Jimin lhe coagia.

Mas não era ruim, não o tempo todo.

— Você se parece como Spot. – o mais velho comentou de boca cheia.

— Por quê? – estranhou.

— Porque você é fofo e também gosta de carinho na barriga. – sorriu e


Jungkook sentiu vergonha. – Adoro te deixar corado assim.

— Isso não é legal, hyung. – ralhou quase manhoso e Jimin mordeu o lábio
inferior o encarando sem parar. As luzes estavam apagadas, as cores que
vinham da TV o faziam reluzir. – Lindo. – sussurrou.

— Hm?

— O hyung... É lindo. – sorriu um pouco. – Gosta de me deixar corado e por


isso é ousado.

— Me acha ousado? – arqueou uma sobrancelha.

— Eu gosto da sua ousadia, Jimin-hyung.

— Olha só quem está confessando, Jungkook-ssi. – riu um pouquinho e usou


a mão para cobrir os lábios.

— Seja bom comigo. – pediu e segurou a manga da camiseta longa para


puxar o braço alheio. – Não cubra o teu sorriso, por favor.

— É uma mania. – deu de ombros e colocou o pote quase vazio no chão,


deixando as pipocas de lado. – Sabe, faz exatamente uma hora que você não
me dá um beijo, bebê. – o bico em seus lábios era uma covardia. Jungkook
sorriu.

— Hyung... Alguém pode descer. Me disse que era melhor ser um segredo.

— Hobi-hyung está apagado, Jin-hyung saiu e o casal maravilha deve voltar


de madrugada.

Jungkook coçou a nuca e assentiu.

Jimin o puxou pelo moletom preto, os dedos cheios de anéis se agarraram ao


pano e trouxeram Jungkook até que prendesse seu lábio inferior entre os
próprios. Então, o garoto suspirou e Jimin sorriu porque essas pequenas
coisas lhe encantavam. O beijo foi lento até certo ponto, de alguma forma
eles sempre se perdiam dentro do ósculo quando uma conexão única os
jogava num mundo particular. As mãos de Jungkook – sempre tão nervosas –
pouco se moviam sobre as roupas do menor, mas as de Jimin gostam de
testar até onde ir, cada vez avançando um pouco mais.

Adorava os beijos do garoto, era incomparável a forma como aquelas mãos


fortes o excitavam e isso mesclava junto da consciência que era o primeiro a
descrevê-lo.

Jungkook parecia estar na palma de sua mão.

Então, ele ousou mais um pouquinho ao empurrá-lo até que ambos


estivessem deitados no sofá, o mais novo por baixo e o mais velho usando
um dos braços para não pesar sobre ele.

Jungkook ficou nervoso.

Ele franziu o cenho e suas mãos apertaram o pano da camiseta de Jimin. O


beijo foi quebrado, então arfou e continuou de olhos fechados enquanto os
lábios macios traçaram um caminho de beijos por seu queixo, depois sobre o
pomo-de-adão até senti-lo mergulhar na pele do pescoço sensível. Foi
impossível não se encolher e segurar o riso pelas cócegas. Jimin sorriu
contra a pele dele e cedeu um pouco de peso.
— Hyung... – chamou receoso.

— Hm. – a boca experiente sugou devagar um pedacinho do pescoço de


Jungkook e o garoto se arrepiou inteiro. Ainda assim, aquilo não era
confortável. Jimin notou a tensão no corpo abaixo e assoprou a pele úmida
de saliva. – Relaxa, bebê.

O maior assentiu.

Ele só sabia obedecer a qualquer coisa vinda de Jimin, ele gostava de


aprender as coisas que o hyung lhe ensinava... Mas quando eram só beijos e
carinhos, não aquilo. Era estranho porque havia tanto sentimento dentro de si
e todos eles voltavam a Jimin, mas ali... Sob o corpo dele, sentindo-o tão
perto... Sufocava. Ele respirou fundo e fechou os olhos de novo.

Jimin lambeu lentamente do pescoço até a orelha pequena, sugando-o para


dentro da boca ao mesmo tempo em que deixava o corpo pesar sobre o de
Jungkook. Para ele aquilo era comum desde que era sexualmente ativo e não
via tabus ligados ao sexo. Jungkook o excitava muito, chegava ao ponto de
ficar maluco apenas por vê-lo suado fazendo qualquer exercício ou quando
as mãos grandes cobertas por tatuagens minimalistas se moviam enquanto ele
falava.

Park Jimin subia pelas paredes por cada ato de Jeon Jungkook.

Então, ele queria avançar. Queria beijar cada pedaço do corpo dele, queria
apertar cada músculo forte e saciar juntos o desejo pulsante que crescia mais
quando passavam horas beijando.

Entretanto, para Jungkook aquilo ainda era demais.

Sabia muito bem os motivos porque como demissexual necessitava de uma


ligação emocional, física ou intelectual para que momentos assim não fossem
desconfortáveis.

Quando Jimin pesou sobre ele e a quase ereção foi sentida contra sua coxa,
Jungkook usou as mãos para empurrá-lo para cima com cuidado e continuou
de olhos fechados. Sentia vergonha.
O mais velho respirou fundo e apoiou as mãos no sofá, quebrando mais o
contato entre os corpos.

— Hey, abre os olhos. – o mais novo negou. – Jungkook. 'tá tudo bem. Bebê,
olhe pra mim, vai.

Abriu os olhos devagar e Jimin sorriu porque aquele garoto era a coisa mais
linda que ele já viu na vida. Os olhos grandes e assustados, o nariz tão
corado quanto às bochechas cheias e aqueles lábios finos inchados pelos
beijos trocados.

Jungkook o desestabilizava.

— Desculpa. – sussurrou.

— Não precisa pedir desculpas por causa disso. Eu fui longe demais, foi
mal.

— É que eu... Hm... Isso é...

— Eu sei que você é virgem, Jungkook. – disse e sorriu um pouco. – Não é


como se a gente fosse transar aqui... Eu só gosto muito de beijar você, de
tocar você.

— Não transaria comigo?! – franziu o cenho. – Quer dizer...

— Adoro quando você pensa alto assim. – riu e usou uma das mãos para
pentear a franja alheia com os dedos, afastando até expor a testa lisinha. –
Você é um homem incrível, Jungkook. Quando você ficar desconfortável com
alguma coisa que eu fizer, por favor, me diga ok?

— Ok. – ele mentiu. Ele não diria porque temia ver Jimin se afastar. –
Desculpa, hyung.

— Não pode se desculpar por me deixar com tesão, não é algo ruim. –
brincou e se abaixou para beijar a testa dele, depois a ponta do nariz e por
último os lábios rosados. – Agora eu preciso de um banho gelado.
— Hyung! – ralhou e Jimin riu baixinho, saindo de cima dele para calçar as
pantufas de pintinho. Jungkook sentou no sofá e sorriu. A dualidade daquele
hyung o encantava. – Obrigado por entender.

Jimin o encarou e sorriu de novo, piscando um dos olhos antes de deixá-lo


sozinho com os créditos de O Bom Dinossauro subindo a tela plana da TV.

Quando Jimin saiu do banheiro comum da casa, com o corpo enrolado em


uma toalha e o cabelo longo pingando sobre os ombros largos, viu Namjoon
recostado ao batente da porta do quarto que dividia com Yoongi.

O maior, de braços cruzados e sem camisa sorriu ladino.

— Eu sabia que você estava pegando o Jungkook. – assentiu.

— Anda me espionando, Kim Namjoon? – brincou e sorriu quando ele


negou.

— Desci pra buscar minha mochila e ouvi você dizendo que sabia sobre ele
ser virgem. – deu de ombros. – Eu estou surpreso, ele definitivamente não é
o teu tipo... A gente sabe que esse negócio de esperar não rola com nenhum
de nós dois, Jiminie.

— O que você quer dizer?

— Que você parece bem envolvido com ele.

— Eu não sou um babaca, Namjoon. O garoto é inexperiente em tudo e eu


não vou forçar ninguém a fazer o que não quer. – deu de ombros.

— Sei disso, 'tô falando por você parecer ter escolhido esperar com ele. –
zombou. – Achei que você não queria relacionamentos, mas eu percebi que
não quer um relacionamento comigo.

— Namjoon. – suspirou. – Eu não quero um relacionamento. Com ninguém.

— Perto do Jungkook parece o contrário.


— Eu 'tô curtindo. Ele beija bem, é legal e etc. Não seja exagerado. Não é
como se eu fosse casar com o garoto.

— Se você diz. – deu de ombros também. – Yoongi avisou por mensagem


que não voltaria hoje, ele e o Tae foram pra fora da cidade.

— Ok. – ele estava agradecido, apesar de tudo, se preocupava muito com os


amigos, mas Namjoon sabia que ele não confessaria. – 'Tá afim? – arqueou
uma sobrancelha.

— Vai magoar o pobre coração do garotinho, Jimin-ssi?

— Cala a boca. – mandou e o empurrou para dentro do quarto, fechando a


porta enquanto o riso de Namjoon preenchia o corredor dos quartos.

Então, escondido pela parede que fazia curva as escadas, Jungkook


continuou quietinho depois de ouvir aquelas coisas. Ele estava subindo para
dormir, para trocar mensagens com o pai e falar sobre Jimin. Porém não
reagiu por uns minutos, não sabia o que fazer ou dizer. Pensou em se
desculpar por qualquer coisa, pensou em ficar calmo porque seu coração
estava o assustando, pensou em dizer a Jimin que sentia muito por não ser o
tipo dele, mas que gostaria de ser. Chegou a pensar que se tivesse deixado o
mais velho continuar lhe tocando nada daquilo aconteceria.

Era sua culpa.

Gostava tanto de Jimin.

Por que Jimin não gostava dele também?

Ficou ali por minutos, quem sabe horas.

Hoseok, sonolento e com fome, encontrou-o sentado em dos degraus da


escada, encolhido e com o olhar vidrado nos próprios pés calçados em
meias do Homem de Ferro.

— Jungkook? – demorou até encarar o hyung. – O que foi?

— Hyung... – piscou algumas vezes e negou. – O que tem de errado comigo?


Hobi franziu o cenho, mas negou e puxou o garoto para si, deixando que ele
o abraçasse e escondesse o rosto contra seu pescoço.

— Não tem nada de errado em você, Jungoo. Vai ficar tudo bem, eu prometo.

Jungkook assentiu e fungou.

Hobi estava quebrado, mas definiu que ajudar Jungkook seria sua prioridade.
Ele sabia que aquele comportamento tinha um dedo de Jimin.

Não só um dedo, porque Jungkook estava apaixonado por um Jimin inteiro.


17 - perdendo a minha religião

Oh não, eu falei demais


Eu não disse o suficiente

R.E.M

— Aqui. É pra você.

Jungkook ergueu os olhos e assentiu depois de Hoseok empurrar, sobre a


mesa pequena da cozinha, uma xícara azul.

O vapor denunciava a temperatura quente. O mais novo segurou-a com


ambas as mãos e aspirou o cheiro suave da canela misturada ao leite. Hobi
guardou a caixa de leite de volta à geladeira, pegou a jarra de suco e sentou
de frente pra ele, pronto para devorar os dois sanduíches que fez enquanto o
garoto lhe explicava o que tinha acontecido.

Observou-o beber do leite adoçado e com canela e apoiou os braços nus


sobre o tampo de mármore da mesa, respirando fundo.

— Hyeri-noona sempre me fazia uma xícara de leite com canela quando eu


perdia o sono.

— Ela é...
— A omma de Yoongi. – assentiu e pegou um dos sanduíches, ajeitando as
fatias de tomate com a ponta dos dedos. – Minha omma me mandava rezar.

— Rezar pra dormir?

— Rezar pra qualquer coisa. – Jungkook sorveu mais da bebida doce e


quente, Hoseok mordeu um pedaço grande do sanduíche. – Aparentemente
rezar resolve qualquer coisa. – disse de boca cheia.

— Acha que eu devo rezar pra não ter mais nada de errado em mim, hyung?

— Acho que você deve beber o leite e parar de repetir que tem algo errado
em você. – Hobi suspirou quando o mais novo assentiu e desviou os olhos
grandes. – Jungkook, depois de ouvir o que aconteceu, quero conversar
sobre isso, tudo bem?

— Uhum.

— Primeiro: não existe absolutamente nada de errado em você. Você só se


sente assim porque estabeleceu um padrão do que é ser normal em relação às
outras pessoas, através do que você vê ao redor. Segundo: nunca mais pense
a hipótese de deixar alguém te tocar acreditando que isso vai fazer essa
pessoa ficar contigo, entendeu? – o mais novo mordiscou o lábio inferior. –
Nem o Jimin, nem eu... Ninguém, Jungkook. O seu corpo só pertence a você e
ninguém tem o direito de tocar nele sem que você queira isso de verdade.

— Mas hyung-

— Escuta. – interrompeu e acabou de devorar o primeiro sanduíche. – Se o


Jimin souber que você pensou em algo assim, ele mesmo vai repetir tudo que
eu 'tô te falando agora. Quando você disse a ele que não estava confortável,
ele não forçou nada.

— Mas se eu tivesse deixado... Ele não teria... Com o Namjoon-hyung... – o


bico magoado levou Hobi a suspirar.

— É o terceiro ponto. – apoiou os cotovelos sobre a mesa. – O Jimin não foi


transar com o Namjoon porque não conseguiu nada com você... Ele foi
porque ele e o Namjoon ficam desde antes do Jimin vir morar aqui,
Jungkook. – o garoto franziu o cenho. – Preciso que você entenda uma coisa.
Há quanto tempo você fica com o Jimin?

— Três semanas.

— Ele e o Namjoon ficam juntos há quase dois anos. – Jungkook franziu o


cenho. – Jimin se mudou para cá depois de... Bem, acho que não sou eu quem
deva contar algo pessoal dele como também não contei a Jimin sobre você
ser demissexual. – gesticulou. – Enfim, Namjoon conheceu o Jimin em uma
boate, eles ficaram e algumas coisas iam mal pro Jimin, então Namjoon
acabou trazendo ele pra morar aqui por uns dias... Ele ficou. Jungkook, você
é muito esperto e sabe muito bem das coisas que rolam aqui... Sabe sobre
Jin-hyung e Namjoon... Sabe sobre mim e...

— Yoongi-hyung... E o Tae-hyung. – disse baixo e Hobi só assentiu.

— Isso. Acontece que Jimin e Namjoon têm esse tipo de relação antes de
Seokjin-hyung e antes de você também. Consegue entender? – o mais novo
assentiu. – Eu sei que você 'tá magoado e chateado, ele beijou você e agora
'tá com o Namjoon, mas Jimin não faz ideia de que esteja apaixonado por
ele... Ele não faria algo assim se soubesse... Não pra te deixar saber.

— Como assim?

— O Jimin é livre, Jungkook. Ele passou tempo demais da vida dele preso a
algo tóxico, então ele preza demais a liberdade que tem.

— Por isso ele não gosta de mim, hyung?

— Ele não estaria ficando contigo se não gostasse de você... Mas ele não
gosta da mesma forma que você gosta dele. – o semblante triste de Jungkook
deixava Hoseok com o coração apertado. – Jimin não usou você, ele não usa
ninguém. – negou. – Ele só fez o que está acostumado a fazer desde que é um
homem livre. Você sempre soube que ele e o Namjoon tinham esse rolo,
Jungkook... Olha pra mim. – pediu carinhosamente. – Eu adoro você, Jungoo.
– sorriu um pouco. – E por isso eu estou aqui te aconselhando sobre isso,
porque eu sei que a sua inexperiência cria muita coisa ruim na sua mente...
Conversa com o Jimin, diz pra ele como você se sente.

— Mas e se ele se afastar de mim?

— Ele não vai se afastar de você, ele só vai ter mais responsabilidade pelos
teus sentimentos sobre ele. Não dá pra cobrar de ninguém uma culpa que não
existe. Ele não fez isso pra te magoar ou qualquer coisa do tipo, ele fez isso
porque é o jeito dele... É como ele tem feito durante muito tempo. Existia um
Jimin antes de você chegar, existia um Jungkook antes de conhecer o Jimin e
nenhum de vocês vai mudar do nada. Beba o seu leite. – apontou e Jungkook
assentiu. – Acho que seria bem mais fácil para nós dois se a gente gostasse
um do outro, Jungoo. – Hobi apoiou as costas na cadeira e observou o
segundo sanduíche intocado. Acordou com fome, mas de repente se sentia
farto demais. Jungkook o viu empurrar o prato para longe.

— Seus lábios ficam curvados.

— Hm.

— Quando está triste. Seus lábios se curvam. – ele bebeu o resto do leite e
deixou a xícara sobre a mesa. – É estranho hyung. Quando você está feliz
parece que o Sol brilha mais... Mas quando fica triste sempre chove.

— Isso é realmente triste de pensar. – assentiu e respirou fundo. – Eu não


faço ideia de como fazer parar de chover, Jungkook.

— Eu não sei aconselhar como o hyung porque me sinto confuso na maior


parte do tempo. – coçou a nuca. – Mas eu percebi que sempre para de chover
quando Yoongi-hyung e Tae-hyung ficam perto de você. Quando é o Yoongi-
hyung o Sol aquece, quando é o Tae-hyung ele queima... Mas os seus lábios
não se curvam.

— É nesse ponto que tudo se perde, Jungkook. – sorriu de lado, sem vontade
de nenhuma. – Na sua explicação eu sou o Sol? – o mais novo assentiu. – De
qualquer forma eu preciso ficar sozinho ou acabo queimando alguém. – Hobi
ficou de pé. – Quer dormir no meu quarto? – Jungkook assentiu. – Vem.
Ele bagunçou o cabelo de Jungkook e o garoto olhou para o sanduíche
intocado outra vez antes de seguir o hyung pela casa. Hoseok não o deixou
dormir na cama de Jimin, aquilo lhe parecia masoquista demais tendo em
vista o semblante chateado do mais novo. Deixou-o se esparramar em sua
cama, cedeu a ele cobertor e travesseiro e não reclamou quando o garoto
agarrou-se em seu corpo e dormiu rapidamente com a boca aberta.

Antes de conseguir pegar no sono, outra vez ouviu o celular vibrando sob o
travesseiro e depois de diminuir o brilho forte da tela franziu o cenho ao ler
o remetente das mensagens recebidas no aplicativo.

[02h09]Kim Taehyung:

Me encontra amanhã

Na saída lateral do teu prédio

Depois da sua última aula.

Por favor.

Hoseok negou apenas uma vez e bloqueou o aparelho.

Ele não iria. Estava decidido.

— Ele respondeu?

Yoongi apertou as mãos e suspirou quando Taehyung negou.

— Mas ele visualizou. – deixou o celular de lado outra vez e puxou o menor
para seus braços, deitando atrás dele. – A gente vai contar com a
impulsividade dele.

— Tae, e se ele não for?

— A gente pensa em outra coisa. – o abraçou mais forte, escondendo o rosto


dentro dos cabelos esverdeados que cheiravam a xampu cítrico. – Hoseok
precisa sair da defensiva.

— É a culpa de ele estar assim é toda minha. – ele se encolheu um pouco e


Tae beijou sua nuca, depois o ombro e se afastou só pra virá-lo pra si. – Eu
sou horrível.

— Yoongi ficar se depreciando não vai mudar nada, se a gente quer alguma
coisa temos de correr atrás.

— Eu não sei o que eu quero. – negou e os olhos felinos marejaram. – Quer


dizer, eu não sei se o que eu quero é certo?

— É certo pra você? – afagou a cintura dele, sob a camiseta larga estampada
com o logo do Batman. – Se for certo pra você que se foda o resto das
pessoas, Yoon.

— Jin-hyung disse que sou egoísta, ele 'tá certo.

— Ele não sabe o que aconteceu... Não sabe os teus motivos. – chegou mais
perto do menor, puxando a coxa nua até que ela estivesse encaixada em seu
quadril. – Eu nem conheço o pai do Hoseok, mas acho que já o odeio.

— Eu gosto pra caralho desse teu jeito adulto de resolver as coisas. – fungou
e sorriu quando sentiu os lábios de Tae sobre o seus. – Você é mais maduro
que nós dois.

— Vai ver numa outra vida, eu não tenha sido. – brincou. – Talvez agora seja
a minha vez de resolver as coisas. – ele cheirou a pele do rosto de Yoongi e
deixou um beijinho demorado sobre o nariz pequeno.

— Eu te amo. – sussurrou e olhou dentro dos olhos grandes do mais novo. –


E amar você me faz tão bem.

— Acho que metade do mundo nos odiaria se fossemos parte de uma


história, gatinho. – suspirou.

— E a outra metade? – os dedos grandes contornaram uma das tatuagens que


preenchiam o bíceps de Taehyung, desenhando de novo cada traço marcado
na pele amorenada.
— A outra metade, assim como nós dois, só quer que não sobra tanto espaço
nessa cama. – Yoongi assentiu e fungou baixinho. – Eu não faço idéia de
como isso vai funcionar, mas eu tenho mais medo de não tentar. Eu também te
amo, gatinho. – beijou os lábios rosados e passou o polegar por cima do
bico que ficou depois de se afastar.

— Quer namorar comigo? – a pergunta, inesperada, fez Tae rir um pouco


massageando a própria testa. – Um pedido oficial.

— Como eu diria não? Eu fui mandado pra cá como um castigo, mas


conforme meus pensamentos se alinham eu chego a conclusão que castigo
seria não viver isso.

Yoongi assentiu e se afastou dele. Engatinhou na cama espaçosa até descer e


caminhar pelo quarto espaçoso. Tae franziu o cenho, mas continuou quieto.
Viu o mais velho abrir o closet espaçoso, depois voltar trazendo nas mãos
uma caixa pequena, completamente azul. Sentou-se como um índio e o mais
novo fez o mesmo, apoiando as costas a cabeceira da cama.

— Eu comprei isso há duas semanas... Não sei o porquê. – sorriu sem jeito.
– Eu estava voltando pra república depois de almoçar com a minha omma e
vi uma senhora vendendo essas coisas artesanais. – ele abriu o caixa e tirou
de dentro dela um saquinho de tecido vermelho. O sacudiu até que três
colares, bijuterias, caíssem na palma de sua mão. – Vai parecer que fiz de
caso pensado, mas e não-

— Gatinho, tudo bem. – o acalmou e pegou um dos colares. Eram rústicos, a


corrente leve e prateada ostentava um pingente um tanto pesado, de quatro
centímetros. – Me conta.

— Sol, Lua e Estrelas. – mostrou os outros dois pingentes. – É bonito, não é?

— É lindo. No que você pensou quando comprou?

— Em você, em mim... – Tae passou o polegar ao redor do Sol.

— Achei que fosse a única pessoa do mundo a perceber que quando ele sorri
tudo ao redor se ilumina...
— Como se ele fosse o Sol. – sorriu triste.

— É assustador demais chegar a essa conclusão porque eu ainda sinto


vontade de fazer o Hoseok engolir toda aquela marra insuportável dele. –
ralhou e Yoongi sorriu de verdade.

— Você é igual a ele, Taehyungie. – separou a corrente presa ao pingente de


estrela. – Esse é o teu.

— Obrigado. – colocou-o sob o olhar atento do mais velho. – O seu? –


perguntou apontando para a Lua.

— Acho que sim.

— Vem aqui.

Yoongi engatinhou até ele e sentou de costas, entre as pernas longas do


maior, deixando que o colar fosse colocado ao redor de seu pescoço. Depois
sentiu o beijo forte em sua nuca, depois a mordida na curva do pescoço.
Respirou fundo, de olhos fechados. O corpo inteiro já estava arrepiado.

— Me deixa amar você? – Taehyung sussurrou rente a orelha pequena que


ficou corada e Yoongi assentiu duas vezes, entregue a voz rouca ou qualquer
coisa que viesse do mais novo.

Taehyung segurou o colar que sobrava, segurou a corrente de aço e a


envolveu no pulso magro de Yoongi, prendendo-o ali como se daquela forma
ambos incluíssem quem faltava no momento.

Era tão confuso.

Ainda mais para mentes tão jovens, tão pressionadas por todos os lados da
vida.

Fizeram amor pela primeira vez, talvez antes disso tenha sido só sexo...
Talvez porque as lembranças da madrugada anterior ainda conseguiam
influenciar demais a mente, o corpo e tudo possível.
Enquanto as poucas roupas eram espalhadas ao redor da cama e Yoongi
cavalgava lentamente, contendo os gemidos porque o quarto da mãe e do
padrasto não ficava longe, o suor escorria por sua pele pálida que aos olhos
de Taehyung brilhava como a Lua.

As mãos espalmadas sobre o peito forte, as unhas curtas castigando a pele


macia descontando o prazer que o levava a tremer inteiro sob as mãos fortes
e nada delicadas. Porque Tae o fazia mexer, o apertava com força, ele
sussurrava palavras sujas e chegava mais fundo do que nunca.

E ele amava demais aquele homem sob seu corpo. Amava cada pedaço dele
da mesma forma que também amava cada pedaço de Hoseok.

Yoongi sentia que poderia enlouquecer a qualquer momento.

— Tae... – choramingou arfando, tocando-se pra conseguir gozar e se perder


no prazer. Pra esquecer por pelo menos alguns segundos. Mas no fundo, não
queria esquecer nada.

O mais novo o entendia, afinal sentia o mesmo.

Taehyung ergueu o tronco e segurou o pulso onde o colar estava preso,


ergueu até que o pingente alcançasse diante de seus lábios. O beijou junto do
pulso pequeno, lambeu a pele suada e deixou que mão livre descesse até
poder masturbá-lo com força.

Prenderam-se no olhar um do outro, confessando coisas que para qualquer


outra pessoa seria absurda. Entretanto, para eles era quase alívio.

E quando gozaram, quase juntos, o prazer os embalou por pouco tempo, era
quase covardia.

Então, deitados sobre os lençóis desarrumados, cobertos de suor e de mãos


dadas, justamente de uma forma que o pingente de Sol estivesse entre seus
polegares, deixaram que o silêncio deixasse ainda mais óbvia as verdades.

Queriam Hoseok ali.


Jimin entrou em seu quarto e franziu o cenho ao ver Jungkook agarrado ao


travesseiro de Hoseok num sono pesado e tranquilo.

Ele sorriu e caminhou até o mais novo para ajeitar melhor o cobertor que
quase caia para fora da cama de solteiro. Jungkook mastigou alguma coisa e
resmungou assentindo.

— Preciso conversar com você.

A voz rouca fez o Park dar um pulo e virar de uma vez. Ele arregalou os
olhos para Hoseok e xingou baixinho pelo susto.

— Porra, quer me matar hyung?! – sussurrou afagando o peito nu. – Que


susto do caralho!

— Não acorda ele. – mandou vestindo uma camisa larga. – Ele dormiu tarde,
dá pra perder as primeiras aulas. Preciso conversar com você.

— Por que ele dormiu aqui? – franziu o cenho. – Vocês dois... – fez um bico
e Hoseok fez careta.

— Para de viajar! – acertou um tapinha na nuca do menor. – Eu acordei com


fome e encontrei Jungkook chorando sentado na escada.

— O que?! Chorando?! Por quê?

— Por sua causa. – rolou os olhos. – Ele te ouviu com o Namjoon, Jimin.

Jimin franziu ainda mais o cenho.

— Mas ele sabe que eu e Namjoon ficamos, hyung.

— Vamos descer, não quero que ele acorde. Vem.

Jimin seguiu Hoseok para fora do quarto em silêncio. No andar de baixo,


enquanto o hyung bebia uma xícara de café ele começou a preparar algumas
coisas sobre uma bandeja de plástico redonda.
— O que está fazendo?

— Vou preparar o café pra ele, pedir desculpas.

— E você vai se desculpar pelo o que exatamente, Jiminie?

Jimin deu de ombros e Hobi suspirou. Ele apontou para a mesma mesa que
ocupou com Jungkook de madrugada e o menor sentou, obedecendo-o.

— Não vou te dizer tudo que ele me contou, eu realmente quero que vocês
resolvam isso conversando porque têm coisas que só ele pode te explicar. –
Jimin assentiu. – Jimin, Jungkook chorou porque estava magoado, ele te
ouviu dizer que não era nada sério entre vocês e depois te viu ir pro quarto
com Namjoon.

— Hyung, mas não tem nada sério entre a gente.

— Jungkook não tem experiência sobre relacionamentos, sobre casos ou


namoros. Ele... – coçou o cabelo. – Ele vai te explicar melhor. Eu só quero
te pedir uma coisa.

— O que hyung?

— Não o machuque. – disse de forma séria. – Quando ele falar, fale também
e deixe extremamente claro o que seja entre vocês dois... Eu sei que você
não faz isso, que você não ilude as pessoas ou as machuca, mas Jungkook é
diferente das pessoas com as quais você se relaciona, Jimin. E ele gosta de
você.

— Eu também gosto dele.

— Jimin... Jungkook está apaixonado por você. E estar apaixonado, pra ele,
é diferente e importante demais.

— Ah. – ele pareceu chocado. – Ele disse isso?

— Ele não precisou... Jungkook é transparente demais comigo, então eu pedi


a ele que também fosse com você, mas ele tem medo de que você se afaste.
Ele chegou a pensar que se tivesse te deixado tocá-lo mais, você não teria
ficado com o Namjoon.

— O que?! – arregalou os olhos. – Como assim?! Eu não fiquei com o Joon


porque ele não quis transar comigo! Eu nunca faria isso, hyung!

— Mas ele acha que sim. E sinceramente? Pareceu que sim.

— Ele está com raiva de mim?

— Acho que o Jungkook não consegue sentir raiva de ninguém, Jimin.


Conversa com ele, ok?

— Ok, obrigado Hobi-hyung. – sorriu e Hobi se virou para se servir com


mais café. – Você 'tá bem?

— Não sei. – deu de ombros. – Meu pai me ligou bem cedo. Ele marcou um
almoço pra mim com Momo.

— Hyung... – lamentou.

— Eu vou de qualquer forma. – deu de ombros. – Eu deveria tentar.

— Tentar? – estranhou.

— Tentar ser o filho que ele quer. Tentar-

— Tentar ser hétero?!

— Jimin...

— Está se ouvindo? Hyung, por favor, ouça o que está dizendo! Ninguém
vira hétero ou gay, ou lésbica... Ou qualquer outra coisa! Ninguém escolhe
isso! – Jimin parecia decepcionado. – Me contou que seu pai chegou a te
obrigar ter relações com uma mulher, que ele te bateu por não conseguir! Por
favor, não deixa a loucura de seu appa te afetar assim, hyung. Você não
precisa tentar agradar ninguém, só a si mesmo!
— Você não entende. – negou. – Mas eu entendo a sua decepção. Eu sempre
decepciono todo mundo.

— Hyung... – chamou ao vê-lo sair. Hoseok tirou o maço de cigarros do


bolso da bermuda. – Me escuta, hyung...

— Vou ficar sozinho. Conversa com o Jungkook, ok?

Ele saiu pela porta da cozinha e do lado de fora, sentado no primeiro degrau
da escada pequena que dava para o quintal espaçoso, Hoseok acendeu o
primeiro cigarro do dia.

Jungkook abriu os olhos e se esticou na cama lentamente.

Ele piscou algumas vezes, olhando ao redor até notar que não estava em seu
quarto. Coçou os olhos e bocejou, mastigando a saliva até ouvir um riso
baixinho.

— Bom dia, bebê.

Ele ergueu o tronco de uma vez e olhou para Jimin que estava sentado na
própria cama, bem vestido e com os cabelos platinados presos para o alto.

— Bom dia, Jimin-ssi. – a voz rouca o fez parecer mais velho.

— Hm, um passarinho me contou que você está chateado com algo que fiz. –
ele se mexeu até pegar a bandeja pesada. – Então, como um pedido de
desculpas eu te preparei para isso.

Colocou a bandeja sobre as coxas do mais novo.

— Leite de banana, cereal, panqueca com mel e maçã cortada sem a casca. –
sentou na ponta do colchão. – A maior panqueca eu deixei pra você. – sorriu.

— Obrigado, hyung. – ele coçou o olho direito e abaixou o rosto. – Hobi-


hyung falou alguma coisa, não é?
— Ele disse algumas coisas sim. Mas eu gostaria que você tivesse dito. –
suspirou. – Jungkook, quando eu te peço pra sempre dizer como se sente,
estou sendo sincero. Eu só posso ser responsável por aquilo que eu sei,
entende?

— Agora eu entendo. – assentiu.

— Então, fale agora. – incentivou. Jungkook continuou calado. – Você


acordou chateado hoje, eu devo ter soado falso em algum momento... Eu
fumei um cigarro enquanto te preparava isso e pensei bastante... Não consigo
fazer isso sozinho, eu preciso de uma luz. Eu estou aqui pra você, Jungkook.
Eu quero te ouvir, mas você tem de estar aqui para falar. Estar aqui pra mim
também. Adoro manter minhas mãos em você, mas só enquanto isso te deixar
confortável... Se deixar, eu vou correr para manter minhas mãos em você. –
Jungkook sentiu suas bochechas quentes. – Então, não deixe nada em
silêncio, por favor. Eu estou aqui, eu vou ficar por aqui enquanto você
quiser.

Jungkook assentiu e encarou as próprias mãos nervosas.

Jimin tombou a cabeça para o lado e o observou de perto.

Aqueles olhos inchados pelo sono, o cabelo bagunçado, o lábio inferior


preso entre os dentes grandes.

Havia qualquer coisa naquele garoto que sempre lhe despertava a sensação
de manhã de natal e aquilo lhe assustava um pouco porque era novo e por
mais que gostasse de coisas novas, havia um ou duas que queria deixar de
lado.

— Eu gosto de você, hyung. Gosto muito. – Jungkook disse baixo.

— Eu também gosto de você, Jungkook. Eu gosto da sua companhia, de ficar


com você... De conversar com você.

— Mas também gosta do Namjoon-hyung. – jogou e Jimin suspirou.


— Isso te incomoda? Eu ficar com o Namjoon? – o mais novo assentiu. –
Mas você sabe que eu e você não temos um relacionamento, não sabe? – ele
assentiu outra vez. – O problema não é você ou o Namjoon, ou qualquer
outra pessoa. Eu não quero um relacionamento nesse momento da minha vida
e não sei se um dia vou querer. Jungkook, eu estou sendo o mais transparente
que posso com você... Então, seja assim também, por favor. Você quer parar
de ficar comigo?

— Não. – respondeu rápido. – Eu gosto de você, hyung.

— Esse meu jeito vai te magoar, Jungkook. – lamentou. – E você não merece
ser magoado por ninguém. Você é lindo, eu tenho certeza que qualquer outra
pessoa vai-

— Qualquer outra pessoa não. – negou uma vez. – Você hyung. Só você... –
Jimin esperou ele concluir. – Eu sou demissexual.

Então, Jimin levou algum tempo para reagir ao que ele disse sem parecer
ainda mais preocupado. Jungkook temeu o silêncio dele.

— Não quer mais ficar comigo? Eu sinto muito...

— Jungkook. – respirou fundo e chegou mais perto pra afagar o cabelo


macio dele. – Obrigado por me contar. – sorriu, mas estava preocupado. –
Não vou mais magoar você, mas a gente precisa ser sincero sempre. Ok?

— Ok. – sorriu um pouco.

— Come. Eu vou te deixar no prédio da tua aula. – se curvou pra beijar os


lábios dele. – E escove os dentes.

— Hyung!

O mais novo ralhou enquanto ele saia do quarto e fechava a porta.

No corredor Jimin se encostou na parede e passou as mãos pelo rosto.

— Porra Jimin, o que você tá fazendo? – perguntou a si mesmo, baixinho.


Seja o que for, tem tudo pra dar errado.

Hobi sabia que havia perdido a luta contra sua decisão no momento em que a
última aula acabou e ele observou os outros alunos saindo da sala, mas não
conseguiu se mover.

Tinha de sair, pegar a moto e dirigir até o restaurante que o pai havia
indicado na mensagem. Devia almoçar com Momo, conversar e saber mais
sobre ele porque, quem sabe assim, tentar não fosse tão difícil.

Momo era linda, inteligente, gentil e parecia sentir o mesmo que ele quanto
aos planos familiares de ambos... Ela era perfeita e por isso seus pais o
empurravam para ela. Momo poderia ser a ferramenta perfeita para consertá-
lo e, então, nunca mais ele precisaria ter medo de ser o que era.

Guardou o caderno e os livros, organizou suas réguas na pasta e saiu da sala


rumando à saída leste do prédio, a saída que quase ninguém usava... Seus
pés não obedeciam, eles não se importavam com o quase desespero de seu
coração acelerado porque caminhavam para onde não deviam ir.

Estava frio demais, então ele puxou o capuz da jaqueta verde para cobrir o
que a toca preta não cobria. Diante da porta pequena, Hoseok parou e negou
uma vez, negou indignado com sua covardia idiota. Virou as costas, então
abriram a porta, o vento gelado o arrepiou e antes que desse mais um passo
ouviu seu nome naquela voz grossa.

— Hoseok.

Ao passar dos dias conflituosos, Hobi chegava a pensar que Deus o odiava
porque parecia cômico brincar dessa forma com sua vida. Bastava a voz
dele e tudo se revirava por dentro misturando sentimentos demais, fazendo
uma alquimia assustadora ao ponto de criar novos que ele nem conhecia
ainda.

Porque ao mesmo tempo em que queria afastar Taehyung, também o queria o


mais perto possível.
— Eu não devia ter vindo.

— Mas você veio. – Tae apagou o cigarro e atirou no lixo antes de fechar a
porta. O corredor apertado, a luz que piscava sem parar quando não se
moviam e Hoseok parado na sua frente perto o suficiente pra poder tocar. –
O Yoongi não 'tá aqui.

— Uma novidade porque vocês sempre estão juntos. – desdenhou, queria


tentar ser arrogante. Era sua defesa.

— Eu sei que você tem todos os motivos do mundo pra sempre estar na
defensiva quando se trata de mim, mas eu não quero brigar ou discutir com
você. Eu só quero conversar.

— Sobre o que?

— Sobre o que aconteceu entre nós três.

— Quantas vezes eu vou ter de dizer que quero esquecer isso?!

— Pelo menos mais uma vez, até você perceber que fugir não vai adiantar.

— Eu não tô fugindo Taehyung. – respirou fundo. – Eu só quero me poupar


disso.

— Você quer se poupar de assumir pra si mesmo quê o que a gente fez
mudou absolutamente tudo? Eu sei que está com medo...

— Eu não estou-

— Eu também 'tô com medo Hobi. O Yoongi também 'tá. – chegou mais perto
dele. – Mas deixar esse medo te proibir de tentar não faz sentido.

— Tentar. – repetiu com desgosto. – Eu não deveria estar aqui, eu deveria


estar tentando. – o mais novo franziu o cenho. – Ouviu o que o meu appa
disse naquele dia... Ele marcou um almoço com uma garota legal, ela é linda
e eu-
— Você não pode fazer isso! – negou indignado. – Não por mim Yoongi ou
por mim, mas por você! O seu appa-

— Ele quer o melhor pra mim.

— Não! Ele não quer! – se irritou. Sentia vontade de contar tudo que sabia,
mas não era um direito seu. – Ele quer te controlar Hoseok! Você não precisa
fazer o que ele quer!

— E como eu posso fazer o que eu quero, Taehyung?! Eu não sei o que eu


quero!

— Você sabe exatamente por isso está aqui agora, por isso você veio...
Porque você sabe.

— Meu deus, você faz parecer que essa porra toda faz algum sentido! –
explodiu. – Vocês estão querendo me deixar louco?! O que diabos querem de
mim?!

— A gente quer você, Hobi.

Hoseok franziu o cenho e piscou algumas vezes. A seriedade na frase do


mais novo não lhe fazia sentido, o que ele dizia não fazia sentido. Estar ali
não fazia sentido.

— Escutou o que disse?

— Escutei. – assentiu. – Parece loucura, mas eu escutei e eu repito quantas


vezes mais você quiser. Eu quero você. – Tae chegou perto o suficiente para
Hoseok recuar até esbarrar as costas contra a parede fria. – Inteiro.

— Para. – pediu baixo, negando e largando a mochila ao lado do corpo. –


Taehyung, isso não é certo... Isso não existe!

— Então, que a gente seja os primeiros a fazer. Eu não me importo, nem o


Yoongi.

— Pelo amor de deus você está realmente ouvindo o que 'tá dizendo pra
mim?! Você tem alguma ideia do quanto isso é absurdo? Os meus pais me
acham quebrado por ser gay... Consegue imaginar o que vão dizer de algo
assim?! – ele negou e respirou fundo ao sentir as mãos do mais novo em sua
cintura, sentir os dedos grandes afagando sobre a jaqueta pesada. – Tae...
Taehyung...

— Os seus pais não podem te impedir de ser quem você é, Hobi.

— Não me chama assim... – pediu agoniado. Taehyung estava tão perto, o


cheiro dele era tão bom. Aquele desejo o deixava furioso. – Não me toca...

— Então, tire as minhas mãos de você Hoseok. – sussurrou. O hálito quente


chegando perto da boca alheia. Seus dedos empurraram a jaqueta e a camisa
para cima até terem acesso à pele macia e morna dos quadris estreitos. – Eu
quero você com toda essa sua marra insuportável... Tira as minhas mãos do
seu corpo agora porque depois eu vou te mandar pro inferno quando me
disser pra esquecer.

Hoseok olhou-o dentro dos olhos e seu coração batia tão rápido que era
como se pudesse ouvi-lo dentro dos ouvidos aquecidos pela toca. A boca
secou, até mesmo seus receios começaram a se esvair entre os dedos
trêmulos que seguraram os ombros largos do mais novo.

Às vezes tinha certeza absoluta que odiava Taehyung.

Principalmente quando não queria acreditar que estava apaixonado por ele.

— Seu maurcinho do caralho.

Murmurou antes de beijá-lo apressado.

Não foi suave, muito menos romântico porque ao mesmo tempo em que
querem saciar o desejo, também queriam submeter um ao outro numa guerra
particular que beirava o bruto. Tae o puxou para si com o abraço ao redor da
cintura magra, a mão livre puxou a toca e jogou para trás, ele se encheu com
o cabelo desbotado da nuca e apertou mais forte. Hobi afundou as unhas
curtas no pescoço dele e dentro do mullet macio. Porque enquanto as línguas
exigentes se chocavam de forma sedenta, seus corpos se atraiam mais,
pareciam prontos a se fundir num só.
Entre arfadas e ofegos soltos, a cada mordida dolorosa nos lábios alheios,
enquanto as mãos atrevidas e habilidosas se aventuravam em cada pedaço do
outro... Hoseok e Taehyung mergulhavam mais e mais dentro dos sentimentos
confusos, mas nem tanto, que aos poucos se desembaraçaram diante de seus
olhos.

Pela primeira vez sem Yoongi ser o elo, afinal já estavam ligados o
suficiente.

Mas o celular do mais velho começou a tocar, a vibração incomodou no


bolso do jeans e Hobi buscou pelo IPhone as cegas, correspondendo aos
beijos afobados do maior.

Ele abriu os olhos e viu o nome do pai na tela.

Taehyung sentiu quando o corpo alheio deixou de corresponder, quando a


tensão ergueu todos os muros defensivos que há pouco estavam prestes a
cair. Ainda abraçado a ele, encostou suas testas e respirou fundo.

— Você não precisa fazer o que ele quer. – sussurrou afagando o rosto do
menor. – É a sua vida, Hobi.

Hoseok respirou fundo e encarou a tela do celular de novo.

Talvez ninguém o compreendesse, mas havia dentro dele medo demais para
ser corajoso.

Porque parece ser simples, para quem observa de fora, apenas não se
importar com o que os pais pensam ou querem para si, mas quando se está
dentro... Quando se tem medo de ser uma decepção, quando tem pavor de
não existir para as únicas pessoas que obrigatoriamente devem te amar,
quando você está tão cansado de ouvir que precisa de conserto parece mais
certo obedecer.

— Eu preciso ir.

Tae negou e o abraçou mais.

— Me deixa ir.
— Como eu posso te deixar ir assim?

— Você não precisa de mim. Muito menos o Yoongi.

— A gente precisa de você. Por favor, pare de ser tão teimoso.

— Não é teimosia, Taehyung. – negou e o afastou devagar. Seus olhos


estavam marejados. – Eu só não quero decepcionar ninguém.

Tae assentiu, mas do bolso do moletom retirou algo dentro da mão fechada.
Ele segurou o pulso de Hobi e virou sua palma para cima. Dentro dela
colocou o colar com o Sol. Hoseok olhou para o objeto e fungou.

— A gente precisa de você. Também estamos com medo... Então, a gente


pode dividir esses medos e multiplicar o que sentimos...

— Não. – negou fungando. – Não daria certo.

Ele pegou a mochila e a pendurou no ombro. Começou a chorar em silêncio,


então num último ato de coragem se aproximou do mais alto, esticando-se até
selar os lábios contra os dele demoradamente. Tae não se moveu.

— Eu não posso.

Ele virou as costas e foi embora.

Levou junto de si o colar, levou a esperança do mais novo, levou o Sol.

Então, lá fora, voltou a chover.


18 - sonhos doces

"Alguns deles querem te usar


Alguns deles querem ser usados por você"

Eurythmics

DOIS MESES DEPOIS.

— Obrigado, oppa.

O sorriso de Momo a deixava ainda mais bonita, principalmente quando ele


era sincero daquela forma.

O dia estava ensolarado, ele fazia jus à primavera que se encarregava de


transformar aquele parque natural num cenário digno de romance e estar ali
com Hoseok a deixava feliz.

Gostava do quanto ele lhe era gentil, da forma que sempre a escutava
tagarelar sobre diversos assuntos e se permitia sorrir quando algo engraçado
acontecia durante as conversas agradáveis que vinham tendo há um tempo.
Momo não tinha sentimentos românticos por Jung Hoseok, à garota sequer
pensava sobre isso, mas estar perto dele não era um sacrifício.
— Como foram as suas provas? – ele amassou o guardanapo sujo de molho e
sugou o suco natural através do canudo de papel.

— Foi mais fácil do que eu imaginei. Aquela sua dica de estudar menos
funcionou.

— Meu appa é professor, isso me dava uma vantagem. – assentiu e viu


quando Momo observou algo sobre seu ombro esquerdo, os grandes olhos
escuros curiosos e animados. Ele girou a cabeça até poder observar o
vendedor de rua que mostrava a alguns jovens balões de diversas cores e
formatos. Hoseok sorriu um pouco. – Você quer um, Momo?

— Hm? Não! Não se preocupe com isso, Hoseok. – negou sem graça.

— Eu já volto.

Ele empurrou a cadeira para trás e ficou de pé. Momo observou-o ir até o
vendedor e refletir sobre qual dos balões escolheria antes de tirar da
carteira escura o dinheiro. Hobi voltou trazendo um médio, uma cereja com
olhos adoráveis e cílios longos. Amarrou o barbante colorido na cadeira
vazia e sentou novamente.

— Acho que esse era o mais bonito, mas eu devia ter perguntado pra você. –
coçou a nuca.

— Esse daqui é perfeito. – assentiu sorrindo. – Obrigado, Hobi-oppa.

— Eu gosto quando você me chama de Hobi. – ele cutucou a batata frita. –


Me diz, pesquisou o que eu te falei?

— Uhum, mas... – o sorriso se desfez.

— Mas?

— Eu não sei se daria certo.

— Você só sabe se tentar, Momo. – suspirou. – Seus pais disseram alguma


coisa?
— Eles me perguntaram como é quando nós saímos. Eu menti. – deu de
ombros.

— O que contou a eles?

— Saímos como namorados, que o oppa até já me beijou. – sorriu de forma


travessa e Hoseok acabou sorrindo junto. – Omma me disse que eu posso ser
ousada, porque seria sua esposa.

— Ela te disse pra me seduzir? – franziu as sobrancelhas. – Sinto muito, eles


não deveriam pedir essas coisas pra você... Na verdade, você não precisa
fazer nada disso para conquistar um homem, Momo. Basta que seja sempre
assim.

— Ouvi uma conversa. – o quanto ela ficou tensa preocupou Hoseok. – O


seu appa pediu permissão para que eu viaje com você.

— Comigo? – estranhou. – Como assim?

— Para Jeju. Só nós dois.

Hobi levou uns segundos até compreender as intenções do pai e quando


aconteceu sentiu um arrepio terrível na espinha. As lembranças o deixavam
agoniado. Momo notou e gentilmente tocou a mão dele, sobre a mesa,
afagando a pele macia com seus dedos delicados... Tentou passar a ele uma
força que nem sabia ter porque Hoseok a preocupava muito.

— Desculpa...

— Se não formos será pior, oppa. – lamentou. – Mas eu não quero que
tenhamos que fazer nada... Eu também não quero nada disso, mas-

— Eu nunca vou te forçar a fazer absolutamente nada que não queria, eu te


dou a minha palavra... Até quando pudermos levar isso...

— Até onde acha que conseguiremos? – ela parecia triste.

— Momo. – chamou sem jeito. – Eu posso te contar um segredo? – a garota


assentiu. – Eu... Sou... Eu sou...
— Oppa. – Momo o interrompeu e segurou a mão dele mais forte,
entrelaçando os dedos com carinho. – Eu já sei e se dizer isso te machuca,
prefiro que não diga por que existem coisas que sequer necessitam ser
faladas. Eu sei porque nunca um homem me tratou com tanto respeito como o
oppa, então independente do sexo de quem te faça sentir atração... Eu não me
importo porque somos amigos.

Hoseok respirou fundo, foi impossível controlar as lágrimas que arderam em


seus olhos. Ele afagou a mão da garota e assentiu.

— Obrigado por me compreender... Eu estou tentando e-

— Está tentando? – estranhou. – Tentando se sentir atraído por uma mulher?


– ele assentiu. – Por quê?

— Porque é o que devo fazer.

— Não, oppa. Isso é o que seus pais querem que faça. – ela suspirou. – Você
ama alguém, não ama?

Ele encarou-a e depois o balão que se movia levemente graças à brisa fresca
do final de tarde. Sem qualquer explicação coerente Hobi sentiu saudade de
coisas que não viveu, mas que pareciam vivas demais dentro de si. Amava
sim, mesmo que ainda fosse confuso, ele amava demais. Amava Yoongi com
cada pedaço de si e Taehyung... Ainda havia Taehyung e o turbilhão de
sentimentos que ele revirava sempre que chegava perto.

Hoseok sentia-se caminhando em uma corda bamba, sem segurança alguma


ou sequer a ciência de para onde estava indo... E cair significava deixar a
vida correr sem tentativas incoerentes de ser o que não era.

A cada dia, ele morria um pouco mais.

— Amo. Eu amo mais do que eu deveria amar, mais do quantos deveria


amar.

— Quer falar sobre isso? Oppa... Não guarde tantas coisas.


— Se parar de falar sobre isso eu acho que consigo esquecer, Momo. Mas
obrigado. – sorriu sem querer sorrir.

— E tem dado certo?

— Ainda não, mas vai dar. Eu vou sair daquela república.

— Até que enfim você lembrou-se de nós, Namjoon!

Hanguk abraçou-o brevemente e deixou dois tapinhas fracos nas costas do


filho. Depois dele, Eujin se aproximou e segurou o rosto do filho com
carinho.

— Você engordou. – ela ralhou e lhe beijou a bochecha direita. – Deveria se


bronzear menos, você sabe que o seu tom de pele é muito escuro.

— Como vocês estão? – ignorou-a e deixou a mochila nas mãos de uma das
cinco empregadas da casa.

— Oh, nós estamos em uma correria tão grande filho. – o homem, tão
parecido com ele, apontou para o enorme sofá que ocupava uma das salas da
mansão. – Daqui a alguns dias teremos a estréia do filme, eu não consigo
escolher qual cor usar.

— Eu li sobre isso na internet, as críticas pareciam boas appa. – sorriu sem


jeito. Não conseguia se encaixar naquela casa. Entre os pais. Até mesmo a
decoração minimalista o sufocava. – Omma, estava linda nos pôsteres.

— Obrigado, meu amor. – Eujin sorriu orgulhosa. – Hey, você... – chamou o


mordomo que logo estava diante deles. – Sirva algo... O que quer comer
Namu?

— Eu comi antes de vir pra cá, obrigado. – se curvou com educação, o


mordomo sorriu um pouco.
— Então é melhor que não coma mais nada, suas bochechas estão enormes! –
ela sentou e bateu indicando o outro sofá para o filho. Eujin continuava uma
mulher naturalmente bonita e com um senso de moda impecável. Já Hanguk
procurava formas de mascarar a idade com procedimentos básicos de
estética. – Como você está?

— Estou bem. – assentiu, não sabia o que fazer com as mãos, sentia-se um
estranho naquela casa. – Eu vim direito da universidade.

— Eu estava pensando sobre como faremos quando você se formar,


Namjoon. – o homem serviu em um copo de cristal uma dose de uísque. –
Acho que um escritório em Seul será mais atraente... Conversei com uns
amigos e já falei sobre você... Bem, sabe como sempre acontecem coisas
nesse meio do entretenimento. – sentou em uma poltrona.

— Appa, eu pretendo fazer um trabalho público. Continuar no escritório


onde estou estagiando.

— Mas isso não lhe trará prestígio, filho. – lamentou. – Você soube dos
casos ligados a Hyun Seung? Sobre as boates que estão ligadas a
prostituição?

— Falamos sobre isso nas aulas. – respondeu e eles ficaram em silêncio


enquanto uma empregada servia chá para Eujin.

— A empresa que está cuidando do caso recebeu muita atenção! – a mãe


disse. – Até mesmo as ações subiram rapidamente comparadas às outras...
Todos nós sabemos que por ser um idol popular esse rapaz vai sair limpo de
tudo isso... Mas a ajuda dos advogados é importante.

— Eu não defenderia alguém como ele, omma. Nunca.

— Não lhe disse para acreditar no que ele diz, mas um bom advogado é
aquele que consegue resolver casos como os dele. – assentiu. – Seu pai tem
contatos com pessoas influentes em Seul.

— Antes de sua formatura quero que vá comigo até lá para conhecê-los


Namjoon. Você é comunicativo e inteligente, logo vão perceber que não
podem te deixar escapar. – o mais velho sorriu. – Falando sobre isso, o que
acha de nos acompanhar na estréia do meu filme?

— Appa...

— Oh, que ótima ideia! – Eujin deixou a xícara sobre a mesa de vidro. – Faz
um bom tempo que não aparecemos juntos publicamente! Você acha que
consegue perder uns quilos até o dia da première? Vou encomendar um
smoking novo!

— Você pode até convidar algum de seus amigos, Namjoon. O que acha?
Mas não aquele Jimin, ele é excêntrico demais. – a careta irritou o mais
novo. – O que acha de Kim Seokjin? Eu encontrei com os pais dele há duas
semanas, num leilão beneficente... Eu gosto muito desse rapaz, deveria andar
com ele.

— O senhor quer que eu transe com ele?

— Namjoon... – Eujin suspirou, repreendendo. – Não seja assim.

— Seria bom se eu transasse com ele, não seria? O prestigio de ter o seu
único filho viado dando pra alguém de uma família tão influente. – sorriu
debochado.

— Você não entende mesmo, eu não disse nada disso, mas insiste em sempre
estar na defensiva conosco, Namjoon. – lamentou virando o uísque de uma
vez. – Só acho que Kim Seokjin é alguém que lhe fará bem porque nas
poucas vezes que os vemos juntos eu notei que a companhia dele lhe agrada.

— Appa o que alguém como o Jin vai ter sendo minha companhia? – negou.
– Mas eu vim até aqui para avisar que voltei a frequentar a terapia.

Eujin franziu o cenho e observou-o atentamente. Até mesmo a postura da


mulher mudou. Já Hanguk apoiou os cotovelos nas laterais da poltrona e
entrelaçou os dedos frente ao queixo.

— Com quem?

— Ele não é conhecido, Jimin o conheceu atrás de sua noona.


— Jimin? Park Jimin? O mesmo garoto promíscuo com a noiva psicopata? –
o homem desdenhou. – Confia no que ele diz tanto assim ao ponto de correr
o risco de tudo aquilo vir à tona de novo?

— Eu preciso de ajuda. – repetiu mais para si que para os pais. – Eu gosto


desse médico e me sinto seguro, já faz quase três meses e até os pesadelos
diminuíram.

— E se ele fizer como o anterior? – Eujin estava tensa.

— Não posso deixar de me tratar por medo, omma. Eu preciso querer


melhorar. – sorriu um pouco para ela. – Eu não preciso mais de remédios
para dormir... Não todos os dias... Isso é bom, não é?

— É muito bom, meu Namu. – ela assentiu e sorriu. De uma forma confusa,
Kim Eujin se culpava todos os dias, entretanto não sabia lidar com isso.

— Você prefere que um estranho lucre em cima do que aconteceu, mas se


negou que eu fizesse justiça quando te pedi isso. – a voz do homem estava
cheia de rancor.

— Fazer justiça? O senhor queria me expor...

— Eu queria usar a sua história para poder informar muitos pais, só isso. –
deu de ombros.

— Por favor, não quero que briguem. – ela pediu massageando a testa.

— O senhor estava tão preocupado em impedir que a mesma coisa


acontecesse com os filhos de outras pessoas que nunca se importou de
verdade com o que aconteceu comigo. – Namjoon não estava nervoso,
tampouco alterava o tom de voz ao se dirigir ao pai. Não tinha em si respeito
algum por aquele homem, mas ainda o amava graças à obrigação dos laços
familiares. – Usar o que me aconteceu para informar outras pessoas não
apagaria nada appa, nunca vai apagar.

— Namjoon... – Eujin o chamou, lamentando ao vê-lo ficar de pé. – Filho,


fica mais um pouco... Por favor.
— Desculpa, omma. – curvou-se para beijar a testa dela. – Te amo.

— Eu também te amo. – ela assentiu ao vê-lo pegar a mochila e sair da sala


de estar, rumando à saída da mansão. Eujin encarou o marido em silêncio
por dois minutos inteiros e depois disso suspirou.

— Deveria dizer a ele de uma vez. – Hanguk serviu-se demais uísque. – Ele
ficaria se soubesse.

— Eu não quero que Namjoon fique do meu lado por pena, eu quero que meu
filho me ame.

— Eu sinto muito, Eujin. – a encarou. – Ele te ama, mas nós nunca soubemos
como lidar com ele. – deu de ombros. – Diga a verdade, ele merece saber.

Eujin encarou as próprias mãos trêmulas e secou as bochechas rapidamente,


antes que a lágrima solitária borrar sua maquiagem bem feita.

— Hey, Jungkook?!

A voz alta de Yeri o fez erguer a cabeça e olhar ao redor para procurá-la. A
garota estava acenando ao lado de Yugyeom, ambos próximos às catracas
que controlavam o acesso dos alunos ao prédio de tecnologia do campus.

Jungkook sorriu e foi até os colegas de turma.

— O que ele disse? – Yugyeom, alguns meses mais velho que os outros dois,
perguntou curioso e ansioso.

— Ele disse que a gente pode tentar. – assentiu e Yeri bateu palmas
animadas. – Mas que não é pra falarmos pra mais ninguém.

— Ninguém vai contar! Ouviu Yugyeom? – ela o encarou com seriedade e o


garoto alto rolou os olhos. – A gente vai comemorar, vamos lá à lanchonete
dos veteranos.

— Hm, eu não sei... – Jungkook fez um bico indeciso. – Lá é tudo muito caro.
— Eu estou convidando vocês dois. – ela sorriu e os agarrou-se aos braços
de ambos, puxando-os rumo à avenida movimentada onde uma infinidade de
alunos corria de um lado para o outro. – Estava sem esperanças, aquele
professor consegue ser assustador.

— Jungkook é o queridinho dos professores. – o maior provocou. – A


professora Kim Hyoyeon nem sabe disfarçar o favoritismo.

— Eu acho que ela quer transar com você, Jungkook.

— Yeri, pelo amor de deus, ela tem idade pra ser a minha mãe! – ele
arregalou os olhos, sentia-se desconfortável com conversar assim. – Hyo-ssi
é muito profissional.

— Nunca disse o contrário, mas ela realmente fica te encarando, sabe? Igual
quando você entra no modo Jungkook. – Yeri riu alto.

Os três caminharam entre conversas e ideias para o projeto quase secreto


referente ao trabalho de desenvolvimento eletrônico que fariam juntos.
Quando alcançaram a famosa lanchonete frequentada por veteranos,
Jungkook deixou que os colegas entrassem antes e olhou ao redor,
procurando por uma mesa livre que Yugyeom logo encontrou.

Pediram três combos dos maiores e brindaram entre risinhos pela conquista
que fora convencer o professor Kim Hyuk de suas ideias atrevidas e até
ambiciosas.

Então, um pouco antes de servirem os lanches exagerados, Jungkook ouviu


um riso familiar demais. Ele franziu o cenho, mas sorriu. Já procurando pelo
dono da voz que não precisava de muito até acelerar seu coração
apaixonado. Em uma mesa mais ao fundo na companhia de outras pessoas e
sentado sobre um dos bancos de couro azulado, Jimin segurava um copo
pequeno com soju enquanto ria o suficiente para tomar o corpo para o lado,
diretamente no colo de uma garota de cabelos castanhos.

Jungkook chegou a mover o braço, ele tentaria acenar e cumprimentar Jimin.


Sentia vergonha, não conhecia os amigos do mais velho, temia atrapalhá-lo.
Mas ele se encolheu quando Jimin parou de rir e se virou para a garota, a
mão livre afastou o cabelo dela e os dedos cheios de anéis bonitos tocaram
com intimidade o ombro nu, arrancando-lhe um sorriso satisfeito. Ele se
curvou um pouco até conseguir sussurrar próxima a orelha pequena,
deixando-se brincar com os brincos bonitos que ela usava.

Respirou fundo.

Desviou o olhar depressa e encarou a mesa, o lanche intocado sobre a


bandeja plástica laranja. Jungkook engoliu a saliva e segurou o copo com
força, prestes a tremer por todas as coisas que sentia ao mesmo tempo.

Porque Jimin não prometeu nada e ele tampouco saberia o que fazer caso
prometesse. Não tinham um relacionamento, o mais velho sempre era
verdadeiro e por mais que também fosse carinhoso consigo, também prezava
sua liberdade. Jimin não se envolvia mais com Namjoon dentro da
república, não forçava mais toques além do que sabia ser o limite, ele o
tratava tão bem que Jungkook se via dependente de sua presença quase todos
os dias.

Conversavam, trocavam carícias e sorrisos. Viviam de mãos dadas, mas


quando as mãos pequenas não estavam em si, ele sabia que elas estavam
tocando outra pessoa.

Tudo aquilo machucava Jungkook demais... Quer dizer, ele se machucou


sozinho.

— Não vai comer, JK? – Yeri, de boca cheia, estalou os dedos diante dos
olhos dele. – Não entra em modo Jngkook agora, come primeiro.

— Aproveita que é de graça, cara. – o maior mordeu um pedaço grande do


sanduíche gorduroso.

Jungkook assentiu tentando disfarçar o nó na garganta, suas mãos seguraram


o hambúrguer grande e ele mordeu depressa, mastigando sem parar enquanto
ouvia o riso de Jimin praticamente explodir dentro de sua cabeça.
Yeri franziu o cenho diante ao comportamento estranho do colega de turma,
mas não disseram nada.

— Olá crianças. – a voz risonha de Seokjin os fez encarar o mais velho que
não demorou a afagar o cabelo escuro de Jungkook. Ele vestia roupa social,
mas a gravata estava jogada em algum lugar dentro da mochila. – Posso me
juntar? Eu detesto comer sozinho.

— Boa tarde, Seokjin-ssi. – os outros dois ficaram de pé e se curvaram com


respeito. Yeri chegou a corar, achava-o tão bonito. – Por favor.

— Eu ia comer algo saudável, mas ver esses lanches me fez mudar de


idéia...

— Hyung? – a voz baixinha o fez estranhar e franzir o cenho. – Hyung...

— Hm? – ele franziu o cenho e encarou Jungkook. – Jungkook, o que foi?!

O garoto estava chorando. Ele apenas negou e mastigou o lanche, suas


bochechas estavam infladas graças a comida dentro da boca. Jin o segurou
pelos ombros, acreditou que o mais novo estava engasgado.

— O que foi? Tá sentindo dor?

— Ele estava bem, estava comendo! – Yeri explicou assustada.

— Me tira daqui hyung, por favor. – pediu baixinho, a mão esquerda


agarrada a camisa branca do mais velho.

— Quer ir pra casa? – Jungkook assentiu. – Ok, vamos pra casa. Mas você
vai me contar o que aconteceu pra ficar desse-

Então, olhando ao redor, Jin viu o motivo.

Jimin estava trocando sussurros com Hwasa, uma amiga próxima. Ele
suspirou e pegou a mochila do mais novo, pendurando-a no ombro para tirá-
lo da lanchonete sem dizer uma palavra.
No carro, enquanto o ouvia fungar, Jin apertou o volante sentindo irritação
por vê-lo daquele jeito. Jungkook era frágil demais para coisas assim, para
suportar o que ele suportou por quase dois anos. Perguntou-se se em algum
momento chorou como ele estava chorando, se o mais novo sentia por dentro
as mesmas coisas que ele sentia quando Namjoon o magoava.

Será que o coração dele também doía? Será que sentia vontade de se
esconder do mundo só pra não ter de encarar ninguém? Será que Jungkook
amava Jimin da mesma forma que ele amava Namjoon... Se a resposta fosse
positiva, ele sentiria muito.

— Ele não me viu ali. – Jungkook disse secando as bochechas. – Mais cedo
ele me mandou mensagens, nós vamos sair hoje... É aniversário de um amigo
e ele me convidou para ir.

— Você acha que isso vai dar certo, Jungkook? – foi direto. – Se machucar
desse jeito vai valer a pena?

— Jimin-hyung não me machuca, ele sempre é sincero e-

— Você não está sendo sincero consigo mesmo. – insistiu. – Ele não fica
com outras pessoas na sua frente, mas você sabe que quando ele sai sem
dizer nada não está indo a igreja ou resgatar gatinhos presos numa árvore.

— Eu gosto muito dele, hyung. – fungou.

— Mas você precisa gostar mais de si mesmo. – Jin suspirou e ligou a seta
do carro, parando no acostamento pouco movimento do bairro residencial. –
Vamos conversar...

— Hyung... – negou uma vez.

— Eu não quero que você se machuque...

— Guarde teus conselhos, eu não quero nenhum deles... – encarou as


próprias mãos. – Eu só quero o Jimin.

— Não se machuque como eu me deixei ser machucado Jk. – Jin passou as


mãos pelo cabelo. – Eu não quero que você passe por tudo que eu passei. –
Jungkook continuou quieto. – Olhe pra mim. Jungkook olha pra mim. –
mandou de forma séria. – Pare de ficar com o Jimin.

— Se o Namjoon-hyung te tratasse da forma como Jimin-hyung me trata...


Jin-hyung, você estaria namorando Sunmi-noona agora?

Jin o encarou um pouco atordoado.

Aquele garoto sempre quieto prestava mais atenção do que mostrava, ele
observava as coisas que aconteciam naquela república sem invadir espaços
ou gerar desconforto... Mesmo assim, guardava para si.

— Eu não quero que você tenha de sentir as mesmas coisas que eu senti até
perceber que o amor só vale à pena quando não te quebra em dois.

— Não amo o Jimin-hyung... – negou.

— Ainda. – lamentou. – Você tem caminhado em direção a isso todas às


vezes que o deixa ficar perto.

— Hyung deve estar certo, mas eu não ligo. – fungou de novo. – Pode haver
milhões motivos pra que eu te escute, mas o meu coração quer o que ele
quer... E ele quer o Jimin.

Jin suspirou e só assentiu. Não havia muito que fazer, mas assistir Jungkook
cometer os mesmos erros que ele cometeu por tanto tempo o deixava
frustrado.

— Se eu não posso te fazer enxergar o quanto isso é perigoso... Eu vou ficar


por perto pra não te deixar cair sozinho Jungkook.

Ele ligou o carro outra vez e sem dizer nada dirigiu para casa.

Holly latiu animado quando Taehyung se abaixou para encher seu pote com
ração. O filhote tropeçou nas próprias patas enquanto corria de um lado para
o outro, entre as pernas nuas dele.
— Ok, pronto, está aqui. – Tae fez carinho nos pelos cor de caramelo e
sorriu. – Você come demais pra alguém tão pequeno. Parece o seu pai
Yoongi.

— Ele está em fase de crescimento. – Yoongi se aproximou, trocando a água


de Holly por uma limpa. – E você come mais que eu, Tae.

— Estou um pouco preocupado pelo fato do Jimin não ter trago nenhum gato
pra dentro dessa casa ainda. – ele ficou de pé e abraçou o namorado, quando
este caminhou para dentro da cozinha. – Anteontem ele cismou que o Holly é
um infiltrado.

— Desde que ele começou a jogar com você e o Jungkook, Jimin acha que
tudo é teoria da conspiração. – deitou a cabeça no peito do maior e sorriu ao
sentir o beijinho em sua orelha. – Minha omma quer que a gente vá almoçar
lá no domingo, é aniversário da minha noona.

— Eu vou, mas eu quero algo em troca. – sorriu e mordiscou o lábio.

— Dependendo do que for... – brincou.

— Diz pro Jungkook que eu jogo melhor que ele.

— Taehyung?! – se indignou. – Eu achei que você fosse me pedir algo sobre


a gente!

— Mas é sobre a gente. Eu ficarei muito feliz quando aquele moleque


dentuço me respeitar! Se eu estiver feliz, você fica feliz também! – sorriu
adoravelmente e roubou um selinho do mais velho. – Amo quando você fica
bravinho.

— Cala a boca. – negou. – Não fica me beijando na frente do Holly, ele


ainda é criança.

Os dois estavam rindo quando ouviram o barulho da porta principal abrindo.


O molho de chaves foi deixado sobre os outros e Hoseok descalçou os tênis
de cabeça baixa, ignorando-os completamente. Holly latiu quando o viu e
correu até ele, tropeçando até apoiar as patas frontais no moletom cinza e
largo dele. Hobi se abaixou e acariciou o cachorrinho, deixando-o lamber
seus dedos e morder os anéis grossos que usava.

— Oi, Holly. – murmurou e Holly latiu. – Ah, claro eu não esqueci.

Taehyung e Yoongi observaram Hoseok procurar nos bolsos do moletom por


alguma coisa. Ele entregou a Holly um brinquedo colorido, em forma de bola
que fazia barulho sempre que o cachorrinho o sacudia animado. Ele pareceu
esquecer que estava com fome.

— Obrigado, Hobi. – o menor agradeceu baixo, temeroso em ser ignorado


como vinha sendo nos últimos dois meses. – Ele rasgou o outro.

— Eu sei. – respondeu sequer olhando de volta.

Ele ficou de pé e virou as costas, deixando-os sozinhos.

Yoongi respirou fundo e encarou o namorado, preocupado com o semblante


chateado que ele carregava no olhar. Yoongi o abraçou pela cintura,
afundando o rosto em seu pescoço, aspirando o cheiro dele até sentir as
mãos enormes afagando seu cabelo úmido.

— Eu não aguento mais isso. – confessou. - Eu vou acabar fazendo uma


besteira.

Tae não disse nada, mas beijou o cabelo dele.

— Quando você quiser ir embora é só me dizer. Taemin sabe exagerar pra


caralho com essas festas. – Jimin disse assim que o Uber os deixou diante da
casa onde acontecia uma festa animada.

— Só fica perto de mim, eu não conheço ninguém...

— Vou ficar juntinho de você, bebê. – sorriu e beijou a mão dele depois de
entrelaçar os dedos de ambos. – Eu te trouxe porque a gente não tem saído
muito depois das provas, eu quero que você se divirta.
— Obrigado, hyung.

— Vamos entrar. Eu 'tô com sede.

Dentro da casa espaçosa as luzes coloridas ajudavam a embriagar o que o


álcool não podia. Não tinha muita gente, mas todas as pessoas conheciam
Jimin desde que o casal sempre estava parado para que o mais velho
pudesse cumprimentar alguém com abraços breves.

Jungkook não gostava da forma como olhavam para Jimin.

Lee Taemin logo fez questão de se aproximar deles trazendo nas mãos dois
copos cheios com vodca e suco natural de frutas. Ele tinha os cabelos
escuros penteados para trás, usava roupas justas e era tão bonito que ficava
difícil de acreditar.

— Ah, até que enfim eu vou conhecer o famoso Jungkook! – brincou


encarando-o dos pés a cabeça. – Eu sou Taemin. – sorriu.

— Jeon Jungkook. – se curvou um pouco, ajeitando os óculos de grau em


seguida. – Obrigado por me receber em sua casa, Taemin-ssi.

— Meu deus Jimin, onde você achou essa coisinha adorável?! – tocou o
queixo de Jungkook e piscou. – Estou com inveja.

— Taemin, menos. – o Park pediu ao notar o desconforto do garoto. – Não


'tô a fim de ficar aqui no meio, cadê todo mundo?

— Olhe ao redor, gostoso. Todo mundo está aqui! – gesticulou e bebericou o


copo que segurava. Jungkook só soube se atentar ao apelido usado por ele.

— Tô falando dos nossos amigos e não desse povo que você nunca mais vai
ver na sua vida. – sorriu e Taemin rolou os olhos.

— Na varanda, você sabe onde fica. – piscou e depois se virou para


Jungkook. – E você, coisa fofa, aproveite a festa!

— Vem bebê.
Jimin o guiou por entre as pessoas, vez ou outra cumprimentando alguém até
que subissem uma escada larga e atravessaram um corredor espaçoso até
chegarem à varanda bonita da casa. Ela dava vista para o parque florestal.
Ali um pequeno grupo se espalhava entre os sofás brancos, a pequena mesa
central estava repleta de garrafas e cinzeiros cheios de cigarros apagados.

— Olha só quem chegou! – uma garota de cabelos avermelhados ficou de pé


e praticamente puxou Jimin para os seus braços, abraçando-o apertado. –
Que saudades de você, oppa!

— Rosé, está me esmagando. – ele brincou e afagou o cabelo dela, deixando


um beijo demorado sobre a bochecha maquiada. – Uau, você continua linda!

— Os ares franceses me fizeram bem. – ela girou nos calcanhares e seu


vestido solto se moveu levemente. – E o oppa só ficou mais bonito... – sorriu
até encarar Jungkook. Então ela franziu o cenho. – Você eu não conheço.

— Este é o Jungkook. – Jimin segurou a mão dele outra vez. – Ele veio
comigo. Jungkook, esta é a Rosé, uma amiga. Ali é o Kai... – apontou para o
sofá. – E a Hwasa.

Não demorou até que o garoto reconhecesse a mulher sentada sozinha em um


dos sofás brancos. Os longos cabelos soltos, as pernas bonitas expostas
graças ao short curto... Inacreditavelmente bonita. A garota que vira com
Jimin na lanchonete.

— Este é o Jungkook.

— O Jimin veio casado pra festa, achei que morreria sem ver isso acontecer.
– Kai, o cara alto que segurava um cigarro entre os dedos zombou. – Mas o
garoto é muito bonito.

— Vai se foder, Jongin. – Jimin o ignorou. – Vamos sentar mais pra lá, eles
fumam e isso vai te deixar com o nariz irritado.

Jungkook só assentiu e o seguiu até ocuparem o sofá que ficava de frente às


barras de ferro liso que se estendiam de uma ponta a outra da varanda
espaçosa. Jimin o deixou ali por um tempo, disse que precisava descer para
buscar bebida e alguma coisa para comer, mas quando ficou sozinho logo o
mais novo se viu apertando o jeans com as unhas curtas.

Mesmo ao ar livre, ficava sufocado.

Ninguém o incomodou, os amigos de Jimin já tinham o ouvido dizer mil


vezes para não se meter com Jungkook, mas o garoto achou que era
desinteressante demais e por isso ficou sozinho ali.

Respirou fundo e verificou as horas no celular.

Lá em baixo, fazendo um prato repleto de comida, Jimin suspirou ao sentir a


mão de Taemin lhe apertar a bunda sem cerimônias. O mais velho lhe beijou
o ombro e estranhou quando o mais novo se afastou um pouco.

— Eu te falei pra não fazer isso hoje, Taemin.

— E eu achei que você estava me zoando. Porra, Jimin... Se for pra você
ficar desse jeito, era melhor ter vindo sozinho. – ralhou.

— Hoje eu estou com o Jungkook. – Taemin rolou os olhos.

— Ele é gostoso pra caralho... Vai me dizer que o garoto te deu uma chave
de cu ao ponto de você bancar o namoradinho. – riu e Jimin não respondeu. –
Espera... Não pode ser... Você 'tá apaixonado?!

— Você sabe muito bem como ser insuportável, parabéns.

— Eu te conheço desde quando a louca da Minseo te infernizava, eu já te vi


com tanta gente... Mas bancar o casal? O que esse garoto sabe fazer que te
afetou tanto assim? Me deixa tentar também.

— Não chegue perto do Jungkook. – o tom sério fez o aniversariante erguer


as mãos na defensiva, o sorriso debochado não saia de seus lábios bonitos.

— Jimin. Park Jimin... Esse garoto te afeta demais... Você até sente ciúmes.

— Cala a boca, Taemin. – deu as costas e o deixou sozinho.


Taemin encarou-o, brincando com o rotulo do soju que tinha nas mãos.

— Vai ser divertido ver isso acontecer. – sussurrou. – Ei, Ravi! – chamou o
rapaz que estava perto. – Vamos dançar!

Quando Jimin voltou, Jungkook suspirou aliviado.

O mais velho sentou ao lado dele e entregou o prato para que apoiasse sobre
as coxas fortes. As duas garrafinhas de soju foram deixadas no chão e o
braço do mais velho se apoiou no encosto do sofá, dessa forma seus dedos
podiam fazer carinho no ombro do mais novo.

— Eu trouxe tudo o que você gosta. – sorriu. – A gente jantou, mas como
vamos beber vai ser bom comer um pouco.

— Isso é gostoso – perguntou depois de morder um pedaço do doce feito de


chocolate e maracujá. Jimin o viu sujar o lábio inferior e se aproximou pra
lamber devagar, limpando. – Hyung não gosta de doce...

— Eu já te disse que gosto se estiver em você. – sussurrou e segurou o pulso


dele para levar o resto do doce até a boca rosada ainda úmida pela saliva
dele. – Come. – Jungkook obedeceu e separou os lábios. – Você é um bebê
tão obediente, Jungkook.

Mordeu o lábio inferior dele antes de beijá-lo intensamente, roubando o


sabor doce do chocolate e azedo do maracujá. Jungkook correspondeu
derretendo-se inteiro aos efeitos que os beijos de Jimin causavam em seu
corpo. Naqueles momentos não existiam pessoas ao redor, tudo se resumia a
ele e a Jimin.

Aos beijos, aos toques que a cada ansiava mais e mais, e se via frustrado
quando o mais velho parava e se desculpava.

Beberam juntos, devoraram tudo que havia no prato e quando Jimin se


afastou um pouco para fumar sem o fazer sentir mal, o garoto notou o olhar
da garota bonita sobre si.
Hwasa segurava um copo de vidro, as pernas continuavam cruzadas e o
decote da blusa era devidamente cavado só pra deixar a curiosidade alheia
aflorar. Ela ficou de pé e caminhou até Jimin, fazendo-o sorrir com algo que
não dava pra escutar graças a música.

Jungkook apertou a garrafa que tinha nas mãos, a língua empurrou a parte de
dentro da bochecha e o ciúme se arrastou por cada pedaço de seu corpo.
Jimin sorriu de novo, erguendo a cabeça para soltar a fumaça devagar e
depois deixando os olhos pequenos caírem diretamente nele, franzindo as
sobrancelhas ao perceber a carranca mal humorada do mais novo.

Lambeu os lábios, apagou o cigarro dentro do cinzeiro de mármore e


assentiu para Hwasa antes de voltar para o sofá. Ele gesticulou pedindo que
ele ficasse de pé e quando foi obedecido empurrou o móvel até que ficassem
de costas para as outras pessoas, bem de frente ao parque florestal a
escuridão da recente madrugada.

— Vem bebê, senta aqui. – bateu a mão no espaço ao lado. – O que foi?

— Nada. – deu de ombros e bebeu dois goles do soju.

— Uma vez você me disse que acha legal o fato de eu gostar de pessoas. –
Jimin segurou a mão dele e deixou um beijo na ponta do polegar. – Sabia que
de todas as pessoas você é a minha favorita?

— Por quê?

— Porque você é transparente feito água quando tenta fingir que nada está
acontecendo... Eu gosto de poder ver você Jungkook. – olhou-o nos olhos. –
O que foi?

— Aquela garota... Hwasa.

— Sim, Hwasa.

— Hoje eu estava na lanchonete hyung, eu vi você com seus amigos... Com


ela.

— Duas perguntas importantes. Porque não foi falar comigo?


— Não queria atrapalhar você.

— O que você viu?

— Vi quando sussurrou algo no ouvido dela e... Ela sorriu.

— Jungkook... Se você tivesse falado comigo saberia que Hwasa e eu não


temos absolutamente nada há um bom tempo, nós não somos compatíveis...
Ela é uma amiga da qual gosto muito.

— Eu não queria sentir isso, hyung... Quando alguém chega perto de você. –
lamentou e abaixou o rosto.

— Não quero que fique triste desse jeito. – o segurou pelo queixo e passou o
polegar em cima dos lábios pequenos dele. – Garoto, eu não faço ideia do
que você 'tá fazendo comigo... – suspirou.

— Como assim?

Jimin negou brevemente. Não queria falar de algo que era confuso até mesmo
para si, não ali. Jungkook o desestabilizava e não seria um problema se
apenas ele lhe causasse isso desde que decidiu por continuar ficando com
ele.

Beijar outras bocas desconhecidas não se comparava a beijar Jungkook ou


fazê-lo sorrir. Outros corpos não tinham a mesma textura, o mesmo cheiro,
não lhe deixava tão aceso quanto o corpo daquele garoto que o encarava
atentamente.

E aos poucos o prazer não supria o que ele queria, os orgasmos não
pareciam mais tão incríveis e Jimin encheu a cara há uma semana quando
dispensou uma garota que estava o chupando no banheiro de uma boate
porque não conseguia parar de pensar que aquilo magoaria Jungkook.

— Você é tão lindo. – sussurrou antes de beijar o pescoço alheio, antes de


morder a pele macia. – Porra, Jungkook... Você vai me deixar louco.

Jungkook assentiu e o segurou pelo rosto, buscando seus lábios para poder
beijá-lo quase com desespero. A língua de Jimin, atrevida e sedenta, exigia
contato com a alheia, comandava o ato sem resistências porque tudo que o
mais novo queria era estar ali, era ser tocado daquela forma.

Aos poucos tudo se tornou mais intenso, as mãos de Jimin desciam até as
coxas fortes e apertavam, as unhas pintadas de preto se afundavam sobre o
jeans grosso como se pudessem cavar a carne de Jungkook. Os beijos se
perdiam entre respirações pesadas e mordidas que ele deixava por todo o
pescoço do maior. Jungkook abriu os olhos brevemente, encarou o céu
escuro e abriu a boca para gemer baixo quando a mão menor apertou a parte
interna de sua coxa.

Então, Jimin parou e descansou a cabeça em seu ombro.

— Merda... Desculpa. – respirou fundo. – Desculpa, bebê.

— Hyung... – o tom manhoso fez Jimin apertá-lo em seus braços.

— Não me chama assim, eu tô tentando não fazer besteira.

— Jimin... Me toca. – o pedido, num sussurro constrangido, levou Jimin a


erguer a cabeça e encará-lo com as sobrancelhas franzidas.

— O que você disse?

— Pra... Me tocar.

— Você está bêbado? – estranhou.

— Como? A gente só bebeu duas garrafas de soju, hyung! – ralhou e pegou a


mão dele, guiando-a para dentro da própria camiseta branca. – Me toca.

— Eu não quero que você faça alguma coisa só pra agradar, a gente falou
sobre isso...

— Ninguém nunca me tocou assim antes, mas eu quero que o hyung me toque.
– mordiscou o lábio inferior. – Antes, eu não pensava em ninguém quando...
Mas agora eu penso em você, Jimin. Me toca.
— Você se toca pensando em mim? – sorriu ladino e deixou que sua mão
subisse pelo abdome alheio, os dedos contornando cada músculo até que o
polegar tocasse o mamilo direito. Estava durinho, ele sorriu mais. – Me
responde.

— Uhum. – assentiu. Jimin pressionou o mamilo e o garoto arfou, a


sensibilidade naquela região era tanta que o próprio pau, preso dentro da
calça e cueca, ficou ainda mais duro. – Hm...

— Você é sensível aqui, bebê. – esfregou o dedo por cima e assentiu quando
o ouviu gemer mais alto. – Você quer que eles saibam o que a gente tá
fazendo aqui?

— Hyung... – segurou a outra mão do mais velho e a levou até o outro


mamilo. – Eu vou ficar quieto.

— Não quero que fique quieto. – Jimin esfregou os dois mamilos ao mesmo
tempo e empurrou a camisa dele para cima, expondo a pele leitosa e cheia
de pintinhas. Moveu-se até deita-lo no sofá, encaixando entre suas pernas
abertas. – Te ouvir gemer me deixa com um tesão do caralho, Jungkook.
Vamos lá, geme pra mim, sim? – abaixou-se até a boca tocar a pele abaixo
do umbigo do mais novo, até que a língua grande pudesse provar do sabor
enquanto lambia ao redor dele. Jungkook se encolheu e levou ambas as mãos
para o estofado, prendendo-o com as unhas. – Se você quiser que eu pare é
só dizer, ok? Eu não quero te fazer mal.

— Eu sei. – assentiu. – Por favor, continue hyung.

— Posso colocar a minha boca aqui? – esfregou os mamilos sensíveis e teve


de pressionar o próprio pau contra a coxa alheia. Jimin tinha certeza que
nunca sentiu tanto tesão antes. – Posso?

— P-Pode. – assentiu outra vez.

Jimin puxou a camisa até expor o que queria, abaixou a cabeça, a ponta da
língua rosada lambeu o mamilo direita e os dentes morderam devagar,
puxando antes de sugá-lo com cuidado, apreciando a textura conforme o
mamava. Jungkook grunhiu e revirou os olhos, as mãos trêmulas agarraram o
cabelo longo e descolorido, o corpo tremia. Ele nunca sentira algo tão bom
em toda sua vida, tanto prazer que não conseguia fazer nada além de gemer
desesperado a cada mordida ou lambida, a cada vez que Jimin ia de um
mamilo a outro fazendo bagunça com saliva.

A cueca ficava mais e mais molhada devido ao pré-gozo, ele remexia os


quadris em busca de atrito, mas quando a coxa direita de Jimin pressionou o
volume duro dentro de sua calça, Jungkook arregalou os olhos e o segurou
pelos ombros, os quadris soltos se moveram rápido, o orgasmo feito uma
bomba formada.

— Isso bebê, se esfrega assim em mim... Você é tão sensível.

— Jimin... – chamou afobado, os olhos grandes quase assustados com a


força do que se formava na virilha sensível.

— Você vai gozar? Hm? – provocou esfregando os polegares em cima dos


mamilos avermelhados. – O que eu faço com você, Jungkook? Olha só a
bagunça que eu vou te deixar, mas você quer tanto isso, não quer? Você quer
gozar gostoso pra mim?

— Ai meu deus... – arfou e, antes que o gemido alto escapasse por sua boca,
Jimin o beijou apressado, engolindo o quase urro que Jungkook deu enquanto
gozava dentro da cueca, ainda esfregando-se contra a coxa do mais velho.
Jimin o beijou até que só restasse os selares carinhosos e preocupados com
ele que tremia sob seu corpo.

— Olha pra mim, bebê. – pediu ajeitando a camisa dele. – Tudo bem? –
perguntou temendo ter feito tudo errado, ele não queria assustar Jungkook.

— Uhum. – assentiu e usou as mãos para cobrir o rosto. – Que vergonha,


hyung.

— Para com isso vai. – sorriu e ajoelhou para ajeitar a própria ereção
marcada na calça. – Você curtiu?

— Curti. – sorriu um pouco, sentia-se sonolento.


— Acho que a gente vai pra casa. – sorriu curvando-se para beijar a testa
suada dele. – 'Tá cansado?

— Não. – mentiu. – Mas eu quero dormir, hyung. Me deixa dormir na sua


cama?

Jimin suspirou. Seus planos eram deixá-lo em casa e voltar para festa, quem
sabe conseguir se aliviar de algum jeito, tirar todos aqueles pensamentos da
mente. Mas Jungkook procurou por sua mão e sorriu quando entrelaçou os
dedos aos dele.

Aquele garoto o afetava demais.

— Deixo. Eu quero que você durma comigo hoje.


19 - devia ser amor

Deve ter sido amor, mas acabou agora


Deve ter sido bom, mas de alguma forma eu perdi

It Must Have Been Love - Roxette

A música alta não conseguiu camuflar os gemidos muito menos o ranger da


cama que se movia agressivamente a cada estocada bruta. Pele batia contra
pele, tapas certeiros acertavam as nádegas avermelhadas ou as coxas
torneadas que tremiam pelo prazer.

Uma das mãos grandes se enchia com o cabelo castanho, as unhas com
esmalte preto descascado arranhavam o couro cabeludo e a outra, quando
desferiu tapas, afastava o cabelo suado da própria testa, penteando-o para
trás.

Bobby só se mantinha pelos braços cansados, vez ou outra perdendo as


forças o suficiente para tombar mais sobre o colchão, empinando-se
completamente na posição preferida. E quando isso acontecia Hoseok o
fodia com mais força, prendendo o lábio inferior entre os dentes.

— Filho da puta gostoso do caralho. – o mais novo grunhiu, quase rasgando


os lençóis vermelhos enquanto o sentia acertar sua próstata sem parar. – Eu
vou gozar, vai mais forte.
Levou a mão até o próprio pau e se masturbou forte, abrindo a boca para um
gemido mundo quando Hobi o segurou pelos ombros e se deixou inteiro
dentro dele, ondulando o quadril devagarzinho, sorrindo ladino por vê-lo
tremer enquanto gozava nos lençóis choramingando e xingando-o por fazer
daquele jeito.

Bobby estava tremendo.

Foder com Hoseok era sublime.

— Vem aqui, me chupa.

Saiu de dentro dele e se livrou da camisinha. Bobby, mesmo mole pelo


orgasmo, abriu a boca e o segurou pelas coxas durinhas, chupando-o ávido.

— Goza na minha boca. – pediu antes de lamber a glande e abocanhar até a


base, fazendo o mais velho gemer demoradamente.

— Para. – mandou e segurou pelo cabelo da nuca. – Abre a boca e coloca a


língua pra fora. – o mais novo obedeceu e Hoseok se punhetou até grunhir e
gozar sobre a língua dele, no queixo bonito e no pescoço suado.

Quando acabou sentou sobre as próprias coxas e respirou fundo, frustrado


por não ter sido tão gostoso como queria. Bobby engatinhou até ele –
lambendo a porra ao redor dos lábios – para montar sobre suas coxas
suadas.

— Quando dividirmos o dormitório não podemos ser barulhentos assim. –


beijou o pescoço dele. – Mas vai ser bom poder foder contigo quando sentir
vontade.

— Você conversou com o responsável da sua república?

— Uhum. Ele me perguntou seus motivos e aí eu inventei uma história. –


sorriu. – Falei que você quer ficar pertinho de mim.

— Egocêntrico. – se afastou para abaixar o volume do som. Bobby


observou-o desfilar nu pelo quarto e mordeu a boca. – Pega. – avisou antes
de jogar uma toalha pequena para ele. – 'Tá afim de um banho?
— Só se você me comer de novo. – usou-a para limpar a sujeira em si.

— Preciso passar em casa e depois ir conversar com o meu appa, Bobby.

— Em casa? Pensei que lá não fosse mais a sua casa. – debochou deitando
de lado, encarando Hoseok. – Aparentemente ninguém lá se importa com
você de verdade já que aceitam tão bem o relacionamento daqueles dois.

— De vez em quando me arrependo de ter contato certas coisas. – recolheu


as roupas jogadas pelo chão do quarto. – Eu vou tomar banho.

— Você se arrepende só porque eu sou sincero, baby. Você gosta da minha


sinceridade Hoseok, porque eu sou o único que não mente ou finge alguma
coisa... Eu te deixo me usar, eu te uso... Sem dramas.

— O que quer dizer?

— Quero dizer que a gente combina. – deu de ombros e se esticou para


acender um cigarro. – Você não concorda?

Hoseok sorriu ladino e não respondeu, ligando o chuveiro na temperatura


média. As paredes de vidro o deixavam exposto enquanto a água caia por
seu corpo, molhando o cabelo novamente preto. Bobby tragou
demoradamente e soltou a fumaça para o alto, chamando a atenção dele.

— Acho que concordo. – disse assentindo. – Por isso estou aqui.

— Por isso eu vou atrás de você. – piscou e apagou o cigarro, ficando de pé.
– Eu te faço extravasar, Hoseok.

Ele caminhou até o banheiro daquele motel e entrou no box, abraçando Hobi
por trás, mordendo a carne do ombro dele.

— Bobby... – suspirou ao senti-lo se esfregar em si, a mão direita descendo


para acariciar seu pau. – Droga.

— Foda-se essa merda, baby. Você vai lá e diz que vai se mudar, não deve
satisfação pra ninguém. – o encarou de lado. – A melhor forma de matar a
droga de um amor igual a esse é ligando o foda-se. Eu sei.
Hoseok o olhou nos olhos e só assentiu, deixando-se ser beijado.

Assim que entrou em seu quarto, Seokjin franziu o cenho e deixou a mochila
pesada perto da porta. Ele fechou a porta e caminhou até o banheiro,
desfazendo-se da camisa social e do cinto pesado ao redor dos quadris.

Então, de braços cruzados, encostou a lateral do corpo ao batente para


suspirar profundamente, atraindo os olhos ansiosos de Namjoon para si. O
mais novo continuou sem se mover, deitado de barriga para cima sobre o
tapete limpo e macio.

Ele só vestia um short folgado e a regata mais velha de seu guarda-roupa, os


cabelos úmidos bagunçados denunciavam o banho recém tomado. Os fones
de ouvidos muito bem encaixados nos ouvidos dele reproduziam uma
playlist que ambos conheciam bem.

— Tem um bom tempo que você fez isso. – Jin comentou.

— Acho que estava com receio de ser chutado para fora. – deu de ombros e
ergueu o celular para abaixar o volume dos fones sem fio. – Vai me chutar
para fora, hyung?

— Eu deveria. – assentiu. – Mas você me parece péssimo. – Jin caminhou


até o meio do cômodo e logo se deitou sobre o mesmo tapete, na direção
oposta a do mais novo, mas com a cabeça próxima a dele. – Acho que eu me
sinto péssimo também.

— O que aconteceu? – se desfez de um dos fones e ofereceu a ele, encarando


de perfil. – Quer conversar?

— Obrigado. – aceitou o fone branco e o encaixou no ouvido esquerdo, logo


reconhecendo a melodia de It Must Have Been Love reproduzindo. – É
muito difícil ver alguém que você gosta indo por um caminho destrutivo e
não poder fazer nada. – lamentou. – Eu odeio me sentir inútil.
— Acho que só dá pra ajudar quem quer ajuda, hyung. Existem coisas que
precisam acontecer e a gente não pode evitar. – Namjoon o viu lamber os
lábios e assentiu uma vez. – E também não quer dizer que elas vão ter um
lado positivo caso aconteçam.

— Quer falar sobre o que fez se isolar aqui como antes? – girou o rosto até
encará-lo.

— Fui ver os meus pais. – deu de ombros. – Nunca é bom quando eu faço
isso.

— Por quê? – perguntou indeciso, ele sabia que não teria as respostas, mas
não conseguia parar de tentar. Namjoon estava tão vulnerável ali e isso o fez
pensar no antes... Nas vezes que o encontrava naquele mesmo lugar, ouvindo
as mesmas músicas e sem respostas o tomava para si, lhe fazia o amor mais
sublime que podia e quando acabava o deixava chorar sem perguntar nada,
tentando descobrir formas de consertar o que estivesse quebrado por dentro
dele.

— O mesmo clichê de sempre. – desviou o olhar. – Eu não sou como eles


querem que eu seja.

— Às vezes eu acho que você não é nem aquilo que gostaria de ser,
Namjoon. – lamentou e voltou a encarar o teto. – Mas não posso mais me
preocupar com isso.

— Eu não te beijo há exatamente noventa e oito dias...

— Por que está contando? – sorriu sem humor.

— Eu não faço ideia, Jin... Mas é a primeira coisa que penso quando acordo
e a última que lembro antes de dormir. Essa música está presa no modo
repetição como se eu precisasse de uma trilha sonora dramática pra sentir
sua falta.

— É engraçado ver isso acontecer de onde eu 'tô agora porque eu sentia sua
falta o tempo inteiro... Principalmente quando você estava bem do meu lado,
mas agora eu não sei se tua ausência é negativa.
— Sou egoísta. – sorriu um pouco, as covinhas bonitas se mostraram, mas
Jin evitava olhá-lo. – Eu te vi há três dias almoçando com Sunmi-ssi e
enquanto passava os dedos pelo cabelo dela senti tanta raiva de você que
jurei por deus nunca mais sentir a sua falta... Mas eu sou ateu.

Jin piscou algumas vezes e as lágrimas fizeram seus olhos queimarem


enquanto o riso escapava aos poucos, sacudindo seus ombros largos. Ele não
impediu que as lágrimas escapassem e muito menos que o riso cansado fosse
o suficiente para fazer o mais novo rir também.

Enquanto isso, aquela música continuava se repetindo... Deveria ter sido


amor.

Como dois loucos com os corpos espalhados sobre o tapete onde já fizeram
amor ou compartilharam pequenos momentos soltos que para Jin se tornavam
sempre únicos, eles riram de toda a desesperança que os envolvia como
névoa. Porque deveria ter sido um amor daqueles que só se tem uma vez na
vida sem se importar com quantas vezes tivessem de vivê-lo.

— Eu amo você... – Jin murmurou secando as lágrimas com os dedos,


ganhando o olhar de Namjoon em si. Ele retribuiu o contato e suspirou
levando os mesmos dedos úmidos até o rosto dele, tocando-lhe com um
carinho que o maior sequer merecia. – Mas eu não gosto de amar você.

— Desde quando? – sussurrou olhando-o atentamente.

— Desde agora. – confessou com a voz embargada. – Desde o momento em


que entrei aqui e te vi no mesmo lugar onde eu queria te ver todos os dias
esperando por mim... Pra ser meu. Só meu. – piscou para espantar as
lágrimas. – Pra consertar você mesmo sem saber quem te quebrou e fazer
dos meus braços o teu lugar. Só teu. Amar você me fazia odiar a mim,
Namjoon... E eu sou o único que devo amar nesse mundo. Só a mim.

— Eu queria merecer você. – lamentou segurando o choro.

— Nunca te pedi pra ser o homem que me merecia, eu nunca te pedi nada e
esse foi o meu erro... Antes de você aparecer eu não sabia como era amar
alguém. – fungou. – Você me disse uma vez que não é obrigado a me amar e
estava certo.

— Você continuaria sentido a mesma coisa se soubesse como tudo dentro de


mim é revirado, Jin? Não existe estabilidade alguma na minha vida, ainda
preciso de remédios para dormir...

— Namjoon...

— Mas eu sempre dormia naturalmente depois de fazer amor com você.

Ele se moveu minimamente, a respiração ruidosa se misturou a do mais


velho, o olhar choroso se focou nos lábios cheios e úmidos graças à saliva
que se espalhava a cada vez que os mordia sem perceber. Depois de noventa
e oito dias e afundado em uma saudade dolorosa reforçada pelo encontro
desastroso com os pais.

Precisava muito se sentir vivo.

Como havia dito antes, Seokjin não se responsabilizava mais por sua vida,
então Namjoon sentia-se morrendo lentamente... Suicidando-se. Preso em
todos os fios que a própria mente criava, apavorado com a sensação de se
sufocar conforme eles se prendiam por cada parte de seu corpo.

— Não.

Jin negou e desviou-se do alcance dos lábios dele, negando-o como era o
mais certo a se fazer.

— Desculpa.

— Não posso e não vou fazer isso comigo... Com Sunmi. – secou as lágrimas
e o encarou. – Não é justo.

— Eu sei... Sinto muito, me desculpa. – ele fungou e se afastou. – Preciso te


pedir desculpas por muita coisa. – respirou fundo.

— Sei que você não acredita em nada, – lambeu os lábios. – mas eu gosto de
pensar que não era pra ser... Aqui nessa vida. Porque na anterior a gente foi
tão feliz juntos que o universo achou injusto acontecer de novo. E você me
amou direito, você fez de mim o homem mais feliz do mundo. Cada dia valeu
à pena, cada momento em que esse amor dentro de mim não me machucou. –
fungou de novo e suspirou.

— Eu sinto tanto que dessa vez eu não possa te fazer feliz, Jin. – o olhou. – E
eu sei que o que vou dizer agora é a coisa mais injusta desde que nos
tocamos pela primeira vez, mas eu... Eu te a-

— Não. – negou veemente, as lágrimas corriam direto para o tapete abaixo


de si. – Não diz, por favor, Namjoon, não diz... Não faz isso comigo, por
favor.

— Me desculpa... Me desculpa.

Ele soluçou e encolheu o corpo enquanto chorava ao ponto de tremer,


envergonhado por tudo que era ou sentia, em pânico com os sentimentos que
transbordavam em si. Namjoon, outra vez, quis desaparecer ou só deixar de
sentir qualquer coisa.

Jin se mexeu até conseguir puxá-lo para seus braços, acolhendo o corpo
maior como se ele lhe coubesse inteiro. Deixou-o agarrar a sua camisa quase
aberta, deixou-o chorar em seu peito e o ninou angustiado com a culpa
daquilo.

Não traiu Sunmi com atos, mas sentia que tinha o feito ao deixar Namjoon
chegar tão perto outra vez.

— Quem comeu o meu queijo branco?!

Jimin se jogou no sofá, entre Jungkook e Namjoon, depois de colocar o pote


vazio sobre a mesinha. Yoongi continuou entretido com Holly, Jin estava
ocupado espalhando creme fácil no rosto de Jungkook... Então, Taehyung deu
de ombros.

— Eu estava com fome Jimin-ah.


— E só tinha o meu queijo na porra da geladeira?! Para de comer a minha
comida, inferno!

— Ele como porque você é o mais mole da casa. – Jin cantarolou. – Eu


duvido alguém mexer na minha comida.

— A gente gosta de viver, hyung. – Yoongi colocou Holly no chão.

— Jin-hyung isso é gelado. – o mais novo choramingou.

— Sim é. Mas estamos cuidando dessa pele de neném, fica quietinho filho.

— Estranho isso. – Namjoon murmurou. – Olha, vai passar Batman v


Superman. – apontou para a televisão com o controle.

— Deus me livre. Filme ruim demais, prefiro ver propaganda política. – Tae
resmungou e Yoongi o encarou com as sobrancelhas arqueadas.

— Você está falando mal do Batman?

— Ih, Tae... Vai ficar sem cuzinho. – Jin gargalhou e Jimin cobriu os ouvidos
de Jungkook. – Quem vê isso pensa que vocês dois não ficam se esfregando
pela casa. Você está corrompendo o neném, Park Jimin!

— Acho o Batman chato. – o Kim mais novo deu de ombros.

— Como é que é?! – Yoongi aumentou a voz.

— Acabou o namoro gente, que triste. – Namjoon encheu a boca com


Doritos.

— Yoon, esse filme é chato demais! Isso é uma opinião mundial!

— Como eu pude te deixar usufruir do templo de adoração a Bruce Wayne


que é o meu corpo?! – Tae rolou os olhos e o abraçou, derrubando-o sobre o
sofá. – Me solta Kim Taehyung!

— Eu gosto do Homem de Ferro. – Jungkook, com o rosto já limpo do creme


esverdeado, sorriu, mas depois ficou triste. – Ele morreu.
— E lá vamos nós de novo. – Jimin afagou as costas dele. – Bebê, você
precisa superar isso.

Ouviram o som da porta abrindo e todos olharam para Hoseok que deixou os
tênis junto dos outros próximos à entrada.

— Oi hyung, que bom que chegou! A gente vai ver um filme. – Jimin sorriu.
– Senta aqui pertinho de mim.

— Hoseok eu deixei um pouco de macarronada pra você. – o hyung mais


velho sentou na poltrona maior. – Come e vem assistir com a gente.

— Então, eu precisava mesmo falar com vocês... Vou aproveitar que estão
todos aqui. – ele parou de frente ao sofá que Jimin, Jungkook e Namjoon
dividiam. – Eu vou me mudar.

O silêncio foi mais pela descrença nas palavras.

Todos sabiam que Hobi estava distante, que passava mais tempo fora que em
casa... O clima não estava dos melhores desde o aniversário de Yoongi, mas
ninguém ali pensou que chegaria a isso.

— Você 'tá zoando? – Namjoon quebrou a quietude.

— Não. – sorriu um pouco. – Eu já vi um lugar...

— Espera, calma aí, vamos devagar Hoseok. Como assim já viu um lugar?!
Não é um lugar! É uma casa! Aqui é a sua casa. Nossa casa! – Jin se exaltou.

— Hyung... – lamentou. – Eu sei, ok? Mas acho que é melhor pra todo
mundo. Eu já entrei em contato com a universidade e eu sei que tem contrato,
vou continuar ajudando com as despesas até eles encontrarem alguém para
ocupar a vaga.

— Vaga? Você tá se referindo ao nosso quarto como vaga, hyung? – Jimin


estava magoado.

— Jimin-ah, você sabe que eu não falei dessa forma. – ele presumia que
seria complicado, estava pronto para isso. – O Jungkook pode dividir o
quarto com você... Ou o Namjoon. Jimin... Por favor, pelo menos você...
Tenta me entender.

— Eu entendo que você fica falando sobre ser melhor pra todo mundo, mas
eu não sei como isso pode ser bom? Nós somos uma família hyung! – ele
ficou de pé. – Pra onde você vai?

Hobi o encarou e suspirou.

— Resolveu tudo com a universidade antes de falar com a gente? Porra,


Hoseok! – o hyung mais velho também ficou de pé.

— Gente, por favor, não deixe isso mais difícil... Eu não vou desaparecer, só
vou me mudar...

— Hyung... Por favor, não vai.

Todos olharam para Jungkook, o garoto chorava completamente sentido


enquanto encarava Hoseok.

— Jungoo... Não chora.

— Por favor, fica aqui comigo... Hyung, não se muda... Não quero que o
hyung se mude. – Jimin também começou a chorar, ele não conseguia se
segurar quando via um dos outros seis chorando. – Me disse que ia ficar
junto comigo quando eu cheguei, Hoseok-hyung.

— Espero que esteja feliz! – Jin reclamou e caminhou rumo a cozinha,


pisando forte. – Todo dia uma coisa nessa casa... – ele estava resmungando e
batendo as portas dos armários.

— Hobi, cara, não faz isso sem pensar direito, por favor. – Namjoon
interferiu. – Aqui é a nossa casa.

— Não se muda, hyung... – Jungkook soluçou e ficou de pé para abraçar


Hobi, chorando baixinho em seu ombro. – Não vai...

— Jungkook, fica calmo... – afagou as costas dele. – Jimin?


— Vai se foder! – o menor gritou, estava furioso, ele foi até Jungkook e o
puxou pela mão. – Vem! Se você ficar assim vai atacar sua rinite!

— Jimin, não faz assim...

— Você quer ir embora? Então tá bom, Hoseok! Tchau! Pode ir!

Hoseok suspirou e passou ambas as mãos pelo rosto.

— Você não vai se mudar.

A voz de Yoongi o fez tremer. Ele encarou o melhor amigo e lambeu os


lábios. Conhecia-o bem, sabia ler cada pequena coisa nele e naquele
momento viu algo que não via há anos.

Yoongi estava extremamente puto.

— É uma decisão minha Yoongi.

— Você quer fugir! Quer se esconder da gente!

— É bastante soberbo da sua parte achar que tudo que eu faço da minha vida
envolva vocês dois! – rolou os olhos. – Vou me mudar porque não quero
mais morar aqui.

— Por causa de mim? – Tae questionou, estava sério. – Ou por que você não
consegue lidar com o fato de que 'tá sendo um covarde do caralho?

— Sinceramente. – ele ergueu as mãos e negou. – Eu não preciso passar por


isso. – virou as costas, rumo à saída.

— Não! Você não vai fugir! – Yoongi foi até ele e o puxou pelo braço. –
Chega Hoseok!

— Hey, calma gente. – Namjoon ficou de pé.

— Não se mete! Ninguém se mete! Isso é entre eu e ele! – Yoongi explodiu, o


rosto pálido estava corado. – Não vou mandar recado por ninguém!
— Yoongi, me solta. – pediu baixo. – Taehyung, eu vou sair e se ele não me
soltar vai acabar se machucando. – avisou e Tae não se moveu.

— Você vai me machucar, Hoseok?! Qual é a porra do seu problema? – o


sacudiu um pouco. – Para de agir assim!

— Jimin. – Namjoon o encarou e gesticulou em direção a Yoongi. Jimin


suspirou e assentiu.

— Me solta! – Hobi pediu mais alto. – Estão me esperando.

— Você não vai sair daqui até conversar comigo! Foda-se quem 'tá te
esperando!

— Chega! – Seokjin gritou vindo da cozinha, a frigideira em sua mão


esquerda parecia ameaçadora. – Chega! Ninguém aguenta mais vocês três e
essa síndrome de novela! Você quer se mudar, Hoseok? Quer bancar o
desertor e se afastar? Ok, faça isso! Mas antes você vai ouvir o que ele tem
pra te falar! – apontou pra Yoongi. – Eu não quero saber o que porra está
acontecendo entre vocês, mas eu quero que resolvam de uma vez por todas!
Agora!

— Estão me esperando-

Yoongi o soltou e furioso caminhou até a porta para abri-la. A raiva triplicou
ao ver Bobby recostado a um carro vermelho, de braços cruzados. Não se
deu ao trabalho de se aproximar, mas disse em alto e bom som:

— Vai embora!

— Wow, que recepção! – o maior brincou e sorriu debochado. – Estou


esperando o Hope e não você.

— Foda-se, vai embora! – repetiu.

— Yoongi, pelo amor de deus... – Hobi quis interferir.

— Se você não me ouvir por bem, eu não vejo problema em apelar,


Hoseok... Por todos esses anos, pela nossa amizade... Me escuta! – pediu
encarando-o.

— Posso ligar o carro, baby? – Bobby bocejou. – Já fez suas malas?

— Por favor, só me escute. – Yoongi disse baixo, os olhos felinos estavam


chorosos.

Hoseok respirou fundo e assentiu uma vez, umedecendo o lábio inferior. Ele
se virou para Bobby e gesticulou.

— Eu te ligo quando acabar aqui, pode ir.

— Tem certeza? Posso te esperar, baby.

— Vai se foder! – Yoongi puxou Hoseok para dentro e bateu a porta.

Bobby riu dele e entrou no carro.

No quarto que dividia com Namjoon, Yoongi e Hoseok sentaram cada um em


uma das camas de solteiros e o maior não entendeu quando o menor lhe
entregou uma folha velha de caderno.

Mas reconhecia a própria letra e sabia que se tratava da carta que escreveu
aos quinze anos, um dia antes de Yoongi fazer o último transplante. Ele abriu
o papel e franziu o cenho.

— Por que me deu isso?

— Você se lembra do que te falei quando me deu essa carta?

— Não. – negou. Ele realmente não se lembrava.

— Eu te disse que também tinha uma pra você.

— A carta de despedida? Eu a achei, lembra?

— Na verdade, havia outra carta. – ele estava nervoso, há tantos anos


escondendo aquilo e naquele momento prestes a dizer. – Antes de ser
internado para operar eu te escrevi duas cartas. A carta de despedida seria
entregue se eu... – Hobi assentiu, odiava quando o ouvia falar daquilo. – E a
outra se eu ficasse bem.

— Yoongi. – dobrou o papel e devolveu. – Você fez todo aquele escândalo


pra falar disso? – ficou de pé. – Preciso resolver umas coisas e...

— Eu me declarei pra você na outra carta. – disse de uma vez. Hobi parou
e franziu ainda mais o cenho, virando-se pra ele. – Eu me lembro de cada
linha daquela carta, Hoseok... Cada palavra.

— Do que você tá falando?!

— 'Tô falando que aos quinze anos, por uma carta, eu ia me declarar pra
você.

— Isso não faz sentido. – negou.

— Eu sei que não faz. – negou, sentia vontade de chorar. – Lá eu dizia que
queria viver do seu lado pra sempre... E eu ainda quero isso, mas não só
como seu amigo.

— Espera. – ergueu as mãos e caminhou de volta para se sentar no colchão.


– Você está me dizendo que escreveu uma carta onde dizia que gostava de
mim?

— Amava. Eu dizia que te amava.

— Cadê essa carta?

— Eu não pude te entregar. – ficou mais nervoso.

— Por quê?!

— Porque o seu pai a achou. – disse baixo, ele apertou as mãos. – Ele leu a
carta porque eu a deixei escondida nas suas coisas... Depois, quando me
visitou no hospital, ele me ameaçou.

— Que?!
— Ele disse que se eu fizesse aquilo ia te mandar pra longe, ia te dar uma
surra e nunca mais te deixar falar comigo... Eu só tinha quinze anos e aquilo
me deixou apavorado! – explicou. – Mas quando ele te obrigou a fazer sexo
com aquela mulher eu percebi que Yoseob não estava mentindo. Ele controla
você, bate em você... Eu tenho medo que ele te machuque mais!

— Você tem noção da gravidade do que está falando?

— Eu tenho! – assentiu. – E por isso eu nunca falei, por isso eu nunca tentei
nada entre a gente!

— Yoongi, pelo amor de deus, isso não faz sentido nenhum! – gesticulou
mais. – Você sabia que eu era gay, você foi o primeiro, a saber! Eu já fiquei
com um monte de cara, por que eu não ficaria com você?! Por que ele só
ameaçou você?

— Eu não sei... – o nervosismo de Hoseok não o ajudava. – Hobi, eu juro


que eu não sei!

Hoseok respirou fundo ao passar ambas as mãos pelo rosto. Yoongi ficou de
pé e foi até ele, ficou de joelhos e afastou as pernas alheias para tomar
espaço entre elas, segurando o rosto do maior com as mãos trêmulas.

— O que você quer de mim, Yoongi? Por que 'tá me falando essas coisas
agora? – fechou os olhos.

— Porque eu te amo e eu tenho amado você desde os nossos treze anos.


Porque quando eu quis morrer, quando eu pensei em não tentar mais, a única
coisa que me fazia pensar melhor era amar você.

— O Taehyung... – começou, mas foi interrompido.

— Ele me mostrou que deveria te contar isso, me fez perceber que não posso
continuar vivendo sem você comigo porque você foi e ainda é o motivo pra
eu querer viver.

— Não consigo acreditar no que você diz agora... Tudo faz parecer que você
quer me usar de novo. – lamentou segurando o pulso magro com os dedos. –
Eu não consigo entender o que vocês dois querem me cercando assim se
estão juntos!

— A gente quer você. Hoseok eu te amo tanto que mesmo amando o


Taehyung meu coração só fica inteiro se eu tiver você do meu lado. – deixou
um beijo choroso na mandíbula alheia, sentindo a barba rala lhe pinicar os
lábios. – Eu não quero cometer os mesmos erros de novo, não quero te
perder... Eu fui egoísta por não saber como lidar com o que eu sentia, quis
fingir que não sentia nada pra te manter do meu lado, me contentando com
isso mesmo depois daquele beijo que eu te dei... – o olhou nos olhos. – Meu
deus eu te beijei e foi o momento mais incrível da minha vida!

— Por que você fingiu que esqueceu? – lamentou, a voz estava embargada.
Ele beijou a mão pálida e mordeu a própria boca. – Por que você me deixou
no escuro, Yoongi? Eu nunca tive nada do seu amor e agora, quando a gente
não tem mais tempo, você o oferece pra mim desse jeito... Com o Tae... Isso
me assusta pra caralho. – confessou. – Porque eu te amo demais e eu tô
completamente apaixonado por ele! Antes só você me bastava, mas depois
daquela vez eu sinto saudade de vocês dois... O tempo todo.

— Ele continua sentado no corredor esperando te convencer a ficar. – sorriu


um pouco. – Porque ele quer o mesmo que eu e você, e por incrível que
pareça ele tem lidado com isso melhor que nós dois... A gente sente saudade
como estivéssemos longe por uma vida inteira.

— Eu quero acreditar nisso e tenho medo do tanto que eu quero acreditar...


Você me disse que o nosso tempo passou Yoongi.

— E passou. O tempo para nós dois. – beijou os lábios dele demoradamente.


– Agora é o tempo pra nós três.

— Eu não posso...

— Você pode. – o beijou de novo, de novo, de novo. Espalhou selares por


todo o rosto dele com carinho e saudade, aproveitando do momento e do
perfume tão familiar que enchia seus pulmões. – A gente pode se quiser... Eu
sei que você quer...
— Meus pais... Você sabe.

— Eu sei que eu te amo e que ninguém no mundo vai me fazer abrir mão de
você outra vez. Eu tenho errado desde que parei de brigar com o que sentia,
mas eu quero acertar Hobi... Eu quero cuidar de você, eu quero amar você.

— Eu não consigo acreditar nisso.

Lamentou afastando as mãos dele, fazendo Yoongi puxar os lábios num bico
choroso.

— Hobi...

— Isso nunca funcionaria porque eu tenho medo.

— Medo do que?

— De não ser o que eu preciso ser.

— Você tem medo do seu pai? – insistiu. – Você não vai estar sozinho, a
gente não vai te deixar sozinho.

— E já estou sozinho Yoongi. – ficou de pé. – Eu acho que vou ficar assim
pra sempre.

— Que bom que já chegou, isso aqui é pra você.

Yoseob deixou nas mãos do filho mais novo um envelope pardo e depois
voltou sua atenção para o notebook aberto sobre a mesa da biblioteca
elegante. Hobi assentiu e o abriu com cuidado, não precisou de muito para
ver duas passagens para Jeju em seu nome em nome de Momo.

— Pode me explicar isso, appa? – suspirou.

— Marquei a viagem para vocês dois, daqui a dez dias quando estiverem em
recesso na universidade. Vão ficar num chalé que aluguei, terão privacidade.
Os pais dela estão cientes.
— Cientes? Do que exatamente? – ele colocou o envelope sobre a mesa.
Yoseob ergueu o olhar e ajeitou os óculos pequenos de leitura.

— De que é uma viagem romântica, Hoseok. – suspirou. – Ela será sua


esposa, tudo está resolvido, não tem problema se vocês viajarem sozinhos.

— Não se perguntou se eu ou Momo-ssi queremos viajar juntos assim?

— E porque não iriam querer? Hoseok, qualquer homem da sua idade ficaria
feliz e excitado por viajar com a namorada... Ainda mais uma tão bonita
quanto Momo.

Ele suspirou e apenas assentiu.

— O senhor sabe que eu não sou um homem como a maioria.

— Eu sei que tudo que faço é para que você seja, filho. – suspirou outra vez.
– Tenho certeza que será proveitoso para você, não acha? – sorriu. – Ela é
uma mulher muito atraente.

— Então, viaje com ela no meu lugar. – deu de ombros. Yoseob ficou sério,
os óculos foram deixados de lado enquanto ele ficava de pé.

— A sua ingratidão é decepcionante Hoseok, mas eu não vou te deixar


desistir. Vou te ajudar a sair dessa fase. – gesticulou. — Eu quero que você
faça sexo com Momo.

Hobi o encarou e negou uma vez.

— Eu não-

— Acredito que fui muito invasivo quando lhe apresentei aquela prostituta
há alguns anos, você era jovem demais e se sentiu envergonhado. Eu
compreendo isso filho, dessa vez vamos tentar de uma forma mais branda. –
segurou os ombros dele. – Depois de amanhã iremos até o consultório de um
profissional que me indicaram.

— Profissional? Do que o senhor está falando, appa?


— Um psiquiatra. Na igreja, a filha de uma amiga de sua mãe nos indicou.
A garota tinha problemas como os seus, mas conseguiram ajudá-la através
desse profissional.

— Psiquiatra?! Eu não preciso de um psiquiatra por ser gay!

— Hoseok...

— Não! – se afastou, seus olhos estavam arregalados. – Eu tenho feito


exatamente o que me pediu pra fazer! O que mais o senhor quer de mim?!

— Eu quero que você se cure! Quero te ajudar! – o homem disse alto. –


Acha que eu não sei que você ainda encontra aquele garoto? Que não vejo as
faturas dos seus cartões?! Você sai com Momo, mas continua fazendo essas
coisas erradas! – ele caminhou até o filho e o segurou pelos ombros, com
força. – Eu sou o seu pai, Hoseok! Só quero o seu bem! Tenho feito de tudo
para ajudar você a ser um homem... Não sabe o quanto eu já fiz, quanto eu já
te poupei!

— Me poupou? – franziu o cenho. – O senhor não me aceita como eu sou!

— PORQUE VOCÊ NÃO É ISSO! – gritou e Hobi se encolheu. – Não vou


deixar você ser isso Hoseok, farei por você o que meu pai fez por mim! Isso
é minha culpa!

— O que? O senhor acha que ser gay é hereditário?! Que é uma doença
curável com aspirina e uma mulher nua? – se afastou dele outra vez, sentia-
se sufocado. – QUER QUE EU ME CASE COM ELA? EU JÁ DISSE QUE
VOU FAZER ISSO! MAS NÃO ME OBRIGA A FAZER AQUILO DE
NOVO, NÃO ME FAZ PARECER UM LOUCO!

— FALE BAIXO! VOCÊ ESTÁ FALANDO COM O SEU PAI! – o tapa


desferido na face do mais novo foi audível o suficiente para Dahye, que
ouvia do lado de fora, se assustasse. – Fale baixo seu moleque mimado. –
apontou um dedo no rosto dele. – Por mais que seja um ingrato, Hoseok... Eu
não vou te deixar ir pro inferno! É o meu dever! Da mesma forma que eu fiz
aquele garoto desistir da idéia de se declarar pra você... – Hobi franziu o
cenho. – Eu vou te fazer virar homem.
— Do que está falando? – murmurou com a voz embargada.

— De nada. – negou e passou por ele, batendo a porta.

Hoseok arfou, respirando como se não o fizesse por muito tempo. Ele
cambaleou até estar apoiado a mesa grande, a face ardia pelo tapa, mas não
chegava aos pés da angústia que apertava seu coração e revirava o
estômago.

Dahye entrou na biblioteca e foi até ele, ajudando-o a se sentar para depois
servir um copo com água. Hobi bebeu dois goles, estava trêmulo.

— Não chore, meu amor. – afagou o cabelo recém pintado de preto. – Seu
appa anda muito nervoso.

— Omma... Eu não preciso de um psiquiatra. – negou.

— Ah, não se preocupe com isso. – negou e sorriu. – Sabe, eu também viajei
com seu appa até Jeju quando éramos namorados e lá vivemos bons
momentos! – Hoseok franziu o cenho, as palavras dela lhe enojam. – Depois
disso ele nunca mais pecou e agora quer fazer o mesmo por você.

— O que... A senhora... Meu deus... – negou. Dahye estalou a língua e


assentiu.

— Eu voltei grávida de Dawon. – afagou o rosto dele. – Você ainda é muito


novo pra entender, Hobi... Mas nós só queremos o bem de nossos filhos e
por isso podemos parecer errôneos. Eu me apaixonei por Yoseob quando o
conheci e o ajudei a se curar! Momo pode fazer o mesmo por você, sabia?

— Meu deus... – ficou de pé e tropeçou para se afastar dela. Até mesmo o


sorriso daquela mulher o deixava em pânico.

— Hobi, se acalme. Venha, deixa a omma cuidar de você.

— Não! – ergueu a voz e caminhou de costas até a porta, apressado para sair
daquela biblioteca, daquela casa... Do alcance dos pais. – Não.
Ele correu em direção à saída, as mãos trêmulas abriram a maçaneta da
porta e a brisa da noite fresca o levou a tossir. Não respondeu quando o
chamaram, não olhou para trás, mas foi embora.

Caminhando pelas ruas do bairro residencial, respirava alto porque o peito


chiava, dificultando o ar de entrar e sair. As pernas pareciam fracas, o corpo
inteiro tremia em espasmos assustadores a cada passo sem rumo. Suava as
poças, ensopando a parte de trás da camiseta folgada. Teve de encostar em
um muro qualquer, deslizando para o chão enquanto buscava pelo celular no
bolso do jeans.

Os dedos formigam, eles erraram a senha de desbloqueio duas vezes antes


de conseguir direcionar a agenda de contatos. O nome de Bobby estava ali,
apenas um clique e pronto... Sabia que ele viria de onde estivesse.

Mas ele não o escolheu.

Deslizou até o fim, soluçando sem parar até levar o celular ao rosto, ansioso
pela chamada sendo feita. Hobi apertou o tecido da roupa, bem acima do
peito e soluçou mais alto quando atenderam.

— Seok? – os soluços não paravam, ele não conseguia falar. - Hoseok?!


Fala alguma coisa!

— E-eu... Acre-Acredi-to...

— Hoseok o que você tem? Onde você tá?

— O que foi? – a segunda voz o fez chorar mais.

— Me aju-da... Por fa-favor...

— Onde você tá?

— Na ru-a... – olhou ao redor, nada lhe parecia real. – Nã-o sei.

— Merda... Fica aí, não saí daí. Estamos indo.

— Me dá o celular... Hey, fale comigo. Não vou desligar.


— N-ão me dei-xa aqui...

— Eu não deixaria você aí ou em qualquer outro lugar. – Hobi fechou os


olhos e assentiu. – Você ainda me deve um bom tempo sendo um marrento
insuportável, ok?

— O-Ok. – fungou.

Então, durante exatos vinte e sete minutos, Hoseok não desligou aquela
chamada e respondeu as perguntas aleatórias que lhe eram feitas...
Acalmando-o sem notar. O carro cruzou as ruas em alta velocidade,
ganhando algumas multas que não eram importantes e seguindo no GPS a
localização do IPhone de Hobi.

Quando estacionou rente a calçada onde ele estava sentado, entre um anuncio
qualquer onde uma cereja desbotada estava impressa e um poste de luz,
Yoongi desceu apressado, se livrando da jaqueta para jogá-la ao redor dos
ombros do maior. Taehyung abriu a garrafa descartável de água e o ajudou a
beber devagar, procurando possíveis machucados na pele alheia.

— Olha pra mim. – Yoongi pediu calmamente. – Você vai ficar bem, eu
prometo. Nós vamos pra casa agora.

— Ca-casa. – assentiu e Tae não conseguiu evitar chorar por vê-lo daquele
jeito.

— O que foi que fizeram contigo, meu Sol? – murmurou depois de beijar o
cabelo dele. – Vamos pra casa, 'tá tudo bem.

— Yoongi... – chamou segurando a mão dele. – Eu acredito. – assentiu.

Yoongi também assentiu e se curvou para beijar os lábios trêmulos dele


demoradamente.

De qualquer forma, bem ali naquela calçada mal iluminada, Hoseok já sentia
que estava em casa.

Porque ele acreditava.


🌙

Na mesma noite em Busan.

Eram quase dez horas quando o telefone residencial tocou e Chinhae teve de
deixar a louça de lado para atender. Ele pendurou o pano de prato no ombro
e estranhou a estática da ligação junto do silêncio do outro lado da linha.

— Alô? – franziu o cenho.

— Chinhae?

O homem piscou de forma confusa, reconheceria aquela voz pelo resto de


sua vida.

— Não é possível. – murmurou e respirou fundo. Precisava se acalmar. – O


que você quer?

— Eu o vi chorando hoje, saindo de uma lanchonete...

— Isso não te diz respeito. – cortou e a mulher suspirou. – Não te diz


respeito desde que o abandonou.

— Jungkook também é meu filho...

— Eu nunca te disse que ele não era, Hyo. Mas, por favor, deixe-o em paz.
Não ligue, não o procure... Jungkook não precisa de você.

Ele desligou a ligação, exasperado e encarou o telefone sobre a mesa de


madeira.

Falar com Kim Hyoyeon depois de tantos anos... Chinhae pediu aos céus que
ela o escutasse.

Jungkook estava bem sem ela.


20 - hora após hora

Se você estiver perdido você pode procurar


E vai me encontrar, hora após hora
Se você cair, eu vou te segurar
Estarei esperando, hora após hora

Time After Time - Cyndi Lauper

Taehyung encarou os outros dois através do retrovisor e ligou o carro


esperando outra vez. Hoseok voltou a chorar baixo, o corpo aquecido pela
jaqueta alheia se encolhia contra o peito do melhor amigo enquanto sentia o
carinho familiar afagar suas costas.

— Se a gente voltar para casa ele pode ficar pior, os outros vão ficar
preocupados. – o mais novo entre eles colocou o cinto. – Parece uma crise
de ansiedade, ele precisa ficar calmo e lá vão ficar em cima dele.

— Vai pro apartamento da minha omma. – Yoongi instruiu. – Eles estão em


Daegu e só vão chegar domingo de manhã, nós vamos ficar lá.

— Yoon... – Hobi soluçou e o encarou, os lábios estavam curvados por conta


do choro. – Yoon não me deixe sozinho. – sussurrou. O coração de Yoongi se
apertou.
— Eu 'tô aqui Seok-ah. – assentiu e o abraçou mais forte. – Não vou te
deixar sozinho, ok?

Hoseok escondeu o rosto no ombro dele e Yoongi encarou Taehyung,


assentindo para que fossem logo.

Ele dirigiu por quarenta minutos, atravessou a cidade até os bairros


residenciais mais caros e por mais que seus olhos estivessem atentos a
estrada, Tae sempre os observava pelo espelho pequeno, observando o
namorado afagar os cabelos macios de Hobi, sussurrar que estavam tudo e
que logo chegariam. Num momento acabou por deixar a raiva fazê-lo apertar
o volante com mais força. Não era raiva de Yoongi ou Hoseok, muito menos
da aproximação entre eles no banco de trás do carro... Era raiva por alguém
ter a capacidade de causar tanto mal ao Jung, de deixá-lo naquele estado
desastroso e preocupante.

Não conhecia Yoseob, mas a cada dia o odiava um pouco mais.

O apartamento estava pouco iluminado, uma das diaristas fora embora há


pouco, então Yoongi agradeceu por estarem sozinhos. Foram para seu quarto,
deixaram carteiras e celulares sobre o móvel ao lado da cama, e no banheiro
espaçoso Tae não soube o que fazer, se deveria sair ou continuar ali quando
viu o namorado ajudar Hobi a se livrar dos tênis e das meias.

— Tae liga as torneiras da banheira, coloca pra encher com água quente. –
mandou. – Espalha um pouco do sabonete no pote bege.

— Você quer que eu saia depois? Eu posso esperar no quarto-

— Não! – a voz rouca de Hobi fez encará-lo. – Fica. Por favor?

— Você é bem maior que eu, fica com ele na banheira. – Yoongi tirou a
jaqueta do melhor amigo, depois a camiseta larga e o relógio dourado. O
mais novo assentiu e chutou os sapatos dos pés, puxou a camisa de botões
pela cabeça e abriu a calça com pressa, despindo-se até estar apenas dentro
da boxer vermelha. Hoseok não se movia, o olhar continuava fixo em
qualquer coisa e as lágrimas não cessavam por um minuto sequer.
Sentia-se fora de órbita.

Aceitou o copo com água e não percebeu a metade de calmante diluído no


líquido incolor.

Era como se não tivesse mais o controle do próprio corpo ou das ações,
nada mais lhe cabia além da angústia gelada por dentro, devorando-o
lentamente enquanto o coração batia depressa e a garganta continuava seca.
As palavras do pai ecoavam por sua mente, o sorriso displicente da mãe ia e
vinha em sua memória... Então, ele não conseguia se lembrar de quem era ou
do que deveria fazer.

A cada respiração Hoseok se sentia menos vivo.

Então Yoongi lhe beijou nos lábios com carinho e encostou suas testas, a
mão grande afagou sua nuca e a outra segurou o pulso dele para levar até os
lábios e beijar demoradamente.

— Meu Sol... – sussurrou e sua voz parecia distante. – Por favor, não se
perca assim... Fique com a gente, Hobi. – beijou a pele outra vez. – Vem
aqui.

Guiou-o até a banheira grande, entregando-o para Taehyung. Hobi sentiu a


temperatura da água quando teve o corpo colocado dentro dela, ele se
encolheu e encontrou um corpo maior, tão quente quanto à água, o abraçar
por trás. Sentiu as costas encostarem no peito largo, sentiu a respiração bater
de encontro a sua pele arrepiada.

Ele sentia. Sentia-se.

Isso queria dizer que continuava vivo, que existia... Queria dizer que aquelas
dores poderiam quebrá-lo em dois, mas estava vivo para senti-las. Desabou
mais um pouco nos braços de Taehyung, encolheu-se dentro daquela
proteção confusa e chorou como uma criança assustada soluçando a cada vez
que sentia.

— Coloca isso pra fora Hobi. – pediu o mantendo seguro em seus braços.
Nunca havia tido um contato tão intenso como aquele, nunca quis tanto tomar
a dor de alguém para si e nunca se sentiu tão aliviado por estar exatamente
onde estava. – A gente tá aqui.

Yoongi sentou ao lado da banheira e mergulhou a mão na água quente com


cheiro de baunilha, buscou pela mão do melhor amigo... Do homem que
amava... E entrelaçou os dedos aos dele, chorando junto dele.

Então, eles pintaram aquele cenário sozinhos com a tinta diluída em suas
lágrimas, mas finalmente assinando como autores da obra prima que eram
quando juntos. O primeiro passo do caminho longínquo que a vida os faria
percorrer por razões que ainda não compreendiam. Por quase uma hora
seguros no silêncio confortável depois de notar que às vezes falavam mais
do que deviam, então por isso as palavras tendiam a estragar tudo.

Hoseok deitou a cabeça no ombro de Taehyung e apertou a mão de Yoongi


respirando profundamente.

— Eu liguei porque não sabia o que fazer... Mas se eu soubesse... Teria


ligado de qualquer forma.

— 'Tô aliviado por isso. – Yoongi raspou o polegar sobre a pele úmida dele.
– Quer falar o que aconteceu?

— Se não quiser, está tudo bem de qualquer forma. – a voz grave de Tae o
fez suspirar. Era tão bom tê-lo tão perto.

— Yoseob me ligou de manhã dizendo que precisava conversar


pessoalmente comigo por isso eu pedi que Bobby me desse uma carona até
lá. – a menção aquele nome irritava tanto Yoongi. – Ele pediu aos pais de
Momo que a deixassem viajar comigo para Jeju, só nós dois... Disse que eu
tinha de transar com ela porque na primeira vez que tentei transar com uma
mulher ele foi invasivo e por isso não consegui. – Tae sentiu vontade de
gritar. – Eu neguei, não faria isso com a Momo ou comigo, ela é uma garota
tão legal... Ela sabe que eu sou gay e não me julgou. – fungou. – Depois ele
disse que procurou um psiquiatra para me ajudar com o problema, pra me
curar. Nós brigamos, ele me bateu de novo e depois... Quando minha omma
foi até mim... – a respiração rápida preocupou os outros dois.
— Hey, tudo bem... Respira devagar, meu Sol. – Yoongi se esticou até afagar
o rosto dele e pentear os cabelos molhados para trás. – Já acabou.

— Omma me disse que da mesma forma que ela ajudou meu appa a se curar,
Momo vai me ajudar também...

Taehyung franziu o cenho, a confusão tomou conta de seus pensamentos


enquanto, por fim, Yoongi compreendia a desconfiança que carregava desde
a adolescência sobre Jung Yoseob.

— Ele... O seu appa...

— Ele se envolveu com o melhor amigo ainda muito jovem, chegou a tentar
fugir com ele, mas os meus avós descobriram e ele se curou, como costuma
dizer. – Hobi respirou fundo. – Não quero ser como ele.

— Você não é como ele.

— Yoon... Se eu não for como ele... Vou ser ninguém. – voltou a chorar
baixinho. – Eles vão me apagar de suas vidas como fizeram com Jiwoo, vão
viver ignorando a minha existência e eu... Eu amo os meus pais... Eu amo
muito.

— Eu sei que ama, Seok. – assentiu. – Mas essa relação com eles nunca te
fez bem, nunca te deixou ser quem você é de verdade. – se mexeu e isso fez
um pouco de água espirrar para fora da banheira. – Por que a opinião deles é
tão importante pra você?

— Porque eu cresci aprendendo que a nossa família é quem mais nos ama,
então eu não quero que eles me odeiem... Por que... Se quem deve me amar
não me ama, quem vai ter amor por mim?

— Eu. – o Min secou uma das lágrimas dele. – Eu vou te amar tanto que isso
não vai te machucar nunca mais.

— Os meus pais nunca me amaram. – Tae falou o teve a atenção dos mais
velhos, Hobi o encarou por cima do ombro. – Quer dizer, eu nunca senti que
eles tivessem amor por mim... Desde muito novinho, eu e meus irmãos, eram
como adereços necessários para montar a família perfeita... O modelo a ser
seguido por todos iguaizinhos àqueles jogos de bonecas completos que
qualquer criança sonha em ter. Durante muito tempo eu me perguntei o que
tinha de errado em mim, eu aceitei qualquer coisa só pra não carregar a
culpa por ser um filho fora da pintura perfeita daquele lar... Então, meu
irmão mais velho me fez sentir medo o suficiente para viver apavorado e
meus pais ignoraram aquilo pra não deixar que a tinta escorresse para fora
do quadro... Eu compreendi.

— O que? – Hobi o encarava nos olhos.

— Que não preciso aceitar tudo o que meus pais fazem pra mim só por ser
filho deles, que um relacionamento abusivo vai além do que um casal vive e
se eu não era o suficiente pra fazer parte daquela família sendo exatamente
como eles queriam... Eu seria o suficiente pra mim... Para pertencer a mim. A
minha singularidade pode não ser boa para viver naquele quadro Hobi,
mas ela é perfeita por ter me colocado exatamente onde estou agora...

— Nunca teve medo de deixar de existir? – disse baixo.

— Você acha que viver como tem vivido é existir? – Yoongi tomou a atenção
dele. – Usando máscaras para cada situação, sendo perfeito enquanto se
machuca procurando imperfeições? Quando é que você sente que existe,
Seok?

Hoseok franziu o cenho, os pensamentos desabrocham como flores há muito


prontas para nascer. Ele encarou a água um pouco turva, encarou os próprios
dedos entrelaçados aos de Yoongi e depois a mão de Taehyung acarinhando
seu joelho direito. Sentindo.

Um sorriso fraco puxou os lábios curvados pela tristeza e ele assentiu


lentamente.

— Quando você sorri pra mim Yoongi... Quando Taehyung me provoca...


Agora... Eu nunca existi tanto quanto eu existo agora.

— Então, por favor... Me deixa fazer esse agora durar pra sempre?
Hobi outra vez deitou-se contra o corpo de Tae e encarou o teto do banheiro,
respirando devagar para limpar os pensamentos que teimam em temer vê-lo
ceder.

— Com passos de bebê... Um de cada vez. – o mais novo beijou-lhe na


bochecha e Yoongi ficou de pé, buscando por toalhas limpas. – Você está
com sono. Vamos cuidar de você, eu prometo.

Hoseok assentiu uma única vez antes de fechar os olhos e torpor o embalar
ali mesmo.

Foi colocado no meio da cama de casal, vestido num pijama antigo que não
via há anos. Esticou-se inteiro e só parou quando Taehyung deitou atrás de
si, jogando o braço por cima da barriga dele. Yoongi apagou a luz e deitou
também, cobrindo-os com o velho edredom estampado com pequenos
Kumamon dançarinos. Abraçou Hobi, encolheu-se contra o corpo dele e
trocou um olhar com o namorado.

Sorriram um para o outro, procuraram pelas mãos até entrelaçar os dedos e


deixá-las juntas.

O mais velho deu um jeito de esconder o rosto no pescoço de Hobi,


aspirando o cheiro dele como um tranquilizante natural.

Estavam em casa.

Seokjin mordeu o lábio inferior e encheu a mão com o cabelo macio de


Sunmi, ditando o ritmo dos movimentos dela no ato. Jogou a cabeça para trás
e gemeu arrastado, absorto no prazer que sentia a cada vez que sentia a
glande tocar o fundo da garganta dela.

Juntou o cabelo longo com ambas as mãos, criando um rabo de cavalo


perfeito antes de trazê-la para cima com pressa. A deitou na cama e se
encaixou entre as pernas da namorada, afoito enquanto se encaixava no
aperto quente pra estocar devagar deixando beijos sobre os seios macios.
Sunmi gemeu por ele o abraçando pelos ombros largos, deixando-o foder
como ambos queriam, levando a cama ranger o som se misturar aos gemidos
e respirações entrecortadas.

Jin fechou a mão ao redor do seio pequeno, espremeu o mamilo sensível


entre os dedos e lambeu de ali até a boca de Sunmi, afundando a língua para
dentro dela com a mesma força que estocava os quadris em baixo.

Depois apertou a coxa suada, segurou-a e se puxou para fora enquanto com
um olhar foi entendido. Sunmi se virou, empinou a bunda até estar de quatro
e as mãos bonitas segurando a cabeceira de madeira.

— Se empina mais pra mim. – ele mandou dando um tapa barulhento numa
das nádegas coradas pelos tapas anteriores. – Gostosa. – elogiou ganhando
um sorriso atrevido dela.

— Jin... – choramingou rebolando os quadris contra o pau dele, esfregando-


se devagar.

Jin se segurou pela base e a penetrou de novo, grunhindo enquanto estocava


depressa. Ele a segurou pelo cabelo longo e girou-o no pulso enquanto batia
vezes seguidas nas duas nádegas firmes da namorada, satisfeito pelas marcas
que deixava e pelos gemidos desesperados que arrancava dela.

A fez erguer o corpo até ter as costas contra o peito dele, lambeu e mordeu o
pescoço dela, chupou a pele salgada e deslizou a mão até que tivesse o
clitóris sensível entre os dedos. Sunmi gemeu mais alto e afundou as unhas
nos braços de Jin, tremeu dos pés a cabeça enquanto ele a fodia e continuava
esfregando os dedos molhados.

— Gostosa do caralho, continua... – mandou respirando alto contra a orelha


dela. Sunmi se remexia contra ele, pedia por mais mesmo que estivesse tão
cansada. Transar com Seokjin era como um vício, sempre queria mais. – Vai
gozar, hn?

— Mete mais forte. – sussurrou assentindo. – Me faz gozar.


— Vira. – afastou-se dela com cuidado. Sunmi estava exausta, mas se virou.
Viu o namorado ficar de pé e estender a mão. Quem admirava a beleza de Jin
normalmente, não poderia imaginar o quanto se tornava covarde ao vê-lo nu.
Coberto de suor, com o cabelo descolorido úmido pelo suor, penteado para
trás expondo a testa lisa. Seus ombros largos, o peito forte e a barriga bonita
traçada por uma linha de pelos que começavam no umbigo e descia até o pau
tão duro quanto quando começava aquela noite. – Vem cá, gostosa. – sorriu
antes de lamber os lábios inchados. Sunmi foi até ele e deu um gritinho
quando Jin a puxou para o colo, forte o suficiente para segurá-la com um
braço enquanto usava o outro para se encaixar até estar dentro de novo. – Se
segura em mim. Vou te comer do jeito que a gente mais gosta.

Então, ele fez.

De pé, no meio do quarto, a fodendo forte e duro. Vez ou outra acertando


tapas quando sentia rebolar, sempre fazendo questão de dar o prazer que
recebia. Sunmi gozou abafando um grito no ombro do namorado, sentindo
lágrimas encher seus olhos.

Jin gozou em seguida, tomando cuidado para não desabar por conta dor
orgasmo forte. Gemeu alto antes de morder o pescoço suado da garota.

Depois a deitou na cama e se jogou ao lado dela, ofegante e satisfeito.

— Eu tenho certeza absoluta que nós dois somos os melhores nisso. – ela
brincou quando conseguiu respirar direito.

— Nós dois somos bons em qualquer coisa.

— Isso é porque nós temos tantas coisas em comum. – se virou para


acariciar o cabelo dele. – Tudo bem?

Jin franziu as sobrancelhas e a encarou.

— A gente acabou de transar gostoso pra caralho, como eu poderia não estar
bem? – sorriu.
— Transar gostoso não quer dizer que tudo anda bem na nossa vida, Jinie. –
Sunmi se moveu até estar mais perto, apoiou metade do corpo sobre o dele e
deixou os seios tocarem a pele suada. – Aconteceu alguma coisa e 'tá tudo
bem se não quiser falar sobre isso, eu confio em você.

— Obrigado. – a olhou nos olhos. – Sunmi... Eu acho que te traí... Mas eu


não te traí.

— Isso não faz muito sentido. – negou, mas não parecia brava. Sabia que Jin
nunca faria algo para magoá-la. – É sobre aquela pessoa?

— É. Acabei o deixando chegar mais perto depois de prometer pra mim que
isso nunca mais aconteceria... Deixei que me afetasse. – suspirou.

— Então, você não me traiu. Acabou traindo a si mesmo. – ele assentiu. –


Jin, quando eu te conheci... Bêbado e deprimido naquela boate, você me
disse que o amor era uma droga e eu concordei. – sorriu um pouco. – É
assustador o quanto nós somos semelhantes até quando é sobre nossos
corações teimosos. Eu penso que se deixar o Jay voltar pra minha vida, eu
vou trair tudo o que conquistei quando mandei ele embora, mas é diferente.

— Não muito.

— É diferente. Eu não amo mais o Jay... Mas você ainda ama o cara que
quebrou o seu coração.

— Às vezes chego a pensar que sou um escroto por te fazer saber disso...
Você acabou de entregar seu corpo pra mim e agora estamos conversando
sobre minhas desilusões amorosas. Você merece mais. – suspirou.

— Você mente quando diz que está apaixonado por mim? – Jin negou. –
Muito menos eu, Jin. Nós estamos calejados sobre o amor, então não faço
questão que seja amor agora... Ou amanhã. Ou depois. Pela primeira vez,
depois do Jay, eu me sinto bem em estar apaixonada e me sinto melhor ainda
por estar apaixonada por você. – afagou os cabelos dele. – Por enquanto
estamos bem sendo paixão, sem pensar demais no que vai rolar amanhã.
— Obrigado. Você é a mulher mais incrível que eu já conheci na vida. –
segurou-a pelo rosto e a beijou nos lábios.

Sunmi sorriu e se afastou para ficar de pé. Jin a observou caminhar pelo
quarto, recolhendo as roupas e os sapatos. Ela era linda. Cada curva, cada
pedaço de pele. Gostava de tocá-la, de transar com ela, de conversar sobre
qualquer coisa ou só ficar bêbado pra viver histórias engraçadas.

Acima de tudo, Sunmi o fazia sentir seguro.

Por causa disso, ele foi até o banheiro depois de vestir a cueca preta e parou
observando-a tomar banho. Por causa disso ele respirou fundo e tomou
coragem pra dizer:

— É o Namjoon. – confessou tomando a atenção da namorada. – O Namjoon.

— Acho que eu já sabia. Eu consigo sentir o seu coração acelerar quando


ele está perto. – suspirou e abriu o box para o chamar. – Vem aqui. – quando
ele veio, ela o abraçou. – Obrigado por me dizer, Jin

Jin apenas assentiu e beijou o cabelo dela.

— And now my bitter hands chafe beneath the clouds of what was
everything. Oh, the pictures have all been washed in black tattooed
everything...

A voz de Jimin cantarolou baixinho enquanto ele observava Jungkook sorrir


mostrando os dentes sobressalentes. Acabou borrando um pouco do que fazia
e o encarou numa bronca silenciosa.

— Foi mal, hyung.

— Você sabe cantar? – perguntou e aproximou os lábios da mão alheia,


soprando suavemente.
— Eu? Não! Nem tento! – negou e observou as unhas pintadas de preto. -
Você é bom nisso.

— Eu pinto minhas unhas há uns dois anos. – deu de ombros. – Combina com
você. Esse estilo. – Jungkook franziu o cenho. – O cabelo bagunçado, roupas
pretas, tatuagens e unhas pintadas.

— Eu gosto. – deu de ombros e viu Jimin guardar o esmalte na gaveta da


cômoda. Ele voltou pra cama e sentou de frente para o mais novo. – Também
combina com você.

— Acha isso? – sorriu debochado. – Existem pessoas que juram por deus
que eu sou delicado e sensível, quase uma princesa esperando por um
príncipe em sua torre de solidão. – fantasiou cheio de gestos.

— Por quê?

— As pessoas costumam definir as outras por suas próprias contas,


raramente leva em consideração que estereótipos são uma droga. – ele soltou
o cabelo descolorido e Jungkook quase suspirou. – É o velho papo de "jeito
de passivo".

— Pode me explicar, hyung? – ele tomou cuidado com as unhas pintadas e


apoiou as costas na cabeceira da cama de solteiro de Hoseok.

— Quer falar sobre isso comigo? – o mais novo assentiu. – Sobre sexo?

— Não quer falar comigo sobre isso? – pareceu chateado, não queria ser
invasivo, mas Jimin o fazia sentir confortável.

— Eu não quero que você se sinta desconfortável, bebê. – suspirou e lambeu


os lábios. – Você sabe o que é ativo ou passivo?

— Uhum. - quase corou, mas manteve a coragem. – Passivo é 'tipo a mulher?

— Não exatamente. – negou. – Num relacionamento gay, por exemplo, não


existe mulher. Mas eu entendo que você pense dessa forma, a maioria das
pessoas acaba se prendendo a isso... Normalmente, normatizam os
relacionamentos porque se sentem mais confortáveis com essa normalidade.
— Como assim?

— As pessoas precisam definir que as relações são todas normais e como o


normal para grande parte delas é "homem e mulher" normatizam para o
hétero. – explicou pacientemente. – O cara menor sempre é passivo e
descrito com comportamentos ruins... Na maioria das vezes chega a se
machista, entende? – o mais novo assentiu. – Histérico, ciumento, dramático
e completamente dependente do parceiro. Já o cara maior é o macho. –
sorriu com desdém. – Ele precisa reafirmar uma masculinidade exacerbada...
Praticamente mijar no parceiro. Ser ciumento, protetor e, meu deus, ninguém
nunca pode lembrar que ele também tem um rabo que pode ser fodido... Ai,
desculpa bebê! – ele acabou rindo um pouco do rubor nas bochechas de
Jungkook.

— Tu-Tudo bem!

— É engraçado que você fique todo vermelhinho quando eu falo essas


merdas, mas gosta tanto de me provocar. – estreitou o olhar e Jungkook se
remexeu.

— Não te provoco hyung.

— Provoca sim. E é incrível que faça isso sem perceber... Você está fazendo
agora Jungkook. – o tom de voz ficou mais sério.

— Não estou fazendo nada! – negou segurando o sorriso.

— Você 'tá lindo... Você é lindo. – disse mais baixo, a música que vinha da
pequena caixinha de som do mais novo não ajudava. A voz de Paul Rodgers
falando sobre estar pronto para amar empurrava Jimin para dentro de todas
as coisas que Jungkook o fazia sentir. – Não morda o lábio... – negou
suspirando.

— Posso te fazer uma pergunta, Jimin?

— Eu gosto quando você me chama de Jimin. Pode.


— Hn... – o bico deixava claro que ele estava com vergonha. – Você... É...
Quando fica com outros caras... Você é...

— Quer saber se eu sou passivo ou ativo? – cruzou os braços, evidenciando


os músculos por estar vestindo uma regata cavada. Jungkook assentiu. Estava
com tanta vergonha. – Depende. – deu de ombros. – Não ligo muito pra
isso... Sexo tem de ser gostoso independente do papel que me proponho. Eu
sou pansexual, seria estranho me ligar a isso. Pelo menos eu acho. Por que
me perguntou isso?

— Eu queria saber. – tocou as unhas para conferir se estavam secas.

— Ficou curioso sobre isso? Ou sobre mim? – o mais novo não respondeu,
continuou quietinho observando as próprias unhas. – Eu posso te fazer uma
pergunta agora?

— Pode. Mas eu não sei se vou te responder, hyung.

— Quando nós fomos à festa do Taemin, naquele sofá... Você me disse que
se toca pensando em mim. Era verdade, bebê? – Jungkook quis sumir. – Não
quer me responder falando? Apenas acene com a cabeça se sim ou não, uh?

Ele assentiu.

— Era verdade?

Ele assentiu de novo.

— Você faz isso frequentemente? – ele negou. – Você fez isso hoje? –
arqueou uma sobrancelha e Jungkook assentiu completamente corado. – No
banho, não foi? Eu te ouvi gemer...

— O que?! Hyung-

— Só eu ouvi, calma. – pediu ao vê-lo arregalar os olhos grandes. – Todo


mundo estava lá embaixo. Só eu te ouvi... Eu gostei de ouvir, bebê. Você bate
punheta pensando em mim?
O garoto o olhou quase estático. Os olhos enormes mal piscavam. Ele
assentiu sem jeito e Jimin viu quando suas mãos puxaram a barra da camiseta
com nervosismo. O mais velho lambeu os lábios e descruzou os braços,
moveu-se na cama até estar de joelhos diante do mais novo, olhando-o de
cima.

Jungkook arfou baixinho, Jimin sequer o tocou e ele se sentia tão excitado.
Sustentou o olhar alheio e engoliu a saliva sem perceber que suas pernas já
se moviam para espalhar sobre o colchão, bagunçando os lençóis limpos.

— É só isso?

— O que?

— Você só se masturba assim, Jungkook? – tombou o rosto pro lado e sorriu.


– Quando faz isso se imagina em mim? Dentro de mim?

— Eu... – arfou de novo quando Jimin tocou suas coxas e deslizou os dedos
até quase tocar a virilha. O volume dentro do moletom denunciava o que
queria, às vezes tinha raiva de ser tão fraco. – Não é só isso.

— O que mais você faz, bebê? Uh? Pode me contar? – mordeu a boca e se
abaixou só pra morder o lábio inferior do mais novo, puxando-o e soltando
um riso rouco. – Eu posso te contar também todas as coisas que eu imagino
quando você me deixa louco de tesão.

— Jimin... – gemeu segurando a mão menor, envergonhado demais pra pedir,


mas excitado demais pra evitar. Ele colocou a mão de Jimin sobre o próprio
pau e abriu a boca num gemido quando o menor apertou-o. – Por favor...

— Por favor... Você não me respondeu bebê. Como eu posso te fazer sentir
bem se você não me dá nada? – o bico emburrado só pintava ainda mais a
personalidade de Jimin. Ele também queria tocá-lo, queria fazer Jungkook se
desmanchar em suas mãos e depois vê-lo manhoso e envergonhado. Mas,
naquela noite, ele queria um pouco mais. – O que mais você faz?

— Eu- Eu uso a- A ducha. – confessou baixinho, o rosto estava quente pelo


tesão e pela vergonha que conseguia deixá-lo fofo demais para o
autocontrole de Jimin. – Em mim... Eu vi num vídeo. Os meus dedos...

— Porra Jungkook. – xingou e respirou fundo. – Você se penetra? – o mais


novo assentiu. – É gostoso?

— Uhum. É tão gostoso, Jimin. – choramingou quando Jimin o apertou com


mais força. – Eu penso em você me beijando, apertando o meu corpo...
Você... Em mim.

— Dentro de você? – ele assentiu de novo. O mais velho lambeu os lábios e


desfez o nó do moletom ao redor dos quadris de Jungkook. Ele puxou até
libertar a ereção sob a cueca preta. – Eu ando fodendo a minha mão quase
todos os dias por sua causa, Jungkook... – esfregou a ponta do polegar sobre
a glande úmida. – Eu não quero te assustar.

— Não me assusta! Eu juro! – o segurou pelos braços. – Me deixa fazer você


se sentir bem também, hyung? Me diz o que fazer.

— Nós não vamos fazer sexo agora. – disse mais para si do que para o
garoto. Estava com tanto tesão que chegou a doer. – Abre as pernas.

Jungkook assentiu e se ajeitou mais, abrindo as pernas o máximo que podia.


Jimin se aproximou mais dele e sorriu ladino antes de ergueu o joelho e o
pressionar contra a ereção do mais novo. Ele gemeu manhoso, agarrou a
regata alheia e assentiu.

— Você é tão lindo, bebê... Fica tão manhoso quando eu te dou prazer... Me
deixa tão louco. – ele esfregou o joelho com mais força, sorrindo pela
expressão sôfrega do outro. Deu um jeito de puxar a camiseta dele e atirar na
outra cama, espremeu os mamilos sensíveis dentro dos dedos e assentiu. –
Isso, geme gostoso assim... Você gosta quando o hyung faz assim? – esfregou
os polegares sobre os mamilos e Jungkook gemeu mais.

— Gosto... Jimin. Hyung, por favor... – pedia sem saber o que.

— Menino atrevido. – afastou o joelho e deu um tapinha sobre a ereção dele,


arrancando um gemido mais longo. Ele sentou à beira da cama e abaixou a
bermuda de uma vez. – Tira a calça, fica de cueca e senta aqui. – segurou o
próprio pau e apertou. Jungkook assentiu e desajeitado se livrou da calça,
ficou de pé e antes que sentasse Jimin o fez ficar de costas. – Senta essa
bunda gostosa aqui, bebê.

O colocou sentado sobre a ereção e mordeu as costas dele, deu beijos por
toda pele arrepiada e o abraçou pela cintura fina.

— O que eu faço? – sussurrou afoito, fechando os olhos a cada beijo que


sentia sobre sua pele. – Jimin...

— Se esfrega em mim. Assim, – o segurou pelos quadris e fez Jungkook


deslizar em seu colo, encaixando-se exatamente onde mais queria para ser
acolhido pelo traseiro durinho. – você disse que quer me fazer sentir bem. É
verdade?

— Uhum. Eu quero... – assentiu.

— Me faz gozar pra você, bebê. Eu já 'tô tão perto. – sussurrou e lambeu a
nuca alheia, recolheu a fina camada de suor.

— Assim? – perguntou curvando o corpo pra frente e mexendo no colo dele,


esfregando-se exatamente como Jimin queria. O mais velho assentiu e gemeu
baixo.

— Assim. – assentiu e o prendeu pelo pescoço, passando os dedos cheios de


anéis ao redor. Jungkook arfou e assentiu sem parar, praticamente quicando
no colo do mais velho. – Posso tocar você?

— Uhum... Toca...

Então a mão livre serpenteia até a cueca dele e empurra o elástico para
puxar pra fora o pau negligenciado. Completamente teso e molhado. Jimin
começou a masturbá-lo devagar. Para brincar com a glande macia.

Jungkook encolheu. Era a primeira vez que outra pessoa o tocava daquele
jeito, mas não havia tempo para sentir vergonha, não quando o orgasmo
chegava cada vez mais perto e o empurrava pra beirada do descontrole.
Jimin aumentou o ritmo da mão e grunhiu quando sentiu que ia gozar com a
fricção gostosa, ele chupou a pele do ombro alheio e gemeu.

— Vai... Eu vou gozar. – jogou a cabeça para trás, os cabelos lisos estava
grudando em sua pele suada. Jimin gozou forte. – Caralho.

— Jimin... Ji... – arfou e gemeu demoradamente, gozando na mão que ainda


lhe masturbava firme. Observando a própria porra pintar tudo de branco,
inclusive as próprias coxas trêmulas.

Jimin o segurou pelo queixo até que se beijassem ainda ofegantes. Um beijo
intenso e molhado, deixando a saliva escorrer um pouco pelos cantos das
bocas. Satisfeitos, mas ainda eufóricos pelo orgasmo avassalador.

Jungkook mordeu o lábio inferior do mais velho e sentiu o corpo mole e


preguiçoso. Mas ainda estava duro, a mão de Jimin ainda o acariciava e
fazia bagunça.

— Tudo bem?

— Tudo ótimo. – sorriu e o mais velho beijou seus lábios. – Gostou? Eu fiz
direito?

— Você foi perfeito. Você é perfeito. – afagou o rosto dele.

— Jimin... Eu quero transar com você. – disse baixinho e Jimin se afastou


para encará-lo.

— O que? – franziu o cenho.

— Quero transar com você... Minha primeira vez eu quero que seja com
você. – Jimin tirou a mão que ainda o acariciava e limpou-a no lençol. –
Hobi-hyung vai brigar com a gente.

— Eu vou colocar na lavadora. Jungkook as coisas que a gente faz... Não é


pra você se sentir pressionado, sabe? Eu gosto de ficar contigo e pra mim
virgindade não é um tabu, mas é importante pra você.
— E é importante que seja com alguém que eu queria, alguém que eu goste e
me sinta ligado... Eu me sinto ligado a você.

— Escuta. – suspirou. – Vamos deixar as coisas acontecerem, ok?

— Ok. – assentiu. – Eu posso dormir com você? Na sua cama?

— Eu preciso de um banho. – sorriu. – Dorme aqui, eu gosto quando você


dorme comigo.

Jungkook saiu do colo dele e ajeitou as roupas sem jeito. Curvou-se para
deixar um beijinho nos lábios de Jimin e foi em direção ao banheiro,
trancando-se lá em seguida.

Então, Jimin respirou fundo e deitou na cama. A mão limpa foi passada pelo
rosto e bagunçou os cabelos. Ele encarou o teto branco, depois o móvel ao
lado da cama e não hesitou sobre os cigarros esquecidos ali. Acendeu um,
subiu a bermuda e saiu para a varanda pequena.

Fumou em silêncio e pensou aos gritos.

Digitou uma mensagem breve no celular e o guardou de volta no bolso.

Precisava de uma direção, sentia que estava se perdendo.

Taehyung leu a mensagem de Jimin e franziu o cenho.

Ele dizia que precisavam conversar e não havia sequer uma figurinha
ridícula para quebrar o quão tensas aquelas palavras poderiam soar. Apagou
o cigarro contra o cinzeiro prateado e soltou a fumaça para o alto quando
ouviu uma movimentação vinda do quarto.

Yoongi havia saído para comprar comida e ele estava na varanda fumando o
segundo cigarro enquanto intercalava o vício com a vigília ao sono profundo
de Hoseok. Ficou de pé, calçou as pantufas do namorado e entrou no quarto.

Hobi estava sentado na cama coçando os olhos.


O cabelo liso numa bagunça bonita enquanto os olhos mal se abriam. Ele
olhou ao redor e bocejou duas vezes, confuso e brigando com o torpor. Tae
sorriu e sentiu vontade de ir até ele só para fazê-lo dormir de novo.
Caminhou e foi visto quando pegou uma maçã que estava na pequena cesta
de frutas sobre o móvel.

O mais velho penteou os cabelos com os dedos, estava sonolento, mas


conseguia se lembrar do que aconteceu e das razões que o levaram até ali.

Também estavam morrendo de fome.

— Você quer um pedaço?

Tae esticou o braço oferecendo a fruta que segurava entre os dedos longos.
Hobi o encarou e negou duas vezes disfarçando a fome que sentia, mas seu
estômago o denunciou com um ronco alto. Ele xingou baixinho e o riso do
mais novo fez seu coração bater mais rápido.

O colchão macio se moveu quando Taehyung sentou diante de Hoseok, as


coxas grossas ficaram expostas graças ao short folgado e seu sorriso ainda
prendia a atenção do mais velho covardemente.

— Você quer um pedaço da minha maçã, Hoseok. - afirmou levando a fruta


até rente os lábios do outro. - Morde.

Hobi rolou os olhos, mas acabou abrindo a boca para morder um pedaço da
fruta gelada. O suco doce escorreu por seu queixo e pingou no pijama
estampado com pequenos esquilos marrons.

— Eu não via esse pijama há anos. - disse mastigando, os dedos puxaram o


pano estampado para ver melhor. - Ele me deu quando fiz dezessete.

— Por quê? - também mordeu a maçã e ofereceu-a ao menor que fez o


mesmo.

— Ele diz que eu pareço com um. - deu de ombros. Tae suspirou e lambeu os
lábios, seu olhar intenso despia-o de forma tão forte que Hobi sentia
vergonha. Por mais incrível que pareça. - O que foi? Por que tá me olhando
assim?

— Porque você nunca esteve tão lindo como está agora.

— Ferrado assim? Depois de surtar e passar uma madrugada inteira


chorando e vomitando? - desdenhou rolando os olhos. - Você deve tá
adorando me ver fodido desse jeito...

— Eu 'tô adorando te ver sem máscara nenhuma e ter mais certeza ainda de
tudo que você me faz sentir, Hobi. E, meu deus, eu sinto tanta coisa por
você. Por cada pedacinho de você. - a mão livre se moveu até tocar o rosto
de Hobi, para afagar a pele macia desde a mandíbula até a maçã ainda
marcada por algumas lágrimas perdidas.

— Tae... - suspirou antes de lamber os lábios e beijar suavemente a ponta do


polegar alheio. - Não faço ideia do que estou deixando isso acontecer
,ficando aqui nessa cama enquanto vocês dois me fazem existir como eu
nunca senti antes.

— Nenhum de nós tem, se isso te deixa mais aliviado. - brincou ganhando


um sorriso pequeno.

— Então... O que eu faço?

— Você faz como eu e Yoongi, deixa acontecer enquanto seguimos esse


caminho que nenhum de nós conhece, mas parece tão familiar...

Eles ouviram um suspiro e olharam para a porta do quarto. Yoongi segurava


a maçaneta com uma mão e uma sacola na outra.

— É o seu frango favorito. Demorei pra achar. - se dirigiu a Hoseok que


assentiu sentindo vontade de pedir que ele apenas chegasse mais perto.

— Obrigado, Yoon. - a voz embargou ao fim, as lágrimas encheram os olhos


ainda inchados pelo sono e quando seus ombros estreitos tremeram Yoongi
já estava ali sentado atrás dele, passando os braços frios por sua cintura num
abraço protetor. - Obrigado...
— Vai ficar tudo bem, meu Sol. - sussurrou com os lábios grudados na nuca
quentinha, beijando-a com carinho. - Eu te amo.

— Tudo bem chorar... Se você nos deixar secar as suas lágrimas. - Taehyung
beijou a mão dele e se virou para mexer na sacola. - Eles mandaram uma
sobremesa a mais. - sorriu mostrando a embalagem transparente. - Bolo de
cereja com chocolate. O meu favorito.

Ele abriu as embalagens e as espalhou pela cama, o estômago de Hobi


roncou outra vez e Yoongi fez questão de pegar um pedaço do frango e levar
até a boca dele, que até aceitou, mas fez careta.

— Sua omma não gosta que comam nos quartos. – disse de boca cheia.

— Você vai contar pra ela? Você sempre foi fofoqueiro. – pirraçou comendo
também. – Ele não sabia mentir, sempre entregava tudo.

— Não estou surpreso. – Tae arqueou as sobrancelhas e abriu uma lata de


coca. – Você parece ter sido o Cérebro e ele o Pink.

— 'Tá me chamando de tapado? – Hoseok franziu o cenho.

— Inocente. – corrigiu enchendo a boca com uma porção de arroz. – E


tapado.

— O Yoongi era uma peste! Ele só tinha ideias ruins! – resmungou e o menor
encheu sua boca com mais frango.

— Come, fica quietinho e come. – sorriu mostrando as gengivas rosadas.

— Minha boca tá cheia! Espera...

— Fiquei sabendo sobre uma régua... E dois centímetros a menos. Lamento


Hobi. – Tae provocou e Hobi franziu o cenho.

— Ele te falou que o meu era menor?! – disse com as bochechas infladas
pela comida.

— Você parece mesmo um esquilo.


— Yoongi você não tem vergonha?! O seu pau era o menor!

— Eu posso medir se vocês quiserem, minha mão tem quase vinte


centímetros... Uso como referência. – o mais novo piscou e Yoongi gargalhou
enquanto Hoseok negava segurando o riso. – Continua rindo. – pediu. – Eu
adoro te ouvir rindo.

— Você não vale nada, Tae. – sorriu e aceitou quando ele lhe ofereceu um
pedaço da torta de cereja. Depois o garoto se esticou e roubou um selinho
dele.

— Frango frito e cereja... Quando é que eu vou te beijar e não sentir um


gosto estranho?

— Acho que eu quero que você me beije sempre. – confessou num tom
sincero. – Do mesmo jeito que quero isso do Yoon.

— É bom ouvir isso, Seok. – Yoongi apoiou o queixo no ombro dele e


sorriu. – Já é madrugada... Nós vamos comer e depois dormir.

— Podemos ficar aqui... Um pouco mais?

— Você disse que a casa vai ficar vazia até domingo, gatinho. – Tae sorriu. –
A gente não precisa voltar para casa amanhã.

— Tudo bem. – assentiu. – Vamos ficar aqui. Só nós três. Isso é o que eu
mais quero no mundo.

No dia seguinte, depois de pegar Jungkook na universidade por conta do


projeto que obrigava o garoto a ceder suas manhãs de sábado para estudar,
Jimin franziu o cenho ao vê-lo se abaixar e pegar um embrulho deixado
próximo ao corredor de entrada.

— O que é isso?
— Não sei. – o mais novo franziu o cenho. – Mas é pra mim. – mostrou o
pequeno cartão branco com o endereço da república e seu nome impresso. –
Hyung...

— O que? – sorriu.

— Foi você?

— Eu? Não! Você sabe que se fosse te dar um presente te levaria para
escolher.

— Será que foi o meu appa?

Ele largou as mochilas junto aos sapatos e sorriu pela animação do mais
novo quanto ao misterioso presente.

— Quer dizer que você anda recebendo presentes anônimos, bebê? - brincou
indo até ele, também observando a caixa média e elegante com um belo laço
vermelho preso ao redor dela.

— Foi você, hyung? - o encarou com uma sobrancelha arqueada. Jimin sorriu
outra vez e negou fazendo carinho na lombar dele.

— Juro que não fui eu. Abre e vê o que é. Não 'tá curioso?

— Estou. - assentiu.

Jungkook puxou o laço desfazendo-o de uma vez, depois abriu a caixa e usou
a outra mão para afastar os papéis também vermelhos que estavam
protegendo alguma coisa.

Mas o que ele encontrou o fez franzir o cenho enquanto Jimin mudava sua
expressão para uma face assustada.

— Hyung... O que...

O mais velho negou apenas uma vez e o empurrou para o lado, suas mãos
tremiam enquanto amassava os papéis, escondendo o conteúdo doentio
daquele presente macabro. Jungkook ficou o encarando, também estava
assustado e confuso. Nunca havia o visto tão nervoso, quase fora de si.

— Desculpa. - Jimin sussurrou.

— Jimin, o que foi? Por que mandaram isso pra mim? - Jimin respirou fundo.
- Quem é essa garota contigo na foto?

— Vou jogar isso fora. - ignorou as perguntas do mais novo. - Não conta pra
ninguém o que aconteceu, ok? Quando eu voltar... Conversamos.

Ele pegou a caixa e dirigiu-se à porta com pressa.

— Aonde você vai?

— Vou falar com quem te mandou isso.

Então, Jimin saiu e o deixou parado ali sozinho e cheio de perguntas. Por que
lhe mandariam algo assim?

Por que havia a fotografia de um Jimin mais novo abraçado a uma garota e
junto também havia uma boneca... Como um bebê... Mas tão macabra sem
seus olhos e coberta com tinta vermelha?

Jungkook não fazia ideia de quem era Oh Minseo, mas ela já sabia
exatamente quem ele era.

Jimin estava com medo.

Ele pilotou a moto sem cuidado, até mesmo o capacete foi deixado na
garagem. Cruzou as ruas da cidade sabendo exatamente onde deveria ir e o
que fazer, mas ainda sentia-se enjoado pela situação.

O prédio residencial era elegante e ladeado por árvores altas. Jimin deixou a
moto estacionada de qualquer jeito em frente a portaria e só precisou dizer
seu nome para ser autorizado a entrar.

Ela sabia que ele viria.


Bateu o punho fechado contra a porta de madeira, respirou fundo procurando
se acalmar e ser consciente de seus atos... Ela ainda sabia como
desestabilizá-lo completamente... Ela ainda conseguia o que queria.

Minseo abriu a porta e sorriu adoravelmente quando viu o ex-noivo.

— Amor. – cumprimentou. – Que bom que veio.

Jimin não disse nada.

Então, ela abriu caminho e ele entrou no apartamento.


21 - paciência

tags de gatilho: bulimia e alcoolismo.

Just a little patience


Some more patience

Patience - Guns N' Roses

O apartamento espaçoso e bem decorado conseguia transparecer a


personalidade de Minseo. Até mesmo nos pequenos detalhes espalhados
pela espaçosa sala de estar onde Jimin parou e se virou para encarar a ex-
noiva.

Ela estava descalça, vestia roupas confortáveis e tinha o cabelo curto


penteado para trás graças à tiara grossa branca.

— Eu cozinhei pra você. – informou com um sorriso estranho.

— Quer merda você acha que está fazendo? – ele jogou a caixa de presente
em cima do sofá. Minseo encarou o conteúdo familiar e suspirou. –
Responda!

— O presente não era pra você... Por que está devolvendo? Jeon Jungkook
não gostou? – franziu as sobrancelhas de forma fingida. Jimin respirou fundo
e colocou as mãos nos quadris.

— Você sabe muito bem que não pode se aproximar de mim...

— Mas eu não me aproximei, Jimin! – gesticulou. – Eu mandei um presente


para o seu namoradinho e você veio até aqui pra me ver. – sorriu e deu as
costas a ele, caminhando em direção a cozinha. – Você prefere refrigerante
ou cerveja?

— Minseo! – a chamou e passou a mão pelo rosto. – Para!

— Eu acho que cerveja não seja uma boa opção porque você veio de moto,
mas... – Jimin a seguiu e viu quando a mulher continuou a colocar os pratos e
talheres caros sobre a mesa de jantar. – Se você quiser dormir aqui tudo
bem, eu sinto saudade...

— Eu só vim até aqui te dizer pra ficar longe dos meus amigos.

— Seus amigos? Aquele garoto que vive pendurado no seu braço é seu
amigo? – ela parou o que fazia para olhá-lo. – Vai me dizer que não 'tá
trepando com ele? Eu vi vocês se beijando algumas vezes.

— O que Jungkook é pra mim não te diz respeito, o que faço ou não com ele
não é da sua conta. – explicou pacientemente. O olhar de Minseo era
perdido, ela não fazia sentido. Suas mãos delicadas e bonitas tremiam
enquanto um sorriso adorável estica-lhe os lábios para expor dentes lindos.
Tudo, absolutamente tudo, nela dava sinais claros que não deveria estar ali,
que ela estava fora de controle. – Minseo, escuta, eu vou ligar para seus pais
e dizer o que você fez.

— Não Jimin!

Então, ela explodiu ainda com o sorriso nos lábios. O prato em suas mãos se
partiu quando foi jogado no chão.

— VOCÊ SABE QUE ELES VÃO ME ACHAR LOUCA!

— Você vai se machucar... – lamentou ao vê-la pisar sobre os pedaços da


porcelana cara. – Minseo, você precisa de ajuda.
— Eu não preciso de ajuda! Eu preciso de você! – choramingou. – Eu amo
você Jimin... Ninguém nesse mundo inteiro te ama como eu te amo! Você não
consegue entender?! Tudo que eu já fiz por você e por nós dois não significa
nada?!

— Minseo... – respirou fundo, não entendia porque ela ainda o afetava tanto.
Não a amava. Todo aquele sentimento que um dia nutriu pela mulher diante
de si estava morto e quando a deixava chegar perto apenas ressuscitava
como um zumbi movido ao medo, ao pavor e a culpa. – Nós não vamos
voltar, eu não amo mais você...

— E você ama aquele garoto?! VOCÊ AMA AQUELE GAROTO, JIMIN?! –


ela começou a chorar, o corpo magro tremia. – Ele não vai cuidar de você
como eu cuidei! Aguentar sua carência, suas manias insuportáveis! – Jimin
apertou as mãos em punho. – Você é feio, mas eu nunca liguei pra isso!
Quando você engordou ou quando ficou vomitando sem parar eu sempre te
ajudei a se sentir bonito!

— Você me entupia de laxante! Não me deixava comer! Me machucava,


Minseo!

— Para ajudar você! – disse mais alto. – POR QUE VOCÊ É TÃO
INGRATO?! Olha só pra você agora! Esse cabelo horrível, essas roupas!
Isso não é você, NÃO É O MEU JIMIN!

— EU NÃO SOU SEU! – gritou e isso a assustou. A voz de Jimin pareceu


um trovão de forte e alta. – Eu não sou seu. – disse lentamente, como se
explicasse para uma criança. – Deixa o Jungkook em paz, me deixa em paz!

— Quanto tempo vai levar até você perceber que precisa de mim? – ela
secou as lágrimas. – O Jungkook sabe tudo que você me fez? Ele sabe que
você foi tão ruim comigo? Sabe do nosso bebê? – ele controlou a raiva e
passou as mãos pelo rosto, procurando uma forma de não explodir bem ali. –
Que você matou o nosso bebê?

— Eu não devia ter vindo aqui. – disse baixo e negou, sentia-se sufocado, as
mãos tremiam enquanto o coração batia completamente acelerado. – Eu não
devia...
— Você veio porque no fundo sabe que queria me ver... Que precisa de
mim... Jimin. – Minseo fungou e se aproximou dele, rapidamente o
abraçando pela cintura e escondendo o rosto contra a jaqueta de couro. – Eu
te amo tanto, eu não ligo para nada daquilo que você me fez.

— Me solta. – a segurou pelos ombros, com muito cuidado e a empurrou


levemente. – Minseo, me larga.

— Aquele garoto não vai saber cuidar de você como eu.

— Me larga! – a afastou e Minseo franziu o cenho, o olhar confuso e raivoso


arrepiava o corpo de Jimin. – Vou avisar os seus pais.

— NÃO! – avançou e o empurrou forte, as mãos descontroladas começaram


a estapear o peito do ex-noivo, estava chorando alto. – NINGUÉM VAI
AMAR VOCÊ! NUNCA! PORQUE VOCÊ É INGRATO JIMIN! VOCÊ
NÃO ENTENDE NADA! QUEM É QUE VAI TE QUERER?! VOCÊ É
BURRO! É FEIO! GORDO COMO UM PORCO! EU QUIS VOCÊ SEMPRE
E AGORA VOCÊ NÃO ENTENDE QUE PRECISA FICAR COMIGO!
COM O NOSSO BEBÊ!

— Para! – tentou segurá-la. – Minseo para! PARA COM ISSO! – conseguiu


prender os pulsos pequenos dentro das mãos, a mulher se debateu e voltou a
chorar como uma criança, soluçando bastante. – Chega!

— Você disse a ele que me deixou? Que vai fazer a mesma coisa com ele?!
O nosso bebê foi embora porque você me deixou Jimin! Ele foi embora
porque você não quis mais ficar com a gente! VOCÊ TEM DE FICAR
COMIGO!

— Escuta! – afastou-a com cuidado, erguendo as mãos enquanto dava dois


passos para trás. – Deixa meus amigos em paz, me deixa em paz. Minseo eu
não vou ficar com você, eu não te amo!

— Mas EU te amo! Você acha realmente que alguém no mundo vai te aceitar
como eu? Vai te amar como eu te amo?! – ela respirou fundo, sua expressão
raivosa deu lugar a uma mais suave enquanto limpava as lágrimas com os
dedos trêmulos, borrando a maquiagem completamente. – Você estragou tudo
como sempre! Estragou o almoço que fiz pra nós dois! Porque você sempre
faz isso?!

Jimin negou uma única vez e virou as costas, rumando em direção a porta do
apartamento. Minseo o seguiu, o choro tornando-se escandaloso. Ele não viu
quando a ex-noiva passou a puxar os cabelos curtos entre os dedos, não viu
quando ela deu meia volta até a cozinha e voltou com uma faca pequena na
mão esquerda.

— JIMIN! SE VOCÊ SAIR EU VOU...

Ele se virou e viu a faca, o coração acelerado pesou dentro do peito.


Respirou fundo, não queria ter chego até extremos de novo e sabia que era
sua culpa por ter ido até ela sem pensar direito.

— Você não vai fazer nada... Minseo se você estiver viva ou morta, ainda
assim, eu não vou mais ficar com você. – repetiu o que fora lhe
aconselhando a dizer, principalmente o psiquiatra que a acompanhou por
alguns meses. – Se você se machucar assim não vai adiantar...

— Mas se eu machucar você...

— Ainda assim eu não vou voltar. – explicou munido de uma paciência que
não correspondia ao medo que sentia por dentro.

Minseo abaixou a mão e soltou a faca. O objeto quicou contra o piso limpo e
caiu sob o sofá menor. Seu olhar tornou-se afiado novamente, o sorriso
pequeno enfeitou seus lábios bonitos e Jimin se arrepiou completamente.

— Tenha cuidado Jimin... – murmurou. – Você vai voltar pra mim... Nem que
eu tenha de tirar do caminho qualquer pessoa que ficar entre a gente.

— Fica longe dos meus amigos... Do Jungkook.

— Odeio como diz o nome dele. – a careta enjoada o deixou mais nervoso. –
Eu fiz a mesma coisa com o Namjoon, mas você não veio... Você avisou os
meus pais... Mas você está aqui agora por aquele garoto. – concluiu o que
nem ele percebeu.
— Escuta bem, Minseo... – diminuiu o tom de voz e ergueu um dedo,
apontando-o para o rosto dela. – Presta bastante atenção no que eu vou dizer:
se você fizer qualquer coisa... qualquer coisa pra ele eu juro por deus que
mando pro caralho a minha paciência ou os pedidos dos teus pais...
Entendeu?

— O que vai fazer? – debochou.

— Eu vou fazer tudo que eu deveria ter feito na primeira vez que você me
infernizou! Vou te denunciar pra polícia, mostrar todas as provas... Tudo que
você já me fez!

— Você vai vomitar nos pés do juiz pra provar que essa sua merda toda é
minha culpa? Jimin, você é fraco! – disse num tom jocoso. – Você é fraco e
inútil, nunca soube se virar sozinho e sabe disso. Ninguém fica perto de você
por que quer, mas porque você é promíscuo e vulgar, transa com todo mundo
pra ver se assim consegue se sentir bem! Ele sabe disso?! Ele não sente
nojo? Quando ele souber, vai sentir nojo de você.

— Cala a boca...

— Ele vai sentir nojo de tocar você, de ficar perto!

— CALA A BOCA!

Jimin tropeçou enquanto se afastava dela, indo até a porta. Não olhou para
trás antes de sair daquele lugar, não esperou o elevador ou se desculpou ao
esbarrar em outra pessoa. Sentia-se cego, os olhos queimavam enquanto as
pernas mal se mantinham de pé.

Demorou até conseguir ligar a moto, não saberia nunca como conseguiu
pilotar entre os carros até o posto de gasolina mais próximo. Jimin caminhou
por entre os corredores da pequena loja de conveniência e selecionou
pacotes de lanches e doces variados, quantidade suficiente para alimentar
três pessoas. Depois duas garrafas de vodca barata. Ele não ergueu o rosto
enquanto a compra era computadorizada por uma atendente simpática e só
jogou duas notas altas sobre o balcão pouco antes de pegar as três sacolas
cheias.
Guardou tudo como podia na moto, pilotou de novo até o motel mais
próximo e que nunca tinha ouvido falar. Era reservado, se escondia bem no
meio de comércios do subúrbio. Ele pegou um quarto qualquer, deixou a
moto mal estacionada na garagem individual e jogou sobre a cama redonda
com lençóis vermelhos toda a comida, a bebida, as chaves, o celular e a
carteira.

Abriu o primeiro, uma embalagem amarela, sentou com as costas apoiadas a


cabeceira e comeu depressa, comeu como se não o fizesse há dias. Um,
depois outro, depois mais um. Sujou as mãos e a boca, até mesmo o queixo
bonito com um pouco de molho.

O celular vibrou sobre a cama e a notificação chamou sua atenção, o nome


de Jungkook acompanhado com uma breve mensagem. Jimin limpou a mão
direita no jeans e pegou o aparelho com as mãos ainda trêmulas e leu.

Jungkook [11:37]

Hyung tá tudo bem?

E foi o suficiente para que Jimin bloqueasse a tela de vez e ofegou alto como
se estivesse deixando todos os sentimentos que o sufocavam saírem. Ele
largou a embalagem quase vazia sobre a cama e foi até o banheiro com
cheiro o cheiro enjoativo de sabão. Ajoelhou diante do vaso e apoiou uma
das mãos nos azulejos gelados enquanto a outra era levada até a boca,
separando dois dedos para empurrar na garganta até que a bile subisse e o
vômito viesse.

A mistura fétida se misturou com a água, respingou em suas roupas e rosto,


chegou a sujar também uns fios de cabelo grande que lhe caíam pelo rosto
corado. Olhos lacrimejando, o sabor azedo no paladar e a garganta
queimando por ser forçada.

Depois de vomitar, Jimin se arrastou até o quarto de novo e abriu uma das
garrafas de vodca para virar direto na boca, bebendo goles demais de uma
vez, pouco se importando com a queimação infernal que aquilo causou.

Outra mensagem. De novo o nome de Jungkook na tela.


Jungkook [11:52]

Jimin por favor me diga o que aconteceu?

Jimin ignorou novamente e sentou no mesmo lugar de antes, buscou no


celular a mesma playlist que eles ouviram juntos na noite anterior e fechou
os olhos. Como as coisas podiam mudar tão drasticamente? Por que as
coisas que Minseo lhe diziam continuavam dando voltar por sua mente
enquanto tudo o que ele mais queria era apenas manter as lembranças
recentes do que aconteceu entre ele e Jungkook.

Percebeu que daria qualquer coisa para nunca ter o deixado tocar naquele
presente macabro, percebeu que queria mantê-lo na segurança de seu quarto
enquanto pintava suas unhas de preto e respondia suas perguntas. Percebeu
que aquele olhar curioso e tão doce mexia demais consigo. Os olhos escuros,
a boca pequena, o cheiro que era único.

Jimin sacudiu a cabeça e bebeu mais, bebeu até o estômago revirar e o fazer
parar.

Encostou a cabeça a cabeceira e fechou os olhos, apoiou a garrafa


transparente sobre a coxa e sua expressão mudou até que as lágrimas
escapassem. Tinha vomitado, havia comido tudo o que não devia graças à
dieta que teimava em fazer, mas havia vomitado em busca daquele alívio
errôneo cheio de incertezas. Em busca de manter-se na perfeição que todas
as outras pessoas admiravam em si... Mas nenhuma delas tinha ideia de
como por dentro Jimin não acreditava que existia nada a ser admirado.

"Você é fraco e inútil, nunca soube se virar sozinho e sabe disso."

Ele bebeu mais dois goles e cobriu a boca com as costas da mão, abafando o
choro.

"Ninguém fica perto de você por que quer, mas porque você é promíscuo e
vulgar, transa com todo mundo pra ver se assim consegue se sentir bem!"

Outra mensagem, outra vez o nome de Jungkook na tela.


"Ele sabe disso?! Ele não sente nojo?"

Jungkook [12:00]

Só me diz se você tá bem.

"Quando ele souber, vai sentir nojo de você."

Jimin fungou ignorou a mensagem de novo, bebeu mais da vodca e buscou


pelos cigarros jogados sobre os lençóis. Ele secou o nariz com as mangas da
jaqueta e fechou os olhos. Sua cabeça estava barulhenta, o coração apertado
dentro do peito e as mãos trêmulas se mantinham firmes só para segurar o
cigarro e a garrafa de bebida.

Ele se sentia completamente fracassado.

E mesmo tão mergulhado na voz de Minseo se confundindo com as


lembranças do que viveu junto dela, Jimin chorou mais por compreender que
aquilo tudo estava acontecendo por conta dos sentimentos confusos que eram
despertados por Jeon Jungkook.

Hoseok foi o primeiro a acordar.

Ele bocejou demoradamente e coçou os olhos enquanto se situava de onde


estava. Sabia que não era sua cama e que não estava sozinho graças ao peso
e o calor que sentia. Olhou primeiro para a direita e reconheceu o cabelo
esverdeado de Yoongi um pouco abaixo da linha de seu queixo. Ele estava
agarrado ao corpo de Hobi, encolhido e com a boca pressionada em seu
peito, dormindo tão pesado que chegava a roncar baixinho.

Hobi se remexeu e ouviu um resmungo bem próximo a seu ouvido. Ele se


remexeu de novo e arregalou os olhos ao sentir algo duro contra sua lombar.

— Se você continuar se esfregando assim só vai piorar. – a voz rouca de


Taehyung o arrepiou. O mais novo, que lhe abraçava por trás, deixou um
beijinho na nuca exposta e o cheirou, satisfeito por sentir o aroma natural do
mais velho. – Volte a dormir.

— Eu tô morrendo de calor. – reclamou sussurrando. – Preciso tomar um


banho.

— Você não consegue mesmo dormir até tarde. – lamentou e se afastou um


pouco, dando espaço para que ele se soltasse de Yoongi tomando cuidado
para não acordá-lo. – Enquanto você toma banho eu arrumo algo pra comer,
'tô morrendo de fome.

— Você vai botar fogo na cozinha da noona. – bocejou de novo. Yoongi


resmungou de olhos fechados, um bico se formou nos lábios pequenos e
Hoseok foi rápido em espalmar a mão sobre a barriga dele, sobre a camisa
leve do pijama. Ele passou a afagar em círculos, fazendo carinho. O menor
mastigou a saliva e assentiu voltando a dormir profundamente.

— O que foi isso? – Tae encarava a cena com um sorriso preguiçoso nos
lábios.

— Quando ele era pequeno, a Chaerin-noona costumava fazê-lo dormir


assim, com carinho na barriga... Ele adora até hoje. – observou o melhor
amigo e sorriu também. – Igual um gato.

— Eu gosto tanto de ver o quanto você o conhece, porque eu acabo querendo


conhecer mais de vocês dois.

— Não te faz sentir... Excluído? – Hoseok mordiscou o lábio inferior.

— Me faz sentir sortudo. Só isso. – ele se sentou na cama, o corpo quente se


esticou, as mãos grandes foram até o corpo do outro e Tae lhe beijou os
lábios suavemente, apenas encostando-os. – Bom dia, meu Sol.

— Bom dia, Tae. – respondeu. – Eu vou tomar banho... – desceu da cama e


calçou os chinelos de Yoongi. – Você deveria escovar os dentes e lavar essa
cara.

Tae deitou de novo e riu baixinho.


— Você é chato pra caralho. – acusou e Hoseok deu de ombros.

— Tô nem aí.

Hoseok tomou um banho quente com direito a passar minutos com a cabeça
sob o jato de água para refletir sobre todas as coisas que aconteceram na
noite anterior. Pela primeira vez não temia o dia seguinte, não sentia que
outra vez aquela angústia tomaria tanto espaço dentro de si.

Talvez seus passos de bebê fizessem tudo acontecer lentamente, talvez ele
tropeçasse ao tentar correr, mas de alguma forma se via disposto a tentar
seja lá o que tentaria. Quer dizer, eles tentariam. Um plural ainda confuso,
sensível e que não se sustentava sozinho.

Jung Hoseok nunca se sentiu tão feliz como naquele pequeno momento a sós
com seus pensamentos sobre plurais e tentativas, naquele seu mundo de
esperança que finalmente adquire cores diante de seus olhos.

Ele fechou o registro prateado, pegou uma toalha limpa para colocar ao
redor dos quadris e outra para secar os cabelos. Escovou os dentes depois
de procurar por alguma escova nova e estava cuspindo sabão no lavabo
quando Tae entrou e de braços cruzados encostou o corpo ao batente da
porta.

— Caralho! – o mais velho xingou ao vê-lo pelo reflexo do espelho. – Quer


me matar de susto porra?! – levou a mão até o peito ainda úmido.

— Consegui usar a cafeteira. – o sorriso orgulhoso derrubou todas as


barreiras de Hoseok. – Tem comida na geladeira.

— Você escovou os dentes? – arqueou uma sobrancelha.

— Puta que pariu, como você é chato com isto! Eu escovei Hoseok, usei o
banheiro do quarto de hóspedes! Você por acaso é dentista? Vai querer me
examinar?

— Não, mas eu quero te beijar. – sorriu se virando e apoiando as mãos para


trás, sobre o lavabo. – E não vou beijar ninguém com bafo, me recuso.
— Seu marrento de merda.

Rolou os olhos e foi até ele, roubando-lhe um beijo afoito e intenso. As mãos
de Hoseok foram diretas à nuca dele, os dedos habilidosos tocando desde o
cabelo despenteado até onde dava graças à camisa do pijama listrado. Tae
prensou o corpo menor contra a pia e lambeu a língua dele, chupando-a,
compartilharam o sabor do creme dental e sorriram entre o beijo, pensando o
mesmo sobre ser o primeiro que não tinha um sabor estranho... Ou de
lágrimas.

O beijo era quente, chegaram à conclusão que sempre seria assim entre eles.
Hoseok e Taehyung eram como bombas e quando juntos explodiram sem
avisos. As mãos grandes do mais novo contornaram as laterais do corpo de
Hobi, elas ficaram úmidas graças à água morna que ainda o cobria e quando
tocara a toalha macia, os dois respiraram um na boca do outro e o mais
velho assentiu duas vezes.

A mão direita, a que levava mais tatuagens, puxou a toalha para cima
lentamente, até mesmo a sensação do tecido contra sua pele deixava Hoseok
mais excitado. Ele mordeu com força o lábio inferior alheio e gemeu ao
sentir o pau ser apertado na base, tornando-o mais duro do que já estava. Tae
gemeu baixinho e esfregou a própria ereção contra a dele, em busca do atrito
prazeroso.

— Você me deixa... – não terminou a frase, a língua de Hoseok lambeu do


pomo-de-adão até o queixo que foi mordido com força. – Aí porra!

— Todo sensível. – brincou e desceu a mão até o elástico da calça, brincou


com os dedos de um lado para outro antes de empurrar e deixar os dedos
tocarem o pau alheio preso na cueca branca. – Eu não disse daquela vez...

— Daquela vez, nenhum de nós disse algo que fosse importante. – negou
brevemente e começou a deixar beijinhos pelo pescoço dele.

— Eu sei. – assentiu e gemeu arrastado ao que começou a ser masturbado


pela mão enorme. – Caralho, o seu pau é lindo. – confessou e arrancou de
Tae uma risadinha sacana.
— Obrigado. – o masturbou mais rápido, o polegar massageava a glande
melada pelo pré-gozo. Hoseok apertou-o mais forte, masturbou-o com força
e sorriu ao vê-lo franzir o cenho gemendo arrastado. – Isso! Porra, assim!

— Você gosta que eu seja assim, não gosta? – deitou o rosto para o lado e
assentiu junto com o mais novo. – Mauricinho do caralho. – sussurrou. –
Você gosta assim? Forte assim?

— Me faz gozar. – disse lambendo os lábios e aumentando o ritmo da


própria mão. Hobi assentiu e o masturbou mais rápido satisfeito ao vê-lo ter
de segurar no lavabo quando gozou em sua mão, sujando-se enquanto
escorria até pingar no chão. Tae parou de tocá-lo por conta do orgasmo e ia
continuar, mas o mais velho afastou sua mão e o puxou pelo cabelo da nuca,
grudando suas bocas.

— Só me beija. – o tom autoritário fez o maior assentir. Taehyung o beijou


de novo, manhoso pelo orgasmo e entregue aos toques. Hoseok começou a se
masturbar sozinho, depressa enquanto o beijava e mantinha o mullet entre os
dedos. Quando sentiu que gozaria gemeu dentro da boca do outro e puxou o
cabelo dele com mais força. – Oh... – Tae assentiu e lambeu os lábios dele. –
Caralho...

Ele gozou na própria mão e grunhiu enquanto se masturbava até tirar o que
queria, diminuindo o ritmo. Olhou para baixo e sorriu preguiçoso,
respirando pesado. Taehyung segurou-lhe o pulso e o ergueu até separar dois
dedos sujos de porra para colocar na boca e chupar encarando-o.

— Você é louco. – Hobi sussurrou, afetado pelo orgasmo e pela cena.


Taehyung o tirava do eixo. – Louco pra caralho.

— E isso é ruim? – lambeu os dedos uma última vez.

— Não. – puxou o cabelo da nuca dele e mordeu a própria boca. – É


maravilhoso.

🌙
Yoongi bebericou o café e encarou os outros dois que mastigavam a comida
e enfiava mais e mais na boca. Ele colocou a xícara sobre a mesa e suspirou.

— O que aconteceu enquanto eu estava dormindo não me deixou chateado. –


repetiu pela terceira vez e teve a atenção em si. – Parem com isso. Eu fiquei
feliz porque aconteceu e porque vocês me contaram.

— Acho que é muito mais sobre como eu me sinto, Yoon. – Hobi engoliu o
que mastigava e coçou a nuca. – Vocês são namorados.

— Então... Você se sente culpado por ter rolado? – Tae questionou.

— "Culpado" é uma palavra muito forte, acho que me sinto estranho. – ele
viu o mais novo murchar um pouco. – Não, eu 'tô dizendo que não gostei
Tae! Eu gostei muito, de verdade! – Hobi suspirou e procurou as palavras
certas. – Eu só preciso entender como isso vai funcionar.

— Eu pensei nisso enquanto ouvia vocês dois brincando de mão amiga no


banheiro. – Yoongi brincou e bebeu mais café. – Acho que dar um nome para
o que nós temos-

— Somos. – Tae corrigiu. – O que somos.

— Para o que nós somos... – sorriu. – Não é tão importante agora, vai ser
com passos de bebê porque ninguém aqui sabe como funciona. Nós
precisamos deixar acontecer.

— E como vai ser em casa?

— Hobi, você acha mesmo que os outros vão nos encher de perguntas? –
Hobi assentiu óbvio e Tae riu. – 'Tá certo, vão mesmo.

— O Jimin vai montar uma inquisição e Jin-hyung vai ser o carrasco. –


Hoseok gesticulou. – Jungkook vai ficar confuso... Ou não. – sorriu e Yoongi
arqueou uma sobrancelha.

— O que foi?
— Há uns dias nós dois conversamos e ele me disse uma coisa. – os olhares
o incentivaram a continuar. – Ele disse que meus lábios ficam curvados
quando 'tô triste, que sempre chove... Mas quando se trata de vocês dois eu
sorrio e brilho... Feito o Sol.

— Hn, então o virjão anda filosofando? Quem diria?

— Tae, para de implicar com ele. – Yoongi deu um tapinha na coxa do


namorado. – O Jungkook é muito observador, às vezes ele fica parado
encarando o nada com aqueles olhos gigantes e eu imagino que talvez ele
tenha um mundinho apenas dele.

— Certeza que esse mundinho aí tem o Jimin como presidente de tudo. – Tae
bebeu o que sobrava do chocolate com leite. – Ontem à noite o Jimin me
mandou uma mensagem dizendo que precisa conversar, acho que é sobre o
que 'tá rolando entre eles. Eu tentei ligar, mas ele não atendeu.

— O Jungkook é demissexual. – disse aos dois porque sabia que aquilo


nunca sairia dali, estranhamente sentia confiança demais. – E ele 'tá
apaixonado pelo Jimin, mas ainda não percebeu.

— O Jimin sabe?

— Acho que sim. – Yoongi franziu o cenho. – O ouvi dizer pro Namjoon que
não ficariam mais na república, que ficariam em outros lugares... Namjoon
não gostou, mas aceitou. – deu de ombros. – Acho que no fundo ele também
não quer mais magoar o Jin-hyung.

— Depois de tudo que ele já fez? Parece ser meio tarde. – Tae deu de
ombros também. – O hyung 'tá indo bem com Sunmi-noona.

— Nós estamos indo bem. – o menor entre eles sorriu e encostou-se na


cadeira de forma relaxada. Um sorriso genuíno não saia de seus lábios,
Yoongi se sentia mais feliz do que poderia explicar. – Eu não consigo parar
de sorrir.

— Então, não para. – Hoseok estendeu a mão e quando os dedos se


entrelaçaram ele trouxe o menor para sentar em sua coxa, o abraçando
apertado. – É estranho demais perceber que não tenho absolutamente nada
sob o controle, mas que tudo bem.

— A gente precisa ser um pouco egoísta de vez em quando e o meu maior


egoísmo é querer dois caras ao mesmo tempo. – o mais novo sorriu e apoiou
os braços sobre a mesa, encarando os outros. Seu coração batia tão
depressa, um frio delicioso crescia do estômago até o peito, não conseguia
parar de olhar para eles. – Puta que pariu, eu 'to muito apaixonado. –
sussurrou quando Yoongi beijou os lábios de Hoseok.

— Eu quero cozinhar! – o Min anunciou batendo as mãos na mesa. – Quero


comer massa.

— Pelo amor de deus eu não quero comer alho com molho de tomate,
gatinho.

— A gente pode pedir comida...

Yoongi os encarou e assentiu uma vez, o olhar felino pareceu triste enquanto
seus ombros se encolhiam sob o pijama grande. Era a própria tristeza em
carne e osso, amuado enquanto encarava a mesa repleta de comida. Taehyung
sentiu culpa, Hoseok rolou os olhos porque já conhecia aquela chantagem.

— A gente cozinha com você, gatinho... Vai ser legal.

— Yoongi, você é um filho da puta dissimulado. – Hobi mordeu o ombro


dele e mexeu a coxa fazendo-o dar um pulinho. – Chantagista. Eu faço o
molho.

— Tem certeza? – ele fingiu. A boca pequena fez um bico enquanto falava.

— Temos, Yoon. – beijou o bico dele. – Vamos, já são quase duas da tarde.
– com um tapinha na bunda Yoongi saiu do colo dele e sorriu enquanto tirava
a mesa. Tae trocou um olhar com Hobi e deu de ombros. – Você é muito
mole.

— Olha só quem fala! – retrucou. – Você cedeu também.

A gargalhada do Min os fez rolar os olhos.


— Aqui, acho que tá bom. – Hoseok usou a mão por baixo da colher que
levou até os lábios de Taehyung. – Precisa de mais sal?

— Só se for pra ficar igual oceano. – negou mastigando. Ele se virou outra
vez para a pequena adega sob a ilha da cozinha. – Yoongi, tem certeza que
tudo bem a gente abrir um vinho?

— Tenho. – ele sacudiu as mãos que esquentaram com o vapor da água. –


Minha omma deixa aí aqueles que bebem mais.

— Hm, isso aqui parece bom. – ele pegou a garrafa preta com rótulos num
tom de bege e leu: - Amarone Della Valpolicella. Tem notas de cereja e
amora. – assentiu.

— Cereja? – Yoongi foi até ele e leu o rótulo. – Ah, meu padrasto trouxe
duas garrafas quando eles foram à Itália há um ano. O vinhedo fica em
Pedemonte, ao norte de Verona.

— Você já foi à Itália, Tae? Eu fui quando tinha oito anos. – Hobi pegou três
taças e as colocou sobre a pia de mármore caro. – Fui a Roma com os meus
pais, mas eu ainda era muito novo, só queria voltar e jogar videogame.

— Eu nunca fui. – negou e aceitou o saca-rolha que Yoongi lhe oferecia. –


Mas eu tenho vontade de ir um dia.

— A gente podia ir. Todo mundo! – o menor sorriu. – Viajar por toda Itália.

— Provavelmente seríamos presos por algum crime federal. – Hoseok pegou


a massa cozida. – Namjoon dançando pelado na frente do Vaticano.

— Gritando que a Bíblia é manipulada. – Tae completou e beijou o ombro


dele.

— Jimin tentaria tirar ele da cadeia e seria preso por desacato ao mandar
alguém chupar o pau dele. – Yoongi pegou um pouco da massa com os dedos
e colocou na boca. – Seria uma viagem inesquecível.
— Ah não, nem pense em colocar mais alho Yoon!

— Que saco! – ele se afastou da panela e colocou o alho picado sobre a pia.
– Como vocês são chatos, porra!

— Coloca no seu prato! Enche esse cu de alho, mas não vem me beijar
depois! – Hoseok desligou o fogão e pegou a taça de vinho que Tae serviu. –
Depois ninguém te aguenta peidando.

— Nossa, concordo, é foda Yoon. – Tae entregou a ele outra taça.

— Já se juntaram contra mim, estamos indo bem! – aceitou a taça e bebeu um


gole do vinho, deixando o sabor suave pinicar na língua. Era delicioso. Ele
se virou e caminhou de volta pro quarto, ouvindo os outros dois chamarem
seu nome. Yoongi riu e procurou pelo celular sobre o móvel ao lado da
cama, naquele momento o celular de Hoseok vibrou e a foto de Bobby
preencheu a tela. O sorriso morreu.

Ele respirou fundo e deslizou para desligar em seguida.

A taça foi deixada sobre a superfície plana e o celular voltou a vibrar. Ele
repetiu o que fizera e observou as notificações que se empilhavam na tela.
Mensagens de Bobby, muitas mensagens.

Quando ele ligou de novo, Yoongi atendeu.

— Baby? Alô?

— É o Yoongi. – respondeu com um tom de voz agressivo.

— Quero falar com o Hope.

— E eu queria ser o Batman, infelizmente nem sempre temos tudo aquilo que
queremos. – Bobby respirou fundo.

— Cara, não sei qual a porra do teu problema comigo e quero que você se
foda, não me importo. Agora, cadê o Hoseok?
— Ele não vai falar com você agora e se depender de mim, nunca mais. –
encarou a taça.

— E você decidiu isso por ele? Não cansa de tomar decisões sem falar
com ele antes?

O tom jocoso ferveu o sangue de Yoongi, era óbvio que Bobby sabia de
muitas coisas e imaginava Hoseok se abrindo para ele, contando como se
sentia... O ciúme o fazia querer socar alguma coisa. Aquilo não era bom.

— Você acha que conhece o Hoseok? Acha que só porque ele fica contigo
tem o direito de se meter no meu relacionamento com ele?

— Relacionamento? Você chama essa merda unilateral que ele nutre por
você de relacionamento? Quando o faz sofrer por sua causa e usa os
sentimentos dele pra satisfazer o teu ego acha que isso é um
relacionamento? – ele riu um pouco. – Cara, você passou a vida inteira
fazendo o Hoseok de capacho e agora quer dar uma de vítima pra cima de
mim? Não vai rolar, Yoongi. Não comigo.

— Vai se foder!

Ele desligou a chamada e se virou, estava com tanta raiva que demorou até
notar Hobi parado na porta o encarando. Ele suspirou. Hoseok foi até ele e
pegou o celular, verificando a última chamada.

— Você atendeu meu celular. – não era uma pergunta. – Sabe que eu não
gosto disso.

— Ele não parava de ligar, Hobi!

— Então, devia ter me falado pra eu falar com ele.

— Por que você quer falar com ele?! – Hoseok franziu o cenho.

— Porque ele deve ter ligado por estar preocupado. Eu disse que ia
encontrar com ele depois de ir falar com o meu appa e não apareci, não dei
sinal de vida. – ele guardou o celular no bolso da bermuda que era de
Yoongi. – O que ele te disse?
— Tudo bem por aqui? – Tae caminhou até eles e encarou os dois. – O que
foi?

— Bobby ligou pra mim e ele atendeu. – explicou sem rodeios. – Yoongi,
olha pra mim. – pediu. – O Bobby é meu amigo, não importa se transei com
ele... É meu amigo.

— Eu detesto esse cara. Ele já te ferrou, te fez parar no hospital. Por que
ainda o mantém por perto?

— Yoon, calma, relaxa. – Tae chegou mais perto. – Não deixe isso estragar
nosso dia, ok?

Yoongi o encarou e respirou fundo, acalmando o ciúme dentro de si. Ele


assentiu e olhou para Hobi.

— Desculpa, eu não tinha nada que atender o seu celular.

— Tá bem, só não faz mais isso. – beijou a testa dele. – Vem, vamos comer.

Eles comeram na sala de estar, sentados ao redor da pequena mesa de centro.


Macarrão a bolonhesa com sal demais e o vinho mais caro daquela adega na
cozinha. Comeram entre as conversas triviais e lembranças compartilhadas
buscando criar mais proximidade sem notar que os corações já estavam
praticamente batendo em sincronia.

Depois, ainda jogados sobre o carpete da sala de estar, ouviram de Queen à


Lady Gaga, cantarolando uma letra ou outra durante os momentos de silêncio
confortável. Yoongi levantou dizendo que ia ao banheiro e voltou trazendo
nas mãos o violão que ganhou aos quinze anos. Hoseok sorriu ao vê-lo
entregá-lo a Taehyung.

— Toca. – pediu com um sorrisinho que nunca seria negado, não por
Taehyung.

O mais novo apagou o cigarro no cinzeiro sobre a mesinha e pegou o violão,


colocando-o sobre as coxas nuas graças ao calção que subia toda vez que se
mexia.
— O que os senhores querem ouvir?

— Pode escolher. Toca algo que te faz pensar em... No dia de hoje.

Hobi disse e bebeu mais um gole do vinho.

Taehyung refletiu e lambeu os lábios antes que seus dedos começassem a


deslizar pelas cordas do violão, iniciando uma melodia que fez os mais
velhos sorrirem. Hoseok começou a assoviar entrando no ritmo e Yoongi
deitou a cabeça no colo dele, observando-o de baixo.

— Shed a tear cause I'm missing you I'm still alright to smile boy, I think
about you every day now. Was a time when I wasn't sure but you set my
mind at ease there is no doubt you're in my heart now... – Tae cantou
afinadamente, a voz bonita se espalhando por toda a sala espaçosa. Hoseok
cantarolou baixinho junto dele. — Said: my sun, take it slow and it'll work
itself out fine all we need is just a little patience. Said: my suga, make it
slow and we'll come together fine all we need is just a little patience.
Patience.

Ele continuou a cantar e os outros dois cantavam juntos. Quem sabe


embriagados pelo vinho com notas de cereja, mas sem sombra de dúvidas,
bêbados dos sentimentos que aos poucos tomava mais e mais forma enquanto
ficavam juntos. Jogados sobre o carpete da sala de estar, movidos pela
alegria do momento, cientes de que tudo o que deveriam ter era paciência.

Estavam exatamente onde deveriam estar.

Quando Jimin entrou em casa, tropeçando nas próprias pernas, estava


bêbado demais para notar que alguém ainda o esperava acordado.

Jungkook olhou em direção ao corredor de entrada, estava tão preocupado


que não conseguiu fazer nada além de esperar, e ligar e tentar falar com ele.
Apressado caminhou até o meio da sala e ouviu um baque, o som de algo
pesado caindo no chão. Correu e viu Jimin tentando ficar de pé,
cambaleando enquanto fazia das paredes seu apoio. Ele cheirava a vodca,
cigarro e azedo. O rosto bonito estava muito vermelho, os olhos já pequenos
mal se abriam.

Jungkook o ajudou a ficar de pé.

— Hyung... O que você tem? – perguntou preocupado.

Namjoon, que ouvira o baque da queda, desceu as escadas e suspirou ao ver


Jimin daquele jeito.

— Me larga... – a voz grogue mandou e o garoto não obedeceu, sabia que ele
ia cair.

— Jimin... Hey, Jimin? – Namjoon se aproximou. – Cadê a sua moto?

— Não... O táxi... Lá fora. – apontou e sorriu embriagado, voltando a


encarar Jungkook.

Um carro buzinou e Namjoon foi rápido ao ir até a mochila sobre a poltrona,


ele pegou algumas notas e saiu da casa, indo pagar o táxi que aguardava
estacionado.

— Jung-Jungkook...

— Uhum, sou eu hyung. – Jungkook sentia-se triste, vê-lo daquela forma era
tão ruim. – Por que você bebeu assim? – sussurrou e o ajudou até conseguir
fazê-lo sentar no sofá. Depois se abaixou e puxou os sapatos dele com
cuidado, colocando-os de lado.

— Saí! – Jimin ergueu a voz. Jungkook não entendeu. – Saí, me deixe


sozinho!

— Jimin...

— Eu não quero ver você! Saí da minha frente!

— Mas eu...
— Jungkook, vai dormir. – Namjoon se aproximou e o mais novo sentiu
raiva dele, sentiu raiva por que Jimin o estava mandando sair. – Eu cuido
dele.

— Não! – negou tirando coragem de onde nem sabia. Namjoon suspirou. –


Eu vou cuidar dele!

— Saí daqui Jungkook, SAÍ! – Jimin gritou.

— Vai dormir, ok? Ele tá bêbado e quando ele fica assim... – lambeu os
lábios. – Jungkook eu gosto do Jimin... Gosto demais e eu nunca faria
qualquer coisa com ele desse jeito. Vai pro seu quarto, amanhã quando ele
estiver sóbrio, vocês conversam.

Jungkook segurou o choro que cresceu em seu peito e assentiu. Saiu sem
olhar para trás, subiu as escadas com pressa e bateu a porta do quarto. Na
sala de estar, Namjoon tirou as meias dos pés de Jimin, depois procurou pela
carteira e celular dele, colocando tudo sobre a mesinha.

Então, o mais novo começou a chorar baixinho.

— Namjoon... Eu estraguei tudo. – cochichou com a voz grogue. – Eu sou um


fodido do caralho... Estraguei tudo.

— Onde você foi?

— Eu fui falar com ela... – Namjoon suspirou de novo e sentou na mesinha,


de frente para o menor. – Eu fui dizer pra ela ficar longe dele... Porque eu
não quero que aquela merda alcance o Jungkook.

— Você não devia ter feito isso, Jiminie. – lamentou e se sentiu deprimido,
era inteligente o suficiente para entender aquela atitude.

— Eu estraguei tudo no momento que deixei ele se aproximar de mim...

— Por quê? – queria ouvi-lo dizer.

— Porque eu gosto dele, Namjoon. Eu gosto muito do Jungkook.


Namjoon assentiu e ficou calado.

Ele ajudou Jimin a ficar de pé e o levou pelas escadas até o quarto. Deu-lhe
um banho frio e o fez beber um café forte, colocou-o na cama com cuidado e
deixou uma balde ao lado porque sabia que ele vomitaria durante a noite.

Depois disso ele deitou na cama de Hoseok e o observou dormir em silêncio


até o momento que abriram a porta com cuidado e Jungkook entrou achando
que ambos dormiam. O garoto foi até Jimin e sentou na cama, ele esticou os
dedos para tocar o rosto do mais velho e se curvou para beijar a testa dele
demoradamente.

Namjoon assistiu e continuou calado.

Quando o garoto saiu do quarto, ele respirou fundo e sentiu um aperto no


peito.

De alguma forma, sentia que estava perdendo tudo.


22 - tire o meu fôlego

Meu amor, tire o meu fôlego.

Take My Breath Away - Berlin

Hyeri sorriu quando viu o filho gargalhar alto depois de seu namorado
resmungar enquanto Chaerin comemorava a segunda vitória consecutiva no
jogo. Ela aceitou mais um pouco do suco natural que um dos empregados lhe
serviu e bebeu lentamente. Os dedos de Byung ainda acariciavam seu ombro
esquerdo e ele acompanhou o olhar da esposa com curiosidade.

— O que foi, amor?

— Yoongi está feliz. – concluiu e colocou a taça sobre a mesa de vidro e


encarando o marido. – Eu não o vejo feliz assim desde quando ainda era
criança.

— E isso é bom, certo? – ela assentiu. – Então, me explique essa ruguinha de


preocupação bem aqui. – Byung ergueu a mão e com a ponta do indicador
tocou a pele entre as sobrancelhas bem feitas dela. Hyeri sorriu e ele lhe
beijou o ombro nu.

— Acho que mulheres são mesmo mais perspectivas a pequenas coisas. –


sorriu. – Olhe aquilo. – indicou discretamente.
O homem olhou para o enteado e franziu o cenho procurando por qualquer
tipo de sinal. Yoongi estava de pé próximo a piscina, usava uma regata
vermelha e uma sunga de banho da mesma cor, seus cabelos coloridos
estavam molhados e ele tinha na mão direita o celular filmando ao redor e na
esquerda uma lata de cerveja aberta. Ele bloqueou a tela do celular e
caminhou até Hoseok – o melhor amigo – pronto para mostrar o vídeo e
Taehyung se aproximou deles também, abraçando-o por trás.

— Eu não vi nada de novo. – deu de ombros e Hyeri rolou os olhos.

— Olhe as mãos de Hoseok. – apontou. As mãos de Hobi estavam esticadas


e uma delas fazia carinho por baixo da regata do Min. – Taehyung vai fazer
outra vez. – anunciou. Tae riu de alguma coisa e pegou a lata de cerveja,
levando até os lábios para beber tudo, depois ele encarou Hoseok e estendeu
a mão livre para ajustar a bandana colorida que o menor usava nos cabelos
úmidos. – Os toques, os olhares... Quando nós chegamos de manhã os três
estavam no quarto do Yoongi e não souberam disfarçar nada do que
deveriam estar fazendo.

— Você acha que...

— Vou conversar com Yoongi.

— Devo me preocupar? – Byung massageou a nuca dela.

— Não. Eu confio no meu filho, mas eu não quero que ele se machuque ou
machuque outras pessoas. – suspirou. – Por agora vamos só aproveitar esse
momento raro.

Um pouco distante do casal e mais próximos à piscina, Yoongi deixou o


celular sobre a espreguiçadeira, tirou a regata e a jogou por cima do objeto.

— Vou voltar pra piscina.

— Primeiro gato que eu vejo que não têm pavor de água. – Tae brincou e
sorriu para o namorado e rolou os olhos e mergulhou espalhando água para
todos os lados.
— Tae? – Hobi o chamou e quando o mais novo se virou nem teve tempo de
reagir ao pedaço de bolo que foi enfiado em sua boca. – Você só 'tá
bebendo, come alguma coisa.

— Espera aí! – resmungou mastigando. Hobi limpou o glacê do lábio


inferior dele e ofereceu o polegar sujo com o doce. Tae chupou e mastigou o
bolo. – Eu tomei café.

— Se você chama hambúrguer e refrigerante de café da manhã, nem imagino


o que chama de jantar. Você precisa comer direito, Taehyung. Você pula as
refeições e fica comendo besteira de madrugada...

— Você reparava tanto assim em mim, marrentinho? – arqueou uma


sobrancelha e mordeu mais um pedaço do bolo que Hobi lhe oferecia com o
garfo.

— Era involuntário. – deu de ombros. – Yoongi segue uma alimentação


restrita e eu ficava de olho pra ver se ele estava comendo direito
automaticamente eu também ficava de olho em você.

— 'Tô doido pra te beijar. – disse mais baixo. Os amigos de Chaerin eram
barulhentos, mas eles queriam ser discretos por enquanto. – Doido pra
lamber glacê tua boca.

— Para de provocar. – ralhou mastigando do bolo e segurando o sorriso.


Yoongi se aproximou deles, pingando água do corpo e do cabelo que ele
penteou para trás entre os dedos pálidos. – Abre a boca, Yoon.

O menor franziu o cenho, mas obedeceu. Hobi levou o bolo até a boca
pequena e sorriu quando o viu comer.

— Querem beber? – perguntou mastigando.

— Alguém tem que voltar dirigindo. – Tae suspirou. – Não vou beber muito,
Jimin quer conversar mais tarde... Nós vamos dar uma volta. Eu volto
dirigindo.
— Noona?! – o Min chamou pela irmã. Chaerin deixou os amigos por um
momento e foi até eles. Vestia um maiô branco, um quimono preto por cima e
seus cabelos loiros estavam presos para o alto. Era uma mulher linda e
encantadora, a maior prova disso era como as pessoas ali faziam questão de
estar perto dela.

— O que foi, Gi? – o abraçou pelo ombro.

— Está gostando do que a omma organizou?

— Ela me fez voltar do Japão só pra estar aqui, cuidou de tudo... Omma
sempre acerta. – sorriu e encarou Hoseok. – Hobi-ah, você ainda está
solteiro?

Hoseok arqueou uma sobrancelha e Yoongi encarou a irmã mais velha.

— Uhum. – apenas assentiu, ele não sabia bem o que dizer. Taehyung cruzou
os braços. – Por quê?

— Um amigo meu te achou lindo. – Chaerin piscou pra ele e riu um pouco,
então ela não entendeu quando o irmão mais novo fez uma careta. – O que
foi?

— Quem? Qual o nome?

— Yoon... – Hobi suspirou, mas queria rir. – Noona, eu não 'tô interessado,
mas obrigado.

— Ok. – Chaerin deixou a garrafinha de cerveja sobre a espreguiçadeira e


encarou os três homens. – O que está acontecendo aqui? – fez um gesto,
apontando para o meio deles.

— A gente tá... Junto. – Taehyung deu de ombros.

— Os três?! – ela quase arregalou os olhos, o mais alto assentiu. – Porra,


você é um guloso do caralho Min Yoongi! – acusou. – Quem foi que você
puxou sendo safado desse jeito?

— A você, noona. – o sorrisinho o fez levar um tapa no braço. – Aí, porra!


— Você vai me explicar isso! Mas não agora. – ajeitou o cabelo.

— Então, tudo bem... Isso? – perguntou receoso e ela negou sorrindo,


chegando pertinho para abraçá-lo e esfregar o nariz contra o dele.

— Se você estiver feliz. – assegurou e deixou um beijinho no nariz dele. –


Você sabe que se você estiver feliz o resto não é importante. – se virou para
os outros dois, voltando-se para Hoseok. – Finalmente.

— É. Finalmente, noona. – sorriu assentindo uma vez.

— Devem estar desconfortáveis aqui, querendo ficar juntos. – gesticulou. –


Leva os dois pra área privada, Gi... Pega umas bebidas e coloca no freezer
de lá. – piscou pro irmão mais novo.

— Depois pergunta a quem puxei. – provocou e Chaerin lhe acertou um tapa


na nuca.

— Me respeita! – mandou e olhou para trás quando chamaram seu nome. –


Vou voltar para lá, fiquem à vontade garotos.

Chaerin saiu desfilando até os amigos e Hoseok pegou outro pedaço do bolo,
pronto para fazer Taehyung comer mais um pouco. Ele aceitou, mas
resmungou fazendo Yoongi rir.

— Vamos pra área privada? – propôs já escolhendo as bebidas do freezer


que estava próximo.

— Vou acabar bebendo. – Tae concluiu.

— A gente volta de Uber, Tae. Amanhã as aulas voltam, à rotina... Vamos


aproveitar mais um pouco.

— Olha só, o marrentinho todo carente. – riu.

— Vai se foder. – Hoseok rolou os olhos e deixou o bolo de lado pra ajudar
Yoongi com as bebidas. – Vamos.
Os três deixaram a pequena comemoração rumo a área privada, descendo a
pequena escada que dava para a piscina menor e aquecida na parte coberta.
Yoongi deixou as bebidas sobre uma das espreguiçadeiras, Hoseok sentou
numa outra para conectar o celular à pequena caixa de som vermelha e
Taehyung se desfez da camisa e da bermuda para mergulhar na piscina
quente.

A música que se iniciou fez o Yoongi sorrir antes de ocupar a coxa de Hobi
e oferecer na boca dele um pouco da cerveja gelada, encaixando a garrafinha
nos lábios rosados.

Ele bebeu mantendo os olhos presos ao olhar felino do menor, deixando que
suas mãos tocassem as coxas geladinhas, que as apertasse entre os dedos
cheios de anéis prateados.

— Eu 'tava doido pra te beijar. – confessou enquanto deixava beijos


mordidos pelo pescoço de Hobi, sentindo o cheiro dele. – Não conseguia
parar de pensar nisso.

— Por isso estava entrando na água toda hora? – uma das mãos encaixou a
nuca dele, prendendo-o naquele lugar, com a boca pequena pairando sobre a
própria boca. – Pra acalmar esse seu fogo? – sorriu ladino.

— Seok... – choramingou num bico ansioso quando viu o outro morder a


boca o provocando. – Me beija.

Hoseok lambeu os lábios e assentiu se aproximando, primeiro selando seus


lábios com carinho e quase devoção porque apenas ele sabia o quanto quis
aquilo durante todos os anos, o quanto sonhava em ter Yoongi em seus
braços e poder amar cada pedaço dele sem medo.

Ele o beijou devagar, deixou a língua provar da língua dele, saboreando o


gosto do bolo de baunilha e do álcool das cervejas compartilhadas durante a
festa de aniversário. Yoongi praticamente derreteu sob seus toques,
encolheu-se no colo do maior e assentiu dentro do beijo, assentiu sem saber
por que, mas concordando com qualquer coisa que Hoseok lhe fizesse.
E na caixinha de som, Wonderwall continuava tocando sendo a trilha sonora
daquele momento tão mais bonito se comparado a uma conversa desastrosa
meses antes.

Em cada pequeno gesto de Hoseok e Yoongi existia amor. Um amor


amadurecido, apesar de negado por tanto tempo. A falta daquele tipo de
intimidade não atrapalhava em nada, na verdade abria espaço para que
fossem íntimos dos corpos da mesma forma que eram íntimos em seus
corações.

Taehyung nadou até a borda da piscina e afastou o cabelo molhado do rosto


antes de apoiar os braços para fora, observando os mais velhos não podendo
evitar sorrir transbordando numa satisfação assustadora.

Ainda era assustador.

Sentir tantas coisas ao mesmo tempo por duas pessoas diferentes era
assustador, mas na maior parte do tempo, ele se sentia o homem mais sortudo
do mundo.

Na menor parte, numa parte bem profunda de si, ele sentia medo.

Yoongi findou o beijo com selinhos demorados enquanto segurava o rosto de


Hobi entre as mãos e o fazia sorrir de olhos fechados.

— Eu te amo. – sussurrou um pouco antes de selar os lábios outra vez. –


Meu Sol.

— Eu também te amo. – retribuiu raspando o polegar pela bochecha dele. –


Gatinho.

Tae se virou para mergulhar de novo, mas ouviu os passos apressados e


depois sentiu a água espirrada contra seu rosto. Yoongi emergiu sorrindo,
passando as mãos pelo rosto antes de nadar até ele. O abraçou com pernas e
braços, exigindo ser segurado por braços fortes cheios de tatuagens.

— Eu também te amo. – disse sorrindo. – Amo muito, Tae.

— Eu sei. – brincou. – Também amo você.


Yoongi selou os lábios dele e se afastou para nadar livremente. Taehyung
passou as mãos molhadas pelo cabelo, não viu quando Hoseok sentou na
beirada da piscina, deixando as pernas afundando na água quentinha. Ele
estava sem camisa agora, uma garrafa de cerveja numa das mãos e um
cigarro aceso na outra.

Hobi tragou e o encarou em silêncio, sendo retribuído à altura.

Não diriam nada que não fosse verdade e por isso diziam a Yoongi que o
amavam, mas os sentimentos sobre eles dois ainda eram confusos em partes
que uma troca de olhares sabia confessar mais do que palavras.

Havia paixão demais naquele olhar, havia um desejo palpável e até mesmo
um pouco da marra que escapava de ambos... Mas ainda era cedo e confuso
dizer que haveria amor.

Ainda.

O mais velho sorriu e deixou a garrafa ao lado do corpo enquanto o mais


novo se aproximava devagar, nadando até sentir o fundo da piscina sob os
pés. Tae segurou-lhe os joelhos, esfregou as mãos molhadas de ali até as
coxas, amassando a bermuda fina para expor a pele arrepiada. Hobi tragou
de novo e depois encaixou o cigarro nos lábios alheios, deixando-o tragar
demoradamente ainda o encarando.

— Você disse que queria me beijar. – relembrou soltando a fumaça. –


Desistiu?

— Sinceramente, eu não acho que exista uma realidade onde eu desista de


você, Hoseok.

Yoongi, se aproximando dele, pegou a garrafa e bebeu até o fim.

— Isso é um alívio se paro pra pensar no quanto eu sou teimoso. – suspirou.


– Meu appa me ligou mil vezes, eu não atendi nenhuma delas. – confessou
apagando o cigarro dentro do cinzeiro de vidro esquecido próximo aos pés
da espreguiçadeira. – Minha omma também ligou e me mandou uma
mensagem.
— O que dizia? – Yoongi apoiou os cotovelos na borda.

— Que me ama. – ele sorriu sem vontade. – Mas eu acho que eles não amam
quem eu sou... Meus pais amam o que querem que eu seja.

— E o que você ama? – Tae afagou o quadril dele, um pouco acima do


elástico da bermuda. – Qual Hoseok você ama?

— Eu não sei bem. – negou com sinceridade, tentando conter o aperto que
sentia no peito e o nó na garganta. – Mas eu amo o Hoseok que eu sou
quando vocês dois estão comigo, porque esse Hoseok é feliz de verdade.

— Vamos prometer uma coisa. – Yoongi deixou a garrafa de lado e se virou


para eles, tomando um lugar entre as pernas de Hobi até ficar entre eles,
podendo assim tocar os dois. Olhou para cima e Hobi se curvou até beijar-
lhe a testa. – Seok... Tae... – encarou o namorado. – Vamos prometer uma
coisa.

— O que?

— O que, Yoon?

— Vamos fazer o possível pra isso dar certo, pra sermos felizes juntos. – por
baixo da água segurou a mão de Taehyung e buscou pela de Hoseok com a
outra. – Aqui, bem aqui onde eu 'tô... Eu tenho a sensação de que é o meu
lugar, é onde eu devo estar... É onde eu nasci pra estar. Onde eu quero estar.
– sorriu. – Eu amo você Seok, eu amo você Tae... E eu amo o que sou
quando estou aqui. – ele apertou a mão de Hobi. – E eu quero que você se
ame Hoseok, independente de nós dois... Eu quero que você ame estar vivo.
Então, vamos prometer fazer isso dar certo.

— Eu prometo. – Tae foi o primeiro a dizer, uma mão entrelaçada a de


Yoongi e a outra fazendo carinho na coxa de Hoseok.

— Prometo. – Hobi assentiu e fungou baixinho. Os outros dois ficaram


apreensivos, o coração apertava demais por ver o Jung tão frágil.
— Vem cá, meu Sol. – Tae o puxou com cuidado, fazendo-o entrar na piscina
também. Os braços de Hoseok agarraram a cintura de Yoongi depois de ele
se virar para abraçá-lo apertado. – Não atenda nenhuma ligação, ignore as
mensagens... Não tem problema nenhum no teu silêncio.

— Nem com os seus pais, nem com a gente. Não tem problema nenhum em
chorar ou rir, mas continua deixando a gente rir e chorar do teu lado. –
afagou a bochecha dele. – Eu também prometo.

Taehyung, aproveitando-se de ser o maior, abraçou os dois ao mesmo tempo


e ganhou um riso curto de Hoseok. O mais novo beijou a nuca de Yoongi e
depois beijou os lábios de Hobi.

Na pequena caixa de som, Tracy Chapman cantava Fast Car num volume
baixo. Havia uma carteira de cigarros caros sobre a espreguiçadeira, junto
do isqueiro vermelho e três camisas amassadas.

Na piscina três homens abraçados entre risinhos bobos e algumas lágrimas


medrosas, pensaram muito sobre a promessa anteriormente feita e do que
seriam capazes para mantê-la, porque eles sabiam que haviam prometido
algo que não estava sob o controle de ninguém além do próprio tempo.

Então, o tempo poderia ser o salvador... Ou o vilão.

À noite, depois das sete, Jimin empurrou para o lado o copo vazio e apoiou
os cotovelos à mesa de madeira.

O bar estava vazio para um domingo à noite, o velho Jukebox não poderia
ser mais ironia porque Elvis Presley continuava falando sobre como é
impossível se apaixonar. Taehyung, virando uma garrafinha de soju, franziu o
cenho para a careta do menor.

— Jimin, sério, você tá péssimo.

— E você nunca pareceu tão óbvio. – bufou erguendo o copo para chamar
atenção de uma das garçonetes vestidas em suas saias curtas. – O que rolou
entre vocês três?

— Achei que queria falar do Jung-

— Depois. – gesticulou. – Me conta o que aconteceu primeiro, eu preciso


criar coragem. Oi. – se virou para a garota. – Querida, pode me servir mais
uma? – mostrou o copo vazio. – Não! Me trás a garrafa inteira. Por favor?

— Oh, ok. – ela sorriu e se afastou.

— É meio preocupante que esteja querendo encher o cu de uísque num


domingo à noite sabendo que tem aula amanhã.

— Ok, agora me conta.

— Hoseok teve problemas com os pais... Sério, por que nossos pais
precisam ser tão complicados?! Você tem muita sorte com o seus. – assentiu.
– Enfim, ele ligou pro Yoon e nós fomos até ele... Jimin, eu nunca senti tanta
raiva de alguém como sinto raiva do pai dele. Hobi estava tendo um ataque
de ansiedade, tremendo... Respirando com dificuldade. Nunca mais quero
vê-lo daquele jeito. – negou e bebeu mais um gole. – Nós conversamos
quando ele chegou... – sorriu e Jimin sorriu porque ver Tae feliz aquecia seu
coração. – Na banheira. Ele me pediu pra ficar e eu fiquei, eu cuidei dele
junto com o Yoongi. Porra, cara... Hobi chorou nos meus braços e disse que
se sentia vivo ali...

— Você está sorrindo feito um babaca.

— Acho que eu sou um babaca. Um babaca apaixonado.

— Por ambos? – Tae assentiu. – Rolou? – arqueou uma sobrancelha.

— Não... Tudo. – o sorrisinho não mostrava os dentes. – Ele não 'tava bem
pra isso e nenhum de nós quis que fosse naquele momento. – ele sorriu de
verdade e Jimin estranhou.

— O que foi?

— Até isso é tão diferente, Jimin.


— O que?

— Eu. – apoiou as costas ao encosto do banco e jogo o guardanapo


amassado sobre a mesa. – Antes, eu via sexo como uma coisa necessária...
Quando eu ficava com alguém era porque íamos transar no fim da noite...
Mas agora. – sorriu. – Tudo bem ficar numa piscina aquecida trocando
beijos e carícias, tudo bem bancar o engraçado se isso fizer Yoongi e
Hoseok sorrirem pra mim. Tudo bem se for com eles.

— Que droga. – reclamou passando as mãos pelo rosto. Ele afastou alguns
fios que escapavam do coque e nem esperou a garçonete se afastar antes de
servir mais uma dose de uísque no copo. – Que merda!

— O que? – estranhou. O semblante de Jimin o preocupava. – Jimin, o que


foi?

— Tudo o que você disse. – ele bebeu a dose de uma vez, fez careta e bateu
o copo na mesa pronto para servir outra dose, mas a mão de Tae segurou seu
pulso.

— Cara, devagar. – pediu com preocupação. – O que aconteceu?

— Jungkook.

— O que tem ele?

— Eu me sinto assim sobre ele. – respirou fundo e Tae o soltou. – Caralho,


que merda!

— Fala o que rolou, Jimin.

— Na sexta à noite, depois que vocês saíram do nada, eu e ele ficamos no


meu quarto... A gente fez umas paradas lá.

— Você transou com ele?

— Não. – negou veemente. – A gente se tocou e eu acabei batendo uma pra


ele...
— Pois é, o neném não é tão neném.

— Tae!

— Ok, continua. – gesticulou.

— Rolaram essas coisas, então ele disse que queria que eu tirasse a
virgindade dele!

— Até agora estou esperando você me dizer por que está bebendo igual um
alambique. – apoiou os braços na mesa. – Vocês vivem se esfregando
mesmo, achei que já tivesse rolado.

— Disse pra ele que as coisas iam acontecer no tempo certo.

— Que fofo. – zombou.

— Vai tomar nesse seu cu. – gesticulou. – No sábado de manhã quando a


gente voltou pra casa tinham deixado um presente pro Jungkook, não tinha
identificação. Quando ele abriu tinham umas fotos minhas com Minseo e uma
boneca macabra sem olhos e pintada de vermelho.

— Caralho! Mas que porra-

— Foi ela, Minseo. Ela mandou isso pra ele.

— Jimin... Você precisa procurar a polícia. – se preocupou. – Quem manda


um negócio desses pra alguém?!

— Eu fui falar com ela-

— O que?! Você fez o que?! – ergueu a voz e Jimin suspirou.

— Tae...

— Não! Nem vem! Porra Jimin! – ele estava nervoso. – O que porra você
tem na cabeça?!

— Eu fui dizer pra ela deixar ele em paz!


— Jimin... – respirou fundo. – Minseo não vai te ouvir... Ela fez isso pra que
você fosse até ela e conseguiu! – Tae pegou o copo dele e serviu uma dose
pequena do uísque. – Você fez exatamente o que ela queria! – virou a bebida
e fez uma careta. – Isso é horrível!

— Eu não devia ter ido até lá. – concordou num murmúrio, seus ombros
estavam encolhidos, não havia a confiança que Tae tanto admirava.

— Ela te fez alguma coisa?

— Ela me fez lembrar a droga de homem que eu sou. – sorriu sem humor.

— Jimin...

— Me fez lembrar que sou um babaca obcecado por atenção, por ser
perfeito. Que as pessoas só se interessam por mim porque eu sou promíscuo
e fácil. – ele estava brincando com o rótulo da garrafa de soju. – Que quem
me conhece de verdade sente nojo.

— Você não é nada disso.

— Taehyung eu-

— Me escuta, ok? – Jimin assentiu. – Você é incrível e ela diz essas coisas
pra te machucar porque sabe que nunca mais vai ter um cara tão incrível
quanto você. É um homem lindo, inteligente, sexy e atencioso... Qualquer
pessoa no mundo cairia no seu charme Jimin, qualquer pessoa no mundo se
encantaria por você.

— Porque eu sou promíscuo.

— Não. Porque você é genuíno. – ele sorriu e Jimin o encarou. – Eu gosto


quando diz que é metade da minha alma porque isso me faz ter certeza que
tenho uma alma linda. Você chorou comigo encostado naquele carro e me
contou seus segredos, você se abriu só pra que eu me sentisse seguro o
suficiente pra falar sobre os meus fantasmas. Dividiu comigo um baseado,
uma cama e a sua alma... Jimin, eu te amo. – procurou pela mão menor. – É
diferente do amor que eu sinto pelo Yoongi e dos sentimentos confusos sobre
o Hoseok... É o amor mais sincero e altruísta que eu já amei na minha vida.

— Tae... – a voz embargada anunciou as lágrimas, os olhos pequenos


brilharam graças a elas. Jimin entrelaçou os dedos aos dele. – Eu comprei
comida, muita... Vodca e aluguei um quarto de motel... – contar isso a alguém
era um alívio, dividir aquela angústia o fazia querer desabar de vez. – Eu
comi aquilo tudo de uma vez e vomitei tudo depois... – secou a bochecha
direita. – Bebi até não conseguir ficar de pé enquanto ele me mandava
mensagens pedindo que eu só dissesse que estava tudo bem... Eu fiquei
bêbado enquanto ouvia as músicas que ele mais gosta. – com as costas da
mão, Jimin esfregou a ponta do nariz. – E quando eu cheguei, ele estava me
esperando acordado, Namjoon me disse que Jungkook me ajudou e eu o
mandei sair, que eu gritei pra ele me deixar sozinho... – fungou. – Fui um
idiota, eu sou um idiota...

— Você estava bêbado.

— Quando eu acordei tinha um copo com água na mesa de cabeceira junto de


duas aspirinas. Desci depois de um banho, Jungkook estava lavando roupa e
quando me viu... Porra, Tae... Os olhos dele... Aqueles olhos conseguem
acabar comigo... – Jimin arfou baixinho. – Ele sorriu pra mim, eu conseguia
ver a mágoa nos olhos deles, mas ele sorriu e me disse "você melhorou
hyung". – ele soltou a mão de Tae para passá-la pelo rosto. – Eu fui um
idiota, sai sem explicar nada e voltei bêbado! Fui grosso com ele e ainda
assim...

— Hoseok me disse que ele é demissexual. – suspirou.

— Ele quer transar comigo, ele vive ao meu redor...

— Ele está se apaixonando por você, por isso quer estar com você. Se sente
ligado a você. – o encarou. – Você não se sente da mesma forma?

— Eu não sei, Tae. Eu gosto muito do Jungkook... Eu gosto mais do que já


gostei de outras pessoas... Eu gosto dele como gostava de Minseo... No
começo.
Então, como uma cortina que se abre para o início de um espetáculo,
Taehyung compreendeu o medo nos olhos de Jimin.

Aquilo não era estritamente sobre Jungkook ou sobre Minseo, aquilo era
sobre Jimin.

Sobre o homem diante de si e todas as coisas que ele havia vivido durante o
relacionamento anterior. Acontece que, por mais que estivesse ciente, parte
de Jimin ainda não o classificava como algo não saudável e isso era
evidente nos receios que ainda possuía sobre denunciar Minseo, no respeito
unilateral que ele mantinha sobre a família dela.

O coração de Jimin era bom. Bom até demais e enquanto estava sendo bom
dava espaço para que outras pessoas o machucassem.

Ele gostava de Jungkook, podia dizer que se sentia apaixonado pelo garoto
mais novo, mas ainda existiam coisas demais, cicatrizes que ele costumava
maquiar com um flerte qualquer e nunca precisava expor em público, nunca
colocava sobre a mesa... Mas então Jungkook estava ali, ele vinha e Jimin se
perdia naquele olhar curioso ou no sorriso doce.

Então, no fim do dia Park Jimin era um homem medroso e sem jeito, ele se
achava fraco e descartável.

Taehyung suspirou e pegou o outro copo esquecido sobre a mesa, ele serviu
uma dose de uísque em cada e fechou a garrafa. Jimin secou as lágrimas e
pegou o que lhe pertencia bebendo junto do mais novo que daquela vez não
fez careta.

— Eu sei que me chamou pra essa conversa pra desabafar e não ouvir
conselhos, eu sei que não sou o homem mais apto do mundo pra te dizer o
que fazer... Mas eu vou dizer mesmo assim.

Jimin assentiu.

— Minseo está fora da sua vida de forma física, mas você a mantém presente
mais do que percebe quando a deixa influenciar suas escolhas. Jungkook não
é Minseo, eu não sou... Você não é ela, não é o que ela diz... Você é o
contrário de tudo aquilo e por isso ela te procura, para que volte a ser o
homem que ela abusava. Esse garoto está te deixando entrar na vida dele...
Você quer estar na vida dele?

— Quero. – confessou baixo.

— Então, deixe que ele entre na sua vida também.

— E se eu estragar tudo?

— Se vocês fizerem tudo certo? Dessa vez Jimin, você não vai ter de fazer
nada sozinho. Muito menos ser feliz.

Jimin fungou outra vez e abaixou o rosto para esconder que sentia vontade de
chorar, de dar um jeito naquele nó na garganta.

Foram embora pouco tempo depois, nenhum deles disse algo dentro do Uber
quase silencioso, não fossem as músicas que vinham da rádio sintonizada.
Jimin conferiu a hora no relógio preso ao pulso e sorriu um pouco quando a
voz de Eddie Vedder cantou as primeiras palavras de Black.

Tae notou o sorriso dele, mas não disse nada.

Chegaram a casa e deixaram os sapatos no corredor. Taehyung se juntou a


Yoongi e Hoseok no sofá, ouvindo ambos discutirem sobre a qualidade da
pipoca de micro-ondas. Jimin os viu juntos e sorriu. Principalmente porque
Hoseok não carregava mais aquela tristeza profunda no olhar, porque ele
estava brilhando de novo.

Caminhou rumo à lavanderia, sabia que o encontraria lá. Jungkook se virou


ao ouvir a porta abrir, ele sorriu para Jimin e franziu o cenho quando o mais
velho tirou o amaciante de suas mãos, colocou sobre a secadora, e o abraçou
forte.

Retribuiu igual, afundando o rosto na curva do pescoço do mais velho,


aspirando o cheiro que o acalmava sempre. Jimin o beijou no pescoço, as
mãos nervosas seguraram sua nuca, então ele beijou-lhe o queixo, a
bochecha, a trave dos lábios, e por fim a boca pequena.
Ele o beijou com tudo que tinha, o beijou como nunca antes, o deixou tonto
com as sensações que tomaram conta do corpo.

Jungkook agarrou a jaqueta de couro, se desfez nos braços que se tornaram


seu lugar favorito no mundo e sentiu os olhos arder quando Jimin se afastou e
o manteve próximo por conta na mão em sua nuca e a outra que o puxou um
pouco mais pela cintura.

— Me desculpa? – sussurrou contra os lábios pequenos. – Eu fui um idiota,


sinto muito.

— Hyung, tá tudo bem...

— Não, Jungkook. Não está. – negou e o olhou nos olhos. – Quando algo não
estiver bem, quando eu vacilar contigo ou te magoar... Não finja que está
tudo bem, não anule a tua mágoa por minha causa. Eu não mereço isso,
ninguém merece que você faça isso.

— Você estava bêbado. – tentou.

— Não importa. – apertou a cintura dele. – Olha pra mim, meu menino. –
Jungkook mordeu o lábio inferior e o olhou. – Promete que você nunca mais
vai fazer isso. – acariciou a nuca dele, os cabelos macios e grandinhos. –
Hn?

— Eu prometo, Jimin. – assentiu.

Jimin se esticou para beijá-lo outra vez e o abraçou mais forte.

— Dorme comigo hoje, Jungkook?

Foi a primeira vez que o pedido veio dele, então o coração de Jungkook –
que já batia acelerado – o assustou um pouco. Ele só assentiu e sorriu.

— Seu coração...

— Tudo bem, hyung... Meu appa me disse que isso não é infarto. – Jimin
acabou por sorrir de novo. – Isso é só você.
E era Jimin, a cada dia ele tinha mais certeza.

Da sala Hoseok gritou que ia pedir pizza, mas que quem tocasse em suas
azeitonas seria expulso da casa.

Uma semana depois, numa quarta feira nublada e abafada, quase todos os
moradores da república sete estavam fora, exceto Taehyung, Yoongi e
Hoseok.

Não tinham aula naquele período e combinaram de voltar para casa, para
ficarem um pouco a sós visto que sempre estavam em companhia dos outros
moradores.

Yoongi cozinhou bulgogi e eles almoçaram juntos, conversando sobre as


aulas e os planos para o pequeno recesso depois das provas. Taehyung lavou
a louça depois de reclamar por minutos, dizendo que Hoseok roubara no
"pedra, papel & tesoura".

Subiram para o quarto de Jin cientes do perigo caso ele os pegasse lá sem
sua autorização, mas se esparramaram na cama grande e não demorou nada
para que os três estivessem roncando pelo cansaço.

Yoongi dormia numa ponta e Hobi na outra enquanto Taehyung se mexia para
agarrar um ou outro graças à mania de dormir com um travesseiro. As quatro
horas ele levantou para ir ao banheiro e coincidentemente a campainha
tocou. Ele fez o que tinha de fazer, lavou as mãos e desceu bocejando.

Tocaram mais duas vezes antes que ele abrisse a porta para um homem alto,
bem vestido e que não disfarçava sua impaciência.

— Onde está Hoseok?

Tae franziu o cenho.

— Hoseok está dormindo.


— A essa hora da tarde?! Ele deveria estar na faculdade!

O homem ergueu o pulso para conferir o horário no relógio dourado e caro,


ele bufou e olhou para dentro da casa, por cima do ombro de Taehyung.
Depois, franziu o cenho ao perceber que não conhecia aquele garoto que
abriu a porta. O mediu dos pés a cabeça, as sobrancelhas grossas se
franziam a cada centímetro a mais que via. Tatuagens, o cabelo longo demais
para o normal, piercings no rosto, o corpo grande exposto graças à ausência
da camisa.

Tae sentiu desconforto enquanto aquele cara o encarava.

Yoseob ficou incomodado, aquele garoto era muito parecido com alguém de
seu passado.

— Quem é você? O que quer com o Hoseok?

— Eu sou o pai dele, moleque. – desdenhou gesticulando. – Agora saía da


minha frente porque eu tenho um compromisso e antes preciso falar com o
Hoseok.

Tae franziu o cenho e sorriu. Ele sorriu genuinamente e tomou a cabeça para
o lado, fazendo assim os fios mais longos cobrirem seus olhos grandes.

O sorriso dele deixou Yoseob mais incomodado ainda.

— É o pai do Hobi? Eu sou Taehyung. Kim Taehyung.

— Não me interessa quem-

— É só pra você saber o nome do homem que bateu a porta na sua cara. Vai
tomar no cu, seu babaca.

Então, ele bateu a porta.

Yoseob piscou algumas vezes até entender o que estava acontecendo. Ele
franziu o cenho e ergueu a mão para esmurrar aquela porta e colocar aquele
moleque atrevido no lugar, mas respirou fundo. Era um homem de respeito,
não desceria a um nível tão baixo.
Kim Taehyung.

Certo, ele se lembraria daquele nome.

No quarto, Yoongi abriu os olhos e resmungou quando não achou mais


ninguém para se agarrar na cama. Ele tinha um bico emburrado nos lábios
quando Hobi abriu a porta do banheiro e voltou pra cama bocejando.

— O que foi?

— Nada. – negou e engatinhou por cima do menor, ficando de quatro sobre o


corpo dele. – Você ainda fica me abraçando pra dormir.

— Fico? – a voz estava rouca. – Você está cheiroso. – percebeu. – O que


estava fazendo no banheiro, Jung Hoseok? – arqueou uma sobrancelha e
sorriu.

— Eu tomei um banho rápido. O Tae foi até o meu quarto, pedi pra ele pegar
uma coisa. – Hobi estava sem camisa, o short de flanela curto mostrava
bastante as coxas macias. Sentou sobre o quadril de Yoongi e começou a
brincar com a barra da camiseta preta que ele usava. – Ainda está com sono?

— Não. – negou espalmando as mãos grandes nas coxas dele, acariciando-


as. – O que pediu pro Tae pegar?

— Yoon... – disse baixo. – Quero fazer amor com você. Agora. Aqui.

Yoongi lambeu os lábios e sorriu um pouco, seu coração estava acelerado


como nunca.

— Jin-hyung vai nos processar. – brincou e Hoseok assentiu sorrindo.


Aquele sorriso que era tão deles. O sorriso de coração. O sorriso que
conseguia iluminar o mundo inteiro, mesmo que lá fora o tempo estivesse
nublado. – Eu também quero Seok-ah.
Taehyung entrou no quarto e trancou a porta. Tinha nas mãos duas camisinhas
e um sachê de lubrificante vermelho. Ele sorriu e deixou tudo sobre a
mesinha de cabeceira antes de sentar na poltrona próxima a cama.

— Você não vem Tae? – Yoongi perguntou quase manhoso.

— Não. – negou num sorriso quadrado e abriu as pernas enquanto acendia


um baseado inteiro. – Eu quero assistir. - disse com o cigarro entre os
lábios.

Hoseok esfregou-se contra a ereção alheia lentamente, provocando enquanto


encarava o mais novo. Yoongi ergueu o tronco e o beijou intensamente,
deixando que os dedos agarrem o cabelo da nuca úmida e a língua invadisse
a boca dele. Hoseok gemeu dentro do beijo, abraçando-o como podia.

Não demorou até que as respirações ficassem altas e a boca de Yoongi


quebrasse o beijo para traçar um rastro de beijos pelo pescoço de Hoseok.

— Eu adoro o seu cheiro. – disse antes de morder a curvatura do ombro dele


que sorriu e assentiu abrindo os olhos para encarar Taehyung enquanto
puxava a camiseta preta do corpo de Yoongi, tirando-o e atirando para trás.

— Deita. – Hoseok mandou num sussurro e ele obedeceu. Saiu do colo dele
ao mesmo tempo em que puxava o short preto pelas coxas pálidas e depois
por suas pernas. Hobi beijou a parte interna da coxa branquinha e mordeu
com força, chupando a pele para soltar num estalo em seguida. Yoongi gemeu
e olhou pra Taehyung, lambendo os lábios ao vê-lo soltar a fumaça do
baseado lentamente. As pernas grandes continuavam abertas e uma das mãos
acariciava o pau marcado sob o moletom folgado. Ele gemeu mais alto
quando a boca de Hoseok se fechou ao redor de seu pau e mordeu
suavemente a base presa na cueca vermelha. Ele puxou a peça com pressa e
voltou a beijar as parte interna das coxas, lambendo e mordendo até pairar
os lábios onde o menor mais queria.

— Me chupa. – pediu e ganhou um sorriso atrevido junto com a negativa


breve. – Seok-ah, me chupa...
— Peça "por favor". – Taehyung, com o cotovelo apoiado ao braço da
poltrona sorriu e tragou do baseado.

— Seok-ah... Por favor?

Então, Yoongi gemeu mais alto quando o pau foi acolhido pela boca dele,
engolido até os lábios tocarem sua virilha. Assentiu para o nada e agarrou o
cabelo castanho quase em desespero, fodendo os quadris para cima até que
fosse segurado em força e parado. Hobi o tirou na boca e lambeu da base ao
topo, puxando o fio grosso de saliva e pré-gozo na ponta da língua antes de
quebrá-lo para sorrir e continuar uma masturbação lenta.

— Quieto, Yoongi. – mandou de novo. – Você vai ficar quieto?

— Vou. – assentiu duas vezes e grunhiu quando ele empurrou seu pau um
pouco pra ter acesso aos testículos, os chupando de um jeito lento e
experiente. - Porra, Hoseok!

Taehyung se remexeu e colocou a mão por dentro do moletom, se apertando


na glande inchada e molhada. Queria se aliviar, mas lhe parecia mais
gostoso a tortura de continuar os assistindo sem ousar se tocar. Hoseok o
encarou, com o pau de Yoongi dentro da boca, o chupando lentamente e
usando a própria mão para se masturbar sob o short folgado.

— Seok-ah... – Yoongi chamou num tom manhoso o chamando. – Eu vou


gozar assim, vem... – estendeu a mão e fez carinho no cabelo dele.

Hoseok o tirou da boca e lambeu os lábios antes de beijá-lo intensamente,


compartilhando com ele o gosto do pré-gozo. Eles deitaram um de frente ao
outro, suas mãos não paravam um momento sequer, elas apertavam tudo
afoitas por mais. Yoongi se esticou até conseguir se livrar do short que o
maior usava e deixá-lo nu. Hoseok sorriu quando sentiu se mover até estar
por cima e dobrou a perna, apoiando-a no quadril estreito só para que
pudessem se esfregar com força, espalhando pelos abdomes a umidade
pegajosa.

Tae grunhiu e apertou com força o próprio pau, abrindo mais as pernas pra
deslizar os dedos até a entrada apertada. Ele os esfregou ali e gemeu baixo,
tremendo o suficiente para quase deixar o baseado lhe queimar a pele.

— Olha só pra ele, Yoon. – a voz de Hoseok o fez gemer de novo. – Aposto
que 'tá piscando. – sorriu ladino e grunhiu quando Yoongi esfregou com força
contra ele.

— Não muito diferente de você. – brincou desceu a mão até a coxa dele, por
dentro, levando-a até onde queria sentir. Ele esfregou o polegar pela entrada
dilatada e sorriu. – Então, era isso que você estava fazendo no banheiro?
Você 'estava se abrindo pra mim?

— Uhum. – assentiu e encheu a mão com o cabelo da nuca dele, puxando


forte até que as bocas estivessem juntas. – Eu quero sentir você... Tem noção
de quantas vezes eu pensei nisso? Eu pensei em você em cima de mim? No
seu pau me fodendo fundo ou em te colocar de quatro pra te fazer chorar
desesperado pra gozar enquanto eu acabo contigo? – a voz de Hoseok estava
mais rouca e autoritária, ele segurou o queixo de Yoongi a acertou um
tapinha fraco ali.

— Porra, Hoseok... – Tae grunhiu e abaixou um pouco a calça, se


masturbando sem receios, deixando que eles vissem o quanto estava
excitado.

Yoongi mordeu o lábio de Hoseok e puxou, quando soltou ergueu o tronco e


ficou de joelhos na cama, esticando-se para pegar a camisinha e o
lubrificante. Abriu o sachê vermelho com os dentes enquanto Hobi abria o
preservativo com os dedos. Ele o desenrolou no pau do menor e gemeu
baixo quando sentiu os dedos melados com lubrificante se esfregando em sua
entrada antes de um o penetrar devagar.

Não doeu, já tinha me preparado um pouco no banho.

Yoongi testou e colocou o segundo dedo, metendo devagar e observando as


reações deliciosas do maior que gemia e assentiu para ele, ansioso por mais.
Ele parou e se encaixou entre as pernas esguias, colocando-as ao redor da
própria cintura enquanto as mãos menores tratavam de encaixá-lo em si.

— Tudo bem?
Hobi assentiu e mordeu o lábio inferior, seus dedos tremiam conforme o
coração bobo batia depressa, afoito como se aquela vez fosse a primeira de
toda a sua vida. Yoongi abaixou o rosto e beijou os lábios dele suavemente,
afastando-se enquanto empurrava o quadril para baixo e para cima. Queria
sentir mais além do prazer físico, queria ficar preso dentro daquele olhar
forte e ainda assim tão doce.

— Eu te amo tanto... – sussurrou gemendo. – Hobi, eu amo você.

O maior gemeu demoradamente e sorriu, os braços trêmulos prenderam


Yoongi pelo pescoço e o trouxeram para mais perto como se estar sentindo-o
por dentro ainda não fosse o suficiente.

Yoongi afundou o rosto no ombro dele e arfou estocando devagar enquanto


suas mãos grandes e igualmente trêmulas apertava o travesseiro abaixo
deles. Hoseok olhou para o lado direito do quarto e gemeu mais alto, ele
assentiu e recebeu um sorriso ladino em resposta.

Taehyung, acomodado na poltrona, sem camisa e com o baseado ainda aceso


entre os dedos tatuados, apertou outra vez o próprio pau e sorriu.

Ele sentia-se o homem mais sortudo do mundo. De fato, ele era.

Uma das mãos de Yoongi buscou pela cabeceira da cama e segurou ali pra
descontar em cada aperto o prazer de sentir o quando Hoseok era apertado.
Eles se beijaram desajeitados, perdidos pelo prazer que encontravam juntos
a cada estocada mais firme. Hoseok abriu mais as pernas, aproveitou da boa
elasticidade do corpo e gemeu alto quando uma estocada certeira acertou-lhe
a próstata.

— Isso, aí... – assentiu e sorriu largo. – Caralho, você é tão gostoso...

— Gostoso como você imaginava? – provocou entre um gemido e outro.

— Diz pra ele o que você me disse, gatinho. – Tae pediu gesticulando com a
mão que segurava o baseado.
— Porra... – ele disse antes de ergueu o corpo e se ajoelhar na cama, uma
das pernas de Hoseok foi colocada para cima e Yoongi mordeu a panturrilha
firme com força. – Porra, Seok... – Hobi gemeu ainda mais alto quando o
sentiu certeiro. Taehyung ficou de pé e deu a volta ao redor da cama,
olhando-os de todos os ângulos possíveis antes de subir e se ajoelhar atrás
de Yoongi.

— Diz. – sussurrou contra a orelha dele, em seguida a lambeu.

— Eu te queria quicando em mim. – Tae esticou o braço e tragou o baseado.


– Rebolando em mim gostoso como rebola quando dança, movendo esses
seus quadris em mim... Eu te quero rebolando com o seu pau dentro de mim.
– o mais novo entre eles abraçou-o até que a mão grande segurasse o pau de
Hoseok, ele esfregou o polegar na glande e sorriu quando a mão dele se
juntou, ditando a ele o ritmo que queria. – Eu quero me foder em você
enquanto te escuto gemer dizendo que eu sou bom pra você.

— Safado do caralho. – Hobi gemeu e o puxou pra si, pelo cabelo


esverdeado. – Mais forte Yoongi.

— Fode mais forte, Yoongi. – Tae disse enquanto puxava o moletom pra
baixo e o encaixava entre as nádegas branquinhas. Ele bateu em uma delas e
Yoongi gemeu alto. Aquele quarto estava uma bagunça de gemidos,
grunhidos e do ranger daquela cama. – Fode ele mais forte, filho da puta.

Taehyung e Hoseok trocaram um olhar demorado e o mais novo começou a


se masturbar forte, a mão que segurava o baseado entre os dedos estava
firme ao redor da cintura de Yoongi.

Hoseok começou a se masturbar depressa, tremendo inteiro enquanto o


orgasmo o deixava fora de órbita. Ele gemeu mais alto, praticamente urrou
quando gozou entre os corpos, sujando Yoongi completamente. Este veio
momentos depois, xingando um palavrão enquanto estocava depressa pra
fazer durar, enchendo a camisinha até desabar sobre o corpo maior.
Taehyung foi o último, grunhindo enquanto gozava nas costas de Yoongi,
sujando-o mais enquanto a porra escorria pela nádega marcada pelos cinco
dedos sua mão.
Ele caiu deitado ao lado deles e não negou o pedido de Hoseok, passando o
baseado quase no fim pra ele.

Estavam moles pelo orgasmo, Taehyung ainda mais por causa da maconha.
Yoongi se moveu com cuidado, segurando-se pela base para se puxar pra
fora e manter a camisinha no lugar. Ele deitou entre eles e respirou fundo.

— Caralho, isso foi... Nossa. – sorriu preguiçoso.

Então, bateram na porta.

— Quando vocês saírem daí é bom que tenham um advogado. O processo


vem.

Seokjin gritou indignado.

Os três começaram a rir.

Quando saiu do banho e encontrou Jungkook sentado como um índio no meio


da cama dele, Taehyung soube que ele queria lhe dizer alguma coisa.

O garoto não sabia ser muito discreto quando queria alguma coisa,
geralmente parecia um filhotinho afoito e ansioso. Tae suspirou e continuou
secando o cabelo com uma toalha pequena enquanto sentava na própria cama
e o encarava.

— Diga.

— Hm, eu não ia dizer nada hyung.

— Jungkook diz logo. – rolou os olhos e o mais novo se ajeitou na cama,


todo apressado. – Está tudo bem.

— Jin hyung 'estava bem bravo quando saiu com o Yoongi hyung. Ele disse
que ia comprar a cama mais cara da loja.

— Acho que eu faria o mesmo.


— Ele queria uma cama nova porque vocês... Na cama dele, né? – sorriu
sem graça, o rosto completamente vermelho.

— A gente transou na cama dele? Sim.

— Ah. – assentiu. Tae esperou ele continuar. – Hyung, eu posso te perguntar


uma coisa?

— Pode. – assentiu e jogou a toalha pro lado.

— Esses dias... Você sabe...

— Você estava vendo pornô. Foi um ótimo momento pro seu fone parar de
funcionar. – brincou e Jungkook ficou constrangido. – Cara, relaxa. Pelo
menos era pornô gay. – deu de ombros. – Não contei pra ninguém.

— Obrigado.

— Você curte ver pornô? – Jungkook negou. – Aquela era a primeira vez?

— Não. Eu já tinha visto antes, mas não achava graça...

— Não é exatamente algo feito pra achar engraçado. É pra te deixar com
tesão. Os que você viu eram héteros?

— Eram. Lá em Busan os outros garotos ficavam falando, ai eu pedi pra


mandarem no meu celular alguns. – se encolheu um pouco.

— Você sentiu tesão? – o mais novo negou uma vez.

— Hyung, como eu... Tipo... Eu... Faço para...

— Fala logo!

— Como eu faço pra satisfazer outro cara? – perguntou baixo.

Taehyung franziu o cenho e depois sorriu um pouco. Outro cara.


— Tá falando do Jimin? – ele assentiu. – Por que tá perguntando pra mim?
Hoseok praticamente te adotou.

— Hobi hyung fica me falando pra respeitar o meu tempo e etc.

— Oh meu deus ele realmente te adotou, nem quer te deixar transar. – Tae
começou a rir com gosto. – Sou quase seu padrasto, sabia?

— Fico feliz que estejam bem. Os três. – disse com sinceridade. – Deu pra
ouvir o quanto estavam bem hoje à tarde. – provocou com um sorrisinho.

— Ok, para com isso. – gesticulou. – Quer saber como satisfazer o Jimin?
Por que isso?

— Porque quando a gente tá junto ele sempre me satisfaz, mas eu nunca sei o
que fazer e às vezes ele não... Chega lá, só eu.

— Tá dizendo que ele te faz gozar e fica na mão depois? – reformulou e


Jungkook assentiu. – Eu não quero dar uma de Hoseok, mas ele tem razão. –
começou num tom mais sério. – Tudo leva um tempo, mas eu sei também que
deve ser frustrante isso de sentir que não satisfaz a outra pessoa. Você já
parou pra pensar no que mais gosta no Jimin? Digo, de forma mais íntima. O
que ele faz que você mais goste?

Jungkook parou e pensou que seus olhos grandes se fixaram aos próprios
pés. Ele se lembrou de cada momento íntimo com Jimin, de cada toque ou
palavra trocada. Seu rosto ficou quente, mas ele sorriu.

— Eu gosto quando ele beija o meu pescoço... Ou os meus... Aqui. – tocou o


peito sobre a camiseta.

— Já tentou fazer o mesmo com ele? – negou. – Pense assim: se você gosta
do que ele faz é porque provavelmente ele gosta também, gosta tanto que
quer quê você sinta o mesmo. Naquele dia... Que tipo de vídeo você estava
assistindo?

— Ah. – coçou a nuca. – Um cara... Fazendo oral no outro.

— Boquete. Certo, quer aprender?


Jungkook arregalou os olhos.

— Hyung!

— O que? O QUE? Não! Não desse jeito, ficou doido?! – negou indignado. –
A gente pega um dos pepinos lá geladeira e eu te ensino a-

Ele se calou quando ouviu a porta da frente bater violentamente. Ambos se


olharam e depressa saíram do quarto. A porta se fechou outra vez, mais
devagar.

— HYUNG, POR FAVOR...

— CALA A BOCA! EU NÃO QUERO FALAR COM VOCÊ AGORA!

— Jin-hyung, calma... – Yoongi pediu com cuidado.

A cena se desenrolava com um Seokjin furioso, ele tinha nas mãos o que
pareciam ser revistas e um jornal. Jimin estava desesperado e Yoongi
confuso, mas procurando acalmá-los.

— EU NÃO VOU FICAR CALMO!

Ele gritou e rumou as escadas, subindo dois degraus de uma vez até entrar no
quarto de Namjoon, encontrando-o com os fones de ouvido e os livros de
direito abertos sobre a cama. O mais novo franziu o cenho e puxou os fones
enquanto o via trancar a porta.

— Hyung...

— POR QUE VOCÊ NUNCA ME DISSE?! – explodiu.

— O que-

— POR QUE NAMJOON?!

Então, Seokjin atirou na cama as duas revistas e o jornal que tinha nas mãos.
Na capa, um Namjoon ainda criança tentava esconder o rosto enquanto Nari
o abraçava.

Naquele momento, o mundo dele desabou.

Seokjin sabia de tudo agora.


23 - escute o seu coração

Não sei para onde você está indo


E não sei porque
Mas ouça seu coração
Antes que você diga-lhe adeus

Listen to your heart - Roxette

Dois dias antes.

Lalisa entrou no dormitório cantarolando baixinho, os fones de ouvido


coloridos estavam presos graças à jaqueta esportiva. Ela sorriu ao ver a
namorada distraída com os diversos livros sobre a escrivaninha, então
deixou a mochila vermelha ao lado da cama e pausou a música para ir até
ela e se curvar beijando o topo do cabelo escuro com carinho.

— Sooya, por favor, vamos descansar um pouquinho. – usou o tom manhoso


para pedir. – Toma banho comigo? – as mãos experientes desceram até os
ombros de Jisoo, massageando como sabia ser o jeito favorito da mais
velha, entretanto havia tanta tensão ali que Lisa franziu o cenho e sentou na o
colchão, virando a cadeira da namorada em sua direção. – Jisoo, o que foi?

Jisoo piscou algumas vezes e pareceu despertar. Ela fungou, os olhos


grandes estavam marejados e isso bastou para Lalisa a olhar inteira,
procurando qualquer sinal de que algo estava errado.
— O que aconteceu?!

— Preciso te mostrar uma coisa. – disse baixo. Ela ficou de pé e caminhou


até a impressora para pegar uns papéis. Sentou outra vez e entregou-os para
Lisa. – A minha pesquisa para a matéria de Sondeuk-ssi.

— Sobre pedofilia? – ela assentiu. – Jisoo, eu te disse mil vezes pra


escolher outro tema... Essas coisas sempre são muito pesadas e...

— Lisa... – chamou chorosa. – Olha. Lê isso.

Lisa suspirou e assentiu. Seus olhos castanhos começaram a ler as


informações naquelas folhas impressas e assim que aquele nome familiar
apareceu seu semblante deixou de ser preocupado. Passou a ser chocado.

Ele leu três vezes as mesmas frases e nomes, datas e pequenos depoimentos
aos quais a imprensa teve acesso na época. Lalisa engoliu a seco e encarou
Jisoo completamente sem reação, esperando que ela explicasse o que tudo
aquilo significava.

— Onde você encontrou essas coisas?

— Eu estava pesquisando sobre casos públicos. – ela secou o nariz com a


manga do moletom. – Casos que a mídia teve acesso, queria falar sobre a
falta de ética profissional do jornalismo e como isso afeta diretamente as
vítimas e familiares... O nome dele apareceu.

— Você não pensou duas vezes antes de ir mais a fundo. – suspirou. –


Sooya... Isso é muito pesado. Você acha que Jin-oppa-

— Não. – ela negou. – Jin não sabe. Se ele soubesse teria me dito. – fungou
outra vez. – Lisa... O que eu faço agora?

— Sinceramente, eu não sei amor. – ela deixou as folhas de lado e puxou


mais a namorada até que a cadeira estivesse entre suas pernas. Lisa penteou
os cabelos dela para trás da orelha e se esticou para deixar um beijo
carinhoso em seus lábios. – Se Namjoon-ssi não contou para Jin-oppa é
porque tem seus motivos...
— Eu sei. – assentiu. – Mas ele é meu irmão, Lisa! E Seokjin ama aquele
homem, ele ama o Namjoon!

— E você o detesta.

— Isso não vem ao caso agora, isso não é sobre mim-

— Exatamente, Jisoo: não é sobre você. – foi direta e Jisoo suspirou. – Não
é sobre Jin-oppa... É sobre Namjoon-ssi. – olhou para as folhas. – Não
imagino como foi passar por tudo isso e ainda ser exposto assim, mas se
você contar pro seu irmão vai estar o expondo de novo. – procurou a mão
alheia e entrelaçou os dedos com os dela. – Vamos deixar isso pra lá, ok?

— Ok. – assentiu e Lisa a puxou para a cama, abraçando enquanto ouvia o


choro baixo de Jisoo.

Agora

— Cadê o meu irmão?!

Jisoo disse alto e Jimin a encarou com raiva, pronto para mandá-la embora,
mas Yoongi o reprovou com um olhar.

— O que tá acontecendo?! – Taehyung perguntou ao namorado.

Ouviram a porta de um dos quartos bater violentamente e Jisoo tentou subir,


sendo interceptada por Jimin.

— Já chega, Jisoo, você já fez o suficiente!

— Hey, abaixa sua voz pra falar com ela! – Lisa disse mais alto.

— Ok, TODO MUNDO FICA CALMO! – Hobi desceu as escadas


praticamente correndo e de olhos arregalados. – O QUE 'TÁ ROLANDO?

— Hyung... – Jungkook, querendo não chamar atenção, puxou a camiseta de


Jimin e o encarou um tanto assustado. – O que foi? Por que você 'tá tão
nervoso?

— Você já está em recesso das aulas? – Jungkook assentiu. – Sobe, coloca


numa mochila o que você mais precisa e me espera na garagem.

— Por quê? Hyung?

— Porque a gente vai pra Busan. Vamos passar esses dias lá.

— Mas o meu trabalho... Eu...

— Tudo bem, resolvo isso. Ok? – o mais novo assentiu. – Faz o que eu te
pedi, por favor?

— Tá bem hyung.

Quando o garoto foi fazer o que ele pediu, Jimin trocou um olhar cúmplice
com Yoongi e o mais velho suspirou cansado, assentindo e passando as mãos
pelo rosto. Aquela atitude do Park, a de fugir só pra não lidar com aquilo,
não o agradava em nada, mas naquele momento ele sequer sabia o que fazer.

Os gritos de Seokjin ainda ecoavam pelo andar superior, Hoseok e Taehyung


continuavam fazendo perguntas que ele não podia responder e nem devia.
Jisoo continuava chorosa e Lalisa continuava pedindo que voltasse pra
república onde moravam porque deviam esperar já que tudo parecia tão
confuso naquele momento.

Namjoon, que tanto prezava seus segredos, naquele momento era exposto
outra vez.

No quarto, excluídos da confusão alheia e imersos naquela que lhes


pertencia desde o primeiro momento que deixaram de ser apenas amigos
para se tornarem algo mais, Seokjin e Namjoon se encaravam preenchendo
aquele cômodo – de repente tão pequeno – com os sentimentos a flor da pele
que mais pareciam num embate.

O mais novo completamente apavorado encarou a si mesmo naquela


impressão colorida sentiu como se todos aqueles fios presos em seu corpo o
sacudiram violentamente, eles testavam a resistência e Namjoon sequer se
movia com medo de que àquele mais assustador.

— O-Onde...

— POR QUE VOCÊ NUNCA ME DISSE?! – Jin repetiu a pergunta, a única


que ele queria ter resposta mesmo que temesse ouvi-la. Namjoon fechou os
olhos com força e pareceu tão assustado que isso apertou seu peito, isso
esmagou seu coração como nunca antes. Nem mesmo quando Namjoon o
partia com as próprias mãos.

— Onde você achou essas coisas? – ele abriu os olhos e duas lágrimas
grossas escaparam de seus olhos. – Onde?

— Isso não importa agora! Para de fugir... PARE DE FUGIR E RESPONDE


NAMJOON!

— Você não devia saber nada sobre isso! De todas as pessoas do mundo...
Não você. – ele negou, parecia falar mais para si. Estava ficando difícil
respirar naquele quarto. – Não você.

— Não eu?! Você escondeu isso de mim por todo esse tempo... Eu me abri
com você! Eu nunca menti pra você ou escondi alguma coisa! Namjoon eu
me despia para você o tempo inteiro e não só as minhas roupas! POR QUE
NÃO EU?

— Jin... Eu tinha medo. – Namjoon soluçou e passou ambas as mãos pelo


rosto, estava tremendo. – Eu tinha medo.

— MEDO?! VOCÊ ACHA QUE EU TE JULGARIA?

— Não! – negou agoniado. – Não... Eu tinha medo de te trazer pra dentro


disso tudo!

— MAS VOCÊ ME JOGAVA DENTRO DISSO TUDO NAMJOON! – Jin


gesticulou apontando para as revistas antigas. Namjoon não conseguia sequer
olhá-las. – Quando você me usava e me deixava às cegas! Eu era bom pra
você transar, mas não era o suficiente pra você me contar?! EU SIRVO PRA
ISSO E SÓ? O QUE EU VOCÊ ACHA QUE EU SOU?

— Jin... Por favor... Eu não... – ele mal conseguia falar, o choro não
permitia. – Eu nunca...

Namjoon arfou e olhou ao redor, sentiu-se sufocado. Odiava se ver naquelas


capas, odiava se lembrar, odiava a si.

Queria desaparecer.

— Todas as vezes que eu te achava jogado no tapete do meu quarto ouvindo


as mesmas músicas que com o tempo se tornaram nossas e me pedia pra
ficar perto, me pedia pra fazer amor você... E eu te deixava dormir nos meus
braços Namjoon, eu abria a minha alma pra você. O meu coração... Meu
deus! Eu te amo tanto que acalmava os teus pesadelos sem nunca questionar
sobre os monstros que te assustavam... Tudo o que eu fiz não foi o suficiente
pra você me amar e sobre isso eu tenho aprendido a aceitar. Mas também
não foi o suficiente pra te fazer confiar em mim?

— Jin...

— Não era o suficiente! Você jogava sua dor pra cima de mim! VOCÊ ME
USAVA E AINDA ASSIM... Ainda assim você escondia tudo isso de mim!

— Eu não queria te fazer sentir pena de mim... – disse baixo, ele soluçava
entre as palavras. – Não você, Jin.

— Namjoon, você sempre me disse que comigo se sentia vivo... – Jin secou
as bochechas e suspirou. – O que te faz pensar que eu sentiria pena de você?!
ESTAMOS FALANDO SOBRE MIM! SOBRE O CARA QUE VOCÊ
PROCURAVA QUANDO SE SENTIA SOZINHO, QUE TE DEIXAVA
FAZER O QUE BEM QUERIA SÓ PRA NO DIA SEGUINTE SER
ESNOBADO! ESTAMOS FALANDO DA PORRA DO HOMEM QUE
VOCÊ FAZIA DE TAPETE! DO HOMEM QUE PRECISAVA SAIR DESSA
CASA E ENCHER A CARA NUM LUGAR LONGE O SUFICIENTE PRA
NÃO TER DE OUVIR SUA VOZ GEMENDO PRA OUTRA PESSOA!
— Me perdoa...

— ESTAMOS FALANDO DO HOMEM QUE TE AMA! – disse ainda mais


alto e Namjoon ficou de pé, suas mãos tremiam enquanto se estendiam para
tocá-lo, para trazê-lo para perto. Mas Seokjin se afastou dele, negando
diversas vezes. – Não, não me toca.

— Por favor... – pediu agoniado. – Por favor, Jin, por favor...

— Por... – Jin arfou e negou de novo. – Por que você não me contou? –
lamentou antes de lamber os lábios. – Por que você não dividiu isso comigo?
Por que você sofria sozinho enquanto eu continuava aqui sendo forte o
suficiente pra aguentar isso por você?

— Porque você não merece isso...

— O Jimin sabia... Yoongi também... Por que só eu não, Namjoon?

— Porque quando você estava do meu lado, quando me abraçava... Eu


esquecia, eu não precisava me lembrar de nada e preferia manter isso assim.

— Tem alguma ideia de como tudo entre a gente é errado? – lamentou de


novo. - O que fizeram contigo... – Namjoon abaixou o rosto. – Namjoon. –
chamou chorando baixo, segurando-o pela camiseta larga, apertando-o entre
os dedos. – Namjoon-ah...

— Eu não mereço que você faça isso... – negou. – Que essas coisas ruins
também apavorem você. – ele soluçou. – Jin, eu não quero que você escute a
minha voz te dizendo todas as coisas que aconteceram comigo.

— Mas você me fazia ouvir a sua voz magoando o meu coração.

Seokjin abaixou as mãos, deixando de tocá-lo enquanto dava um passo para


trás e secava as bochechas coradas pelo choro. Ele respirou fundo e
caminhou até a cama, recolhendo as revistas e o jornal sob o olhar
amedrontado do mais novo.

— Você vai ler isso?


— Não, Namjoon. Eu vou continuar com a sua decisão de me deixar fora
dessa parte da sua vida. Vou devolver isso para Jisoo e dizer que não me diz
respeito... Exatamente como você quer que seja. – fungou. – Da mesma forma
que eu não posso te obrigar a me amar, também não posso te obrigar a falar
sobre isso.

— Seokjin... Eu amo você. – Namjoon disse baixo, se sentido aliviado por


finalmente expressar aquele sentimento covarde dentro de si. Ele não estava
mentindo, mas era tarde demais pra soar como verdade. Pelo menos na
concepção de Jin. – Eu amo você.

— Que tipo de amor é esse? De qualquer ângulo que eu observe... Antes ou


agora esse amor não faz sentido e se ele fosse uma pessoa mal conseguia
ficar de pé sendo tão doente. Não é saudável. Eu te encontrei ferrado e
nunca perguntei por que seu coração estava em pedaços, Namjoon. – ele
apertou aquelas revistas e lambeu os lábios antes de continuar. – Eu ia longe
demais pra te manter perto de mim e nunca verbalizava que morria de medo
de ficar sozinho, quando o meu maior medo era te deixar sozinho. Mandei
pro inferno os olhares de quem me julgava por te deixar usar a minha cama,
o meu corpo... Ainda assim você não confiou em mim.

Namjoon ficou em silêncio.

Seus ombros caídos denunciavam a postura cansada e medrosa, o choro


baixo continuava enquanto todos aqueles fios pareciam prestes a rebentar de
uma vez. Ele não possuía nada para se agarrar mais ninguém o mantinha de
pé. Viu Seokjin sair do quarto sem dizer mais nada, sem bater a porta...
Levando embora o resto de oxigênio que ainda existia ali.

No corredor, Jin parou quando viu Jimin encostado na parede com as mãos
para trás do corpo. Ele engoliu aquele maldito nó na garganta e encarou o
menor com uma expressão dura.

— Hyung...

— Agora não. – negou apenas uma vez, seu tom sério foi o suficiente para
Jimin se calar e assentir. – De vez em quando eu detestava gostar tanto de
você. – assumiu e o garoto ouviu sem dizer nada, apenas aceitando aquelas
palavras. – Outras vezes eu quis dormir com você só pra tentar entender o
que fazia ele sempre voltar para os seus braços. Porque você sempre
parecia melhor que eu aos olhos dele.

— A verdade é que ele nunca se achou o suficiente pra você e fugia da sua
cama antes de ficar ali pra sempre. – disse baixo. – Aos olhos dele ninguém
é melhor que você Jin-hyung.

— Isso é tão fodido, Jimin. – a voz embargada fez o coração de Jimin se


apertar. – Porque os olhos dele podem dizer isso, mas a boca dele sempre
me fez acreditar no contrário. Por favor, faça o que você tem feito esse
tempo todo... Não vou te detestar por te ver entrando no quarto dele dessa
vez, o faça ficar bem. Eu acho que não sou mais capaz disso depois das
coisas que falei.

Jimin assentiu e caminhou até o maior, esticando-se um pouco para abraçá-lo


com carinho, não foi correspondido e entendia, não cobraria isso. Ele beijou
o rosto de Jin e entrou no quarto, trancando a porta atrás de si.

Namjoon ergueu os olhos quando o viu, a cartela de calmantes tremia em


suas mãos grandes e o mais novo foi rápido em ajudá-lo. Ele tomou de suas
mãos, pegou dois comprimidos e deu a ele, em seguida a garrafa de água que
sempre ficava na mesinha de cabeceira. Namjoon colocou os calmantes na
boca e engoliu sem a água.

— Vem aqui, deita comigo.

Jimin o levou até a cama e o fez deitar junto de si. Mesmo sendo menor
sempre faziam aquilo, sempre o deixava deitar a cabeça em seu peito e
acariciava o cabelo dele por horas. Namjoon se agarrou ao corpo menor e
chorou, chorou como não chorava há anos. Abafou cada grito agoniado
contra as roupas de Jimin, prendeu o tecido entre os dedos e apertou para
tentar amenizar a raiva que sentia por dentro.

Raiva de si mesmo, raiva da vergonha que sentia por ter consciência de que
agora Jin sabia de tudo. Raiva por lembrar tanto e as lembranças explodirem
dentro de sua mente como se caminhasse em um campo minado. A cada
passo, Namjoon se fere mais um pouco.
— Jimin... Por que isso 'tá acontecendo... Ele não podia saber, ele não.

— Por favor, se acalme. O seu coração 'tá batendo tão rápido, por favor...
Para de pensar nisso.

— E se ele olhar pra mim como todo mundo que sabe me olha?

— Jin-hyung nunca faria isso Namjoon, ele nunca sentiria pena de você... Ou
nojo.

— Eu quero morrer.

Jimin fechou os olhos e respirou fundo.

— Namjoon, não diz isso, por favor, não diz isso. – o abraçou mais forte. –
Agora que ele sabe vocês podem conversar e tentar, eu sei que vocês se
amam.

— Mas isso não é o suficiente.

Jimin suspirou e beijou o cabelo dele demoradamente. Namjoon fechou os


olhos e soluçou, o torpor não demorou a chegar enquanto ele chorava no
peito de Jimin e quando ele caiu num sono pesado sem sonhos, o mais novo
o deixou sob o cobertor pesado.

Antes de sair do quarto, Jimin procurou todos os remédios que estavam na


gaveta junto das cuecas e pares meias reviradas, pegou todos que encontrou
e levou consigo.

Ele deveria ter procurado também a mochila pendurada atrás da porta.

— Nossa!

Taehyung exclamou quando o quarto ficou em silêncio por minutos depois de


Yoongi terminar de contar tudo. O menor caminhou até a cama para sentar ao
lado de Hoseok, que o abraçou e deixou um beijo demorado em seu ombro.
— Obrigado por explicar. – Yoongi assentiu.

— Quero que isso fique entre nós, eu acho que Jimin vai explicar pro
Jungkook depois. – suspirou. – Por favor, não deixem que isso crie um clima
ruim na presença dele.

— Nós não vamos deixar. – Hobi segurou a mão dele e beijou. – Certo, Tae?

Taehyung continuava encarando algum ponto qualquer entre a parede e as


cortinas escuras do quarto que Hoseok dividia com Jimin. Não havia um
sorriso debochado em seus lábios, sequer uma das sobrancelhas arqueadas
em sinal de que ele pensava em algo ácido para dizer. Ambos, Hobi e
Yoongi, sabiam que Tae não nutria muitos sentimentos amigáveis com
Namjoon. Isso não rendia brigas ou coisas assim, mas eles poucos se
falavam quando juntos e estava tudo bem dessa forma.

Yoongi franziu o cenho e afagou as costas do mais novo, tomando sua


atenção segundos depois.

— Taehyung... O que você tem? – ele estava muito preocupado, mas Tae não
entendeu até sentir o sabor salgado nos próprios lábios. – Por que você tá
chorando?

Ele negou e secou as bochechas com pressa, procurando uma forma de


desconversar o que nem era uma conversa. Sorriu de maneira falsa e ficou
de pé.

— Não é nada. – negou. – Fica tranquilo Yoon, eu não vou dizer nada errado
ou ficar estranho sobre isso.

— Hey. – Hobi o achou muito estranho. – Você 'tá bem?

— Estou sim. – assentiu. – Eu vou sair pra comprar alguma coisa pra gente
comer. – Tae se virou para os dois mais velhos, ele recolheu o celular e a
carteira que estavam sobre a cômoda. – Pensei em pizza e-

— Tae, esse é o meu celular. – Hobi informou trocando um olhar com


Yoongi. Ele ficou de pé e foi até o mais novo, abraçando-o pela cintura. –
Olha aqui, você está nervoso... A parada do Namjoon te deixou assim?

— É. – assentiu, mas era óbvio que havia algo mais. – Acho que fiquei bem
chocado de isso acontecer com alguém tão próximo, sabe? – sorriu sem
jeito, ele movia as mãos sem parar. – Eu já vou. Posso usar o seu carro?

— Pode sim. – Yoongi assentiu.

— Me diz o que querem por mensagem, eu vou ao Burger King primeiro.

Taehyung selou os lábios aos de Hoseok e depois aos de Yoongi, saiu do


quarto com pressa e deixou-os ali.

— Isso foi muito estranho, Yoon.

— Ele estava tremendo. As mãos dele não paravam quietas, você viu?

— Isso já aconteceu antes?

— Não. – negou. – Ele nunca agiu assim antes por nada. Taehyung sempre é
muito pleno... – fez careta e Hobi sorriu. – Isso chega a ser chato. Acho que
isso do Namjoon o deixou chocado.

— Ele é chato. Pra caralho. – rolou os olhos e voltou pra cama, sentando
atrás de Yoongi, deixando-o entre suas pernas. – Você 'tá bem?

— Estou preocupado, Seok-ah. – suspirou. – Com o Namjoon, com Jin-


hyung. – ele se aconchegou nos braços de Hobi, deitando a cabeça no ombro
dele. – Quando as coisas começam a dar certo isso acontece.

— De alguma forma eu entendo que o Jin-hyung tenha ficado chateado. –


puxou a camiseta larga de Yoongi até que suas mãos estivessem sobre a
barriga dele. – Ele se sente frustrado. – começou a fazer carinho ali, ao
redor do umbigo dele e sorriu ao ouvi-lo praticamente ronronar satisfeito.

— Frustrado? Seok, ele estava gritando coisas tão erradas, cobrando... Ele
não teve empatia e-
— E ele está com raiva, Yoongi. Seokjin-hyung ama o Namjoon e se sente
frustrado por não ser digno da confiança dele. Pessoas com raiva agem sem
pensar direito. – ele observou o bico nos lábios do menor e também
suspirou. – Se fosse a gente, se eu escondesse algo assim de você e
tivéssemos a relação que eles têm... Se eu te magoasse como Namjoon já o
magoou.

— Ainda assim é algo sobre a vida do Namjoon e Jin-hyung deveria


respeitar a decisão que ele tomou de ninguém saber.

— Mas você sabia, Yoon. Jimin também sabia. Mas, ele não.

— Isso é tão complicado. – fechou os olhos, os dedos de Hobi faziam um


carinho maravilhoso em sua pele. - Por que as coisas não podem ser mais
fáceis?

— Porque é a vida real e ela não é um conto de fadas. – beijou a bochecha


dele.

— Jimin vai levar Jungkook para Busan. – informou e abriu um dos olhos
para encarar a carinha preocupada de Hobi. – Tae está certo, você adotou o
garoto.

— Para com isso. – ralhou e ganhou um beijinho nos lábios curvados. – Vou
falar com o Jimin-

— Hobi. – o segurou quando ele tentou levantar. – Os deixe... Taehyung me


disse que Jimin conversou com ele sobre Jungkook. Ele se desculpou com o
garoto e o convidou para ir a Busan, só adiantaram dois dias. Eu sei que
você se apegou ao JK e eu também porque é inevitável não se apegar a ele,
mas você precisa deixar que ele faça as coisas por ele mesmo.

— Eu não ia fazer nada!

— Ia ameaçar o Jimin! – Hobi rolou os olhos. – Jimin é um homem


experiente, ele disse a Taehyung que gosta muito do Jungkook.

— Mas o Jungoo-
— Ele vai amadurecer sozinho. Por favor, seja um hyung que respeita o
espaço dele e não um que o cerque sempre. Nós estamos aqui pra ele, somos
seus hyungs e amigos, mas entre ele e Jimin é diferente, os sentimentos são
diferentes como é entre eu, você e Taehyung.

— Odeio como você sempre diz as coisas certas.

— Alguém precisa ser o maduro nessa relação. – zombou e Hobi beliscou a


barriga dele. – Aí, Hoseok!

— Eu te amo. – sussurrou contra a orelha pequena. – Gatinho.

— Eu também te amo. – sorriu e sentiu o celular vibrar ao lado dele,


próximo a coxa de Hobi. Ambos encararam a foto de Taehyung sorrindo
abraçado ao Holly. Yoongi atendeu e acionou o viva voz. – Pronto.

— Esqueci minha carteira.

— Acho que isso é uma desculpa sua pra me fazer pagar a conta. – Yoongi
brincou e Hobi riu.

— O Hoseok paga. Ele é o mais rico. Estou indo no mesmo lugar que a
gente foi no primeiro encontro. Vem com ele pra cá, essa casa tá num
clima pesado.

— Vou só tomar um banho.

— Você consegue sacar dinheiro com a digital?

— Consigo.

— Vou transferir. – Yoongi ficou de pé. – Passa o número da conta por


mensagem.

— Me sinto como se você fosse meu sugar daddy. – a risada fez Hobi rolar
os olhos.

— Quem sabe em outra vida. – observou Yoongi tirar a camisa entrar no


banheiro. – Tae?
— Diga.

— Você sabe que estamos aqui pra você, não sabe? Seja o que for, estamos
aqui. – o silêncio do mais novo o fez suspirar. – Yoongi te ama muito e eu...

— E você? – Tae esperou e acabou rindo baixo. – Não precisa dizer o que
não sente ainda Hobi-

— Eu sinto! – cortou. – Mas ainda não é...

— Eu sei. Eu também. – Hoseok sorriu. - Marrento.

— Seu marrento. – corrigiu.

— Meu marrento.

— Meu mauricinho. – sorriu. – Se você esquecer-se de pedir pra tirar os


picles eu vou chutar o seu rabo.

Taehyung gargalhou e desligou a ligação através do painel do carro. Ele


aumentou um pouco o volume da música que tocava e parou num cruzamento.
Ele cantarolou junto da voz de Johnny Cash o trecho que dizia "I wear this
crown of thorns upon my liar's chair" e o sorriso quadrado deu lugar a um
semblante nostálgico.

A buzina do carro atrás o despertou, Taehyung acelerou e respirou fundo,


tentando não deixar aqueles sentimentos tomarem conta de si. Já fazia um
bom tempo. Apertou o volante, bateu os dedos tatuados sobre o couro e
lambeu os lábios.

"And yoy could have it all... My empire of dirt."

Tae negou e acionou a seta do carro, estacionado no acostamento em frente a


uma mercearia prestes a fechar. Ele respirou fundo e tirou o cinto como se
aquilo sufocasse, passou as mãos pelo rosto e negou diversas vezes.

Num ato impensado desconectou o celular do cabo branco ligado ao painel


do carro, buscou pelo contato na agenda e fez a chamada. Após o primeiro
toque ele quis desistir, após o segundo sentiu vontade de chorar e quando
ouviu a voz familiar do outro lado da linha, Taehyung fechou os olhos e
respirou fundo.

— Taehyung? – ele engoliu o choro. – Taehy?

— Por que a senhora me pediu pra nunca contar?

— Do que está falando? Você está bem?

— Sabe do que eu estou falando, omma. Por quê?

Chaewon suspirou ao telefone.

— Porque ele é seu irmão. Somos uma família e devemos nos proteger.

— Mas por que nunca ninguém me protegeu?

— Taehyung...

— Nunca... Ninguém me protegeu. Taewoo me machucou e vocês... Nunca.

Ele desligou a ligação e encostou a cabeça no banco.

Lembranças ruins queriam encher sua mente outra vez,

Porque ninguém entenderia Kim Namjoon como Kim Taehyung o entendia.

••

twitter & instagram: keleaomine

#PillowFic
24 - me aceite

oi mores cheirosos como vocês estão??

me atrasei sim desculpa não desistam de mim, mas tô aqui com mais um
capitulo dessa sofrência cheia de boiolas

então, esse capitulo ia ficar maior, mas eu não gostei da última parte, não
ficou como eu queria ai eu apaguei pra postar logo e não deixar vocês sem
atualização, ela era jikook e por ser uma cena MUITO importante preferi
deixar pro próximo e finalizar com essa bomba kkkkk.

muito obrigado por gostar e ler pillowtalk, o carinho de vocês me motiva


muito!

importante: eu gosto demais de criar indagações na mente de vocês, de criar


debates saudáveis sobre os enredos dos meninos aqui porque é a minha
forma de contribuir pra mostrar coisas importantes, fanfics são materiais
consumidos por pessoas de muitas idades e é extremamente necessário que a
gente use esse espaço também pra informar e ajudar outras pessoas. então, eu
espero que esse capitulo também sirva pra gente pensar bastante sobre
nossos erros... é como o yoongi diz: acontece.

não esquece de deixar um votinho!

Tão desnecessário dizer


Sou insignificante
Mas estarei tropeçando
Aos poucos aprendendo que a vida é legal
Repita comigo
Não é melhor estar seguro do que arrependido

Take On Me - A-Ha.

A casa estava vazia e silenciosa, mas a mente de Jin continuava numa


bagunça sem fim.

Ele suspirou enquanto deixava os dedos desenharem a borda do copo quase


vazio um pouco antes de beber num gole só o soju menos gelado do que
gostaria e servir o que sobrava na garrafa.

A luz estava apagada, mas a que vinha da lavanderia iluminava um pouco o


ambiente quieto. Jin queria ficar bêbado o suficiente para apagar ali mesmo
e acordar numa realidade onde as últimas horas nunca aconteceram. Ele
também respondeu as mensagens de Sunmi e detestou mentir sobre estar bem,
mas não queria fazê-la vir correndo ao seu encontro porque queria ficar
sozinho.

Seokjin se culpava por tantas coisas que enquanto as listava em sua mente
conseguia lembrar-se de mais algumas pra acrescentar. As revistas estavam
no lixo do quarto e o jornal amassado sobre o tapete... E ele quis se livrar do
tapete também por lembrar quantas vezes encontrou Namjoon deitado ali
com um olhar assustado e um sorriso fraco nos lábios.

Fungando baixo e secando as lágrimas sobre as bochechas, fez daquela


cozinha silenciosa uma terapia de lembranças que machucavam e ele havia
jurado esquecer, acontece que tudo era diferente agora e devia lidar com
isso. Namjoon era o amor de sua vida, mas também era a sua ruína em todos
os sentidos que conseguia entender.

Era inteligente o suficiente pra saber que aquilo não ajudaria em nada, mas o
que mais poderia fazer além de embriagar seus sentidos pra não correr o
risco de fazer algo errado? Foi inconsequente, tinha ciência disso, mas a
razão perdeu feio para a emoção, para a frustração que toda a verdade trouxe
à tona.

Namjoon não o amava... Essa dor já era familiar.

Mas Namjoon também não lhe tinha confiança... E essa dor era tão nova.

Quando a bebida acabou, ele ficou de pé para pegar outra garrafa na


geladeira, mas ouviu passos pesados vindos do segundo andar e parou com a
porta do eletrodoméstico aberta. Jin ergueu o rosto e franziu o cenho. Jimin
foi claro ao dizer que Namjoon dormiria por horas.

Jin pegou a garrafa e abriu com os dentes, cuspindo a tampa na pia limpa ao
mesmo tempo em que um baque alto o assustou um pouco. Depois disso,
apenas o silêncio assustador que arrepiou cada pelo de seu corpo.

Ele bateu a porta da geladeira, a garrafa de soju foi praticamente lançada


para dentro da pia e tombou, despejando o líquido alcoólico direto no ralo.
Seokjin correu para escada, subindo-a de dois em dois degraus até
atravessar o corredor dos quartos com pressa, indo até o quarto em que
esteve mais cedo. Ele abriu a porta de uma vez, olhando direto para as duas
camas de solteiro e depois para o chão até encontrar Namjoon deitado de
lado muito perto da cama de Yoongi.

— Namjoon? – chamou se aproximando, abaixando ao lado dele até virá-lo


de barriga pra cima. – Hey, Namjoon?

— Hm... – o mais novo tentou abrir os olhos, mas estava grogue demais.

— Vou te colocar na cama-

Jin se calou ao perceber que na mão esquerda Namjoon mantinha uma cartela
de remédios. Ele franziu o cenho e a tomou para si, confirmando que
faltavam cinco comprimidos ali. O desespero o fez arregalar os olhos e
segurar o rosto do maior entre as mãos, empurrando o queixo dele para
baixo até expor o interior da boca dele. Namjoon negou e tentou segurar os
pulsos alheios.
— O que você fez?! Namjoon... O que você fez?!

— M-me deixa dor-mir... – negou brigando com o torpor. – J-Jin...

— O que você fez? – Jin sentia que poderia chorar de novo a qualquer
momento. – Namjoon... Namjoon, não dorme! – pediu em desespero,
segurando o rosto dele com uma mão enquanto a outra vasculhava o bolso da
bermuda em busca do celular. – Droga, Namjoon...

— J-Jin... Me desculpa? – ele respirou fundo e fez uma careta antes de


apertar o pulso de Jin. – Hyung...

— Alô... Preciso de uma ambulância... O meu... Amigo... – ele sentou no


chão e apoiou a cabeça de Namjoon em sua coxa. – 24 anos... Ele ingeriu
remédios demais... – ele encarou a cartela. – Acho que cinco. Rua Sete, casa
número sete no campus da Universidade Gyosu... Ok.

— H-hyung... – chamou de olhos fechados.

— Hey, abre os olhos... Fica acordado. – pediu com a voz embargada. – Por
que você fez isso, Namjoon? – acariciou o rosto dele e lambeu os lábios. –
A ambulância 'tá vindo, ok? Só fica acordado comigo.

— Vo-cê é tão li-lindo...

— Então continua acordado olhando pra mim. – Jin segurou a mão dele,
entrelaçando os dedos com força. – Eu sou bonito, então continua de olhos
abertos pra mim. – pediu tentando manter a calma. – Por favor...

— N-não consigo... Desculpa...

— Namjoon? Hey abre os olhos... – o sacudiu um pouco, mas Namjoon


estava apagado, o corpo pesado mole. – Namjoon não faz isso comigo, não
faz isso, por favor. – se curvou até conseguir beijar a testa dele. – Por
favor... Meu amor não faz isso comigo, abre os olhos pra mim...

Jin caiu num choro desesperado, discando outra vez a emergência com a mão
trêmula. Ele não sabia o que fazer.

— Abre a boca e fecha os olhos.

Taehyung rolou os olhos e abriu os lábios para receber o pedaço de picles


que Hoseok praticamente enfiou em sua boca.

— Você é muito rancoroso.

— Ninguém mandou esquecer de pedir para tirarem essa coisa. – o bico nos
lábios dele fez Yoongi rir antes de morder sua bochecha inchada pelo
sanduíche que ainda mastigava. – Aí, porra!

— Coisinha brava. – brincou usando o guardanapo para limpar o molho que


sujava o canto dos lábios de Hoseok. – Ainda tem refrigerante?

— Aqui. – Tae ofereceu o copo que tinha não mão, encaixando o canudo nos
lábios de Yoongi. – Caralho, a gente come demais.

— Você sozinho comeu três hambúrgueres. – o menor se virou depois de


sugar o refrigerante gelado e foi até o carro estacionado atrás deles, onde
Hobi e Tae continuavam recostados.

— Aqui, tem mais um. Que inferno tem mais picles que tudo nessa merda. –
Tae segurou o pulso dele e puxou para morder um pedaço grande do
hambúrguer. E o picles.

— Pronto, seu chato. – disse de boca cheia.

— Vem aqui. – Hobi o puxou pela camisa larga e o fez ficar entre suas
pernas, abraçando a cintura de Tae com o braço livre. – Você estava estranho
quando a gente chegou...

— Não é nada. – negou sem encará-lo.

— Taehyung... – procurou o olhar dele e segurou sua nuca. – Tae, 'tá tudo
bem?

— Uhum. – assentiu.
— Eu fiz alguma coisa que te chateou? – Hoseok franziu o cenho. – Você
mudou de idéia sobre... A gente?

— Quê?

— Você é estranho... Eu e o Yoon transamos e... Não gostou?

— Hoseok, pelo amor de deus, para de pensar besteira. – negou e limpou o


cantinho da boca dele, lambendo o polegar sujo de molho em seguida. – Eu
não me arrependi de nada, ok? Não mudei de ideia sobre nada, a gente tá
exatamente onde deveria estar. – sorriu e Hobi mordeu o sanduíche. – Queria
te beijar.

— Sai pra lá, isso é nojento. – negou. – Eu tô comendo!

— Fresco do caralho. – negou e riu antes de selar os lábios dele. – Gostinho


de carne.

— Para com isso! Yoongi, o Taehyung é nojento!

— Hm. – Yoongi foi até eles e sorriu antes de também beijar os lábios de
Hobi. – Que molho mais salgado gente.

Taehyung explodiu numa risada gostosa enquanto Hoseok os olhava com


desprezo.

Uma música baixa vinha do carro, Hoseok foi o último a comer e estava
juntando o lixo em uma sacola branca quando o celular vibrou no bolso do
jeans. Ele conferiu que era uma mensagem quando viu o nome de Bobby no
alto das notificações, olhou para os outros dois que trocavam carinhos e
aproveitou que tinha de jogar o lixo fora para responder a mensagem
depressa.

Ele não disse a Yoongi ou Taehyung que encontraria Bobby no dia


seguinte.

— Não quero voltar pra casa agora... – Tae suspirou abraçado a Yoongi. – O
clima tá pesado.
— O que a gente vai fazer durante o recesso? – Hobi acendeu um cigarro e
deu para Taehyung, acendendo um para ele mesmo em seguida. – Meu appa
me mandou uma mensagem sobre a viagem para Jeju com a Momo.

Tae tragou demoradamente e achou melhor não falar sobre o encontro com
Yoseob mais cedo.

— Não responde.

— Ele vai vir atrás de mim... Achei estranho que ainda não tenha feito isso.
– deu de ombros e fez uma cara feia quando Yoongi pegou o cigarro de sua
mão para tragar. – Yoongi...

— Eu fumo passivamente com vocês dois o tempo todo. – desconversou.

— A palavra "passivo" me deixa excitado. – Tae observou.

— Você é estranho demais, sinceramente. – pegou o cigarro de volta e


também se encostou ao carro, ao lado dele. Yoongi deu um jeito de conseguir
abraçar a cintura de ambos, colocando a mão por dentro das camisas até
acariciar as peles macias. – O que mais? – Hoseok soprou a fumaça e
encarou Tae de perfil.

— Hm?

— O que mais te deixa excitado?

— Eu gosto do rumo dessa conversa. – o menor sorriu.

— Porque você é um gatinho safado, Min Yoongi. – Taehyung acertou um


tapinha na coxa dele e sorriu. – Ver vocês dois se beijando me deixa
excitado, mas individualmente... Quando o Yoon fica tímido ou quando você
fica nervosinho.

— Tae gosta de te irritar por causa disso. Uma vez, antes de a gente se
acertar, vocês brigaram por causa de um motivo besta e ele nem conseguiu
disfarçar que tinha gostado. – deitou a cabeça no ombro de Hobi e brincou
com a fivela do cinto de Taehyung.
— E o que te excita? – ele bateu com cigarro para se livrar das cinzas e
encarou Hoseok.

— Ah... Então...

Yoongi riu baixinho contra o moletom dele e Hobi lhe beijou o cabelo
esverdeado. Tae franziu o cenho.

— O que foi?

— Ele sabe... Melhores amigos. – rolou os olhos. – Eu gosto de umas coisas


diferentes.

— O Seok curte mandar. – explicou. – Mas ele curte mais ainda quando não
obedecem. – sorriu.

— Como assim?

— Já ouviu falar de dominação e submissão? – Taehyung assentiu. – Não é


exatamente isso, mas eu curto algumas coisas que tem a ver. – deu de
ombros. – Imaginar coisas assim me deixa excitado.

— Igual ao Jimin? – arqueou uma sobrancelha. – Ele me contou que curte


essas coisas também.

— O Jimin é mais intenso que eu sobre isso. O filho da puta coleciona


algemas e tem a porra de uma palmatória na gaveta. – rolou os olhos.

— Você me imagina assim? – provocou trocando um olhar com Yoongi.

— Eu te imagino de joelhos pra mim implorando pra gozar, Taehyung. – ele


apertou a cintura de Yoongi. – Ou te fazendo chorar dizendo que não aguenta
mais gozar enquanto eu sento em você.

— Wow! – Yoongi riu e desceu a mão mais um pouco, abraçando com os


dedos a semi ereção do mais novo. – Ele gostou de ouvir isso. Vocês ficam
dizendo que eu sou o mais safado... O empate é um fato.
— Yoongi você é o pior. Eu nunca fiquei com alguém tão safado igual a
você.

— Essa sua carinha de garoto suave é a maior mentira do mundo, Yoon. –


Hobi beijou o queixo dele e mordeu devagar. – Você está se esfregando na
minha coxa sem notar. – olhou pra baixo e sorriu.

— Falávamos sobre fumar e agora 'tô querendo entrar no primeiro motel que
encontrar. – Tae suspirou e Hobi riu deitando a cabeça no ombro dele. Ele
esticou o braço para abraçá-lo e deixar que os dedos tocassem o cabelo de
Yoongi ao mesmo tempo.

Ficarem em silêncio enquanto a música baixa ainda vinha do carro com as


janelas abertas. Clocks em uma versão acústica começou a tocar e Yoongi se
aconchegou mais ao peito de Hoseok, encolhendo-se enquanto sentia um
beijinho em seu cabelo.

Ele respirou fundo e foi impossível não sorrir diante do alívio que o
transbordava inteiro, da felicidade em sentir-se completo exatamente onde
estava ao ponto de temer sair daquele abraço ou daquele carinho em seus
cabelos.

O amor nunca lhe pareceu tão certo como naquela soma ímpar que resultava
no melhor momento de sua vida.

Pela primeira vez, Yoongi agradeceu – a qualquer entidade existente – por


estar vivo, por ter lutado contra as previsões médicas e tratamentos
cansativos. Agradeceu por cada bolsa de sangue, cada transfusão ou
internação que o manteve vivo, que o fez chegar até ali.

Lembrou de uma carta curta que lhe proibia de desistir, então abraçou
Hoseok com mais força. Lembrou da cicatriz sendo beijada tão
carinhosamente, então procurou pela mão livre de Taehyung e entrelaçou os
dedos aos dele.

— É muito precipitado dizer que eu quero fazer dessa música a nossa


música? – disse baixinho.
— Até a versão original? – Hobi questionou.

— Acho que combina com a gente. – Tae tragou o cigarro quase no fim e o
jogou no chão, pisando em cima com a ponta do tênis. – A gente é uma
música acústica, mas também não é.

— Prefiro algo com um solo de guitarra bem pesado.

— Cala a boca, Seok. – negou e beijou o pescoço dele. – O que a gente é? –


ergueu o olhar para os mais altos e teve a atenção de ambos para si. – Eu
acho que isso é pedir demais, mas eu me pergunto sempre que essa
felicidade toma conta de mim.

— Eu aprendi que três não é um número que dá inteiro quando se divide por
dois. – Tae suspirou e beijou o cabelo de Hoseok. – Mas que se foda a
matemática, eu não poderia ligar menos.

— Nós somos um inteiro. – Hoseok sorriu para Yoongi e depois encarou


Taehyung. – Eu me sinto inteiro. Obrigado.

Ele fechou os olhos outra vez e abraçou Yoongi com mais força, deixando-se
sentir o cheiro gostoso de Taehyung.

Naquele momento Tae observou o céu nublado e depois os próprios pés. Ele
pensou na ligação que fizera no impulso e nas lembranças ruins que estavam
ligadas ao irmão mais velho. Sentia medo de Taewoo, sentia tanto medo que
preferia nunca mais deixar nada vir à tona. Entretanto, ali onde estava, não
havia medo nenhum... Apenas uma segurança desconhecida que o tomava
inteiro.

Hoseok e Yoongi eram... Eles eram tudo.

Respirou profundamente e apoiou o queixo no topo da cabeça de Hobi.

— Eu chorei porque a história do Namjoon me fez lembrar... – esperou o


silêncio e foi o que recebeu. O silêncio respeitoso, mas ainda assim ansioso.
– Não sei que quero falar sobre isso agora. – Hobi assentiu e Yoongi beijou
sobre a tatuagem de uma mariposa em seu pulso, resvalou os lábios sobre
uma das cicatrizes escondidas pela tinta colorida. – Mas eu agradeço por
que vocês dois me fazem sentir que não preciso fazer isso agora.

— Quando você se sentir confortável. – Yoongi assegurou.

— Quando aconteceu aquilo você me fez sentir seguro nos seus braços,
naquela banheira Tae... Os meus braços são seus e do Yoongi. Quando você
precisar deles. – beijou o queixo dele com carinho. – O tempo todo.

— Obrigado.

Taehyung assentiu e sorriu um pouco.

— Minha omma diz que uma família deve se proteger... Acho que eu
finalmente tenho uma família agora.

Yoongi sorriu e se esticou até beijar os lábios dele demoradamente.

O celular vibrou em seu bolso, mas seu sorriso desapareceu conforme lia as
mensagens de Seokjin.

— O que foi?

— O Namjoon... A gente precisa ir pro hospital agora!

Yoongi não conseguiu esperar que Tae estacionasse o carro, então desceu
primeiro e correu para dentro do hospital caro, até a recepção bonita onde
uma garota de cabelos presos digitava tranquilamente o teclado do notebook.

Ele gaguejou algumas vezes até conseguir ser compreendido e guiado para o
terceiro andar da emergência. Nunca na sua vida um elevador pareceu
demorar tanto. Ele caminhou por todo o corredor até encontrar Jin de pé
perto do bebedouro completamente branco, então trocaram um olhar
demorado e que disse mais coisas do que as palavras poderiam.

— Foi minha culpa... – o mais velho disse antes de voltar a chorar.


Preocupado e soterrado de culpa. – Ele tentou se matar...
— Não foi sua culpa. – negou e caminhou até ele, abraçando-o forte. – Não
foi sua culpa, hyung.

— Yoongi... – disse baixinho entre um soluço e outro. – Eu acho que não


consigo lidar com isso sozinho... Eu preciso de você.

— Vem aqui, me diz o que aconteceu? – o fez sentar em uma das poltronas e
se abaixou na frente dele.

— Eu estava na cozinha... Ouvi um barulho e corri até o quarto de vocês. O


Namjoon estava no chão... Ele tomou remédio demais. – fungou. – Não
conseguia ficar acordado, então eu liguei pra emergência. – Yoongi assentiu.
– Na ambulância... Namjoon começou a tremer... – soluçou. – Começou a
tremer e eu... Eu fiquei com tanto medo.

— Hyung, fica calmo. – pediu segurando suas mãos. – Se acalma. – afagou


os pulsos dele. – Onde ele 'tá agora? Já falou com alguém? – Jin negou. –
Avisou aos pais dele?

— Eu não sei... Não tenho o número. – esfregou o nariz com as costas da


mão. – Eu só pensei em você Yoongi, eu... É minha culpa. Eu disse coisas
que não deveria ter dito. Nada disso era sobre mim e eu...

— Você estava nervoso. – suspirou. – Quando eu te ouvi gritar todas aquelas


coisas quis entrar no quarto e dizer pra calar a boca, que estava
transformando algo tão difícil numa discussão de relacionamento, mas hyung
você é humano igual a mim e talvez isso tenha me feito sentir que o quê disse
era errado porque eu sempre fico te colocando como um exemplo a seguir,
me espelhando a sua sensatez sem lembrar que é tão humano quanto eu. – ele
entrelaçou os dedos aos de Jin. – E humanos erram o tempo todo.

— Mas eu-

— Você é um homem que passa mais tempo se preocupando em não magoar


outras pessoas do que a si mesmo.

— Eu me senti usado. – Yoongi assentiu. – Eu sei que isso não é sobre mim,
mas eu senti como se ele não confiasse em mim. – fungou. – Ele não me ama
e isso não é algo que eu possa desfazer...

— Ele te ama Jin, mas esse amor é tão... – suspirou.

— Eu posso lidar com o desamor, mas eu não soube lidar com a falta de
confiança porque eu confiei tudo a ele. Inclusive o meu amor. Eu senti tanta
raiva de Yoongi, tanta raiva por saber que em todas aquelas vezes que ele
chorou nos meus braços algo tão ruim assim estava o machucando e eu não
fiz nada.

— Você não sabia hyung...

— Você ama o Hoseok? – Yoongi assentiu. – Eu sei que você ama o


Taehyung também e eu não deveria ter te julgado por isso, eu agi como se
nunca tivesse errado. Eu te disse coisas horríveis e agora você 'tá aqui
segurando a minha mão tentando me fazer acreditar que o homem que eu amo
não tentou se matar por minha culpa.

— Seokjin...

— Eu não mereci a confiança dele e eu não mereço a sua amizade, eu não


mereço nada do que me faz feliz. O Namjoon vivia lutando contra fantasmas
sobre um abuso e eu passava o meu tempo num drama idiota sobre não se
correspondido. – soluçou outra vez. – Eu disse a ele que talvez nessa vida a
gente nunca consiga ficar junto, mas dói tanto... – arfou. – Dói demais ter
certeza disso.

— Seokjin, eu te amo. – apertou a mão dele. – Nada disso é sua culpa. Todas
as pessoas erram, eu já errei mais do que poderia contar. Ainda existe tanta
coisa em mim que preciso consertar, mas eu sei que isso não vai acontecer
de uma hora para outra. Ok, você errou, mas agora nada vai mudar se só
continuar pensando nisso. – ele sorriu um pouco e segurou o rosto do mais
velho. – Acontece. – disse baixo. - Erros acontecem e a gente precisa passar
por eles e fazer de cada erro um aprendizado.

— Quando você ficou tão adulto? – fungou e Yoongi beijou o rosto dele.

— Quando eu te conheci. – sorriu. – Vai ficar tudo bem, hyung.


— Jimin sempre diz que o Taehyung é a alma gêmea dele, Hoseok e
Jungkook são como um só... Eu tenho você e isso é incrível. – apertou a mão
dele. – Mas o Namjoon...

— Ele tem a todos nós. – assentiu. – Sempre.

— Sempre. – repetiu e secou as lágrimas.

Hoseok e Taehyung chegaram em seguida, ambos abraçaram Jin enquanto


Yoongi ligava para os pais de Namjoon.

Quando desceu do táxi, em Busan, Jungkook teve duas certezas indiscutíveis.

1. O ar era mais limpo perto do mar;

2. Jimin era absurdamente rico.

Ajeitou a mochila nas costas enquanto o mais velho pagava o taxista e


agradecia gentilmente. Também olhou ao redor para confirmar que aquela
construção poderia se perder de vista de encontro ao oceano calmo, as
praias quase vazias.

Jimin o abraçou por trás, deixando um beijinho demorado em seu pescoço


com carinho.

— Sua família mora aqui?

— Meus pais e a minha avó. – sorriu. – Mas não exatamente aqui, moram na
cobertura. – apontou para cima e Jungkook cobriu os olhos com a mão,
tentando ver o que o Sol permitia. – Solar mora perto da república.

— É gigante!

— É um resort, bebê. – explicou. – Já esteve em um? – Jungkook negou. –


Vai ser divertido, podemos vir passar um dia aqui. – conferiu o celular e
sorriu ao ver o mais novo ainda encarando o prédio alto. – Tem piscinas,
bares, restaurantes... Até um SPA.
— Hyung... Isso deve ser bem caro. – coçou a nuca.

— Não se preocupa com isso. – beijou os lábios dele. – Eu só preciso falar


com meu appa e depois te levo pra sua casa, ok? – Jungkook assentiu e
sorriu quando Jimin entrelaçou os dedos aos seus. Era inevitável: seu
coração acelerava demais.

Cruzaram a recepção elegante e Jimin cumprimentou alguns funcionários


com gentileza e humildade, curvando-se para os mais velhos que diziam a
mesma coisa: "como vai Jimin-ah? Sentimos sua falta!". Jungkook podia
notar o quanto o mais velho era querido por cada um ali, desde a
recepcionista simpática até o porteiro de idade que sorriu grande ao vê-lo.

E isso só servia para que ele se sentisse mais encantado.

No elevador não disseram muitas coisas, Jimin parecia distraído com o


celular, digitando e rindo baixo do que recebia pelo aplicativo de mensagens
que não parava de notificar, vibrando e espalhando o som no silêncio do
elevador. Jungkook não queria olhar e ser invasivo, mas ele olhou por alguns
segundos e leu a mensagem de Taemin no que deveria ser um grupo.

"As cuecas do Jimin sempre são lindas."

Jimin não viu, não era um hábito seu ser perceptivo sobre coisas assim
depois de Minseo, mas Jungkook soltou a mão dele e fingiu que também
veria alguma coisa no celular. Encarou o painel digital e apertou as mãos
disfarçadamente, sentia o estômago revirar fracamente e ficou chateado com
o mais velho sem entender os motivos.

— Jungkook?

— Hm? – o olhou confuso.

— Eu perguntei se você quer jantar fora? Podemos convidar o seu appa.

— Pode ser. – assentiu algumas vezes.

Jimin o encarou com uma sobrancelha arqueada e guardou o celular no


bolso, puxando-o para perto.
— Tudo bem?

— Uhum. – sorriu um pouco. – Eu só tô com fome.

— Falo com meu appa e nós vamos almoçar ok? – beijou-lhe nos lábios e
sorriu. – Eu não vinha até Busan há um tempo, mas eu fiquei feliz por estar
aqui com você.

— Eu também. – sorriu. – Eu gosto muito de você hyung... Muito.

Jungkook ficou desconfortável no meio de todo aquele luxo e por isso


continuou parado no meio da maior sala de estar que viu na vida enquanto
Jimin largava a mochila sobre um dos sofás brancos e espaçosos. O piso era
impecavelmente limpo, as paredes decoradas com quadros bonitos e até
mesmo alguns retratos de família.

Ele reconheceu Jimin usando uma roupa de vaquinha em um deles e sorriu, o


mais velho ainda possuía os mesmos traços de quando era criança. Jimin,
olhando ao redor o puxou para sentar no sofá e não perdeu tempo antes de
sentar sobre as coxas fartas dele, abraçando-o pelo pescoço.

— Hyung! – Jungkook, de olhos arregalados, o segurou pela cintura.

— Eu quero te beijar desde que te acordei no trem, você fica tão manhoso
com sono.

— Mas... Mas aqui... E se o seu appa...

— Boa tarde.

A voz grossa fez Jungkook gelar e ficar imóvel.

Jimin arregalou os olhos e praticamente pulou do colo de Jungkook, virando-


se para o pai. Park Kisung encarou o filho, depois o garoto de olhos grandes
em seu sofá e franziu o cenho.

Era um homem jovem e muito bonito, sua postura passava uma imagem séria
mesmo com roupas casuais. Jimin riu baixo e caminhou até o pai, curvando-
se antes de ser puxado para um abraço apertado.
— Oi appa. – cumprimentou com a voz abafada no abraço.

— Oi Chim. – ele afagou as costas do filho e o segurou pelos ombros. –


Deixa eu te ver...

— Appa eu tô bem... Sério. – sorriu. – E o senhor?

— Ele inventou que vai colecionar garrafas de vinho. – uma mulher entrou
na sala, ela estava descalça e era linda.

Jungkook teve certeza que era uma das mulheres mais bonitas que já havia
visto.

Era baixa, tinha longos cabelos pintados de loiro e um sorriso iluminado.


Igual ao sorriso de Jimin.

— Omma! – Jimin correu até ela e a abraçou, tirando-a do chão para girar no
lugar.

— Jimin! Não faça isso! – ela riu e o beijou na bochecha. – Como você está
meu anjinho?

— Estou bem, omma. – se curvou com respeito. – Estava com saudade.

— Não te vemos há alguns meses, desde o começo das aulas... – Park Minji
olhou para Jungkook e arqueou uma sobrancelha. – Olá.

— Ah, desculpa! – Jimin foi até e o segurou pela mão, trazendo para perto
dos pais. – Esse é o Jungkook.

— Olá, Jungkook.

— Como vai, Jungkook?

Jungkook ficou nervoso, não sabia direito o que fazer, então se curvou com
respeito arrancando uma risada de Jimin.

— Não vai dizer que se chama Busan. – sussurrou.


— Olá... Mui-Muito prazer!

— Está tudo bem, querido, não se curve assim. – Minji negou e quando o
garoto se ergueu sentiu os braços dela ao seu redor. Não era desconfortável
de um todo, Minji cheirava tão bem e seus braços eram quentinhos...
Jungkook não se recordava de algo assim. – Sou Minji, omma do Jimin.

— Eu sou Kisung. – o homem assentiu. – Muito prazer.

— Jungkook é calouro e se mudou para a república há alguns meses, também


nasceu aqui em Busan... Mas depois de mim.

Minji rolou os olhos para a birra do filho e gesticulou com elegância.

— Vocês são amigos, Jimin? – Kisung encarou o filho com seriedade.

— Hm... Somos. – assentiu. Jungkook ficou chateado, mas era verdade,


certo?

— Aposto que estão com fome... Está quase na hora do almoço! Você gosta
de lagosta, Jungkook?

— Eu nunca comi lagosta. – negou constrangido.

— Eu gosto mais de peixe frito, mas até que é bom. – Minji deu de ombros e
sorriu. Ela era tão gentil. – Almoce conosco, por favor... Sempre comemos
sozinhos nesse apartamento!

— Jimin, podemos conversar? – o Park mais velho pediu com delicadeza e


Jimin assentiu.

— Eu já volto, ok? Omma vai cuidar de você. – disse a Jungkook que


assentiu confuso. – Eu já volto.

No espaçoso escritório onde Kisung trabalhava às vezes, Jimin segurou o


porta-retratos de madeira entre os dedos e sorriu para a foto bonita onde
estava ao lado dos irmãos e dos pais durante as primeiras férias de Jihyun na
Suíça. Kisung observou o filho com cuidado e abriu uma das gavetas
pequenas da mesa pesada, tirando de lá um molho de chaves eletrônicas.
— Jimin? – ele se virou para o pai. – Pega. – jogou as chaves e assentiu
quando o viu pegá-las no ar. – Eu pedi para calibrar os pneus quando me
avisou que vinha.

— Obrigado, appa. – sorriu e colocou o porta-retratos sobre a mesa. – Eu


sei que quer me perguntar sobre o Jungkook.

— É bom que saiba. Pode começar a me explicar. – cruzou os braços.

— Ok. – suspirou. – Eu gosto dele, appa.

— Isso eu percebi quando o trouxe. Você nunca trouxe ninguém pra dentro
da nossa casa depois do que aconteceu.

— Confio nele.

— Eu me sinto feliz por saber que você confia em alguém novamente filho,
mas eu ainda me preocupo mais do que posso evitar. O que sabe sobre ele?

— Jungkook é bolsista e nasceu aqui em Busan, morava com o pai e... Gosta
de mim.

— Não é o suficiente, Jimin. – lamentou.

— Pra mim é, appa. De verdade. Eu confio nele.

— Por quê? – Jimin deu de ombros e Kisung suspirou. – Filho, eu sei que
pareço controlador, mas eu não quero que nada daquilo aconteça de novo.
Esse garoto é de uma classe inferior a nossa e agora ele sabe que você vem
de uma família com riquezas. Não me importo se você tem parceiros ou
parceiras, mas me importo com quem você traz para dentro da sua vida
dessa forma.

— Appa, Minseo é tão rica quanto nós e ainda assim fodeu a minha vida. –
rolou os olhos. – Dinheiro não quer dizer nada. Jungkook me faz bem... De
verdade. Eu me sinto bem quando estou perto dele.

— Estou preocupado...
— Por quê?

— Porque quando você diz o nome dele os seus olhos brilham, Jimin. Os
seus olhos já brilharam dessa forma antes e isso quase fez com que te
perdêssemos. – suspirou. – Venha aqui. – chamou de braços abertos,
acolhendo-o num abraço protetor. – Por favor, não se machuque de novo.

— Eu não posso deixar que Minseo controle a minha vida mesmo estando
fora dela. Quero tentar ser feliz appa. Ser feliz de verdade e Jungkook me
deixa feliz.

— Ok. – assentiu e beijou o cabelo dele. – Confio em suas decisões. E


aquele garoto é lindo... – brincou e Jimin riu. – Minji provavelmente fugiu
com ele e nos deixou aqui.

— Eu não a julgaria. É compreensível. – concordou e fez o pai rir um pouco.


– Tem notícias de Jihyun?

— Ah, sim. – rolou os olhos. – Ele está apaixonado. Outra vez. Dessa vez é
uma brasileira. Vamos almoçar, estou com fome.

Na sala de jantar, Minji sorriu ao notar o quanto o garoto estava nervoso em


sua presença e se afastou um pouco, lhe dando espaço.

— Você gostaria de beber alguma coisa, Jungkook?

— Não senhora, muito obrigado. – se curvou de novo.

— Você é um rapaz muito educado e gentil. Essas tatuagens te fazem parecer


um bad boy, mas é só te ouvir falar que a gente nota que não é nada disso. –
riu baixinho. – Me diga, o que você estuda?

— Tecnologia.

— Deve ser bastante inteligente então. – ela sentou e ofereceu um lugar para
ele. – Você morava aqui perto?

— Não senhora, eu morava em Mandeok-Dong.


— Oh, eu conheço! Tenho uma grande amiga que nasceu lá também. – apoiou
os cotovelos à mesa. – Espero que não se importe, às vezes me canso de
tantas boas maneiras nos jantares que vou. – suspirou. – Sabe, pode parecer
que somos diferentes por causa de tudo isso... – gesticulou mostrando ao
redor. – Mas não somos... Eu garanto.

— Entendo...

— Sempre falo demais, desculpa... – sorriu. – É divertido receber visitas!


Hm, Jungkook qual é o seu primeiro nome?

— Jeon... Jeon Jungkook, senhora. – sorriu sem jeito. – Esqueci de dizer


antes, me desculpe.

— Está tudo bem, querido! Você pode me chamar de noona se quiser. –


sorriu. – Hn, Jungkook... Jimin disse que mora com seu appa, certo? Como
ele se chama?

— Chinrae. Sim, meu appa é mecânico. O melhor do mundo! – disse com


orgulho e Minji assentiu.

— E a sua omma? – perguntou com cuidado, havia um ar sério em seu


semblante.

— Eu não tenho. – disse sem rodeios, não queria falar sobre aquilo com
uma pessoa estranha e Minji percebeu, então apenas sorriu e assentiu.

— Você quer se lavar antes de comer? – o garoto assentiu. – No corredor,


primeira porta à esquerda temos um lavabo... Por favor, fique à vontade
Jungkook.

— Obrigado, noona.

Jungkook ficou de pé e envergonhado foi em direção ao corredor espaçoso.


Minji encarou as próprias unhas pintadas de branco e suspirou.


Jungkook assobiou quando Jimin destravou as portas do carro.

— Você tem uma Lamborghini?

— Tenho. Meu appa me deu no natal.

— Ganhou uma Lamborghini do Papai Noel? – ele deu a volta no carro e


assobiou de novo. – É o modelo 2019... – se abaixou e passou os dedos pelo
pneu. – Uma Huracán 5.2 580-2!

— Eu não sei sobre o que você tá falando, não gosto de carros. Prefiro
motos. – deu de ombros. – Mas eu gosto de carros vermelhos.

— Hyung esse carro é incrível! Meu appa me disse que ele faz de zero a cem
em segundos!

— Sério? – Jungkook sorriu. – Bebê, pega! – jogou as chaves para o mais


novo. – Vamos ver se faz isso mesmo.

— O que... Que?! – negou e sacudiu a chave. – Não hyung, eu não posso


dirigir esse carro!

— Você tem habilitação e dirige melhor que eu. – deu de ombros. – Não vejo
nada de errado.

— Mas e se eu... Se eu fizer alguma coisa errada hyung?

— Não vai fazer nada errado. – gesticulou e sorriu. – Vai ser legal, sério.

Jungkook encarou o carro e depois a chave em sua mão direita. Um frio


gostoso na barriga o deixava eufórico. Jimin riu e o abraçou por trás,
beijando a nuca exposta graças a regata preta. Ele entrou no carro, no lado
do passageiro e jogou a bolsa no banco de trás.

— Vamos, bebê.

O mais novo assentiu e entrou no carro, olhando o painel equipado e o


volante de couro como se tudo aquilo fosse um sonho. Nunca se imaginou
perto de uma Lamborghini e naquele momento estava prestes a dirigir uma!
Jimin riu um pouco da euforia dele e apoiou a mão em sua coxa, apertando
com carinho.

— Relaxa, é só um carro. – piscou. – Vamos ver o seu appa.

Jungkook assentiu e fechou a porta.

Na cobertura daquele belo resort beira a mar, Park Minji entrou no escritório
onde o marido lia alguns e-mails de fornecedores e roubou sua atenção
quando sentou na coxa direita dele, deitando a cabeça em seu ombro.

— Jimin parece feliz, amor.

— Ele confia no garoto e nós devemos confiar na decisão dele.

— Eu sei. – assentiu. – Kisung eu acho que entendi porque Hyo nos pediu
ajuda para conseguir lecionar em Gyosu. Pediu por nossa influência junto ao
reitor.

— Como assim? – estranhou e Minji o encarou com preocupação.

— Lembra do primeiro casamento dela? O que ela pouco fala sobre?

— Vagamente. – assentiu.

— Assim que o olhei sentado no sofá... Eles são muito parecidos. Eu quero
que você procure saber sobre o pai de Jungkook... Não quero acreditar que
esse mundo seja pequeno assim, mas... Acho que Jungkook é o filho dela.

— O que?!

— Acho que Jungkook é o filho da Hyo. Da sua cunhada.

#PillowFic
25 - pegue isso

oi anjos!! desculpa a demora, ontem eu apaguei de tão cansada! 🥺🥺

espero que goste do capítulo tanto quanto gostei de escrever!!

muito obrigado por ler!

ps: deixa um votinho

Acende as chamas do amor que você precisa em mim, em mim

Take a Toke - C + C

Chinrae franziu o cenho quando aquele carro estacionou de frente a sua


oficina, mas seus olhos grandes se arregalaram quando viu o filho descer e
sorrir. Jungkook riu um pouco da cara de chocado do pai, mas praticamente
correu para abraçá-lo apertado.

Jungkook tinha muitos traços do pai, foi o que Jimin constatou ao vê-los lado
a lado. Altura, cor de cabelo, tamanhos dos olhos e até mesmo o sorriso.
Chinrae com certeza era um homem muito bonito.

— De onde você tirou esse carro criança? – o Jeon mais velho perguntou
olhando de novo para a Lamborghini estacionada.
— É do Jimin-hyung. – explicou baixinho e foi adorável a forma como corou
ao sorrir enquanto puxava Jimin pela mão até os dois estarem diante de
Chinrae. – Appa, esse é o Jimin-hyung. Hyung, esse é o meu appa.

— Muito prazer Chinrae-ssi. – Jimin se curvou e sorriu.

— Oh, então é o famoso Jimin. – cruzou os braços, arqueando uma das


sobrancelhas grossas. Seus braços eram cobertos de tatuagens, a regata preta
destacava um pouco dos músculos discretos e o fazia parecer intimidador. –
É bonitão mesmo.

— Appa! – Jungkook arregalou os olhos e Jimin quis rir. – Para com isso,
por favor!

— 'Tá bom! – ergueu as mãos na defensiva. – Muito prazer Jimin, é muito


bom te conhecer finalmente... – Jungkook tossiu. – Não que ele fale muito
sobre você, ele falou bem pouco! Quase nada! – sorriu. – Por favor, vamos
entrar!

— Vem hyung!

Jimin assentiu e deixou que Jungkook o guiasse para dentro da pequena


oficina, olhando ao redor com curiosidade. Era um estabelecimento simples,
mas muito organizado. Eles passaram por uma pequena recepção, um lavabo
limpo e deram em um quintal de chão de cimento repleto de pequenos vasos
com plantas bem cuidadas ou outros cheios com terra. Atravessaram até o
portão de ferro e, então, entraram na casa. À primeira vista Jimin sorriu
agraciado com a quantidade de fotos de Jungkook espalhadas pela parede
pintada de azul claro. Desde um bebê de cabelos espetados até o garoto na
formatura do ensino médio.

— É uma casa pequena hyung, mas é bem arrumadinha.

— Hm? – Jimin franziu o cenho. – Você era a coisinha mais fofa do mundo! –
apontou para uma foto de Jungkook num triciclo.

— Oh sim, ele era! Nesse dia ele chorou até que eu o deixasse dormir
segurando o guidão do triciclo, tinha medo de o Papai Noel voltar pra
buscar. – Chinrae sorriu, havia muito orgulho em suas palavras.

— Tão fofo! – Jimin apertou o queixo de Jungkook com carinho, o garoto


corou mais ainda.

— Jungkook mostra o resto da casa pra ele, eu vou tomar um banho!

— Ok. – assentiu. – Vem hyung! – ele puxou Jimin pelo corredor. – Aqui é a
cozinha, ali é o banheiro. O quarto do meu appa e... – ele falava muito
rápido, parecia sentir pressa. Jimin foi puxado para dentro de um cômodo e
olhou ao redor, constatando que ali era o quarto dele. As paredes eram
pintadas num tom pastel de amarelo e azul, havia pôsteres de bandas e super
heróis, mangás organizados numa prateleira alta, a mesa do computador
repleta de livros e cadernos e sobre a cama de solteiro, muito bem arrumada,
uma manta do Iron Man dobrada. – O meu quarto!

— Tem o seu cheiro. – observou passando os dedos por cima dos mangás. –
Você também gosta de One Piece. – Jimin se virou, mas acabou rindo
baixinho ao sentir os lábios do mais novo contra os seus. Jungkook parecia
nervoso, as mãos fortes seguraram os ombros do menor enquanto o beijo
desajeitado tomava jeito. Jimin fez carinho na cintura dele, por baixo da
camiseta preta e depois se afastou com beijinhos carinhosos. – O que foi
isso?

— Eu nunca beijei ninguém no meu quarto antes. – o sorriso dele contagiava


Jimin. – Sabe, com meu pai em casa e essas coisas...

— Ah, a adrenalina. – brincou e Jungkook assentiu e ganhou mais um


beijinho no queixo. – Bebê, você é adorável.

— Vamos beijar outra vez.

O menor apenas assentiu e foi beijado com ânimo, arfando quando os braços
fortes o seguraram pela cintura, quando os corpos ficaram próximos o
bastante para compartilhar o calor. Jimin afundou os dedos no cabelo alheio,
apertando entre os dedos as mechas longas e macias, lutando contra a
vontade de levar aquilo mais além.
Ele sempre queria ir além com Jungkook.

Ficaram por minutos ali, trocando beijos carinhosos e quentes, tocando um


ao outro como se não o fizessem há séculos. Jimin se deixou pressionar
contra a cômoda de madeira escura e sorriu assentindo quando os beijos
desceram um pouco para o pescoço.

— Jungkook... Bebê... – o garoto apenas grunhiu. – Seu appa 'tá esperando a


gente.

— Eu sei, hyung. – assentiu, mas não parou.

— Bebê. – riu baixinho e o puxou até selar os lábios dele. – Seu appa 'tá
esperando. – passou o polegar pelos lábios inchados e vermelhinhos. –
Como que eu vou aparecer pra ele se você me deixar de pau duro?

— Hyung! – arregalou os olhos.

— Você é muito engraçado, sabia? Me deixa assim e depois fica todo


envergonhado. – ralhou enquanto afagava a nuca dele, acalmando-o. – Acha
que ele vai gostar de mim?

— Eu sei que vai. Mas... É importante?

— O que?

— Que meu appa goste de você hyung.

— Jungkook... – o segurou pelo pescoço, olhando-o nos olhos. – Tudo sobre


você é importante pra mim. Agora vamos antes que seu appa ache que a
gente tá se pegando e que o filhão dele é um sem vergonha. – piscou e o mais
novo rolou os olhos.

Na cozinha, ainda com o cabelo úmido e cheirando a sabonete, Chinrae


estava um pouco constrangido com a simplicidade de sua casa depois de
imaginar o estilo de vida de Jimin. Aquele carro estacionado custava mais
do que qualquer bem que possuía. A primeira impressão achou o rapaz muito
bonito e educado, mas o que mais havia se atentado era no comportamento
do filho quando perto dele.
Nunca vira Jungkook tão confortável ao lado de alguém.

Aquilo era bom, mas também o deixava preocupado.

— Espero que goste de chikin Jimin, eu não cozinho muito bem, mas é a
comida favorita de Jungkook. – ele explicou quando os dois rapazes
sentaram à pequena mesa.

— Ah... Gosto. – assentiu dando o melhor sorriso. Já havia almoçado, comer


aquilo não estava em seus planos por mais que gostasse. Jimin apenas
aceitou, mas ficou um tanto nervoso e isso foi notado por Jungkook. –
Obrigado Chinrae-ssi!

— Você pode me chamar de hyung, criança. – pediu e colocou sobre a mesa


três garrafinhas de soju. – Gosta de beber?

— Um pouco.

— Não menti hyung, é feio. – Jungkook provocou de boca cheia. – Que


saudade disso, appa!

— O seu cabelo está grande.

— Resolvi deixar crescer, ficou legal?

— Continua o bonitão do appa. – Chinrae brincou bagunçando o cabelo dele.


– Como vão os estudos?

— Bem. – deu de ombros. – Têm algumas coisas chatas, mas eu até gosto.

— O que você estuda Jimin-ah? – sentou de frente para os mais novos e


abriu uma das garrafinhas verdes, servindo os três pequenos copos sobre a
mesa.

— Direito. Estou no segundo ano hyung.

— É uma profissão familiar?


— Não. – negou também de boca cheia. – Meu appa estudou administração e
meu tio economia. Omma estudou literatura.

— Sua família é daqui?

— Sim. – assentiu. – Nós temos negócios aqui e no Japão. – Chinrae bebeu o


soju de uma vez. – No ramo de hotelaria. Já ouviu falar de Seon Hauseu
Resort?

O homem franziu o cenho.

Sim, ele já ouviu sobre isso. Na verdade, muito mais do que Jimin
imaginava.

— Uhum.

— É da minha família. – Jimin disse com orgulho. – Mas eu não penso muito
em assumir nada disso, minha noona é mais apta.

— Entendo. – ele sorriu um pouco. – E o que exatamente acontece entre você


e o meu filho?

A pergunta não foi invasiva, Chinrae sequer usou um tom sério, mas era
possível perceber a preocupação escapando entre as palavras. Jungkook
arregalou os olhos enquanto mordia um pedaço de coxa do frango e Jimin
não o deixou ralhar com o pai, entendia a preocupação do mais velho porque
também tinha um pai preocupado.

— Tá tudo bem. – disse depois de afagar a coxa de Jungkook. – Eu gosto


muito do Jungkook, hyung. Ele é uma pessoa muito importante pra mim.

— Os seus pais sabem que você é gay?

— Eu sou pansexual. – sorriu. – O senhor sabe o que é isso?

— Não. – negou envergonhado. – Mas eu acho que já li sobre...

— O senhor 'tá lendo? – o Jeon mais novo franziu o cenho. – Desde quando
appa?
— Espera aí. – ficou de pé e sumiu em direção ao corredor.

— Desculpa por ele 'tá falando dessas coisas, hyung.

— Ele é o seu pai bebê, eu fiquei muito aliviado por ele não surtar e colocar
nós dois pra fora... A gente tem sorte, você sabe disso não sabe?

— Uhum. – assentiu. – Queria que o Hobi-hyung também tivesse. – o


biquinho amuado enchia o coração de Jimin com sentimentos demais. Ele se
curvou até beijá-lo rapidamente, recolhendo um pouco do molho apimentado
que vinha do frango frito.

— Hobi-hyung está passando por um momento difícil, mas ele vai ficar bem,
ok? – o mais novo assentiu. – Depois ligamos para saber como está tudo.

Os passos de Chinrae os fizeram se ajeitar nas cadeiras enquanto o homem


colocava sobre a mesa três livros novinhos. Ele deixou lado a lado, com
títulos virados para o casal de jovens, então coçou a nuca e sorriu sem jeito.

— A sua psicóloga me indicou.

— O senhor ainda vai? – Jungkook leu um dos títulos e sorriu. – Appa...

— Eu sou um homem antigo, filho... Fui criado com outras ideias que não
são muito boas. Procurei a doutora e pedi ajuda.

Os livros não eram grandes demais, suas capas de cores vivas chamam
atenção, mas não tanto com os títulos autoexplicativos: A História do
Movimento LGBTna Ásia; Conversas Entre Pais e Filhos LGBT; e A
Individualidade De Cada Um.

Estava claro que Jeon Chinrae procurava naqueles livros formas saudáveis e
respeitosas de lidar com Jungkook, queria estar presente na vida do filho e
ser um pai amigo, fazê-lo se sentir confortável para falar sobre qualquer
coisa.

Jimin ficou emocionado com a atitude daquele homem simples, quis abraçá-
lo e agradecer porque por fim compreendia as razões de Jungkook ser um
homem tão incrível. Chinrae era o motivo.
— Appa... Obrigado. – murmurou com a voz embargada. – Muito obrigado.

— Acho que tem muita coisa que não se fala nos livros, mas é um bom
começo, não é?

— É sim hyung. É um começo.

— Jungkook, não chora filho. – pediu envergonhado. – Escuta o appa, ok? –


o garoto assentiu e fungou. – Não quero que se importe com as coisas que
seus tios possam falar sobre a sua vida ou a pessoa que você gosta, ninguém
tem nada a ver com isso! Eu sou o seu appa e te amo muito... Gostando de
mulher, de homem ou de nenhum dos dois, vou continuar te amando porque
você é a pessoa mais importante da minha vida. Entendeu?

— Entendi. – ele estava chorando, mas não parava de comer.

— O senhor é um pai incrível Chinrae-hyung. Agora eu vejo porque


Jungkook é um homem tão maravilhoso.

— Então, Jimin-ah pode me explicar o que é pansexual? Por favor?

— Claro que sim! – sorriu. – Não é muito complicado...

Jungkook entregou o prato molhado para Chinrae e pegou o segundo,


ensaboando-0 com a esponja macia. O mais velho o secou sem pressa e
colocou sobre o balcão.

Do rádio antigo na sala de estar vinha a voz de Dolly Parton cantando Here
You Come Again e os dois cantarolavam baixinho as partes favoritas.
Chinrae observou o filho e sorriu. Os cabelos escuros estavam presos para o
alto, os braços tatuados à mostra graças à ausência da camiseta e nos lábios
finos permanecia um sorriso adorável que não via muitas vezes.

— Só te vi feliz assim quando conseguimos comprar o Play Station 4.-


provocou e Jungkook espirrou água em sua direção. – Você 'estava certo, ele
é bonitão.
— Eu acho que ele é o homem mais bonito que eu já vi appa... E toda vez
que eu olho fica mais bonito ainda. – suspirou.

— Como se sente sobre o Jimin?

— Sinto tanta coisa. – coçou a sobrancelha com o pulso, a água gelada


pingou em sua barriga e escorreu até o elástico da bermuda. – Muita coisa.

— Já rolou? – Chinrae encostou o quadril na pia e sorriu ao ver o filho


corar. – Se não quiser falar sobre isso comigo vou entender, Jungoo.

— Não, tá tudo bem... Eu quero falar, mas é tão vergonhoso. – respirou


fundo e enxaguou o último copo e o colocou no escorredor. – Não rolou
ainda... Tudo.

— Ele é legal com você? Ele te respeita?

— Sim, appa. Jimin é respeitoso e paciente... Até demais às vezes. – rolou


os olhos.

— Você se sente confortável tendo intimidades com ele? – Jungkook


assentiu. – Sabe que o mais importante é que tudo seja confortável e
prazeroso para vocês dois. Jimin me parece ser um bom rapaz.

— Ele é sim. – se calou e Chinrae continuou o encarando. Havia coisas de


Hyo em Jungkook, mas nada se parecia tanto quanto o olhar expressivo que
nunca sabia esconder segredos... Ele soube que ela não o amava mais
através do olhar.

— O que está acontecendo, Jungoo?

— Eu tenho ciúmes, appa. Muito ciúme. – confessou com chateação. – Jimin


conhece tanta gente, ele é tão desinibido e já se envolveu com tantas
pessoas...

— O fato de ele ter ficado com muitas pessoas te incomoda?

— Não! – negou com as mãos também. – Não é isso! É que... Eu fico com
medo de ele acabar percebendo que não sou interessante... Se o senhor visse
como aqueles amigos dele são lindos e tão adultos.

— Se eu os visse continuaria preferindo você...

— O senhor é o meu appa... – deu de ombros.

— Não apenas por isso. – negou e o puxou até ambos estarem sentados à
mesa frente a frente. – Jungkook você está inseguro, mas não deveria... Jimin
gosta de você, eu vi isso na forma como ele te trata.

— Mas eu sou inexperiente... Hm... – o biquinho estava ali outra vez. –


Quando a gente faz... Algumas coisas, ele sempre me faz... – gesticulou sem
jeito.

— Ele prioriza o seu prazer?

— É. Mas eu nunca faço nada pra ele, eu não sei fazer e tenho medo de fazer
tudo errado e ele odiar, ele me largar e procurar alguém maduro!

— Hey, calma Jungkook. – pediu com cuidado, o garoto estava choroso. –


Jimin sabe que você é inexperiente e por causa disso te prioriza, ele quer
que você conheça o seu corpo e o que gosta de sentir... Isso só mostra o
quanto se importa, entende? – Jungkook assentiu. – Você não deve dar prazer
a ele só por medo de ser largado, isso não é certo filho! Alguém que fica
com outra pessoa apenas por sexo não é alguém que tenha sentimentos
verdadeiros e o Jimin está com você, não está?

— Uhum.

— Porque ele tem sentimentos por você.

— Ele me disse que não quer nada sério. – deu de ombros. – Eu sei que ele
fica com outras pessoas e isso me deixa triste.

— Diga isso a ele, Jungoo.

— Mas e se ele me largar?


— Então, ele não merece os seus sentimentos. Ninguém é obrigado a
corresponder às expectativas das outras pessoas, nem você ou ele. Jimin não
pode apenas adivinhar que certas coisas te machucam se não disser a ele,
não pode se responsabilizar por coisas que não tem conhecimento.

— Quando nós conversamos sobre tudo, depois de acontecer aquilo entre ele
o Namjoon-hyung, Jimin nunca mais ficou com ele na república porque sabe
que isso me magoa. Ele me disse que deveríamos parar de ficar, que era o
melhor porque não queria me magoar... Mas eu gosto muito dele, appa.

— Jungkook... – suspirou. – Você é mais parecido comigo do que eu


imaginei. – sorriu lamentando. – Você precisa gostar mais de si mesmo.

— Ele não sabe... Mas eu sei...

— O que? – franziu o cenho.

— Jimin... Ele sempre vomita quando acaba de comer... – disse baixo.


Sentia-se mais aliviado por compartilhar aquilo com o pai. – Sempre, appa.
Nós vamos a uma pizzaria e ele faz isso, em lanchonetes, em casa.

— Isso é muito grave, Jungoo.

— Eu sei! – assentiu. – E eu não sei o que fazer, eu não sei como ajudar... –
fungou. – Tem tanta coisa appa... Hobi-hyung está triste e ele gosta de Tae-
hyung e Yoongi-hyung! Eles brigam e depois fazem sexo! – arregalou os
olhos. – Os três! Ao mesmo tempo! – Chinrae segurou o riso. – Tem o Jin-
hyung também e eu sei que ele tem sentimentos por Namjoon-hyung, mas eles
brigam e depois nem se falam... Só queria que todos ficassem bem.

— Ser adulto é bem difícil, filho. – segurou a mão dele. – Escuta, você me
parece ansioso sobre tudo isso e eu acho que essa mudança foi muito
drástica... Quer voltar para casa?

Jungkook o encarou e mordeu o lábio inferior. Observou as mãos do pai e as


unhas curtas manchadas graças à graxa do trabalho, cada pequena cicatriz
adquirida durante os anos para dá-lo uma vida digna mesmo que sem luxos.
Voltar para casa não era apenas desistir do próprio futuro, era também não
poder dar a Chinrae uma velhice tranquila e confortável.

As outras coisas tornavam-se pequenas diante disso.

— Não appa, eu acho que de alguma forma eles também precisam de mim. E
o senhor precisa envelhecer saudável. – sorriu. – Vou me formar, ter um bom
emprego e cuidar do senhor.

— Quero que pense e invista em si mesmo.

— Investir em mim mesmo também é cuidar do senhor, appa. – ele sorriu e


suspirou. – Obrigado por essa conversa, eu senti muita saudade.

— Eu também senti, Jungoo.

— Amanhã nós vamos passar o dia aqui no resort.

— Não vai ter problema? – Jungkook deitou na própria cama. – Que saudade
da minha cama.

— Ela é mais confortável que a minha? – o tom atrevido fez o mais novo
sorrir.

— Não, hyung. Mas ela também é muito boa. – ele pôde ouvir passos. –
Onde você tá?

— Eu saí do banho agora a pouco, fumei um cigarro na varanda e agora


vou dormir.

— Ah. – mordeu o lábio inferior e respirou profundamente, tomando


coragem. – Você vai dormir sem roupa?

— Hm. O seu tom de voz muda quando está tentando me provocar, sabia?
Fica manhoso.
— Hyung, me responde! – ralhou e dobrou uma das pernas, sua mão livre
não parava de brincar com o tecido da bermuda folgada.

— Eu vou dormir de cueca, você sabe que me sinto mais confortável


assim. O que você está fazendo?

— Tô pensando em você... De cueca. – o riso de Jimin o fez querer se


esconder. – Não é pra rir de mim!

— Não estou rindo de você, estou rindo porque você vai me fazer foder
meu travesseiro se continuar dizendo que pensa em mim com esse tom
manhoso, bebê.

— Jimin... – Jungkook praticamente gemeu baixinho enquanto levava a mão


até a semi-ereção, ele apertou-a levemente e fechou os olhos. – 'Tô com
saudade.

— Nós vimos há algumas horas, mas eu entendo. Também estou com


saudade. – ele ouviu uma porta sendo fechada e sorriu um pouquinho. –
Você está pronto para dormir?

— Ainda não. Mas eu 'tô deitado e sem a minha camisa.

— Aposto que está se apertando. – Jungkook tirou a mão imediatamente e


bufou. – Hey, não pare, continue se apertando... Eu estou fazendo a mesma
coisa. A porta do seu quarto está trancada?

— Não, eu vou trancar-

— Não. – o tom autoritário o fez tremer. – Nós dois sabemos que você
prefere correr o risco, não é bebê? Você gosta do perigo.

— Jimin... Me diz o que você está fazendo... Por favor?

— Eu vou dizer o que eu quero você fazendo, Jungkook. – a voz dele estava
rouca, o tom mandão arrepiava a pele de Jungkook. – Entendeu?

— Entendi.
— Baixe a sua bermuda e se toque por cima da cueca. – Jungkook
obedeceu e gemeu arrastado ao se tocar, apertando a própria glande até o
pré-gozo umedecer o tecido cinza da cueca. – Aposto que você 'tá
completamente duro pra mim, não está? Que essas bochechas lindas estão
vermelhinhas.

— Hyung... Com uma mão só é ruim.

— Eu sei... Coloca os fones de ouvido e deixa o celular embaixo do


travesseiro.

Jungkook procurou o fone que estava sobre o móvel de madeira, o encaixou


ao celular e depois os colocou nos ouvidos, deitando na mesma posição
anterior.

— Pronto. Eu posso me tocar por baixo da cueca?

— Eu não sei. Por que você quer fazer isso?

— Hyung...

— Vamos lá, bebê... Me diz. – o gemido curto de Jimin o fez arfar. – Eu


também 'tô me tocando pra você.

— Eu quero me tocar pra gozar... Pra você.

— Caralho... – Jimin respirou fundo. – Pode bebê, me deixa saber como


você 'tá fazendo isso? Como é que você gosta?

— Do jeito que você faz. – ele se puxou para fora da cueca e começou uma
masturbação rápida, contendo os gemidos enquanto usava a outra mão para
apertar o lençol. – Bem rápido, apertado...

— Você consegue imaginar isso de outro jeito? – Jimin estava falando com
dificuldade. – Rápido e apertado assim?

— Uhum. – assentiu. – Jimin... Eu quero.

— O que?
— Você... Bem rápido e apertado dentro de mim. – Jimin grunhiu um
palavrão e Jungkook gemeu manhoso.

— Diminua a velocidade da sua mão.

— Hyung... Eu tô pertinho...

— Agora, Jungkook. – ele bufou, mas obedeceu. – Chupa o seu dedo médio,
deixa ele ensopado de saliva e eu quero te ouvir fazendo isso. – o garoto
obedeceu e sugou o próprio dedo. – Isso, você é tão bom pra mim bebê...
Eu queria tanto que fosse o meu dedo, queria te ver tão lindo ensopando
os meus dedos.

— O que eu faço agora?

— Você vai dobrar o seu joelho esquerdo e abrir mais as pernas depois vai
usar o teu gozo pra lambuzar mais o seu dedo... Está fazendo isso?

— 'Tô hyung. – ele realmente estava.

— Agora vai esfregar a ponta do dedo.

— Onde hyung?

— Você sabe onde, seu atrevido do caralho, você sabe onde. – Jungkook
sorriu um pouquinho e obedeceu, tocando-se e esfregando o dedo ao redor
da própria entrada. – Onde você me quer rápido e apertado, você pode
aumentar o ritmo da sua mão outra vez agora.

— Obrigado, hyung. – sussurrou antes de gemer baixinho.

— Garoto você vai acabar me matando. – ele ouviu Jimin grunhir outra
vez e conseguia ouvir também o som molhado do outro lado da linha,
imaginá-lo sentindo prazer por sua causa era um incentivo maior ainda. –
Geme pra mim... Jungkook.

— Eu te queria aqui. – ele gemeu e começou a se penetrar com o dedo, ainda


se masturbando rápido. – Então não precisaria colocar só o meu dedo dentro
de mim.
— Porra... Você... – Jimin gemeu mais alto, arfando aliviado deixando
óbvio que havia gozado. – Merda, Jungkook.

— Você gozou, hyung? Eu também vou... Jimin. – Jungkook gozou na própria


mão e foi obrigado a esconder o rosto contra o travesseiro para abafar o
gemido arrastado. Seu corpo estava tremendo completamente.

— Jungkook? Hey, bebê?

— Vem pra cá? – pediu.

— Não faça isso comigo... Tá tarde.

— Eu preciso de você hyung, vem pra cá.

— O seu appa...

— Ele não vai se importar... Vem Jimin, por favor?

— Droga. – ele suspirou. – Você quer ir pra outro lugar?

— Não. – ele negou como se outro pudesse ver. – Eu quero aqui na minha
cama, no meu quarto... Eu me sinto seguro aqui.

O silêncio de Jimin o fez ficar apreensivo.

— Hyung?

— Eu chego aí em meia hora. Ok?

— Ok.

Chinrae não perguntou quando viu o filho correr para o banheiro da casa,
muito menos quando o viu trocar os lençóis da cama porque gostava de dar
espaço a ele.
Mas estranhou ao vê-lo parar perto de si na sala de estar, ele estava ansioso
e um tanto receoso.

— Appa... Jimin-hyung vai dormir aqui, tudo bem?

— Ah. – ele coçou a nuca. – Hm... Você quer que eu... Vá dormir na casa da
sua tia?

— O que?! Não! – negou nervoso e envergonhado. – Appa! Não é isso...

— Jungkook, vocês dois não vão ficar jogando dama a noite inteira, certo?

— Meu deus isso é muito vergonhoso. – constatou sentando ao lado do pai,


cobrindo o rosto com as mãos. – Vou enlouquecer!

— Ok, isso é um pouco estranho pra mim também. – Chinrae afagou as


costas dele e sorriu sem jeito. – Vou dormir na casa da minha irmã, ok?
Vocês vão ficar mais confortáveis sozinhos.

— Não precisa disso appa.

— Precisa porque eu não tô pronto pra ouvir certas coisas, você ainda é o
meu coelhinho que corria pela casa com a cenourinha de fora.

— Não diz essas coisas! Eu vou morrer! – negou praticamente afundando no


sofá. – Eu já estou muito nervoso.

— Se acalma. Você sabe, só faça aquilo que te faz sentir confortável. – ele
riu um pouquinho. – Têm camisinhas no banheiro.

— O senhor já está me caçoando demais, appa.

Chinrae beijou o cabelo de Jungkook e foi para o quarto, não demorou até
sair e avisar que voltava de manhã bem cedo por causa do trabalho na
oficina.

Jungkook continuou sentado ali sem se mover por minutos, quase gritou
quando o celular vibrou no bolso do moletom. Era uma mensagem de Jimin
avisando que já estava esperando em frente à oficina. Então ele conferiu o
hálito, depois as axilas e ajeitou o cabelo com os dedos nervosos.

Jimin estava lindo encostado no carro vermelho.

Ele sorriu e guardou o celular no bolso da calça jeans. Os cabelos


descoloridos e soltos se moviam um pouco graças ao vento fraco e o faziam
parecer irreal. Jungkook abriu o portão lateral da casa e o deixou entrar. O
mais velho entrou primeiro, sabia o caminho, deixou sobre o sofá pequeno a
sacola branca que carregava e olhou ao redor.

— Cadê o hyung?

— Hm... Ele saiu. – deu de ombros. – Quer beber alguma coisa? Ainda tem
soju na geladeira e...

— Vem aqui. – Jimin o puxou com carinho, fazendo-o sentar no sofá para
sentar sobre as coxas dele. – Olha pra mim. – o segurou pelo queixo. –
Relaxa. – segurou as mãos maiores e entrelaçou os dedos de ambos. – Você
'tá tremendo, bebê... Se arrependeu de ter me pedido pra vir?

— Não. – negou. – É que eu não sei fazer nada.

— Não fique pensando nisso, bebê. Não pensa em nada, ok? Vou cuidar de
você. – afagou o cabelo escuro, capturando uma das mechas entre os dedos.
– Meu menino lindo.

Jimin o beijou suavemente, brincando com os lábios dele enquanto deslizava


as mãos desde o pescoço até o peito forte. O coração de Jungkook batia bem
rápido. Quando as línguas se tocaram, ambos gemeram baixo, então a
suavidade deu lugar ao desejo latente. As mãos de Jungkook se encheram
com o traseiro de Jimin, apertaram com vontade e, ainda assim, cuidado.

Aos poucos os únicos sons na pequena sala de estar eram o farfalhar das
roupas se roçando e as respirações ofegantes a cada vez que o beijo se
quebrava para recomeçar mais afoito que antes.
Jungkook apertou os olhos ao sentir a língua de Jimin traçar um caminho até
sua orelha direita, ele mordeu a boca quando o sentiu prender o lóbulo entre
os dentes, depois a boca experiente cobrir a carne úmida, movendo a língua
numa dança erótica. Depois o viu se afastar e sorrir antes de mostrar o
piercing alheio sobre a língua rosada.

— Você...

— Eu sou bom com a minha língua. – disse enquanto recolocava o piercing


no lugar. – Quero te mostrar o quanto eu sou bom com a minha boca hoje. –
Jungkook apenas assentiu. – Vamos pro seu quarto?

O garoto ficou de pé de uma vez, trazendo-o junto no colo. O mais velho riu
e não negou nada, até estarem dentro do quarto. Ele desceu e ficou de pé,
voltou à sala e trouxe a sacola esquecida por lá.

— Vamos trancar a porta. – Jungkook assentiu outra vez e trancou a porta


com pressa. – Vem aqui, meu bebê.

Beijaram-se outra vez e estranhamente não havia pressa nos momentos


seguintes onde as roupas de Jungkook foram descartadas pelo chão do quarto
e Jimin apenas ficasse com a calça jeans aberta o suficiente para revelar o
elástico da cueca azul marinho.

Com o mais novo deitado sobre a cama, ele ficou por cima espalhando
beijos por sua pele enquanto sentia as costas sofrerem nas unhas afiadas que
arranhavam forte a cada vez que ele não conseguia se controlar.

Jungkook queria ficar com os olhos abertos, mas se tornava difícil a cada
pedaço seu que Jimin beijava e lambia. Bastou que o mamilo direito fosse
sugado com delicadeza, então estava trêmulo o suficiente para gemer mais
alto. Jimin o chupou ali, lambeu e brincou com os biquinhos sensíveis
rodopiando a língua ou assoprando depois de lambuzar com saliva.

Ele desceu mais um pouco mordendo os músculos do abdome alheio,


mergulhando a língua dentro do umbigo raso, espalhando beijos por cada
pintinha na pele cheirosa. Suas mãos contornavam as laterais do corpo de
Jungkook, uma delas espalmou contra a coxa tatuada, massageando com o
polegar os contornos do apanhador de sonhos colorido.

E Jungkook era apenas uma sensação.

Suando como numa sauna, assentindo para o nada, gemendo ou ronronando


manhoso enquanto o deixava descobrir seu corpo, mostrar aos dois quais
eram os pedaços mais sensíveis.

Park Jimin seria descobridor e depois dele, Jeon Jungkook conheceria a si


mesmo.

Quando tudo parou, o maior abriu os olhos e deu de cara com o mais velho
olhando de cima, os cabelos acinzentados jogados ao redor do rosto bonito.
Jimin sorriu e beijou sua testa com carinho.

— Você é lindo, Jungkook. É perfeito. – deslizou a mão direita entre os


corpos, raspando os dedos do abdome até o elástico da cueca preta. – Eu
quero te fazer sentir bem.

— Por favor. – assentiu afoito. – Me toca, eu preciso que você me toque.

— Eu sei. – ele colocou a mão por dentro da cueca, agarrando-o pela glande
onde raspou o polegar com pressão, espalhando o líquido viçoso antes de
trazer de volta para sugar o dedo diante do olhar do maior. – Você é gostoso.

— Jimin... Por favor? – implorou baixinho, manhoso como nunca. – 'Tá


doendo, me toca, vai.

— Você confia em mim?

— Confio! Eu confio sim! – assentiu sem parar.

— Ok. – Jimin se esticou até pegar a sacola e tirar delas algumas coisas.
Jungkook se atentou as camisinhas que caíram sobre o colchão. – Deita de
um jeito confortável.

— Estou confortável assim.


— Separa um pouco as suas pernas pra mim, isso. Levanta os quadris. –
pediu segurando o elástico da cueca. Jungkook obedeceu e mordiscou o
lábio enquanto Jimin tirava sua cueca sem pressa, depois deixando beijos
demorados por sua panturrilha esquerda. Ele se encolheu. – Você não precisa
sentir vergonha. É a primeira vez que eu te vejo inteiro assim, mas só
consigo te achar ainda mais lindo.

— Obrigado, hyung.

Jimin passou os dedos desde a virilha até a parte interna da coxa dele, uma
de suas sobrancelhas se arqueou e Jungkook desviou o olhar.

— Você se depilou? – o garoto assentiu. – Hey, olha pra mim bebê, por
favor. Você se depilou agora a pouco?

— Uhum... Eu nunca tinha feito isso antes.

— E por isso se cortou um pouco. – observou e deixou um beijinho sobre o


pequeno corte próximo a base da ereção alheia. Jungkook arfou e assentiu. –
Fez isso por minha causa?

— Acho que sim.

— Não precisa. Está tudo bem, eu não ligo e sei que você também não
porque nunca fez isso antes.

— Nos vídeos que eu vi os homens não tinham pelos, hyung.

— Mas aquilo é pornô. E pornô é uma droga. – suspirou e começou a tirar a


calça que ainda vestia. – Nós dois não estamos gravando um pornô ou algo
assim, aquilo não é a vida real. Mas isso aqui é. – Jimin observou algo
abaixo das coxas do mais novo e deixou a mão deslizar ali, tocando
delicadamente até conseguir sentir poucos pelos pinicarem seus dedos. –
Você nunca fez isso antes, não quero que se machuque.

— Hyung. – ele estava completamente corado, Jimin estava o tocando entre


as nádegas. – Eu fiquei com vergonha... Por isso eu me depilei.
— Não quero que tenha vergonha de nada no seu corpo, pelos são apenas
pelos, Jungkook. – fez carinho na coxa dele. – Você tem alguma noção do
quanto é lindo? Do quanto é gostoso? – sorriu.

— Você não liga pra pelos?

— Não. – deu de ombros. – É natural. Se você se sente confortável se


depilando está tudo bem, mas se você não gosta está tudo bem também, nada
disso vai me fazer sentir menos tesão por você.

Jungkook sorriu adorável e assentiu o puxando para um beijo carinhoso,


abraçando-o inteiro enquanto Jimin sorriu contra seus lábios. Mas aquilo não
durou muito porque logo o mais novo estava esfregando-se contra o mais
velho, aproveitando a ausência da cueca pra sentir pela primeira vez o
quanto aquilo era gostoso, o quanto precisava de mais.

Jimin o mordeu no pescoço, apertou a cintura fina entre as mãos e beijou


com carinho sua virilha para depois deixar a boca subir beijando sem pressa
nenhuma o pau que praticamente tremeu com aquilo. O maior arfou,
apertando os olhos e abrindo os lábios num gemido sôfrego. Era a primeira
vez que sentia aquilo e era demais pra saber administrar.

Sentiu a boca de Jimin em si, abocanhando tudo até poder sentir a glande
tocar sua garganta, ele gemia muito alto e arregalou os olhos encarando mais
velho. Jimin, ainda com ele inteiro na boca, piscou e se afastou lentamente,
puxando pra fora enquanto um fio grosso de saliva os ligava.

— Gostou?

— Faz outra vez hyung... Por favor?

— Meu bebê é tão bonzinho. – elogiou e Jungkook assentiu manhoso. – Quer


que eu faça outra vez? Até o final?

— Por favor?

Jimin o segurou pelos quadris e o abocanhou de novo, indo até o final,


arrancando dele um grunhido alto misturado ao choramingo afoito. Rodou a
língua sobre glande inchada e subia para descer de novo, pegando um ritmo
que fez Jungkook segurar seus cabelos com ambas as mãos.

O garoto gemia sem parar, arfava enquanto seus quadris inexperientes


começavam a se mover para cima, buscando mais, querendo foder a boca
gostosa de Jimin. Não percebeu quando foi virado na cama, mas agarrou o
travesseiro e escondeu o rosto ali pra gemer abafado.

— Você é tão lindo. – ouviu a voz repetir e percebeu a posição que estava,
mas antes que se movesse graças a vergonha, sentiu o corpo de Jimin sobre o
seu, o peito quente colado em suas costas suadas e a boca ansiosa deixar
beijos por toda sua nuca. – Não faz ideia do quanto eu 'tô me segurando
Jungkook, você me deixa prestes a explodir. – Jimin estava ofegante, sem
notar, seus quadris se esfregavam contra o traseiro de Jungkook, simulavam
estocadas lentas. – Caralho. – murmurou apertando forte uma das nádegas
durinhas.

— Jimin, eu quero você... – pediu empinando-se mais, esfregando-se sobre a


cueca dele. – 'Tá tão duro.

Jimin se afastou até ajoelhar atrás dele, a mão nervosa procurou pelo tubinho
de lubrificante que não tinha anestesiante na composição. Ainda não. Ele
despejou o gel com cheiro e sabor de hortelã na mão direita e com a
esquerda ajeitou o corpo de Jungkook, fazendo se empinar um pouco mais
graças ao travesseiro abaixo dos quadris. O garoto arfou ao sentir o gel
gelado entre suas nádegas, apertou mais o travesseiro que abraçava e
assentiu com o rosto contra a superfície macia. Jimin separou as nádegas
dele, chiou um palavrão diante da visão e sem pensar muito estapeou uma
delas com força, espalhando pelo quarto o som estalado.

— Fica quietinho.

Ele sorriu. A mão direita deslizou desde a lombar até o meio das costas
alheia, suas unhas curtas e pintadas de preto arranharam a pele macia e ele
assentiu agraciado depois de escutar a voz chorosa de Jungkook.

— Por favor... Por favor! – Jungkook gemeu outra vez e assentiu esfregando
o rosto no travesseiro já úmido pelas lágrimas que apenas não conseguia
controlar. Ele tremia inteiro. – Jimin!

— Não. – o som do segundo tapa encheu o quarto, os dedos de Jimin ficaram


marcados na nádega macia, mas o fato do mais novo choramingar
esfregando-se contra sua mão era covardia. – Caralho, Jungkook! – estapeou
outra vez e apertou a carne com força. – Diz pra mim o que você quer, bebê?

Jungkook assentiu e ergueu o rosto, observando-o por cima do ombro direito,


ainda agarrado ao travesseiro. Suado, o rosto bonito estava completamente
corado, havia lágrimas pequenas molhando suas bochechas e o cabelo
escuro estava jogado sobre os olhar embriagado de prazer. Jeon Jungkook
era em absoluto tudo o que Jimin queria.

— Eu quero a sua língua, hyung... Dentro de mim.

Depois, enquanto sentia a língua de Jimin o lamber do períneo até a lombar,


Jungkook abafou um gemido contra o travesseiro e choramingou. Jimin sabia
o que fazer, ele sabia exatamente onde pressionar com mais força ou ser
suave. Ele lambeu, depois com cuidado começou a penetrar a língua, usando
da própria saliva e do lubrificante enquanto vez ou outra acertava tapas
ardidos nas coxas alheias, sobre o apanhador de sonhos tatuado na pele
arrepiada. Jungkook passou a rebolar os quadris contra a língua dele, isso o
ajudava a esfregar a ereção contra o travesseiro em baixo e aliviar a dor
gostosa.

Quando a língua se afastou, quando sentiu uma das mãos de Jimin agarrarem
seu cabelo, ele grunhiu e se arrepiou ao ouvir a voz rouca contra seu ouvido.

— Abre mais as pernas e se empina mais. – ele obedeceu. – Por favor, me


peça pra parar se isso te machucar. Mas se for gostoso, geme pra mim... Me
deixa te ouvir gemer pra mim.

Então, o dedo médio de Jimin estava dentro e Jungkook ficou assustado e


perdido de prazer, não teve muito tempo para sentir se era estranho porque
Jimin era o experiente demais e ele gritou quando sentiu pressionar um lugar
absolutamente mágico. Jungkook gritou contra o travesseiro, suas pernas
tremeram, a saliva se misturou às lágrimas no travesseiro.
— Hyung... Jimin... Jimin... – Jimin mordeu sua nuca e arfou alto. – Ai meu
deus... Meu Deus... Jimin!

Jungkook gozou forte, tencionou o corpo inteiro enquanto soluçava num


chorinho baixo. Jimin o virou de barriga para cima e abaixou a própria
cueca, deitado sobre o corpo dele, entre suas pernas. Começou a esfregar
sua ereção contra a outra, com força, errando nas estocadas porque também
estava tremendo.

— Geme pra mim. – pediu afobado, a porra de Jungkook servia para fazê-los
friccionar mais, sujava o abdome de ambos. – Eu preciso gozar...

— Coloca dentro de mim... – pediu trêmulo, agarrando-se ao corpo dele,


aquela sensação não parava, ela parecia estar recomeçando desde a virilha
até o estômago, revirando tudo. – Coloca, hyung...

— Assim não... – negou agoniado, estava prestes a gozar, mas parecia


difícil. – Porra... Não desse jeito.

— Jimin... De novo... Eu-

— Goza pra mim de novo, goza meu amor... Eu vou gozar pra você, em
você.

Jungkook soluçou alto, ele se agarrou a Jimin como um coala e gozou de


novo graças a fricção forte que continuou até o mais velho também gozar
grunhindo um palavrão demorado.

Ele esperou o mais novo se acalmar, espalhando beijos carinhos por toda a
pele macia e suada. Jungkook piscava lentamente quando o outro saiu de
cima de seu corpo e voltou com uma toalha de rosto umedecida. Jimin o
limpou inteiro, vestiu nele a cueca preta e até conseguiu puxar os lençóis
sujos da cama. Ele se limpou também, lavou o rosto e voltou pra cama,
deitando do lado do mais novo para logo ser abraçado.

— Eu quero te fazer sentir bem também. – a voz de Jungkook estava


sonolenta.
— Você já faz sem nem tentar. – acarinhou as costas dele. – Você tem de
dormir.

— Mas eu não quero dormir, Jimin-ssi. – ralhou. – Quero te chupar...

— Você tá com muito sono pra dizer isso assim. – sorriu e beijou o bico
formado nos lábios dele. – Ah, Jungkook... Você não sabe o que faz comigo.
– suspirou.

— Jimin-ssi... – ele estava prestes a pegar no sono. – Eu te amo... Jimin-ssi.

Jimin congelou.

Até mesmo o carinho que fazia foi interrompido.

Sentiu-se meio tonto.

Era como um soco no estômago.

Era demais.

Taehyung negou quando Hoseok lhe ofereceu um pouco de café. O mais


velho assoprou a bebida e sorriu ao sentir os braços do mais novo ao redor
de sua cintura, puxando-o para mais perto até que tivesse as costas contra o
peito largo dele.

— Eu odeio hospitais. – Tae confessou depois de suspirar. – Odeio desde


que eu te vi em um.

Hobi franziu o cenho e o encarou ladino, procurando qualquer sinal de que


aquela afirmação fosse mais uma piada boba. Mas o olhar do maior
confirmava a verdade.

— Não fazia ideia que aquilo tivesse te assustado. Foi por causa do Yoongi?
Do quanto ele ficou pilhado?
— Eu achei que fosse por isso, mas eu dirigi até lá sozinho e fiquei uma hora
inteira na sala de espera me perguntando o que estava fazendo. – sorriu um
pouco. – Eu vi o seu pai entrar, escutei atrás da porta e acabei percebendo o
que nós dois temos demais em comum.

— Além de amar o Yoongi? – brincou depois de bebericar o café.

— Além disso. – assentiu. – Nós dois somos uma bagunça fodida na maior
parte do tempo, as pessoas insistem em nos consertar, mas não existe nada na
gente que precise ser consertado.

— Por isso você me beijou. – concluiu num aceno breve. Ele olhou para
Yoongi em silêncio, sorriu ao vê-lo afagar as costas de Seokjin com
paciência e sentiu orgulho por vê-lo ser forte. – Nós vamos ficar bem, Tae.
Todos nós vamos ficar bem.

— Vamos. – beijou o cabelo dele e assentiu.

Quando os pais de Namjoon chegaram, houve um pequeno tumulto naquela


sala praticamente vazia. Jin os conhecia pessoalmente, mas nada além do
cumprimento gentil e educado nos eventos que comparecem anualmente.
Eunji era a mesma mulher elegante de sempre e Hanguk ainda mantinha a
expressão ensaiada a qual se lembrava.

Jin os viu entrar e olhar ao redor, viu quando a mulher se dirigiu a um rapaz
alto e bem vestido. E também viu quando esse mesmo rapaz anotou algo num
bloco de notas amarelo. Hanguk, que falava ao celular, desligou a chamada e
penteou os cabelos grisalhos entre os dedos nervosos.

Havia naquele casal o semblante preocupado, mas também havia algo que
beirava o nervosismo.

— Yoongi-ah! – Eunji exclamou ao vê-los. Ela caminhou até Yoongi que


ficou de pé e se curvou com respeito. – Está tudo bem, não é necessário,
querido. Onde está o Namu?

— Está lá dentro. – apontou para o corredor. – Ainda não falamos com


alguém responsável por ele.
— O que aconteceu? – Hanguk se dirigiu ao Min. – Pode me explicar?

— Jin-hyung estava com ele e-

— Kim Seokjin? – o homem franziu o cenho, mas um sorriso grandioso


estampou seu rosto ao perceber Jin ali. – Oh, olá.

— Kim Hanguk-ssi. Kim Eunji-ssi. – Jin se curvou com muito respeito e


ajeitou a postura também. – Namjoon passou mal depois de... – ele engoliu a
saliva lentamente. – Ingerir alguns remédios.

— Ele fez isso outra vez? – havia peso nas palavras de Eunji. Ela negou e
respirou fundo. – Outra crise?

— Nós ainda não sabemos. – Yoongi cortou Seokjin, sabia muito bem que
ele assumiria a culpa de tudo. – Vamos esperar o médico.

— Quer que eu escreva isso, senhor?

O rapaz, até então calado, questionou a Hanguk que apenas assentiu.

— O nosso advogado está vindo, quero evitar que esse incidente chegue até
a mídia. – outra vez ele verificou o celular. – Seokjin, poderia dizer ao
garoto como as coisas aconteceram exatamente? – a gentileza em sua voz era
extrema.

— E qual o motivo disso? – o Min, desconfiado, estreitou o olhar.

— Para o meu livro. - Hanguk respondeu sorrindo.

O silêncio na sala de espera tornou-se gelado.

Jin franziu o cenho encarando aquele homem um pouco mais alto que si, a
incredulidade tomou conta de seu rosto bonito depressa. Taehyung, ainda
com Hobi em seus braços, sentiu o coração apertar dolorosamente... Aquilo
poderia ficar pior?

— O senhor está escrevendo um livro sobre Namjoon?


— Oh, não. – negou. – É mais como ser pai de um garoto com tantos
problemas. – a cada palavra se tornava mais evidente que Hanguk acreditava
fielmente naquela causa absurda. – Acredito que isso possa ajudar jovens
que passam pelo o mesmo.

— E quem ajuda o Namjoon? – Jin indagou.

No mesmo momento um enfermeiro de rosto cansado veio até eles.

— Boa noite. Responsáveis por Kim Namjoon?

— Somos os pais dele. – Hanguk se adiantou.

— Me chamo Youngjae. – se curvou. – Namjoon-ssi está estável. Ele passou


por uma lavagem estomacal e agora está sob observação.

— Nós podemos vê-lo?

— Ele está sonolento, senhor-

— Será bem rápido. – Eunji pediu com a voz embargada. – Por favor?
Apenas preciso vê-lo.

— Tudo bem. – o enfermeiro assentiu. – Me acompanhem.

Jin os viu sair dali e ainda ficou parado por alguns segundos tentando digerir
que tudo estava bem. Ele respirou fundo como se não o fizesse há horas, as
próprias pernas mal conseguiam mantê-lo de pé e por isso ocupou outra vez
a poltrona confortável. Passou as mãos trêmulas por todo o rosto e sentiu o
afago de Yoongi em sua nuca.

— Ele está bem. Ouviu hyung? – sorriu e Jin assentiu.

— Posso te fazer algumas perguntas? – o garoto com o bloco de notas disse


mais alto. – Qual a sua ligação com Kim Namjoon? São namorados?

— Garoto, se você não calar essa boca eu vou te jogar lá em baixo pela
janela. – Yoongi sibilou.
— Ele não vai te responder porra nenhuma. – Hobi colocou o copo de
isopor nas mãos de Taehyung e se aproximou do garoto que anotou alguma
coisa. – Mas o que você-

— Você é Jung Hoseok certo? Filho de Jung Yoseob. – Hobi arfou.

— Me dê essa merda aqui! – Tae avançou a tomou o bloquinho das mãos


dele. – Desaparece da minha frente. Vai!

A voz grossa e irritada fez o garoto se encolher e assentir. Ele se afastou


para perto dos elevadores e Taehyung amassou o bloco de notas antes de
jogar no lixo.

— O que está acontecendo? Por que o pai dele falou de um livro?

— Ah. – Yoongi suspirou. – Isso tudo é tão complicado. Hanguk-ssi, há


alguns anos... Quis transformar o que rolou com Namjoon num roteiro.

— Como é? – Tae se indignou.

— Eles brigavam muito na época e acabou que ele entregou o roteiro ao


Namjoon, desistiu. Mas essa coisa do livro é nova pra mim, acho que deve
ser para Namjoon também.

— Cara, isso é muito fodido. – Hoseok também ocupou uma das poltronas. –
É muito frio.

— Ele queria expor o que aconteceu ao próprio filho numa droga de roteiro
e agora trouxe um estranho pra anotar tudo sobre ele tentar se matar para
colocar numa porra de livro?! Isso é sério?!

— Jin... Seokjin! – Yoongi tentou segurá-lo, mas Taehyung não deixou. –


Tae, ele vai-

— Talvez ele precise. – deu de ombros. Yoongi viu o melhor amigo


caminhar a passos pesados em direção ao corredor dos quartos e depois o
namorado. – Talvez Namjoon também precise.

Hobi trocou um olhar com Taehyung e apenas assentiu.


— Omma... – a voz baixinha fez o coração de Eunji tremer. Ela caminhou até
a cama hospitalar e tocou a mão dele. – Omma.

— Uhum. É a omma. – assentiu. – Namu... Por que fez isso de novo?

— Eu não... Não fiz. – Namjoon sentia a garganta seca, a própria saliva tinha
um sabor amargo demais. O enfermeiro observou algo na bolsa de soro com
atenção e depois começou a preparar algo numa seringa pequena. – Não fiz.

— Quando você estiver mais sóbrio nós vamos conversar, acredito que seja
melhor tentarmos uma clínica de reabilitação. – Hanguk colocou as duas
mãos nos bolsos da calça social e suspirou. – Você será acompanhado vinte
e quatro horas por dia... Há uma muito discreta e com profissionais
experientes em Londres.

— Appa... – Namjoon se remexeu e tentou se sentar, mas seu corpo pesava


mais do que ele lembrava, tudo ainda dormia. – Eu não fiz... Não tentei, eu
só queria dormir.

— Youngjae nos contou seu quadro ao chegar aqui, Namjoon. Não é a


primeira vez que você faz algo assim e se precisa tanto de atenção nós
seremos bons pais atenciosos. – assentiu. – Nunca soubemos lidar com você
depois de tudo o que aconteceu, então vamos deixá-lo com quem saiba.

— Omma, eu não fiz outra vez... Eu só-

— Eu te amo muito, Namjoon. Nós te amamos muito. – ela fungou e se


curvou para beijá-lo na testa. – Podemos visitar esse lugar juntos, ver se
você gosta... Lembra do quanto é divertido imitar o sotaque britânico? –
sorriu e ele quis chorar.

Namjoon quis chorar como se através das lágrimas pudesse expurgar do


próprio corpo a agonia que sentia. Outra vez seus pais preferiam empurrar
tudo para baixo do tapete a lidar com os monstros e fantasmas ao redor do
próprio filho.

Namjoon quis gritar até perder a voz, até que seus pais entendessem de
uma vez o quanto se sentia morto demais para tentar morrer.
Entretanto, na mente de Eunji e Hanguk, suas atitudes eram corretas. Quando
se conheceram e se apaixonaram, quando juraram amor um ao outro e desse
amor nasceu Namjoon, nunca cogitaram a hipótese de que ele não fosse
perfeito.

Os pais querem filhos perfeitos para suprir a imperfeição deles mesmos


porque também foram cobrados enquanto eles ainda eram os filhos. Então, a
vida segue em um ciclo ganancioso e desastroso onde, geração após geração,
o débito se torna maior e o resultado não beneficia ninguém.

O débito de Eunji e Hanguk estava jogado nas mãos de Namjoon.

— O advogado chegou. – o Kim mais velho anunciou ao tocar o ombro da


esposa. – Depois voltamos, filho.

— Vou ficar aqui com você, ok? – Eujin fungou antes de deixar um beijo
demorado na testa de Namjoon. – Eu te amo muito, Namu.

Em contrapartida, Namjoon nada disse. Ele assentiu apenas uma vez e temeu
não conseguir controlar o choro preso na garganta. Viu seus pais deixarem o
quarto, viu o enfermeiro lhe encarar cheio de julgamentos e também viu
Seokjin entrar silenciosamente.

Seus olhos se encontraram no mesmo instante, prenderam-se de imediato


como se atraídos involuntariamente. Jin apertou a maçaneta gelada entre os
dedos e respirou fundo graças ao misto de sensações que tomavam conta de
si naquele momento.

Namjoon estava vivo, aqueles olhos de serpente estavam abertos e, mesmo


que assustados, continuavam o hipnotizando covardemente. E ver o mais
velho ali foi o necessário para que Namjoon desabasse em si. Ele desviou o
olhar, encarou o teto de gesso e negou duas vezes enquanto o choro rompia e
o rompia em mais pedaços do que imaginou.

— Desculpa.

A palavra dita num sussurro fraco carregava tanto peso que aquele quarto se
encheu como se estivessem gritando outra vez, como se todas as últimas
brigas fizessem questão de serem lembradas.

— Você pode nos dar licença? – Jin pediu educadamente e Youngjae assentiu
e se curvou.

— Apenas por alguns minutos, ele precisa descansar.

— Ok.

Quando ele saiu e fechou a porta, o som do trinco se assemelhou a um gatilho


que dispara o tiro de largada... Mas nenhum deles se moveu em direção à
linha de chegada, de certa forma sabiam que não haveria vitória justa e muito
menos um troféu sem cicatrizes profundas.

Seokjin puxou a poltrona até próximo a cama, sentou e apoiou os braços


sobre as coxas, cruzando os dedos enquanto observava o mais novo em
silêncio, pouco a pouco deixando que o medo de perdê-lo transbordasse
seus olhos com lágrimas pesadas. Ele só precisava olhá-lo vivo, precisava
ter certeza absoluta que seu peito subia e descia a cada respiração, que suas
pálpebras piscam ainda que cansadas, que o corpo se movia.

— Sabe o que eu pensei enquanto estávamos na ambulância? – Namjoon


negou. – Que se você continuasse vivo eu acreditaria em deus por nós dois.

— Eu não... – ele engoliu a saliva amarga. – Não tentei me matar... Só queria


continuar dormindo.

— Por quê?

— Porque dormindo isso para de doer. Eu sinto muito que você esteja no
meio disso tudo.

— Eu tenho estado no meio disso tudo desde o momento em que te beijei


pela primeira vez, Namjoon. – Jin secou as lágrimas com a ponta dos dedos
e suspirou. – Todas as coisas que eu disse antes... Fui um babaca egoísta, eu
transformei algo tão sério numa discussão idiota, só pensei em mim... Eu
sinto muito.
— Eu sinto muito. – Namjoon apertou as mãos ao máximo que podia, sentia-
se cansado, mas sabia que precisava falar. – Por tudo.

— Eu também.

Outra vez o silêncio tomou espaço enquanto os olhares não se perdiam. Jin
fungou e apoiou as costas a poltrona, Namjoon engoliu o nó em sua garganta
e suspirou baixinho.

— O meu amor é egoísta e covarde, ele não se declara ou se impõe porque


eu sou quebrado por dentro, mas você já sabe disso porque todas as vezes
que me encontrou ansioso e jogado no tapete do seu quarto tentou juntar os
meus pedaços sem perguntar nada. Jin, o meu amor é incoerente. – Jin
assentiu. – Ele é tão quebrado quanto eu. – lambeu os lábios antes de
continuar. – Quando ela fez aquilo pela primeira vez eu acreditei ser bom
porque gostava de guardar segredos... Ser o garotinho que todos podiam
confiar... Talvez aquilo fizesse meus pais acreditarem que era o suficiente
pra ficar sozinho.

— Namjoon... Não...

— Eles iam aparecer na televisão em um programa tarde da noite e ela disse


que me deixaria ficar acordado se brincássemos de algo novo. Mesmo que
eu pouco entendesse aquilo o meu corpo reagiu e isso a fazia dizer o tempo
inteiro o quanto eu era um bom garoto... Depois, durante os depoimentos,
eu precisei contar a pessoas estranhas quantas vezes tinha acontecido. – não
havia emoção em sua voz, mas havia lágrimas que escorriam diretamente aos
travesseiros. – Eu precisei contar o que ela fazia em mim e me obrigava a
fazer... E de todas as coisas que eu mais odiava nisso tudo... Eram os
olhares. O olhar dos meus pais, da minha família, dos empregados, dos
professores, dos policiais, de os repórteres, dos psicólogos... – ele sorriu
com escárnio. – As investigações me apontavam como vítima, mas os
olhares me faziam lembrar isso o tempo inteiro. – Namjoon desviou o olhar
para o teto outra vez. – E é exatamente o olhar que você está me dando
agora é essa a razão de nunca ter te deixado saber... Quando você me
olhava eu conseguia não sentir pena de mim mesmo.

— Eu não sei... – suspirou de forma cansada. – Como evitar...


— Acho que ninguém sabe. – fungou antes de encará-lo de novo. – Jin, eu
não mereço você... Eu não mereço absolutamente nada de você, nem a sua
pena.

— Eu não sinto pena de você. – afirmou com sinceridade. – Eu apenas sinto


muito.

— Eu sinto muito por nunca ter sido o cara que você merece, por todas as
vezes que parti o seu coração. Nada do que eu fiz é justificável, eu não tinha
o direito de brincar com os seus sentimentos ou usá-los. Eu não deveria te
machucar apenas para me sentir vivo nos seus braços.

— Você sente a mesma coisa que eu, Namjoon? – perguntou, mas parecia
lamentar. – Sente que esse amor te vai quebrar inteiro? Que enquanto
estamos aqui, se deixarmos o silêncio continuar, é fácil ouvir o nosso
coração se partindo pela metade?

— É só um coração partido.

— Mas faz doer o corpo inteiro. – completou com um sorriso triste.

— Eu amo você Seokjin. – Jin fechou os olhos e seus lábios tremeram


enquanto ele assentiu algumas vezes. – Eu te amo desde aquela vez na casa
de campo dos seus pais depois que a gente fez amor, depois do Hoseok ficar
chapado o suficiente pra sair de cueca na neve. – os dois riram um pouco,
mas não havia felicidade muito além da nostalgia. – Nós estávamos na
varanda, você tragou aquela droga de cigarro mentolado e sorriu pra mim...
Quase acreditei em Deus porque não era possível alguém tão bonito não ter
sido feito por mãos divinas. Naquele exato momento, quando você sorriu, eu
senti tanto desespero, tanto medo que meu coração bater tão rápido. Naquele
exato momento eu te amei... Eu respirei sem medo de contar quantas vezes
fazia isso por minuto, eu quis viver pra sempre só pra continuar a te ver
sorrir. Mas eu já te fiz chorar mais vezes do que posso contar, eu disse
coisas horríveis. Eu te fiz largar os mentolados e te viciei nesse
relacionamento ruim. – Namjoon respirou fundo. – Eu amo você, mas eu não
tenho capacidade de ser o homem que você merece, então só amor não
adianta.
— Não adianta desde que você não ame a si mesmo. – concluiu e se moveu
até que pudesse tocar a mão dele com cuidado, deixando seus dedos
rasparem sobre o pulso pálido. – Namjoon... Por favor, me diga a verdade...
Eu vou acreditar em você. – pediu com a voz embargada. – Você tentou se
matar?

— Não. – negou. – Eu só queria parar de sentir... Mas hyung, eu não quero


morrer.

Ele negou enquanto segurava o choro feito aquele menino de anos atrás.

— Eu acredito em você. – assentiu.

— Eu só quero... Viver, mas eu sinto que isso é tão difícil.

— Tudo bem derramar lágrimas. – fungou e procurou pela mão dele,


entrelaçando os dedos com carinho. – Mas não derrube a si mesmo. Eu
acredito em você. – assentiu. – E eu quero que você também acredite,
mesmo que isso leve um tempo. Eu acho que o nosso momento passou, mas
acima de tudo isso, nós somos amigos. – ele sorriu um pouco. – E se você
quer viver, nós vamos viver.

— Obrigado, hyung. – Jin assentiu.

Youngjae bateu na porta antes de abri-la. Jin secou as lágrimas e ficou de pé,
passando as mãos no jeans escuro enquanto o enfermeiro mantinha o
profissionalismo sem dizer nada.

Ele checou o soro, aplicou com uma seringa um líquido amarelado no conta-
gotas e ajeitou o travesseiro de Namjoon.

— Seus pais estão lá fora falando com o advogado, sua omma vai entrar e
passar o resto da noite aqui-

No mesmo momento, Namjoon voltou a segurá-lo com pressa. O toque foi


mais quente do que Jin esperava, os dedos trêmulos de Namjoon buscaram
por sua mão e imediatamente compartilhou entre ambos o desespero que
vinha dele.
— Hyung... Não. – ele negou algumas vezes, ainda havia lágrimas em seus
olhos. – Não.

— Não. – repetiu, concordando com aquele pedido confuso. Mas, em todo


caso, Jin sabia ler Namjoon como mais ninguém. – Ninguém vai entrar nesse
quarto até amanhã de manhã. – informou ao enfermeiro que franziu o cenho. –
Ok?

— Mas senhor, os pais dele estão na recepção e-

— E você vai dizer que Kim Namjoon está sedado, que é melhor deixá-lo
descansando até de manhã. – ergueu o queixo, tomado de toda a prepotência
que lhe cabia. Há um tempo não se via Jin sendo o jovem homem rico que
estava sendo naquele quarto gelado. – Você vai dizer isso. O médico
responsável está descansando, ele só virá de manhã e ninguém vai entrar
aqui, além de mim.

— Senhor Kim...

— Pelo bem do seu emprego.

O enfermeiro suspirou e assentiu resignado.

Jin por momento esqueceu que os dedos de Namjoon ainda estavam


agarrados ao seu pulso, mas lembrou quando o mais novo os deslizou até
enrolá-los aos seus.

— Obrigado, Jin-hyung.

— Ele vai dormir em minutos. – Youngjae avisou. – Vou fazer o que o senhor
pediu.

— Obrigado. – Jin se curvou.

Ficaram sozinhos de novo, Jin ouviu o mais novo bocejar e em poucos


minutos cair em um sono pesado. Ele ocupou a poltrona de novo, respirando
fundo. O celular vibrou no bolso do moletom cor-de-rosa, o nome de Sunmi
surgia na tela do aparelho descarregado.
Sunmi

| a gente precisa conversar.

Jin suspirou e deu uma resposta rápida: eu sei, precisamos muito.


26 - usar alguém

Eu tenho andado por ai


Sempre menosprezando tudo que eu vejo
Rostos pintados preenchem lugares que não consigo alcançar
Você sabe que eu preciso usar alguém.

Use Somebody - Kings of Leon

Hoseok xingou baixinho quando o celular escapou de suas mãos e caiu


sobre a cômoda, ao lado da carteira de Taehyung. Ouviu a voz manhosa de
Yoongi resmungar e se virou para encará-lo sentado na cama coçando os
olhos enquanto bocejava.

— Desculpa te acordar, Yoon.

— Que horas...

— Nove. – ele colocou o celular no bolso do jeans e fechou o zíper antes de


ir até o menor, beijando-o nos cabelos bagunçados. – Vai dormir, a gente
chegou muito tarde.
— Por que você não tá dormindo também? – Yoongi o olhou inteiro e franziu
as sobrancelhas. – Vai sair?

Hoseok estava de banho tomado. Os cabelos castanhos ainda úmidos e ainda


que sem camisa, era evidente que ele estava se preparando para sair.

— Vou. – assentiu e sorriu quando Taehyung se mexeu na cama, agarrando a


cintura de Yoongi antes de resmungar. – Não vou demorar.

— Vai pra onde? – insistiu, mas Hobi virou as costas para pegar a camisa
larga que estava sobre a poltrona.

— Minhas costas estão doendo. – desconversou enquanto vestia a camisa. –


Não adianta juntar as duas camas... Ainda é desconfortável.

— Eu sei. – assentiu. Observou-o pegar o celular, a carteira e as chaves da


moto. – Para onde você vai, Hoseok? – o tom, quase autoritário, fez o maior
suspirar.

— Preciso entregar o projeto de Gestão Ambiental, vou encontrar o pessoal


do meu grupo pra finalizar tudo. – ele não encarava Yoongi enquanto falava.
– Não sei quanto tempo vai levar.

— Vai ser na casa de alguém?

— É. Na casa da Whein. – ele sorriu e foi até a cama outra vez para deixar
um beijo na trave dos lábios de Yoongi e depois outro na testa de Taehyung
que apenas resmungou. – Depois vou comprar o presente do Jungkook.

— Não dá pra gente tomar café antes?

— Não. – ele lambeu os lábios, parecia nervoso. – Eu já volto, 'tá?

— Ok. – assentiu de novo. – Seok... Eu te amo.

— Eu também amo você Yoon.

Hoseok saiu do quarto e fechou a porta. Yoongi continuou sentado ali com
Taehyung agarrado em seu corpo. Ele buscou o celular, conferiu as horas e
se havia alguma mensagem importante. Depois deitou outra vez, deixou os
dedos acariciarem os cabelos do namorado e encarou o teto de gesso
enquanto ouvia o portão da garagem abrir e o motor da moto ligar e se
afastar aos poucos.

Respirou fundo.

Yoongi sentia um aperto no peito e aquela sensação gelada no estômago, mas


não queria deixar que o ciúme controlasse seus pensamentos ou atitudes...
Mas era difícil porque Hoseok era um péssimo mentiroso.

— O seu coração tá acelerado. – a voz rouca de Taehyung mostrou que ele


estava acordado também.

— Ele mente mal e isso é uma droga. – lamentou e sentiu o abraço ficar mais
apertado. – Acha que ele-

— Eu acho que a gente precisa confiar. – Tae o fez deitar de lado,


abraçando-o por trás para esconder o rosto contra a nuca branquinha e
cheirosa. – Não só nele, mas na gente também.

— Como assim?

— Nós dois temos um relacionamento Yoongi, mas nada foi definido sobre
ele porque no fundo nós três estamos pisando em ovos com tudo isso. –
beijou o ombro dele, sobre a alça da regata branca. – Acho que ele também
precisa de um tempo pra pensar e por isso saiu.

— Eu tenho medo que ele pense longe de nós dois, mas eu sei que isso é
egoísmo meu porque se a gente tiver por perto isso vai influenciar nas
escolhas dele, Tae. – ele se encolheu um pouco. – Queria não sentir tanto
ciúme, mas eu não faço a mínima ideia de como fazer isso.

— Diz como você se sente agora. – pediu com paciência. Yoongi suspirou e
fechou os olhos.

— Eu sinto raiva. – confessou. – Queria dizer pra ele não ir, pra ficar aqui
com a gente. Dizer que ele é meu... Que você é meu!
— Nós somos seus, mas antes disso pertencemos a nós mesmos. Yoon... O
Hoseok tá passando por coisas difíceis justamente porque os pais dele
querem controlar a vida dele.

— Eu sei... Eu sei disso, mas eu... Eu quero que ele fique o tempo inteiro sob
os meus olhos, no alcance das minhas mãos... Porque agora que nenhum de
nós guarda segredos como antes eu só quero esquecer todos esses anos em
que ele sempre esteve perto e nunca o fiz. – Tae o beijou de novo. – O que
eu faço?

— Queria saber te dizer, mas eu também não sei. – o deitou de barriga pra
cima e espalmou a mão grande sobre a barriga dele, massageando-a com
carinho. – Dorme mais um pouquinho, não fica pensando nisso gatinho. –
beijou os lábios dele. – Quando você acordar, ele já vai ter voltado pra
casa.

Yoongi bocejou assentindo e Taehyung o abraçou de novo.

Jimin passou as duas mãos pelo rosto depois de observar Jungkook dormir
por minutos.

Já vestia as roupas de baixo, mas a camisa continuava jogada sobre a cama


revirada junto das roupas do mais novo. Jungkook dormia de bruços, o rosto
bonito amassado contra o travesseiro onde seus cabelos escuros se
espalharam em todas as direções. Jimin observou cada pedaço dele em
silêncio. Cada pedaço que o edredom pesado não escondia.

Não conseguiu dormir, foi sincero e confesso que sequer havia tentado.
Depois de Jungkook dizer aquelas palavras ele pediu a deus que o garoto
não acordasse porque não sabia como reagir. Não, Jimin não era um homem
frio e clichê como aqueles que fogem de declarações de amor, ao contrário,
era um traço de sua personalidade demonstrar afeição e carinho àqueles que
são importantes em sua vida, mas as coisas com Jungkook sempre foram
diferentes.

Os beijos, toques, abraços, conversas... Tudo era diferente.


E isso o assustava mais do que ele sabia lidar porque aquele tipo de
sentimento já existia dentro de si, mas os resultados tinham o levado a
traumas que ainda o machucavam diariamente como uma dor incômoda que
se obrigado a aguentar, a se acostumar. Jimin estava tão acostumado àquela
dor que sequer percebeu que ela desaparecia quando Jungkook estava por
perto, logo ele temia fazê-lo de remédio.

Tinha medo de jogar sobre ele toda a merda que carregava sozinho, de
deixá-lo ver que não havia nada de bonito ou admirável dentro de si, de
vomitar sobre ele aquelas coisas que preferia vomitar sozinho.

Jungkook era um garoto bom demais para ser corrompido com a sujeira que
Jimin diariamente varria para baixo do tapete.

— Não tem nada bom em mim pra você amar. – sussurrou antes de tocar o
rosto dele para afastar uma mecha do cabelo escuro. – Nada, Jungkook.

Se curvou para beijar a bochecha dele e ficou de pé. Era uma atitude
covarde fugir depois do que aconteceu, mas talvez fosse o mais sensato.
Jimin vestiu a camisa, amarrou a jaqueta nos quadris e saiu sem fazer
barulho, caminhou pelo corredor evitando encarar as fotografias espalhadas
pela parede, mas antes que pudesse chegar a cozinha ouviu vozes e parou.

Poderia ter dado a volta, poderia ter feito tantas coisas além de escutar
aquela conversa... Porque ela mudaria completamente o rumo de suas
escolhas.

— Vai embora! – a voz de Chinrae estava contida, mas não era gentil como
no dia anterior. – Pelo amor de deus, vai embora de uma vez!

— Eu quero falar com ele! – a segunda voz disse grosseiramente.

Jimin franziu as sobrancelhas porque conhecia aquela voz. Ele caminhou


mais um pouco e parou no fim do corredor, não pensou sobre ser visto, mas
queria entender o que estava acontecendo.

Por que sua tia Hyo estava ali?


— Você acha que tem o direito de simplesmente aparecer aqui e falar com
ele? – o Jeon mais velho gesticulou. – Até faz parecer que você sumiu só por
uma semana!

— Chinrae eu entendo que você esteja com raiva de mim por ter te deixado,
mas eu-

— Raiva? – ele repetiu e riu desacreditado. – Você acha que eu sinto raiva?
Hyo eu não sinto raiva por causa disso! Eu sinto raiva porque ele só tinha
três anos!

— Você sabe que foi difícil pra mim! Já esperei tempo demais-

— E ele? Tem noção do quanto ele te esperou? Todos os dias, durante


meses, sentado naquela calçada com uma flor nas mãos te esperando voltar
pra casa?! Você tem alguma noção do quanto o Jungkook te esperou voltar?!

— Chinrae... – a mulher respirou fundo. – Eu não era feliz... Eu não sabia


como ser uma boa mãe pra ele...

— Mãe? – Jimin repetiu num sussurro, a resolução de toda aquela cena o


atingiu como um soco.

— Então, não seja! Ele não é mais uma criança, ele não precisa de você! –
Chinrae se virou para abrir a porta, queria expulsar aquela mulher, mas ele
deu de cara com Jimin e arregalou os olhos. – Jimin...

— Mãe? – ele repetiu se dirigindo a sua tia. – Tia... A senhora é...

— Jimin?! – Hyo pareceu chocada. O que ele estava fazendo ali?

— Jimin... Por favor... Eu imploro, não o deixe vir pra cá agora! Não deixe o
Jungkook encontrar essa mulher! – Chinrae estava em desespero. – Fica no
quarto com ele, por favor?

— Eu... Hyung... – Jimin estava tão confuso. – Ele ainda 'tá dormindo.

Chinrae respirou fundo e se virou para Hyo outra vez. Era tão injusto que
aquela mulher ainda tivesse tanta influência em seus sentimentos e ações
porque bastava olhá-la por poucos segundos e tudo era revirado por dentro
de si. Ele abriu a porta e apontou para fora.

— Vai embora! – disse outra vez. – Igual à antes Hyo, vai embora viver a
sua vida e realizar os seus sonhos. Jungkook nunca fez parte disso!

Jimin ficou calado enquanto sua tia caminhava até ele, os saltos caros faziam
barulho no chão limpo. Ela o encarou e secou uma das bochechas maquiadas.

— Por favor, querido, não fale sobre isso com ninguém, ok? Eu te explico
tudo, me ligue.

Ele apenas assentiu e ela foi embora. Chinrae fechou a porta e caminhou até
a pia para servir um copo com água, mas tremia demais e Jimin o ajudou em
silêncio. Não queria ser invasivo, mas havia um ponto de interrogação
gigante sobre sua cabeça. Chinrae sentou à mesa e apoiou os cotovelos sobre
o mármore gelado, esfregou o rosto com força e respirou fundo algumas
vezes depois de beber alguns goles da água.

— Jungkook tem o sono pesado. – disse e apontou para a cadeira oposta


onde Jimin logo sentou. – Você deve ter tantas perguntas.

— O senhor não tem a obrigação de me contar nada, hyung.

— Não sou ninguém para te pedir isso, Jimin, mas você pode guardar um
segredo? – ele apertou as mãos sobre a mesa. – Guardar um segredo do
Jungkook?

Jimin lambeu os lábios e assentiu.

Chinrae suspirou antes de começar a falar.

— Hyo e eu nos conhecemos no colégio. Ela era da mesma turma que eu e


não demorou até desenvolvermos sentimentos porque tínhamos muitas coisas
em comum, principalmente o fato de nossas famílias não pertencerem a uma
classe alta. O namoro infantil ficou mais sério com o passar dos anos, nós
fizemos alguns planos sobre o futuro, mas tudo mudou quando ela
engravidou. – Jimin assentiu. – Tínhamos dezessete anos, nem o colégio
havia terminado. Os pais dela ficaram furiosos e os meus também, éramos
duas crianças esperando um bebê. Hyo nunca quis isso e eu só percebi tarde
demais. – lamentou. – Tivemos de nos casar e vir morar aqui... Meu appa
também era mecânico e me colocou pra trabalhar, não pude terminar o
colégio, mas fiz de tudo pra ela terminar e voltar a estudar depois que
Jungkook nasceu. Ele nasceu muito saudável e esperto, era a minha alegria
de viver e ainda é... Mas a Hyo nunca quis isso...

— O casamento? – Chinrae negou.

— Tudo Jimin. Ela nunca quis tão pouco. Hyo era a garota mais inteligente
da turma que os professores elogiavam sempre e orientavam para uma
faculdade boa. – ele parecia nostálgico. – Ela sonhava em ser a maior
engenheira eletrônica do país e acabou casada com um zero à esquerda com
um filho que nunca desejou. De alguma forma eu não a culpo por ter me
deixado, mas quando eu via Jungkook sentado na calçada esperando voltar
era impossível controlar a raiva que crescia em mim. Quando ele completou
um ano Hyo começou a trabalhar num resort como camareira... Seon Hauseu
Resort.

Jimin arqueou as sobrancelhas. Era o resort de sua família.

— O meu tio...

— Eu não sei quando eles se conheceram, mas eu sei exatamente o dia em


que ela me traiu porque Hyo pode mentir com o corpo inteiro, mas ela não
sabe fazer isso com o olhar. Jungkook a puxou nisso. – sorriu sem humor. –
Jungkook estava doente naquela semana, a rinite o deixava choroso e
enjoado, mas ela ligou dizendo que precisava dormir no hotel para um
evento que aconteceria até de madrugada. Quando chegou de manhã... Estava
estampado nos olhos dela. – ele lambeu os lábios. – Eu a amava demais... Eu
ainda a amo demais, Jimin. – confessou com vergonha. – Então, aceitei a
situação fingindo que nada daquilo estava acontecendo porque ter ao menos
um pouco dela era melhor que ter nada. Procurei Park Eunwoo num ato de
coragem idiota, mas bastou que eu estivesse frente a ele pra entender os
motivos de Hyo. O seu tio era um homem bonito e elegante, ele dirigia os
carros que eu consertava e suas unhas nunca estavam sujas de óleo e graxa.
Aquele relógio no pulso dele custava mais do que eu ganhava em meses...
Ele me chamou de fracassado e eu concordei.

— O senhor não é um fracassado... O meu tio é muito idiota. – reclamou,


sentia-se irritado demais porque conhecia bem a personalidade do tio.

— Hyo foi embora numa quinta feira de manhã. Naquele dia ela acordou
Jungkook e tomou café com ele, brincou com ele enquanto fazia as malas e o
deixou chorando na porta quando entrou no carro importado de Park
Eunwoo.

Jimin não sabia o que dizer e Chinrae no fundo não queria que o garoto
dissesse algo porque estava cansado de ouvir as frases feitas que vinham
carregadas de pena. Não queria ser um coitado, não queria mais parecer com
o homem que quase desistiu de tudo numa noite chuvosa e a razão de
continuar tentado estava dormindo no último quarto do corredor. Seria
incoerente culpar Hyo por tudo, então era mais justo culpar a si mesmo.

— Ele precisa saber da verdade, hyung...

— Eu sei. – assentiu. – Ele vai saber, eu juro... Mas não agora... Não desse
jeito.

— Eu não posso esconder algo assim dele... – Jimin estava agoniado. – Ela é
professora dele... É a minha tia... – ele parou e piscou. – Meu deus ela é
minha tia! Meu Deus...

— Jimin, por favor, não conta nada pra ele ainda. – o homem parecia
desesperado.

— Jimin-ssi? – a voz sonolenta fez Chinrae ficar de pé bem rápido.


Jungkook entrou na cozinha bocejando e coçando os olhos. Vestia apenas a
cueca da noite anterior. – Appa?! – se assustou. – O senhor já voltou!

— Eu trouxe café da manhã. – desconversou e evitou olhar demais para as


marquinhas na pele dos ombros dele. – Tá com fome, filho?
— Vou colocar uma roupa! – Jungkook foi apressado para o quarto e Chinrae
encarou Jimin com o olhar angustiado. Jimin só assentiu.

Quando Jungkook voltou, já usando uma bermuda folgada, sentou ao lado de


Jimin e sorriu quando sentiu a mão dele tocar seu rosto.

— Bom dia hyung. – cumprimentou baixinho. – Achei que tinha ido embora.

Jimin o encarou quieto, deixou o polegar acarinhar a bochecha e sorriu um


pouco. Seu coração se apertou feito punho apenas por imaginá-lo esperando
por dias alguém que havia o deixado. Talvez não fosse a melhor das
escolhas, mas naquele momento ela era a única.

— Eu não vou embora, bebê. Nunca.

Jungkook sorriu porque aquelas palavras não possuíam o mesmo significado


que possuíam para Jimin. Mas pela primeira vez sentiu-se seguro porque
mesmo que não falasse, ele sentia medo demais de ser abandonado. Outra
vez.

— Resolveu aparecer?

Yoseob ergueu o olhar do livro que tinha nas mãos e tirou os óculos de
leitura para colocar sobre a mesa ao lado da poltrona. Hoseok respirou
fundo.

— O banco me mandou uma mensagem hoje cedo. O senhor bloqueou meus


cartões.

— Eu sabia que a única forma de te fazer sair da toca era tirando isso de
você... – suspirou. – Porque você adora gastar o meu dinheiro, Hoseok.

— Vim devolver. – ele colocou os cartões sobre a mesinha de centro. – Para


poupar o trabalho do senhor de ir buscar.

Ele virou as costas e ouviu o riso baixo do pai.


— Não bloqueei a sua conta, agradeça a sua omma por isso. Mas você sabe
que vivendo como vive não vai demorar até ficar sem um tostão. – Yoseob
descruzou as pernas. – Hoseok, pare com essa malcriação, você sabe que
precisa de mim pra sobreviver.

— Vou arrumar um emprego.

— A vai? Onde? – debochou. – O que você sabe fazer além de gastar o meu
dinheiro e andar por aí como se tivesse um rei na barriga? – gesticulou. –
Você acha que a vida é isso, Hoseok? Que tudo é fácil assim? Vai viver
miseravelmente como Dawon?

— Jiwoo. - ele corrigiu. - Eu vou viver em paz, appa.

— Paz? Como você vai viver em paz se vai pro inferno por ser o que é? –
ele ficou de pé e Hobi deu um passo para trás. – Se continua sendo mal
agradecido e teimoso com as pessoas que só querem o seu bem?

— Já fiz o que eu tinha de fazer. – assentiu e se virou de novo.

— Quando você voltar me pedindo ajuda, vai fazer exatamente o que eu te


mandar fazer, Hoseok. E você vai voltar porque vou me encarregar disso. –
avisou com um sorriso pequeno nos lábios.

Quando Hoseok saiu, Yoseob suspirou outra vez e discou rapidamente uma
chamada pelo celular. Caminhou até a janela grande e puxou a cortina para
ver o filho sair da propriedade pilotando a moto grande e vermelha.

— Boa tarde, Jung Yoseob-ssi. – a voz gentil de seu secretário pessoal soou
do outro lado da linha.

— Tome nota. Kim Seokjin, Kim Namjoon, Min Yoongi, Park Jimin, Jeon
Jungkook e... Kim Taehyung. – esperou alguns segundos. – Faça um arquivo
com informações de cada um deles o mais rápido possível.

— Sim senhor. Algo mais?

— Não.
— Senhor... Ele ligou outra vez e deixou um recado.

Yoseob soltou a cortina e apertou o celular entre os dedos.

— Qual recado?

— Que está na cidade até o feriado. No lugar de sempre.

— Certo. Bloqueie as ligações dele.

Ele desligou a chamada e respirou fundo.

Bobby abriu a porta da casa e sorriu quando Hoseok se virou com as duas
mãos no bolso. O mais velho sorriu e entrou para ser abraçado com carinho.
Ele retribuiu passando os braços ao redor da cintura alheia, afundando o
rosto na curva do pescoço para sentir o cheiro gostoso do perfume
amadeirado.

— Procurem um quarto.

A voz Jinhawn fez Bobby rolar os olhos e puxar Hoseok para as escadas e
depois para o quarto espaçoso. Hobi nunca esteve ali antes, observou o
quanto era organizado e limpo. O dono do quarto abriu duas cervejas que
estavam geladas graças ao frigobar ao lado de sua cama, ele não viu que
Hobi estava observando o pequeno mural de fotos preso a parede.

— Quem é? – perguntou apontando para uma foto específica. Nela Bobby


estava mais novo e abraçado a outro garoto um tanto mais alto.

— Ah. Não é ninguém. – deu de ombros. – Aqui, pra você. – ofereceu a


cerveja.

— Eu nem tomei café ainda. – ralhou.

— Ótimo! – brincou e bebeu um gole sob o olhar risonho de Hoseok. – Eu


senti saudade, baby.
Bobby se aproximou, abraçando-o pela cintura e deixando beijos gelados
por todo o pescoço exposto. Hoseok mordeu o lábio inferior e o segurou
pelos ombros com cuidado, afastando-o um pouco.

— Bobby, espera...

— O que foi? – franziu o cenho. – Eu vi as coisas que você postou esses


dias... Fez as pazes com o Yoongi?

— Aconteceram algumas coisas.

— Então me conta, ué. – o puxou para o pequeno sofá de dois lugares e


sentou perto dele. – Quando vai vir pra cá de vez? O quarto é espaçoso, tá
vendo?

— Bobby, eu não vou sair da república. – explicou.

— Ah. – o sorriso dele diminuiu. – Eles conseguiram te manipular de novo?

— Para de dizer essas coisas, ninguém me manipula. – rolou os olhos.

— Claro que não. – debochou. – O que te fez mudar de ideia? Foi o Yoongi?
Ele atendeu quando te liguei esses dias. Se você quer bancar o cachorrinho
dele, eu não ligo, mas poderia ao menos responder as minhas mensagens e
dizer que está bem.

— Eu mudei de ideia porque resolvi parar de lutar contra os meus


sentimentos. – colocou a latinha no chão. – Yoongi também.

— Ele largou o outro cara por sua causa? – Hoseok negou. – Oh, não achei
que você fosse se contentar em ser amante dele.

— Eu não sou amante de ninguém, Bobby. Eu também gosto do Taehyung e


ele de mim.

Bobby bebeu a cerveja de uma vez e assentiu.

— Não vai dizer nada? – o mais velho perguntou ao vê-lo ficar de pé para ir
até a pequena caixinha de som sobre o móvel. – Bobby eu não quero me
afastar de você.

— Você sabe que isso não vai dar certo, sinceramente tô começando a sentir
pena da sua situação. – disse ainda de costas, escolhendo uma música
qualquer no próprio celular. Hoseok não disse nada. – Ele não largou o cara
por sua causa e nem o cara largou ele pra ficar com você... Não te deixa
chateado ser a segunda opção?

— Eu não sou segunda opção de ninguém. – negou, mas aquelas palavras


estavam o afetando.

— Baby... – sorriu voltando para parar de pé entre as pernas dele. – Eles são
um casal, eles estão juntos há um tempo... E você não. Não adianta tentar
bancar o cara maduro se a gente sabe que três não se dividem por dois sem
quebrar o resultado no meio. Você merece muito mais que isso, Hoseok. –
tocou o queixo dele e mordiscou o lábio inferior. – Mas eu não vou tentar te
manipular como eles estão fazendo, eu vou te deixar passar por isso se é o
que quer.

Hoseok se esticou para trás quando Bobby montou sobre suas coxas e
espalmou as mãos em seus ombros.

— Bobby... – choramingou. Ele assistiu-o pegar um baseado do bolso da


bermuda junto do isqueiro preto. – Eu não 'tô-

— Você está namorando? Deve fidelidade a alguém?

— Não é isso...

— Você não quer mais ficar comigo?

Hoseok lambeu os lábios enquanto ele tragou o cigarro lentamente.


Espalmou as mãos sobre suas coxas macias e apertou com força, depois
apoiou a cabeça no estofado e suspirou.

— Eu quero ser seu amigo. – disse de olhos fechados.

— Abra os olhos, você não é um homem covarde baby. – brincou e deixou


um beijo no queixo dele. – Olha pra mim e diz que não quer porque 'tá a fim
de continuar sendo o brinquedinho do Yoongi. – sorriu. – De aceitar
qualquer coisa por causa dele, diz...

Bobby traçou beijos desde o pomo-de-adão até os lábios de Hoseok.


Mordeu-lhe o lábio inferior e puxou antes de empurrar a língua numa
tentativa de beijá-lo forte. Hobi correspondeu, agarrou-o pela cintura e o fez
pressionar o corpo sobre a semi ereção visível.

Mas não durou muito porque o mais velho quebrou o beijo e se afastou
negando duas vezes antes de esfregar o rosto com ambas as mãos.

— Eu não posso fazer isso, Bobby.

— Por quê?! – se irritou. – Você quer ficar comigo! Você 'tá duro por mim!

— Porque eu amo o Yoongi. – disse com paciência. – E eu sou


completamente apaixonado pelo Taehyung.

— Mas nenhum deles sente isso por você!

— Eu não posso controlar os sentimentos deles, mas eu preciso respeitar os


meus.

Bobby o encarou sem dizer nada, seus olhos ficaram marejados antes de
descer do colo de Hoseok e sentar ao lado dele outra vez. Tragou o baseado
e sorriu falsamente, disfarçando tão mal as lágrimas que queriam transbordar
em seu olhar.

— Eu não queria te magoar-

— O amor é horrível Hoseok. Não serve pra nada, só pra fazer sofrer. –
passou o baseado para ele e foi até o frigobar pegar duas garrafinhas de
soju. – É tão idiota sentir amor por alguém... Deixar que outra pessoa tenha o
livre acesso a coisas que ninguém mais deveria saber.

— Bobby...

— E pra que? – ele abriu a garrafa. – Pra que se expor desse jeito pra
alguém que te simplesmente te deixa?! Faz sentido isso?
— Eu não acho que o amor seja a coisa mais bonita do mundo.

— Porque não é! – ele ergueu a voz. Parecia prestes a chorar de verdade,


mas sorria. – Ele finge ser bonito, ser seguro até o momento que não é mais!
– Hobi bebeu um gole do soju e tragou o baseado. – Porque num dia tudo
está perfeito e no outro dia nada mais existe.

— É o cara da foto? – Bobby o encarou. – Ele te deixou?

Bobby sorriu sem humor e assentiu antes de virar bons goles da bebida
gelada. A primeira lágrima escapou de seu olho direito porque The Ghost of
You começou a tocar através da pequena caixa de som. Hoseok deixou a
garrafa de lado e chegou mais perto dele, acariciou a nuca alheia com
carinho.

— Ele era seu namorado?

— Ele foi o meu único namorado. – sorriu e secou as lágrimas. – Um idiota


com fama de palhaço que tinha as piores cantadas do mundo. – fungou.

— Ele terminou com você?

— Não. – ele pegou o baseado de volta e o levou até próximo de seus lábios
antes de continuar. – Mas ele me deixou quando se suicidou há dois anos.
Histórias de amor são uma droga Hoseok. Hanbin decidiu um final infeliz
para nós dois.

Bobby sorriu e outra lágrima rolou por sua bochecha enquanto ele traga o
baseado no fim.

— O Holly tá parecendo uma coxa de frango frito.

Taehyung beijou o pelo do cachorrinho e riu quando ele tentou lhe morder.
Yoongi sentou no sofá vazio e suspirou.

— Acho que comi demais.


— Eu falei, mas você disse que eu estava oprimindo o seu apetite. – Holly
latiu. – Ele concorda comigo.

— Para de colocar meu filho contra mim, Kim Taehyung. Comprou o


presente do Jungkook?

— Comprei aquele jogo que te falei.

— Legal da sua parte, amor.

— Claro que é legal. Eu dou esse jogo e ele fica tão agradecido que me
deixa ganhar quando jogar contra ele. – piscou e Yoongi rolou os olhos.

— Pensei em algo pro Chuseok. A gente podia ir pra casa de praia da minha
omma e ficar por lá os quatro dias.

— Todo mundo?

— É. Vai ser bom pro Namjoon também. O que acha? – ele encarou-o.

— É uma ideia legal. Por mim tudo bem. – sorriu. – Levar o Holly pra
conhecer o mar. – segurou o cachorro e o encheu de beijinhos. – Frango frito
molhado.

Os dois ouviram a porta abrir e sorriram ao ver Seokjin entrar carregando


uma mochila pesada. Ele descalçou os tênis e deixou a mochila perto da
escada, sentou junto dos outros, mas parecia estar com a mente em outro
lugar.

— Hyung... Tudo bem?

— Hn? – ele encarou Yoongi. – Já comi, obrigado.

— Eu perguntei se você 'tá bem. – Tae sentou direito e colocou Holly sobre
suas coxas.

— Eu tô bem sim... É só... – ele gesticulou. – Algumas coisas.

— Ainda tem comida.


— Eu almocei... Com a Sunmi. – gesticulou de novo. Ele parecia mesmo
estar com a cabeça em outro lugar. – Preciso tomar um banho e tentar
dormir... Não... Eu vou ligar pra saber do Namjoon e... Meus pais, preciso
falar com eles...

— Hyung, tem certeza que 'tá bem? – Yoongi insistiu.

— Uhum. – assentiu e ficou de pé.

— A mochila. Não esqueça sua mochila.

Jin que já estava nas escadas voltou, pegou a mochila e subiu sem dizer uma
palavra. O casal se encarou, estavam confusos com aquele comportamento.
Holly mordeu o pulso de Taehyung e latiu querendo atenção.

— Aí! Seu monstrinho safado. – o cachorrinho latiu outra vez. – Cala a boca
você!

— Eu não 'tô acreditando nisso!

Yoongi praticamente gritou encarando a tela do celular. Ele ficou de pé e


mostrou a Taehyung uma foto de Hoseok postado na rede social de Bobby.
Tae pegou o celular e até mesmo Holly se encolheu por sentir que ele estava
nervoso.

— Calma...

— Calma?! Como assim calma Taehyung?! Ele disse que ia fazer um


trabalho e foi encontrar com esse cara! Olha só essa foto! Ele tá chapado! –
Yoongi pegou o celular de volta. Taehyung respirou fundo. – Agora ele não
me atende!

— Você sabe o endereço desse cara? Ou conhece alguém que saiba?

— Eu não sei! Esse filho da puta deveria morar no inferno! ATENDE ESSA
PORRA HOSEOK! – gritou nervoso. Holly se encolheu mais.

— O Jackson deve saber. Ele conhece todo mundo mesmo. – pegou o


próprio celular e digitou uma mensagem rápida. – Cadê as chaves do seu
carro?

— Eu vou com vo-

— Não Yoongi, se você for sabe que esse cara vai te provocar e isso vai
virar uma droga de barraco. – Yoongi abriu a boca, estava ofendido. – Fica
aqui.

— Você está me chamando de barraqueiro, Taehyung?! Você não manda em


mim!

— Cadê as chaves? – repetiu vendo que Jackson tinha respondido sua


mensagem.

— No meu cu! – respondeu grosseiramente. – Eu vou com você!

— Beleza, você quer brigar comigo também? Quer foder essa droga inteira?!
Se você for até lá do jeito que 'tá nervoso é capaz do Hobi se afastar e-

— E agora eu preciso aceitar toda merda que ele fizer pra ele não se afastar,
é isso?! – gesticulou. – Ele mentiu! Acha que não rolou nada entre eles?! Ele
traiu-

— Não! Ele não traiu a gente! Você nem sabe o que aconteceu! Quer ir até lá
gritar na cara dele e cobrar a porra de uma fidelidade que ele NÃO nos
deve?!

Yoongi sorriu debochado.

— É linda a forma como você vê tanto o lado dele enquanto liga o foda-se
pra como EU me sinto, Taehyung.

— Olha as merdas que você vai dizer...

— O que foi? Tá gostando mais dele do que de mim? É isso?!

Taehyung o encarou magoado. Depois apenas negou e virou as costas.


— Eu não te emprestei o meu carro! – disse quando o viu pegar as chaves
penduradas no aparador.

— Vai se foder. – Tae lhe mostrou o dedo médio e saiu batendo a porta.

Yoongi ficou ali parado. Ele se arrependeu de tudo que disse alguns minutos
depois.

Junhoe abriu a porta e não entendeu quando o desconhecido entrou sem


permissão, olhando ao redor procurando alguma coisa.

—Hey! O que é isso?! – perguntou exasperado.

— Cadê o Bobby? – Taehyung foi direto. – Chama ele pra mim.

— Você não pode entrar na casa das pessoas assim e-

— BOBBY! – gritou. Sua voz grossa se espalhou por toda a casa. –


BOBBY!

— Ih, gente, o que rolou? – Jinhwan apareceu segurando o pote cheio de


biscoitos de chocolate. – E aí, Taehyung?

— E ai. – cumprimentou rapidamente. – Cadê o Bobby?

— Lá em cima. Segundo quarto à esquerda, mas é só seguir o cheiro da


maconha.

Tae passou por eles e Junhoe franziu o cenho.

— Conhece ele?

— Faz publicidade comigo, besta. – deu um tapinha na nuca dele. – Bora


terminar a partida.

Tae não bateu na porta, mas temia demais o que poderia ver acontecendo
dentro daquele quarto. Mas não esperava ver Hoseok e Bobby sentados em
um sofá mais chapados do que conseguia explicar. Ele suspirou e começou
recolhendo a carteira e o celular de Hobi, guardando tudo nos bolsos antes
de se abaixar diante dele e dar dois tapinhas em seu queixo.

— Hey, Hoseok. – chamou. – Vamos pra casa.

— Quero comer sopa de galinha. – disse com a voz embolada e sorriu


preguiçoso. Tae rolou os olhos. – E tomar refrigerante de limão.

— Certo. Tem isso em casa, vamos e eu faço pra você ok?

— Você é muito bonito. Olha Bobby, ele é lindo... Tá vendo?

— Cala a boca, eu tô tentando me comunicar com o cosmo. – Bobby


gesticulou e voltou a dormir.

— Vem, vamos pra casa ok? Consegue ficar de pé sozinho?

Hobi assentiu e Tae praticamente o carregou até o carro. Vez ou outra rindo
das besteiras que ele dizia do nada. Dirigiu com cuidado na direção e em um
Hoseok sonolento no banco traseiro. Não havia ninguém na sala quando
entrou em casa. Tirou os tênis dos pés do mais velho e com cuidado o levou
até o banheiro de seu quarto.

O despiu com cuidado. Hobi estava sentado sobre a privada quando Yoongi
parou encostado ao batente da porta do banheiro.

— Gatinho! Oi! Olha só o Tae quer meu corpo nu. – brincou sem se dar
conta do olhar angustiado do menor. – Quer medir o meu pau? É menor que o
seu, mas não tem problema porque não importa o tamanho do martelo, mas
sim a força da martelada. – começou a rir.

— Levanta os braços, Hobi. – Tae pediu, mas Hoseok ainda ria.

— Deixa que eu os levante.

Yoongi disse entrando no banheiro, Tae o olhou de soslaio.


— Se for pra continuar falando besteira pode deixar que eu faço tudo
sozinho.

— Erga os braços, Seok-ah. Por favor?

Eles o despiram e juntos conseguiram dar um banho frio. Hoseok resmungou,


riu e depois de aconchegado sob as cobertas, disse coisas sem sentido até
pegar no sono. Yoongi ficou sentadinho ao lado dele, olhando-o dormir até
ouvir Taehyung fazer barulho na cozinha, então desceu.

O garoto estava sem camisa e lia no celular alguma coisa enquanto pegava
ingredientes na dispensa.

— O que está fazendo?

— Sopa de galinha. Ele quer comer. – não o olhou.

— Quer ajuda?

Tae suspirou e se virou para encará-lo.

— Yoongi... Você não pode dizer aquelas coisas e depois fingir que tá tudo
bem. – colocou o celular sobre a pia. – Isso não existe aqui! Eu não gosto
mais de você ou dele!

— Eu sei. – assentiu. – Eu senti ciúmes...

— Vou repetir o que você me disse mais cedo sobre ele: o seu ciúme não vai
justificar as merdas que você diz. Eu sei que tudo isso é difícil... Acha que
eu também não me sinto inseguro?

— Tae...

— Vocês já tinham uma história antes de mim, às vezes falam de coisas que
eu não faço ideia e eu me pergunto se tô atrapalhando as coisas!

— Não! Você não atrapalha nada amor, nunca! – se aproximou. – Me


desculpa?
— Quando ele acordar a gente vai conversar, nós três. – avisou. – De vez em
quando eu me pergunto se não sou o mais velho dessa relação. – resmungou
quando Yoongi o abraçou pela cintura, escondendo o rosto contra seu peito.
– Você não tem de ter ciúmes dele comigo.

— Eu não tenho. – negou. – Eu juro que não tenho, só falei aquilo porque
estava com raiva... Ele mentiu.

— Se ele tivesse dito a verdade ia mudar alguma coisa? – afagou as costas


dele. – Ia?

— Não. Provavelmente eu daria um jeito de não deixá-lo ir. – confessou e


Tae rolou os olhos. – Hey, eu te amo ok? – se esticou para beijar os lábios
dele. – Eu te amo muito.

— Eu também te amo. – também beijou a testa dele. – Eu não tenho ideia de


como se faz sopa de galinha.

— Tudo bem. Eu sei fazer do jeito que ele gosta. – sorriu. – Quando ele
acordar eu vou dar na cara dele e só depois a gente dá a sopa.

— É uma ideia interessante.

Ouviram a porta da frente abrir e depois disso a voz de Jimin se espalhou


pela casa.

— OI GENTE! O HOMEM MAIS BONITO DESSA CASA CHEGOU!

#PillowFic
27 - sexo em chamas

por favor, deixa um votinho 💜

O seu sexo está em chamas.


Sex on Fire - King Of Leon

Jungkook deixou as mochilas no corredor e sorriu quando Jimin pulou no


colo de Taehyung, quase derrubando ambos no chão.

— Eu vou apertar a sua bunda. – Tae avisou enquanto ria.

— Eu sei que você sentiu saudades da minha bunda, Tae.

— A casa pareceu até maior sem ela por aqui. – ele beijou o rosto de Jimin
antes de colocá-lo no chão. – Hm... – encarou Jungkook. – Você ainda me
parece virgem.

— Hyung! – o garoto arregalou os olhos e Yoongi riu. – Para com isso! –


resmungou enquanto era abraçado por Taehyung. – Cadê o Hobi-hyung?

Yoongi trocou um olhar cúmplice com o namorado, mas Jimin franziu o


cenho e cruzou os braços. Nem adiantava tentar esconder alguma coisa dele.
— Ele 'tá dormindo, Jungkookie. – o mais velho entre eles explicou.

— O que aconteceu? – Jimin tirou o celular do bolso. – Eu vi as coisas que


vocês postaram mais cedo, nem adianta me enrolar. Ele aprontou de novo?

— Ele foi ver aquele filho da puta... O Bobby. – bufou. – Mas, tá tudo bem
agora ok? Eu juro.

— Hm. E cadê o Namjoon? Ele não responde minhas mensagens há dois


dias. Jin-hyung também não. – o bico chateado fez Tae suspirar.

— O Namjoon tá no hospital, Jimin.

Todo o ar calmo do Park deu lugar a sua preocupação explícita. Jimin


descruzou os braços, seus olhos se abriram ao máximo que podiam, o
coração chegou a errar algumas batidas.

— O que?! Hospital?! O que aconteceu com ele?! Por que ninguém me disse
nada?!

— A gente não queria te deixar preocupado Jiminie, ele foi internado ontem
e vocês já voltaram hoje...

— Hyung pelo amor de deus! É o Namjoon! – se exaltou. – Eu não devia...


Ter deixado ele sozinho... Não devia! – ele passou por Jungkook com pressa,
calçou outra vez os sapatos com pressa. – Ele 'tá na mesma clínica que o
Hobi-hyung ficou?

— Não, Jin-hyung o levou pro hospital particular perto do aeroporto. – Tae


explicou. Ele encarou Jungkook e notou que o mais novo estava chateado.

Jimin não disse nada antes de sair de casa. Yoongi correu de volta para
cozinha com receio de deixar a sopa queimar, mas Tae ficou ali sozinho com
Jungkook.

— Hey. – chamou-o. – Vou te contar um segredo, ok?

— Ok, hyung. – assentiu.


— Ele gosta de você. – sorriu. – Gosta muito.

Jungkook ajeitou os óculos e sorriu um pouquinho, sem mostrar os dentes


sobressalentes. Tae caminhou até ele, abraçando-o pelo ombro depois de
bagunçar o cabelo grande do mais novo.

— Relaxa, ok? – sorriu. – Você gosta de sopa?

— Gosto.

— Que pena, porque a que a gente fez ficou uma merda.

— Olá, boa tarde. Meu nome é Park Jimin e eu quero visitar um paciente.

A garota da recepção sorriu e assentiu.

— Qual o nome do paciente, senhor?

— Kim Namjoon.

Ela digitou algumas coisas no pequeno notebook e estendeu a mão na direção


de Jimin.

— Documentos.

Ele assentiu e buscou na carteira a identidade, entregou a ela e esperou até


que um pequeno crachá adesivo fosse lhe entregue com seus dados e mais
algumas informações.

— Quinto andar, quarto 504 senhor.

— Obrigado.

No elevador, Jimin precisou respirar fundo pra não chorar. Ele não sabia o
que havia acontecido, mas desconfiava e temia estar certo. A cada andar que
subia também sentia a culpa abraçá-lo mais apertado... Culpa por ter
deixado Namjoon sozinho naquele momento, por ter fugido graças ao medo
de lidar com tudo aquilo como se o mais velho nunca tivesse confiado o
suficiente em si para contar seu passado traumático.

Odiava o egoísmo, mas concluiu que havia sido egoísta demais.

Ele caminhou pelo corredor silencioso e bem iluminado, procurou pelo


quarto 504, mas antes que pudesse entrar ouviu a voz pouco familiar de Kim
Hanguk chamando seu nome. Jimin se virou e com toda a educação que podia
curvou-se respeitoso ao homem mais velho.

— O que está fazendo aqui, garoto? – Hanguk gesticulou para que um garoto
desconhecido para Jimin parasse de usar o pequeno gravador que tinha nas
mãos.

— Vim ver o Namjoon. – explicou pacientemente.

— Ele está descansando, volte depois. – desdenhou.

— Eu vou vê-lo agora Hanguk-ssi. Se ele estiver dormindo não vou acordá-
lo, não se preocupe. – se virou.

— Sua amizade não faz bem ao Namjoon... Ele precisa conviver com
pessoas decentes. – ele observou Jimin dos pés à cabeça.

— É estranho que o senhor parece tão preocupado com o que ele precisa
agora porque nunca demonstrou se importar de verdade antes. – Hanguk
chegou a abrir a boca para falar, mas Jimin não deixou. – O senhor não vai
me ofender outra vez, não vai conseguir me afastar dele ou qualquer coisa
assim... Namjoon não precisa de pessoas decentes, precisa de pessoas que
se importam... E nós dois sabemos quem se importa aqui.

Não ficou pra ouvir a resposta daquele homem, nada vindo dele lhe era
proveitoso. Jimin entrou no quarto com luzes baixas e fechou a porta com
cuidado, Namjoon largou o livro lia sobre a barriga e abaixou os óculos
para encará-lo.

Ele sorriu até que as covinhas bonitas fossem visíveis e seus olhos se
fechassem um pouco, Jimin respirou fundo como se estivesse prendendo o
próprio ar por horas inteiras.

— Oi fada anjo.

Jimin soluçou e correu até a cama, engatinhando sobre o colchão até poder
abraçá-lo, até deitar a cabeça sobre o peito dele e assim poder ouvir que
aquele coração ainda estava batendo como da última vez. Abraçou-o com
força, apertou entre os dedos trêmulos o lençol hospitalar e não evitou o
choro que preocupou o mais velho. Namjoon o abraçou de volta, beijou seu
cabelo demoradamente e não se importou com o livro que caiu no chão.

— Hey... Não chora Jimin. – pediu, mas também sentia vontade de chorar.

— Me desculpa... Eu te deixei sozinho, eu fugi... – soluçou. – Eu não devia


ter ido para Busan.

— Você não tem culpa de nada. Perdi a conta de quantas vezes eu pensei em
desistir, mas você parecia sentir isso e ficava por perto.

— Eu não estava perto dessa vez, Namjoon. – ergueu o olhar choroso e


Namjoon beijou sua testa, mantendo-a contra seus lábios antes de dizer:

— Me perdoa por te fazer sentir tão responsável assim, por jogar em cima
de você os meus problemas... Eu sinto muito.

— O que aconteceu? – fungou.

— Eu queria parar de sentir. Achei uns comprimidos na mochila. – Jimin


lamentou, ele se esqueceu de procurar lá. – Eu sei o que você está
pensando... Que foi sua culpa por não olhar minha mochila.

— Desculpa, Moni.

— Jimin, olha pra mim. – pediu e o menor assentiu. Os dois se ajeitaram na


cama pequena, sentaram frente a frente e entrelaçaram as mãos. Namjoon
sorriu para a diferença de tamanho e Jimin fungou. – Você é o meu anjo, a
minha fada... – a voz dele ficou embargada. – Aqui sozinho eu tenho
pensando bastante e essa frase continua na minha mente: feito é melhor que
perfeito. Eu não posso voltar no tempo e mudar tudo que já me aconteceu, o
que eu fiz ou o que eu disse. Jimin, o meu coração deve ter parado de bater
quando eu tinha 12 anos e tudo aquilo aconteceu, nesse ponto eu comecei a
olhar mais ao redor porque tinha medo de olhar para dentro de mim. Eu
nunca encarei espelho nenhum, nunca quis deixar aquele garotinho gritar o
quanto sentia medo e eu continuei calando o homem que me tornei. Me
apaixonei por você, quis te fazer cativo da minha desesperança por egoísmo
de continuar dentro desse pesadelo sozinho... Porque eu tinha medo de que
você soltasse a minha mão. – ele não se preocupou em secar as lágrimas. –
Eu perdi o meu nome, virei um fantasma... Eu sou ninguém. – encolheu os
ombros.

— Você é alguém, Namjoon. Você é único.

— Eu sinto muito por ter feito você acreditar que era responsável por mim
dessa forma. Sinto muito por ter usado o que a gente tinha por puro medo de
estar sozinho. Eu já te disse coisas ruins demais... Criei problemas entre
você e o Jungkook.

— Você não fez isso sozinho. – negou. – Eu também te procurava.

— Mas eu sou inteligente o bastante pra entender os motivos que te fazem


não me procurar mais. – ele não estava lamentando, mas se sentia triste. –
Você merece tanto ser feliz.

— Você também merece.

— Pode ser. – deu de ombros. – Mas eu já desperdicei chances demais,


Jimin. – soltou uma das mãos dele para fazer carinho sobre uma das
bochechas coradas pelo choro. – Não faz como eu fiz, não afasta quem te
quer perto. – Jimin caiu no choro outra vez. – Eu não faço bem ao homem
que eu amo por minha própria culpa, por meus traumas e medos. Porque eu
tive tanto medo de que ele me olhasse com pena ou nojo que não consegui
perceber que deveria ter sido sincero.

— De alguma forma eu também te procurava porque contigo eu não


precisava fingir nada... Fingir que sempre está tudo bem. – soluçou.

— Jimin, eu te amo demais e eu vou te amar até o último dia da minha vida.
— Eu também te amo Namjoon.

— Mas o nosso amor não foi feito pra isso. – suspirou baixinho. – Porque se
fosse eu não amaria o Jin do jeito que eu amo. E nem você...

— Eu não quero dizer isso em voz alta. – negou.

— Por quê?

— Porque ontem a noite ele me disse isso um pouco antes de dormir e eu


virei a madrugada inteira olhando ele, me perguntando por que Namjoon...
Porque ele me ama?

— Por que ele não te amaria? – ele segurou ambas as mãos pequenas de
novo. – Por que alguém não te amaria?

— E se eu fizer a mesma coisa? E se eu deixar ele doente como deixei a


Minseo?

— Você não a deixou doente, Jimin. Nada daquilo foi sua culpa. – Namjoon
ergueu a cabeça, fechou os olhos e respirou fundo. – Não foi minha culpa. –
disse lentamente, segurando o choro. – Nada daquilo foi nossa culpa.

Jimin o encarou e assentiu algumas vezes.

— Não foi nossa culpa. – repetiu. – Nada daquilo foi nossa culpa.

— Ser molestado... Os repórteres, meus pais... O psiquiatra que vendeu tudo


para a mídia. A culpa nunca foi minha. Não é? Nunca foi minha culpa, Jimin.
– ele se encolheu um pouco e Jimin apertou mais suas mãos. – Eu vou viver
Jimin. Eu quero tantar viver...

— Nós vamos viver. Nós vamos ficar bem. – assentiu. – Minseo... Tudo o
que ela fez... – ele respirou fundo. – Não foi minha culpa. – mesmo que ainda
não acreditasse totalmente naquelas palavras, Jimin sentia que dizer aquilo
em voz alta era tão bom.

— Diz o que te fez ficar a madrugada inteira em claro. – aconselhou. – Diz


pra si mesmo, então você vai conseguir dizer pra ele também.
— Eu... Também. – respirou fundo, ainda havia lágrimas em seus olhos, mas
ele sorriu. – Eu também tô amando o Jungkook. – assentiu. – E eu não vou
sentir culpa por isso.

— Vem aqui. – o chamou pedindo um abraço. – A gente não vai mais ser
como antes, mas eu sei que os meus braços ainda são os mais confortáveis
do mundo pra você.

Jimin engatinhou até outra vez, tomando espaço entre as pernas alheias,
encolhendo-se até caber dentro do abraço acolhedor. Eles choraram
abraçados por muitas razões que tinham em comum, mas principalmente pelo
alívio de dizerem em voz alta que queriam viver.

Porque Jimin e Namjoon se amavam de verdade, talvez não como amavam


Jungkook e Seokjin, mas esse amor os manteve vivos por quase três anos e
os manteria para sempre.

Hoseok abriu os olhos e resmungou com a dor de cabeça que o atingiu feito
um soco. Encolheu-se na cama, estranhou estar vestindo apenas uma cueca
folgada porque não tinha certeza de como havia voltado para casa.

— Aqui. – a voz de Yoongi estava baixa. – Bebe.

Abriu a boca para que o comprimido fosse colocado sobre a língua e depois
aceitou o copo com água. Bebeu até o fim, então seu estômago roncou alto o
suficiente para acordar a casa inteira.

— Que horas são? – a voz estava rouca.

— Nove da noite. Tá com muita dor de cabeça?

— Uhum.

— Entendi. – ele fez questão de bater o copo com força contra o móvel.
Hobi fez uma careta e massageou a testa.
— Senta na cama, Hobi. – Tae, segurando o riso, pediu depois de puxar a
cadeira e pegar a tigela de sopa que estava esfriando. – Aqui, come um
pouco.

— O que é isso?

— Sopa de galinha. – Hoseok lambeu os lábios. – Seu filho adotivo quem


fez porque a que tentamos fazer ficou horrível. – confessou.

— Obrigado. – ele abriu a boca e Taehyung rolou os olhos antes de começar


a dar comida na boca dele.

— Como eu cheguei aqui?

— Fui te buscar. – Tae explicou. – Não lembra?

— Claro que ele não lembra! 'Estava mais chapado que o Snoop Dogg!

— Yoon. – o mais novo ralhou. – Hoseok, por que você mentiu pra gente?
Sabe, você não tem de nos dar satisfações o tempo inteiro, mas mentir
também não é legal.

— Se eu dissesse a verdade seria pior. – encarou Yoongi de soslaio.

— Agora a culpa é minha?!

— Ninguém disse isso, Yoon. – Hobi suspirou. – Mas você é ciumento pra
caralho.

— Então a gente tem um problemão aqui. – Taehyung colocou a tigela no


chão. – Você tá mentindo porque ele é ciumento e tem medo, mas mentir só
vai o fazer sentir mais ciúmes. – suspirou. – Sinceramente, eu sei que a gente
falou sobre ir com calma, mas o Hoseok já encheu o rabo de maconha e o
Yoongi fica bancando o possessivo barraqueiro, porra... A gente não é
criança! Eu sou o mais novo e preciso ficar apaziguando as coisas entre a
gente! A gente só comete o mesmo erro!

— Hoseok? – Yoongi o chamou. – Você ficou com o Bobby de novo?


Hoseok não respondeu, apenas respirou fundo e passou as mãos pelo rosto.

— Eu falei pra você! – quase gritou e Tae também não pode evitar estar
magoado. – Eu disse!

— Rolou um beijo. – confessou. – Só.

— Só?! Você ainda diz isso?!

— Yoongi... Fala baixo! – pediu irritado. – Quem tá num relacionamento é


você e ele! Foi só a porra de um beijo!

— Você dormiu com a gente! Disse que me amava antes de sair e beijou
aquele cara depois! Logo com aquele babaca!

— Então, se for outra pessoa tudo bem?! Eu posso sair por aí beijando
outras pessoas porque você deixa? – debochou.

— Hoseok para com esse seu deboche insuportável!

— E você para com esse seu ciúme idiota!

— CHEGA! – Taehyung gritou de olhos fechados. Os mais velhos o


encararam de olhos arregalados. – Chega! – ficou de pé. – Vocês querem
mesmo fazer isso dar certo ou eu devo parar de tentar fazer isso sozinho?!
Como é que vocês conseguiam viver em paz antes de mim?

Hoseok suspirou.

— A gente não vivia. – deu de ombros. – Porque não existíamos nós dois
antes de você. – lambeu os lábios. – Eu vacilei, não deveria ter mentido ou
beijado o Bobby.

— Yoongi? – Tae o encarou. Yoongi fez um bico. – Min Yoongi?

— Ta! Desculpa, eu vou controlar o meu ciúme! – bufou e os outros dois


rolaram os olhos.
Taehyung sentou outra vez e tirou do bolso da bermuda um saquinho de
tecido amarrado com fita. Abriu-o e tirou de dentro dele os três colares que
Yoongi havia comprado há um tempo atrás. Puxou o menor para sentar sobre
sua coxa e beijou-lhe a bochecha.

— Vocês não existiam como um casal antes de mim, mas agora existem. Nós
três existimos. – ele pegou a mão de Hoseok e colocou o colar com pingente
de Sol dentro dela, depois fez o mesmo e entregou a Yoongi o que possuía a
Lua. – Nós três subimos a bordo, dá pra ir devagar ou rápido, no claro ou no
escuro... Mas a gente precisa se segurar e ter calma. Se a gente tiver de
deixar alguém bravo que sejam os vizinhos nos ouvindo gemer ou rir de uma
coisa idiota. Chorar juntos, ter medo... Juntar duas camas de solteiros para
que nenhum de nós tenha de ficar sozinho. Eu não me importo se a gente tiver
de passar por uma zona de guerra se nós passarmos por ela juntos... Se a
gente ficar junto ela vira um paraíso.

— Tae... – Hoseok sorriu e colocou o colar, brincando com o pingente


bonito entre os dedos. – Eu preciso te dizer uma coisa.

Yoongi sorriu e deitou a cabeça no ombro de Taehyung.

— Bobby me contou uma coisa, nós conversamos por horas e eu cheguei à


conclusão de que precisava dizer isso assim que chegasse aqui. – ele
encarou Yoongi. – Pra vocês dois. – suspirou. – Yoongi, eu te amo...

Taehyung ficou tenso. Abaixou o rosto e mordiscou o lábio inferior.

— Taehyung... Olha pra mim... – chegou mais pertinho e o segurou pelo


queixo. – Caralho, garoto. – sorriu, seus olhos estavam marejados. – Nem
em um milhão de anos eu achei que te diria isso, principalmente se for
pensar naquele mauricinho atrevido que me infernizou no começo. Acontece
que agora eu te amo tanto. – Tae sorriu. – Amo quando você é atrevido,
quando é mimado, quando fica bravo por perder e quando você é esse
homem que me faz sentir seguro o tempo todo. Eu te amo, Tae.

— Eu também amo você, Hobi. – fungou baixinho. – Amo você gatinho. –


abraçou a cintura de Yoongi com mais força. – E eu amo o homem que eu
tenho me tornado por causa de vocês dois. – ele beijou os lábios de Yoongi e
depois beijou os lábios de Hoseok, segurando-o pela nuca com carinho. –
Quer namorar com a gente?

Hobi sorriu e assentiu.

— Quero. Eu quero demais. É o que eu mais quero no mundo.

Yoongi riu e o abraçou, puxando-os para cama de solteiro onde mal cabiam.

Em todo caso, eles cabiam naquele relacionamento e por mais que fosse
difícil... Fariam tudo juntos.

Uma semana depois.

— Oi, namorado. – Yoongi abraçou Taehyung por trás.

— Oi, namorado. – Tae sorriu.

— Oi, namorados. – Hoseok colocou a mala pequena dentro do carro e


sorriu.

Jimin, assistindo aquela cena, bufou.

— Olha, tudo bem vocês serem gays, mas ninguém aguenta viadinhos
espalhafatosos!

— Calado seu homofóbico. – Taehyung disse. – Cadê a sua mala? E não tô


falando desse seu rabão.

— Como se a sua bunda fosse pequena. – Jimin pegou a mochila de


Jungkook e colocou dentro do porta-malas.

— Tudo pronto? Eu não quero pegar engarrafamento. – Jin conferiu o horário


no relógio e Namjoon assentiu. – Você não quer comer alguma coisa antes de
irmos? Ainda tá pálido.
— Eu 'tô bem hyung. – sorriu. – Hobi colocou um monte de frutas no cooler
dentro do carro.

— Já tô com saudade. – Taehyung abraçou a cintura de Yoongi.

— Eu vou amanhã de manhã, amor. – sorriu. – Minha avó faz questão dos
netos no primeiro dia do Chuseok. – fez bico.

— A gente pode ficar e te esperar. – Hobi beijou o bico dele.

— Não! Eu quero que vocês possam se divertir, amanhã de tarde eu chego


por lá. Para com isso! – reclamou dos beijinhos que Tae estava dando em
seu pescoço. – E você já é íntimo da casa Hobi.

— Amados?! Parece até que vão ficar dez anos sem se ver! – Jin reclamou.

— Eu disse: viadinhos. – Jimin colocou os óculos escuros. – Você vai poder


dormir no carro bebê. – disse a Jungkook que dormia em pé. - Vem. –
segurou a mão dele e entrou no carro, colocando o mais novo para deitar a
cabeça em seu colo. – Quer ouvir música comigo?

— Uhum. – assentiu e bocejou. Jimin desenrolou os fones e colocou um


deles no ouvido de Jungkook. O garoto sorriu ao ouvir a voz a melodia suave
de Linger.

Namjoon ocupou o lugar do passageiro, Jin o do motorista e depois de


alguns gritos do mais velho, Taehyung e Hoseok entraram acenando para
Yoongi.

— Tchau gente, até amanhã. – ele sorriu.

— Meu gatinho... – Tae fez bico.

— Adeus. – Seokjin saiu com carro de uma vez. Hoseok o xingou baixinho.

O carro alugado tinha exatamente sete pessoas, mas um lugar estava vago e
isso dava a Jungkook a chance de se esticar e continuar dormindo com a
cabeça sobre as coxas de Jimin. Este não resistia a fazer cachos com o
cabelo escuro dele, enrolando-os nos dedos. Tae chutou as sandálias e
apoiou as pernas no colo de Hoseok.

— Precisa cortar essas unhas. – fez careta. – Tá muito grande.

— Você gosta de tudo que é grandão em mim. – provocou.

— Ok, eu vou dirigir por quatro horas e não tô a fim de saber da vida sexual
de ninguém! – Jin disse alto. – Namjoon, quer escolher a música?

— Não coloca Drake! – Jimin ralhou. – Macho babaca aqui não passa.

— Não tenho como defender. – Namjoon deu de ombros. – Tem essa playlist
aqui... Parece legal.

A voz de Dua Lipa logo invadiu o carro, Jimin e Taehyung vibraram prontos
para cantar junto a letra de New Rules. E assim foram as primeiras duas
horas até o litoral porque eles só pararam no meio do caminho para esticar
as pernas, comer alguma coisa num restaurante do posto de gasolina e usar o
banheiro. Jimin, Jungkook e Hoseok voltaram pro carro com latas de cerveja
nas mãos, mas Taehyung preferiu apenas refrigerante. Namjoon não podia
beber e Jin estava dirigindo. Cantaram do pop ao rock, mas o carro todo
gritou quando Fancy começou a tocar.

— Eu sou a Dahyun! – Jimin gritou e Taehyung reclamou enquanto o menor


lhe provocava. – Falei primeiro, pode chorar.

— Sou a Nayeon. – Jungkook começou a cantar.

— Sana, maior e melhor. – Jin deu de ombros. – E se alguém for contra


desça do carro e vá a pé.

— Minha favorita é a Chaeyoung. – Namjoon também estava cantando.

— Gosto da Jeongyeon. – Hobi sorriu.

— Ela me dá medo. – Jimin franziu o cenho. – Não sei... Sinto que ela não
gosta muito de mim.
— Ela nem te conhece seu besta! – Taehyung atirou o lacre da latinha na
direção dele. – E eu sou a Dahyun. – mostrou a língua pra ele.

— Soca no cu essa língua. – Jimin respondeu.

— Deus te ouça. – Hoseok respondeu de volta.

— Gente! O nível! – Namjoon estava gargalhando. – Jungkook não pode


ouvir essas coisas!

— Tudo bem Jin-hyung. – o garoto segurou o riso. – Não é ruim.

O silêncio da pausa entre as músicas praticamente entregou o clique na


mente de Hoseok.

— GENTE! O NÍVEL! – ele repetiu e Taehyung riu escondendo o rosto


contra o pescoço dele. – Jungkook fica quieto!

A casa de praia da família Min não era apenas uma casa, tratava-se de uma
pequena mansão térrea com piscina, quadra de tênis e espaço para eventos
grandes. Hoseok conhecia tudo, já havia passado muitos fins de semana lá
com Yoongi e sua família. Ele mostrou cada canto, indicou os quartos e
banheiros, até explicou onde ficava o comércio mais próximo e depois
colocou suas malas e as de Yoongi na maior suíte. Taehyung fez o mesmo
com suas coisas.

— Preciso tanto tomar um banho. – Tae resmungou se jogando na cama.

— O chuveiro daqui é maravilhoso. – Hoseok disse, estava de costas para


ele, procurando uma toalha na mala. Ele ouviu o som das ondas e sorriu, Tae
franziu o cenho ao vê-lo abrir as duas portas brancas que estavam
escondidas por cortinas escuras. – Vem aqui. – chamou.

Tae foi até ele, até a pequena varanda que dava vista para o mar aberto. O
vento gostoso bagunçou seus cabelos e ele respirou fundo. Hobi o abraçou
por trás e começou a deixar beijinhos por onde alcançava os ombros dele.
— Amanhã a gente vai sair. Nós três.

— Tipo um encontro? – brincou.

— Uhum. Acho que o Yoongi tá planejando alguma coisa. – entregou


enquanto o mais novo se virava para abraçá-lo também. – O que foi?

— Você pagou a conta do restaurante com dinheiro.

— Hm. O que tem? – estranhou.

— Você tem usado dinheiro essa última semana, pra tudo. – afagou a cintura
dele.

— É mais prático. – deu de ombros.

— Cadê os seus cartões de crédito, Hobi? – Hoseok desviou o olhar. –


Lembra do que a gente conversou, não vamos mentir.

— Meu appa... Ele bloqueou todos, então eu os devolvi. Ele não bloqueou a
minha conta e por isso tenho usado dinheiro.

Taehyung respirou fundo. Se o acordo era não mentir, ele não podia omitir
também.

— Há uns dias ele foi te procurar lá em casa. – Hobi franziu o cenho. – No


dia que rolou tudo aquilo com o Namjoon-hyung. A briga. Você e Yoongi
estavam dormindo e eu atendi a porta.

— Você falou com o meu appa?

— É... Falei...

— O que você falou, Taehyung? – se afastou um pouquinho.

— Eu mandei ele tomar no cu.

Hoseok o encarou em silêncio esperando-o dizer que aquilo era uma


brincadeira, mas Taehyung deu de ombros e fez um bico.
— Tae... – Hobi suspirou e passou as mãos no rosto. – Ai Taehyung... O que
eu faço contigo?

— Quer me castigar? – provocou ainda com o bico nos lábios. – Eu mereço


ser castigado, né?

— Vai tomar banho! – o empurrou pro lado. – Mauricinho do caralho. –


Acertou um tapa na bunda dele e rolou os olhos quando Tae gargalhou e se
trancou no banheiro.

Hobi acabou rindo baixinho e foi até a mala dele para separar uma roupa
limpa. Separou cueca, bermuda e camiseta. Separou a própria roupa e
mandou mensagens para Yoongi no grupo que fizera para os três.

Então, bateram na porta.

— Pode entrar.

Jungkook entrou tímido no quarto e parou perto da porta. Hoseok sorriu e


puxou para sentar na cama, sentando perto dele.

— Cadê o Tae-hyung?

— No banho. O que aconteceu?

— Ah, eu vim pedir um favor pro hyung. – sorriu sem jeito.

— Pode pedir, não precisa ficar assim Jungoo. – assentiu.

— Ok. – respirou fundo. – Como se faz um boquete?

— Minha nossa senhora... – Hoseok arregalou os olhos. – É o que?

— Pode me explicar? Por favor, hyung?

— Acho que ele está em choque. – Taehyung, usando apenas uma toalha ao
redor dos quadris, disse saindo do banheiro. – Hoseok? – estalou os dedos
na frente do rosto dele. – Hobi? Amor, reage!
— Hyung?

— Acho que você quebrou ele, Jungkook. – brincou.

— Jungkook! – Hobi o chamou. – Pra que você quer aprender isso?

— Pra rezar uma missa! Porra, Hoseok! Ele quer pagar um babão pro Jimin!

— Tae-hyung, por favor! – Jungkook queria rir.

— Escuta, não tem segredo... Só cuidado com esses dentões.

— Não escute esse babaca! – Hobi ralhou. – Ok, vamos lá. Você quer saber
o que exatamente?

— Ah... Não sei direito... Eu vi uns vídeos e eu me lembro de como o Jimin


fez em mim...

— Nossa, o Jimin é muito safado... Adoro esse rabudo. – Tae cruzou os


braços.

— Não fica vendo esses pornôs ruins. Olha, não tem um jeito certo de fazer
oral porque cada pessoa gosta de um jeito, Jungoo. – explicou. – Se tiver um
clima acaba rolando.

— Quero fazer do jeito que o Jimin mais gosta... E ele me disse... Que vocês
dois... Já...

— Como é que é?! – Taehyung descruzou os braços.

— Isso faz bastante tempo! A gente dividia o quarto e... Aconteceu! –


Hoseok explicou.

— Seu filho da puta! – Tae apontou. – E eu me sentindo culpado por ter


ficado doido naquele rabão dele!

— Não é pra ficar doido no rabo dele não! – Jungkook ralhou. – Pode parar!
— A gente não tá mantendo o foco! – o mais velho desconversou. – Ok!
Boquete. Jimin. Jungkook. Foco!

— Isso. Nada de falar da bunda do Jimin-ssi! – o garoto assentiu.

— Jungkook faz assim: chega no Jimin e diz "quero te chupar, me ensina",


capaz dele gozar só de ouvir isso. – Tae gesticulou. – Faz essa sua carinha
inocente e pronto, vai matar ele!

— Hm. – o mais novo refletiu.

— Não é uma má idéia. – Hobi assentiu. – Faz isso. E cuidado com os


dentes.

Do nada Jimin abriu a porta do quarto e colocou a cabeça para dentro,


olhando-os desconfiados.

— Alguém tá falando da minha bunda, eu posso sentir.

Taehyung ergueu os braços, Hoseok tombou na cama rindo e Jungkook ficou


corado.

— Aqui. – Namjoon sorriu entregando a Jin os tomates picados. – Tá bom


assim?

— Uhum. Obrigado, Joonie. – sorriu. Ele colocou os tomates dentro da


panela e voltou a mexer suavemente com a colher de madeira. – Vê se 'tá
bom. – pediu oferecendo ao mais novo um pouco do molho. Namjoon
assoprou a colher e depois abocanhou com cuidado. – Mais sal?

— Um pouquinho só.

Jin assentiu e colocou a colher dentro da pia. Acrescentou um pouco de sal e


voltou a picar a barriga de porco e os legumes. Namjoon, perto dele,
começou a fazer os pequenos espetos que estavam empilhados dentro de um
prato raso. O dia estava anoitecendo, a brisa do mar deixava a cozinha
arejada e até mesmo a música vinda da sala de estar era calma.

— Como foi na consulta?

— Foi bem. Lee ficou preocupado com o que aconteceu, mas eu gosto que
ele não me força a falar apenas sobre isso.

— Do que vocês falaram?

— Sobre o futuro. – Jin o olhou, mas ele não viu.

— Você tem pensado no futuro?

— Um pouco. Você não pensa hyung?

— Faz uma semana que eu só consigo pensar sobre o futuro. Acredite. –


suspirou. – O que você planeja?

— Quando terminar a universidade, tiro um ano pra mim antes de começar a


advogar.

— E o que quer fazer durante esse tempo? – depois de lavar a colher, voltou
a mexer o molho.

— Ainda não sei, mas acho que vou viajar. Eu percebi que já fui pra muitos
lugares, mas eu nunca prestei atenção de verdade neles. – deu de ombros.

— Dê a volta ao mundo, acho que isso deve ser incrível. – sorriu.

— Pode fazer isso também hyung.

— Não posso mais. – suspirou. – Meus planos estão mudando agora.

Namjoon estranhou, mas não quis ser invasivo.

— Eu comecei a escrever também. – anunciou um pouco tímido. Jin o


encarou e sorriu orgulhoso. – Um romance, mas não é grande coisa.
— Claro que é Namjoon, eu sempre te disse o quanto é inteligente.

— Escrever tem me acalmado quando fico ansioso, doutor Lee que me


aconselhou a fazer isso ao invés de tomar muitos calmantes. Tá funcionando.

— Você tá bem? Tem se sentido bem?

— Às vezes sim, outras não. – suspirou.

— Hey. Um passo de cada vez, ok? E 'tá tudo bem não dar passo nenhum. –
sorriu. – Quando é a próxima consulta?

— Um dia depois de voltarmos pra casa. – ele não o encarou. – Quer vir
comigo?

— Ir com você?

— É. Eu quero apresentar meus amigos ao doutor Lee. Yoongi veio na


última. Quer hyung?

Jin sorriu.

— Quero, Joonie. Vamos juntos na próxima.

Namjoon assentiu e continuou fazendo os espetos de carne e legumes.

Jimin mordeu o lábio inferior quando Jungkook o apertou mais contra o


próprio corpo. Estavam na sala de estar, deitados no sofá grande. O garoto
estava por cima, entre suas pernas e era evidente que depois de Busan,
Jungkook estava muito mais solto.

— Bebê... – gemeu baixo quando o sentiu esfregar mais forte entre suas
pernas. Sorriu e colocou a mão dentro da bermuda dele para apertar a bunda
durinha entre os dedos. – Você não tá conseguindo se segurar mesmo.

— Só mais um pouquinho hyung. – sussurrou e se esfregou de novo, com


pressa. – Só um pouco.
— Olha pra mim. – segurou o rosto dele entre as mãos, mas uma delas juntou
o cabelo escuro e puxou enquanto o sentia tremer sobre seu corpo. – Quer
gozar assim?

— Quero. – assentiu. – 'Tá tão gostoso. – sussurrou.

— Você consegue gozar pra mim assim? Hm? Tem gente na cozinha, alguém
pode aparecer aqui, você sabe disso, não sabe? – Jungkook assentiu e gemeu
baixo. – O meu bebê é tão exibicionista, tão safado. Goza pra mim?

— Jimin... – choramingou e Jimin assentiu. Ele estocou três vezes e tremeu


inteiro, apertando os olhos enquanto gozava dentro da cueca. O mais velho o
abraçou, acalmando-o com beijinho pelo rosto. Jungkook desabou sobre o
corpo dele e respirou fundo.

— Meu menino lindo. – elogiou depois de beijar os lábios dele. – Tudo


bem?

— Uhum. Deixa eu te fazer gozar também? – o encarou. – No quarto?

— Não precisa. – sorriu.

Jungkook fechou a cara e se afastou dele. Jimin não entendeu quando ele
ficou de pé e saiu em direção às escadas usando uma almofada vermelha pra
esconder a bermuda molhada. Ficou parado por cinco minutos inteiros antes
de segui-lo. Entrou sem bater, o mais novo já estava vestido numa cueca
preta procurando outra bermuda na mala.

— Bebê, o que foi?

— Nada. – disse sem se virar.

— Jungkook?

— Hn. – Jimin rolou os olhos.

— Olha pra mim quando eu estiver falando com você. – disse seriamente.

— 'Tá bem. – se virou e Jimin respirou fundo. – Fala.


— O que aconteceu pra você subir daquele jeito?

— Nada. – deu de ombros e vestiu a bermuda.

— Tem certeza que vai ficar fazendo isso depois de a gente conversar sobre
sempre dizer o que sente?

— Isso não é justo. Eu sempre tenho de dizer, mas você nunca diz hyung! –
se impôs. Jimin recuou, era a primeira vez que Jungkook fazia isso. Quis
sorrir.

— O que te chateou?

— Você.

— Ok. – assentiu. – E o que eu fiz pra te deixar chateado?

— Disse a mesma coisa que sempre diz quando eu quero te fazer sentir
bem... Não precisa. – lamentou. – Por que você sempre diz isso?

— Porque eu não acho legal você fazer qualquer coisa só pra me agradar,
Jungkook.

— Não é isso! Não é só pra te agradar!

— Você tem certeza? – insistiu. – Porque você sempre pede isso depois que
eu te faço alguma coisa Jungkook... No fundo você só quer me agradar
porque sente que deve fazer isso por eu ter feito primeiro.

Jungkook o encarou um pouco chocado, seu semblante passou de bravo para


confuso. Jimin caminhou até ele o puxar para sentar em seu colo, na cama.
Abraçou-o pela cintura, depois beijou seu queixo com carinho.

— Eu não quero que você pense que não me sinto sexualmente atraído por
você, por mais que minhas atitudes possam demonstrar isso. – explicou com
carinho, Jungkook assentiu. – Eu te respeito, respeito o seu tempo... O nosso
tempo. Cada experiência entre nós dois não é nova só pra você, mas pra mim
também. Quero que você conheça o seu corpo antes de tudo, que você
perceba que não precisa transar pra agradar outra pessoa e só.
— Eu quero conhecer o seu corpo também, Jimin. – disse baixinho. – Como
você gosta, como você quer... Porque eu penso nisso o tempo todo.

— Você pode conhecer o meu corpo. – sorriu e mordiscou o lábio inferior. –


Quer saber como eu gosto? Como eu quero?

— Quero. – assentiu.

— Eu gosto que me obedeçam, que me deixem dominar... – Jungkook


assentiu de novo. – E eu quero que você me obedeça, quero dominar você.
Jungkook, você me deixa louco. – beijou o ombro dele e depois mordeu
devagar.

— Me deixa fazer uma coisa? – o encarou.

— O que?

Jungkook segurou a mão de Jimin e a afastou com cuidado, depois desceu do


colo dele para se abaixar e ajoelhar entre suas pernas, espalmando as mãos
nas coxas fortes, empurrando a bermuda de moletom para cima lentamente.
Jimin arfou.

— Me ensina a fazer como você gosta?

— Você quer me chupar?

— Quero. – assentiu. – E não é porque a gente fez aquilo lá na sala. É


porque eu quero muito, eu juro.

Jimin mordeu os lábios e assentiu. Isso deixou Jungkook muito nervoso e ele
notou, então sorriu e fez carinho no rosto dele, sobre uma das bochechas
coradas pela vergonha.

— Abra a sua boca. – mandou e Jungkook o fez, abrindo os lábios rosados.


Jimin separou dois dedos da mão direita e contornou a boca dele antes de
colocá-los dentro dela. – Fecha. – o garoto obedeceu. – Chupa os meus
dedos.
Jungkook assentiu e sugou os dedos dele, buscando-os desajeitado quando
Jimin afastou-os um pouco para estocar dentro de sua boca de novo. Ele
entendeu o que precisava fazer.

— Deixa sua saliva umedecer tudo, você pode fazer isso pra mim bebê? –
Jungkook assentiu e deixou a saliva escapar na boca, lambuzando os dedos
de Jimin até escorrer para os anéis de prata. – Prenda a respiração, bata na
minha coxa se não conseguir. – então ele empurrou os dedos até a garganta
alheia, mantendo-os ali até sentir o tapa fraco em sua coxa direita. – Bom
menino. – sorriu e voltou a estocar os dedos mais depressa. A mão livre foi
até o elástico da bermuda, abaixando para puxar para fora da cueca sua
ereção. Estava semi ereto, então se masturbou um pouco sob o olhar atento
de Jungkook. Jimin espalhou o pré-gozo por tudo e puxou os dedos
ensopados de saliva e usou-a para ficar mais molhado. Com a outra mão
segurou-o pelo cabelo e assentiu. – Me chupa.

Jungkook lambeu os lábios e colocou na boca, procurou sentir algum sabor


estranho, mas era apenas diferente. Ele sugou a glande com força e Jimin
grunhiu, negando.

— Devagar. – explicou. – Igual você fez nos meus dedos, ok?

— Ok hyung.

— Coloca a língua pra fora, isso... Isso. – sorriu com o canto dos lábios
quando sentiu-o chupar devagar, provando-o todo curioso. Jungkook apertou
o tecido da bermuda alheia entre os dedos e ficou ansioso ao ouvir o gemido
contido dele. – Sua boca é tão gostosa. Isso, faz assim. – assentiu. – Prende a
respiração outra vez, sabe o que fazer se sentir que é demais. – ele segurou a
nuca de Jungkook e empurrou-se até onde conseguia chegar, arfando alto
pelo prazer pouco antes do garoto bater em sua coxa.

Jungkook tossiu, seus olhos estavam marejados.

— Desculpa...

— Eu consigo... Me deixa colocar tudo?


— Porra, você vai acabar me matando. – suspirou e assentiu vendo-o
abocanhar seu pau inteiro, mas ele engasgou de novo e Jimin o afastou com
cuidado. – Devagar, não tenha pressa assim... Você está fazendo direitinho.

— Estou?

— Uhum. O meu bebê aprende rápido. – sorriu e puxou-o para cima com
carinho. – Me beija.

Jimin o puxou pela nuca até que se beijassem com pressa, arfando e voltando
a se masturbar com força. Jungkook sentou sobre suas coxas, abraçou-o com
um dos braços e usou a outra mão para masturbá-lo também, aumentando a
velocidade até vê-lo tremer e gemer contra sua boca, xingando baixo
enquanto gozava nas mãos dos dois.

Ele sorriu e segurou o pulso menor, levando os dedos até a própria boca
para lamber a porra da ponta deles com curiosidade. Jimin o observou
provar o sabor e fazer uma caretinha adorável.

— Não tem um gosto agradável. – avisou.

— Tem sim... Porque é a sua. – sussurrou. – A gente pode tomar banho


junto?

Jimin suspirou e assentiu, beijando-o em seguida.

Depois do jantar, os seis se reuniram ao redor da piscina e dividiram


algumas cervejas e refrigerantes – para Namjoon – enquanto ouvia música e
conversavam sobre assuntos diversos.

Jimin estava sentado entre as pernas de Jungkook sobre uma das


espreguiçadeiras; Namjoon a beira da piscina com os pés dentro da água;
Seokjin deitado em outra espreguiçadeira; e Hoseok e Taehyung numa um
pouco afastada, deitados com o mais novo entre as pernas do mais velho.
A noite estava um pouco fria e por causa disso eles usavam uma manta azul
sobre as pernas.

— Você só pode 'tá ficando doido. O melhor álbum da Gaga é The Fame
Monster. – Jin gesticulou. – Porque as melhores músicas dela estão lá.

— Joanne manda lembranças. – Tae retrucou.

— Prefiro Born This Way. Marry The Night é perfeita. – Jimin bocejou. –
Falando nisso, a gente podia sair pra dançar amanhã.

— Tem uma boate bem legal aqui. Yoongi e eu fomos algumas vezes. –
Hoseok começou a fazer carinho na barriga de Taehyung, e o garoto bebeu
um gole da cerveja se remexendo um pouco.

— Não é hétero, né? Odeio boate hétero.

— Me respeita Seokjin-hyung. – Hobi brincou.

— Nunca fui a uma boate. – Jungkook deu de ombros,

— Pois nós vamos a uma amanhã. Vamos jantar fora e depois dançar. –
beijou a bochecha dele. – Você quer?

— Quero sim, hyung.

— Pelo amor de deus como vocês dois são gays. – Taehyung provocou. –
Odeio gays. – bebeu o resto da cerveja.

— Problema seu. – Jimin retrucou. – Como que o Hobi-hyung te aguenta?


Gay chato da porra.

— Como vocês se descobriram? – Namjoon perguntou a todos eles.

— Quando o Yoongi me fez trocar o game-boy por uma revista Playboy e eu


fiquei puto porque preferia jogar videogame. – Hoseok fez todos rirem. A
mão dele puxou a camisa de Tae para cima e passou a desenhar círculos
pequenos bem acima do elástico da bermuda. Taehyung sorriu.
— Aos catorze. Eu gostava mais dos garotos do futebol que das líderes de
torcida. – ele disse.

— Eu já não era adolescente, tinha dezoito. – Jimin deu de ombros.

— Com quinze. Fiquei com o primo da minha prima. Depois fiquei com ela
também. – Seokjin bocejou.

— Quando eu conheci vocês. – Jungkook sorriu.

— Sempre é bom salvar as pessoas da vida sem graça ligada à


heterossexualidade. Um brinde ao Jungkook. – Jin levantou a latinha e os
outros também. Jungkook riu.

Hoseok empurrou a mão para dentro da bermuda de Taehyung que embolou o


lençol nas coxas para ninguém notar. Ele mordeu o lábio quando sentiu a
mão alheia fazer carinho bem em cima do seu pau.

— Me descobri aos catorze... – Namjoon disse baixo. – Descobri de


verdade e me senti culpado.

— Por que, hyung?

Jungkook, que ainda não sabia do passado dele, perguntou curioso.

— Não tem nada de errado nisso, ok? Meu appa me disse que a gente não
precisa se sentir mal por gostar de alguém do mesmo sexo.

Jimin sorriu e Namjoon também.

— Obrigado Jungkook. Você está certo. – ele agradeceu ao mais novo.

— Eu vi que tem uma feirinha artesanal na entrada da cidade... A gente pode


ir até lá depois do café da manhã. Namjoon-hyung? – Tae tentou um pouco
sem jeito. – Quer vir também Jungkook?

— Quero!

— Podemos ir sim, Tae.


Jin sorriu orgulhoso, mas ficou quieto.

— Vamos pedir pizza?

— Jimin eu não levanto daqui pra mais nada, tô morto. – o mais velho negou.
– Vocês que lutem, eu me recuso.

— Alguém trouxe maconha?

Os cinco olharam para Jungkook de uma vez.

— Garoto?! – Tae exclamou.

— Queria experimentar. – deu de ombros.

— Hoseok faça alguma coisa! – Jin mandou.

— Bolar um pra ele?

— Meu deus! – ele gritou.

Continuaram conversando e entre risos e provocações, Hoseok deixou


Taehyung excitado e sorriu. O mais novo fechou os olhos quando ele colocou
a mão por dentro da cueca e apertou com força, esfregando o polegar sobre a
glande inchada.

Hobi beijou seu pescoço e mordeu o lóbulo da orelha, brincando com a


argolinha presa ali. Tae, disfarçadamente, estocou dentro de sua mão e
grunhiu baixinho.

— Vamos pro quarto? – pediu sussurrando. – Hobi.

— Eu quero te fazer gozar aqui. – respondeu na mesma altura.

— Filho de uma... – se calou quando Hoseok apertou-o com mais força. –


Hobi!

— Então, eu fui até a delegacia e devolvi os cinquenta centavos. – Jimin


sorriu.
— Você queria ser policial? – Jin perguntou.

— Quero ser delegado.

— Pode me prender. – Jungkook disse rindo.

Namjoon franziu o cenho e negou.

— Chega de bebida pra você, filho. – Jin disse.

— Prendo sim bebê, vou te prender por ser essa coisinha mais linda do
mundo E VOU PRENDER OS BONITÕES ALI QUE ACHAM MESMO
QUE NÃO TÔ VENDO ESSA POUCA VERGONHA! – encarou Hoseok e
Taehyung. – VÃO PRO QUARTO, PORRA!

— Na moral Jimin, tu é chato pra caralho! – Hobi ralhou e tirou a mão de


dentro da cueca do namorado.

— Amado? Você tá batendo bolo, Taehyung tá gemendo igual um bezerro


gago e EU sou chato?

— Batendo bolo? – Jungkook repetiu baixinho.

— Viado chato. – Tae resmungou ficando de pé, com a manta embolada


sobre a ereção para escondê-la.

Ele puxou Hoseok pela mão e saiu em direção a casa.

— Por que o Hobi-hyung estava batendo bolo aqui fora?

— Jungkook se afaste do Jimin, ele vai te corromper! – Seokjin avisou.

Jimin sussurrou algo no ouvido do garoto que arregalou os olhos e riu.

O corpo de Hobi foi empurrado contra a porta do quarto e Taehyung o pegou


pelas coxas enquanto se beijavam avidamente. A regata do mais novo foi
tirada com pressa.
Tae caminhou até a cama e desabou nela deixando o por cima, sem quebrar o
beijo afoito. Hoseok não perdeu tempo, sua mão voltou para dentro da cueca
alheia e ele o masturbou de verdade, fazendo-o gemer dentro do beijo.

As roupas foram tiradas depressa, a cama revirada enquanto eles se moviam


para ter acesso ao corpo alheio, apertavam tudo como se precisassem sentir
cada pedacinho, conhecer. Tae arfou e mordeu a boca quando os lábios de
Hoseok começaram a traçar um caminho de beijos de seu queixo para baixo,
saboreando a pele amorenada com devoção. Ele beijou os mamilos
sensíveis, os lambeu e chupou para assoprar devagar. Mordeu a barriga
macia, enfiou a língua no umbigo raso e de olhos fechados farejou o cheiro
da pele dele quando alcançou a virilha quase lisa. Taehyung abriu mais as
pernas e ergueu um dos braços para amassar o travesseiro entre os dedos
grandes.

— Você é tão lindo amor. – ouviu-o dizer e sorriu. – Tão lindo.

Tae ia falar, mas tudo que saiu de sua boca foi o gemido rouco ao ser
abocanhado de uma vez. Ele fechou a mão no cabelo do namorado e assentiu
diversas vezes. Hoseok o engoliu até onde podia e deixou a saliva escorrer
para a base. Chupou-o devagar, mas com força deixando-o ditar o ritmo com
a mão que prendia seu cabelo.

O mais novo era uma bagunça de gemidos e arfadas, o corpo grande


começou a suor, os gemidos ficaram mais altos.

Ele não viu quando Hobi esticou o braço e buscou algo na gaveta pequena do
móvel ao redor da cama, tateando às cegas em busca do sachê de lubrificante
que tinha colocado ali junto das camisinhas.

Mas abriu os olhos quando o mais velho se afastou ajoelhado entre suas
pernas. Hobi secou a boca com as costas da mão e engatinhou até ele,
beijando-o lentamente. Suas línguas se moviam em sincronia, massageavam-
se devagar, provando e provocando ainda mais o desejo que sentiam. Tae o
segurou pelo rosto com uma das mãos e usou a outra para segurar seu pulso,
levando a mão dele para o meio de suas nádegas.

Hobi findou o beijo com um selinho e o encarou.


— Quer assim? – disse roucamente.

— Quero. – assentiu. – Quero sentir você.

— Você sabe que eu não me importo com isso. – eles se encaravam nos
olhos, de pertinho.

— Nem eu. – sorriu um pouco. – Eu não me importo com nada além de que
seja com vocês dois.

— Eu te amo. – e o olhar dele confirmava isso.

— Eu também te amo, meu marrento.

Taehyung o beijou outra vez. Hoseok correspondeu deixando o corpo pesar


sobre o dele, gemendo quando suas ereções se tocaram. Dessa vez foi mais
ansioso, não demorou até que o sachê de lubrificante fosse rasgado e o
líquido cobrisse dois dedos seus que logo estavam cuidadosamente sendo
penetrados dentro de Taehyung.

O mais novo procurou relaxar com os beijos e carícias que recebia, respirou
fundo quando os dedos ficaram parados dentro de si, abrindo um pouco para
alargar os músculos tensos.

— Você é tão apertado, Tae... Tão gostoso. – jogou o olhando de cima,


estocando os dedos até dobrá-los um pouco em busca da próstata alheia. –
Eu vou te comer tão gostoso.

— Isso... – assentiu quando Hobi pressionou o lugar certo. – Porra!

— Você está piscando nos meus dedos. – gemeu um pouco, esfregando a


ereção contra a dele. – Você vai piscar assim no meu pau?

— Hobi... – choramingou. – Vem.

— Eu vou, amor. Eu vou foder esse seu rabo apertado até te fazer chorar de
prazer. – ele tirou os dedos e pegou uma camisinha, abrindo-a com pressa
pra desenrolar no próprio pau. Apoiou-se nos braços e olhou para o mais
novo com um sorrisinho safado. – Me coloca dentro de você.
Taehyung assentiu e o segurou pela base, encaixando-o em si com pressa.

— Vai Hobi. – pediu.

— Devagarzinho?

— Uhum. – assentiu. – Vai.

Hoseok mordeu o lábio inferior e empurrou pra dentro dele, centímetro por
centímetro. Os dois gemeram juntos, pelo prazer e pelo alívio que sentiram.
Taehyung apertou o travesseiro abaixo de sua cabeça e assentiu quando o
sentiu inteiro dentro de si, vencendo o aperto gostoso.

— Apertado pra caralho. – ralhou olhando para baixo, depois saiu até a
metade pra estocar com força, empurrando o corpo maior para cima de uma
vez. Tae gemeu alto e sorriu.

— Mete assim. Com força.

— Abre mais essas pernas pra mim, isso. – elogiou quando segurou a perna
dele para cima e mordeu a panturrilha tatuada. – Gostoso. – estapeou a coxa
alheia e começou a estocar forte, fazendo a cama bater contra a parede.

Taehyung arfou e continuou gemendo cada vez mais, choramingando todas as


vezes que abria os olhos e encarava Hoseok de baixo. O cabelo jogado
sobre os olhos, o lábio inferior entre os dentes, o pingente de Sol balançava
a cada estocada bruta dentro de si.

Quando o mais velho se esticou para alcançar o celular ele não entendeu,
mas não conseguia pensar direito naquele momento.

Ele se curvou para beijá-lo, as mãos de Taehyung deslizaram desde os


ombros até os quadris de Hoseok, ele apertou cada pedaço da pele suada
enquanto o sentia mover lentamente. Mordeu a boca com força para poupar o
gemido quase sôfrego de prazer.

Hobi ofegou baixinho e deixou o celular sobre o travesseiro, os dedos


trataram de rodear a garganta alheia, pressionando para baixo com a força
que usava a cada investida.
— Alô?! – a voz de Yoongi respondeu atendendo a ligação. – Seok?

O gemido arrastado de Taehyung o fez ficar em silêncio, respirando pesado


em seguida.

— Puta merda... Vocês não estão fazendo isso comigo...

Hoseok sorriu e prendeu o lábio inferior de Tae entre os dentes. O som do


tapa que ele acertou a coxa do maior fez Yoongi grunhir baixinho ao telefone.

— Deixa ele te ouvir... – mandou depois de lamber o pescoço dele,


estocando com ainda mais força. – Deixa ele te ouvir choramingar assim.

— Filho da puta... – Taehyung gemeu alto, descontando tudo nas costas dele,
arranhando até a lombar e os quadris soltos.

— Me deixa te ouvir amor... Diz pra mim o quanto ele te fode gostoso. – a
voz de Yoongi estava rouca e manhosa. – Dança com ele Seok.

Hoseok segurou os pulsos de Taehyung e os prendeu contra o travesseiro,


Tae franziu o cenho e gritou um palavrão quando sentiu ondular os quadris,
rebolando dentro de si, dançando enquanto o fodia forte.

— Geme pra mim, amor...

— Geme. – Hoseok usou a outra mão para segurá-lo pelo pescoço,


enforcando. – Geme... Grita pra todo mundo saber que eu tô te comendo
gostoso.

— Caralho, Hoseok. – Yoongi arfou.

— Fode assim... Isso! – Tae assentiu. – Não para... Caralho! – grunhiu. –


Que pau gostoso do caralho. – ele choramingou e a risadinha de Yoongi o fez
gemer mais. – Gatinho... – chamou-o.

— Estou aqui meu amor... Eu tô fodendo a minha mão numa droga de


banheiro, mas eu queria 'tá ai, queria tá fodendo essa sua boca linda.

— Hobi... – arfou. – Eu vou...


Hoseok grunhiu alto e o virou de lado, subindo em cima de seu corpo,
estocando depressa, gemendo por que assim era ainda mais apertado. Ele o
beijou e sua mão direita passou a masturbá-lo depressa.

— Goza pra mim, meu amor. – gemeu arrastado, estava tão perto também.

— Mais forte... Vai mais forte.

— Arrebenta esse guloso do caralho, Seok. Deixa ele pensando se aguenta


nós dois. – Taehyung gemeu manhoso. – Você aguenta amor? Nós dois te
fodendo desse jeito?

— Puta merda. – Taehyung gemeu num soluço curto e gozou na mão de


Hoseok, tremendo inteiro enquanto o mais velho ainda estocava com força e
pressa.

Yoongi gemeu também ao telefone e Hobi urrou contra a boca do namoro


quando gozou na camisinha, pressionando-se dentro dele até o fim.

As respirações estavam pesadas, os corpos ensopados de suor. Hobi rolou


pro lado e respirou fundo, de olhos fechados. Taehyung pegou o celular e
desligou a chamada para começar outra, dessa vez de vídeo. O rosto corado
de Yoongi apareceu na tela, ele estava lindo no terno sob medida. O mais
novo deu um jeito de colocar ele o Hobi na câmera e sorriu atrevido.

— Eu queria tanto estar aí. – resmungou.

— Você precisa voltar para lá? – Tae perguntou.

— Não. Acabou há alguns minutos. Estou indo pro meu quarto.

— Vai pra lá e não tira o terno, depois retorna a ligação.

— Ok.

Hobi penteou os cabelos para trás e sentiu Taehyung tirando a camisinha de


si com cuidado. O garoto o beijou avidamente, a mão esperta tratou de
deixá-lo duro outra vez, masturbando devagar.
O telefone vibrou, ele aceitou a chama de vídeo e sorriu para o namorado
que agora já estava deitado numa cama espaçosa. Ele entregou o celular a
Hoseok e piscou antes de ficar de quadro entre as pernas dele.

Ele começou a chupá-lo e Hobi entendeu o que tinha de fazer, mordeu o


lábio e virou o celular na direção dele.

— Porra, Taehyung... – gemeu junto de Hobi.

Aquela chamada de vídeo durou horas.

#PiilowFic
28 - belo dia (part I)

It's a beautiful day


Don't let it get away

U2

Hoseok sorriu assim que sentiu o toque frio em suas costas, então se mexeu
na cama para dar espaço. Yoongi riu baixinho e deitou no meio, encolhendo-
se dentro dos braços dele enquanto ganhava beijinhos preguiçosos no
pescoço.

— Bom dia, Yoon. – a voz dele estava rouca graças ao sono. – Você chegou
cedo ou a gente tá dormindo até tarde?

— Ainda é cedo. Eu não consegui esperar para vir, fiquei ansioso.

— Dirigiu pra cá sozinho? Você tinha bebido ontem. – franziu o cenho e o


menor sorriu dando de ombros. – Yoongi...

— Eu dormi por duas horas antes de pegar a estrada, você sabe que eu não
dirigiria se estivesse cansado demais. – com a ponta dos dedos começou a
desenhar círculos no peito nu de Hoseok, arrepiando a pele quentinha e
macia. – Eu 'estava com saudade.
— Eu também. – sorriu de olhos fechados, quase caindo no sono outra vez. –
Cadê o Holly?

— Dormindo no sofá. Tive de acalmá-lo, ele detesta ficar dentro da caixa de


transporte.

Taehyung resmungou, seu corpo pesado se mexeu até que estivesse agarrado
a Yoongi, prendendo-o com braços e pernas, escondendo o rosto na curva do
pescoço dele.

— Bom dia, Tae. – sorriu.

— Não. – o mais novo resmungou manhoso. – Dormir.

— Preguiçoso pra caralho... – Hobi bocejou.

— Hoseok, cala a boca. – Yoongi suspirou, sentiu falta até disso. – Você
usufruiu do meu corpinho até às quatro da manhã. Eu tô quebrado.

— Na hora ninguém reclamou. – se esticou até beijar o cabelo de Taehyung,


a mão se encheu com a bunda dele, enchendo-se a apertando. – Bom dia,
gostoso.

— Fica longe da minha bunda! Yoon, ele é um monstro. – entregou num tom
manhoso, fazendo bico que logo foi beijado pelo menor.

— Que nojo, ele nem escovou os dentes ainda!

Taehyung e Yoongi trocaram um olhar cúmplice e Hoseok gritou quando os


dois lhe atacaram. Beijando seu rosto, pescoço e dando lambidas na pele
morna que se arrepiava. Hobi choramingou, mas logo estava rindo junto
deles, passeando os dedos pela lateral do corpo menor, fazendo cócegas até
que Yoongi estivesse rindo descontroladamente, encolhido no meio da cama
espaçosa.

Os três, jogados sobre o colchão confortável, ainda riam quando as mãos


foram dadas, os dedos entrelaçados com força porque de forma inconsciente
precisavam da certeza de que estavam juntos muito além da presença física.
Yoongi lambeu os lábios e encarou os outros dois em silêncio, sentindo que
poderia explodir por tê-los ali, por pertencer a eles. Encolheu-se contra o
peito de Taehyung até conseguir ouvir as batidas do coração dele e puxou
Hoseok para lhe abraçar por trás.

— Minha omma disse que eu não paro de sorrir. – sussurrou. – Acho que ela
tá certa... Eu não consigo parar de sorrir e nem quero. Eu sei que quando a
gente voltar para casa os problemas vão continuar acontecendo, mas nenhum
de nós tem de lidar com eles sozinho.

— Amo você, Yoon. – Hobi suspirou. – Amo você, Tae. Muito.

Taehyung não disse nada, mas Hobi sentiu a mão quente acarinhar seu rosto
um pouco antes do beijo demorado em sua testa. Não demorou até que
pegassem no sono outra vez, os três agarrados como se não sobrasse espaço
na cama. As mãos juntas sobre o peito do mais novo, até mesmo as
respirações sincronizadas.

Quando Seokjin quis acordá-los, quando entrou sem bater ele sorriu diante
da cena e desistiu, deixou que dormissem mais um pouco.

— Jimin, você lavou direito essa alface?

— Claro que sim! Duas vezes!

— Todo mundo aqui sabe que você é porquinho, Jimin.

— Vai tomar no seu cu, Taehyung. – lhe mostrou o dedo do meio. – Me passa
um prato logo!

— Licença! Sai da frente! – eles abriram caminho para Yoongi colocar sobre
a mesa a carne ainda quente. Ele começou a cortá-la rapidamente, então Jin
assumiu a churrasqueira para virar as salsichas e cebolas que assavam sobre
a grelha.
— Amor... Ah! – Tae puxou a bermuda dele para chamar atenção e abriu a
boca, apontando para dentro dela com o indicador. – Ah!

—'Tá quente, Tae. – explicou, mas o mais novo o encarou da forma mais
doce que podia. – Hobi, esfria pra ele. – pediu entregando o garfo a Hoseok
que rolou os olhos e assoprou a carne.

— E é desses viadinhos que eu deveria ter medo? – Jimin implicou quando


Hobi deu a carne na boca de Taehyung. – Quem aguenta isso?!

— Hyung? – Jungkook o chamou. – Pega um pedaço pra mim? – estendeu o


prato vazio e sorriu.

— Tudo que o meu bebê quiser. – encheu o prato dele com carne, legumes e
folhas de alface. – Quer arroz?

— Por favor.

— Jimin, você é ridículo, falando da gente, mas é pior com o Jungkook. –


Yoongi voltou à churrasqueira. – Jin-hyung isso tá queimando!

— Não tem nada queimando! Você está querendo me ensinar a fazer


churrasco? Me respeite! – apontou o garfo para ele.

— Fiz mais arroz! – Namjoon anunciou saindo da casa. Ele vestia uma
regata branca e sunga de praia preta, os óculos escuros o deixavam ainda
mais atraente.

— Você fez arroz? – Hobi arqueou uma sobrancelha e o mais alto assentiu. –
Por quê? 'Tá querendo punir a gente por alguma coisa? Fala na cara, melhor
que fazer essas coisas.

— Idiota. – Namjoon colocou a tigela de arroz sobre a mesa. – Jin-hyung me


explicou... Não ficou ruim.

— Olha se tiver gostoso igual as suas coxas pode me servir uma porção
dupla. – Tae deu uma risadinha, mas ganhou um tapinha de Yoongi na nuca e
ficou sério.
— Eu tenho uma palavra para você: greve. – sussurrou.

— Esfrie sua própria carne, Taehyung. – Hoseok largou os talheres e lhe deu
as costas.

— Era brincadeira! – exclamou, Jimin estava gargalhando junto de Jungkook.


– Cadê o senso de humor de vocês, meus amores?

— Socado no meu cu! – Hobi gritou da cozinha.

— Se fodeu, trouxa. – Jimin provocou antes de Jungkook lhe dar uma porção
de arroz na boca.

— As coxas do Namjoon podem causar uma guerra. – Jin sorriu e


experimentou o arroz. – Faltou um pouquinho de sal, mas está gostoso.

— Obrigado, hyung. – sorriu e sentou à mesa, ao lado de Jungkook. –


Amanhã é o seu aniversário, 'tá animado?

— Eu nunca tive um aniversário longe de casa. – falar com Namjoon não era
tão difícil como no começo. – 'Tô ansioso, Namjoon-hyung.

— Mais tarde nós vamos dar uma volta naquela feira de artesanato? Eu,
você e o Taehyung?

— Vamos! Deve ter muita coisa legal por lá! – Namjoon sorriu e bagunçou
seu cabelo com carinho. Jungkook corou.

— Aí! Tá queimando a carne de porco! – Yoongi reclamou.

— Não tem nada queimado! Yoongi eu te ensinei a fazer um churrasco


decente! – Jin virou as carnes. – Eu sou especialista nisso porque eu-

— E lá vamos nós! – Jimin cantarolou.

— Você é velho e chato!

— Para de me chamar de velho! Suas juntas estalam mais que um pneu de


bicicleta! Coloca mais salsicha na grelha e para se meter no meu churrasco!
— 'Ta!

— Você está me ouvindo?!

— E tem como não ouvir?!

— Cala a sua boca! – Jin queria rir.

— Sempre gostei de ver os idosos discutindo.

— Você quer mesmo nunca mais transar na sua vida, não é Taehyung?!

— Mas também não posso falar nada nessa porra! – bufou de boca cheia. –
Hoseok vem comer!

— Hobi, você quer carne de porco?

A música que vinha da pequena caixinha de som não conseguia brigar contra
as vozes altas, muito menos contra o caos delicioso que aquele almoço se
tornou entre conversas e risadas escandalosas.

Namjoon engasgou duas vezes enquanto Jungkook chorava de rir e Jin fazia
as piores piadas que conhecia. Devoraram tudo, acabaram com muitas latas
de cerveja e partiram uma melancia suculenta antes de juntos limparem a
bagunça.

Jimin e Hoseok foram encarregados de lavar a louça, os outros ocuparam a


área da piscina.

— Comprou algum presente pra ele? – Hobi perguntou depois de passar para
ele o prato molhado.

— Alguns. – Jimin deu de ombros.

— Eu consegui aquela câmera que ele estava juntando dinheiro para


comprar. Comprei o kit completo com lentes e etc.

— Ele vai adorar, hyung. – sorriu. Ficou quieto, as mãos ágeis eram rápidas
em enxaguar a louça e colocar sobre e mesa de mármore. O mais velho o
encarou e no mesmo instante soube que ele queria conversar.

— Ainda está pensando sobre o que aconteceu em Busan?

— Eu detesto essa sensação de estar omitindo algo tão importante assim,


Hobi-hyung. Jungkook tem o direito de saber.

— Sim, ele tem. Mas eu não acho que seja você a contar. – Jimin assentiu. –
Porque é algo familiar mesmo que envolva a sua família também.

— Chinrae-hyung me pediu um tempo e eu devo dar esse tempo a ele.

— Ele é o pai do Jungkook, sei que é difícil, mas ele cuidou do Jungoo
sozinho por anos, precisa entender que pra ele também deve ser uma
situação complicada.

— Hyung... – ele mordeu o lábio. – Eu...

— Você? – incentivou e sorriu.

— Lembra da conversa que a gente teve há um tempo? Quando rolou aquilo


do Jungkook ficar chateado comigo? – Hobi assentiu. – Fiquei assustado pra
caralho com a possibilidade de acontecer de novo. A minha cabeça ainda
acredita que preciso ser perfeito pra fazer outra pessoa feliz, mas eu não sou
perfeito.

— Ninguém é, Jiminie. – negou. – E ninguém vai ser. Sem aquele papo de


amar até os defeitos de alguém porque essa atitude pode nos fazer aceitar
coisas ruins, mas a gente precisa entender e respeitar, ver um jeito de fazer
dar certo. Não adianta pesar só as coisas ruins e ignorar as coisas boas.

— Eu tenho certeza que entre eu e ele a maioria das coisas são boas, mas é
que as ruins ficam tão mais evidentes.

— É involuntário, não conheço alguém que consiga controlar isso, mas é


como eu falei: tentar fazer dar certo. – ele fechou o registro da torneira e
secou as mãos em um pano de prato. – Eu poderia pesar só os ciúmes do
Yoongi, a mania que ele tem de querer controlar tudo e o quanto é mimado.
Poderia pesar a teimosia do Tae, a falta de filtro ou a forma como ele é
provocador e marrento. – sorriu. – E se eu pesar apenas isso, vou virar as
costas e abrir mão do amor que eu sinto por eles. Jimin, se eles pesarem só
as coisas ruins em mim também me dariam às costas. Mas a gente se gosta, a
gente se ama e a gente quer ficar junto.

— Eu amo o Jungkook, hyung. – confessou e sorriu um pouco. – De verdade.

— Fico feliz por isso. – ele suspirou. – Mas você tem medo.

— Eu morro de medo de não ser o que ele precisa e machucá-lo como eu


machuquei Minseo.

— Precisa tirar essa culpa de dentro de você. – lamentou. – Jimin, me escuta


ok? – o menor assentiu. – Você não é mais o mesmo Jimin que estava com
Minseo, existem atitudes e pensamentos que te fizeram amadurecer e se
tornar o homem que é agora. Não se prenda às coisas que foram ruins no
passado, fazer isso está te impossibilitando de ser feliz por inteiro. Porque
eu sei que você é feliz levando a vida assim, sem compromissos, sem a
responsabilidade emocional que te deixa assustado... Mas eu sei que o jeito
que você olha pro Jungkook deixa óbvio o quanto também precisa dele. –
sorriu. – E não tem problema nenhum nisso... Precisar dele. Aquele garoto é
louco por você. Já notou como ele te olha?

— Não. – sorriu.

— Como se você fosse o mundo inteiro dele. – Hobi se aproximou e o


segurou pelos ombros. – O que você quer fazer?

— Passar o resto da minha vida com ele.

— Então... Passe. – sorriu. – Mas se você vacilar eu mesmo acabo com a sua
raça, ok? Cuide direito do meu Jungoo.

Jimin riu, mas assentiu antes de abraçá-lo apertado. Hoseok beijou sua testa
e fechou os olhos.

— Te amo, hyung. Obrigado por ser sempre tão incrível, por dizer as coisas
certas.
— Também te amo, Jiminie.

— Pode me ajudar numa coisa? – ele estava animado.

— Claro. O que?

Yoongi caminhava descalço pela casa e Holly o seguia de perto vez ou outra
parando para farejar alguma coisa que encontrava no caminho. Ele parou
perto da porta que dava para o quarto que ocupava e sorriu ao ouvir a voz de
Taehyung murmurar o nome de Hoseok.

— Fica quietinho, 'tá? – sussurrou para Holly, então o cachorrinho sentou


sobre as patas traseiras e o encarou.

— Eu odeio ter de pedir isso, é sério. – Hoseok suspirou. De onde espiava,


Yoongi conseguia vê-lo sentado na cama. Taehyung se aproximou e sentou
em seu colo. – Eu sei que ele vai ficar puto.

— Até eu fiquei, Hobi. Seus pais estão sendo injustos demais contigo. –
beijou o queixo alheio. – Yoongi não vai reclamar, eu tenho certeza.

— Também tenho, mas é uma situação muito chata. Eu não gosto.

— Do que vocês estão falando? – o menor perguntou depois de entrar no


quarto. Hoseok suspirou e o chamou com a mão, trazendo-o para sentar na
coxa que estava vaga. Abraçou a cintura dele, colocando a mão por dentro
da regata preta só para acariciar a barriga macia. – O que foi, meu Sol?

— Meus pais...

— Eles bloquearam os cartões dele. Todos. Hobi 'tá sem dinheiro.

— Eu ainda tenho algum dinheiro, mas eu não sei se tenho o suficiente para
gastar hoje à noite. Sei que vocês querem sair, podem ir sem mim.

— O que? Não! – Yoongi negou. – Seus pais estão perdendo a noção


completamente!
— Eu prefiro não depender deles, quando voltarmos eu vou procurar
trabalho. – beijou os lábios do menor. – Vai ficar tudo bem.

— Eu não tenho muito pra conseguir ajudar. Minha família limita os gastos e
etc. – Tae gesticulou.

— Parem com isso, por favor! Eu ajudo! Eu posso ajudar!

— Não é justo que você fique bancando a gente, Yoongi.

— Até parece que eu sou um estranho. – resmungou. – Não é pra sempre, eu


sei disso! Logo você arruma um trabalho Hobi, você também Tae.

— Teu estágio ainda não é remunerado, Yoon.

— Tô dizendo que posso fazer isso. – insistiu mais sério. – Nós vamos nos
divertir hoje e nos próximos dias aqui, não fique pensando tanto em dinheiro.
Eu cuido de tudo. – sorriu.

— Hm, tipo o meu sugar daddy. – Tae brincou e deitou a cabeça no ombro
de Hoseok. – O que eu tenho de fazer pra te agradar?

— Meu deus, você é o demônio Taehyung. – Hobi riu. – Mas, diz... O que a
gente faz pra te agradar, gatinho?

— Eu vou pensar. – piscou e também riu depois de beijar os lábios do mais


novo. – Agora, vamos pra piscina. 'Tá calor, a cerveja 'tá gelada e eu quero
namorar fofinho!

— Como queira, namorado. – Tae saiu da coxa de Hoseok e riu quando


Yoongi gritou por ser carregado nos braços do outro.

Atravessaram a casa aos risos, Holly começou a latir e pular ao redor deles,
animado com as brincadeiras que aconteciam enquanto o menor era
carregado e paparicado pela casa. Yoongi gargalhou quando Hoseok o
colocou no chão, Tae o abraçou por trás e sorriu.

— A gente sentiu tanta saudade de você. – repetiu abraçando-o mais forte.


— Eu também senti. Minha avó quer vocês dois lá no natal.

— Falou pra ela sobre a gente? – Hobi franziu as sobrancelhas.

— Falei. – deu de ombros. – Ela me chamou de guloso, mas depois riu.

Tae se afastou um pouco para tirar a bermuda fina, jogou de qualquer jeito
sobra a espreguiçadeira, então Hobi suspirou e pegou a roupa, dobrando
com cuidado.

Dentro da piscina Jimin assoviou e Jin começou a rir sem parar. Namjoon
deu uma risadinha curta e Jungkook corou.

— Gente, alguém aqui pediu alguma coisa pelos correios? – o Park


questionou com um ar inocente demais.

Taehyung, sem entender nada, levou as mãos aos quadris e negou. A única
coisa que ele vestia era a sunga de praia vermelha.

— Acho que não. Por que tá perguntando isso? – Yoongi estranhou.

— Achei que sim. – apontou. - O Tae tá carregando um pacotão

Levou cerca de cinco segundos até os três entenderem, então começaram a


rir enquanto Taehyung rolava os olhos.

— Cala a boca, rabudo. – mostrou o dedo médio e correu para pular na


piscina, espalhando água para todos os lados.

— Amor, quer? – Yoongi oferecia uma lata de cerveja a Hoseok. Ele


assentiu. Pegou duas e se acomodou entre as pernas do namorado, sorrindo
para cena de Jimin e Taehyung discutindo dentro da piscina. – Hobi... Você
está feliz?

— Eu nunca estive tão feliz assim antes. Quer dizer, estava sim. – massageou
a nuca alheia. – Quando você recebeu alta depois da cirurgia.

— Você encheu o meu quarto com balões e flores. – sorriu com lembrança. –
Nós dormimos de mãos dadas.
— E você está feliz, Yoon?

— Demais. Até a minha família percebeu, eles disseram que eu tenho um ar


de alegria o tempo todo. – Obrigado por me dar uma chance meu Sol.

Dentro da água, Jimin abraçou Jungkook por trás e gritou quando o garoto
afundou o levando junto. Namjoon – que tentava continuar um vôlei
desastroso contra Seokjin – ignorou completamente o frio no estômago que a
interação entre eles lhe causava e foi surpreendido por uma bolada na cara.

— Ops! Foi mal! – Jin estava rindo. O cabelo molhado jogado para trás, a
pele levemente bronzeada... Namjoon suspirou. – Ponto pra mim.

— Não é justo, hyung.

— O que? – o mais velho franziu o cenho.

— Que use a sua beleza para me desconcentrar, desse jeito eu nunca vou
ganhar.

— É o meu segredo. – piscou e o mais novo negou enquanto sorria.

— Hm. – Tae murmurou. – Acho que estou sobrando aqui. – encarou os


namorados. – Vocês vão mesmo deixar o neném sozinho?

— Que neném?

— Eu. – deu de ombros. Hoseok rolou os olhos. O mais novo saiu da água e
correu em direção a eles.

— Taehyung... Não! Não, você vai me molhar! – ele reclamou, mas era
tarde. Tae se jogou em cima dos dois, molhando-os, derrubando cerveja no
chão. Yoongi riu enquanto era esmagado dentro do abraço. – Mauricinho do
caralho.

— Tae, tá amassando minhas bolas! Calma aí!

Jungkook passou as duas mãos pelo rosto quando as mãos de Jimin o


puxaram para si. O menor, contra a lateral da piscina, abraçou-lhe e deixou
um beijo demorado em seu pescoço.

— Você está tão gostoso com essa sunga, bebê. – provocou e deslizou as
mãos até o elástico da sunga azul marinho.

— Hyung... – sussurrou e olhou para baixo da água a tempo de ver seu corpo
grudar ao de Jimin. – Posso te fazer uma pergunta?

— Todas. – sorriu e espalmou a mão direita sobre a bunda do mais novo,


deixando o polegar fazer carinho na lombar.

— O meu é pequeno? Acha ele pequeno?

Jimin franziu o cenho sem entender. Jungkook mordeu o lábio inferior e


suspirou.

— O meu pau. É pequeno?

Então, o mais velho franziu ainda mais as sobrancelhas e negou rapidamente.

— Jungkook... Você sabe que isso não é importante.

— 'Tá falando assim porque é pequeno, né? – lamentou. – O do Tae-hyung é


grande... Você até brincou, Jimin.

Jimin compreendeu.

— Ficou com ciúmes? Ciúmes do Tae?

— Não. – negou. – Só um pouquinho.

— Bebê, não tenha ciúmes do Tae... Ou de qualquer um dos outros. –


explicou. – Nem do Namjoon, por mais que antes nós dois tenhamos ficado
sério. Você não precisa sentir nada disso, Jungkook. Eu já beijei o Tae, uma
vez. Nós dois estávamos vulneráveis, mas foi só isso.

— Já ficou com eles. – confessou baixinho. Jimin suspirou.


— Eu não posso mudar o meu passado e nem quero, eu não te conhecia e
nem você me conhecia. Se o meu passado te fizer sempre ficar chateado eu
posso te ajudar de algum jeito a lidar com isso, mas você precisa me deixar
fazê-lo. – ele procurou se acalmar e respirou fundo de olhos fechados. – Eu
estou com você Jungkook. Só com você. O tamanho do teu pau ou com
quantas pessoas eu já fiquei não vai mudar nada, eu estou com você.

— Desculpa Jimin, eu não queria te irritar. – lamentou o abraçando mais


forte.

— E o seu pau não é pequeno, Taehyung que tem uma sucuri no lugar do
pinto. – resmungou. – Os hyungs devem ter um cu de ferro, sinceramente.

Jungkook não conseguiu segurar o riso. E Jimin sorriu porque nada em seu
mundo era mais lindo do que vê-lo rir de verdade. O jeito como o nariz se
enruga ou até mesmo a risada aguda. Ele afagou o rosto do mais novo e se
aproximou para beijar a trave dos lábios finos.

— Mais tarde vamos sair sozinhos. Um jantar, ok?

— Ok, hyung. – assentiu animado.

A batida de uma música conhecida se juntou ao grito de Seokjin que jogou a


bola de vôlei outra vez na cara de Namjoon e saiu da piscina apressado. Ele
segurou uma das garrafas pequenas e fez de microfone depois de aumentar o
volume até o máximo. O corpo grande e molhado começou a se mover no
ritmo das batidas, até mesmo a sunga verde escura, embolada nas coxas
pálidas, foram ignoradas enquanto ele cantava. Dado momento, se virou para
Yoongi e estendeu o braço, chamando-o com o indicador.

Yoongi negou, mas o refrão não o deixou resistir.

— My loneliness is killing me! – ele cantou ainda no colo de Hoseok.

— I must confess, I still believe!

— When I'm not with you I lose my mind...

— Give me a sign...
— Hit me baby one more time!

Jin o puxou para cima, entregou a ele uma lata vazia e os dois continuaram
cantando, apontando um para o outro, fazendo coreografias que mais ninguém
sabia. Jungkook não conseguia parar de rir, mas queria se juntar aos hyungs.

— Se você sabe a letra, vai lá. – Jimin incentivou.

— O que está acontecendo?! – Tae perguntou a Hobi.

— Eles amam Britney Spears, sério. Muito. Yoongi sabe todas. – bebeu a
cerveja e tirou do bolso um baseado pronto. Taehyung olhou, mas deixou pra
lá. Era só um. – Se você quiser... Jogo fora, Tae.

Para Hobi, dizer aquilo era importante e Taehyung sabia disso.

Ele sorriu.

— Só um. – pediu com carinho. – Ok?

— Ok. Um. – Jungkook saiu da água e sentou perto deles com uma toalha
rosa sobre os ombros largos. Ele viu Hoseok acender o baseado e tragar
demoradamente.

Hoseok, atento ao olhar dele, encarou Jimin que deu de ombros.

— Uma tragada. Só isso, Jungkook. – determinou e o garoto assentiu


animado. Hoseok passou o baseado para as mãos dele. – Traga devagar.

Ele o fez com cuidado, tragando lentamente até sentir o nariz arder junto da
garganta. Tossiu engasgado devolvendo o cigarro, negando sem parar.
Taehyung gargalhou.

— É... Estranho. – murmurou.

— Tudo é estranho feito pela primeira vez, JK. Inclusive sexo, um tio meu
ficou cego quando transou, cuidado.

— O deixa em paz, Tae! – Jimin gritou da piscina.


— Hoseok, você está induzindo nosso filho a ser um maconheiro safado
igual a você?! – Jin, com as mãos na cintura, ralhou.

— Eu estou sendo um pai presente! Melhor ele experimentar sob a minha


supervisão!

— Quem pariu o Jungkook? – Namjoon provocou.

— A cegonha o trouxe. – Jin gesticulou. – A cegonha parece gostar muito de


mim. – murmurou, mas só Namjoon ouviu.

Outra música, então Jin os deixou falando sozinho e voltou a sua


performance ao lado de Yoongi. Jimin se juntou a Jungkook na
espreguiçadeira e Namjoon continuou dentro da água, os braços fortes
apoiados a borda enquanto bebia de uma garrafinha de água gelada.

— Passa pra mim. – o Park pegou o baseado e tragou com habilidade,


prendendo até segurar o queixo de Jungkook com carinho.

— Ele quer que você abra a boca, Jungoo. – Hobi explicou.

Jungkook abriu os lábios e Jimin soltou a fumaça para dentro de sua boca
lentamente, sorrindo em seguida graças ao rosto corado do mais novo.

— Nossa, isso foi sexy. – Tae disse. – Se um dia quiserem um voyeur,


lembre do meu nome.

— O que é isso? – Jungkook perguntou confuso.

— Ah, a inocência. Tão preciosa. – Yoongi brincou antes de sentar entre as


pernas de Hoseok de novo. Jin sentou a beira da piscina, com as pernas
dentro da água. – Voyeur é alguém que curte ver outras pessoas fazendo
sexo, Jungkook.

O garoto assentiu e Jimin assistiu suas reações.

— Se não estiver confortável, a gente pode falar de outras coisas, Jungoo.


— Tudo bem, Hobi-hyung... Eu quero saber mais. – sorriu tímido. – Tae-
hyung é voyeur?

— Eu curto. – deu de ombros e bebeu o resto da cerveja de Hoseok. – Você


já pensou sobre isso?

— Jungkook ainda não tem muitas experiências. – Jimin o ajudou. – Mas ele
é curioso.

— Vamos contar segredos! – Jin bateu palmas.

— Jimin vai entrar em coma alcoólico. – Tae provocou.

— Junto com você, seu pau no cu. – ele respondeu.

— Sem bebidas, a gente só fala da nossa melhor experiência e do que tem


vontade de fazer. – o mais velho deu de ombros.

— Por mim tudo bem. – Hobi deu de ombros. – Não precisa falar se não
quiser, Jungoo.

— Hoseok, pelo amor de deus, deixa o garoto voar! – Namjoon exclamou.

— Quem começa?

— O mais velho. – Yoongi riu baixinho.

— A cada dia minha vontade de te dar um murro dobra, Min Yoongi. – Jin
disse enquanto sorria. – Certo, eu começo já que vocês viadinhos têm medo.
– rolou os olhos. – O que querem saber?

— Gosta mais de transar com homens ou mulheres? – Jimin foi o primeiro.

— Eu gosto de transar. – deu de ombros. – Próxima.

— Algo que nunca faria no sexo? – Yoongi foi o próximo.

— Chupar o dedão do pé de alguém. – riu. – Tem cada dedo feio. Estou


falando de você Yoongi.
— Vai se foder!

— Pior transa da sua vida, hyung. – Hobi continuou.

— A primeira, foi um desastre. – Jin lamentou. – Só mais uma.

— A melhor transa da sua vida? – Namjoon o encarou.

Jin olhou para o lado, rindo baixinho porque sabia bem as razões do outro
Kim ter perguntado isso.

— Faz um tempo, foi em um motel. Realizaram minha fantasia sexual número


um. Eu achei que fosse morrer de tanto gozar, mas eu só não conseguia parar.

— Hm. Ok. – Hobi desconversou. – Agora é o gatinho.

— Apelido horroroso. – Jimin debochou.

— Eu vou te dar um gato Jimin, então você vai ter sete vidas pra cuidar! Gay
chato! – Tae quase gritou. – Eu começo! Então, GATINHO, qual a sua maior
fantasia?

— Você e o Hobi vestidos de policiais dizendo que eu serei preso por ser
um mau menino.

— Bem específico. – Hoseok observou. – Vou arranjar os uniformes.

— NIVÉL. – Jin bateu palmas outra vez. – Qual foi sua pior transa, Yoongi?

— Faz tempo, foi ruim porque não estava afim. – deu de ombros. – Mas a
outra pessoa estava.

— Isso não é bom, a gente não tem de fazer sexo para agradar outras
pessoas.

— Eu sei, Joon... Mas na época eu não sabia. Nunca mais vai acontecer.

— Quem tem o melhor boquete: Hoseok-hyung ou o Tae? – Jimin sorriu


adoravelmente após sua pergunta. Yoongi o encarou indignado.
— Peste! Eu vou arregaçar a sua cara! - Tae exclamou.

— Tô morrendo de medo!

— Não precisa responder, gatinho. Taehyung ficaria magoado.

— É o que?!

Jungkook começou a rir.

— Agora é o Hoseok. Eu começo. – Jin sorriu. – Dominar ou ser dominado?

— Dominar. – deu de ombros.

— O que você não abre mão no sexo? – Namjoon continuou.

— Oral. Eu gosto de fazer e receber.

— Deus o abençoe. – Yoongi brincou.

— Jungkook quer perguntar, mas está com vergonha. – Jimin entregou o


garoto que arregalou os olhos. – Pergunta bebê.

— Pode perguntar, Jungoo.

— Hm... Fazer amor com quem você ama é mais gostoso que fazer com
outras pessoas, hyung?

— Oh deus, eu quero apertar ele até explodir! – Jin brincou.

— É Jungoo. É muito melhor. A gente só faz amor com quem a gente ama. – o
garoto assentiu.

— Vez do Namjoon! – Tae indicou. – Prefere ser passivo ou ativo?

— Passivo.

— O que você tem vontade de fazer na cama e nunca fez? – Yoongi foi o
próximo. Jimin encarou Namjoon num pedido mudo para que não falasse
sobre eles, era melhor. Era passado.

— Sexo a três. – deu de ombros. – Tenho vontade.

— É maravilhoso, acredite. – Hobi riu. – Qual foi a sua melhor transa?

Namjoon lambeu os lábios.

— Faz um tempo, foi num motel. – Jin desviou o olhar. – Eu realizei a


fantasia dele e nós dois transamos por quase oito horas seguidas.

— Caralho! – Taehyung exclamou. – Espera...

— Como você é lerdo, amor. – Yoongi riu.

— Jimin, sua vez. – Jin mudou de assunto. – O que mais você curte no sexo?

— Os toques, olhares. Eu gosto de ter o controle das coisas. – a mão dele, a


que carregava mais anéis, continuava acarinhando as costas de Jungkook. –
Também curto ser desafiado.

— Transarino demais.– Tae debochou. – Curte voyeurismo?

— Prefiro exibicionismo. – depois de dizer isso, seu dedo desenhou a linha


da coluna de Jungkook, arrepiando-o.

— Melhor sexo?

— Eu não posso dizer. – negou, mas sorria.

— Vai dizer sim! Ora essa! Diga logo, tô mandando. Eu sou seu hyung! - Jin
insistiu.

— Você não pode usar isso pra conseguir o que quer da gente, Jin-hyung!

— Yoongi, calado!

— Posso falar? – Jimin sussurrou a Jungkook que assentiu sem entender. –


Não foi o sexo consumado em si, mas Jungkook me deu a melhor punheta da
vida ontem à tarde.

Hoseok engasgou com a cerveja.

— Jimin-hyung. – Jungkook sentiu o rosto queimar, mas de alguma forma


aquilo o deixava excitado. Era confuso.

— Hoseok, respira! Calma! – Yoongi estava o ajudando, Tae o abanando. –


Amor, respira.

— Imagina quando esse menino perder o cabaço. – Taehyung murmurou. –


Respira, Hoseok!

— Estou bem! Jimin existem informações que eu não quero saber, ok?

— Minha vez! – Tae bateu palmas. – Podem perguntar.

— Como você consegue comer alguém com esse pau enorme?! - Jimin o
provocou.

— Jimin, eu não tô bom pra você hoje, não!

— O que te faz brochar, Tae? - Jin o encarou.

— Quando a minha cabeça tá cheia demais pra me focar no sexo, eu fico sem
tesão nenhum.

— Passivo ou ativo? – Namjoon devolveu a pergunta.

— Tanto faz. – deu de ombros. – Não me apego a isso.

— Melhor transa? - Jungkook perguntou envergonhado.

— Ainda não tive.

— Como assim? – Hoseok franziu o cenho.

— Tenho certeza que a melhor vai ser quando envolver nós três.
— Trenzinho do amor. - Jin cantarolou.

— Meu deus, Jin-hyung.

— Vez do Jungkook! - Yoongi apontou.

— Ah... Eu não fiz muita coisa, não tenho nada pra falar direito. – negou.

— Tem alguma coisa que você quer perguntar? – Jimin o incentivou.

— Hm. É. – assentiu. – Namjoon-hyung disse que prefere ser passivo, mas


eu achei que não tinha escolha. Assim, se você é passivo na primeira vez tem
de ser pra sempre. Não é assim?

— Não. – Jin negou. – Isso só diz respeito à pessoa, Jungkook. Têm algumas
que preferem ser algo, mas outras não. É algo que é resolvido entre o casal e
etc.

— Depende de como você quer as coisas e a outra pessoa também. – Hobi


explicou.

— Eu li na internet que muita gente se importa com isso de posição sexual


nos relacionamentos não héteros. Fico confuso.

— É uma merda. Bobagem pura. – Tae gesticulou. – Ninguém chega pra um


casal gay quando os conhece e pergunta: "então, qual de vocês dá o cu?"
porque sabem que isso é absurdo, mas vivem discutindo sobre por aí.

— O que importa nos relacionamentos, de qualquer orientação, são o


respeito e o sentimento entre as partes. Qualquer outra coisa é da conta de
ninguém. – Yoongi continuou. – Quando você vê nós três juntos, pensa sobre
isso?

— Não, Yoongi-hyung.

— E no que você pensa, bebê?

— Eu penso que vocês se amam e estão felizes. – sorriu. – Então, eu fico


feliz também.
— Que garoto fofo do caralho, eu não aguento mais ele! – Jin ralhou.

Todos riram, inclusive Jungkook, que nos braços de Jimin sentiu-se grato por
seus hyungs explicarem tantas coisas que ainda o deixavam confuso.

— Obrigado, quando escolherem é só chamar.

O garçom se afastou da mesa com educação e simpatia. Jimin abriu o


cardápio e Jungkook fez o mesmo, mas perdeu mais tempo olhando ao redor.
Era o restaurante mais elegante que já havia visto. A decoração fazia
lembrar um navio, mesmo que ele sequer tenha entrado em algum. Olhou
para as duas taças sobre a mesa e depois prato de porcelana e fez um bico.

— Pode pedir o que quiser. – Jimin o olhou. – O que foi?

— Aqui é muito bonito, hyung. Deve ser caro.

— Eu te convidei. Não se preocupe. Eu vou pedir bulgogi e galbi.

— Também quero. – assentiu.

— 'Tá bem. – Jimin chamou o garçom para fazer os pedidos, poucos minutos
depois também serviram um pouco de vinho tinto a cada um deles. – Eu quis
te trazer aqui para gente ficar um pouco sozinhos. Amanhã é seu aniversário.

— Uhum. – sorriu. – Obrigado por me trazer pra cá hyung, foi o melhor


presente.

— Ah, mas não foi um presente. Como a gente ia viajar em família sem
você? – sorriu. – Eu te comprei dois presentes. Na verdade três.

— Três?! Jimin-hyung é muita coisa! Não precisa disso, por favor. – negou
mexendo as mãos.

— Eu sei que pode parecer muito, mas eu realmente queria te presentear


Jungkook. Mas, primeiro nós vamos jantar.
— 'Tá bem. – suspirou.

A comida não demorou a chegar. Porções generosas e saborosas que eles


comeram entre curtas conversas e olhares que diziam muito. Uma música
ambiente tocava ali, a voz Tori Kelly cantava sobre corações de papéis e por
mais que existissem outras pessoas ao redor, eles se sentiam a sós.

Jungkook ficou confuso quando sentiu o polegar de Jimin tocar o cantinho de


seus lábios, ele recolheu o molho de soja e depois levou o dedo à própria
boca, sugando depressa.

— 'Estava sujo. – explicou servindo mais vinho na taça que lhe pertencia. –
Você comeu bem.

— Eu comi muito... Mas essa carne é tão gostosa. – ele encarou o prato de
mais velho e ganhou um sorriso cúmplice direcionado a si. – Eu posso?

— Abre a boca. – Jimin pediu enquanto capturava o pedaço de carne com os


hashis. – Gosto de te ver comendo bem.

Jungkook mordeu e puxou a carne, mastigando depressa como um coelho,


querendo sorrir com o carinho discreto que recebia na nuca. Ele viu Jimin
beber de uma vez só o vinho para servir mais em seguida. A comida do mais
velho continuava intocada no prato, os legumes remexidos e frios ainda
bonitos aos olhos, mas preferia que ele tivesse os comido também. Então,
quando Jimin estava prestes a virar outra vez a taça ele segurou com cuidado
seu pulso, sobre o relógio preto. O mais velho o encarou confuso.

— Posso pedir uma sobremesa?

— Claro bebê. – assentiu e colocou a taça sobre a mesa. – Aqui, escolhe


uma. – disse entregando o cardápio a ele.

— E você come comigo?

— Eu já estou cheio. – desconversou, mas o olhar de Jungkook sempre o


colocava de joelhos. Suspirou olhando ao redor, lambendo os lábios e
assentindo. – Não gosto de coisas doces, Jungkook.
— Mas gosta se estiver em mim. – sorriu atrevido. Ele entrelaçou os dedos
aos de Jimin, muito encantado no quanto os dedos miúdos ficavam perfeitos
junto aos seus. – Come comigo e depois... – o encarou nos olhos. – Fica.
Não faz aquilo.

Jimin piscou confuso, as sobrancelhas se franzindo até a resolução lhe deixar


inquieto. Jungkook beijou sua mão com carinho.

— Você... Ouviu?

— Eu sei que não quer falar sobre isso, eu sei hyung. Mas, por favor, não
faça. Pelo menos por hoje?

O menor passou a mão pelo rosto e mordiscou o lábio inferior. Havia tanta
preocupação no olhar do mais novo que não podia evitar sentir medo. E se
Minseo estiver certa? E se Jungkook sentir nojo? E se...

— Jimin hyung, eu gosto muito de você. Muito. E você é o homem mais


lindo do mundo. Eu vou fazer questão de dizer isso o tempo todo. Você me
encanta hyung, eu gostaria que pudesse me ver como eu te vejo.

— Como você me vê?

— Como se tudo fosse sobre você.

Jimin sorriu e se curvou para beijar os lábios dele demoradamente. Afastou-


se um pouco, buscando no bolso do jeans o que havia pedido para Hoseok
conseguir mais cedo. Jungkook não entendeu, então o encarou.

— Há uns dias, depois do que fizemos em Busan você disse que me amava
um pouco antes de pegar no sono.

— E eu... Eu...

— Sinto muito se eu fiz parecer ser errado dizer isso, eu ainda não sei lidar
com essas coisas do jeito certo, mas eu quero tentar. Então, preciso da sua
ajuda.
— Hyung... – ele observou a caixa pequena e simples, o veludo negro que
tremia nas mãos de Jimin. – Jimin!

— Eu também amo você Jungkook. – confessou, o mais novo arregalou os


olhos. – E dizer isso em voz alta não precisa ser errado, não é. Não sei se
sou capaz de alcançar todas as suas expectativas-

— Você é. Jimin, você é. Exatamente como você é. – assentiu. Jimin abriu a


caixa para mostrar os dois anéis metálicos. – Hyung...

— Você me ama?

— Muito. – assentiu. Ele queria chorar.

— Quer namorar comigo?

— Quero. – assentiu outra vez e fungou. – Você quer namorar comigo


também?

— Jungkook... – sorriu. – Você é a única certeza que eu tenho agora. – ele


pegou um dos anéis e colocou no dedo anelar do mais novo para em seguida
colocar um no próprio dedo. – É como se eu fosse você.

— E você fosse eu. – olhou para o anel e depois para Jimin. – Eu 'tô feliz,
mas não sei como expressar isso... O que eu faço?

— Me beija. – deu de ombros. – Meu menino.

Jungkook sorriu largo, o nariz enrugando enquanto se aproximava dele, os


olhos escuros marejados, exalando a mesma felicidade que Jimin exalava.

O beijou de forma tímida, mas apaixonada.

Um grande passo para ambos, um novo caminho a percorrer.


29 - belo dia(part II)

— Como você fez isso?

Taehyung, de olhos arregalados, não reagiu quando Yoongi o abraçou por


trás, esticando-se inteiro para beijar a nuca exposta graças ao coque mal
feito. Hobi foi o primeiro a deixar os chinelos sobre a areia e entrar na tenda
alta.

A estrutura de quase dois metros estava de pé graças a quatro bases de ferro


presas a areia com profundidade, tecidos resistentes cobriam a estrutura em
forma de tenda, mas se agitavam graças ao vento do fim da tarde.

Tudo dentro da tenda estava arrumado e confortável, forrado e limpo.


Almofadas vermelhas, uma pequena mesa baixa repleta de petiscos, dois
baldes de gelo com bebida e uma mochila marrom perto da cama espaçosa
improvisada.

— Eu pedi pra fazer isso quando a gente decidiu vir pra cá. – Yoongi
também entrou e o puxou junto. Hoseok já estava com a boca cheia de frutas.
– Essa parte da praia é particular, é da minha família. – o deixou sentado ao
lado de Hobi e tratou de puxar as cortinas para dá-los a vista do mar calmo.
– Gostaram?

— Nossa... Isso é incrível Yoon. – o mais novo sorriu.


— A gente costumava dar festas aqui. – Hoseok se esticou para alcançar as
três taças de vidro e o champanhe. – Eu amei, Yoon. Obrigado.

— Hoje é um dia especial... Mas vocês dois são péssimos e nem lembram. –
reclamou sentando entre as pernas de Taehyung.

— Hm... É dia dos namorados? – Hobi franziu o cenho.

— Cala a boca, Hoseok. Hoje faz um mês que a gente resolveu tentar. No
apartamento da minha omma, lembra?

— Eu sou péssimo com datas, desculpa amor.

Hoseok abriu o champanhe e riu quando a espuma molhou os três. Ele serviu
a bebida e colocou a garrafa de volta no gelo enquanto Yoongi sentava diante
deles com pernas de índio. Os três estavam confortáveis com regatas claras,
bermuda e sungas de praia.

— Eu quero fazer um brinde! – Tae exclamou. – Quero brindar a nós três. –


ele sorriu. – Eu não vivi muito, mas desde que a gente 'tá tentando eu tenho
tido os dias mais felizes da minha vida. – ele observou as bolhas dentro da
taça e suspirou. Brindaram e beberam tudo de uma vez, rindo da careta do
mais novo. No entanto, ele ficou quieto e até um pouco pensativo demais.
Hobi estendeu a mão e afagou suas costas.

— O que foi carinha? – Yoongi colocou a taça vazia sobre a mesinha. –


Ainda tá cansado?

— Não. Dormir à tarde ajudou. – sorriu sem jeito.

— Amor, o que foi? – o mais novo negou outra vez e Hobi o puxou para si,
fazendo-o praticamente sentar em seu colo. – Tae... Taehyung, por favor...
Diz o que está se passando nessa cabecinha? – brincou.

— Antes de virmos pra cá... Eu vi na internet a notícia, meu appa conseguiu


o apoio do partido e vai concorrer às eleições de Daegu. – suspirou. –
Fiquei com isso na cabeça.

— Você queria que ele tivesse te contado?


— Não, Hobi. Eu queria que ele não tivesse conseguido o apoio. – Yoongi,
que sabia um pouco mais sobre os conflitos familiares do mais novo, afagou
a nuca dele com carinho. – Ele não merece nada disso.

— E você quer nos contar por quê? – o menor tentou com cuidado. – Amor,
eu adoro que você seja sempre tão brincalhão e tenha esse seu jeito de
querer resolver as coisas entre a gente... Mas tanto eu quanto o Hobi também
podemos te ajudar a resolver as coisas dentro de você, dentro da sua cabeça.

Taehyung assentiu e deitou a cabeça no ombro de Hoseok, encolhendo-se o


suficiente para deixar os mais velhos atentos. Yoongi e Hobi trocaram um
olhar cúmplice que dizia milhões de coisas, então o menor chegou mais
perto para também abraçá-lo. Espalhando beijinhos dos ombros largos até a
nuca exposta.

— Eu quero contar, eu juro. – Tae murmurou. – Desde os motivos desses


cortes nos meus braços até a minha revolta por saber que ele vai concorrer
ao senado... Me sinto seguro com vocês dois, mas eu não ainda não me sinto
seguro sobre mim.

— A gente entende, Tae. - Yoongi assentiu.

— Posso pedir uma coisa?

— O que você quiser, amor. - Hobi assentiu também.

— Por favor, mesmo se um dia isso acabar... A gente... Não me deixem


sozinho? Não me esqueçam.

— Nunca, Tae. – Hoseok beijou o pescoço dele. – A gente é pra sempre.

— Promete? Vocês nunca vão me esquecer?

— Prometo. – Yoongi assentiu.

— Eu também prometo, ok? Olha pra mim, meu neném mimado. – Hobi o
segurou pelo rosto com carinho. – Nunca mais vai se sentir sozinho... E nem
tem como, você tem dois namorados.
— Isso era pra ser reconfortante? – provocou com uma sobrancelha
arqueada.

— Ingrato. – o menor lhe deu um tapa na coxa.

— Vamos entrar no mar. – disse saindo do colo de Hoseok, logo arrancou a


regata e jogou de qualquer jeito.

— Pelo amor de deus, é tão difícil assim dobrar direito?!

— Ah, eu não quero me molhar.

— Não é uma opção, gatinho. – Taehyung o puxou pela mão, agarrou-lhe a


cintura e ergueu seu corpo para poder beijá-lo. Yoongi arfou com a
intensidade do ato, suas mãos se agarraram aos braços tatuados do maior,
seu corpo amoleceu conforme a língua com sabor de champanhe massageava
a sua.

— Wow! – Hobi sorriu. – Eu sou sortudo pra caralho!

Quando o beijo acabou, Tae sorriu do rosto corado de Yoongi.

— Vamos entrar? – pediu de novo, sussurrando.

— Taehyung você é uma peste. – ralhou empurrando a bermuda para baixo e


aceitou quando o corpo foi puxado para cima, então enlaçou as pernas ao
redor dos quadris do mais novo e gemeu ao sentir as mãos grandes apertando
sua bunda com força. – Eu te odeio.

— Você vem, Hobi.

— Pode ir à frente. – deitou sobre as almofadas e mordeu o lábio. – Eu


quero ver vocês dois.

Taehyung piscou para ele e correu em direção a água, arrancando gritos de


Yoongi antes de se jogar na água junto dele. Uma onda fraca os fez se afastar.
Hoseok serviu outra taça para si e comeu uma das cerejas que estavam sobre
a mesa. Ele sorriu porque Taehyung perseguiu Yoongi, pegando-o no colo
para jogá-los contra as ondas.
O riso dos outros dois aquecia seu coração.

Ele observou o corpo pálido de Yoongi, as coxas pequenas e apertadas


dentro da sunga preta. Depois as costas de Taehyung, o tigre tatuado em cada
pedaço de pele, findando um pouco antes do elástico da sunga vermelha. Tão
opostos que chegava a ser confuso que o completassem tão bem.

Yoongi era uma tela em branco, já Tae era toda a tinta do mundo.

Então, Hoseok sentia-se como o pintor.

Juntos eles seriam obra de arte. Uma obra de arte confusa, complexa e feita a
pinceladas não muito suaves.

Mas perfeitos.

Hoseok deixou a taça de lado, se despiu até ficar apenas com a sunga verde
escura e foi se juntar aos namorados. Taehyung o abraçou por trás, o corpo
gelado lhe deixou arrepiado, mas sorriu ao deitar a cabeça sobre seu ombro
direito.

— Queria tirar uma foto de vocês dois assim. – Yoongi se aproximou. – Mas
é melhor que essa imagem fique só na minha cabeça.

— Ciumento.

— Não vou negar. – deu de ombros. Hobi o abraçou, dando beijinhos por
seu rosto úmido e salgado. Ele beijou Hoseok com vontade, arfando quando
as mãos dele apertavam forte sua cintura. Então, sorrateiramente, o puxou
para baixo, para mergulhar.

A risada de Taehyung foi a primeira coisa que Hobi ouviu ao emergir.

— Vem aqui, seu safado! – Yoongi gritou e correu para longe deles.

A brincadeira durou quase uma hora. Desde perseguições desastrosas a


corridas confusas onde nenhum deles foi honesto. O Sol se pôs, o céu ficou
repleto de estrelas além da Lua crescente que iluminava onde as lâmpadas
ao redor da tenda não alcançavam.
E foi durante uma brincadeira que as coisas esquentaram.

Hoseok estava deitado na areia ainda ao alcance das ondas fracas, ele não
conseguia parar de rir, então Yoongi montou em sua barriga e prendeu seus
pulsos contra a areia.

— Para de rir de mim!

— Não... Consigo... Você caiu feito uma pedra. – Hobi tinha lágrimas nos
olhos. Tae sentou ao lado dele e respirou fundo, ele também não conseguia
parar de rir.

— Por sua culpa! – ralhou com um bico nos lábios. – Você me derrubou,
Seok!

— Desculpa... Foi sem querer. – pediu parando de rir.

— Não. – negou e lambeu os lábios antes de descer o corpo um pouco mais


até a bunda estar sobre o pau dele. – Você merece um castigo.

— Mereço? – arqueou uma sobrancelha e tentou soltar os pulsos, mas isso


só fez o menor apertar mais contra a areia. – Yoongi...

— O que foi? – provocou. – Seok-ah é tão mandão.

— Solta. – mandou num tom rouco. Taehyung ficou arrepiado. – Agora.

— E se eu não soltar? – deitou a cabeça para o lado e sorriu. – E se eu me


esfregar no seu pau até te deixar bem duro? Assim? – Yoongi moveu os
quadris, esfregando-se como havia dito.

Hoseok olhou para baixo e mordeu o lábio inferior. Yoongi curvou o corpo
para frente, para pairar a boca sobre a dele e lamber seus lábios lentamente.

— Você 'tá fodido, Yoongi. – Hobi respirou fundo e assentiu. – Eu vou te


deixar todo fodido.

Yoongi riu e segurou os pulsos apenas com uma das mãos, a outra prendeu
um dos mamilos de Hobi entre os dedos e apertou, brincou com ele antes de
se curvar para lamber.

— Filho da puta!

— Hoseok, você consegue se soltar e sabe disso... Mas 'tá adorando. – Tae
olhou ao redor. – É melhor a gente ir pra dentro da tenda.

— Você tem exatamente cinco segundos pra correr, Min Yoongi.

Yoongi arregalou os olhos.

— Quatro.

O menor riu e saiu de cima dele para correr em direção a tenda. Hoseok
ergueu o tronco e ficou de pé.

— Preciso tirar essa areia do corpo.

— Eu também. Tem um chuveiro do outro lado da tenda, subindo as escadas


da casa. – ele aceitou a mão do mais velho e também ficou de pé.

Os dois caminharam até o chuveiro, a água estava fria demais e Tae riu
enquanto Hobi dava pulinhos sob a água. Chegou pertinho e o abraçou por
trás, deslizando as mãos dos ombros até a barriga para limpar a areia.
Hoseok mordiscou o lábio e se empinou um pouco, encaixando-se sobre a
semiereção que ele havia notado ainda deitado na areia.

— Tae... – chamou baixinho, Taehyung o segurou pelos quadris e o fez sentir


ainda mais o quanto estava excitado. – Hoje eu quero dançar em você.

— Dançar em mim? – sorriu e mordiscou o lóbulo da orelha pequena. – Você


quer dançar no meu pau? Meu marrento safado. – Hoseok assentiu.

Eles fecharam o registro do chuveiro e desceram a escada de madeiras aos


beijos rumo a tenda onde Yoongi já tinha tirado da mochila camisinhas e
lubrificante, além de um vibrador pequeno, azul claro.

Hoseok puxou Taehyung para si, deitado na cama improvisada de pernas


abertas para que o mais novo se encaixasse ali. O beijo estava longe de ser
suave, ambos arfavam enquanto as línguas se moviam até mesmo para fora
da boca, lambendo uma à outra com pressa. A mão grande Taehyung
alcançou o pescoço de Yoongi e o puxou até que estivessem os três dentro do
ósculo. O maior entre eles mordeu a boca dos outros dois e assentiu quando
Yoongi lhe mostrou o vibrador.

— Fica de quatro, amor. – Hoseok sussurrou e o garoto obedeceu. Yoongi


puxou a sunga vermelha para baixo e a tirou, sua boca gelada graças aos
goles de champanhe beijou desde as coxas até a nádega amorenada que
prendeu entre os dentes antes de estapear. – Se empina, mas me deixa te ver.

Yoongi abriu o lubrificante e espalhou no vibrador pequeno em forma de L,


depois também espalhou em dois dedos da mão esquerda. Tae mordeu a
boca ao senti-los pressionar, acariciar ao redor enquanto a mão de Hoseok
fazia carícias em seu cabelo úmido.

— Hm... – choramingou quando o primeiro dedo lhe invadiu, o rosto


manhoso se esfregou contra a barriga de Hoseok. – Yoon...

— Tá machucando você?

— Não. – respirou fundo e lambeu a pele de Hoseok, mordendo-a quando o


dedo entrou e saiu outra vez.

— Mais um? – Hobi perguntou e ele assentiu. – Mais um gatinho, nosso


Taehyung é um menino forte. – elogiou.

— Eu quero tanto te ver tremendo pra mim, amor. – Yoongi usou mais um
dedo e espalmou a mão livre contra a lombar molhada, fazendo-se empinar
mais. – Cubra boca dele, Seok.

Hoseok usou a mão para cobrir a boca de Taehyung, então Yoongi girou os
dedos e os dobrou até que tocassem a próstata macia. Tae arregalou os olhos
e gemeu alto e abafado pelos dedos do mais velho, os olhos grandes se
encheram de lágrimas, suas mãos fortes agarraram os lençóis. Hoseok sorriu.

— Shi, calma... Calma, amor. – pediu com carinho. – Está gostoso?


— Uhum... – assentiu.

— Você quer mais?

— Por favor... - ele assentiu outra vez.

— Coloca o vibrador dentro dele, Yoon.

Yoongi sorriu e pegou o vibrador, penetrando-o lentamente até só restar para


fora a pequena jóia dourada. Hobi estendeu a mão e recebeu o controle
pequeno como um chaveiro.

— Seok-ah... – o menor chamou manhoso.

— Vem aqui. – ele saiu de baixo de Taehyung e puxou Yoongi para seu colo
depois de vê-lo se livrar da sunga com pressa. O beijou forte, curando a
coluna alheia enquanto as mãos se enchiam com a bunda dele, dando tapas
que coravam a pele pálida. Taehyung choramingou apenas por vê-los e
começou a se masturbar, descendo e subindo a mão pelo cumprimento
avantajado do próprio pau.

Então ele gemeu alto e se contorceu inteiro quando sentiu o vibrador dentro
de si massagear o lugar certo.

A risadinha de Yoongi foi adorável. O dedo dele estava sobre o dedo de


Hoseok, ambos apertando o botão do controle pequeno.

— Porra! – Tae grunhiu e abriu a boca num gemido mudo.

— Ele é tão lindo, mas fica ainda mais quando a gente o bagunça, Seok. –
Yoongi deitou a cabeça no ombro de Hoseok e encarou Taehyung.

— Yoon... Quero você. – Hobi sussurrou. – Eu não consigo parar de pensar


nisso, eu preciso sentir você assim.

— O quanto você já quis isso? – provocou e rebolou em cima do pau dele,


deixando beijos pelo pescoço suado.
— Mais do que eu posso explicar. Não sei se devo sentir vergonha de dizer
quantas vezes eu acordei com você grudado em mim, esfregando esse rabo
em mim... Eu precisava me esconder no banheiro.

— Algumas vezes foram de propósito. – confessou atrevido e mordeu o


queixo de Hobi com força. – Você ficava pensando, mas eu me esfregava nos
travesseiros enquanto te ouvia batendo uma no banheiro, Seok.

— Caralho, vocês querem me matar?! – Taehyung ralhou e aumentou o ritmo


da própria mão.

— Yoongi... – o menor pegou uma camisinha e Hoseok negou segurando seu


pulso. – Não, eu quero na pele.

— Hoseok. – ele gemeu baixo ao sentir o dedo alheio acariciar entre suas
nádegas. O pau, esmagado contra a barriga de Hobi, pingava e tremia de tão
duro. – Seok-ah.

— Eu gozo fora. Confie em mim, eu sei que você não gosta que goze dentro.

Yoongi assentiu e deixou a camisinha de lado antes de deitar na cama e


trazê-lo juntos. Taehyung curvou o corpo sobre o de Hoseok, deixando-o no
meio e logo puxou a sunga dele com pressa, expondo a bunda pequena que
ele fez questão de apertar e beijar até o meio das costas bronzeadas.

As mãos de Hobi estavam trêmulas e ele não queria estar tão nervoso, mas
era inevitável. Os beijos de Taehyung o deixavam mais afoito, o carinho da
mão grande entre suas nádegas sondando enquanto o lubrificante escorre até
suas coxas. Tae o lambuzou antes de puxar para os lados, expondo a entrada
que ele lambeu lentamente.

— Porra, Taehyung! – chiou Yoongi alcançou o lubrificante para espalhar


sobre os dedos dele com pressa, em seguida direcionando a mão alheia até a
própria entrada. – Abre as pernas gatinho, levanta. – deu um tapinha na coxa
esquerda e Yoongi levantou a perna o máximo que podia. – Tae, amor... –
chamou e o garoto veio depois de lhe morder com força, veio deixando
beijos molhados por sua nuca e pescoço, apertando a cintura estreita entre os
dedos. – Na pele. – pediu.
— Tem certeza? – sussurrou apressado.

— Uhum. Goza dentro de mim. – Taehyung sorriu atrevido e assentiu. –


Segura a coxa dele.

A mão grande segurou a coxa inteira de Yoongi que por sua vez segurou os
quadris de Hoseok. Ele tirou os dedos de dentro do menor com um som
melado e limpou no lençol para segurar o próprio pau e encaixar, invadindo
devagar o aperto. Yoongi mordeu o lábio inferior e assentiu, assentiu
afundando as unhas na carne de Hoseok.

— Isso... Seok-ah... Amor. – choramingou e abriu a boca pequena quando a


primeira estocava empurrou seu corpo pra cima.

— É tão apertado quanto você imaginava? – Tae sussurrou contra a orelha


dele. – O jeito como ele consegue aguentar tudo, como fica vermelhinho com
um pau socado dentro dele.

— Caralho! – Hobi arfou e saiu por inteiro, observando a entrada de Yoongi


contrair antes de penetrar de novo, com força. – Tão gostoso, Yoon.

— Se inclina. – Taehyung o fez ficar curvado sobre o corpo do menor e


sorriu. – Você me aguenta como ele?

— Isso é um desafio? – Hoseok lambeu o pescoço de Yoongi.

— Não... Provoca, Tae... Porra, Hoseok! Que pau gostoso do caralho! –


Chiou arranhando as costas dele, espalmando as mãos nas nádegas alheias
para que ele estoque mais depressa.

— Abre ele pra mim, gatinho.

Yoongi mordeu a boca e puxou as mãos para o lado, fazendo o que Tae
queria. Hoseok parou de se mover quando o sentiu forçar, relaxou o corpo
inteiro e aproveitou os beijinhos que recebeu pelo rosto.

— Que bom menino, hyung. – Taehyung provocou e gemeu arrastado ao


entrar até a metade. – Puta merda, você é apertado pra caralho!
— Eu disse. – Yoongi menor sorriu. – Amor, 'tá machucando?

— Não. Mas eu preciso muito meter em você. – ele moveu os quadris e


gemeu junto de Taehyung, alto e rouco. O movimento o colocou inteiro
dentro de Yoongi e colocou Taehyung inteiro dentro de si.

— Hobi! Porra, vai com calma! Quer me matar? – respirou fundo e se


curvou também, fazendo-o virar o rosto para esfregar os lábios contra os
seus. – Tudo bem?

— Uhum. Agora cala a boca e me fode direito.

Tae sorriu e ficou de joelhos de novo, as mãos seguraram os quadris de


Hobi, então ele começou a estocar depressa, impulsionando o mais velho a
estocar dentro de Yoongi.

Eles pouco se preocuparam com os gemidos altos, muito menos o som das
peles suadas se chocando como se fossem palmas ritmadas conforme os
lençóis eram bagunçados. Taehyung alcançou a garrafa de champanhe e a
virou na própria boca, bebendo goles da bebida que sequer gostava de
verdade. Encheu a mão com o gelo que ainda existia e prendeu um entre os
lábios para esfregar contra a nuca de Hoseok, deixando que pingasse sobre o
rosto de Yoongi junto do suor que escorria desde os cabelos castanhos.

Estavam suados e pegajosos, as peles salgadas graças ao mar e isso não


atrapalhava em nada quanto ao prazer que compartilhavam juntos. Uma obra
prima sexual, quem sabe até poderia ser eternizado se lapidado exatamente
como estavam naquele momento.

Yoongi em uma completa bagunça de suor, os cabelos verdes grudados a


testa exposta, os lábios inchados por causa dos beijos e mordidas que
Hoseok castigava nele. Já Hoseok, perdido dentro do prazer, sem querer
saber de ser livre daquela prisão que os dois homens que amava lhe faziam.
A pele marcada por arranhões, mordidas e marcas conseguidas através da
força. O cabelo jogado sobre os olhos, suor pingando da mandíbula bem
feita. Então, para finalizar a obra, havia Taehyung. O corpo grande estava
ensopado de suor, as tatuagens choravam o sal da pele, os fios descoloridos
se desprendiam do coque vagabundo para emoldurar o rosto perfeito, a
expressão de prazer que poderiam facilmente igualá-lo a um ser divino.

Porque de qualquer maneira sentia-se no céu exatamente onde estava.

— Seok... – o menor chamou pouco antes de gozar entre eles, sujando tudo.
Hoseok assentiu, as sobrancelhas se franzem. – Goza, amor.

— Porra, Hoseok! Porra! Filho de uma... – Tae quase se desesperou, o


vibrador dentro de si aumentou de intensidade e ele se puxou para fora,
respirando fundo.

Hoseok largou o controle e segurou as pernas de Yoongi para cima, fodendo


depressa, ondulando os quadris como um louco. Então o soltou de uma vez,
puxou-se para fora e se masturbou com força até gozar sobre a barriga
branquinha, gemendo arrastado.

Ele respirou fundo, tocando-se até sair à última gota. Yoongi raspou os
dedos sobre a porra e os lambeu, sugou com vontade. Taehyung tirou o
vibrador de dentro de si e deitou ao lado dele, se masturbando.

— Vem Hobi, dança em mim. – pediu agoniado, ajudando-o a montar em seu


colo, estocando fundo enquanto ele sentava e espalmava as mãos em seu
peito. – Me faz gozar, amor.

Hoseok penteou os cabelos úmidos para trás e assentiu se movendo devagar,


rebolando os quadris enquanto subia e descia no pau dele. Yoongi, ainda
grogue pelo orgasmo, se virou e deitou a cabeça no ombro de Taehyung todo
manhoso. Então, ambos assistiam a Hoseok dançar.

— Porra... Isso, devagar... O que-

Ele gemeu alto quando Hoseok girou em seu colo, ficando de costas sem o
tirar de dentro. Ele se empinou, dando a ambos a visão maravilhosa do pau
de Taehyung dentro de si e espalmou as mãos nas coxas do mais novo,
escorregando graças ao suor que gruda os pelos escuros a pele ainda mais.
Hoseok sorriu encarando-os sobre o ombro e começou a quicar devagar,
subindo e descendo, requebrando os quadris. Uma mão lhe acertou um tapa
enquanto a outra esmagou sua bunda entre os dedos, mas ele sabia a quem
cada uma pertencia sem olhar.

Ele nunca havia se sentido tão sexy como naquele momento.

Yoongi mordeu o pescoço de Taehyung, os dedos sujos da porra de Hoseok


foram oferecidos e o mais novo os sugou gemendo.

— Hobi... Hobi, eu vou gozar. – choramingou e Yoongi sorriu. – Hobi

— Dentro. – mandou e dobrou a perna esquerda, praticamente quicando no


pau de Tae. – Isso, amor... Me enche.

Taehyung o segurou pelos quadris, puxando para baixo enquanto estocava


para cima, gozando o mais fundo que podia, urrando de olhos fechados.
Hoseok o sentiu como gostava e começou a se masturbar, movendo-se mais,
prolongando o orgasmo do mais novo que xingou um palavrão.

Hobi gozou também, o corpo cansado pesou e ele se jogou ao lado do maior,
ofegante.

Os três ficaram quietos por alguns minutos. Ouvindo o som das ondas e das
próprias respirações altas. Yoongi foi o primeiro a erguer o corpo e procurar
pelo champanhe, bebendo direto da garrafa.

— Agora eu posso dizer que tive a melhor transa da minha vida. – Tae
murmurou com preguiça.

— Eu prometo que cada vez vai ficar melhor, a gente só precisa trabalhar a
dinâmica. – Hobi brincou e o abraçou.

— Estou com sede.

— Você acabou de beber meia garrafa de champanhe, Yoon.

— Sede de água, Tae.

— O mar está lá fora, fique à vontade.


— Você tem sorte que eu adoro o seu pau ou já tinha te dado um pé na bunda.

— Vem aqui, gatinho. – chamou com a mão. Yoongi usou a própria camisa
para limpar a barriga suja e deitou junto deles, encolhendo-se depois de
Hoseok segurar sua mão. – Ele gosta de carinho na barriga e de dar as mãos.

— E você gosta de carinho no cabelo. – Tae começou a alisar o cabelo dele.

— E do que você gosta?

— De estar onde estou agora. – sorriu. – É perfeito.

Então, ouviram passos.

— Jungkook eu acho melhor você esperar um pouco...

— Não consigo! Hobi-hyung eu preciso-

O garoto puxou o tecido que era como a porta da tenda e arregalou os olhos
quando se deparou com os três pelados e agarrados dentro dela.

— JUNGKOOK!

— AH! DESCULPA! DESCULPA! – ele se virou e cobriu o rosto com as


mãos.

— O que foi? – Jimin também abriu a tenda e assoviou. – Uau!

— Sai daqui seu depravado! – Taehyung atirou uma almofada nele.

Hoseok, morto de vergonha, vestiu a bermuda com pressa e saiu da tenda.

— Jungkook... Jungkook, para de cobrir o rosto.

— Hyung me desculpa! Eu não sabia! Eu juro que não sabia!

— 'Tá tudo bem, olha pra mim...


— Não dá! 'Tô com vergonha! Os hyungs estavam pelados! – ele pensou. – O
que estavam fazendo?!

— Jogando buraco. – Tae, usando sua bermuda saiu também. – E que buraco!

— Você é podre, sinceramente. – Jimin cruzou os braços. – Mas e aí, quem


foi o recheio?

— Hoseok. - Yoongi respondeu.

— Yoongi?! – Hobi o encarou e o menor deu de ombros. – Jungoo, a gente


tava transando, mas quando você chegou já tinha acabado, relaxa, ok?

— Minutos antes e você ia dar de cara com a minha bunda pra cima. – Tae o
provocou. – Relaxa garoto, a gente namora... Não é novidade nenhuma.

— Ah! Isso! – Jungkook tirou as mãos do rosto. Ele estava sorrindo, os olhos
escuros brilhavam. – Namoro! Olha! – mostrou para Hobi a mão, mostrou a
aliança. – Jimin me pediu em namoro e eu o pedi também!

Hobi sorriu, ele já sabia. Tinha ajudado Jimin com a compra em cima da
hora.

— E você está feliz?

— Muito! Eu corri pra contar! Por isso... Desculpa, hyung. – ficou


envergonhado.

— Parabéns casal! – Yoongi bateu palmas e foi abraçar Jimin.

— Sai pra lá com esses fluidos corporais. – fez careta.

— Ah, mas você vai dar um abraço na sua alma gêmea, não é? – Tae se
aproximou e ele negou. – Como assim Jimin?

— Taehyung, se você tocar em mim, eu vou te dar um soco!

— Venha aqui, Jimin-ah!


Então, ele começou a correr atrás de Jimin pela praia.

— Jungkook, você sabe que agora mais que nunca precisa ser sincero com
Jimin sobre o que sente, não é?

— Sei Yoongi-hyung. – assentiu. – Ele disse que me ama. – sorriu de novo. –


E eu também amo muito o Jimin-ssi.

— Eu 'tô muito feliz por vocês dois. – Hobi sorriu depois de Yoongi lhe
abraçar por trás. – As coisas vão dar certo, Jungoo. O hyung vai te ajudar.

— Obrigado, hyung.

— Jungkook! Me ajuda! – Jimin se escondeu atrás dele, estava fraco de tanto


rir. – ME DEIXA EM PAZ TAEHYUNG!

— Só um abraço meu caro amigo, você não me ama?!

— Acho melhor a gente subir e tomar um banho se ainda formos sair. –


Yoongi lembrou e Hobi assentiu.

— Vamos crianças.

— Criança?! – Tae cruzou os braços. – Eu não era criança há uns vinte


minutos enquanto você 'estava se acabando no meu-

— CALA A BOCA, TAEHYUNG!

Os outros quatros gritaram juntos. Tae fez um bico.

— Sou muito injustiçado.

A boate chamava Pop Up e por mais que suas atrações fossem voltadas ao
público LGBTQ+, era evidente que não apenas eles frequentavam o lugar.
Jungkook ficou encantado com a decoração e as luzes que faziam tudo
parecer um universo cyberpunk. Ocuparam uma das mesas da área VIP,
pediram bebidas e água – para Namjoon – e não demorou até estarem
brincando em conversas gritadas graças ao volume da música.

Taehyung, Hoseok e Yoongi estavam de pé próximos a varanda de proteção


que dava vista para a pista de dança, Namjoon continuava de pé e Seokjin
sentado de frente para ele ao lado de Jungkook e Jimin.

Quando um grupo de amigos passou, o que pareciam ser casais, uma das
garotas deixou cair algo no chão, próximo aos pés de Namjoon. Ele olhou
para o objeto e se abaixou para pegar. Depois, educadamente, se aproximou
da garota sorriu.

— Oi, você deixou cair. – mostrou o batom de embalagem vermelha.

— Ah, obrigado. – a garota também sorriu.

— Que porra é essa, Yerin?! – um cara se aproximou. Era da altura de


Hoseok, tinha cabelos descoloridos e sem cuidado algum puxou a tal Yerin
pelo braço.

— Eu deixei o batom cair e-

— Quem é você?! 'Tá cantando a minha namorada?! 'Tá a fim de apanhar


babaca?!

— Hey! – Jimin já estava de pé ao lado de Namjoon. – Abaixa sua voz, cara.

— Ah! – o cara riu. – Seu namoradinho veio defender?

— Cara, eu não quero confusão, ok? Só devolvi o batom que ela deixou cair.

— Kangin para com isso, ele não fez nada!

— Cala a boca! Acha que eu sou idiota?!

— Seria compreensível ela te fazer de idiota depois de ver como você é um


escroto com ela. – Jin se envolveu. – Tudo bem? – se virou para a garota. –
Precisa de ajuda?
— Ela não precisa de nada! – Kangin a puxou de volta. – Vocês deveriam
ficar longe, essa cidade não precisa de aberrações!

— Aberração vai ser quando eu quebrar seus dentes!

— Hey Jimin, calma. – Hoseok o puxou pelo braço. – Calma, ok? Deixa pra
lá, não compensa.

— 'Tá tudo bem com a garota? Ela precisa de ajuda? – Tae e Yoongi se
aproximaram.

— Desculpa, tá tudo bem. – ela sorriu sem jeito. Parecia assustada. –


Desculpe. – se curvou. – Obrigado.

— Vem logo! Eu já te falei pra ficar perto de mim, tá ficando surda?! - o cara
gritou.

— Meu deus que vontade de socar a cara desse filho da puta até ele
aprender a tratar uma mulher direito! – Jimin estava nervoso, Jungkook
sabia.

— Hyung... Se acalma. – pediu com receio.

— Jimin leva o Jungkook pra dançar vai! Vai logo. – Jin mandou empurrando
os dois para as escadas.

Jimin segurou a mão de Jungkook e o guiou até a pista, entre os corpos que
se moviam conforme a música alta. O semblante do mais velho ainda era
sério demais. Jungkook suspirou e chegou pertinho, abraçando-o pelos
ombros.

— Te amo, Jimin-ssi.

— Você vai dizer isso toda a vez que eu ficar nervoso? – suspirou também e
o abraçou de volta.

— Se isso te fizer sorrir. – deu de ombros.


— Eu olho pra você e quero sorrir, Jungkook. – afagou a cintura dele, sob a
camiseta preta. – Vamos esquecer aquele cara babaca, ok? Dança comigo.

Jungkook assentiu.

A música que começou fez Jimin sorrir e cantarolar baixinho, o corpo se


movendo devagar, conduzindo o do mais novo que deu uma risadinha.

— Sabe dançar música latina?

— Não, hyung. Parece difícil.

— Me deixa te levar. – pediu de um jeito que Jungkook apenas pode suspirar


apaixonado. – Meu bebê.

Jimin o guiou graciosamente, as mãos sempre tocando o corpo maior


enquanto o via se soltar aos movimentos sensuais que a voz de latina pendia
enquanto cantava. Não estavam preocupados com os outros corpos ou casais
que se divertiam ao redor porque estavam presos dentro da bolha só cabiam
os dois.

O mais novo ficou um pouco sem reação quando o mais velho girou o corpo
e encostou as costas contra seu peito. Jimin segurou seus braços e deitou a
cabeça em seu ombro, dançando junto com as batidas, descaradamente
provocando enquanto a bunda farta rebolava contra os quadris alheios.

Jungkook arfou baixinho e apertou as mãos, amassando o tecido da camisa


de botões que Jimin usava, judiando do tecido estampado com flores
coloridas.

— Hyung... Não faz isso.

— O que? – sorriu. – Dançar com você? – brincou. A mão esquerda, a que


mais levava anéis, acariciou a nuca do mais alto, adentrando os cabelos
escuros.

— Eu vou ficar... Duro. – sussurrou a última palavra.


— Se você ficar, nós dois vamos até o banheiro e eu te chupo gostoso. –
Jungkook quase gemeu. – Não quer? Não quer que o hyung cuide de você? –
Jimin sorriu ao sentir a ereção dele contra sua bunda. – Tão sensível.

— Eu queria ser menos sensível. – murmurou manhoso e Jimin se virou,


abraçando-o pelo pescoço.

— É porque você ainda tá descobrindo as coisas que gosta, bebê. –


explicou. – 'Tá excitado?

— Uhum. Um pouquinho.

— Só um pouquinho? – fez bico e beijou os lábios dele.

— Por favor, tenham decência. – Tae provocou passando por eles, acertando
um tapa na bunda de Jimin. – Rabudo!

— 'Tô de olho em você, Park Jimin. – Hoseok avisou apontando para os


próprios olhos e depois para ele. – 'Tô de olho.

— Yoongi-hyung, os tire daqui! – Jimin resmungou e Jungkook escondeu o


rosto em seu ombro.

— Vamos! Tem mais pista de dança pra lá! – Yoongi rebocou os namorados
para longe.

Distante do mais novo casal, Yoongi se sentia confortável para dançar junto
dos outros dois. Então, quando Enjoy The Silence começou a tocar, ele
gritou e sacudiu os braços animadamente. Hoseok riu da euforia do
namorado e Tae também. Os três começaram a dançar, o menor no meio.

Do auto, observando-os, Namjoon e Jin sorriram.

— Até que enfim. – Jin suspirou. – É tão bom ver eles felizes que eu não
penso muito sobre serem três.

— Isso te deixa pensativo? Eu também penso às vezes.


— Eu não sou do tipo poliamoroso, mas eu respeito demais quem é. O
importante é ser feliz. – deu de ombros. – No que você pensa?

— Que eu não conseguiria. Sou monogâmico. – bebeu o restinho da água.

— E aquele papo de sexo a três? – arqueou uma sobrancelha.

— Só pra não dizer em alto e bom som que a minha maior fantasia é fazer
amor com você de novo.

Jin recuou. O sorriso deu lugar a um bem mais contido.

— Namjoon...

— Eu sei, desculpa dizer isso... Eu só não sei calar a minha boca quando
quero muito alguma coisa. – lamentou. – Desculpa?

— 'Tá tudo bem. – assentiu e suspirou. Ele bebeu dois goles do drinque que
segurava e lambeu os lábios. – Eu e Sunmi... Demos um tempo. – admitiu. –
Por mais estranho que isso pareça diante das coisas que estão acontecendo
entre nós dois.

— Quer falar sobre isso?

— Falar sobre a minha namorada, nosso tempo e nossos problemas com o


cara que involuntariamente carrega parte da culpa deles? – ele sorriu. –
Melhor não.

— Eu não quero atrapalhar. Sinto muito.

— Eu sei que você não quer, não é algo que você tenha controle Namjoon.
Nós resolvemos dar um tempo por que... – Jin suspirou. – Aconteceu uma
coisa e nenhum de nós sabe como lidar com isso... A gente não se ama. Não
como as outras pessoas costumam dizer amar quando isso acontece.

— 'Tô tentando entender, quem sabe possa te dar um conselho bom.

— Você quer me ajudar? – Namjoon assentiu. – Diga que ainda tem aquele
lingerie, aigo.
Namjoon não pode segurar o sorriso, muito menos Jin. Eles trocaram um
olhar cúmplice enquanto riam um pouco, envoltos no momento que mais
ninguém tinha o direito de invadir. A mão de Namjoon, que segurava a barra
de ferro da varanda de proteção, tremeu quando sentiu o toque dos dedos de
Jin. Ele olhou para o contato e engoliu a saliva.

Seokjin o tocou com suavidade, raspou a ponta dos dedos pelas costas das
mãos dele até prender o polegar com carinho.

— Jin... O que você está fazendo?

— Te tocando. – sorriu. – É tão ridículo que apenas isso me deixa eufórico.


Sério, que feitiço você jogou em mim?

— Eu não acredito em feitiços, você sabe.

— E no que você acredita Namjoon-ah? – o encarou.

— Na probabilidade. – assentiu.

— E o que exatamente ela está dizendo agora?

— Que nós dois vamos recair. – suspirou. – Eu vou te tirar daqui, te levar
pra casa e fazer amor com você.

— E o que nos impede?

— É mais correto perguntar o que não nos impede, Jin. – ele correspondeu
ao toque, entrelaçando os dedos aos do mais velho. – Eu fico pensando que
seria a última vez e isso me deixa com medo.

— Medo de nunca mais acontecer. – completou. – A gente podia só ser


inconsequente.

— Eu já fui inconsequente demais com você, sobre você. Eu não posso mais
fazer isso, hyung.

— Namjoon, eu quero ficar com você.


— E depois que isso acontecer... O que a gente faz?

— Não faz nada! – deu de ombros. – Eu não sou perfeito, eu posso ter
minhas recaídas e culpar meu mapa astral depois, júpiter retrógrado ou
qualquer coisa! – Namjoon sorriu. – Se todas as pessoas fazem isso, por que
eu não posso fazer também?

— Eu também quero ficar com você, Seokjin. – abaixou o rosto e respirou


fundo. – Eu quero te levar pra casa, quero beijar cada pedaço do seu corpo...

— Como antes. – abaixou o tom. – Como naquela vez no motel...

— Jin. – implorou com o olhar. Ele estava vulnerável, com saudade e ficar
excitado não ajudaria em nada. – Não faz isso... Com a gente.

— Eu não consigo esquecer momento nenhum, mas esse... Namjoon eu tive


de... – ele olhou ao redor e se aproximou, fez com que o corpo ficasse entre
o do maior e a barra de proteção. – Eu tive de me virar sozinho duas vezes
só hoje por lembrar aquele dia.

— Compartilho do seu desespero. – sorriu com o canto dos lábios e evitou o


olhar nos olhos.

— Você ainda tem aquela lingerie? – perguntou de novo. – Olha pra mim,
Namu.

— Porra, você quer me foder? – reclamou antes de olhá-lo nos olhos. –


Hyung...

— Eu tenho certeza que aquela cinta liga continua linda nas suas coxas, que
o branco ainda é a cor perfeita pra sua pele. Eu ainda lembro o sabor da sua
pele. – a mão livre segurou a regata do maior, amassando o algodão entre os
dedos. – Vamos ser inconsequentes só por hoje?

— E depois? – havia desejo no olhar de Namjoon, mas muito além, havia


medo. – Depois?

— Depois... Eu não posso te dar nada. Estou sendo claro com você da forma
que eu sempre quis que você fosse comigo. – disse com sinceridade. – Eu só
posso te dar o agora. Ele se aproximou, os lábios carnudos tocaram os de
Namjoon, beijaram com delicadeza enquanto a mão continuava presa a
regata. – Como da outra vez... Você se entrega pra mim. Eu quero beijar suas
pernas, quero morder suas coxas e lamber cada pedaço de você, te fazer
chover pra mim só com isso. Namjoon, ninguém no mundo conhece o seu
corpo como eu, ninguém te faz amor como eu faço. – Namjoon mordeu o
lábio inferior. – Lembra de nós dois naquele motel, dos nossos corpos fracos
demais para continuar... Mas sendo absolutamente nada porque o tesão não
deixava a gente parar. – sorriu um pouco. – Você me disse que não aguentava
mais enquanto eu te chupava ou te colocava de quatro pra mim. Namu... –
sussurrou. – Você choramingando sobre não poder gozar, sobre o quanto eu
te deixava louco.

— Droga, Seokjin!

Namjoon praguejou um pouco antes de segurá-lo pelo pulso, puxando em


direção aos banheiros da área VIP. Entrou no primeiro que achou vago,
trancou a porta com pressa e pressionou o mais velho contra a parede para
beijá-lo.

O drinque virou, a bebida doce e esverdeada foi direto ao chão, quebrou o


copo de acrílico em dois. As mãos de Jin agarraram as costas largas,
apertaram os músculos firmes, já as de Namjoon prenderam a cintura estreita
num abraço firme.

Eles se beijavam completamente entregues à saudade incontrolável que os


dominava, sem dar tempo para pensar direito, afoitos. Até suas respirações
se perdiam em meio ao ósculo quase violento.

Jin o empurrou para a parede exposta com força, Namjoon gemeu pela dor e
o recebeu outra vez. O mais velho segurou sua coxa, afundou a carne macia
com as unhas curtas puxando para cima, para se prender contra o próprio
quadril.

As mãos do mais novo se apressaram para abrir o jeans do mais velho,


tremendo enquanto abria o cinto de couro e abaixavam o zíper para expor a
cueca azul.
Jin também abriu a calça dele, a mão apressada invadiu a cueca branca e
Namjoon gemeu completamente aliviado ao sentir os dedos ao redor de sua
ereção, o polegar se esfregando sobre a glande inchada.

— Hyung...

— Minha carteira. – Jin sussurrou, a boca ocupada em chupar a pele do


pescoço alheio. – Camisinha.

Namjoon assentiu e buscou a carteira no bolso traseiro da calça dele,


trazendo para frente enquanto abria para procurar o preservativo.

Mas havia uma foto de Sunmi ali.

E os dois ficaram imóveis.

Ela sorria, o cabelo longo preso em tranças desfiadas.

Deus do céu, ela era linda.

Namjoon abaixou a perna e fechou a carteira, as mãos trêmulas tocaram o


peito de Jin. Depois afastou a mão alheia e fechou a calça.

— A gente não pode fazer isso, hyung.

— Eu e ela demos um tempo. – repetiu. – Eu disse que ia viajar com vocês,


com você.

— Hoje mais cedo. – Namjoon suspirou. – Você disse algo... Sobre


cegonhas. – ele lambeu os lábios. – Eu não acho que mereça saber de tudo
que está acontecendo na sua vida, Jin, mas esse tempo é só porque vocês
estão assustados. – sorriu um pouco. – Você é um homem incrível.

— Não. – negou. – Eu não sou. Eu não faço ideia do que fazer.

— Você faz sim, mas está assustado porque fazer isso significa abrir mão...
De mim. Eu não mereço ser uma opção, Jin. Eu te amo, mas eu preciso me
amar e eu não aprendi ainda.
— Namjoon... – ele respirou fundo. Apoiou a testa ao ombro do mais alto e
mordeu o lábio inferior. – Por favor, não se afaste.

— Eu não vou. – negou e o abraçou apertado, aspirando o cheiro dele, sentia


vontade de chorar. – Eu não poderia. Eu amo você, hyung.

Hoseok ficou desconfiado quando Namjoon apareceu e logo em seguida


Seokjin, mas não disse nada. Os outros cinco já estavam ao redor da mesa
alta, tinham bebidas geladas em suas mãos e conversavam sobre diversos
assuntos.

Mas o tal Kangin continuava encarando Namjoon, o provocando.

— Deixa isso pra lá. – Yoongi abriu a garrafa pequena usando o tecido da
camiseta. – É só um bando de babaca.

— Eu sei, eu sei. – Jimin sorriu de um jeito calmo e logo seus braços


estavam ao redor de Jungkook. – Nada de brigas.

— Que bonito, eu amo muito a paz. – Tae suspirou fingindo e ganhou um


rolar de olhos de Hoseok, que estava sentado sobre sua coxa.

Por que eu 'tô achando que vai dar merda? – Namjoon suspirou ajeitando a
touca que usava.

Então, os outros caras voltaram até eles. Jin sorriu cordialmente, mas nem
isso mascarava sua falta de paciência.

— Você mexeu com a minha garota! – voltou a insistir. Kangin tinha nas
mãos uma latinha de cerveja. – Seu babaca! – ele parecia bêbado.

— Oh seu pau no cu! – O Kim mais velho entregou a garrafa que segurava
para Yoongi. – Ninguém aqui quer confusão, cai fora!

— Cai fora você, playboy! Seu amigo mexeu com a minha namorada!
— Puta que pariu... Eu sou gay caralho, eu só entreguei o batom que ela tinha
deixado cair. – Namjoon repetiu.

— Além de playboys, são um bando de bixas.

— Ok, segura o meu Jungkook. – Jimin entregou Jungkook a Namjoon e


chegou pertinho do tal Kangin, mesmo mais baixo, não se mostrou
intimidado. – Diz de novo seu filho da puta!

— Vai tomar no cu seu viad-

O outro homem não terminou a frase porque Jimin tinha o calado com um
soco.

Em segundos virou um empurra-empurra, Jungkook se meteu quando viu


Jimin quase levar um tapa. Depois foi a vez de Namjoon. Yoongi também,
Seokjin se envolveu gritando que queria uma frigideira. Hoseok suspirou
resignado e Taehyung deu um beijinho em seu ouvido antes de sussurrar:

— Como eu disse: amo a paz. Mas não resisto a uma briga.

— Vamos separar. – pediu.

— Claro que sim, mas vou aproveitar para dar uns tapas enquanto isso. –
sorriu e piscou. – Principalmente na bunda do Jimin.

Hobi rolou os olhos de novo e beijou a testa dele antes de fazer uma careta
para a cena de Yoongi pendurado nas costas de um dos caras rindo
descontroladamente enquanto batia na cabeça dele com a garrafa vazia.

Taehyung gargalhou.

Jungkook acordou sozinho, mas procurou Jimin na cama antes de erguer o


tronco e olhar ao redor. O dia estava ensolarado, a luz conseguia invadir o
quarto entre as frestas da cortina clara. Ele coçou os olhos e bocejou, buscou
o celular sobre o móvel, mas achou um bilhete escrito à mão.
"Escova os dentes e vem tomar café."

A letra de Jimin era fácil de reconhecer, então Jungkook ficou de pé e


arrumou a cama, dobrou os lençóis e até puxou as cortinas. Ele escovou os
dentes, lavou o rosto e trocou o pijama por roupas mais frescas antes de sair.

A casa estava silenciosa ao ponto de fazê-lo acreditar estar sozinho, mas


bastou chegar à sala de estar para entender o que os mais velhos esperavam
por si.

Todos usavam chapeuzinhos de festa, havia balões pendurados, uma


decoração simples, mas bonita. Jungkook sorriu e Jimin puxou a música de
aniversário, chegando perto dele com o bolo nas mãos.

Hoseok foi o primeiro a lhe dar um abraço apertado, dando também


beijinhos carinhosos que o faziam rir.

— Feliz aniversário, Jungoo! – o abraçou mais.

— Deixa um pouco pra mim Hoseok, sai! – Jin foi o segundo, até ergueu o
garoto do chão enquanto o apertava nos braços. – Feliz aniversário JK!

Um a um, abraçaram o caçula e desejaram coisas boas. Então, Jimin pediu


que ele soprasse as velas do bolo com temática do Homem de Ferro e o foi o
último a abraçá-lo, beijando-o com carinho antes de sujar sua bochecha com
o glacê amarelo.

— Feliz aniversário, bebê. O seu appa ligou bem cedinho, ele vai retornar
daqui a pouco. – explicou. – Abre os seus presentes.

— O meu primeiro! – Jin gritou e entregou ao mais novo um embrulho rosa,


pequeno e bem feito. Jungkook abriu e arregalou os olhos ao ver as versões
mais recentes de seus dois jogos favoritos.

— Jin-hyung! Muito obrigado!

— Ainda bem que você não comprou o mesmo que eu! – Taehyung disse
entregando um presente ainda na sacola de uma loja.
— Tae-hyung! Obrigado! Vai jogar comigo?

— Claro! Esse é o intuito.

— Feliz aniversário Jungkook. – Namjoon entregou o embrulho simples. Se


você não gostar, pode trocar depois.

Jungkook sorriu, eram três livros com capas rústicas.

— Acho que você vai gostar de Percy Jackson. – explicou.

— Obrigado Namjoon-hyung.

—Aqui, parabéns meu pequeno. – Yoongi também entregou algo. – Você


gosta tanto de usar roupas iguais às minhas. – ele sorriu ao vê-lo eufórico
com as roupas pretas e os chapéus da mesma cor. – Jimin me disse os
tamanhos certos.

— Obrigado, hyung!

— Aqui o meu presente! E eu não quero te ouvir dizendo: hyung é muito


caro. – Hoseok colocou a caixa média sobre as coxas do garoto.

Jungkook assentiu e desfez o laço amarelo, abrindo com pressa. Seus olhos
se arregalaram quando conferiu o conteúdo. A câmera profissional e mais
três lentes originais.

— Hobi hyung! – exclamou e Hoseok negou beijando seu cabelo. – Eu...


Obrigado hyung... Muito obrigado.

— Minha vez! – Com licença. – Jimin pegou a caixa com cuidado e colocou
sobre a mesa. – Parabéns, bebê.

Jungkook desfez o embrulho ao redor da caixa pesada e não conseguiu parar


de sorrir ao ver a caixa de música que conhecia bem. A mesma que havia
mostrado há Jimin dois meses antes. Feita a mão.

— Obrigado Jimin-ssi. – se curvou para beijar os lábios dele. – Eu adorei.


— O outro presente vou te dar depois. – sorriu e o mais novo ficou corado. –
Vamos comer!

— Graças a deus! Não aguentava mais!

— E você está se divertindo? – Jungkook mordeu a unha do polegar.

— Estou appa. Eu ganhei muitos presentes...

— Eles gostam muito de você, filho.

— Preciso te contar uma coisa também. – sorriu.

— O que? – a voz dele pareceu preocupada.

— Jimin-hyung e eu estamos namorando. Desde ontem à noite. – a animação


fez Chinrae sorrir do outro lado da linha. – Ele até me deu uma aliança appa.

— Sério? Meu filhão agora tem um namorado? Vocês dois são o casal
mais bonito do mundo, Jungkook.

— Ah appa, para com isso. – riu baixinho, o nariz se enrugou enquanto ele
negava. – Eu 'tô feliz. O Jimin também.

— Isso é importante. Agora vocês precisam ser maduros para fazer dar
certo. Conversar e-

— Acho que a gente vai transar.

Chinrae parou de falar, levou alguns segundos até Jungkook ouvi-lo respirar
outra vez.

— Hm... Eu achei que já tinha acontecido... Aqui em casa...

— Quase. Mas não aconteceu. Ele disse que tem outro presente pra me dar...
Eu 'tô nervoso appa.
— Filho... – ele suspirou. – As coisas acontecem naturalmente, eu sei que
não adianta te dizer pra ficar calmo, mas estou sendo sincero... Sexo não
precisa ser sempre tão complicado.

— Como foi com senhor? A primeira vez?

— Ah... Foi... Desastrosa. Nem eu ou a sua mãe sabíamos direito o que


estávamos fazendo. Tanto que fizemos você. – brincou.

Jungkook riu outra vez, baixinho. Ele estava encolhido no meio da cama que
dividia com Jimin.

— O senhor não fala tanto sobre ela quanto antes... Mas eu entendi que te
machuca appa.

— Eu falo se você me perguntar. É a sua omma.

— Eu não tenho omma. – negou, seus dedos da mão livre começaram a


brincar com as unhas dos pés. – Só tenho o senhor.

— Jungkook...

— Eu não tenho. Se tivesse ela ligaria hoje... Ou nos outros aniversários. Eu


não quero mais um bolo ou presentes como antes appa, eu nem quero que ela
ligue mais. – deu de ombros.

— Por favor, não pense sobre isso hoje... É o seu dia especial.

— Tá bem, desculpa? – murmurou. – Appa, eu te amo muito.

— Também amo você meu menino de ouro. – Jungkook sorriu. – Aproveite


o seu dia ao lado de seus amigos e do seu namorado bonitão. – os dois
riram. – E, por favor, não esquece... Você é tudo na minha vida filho, tudo.

— Não vou esquecer appa. Tchau.

— Tchau.
Jungkook desligou e encarou o celular em silêncio. Entrou em todas as redes
sociais que possuía, verificou as mensagens e por fim deu de ombros como
se esse simples ato fosse capaz de diminuir a mágoa que apertava seu
coração.

Hyo não o amava.

E isso o fazia inseguro demais.

Se a mulher que o colocou no mundo não o amava, porque outras pessoas o


amariam?

— Hey!

Jimin entrou no quarto sorrindo e fechou a porta do banheiro atrás de si.


Estava cheiroso, o cabelo ainda úmido e a pele morna pelo banho recente.
Ele engatinhou na cama e abraçou Jungkook por trás, passou a deixar
beijinhos por seus ombros nus e as costas expostas pela ausência de camisa.

— Eu já te disse que te amo hoje?

— Ainda não. – negou.

— Que erro meu... – fez bico. – Eu te amo, Jeon Jungkook-ssi.

Jungkook se encolheu com os beijinhos e o encarou de lado.

— Jimin... Obrigado pelos presentes, por organizar a festinha pra mim... Por
estar comigo.

— Você não tem de me agradecer, eu faço essas coisas porque preciso te ver
sorrir... Assim eu sinto ainda mais vontade de viver, sabia? – o abraçou mais
forte. – Falou com Chinrae-hyung?

— Sim, falei que estamos namorando também. Tem problema?

— Nenhum. – negou. – Olha os meninos saíram para almoçar fora, a gente tá


sozinho. Quer assistir O Bom Dinossauro e ficar namorando?
— Quero.

Jimin ficou de pé para apagar as luzes do quarto e fechar as cortinas, ele


ligou a televisão grande e voltou para a cama, para debaixo do lençol onde
Jungkook o esperava ansioso. Deitaram abraçados, o mais novo com a
cabeça sobre seu peito, satisfeito com o carinho que os dedos pequenos
faziam em suas costas nuas.

E por meio do filme, quando Spot mostra o campo de vagalumes, Jimin


sentiu Jungkook tremer em seus braços e ficou confuso.

— Jungkook? – chamou baixinho, mas o maior negou e escondeu o rosto para


que não o visse. – Bebê? O que foi?

— Não. Nada. – negou. A voz dele estava embargada. Jimin ficou


preocupado.

— Olha pra mim, por favor. – Jungkook fungou e o encarou. Os olhos


escuros estavam marejados, a ponta do nariz avermelhada. – Meu amor, o
que foi? Você 'tá sentindo alguma coisa?

— Não...

— Eu fiz alguma coisa? Por favor, me diga o que você tem. Por favor? – o
segurou pelo rosto com carinho.

— É meu aniversário... E ela não se importa...

— Ela? – franziu o cenho.

— Minha omma. – murmurou. – Ela não se importa.

Jimin entendeu, seu coração ficou apertado enquanto o trazia para dentro do
abraço. Não disse nada, mas deixou Jungkook chorar baixinho. Sua razão lhe
dizia para agir, para tirar aquela tristeza dele... Mas o coração vencia porque
tudo aquilo não era sobre si, não era seu direito se envolver.

Jungkook, ainda fungando, o beijou devagar.


Abraçou seu pescoço e arfou quando sentiu as mãos de Jimin afagando a
lateral de seu corpo com carinho. Estavam deitados outra vez, o menor com
as costas sobre o colchão.

— Eu te amo Jungkook, amo muito. Eu sei que isso não é capaz de suprir
esse vazio, mas eu 'tô aqui ok? – beijou a ponta do nariz dele. – Eu sou seu.

— Faz amor comigo? – pediu baixinho. – A gente só faz amor com quem a
gente ama e eu te amo, hyung.

Jimin o encarou nos olhos e suspirou. Jungkook sentiu medo de ser rejeitado,
o coração batia rápido demais. Quando o mais velho ficou de pé ele quis se
encolher envergonhado, achou que seria deixado sozinho, mas Jimin foi até o
banheiro e pegou na segunda gaveta uma camisinha, depois caminhou até a
porta do quarto e a trancou. Acendeu as luzes, desligou a televisão e voltou
para cama.

— Você confia em mim? – perguntou sobre o corpo maior, pairando os


lábios acima dos lábios alheios.

— Confio. – assentiu e sorriu quando Jimin segurou sua mão, beijando


demoradamente.

Jimin o beijou suavemente, deixou o corpo pesar sobre o dele e sorriu ao


sentir as mãos trêmulas em suas costas. Nunca havia beijado daquele jeito,
parecia até que os corações batiam juntos, sincronizados.

Logo o lençol estava no chão e as mãos acharam caminhos a seguir, tocando


e sentindo como a primeira vez, porque aquela experiência não envolvia só a
inexperiência de Jungkook, mas também os cuidados de Jimin.

Ele ainda temia fazer tudo errado, enquanto fazia absolutamente tudo certo.

— Relaxa... 'Tá tudo bem. – sussurrou quando Jungkook ficou tenso. – Eu


também tô nervoso.

— Mas você já fez isso antes, Jimin. – sussurrou enquanto Jimin tirava sua
bermuda e cueca.
— Eu nunca fiz amor com ninguém. Com você eu quero fazer. – sorriu e
começou a beijar desde a panturrilha até a coxa dele, sobre a tatuagem do
apanhador de sonhos. – Você nunca me disse o motivo dessa aqui.

— Pesadelos. – disse e fechou os olhos, a boca de Jimin. A respiração dele


contra sua pele. Tudo o fazia tão sensível. – Tinha muitos.

— Eu vou cuidar de você, amor. Eu vou ser o seu apanhador de sonhos. –


beijou sobre o umbigo dele, raspando os lábios desde ali até a virilha onde
os pelos cresciam de novo.

— Jimin...

Jimin sorriu e o lambeu desde a base até a glande úmida, vendo-o tremer
enquanto agarra a capa do colchão. Chupou-o devagar, espalhou saliva
misturada ao pré-gozo enquanto Jungkook gemia e se contorcia, enquanto
suas mãos tatuadas agarravam-lhe o cabelo para descontar ali o prazer que
sentia. Se afastou só para se livrar da bermuda que usava, ficou nu e
Jungkook engoliu a saliva de forma nervosa olhando-o inteiro.

— Você é lindo, Jimin... Muito lindo.

— Você também é. – ele deitou ao lado do mais novo.

— O que eu tenho de fazer? Me diz...

— Esperar um pouquinho. – ele dobrou a perna e Jungkook viu quando


colocou lubrificante em dois dedos. Mas antes de ficar ainda mais ansioso,
Jimin usou os dedos em si mesmo. – Eu preciso me preparar.

— Mas... Eu... Eu achei que... A gente...

— Calma, não fique nervoso. Nós vamos ter a vida inteira para fazer de
outro jeito, ok? – ele mordeu a própria boca e Jungkook gemeu apenas por
vê-lo daquele jeito. Jimin conseguia ser mais bonito a cada segundo. –
Primeiro a gente faz assim, tudo bem?

— Uhum. – assentiu.
Jimin o beijou apressado, os dedos tratando de o preparar, espalhando mais
do lubrificante. Depois abriu a camisinha e Jungkook a desenrolou sem muita
prática em si, até a base.

— Vem bebê. – o chamou com carinho, fazendo-o ficar entre suas pernas.
Jimin o segurou pela base e encaixou em si. – Devagar.

— E se eu te machucar?!

— Você não vai, amor. – sorriu. – Empurra pra dentro de mim, devagar.

Jungkook assentiu e aos poucos seu rosto se transformou em uma expressão


linda, a mais linda que Jimin já havia visto. Os braços fortes tremeram, o
gemido engasgado saiu baixinho.

— Jimin... – sussurrou.

— 'Tá tudo bem, eu juro. Você não 'tá me machucando, amor. – o abraçou
pelo pescoço e olhou para baixo. – Porra, você 'tá tão duro, Jungkook. Diz
pra mim o que 'tá sentindo.

— É gostoso. – murmurou de um jeito manhoso. – É gostoso hyung,


apertado... Eu posso mexer?

Jimin sorriu e mordeu o queixo dele, chupando a pele em seguida.

— Você quer mexer? Quer bombear dentro de mim? Hein, bebê?

— Jimin... – ele assentiu e Jimin levantou uma das pernas, dando mais
liberdade aos movimentos. – Hyung... Amor... – ele abriu a boca e aumentou
o ritmo, as estocadas eram erráticas, apressadas. Jungkook só sentia que
precisava continuar até aquele orgasmo prometido pelas sensações em seu
corpo chegar.

Jimin o sentiu mais afobado, mordeu o lábio inferior por causa da dorzinha
que o descontrole do mais novo causava vez ou outra, mas usou a mão
direita para provocar um dos mamilos dele.

— Vem pra mim, amor.


— Mas... Vo-Você... Você não...

— 'Tá tudo bem. – assentiu. – Vem pra mim, goza pra mim.

Jungkook franziu o cenho e gozou dentro da camisinha. Seu corpo tremeu, as


pernas perderam a força. Aquilo era sublime. Ele continuou estocando até
desabar sobre o corpo de Jimin, ofegante e suado.

Jimin, sorrindo, o abraçou e afagou os cabelos grandes. Ele não percebeu


que estava chorando até uma das lágrimas escorrer pela lateral de seu rosto.

— Eu te amo, Jungkook. – sussurrou. – Eu te amo demais.

Jungkook, ainda grogue pelo orgasmo, o abraçou mais forte e assentiu.

— Eu te amo mais. E vou te amar pra sempre.

Jimin assentiu e segurou o choro.

— Por favor... Me ama pra sempre. - sussurrou e fechou os olhos.

— Você vai mesmo fazer isso comigo, Yoongi?

— Eu acho que isso não é coisa de quem diz amar. – Jin provocou.

— Seok, me perdoa? – ele fez um bico.

— Eu não perdoaria. – Tae bebeu mais um gole do vinho.

— Vai logo, porra! – Jimin exclamou.

— Desculpa, amor.

Ele disse antes de jogar a carta com +4.

Era tarde da noite, o antepenúltimo dia dos sete naquela casa e no litoral.
Estavam na segunda garrafa de vinho. Havia meia pizza esquecida sobre a
pia da cozinha e latas de cerveja empilhadas no canto da sala de estar.

Namjoon e Yoongi estavam sentados no chão, Jin sozinho em uma poltrona,


Jimin no sofá menor com Jungkook encolhido como um coala em seu colo.
Hoseok e Taehyung no sofá maior.

Depois de comprar as oito cartas, Hobi xingou ao ver Seokjin gritar Uno e
vencer a partida. Yoongi tentou agradá-lo, mas tudo que recebeu foi um bico
malcriado.

— A gente precisa fazer isso mais vezes, esse retiro. – Namjoon comentou.

— Eu aprovo. – Jimin beijou o cabelo de Jungkook e sorriu.

— No próximo a gente pode esquiar. Eu gosto de frio.

— Gosta porque no frio inventa que tomar banho é exagero, seu porquinho.

— Jin-hyung me deixa em paz! – Yoongi ralhou.

— Deixa o meu polenguinho quieto, hyung.

— Tae, sério, você vai dormir na praia hoje. Sozinho!

Taehyung o puxou para seu colo.

Logo começaram a falar ao mesmo tempo, dando razão ao caos que eram
juntos. Hoseok acertou uma azeitona na cabeça de Jimin, mas Jungkook o
defendeu dizendo que foi um acidente. Namjoon assustou Yoongi usando um
pedaço de corda e Taehyung foi quem gritou assustado.

Jin, observando-os, respirou fundo.

— Eu preciso contar uma coisa.

Os outros seis o encararam.

— Sunmi 'tá grávida. – ele respirou fundo. – Menos de dois meses, a gente
ainda não sabe o que fazer... Ela me pediu um tempo.
Ninguém disse nada.

Jin sorriu sem jeito.

— Por favor, digam alguma coisa. Façam piada, qualquer coisa... Eu 'tô
apavorado, eu não quero silêncio. – ele ficou nervoso, as mãos se apertaram.

Yoongi assentiu.

— Venha aqui, hyung.

Chamou e Jin foi até ele, tomando lugar no meio do sofá enquanto os outros
seis ficavam ao redor, pertinho dele. Namjoon não sabia bem o que fazer,
mas sua mão segurou a de Jin com força.

— Acho que a gente vai ser pai. Os sete. – Hoseok sorriu. – Ou você acha
que vai passar por isso sozinho? Se a noona optar por ter esse bebê, nós sete
seremos pai.

Jin riu um pouco, mas tudo virou um choro nervoso, algo que ele vinha
segurando há dias.

Jimin beijou seu cabelo demoradamente.

— Hn, menos eu. – Jungkook sorriu atrevido. – Eu vou ser irmão mais velho.

Eles riram.

E tudo bem não estar tudo bem, desde que estivessem juntos.

Os sete.

Que alívio serem sete.

#PillowFic
30 - cidade do paraíso

NOTAS DA REPOSTAGEM: por favor, não dê spoiler da história nos


comentários. se isso acontecer, o seu comentário será apagado e você será
bloqueade para não comentar mais.

🌙☀⭐

Enquanto Seokjin ainda fungava baixo, os outros seis continuavam ao redor


dele mais protetores que nunca.

— Como Sunmi-noona está? – Jimin perguntou de forma cuidadosa.

— Nós brigamos. – Jin suspirou. – Eu fiz parecer que deveríamos ficar


juntos só por causa da gravidez, como se só isso fosse motivo suficiente. Ela
ficou puta...

— Com razão. – Yoongi assentiu.

— Com toda a razão. – o mais velho concordou. – Fiquei assustado pra


caralho. Eu nem sei cuidar de mim direito, imagina outra pessoa que vai
depender de mim?!

— O hyung cuida da gente. – Jungkook sorriu. – Meu appa me disse que só


soube como ser pai na prática. – deu de ombros. – Quando teve de cuidar de
mim.

— Você vai ser incrível em qualquer coisa que fizer, Seokjin. – Namjoon
apoiou o queixo sobre a coxa dele e sorriu. Seus olhos estavam marejados e
só então os outros cinco se deram conta de como toda aquela situação
deveria ser complicada entre ele e Jin. – Porque você é incrível.

— Namjoon...

— Esse bebê tem sorte... Ele vai ter um pai maravilhoso, uma família linda
e-
Namjoon arfou baixo e soltou a mão de Jin. Ele tentou sorrir de novo, mas
sentia vontade de chorar. Ninguém interferiu quando ele se retirou da sala em
direção a saída que dava para praia.

— Eu deveria ir atrás dele. – Jin sussurrou. – Mas eu não posso.

— Namjoon precisa ficar sozinho agora, mas ele vai ficar bem. – Hoseok
beijou o cabelo do mais velho. – Todos nós vamos.

Jin assentiu e respirou fundo.

Quase uma hora depois, enquanto Taehyung e Jungkook escolhiam no


cardápio de um aplicativo o melhor frango frito para pedir, o Jimin viu Jin se
afastar para fazer uma ligação, então seguiu Hoseok e Yoongi até a cozinha.

Ele cruzou os braços e encostou o corpo ao batente da porta, seus


pensamentos eram um misto do que tinha acontecido mais cedo com
Jungkook e tudo que escondia dele sobre Chinrae e Hyo.

— Rolou?

Yoongi estava o encarando, havia um sorrisinho gengival em seus lábios.

— O que?

— Você e o Jungkook! Rolou? – arqueou uma sobrancelha.

— Rolou. – sorriu também. Hoseok, que fingia não ouvir nada, se virou de
uma vez para eles.

— E como foi?

— Yoongi! A gente não quer saber sobre isso.

— A gente? Eu quero saber sim, fale por você! – deu de ombros para o
namorado. – Foi romântico? – Hobi encarou Jimin com seriedade.

— Foi! Meu Deus, Hobi-hyung para de me olhar assim! 'Tá me assustando.


Eu não o machuquei, não! – o bico que puxou seus lábios era adorável.
— Por que ele não me contou? - Hobi ralhou.

— Eu acho que ele ainda não teve tempo, hyung. – rolou os olhos. – Rolou
uma vez só também.

— Ok. – assentiu. – Vou pegar sua carteira Yoongi. – anunciou saindo da


cozinha.

— Relaxa, ele sabe que você não é um babaca. Hobi tem problemas nas
primeiras vezes. – suspirou. – Eu vou falar com ele.

— Eu acho lindo que o hyung proteja o Jungkook, mas ele tem de entender
que Jungkook é adulto e eu também. – descruzou os braços.

— Ele entende. Tem a ver com o pai dele... – Jimin franziu o cenho. – Mas
ele entende. Acho que Hoseok desenvolveu esse sentimento por Jungkook
porque é algo que ele sempre quis ter com o próprio pai. De qualquer forma,
relaxa. A gente tá feliz demais por vocês dois! – sorriu.

Na sala, sentados lado a lado, Jungkook e Taehyung debatiam sobre qual era
o melhor tempero para frango frito enquanto usavam o celular de Yoongi
para fazer o pedido.

— Eu prefiro esse com gengibre e mel.

— Mas aí não vem crocante. Esse aqui é melhor. – Tae digitou algo.

— Pede logo os dois!. – Hoseok disse passando por eles, mas sem olhá-los
direito.

Os mais novos se encararam e deram de ombros.

— É melhor arroz do que macarrão, mas eu vou pedir os dois. – Tae sorriu.
– Hobi gosta mais de macarrão.

— Hyung... – chamou. – Não notou nada diferente em mim, não?

Jungkook esperou até que o mais velho o encarasse, então ele sorriu e ajeitou
os óculos empurrando para cima. Tae franziu o cenho e negou.
— Era para notar?

— Ah. – ele negou e o sorriso diminuiu. – Não, deixa.

— Você precisa parar de fazer essa carinha de coelho abandonado, isso fere
a minha pose de insensível. – bufou. – O que foi?

Jungkook mordiscou o lábio e depois riu um pouquinho.

— Eu sou só meio virgem agora.

Tae levou dois segundos para entender, então arregalou os olhos e depois
largou o celular de qualquer jeito com pressa sobre o sofá.

— Ai meu deus! – se agitou e segurou Jungkook pelos ombros. – Rolou?

— Uhum! De tarde! – assentiu eufórico. – Quando vocês saíram.

— Não sei como reagir. – ele riu e Jungkook também. – Quer contar como
foi?

— Eu quero... Eu preciso saber se fiz tudo certo.

— Jungkook, ninguém faz alguma coisa certa nas primeiras vezes e eu não 'tô
falando unicamente de sexo. – ele se ajeitou no sofá e gesticulou. – Como
foi?

— Tinha acontecido... – ele negou. – Não, vou começar de outra parte! –


assentiu. – Eu pedi pra ele fazer comigo, mas eu pensei que ele negaria como
das outras vezes. Diria que ainda não é o momento. Então quando ele pegou
a camisinha e acendeu a luz o meu coração quase saltou pra fora do meu
peito, hyung. – Tae sorriu. – Jimin foi carinhoso e paciente e eu sinceramente
não acho que ele sentiu muito prazer como eu senti... Eu fiquei com medo de
machucá-lo e-

— Espera. – estendeu a mão. – Você foi ativo? – Jungkook corou e assentiu.


– Por essa eu não esperava.

— Nem eu! Será que ele não quer-


— Ele quer. – cortou. – Garoto, Jimin quer muito e isso fica cada dia mais
claro quando vocês dois ficam se pegando por todos os lados, mas ele sabe
que uma primeira vez assim precisa de mais cuidado... Ele quer que seja
bom pra você.

— Já pediu a comida Taehyung? – Hoseok perguntou do nada, os mais


novos deram um pulo do sofá.

— Mas que porra! Quer me matar de susto Hoseok?! – ele reclamou


massageando o peito. – Já pedi sim!

— Ótimo. – assentiu e voltou para cozinha pisando duro.

— O que inferno aconteceu com esse homem? – Taehyung fez uma careta.

— Acho que eu sei. – Jungkook mordeu o lábio inferior.

Taehyung, desconfiado, foi até Yoongi enquanto Jimin se aproximava de


Jungkook sorrindo. Ele se curvou, apoiando as mãos no encosto do sofá para
beijar-lhe os lábios com carinho.

— Tudo bem? – sussurrou.

— Sim. – assentiu. – Você 'tá bem? – Jimin mordeu o lábio inferior.

— Eu 'tô bem bebê, não se preocupa. Vou subir pra tomar banho, depois
desço pra gente comer junto.

— 'Tá bom. – eles se beijaram de novo.

Na cozinha, Tae abraçou Hoseok por trás e beijou sua nuca demoradamente.
O mais velho respirou fundo e deitou a cabeça no ombro dele. Yoongi sorriu
e colocou a mão por dentro da camiseta de Hobi, afagando sua barriga em
círculos com a ponta dos dedos.

— Só escuta ok? – Yoongi pediu. – Jungkook 'tá bem, está feliz... Seu pai não
está aqui e ele nunca mais vai fazer aquilo de novo.
— Por que você não conversa com o Jungkook? Eu tenho certeza que ele vai
entender o motivo da sua preocupação. – Tae beijou a bochecha dele.

— Estou sendo chato. – lamentou.

— Está, mas é compreensível. Você se preocupa com o JK porque o ama e


se apegou a ele como queria que seu pai fosse apegado a você. – Yoongi o
sorriu. – Você vai ser um pai maravilhoso, sabia?

— E também vai ser o mais bobão. – Tae sorriu também.

— Nós vamos ter isso? – acarinhou o braço do maior. – Vamos ter...

— Filhos? – Yoongi completou. – Pelo menos um pra cada um no mínimo.

— Uma casa bem grande cheia de pirralhos correndo, bagunçando e nos


deixando doidos. – Tae o apertou mais no abraço. – Gatinhos, tigrinhos e
esquilinhos.

— Um zoológico? – arqueou uma sobrancelha.

— O nosso paraíso. – Yoongi sorriu. – A gente foi feito pra isso.

Hoseok sorriu e respirou fundo. Sentiu o beijo de Yoongi em seu pescoço e


depois nos lábios. A vida nunca lhe fora tão perfeita.

— Obrigado. Eu vou falar com Jungkook.

Jin desligou a chamada e guardou o celular no bolso da bermuda para


respirar fundo. De onde estava conseguia ver Namjoon sentado na areia da
praia sozinho. O Sol estava para se pôr, o vento soprou uma brisa fresca que
bagunçou seu cabelo enquanto caminhava até o Kim mais novo para sentar
ao seu lado.

Por minutos não disseram nada.


Havia apenas o som das ondas fracas e o silêncio chegava a ser libertador
porque nenhum deles tinha coragem para dizer o que queria. Era preferível
se esconder dentro da iminência que conheciam desde que a amizade deixou
de ser a única coisa que os ligava.

— Eu 'tô feliz por você hyung. – Namjoon disse baixo, seu olhar continuava
perdido nas ondas. – Pode ter parecido o contrário quando eu saí daquele
jeito... Desculpa?

— Não me pede desculpas, eu não acho que agiria diferente se fosse o


contrário. Quer dizer... Eu nunca pensei sobre isso.

— Sobre ser pai? – Jin assentiu. – Você não quer?

— Namjoon, eu não posso ser sonso e dizer que não sabia o quanto era
arriscado transar sem camisinha. – ele dobrou os joelhos e apoiou os
cotovelos ali. – Não foi um acidente. – suspirou. – Sunmi me mandou uma
mensagem pedindo pra ligar pra ela, nós conversamos por quase uma hora.

— E vocês chegaram a alguma decisão? – Namjoon apertou as mãos em


punho, mas manteve-as escondidas dos olhos do mais velho. Sinceramente
tinha medo de saber, mas precisava. Jin não o devia nada, mas seu coração
ainda estava aprendendo a lidar com os sentimentos sem fazer deles um
calvário. Ele tentava deixar a sensatez sobrepor todo o resto, mas ainda
havia um pedaço de si que queria apenas errar de novo.

— Vamos ter o bebê. – encarou o mais novo. – Mas ela não quer e nem
precisa que nosso relacionamento continue apenas por causa disso. Sunmi é
uma mulher incrível...

— Eu tenho certeza que sim.

— E eu agi feito um idiota ao fazer parecer que temos a obrigação de bancar


a família perfeita só por causa do bebê. Eu sou apaixonado por ela... Eu sei
e ela sabe, mas nunca havia planejado em longo prazo e fiz isso quando ela
falou que está grávida.
— Ela te faz bem. – lambeu os lábios, sentia um nó na garganta. – E você faz
bem a ela... Esse bebê tem sorte. – sorriu um pouco, mas era evidente, por
dentro Namjoon estava desabando.

— Namjoon-

— Eu vou seguir o seu conselho, hyung. – sorriu depois de secar as lágrimas.


– Vou dar uma volta ao redor do mundo.

— Você vai embora?

— Eu preciso ir. Se eu ficar... – ele encarou os olhos bonitos de Seokjin e


arfou.

— É isso que o seu coração 'tá te pedindo pra fazer?

— O meu coração tá gritando que precisa de você. Ele quer abrir o meu
peito e expor que cada pedaço de mim precisa de você, Jin. Mas eu tenho de
aprender a precisar de mim.

— Vai procurar por outro amor ao redor do mundo?

— Não. – negou. – Eu vou procurar pelo amor que eu preciso sentir por mim
mesmo... Daí então... Eu vou merecer o que o meu coração quer. Você.

Jin assentiu e estendeu o braço, chamando-o. Namjoon soluçou e aceitou. Ele


deitou a cabeça no ombro largo e se encolheu, suas mãos grandes agarraram
a camisa estampada com flores coloridas, ele ofegou forte para encher os
pulmões com o cheiro alheio, lutando contra a maresia que também queria o
entorpecer.

Os braços de Seokjin o seguraram forte como das vezes anteriores sobre um


tapete felpudo durante os beijos que os guiavam para a cama. Se pudesse
voltar no tempo faria tudo de novo, mas completamente diferente.

Namjoon se arrependia.

Ele era inteiro feito do remorso e Seokjin era feito do dilema de querer
deixá-lo ir ao mesmo tempo em que não queria soltá-lo nunca mais.
— Lembra do que eu te disse segundos antes de te beijar pela primeira vez?
– Jin sussurrou, e o sopro de sua voz contra o ouvido de Namjoon o fez
arrepiar e apertar mais a camisa entre os dedos. – Lembra? – segurou-lhe a
nuca até que estivessem se olhando de novo.

— "Acho que já te beijei em outra vida..."

— "E eu vou te beijar agora só pra ter certeza."

Namjoon assentiu antes de Jin morder seu lábio inferior para puxar devagar
e depois disso beijá-lo como da primeira vez. Tomando-o como da primeira
vez. Eles se entregaram de novo e tinha gosto de despedida. A bagunça
perfeita sobre respirações, lábios e línguas, o que era bom demais para abrir
mão.

Jin respirou fundo quando quebrou o beijo, seu coração também queria
quebrar o peito e escapar. Seu corpo inteiro tremia. Ele encostou a testa do
mais alto e afagou-lhe a nuca com pressão, quase repleto de desespero.

— Eu li em algum lugar que uma lagosta pode atravessar o oceano e ainda


assim voltar pro seu par. – Namjoon sorriu um pouquinho.

— Você acabou de inventar isso, hyung. – afagou o rosto dele.

— Foda-se. – deu de ombros, sua voz estava embargada. – Só... Volta ok?
Você nem precisa querer alguma coisa comigo, não precisa voltar por mim.
Só volta. – o olhou nos olhos. – Nosso final pode não ser como a gente
imagina, mas ele vai ser feliz.

Namjoon assentiu e voltou a chorar, escondendo o rosto no peito de Seokjin.

— Finais felizes costumam mentir. – Namjoon murmurou.

— Eu sei. – ele beijou o cabelo alheio. – Mas os começos... Não.

🌙
Quando a comida chegou, Hoseok se voluntariou a servir e ninguém
reclamou. Jungkook, junto de Taehyung e Yoongi, sorriu ao vê-los trocando
carinhos e achou que era o melhor momento para conversar com seu hyung
favorito.

Hobi estava de costas para a porta, cuidava de tirar o frango das embalagens
de isopor. Jungkook respirou fundo e assentiu.

— Hyung?

Hoseok olhou para trás e sorriu.

— Oi. Quer um pouco? Aproveita que o Taehyung não percebeu que já


chegou.

Jungkook parou ao lado dele, as mãos se apoiaram ao mármore da pia e ele


observou o frango frito apimentado que o mais velho colava em pratos
grandes.

— Preciso de um favor.

— Claro. O que você precisa Jungoo? - Hobi sorriu.

— Hyung, por favor, não pira ok? – Hobi franziu o cenho. – Eu preciso que o
hyung me ajude...

— Ajude... – incentivou.

— Ah... – Jungkook olhou ao redor e se aproximou mais. – Eu preciso fazer


a chuca.

Ele sussurrou, mas Hoseok arregalou os olhos e o prato com frango caiu
dentro da pia.

— Eu 'tô enfartando...

— Hyung?!

— Meu deus eu 'tô vendo a luz! – ele cambaleou e Jungkook o segurou.


— A luz?! Não vai pra luz não! Hyung! - Jungkook o sacudiu um pouco.

— JUNGKOOK, VOCÊ QUEBROU ELE DE NOVO?

Taehyung entrou na cozinha e com um pano de prato passou a abanar o


namorado.

— Hobi! – Yoongi rolou os olhos e afastou os outros dois para segurar o


rosto do namorado e encará-lo sério. – Amor, o que a gente falou agora há
pouco?

— Hyung... Desculpa! Eu só queria ajuda, me desculpa?! – Jungkook estava


quase desesperado. Hobi o olhou e percebeu que sua reação não foi das
melhores.

— Eu 'tô bem. – assentiu. – Jungoo... Quero conversar com você. – o mais


novo assentiu. – Termina isso, por favor?

Tae, que já estava comendo um pedaço de frango, assentiu.

Hobi segurou o pulso de Jungkook e o levou para a área de lazer da casa,


para a beira da piscina onde o sentou numa espreguiçadeira e sentou de
frente para ele. O mais novo estava confuso, mas se sentia culpado.

— Hyung, me desculpa? Eu fui perguntar por que só confio em você pra me


explicar algumas coisas.

— Porra, eu preciso de um cigarro. – suspirou e passou as mãos pelo rosto.


– Jungkook, eu quero que você seja sincero ok? O meu cuidado te sufoca?

— Quê? Não! Não hyung! – negou diversas vezes. – Nunca!

— Me desculpa pelo exagero de agora, eu sinto muito. Você confia em mim e


eu fico te assustando, me desculpa?

— 'Tá tudo bem! – sorriu um pouco.

— Eu só não quero que você se machuque. – passou a mão no cabelo.


Jungkook apertou as mãos e ficou quieto porque Hoseok parecia tão inquieto
que isso o deixava coagido, não queria incomodar, mas sentia preocupação.

— Eu vejo muito de mim em você... De mim antes, quando eu era mais novo
que você até. – suspirou. - Eu fico querendo te proteger do mundo e nem noto
que de algum jeito faço o que meu pai fazia comigo.

— Eu te amo muito, Hobi-hyung. – o garoto sorriu. – Gosto que cuide de


mim, mas às vezes... Eu tenho receio de contar alguma coisa e o hyung
desmaiar! – arregalou os olhos.

— Desculpa por isso? Eu 'tô sendo dramático. Jimin nunca te machucaria e


eu sei disso, mas é que... – ele fechou os olhos. – Quando eu tinha dezessete
anos meu pai me obrigou a fazer sexo com uma mulher. Ele disse que isso ia
me fazer homem, que ia me ajudar. – falar sobre aquilo era difícil, mas
precisava se explicar. – Eu não consegui, tive uma crise de pânico pela
primeira vez na vida, então ele me bateu ali mesmo. – os olhos de Hobi
ficaram marejados, mas os de Jungkook já transbordavam lágrimas. – De
alguma forma eu acho que desenvolvi essa proteção ao seu redor por ter
medo de que coisas ruins assim te aconteçam.

— Hyung... – o mais novo fungou e se mexeu até conseguir segurar as mãos


do mais velho com carinho. – Eu sinto muito, hyung... Sinto muito que isso
tenha acontecido.

— Você é um garoto muito bom, inteligente e gentil. – fungou também, mas


sorriu. – Eu te amo muito.

— Obrigado por cuidar de mim. Quero que continue cuidando porque eu me


sinto seguro sendo seu amigo. Hyung, eu amo Jimin... Amo demais e por isso
eu quero...

— Fazer sexo com ele? – tentou e riu quando Jungkook assentiu.

— De tarde... A gente fez. - ele se encolheu um pouco. - 'Tá bravo comigo?

Hoseok arregalou os olhos e negou, suas mãos apertaram as mãos do mais


novo com carinho, mas força. Naquele momento compreendeu de vez que
sem querer quase agia como seu pai.

— Eu nunca mais quero ver medo nos seus olhos quando tiver de conversar
comigo... Me desculpa por te fazer sentir isso?

— Hyung-

— Eu não tô bravo com você, Jungoo. Eu nunca ficaria bravo com você por
causa disso, entendeu? – o outro assentiu. – Você é um homem adulto e o
Jimin também, se você se sentiu pronto pra isso eu quero te apoiar e também
estar sempre perto pra te ajudar quando for preciso.

— Acho que eu não fiz direito... – murmurou e o mais velho respirou fundo.
– O Jimin nem gozou.

— Ninguém acerta tudo de primeira assim, é normal.

— Também fui muito rápido na hora. Quando não tinha... Penetração eu


demorava mais.

— Ele foi ativo? – Jungkook negou. – Eu imaginei que ele ia te deixar ser
ativo na primeira vez. Jimin é muito cuidadoso.

— Vocês já transaram. – disse baixo e Hoseok ficou quieto porque não sabia
se era uma acusação e uma constatação. Sim, já tinha transado com Jimin,
mas ambos estavam chapados e aquela república não era um bom exemplo
de castidade, em todo caso. – Ele te deixou ser ativo?

— Jungkook... – suspirou. – Você quer mesmo falar disso?

— Quero. – assentiu. Hobi largou as mãos dele e coçou a nuca. – Eu não


tenho ciúmes, o hyung nunca faria algo pra me magoar.

O mais velho sentiu um aperto no peito, mas assentiu.

— Não. Quando a gente ficou daquela vez o Jimin foi ativo.

— Ah. – ele escondeu as mãos entre as coxas e encarou o chão. – Será que
ele não quer assim comigo porque eu não vou saber fazer direito?
— O que?!

— Ser ativo é mais fácil... A gente fica por cima e sai metendo, pronto. –
deu de ombros.

— Jesus Cristo... Jungkook não é assim não!

— Eu fiz assim hoje. - ele fez um bico.

— Mas é porque foi à primeira vez. – sorriu. – Escuta o hyung, ok? – o mais
novo assentiu. – Você é um homem lindo e atraente...

— Ficaria comigo Hobi-hyung? – sorriu atrevido e encolheu os ombros.

— Jungkook!

— Você disse que eu sou lindo e atraente.

— Isso não vem ao caso agora garoto! – gesticulou nervoso.

— O hyung ficou todo vermelho! – apontou e Hoseok rolou os olhos. – O


Jimin diz que eu sou gostoso.

— Certo, vamos estabelecer o nível de informações que eu quero e não


quero saber! – Hobi massageou a testa e o garoto riu de novo. – Jimin é
louco por você, mas se você sente insegurança sobre essas coisas diga pra
ele.

— O Jimin às vezes me irrita porque sempre é muito paciente, mas eu não


quero paciência, eu quero transar, hyung!

— Eu preciso fumar! – esfregou os olhos. – Jungkook... – suspirou. – Vá até


o quarto que 'tô dormindo com o Yoon e o Tae, dentro da minha mala,
embaixo da minha bolsa, você vai achar um kit lacrado, eu não usei.

— Kit? – franziu as sobrancelhas.

— Para fazer o que você disse... A chuca. – o mais novo assentiu. – Lá


explica passo a passo.
— Ok! – se animou. – Eu vou fazer! – sorriu largo. – Obrigado hyung!

Ele ficou de pé e abraçou Hoseok antes de correr para dentro da casa,


passou por Taehyung, mas estava eufórico demais pra dizer qualquer coisa.
Tae sentou de frente ao namorado e riu quando este tomou o cigarro aceso
que tinha nas mãos.

— Quando tivermos filhos... – Hoseok soltou à fumaça. – Eu não vou ter a


conversa sobre sexo! – Tae assentiu e riu mais.

— 'Tô orgulhoso. - separou as pernas e bateu com a mão no espaço entre


elas, chamando-o mais velho que sentou ali ainda tragando o cigarro. - Você
nem percebeu, mas essa conversa com Jungkook pode te ajudar a superar o
que seu pai te fez.

— Eu tive pesadelos por meses, de vez em quando ainda penso sobre o que
aconteceu. - aconchegou as costas contra o peito alheio e fechou os olhos. -
Demorei muito tempo até entender que não era minha culpa.

— Acho que eu sei como você se sente. - suspirou e o abraçou pela cintura
para cheirar o pescoço do mais velho. - Eu te amo muito, Hoseok.

— Eu sei. - riu um pouco. - Eu também te amo muito, Tae. Obrigado.

— 'Tá me agradecendo por que?

— Por ter aparecido nas nossas vidas. Tudo bem que no começo eu quis te
dar uns tapas na bunda...

— Você ainda pode fazer isso. - Tae provocou antes de morder a nuca dele.

— Quem sabe. - passou o cigarro pra ele. - Não é uma má ideia.

Tae o apertou no abraço e apagou o cigarro.

••

Yoongi observou Holly que continuava sentado nas patas traseiras com sua
bolinha amarela na boca. Ele respirou fundo e apertou o lençol entre os
dedos.

— Droga. - murmurou baixinho. Sentia tanta dor que estava difícil respirar.
- Droga!

Holly latiu e largou a bolinha para se aproximar do dono, farejando suas


pernas.

— Eu tô bem, Holly. - sorriu um pouco. - Só me sinto cansado.

Batidas na porta o fizeram se assustar um pouco, o cachorrinho correu para


arranhar a madeira.

— Hyung? - a voz de Jungkook estava baixa.

— Pode entrar, Jungoo.

O garoto abriu a porta e sorriu, estava quase eufórico. Yoongi sorriu de


volta, tentando disfarçar um pouco da dor que sentia no corpo.

— Hyung, o Hobi-hyung me deixou pegar uma coisa na mala dele. - assentiu.

— É a vermelha. - apontou. - Pode pegar.

O mais novo foi até a mala e com cuidado a colocou sobre a cama, abriu e
logo achou o que deveria pegar. Nesse curto espaço de tempo reparou em
Yoongi e no quanto ele parecia quieto. Não era como se aquele hyung fosse
barulhento, mas ele mal se movia. Depois de recolocar a mala no lugar,
Jungkook se aproximou.

— Yoongi-hyung, tudo bem?

— Uhum. - assentiu uma vez. - Acho que 'tô cansado... Vou dormir um pouco
e-

— Hyung, seu nariz!

Yoongi franziu o cenho antes de sentir algo pintar em sua regata, ele levou a
mão até o espaço entre nariz e boca, tocou e depois observou o sangue na
ponta dos dedos. Jungkook largou o que tinha sobre a cama e correu até o
banheiro para pegar papel higiênico.

— Merda! - o mais velho resmungou. Ergueu a cabeça e sentiu tontura.

— Aqui, hyung! - entregou a ele o papel. - 'Tá doendo alguma coisa?!

— Não... - mentiu. - É só um sangramento bobo, devo ter rompido algum


vasinho mergulhando mais cedo e-

— Vou chamar os hyungs...

— Jungkook, não-

Era tarde demais porque o garoto já tinha corrido para fora do quarto. Holly
estava inquieto, latia vez ou outra encarando o dono. Yoongi respirou fundo
apenas pela boca e observou o papel sujo de sangue fazendo careta. Não
demorou nada até ouvir os passos pesados e apressados no corredor.

— Yoongi?! O que foi?! O que você tem?! - Hoseok estava ali, a


preocupação evidente na voz e nos toques cuidadosos em seu corpo.

— Amor?! Olha pra gente, por favor? - Tae estava assustado.

— Eu tô bem. - ele tentou sorrir. - Acho que eu rompi algum vasinho mais
cedo.

— Tae, dentro da minha bolsa têm lenços, pega, por favor? Onde está o seu
medidor de pressão, Yoon? - Hoseok orientou.

— Na minha mala. Mas tá tudo bem, Hobi. - mentiu para acalmá-lo.

Taehyung pegou os lenços e o medidor de pressão eletrônico. Nesse meio


tempo Jimin e Jungkook já estavam também no quarto, preocupados e tensos.

— Aqui, use isso. - Tae trocou o papel higiênico por um lenço macio e
segurou o braço pálido para prender o medidor. - Respira fundo amor, por
favor.
Yoongi obedeceu e fez como sempre quando media a pressão sozinho. O
sangramento nasal estava diminuindo, mas as dores nas pernas e tórax
continuavam.

— Sua pressão é muito baixa. - Hoseok lamentou. - Você comeu bem... Yoon,
por favor, não mente ok? O que está sentindo?

Taehyung sentou ao lado de Yoongi e beijou seu ombro nu demoradamente. O


Min respirou fundo e afastou o lenço do rosto, as narinas estavam coradas e
seu olhar cansado. Jimin, com Jungkook agarrado a sua camisa, trocou um
olhar sério com ele e cruzou os braços.

Era impossível omitir as coisas de Park Jimin.

— Eu estou com dores desde ontem à noite. - confessou. - Mas não é nada
muito grave.

— Onde? - Tae fez carinho nas costas dele.

— Minhas pernas e aqui também. - tocou o tórax.

Hoseok assentiu e ficou de pé. Ele foi até as roupas que estavam jogadas
sobre as malas e começou a juntá-las.

— Tae. você pode ajudar ele a tomar um banho? Eu vou arrumar as coisas e
a gente pode ir em uma hora mais ou menos.

— O que?! - Yoongi arregalou os olhos. - A gente não precisa voltar por


causa disso!

— A gente precisa sim, Yoongi! Nós vamos direto até a sua médica, vou
pedir pra Hyeri-noona avisá-la e-

— Hoseok, não! Por favor, você está exagerando! - ficou de pé, ignorando a
dor caminhou até ele. - Eu trouxe as vitaminas, vou tomar e descansar um
pouco! A gente vai voltar depois de amanhã mesmo, relaxa!

— Para de ser teimoso! - ergueu a voz. - Você não 'tá bem!


— Eu tô bem sim! - respondeu no mesmo tom. - Foi só um mal-estar!
Ninguém precisa voltar por minha causa!

— Não briguem, hyungs... - Jungkook lamentou.

— Yoongi-hyung, a gente pode voltar hoje. Não vai ser um problema. - Jimin
tentou.

— Eu quero ir ao luau com vocês!

— Pelo amor de deus, foda-se essa porra de luau Yoongi! Você 'tá
sangrando! - Hoseok rolou os olhos.

— EU 'TÔ BEM HOSEOK!

Tae suspirou e ficou de pé.

— Jimin e Jungkook, vocês podem nos dar licença por favor? - pediu com
educação.

O casal assentiu e Jungkook pegou o que tinha ido buscar em cima da cama
antes de sair junto de Jimin.

Hoseok continuou recolhendo as roupas e objetos, Yoongi bufou e se trancou


no banheiro batendo a porta. Taehyung respirou fundo.

— Hobi... - ele tentou. - Um dia, só isso. Quando a gente voltar levamos ele
ao médico.

— Não!

— A gente não pode obrigar ele a fazer o que não quer, amor.

— Você não entende. - disse ainda de costas. A voz dele pareceu embargar e
o mais novo chegou mais perto. - Eu sei que não posso obrigar... 'Tô errado!
Mas eu não sei como fazer-

— Hoseok, olha pra mim?- Taehyung o segurou pela cintura, virando-o para
si, ele segurou as duas camisetas que ele tinha e tomou de suas mãos. Elas
tremiam. - Aqui, respira fundo junto comigo.

— Tae...

— Por favor? - sorriu um pouco. - Respira fundo. - Hobi o fez. - Isso, calma
meu Sol. - beijou as mãos dele com carinho. - Se a gente fizer ele voltar hoje
vamos brigar o caminho inteiro e depois disso também.

— Eu sei. - assentiu. - Mas eu... Tae... Eu tenho medo demais.

— Eu também tenho. - confessou. - Amanhã quando a gente chegar vamos ao


médico com ele. Não dá para intervir de forma agressiva assim, não vai
ajudar. Os últimos exames foram ok, você sabe.

— Ok. - Hoseok fungou.

Hoseok respirou fundo e foi até a porta do banheiro, bateu suavemente duas
vezes e esperou.

— O que é? - a voz mal-humorada de Yoongi respondeu. - Posso tomar


banho sozinho!

— Desculpa? - Hobi murmurou e Tae sorriu. - Nós vamos depois de amanhã,


mas direto ao médico.

Silêncio. Um minuto depois Yoongi abriu a porta, havia um bico em seus


lábios, estava pálido demais. Hoseok o puxou para um abraço.

— Eu também tenho medo, Seok-ah. - sussurrou.

— Eu amo você, teimoso.

Yoongi escondeu o rosto contra o peito dele e Hoseok sorriu quando


Taehyung chegou perto para beijar o cabelo verde desbotado do menor entre
eles..

— O que você tem aí, bebê?


Jimin arqueou uma sobrancelha e Jungkook arregalou os olhos escondia a
embalagem da lacrada do kit higienizador atrás das costas.

— Nada hyung.

— Para com isso, deixa eu ver. - Jimin riu quando o garoto deu um gritinho e
tombou na cama, tentando afastá-lo do que escondia. - Jungkook!

Ele montou no corpo maior, sentando sobre os quadris enquanto se esticava


para alcançar a embalagem. Jimin a tomou e ergueu o tronco, ficou sentado
ali. Jungkook desviou o olhar e sentiu o rosto ficar quente. O peso do mais
velho sobre seu pau estava o excitando.

— Ora, o que temos aqui? - Jimin disse após reconhecer do que se tratava.

— Meu deus, que vergonha. - murmurou escondendo o rosto dentro das mãos
tatuadas.

— Onde conseguiu isso?

— Com o Hobi hyung. Eu pedi pra ele.

— Você pediu pra ele um kit de chuca?!

— Não! Eu pedi que ele me explicasse, daí ele me mandou pegar e ler as
instruções. - explicou e Jimin deixou a embalagem de lado pra suspirar.

— Quer conversar sobre isso?

— Quero. Mas é melhor você sair daí porque eu não consigo pensar direito
se ficar duro, hyung.

Jimin riu baixinho e rolou para o lado. Os dois sentaram frente-a-frente.


Jungkook tirou os óculos e prendeu o cabelo para o alto, deixando uns fios
soltos ao redor do rosto. O mais velho suspirou.

— Você é o homem mais lindo que eu já vi, sabia?

— Impossível. - sorriu. - Você se olha no espelho todos os dias, Jimin.


— Eu gosto quando você me chama só de Jimin. - assentiu. - Na verdade eu
gosto que você me chame, não importa como. - segurou a mão maior,
entrelaçou os dedos aos dele e o encarou nos olhos. - Você gostou de
transar?

— Gostei de transar com você. - ele sentiu o rosto esquentar de novo. - Eu


fiz bem?

— Você foi maravilhoso, bebê.

— Tem certeza? Você nem gozou, hyung.

— Amor, eu estava mais focado em fazer essa experiência ser boa pra você.
Relaxa, eu tenho certeza que você vai me satisfazer, ok? Eu sou louco por
você, Jungkook. - o garoto assentiu. - Você quer de outro jeito?

— Quero.

— Não gostou de ser ativo?

— Eu gostei, hyung. Mas eu quero fazer de outro jeito também. – deu uma
risadinha adorável.

—Hm. Diz como você quer. – provocou dando o sorriso lascivo que
conseguia arrepiar a pele do mais novo.

— Ah... Jimin você quer me deixar com vergonha!

— Eu? – riu. – Ok! Eu preciso saber o que você quer pra poder fazer.

— Ta. – resmungou. – Eu quero... – respirou fundo. – Eu quero te dar.

— Graças a deus! – Jimin brincou antes de puxá-lo para deitar na cama. Ele
deixou beijinhos pelo rosto do namorado e riu mais quando este
choramingou manhoso. – Quer ajuda?

— No que? – franziu as sobrancelhas.

— Com a chuca.
— Ai meu deus, hyung, não! – Jungkook negou diversas vezes.

— Eu não vejo problema. Posso te ajudar, aí você-

— Jimin-ssi! – o empurrou um pouco até estarem sentados outra vez. – Eu


vou tomar banho! Me espera aqui.

— Posso esperar pelado?

— Po-pode! – sorriu sem jeito. – Eu já volto.

— Ok. Eu te amo.

Jungkook selou os lábios dele e desceu da cama para se trancar no banheiro


com o kit e toda a vergonha do mundo.

Sozinho, Jimin suspirou e sorriu. Ele arrumou a cama, tirou a bermuda e a


cueca pra vestir um dos roupões macios e de sua bolsa tirou duas camisinhas
e o lubrificante.

Ele leu o rótulo e fez um bico, então deu de ombros e saiu do quarto.

Na sala de estar, os outros cinco estavam conversando sobre o mal estar de


Yoongi e se deveriam cancelar a ida ao luau particular. O Min insistia que
estava bem e Jin falava que iria cozinhar uma comida saudável só pra ele.

— Atenção! – Jimin colocou as mãos nos quadris e teve a atenção dos


outros. – Alguém trouxe aquele lubrificante anestesiante?

— Eu trouxe. – Tae assentiu.

— Oh, meu deus... – Jin arregalou os olhos. – O meu filho!

— Ih, lá vamos nós de novo. – Yoongi suspirou.

— Jin-hyung respira! – Namjoon queria rir, mas só segurou o mais velho que
fingia uma tontura. – Senta aqui, hyung.

— Hyung, é tarde demais. – Hoseok suspirou.


— Hoseok, como você não me conta?! É o nosso filho! – acusou.

— Tae, eu vou pegar lá, ok? – Jimin ignorou os sogros.

— Ok, tá na mochila. Hoseok trouxe algemas.

— Eu vou desmaiar! Namjoon, preciso de respiração boca a boca! – Seokjin


choramingou. – Park Jimin eu não quero saber ok? Você cuida direitinho do
meu filho ou eu vou te fritar no óleo quente! – disse de uma vez, rápido
demais, seu rosto ficou vermelho. Yoongi estava gargalhando. – Eu não
posso mais ser pai, eu não vou aguentar passar por isso de novo!

— Abana ele! – Hobi gritou. – Hyung calma, gente velha assim passa mal
mesmo.

— Vai tomar no seu cu, Hoseok!

— Que drama da porra! – Jimin rolou os olhos. – Mas eu aconselho que


liguem o som bem alto para o trauma não ser maior porque se depender de
mim... – piscou e virou as costas.

Jimin riu alto quando desviou do chinelo que Seokjin tinha atirado em sua
direção.

No quarto ele trancou a porta depois de pegar o que precisava. Abaixou as


luzes e esperou. Estava ansioso, tirou e colocou os anéis dos dedos diversas
vezes, sacudiu as pernas e até roeu a unha do polegar.

Quando Jungkook saiu do banheiro, Jimin sorriu. O garoto ainda tinha o


cabelo escuro molhado, a toalha azul ao redor dos quadris era apertada entre
os dedos ansiosos.

— Tudo bem? – o mais velho perguntou carinhosamente.

— Uhum. É complicado, mas eu acho que aprendo.

— Vem aqui. – abriu as pernas e Jungkook veio para ficar de pé entre elas. –
Você não precisa fazer toda vez que a gente for transar. – beijou sobre o
umbigo alheio, farejando o cheiro gostoso de sabonete. Suas mãos
acariciaram as coxas por baixo da toalha. – A gente consegue lidar com isso
de outras formas, eu vou te ensinar bebê.

— No banho eu também me preparei. – mordeu o lábio e Jimin o encarou de


baixo. – Com os dedos.

— Menino atrevido. – ralhou antes de lamber os gomos do abdômen dele,


mordendo enquanto as mãos se enchiam com a carne firme do traseiro de
Jungkook. – Me deixou aqui ansioso e começou sozinho. – estalou a língua. –
Você merece um castigo, sabia?

— Jimin... – choramingou quando o sentiu morder sua ereção por cima da


toalha. Jimin segurou a toalha e puxou com cuidado, despindo-o inteiro.
Arfou observando o corpo maior dos pés a cabeça, apertou as coxas grossas
e o virou de costas de uma vez.

— Empina. – mandou – Eu quero ver.

Jungkook gemeu baixo e empinou-se um pouco. A vergonha o fazia inseguro,


mas os toques do namorado eram confirmações do que era capaz de causar.
Jimin estava sedento.

— Gostoso do caralho. – o tapa acertou em cheio a nádega direita. Depois


ele mordeu com força e sorriu pra marca de seus dentes. – Meu menino
lindo.

Ele espalhou beijos desde a lombar até o meio das costas alheias, vez ou
outra lambendo a pele macia e cheirosa. Jungkook respirou fundo e se virou,
ele se abaixou até ajoelhar entre as pernas do mais velho e levar as mãos até
o nó do roupão branco.

Jimin sorriu ladino e deixou que lhe abrisse o roupão e passou a fazer
carinho nos cabelos dele, penteando os fios úmidos para trás.

– Eu não quero fazer errado...

– Faz como eu faço em você, amor.


O mais novo assentiu e lambeu os lábios antes de abocanhar o pau do mais
velho, mantendo o olhar preso às reações alheias. Ele sugou devagar para
testar o sabor, depois rodopiou a língua ao redor e pode sentir perfeitamente
algumas das veias grossas. Jimin arfou baixo e assentiu, a mão esquerda se
encheu com o cabelo de Jungkook e ele não pode evitar erguer os quadris
para estocar devagar para dentro da boca dele.

– Isso... Você é incrível, bebê. – sorriu e gemeu um pouco mais alto quando
conseguiu ditar um ritmo ao boquete, quando o namorado pareceu acertar
como ele gostava. – Eu adoro essa sua boca.

Jungkook sentiu orgulho, por mais bobo que isso soasse. Dar prazer a Jimin
era tão bom. Ele o tirou da boca pra lamber a glande inchada e depois
chupar de novo, cuidando dos dentes para não machucar.

Quando ele foi interrompido quis reclamar, mas já estava sobre a cama com
Jimin engatinhando até cobrir seu corpo com o dele. Ele deu um beijo forte,
deixou a língua comprida exigir por mais. Jungkook gemeu porque as
ereções se esfregaram e a mão do menor o agarrou pela base do pau só para
masturbar devagarinho.

Abriu as pernas para tê-lo entre elas, arfou tentando se esfregar mais contra
o corpo dele. Jimin o beijava duro, vez ou outra a boca resvalava para
morder qualquer pedaço de pele que alcançasse.

Era como se ele estivesse tentando comê-lo. Literalmente.

– Deita de bruços. – sussurrou e o ajudou a virar na cama. Um travesseiro


foi colocado abaixo dos quadris e ele respirou fundo pra relaxar. – Amor,
você é tão lindo. Tão perfeito pra mim. – elogiou enquanto traçava – elogiou
enquanto traçava um caminho de beijos em cada pedaço das costas dele. –
Eu te amo, te amo

– Eu te amo também, Jimin. – sussurrou e depois sorriu, sentia-se nervoso,


mas aquilo tudo era tão especial. O coração estava acelerado. – Você é a
pessoa da minha vida.
Jimin parou e sorriu, esticou o corpo para beijar a nuca alheia
demoradamente.

– Você também é a minha pessoa. – sussurrou. – E você não faz ideia do


quanto eu quero te foder, Jungkook. – mordeu a região e ajoelhou outra vez
para espalhar lubrificante em três dedos. – Separa um pouco mais suas
pernas.

– Assim? – questionou depois de obedecer.

– Isso. Porra, você é tão gostoso. – ele separou as nádegas e mordeu a boca
antes de se curva e lamber do períneo até a entrada pouco dilatada. Jimin
empurrou a língua ali e o garoto gemeu alto contra o travesseiro.

Após o segundo gemido o mais velho riu baixinho porque haviam ligado o
som no último volume do lado de fora.

– Hoje você vai fazer muito barulho pra mim. – alisou a coxa dele sobre a
tatuagem e o lambeu de novo. – Sabe que pode parar quando quiser.

– Eu sei... Por favor, hyung. – murmurou se esfregando contra o travesseiro.

Jimin penetrou o primeiro dedo, o indicador, lentamente. Não era algo novo,
já tinham ido até esse ponto algumas vezes. O lubrificante ajudava, não
demorou até o segundo dedo ser adicionado, Jungkook gemeu baixo e Jimin
sorriu.

– Mais um?

– Por favor?

– Guloso. – bateu outra vez na nádega durinha. – Meu putinho guloso. – o


gemido manhoso o fez sorrir satisfeito. – Eu sabia que você ia gostar disso.
– o terceiro dedo foi usado com cuidado, logo buscando a próstata para
massagear. Jungkook rebolou os quadris nos dedos de Jimin e gemeu
agarrado ao travesseiro. – Olha só pra você... – se curvou para falar com os
lábios rente ao ouvido do mais novo. – Vou te colocar pra rebolar assim no
meu pau.
Ele puxou os dedos melados e buscou a camisinha. O maior se virou para
vê-lo deslizar o preservativo com pressa, se punhetando enquanto o beijava
de novo, mordendo seu lábio e puxando.

– Como você quer? – perguntou enquanto beijava-lhe o pescoço.

– Eu quero por cima... Quero sentar em você Jimin.

Jimin arfou e assentiu com pressa. Deitou na cama e sorriu.

– Sou todo seu, amor.

Jungkook assentiu, o nervosismo fazia as duas mãos tremerem. Ele montou


no colo do namorado e respirou fundo.

– Hyung... Eu...

– Eu seguro e você senta até onde conseguir, ok? Devagar, a gente não
precisa ter pressa.

O mais novo assentiu. Seu cabelo estava numa bagunça, o rosto corado.
Jimin o ajudou, mas estava tão excitado que doía. Prendeu a respiração
quando sentiu o mais novo baixar os quadris devagar, pouco a pouco se
penetrando, dando a ele a sensação de aperto quente e gostoso.

Jungkook desceu até o final, até estar completamente sentado e se sentir


inteiro. Seus olhos lacrimejaram e Jimin ignorou o tesão só para fazê-lo
deitar sobre seu peito.

– Jimin, desculpa... Tá doendo um pouquinho. – murmurou manhoso.

– Quer parar?

– Não. – negou. – Me beija?

Jimin segurou seu rosto e o beijou. Estava no limite, seu corpo tremia pela
necessidade de qualquer fricção, mas ele beijou Jungkook e não se moveu.
Procurou pelas mãos maiores e entrelaçou seus dedos aos deles. Uma
paciência que não se lembrava de ter exercido antes.
– Eu te amo, bebê. – sussurrou contra os lábios dele, ambos se encaravam
nos olhos. – Você é tão lindo, tão gostoso.

— Mexe. - pediu depois de lamber os lábios de Jimin.

Jimin mordeu a boca e sorriu antes de estocar para cima, arrancando de


ambos gemidos longos.

— Mais?

— Mais, me dá mais hyung.

Ele estocou de novo e juntou o cabelo dele dentro da mão, puxando-o com
força.

— Amor eu sei que você quer desse jeito, mas eu não consigo me segurar
mais, a gente pode parar e eu posso terminar sozinho.

— Não! - negou e se afastou, erguendo o tronco de novo, espalmou as mãos


no peito do mais velho. - Assim não.

Então ele quicou e gemeu extasiado, jogando a cabeça para frente. As mãos
de Jimin agarraram sua cintura e apertaram a carne macia. Jungkook fez de
novo e sorriu embriagado de prazer, ele gostou do que aquilo causava no
mais velho, gostou do próprio prazer que cada movimento causava em si.

— Caralho... Isso meu amor... - assentiu e o ajudou a se mexer, estocando


pra cima. - Você consegue mexer mais forte? Consegue se foder com mais
força no meu pau?

— Assim? - perguntou quicando mais forte, subindo e descendo. O menor


assentiu e encheu as duas mãos com a bunda dele e apertou.

— Assim. Desse jeito. - ergueu-se para deixar uma mordida dolorida no


pescoço do namorado. - Eu vou gozar, não consigo segurar... Você é tão
apertado amor, tão gostoso.

Agarrou o pau do mais novo e passou a masturbá-lo depressa,


habilidosamente. Jungkook gemeu mais alto e agarrou os ombros de Jimin
com as unhas curtas.

— Amor...

Jimin gozou primeiro, estocando enquanto Jungkook sentava sem parar.


Depois o mais novo também gozou, sujando as peles suadas. Ele sorriu
quando os beijinhos do namorado o acalmaram.

— Olha pra mim. - o segurou pela nuca. - Eu te amo, Jungkook.

— Eu também.

— Tá tudo bem?

— Uhum. Tudo. - Jimin o ajudou a sair devagar, segurou a camisinha para


tirar e dar um nó. Deitaram lado a lado, o maior o abraçou com carinho. -
Foi gostoso?

— Foi incrível. - afagou suas costas. - 'Tá dolorido? - perguntou


massageando a lombar dele.

— Um pouco. Mas é normal, não é?

— É sim.

— Agora a gente fez dos dois jeitos. - sorriu e ergueu o rosto para encará-lo.
- Eu gostei.

— Mas você sabe que isso não é o mais importante? - ele sorriu, suas mãos
apertaram a cintura estreita, os anéis rasparam sobre a pele arrepiada. Eu
amo você de qualquer jeito e se curtiu mais ser ativo, 'tá tudo bem bebê.

— É bom saber. - sorriu de olhos fechados. Jimin riu quando ele se mexeu
outra vez e montou sobre seu corpo, as mãos afoitas subindo e descendo
contra seu peito enquanto os quadris se esfregavam procurando por mais. -
Porque eu gostei mais assim... E eu quero fazer de novo Jimin-ssi. Quero
você dentro de mim de novo.

Jimin sorriu ladino e assentiu.


— Meu putinho guloso. - acertou um tapinha na coxa de Jungkook. - Fica de
quatro e encosta o rosto nos travesseiros... Eu vou te mostrar como eu gosto.

Jungkook riu e assentiu.

Hoseok estava colocando mais ração para Holly enquanto Yoongi carregava
o filhotinho no colo. Os dois cantavam a música alta que tocava pela casa.

— A gente vai comer alguma coisa realmente saudável mais tarde.

— Eu já falei que estou bem. - rolou os olhos.

— Mesmo assim, Yoongi. - guardou o pequeno pote sobre a mesa.

— Ok, 'tá bom! - bufou.

Taehyung quis rir, então sentiu o celular vibrar dentro do bolso do short
folgado. Ele pegou e estranhou a mensagem de um número desconhecido,
mas bastou ler o breve texto para que um arrepio assustador o fizesse
encolher um pouco.

— Tae? O que foi? - Yoongi percebeu primeiro.

O mais novo negou e guardou o celular.

— Vou tomar banho.

Virou as costas e saiu. Hoseok e Yoongi trocaram um olhar preocupado.

Tae entrou na suíte, depois no banheiro e trancou a porta. Suas mãos estavam
tremendo, seu coração batia acelerado demais.

Ele releu a mensagem e o celular caiu no chão enquanto o nojo lhe fazia
engasgar com o vômito que despejou na privada.

Tão breve quanto poderia.


Kim Taewoo. Seu irmão mais velho.

"Estou com saudade de você, Taetae."

twitter & instagram: keleaomine

#PillowFic
31 - bomba de cereja

O prédio, onde se localizava o escritório de Jung Yoseob, era um dos mais


históricos do complexo de unidades da universidade para homens, que
mesmo diante das mudanças sociais do país se mantinha firme na tradição de
não aceitar mulheres há quase oitenta anos.

Yoseob, formado naquela instituição, não demorou a conseguir espaço como


professor e depois assumiu o tão sonhado lugar de orientador e reitor do
curso de literatura que há anos era o melhor do país.

Para seus alunos e corpo docente, Yoseob se mostrava um homem sério,


inteligente e completamente controlado em vistas aos pequenos problemas
que surgiam vez ou outra graças a imaturidade dos jovens. Para Yoseob, sua
posição profissional era intocável.

— Com licença, senhor. – a secretária, uma simpática e esforçada mulher


japonesa, entrou depois de bater levemente a porta.

— Diga. – murmurou. Ele sequer tirou os olhos do notebook ou parou de


digitar as teclas lisas. A mulher se aproximou da mesa grande de madeira e
mármore.

— Kim Taewoo-ssi chegou para a reunião que o senhor solicitou.

Yoseob parou com os dedos esticados em direção ao teclado numérico e


lambeu os lábios. Ele encarou a secretária e sorriu um pouco contido. A
mulher ficou confusa, raramente aquele homem sério lhe sorria.

— Peça que ele entre e nos sirva algo para beber.

— Sim senhor. – se curvou.

— Eu não quero ser interrompido durante essa reunião, entendeu?


— Sim. – se curvou outra vez. – Com licença.

Ele assentiu e a viu sair. O notebook foi fechado com cuidado, até mesmo a
postura foi consertada antes que Kim Taewoo entrasse no escritório. Era
muito mais bonito que nas fotos que pode encontrar na internet, possuía
ombros largos que se destacavam graças ao terno azul marinho sob medida.
Ele sorriu amistoso e educado enquanto o mais velho ficava de pé com
respeito.

— Boa tarde. Sou Kim Taewoo.

— Boa tarde. – os dois se curvaram brevemente. – Jung Yoseob. – se


apresentou. – Por favor, sente-se. – apontou indicando as duas cadeiras
diante sua mesa.

— Obrigado.

— Quero lhe agradecer por ter aceitado vir até aqui para conversarmos,
Taewoo-ssi. Acredito que sua agenda esteja cheia.

— Oh, não se preocupe. – ele sorriu outra vez. Era charmoso e soava gentil
até mesmo nos pequenos gestos. Taewoo era encantador. – Eu tive de vir
para resolver alguns assuntos sobre a campanha do meu pai e o senhor pode
acreditar... Tudo que envolva meu irmãozinho me interessa. – cruzou as
pernas.

A secretária entrou outra vez, com cuidado deixou sobre a mesa a bandeja
com duas xícaras de café e dois copos de água. Ela se retirou sem dizer uma
palavra sequer, odiava a forma como aquele homem desconhecido encarava
suas pernas.

— Li um pouco sobre a campanha de seu pai, fico contente que um candidato


conservador esteja concorrendo. Acredito que isso seja o que precisamos
para salvar esse país.

— O senhor sabe... Deus acima de tudo, Coréia do Sul acima de todos. –


piscou antes de bebericar um pouco do café. – Mas, por favor, não me diga
que Taehyung aprontou outra vez. – o lamentou era falso, mas Yoseob não
ligou. – Meu irmão tem seus desvios de comportamento e vir para cá foi uma
forma de fazê-lo amadurecer.

— Ele é muito diferente de você.

— Ah. – rolou os olhos. – Fala sobre as tatuagens e piercing. – gesticulou. –


Ele ainda está em sua fase rebelde, quer chamar atenção.

— Compreendo. Hoseok está igual.

— Hoseok? – Taewoo franziu o cenho e colocou a xícara sobre a mesa.

— Hoseok é meu filho. Meu único filho. Ele mora na mesma república que o
seu irmão. – suspirou. – Acredito que eles tenham um caso, algo do tipo.

— O que o leva a crer nisso?

— Taehyung foi bastante grosseiro. Quando fui procurar meu filho há uns
dias, pedi que um de meus seguranças seguisse Hoseok por uma semana
inteira e ele me trouxe isso. – Yoseob abriu a primeira gaveta da mesa, tirou
de dentro dela um envelope amarelo e o colocou diante do mais novo.
Taewoo abriu e passou a folhear as fotos coloridas impressas em folhas
comuns. – Hoseok é o de cabelo castanho. – apontou.

Ele logo reconheceu o irmão mais novo, agora com o cabelo maior e
descolorido. Algumas fotos eram comuns, outras deixavam explícito que ali
havia mais que uma amizade generosa.

— E o menor? De cabelo verde?

— Min Yoongi. – explicou. – Melhor amigo de Hoseok.

Taewoo viu o tal Yoongi beijando os lábios de Taehyung e depois o viu


sorrindo contra o pescoço de Hoseok.

— Eu não estou entendendo... – franziu o cenho.

— Entendo. Eu também demorei a compreender, mas acredito que o motivo


seja a minha indignação de constatar algo tão absurdo. – Taewoo o encarou.
– Eles estão juntos. Os três.

— Como?

— Boa pergunta. – sorriu sem humor. – Taewoo-ssi eu pedi que viesse até
aqui para que visse o comportamento promíscuo e inconcebível que seu
irmão, meu filho e esse outro estão reproduzindo. Acredito, mas corrijam-me
se estiver errado, que algo assim não seria bem visto por sua família, pelo
partido ao qual seu pai está aliado e muito menos aos eleitores que
acreditam no discurso dele sobre ser um cidadão de bem. – envenenou, mas
sequer era necessário, Taewoo não precisava de nada disso. – Ele sequer
menciona pautas voltadas a esses denominados LGBTs enquanto seu filho
anda por aí sujando a imagem do que é certo!

— E o seu filho? – arqueou uma sobrancelha e observou Hoseok em uma das


fotos. Era um homem muito bonito, principalmente quando sorria. Taewoo
lambeu os lábios e sorriu deixando as fotos sobre a mesa.

— Hoseok mal sabe pensar por conta própria. – desdenhou. – Min Yoongi o
desviou do caminho desde quando eram crianças, mas eu dei um jeito
naquela época... Entretanto, agora Taehyung parece também induzi-lo.

— Acho que o entendi, Yoseob-ssi. – cruzou as pernas outra vez. – O senhor


me procurou para falar sobre o comportamento do meu irmão porque não
consegue controlar o seu filho, então quer que eu afaste Taehyung dele.

— Fico feliz que não seja burro. – elogiou e assentiu.

— Ainda teria Min Yoongi, em todo caso.

— Esse daí vai morrer cedo. – deu de ombros. – Deus o cobra desde criança
porque sabia o que ele se transformaria quando mais velho: um pecador
imundo.

Taewoo estalou a língua e assentiu pensativo.

— Sabe, eu e Tae sempre fomos próximos. Eu tinha dez anos quando ele
nasceu, omma o queria tanto. – suspirou. – Eu o ensinei a andar e a falar, o
ensinei tantas coisas, mas não demorou até que eu notasse o quanto era
ingrato. Taehyung é mimado e rebelde sem causa alguma, ele gostava de
chamar atenção. Sempre gostou. Mas estranhamente me repelia quando eu
o dava atenção. – pareceu nostálgico. – Agora, depois de saber de tudo isso
que o senhor me contou, eu percebo que mandá-lo para longe não foi uma
boa ideia. – Yoseob sorriu arqueando uma sobrancelha e o outro homem
bebeu mais do café. – O senhor não sabe como me sinto grato por sua
procura, é bom estar ciente do que está acontecendo.

— Então eu posso contar com a sua ajuda? – questionou de forma quase


atrevida.

— Claro que sim, Yoseob-ssi. – assentiu. – Taehyung está há muito tempo


longe de casa e eu estou com tanta saudade do meu irmãozinho. – Taewoo
colocou a xícara sobre a mesa e descruzou as pernas. – Eu vou cuidar dele.

Despediram-se brevemente, um aperto de mãos serviu como pacto sobre a


conversa cheia de coisas escondidas nas entrelinhas. Taewoo foi embora,
mas ainda no elevador mandou uma mensagem para Taehyung. Ele se sentia
ansioso.

Yoseob, sozinho outra vez, bebeu uma pequena dose de conhaque e respirou
fundo. A beleza daquele homem o fazia lembrar o passado, lembrar de
coisas que queria e devia esquecer para sempre.

Então, quando o passado invadiu seu escritório como um furacão, sendo


seguido por sua secretária que pedia em desespero que não o fizesse, ele
deixou o copo cair no chão e arregalou os olhos castanhos.

— Senhor, me desculpe! Ele não me ouviu, entrou assim e eu-

— Você vai falar comigo Yoseob! Ou eu preciso fazer um escândalo? Você


sabe o que eu faço! Você me conhece!

— Hana... Por favor.

— Devo chamar a segurança, senhor?!


— Não! – Yoseob esfregou o rosto com as mãos. – Saia, vá para casa, está
dispensada por hoje!

Hana quis retrucar, mas apenas assentiu e se curvou antes de sair. Yoseob foi
até a porta e a trancou com pressa. O outro homem respirou fundo quando ele
o encarava com raiva nos olhos.

— O que você está pensando?! Como você ousa invadir o meu trabalho
assim?!

— Se você tivesse falado comigo nada disso seria necessário!

— Eu não tenho nada para falar com você! Muito menos te ouvir dizer! – ele
estava tremendo. Havia raiva em seu olhar, mas também havia medo. – Nós
vamos esperar o turno acabar, então você vai sair pelos fundos do prédio e
nunca mais voltar aqui.

— Anos depois e você continua me fazendo sair escondido, Yo. – suspirou.


– Antes era pela janela do seu quarto-

— Cala a boca! – ergueu a voz. – Para de falar! Eu não quero saber de antes!
Antes tudo era errado, entendeu?! Eu não sou mais igual à antes!

— Então, o que você é agora?! Um homem curado? Você é um ex-gay?

— Cala a porra da sua boca, Syuk! – ele estava tremendo.

— Não! Eu não vou calar até você ouvir tudo o que tenho pra te falar! – se
aproximou, mas Yoseob arregalou os olhos e estendeu as mãos o fazendo
parar. Havia desespero em seu olhar. Syuk franziu o cenho. – Yo... Por favor,
me escute.

— Não! Eu não quero te escutar! Não é você que está falando comigo! É o
demônio dentro de você! O espírito de prostituição que já esteve dentro de
mim também, por sua causa! – ele arfou. – Que está dentro de Hoseok por
minha causa!

— Hoseok é um bom garoto. – tentou, o estado do antigo melhor amigo o


deixava preocupado. – Você também era um bom garoto.
— Agora eu sou! Agora eu estou curado! – os olhos de Yoseob estavam
vermelhos graças a lágrimas que ele segurava. – Deus me curou e eu vou
curar Hoseok!

— Jiwoo me procurou, Yoseob, ela é a sua filha. Ela te ama e-

— Cala a boca! – explodiu. – Você não vai fazer Deus me odiar outra vez!
Eu não vou pro inferno por sua causa!

Ele juntou as mãos e respirou fundo, seu corpo inteiro tremia. Syuk se
aproximou devagar, primeiro tocou-lhe os pulsos e se manteve firme quando
o maior se debateu para se afastar. Então, ele estava chorando também
porque Yoseob arfou e caiu em choro agonizante, sufocado e descontrolado.

— Yo... – chamou baixo. – Meu poeta, eu ainda guardo todos os seus


poemas.

— Não... Não era eu! Nada daquilo era eu, aquelas palavras eram do
demônio falando por mim. – sussurrou de olhos fechados. – Elas eram o
pecado fluindo através de mim.

— Até quando você arrumava as palavras mais difíceis do mundo só pra


dizer que me amava? Yoseob, como algo tão bonito podia ser ruim? –
lamentou. – Olha pra mim, por favor?

— Não! Vai embora! Não me toca! – empurrou para longe. – Não me sujeite!

— O que eles fizeram com você? – o olhar de Yoseob novo se tornou vazio.
– Durante aquele tempo, antes de ir a Jeju com Dahye... Naquele retiro que
seu pai te levou... O que eles fizeram com você, Yoseob?

— Eles me curaram. – sorriu sem vontade e secou as lágrimas. – Deus me


curou, Ele pode te curar também. Você quer? Eu posso-

— Deus não curaria nada em mim, porque eu não estou doente. Você nunca
esteve doente... Por favor, por favor, Yo. Não faz com Hoseok seja lá o que
fizeram contigo... Ele é um bom garoto.
— Sim, ele é. Só está confuso e sendo induzido... Eu vou guiar o meu filho. –
assentiu. – Vá embora Syuk. – abriu a porta com as mãos trêmulas e apontou
para fora. – Nunca mais se aproxime de mim!

Syuk suspirou e fungou secando as lágrimas. Ele observou seu primeiro e


único amor em silêncio por quase um minuto inteiro e deixou sobre a mesa
uma fotografia antes de sair. Yoseob bateu a porta e trancou de novo.
Rapidamente serviu uma dose maior de conhaque e bebeu em dois goles
grandes. Observou a fotografia sobre a mesa e se aproximou para ver do que
se tratava.

"15 de abril de 1988 – Eu odiei ficar chapado, espero ver essa foto e
lembrar isso. Te amo, Syuk."

Reconheceu a própria caligrafia ali e virou a fotografia. Ele rompeu outra


vez num choro sufocado. Tão mais jovens, cabelos grandes demais e um
cigarro entre os dedos enquanto Syuk segurava um violão velho. Yoseob
quase não se reconheceu ali e isso era completamente cabível.

Até porque o homem naquela foto era feliz. E ele não era.

BUSAN

A voz de Eddie Vedder cantava sob o refrão de Alive quando Chinrae ouviu
passos e olhou para a direita. Estava sob um dos carros, trocando as últimas
peças de uma suspensão nova e estranhou porque estava bem tarde.

Ele viu um par de sapatos de aparência cara e a barra de uma calça de linho
bem limpa.

— Nós já fechamos. O senhor pode voltar amanhã às nove, mas e for urgente
podemos ver um preço-

— Eu acho que você nem saiba como ligar o meu carro, Chinrae.

Aquela voz.
Chinrae sentiu o corpo paralisar. Só tinha a escutado uma vez em toda a sua
vida, mas era como se estivesse eternamente gravada em sua memória. Ele
soltou a chave pesada que tinha na mão direita e usou os braços fortes para
empurrar as rodas do carrinho até sair debaixo do veículo.

O outro homem estava de pé. Roupas limpas e caras, bem penteado e com o
mesmo perfume enjoado de anos atrás. Chinrae ficou de pé, caminhou até o
pequeno rádio e desligou. O cabelo estava preso por duas mechas grossas,
os braços tatuados estavam sujos de óleo, e ele sabia que o seu cheiro de
suor e graxa não era dos melhores.

— Você não mudou nada. – Eunwoo estalou a língua e o mediu dos pés a
cabeça com desdém. – Eu não sei se isso é bom ou ruim.

— O que você quer? – perguntou sem rodeios.

— Hyo me disse que você não quer que ela se aproxime do garoto.

— O nome dele é Jungkook. – corrigiu sem paciência. – E você não tem nada
a ver com ele.

— Eu tenho a ver com tudo que é importante para minha esposa. – sorriu
debochado. – E Jungkook é importante pra ela.

— Depois de dezessete anos? – desdenhou. – Escuta, Eunwoo... Eu tô pouco


me fodendo se a Hyo quer se aproximar do Jungkook, ela perdeu esse direito
quando largou ele.

— Você sabe muito bem que ela o largou por sua causa, porque você não
aguentaria viver sem o menino. Hyo não estava pronta para ser mãe, ele tinha
ambição. Já você... – olho ao redor. – Sempre se contentou com pouco.

— É melhor você dar meia volta porque eu não sou tão paciente como antes
e posso te chutar pra fora daqui.

— O garoto é inteligente, Chinrae. – continuou. – Ela me disse que as notas


dele são ótimas e recentemente iniciou o desenvolvimento de um software de
busca sozinho. Ele puxou a mãe, felizmente.
— Eu sei que o meu filho é inteligente e não preciso que você me diga nada
disso.

— Nós temos uma filha.

— Eu não me importo.

— E Hyo quer dar a Jungkook tudo o que damos a Jihyo. – colocou as mãos
nos bolsos. – Uma boa condição financeira para um futuro promissor.

— Jungkook não precisa de nada disso. Ele foi criado sem condições
financeiras, mas nunca faltou nada.

— Tem certeza? – arqueou uma sobrancelha. – Me fale sobre as três


internações em hospitais públicos, a rinite aguda, a disfunção social.

— Jungkook é um garoto normal, não tem nada de errado com ele!

— Eu não disse que exista algo errado nele, eu estou dizendo que o seu
rancor idiota atrasa o desempenho dele.

— Vai embora agora. – apontou para as portas da oficina.

— A universidade quer financiar o projeto dele, mas Jungkook não possui


suporte nenhum e eles vão perceber isso quando vir à fonte de renda do pai
dele. – explicou. – O que você quer para ele?

— O melhor! Eu sempre dei o melhor para o meu filho enquanto Hyo fingia
que ele sequer existia! – se alterou.

— Não, Chinrae. Você dava e ainda dá o que pode. E nós dois sabemos que
é pouco. – deu de ombros. – Seja sincero com você mesmo. – sorriu. – Você
não quer que nós nos aproximemos de Jungkook porque teme que ele, assim
como Hyo, perceba que você é um fracasso. Então, ele poderia te deixar
também.

O soco atingiu a cheio o queixo de Eunwoo, mas ele também era um homem
forte, então apenas cambaleou e massageou o maxilar enquanto Chinrae o
encarava com ódio no olhar.
— SAI DA MINHA OFICINA AGORA!

— Eu deveria revidar e te encher de pancada, mas eu sou muito superior a


você. – cuspiu sangue e sorriu. – Esse teu comportamento só confirma a
porra do seu medo de ser deixado outra vez. Jungkook-

— NÃO FALE SOBRE O MEU FILHO! – explodiu. – VOCÊ NÃO O


CONHECE, NÃO SABE NADA SOBRE ELE! EU O CRIEI, EU SOU O PAI
DELE!

— Você também era o marido de Hyo, mas veja onde estamos agora. –
debochou e usou um lenço para limpar o sangue que saísse do corte no lábio
inferior. – Chinrae, você sabe que Jungkook não vai chegar a lugar nenhum,
você sabe que daqui uns anos ele vai estar coberto de graxa e fedendo a suor
enquanto conserta carros que nunca poderia comprar. É isso o que você quer
para o seu filho?

— Vai embora. – mandou de novo, suas mãos foram fechadas em punhos.

— Eu vou. Eu gostaria de avisar que Hyo vai procurá-lo e você não pode
fazer nada contra isso.

Eunwoo saiu da oficina destravando o carro importado que estava


estacionado do outro lado da rua. Chinrae ficou parado no mesmo lugar, o
viu ir embora. Depois ele fechou as portas da oficina, trancou-as e sentou
atrás do balcão simples que usava como recepção. Observou o telefone sem
fio, depois o caderno que usava para controlar as finanças e por último o
porta-retratos onde um Jungkook de catorze anos sorria segurando um copo
de refrigerante.

Amava-o tanto que era impossível não sentir medo.

Amava-o mais que qualquer outra coisa em sua vida.

Amava-o suficiente para acreditar que Eunwoo estava certo.

Chinrae chorou enquanto secava algumas garrafas de soju ouvindo Black


mais vezes do que poderia contar.
🌙

— Obrigado por vir, Nari-ah.

Eunji indicou o sofá elegante e a senhora sentou-se educadamente.

Ela conhecia aquela cobertura como a palma da mão, mas agora se sentia
desconfortável dentro dela. Hanguk continuou de pé próximo a janela, com
as mãos dentro dos bolsos da calça caqui.

— Eu viria de qualquer forma, Eunji-ah. – a antiga empregada sorriu. – Está


bem, Hanguk-ssi?

— Sim, obrigado por perguntar. – ele assentiu depois de encará-la. – Como


você está?

— Bem. – sorriu gentilmente. – A aposentadoria é quase entediante, mas eu


gosto.

— Eu fico feliz que esteja bem, Nari-ah. – Eunji parecia nervosa, apertava
os dedos sem parar, rodando a aliança dourada tantas vezes. Nari se
aproximou dela e segurou uma de suas mãos. – É injusto que eu lhe peça
isso, por favor, me desculpe.

— O que está acontecendo, querida? – a senhora perguntou apreensiva.

Eunji respirou fundo e assentiu, tomava coragem para poder continuar.

— Nari, por favor... Volta pra cá... Me ajuda, por favor?

Ela rompeu em um choro quase infantil, Nari a abraçou. Hanguk serviu para
a esposa um copo com água e sentou sobre a mesa de vidro, de frente para as
duas mulheres.

— Há seis meses descobrimos um aneurisma. – ele começou a explicar. –


Nós consultamos outros especialistas durante todo esse tempo, mas o caso
dela é inoperável.

Nari apertou mais Eunji em seus braços.


— Eu não sei... Eles disseram que tenho mais alguns meses.

— Namjoon...

— Ele não sabe. – a mulher mais nova negou e fungou. – Eu não sei como
dizer a ele porque eu não quero que Namjoon se aproxime de mim apenas
por isso, como se fosse um castigo pra ele.

— Ele não pensaria assim, Namjoon ama vocês dois. – tentou acalmá-la.

— Nari, por favor, se você voltar para cá ele vai se aproximar de nós outra
vez. – apertou as mãos dela. – Eu preciso que Namjoon volte a me amar.

Nari suspirou.

— Se acalme. – pediu carinhosamente. – Eu te conheço desde quando você


ainda era uma menina. Cuidei de Namjoon assim como cuidei de você. –
sorriu um pouco. – Eu volto, Eunji. – assentiu. – Vai ficar tudo bem.

Eunji voltou a chorar enquanto abraçava Nari, consolando-se no ombro


alheio. Hanguk continuava impassível. Ele encarou a mulher mais velha e
apenas assentiu em agradecimento.

Nari não retribuiu, ainda sentia rancor por aquele homem.

Hoseok sorriu quando sentiu os braços de Yoongi ao redor de sua cintura


antes de ser abraçado. Passou as duas mãos pelo rosto, para afastar a água
morna e suspirou por receber beijinhos demorados no meio das costas.

— Você comeu?

— Mais do que eu achei que poderia. Jin-hyung ficou do meu lado até eu
terminar. Igualzinho você. – murmurou. Hobi virou o corpo até estar de
frente para o namorado.

— A gente se preocupa com você, Yoon. – o abraçou pelo pescoço. – Você


'tá tão pálido, seus lábios-
— Você sabe o que fazer pra me deixar corado. – provocou sorrindo, mas o
olhar sério do maior o fez rolar os olhos e puxar os lábios num bico. – Seok-
ah.

— Não usa esse tom manhoso, seu chantagista safado. – ralhou.

— Leite faz bem pra anemia. – piscou.

— Meu deus do céu, você é horrível. – riu apoiando a cabeça no ombro de


Yoongi. A água morna continuava molhando seus corpos. – Cadê o Tae?

— Cochilando. – afagou os quadris alheios com a ponta dos dedos, Hobi


mordeu o lábio. – Eu dei um remédio pro enjoo que ele 'estava sentindo, eu
acho que ele comeu demais. – levou os lábios até o pescoço do namorado e
começou a deixar beijos seguidos de mordidas.

— Amor, você 'estava passando mal mais cedo. – choramingou, mas já


estava excitado e sentia que o outro também estava. – Min Yoongi...

— Jung Hoseok. – devolveu atrevido e o empurrou um pouco até as costas


estarem contra o vidro que separava o box do banheiro. – Eu quero te
chupar, amor.

— Ah, seu filho de uma puta. – xingou e fez carinho no rosto dele, esfregou o
polegar ao redor dos lábios rosados e Yoongi o prendeu entre os dentes,
sugando até o meio. – Você é um safado do caralho, sabia?

— Uhum. – assentiu e se abaixou, ficou de joelhos diante do namorado. – E


você ama isso, não ama Seok?

— Amo.

— Você também ama foder a minha boca? – segurou o pau de Hoseok pela
base e esfregou a glande nos próprios lábios, brincando enquanto o olhar
felino e manhoso prendia completamente as reações do maior. – Ama segurar
o meu cabelo e me fazer engasgar? Chorar enquanto te engulo inteiro?

— Puta que pariu, Yoongi. – ele fechou o registro do chuveiro e segurou o


cabelo úmido e esverdeado com as mãos. – Abre essa boca, meu gatinho.
— Ah. – obedeceu expondo para ele o interior rosado da boca pequena e
bonita.

— Coloca a língua pra fora. – Hobi segurou o próprio pau e o encaixou na


boca alheia, gemendo baixo enquanto assistia ser engolido até quase a base.
– Porra. – sussurrou. – Você quer que eu foda devagar? – Yoongi franziu o
cenho, indignado e negou. – Safado do caralho. – sorriu ladino. – Meu
gatinho guloso. – acertou um tapinha no rosto dele e se puxou pra fora.

— Seok-ah, amor... – choramingou manhoso. – Por favor? – encolheu os


ombros e piscou algumas vezes. Hoseok gemeu, aquele homem conseguiria
qualquer coisa de si tão facilmente.

— Tudo o que você quiser meu Yoon. – se empurrou para dentro da boca
dele outra vez e não perdeu tempo, começou a estocar depressa, fodendo
como o menor queria e como ele precisava. Segurava-o pelo cabelo, sentia
as unhas curtas e roídas arranhando suas coxas. Yoongi começou a se
masturbar com uma das mãos, seus olhos ficaram embaçados graças às
lágrimas, mas ele piscava depressa porque precisava ver Hoseok. Precisava
vê-lo se contorcer e morder o lábio com força, precisava vê-lo perdido no
prazer que sentia.

O som molhado do boquete o excitava tanto, o gosto do maior em sua língua


e até mesmo a dor no couro cabeludo lhe deixavam mais e mais perto do
próprio orgasmo.

Yoongi sentia tanto prazer naquilo.

Hobi gemeu alto antes de sentir os primeiros espasmos do orgasmo, ele se


puxou para fora e segurou o namorado pelo cabelo, o fio grosso de saliva e
pré-gozo se partiu quando ele começou a se masturbar forte.

— Seok... – o menor choramingou tentando tê-lo na boca de novo, abrindo os


lábios sedentos por mais. – Amor, me dá...

— Abre a boca. – mandou e sorriu ladino. – Guloso do caralho. – bateu com


o pau contra a boca pequena e inchada. – Você adora chupar um pau, não é?
— Só o de vocês. – assentiu submisso. – Eu adoro sentir o gosto... – lambeu
a glande avermelhada. – De engolir tudo. – gemeu, estava prestes a gozar
também.

— Língua pra fora. – repetiu. Hoseok grunhiu e o corpo se curvou um pouco


enquanto o orgasmo o deixava quase tonto. Gozou primeiro sobre a língua de
Yoongi, depois foi impossível manter qualquer mira, então o rosto corado foi
coberto pela porra grossa e quente. – Caralho...

— Amor... – choramingou enquanto também gozava na própria mão, se


masturbando devagarzinho. Ele lambeu os lábios, lambeu onde conseguia
alcançar do pau alheio e chegou a recolher o que sujava suas bochechas pra
lamber os dedos grandes. – É tão gostoso.

— Qualquer dia você vai me matar, sabia? – sorriu um pouco preguiçoso e


encostou o corpo outra vez ao vidro. – Vem aqui, deixa eu te limpar.

Yoongi sorriu e ficou de pé enquanto Hobi abria o registro do chuveiro outra


vez. Usou o sabonete líquido com cuidado, espalhando nas mãos depois.

— Me dá banho? – o menor perguntou o abraçando, ele sempre ficava mais


manhoso depois do orgasmo.

— Uhum. – assentiu e o beijou na testa. – 'Tá cansado, não é?

— Só um pouquinho.

Hoseok o deu banho. Lavou o cabelo dele com cuidado, ensaboou seu corpo
enquanto fazia massagem em cada pedaço de seu corpo e até o fez rir por
deixar mordidas nas nádegas branquinhas. Os dois saíram juntos, Yoongi se
embrulhou em um roupão verde escuro e deitou ao lado de Taehyung na
cama, abraçando-o por trás só para cair no sono também.

Hoseok os observou enquanto se vestia e secava os cabelos com uma toalha


pequena.

Ele sorriu.
Olhar para Taehyung e Yoongi o fazia acreditar que nada no mundo poderia
estragar toda a felicidade que sentia. Amava-os demais.

E ali naquele quarto, enquanto os outros dois dormiam e o mais novo


roncava baixinho, Hobi jurou por deus que não deixaria nada intervir entre
eles.

Absolutamente nada. Nem mesmo seus pais.

Eram quase quatro horas quando Jimin e Jungkook se juntaram aos outros
para irem ao luau que Yoongi queria levá-los. O casal estava com os cabelos
úmidos e de mãos dadas. Seokjin cruzou os braços, Namjoon segurou a
vontade de rir.

— Eu achei que você tinha matado ele! – o mais velho esbravejou.

— Pelos gritos eu achei também. – Tae deu de ombros.

— Vocês parem com isso, o garoto vai explodir. – Yoongi apontou para
Jungkook que estava completamente corado escondido atrás de Jimin. –
Aqui, as pulseiras de vocês. – entregou para o Park. – Esse luau 'tá sendo
patrocinado por uma produtora de Seul, vai ter um palco aberto. Seria legal
se você cantasse alguma coisa Jimin. – sorriu.

— Ah, legal. – assentiu e pegou as pulseiras. – Aqui bebê, essa é a sua.

— A gente pode usar o carro grande e-

— Ah, não. Vamos andando. Eu quero beber e aí fica ruim voltar dirigindo. –
Jin ralhou.

— Eu posso dirigir hyung. – Namjoon deu de ombros.

— Primeiro o arroz e agora isso?! – Hobi cruzou os braços. – Você quer


mesmo matar a gente?! Se tiver alguma coisa pra dizer, diz logo Namjoon!

Namjoon lhe mostrou o dedo do meio, Hoseok lhe deu a língua.


— Que maduro. – Tae rolou os olhos. Hoseok mostrou a língua pra ele
também.

— Eu e o Jungkook preferimos ir andando. – Jimin estava querendo rir.

— Tá difícil sentar, né filho? – Jin se aproximou dele, segurando-o pelos


ombros com carinho. – Quer uma pomada? Eu posso passar e-

— Jin-hyung! Não! – o garoto negou desesperado. – Jimin-ssi. –


choramingou.

— Ele não vai passar pomada em você. – negou, mas queria mesmo rir. – Só
eu posso fazer isso.

Jungkook arregalou os olhos, mas não pôde evitar rir quando Seokjin gritou
que estava passando mal.

— Hey, tudo bem? – Hoseok perguntou discretamente, bagunçando seus


cabelos úmidos.

— Uhum. – sorriu enrugando o nariz. – Hyung, eu 'tô muito feliz.

— Eu também, Jungoo. – assentiu. – Estou feliz por mim e por você, por
todos nós. Tudo está bem.

Jungkook o abraçou apertado, quase se encolhendo contra o peito do mais


velho. Hobi beijou o cabelo dele e o abraçou com carinho.

O luau acontecia em uma parte particular da praia mais bonita daquela


cidade. Tudo era privado, seguranças controlavam os arredores
discretamente e o tema do evento misturava a cultura sul-coreana com
mitologia grega.

A ornamentação se erguia em colunas gregas e tendas organizadas por todo o


evento, servindo bebidas e até mesmo comida. Os sete escolheram ficar
perto do palco onde um grupo amador cantava covers de bandas nacionais.
Cada um com seu copo colorido ofertado pelo evento, mas o de Namjoon
continha suco de abacaxi.

Jimin sentou em uma das cadeiras presas a areia e puxou Jungkook para
sentar em sua coxa só para ajudá-lo a comer o cachorro quente que o mais
novo tinha nas mãos.

— Tudo bem? – perguntou depois de dar um guardanapo a ele.

— Tudo hyung, não tá doendo tanto. Só é estranho. – deu de ombros e


mordeu o cachorro quente.

— Estranho? – Jimin apoiou o cotovelo à mesa e sorriu. – Estranho como?

— Ah... – ele disse de boca cheia. – Eu me sinto um pouco... – olhou ao


redor. – Aberto.

— Ah, você se sente um pouco aberto? – perguntou rindo um pouco,


apertando a cintura do namorado com carinho. Jungkook assentiu.

— É. Minha bunda. – continuou. – Parece que eu...

— Fala amor, você sabe que a gente pode falar sobre tudo. – incentivou.
Jungkook engoliu o que mastigava.

— Parece que eu não conseguiria segurar nada se ficar com vontade de fazer
cocô. – fez careta. Jimin escondeu o rosto no pescoço dele e segurou o riso.
– Para de rir de mim, hyung.

— Eu não estou rindo de você... Estou rindo com você.

— Mas eu nem 'tô rindo. – ralhou e mordeu outro pedaço do cachorro-


quente.

— Eu te amo muito, sabia? – colocou o cabelo do mais novo para trás,


afastando do molho de comida que quase o sujava. – E você foi incrível
hoje.

— Sério?
— Foi o melhor sexo da minha vida, Jungkook. E não, eu não estou dizendo
isso só pra te agradar, estou dizendo por que é a verdade.

— O melhor de todos? – o outro assentiu. – Por quê?

— Porque eu tinha esquecido como é transar com quem a gente ama, eu tinha
medo de fazer isso de novo, mas você tem me feito ser um homem corajoso.

— Então, eu posso te pedir uma coisa? – Jimin assentiu de novo. – Come o


seu. – apontou para o cachorro quente intocado sobre a mesa ornamentada. –
Por favor?

Jimin sorriu e beijou o ombro de Jungkook, depois ele segurou o pulso do


maior e o trouxe para perto até morder um pedaço do cachorro-quente dele.
O garoto sorriu satisfeito e o beijou na testa.

— Nossa, vocês dois são tão insuportáveis se eu fosse diabético já teria


morrido com tanto doce. – Tae sentou perto deles.

— Olha quem fala. Você não estava mordendo a barriga do Yoongi agora
mesmo?

— Estava, mas ele ficou puto e me xingou. – sorriu. – Então, casal... Quero
saber como foi o coito.

— Eu não vou te-

— Eu sentei como você me explicou, Tae-hyung. – Jungkook interrompeu


Jimin, que arregalou os olhos. – Não doeu muito.

— Esse é o meu garoto. – piscou.

— Jungkook?! – o Park ralhou.

— Ai, não enche, Jimin. O garoto é praticamente o meu enteado. – deu de


ombros. – Preciso ensinar alguma coisa. Eu queria ensinar a jogar futebol,
mas se ele quer aprender a dar o cu, ok. Eu ensino também.
— Quem deu o cu? – Jin questionou chegando perto deles. – Não responda,
Jeon Jungkook! – ergueu a mão para calar o garoto que estava prestes a falar.
– Jimin, eu acho que você e o Hobi deveriam cantar alguma coisa.

— Hm, pode ser. – ele sorriu. – Mas só se o hyung vier junto.

— Jin-hyung? – Tae franziu o cenho.

— Antes de mim, ele era o vocalista da Cypher. – Jimin explicou. – Ele saiu
quando entrou no penúltimo ano, não teve mais tempo.

— Ah, eu não faço isso há muito tempo. – gesticulou. – Seria um desastre.

— Ah, por favor, hyung? – Jungkook estava o encarando com o olhar pidão.

— Pare com isso, JK.

— Eu já falei pra ele que essa carinha é uma covardia! – Taehyung apontou.
– Mas... – ele suspirou, então também havia uma expressão pidona em seu
rosto. – Por favor, Jin-hyung? Por favor? – juntou as mãos em prece.

— Nossa, só está muito frio para negar isso. – Jimin fez um bico.

— Jimin, não! – Jin quase gritou. – Park Jimin, não faça isso! – Jimin negou,
a própria face do que existia de mais fofo. – Isso é um absurdo, vocês não
podem fazer isso comigo! – os três juntaram as mãos em prece. – Inferno!
Desgraça! Tá bom, caralho! Eu canto! – gesticulou. – Não cheguem perto de
mim!

Afastou-se resmungando.

Os três mais novos bateram as mãos em soquinhos vitoriosos.

Namjoon guardou o celular no bolso da bermuda depois de responder a


mensagem de Nari e olhou ao redor para continuar procurando um lugar
perfeito para fazer o que tanto queria.
Ele caminhou para o lado oposto às tendas de bebidas, tomou cuidado com
as pedras escorregadias que eram cobertas quando as ondas eram um pouco
maiores e se abaixou para procurar melhor.

— Eu já te falei que não quero esse garoto aí depois das dez horas. – ouviu
uma voz quase familiar, mas não olhou. Usou a mão direita para pegar um
pequeno caranguejo e sorriu. – Não quero saber, quando for nove horas e
cinquenta e nove segundos, é bom ele ter ido embora.

— Appa, o senhor está sendo dramático.

— Por que você fala igualzinho ao seu appa? – o homem estava mais perto.
Namjoon ficou de pé e olhou ao redor. – Cadê os seus irmãos?

— Deixa eu falar com o appa também!

— Você está pisando no meu pé cabeça de abóbora!

— Appa, eu vou vender os dois no Ebay!

Namjoon acabou por sorrir. O homem estava de costas, mas claramente em


uma chamada de vídeo. Alto, ombros largos e cabelo descolorido num
mullet bagunçado pelo vento. Vestia branco: bermuda, camiseta e chinelos.

— Yumi, você não pode vender os seus irmãos. – o tom era de riso.

— Oi appa! – uma voz infantil e adorável pode ser ouvida. – Appa eu


posso fazer um dominó com as teclas do piano?

— Não, Yuta, você não pode fazer isso. – o homem suspirou. – O que nós
falamos sobre quebrar uma coisa para fazer outras?

— Que não pode. – o menino parecia chateado.

— Eu te falei cabeça de abóbora. – outra voz, desta vez mais forte mesmo
que infantil. – Appa eu tenho uma namorada.

— Isso até ela saber que você odeia tomar banho, né?
A gritaria fez Namjoon arregalar os olhos, mas o homem apenas suspirou.

— Jeno... Hey, Crianças?! Kim Jenwoo, Kim Yuta e Kim Yumi parem de
brigar agora! – a gritaria parou na hora. – Vocês prometeram que se
comportariam com os vovôs, mas aparentemente mentiram, é isso? Querem
me deixar decepcionado?

— Não! – os três responderam juntos. – Desculpe, appa.

— Certo. Eu preciso desligar, vou ligar amanhã de manhã antes de o jatinho


sair. Se comportem, ok? E você, Yumi... Mande logo Hyun embora!

— Estou com saudades também, sogrão! – uma quarta voz pode ser
ouvida.

— Aish, garoto abusado. Tchau, amo vocês... Menos você Hyun!

Ele desligou e se virou guardando o celular no bolso, então deu de cara com
Namjoon.

Ambos franziram o cenho, uma sensação estranha, porém agradável os fez


sorrir um pouco.

— Ah, desculpe... Eu não estava ouvindo, quer dizer eu estava... – Namjoon


sorriu sem jeito. – Eu vim pegar caranguejos e te ouvi... Desculpe...

— Tudo bem, desculpe por toda a gritaria. – apontou para o celular. – Meus
filhos são barulhentos demais. – assentiu. – Está gostando do evento?

— Sim! 'Tá tudo muito bem organizado.

— Por favor, diga isso ao meu marido. – riu. – Ele estava surtando mais
cedo

Então Namjoon viu a aliança dourada que o homem usava. Sorriu outra vez,
aquela pessoa lhe deixava confortável.

— O senhor é um dos organizadores?


— Sou, mas não me chama assim não, eu sei que 'tô velho, mas gosto de
fingir que não 'tô. – se aproximou e estendeu a mão. – RM.

— O que?

— Eu sou RM. – sacudiu a mão. Namjoon se apressou para apertá-la.

— Namjoon. Meu nome é Namjoon.

RM franziu o cenho com estranheza, mas apenas apertou a mão do garoto


mais novo e assentiu.

— Você disse que estava caçando caranguejos, certo? – Namjoon assentiu. –


Garoto, eu era muito bom nisso há uns anos... Vem, vou te ensinar uns
truques.

RM apontou para as pedras e Namjoon o seguiu.

— Olá. Oi. Como vai? – Jin cumprimentava cada pessoa que o encarava. Ao
lado dele, Yoongi escondia o rosto com vergonha. – Oi, tudo bem?

— Hyung, pelo amor de deus, para com isso. – pediu baixinho.

— Eu sou gentil! Você deveria ser também. – pararam na fila para pegar
bebidas. – Cadê o Hoseok?

— Está dançando. – apontou para a direita. – Estranhamente competindo


com outro cara bem mais velho, mas pelo menos 'tá feliz.

— Yoongi, olha que homem lindo. – cochichou.

— Onde? – olhou ao redor.

— Ali, perto do segurança grandalhão. – apontou discretamente. – Ele está


usando uma camisa branca... Olha aqueles ombros largos!
Yoongi olhou para o tal homem. Ele parecia meio nervoso ao falar com o
segurança, mas sorria. O cabelo escuro estava penteado para o lado, a testa
exposta. Então ele olhou para Jin, para o homem e depois para Jin outra vez.

— Ele parece você, hyung.

— O que? Ele é bonito, mas não exagere. – gesticulou. – Olá, como vai? Eu
gostaria de duas cervejas.

— Claro, senhor. – a garota sorriu encantada antes de ir buscar as bebidas.

— Pede soju, vou levar pro Tae.

— Odeio casais, todos chatos. – suspirou. – Uma garrafa de soju também,


por favor, querida.

A garota assentiu.

— Conversou com Namjoon?

— Sim. – o semblante brincalhão diminuiu. – Acho que não é o nosso


momento, Gi.

— Eu sinto muito, hyung. – afagou as costas dele com carinho.

— Tudo bem, é o mais saudável para nós dois agora. Além de que, eu vou
ser pai daqui uns meses e Namjoon ainda está se curando do passado... –
suspirou de novo, mas sorriu. – É um alívio que agora nós dois não temos
mais segredos ou continuamos nos machucando, dizendo coisas ruins um ao
outro.

— Hyung, perdoou o Namjoon?

Jin pensou sobre aquela pergunta, mas antes que respondesse ao melhor
amigo, a garota entregou a eles as bebidas e os dois saíram da fila, voltando
para perto dos mais novos.

— Gi, pode levar isso? Eu preciso mijar.


— Mija na praia, ué. – deu de ombros.

— Eu não posso colocar meu pau pra fora desse jeito, as pessoas podem se
apaixonar ainda mais por mim. – piscou e Yoongi rolou os olhos.

— 'Tá, mas não se perde, estamos do lado direito em frente ao palco.

Jin lhe mandou um beijinho no ar e se afastou em direção às cabines de


banheiros. Ele passou por entre as pessoas e até riu quando reconheceu
Hoseok duelando contra outro cara na pista de dança. Não teve de esperar
muito para usar a cabine, fez o que tinha de fazer e depois de lavar as mãos
esbarrou em outra pessoa.

— Ah, desculpa!

— Desculpa, eu não te vi e-

Eles se encararam. Jin sorriu.

— Olá, homem bonito. – cumprimentou sedutor.

— Bonito e casado. – o homem levantou a mão e mostrou a aliança.

— Ah, meu pobre coração iludido. – dramatizou brincando. O homem riu um


pouco.

— Sinto muito lhe magoar, garoto bonito. Mas eu tô procurando meu marido
há meia hora e se ele desapareceu levado pelo mar a gente pode conversar.

— Não gosto de viúvos, me recuso.

Os dois riram e Jin realmente achou a risada daquele cara maravilhoso.

— Eu sou Jin, muito prazer. – estendeu a mão.

— Jin? – o homem mordeu o lábio. – Muito prazer, eu sou Seok. Como um


dos organizadores do evento, é minha obrigação perguntar se está gostando.

— Olha, você quer a minha sinceridade?


— Eu a imploro.

— O salmão tá sem sal e, pelo amor de deus, tira aquela banda dali, estão
matando a festa.

Seok abriu a boca e usou as mãos para cobri-la.

— Obrigado! Muito obrigado por não tentar fazer parecer que está tudo
perfeito! É o meu primeiro evento! Meu marido e eu formamos essa pequena
empresa de eventos com nossos amigos e eu disse pra eles que algumas
coisas estavam erradas, que isso era normal!

— Mas eles não sabem lidar com esse tipo de pressão? – tentou.

— Não! Eles definitivamente não sabem. – suspirou. – Garoto, você é


perspicaz.

— Obrigado. – sorriu.

Seok pediu um segundo erguendo o dedo e sacou o celular do bolso da


bermuda rosa claríssimo. Ele sorriu para a tela. Um sorriso sincero e tão
terno.

— Meus filhos me mandando um vídeo. – explicou.

— Filhos? Você tem filhos? – Jin ficou nervoso e o outro homem percebeu.

— Três. Uma menina e dois meninos. E você? Tem filhos?

— Ainda não. – negou. – Quer dizer, não nasceu... Eu ainda nem o vi, tem
algumas semanas. – o nervosismo fez Seok suspirar.

— Jin, você gostaria de tomar uma bebida comigo?

Jin coçou a nuca e assentiu.


Yoongi fez um bico quando não achou os mais novos na mesa. Colocou as
bebidas sobre a superfície plana e sentou onde Jimin estava sentado antes.
De onde estava conseguia ver Hoseok dançando, então riu baixinho.

— Ele esquece que o resto do mundo existe. – ouviu a voz grossa e olhou
para o lado, para a mesa próxima. Um homem estava sentado ali. Cabelos
escuros, mas raspados nas laterais, pele pálida e uma garrafa pequena de
cerveja nas mãos.

— Eu sei como é. – suspirou e voltou a encarar Hoseok.

— Sua namorada também gosta de dançar?

— Ah, o meu namorado na verdade.

— Oh, desculpe?

— Tudo bem. – gesticulou. – Ali, o de camiseta com Sóis estampados.

— Sério? Meu marido é o de cabelo loiro competindo loucamente contra


ele. – o cara sorriu e bebeu o resto da cerveja. – Mas eu agradeço porque
pelo menos ele não nos obriga a dançar com ele.

— Sorte sua, meus namorados são como arroz de festa.

— Namorados? – o homem arqueou uma sobrancelha.

— Ah. – Yoongi sorriu orgulhoso. – Eu tenho dois... Já ouviu falar sobre


poliamor?

— Se eu já ouvi falar? – riu baixinho. – Aqui, essa aliança. – mostrou a


aliança dourada. – Têm dois nomes.

— 'Tá falando sério?! – se animou.

— Estou. – assentiu. – A propósito, meu nome é Suga.

— Eu sou Yoongi.
Suga estranhou, mas apenas assentiu.

— Vocês estão casados há muito tempo?

— Ih, é uma longa história. – assoviou.

— Se quiser contar, sou todos ouvidos. – deu de ombros. Suga colocou a


garrafa sobre a mesa.

— Senta aqui comigo? – convidou.

— Hey, você tá legal?

Tae olhou para cima e assentiu. Ele sequer prestou atenção na pessoa que lhe
falava. Ele continuou sentado na areia, às costas contra uma das pedras
grandes e os pés esticados para serem alcançados quando as ondas vinham.

O homem deu de ombros e continuou a ligação que estava prestes a fazer.

— Hae, sou eu. – ele começou. – Eles já dormiram? Ótimo, me deixa falar
com eles, por favor? – Tae fungou e secou os olhos antes das lágrimas
escaparem. Queria tanto estar bem, mas sequer conseguia fingir isso. O
homem lhe deu uma nova olhada. – Oi Cho, é o papa. – o tom de voz doce
era agradável. – Você comeu tudo? Eu sabia que minha gatinha comeria tudo.
Papa comprou um presente pra você... Oh é surpresa, não posso dizer. Eu
também te amo muito, minha gatinha. Ok, passe pra ele. Dongie, hey não
grite... Papa está te ouvindo tigrinho. Claro que tem presente pra você
também. Não, nada de vídeo game você 'tá de castigo... Ninguém mandou
pintar o cabelo da sua irmã com tinta guache. Ok, eu te amo Dong-He. – ele
riu. – Oi, esquilinha. O Papa está com saudade também, Sana. Não chore, eu
sei meu amor... Papa promete que brinca com você quando chegar a casa,
uhum... – ele coçou a garganta. – Sana, papa não pode... 'Tá bem, 'tá bem...
Baby Shark tudu tudu tudu tudu... Sim, o papa tá dançando pode cantar.

Taehyung riu um pouco, o homem notou e rolou os olhos.


— Hae, eles comeram direito? Obrigado. Hyun já chegou? Vou mandar uma
mensagem, ele 'tá doidinho por hyung cortar as bolas dele fora. – suspirou. –
Sana só dorme direito com algo do Hope, pega a camiseta que ele deixou
dobrada em cima da nossa cama e dá pra ela. Muito obrigado... Ah estamos
bem, 'tá tudo indo bem por aqui. – ele sorriu. – Ligamos amanhã de manhã.
Tchau. Beijo.

Ele desligou a ligação e notou que o garoto o encarava,

— O que é? – ralhou. – Minha filha mais nova tem quatro anos e ela gosta
que eu cante pra ela!

— Não estou julgando. – se defendeu e assentiu. – Seus filhos parecem


adoráveis.

— Eles são. Até o garoto e olha... Ele é terrível. – bebeu um gole do sujo.
Tae notou que ele era muito bonito. Tão alto quanto ele mesmo, longos
cabelos castanhos presos num coque mal feito, óculos de grau com armação
fina e roupas largas demais para o corpo. – Sinceramente, você tá legal?

— Sinceramente eu tô péssimo o suficiente para dizer a um estranho que


estou péssimo. – suspirou e voltou a encarar a praia.

— Quer conversar? Sei lá, um dos meus maridos sempre diz que é bom
conversar. Ele é psicólogo.

— Um dos maridos? – arqueou uma sobrancelha.

— O que eu posso fazer se sou um homem cheio de amor pra dar? – brincou
e Tae sorriu. – Quer falar?

— Pode ser. – deu de ombros.

— O meu nome é Vante.

— O meu é Taehyung.

— Que nome lindo, eu adoro esse nome. – segurou um sorriso e sentou ao


lado dele.

Jungkook acabou por tirar todo o rótulo da garrafinha de cerveja enquanto


esperava Jimin. Ele conseguia vê-lo de onde estava, mas ainda sim se sentia
perdido no meio de tantas pessoas.

Seus olhos grandes observavam tudo ao redor, desde as pessoas até os


pequenos detalhes que mais ninguém se importava de ver. Não percebeu
quando um homem se aproximou e parou bem ao seu lado.

— Você parece perdido. – a voz o assustou um pouco, Jungkook olhou para o


lado e viu o homem que lhe sorria com gentileza. Era alto como ele, vestia
roupas bonitas e tinha o cabelo bem preto num undercut bem feito. A barba o
fazia parecer tão sério. – Meu marido disse que você parece um cachorrinho
perdido e me obrigou a vir saber se está tudo bem, ele quer ninguém
desconfortável no evento. – sorriu.

— Ah. Tu-tudo bem, o-obrigado. – assentiu. – Eu tô esperando o me-meu


namorado. – apertou a garrafa.

— Acho que te assustei mais. – lamentou. – Você parece com alguém que eu
conheço, mas eu não consigo lembrar. – estreitou o olhar.

— Amor, você veio salvar o garoto. – outro homem se aproximou. O cabelo


preto estava penteado para trás, ele sorria por baixo da máscara negra que
usava. – Eu preciso de outro remédio para gripe, meu nariz não para de
arder.

— A gente devia voltar para o hotel, mochi.

— Nada disso! Uma gripe não vai me derrubar. – negou. – Ah, olá querido.
Você está bem?

— Si-sim. – assentiu.

— Está sozinho? Perdeu seus amigos ou veio sozinho?

— Não. Eu estou esperando o meu namorado J-


— Bebê, está tudo bem? – Jimin se aproximou cuidadoso. Ele encarou o
casal de estranhos e sorriu gentil. – Boa tarde.

— Ah, você é o namorado. – o homem mais alto pareceu entender. – Nós


viemos porque ele parecia perdido.

— Eu disse que estava te esperando. – Jungkook praticamente se escondeu


atrás de Jimin. O cara de barba o achou fofo.

— Obrigado, eu fui perguntar se posso tocar alguma coisa com dois amigos.
– gesticulou em direção ao palco.

— Por favor, eu imploro! Ninguém aguenta mais esse povo cantando música
do século retrasado. – o homem de máscara se animou. – Deixa eu me
apresentar, sou Chim e esse é o meu marido Nochu. – ele riu baixinho, a
piada interna fez seu marido rolar os olhos.

— Eu sou Jimin e esse é meu namorado Jungkook.

— Oi. – Jungkook acenou.

— É um prazer. – Nochu sorriu abraçado ao marido.

Quando a quinta música acabou, Hoseok sorriu ao perceber que o outro cara
desistiu. Ele não queria competir, queria apenas dançar, mas aquele velho
simplesmente o desafiou quando começou a dançar perto dele.

Também estava cansado, então não demorou a sair do meio das pessoas em
meio aos elogios para procurar uma das tendas de bebidas em busca de água.
Viu Yoongi conversar animadamente com outro cara numa das mesas e
franziu o cenho.

— Você até que dança bem, sorte sua que eu esteja cansado. – a voz o fez dar
um pulo. Então, o cara pulou de susto também.

— Jesus Cristo! Que susto da porra!


— Quer me matar do coração, garoto?! – o homem respirou fundo.

— Foi mal, mas a culpa é sua!

— Hey, quem é aquele ali falando com o meu marido? – Hobi notou que ele
encarava a mesa onde Yoongi estava,

— Meu namorado.

— Ah.

— Ok.

Os dois beberam água ao mesmo tempo. Hobi deu outra olhada no cara.
Mesma altura, mas só isso. O achou brega demais graças à camiseta com
estampas de girassóis. Sua própria camisa com pequenos Sóis era mais
bonita. O home tinha cabelos loiros e um cavanhaque simples.

— Você é dançarino?

— Eu? Não! – negou. – Eu estudo para ser arquiteto, mas danço às vezes. E
o senhor?

— Senhor? Garoto eu não sou velho assim não! – negou. – Eu dançava antes,
nada profissional.

— Até que é ok pra sua idade. – provocou bebendo o resto da água.

— Eu só tenho trinta e oito.

— Quase trinta e todos. – murmurou. – Certo, vou parar de implicar contigo.


Queria saber o que eles tanto falam. – apontou para a mesa.

— Fique tranquilo. Meu marido é psicólogo, conversar com ele é incrível...


Quando você não está com ele há anos e ele sabe que você está mentindo até
se estiver de costas.

— Deve ser difícil. Eu minto muito mal.


— Eu também. – suspirou. – Meu Vante já é melhor nisso.

— Vante?

— Meu marido.

— Aquele ali?

— Não.

— Moço?! – arregalou os olhos. – Achei que ele fosse o seu marido!

— Ele é! Mas aquele ali é o Suga.

— Então quem é Vante?

— Meu marido.

— Moço, o senhor tá chapado? Se estiver, pode dizer onde comprou? A


minha acabou hoje de manhã. – reclamou.

— Garoto, eu tenho dois maridos!

— Ah. – abriu a boca e assentiu. O homem arqueou uma sobrancelha.

— Não achou estranho?

— Eu? – sorriu, negando. – Eu tenho dois namorados. Aquele ali de cabelo


verde e o outro que provavelmente esteja fazendo alguma merda por aí. –
gesticulou.

— Sério? Então eu já sei do que eles estão falando.

— Do que?

— Estão falando mal da gente. – suspirou.

— Tem razão. Qual o seu nome?


— Hope. E o seu?

— Hoseok. – deu de ombros de novo.

Hope franziu o cenho, mas apenas sorriu.

— Yumi tem quinze anos, está prestes a fazer dezesseis. – RM estava


sentado de frente a Namjoon, ambos com os pés para dentro da água salgada.
– Jeno tem dez e Yuta tem sete. Nenhum deles é nosso biologicamente, mas
são nossos em todos os outros sentidos.

— É uma família linda. – sorriu.

— É sim. Sabe, eu tenho trinta e oito anos, Namjoon, mas eu tenho certeza
que sou um homem realizado e feliz.

— Deve ser incrível. – disse encarando os próprios pés.

— Ser realizado?

— Não. Ser feliz.

RM observou aquele garoto e suspirou. Não sabia explicar, mas sentia-se


conectado a ele de alguma forma.

— A felicidade é uma coisa tão relativa. – começou e teve o olhar do garoto


em si. – Algumas pessoas precisam de muito pra ser feliz, outras pessoas
precisam de pouco e tem até quem não precisa de nada. – deu de ombros. –
Mas o que ninguém percebe é que o que a gente mais precisa pra ser feliz é...
Da gente. De nós mesmos.

— E o que acontece quando a gente não se sente a gente... Quer dizer,


quando a gente tem medo do que tem por dentro?

— Sinceramente? – Namjoon assentiu. – Eu falo isso por mim... Eu lutaria.

— Contra si mesmo?
— Contra o que tem dentro de mim e me dá medo. É algo que é necessário
fazer sozinho. – Namjoon outra vez desviou o olhar. – Como você lida com o
amor próprio?

— Eu não lido. – sorriu sem humor.

— Por quê?

— Porque eu sequer o tenho. – encolheu os ombros. – Não gosto de nada em


mim.

— Nada mesmo? – tentou. – Se eu te perguntar sobre algo que você goste em


você, não teria nada pra me dizer? Ou algo que você faça.

Namjoon ficou em silêncio, pensando.

— Eu gosto do que eu escrevo, de como rimo as palavras.

— Você gosta de rimar as palavras?

— Uhum.

— Música ou poesia?

— Poesias. Músicas eu nunca tentei. – negou.

— Nós achamos algo que você gosta em você, Namjoon. – sorriu. – Eu


posso te pedir algo?

— Pode.

— Provavelmente nós dois nunca mais vamos nos ver, então eu não sei se
você vai cumprir, mas espero que sim. Quando voltar para casa, uma vez por
dia, escreva numa folha uma coisa que não gosta de você e duas coisas que
gosta. Pode repetir os adjetivos, mas não na mesma semana.

— E depois?
— Depois escreva sobre você usando essas palavras, faça poesias. Ou
músicas. Quando sentir solidão, quando se sentir cansado... Quando não
achar nada que ame em si, escreva isso. Expurgue tudo, Namjoon.

— Isso vai me ajudar? – tentou, aquela conversa o fazia sentir mais leve.

— Eu espero que sim e você? O que você quer?

— Eu quero ficar bem. Então, eu também espero que ajude. Às vezes tenho a
sensação que 'tô pedindo ajuda o tempo todo, até quando eu fico em silêncio.
Mas eu nunca quero dar trabalho para as outras pessoas. – suspirou. – Então,
eu quero ficar bem. Obrigado por essa conversa RM.

— Me agradeça ficando bem, é o suficiente.

— Essa é a Yumi, minha mais velha. – Seok mostrou o celular a Jin. – Ela
tem quinze anos. É a minha rainha. – sorriu. A adolescente sorria na foto, os
cabelos longos estavam penteados para trás e ela vestia uma camiseta do
Mario Bros. – Este é o Jeno, ele tem dez. – mostrou outra foto. – Meu
porquinho. – o sorriso de Seok era contagiante. – Ele joga tênis, é muito
bom! E Deus me perdoe, mas esse garoto parece demais comigo antes... Vive
arrumando namoradas. – suspirou. Jin observou o garoto usando uma fantasia
de Superman. – E esse é o meu anjinho Yuta. Ele tem sete, ele é irmão do
Jeno, adotamos os dois quando os conhecemos.

— Eles são lindos. – elogiou outra vez. – Os três. Sua família é linda Seok.

— Obrigado. Eles são tudo de mais importante na minha vida. Eles são o
meu ninho. – bloqueou a tela do celular o deixou sobre a mesa. – Você me
disse que vai ser pai.

— É. Eu vou, acho que daqui sete meses. Algo assim.

— Sua namorada está grávida? – Jin assentiu. – Foi planejado?


— Não. Ela não é mais a minha namorada, quer dizer, ela pediu um tempo
depois que eu fui um babaca sobre a gravidez. – suspirou. – Eu não sei o
status do nosso relacionamento nesse momento, mas eu sei que nós vamos ter
um filho.

— E como você está com isso?

— Eu estou enlouquecendo. – confessou num suspiro longo. – Eu li que


bebês podem morrer simplesmente do nada, eles estão ali e bum, morrem! Li
também que a gente precisa colocar pra arrotar e até para soltar gases se for
necessário. E porque as pessoas ficam sempre entre azul e rosa? Eu contei
para os meus pais e eles ficaram "oh queremos um menino", isso importa?
Menino ou menina? Isso realmente é relevante? Eu quero que seja saudável,
só isso! – ele gesticulou. – Eu nunca fui bom com crianças, uma vez quase
derrubei o filho da minha prima, depois disso nunca mais cheguei perto! –
Seok sorriu, estava tão compadecido do desespero daquele garoto. – E se eu
fizer tudo errado? E se eu não for bom nisso?

— Não tem como saber, Jin. Não tem como saber. – suspirou. – Eu achei que
era um pai incrível logo depois de Jeno e Yuta chegarem. Tudo estava no
meu controle, meu marido e eu éramos um puta time. Então, depois de jantar
enquanto dava banho em Yuta eu o vi sufocar nos meus braços, puxando a
minha roupa em desespero, chamando por mim... E sabe o que eu fiz?

— O que?

— Nada. Eu não consegui fazer nada. Eu nem lembro como dirigir até a
emergência, é como um apagão. Me lembro apenas de quando a pediatra se
aproximou e me apresentou um cardiologista, eu não entendi. Ele disse "o
coração dele não funciona bem." – sorriu nostálgico. – Naquele momento o
meu mundo inteiro desabou. Eu era um bom pai, eu me achava um pai do
caralho e mesmo assim o meu filho foi desenganado e não tinha nada que
pudesse fazer.

— Eu sinto muito, Seok.

— Obrigado. – sorriu gentil. – Eu tenho quarenta e um anos e nunca senti


tanto medo na minha vida quanto naqueles dias. Meu marido e eu levamos o
sono do nosso filho, eu o vi implorar a deus numa noite, sozinho... Exigindo
qualquer coisa dessa suposta força superior. – suspirou de novo. – Ele
sequer acredita. Foram quase dois anos assim: cada suspiro de Yuta me
apavorava. Dinheiro nenhum conseguia mudar isso, nós esperávamos por um
doador enquanto nos perguntávamos por que funerárias vendiam caixões tão
pequenos. – os olhos dele estavam marejados, ele sorriu e sacudiu a cabeça.
– Quando nos ligaram de madrugada pra avisar que tinham um coração pra
ele eu também fiquei em choque e só me lembro do meu melhor amigo me
dizendo para assinar a autorização da cirurgia. Yuta está bem, ele é saudável
e um menino doce demais. Ele ainda dorme agarrado em mim quando tem
pesadelos e eu confesso que fico esperando ele bater na porta me pedindo
pra dormir com a gente. E eu percebi que é impossível ser um pai perfeito
quando não temos controle de nossas vidas. – ele segurou a mão de Jin e
sorriu. – Mas o mais importante é estar lá para eles, é chegar em casa e
receber abraços ou fofocas de que um deles aprontou. É o riso ou as
lágrimas que molham os meus ombros quando eu sou o porto seguro deles.
Tirar as rodinhas da bicicleta e estar com o remédio nas mãos para cada
joelho ralado. Você só é pai quando é pai. Nós homens somos privilegiados,
a gente tem a opção absurda de simplesmente não ser pai enquanto uma
mulher é julgada quando não quer ser mãe. Sua namorada... Ou ex-namorada
é uma mulher forte, mas ela vai precisar de você.

— Eu sei.

— Jin, seja sincero, você quer esse bebê? Você quer ser pai?

Jin o encarou seriamente e assentiu.

— Eu acho que já sou. Desde quando ela me disse que está grávida. – ele
queria chorar. – Eu fiquei com medo de ela não querer, eu sei que isso é
egoísta demais, mas eu fiquei com medo. 'Tô morrendo de medo. Sério,
muito medo.

— Vai com medo mesmo. – brincou. – O medo, nesse caso, é bom. Ele vai te
fazer ser mais atento às coisas. – apertou a mão dele. – Você vai ser um bom
pai, não perfeito, mas único.

— Conversar com você me fez ter uma epifania. – fungou e riu um pouco.
— Eu sou bonito e inteligente, eu causo isso nas pessoas. – piscou. – Você
vai conseguir Jin, eu tenho certeza.

Yoongi estava rindo tanto que sentiu a barriga doer.

— Então eles começam a brigar por qualquer coisa idiota e eu fico ali no
meio respirando fundo pra não colocar os dois pra fora da minha casa.

— Eu me sinto tão representado. – respirou fundo. – Ontem eles estavam


brigando por causa do molho de pimenta.

— Às vezes eu pego as crianças e saio. Levo-as num parque ou no cinema e


deixo os dois sozinhos, quando eu volto parecem cachorrinhos abandonados.

— É difícil?

— O que?

— Filhos. Num relacionamento poliamoroso. – apoiou os cotovelos à mesa.

— Só foi complicado quando os gêmeos começaram a entender, eles nos


perguntaram por que tinham três appas. Um tempo antes tivemos problemas
no colégio porque algumas crianças reproduziam a homofobia dos pais e
Dong-He odeia ver Cho-He chorar. Ele brigou com um dos coleguinhas de
classe e nós fomos chamados. Infelizmente a escola não deu o suporte
necessário, foram preconceituosos e nós os tiramos de lá. Desde então eles
estudam num colégio melhor. – sorriu. – Então, sobre o poliamor, meus
filhos são crianças compreensivas e curiosas, nós explicamos de uma forma
mais simples. Eles ainda têm sete anos, Sana não entende nada ainda, mas
ela ama ter três papas.

— u e meus namorados falamos sobre filhos. – ele ficou tímido. – A gente


ainda não faz muitos planos, estamos aprendendo a fazer funcionar.

— É importante que vocês conversem sempre, o diálogo mantém as coisas


nos eixos.
— Eu os amo muito. Mas eu fui egoísta demais no começo e tenho medo que
eles ainda pensem sobre isso, sabe? Que ainda estejam magoados comigo.

— E não questiona isso porque tem medo da resposta?

— Exatamente. – sorriu sem jeito.

— Você tem mais medo de perdê-los ou de saber se isso ainda os magoa?

— De perdê-los, eu não quero perdê-los. – negou. – Acho que eu tenho tanto


medo de isso acontecer que ando evitando voltar ao médico.

— Tem algum problema de saúde? – Yoongi assentiu. – É grave?

— Às vezes. Eu não tenho medo de morrer, mas sei que, se eu morrer, vou
perdê-los e isso me apavora.

— Yoongi, o amor nem sempre é lindo, mas o amor que você está vivendo
me parece ser. – sorriu pequeno. – Então, se você quer continuar vivendo ao
lado dos homens que ama precisa continuar vivo, não é?

— Uhum. Eu sei.

— Não é fácil ser o eixo. Ser o que mantém tudo junto, é tão fácil ficar
cansado que chega a ser ridículo, mas ao mesmo tempo é tão bom. Ocupar o
meio da cama. – os dois sorriram, cúmplices. – O meio dos beijos ou do
sexo. Você se sente amado?

— Eu me sinto o homem mais amado do mundo inteiro. – confessou com


orgulhos. – Amado pelos dois homens mais maravilhosos que eu já conheci.

— Sabe, eu conheci Hope primeiro. – disse nostálgico. – E eu neguei o que


sentia por anos, eu tinha medo e não acreditava na minha felicidade por
tantos motivos. Mas ele sempre esteve do meu lado, até quando eu não o
merecia. Ainda hoje, basta que ele me abrace e tudo fique bem. Então o
Vante surgiu nas nossas vidas feito um furacão. – suspirou. – Meu menino
teimoso. Eu acho que me apaixonei por ele na primeira vez que o vi numa
lanchonete porque depois daquele dia não havia apenas Hope dentro do meu
coração. Eles ficaram juntos por minha causa e eu não me arrependo, eu
adoro ser o eixo desse amor, ser o elo mais forte.

— Eu não me sinto como o mais forte. – lamentou.

— É porque ainda não foi necessário ser. Eu não quero que algo aconteça
para que você seja forte, mas se acontecer... Você vai ser. Você sabe disso,
não sabe?

Yoongi assentiu.

— É. Eu sei. Mas isso não me dá medo, isso me dá força.

— Por que você tá aqui sozinho?

— Porque eu não quero que os outros se preocupem, não quero estragar a


noite de ninguém.

Vante assentiu e observou que o Sol já se escondia no horizonte.

— Qual a sua idade?

— Vinte e três. E a sua?

— Trinta e três. Dez anos mais velho que você.

— Então você deve ser mais maduro que eu. – o olhou. – Se eu matar uma
pessoa e for preso, acha que meus namorados me perdoariam?

O mais velho franziu o cenho.

— Se eles forem como os meus maridos vão te ajudar a esconder o corpo.

Eles ficaram quietos até começarem a rir. Taehyung passou as duas mãos
pelo cabelo e respirou fundo.

— Você quer mesmo matar alguém?


— Quero. – assentiu.

— Por quê? – encarou o perfil bonito.

— Porque eu não encontro outra forma de tirar essa raiva de dentro de mim.
Esse medo. – fungou.

— Já tentou falar para alguém.

— Não. – negou com o rosto. – Eu tenho vergonha.

— Você me faz lembrar o Suga. – Taehyung acendeu um cigarro e o tragou


demoradamente.

— Se importa?

— Não. Relaxa. – gesticulou. – Você me faz lembrar o meu marido Suga.

— Ele matou alguém?

— Não. – riu baixo. – Mas ele também escondia seus fantasmas da gente por
vergonha e medo.

— E como isso acabou.

— Um sequestro, um ataque de raiva e um inquérito policial. – resumiu. Tae


o encarou perplexo.

— 'Tá falando sério?

— Digamos que o autor da nossa história sabe como usar o drama. – deu de
ombros. – Mas as coisas ficaram melhores quando Suga se abriu.

— Isso não fez você querer se afastar? – questionou depois de soltar a


fumaça para o alto. – Não te deixou apavorado?

— Isso me fez ter certeza que o amava e queria passar o resto da minha vida
ao lado dele. Posso? – apontou para o cigarro. Tae assentiu e o entregou.
Vante tragou devagar e devolveu. – Caralho Hope vai me quebrar no meio
quando sentir o cheiro.

— Então porque fez isso?

— Porque eu gosto quando ele faz isso. – piscou e Taehyung sorriu.

— Você é dos meus então.

— Mais ou menos. Eu sou mais do tipo que fala tudo, fala até demais, mas
isso funciona de verdade, deveria tentar.

— Eu quero ser algo leve para eles, não a droga de um cara com a cabeça
fodida. – tragou de novo.

— Eu não queria ser nada para Hope e Suga, fiquei um bom tempo fugindo
do que sentia por causa desse negócio de casal de dois. – sorriu. – Eu fiz
tanta merda, eu perdi tanto tempo. Mas foi necessário pra ser tudo como é
agora. Uma vez banquei o idiota egoísta e cai nas mãos de um cara perigoso,
briguei com o meu melhor amigo e o magoei. Cara, eu precisei perder muita
coisa pra conseguir só aproveitar o que eu tinha e ficava negando.

— O meu melhor amigo é um anjo.

— O meu também é. Ele é a metade da minha alma. Suga e Hope são as


minhas vidas inteiras. O quanto você ama seus namorados?

— Eu não tenho nada pra comparar porque eu nunca amei antes, mas eu sei
que não amaria nada o quanto eu amo os dois agora.

— Acredita no amor deles?

— É a única certeza que eu tenho na vida.

— Então, me diz, se você matasse alguém agora... Eles ficariam do seu lado?

Taehyung o encarou com uma sobrancelha arqueada, então compreendeu.


Seus olhos se encheram de lágrimas.
— Eles assumiriam a culpa por mim. – assentiu. – Ou não me deixariam
fazer isso e com certeza me convenceriam de algum jeito.

— Cara, porque você está aqui sozinho se você sabe disso?

— Porque eu sou um idiota.

— Uhum, você é sim.

Vante sorriu quando Taehyung ficou de pé com pressa, batendo as mãos no


calção para afastar a areia.

— Obrigado.

— De nada. Vai logo procurar os seus namorados.

O garoto saiu correndo, tropeçando na areia.

— Ah, os jovens. - Vante murmurou.

Jungkook mordeu a ponta do canudo observando Jimin conversar com o tal


Chim. Ele estava sentado do outro lado da mesa, enquanto eles conversavam
perto do palco.

— Eu conheço esse tipo de olhar. – Nochu comentou ao lado dele. Estava


digitando no celular. – Ciúmes.

— Não... Eu só...

— Conheço porque eu o tive por muito tempo. – ele bloqueou a tela e deixou
o celular sobre a mesa. – Vocês namoram há muito tempo?

— Dois dias. – murmurou. – Quer dizer, a gente fica há seis meses, mas
namoramos há dois dias.

— Parece ser mais, vocês estão em sintonia.


— Sério? – se preocupou. – Parece que ele gosta de mim?

— Parece que ele é louco por você, Jungkook. – explicou. – Mas se você
precisa perguntar a um estranho é porque não se sente seguro sobre o que ele
sente.

— Não é culpa do Jimin...

— Eu não disse que era...

— É culpa minha. Eu não consigo achar um motivo pra ele me achar


interessante. Olha só. – apontou. – Aquelas garotas estão olhando pra ele
desde que chegamos, ficam cochichando e-

— E o namorado dele é você. – cortou. – A pessoa que o faz sorrir feito um


idiota é você. Jimin olha pra cá a cada três minutos só pra saber se você 'tá
ok e eu não te sequestrei. – suspirou. – Ele faz questão de pegar sua mão e
olhar nos seus olhos. Eu e meu marido começamos errado, sabe? Eu fui um
babaca do caralho, quase o perdi... E quase ferrei a minha vida inteira por
ser egoísta demais, mas mochi me fez querer ser um homem melhor... E isso
só foi possível porque eu quis mudar também.

— Jimin me diz que eu preciso ser sincero sobre o que sinto.

— Ele está certo. Por que você não é? Você não consegue? – o garoto
assentiu. – Tem algum motivo?

— Eu tenho medo de ser abandonado de novo. – Jungkook desviou o olhar


para a mesa.

— Diga isso a ele.

— Se eu disser sinto que ele vai ficar comigo só por causa disso, Jimin tem
um coração muito bom.

— Ele está com você, não está?

— Uhum.
— Insegurança é algo ruim, você pode lidar com isso com a ajuda dele sim,
mas vai precisar se ajudar também. – sorriu. – Não importa se outras
pessoas olhar para Jimin ou se o desejam. Os olhos dele sempre estão em
você, Jungkook, e é notável como ele deseja você.

— Quero cuidar do Jimin. – suspirou. – Eu o amo muito e a cada dia esse


amor fica maior dentro de mim, às vezes eu nem consigo pensar em outra
coisa que não seja estar pertinho dele. Não quero sufocá-lo, mas ficar perto
dele é tão bom.

— Eu sei como é isso. A gente acaba orbitando ao redor deles. Mochi...


Chim é o meu catalisador...

— Essa definição é tão certa, faz tanto sentido. – ambos encararam Jimin e
Chim.

— Hoje nós somos casados e temos dois filhos lindos além de um gato
folgado. – sorriu e Jungkook também. – Você quer ter isso com o Jimin?

— Quero. – assentiu.

— Então dialogue com ele, Jungkook. Se abra com o seu homem, seja
cúmplice dele. Cuide de você e da sua insegurança, então você vai conseguir
cuidar do Jimin.

Jungkook sorriu e assentiu. Aquele hyung era gentil.

— Adorei o seu cabelo.

— Obrigado! O teu tem um puta brilho!

— É babosa. Nochu tem um jardim suspenso no apartamento e planta por lá.


– gesticulou.

— Vocês são um casal lindo. – Jimin elogiou.


— Obrigado! Quer ver meus filhos?! – disse já sacando o celular. – Aqui,
Sarang e Jisung. Ela tem nove e ele tem quase quatro. – Jimin sorriu. A
menina sorria abraçada ao garotinho que usava apenas uma cueca preta. Os
dois estavam com o rosto sujo com chocolate. – E esse é o Jikook. Nosso
gato folgado. – mostrou também o gato gordo.

— Sou alérgico a gatinhos. – murmurou sentido.

— Eu também! Mas daí tomei antialérgico. – deu de ombros e guardou o


celular. – Você e o Jungkook são fofos demais juntos, sério.

— Ele é muito fofo, às vezes quero apertar ele inteirinho. – riu.

— Entendo, acho que Nochu me causa isso às vezes.

Jimin assentiu, então olhou para Jungkook de novo.

— Você é protetor. – Chim observou.

— Que? Desculpa, o que disse?

— Que você é protetor. – repetiu. – Com ele. Mas não sei se isso é por um
motivo legal ou não.

— Jungkook é sensível. – suspirou. – Eu tenho medo de que alguma coisa


aconteça com ele.

— Um pensamento bom, mas como alguma coisa vai acontecer com ele se
você não deixar nada acontecer com ele?

Jimin franziu o cenho. O homem mais velho sorriu.

— Como assim?

— Você disse que tem medo de alguma coisa acontecer com ele, mas como
vai saber se aconteceu alguma coisa se você não deixa alguma coisa
acontecer? – fez careta. – Ok, eu sou muito confuso às vezes, mas vou tentar
explicar melhor.
— Agradeceria bastante.

— 'Tá vendo aquele homem bonitão ali do lado do seu namorado? Meu
marido? Então, muita coisa teve de acontecer com ele para estarmos casados
hoje... Eu me apaixonei primeiro por um homem completamente diferente
dele... Mas aquele homem também era ele. – franziu o cenho e Jimin também.
– Presta atenção, segue meu fio...

— Estou tentando, você parece alguém que eu conheço.

— Foco. – estalou os dedos. – Nochu nem sempre foi o homem maravilhoso


que é hoje, mas ele precisou passar por algumas coisas até ser. Eu não
poderia evitar nenhuma delas, não seria cabível, então eu fiz a única coisa
que poderia fazer.

— O que?

— Fiquei do lado dele. – assentiu. – A gente não pode proteger as pessoas,


nem nós mesmos, Jimin. Infelizmente nem só coisas boas vão acontecer na
nossa vida, mas é um erro se prender apenas às coisas ruins. Se eu tivesse
me apegado às coisas ruins, não estaria aqui hoje, não seria feliz como eu
sou agora. Virar uma página pode mudar completamente o destino de um
livro, sabia?

— Acho que tenho medo que pode ter escrito na página seguinte.

—Não vai ter nada escrito. – deu de ombros.

— Não?

— Não. Porque você é quem vai escrever. Você vai definir o que é ruim o
suficiente pra não ser lembrado e o que é bom o suficiente pra descrever
pedaço por pedaço. – segurou o ombro dele, sobre a alça da regata folgada.
– Seja sobre Jungkook ou sobre você. Sobre o homem que você é.

Jimin sentiu vontade de chorar, mas apenas assentiu compreensivo.

— Obrigado. Você é bom com conselhos.


— Eu sou mesmo. Quem nasce em Busan sempre é.

— Eu nasci em Busan também.

— Sério? Mas eu nasci primeiro. – deu alguns tapinhas no ombro dele.

Hoseok olhou ao redor acendeu o baseado.

— Suga vai me matar, ele vai me fazer dormir no sofá mesmo tendo quartos
de hóspedes na casa. – murmurou e aceitou dar um tapinha no baseado. –
Mas eu não fico chapado desde que os gêmeos nasceram.

— Você tem cara de maconheiro. – Hoseok deu de ombros.

— Você também tem. Toma de volta, não vou exagerar. – devolveu e o


garoto riu. – Então, você tem dois namorados?

— Tenho sim. – assentiu antes de tragar.

— Fala sério, é muito bom não é? Eu sou um homem muito sortudo. Você
também é.

— Vocês estão casados há muito tempo?

— Há quatro anos. A gente não se casou de verdade, mas fizemos uma


cerimônia legal. Vante exigiu dois buquês. – rolou os olhos. – Mas foi um
dos dias mais felizes da minha vida.

— Entendo. – ficou quieto. Hope o encarou e cruzou os braços.

— Eu sei que você quer me perguntar alguma coisa, garoto.

— Nada a ver. – negou.

— Então que se foda também, tô aqui disposto e você fica de frescura!


— 'Tá bom! Ok! – suspirou. – Você em algum momento sentiu como se eles
pudessem ser mais felizes sem você?

— O que?!

— Você entendeu, tio.

— Tio é o seu rabo, eu não tenho idade de ser seu tio! – Hope respirou
fundo. – Você acha que eles não te amam?

— Não é isso.

— Explique.

— Meus pais não aceitam que eu seja gay.

— Primeiro, Hoseok. Me escute, ok? – o mais novo assentiu. – Seus pais não
precisam aceitar nada, eles só devem respeitar quem você é. Sua
sexualidade ou gênero não deve definir aceitação de ninguém.

— É muito mais difícil na prática. – lamentou. – Eles apagaram a existência


da minha noona porque ela é lésbica.

Hope viu os ombros do garoto encolhido e se preocupou.

— Você ama os seus pais?

— Amo. Eu os amo muito, mas eu sinto que eles não me amam como eu sou,
mas amariam se eu fosse exatamente como eles querem.

— Mas o que você ama? O Hoseok que é de verdade ou o Hoseok que eles
querem que você seja?

Hoseok observou o baseado entre os dedos e o apagou em seguida.

— Eu amo o Hoseok que você tá vendo agora, o Hoseok que te massacrou na


pista de dança. O Hoseok que Yoongi e Taehyung amam.
Hope franziu o cenho. Aquilo beirava o inacreditável, mas ele não disse
nada sobre isso.

— Então, eu não acho que eles ficariam melhor sem você Hoseok. E de
qualquer forma, você é mais feliz assim não é? Mais feliz que sendo o garoto
que seus pais querem.

— Mas eu não quero que eles me apaguem também. – confessou.

— Eles não vão apagar você. Eles apenas querem que você exista se for
infeliz. Olha, eu sou pai. Eu tenho três filhos lindos e por eles sou capaz de
qualquer coisa, mas eu sei que nenhum deles vai ser exatamente como eu
quero porque os crio para ter pensamentos próprios. Sana, a mais nova, foi
adotada com quase dois anos de idade. Ela não falava nada. Absolutamente
nada. Cara, às vezes eu ficava perdido pra saber o que ela queria e
precisava.

— Ela nasceu assim?

— Não. Ela sofreu um trauma. O pai matou a mãe na frente dela e mesmo
sendo um bebê, Sana ficou traumatizada porque tudo aconteceu numa época
em que crianças são como esponjas, absorvem tudo. – cruzou os braços. – A
primeira palavra que ela falou depois de ser adotada foi pra chamar por
mim. – sorriu. – Agora ela fala o tempo todo, canta e grita igual uma arara
sem parar. Talvez Sana não seja uma rapper como eu quero, talvez ela
prefira mudar para o campo e criar abelhas, tanto faz... Ela é a minha filha e
eu vou amá-la de qualquer forma. Isso que pais devem fazer. Qualquer coisa
ao contrário disso...

— Está errado. – constatou. – Mas as pessoas dizem que pais nunca erram e
se erram é tentando acertar.

— Bobagem. – gesticulou. – Diz isso sobre quando eu inventei de ensinar o


Dong-He que ração de cachorro é gostosa e por isso a gente não pode dar
outras coisas e fui parar no hospital com ele porque o garoto comeu um pote
inteiro escondido.

Hoseok riu.
— Vai rindo, você vai saber como é um dia. – debochou. – Então, você vai
perceber que nem sempre a gente tá certo. A gente aprende muito com os
filhos também, sabia? Eu aprendo com os meus todos os dias. – sorriu. –
Eles fazem de mim um homem melhor. Você parece um bom garoto, Hoseok.
Não deixe que outras pessoas te façam perder sua essência. Nem mesmo os
seus pais.

— Obrigado. Você até que é legal pra um cara velho.

— Garoto, não me provoca.

Os dois riram um pouco. Então, o celular de Hoseok vibrou. Ele leu a


mensagem e franziu o cenho.

— Preciso ir, meu namorado me pediu pra voltar.

— Vai lá, garoto. E boa sorte.

— Obrigado, tio

— Tio é a puta que te pariu.

Hoseok acenou e se afastou.

Ali sozinho Hope respirou fundo e fechou os olhos. Não demorou até sentir
que não estava mais só.

— Coisas estranhas aconteceram hoje. – a voz de Vante o fez abrir os olhos.

— Estranhas, mas legais. – Suga o abraçou pela cintura e deitou a cabeça em


seu peito.

— Vocês acham que eu tô velho?

— Ah, de novo isso? – o mais novo rolou os olhos.

— Amor, você não tá velho.

— O que não quer dizer que seja novo.


— Ah é? Vamos pro hotel. Vou te mostrar quem não é novo, bratzinho filho
da puta.

Hoseok chegou até onde Taehyung dissera estar na mensagem e ficou


preocupado. O mais novo estava chorando agarrado a Yoongi, encolhido em
seus braços.

— O que aconteceu?! Tae?!

— Ele não disse, me pediu pra voltar pra casa e quando eu cheguei começou
a chorar. – Yoongi, também assustado, explicou.

— Amor, o que você tem? – Hobi o abraçou por trás. – O que foi?

— Eu vou pegar água pra ele. – Taehyung largou Yoongi, mas se agarrou a
Hoseok.

— Meu neném, o que foi? Alguém mexeu contigo? Por favor, me diga o que
aconteceu?

Taehyung só chorou mais. Yoongi voltou com a água e entregou as mãos


trêmulas do maior. Tae bebeu dois goles e respirou fundo.

— Amor, o que aconteceu?

Yoongi estava de joelhos entre suas pernas, Hoseok ao seu lado.

Tae soluçou quando as três mãos se apertaram, quando sentiu toda a


segurança fluir dentro de si junto dos outros sentimentos que o atormentavam
há tanto tempo.

— Meu irmão mais velho... – começou. – Taewoo... – lambeu os lábios. –


Ele abusou de mim... Duas vezes... E a minha omma. – ele soluçou outra vez.
– Ela me pediu pra não contar pra ninguém, mas eu sinto tanta raiva... Tanta
raiva dentro de mim. – ele apertou a camisa na altura do peito. – Fica
borbulhando por dentro do meu peito, me sufocando... Eu sinto tanta raiva
dele, da minha omma. De mim. Porque eu só tinha dez anos... Tanta raiva.
Tanta raiva. Hoje ele me mandou uma mensagem, ele disse que sente
saudade e eu sei que ele vai aparecer... E eu sei que vou acabar o matando...
Porque eu sinto tanta raiva.

Hoseok, com os olhos marejados respirou fundo e o puxou para si,


escondendo-o em seus braços. Tae voltou a chorar. Yoongi limpou as
lágrimas e ergueu a cabeça, buscou forças até onde não sabia ter e chegou
mais perto até sentir uma das mãos do maior agarrar sua camiseta.

Ficaram em silêncio enquanto Taehyung chorava alto, soluçava e vez ou


outra chegava a gritar.

Ele sentia tanta raiva.

Então, Hoseok e Yoongi não evitaram ser contagiados pela raiva que fluía
dele.

Naquele momento tornaram-se um só.

🌙⭐☀

#PillowFic
32 - eu não quero falar sobre isso (especial)

não esquece o votinho!!

tags: menção a abuso infantil.

2 anos antes

— FELIZ ANIVERSÁRIO SEOKJIN-HYUNG!

Jimin gritou enquanto pulava para os braços de Jin, abraçando-o como se


fosse um coala. O mais velho o segurou e riu, balançando seus corpos para
os lados para fazê-lo rir. A mochila estava pesada, aquela dor de cabeça
ainda não havia passado, mas Jin estava feliz graças a festa surpresa que o
aguardava em casa.

— Posso apertar a sua bunda, Jiminie?

— Hoje eu deixo, mas só hoje. – riu antes de beijar a bochecha de seu hyung.
Ele sorriu ao sentir a mão grande apertando sua bunda e aproveitou para
fazer o mesmo na dele

— Feliz aniversário, hyung. Assopra logo! – Yoongi, com um bolo nas mãos,
pediu encarando as velas que queimavam depressa demais. Jin se curvou,
ainda abraçado a Jimin, e assoprou todas elas. – Fez um pedido?

— Fiz sim, para você tomar banho todos os dias.

— Vai se foder! – o menor rolou os olhos e voltou para perto da mesa onde
deixou o bolo.
— Parabéns hyung, eu tenho um presente. – Hoseok lhe entregou o embrulho
dourado depois de abraçá-lo apertado.

— Diz que é aquele relógio caríssimo! – brincou abraçado ao embrulho bem


feito.

— Nos seus sonhos, hyung. – Hobi devolveu dando de ombros.

— Hyung?

A voz, quase tímida, o fez olhar para o lado. Então, como esperado, Jin
sorriu.

Namjoon também sorria, suas covinhas bonitas faziam para os dentes


brancos e alinhados. Segurava um embrulho pesado, usava a mesma regata
de sempre e um boné azul. Jin se aproximou, deixou que o mais alto o
abraçasse forte. Yoongi cutucou Hoseok e os dois trocaram um olhar
cúmplice sobre a intimidade absurda que existia quando Namjoon e Seokjin
se tocavam.

Não era algo recente, na verdade desde o primeiro momento que se viram
Seokjin e Namjoon compartilharam bem mais que um sobrenome, apesar de
possuírem poucas coisas em comum. Enquanto o mais velho levava a vida de
forma leve, o mais novo preferia a seriedade em seus momentos, ainda
assim, eram próximos demais aos toques das mãos, sorrisos e até olhares.

Namjoon se mudou no meio do ano letivo, indicado pela reitoria, mas que
conhecia Yoongi de vista ou conversas soltas entre pessoas em comum. Se
adaptou rápido, não era alguém difícil de lidar – mesmo que um tanto
fechado. Seokjin o ganhou no segundo dia com a pior piada que o mais novo
já ouvira na vida, mas que o fez rir por tempo demais. Então, foi isso.

Apenas isso.

Colegas de república, uma convivência tranquila e aquelas sensações que


ficaram camufladas durante conversas ou olhares perdidos. Seokjin estava
no fim de um quase relacionamento cansativo, Namjoon conheceu Jimin e
logo o trouxe para ser morador da Bangtan Kappa.
E até aquele momento, durante o aniversário de Jin, nada fizeram para mudar
aquele cenário. Então, poderíamos culpar Min Yoongi.

A festa não era para muitos convidados. Havia comida e bebida para muitos,
mas ainda era quinta-feira e eles tentaram não faltar às aulas no dia
seguinte. Jin ia de grupo em grupo como a borboleta social que era,
conversava e bebia um pouco para socializar. Logo, foi o primeiro a
perceber que Yoongi estava bastante animado com a conversa que tinha com
sua amiga Yuna em um dos cantos da sala. A postura, o sorriso e até mesmo
a forma como os dedos de seu melhor amigo enrolavam os fios rosados da
garota faziam Jin ter certeza das intenções dele.

Consequentemente procurou por Hoseok, sabia que ele também deveria estar
encarando aquela cena e se preocupava demais mesmo jurando nunca mais
se meter naquela confusão. Respirou fundo. Hobi estava com Jimin, os dois
compartilhavam um baseado enquanto bebiam cerveja.

— Você não tem cara de quem estuda matemática. – Yoongi sorriu e


mordiscou o lábio inferior. Jin rolou os olhos.

— E desde quando matemático tem cara especifica, garoto? – interrompeu. –


Oi Yu, obrigado por vir, minha gata. – sorriu e a abraçou apertado.

— Eu não ia deixar de vir nunca, Jinie-ah. – ela sorriu. Era uma mulher
muito bonita. – Você fica mais bonito a cada aniversário.

— Isso é verdade, eu nem posso controlar ou lutar contra isso, é algo


natural. – suspirou. – Pretty hurts. – Yuna riu com vontade. – Yu, preciso
roubar esse pequeno amigo-

— Pequeno é o seu cu. – Yoongi ralhou.

— Olha que agressivo. – bagunçou o cabelo loiro de Yoongi. – Eu já lhe


devolvo ok? Cinco minutinhos.

Ele piscou e arrastou Yoongi para a cozinha sob protestos do menor que
resmungava sem parar. Jin deixou o copo com a bebida azul sobre a pia e
suspirou.
— Yoongi, pelo amor de deus, você é burro?!

— Hey! Não fica me ofendendo hyung!

— Impossível! Você pede que eu saia pela cidade com uma faixa bem
grandona escrito "Min Yoongi é burro!". – ele colocou as mãos nos quadris.
– Vai fingir que aquele festival não aconteceu? Que você não beijou o
Hoseok feito um desentupidor de pia, dementador, aspirador de pó-

— Já entendi hyung! – bufou. Ele passou as mãos grandes pelo rosto e


suspirou. – Eu vacilei, não devia ter feito aquilo.

— Por que?! Porra, vocês dois não são só melhores amigos e isso fica
evidente até pra quem não convive perto. – também suspirou. – Gi, para de
fugir da sua felicidade desse jeito.

— Isso tudo é pra eu não ficar com a noona?

— Isso tudo é pra você parar de se magoar e magoar o Hoseok. Me escuta, o


pai dele não vai poder interferir, agora vocês dois são adultos e-

— Yoseob-ssi é um homem muito influente, hyung, ele me dá medo.

— Por que?

— Porque ele já machucou o Hoseok demais e eu não quero que isso


aconteça de novo, eu não posso deixar ninguém machucar o Hobi.

— É engraçado porque nessa sua batalha de não machucar o Hoseok, você é


aquele que mais o machuca e nem percebe.

Jin deu um tapinha no ombro dele.

— Se vai ficar com ela, pelo menos, não faz isso aqui na frente dele.

Pediu baixo antes de voltar à sala de estar.

Mas, para seu lamento, Yoongi não demorou nada a levar Yuna para qualquer
outro lugar. De mãos dadas. E isso desencadeou o resto. Já era de
madrugada quando grande parte dos convidados tinham se retirado e Jin se
perguntava em que momento da noite tinha decidido ouvir o discurso de Ken
outra vez.

Não eram um casal, estavam longe disso, mas beiravam a exclusividade nos
meses que saíram e talvez isso tenha feito o mais velho acreditar que
possuíam algum laço verdadeiramente sério.

Sentia-se um pouco alegre pela bebida, queria que Ken calasse a boca e
quem sabe assim poderiam terminar aquele aniversário transando gostoso,
mas ele parecia mais preocupado em listar todos os benefícios de um
relacionamento que sequer existia.

Jin ainda era gentil demais para mandá-lo calar a droga de boca.

Então, sem cavalo branco ou roupas de príncipe, Namjoon o salvou.

— Desculpa? – ele pediu interrompendo Ken. – Já são três horas e a gente


precisa encerrar tudo. – informou, educado. Segurava uma caixa de garrafas
vazias.

— Você 'tá me mandando embora? – Ken arqueou uma sobrancelha. Jin


revirou os olhos. Por que ele precisava ser tão babaca?

— Na verdade ele está sendo gentil. – explicou e sorriu para Namjoon. –


Todos temos aula amanhã, inclusive você, Ken. Namjoon é gentil o suficiente
para pensar em nós todos. A gente faz assim, eu também tô cansado, amanhã
almoçamos juntos e terminamos essa conversa.

— Jin, eu acho que a gente precisa resolver isso-

— Ele disse que amanhã é melhor. – Namjoon o cortou, ainda havia um


sorriso em seus lábios, mas o olhar era sério. – Então, deixa o hyung
descansar.

Ken arqueou as sobrancelhas e rolou os olhos ficando de pé, ele não parou
de encarar Namjoon enquanto caminhava para a porta. Jin o achou infantil,
mas não disse nada. Ao se despedir, virou o rosto para recusar o beijo que
acabou acertando o canto de seus lábios.

Gostava dele, mas não o suficiente para ser paciente com suas atitudes.
Apesar de não demonstrar, Jin pensava muito sobre o amor e as formas como
ele se manifestava entre as pessoas. Amava seus pais, amava suas irmãs e
amava seus amigos... Mas tinha vontade de conhecer o amor que acontece
quando duas pessoas se encaixam de todas as formas.

Ele trancou a porta e fez careta para a bagunça da sala de estar enquanto
também observava Namjoon recolher as garrafas, copos e pratos sem pressa.
Das caixas de som Jin conseguia reconhecer a voz de Marie Fredriksoon
cantando sobre passar seu tempo e sorriu antes de deixar a garrafinha de
cerveja sobre a mesinha.

— Vem aqui, Joonie. – pediu num tom de riso, estendendo os braços. –


Dança comigo.

— Eu não sei dançar esse tipo de música, hyung... Na verdade eu não acho
que saiba dançar qualquer tipo. – deu de ombros. Jin negou e se aproximou,
suas mãos seguraram as dele e colocaram na própria cintura. Namjoon riu,
mas aceitou, abraçou-o por ali.

— Eu também não sei. Mas a gente pode fazer isso juntos.

A música lenta os embalou desastrosamente até que um ritmo seguro fosse


alcançado. Nada muito extravagante, seus corpos se moviam devagar para lá
e pra cá. Sem pedir muito. Dado momento Seokjin fechou os olhos, suas
narinas aspiraram o cheiro de Namjoon, o perfume amadeirado mesclado ao
aroma natural que lhe pareceu impossível. Ele cheirava a casa. Não no
sentido direto, mas no sentido que desperta paz. Jin sentiu-se em casa
durante aquela dança boba.

— Este jogo de amor bobo... – ele cantarolou.

— Você joga e ganha apenas para perder. – Namjoon completou baixinho.


— Você gosta de Roxette? – ergueu a cabeça e o questionou. Estavam tão
perto. Seus braços, ao redor dos ombros de Namjoon, nunca ficaram tão
confortáveis.

— Uhum. Gosto muito. – assentiu e desviou o olhar. Seokjin o assustava, ele


o fazia sentir demais. Ele apertou as mãos, dentro delas o tecido da
camiseta de Jin foi triturado graças às sensações.

— Eu gosto que olhem nos meus olhos quando falam comigo. – provocou e
riu, mas o riso morreu quando os olhos de Namjoon estavam em si. Olhos de
dragão, queimando lentamente.

Seokjin lambeu os lábios.

— Olhar para você, assim de tão perto, é difícil hyung. – confessou. A


música já não era a mesma. Desta vez Roxette lhe dizia para ouvir o
coração. Namjoon quis se afastar.

— Por que? – Seokjin queria entender, talvez assim pudesse compreender o


que aquele homem causava em si mesmo. – Por que é difícil?

— Porque você é lindo. – disse de uma vez, estava hipnotizado. Aquilo o


assustava tanto, mas ainda era bom. – Tudo em você é lindo hyung. Tudo.

— Namjoon... – suspirou. Os braços, sem que ele pudesse impedir,


abraçaram o mais alto com força, trouxeram para mais perto. – Cadê o
Jimin?

— Com Hoseok. – deu de ombros. – Juntos.

— Isso não te deixa chateado?

— Eu seria hipócrita se dissesse que sim... Porque eu tô aqui com você. –


eles sorriram. Jin usou uma das mãos para tocar o rosto de Namjoon, os
dedos tortinhos desenharam cada traço da face direita, desde as
sobrancelhas até o queixo pequeno. O polegar contornou os lábios cheios e
frios enquanto seus olhos faziam o mesmo.

— Sua boca está tão fria, Namjoon.


— Eu sou inteiro frio, hyung. – sussurrou. Estava assustado, seu coração
batia rápido. Era a primeira vez. – Às vezes eu não sei se estou vivo. –
confessou e mesmo que o mais velho não entendesse todo o contexto por
detrás desta afirmação, Namjoon se sentiu leve. – Porque é tudo frio em
mim.

— Eu posso esquentar você? – perguntou olhando-o nos olhos. Esticou o


corpo, nada mais que alguns centímetros até o rosto roçar o dele. Era frio
ainda que também fosse quente. – Posso?

— Por favor, faça isso. – respondeu depois de lamber os lábios.

Jin sorriu.

— Acho que já te beijei em outra vida Kim Namjoon... – o encarou outra


vez, havia um sorriso em seus lábios quentes. Namjoon tremeu. – E eu vou te
beijar agora só para ter certeza.

Quando Jin o beijou, Namjoon levou um tempo até entender o que acontecia
dentro de si. Principalmente na forma como seu corpo simplesmente cedeu
ao mais velho. Se deixou ser levado. Lábios quentes, a língua doce e
alcoólica, o corpo firme que estava inteiro colado ao seu.

Correspondeu à sede.

Agarrando-o com força, tombou o rosto para o lado só pra encaixar melhor
ao beijo... E encaixava tão bem. Jin prendeu o cabelo curto de Namjoon
entre os dedos, arfando quando as bocas se separaram minimamente para se
chocarem com pressa demais.

Bebiam daquele beijo como dois homens privados de água durante uma vida
inteira.

E sabiam exatamente onde tocar, como tocar... Ou o quão intenso precisavam


ser suas ações enquanto aquele primeiro beijo acontecia.

Por fim, quando acabou, ainda de testas coladas e respirações


descompassadas, Jin sorriu e não abriu os olhos.
— Esse foi o meu melhor presente de aniversário.

— Se o Hoseok tivesse te dado aquele relógio caro não estaria falando isso
hyung.

— Calado.

Ele o calou com outro beijo.

E naquela madrugada nada mais aconteceu além dos beijos trocados na sala
de estar e depois no quarto do mais velho, embolados sobre o colchão sem a
capacidade motora de desgrudar seus corpos, mãos ou lábios. Trocaram
beijos até o dia amanhecer, trocando sorrisos quase confusos diante das
sensações.

Namjoon nunca se sentiu tão quente ou, sendo mais direito, desde os doze
anos ele nunca havia respirado de verdade. Quando Jin pegou no sono,
deitado perto de seu corpo, observou-o quieto.

A pele macia brilhava como se os holofotes estivessem sobre ele, esticou a


mão para sentir um pouco da barba atrevida que crescia do queixo até o
meio da bochecha. Sorriu em silêncio com o quanto arranhava na palma.
Depois contornou todo o rosto alheio e se flagrou confuso quando o silêncio
o possibilitou escutar o próprio coração batendo depressa.

Na maior parte do tempo esquecia que tinha um dentro do peito.

— Você é lindo. – sussurrou afastando a mão quando um sorriso terno


esticou os lábios grossos de Jin. Tentou afastar-se mais, mas os dedos
quentes seguraram-lhe o pulso. – Desculpa...

— Não consegue dormir? – a voz dele estava rouca. Ele se virou de frente
para Namjoon e beijou a ponta de seus dedos. O mais novo assentiu. – O
meu sono não é muito leve, mas quando estamos nas semanas de provas eu
acordo muito durante a noite, então eu vejo você. Fumo na varanda e te vejo
sair para caminhar descalço aqui na frente da casa. – a outra mão afastou
uma mecha castanha do cabelo de Namjoon para longe da testa. – Isso deve
te ajudar de alguma forma, mas por favor, calce os seus chinelos. Às vezes
está tão frio.

— Obrigado hyung. – sussurrou.

— Por que? – arqueou uma sobrancelha.

— Por nunca perguntar porque faço isso. – deu de ombros. – Mas sobre o
frio... É uma coisa normal pra mim.

— Você está quente agora. – observou trazendo-o para mais perto. Namjoon
aceitou receoso, a cada vez que Jin lhe tocava um turbilhão de sensações o
deixava assustado. – Fecha os olhos, vou te fazer dormir.

— Como?

— Só confie no seu hyung, Namjoon-ah. – o fez virar na cama, para deitar


com as costas contra o seu peito.

Quando a voz melodiosa começou a cantar, o mais novo sorriu e por pouco
não começou a rir. Jin se ajeitou, abraçou-o pela cintura e beijou-lhe a nuca.

— Boa música para uma canção de ninar, hyung.

— Eu nunca erro. Dorme. – o maior assentiu. – Vou começar de novo.

— Por favor. – debochou.

— Hey, jaded you got your mamma's style but you're yesterday's child to
me. So jaded. You think that's where it's at but is that's supposed to be?
You're gettin' all over me... X-rated. – a voz era baixa e tão afinada,
Namjoon respirou fundo relaxando. – My, my baby blue yeah, I been
thinkin' bout you. My, my baby blue yeah, you're so jaded and I'm the one
that jaded you.

Jimin jogou a camisinha usada dentro da lixeira do banheiro e lavou as mãos


enquanto conferia o próprio reflexo no espelho sobre o lavabo. O cabelo
tingido de vermelho era uma bagunça, o suor gruda um pouco na testa e na
nuca, então ele se curvou para lavar o rosto também.

Deitado na cama de solteiro, a que estava revirada, Hoseok acendeu um


cigarro e fez careta ao se esticar para alcançar uma das cuecas jogadas no
chão.

— Isso vai fazer a gente ficar estranho um com o outro? – o mais novo
perguntou voltando para a cama. Ele já vestia também uma cueca.

— Não. – Hobi deu de ombros. – Eu já te vi pelado mil vezes.

— A gente transou hyung. – riu e aceitou o cigarro para tragar sem pressa.

— Não vou ficar estranho contigo, relaxa. – penteou, entre os dedos, o


cabelo loiro para trás. – E foi gostoso pra caralho. – a risadinha fez Jimin rir
também.

— Deus abençoes esses seus quadris.

Deitados, lado a lado, os dois fumaram aquele cigarro juntos e ficaram em


silêncio depois disso. Não era desconfortável, tampouco ruim. Jimin
suspirou após um tempo, ele se virou para Hoseok e começou a desenhar
círculos ao redor do umbigo dele.

— Se arrependeu?

— Que? Não! – negou depressa. – Foi incrível, Jiminie. Tudo em você é


incrível. – lambeu os lábios. – É que... Eu não consigo parar de pensar...

— No Yoongi com aquela garota. – concluiu. – É só sexo hyung, igual ao que


a gente acabou de fazer.

— Eu sou um idiota.

— Você só tem medo de que em alguns desses casos ele se apaixone, como
se apaixonou antes. Porque machuca vê-lo com outras pessoas.
— Odeio que você sempre esteja certo, eu odeio muito. – ralhou, Jimin
sorriu.

— Hyung, por que não é sincero com Yoongi-hyung? Por que se machuca
desse jeito e deixa que ele te machuque? Eu adoraria transar com você mais
vezes, mas eu sei que até isso te deixa culpado depois. – ele apoiou as mãos
no peito de Hoseok e o queixo sobre as mãos.

— Porra, como você é lindo. – elogiou e o mais novo rolou os olhos. – Qual
o lance com o Namjoon?

— É vergonhoso como muda de assunto. – suspirou. – Enfim, é um lance. Só


isso. Nós temos muita coisa em comum. Mas nem tudo é bom. – Hoseok
brincou com o cabelo dele, enrolando mechas grossas nos dedos. – Eu não
funciono em relacionamentos.

— Será?

— Eu tenho certeza. Não quero nem tentar outra vez. Não daria certo.

— É isso, Jimin. Não daria certo. Eu e ele.

— Por que?

— Porque eu o amo como um homem, mas ele me ama como um amigo e eu


sou medroso demais para arriscar perder isso.

— Enquanto isso você vai se perdendo Hobi-hyung.

— Pode ser. – deu de ombros. Jimin deu um gritinho quando foi posto outra
vez com as costas na cama. Hoseok montou sobre seus quadris e mordeu o
lábio inferior.

— Hyung... – respirou fundo antes de erguer o tronco. Sentado, abraçou pela


cintura, mas uma das mãos afagou o rosto do mais velho, contornaram a boca
rosada que se curvava nos cantos. – Lábios curvados. Nunca sabe esconder
quando está triste.
— Eu só preciso parar de pensar sobre isso, sobre ele com outra pessoa. –
negou, a tentativa de sorrir resultou em puro fracasso. – Só isso Jimin. Só
isso... Só...

— Não vou fazer...

— Jimin... Você quer também... Vai, para com isso. – resmungou, sua voz
estava embargada. – Por favor... Por favor, me faça parar de pensar sobre
isso.

— Hyung, as coisas não podem-

— Que droga! – esbravejou saindo do colo do mais novo. Sentia-se


envergonhado, mas nada se comparava ao aperto no peito. – É só sexo porra,
só isso! Eu posso bater na porta do Jin-hyung e conseguir! Até o Namjoon! É
só essa porra de sexo!

Jimin suspirou e o abraçou por trás, deixando-o encolhido entre suas pernas.
Hobi – abraçado aos joelhos – escondeu o rosto e as lágrimas. Sentiu o beijo
do menor em suas costas, depois as mãos pequenas massageando os
músculos tensos.

— A gente pode transar de novo, hyung. Eu faço isso com você em cada
parte desse quarto. Eu sei o que você quer fazer pra esquecer, pra ficar
cansado e apagar. Mas quando passar, quando a gente acordar... As coisas
ainda estão como estão agora. Eu te amo muito e o hyung sabe disso, sabe
que eu faço qualquer coisa pra te deixar bem... Então, eu não posso fazer
algo que te deixe mal.

— Eu sei. – disse com a voz abafada. – Desculpa. Desculpa te envolver


nisso, Jimin. Desculpa.

— Vem aqui hyung. – o puxou para seus braços. – 'Tá tudo bem, eu não estou
bravo. – o abraçou até que estivessem deitados juntos. – Dorme um pouco.

— Preciso tomar banho. – fungou.


— O mundo não vai acabar se o homem mais asseado desse país ficar sem
banho por um dia. – sorriu. – Tenta dormir.

— Obrigado, Jiminie. – sussurrou. – Eu também amo você.

— Ok, sua vez Jiminie. – Yoongi apontou com uma garrafa de vinho nas
mãos. Ele serviu mais um pouco a Jin e depois na própria taça.

— Eu acho que vocês ficariam assustados, eu realmente já fiz muitas coisas.


– deu de ombros. – Ou me achariam sujo.

— Absolutamente ninguém nessa casa vai julgar você, para com isso. – Jin
ralhou. – A gente ainda não pode barrar as pessoas de fora daqui os
homofóbicos babacas que essa sociedade merda alimenta culturalmente...

— O hyung falando bonito me dá um tesão.

— Vai orar Yoongi, você precisa de oração. – devolveu fazendo os mais


novos rirem. – Como eu dizia, aqui você 'tá seguro Jimin-ah, nós somos uma
família. Veja só, eu aceito o Yoongi e sua falta de banho.

— Jin-hyung vai se foder!

— Alguém quer mais pizza caseira? – Hoseok voltou da cozinha, as mãos


calçadas em luvas felpudas e estampadas com girassóis delicados
seguravam duas fôrmas quentes. – Essa aqui é de queijo e essa de bacon com
abacaxi.

— Pelo amor de deus quem coloca abacaxi na pizza? – Jin questionou.

— Jimin adora. – Namjoon explicou bebericando o vinho.

— Eu retiro tudo que eu disse antes, eu vou te julgar agora mesmo Park
Jimin, que caralhos é isso de abacaxi na pizza?! – ele esbravejou muito
rápido, os outros riram.

— Tá muito bom, eu segui a receita direitinho. – Hobi parecia orgulhoso.


— Parabéns, agora senta aqui e come também Ana Maria Braga. – Yoongi o
fez sentar ao seu lado. Ele lhe entregou uma taça de vinho.

— Quem é essa? – Jimin estranhou.

— A gente estava vendo o canal do Brasil há uns dias e ele ficou encantado
com um programa de lá.

— Tem um papagaio!

— Um fantoche de papagaio.

— Você é tão chato Yoongi, sai de perto de mim.

— Jin hyung você tem algum fetiche? – Jimin perguntou do nada. – Acho o
hyung tão certinho. – riu baixinho.

— Certinho?! Tudo fachada. – Hoseok negou.

— Cala a boca. – o mais velho lhe mostrou o dedo médio. – Eu gosto de


lingerie, Jimin.

— Gosta de usar?

— Não, eu gosto muito de que usem pra mim. Eu gosto de como a renda fica
contra a pele, de sentir na palma da minha mão e observar.

— Uau, dizer isso segurando uma taça de vinho com a camisa aberta assim,
deu vontade de latir. – ele brincou e então Hoseok começou a latir, logo
Yoongi estava fazendo o mesmo. Jimin se juntou a eles.

— Nossa, se juntar os três da sete anos. – Jin rolou os olhos.

— Tem uma cor preferida hyung? – Namjoon perguntou baixo, apenas para
Jin ouvir. Os outros ainda estavam rindo.

— Por que? – apoiou a taça na coxa e o encarou com um sorrisinho ladino.

— Um homem não pode ser curioso? – deu de ombros.


— Branco. Na sua pele. Renda branca.

— Me parece que andou pensando sobre isso, Jin-hyung. – Namjoon arqueou


uma sobrancelha.

— Gosto da sua percepção. – assentiu. Ele olhou ao redor. – Eu vou subir,


tomar um banho... Quer vir comigo?

— Quero.

— Claramente você não é um Pastor Alemão, Jimin, talvez você seja um


Beagle. – Yoongi estava dizendo.

— Então você é um Salsichinha. Daqueles velhos e chatos.

— Velho chato. – Yoongi imitou.

— Vocês dois parecem Pinscher. – Hoseok deu de ombros. – Pequenos e


bravos.

— Cala a boca!

— Eu vou subir, preciso de um banho. – Jin anunciou ficando de pé. A taça


vazia foi deixada sobre a mesinha de madeira.

— Também vou subir, preciso corrigir uns exercícios e-

— E a gente sabe que vocês vão transar, parem de atuar. É horrível. –


Hoseok gesticulou. – Usem camisinha! – ergueu o polegar e sorriu.

— Você parece um Vira-Lata Caramelo, Hoseok. – Yoongi observou.

Jin rolou os olhos e subiu para os quartos junto de Namjoon.

No banho, envoltos ao vapor muito quente, eles transaram pela primeira vez.

🌙
Jin sorriu quando ouviu os passos no banheiro e ajeitou as costas que se
apoiavam contra a cabeceira da cama espaçosa. Ele abriu mais um dos
botões da camisa social preta e observou o próprio relógio dourado preso
ao pulso.

— Eu demorei tanto pra achar algo que me deixasse confortável. – Namjoon


explicou de volta ao quarto de motel. Usava um roupão comprido de
algodão.

— 'Tô curioso, Namjoon-ah. – reclamou engatinhando na cama até ficar de


joelhos no meio do colchão. A calça social estava aberta, mostrava a cueca
branca e a semi ereção. O cinto de couro marrom se balançava toda vez que
ele se movia. – Me deixa ver.

— Se você não gostar a gente pode esquecer isso e-

— Namjoon... – sorriu. – Eu gosto de você.

O mais novo também sorriu e assentiu. Desfez o nó do roupão e deixou que


caísse aos seus pés, Seokjin arfou e lhe deu o sorriso mais promíscuo que já
havia visto.

— Caralho! – deixou escapar enquanto o observava inteiro. – Caralho,


Namjoon.

Namjoon mordiscou o lábio inferior e sorriu mais mostrando as covinhas.


Usar aquela lingerie não era ruim, sentia-se tão sexy e bonito. Gostava da
sensação que a renda e a seda causavam em sua pele.

Jin estava paralisado.

A fita de renda ao redor do pescoço de Namjoon era tão bonita, tinha certeza
que aquilo estava brilhando em pequenos pontos de luz. Feito diamantes
assim com as luvas vazadas ao redor dos dedos fortes. O peito nu, o tórax
largo sumindo para dentro do corpete apertado e preso na cinta liga sobre a
calcinha pequena que mal lhe cobria a ereção evidente.
Ele se perdeu de vez no par de coxas, no contraste da pele com a renda
delicada enclausurando os músculos firmes.

Respirou fundo por notar que não estava o fazendo.

— Gostou?

— Que tipo de pergunta é essa? – lambeu os lábios. – Vem aqui. – chamou


com o dedo indicador. – ele não tocou, mas Namjoon sentia-se excitado
demais apenas com o olhar que recebia. – Pode fazer uma coisa pra mim?
Além disso?

— Posso. – assentiu.

— Ok. – sorriu. Jin desceu da cama e o fez subir nela, o fez ficar ajoelhado
ali enquanto ia até o frigobar elegante pegar o vinho e uma das taças de
cristal. – Me deixa ver você?

— Me ver? – franziu as sobrancelhas.

— Ver você se dando prazer?

— Quer me ver brincando sozinho, hyung-nin?

— Você me chama assim porque sabe que me deixa louco, não é? – usou o
saca-rolhas para abrir o vinho e serviu uma quantidade generosa dentro da
taça. – Você está se sentindo bem vestido assim, Namjoon?

— Eu me sinto lindo. Eu nunca me senti assim antes. – confessou e Jin


apontou para o alto, para o espelho preso ao teto.

— Alguma vez já se tocou assim? Já se assistiu enquanto se dava prazer? – o


mais novo negou. – Eu nunca vi alguém tão sexy quanto você, Namjoon.

— Gosto de como diz o meu nome. – sussurrou. – Gostou muito de como a


renda arrepia a minha pele quando eu me movo.

— Se mova mais. – pediu recostado à parede de vidro frente a cama, uma


das mãos no bolso da calça social e a outra segurando a taça de vinho. – Eu
vou dizer o seu nome.

Ele assentiu e separou um pouco as pernas.

— Me diz o que fazer, hyung. – provocou.

— Passe as suas mãos por todo o caminho onde você quer as minhas,
Namjoon. – obedecendo, primeiro levou as mãos até o pescoço, sobre a
faixa de seda que o arrepiou por sentir a textura com a ponta dos dedos.
Tocou sem pressa, exatamente como Seokjin o fazia, contornando até os
ombros largos, depois as levou até os mamilos sensíveis, raspou a renda das
luvas sobre eles, prendeu-os entre polegar e indicador pra gemer baixinho. –
Você quer as minhas mãos aí?

— Uhum. – assentiu o encarando.

— Ou prefere a minha boca? A minha língua? – bebeu mais vinho e


caminhou para perto da cama, observando-o. Namjoon desceu mais com as
mãos até apertar o próprio pau sob a calcinha completamente molhada pelo
pré-gozo. Ele brincou com a glande e Jin lambeu os lábios. – Vem aqui,
Namjoon.

O maior engatinhou até a beirada da cama e aceitou a taça contra seus lábios,
o vinho doce e gelado que lhe foi oferecido com cuidado. Bebeu encarando-
o nos olhos.

— Olhos de dragão. – o mais velho sorriu. – Você ateia fogo em mim fácil
demais, Kim Namjoon.

— O fogo em você me aquece, Jin. – beijou os dedos que seguram a taça. –


Por favor, me aquece?

— Hoje eu vou queimar você. – prometeu e se afastou outra vez. O maior


sorriu e se virou na cama, deitando de barriga contra o colchão só pra
depois ficar sobre os joelhos. De quatro. Suas mãos apertaram os lençóis
limpos, ele encarou-o mais velho por sobre o ombro direito e sorriu
satisfeito. – Porra...
— Não me deixe sozinho, hyung-nin.

Jin deixou a taça sobre o frigobar, as palmas das mãos formigavam,


necessitadas de sentir. A bunda empinada rebolou um pouco, a calcinha
branca se perdia entre as nádegas amorenadas para aparecer sobre o cóccix
e ficarem entre o corpete e a cinta liga.

— Você se preparou? – perguntou apressado, esvaziou os bolsos, não se


preocupou com nada, só com a camisinha que achou sobre o móvel ao lado
da cama.

— Uhum, antes de você me buscar. – assentiu e deixou-se ser virado na


cama, riu baixinho quando o mais velho murmurou um "graças a deus". –
Não tira. – pediu.

— Minha roupa?

— É, não a tire. Fica. – apertou a camisa preta entre os dedos.

— Você quer que eu te foda usando um terno, Namjoon? – arqueou uma


sobrancelha.

— Quero. Eu estou realizando o seu fetiche, então você realiza o meu. – o


recebeu entre as pernas e cruzou as panturrilhas nas costas dele, prendendo-
o ali. – Faz isso?

— Safado do caralho. – disse com as mãos apoiadas ao colchão,


observando-o de cima. Esfregou a ereção contra a dele e os dois gemeram
juntos. – O que mais?

— Depois, eu quero foder você ainda de terno, hyung.

— Contra a parede de vidro. – eles assentiram. – Usando essa lingerie


enquanto me empala no teu pau. – deixou a mão circular o pescoço alheio, os
dedos sentiram a renda macia. – Safado do caralho.

— Safado do caralho.

Disseram juntos.
— Me beija.

Jin atendeu ao pedido e o beijou forte, mergulhando nele como se quisesse


ou pudesse chegar ao fundo. Uma quase luta, um beijo intenso e agressivo.
Namjoon abaixou a calça de Jin até conseguir trazer sua ereção para fora, o
acariciou, deixou a renda raspar contra carne dura e sorriu agraciado pelos
gemidos dados em troca.

O menor abriu a camisinha com pressa, desenrolou e já se segurou pela base


enquanto o mais novo puxava a calcinha ensopada para o lado e empurrava
um dos dedos para dentro de si lentamente. Gemeu manhoso e ganhou uma
mordida ao redor do mamilo direito que em seguida foi chupado com força.

Ambos suspiraram aliviados quando a penetração aconteceu inteira e um


tanto bruta. O corpo de Namjoon tremeu, as mãos fortes agarraram a camisa
negra, os olhos pequenos se abriram mais.

— Tudo bem? – Jin perguntou com cuidado, deixando beijinhos por seu
rosto.

— O seu pau é grosso pra caralho. – lambeu os lábios.

— Você diz isso toda vez que a gente transa. – sorriu movendo os quadris,
uma só estocada e arfou. – Você é apertado demais.

— Você diz isso toda vez que a gente transa. – imitou antes de beijá-lo.

Então começaram.

Jin estocando enquanto Namjoon abria-se mais para cada investida dos
quadris dele. Gemendo alto, soltando palavrões a cada vez que sentia a
próstata ser atingida, pedindo por mais e mais. Vez ou outra os encarava pelo
reflexo do espelho, os ombros largos dentro da camisa escura o fazia gemer
mais os quadris do mais velho que se moviam cadenciados enquanto o cinto
de couro se afrouxava mais e mais por estar aberto. Até mesmo a barra da
cueca o fazia enlouquecer.
Não perguntou quando o sentiu parar, sorriu ao ficar de quatro na cama e
mordeu a boca ao ser invadido de novo, com ainda mais força. Palavras
sujas, tapas ardidos nas coxas e nádegas, a faixa de renda que serviu de
coleira quando Jin o puxou para colar as costas ao seu peito. A mão
esquerda o enforcou e a direta estapeou sua bunda duas vezes para depois
juntar seu cabelo e puxar.

— Porra, você vai me enlouquecer. – disse respirando contra a orelha de


Namjoon. – Eu fico pensando em comer você o tempo inteiro, merda.

— O tempo todo? – perguntou baixinho, estava prestes a gozar sem ter


sequer tocado a ereção coberta de pré-gozo.

— Uhum. O tempo todo.

— Jin... Hyung... Eu quero-

— Você quer gozar? – sorriu e o maior assentiu. Então ele parou de estocar,
pressionou-se dentro dele e Namjoon rebolou agoniado. – Calma. Vamos te
fazer chover outra vez.

— Jin... – arfou. – Eu não consigo de novo, eu não aguento...

— Shi, calma... Relaxa... Hyung vai cuidar de você. – beijou o ombro dele e
se retirou de dentro. Namjoon engoliu a saliva e assentindo sentou na cama,
entre as pernas dele, as costas grudadas na camisa suada. – Abre as pernas,
dobra os joelhos pra mim.

— E você? – o encarou de baixo.

— Depois você cuida de mim. – sorriu. – Relaxa. – então, a mão direita foi
levada até o pau de Namjoon e a esquerda para o períneo, indicador e dedo
médio pressionaram aquela região quando começou a masturba-lo com
habilidade, focando pressão e velocidade na glande onde Namjoon era mais
sensível. – Eu adoro te fazer chover pra mim, ter você tremendo assim nos
meus braços...
— Mais rápido. – pediu. Suas mãos estavam agarradas aos antebraços de
Jin, castigando com aperto. – Isso, isso... Jin...

— Calma, não fique tenso... Deixa vir Namjoon-ah. – beijou o ombro dele, a
massagem no períneo tornou-se mais firme, desenhava círculos sobre aquela
região quase firme. Abaixo das bolas que Namjoon queria demais apertar
para se aliviar de uma vez. – Chove gostoso pra mim, seu safado do caralho.
– sussurrou.

— Hyung... – choramingou, suas pernas estavam tremendo, os dedos dos pés


se retorcem, ele apertou os olhos e abriu a boca carnuda num grito mudo
quando a primeira onda do orgasmo o atingiu. Aquilo era insano. – Jin... Jin!

— Eu sei, eu sei... – beijou-lhe o pescoço. O gozo grosso espirrou alto três


vezes, mas ele não parou de masturba-lo. Sabia que qualquer coisa malfeita
transformaria aquele prazer em dor, então pressionou o períneo e desceu
mais os dedos até penetrar dois deles dentro de Namjoon, dobrando só para
pressionar a próstata. O segurou firme quando o corpo pesado tremeu,
quando ele arfou alto e soluçou. Então, Namjoon choveu. – Isso. – disse
orgulhoso, os dedos sendo esmagados pelo aperto, os antebraços
praticamente rasgados pelas unhas curtas do mais novo. – Shi, isso...

— Hyung... – a voz estava embargada. Ele tremia pelo prazer, pequenos


espasmos ou movimentos lentos. – Hyung... - era uma bagunça, o som
molhado da masturbação só não era mais alto que seus gemidos chorosos.

— Eu sei, eu sei... Você é tão bom pra mim. – elogiou parando de masturba-
lo aos poucos. Secou as mãos de qualquer jeito no lençol e a usou para
pentear os cabelos dele para trás com carinhos. – Você foi bem, 'tá tudo bem.

— Jin-ah. – Namjoon estava sensível e chorando, ele se encolheu contra o


peito do mais velho e soluçou. O corpo grande coberto de suor, a renda lhe
grudando na pele. – Jin.

— Estou aqui. Shi. – beijou a lateral da cabeça dele e depois a testa suada.
As mãos carinhosas acalmavam o corpo alheio. Ninando-o. – Você foi tão
bem, você sempre vai bem, Joonie. – sorriu. – Sempre.
Namjoon fungou e de olhos fechados, sorriu.

A melhor parte não eram os orgasmos, a melhor parte era Seokjin.

E como haviam dito, transaram pelo quarto inteiro.

Mais vezes do que acreditavam ser possível porque mesmo exaustos, não
conseguiam parar. Sequer queriam. Contra a parede, sobre o frigobar, dentro
da jacuzzi. Tantas vezes para se perder as contas, ainda assim dentre essas
vezes uma delas fez Namjoon sentir além.

Deitados na cama, de lado, um dos braços de Seokjin ao redor de sua cintura


enquanto o outro se esticava abaixo de seu pescoço para entrelaçar os dedos
aos seus.

Jin se movia devagar.

Estavam dormindo, mas eles acordaram de novo quando os corpos se


encaixaram por instinto e não demorou até que estivessem transando de
novo.

Ainda assim, naquela vez não foi isso.

Não foi só isso.

— 'Tá machucando? – Jin perguntou baixinho.

— Não, devagar assim não machuca. – negou e sentindo um beijo demorado


na nuca. – Tão bom, hyung. – gemeu.

— Você é tão gostoso. Tudo em você é tão gostoso. – a voz dele estava rouca
pelo sono. Ele o abraçou mais forte. – Eu quero gozar.

— Espera. – pediu levando a mão livre para se masturbar, estava tão


sensível que temia se ferir, então apenas brincou com os dedos sobre a
glande. – Geme, quando você geme eu gozo mais rápido.

— Eu também gosto de ouvir a sua voz. – sussurrou estocando mais rápido.


– Do seu cheiro, do seu gosto.
Namjoon fechou os olhos e assentiu. Não precisou se tocar depois disso, não
queria.

— Eu gosto de você hyung. – apertou os dedos entrelaçados. – Eu gosto de


você.

Jin gemeu demoradamente antes de virá-lo para beijar devagar, para gemer
dentro da boca dele. Namjoon gozou primeiro e foi por causa do beijo,
porque aquilo era tão intenso. Quando Jin se afastou apressado, puxando-se
para fora para gozar na própria mão, ele não se moveu.

Ouviu-o gemer satisfeito e não se moveu.

— Vou limpar isso, já voltou. – avisou minutos depois estranhando o


silêncio do mais novo.

— Ok. – assentiu. Mas não se moveu.

Namjoon se encolheu na cama assim que ouviu a porta do banheiro fechar,


cobriu-se com um dos lençóis limpos e fingiu estar dormindo quando Jin
voltou e deitou ao seu lado. Esperou quase uma hora até ouvi-lo roncar
baixo e com o celular nas mãos se trancou no banheiro.

Os dedos trêmulos erraram nas duas primeiras tentativas da ligação e quando


ouviu a voz rouca do outro lado da linha percebeu que queria chorar.

— Namjoon-ah o que foi?

— Hyung, pode me buscar? – pediu secando o nariz com as costas das mãos.

— Que? Como assim? – ouviu o farfalhar de lençóis. – São quatro da


manhã, Namjoon.

— Eu sei, desculpa.

— Cadê o Jin-hyung? Vocês brigaram? O que foi?

— Ele está dormindo. – fungou de novo. – Eu tenho de ir embora.


— Namjoon. Por favor, respira fundo ok? – Yoongi pediu com paciência,
mas seu tom de voz era preocupado. – Conta comigo...

— Eu não consigo respirar direito...

— Por favor, conta comigo. 1, 2, 3, 4...

— 4, 3, 2, 1. – ele fechou os olhos.

Levou minutos até que sentisse o ar entrar e sair de si sem dificuldades, mas
as mãos não paravam de tremer. Obedeceu quando Yoongi o pediu para lavar
o rosto. Namjoon sentou no chão do banheiro outra vez e observou a
banheira espaçosa.

— Onde vocês estão?

— Um motel. Depois da rodovia principal. A gente veio depois de ele sair


do estágio. – explicou.

— O hyung fez algo? Ele te machucou ou disse algo que tenha sido gatilho
pra você?

— Não. – negou com a cabeça também e passou a mão livre pelos cabelos
curtos. – Ele nunca me machucaria. Nunca.

— O que aconteceu?

— Você já fez amor com alguém, hyung?

Yoongi ficou em silêncio, Namjoon conseguia imaginá-lo refletindo sobre a


pergunta antes de respondê-la.

— Algumas vezes. Você já fez?

— Não... Mas o Jin fez amor comigo hoje. – confessou baixo, as lembranças
recentes do sexo compartilhado na cama espaçosa do motel ainda o deixava
ansioso. – Ele me fez amor, hyung.

— E o que você sentiu? O que sente sobre isso?


— Eu me senti vivo. – apertou a mão livre, desamassando dobras
inexistentes no roupão branco. – E isso me assusta.

— Por que?

— Porque eu acreditei ter morrido aos doze anos.

O silêncio na ligação só não era inteiro porque a respiração de Yoongi se


tornou mais ruidosa. Ele fungou baixinho e Namjoon também.

— Ele foi carinhoso, não que ele não tenha sido das outras vezes, mas foi
diferente. A forma como ele me tocou, como ele beijou cada pedaço do meu
corpo e me deixou beijar o corpo dele. – sorriu um pouco. – O quanto eu
deixei o Jin entrar em mim não só no sentido sexual, mas muito além disso...
Eu acho que ele consegue me ver por dentro Yoongi-hyung e eu percebi que
tenho medo demais que ele me veja. Porque ele me olha como se eu fosse
um homem normal.

— Joonie, a normalidade é relativa. – tentou pelo que deveria ser


milésima vez.

— Ele não tem pena de mim e nem me olha como se tudo fosse minha
culpa... Então... – ele fungou de novo. – De algum jeito eu acredito nisso, eu
acredito que não tem nada de errado em mim. Mas isso me deixa tão
apavorado.

— Você tem medo que ele saiba...

— Eu não posso deixá-lo entrar assim dentro de mim, hyung. Eu não vou
deixar Seokjin afundar em mim... Nunca.

Batidas na porta fizeram Namjoon fungar e secar as lágrimas com pressa.

— Namjoon-ah? – a voz manhosa pelo sono o chamou. – Tudo bem? Te falei


que aquele chocolate estava estranho? É dor de barriga.

Namjoon riu baixo em meio às lágrimas.

— Obrigado por atender, hyung. – sussurrou.


— Só... Por favor... Cuidado. – Yoongi pediu antes de finalizarem a
chamada.

Ficou de pé e guardou o celular no bolso do roupão antes de abrir a porta.


Jin estava coçando os olhos, o cabelo escuro numa bagunça. Ele sorriu.

— Você 'tá legal? – repetiu o puxando com carinho até segurar o rosto entre
as mãos e se esticar para beijar-lhe os lábios. – Seus olhos, 'tá chorando? O
que-

— Não é nada. – negou. – Foi um sonho ruim.

Jin o observou preocupado, mas preferiu respeitar seu espaço.

— Vem, vamos voltar pra cama. Quer que eu te faça dormir? – perguntou
quando sentou no colchão. – Quer?

— Não. – Namjoon, de pé entre as pernas do mais velho negou. – Quero


você de novo. – ele desfez o nó do roupão e o empurrou pelo ombros até que
caíssem ao redor do pés descalços como uma redoma felpuda. – E de novo.

Jin o encarou de baixo, suas mãos logo estavam sobre os quadris estreitos,
resvalando a pele amorenada sobre as marcas que havia deixado antes. Ele
sorriu outra vez, Namjoon segurou a respiração.

— Joonie-ah. – o puxou para mais perto, até ter a boca pairando sobre a
barriga alheia. – Você nunca fica satisfeito. – provocou antes de beijar a pele
abaixo do umbigo, sobre os pelos finos que desciam até a virilha. – Já te
falei, a gente ainda vai bater algum recorde.

— Enquanto isso você pode continuar deixando marcas em mim... – segurou


a mão dele e a levou até a boca, até sugar dois dedos para dentro da boca e
chupar devagar. – Descobri que gosto disso por sua causa, hyung.

Jin fechou os olhos por um momento e quando os abriu o mais novo tremeu
pela força que o olhar dele expressava. Dominante. Então, ele se sentia
desesperado para se submeter.
Quando ficou de pé o segurou pela nuca, puxando o cabelo curto entre dos
dedos até virá-lo para bater as costas contra seu peito. A boca beijou atrás
da orelha direita, os dentes morderam o lóbulo e brincaram com a argola
pequena que estava presa ali.

Namjoon gemeu, seu corpo inteiro poderia derreter, a imaginação eufórica o


levava a crer estar sentido o sangue correr por suas veias, a pulsação vívida
como um organismo a parte, os batimentos cardíacos do próprio coração
acelerado. Vivo. Vivo como um recém-nascido que chora ao escapar para
fora do útero, como um homem velho que teme morrer e deixar para trás a
genuinidade da existência.

A cada beijo de Jin, cada vez que a respiração quente batia contra sua pele,
que a voz gemia contra seus ouvidos. Vivo.

Nenhuma corda ameaçava puxá-lo, todas as linhas imaginárias tornavam-se


indefesas, nada nele era errado, nada poderia fazer-se errado.

Quase desesperado, se virou para beijar o mais velho, agarrando-se a ele


como um náufrago perdido no oceano. Nada comparado a salvação que
encontrava com Jimin. Aquilo era superior, era assustador, era vida.

Empurrou o roupão que Jin usava com pressa, subiu na cama de joelhos e o
puxou para fazer o mesmo. Os corpos nus foram tocados com devoção
durante os beijos, o ar condicionado não poderia brigar com o calor que
vinha do corpo de Jin e queimava Namjoon de dentro para fora.

Incendiando muito além do que era natural.

Outra vez transaram, outra vez se perderam em meio ao prazer agridoce que
aquela relação sem rótulos e confusa rendia. Bagunçando a cama, os lençóis
e suas mentes como se não fosse necessário arrumar tudo depois.

A pior parte de uma bagunça é quando precisamos assumir que ela


incomoda.


E as coisas começaram incomodar a Seokjin quando um sentimento, até
então desconhecido para ele, brotou em seu peito.

Ciúmes.

Naquela república não falavam sobre exclusividades relacionadas à vida


sexual de ninguém, então ele não se importava quando Jimin e Namjoon
ficavam se agarrando pela casa ou transando alto em um dos quartos... Às
vezes cedia as investidas do outro Kim e também proporcionava piadinhas
bobas quando ficavam juntos em casa.

Entretanto, as coisas mudaram depois do aniversário de Namjoon.

Eles jantaram juntos, os quatro, antes de comemorarem no Wings com


algumas outras pessoas das quais Namjoon era próximo. Na época Jin estava
se despedindo da Cypher graças as responsabilidades da faculdade e dando
lugar a Jimin.

Já era mais de mais noite, o pequeno bolo confeitado que compraram já


havia acabado. Yoongi estava bêbado e de cara feia porque Hoseok não
parava de flertar com um amigo de Namjoon. Mas isso tudo foi deixado para
depois quando Namjoon e Seokjin quase quebraram a porta do banheiro do
bar com pressa.

O mais velho foi empurrado contra a parede rabiscada e sorriu.

— Eu preciso subir pra cantar daqui dez minutos. – sussurrou enquanto abria
o cinto do mais alto. – Preciso te dar o segundo presente. – riu baixinho
quando segurou a semi ereção alheia dentro da mão. – Você sempre duro pra
mim.

— Hyung... – gemeu. – Me dá o meu presente.

— Me dá o presente? – arqueou uma sobrancelha. – Eu não ouvi direito.

— Por favor... Seokjin-hyung, me dá o meu presente? – repetiu o encarando.

— Bom garoto. – assentiu e se abaixou, as mãos ágeis abriram a calça do


maior de vez. – Meu bom garoto.
Namjoon gemia sem pudor algum quando Jin abocanhou seu pau, chupando
depressa numa habilidade que sempre o deixaria perplexo. Ele apoiou uma
das mãos contra a parede e a outra segurou o cabelo do mais velho, nada
agressivo, apenas para se apoiar ali. Olhava-o de cima e mesmo que isso
soasse superior sabia muito bem que Jin comandava aquilo de alguma forma.
Com a boca esperta e a língua experiente ou o olhar que o comia enquanto o
chupava.

Jogou a cabeça para trás, castigou o lábio inferior entre os dentes e arfou
quando as mãos alheias apertavam sua bunda com força, puxando as nádegas
para expor a entrada que faltou pulsar por algo preenchendo. Por Seokjin.

— Jin... Jin... O meu presente... Por favor? – pediu manhoso. Jin o tirou da
boca e ficou de pé.

— Qual é o seu presente?

Namjoon sorriu atrevido e foi sua vez de abrir a calça do mais velho,
depressa segurando a ereção grossa entre os dedos para apertar.

— Aqui.

— O meu pau é o seu presente, Namjoon? – agarrou o cabelo da nuca dele


enquanto ele assentiu. – Você quer se acabar no meu pau como presente de
aniversário, é isso?

— É Jin.

— Seu puto safado do caralho. – disse contra a boca alheia, quase


grunhindo pelo prazer daquela obediência. – Sabe o que eu vou fazer
contigo?

— O que? – continuou masturbando-o lentamente, brincando com o pré-gozo.

— Eu vou te comer aqui, com força e você vai voltar pro bar me sentindo
socado dentro de você inteirinho. – segurou-o pelo queixo e lambeu a boca
dele. – Tira a calça e se inclina na direção do vaso. – deu um tapinha na
cintura dele. Namjoon obedeceu, se livrou da calça abaixando até os
calcanhares como o espaço permitia. – Abre, me mostra o tanto que você
quer. – ele quase chiou quando o mais novo usou as mãos para se abrir, para
mostrar a entrada.

Jin rapidamente vestiu a camisinha e cuspiu entre as nádegas dele.

Foderam forte naquele banheiro, nenhum dos dois preocupados com a fila
que logo se formou do lado de fora. Quando saíram, rindo e ouvindo
xingamentos dos outros caras que aguardavam, estavam de mãos dadas.

Esse ponto deixou Jin confortável com aquela situação.

Ele gostou muito de ouvir as insinuações sobre serem um casal.

Infelizmente não foi o mesmo para Namjoon.

Naquela noite ele ficou junto de Hoseok, Yoongi e Jimin numa mesa próxima
ao palco e assistiu Seokjin fazer a última apresentação com a Cypher. O
cabelo escuro estava penteado para trás, sem camisa, a calça baixa demais
expondo o elástico da cueca preta e a pele suada.

E foi enquanto Jin cantava Estranged que tudo mudou de cenário entre eles.

— Joonie-ah? – Jimin o chamou e apagou o cigarro dentro do cinzeiro de


ferro sobre a mesa. – Você transou não foi?

— O que? – se fez de desentendido, mas sorria. – Me respeite.

— Olha essa sua carinha toda vermelhinha, Moni. – continuou e apertando o


nariz dele. – Jin-hyung está igual. Sabe, isso é legal.

— O que é legal?

— Vocês dois juntos.

— A gente só fica Jimin, igual eu fico com você e-

— Eu sei. – gesticulou. – Mas entre vocês dois rola um negócio mais


intenso. Dá pra notar de longe. Isso é bom, Namjoon. – sorriu. – Quer dizer
que você 'tá ficando bem, não é?

Namjoon franziu o cenho e fez uma careta. Jimin rolou os olhos e bebeu o
resto do uísque.

— Acho que Jin-hyung está se apaixonando por você e vice-versa.

O mais velho negou outra vez e voltou a encarar Jin no pequeno palco. Ele
estava cantando, as duas mãos segurando o microfone preso ao pedestal. Em
dado momento os olhares se cruzaram e Jin sorriu. Sorriu apenas para ele
mesmo que aquele lugar estivesse cheio de pessoas.

Namjoon sentiu-se um pouco sufocado.

Aquele lugar realmente estava cheio demais.

Ele parou de bater os dedos sobre o tampo da mesa e sacudiu um pouco a


camiseta para ver se tudo ficava menos abafado. Bebeu a cerveja gelada em
três goles grandes e Jimin foi o primeiro a notar que as coisas não estavam
bem quando o viu ficar de pé.

Namjoon quase empurrou as pessoas que estavam obstruindo o caminho até a


saída do bar, suas mãos não paravam de suar, a música estava alta de
verdade.

Então as lembranças o atingiram como um soco no rosto.

A voz dela.

"Eu posso esperar os meus pais acordado, noona?"

"Nós podemos brincar de algo novo, Namjoon-ah? Você pode guardar


segredos?"

"Por que preciso tirar minha cueca, noona? Eu já tomei banho."

"Não seja chorão."

"Por favor, isso 'ta machucando... Não quero brincar disso."


"Você é um menino grande Namjoon."

"Isso é sangue?!"'

"Não. Você foi um bom menino, esse é o nosso segredo Namjoon..."

"Namjoon..."

"Namjoon..."

— Namjoon?! NAMJOON!

As luzes o deixaram tonto quando o corpo foi puxado com força para trás. A
buzina veio junto de um palavrão. O encostaram contra uma parede úmida
demais. Mãos frias seguraram-lhe o rosto.

— Namjoon, olha pra mim! Hey, olha pra mim.

Ele encarou o rosto aflito de Jimin e o empurrou para o lado, se curvou e


vomitou na calçada. Jimin passou as duas mãos pelo rosto e respirou fundo.
Era horrível ver Namjoon naquele estado de novo.

— Eu vou chamar os hyungs e-

— Não! – negou com a mão. – Não! Não chama ninguém, muito menos o Jin.

— Namjoon...

— Eu já disse que não! Eu não quero que ele saiba. Nunca. – secou a boca
com a camiseta e encostou o corpo na parede.

— Ele vai te ajudar, eu tenho certeza. Jin-hyung tem um coração bom, ele
vai-

— Ele vai sentir pena de mim! Igual a todo mundo! Vai me tratar como a
droga de um fodido anormal Jimin, eu nunca vou contar pra ele.

— Mas-
— Namjoon? – a voz doce o chamou. Jin agora vestia uma regata preta. Se
aproximou dos mais novos, havia um semblante preocupado em seu rosto. –
Vi você saindo do nada, tudo bem?

Namjoon o encarou. O olhar apavorado demais para pensar direito piorou


quando viu Jimin abrir a boca para falar.

— Combinei de sair primeiro e o Jimin me seguir. – disse depressa, logo seu


braço estava ao redor da cintura de Jimin.

Jin franziu o cenho. O ciúme outra vez sendo regado dentro dele.

— Falei que a gente ia sair depois daqui, mas eu tô afim de ficar com o
Jimin agora.

Jimin arregalou os olhos e o encarou pronto para mandá-lo parar com aquilo.
Mas, conhecendo Namjoon como conhecia, não disse nada. O mais alto
estava apavorado, seu corpo inteiro tremia, seus olhos marejados demais.

— 'Tá falando sério? Depois do que rolou no banheiro e tal? – Jin insistiu.

— Eu já consegui o presente. – deu de ombros e sorriu.

Seokjin assentiu.

Pela primeira vez em sua vida sentiu o coração apertado, chegou a sentir
vergonha de si mesmo.

— Ok, tanto faz. – deu de ombros também. – Preciso voltar agora. – apontou
para dentro do bar com o polegar. – Tchau pra vocês dois. – sorriu.

Jimin estava agoniado.

— Tchau, Jin-hyung.

— Tchau, hyung.

Quando ele entrou, Jimin encarou Namjoon e suspirou.


— O que você fez, Moni?

— O que eu deveria ter feito desde o começo.

Nos dias que seguiram a convivência foi a mesma, principalmente por


Seokjin acreditar ser adulto demais para se deixar levar por sentimentos
bobos. Namjoon e Jimin pareciam bem e ele decidiu que aquilo não o
machucaria e quando machucava, ele fingia que a dor não existia.

Mas nada conseguia pará-lo quando o encontrava jogado no tapete de seu


quarto com o semblante cansado.

Jin abria a porta e não dizia uma palavra sequer, não perguntava nada. Se
desfazia do terno, dos sapatos, tomava um banho e deitava perto dele para
dividir fones de ouvidos e o silêncio misterioso.

Por muitas vezes Namjoon chorou ali.

Encolhendo-se em bola até ter os braços do mais velho ao redor de seu


corpo. As camisetas de Jin sempre carregavam suas lágrimas. Então,
Seokjin o acolhia sem rodeios às vezes cantando para fazê-lo dormir outras
o tomando ou deixando que ele o tomasse num sexo intenso demais.

Só para no dia seguinte Namjoon partir seu coração um pouco mais.

A mesma história contada de formas diferentes.

E enquanto lhe partia o coração, Namjoon partia a si mesmo.

Abusou de seu amor e da forma de vida que ele lhe dava, assim como o
abuso fora sido inserido em sua existência desde a infância.

Por parte da babá, por parte dos pais que nunca o respeitaram e por parte
dele mesmo quando se afastava quem o queria bem por puro e genuíno medo
de viver.
Temia que Seokjin lhe visse por dentro, então fazia-se abominável por fora
porque dessa forma poderia perceber que não deveria amá-lo de forma
alguma.

Mas ainda assim, ele amou, e nem sempre o amor é capaz de tudo

Não precisa ser capaz de suportar o que machuca.

Kim Namjoon era a causa e todas as suas decisões eram consequências.

Injustificáveis e talvez imperdoáveis se narradas de um ângulo ruim, Kim


Namjoon por muitas vezes não queria ser o ator, mas foi o vilão.
Interpretando o papel que ninguém quer, que ninguém inveja, que ninguém
aplaude porque vilões não sentem.

E essa incoerência foi o que prendeu Seokjin para dentro desse


relacionamento ruim. Namjoon era o vilão insensível que partia o seu
coração, mas quando ele vinha se perder no tapete de seu quarto, nada mais
era que um homem assustado que sentia demais.

Nenhum dos dois era mais ou menos vítima e culpado, apenas eram.

Deixaram suspiros nos travesseiros um do outro, mas acordava sozinho na


cama envoltos num ar silencioso que atirava julgamentos por todos os lados.

Deveria ter sido amor, deveria ter sido bom. Deveria ser.

E esses pensamentos e lembranças rondavam a mente de Namjoon,


atualmente, enquanto ambos observavam o mar e o céu noturno. Sentados na
areia, descalços e com cabelos agitados pelo vento.

A conversa com desconhecidos tinha sido benéfica.

O luau ainda acontecia, dava para ouvir a voz de Jimin cantar o refrão de I
Don't Want To Talk About It e era quase cômico o fato de nenhum deles
realmente querer falar sobre aquilo.

— Eu quero ser um homem diferente. – Namjoon disse baixo. – Mas isso não
quer dizer que você deva me aceitar depois de tudo.
— Eu não quero conversar sobre como você partiu o meu coração. –
cantarolou a música e deitou a cabeça no ombro dele. – Contando que você
nunca mais faça isso, o tempo cuida do resto.

Ele sorriu e respirou fundo.

Namjoon beijou o cabelo dele e assentiu.

Aquilo não estava mais nas mãos de nenhum deles, isso era arriscado
demais, então que ficasse nas mãos do tempo.

O tempo é quem sabe.

twitter & instagram: keleaomine

#PillowFic
33 - sirenes

tags: ansiedade, descrição de abuso.

É uma vida frágil essa que vivemos,


Se eu pensar muito, nunca vou conseguir superar
Sirens - Pearl Jam

Levou horas até que o choro de Taehyung cessasse e dentro desse tempo o
silêncio se tornou esmagador, mas a opção mais correta. Yoongi não parou
de afagar os cabelos quase longos demais dele, enrola as mechas nos dedos,
os olhos felinos fixos na mão grande que se agarrava a mão de Hoseok só
para confirmar algo que era novo para eles.

Taehyung estava apavorado.

Entretanto, por dentro, pela primeira vez em sua vida, Tae também se sentia
seguro. Seguro de si, pronto para expor e pronto para deixar outro alguém
lhe ver inteiro. Despido por inteiro do homem às vezes arrogante demais,
atrevido e corajoso. Enquanto chorava também respirou fundo e chorou mais
por notar que aquela solidão não pôde mais ser sentida, que olhar para si
mesmo ainda causava dor, mas assumir fazia doer menos.
— Eu acho que minha omma queria uma menina, quer dizer... – Tae fungou,
Hoseok não reclamou quando o garoto esfregou o nariz contra seu ombro,
buscando limpá-lo. – Ela já tinha meus irmãos e ter uma menina completaria
a família dos sonhos. Ela nunca me tratou como uma menina, não 'tô dizendo
isso. Mas ela me mimou bastante, costumava fazer de mim um boneco e
nunca vi problema em nada disso, eu era uma criança. – lambeu os lábios. –
Taeseok nunca teve muita paciência pra mim, ele preferia fazer outras
coisas, mas Taewoo... – a voz grossa se tornou mais baixa, ele arfou
baixinho.

— Amor, você não precisa... – Yoongi se preocupou. Ele tentava com todas
as suas forças não chorar. – Se isso te machuca, não precisa falar mais nada.

— Eu preciso falar. – assumiu abaixando o rosto, respirando devagar. –


Yoon, eu preciso falar por mim... Porque isso nunca foi sobre as outras
pessoas ou sobre o que diriam de mim, mas é sobre os pensamentos que me
devoram vivo quando lembro, é sobre odiar a mim mesmo por não ter dito
não quando ele fez pela segunda vez... Porque o meu corpo parecia querer
aquilo, por que o meu corpo queria aquilo Yoongi?!

— Tae...

— Por que eu não pedi ajuda?! Por que quando ele tentou de novo anos
depois eu o bati, mas não contei pra ninguém? – encarou Hoseok. – Hobi...
Por favor, me diga? Me ajuda a tirar isso de dentro de mim? Antes eu disse
que não me sentia pronto pra dizer, mas eu tenho tanta... – o soluço alto fez
Hoseok abraçá-lo mais, praticamente niná-lo em seus braços. – Raiva. Eu
sinto raiva porque quando aconteceu, durante um feriado, minha omma soube
assim que olhou pra mim, ela soube que alguma coisa estava errada, que
alguém tinha feito algo comigo e quando eu contei... – Yoongi secou os olhos
antes que as lágrimas escapassem. – Ela chorou enquanto sorria. Disse pra
mim que eu já era um homenzinho e deveria guardar segredo. Que se
contasse Taewoo teria problemas, que pessoas más o machucariam... Por
que ninguém ligou para o fato de ele ter me machucado? No meu aniversário
daquele ano ele fez outra vez, ele disse que era um presente especial... E o
meu corpo...

— Amor, não foi sua culpa...


— O meu corpo reagiu! O meu corpo quis aquilo... – interrompeu a Hoseok,
falando mais alto, entregando-se de novo a raiva e ao choro. – Por que? Por
que eu deixei Taewoo tocar em mim de novo?

— Você era uma criança, Tae! – Yoongi se mexeu no lugar, as mãos grandes
seguraram as laterais do rosto de Taehyung. Ele o olhou nos olhos. – Amor,
você era uma criança!

— Yoon, eu 'tô com tanta raiva... – repetiu baixinho. – O tempo inteiro, eu


sinto como se fosse explodir.

— Aqui, bebe um pouco. – Hoseok estava de pé, tinha um copo de água nas
mãos. Taehyung negou. – Tae, por favor, só um pouco? Um pouquinho meu
amor.

O garoto não se moveu, mas aceitou quando a borda do copo de vidro foi
encaixado entre seus lábios trêmulos. Bebeu dois goles pequenos, depois
mais um grande e negou. Os mais velhos olharam depressa em direção a
porta quando ouviram-na abrir. As vozes animadas encheram a sala de estar,
Jimin cantarolava a letra de uma música antiga. Não demorou até notarem
que algo estava errado.

— Vem, é melhor a gente ir para o quarto... Hobi diz que você bebeu demais.
– Yoongi sussurrou.

— Não. – ele negou. – Eles também são a minha família.

— O que aconteceu? – Jimin foi o primeiro a perguntar. Ele encarou Hoseok


e Yoongi enquanto dava a volta no sofá espaçoso, mas seu olhar se tornou
desesperado ao ver o estado de Taehyung. Imediatamente milhões de sirenes
soaram dentro de sua mente, era como se o mundo parasse de girar. – Tae?!
O que você tem?! – ajoelhou diante dele, segurando-o pelos ombros,
tocando-o onde podia. – 'Tá machucado? Passando mal? Alguém machucou
você?! O que aconteceu, Taehyung?!

— Jimin, o Tae quer conversar com a gente. Todos nós. – Hoseok explicou
antes de sentar ao lado do namorado mais novo. – Sentem aí, por favor.
— Nossa, até fiquei sóbrio agora. – Jin sacudiu a cabeça e ocupou o sofá
menor ao lado de Namjoon. Jungkook sentou na poltrona, encolhendo as
pernas para abraçá-las. Estava um pouco assustado. – Fala, Tae.

Taehyung assentiu passando as mãos pelo rosto, secando as bochechas um


pouco coradas antes de encarar Jimin em silêncio.

— Hey, se isso for difícil, fala olhando pra mim. – o Park procurou pela mão
alheia, segurando-a com firmeza. – Olha pra mim e fala, 'tá bom? – sorriu um
pouco. – Mantenha seus olhos em mim, Tae.

O maior assentiu e o encarou mais.

— O meu irmão... – começou e os outros continuaram quietos. – Quando eu


tinha dez anos, o meu irmão mais velho me forçou... – o soluço dele foi
direto ao peito de Jimin, como um soco. Mas ele apenas apertou mais a mão
trêmula tão maior que a sua.

— Olha pra mim. – ele sussurrou.

— Taewoo... O meu irmão mais velho... Me forçou... Abusou de mim. E na


época...

— Aqui. Não, não abaixe a sua cabeça... – Jimin se ajoelhou entre as pernas
dele, segurando-o pelo rosto com carinho. Também estava chorando. – Olha
pra mim... Eu 'tô aqui, Tae.

— Na época minha omma descobriu... E me proibiu de contar.

— Hyung... – a voz chorosa de Jungkook atraiu sua atenção, mas Taehyung


precisava continuar encarando Jimin, ele precisava da força que fluía dele.
Precisava dele.

— Ela me fez acreditar que se contasse a alguém, Taewoo se machucaria


muito e eu só tinha dez anos, eu não entendia que aquilo era tão ruim a esse
ponto, mas acreditei... Era minha omma. Mas depois, mesmo sabendo que
era errado, ele me disse que era certo e eu não... – ele negou, então Jimin o
abraçou forte.
— Não precisa continuar. – sussurrando, afagou os cabelos do melhor
amigo. – Não precisa repetir isso, a gente já entendeu, ok? – Tae assentiu
chorando sobre o ombro dele.

— Eu sinto tanta raiva, Jimin-ah. – a voz abafada expressava o sentimento,


ele se agarrou ainda mais a jaqueta do menor, as unhas curtas pintadas de
preto arranharam completamente o couro. – O tempo todo.

Jimin respirou fundo.

— Tae, amor... Você tá tremendo demais e eu não sei o que fazer. – Hoseok
também estava ficando desesperado, Yoongi não parava de caminhar de um
lado a outro da sala.

— Ele vai vomitar! – Seokjin avisou quando Taehyung se afastou apressado


de Jimin, o corpo grande convulsionou duas vezes antes do vômito sujar as
roupas do menor. – Jungkook, por favor, na minha bolsa... Naquela menor,
pega-

— Não vai adiantar... – Namjoon fungou. – Apagar ele. Taehyung precisa


colocar isso pra fora.

— Jimin... Desculpa... Desculpa. – repetiu enquanto Jimin se livrava da


jaqueta e camisa com pressa. – Me desculpa?

— Você consegue ficar de pé? Consegue? Vem comigo, 'tá bem? – Jimin o
ajudou. Passou o braço longo por cima dos ombros e caminhou junto dele
para os fundos da casa. Yoongi, mesmo sem entender, abriu a porta francesa
para que saíssem no deque. Imediatamente, graças à brisa fresca do mar, Tae
respirou fundo. – Vem, um degrau por vez, ok?

— Ok. – assentiu.

Na areia fria eles caminharam até perto do mar, depois pararam e Jimin
abaixou o braço de Tae para que pudessem dar as mãos.

— Grita. – sussurrou. – Bem alto. Grita essa raiva como você nunca
conseguiu gritar em toda a sua vida. Grita pro seu irmão, pra sua omma...
Grita por você Tae. Eu vou continuar aqui. E se você parecer um louco...
Grita ainda mais alto.

Taehyung fechou a mão livre em punho, o choro sacudiu seus ombros


enquanto ajoelhava na areia. Cada arfar se tornou mais alto, a respiração
ruidosa, então ele gritou. Gritou a plenos pulmões até perder o ar e tragar o
oxigênio com força.

— Não foi sua culpa. – a voz de Namjoon saiu alta e forte. Taehyung não o
encarou, mas aquelas palavras lhe soaram tão diferentes. Ele gritou outra
vez. – Não importa se as pessoas fazem parecer isso ou se nós mesmos
acreditamos nisso por causa de reações involuntárias, nunca é nossa culpa.
– Tae amassou a areia entre os dedos, chorava tão alto quanto os gritos. –
Não é sua culpa, Tae. Eu juro. Nunca é nossa culpa.

Depois de ajudar Taehyung durante um banho demorado, Jimin voltou para o


quarto que dividia com Jungkook desde que chegaram ao litoral. Ele fechou
a porta e notou uma cueca limpa e dobrada sobre a cama, além da toalha
enrolada ao lado. Jungkook, sentado no meio do colchão, não disse nada.
Seus olhos grandes encaravam o mar através das portas de correr, graças às
cortinas estarem presas.

Jimin caminhou até ele e se curvou para beijar o cabelo preso no coque
apertado.

— Vou tomar banho e venho pra gente tentar dormir um pouquinho, ok?

— Ok, hyung. – assentiu.

Sozinho, depois do mais velho entrar no banheiro, Jungkook suspirou e


limpou as novas lágrimas que insistiam em escapar desde que ouvira as
palavras de Taehyung. Sentia-se triste, mas acima de tudo Jungkook também
sentia medo.

Talvez continuar indiferente à maldade do mundo o fizesse incapaz de lidar


com algo tão ruim. Quando tentou imaginar como Taehyung sentia, seu
coração apertou como nunca antes. Aquilo era tão ruim. Sobre Namjoon
havia sido diferente, soube através de uma explicação breve de Jimin, mas
ouvir alguém falar... Jungkook encolheu as pernas para abraçar os joelhos e
esconder o rosto ali.

— Hey, não dorme assim bebe, suas costas vão doer. – a voz carinhosa de
Jimin o fez erguer o rosto, mostrando a ele os olhos marejados. – Jungkook.
– Jimin suspirou. – Vem aqui.

Engatinhando na cama, o mais velho se aproximou para deitar e trazê-lo


junto até tê-lo deitado contra o próprio peito. Jungkook agarrou o corpo frio
pelo banho.

— Desculpa não ter vindo antes-

— Você estava cuidando do Tae-hyung. – fungou. – Como ele está?

— Quieto, mas parou de vomitar e chorar. Jin-hyung preparou um chá e o


Yoongi-hyung o fez beber. – enquanto ele falava, seus dedos faziam carinho
nas costas nuas do namorado. – Nós vamos precisar cuidar mais ainda um
dos outros agora.

— Eu sei. – assentiu, mas o choro baixinho fez Jimin abraçá-lo mais forte. –
Eu acho que não vou saber cuidar dos hyungs.

— Amor, não chora. – respirou fundo, não queria chorar e deixá-lo mais
agitado.

— Por que as pessoas são maus desse jeito? O hyung era só uma criança...
Namjoon hyung também. Por que fazem coisas horríveis assim? Por que
Deus deixa isso acontecer hyung?

— Eu não sei. – beijou o cabelo dele demoradamente. – Odeio não ter as


respostas quando você me pergunta alguma coisa, mas às vezes eu não vou
tê-las é preciso aceitar isso. Amor, eu não sei a razão de coisas assim
acontecerem... Ou porque as pessoas fazem coisas horríveis. Nem sei se
Deus realmente existe. A única coisa que eu sei agora é que a gente precisa
cuidar um do outro, se proteger.
— Proteger? – Jimin assentiu. – Como eu posso proteger você ou os hyungs?
Eu sei quase nada.

— E é o suficiente. – sorriu. – Continue exatamente como você é agora


Jungkook. Aqui nos meus braços... Continua dizendo que me ama quando
sentir vontade... Seguindo o Jin-hyung pela casa, querendo aprender com o
Namjoon... Aprendendo a beber uísque com o Yoongi-hyung... Procurando
colo com o Hobi-hyung... Fazendo o Tae rir. Exatamente como você é agora,
onde você está agora e eu posso te proteger de tudo, até de mim.

— Jimin... – ele ergueu o rosto, então notou que Jimin estava chorando. –
Amor...

— Eu 'tô com raiva, acho que a mesma raiva que o Tae sentia enquanto me
abraçava. Desculpa não conseguir segurar, eu não quero te assustar ou te
fazer pensar que sou fraco demais pra lidar com tudo isso. – fungando, ele
secou os olhos. – É só que...

— Você disse pra mim, naquele dia que me levou café na cama, que estaria
lá por mim e eu também estou lá pra você, eu 'tô aqui Jimin. – apoiou o
queixo sobre o peito dele, a mão tatuada se moveu para que o polegar
recolhesse as lágrimas de um dos olhos. – Não precisa ser forte o tempo
inteirinho ou segurar tudo sozinho, eu 'tô aqui pra você. Eu sou inteirinho
seu, Jimin-ssi.

— Inteirinho? – sorriu um pouco, afagando o rosto dele. Jungkook assentiu. –


'Tá tudo bem se eu chorar? – ele arfou, o choro queimava dentro de si. –
Você me abraça?

— Hobi-hyung diz que todo mundo precisa de um "Jimin", então eu vou ser o
seu "Jimin" pra sempre. – se mexeu na cama até estar sentado. – Pra sempre.

Jimin assentiu e ocupou o colo dele, encolhendo-se, escondendo o rosto


contra o ombro alheio para chorar e colocar para fora de si toda a angústia
que, involuntariamente, sugou de Taehyung. Jungkook o abraçou apertado,
deixou beijinhos carinhosos por sua bochecha e cabelo um pouco úmido
graças ao banho.
— Você amadureceu tanto. – o mais velho sussurrou.

— Vocês me ajudaram.

— Vai ser o meu menino pra sempre. – fungando, o encarou. – E também é o


meu homem. Eu te amo, Jungkook.

— Eu te amo. Muito. Jimin-ssi.

Jimin fechou os olhos e lambeu os lábios. Os braços de Jungkook, naquele


momento, se tornaram seu lugar favorito no mundo.

— Bebe mais um pouquinho?

— Yoon, eu não consigo. – a voz de Taehyung estava mais rouca que o


normal. – Eu quero deitar.

— Deita. Eu vou deixar a porta da sacada aberta, vai chover. – Hoseok o


ajudou com os travesseiros. – Você gosta do cheiro da chuva, te acalma. –
lembrou depois de puxar com cuidado a bermuda que ele usava. – Quer tirar
essa cueca?

— Não, essa é folgada.

Taehyung deitou e se agarrou a um travesseiro. De olhos fechados respirou


profundamente até sentir a carícia familiar nos cabelos, os dedos quentinhos
com toques suaves. Yoongi deitou de frente a ele e o beijou na testa.

— Se eu disser "obrigado" por se abrir com a gente, vai soar ruim?

— Não vai. – negou. – De algum jeito me sinto aliviado. É como se eu


estivesse tentando a vida inteira nadar no meio do oceano, perdido...
Sozinho, com medo de gritar e isso atrair algo ruim. Então, vocês
apareceram. – Yoongi sorriu pequeno. – Não é que tenha me salvado, mas
vocês me fizeram querer gritar Yoon. Eu tô gritando por ajuda.
— Eu te amo tanto, Tae. – segurou o choro. – E eu tô orgulhoso, tô aliviado
por agora te ouvir.

— Não quero só esquecer tudo aquilo... Eu quero arrancar cada lembrança,


cada pensamento, cada resquício de dentro de mim. Eu não quero mais
sentir raiva de mim.

— Existe uma porção de coisas que você vai precisar fazer sozinho...

— Eu sei. – assentiu.

— Mas a cada passo que você der, nós vamos estar do seu lado. – procurou
pela mão dele, entrelaçou os dedos para em seguida a beijar
demoradamente. – Meu homem corajoso.

Taehyung o trouxe para si, para abraçá-lo e assim esconder o rosto contra o
pescoço pálido, enchendo-se com o cheiro da pele dele, aquilo sempre o
deixava mais calmo. Ficou quietinho apenas sentindo o carinho nas costas,
os desenhos soltos que a ponta dos dedos de Yoongi desenhavam de seus
ombros até a lombar.

Mas ele sabia que ainda sobrava espaço naquela cama

— Ele está tão quieto. – sussurrou quando Yoongi acreditou que já estivesse
dormindo.

— Não ache que ele não se importa-

— Eu sei. Ele se importa até demais. – suspirou, queria chorar outra vez. –
Traz ele pra cá, Yoon.

O pedido foi respondido por um breve assentir.

Hoseok, atento à conversa, continuava sentado em uma das cadeiras


confortáveis da pequena varanda. O segundo cigarro dos últimos trinta
minutos aceso entre os dedos trêmulos e o olhar distante demais para estar
observando o mar. Yoongi se aproximou e sem dizer nada sentou sobre as
coxas dele, uma perna para cada lado. A mão grande lhe tomou o cigarro
aceso para apagar dentro do cinzeiro pesado.
— Olha pra mim, Hoseok. – mandou num tom baixo. Hobi o encarou. O
olhar completamente nublado pela raiva. – Eu sei exatamente o que você
está sentindo agora, isso também tá fervendo em mim como se o inferno
inteiro fosse dentro do meu corpo. As minhas mãos também estão tremendo.
– segurando a mão dele, levou-a até o peito. – O meu coração nunca antes
ficou tão pequeno, nem quando eu acreditei estar prestes a morrer.

— É diferente. – sussurrou com a voz embargada. – Eu sempre tive você e


você sempre teve a mim, mas o Tae... Yoon, ninguém estava lá pra ele.

— Hobi...

— E eu sei que nem faz sentido dizer isso, mas eu odeio ter demorado tanto
pra estar aqui pra ele agora. – assumiu. – Por ele ter passado por toda essa
merda sozinho!

— Nós estamos agora. Com ele. Não estamos? – o maior assentiu. – Então
controle toda a sua raiva, isso não é sobre você ou eu, é sobre Taehyung. Ele
nos fez passar por cima de medos para estarmos juntos, ele nos faz parar de
gritar em círculos, ele tem sido a base mais forte desse nosso amor e agora
ele precisa que nós dois estejamos do lado dele. – encarando-se, Hobi viu o
quanto as lágrimas inundavam o olhar felino de Yoongi. – Se você quer
chorar... Como eu quero, volta pra cama Hoseok, abrace o nosso Taehyung e
chore junto dele. Nós vamos fazer isso juntos.

Hobi fungou, mas assentiu. Ele beijou os lábios de Yoongi com carinho e o
ajudou a ficar de pé. De mãos dadas, de certa forma compartilhando da força
necessária para deixar de lado a si mesmo por um tempo, os dois deitaram
na cama, cada um de lado dela para deixar Taehyung no meio. Hoseok o
abraçou por trás, beijou-lhe a nuca, depois o ombro e por fim o cabelo
descolorido.

— Lembra da primeira vez que eu te vi?

— Das minhas malas pesadas, Cinderela e a sua marra insuportável? –


perguntou com a voz embargada. – Como se fosse ontem.
— O que eu vou te dizer agora, por favor, lembre ainda mais. – Tae assentiu.
Yoongi o beijou na testa. – Eu te amo, Taehyung. Talvez eu não diga o tempo
inteiro, mas vou concluir isso todas às vezes em que colocar meus olhos em
você, todas às vezes eu ouvir a sua voz ou sentir o seu cheiro. Quando te
abraçar, quando te beijar, quando fizermos amor. Eu sinto muito por tudo que
aconteceu antes, eu sinto muito que alguém tenha te machucado, tenha feito
você sofrer por tanto tempo. Ouvi quando disse ao Yoongi que está gritando
por socorro... Amor, meu mauricinho... Meu Taehyung. – ele voltou a chorar.
– Amor, eu nunca mais. Nunca mais vou deixar alguém te machucar, mas se
acontecer, se eu falhar. Você nunca mais vai precisar gritar por ajuda porque
eu e Yoongi estaremos bem do seu lado. Sempre.

— Eu não quero mais sentir raiva. – Taehyung sussurrou. – Se Taewoo vir


atrás de mim e tentar me fazer voltar...

— Diz. – Yoongi incentivou. – Está tudo bem.

— Eu quero... – Tae apertou os olhos e voltou a chorar. – Queria que ele


morresse. Yoongi, eu quero que ele morra... Eu sou ruim, não sou?

— Não Tae, você não é ruim. – Yoongi negou. – Amor, ele não vai chegar
perto de você. Eu prometo.

Yoongi o abraçou apertado, escondendo-lhe o rosto contra seu peito.

Então, enquanto Taehyung chorava, ele e Hoseok trocaram um olhar em


silêncio.

Um olhar que confirmava o que foi dito antes: Taehyung queria o irmão
mais velho morto.

— Você já colocou o Holly no carro?

— Primeiro preciso que ele faça xixi.

— Coloca ele pra ver a pia aberta, sempre funciona comigo.


— Cala a boca Jimin.

No dia seguinte, eram quase dez da manhã e o movimento na casa estava


grande enquanto os carros eram carregados com malas. Jin, Namjoon, Jimin
e Jungkook voltariam no Palisade, enquanto Yoongi, Hoseok e Taehyung
usariam o carro de Yoongi.

Em meio a bagunça, Holly corria e latia animado, fazendo da correria dos


humanos uma brincadeira nova. Vez ou outra, Jungkook não resistia e o
pegava no colo ou o provocava ainda mais correndo pela casa.

— Bebê, por favor, confere se não esqueceu nada no quarto ou no banheiro.


– Jimin pediu passando por Jungkook. – E coloca o Holly no chão, ele vai
mijar em você.

— Meu cachorro não mija nas pessoas! – Yoongi ralhou. – Que desaforo.
Holly faz xixi.

— A gente vai sair daqui a meia hora, façam xixi ou mijem logo porque não
vou parar pra ninguém apertado. – Jin avisou depois de colocar a mala que
lhe pertencia dentro do carro. – Jungkook está proibido de comer ovo
cozido! A vinda já foi horrível com esse garoto peidando.

— Deixe ele, segurar faz mal.

— Sinto nojo de vocês. – Yoongi fez careta.

— Quer falar de gente fedorenta mesmo?

— Não provoque ele, Jiminie. – Hobi pediu, mas queria rir.

— Taehyung está no quarto? – Namjoon perguntou a Hobi.

— A gente o deixou dormir mais um pouco, deve ter saído do banho agora.

— Queria falar com ele. – explicou.

— Ah, certo. – coçou a nuca. – Eu não sei-


— Hobi, eu quero ajudar. – Namjoon disse de forma séria. – Eu sou quem
mais o entende, tenha certeza.

— Vai ser bom, hyung. – Jimin intercedeu. – Relaxa.

Hoseok encarou Yoongi, o menor assentiu uma vez.

— Só bate na porta. – pediu.

Namjoon sorriu e os deixou na sala de estar para ir até o maior quarto da


casa, bateu na porta duas vezes e entrou depois de ouvir a voz rouca de Tae
dizer que poderia entrar. O mais novo estava de costas, sem camisa e
fechando a bermuda vermelha. Namjoon observou o tigre colorido da
tatuagem que ocupava cada pedacinho da pele e fechou a porta.

— Sou eu. – avisou antes do garoto se virar. – Queria falar com você, pode
ser?

— Achei que fosse o Jimin. – sorriu sem jeito, seus olhos estavam inchados.
– Claro, quer sentar? Eu tiro a minha mala da poltrona-

— Não precisa. A gente pode sentar aqui. – apontou pra cama.

Os dois não eram íntimos, mas não eram estranhos e talvez isso tornasse a
situação confusa. Tae foi o primeiro a sentar na ponta do colchão e começou
a sacudir a perna direita quando Namjoon fez o mesmo na outra ponta. O
mais velho tirou do bolso um cartão pequeno.

— O meu psicólogo me indicou esse grupo há três meses, fica no centro,


bem perto do colégio interno. Ele me disse que era um lugar legal e eu
relutei antes de ir. – explicou. – Deve tá pensando "sério? Um grupinho de
ajuda?", mas eu juro que não é o que parece. Lá eu não me sinto o cara
ferrado, entende? Quer dizer, fica menos difícil quando você conversa com
pessoas que entendem cada coisinha que você sente.

— Posso te fazer uma pergunta? – disse baixo, encarando o cartão branco


nas mãos.

— Pode.
— Ontem, na praia, você me disse que a culpa não é nossa. – o olhou. –
Quanto tempo demorou até pensar isso?

— Para pensar não demorou nada Taehyung, difícil mesmo é acreditar. Eu


levei anos. – passou as mãos por cima das coxas de forma nervosa. – Desde
os dezessete anos eu tomo remédios para dormir, antidepressivos que me
desligam do mundo real porque ele é demais pra mim.

— Alguma vez já se culpou?

— Eu nunca me culpei pelo abuso, mas me culpei por deixa-lo influenciar a


minha vida como se em algum momento tivesse o controle disso. – deu de
ombros. – Pessoas que nunca passaram por algo assim podem pensar que nós
revivemos os traumas por querer, meus pais cogitaram hipnose algumas
vezes. Arrancar pela raiz, sabe? – o mais novo assentiu. – Não controlamos,
não lembramos por vontade própria, vem involuntariamente durante o café
da manhã ou depois de fazer amor com alguém que você verdadeiramente
ama. Pesadelos reais demais.

— O seu corpo... – Tae engoliu a saliva. Aquela conversa o fazia querer se


abrir ainda mais. O tom de voz de Namjoon era diferente até mesmo dos tons
de Yoongi e Hoseok. Era como ouvir a si mesmo. – O seu corpo... Reagia?

— Não. – Namjoon o viu abaixar o rosto. – O seu corpo reagia?

— Na segunda vez. – sussurrou, ele sentia vergonha. – No meu aniversário


de onze anos, eu senti...

— Pedófilos sabem o que dizer para induzir vítimas de abusos a acreditar


que aquilo não é errado, assim como também sabem a forma como tocar. – a
explicação não soou ruim, Taehyung o ouvia atentamente. – O nosso corpo
age por si só e isso não quer dizer que pedimos por aquilo.

— Os seus pais...

— Minha omma ficou desesperada, mas até hoje eu não sei se foi por mim...
Ou por ter seus planos de família ideal frustrados. Meu appa passou semanas
sem olhar pra mim.
— Por que?

— Porque a babá disse em seu depoimento que nunca havia tocado no meu
pénis, apenas introduzido coisas dentro de mim. Demorei alguns anos até
entender que ele preferia que o abuso fosse diferente. Tae, é egoísta dizer,
mas só quem sofre o que sofremos conseguem entender a forma como nos
sentimos.

— Hoseok e Yoongi cuidaram de mim a noite inteira. Velaram o meu sono e


disseram palavras lindas que me fazem querer lidar com isso de verdade,
mas...

— Mas eles não fazem a mínima ideia de como você se sente? – Tae
assentiu. – Vomitar e gritar alivia, mas é igual aos remédios... Os efeitos
passam e outra vez estamos mergulhados até o pescoço dentro dessa areia
movediça densa, gelada... pesada. Existem dias que tudo fica bem, às vezes
semanas inteiras onde as coisas funcionam numa normalidade quase perfeita
pra fazer ficar seguro. Nessas semanas eu era e eu ainda sou o homem que
sempre quis ser, eu estou no topo do mundo... então eu caio do nada, uma
queda livre assustadora, o tempo todo me perguntando quando vou atingir o
chão e me despedaçar inteiro... Mas a gente nunca bate no chão e isso é o
pior. Somos alçados outra vez segundos antes do impacto, dá pra ver o chão
bem na frente dos nossos olhos. Quantas vezes eu implorei por cair de vez,
mas a vida nos ergue de novo, ela faz parecer que vai ser a última vez dentro
desse ciclo que nunca para.

— Isso me fez querer contar... Nos últimos meses me senti no topo,


Namjoon, quase inalcançável. Pela primeira vez na minha vida eu amo
alguém. Amo Hoseok e Yoongi e eu amo o homem que eu sou do lado deles,
mas eu queria conseguir amar o homem que eu sou o tempo todo.

— Assumir que precisa de ajuda é o primeiro passo. Eu demorei até estar


pronto.

— É o Jin-hyung, não é? – perguntou com cuidado. – Você gosta dele.

— Eu o amo, Tae. Mas eu não sei o que fazer com o amor porque ainda não
sei como amar a mim mesmo. Nos dias bons eu me suporto, mas nos dias
ruins eu quero deixar de existir, então enquanto a minha vida não for algo
precioso para mim... Eu não vou ser capaz de merecer a vida de outro
alguém.

— Vai a essas reuniões?

— Uma vez por semana. Às quintas.

— Yoongi falou sobre terapia.

— É algo muito importante, se você estiver pronto pra isso. Eu te ajudo.

— Pode me levar a próxima dessa? – mostrou o cartão.

— Eu não dirijo, mas pago o Uber. – os dois sorriram um pouco. – Tae, eu


posso... Te dar um abraço?

— Pode. – assentiu. – Namjoon-hyung.

Namjoon sorriu e ficou de pé, Tae fez o mesmo e sem muito jeito, trocaram
um abraço forte e demorado. Para outras pessoas seria apenas um momento
de afeição entre amigos, para ele era o início de uma amizade moldada pelo
reconhecimento, pela empatia e o respeito.

1 mês depois.

— Sério, isso não é normal! – Yoongi quebrou o silêncio, ele largou a


caneta em cima do caderno aberto e massageou a testa.

— Coloca os fones de ouvido, amor. – Hobi aconselhou, mas nem o encarou.


Estava atento à maquete que fazia. – Merda, colei os dedos.

— Não consigo fazer contas ouvindo música.

— Tem ASMR.
— Aí eu durmo. – ralhou se jogando para trás no sofá. Bocejando, quis rir
ao ver o namorado colar outra vez os dedos na pequena estrutura que deveria
ser um prédio... Ou uma árvore. Fez careta. – Quer ajuda?

— Depois você vai me fazer te ajudar com essas suas estatísticas, deus me
livre.

Um gemido alto e longo os fez arregalar os olhos.

— Hoseok, eles vão quebrar a porra da cama de novo!

— Não quero falar sobre isso.

— Impossível! Teu filho é escandaloso! Parece um bezerro.

— Para de falar sobre isso Yoongi!

— Eles sempre estão fazendo barulho! Ou estão brigando por motivos


idiotas ou estão transando feito dois coelhos. – coçando a barriga, por baixo
da regata, Yoongi comemorou baixinho quando os gemidos pararam. – Certo,
temos quinze minutos antes deles começarem de novo.

Hoseok riu um pouco. Minutos depois Jimin desceu as escadas. Estava


suado, o cabelo – agora pintado de azul – num coque completamente
bagunçado. Ele passou pelos mais velhos sem dizer nada e quando voltou a
sala de estar tinha na mão uma garrafa grande de água gelada.

— Ele vai me matar. – confessou.

— Pare agora mesmo, eu não quero saber! – Hoseok negou de olhos


arregalados.

— Hyung, ele não cansa! – choramingou para desespero do mais velho. –


Aquelas coxas musculosas não vieram da academia, vieram de tanto sentar-

— Cala a boca, Park Jimin! E vou te jogar na rua! – atirou nele um canudo
de cola quente.

— Por que vocês estavam brigando mais cedo? – Yoongi quis saber.
— Adivinha? – suspirou. – Recebi uma mensagem de uma garota que fiquei
tem um tempo, ela tá na cidade e queria sair. Eu disse que não daria, que
estava namorando. Ele leu a porra da mensagem e viu a minha resposta,
ainda assim...

— Ele sentiu ciúmes. – Hoseok concluiu. Seus olhos ainda estavam atentos à
maquete.

— Acho melhor cancelar minha festa de aniversário, eu não quero brigar e-

— E você não pode deixar de fazer coisas que gosta por causa dele e nem
ele por sua causa, Jimin. Comemorar o seu aniversário não quer dizer que
vai fazer alguma coisa errada.

— Yoongi-hyung você sabe que minhas festas são pesadas, quer dizer... Eu
já peguei muita gente e essa gente vai estar lá.

— Jungkook precisa entender que pirar com o que você fez antes é bobeira.
– Hoseok suspirou. – Conversa com ele como tem feito esses meses, ele só
fica bravo quando você não diz nada, se sente confuso e isso o frustra. Você
sabe que precisa ter paciência, mas Jungkook sempre entende.

— Você quer ficar com outras pessoas, Jimin?

— Não. Eu amo o Jungkook e amo estar com ele.

— Então, diga e demonstre isso. Eu vou conversar com ele também...


Quando vocês pararem de fazer.

Ouviram a porta abrir e Taehyung entrou primeiro, estava sorrindo e tinha


nas mãos duas sacolas de fast food.

— Trouxe o jantar. – avisou. Namjoon veio logo atrás com mais duas
sacolas.

— Graças á deus, não queria ter de cozinhar. – Jimin foi abraçá-lo.

— Ele estava transando há quinze muitos, amor. – Hobi avisou e Tae


escapou do abraço de Jimin.
— Saí daqui! – gritou correndo do melhor amigo.

— Ainda nessa maquete, hyung?

A voz tímida de Jungkook os chamou atenção. O garoto estava de banho


tomado, uma toalha branca ao redor do cabelo. O rosto ainda muito corado.

— Quer me ajudar? – perguntou com carinho. Yoongi rolou os olhos.

— Quero. – assentiu.

— Senta aqui pertinho do hyung.

— Vou colocar a comida nos pratos. – Namjoon anunciou. – Trouxe outro


refrigerante.

— O Jin-hyung deve estar chegando, ele ia a uma consulta com Sunmi-noona.


Estava ansioso.

— Jimin, se você encostar em mim vou te desmaiar num murro! Você está
fedendo, vai tomar banho! – os dois voltaram à sala. Tae sentou ao lado de
Yoongi e deitou a cabeça em seu colo. – Oi gatinho.

— Oi, amor. – sorriu e se curvou para beijá-lo nos lábios. – Como foi hoje?

— Legal. – deu de ombros. – Uma garota nova foi hoje, o nome dela é Joy. –
sorriu.

— 'Tá gostando de ir a essas reuniões? Se sente confortável? – Hobi quis


saber.

— Uhum. – assentindo mandou para ele um beijinho. – Namjoon-hyung me


faz sentir confortável. Ele fala tão bem, tenho certeza que logo vira líder de
lá.

— Para de dizer isso, Tae. – Namjoon pediu tímido. – Jimin vai tomar banho
pra jantar.

Jimin bufou.
— Eu resolvi... – Tae disse baixo. – Conversar com o Dr. Lee. – anunciou.

— Nós vamos juntos na minha próxima consulta, para ele conhecer o


consultório também. – Namjoon explicou enquanto ocupava a poltrona. –
Jungkook, seca o cabelo, você estava tossindo muito há dois dias.

— O secador do Jimin quebrou, hyung.

— Usa o meu, 'tá no banheiro. Seca esse cabelo direto, ok? – o mais novo
assentiu.

— Estamos orgulhosos por você dar esse passo, amor. – Hobi sorriu.

— Vamos todos fazer terapia. – Jimin sugeriu.

— Eu não. – Yoongi disse, brincando. – Pra que?

— Para lidar com seus problemas com banho. – devolveu.

— Não sou eu quem 'tá fedendo agora!

— Esse é o cheiro do suor de um homem apaixonado!

Outra vez a porta, então Jin entrou apressado. Parou, encarou os outros seis e
sorriu.

— É uma menina! – anunciou animado. – Minha filha! – ficou sério. – Meu


deus é uma menina... Menina...

— Vai desmaiar! – Namjoon gritou, Jungkook já estava correndo para


segurá-lo.

— Hyung, vem... Calma, 'tá tudo bem.

— Menina... Jungkook... – se agarrou ao mais novo. – Eu vou ser pai


Jungkook... Pai!

— Senta aqui. – o colocou ao lado de Yoongi. – Respira fundo, assim ó...


Juntos começaram a respirar lentamente. Yoongi rolou os olhos.

— Jin-hyung? – chamou segurando o riso.

— Hn?

— Você vai ser pai. – Yoongi sussurrou.

— Jungkook eu vou desmaiar!

— Yoongi! Não faz isso! - Taehyung gritou.

— Pega um copo de água pra ele! - Namjoon pediu.

— Cuidado com a minha maquete, caralho! - Hobi resmungou.

— Jimin, vai tomar banho logo! - Yoongi mandou;

— Eu acho que Jimin é um nome legal, é bonito. - Jimin deu de ombros.

Numa confusão de vozes, aquela casa estava em paz.

Mas, até quando?

Daegu

Garçons uniformizados circulavam por todo o ambiente carregando bandejas


prateadas, mas alguns deles, enfileirados próximos a entrada da cozinha,
encaravam o pequeno palco iluminado onde um homem muito bem vestido
discursava.

— Visando o que é necessário para que nossa sociedade cresça da forma


certa, eu não poderia estar mais satisfeito com os resultados desta votação!
Creio que é de comum acordo que absolutamente ninguém neste partido
possua a integridade, postura e preparo para concorrer ao senado como Kim
Sanghun! O partido conservador terá força, voz e o necessário para trazer de
volta a essa cidade os bons costumes que a esquerda quer destruir! O futuro
de nossos filhos e dos filhos deles começa hoje! Começa com Kim Sanghun!

Os aplausos vieram acompanhados dos gritos que ovacionaram Sanghun. Ele


tomou a frente do palco acenando, o sorriso quadrado crescia mais a cada
segundo. Ao seu lado Chaewon sorria com elegância, o vestido azul lhe
cabia com perfeição, destacava a beleza jovial.

— Obrigado por suas belas palavras deputado! E muito obrigado por confiar
em minha capacidade e desejo de reerguer aquilo que há anos perdemos:
nossas tradições! Assim como tenho cuidado de minha família durante anos,
criado meus filhos para serem homens de bem quero cuidar de Daegu e do
país, quero que os cidadãos de bem tenham força! Que se orgulhe!

— ... E a família seja o foco principal! – Taewoo, observando pai, ditava em


voz baixa o discurso que escrevera dias antes. – Nós vamos salvar o país da
esquerda corrupta que corrompe tudo aquilo que é correto! Deus acima de
tudo, Coréia do Sul acima de todos. – sorrindo, também aplaudiu como
podia graças a taça de champanhe nas mãos.

— Ficou bem escrito. – Taeseok comentou.

— Claro que ficou, diferente das merdas que você escreve. – desdenhou. –
Lembra de tudo que eu disse? Como auxiliar appa?

— Você me disse mil vezes. – rolou os olhos. – Isso é chato pra caralho, por
que você não fica e continua fazendo tudo?

— Porque você precisa ser útil pelo menos uma vez na vida, anta. – rolou os
olhos. – E porque Taehyung já está sem supervisão por tempo demais.

— Deixa ele pra lá, pelo menos evita as merdas que ele faz quando está
aqui.

— Cala a boca. Tae é da família. – sorriu. – E uma família precisa ficar


junta.

⭐🌙☀
tag: #PillowFic
34 - para sempre

boa noite!!

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"Se tudo pudesse ser tão real assim pra sempre


Se tudo pudesse ser tão bom assim de novo
A única coisa que eu te pedirei
Você tem que prometer nunca parar quando eu disser... Quando."

Everlong - Foo Fighters

— Obrigado hyung.

Jungkook sorrindo, encaixou o cinto de segurança se ajeitando no banco de


carona do carro de Yoongi. Taehyung, ao volante, assentiu e ligou o veículo.

— De nada, para de agradecer toda hora. – conferiu se o portão automático


estava abrindo. – Você tem ideia do que vai comprar?

— Mais ou menos. – coçou a sobrancelha. – Eu juntei dinheiro e procurei


algumas coisas na internet, mas não sei se ele vai gostar.
— Jimin gosta de qualquer coisa que você fizer, não se preocupa. – Tae deu
ré no carro e Jungkook acionou o fechamento do portão. – Vamos ao
shopping, lá tem muita loja e você pode procurar melhor, depois o Namjoon-
hyung vai encontrar com a gente lá.

— Tudo bem. – assentiu. Ele observou as próprias mãos e sorriu por causa
da aliança no dedo anelar. – Hyung?

— Hm. – Tae estava dirigindo com uma mão e segurando uma caixinha de
suco de uva na outra. O canudo branco entre os lábios grossos.

— A gente pode ir num lugar... Específico? – o encarou.

— Que lugar? – franziu as sobrancelhas. – Quer suco?

— Quero não hyung, obrigado. – negou. – Eu queria ir a um sex shop.

O carro freou e Taehyung, engasgado com o suco, tossia e ria ao mesmo


tempo.

— Sex shop?! – repetiu quase gargalhando. – Olha só como ele cresceu!

— Para com isso! – pediu, estava rindo, mas sentia um pouco de vergonha. –
Queria fazer uma surpresa pro Jimin, de aniversário.

— Ok, tem um sex shop legal no shopping, Yoongi gosta muito de lá, já
comentou algumas vezes. – jogou a caixinha vazia no espaço entre os bancos.
– Me lembra de tirar isso daqui quando chegarmos em casa ou o Hoseok
manda me crucificar.

— Vocês ficam bem juntos, hyung.

— Nós três?

— É. – assentiu sorrindo.

— Não acha estranho? Um relacionamento à três? – Tae dirigia com atenção,


mas vez ou outra encarava o mais novo.
— Antes eu poderia até achar. – deu de ombros. – Antes de vir pra cá e
conhecer vocês, eu tinha pensamentos fechados. Por mais que o meu appa
seja legal, ele também não sabia muito sobre essas coisas, então eu acho que
antes acharia estranho.

— E o que você acha agora, Jungkook?

— Eu acho que ninguém tem nada a ver com a vida de vocês, e se estão
felizes eu também fico feliz. Hoseok-hyung estava sofrendo muito... Por não
estar com vocês... Juntos.

— Eu não vou contar pra ele, não se preocupa. – sorriu para o deixar
confortável.

— Uma vez eu percebi que os lábios do hyung ficam curvados quando ele
estava triste e que sempre chovia...

— Como assim?

— Quando o hyung chorava sempre chovia, mas quando ele ficava feliz o
Sol brilhava muito.

— É uma comparação muito bonita... E certa. Hoseok é o meu Sol, sabia? E


Yoongi é a minha Lua. E eu não posso viver mais sem nenhum deles, nem
quero. Até quando a gente briga acabamos notando que não é fácil fazer isso,
mas quando a gente 'tá junto eu me sinto inteiro.

— É amor isso. – assentiu. – Jimin e eu brigamos... Ontem... De novo.

— Eu sei. Vocês dois são barulhentos. – disse de forma séria, se preocupava


com os dois. – O que aconteceu?

— Ele queria desistir de comemorar no Wings e eu sei que é por minha


causa. – suspirou. – Porque às vezes eu sinto ciúme.

— Primeiro, é importante que você assuma para si mesmo que isso não
acontece só às vezes. – Jungkook abaixou o rosto. – Me diz sinceramente,
você acha que o Jimin trairia você?
— Não. – negou. – Não é isso.

— O que é então?

— Me sinto inseguro. – seus ombros se encolheram. – O Jimin é tão lindo,


ele conhece tanta gente, todo mundo acaba encantado por ele... Isso não é
ruim! Eu adoro o quanto ele é sociável e atencioso, ele tem me ajudado a ser
mais sociável também.

— Você fica o tempo inteiro se perguntando quando ele vai achar alguém
mais parecido com ele? – o mais novo assentiu. – Quando ele se vai cansar?
– assentiu outra vez. – Você sente medo de ele te deixar?

— Sinto.

— Mas o Jimin te ama, Jungkook.

— A minha omma também me amava... Mesmo assim. Ela... – ficou quieto,


mordiscando o lábio inferior de forma nervosa. – Cansou de mim.

Taehyung pôde sentir o coração apertado. Aquele garoto ao seu lado, mesmo
que tão alto quanto ele, coberto de tatuagens e dono de uma aparência adulta,
parecia pequeno quando se tratava dos próprios sentimentos ou àqueles que
ainda não conhecia.

Comparou sem querer comparar.

Enquanto havia sido arrancado cedo demais da ingenuidade e sensibilidade


da infância, Jungkook estava ainda aos poucos se abrindo para Jimin, para
Hoseok, para Seokjin... Para todos eles.

Aos poucos, Jungkook ia desabrochando sozinho, mas os mais velhos o


protegiam e guiavam por um caminho novo e por vezes fazendo-o lidar com
fantasmas demais. Desde o segredo de Hoseok nos primeiros dias até nada
mais entre os sete ser segredo e as verdades lhe tirarem o sono.

Dois dias depois da verdade de Taehyung ser contada, Jungkook, sem saber
direito o que dizer ou fazer, chegou em casa com seis combos grandes do
Burger King e os dois devoraram juntos enquanto jogavam Overwatch aos
gritos que naquela noite não incomodou ninguém.

E Taehyung sabe que aquele era o jeito de o mais novo dizer "eu também
estou aqui pra você."

— Sua mãe foi covarde Jungkook. – disse depois de um tempo silencioso.


Estava chegando ao shopping. – Ela não soube como lidar com as mudanças
que o seu nascimento trouxe, então foi embora. Jimin não é covarde, nenhum
de nós é. Nem você. Sinceramente, te acho o mais corajoso de todos e tenho
orgulho disso. Você cuida da gente, sabia?

— Como hyung? Geralmente eu nem sei o que dizer.

— Mas mesmo sem dizer nada, você continua perto. – sorriu pra ele. – Até
pra chorar com a gente. Ontem eu desci pra pegar água, te vi na varanda com
Namjoon-hyung.

— Ele 'estava sozinho, acho que foi outro pesadelo, eu sei que ele 'estava
chorando, mas não perguntei.

— O que você fez?

— Fiquei ali com ele. A gente falou sobre caranguejos e depois ele falou
sobre um negócio chamado persona, eu não entendi nadinha, mas fiquei ali
com ele. Eu quase não entendo o que ele fala.

— Eu também, mas é muito legal ouvir ele falar!

— O hyung é tão inteligente, ele é o mais legal... Agora ele gosta de mim. –
sorriu orgulhoso.

— Se o Hoseok souber que você disse isso vai te tirar do testamento. –


brincou e deu risada quando Jungkook arregalou os olhos. – Não conto pra
ele. Viu, você cuida da gente, você é importante demais pra todos nós,
principalmente pro Jimin. Ele te ama muito. Ele tem se esforçado demais por
vocês dois.

— Acho que ele me poupa demais, hyung. – reclamou.


— Eu também acho, mas ele precisa estar pronto, entende? – o mais novo
assentiu. – Não é que ele não confie em você, ele só te ama demais e tem
medo... Fizeram o Jimin achar que ninguém vai aceitá-lo como ele é
Jungkook.

— Eu não consigo ver um mundo onde eu não o ame. – confessou.

— Agora vamos comprar os presentes dele, não fique pensando besteira, ok?
Depois a gente passa na loja de jogos e vê se chegou alguma coisa nova. –
sorriu depois de estacionar o carro. – O cartão de crédito do Yoongi tem um
limite tão lindo quanto ele. – piscou.

Jungkook riu.

Jin se jogou no sofá da sala de estar e isso fez Namjoon erguer o olhar do
livro grosso que tinha nas mãos.

Ele abaixou os óculos até a ponta do nariz e fechou o livro para apoiar sobre
as coxas expostas graças ao short curto e folgado de dormir.

— Parece cansado. – comentou e Jin apenas assentiu de olhos fechados. –


Quer que eu-

— Quero que você continue bem aí. – abriu os olhos. – Sendo bonito e
estudioso. – sorriu cansado puxando o nó da gravata. – Se eu soubesse que
sair do estágio para começar a trabalhar com o meu appa fosse me fazer
querer largar tudo e ir morar no Himalaia, juro por deus que não teria
aceitado.

— Tão difícil assim?

— Ele realmente quer que eu assuma tudo no ano que vem. Acho que minha
omma o convenceu a se aposentar. – abriu a camisa branca e Namjoon
desviou o olhar de volta para o livro e cadernos sobre suas pernas.
— Como eles estão com a gravidez de Sunmi-ssi? – quis saber, queria evitar
olhar para o mais velho.

— Animados. Mas eu notei que ficaram decepcionados quando falei que não
iríamos casar ou algo assim, às vezes meus país são bem arcaicos. Os pais
dela foram mais tranquilos. – com a camisa aberta, ficou de pé e caminhou
para a cozinha. – Jisoo está eufórica! Ela e a Lisa compraram até roupinhas.
– a voz estava um pouco distante. – Fico me perguntando como um negocinho
pequeno daquele jeito vai servir em alguém. – voltou com um copo de água
nas mãos e um pacote de geleias na outra.

— Bebês nascem pequenos, hyung.

— Então vou dar um jeito de pegar aquele macacão do Jimin. – piscou e


Namjoon sorriu. – Hoje foi um dia cansativo demais. Tive aulas com o
professor que mais detesto, depois fui pra construtora, Sunmi me ligou antes
de almoço aos prantos... Queria comer yakissoba de carne com mel.

— Credo. – fez careta.

— Eu sei. Credo. – abriu o pacote de geleias e colocou duas na boca. – Eu


corri pra comprar e levar, quando cheguei lá ela me xingou e disse que não
queria mais, que era pra eu enfiar a comida no rabo. Ligou quinze minutos
depois pedindo desculpas.

— Uau. – riu, mas estava confuso.

— Meu appa conta que minha omma ficou tão sensível aos hormônios
quando estava grávida de mim que o colocava pra fora uma vez por semana.
– ofereceu dos doces a Namjoon. – Sunmi está enjoando muito, não consegue
dormir, as coisas estão difíceis, mas eu não posso ajudar muito mais do que
já faço.

— Acho que ela sabe disso, hyung. – quis confortar. – Você está sempre por
perto cuidando de tudo. Não é mais que sua obrigação, mas não fica se
sentindo mal.
— Lembra daquele apartamento que eu te levei algumas vezes? Aquele que
os meus avós usavam quando vinham visitar? – Namjoon assentiu. – Appa
me deu ele.

Jin, ainda mastigando, percebeu Namjoon ficar um pouco tenso.

— Vo-Você vai se mudar?

— Eu me formo daqui seis meses, Namjoon. Lá é maior e eu vou precisar de


espaço quando a minha filha nascer. Sunmi e eu decidimos dividir os dias
quando ela estiver maior e eu não correr o risco de quebrá-la enquanto troco
as fraldas. – sorriu um pouco. O mesmo sorriso contido e lindo que fazia o
coração de Namjoon bater mais rápido.

— É bom te ver crescendo assim. Responsável, pensando na sua filha. Você


é um homem incrível, Seokjin-hyung.

— Obrigado. – lambeu o lábio inferior. – Você... Vai fazer alguma coisa...


Hoje de noite? – o mais novo franziu o cenho. – Hoje eu vou até lá, no
apartamento... Ver algumas coisas. Vou pedir ao Hobi para guiar a reforma,
ele 'tá precisando de grana e eu de um arquiteto. – deu de ombros.

— Vou jantar com os meus pais, mas depois...

— Eu posso te buscar... Se você quiser. – encheu a boca com geleias.


Namjoon sorriu, lhe agraciou com as covinhas adoráveis.

— A gente mais parece dois adolescentes assim.

— 'Tô nervoso... Mas um nervoso bom. – engoliu o que tinha na boca. – Eu


sei você ainda vai seguir o seu caminho quando o ano acabar, mas você
ainda 'tá aqui e-

— E você também 'tá aqui. – concluiu. – Quando o jantar acabar eu te aviso,


hyung.. – sorriu juntando o material de estudos.

— Ok. – assentiu. – Ok. – disse para si mesmo.


Namjoon o deixou sozinho na sala de estar, Seokjin sorriu e encheu a boca
com mais geleias.

Hoseok riu jogando o corpo para frente e batendo palmas sem parar, então
Yoongi, mesmo bravo, sorriu. Os dois, dividindo uma das mesas ao ar livre
da lanchonete do campus, trocaram um beijinho rápido.

— Yoon, como você não percebeu isso?

— Sei lá! Como você também não percebeu?! Como ninguém percebeu?! –
gesticulou antes de beber mais um gole do suco verde. – Isso aqui é muito
ruim. – Hobi beijou-lhe os lábios sujos do suco grosso.

— É saudável, você sabe. – afagou a coxa dele. – Então, quer dizer que não
é o Holly, é a Holly?

— Sim. Fêmea. – assentiu. – Por isso ela estava estranha, é o primeiro cio. –
explicou. – O veterinário me disse isso.

— E o que faremos? – bebeu do próprio café gelado.

— Eu não sei Seok, não tô pronto pra ser avó, Holly é minha bebê. – o bico
em seus lábios era lindo. – Sei como se sente quando Jungkook e Jimin
transam.

— Para de falar sobre isso! – ralhou, Yoongi riu e o beijou demorado nos
lábios com gosto de café.

O celular de Hoseok, deixado sobre a mesa, começou a tocar. Eles


encararam o número desconhecido antes que ele atendesse.

— Alô? Sim, é ele...

Yoongi, bebendo outro gole do suco de couve, laranja e hortelã, sentiu um


arrepio incomum no pescoço e se virou para observar ao redor. Usava os
óculos escuros de Taehyung, então conseguia encarar as pessoas naquela
lanchonete sem que percebessem.

Sentia estar sendo observado.

Aquilo era incômodo.

Hoseok, com um sorriso grande nos lábios, desligou a chamada e o beijou


surpreso.

— Hey, o que foi? – perguntou rindo, Hobi o beijava por todo o rosto, os
braços o segurando nas laterais do corpo. – Seok-ah! Amor!

— Era daquela academia onde fiz uma entrevista! – informou animado. –


Eles vão me dar a vaga de recepcionista!

— Sério?! – sorriu.

— Sério! Eles me disseram que a vaga é minha!

— Amor isso é maravilhoso! – o abraçou apertado. – Eu falei que você ia


conseguir alguma coisa! – beijou-lhe os lábios com carinho. – Ainda não é
algo na sua área, mas eu sei o quanto você queria um emprego.

— Não vou ganhar muito, mas é importante Yoon... Eu 'tô conseguindo... Ele
me disse que eu nunca ia conseguir... – os lábios dele se curvaram.

— Não chora. Você sempre sorri assim antes de chorar. Você 'tá conseguindo
sim. – afagou os cabelos do namorado. – Você vai conseguir. Estou
orgulhoso.

— Te juro, nem que seja aos poucos, vou dar um jeito de pagar tudo o que
você-

— Não! Eu já te falei pra esquecer isso, Hoseok! – ralhou de volta. – Se


fosse ao contrário você faria o mesmo por mim, amor. Ver você e o Tae
felizes é o que me deixa mais feliz.
— Não conta pra ele ainda, vou fazer surpresa. – ambos deram uma
risadinha. – Ele foi comigo no dia da entrevista e eu sei que ele também
ficou ansioso. Eu preciso levar alguns documentos lá até as cinco.

— Então, vai logo! – o empurrou um pouco. – Pode me deixar aqui, vou


tomar esse suco e passar na secretária para falar sobre as minhas notas que
aquela doida da professora de Economia Monetária não lançou.

— Por favor, não faça barraco, Yoon.

— Eu não sou barraqueiro! – disse mais alto.

— Claro que não é. – rolou os olhos. – Pede pro Tae passar aqui e te buscar
mais tarde.

— Posso voltar de Uber. – bateu na coxa do namorado. – Vai logo, qualquer


coisa me liga.

— Eu amo você. – o beijou nos lábios.

— Eu te amo também, meu Sol. – sorriu.

Hobi saiu depois de beber o que restava do café e Yoongi acenou quando o
viu montar na moto e colocar o capacete vermelho. Sozinho, chamou por um
dos atendentes e pediu o cardápio outra vez. Decidiu pedir por uma porção
pequena de espetinhos de carne e batata frita, além de refrigerante.

Se Seokjin soubesse, o mataria.

E a curta sensação anterior não era atoa, Yoongi estava sendo observado.

Kim Taewoo, sentado há quatro mesas de distância, bebeu o último gole de


sua água com gás e ficou de pé. Bem vestido, o terno impecável no corpo
alto e forte, os cabelos negros penteados para trás e óculos escuros.

Ele fechou um dos botões do terno antes de se aproximar da mesa alheia.

— Olá. – a voz amistosa fez Yoongi erguer o olhar. Franziu o cenho por
causa da claridade daquele dia e o homem desconhecido para ele sorriu. –
Min Yoongi, certo?

— Quem quer saber? – perguntou sério.

— Kim Taewoo. – ele puxou uma cadeira para ocupar depois de abrir o
paletó de novo. – Seu cunhado. – sorriu outra vez. – Acho que precisamos
conversar sobre o Taetae.

Yoongi se enojou pela forma como ele chamou Taehyung.

— Não tenho absolutamente nada para falar com você. – praticamente


rosnou entre dentes.

— Você acha? – provocou apoiando o cotovelo esquerdo à mesa. – Nem


mesmo se o assunto for a vida do Taehyung?

— A vida dele não te diz respeito nenhum, Taehyung não precisa de vocês.

— Oh, você está certo. – a forma polida de falar de Taewoo arrepiava a


espinha de Yoongi. Ele apertou as mãos ao redor do tampo da mesa, estava
se segurando muito para não explodir. – O Taetae não precisa de nós, mas
nós precisamos dele, entende? Os seus pais são separados há dezoito anos e
talvez por isso você não compreenda como as famílias funcionam. – Taewoo
pegou o copo com suco verde e bebericou. – Sua mãe se casou outra vez, seu
pai teve mais duas esposas... Disfuncional. Acho o seu comportamento
promíscuo seja reflexo dessa família disfuncional Yoongi.

— Vai pro inferno. – murmurou. Seus braços tremiam. – Sai da minha frente,
volta pro inferno de onde você saiu. Deixa o Taehyung em paz.

— Ele contou a vocês sobre nós dois? – arqueou uma sobrancelha grossa. –
Por isso essa sua reação defensiva? Taetae não é bom em guardar segredos,
então.

— Eu juro por deus... Se você não sair agora-

— Ele também contou que gostava? – disse baixo.


Yoongi puxou o copo e num impulso só atirou a bebida na cara de Taewoo.
As pessoas ao redor, assustadas e curiosas, olhavam sem parar. Taewoo
piscou devagar, o suco verde escorria do rosto para as roupas caras. Usando
os dedos, ele limpou os olhos e sorriu.

— Arisco igual a ele. Não esperava mesmo alguém educado. Taehyung atrai
merda.

— Eu vou te fazer engolir essa porra. – bateu o copo na mesa.

— Oh, não Min Yoongi, você não vai fazer. Na verdade, você vai se
desculpar por essa atitude agressiva e me ouvir como uma pessoa normal e
educada.

— Que? – franziu o cenho, rindo com raiva e deboche. – Eu não vou fazer
nada disso.

Taewoo, sem sorriso algum no rosto, jogou sobre a mesa um envelope


marrom.

— Vai sim. Porque se você não fizer... Eu acabo com a vida do Taehyung. –
ficou de pé. – Veja isso como um presente. – apontou para o envelope. – Até
breve, Yoongi.

Yoongi observou aquele presente e, com muita pressa, tirou da carteira


algumas notas de dinheiro para deixar sobre a mesa e ir embora.

Levando o envelope nas mãos.

— Park Jimin? – a secretária o chamou educadamente. – Pode entrar, por


favor.

Jimin assentiu e ajeitou a mochila nas costas antes de entrar no escritório


espaçoso e decorado em tons pastéis. Fechou a porta e caminhou até a mesa
de madeira escura.
— Obrigado por vir, Jimin-ah. – Hyo tirou os óculos e os deixou sobre o
notebook. – Como você está?

— Tia. – ele colocou a mochila no chão. – Eu sei que a senhora me chamou


aqui pra falar dele.

Hyo suspirou. Como sempre, muito bem vestida. Os cabelos curtos pareciam
macios, a maquiagem leve a fazia parecer sempre jovem. Jimin gostava de
Hyo, ela sempre fora gentil e carinhosa com ele e seus irmãos, mas depois
de saber o passado que a ligava a Jungkook, seus sentimentos estavam
confusos.

— Que mundo pequeno. – sorriu sem jeito. – Quando eu o ajudei com a


bolsa de estudos não pensei que ele ficaria na mesma casa que você está, ou
que seriam amigos...

— Namorados. Jungkook é o meu namorado, tia. – corrigiu.

— Jimin, eu noto que cada palavra sua direcionada a mim é agressiva desde
aquele dia em Busan, na casa de Chinrae. Ele deve ter falado mal de mim.

— Não, ele não falou mal da senhora. Ele só me contou o que aconteceu. –
deu de ombros.

— Quer ouvir a minha versão disso tudo?

— Não se tratam de versões, tia, mas eu gostaria de ouvir se é isso que a


senhora quer.

— Quando eu engravidei de Jungkook tinha acabado de completar dezesseis


anos. – Hyo ajeitou a postura. – Eu era uma boa aluna, a melhor da minha
classe e os professores gostavam de mim ao ponto de me ajudar para os
vestibulares, mesmo que ainda faltasse três anos. Eu fiquei muito assustada,
meus pais não foram compreensivos como os pais de Chinrae, em dois
meses me vi casada com ele e morando nos fundos de uma oficina do
subúrbio. – ela parecia nervosa. – Quando Jungkook nasceu eu o amei
demais, ele era tão pequeno... – a voz de Hyo ficou embargada. – Chorava
muito por causa dos problemas respiratórios causados no parto, mas era um
bebê esperto. Aos poucos aquilo foi me sufocando, Jimin.

— Aquilo... É o Jungkook?

— Aquilo é tudo, Jimin. – fugou e secando o olho esquerdo com cuidado


para não borrar a maquiagem. – A vida ao lado de Chinrae, a maternidade,
os meus sonhos completamente esquecidos. Lavar banheiros de um hotel e
voltar pra uma casa pequena com goteiras demais. Sou uma mulher
ambiciosa... Aquilo me fazia infeliz.

— Então, apenas foi embora?

— Eu conheci o seu tio no hotel. Não sei, mas ele gostou de alguma coisa em
mim e nos aproximamos até acontecer de verdade, talvez ele tenha se
apaixonado por minha ambição... Já que se parece com a dele. – sorriu um
pouco. – Ele me queria, ele queria me ajudar a conquistar tudo o que eu
sempre sonhei. Mas ele não queria Jungkook. Só a mim.

— Abandonou seu filho porque queria ser rica?!

— Não! Eu só queria ser alguém!

— A senhora era alguém pra ele! Era a mãe dele!

— Porque nós mulheres temos de nos contentar com isso?! A maternidade


deve ser o nosso ápice de felicidade?! Por que você me julga desse jeito se
milhares de homens fazem o que eu fiz?! – levantou a voz. – Eu não o deixei
sozinho! Amo o meu filho Jimin, mas eu também me amava demais e era
jovem demais pra entender que a minha vida era só aquilo! Eu não
abandonei o Jungkook! Chinrae cuidava dele melhor que eu, o amava melhor
que eu...

— Posso entender suas razões de ter ido, mas eu não consigo entender nunca
ter o procurado. Nem quando ele já era grande o suficiente pra entender a
senhora... E ele entenderia. – Jimin sentiu vontade de chorar. – Porque ele é
doce. Jungkook é gentil, tem um coração tão grande, ele ainda deixa um
espaço vazio, te esperando ocupar.
— Eu o trouxe pra perto-

— Tem noção de quantas vezes disse isso? Eu. Quando é que isso vai ser
sobre ele? Quer Jungkook perto para que ele seja feliz ou para sanar a sua
culpa?

— Quero dar a ele tudo que dou a Jihyo. – secou as lágrimas. –


Estabilidade... Um futuro.

— Eu sei o quanto meu tio pode ser persuasivo sobre muitas coisas.

— Jimin, por favor, me ajuda? Quero me aproximar dele.

— Por que? Por que só agora?

— Porque eu o amo. Amo muito.

Jimin respirou fundo.

Passou as mãos por todo o rosto e encarou a tia seriamente.

O celular começou a vibrar no bolso da calça, ele pegou depressa e viu


Jungkook sorrindo na foto de contato. Atendeu.

— Oi amor. – Hyo ficou tensa.

— Você 'tá ocupado agora?

— Não. Pode falar.

— Você gosta mais de preto ou de vermelho?

— Preto. – ele pode ouvir a voz de Taehyung ao fundo. – Onde vocês estão?

— A... Estamos... No açougue. Tchau, te amo.

E desligou. Jimin franziu o cenho.


— Você vai levá-lo para o jantar de aniversário do seu appa? – Jimin
assentiu. – Obrigado.

— Eu não aceitei fazer nada, tia. Jungkook vai comigo porque é o meu
namorado. – ficando de pé, tomou a mochila nas mãos. – Preciso ir, estou
atrasado.

— Obrigado por me ouvir, querido.

Jimin assentiu e saiu do escritório de Hyo.

— Ele gosta mais de preto, hyung! – repetiu. Taehyung rolou os olhos.

— Você não vai se vestir de coelhinho, isso é brega. – os dois caminhavam


entre os corredores do sex shop. Jungkook, envergonhado, segurava uma
cestinha cor de rosa e seguia Taehyung. – Jimin curte rock, já sei o que estou
procurando.

— Mas eu vou levar a de coelhinho também. – resmungou.

— Você pegou o lubrificante de morango?

— Boa tarde! – uma garota entediada e usando o uniforme da loja se


aproximou. – O casal precisa de ajuda? - o tom de voz foi um pouco
debochado.

— A gente n-

— Oh, precisamos sim. – Tae puxou Jungkook e o abraçou pelo ombro. – É


nosso aniversário de namoro e estamos pensando em uma noite regada a
sexo sujo e drogas.

— Hyung!

— Desculpe? - a garota franziu as sobrancelhas.


— Saindo daqui vou encontrar o meu traficante de confiança. – sorriu. –
Quem sabe cheirar cocaína diretamente do rabão do meu amor. – ele bateu
na bunda de Jungkook, que deu um pulinho.

— Ah, com licença. – a garota, sem graça, se afastou.

— Hyung! – Jungkook ralhou, as bochechas queimando de vergonha e


vontade de rir.

— Odeio gente intrometida, não pedi ajuda de ninguém. – deu de ombros. –


Achei! – sorriu animado. Ele pegou uma caixinha pequena e depois outra um
pouco maior. – Prontinho.

— Só isso? – estranhou.

— Menos é mais, querido. Confie no papai. – piscou. – Depois você pode


usar essa coisa ridícula de coelho. – fez um bico. – Tinha um gatinho onde
você pegou isso daí? – apontou para dentro da cesta nas mãos de Jungkook.

— Tinha. – assentiu.

— Com rabinho e tudo?

— Uhum.

— E de esquilo? Tinha esquilo?

Jungkook deu de ombros, então Taehyung refez o caminho até o corredor de


fantasias sensuais.

Hoseok foi o último a chegar a casa, mas chegou sorrindo por estar
empregado e por ver os outros seis reunidos na sala.

— Boa noite!

— Nada de boa noite, vai contar logo o que tem de contar! Yoongi me deixou
ansioso, isso prejudica a minha beleza. – Jin o intimou. Estava arrumado,
assim como Namjoon.

— Falei que você tinha uma novidade, Seok. – Yoongi avisou. Estava
agarrado a Taehyung, mas o sorriso parecia estranho. – Contei que Holly é
menina e ninguém mais vai andar pelado por aqui, é lei!

— Ela já me viu pelado mil vezes, hyung. Tarde demais. – Jimin deu de
ombros. – Por isso ficava encarando o meu pau.

— Respeita ela! – Yoongi atirou uma almofada no mais novo.

— O que você tem pra contar, amor? – Tae quis saber quando também o
abraçou para beijar seus lábios. – O que te deixou com esse sorriso lindo,
hein?

— Lembra da entrevista na academia do centro, perto do aeroporto? – o


maior assentiu. – Me ligaram de tarde, estou contratado. Começo na segunda!

Houve uma onda de comemorações a abraços em Hoseok. Jungkook o pegou


no colo, sacudindo-o para fazê-lo rir mais. Parou quando Yoongi disse que
se o quebrasse de novo teriam problemas. Jin até os fez brindar com soju.

— Tomara que você ainda tenha tempo livre, Hobi. – comentou. – Vou
precisar dos seus serviços de arquitetura.

— Como assim, hyung?

— Meu appa me deu um apartamento mais perto da construtora. – explicou.


– Me formo daqui seis meses e vou ter de sair da república, então aceitei e
pretendo mudar algumas coisas lá antes de me mudar, fazer um quarto só pra
minha filha. Mas não façam essas carinhas, eu sei que a vida de vocês vai
ser triste sem a minha presença graciosa... Sejam fortes.

— Tchau, Jin-hyung. – Yoongi acenou.

— Ingrato demais. – reclamou atirando nela a tampinha de uma das garrafas.


– Vai ter um quarto de hóspedes pra vocês me visitarem. Independente de
onde esteja, nós somos uma família e eu vou cuidar de vocês de qualquer
jeito.
— Obrigado, hyung. – Jimin o abraçou. – Estou orgulhoso de te ver
responsável assim. A Jimin tem sorte de ser sua filha.

— O nome dela não vai ser Jimin. – avisou.

— Pode ir embora, não ligo. – o menor ralhou, Jin o apertou mais no abraço.
– Adeus!

— Taehyung? – Jimin o chamou. Tae, fechou a porta da geladeira e o


encarou.

— Hm, o que vocês querem? – estranhou ao ver Jungkook agarrado ao braço


de Jimin.

— Fazer um convite. – o mais novo sorriu.

— Que tipo de convite? – ele cruzou os braços e encostou o corpo a


geladeira. Estava sem camisa, as tatuagens coloridas expostas, o cabelo
grande preso no alto.

— Fala pra ele, bebê. – Jimin incentivou o namorado. Havia um sorriso


atrevido em seus lábios. Ele abraçou Jungkook por trás e beijou o ombro
dele por cima da alça da regata branca. – Fala.

— Lá no litoral... O hyung disse que... Gosta de assistir.

— A palavra é voyeur. – o Park sussurrou contra o ouvido dele.

— Voyeur. – Jungkook assentiu. Taehyung sorriu ladino. – Eu e o Jimin


queremos te convidar pra... Assistir a gente.

— Ora, mas veja só. – provocou. – Que bonitinho ele, Jimin. Tá criando
bem.

— Vai se foder, para de provocar ele. – Jimin brigou, mas sorria. Jungkook
mordeu o lábio inferior. – Meu bebê se descobriu um bom exibicionista. –
explicou penteando os cabelos de Jungkook por trás da orelha cheia de
piercing. – E quer ter essa experiência, mas não quer alguém estranho. Eu sei
que ele está aprontando alguma coisa, com a sua ajuda Taehyung, você é um
cretino, sabia?

— Estou prezando por sua satisfação sexual, meu amigão. – riu e descruzou
os braços. – Querem isso agora?

— Não! – Jungkook negou depressa ele moveu os olhos, fazendo Tae


entender que seria também parte do presente de aniversário de Jimin.

— Preciso falar com Hoseok e Yoongi antes, mas por mim... – deu de
ombros. – Topo.

— O Hobi-hyung vai saber?!

— Saber que você transa? Difícil ele não saber né meu lírio do campo, você
é escandaloso. - Tae tocou o queixo do mais novo.

— Deixa ele! Meu amor é expressivo. – Jimin defendeu o abraçando.


Jungkook estava corado. – Conversa com os dois e me avisa, ok?

— Ok. Agora deixa eu levar a água do Yoongi pra ele não me fazer descer
de madrugada outra vez. – rolou olhos.

No quarto, Hoseok guardou a pasta com seus documentos e voltou para cama
onde Yoongi estava deitado de olhos fechados, com o braço em cima da
testa.

— Hey, o que você tem?

— 'Tô cansado. – sussurrou.

— Conseguiu resolver o negócio das suas notas? – quis saber enquanto


tomava o pé dele entre as mãos para massagear.

— Não. – negou. – Ela não estava lá.


Taehyung entrou no quarto e trancou a porta. Deixou a garrafa de água sobre
a cômoda e tirou a bermuda antes de deitar também.

— Comprar uma cama grande foi a melhor ideia que já tivemos. – abraçou
Yoongi. – Em que momento a gente trocou de quarto desse jeito?

— Não sei. – Hobi deu de ombros. – Só aconteceu. Acho que o Namjoon


gosta de ter um quarto só dele agora. – sorriu.

Yoongi gemeu manhoso graças à massagem dos dedos de Hoseok.

— Aqui?

— Bem aí, amor. Assim... Nossa, isso é muito bom. – sorriu.

— Também quero! – Tae esticou o pé bem na cara do namorado. – Faz em


mim também, Hobi.

Ele rolou os olhos, mas usou a outra mão para massagear o pé dele.

— Disseram que posso trabalhar com roupas de ginástica. Moletom, regatas


e tal.

— Vão ficar manjando a sua bunda. – Yoongi murmurou. – Ela é pra dentro,
mas é bonita.

— Ninguém vai manjar a minha bunda.

— Só a gente. – Tae sorriu. – Porque ela é nossa. O que vocês mais gostam
no corpo um do outro? – quis saber depois de apoiar-se no cotovelo.

— Eu gosto das mãos do Seok. E gosto dos seus olhos, Tae.

— Também adoro os seus olhos. Principalmente quando você se concentra e


dá pra notar que ficou estrábico, é a coisa mais linda do mundo. – ele riu
quando ganhou um tapinha no braço. – Mas a minha parte favorita é a sua
voz, Yoon. No Hobi, é a boca. – ele encarou Hoseok.

— Que foi? - ele desconversou.


— Diz também o que você gosta. - Tae pediu.

— É estranho. – Hobi deu de ombros.

— Diz logo! – Yoongi insistiu.

— Gosto da virilha do Yoon. – sorriu. – É tão bonita.

— Virilha, Hoseok?! - Tae quase gritou.

— E os cotovelos do Tae.

— Cotovelos?! - Yoongi estava indignado.

— Cada um com as suas coisas! – disse rindo.

— Por isso você fica beijando meus cotovelos? E também fica com a cara na
virilha do Yoongi?!

— Me deixa em paz. – Hobi largou os pés dos dois e deitou entre eles rindo.

— Você é estranho. – Tae provocou apertando-lhe o nariz. Yoongi riu


baixinho. – Ah, Jimin e Jungkook vieram conversar comigo agora.

— Sobre?

— Bem. Parece que o Jungkook tá se descobrindo quanto ao sexo, provando


coisas sabe? – os dois assentiram. – E ele curte exibicionismo. – coçou a
barba por fazer. – Os dois me chamaram pra assistir uma transa deles.

Yoongi e Hoseok ficaram quietos.

— Falei que ia conversar com vocês antes de qualquer coisa, a gente tá junto
e eu não quero fazer nenhuma coisa que deixe vocês chateados comigo.

— Você quer assistir os dois, Tae? – Hobi perguntou. – Seja sincero.

— A minha sinceridade pode me colocar em problemas? – encarou Yoongi.


— Prefiro que você seja sincero sempre.

— Eu quero. – deu de ombros. – Vocês sabem que eu curto essas coisas,


igual Hobi curte uma foda mais agressiva e você curte sexo em público.
Quantas vezes já pedi pra vocês dois só me deixarem vendo?

— Várias. – o menor assentiu. – Mas é a gente né, seus namorados.

— Mas Jimin e Jungkook não são estranhos, Yoon. - Hobi deu de ombros.

— Sinceramente, achei que você ia ficar chateado e não o Yoongi.

— Por que?

— Porque é o Jungkook. Seu filho do coração. – sorriu.

— Jungkook é adulto, se ele curte essas coisas e o Jimin está disposto a


curtir com ele também... – deu de ombros. – Mas eu não quero saber de nada
do que você viu! Nunca! Se você me contar eu termino contigo, Taehyung!

— Tae? – Yoongi chamou. – Você sente tesão neles?

— Não, amor. – sorriu negando. – Você tem receio que eu sinta vontade de
estar com eles? – Yoongi assentiu. – É diferente de quando é você e o Hobi,
eu amo vocês dois, desejo vocês dois. Jimin me chamou porque Jungkook
quer tentar isso, mas não quer alguém estranho. Vou ficar excitado porque
sexo me deixa excitado, mas não por eles. Entende?

— Entendi. Olha, se você quer, por mim tudo bem. - Yoongi sorriu.

— Nossa, que avanço! – Hobi o abraçou, deixando beijinhos por seu rosto. –
Meu gatinho ciumento está progredindo.

— Me larga! Para com isso! – ralhou, mas estava rindo.

— Vocês têm certeza que 'tá tudo bem eu fazer isso? – os mais velhos
assentiram.
— Mas! – Hobi soltou Yoongi para montar em cima dos quadris de
Taehyung. – Você vai ter de dar em nós dois uma surra gostosa de pau como
recompensa por sermos namorados tão compreensivos.

— Vou pegar o lubrificante. – Yoongi pulou da cama e correu até o banheiro.

— Nos dois? – Hoseok assentiu. – Vocês vão me matar, Hobi. –


choramingou.

Hobi deu de ombros e se curvou para o beijar.

Então, como sempre acontecia, os três trocaram beijos e toques na cama. Se


despiram das poucas roupas que usavam e enquanto Yoongi chupava dois
dedos longos de Taehyung, Hoseok tirou da última gaveta, um par de
algemas de veludo negro e um vibrador verdinho. Engatinhou na cama e
beijou a nuca de Tae, lambeu a pele salgada enquanto deslizava as mãos até
os mamilos durinhos para apertar entre os dedos.

— Coloca as mãos pra trás. – pediu baixinho. – Vou te prender.

— Hobi... – gemeu obedecendo. Yoongi montou sobre suas coxas e rebolou


em cima do seu pau. – Senta, Yoon.

— Eu vou quicar gostoso em você, amor... E não vai poder tocar em mim. –
sorriu atrevido.

Ouviram a trava das algemas, depois disso o arfar de Hoseok.

— Ah não. – ele murmurou já de pé. – Não. Não. – vasculhando a gaveta,


deixou os outros dois confusos.

— O que foi, Hobi?

Ele não respondeu, murmurava tirando as roupas da gaveta.

— Hoseok?

Hobi parou e se virou, os olhos castanhos arregalados, a cueca


completamente embolada nas coxas macias.
— O que foi?

— Essas algemas... São aquelas... Que eu perdi as chaves no litoral.

— É o que?!

Taehyung praticamente gritou.

Quinze minutos depois, os três estavam jogados na cama usando apenas


cuecas, Taehyung no meio e algemado.

Então, Yoongi começou a rir.

A risada gostosa era contagiante, o corpo pálido se mexia como se ele não
tivesse forças graças ao riso. Hoseok tentou, mas num sopro ruidoso se
entregou ao riso também.

— Eu não acredito nisso... Eu não acredito que vocês dois estão rindo! Eu
até broxei! – Tae reclamou, mas Yoongi escondeu o rosto contra seu ombro,
então ele estava rindo também. – Quer merda Hoseok!

— Desculpa, amor... – Hobi estava chorando de rir. – Desculpa!

— Como que a gente vai soltar isso daqui?! – sacudiu as mãos.

— Acho que o Jimin tem uma igual... – fungou secando as lágrimas.

— Acho que eu nunca ri tanto assim antes. – Yoongi respirou fundo. – Vocês
dois me fazem viver os momentos mais incríveis da minha vida.

— Incrível me ver broxar algemado, Min Yoongi? – Tae choramingou. – Eu


amo tanto vocês dois que isso nem me afeta.

— Queria que esses momentos durassem pra sempre. – Hobi se aconchegou


contra o corpo dele. – Eu nunca fui tão feliz como eu sou quando a gente tá
perto assim.

— Vocês viveriam isso pra sempre? – Yoongi quis saber. Os dois


assentiram. Ele ergueu o tronco e olhou ao redor até achar o pote lacrado de
lubrificante e o outro quase vazio sobre o móvel ao lado da cama. Pegou
primeiro o lacrado e abriu para tirar o anel de plástico da parte de baixo da
tampa, depois fez o mesmo com o outro e se virou. – Casem comigo?

— O que?! – Tae e Hobi disseram ao mesmo tempo.

— Casem comigo. – sorriu. – Aqui e agora.

— Yoon...

— A gente não precisa de nada tradicional porque nada em nós três é assim.
– segurou a mão de Hoseok e deslizou a aliança pelo dedo dele. – Nós
vamos só prometer que tudo isso vai durar pra sempre. – pegou a mão de
Taehyung, as algemas fizeram barulhos quando ele deslizou o anel pelo dedo
dele. – Que vamos nos amar pra sempre... Eu sinto como se amasse vocês
dois desde sempre, desde quando eu ainda não era eu aqui. – a voz grossa
ficou embargada, ele fungou. – Isso é estranho, eu devo parecer maluco. – riu
sem jeito. – Ando sonhando com cerejas e a voz de vocês dois me dizendo
para seguir um caminho feito delas... Eu 'tô fazendo isso agora, 'tô seguindo
esse caminho com vocês dois.

— Amor... – Hobi tinha os olhos marejados.

— Casem comigo? Aqui?

— Yoon, você está tremendo. – Tae ficou agoniado por causa das algemas,
queria abraçá-lo, fazer com que ficasse calmo. – Hoseok, sério, abre isso
aqui.

— Espera! – Hobi pulou da cama com pressa e saiu do quarto.

— Calma, meu amor... Não chora, eu já te coloco no meu colo, tá bom? –


Yoongi fungou e deu um jeito de subir no colo dele, encolhendo-se contra o
peito quente enquanto Tae erguia os braços para prendê-lo ali. – Aconteceu
alguma coisa, eu sei... Você está estranho desde que chegou de tarde.

— Aqui. – Hoseok voltou com uma pequena chave na mão. Engatinhou até os
namorados e abriu as algemas. – Pronto. Yoon, o que foi?
— Nada. – negou. – Acho que ando sensível demais.

— Eu caso contigo. – Hobi sussurrou antes de beijar sua mão. – Aqui. Caso
contigo.

— Eu também. – Tae o beijou no cabelo. – Cadê a chave das algemas? –


Hobi lhe entregou e ele com habilidade tirou a chave para deixar apenas o
anel de metal. – Me dá a sua mão. – com cuidado deslizou a aliança pelo
dedo que Hoseok beijou em seguida. – Eu não faço ideia do que a gente 'tá
fazendo, mas nós começamos assim sem ter ideia de como seria... E somos.

— Nós somos. Eu sou inteiro porque deixei que vocês dois me


completassem. – Hobi sentou sobre os joelhos. – Achei que ia viver pra
sempre sendo alguém que os meus pais queriam, vivendo duas vidas onde
uma delas me mantinha preso, estar com vocês é ser livre porque eu amo
demais o homem que sou desde que me entreguei.

— As pessoas fazem votos em casamentos. – Yoongi sorriu um pouco e


lambeu os lábios em seguida. – O meu voto é fazer o possível para ver vocês
dois bem. Eu amo tanto vocês dois, tanto...

— Antes de nós três, eu achava que o amor era um ruim. – Tae abraçando
Yoongi e brincando com os dedos de Hoseok, sorriu. – Que era subtrair de si
mesmo para adicionar em outras pessoas, abrir mão sabe? – Hobi assentiu. –
Mas o nosso amor se multiplica, então a gente divide igualmente entre nós só
pra amanhã multiplicar mais um pouco.

— Vocês vivem dizendo que eu sou Sol. – Hoseok deu de ombros. – Yoongi
é a Lua e o Tae uma constelação inteira de estrelas... A gente precisa ficar
junto pro Universo funcionar direito, por isso estamos juntos aqui agora.

Yoongi assentiu e caiu no choro, escondendo o rosto vermelho contra o peito


de Taehyung.

Era tão seguro ali, queria poder nunca mais sair daquele quarto, nunca mais
ficar longe dele e de Hoseok.
Mas ele sabia que graças ao conteúdo daquele envelope, Kim Taewoo o
procuraria em breve...

E ele estava apavorado.

⭐🌙☀

#PillowFic
35 - simpatia para o diabo (parte I)

oi oi oi!!

como vocês estão?!

anjos, bastante cuidado ok? se possível fiquem em casa, evitem


aglomerações e sempre com álcool em gel por perto! protegem seus pais,
avós e pessoas da sua família que estão no grupo de risco. é um momento
difícil, mas eu espero e envio boas energias pra todos vocês!

para ajudar nessa quarentena, aqui mais um capítulo.

é a parte 1/3, então posso dizer que começa assim leve, mas depois...
apertem os cintos, teremos turbulências por aqui.

NÃO ESQUECE O VOTINHO!!

obrigado por ler!

PS: SEM BETAGEM/CORREÇÃO relevem os erros

Por favor, permita que eu me apresente


Sou um homem de riquezas e bom gosto

Sympathy to the devil - The Roling Stones


Namjoon respirou fundo enquanto observava o painel digital do elevador.


Ele ajeitou a sacola que segurava na mão esquerda e quando as portas de aço
se abriram, pensou seriamente em desistir e voltar para casa.

Ainda assim, cheio de receio, se lembrou bem das conversas no grupo de


apoio e, principalmente, da orientação de Lee, seu psicólogo.

O corredor vazio era como o lounge que dava a porta de entrada da


cobertura onde viveu até os vinte anos. Conhecia muito bem cada pedaço ou
até mesmo as plantas enfileiradas dentro de vasos caros e que os
empregados cuidavam diariamente.

As lembranças o deixavam tonto.

Mas era necessário filtrar o que deveria carregar na mente, tentar pelo
menos. Namjoon observou, a mente traiçoeira quase pendendo para coisas
ruins, para os quando era pequeno o suficiente para se esconder entre os
vasos maiores, cobrir os ouvidos ignorando os chamados constantes.
Delegacia, hospital, terapia... Delegacia, hospital, terapia.

Ele sacudiu a cabeça, os cabelos mais grandes que o costume, se agitaram


um pouco.

"Tente filtrar os pensamentos, Namjoon. Pelo menos, tente."

A voz de Lee o chamou de algum lugar dentro da mente.

Brincar de pique-esconde com os primos. Se esconder entre as plantas do


corredor. Nunca ser pego de primeiro. Ganhar o jogo. Namjoon lambeu os
lábios e sorriu um pouquinho. Sorriu porque conseguia imaginar-se pequeno
e magrelo ali entre aquelas plantas, sujando os braços na terra escura ou
pegando no sono para acordar com os chamados carinhosos de Nari.

Ela sempre o encontrava.


— Namjoon? – a voz terna o fez erguer o rosto em direção a porta de
entrada. – Por que está parado aí?

— Lembra de como eu cabia aqui? – apontou para os vasos. – Omma ficava


maluca quando via minhas unhas sujas de terra, então você me ajudava no
banho e as cortava rente ao dedo, só pra não ficarem imundas de novo. –
sorriu.

— Oh, eu lembro. – Nari se aproximou dele sorrindo, vestia as mesmas


roupas discretas e confortáveis de sempre. – Às vezes você dormia aí e eu te
carregava pro quarto, mas você cresceu muito depois dos seis anos Namu, eu
não aguentava mais te carregar.

— Engano seu, Nari-ah. – ele a puxou para o abraço apertado. Beijou


carinhosamente o topo do cabelo da antiga governanta e ela o abraçou de
volta. – Você continua me segurando até hoje.

— Obrigado por vir, querido. – Nari agradeceu com sinceridade. – Eles


estão ansiosos, não veem você desde quando esteve no hospital.

— Aceitei por sua causa. – foi claro. – Ainda quero entender porque você
voltou pra cá depois desses anos. Quando eu me mudei, você foi embora
também e agora...

— Vou explicar. Não se preocupe, agora vamos entrar. Hm, o que tem nessa
sacola?

— Algo importante. – sorriu e a velha senhora lhe estreitou o olhar. – Não


seja curiosa assim!

— Namu atrevido! – ralhou o abraçando pela cintura. – Sempre atrevido


assim.

Na sala de estar da casa, Eunji, que estava sentada no sofá maior, ficou de pé
e sorriu para o filho. Parecia ansiosa, Namjoon notou o quanto ela havia
emagrecido.

— Oi, omma. – assentiu enquanto ela se aproximava para abraçá-lo.


— Namu, obrigado por vir. – Namjoon se abaixou para beijá-la no rosto. –
Como você está? – o segurou nos braços. – Tão forte! Está comendo direito?
Olha como seu rosto está lindo assim tão redondinho!

Namjoon franziu o cenho, não esperava algo novo dos pais, mas nunca
imaginou que Eunji se mostraria diferente num bom sentido. Ela não
reclamou de suas roupas largas demais, do cabelo grande e muito menos dos
quilos extras. Parecia até sua omma antes de tudo acontecer.

— Estou bem, omma. O meu maknae gosta muito de se exercitar, então


fazemos isso juntos. – explicou lembrando-se de Jungkook.

— Eu senti muita saudade, filho. – o abraçou outra vez.

— A senhora está bem? – abraçou-a com carinho.

— Agora eu estou bem. – Eunji estava prestes a chorar. – Obrigado por vir.

Segundos depois, Hanguk chegou à sala de estar. Bem vestido, um copo de


uísque na mão e o olhar sério de sempre. Namjoon parou de sorrir.

— Boa noite, Namjoon.

— Boa noite, appa. – se curvando um pouco, o cumprimentou com respeito.

— Eunji, acho que podemos jantar agora. Vou mandar servir.

Nari entrelaçou os dedos aos de Namjoon, ela sabia que se não o fizesse era
capaz de ele virar as costas e ir embora. Dentro de si também havia rancores
direcionados a Hanguk, mágoas criadas graças ao comportamento daquele
homem diante do que aconteceu há dez anos, mas naquele espaço de tempo
desde que ele a procurou, Nari tentava entendê-lo.

— Vamos jantar, depois conversamos. Deixa essa sacola no sofá, querido.


Eu cozinhei tudo o que você mais gosta.

Ele assentiu e colocou a sacola sobre o sofá.

— E como vai a sua terapia, Namu?


Eunji quebrou o silêncio à mesa de jantar. Ela observou o único filho sorrir
um pouco depois de beber o suco de laranja e esperou.

— Muito bem. Agora faço parte de um grupo de apoio para pessoas que
passaram por algo como o que eu passei. Lá acolhemos e ajudamos, além de
direcionar aqueles que não tem condições de pagar por um tratamento
particular, para instituições financiadas por doações. – Namjoon estava
orgulhoso.

— Gostaria de doar também. – ela assentiu. – Depois me diga como fazer,


filho.

— Obrigado, omma.

— Ainda toma remédios? – Hanguk não olhou para perguntar, parecia


retraído.

— Alguns. Mas as doses estão diminuindo. Tomei por anos e não poderia
parar de uma vez.

— Tem dormido bem? – Nari lhe serviu mais pedaços de porco grelhado.

— Acho que sim. Antes era mais difícil, meus amigos me ajudam, quando eu
não consigo dormir, alguém sempre fica perto, conversando, me faz bem.

— O Park também? – o homem mais velho perguntou de novo.

— Principalmente o Jimin. – respondeu com o queixo erguido, estava pronto


para defendê-lo se fosse preciso. – Jimin está sempre por perto, até quando
eu não percebo. Ele é o mais protetor.

Hanguk apenas assentiu.

— Você gostou do seu presente de aniversário?

— Gostei, omma, muito obrigado. Estou até usando. – ele largou os hashis
para mostrar melhor o bracelete prateado no pulso esquerdo. – É muito
bonito. – Obrigado, appa.
— Queria dar um jantar pra você... – tentou, mas estava receosa. – Para os
seus amigos. Nari-ah faz aquele bolo de limão com formato... Aquele urso...
Que você tanto gosta.

— Ryan. O nome dele é Ryan. – Namjoon franziu o cenho. – Não precisa


fazer nada, a gente comemorou em casa, Yoongi-hyung me comprou um
bolo... Não precisa.

— Você não gostaria de comemorar com a sua família também?

— Eu já comemorei.

Hanguk largou os hashis dentro do prato de porcelana. Nari suspirou ao


perceber que Eunji assentiu quieta, os olhos cansados sobre a comida quase
intocada.

— Será que você nunca pode fazer alguma coisa pra agradar a sua mãe,
Namjoon?!

— Hanguk...

— Eu 'tô aqui nessa mesa exatamente pra isso.

— Não. Você está aqui por causa dela. – apontou para Nari. – Não por nossa
causa. Só por isso! Nem minhas ligações você tem atendido.

— Suas ligações sobre me internar em outro país? Por que eu atenderia,


appa?!

— Por favor, não comecem a discutir... – Eunji pediu num lamento. –


Hanguk, por favor, para! Não faz isso ser mais difícil!

— Você não se importa com nada Namjoon. Nada! Só com você mesmo! –
levantou a voz. – Sua mãe tem te ligado todos os dias e você sequer retorna
pra saber se está tudo bem! É um egoísta!

— Eu?! O senhor 'tá realmente que eu não me importo?! Que EU sou o


egoísta?! – Namjoon também falou mais alto. – Quando eu estava ferrado no
hospital há um tempo, o senhor trouxe a droga de um assistente para escrever
tudo! EU SOU EGOÍSTA?! O senhor tem feito tudo ser a SUA vida desde
que tudo aquilo aconteceu, appa!

— O que você quer me ouvir dizer?! O QUE VOCÊ ESPERA DE MIM? A


minha intenção sempre foi te fazer sentir normal!

— O senhor quer me usar! Quer usar tudo o que aconteceu comigo porque
perdeu a capacidade de escrever qualquer coisa sozinho!

— Não! Eu quero te usar de exemplo, Namjoon-

— EU NÃO QUERO SER EXEMPLO! – de pé, ele bateu as duas mãos na


mesa. – EU QUERO SER A DROGA DO SEU FILHO! QUERO QUE O
SENHOR SE IMPORTE! QUE OLHE PRA MIM APPA! EU SINTO MUITO
SE YANGMIN NÃO ME MOLESTOU DE UMA FORMA MAIS
ACEITÁVEL PRA VOCÊ, EU SINTO MUITO QUE A MINHA
ESTRANHEZA TENHA TE AFASTADO DOS AMIGOS IMPORTANTES,
QUE AS MINHAS CRISES TENHA TE COLOCADO MEDO! MAS EU SÓ
TINHA DOZE ANOS PAI! – Namjoon arfou, a voz grossa estava rouca pelo
embargo do choro sentido. Ainda assim era um alívio. – O senhor era o meu
herói, pai, mas agia e ainda age como um vilão pra mim... Eu me tornei um
vilão por sua causA. Porque o senhor nunca quis me salvar de nada, só me
expor e assim lidar com a sua própria dor.

— Namjoon... Filho. – Eunji, perdendo a luta para as lágrimas soluçou


abaixando o rosto. – Me perdoa... Me perdoa, filho.

— Querido, por favor, se acalme. Vocês precisam conversar. – Nari afagou


as costas dele.

— É por isso que a senhora 'tá aqui?! Pra me fazer perdoar as coisas? Você
me conhece melhor que os dois, Nari... Mas não use isso contra mim desse
jeito, eu preciso de tempo e-

— Não temos tempo, Namjoon. Sua mãe não tem tempo. – Hanguk ocupou
outra vez seu lugar na mesa e penteou os cabelos grisalhos para trás.
— Não... Não se atreva. – a mulher secou o rosto com pressa. – Não se
atreva!

— Atrever a que? O que está acontecendo?! Por que você voltou a trabalhar
aqui nessa casa, Nari?! Por que vocês se importam agora?!

— Namjoon, senta aqui... Por favor, querido, fica calmo.

— Não! Para com isso! Eu sei que tem alguma coisa acontecendo! Fala,
Nari! – ela o encarou e num suspiro cansado, negou. – Omma? – tentou com
a mãe. – Omma, o que 'tá acontecendo?!

— Nada, não é-

— PARA DE MENTIR PRA MIM! PELO MENOS UMA VEZ NA VIDA


TENHA RESPEITO POR MIM COMO O TEU FILHO!

— Namjoon! – Nari o repreendeu. – Não faça isso com ela!

— Deixa Nari. – Eunji, fungando, tentou sorrir.

— É direito dele saber...

— Hanguk, não faz isso...

— Ele não é mais uma criança!

— Se não me falarem a porra que 'tá acontecendo, juro que vou embora e
nunca mais piso nessa casa! Nunca mais!

Hanguk encarou Eunji nos olhos e o viu cair no choro quando ele mesmo
secou os olhos antes de falar.

— Eunji tem um aneurisma cerebral, Namjoon.

Namjoon, tomado pela raiva, levou alguns segundos a compreender


completamente o que seu pai havia dito. Piscou de forma confusa, encarou a
mãe que chorava sem parar e depois Nari.
— O que o senhor disse?

— Aneurisma cerebral.

— Como... Desde... Omma? – a chamou. – Isso é...

— Eu sinto muito. – Eunji soluçou, seu corpo pequeno tremia. – Sinto


muito... Eu não queria que soubesse porque não é justo contigo, filho.

— Não é justo... O que?

— Que você me deixe ficar perto por causa disso. – ela secou as bochechas.

— Eunji, por favor, se acalme... Não vai te fazer bem todo esse choro. –
Nari a ajudou a beber um pouco de água, as mãos bonitas de Eunji estavam
tremendo.

Namjoon, em silêncio, caminhou até a sala de estar e recolheu a sacola para


voltar até os mais velhos. De dentro dela tirou um bloco de folhas pouco
pesado, todas ocupadas por letras impressas. Ele colocou o bloco diante do
pai, próximo ao prato e hashis.

— O que é isso?

— O senhor, desde que aquilo aconteceu, ficou obcecado em contar a minha


história, mas nunca perguntou diretamente como tudo me afetou e ainda afeta,
sinceramente appa, você chegou a se importar em algum momento? Se
importar comigo? Te diziam que crianças têm memória curta, que eu
esqueceria logo... Mas o senhor sempre pareceu querer gravar tudo pra que
eu nunca esqueça. – apontou para o bloco de folhas. – 'Tá tudo aí, appa.
Cada detalhe, cada crise... Cada vez em que eu me sentia morto demais pra
conseguir morrer de uma vez. Tudo! Estou te contando a minha história
dessa força pra ver se assim te comove. E se não comover... Plagia. Diz
que é seu, reafirma que essa dor é só tua e faz de mim a vítima perfeita. –
lágrimas grossas borravam um pouco sua visão. – Nenhum roteiro vai ser
mais verdadeiro do que esse, nenhuma palavra se encaixaria tão bem nas
linhas da minha vida além das que eu escrevi! PORQUE É A MINHA
HISTÓRIA! Porque foi o meu corpo... – Namjoon arfou baixo. – É o meu
corpo! A minha vida. O senhor ficou sempre tão ocupado com a sua
necessidade de superar que nunca percebeu que continua abusando de
mim todos esses anos.

— Namjoon...

— Eu não aguento mais ficar aqui... – negou, mas seus olhos caíram em
Eunji. – Omma, sinto muito...

Ele saiu apressado, aquele lugar o sufocava como antes, as lembranças boas
sequer tinham força contra as ruins que pressionavam seu corpo inteiro,
queria esmagá-lo.

— Namjoon! Espera, por favor... Querido.

— Eu preciso ir embora, Nari, por favor, me deixa ir embora. – implorou


enquanto apertava sem parar o botão do elevador.

— Desse jeito? Nervoso? Espera eu pegar a minha bolsa, eu não demoro.

— Não precisa. Por favor, fica aqui com ela... Com a minha omma, fica aqui
e cuida dela. – Namjoon estava com dificuldades para falar. Queria chorar. –
Cuida dela, por favor, Nari-ah. Diz que eu vou falar com ela, mas não
agora... Eu não posso agora, eu não consigo.

— E como você vai pra casa desse jeito?

— Eu não vou pra casa. – negou secando os olhos. – Eu já sei o que fazer.

Quando o elevador chegou, Namjoon a abraçou forte, beijando-lhe a testa


com carinho. Ele entrou sozinho. Passou as duas mãos por todo o rosto,
respirando alto para acalmar o coração que batia depressa demais. Sacou o
celular do bolso, buscou o contato com pressa e teve de cobrir a boca com a
mão livre quando a voz dele atendeu.

— Eu acabei de sair pra te buscar, mas se você quiser posso esperar-

— Jin, por favor... Vem logo. – pediu baixinho, chorando abafado dentro da
mão. – Por favor, hyung... Eu preciso de você.
— Me dê... Sete minutos. Fica num lugar aberto, ok? Respira fundo.

— Ok. – ele assentiu observando os andares diminuindo.

— Não desligue, não precisa falar, mas não desligue. Me deixa ouvir sua
respiração. Você quer contar junto comigo? Podemos fazer isso juntos.

— Um... Dois... Três.

— Quatro, cinco. Cinco, quatro...

— Três, dois... Um.

Namjoon saiu do elevador, estava atordoado, chegando a esbarrar na


decoração elegante do térreo, ignorando completamente os chamados de os
seguranças enquanto usava a mão trêmula para abrir o portão de visitantes.

Parou na calçada, caminhando de um lado para o outro, contando em voz


baixa junto de Seokjin, não se atrevendo a erguer o olhar por sequer um
minuto.

Jin desceu do carro com pressa, não fechou a porta e antes de se aproximar
de uma vez, respirou fundo e lembrou das coisas que passou a ler sobre
crises psicológicas. O celular na mão esquerda ainda estava em chamada.

— Namjoon-ah... Você está indo bem. – disse ainda na ligação.

Namjoon ainda não tinha notado ali.

— Cinco. Cinco, quatro, três, dois, um.

— Isso. Você consegue respirar melhor agora. Pode tentar, por favor? –
Namjoon parou de caminhar e assentiu, o peito largo se encheu de ar. – Eu
vou desligar...

— Não! Não desligue! Por favor, hyung!

— Vou desligar porque já 'tô aqui. – disse mais alto e Namjoon o viu. – Eu
'tô aqui, Joonie. – se aproximando mais, Jin estendeu os braços e Namjoon o
abraçou forte. – Você 'tá indo bem. Vamos pra casa?

— Não. – negou agarrado a ele. – Me leva pra ficar com você, Jin-hyung.

— 'Tá bem. Isso vai passar.

— Se você sopra assim acaba dando bolhas. – Jimin avisou e sorriu quando
o namorado enrugou o nariz numa caretinha teimosa. – Teimoso.

— Quero que elas sequem logo. – cutucou a unha do polegar. As unhas de


Jimin estavam roxas e as dele pretas. – Pra gente poder namorar.

— Jungkook, você sabe que se eu fizer aquilo que me pediu a gente vai ficar
uns dias sem namorar, não sabe?

— Quantos dias? – arqueou as sobrancelhas.

— O suficiente pro meu pau não cair. – Jungkook riu e se jogou ao lado dele
na cama, logo se virando para Jimin o fazer de conchinha menor. – Eu amo
você. – disse beijando a nuca exposta.

— Eu também amo você, Jimin-hyung. – colocou os braços por cima dos


braços alheios e entrelaçou os dedos das mãos. – Desculpa por mais cedo.

— Queria conseguir te fazer sentir menos ciúmes. – suspirou.

Jungkook se remexeu até deitar de frente a ele.

— Não é sua culpa. Eu sou inseguro demais...

— Alguma coisa eu devo estar fazendo errado pra você ainda se sentir
inseguro desse jeito toda vez que eu alguém se aproxima de mim, amor. –
penteou o cabelo dele para trás da orelha. – Posso te perguntar uma parada?

— Pode. – assentiu.
— O teu tesão, esse fogo todo... É o teu jeito de ser menos inseguro. Escuta,
eu não tô reclamando disso até porque amo fazer amor com você, mas
sempre que a gente briga terminamos na cama, sem conversar direito... Eu já
vi muito relacionamento afundando desse jeito.

— Você acha que o nosso vai-

— Não. – Jimin sorriu usando o polegar para desfazer a ruga entre as


sobrancelhas do mais novo. – Eu não acho. Você me fez ter vontade de viver
assim de novo Jungkook. Passar as minhas noites livres embolado na cama
contigo, te deixando pintar as minhas unhas ou só te ouvindo roncar. Você me
fez querer tentar.

— Eu te peço pra fazer amor porque não sei o que dizer...

— Você sabe sim.

— Tá, mas eu tenho receio de soar infantil. Principalmente quando eu noto


que meu ciúme é bobo.

— Não existe problema no ciúme, mas se ele se torna algo recorrente, se ele
domina as nossas ações, pode se tornar ruim. – Jungkook assentiu. – Eu sei
disso.

— Quando você fala assim fico me perguntando como sabe tanto disso. –
apoiou a mão no rosto dele, sobre a bochecha macia. – Porque te faz ficar
triste.

— Eu te amo muito e não quero te ver se machucando por minha causa.


Nunca.

— Jimin, isso nunca vai acontecer. – selou os lábios dele. – Vou fazer uma
promessa... Eu quero que a gente dure pra sempre, então não vou mais
deixar o meu ciúme fazer a gente brigar.

— Quero que você confie em mim, mas quero ainda mais que confie em
você. – o puxou pela cintura, trazendo-o para mais perto. – Jungkook, você é
um homem lindo e sexy. Cada pedaço de você me deixa louco. Sua voz, seu
cheiro, seu jeito... Até quando parece ter uma pane no sistema e fica olhando
pro nada...

— Jimin!

— Quando esses divertidamente dão erro. – bateu com a ponta do indicador


na testa alheia. – Eu te amo exatamente como você é, não me importa quem
passou por minha vida antes de você chegar, porque depois de você... Eu não
quero mais ninguém. É a minha resolução de felicidade, sabia? Meu menino
lindo.

— O que eu faço quando sinto ciúmes, Jimin?

— Você se lembra de nós dois assim. Lembra que eu sou você...

— E você sou eu. – completou sorrindo. – O meu coração escolheu a pessoa


certa pra amar... Eu sei que posso confiar em você Jimin. Sempre.

Ele o abraçou. Escondeu o rosto no pescoço dele. Jimin o acolheu inteiro.

Mas sentiu culpa. Não se imaginava mais sem Jungkook.

As luzes do banheiro estavam apagadas e exatamente quatro pares de velas


se espalharam pelo cômodo para iluminar o espaço grande. Uma pequena
torre de roupas se equilibrava próximo ao box de vidro do chuveiro, duas
camisas amassadas traçaram um caminho até a banheira espaçosa. Uma
garrafa de vinho fazia companhia a uma taça meio vazia.

Seokjin estava sentado contra a porcelana morna e Namjoon entre suas


pernas, com as costas apoiadas em seu peito. Os dois em silêncio. A água
estava quente, os sais de banho tinham um cheiro suave, as mãos de Jin não
paravam de afagar os quadris de Namjoon.

Chegaram apressados, Namjoon não parava de chorar, então o mais velho o


propôs um banho quente que foi aceito, contando que ele fosse junto. Dessa
forma acabaram juntos na banheira.
— Se sente mais calmo? – sussurrou contra a orelha alheia.

— Uhum. Obrigado.

— Eu sei que você não quer falar sobre o que aconteceu na casa dos seus
pais, quer continuar em silêncio?

— Quero te ouvir falar. – abriu os olhos e se afastou um pouco para sentar


de lado, para poder observar o mais velho.

— Quando eu cheguei aqui fiquei pensando sobre o que você me disse no


litoral, sobre querer viajar. – Jin pegou a taça de vinho e bebeu dois goles. –
Me permiti ser um pouco egoísta ao cogitar te fazer uma proposta.

— Qual proposta?

— O próximo semestre. Eu vou me formar e você vai finalizar o terceiro


ano, depois disso você viaja.

— Depois que a sua filha nascer?

— Que saco! Por que você é tão inteligente?

— Você também é inteligente, hyung. – sorriu um pouco. – Você quer que eu


fique até a sua filha nascer?

— Isso é absolutamente idiota da minha parte, mas eu ainda tô muito


apavorado... – bebeu o resto do vinho. – Quero vocês seis comigo quando
ela nascer... Porque se ela não gostar de mim, vocês podem fazê-la perceber
que eu não sou tão ruim, falar coisas boas sobre mim.

— Jin. – Namjoon negou, a mão direita afagou a lateral do rosto de Jin,


sentindo a barba por fazer arranhar a palma lisa. – Não existe a
possibilidade de ela não gostar de você ou da noona. Como olhar pra esse
rosto lindo e não cair de amor. – brincou.

— Isso você tem razão. – piscou segurando a mão de Namjoon para beijar
os dedos. – Gosto de sabão. – fez careta. – Preciso te entregar uma coisa...
Fica aqui.
— Hn? O que você... Jin você vai escorregar!

Seokjin saiu da banheira, nu e coberto de sabão. Usou uma das toalhas para
enrolar nos quadris e saiu do banheiro. Namjoon suspirou. Minutos depois, o
mais velho voltou com uma caixa de joalheria nas mãos.

— Não diz que você me comprou um diamante, Seokjin.

— Não é isso. – entrou na banheira de novo e abriu a caixa para revelar os


dois relógios dentro dela. Um dourado e outro prateado. – Seu presente
atrasado de aniversário. Esses relógios são especiais...

— Você caiu na conversa do vendedor, não foi? – provocou.

— Respeite o seu hyung, Kim Namjoon-ah! – ralhou, mas sorria. – Eles são
um par. Foram feitos juntos, são especiais por causa disso e por outra coisa.

— Que coisa?

— Eu sei que você não gosta muito de dourado, então ele vai ficar comigo.
O prateado é seu e ele tem uma configuração que o regula automaticamente
para o fuso-horário de onde estiver, então o dourado também muda. – ele
tirou o relógio prateado da caixa e a deixou no chão, perto da garrafa de
vinho. – Você o usa... Em qualquer lugar... – ele colocou o relógio preso ao
pulso de Namjoon.

— A água hyung...

— Está tudo bem, é a prova. – sorriu. – Onde você estiver, você o usa e eu
vou saber quando o meu mudar, então vou poder deduzir em que lugar do
mundo vai estar. Você vai me levar no pulso esquerdo, o lado do seu teu
coração.

— Eu já te levo no meu coração, Seokjin. – ele percebeu que os olhos de Jin


estavam marejados, mesmo que ele sorrisse. – Obrigado por ter corrido até
mim, eu nem quero imaginar quantas multas conseguiu no caminho.

— Não importa. Eu derrubaria o mundo pra ir até você. – beijou a mão dele
de novo. – Pra te fazer ficar bem, mesmo que nós dois saibamos que você
precisa fazer isso sozinho.

— Eu posso trapacear de vez em quando. Demorei tanto tempo pra conseguir


te mostrar o que eu sou de verdade, tive tanto medo de nunca mais ver o que
eu 'tô vendo agora no reflexo dos seus olhos.

— Você se vê? – Namjoon assentiu. – Você consegue ver o quanto é lindo? O


quanto é forte? Consegue ver essa aura brilhante que eu vejo toda vez que
olho pra você?

— Eu consigo ver que vai ficar tudo bem. – sorriu. – A minha omma... Ela...

— Quer me contar?

— Quero. – assentindo, entrelaçou os dedos aos dele. – Eles fizeram Nari


voltar a trabalhar lá para me aproximar deles. Da minha omma. Ela tá
doente, Jin.

— O que ela tem?

— Aneurisma. Eu não consegui ficar pra entender mais, mas eu sei o que é e
sei o que faz. Mas isso é estranho.

— O que?

— A forma como eu me senti. – o olhar estreito se perdeu um pouco. – Eu


deveria ter sentido medo? – olhou nos olhos de Seokjin. – Eu só consegui
sentir muito.

— A gente não pode estabelecer as reações quanto a uma porção de coisas,


principalmente num ambiente familiar complicado, eu sei que você 'tá se
culpando.

— Fui insensível.

— Não, Namjoon. Você não foi! E eu tenho propriedade pra falar sobre você
ser insensível.

— , bem no estômago. – fez careta e Jin rolou os olhos.


— É sério. Eles não podem cobrar suas reações depois de tudo, é injusto
demais. E isso não quer dizer que você os odeia, quer dizer que você está se
colocando como prioridade, está respeitando os seus sentimentos. Quando se
sentir bem pra conversar com a sua omma sobre isso, você a procura.

— Mas... E se ela... Você sabe.

— Isso não vai acontecer.

— E se acontecer, Jin?

— Hey. – o puxou pra perto. – Não pensa negativo assim. – beijou-lhe os


lábios com carinho. – Não pensa. Isso vai te fazer mal. – beijou de novo,
dessa vez afagando a nuca alheia.

— Me faz parar de pensar um pouco? – montou sobre as coxas dele.

— Tem certeza?

— De vez em quando eu preciso ficar te tocando pra ter certeza que você
existe.

— Por que?

— A gente tá pelado numa banheira, você me massageou e cuidou de mim,


mas não tentou nada o tempo inteiro. E agora, que eu 'tô pedindo pra transar
quer saber se eu tenho certeza.

— É triste concluir que as pessoas acham isso estranho...

— Quando todos deveriam ser assim.

— Eu respeito você Namjoon. Respeito demais. – o abraçou pela cintura.

— E é por isso que eu sempre tenho certeza quando se trata de me entregar


pra você.

Seokjin sorriu.
A mão livre afastou o cabelo úmido do rosto de Namjoon, enquanto os
lábios se aproximavam devagar.

E enquanto eles se beijavam os relógios sincronizavam a hora.

Jimin franziu o cenho, ainda de olhos fechados, quando um som contínuo e


exagerado o arrancou do sono profundo.

Ele tateou a nova cama de casal, procurando Jungkook, mas não achou o
namorado ali. Só o travesseiro dele.

Ergueu o tronco, a droga de as batidas continuava sem parar. Ele jogou o


edredom pro lado e desceu da cama. Sem camisa, usando apenas uma cueca
verde escuro, Jimin abriu a porta do quarto e olhou para o corredor.

— Mas que porra!

— Bom dia! O Sol já nasceu lá na fazendinha! ACORDA O BEZERRO E A


VAQUINHA! QUE JÁ COCORICOU A DONA GALINHA!

— Eu não mereço isso, meu deus. – Taehyung batia a testa contra o batente
da porta do outro quarto. – Eu não mereço.

— LEVANTA QUE O CAVALINHO JÁ PULOU DA CAMA E O PINTINHO


TIROU O SEU PIJAMA E O PORQUINHO JÁ CAIU NA LAMA!

Hoseok batia uma colher de pau contra uma panela e ao seu lado, Jungkook
cantava tão alto quanto ele. Vestidos em bermudas folgadas, aventais de
plástico e bandanas coloridas que seguravam todo o cabelo para trás.

— O que está acontecendo aqui pelo amor de deus?!

— Hoje é dia de faxina! Já são oito da manhã! Vamos acordando!

— Hobi-hyung está animado! A gente vai limpar a garagem juntos Jimin-ssi!


– Jungkook estava eufórico.
— Jungkook são oito horas da madrugada! Para de pular desse jeito eu tô
ficando tonto! – ralhou.

— Vamos logo, tomem um banho pra acordar, banho gelado é maravilhoso!

— Yoongi. – Tae choramingou para o outro namorado que saiu do quarto se


arrastando. – Faz ele parar!

— Bom dia meu amor! Como você está?

— Hoseok, se você me dirigir a palavra eu juro por deus que termino com
você, SEU DESEQUILIBRADO. Me larga! – se debateu quando Hobi o
abraçou por trás, dando beijinhos em seu pescoço. – Inferno de homem chato
com faxina!

— Vocês dois vão cuidar dos banheiros. – apontou Jimin é Taehyung.

— Amanhã é o meu aniversário, hyung! – Jimin fez bico.

— Parabéns, muitos anos de vida meu pequeno girassol. – sorriu. – Pode


começar pelo banheiro do seu quarto, posso cantar parabéns pra você
enquanto você esfrega o chão encardido do box, quer?

— Não adianta Jimin, ele quando está no modo diarista perde a


sensibilidade. Esses dias queria jogar fora minhas meias brancas.

— Brancas Taehyung?! Brancas?! Tudo encardida! Eu passei horas


esfregando aquilo pra TENTAR deixar boa! Vai logo pro banho!

Tae bufou, mas foi. Jimin rolou os olhos e foi também.

— 'Tá vendo, Jungoo? É assim que a gente coloca ordem.

— Você é incrível hyung!

Os dois bateram as mãos e Hobi o abraçou pelo ombro.

•••
— I got a pocket, got a procketful of sunshine... Do what you want, but
you're never gonna break me... - Hobi começou a cantar junto da rádio. Os
quadris soltos rebolaram um pouco, então Taehyung riu dele e rolou os
olhos.

— Sticks and stones are never gonna shake me, no! - Jungkook continuou.

— TAKE ME AWAY! A SECRET PLACE! - Jimin fazia o cabo do espanador


de microfone.

— A SWEET ESCAPE! TAKE ME AWAY - Hoseok estava rebolando mais.

— TAKE ME AWAY! Canta também, Tae-hyung! Você sabe a letra.

— Não sei. - rolou os olhos.

— Canta logo! - Jimin jogou nele a tampinha do lustra móveis.

— Eu não sei cantar isso! - Jungkook colocou diante dele o cabo da


vassoura, como um microfone. - Sai garoto!

— Hyung. - ele fez bico.

— Adeus pose de bandido mal. - Hobi cantarolou.

— Que saco. - suspirou. - I got a pocket, got a procketful of sunshine, I got


love, and I know that it's all mine...

— Do what you want, but you're never gonna break me... - o mais novo
completou.

— Sticks and stones are never gonna shake me, no!

— TAKE ME AWAY! A SECRET PLACE! A SWEET SCAPE. TAKE ME


AWAY! - Hobi estava em cima do sofá dançando. Jimin fazia o mesmo sobre
a poltrona.

— Mas o que está acontecendo nessa casa?! - Seokjin, parado na porta com
as duas mãos nos quadris, quis saber. Namjoon, começou a rir.
— Sua vez hyung! - Hobi apontou para Jin. - Seu solo! - Jimin lhe jogou o
espanador.

Jin pegou o objeto no ar e rolou os olhos.

— And there's no more lies in the darkness, there's light and nobody cries,
there's only BUTTERFLIES... TAKE ME AWAY!

Jin estava dançando junto deles.

Namjoon os observou e sorriu mais. Amava-os muito. Sua família.

— Fica todo feliz não que a cozinha é sua, campeão. - Hobi avisou.

— Caralho, Hoseok! - choramingou.

— Você vai me dizer logo o que 'tá rolando ou eu vou ter de puxar assunto,
Yoongi?

Seokjin perguntou quando Yoongi, mais uma vez, torceu o pano dentro de um
balde com água. Os dois haviam trocado com Jimin e Taehyung, não
confiava naqueles dois cuidando dos banheiros.

— Onde você dormiu?

— Ok, primeiro a gente fala de mim, aí então você se abre?

— É. A dinâmica de sempre. - deu de ombros enrolando o pano no rodo para


secar os azulejos.

— Dormi no apartamento que vou reformar. Com o Namjoon.

— Hm. Vocês estão juntos?

— Não. Nem tem como isso agora, a gente tá passando por coisas demais,
mas é bom ficar perto um do outro.
— Você tá com cara de que transou. Esse sorriso fácil, ombros relaxados.

— E você tá com cara de quem virou a noite acordado. Não pra coisa boa. -
ele terminou de limpar o espelho, então começou a recolocar os objetos de
higiene no lugar. - O que foi?

— Fecha a porta, hyung. Por favor.

Seokjin franziu o cenho, mas fechou a porta.

— Deve ser algo sério. Hoseok e Taehyung sabem?

— Não. - negou. - Mas tem haver com eles. O irmão do Taehyung me


procurou ontem. O Taewoo.

— Aquele monstro foi atrás de você?! Como ele... Yoongi, isso é muito
sério! Você não pode-

— Ele me ameaçou, hyung. - cortou. - Quer dizer, ele vai me ameaçar...


Deixou um tipo de recado, sabe?

— Recado? Como assim?

— Lembra o motivo do Tae ter vindo pra cá?

— Os pais queriam afastar ele de Daegu porque ele causava problemas.

— Os problemas que ele causava não eram pequenos como eu pensava. -


suspirou, estava agoniado. - Ele contou pra mim e pro Hobi de algumas
merdas que fez, merdas pesadas hyung.

— Pesadas quanto?

— Nível polícia. Coisas que o irmão dele deu um jeito de colocar pra baixo
do tapete só pra não sujar o nome da família. Taewoo me deu um envelope,
cópias de documentos... Algo que o Tae fez e ele conseguiu abafar.

— Ele quer que você saiba que-


— O Taehyung tá na mão dele. O futuro do Tae, a ficha limpa dele.

— Mas se ele expor isso vai sujar o nome da família Yoongi, não faz sentido
nenhum!

— Eu pensei nisso! Pensei demais. - mordeu o lábio inferior. - Da mesma


forma que ele pode expor pra dizer que não existe impunidade dentro da
família... Mesmo que aquele monstro tenha saído impune do que fez ao Tae.
Eles preferem um filho bandido a um filho gay.

— Isso é horrível. - Jin lamentou. - Como alguém tão incrível como o Tae
pode ter vindo de uma família podre assim?!

— Eu não sei o que fazer. - secou o suor da testa com as costas da mão.

— Você vai conversar com Hoseok e Taehyhung.

— Hyung...

— Vai sim! Nem me invente de querer bancar o Batman e resolver tudo


sozinho! Vocês estão juntos! São um casal... Trisal... Não sei! São
namorados! - gesticulou. - Isso tudo envolve eles, principalmente o
Taehyung!

— Eu tenho medo.

— Medo do Taewoo?

— Não hyung. - negou. - Eu tenho medo do que a raiva do Taehyung pode


induzir o Hoseok a fazer. Naquela noite quando ele se abriu pra gente,
quando falou do irmão... Seok não dormiu, ele saiu da cama quando o Tae
pegou no sono. Seokjin-hyung, ele tremia de um jeito que me deixou
preocupado. Ele fica pela casa rindo e brincando, mas eu sei... Eu conheço
aquele homem desde quando ele era um menino... Quando ele me abraça,
quando ele traz o Tae pro colo... Hoseok está envolto em raiva.

— Esse é mais um motivo pra você falar. Yoongi, lembra do começo? Jimin
dizia que Hoseok e Taehyung eram como duas bombas, que você era o único
capaz de contê-los pra não explodir. Agora você tem o detonador dos dois
nas mãos. Você quer esconder até alguma merda acontecer e tudo voar pelos
ares? Ou você quer desarmar esses dois contando o que está acontecendo?
Você não vai dar conta se eles explodirem ao mesmo tempo.

— Eu posso tentar...

— Amor não é isso. - suspirou. - Amor não significa se estrepar inteiro pra
poupar quem você ama, Yoongi! Isso nem é saudável. Me escuta, por favor?
- Yoongi assentiu. - Até agora você não sabe o que fazer porque está
raciocinando sozinho por três pessoas... Se fosse o contrário, se aquele
monstro tivesse ido atrás do Hoseok, ia querer que ele escondesse isso de
você e do Taehyung?

— Ele não procurou o Hoseok, eu acho que ele sabe do temperamento do


Seok.

— Ele parece saber muito sobre vocês, é justo que saibam sobre ele. - coçou
o queixo. - Dessa parte eu cuido. Conta pra eles, se abre como Taehyung fez
naquele dia. Isso é amor.

— Obrigado por conversar comigo, Jin-hyung.

— Eu te amo e quero o seu bem. Sempre vou querer o seu bem Gi. - o puxou
para beijá-lo na testa. - O que o Taehyung fez de tão sério?

— Aos dezoito anos... Taehyung participou de um assalto.

Taehyung secou a garrafinha de água e trocou um olhar com Jimin antes que
esse subisse para o próprio quarto.

— Eu já te disse que não vou assistir esse filme, Yoongi! - Hobi


choramingou. - Depois eu tenho pesadelo!

— Eu protejo você amor.

— Como vai me proteger do satanás! Filme de satanás atrai pra gente!


— Ele vem te pegar, Hoseok! - Jin o assustou, cutucando sua cintura.

— AE CARALHO! PARA COM ISSO! Yoongi eu quero ver outra coisa.

— Para de me assustar ele! - Yoongi bateu em Seokjin com uma almofada.

— A gente pode ir logo? Estou com fome. - Namjoon descruzou os braços.

— Ok, vamos logo. Hoseok vai sentado atrás do ladinho do diabo.

— Eu vou andando!

— Hey, tudo bem? - Taehyung, puxando Yoongi pela cintura, o beijou nos
lábios.

— Tudo sim. - assentiu. - Mas se você ousar bater umazinha eu te deixo dois
meses sem cuzinho.

— Eu digo o mesmo. - Hobi assentiu.

— Tão maldosos com o Taetae...

— Eles começaram a falar na terceira pessoa Namjoon, vamos embora antes


que isso se espalhe. - Jin empurrou Namjoon para a garagem.

— Amo vocês. - beijou os lábios de Yoongi e depois dos de Hoseok. - Traz


comida pra mim.

— Não. - Yoongi bufou.

— Tchau, neném... Eu vou trazer Burger King pra você. - Hobi sorriu antes
de fechar a porta.

Taehyung deixou a garrafa vazia na cozinha e apagou as luzes antes de subir


as escadas. Jimin estava no corredor, recostado à parede e de braços
cruzados.

— O que foi?
— Ele me pediu pra esperar. O que vocês dois aprontaram? - estreitou os
olhos.

— É segredo. - piscou. - Mas você vai gostar, confia na sua alma gêmea.

— Pode entrar.

A voz acanhada de Jungkook autorizou, então Jimin abriu a porta e sorriu. O


quarto estava muito arrumado, a cama era feita com poucos travesseiros e
sobre ela, organizados perfeitamente: o lubrificante, duas camisinhas, uma
bandana vermelha e sua palmatória favorita.

Taehyung lhe deu um tapinha no ombro e entrou. A poltrona - que geralmente


estava repleta de roupas - foi empurrada para perto da porta que foi fechada.
Ele sentou de pernas abertas.

— Cadê você, meu amor? - Jimin sentou na cama e observou a porta do


banheiro.

Jungkook a abriu e se mostrou a ele. Tímido e lindo.

— Caralho Jungkook.

— Feliz aniversário, Jimin-ssi.

— De nada. - Taehyung sorriu orgulhoso.

Jungkook sorriu, as mãos tatuadas apertaram-se em punho. A forma como


Jimin olhava-o lhe deixava quente.

— Você gostou? - colocou os braços pra trás.

— Vem aqui bebê. - chamou estendendo o braço. - Me deixa te ver de


pertinho.

Quando ele se aproximou, Jimin tocou o elástico da meia-arrastão que


sufocava as coxas fortes de Jungkook. Elas iam desde seus pés descalços até
as coxas, dali não havia nada até o pequeno short de couro. Ele cobria quase
nada, mostrava muito da pele macia salpicada de pintinhas que Jimin
conhecia bem. Poderia traçar mil e umas formas através delas. Ele raspou
os dedos dos quadris alheios até o abdome trincado, contornou cada gomo
de músculo e subiu mais, ignorando os mamilos sensíveis de propósito,
então enganchou dois dedos na choker de veludo, sacudindo a pequena
medalhinha dourada onde JM estava cravado no metal.

— Você está lindo. - sussurrou. - Você é lindo. E meu. - puxou a coleira


devagar.

— Seu. - assentiu. - Só seu.

— A gente precisa estabelecer algumas coisas com o Tae antes de começar,


ok?

— Ok.

— Vocês ainda não começaram? Porra! - respirou fundo. Ele riu nervoso e
assentiu.

— É a primeira vez que Jungkook faz isso, então se ele se sentir


desconfortável em algum momento vai me dizer, então eu vou te pedir pra
sair, Tae.

— Certo. Sem problemas.

— A gente prefere que você não se toque-

— Eu não vou. - negou veemente. - Concordamos.

— Você pode dizer ou fazer o que Jungkook te pedir, se estiver confortável


para isso.

— Diz aquilo Jimin, de depois... - o mais novo disse baixinho.

— Ah, depois... Que nada fique estranho entre a gente.

— Não vai ficar Jungkook, está tudo bem. - Jungkook assentiu.


— Agora... Você. - Jimin lambeu os lábios. - Você deixou essas coisas sobre
a cama?

— Deixei. - Jimin arqueou uma sobrancelha. - Deixe, sim senhor.

— Olha como o meu bebê é educado, Tae. - elogiou e o garoto sorriu. Amava
elogios. - Você deixou a bandana porque quer ser amordaçado, mas por que
a palmatória? Eu só castigo meninos maus.

— Eu sei. - mordiscou o lábio inferior. - Por isso eu peguei a palmatória.

— Mas você não é um mau menino, ou é?

Jungkook abriu a palma da mão e mostrou para Jimin o pequeno dispositivo.


Era cor de rosa e possuía três opções de movimento para a pequena
alavanca rosa choque. Jimin o pegou, deslizou o polegar em cima da
alavanca até a posição um, então Jungkook arfou, as mãos apoiaram-se no
ombro do namorado.

Jimin entendeu.

— Vira. Vira e empina a bunda pra mim, Jungkook. - mandou. Taehyung,


apoiando o cotovelo ao braço da poltrona, sorriu. Jungkook se virou, as
pernas tremiam um pouco. Jimin segurou o cós do short apertado, puxando
com força pra baixo. - Seu guloso do caralho, olha só... Não conseguiu me
esperar? - o tapa fez o garoto dar um pulinho. O pequeno estimulador de
próstata estava ligado, Jimin podia ver o objeto rosado ser sufocado entre as
nádegas branquinhas. - Filho da puta, garoto teimoso do caralho. Você sabe
que eu gosto quando se abre assim, sabe que eu gosto de te foder com os
dedos.

— Os seus dedos são curtos.

— Wow. - Taehyung vibrou. Já estava excitado.

— Jungkook. - o tom de aviso arrepiou o corpo dele. - Não provoca aquilo


que você não pode dar conta depois. - outro tapa.
Jimin afastou as mãos do corpo dele e tirou a própria camiseta, bagunçando
os cabelos azulados no caminho. Ele a jogou pro lado e Jungkook se virou
até estar de frente a ele, entre as pernas.

— Eu sei que você quer me chupar, eu sei que você quer que eu foda a sua
boca e goze nessa sua carinha linda, mas meninos malvados merecem
castigo e a minha porra é o seu prémio. Tira esse short e sobe na cama, de
joelhos.

Taehyung, em silêncio, observou Jungkook o encarando antes de tirar o short


de vez. Nu, ele caminhou e subiu na cama do lado oposto, engatinhando até o
meio do colchão onde se ajoelhou. Jimin prendeu os cabelos com um
elástico firme, abriu a bermuda e a tirou para ficar de cueca. Ele pegou a
bandana e subiu na cama, atrás de Jungkook.

— Assim fica difícil que eu te entenda, sabe o que fazer nesse caso, amor.

— Três tapas no colchão. - assentiu.

— Você está arrepiado. - observou enquanto o amordaçava. - Isso tudo é


porque Taehyung está te vendo? Porque ele agora sabe o puto do caralho que
você é pra mim? - beijou os ombros de Jungkook, mordendo a pele cheirosa,
lambendo de ali até a nuca ou até prender entre os dentes os piercing da
orelha. - Porque ele vai te ver apanhando? Levando pica nesse seu rabo
apertado? Sentando feito um doido no meu pau? É amor?

— Jimin... - choramingou.

— Você é bom nisso. - Tae elogiou e Jimin piscou pra ele. - Maldito. -
sorriu.

— O meu Jungkook é obediente, mas às vezes ele gosta muito de me


provocar. - Jimin descendo da cama, pegou outra vez o dispositivo rosa. -
Às vezes ele me manda umas fotos bem covardes bem no horário do meu
estágio, ele me faz sofrer no meio de uma audiência. Sabe por que?

— Por que, Jimin? - Tae passou o indicador ao redor dos lábios. Era notável
o volume na parte frontal do moletom cinza.
— Porque ele gosta muito da ideia de me deixar com tesão em público. Olha
só como ele está agoniado para se tocar só por me ouvir contar o quanto é
um putinho. - dizendo isso, aumentou a potência do massageador para nível
dois.

Jungkook arfou, o corpo pesado e sensível se curvou enquanto os lábios


rosados se partiam. Ele gemeu manhoso, a cintura fina se contorceu para
rebolar no vibrador que massageava exatamente seu ponto sensível. Ele
praticamente quicou no colchão e gemeu mais alto.

— Jimin... Vem... Me toca. - disse abafado pela mordaça.

— Tão obediente que suas mãos sequer se movem. - Tae observou


maravilhado com o comportamento dele.

— De quatro, Jungkook. - Jimin recolheu a palmatória e sorriu ao ver o


namorado se virar na cama, tremendo um pouco ele, ficou de quatro. -
Encosta o rosto nos travesseiros e abre as pernas. - subiu na cama,
engatinhando até estar de joelhos atrás do corpo do namorado. Chiou ao
observar entre as nádegas dele, a entrada apertada que suportava o
massageador e escorria lubrificante para as coxas, até o elástico das meias. -
Não! - usou a palmatória quando a mão tatuada quis masturbar o pau
negligenciado. Jungkook recolheu-a de pressa e choramingou. - Não.

— Mas eu quero... Eu preciso. - ele socou o colchão. A voz ainda mais


abafada.

— Malcriado do caralho. - bateu de novo, sobre a nádega que logo ficou


marcada pela palmatória. Jungkook gritou contra o travesseiro, não por
causa da palmada, mas porque Jimin aumentou ao máximo a vibração do
massageador.

Taehyung, com o rosto apoiado na mão, lambeu os lábios e se remexeu. Ele


mordeu a boca quando Jimin segurou o cabelo grande de Jungkook e puxou
enquanto dava vezes seguidas com a palmatória contra a bunda dele, batendo
e cuspindo palavras sujas que faziam o mais novo gemer mais e mais alto.

Apertou o pau, por cima do moletom e arfou.


Jungkook, naquele momento, outra vez conhecia um nível novo de prazer
com Jimin. Porque saber estar sendo observado tornava tudo muito mais
intenso e forte. Num momento, quando foi solto do agarre do cabelo, salivou
contra o travesseiro e pôde ver Taehyung.

Sentado de pernas abertas, a mão se enchendo com o volume sob a calça, o


olhar variando de seu corpo para o corpo de Jimin. Ele não se excitava por
Taehyung, mas sim pelo fato de estar sendo visto, de estar sendo a causa do
tesão alheio... Isso o fez gozar. Ensopando a cama de porra, tremendo
enquanto gemia contra o travesseiro com cabelo suado grudado no rosto.

Jimin sorriu ao vê-lo se desfazendo, então tirou o pequeno dispositivo para


se curvar e lamber desde o períneo até a entrada dilatada onde afundou a
língua comprida. Ele apertou a carne das nádegas entre os dedos, afundou as
unhas curtas e pintadas de roxo antes de bater com força.

Jungkook gritou, se masturbando de novo, pouco ligando pra sensibilidade


porque aquela dor era maravilhosa.

Tae gemeu junto dele, baixo. Beijo grego sempre seria seu ponto fraco.

Jimin lambeu e fodeu Jungkook com a língua, marcou os cinco dedos em


cada lado.

— Aqui. - puxando-o pelo cabelo, ele ergueu o tronco. - Chupa os meus


dedos, seu atrevido. - puxou a mordaça. - Chupa, ensopa... Que esses dedos
curtos vão arregaçar você.

Jungkook lambeu os dedos dele, lambuzou como queria fazer em outro lugar,
chupou três deles e foi empurrado de volta para o colchão.

— Quantos ele aguenta? - Tae quis saber.

— A gente ainda não sabe. - sorriu orgulhoso. - Ele já chegou a me pedir


cinco. O meu bebê é guloso. - Jimin penetrou dois dedos inteiros, os socou
duas vezes e parou.

— Jimin...
— Oh, agora você quer os meus dedos curtos, Jungkook?

— Quero. - assentiu manhoso, olhando-o por cima do ombro.

— Você acha que merece isso? Quer os meus dedos a noite inteira?

— Quero. Quero muito.

— Assim? - perguntou o fodendo forte, os dedos saindo e entrando, fazendo


barulho. - Assim?

— Cospe. - choramingou.

— Safado do caralho, puta que pariu. - bateu na coxa alheia, sobre o


apanhador de sonhos um pouco escondido graças a meia arrastão. Jimin
juntou saliva na boca e cuspiu entre as nádegas de Jungkook, deixou escorrer
até seus dedos fodiam sem parar.

Taehyung cruzou as pernas.

— Puta que pariu. - murmurou. Jungkook sorriu o encarando, mas aos poucos
a expressão se tornou de prazer. - Você me deve Jimin, me deve muito.

Jimin riu e tirou os dedos para abaixar a cueca, masturbou o pau teso com a
lubrificação deles e buscou uma camisinha.

— Vem aqui. - ele a vestiu e segurou Jungkook pelos quadris. - Sem gemer.
Se você gemer eu tiro. - o mais novo assentiu. Jimin se encaixou nele e
entrou devagar, pedaço por pedaço, vencendo o aperto delicioso. A cada
centímetro que ele ganhava, Taehyung apertava mais as pernas.

O corpo de Jimin, coberto de suor, tremeu quando ele encostou a pélvis na


bunda de Jungkook.

— Porra Jungkook, não importa o quanto eu te alargue... Rabo apertado do


caralho! - bateu de novo e dobrou uma das pernas, apoiando a sola do pé no
colchão.

— Jimin, me fode... Por favor... Bem forte, bem fundo.


Jimin estalou o pescoço para o lado e começou a estocar forte, a cama
passou a arrastar, rangendo alto. Taehyung fechou os olhos, só precisava dos
sons. Deitou a cabeça no encosto da poltrona e apertou o estofado entre os
dedos. Os gemidos de Jungkook ficavam mais e mais altos, o choramingar
manhoso e sensual implorando por mais.

O mais novo estava perdido no prazer, as unhas pintadas de preto agarravam


o lençol da cama, a saliva se misturava às lágrimas finas que fugiam dos
olhos grandes.

Era tão bom.

Jimin era tão bom.

O pau de Jimin entrando e saindo de si era tão bom.

As mãos dele estapeando, apertando, arranhando eram tão boas.

Saber que estava sendo assistido era tão bom.

Quando o namorado parou, ele entendeu sem precisar uma única palavra.
Bastou Jimin deitar e Jungkook o montou, deslizou o pau dele para dentro de
si e assentiu.

— Você 'tá louco pra isso, não tá? - Jimin sorriu enquanto Jungkook suga
seus dedos, sentando lentamente, rebolando.

Taehyung sorriu quando ele o encarou. Jungkook era uma bagunça bonita.

— Você quer se exibir pra ele, quer que ele te veja quicando assim, se
fodendo inteirinho em mim, na minha pica. Menino atrevido. - bateu no rosto
dele, de leve, antes de segurar o queixo pequeno.

— Deixa eu dar pra você assim? Do jeito que você mais gosta, Jimin.

— Vem.

Jimin o ajudou a sair de cima, então escorreu até a beirada da cama e deitou
de novo com as pernas para fora, os pés apoiados no chão frio. Então,
Jungkook, de costas pra ele e de frente para Taehyung, abriu as pernas e
sentou de novo, gemendo enquanto o pau de Jimin deslizava para dentro de
si. Ele apoiou os joelhos na cama e as mãos nos joelhos do namorado.

— Jungkook. - Tae sorriu e moveu a mão. Como se o mandasse se mover.

Ele obedeceu e quicou, fazendo Jimin praticamente urrar o agarrando pela


cintura com força. Ele arranhou as coxas de Jungkook, mordeu suas costas e
o deixou se esbaldar feito um louco sentando sem parar.

— Ele tem coxas fortes. - Tae descruzou as pernas e as abriu mais, expondo
sem pudor o volume teso da ereção.

Jungkook fechou os olhos e levou as mãos de Jimin até seus mamilos,


pedindo que fossem tocados. Bastou isso, bastou o toque certo dos beliscões
ali e a voz do namorado lhe dizendo o quando estava gostoso... Ele gozou de
novo, choramingando manhoso e cansado.

Taehyung o assistiu em toda sua glória carnal, desfazendo-se de novo.

Jimin o deixou se acalmar, o beijou na pele suada até que o garoto parasse
de se mover.

— Já sabe o que eu quero. - sussurrou.

Jungkook assentiu e saiu do colo dele com cuidado, ajoelhou entre as pernas
fortes e tirou a camisinha que o cobria.

— Na minha boca, tudo na minha boca e no meu rosto. Você todo.

— Chupa. - Jimin mandou e ele o abocanhou, mamando de olhos abertos. Os


orbes grandes focados nas reações que sabia arrancar do namorado. Logo
estava sendo fodido de novo, engasgando satisfeito com os gemidos cortados
a cada vez que os quadris se moviam para frente. Sentiu quando ele estava
perto, sentiu a dureza aumentar e engrossar na língua, então se afastou para
abrir a boca obediente. - Aí... Caralho. - Jimin se masturbou forte até gozar
na boca dele, em cima de suas bochechas coradas e do queixo suado.
Jungkook sorriu satisfeito e lambeu a porra ao redor dos lábios.
— Nossa. - Taehyung arfou e a deixou a mão grande tocar o cabelo de
Jungkook. - Aprendeu rápido. - elogiou. - Acho que eu preciso sair daqui.

— Obrigado Tae.

— Não me agradeça. - sorriu, seu rosto estava corado. Ele estava muito
excitado.

— Obrigado hyung...

— Não... Não me chame assim pelas próximas duas semanas. - ergueu um


dedo. Mas riu e piscou pro mais novo antes de sair do quarto.

— Tudo bem? - Jimin afagou o cabelo dele também.

— Uhum.

— Você me deu o melhor presente do mundo.

— Mas ainda não acabou. - sorriu atrevido. Enrugando o nariz de forma


adorável.

— Temos mais? - arqueou uma sobrancelha.

— Temos. Eu quero você agora.

Jimin sorriu.

Yoongi não entendeu quando Taehyung levantou do sofá depressa assim que
entraram em casa.

— Tae, eles me fizeram ver um filme de terror. - Hobi reclamou, mas soltou
um gritinho quando Tae o pegou pelas pernas e pendurou no ombro. - O que
é isso?

— Vem. - o mais novo puxou Yoongi pela mão.


— Que isso gente? - Namjoon fez careta.

Tae não disse nada, mas com Hobi nos ombros e trazendo Yoongi pela mão,
subiu as escadas e se trancou no quarto que os pertencia.
36 - simpatia para o diabo (parte II)

OI PILLOTALKERS!!

Vocês estão bem???

demorei, mas cheguei :)

NÓS BATEMOS UM MILHÃO DE VIEWS!!!!! MUITO OBRIGADO


GENTE!!

batemos 1m há alguns dias, então logo teremos um presentinho pra


comemorar!

estou caindo de sono, por isso não vou escrever muito aqui nas notas,
desculpa :(

o capítulo não tá corrigido, por favor relevem erros por agora

NÃO ESQUECE DE VOTAR!!

Estive por aí por muitos, muitos anos


Roubei a alma e a fé de muitos homens

Sympathy For The Devil - The Rolling Stones


A música, mesmo baixa, dava pra ser ouvida desde o último degrau da
escada, assim como os gemidos demorados de Yoongi. O tom manhoso e
arrastado, quase preguiçoso que seguia segundos antes do estalar de
madeira, do colchão espaçoso sobre o box da cama alta.

E nenhum dos três podia ligar menos.

Dentro do quarto, as mãos grandes de Yoongi se encheram com as nádegas


pequenas de Hoseok, cobrindo ainda mais as marcas deixadas a cada vez
que ele era tocado. A boca do maior, afobada entre gemidos e a respiração
pesada, continuava resvalando por todo o pescoço suado, lambendo a pele
salgada, mordendo e chupando, desenhando marcas onde conseguia alcançar
toda a pele pálida.

Taehyung, sentado atrás de Yoongi, mordia com força a própria boca na


tentativa inútil de calar os gemidos que escapavam enquanto a mão direita
subia e descia na ereção úmida. Espalhando mais do lubrificante, do próprio
pré-gozo que escapava a mais enquanto admirava os namorados fazendo
amor diante de seus olhos cerrados.

Hoseok choramingava, os quadris estreitos e soltos subiam e desciam ainda


que cansados, moíam contra o colo do namorado, então ele também moía o
próprio pau entre os abdomes firmes. Estendendo o braço esquerdo, deixou
de lado os arranhões feridos nas costas de Yoongi, e tocou o queixo de
Taehyung.

— Não... Me quer também? - sussurrou sorrindo, puxando os lábios para o


canto da bochecha corada. Yoongi empurrou para cima, então ele abriu a
boca inchada pra gemer com a voz grossa, assentindo por mais. - Tae...

Taehyung sorriu ladino e estendeu a mão, os dedos cobertos de pré-gozo.


Segurou o pescoço de Yoongi para empurrar os dedos dentro da boca dele.
Hoseok depressa o beijou, lambeu os dedos alheios também, compartilhou
com Yoongi o sabor e logo estavam dentro de um beijo quase violento,
lambendo e mordendo a boca um do outro para o deleite do mais novo.

Tae estava prestes a gozar de novo.


Afagou o cabelo esverdeado de Yoongi, esfregou a mão entre as pequenas
orelhinhas pontudas de felino firmes graças às presilhas escondidas entre os
fios suados. Cheirou a pele da nuca dele, beijou cada um dos ombros magros
e pálidos. Entre os dentes grandes prendeu o couro da coleira preta e puxou
só para quebrar o beijo entre os outros dois, satisfeito com o ralhar manhoso
de um e malcriado do outro. Sorriu antes de virar o rosto do menor até que
pudesse o beijar, enfiar a língua dentro da boca pequena só pra brincar de
provocar.

A mão ágil de Hoseok logo alcançou a guia da coleira que deveria estar ao
redor de seu pescoço, mas não estava. Ele a enrolou na mão direita e fez o
mesmo com a segunda guia mais leve. As puxou, queria atenção. Yoongi e
Taehyung quebraram o beijo, praticamente rosnaram juntos com o solavanco
das coleiras que usavam, então isso fez Hobi sorrir agraciado.

— Você não me quer? - perguntou de novo a Taehyung.

— Amor, quero... Quero demais... Mas deixa o Yoon gozar primeiro.

— Não. - negando, Hoseok rebolou os quadris devagar.

— Seok... Caralho, isso... - apertou mais a cintura dele entre os dedos, usou
mais força.

— O Yoon deita na cama e você vem atrás de mim, mauricinho.

Taehyung e Yoongi levaram alguns segundos até compreender a intenção de


Hoseok. Os dois franziram as sobrancelhas, abriram os lábios de forma
confusa. Hoseok rolou os olhos. Ajeitando a postura afastou a franja suada
da testa com os dedos, ele apoiou as mãos sobre os ombros de Yoongi e saiu
do colo dele, gemendo baixo enquanto o menor negava.

— Que? Não... Amor!? - ralhou apontando pro próprio pau. - Vai me deixar
assim!? Eu machuquei você? Quer trocar?

— Não. Eu quero você dois. - Hoseok partiu pra cima de Taehyung, o


beijando no pescoço enquanto montava sobre suas coxas. - Yoon... Você vem
por trás, o Tae é muito afobado.
— Hoseok... Calma aí! Amor! - Tae o segurou pelo rosto, mas Hobi sorriu. -
Você quer, tipo, dupla penetração?

— Uhum. - assentiu.

— Assim? Agora? Seok, isso pode te machucar.

— Não vai machucar. Eu vi na internet um jeito de não machucar muito.

— Interessante o fato de que você tá pesquisando na internet como dar pra


nós dois ao mesmo tempo, fico tocado com o seu altruísmo, mas ainda
assim...

— Taehyung você quer me broxar? - ele bufou, então cruzou os braços.

— Você é a coisa mais linda do mundo bravo usando essas orelhinhas de


esquilo. - Yoongi o beijou no ombro.

— Ok, 'tá certo, eu não vou dar pra mais ninguém nessa porra! Que se foda
esse caralho! - ralhou, mas ao tentar sair do colo de Taehyung, teve a cintura
abraçada e o rosto atacado com beijinhos apressados. - Me larga!

— Puta que pariu, como eu te amo, Jung Hoseok. - o apertou no abraço. - A


gente vai tentar.

— Mas se não for bom pra você a gente para na hora. Ok?

— Ok. - assentiu sorrindo. - Vem Tae, quero sentir você.

Taehyung só pôde assentir antes de o beijar, antes de agarrar de mão cheia a


nuca dele e sentir entre os dedos o cabelo suado. Yoongi se adiantou com
mais lubrificante, lambuzando a própria ereção enquanto assistia Hoseok
erguer-se nas coxas para Taehyung encaixar entre elas.

— Vai meu marrento... - o mais novo sussurrou. - Se fode bem gostoso em


mim, devagar, me deixe sentir você engolindo inteiro.

— Tae... - Hobi arfou, as mãos apertaram o ombro alheio.


— Me diz como você quer eu e o Yoon dentro de você? Olha só você todo
sensível assim. - o sorrisinho atrevido fez Hobi grunhir.

— Filho da puta. - xingou antes de sentar lentamente, mas inteiro. Taehyung


arfou agarrado a ele, apertando os olhos com força. - Filho da puta gostoso.
- murmurou antes de gemer. - Yoon...

— Calma... Me diz o que fazer. - a voz grossa de Yoongi o excitava mais.


Hobi sentiu as mãos dele massageando os quadris e isso o fez relaxar mais e
começar a se mover lentamente no colo de Taehyung, dançar junto ao ritmo
da música que alcançava cada canto do quarto. - Seok-ah, você é tão guloso.
- disse contra o ouvido dele.

— Tae... Taehyung. - gemendo, o chamou baixo. - Você... Deitado.

Outra vez Hoseok enrolou a guia do mais novo dentro da mão. Taehyung
deitou contra os travesseiros e segurou a cabeceira com uma das mãos
enquanto a outra continuava afagando a coxa lisa de Hobi.

— O que eu tenho de fazer?

— Lubrifica os seus dedos, depois você... CARALHO! - gritou tombando o


corpo para frente, apoiando-se no peito tatuado do namorado. - Tae! Não faz
assim!

— Hobi... Eu preciso meter! - choramingou, seus quadris estavam


empurrando pra cima. - Amor...

— Fica parado, só enquanto o Yoongi me lubrifica mais. Só um pouquinho,


amor. - Tae assentiu respirando fundo. - Yoon, você vai fazer o que sempre
fez quando prepara a gente, seus dedos são longos.

— Se machucar...

— Eu sei. - Hoseok assentiu.

— Era uma vez três porquinhos...


— Taehyung, não conte em voz alta, imagina em silêncio. - Yoongi segurou o
riso. Ele sabia que o namorado estava imaginando qualquer coisa para poder
ficar parado.

Yoongi beijou as costas de Hobi quando ele se debruçou sobre o corpo de


Taehyung, beijou desde a nuca até o cóccix. O primeiro dedo entrou depois
da segunda tentativa, ele aproveitou a deixa para massagear as bolas de
Taehyung do jeito que ele tanto gostava.

Hobi beijava os lábios de Taehyung, mas o mais novo sequer se movia e


apertava os olhos com força.

— Amor... Me beija.

— Os três porquinhos Hoseok, me ajuda! Não faz assim... - choramingou


quando o sentiu mexer. Os dois dedos de Yoongi pressionavam também nele,
deixava mais apertado, mais gostoso. - Puta que pariu.

— Mexe... Um pouquinho.

— Não dá pra mexer um pouquinho. - o apertou mais na coxa, a outra mão se


prendeu mais ainda a cabeceira. - Porque eu preciso foder você com força,
foder esse rabo apertado do caralho até te deixar com as coxas assadas... -
sussurrou contra a boca de Hobi. - Porra Yoongi. Porra. Porra. - o corpo
grande tremeu inteiro quando Yoongi o segurou a coxa, erguendo até expor a
entrada intocada. Yoongi massageou ao redor da entrada e forçou o polegar
lubrificado ali. - Os porquinhos são três, vocês têm noção da barbaridade
que eu tô imaginando nesse momento?

— Seu ridículo. - Hobi riu baixinho e lhe mordeu o pescoço. - Vem Yoon,
devagar.

Yoongi assentiu e se masturbou um pouco antes de apoiar a mão inteira


contra a lombar de Hoseok. O lábio inferior foi preso entre os dentes
pequenos, ele se encaixou no mesmo lugar onde Taehyung estava e passou a
empurrar devagar.
Hobi fechou os olhos depois de esconder o rosto no pescoço de Tae, as
mãos se agarraram ao lençol embolado. Respirou profundamente, tentou
relaxar cada músculo do corpo.

Mas o silêncio dele estava preocupando os outros dois.

Tae encarou Yoongi e assentiu para que continuasse, a mão subiu para afagar
a lombar do namorado, massagear com a ponta dos dedos.

— Seok? - o menor o chamou.

— Continua. - disse de forma abafada.

Yoongi continuou devagar, arfando a cada polegada conquistada. O que era


sempre apertado parecia dez vezes mais. Ele sentia Hoseok e Taehyung,
sentia o aperto e a rigidez das veias alheias. Quando encostou a pélvis nas
nádegas de Hobi, gemeu demoradamente.

Taehyung segurou mais a cabeceira e segurou a nuca de Hoseok, erguendo o


rosto dele para si.

— Hey, 'tá tudo bem? - os olhos marejados o assustaram um pouco. -


Hoseok... 'Tá doendo? Vamos parar, Yoongi para.

— Não... Não!

Yoongi se puxou para fora e Tae fez o mesmo, logo deitando Hobi ao seu
lado. Hoseok resmungou, seu corpo estava tremendo, mas ele parecia
irredutível.

— Abre o chuveiro e molha uma toalha limpa na água morna, Tae.

— Não precisa... Para com isso! - Hoseok encolheu as pernas, de repente


sentia vergonha sem saber do que. - Para com isso, eu tô bem! - negou
quando Yoongi abriu suas pernas com cuidado, tentando ver melhor. -
Yoongi!

— A gente machucou você. - lamentou de forma nervosa. Quase brava. -


Seok... Você devia ter falado!
— Eu ia aguentar. - teimou.

Taehyung não estava mais na cama, então eles ouviram o chuveiro aberto.

— Para com isso Hoseok! A gente nunca teve problemas com isso! De falar
de sexo ou essas coisas. O que está rolando contigo? - Yoongi vestiu de
volta a cueca preta e puxou do cabelo as orelhas de gato da mesma cor. -
Quer água?

— Não. - negou emburrado. Estava sentindo bastante dor e isso estava


estampado na carranca teimosa. - Quero... Um pouco.

Yoongi rolou os olhos e buscou a garrafinha de água que estava sobre o


móvel para entregar a ele. O viu beber quase tudo e depois secar os lábios
com as costas da mão. Taehyung saiu do banheiro e não estava mais nu,
vestiu a bermuda que pertencia a ele. A toalha úmida estava nas mãos, ele
sentou na cama e esperou.

— Não precisa disso, 'tô bem.

— Hoseok... Eu sei que você tá puto. Você sempre fica puto quando não
consegue fazer alguma coisa, mas amor. - Tae suspirou. - A gente tenta
depois, isso não é tão importante assim. Ou você não gosta do nosso jeito de
fazer amor?

— Lógico que gosto. Eu amo. - ele assentiu. - Mas eu achei que ia ser bom,
quer dizer... Quando eu li as pessoas diziam que era bom.

— Isso não quer dizer que vai ser bom pra gente também. - Yoongi, de
joelhos sobre o colchão, tirou carinhosamente as orelhinhas presas ao cabelo
do namorado. - Você não precisa ficar pesquisando essas coisas, a gente
decidiu deixar tudo acontecer como tem de acontecer. Fazer amor com vocês
dois sempre é gostoso porque a gente se ama.

— Se é algo que você quer de verdade, tentamos depois, a gente vê outras


formas, procuro até um daqueles métodos de encolher pênis.
— Cala a boca! - ele o empurrou com o pé. - Aí! - a careta de dor arrancou o
sorriso dos lábios de Yoongi.

— Deixa a gente cuidar de você. Deita aqui.

Ajeitando os travesseiros, fez Hobi deitar sobre eles de barriga para baixo.
Sob os quadris colocou um para que empinava a bunda para cima. Hobi
encolheu os braços sobre o peito e fechou os olhos ao sentir os beijos
calmos de Yoongi em suas costas. Segundos depois o calor morno da toalha
macia cuidadosamente encostada onde estava doendo.

— A gente dá um banho nele e depois um relaxante muscular. Você pode dar


banho enquanto eu arrumo tudo aqui? Quero trocar os lençóis, Tae.

— Será que o Jin-hyung deixa ele usar a banheira?

— Vou perguntar. Já voltou.

Quando Yoongi saiu, vestindo uma camiseta larga, Tae deitou ao lado de
Hobi e apoiou o corpo no cotovelo direito. Afastou a franja suada que cobria
os olhos castanhos que o encararam de volta: envergonhados e cheios de
lágrimas.

— Eu amo que você seja marrento e teimoso, mas isso acaba te machucando.
Por favor, promete que nunca mais vai fazer isso, eu odeio te machucar.
Hoseok, nenhum de nós precisa ser malabarista sexual...

— Só o Jimin. - brincou.

— Você não vai querer saber que ele e o Jungkook são praticamente Cirque
du Soleil...

— Calado! - mandou. Tae sorriu.

— Eu amo você. Yoongi ama você. E isso já faz o nosso sexo ser o melhor
do mundo. A gente faz amor...

— E fazer amor não machuca. - completou. - Eu não queria terminar todo


arregaçado com toalha morna na bunda, desculpa.
— Não me faz rir. - pediu negando duas vezes. - Se você quer mesmo fazer
desse jeito a gente tenta, mas com mais cuidado. Vai que essas toalhas
mornas encolhem mais a sua bundinha linda.

— Vai tomar no cu, idiota! - brigou, mas Tae o abraçou de lado, com
carinho. - Eu amo você.

— Eu sei. - piscou, se fazendo. - Te amo também, meu Sol.

Selou os lábios aos de Hoseok, então Yoongi - que os observava da porta -


concluiu naquele momento que não adiantava absolutamente nada sentir
medo sozinho, se os outros dois podiam ser corajosos junto dele.

Ele não ia omitir nada. Nunca mais.

— Bom dia, Jimin-ssi. - Jimin resmungou. - Acorda, vai.

— Não. - ele negou com a cara enfiada no travesseiro.

— Já são nove horas, você tem de acordar.

A voz de Jungkook estava estranha, muito mais contida e baixa. Jimin até
estranhou, mas estava sonolento demais para se atentar mais. O mais novo
ajoelhou na cama para afagar o cabelo longo do namorado.

— Jimin?

— 'Tá muito cedo... Por que você já acordou? A gente quase não dormiu...
Você me arrebentou ontem-

— Jimin! - interrompeu. - É o seu aniversário. Acorda!

— Tem outro presente pra mim? - brincou enquanto as mãos se esticavam


para tocar o namorado. - Você 'tá peladinho pra mim é? Quer fazer
amorzinho de bom dia? Vem aqui, meu bebê.

— Jimin...
—Bom dia, Jimin.

A voz grossa de Kisung fez Jimin abrir os olhos de uma vez. Ele encarou
Jungkook e o viu vermelho feito um tomate maduro. Sentou na cama, tomando
cuidado para não mostrar demais e só então encarou os pais de pé perto da
cama.

— Bom dia. - sorriu coçando a nuca. - Que surpresa! Appa, omma... Oi.

Jungkook, já de pé próximo ao banheiro, poderia explodir de tanta vergonha.

— Adoro te pegar de surpresa, sabia? - Minji se aproximou para beijar a


testa do filho, depois o encarou com atenção e sorriu. - Feliz aniversário,
meu príncipe.

— Obrigado omma. - sorriu de um jeito lindo, Jungkook acabou sorrindo


junto.

— Feliz aniversário, filho. - Kisung fez o mesmo. - Nós viemos para


almoçarmos juntos no seu lugar favorito, todos... Seus irmãos estão lá
embaixo.

— Sério? - sorriu mais.

— Foi ideia do Jungkook. - Minji apontou para o garoto. - O meu genrinho


ligou há uns dias e perguntou se era possível vir pra cá. Nós só vamos ficar
até a noite, quero te ver cantando hoje.

— Omma... Obrigado! Muito obrigado! - Jimin não se importou de estar


apenas vestindo cueca, ele praticamente pulou em cima dos pais que o
encheram de beijos e carinhos. - Vou cantar a música de vocês dois hoje.

— 'Tá vendo? Ele lembra da música e você não, Kisung!

— Antes que essa situação vire contra mim. - o Park mais velho
desconversou. - Aqui, o seu presente, Jimin.

— Meu presente é vocês dois aqui.


— Tem certeza? - Kisung mostrou a ele um chaveiro simples onde duas
chaves novas estavam presas. - Tem? - provocou.

— O que é isso? Hm? Eu quero sim! O que é? - pegou as chaves e Minji


abraçou o marido, apoiou a cabeça no ombro dele.

— Um apartamento. - a mulher explicou. - No centro da cidade, é um ótimo


condomínio.

— Você precisa ter um lugar pra quando se formar, eu já me conformei que


nem você ou a sua irmã querem se fixar em Busan. - Kisung fingiu tristeza. -
É espaçoso, mas se você não gostar pode escolher outro. Não tem nada ainda
lá, sua omma achou melhor que você escolhesse suas coisas.

— Meu Deus! Nossa! Nem sei o que dizer! Muito obrigado! - Jimin estava
muito feliz enquanto abraçava os pais outra vez. - Obrigado de verdade! Eu
adorei. Obrigado por confiar em mim.

— Vai tomar um banho. Alguém preparou um café da manhã pra você e a


gente não quer atrapalhar mais. - Kisung piscou pra Jungkook que ficou mais
envergonhado. - Depois almoçamos juntos. Até mais tarde, crianças.

— Até mais tarde meu príncipe, até mais tarde Jungkook-ah.

— T-Tchau. - acenou um pouco, a mão tatuada escondia dentro da manga do


moletom preto. - Senhor e senhora Park.

Quando eles saíram, Jimin encarou as chaves e se virou para o namorado.

— Seu traiçoeiro! - acusou de brincadeira.

— Eu não ia conseguir te dar um presente legal de verdade, então-

— Que presente é melhor do que esse? Minha família, meus amigos e o meu
amor junto de mim? - abraçou-o pela cintura. - Oi.

— Oi. Feliz aniversário. - desejou o abraçando de volta. - Eu te desejo as


melhores coisas do mundo pra sempre, todos os dias.
— Se você ficar comigo pra sempre eu vou ter a melhor coisa do mundo
todos os dias.

— Isso eu faço com certeza. - assentiu antes de selar os lábios aos do menor.
- Amo você. Amo sua voz rouca quando acorda, amo esses olhos
pequenininhos, esse bafo azedo e essas remelas grudentas.

— Amor, sério, não fica conversando muito com o Taehyung. - cobriu a boca
com a mão, o maior sorriu. - 'Tá ficando igual a ele.

— Te espero lá embaixo. - avisou quando Jimin se trancou no banheiro.

— O meu presente é o maior! - Jin anunciou enquanto colocava a caixa


amarela sobre a mesa. Era grande, mas parecia leve. - Você abre por último.

— Então sai daqui hyung, que agonia. - Yoongi entregou a Jimin um


embrulho elegante. - Meu e do Holly. - o cachorrinho em seu colo latiu
quando ouviu o dono falar. - Holly que escolheu.

Jimin abriu o embrulho e sorriu grato para a jaqueta de couro preto.

— Uau, ela é linda! Obrigado hyung. - o abraçou.

— Aqui, feliz aniversário Jiminie. - Hoseok entregou a ele um LP antigo


dentro de um laço azul. - Demorei, mas achei.

— Não acredito! Onde você achou?! Eu 'tô há anos procurando! - Jimin


estava maravilhado com o LP original The Dark Side Of The Moon. Até
mesmo os pequenos defeitos em uma das pontas mostravam o quanto era
antigo. - Porra, Hobi-hyung! Muito obrigado! - o abraçou.

— Eu ganhei, Jin-hyung. - piscou para o mais velho.

— Veremos.

— Feliz aniversário Jimin. Espero que goste. - Namjoon o entregou um


pequeno embrulho quadrado. Uma caixinha. Jimin se animou mais com o
único figure action que faltava para sua coleção do quarto arco de One
Piece.

— Obrigado, Moni. - sorriu depois de beijá-lo na testa. - Cadê o meu


presente? - perguntou a Taehyung.

— Minha amizade já é um presente pra você.

— Para de enrolar, cadê? Eu sei que você preparou alguma coisa. - estreitou
o olhar.

— Te dei o seu presente ontem, não bastou o Jungkook todo safadinho-

— Hey! Hey! Cala essa boca linda, meu amor. - Hoseok cantarolou de olhos
arregalados.

— Vai logo Taehyung, me dá o meu presente! - Jimin bateu o pé.

— Que macho mais chato! - ele tirou do bolso uma folha de sulfite dobrada e
um pequeno cartão de visitas. - Aqui. A gente vai lá amanhã.

Jimin abriu a folha e sorriu. Depois reconheceu o cartão de visitas e abraçou


o melhor amigo.

— Não entendi. - Jin murmurou.

— Muito menos eu. - Yoongi deu de ombros.

— Deve ser coisa de soulmate. - Namjoon completou.

— Tae desenhou algo que liga nós dois, então vamos tatuar juntos. - o
aniversariante explicou animado.

— Eu ganhei. - Tae piscou para todos.

— Veremos! Aqui Jimin, abre a caixa. Com cuidado!

Jungkook estava ansioso, ele sabia o que tinha dentro da caixa.


Jimin abriu com cuidado e sorriu para o conteúdo antes de pegá-lo no colo
para fazer carinho.

— Eu e o Jungkook achamos ele num abrigo. Quando eu falei sobre te dar


um, queria comprar, mas esse garoto faltou dar na minha cara, me senti
horrível!

— Desculpa hyung. Mas comprar não é legal. - o mais novo explicou.

— Agora eu sei disso, obrigado JK. - bagunçou o cabelo dele. - A gente foi
até um abrigo e esse carinha meio que grudou na perna do Jungkook, então eu
concluí que se ele gostou tanto assim do Jungkook é porque com certeza tem
muita coisa em comum com você.

— Ele é tão lindo e pequenininho. - Jimin disse baixinho enquanto o filhote


de gato siamês tentava escalar sua camiseta. - Oi carinha.

— Já fizemos todo o necessário de cuidados com ele, compramos ração e


essas coisas. Ele pode dormir junto do Holly.

— Holly não gosta de gatos.

— Mas ele gosta de você, Yoon.

— Apresenta eles depois, explica que são amigos. - Jungkook sugeriu


enquanto também brincava com o gatinho. - Que nome você quer dar pra ele,
amor?

— Não sei. Você gosta de algum nome?

— Meu deus eu sou avô. - Hoseok disse observando o casal. - Jin você fez a
gente ser avô.

— Avô? Jungkook vamos devolver esse gato agora mesmo, eu não tenho
idade pra ser avô de ninguém! - negou pegando a caixa. - Bota ele aqui de
volta, não deu tempo de se apegar.

— Para hyung, deixa eles. - Namjoon, que estava rindo, o puxou para perto. -
Olha que bonitinho.
O gatinho cheirou a bochecha de Jimin e depois o nariz de Jungkook. O casal
sorriu.

— Jikook. - Taehyung disse do nada.

— Quem?!

— Jikook. Jimin e Jungkook, Jikook. O nome do gato.

— Gato não. Respeita o seu afilhado, Tae!

— Agora pronto! Vou batizar um gato. - ele cruzou os braços.

— Jikook é legal, né? Você gosta Jimin-ssi?

— Gosto. Lembra a gente. É o Jikook. - trocaram um selinho.

— Posso me retirar? Eu não gosto de viadinhos românticos. - Tae provocou,


então Jimin atirou nela a tampa da caixa do presente. - Agressivo!

No restaurante favorito de Jimin, um que se localizava dentro de um dos


hotéis mais antigos da cidade, os Park esperavam ansiosos a chegada do
casal. Jungkook estava nervoso.

— Tem certeza que essa roupa 'tá legal?

— Bebê, você está confortável com essa roupa?

— 'Tô. - assentiu depois de o Uber os deixar às portas do hotel.

— Então ela está ótima. - sorriu ajeitando o cabelo no coque apertado. -


Relaxa, é só um almoço.

Jimin o beijou nos lábios e de mãos dadas entraram no hotel, indo direto
para o restaurante que estava quase vazio por ser um dia comum. O
aniversariante sorriu ao ver os pais, mas o semblante passou a ser sério
quando notou as outras pessoas à mesa.
— Olha, eles chegaram! - Jihyun foi o primeiro a abraçar o irmão mais
velho. - Feliz aniversário hyung. Que saudade!

— Você some, moleque, parece cigano. - o abraçou de volta. - Jihyun, esse é


o Jungkook, meu namorado. Amor esse é o meu saeng.

— O famoso Jungkook! E aí, tudo bem? - o garoto sorriu estendendo a mão. -


Ah, desculpa... Esqueço de me curvar, acho que passei tempo demais no
ocidente. - sorriu.

— Tu-Tudo bem! Muito prazer! - Jungkook apertou a mão dele.

— Feliz aniversário meu bolinho mais lindo! - Solar abraçou Jimin com
carinho, enchendo-o de beijinhos. - Ainda lembro quando você jogava
papinha na minha cara e comia minha maquiagem.

— Oi noona. - ele sorriu.

— Cunhadinho lindo! - abraçou Jungkook. - A cada dia mais bonitão! Você


já pensou em ser modelo? Posso te conseguir-

— Oi, noona. - Jungkook gostava muito de Solar, mas estava tímido. A


energia dela o intimidava.

— Depois você tenta inserir o Jungkook no mundo da moda, noona. Vamos


comer primeiro.

— Oi Jimin, feliz aniversário campeão. - Eunwoo cumprimentou o sobrinho


com um sorriso educado. Estava bem vestido como sempre e seus olhos
estreitos logo estavam sobre Jungkook. - Olá.

— Jungkook... Esse é o meu tio Eunwoo. - Jimin apresentou, mas havia tanta
tensão em sua voz que foi impossível Jungkook não notar.

— Muito prazer Jungkook-ssi. Está e minha filha Jihyo, prima de Jimin. - a


adolescente acenou e sorriu. Era muito bonita. - E minha esposa Hyo.

Jungkook franziu o cenho ao reconhecer Hyo, rapidamente se curvou em


máximo respeito.
— Professora Kim.

Jimin encarou a mulher com seriedade.

— Não precisa se curvar assim, Jungkook. Estamos em família. - Hyo estava


nervosa, as mãos delicadas suavam sem parar. - Parabéns Jimin, feliz
aniversário querido.

— Obrigado.

— Jimin-oppa! Feliz aniversário! - a menina, Jihyo, se aproximou para


entregar a ele um pequeno embrulho rosado. - Espero que goste!

— Claro que vou gostar, Jiji. - ele sorriu. - Vem aqui, me dê um abração!

Jihyo sorriu o abraçando apertado.

Jungkook sorriu. Aquela garota o fazia sentir vontade de sorrir.

Yoseob ocupou a cabeceira da pequena mesa de jantar depois de abrir o


paletó claro. Taewoo terminou de beber o vinho branco da taça e sorriu para
ele.

— Boa tarde.

— Boa tarde. - o mais velho cumprimentou de volta. - Recebi sua ligação há


pouco, por isso me atrasei.

— Não há problemas. - Taewoo negou. - Eu pedi por esse encontro para


dizer que as coisas logo vão se normalizar. Sobre o assunto que tratamos há
algumas semanas.

— Posso saber como?

— Claro que sim. - sorriu gentilmente. - Gostaria de beber alguma coisa?

— Não. Obrigado.
Yoseob observou atentamente quando Taewoo chamou de volta a garçonete
uniformizada para pedir a ela outra taça de vinho, também observou o olhar
indecente do jovem homem para as costas da garota.

— Você é casado, Taewoo-ssi?

— Perdão? - franziu as sobrancelhas.

— É casado?

— Eu? - riu baixo. - Não. Ainda não encontrei a mulher certa para o
matrimônio, mas já avisei a minha omma que aceito quem ela escolher. Os
pais sempre sabem o que é melhor para os filhos, eu sei que minha omma vai
escolher uma mulher boa. - assentiu. - O senhor comentou sobre fazer isso
com o seu filho...

"— Eu sei o que é melhor para você Yoseob.

— Abeoji, por favor... Eu só quero ir pra casa...

— Vai voltar quando estiver curado!

— Eles me machucam aqui... Todos os dias... Por favor.

— É para o seu bem! Eu só quero o seu bem!"

— Yoseob-ssi?

— O que?

— Está bem? - Yoseob encarou Taewoo e depois a garçonete que o encarava


com curiosidade. - Parecia estar em outro lugar.

— Perdão. Ando trabalhando muito, final de ano letivo consome muito de


minha atenção.

— O senhor gostaria de pedir alguma coisa?

— Sim. Uísque com gelo, obrigado.


A mulher assentiu antes de sair. Taewoo estreitou o olhar para o homem
diante de si. Yoseob guardava segredos e infelizmente Kim Taewoo era
incrível em ler as pessoas. As mãos do Jung tremiam brevemente enquanto o
nó da gravata cinza era puxado a cada dois minutos. Era interessante.

— Como eu dizia, vou contar ao senhor o que estou fazendo para acabar de
vez com a brincadeirinha inconsequente do meu irmão, seu filho e o tal
Yoongi. - Yoseob assentiu. - Eu sei de muitas coisas que Taehyung fez
porque eu era encarregado de apagar o nome dele de qualquer confusão ou
problema para dessa forma poupar o nome da nossa família. Infelizmente
meu irmãozinho era propício a problemas, então ainda guardo uma porção de
pequenos processos que não dariam em nada se desenterrados.

— Então?

— Então que quando faltavam alguns dias para completar a maioridade,


Taehyung se juntou com os amigos, que insistiam em interagir para chamar
atenção, para assaltar um pequeno comércio no subúrbio de Daegu. Ele sabe
dirigir desde muito novo, ficou encarregado da fuga no veículo de um dos
outros garotos. O plano era entrar lá, roubar uns trocados do caixa e algumas
garrafas de bebida, mas uma das meninas pirou... Ela estava armada e atirou
num dos funcionários do lugar... Taehyung não sabia o que tinha acontecido,
ele dirigiu quando os amigos voltaram pro carro e estranhou o nervosismo
deles. - a garçonete serviu as bebidas e se retirou. - Três dias depois,
quando ele já era maior, o cara morreu no hospital.

— Você apagou isso?

— Meus pais quase perderam o controle. Sabe, eu sou a pessoa mais


centrada dessa família. - sorriu debochado, bebericando do vinho. - Dei um
jeito do nome dele aparecer de forma leve no processo, eu o salvei... Mas
quando pedi algo em troca... Digamos que Taehyung é muito egoísta.

— Vai usar isso para chantageá-lo? - Yoseob bebeu do uísque.

— Taehyung? - negou. - Ele não vai dobrar com isso, mas os outros dois
vão.
— Como assim?

— Yoseob-ssi, eu sou muito bom em observar. - se gabou. - Passei alguns


dias observando-os, anotando as rotinas de cada morador daquela república
depois de me dar os nomes. Obrigado por isso. - sorriu. - E sabe o que eu
notei?

— Não sei.

— A fraqueza. A maior fraqueza da humanidade. Sabe qual é? - Yoseob


franziu o cenho. - O amor. Eles se amam. Talvez isso o irrite, mas o seu filho
ama Yoongi e Taehyung... Percebi em cada olhar ou toque... Não faz a
mínima ideia, mas Taehyung nunca deixou outra pessoa tocar como o seu
filho ou Min Yoongi o tocam. Chega a ser invejável. - bebeu mais do vinho.

— Então vai chantagear Hoseok e Yoongi?

— Já estou o fazendo. Min Yoongi me parece ser o mais fraco, então eu o


procurei primeiro.

— Isso... O que está fazendo... Tem certeza que vai conseguir separá-los? -
ele bebeu de uma vez o que sobrava do uísque. Taewoo assentiu. - Hoseok
ama Yoongi desde muito novo. Eu sei. - voltou a observar as próprias mãos
ao redor do copo vazio.

— Ele também ama Taehyung. Yoseob-ssi, sabe que isso vai machucá-lo,
não sabe?

— Eu sei. Mas... É isso que o amor faz... Machuca. - lambeu os lábios. - É


para o bem dele. Isso passa.

— Eles são jovens. Os dramas da paixão depois acabam virando só isso...


Drama. Eu vou procurar Hoseok em breve... Tem alguma dica sobre como
lidar com ele?

— Hoseok. - sussurrou o nome do filho. - Ele se parece muito comigo...

— Isso é uma dica?


— Um aviso. Tenha cuidado.

Taewoo assentiu sorrindo. O olhar forte observando e avaliando cada gesto


de Yoseob. Era o mesmo homem com o qual conversava semanas antes, mas
muitas coisas eram diferentes. Agora havia uma sombra por trás do olhar
frio daquele homem.

— Eu vou ter cuidado Yoseob-ssi. Obrigado por me dizer.

Jungkook observou o prato quase vazio e arregalou os olhos deixando de


lado os hashis sujos. Jimin afagou sua nuca, ele não parava de tocá-lo.
Parecia o proteger o tempo todo. A família Park conversava de forma
íntima e animada, trocavam lembranças engraçadas e constrangedoras para o
aniversariante que odiou quando a irmã mais velha falou sobre seu pequeno
problema de xixi da cama até os oito anos.

— Quer sobremesa? O sorvete de chocolate que eles fazem aqui é incrível.

— Você não comeu muito. - sussurrou de volta.

— Amor, você me fez comer um monte de panqueca no café, eu ainda me


sinto cheio. - Jungkook o encarou sério. - Não tô mentindo, eu juro. - beijou
a mão dele.

— Jimin... Por que não me contou que a professora Hyo é sua tia?

Jimin o encarou nos olhos, abriu a boca uma vez e a fechou, lambendo os
lábios em seguida.

— Eu não achei importante... Devo ter esquecido. Ela trabalha na


universidade há um bom tempo, eu até esqueço porque não costumo vê-la no
meu curso. - sorriu um pouco. Jungkook estranhou o nervosismo na voz dele.

— Yeri-ah brinca que essa professora gosta de mim. - confessou tentando


deixá-lo menos tenso. - Porque ela sempre 'tá me encarando nas aulas... O
tutor do projeto me disse que ela me indicou.
— Ela deve ter visto potencial em você, bebê.

— Você acha? Nossa, Hyo-ssi é uma ótima professora, fico honrado que ela
veja potencial em mim. - sorriu de forma orgulhosa. O coração de Jimin
estava apertado. - A sua prima é engraçada.

— Jihyo tem uma personalidade boa.

— Jimin, você gostou do apartamento? - Eunwoo questionou ao sobrinho.

Jungkook encarou aquele homem por algum tempo. Era bonito e bem vestido,
dono de uma postura impecável.

— Gostei sim. A gente passou lá antes de vir aqui, já tive algumas ideias. -
ele deu a mão a Jungkook, entrelaçou os dedos aos dele.

— Quero saber se vou ganhar um também quando tiver a idade do hyung.

— Você nem para no país, Jihyun! Filho ingrato. - Minji bateu com o
guardanapo. - Parece um andarilho.

— Vocês namoram há muito tempo? - Hyo se dirigiu a Jungkook. Minji não


sorriu mais, ela sabia o que a cunhada estava fazendo. E não gostava.

— Um mês.

— Mas a gente sai há mais tempo. - Jimin se meteu. - Praticamente desde


quando ele se mudou para a república.

— Jungkook é um dos melhores alunos do curso de informática. - elogiou.

— Hyo me contou que você vai ser patrocinado pela universidade... Num
projeto. - Eunwoo comentou. - Algo sobre um aplicativo de banco de dados
para grandes empresas de segurança privada.

— É... Eu e meus dois colegas Yeri e Yugyeom. - explicou. - Eu desenvolvo


a parte de dados e códigos... A universidade 'tá conversando com mais
patrocinadores...
— Eu sei. - o Park mais jovem assentiu. - Na segunda passada eu assinei
como patrocinador.

— O que? - Jimin foi um pouco grosseiro.

— Obrigado Park Eunwoo-ssi. - Jungkook ficou de pé para se curvar em


agradecimento.

Jimin estava ficando nervoso.

— Não faça isso querido, por favor... Não se curve assim. - Hyo negou, mas
antes que suas mãos pudessem tocar os ombros do filho, Jimin a olhou
negando. - Está tudo bem, eu disse ao meu marido que o seu projeto tem base
e só precisa de patrocinadores.

— Obrigado Hyo-ssi. Muito obrigado. - ele sorria de forma estonteante.


Aquele projeto significava muito.

Jimin trocou um olhar com Solar.

— Cunhadinho lindo, você pode me acompanhar até o bar? Quero pedir


alguma bebida bem exótica e gostaria da sua ajuda. Jimin me disse que você
bebe bem!

Já de pé, Solar agarrou o braço de Jungkook, tagarelando sobre frutas


exóticas. Jimin, os vendo longe o suficiente, jogou o guardanapo sobre a
mesa e passou as duas mãos por todo o rosto.

— O que vocês estão fazendo?!

— Jimin, eu sou grato que tenha o trazido até aqui, mas quero lhe pedir para
nos deixar fazer as coisas da forma que planejamos. - Eunwoo encarou o
sobrinho.

— E eu quero que você vá pro-

— Jimin! Respeito. - Kisung o chamou atenção. - Respeite o seu tio.


— Essa é a pior forma que pode existir pra tentar se aproximar de alguém!
Vocês estão comprando a vida dele, os projetos dele! Como vocês acham
que ele vai se sentir quando souber que tudo que achou conseguir sozinho na
verdade foi facilitado por vocês?!

— Do que ele está falando, omma? - Jihyo estava confusa.

— Jimin, por favor... - Hyo o encarou enquanto afagava o cabelo da filha. -


Não aqui.

— O que você quer dele?! Você quer que ele te perdoe? Então para de
mentir pra ele!

— Nós não somos os únicos mentindo aqui, Jimin. - Eunwoo jogou


friamente.

Jimin o encarou. Sentia culpa demais.

— Não estou fazendo isso pra proteger vocês! Estou fazendo isso por
Chinrae-hyung.

— E no fim do dia somos todos mentirosos...

— Chega!

— Jimin... Não vai embora, é o seu aniversário...

— Desculpa. omma, desculpa appa... Jihyun... Jihyo. - se dirigiu a cada um


deles. - Só vou estragar o resto do meu dia continuando aqui. Obrigado pelo
almoço.

Jimin foi até o bar para dar um beijo na irmã e pegar Jungkook, que sem
entender os motivos, apenas o seguiu para fora do hotel.

FLASH BACK ON

31 de dezembro de 1986, Gwangju.


Era interessante observar o próprio reflexo no espelho grande da sala de
estar, mesmo que na maioria das vezes isso rendesse sustos bobos quando
atravessava o cômodo de madrugada para ir até a cozinha.

Era ano novo, a casa estava cheia de pessoas, mas ainda assim, Yoseob só
precisava de uma pessoa.

— Ajeite essa camisa, está tão amassada. - a voz gentil, porém autoritária,
de Jiyoon o fez assentir depressa enquanto desamassava a frente da camisa
branca. - Fique perto, o seu appa quer lhe apresentar a filha de um amigo.

— Omma-

— Seu rosto está imundo. - a mulher reclamou. - Anda, vá lavar o rosto e


fique longe dos doces se não sabe como comê-los direito. - o empurrou um
pouco em direção ao quarto.

Yoseob suspirou e obedeceu.

Aos dezesseis anos sentia-se sufocado porque a cada dia os pais o cercavam
mais com obrigações voltadas ao único filho. E ele os amava demais para
simplesmente desobedecer.

— Bu!

— Ah!

O riso rouco logo se espalhou por todo o quarto organizado. Yoseob


respirou fundo, a mão esquerda espalmada sobre o peito. O garoto um pouco
mais velho pulou para dentro através da janela grande que dava diretamente
a uma laranjeira tão alta e velha quanto aquele casarão secular. Também
vestia roupas de festa, mas eram mais confortáveis que as suas. Syuk sorriu
jogando o corpo na cama de solteiro do melhor amigo.

— Você é muito medroso. - zombou o encarando.

Yoseob desviou o olhar. Encarar Syuk por muito tempo lhe deixava
estranho.
Bang Syuk, apenas um ano mais velho, era seu amigo desde o jardim de
infância. Também era aquele que o fazia sentir confortável em qualquer
lugar.

— Por que você fica me assustando desse jeito, hyung?

— Acho fofo quando você arregala os olhos castanhos. - sorriu.

Syuk era bonito. Muito bonito. Yoseob sabia disso porque grande parte das
garotas do colégio mandavam cartas e presentes, até mesmo lanches
deliciosos que o mais velho fazia questão de compartilhar com ele. Ele
sabia que Syuk era bonito porque também achava isso.

— Omma descobriu que eu comi alguns doces.

— Seria impossível não descobrir. Venha aqui, Yo. - o chamou com a mão
para sentar ao lado dele na cama. Yoseob sentou ali e o encarou de perto. -
Seu rosto está sujo de geleia. - usou a ponta do polegar para esfregar a
geleia que sujava uma das bochechas de Yoseob. - Não fique corado assim.

— Desculpe...

— Eu li o conto que você escreveu, aquele sobre borboletas e jardins. Está


incrível.

— Diz isso pra zombar de mim, eu sei hyung. - negou.

— Eu não minto pra você nunca. - sorriu depois de limpar o rosto bonito. -
"Depois de renascer de um casulo obscuro, a borboleta bate as asas
apenas para morrer em um jardim qualquer...!

— "É um ciclo... Triste." - Syuk assentiu. - Isso é tão fúnebre.

— Eu gosto da forma que você observa as coisas ao redor, gosto de


conhecer o mundo através das suas palavras Yo. - os dois, sentados lado a
lado, encararam os pés alheios.

Yoseob estava nervoso, havia borboletas demais dentro de seu estômago.


Então, quando Syuk ficou de pé para ir até o som sobre a cômoda, sorriu ao
vê-lo sacar do bolso da calça uma tape nova.

— Eu gravei ontem.

— Sozinho?

— Meu hyung ajudou com a bateria. - ele deu play e os primeiros acordes da
música baixa puderam ser ouvidos. - Você me disse que é a sua favorita.

— Hyung... A porta.

Syuk assentiu e se apressou para trancar, depois ele estendeu a mão e sorriu.

— Dança comigo?

— Hyung... A gente... - Yoseob mordeu o lábio inferior.

— Vem, 'tá tudo bem. - assentiu. E bastava aquilo. Yoseob se sentia tão
seguro.

Ele deu a mão ao melhor amigo e ficou de pé para se aproximar dele. As


mãos trêmulas agarraram a camisa do mais velho, o tecido macio sobre os
ombros dele enquanto as mãos alheias tão carinhosas começaram a afagar
suas costas.

— Sua voz é tão bonita cantando, hyung. - confessou. - Parece até a voz
desses cantores famosos. - riu um pouco.

— I gotta tell you what I'm feeling inside, I could lie to myself, but it's
true... There's no denying when I look in your eyes... Boy... I'm outta my
head over you. - Syuk cantou enquanto os olhos estreitos encaravam
Yoseob. - O seu coração 'tá batendo rápido demais.

— Eu sei. Isso sempre acontece quando a gente fica perto assim. Hyung... A
gente é homem...

— É. Isso te assusta? Eu te falei do meu primo, ele é gay. Você entendeu


naquele dia?
— Entendi. - assentiu. - Você não disse garota quando cantou, você disse
garoto. - Syuk sorriu. - Você gosta de homens?

— Eu gosto de você, Yo.

— De mim?

— É. Você gosta de mim? - Yoseob sentiu o rosto esquentar mais, então


assentiu uma vez. - Fecha os olhos, meu poeta.

Sorriu antes de obedecer, fechou os olhos com força e só então sentiu os


lábios de Syuk sobre os seus.

O primeiro beijo de sua vida. O beijo de seu primeiro e único amor.

FLASH BACK OFF

Dahye respirou fundo antes de entrar no escritório. Ela deixou sobre a mesa
de mogno escuro a bandeja com o jantar e encarou as costas do marido que
continuava parado no mesmo lugar há horas: diante da janela.

— Trouxe o jantar.

— Eu não estou com fome, obrigado.

Ela o viu servir outra dose de uísque, então se aproximou para tocar suas
costas com carinho.

— Dahye...

— Hm. - respondeu com a testa apoiada no ombro alheio.

— Você é feliz?

— Sou.

— Inteira? Você é inteiramente feliz? O tempo inteiro?

— Eu não acho que exista alguém que seja feliz o tempo todo, querido.
A voz dela era mansa, calma e contida. Aquilo assustava Yoseob no começo.
Ele bebeu outra vez, ela não se moveu.

— Sinto saudade de Jiwoo e Hoseok. - Yoseob disse baixo.

— Eu também, mas eles precisam entender que nós queremos apenas o bem
dos dois. Na nossa época os filhos eram mais obedientes. Nós dois fomos
obedientes.

Ele ficou em silêncio outra vez.

— Por que escuta tanto essa música? Está a ouvindo desde que chegou. Acho
que essa música fez sucesso quando ainda era adolescente.

— Você já imaginou alguma vez como tudo seria se nós dois nunca
tivéssemos casados?

— Querido? Por que eu imaginaria isso? - sorriu. - A nossa família é


perfeita, é tudo o que eu sempre quis ter. As crianças estão confusas, você
já esteve assim.

Yoseob lambeu os lábios e se afastou dela educadamente. Ele deixou o copo


sobre a mesa e respirou fundo.

— Pode levar, eu não vou comer, gostaria de ficar sozinho agora.

Dahye assentiu recolhendo a bandeja antes de se retirar.

Ele ocupou a cadeira atrás da mesa de trabalho e observou o celular


esquecido sobre o notebook fechado. A voz de Genne Simmons repetia outra
vez o refrão daquela música antiga. Para sempre. Para sempre. Para
sempre.

Yoseob fechou os olhos por um momento, mas os abriu com pressa.


Respirando alto, afobado. Lembrou da cura. Ainda o sufocava. Ele pegou o
celular, os dedos trêmulos buscaram o número bloqueado há meses, quem
sabe anos. Discou sem pensar demais.
— Yo? - ele não respondeu. - Não desligue... Eu nem acredito que você
ligou... Eu... Espera um segundo... - ouviu passos e depois uma porta sendo
fechada. - Eu sonhei com você ontem, sonhei com aquele dia que eu te levei
pra praia... Lembra? A gente fez amor ali, foi a sua primeira vez... Eu
espero que você esteja bem, que as coisas estejam indo bem.

— Eles me torturaram. - sussurrou. - Naquele lugar. Psicologicamente e


fisicamente... Syuk... Eles me mataram naquele lugar, mataram tudo que eu
era. Tudo aquilo que você amava em mim.

— Ninguém nunca vai matar o que eu amo em você.

— Eu não posso... Eu não consigo mais hyung.

— Procura o seu filho. Procura o Hoseok. Yo, não faz o seu filho sofrer o
que você sofreu... Você quer que ele esteja como você está agora daqui
alguns anos? Lembra do conto das borboletas?

— Lembro. - assentiu. - Eu vou morrer desse jeito, Syuk.

— O jardim é a sua vida, volta pra sua vida nem que seja por pouco
tempo, nem que isso pareça tarde. Sai desse casulo. Procura o seu filho.

— Ele me odeia. - lamentou secando as lágrimas.

— Ele é seu, ele nunca vai odiar o pai dele. Igual a você que nunca
conseguiu odiar o seu.

— Desculpe por ligar, Syuk. Desculpa por tudo... Desculpa.

Yoseob desligou a chamada e chorou em silêncio.

O bar Wings estava lotado.

Jimin cumprimentou todas as pessoas que se aproximavam para desejar


felicidades ou entregar presentinhos atenciosos. E a todos eles apresentou
Jungkook como seu namorado. O mais novo sorria, mesmo que acanhado.
Entendia que aquele era o jeito do namorado o fazer sentir seguro.

Havia muito orgulho nas palavras de Jimin.

— Feliz aniversário, gostoso! - Taemin o abraçou apertado, sacudindo o


corpo menor de um lado para o outro. - Que a sua bunda cresça mais a cada
aniversário.

— Taemin, vai com calma. - sussurrou para ele. Taemin rolou os olhos, mas
assentiu. - Obrigado por vir.

— Oi coisinha linda! - se virou para Jungkook. - A cada dia mais e mais


gostosinho também, impossível não imaginar-

— Oi Jimin, parabéns. - Hwasa o abraçou também.

— Obrigado e eu tô feliz por você ter vindo. Lembra do Jungkook?

— Do garoto de olhos grandes que uma vez quase me queimou viva? -


provocou sorrindo. Jungkook fez um bico adorável. - Oi, você 'tá bem?

— 'Tô sim, Hwasa-ssi. - assentiu. - Daquela vez... Eu não sabia...

— Relaxa gatinho. - ela afagou o rosto de Jungkook, as unhas longas e


bonitas acariciaram a pele dele. - Vamos comemorar hoje.

Jungkook sorriu assentindo, Jimin beijou a mão do namorado e o trouxe para


mais perto.

Taehyung abriu a garrafa de cerveja e serviu os copos que estavam


espalhados sobre a mesa redonda e pequena. Depois sentou em uma das
cadeiras para trazer Yoongi, sentá-lo sobre sua coxa.

— O repertório de hoje são só as favoritas do Jimin. - Hoseok virou a


bebida em dois grandes goles.
— Ele vai cantar pro Jungkook?

— Vai. A gente ensaiou algumas vezes.

— Amor, você fica tão gostoso no modo baterista.

— Mas vocês não conseguem manter o nível das conversas? - Jin rolou os
olhos.

— Minha mãe sempre me disse para não me envolver com bateristas, que
eles são os piores.

— E você, jovem camponês ingênuo, namora um. - Namjoon zombou de


Yoongi. O copo dele estava com refrigerante. - Ele parece mais confortável.

Os cinco olharam para onde Jimin e Jungkook estavam. Rodeados por


colegas e conhecidos de Jimin, conversando entre risos e gestos engraçados.
Jungkook sorria, uma mão ocupada com um copo de cerveja e a outra
espalmada no ombro do namorado.

Jimin contava histórias e ria, o corpo bonito tombando enquanto as


gargalhadas vinham. Uma mão segurando um copo e outra ao redor da
cintura de Jungkook, acarinhando-o sem parar.

— Eu falei pro rabudo fazer isso. Ao invés de ficar se privando das coisas,
levar o Jungkook junto. - Tae explicou. - Assim ele se sente seguro e vê que
não precisa temer nada.

— Quem diria, o mauricinho virou um ótimo conselheiro.

— Não mexe com ele, Jin-hyung. - Yoongi o abraçou pelo pescoço.

— Oi baby.

A voz familiar fez Hoseok se virar depressa. Bobby sorriu. Estava um pouco
diferente, o cabelo raspado e as bochechas mais magras.

— Bobby.
— Não vai me dar um abraço?

— Yoongi. - Taehyung sussurrou quando sentiu tentar ficar de pé. - Amor,


relaxa.

Hoseok ficou de pé para o abraçar como antes, afagando suas costas largas
com carinho.

— Você sumiu, Bobby.

— Eu? Você começou a namorar e me esquece. - ralhou depois de quebrar o


abraço. - Você parece bem.

— Você está legal?

— É. Acho que sim. - deu de ombros. - Meu deus, você está rosnando? - se
dirigiu a Yoongi.

Hoseok suspirou.

— E lá vamos nós. - Namjoon sussurrou.

— Eu vou rosnar na sua cara, babaca!

— Amor... Calma aí! - Tae o segurou no colo.

— Ele foi vacinado?

— Bobby, para de provocar também. - Hobi pediu. - Você 'tá sozinho?

— Por que? - arqueou uma sobrancelha. - Quer companhia?

— Bobby... - ele massageou a testa.

Yoongi se debateu no colo de Taehyung, acertou uma cotovelada no mais


novo de grunhiu o soltando. Então encarou Bobby bem de pertinho.

— Sai daqui, vai... Some... Você nem é amigo do Jimin!


— O bar é livre.

— A minha mão na sua cara também é livre! - cruzou os braços. - Mete o pé,
vai logo!

Bobby ergueu as mãos na defensiva e sorriu.

— Só queria falar com você, Hoseok. Ainda tem o meu número... E da


próxima vez tentar colocar uma focinheira nele.

— Mas é um-

— Yoongi! Hey, calma amor. - Hobi o segurou pela cintura. - Ele tá fazendo
de propósito, não compensa. Calma, meu gatinho.

— Atrevido filho da puta! Eu vou quebrar os dentões dele! - se virou. - E


você me larga! Pra que queria saber se ele 'tava sozinho? Quer ir ficar com
ele?! Vai Hoseok! Vai lá!

— Não é nada disso. - o abraçou mais, dando beijos por seu rosto. Taehyung
ainda massageava a costela. - Ia dizer só pra ele que vi dois amigos dele lá
na frente do palco.

— Sei. Você é um cachorro sem vergonha também!

— Caralho Yoongi, de meu um porradão na costela! - Tae choramingou.

Seokjin e Namjoon estavam rindo.

— Neném, desculpa... Deixa-me ver... Desculpa meu amor. - o massageou. -


Foi aqui?

— Bem aí. 'Tá doendo tanto... Tanto. - fez bico.

— Eu saio, eu volto e vocês continuam sendo viadinhos espalhafatosos. -


Jimin resmungou de volta a mesa, ocupando o colo de Jungkook. - Depois
ninguém entende porque odeio gay.
— Não é só porque hoje é o seu aniversário que eu não possa te dar um
socão na boca. - Hoseok avisou.

— Jungkook! - se agarrou ao mais novo.

— Não bate nele não hyung, por favor. - pediu enquanto Jimin mostrava a
língua a Hoseok.

— 'Tá fazendo quatro anos hoje Park Jimin.

Jimin deu de ombros. Ele acariciou os cabelos soltos de Jungkook e sorriu


para a conversa entre os amigos, sorriu até o momento em seus olhos caíram
em uma pessoa distante. O cabelo estava mais curto, mas ele a reconheceria
em qualquer lugar.

O corpo inteiro de Jimin ficou tenso.

— Amor, tudo bem? - Jungkook o chamou.

— Hm... Eu... - ele encarou os olhos grandes levemente maquiados e depois


o lugar onde ela estava. - Nada. - sacudiu o rosto. Ela não estava ali. Estava
vendo coisas. - Tudo bem. Não se preocupe.

— Vou pedir alguma coisa pra você comer comigo, ok? - Jimin assentiu. -
Quer alguma coisa em especial?

— Não. Qualquer coisa.

Ele saiu do colo do namorado para que ele fosse até o bar. Tae o encarou.

— Hey, 'tá bem?

— Tô sim. Acho que já bebi muito. - sorriu um pouco.

— Come alguma coisa.

— Jungkook foi pedir. - assentiu. - Eu 'tô bem.

🌙
— Hyung? - Jungkook chamou o chefe acenando. Aquele lugar estava muito
cheio. - Aqui!

— Eu não deveria ter te dado folga. - Heechul brincou.

— Quer ajuda?

— Nada disso, aproveita com o Jimin. A gente dá conta. - sorriu enquanto


pendurava o pano de prato sobre o ombro. - O que vai ser?

— Dois hambúrgueres de costela com batata grande e uma porção de cebola


frita também.

— Pra beber?

— A gente ainda tem bebida na mesa, hyung.

— Certo. - assentiu depois de anotar o pedido em uma caderneta. - 'Tá foda


pra sair daqui, vem buscar daqui vinte minutos, pode ser?

— Claro. Eu vou pagar por fora, não inclui na comanda.

— Dinheiro ou cartão?

— Cartão.

— Vou buscar a máquina.

Jungkook assentiu pegando a carteira do bolso, buscando o único cartão de


crédito que havia conseguido depois de começar a trabalhar. O limite sequer
era alto. Ele esperou batendo os dedos sobre a madeira do balcão junto ao
ritmo da música que saía das caixas de som espalhadas por todo o bar.

— Ai, desculpa!

Uma garota pediu segundos antes de esbarrar nele. Era baixinha. Ela o
encarou e sorriu.

— Sem problemas. - negou.


— Eu vivo tropeçando, desculpa mesmo.

— Não tem problema. - disse outra vez. A mulher ajeitou a franja para trás
das orelhas.

— Você é o namorado do Jimin. - pareceu lembrar.

— Sou sim.

— Jungkook, certo?

— É. O meu nome é Jungkook. Você conhece o Jimin?

— Um pouco. Sabe, ele meio que conhece todo mundo. - sorriu mais.
Jungkook concordou com um sorriso simpático. - Eu trouxe um presente pra
ele, mas me ligaram e eu preciso correr pra casa agora. Problemas com o
meu filho.

— Eu... Posso entregar a ele, se você quiser.

— Você faria isso? Nossa, obrigado! Jimin realmente tem um namorado


gentil. - a garota entregou a Jungkook um embrulho vermelho fechado num
laço branco. - Entrega pra ele, por favor.

— Ok. Qual é o seu nome?

— O meu nome é Minseo. Ele vai lembrar, tenho certeza. Muito obrigado
Jungkook.

— De nada, Minseo-ssi.

— E... Antes que eu esqueça... Se cuida.

Ela se curvou um pouco antes de sumir entre as outras pessoas.

Jungkook encarou o embrulho e sua atenção foi tomada por Heechul e a


máquina de cartões.

Ele não fazia ideia do que havia ali dentro.


🌟

#PillowFic!

nós vamos ter att todos os domingos como antes!

tiwtter e instagram: keleaomine


37 - simpatia para o diabo (parte III)

oioioi 😋

como o combinado, domingo é dia de pillowtalk!

apertem os cintos, turbulências por um longo tempo!

não deixe de votar!

Vinte minutos depois, quando Jungkook voltou à mesa, Jimin não estava.

Ele olhou ao redor, estreitando os olhos grandes em busca do mais velho,


mas não o viu em lugar algum.

— Hey, ele foi lá fora buscar os tios. - Taehyung explicou enquanto roubava
uma das batatas fritas. - Yoon, eu 'tô com fome.

— O que você quer comer, amor? - Yoongi, abrindo a carteira, tirou de


dentro dela duas notas altas. - Traz alguma coisa para o Seok, ele não jantou
direito.
— Eu jantei sim! Não gosto de comer muito antes de tocar, fico me sentindo
cheio.

— Cheio de que? - Jin arqueou a sobrancelha. - Você tá mais magro, já notei


isso. Até comentei como Namjoon.

— Porque são dois fofoqueiros.

— Hobi, você sempre emagrece quando 'tá preocupado. - Namjoon concluiu,


também estava comendo, mas era uma cebola empanada.

— Você vai me beijar hoje? - Jin perguntou a ele.

Os outros encaram a cena com curiosidade.

— Depende. Por que? - Namjoon o encarou.

— Por via das dúvidas, eu vou comer cebola também, aí a gente fica igual.

— Ok.

Yoongi piscou de forma confusa, os braços cruzados.

— Ok. Vamos deixar isso passar. Por hora.

— Deixa os hyungs, gente.

— Jungkook para de se fazer, você também é fofoqueiro. Você e o Jimin


sabem de tudo.

— É porque ele me conta. - sorriu envergonhado. - Para de comer as


batatinhas dele!

— Garoto egoísta! Depois de tudo que eu fiz por você! FALSO! - Tae bateu
a mão na mesa, mas estava querendo rir. - O que é isso? - apontou para o
embrulho pequeno ao lado da torre de batatas.

— Ah, é um presente pro Jimin. Me pediram pra entregar, a garota estava


com pressa e-
— Garota? - Namjoon franziu o cenho.

— Olá, crianças!

A voz animada de Park Minji roubou a atenção de todos. Ela fez questão de
beijar o rosto de cada uma de suas crianças enquanto Kisung apenas os
cumprimentava com um meio abraço carinhoso. Os dois não lembravam
tanto o casal elegante, visto que agora usavam roupas mais condizentes ao
ambiente. Jeans, camiseta de banda e jaqueta de couro.

Dava para notar melhor o quanto Jimin era parecido com o pai.

— Senta aqui, omma. - o aniversariante puxou uma cadeira para ela bem ao
lado de Seokjin enquanto o pai ficou entre Jungkook e Taehyung. - A gente
vai começar daqui uns vinte minutinhos. Vão beber?

— Jimin, que pergunta mais descabida. Claro que sim!

— Bonito como a tia fala descabida, acho legal.

— Como vai Taehyung? - ela riu para ele.

— 'Tô ótimo, tia. Jimin, vou buscar alguma coisa pra comer, eu peço as
bebidas. O que vai ser?

Conversas paralelas se iniciaram na mesa, Jungkook se distraiu


completamente com o sogro depois de dizer a ele que também gostava de
Pearl Jam. Esqueceu do embrulho, até mesmo do rosto da garota
desconhecida. Mas Namjoon ficou pensando sobre aquilo. Então, sob o
olhar atento de Hoseok, pegou o embrulho para guardar dentro da mochila
jogada abaixo de sua cadeira.

— Então, quer dizer que você vai ser pai?

— É tia, vou sim. Minha ex já está de quase seis meses.

— Seokjin eu sempre te usei de exemplo, mas você não sabe nem colocar
uma camisinha neste pinto. - Minji bebeu um gole da cerveja, os outros riam.
— Eu sei sim, mas na hora... O tesão não deixa a gente pensar.

— Sei bem...

— Omma! - Jimin ralhou.

— Você acha que eu e o seu pai te fizemos como, garoto? Por telepatia?

— Ah, que saudades do banco de trás daquele Ford Maverick. - Kisung


piscou para a esposa.

— Pelo amor de deus! - Jimin estava chocado.

— Continue, eu tô achando interessante. - Tae serviu mais bebida para todos.

— Deixamos a Solar com os meus pais, era nosso aniversário de casamento


e havia um show na cidade vizinha.

— Daegu - Kisung sorriu. - Eu consegui os ingressos com antecedência. A


gente ia pernoitar em um hotel...

— Quem fala pernoitar? - Jin sussurrou, mas recebeu uma batata frita na
cabeça. - Desculpa, tio.

— Saímos bem cedo, a viagem de carro era parte da aventura. Mas o carro
quebrou no quilômetro 121 da rodovia. - Jimin estava escondendo o rosto no
pescoço de Jungkook. Ele sabia daquela história, ela o deixava
envergonhado. - Eram duas da manhã.

— Pegamos as cervejas no porta malas, ligamos o som do carro e pulamos


para o banco de trás.

— Nove meses depois: Jimin.

— Que história mais maravilhosa! Eu tô assim... Feliz. - Tae sorriu


genuinamente. - Jimin?

Jimin não disse nada a ele, mas lhe mostrou o dedo do meio.
— Tia, converse com o seu filho sobre educação.

— Vai se foder, Taehyung. Larga minhas batatinhas! Já não basta o meu


bolinho hoje de manhã?!

— E lá vamos nós. - Hoseok suspirou.

— Não briguem assim, crianças. Vou ter de dar uns tapas nos dois? - Minji
franziu o cenho.

Jimin acenou quando Jinyoung o chamou em voz baixa. Beijou os lábios de


Jungkook antes de sair de seu colo, Hoseok beijou os lábios de Tae e os de
Yoongi, então juntos, eles se afastaram em direção ao pequeno palco.

— Vocês estão bem, querido? - a senhora Park questionou a Yoongi.

— Sim, tia. - ele assentiu. - 'Tá tudo indo bem, estamos fazendo dar certo.

— Certo. Fico feliz de vê-los bem. E esses dois aqui? - sussurrou apontando
disfarçadamente para Jin e Namjoon?

— Ih, boa pergunta. - Yoongi riu um pouco. - Evitamos perguntar, mas eu


acho que eles estão bem.

O som agudo da interferência os fez olhar para o palco. A Cypher estava a


postos. Jimin se aproximou do pedestal e uma explosão de gritos o fez sorrir.
Se curvou em agradecimento, em seguida ergueu o braço direito, a mão cheia
de anéis fechados em punho.

— Boa noite! Obrigado, obrigado! - os gritos cessaram quando ele falou


junto ao microfone preto. - Muito obrigado por essa comemoração linda, por
me fazerem sentir querido dessa forma. Hoje eu 'tô feliz pra caralho, posso
dizer que é o meu melhor aniversário em anos. Em especial preciso
agradecer aos meus irmãos... - apontou para a mesa. - Jin-hyung, que
felizmente virou um homem de negócios e não tem mais tempo de cantar
aqui!

— Eu ainda posso roubar de volta o meu lugar, garoto! - Jin gritou enquanto
as pessoas riam.
— Yoongi-hyung, Namjoon... Moni... - sorriu para os citados. - Hoseok-
hyung, o baterista mais pistola da Ásia. - apontou para trás. Hobi lhe
mostrou o dedo médio. - Tá vendo? Obrigado aos meus pais que fazem
questão de contar a forma como fui gerado em todo aniversário que faço.

— Amo você meu principezinho, meu bolinho, meu-

— Minji, já é o bastante. - Kisung a abraçou. As pessoas estavam rindo.

— Te amo omma. - o baixo de Jaebum logo começou a ser tocada, as


primeiras notas de uma música conhecida pelo público frequentador daquele
bar. Taehyung sorriu. - Quero começar o show de hoje cantando essa música
para o cara mais mauricinho sem educação que eu tive o prazer de conhecer.

— Esse sou eu. - Tae ergueu o seu copo.

— Essa música me faz lembrar de uma noite, há algum tempo, lembrar de


nós dois jogados na garagem de casa, compartilhando um cigarro
absolutamente legal, ouviu appa? - Kisung rolou os olhos. - Lembrar da
promessa que fizemos. Tae, obrigado por ter aparecido na nossa vida... Você
fez os hyungs se entenderem, os faz feliz, me faz feliz. Você é o homem mais
forte que eu já conheci e por causa disso, eu sempre quero ser a sua força.

Taehyung sorriu, então Yoongi o beijou no rosto enquanto seus polegares


secavam às lágrimas fininhas que ele sequer tentou esconder. Jungkook
assobiou alto, batendo palmas enquanto fungava graças às lágrimas tímidas.

— Rabudo safado, me fazendo chorar assim.

— Ele 'tá dizendo a verdade. Você é forte amor, eu tenho tanto orgulho. -
Yoongi o abraçou, encolhendo-se no colo dele.

— Once upon a time, not so long ago. - Jimin sorriu. - Tommy used to work
on the docks, union's been on strike, he's down on his luck. It's tough, so
tough. Gina works the diner all day working for her man, she brings home
her pay... For love, love!
— Vamos lá pra frente? - Jin estava animado, cantando alto, então apenas
assentiu para seguir Namjoon.

De mãos dadas, eles atravessaram o caminho apertado de pessoas. Logo


Yoongi e Taehyung estavam ao lado deles, os quatro cantando juntos de
Jimin, gastando as vozes animadas como todas as outras pessoas presentes.

Jungkook, sozinho com os sogros, cantarolava baixinho. Queria ir com seus


hyungs, mas não os deixaria ali, era falta de educação.

— Jimin me disse que você também canta, Jungkook-ah.

— E-Eu? Eu não! - negou, seu rosto ficou um pouco quente. - Eu o ajudo a


ensaiar, mas só às vezes.

— Ah, não seja modesto, querido. Ele nos mandou um vídeo seu há alguns
dias, você estava cantando tão bem. - Minji acarinhou o cabelo dele. -
Deveria cantar com ele, seria tão bonito.

— Ah, eu acho que ia atrapalhar o Jimin. - sorriu um pouquinho. - Ele é


muito bom, tem presença de palco e-

— Quando ele me contou que queria fazer direito fiquei confuso, jurava que
ele ia optar por ser idol. - Kisung confessou. - Mas ele diz que não
conseguiria seguir tantas regras ou lidar com toda a falta de privacidade, eu
o entendi depois disso. Ainda mais por conta da sexualidade.

— O senhor... Não brigou?

— Com Jimin? Por causa da sexualidade? - o garoto assentiu. - Como eu


poderia brigar? Solar, Jimin e Jihyun são a minha vida e eu os amo
exatamente como são. Jimin me preocupou mais, mas não foi culpa dele.

Jungkook ficou calado, não entendeu bem.

— Gostamos de você, Jungkook. Muito. Você o faz bem, o faz sorrir. - Minji
sorriu. - Obrigado por estar o ajudando tanto, ele precisava de alguém igual
a você depois de tudo o que aconteceu.
— Não me agradeça, eu amo o Jimin. - sorriu um pouco, mas ficou calado.
Do que exatamente os pais dele estavam falando?

Quando a primeira música acabou, eles bateram palmas.

— Eu sei que vocês sempre cantam comigo, então hoje como um pedido
especial de aniversário eu vou querer que me ajudem a cantar para a pessoa
que é responsável por me fazer o cara mais feliz do mundo todos os dias.

— COMEÇOU A SER VIADO JÁ!

— Amor, cala a boquinha. - Hoseok disse ao seu microfone, depois mandou


um beijo para Taehyung.

— Jungkook.

O garoto arregalou os olhos.

— Amor, vem aqui.

— Vai lá, genrinho. - Minji o incentivou.

— Ele é muito tímido, mas eu preciso que você venha aqui bebê.

As vozes se juntaram em coro engraçado de gritos e sons fofos demais.


Jungkook estava vermelho. Ele ficou de pé e caminhou até perto do palco,
até Jimin que lhe sorria sem parar.

— Esse é o Jungkook, meu namorado. - apresentou. - Ele não tem muita


coisa a ver comigo, é mais calmo e paciente... Ele é tudo o que falta em
mim.

— Jimin-ssi. - sussurrou o encarando. Namjoon lhe afagava as costas com


carinho.

— Posso te pedir um presente?

— Pode. - assentiu.
— Vem aqui cantar comigo. - Jimin sentou à beira do palco e puxou-o para
ficar de pé entre suas pernas. - Pode ir, Hobi-hyung.

Hoseok começou a tocar a bateria puxando os outros instrumentos até dar


forma a música que fez Jungkook sorrir um pouco.

Outra vez aos gritos, Jungkook se encolheu um pouco.

— Sheets of empty canvas, untouched sheets of clay, were laid spread out
before me, as her body once did... Canta comigo, amor. - pediu sussurrando.

— All five horizons revolved around her soul... - a voz grossa de Hoseok o
fez olhar para a bateria. Jungkook viu seu hyung cantar de olhos fechados,
mas sorrindo.

— Canta. Canta isso pra fora, Jungkook.

— And now my bitter hands... - cantarolou baixo, Jimin sorriu. - Chafe


beneath the clouds of what was everything...

— Oh, the pictures have all been washed in black...

— Tattooed everything.

Os olhos grandes de Jungkook estavam marejados, mas a voz bonita


conseguiu cantar junto da voz de Jimin e Hoseok. A mão pequena do
namorado o segurava com carinho, dedos entrelaçados e toda a confiança do
mundo. Não havia quase ninguém, estavam seguros dentro da bolha daquele
amor genuíno que se moldava diariamente ao que deveria ser. Jungkook
cantou para fora de si a história que conhecia, cantou como ouvia o pai
cantar durante as madrugadas insones enquanto era espionado por seu
garotinho de ouro.

Cantou o abandono.

Cantou com a magoa de plantava dentro de si sentimentos que ele não


gostava de sentir.
Os outros estavam ao redor, protegendo-o e ouvindo desabafar pela
primeira vez desde o dia em que chegara até eles ensopados, de olhos
arregalados e mochila grande demais nas costas. Jungkook era o mais novo e
também o mais inexperiente, quase imaturo, mas os seus hyung tatuaram nele
um pouco de cada, ajudando-o a se tornar o homem que viam cantar
timidamente.

Então, naquele momento, Jungkook sentiu que estava no lugar mais seguro do
mundo e que nada poderia alcançá-lo. Nada.

— I know someday you'll have a beautiful life. I know you'll be a star... -


cantou para Jimin.

— In somebody else's sky, but why? Why? - Jimin continuou.

— Why?

— Can't be, oh... Can't it be mine?

Eles sorriram um ao outro, os outros quatro o fizeram também e Hoseok,


ainda tocando, assentiu.

Yoseob olhou ao redor enquanto entrava no bar, apesar das roupas informais
temia chamar atenção demais. Parou em um canto do bar, pediu uma garrafa
pequena de cerveja e voltou olhar ao redor, buscando a pessoa que deveria
encontrar. Tantos jovens, casais trocando beijos apaixonados, pessoas
bêbadas gritando a plenos pulmões a letra da música que ele também
conhecia.

Lembrou das poucas vezes que conseguiu escapar para ir com Syuk a lugares
assim.

Lembrou do primeiro porre.

Então, lembrou que estava procurando Hoseok no lugar errado.


Encarou o palco, os refletores simples que destacavam a banda que tocava
ali. Reconheceu Park Jimin, os cabelos quase loiros jogados pelo rosto
enquanto cantava. Então viu Hoseok.

O rosto suado, os cabelos castanhos jogados para trás e sorrindo como o


fazia quando ainda era criança. Quando abria os presentes de Natal ou
dançava por toda a casa sujando pares e mais pares de meias brancas.
Lembrou de como ele e Jiwoo nunca deixavam a casa em silêncio, das
brigas bobas por um brinquedo e os desenhos confusos que deixavam sobre
sua mesa no escritório.

Talvez aqueles dois fossem as únicas coisas boas que tivesse feito na vida.

Hoseok tocava com habilidade e emprestava a voz para acompanhar a de


Jimin, os braços expostos se moviam depressa, as baquetas eram como
armas em suas mãos ágeis. Hoseok era parecido demais com ele.

E do palco, Hobi mandou um beijo voador para Yoongi e Taehyung, mas sua
expressão se tornou confusa ao reconhecer o homem que o encarava do
balcão, à direita, quase escondido. Ele estreitou os olhos, quase errou a
batida de Here I Go Again quando teve certeza.

Era Yoseob. Era o seu pai.

Taehyung foi o primeiro a perceber o semblante estranho do namorado.

— Yoon... Quem ele viu?

— Não sei. - negou. - Espera aqui.

— Yoongi... Yoon!

Yoongi o deixou para trás, rapidamente atravessou até a lateral do palco


para subir sobre os degraus e olhar na direção que Hoseok olhava. Quase
caiu quando viu Yoseob. O semblante ficou furioso.

— O que o senhor quer aqui?! - disse alto e de forma grosseira ao homem


mais velho.
— Eu queria... Ver o meu filho.

— Pra que? Pra infernizar a cabeça dele outra vez? O senhor não acha que já
fez o suficiente?! - gesticulou. - Deixa o Hoseok em paz, Yoseob-ssi. Ele
quer ser feliz, ele 'tá feliz!

— Você tem certeza? - o tom de voz não era agressivo, isso deixou Yoongi
desconfortável. - Você sabe que ele sente falta da família dele, Yoongi.

— Nós somos a família dele!

— Ele é parecido comigo...

— Não! Ele não é parecido com o senhor em nada! Hoseok NUNCA


machucaria um filho como o senhor o machucou! E eu não sou mais aquele
adolescente que tinha medo das tuas chantagens, pra machucar ele vai ter de
passar por cima de mim Yoseob!

— Yoongi... - Taehyung estava ao lado dele.

Yoseob o encarou, aquele garoto o fazia lembrar de Syuk.

— Não procura o Hobi! Vai viver a sua vida de mentira e o deixa viver a
vida dele de verdade! - Yoongi estava nervoso, seu corpo estava tremendo.

— Amor, calma... O Hobi não para de olhar pra cá, ele vai largar o show e
pular aqui se te ver assim. Por favor, deixe pra lá.

Yoongi respirou fundo, sentiu vontade de gritar por lembrar das ameaças
daquele homem, do jogo sujo que fez com um adolescente apaixonado.
Yoseob o dava asco.

— O senhor já sabe, agora vai embora. - ele virou as costas e saiu.

Taehyung suspirou.

— O que quer aqui?


Yoseob o encarou mais. Sabia demais sobre aquele garoto graças ao irmão
dele.

"Eles se amam, Yoseob-ssi. Essa é a fraqueza deles."

— Taehyung, certo?

— É. O senhor sabe disso. O que quer aqui?

— Você gosta do meu filho?

— Não, eu não gosto do seu filho, senhor Jung. - rolou os olhos. - Eu amo o
Hoseok. Amo o Yoongi. Mas isso não diz respeito nenhum ao senhor.

— Eu... O seu irmão mais velho...

— O que? - Tae ficou tenso. - O que?

— Pergunte ao Yoongi. Diga ao Hoseok que... - ele outra vez encarou o filho,
o viu com o semblante aflito. - Não. Não diz nada. Eu vou embora.

Taehyung o observou sair do bar, a breve menção a Taewoo conseguia o


desestabilizar demais. Se virou para encarar Hoseok e sinalizar que estava
tudo.

— Foi bom comer aquelas cebolas. - Jin sorriu com os lábios ainda juntos
dos lábios de Namjoon.

— Hyung. - o mais alto riu um pouco. - 'Tô com muito bafo?

— 'Tá. Mas eu também tô. - deu de ombros o abraçando mais pela cintura. -
Quer escapar daqui?

Namjoon sorriu, mas aos poucos abaixou o rosto enquanto as covinhas


desapareciam. Jin franziu o cenho, mas ficou calado enquanto dava beijinhos
no pescoço alheio.
— Lembrei de antes... De quantas vezes eu te propus isso e-

— Por favor, não se lembre dessas coisas.

— Você se sente mal? Sente vontade de se afastar de mim?

— Não. - negou. - Eu sinto que a gente tá indo bem demais pra lembrar do
que rolava antes.

— Você me perdoou, Jin?

— Sinceramente? - Namjoon assentiu. - Não era você... Quer dizer, era


você, mas você cheio de feridas, sufocado, apavorado e era eu sem amor
próprio. - usou uma das mãos para fazer carinho no rosto do mais novo. -
Eram versões ruins, mas que a gente não vai simplesmente fingir que nunca
aconteceu porque faz parte da nossa vida. Namjoon, eu sei que você ainda
quer dar um tempo, quer viajar, quer se encontrar... Você nos braços ainda
tem esse olhar perdido.

— Desculpa?

— Não me pede desculpa por isso, não é sua culpa. Nem minha culpa. É
culpa da vida, ela não foi justa com você e é um direito seu procurar justiça
da forma que precisa. Eu amo você...

— Eu também amo você...

— E você vai aprender a se amar como merece, a amar tudo em você.

Namjoon assentiu e o abraçando de novo, escondeu o rosto no pescoço do


mais velho, aspirou o cheiro dele e depois sorrindo, o encarou.

— Eu quero escapar com você, hyung.

— Vou dirigir até o estacionamento do camping, a gente sobe a montanha...

— Vamos morrer com falta de ar, não somos atléticos.

— Não seja pessimista. - ralhou. - Vamos ver o Sol nascer lá do alto.


— É romântico.

— Eu sei. - piscou. - É o meu dom: ser o cara perfeito em um mundo


imperfeito.

— Tão modesto, Jin-hyung. - sorrindo, o beijou no canto dos lábios. - O cara


perfeito com hálito de cebola empanada e cerveja quente.

— Irresistível, pode dizer.

Namjoon deu de ombros, mas assentiu.

Sem ninguém notar, escaparam juntos.

— O que o meu appa estava fazendo aqui?! O que ele falou pra vocês dois?!

Hoseok estava confuso e nervoso, as baquetas foram praticamente


esquecidas sobre o balcão da pequena despensa onde conversavam, cedida
por Heechul.

— Ele disse que queria ver você.

— Me ver? Pra que?

— Eu não sei Hoseok! Não sei! Mas deixei bem claro pra ele não aparecer
mais...

— Ele não viria atrás de mim logo aqui! Com certeza aconteceu alguma
coisa! Minha omma-

— Se fosse algo assim, ele teria dito. - Tae estava encostado a parede, de
braços cruzados. - Hobi... Existe alguma possibilidade de o seu pai conhecer
o meu irmão mais velho?

Hobi o encarou, estava confuso. Até tentou procurar na mente alguma


explicação para aquela pergunta estranha, mas não havia nada.
— O que?

— Ele falou sobre o meu irmão. Seu pai falou sobre Taewoo.

— O que?! Falou? Como assim falou? O que ele te disse Taehyung?

— Eu não entendi direito, ele não falou algo sobre Taewoo, mas o citou do
nada. Eu também não entendi nada.

— Que porra 'tá rolando? Meu pai aparecer aqui e ainda por cima citar o seu
irmão? Não faz sentido!

Yoongi, os observando, respirou fundo. As mãos grandes e pálidas


esfregaram o rosto e depois o cabelo, penteando-o para trás. Ele mordiscou
o lábio inferior antes de começar a falar.

— Taewoo me procurou... Há alguns dias.

Taehyung e Hoseok o encararam praticamente em choque.

— Naquele dia em que você foi até a academia resolver a papelada da


contratação, ele estava na lanchonete e veio falar comigo...

— E por que você não contou isso antes, Yoongi?!

— Espera Hoseok! Espera! - Tae estava muito tenso. - O que ele te disse? O
que ele queria com você?

— Ele me ameaçou... Quer dizer, ele não fez isso diretamente, mas me
entregou um envelope com documentos.

— Documentos? - Hobi franziu o cenho.

— É, documentos. - encarou Taehyung.

— Coisas sobre mim, não é?

— Tae. - Yoongi respirou fundo outra vez. - A gente sabe que você
aprontava pra caralho quando era mais novo, 'tá tudo bem. Eu ia contar Seok,
eu juro por deus! Hoje, quando a gente chegasse em casa, no nosso quarto, ia
mostrar o envelope e contar, mas o seu pai apareceu e falou sobre Taewoo,
estou confuso.

— O que exatamente ele te falou naquele dia, Yoongi?

— Ele disse que teria de fazer o que ele quer pra proteger o Taehyung.

Taehyung sorriu sem humor, o corpo pesado escorregou contra a parede até
estar sentado no chão frio. Yoongi e Hoseok trocaram um olhar.

— Eu sabia... Sabia.

— Não queria omitir, senti tanto medo que virei a noite olhando vocês dois
dormindo. Não vou mentir, eu 'tô com medo... Aqueles documentos falam
sobre um assalto e outra coisa que eu não entendi direito, cheguei a cogitar
pedir ajuda ao Namjoon ou ao Jimin.

— Taehyung. - Hoseok abaixou diante do namorado. - O que aconteceu


durante aquele assalto? - o coração dele apertou quando Tae abaixou o rosto.
- Você machucou alguém?

— Não. Eu não. Não diretamente. Uma das garotas surtou, ela 'tava chapada
pra caralho... Atirou em um cara. Eu era menor de idade, só soube do que
rolou bem depois, praticamente quando o cara morreu no hospital três dias
depois. - Yoongi fechou os olhos e apoiou o corpo na parede oposta. -
Quando ele morreu eu já era maior de idade, um dia depois do meu
aniversário. Eu não machuquei ninguém, sei que também foi minha culpa...
Eu dirigi e-

— Ele vai usar isso.

— Vai. - assentiu. - Na época o Taewoo meio que limpava as merdas que eu


aprontava, mas nada havia sido sério assim. Ele deu um jeito, o meu nome
está no caso, mas só como cúmplice menor de idade que nem estava no local
do crime. Aquele desgraçado ainda tentou me fazer... Pra agradecer. - havia
nojo em sua voz, Hoseok engoliu a seco. - Ele vai usar isso, eu tenho certeza.
Vai chantagear vocês dois com a nossa única fraqueza, ele vai conseguir...
Tirar tudo de mim.

— Não. Ele não vai! - Hoseok negou de forma brusca, o puxando para os
braços.

— Ele vai dizer que reabre o caso se vocês não me deixarem, vai usar da
minha maioridade quando o cara morreu, vai me fazer ficar sozinho outra
vez... Eu não quero ficar sozinho, Hobi...

— Tae... Taehyung, olha pra mim. Olha pra mim, meu amor. - o segurou
mais, faz com que o olhasse de perto. - Respira fundo...

— Por favor, respira fundo... - Yoongi estava ao lado deles. - Calma, não se
desespere desse jeito porque é exatamente o que ele quer.

— Eu não quero perder vocês... Vocês me prometeram naquele dia, na


praia... Prometeram não me esquecer...

— Taehyung, eu nunca vou quebrar a minha promessa, nunca vou te


esquecer. Eu amo você com ou sem o seu passado, ele não vai conseguir
isso, não vai separar a gente.

— Vamos mostrar os documentos pro Namjoon, pedir que ele converse com
o pessoal do escritório onde faz estágio. O Jimin entende muito bem desses
casos, é a área que ele quer entrar. - Yoongi o segurou pela mão, entrelaçou
os dedos aos dele. - A gente vai resolver isso, eu juro Tae.

Taehyung assentiu de rosto baixo, ele não diria em voz alta, mas já sentia
estar perdendo Hoseok e Yoongi.

No dia seguinte, pela manhã, Jimin havia colocado um Jungkook bêbado na


cama depois do banho juntos e estava secando a segunda garrafinha de água
quando Namjoon entrou na cozinha.
— Bom dia, Moni. - ele sorriu. - Acho que o povo dessa casa só acorda
depois do meio dia, mas quando eu cheguei com o Jungkook, o casal de três
já estava no quarto.

— Preciso te mostrar uma coisa. - ele estava sério. Colocou a mochila sobra
a ilha de mármore e de dentro dela tirou o embrulho misterioso. Estava sem
o laço, aberto. - Ontem o Jungkook trouxe isso pra mesa, disse que uma
garota com pressa tinha dito pra ele entregar esse presente.

— Garota? - o semblante calmo não estava mais ali.

— É, uma garota. Achei estranho e peguei, abri agora dentro do Uber


enquanto vinha pra casa. Jin-hyung foi ver Sunmi-noona.

Namjoon virou o embrulho para jogar sobre a mesa o conteúdo. Eram


cartões pequenos, todos do mesmo tamanho e coloridos. Também havia um
maior, datado no dia anterior.

Jimin os pegou, viu as coisas ali enquanto seus olhos se abriam mais graças
ao choque. Eram fotos. Fotos de Jungkook junto do pai, depois fotos de
Chinrae e Hyo conversando em um lugar movimentado, em seguida fotos das
duas famílias com dizerem explicativos. O cartão dourado, aquele que
chamava mais atenção, era uma foto dele com Jungkook, os dois almoçando
em um restaurante com a legenda brilhante: amor entre primos.

Ele pegou uma foto grande, seu estômago revirou.

Eram eles no restaurante, no dia anterior.

"Almoço em família."

— Foi Minseo, eu sei... Mas o que ela quer dizer com primos?

— Eu preciso sumir com essas coisas! - em desespero, Jimin recolheu todos


os cartões. - Preciso tirar isso daqui.

— Jimin. Jimin! Para! Para agora! - o segurou pelos ombros. - O que 'tá
acontecendo?!
Jimin o encarou e o coração de Namjoon se apertou. O conhecia tão bem,
sabia lê-lo com facilidade o suficiente para enxergar naquele olhar assustado
toda a culpa que tentava esconder. Jimin desabou. Os ombros tremeram
assim como os lábios antes de as lágrimas chegarem.

— O que está acontecendo?

— Namjoon... Eu vou... Vou perder o Jungkook. Ele não vai entender, não
vai... Eu não sei o que fazer.

Nesse momento Seokjin entrou na cozinha, seu olhar atento observou


primeiro os outros dois e depois os cartões espalhados sobre a ilha da
cozinha.

— Resolvi voltar para tomar um banho antes de ir.

— Hyung...

— Jimin... - ele suspirou. - Eu não sei se quero saber sobre o que são essas
coisas, eu não sei se quero participar disso se for algo que magoe o
Jungkook.

— Jin-hyung...

— Você o traiu? - Jimin arregalou os olhos e negou. - Tem certeza? Traições


não envolvem só ficar com outras pessoas, Jimin. Não é só sobre transar
com outro alguém, ou flertar inocentemente... Também é sobre confiança.
Então, pense antes de me responder de novo: você traiu o Jungkook?

Os lábios de Jimin tremeram outra vez. Ele abaixou o rosto, então Seokjin
respirou fundo.

— O que você fez, Mini? - Namjoon lamentou.

DIAS DEPOIS.
Hoseok se abaixou para trancar o último cadeado das portas bonitas da
academia. Estava tarde, passava das dez horas. Ele guardou o pequeno
molho de chaves dentro da mochila e atravessou a rua vazia em direção ao
carro de Yoongi que estava usando durante a semana.

Quando encaixou a chave na porta, ouviu o som de uma porta batendo mais
adiante. Franziu o cenho ao ver um homem se aproximar. Estava bem
vestido, seus sapatos caros anunciavam os passos firmes enquanto se
aproximava.

— Boa noite, Hoseok.

Ele não conhecia aquela voz, muito menos aquele homem. Mas ele tinha
traços familiares.

— Quem é você?

— Imaginei que não me conheceria assim facilmente, mas assim é melhor


porque me dá oportunidade de me apresentar a você da forma certa. - o
homem sorriu. - Eu sou Kim Taewoo, hyung-nin de Taehyung.

Hoseok franziu ainda mais o cenho.

— Ah, você é o irmão do Taehyung?

— Sou sim. - ele assentiu. - Gostaria de conversar sobre um interesse em


comum.

— Em comum? Você está falando do Tae?

— Pelo menos você parece mais educado que Yoongi. - ele abriu um dos
botões do paletó preto. - Eu tenho algo para te entregar, mas creio que o
doente já tenha lhes falado.

Hoseok soltou a chave presa à porta do carro.

— Eu também tenho algo pra te entregar.


Ele soltou a mochila no chão e o som dos livros batendo contra o asfalto
úmido não conseguiu abafar o som do soco que Taewoo recebeu no rosto.

E Hoseok só pararia quando alguém o tirasse de cima daquele desgraçado.

Isso era um problema. Foi um problema maior quando duas viaturas da


polícia chegaram ao local.🌙☀🌟

#PillowFic

até domingo que vem!


38 - preto (parte I)

ois piticos 💜💜

demoramos, mas chegamos. fim de semana retrasado ficou doente e ontem


foi dia das mães, fiquei com a minha mamãe 😋

vamos ler??

capítulo sem capa pq meu photoshop resolver se rebelar, depois coloco!!

n esquece o votinho

____

Oh e pensamentos torcidos que giram em volta da minha cabeça


Estou girando, oh, estou girando
Quão rápido o Sol pode ir embora?
BLACK - Pearl Jam

Hoseok respirou fundo.

As mãos ainda doíam, principalmente entre os nós avermelhados de os


dedos machucados, assim como a maçã direita do rosto e o lábio inferior.
Observou mais uma vez o relógio silencioso pendurado a parede cinzenta só
para confirmar que não havia passado sequer cinco minutos depois da última
olhada.

Dava para ver as pessoas que iam e vinha no corredor largo da delegacia
através do vidro médio da porta pesada. Também podia ver um policial
vigiando-o, parado diante da porta como se ele fosse idiota o suficiente para
tentar fugir.
Acontece que, tomado pela raiva, Hobi só se deu conta do que havia
acontecido quando um dos policiais o mandou fazer a ligação. Levou
minutos encarando os joelhos, o jeans molhado, dentro da viatura enquanto
era levado para a delegacia mais próxima.

Não resistiu, sequer poderia fazê-lo, entregou os documentos e obedeceu a


tudo depois de ser retirado de cima de Kim Taewoo. Não tinha certeza, mas
a mente confusa ainda suspeitava do sorriso ladino por baixo de todo o
sangue nos lábios daquele homem.

— Jung Hoseok, 24 anos. - um policial entrou na sala fria, era alto e parecia
cansado. - Você tem uma pequena passagem por uso de drogas há quase um
ano. - o homem colocou sobre a mesa um bloco de poucas notas impressas. -
Agora é agressão. - suspirou. - Garoto, eu estou profundamente cansado e
devia estar em casa ao lado da minha esposa, mas por causa de
playboyzinhos iguais a você estou aqui. Por que você agrediu aquele outro
homem?

— Eu não vou falar nada sem a presença de um advogado. - Hoseok repetiu


a breve orientação dada por Namjoon durante a ligação.

— Vocês filhinhos de papai gostam de criar confusões porque sabem que


nunca serão cobrados como devem. O seu pai está aí-

— O que? - estranhou, os olhos se franzindo.

— O seu pai está com o delegado, trouxe um advogado. - bateu os dedos


sobre a mesa. - Não se preocupe, ele com certeza vai limpar a sua merda
com a fiança pedida.

— Meu pai... Quem ligou pra ele? O que-

— Com licença? - outro policial abriu a porta. - Querem ver o garoto.

O policial alto suspirou ficando de pé, o olhar debochado ainda focado em


Hoseok. Saiu sem dizer uma palavra e segundos depois Yoseob entrou.

Pai e filho se encararam em silêncio por um minuto inteiro.


Yoseob estava visivelmente abatido, até mesmo seu ar superior se perdia
entre o olhar cansado. Ele observou cada pedaço do filho até franzir o cenho
para as algemas ao redor dos pulsos machucados.

— Tire isso imediatamente, meu filho não é nenhum bandido.

— Senhor-

— Agora! Tire isso dele agora mesmo! - apontou.

O policial, de má vontade, se aproximou de Hobi para abrir as algemas e


tirá-las sem muito cuidado. Depois saiu e os deixou ali. O advogado cruzou
os braços e encostou o corpo na porta.

— O que o senhor está fazendo aqui? Namjoon-

— Não, não foi o seu amigo. - Yoseob sentou ao lado oposto do filho. -
Ele... - apontou para o advogado. Hobi não o conhecia, mas aquele homem
não era um dos muitos advogados da família Jung, aqueles que estavam
presentes nos jantares sem graça que sua mãe organizava. O homem sorriu
para ele. Alto, cabelos negros, olhos fortes e... O lembrava Taehyung. - Ele
estava aqui para resolver umas coisas e te viu chegar... Ele se chama Syuk.

— Syuk?! - Hoseok franziu ainda mais o olhar. - Bang Syuk? Aquele homem?

— É um prazer te conhecer pessoalmente, Hoseok. - Syuk se aproximou. -


Você realmente me faz lembrar do seu pai antes. O mesmo sorriso.

Hobi franziu as sobrancelhas, os lábios machucados estavam abertos em


choque enquanto encarava o homem mais velho. Olhou para o pai, o silêncio
medroso fazendo perguntas demais ao mesmo tempo, querendo entender o
que aquele homem fazia ali junto deles... Junto de Yoseob.

— Appa...

— Eu acho que nós precisamos conversar, Hoseok... Sem brigar, sem gritos
ou ameaças por minha parte. Quando Syuk ligou, atendi e desliguei, mas ele
disse o seu nome e isso me fez continuar ouvindo... Eu fui corajoso pra
atender, mas covarde pra continuar... Você foi a razão.
— Vai me tirar daqui e usar isso para me obrigar a-

— Hoseok, se acalme... Escute o seu pai. - Syuk tinha um tom de voz ameno,
transmitia segurança mesmo que Hobi não o conhecesse.

— Eu entendo que ache isso de mim, das minhas intenções. - Yoseob


respirou fundo. Sentia-se cansado. Só então Hoseok notou as mãos trêmulas
do pai sobre a mesa, os dedos longos e bonitos... A ausência da aliança de
casamento.

— Cadê a omma? - o tom foi agressivo.

— Em casa. Eu não falei sobre o que aconteceu, é melhor dizer a ela de


manhã.

— Cadê a sua aliança? Por que esse homem 'tá aqui com o senhor? O que 'tá
acontecendo?

— Os seus namorados estão vindo, eu acho que vocês podem ter essa
conversa depois.

Yoseob lambeu os lábios, o corpo grande pesava em tensão. Hoseok ficou


mais agitado.

— O senhor largou a omma? É isso? Largou ela pra ficar com ele?

— Hoseok, eu não larguei a sua mãe, as coisas... Escuta, quero conversar


com você e Dawon.

— Jiwoo. - ele corrigiu.

— Sim, com Jiwoo. Quero conversar com vocês dois e-

— Ela não quer falar com o senhor, não depois de ter passado dois anos
fingindo que ela sequer existia. O senhor acha que as coisas que fez com a
gente podem simplesmente desaparecer porque agora quer foder com esse
cara?

— Hoseok... Por favor, escute o que o seu pai tem pra falar.
— Cala a boca! Você nem me conhece! - ficou de pé. - Ele nunca quis me
escutar e eu tenho de fazer isso agora?! Por que?! Sabe o que percebi nesse
tempo longe? Que não preciso do senhor pra nada! Eu trabalho, vou me
formar e ter a minha casa, minha família com Yoongi e Taehyung! Eu sou
feliz, appa! Eu não sou doente, mas o senhor é!

— Não...

— Deixe-o, Syuk.

— Eu não preciso de cura pra nada, mas o senhor precisa! Sua doença é não
ter amor de ninguém porque só sabe machucar quem te amava! - Hobi secou
os olhos marejados. - Diz quanto foi a fiança, vou pagar centavo por
centavo...

— Não precisa, Hobi.

— Eu quero pagar! Não quero que o senhor jogue isso na minha cara quando
for conveniente.

— Eu vou entrar sim! Me larga!

— Yoongi-hyung, você vai ser preso também!

— Pois que me prendam! Eu vou entrar!

As vozes de Yoongi e Jimin fizeram Hoseok encarar a porta.

— É melhor que você saia, Hoseok. Está tudo resolvido, pode ir para casa.
Pode perguntar o valor da fiança diretamente ao promotor que está lá fora.

Syuk saiu do caminho para que o garoto passasse, não disse nada depois de
ouvir a porta bater com força. Yoseob apoiou os cotovelos à mesa,
respirando fundo, tentando controlar o tremor do próprio corpo.

— Eu posso... Te levar até a sua casa... Estaciono longe, ninguém vai ver e-

— Eu quero voltar no tempo.


— Yo. - ele lamentou. Syuk hesitou alguns segundos antes que seus dedos
tocassem os ombros de Yoseob com cuidado. Pela primeira vez em anos em
anos, não foi repelido. - Eu também quero isso, todos os dias.

Yoseob estava tenso. O corpo forte e cansado travava uma luta dolorosa
entre a razão manipulada pela cura e a emoção de ter outra vez os toques de
Syuk. Deveria se afastar? Deveria continuar? Aquilo o jogaria no inferno?
Ou viver sem aquilo era estar no inferno?

— Passei vinte e cinco anos da minha vida fazendo exatamente o que me


disseram para fazer, Syuk. Eu caminhei por onde mandaram ser certo, matei
tudo o que me fazia feliz, eu tentei amar Dahye como eles disseram, eu tive
os meus filhos... Eu fiz exatamente tudo o que precisava para poder ser
feliz... Mas desde aquela noite, a última... Quando você me amou no banco
de trás do teu carro, eu não sou feliz. Eu nunca mais fui feliz. E agora, eu tô
fazendo o mesmo com os meus filhos.

— Não é sua culpa...

— É minha culpa. Tudo isso é minha culpa. Jiwoo me odeia e Hoseok


também. Fiz tanto pra nunca ir pro inferno, mas eu estou vivendo dentro de
um há vinte e cinco anos. Eu queria voltar no tempo.

As mãos de Syuk deslizaram, elas tocaram mais do corpo saudoso e trêmulo,


massageando a pele por baixo das roupas quentes que esquentavam quase
nada. O que Yoseob sentia era dor física.

— Você pode recuperar o tempo agora.

— Como? - a voz dele estava embargada. - Você 'tá tocando o meu corpo e
eu não consigo mais distinguir essa realidade porque a minha mente pinta
isso como um erro.

— Yoseob...

— Porque eles me diziam isso, eles gritavam, eles me faziam repetir


constantemente enquanto machucavam tudo! Como eu posso recuperar isso?
— Você quer que eu tire as minhas mãos do seu corpo?

Yoseob respirou fundo. Os ombros largos tremeram brevemente. Então Syuk


continuou em silêncio quando a mão fria segurou seu pulso direito. O
coração dele se apertou, entenderia caso fosse afastado, mas aquilo ainda
doía demais. Mais do que gostaria, ele conseguia escutar os gritos de seu
poeta preso por dentro de toda a agonia que aquele homem tentava camuflar.

Mas Yoseob segurou a mão macia entre os próprios dedos trêmulos e a


beijou.

Beijou enquanto as lágrimas grossas brotavam dos olhos castanhos. Ele


também sorria segundos antes de chorar.

— Me tira daqui...

— Eu vou te levar pra casa...

— Não. Eu nunca tive casa depois de morar em você. Me tira de mim, me


tira do que eu me tornei quando deixei de brigar por nós dois, Syuk. Me
ajuda.

Syuk assentiu um pouco antes de beijar o cabelo dele.

— Eu te ajudo. Tudo vai ficar bem, eu prometo.

— Olha pra mim, deixa eu ver...

— Olha as suas mãos... 'Tá doendo, eu sei!

— Calma, deixe ele respirar! - Namjoon reclamou, outra vez.

— Eu 'tô bem, espera aí... Calma Yoongi... Taehyung para com isso!

Hoseok estava sentado entre os namorados. No banco de trás do carro


enquanto Jimin dirigia e Namjoon tentava ler os documentos que conseguira
sobre a prisão do Jung, mas a ausência dos óculos não facilitava nada.
Yoongi, do lado direito, usava um pedaço de papel higiênico para limpar o
sangue seco dos lábios de Hobi, já Taehyung - do lado esquerdo - o tocava
em todos os lugares para ter certeza de que nada faltava.

— Hyung, deixa pra limpar isso em casa, não vai adiantar fazer agora com
saliva.

— Para de passar cuspe na minha cara, Yoongi!

— Fica quieto! Seu rosto 'tá machucado! - Yoongi estava com a voz
embargada. - Você quer me matar, Hoseok... Quer me fazer cair duro! Você
tem noção do que eu senti quando Taehyung me falou o que aconteceu?
Lembrei daquela noite, de ter desmaiado na neve e-

— Hey, hey... Calma. - Hoseok segurou as mãos dele com carinho. - Yoon,
eu 'tô bem, 'tô aqui e inteiro.

— Então vamos passar num hospital pra ver isso, fazer um-

— Não precisa, lá na delegacia eles me ajudaram, não tem nada além disso
aqui. - apontou para o próprio rosto.

Yoongi suspirou, mas Hobi o puxou para se aconchegar em seus braços. Ele
encarou Taehyung, a outra mão segurou a maior com carinho até que os olhos
estivessem sobre os seus.

— Eu 'tô bem. - sussurrou, mas Taehyung não disse nada. Parecia sério
demais.

— Jin-hyung foi buscar o carro do Yoongi-hyung, ele avisou que já chegou


em casa.

— Ele falou algo se o Jungkook melhorou? - Jimin encarou Namjoon.

— Não, mas ele deve ter melhorado depois do remédio, ele vai ficar legal
logo. - sorriu um pouco.

— Jungkook ainda 'tá doente? Vamos levá-lo ao médico.


— Hoseok, você não tem vergonha nessa cara, não? A gente implorando pra
te levar no pronto socorro e você fazendo birra, aí agora quer levar o
Jungkook. - Yoongi o largou. - Vou levar os dois! Pronto! Vai segurar a mão
dele seu medroso!

Em casa, Jin serviu um pouco de chá quente em uma xícara vermelha


enquanto lia as últimas mensagens de Sunmi. Os dois ainda estavam
discutindo sobre o tipo de berço mais confortável para a filha, mas não
conseguiam chegar a lugar nenhum. Sunmi estava sensível por conta da
gravidez, então ele precisava ser um pouco mais paciente com as coisas,
principalmente porque via de perto como a gestação a afetava fisicamente
rápido demais.

Seokjin pensava o tempo todo em formas de fazer mais por ela, mas não
sabia como e isso o deixava frustrado.

Ele saiu da cozinha com a xícara em mãos, subiu as escadas e entrou no


quarto onde Jungkook continuava deitado, encolhido sobre o colchão, sob um
cobertor azul.

— Aqui, o hyung fez. Minha avó sempre fazia esse chá quando eu e Jisoo
ficávamos com dor de barriga. - o ajudou a sentar na cama. - Coloquei até na
sua xícara do Iron Man.

— Obrigado, hyung. - sorriu um pouco depois de aceitar a xícara.

— Você não está com febre. - o tocou na testa. - Ainda acho que você comeu
alguma coisa estragada. Quer tentar tomar uma sopa? Eu faço bem rápido.

— Não precisa, eu vou vomitar tudo.

— Quer ir ao médico? - Jungkook negou e bebeu um gole do chá. Tinha


cheiro de planta e um gosto horrível. - Eu sei que o gosto é péssimo, mas
ajuda.

— Eles deram notícias?


— Namjoon me disse que eles estão vindo. - Jin sentou na ponta do colchão.
- Jungkook...

— Hm?

— Você lembra do rosto da sua omma?

Jungkook franziu o cenho, era estranho que Jin puxasse esse assunto porque
de todos ali, o hyung mais velho era aquele que mais evitava o deixar
desconfortável.

— Não muito.

— Por que? - insistiu.

— Meu appa jogou fora a maioria das fotos, ela também não gostava muito
de tirar fotos... Ele disse.

— E você nunca pediu pra ele te mostrar?

— Uma vez, eu tinha dez anos... Depois disso eu não quis mais.

— Por que não?

— Porque se ela não ligar pra mim eu também não vou me importar com ela.

— Entendi. - Jin encarou os próprios pés, as meias cor-de-rosa e sorriu um


pouco. - Acho que eu ia querer saber como ela é... Vai saber... Sua omma
pode ter passado por você alguma vez. Já imaginou?

— Não. Hyung eu não tenho rosto nenhum pra reconhecer e isso me poupa de
sair por aí procurando por ela. Ela também não me reconheceria. - deu de
ombros.

— Não tem vontade de conhecer as suas raízes maternas? - Jungkook negou.

O rosto baixo denunciou a Jin que aquela conversa com estava o fazendo
bem. Ele ficou suspirou.
— Olha pro hyung, JK. - o garoto ergueu os olhos grandes. - Desculpa, eu só
queria saber. Isso é direito seu. Teu appa não deveria ter jogado as fotos
fora, não foi justo com você porque ela faz parte da tua existência, entende?

— Appa não gosta de me ver sofrer... Ou triste.

— Eu tenho certeza disso. Mas agora você é um homem adulto, então... Por
favor, não se baseie apenas nas coisas que o seu appa, Jimin, Hoseok ou até
mesmo eu, determinamos, ok? Tome suas decisões, faça suas escolhas
sozinho. - se aproximou para afagar o cabelo escuro e embaraçado. - O
hyung te ama, ok?

— Eu também te amo, Jin-hyung. - sorriu, enrugando nariz.

Depois disso, ouviram a porta da frente abrindo e a confusão de vozes.


Jungkook chutou o cobertor para longe, mas o olhar sério de Jin o fez beber
o chá inteiro antes de descer junto dele para a sala de estar.

Hoseok sorriu ao ver o garoto praticamente correndo até abraçá-lo forte.

— Aí, aí... Calma.

— Ah, desculpa hyung! Desculpa! - se afastou de olhos arregalados, mas


Hoseok riu.

— Tudo bem, vem aqui. - o puxou de volta.

— A paternidade realmente faz um homem. - Namjoon provocou depois de


trancar a porta.

— Hyung seu rosto está machucado.

— E você tá pálido pra caralho, por que não ao médico?

Jungkook coçou a nuca e sorriu.

— Hobi, você precisa de um banho agora. - Taehyung ainda estava sério


demais.
— Preciso mesmo, acho que 'tô fedendo. - fez careta enquanto cheirava o
próprio moletom.

— Hyung deveria tomar banho na banheira do Jin-hyung, vai ajudar com as


dores.

Jungkook subiu junto de Hoseok, falando sem parar só para demonstrar o


quanto estava preocupado. Yoongi seguiu Seokjin até a cozinha e aos poucos
os sete estavam em cantos opostos da casa fazendo coisas diferentes.

Não queriam falar sobre nada daquilo por enquanto.

Já passava de meia noite quando Hoseok ocupou seu lado da cama espaçosa.
Ele abraçou Yoongi, buscando o corpo menor para se aconchegar até ser
abraçado ao deitar a cabeça sobre o peito dele.

— Nunca mais faça isso, Hoseok.

— Yoon...

— Nem vem. - negou quando o namorado o encarou. - Podia ter acontecido


tanta coisa, eu nem gosto de imaginar. O que te deu?!

— Você sabe muito bem que aquele cara provoca-

— E eu sei que a gente tinha combinado fazer as coisas com calma, esperar
até Namjoon verificar a situação do Tae.

— Eu não tenho sangue de barata! Aquele filho da puta chegou falando


merda, debochando da gente, insinuando coisas sobre o Taehyung! O que
você queria que eu fizesse?

— Qualquer coisa que não te fizesse ser preso. Você já tem problemas por
causa daquela vez... Seok-ah... O seu appa-

— Eu vou pagar cada centavo da fiança!


— Tudo bem, vamos fazer isso... Mas eu ainda não entendi como ele não te
arrastou daquela delegacia, parece impossível. Ele te disse algo?

— Yoon. - Hobi mordeu o lábio inferior e começou a fazer carinho na coxa


do namorado, por baixo do short folgado. - Lembra daquele amigo do meu
appa?

— Uhum.

— Ele estava lá. Junto com ele.

— O que?!

— Também não entendi direito. Appa estava sem a aliança, o outro cara me
disse para escutá-lo... Me pediu para esperar até conversamos os três: eu,
appa e Jiwoo.

— Mas que porra...

— Sim, não faz sentido! Ele com certeza 'tá tramando alguma coisa, eu tenho
certeza. Vai tentar prejudicar a gente, me ameaçar.

— Seok, calma. Vamos pensar um pouco sobre isso, eu quero entender


porque esse outro cara estava junto. Sua família inteira sempre fingiu que ele
sequer existia.

— A minha família tem o costume de apagar a existência de quem não faz


tudo como eles querem. Appa não é diferente, não quero ouvir nada do que
ele tem pra dizer.

— Ok, você não precisa ouvir nada. - o beijou na testa. - Ainda dói? -
perguntou tocando com cuidado a maçã machucada do rosto alheio.

— Não. - beijou a mão dele. - Cadê o Tae?

— Estava com o Jimin, ele ficou muito nervoso. Daqui a pouco ele vem,
você sabe que ele precisa de um tempo quando fica nervoso.
— Eu sei. - assentiu, então Yoongi bocejou. - Vamos dormir? Deita do
jeitinho que você gosta.

Yoongi sorriu, as gengivas rosadas se mostraram enquanto ele se mexia para


deitar de lado, logo sendo abraçado por Hoseok que passou a fazer carinho
sobre sua barriga macia. Ele se encolheu, já de olhos fechados.

— Amanhã eu vou te dar um puta sermão.

— Eu sei. - beijou a nuca exposta.

— Eu te amo.

— Eu te amo, Yoon.

Quando Yoongi dormiu, Hoseok o deixou na cama praticamente empacotado


com um bolo de cobertores e saiu do quarto silenciosamente. As luzes já
estavam apagadas, ele usou a lanterna do celular para iluminar as escadas e
o caminho até a pequena varanda da frente. A luz estava acesa ali, dava para
ver as pernas longas de Taehyung espalhadas em um dos bancos enquanto a
mão grande segurava um cigarro aceso.

Hobi saiu e, sem dizer nada, sentou ao lado dele.

Ficaram assim por um tempo, observando a rua escura e vazia. Dividindo um


cigarro mentolado que ambos achavam doce demais.

— Você não vai fazer isso. - Hoseok sussurrou, mas seus olhos marejados
estavam focados na rua.

— Achei que ele fosse perceber antes de você. - Taehyung soprou a fumaça
para cima.

— Essa tentativa de soar frio é ridícula. - sorriu um pouco, mas havia um nó


em sua garganta. - Yoongi anda com a mente muito cheia, só por isso ele não
percebeu.

— Meu appa me ligou ainda há pouco. Taewoo disse a eles que o meu novo
caso promíscuo é um homem agressivo e dependente químico. Me
mandaram voltar para Daegu.

— O filho da puta fez de propósito, não fez? Ele sorriu quando a polícia
chegou.

— Por que você bateu?

— Porque ele mereceu. Porque ele merece que eu vá até o hospital e o


sufoque com o travesseiro... E ninguém pode me culpar por isso. Nem você.

— Eu não te culparia, quero fazer a mesma coisa desde os meus quinze anos.
Você ao menos é mais corajoso que eu.

Hoseok tomou o cigarro, sua mão estava tremendo.

— Você não vai fazer isso, Taehyung. - tragou demoradamente. - Você não
vai deixar a gente.

— Hobi...

— Você não vai desistir de tudo que a gente tem pra viver...

— Ele não vai deixar a gente viver. - a voz embargada estava baixa. Hobi o
viu acender outro cigarro. - Ele sabia do teu problema com drogas e agora
sujou ainda mais o seu nome, o seu futuro... Ele vai dar um jeito de fazer a
mesma coisa com o Yoongi.

— Seu covarde de merda. - sussurrou enquanto os dedos trêmulos batiam o


cigarro dentro do cinzeiro de ferro. - Você não vai quebrar o meu coração,
não vai quebrar o coração do Yoongi... Não vai quebrar a droga do seu
coração, Taehyung.

— Eu não quero estragar o futuro de vocês...

— E que droga de futuro você acha que vai existir se a gente não tiver você
junto?! - gesticulou. - Que droga de futuro esse amor vai ter se ele não for
inteiro? Achei que eu e ele fossemos mais importantes ao ponto de te fazer
enfrentar isso... - sorriu. - Você quer aquele que ama menos num
relacionamento? Ou o mártir que sacrifica? A gente não quer a droga do teu
altruísmo, a gente quer você.

— Me querem pra foder de vez a vida de vocês? Hoseok, pelo amor de


deus. - ele tragou depressa e com o pulso secou as lágrimas. - Você acha que
isso é fácil? Abrir mão daquilo que eu mais amo nesse mundo? Abrir mão
das únicas pessoas que me fizeram feliz desde o dia em que nasci? - a voz
dele falhou. - Eu 'tô arrancando o meu coração do peito com as minhas mãos,
'tô tentando ferrar ainda mais os meus pulmões pra conseguir parar de
respirar... Assim isso vai parar de doer.

— Seu idiota. - Hobi o empurrou até poder sentar sobre as coxas do


namorado, abraçou-o apertando, deixando esconder o rosto contra sua
camisa. Os ombros de Taehyung tremeram, o cigarro caiu no chão enquanto
as mãos grandes apertavam o corpo alheio. - Para de pensar nessa solução
sem sentido... Eu e Yoongi te roubamos de volta de qualquer forma, de
qualquer lugar.

— Hobi... Eu não sei o que fazer. - confessou, as lágrimas já molhavam a


roupa de Hoseok.

— Você vai ficar com a gente. Juntos, amor. Você não 'tá mais sozinho
Taehyung, você nunca mais vai ficar sozinho. - beijando os cabelos dele, o
abraçou mais forte. Ele também estava chorando. - Nunca mais me deixa ver
isso nos teus olhos de novo.

— O que?

— Que você quer nos deixar. Lembra do que o Yoon diz?

— Um caminho...

— Feito de cerejas. - ele abaixou o rosto para beijar os lábios do mais novo.
- Você é um universo de estrelas, é o nosso céu e eu preciso de você de dia e
Yoongi precisa de você de noite, é o nosso ponto de encontro e por isso
passamos tanto tempo longe... A gente precisa de você. A gente ama você
mais do que seria possível explicar e ninguém no mundo vai mudar isso. -
Taehyung assentiu, os olhos marejados outra vez. - Ninguém.
— Ninguém. - repetindo, ganhou um beijinho na ponta do nariz.

Hoseok sorriu um pouco e de pé estendeu a mão para o maior. Ele trancou a


porta quando entraram juntos, o guiou pela escada até o quarto onde Yoongi
ainda dormia encolhido. Deitaram junto dele, um de cada lado, fazendo-o se
remexer até estar agarrado ao corpo de Tae.

— Você está frio, amor. - murmurou sonolento, agarrando-o mais.

— Esquenta ele, Yoon. - Hoseok apagou a luz do abajur e o abraçou por trás.

Taehyung beijou o cabelo de Yoongi e fechou os olhos.

Chegou a cogitar deixar tudo, mas bastou estar em seu lugar para perceber
que nunca conseguiria. Não naquela vida e provavelmente em nenhuma
outra.

Jimin olhou ao redor antes de fazer aquela ligação, mesmo com Hoseok
vigiando o quarto. Trocaram um olhar breve enquanto o mais novo esperava
ser atendido.

— Alo?!

— Chinrae-hyung, é o Jimin.

— Ah, oi Jimin-ah! Como você está? - Jimin ouviu o som característico de


uma porta fechando. - Tudo bem com Jungkook? Ele melhorou?

— Estou bem, hyung. Jungkook acordou mais disposto, ele 'tá ajudando o
Jin-hyung com o almoço. O senhor está bem?

— Sim, obrigado por perguntar. - ele ficou em silêncio. - Jimin, o que você
quer me falar?

— O senhor... - Jimin encarou Hoseok. - Hyung, eu vou contar pro Jungkook


sobre a omma dele, que ela é a minha tia.
O silêncio na linha deixou Jimin mais nervoso, ele encaixou a unha do
polegar entre os dentes, raspando-a para tirar o esmalte roxo. Hoseok
gesticulou.

— Hyung?

— Estou aqui. - respondeu mais baixo. - Ela voltou a procurá-lo?

— Pode-se dizer que sim. Agora eles interferem até nos projetos dele, isso
está errado hyung.

— Jimin... Eu não-

— Hyung, eu te respeito muito, mas não acho que essa situação deva
continuar assim. Jungkook tem o direito de saber e decidir se quer ou não
deixar Hyo-noona se aproximar, nós deixamos isso chegar muito longe. Vai
ser pior se ele descobrir de outra forma.

— Você se importa com ele...

— Eu amo o seu filho, hyung. Eu o amo demais e essa situação me faz sentir
culpa, me faz ter medo de perdê-lo... Eu sinto muito. Vou contar pra ele.

— Espere.

— Hyung-

— Eu fiz isso tudo, te envolvi nisso tudo... Eu vou contar pro Jungkook, é o
meu dever. Isso é sobre a nossa família. - Chinrae suspirou. - Eu sinto
muito por ter envolvido você nessa situação, Jimin. Por favor, me dê um
dia. Hoje mesmo compro a passagem e procuro um hotel mais em conta pra
ficar-

— O senhor não vai ficar em hotel, hyung. A nossa casa é muito grande, não
se preocupa com isso.

— Tudo bem. Me dê mais um dia, amanhã de manhã chego aí. Tudo vai ser
resolvido.
— Certo, hyung. Me avisa, vou buscá-lo na estação.

— Obrigado, Jimin.

Jimin desligou a chamada e encarou Hoseok. O respiro aliviado fez o mais


velho sorrir.

— Ele vai vir pra cá amanhã e conversar com o Jungkook.

— A gente pode sair e deixar os dois sozinhos aqui, é melhor.

— Vamos fazer isso. - Jimin assentiu. - Só mais um dia hyung. Só isso.

Hoseok o abraçou.

Jin empurrou a porta com o quadril, as mãos estavam ocupadas com sacolas
coloridas que foram deixadas sobre a mesa de jantar para quatro pessoas.

— Você trouxe o sorvete? - Sunmi se aproximou. Estava com os longos


cabelos presos, a camiseta larga não deixava evidente, mas a barriga de seis
meses estava redonda e bonita.

— Trouxe. E também trouxe a sopa de algas.

— Cadê? Onde 'tá?

Ele rapidamente pegou a sacola branca para entregar a ela. Sunmi virou as
costas e saiu. Jin sorriu. Das outras sacolas ele tirou diversas peças de
roupas para bebês, coisas tão pequenas que o deixavam sensível.

— Olha isso, baby.

Ela se virou outra vez, a boca cheia de sorvete de chocolate. Jin segurava um
macacão branco, fofo como pelúcia.

— O que é isso?
— Roupa de alpaca.

— Alpaca? Você quer vestir a nossa filha de alpaca, Jin?

— Eu comprei um moletom igual pra mim! - mostrou o moletom idêntico ao


corte do macacão. Sunmi segurou o riso. - Posso comprar um pra você.

— Eu passo, obrigado.

— Você 'tá comendo sopa com sorvete? - a careta era de desgosto.

— É sua filha! Ela parece você! O tempo todo com fome!

— Ok, ok... Não fica nervosa... Não chora Sun, passou. Você quer um pouco
de biscoito?

— Quero. - ela estava emburrada.

— Senta aí, vou buscar.

Sunmi ocupou o sofá maior esticando as pernas nuas para aliviar a dor nos
pés que não parava de inchar graças a retenção de líquido. Jin pegou um
pacote de biscoitos e uma latinha de cerveja esquecida no fundo da
geladeira. Voltou para a sala e entregou os biscoitos a ela antes de ajustar os
pés delicados sobre suas coxas.

— Ela mexe demais quando você tá perto.

— Acha que ela reconhece a minha voz? - a massagem nos pés de Sunmi a
fizeram suspirar.

— Provavelmente. A médica marcou a cesárea.

— Ótimo. Estava preocupado com isso, não quero mais te ver sentindo
dores. - os dedos habilidosos massageavam a sola do pé direito. - Sobre o
berço, vi na internet que aquele branco é mais seguro e confortável.

— Então vamos comprar esse.


— Um pra cá e uma pro meu apartamento, pelo menos ela não vai estranhar.
- Sunmi assentiu, os lábios estavam cobertos de sorvete e sopa. - Baby, você
acha que eu vou conseguir fazer isso?

— Fazer o que?

— Ser um pai bom pra ela.

— Jin... - ela suspirou.

— Eu tenho medo, Sun. O quanto a gente pode errar tentando proteger os


filhos? Como a gente faz pra saber se o que a gente quer é o que vai ser bom
pra ela? Vivo em uma casa com três exemplos claros de como superproteção
pode ser ruim e um exemplo de como a liberdade por ser péssima. - ele
massageou o outro pé. - E agora eu não estou observando isso como filho,
mas sim como pai. As coisas realmente mudam de perspectiva quando a
gente tá desse lado aqui.

— Entendo o que você quer dizer. Aquele papo sobre a gente só entender
nossos pais quando nos tornamos pais. Sinceramente, o amor que eu sinto
por nossa filha me assusta às vezes...

— Pode falar, 'tá tudo bem.

— Tentei falar sobre isso, mas as pessoas me olham como se eu fosse um


monstro. Quando a gente ouve e vê a Yumi, durante as consultas, eu fico
assustada Jin. Ela vai depender da gente por um longo tempo, ser tão frágil e
pequena... E esse mundo é grande demais.

— Será que os nossos pais, quando erram, também estão pensando assim?
Na grandeza do mundo e na nossa pequenez? - os dois estavam se encarando.
- Quantas vezes a gente vai errar achando que 'tá fazendo certo?

— Ser pai e mãe é igual a aprender a andar, Jin. A gente não sabe, tropeça,
cai de cara no chão. Mas quando somos bebês temos alguém pra nos segurar
e colocar de pé, já adultos...
— É levantar sozinho. - sorriu um pouco. - Eu quero estar perto, não quero
deixar que Yumi tropece demais, mas aprendi a andar sozinho tropeçando...
Entende o que eu quero dizer?

— Uhum. Nós vamos dosar isso. Me dá a sua mão. - Sunmi segurou a mão
grande para colocar sobre a lateral da barriga, não demorou nada até Jin
sentir contra a palma a vibração de um chute. - Vamos tentar por nossa Yumi.

Jin se esticou para beijar demoradamente a testa de Sunmi, depois beijou o


topo da barriga estufada.

— Oi, minha princesa. Eu te amo mais do que tudo. - sussurrou próximo ao


tecido da camiseta larga. Outro chute e ele sorriu.

— Continue a massagem na minha omma! - Sunmi afinou a voz, se fazendo.


Seokjin rolou os olhos, mas riu. - É ela que tá pedindo, você ouviu.

— Coitado de mim se essa menina puxar o seu gênio, Sunmi-ssi.

— Eu posso pegar o carro do Yoongi-hyung.

— Não. - Quando Jungkook saiu do banheiro, Jimin largou o celular para


olhá-lo melhor. O garoto continuava pálido, os lábios finos ressecados o
suficiente para criar peles branquinhas na parte inferior. Ele o ajudou a
deitar na cama, o ajeitando com carinho. - É um mal-estar.

— Bebê, já fazem dois dias e você não para de vomitar. - ele abriu a
mochila e tirou de dentro dela duas sacolas. Jungkook reconheceu o logotipo
de a farmácia do campus. - Comprei mais antiácido e lenços umedecidos. -
colocando tudo sobre a cama, ele não viu que o mais novo quase corou.

— Obrigado. Não está mais ardendo. - deitou na cama.

— Usa o chuveirinho quando sente dor de barriga, aí você não precisa usar
papel. - serviu o copo com água e destacou um dos comprimidos para
indigestão. - Ainda tá com diarreia também?
— Jimin-ssi. - reclamou depois de aceitar o remédio e engolir junto da água.
- Hoje estou vomitando mais. Pior que sinto fome, mas nada para dentro da
minha barriga. - disse chateado. Jimin suspirou chutando os ténis para subir
na cama e deitar sobre os travesseiros, ao lado dele.

— Quer que eu faça mais chá? Você tenta comer uns biscoitos de sal. -
cogitou o abraçando. - Por mim a gente ia logo ao médico.

— Deve ter sido algo que eu comi e me fez mal.

— Fica comendo aqueles lanches gordurosos da lanchonete, eu já te disse


pra ficar com o meu cartão de débito para almoçar.

— Não vou gastar o seu dinheiro. - Jimin rolou os olhos e beijou o topo do
cabelo escuro do namorado.

— O que você comeu de diferente nos últimos dias, bebê?

— Nada. - bocejou. - Comi um pedaço daquela pizza caseira do Hobi-hyung,


mas você também comeu e 'tá bem.

— Hobi-hyung é muito limpo e cuidadoso quando cozinha, não acho que foi
isso.

— Ah, tem os chocolates que você mandou pra mim hyung.

Jimin franziu as sobrancelhas, estava confuso.

— Que chocolate, Jungkook?

— O que você mandou me entregar há três dias, os bombons com maracujá e


morango, até esqueci de te agradecer, mas a gente mal se viu por causa das
suas provas e do negócio do Hobi-hyung ser preso-

— Jungkook. - o menor desfez o abraço e o puxou com cuidado até que


estivesse o olhando de frente. - Quem te entregou os chocolates?

— Um entregador. - estranhou. - Ele me disse que era mandado por Park


Jimin, a caixinha amarela com um laço azul. - sorriu. - Treze bombons, o
nosso número, né?

— Amor, calma... - ele respirou fundo. - Eu não mandei nada pra você, a
gente ia sair pra comemorar a aprovação do seu projeto? Se eu fosse te dar
alguma coisa, seria em casa ou eu mesmo entregaria.

— Então-

— Cadê a caixa? Você guardou? - Jungkook assentiu. - Onde?

— Na gaveta do meio, perto dos jogos. - apontou.

Jimin, já de pé, vasculhou a gaveta até encontrar a caixa média e elegante,


abriu-a com pressa, puxou o papel colorido que estava amassado dentro dela
e depois o laço preso por grampos discretos. Jungkook não estava
entendendo, a vontade de vomitar outra vez o deixava torpe.

Quando Jimin encontrou, muito bem escondida, as duas palavras escritas no


avesso do laço, entrou em desespero.

— Jungkook coloca uma camiseta, eu vou pegar as chaves do carro. - jogou


a caixa sobre a cama.

— O que foi? Por que você ficou assim? - Jimin não respondeu, saiu do
quarto. Jungkook o seguiu. - Jimin!

Yoongi gritou assustado quando a porta do quarto foi empurrada, Taehyung


se cobriu depressa com o lençol e Hoseok escondeu as algemas atrás do
corpo.

— Mas.... Bate na porta! Você não viu a meia na maçaneta? Meia na


maçaneta quer dizer: estamos transando-

— Preciso do seu carro. - interrompeu Taehyung. - Agora hyung, preciso


agora.

— Hey, o que foi? - Jungkook também entrou no quarto.


— Jimin, dá pra você dizer o que está acontecendo? - sentia-se tonto, o
estômago revirando.

— Preciso levar o Jungkook pro hospital agora. - o desespero em sua voz, a


seriedade e até mesmo a postura, fez Hoseok perceber que algo estava
errado. Ele encarou Jungkook dos pés à cabeça, igualmente preocupado. -
Minseo mandou chocolates para ele no meu nome e ele comeu, hyung. Ele tá
passando mal há dois dias... Ela fez alguma coisa com ele, por favor... Eu
preciso levar ele pro hospital.

— Minseo? - Jungkook sussurrou, esse nome não era estranho. - Quem é


Minseo, Jimin?!

— Jungkook coloca uma camisa, pega sua identidade. - Hoseok tomou a


frente. O tocou com cuidado, mas pressa, o corpo do garoto estava suado e
quente demais. - Yoongi, você é quem dirige mais rápido, vai tirando o
carro.

— Hyung... Por que ninguém me fala o que 'tá acontecendo?! Por que... -
antes que terminasse, Jungkook fez careta e se curvou para vomitar no chão
um líquido amarelo e fedido.

— Hyung, pelo amor de deus... - Jimin estava desesperado. - Por favor, me


ajuda.

Jungkook vomitou outra vez no carro, dentro de uma sacola plástica. Não
confessaria, odiava dar trabalho ou preocupar as outras pessoas, mas a dor
de barriga não passava. Hoseok estacionou o carro enquanto ele e Jimin
entraram no pequeno ambulatório universitário.

Não demorou muito até Jungkook estar em uma das salas de medicação,
sobre uma cadeira hospitalar com uma bolsa de soro pronta para ser ligada
ao braço direito. Jimin o ajudou a se livrar dos coturnos apertados quando o
enfermeiro voltou. Era jovem, um residente que Jimin conhecia de vista.
— Nós vamos tirar um pouco do seu sangue, Jungkook-ssi. Pode esticar o
braço por favor? - o enfermeiro preparou a coleta em silêncio, desde que os
olhos grandes de Jungkook não saiam de Jimin. Ele estava com raiva. -
Prontinho, o resultado sai em meia hora. Enquanto isso você vai tomar...

As nomenclaturas laboratoriais sequer foram ouvidas pelo mais novo, ele só


queria ficar sozinho com Jimin outra vez para perguntar sobre Minseo.
Quando o enfermeiro saiu, Jimin se aproximou para ajudá-lo a tirar a jaqueta
pesada que estava vestida apenas no braço livre. Ele a pegou, dobrou e ficou
quieto.

— Você não consegue olhar pra mim, Jimin.

— Jungkook... Agora não, você precisa ficar quieto.

— Agora não. - repetiu. Jungkook recostou a cabeça a cadeira confortável e


fechou os olhos. - Você sempre diz isso quando 'tá querendo me poupar,
como se eu fosse incapaz de entender.

— Isso não é verdade, eu só evito brigar...

— Você disse que eu tentava acabar com as brigas transando, mas você faz a
mesma coisa quando me distrai só pra não dizer o que aconteceu. - o
encarou. - Jimin, quem é Minseo?

— Não dá pra falar sobre isso agora, Jungkook. - ele sentou na cadeira
oposta e também fechou os olhos.

— A gente só fala das coisas quando você quer.

Hoseok entrou na sala espaçosa e franziu o cenho para a agulha no braço de


Jungkook. Odiava agulhas. Ele sorriu para o mais novo.

— E aí?

— O médico pediu um exame de sangue e colocou ele no soro. - Jimin


respondeu.

— Você logo vai melhorar, Jungoo. A gente vai pra casa daqui a pouco.
Durante trinta minutos ficaram em silêncio. E Jimin evitou o olhar de
Jungkook. Hoseok acabou cochilando em uma das cadeiras, encolhido por
conta do frio comum em hospitais. Ele só acordou quando enfermeiro voltou,
dessa vez com médico plantonista.

— Jeon Jungkook. - se virou para o paciente. - Você sofre de algum quadro


de bulimia?

A pergunta fez os três franzirem suas sobrancelhas. Jimin ficou de pé, indo
para perto do namorado.

— Não. - Jungkook negou, estava confuso.

— Eu preciso que o senhor seja bastante claro para que eu possa fazer o meu
trabalho da melhor forma, senhor.

— Eu não tenho. Nunca tive. - repetiu com convicção.

Médico e enfermeiro trocaram um olhar.

— O seu sangue constatou uma grande quantidade de medicamento que induz


vômito, infelizmente, é muito usado por pessoas que sofrem de bulimia. Se o
senhor não sofre dessa doença, como esse medicamento foi parar no seu
organismo?

Jimin sentiu a garganta secar.

Quis se esconder. Desaparecer.

A saliva se tornou amarga conforme descia para ser engolida. Era como
agulha, rasgava-o do céu da boca até o peito.

Mas ele sorriu e tomou a frente de Jungkook.

— Eu sou.

Confessou como se a voz firme pudesse camuflar o temor do corpo inteiro.


Ele sabia. No dia seguinte toda a universidade saberia daquilo. Os
residentes não eram discretos. Jimin sorriu sem graça.
— Os remédios... Ele estava com dor de cabeça e eu provavelmente me
confundi com os comprimidos para dor. O senhor sabe que são parecidos.

O médico o encarou com desconfiança.

— Qual é o seu nome, rapaz?

Jungkook segurou a jaqueta do namorado. O olhar implorava para que


parasse.

— Park Jimin.

O homem anotou o nome no prontuário.

— A sua irresponsabilidade quase fez o seu amigo ficar muito mal, se quer
se matar não envolva terceiros, assim. - disse duramente. - Vá até o prédio
da administração e procuro por um orientador, ele vai te encaminhar aos
residentes de psiquiatria.

— Sim, senhor. - assentiu.

Os dois homens saíram, então Hoseok suspirou lamentando. Depois Jimin


saiu pelo lado contrário. Jungkook quis ir atrás dele, mas estava preso ao
soro.

— Você não pode sair, fica aqui. Eu vou atrás dele.

— Hyung...

— Vou trazer ele, prometo.

Do lado de fora, no estacionamento vazio, Hoseok encontrou Jimin sem


procurar muito. O mais novo estava encostado ao carro, havia um cigarro
aceso entre os dedos pequenos que tremiam muito e mal acertavam os lábios
grossos quando ele o traga.

Jimin estava chorando.


— Ela fez isso. - sussurrou apontando o cigarro para o amigo. - Ela colocou
na droga dos bombons o mesmo remédio que me ensinou a tomar, os
comprimidos que diluía dentro dos potes de sorvete, dos bolos e toda a
comida que me obrigava a comer para conseguir ficar calmo... Minseo
conseguiu fazer a única coisa que eu tinha medo, hyung. - ele tragou, os olhos
chorosos se apertaram. - Porque eu nunca me importei com a merda que ela
fazia comigo... Mas ela machucou o Jungkook. - disse ainda mais baixo, o
cigarro sacudindo na mão que não parava de tremer. - Ela envenenou o
Jungkook igual envenenou a mim.

— Nós vamos até a polícia. Liga para os seus pais.

— De que adianta? - riu sem humor. - O pai dela vai dar um jeito, vai pagar
o que for até que ela esteja livre. E eu? Eu nunca vou ser livre? Eu vou ter
de matar essa mulher pra ser livre? Se for assim eu vou morrer preso as
merdas que ela me fez.

— Você nunca machucaria uma mulher, para de dizer merda. - encostou no


carro também, bem ao lado de Jimin. - Eu sinto muito. Jimin, você ainda...

— Muito menos desde que ele me ajudou a parar. Ele me fez gostar de mim
de verdade, hyung. Eu gosto do que eu sou por causa dele e agora preciso
entrar ali e contar que sou uma merda de homem, um lixo... Que ele se
apaixonou por um lixo.

— Jimin, por favor-

— Que o homem que ele ama é um fodido do caralho, Hoseok. Um mentiroso


responsável pela morte do filho e-

— Para de dizer isso! Não foi você quem fez aquilo, foi ela!

— Fez por minha causa!

— Não! Ela fez porque é desequilibrada, é uma pessoa doente! - Hobi tomou
a frente dele, só então percebeu que Jimin pressionava a ponta do cigarro
contra o próprio pulso. - Para! Jimin, me dá essa merda! - tomou, apagando-
o com a ponta do tênis colorido. - Olha pra mim, Jimin!
Jimin se encolheu.

— Amanhã as pessoas vão saber quem eu sou de verdade...

— Não interessa o que essas pessoas vão dizer, você não precisa da
aceitação de ninguém além da sua! Você me disse isso! Olha pra mim,
respira fundo. - o abraçou. - Você é um homem forte, sempre foi. Você
sempre foi o mais forte de nós, Jiminie. O meu exemplo.

— Eu não aguento mais hyung.

— Amanhã isso vai acabar. Espera o pai dele chegar, então você conta tudo
ao Jungkook. Posso fazer isso com você, ok?

— Ok, hyung. - assentiu enquanto fungava.

— Ele 'tá confuso lá dentro, 'tá doente e prestes a arrancar aquele soro pra
vir atrás de você. Só por hoje, eu prometo. Amanhã as coisas vão ficar bem.

Jimin se afastou um pouco. Respirou fundo. Só mais algumas horas.

Jungkook não disse nada quando o namorado voltou, mesmo que as perguntas
estivessem presas sob a língua. Jimin sentou do lado dele, tomando o espaço
até que o mais novo entendesse que deveria acolhê-lo contra o peito. O
braço livre o abraçou pela cintura, Jimin escondeu o rosto contra camiseta
preta e respiro fundo.

Aspirou o cheiro de Jungkook.

O cheiro que sempre o acalmava mesmo que ele pouco falasse sobre.

Deixou inflar os pulmões, encher o peito como se precisasse guardar para


sempre.

— Você não devia ter feito aquilo. Ter assumido uma coisa que não fez por
minha causa.
— Eles iam cancelar o seu patrocínio no projeto. - sussurrou. - 'Tá tudo bem,
eu não me importo com nada, só quero que você fique bem.

Jungkook o beijou na testa, depois na ponta do nariz.

— Cadê o Hobi-hyung?

— Foi pra casa, era melhor. Vamos amanhecer aqui e ele ainda tá dolorido
por causa da briga. Jin-hyung vem nos buscar.

Jimin levantou o rosto para encará-lo. Tentou com todas às forças, mas as
lágrimas deram brilho aos olhos pequenos.

Sentia-se cheio demais.

— Eu te amo, Jungkook. - disse baixo, num sopro sincero enquanto a mão


desenhou a lateral do rosto pálido do mais novo. - Eu nunca amei alguém e
nunca vou amar outra pessoa da forma que eu te amo.

— Não chora. Por favor, amor. Olha, a gente pode conversar amanhã, em
casa, ok? Só me diz o que está acontecendo, não me deixa cego desse jeito.
Eu tenho medo de perder você.

— Você nunca vai me perder, nunca. - o beijou nos lábios. - Eu juro, bebê...
Amanhã tudo vai ficar bem. Mas por favor... Me ajuda a aguentar essas
horas, me deixa ficar aqui ouvindo a sua respiração, sentindo o seu cheiro,
perto o suficiente pro tempo passar mais rápido.

— O que você tem? Eu não gosto de te ver assim, Jimin. - a apertou mais
contra o corpo. Seu coração apertou mais um pouco. - Eu amo você.

— Por favor, diz outra vez.

— Eu amo você, Jimin. Pra sempre.

Jimin assentiu, os lábios salgados colaram aos de Jungkook. A respiração


pesada se misturou ao beijo breve o suficiente para durar um espaço entre as
batidas do coração. E se vistos de cima, eram como uma pintura moderna do
amor jovem. Apertados num meio abraço, enlaçados pelos sentimentos - que
se pintados, seriam tons completamente novos de amarelo e azul. Que o
preto consumia a bocadas famintas.

Madrugada a dentro, silenciosos e ansiosos sem saber.

Hora após hora, sozinhos.

Jungkook caiu no sono, a medicação fazendo efeito junto do torpor que os


últimos dias resultaram. Quando o dia amanheceu, Jimin o deixou ali. O
cobriu com as duas jaquetas e foi até a máquina de café para pegar o mais
forte do cardápio rápido.

Fazia Sol. Seria um dia lindo.

— Jimin?!

A voz grossa o fez olhar para o corredor oposto. Jin estava ali e Jeon
Chinrae estava ao seu lado. O homem parecia nervoso, seus passos
apressados denunciavam isso. Ele encarou o genro e Jimin notou como os
olhos dele eram parecidos com os olhos de Jungkook.

— Ele ainda 'tá dormindo. - explicou, queria acalmá-lo. - Não sentiu mais
dores, nem vomitou. Colocaram mais uma bolsa de soro, mas está para
acabar.

— Ele teve dificuldades para respirar?

— Não senhor, eu monitorei isso. - Chinrae respirou aliviado. - Ele vai ficar
feliz em ver o senhor aqui, acho que vamos poder ir pra casa daqui a pouco.
Quer entrar pra ver ele?

Chinrae assentiu, mas antes que pudesse dar um passo, outra pessoa chegou
ao andar.

Ela vestia roupas elegantes, estava muito bem maquiada e seu semblante
carrega preocupação.

— Cadê o meu filho?


— O que você está fazendo aqui?! - Chinrae quase gritou.

— Chinrae, eu não vou discutir com você. - o ignorou, voltando-se a Jimin. -


Cadê o Jungkook? Cheguei ainda a pouco à universidade e fui informada de
que ele está aqui. O que aconteceu?

— Tia, a senhora não devia ter vindo aqui. - lamentou. Sua cabeça começou
a doer. - Vai embora.

Jin continuou em silêncio.

— Eu quero saber o que aconteceu com Jungkook e não vou sair daqui até
alguém me dizer.

— Ele já está bem, foi um mal-estar digestivo. - Seokjin explicou com


paciência.

— Quem você pensa que é pra aparecer assim exigindo saber dele? Quer
bancar a mãe do ano, Hyo?!

— Por favor, não façam isso aqui. - Jimin massageou as têmporas. - Tia, por
favor...

— Cala essa boca! Não fosse o seu orgulho ferido, Jungkook estaria em um
lugar melhor agora Chinrae, pelo menos em um hospital adequado! Você não
pode me proibir de falar com ele!

— Depois de dezessete anos?! Agora você quer brincar de ser a mãe dele?

— Mãe?

A voz baixa chamou atenção dos outros. Jungkook estava de pé, dois dedos
pressionando o curativo onde a agulha do soro estava antes. Ele encarou o
pai, depois a mulher ao lado dele.

A conhecia.

Kim Hyoyeon.
Uma de suas professoras, a orientadora se seu curto.

Tia de Jimin.

— Filho... Você-

— Appa? Por que o senhor disse que ela quer brincar de ser a minha mãe?

— Jungkook, você-

— Não encosta em mim. - Jimin recuou. Aquele tom de voz o repeliu.


Jungkook sequer o olhou.

— Vou te explicar, mas você 'tá doente. Vamos pra casa onde você mora.

— Você pode vir comigo, Jungkook. - Hyo tomou a frente. - Chegou a hora
de você saber o meu lado dessa história.

— História? Que história? - franziu o cenho.

— Eu sou a sua-

— Cala a boca! - Chinrae estava pronto para fazê-la parar, mas Jungkook o
parou com a mão espalmada contra o peito. Ele o parou.

— A deixa falar!

— Eu sou a sua mãe, filho. Eu sou sua mãe.

O semblante confuso durou segundos, como quando ele se perdia em seus


próprios pensamentos. Os olhos grandes se apertaram, a mente de Jungkook
se tornou uma bagunça.

O corpo estava sob os efeitos dos medicamentos, então ele estava sonhando?

Aquilo era um sonho bizarro, bastava abrir os olhos e Jimin ainda estaria
deitado em seu peito?

Jimin.
Seu pai.

Aquela mulher.

Mãe?

— Jungkook... - a voz de Seokjin estava distante. - Hey, JK... Olha pra mim.
- alguém estava dando tapinhas em sua bochecha, porque sentia-se
entorpecido? - JK, aqui... Olha pra mim, ok?

— Jungkook? Amor, responde...

Ele encarou Jimin.

O olhar afiado como uma navalha.

— Você sabia.

Jimin não disse nada. Ele sabia. Carregou aquilo por meses, suportou o peso
da omissão, o consolou enquanto podia sanar suas mágoas. Jimin sabia.
Abaixou o rosto.

Só mais algumas horas. Só isso.

O preto consumiu todas as cores, tatuou tudo.

E Jungkook teve a venda arrancada dos olhos, abruptamente.

Ainda assim, era tudo tão obscuro.

Agora ele via.

Agora Jungkook sabia de tudo.

🌙☀⭐

#PillowFic
39 - preto (parte II)

oioioioioi

trouxe a segunda parte, prontos para o nosso menino Jungkook??

espero que gostem!

deixa um votinho

E agora minhas mãos amargas

Embalam cacos de vidro

Do que era tudo

Todas as imagens foram

Todas banhadas em preto

Tatuando tudo

Todo o amor tornou-se mal

Transformou meu mundo em escuridão

Tatuou tudo que vejo

Tudo o que sou

Tudo o que serei, sim

BLACK - PEARL JAM

FLASHBACK ON
Os olhos grandes e curiosos continuavam focados na imagem da
mulher. Ele não compreendia, era pequeno demais para isso, mas alguma
coisa estava diferente naquela manhã ensolarada.

A mão pequena largou o caminhão colorido sobre o sofá, ele atravessou a


sala de estar apertada e segurou o tecido da calça jeans, puxando sem força
até ter o olhar superior sobre si.

— Vem, mama.

A voz era baixa, tímida do mesmo tanto que a fala enrolada de quem ainda
está experimentando palavras novas. Hyo lambeu os lábios. Os cabelos
escuros foram jogados para trás antes de se abaixar até tê-lo diante dos
olhos. Jungkook sorriu.

— Omma... Precisa ir, coelhinho. - afagando os cabelos do menino, ela


sorriu também.

Mas seus olhos estavam marejados.

— Tabala? - assentiu, a franja escura se agitou.

— Uhum, omma vai trabalhar. - fungou, as mãos trêmulas seguravam os


ombros pequenos. - Escuta, você vai se comportar com o appa, ok?

— Sou bonzinho. - se orgulhou, o sorriso mostrava muito dos dentes


sobressalentes. Hyo assentiu.

— Você é sim, um bom menino. Meu bom menino. - ela secou as lágrimas,
Jungkook franziu as sobrancelhas ralas.

— Mama, não cho-chola... Jungu cuida de você.

A mão pequena tocou o alto da bochecha de Hyo, os dedinhos mornos


limparam as lágrimas com carinho um pouco antes do beijo demorado ser
deixado ali. Ela o abraçou mais, o segurou nos braços como fizera há três
anos, quando ele nasceu. Tão pequeno e frágil.
Era para ter sido o momento mais feliz de sua vida, era para despertar dentro
dela todos os sentimentos que ouviu falar, era para sua vida se resumir
àquela nova vida chorando em seus braços... Mas tudo o que Hyo sentia era
medo.

Como naquele momento, ainda sentia medo.

Ela o beijou demoradamente, cheirou o cabelo limpo e também a pele macia


enquanto ele abraçava seu pescoço, rindo solto as cosquinhas que sentia a
cada beijinho novo.

— Não faz isso, Hyo.

A voz embargada a fez olhar para cima, para Chinrae.

Ele secou os olhos, cruzando os braços outra vez, escondeu o rosto corado
olhando para a direita. Aquilo estava o matando. Suas mãos se apertavam,
escondidas para que não demonstrasse tanto, porque não adiantaria. Hyo não
o amava mais há muito tempo.

— Chinrae...

— Não é por mim, mas por ele... Jungkook precisa de você, ele ainda é
pequeno e precisa da mãe. Eu posso ir embora, Hyo... Você não precisa
continuar.... Comigo. Mas não vai embora.

— Eu não posso... - ficou de pé, Jungkook agarrou a perna dela e encarou o


pai. - Eu não sou boa como você é, Chinrae. Não sei cuidar dele como você
cuida...

— O outro cara não te quer com um filho, não é? - a encarou, os olhos


estavam vermelhos de tanto segurar as lágrimas. - Hyo, pelo amor de deus,
olha bem o que você está fazendo com o nosso filho.

— Chinrae...

— Eu sei que não te dou a vida que você quer ou merece, mas é por agora. -
fungou. - As coisas vão melhorar, você volta a estudar quando o Jungkook
for para escola, eu seguro as contas sozinho, dou um jeito.
— Você sabe que isso não vai acontecer. O que você ganha mal dá para
manter essa casa, como eu posso simplesmente parar de trabalhar e voltar a
estudar?

— Como você pode simplesmente deixar o seu filho? É mais fácil abrir mão
dele? Hyo, eu sei que o Jungkook não foi planejado e que a gente ainda é
jovem, mas nada disso é culpa dele... É nossa culpa. - ele observou o filho,
Jungkook sorriu, o dedo indicador continuava entre os lábios rosados. - Não
faz isso com ele, por favor.

— Eu vou poder dar um futuro melhor pro Jungkook.

— Ele não precisa de um futuro melhor, ele precisa da mãe dele. - os


ombros de Chinrae tremeram, estava desmoronando, não possuía mais força
para se manter inteiro diante dela. Hyo estava pisando em seu coração. -
Leva ele com você...

— Chinrae, você não conseguiria viver sem ele.

— Eu não me importo em sofrer se ele ficar bem, eu não quero ver o meu
filho sofrendo. Isso eu não aguento. Por favor, não faz isso.

Hyo respirou fundo.

Partir não machucava tanto quando a inércia daquela vivência. Uma casa
pequena demais, trabalhar horas e horas por dia, o choro infantil de uma
criança de saúde instável. Estava morrendo aos poucos, assistindo a garota
promissora sucumbir diante de impossibilidades e Park Eunwoo era como
um sopro de esperança.

— Jungkook, vai com o seu appa.

— Hyo...

— Omma precisa ir agora.

Jungkook estreitou os olhos escuros agarrando-se mais ainda as pernas da


mãe. Ele nunca fazia aquilo, mas naquele dia sentia algo errado. Negou
duas vezes, o rostinho contra o jeans claro.
— Pega ele, Chinrae... Por favor? Distraia ele.

— Distrair? - Chinrae soou indignado. As mãos fortes seguraram o corpo do


filho, puxando-o com cuidado até tê-lo no colo. - Ele é uma criança.

— Ele logo esquece... - Hyo soluçou, mas se manteve firme para não chorar.
- Coelhinho, eu te amo. - se aproximou para beijar a testa do menino. -
Chinrae...

— Por favor... Por favor, eu 'tô implorando... Me deixa te mostrar que a


gente consegue, eu vou trabalhar mais e... - ela o calou com um beijo
demorado nos lábios.

Jungkook sorriu ao vê-los assim.

— Desculpa... - a mulher sussurrou contra os lábios do homem. - Desculpa...

— Hyoyeon...

Ela pendurou a mochila vermelha no ombro e saiu pela porta da cozinha,


sem olhar para trás. Chinrae respirou fundo, aquilo o consumia inteiro
tamanha dor. Jungkook o tocou com carinho, afagou as bochechas do pai e
logo seus olhos grandes também estavam cheios de lágrimas.

— Mama... Mama...

— Não, filho... Não faz isso...

— Me solta, chão... - se esticou, choramingando até ser colocado no chão.


Correu para a porta, os pés pequenos escorregando graças às meias
amarelas. Jungkook desceu um dos degraus da porta alta e parou ali,
apontando para a mãe. - MAMA! OMMA... JUNGOO!

Acenou.

Hyo desabou em um choro baixo, observando enquanto o sorriso se


transformava em uma expressão chorosa. O menino, vestido em seu macacão
azul, a chamou com os dedinhos estendidos.
— Você mudou de ideia? - Park Eunwoo perguntou de dentro do carro caro.

Chinrae o encarou, envergonhado pelo abandono.

Hyo entrou no carro e bateu a porta.

Tal como um tiro de largada para o choro de Jungkook. Tão pequeno, mas
sabia que algo estava errado. O menino sentou ali mesmo, as mãos gordinhas
fechadas sobre os joelhos expostos, o choro sentido quebrando em mais
pedaços o coração destroçado de Chinrae.

— Jungkook, vem aqui com o appa... Filho, não faz isso comigo... Por
favor...

— Mama... - chamou baixinho, observando o carro vermelho virar a esquina.


Mal sabia ele que depois daquele dia, não veria Hyo por anos.

FLASHBACK OFF

Seokjin não soltou a mão tatuada por um minuto sequer.

Agradeceu com um pequeno gesto quando Yoongi deixou em sua mão livre
um copo com água e se retirou da suíte que o pertencia. Jungkook o encarou
enquanto bebia dois pequenos goles com pressa.

— Você consegue me ouvir melhor agora? O hyung te trouxe pra casa,


estamos no meu quarto.

— Meu appa...

— Seu appa 'tá lá embaixo, você quer que eu o chame?

— Não! - negou depressa, o rosto bonito se movendo de um lado para outro


como se pudesse dar mais ênfase a sua negativa. - Por favor, por favor...

— Ok, ok, não fica nervoso de novo. Não vou deixá-lo vir aqui agora, 'tá
bem?
Jin afagou as costas do mais novo, disfarçadamente, verificando se a
respiração ainda era ruidosa como há alguns minutos.

— Você lembra do que aconteceu no ambulatório, Jungkook?

— Hyoyeon... A professora Kim... Minha omma... Eu sonhei, hyung?

— Jungkook... - Jin suspirou. - Não foi sonho, eu queria te dizer que foi...
Mas não foi.

Jungkook assentiu. Os olhos grandes continuavam focados em um ponto


qualquer daquele quarto, tentando fixar o pensamento de alguma forma mais
clara. A mente concluía tudo enquanto ele conseguia acompanhar nada, indo
e vindo confundindo-o com confirmações que preferia negar só para aquilo
tudo doer menos.

Aquela mulher era sua mãe? Aquela que o tratou cordialmente no primeiro
dia de aula, que passava minutos o encarando, que escutou e deu atenção ao
seu projeto? Aquela mulher estava ao seu redor depois de tantos anos
desejando qualquer sinal de interesse?

E todo mundo sabia disso, exceto ele?

— Você sabia?

— Eu não quis saber. - Jin foi sincero. - Preferi a ignorância, Jungkook.

— Ela está lá embaixo?

— Está, eu pedi que ela viesse.

— Por que?

— Porque eu sei que você tem muitas coisas pra perguntar e dizer para ela,
eu não vou calar você ou tentar te proteger do que é teu direito, JK. Te disse
isso uma vez, lembra? No carro? Se eu não posso evitar, não vou. Prefiro só
continuar aqui caso você precise de mim.
— Eu me sinto... Como se não estivesse aqui hyung... Parece que eu não sei
nada sobre mim.

— Mas você quer saber? - trocaram um olhar sério. Jin apertou a mão dele
com carinho. - Você quer, Jungkook?

— O que eu faço, Jin-hyung?

— O que você quiser fazer. Ninguém mais vai te guiar, você sabe caminhar
sozinho e sabe disso.

Jungkook arfou.

O choro o fez abaixar o rosto, esconder os olhos com o antebraço por


vergonha. Por muitos momentos desejava voltar para casa, para a segurança
de um quarto pequeno e os dias monótonos aprendendo sobre motor e
embreagem. Queria voltar a ser criança, ao tempo que aquelas indagações
não machucavam, que a sensação de ser enganado era desconhecida.

Jungkook sentia raiva demais.

Raiva, mágoa e uma tristeza que escalava o seu corpo por dentro,
abocanhando os seus sentidos e deixando intacto a visão. Ele precisava ver,
precisava saber. Ele via e sabia, mas doía tanto que vez ou outra seus dedos
trêmulos desejavam arrancar os próprios olhos.

— Hyung... Pode me fazer um favor?

Jin assentiu.

— Para. Me dê isso, você não vai fumar outro, Jimin.

Taehyung tomou o cigarro das mãos do melhor amigo e apagou antes mesmo
que tocasse os lábios carnudos.

— Taehyung, me deixe em paz!


— Não! Vamos subir, você precisa de um banho e depois comer alguma
coisa...

— Você tem a mínima noção do que aconteceu?! Ou você ficou burro e não
entende?! Como eu vou fazer isso?! Preciso falar com o Jungkook!

Tae respirou fundo.

— Eu sei exatamente o que aconteceu, mas você vai acabar desmaiando se


não comer alguma coisa e isso só vai piorar tudo. Jimin, por favor, me deixa
te ajudar?

— Ele ainda está um pouco confuso, se você se acalmar vai ser melhor pra
conversar quando ele estiver ok. - Yoongi explicou.

Jin desceu as escadas em silêncio, o semblante preocupado alertou ainda


mais Jimin.

— Cadê ele?

— Jungkook quer falar com a mãe... Com Hyoyeon-ssi. - apontou para a


mulher.

— O que?! - Chinrae aumentou a voz.

— Pode me mostrar o caminho, por favor?

— Não! Você não vai falar com ele depois do que fez hoje! Depois de ter
jogado isso em cima dele por pura culpa, Hyo!

— Ele também é meu filho!

— Meu deus mulher, você é inacreditável.

— Parem de gritar, isso não vai ajudar o Jungkook. - Jin suspirou. - Vocês
discutem o tempo todo sobre o que é melhor pra ele, mas não respeitam o
que ele quer. Ele quer falar com a senhora, pode acompanhar.

Hyo o seguiu para o quarto no andar superior.


🌙

FLASHBACK ON

O som, mesmo baixo, era fácil de se escutar na sala de estar. A casa toda
cheirava a bolo de chocolate, e estava completamente limpa. Chinrae evitava
qualquer coisa que pudesse despertar a rinite alérgica de Jungkook.

Ele cantarolou a música, suas mãos cansadas enxaguava a forma de alumínio


sob a água fria da torneira cromada. Estava frio e chovendo.

— Appa?

Chinrae sorriu ao sentir a mão pequena puxando sua camiseta. Olhou para
baixo e franziu as sobrancelhas fingindo de bravo. Jungkook estendeu o prato
vazio, as mãos sujas com calda de chocolate faziam para os lábios
lambuzados do menino de quatro anos.

— Você comeu tudo?

— Co-Comi. - assentiu.

— Por isso cresce tão rápido. - secando as mãos na bermuda, ele se abaixou
para beijar o cabelo grande do filho. - Comendo assim, coelhinho.

— Mais. - mostrou o prato outra vez.

Chinrae assentiu. Foi até a pequena mesa para cortar mais uma fatia do bolo
ainda morno e serviu no prato de plástico do garotinho.

—E chega, não queremos dor de barriga mais tarde.

Comeram juntos, sentados à mesa. Jungkook se sujou mais um pouco sob o


olhar orgulhoso de Chinrae, cortando pedaço por pedaço do bolo de
chocolate com o garfo de plástico também azul. Eram amigos, melhores
amigos segundo o garotinho que não conseguia guardar segredos do pai.

Naquela noite Jungkook dormiu cedo, caiu no nosso enquanto o pai fazia
carinho em seu cabelo contando outra vez qualquer conto infantil que ele
transformava em batalhas intergalácticas conforme a imaginação fértil do
menino. Depois de deixá-lo protegido entre cobertores e travesseiros,
Chinrae tomou banho e foi deitar.

Para mais uma madrugada inteira acordado.

Nenhum surto de coragem havia acontecido para se livrar das roupas que
Hyo havia deixado no armário, muito menos para invadir o lado da cama que
a pertencia. Ele chegou a sair com outra garota, ceder a necessidade sexual
de um homem tão jovem e saudável... Não adiantou.

Nada adiantava.

Então, ele seguia fazendo o único que sabia fazer: culpando-se.

— Eu fiz xixi, appa.

A voz manhosa o despertou dos pensamentos. Jungkook estava de pé perto


da cama de casal, os cabelos escuros apontavam para todas as direções
enquanto bocejava. Sem a parte inferior do pijama, exibia a nudez infantil
sem qualquer constrangimento.

— O que aconteceu? - abriu os braços, convidando-o para deitar junto de si.

— So-sonhei que esta-va no banhei-ro.

— Oh, entendi. Isso acontece muito. Está tudo bem. - o aconchegou sob a
coberta, deixando que o menino se agarrasse ao seu corpo, buscando calor. -
Amanhã a gente coloca o seu colchão pra secar.

— Appa?

— Hm. - fechou os olhos. Jungkook o encarou, ainda estava sonolento


demais.

— Cadê a o-omma? Ela na-não gosta mais de-de mim?

Chinrae apertou os olhos. Beijou o cabelo do filho demoradamente.


— Dorme coelhinho. Appa 'tá aqui, ok?

Jungkook assentiu antes de pegar no sono outra vez.

FLASHBACK OFF

Quando Hyo tomou lugar na cadeira diante de si, Jungkook a observou em


silêncio.

— Obrigado por aceitar me escutar, filho. - ela sorriu. - Eu tenho tanta coisa
pra te dizer, te explicar.

Ele tombou o rosto para o lado, os olhos grandes focaram em cada detalhe
daquela mulher. Engoliu a saliva amarga.

— Jungkook, eu quero recuperar o tempo que fiquei longe de você, quero te


explicar o que me fez ir embora naquela época. A única razão de ter
esperado tanto tempo para te procurar é que eu quis que você já fosse adulto
o suficiente para compreender toda a situação e-

— Por que você me abandonou?

A pergunta, cortando suas palavras, fez Hyo recuar.

A mulher arrumou sua postura impecável e lambeu os lábios.

— Quando você nasceu, eu ainda era muito nova... Não consegui assimilar
bem as coisas, Jungkook. Eu tive de abrir mão de todos os meus planos por
uma inconsequência, mas eu não quero que você pense que me arrependo de
você, eu nunca me arrependi de ter você...

— Por que você me abandonou?

Ele repetiu.

— Aquela vida... Não era o que eu queria, não me fazia feliz. Me sentia
sufocada, impossibilitada de conquistar os meus objetivos...
— Você quer dizer eu? Eu te impossibilitava.

— Não! Não era você...

— Era tudo que eu mudei pra você, na sua vida.

— Chinrae deve ter dito coisas horríveis sobre mim, eu sei e-

— Não. - negou. A frieza em sua voz deixava Hyo desconfortável, onde


estava o garoto gentil que frequentava suas aulas? - Ele não disse coisas
horríveis sobre você. Ele não dizia nada.

— Eu fui embora porque queria conquistar uma vida melhor.

— Você era infeliz?

— Sim.

Jungkook assentiu.

— E porque você voltou agora?

— Porque eu conquistei. - Hyo se orgulhava de dizer. - Eu conquistei, filho.


Agora eu posso te dar uma vida digna, um futuro bom.

— Você se preocupa com o meu futuro, mas nunca se importou com o meu
passado. - duas lágrimas grossas escaparam dos olhos grandes. - A
dignidade da minha vida não era do seu interesse antes disso?

— Quando você se inscreveu para o vestibular, há dois anos... Eu soube...


Eu sempre quis saber de tudo sobre você. Decidi te trazer para cá,
interceder.

— A bolsa...

— Ela... Não existe... Custeio os seus estudos aqui, você é tão inteligente
Jungkook. Você é como eu.
Jungkook levou a mão até o nariz, usando as costas para secar a ponta
avermelhada. O choro rompeu mais um pouco, fazendo tremer os ombros
largos. Hyo se emocionou, vê-lo daquela forma era como vê-lo naquela
manhã ensolarada quando o deixou para trás.

— Filho...

— Não! - ele negou depressa. - Não toque em mim. Você não pode fazer isso
comigo! Se sempre soube de mim, por que nunca... Nunca me quis de
verdade? Tem a mínima noção do quanto eu esperei você?! Do quanto eu
quis que você viesse me ver? DEZESSETE ANOS, HYO! Não foram
dezessete dias pra você simplesmente aparecer agora querendo recuperar
tudo.

— Jungkook...

— RECUPERAR O QUE?! Pra você nada ficou para trás. Diz... Você teve
outra filha, não teve? - a mulher assentiu. - Ela você não abandonou, Hyo.
Diz como se sentiu quando ela nasceu! Quando ela te chamou de omma! Você
acha que depois de tantos anos pode aparecer e controlar a minha vida desse
jeito?!

— Eu não estou tentando controlar-

— ESTÁ SIM! NADA DISSO É MEU! NADA DISSO! EU NÃO


CONSEGUI NEM AQUILO QUE EU ME ORGULHEI EM TER! A bolsa...
O seu marido custeando o meu projeto... Você quer me comprar, quer
comprar esses anos? É isso?

— O seu pai-

— PARA DE FALAR SOBRE ELE! - Jungkook explodiu de vez. - Isso é


sobre mim! Hyo eu posso entender que a tua infelicidade te fez ir embora,
mas eu não consigo entender essa ambição que nunca te permitiu voltar por
mim... Pelo menos uma vez. - ele soluçou, os lábios finos tremiam sem
parar. - E senti tanto a sua falta que eu não sei mais se era saudade de você
ou a simples vontade de ter uma mãe... Eu aceitaria qualquer coisa.
Qualquer coisa, omma.
— Jungkook... Me perdoa...

— Quando eu aprendi a escrever fiz o meu appa comprar dez envelopes só


pra te escrever dez cartas diferentes, eu nunca pedi nada além de você... Eu
o fiz me assistir colar aqueles selos... Um por um... Mas eu só percebi que
precisava de um endereço quando achei todas as cartas escondidas nas
coisas dele... Como eu poderia cobrar? Como? O que ele poderia fazer?
Você pelo menos abriria aquelas cartas ou fingiria que elas não existiam,
como fez comigo?

— Nós podemos-

— NÃO! NÃO PODEMOS! EU NÃO POSSO! Eu não posso apaziguar a sua


culpa, Hyo, porque passei dezessete anos sofrendo a sua ausência e você
nunca quis me poupar disso. - ele a encarou. - Você se infiltrou na minha
vida, manipulou tudo ao meu redor como se tivesse direitos, como se eu
ainda fosse uma criança que pode ser controlada o tempo inteiro. Como se
eu fosse uma consequência que você é obrigada a lidar.

— Você está sendo injusto. Tem noção de quantas vezes isso acontece ao
contrário? Quantos pais fazem o que eu fiz e ninguém os julga ou condena.

— Eu não quero saber de outros pais. Eu sou injusto por dizer a você como
me sinto, mas você é a vítima porque fez o que milhares de homens fazem? -
Jungkook ficou de pé e caminhou até a porta. - Vai embora, por favor,
Hyoyeon-ssi.

— Jungkook...

— Você não quer recuperar nada por minha causa, mas por sua própria
culpa. E isso não me diz respeito. - ele ergueu a cabeça, mesmo chorando,
não a encarou.

— Nós podemos conversar quando você estiver mais calmo?

— Tente de novo daqui a dezessete anos. Dessa vez eu posso até chorar
como antes, mas sem me culpar por ser desinteressante para minha própria
mãe. Você nem vai sentir muito, eu sei disso.
Jungkook abriu a porta, então a mulher secou as lágrimas enquanto saia do
quarto. Depois disso ele não fechou a porta, não disse nada nem quando
Hoseok entrou no quarto e os trancou ali.

— Eu sinto muito.

Jungkook o encarou quieto.

— Eu nunca quis que você soubesse das coisas desse jeito, você sabe que
nunca machucaria você Jungkook, eu nunca faria qualquer coisa pra te ferir,
pra te deixar triste...

— Inclusive mentir pra mim.

— Eu não menti, eu omiti.

— E não é a mesma coisa, Hoseok?

Hobi respirou fundo.

— Você 'tá nervoso agora e-

— E EU NÃO QUERO QUE NINGUÉM MAIS ME POUPE POR CAUSA


DISSO! ME DEIXA FICAR NERVOSO, ME DEIXA EXPLODIR! ME
DEIXA!

— Se você precisa gritar, 'tá tudo bem Jungoo... Tá tudo bem.

— PARA COM ISSO! - ele gritou ainda mais alto. - Vocês acham isso de
mim, não é? Que eu sou um idiota fácil de enganar? Um imbecil que nunca
fala o que sente, que vive engolindo as palavras que gagueja dentro dessa
casa de malucos! DENTRO DESSE LUGAR ONDE NINGUÉM É
NORMAL!

Hoseok assentiu, sabia que Jungkook estava desabafando, que ele precisava
disso.

— O melhor é guardar segredos! Em servir como dispensa de informações


que vocês vivem escondendo um dos outros porque não tenho problemas tão
sérios além de ter sido abandonado pela mãe! É isso que vocês acham de
mim? É isso que você achou quando me pediu pra não contar sobre suas
drogas?! É por isso que você insiste em cuidar de mim?

— Eu cuido de você porque te amo. - Hoseok queria chorar.

— SE VOCÊ ME AMA, POR QUE NÃO ME CONTOU?! POR QUE ME


DEIXOU SENTINDO ESSA ANGÚSTIA AQUI DENTRO HYUNG?! -
apertou a camiseta, bem acima do peito. - Por que?! Logo você, hyung...
Logo você... Cuidando tanto de mim ao ponto de me colocar uma venda nos
olhos, logo você.

— Eu sempre te ofereci o meu colo, mas agora eu sou o motivo das suas
lágrimas e não sei o que fazer pra te ajudar... Jungkook, eu sinto muito... Por
favor, me desculpe. - ele tentou se aproximar, mas o mais novo deu passos
para trás, se afastando. - Jungkook, por favor...

— Me deixe sozinho, Hoseok-ssi.

Hobi murchou completamente, os lábios se curvaram.

— Tudo bem, você precisa de um tempo... Eu sei. Eu só quero te pedir uma


coisa. Fala com o Jimin, por favor. Escuta o que ele tem pra te dizer,
Jungkook.

— Me deixa sozinho.

FLASHBACK ON

— Isso não faz sentido nenhum!

Yoongi acusou enquanto Namjoon e Seokjin trocavam um toque de mãos.

— Para de ser mal perdedor, Yoongi-ah.

— Eu só não consigo entender como você descobriu que isso era um


carrinho de golfe!
— E eu lá tenho culpa? Nossa telepatia é invencível, hyung. - Namjoon
debochou enquanto enchia a boca de batatinhas.

— Certo, é a nossa vez. - Jimin ficou de pé, saltitando até a mesinha para
pegar uma das cartas do jogo. - Não é difícil, bebê. Já ganhamos.

— Ok, pode começar. - Jungkook sorriu. Jimin pareceu refletir antes de


juntar as mãos no alto, esticando os braços e depois as pernas até levantar
uma delas para girar graciosamente no lugar. - Balé... Bailarina!

— Isso! Bailarina! E vale 6 pontos! - comemorou mostrando a carta a


Hoseok.

— 6 pontos por bailarina? Vocês adulteraram o jogo!

— Sério, quem chamou o Yoongi?

— Deixa-o! Para de implicar com o meu amorzinho, Jin-hyung! - Tae


agarrou o namorado, fazendo-o rir.

— Começou com isso de viados, eu já vou deitar para evitar muito contato.
Vamos dormir, bebê?

— Jimin eu te acho muito chato. - Hoseok bocejou.

— Boa noite, hyungs.

— Espera, precisamos te dar um negócio antes. - Namjoon se apressou até


pegar um pequeno montante de papéis que estava dentro do notebook. - Aqui,
é pra você.

Jungkook franziu o cenho pegando os papéis, ele leu devagar, então seus
olhos arregalaram enquanto encarava os hyungs.

— O que vocês fizeram?

— Nos juntamos, cada um deu uma porcentagem, e eu me inscrevi como um


dos patrocinadores do seu projeto, mas represento todos. Jin-hyung, Yoongi-
hyung, Hobi e o Tae.
— Nossa, eu não sei o que dizer, hyung.

— Diz obrigado. - Tae o abraçou pelo pescoço. - Fizemos isso porque a


gente acredita no seu projeto e em você... E porque quero desconto se usar o
aplicativo, claro.

— Tae-hyung... - ele riu, mas o abraçou de volta.

— O nosso maknae 'tá crescido, logo vai ser CEO daquelas empresas, todo
bonitão. - Yoongi o provocou. - Cuidado Jimin.

— Fica na sua, não preciso ter cuidado. - fez bico. - Quero ver alguém se
meter com homem de delegado...

— Você vai me prender?

— Ok! Boa noite a todos. - Jin bateu palmas, já de pé. - Eu vou dormir
porque minha beleza precisa de descanso.

— Depois a gente que é viadinho emocionado, deus me livre. - Hoseok já


estava saindo também, Yoongi montado em suas costas.

— Se você prender ele, posso ver?

— TAEHYUNG VEM DORMIR!

— Que saco! - Taehyung saiu batendo o pé atrás dos namorados.

Jimin riu até o momento em que foi abraçado por trás, então fechou os olhos
para deitar a cabeça sobre o ombro de Jungkook.

— Isso foi ideia sua, Jimin-ssi.

— Só um pouquinho. Eles realmente queriam isso, eu só expliquei como


fazer. - se virou para abraçá-lo pelo pescoço. - A gente confia no seu
potencial e na sua ideia.

— Obrigado, amor. - esfregando o nariz contra o dele, sorriu. - Eu te amo


muito, muito.
— Me ama o suficiente para topar dar uma volta de carro e fazer amor sob
as estrelas?

— Meu deus que brega...

— Cala a boca Taehyung, que saco! Vem logo deitar!

— Eles vão usar o seu carro Yoon!

Jimin e Jungkook riram.

— Vamos logo, antes que ele se dê conta.

— PARK JIMIN! - a voz de Yoongi soou por toda a casa.

Jimin riu, puxando-o em direção a garagem.

FLASHBACK OFF

Já era de madrugada quando Jungkook se deu conta de que o tempo não


pararia por conta de seus pensamentos e sentimentos conflituosos. Ele
observava o copo de água vazio, tentando organizar a mente em vão.

Sentia-se traído e a cada minuto essa sensação o consumia por dentro.

A atração principal de um circo de palhaços, aquele que mantinha os olhos


vendados sem saber se por insegurança ou segurança demais.

Sentia-se sozinho.

Ouvia os passos no corredor e as vozes sussurradas atrás da porta,


acreditava que os cochichos eram mais e mais zombarias porque um coração
machucado só sabe colher mais tristeza.

Sentia vergonha.
Os motivos de Hyo não eram nada como em seus sonhos tolos e infantis. Ela
não voltou transbordando arrependimentos e pedidos de perdão carregados
de todo amor que ele esperou por tantos anos.

Era só culpa.

E naquele momento, Jungkook era um nervo exposto, pulsando em carne


viva, latejando sob as lágrimas grossas e tão salgadas. Quando a porta do
quarto abriu, ele não se moveu.

Conhecia aquele cheiro.

O perfume familiar que ainda estava impregnado em suas roupas e por


dentro, preenchendo os pulmões como se ele fosse a nicotina feita para si.
Fechou os olhos, quebrou um suspiro no meio com o soluço fraco.

Jimin subiu na cama de Seokjin de joelhos, as mãos trêmulas tocaram o


lençol limpo e depois a nuca alheia, os fios de cabelo que escapavam do
coque desleixado.

Foi o suficiente para que ambos quebrassem de vez.

— Olha pra mim, por favor... - sussurrou.

— Eu não posso. - respondeu tão baixo quanto.

— Por que?

— Porque se eu fizer isso, vou esquecer essa raiva dentro de mim e te deixar
chegar perto outra vez.

— Jungkook...

— O que mais você esconde de mim? - juntou as mãos, encolhendo-se como


se a presença de Jimin o coagisse. Como se ouvir mais qualquer coisa
pudesse o machucar mais.

— Minseo.
Jungkook apertou os olhos.

— Não... Não diz. Não agora, eu não sei se aguento mais mentiras agora, não
de você.

— Se eu menti, foi-

— E todas aquelas vezes em que você me pediu pra ser sincero, quando
olhou dentro dos meus olhos e me fez prometer te dizer quando alguma coisa
estava errada... Mas as coisas estavam erradas e você mentiu, Jimin. - o
menor se afastou um pouco, até sentar na cama e abraçar os joelhos. - Há
quanto tempo você sabia sobre a minha... Sobre Hyo?

— Quando nós fomos a Busan, no dia que dormi na casa do seu appa. Ela
estava lá de manhã...

— Por isso ficou tão estranho... E eu pensando que era por minha causa. Foi
por isso que você ficou, não foi? É por isso que você fica?

— Amor...

— Você sente pena de mim? Se sente na obrigação de ficar comigo?

— Não. Jungkook, nunca. Não diz isso, por favor. - Jimin estava chorando. -
Eu amo você demais, eu sou completamente louco por você... Mas eu fiz
tudo errado, eu sei que fiz! Mas não foi pra te machucar, eu juro.

— Jimin... - Jungkook passou as mãos pelo rosto. - Jimin, eu te amo tanto...

— Eu também te amo, eu te amo muito... - o abraçou por trás, escondendo o


rosto na camiseta preta, chorando enquanto sentia as mãos maiores
segurarem as suas. - Tudo que eu fiz foi pra te proteger, pra não deixar
ninguém te machucar, pra não de fazer sofrer ou se decepcionar.

— Esse é o problema, Jimin. - ele segurou as mãos pequenas para as afastar.


- Eu nunca te pedi pra ser meu herói, eu só queria você sem mentiras ou
omissões. Eu não sei mais se esse amor me faz bem porque você me via
inteiro, sempre... Mas eu tenho a sensação de que nunca vi você. Então,
agora eu tenho medo de te olhar e perceber que não sei quem você é.
— Eu sou Jimin. O seu Jimin, Jungkook. Mas eu só me vi de verdade através
dos seus olhos. Eu te amo, eu sei que só amor não mantém nada e por isso
quero dizer tudo, quero responder todas as suas perguntas e te mostrar que
nada mais nesse mundo vai ser capaz de fazer o nosso amor acabar.

— Até o momento em que você precisar mentir pra mim de novo. Eu não
consigo ver nada benéfico nas tuas omissões, eu só consigo querer me
dobrar inteiro até que essa dor dentro de mim passe.

— Olha pra mim, Jungkook. - pediu outra vez, a mão esquerda agarrada a
camiseta alheia. - Olha nos meus olhos e diz o que você quer dizer.

Jungkook respirou fundo.

Não conseguia segurar nada das lágrimas e nem podia.

Então, ele se virou.

Os lábios de Jimin tremeram.

O rosto bonito estava corado graças às lágrimas, ele apertou mais o algodão
da camiseta.

— Você não faz ideia do quanto eu te amo... Eu não consigo tirar os meus
olhos de você, Jimin. Ainda agora, bem aqui... Eu tô com raiva do que você
fez, eu quero jogar todas as suas mentiras entre nós dois, mas eu não consigo
fazer nada, eu não consigo nem me mover direito porque me apavora a ideia
de me afastar de você. Ontem você se expôs por mim, você tem mentido para
me proteger há meses, você escondeu o seu passado desde o começo por
receio... Como eu posso acreditar no teu amor se tudo que eu vejo nos teus
olhos é medo? - ele esticou a mão, mas a parou antes que os dedos tocassem
o rosto do menor. - Eu sei pouco demais sobre o amor pra poder lidar com o
nosso amor.

— Você não me quer. - constatou lambendo os lábios.

— Deixar de te querer é a mesma coisa que deixar de querer a mim mesmo.


E eu não quero mais.
Jimin tentou engolir o choro.

— Me beija? - sussurrou quase sem voz. - Uma última vez.

Jungkook fungou, mas o tocou na nuca para trazer até si, até um beijo com
sabor de lágrimas e saudade. Fecharam os olhos. Jimin apertou as mãos só
pra não se agarrar a Jungkook como um homem desesperado se agarra a algo
que boia no meio do oceano.

De repente, se viu outra vez com vinte anos: perdido.

Quando o mais novo se afastou, ele soluçou alto ao encostar a testa à dele.

— Ontem você disse que me amaria pra sempre. - relembrou. - Eu queria


que isso fosse verdade, eu nunca vou tirar você da minha mente Jungkook
porque você é a minha pessoa. É a pessoa que eu mais amo.

Jungkook se afastou, as mãos trêmulas pegaram a jaqueta que estava jogada


sobre a cama. Jimin não se moveu quando ele saiu do quarto, quis tanto não
ter de respirar só para confirmar que, sim, Jungkook o estava deixando.

As mãos ainda se apertavam firmes em punhos cerrados pelo controle de não


o trazer de volta. Ele não quer mais.

Quando foi abraçado, o controle se esvaiu como água entre os dedos.

Jimin desabou nos braços aconchegantes daquele que queria tomar sua dor.

— Eu sinto muito, Jimin.

Taehyung sussurrou o trazendo para os braços, ninando-o como um menino.


O beijou na testa e depois os cabelos bagunçados.

No andar de baixo, Jungkook só achou Namjoon. O hyung o encarou com


preocupação.

— Eu não posso ficar aqui, hyung. Não consigo.

Ele assentiu.
— Eu sei. Vou te levar pra outro lugar.

— Jin-hyung disse que você pode usar o quarto dele, o outro está em
reforma. Aqui, é café.

Namjoon entregou a ele uma xícara, depois sentou no sofá oposto para beber
da própria xícara. Jungkook bebericou, estava forte e sem açúcar. Jungkook
observou através da janela grande a cidade abaixo, as luzes coloridas que
findaram um pouco antes do rio principal para recomeçar do outro lado da
baia.

— Quem é Minseo? - perguntou a Namjoon.

O mais velho ergueu o olhar do celular e o encarou.

— Por que está perguntando a mim?

— Porque você sabe melhor do que todos os outros, Namjoon-hyung. Isso é


óbvio. Jimin dizia que suas histórias eram parecidas.

— Por que não pergunta isso ao Jimin, Jungkook?

— Porque eu não sei mais se consigo acreditar no que ele me diz, não sei até
quanto ele pode omitir pra me proteger.

— Eu não acho que seja o meu papel falar sobre isso.

— Preciso saber quem é essa mulher e porque ela tentou me matar, é um


direito meu. 'Tô cansado de tanta proteção e nenhuma clareza, você não acha
que eu possa me proteger sozinho? Por isso ninguém me diz nada? Sou tão
incapaz assim?

— Eu acho que entre nós, você é o mais forte. Mas ninguém nunca quis te
ver tendo de ser forte. - Namjoon suspirou e bloqueou o celular para deixar
sobre a mesinha de vidro. Ele também olhou através da janela. - Oh Minseo
é a ex-noiva de Jimin. Ele a conheceu quando ainda era adolescente, uma
mulher mais velha e amiga de Solar-noona que o encantou. Jimin não se
encaixava, Jungkook. Não havia nada do homem que você conhece hoje
naquele adolescente. Era acima do peso, tímido e desengonçado... Um prato
cheio para bullying no colégio e entre os amigos mais velhos da irmã.
Quando Minseo demonstrou interesse por ele, Jimin se encantou ainda mais.
Ela é uma mulher muito bonita, elegante e que segue todos os padrões
estéticos desse país. Logo começaram um namoro. Mas as coisas mudaram...

— Mudaram? Como?

— Minseo se mostrou possessiva com o passar do tempo. Ela o controlava


completamente ao ponto de interferir nos círculos de amizade dele, depois
até com a família. Quando ele completou a maioridade ela o tornou mais
preso a suas exigências, determinou dietas, o proibiu de pintar o cabelo ou
deixar crescer... Coisas que a inexperiência dele não o deixavam ver o quão
errado era. Jimin entrou para a faculdade e ela o convenceu a morar juntos,
depois disso tudo se tornou extremo. Minseo era obsessiva e explosiva
chegando ao ponto de trancá-lo em casa, ligar para os amigos de Jimin para
xingá-los ou até o seguindo constantemente. Ela o agredia psicologicamente
e até fisicamente, o fazia sentir fraco e por isso deveria ficar com ela.
Depois de algumas brigas os pais de Minseo a internaram numa clínica de
repouso onde ela ficou por alguns meses. Essa pressão acabou o fazendo
traí-la.

— Com você?

— Não. Com Taemin. Mas não use para alimentar ciúmes Jungkook, isso faz
tempo e Jimin não te conhecia. - o mais novo assentiu. - Ele quis terminar
quando ela saiu, confessou a traição por se sentir tão culpado, mas Minseo
não aceitou e o agrediu. Ela quebrou o apartamento inteiro, Jimin saiu para
esfriar a cabeça e não fez besteira maior, então voltou pra casa ela tinha
cortado os pulsos.

— Meu deus...

— Ele a achou em uma poça de sangue no banheiro, aquilo o traumatizou


ainda mais... Até é difícil pra ele falar sobre aquele dia, ele trava, sabe? -
Jungkook assentiu. - Ele foi imprudente, mas se sentia culpado demais... Não
terminou com ela, aceitou continuar naquele relacionamento abusivo por
medo de que ela tentasse se machucar. Depois disso eles foram morar juntos
de vez, Jimin queria manter os olhos nela e deixou de olhar para ele mesmo.
A vida dele girava ao redor de Minseo, ela controlava cada passo dele, até
os amigos que ele podia ter. O dinheiro dele, as decisões que ele tomava.
Tudo, Jungkook. E se algo saia como ele não queria, descontava nele.

— Como?

— Jimin ficou com outras pessoas enquanto ainda estava com ela e por mais
que eu ache isso errado, como poderia culpá-lo? Nos conhecemos no Wings,
ele era o meu calouro e, nós nos atraímos muito naquela noite e aconteceu.
Ela descobriu, ela sempre descobria e naquele fim de semana seguinte
trancou Jimin no quarto. Ele arrombou a porta e a viu quebrando tudo outra
vez, inclusive o celular dele. Solar foi a primeira a notar, principalmente
porque ele emagreceu muito...

— A bulimia.

— Minseo o ensinou, Jungkook. Ela ensinou isso a Jimin como uma forma de
ser bonito. Então, ela o fez se afastar da irmã mais velha ou faria de novo.

— Tentaria se matar? - Namjoon assentiu.

— Ele comia o tempo todo, feito um louco. Descontava seus medos e


frustrações na alimentação, então o mostrava como desfazer. Você sabe o
medicamento que estava no seu organismo? - o mais novo assentiu. - É o
mesmo que ela colocou nos bombons que mandou te entregar. - Namjoon viu
o garoto abaixar o rosto. - Jimin sentia tanto medo que pensou tantas vezes
em desistir. - suspirou. - Então, veio o final. Minseo engravidou, Jungkook.

— O que?!

— Ele me disse que raramente tinham relações, mas aconteceu. Os pais de


ambos não gostaram, os pais dela são negligentes demais, mas têm noção do
perigo que isso traria para a filha. Um tempo depois eles brigaram feio,
Minseo procurou uma colega de classe do Jimin e ameaçou a garota, quase a
bateu por causa de umas mensagens sobre a matéria. Dessa vez ele estava
tão cheio que explodiu, respondeu a altura, saiu do apartamento e a gente se
esbarrou, acabou rolando de novo. - Jungkook assentiu. - Quando a gente
acordou o celular dele estava lotado de ligações e mensagens, ela tinha
tentado se matar outra vez e isso provocou um aborto. Depois disso, ela o
culpou.

— Como assim?

— Ela o fez acreditar que tudo aquilo só tinha acontecido por culpa dele,
Jungkook. Que Jimin tinha matado o filho deles. - Jungkook não pode segurar
as lágrimas, imaginar tudo aquilo o deixava um pouco tonto. - Ele terminou
de vez, avisou os pais dela e se mudou para a república, meses depois ela
tentou matar o Jimin pela primeira vez.

— Matar?! O que?!

— O viu com outra garota e jogou o carro contra a moto dele. Depois vieram
as ameaças por telefone, os presentes macabros mandados pra mim ou pra
ele. Os pais de Jimin conseguiram uma medida protetiva para ela se manter
longe, mas a negligência dos pais dela não ajuda em nada. Existem mais
detalhes, mas eu não acho que eu deva contá-los ainda mais.

Namjoon ficou de pé.

— Quer mais café?

Jungkook negou.

O mais velho dirigiu a cozinha.

Sozinho, Jungkook secou as lágrimas e descartou o café frio sobre a mesa,


deixando a xícara de lado. Sentia-se enjoado. Quando Namjoon voltou, foi a
vez dele de deixar a xícara esquecida.

— Você quer a minha opinião, Jungkook-ah? Por que nós dois podemos
continuar em silêncio enquanto você reflete, ou podemos conversar de uma
forma menos protetiva. Eu não sou o seu pai, Jimin ou Hoseok... Eu não vou
tratar de você como um incapaz, longe disso, eu te olho inteiro e vejo um
homem forte e é com esse homem que eu quero falar.

— Eu quero, hyung.

— Nossas histórias são opostas e nos sentimos da mesma forma, sábia?


Abusados. Você pelo excesso de proteção e eu pela ausência dela. Já sabe o
que me aconteceu, eu perdi as contas de quantas vezes você me ajudou
ficando em silêncio do meu lado na varanda da nossa casa, então eu estou
aqui diante de você para falar. Você não precisa desistir de nada. Eu sei que
sente frustrado como se nada na sua vida fosse real, então por favor, segura
aqui a minha mão. - Namjoon estendeu a mão até ele, Jungkook observou
antes de tocá-lo com receio. - Eu sou real. Você sente isso? - o mais novo
assentiu. - Nós começamos mal, mas veja só onde a gente tá agora. É real,
JK. Tudo o que você conquistou desde o dia que chegou àquela casa, tudo é
real. Nós amamos você e o homem que se tornou, e ninguém no mundo vai
tirar isso de você. Nem a sua mãe, o seu pai, ou qualquer um de nós. Pense
no Jungkook de um ano atrás, o garoto em Busan e o compare como o
Jungkook de agora, olhe bem e perceba o quanto você cresceu e ainda está
crescendo. Você gosta mais de qual Jungkook? Qual deles você quer deixar
vivo em si? Não estamos falando sobre seus pais ou Jimin, estamos falando
sobre você. Pergunte a si mesmo o que você quer ser, o que quer fazer
agora.

— Eu tenho medo das minhas escolhas, hyung.

— Eu também tenho. Todos nós temos, mas o medo não é algo ruim... Ele
nos faz ter atenção e cuidado. O medo impede uma criança de pular de um
lugar alto demais, o medo de perder nos fazer querer ganhar. Ter medo das
suas escolhas é natural, mas deixar de fazê-las por isso é errado. Você vai
errar, Jungkook... Mas também vai acertar. Você carrega tanto receio nos
ombros, maknae. Você sabe o que vem depois do medo?

— Não.

— A euforia de conseguir. O medo vira um frio na boca do estômago e tudo


faz sentido. Então, tome o seu tempo.
— O meu tempo.

— Você ama o seu pai, Jungkook. Você ama Hoseok e Jimin. Mas o amor
também nos faz errar algumas vezes para achar o tempo de acertos, da
euforia. Eles erraram, mas você quer mesmo basear o resto da sua vida
nesse erro ou quer viver a euforia dos acertos? Jimin errou por viver com
medo, você sabe disso.

Jungkook abaixou o rosto.

Então, tocaram a campainha.

Namjoon o deixou sozinho para abrir a porta.

Ele observou as mãos, as pequenas tatuagens desenhadas em tinta preta e


depois a aliança prateada preso ao dedo indicador.

— Jungkook, é pra você.

Jungkook franziu o cenho e ergueu os olhos grandes para encarar o outro


homem perto da porta. Uma cena quase igual há de anos atrás, mas daquela
vez não era ele quem estava de pé e envergonhado com um olhar marejado.

Se via naquele homem e se orgulhava disso.

Das cartas escondidas, dos bolos de aniversário com fundo queimado, das
noites tomando espaço na cama dele, dos conselhos sinceros, de todo o amor
que o ensinou a dar e receber.

Chinrae suspirou aliviado.

— Me disseram que você veio pra cá, então pedi a Yoongi-ssi que me
trouxesse, eu precisava te olhar filho, só isso. Perdão... Eu queria ter sido
um pai melhor.

Jungkook voltou a chorar.

Correu até aquele homem. Seu herói. O abraçou.


— Appa... - desabou nos braços dele. - Por que o senhor fez isso, appa?

Namjoon sorriu um pouco e se retirou da sala.

— Appa explica tudo, eu prometo. Eu prometo. Eu te amo tanto, meu


menino de ouro.

E ele amava.

Mais do que tudo, Chinrae amava Jungkook.

E aquele era o momento de Jungkook, era o tempo dele e de mais ninguém.


40 - aberração

#PillowFic

atenção: capítulo com menção a distúrbios psicológicos que podem


ocasionar gatilhos.

Seja lá o que te faz feliz


Seja lá o que você deseje
Você é especial pra caralho
Eu queria ser especial

CREEP - RADIOHEAD

Duas semanas depois

Hoseok abriu os olhos, mas tudo o que podia ver se limitava a uma
escuridão turva. Sentia frio, sentia o incômodo das roupas pesadas grudando
ao próprio corpo, pesando e puxando-o para baixo. Ele encarou os pés
descalços e os moveu com força, tentando impulsionar o corpo para cima,
batendo os braços sem parar até conseguir emergir à superfície.

Entretanto, nada adiantava.

Olhou ao redor, buscou por qualquer coisa que pudesse lhe guiar, só então
percebeu que mesmo rodeado por tanta água conseguia respirar.

— Seok?

A voz rouca de Yoongi o fez virar depressa, deparando-se com o namorado


diante de seus olhos. Mas não era o Yoongi adulto, era o garoto de quinze
anos pálido e fraco graças à doença que aos poucos o roubava a vida. Hobi
franziu as sobrancelhas e esticou as mãos para tocá-lo em vão, os dedos
gelados agarravam apenas a água agitada.
— Hobi... - a voz de Taehyung parecia distante e assustada, o desespero
tomava mais e mais as ações de Hoseok. Tae estava longe demais, as mãos
grandes estendidas em sua direção, chamando-o enquanto o sangue brotava
dos dedos manchando toda a água ao redor dele.

Ouviu um som alto, mas abafado e reconheceu Namjoon nadando até


Taehyung, tomando-o nos braços com cuidado, levando-o para o alto, para a
superfície segura. Seokjin passou por si como uma flecha, recolhendo
Yoongi enquanto o corpo forte nadava para cima, levando-o até a segurança
fora daquela profundeza assustadora.

— Hyung!

O grito estridente de Jungkook libertou um impacto maior à água, ela pulsou


como se o mais profundo tremesse. Hoseok olhou para baixo, reconheceu o
garoto, o viu lhe encarando com seus grandes olhos assustados e as lágrimas
de Jungkook viraram água mais clara conforme se misturavam. O mais novo
o chamava em desespero, o corpo forte tentando com todas as forças nadar
para cima, puxar Jimin.

Jimin não se movia.

Os olhos estreitos encaravam a água e apenas a ela, o corpo teimava em


afundar enquanto Jungkook tentava trazê-lo para cima, ele caia para a
escuridão assustadora e não lutava contra isso. Hoseok desceu nadando
depressa até Jungkook e o abraçou por trás.

— Solta ele. - reconheceu a própria voz, mas sequer percebeu ter dito alto.

— Não!

— Solta, Jungkook. - mandou. O mais novo se debateu, as mãos tatuadas


agarradas às roupas de Jimin, o puxando com toda a força que podiam. - Não
adianta mais.

— Não! Jimin, por favor... Por favor...

— Solta. Ele quer ir.


Jungkook gritou. Gritou tão alto que a água se agitou ainda mais, os
sacudindo para os lados, girando-os dentro de um redemoinho violento.
Hoseok segurou a mão do mais novo e não soltou, segurou enquanto ele
gritava ao ver Jimin desaparecer na escuridão abaixo de seus pés descalços.

Então, Hoseok gritou.

Ergueu o tronco de uma vez, a boca aberta, graças ao grito que assustou
Yoongi e Taehyung. Os olhos de Hobi estavam cheios de lágrimas, o corpo
coberto de suor que gruda a camiseta folgada a sua pele fria.

— Hoseok?!

Yoongi quase caiu da cama, tropeçando até a o interruptor para acender a


luz. Taehyung se moveu depressa, ajoelhou diante do namorado que o
encarou completamente assustado.

— Hobi? O que foi?! O que aconteceu?!

Hoseok arfou, os ombros estreitos tremeram enquanto ele começava a chorar


alto, escondendo o rosto no ombro de Taehyung. Os outros dois trocaram um
olhar preocupado.

— Eu vou pegar um copo de água pra você, amor. - Yoongi saiu do quarto
quase correndo.

— Meu Sol, o que aconteceu? Foi um sonho ruim? Por que você 'tá chorando
assim?

— Tae... - ele soluçou. - Tae, eu 'tô com medo. - sussurrou fungando.

— Medo do que, meu amor? Você sonhou com alguma coisa do filme que a
gente viu mais cedo? Foi isso?

— Não. - negou o agarrando ainda mais, praticamente subindo no colo do


maior. - Eu não quero falar.

— O que aconteceu? - Namjoon estava entrando no quarto. Sem camisa, ele


coçava os olhos enquanto bocejava. - Ouvi um grito.
— Jin-hyung, não precisa da frigideira, não é uma invasão! - Yoongi entrou
no quarto com o copo de água, Jin veio em seguida, armado com uma
frigideira, desconfiado, ele olhava ao redor do quarto. - Aqui, bebe um
pouco.

— Por que você gritou, Hobi?

Hobi, bebendo água, os encarou.

— Um pesadelo.

— Ah, querido. - Jin sentou perto dele e fez carinho nos cabelos bagunçados.
- Eu te falei pra não ver aquele filme. - suspirou. - Hyung pode fazer um chá,
quer? Você dorme melhor.

— Você 'tá tão paternal ultimamente. - Taehyung fez careta.

— Cadê o Jimin? - Hoseok olhou ao redor.

— Deve estar dormindo. - Namjoon cruzou os braços. - Ele não acorda por
nada quando enche a cara. - lamentou.

— Que horas ele chegou?

— Quase uma da manhã. - Taehyung beijou o ombro de Hoseok. - Eu o


coloquei na cama, ele não conseguia ficar de pé.

— A gente vai intervir? - Jin quis saber.

— A gente deve intervir. - Yoongi concluiu. - Ele 'tá faltando direto as aulas,
não sai daquele quarto, só para beber. - suspirou. - Vou avisar aos pais dele,
é melhor.

— Vamos nos revezar e ficar de olho nele, sair com ele... - Taehyung parou
de falar quando Hoseok saiu de seu colo. - O que foi?

— Eu... Hoje eu vou dormir no quarto com ele. - explicou depressa. - Tudo
bem? - encarou aos namorados.
— Tudo bem. - Tae assentiu.

— Leva mais um cobertor, 'tá bem frio. - Yoongi o beijou nos lábios. - Você
'tá bem?

— Estou sim. Podem voltar a dormir, desculpa o susto. - sorriu um pouco.


Ele pegou um dos travesseiros e beijou os lábios de Taehyung também antes
de sair.

Sozinhos, os outros trocaram um olhar preocupado.

Hoseok não acendeu a luz do quarto, mas pode ver o corpo de Jimin sobre o
colchão. O mais novo estava encolhido, o edredom jogado no chão. Ele o
pegou com cuidado, esticou para poder cobri-lo de novo e depois deitou no
espaço vazio da cama de casal.

— Jiminie... - sussurrou antes de abraçá-lo, aconchegando-o como um bolo


de cobertores dentro dos braços esticados. - Jiminie, o hyung 'tá aqui...

Jimin, perdido entre o sono e muito do álcool ainda presente no corpo, abriu
um pouco dos olhos e se encolheu mais, os lábios carnudos se esticaram em
um breve sorriso cansado segundos antes do sussurro fraco chegar aos
ouvidos de Hoseok.

— Jungkook...

Hobi não disse nada, sabia que era errado deixá-lo acreditar que o garoto
estava ali, mas não conseguiu. Ele o abraçou mais forte e chorou baixo.

— Vai ficar tudo bem, Jiminie. O hyung promete pra você.

Flashback On

Jimin nunca se sentia confortável quando Solar dava festas.

Cinco anos mais velha, Solar possuía uma infinidade de amigos descolados
graças a personalidade forte e tão divertida. Ela já estava na faculdade, o
curso de moda a trazia conexões influentes e vez ou outra aparecia nas capas
de revistas de fofoca ao lado de amigos famosos.
Naquele fim de semana, as coisas pareciam mais animadas.

Jimin percebeu logo.

Aos dezessete anos, não possuía nada do homem de anos depois. Inseguro,
tímido e introvertido, Park Jimin era constantemente apelidado de patinho
feio no meio alto social ao qual a família fazia parte. Porque Solar era
perfeita, Jihyun a criança mais adorável do mundo e, então... Sobrava Jimin.

E Jimin acreditava piamente que era bom em apenas uma coisa: ser
invisível.

Era sábado. Um dia quente das pequenas férias de verão, seus pais estavam
viajando com Jihyun, então Solar exercia suas capacidades de anfitrião
dando uma agitada festa na piscina da mansão.

A música alta era agitada, Jimin trancado em seu quarto, se arriscava a


dançar de frente para o espelho do closet espaçoso. O moletom era seu
refúgio, servia para esconder todo o sobrepeso que o deixava frustrado. Às
vezes queria ser como os homens das revistas que a irmã aparecia, outras
vezes queria ser sensual como as mulheres... Isso o confundia.

Sua família não criava tabus sobre sexo ou preferências, Solar era a prova
disso, mas Jimin não entendia sua capacidade de se atrair por qualquer
pessoa.

Cometeu o erro de contar isso a um suposto amigo, então não demorou muito
até passarem a chamá-lo de promíscuo e fácil.

Fácil.

Logo ele que nunca havia sequer beijado alguém.

Então, naquela tarde, as coisas mudaram em sua vida por conta da sede. Não
era a primeira vez que sairia sorrateiramente do quarto para ir até a cozinha
buscar alguma coisa, era fácil ser invisível.

Mas, ele foi visto.


— Você saiu da toca. - a voz doce quase o fez derrubar o suco.

Jimin se virou para a porta da cozinha. Uma garota sorria para ele. Alta e
absolutamente linda. Os cabelos longos estavam presos para o alto, o corpo
magro se mostrava bastante graças ao biquíni vermelho sob um vestido de
renda, transparente.

Com certeza uma das modelos amigas de Solar.

— Solar disse que você não curte aglomeração. O seu nome é Jimin, certo?

— Si-Sim. - assentiu e se curvou. - Park Jimin.

— Fofo. - ela sorriu mais, se aproximando até curvar o corpo sobre a ilha da
cozinha, deixando as mãos atraentes tocaram a pedra de mármore branco.
Jimin gostou de como as unhas dela eram longas e bonitas. - Sou Oh Minseo.

— Mui-Muito prazer, Minseo-ssi. - ele se curvou de novo.

— Ah, não me chame assim. Me chame de noona. Então, o que te fez sair da
toca?

— Suco. - ele mostrou a caixa e sorriu um pouco.

— Você pode me dar um pouco? - ela chegou ainda mais perto. Jimin
abaixou o rosto, os seios pequenos chamavam sua atenção, mas ele não
encararia, era errado. - O que você acha de dividir um pouco do seu suco
comigo ao invés de voltar para a sua toca, Jimin?

Jimin engoliu a saliva e lambeu os lábios grossos, os dedos pequenos


apertavam a caixa de suco sem parar. Se ele soubesse, se tivesse o dom de
prever o futuro, provavelmente jamais deixaria aquela mulher chegar tão
perto, inflamar os hormônios que implodiram dentro de si. Mas ele não sabia
e tampouco podia imaginar.

Assentiu.

Minseo sorriu animada.


A beira da piscina, de frente as portas de correr que davam a cozinha ampla,
Solar observou a cena e franziu o cenho.

— Ih, Solar... Minseo quer comer o seu irmãozinho. - um amigo comentou


aos risos.

— Eu nunca me importei com esse papo de ela gostar de carinhas mais


novos, mas o meu irmão é muito-

— Solar, Solar! Olha quem chegou! - outra amiga apontou em direção a


entrada do espaçoso gramado bem cuidado. - A Moonbyul!

Solar sorriu e ficou de pé, o corpo bonito ainda estava molhado assim como
o biquíni azul marinho. Ela foi até Moonbyul, a tatuadora que o despertava
sentimentos demais.

Naquele momento, ela não intercedeu.

Ninguém impediu Oh Minseo de começar a devorar o corpo e alma de


Jimin.

Flashback Off

"Você ficou sabendo? Sobre o Park Jimin?"

"Ele está com problemas com o peso."

"Sinceramente, eu sempre o achei tão metido, é como dizem: as máscaras


caem."

"A universidade o encaminhou para a orientação psicológica!"

"Soube que ele se droga para vomitar, agora eu entendi aquele corpo
bonito. Doente."

"Eu não acho que isso seja doença, é só frescura! Ele é rico, não é? Gente
rica gosta de chamar atenção."
"O namorado dele, aquele garoto bonito que trabalha no Wings, foi parar
na emergência."

"Jimin o está induzindo a ser doente como ele. Um relacionamento de


fachada."

"Park Jimin é só mais um riquinho doente e arrogante."

— A vontade vem como um empurrão violento. - Jimin observou as próprias


mãos, principalmente a aliança que não ousou tirar desde aquela noite. O
psicólogo, doutor Lee, assentiu. - Começa com a distorção da minha visão
diante de um espelho que eu odeio com todas as forças, qualquer um deles.
Espelhos mentirosos são carrascos que apontam cada pequeno detalhe
imperceptível até que os meus olhos distorcidos o encontrem, até que as
minhas pupilas se dilatam pelo reconhecimento confuso do meu reflexo.

— Como você se vê?

— Eu acho que não me vejo de verdade, mas a verdade não cabe dentro de
uma mente adoecida e exigente. Nunca me bastaram as palavras alheias, os
dizeres constantes sobre qualquer sinal de beleza em mim, nada é crível
como o espelho que me aguarda todos os dias, espera por mim só pra me
refletir.

— Isso começou por influência de sua ex-noiva. - Jimin assentiu. - Quando


você me diz que se culpa por ela eu sinto sinceridade, mas essa culpa não
deve existir Jimin. E agora, você também se culpa por Jungkook ter
terminado o relacionamento.

— Eu omiti coisas demais, quis protegê-lo, quis evitar que ele se


machucasse.

— Jimin, há uma pergunta que eu quero lhe fazer desde o nosso primeiro dia
juntos. - Lee deixou de lado o pequeno bloco de notas. - Acho que hoje
chegamos a um degrau muito propício para fazê-la.

— Pode fazer. - ele assentiu.


— Estamos juntos há exatos dez meses, você tem se saído bem com o
distúrbio alimentar e a compulsão. Nós falamos sobre muitas coisas durante
nossas conversas, mas nós nunca falamos sobre algo muito importante.

— O que?

— Você. - Lee retirou os óculos de leitura.

— Como assim? - sorriu sem entender. - Nós falamos sobre mim o tempo
inteiro, doutor.

— Não, Jimin. Nunca falamos sobre você.

— Eu não estou entendendo.

— Nós falamos sobre Minseo e você, sobre Namjoon e você, sobre sua
família e você, sobre Jungkook e você, sobre a sua bulimia e você. Mas nós
nunca falamos apenas sobre você. Imagine uma ponte sobre um rio
turbulento, uma ponte que liga de margem a margem para que as pessoas
atravessem em segurança e nunca caiam dentro das águas. Durante as nossas
consultas nós falamos apenas sobre as pessoas que atravessam essa ponte.

— Eu sou essa ponte?

— Você é a ponte e também é o rio Jimin. - Lee sorriu com gentileza. Jimin
abaixou o olhar, voltou a encarar as mãos. - Você é o rio de águas que
correm com força e tem tanto medo de que as pessoas se afoguem que se faz
de ponte para que nenhuma delas corra o risco. Então, quando estamos aqui
durante as consultas, por meses eu te escuto falar sobre as pessoas que
atravessam você, sobre as pessoas que você ama e quer proteger. Minseo te
fez construir essa ponte, ela te fez carregar cada uma das pedras apenas para
fazê-la passar, ela te fez temer a si mesmo, o adolescente inexperiente que
não teve tempo de se conhecer sozinho. Pouco a pouco, temendo mais e mais
o seu verdadeiro eu que sequer conhece. Do que você tem medo, Jimin?

Jimin demorou a responder.


Os olhos pequenos estavam turvos graças às lágrimas, o lábio inferior tremia
brevemente. Ele encolheu os ombros.

— Eu tenho medo de mim. Do que eu sou.

— Por que?

— Porque eu não faço ideia de quem eu sou desde que ela tomou a minha
vida. - disse baixo, com a voz embargada. - Eu amei tanto. Amei mais do que
eu amava a mim, mais do que eu amava a minha família. Não vou culpá-la
por tudo...

— Mas não deve deixar de culpá-la como tem feito durante esses anos.

— Eu caminhei até ela com as minhas próprias pernas, eu voltei mesmo


sabendo que não devia... Porque eu a amava. Não via problemas em fazer da
minha vida um reflexo da vida dela, pela primeira vez eu me sentia de
verdade, eu existia para alguém que me queria, me desejava, me dizia coisas
bonitas. - ele fungou. - Eu permiti que Minseo tomasse a minha vida porque
antes de ela olhar pra mim... Eu não existia de verdade, mas depois dela eu
tenho medo de existir.

— Você sabe o rio que falei antes? O que você é? Sabe do que esse rio é
feito? - ele negou. - Esse rio é no que você transfigurou o sentimento que te
causa todo esse trauma, Jimin. É o amor. Pra você, sob o seu olhar, o amor é
um rio violento e perigoso, é bonito, mas só deve ser visto de cima... Você
construiu essa ponte sobre ele para que as pessoas que você ama nunca
corram o risco de mergulhar no seu amor, de retribuir da forma que você
precisa. Porque você tem medo de que seja como foi antes. Você fez isso
com Jungkook.

Jimin ergueu o rosto, os dedos trêmulos secaram as lágrimas.

— Esse medo te faz cativo Jimin, ele te machuca. Durante o seu


relacionamento com Minseo ela te induziu a bulimia como uma forma de te
controlar e você enxergou essa atitude como uma forma de evitar mais
brigas, de não a escutar falando sobre o seu peso e sua aparência física.
Logo isso se tornou sua forma de expurgar os sentimentos, de lidar com a
ansiedade que aquela convivência lhe trazia. Você sacia sua compulsão, se
alimenta aos montes e depois acredita que a culpa pode se esvair quando
provoca o vômito. Até quando está tentando fazer algo que acredita ser
benéfico, você se machuca para proteger quem ama. Continua escondido sob
a ponte, se afogando em si mesmo. - Lee lambeu os lábios. - Eu gostaria de
saber porque nunca fala sobre você, Jimin.

Jimin sorriu sem graça, as mãos nervosas apertaram um pouco da jaqueta de


couro.

— Porque eu sou uma porcaria. - deu de ombros. - Eu sinto como se eu fosse


só um personagem que ela criou e não deu certo. - fungou. - E que ninguém
mais vai me amar se eu me mostrar de verdade.

— Os relacionamentos abusivos deixam mais sequelas do que grande parte


das pessoas acredita. - Lee começou, ele teve os olhos de Jimin sobre si. -
Esses traumas acabam se estendendo até um próximo relacionamento e nós
tendemos a agir com muito mais receio sobre essa nova experiência. É como
caminhar em um campo minado, contando os passos e planejando cada um
deles com tanto cuidado. Jimin, você não percebeu antes porque não tentou
de novo, mas ainda se torna dependente da outra pessoa quando está
apaixonado. A sua única experiência educou o seu comportamento quanto a
isso. Assim como se tornou dependente de Minseo, também estava se
tornando dependente de Jungkook. Mas, isso não era perceptível porque eles
são pessoas completamente diferentes.

— O Jungkook é uma pessoa muito boa.

— E eu não nego isso. Quero que entenda algo: independente do caráter ou


etc., não é saudável que nos tornemos dependentes de outras pessoas.
Jungkook é um bom garoto, eu o conheci quando Namjoon o trouxe aqui uma
vez, eu não estou lhe dizendo que ele fará com você o que Minseo fez, mas
tornar-se dependente dele não é algo benéfico para você. Consegue
entender? - Jimin assentiu. - Nós vamos continuar com as consultas, ok?
Você está indo tão bem Jimin, eu me preocupei quando não veio na semana
passada, mas estou muito feliz por vê-lo aqui hoje. O que achou da nossa
conversa hoje?
— Eu consegui entender as coisas que me disse. Isso é bom, não é?

— É muito bom. - sorriu. - O que você acha disso, é algo simples. Quero que
você traga algo para mim na próxima semana.

— O que?

— É algo tranquilo. Você poderia trazer para mim anotações das coisas que
mais aprecia em si e também nas pessoas que mais ama?

— Posso.

— Obrigado, Jimin. - ficou de pé. - Foi muito bom te ver hoje.

Jimin sorriu pequeno, o nariz estava corado graças ao choro. Eles saíram do
consultório e Taehyung largou a revista que lia para ficar de pé. Ele encarou
o melhor amigo e sorriu um pouco.

— Vamos pra casa?

— Quero ir ao banheiro antes, Tae.

— Ok, eu te espero.

Jimin se retirou.

— Foi bom trazê-lo, ele parece mais calmo. - disse ao psicólogo.

— Não deixe de trazê-lo, é importante que ele continue o tratamento. -


sorriu. - Como vão as coisas, Taehyung-ssi?

— Doutor, a minha consulta é só daqui a dois dias. - brincou sorrindo. Lee


sorriu também.

— Sempre evitando com o bom humor, já entendi. - piscou.

— Jimin tem bebido muito, eu não acho-


— Não o deixe misturar a medicação com álcool. - disse de forma mais
séria. Tae assentiu.

— Não vou deixar, pode ter certeza. Sabe doutor, o que acha de fechar um
pacote para sete? - Lee arqueou uma sobrancelha. - Seria interessante, não?
O Jin-hyung praticamente 'tá tratando a gente igual a filho, piora a cada dia.
Ninguém naquela casa bate bem não.

Lee riu um pouco.

— Ah, Taehyung-ssi, você é o meu paciente preferido.

— Eu posso usar isso pra me gabar com eles? - sorriu ladino.

— Não use, vamos fazer disso um segredo. - sussurrou.

— O senhor tem me ajudado muito, de verdade. - assentiu antes de se curvar.


- Muito obrigado.

Jimin voltou do banheiro. Havia lavado o rosto, mas ainda estava corado.

— Vamos Tae. Tchau doutor, até semana que vem.

— Tchau, garotos.

Flashback On

— Você fica muito esquisito com essa cor de cabelo, Chim.

Minseo comentou passando por ele, indo em direção a sala de estar do


apartamento. Ela não vestia nada além de uma camiseta larga, ainda assim
continuava linda.

Jimin franziu o cenho encarando outra vez o reflexo do espelho grande. Ele
tocou o cabelo com cuidado, sentindo as pontas macias com os dedos.
Estava loiro, pela primeira vez havia feito algo diferente.
— Acho que combina comigo, Mimi.

— Você parece ainda mais... - ela encheu a boca com uma colherada do
sorvete. - Gordo. O seu rosto fica imenso.

— As minhas bochechas? - ela assentiu, Jimin tocou as bochechas.

— Posso te ajudar, minha omma fez uma bichectomia maravilhosa, ela


também tinha um rosto redondo como o seu. - sentada no sofá, Minseo o
observou. - Deveria tentar algo nas coxas também.

— Como assim? - ele a encarou depressa.

— Suas coxas são muito grossas, Chim. Parecem coxas daquelas mulheres
ocidentais, sabe? Isso não é masculino, porque não tem músculos... Só
gordura mesmo.

Ele assentiu e voltou a se encarar no reflexo. Tocou outra vez o cabelo loiro,
tentou arrumá-lo de alguma forma nova, se desfez da franja para pentear para
o lado. Jimin largou a escova de cabelo sobre a pia do banheiro e se afastou
um pouco para retirar a camiseta folgada. Olhou para o próprio corpo, a pele
pálida graças a falta de Sol, as formas mais destacadas de um homem de
dezenove anos. Segurou a respiração, segurando a barriga para dentro o
máximo que podia ele se virou, tocou os quadris estufando o peito até ter de
respirar outra vez.

Apagou a luz e voltou para a sala de estar, para sentar ao lado da namorada
que tinha os olhos atentos a televisão. Jimin observou o sorvete nas mãos
dela e lambeu os lábios, estava com fome.

— Mimi, você acha que eu sou bonito? - Minseo o encarou.

— Acho. - assentiu. - Só tem essas coisinhas que podem melhorar.

— Ah. Entendo.

— Por que resolveu pintar o cabelo? - ela sequer o encarava mais.


— Quero tentar um visual novo na universidade, me destacar. - deu de
ombros.

— Destacar? - franziu as sobrancelhas.

— É.

— Pra que? - o tom dela havia mudado, Jimin conhecia aquele tom.

Ele se sentiu coagido.

— As pessoas geralmente mudam algo quando começam a universidade e


eu-

— Você quer se destacar para que, Jimin?! As pessoas que fazem isso são
solteiras! Você não é!

— Mimi... Eu não quis dizer nada, eu só quis mudar e-

— Quer se destacar e chamar atenção de outras garotas?! Você quer ficar


com outras garotas, Jimin. - ela ficou de pé. - Quer me trair e me fazer de
idiota! Você é um ingrato filho da puta!

— Não, não é nada disso... Eu não vou fazer isso Minseo, eu amo você... -
ele explicou com paciência, mas havia tanto receio em sua voz, um tremor
escondido por baixo das palavras de paz. O estômago vazio revirou. - Eu
não quero brigar, por favor.

— Você quer brigar o tempo inteiro Jimin! Sempre faz coisas pra me fazer
sofrer, sempre querendo me deixar! Ingrato! - Minseo atirou o sorvete nos
pés de Jimin, sujando até as panturrilhas fortes. Ele ficou de pé com pressa. -
Acha que alguma outra garota vai te querer só porque pintou a merda do
cabelo?! Acha que alguém além de mim vai aguentar você? Olha só o que
você está fazendo comigo, Jimin! Me machucando desse jeito!

— Minseo, olha... Calma... Me escuta, 'tá bem? - ele tentou tocar, mas a
garota estapeou suas mãos e caminhou para perto da televisão, buscando um
dos porta-retratos de lá para atirar contra uma parede. - Minseo!
— CALA A BOCA! SEU INGRATO! VOCÊ É TÃO MAU COMIGO
JIMIN! SEMPRE INSINUANDO QUE QUER ME DEIXAR, QUE QUER
JOGAR PRO ALTO TODAS AS COISAS QUE EU FIZ E FAÇO POR NÓS
DOIS! - ela atirou outro objeto. - EU NÃO MEREÇO SER TRATADA
ASSIM! DEPOIS DE TODO ESSE TEMPO DO SEU LADO, CUIDANDO
DE VOCÊ! TE AJUDANDO A SE SENTIR BEM! A SER ALGUÉM!

— Eu não vou fazer isso, Minseo... Por favor, me escute amor. Eu amo você,
só você. - ele se aproximou devagar, segurando os braços trêmulos dela com
carinho. Jimin estava tremendo dos pés à cabeça, sentia-se enjoado. -
Desculpa?

O pedido vinha de força automática, emergia em sua voz tantas vezes que se
tornava muito mais incompreensível a cada uma delas. Jimin pediu
desculpas sem saber porquê. Ele cedia tantas vezes que era um hábito como
o de escovar os dentes antes de dormir.

Pedir desculpas acabava com os gritos, findava as brigas, evitava objetos


quebrados ou hematomas acidentais em sua pele. Ceder o deixava em paz.
Ele não entendia, muitos não entendem que essa sensação não é sobre amor
e sim sobre o abuso.

Você é abusado e abusa de si mesmo em busca de paz no amor que deveria


ser saudável.

— Por que você me machuca assim, Jimin?

A manipulação da culpa.

— Desculpa.

— Eu odeio brigar, não gosto de te xingar, mas você me obriga a fazer isso.

— Eu sinto muito.

— Você sabe muito bem que ninguém no mundo vai te amar como eu te amo.

— Eu sei. Obrigado por amar.


Você agradece.

— Não quero brigar mais, amor. - Minseo o abraçou, escondendo o rosto


contra o peito dele. - Tira essa cor do seu cabelo, eu gosto mais de você com
ele preto.

— Tudo bem.

Você cede.

— Eu te amo muito, Jimin. Tenho medo de te perder.

— Eu também te amo, Mimi. - Jimin a abraçou forte, deixando um beijo


sobre os cabelos castanhos. - Você não vai me perder, nunca. Prometo.

Você sequer nota, mas já se perdeu há mais tempo.

Flashback Off

Jimin estava sozinho em casa naquele fim de tarde.

Sentado no sofá maior da sala, tentava de alguma força recuperar o conteúdo


perdido das aulas perdidas, mas seus pensamentos fugiam para se espalhar
por todo o cômodo com lembranças tão recentes.

Jungkook ainda não tinha voltado.

Soube por Chinrae que ele havia pedido para voltar pra Busan e isso o
desesperou. Perdeu a conta das vezes que digitou mensagens longas e outras
nem tanto, apenas para desistir e respeitar a decisão do mais novo.

Os dias o ajudaram a clarear um pouco da mente, compreender que a forma


como estavam levando as coisas não era a melhor, que aquela felicidade
prematura tendia a outro relacionamento conflituoso.

Jungkook tinha razão, afinal.


Ele não mentiu ao dizer que temia não conhecer Jimin de verdade, até mesmo
Jimin temia não se conhecer o suficiente.

Uma ponte e um rio turbulento.

Ele jogou a caneta sobre um dos livros de direito empresarial e respirou


fundo.

Precisava beber alguma coisa. Se entorpecer.

Mas não o faria. Odiava quebrar promessas e Taehyung o fizera prometer.

— Quer ajuda? - a voz grossa o fez se assustar um pouco. - Desculpa.

— Eu não te ouvi chegando.

— Eu sei, te dei boa tarde assim que entrei e você não respondeu. - Namjoon
sentou ao lado dele e observou o caderno alheio. - Eu quase rodei nessa
matéria, mas isso me ajudou a estudar o dobro quando pegamos a parte dois.

— Achei que não existia algo pior que penal.

— O civil é bem pior. - Namjoon sorriu e leu as linhas escritas no caderno. -


Eu ainda tenho as minhas anotações, vou procurar e tirar cópias para você.

— Namjoon... - Jimin suspirou cansado. - Acho que vou desistir.

— O que?

— Do curso. - apontou para os livros.

— Desistir? Mas, por que?

Ele deu de ombros.

— Jimin... - Namjoon colocou o caderno sobre a mesinha e a própria


mochila no chão. - Eu sei que as coisas estão difíceis e nem posso imaginar
o quanto porque cada um de nós tem seus monstros para lidar, mas você não
pode desistir. - Jimin abaixou o rosto. - Você é bom nisso, é tão melhor que
eu! Os professores sempre comentam do quanto você é bom no civil, tem
gente brigando para te oferecer um estágio no próximo semestre... Eu sei que
você vai ser o melhor delegado desse país, vai fazer história.

— Eu falho em tudo que me proponho a fazer.

— Você está sendo injusto demais consigo, Mini.

— Estou sendo realista. - suspirou.

— Como você pode dizer isso? Que falha em tudo? Você nunca falhou
comigo, nem quando eu merecia a sua falha, quando eu dizia coisas ruins e te
magoava. Nunca falhou com o Taehyung... Você é a força dele, é quem ele
procura quando as coisas o deixam sobrecarregado. Ele não faz isso nem
com Yoongi-hyung ou Hoseok! Por favor, não desiste...

O menor o encarou nos olhos. Namjoon segurou as mãos menores, as


guardou dentro das suas e fez carinho.

— Eu 'tô tão cansado. - confessou num sussurro. - Tão cansado, Moni.

— Eu sei. - assentiu o trazendo para um abraço. - Eu sei que é horrível ter de


ser forte ou ouvir as pessoas te dizendo pra ser forte quando tudo o que a
gente quer fazer é desistir. Mas eu sei que você é capaz de sair disso... Você
vivia me dizendo que nunca me viu sorrir de verdade Jimin, quando a gente
ficava e eu te pegava me olhando dormir, preocupado comigo mesmo eu
agindo como um idiota na maior parte do tempo... Me diz como? Como uma
pessoa tão iluminada assim não vai conseguir ser forte.

— Namjoon-ah... - ele o abraçou, escalando o colo do maior em busca de


carinho.

— Fadas não desistem, muito menos anjos.

Jimin assentiu, abraçando-o mais.

— Eu te amo tanto, Moni.


— Também amo você. Todos nós amamos muito você, Jiminie. Todos nós
precisamos de você... - Namjoon sorriu. - Ele vai voltar pra casa.

Jimin ergueu o rosto, uma ruga de confusão entre as sobrancelhas.

— Ele 'tá na casa dele, em Busan.

— Não foi isso que ele me disse. - sorriu de novo. - Ele disse que a casa
dele é aqui.

Segredou piscando um dos olhos. Jimin sorriu e o abraçou de novo.

Flashback On

A meia luz do quarto de motel dava um ar ainda mais romântico ao ambiente.

Velas aromáticas decoravam ao redor da cama e entre os ladrilhos da parede


vazada que dava visão para a hidromassagem cheia e funcionando. As
roupas estavam jogadas perto da porta, assim como dois pares de sapatos
tão diferentes.

Coturnos pesados e sapatos de grife.

Opostos que se completavam da mesma forma que os dois corpos abraçados


sobre a cama desfeita.

As mãos de Jimin, repletas de anéis prateados, seguravam a cabeceira da


cama, as unhas pintadas de preto arranharam a superfície reta para descontar
o prazer que o corpo sentia a cada movimento dos quadris. Devagar ele se
guiava, movendo-se conforme a necessidade faminta do ato, sendo
falsamente guiado pelas mãos alheias e tatuadas que cavavam firme a carne
firme de suas nádegas.

Jungkook o segurava para si.

O puxava para perto quando o corpo se movia para longe, nem tão afobado
como nas primeiras vezes, ele suava sobre aquele colchão como se a pele
precisasse expulsar o tesão arrebatador. A cada vez indo mais fundo,
buscando dentro de Jimin o ápice do prazer que os envolvia.

Os olhos não se perdiam nem por um momento, nem quando o prazer os


obrigava a cerrá-los enquanto as bocas cantavam gemidos tão deles.

E da caixa de som estrategicamente escondida em algum lugar daquele


quarto, Frank Ocean cantava Thinkin 'Bout You.

— Jimin... - o mais novo clamou baixinho, olhou para baixo, onde conseguia
se observar um pouco quando os quadris do mais velho subiam. - Amor,
mais rápido...

— Menino apressado. - soprou depois de um gemido rouco. As mãos


espalmam o peito de Jungkook, rasparam sobre os poucos pelos ralos antes
de arranhar com força. - Se você soubesse como 'tá gostoso assim... Eu
consigo sentir você inteiro.

— Co-Consegue? - Jimin sorriu assentindo, ele penteou os cabelos para trás


e gemeu de novo. - Você me fode tão gostoso, bebê.

Jungkook mordeu a boca para não gemer alto.

— Eu quero gozar. - reclamou ficando emburrado, odiava ser tão sensível


quando trocavam de posição. Era inevitável, ele não conseguia se segurar
quando Jimin vinha por cima assim.

— Por que você 'tá falando baixinho desse jeito, amor? - curvou um pouco o
corpo e continuou mexendo, rebolando devagar. - Você 'tá com vergonha?

Jungkook assentiu uma vez, o rosto ficou ainda mais corado sobre o suor. Era
a primeira vez dele em um motel.

— Podem ouvir a gente.

— E saber disso não te dá mais tesão? - provocou, os movimentos


aumentando. - Me fazer gemer bem alto, gemer junto comigo só para as
outras pessoas saberem o quanto a gente fode gostoso? O quanto eu amo
quicar assim no teu pau?
— Jimin... - choramingou se agarrando mais ao namorado, o ajudando a se
mover mais depressa. O menor gemeu alto, o corpo tremeu e isso fez
Jungkook ficar confuso.

— Jungkook, isso... Bem aí... - gemeu trêmulo. Ele desceu do colo dele se
acomodou ao seu lado, as mãos voltaram a cabeceira enquanto se curvava de
pernas abertas, empinando o traseiro. - Vem amor.

Jungkook assentiu nervoso. Aquilo era novo. Ele ficou de joelhos trás de
Jimin e observou a entrada dilatada, lembrou de algo que aconteceu há
meses, em seu quarto. Então, mesmo com medo de fazer alguma coisa errada,
ele se curvou para lamber do períneo até a entrada que parece pulsar sob sua
língua.

— AH...- Jimin urrou enquanto tremia, um sorriso puxou seus lábios e a mão
trêmula agarrou o pau para masturbar lentamente. - Jungkook eu amo o
quanto você é curioso.

— Você gostou? - ele beijou a nádega firme.

— Gostei muito, de verdade... Você pode fazer de novo se quiser.

Jungkook sorriu atrevido e repetiu o movimento com a língua, a mente o


ajudou a lembrar o que Jimin fazia quando era o contrário. Ele lambeu,
depois rodopiou com a ponta da língua ao redor dos músculos dilatados,
satisfeito ao ouvir os gemidos manhosos do namorado.

Antes de voltar ao que os dois mais precisavam, ele ajeitou a camisinha com
as mãos trêmulas e com cuidado voltou a penetrá-lo, gemendo engasgado ao
sentir de novo o aperto gostoso.

— Amor, mete... - Jimin choramingou. - Forte, mete forte.

— Mas eu não quero te machucar... - apertou as coxas dele.

Jimin respirou fundo e ergueu o tronco até as costas colarem ao peito suado
do maior. O braço esquerdo se esticou até agarrar o cabelo da nuca alheia,
com força. Jungkook gemeu começando a meter mais forte, agarrando a
cintura de Jimin.

— Putinho do caralho. - o mais disse contra a bochecha dele. - Moleque


guloso e teimoso, se eu te disser pra meter com força o que você tem de
fazer?

— Obe-decer. - disse entre gemidos, estava perto. - Obedecer.

— Você vai me machucar? - o maior negou. - O que você vai fazer?

— Eu vou te comer com força, hyung. - assentiu.

— Porque você ama quando o hyung vem assim, não é? Quando eu te deixo
me comer assim? Isso, aí... - Jimin puxou o cabelo dele com mais força, a
outra mão ainda se masturbava sem parar. - Isso... Porra Jungkook... O seu
pau é tão gostoso...

— Jimin... Jimin... - ele mordeu o ombro do mais velho, os quadris


empurrando com força enquanto gozava dentro da camisinha.

Jimin veio em seguida, sujando mais dos lençóis enquanto gemia um


palavrão.

Não demorou para as respirações pesadas se encontrarem num beijo


afobado, apressado porque isso fazia durar ainda mais o orgasmo. Jimin
sorriu dentro do beijo e caiu na cama, se virando para secar o suor da testa.
Jungkook deitou ao lado dele, ofegante.

Naturalmente, Jungkook se aconchegou sobre o peito de Jimin, de olhos


fechados.

— Eu vou casar contigo. - o mais velho sussurrou o fazendo encará-lo.

— O que?

— Eu vou casar com você. - sorriu preguiçoso.

— Isso é um pedido de casamento? - arqueou uma sobrancelha.


— Talvez, mas eu acho que é mais uma constatação de fato. - bocejou.

— Você sempre diz coisas estranhas quando 'tá pra cair no sono.

— Olha só quem fala. - debochou. - Você não se casaria comigo?

— Casaria. - assentiu. - Por que você quer casar comigo?

— Porque eu te amo, porque eu sou completamente apaixonado por você e


porquê... Sim. - deu de ombros. - Onde você quer casar?

— No litoral. - sorriu enrugando o nariz. Jimin lhe mordeu a ponta dele. -


Aí, Jimin-ssi.

— Nada de terno e essas coisas...

— De frente pro mar. Eu quero ter quatro filhos.

— Uou! - arregalou os olhos. - Como viemos parar em filhos? - foi a vez do


mais novo dar de ombros. - Quatro?

— Uhum! Quatro. Uma casa bem grandona com espaço pra eles e pra gente.

— Por que tantos filhos?

— Porque tem muita criança precisando ter uma casa, amor... Ter uma
família pra crescer feliz.

Jimin sorriu orgulhoso e o beijou nos lábios.

— Quatro, então. - começou a dar beijos por todo o rosto de Jungkook, o


fazendo rir. - Quase uma creche na casa dos Park-Jeon.

— Jeon-Park. - negou.

— Jeon-Park é horrível, Jungkook!

— Não quero mais casar contigo. - se virou emburrado, arrancando do mais


velho uma gargalhada gostosa.
— Vem aqui meu coelhinho emburrado.

— Sai. - negou, estava de braços cruzados.

— Você não vai me deixar beijar a sua cenourinha?

— Para com isso! Pra que meu appa foi te falar! Que saco!

Jimin o puxou para seus braços, dando beijos em seu rosto até fazê-lo rir
outra vez.

— Eu amo você, Jungkook. - repetiu quando estavam abraçados de novo.

Jungkook sorriu e o beijou.

Flashback Off

Quando Jungkook voltou para casa, num domingo de manhã, foi recebido por
uma pequena comemoração receosa. Ele veio outra vez com uma mochila
grande demais nas costas, entretanto não possuía mais o olhar assustado e
tão perdido.

Ele abraçou primeiro a Seokjin, rindo das brincadeiras do hyung. Depois


veio Namjoon, Yoongi e Taehyung.

— Oi. - Hoseok cumprimentou sem chegar perto demais, as mãos nervosas


se moveram um pouco enquanto ele tentava disfarçar a ansiedade. - Que bom
que voltou pra casa, Jungoo.

— Hobi-hyung... - ele sorriu. - Não vai me abraçar também? Eu senti


saudades, hyung.

Hoseok assentiu, os olhos marejados enquanto sorria indo abraçar o mais


novo. O abraçou forte, contendo as lágrimas de alívio e felicidade por tê-lo
perto de novo. Temia demais perder Jungkook.

— Me perdoa...
— 'Tá tudo bem hyung. - sussurrou de volta. - Eu te amo.

— Te amo. Jungoo, eu te amo muito. - o segurou pelo rosto antes de lhe


beijar a testa demoradamente. - Obrigado.

Jimin ficou em silêncio.

De qualquer forma, não sabia direito o que dizer.

— A gente pode conversar? - a pergunta o pegou desprevenido, ele demorou


a notar que Jungkook falava consigo. Assentiu depressa. - Eu vou subir pra
deixar a mochila lá no quarto, a gente pode conversar lá em cima?

— Uhum.

— Eu vou ao mercado comprar alguma coisa pro almoço, o que você quer
comer JK? Hyung vai fazer algo especial pra você.

— Kimbap e bulgogi. - sorriu.

— Certo! Hyung vai fazer o melhor! Yoongi, vamos ao mercado.

— 'Tô cansado.

— Cansado de fazer nada?! Anda logo!

— A cada dia esse homem fica mais velho e chato!

— Min Yoongi!

— Vamos subir? - Jungkook disse baixo, apenas para Jimin.

O mais velho assentiu o seguiu pelas escadas. Trocou um olhar com


Taehyung que de polegares para o alto vibrou animado.

No quarto e sozinhos, eles ficaram quietos até Jungkook deixar a mochila


sobre a poltrona no canto do cômodo abafado. Ele olhou ao redor, reparou
na bagunça e principalmente o cheiro de cigarro e álcool. Suspirou.
— Você está bebendo? - ele sentou ao lado de Jimin, na cama.

— Eu não bebo nada há três dias. - foi sincero. - Prometi pro Tae, também
não posso misturar os calmantes com álcool.

— Calmantes?

— Eu pedi. Não consigo dormir direito. Sozinho. - Jimin percebeu que a


aliança não estava mais no dedo de Jungkook. Seu coração doeu. - Você 'tá
bem?

— Estou. E você? - ele fechou os olhos. - Pergunta idiota, eu sei. - sorriu


sem jeito. - Precisa abrir essas janelas, arejar o quarto.

Jimin o observou caminhar pelo quarto para abrir as janelas. Ele estava
diferente. Isso não era ruim, mas o deixava assustado. Os óculos de grau
eram os mesmos, algumas palavras ainda saíam cortadas enquanto ele
falava, mas Jungkook estava diferente.

Confiante era uma palavra melhor.

— Melhor assim, não é?

— Uhum. - ele escondeu a mão, a aliança.

— Ela ainda tá aqui. - disse como se lesse os pensamentos do menor.


Segurou o cordão de prata para puxar o pingente para fora da camiseta preta,
ali estava a aliança. - Eu não consegui ficar longe dela.

— Eu 'tô feliz que tenha voltado.

— Eu 'tô feliz por ter voltado, Jimin. - ele alisou as coxas de forma ansiosa,
por cima do jeans apertado. - Conversei com o meu appa todos os dias... Ele
me explicou muitas coisas, explicou que foi a pedido dele que você não
falou sobre Hyo.

— Chinrae-hyung é um bom pai.


— Ele me disse que vocês iam me contar naquele dia e por isso ele estava
aqui na cidade, disse que você o colocou contra a parede por achar que as
coisas estavam indo muito longe.

— Gosto de pensar se as coisas seriam diferentes se tudo tivesse acontecido


como a gente planejou.

— Eu pensei muito sobre isso também e cheguei a uma conclusão.

— Qual?

— Me machucar imaginando como teria sido não vai mudar nada do que já
foi. As coisas aconteceram como tinham de acontecer. Antes de vir pra cá,
eu procurei Hyo.

Jimin o olhou com surpresa.

— Você a procurou?

— Sim. Eu não quero que ela participe da minha vida agora, não sei se vou
querer algum dia. Mas eu não posso abrir mão de coisas que são meu direito,
Jimin.

— Como assim?

— Ela nunca ajudou o meu appa comigo, quer dizer... Nunca pagou pensão e
essas coisas, eu procurei um advogado em Busan. - disse contido, mas com
orgulho. - Appa não gostou, mas ele finalmente entendeu que eu sou um
homem adulto e posso tomar as minhas decisões sozinhas. Procurei um
advogado e entendi os meus direitos, entendi tudo o que Hyo deixou de me
dar enquanto eu era menor de idade. Então, eu propus a ela um acordo. -
Jimin o esperou continuar. - Ela continua pagando a minha universidade até
que eu me forme, depois disso. Eu não quero mais nada.

— Você tem direitos a mais.

— Eu sei. Mas eu não os quero. Eu vou me formar Jimin, vou conseguir


alcançar os meus objetivos e ser alguém... Ela diz que somos parecidos, que
somos ambiciosos, mas eu não vou machucar ninguém pra poder crescer.
— Você não é como ela, nunca. Eu 'tô muito orgulhoso de você, Jungkook.

— Obrigado.

Os dois ficaram quietos de novo. Jungkook encarou a mochila sobre a


poltrona e suspirou.

— Vou ficar no quarto com Namjoon-hyung agora...

— Eu... Nós podemos desfazer a cama de casal, você não precisa...

— É melhor. - o interrompeu.

— Ficar perto de mim te machuca?

O garoto sorriu.

— Não. Ficar perto de você me faz querer jogar pro alto tudo que eu ensaiei
fazer enquanto vinha pra cá. - Jimin franziu o cenho. - Appa me disse uma
coisa sobre nós dois e fez tanto sentido que me deixou assustado ao concluir
isso.

— O que ele disse?

— Nós começamos isso com a água fervendo Jimin, mas a gente não soube
controlar o fogo e ela evaporou quase completamente, quando paro pra
pensar sobre isso fico com medo de não ter sobrado em gota. - ele segurou a
mão pequena. - Eu amo você, mas nós dois precisamos fazer as coisas
devagar. Começar com a água fria...

— E deixar esquentar com o tempo? - sorriu um pouco. O toque de Jungkook


o fazia tão bem.

— A gente não pode mais ser tão dependente um do outro, não pode mais
voltar se as coisas forem como antes. Não vai dar certo.

— E se você não amar o que ainda não conhece sobre mim?

— Nunca vamos saber se você não me mostrar.


— O doutor Lee me disse que ajo como se a minha vida fosse duas margens
de um rio. Eu construí uma ponte por causa dos meus traumas, então
atravesso as pessoas que amo por medo de que elas mergulhem em mim,
medo de que se afoguem em mim.

— Olha pra mim. - pediu com carinho. - Eu quero mergulhar em você, mas
você também precisa querer isso ou não adianta. Eu não tenho medo de te
ver Jimin, eu tenho medo que você continue se escondendo de mim, de si.
Então, você tem de decidir o que quer fazer... Se não quiser, eu vou entender,
por mais que isso quebre o meu coração em dois. Mas se você quiser... Eu
juro que te ajudo a colocar essa ponte abaixo, cada pedaço dela. A gente
mergulha junto em você.

Jungkook beijou a mão dele, beijou a aliança e depois o soltou. Quando ele
saiu do quarto, Jimin beijou o mesmo lugar e respirou fundo.

— No que você está pensando?

Taehyung colocou uma batata frita na boca encarando o melhor amigo.

— O que você quer fazer quando for mais velho, Tae?

— Hm, que pergunta mais doida. - sorriu um pouco. - Eu não penso muito
sobre isso.

— Não? Por que? - empurrou o milk-shake para o lado.

— Beba até o final mocinho. - mandou com uma voz grossa. - Yoongi
costuma dizer: está tudo bem parar, não há necessidade de correr se você
ainda não tem um motivo. Eu não penso muito a longo prazo... Um dia de
cada vez.

— Isso não te preocupa?

— Hoseok se encarrega do papel de ser o mais centrado do relacionamento.


- deu de ombros, Jimin rolou os olhos. - Ok, sem piadas. Antes eu pensava
demais sobre o que fazer, o que ser... E isso devorava a minha mente, a
pressão de me encaixar no que as pessoas esperavam de mim só saciava o
desejo delas enquanto matava a minha vontade de viver, Jimin. Nós temos
vinte e quatro anos hoje e sabe o que nós vamos ter daqui a dez anos? Trinta
e quatro. Essa é a única certeza, então porque me cobrar tanto sobre o que
pode acontecer até lá. Respondendo a sua pergunta, o que eu mais quero
fazer quando for mais velho... É ter vivido como eu queria viver enquanto
mais jovem. Olhar para trás e sentir que o caminho até ali foi feliz, me fez
feliz. Tem uma palavra que Namjoon-hyung costuma usar... Serendipidade.

— Descobrir coisas boas por acaso. Inesperadamente.

— Isso. Eu tenho a sensação que viver agora em função do futuro nos faz
perder o momento.

— Ninguém é jovem para sempre...

— Ninguém é nada para sempre. Criança, jovem ou adulto. Se a única


certeza que a gente tem na vida é a morte, acho justo que a gente viva como
tem vontade desde que isso não interfira negativamente na vida de outra
pessoa. O que você quer ser daqui a alguns anos, Jimin?

— Agora eu não sei mais. - deu de ombros. - Acho que eu quero ser... Vivo.

— É um bom plano. - riu um pouco e Jimin lhe atirou uma batatinha. - Seja
mais filtro e menos esponja, Jimin-ah. Não absorva tudo, nem todas as
coisas boas ou ruins, filtre aquilo que realmente vai te fazer bem e jogue fora
o resto.

— Como eu faço isso? - apoiou o cotovelo na mesa.

— Comece por procurar os pais de Minseo. - disse mais sério. - E diga a


eles que vai denunciá-la. Pare de absorver tudo isso, por favor... Filtre a sua
vida, Jimin. - ele estendeu a mão até tocar a mão menor com carinho. - É o
primeiro passo.

Jimin apertou os dedos de Taehyung e piscou os olhos depressa, evitando as


lágrimas.
— Você vem comigo? Até uma delegacia?

Taehyung assentiu, seus olhos também estavam marejados.

— Eu vou com você para qualquer lugar do mundo se isso te fizer feliz.

— Obrigado. Obrigado por esses últimos dias, eu sei que você vai me ver
de madrugada e que confere se eu estou comendo direito. Vocês três tem
intercalado para dormir comigo, cuidar de mim.

— Nós somos os seus "Jimin". - Tae sorriu. - Eu amo você, rabudo. Eu sou
você. - beijou a mão pequena, sobre o mindinho miúdo.

— Segunda-feira, vamos até uma delegacia, eu preciso ligar para o


advogado da minha família e pedir que ele vá com a gente.

— Tudo bem. Estou orgulhoso.

— Eu também. - assentiu sorrindo.

Quando Taehyung e Jimin saíram do restaurante fast food, estava


anoitecendo. Os dois conversavam baixo, sequer notaram uma figura baixa
se aproximar de ambos. Quando Minseo puxou a jaqueta dele, Jimin se virou
assustado e confuso.

— Jimin...

— O que-

— Jimin... Por que você não veio?! Eu fiz tudo! Tudo! Você não veio!

Ela estava completamente transtornada, as roupas folgadas e amassadas não


combinavam em nada com a mulher elegante que era. Os cabelos curtos
estavam alvoroçados.

— Jimin, sai de perto dela! - Tae deu um passo em direção ao mais baixo,
mas parou no momento em que Minseo ergueu as mãos trêmulas. - Merda...
O revólver foi apontado para ele, Jimin, sem pensar duas vezes, tomou sua
frente, as mãos estendidas.

— Minseo... Me dá isso...

— Não! Você não vai me deixar de novo! Eu fiz tudo direito! Machuquei
aquele garoto e você não veio! Eu te esperei!

— Eu estou aqui agora. - a voz de Jimin, apesar de assustada, era carinhosa.


- Estou aqui, olha só. A gente pode ir pra casa juntos, mas você precisa me
dar isso, ok?

Taehyung estava apavorado, o coração batia na boca enquanto ouvia Jimin


falar com aquela mulher. O revólver tremia dentro das mãos pequenas e
pálidas, um dos atendentes do restaurante viu a cena e depressa pegou o
telefone para chamar a polícia.

— Vamos juntos! Pra casa! - Minseo assentiu, suas pupilas estavam dilatadas
demais. - E você vai ficar comigo, só comigo!

— Isso. Vamos pra casa, Mimi. - ele tentou sorrir, estava nervoso, nunca
sentiu tanto medo como naquele momento. - Me dá isso, ok?

— Não! - ela gritou sacudindo a arma. Taehyung segurou um grito de


desespero. - Eu sei que você vai me deixar se eu te entregar! Jimin você não
me ama mais? Por que me faz isso? Não quero te machucar.

— Eu sei. Eu sei, sinto muito. - dizer aquilo estava o matando. - Vamos


conversar, só nós dois... Mas não aqui. A sós.

Minseo engoliu a saliva e sorriu também.

Sua mente não funcionava mais como deveria, os pensamentos se confundiam


entre a realidade e a imaginação doente. Ele chorava e sorria sem parar.
Olhou ao redor, olhou para o carro.

— Entra no carro. Vamos pra casa juntos.

— Ok. Nós vamos. - ele assentiu. - Taehyung, as chaves...


— Não! Eu não vou te deixar-

— DÁ AS CHAVES PRA ELE! - a mulher gritou apontando a arma para


Taehyung. Jimin entrou em desespero.

— Tae me dá as chaves! Agora! - estendendo a mão, Jimin o encarou. - 'Tá


tudo bem, vai ficar tudo bem... Me dás as chaves.

— Jimin... Por favor... Por favor...

— Vai ficar tudo bem. Eu prometo. - assentiu para o amigo. Tae entregou as
chaves, suas mãos tremiam.

Jimin entrou no carro com Minseo ainda apontando o revólver para


Taehyung, ele abriu a porta do passageiro e a deixou entrar. Taehyung caiu
sentado na calçada quando o carro se afastou em direção a avenida
principal, suas mãos tremiam tanto que sequer percebeu quando o celular
caiu entre as pernas. Ele chorava baixo.

— Senhor?! Senhor? Está bem?! Onde está a moça?! Nós chamamos a


polícia! - uma das funcionárias se aproximou. - Trás um copo de água
Juyeon, vai logo! Senhor, a polícia 'tá vindo... Fica calmo.

Taehyung encostou o celular ao ouvido e esperou ser atendido.

— Oi amor... Já estão vindo? Ia te pedir pra me trazer um lanche... Yoon


quer um de frango e-

— Hoseok... - a voz chorosa fez Hobi se calar.

— Taehyung, o que você tem?

— Ela vai matar o Jimin... - disse entre soluços. - Ela vai matar ele...

— Onde você tá?!

🌙
Jimin observou o revólver sobre as coxas de Minseo, então virou a direita,
tomando o caminho oposto ao centro da cidade, em direção a ponte que
ligava uma margem a outra do rio.

— Esse não é o caminho... - ela murmurou. - Não é o caminho... Não é o


caminho...

— Me dá isso! - ele foi rápido em pegar a arma para jogar no banco de trás,
de qualquer jeito. Ouviu o som do objeto cair no chão do veículo.

— Não! Não! Jimin! NÃO! NÃO É O CAMINHO!

— Você precisa de ajuda Minseo, precisa que seus pais parem de


negligenciar o seu estado. - ele segurou o volante com mais força. A mulher
se debateu, as mãos puxaram o cabelo com força. - Não faz isso!

— VAMOS PRA CASA! EU QUERO IR PRA NOSSA CASA! COM O


NOSSO BEBÊ!

— NÓS NÃO TEMOS CASA NENHUM! NÃO TEM BEBÊ NENHUM!


NUNCA TEVE! - ele gritou de volta, explodindo de raiva.

— POR QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO ISSO? EU SOU A ÚNICA PESSOA


QUE TE AMA! A ÚNICA! VOCÊ É MEU! MEU!

— PARA!

Minseo gritou em fúria, o corpo se sacudiu enquanto as mãos começaram a


estapear com força, as unhas se prenderam a jaqueta, ao pescoço exposto
para machucar a pele dele. Jimin tentou se afastar, soltou uma mão do
volante para segurá-la em vão. O pé pisou forte no freio do carro, mas havia
um outro veículo atrás, de grande porte. A batida os empurrou para a lateral
da pista, de encontro a cerca de proteção da ponte que fez o carro rodar na
pista antes de bater com força contra outra mureta. Jimin sentiu uma dor
absurda na perna direita, a cabeça latejou enquanto a voz de Minseo gritava
sem parar.
As pessoas que passavam pelo local gritaram quando o carro caiu na água,
com as rodas para cima.

Jimin bateu os braços contra o teto do carro, a água começou a entrar


agressivamente.

A dor de cabeça o deixava fraco.

Ele tateou a porta, procurou a maçaneta em desespero, então sentiu uma mão
lhe agarrar o pulso.

Minseo o encarava. Não havia nada dentro do olhar vazio.

O nariz sangrava aos montes.

Ela sorriu.

A água já chegava no peito dos dois.

"Eu estou tão cansado."

"Eu quero desistir."

"Eu não sei quem sou."

O carro afundou de vez, sumiu sob a água turva e fria. As pessoas


observavam apreensivas, as sirenes do resgate soavam distantes.

Então, um homem emergiu.

Ele tragou o ar e agitou os braços com força.

A água gelada era como mil agulhas perfurando seu corpo.

Jimin nadou com dificuldade até a margem do rio, a perna doía demais então
ele se jogou sobre as pequenas pedras de cascalho, sobre a terra úmida e
observou o céu noturno. As poucas estrelas.

— Ali! Tem um cara ali! - alguém gritou. Ele não saberia dizer de onde.
Jimin respirou fundo, os lábios tremiam graças ao frio.

Por fim, chorou.

Por minutos.

Chorou feito uma criança afastada da mãe, tão alto quanto podia, chorou de
soluçar enquanto os bombeiros se aproximavam para prestar socorro.

— Hey, rapaz! Consegue me ouvir? Consegue falar? - um homem o olhou de


cima.

Jimin chorou ainda mais, assentindo.

— Tinha mais alguém no carro?! Outra pessoa com você?!

— Sim... - ele soluçou. - Uma... Minha ex-noiva... Ela ainda está lá...

— Certo. Não se mova, nós vamos ajudar você.

Ele soluçou outra vez. O homem tocou sua perna, a dor era tanta que ele
pensou estar prestes a desmaiar.

— Kang-ssi... Vão chamar os mergulhadores, o carro afundou muito rápido. -


outra voz, essa mais séria.

— E a mulher?

— A essa altura... Não tem mais o que fazer a não ser esperar que tirem o
corpo.

Jimin fechou os olhos e levou as duas mãos até a boca.

— JIMIN! JIMIN! - a voz desesperada de Taehyung alcançou os seus


ouvidos. - ME LARGA! EU O CONHEÇO! EU ESTAVA COM ELE! SOU
AMIGO DELE!

— Tae... - Jimin sussurrou baixinho, ninguém o ouvia. - Eu 'tô vivo.


Depois, ele desmaiou.

#PillowFic
41 - estranho

Então ninguém nunca nos contou, baby, como isso seria


Então o que acontecerá conosco, baby?
Acho que teremos que esperar e ver
ESTRANGED - Guns N Roses

Flash Back On

Entre todos os objetos espalhados sobre a mesa pequena de madeira e vidro


grosso transparente, o cubo mágico foi o que lhe chamou mais a atenção.

Um dos lados, o amarelo, estava completo.

Todos os pequenos quadrados se alinhavam em três linhas de três, perfeito e


sem qualquer elevação que pudesse incomodar seu olhar exigente, ainda que
infantil

Namjoon esticou o braço para pegar o brinquedo, o segurou com os dedos


firmes e trouxe para perto do corpo. Os óculos escorregaram pelo nariz, mas
ele não se importou porque aquilo acontecia o tempo inteiro desde que
trocara a armação do Superman por uma mais bonita e sem referências a
heróis ocidentais.

— Qual é o seu nome?

A voz daquela mulher não o assustava, mas o olhar o deixava incomodado.

A jovem senhora vestia roupas sérias demais. Os cabelos curtos estavam


penteados para trás e seu rosto pouco maquiado o fazia lembrar das mamães
executivas que via na televisão. As que precisavam trabalhar para cuidar
dos filhos.

— O meu nome é Mina. Myoi Mina. E o seu nome?


Namjoon sabia que Mina sabia o nome dele, mas não era educado ficar em
silêncio por tanto tempo.

— Namjoon. - a resposta não se prolongou. Seus dedos pequenos e ainda


gordinhos tocavam os quadrados pequenos do cubo mágico, não tentavam
acertar as cores. Ele olhou para a porta por onde havia entrado. - Onde está
Nari-ah?

Mina penteou uma mexa do cabelo para trás da orelha, colocou sobre a mesa
a prancheta e a caneta esferográfica que usou para notar dados importantes.

— Nari-ssi. Você gosta dela?

— Onde ela está senhora? - ele coçou um dos olhos e isso entortou os
óculos.

— Ela está no corredor. Namjoon, você sabe o motivo de estar aqui?

— Não.

— Você sabe onde está? - o rosto pequeno se moveu de um lado para o


outro. Mina lambeu os lábios. Amava o seu trabalho, mas às vezes era tão
difícil. - Nós estamos em uma delegacia.

— Delegacia. Na polícia? - os olhos estreitos se arregalaram por um


momento. - Eu... Eu fiz alguma coisa errada? Eu vou ser preso? Ainda sou
criança, senhora!

— Não, se acalme, você não fez nada errado. - a mulher negou. - Namjoon,
nós podemos falar sobre a sua babá? Sobre a senhorita Seo Yangmi?

Ele franziu as sobrancelhas, a confusão em sua mente ia e voltava perdendo


o foco de toda a situação que sequer poderia caracterizar com seriedade ou
não.

Kim Namjoon, aos doze anos, certamente era o aluno mais inteligente de sua
turma e possuía uma imaginação fértil, além de criativa. Entretanto, nenhum
prêmio estudantil ou até mesmo medalhas por vulcões de argila poderiam lhe
dar a consciência adulta do que estava acontecendo.
— Nari-ah bateu em Yangmi-noona, bateu muito... Mas Nari-ah não é
malvada, senhora... Por favor, não a prenda!? - ele apertou o cubo mágico
entre os dedos.

— Não vou prendê-la. - assegurou passando a ele uma confiança boa de


sentir. Namjoon assentiu. - Namjoon, você entende a razão de Nari-ah ter
agredido Yangmi-ssi?

— Eu acho que Nari-ah não gostou da brincadeira. - ele encolheu os ombros.


Os gritos de Nari ainda ecoavam ao fundo da memória. - Ela ficou muito
brava e chorou, eu pedi desculpas...

— Brincadeira? Ela disse a você que estavam brincando, Namjoon?

— Uhum. - ele assentiu. - A noona disse que se eu brincasse direito podia


assistir o canal dos documentários sobre tartarugas, passa bem tarde... É
mais divertido assistir aquelas pessoas sem roupas.

Mina assentiu. Ela respirou fundo.

— Yangmi o fez assistir canais com pessoas sem roupas? - Namjoon


assentiu. - Você pode me dizer quantas vezes ela fez isso com você?

Então, ele arregalou os olhos de raposa. A coluna se endireitou enquanto a


boca pequena apertava-se em uma linha firme. Namjoon negou.

— Eu não posso contar. É segredo, senhora!

— Ele te pediu pra não contar?

— Se eu contar, a noona diz pro meu appa que eu quebrei sem querer aquele
vaso que trouxe da Rússia... Mas eu não me lembro de ter quebrado o vaso. -
encolhendo os ombros, Namjoon encarou o cubo mágico.

— Namjoon. - a assistente social e psicóloga o chamou baixinho, com


cuidado. - Preciso te explicar uma coisa, tudo bem? Preciso que você preste
bastante atenção, os seus pais já estão vindo e-
— Eles estão vindo?! - ele desencostou o corpo da poltrona. - Da Grécia?
Por minha causa? O que eu fiz de errado, senhora?

— Você não fez nada errado. Nada. Eu vou te explicar, mas você pode
interromper quando quiser. Ok?

— Ok.

Namjoon assentiu, mas ainda estava confuso. O cubo mágico continuou em


suas mãos pequenas enquanto Mina-ssi lhe explicava tudo. Lentamente, sem
voltas demais e de forma clara para que pudesse compreender. Era um
menino inteligente, era o mais inteligente entre seus poucos amigos na escola
particular mais cara do país.

Ele deu a primeira volta inteira no cubo quando a compreensão chegou em


sua mente, entrando pelos ouvidos como água quente e pegajosa, suja. Girou
o brinquedo e abaixou o olhar, Mina esperou que ele dissesse algo, ele não
disse.

Ela continuou.

Outra volta. Namjoon se perdia entre as palavras, talvez isso fosse sua
tentativa infantil de escapar daquela sensação assustadora dentro dele.
Começava no estômago: revirando conforme ele girava as peças do cubo
mágico. Subia até o peito, pressionava-o para dentro e doía.

Aula de artes ao ar livre, sob as cerejeiras do pátio principal. Cores


primárias.

— Aquilo não era uma brincadeira... Alguma vez te fez sentir dor?

Amarelo significa alegria.

— O que mais ela te obrigou a fazer, pode me contar?

Namjoon observou. Os cubos amarelos não estavam mais em ordem, se


espalharam por todos os lados, misturados às outras cores, perdidos.

Queria tanto chorar.


— Senhora Mina... Onde está Nari-ah? - disse num tom baixo, seu corpo
doía.

Abriram a porta com força, ele ouviu claramente o som dos saltos sobre o
piso limpo e frio daquela sala colorida. O perfume encheu as narinas dele
antes que os braços lhe puxasse com cuidado e desespero. Eunji pouco se
importou com os olhares alheios, então trouxe o filho para o seu colo como
se ele ainda fosse o bebê risonho e grande que costumava tentar fugir de
qualquer berço.

— Omma... - Namjoon sussurrou, a voz abafada contra os cabelos longos e


cheirosos da mãe. - Desculpa...

— Omma está aqui meu Namu, bem aqui com você.

Então, ele chorou.

O cubo mágico caiu no chão e fez um som alto enquanto ele agarrava a mãe.
O corpo pequeno tremia junto dos soluços agoniados, desesperados,
confusos.

Ergueu o rosto e viu o pai parado ao lado da porta.

Kim Hanguk não disse uma palavra, mas Namjoon conhecia aquele olhar.

O recebia todas às vezes em que o boletim não era preenchido com notas
máximas.

Se encolheu mais contra o corpo de Eunji, escondeu o rosto dentro do cabelo


dela e soluçou mais.

Seu pai estava decepcionado.

Flash Back Off

Namjoon respirou fundo largando o lápis sobre o livro aberto. Ele estava
cansado. Puxou os fones de ouvidos e pausou a playlist no celular, então
olhou para a esquerda e sorriu.
Jungkook parecia bastante concentrado no computador, digitando e anotando
coisas em um caderno. O cabelo, muito mais comprido do que quando ele
chegou ali, continuava solto para secar naturalmente após o banho longo e
ele ainda devorava um pacote de biscoitos de chocolate. Sobre suas coxas,
encolhido como uma pequena bola de pelos macios, o filhote de gato
cochilava confortavelmente.

— 'Tá afim de comer pizza? - perguntou depois de ficar em pé para esticar o


corpo e estalar as juntas.

— Eu vou fazer macarrão pra gente jantar hyung, 'tá com fome agora?

— Não muita. Acho que não aguento mais ler sobre a constituição. -
bocejou.

— Essas coisas aí são muito complicadas.

— Jungkook... Você tem noção de que programar um sistema é pior? Eu sinto


dor de cabeça só de olhar pra esse tanto de código na tela do notebook.

— Hyung... - ele se virou, a cadeira de rodinhas fez barulho. Jikook abriu os


olhos preguiçosamente, mas os fechou em seguida. - Acha que eu sou
inteligente?

— Claro que sim. Você é muito inteligente. - caminhou até ele para espiar a
tela do computador. - O que 'tá fazendo? Ah, não... Eu não vou entender
mesmo. - deu de ombros batendo nas costas do mais novo. - Você é
inteligente JK, é bom em tudo o que faz.

— Obrigado, Namjoon-hyung! - o sorriso de coelho fez Namjoon sorrir


também. - É importante pra mim que o hyung goste de mim.

O maior assentiu sem jeito, coçando a nuca.

— Nós começamos do jeito errado... Quer dizer, eu comecei. - deu de


ombros. - Eu sinto muito, perdi tempo tentando afastar você Jungkook, fui um
idiota nos primeiros meses em que você chegou...
— Eu nem lembro mais. - o mais novo gesticulou, ainda sorrindo. - Faz um
tempão. Eu fico feliz por te ver bem hyung... Adoro conversar de madrugada
na varanda, mas adoro ainda mais quando te vejo dormir a noite inteira.

Namjoon sorriu, as covinhas bonitas foram expostas enquanto ele se


aproximava para bagunçar os cabelos de Jungkook antes de se curvar para
beijar o topo da cabeça dele com carinho.

— É importante pra mim ter você na minha vida, JK. Vai ser pra sempre o
meu pequeno. Sempre. Agora, volta pro seu trabalho, vou buscar uma
cerveja... Quer?

— Por favor.

Namjoon assentiu saindo do quarto.

No corredor, estranhou o fato do quarto de Yoongi, Hoseok e Taehyung estar


vazio porque os dois mais velhos estavam ali há uma hora. Ele acendeu as
luzes da casa, já estava noite e ninguém o tinha feito.

Na sala de estar, franziu o cenho ao ver um par de pés para fora do sofá
maior, descalços e imóveis, então se aproximou.

Seokjin estava dormindo.

Os fones de ouvido estavam altos, o celular continuava sobre o peito nu. A


calça de moletom estava embolada, ele se mexia pouco enquanto dormia,
mas sempre mexia as pernas.

Ficou parado o olhando por um tempo até fazer careta e perceber como
aquilo era assustador. Então sorriu. Olhando ao redor foi fácil achar a manta
que Hoseok sempre deixava sobre o sofá menor, o cobertor pequeno com
estampas de flores coloridas e sorridentes demais.

Cobriu Seokjin como dava para cobrir e não resistiu a tocar com a ponta dos
dedos o rosto dele, afastar a franja da testa alheia enquanto se perguntava
pela milésima vez como alguém podia ser tão bonito daquele jeito.

— Estou sonhando contigo. - a voz sonolenta o assustou um pouco.


— É um sonho bom?

— Você está cozinhando.

— Sinto muito.

Jin sorriu ainda de olhos fechados e puxou um dos fones para oferecer a ele.
Namjoon o aceitou já sentado no chão, pertinho do sofá, para encaixar o fone
no próprio ouvido.

A voz de Marie Fredriksson era sempre fácil de reconhecer.

— Listen To Your Heart. - concluiu o mais novo.

— Você estava cozinhando e cantarolando essa música no meu sonho.

— Nossa. Cozinhando e cantando ao mesmo tempo? Sinto muito, hyung. - Jin


riu de um jeito preguiçoso.

— Era a nossa casa. Você estava fazendo isso na cozinha da nossa casa...
Uma daquelas bem equipadas com geladeiras que podem muito bem ser um
Transformer.

— Contando que não seja um Decepticon, acho que 'tá tudo bem. - ele
encostou a cabeça ao corpo de Jin, perto do tórax dele só para deitar ali e
fechar os olhos.

— Tínhamos até um gato. E alguma outra pessoa morava junto da gente.

— Provavelmente o Jimin. Ele está decidido a nunca ter a própria casa.

— Ele me disse para pintar o quarto dele de azul. No meu apartamento. -


suspirou. - Mas no meu sonho, essa outra pessoa era pequena... Menor que o
Jimin. - foi rápido em dizer. - Eu não conseguia vê-la, mas os passos eram
curtinhos e apressados. A risada conseguia fazer o meu corpo todo vibrar.

— Parece um sonho bom.


— Deve ser aquele papo de outra vida. - a mão dele, carinhosamente, passou
a afagar os cabelos de Namjoon. - Foi um bom sonho, Namjoon.

— Continue sempre me contando quando sonhar coisas assim, por favor.

— Por que?

— Porque eu gosto de saber que te fiz feliz de algum jeito, em algum lugar...
Te fiz feliz e me fiz feliz do teu lado.

Ele ergueu os olhos e encarou Seokjin. Os dois perdidos e se encontrando


milhares de vezes dentro dos segundos que sustentaram os olhares antes dos
lábios se tocarem suavemente.

Jin prendeu o cabelo alheio entre os dedos e o segurou perto, o fez subir no
sofá apertado para deitar junto de si, agarrado em seu tronco enquanto
apoiava a cabeça sobre seu peito nu.

Ficaram em silêncio.

A música ainda tocava nos fones compartilhados, era a única em meio ao


silêncio da Bangtan Kappa.

Depois de tantas páginas contadas, de tantas palavras usadas e reinventadas


para descrever o que eram ou sentiam, naquele momento, Namjoon e
Seokjin, se deram conta - ao mesmo tempo - de que podiam ser qualquer
coisa... No tempo certo.

— Você sabe o que trivia? - o mais novo perguntou baixinho.

— Um jogo? - o mais velho arqueou uma sobrancelha.

— Pode ser, mas tem outros sentidos. A que estou falando, é o substantivo
feminino da palavra.

— Você é tão inteligente, isso me deixa doido. - o apertou.

— Hyung! - Namjoon segurou o riso. - Trivia é o local onde três caminhos se


encontram... O amor pra mim é como uma trivia.
— Hm. Eu acho que estou entendendo, mas não muito.

Carly Simon cantava Come Around Again nos fones de ouvido.

— Eu acredito que pra conseguir me amar de verdade eu preciso percorrer


esses caminhos Jin. Hoje eu sei a razão de ter sentido tanto medo de me
sentir vivo por sua causa. - ele ergueu o olhar, ajeitou as mãos sobre o peito
alheio para apoiar o queixo sobre elas. - Você me faz sentir vivo, logo eu
tenho a capacidade de amar... E era assustador demais cogitar me amar, eu
me sentia um erro.

— Você disse três caminhos. Eu sou um deles?

— É sim. - Namjoon ficou mais sério. - Na noite em que Nari-ah descobriu o


que Yangmi me fazia fui levado até uma delegacia e uma mulher conversou
comigo, me fez entender tudo que aconteceu... Havia um cubo mágico lá. Ele
tinha todos os quadrados amarelos encaixados perfeitamente, mas enquanto
ela me explicava o que tudo aquilo significava, eu baguncei o cubo inteiro,
misturei todas as cores.

— É a primeira vez que você fala sobre isso comigo, sobre como as coisas
aconteceram.

— Isso é ruim? Você não quer ouvir? - ele hesitou.

— Eu quero. - Jin assentiu depressa, uma das mãos afastou a franja da testa
do mais novo. - Por favor, eu quero te ouvir sempre que você quiser falar,
Namjoon.

— Consigo falar sobre algumas coisas agora, eu consigo lembrar de alguns


momentos sem deixar que me machuque demais, Jin. Consigo falar comigo
mesmo. - ele lambeu os lábios. - Vai achar estranho demais se eu disse que
me sinto como um cubo mágico?

— Eu não vou achar estranho.

— Naquela idade, aos doze anos, eu estava sendo manuseado. É a idade que
a gente vai aprendendo mais porque não é tão criança e muito menos adulto,
então eu acho que igual a aquele cubo, eu precisava acertar as minhas
cores... E havia o amarelo... Eu era feliz Jin. - os olhos de Namjoon ficaram
marejados. - Os meus pais ficavam pouco em casa, eu não tinha muita
companhia, mas era tão feliz naquele apartamento gigante. Lutava contra
monstros alienígenas, construía fortes, pintava obras de arte com tinta guache
e me escondia em cada lugar que me cabia. Eu era amarelo. As outras cores
não estavam organizadas, mas eu era feliz. E tudo que eu quero é ser feliz de
novo. Tomaram a minha infância... Existe essa parte em branco que me dá
medo recordar e concluir que ser infeliz é a minha sina.

— Existem três caminhos...

— E todos eles me levam até o mesmo lugar: eu.

— Você deveria seguir os três caminhos, um de cada vez... Mas descobrir


cada pedaço do percurso até você, Namjoon.

— Antes preciso descobrir qual é o terceiro. - suspirou.

— Você vai descobrir. - bateu o indicar na ponta do nariz alheio e sorriu. -


Eu tenho certeza que vai.

Eles ouviram passos e ficaram quietos até a cabeça de Jungkook aparecer em


cima do sofá, os observando com curiosidade. O garoto sorriu e ficou
corado.

— O hyung estava demorando. - explicou.

— Vem aqui JK! - Jin o puxou para o sofá também, fazendo-o cair por cima
deles enquanto Namjoon resmungava e o Jungkook ria. - O que acham de
cozinhar comigo? Quero fazer alguma coisa especial...

— Pode ser sopa de-

O celular de Seokjin vibrou entre os corpos amontoados e demorou um


pouco até que ele conseguisse desenroscar o fone de ouvido para atender a
ligação.

— Pronto.
— Hyung... A gente tá no hospital... É o Jimin.

Yoongi estava chorando.

Jungkook, sentado no banco de trás do carro, estava quieto, mas não parava
de apertar as mãos ou esfregar as tatuagens acima dos nós de seus dedos
trêmulos. Seokjin dirigia depressa, vez ou outra xingando quem ou o que o
fazia diminuir a velocidade.

Namjoon tentava ficar calmo.

— Hey, Jungkook... Olha pro hyung. - o mais novo obedeceu. - Sua


respiração está ruidosa, você precisa ficar calmo. Nós já estamos chegando
ao hospital, você já vai vê-lo, ok?

— Ok, hyung.

Ele esticou a mão para afagar o joelho do garoto.

Mas no fundo, Namjoon estava tão assustado quanto.

Não podia perder Jimin. De jeito nenhum.

Jimin sorriu assim que os viu entrando no quarto espaçoso do hospital.


Estava pálido, havia um curativo acima da sobrancelha esquerda e uma das
pernas tinha gesso até um pouco abaixo do joelho.

Taehyung estava ao lado da cama hospitalar como um segurança, não tirava


os olhos do melhor amigo.

Jin foi o primeiro a se aproximar deles, as mãos nos quadris e uma


expressão chorosa no rosto bonito.
— Park Jimin... Park Jimin... Eu vou matar você! - ele apontou. - Se você
tivesse morrido, eu ia te matar!

— Jin-hyung, eu acho que-

— Fica quieto! - ele gesticulou. - Fica quieto! Me deixa ver você, aigo...
Jiminie. Meu Jiminie. - ele estava fungando. - Não faça isso com o seu hyung
nunca mais!

— Estou bem hyung, não chora... Eu vou chorar também, sabe que eu choro
fácil demais. - Jimin fungou também.

Jin se debruçou para beijar a testa dele.

— Os seus pais estão vindo, devem chegar de manhã. Você 'tá bem de
verdade?

— Estou hyung. Obrigado por vir e por avisar os meus pais.

— Eu te amo, Jiminie. Meu Jiminie, todo quebrado... Todo engessado... - ele


fungou de novo. - Vou perguntar pra alguém como faz para te transferir para
uma clínica, é mais confortável.

— Vou com você hyung. - Hoseok ficou de pé, estava dividindo uma poltrona
com Yoongi. - Vamos falar com o médico plantonista e perguntar.

Os dois saíram do quarto.

— Hey, que susto. - Namjoon tocou a mão pequena observando os arranhões


na pele pálida e o curativo que prendia a agulha do soro a veia. - Que susto,
Jimin. - sentia vontade de chorar, era horrível ver Jimin daquele jeito...
Tinha tanto medo de perdê-lo. - O que você tem?

— Ele bateu a cabeça com força, ainda 'tá sendo observado por isso. A
perna quebrou, mas não foi fratura exposta, pelo menos. - Tae explicou,
ainda estava ao lado da cama como um segurança. - 'Tá com dores porque
fraturou as costelas também... Mas ele 'tá aqui...
Namjoon o observou melhor e não foi difícil para notar que conhecia aquele
medo na voz de Taehyung, era o medo que existia em sua própria voz ao ver
Jimin daquele jeito.

Ele está aqui.

Tocou a mão pequena e entrelaçou os dedos com cuidado, estavam frios, mas
estavam ali.

— Mini... Acabou.

Jimin lambeu os lábios, seus olhos ficaram marejados, mas ele apertou os
dedos de Namjoon e assentiu. Eles se entendiam.

Só então ouviram um soluço baixinho e Namjoon se afastou um pouco para


que Jungkook chegasse pertinho da cama, devagar. Ele estava tremendo tanto
que Jimin quis ir até ele, quis o tomar nos braços para o acalmar. O garoto
cobriu a boca com as duas mãos.

— Jungkook... Respira, você vai passar mal... - Yoongi estava ao lado dele,
a mão grande afagava as costas largas bem acima dos pulmões. - Respira,
meu pequeno... Jimin 'tá bem, ele 'tá aqui...

— Jimin...

Jungkook correu até a cama e não pensou muito antes de jogar o corpo em
cima do corpo de Jimin, abraçando-o enquanto chorava baixinho. Jimin
segurou um gemido pela dor nas costelas e sorriu um pouquinho.

— Jungkook, as costelas dele-

— Deixa Tae, por favor... Deixa. - sussurrou para o melhor amigo. - Hey,
Jungkook, olha pra mim. - o garoto negou, o rosto escondido contra a roupa
hospitalar do ex-namorado. - Você precisa levantar a cabeça pra respirar
direito... Jungkook? - ele não se moveu. - Bebê?

Namjoon não evitou sorrir.


— Não faz isso nunca mais, nunca mais, nunca mais! Nunca mais, Jimin-
hyung! Nunca!

— Eu não pretendo fazer. - brincou, mas recebeu um olhar bravo do mais


novo. - Eu prometo.

— Essa é a primeira promessa que você faz depois de tudo...

— É a mais verdadeira de todas. - ele limpou as bochechas coradas do


maior. - Eu 'tô bem. Você tem de se acalmar e respirar direito, devagar... Ou
o seu nariz vai entupir demais.

Jungkook fungou secando o nariz na manga do moletom preto.

Namjoon franziu o cenho ao ouvir vozes baixas vindas do corredor, ele


espiou através do vidro lateral da porta branca e preferiu sair sem falar
qualquer coisa. Reconheceu rapidamente o casal que discutia com Hoseok e
Seokjin que pareciam impedir a passagem de ambos até o quarto onde Jimin
estava.

— Ele vai ser cobrado por isso! - a mulher esbravejou.

Ela era deslumbrante.

Se vestia bem e nem mesmo as lágrimas conseguiam borrar a maquiagem


impecável do rosto bonito.

O fazia lembrar da sua própria mãe.

O homem ao lado dela carregava uma expressão dura, mas abatida.

O fazia lembrar do pai.

— Jimin não está em condições de falar com vocês agora!

— Condições?! Minha filha está morta e você quer falar das condições
dele?!
— Com licença, senhor e senhora Oh, eu me chamo Kim Namjoon... Sou
amigo de Jimin e conhecia Minseo.

O casal o encarou dos pés à cabeça, mas a expressão impassível não deixou
por nenhum momento seus rostos. Seokjin olhou para Namjoon com
preocupação, mas havia algo ao redor dele que o fez sentir alívio.

Os dois trocaram um olhar silencioso.

— Vem Hobi, vamos procurar o médico responsável.

— Mas hyung!

— Vem logo! - saiu puxando o mais novo pelo pulso.

— Queremos falar com o Jimin agora! Nosso advogado está chegando...

A voz da mulher embargou, então o homem a abraçou um pouco.

— Ele vai cuidar de todos trâmites para a liberação do corpo de Minseo. -


ele suspirou. - Sabe o meu nome garoto?

— Não senhor.

— Seunjun. Mas o meu nome não é importante, muito menos o seu... Minha
filha está morta e o responsável por isso está dentro daquele quarto! -
apontou para a porta. - Você não tem filhos, tampouco deve compreender as
coisas que estamos sentindo nesse momento, então saia da frente
imediatamente.

Namjoon chegou a sentir o corpo mover-se minimamente para deixar aquelas


pessoas passarem, não compreendia a dor que sentiam... Mas ninguém
naquele lugar entendia de culpa como ele mesmo.

Flash Back On

Era confuso não recordar os pensamentos que ocupavam a própria mente


quando a coragem virava medo puro dentro dele.
As luzes do quarto estavam acesas, todas iluminavam o cômodo numa
tentativa quase infantil de evitar o escuro assustador que se espalhava por
paredes decoradas e bonitas quando ficava sozinho.

Namjoon não se movia.

A música alta explodia por todos os lados, misturavam solos de guitarra e


gritos agudos afinados junto com a melodia pesada. Havia escolhido um
álbum querido para o momento, havia se dedicado ao roteiro que pensava
desde a última vez.

Estava inerte, mas a mente não ficava em silêncio, não parava de funcionar
em velocidade máxima, fazia barulho demais... Nem mesmo a música alta
conseguia abafar os pensamentos. Outra vez, sem esforço demais, Namjoon
encarou o objeto metálico sobre o tapete caro que cobria o piso inteiro do
quarto.

— Por favor... - o murmúrio era um sopro perdido entre as notas pesadas da


música. - Por favor... Se existe alguma coisa... Qualquer coisa...

Os lábios pouco se moviam, mas as lágrimas grossas se perdiam entre eles


para emprestar o sabor salgado ao paladar amargo.

Qualquer coisa.

Namjoon se apagaria a qualquer coisa e mesmo infiel, esperava


silenciosamente em desespero por qualquer força não humana que pudesse o
guiar... Ele não pedia mais por ajuda, pedia pelo fim.

Então, ele esperava.

Trancado no quarto dos sonhos de um adolescente de dezesseis anos.

Rodeado do melhor enquanto o pior brotava dentro de si, enchendo-o do


cansaço, do medo, da coragem que ia e vinha feito um balanço controlado
pelo vento, pela boa vontade de um ser que não parecia se importar com a
sua existência.
As paredes tremiam graças à música alta, então o corpo de Namjoon tremia
por conta do choro fraco... Aquele do final, quando não se tem mais nada
para pôr para fora, mas ainda se sentindo cheio até o topo.

Havia as páginas espalhadas pelo quarto, rasgadas em fúria, retorcidas pelo


pavor e a indignação da forma como o amor era controverso e afiado. O
nome do pai impresso em letras garrafais na primeira página, o título soava
enfeitado e entregava o final mentiroso que, segundo o homem, acalentava os
corações machucados e seria solidário àqueles que sofrem da mesma dor...

E a dor dentro dele seguia ignorada entre os intervalos dos jantares


elegantes.

A dor de Namjoon seguia sendo apreciada na própria solidão da negligência


parental.

— NAMJOON! ABRE AGORA ESSA PORTA! JÁ CHEGA!

Ele encolheu as pernas para abraçá-las.

— Pode arrombar.

Um. Ele fechou os olhos com força.

Dois. O soluço rompeu feito um grito desesperado.

Três.

A música parou bruscamente, então não havia nada além do barulho sem
melodia dentro da cabeça dele, os gritos da própria voz que insistia em fazê-
lo sentir covarde.

— NAMJOON!

— Hey, olhe pra mim... Por favor, meu menino. - a voz terna de Nari era
como um sopro de calor. As mãos cansadas o tocaram com cuidado,
trazendo-o para um abraço acolhedor. - Namu... O que você... - a senhora
estava chorando.
Hanguk, de pé, pegou o objeto que lhe pertencia e entregou a um segurança
uniformizado.

— Leve para o meu escritório! Agora! - os passos pesados assustavam


Namjoon. - Olha o que ele fez nesse quarto! A bagunça! Rasgou a droga do
roteiro inteiro! Como você abriu o cofre?!

Namjoon cobriu as orelhas com as mãos trêmulas, Nari o abraçou mais forte.

— RESPONDA! COMO VOCÊ CONSEGUIU ABRIR O COFRE PARA


PEGAR A ARMA? VOCÊ ACHA QUE ISSO É BRINCADEIRA,
NAMJOON?! ESSAS SUAS CENAS PODEM ACABAR MAL! VOCÊ
NÃO É MAIS CRIANÇA PRA AGIR DESSE JEITO SÓ PORQUE ESTÁ
COM RAIVA!

— Senhor, por favor... Depois... Por favor, ele está muito nervoso agora.

A governanta da casa implorou ao homem. Estava chorando em silêncio, os


braços cansados ao redor do corpo de Namjoon.

— É por causa desse tipo de coisa que ele age assim! Sempre passam a mão
na cabeça dele! Isso induz esse comportamento estranho! - Hanguk passou
as duas mãos pelo cabelo, penteando-o para trás. - Vou dizer a sua mãe que
venha mais cedo da Itália, espero que esteja satisfeito em destruir o repouso
dela Namjoon!

Ele saiu, chutando o que restava da porta arrombada.

Nari lambeu os lábios e respirou fundo, buscando a calma que precisava


para lidar com a situação.

— Meu menino. - ela lamentou. - O que você ia fazer... Namu... Por favor,
diga para sua Nari-ah o que fazer para te ajudar? Me deixa te ajudar, meu
menino.

Namjoon tirou as mãos que cobriam os ouvidos.

— Eu quero morrer. - sussurrou escondendo o rosto no ombro da mulher.


— Não! Não diga isso, Namjoon! Nunca mais diga isso! - enquanto negava,
Nari sentia mais vontade de chorar.

— Mas eu não consigo.

— Por favor... Meu menino Namu... Não...

— Nari-ah... - ele a encarou um pouco. - Por que eles não olham pra mim
de verdade?

A governanta não sabia responder aquela pergunta. Sequer tentava.

Nari respirou fundo antes de beijar o cabelo curto do adolescente.

— Eu estou olhando pra você, Namjoon. Sempre.

Flash Back Off

— Eu não acho que os senhores tenham algo para falar com o Jimin.

Ele não se moveu, o corpo grande guardava a porta.

— E quem é você para nos impedir, garoto? Aposto que deve ser o
namoradinho dele! O que também é responsável pela morte da minha filha!
Se Jimin estivesse com ela, Minseo-

— Minseo seria responsável pela morte dele, senhor. Jimin não tem culpa
alguma, ele não podia mais viver em função das vontades da sua filha e da
loucura que vocês dois negligenciaram por anos até que ela perdesse
completamente o controle dos próprios atos. - Namjoon estava calmo. -
Minseo era uma mulher doente, a mente dela estava debilitada e ela
precisava de ajuda, mas não da ajuda de Jimin. Ele tentou por muitas vezes,
esteve ao lado dela por anos suportando todos os abusos que vocês fingem
não ver, Minseo não precisava da ajuda de Jimin, ela precisava de ajuda
profissional e responsável.

— Como pode dizer isso?! - a mulher aumentou a voz. - Não nos conhece!
Não conhece Minseo!
— Eu conheço a mim. Eu conheço o tipo de família que ela tinha. Não quero
ser desrespeitoso, mas o que matou Minseo não foi a decisão de Jimin em se
afastar dela... Foi a negligência de vocês dois. Agora, deixem ele em paz...
Ele precisa disso há anos, precisa demais. Ou se preferirem, eu chamo a
polícia e a imprensa. Eu tenho certeza de que não querem um escândalo.

O casal, ainda que raivoso, não disse uma palavra quando Namjoon os deu
as costas.

Ele entrou no quarto outra vez, em silêncio. Jungkook e Taehyung discutiram


para escolher quem dormiria no hospital com Jimin, Yoongi os ignorava e
ajudava o mais novo a se acomodar melhor sobre os travesseiros.

Então, os observando, respirou fundo.

Sentia-se aliviado.

— Você ficou. - a voz grossa e sonolenta o fez erguer os olhos do celular


para encarar a cama hospitalar. - Como conseguiu isso?

— Não fui eu, foi o Jin-hyung. Você sabe que ninguém o desobedece.

— Principalmente agora que ele anda extremamente paternal.

Namjoon ficou de pé e se aproximou da cama.

— Você 'tá bem? Precisa de alguma coisa?

— Um pouco de água.

— Isso quer dizer que eu vou ter de te levar pra mijar daqui a pouco. -
conclui enquanto o ajudava a encaixar o canudo de papel entre os lábios
grossos. Jimin riu baixinho.

— Não sentiu saudades do meu Jiminzinho? - provocou arqueando as


sobrancelhas.
— Cala a boca. - riu também. - Para de usar diminutivo, não faz sentido.

— Obrigado. - Jimin piscou.

Ficaram em silêncio por uns minutos, apenas encarando um ao outro o


suficiente ou o tanto que as luzes baixas do quarto permitiam. Ainda quietos,
a mão de Jimin procurou a de Namjoon, entrelaçou os dedos com pressa,
como se aquilo fosse o necessário para se manter inteiro.

Quando ele começou a chorar, quando as lágrimas inundaram e escaparam


dos olhos pequenos para o travesseiro azul, Namjoon se curvou para beijar-
lhe a testa demoradamente.

— Eu me sinto mal por me sentir aliviado. - confessou baixinho.

— Não foi sua culpa, você sabe disso.

— Eu sei. - assentiu. - Mas as pessoas vão dizer que foi.

— As mesmas pessoas que pouco se importavam antes de acontecer. Jimin,


você não acha confuso como a nossa vida só importa quando nós fazemos
alguma coisa que julgam errado? Você é o homem mais altruísta que eu já
conheci na vida, mas isso não vai ser importante para essas pessoas, então
não deixe que a opinião delas seja importante pra você.

— No carro, quando a gente caiu na água... - Jimin lambendo os lábios,


suspirou. - Lá embaixo, eu tentei soltar o cinto de segurança dela.

— E nem mesmo por um momento eu pensei o contrário. Nenhum de nós


pensou.

— Mas ela não quis. Ela não quis... Ela queria morrer. Por um momento eu
também quis... Eu quis desistir.

— Apenas você pode se consolar, Jimin. Tudo bem que a gente derrube
algumas ou muitas lágrimas, que a gente pense em desistir... Ninguém é de
ferro, mas vamos tentar nos derrubar a nós mesmos. Minseo desistiu e nunca
vamos saber os motivos dela, nunca vamos entender a mente dela porque
somos únicos, mas você não desistiu, você está aqui... - apertou a mão
pequena.

— Eu sinto que renasci. - ele secou os olhos. - Que as coisas estão mais
claras diante de mim.

— Vai ver a gente não precisa morrer pra nascer de novo sobre alguns
aspectos da nossa vida. - dando de ombros, ele sorriu. - Eu pensei em
morrer tantas vezes que perdia as contas, desisti tantas vezes enquanto ainda
podia fazer isso e acho que agora eu entendo o que me fez desistir, o que me
faz continuar aqui.

— O que?

— Se eu quiser morrer, então eu preciso tentar viver mais ainda. Mesmo que
eu queria ir embora, eu sou incapaz de partir. É um direito nosso viver, então
vamos tentar viver um dia de cada vez.

Jimin assentiu sorrindo, as lágrimas ainda molhavam suas bochechas


coradas. Namjoon lhe mostrou as covinhas quando o viu se mexer na cama
até dar espaço o suficiente para ele também deitar.

O menor deitou a cabeça sobre seu peito e fechou os olhos.

— Eu tenho tanto orgulho de você, Moni. Obrigado por não desistir.

Namjoon beijou-lhe o cabelo com carinho.

— Eu também tenho orgulho de você, Mini. Obrigado por não desistir.

UMA SEMANA DEPOIS.

A cobertura estava fria.

Não que aquele apartamento já havia sido aquecido, mas Namjoon precisou
abaixar um pouco mais a barra da toca para cobrir as orelhas frias enquanto
andava pelos corredores e cômodos espaçosos.
Ele reparou nos dois enfermeiros na sala de estar, mas não disse nada.

Nari o abraçava pela cintura, estava feliz por vê-lo depois de algumas
semanas turbulentas.

— Está com fome? Eu fiz bolo de chocolate, aquele que você adora.

— Hm, eu não estava com fome, mas agora estou. - ele sorriu.

— Ótimo! Vou fazer um suco de maracujá fresquinho, não demoro!

— Nari-ah... Os enfermeiros... Ficam aqui o tempo todo? - disse baixo.

— Ficam. O seu pai acha mais eficiente assim.

— Ela está bem? Minha omma.

— Hoje sim. Não sentiu dores de cabeça. - Nari sorriu um pouco. - Vai lá,
ela está esperando você, está animada.

Namjoon assentiu. Seguiu sozinho através do corredor espaçoso dos quartos


e foi direto ao quarto dos pais, mas viu que havia alguém em seu antigo
quarto. Eunji não o viu entrar, estava sentada na cama espaçosa e com
lençóis azuis limpos.

Ele franziu o cenho, depois sentiu um aperto no peito.

Kim Eunji estava diferente.

— Omma?

— Hm? Namjoon! Filho.

Ela sorriu.

O rosto estava pálido, mas olheiras marcavam abaixo dos olhos sem
maquiagem alguma. O cabelo não parecia mais ter brilho mesmo que soltos
ao redor dos ombros estreitos. Ela ficou de pé para o abraçar apertado,
então ele pôde sentir o quanto ela havia emagrecido.
— Você veio mesmo, obrigado Namu. - ela o segurou pelo rosto. - Está
bonito, tão corado. - ele se abaixou para que ela lhe beijasse a testa.

— Omma, a senhora 'tá bem?

— Hoje sim. - assentiu. - Vem, senta aqui. - ela bateu contra o colchão.

— Cadê o appa?

— Ah, o seu pai... - gesticulou. - Ele está fora do país, acho que vai
trabalhar com um filme francês. Ele deve estar de volta daqui uns dias.

— Ele deixou a senhora sozinha?!

— Você sabe, seu pai precisa trabalhar. - deu de ombros. - Mas eu quero
saber sobre você, como vai a faculdade? O seu estágio? Me fale sobre o seu
tratamento.

Namjoon conseguia ver nos olhos da mãe que aquele sorriso não era
completamente verdadeiro, o brilho premeditava algumas lágrimas que a
mulher temia deixar escapar. Ele sentou ao lado dela na cama e olhou ao
redor.

— As coisas ainda estão no lugar.

— Sim, tudo no lugar. Até a bagunça. - ela encarou a pilha de quadrinhos


sobre a escrivaninha. - Eu me lembro de quando a gente escolheu o tom de
azul.

— Azul céu antes de uma chuva de verão.

— Você quase enlouqueceu o decorador, Namu. - sorriu nostálgica. - Mas eu


fiquei feliz quando você entrou aqui e disse: é esse azul omma! - o encarou. -
Eu tenho um presente pra você.

— Omma...

— Vamos lá, apenas aceite. - ela buscou embaixo de um dos travesseiros o


envelope branco, médio. - Aqui.
Namjoon aceitou desconfiado, abrindo o envelope sobre o olhar ansioso da
mãe, ele franziu o cenho para o conteúdo. Uma passagem área.

— Explique, por favor.

— Para a sua volta ao mundo, Namu. Eu não escolhi o destino, deixei em


aberto.

— A senhora era contra isso...

— Sim, eu era. Mas eu tenho pensado bastante Namjoon, pensado sobre


muitas coisas. - Eunji fungou, então as mãos pálidas e magras seguraram as
do filho. - Quero te pedir perdão...

— Omma...

— Por favor, apenas me escute, sim? - ela fungou outra vez. - Você nasceu
numa noite linda Namjoon, a Lua iluminava cada cantinho dessa cidade
quando eu te ouvi chorar pela primeira vez... Eu gostaria de ter feito alguma
coisa pra você ter chorado menos durante todos esses anos. Eu me sentia tão
frustrada depois do que aconteceu, demorei a entender que não era sobre
mim e a minha incapacidade de proteger você. É como se você tivesse
nascido pra ser triste e sofrer pra ser feliz. Toda essa dor e essa tristeza que
eu via nos seus olhos me assustava, então eu fugia de você. Eu não sei se sou
digna do seu perdão, mas eu quero que você saiba que te amo, filho. Agora
eu te entendo de verdade e talvez esse seja o meu preço.

— Não quero acreditar nisso omma, que caso exista algum tipo de deus, ele
cobre as pessoas dessa forma dolorosa. Eu não quero acreditar que as coisas
estejam acontecendo por erros do passado, isso é tão errado.

— Talvez esse seja o meu destino. Sorrir mesmo estando sempre com essa
dor... Essa foi a forma de entender o que você passou... Meu menino da Lua.
- Eunji afagou o rosto de Namjoon com carinho. - Eu deveria ter olhado pra
você de verdade, ter tocado cada um dos seus espinhos e não olhado para
eles como um conforto para a minha dor e frustração. Eu não posso voltar no
tempo, Namjoon... Eu sinto muito.
Namjoon abaixou o rosto. Sentia vontade de chorar.

— Omma... Eu sinto muito por não estar aqui agora.

— As coisas não teriam como ser diferentes, Namu. Elas estão sendo
exatamente como deveriam. Eu amo você, eu tenho orgulho de você e de tudo
o que você é ou faz. E se eu morrer amanhã... Se eu morrer agora, eu vou
morrer aliviada por saber que tive o melhor filho do mundo inteiro, mesmo
que eu não tenha sido a melhor mãe.

Namjoon a abraçou.

Escondeu o rosto dentro dos cabelos dela para aspirar o cheiro familiar.

Então, ouviram um som familiar. Começara a chover lá fora. Eunji o beijou


no rosto e depois no cabelo castanho.

— Vem?

— Pra onde?

— Venha logo, Namu.

Ela o puxou pelo corredor até a parte externa da cobertura, para o jardim
particular a céu aberto, para estarem sob a chuva que caia em gotas pesadas.

— Omma! A senhora pode fazer isso?!

— Eu posso fazer qualquer coisa! Vem! Lembra de quando você me fazia


tomar banho de chuva contigo?

Namjoon assentiu, os olhos piscando graças a água fria.

Eunji olhou para o céu nublado e sorriu.

Flash Back On

— VEM OMMA!
— Eu fiz o cabelo ontem, Namu!

O garotinho de cinco anos ria enquanto corria sob a chuva, dando pulinhos
em cada poça de água para desespero da mãe.

— Como fez o cabelo se o seu cabelo já nasceu feito, ein? Vem! Pula assim!

Eunji suspirou, o corpo já estava ensopado enquanto os cabelos curtos


grudaram ao pescoço nu. Ela colocou ambas as mãos na cintura.

— Então... Eu nunca te contei isso! Mas a chuva... Ela me faz transformar!

— Transformar?! No que omma?! - os olhinhos curiosos piscavam pesados.

— Num monstro da cosquinha!

— NÃO!

A risada de Namjoon encheu a cobertura inteira, ele corria ao redor do


jardim particular enquanto Eunji corria atrás dele, as mãos bonitas em garras
para fazer cosquinhas.

— Peguei você!

— NÃO! ASSIM NÃO VALEU! EU SOU PEQUENININHO!

— Hm, que barriga mais apetitosa, acho que vou morder.

Ela o pegou no colo, rindo enquanto o enchia de beijos mordidos.

— Omma!

— Barriguinha de Namu, a mais gostosa de todas! Barriguinha de menino da


Lua.

— Eu vou fazer xixi na roupa! - ele estava rindo alto.

Eunji o abraçou apertado, ele fez o mesmo.


— Eu amo você, omma!

— Também amo você, meu Namu.

Flash Back Off

Namjoon sorriu e Eunji soltou um gritinho quando ele a pegou no colo para
girar uma vez.

— Eu te amo, omma. Amo muito.

A mulher assentiu, então deitou a cabeça no peito do filho, sentindo a chuva


cair sobre sua pele pálida.

— Pelo amor de deus vocês são lerdos demais!

— Senta logo, não pode guardar lugar e tem duas velhinhas me olhando
como se eu fosse o satanás.

— E mentiram, Yoongi?

— Vai se foder, Jin-hyung!

— O Jimin demorou, parece até uma noiva!

— Eu estou usando muletas!

— E isso era desculpa antes?! Você sempre se atrasa!

— Taehyung eu vou socar essa muleta no seu-

— Olha a baixaria, que vergonha meu deus! - Hoseok queria se esconder.

— Cadê o Namjoon?

Os seis estavam sentados em uma pequena plateia, diante de um pequeno


palco. Era um dia especial, Namjoon seria orador de uma reunião aberta do
grupo de ajuda ao qual ele e Taehyung faziam parte.

Não havia muitas pessoas presentes, a maioria era de frequentadores do


grupo e seus familiares mais próximos. Entretanto, para os outros seis, foi
um dia digno de comemoração.

— Ele está nos fundos falando com o Dr. Lee. - Jungkook explicou, estava
ocupado em ajudar Jimin com as muletas. - Hyung, é melhor sentar num lugar
que possa esticar a perna!

— Eu 'tô legal, não se preocupa Jungkook. - sorriu um pouquinho.

— Aposto que já já ele começa a fazer cu doce.

— Na moral, eu vou enfiar essa muleta no seu rabo Taehyung!

— Calem a boca! Eu vou sentar longe de vocês!

— Eu quem deveria sentar longe de você Hoseok, 'tá parecendo um árvore


de natal!

— Você respeita o meu estilo, Yoongi!

— Eu já volto, tentem não ser expulsos, por favor?

Seokjin os deixou ali para ir até os fundos do local. Carregava uma


sacolinha de presente. Foi fácil achar Namjoon, ele estava de pé diante de
um grande mural. Vestia roupas mais formais, o cabelo estava penteado para
trás e os óculos de grau não deixavam mais seu rosto.

— Acho que estou no lugar errado, não sabia que supermodelos estavam
aqui.

— Pois estão, tem um na minha frente.

Jin sorriu para o elogio e se aproximou.

— Boa sorte. - desejou entregando a sacolinha para o maior. - Eu sei que


você vai se sair bem, mas quis vir aqui te ver.
— Obrigado, Jin. Obrigado por tudo.

Jin o abraçou forte, abraçou como gostava de fazer para que Namjoon se
sentisse amado.

— Estamos orgulhosos de você. Todos nós.

— Obrigado.

— Agora eu preciso voltar ou o Jimin vai enfiar as muletas na garganta do


Taehyung. - rolou os olhos. - Filhos são cansativos.

— Tão paternal.

— É mais forte que eu. - deu de ombros. - Suba naquele palco e arrase, meu
cérebro sexy.

Ele piscou antes de sair.

Namjoon apertou a sacolinha entre os dedos e sorriu.

Então, ouviu passos.

— Namjoon.

A voz grossa o fez ergueu o olhar rapidamente.

Hanguk estava ali.

O terno não parecia tão impecável, muito menos a feição sempre impassível
e dura.

Eram tão dolorosamente parecidos.

Isso fazia Namjoon se sentir diante de um espelho injusto e carrasco.

— O que faz aqui?

— É a sua mãe...
Os braços do mais novo se abaixaram. Os olhos de raposa tornaram-se
inundados de lágrimas.

— Hoje de manhã. Ela não sofreu, eu pedi para que aliviasse as dores.

Namjoon assentiu.

— Ela me fez prometer que lhe entregaria isso. - Hanguk estendeu a ele um
envelope pequeno. - Preciso voltar, cuidar das coisas...

Sem dizer mais nada, o homem saiu.

Namjoon ficou parado no lugar.

Numa mão o presente de Seokjin e na outra o envelope com a caligrafia


bonita da mãe em seu nome.

Abriu primeiro o envelope.

Era uma foto polaroid.

Ele sorria na foto.

Eunji sorria junto dele.

Ainda tinha cinco anos e ela ainda possuía a beleza saudável.

Ele olhou o verso da fotografia.

"Filho da Lua, você brilha."

As lágrimas pingaram sobre as letras bonitas.

O peito de Namjoon estava apertado, ele queria desabar.

Então, abriu o presente de Seokjin.

O cubo mágico estava completamente bagunçado, exceto por um dos lados.


Amarelo.

Ele respirou fundo.

— E eu tenho o prazer e o orgulho de convidar para ser orador dessa


reunião, Kim Namjoon!

Os aplausos foram altos. Jungkook e Jimin assoviaram alto, enquanto


Taehyung ficava de pé para ovacionar o hyung que tanto admirava. Namjoon
subiu ao palco com o rosto baixo, mas sorriu um pouco quando Dr. Lee o
encarou com preocupação.

Ele colocou a fotografia sobre a pequena bancada e depois o cubo mágico.

O silêncio dele preocupou os outros seis.

— Vamos lá... Está tudo bem, vamos lá... - Seokjin sussurrou.

— Você consegue fazer isso, Moni. - Jimin fez o mesmo.

— Eu acredito em você, hyung. - Taehyung sorriu.

Namjoon os observou em silêncio, então, respirou profundamente.

— Boa tarde. O meu nome é Kim Namjoon e é uma honra estar aqui hoje
para falar por todas as pessoas que confiam nas minhas palavras, eu tenho
vinte e quatro anos e nasci em uma cidade pequena desse país. Eu tinha um
discurso pronto, um longo discurso de duas páginas inteiras que há alguns
minutos não me parece mais fazer sentido algum. Mas, por incrível que
pareça, eu gosto da minha inconstância desde que comecei a tentar me amar.
A vida de cada um de nós é como um filme com diferentes estrelas e
histórias, diferentes dias e noites, os cenários podem ser chatos ou não...
Para mim, na maioria das vezes, esse filme é difícil. Ainda existem dias em
que eu me odeio, então eu quero ficar inerte na minha própria dor e fingir
que o mundo ao redor não existe, eu só quero cair de uma vez no chão para
não conviver com esse medo do impacto. - Hoseok, na plateia, segurou a
mão de Taehyung. Yoongi o abraçou pelos ombros. - E esses dias são
difíceis. Eu me sinto familiar na escuridão, mas eu não gosto de me sentir
assim. Mundo é outro nome para desespero. Mas, felizmente, eu tenho ao
redor de mim, pessoas que me ajudam e me fazem entender que a ajuda mais
necessária precisa vir de mim mesmo. - ele não pôde mais conter as
lágrimas. - Essas pessoas me fizeram ver que existe um mundo
completamente diferente que eu preciso desbravar sozinho, encontrar a mim
para assim ser feliz. Durante anos eu disse a mim o quanto gostaria de
poder me amar. Quem sou eu? Eu me pergunto isso desde os doze anos e
provavelmente não vou encontrar a resposta, pois se eu a encontrasse, não
seria o suficiente. Talvez essa busca não faça tanto sentido quanto eu pensei
fazer e eu só precise ser aquilo que me faz feliz. - ele encarou a fotografia,
uma lágrima pingou sobre o rosto de Eunji. - Minha omma me disse que eu
sou filho da Lua e eu encontrei os meus caminhos pra seguir. - ele encarou o
cubo mágico e depois o rosto de Seokjin. - Não desista. Mesmo que pareça
difícil, mesmo que o mundo/desespero te roube a respiração, mesmo que as
coisas pareçam distantes ou perdidas demais... Não desista. Peça ajuda,
procure ajuda, seja a sua ajuda. Nós estamos vivos e isso já é uma vitória
difícil de compreender, mas é. Nós estamos aqui. Nós temos o direito de ser
feliz. Se você pensar: não pensar em nada é um pensamento em si. Pense em
você. Eu não estou dizendo a nenhum de vocês que é fácil, eu sei que não é...
Mas vale a pena quando tudo passa a fazer sentido. Quando você souber
como é maravilhoso se amar. Obrigado.

Ele se curvou respeitosamente e não soube o que aconteceu até o momento


em que estava nos braços dos amigos, sendo rodeado por tanto amor que foi
impossível não desabar de vez.

Entretanto, diante de toda a reflexão sobre a trivia de sua própria vida,


Namjoon entendia que era digno daquele amor.

Ele era uma criança da Lua.

Ele brilhava.

#PillowFic
42 - dor

olá!!! quanto tempo kk

vocês estão bem??

que saudade daqui, vocês também sentiram?

bem, vamos falar brevemente sobre esse capítulo? por favor, se atendem as
tags galera, partes deles podem realmente ser pesadas para algumas pessoas
e como eu sempre digo: prezem a saúde mental de vocês, se estiver e um
momento ruim, não leia agora, leia depois, o capítulo vai continuar aqui pra
você ok?

muito obrigado por continuarem aqui, por terem paciência e etc. isso me
deixa feliz!

agora, vamos ler!

tags: pedofilia e mutilação.

Se eu pudesse recomeçar
Milhões de milhas daqui
Eu me manteria
Eu acharia um caminho

Hurt - Johnny Cash

Flash Back On

— Sorria, Taehyung! Erga esse rosto e sorria.


Chaewon agitava as mãos delicadas para incentivar o filho mais novo a
sorrir. Ela estava linda como sempre. O belo vestido primaveril combinava
com a pele levemente bronzeada e até mesmo com o penteado simples que
prendia o longo cabelo castanho escuro para cima.

O fotógrafo profissional rolou os olhos antes de bocejar.

Taehyung o encarou depois de observar a mãe lhe mandar erguer a cabeça e


sorrir, então tentou o melhor que poderia... Mas não era o suficiente.

A sua esquerda Taeseok sustentava um belo sorriso adolescente, muito


confortável dentro das roupas que ganhou no último aniversário. Aos quinze
anos, Taeseok deixava de ser um garoto tímido e introvertido para se tornar
o típico adolescente popular do colégio mais caro de Daegu.

— Olhe para a frente, orelhudo! - ele estapeou a nuca de Taehyung com


pouca força, rindo enquanto aguardava a vingança infantil.

Entretanto, não houve nada.

O motivo, por mais secreto que tenha sido, estava ao lado direito de Tae.

A mão pesada segurava seu ombro sem usar força, mas já bastava para fazê-
lo imóvel diante do toque.

Taewoo era aquele que mais sorria.

O terno escuro fazia-o parecer ainda mais velho do que era, provavelmente
por conta do novo corte de cabelo sério que deixava para trás as mechas
grossas para dar lugar ao liso impecavelmente preso por gel.

— Sorria, Taetae.

A voz forte chegou aos ouvidos de Taehyung como água quente, escorrem
para dentro de sua mente, desceu pesada pela garganta queimando enquanto
embrulhava seu estômago de um jeito confuso e quase assustador.

Taehyung olhou para cima, para o irmão mais velho. Assentiu e encarou o
fotógrafo entediado com toda a falsidade de mais uma família rica.
Ele voltou a fotografar, para o deleite de Chaewon que observava seus filhos
com orgulho palpável. Eram perfeitos. Cada um deles, até mesmo o pequeno
Taehyung que espalhava alegria pelos corredores da mansão onde nascera,
fantasiando em sua imaginação infantil um mundo inteiro que nunca deixaria
de ser maravilhoso.

Naquele momento o olhar de Kim Chaewon, a bela e jovial esposa de Kim


Sanghun - um herdeiro milionário - se atentou a cada um de seus belos filhos
procurando pequenas imperfeições que poderiam arruinar as fotografias
para uma nova matéria de imprensa.

Taewoo sorria, Taeseok tentava ignorar o tédio que aquilo lhe causava e
Taehyung...

Taehyung estava estranho.

Era algo muito recente, mas o garotinho de apenas dez anos parecia diferente
do seu comportamento habitual. Sequer uma vez teve de mandá-lo parar
quieto ou pedir à babá que lhe ajeitasse as roupas de primavera.

Chaewon caminhou em direção aos filhos, mas não o suficiente para estragar
as fotografias, não o suficiente para ser atingido por todos os flashes que
deveriam incomodar Taehyung, que deveriam fazê-lo reclamar e correr por
toda a casa fugindo de suas mãos.

Ele não se movia demais, sequer piscava mais do que o necessário.

— Acho que conseguimos, Chaewon-ssi.

— Hn? - ela se virou para o fotógrafo.

— As fotos. Terminamos. Tenho bastante opções para a matéria. Preciso


levar tudo agora.

— Oh. Sim. Obrigado. - Chaewon sorriu um pouco, curvando-se brevemente


para o profissional. - Um empregado vai acompanhá-lo até a porta, muito
obrigado.
O homem apenas curvou-se de volta, sem dizer qualquer coisa enquanto um
dos muitos empregados da casa o acompanhava para fora da grande sala de
estar. Taeseok bocejou jogando-se sobre um dos sofás brancos, nas mãos já
tinha o celular de última geração.

— Omma, eu quero tomar banho. - a voz doce chamou-a enquanto a mão


puxava um pouco do vestido caro. Taehyung parecia realmente estranho.

— Você nunca toma banho sem uma briga antes, Tae. - ela sorriu o puxando
para perto, fazendo-o abraçar sua cintura. - Quer tirar essas roupas? Está
quente, por que não aproveita o resto do dia na piscina.

No mesmo instante, Taewoo se aproximou um pouco, a mão grande tocou o


topo da cabeça de Taehyung para bagunçar um pouco os cabelos escuros.

— Piscina, omma? Esqueceu que Taetae ainda está se recuperando do


resfriado. Está quente, mas também está ventando muito.

— Omma, posso tomar banho? - Tae insistiu, os braços finos abraçaram com
mais força a cintura de Chaewon.

Ela arqueou as sobrancelhas bem feitas e depois trocou um olhar demorado


com o filho mais velho.

— Claro, querido.

— Lave essas orelhas de abano, Tae-feio.

Taeseok o provocou, então sorriu aguardando que algumas das almofadas


importadas da Itália fosse arremessada contra o seu rosto, mas não
aconteceu.

Taehyung não fez nada.

— Peça ajuda a Minari, ok? - Chae se curvou para beijar o topo dos cabelos
do filho mais novo, então o observou sair da sala apressado, de rosto baixo,
mancando. Então, encarou Taewoo outra vez.
— O que foi? - ele, com as mãos escondidas dentro dos bolsos da calça
escura, sorriu. - Eu vou sair, devo voltar de madrugada. Diga ao appa que a
Ferrari está comigo. - Taewoo beijou a bochecha da mãe e também saiu.

Depois disso, sendo guiada por um sentido absolutamente novo, Chaewon


foi procurar Taehyung. Subiu as escadas largas em silêncio, evitando pensar
mais do que deveria porque era arriscado deixar a mente vagar por lugares
tão sombrios assim. Encontrou a babá, Minari, no quarto do garoto,
organizando dentro do closet dele as roupas recém passadas.

— Onde está Taehyung?

— No banho, senhora.

— Ele não lhe pediu ajuda?

— Entrou quieto e depois foi para o banheiro, não me disse nada. Eu devo
ajudá-lo? Devo-

— Não, está tudo bem Minari. Desça e mande que um dos seguranças vá até
o Burger King, que traga um daqueles combos que Taehyung mais gosta. Ele
está cabisbaixo, acredito que isso vai deixá-lo mais alegre.

— Sim senhora, com licença. - a babá uniformizada se curvou antes de sair


do quarto decorado em tons de azul e roxo.

Conseguia ouvir o som que vinha de dentro do banheiro, a ducha ligada.


Chaewon entrou sem bater como sempre fazia, o vapor quente já começava a
acumular no ambiente, cobria um pouco dos espelhos e do box transparente
decorado com peixes coloridos.

As roupas não estavam emboladas perto da privada como sempre ficavam,


os sapatos sequer estavam espalhados. Chaewon se aproximou do cesto
colorido, a tampa torta chamou sua atenção, mas ao tentar arrumá-la, outra
coisa atraiu seus olhos.

Abriu de vez, puxou para fora as roupas do filho mais novo, o short de linho
azul, a cueca do Spider Man... Seus olhos dobraram de tamanho, as mãos
tremiam enquanto puxava para o lado a porta do box. Taehyung se assustou
quando a viu, encolheu o corpo contra o canto da parede e cobriu com ambas
as mãos o sexo.

— Taehyung. - Chaewon soltou de vez a cueca suja de sangue e o segurou


pelos braços molhados, tirando-o do chuveiro, molhando-se com a água
quente enquanto o garoto começava a chorar. - O que você fez?!

— Nada! Não fiz nada! Omma, eu não fiz nada! - Tae negava, o rostinho
molhado se movia de um lado ao outro na tentativa de tornar sua negativa
mais convincente.

Chaewon o virou de costas, olhou cada pedaço do corpo trêmulo com


desespero, um nó se formava na garganta, a compreensão de tudo vinham
como ondas dentro de sua cabeça, ondas violentas e perigosas.

— Olhe pra mim, diga quem mexeu com você?

— Omma... 'Tá doendo... O hyung disse que não ia doer, mas 'tá doendo
muito. - Taehyung secou um dos olhos, os soluços sacudiam o corpo magro.

— Hyung... Oh deus, não... Não, não, não, não... - Chaewon começou a


chorar também.

— Não chora! Omma... Por favor, me desculpe? Me desculpa, eu não fiz


nada de ruim, o hyung disse que sou um rapazinho!

— Escute... Taehyung, me escute! Não conte isso pra ninguém! - Tae


abaixou o rosto. - Entendeu? E nunca mais deixe Taewoo fazer isso de novo
com você! Se ele fizer, não conte pra ninguém, entendeu? Só pra mim! Venha
contar pra mim! - ela fungou, os dedos delicados secaram as próprias
lágrimas e depois as bochechas de Taehyung. - Você entendeu?

— Omma, mas ele... Machucou... A senhora disse que quem machuca a gente
é mau. - Tae soluçou forte, o nariz escorria.

— Ele é o seu irmão! - disse mais alto. - O seu irmão! Olhe pra mim! - o
segurou com um pouco mais de força. - Se você disser isso a alguém vão
machucar o seu irmão! Entendeu? Você quer que isso aconteça?

— N-Não... Não quero...

— Certo. - Chaewon assentiu, as mãos trêmulas seguravam o rosto de


Taehyung. - Termine o banho, depois vou te levar a um médico. Ok?

— O-Ok. Ok, omma.

Tae voltou para dentro do box, os soluços acompanhavam o choro baixinho


enquanto ele fazia o possível para evitar demonstrar a dor, o olhar de
Chaewon era severo. Ela juntou as roupas sujas e saiu dali sem dizer
qualquer outra coisa.

Atravessou o hall superior da casa, ignorou os empregados que a olhavam


com curiosidade e não bateu antes de invadir a suíte de Taewoo. Ele estava
trocando de roupas, tinha nas mãos uma camisa preta e o tronco nu.

— Hey, bata antes de entrar-

— Cale a boca! - Chaewon atirou sobre ele as roupas de Taehyung. - Cale a


boca antes que eu mude completamente a minha decisão Taewoo!

— O que?! - ele franziu as sobrancelhas enquanto segurava a roupa


embolada nas mãos, quando percebeu o sangue, suspirou. - Ele contou?!

— Não! Ele nem deve ter se dado conta que contou o que você fez! Você
enlouqueceu?! Ele é seu irmão!

Ela falava baixo, temia que ouvissem.

— Eu estava meio bêbado, não pensei direito. - jogou as roupas no chão.

— Você tem alguma ideia do quanto isso pode prejudicar a imagem do seu
pai?! Taewoo, ele está tentando uma cadeira no partido! Um escândalo assim
pode estragar tudo que conquistamos durante todos esses anos!

— Taehyung não vai contar. - ele vestiu a camisa, logo cuidando dos botões
escuros.
— Você o machucou! - ela disse mais alto. - Oh, deus... Tenho de... Preciso
levá-lo ao médico, preciso... Tem noção da gravidade disso? Não estamos
falando sobre a filha de uma das empregadas, muito menos as garotas que
você embriaga junto dos amigos, Taewoo! Taehyung é diferente!

— Já falei que não foi uma coisa premeditada, eu fiquei bêbado. - dando de
ombros, Taewoo virou-se de costas. - Omma, a senhora sabe que eu não sou
mau. Quer que eu me desculpe? Posso fazer isso, ele logo esquece. - a
encarou de novo. - Não vai mais rolar, te dou a minha palavra.

— Se alguém aqui dentro desconfia de algo, se alguém conta por aí...

— Quer que eu seja preso, omma? Que eles me levem para longe? Que me
tratem mal numa prisão? Eu também sou seu filho.

Chaewon respirou fundo. Taewoo se aproximou dela lentamente, um sorriso


adorável crescia em seus lábios conforme chegava mais perto. Ele a segurou
pelos ombros.

— Appa não vai saber disso, vai ser um segredo nosso. Foi só uma vez.
Taehyung vai esquecer mais depressa do que acha, ele é esquisito... Sabe
disso.

— Não fale assim...

— Não estou mentindo. - rolou os olhos. - Ele é esquisito e se abrir a boca a


gente diz que ele anda tendo alucinações, qualquer coisa. - Sobre o médico...
Conheço um carinha que atende e fica quieto se ganhar bem, pode ser?

Chaewon secou uma lágrima que escorria por sua bochecha direita antes de
assentir.

— Pode ser.

Flash Back Off

🌙
— Hey, sorria pra mim!

Taehyung piscou com o flash da câmera que Yoongi segurava e apontava em


sua direção. O mais velho deitou ao seu lado, esperando que a fotografia se
revelasse depois de sair da Polaroid.

— Olha como você é lindo, Tae. - mostrou-lhe a foto depois de deitar a


cabeça sobre o peito dele. - Parece até um super modelo.

— Eu odiava tirar fotos. - segurando a polaroid entre os dedos, Tae o


abraçou mais, puxando contra o seu corpo. - Acho que voltei a achar ok
depois de começarmos a sair.

— Muita coisa ficou diferente depois de a gente começar a sair, um diferente


bom. - Yoongi apoiou o queixo sobre o estômago do namorado. Estava
corado, os cabelos descoloridos e sem qualquer resquício da tinta verde,
ainda estavam úmidos graças ao banho recente. - Mas eu não gosto de pensar
que as coisas que aconteceram te trouxeram pra gente, acho egoísta demais.

— Então, não pense assim Yoon. Sei lá, deixa isso à cargo do destino
mesmo, a gente não controla nada. - Taehyung deixou a polaroid de lado. -
Eu amo você.

— Eu sei. - ele sorriu, mostrando ao mais novo suas gengivas rosadas. -


Também te amo. Amo muito. - os dedos longos tocaram a lateral do rosto
alheio, contornaram cada traço bonito enquanto o olhar se tornava
preocupado. - Você sabe que eu e o Seok não vamos deixar nada ruim
acontecer.

— Acredito nisso, mas existem coisas além do nosso controle... Coisas que
eu sinto e não sei como lidar. Meu appa foi extremamente direto naquela
ligação, Yoongi.

— E você 'tá pronto pra cortar esses laços? Pronto para dizer isso a ele?

— Eu acho que sempre estive pronto, mas essa possibilidade era só uma
fantasia dentro da minha cabeça. Não sei se vai mudar alguma coisa, mas eu
não me importo caso não mude... Eu vou deixar isso sair de mim.
— Estamos orgulhosos. - Yoongi sorriu. - Você pediu ajuda e aceitou a ajuda
que oferecemos. Desde que começou a fazer terapia com o Dr. Lee as coisas
parecem mais claras na sua mente. Obrigado por não desistir de você
mesmo, Tae. Por continuar aqui.

A porta do banheiro abriu de repente e eles olharam para Hoseok que saia
do banho secando os cabelos recém pintados de laranja outra vez. Ele não
vestia nada além de uma cueca preta.

— Que visão maravilhosa, Yoon.

— Deve estar tão cheirosinho, tão quentinho. Vem aqui pra gente te morder,
marrentinho.

— Não! Ainda estou puto! - ele resmungou com um bico nos lábios.

— Hoseok para ser mal perdedor! Parece criança!

— Eu vou dormir na sala! Sozinho!

— Não vai, não! Vem aqui! - Taehyung pulou da cama fazendo-o gritar
enquanto corria para a porta trancada. Hobi não teve chances, logo estava
preso dentro do abraço forte do mais novo, sentindo os beijos dele sobre
seus ombros e nuca. - Meu marrentinho, você perdeu, mas eu ainda te amo
mesmo assim.

— Me larga! Eu perdi porque vocês roubaram! - ele não lutou contra o


abraço, muito menos depois de deitar no meio do colchão, logo sendo
agarrado por Yoongi. - Tudo isso é sua culpa!

— Como eu ia saber que o Jimin aprendeu a jogar em poucos dias?! Agora


que ele e o Jungkook estão recomeçando sobra bastante tempo pra jogar
vídeo game já que não estão transando o tempo todo.

— Eu acho que rolou alguma coisa ontem. - Taehyung disse baixinho, logo
atraindo a atenção dos outros dois. - Fofoqueiros pra caralho, puta merda.

— Fofoqueiros não! Informados! - Yoongi corrigiu depois de colocar a mão


para dentro da cueca de Hoseok.
— Yoon... Eu vou ficar duro!

— Me deixa fazer carinho! Para de ser chato. - ralhou enquanto apertava


com carinho a pele da virilha do namorado. Hoseok rolou os olhos, estava
vencido, gostava do carinho. - Conta, Tae!

— Não é pra contar pra ninguém! - encarou Hoseok.

— O que?! Eu não vou contar!

— Você é fofoqueiro pra cacete, principalmente com o Jin-hyung.

— Eu não vou contar! Fala logo!

— Hoje de manhã bem cedo, quando eu estava saindo para a minha


consulta... Jungkook estava na cozinha com o Jimin, os dois sozinhos. Aí eu
nem queria, mas acabei ouvindo um pouco da conversa.

— Não queria, 'tá bom camponesa. - Yoongi rolou os olhos.

— O que eles falaram?

— Jimin perguntou se o Jungkook estava bem, se estava dolorido...

— Ih Seok, seu filho sentou na berinjela do Jimin.

— Cala a boca Yoongi, que saco! Não quero imaginar essas coisas! - Hobi
fez um bico.

— Eu vou morder esse seu bico lindo. - Taehyung afinou a voz, então o
mordeu mesmo.

— Para com isso! Não me morde assim, Taehyung. - ele estava rindo um
pouco.

— Só se você me falar quem é o meu esquilinho mais lindo.

— Começou essa porra de novo. - Yoongi tirou a mão de dentro da cueca de


Hoseok e bufou. - Coisa ridícula. Que vergonha alheia.
— Disse o cara que ama amassar pãozinho no meu pau. - Hobi debochou.

— O amor antes de te fazer feliz, ele te humilha. Essa é a verdade. - o menor


riu.

— Eu sou o seu esquilinho, Tae... - Hoseok disse afinando a voz também. -


Mas você é o meu tigrão.

— Quero terminar esse relacionamento aqui, não posso lidar com isso. -
Yoongi resmungou.

— Larga de ser chato, Yoon. Fala pra mim que você é o nosso gatinho. Só
conto o resto da conversa do Jimin e do Jungkook se você disser.

— Nossa, pegou no seu ponto fraco Yoon. Fofoca.

— Vai se foder. Fala logo o resto ou os dois ficam sem cuzinho por uma
semana.

— Ele não sabe brincar, Hobi.

— Nunca soube. Filho mais novo, mimado pra cacete. Já leva as coisas pro
extremo.

— 'Tá. O Jungkook disse que estava bem, mas que eles ainda estavam indo
devagar.

— Como o Jimin conseguiu com a perna engessada? - havia uma ruga de


curiosidade na testa de Hoseok, entre as sobrancelhas arqueadas.

— Depois do que eu vi, aqueles dois conseguiriam trepar até se ele


estivesse só com o pau para fora de qualquer gesso, amor.

— NÃO QUERO SABER!

— Você quem perguntou, caralho! - ralhou de volta. - Ai espera, meu braço


ficou dormente.
— A minha cabeça não é pesada. - Hobi se ajeitou sobre os travesseiros,
esticando o corpo enquanto espreguiçava inteiro. - Voltar a dançar me fez tão
bem.

— Fez mesmo, você tá menos chato. Quando a gente vai poder ir te ver
dançar?

— Logo. - sorriu preguiçosamente. - Estou com fome.

— Mudança brusca de assunto, algo incomum está sendo detectado sobre a


superfície desse corpo gostoso, Taehyung. - Yoongi montou sobre os quadris
de Hoseok, estava com um olhar desconfiado.

— Não tem nada incomum, eu só não me sinto seguro ainda pra mostrar a
minha dança de novo, você sabe que eu não sou muito bom-

— Calado! - Tae cobriu a boca dele com a mão. - Para de falar merda, você
é incrível. Mas a gente espera até que se sinta confortável.

— Então, você vai dançar pra gente. Todo dia.

— Todo dia.

Hobi sorriu, mas o som da notificação no celular chamou atenção. Taehyung


se esticou até o móvel para pegar o aparelho e entregá-lo depois de ler o
nome da cunhada no topo das notificações. O dono do celular leu
rapidamente as mensagens da irmã mais velha, o sorriso aos poucos se
desfez para dar espaço a uma expressão desconfortável.

— O que foi, meu Sol?

— Minha noona. - ele bloqueou a tela do aparelho. - Ela conversou com


Yoseob... Nosso appa.

— E? - Yoongi quis saber.

— Ela está me pedindo para aceitar conversar com ele. Disse que é
importante.
— O que vai fazer, Seok-ah?

— Não sei. Não quero pensar sobre isso agora. Não quero falar sobre isso
agora.

Yoongi e Taehyung trocaram um olhar rápido.

— Hobi, a gente... Eu e o Yoon, a gente não quer se meter demais ou te fazer


sentir forçado a nada, aceitamos qualquer decisão sua sobre isso... Mas a
gente conversou sobre isso e-

— Achamos que você deveria conversar com o seu appa. Principalmente


para saber qual a ligação dele com Taewoo. Aquilo que ele me disse no
Wings, no aniversário do Jimin, não sai da minha cabeça. Alguma coisa está
acontecendo e nós precisamos saber.

— Podemos falar sobre isso depois? Por favor?

— Seok...

— Depois. Desce. - com um tapinha sobre a coxa coberta por uma calça de
moletom, Hoseok tirou Yoongi de cima de seus quadris para sentar na cama.
- Estou com fome, vou sair e comprar alguma coisa.

— Jin-hyung e Jungkook cozinharam...

— Vou dar uma volta. - ele procurou por uma calça jeans, acabou pegando a
de Yoongi.

— Hey, hey... Ok... A gente não vai falar sobre nada disso, ok? Mas não saia
assim, não fica bravo com a gente. - o menor o puxou para um abraço. -
Vamos jantar juntos, Namjoon fica menos deprimido quando a gente se reúne
para jantar. Desculpa, Seok.

— Não precisa se desculpar. É só que... Ainda não consigo fazer isso. Eu sei
que devo estar sendo um dramático de merda, mas eu. Ainda não consigo
fazer isso.
— A gente entende. 'Tá tudo bem, relaxa. Vamos descer pra jantar, esquecer
esse assunto. Eu vou tomar banho, não vou demorar.

— Vista roupas quentes, você tossiu um pouco de madrugada amor. - Yoongi


o beijou nos lábios. - Tem meias limpas na gaveta, não pegue as brancas.

— Sim senhor.

— Idiota.

Hoseok e Yoongi saíram do quarto abraçados, sussurrando coisas um ao


outro.

Sozinho, Taehyung observou o celular do namorado mais alto.

Sabia a senha, sabia exatamente como conseguir o que mais precisava, então
não hesitou. Copiou o contato para o próprio celular e salvou com um nome
qualquer.

Algumas coisas ele precisava fazer sozinho.

— Me passa o pote de kimchi.

— Alguém quer mais refrigerante?

— Jimin, você pode comer tanta pimenta assim?! Imagina como deve
queimar seu cu pra sair.

— Cala a boca Taehyung, vou jogar esse prato na sua cara!

— Não quero falar sobre o cu do Jimin enquanto como meu jantar, obrigado.
- Hoseok reclamou.

— JUNGKOOK SEJA QUAL FOR O SEU PRÓXIMO COMENTÁRIO,


GUARDE ELE PRA VOCÊ! - Jin gritou.

— Eu ia dizer que posso fazer mais lámen.


Ao redor da mesa jantar repleta de comida e garrafas de bebidas, os sete
jantavam juntos como vinham fazendo desde que Namjoon voltou do velório
da mãe, em sua cidade natal. Era uma ideia de Seokjin, fazê-lo sentir em um
ambiente familiar e acolhedor, entretanto servia para todos. E aqueles
momentos se tornaram os melhores ao final de cada dia.

— Jin-hyung, cada dia cozinhando melhor.

— Na outra vida eu fui um chefe de cozinha, tenho certeza. - ele piscou. -


Come mais, Namjoon.

— Hyung, eu já estou cheio, não aguento mais comer. Dá pro Jungkook.

— Eu aceito! - ele disse de boca cheia.

— Esse moleque parece um poço sem fundo!

— Olha quem fala! Logo você Jin-hyung!

— Eu estou grávido, preciso comer bastante. - deu de ombros.

— Quando é que a nossa princesinha vai nascer? Quero conhecê-la logo.

— Acredite Jimin, ainda falta um mês. O tempo passou rápido demais pra
mim e pra Sunmi. Na última ultrassom Yumi estava mostrando o dedo do
meio.

— Gosto dessa menina, ela é das minhas! - Taehyung riu. - Um brinde a Kim
Yumi!

— Não fica achando que vai ensinar minha filha a ser desbocada não viu, eu
corto fora o seu pau. - Jin ameaçou enquanto brindava. - Eu não sei se já
falamos sobre isso, mas vocês querem ter filhos?

— Quem? - Yoongi franziu o cenho.

— Vocês três. - Namjoon apontou para eles com os hashis.

— A gente? - Tae fez uma careta engraçada.


— Eu quero. Quero muito. Eu amo crianças. - Hoseok sorria.

Yoongi também sorriu, mas Taehyung não demonstrou qualquer coisa, ficou
quieto.

Jimin notou.

— Eu quero ter quatro filhos. - Jungkook anunciou animado.

— Quer montar um time de basquete, filho?

— Eu quero adotar, Hobi- hyung, tem muita criança que precisa ter uma
família. A gente vai adotar quatro e o Jimin disse que-

Quando se deu conta do que dizia, Jungkook arregalou os olhos e corou


como um tomate. Os outros riram um pouco, Hoseok lhe bagunçou os cabelos
longos.

— Desculpa, eu-

— Eu disse que a gente vai ter uma casa bem grande, perto da praia de
Busan. Não mudei meus pensamentos, Jungkook. - Jimin disse o encarando.

— Oh, ele está tão vermelho, venha aqui. Aigo, deixa o hyung te esconder. -
Jin abraçou a Jungkook, rindo sem parar. - Está tudo bem, não fica assim
com vergonha. Eu quero ser padrinho do seu filho mais velho.

— Sonhou. - Hobi debochou de boca cheia. - Coitado.

— Ouço alguém falar, mas nada além de: sou um mal perdedor e vou lavar
toda a louça do jantar.

— E lá vamos nós. - Jimin virou uma dose de soju. Jungkook o encarou, não
estava mais tão corado. Jimin suspirou afastando a garrafa da bebida,
deixando claro que pararia ali.

Jungkook o sorriu.

— Isso é tudo sua culpa, Yoongi!


— Homem eu já te falei que não tenho culpa! Eu não sei jogar direito,
principalmente futebol! Se você continuar me enchendo o saco vai dormir
sem quequete.

— Fica quieto Hoseok! - Tae o atirou um guardanapo.

— O que é quequete?

— Jimin, eu acho saudável para a nossa convivência que não saibamos o que
é isso, desconfio que seja algo além de nossa compreensão do quanto um trio
de namorados pode ser brega, insuportável e depravado. - Jin pediu.

— É boquete.

— Boa noite, acho que deu a hora de dormir. - Namjoon ergueu as mãos,
negando. Jungkook estava tossindo e engasgando.

— Eu falei. Min Yoongi é um homem sujo. Tanto no sexo, quanto por não
tomar banho.

— Jin-hyung, eu vou te xingar!

— Hobi-hyung quer ajuda com a louça?

— Ah, deixa de ser besta Jungkook! A gente ganhou o jogo! - Jimin estava
indignado.

— Quero ajudar o meu hyung.

— Olha, nem eu sou tão gado do Hoseok desse jeito... E ele me come. Boa
noite.

— Vulgar, como era de se esperar. Vem, quero falar contigo.

Jimin o chamou apontando para a varanda da casa. Tae o ajudou com as


muletas, então o seguiu.


— Você acha que a gente consegue parar algum dia? - Jimin perguntou
enquanto soprava a fumaça do cigarro, observando-o entre os dedos.

— Eu acho que sim. Se realmente quisermos isso. - Tae acendeu um para si e


guardou no bolso do moletom o isqueiro vermelho de Hoseok. - Hobi e eu
conversamos sobre isso esses dias.

— Parar de fumar?

— Também. Ele me disse que sente falta da maconha, mais do que achou que
ia sentir, então ficou assustado com isso. Faz uns bons meses que ele tem
fumado menos, isso o deixava meio tenso demais... Voltar a dançar tem
ajudado, acho que ele gasta mais energia.

— Eu também notei. Ah, obrigado por me levar a fisioterapia, achei menos


chato com você falando merda no meu ouvido. - sorriu.

— Sempre ao seu dispor, rabudo. Mas e aí, o que você quer me falar?

— A gente não conversou sobre a ligação do seu appa, Tae. Acho que você
quer falar sobre isso.

— Ah. - Taehyung tragou demoradamente. - Têm um monte de coisas que são


diferentes quando eu falo contigo. Não é como se Hobi ou o Yoon não me
ajudassem, só é diferente porque é mais fácil contar as merdas que eu penso.
Ele me ligou, disse um monte de coisas, ameaçou me deserdar, me deixar
sem um tostão, esquecer que eu existo... Ele nem faz ideia do quanto isso
seria incrível.

— Então, por que eu ainda consigo sentir tanta hesitação na sua voz quando
fala sobre isso? Cortar esses laços é o mais certo, Tae.

— Será que é? - Jimin o encarou, estava confuso. - Cortar esses laços e


fingir que eles não estiveram ao redor do meu pescoço por anos, me
sufocando? Jimin, eu acho que não sou bom o suficiente só pra deixar pra lá.
Aquele garotinho ainda existe dentro de mim, uma criança interior que corria
sem parar em direção a luz, mas nunca conseguiu chegar lá. Uma criança
cansada, exausta e absolutamente dolorida em todos os lados que possuía.
Agora eu sinto que as coisas podem ficar bem porque o eu de hoje está bem,
mas aquele garotinho também merecia isso Jimin... Merecia muito mais do
que eu.

— Porque ele nunca havia errado. - Jimin concluiu. Tae suspirou, era um
alívio tê-lo em sua vida. A forma como Jimin conseguia lhe compreender era
libertadora.

— É isso. Aquela criança nunca havia errado, mas eu já errei pra caralho.
Se eu mereço essa possível liberdade, essa paz que estou segurando dentro
das minhas mãos com toda a minha força, aquele menino que abraçou os
espinhos de toda aquela merda nunca machucou ninguém, nunca colocou a
vida de outra pessoa em perigo... Mas eu sim.

— Você é aquele menino, Tae. Você é todas as versões anteriores e as que


ainda estão por vir, não deveria se dividir desse jeito. Tudo aquilo que
aconteceu foi consequência do que Taewoo te fez, aquela criança nunca teve
culpa e você não culpa também.

— Não me culpo mais por aquilo Jimin, sabe toda aquela raiva? - Jimin
assentiu. - Ainda está dentro de mim e vai continuar aqui até o fim da minha
vida como um estigma, uma marca. Mas eu não sinto mais tanta raiva sem
foco, escapando por meu corpo como se eu estivesse transbordando o tempo
todo... Eu sinto raiva principalmente do que aquela dor me obrigava a
fazer. Da forma como eu me destruía para que os meus país olhassem pra
mim e sentissem pelo menos um pouco da raiva que eu sentia. - ele tragou o
cigarro quase no fim e observou os pulsos, as tatuagens coloridas que
também cobriam as cicatrizes que ele nunca esquecia. - Um pra cada um.
Meu appa, minha omma, Taeseok... Taewoo. E uma dúzia pra mim, pra me
fazer egoísta até quando me machucava.

— Entregaram isso hoje no campus, na saída do prédio de saúde. Eu peguei,


mas não sabia se deveria te mostrar.

Jimin estendeu para o melhor amigo um folheto dobrado ao meio.

Taehyung o abriu para ler atentamente os dizeres que anunciavam um evento


político no centro da cidade, que convidava pessoas que acreditam nos
valores familiares como o mais importante para a sociedade.

— Obrigado por me mostrar isso.

— Isso quer dizer que eles devem estar vindo pra cidade.

— É. Acho que sim. Acho que vou cortar esses laços antes do que imaginei.

Jimin apagou o cigarro dentro de um dos cinzeiros de pedra deixados na


varanda e ficou calado. Tae leu e releu o folheto onde uma foto de seu pai
sorrindo era centralizada sobre o papel.

Flash Back On

— O que é essa merda, Taehyung?! Hein?! Por que faz essas coisas?! Quer
me provocar?!

— Querido, se acalme. Minari pegue aquele maldito kit de primeiros


socorros.

— Aperte assim, Taehy, com força sim?

— S-Sim.

— Acho que deveríamos levá-lo ao psiquiatra, vai ver ele é mesmo


esquisito, maluco.

— Cale a boca Taeseok! Acha que a droga de um psiquiatra vai ajudar em


que? Só vai gerar rumores, isso não é sequer uma opção.

— Appa, o senhor está sendo um tanto tempestuoso, se acalma. - Taewoo


desencostou o corpo do batente da porta para caminhar pelo quarto do irmão
mais novo, de braços cruzados. - Taehyung está fazendo o que sabe fazer
para chamar atenção. Leve-o até um daqueles psicólogos infantis, diga que
ele se cortou depois de negarem qualquer uma dessas merdas pra idade dele,
fale que foram os jogos, filmes, músicas... Tanto faz.

— As pessoas vão comentar sobre isso e-


— Então, use ao seu favor. - ele deu de ombros. - Nada é tão comovente
quanto pais que se preocupam com os filhos nessa idade, pré-adolescência e
etc. Taehyung já tem treze anos, essa fase é realmente complicada e as
pessoas sabem disso. Dessa forma mata dois coelhos de uma vez: ele faz um
tratamento para deixar de ser esquisito e comove as pessoas.

Chaewon não disse nada, mas estava ouvindo. Usava um algodão para
estancar o sangue dos cortes sobre a pele de Taehyung.

— A senhora não gosta de mim, omma? - o sussurro a fez erguer o olhar para
encarar Taehyung.

— O que?

— A senhora não gosta de mim? - ele não chorava, os olhos grandes


pareciam abatidos.

— De onde tirou isso, Taehyung? Eu sou sua mãe, eu-

— Eu não gosto da senhora. - ele disse ainda mais baixo. - Eu te odeio.

— Aqui, trouxe o kit. Deixe que eu cuide dele, senhora. Sei fazer isso. - a
babá pediu gentilmente, então Chaewon apenas assentiu. - Vai arder um
pouco, Taehy, mas não chore, ok?

— Eu não vou chorar. Tanto faz se doer, não ligo.

— Tão esquisito. - Taeseok rolou os olhos saindo do quarto.

— Vamos Chaewon, suas amigas viciadas em antidepressivos devem


conhecem alguma clínica para levarmos Taehyung, não fique parada aí!

— Omma? Deixe que a babá cuide disso, não é nada.

Chaewon assentiu encarando Taehyung.

O olhar dele não era doce como há três anos, não havia brilho algum. Vazio.

— Sim, vamos.
Flash Back Off

— Você não quer cortar esses laços, Tae.

— Não. Não é justo. Não é justo que ele vença essa eleição, não é justo que
as pessoas acreditem na imagem que eles passam... Eu negligenciei a minha
dor por mais de dez anos, o quão egoísta eu seria se negligenciar a podridão
que existe por dentro da minha família? Jimin, eu quero ser um homem
orgulhoso, quero dar orgulho a Hoseok e a Yoongi, quero orgulhar você... O
Namjoon-hyung. O discurso dele naquele dia, a força dele mesmo depois de
perder a omma, eu quero ser forte como ele é... Ser forte como você é.

— Vamos nos orgulhar juntos, vamos ser fortes juntos. Não corte esses
laços, Tae.

— Não vou cortar. Eu vou agarrar cada um deles e usá-los para expor tudo o
que eu sei e o que as pessoas precisam saber. Nem que pra isso eu tenha de
expor cada uma das minhas cicatrizes, nem que pra isso eu tenha de encarar
cada um dos meus estigmas.

— Eu acho que já sei o que podemos fazer, Tae. Mas vamos precisar de
muita gente, de muito barulho. - Jimin sorriu um pouco. - Você confia em
mim?

— Sempre. - ele segurou a mão menor, principalmente o dedo mindinho tão


pequeno. - Sempre.

— Vamos entrar, temos de falar com os outros.

— Ele acabou com você, irmãozinho.

— Cala a porra dessa boca. - Taewoo o mostrou o dedo do meio. - Você


conseguiu pelo menos fazer o que te pedi?

— Claro que sim, acha que sou burro?


— Preciso mesmo responder? - ele o encarou enquanto bebia mais um dos
analgésicos para dor muscular.

— Taehyung foi longe demais dessa vez. Se envolver com alguém violento e
envolvido com drogas? Olha só o que esse homem fez a você! Isso é
inaceitável! Me diga como vai comparecer ao comício com o rosto cheio de
hematomas assim, Taewoo?!

— Não se preocupe appa, ainda temos uns dias e posso cobrir com
maquiagem. Já começou a decorar o discurso que escrevi?

— Oh sim, o secretário geral ficou bastante empolgado com as pessoas


importantes que confirmaram presença no evento. - Sanghun bebeu mais um
gole do uísque antes de ocupar uma das poltronas da sala de estar. - Gostei
desse hotel.

— É o melhor, as suítes são maravilhosas. Onde está omma?

— Com a estilista, está decidindo que roupas usar durante os jantares da


semana. Acho que devemos procurar o seu irmão o quanto antes.

— Ir até ao antro que ele chama de república é um erro. - Taewoo caminhou


de volta para o sofá. - Devemos evitar qualquer escândalo ou chamar
atenção demais até o comício, ligue para ele e depois passe o telefone para
mim.

— Por que você mesmo não liga? - Taeseok arqueou uma das sobrancelhas.

— Porque você não vai procurar o que fazer e nos deixa trabalhar?

— Você é insuportável hyung.

— Ligue para Taehyung, appa. Por favor, ligue agora.

Sanghun assentiu já com o celular em mãos, buscando pelo número do filho


mais novo. Depois de discar o número passou o aparelho para Taewoo que
se afastou de todos, indo em direção às janelas de vidro.

— Alô. - a voz grossa atendeu após quatro toques.


— Não desligue. Se desligar, as coisas podem ficar mais complicadas pra
você.

— Vai pro inferno.

— E para os seus namoradinhos. Principalmente o filho da puta que me


bateu.

— Ele devia ter batido mais, ter quebrado todos os seus dentes.

— Ora, veja só quem está mostrando as garras agora. Quase sinto orgulho,
Taetae, sempre achei um desperdício que Taeseok ocupasse um lugar feito
para você.

— Que porra você quer?!

— Appa quer que venha até nós, temos muito o que conversar. Uma mudança
de planos sobre o seu castigo aqui.

— Eu vou.

— Hm. Sem negativas ou palavrões? O que você está aprontando, Taetae?


Eu não gosto de surpresas.

— Mande o endereço do hotel por mensagem com o horário.

Taehyung desligou.

Taewoo encarou o celular com desconfiança.

— E então? O que ele disse? Se negou a vir?

— Não, appa. Ele foi absolutamente complacente. Isso é estranho demais. -


devolveu o celular para o pai. - Preciso fazer uma ligação.

— Para quem?

— Jung Yoseob. Está na hora de ele fazer a parte do trato.


— Tem certeza que quer fazer isso sozinho? A gente pode subir contigo.

— Esperamos no corredor, quietinhos.

— Eu amo tanto vocês dois. - Tae sorriu enquanto sentia a mão de Yoongi
acariciar sua coxa. - Eu vou subir só pra que eles parem de me procurar e
não desconfiem de nada.

— Tae, ainda acho uma péssima ideia. Vamos pra casa? Não precisa fazer
isso, não precisa encontrar com eles.

— Hoseok, eu preciso fazer isso. Amor, 'tá tudo bem. - ele beijou a mão
gelada de Hobi. - Fiquem aqui me esperando, só isso. Ok?

— Ok. Fica com celular no bolso já na tela de discagem, liga sem pensar
duas vezes se for necessário e eu entro nessa droga de hotel, ninguém me
segura.

— Meu gatinho corajoso. - beijou os lábios de Yoongi. - Obrigado.


Obrigado por estarem aqui comigo, por me deixarem lidar com isso sozinho.

— Eu te prometi, lembra? Nunca mais você vai se sentir sozinho. - Hoseok


sorriu. - Temos orgulho de você, muito orgulho.

Taehyung se esticou para beijá-lo demoradamente e depois beijou Yoongi


que estava sentado no banco do motorista. Ao sair do carro, os viu acenar
uma vez e depois Hobi pular para o banco do passageiro.

Ele respirou fundo enquanto observava o hotel cinco estrelas do outro lado
da rua repleta de hotéis e restaurantes caros. Atravessar foi fácil, depois se
dirigir a um dos recepcionistas que o autorizou subir até o oitavo andar,
quarto 802.

No elevador Taehyung seguiu a orientação de Yoongi, deixou o celular


desbloqueado na tela de discagem, com o número do mais velho pronto para
fazer uma chamada e o guardou outra vez no bolso da calça folgada de linho.
Diante do quarto, lendo o número prateado preso a porta, respirou fundo.

Flash Back On

— Não haja como se não tivesse gostado, Taetae.

— Não toque em mim! Não! - ele estapeou a mão de Taewoo com força. -
Não!

— Fale baixo! - disse olhando ao redor, estavam sozinhos na cozinha da


mansão onde o adolescente de quinze anos ainda morava. - Foi um bom
presente de aniversário.

— Vou contar pra omma! Contar que você me machucou de novo!

— Oh, vai contar a ela também o quanto você gostou dessa vez? Que até
gozou pra mim?

— CALA A BOCA! PARA DE FALAR ISSO! - Tae começou a chorar, as


mãos trêmulas agarraram os cabelos castanhos com força. - EU NÃO
GOSTEI! EU NÃO QUERIA!

— Chega, para de gritar!

— ME SOLTA!

— Chega! - o agarrou pelo cabelo, puxando com toda a força enquanto a


outra mão cobria a boca do mais novo. - Cala a boca, para de fazer
escândalo sua aberração. Acha que ela vai acreditar em você?! Depois de
toda a merda que tem feito na escola? Depois de pegarem maconha na sua
mochila?! Acha que alguém vai acreditar em você, esquisito de merda! - o
soltou com tudo, fazendo-o cambalear para perto da pia.

— Não era minha... Você sabe! Você colocou aquilo lá! Me disse para
experimentar!

— Eu? Eu, Taetae? Como pode me acusar dessa forma? - Taewoo possuía
um semblante quase choroso, o rosto bonito passava uma sinceridade afiada.
- Logo eu que sempre o dei tanta atenção, não seja mal agradecido, por
favor.

Taehyung respirou fundo, pelas narinas quase entupidas graças ao choro. Ele
olhou para a pia, olhou para a faca de queijos que estava sobre a tábua de
madeira talhada, ao lado de um grande pedaço da iguaria favorita do pai.

Então não pensou demais, agarrou a faca e levantou o braço riscando o ar e o


que mais havia ali para ser atingido. O grito de Taewoo explodiu por toda a
cozinha. Ele tocava com ambas as mãos o lado direito do rosto, tocava o
corte raso de onde um fio de sangue grosso escorria.

— Mas que porra você-

— Se chegar perto de mim outra vez eu vou te matar, Taewoo!

— Seu filho de uma puta, moleque desgraçado! - Taewoo era mais velho,
dez anos mais velho e mais forte diante de um adolescente assustado. Não
demorou a pegar a faca e atirar longe, então as mãos grandes agarraram o
pescoço de Taehyung, os dedos se fecharam ao redor da garganta apertando
com força. - Presta bastante atenção no que eu vou te dizer, seu retardado
esquisito, nunca mais ouse fazer isso comigo outra vez, entendeu? Ou eu te
machuco de verdade Taehyung, te machuco tanto que as merdas desses cortes
nos teus braços vão parecer rabiscos de criança!

— M-me... Sol-ta... - Taehyung agarrou os pulsos do irmão, puxando em


desespero para respirar.

— Eu fodo com você em todos os sentidos da palavra seu merda, entendeu?


- Tae assentiu quase sem forças, os olhos já estavam vermelhos pela falta de
ar. - É bom que tenha entendido de verdade.

O soltou, pouco preocupado com o baque do corpo alheio contra o chão frio.
Taehyung tossiu, tentava tragar o ar, mas sua garganta doía muito.

— Retardado esquisito. - cuspiu as palavras antes de sair.

Flash Back Off


Taehyung bateu na porta duas vezes. Ouviu passos e depois o rosto familiar
de Taeseok diante de si. Continuava o mesmo, não lhe transmitia qualquer
sentimento, bom ou ruim. Irrelevante.

— Bem na hora, aprendeu a ser pontual?

— Onde está o appa?

— Entre Tae-feio. Gostei do corte de cabelo, é pra disfarçar as orelhas de


abano?

— A gente não tem mais dez e quinze anos, Taeseok, pode parar com essas
provocações idiotas. - desdenhou entrando na casa, mas lembrou que as
mesmas provocação quando vinham de Jimin, o faziam sentir outra vez como
uma criança briguenta.

Então, era assim ter um irmão? Era ter Jimin?

Quis sorrir.

— Appa, ele Taehyung chegou. - o outro disse em voz alta. - Eu vou sair,
preciso encontrar Taewoo e-

— Ele não está aqui? - interrompeu.

— Não. Está com saudade dele?

Taehyung não respondeu. Sentia-se aliviado.

— Bom que tenha vindo... O que fez com o seu cabelo?! - Sanghun
esbravejou assim que o viu.

— Eu também não senti saudades, appa. - Tae suspirou. - Pode dizer o que
quer comigo?

— Vou indo, fique para jantar, Tae-feio. Sinto falta de seus comentários
ácidos a mesa. - Taeseok lhe deu um tapinha no ombro e saiu.
— Tae? Oh, Tae... Querido. - Chaewon se aproximou apressada, as mãos
bonitas seguraram o rosto do filho caçula. - Olhe só, está corado e parece
saudável, senti tanta saudade de você, Tae.

Ela o abraçou.

Taehyung esperou sentir outra vez aquela necessidade do carinho dela como
acontecia antes, o fio de esperança que se mantinha aceso no lugar mais
profundo de sua alma mesmo que ele pouco fizesse para que se mantenha.

Esperou sentir a tristeza da falta de reciprocidade, a tristeza que ansiava o


afeto maternal que abriu mão ainda no fim da infância.

Entretanto, não sentiu nada.

Sequer a raiva, sequer o desprazer daqueles toques amistosos.

Nada.

Ela percebeu isso também.

— Você sabe a razão de ter lhe chamado aqui, Taehyung. Sabe porque se
lembra muito bem do que falamos naquela ligação. Você perdeu
completamente os limites, achei que esse castigo serviria para que
valorizasse mais a sua família, que compreendesse que valores familiares
são essenciais para que um homem seja bem visto na sociedade! Então o que
você faz?!

— Sanghun, vamos conversar com ele, sem agressões e-

— Esse garoto precisa ouvir boas verdades, Chaewon! Ele nunca teve
motivos para se comportar como se comporta! Nunca lhe deixei faltar nada!
Vestiu o melhor, comeu o melhor! Melhores escolas, melhores brinquedos,
viagens! Tudo o que um garoto precisa para crescer feliz e obediente! Ainda
assim só me dá desgosto! Gay! Uma bixa que desfila por todos os lados com
DOIS homens! E um deles ainda é violento e envolvido com drogas! O QUE
MAIS LHE FALTA, TAEHYUNG? O que mais vai fazer para estragar a
nossa imagem? Por que sente tanto prazer em nos humilhar dessa forma?!
Taehyung ouviu a cada palavra sem esboçar reação. O que era conflituoso
com seu comportamento anterior. O humor afiado e debochado que sempre
rebatia as acusações dos pais, cavando a paciência até onde podia, sem
parar.

Encarou o pai e depois a mãe, Chaewon soube no mesmo instante o que


viria.

— Conte a ele a razão, omma.

— Taehyung-

— Conte a ele. Justifique cada uma das minhas ações, faça com que tudo nos
últimos catorze anos faça sentido, omma.

— Do que está falando? Do que ele está falando, Chaewon?!

— Nada! Não é nada! Taehyung está outra vez o provocando e-

— Por que você nunca gostou de mim, omma? - a pergunta, tão parecida
com aquela feita há dez anos, a fez se calar. - Eu também sou seu filho, eu
também nasci de você... E mesmo assim nunca se importou com o quanto
Taewoo me machucasse, contando que ele nunca sentisse o mesmo.

— Taewoo? Como assim "ele te machucou"?! O que está falando Taehyung?

— Diga a ele.

— Não. Isso faz anos, não traga isso de volta Taehyung.

— CONTE A ELE! DIGA A ELE A VERDADE! TIRA DAS MINHAS


COSTAS ESSE PESO QUE VOCÊ DEIXOU CRESCER DESDE AQUELE
DIA! A SENHORA SEMPRE ME FEZ PARECER UM PECADOR NESSA
FAMÍLIA, MAS POR MAIS QUE TENTE ESCONDER E OCULTAR, ISSO
NÃO VAI APAGAR OMMA! NUNCA! Então, o que mais eu tenho a dizer?
Do que mais quer me culpar?

— Taehyung... Chaewon me diga agora mesmo do que ele está falando.


AGORA!
— Querido... Se acalma, a sua pressão vai subir e-

— CONTE AGORA MESMO!

— Eu acho que não tenho muito o que fazer aqui. Appa, depois que souber
de tudo, se quiser conversar, sabe onde estou. - Tae respirou fundo. - Eu não
vou mais proteger ninguém que nunca tentou fazer o mesmo por mim. Não
quero mais nada de vocês. - ele tirou da carteira o único cartão de crédito
que ainda possuía, aquele que limitava seus gastos como um castigo. - Pode
me deserdar, pode me apagar das fotografias, me apagar dessa família. Eu
não faço questão alguma de fazer parte disso... Sequer amo vocês e isso não
me faz um vilão, só me faz de verdade. Omma, eu sou feliz pra caralho,
sabe? Tenho irmãos agora, tenho pessoas que cuidam de mim de verdade,
que me ensinaram a ser um homem melhor, um homem que eu nunca me
tornaria embaixo das suas asas. A senhora nunca quis me proteger, a senhora
só me queria perto o suficiente para calar a minha boca. - ele se afastou um
pouco. - Conte a verdade! Naquele dia me disse que Taewoo não era mau,
mas você fez de mim o menino mau! Appa, de alguma forma, por sua causa,
eu sinto muito.

Taehyung virou as costas.

— Taehyung! Taehyung não vai embora! Taehyung você não pode contar...
Ele é seu irmão!

— Não. - ele disse um pouco alto. - Ele é um monstro que a senhora alimenta
constantemente, um monstro que a senhora deixou se alimentar de mim... Mas
eu sou venenoso, omma. Mesmo que demore, ele vai morrer quando o meu
veneno começar a fazer efeito.

Ele não respondeu aos chamados da mulher, sequer olhou para trás ao ouvir
os gritos do pai que exigiam respostas.

Taehyung contou os segundos naquele elevador, a agonia da falta de


sensações era sufocante demais, então ele passou a beliscar a pele tatuada e
cicatrizada dos pulsos. Não olhou para os lados, não se importou com a
moto que quase o atropelou ao atravessar a rua. Quando entrou no carro, no
banco de trás, teve dois pares de olhos preocupados sobre si.
— Me tira daqui por favor, me leva pra casa. Pra nossa casa.

Yoongi ligou o carro e saiu sem dizer uma palavra.

Hoseok não parou de observá-lo pelo retrovisor, preocupado, mas


respeitoso com o silêncio dele.

Atravessaram a cidade depressa graças ao horário sem engarrafamentos. Tae


nem esperou que o carro fosse estacionado na garagem, saltou e entrou em
casa com pressa.

— Acha que alguma coisa deu errado, Yoon?

— Não acho. Ele não mudou de ideia, mas está sem sentir, Seok. Vem,
vamos cuidar do nosso Tae.

Então, eles cuidaram.

O acharam no banho, nu sob o jato de água fria enquanto as mãos se


apoiaram contra o azulejo e os ombros tremiam pelo frio. Taehyung não
disse uma palavra, o punho fechado começou a esmurrar a parede, então
Yoongi soube que deveria agir.

— Vem amor, você está se machucando.

— Não consigo sentir... Só raiva. - sussurrou enquanto o namorado o


embrulhava em um roupão quentinho. - Não consigo sentir... Yoongi... Me
ajuda?

— Sempre. - assentiu o beijando no queixo. - Vem, Jimin tem algo para te


mostrar.

Yoongi o ajudou a se vestir, lhe penteou os cabelos para trás e até calçou
meias quentes nos pés grandes. Quando foi abraçado pela cintura, sorriu um
pouco.

— Eu tenho medo disso, tenho medo disso me consumir. - ele estava sentado
a beira do colchão.
— Não vai. A gente nunca vai deixar isso acontecer. - o beijou na testa.
Estava de pé entre as pernas de Tae. - Porque vamos te fazer sentir todas as
coisas boas possíveis do mundo, amor. Todo dia. Amor, paixão, felicidade,
prazer, alegria... Nós vamos transformar essa raiva toda em amor. No nosso
caminho de cerejas, durante as nossas conversas de travesseiro.

— Eu te amo tanto. - escondeu o rosto contra a barriga dele. - Eu amo você e


Hoseok mais do que eu acho que seja capaz de explicar, eu não sei se
mereço ser feliz desse jeito, se mereço que vocês dois lutem por mim.

— Nós estamos lutando do seu lado. Nós somos bons juntos, Tae. - a voz de
Hobi o alcançou. Ele estava de pé na porta do quarto, segurava nas mãos um
Holly muito comportado. - Como é que o Sol e Lua podem existir sem o céu
inteiro pra percorrer, ein? Como é que a gente vai viver sem você?

— Vem aqui, Hobi. Por favor, me abraça também. Por favor?

Hoseok sorriu, então deixando Holly sobre a cama depois de subir de


joelhos para abraçá-lo por trás com carinho, escondendo-se todo nas costas
largas de Taehyung.

Segundos depois, dentro daquele abraço caloroso, Tae começou a chorar.

Chorar escondendo o rosto nas roupas de Yoongi, sentindo os beijos


carinhosos de Hoseok em sua nuca.

Ali era o seu lar. Sua casa.

Chorou por minutos, chorou até não ter mais lágrimas para gastar.

Os outros dois continuaram em silêncio. O melhor silêncio do mundo.

— Ele demora demais!

— Jimin-hyung não pode ficar subindo as escadas com a perna assim!

— Jungkook eu estou bem! Me coloca no chão!

— Não vou colocar! O hyung é teimoso demais!


— Crianças, parem de brigar.

— Jin-hyung está realmente paternal, fica ainda mais bonito assim.

— Está latindo a essa hora, Moni?

Os quatro entraram no quarto enfileirados, exceto por Jimin que vinha


carregado por Jungkook. Tae secou os olhos e os encarou.

— Tudo bem, hyung?

— Ele está bem Jungoo, conte a ele a novidade. - Hobi afagou os cabelos do
namorado.

— Ah, olha isso! - Jimin desceu do colo de Jungkook com pressa e mancou
até o melhor amigo. - Eu consegui mais pessoas, Tae.

— Mais? - pegou o celular de Jimin.

— É! Mais de cem pessoas! Eu te disse, nós vamos fazer barulho! Muito


barulho!

Tae sorriu um pouco, então assentindo voltou a chorar agarrando o corpo de


Jimin que caiu sentado sobre sua perna.

— Hey, o que você tem? O que foi, ein?

— Vem gente, vamos deixar eles dois conversarem.

— Enquanto isso a gente pode organizar como vai sair tudo, goste da ideia
do Namjoon de usar as cores das bandeiras.

Hoseok os expulsou do quarto, deixou Tae e Jimin sozinhos.

Dias Depois.

— Prontinho!
Seokjin sorriu satisfeito depois de afastar o pincel do rosto de Taehyung.

As cores estavam vivas sobre a pele da bochecha dele, as listras em


sequência que simbolizavam mais do que outras pessoas poderiam
compreender.

— Obrigado hyung.

— Garoto, preciso te dizer. - Jin colocou o pincel sobre a bancada do


banheiro e se virou para ele. - Quando você chegou aqui eu logo pensei:
aish, esse vai me dar trabalho. - sorriu. - Mas não pensei de uma forma
negativa, por mais que suas brigas com Hoseok me colocassem doido,
sempre vi tanta coisa boa em você Tae. E agora, diante do que você quer
fazer, me sinto orgulhoso demais... Você é forte, Taehyung. Hyung está feliz
por estar ao seu lado, por lutar junto de você por nós, todos nós.

— Se eu disser que não estou um pouco apavorado, seria mentira. Eu estou.


Mas também estou fazendo a coisa certa, hyung.

— Sim, você está. Andei pensando depois de te ver correr com isso todos
esses dias, você tem um dom que ainda não descobriu.

— Tenho? Qual?

— Não vou contar, quero que você descubra isso sozinho. - ele beijou a testa
de Taehyung. - Vamos tentar fazer dessa cidade e talvez desse país um lugar
melhor para as pessoas como nós, eu vou lutar por mim, por nós e pelo
futuro da minha filha... Quero que Yumi cresça em um mundo onde o amor
seja livre, Tae. Então, no futuro, quando ela entender o que estamos fazendo,
ela vai se orgulhar.

— Obrigado por fazer isso comigo, hyung.

Seokjin sorriu o puxando para um abraço apertado.

— Agora vamos ver se Namjoon conseguiu buscar as faixas, já estamos


atrasados.
Horas depois, reunidos com mais de uma centena de pessoas, os sete
distribuíram bandeiras e objetos barulhentos o suficiente para atrair a
atenção de uma cidade inteira. Estavam fora do campus da universidade,
reunidos em um velho estacionamento vertical perto do centro de
convenções onde aconteceria o comício do partido conservador, de Kim
Sanghun, o candidato favorito da extrema direita para o senado.

— Acho que você pode dizer alguma coisa, Tae.

— Eu? Dizer o que, Namjoon-hyung?

— Motivar as pessoas, elas sabem que você é filho de quem é, mas as suas
palavras podem motivar mais. Olha ao redor, você consegue perceber?

Taehyung olhou ao redor lentamente. Viu Lalisa e Jisoo reunidas com outras
garotas carregando bandeiras do movimento LGBTQ+, depois viu os amigos
de Jimin: Taemin, Kai, Rosé e Hwasa. Bobby estava ali, no momento
provocava um Yoongi emburrado nos braços de Hoseok. Rostos conhecidos
e outros nem tanto, possuíam muito em comum... Principalmente o olhar
apreensivo.

— Acha que eles têm medo, hyung?

— Você não tem? - Namjoon sorriu um pouco. - Nesse país Tae, a gente tem
medo de ser livre porque desde muito cedo nos oprimem por todos os lados.
Não se preocupe, ninguém vai desistir, mas algumas palavras vão servir para
que as nossas vozes sejam mais altas e mais fortes.

— E se eu disser besteira?

— Você não vai dizer besteira, só... Abre o seu coração. Seja você mesmo.

Tae mordeu o lábio inferior e olhou ao redor outra vez, então caminhou até
Seokjin para pedir o megafone que ele segurava.

— Oi... Oi gente! Vocês podem me dar um minuto aqui?

— CALEM A BOCA!
— Obrigado Jin-hyung.

— De nada, aigo! - Jin piscou.

As pessoas, ainda risonhas por causa de Seokjin, pararam de falar para


escutar Taehyung.

— Acho que a maioria aqui me conhece, sou eu o organizador dessa


manifestação. Me chamo Kim Taehyung. Gostaria de agradecer a cada um de
vocês, agradecer que estejam dispostos a lutar por nossa liberdade, nossa
vida. - ele encarou Yoongi e Hoseok, eles ergueram os polegares o
incentivando. - Todos os dias pessoas LGBTQ+ sofrem violência em nossa
cidade, muitas saem de casa e nunca mais voltam. Vidas são tiradas e o
único motivo é a intolerância daqueles sem capacidade de respeitar a nossa
existência. Nós não somos criminosos, não somos demônios como muitos
dizem, não somos monstros... Somos pessoas. Não há nada de errado em
mim, em vocês... A nossa vida tem o mesmo valor que a vida daqueles que
estão ali dentro nos apagando da sociedade, falando sobre nós com desprezo
e vergonha. Não sinta vergonha do que você é, muito menos do amor que
você sente! Eu vou brigar contra quem for por nossas vidas, vou lutar por
nós e provar ao mundo que eles estão errados! HOJE NÓS VAMOS
COMEÇAR UMA REVOLUÇÃO NESSA CIDADE, NÓS VAMOS DIZER
A ELES QUE EXISTIMOS E NUNCA MAIS VAMOS DEIXAR QUE NOS
APAGUEM!

Os gritos que vieram o fizeram sorrir. Hoseok assoviou, orgulhoso e


segurando as lágrimas enquanto Yoongi abraçava ao namorado mais novo,
sussurrando quantas vezes podia dizer que o amava.

— Falou bem. Sabia que ele ia conseguir. - Namjoon sorriu.

— Você também notou o quanto ele é bom nisso, não foi? - Seokjin, ao lado
dele, parou de bater palmas.

— Notei durante as sessões em grupo da terapia. Mas ele ainda não


percebeu.
— Não vai demorar. Acho que teremos Taehyung nos representando muito
além, Jonnie. E eu me sinto seguro com isso.

— Nós temos um problema, senhor.

— O que?

— Um problema, lá fora.

— Problema? Que tipo de problema? - Taewoo estava irritado. - Mas que


droga, onde está o meu appa? Ele não pode se atrasar.

— É melhor que o senhor veja, me acompanhe.

O segurança o guiou pelos corredores dos bastidores do centro de


convenções. Taewoo conferiu outra vez o horário no relógio caro preso ao
pulso e bufou. Odiava quando as coisas não saiam como o planejado.

— Veja, senhor. Eles chegaram há pouco, mas já conseguiram interditar a


entrada para o estacionamento.

Taewoo franziu o cenho depois de olhar através da janela grande. Haviam


pessoas demais nas portas do centro, pessoas usando camisetas coloridas,
carregando bandeiras e faixas, fazendo um barulho infernal com objetos que
ele sequer conhecia.

— Mas que porra é essa?!

— Um dos seguranças que estão lá embaixo disse que se trata de uma


manifestação... Do movimento gay, senhor.

— O QUE?! - ele se aproximou ainda mais da janela, estreitando o olhar


para aqueles que estavam à frente da manifestação. - Só pode ser piada, eu
não posso acreditar que esse... ONDE ESTÁ O INÚTIL DO TAESEOK?

— Quer que eu o procure, senhor?


— NÃO! EU QUERO QUE VOCÊ FIQUE PARADO NA MINHA FRENTE
FAZENDO ABSOLUTAMENTE NADA ENQUANTO ESSE BANDO DE
ABERRAÇÃO FODE O EVENTO DO PARTIDO. VAI LOGO!
IMPRESTÁVEL!

O segurança se apressou, saindo e deixando-o sozinho.

— Ah Taehyung, você pediu por isso... - murmurou sacando o celular. -


Retardado do caralho, eu vou foder o seu namoradinho filho da puta... Alô?
Escute bem o que eu vou dizer Yoseob, tem exatamente vinte minutos para
tirar o desgraçado do seu filho dessa merda de manifestação e mandá-lo para
o outro lado do país, entendeu? Faça a porra da sua parte do acordo!

Ele desligou ao mesmo tempo em que Chaewon se aproximava, ela olhava


ao redor e parecia nervosa.

— Chegaram, cadê o appa? Ele já viu a merda que Taehyung está fazendo lá
fora? - apontou para a janela.

— O seu pai... Ele não vem, Taewoo.

— O que?!

— Ele não vem. - repetiu seriamente.

— Do que está falando? Como assim não vem? Ele precisa subir ao palco
daqui há meia hora, o subsecretário acabou de chegar e o presidente do
partido já perguntou por ele duas vezes, omma.

— Ele sabe do que aconteceu, do que você fez a Taehyung.

Taewoo franziu as sobrancelhas, ficou confuso por alguns segundos antes de


respirar profundamente. Chaewon o viu caminhar até a janela, a mão direita
espalmou o vidro enquanto a esquerda apertava o celular entre os dedos
fortes.

Então, ele começou a rir.

Gargalhou gostosamente.
Gargalhou feito um louco.

— Ele vai desistir da eleição, vai dizer que está com problema de saúde.

— Espere... - ele se virou para mãe, os olhos bonitos estavam cheios de


lágrimas graças ao riso. - Está me dizendo que todo o meu trabalho foi para
o lixo porque Taehyung contou a ele sobre algo que aconteceu há anos? Todo
o meu esforço desde o momento em que tive de comer a filha horrorosa do
vice-presidente do partido para que o inútil do seu marido tivesse a
oportunidade de fazer alguma coisa além de ser um herdeiro burro sem
ambições?

— Não fale assim de seu pai...

— Cale essa boca mulher! Você participou tanto disso quanto eu! Você me
disse que a garota era louca por mim! Sempre quis ser a primeira dama da
cidade, sempre quis estampar as revistas e posar de esposa e mãe perfeita
enquanto appa fodia as empregadas e você enchia a cara de botox. EU
PERDI ANOS NESSA MERDA TENTANDO FAZER ESSA FAMÍLIA SER
RECONHECIDA! E ELE... - apontou para fora da janela. - ESTRAGOU
TUDO, ESTÁ ESTRAGANDO TUDO! Me escute, volte até aquela porra de
hotel e traga o imprestável do seu marido até aqui, eu quero se foda o
caralho da culpa atrasada dele, que se foda você... MAS EU NÃO VOU
DEIXAR TODO O MEU TRABALHO IR PARA O LIXO, entendeu?

— Taewoo, ele não virá.

— VÁ BUSCÁ-LO. - gritou a assustando, a mão grande agarrando parte do o


cabelo preso em um coque elaborado. - AGORA! E NÃO VOLTE AQUI
SEM ELE, VACA!

Taewoo a empurrou com força, pouco se importando quando Chaewon caiu


no chão.

— Vou cuidar de Taehyung. - ele sussurrou.


As centenas de vozes se misturavam ao som interruptivo dos objetos de
sopro que muitos tinham em mãos. Taehyung estava a frente, gritava
incentivos e puxava gritos que exigiam direitos, respeito e aceitação. Ele se
sentia forte.

— Os seguranças estão ameaçando agredir a gente! - Jungkook avisou,


parecia nervoso. - Quase acertaram o Jimin.

— Dei com a muleta na cabeça de um deles!

— Jimin é melhor você voltar, ficar na parte de trás. - eles tinham de falar
alto.

— Nem fodendo! Vou ficar aqui! Ainda tenho uma perna inteira.

— E a polícia não pode chegar antes da mídia, a gente precisa que o Tae fale
com o maior número de emissoras possíveis, isso é importante ou não vai
adiantar nada.

— Você tem certeza que quer fazer isso, amor? Quer falar?

— Tenho. - ele assentiu e Hoseok sorriu orgulhoso. - Cortar os laços era


pouco Hobi, eu preciso expor tudo.

— O que é isso? - Jimin olhou ao redor. - Droga, bomba de efeito moral! Já


porra? Não sabem brincar!

Logo uma fumaça branca começou a subir do chão, fazendo-os tossir,


embaçando a visão desde que os olhos ardiam.

— SE AFASTEM DA FUMAÇA, NÃO RESPIREM ELA! - a voz de Jimin


já estava distante.

Taehyung começou a tossir, teve de soltar a mão de Yoongi para cobrir a


boca com a camisa, puxando-a para cima. Então, Hoseok não estava mais ao
seu lado. Ele fez o que Jimin havia mandado, se afastou da fumaça, foi em
direção ao lado esquerdo da rua, voltando para o estacionamento vertical
abandonado.
Algumas pessoas estavam ali também, elas tossiam e compartilhavam
garrafas de água. Chegou a dar um passo em direção a elas, pediria um
pouco de água, mas alguém o segurou pelo braço com muita força
arrastando-o em direção ao prédio desativado há anos.

— Cala a boca e vem comigo, sem escândalo. - Taewoo falou próximo ao


seu ouvido.

O estômago de Taehyung revirou no mesmo instante, sentia tanto nojo que


faltou pouco para vomitar ali mesmo, para se curvar e vomitar aos pés do
irmão mais velho.

— Me larga! - se debateu.

— Quieto. Tem dois homens que trabalham pra mim com o seu namoradinho
doente, basta um sinal meu e aquele baixinho atrevido vai comer capim pela
raiz.

— Isso é mentira!

— Quer apostar? Quer mesmo brincar com a minha paciência depois dessa
merda toda que você fez, Taetae? Vem logo e cala a boca!

— Aqui, bebe um pouco, amor. Isso vai passar.

— O Jin-hyung! - Jungkook apontou. - Tudo bem?

— Tudo, eu estava ajudando Jisoo. Lalisa achou melhor levá-la até um


pronto socorro.

— Não foi a polícia quem fez isso, eles chegaram agora. - Jimin apontou. -
Alguém lá dentro mandou os seguranças dissiparem a gente.

— Cadê o Taehyung? - Hoseok, ainda tossindo, perguntou.

— Ele não estava com vocês?


— Ele soltou a minha mão quando a confusão começou... - Yoongi olhou ao
redor. - Hobi... Cadê ele?

— Vamos nos separar... - todos olharam para Jimin, ele rolou os olhos. - Ok,
vocês vão se separar para procurar. Eu fico aqui pra caso ele volte. Vão
logo!

— Ok.

— Você não tem ideia do quanto eu estou puto contigo! Que merda você acha
que está fazendo com esse bando de aberração aqui?!

— Aberração é você! Me solta!

Taewoo o soltou. Eles estavam no sexto andar do estacionamento, o vento do


fim de tarde entrava por todos os lados desde que não havia nada além das
grades baixas de proteção ao redor do andar inteiro.

— Eu vou acabar com você retardado, vou acabar com o seu namorinho de
merda e te mostrar o que acontece quando alguém me desafia desse jeito!

— Você é doente Taewoo, é um monstro! E eu não tenho mais medo de você,


não sou aquele adolescente que você ameaçava e-

— O adolescente que adorou fazer o irmão mais velho se sentir bem?

— Cala a porra dessa boca! Você me obrigou! Sabe disso! Não adianta
tentar me fazer pensar diferente! Eu nunca mais vou me culpar por sua causa!
Por causa do que você fez comigo!

— VOCÊ PEDIU POR AQUILO! VOCÊ SEMPRE GOSTOU DA MINHA


ATENÇÃO!

— EU VOU FERRAR VOCÊ TAEWOO! VOU DIZER PRA TODO


MUNDO QUE VOCÊ FEZ E O QUE VOCÊ É! VOU CONTAR PRO
MUNDO INTEIRO O MONSTRO QUE EXISTE DENTRO DE VOCÊ!
— VAI DESTRUIR A NOSSA FAMÍLIA!

— NÃO! ISSO NÃO VAI DESTRUIR A NOSSA FAMÍLIA, VOCÊ JÁ FEZ


ISSO! EU NÃO VOU CARREGAR MAIS NENHUMA CULPA POR
CAUSA DE VOCÊS! EU VOU SALVAR MILHARES DE FAMÍLIA
QUANDO EXPOR A VERDADE SOBRE O QUÃO PODRE NÓS SOMOS!

— EU DEVERIA TER ME LIVRADO DE VOCÊ ANTES, DEVERIA TER


CALADO A SUA BOCA PRA SEMPRE DEPOIS DE A INÚTIL
DESCOBRIR TUDO.

— VOCÊ NUNCA MAIS VAI ME CALAR

— Vamos ver se não, Taehyung.

Ele avançou, mas Taehyung não era mais o adolescente de antes, era um
homem forte que sabia muito bem se defender. Ele não fugiu ou quis fugir.
Escapou do primeiro soco e gritou enquanto agarrava Taewoo pela cintura,
empurrando para longe. O mais velho lhe acertou uma cotovelada no meio
das costas, então ele gemeu de dor.

Um soco doloroso lhe acertou o queixo, depois um chute o fez perder o ar.

— TAE! LARGA ELE!

A voz de Yoongi estava perto. Tae piscou cuspindo sangue e viu o namorado
acertar um chute no peito de Taewoo.

— Amor, hey... Olha pra mim, respira devagar... Respira devagar. A gente te
achou, estamos aqui. A polícia está vindo. - Hoseok o ajudou a ficar de pé,
estava tentando não tremer de tanta raiva. - Vamos acabar com isso.

— Tem certeza que é aqui? - Syuk questionou depois de descer do carro.

— O segurança disse que ele estaria aqui. Hoseok não me atende. - ele bufou
enquanto desistia outra vez de fazer a ligação.
Os dois vieram depois da ligação confusa de Taewoo. O Jung estava
desesperado com a possibilidade de qualquer coisa acontecer a Hoseok,
nunca se perdoaria. Outra vez.

— Não tem nenhum carro aqui, Yo. Nada eu acho que a gente 'tá no lugar
errado-

Então, ouviram um baque oco. O som de algo pesado atingindo em cheio o


concreto em frente ao carro. Ambos arregalaram os olhos, o coração batendo
na garganta enquanto se aproximavam para ver o que havia caído.

Uma poça de sangue começou a brotar sob o corpo, pintando o asfalto gasto
de vermelho, bem na região onde a cabeça havia sido esmagada contra o
chão.

Os olhos bonitos encaravam o céu.

Mortos.

Yoseob cobriu a boca com a mão esquerda e depois olhou para o alto, olhou
a tempo de ver uma pessoa se afastar da beirada do sexto andar.

Diante dele, Kim Taewoo estava morto.

#PillowFic
43 - boêmia rapsódia

Porque eu venho fácil, vou fácil


Um pouco elevado, pouco baixo
De qualquer maneira, o vento sopra
Isso realmente não importa para mim
Para mim
Bohemian Rhapsody - Queen

Em diversos momentos de sua vida, antes do relacionamento com Taehyung e


Yoongi, Hoseok acreditou que sua existência não possuía propósito relevante
o suficiente, mas não poderia dizer que buscava essa relevância, desde que
criava personagens para cada âmbito da própria vida.

Antes, Hobi era um conjunto de roteiros confusos e incoerentes, mas agora


ele era real.

E a realidade cobrava muito mais que a ficção, cobrava dele como um


homem adulto capaz de lidar com situações que não lhe eram familiares, mas
quando impostas diante de si, não oferecia muitas alternativas e as que eram
oferecidas, nem sempre pareciam certas.

— Consegue ficar de pé? - Yoongi perguntou enquanto abraçava os quadris


de Taehyung, ajudando-o a levantar.

— Consigo, eu tô bem. - ele murmurou antes de cuspir sangue para a direita.

— A gente vai sair daqui?

Hoseok fez a pergunta de ouro. Os três trocaram um olhar demorado e


silencioso, conversando daquela forma por puro receio de que as colunas
gastas daquele andar pudessem ouvir demais.

— Ele 'tá morto? - Tae quis saber, havia um nó na garganta, mas não por
Taewoo. Nunca seria por ele.
O outro assentiu.

Tae suspirou quase aliviado. Quase porque sabia das consequências que
viriam quando saíssem daquele estacionamento, quando encaravam tudo
além da construção velha e abandonada. Ele segurou a mão de Yoongi,
depois a de Hoseok e as beijou sem pressa.

— Eu vou dizer que fui eu. - ele sussurrou.

— Mas não foi você, Tae. - Hoseok lambeu os lábios.

— Não foi você. - Yoongi repetiu apertando a mão do namorado mais alto.

— Eu digo que foi legítima defesa, ele me bateu. - apontou para o corte
pequeno no lábio inferior. - Que estávamos brigando e eu o empurrei sem
querer.

— Ainda assim... - o menor entre eles negou mordendo o lábio inferior. -


Não foi você, não 'tá certo, vão te prender! Vou dizer que fui eu!

— Não! Não vai! Vou dizer que fui eu! - Hoseok teimou.

Taehyung rolou os olhos, depois respirou fundo.

— A gente não vai chegar a lugar algum desse jeito! Eu tenho os motivos,
esqueceram?! Ele me agarrou na rua, tinham pessoas vendo! A gente brigou!
Se eu disser que foi legítima defesa é mais provável de tudo ser mais fácil.

— Mas Taehyung, a gente-

Ouviram passos apressados vindo das escadas, logo ficaram mais juntos, um
deles chegou a tomar a frente, pronto para aquilo desde que sabia quem
estava subindo. Ele não se arrependia.

— Oh, os três estão aqui! - Yoseob estava nervoso, suava graças a pressa de
subir as escadas. Atrás dele, Syuk não parecia diferente. - O que aconteceu?

— O que o seu appa 'tá fazendo aqui, Hobi? - Tae franziu as sobrancelhas.
— Taewoo me ligou, ele disse que vocês estavam fazendo confusão no
comício, me ameaçou para tirar Hoseok disso. - o Jung respondeu se
aproximando. - Você está bem, garoto?

Tae assentiu de forma confusa. Desde quando aquele homem era tão gentil?

Syuk caminhou até a beirada do andar para observar. O carro estava


estacionado no mesmo lugar, algumas pessoas já se amontoavam ao redor do
corpo de Taewoo, todas usavam o celular para alguma coisa.

— Já devem ter chamado a polícia ou o socorro, Yo. - informou.

— Vocês precisam sair daqui agora!

— O que? - Hoseok o encarou nos olhos. - Appa...

— Um flagrante nesses casos pode ser pior, vocês vão sair pelo fundo do
estacionamento e depois vão se apresentar a uma delegacia junto com Syuk
para explicar o que aconteceu.

— Nós não vamos fazer isso! - Yoongi bateu o pé. - Vai ser pior! Se
ficarmos aqui pra explicar vão entender que a gente não 'tá fugindo de nada!

— O garoto tem razão, Yo. - Syuk se aproximou. Hoseok o encarava com


estranheza, queria entender a razão de ele estar andando com o seu pai. - De
qualquer forma, a polícia já chegou.

Os olhos de Taehyung se arregalaram, ele segurou com mais força as mãos


de Hoseok e Yoongi.

— Olhem para mim. - mandou com pressa. - A gente vai dizer que fui eu, ok?
Que estávamos brigando e eu o empurrei-

— Taehyung, não foi você. - Yoseob disse com seriedade, seus olhos logo
encararam o verdadeiro culpado. - Digam que foi um acidente. Durante a
briga, um acidente aconteceu e ele caiu.

— Por que o senhor está tentando nos proteger? - Hoseok questionou


diretamente ao pai. - Vai negar que estava ajudando Taewoo a nos
prejudicar? A separar a gente? Vai negar isso?

— Hobi, por favor, não faça isso agora, a polícia está subindo. - o homem
pediu num lamento. - Nós conversamos depois.

— Não! O senhor tem culpa nisso também! Não adianta querer dar uma de
bonzinho agora porque-

— MÃOS PARA O ALTO, AGORA! TODOS VOCÊS!

A voz grossa ecoou por todo o andar, assustando-os enquanto quatro


policiais invadiam o local, cercando-os com as armas apontadas para eles.
Yoongi teve de soltar Taehyung com pressa.

— Hey, hey! Calma! Não há necessidade de nada disso! Ninguém aqui está
resistindo.

— Erga as suas mãos agora! É uma ordem!

— Ordem? - Syuk pareceu indignado. - O senhor está agindo de forma


desnecessária! Sou Bang Syuk! Conhece o meu nome, senhor?

O policial que comandava a ação refletiu por um tempo antes de abaixar a


arma e ordenar que os outros fizessem o mesmo. Estava claramente irritado
com a carteirada recebida, mas não se deixaria abalar.

— O que aconteceu aqui?

Taehyung, Yoongi e Hoseok trocaram um olhar breve.

— Um acidente. - responderam em uníssono.

O policial os encarou com desconfiança.

— Para a delegacia. Todos vocês. Até o senhor, procurador Bang-ssi.

Ele gesticulou impaciente.


Flash Back On

— Feliz Natal, Solzinho!

Hoseok riu enquanto recebia beijos demorados por todo o rosto sonolento.
Ele ainda estava em sua cama com formato de carro de corrida, vestido em
um pijama de listras azuis e brancas.

— Feliz Natal, omma. - a voz sonolenta desejou. - Feliz Natal, noona.

— Feliz Natal, irmãozinho. - Jiwoo o beijou na testa rapidamente. - Vem,


vamos abrir os presentes! Tem um montão!

A pré-adolescente saltou da cama com pressa, correndo porta afora enquanto


os longos cabelos castanhos embaraçados se sacudiam sem parar. Hobi
bocejou, a mão direita coçava um dos olhos inchados de tanto dormir. Dahye
sorriu.

— Você não quer abrir os presentes? O Papai Noel foi bem generoso esse
ano.

— Será que ele me trouxe tudo o que escrevi na carta? Tudinho?

A mulher franziu as sobrancelhas, desconfiava do presente que o filho mais


queria.

— Hobi, sabe que tem presentes para meninos e presentes para meninas, não
sabe?

— Sei. - ele encolheu os ombros. - Mas eu ainda sou criança, omma.

— Você é um menino. Um rapazinho. Dawon que tem de pedir presentes


assim.

— Ela não gosta que a chame assim, ela gosta de Jiwoo. Porque é um nome
para menino e pra menina. - corrigiu com orgulho. Ele fazia questão de
repetir a explicação da irmã mais velha o tempo todo.
— Dawon só ensina bobagens pra você, não invente de dizer isso na frente
do seu appa, sabe muito bem que ele não gosta! Ao invés de repetir essas
coisas bobas deveria se dedicar mais a escola e sua catequese! Coisas que
realmente são importantes para o seu futuro.

Hoseok se encolheu mais, as mãos pequenas apertaram o pijama enquanto


ele assentiu para a mãe.

— Agora desça para abrir os presentes, ok? Depois vamos tomar café e mais
tarde almoçar com o reverendo, na igreja.

Ele obedeceu. Desceu junto da mãe, segurando a mão dela. Aos oito anos,
Hoseok vivia uma fase cheia de indagações que raramente eram respondidas
ou explicadas. Dahye não era uma má mãe, entretanto possuía uma
personalidade exigente e tão tradicional que por muitas vezes infligiu aos
filhos regras que os faziam coagidos.

Seja o melhor! O tempo todo, seja o melhor!

E ele tentava.

Deus sabe, Hoseok tentava o tempo inteiro mesmo que fosse difícil.

— Você dorme muito Hoseok, deveria acordar mais cedo mesmo que esteja
de férias. Um hábito saudável que deve aprender.

Então, havia Yoseob.

Um homem sério e respeitado por sua família. Pai presente, marido exemplar
para todos aqueles que viam a cena de fora como espectadores de um roteiro
domiciliar perfeito.

Os Jung são o que toda família quer ser.

E foi aos oito anos que essa perfeição se prendeu ao redor do pescoço de
Hoseok como uma corda grosseira e pesada, quando começou a sufocá-lo.

— Yoongi! - Hobi não deu atenção ao pai, correu descendo os últimos


degraus da escada enquanto Yoongi corria para abraçá-lo também. - Feliz
Natal Yoongi!

— Feliz Natal Seok-ah! - Yoongi sorria, as gengivas rosadas se mostravam


junto dos dentes pequenos aos quais alguns faltavam e cresciam lentamente.
Ele vestia um suéter vermelho, jeans claros e ténis brancos. - Eu vou te dar
um presente!

— Ah. Vai? - Hobi fez um bico.

— O que foi?

— Eu não tenho um presente pra você, não. - deu de ombros. - Mas eu posso
te dar um dos meus, não posso omma?! - ele encarou a mãe.

— Sim, querido. Pode. - Dahye sorria. - Hyeri-ah, aceita um pouco de chá?

— Ah, obrigado. Eu não queria vir tão cedo, mas Yoongi não ficava quieto,
acordou ansioso para presentear o Hobi.

— Está tudo bem, eles são muito amigos. É tão fofo!

Yoseob, sentado em sua poltrona, apenas acenou brevemente para Min


Hyeri, então voltou sua atenção para o jornal que tinha nas mãos. Jiwoo
estava muito ocupada com os seus presentes, testando as canetas coloridas
em uma das telas de pintura para crianças enquanto mantinha o novo celular
sobre o colo.

Yoongi e Hoseok sentaram perto da grande árvore de natal, dobrando as


pernas como índios, um de frente para o outro, abriam os presentes do mais
alto com pressa. Rasgavam os papéis coloridos, mostravam euforia para
cada brinquedo novo e prometiam brincar durante todo o recesso escolar
com cada um deles.

— Você ganhou muito presente, Yoon?

— Ganhei! O meu appa me deu um violão!

— Violão?! - Hobi abriu os olhos de surpresa.


— É! Eu vou aprender a tocar, então você canta, tá bom?

— Mas eu não canto direito.

— Ué, você canta tão bonito na igreja, Seok-ah! Eu gosto de ir pra igreja
quando você canta.

— Deveria gostar de ir para igreja por que é necessário, Yoongi-ah. -


Yoseob os fez se encolher um pouco. Yoongi fez um bico, aquele tio sempre
o repreendia. - Não por causa de cantorias.

— Appa, como faço para colocar jogos no celular? - Jiwoo intercedeu,


tomou a atenção do pai. Ela não queria que os menores ficassem tristes no
natal.

— Jogos para a sua idade!

— Cadê o meu presente, Yoon?!

— Tá lá na minha casa, vamos buscar!

— Estou de pijamas!

— Não tem problema! Se você ficar com frio eu te abraço, 'tá bom?

Hoseok assentiu. Yoongi, já de pé, estendeu a mão para o melhor amigo.


Logo os dois garotinhos atravessaram o quintal da casa dos Jung, depois a
calçada coberta por uma fina camada de neve e logo estavam dentro da
quase mansão onde Yoongi vivia com a mãe, a irmã mais velha e o padrasto.

Aquela árvore de natal sempre encheria os olhos de Hoseok. Tinha mais de


dois metros de altura, tomava boa parte do hall entre as escadas em caracol
e possuía tantos galhos e tantos enfeites que ele sentia vontade de tocar cada
um deles.

Yoongi parecia mais ocupado em procurar entre os diversos presentes,


empurrando para os lados aqueles que não lhe interessavam.
— Achei! - ele comemorou. Hobi bateu palmas, estava animado. Segurou
entre as mãos o embrulho estampado com pequenos foguetes de todas as
cores.

— Pode rasgar?

— Pode sim! Vamos rasgar juntos!

Os dois sentaram sobre o carpete aquecido, logo rasgaram o papel entre os


dedos afoitos. Quando Hobi viu o conteúdo, seus olhos brilharam. Ele
encarou o melhor amigo e depois o presente.

— Yoon!

— Você gostou?! Eu pedi ajuda para a minha noona, ela me levou naquela
loja onde a gente viu, lembra? Quando você foi comigo naquele dentista, eu
fiquei com medo... E você segurou a minha mão. - Yoongi abaixou o rosto, as
bochechas ficaram coradas.

Hoseok desviou o olhar, também estava um pouco constrangido. Às vezes


essas coisas aconteciam entre eles, era vergonhoso.

— Eu gostei sim. - disse num bico. - Muito obrigado! Ela é linda.

O maior passou a mão pequena sobre o plástico da caixa, a boneca dentro


dela lhe sorria.

— Seok-ah, o seu appa vai brigar?

— Vai. - ele se entristeceu. - Vai me fazer dar pra minha noona. Ele disse
que boneca é brinquedo de menina.

— Minha omma disse que isso não existe, brinquedo é brinquedo. Olha,
deixa ela aqui... Cuido dela pra você, aí pode brincar quando vier brincar
comigo. Você quer?

— Vai cuidar dela pra mim? De verdade?


— Vou sim. Ela vai ser igual a mim, Seok-ah! - ele riu. - Quando eu vou pra
casa do meu appa, ele cuida de mim lá.

— Hm... Você vai ser o appa dela? - outra vez as bochechas estavam
coradas.

— É... E você é o outro appa, né?

Hoseok deu uma risadinha rápida, mas assentiu. Depois de abrir a caixa,
depois de ter nas mãos a boneca vestida de bailarina e com longos cabelos
loiros, ele sorriu grande. Yoongi abraçou as próprias pernas e apoiou o
queixo sobre um dos joelhos só para observá-lo.

A felicidade de seu melhor amigo o fazia sentir bem, aquecia seu coração.
Se pudesse o faria rir o tempo todo, até quando Yoseob o colocava de
castigo por coisas bobas. Yoongi não se importava de ficar de castigo se
pudesse fazer Hobi rir um pouquinho.

— Obrigado, Yoon! Foi o melhor presente!

Hobi se curvou um pouco para deixar um beijo sobre a bochecha fria de


Yoongi.

Os dois se olharam um pouco, bochechas coradas e corações batendo


depressa.

Então, o menor fez uma careta.

— Para com isso! - o empurrou sem muita força. - Fica me babando! Escolhe
logo um nome para... Nossa filha.

— Ah... Eu gosto de Shakira.

— Muito feio, troca.

Então, logo estavam discutindo sobre isso.

Flash Back Off


Estavam quietos.

Hoseok ainda segurava com força a mão de Yoongi.

Estavam sentados lado a lado, numa sala afastada da recepção da delegacia.


Yoseob continuava de pé, os braços cruzados e a expressão séria faziam
Hobi lembrar do quanto aquela postura o amedrontou por anos durante a
infância e adolescência. Ainda imaginava que a qualquer momento aquele
homem ia gritar, dizer coisas ruins, depreciar a existência imperfeita do filho
que não aceitava. Nunca aceitaria.

— Eu te amo. - o sussurro de Yoongi o fez desviar o olhar. O encarou de


pertinho, o rosto bonito e tão encantador. Foi inevitável tocar a pele macia,
fazer carinho sobre uma das bochechas.

— Eu não consigo lembrar de um momento da minha vida no qual eu não


tenha te amado, sabia? - devolveu depois de Yoon esfregar o nariz contra o
seu queixo.

Os dois se encararam em silêncio. Diziam tudo naquele contato, reforçaram


o pacto de que por Taehyung fariam qualquer coisa, não havia
arrependimentos, sequer remorso. Nada além do alívio.

— Eu faria de novo se fosse preciso. - um deles disse.

— Eu sei. Mas eu tenho medo do que isso pode te causar, tenho medo de que
algum dia... Você possa sentir culpa.

— Se eu sentir... Algum dia, qualquer dia... Vai me bastar olhar pro Tae, me
basta saber que toda aquela raiva dentro dele vai morrer um pouco mais
quando lembrar que aquele monstro 'tá morto.

— O que mais você é capaz de fazer por nós dois?

— Tudo. Em qualquer vida que eu viva. E se essa minha inconsequência,


alguma vez, me fizer morrer antes de vocês dois... Pode ter certeza que na
próxima vez, eu vou encontrar você e ele de novo. Sempre. Enquanto esse
mundo ainda existir.

Eles sorriram um para o outro. Não sabiam, mas Yoseob os olhava, os


escutava. E acima de tudo: os compreendia.

Taehyung saiu da sala de depoimentos quase uma hora depois. Havia dois
pequenos curativos em seu rosto cansado e abatido. Syuk estava ao lado
dele, tão cansado quanto.

— O que aconteceu? - Hoseok foi o primeiro a perguntar.

— Por enquanto... Vocês vão pra casa, descansar. Não podem sair da cidade,
entenderam? - eles assentiram. - Daqui três dias precisam se apresentar aqui
outra vez, haverá uma perícia na cena e também no corpo, parece que o seu
outro irmão já fez o reconhecimento e-

— ME SOLTE! NÃO TOQUE EM MIM! ONDE ELE ESTÁ?!

A voz estridente de Chaewon explodiu por toda a delegacia. Uma pequena


confusão se fez enquanto a mulher atravessava o corredor, os saltos fazendo
barulho a cada passo em direção a Taehyung.

Ele quase não a reconheceu.

O cabelo se desmanchava do penteado elaborado, as mechas pesadas de


laquê emolduravam o rosto lavado em lágrimas que borram a maquiagem,
escorriam como linhas pretas sobre as bochechas vermelhas.

Taehyung não se moveu.

— O QUE VOCÊ FEZ?! - ela gritou diante dele. - O QUE VOCÊ FEZ?!

— Senhora, por favor, não pode entrar aqui-

— NÃO ME TOQUE! - Chaewon se debateu para afastar as mãos de um dos


policiais. - TAEHYUNG O QUE VOCÊ FEZ?!

— Omma-
O tapa calou todas as vozes naquele lugar. Taehyung sentiu a face esquerda
arder, sentiu a lágrima queimar sobre a pele machucada quando encarou a
mãe outra vez. Chaewon estava descontrolada.

— O seu veneno fez efeito. - repetiu o que ele havia lhe dito dias antes. -
Você conseguiu o que sempre quis, não é? Você destruiu a nossa família!
Destruiu tudo!

Quando Chaewon ergueu a mão outra vez estava pronta para acertar um
segundo tapa no rosto de Taehyung, no mesmo lugar que o primeiro. Ele
fechou os olhos, não reagiria. Mas o tapa nunca aconteceu, uma mão grande e
pálida segurou o pulso dela, segurou com força moderada para evitar
machucá-la, mas não deixou que se movesse um centímetro sequer.

— Não. Não vai encostar um dedo nele de novo.

A voz estava calma, baixa e contida.

— ME SOLTE! QUEM PENSA QUE É?! EU SOU A MÃE! A MÃE DO


HOMEM QUE ELE MAT-

— Eu sou o homem dele. Sou quem o protege, quem cuida dele... Muito
melhor do que essa suposta família que a senhora o acusa de destruir. Uma
família que nunca o defendeu, nunca o cuidou! Uma família que deixava que
Taehyung fosse assassinado um pouco mais a cada dia... Então, não ache que
pode vir até aqui fazer um escândalo desses e agredi-lo, Chaewon-ssi. As
coisas chegaram a isso por sua culpa. Estapeie a si, grite para você mesmo.
Não pra ele. Nunca mais!

Yoongi soltou o pulso de Chaewon e sem que alguém notasse, já estava a


frente de Taehyung, protegendo-o.

Chaewon o encarou com raiva, mas mantendo o ar superior de sempre.


Recolhendo a mão, deu um passo para trás e desviou o olhar até o filho mais
novo.

— É isso que você encolheu, Taehyung? Isso no lugar de nós, sua família?
— Isso é a família dele. - Hoseok respondeu. - Isso é a felicidade dele. É a
paz que ele nunca teve, o amor que ele nunca recebeu, a segurança que a
senhora foi falha demais pra dar a ele. Não levante a sua mão pro Tae, nunca
mais. A senhora nunca chorou enquanto ele morria por dentro, nunca se
importou... Então vá chorar pra quem morreu de verdade. Chore por seu
filho querido, mas não questione o porquê da morte dele... Sabe muito bem
o motivo.

Ele segurou a mão de Taehyung com cuidado, trazendo-o para perto,


deixando que ele escondesse o rosto contra seu ombro.

— Quero ir pra casa, meu Sol. Me leva pra nossa casa? Por favor?

— Com licença, nós já fomos liberados.

Eles saíram da delegacia junto de Yoseob e Syuk que não disseram uma
palavra. Entretanto, na rua, um pouco antes de atravessarem até o carro do
advogado, Yoseob entrelaçou os dedos aos do antigo amor.

— Eu tenho orgulho do meu filho. Muito orgulho.

— Diga isso a ele depois. Agora vou levá-los pra casa.

Eles assentiram.

Em casa, assim que abriram a porta, foram recebidos com preocupação


pelos outros quatro. Jimin era o pior, chorou de soluçar ao abraçar
Taehyung. O fez jurar que estava bem, que não sentia muitas dores e que
nunca mais ia fazer algo do tipo.

— Aqui, esses analgésicos vão ajudar com as dores, Tae. - Namjoon


explicou depois de entregar ao mais novo um comprido e um copo de água. -
Acho que o banho também serviu.

— Bastante, obrigado hyung.


— Vocês quase mataram a gente do coração quando o Yoongi avisou o que
tinha acontecido. - Jin sentou ao lado do melhor amigo, logo o abraçando
com carinho. - Não sei se 'tô pronto pra levar marmita para presídio, aigo.

Todos riram um pouco, mas logo se deram conta da gravidade de toda a


situação.

— O que aconteceu naquele estacionamento, hyungs? - Jungkook, sentado


entre as pernas de um Hoseok sério demais, perguntou baixinho. - Foi um
acidente?

Os três envolvidos se encararam.

— Não. - Yoongi respondeu. - Não foi um acidente, pequeno.

— Eu presumi. - Jimin suspirou. - O que vai acontecer agora? Vocês


precisam de um advogado-

— O amigo do pai do Hoseok meio que 'tá cuidando disso. - Tae encarou
Hoseok.

— Por mim nós procurávamos outro. - disse sem demonstrar muita coisa.
Ele parecia cansado. - Não quero ajuda de ninguém ligado ao meu appa.

— O que ele estava fazendo lá? Foi atrás de você?

— Acho que sim. Não entendi muito bem. - deu de ombros.

— Vocês querem contar? - Namjoon perguntou o que os outros três


hesitavam perguntar. - Se não, é compreensível. Se sim, sabem que se for da
vontade de vocês... Ninguém vai saber.

Hoseok, Yoongi e Taehyung trocaram outra vez um olhar cúmplice.

A confiança entre eles transbordava para os outros quatro, era genuíno que
laços tão fortes pudessem existir entre todos, mas também era um alívio.

Um alívio serem sete. A vida havia os levado de formas muitas vezes


inacreditáveis, outras nem tanto. Do mais óbvio clichê até todo o drama que
provaram juntos, por vezes se tornavam um só.

— Fui eu. - o culpado respondeu sem medo. - Não foi um acidente, eu


empurrei Taewoo daquele lugar.

Depois disso, não houveram mais palavras. Entretanto, o silêncio não


significa julgamentos... Ele gritava compreensão.

E aquilo nunca sairia dali, daquela sala de estar. Nunca.

Flash Back On

Hoseok estava rindo.

A risada se misturava à música que vinha do aparelho de som sobre a


cômoda bonita. A porta não estava trancada, mas ele se atenta ao horário
sempre observando o relógio em formato de girassol preso à parede.

Descalço, ele dançava ao lado da cama. Movendo os braços e as pernas de


acordo com a batida da canção, inventando passos confusos que davam certo
logo na segunda tentativa.

Um talento nato, segundo a professora de teatro do colégio, Hobi conseguia


decorar e repetir passos de dança com facilidade e perfeição. Ela até tinha o
incentivado a procurar uma agência, quem sabe se preparar para testes de
grandes empresas do entretenimento e assim se tornar um idol.

Não era algo que ele almejava, Hobi só amava dançar.

Amava a forma como conseguia controlar seu corpo, a música parecia entrar
para dentro de sua pele e o guiar como se cordas invisíveis o pudessem
mover. Essas cordas não o sufocavam.

Admirava o reflexo que via no espelho enquanto dançava, enquanto se


perdia entre os movimentos do próprio corpo, muitas vezes desacreditado de
ser ele mesmo ali.
Naquela noite, infelizmente, ele se perdeu nas horas e nos minutos que
seguiram.

— O que você está fazendo, Hoseok?!

A pergunta soou assustadora. Nada de gritos, isso não era bom. Hobi girou o
corpo em direção a porta do quarto e viu Yoseob o encarando, a mão grande
ainda segurava a maçaneta de madeira.

Estava bem vestido, sequer havia se livrado da gravata.

— Appa-

— Responda! O que está fazendo?! Por que está vestido dessa forma, Jung
Hoseok?!

Ele apontou para o corpo do filho. Hobi sentiu-se nu. Encolheu-se inteiro tal
qual uma flor que murcha toda a beleza para se esconder do que lhe fará mal.
Encarou o próprio corpo: os pés descalços, as pernas expostas, o short de
Jiwoo que vestia escondido e depois a regata curta. Laranja demais.

— Eu estava dançando, appa.

— Vestido desse jeito?! Usando roupas de mulher?! O que pensa que está
fazendo?! - ele se aproximou com raiva, respirando feito um touro bravo.
Havia pavor no olhar de Yoseob, as mãos grandes tremiam enquanto ele
agarrava a faixa no cabelo de Hobi, puxando junto do cabelo castanho.

— Ai! Ai, APPA!

— CALA A BOCA! Moleque! É isso que faz quando não estou em casa?! É
esse tipo de coisa que se aprende com aqueles amigos?! Com o Yoongi?!

— Não! Não é isso! Eu só-

— Para de chorar! - o sacudiu. - Seja homem, para de chorar como uma


menina! VOCÊ É HOMEM, HOSEOK!
— O que está acontecendo?! - Dahye chegou ao quarto correndo. - Querido,
o que- Solte-o, está machucando!

— Saia daqui! AGORA! - Yoseob gritou, então Dahye encarou Hoseok com
pesar. O garoto estava chorando, os lábios tremiam de medo. - Agora, saia
daqui Dahye! Vou ensinar a esse moleque o que é ser um homem!

— Hobi... Essas roupas... Não deve usá-las. Não são roupas para rapazes. -
lamentou.

— SAIA, DAHYE!

— Omma, por favor... Omma... - Hobi choramingou, as mãos trêmulas


chamaram a mãe com medo. - Não deixa ele me bater, por favor...

Dahye, saiu do quarto e fechou a porta.

— Tire essa roupa agora, Hoseok.

— Appa, desculpa... Eu nunca mais vou fazer isso...

— Não vai fazer! Mas não acredito nas suas desculpas! - Yoseob estava
tremendo, Hobi fungou enquanto tirava a regata. Só então ele percebeu que
seu pai também chorava. - Você não vai ser como eu, Hoseok! ESTÁ
OUVINDO?! Você é um bom menino! Eu te criei com valores, com fé! Deus
não te fez imperfeito dessa forma! Ele não vai te amar imperfeito assim! -
enquanto falava, ele puxou o cinto de couro preso ao cós da calça social. -
Estou fazendo isso para o seu bem! O que você fez é ruim! É mal!

— Appa, por favor... Não-

Quando Hoseok se desfez do short, encolheu-se mais, sentia tanta vergonha.

— Ajoelhe sobre a cama!

— Appa...

— AGORA! É melhor que eu o castigue agora! A minha mão pena menos


que a mão do diabo, você quer ir para o inferno Hoseok?!
— Não! Eu não quero! Eu não fiz nada de mal!

— ESSE ESPÍRITO IMUNDO DENTRO DE VOCÊ É O MAL, HOSEOK!


É O QUE TE FAZ DOENTE DESSE JEITO!

Hoseok se curvou sobre a cama, estendendo as mãos para frente e engoliu a


saliva antes de sentir o cinto acertar suas costas com força. O grito veio
junto do choro. Do soluço doloroso enquanto a pele queimava. Ele apertou
os olhos.

— DEUS NÃO VAI AMAR VOCÊ, NÃO VAI ACEITAR VOCÊ! - Yoseob
bateu outra vez, estava corado e chorava alto. - NUNCA! VOCÊ É
DOENTE, HOSEOK!

— Appa... Por favor, para de me machucar... Por favor.

A súplica o fez parar com a mão no alto. Hobi o encarou, o rosto estava
lavado em lágrimas. Yoseob deu alguns passos para trás, tropeçou na
poltrona azul e soltou o cinto no chão.

Ela se via em Hoseok.

Reconheceu a si mesmo naquele olhar apavorado.

— Hobi! Hobi! PARA COM ISSO! - Jiwoo gritou para o pai. Estava
abraçando o irmão mais novo, trazendo-o para seus braços mesmo que ele já
fosse tão alto quanto ela. - O QUE DEU EM VOCÊ? Vem Hobi, vem...
Noona vai cuidar de você, eu prometo. - ela o ajudou a descer da cama.

— Noo-na... - ele soluçou alto. Ainda tremia. - Noona, eu-

— Vem, vamos pro meu quarto.

Sozinho no quarto do filho de catorze anos, Yoseob sentou na poltrona e


observou as mãos trêmulas. A mente se sobrecarrega de lembranças
assustadoras, de momentos confusos entre o sorriso e o choro doloroso.

Cobriu a boca com as duas mãos, os ombros largos tremeram violentamente.


— Oh querido, se acalme... Você fez o que era certo. - Dahye se aproximou,
as mãos frias seguraram os ombros trêmulos. - O mesmo que seu appa fez
por você, se lembra?

— Não me toque. - murmurou afastando as mãos dela. - Me deixe sozinho.

Yoseob esperou que a esposa saísse, esperou alguns segundos antes de


abafar um grito contra as próprias mãos.

No quarto de Jiwoo, Hobi se contorcia a cada vez que ela espalhava um


pouco de pomada sobre um dos vergões causados pelo cinto.

— O que aconteceu?

— Noona... Você acha que Deus me odeia?

A voz dele estava fraca. Ainda soluçava um pouco.

— O que? Claro que não, Hobi. Deus não odeia ninguém.

Ele assentiu. Jiwoo ficou confusa.

— Eu beijei um garoto na escola, noona.

A confissão saiu num sussurro.

— Você beijou o Yoongi?

— Não. - negou duas vezes. - Foi um garoto do time de basquete. No


laboratório de ciências, ele me beijou e disse que eu sou muito bonito.

— O que você sentiu? Com o beijo?

— Não vai brigar comigo? - Jiwoo franziu o cenho, então o virou até estar
de frente a ela. - Não vai dizer que eu vou pro inferno?

— Não. Nunca vou dizer isso pra você ou pra alguém que seja como nós
dois.
— Nós dois? - Hobi secou o nariz com as costas da mão. - Noona?

— Eu tenho uma namorada. - ela sorriu. - Ela é minha unnie no colégio, nós
vamos para a mesma universidade. Você quer conhecê-la?

— Eu posso?!

— Claro que pode! Eu falo tanto sobre você e mostro as suas fotos... Ela diz
que você é muito fofo, sabia? O nome dela é Yona.

— Noona... O appa...

— Ele não precisa saber. - deu de ombros. - É o nosso segredo, certo?

— Certo. - ele assentiu fungando, os olhos ainda estavam cheios de lágrimas.


- A gente não vai pro inferno, né?

— Não, Hobi. - Jiwoo o acarinhou no rosto. - Deus ama a gente do jeitinho


que a gente é. Como que Ele vai odiar o que fez? Deus nos fez assim,
entende? Não tem nada errado em mim ou em você, tudo o que Ele faz é
perfeito.Nós somos perfeitos.

— Appa disse que isso é ruim... Mas...

— Mas?

— Se é tão ruim... Porque foi tão bom? Noona, appa diz que eu vou para o
inferno e na igreja dizem que o inferno é horrível, que é ruim... Então a cada
vez que eu gosto mais de mim, sinto que fica mais escuro, que nada no meu
futuro tem luz. Você sabe que eu gosto do Yoongi... Gosto muito dele... Mas
se amar o Yoongi é errado, amor é um outro nome para mau? - ele abaixou o
rosto. - Eu tenho medo que a realidade me faça ser castigado. Toda vez que
eu preciso subir naquele altar e cantar, louvar pra Deus... Eu sinto como se
Ele estivesse me olhando com desprezo, com nojo-

— Hobi-ah...

— Pra me libertar desse pecado eu preciso desistir de mim, noona? Me


esquecer? Os lábios daquele hyung eram doces... Eu gostei. Sinto que
abandono o meu futuro quando vejo o Yoongi, parece que todos os dias
quando eu acordo existem um montão de armadilhas ao meu redor, os olhos
frios e intocáveis de Deus sempre me vigiando, esperando pelo meu
pecado... Esperando que eu seja condenado ao inferno. Eu tenho medo de
Deus, noona.

Jiwoo suspirou pesadamente. Depois, puxou o irmão mais novo até que ele
deitasse a cabeça sobre suas coxas.

— Eu também tinha medo de Deus. - confessou. - Medo desse ser superior


onipresente e onipotente que falavam pra gente na igreja, sempre pronto para
castigar. Que queimou Sodoma e Gomorra para castigar o povo, que inundou
o planeta, que deixou Jó perder tudo só pra provar a própria fé. Hobi, eu
morria de medo por saber que os olhos dele sempre estavam em mim, que
meus pensamentos não eram só meus. Davi foi um homem íntegro por toda a
vida, mas bastou uma falha para que fosse castigado, então por um tempo eu
pensei: por que ser temente a um deus que não é capaz de perdoar os meus
erros, mesmo que eu viva da forma que ele manda? Não faz sentido, né?

— Não faz. - Hobi negou.

— Então, há um ano eu mudei a minha forma de pensar.

— Por que?

— Porque eu entendi que as pessoas usam Deus para serem más, que elas
interpretam os ensinamentos dele sempre de uma forma conveniente a elas
mesmas... Porque ele nos ama exatamente como somos. Quando eu conheci a
Yona, eu senti pela primeira vez a presença de Deus, Hobi. - ele se mexeu
até encará-la. - Porque só sendo um ser cheio de amor e compaixão para
plantar dentro de mim um amor tão puro, entende? Yona também frequentava
a igreja, ela também se sentia como nós dois. Agora, juntas... Nos amando, a
gente entendeu que ninguém pode nos dizer que somos odiadas por Deus,
ninguém. Deus não é odioso. As pessoas que são.

— O appa me bate e diz que Deus não vai gostar de mim. Quando eu fico
perto do Yoon e penso em coisas sobre ele, fico com medo de ser castigado.
Eu apanho do appa por causa disso? É o meu castigo?
— Não. Isso não tem nada a ver com Deus, isso é sobre o appa. Sobre o que
ele acha ser certo.

— Se Deus me ama, por que ele não faz o appa parar de me bater, noona?
Por que não me ajuda? - outra vez, Hoseok estava chorando. - Eu não sou
mau.

— Você é bom, Hobi. Você é doce, gentil, cheio de amor. Você é o melhor
irmão do mundo. Eu não sei porque as coisas funcionam assim, sinto muito
por não poder te responder, te ajudar mais. A única coisa que eu sei... É que
não é sua culpa, muito menos culpa de seres sobrenaturais... As pessoas são
desse jeito e isso não tem nada a ver com céu ou inferno, tem a ver com o
caráter de cada um.

— Um dia eu vou poder amar alguém direito? Vou poder ser como você ama
a sua namorada?

— Claro que vai! Você vai amar e ser amado, você vai ser tão amado que
vai se sentir no céu. Esse é o céu Hobi, é ser livre. Nós vamos ser livres, eu
prometo.

Flash Back Off

— O que foi, hein? - Taehyung perguntou espreguiçando-se na cama,


mastigando a saliva e tentando abrir os olhos. - Já amanheceu?

— Não. Ainda 'tá de madrugada, pode dormir.

— Por que 'tá acordado olhando pra gente? Teve pesadelo?

— Não. - ele sorriu. - Acordei pra beber água.

— Quero água. - Yoongi murmurou de olhos fechados, coçando a bunda por


baixo da cueca preta. - Me dá água.

— Vou descer pra buscar, acabou daqui. Voltem a dormir.


— Tudo bem? - Taehyung segurou a mão dele, estava sonolento, mas
preocupado.

— Uhum. Sério, dorme amor. - beijou o nariz alheio. - Já volto.

Hoseok saiu do quarto fechando a porta, na mão esquerda segurava o próprio


celular. Ele desceu as escadas sem pressa, atravessou a sala de estar e na
cozinha abriu a geladeira para pegar uma garrafa d'água.

Antes de subir de volta para o quarto, Hobi digitou uma chamada e esperou
ser atendido.

— Alô? Hobi?!

— Oi...

— Está tudo bem? - Hoseok pode ouvir outra voz ao fundo, ele a
reconheceu sem muitos problemas. - Filho?

— A gente pode conversar. Amanhã. Em casa?

— Oh... Sim! Podemos! Na hora que você preferir, a qualquer hora.

— Antes do meu trabalho, às onze da manhã?

— Perfeito! Vou estar te esperando... Hoseok... Obrigado.

— Boa noite, appa.

Ele desligou e respirou fundo.

Pela manhã, Hobi estacionou a moto na entrada da casa onde cresceu. Ele
observou a construção por uns minutos antes de entrar. Sentiu-se nostálgico,
apesar de não sentir saudades do que por anos foi seu lar.

O jardim continuava bem cuidado, o caminho de pedras não possuía sequer


uma folha de grama fora do lugar. Ele empurrou o portão lateral e acenou
brevemente para o jardineiro que era solicitado há cada quinze dias para
fazer a manutenção do jardim que Dahye tanto cuidava.

A porta principal estava aberta, então ele entrou sem esperar.

Do hall conseguia ouvir as vozes que vinham da sala de estar.

— É humilhante que você peça a ele para te trazer aqui, Yoseob! Tenha
respeito por mim!

— O meu carro está com problemas, Syuk sequer desligou o motor, apenas
me deixou no portão.

— Não diga o nome desse homem dentro da minha casa! Se o seu pai
estivesse vivo morreria de desgosto por ver o que você está fazendo!

— Dahye, eu sinto muito que as coisas terminem dessa forma, eu tenho


carinho por você, não quero que me odeie... Eu só quero ser feliz.

— Ser feliz enquanto desagrada a Deus? Isso vale a pena?

Hoseok virou as costas, então deu de cara com a irmã mais velha.

— Porra, que susto noona! - sussurrou com a mão no peito.

— Por que estava indo embora, Hoseok? - ela cruzou os braços.

— Não tô afim de participar dessa briga, falei pra ele me encontrar aqui
porque não sabia como as coisas estavam. - deu de ombros.

— Ele pediu o divórcio, Hobi. Há dois meses. Omma não está aceitando
bem... As coisas estão complicadas.

— Ele quer se separar para ficar com aquele cara?

— O seu tom de voz soa como um julgamento, sabia? - Jiwoo arqueou uma
sobrancelha.
— É pra soar. Ele perseguiu a gente por anos e agora quer bancar o ex-
hétero arrependido? Me admira você está aceitando isso, noona.

— Te admira que eu agarre a oportunidade que pessoas como a gente nunca


tiveram? De ter a família de volta?

— Que família? Nunca fomos uma família. Éramos pessoas sentadas a uma
mesa fingindo ser outras pessoas: perfeitos, abençoados por Deus e tudo
aquilo de mais maravilhoso que se espera de um lar cristão. - debochou.

— Hoseok, você tem alguma noção do quanto as pessoas LGBT ao redor do


mundo gostariam da oportunidade que nós dois estamos tendo?

— Não tenho. E não entendo a oportunidade que você está falando.


Oportunidade de que? De fingir que nada aconteceu? Que eu nunca apanhei?
Que você não foi expulsa de casa? Que eles não me controlavam? Que não
fingiram que você sequer existia por anos? Quer que eu vire a página e finja
que os últimos cem capítulos nunca aconteceram, noona?!

— Não! Eu não quero que você faça essas coisas! - ela levantou um pouco a
voz. - Eu quero que você escute Hoseok, só isso. Depois, faça o que quiser
fazer! Continue com esse ciclo de ódio dentro de você, tem todo o direito de
fazê-lo! Apenas escute! Entre e escute!

Hoseok bufou malcriado, então Jiwoo o segurou pelo braço, puxando-o para
dentro da casa mesmo que ele sequer lutasse contra. Dahye e Yoseob se
calaram assim que viram os dois filhos entrando.

A mulher estava de pé perto do piano de corda da família, usava apenas um


robe vinho sobre a camisola da mesma cor. Yoseob vestia roupas tão
informais que Hoseok estranhou, mas não disse nada.

— Olha só quem eu encontrei lá fora.

— Hobi, meu príncipe. - Dahye se aproximou para abraçá-lo. - Não o vejo a


meses, por que some assim, meu amor? Por que? Olhe só, está tão corado,
tão bonito. - o beijando nas bochechas, ela sorria.
— Oi, omma, tudo bem?

— Bem? Como estaria? Não sabe do que seu appa está fazendo? Da forma
que está jogando a nossa família para o alto?

— Dahye, por favor... - Yoseob lamentou. - Bom dia, Hoseok.

— Bom dia.

— Omma, preciso que ajude a encontrar um par de brincos que deixei no


meu quarto quando me mudei...

— Mas, Jiwoo... Eu-

— Por favor, omma? Por favorzinho? - ela abraçou a mão pelo ombro, a
levando para fora da sala de estar.

Yoseob apertou as mãos e tentou não soar agressivo, mesmo que o


nervosismo estivesse o corroendo por dentro.

— Senta, filho. Já tomou café?

— Uhum. Não 'tô afim de sentar, valeu. - fez questão de usar o linguajar
informal que o pai tanto criticava.

— Tudo bem. Eu vou sentar, tudo bem? Estou nervoso. - sorriu sem jeito. -
Fiquei muito feliz por você ter ligado, ter aceitado conversar comigo.

— Não vim conversar, vim pra te ouvir falar o que quer falar. - deu de
ombros. - Pode falar.

— Ok. - Yoseob esfregou as mãos contra o jeans da calça. - Tenho uma coisa
para você antes. - Hobi estreitou o olhar, os lábios estavam curvados. Viu o
pai pegar um envelope antigo. - É sua.

O mais novo pegou o envelope e logo reconheceu a caligrafia de Yoongi ali.


A data marcava quase dez anos antes.

— O que-
— A carta que ele te escreveu antes de fazer a última cirurgia. A carta que
eu tomei dele.

Hoseok apertou o envelope, respirando fundo.

— Quis começar te devolvendo esta carta, mas vou pedir que a leia depois
de conversar... De ouvir. Por favor?

— Ok.

— Hoseok, você lembra do seu avô? - Yoseob sentou em um dos sofás


espaçosos.

— Claro que sim. Ele não era bem um avô como os dos filmes, mas eu
lembro.

— O que eu vou te contar agora é a minha história, filho. E o seu avô foi um
vilão que eu não fui capaz de vencer. - ele pareceu triste, as mãos nervosas
pararam sobre suas coxas. - Conheci Syuk num jantar, ele era um ano mais
velho, mas ainda assim não me tratou mal como as outras crianças mais
velhas. Não demorou e a gente virou melhor amigo, inseparável mesmo.
Com o tempo eu fui sentindo mais que amizade por ele, fui notando que as
minhas mãos pingavam suor quando ele chegava perto, que o meu coração
acelerava só de ouvir ele falar. - Yoseob sorriu sem jeito. - Ele me beijou
durante outro jantar, naquela noite minha omma brigou por eu estar
desarrumado e comendo muito, nunca fui magro e arrumado como ela queria,
como o meu irmão mais velho era. Appa sequer falava comigo direito na
época, mas queria saber de cada passo meu. Você se lembra de alguém?

— Me lembra de você. - Hoseok disse com rancor.

— Syuk e eu começamos a namorar escondido, era fácil porque nossos pais


acreditavam cegamente que éramos só melhores amigos. A gente saia,
dormia um na casa do outro, até viajámos juntos. Eu vivi a melhor época de
toda a minha vida naqueles meses, Hoseok. Eu era tão feliz que não me
preocupava com nada... Nada além de nós dois.

— Você o amava?
— Eu ainda o amo, filho. Mas me fizeram acreditar que o meu amor era
errado.

Hobi lambeu os lábios, não notou, mas já estava sentado no sofá oposto.

— Como passou disso tudo até casar com a minha omma? A se tornar o que
é?

— Eu não sou mais, Hobi-

— Não é fácil acreditar.

— Eu sei. - ele assentiu. - No natal seguinte, eu e Syuk ficamos imprudentes,


a gente sentia tanta vontade de estar juntos que não nos cuidamos... O meu
irmão, o seu tio... Viu a gente. Ele bateu em nós dois, me deu uma surra que
eu nunca esqueci. Depois disso contou para os nossos pais. Foi um inferno.
Eu apanhei ainda mais e fui castigado, fui impedido de sair de casa até para
ir à escola. O pastor da nossa igreja me visitava dia sim e dia não, me fazia
rezar por horas pedindo perdão pra Deus. - Yoseob parecia sentir dor ao
lembrar de tudo aquilo. - Jejum, orações, promessas que eu nunca fiz, mas
carregavam o meu nome... Diziam que eu estava doente, que a minha alma
estava doente e isso atingia o meu corpo. Que o mal caminhava do meu
lado, que me perseguia. - ele sorriu sem vontade. - Não acreditei em nada
disso, tudo o que eu queria era ver o Syuk, era estar perto dele. Não ligava
para Deus, não era importante.

— É estranho te ouvir dizer isso. É controverso.

— É porque ali ainda era eu de verdade, Hoseok. Era o eu imperfeito para


todas aquelas pessoas, mas perfeito pra Deus e pro homem que eu amava. O
homem que eu amo.

— O senhor me fez acreditar que eu era pecador, me bateu diversas vezes


gritando o quanto sou defeituoso...

— E nada do que eu te diga deve mudar tudo que fiz de ruim para você ou
para a sua irmã, não estou aqui para te fazer me perdoar, Hoseok.
— Então... Pra que?

— Pra te contar o que fizeram comigo e fazer por você o que o meu pai
nunca fez por mim. Eu não quero ter de morrer para você se sentir livre,
filho. Se o meu pai estivesse vivo eu não me libertaria, sei disso.

— O que fizeram contigo?

— Quando completei dezessete anos, Syuk me mandou uma carta através de


uma das garotas da igreja. Ele dizia que tinha uma solução para nós dois,
mas que era arriscado. Nós iríamos fugir. Primeiro para o interior e depois
para fora do país, eu não me importei com o destino, sabe? Estar com ele era
o suficiente. Eu o amava mais do que qualquer outra coisa na minha vida.
Meu pai descobriu o plano e eu nunca apareci no lugar marcado... Eles
arrancaram de mim o amor mais puro que eu sentia. Seu avô me levou até
uma cidade pequena do interior, até uma igreja que oferecia a cura.

— Cura?

— A cura para o meu amor, Hobi. - os olhos de Yoseob ficaram marejados. -


Eles diziam ser a cura para a minha doença, me fizeram acreditar que eu era
doente, que tudo em mim era errado... Meu amor, meu desejo, minha
saudade... Tudo. Eles começaram a me tratar.

— Como?

— Dependia do dia. - ele deu de ombros, a voz tornou-se embargada. -


Banhos gelados dentro de banheiras cheia de gelo, choques pelo corpo,
privação de luz por muitos dias... Jejum seguido de orações intermináveis,
castigos físicos enquanto eu não confessasse que era pecador, dissesse que
queimaria no inferno. Uma vez eles me ensinaram como me autoflagelar,
acreditavam que dessa forma Deus seria mais misericordioso, que a minha
alma seria salva. - Hoseok engoliu a saliva, não disse nada. O envelope nas
mãos entregava que elas tremiam. - Com o passar dos meses eu perdi a luta.

— Li... - ele sentiu um nó na garganta. - Li sobre essas coisas na internet há


um tempo, diziam que ainda existe, mas poucas pessoas sabem por causa dos
direitos humanos.
— O meu appa tinha bons contatos para muitas coisas. - Yoseob lamentou.

— Te curaram, appa?

— Não. - ele negou. - Mas me causaram tanta dor que a minha mente preferiu
acreditar no que eles diziam para que o meu corpo parasse de ser punido. Eu
me tornei o que eles queriam, o que Deus queria de mim. Todos os dias eu
tinha de me flagelar, eu devia repetir palavras duras sobre o quanto era sujo
e errado. Então, lembrar de Syuk machucava muito, filho. Lembrar da minha
felicidade era sentir a minha alma queimando naquele inferno cristão. Eles
mataram o meu amor enquanto tentavam salvar a minha alma.

— O senhor nunca quis ser salvo.

— Eu queria ser feliz. Mas, depois daqueles meses, eu só queria parar de


sentir dor.

— Casar com a omma não te fez feliz?

— Depois de sair daquele lugar eu só fui feliz duas vezes, Hoseok. Quando
Jiwoo nasceu e quando eu te segurei nos braços pela primeira vez. Tudo
além disso era vazio.

Hobi assentiu. Ele não era mais uma criança, mas ouvir que Yoseob nunca
amou Dahye o machucou um pouco. Machucou de verdade. Apertou outra
vez o envelope, não sabia o que dizer.

— Há duas semanas o seu namorado me mandou uma mensagem. Taehyung. -


confessou, Hobi franziu o cenho. - Uma mensagem bem breve.

— O que ele disse?

— Pediu que não parasse de tentar com você. - Yoseob lambeu os lábios.
- Agora eu entendo o motivo de ele ter pedido isso a mim. Você entende?

— Um pouco, acho que sim.

— Depois de saber de tudo sobre a família dele, acredito que Taehyung quer
dar a você a oportunidade que ele não teve.
— O senhor respondeu a mensagem? Disse o que?

— Eu disse a ele que nunca pararia de tentar me aproximar de você. Hobi,


eu errei tanto que nós dois não poderíamos enumerar num dia inteiro de
conversa. O que fiz quando você ainda era adolescente, a vez que te forcei
a... Eu fui um monstro e não posso culpabilizar o que fizeram comigo... Pelo
contrário, eu poderia ter sido diferente, ter sido melhor pra você e sua
irmã... Não existe um só momento do meu dia em que não me culpe, em que
não me sinta o pior pai do mundo inteiro... Eu te peço perdão, mas perdoar
não é esquecer e eu te feri demais, eu te enchi de cicatrizes que estão sob a
sua pele e vão estar para sempre. Digo ao Syuk que queria recomeçar, mas
isso é covardia e não quero mais ser um covarde, recomeçar me daria a
chance de fazer as coisas de outra forma, filho... Eu quero ser um homem
corajoso que enfrenta seus erros e os usa para ser melhor. - Hoseok não
disfarçou as lágrimas que insistiam em cair, mas seu coração estava tão
apertado, aquilo era tão difícil. - Hoseok, você me fez querer ser o Yoseob
que eu era antes, o que era feliz. Quando fui até aquele bar e te vi tocando
bateria, vi a forma que você sorria. Depois Yoongi te defendeu como um
leão, ele estava pronto para me chutar daquele lugar só para evitar te ver
triste... Taehyung me enviou aquela mensagem, ele se importa com a sua
felicidade mais do que com a dele. Porque te ver feliz os faz feliz. Vocês
três estão passando por todo esse problema com a morte de Taewoo e ainda
assim... Estão dispostos a fazer qualquer coisa uns pelos outros. - ele
apertou as mãos. - Te olhando, te vendo amar sem medo... Me fez querer
fazer o mesmo. Tive coragem de segurar a mão do Syuk na rua... Pode
parecer bobo, mas isso pra mim é um passo tão grande. - sorriu um pouco. -
Mas eu só senti coragem quando te vi fazer o mesmo. Quero observar você e
a sua irmã, quero aprender com vocês dois a ser corajoso outra vez, a lutar
contra as lembranças traumáticas que me assombram o tempo todo.

— Appa... Eu-

— Eu não quero que você se sinta obrigado a nada, Hoseok. Nunca mais. -
Yoseob encurtou o espaço entre eles, sentou ao lado do filho, mas não perto
demais. - Nunca mais quero te fazer sentir como antes, eu sinto tanto
Hoseok... Sinto tanto por não ter visto o quão maravilhoso você é... Sua
omma está certa por te chamar de Sol desde que você nasceu. Quanto eu te
segurei pela primeira vez no hospital, você veio pra mim chorando alto,
anunciando pra maternidade inteira que estava ali. Eu te segurei... Você
parou de chorar e eu me senti um herói por tão pouco... Mas eu já te fiz
chorar tantas vezes que eu me tornei teu vilão. - ele tocou o ombro do filho,
com cuidado. - Eu nunca disse isso a outra pessoa, nem ao Syuk... Mas
quando o seu avô morreu eu o odiava, Hobi. Enquanto ele era cremado eu
abri um vinho e bebi sozinho... Eu ainda o odeio, eu vou odiá-lo até o último
dia da minha vida e isso faz mais mal a mim que a ele, ele sequer está nesse
mundo. Não quero mais te envenenar com ódio, não quero que você carregue
isso porque você é bom, filho. Você é perfeito aos meus olhos, aos olhos de
Deus. Eu tenho tanto orgulho de você, Hoseok.

— Eu preciso de um tempo.

— Eu sei, você tem todo o tempo do mundo. - assentiu.

— Será que o senhor se sente como eu me sinto? Sobre Yoongi e Taehyung?

— O que quer dizer?

— Jiwoo-noona uma vez me disse que eu sentiria a presença de Deus


quando amasse, me apeguei a isso, mas nunca havia percebido até ontem a
noite. Acordei e fiquei olhando pra eles na cama, dormindo. - Hoseok secou
as lágrimas. - Eu senti. Senti que Deus me ama tanto que me deu a
oportunidade de ser amado e de amar. O senhor se sentia assim?

— Com Syuk sim. Com você e com a sua irmã também. Acho que o que me
fizeram deturpou a minha capacidade de amar direito. Mas antes eu
costumava imaginar que era como ter um lado azul.

— Lado azul?

— Um sonho azul, filho. Um lugar de paz onde você consegue alcançar a


felicidade de forma espiritual, carnal e etc.

— Yoongi e Taehyung são o meu lado azul. - Yoseob assentiu. - Mesmo que
as pessoas digam que a gente não pode 'tá junto, que a gente não vai ser
feliz... Nenhum de nós liga. Nenhum de nós se importa.
— Eu me orgulho de você e da sua perseverança, no fim... Você sempre teve
mais fé do que eu porque eu acreditava por obrigação, não por vontade
própria.

Eles se encararam em silêncio.

— Obrigado por me contar tudo o que contou. - Hobi fungou, secando as


lágrimas com a manga do moletom. - Obrigado por não falar nada sobre o
que o senhor viu ontem.

— Se eu disser, você vai sofrer. Eu jurei por Deus nunca mais te fazer sofrer.

— Obrigado, appa. - ele também tocou o ombro de Yoseob.

Era o suficiente por agora.

Flash Back On

— Eu acho que um apartamento não é boa ideia.

— Por que?

— Porque você dois gritam demais quando começam a brigar por motivos
idiotas. - Yoongi sorriu.

— Olha quem fala, o mais escandaloso!

Taehyung atirou nele um pouco da espuma que cobria a banheira e chegava a


se espalhar pelo banheiro espaçoso do motel.

— Se a gente morar numa casa, eu quero que tenha piscina. - Hobi reclamou.
Estava fazendo um grande moicano no próprio cabelo com espuma.

— O arquiteto é você, se vire. Eu quero uma cozinha bem grandona, cheia de


utensílios bonitos.
— Como é você quem cozinha, acho justo. - Tae deu de ombros. - Estava
pensando em mandarmos fazer uma cama.

— Até que enfim uma ideia boa vindo de você.

— Cala a boca, marrento de merda! - Tae mostrou a língua.

— Tão maduros. - Yoongi suspirou. - Um está fazendo esculturas com o


cabelo e o outro dando língua enquanto brinca com o próprio pinto. Não
ache que a espuma esconde isso, Taehyung.

— Me deixe! 'Tô fazendo carinho em mim já que vocês não fazem! Dois
namorados e vivo carente.

— Reclama mesmo! Depois não vai fazer momozinho.

— Segunda vez que a gente vem pra motel e não faz momozinho na banheira,
fico chateado.

— A única vez que a gente tentou você quase morreu afogado, Yoongi!

— Eu escorreguei! - fez um bico malcriado. - Quer saber, vou comer alguma


coisa.

Ele ficou de pé, completamente nu. A pele pálida estava coberta de espuma,
a água quente escorreu depressa e com a mesma pressa Hoseok o puxou de
volta para a água, trazendo-o para o seu colo.

— Também quero comer, mas não qualquer coisa.

— Essa foi tão ruim que o meu pau passou correndo pro quarto. - Taehyung
disse rindo.

— Esse cabelo me dá tesão, Seok-ah.

— Às vezes me assusto com o que te dá tesão, sabia? Mas te amo mesmo


assim, meu gatinho.
— Não vamos falar sobre o Yoon te querer nu usando tênis, meu Sol. O meu
pau está decidido a ir embora sozinho para casa.

— Para de zoar os meus fetiches, Kim Taehyung! - Yoongi o acertou com


uma mão cheia de água e espuma. - Homofóbico! Aí, calma aí homem!

— Quero fazer momozinho na banheira. - Hoseok disse contra o pescoço


dele. - Ah! Credo, sabão! - reclamou fazendo careta. - Meu olho! MEU
OLHO! SABÃO NO MEU OLHO!

— Espera! Não joga mais água! 'Tá com sabão!

— Abre o registro de novo! Abre Yoongi!

— ESTOU CEGO! CEGO! NÃO ESCUTO NADA! ME AJUDA!

— JÁ VAI! VEM AQUI PRA PERTO DE MIM! - Tae o puxou com cuidado.
- Aqui, lava o rosto.

— Como assim você tá cego e não escuta, Hoseok?! - Yoongi estava


gargalhando.

— O seu homem quase morrendo e você se preocupando com detalhes, Min


Yoongi?!

— 'Tô vendo que ninguém vai transar na banheira de novo. Pior que eu tenho
certeza que a gente era bom nisso na outra vida. - Taehyung suspirou, estava
ajudando Hoseok a lavar o rosto. - Você vai se afogar! Calma!

— Meu olho tá ardendo, inferno!

Yoongi estava gargalhando, o rosto ficava corado graças a isso.

— Aí, eu amo tanto vocês dois. Não mudaria nada entre a gente. Nunca.

Flash Back Off

"Eu não sei como deveria começar essa carta, prometi que a entregaria se
desse tudo certo na cirurgia porque percebi que não era justo morrer e te
deixar sofrendo ainda mais por minha causa. Você vai brigar comigo por
falar sobre morte, sei que odeia isso.

Seok-ah, lembra quando a gente conversou sobre estar apaixonado e você


disse que não é difícil perceber quando a gente se apaixona? Acho que sou
um pouco lento sobre isso porque o meu coração gritou por meses a
mesma coisa e eu não ouvi.

Ele gritava que eu amo você.

Talvez eu tenha evitado ouvir por causa desse sentimento de "último dia"
que sempre me assombra desde que essa doença me derrubou de vez.
Fiquei com medo de ouvir o meu coração e te prender a alguém
moribundo.

Por favor, não brigue comigo por dizer coisas assim, é inevitável.

Eu te amo muito, mas não é só amor de melhor amigo.

Fiquei bravo quando me contou que tinha beijado o idiota do Minho, eu


queria ter sido o seu primeiro beijo, mas acho que você poderia estranhar
o sabor de medicação que fica na minha boca o tempo todo... Quer dizer,
você nem ia ligar, não é? Essas coisas não te incomodam.

Quero ser o seu namorado, Seok-ah. Segurar a sua mão e saber que
ninguém mais faz isso, que a sua mão vai fazer carinho no meu cabelo até
eu dormir, então eu vou querer acordar todos os dias.

Eu te amo e te amar me faz querer acordar. Eu não quero mais morrer, por
sua causa. Porque você me dá vontade de viver, me dá vontade de não
desistir.

Quando eu ficar bem, quando eu voltar para casa, quero te beijar depois
de escovar muito os dentes. Quero ficar abraçado a você por mais tempo,
sentir o seu cheiro doce e ouvir o seu coração bater como você faz quando
dorme no hospital comigo.
Quando eu sair da cirurgia quero te olhar e dizer "te amo" de um jeito
menos vergonhoso.

Então, quando nos casarmos eu deixo que a nossa filha se chame Shakira,
eu aceito qualquer nome desde que você fique comigo pra sempre.

Você é a minha bateria, o meu carregador Seok-ah. Meu melhor amigo,


meu amor.

Até mais, seu Yoon."

Hoseok guardou a carta outra vez dentro do envelope antes de entrar em


casa. Jimin estava na cozinha com Seokjin, tentando aprender o ponto certo
do macarrão. Namjoon e Jungkook se exercitavam na sala de estar, fazendo
movimentos sincronizados de acordo com o vídeo que era transmitido na
televisão grande.

Subiu sem dizer muito, atravessou o corredor e parou diante da porta do


quarto que lhe pertencia.

— Não liga, você não tem motivos para ir mesmo.

— Não é isso, Yoon... Taeseok disse que ela precisou ser dopada.

— Você quer vê-la? Se quiser, nós vamos até lá.

— Não quero. Acho que me culpo por não sentir culpa, entende?

— Oh se entendo. - Yoongi suspirou. - Você está bem? Quer dizer... Com o


que aconteceu?

— Eu mesmo teria feito aquilo se pudesse, seria hipocrisia dizer que isso
está me afetando.

— Isso faz de nós caras maus?

— Isso faz de nós humanos.


Hoseok resolveu entrar. Os namorados estavam sobre a cama, mostraram
preocupação ao vê-lo entrar. Yoongi engatinhou até a beirada do colchão e
abriu os braços, o chamando.

— Vem aqui, Seok-ah.

Ele foi, o abraçou e o pegou no colo, dando beijos demorados por todo o
pescoço pálido.

— Eu te amo, te amo, te amo e te amo. Vocês dois são o meu pedaço de paz.

— Está tudo bem? Como foi com o seu pai? - Taehyung quis saber.

— Tenho uma história longa pra contar. - ele se aproximou, ainda com
Yoongi agarrado a si como um coala. - Obrigado por se preocupar com a
minha felicidade, meu mauricinho. Obrigado por ser esse homem incrível.
Eu te amo muito. Você foi e vai ser pra sempre a melhor coisa que aconteceu
nas nossas vidas.

Taehyung sorriu quadrado, puxando-os para perto.

— Acho que alguma coisa boa aconteceu nessa conversa, meu Sol.

— Eu finalmente entendi o que é amar. Entendi que sou um homem de sorte,


apesar da atual situação. - sorriu. - Acho que apaguei todos os personagens
de antes, todas as outras versões de mim... Estou feliz com essa aqui, a de
verdade.

— É a que a gente mais ama. A de verdade. - Yoongi murmurou agarrado a


Hoseok. - Meu melhor amigo, meu amor.

Hobi respirou fundo, então beijou os lábios de Taehyung e depois os cabelos


úmidos de Yoongi.

Aquele era o seu pedaço de paz.

🌙
Syuk não entendeu, mas também não resistiu quando abriu a porta do
apartamento para Yoseob e foi abraçado com força.

O mais novo não disse nada por minutos, ficou agarrado ao mais velho como
se não o fizesse há anos. Syuk trancou a porta e caminhou com ele até o sofá.

— Como foi com o Hoseok?

— Ele me escutou. Acho que isso é bom. - respondeu baixinho. Ainda


abraçado a Syuk, Yoseob sorriu. - Eu te amo, Syuk. Não dói mais dizer isso.

— Você não tem noção do quanto isso me deixa feliz. - sorriu de volta, uma
das mãos penteou o cabelo escuro de Yoseob para trás. - Você assim tão
informal me faz lembrar de antes. Quando a gente dirigia a noite inteira pela
cidade, ouvindo Bon Jovi e dividindo um baseado.

— Lembra da primeira vez? Quando a gente fez amor? - ele segurou a outra
mão do mais velho para entrelaçar os dedos sem pressa. Sem aliança, livre. -
Lembra da música que estava tocando?

— Sacrifice. Tão clichê. - eles riram juntos. Yoseob puxou o celular do


bolso de trás do jeans, procurou por alguma coisa até que as batidas da
música em questão começassem a tocar, vindas do aparelho eletrônico. -
Yo...

— Eu não me sinto livre assim há anos, hyung.

— Eu sei, eu 'tô feliz por isso, mas não quero que faça alguma coisa no calor
do momento.

— Amei você no calor da minha adolescência... Depois disso eu passei anos


inteiro sentindo frio Syuk, morrendo de frio... Morrendo e fingindo que não
sentia a sua falta. - tocou o rosto alheio, a barba grossa que enchia um
cavanhaque bonito. - Quero que você me ame de novo no calor do momento,
agora... Todos os dias que a gente perdeu. Me cure, Syuk. Me devolve o
amor que eles arrancaram de mim.
Syuk o encarou nos olhos por alguns segundos, as mãos logo agarraram a
nuca exposta, puxaram até que os lábios capturassem os lábios de Yoseob
com tanta saudade que os dois gemeram juntos.

Não disseram mais nada porque os corpos trataram de assumir o momento,


não como antes porque toda aquela juventude inconsequente não cabia dentro
da maturidade que os anos lhe deram. O amor ainda era o mesmo,
provavelmente seria para sempre.

As roupas fizeram rastros revirados até o quarto, denunciavam o caminho


traçado por pés descalços e mãos apressadas para se desfazer de tudo que os
impedia de um contato maior. Mas a pressa deu lugar ao cuidado quando
estavam sobre a cama confortável, expostos depois de tantos anos.

— Eu mudei. O meu corpo mudou. - Yoseob sussurrou.

— Eu também mudei. Yo, eu vou te amar de qualquer jeito. Cada pedaço de


você. - declarou enquanto as mãos tocavam a lateral do corpo alheio com
carinho e quase adoração. - Porque eu te amo além do seu corpo, amo o seu
coração... Meu poeta.

— Diz de novo, me chama assim de novo? Eu senti tanta falta de ouvir


você me chamando assim. - Syuk beijou a lágrima que escorreu pela
bochecha dele. - Por favor?

— Meu poeta. Meu Yo-ah. Amor da minha vida.

— Obrigado por me esperar, obrigado por não desistir de mim nem quando
eu mesmo desisti. Por não desistir de nós dois. Eu te amo, Syuk.

Syuk sorriu largo, então o beijou de novo.

Eles fizeram amor. Talvez o amor mais bonito de suas vidas. Todo aquele
amor que foi arrancado de Yoseob e transformado em dor por uma religião
cega, por homens que pregavam o amor de Deus como um eterno calvário de
castigo e desesperança.
Mas Yoseob finalmente compreendeu que se Deus era amor, ele estava
presente em todo o sentimento que compartilhava com Syuk. E nada mais o
faria acreditar no contrário.

Hoseok, Yoongi e Taehyung se apresentaram na delegacia na data e hora


marcada. Syuk já estava lá, Yoseob ao seu lado. Hyeri fez questão de
também convocar os dois advogados da família Min, pouco se importava
com os comentários que isso poderia gerar. Nada era mais importante que
Yoongi.

Tiveram de esperar um pouco até que o delegado responsável pelo caso


fosse até eles junto de um outro homem de terno e expressão fechada.

— O legista enviou hoje de manhã informações sobre o corpo de Kim


Taewoo que mudaram o andamento do inquérito. - ele gesticulou. - Prendam
o rapaz.

— O que?! Que?

— Espere um instante...

— Vamos, vire-se de costas, mãos para trás rapaz.

— Não! Não podem fazer isso!

Taehyung obedeceu ao policial, virou-se sem resistir, sabia que poderia


piorar tudo.

— Não! Não faz isso! - Yoongi se desesperou, o rosto pálido mostrava o


quanto estava apavorado. - Não foi ele!

— Não foi ele! Para com isso! - Hoseok quis intervir, mas foi empurrado.

— Sem barraco! Ou prendo os três!

— Pode explicar o que mudou?! Não pode prender o meu cliente sem
explicar toda a situação! - Syuk esbravejou.
— Foi confirmado que Kim Taewoo foi jogado daquele prédio, não foi um
acidente. Ele foi atirado de lá, agora se nos der licença... O garoto vai
refazer o depoimento e-

— Isso é um absurdo, não pode prendê-lo dessa forma, o senhor por acaso
comprou o seu diploma? Não tem noção do que faz?!

— Solta ele! Tae... Não deixe! Taehyung-

— Yoongi! - Taehyung o chamou com a voz mais alta. - Olha pra mim! -
pediu enquanto era algemado. - Fica calmo, ok? Se você fizer alguma merda
vai ser pior! Fica calmo, 'tá tudo bem!

Yoseob, observando a situação, encarou o filho e depois os outros dois


rapazes que tentavam conversar enquanto as algemas eram fechadas ao redor
dos pulsos de um deles.

Ele puxou Syuk para perto.

— Syuk...

— Espere um momento, isso está errado e-

— Você pode me esperar por mais um tempo?

Syuk franziu o cenho.

— Como assim?

— Por mais um tempo. Eu sei que você vai dar um jeito de me tirar disso, eu
confio em você. Eu amo você. Mas não posso deixar que Hoseok sofra mais.
Me entende?

Syuk o encarou confuso, levou segundos até compreender o que Yoseob


queria dizer.

— Tem certeza?

— Absoluta. - assentiu.
— Você sabe quem foi, por que não me diz?

— Porque isso não importa. Não muda nada. Só cuida de tudo, confio em
você.

— Te amo. - apertou a mão dele.

— Yoongi... Se acalma, filho. Você vai passar mal se continuar assim. -


Hyeri tentava acalmar o filho.

— Hoseok, não deixe o Jimin fazer merda. Por favor, diz pra ele que 'tá tudo
bem...

— Tae... - Hobi estava prestes a chorar, a explodir.

— Não. - Taehyung negou. Depois olhou para Yoongi e negou também. -


Não.

— Solte o garoto, não foi ele. - Yoseob praticamente tirou Taehyung das
mãos do policial. - Fui eu. Eu empurrei Kim Taewoo daquele
estacionamento. Eu fiz isso. Se alguém tem de ser preso, esse alguém sou eu.

Ele estendeu os braços e ofereceu-os ao delegado.

Hoseok, não conseguiu dizer nada, mas as lágrimas que inundavam seu olhar,
diziam tudo. Por um breve momento Yoseob o encarou, então sorriu.

Ele sorriu e o fez entender que estava tudo bem. Tudo ficaria bem.

#PillowFic
44 - homem simples

oi gente!!

desde ontem estou tentando atualizar, mas o wattpad dava erro 😡. vcs tbm
tiveram problemas??

além do wattpad, vcs usam outras plataformas para ler fanfic? quais?

gente, estou sorteando uma oneshot qualquer shipp lá no twitter keleaomine,


pra participar basta postar print dando view em ephifany lá no youtube!
participem! vamos aumentar o stream nesse mv 💜

ah, lá no twitter keleaomine sempre rola interações legais, brincadeiras,


spoilers e informações sobre a publicação de cherry e disfruto! se vc tem
twitter, me segue lá tbm

CHEGAMOS AO NOSSO PENÚLTIMO CAPÍTULOOOOOOOO

esse tá um suspiro aliviado depois de tantos momentos difíceis para nossos


meninos! espero que gostem!

não esquece de votar!!

Mamãe me disse quando eu era jovem


Venha sentar do meu lado, meu único filho
E ouça com atenção o que eu vou dizer
E se você fizer isto
Isso irá te ajudar em algum dia ensolarado

Simple Man - Lynyrd Skynyrd


Flash Back On

— Omma, eu posso comer mais um pedaço de bolo?

— Seokjin, você já comeu o suficiente, vai acabar passando mal.

A voz grossa, mas atenciosa de Seojun, fez Jin abaixar os braços encarando
os farelos do bolo de chocolate sobre o pequeno prato azul e vermelho do
personagem Mario.

Ele soltou um muxoxo, mas sequer tentou retrucar. Seojun não admitia esse
tipo de comportamento. Então, conformado com toda a situação, Seokjin
voltou para a enorme sala de estar da mansão onde vivia desde de que era
um bebê.

Jisoo estava jogada sobre o tapete aquecido, ela vestia o pijama da Barbie e
assistia pela terceira vez na semana Jurassic Park. Jin sentou ao lado dela
muito mal-humorado, resmungando baixinho da mesma forma que a mãe de
ambos fazia quando estava brava.

— O que foi cabeção?

— Não é da sua conta, filhote de avestruz.

— OMMA! O JIN ME XINGOU!

— ELA ME XINGOU PRIMEIRO!

— Hey, vocês dois! Parem com isso! - cada um deles choramingou para o
tapa indolor que receberam na cabeça. - Brigam feito cão de gato! Que coisa
feia!

— Ele é muito chato, halmeoni! Só perguntei o porquê dessa cara feia, nada
demais.

— Não quero saber! Se brigarem de novo vão ficar de castigo! - Jieun


esperou até que os netos assistissem ao mesmo tempo, só então se curvou
para beijar o cabelo escuro do neto e depois da neta que ficou de joelhos
para facilitar. - Agora vou ver se o jardineiro regou direito as minhas
plantas... Ele sempre faz errado, já matou duas samambaias só esse mês. - a
velha senhora saiu da sala lentamente, ainda se recuperava da última cirurgia
necessária graças ao tratamento para osteoporose.

Sozinhos, os irmãos gêmeos ficaram quietos até que Seokjin deslizasse para
o tapete com uma careta brava e olhos cheios de lágrimas. Jisoo fingiu não
ver. Aos doze, eles passavam por uma fase onde brigavam na maior parte do
tempo, talvez a famosa pré-adolescência tenha mudado os ares de paz da
mansão Kim.

Entretanto, mesmo fingindo não ver, Jisoo sentia muito as mesmas coisas que
Seokjin. Era sempre assim: se um ficava doente, logo o outro ficava também.
Isso acontecia até com coisas bobas como vontade de comer alguma comida
diferente ou o desgosto por algo que nunca haviam comido.

Em razão disso, com um suspiro longo, ela o encarou.

— O que foi? Por que você está chorando?

— Não 'tô chorando! - ele disse fungando. Jisoo chegou mais perto.

— Fala pra mim, Jin.

— Queria comer mais bolo. - confessou baixinho, secando as bochechas


cheias e coradas. - Appa disse que vou passar mal.

— Ah, Jin... Você sempre aguenta comer muito bolo e-

— Não foi isso, ele não deixou porque aquele médico chato disse que não
posso. - concluiu chateado, sentia vontade de chorar mais alto. - Acha que eu
como demais.

— É por causa do que aconteceu na escola quando você passou mal?

— Deve ser. Appa não gosta mais de mim, né Jisoo?

— Não! Não é isso! É por causa do médico chato! Não fica assim. - a
garotinha o encarou com curiosidade.
Seokjin fungou. Usou as costas da mão para secar o nariz, então negou duas
vezes para a irmã gêmea.

— Eu aguento comer aquele bolo inteiro!

— Por que você não fala pro appa? Explica pra ele que não tem problema
comer bastante, não tem nada demais.

— Ele não vai entender.

Jisoo fez um bico. Usou as duas mãos para afastar a franja da testa e se
esticando deixou um beijinho sobre a bochecha de Seokjin.

— Vai lá pro meu quarto e me espera, 'tá bom?

— Pra que? - franziu as sobrancelhas.

— Vai logo, cabeção!

Jin bufou, mas fez o que ela pediu. Deixou a televisão ligada, subiu as
escadas com pressa e no quarto absolutamente cor de rosa de Jisoo, esperou
enquanto encarava todas as bonecas assustadoras que pareciam encará-lo de
verdade.

Alguns minutos depois Jisoo apareceu. Ela tinha nas mãos o prato lilás com
um pedaço generoso de bolo e uma caixinha de suco de maçã.

— É pra você, Jin. Eu falei que era pra mim, mas não quero. Come aqui, 'tá
bom? Appa 'tá no telefone a omma saiu.

Ele encarou a fatia de bolo e depois a irmã gêmea com carinho.

— Obrigado, Jisoo.

— De nada! Mas não chora mais, 'tá bom?

— 'Tá bom. Vem aqui, come comigo, só um pouquinho.


Sentaram lado a lado, sobre a cama coberta com lençóis da Barbie.
Compartilharam um dos primeiros segredos naquele dia, porque por mais
que brigassem o tempo todo, ainda eram irmãos e melhores amigos.

Flash Back Of

— Está atrasada.

— Bom dia pra você também, Jin.

Ele sorriu enquanto a abraçava apertado. Jisoo estava muito diferente do


habitual naquela manhã, mas Jin não era diferente. A garota vestia um
terninho vermelho, os longos cabelos castanhos se firmavam num coque alto
enquanto os saltos faziam barulho a cada passo em direção ao prédio alto do
outro lado da rua. Seokjin segurava o paletó preto nas mãos, mas o resto de
suas roupas estava impecável.

Nenhum deles precisava se identificar na recepção, mas ambos faziam


questão de se curvar para cada funcionário que encontravam pelo caminho.

— Eles nos olham como se fossemos dois vampiros medievais.

— Olham pra gente do mesmo jeito que olham pro appa, Jin. - ela segurou o
riso. - As pessoas têm muito respeito por ele, isso é bom.

— Será que a gente vai conseguir fazer isso?

— Sinceramente? - ele assentiu. - Não faço a mínima ideia.

No elevador, ao lado de outros funcionários silenciosos, mas simpáticos, os


irmãos se sentiam um pouco mais nervosos a cada andar vencido. Aos
poucos foram deixados ali, quando chegaram a cobertura não havia ninguém
além dos dois. Saíram em uma ante sala espaçosa com decoração
minimalista. A esquerda tinha o escritório onde o falecido tio trabalhou por
anos e a direita o escritório onde o próprio pai ainda trabalhava diariamente.

— Bom dia!

A secretária, uma senhora bem vestida e educada, curvou-se antes de sorrir.


— Bom dia Danbi-ssi. Como vai?

— Oh, estou bem senhor, muito obrigado por perguntar!

— Como vão as crianças? - Jisoo também sorriu.

— Vão bem, senhorita. Muito obrigado.

— Appa já chegou?

— O senhor Kim chegou às sete, ele aguarda você dois junto a senhora Kim.

— Omma 'tá aqui também? - os irmãos se encararam. - Ok, obrigado Danbi-


ssi, nós vamos entrar.

A senhora apenas assentiu, Jin caminhou até a porta pesada de madeira e


abriu sem esperar muito tempo, escancarou para que tivessem a visão do
interior do escritório do pai. Mas acabou gritando diante da cena que viu.

— Meu Deus! Vocês dois! Isso é uma empresa de respeito!

— Omma! O que-

Seojun rapidamente se afastou da esposa enquanto ela ajeitava o vestido


bonito, mas discreto que usava. Os dois estavam corados dos pés à cabeça.

— Seokjin! Por que não pediu a Danbi para anunciar que estavam aqui?!

— Não seja descarado, senhor Kim. Estava dando uns amassos na minha
mamãe! - Jin provocou depois de fechar a porta.

— Que constrangedor, quero ir embora.

— Jisoo, pare com isso.

Saeron penteou os cabelos curtos para trás e se aproximou dos filhos. Era
uma mulher deslumbrante. Sequer aparentava a idade que tinha, mas era
absolutamente contra intervenções estéticas e procurava manter-se através
de tratamentos naturais. Aos dezenove anos, Kim Saeron fora miss Coréia-
do-Sul e nos dias atuais ainda atuava como uma ativista em prol de debates e
discussões sobre o padrão de beleza forçado em outras mulheres do país.

Primeiro ela abraçou Jisoo. Eram da mesma altura, possuíam o mesmo tom
de pele e cabelos castanhos muito escuros.

— Oi, minha princesinha. Está bem?

— Sim, omma.

— E esses saltos tão altos, não quero que você machuque o tornozelo, Jisoo.
Você prefere os mais baixos.

— Quis passar uma boa impressão. - sorriu de forma doce, Jin rolou os
olhos para a cena.

— Deixa de ser fingida.

— Fica na sua!

— Hey, nada de brigas. - Seojun estava ajeitando a própria gravata. - Venha


dar um beijo no seu appa, porquinha.

— Appa!

— Oinc, oinc... Jisoo porquinha!

— Pare de provocar a sua irmã, Seokjin. Venha aqui, me deixe te ver. -


Saeron o abraçou com carinho. Jisoo estava agarrada ao pai, rindo sem
parar. - Como você está, meu príncipe?

— Tô bem, mamá. - ela a beijou na testa. - A senhora fica mais linda a cada
dia.

— Claro que fico. - piscando, ela o abraçou pela cintura. - Como vai Sunmi?
E nossa Yumi?

— Sunmi anda mais nervosa, nós tivemos de procurar uma forma de lidar
com o inchaço nos pés dela, a obstetra pediu alguns exames também, acho
que isso a deixou mais ansiosa. - Jin fazia carinho nos ombros da mãe. -
Yumi está bem. Cada dia maior e mais atrevida, fazendo a omma dela de
bola de futebol.

— As últimas semanas são as mais difíceis, fique perto de Sunmi e ajude em


tudo, ok? - ele assentiu. - Tenha paciência com ela, mostre que está ali para
o que ela precisar e não esqueça...

— Ligar se Yumi resolver nascer antes da data marcada.

— Isso mesmo. E me diga, como estão seus amigos?

— Ah, estão indo... O último mês foi turbulento, omma. Namjoon pediu que
eu agradecesse a vocês pelas flores que enviaram para a cerimônia de
cremação de Eunji-ssi.

— Sinto muito que nenhum de nós dois tenha ido, desde que sua avó faleceu
não me sinto bem em situações assim.

— Expliquei pra ele, não se preocupa.

— E Hoseok? Ele está bem?

— Acho que os últimos dias foram mais tranquilos, principalmente por


Yoseob-ssi estar respondendo ao caso em liberdade condicional.

— Seokjin, venha falar com o seu appa também.

Jin sorriu enquanto ia até o pai para abraçá-lo apertado. Era centímetros
mais alto, entretanto, ainda se tornava um garotinho quando Seojun o
abraçava daquela forma.

— Tudo bem?

— Sim, appa. Tudo bem.

— Já tomaram café? Pensei em dizer a Danbi-ah que pedisse algo, mas acho
mais proveitoso que nós quatro nos juntemos pra isso fora da empresa. Faz
tempo que os meus bebês não comem comigo.
— Saeron, eles não são mais bebês. Seokjin até faz bebês.

— Sentem, temos muito o que conversar.

Jisoo foi a primeira a tomar uma das cadeiras frente a mesa onde o pai
também sentou. Jin fez o mesmo, enquanto Saeron ficou de pé ao lado do
marido.

— Acho que chegou a hora.

Seojun anunciou.

— Hora de que?

— Hora de uma nova geração assumir a empresa, filha.

— Appa...

— Espere, deixem que eu fale primeiro, sim? Vocês dois sabem que a
empresa sempre esteve nas mãos de nossa família e eu sei que ambos têm
capacidade de cuidar de tudo, eu confio no potencial dos meus filhos.
Seyoon nunca almejou formar uma família, ele me dizia sentir alívio por eu e
sua mãe termos vocês dois. O meu irmão era um gênio com números, mas
nunca soube ser feliz além do que era ligado a essa construtora. Jisoo você
se forma daqui a três meses e está capacitada para a posição que pertencia a
ele, pronta para administrar. Vou acompanhá-la por um tempo, o setor inteiro
será reformulado para que você acompanhe o ritmo de trabalho ao seu
tempo, sem pressões. Filha, você é uma mulher extremamente inteligente, eu
tenho certeza que vai se sair bem.

— Appa... - Jisoo sorriu de um jeito nervoso. Jin cobriu a mão da irmã com
a dele, apertou dando-lhe confiança. - Eu acho que me preparei a vida inteira
pra isso, vou dar o meu melhor. Tem a minha palavra.

— Confio em você, filha. - ele sorriu. - Seokjin?

— Eu. - ele respirou fundo.


— Este lugar onde estou agora... Pertence a você. - Jin engoliu a seco. - A
presidência dessa empresa.

— Ainda não me formei...

— Faltam três meses.

— Appa... Espera... - Jin passou as duas mãos sobre o rosto. - Espera um


pouco, fica mais um pouco aqui com a Jisoo... Eu acho que ainda não 'tô
pronto e-

— Seokjin, você está pronto. - Saeron o interrompeu. - Meu príncipe... Vou


te contar uma coisa, algo que eu e o seu pai sentimos quando você nos disse
que havia engravidado uma namorada, no instante em que ouvimos isso, nós
dois pensamos a mesma coisa.

— O que?

— Que você será um pai incrível.

Seokjin franziu as sobrancelhas.

Flash Back On

Seokjin não disse nada quando entrou em casa.

Não levantou o rosto, não respondeu aos chamados da mãe e apenas subiu
para o próprio quarto com pressa.

Trancou a porta depois de batê-la com força, então jogou a mochila em um


canto qualquer para se jogar na cama alta de casal. Se recusou a chorar
durante todas as aulas depois do teste, sequer caiu nas provocações de Jisoo
enquanto voltavam para a casa junto do motorista. Ele estava com raiva.

— Seokjin... Você está bem?

— Estou! Me deixe em paz! - ele respondeu a mãe.

— Você quer conversar?


— Não! Só quero ficar sozinho!

Depois disso Saeron não disse mais nada. Jin não tinha aquele tipo de
comportamento, ela não sabia bem como agir, então optou por dar a ele a
privacidade de lidar com a situação sozinho, seja lá qual fosse. Ele passou
horas ali, o rosto escondido no travesseiro macio enquanto chorava
silenciosamente ao lembrar das palavras que ouviu mais cedo.

"Você não é bom o suficiente, deveria desistir."

"Certamente você é o mais fraco entre todos, Jin. Tente se esforçar mais."

"As pessoas iguais a você devem tentar duas vezes mais para fazer algo
realmente bom."

Jin muitas vezes não conseguia entender a razão das pessoas serem tão
cruéis enquanto fingiam querer ajudá-lo. Naquela manhã havia acontecido
outra vez e por mais que ele jurasse não ligar para nada daquilo enquanto
sorria, por dentro se sentia muito frustrado.

Era frustrante.

Dava o melhor que podia, aquele melhor que os pais sempre destacavam,
mas nunca conseguiam presenciar.

Jin estava cansado de nunca ser o suficiente.

Horas depois, quando resolveu sair do quarto, já era noite e a fome o fez
correr para a cozinha. Mas antes de chegar lá sentiu um cheiro familiar pela
casa. Na cozinha, diante do fogão grande, Saeron mexia o conteúdo cheiroso
com uma colher de madeira.

— Espere um minuto, sim? Não coma nada ainda, Jin. Sente no sofá e
espere.

Ele assentiu.

Não demorou até Saeron se juntar a ele. As duas xícaras com chocolate
quente foram deixadas sobre a mesinha ao lado dos pacotes de jujubas,
chocolates e doces variados. Ela sentou junto do filho, o abraçou como se o
adolescente de dezessete anos ainda lhe coubesse no colo, depois passou a
afagar os cabelos em corte tigela sem pressa alguma, sem o forçar a falar
qualquer coisa.

Jin arfou baixinho escondendo o rosto contra o pescoço da mãe, chorando


outra vez.

— Omma... Eu queria que as pessoas gostassem mais de mim.

— Jin, eu queria que você gostasse mais de si mesmo, sabia? - ele a encarou
fungando. - O que aconteceu?

— Outra vez eu tentei participar de alguns clubes da escola, mas eu não sou
bom em nada. As pessoas só sabem dizer que eu sou bonito e isso é
engraçado, mas eu queria que as pessoas pudessem ver outras qualidades em
mim, coisas além da minha aparência, entende?

— Entendo.

— Isso é idiota, não é? Estou reclamando porque as pessoas me acham


bonito. - riu sem humor.

— Sempre quis saber onde você aprendeu a sorrir assim quando algo te
machuca, filho.

— É melhor que eu ria de mim com as outras pessoas, pelo menos parece
que dói menos.

— Não é idiota que você se sinta mal com essas coisas, Jinnie.

— Um dos hyungs disse que eu não sou bom em nada, que a única coisa que
eu sei fazer é as outras pessoas darem risada... Mas, eu não quero ser isso.
Omma, a senhora acha que algum dia as pessoas vão me valorizar? Vão
gostar de mim? E eu vou ter amigos?

— Escuta a sua omma, ok?

— Ok. - ele fungou.


— Seokjin você é único. Eu sinto muito por todas as pessoas que não
possuem a capacidade de enxergar as suas qualidades, toda a sua
capacidade. Mas eu não quero que essas pessoas sejam influentes o
suficiente para te fazer sentir medo de mostrar isso, medo de realizar os seus
sonhos. Filho, eu quero que você se ame sem precisar ser aceito por outras
pessoas, quero que você ria de verdade e não só para esconder seus
sentimentos como se eles fossem errados. Esse hyung não te conhece, ele não
faz a mínima ideia de quem é você... Então, o que ele diz não é importante.
Olhe pra mim. - Jin obedeceu. - Eu te conheço, Jin. Eu sou a sua omma.
Melhor que qualquer um, eu sei o quanto você é único.

— Me sinto cansado de sempre ter de fazer duas vezes mais, omma... Para
que me aceitem.

— Então, não faça. Se fizer uma única vez e isso for o suficiente para você,
não se esforce mais. Quem tem de te amar, vai te amar exatamente como
você é. Porque você é o suficiente, Jin.

— Um dia... - ele fungou outra vez. - Eu vou sentir isso, omma. Vai ter algum
momento da minha vida em que eu vou me sentir suficiente?

— Você é suficiente, mas ainda não conseguiu ver o quanto. Um dia essa
epifania acontece, então eu vou olhar para você e saber o que aconteceu.

— Obrigado por me dar espaço, sinto muito por ter sido grosseiro mais
cedo.

— Está tudo bem, meu príncipe. Aposto que está com fome. Seu pai foi ao
cinema com a sua irmã, então hoje nós dois teremos um tempo apenas nosso.
- ela o beijou na testa. - Eu te amo.

— Também te amo, omma. Mais que tudo.

Jin se aconchegou mais ao corpo dela, abraçando-a como se ainda fosse


criança.

Para Saeron, ele ainda era.


Flash Back Of

— Jin, você não deve mais deixar que o medo te impeça de reconhecer o
tamanho da sua capacidade. Não só no âmbito profissional, mas também com
a paternidade. - Saeron deu a volta na mesa para ficar recostada ao móvel
diante dos dois filhos. - Nós somos uma família boa... Criei vocês dois para
que fossem uma boa mulher e um bom homem... Eu sei que fiz um bom
trabalho.

— Omma... Yumi vai nascer... Pequena e frágil... Então, ainda tem a empresa
que é grande e forte... Eu posso simplesmente foder com tudo! Fazer tudo
errado e estragar a vida da minha filha, estragar o que a nossa família levou
anos para construir!

— Quando eu me casei com Saeron, há vinte e oito anos, estava na


celebração do casamento quando o seu avô chegou até mim para dizer:
quando voltar da lua de mel, você vai assumir a construtora com o seu irmão
mais velho. - Seojun comentou nostálgico.

— Seu appa teve crises de ansiedade nas Bahamas. - Saeron lamentou. - Se


sentiu pressionado, havia acabado de se casar. Seu avô era um homem duro,
criado nos costumes antigos que nós tentamos afastar depois de casados.

— O que o senhor fez appa? - Jisoo perguntou.

— Eu fiz o que ele queria: assumi a empresa. - deu de ombros. - Seis meses
depois disso sua omma engravidou.

— Nós dois choramos juntos por horas naquele apartamento. Assustados e


emocionados com a ideia do nosso amor gerar vidas. - Saeron acariciou o
rosto de Jisoo. - Demoramos até contar pra família, ficamos com medo.

— Medo?

— É Jin, medo. Medo de dar tudo errado, medo de fazermos tudo errado.
Seu appa tinha acabado de assumir um cargo na presidência do legado de
muitas gerações e eu não sabia muito coisa além de passarelas e moda.
Como cuidaria de dois bebês? Como eu poderia ser uma mãe?
— Então, quando vocês dois nasceram eu percebi que sentir medo fazia
parte de toda a experiência. Se eu disser que não sinto mais é mentira. Vocês
dois já tem vinte e seis anos, mas eu sinto como se ainda estivessem
chorando alto nos meus braços minutos depois de nascer. Ser pai é isso. É
sentir medo de errar, então isso me faz procurar formas de acertar. Pais que
não têm medo acabam negligenciando os filhos... Eu não quero perder os
meus filhos... Porque o maior feito da minha vida não é essa empresa, não é
o legado... É a minha família. É a sua mãe, é vocês dois. - Seojun ficou de
pé. - Por muitas vezes eu fui duro, mas perdi a conta das vezes em que
coloquei um de vocês de castigo para chorar nos braços da sua mãe me
perguntando se havia feito o certo. Foi assim com a sua glicose e aqueles
bolos de chocolate, Jin... Foi assim quando eu proibi Jisoo de namorar
aquele garoto problema no ensino médio. Talvez nenhum de vocês tenha
entendido, na época, mas entenderão um dia. Eu confio plenamente na
capacidade de vocês, me sinto pronto para observá-los caminhar sozinhos.

Jin respirou fundo. Havia um nó em sua garganta, os olhos ardiam graças às


lágrimas.

Jisoo fungou secando as bochechas.

— Um dia, se for da vontade de vocês, terão suas famílias. Jisoo e Lalisa,


você e quem você escolher amar Jin. Sunmi, ou não. Yumi é o seu primeiro
passo. Vocês estão prontos para caminhar sozinhos.

— E se nesse caminho se sentirem perdidos, basta olhar para trás. Eu e sua


omma estaremos no mesmo lugar, olhando vocês dois. - Seojun abraçou a
esposa e ela sorriu.

— Hey, seu cabeção... - Jisoo segurou a mão do irmão gêmeo. - Podemos


fazer isso juntos. Igual quando éramos crianças, lembra? A gente consegue,
Jin.

Jin apertou a mão dela com carinho, secou um dos olhos antes de assentir.

— Podemos. Vamos fazer isso juntos. - beijou o nós dos dedos pequenos.
Saeron os abraçou ao mesmo tempo, escondendo cada um dos rostos
chorosos na barriga como se pudesse sentir outra vez o quanto podia os
proteger na época em que cabiam ali. Ela lhes beijou os cabelos e depois
selou os lábios aos do marido.

— Os Kim são como lendas.

— Já ouvi isso em algum lugar. - Jin franziu o cenho.

— Ela anda assistindo Keep Up With The Kardashians. - Seojun entregou.

À noite Jin acreditou ser o primeiro a chegar em casa. Estava exausto,


depois de tomar café com os pais e a irmã, teve aulas demoradas e ainda
encarar o estágio que mesmo no fim, continuava cansativo.

Ele se livrou dos sapatos e da gravata ainda no pequeno corredor que dava à
sala de estar. Acendeu as luzes, jogou a mochila sobre o sofá e gritou quando
outras duas pessoas gritaram com o impacto da mochila contra suas cabeças.

— O QUE É ISSO?!

— AÍ MINHA CABEÇA, JIN-HYUNG!

— Ai, doeu!

— VOCÊS QUEREM ME MATAR DE SUSTO? POR QUE ESTÃO AQUI


NO ESCURO DESSE JEITO?!

Jimin, com um bico nos lábios, segurava uma almofada contra o colo. Já
Jungkook estava corado, sem camisa e descabelado.

— A gente estava... Conversando, hyung.

— Você mente pior que o Hoseok, garoto. - rolou os olhos. - Jimin cuidado
com essa perna! Quer ficar mais tempo com o gesso?!

— Minha perna tá legal. Não ia acontecer nada com ela. - resmungou.


Seokjin os encarou. Ele apoiou as duas mãos nos quadris e respirou fundo.
Jimin e Jungkook continuavam sentados lado a lado no sofá, e enquanto o
mais novo parecia querer encolher tamanha a vergonha, o mais velho se
emburrava feito uma criança.

— Escuta, vamos ter essa conversa. - Jin anunciou sentando sobre a mesinha,
diante deles. - Vocês conversar sobre isso, nós três.

— Sobre o que? - Jungkook arqueou uma sobrancelha.

— Sobre vocês dois e essas recaídas constantes. - explicou antes de apoiar


os cotovelos sobre as coxas. - Me diga, vocês dois voltaram a namorar?

— Não. - o ex-casal respondeu junto.

— Você. - apontou para Jungkook. - Me disse que decidiram levar as coisas


devagar, começar com a água fria... Mas água fria é o que eu vou jogar nós
dois se continuarem com essa esfregação pela casa.

— Hyung...

— Jimin, eu sei que saudade é foda. Acredite, eu sei. Mas eu não quero ver
vocês dois repetindo erros que eu já cometi no passado, entendem? - eles
assentiram. - Vocês decidiram juntos que vão tentar recomeçar, mas estão
fazendo errado.

Jimin abaixou o olhar.

— Respeitem o tempo que os dois escolheram tomar nesse relacionamento,


respeitem um ao outro e principalmente se respeitem. Eu sei o quanto é
difícil ficar longe de quem a gente ama, mas é melhor um pouco de tempo...
E não o resto da vida. - ele pareceu nostálgico, Jungkook percebeu.

— Não vai ser o resto da vida, hyung. - Jungkook assegurou. - Eu sei que não
vai, vocês dois se amam muito.

Jin sorriu. Lambendo os lábios ele ficou de pé e se curvou para beijar o topo
do cabelo de Jungkook demoradamente.
— Obrigado, JK. Agora se acalme e venham me ajudar com o jantar. Você
toma cuidado com essa perna Park Jimin! Se me inventar de se machucar eu
juro que quebro a outra! Ouviu?

— 'Tá bom, hyung! Chato!

— Aigo, é isso que recebo?! Cuido tanto de você Jimin-ah! Ingrato!

— Estou em casa! - a voz de Yoongi preencheu a sala.

— Hyung! Hyung, eu comprei uma bola de basquete! Pra gente jogar! -


Jungkook, pulando ao redor dele, estava animado.

— Vou tomar um banho, então a gente joga um pouco. - Yoongi sorriu para
ele. - Acho que o Tae vai querer jogar também.

— Yoongi-ah, quero falar com você depois.

— Seja o que for, não fui eu!

— Nem eu. - Jimin resmungou.

— Não fala comigo Jimin, ingrato!

— O que quer comigo, hyung?

— Aqui, corte isso enquanto conversamos.

Jin entrou a Yoongi as duas cebolas e um pimentão.

— Se queria me fazer trabalhar era só dizer. - resmungou enquanto encarava


as cebolas. - O que vai fazer?

— Gopchang.

— Hm. Posso saber a razão de estar fazendo a comida favorita do Namjoon?


— Jimin também gosta.

— Jimin gosta de frango apimentado. Essa daí é a favorita do Namjoon. A


mesma que o hyung cozinhou no dia que ele se mudou pra cá.

— Já faz quase quatro anos. - relembrou enquanto picava os pedaços de


carne de porco.

— Já faz mais de um ano que o Tae e o Jungkook chegaram. A gente faz


aniversário de namoro daqui a dois meses.

— E com Hoseok?

— Com o Seok-ah é daqui há cinco. Mas para de mudar de assunto.

— Não é nada. Ele ainda anda triste desde a morte da omma, só queria
deixá-lo mais contente. Faço isso com todos vocês.

— Sabe hyung, eu reparo muito isso. - fungou, as cebolas já o faziam chorar.

— O que?

— O quanto cuida de nós. Quando estamos tristes, quando temos problemas,


quando nos metemos em problemas. Você vai ser um bom pai, Jin.

Seokjin o encarou por cima do ombro. Yoongi estava de costas e sem


camisa, habilidosamente picava as cebolas do jeito certo para fazer o prato
especial. O mais alto sorriu. Abriu a torneira da pia para lavar as mãos e
enquanto as secava, parou de frente para o melhor amigo.

— Estou cozinhando algo que ele goste porque quando paro pra pensar em
como ele vai se virar pelo mundo entro em desespero, Yoongi.

— Não quer que ele vá, não é?

— Eu quero que Namjoon se encontre. - assentiu. - Mas dizer que vê-lo ir


embora não me machuca é mentira. Sabe como é sentir falta de alguém
mesmo quando essa pessoa nem foi?
— Acho que sei. - ele deixou as cebolas picadas de lado.

— Ele precisa disso, Gi. Precisa dessa liberdade, precisa dessa solidão.

— Esperaria por ele, Jin-hyung?

— E o que eu tenho feito há três anos, senão esperar por ele? - deu de
ombros enquanto sorria um pouco. - Acho que também preciso disso. Hoje
mais cedo passei um sermão no Jimin e no Jungkook sobre essas recaídas
constantes e percebi que se tivéssemos feito isso, talvez as coisas fossem
diferentes, mas não fizemos.

— Talvez essa viagem seja isso... Esse tempo sem recaídas. - ele piscou
algumas vezes, seus olhos estavam ardendo graças as cebolas. - Porra!

— Deixa que eu termine isso, seu molenga!

— Posso fazer arroz.

Ele se afastou em direção à pequena dispensa. Jin rapidamente terminou com


as cebolas e passou a picar o meio pimentão. Yoongi voltou com duas
embalagens de arroz instantâneo. Ficaram em silêncio, o mais novo lia o
modo de fazer daquele arroz, o mais velho sorriu.

— Eu e Sunmi queremos que você seja o padrinho da Yumi, Yoongi.

Yoongi franziu as sobrancelhas. Ergueu a cabeça até encará-lo.

— Oi?

— Nós queremos que você seja o padrinho da nossa filha junto da irmã mais
velha de Sunmi.

— Hyung...

— Porque não existe no mundo um outro cara que eu confie ao ponto de


saber que se um dia eu não estiver mais aqui, vai cuidar da minha filha como
eu cuidaria. Você é o meu melhor amigo, a metade preto e branco da minha
alma cor-de-rosa, eu amo você Gi.
Yoongi, segurando os dois potinhos de arroz, não segurou a vontade de
chorar.

— Seokjin-hyung. - murmurou ao abraçá-lo. - Obrigado por confiar tanto


assim em mim.

— Para de chorar! - ele disse, também estava chorando.

— Eu também te amo hyung. Não falo muito, mas te amo. Obrigado, eu vou
cuidar da Yumi sempre, te prometo.

— Eu sei, tenho certeza.

— Hey, hey que chororô é esse aqui?! - Taehyung entrou na cozinha de


braços cruzados, também estava sem camisa e usava um boné vermelho
virado para trás. - O que foi? Chega de lágrimas nessa casa.

— É uma coisa boa, Tae.

— Jin-hyung disse que eu vou ser padrinho da Yumi! - Yoongi, secando as


bochechas sorriu para o namorado.

— Sério?! Que bom, meu Yoon. - Tae os abraçou ao mesmo tempo. -


Momento família.

— Espera aí, você ainda tá suado de jogar basquete com o Jungkook! - Jin
fez careta.

— Família feliz e unida!

— Tae, amor, vai tomar um banho.

— Pra você ver, até o Yoongi falou que você precisa de banho, Taehyung!

— Vamos ficar fedidos juntos! - Tae estava rindo. - Vamos tomar banho
todos juntos!

— Ah, não! Espera eu tirar o gesso! Sério, me esperem. - Jimin, que vinha
com suas muletas, choramingou. - Falta só um mês.
— Ninguém vai tomar banho em grupo, nós já passamos da época de fazer
suruba, todo mundo casou. - Jin empurrou Taehyung com cuidado. -
Desgruda, garoto!

— Um absurdo! Eu não morava nessa casa nessa época, mereço retratações!


Então, todos vão tomar um banho comigo. - Tae abraçou Yoongi por trás.

— Eu também não morava.

Jungkook estava bebendo água direto da garrafa. O corpo pingava suor, a


regata larga e vermelha grudado ao corpo forte.

— Que suruba o quê, Jungkook, cala a boca! - Jin retrucou. - Passa pra tomar
banho vocês dois, agora! Se não ninguém janta nessa casa!

— Tem de separar um pouco pro Hoseok-hyung. - o garoto lembrou.

— Ele foi jantar fora, não vai chegar com fome! Eu como a parte dele! -
Jimin estava mastigando um pedaço de cebola crua.

— Ele estava ansioso, vai comer muito pouco nesse jantar. - Yoongi ficou
um pouco apreensivo. - Quero ligar pra saber como andam as coisas, mas
não quero ser invasivo.

— Fica tranquilo, as coisas estão bem. - Tae o beijou na bochecha. - Vou


subir pra tomar um banho.

— Cadê o Namjoon? - Jin olhou ao redor.

— No quarto. Ele chegou, tomou banho e ficou lá mesmo. - Jimin respondeu.

— Jimin, já que está tão interessado em comer, fica aqui com o Yoongi e
daqui a dez minutos desliga aquela panela com a carne. Ok?

— Ok. - respondeu comendo mais cebolas.

— E você ainda beija essa boca, Jungkook. Sinceramente.

Ele saiu da cozinha fazendo careta.


Flash Back On

— Detesto gente que se atrasa.

— Para de reclamar, ele atrasou nem dez minutos.

— Por que mesmo que eu precise estar aqui? Eu tenho um encontro.

— Porque você é o único que conhece esse tal de Namjoon, Yoongi. Fica aí!

Seokjin olhou brevemente para Hoseok, apenas para confirmar a careta


desgostosa depois de ouvir Yoongi falar sobre um encontro. Suspirou, era
cansativo lidar com o chove e não molha entre os dois mais novos, então
muitas vezes preferia se envolver pouco. O tal Namjoon poderia ser um
pouco de luz em meio a escuridão, quem sabe havendo mais alguém na
república, Jin conseguiria fazer o casal indeciso se acertar de uma vez?

Yoongi havia comentado que Namjoon era legal. Um cara inteligente demais,
um pouco atrapalhado e alto. Até então, qualquer um seria alto para Yoongi.

— Já decidiram quem vai dividir o quarto?

— Uhum, Yoongi perdeu no cara ou coroa. - Hobi sorriu.

— Mas isso só até o outro quarto ficar pronto da reforma, aí cada um fica no
seu.

— Sabe muito bem que a universidade raramente deixa as repúblicas com


vagas, logo arrumam alguém pra cá.

— Me deixa sonhar, Jin-hyung! - ele bocejou, então tocaram a campainha. -


Deve ser ele.

Yoongi se levantou do sofá para abrir a porta, então Hoseok ficou de pé para
receber o novo morador, mas Jin acabou por entornar um pouco de café na
camiseta quando foi fazer o mesmo.

— Caralho, que merda. Acabei de tomar banho.


— Entra ai, pode deixar as malas, te ajudo a subir com elas depois. Já
conhece o Hoseok.

— E aí, tudo bem Namjoon-ssi?

— Oi. Me chame só de Namjoon, por favor.

Seokjin estava esfregando a palma da mão na camiseta quando ouviu a voz


estranha. Foi um pouco assustador e quase esquisito demais a forma como
seu coração errou duas ou três batidas conforme a voz grossa entrava por
seus ouvidos.

Ele levantou o rosto para encarar o dono dela, então sorriu.

— Oi.

— Oi.

Hoseok e Yoongi trocaram um olhar confuso.

Seokjin sentiu as orelhas esquentando como se pegassem fogo. Namjoon


sorriu um pouquinho, pela primeira vez o agraciou com o par de covinhas
adoráveis enquanto os dentes branquíssimos se mostram. Entretanto, o que
mais lhe travou foram os olhos.

Namjoon tinha olhos de dragão. Fortes, mas que carregavam sentimentos


demais.

Quando ele se curvou, segurando a alça da bolsa atravessada desde os


ombros, Jin lambeu os lábios.

— Esse é o Seokjin-hyung. O responsável pela república. - Yoongi


apresentou.

— Sou Kim Namjoon, por favor, cuide bem de mim.

— Muito prazer, Namjoon. Seja bem-vindo. Espero que você seja feliz nessa
casa.
O mais alto o encarou outra vez, os lábios grossos se puxaram num sorriso
pequeno.

— Eu vou te mostrar a casa, Namjoon. A gente vai dividir o quarto, você


ainda ronca? Diga que não!

Jin o viu se afastar junto de Yoongi, o seguindo enquanto olhava ao redor da


casa onde morará pelos próximos cinco anos.

— Hyung... Para de babar. - Hobi provocou rindo baixinho.

— Aigo, cala a boca! Ele é bonito, só isso.

— Mesmo?

Jin atirou uma almofada na cara dele.

— Vai lá saber o que ele gostaria de jantar. Vamos dar boas-vindas ao


novato.

Hoseok, aos risos, assentiu. Quando ficou sozinho na sala de estar, Jin
suspirou.

Flash Back Of

Namjoon estava sentado na cama.

Usava os óculos de armação grossa e tinha nas mãos um pequeno panfleto


verde que lia atentamente. Jin sentou ao lado dele e observou as palavras e
fotos impressas no papel: paisagens naturais, pessoas sorrindo e crianças
dançando.

— Brasil?

— Uhum. Brasil.

— É um bom começo. - sorriu.


— Está ONG ajuda crianças em situação de risco... Liguei pra lá hoje de
manhã e conversei com uma pessoa responsável. Precisam de voluntários o
ano inteiro, oferecem um lugar e alimentação, então a gente devolve isso
com ajuda. Vou ficar lá por quatro meses.

— Vai aprender a falar... - ele ficou confuso.

— Português. No Brasil as pessoas falam português porque foram


colonizadas por Portugal.

— Já te falei o quanto fica sexy quando me traz informações absolutamente


novas que eu nunca procuraria saber sozinho?

— Algumas vezes. - sorriu. Em silêncio, encararam juntos o panfleto.

Namjoon mordeu o lábio inferior e foi o primeiro a ter coragem naquele


momento. Encarou ao mais velho até que fosse retribuído. Jin sorria, os
olhos bonitos se espremiam bem pouco.

— O que foi?

O mais novo não respondeu com palavras, mas com um ato. O segurou na
nuca com carinho para beijá-lo cheio de saudade. Jin correspondeu no
mesmo instante. O encaixe era perfeito, o sabor era o melhor do mundo, a
saudade chegava a doer no peito.

Tocaram lábios, línguas e até dentes que vez ou outra pareciam desesperados
para participar daquele beijo desesperado.

Jin agarrou-se ao moletom cinza, o puxou mais para perto enquanto as mãos
de Namjoon o tocavam na nuca e na coxa direita, apertando como se assim
pudesse aliviar os sentimentos que transbordavam entre as bocas apressadas.

Quando acabou, quando pararam para respirar fundo, ainda com narizes
colados, eles sorriram.

— O quanto eu vou ser irresponsável por te pedir pra fazer amor comigo
antes de ir embora?
— Acho que o mesmo tanto que eu por concordar com isso. - Jin o encarou. -
Depois do jantar eu vou te levar daqui... Então, vou te fazer o amor mais
gostoso do mundo...

— O nosso amor... - Namjoon assentiu.

— O nosso amor. - repetiu. - Meu amor.

Dito isso, eles se beijaram outra vez.

Flash Back On

Sunmi esperou por alguma palavra, mas Seokjin não dizia nada e isso a fazia
sentir ainda mais nervosa com toda a situação.

O quarto estava tão silencioso que era possível ouvir as gotas da pia do
banheiro que pingavam de quatro em quatro segundos.

O casal se encarou outra vez, então ele passou uma das mãos sobre a boca.

— Você tem certeza?

— Ontem de manhã fiz o exame de sangue, deu positivo.

— Sunmi, eu não quero você ache que estou te culpando... Mas, eu só quero
entender como-

— Como? Esqueceu das vezes que a gente transou sem camisinha, Seokjin?

— Duas vezes.

— E acha que precisa de quantas pra fazer um bebê?! - ela gesticulava


nervosamente. - Você acha que é o único a estar sem chão?! Porra, Jin! Eu tô
grávida! - disse mais baixo. - Tem uma vida sendo gerada dentro de mim e
eu não sei se é isso que eu quero nesse momento da minha vida!

— Não estou te culpando de nada, nenhum de nós dois é criança, a gente


sabia dos riscos. - ele suspirou. - Você procurou algum médico?
— Ainda não. - ela fungou, os cabelos recém pintados de preto estavam
presos para o alto. - Eu não sei... O que fazer.

Ao fim da frase, Sunmi estava chorando. Seokjin rapidamente sentou ao seu


lado para abraçá-la forte.

— A gente vai resolver isso, Sun. Juntos, do mesmo jeito que fizemos isso.
Podemos mudar para um lugar, fazer esse namoro ir para frente e-

— Que? - ela se afastou um pouco, os olhos chorosos o encarando. - Você


acha que significa isso?! Que um bebê significa isso?! Seokjin, pelo amor de
deus...

— Eu-

— Jin, um filho não oficializa relacionamento! Pelo amor de deus, não estou
falando sobre isso! - ela secou as bochechas. - Estou falando sobre a nossa
irresponsabilidade! E o quanto isso pode mudar a nossa vida pra sempre...
Você quer ser pai? Se sente pronto para ser pai? Pra ter alguém que vai se
tornar o centro da sua vida assim, do nada? EU NÃO ESTOU! Eu não sei...
Vá embora.

— Sunmi...

— Vai, eu preciso pensar! Você viaja com os seus amigos e quando voltar
conversamos.

— Mas-

— Seokjin, é melhor que nós dois pensemos sobre isso tudo sem discutir,
sem você dizer essas coisas idiotas no calor do momento como se um filho
pudesse nos obrigar a bancar a família feliz de uma novela. Não é sobre
isso.

— Eu sinto muito, não queria que você... Eu só não sei o que fazer.

— Nem eu sei. Jin, a gente não se ama desse jeito e seria injusto demais
trazer uma criança ao mundo com a responsabilidade de um relacionamento
que só existe por causa dela. - Sunmi ficou de pé. - Vai, pensa e quando
voltar a gente conversa.

Seokjin assentiu, não havia mais o que dizer. Temia piorar tudo. Ele beijou
os cabelos de Sunmi antes de sair do dormitório.

Flash Back Of

Havia uma pilha de roupas ao lado do maior sofá da sala de estar daquele
apartamento.

As luzes estavam baixas e uma música baixa vinha da pequena caixa de som
sobre a prateleira do painel de madeira onde uma grande televisão desligada
estava presa.

A garrafa de vinho tinto caro ia pela metade, a embalagem rasgada de


camisinha continuava esquecida próxima ao saca-rolhas simples.

E sobre o tapete felpudo, Namjoon e Seokjin faziam amor.

Os gemidos eram baixos como se ambos quisessem guardar em segredo na


memória cada um deles, cada respiração ou arfar causado pelo prazer.
Namjoon estava deitado de bruços, os braços fortes agarravam uma
almofada enquanto os dentes vez ou outra mordiam o objeto para assim
abafar a própria voz. Seokjin, sobre o corpo dele, se movia devagar, levava
os quadris com força, mas tanto carinho que pouco se reconhecia. Beijava
cada pedaço da pele beijada pelo Sol, passeava os lábios de um ombro ao
outro e atrevia-se a mordiscar antes de lamber o suor salgado.

Fizeram amor por horas, trocaram de posições diversas vezes, mas sempre
se encaravam durante o ápice porque assim gozavam além do sentido carnal
da palavra.

E quando se deram por satisfeitos já ia alta a madrugada.


— Você cheirava a café. - Namjoon disse depois de uns minutos em silêncio.
Ainda estavam nus sobre o tapete, cada um segurava uma taça de vinho
quase no fim.

— Hm?

— Na primeira vez que eu te vi, tinha café na sua camiseta e você cheirava a
café.

— Que ótima primeira impressão.

— Eu amo café, hyung. Sabe disso. - sorriu.

— Sei. Quando eu te vi pela primeira vez gostei dos seus olhos.

— Por que?

— Porque eram fortes, são fortes. Olhos de dragão. - ele tocou a bochecha
alheia. - Engraçado, eu nunca tive medo de me queimar.

— Às vezes eu pensava que você não tinha medo de nada. - ele viu o mais
velho erguer o tronco para também sentar. - Porque você sempre sorria.

— O meu sorriso é uma armadura, Namjoon. Nem sempre estou feliz, tenho
os meus momentos ruins, mas prefiro sorrir ou fazer as outras pessoas rirem.

— Por que?

— Porque isso é uma coisa boa.

— Hyung... - ele se aproximou, Jin abriu as pernas e o deixou sentar entre


elas. Não havia pudor ou vergonha, seus corpos se conheciam bem. - Por
favor, não faça isso o tempo inteiro. Eu admiro que seja esse homem que me
faz sentir seguro, mas não quero que esconda o que sente o tempo todo. Você
cuida de nós... É o melhor hyung do mundo inteiro, mas também precisa
cuidar de si.

— Posso te confessar uma coisa?


— Você pode me confessar tudo, Seokjin. - respondeu o olhando nos olhos.

— Na adolescência eu tive problemas com a aceitação alheia, procurava


formas de me encaixar, mas nunca parecia o suficiente... Eu era uma droga
em tudo. - sorriu sem vontade. - Às vezes ainda me sinto assim, Namjoon...
Sinto como nada na minha vida fosse realmente memorável, entende?

— Entendo. Mas acho que preciso te dizer que pra mim tudo o que você faz
é memorável e não porque eu te amo, mas porque você é o homem mais
maravilhoso que eu já conheci em toda a minha vida. - fez carinho no rosto
de Seokjin, contornando os lábios inchados graças aos beijos trocados. - Eu
tenho mais sorte do que mereço.

— Namjoon...

— Não estou me depreciando, é sério. - sorriu. - Eu tenho sorte e vou


continuar tendo sorte se você continuar aparecendo na minha vida, em todas
as que eu ainda vou viver.

— Uma vez, nós dois estávamos sobre um tapete também, você disse que em
outra vida me fez feliz... Namjoon-ah, por favor... Seja feliz nessa vida
agora, se encontre primeiro e então... Me deixa te encontrar de novo? - o
segurando pela nuca, Jin o beijou suavemente. - Quando o seu coração
estiver bem... Se ele ainda chamar por mim, o escute...

— Ele sempre vai chamar por você...

— Não deixa que ele murche como se fosse uma flor...

— A minha saudade vai regá-lo todos os dias...

— Porque eu não consigo só aceitar que era pra ter sido amor, mas acabou.

— Jin, onde eu estiver, passando o meu tempo da forma que for, eu vou amar
você. Eu sempre vou amar você.

Jin assentiu, então o beijou. As taças foram deixadas sobre o tapete, mas uma
delas virou conforme os corpos se moviam para ter mais contato.
O vinho derramado mancharia o tecido caro do tapete, mas Seokjin nunca se
livraria daquela mancha porque de alguma forma ela o faria lembrar daquela
noite.

— Aqui 'tá bom?

— Não, quero mais pra direita.

— E agora?

— Espera... Não, acho que estava melhor antes.

Jin suspirou. Então, atendendo ao pedido de Sunmi, voltou com a cortina


cor-de-rosa para a esquerda. Ela estava de pé no meio do quarto que já
pertencia a Yumi. Vestia um conjunto lilás de moletom para gestantes, os pés
inchados mal cabiam nas pantufas que um dia foram de Seokjin e ainda
mastigava um pedaço da manga que saboreava lentamente.

— É assim que você quer?

— Uhum.

— Pronto, não precisa mais chorar, ok? Quer mudar mais alguma coisa?

— Não. Jin, eu choro sem querer chorar! Quando eu noto já estou chorando.
- ela já estava chorando.

— Hey, calma... Pronto. Fica calma. Passou. - ele a abraçou, praticamente a


ninando. - Os seus pés ainda doem, quer massagem?

— Quero tomar banho. - resmungou. - Jin, eu não enxergo a minha vagina há


quatro meses!

— Ok, isso parece ser ruim. Eu ia ficar triste sem ver o meu pau. - afagou o
cabelo dela. - Quer ajuda no banho?

— Por favor, obrigado.


Minutos depois Sunmi estava com metade do corpo submerso em uma
banheira com água morna e cheia de sais cheirosos que, segundo a obstetra,
ajudavam com a ansiedade. Jin estava sentado em um banquinho atrás da
cabeça dela, ajudando-a a apoiar sobre a borda da porcelana.

Pacientemente ele lhe penteou os cabelos e massageou o couro cabeludo. A


bermuda estava embolada nas coxas, a camiseta há muito esquecida
pendurada no box, mas ele não se importava.

— Você conseguiu dormir direito ontem?

— Mais ou menos, nunca acho uma posição... Quando acho, ela não gosta. -
massageou a grande barriga de quase nove meses.

— Jimin disse que ela vai ser do signo de áries. Isso é perigoso.

— É o meu inferno astral.

— Então, tudo está explicado. - ele sorriu.

Sunmi se remexeu, parecia incomodada.

— Amanhã a manicure vai vir, me acorda se eu estiver dormindo.

— Manicure?

— É. Eu não quero ir pra maternidade toda acabada, não!

— Meu deus, mulher! Para com isso! - ele enxaguou o cabelo dela com
cuidado. Sunmi segurou o pé da barriga com uma das mãos, então grunhiu. -
Sun? O que foi? São gases de novo?

— Jin... Alguma coisa... - a água entre as pernas dela ficou um pouco


amarelada, como se tivessem jogado um tipo de gel fino naquele local.

— Você fez xixi?

— Não... Acho que não... Ai! Ai, ai, ai! - ela se curvou um pouco ainda
segurando a barriga com uma das mãos. A outra apertou com força a borda
da banheira.

— Sun, o que foi?! 'Tá sentindo o que?!

— A bolsa... Acho que a bolsa estourou.

Jin levou alguns segundos para compreender o que ela dizia. De repente tudo
que ouvia era um zumbido dentro dos ouvidos. Ele piscou algumas vezes, o
coração passou a bater como um tambor, forte e rápido. Ele sentiu vontade
de vomitar.

— Jin... Jin... SEOKJIN! Não faça isso! Você não vai entrar em choque logo
agora, não me faça te dar um tapa na cara Seokjin! SEOKJIN!

— Eu... Eu sou o Seokjin... Eu... Oh meu deus, oh meu deus! A bolsa... A


bolsa! O que eu faço!?

— Isso não estava nos planos. Yumi, sua filha de uma... AAAAAAI!

— O que eu faço?! O que eu faço?!

— Primeiro... Você liga pra doutora Kang, diz pra ela o que aconteceu.

— Ok, ligar... Ligar... Vou ligar!

— VAI LOGO, SEOKJIN!

Ele pulou no lugar, mas logo correu para fora do banheiro, buscando o
próprio celular feito um doido, tropeçando pelo quarto inteiro. Percebeu que
estava tremendo ao segurar o aparelho nas mãos, errou a senha duas vezes
antes de finalmente conseguir fazer a chamada.

— Alô?

— Doutora... É o Seokjin... Kim Seokjin... A Sunmi estourou... Não, quer


dizer... A bolsa estourou. O que a gente faz?!

— Ok, primeiro se acalma, Seokjin... Onde está Sunmi?


— Na banheira, ela estava dando banho... Não, tomando banho e-

— Certo, escute. Você precisa monitorar o tempo entre as contrações, ok?


Traga até a maternidade, eu estou indo agora mesmo preparar a equipe.
Acho que teremos de adiantar o parto.

— Mas, ainda não tá completo... Falta uma semana!

— Yumi quer nascer hoje, não podemos evitar. Traga Sunmi até o hospital,
ok? Estarei esperando por vocês.

— Ok, eu vou levar... Vou levar. Obrigado doutora.

Jin desligou a chamada e voltou para o banheiro correndo. Sunmi estava de


olhos fechados, as mãos seguravam a borda da banheira com força.

— Hey, a doutora pediu para monitorar o tempo entre contrações, ela vai
esperar a gente na maternidade. Vem, vamos sair dessa água.

— Jin, isso dói. - sussurrou o encarando. Estava assustada.

Seokjin respirou fundo.

— Eu queria muito tomar essa dor de você, mas eu não posso. Sun, a nossa
filha quer nascer, a Yumi quer conhecer a gente... - sorriu de forma
emocionada. - Eu 'tô aqui, eu não vou sair do seu lado em nenhum momento,
só me diz como te ajudar, só isso.

— Me ajuda a sair daqui e a tomar um banho na ducha, essa água ficou suja.

Ele assentiu. Com cuidado, usou toda a força para ajudá-la a sair da
banheira. Molhou-se todo ao segurar o corpo de Sunmi sob o chuveiro, a
ajudou a limpar a pele com cuidado e nas poucas vezes que uma contração
vinha, permitia que a mão pequena apertasse seus dedos com força.

Seokjin a secou e a vestiu, lhe ajudou a secar os cabelos longos com um


secador e até a fez rir um pouco depois de dizer que teria de desmarcar a
manicure.
No elevador, segurou-a o tempo inteiro. No carro, só entrou depois de
assegurar que o cinto de segurança não a apertava muito.

— Jin... A bolsa da Yumi!

— A bolsa! Qual delas?

— A lilás, a maior... Aquela que a sua mãe deu. Tem tudo lá, mas não tem
pra mim. - ela fechou os olhos.

— Outra?

— Uhum.

— Aqui, segura a minha mão. - ele entrelaçou os dedos aos dela. Sunmi
apertou com força. - Respira fundo, isso Sun. Nós chegamos na maternidade
rapidinho, prometo.

— Faz assim, pega a bolsa dela e depois a minha unnie vem e me faz alguma
bolsa.

— Ok. Toma, quer avisar os seus pais e sua irmã? - ela assentiu pegando o
celular da mão dele.

— Não demora Jin, por favor?

— Eu já volto. - disse depois de beijar a mão dela. Seokjin correu até o


elevador. Pouco se importou em fazer barulho demais para o horário, foi
difícil até destrancar a porta. A bolsa de Yumi estava sobre o trocador no
quarto, ele a pendurou no ombro e voltou pro estacionamento do prédio.
Sunmi estava de olhos fechados, respirando fundo.

— Meus pais estão indo pra maternidade, minha unnie também. Liga pros
seus pais no caminho.

— Ok. Vai ser rápido. - Jin sequer colocou o cinto. Ele manobrou para fora
do estacionamento e na avenida, discou através do painel do carro conectado
ao celular.
— Oi filho. - a voz de Saeron saiu animada.

— Omma a bolsa da Sunmi estourou, a gente tá indo pra maternidade.

— Oh deus, ela está bem?

— Estou bem sim. Nós duas estamos bem, mas isso dói pra cacete. - Sunmi
respondeu.

— Vou acordar o seu appa e vamos encontrar vocês na maternidade,


querida.

— Obrigado, Saeron-ah.

Quando desligaram, Sunmi discou outro número. Jin franziu o cenho ao ouvir
a voz de Namjoon.

— Jin?

— Namjoon... - ele começou, estava tão nervoso. - A bolsa da Sunmi


estourou agora...

— Cacete... Ela tá bem? A Yumi-

— A gente tá bem, Namjoon-ssi! Escuta, tem um bebê tentando sair pela


minha vagina, então vou ser direta: venha pra maternidade com o Yoongi... O
Jin vai acabar pirando... Ah, traz o Jungkook!

— O Jungkook?

— O Jungkook consegue acalmar qualquer um de nós, hyung. - Namjoon


respondeu a pergunta de Seokjin. - Nós vamos, Sunmi-ssi. Vou acordá-los.

Sunmi assentiu, lá vinha outra contração.

Cerca de uma hora depois, Jin estava ouvindo de uma enfermeira os


procedimentos que deveria seguir para vestir uma capa hospitalar por cima
das roupas.

— Seokjin, Sunmi optou por parto normal.

— O que?! Como?! - ele arregalou os olhos, a doutora sorriu.

— Ela disse que mudou de ideia. Nós já estamos prontos, felizmente a


dilatação dela foi muito rápida, nós vamos começar assim que aumentar mais
um dedo. Ok? Está pronto?

— Não sei... Quer dizer, estou... Estou. - assentiu.

— Se troque e depois vá até o quarto 204 ok?

— Ok... Vou... Ok...

Jin viu a médica se afastar, mas não se moveu. Segurava nas duas mãos um
pacote com as roupas que deveria vestir, mas não conseguia se mover.

Estava apavorado.

Poderia sair correndo a qualquer minuto.

— Hyung! Achei ele! Oi, Jin-hyung!

Jungkook surgiu diante de seus olhos, estava sorrindo.

— Jungkook...

— Jin a gente trouxe uma muda de roupa pra você, não sabia direito se
precisava, mas achei que sim. - Yoongi lhe mostrou a mochila.

— A gente devia comprar flores. - Jimin reclamou.

— Flores? Ninguém morreu, Jimin! A menina vai nascer. - Taehyung o


respondeu.

— Vocês dois, parem de brigar. - Hoseok mandou.


— Hey, você 'tá legal? - Jin sentiu a mão de Namjoon tocando a sua com
cuidado. - Sua pele 'tá fria, hyung.

— Eu estou apavorado. Muito. Ela vai nascer. - sussurrou.

— Vai, sua filha vai nascer. Sua menina, então você vai respirar fundo e ir
até Sunmi-ssi.

— Hyung, não precisa ter medo... Você já é um pai incrível. - Jungkook,


ainda sorrindo o abraçou um pouco. - E a gente 'tá aqui te esperando,
esperando a Yumi-ah.

Jin sentiu vontade de chorar, mas apenas assentiu. Seu olhar encontrou o de
Yoongi por um momento, então o menor sorriu com confiança e o deu um
tapinha no ombro.

— Vai lá, papai. Vai receber a sua filha.

Jin sorriu.

— Cadê o Jin? Ele não vai vir?

— Tô aqui, Sun, aqui. - Jin surgiu junto de uma enfermeira. Vestia a capa
hospitalar, uma touca e até mesmo uma máscara sobre a boca e nariz. - Tô
aqui, não vou sair daqui.

— Obrigado. - Jin entrelaçou os dedos aos dela. - Eu mudei de ideia. Ela


quer nascer assim, acha que eu consigo?

— Eu tenho certeza. Você é a mulher mais forte e incrível do mundo. Yumi já


tem a melhor mãe.

— Certo, Sunmi... Já sabe, quando a contração vier, faça força... Empurre


tudo para baixo. Vamos trazer Yumi pra cá.

A médica parecia calma e isso também acalmava Seokjin e Sunmi. Não


demorou muito, as coisas pareciam acontecer com facilidade. Jin estava
segurando a mão de Sunmi, os dedos dela esmagavam os seus, mas ele pouco
se importava. As lágrimas dela se misturavam ao suor, mas a força que vinha
da mãe de sua filha era tanta que ele a admirou ainda mais.

Ele a pedia para tentar mais um pouco, dizia que estava acabando mesmo
sem ter noções sobre isso. Aquilo parecia doer tanto.

Então, depois de um grito mais agudo e forte, se ouviu um engasgo baixo e


depois o choro.

O choro estridente.

— Venha aqui appa, corte o cordão dela.

Ele assentiu, mas as pernas pareciam moles demais. Caminhou até a frente
da cama hospitalar e viu nos braços da doutora Kang um pequeno bebê
sacudir os pés enquanto chorava. Ele segurou a tesoura, tremia mais do que
nunca.

— Corte aqui. Isso.

A médica se afastou com a bebê.

— Cadê ela, me deixa ver a minha Yumi...

— Aqui, está bem aqui. Pronto, não chore meu amor. - a médica sorria.

Sunmi a segurou nos braços ainda enrolada na manta da maternidade. Yumi


chorava alto, as mãos fechadas em punho eram tão pequenas que Jin mal
podia ver os dedinhos rosados.

— Oi meu amor, oi minha menina. Bem-vinda, Yumi. Bem-vinda, filha. - o


choro de Sunmi era puro, os soluços se misturavam as palavras e mesmo
cansada, ela só queria segurar a filha para sempre. - Jin, a nossa Yumi.

Seokjin não se movia. Nunca, em toda a sua vida, sentiu o que sentia naquele
momento.

Era a sua epifania.


Nos braços de Sunmi, chorando para o mundo. Sua filha.

Ele se aproximou devagar, uma das mãos trêmulas segurou a borda do


colchão fino, ele abaixou a máscara depois disso.

— Yumi.

A menina parou de chorar, abriu e fechou a boquinha algumas vezes. As


mãos pequenas se abriram, os dedos miudinhos se esticaram todos. Estava
corada, ainda suja e os cabelos grudados na pequena cabeça.

— Ela reconhece a sua voz. Eu te disse, lembra? Ela reconhece a gente, Jin.
- Sunmi sorriu.

— Ela é tão pequena.

— Quer segurá-la papai? - A médica perguntou a ele.

— Eu... Não sei. Ela é muito pequena. Muito miudinha. E se eu...

— Você é o appa dela, quem mais além de nós dois vai aprender a fazer
isso? - Sunmi o olhou com carinho. - Segura a nossa filha, você vai ver que é
a melhor sensação desse mundo, eu juro Jin.

— Ok, vamos lá! Faça assim com os braços, Seokjin. Isso. Segure bem a
cabeça dela, ok?

— Ok. - assentindo, ele arregalou os olhos enquanto a enfermeira o ajudava.


- Ok... Ok.

Jin sorriu, sorriu tanto que nem percebeu que estava chorando.

— Oi filha. Oi. É o seu appa. Oh deus, você é linda Yumi. Tão linda. Você é
perfeita... Sunmi, olha o que a gente fez! - a encarou com lágrimas nos olhos.
- Olha só o que eu fiz! Minha menininha. Yumi. Bem-vinda, minha princesa.

Seokjin chorou de felicidade. Naquele momento brotava dentro dele o amor


mais puro e completo, então o medo não desapareceu, mas passou a ter mais
consistências e não apenas suposições. Ele tinha o mundo nos braços, sua
própria Terra. Então ele nunca mais orbitaria a esmo, nunca mais se sentiria
insuficiente por que para Yumi sempre seria o bastante. Ele a protegeria,
estaria ao lado dela, seria sua Lua. Naquele momento, enquanto a ninava, Jin
foi agraciado com a epifania que Saeron lhe dissera há anos, era o
suficiente. E o mundo inteiro poderia repetir aquelas palavras ruins, aquele
oceano havia deixado de ser obscuro, porque Yumi estava ali.

Jin segurou a mão pequena, então os dedos fininhos agarraram seu dedo com
força.

— O appa te promete. - sussurrou só para ela ouvir. - Eu vou ser a sua luz,
filha. Tudo a partir de hoje é pra você, appa vai sempre te proteger. Você é a
minha Terra, Yumi e eu sou a sua Lua. Obrigado por me escolher. Quando eu
sair daqui a sua avó vai olhar pra mim e perceber que eu finalmente entendi
tudo. Eu te amo, minha Yumi-ah, aigo. Te amo tanto.

Sunmi secou as lágrimas e sorriu quando ele se aproximou com a filha deles
nos braços.

Seokjin nunca foi tão feliz em toda a sua vida como naquele momento e
Yumi, mesmo tão pequena, havia iluminado completamente a vida de seus
pais.

Para Jin, Yumi era luz.

#PillowFic
45 - como uma pedra (final)

eu fiquei horas pensando no que escrever nessa última nota e não consegui
pensar em nada realmente elaborado para dizer depois de tanto tempo.

essa fanfic começou no dia 31/11/2018 e há um ano e nove meses te sido


contada a vocês. por muitas vezes eu tive medo de colocar as narrativas que
coloquei aqui, não por possíveis represálias, mas sim por cavar tão fundo na
humanidade desse sete personagens inspirados em namjoon, seokjin, yoongi,
hoseok, jimin, taehyung e jungkook.

hoje eu finalizei e ficou um vazio no meu coração

não é tristeza, é saudade.

esses personagens são parte de mim, uma parte que eu aprendi a amar e
admirar enquanto contava a vocês suas histórias. acredito que falamos aqui
muito além do amor romântico, falamos sobre o amor que existe entre sete
homens que foram destinados a estarem juntos.

eu tô orgulhosa e feliz, talvez o final não seja tão grandioso quanto se espera,
mas digo a vocês com sinceridade: pillowtalk foi narrada até aqui, mas não
é o final... é o começo do resto das vidas dos nossos meninos.

um recomeço, quem sabe

mas finalmente buscando a paz, a felicidade e principalmente o amor, seja


ela romântico ou não.

hoje nós nos despedimos com a certeza de que depois do fim, eles vão
continuar contando suas histórias nos corações de quem se permitiu amar
pillowtalk!

muito obrigado!

☀⭐🌙
Em meu leito de morte, vou rezar
Aos deuses e aos anjos
Como um pagão, para qualquer um
Que me leve ao paraíso
Para um lugar do qual me lembro
Eu estive lá já faz muito tempo
O céu estava ferido, o vinho foi sangrado
E lá você me conduziu

Like a Stone - Audioslave

FLASH BACK ON

— Infelizmente houve a confirmação, Hyeri-ssi. Yoongi tem anemia


falciforme.

O médico usava um tom de voz ameno, provavelmente algo que adquiriu ao


passar dos anos exercendo a profissão. Não era jovem, Hyeri não conseguia
confiar em diagnósticos que viessem de médicos jovens porque desde o
primeiro, se recusava a acreditar naquela situação.

"Vamos buscar uma segunda opinião."

Aquela deveria ser a quarta.

Yoongi continuou quieto, mas apesar da pouca idade sabia que as lágrimas
silenciosas de sua mãe e o semblante sério do pai significava que aquelas
dores não passariam com um remédio ruim ou proibições de brincar ao ar
livre junto de Chaerin.

— Nós podemos refazer os exames e-

— Hyeri-ssi, eu sei que é difícil enfrentar essa situação, mas quanto mais
demorarmos a começar a cuidar de Yoongi será prejudicial a ele. - o
pediatra encarou o garotinho de seis anos que se encolhia contra o colo do
pai, observando ao redor do consultório elegante com curiosidade.
— Hyeri, acho que não existe mais a possibilidade de o diagnóstico estar
errado. - Yejun suspirou. A mão grande afagava as costas do filho, o ninando
como se ainda fosse um bebê. - O senhor pode, por favor, nos explicar sobre
essa anemia?

— Claro que sim. Quero acompanhar o quadro de Yoongi, mesmo que não
seja essa a minha especialidade. Vou indicar a vocês um especialista de alta
credibilidade nesse tipo de doença. Certo, a anemia falciforme geralmente é
hereditária, mas ocorrem casos raros onde essa deficiência acontece sem
essa ligação. Ela altera o formato dos glóbulos vermelhos do sangue, ficam
como foices e daí vem o nome. As células têm membranas alteradas, são
frágeis e rompem facilmente, causando a anemia. A hemoglobina dele se
torna deficiente e isso afeta principalmente os glóbulos vermelhos. - Hyeri
assentiu. - Os sintomas de Yoongi são os mais comuns, apesar da demora do
organismo dele a revelar essa deficiência. As crises de dores acontecem por
conta dos pequenos vasos sanguíneos que são obstruídos graças ao formato
deles. São crises que ocorrem muitas vezes, mas a duração é variável. Frio,
infecções, problemas emocionais, desidratação.

— As mãos dele... - a mulher informou enquanto secava as bochechas. - Ele


chora por horas, diz que doem muito. Os pés incham.

— É um dos sintomas, infelizmente é muito mais presente em crianças da


idade dele que sofrem desse tipo de anemia. Infecções, como as urinárias
que a senhora mencionou, pneumonia. Segundo os exames refeitos temos
algo muito promissor porque o baço dele está bem. O sequestro do sangue no
baço é um sintoma gravíssimo que muitas vezes pode levar ao óbito.

— Oh, Deus...

— Hyeri, por favor... Você vai acabar passando mal. - Yejun abraçou a
esposa pelo ombro, então a beijou naquela parte coberta por um casaco
pesado de inverno. - O que nós devemos fazer agora, doutor?

— Nós vamos montar uma equipe que vai acompanhar Yoongi com atenção
integral. Vi nos documentos que ele não possui um convênio médico, então-
— Nós pagamos. - Hyeri assentiu. - Qualquer que seja o valor. Por favor,
nos indique profissionais de sua confiança. Os melhores, não importa se isso
seja caro. Por favor, eu não quero perder o meu menino.

— Hyeri-ssi, se acalme. - o pediatra pediu. - Não vai perder Yoongi, tem a


minha palavra. Faremos todo o necessário. Por hora, sempre acompanhem o
dia-a-dia dele. Lhe darei documentos necessários para que até mesmo o
colégio disponibilize uma atenção especial para ele. Yoongi é frágil.

Yoongi, naquele momento, encarou o médico e estreitou os pequenos olhos


felinos.

Frágil.

Ainda não sabia o significado daquela palavra pequena, mas ela o fez sentir
ainda menor nos braços fortes e protetores do pai.

Yoongi, mesmo sem compreender, não quis ser frágil.

Flash Back Of

— Eu sou o menor! Tenho de ficar na frente! - Jimin reclamou, usando a


muleta para pressionar o pé de Hoseok que xingou um palavrão baixinho,
olhando ao redor.

— A gente tá numa maternidade, pelo amor de deus! - Yoongi ralhou,


empurrando Jimin para o lado. - Eu também sou pequeno!

— Ora, ora... Agora você é pequeno? Sempre dá os seus surtos quando a


gente te chama assim!

— Fica quietinho, Tae. - ele gesticulou.

— O hyung!
Jungkook anunciou, então os seis pararam de empurrar para olhar em
silêncio para dentro do quarto onde pequenos berços coloridos estavam
organizados lado a lado, porém, vazios. Jin sorriu assim que os viu ali.
Ainda vestia a capa hospitalar, a máscara estava pendurada no queixo,
carregava um sorriso grande nos lábios e carregava um bebê em seus braços.

— Toma, hyung. - Jimin entregou a Yoongi um pedaço de guardanapo. Eles


estavam chorando.

Jin se aproximou do vidro, então com cuidado mostrou Yumi aos outros.

A menina estava de olhos fechados, a boquinha se abria em busca talvez do


seio da mãe, acabara de mamar. Ela vestia um macacão cor-de-rosa, cheio
de bolinhas brancas.

— Tão pequenininha. - Jungkook, fungando, sorriu. - Ela é linda. Oi Yumi-


ah.

— A carinha de joelho. - Tae sussurrou emocionado.

— Joelho mais bonito que eu já vi na vida. - Jimin secou as bochechas.

— Jin-hyung, parabéns. Bem-vinda, Yumi-ah. - Hobi sorriu.

— Bem-vinda, Yumi-ah. Você é perfeita. - Namjoon espalmou uma das mãos


no vidro, então seu olhar cruzou com o de Seokjin. - Parabéns.

— Obrigado. - Jin sussurrou de volta.

— Yumi-ah... Sou o seu padrinho. - Yoongi chorava tanto quanto Seokjin.


Hobi o abraçou por trás, deixando um beijinho sobre sua nuca. - Você é linda
e forte. Mesmo pequeninha assim, é forte Yumi-ah. Eu te amo.

Jin olhou para o seu melhor e assentiu, voltando a soluçar enquanto beijava a
cabeça de Yumi, de olhos fechados. A menina apertou as mãozinhas e sorriu
pequeno, ela se sentia amada.

Ela era amada.


Três meses depois.

— Um brinde ao senhor engenheiro e a senhorita administradora.

Seokjin comemorou enquanto erguia a taça de champanhe, então os demais


fizeram o mesmo.

Ele ainda vestia a beca da formatura, assim como Jisoo. Todos estavam na
mansão onde os gêmeos cresceram, ao lado de boa parte da família Kim. Era
fim de tarde, a cerimônia da universidade tomou boa parte do dia, mas isso
não era ruim.

Yoongi, segurando uma taça de champanhe, bebeu um gole pequeno. Ele


vestia terno, os cabelos loiros haviam dado lugar a coloração natural há
quase um mês. Ele observou as pessoas ao redor e não demorou ao encontrar
Hoseok e Taehyung próximo ao carrinho onde Yumi estava.

— Cadê o tio Hobi? Cadê, Yumi-ah?! - Hoseok usava a manta da garotinha


para cobrir o próprio rosto.

— Ele foi embora! Oh, o tio foi embora! - Taehyung balançou o chocalho em
forma de sorvete que pertencia a menina.

Yumi os encarava de um jeito confuso e curioso. Ela vestia um adorável


macacão azul marinho, assim como o vestido de Sunmi que estava
conversando com Jisoo. Havia um laço em sua cabeça, sobre os poucos
cabelos lisos e escuros que cresciam rápido demais. Os pés se agitavam,
chutavam o ar para mostrar a euforia com a brincadeira.

— Hoseok, não a assuste. Não a faça chorar.

— Me chamou de Hoseok. - Hobi fez bico, então Tae o beijou. Yumi riu.

— Ah, olha só... Achou o titio Hobi! - o Jung riu junto dela.

— Vocês dois comeram alguma coisa? Tae você sempre vomita quando bebe
champanhe de estômago vazio. - Yoongi aproveitou que um dos empregados
do bufê estava passando e o parou. - Com licença, isso tem camarão?
— Não senhor, esse daqui é com salmão e esse com atum.

— Obrigado. - ele pegou dois. O rapaz sorriu com gentileza antes de se


afastar. - Aqui, come.

Taehyung abriu a boca e o pequeno canapé foi colocado sobre sua língua,
sobre o piercing de prata. Depois Yoongi, fez o mesmo com Hoseok que
sugou seu polegar, o provocando. Em seguida o beijou nos lábios.

— Para com isso, olha a menina aí!

— Ela não entende!

— Você sabe que ela tem ciúme do Yoongi! - Taehyung ralhou.

Não deu outra, Yumi primeiro fez um bico. As pernas roliças pararam de se
mover e o choro rompeu por toda a sala de estar daquela casa.

Sunmi e Jin, ao mesmo tempo, olharam em direção ao carinho, mas Yoongi


negou gesticulando.

— Aqui, pronto. - ele deu a taça para Hoseok. - O dindo 'tá aqui minha
chorona, ele é seu. Só seu, 'tá bom?

Yoongi a segurava com muito cuidado, sabia como fazê-la parar de chorar
em segundos e isso era um alívio para Sunmi quando se sentia cansada com
todas as responsabilidades e ele aparecia para fazer uma visita. Dormia por
horas e Yoongi ficava com a afilhada, a cuidando.

Ele aconchegou a pequena nos braços, beijou o cabelinho cheiroso, ajeitou


para que o macacão não ficasse torto e então, Yumi parou de chorar para
encará-lo.

— Como você faz isso, Yoon?

— O que? - ele olhou para Hoseok.

— Faz ela se acalmar. É tão bonito te ver assim... Lembro da Shakira.


Taehyung, com a boca cheia de champanhe, quase cuspiu tudo.

— Quem?!

— A Shakira. A boneca que Yoon me deu num natal.

— Ele era doido para ter uma boneca, mas Yoseob-ssi não permitia, então eu
pedi a minha omma que comprasse a que ele queria. Uma Barbie pop-star.

— Eu não podia levar pra casa, aí ficava na casa do Yoongi. A gente


compartilhava a guarda da Shakira.

— Mas... Por que Shakira?

— Não sei. - Hobi deu de ombros. - Na época eu gostava muito da Shakira e


da Madonna.

— Yoon, ele não vai escolher o nome dos nossos filhos. - Taehyung ralhou,
então começou a rir.

— O que foi? - Yoongi estranhou.

— Acabei de falar que vamos ter filhos. - ele beijou o cabelo do mais baixo.
- Olha só o que vocês dois fazem comigo... Eu nunca pensei sobre isso, mas
daí te vejo todo bobo com a Yumi-ah e vejo você tão incrível cuidando
dela... Acaba que eu quero isso se vocês dois quiserem também.

— Mas, pelo amor de deus, não vem com esse papo igual ao do Jungkook...
Nós já somos três, nada de um time de basquete. - Hoseok fez carinho no pé
de Yumi, ajeitou a meia branca que ela usava. - Um só.

— Vocês dois precisam amadurecer um pouco mais pra isso.

—Wow! Nossa, na minha cara mesmo, Min Yoongi!

— Eu sou maduro! Muito maduro!

— Hoseok, não viaja, vai.


Hoseok lhe mostrou a língua.

— Maduro pra caralho...

— Não fala palavrão perto dela!

— Hey, vocês três, o que estão fazendo com a minha filha?

Seokjin se aproximou, Yumi se agitou nos braços de Yoongi.

— Eu li que bebês são míopes até os três meses, hyung. - Jimin, sem suas
muletas, estava junto dele.

— Jimin, para de ler sobre bebês, você está ficando obcecado com isso.

— Informação nunca é demais.

— Oi minha porquinha, vem com o seu appa. - ela a tomou nos braços, a
menina sorriu. - Quero te apresentar para as minhas tias que falavam que eu
nunca ia fazer alguma coisa de bom na vida.

— Fica usando a menina, que horror, vou contar pra noona.

— Se você abrir a boca eu te dou um soco, Taehyung.

— Por que fica chamando-a de porquinha?

— A filha é minha, eu chamo do que eu quiser.

— Por que estamos tão grosseiros hoje?! O que aconteceu?! - Taehyung


esbravejou.

— Eu a chamo assim porque ela é a porquinha peidorreira e cagona do appa.


- ele afinou a voz, falando com a filha. - É cada fralda... Não queria saber.

— Quando ela vai poder ficar contigo?

— Quando fizer seis meses, Sunmi disse que depois dos seis meses a gente
vai poder dar outras coisas pra ela comer além do leite de peito. - ele a
beijou na testa. - Agora eu vou exibir a minha filha, tchau.

— Cadê o Namjoon?

— Lá fora com o Jungkook, falando sobre filosofia, origem do universo e a


melhor opção de batatas para fritar. - Jin rolou os olhos antes de se afastar.

— Tudo bem com essa perna, Jimin?

— Uhum, estou animado para mais tarde!

— Não vai exagerar, ok? Vai com calma, lembra do que a fisioterapeuta te
disse.

— Parece minha mãe, Taehyung, chato pra caralho.

— Vou contar pra ela que a chamou de chata pra caralho!

Yoongi suspirou. Hoseok o abraçou por trás, deixou beijos por toda a nuca
pálida enquanto afagava sua barriga sobre a camisa de linho.

— Ainda está com dor?

— Não. Não foi nada, acho que é por causa do frio. Eu ainda fico assim,
mesmo depois da cirurgia.

— Se você quiser, podemos ir para casa com você e-

— Não, 'tá tudo bem, Seok-ah. - ele sorriu. - Jimin está planejando isso há
semanas, ele adora dançar contigo e o Tae também precisa sair um pouco,
ele precisa relaxar... Principalmente depois da internação de Chaewon.

— Ele ainda não quis falar sobre isso, Yoon.

— E a gente não vai forçar, quando ele estiver pronto para falar sobre como
se sente, vamos ouvir. - ele se virou para encarar o namorado. - Ele é igual a
você, sabia? Precisa de tempo para dizer o que sente e eu sei que isso não
quer dizer que não confiam em mim, só quer dizer que essa é forma de vocês
fazerem as coisas. Eu entendo.
— Às vezes fico me perguntando quando é que você se tornou esse homem
forte, mas olhando pro passado eu noto que você sempre foi, nas entrelinhas
da sua vida e do nosso amor.

— Estou me sentindo carente, quero atenção. - Tae se enfiou entre os dois,


rindo e roubando selinhos apaixonados. - Oi.

— Oi, amor.

— Oi, mauricinho.

— Qual o tema dessa pequena reunião?

— Disse pro Yoongi que eu posso ficar em casa com ele e você vai com o
Jimin.

— Eu prometi a ele, Yoon. Jimin é muito exigente com promessas.

— Vocês dois vão com eles, eu preciso finalizar um trabalho e quero dormir,
estou morto. - choramingou.

— Mas quando a gente chegar, quero fazer momozinho, Yoon. - Tae o


abraçou.

— Faz com o Hoseok.

— Isso eu vou fazer no banheiro da boate. - Hobi franziu o cenho para a fala
do mais novo.

— Ora, você acha que eu vou me prestar a isso?

— Acho.

— Eu também acho.

— Pois, estão certos.

— Se eu estiver dormindo, não se atreva a me acordar, Kim Taehyung! -


Yoongi resmungou.
— Nem com um quequetinho?! Um beijinho no bumbum? E se eu fizer
peidinho na sua barriga?

— Você sempre dorme de bunda pra cima, vamos virar você.

— Eu me recuso a responder vocês dois! - Yoongi esbravejou querendo rir,


empurrando os namorados. - Palhaçada! Como eu posso amar dois idiotas,
hein?!

— O amor é surpreendente, Yoongi. Entenda isso.

Hoseok, não disse nada, então isso fez os outros dois ficarem confusos. Hobi
encarava um ponto específico da sala de estar. Jimin estava próximo a mesa
do bufê, enchia um pequeno prato com docinhos que certamente não era para
si, Jimin não gostava de doces. Eram para Jungkook.

Mas, vinda do hall principal, uma das primas de Seokjin se aproximou dele
para conversar.

Jimin sorriu com gentileza, mas aquela mulher estava interessada.

Foi a cena que Jungkook viu ao entrar na sala de estar. Ele parou por alguns
segundos, o sorriso se desfez rapidamente.

Hoseok suspirou. Yoongi deitou a cabeça sobre o ombro dele.

Taehyung piscou para os namorados e caminhou até Jimin, abraçando-o pelo


ombro.

— Hey, pequeno! Tudo bem?

Jungkook assentiu para Yoongi.

— Você já comeu? O Jimin foi fazer um prato de docinhos pra você. -


Yoongi sorriu. - Vai lá ajudar ele.

— Hyung... Ele está falando com uma pessoa.


— E você só vai terminar o prato de doces que ele começou, não vejo
problemas.

Jungkook sorriu sem mostrar os dentes e depois foi até Jimin e Taehyung.

— Você é terrível, Min Yoongi.

— Isso é você quem diz. Eu acho que sou adorável.

— Eu te amo.

— Bom que me ame mesmo. - sorriu. - Eu também amo você, meu Sol.

— Pra você, hyung.

Yoongi desviou o olhar do notebook, Namjoon estava de pé ao seu lado e


tinha nas mãos um prato médio, repleto de docinhos e canapés servidos
durante a celebração da formatura de Seokjin e Jisoo.

— Obrigado.

— Saeron-ssi pediu que preparasse marmitas pra gente trazer, eu senti


fome... Deve estar com fome também. Quer uma cerveja?

— Quero, obrigado Namjoon.

Ele encarou o trabalho quase finalizado na tela do notebook e suspirou. As


costas estavam doendo graças a posição mantida por horas, Yoongi abriu a
fechou a mão algumas vezes, procurando assim facilitar a circulação.

Namjoon voltou um minuto depois com duas cervejas. Ele sentou na poltrona
vazia bebendo três goles longos.

— Olha só que sentiu saudade de beber.

— Preciso confessar que senti mesmo. O Doutor Lee me disse para ir


devagar, então eu evito bastante. Mas estou um pouco ansioso com a viagem.
— É daqui há dois dias. - Yoongi também bebeu. - Já arrumou as suas
malas?

— Vou levar só uma e a mochila, não preciso de muita coisa hyung. Acho
que se precisar, dou um jeito onde eu estiver.

— Vai começar pelo Brasil? Naquela ONG? - o mais novo assentiu. -


Namjoon, por favor, não se esqueça de nos dar notícias. Dizer como está e
onde está, enviei os endereços para o meu e-mail.

— Não precisa se preocupar, vou fazer isso hyung.

Eles ficaram em silêncio por um tempo, encarando a televisão ligada onde se


transmitia a reprise de um jogo entre Barcelona e Real Madrid. Então,
Namjoon sorriu.

— Você está feliz?

— Hm?

— Perguntei se está feliz, hyung. Lembrei de uma coisa.

— O que?

— Há quase dois anos. Nós dois estávamos no mesmo lugar de agora


assistindo um jogo juntos, bebendo... Te perguntei se estava tudo bem porque
o Hoseok tinha saído com um carinha, você deu de ombros. Naquela época
você fugia do que ele te fazia sentir...

— Naquela época eu fugia de qualquer coisa que significasse ser feliz.

— Desde quando você ama o Hobi?

— É estranho, mas eu lembro exatamente quando aconteceu... Também


lembro como foi com o Taehyung.

— Isso nunca te assustou? Tipo, se apaixonar por duas pessoas ao mesmo


tempo?
— Não me assustou, Namjoon... Só me deixou confuso. Eu passei de um
adolescente querendo morrer, para um homem que ama estar vivo. Quer
dizer, eu acho que nunca quis morrer de verdade, só me conformei com isso
depois de ouvir tanta gente me dizendo que eu era frágil. Eu odeio essa
palavra até hoje.

— Frágil?

— É. Odeio a forma como ela foi usada para me descrever durante anos.

— De nós todos, te acha o mais forte Yoongi-hyung. Você consegue lidar


com Hoseok e Taehyung enquanto também lida com você mesmo. O amor
parece complicado pra mim.

— O amor é complicado, mas às vezes ele vale a pena - sorriu erguendo a


latinha de cerveja. - A gente só precisa ter paciência.

Flash Back On

— Yoongi, você não pode fazer isso!

A voz assustada de Hyeri o fez soltar de vez o pequeno balde colorido, então
a água espirrou em suas roupas.

Era verão e estava quente. Exatamente duas da tarde, e Yoongi estava


sentado sozinho sobre a grama do jardim. Vestia um macacão jeans e
camiseta, o boné amarelo era algo que sempre deveria usar mesmo que o
guarda Sol estivesse o protegendo.

Já tinha sete anos.

Aos poucos, graças aos cuidados e também o tratamento, Yoongi passou a


compreender que não era como os outros garotinhos de sua idade e tampouco
poderia brincar como eles brincavam.

Então, Yoongi sempre estava sozinho


Cercado por presentes caros que pouco serviam para distrair da porção de
médicos que tinha de visitar o tempo todo só para fazer a mãe chorar
enquanto dirigia de volta para casa.

Sem contar as dores, aquilo era sempre o pior.

— Yoongi, você não pode brincar com água! Já te disse isso tantas vezes! -
ela o fez ficar de pé. - Olha, suas roupas estão molhadas! Você acabou de
ficar bem da pneumonia, por que está sentado aqui fora?

— Queria brincar, omma. - ele explicou, mas sabia que nada ia adiantar.
Hyeri não o entendia.

— Brinque no seu quarto! O seu appa trouxe aquele videogame que você
tanto queria, jogue no seu quarto, Yoonie! Não fique sentado na grama, onde
conseguiu água?!

— Na torneira perto da piscina, foi só um pouquinho pra fazer um lago,


omma. - apontou para o buraco que estava cavando com a pá de plástico.

— Hyeri, deixe-o brincar um pouco, ele também precisa respirar ar puro.

— Você sabe muito bem que isso pode fazê-lo cair doente de novo, Yejun,
parece até que não ouve o que dizem nas consultas!

— A psicóloga aconselhou que Yoongi tenha uma infância comum, que ele
brinque e se divirta.

— Dois minutos disso é dois meses internado, você quer isso? Quer vê-lo
internado outra vez?

Yejun respirou fundo encarando o filho. Yoongi estava mais pálido do que
nunca, os lábios mal tinham cor. Então, ele tocou os ombros da esposa e a
fez olhá-lo.

— Veja a pele dele... Está a cada dia mais fina e sem cor, até mesmo o
cabelo de Yoongi está fraco. - disse baixo, mas Yoongi ouvia. - Nem mesmo
com Chaerin ele pode brincar, desse jeito ele vai ficar depressivo Hyeri e
isso vai ser pior, você sabe. Deixe-o brincar por mais meia hora, sem água...
Tudo bem, mas deixe-o aqui fora.

Hyeri respirou fundo, ela passou as duas mãos pelo rosto bonito e encarou o
filho.

— Meia hora. Só isso.

— Vou ficar de olho nele. - ele a beijou na testa. - Yoongi-ah, pode brincar
mais um pouco, mas sem mexer com água ok?

— Ok! - assentindo, ele sorriu. - Ok appa! Obrigado.

Hyeri entrou enquanto Yejun ocupava uma das espreguiçadeiras próxima a


piscina para observar o filho brincar com seus carrinhos coloridos. Então,
ele estranhou ao ver uma bola pequena saltar para dentro de seu jardim. Era
pequena e amarela, uma bola de ténis.

— Com licença!

A voz infantil o fez olhar para o portão grandioso. Havia um menino ali. Da
altura de Yoongi, usava roupas coloridas e um boné azul virado para trás.

— A minha bola caiu aí moço-ssi, por favor... Eu posso pegar?

Yejun gesticulou para que um dos seguranças abrisse o portão. O garotinho


se curvou educadamente e caminhou em direção a bola, mas ele viu Yoongi e
parou.

— Oi! Qual o seu nome?!

Yoongi ficou envergonhado, então encarou o pai.

— Fala com ele, filho.

— Yoon... Yoongi.

— O meu nome é Hoseok! Você é tão branquinho, parece até feito de açúcar.
- Hoseok se agachou diante de Yoongi. O sorriso dele era gentil. - Eu me
mudei faz uma semana... Você tem quantos anos? Eu tenho sete.

— Eu também tenho sete, mas eu não sou de açúcar.

— Por que você tá cavando?

— Eu gosto de cavar, você gosta?

— Nunca cavei, tem muito bicho na terra, tenho medo de bicho. - a careta
assustada fez Yoongi rir. - Sabe jogar tênis? Quer que eu te ensine?

— Tênis eu uso no meu pé.

— Ah, esse é outro tênis. - ele riu. A risada dele era engraçada, então
Yoongi riu também. - Ah! Cobra!

— Não! Não é cobra! É minhoca! - ele negou. Hobi se encolheu, os olhos


arregalados enquanto o via segurar a minhoca entre os dedos pequenos. -
Minhoca.

— Parece uma cobrinha, mata! Mata ela!

— Elas são igual macarrão, mas se mexem... Já comeu?

— O que?!

— Minhoca, você já comeu?!

— Você já?! - ele estava chocado. - Credo, menino!

— Toma, come!

— Não, não! Que nojo! - Hobi negou diversas vezes.

— Eu já comi. - deu de ombros. - Mas não conta pra ninguém.

— Olá, como vai? - Yejun se aproximou.


— Moço-ssi! - Hobi ficou de pé para se curvar. - Obrigado por me deixar
pegar a minha bola.

— Qual o seu nome?

— Hoseok.

— Oh, você é filho de Yoseob-ssi. Se mudou há alguns dias, certo?

— Sim, moço-ssi.

— Yoongi, por que não convida Hoseok para tomar um lanche? Você gosta
de videogame? Yoongi tem um novo, mas não gosta de jogar sozinho.

— Ah... Preciso pedir pra minha omma.

— Fazemos assim. Eu e Yoongi vamos até a sua omma para pedir, o que
acha? Então, podem brincar juntos.

— 'Tá bom! Vem, vamos lá, Yoongi! Depois eu vou te ensinar a jogar tênis.

Hobi estendeu a mão para Yoongi. Os dedos pequenos e limpos. Os olhos de


Yoongi brilharam, pela primeira vez alguém estava o chamando para brincar
de verdade... Aquilo era ter um amigo? Ele aceitou a mão de Hoseok.
Mesmo que a sua estivesse um pouco suja de terra, o outro não ligou.

Yejun sorriu e os seguiu em silêncio.

Flash Back Of

Yoongi abriu um pouco os olhos quando ouviu o barulho da porta do quarto.


Ele se encolheu sobre a cama abraçando um dos travesseiros com força.

— Você pegou a toalha?

— Era você quem ia pegar a toalha, Hoseok!


— Puta merda, eu quero mijar! Vai lá pegar!

— Ah, não! Eu quero tomar banho logo, tô fedendo a vodca ruim.

Eles estavam sussurrando.

— Acende a luz e ele vai te fazer dormir no sofá.

— Mas você também não faz nada direito! Quero mijar, sai da frente.

Então, Holly latiu. Chorando porque Hoseok havia pisado em seu rabo.

— Cacete! Desculpa, Holly! Mas você também fica largado pelos cantos,
igual uma peruca abandonada.

— Peruca. - Taehyung começou a rir. - Vai se foder, Hoseok!

— Aí, como é bom mijar, meu deus eu amo mijar! Parece até um orgasmo.

Yoongi ouvia muito bom o som dele urinando de porta aberta, nem a luz do
banheiro estava acesa.

— Deve 'tá mijando a privada inteira, 'tá bêbado.

— Se eu estivesse bêbado você sabe muito bem que eu estaria chorando no


seu ombro. Quer balançar pra mim?

— Vou balançar a minha mão na sua bunda, seu marrento de merda.

Os dois estavam rindo.

— Peguem a porra de uma toalha no guarda-roupas e me deixem dormir!

A voz de Yoongi os fez parar na hora. Hobi cobriu a boca de Taehyung com
a mão, então veio o grito.

— Tira essa mão mijada da minha boca, Hoseok!

— Eu lavei a mão, porra!


— Meu deus, eu vou matar vocês dois! - Yoongi levantou. Ele pisou forte até
o interruptor para acender a luz do quarto. Então, de braços cruzados
encarou os outros dois.

— Desculpa, Yoon. Foi o Taehyung. - Hobi apontou pro mais novo.

— Eu?! Como você é sonso, puta que pariu!

— Vocês estão bêbados. - o menor suspirou. - Vão pro banho, eu pego a


toalha.

— Para de dizer que eu tô bêbado. - Hoseok começou a chorar. - Eu não tô


bêbado.

— Ok, Seok-ah... Você não está bêbado, ok? Agora vai tomar um banho com
o Tae.

— Vem meu Sol, vem tomar banhozinho! Vou te fazer um quequete.

Yoongi suspirou ao ver que Hoseok assentiu fungando, seguindo Taehyung


para dentro do banheiro. Saiu do quarto. No corredor, Jimin e Jungkook
estavam sentados no chão, tão bêbados que riam para o nada. Ele próprio
ajudou o mais novo, teve de fazer esforço até deitá-lo na cama de casal do
quarto de Jimin. Já Jimin foi mais fácil, ele estava mais consciente.

— Meu deus, vocês quatro beberam o que? Gasolina? - Jungkook


resmungou. - Fica quieto, vai dormir fedendo. Esse quarto vai parecer um
posto de gasolina de manhã, credo.

Apenas abriu a calça de ambos antes de sair do quarto.

Pegou as duas toalhas na lavanderia e aproveitou para buscar outra garrafa


de água.

No quarto, trancou a porta e foi para o banheiro. Hoseok estava cantando,


fazendo o shampoo de microfone enquanto Taehyung dançava com as mãos
para o alto.

— Sit down! Be humble!


— Be humble!

— Sit down, bitch!

— Be humble!

— Ok rappers, hora de dormir. - ele abriu o box para fechar o registro do


chuveiro. - Vocês tomaram banho mesmo?

— De sabonete e tudo, Yoon! Olha! - Tae, ainda dançado, se sacudiu.

— Seu pau tá fazendo helicóptero!

— Meu deus, JÁ DEU! Vamos, aqui as toalhas! Tem cueca limpa em cima da
cama!

Os dois saíram rindo. Não demorou até estarem vestindo cuecas idênticas.
Eles deitaram depois de tomar um remédio para evitar ressaca. Yoongi
apagou a luz e deitou entre eles, havia perdido completamente o sono.

— A gente sentiu a sua falta.

— Vamos te levar pra dançar no fim de semana.

— Durmam.

Yoongi sentiu Taehyung o abraçar por trás, escondendo o rosto contra sua
nuca.

— Yoon... Eu te amo.

O menor sorriu. Hoseok já estava dormindo.

— Também te amo, agora durma.

Taehyung ficou em silêncio depois de desligar a ligação que recebeu.


Hoseok ficou preocupado, mas Yoongi gesticulou para que esperasse.
— Eles precisam da minha assinatura.

O mais novo respirou fundo.

— Mas o seu appa é o marido dela, ele é o responsável.

— Aparentemente eu e Taeseok temos de autorizar. - passou a mão pelo


resto. - Eu só queria não ter mais de lidar com isso. Só.

— A gente vai com você até o advogado, você assina e pronto.

— Eu não quero vê-la, mas Taeseok fica pedindo e-

— Você não precisa fazer nada que não queira e ele vai entender. Eu fico
feliz que essa aproximação esteja acontecendo, principalmente com o seu
appa... Mas você não precisa se desgastar mais.

— Yoon... As pessoas ficam dizendo que é minha culpa.

— Manda se foder. - Yoongi ficou irritado. - Ninguém tem o direito de te


culpar por nada. Sua mãe buscou isso desde que negligenciou você,
Taehyung. Se ela enlouqueceu, se precisa ser internada em um hospital não é
sua culpa, ok? Por favor, para de dizer e pensar essas coisas. Seu appa e o
seu irmão estão cientes de que nada disso é tua culpa.

— Tae, marca logo um dia para assinar o que for preciso e depois você
deixa claro que não quer mais saber sobre isso. Se o seu irmão continuar
insistindo, seja mais claro ainda e diga a ele que Chaewon é problema deles.

— Vou marcar para segunda-feira de manhã.

— Agora vamos logo, Namjoon já deve estar pronto.

— Bem, hora das despedidas. - Namjoon anunciou sorrindo um pouco. Ele


ajeitou a mochila nas costas e abriu os braços para Hoseok. - Abraço, hyung.
— Boa viagem. - Hobi o abraçou apertado. - Mande notícias, por favor.
Leve o seu tempo, ok? Nós vamos estar aqui quando voltar. Te amo, Joon.

— Eu também te amo, hyung. Boa sorte com o seu appa, as coisas logo ficam
bem. - sorriu.

— Hyung, tenho um presente. - Jungkook se aproximou segurando um


embrulho roxo.

— Um livro?

— Não! É um diário. O hyung anda escrevendo bastante, então ai tem um


diário pra poder escrever mais e quem sabe um dia transformar num livro. -
ele sorriu. - Boa viagem, Namjoon-hyung. Obrigado por ter me ensinado
tanta coisa.

— Tenho orgulho de você, JK. Me conta sempre como vai o seu projeto. Eu
te amo. - ele o abraçou. - E seja paciente... Ele te ama muito. - sussurrou
apenas para o garoto ouvir. Jungkook assentiu.

— Boa viagem, hyung. Eu vou sentir tanta saudade, por favor, se cuide. O
pessoal do grupo de ajuda pediu pra dizer que o hyung sempre será o nosso
melhor líder. - Tae o abraçou apertado. - Obrigado por ter me ajudado tanto.

— Obrigado por se ajudar junto comigo. Continua com as consultas, ok?


Com as reuniões. E ah, pensa sobre aquela proposta daquele pessoal
ativista... Pensa bastante, Tae.

— Eu vou, hyung. Quero fazer mais. - eles sorriram.

— Boa viagem, Namjoon-ah. Você tem certeza que não esqueceu nada?

— Tenho, Yoongi-hyung. - o abraçou forte. - Quando eu voltar... Quero ser


como você, hyung. Forte.

— Você já é. Só precisa perceber isso.

Namjoon encarou Jimin e teve de respirar fundo.


— Para com isso...

— Desculpa, eu não queria chorar... Mas é que... Eu vou sentir tanta saudade
de você, Moni.

— Vem aqui, fada anjo. - o abraçou deixando beijos sobre o cabelo dele. -
Fica bem, por favor. Você está indo bem, Jimin. Em tudo. E você sabe que se
precisar é só me ligar, seja qual for a hora, eu vou atender... Eu vou 'tá ali
pra você.

— Eu te amo. Se cuida, se alimenta direito... Por favor, se cuide, ok?

— Eu prometo, 'tá bom? - Namjoon fungou. - Eu te amo, Mini.

Jimin o beijou na bochecha. Namjoon ajeitou a mochila e sorriu ao ver


Seokjin chegar empurrando o carrinho onde Yumi estava. A bolsa cor-de-
rosa estava pendurada em seu ombro.

— Desculpa o atraso. Achei que não ia chegar a tempo de me despedir. Yumi


veio dizer tchau ao tio Joonie.

— Oi Yumi-ah. - Namjoon se abaixou. A garotinha sorriu ao vê-lo. - Yumi-


ah, quero te pedir um favor. Pode cuidar do seu appa por mim? - Seokjin,
nem tentava segurar as lágrimas. - Pode sempre fazê-lo lembrar o quanto é
incrível e o homem mais lindo do mundo? Você pode? - ela agitou as mãos,
dando um gritinho. - Ah, muito obrigado Yumi-ah. - ele a beijou na testa. -
Tio Joonie te ama muito.

Quando ele ficou de pé, frente a frente com Seokjin, sorriu enquanto as
lágrimas inundavam seus olhos.

— Tenho uma coisa que fiz para você. - Jin buscou por algo na bolsa de
Yumi, era um caderno pequeno. - Eu escrevi aqui... Algumas receitas simples
de comida coreana, você acha os ingredientes em qualquer lugar, pesquisei
bastante. Expliquei passo a passo, mas se você achar difícil... Me liga.

— Jin...
— Sinceramente eu espero que ache tudo difícil, então vai me ligar todos os
dias. - ele sorriu, mas estava chorando. - Boa viagem, Namjoon-ah... Por
favor, se cuida.

Namjoon o abraçou. Escondeu o rosto no pescoço dele para sentir o perfume


uma última vez. Jin fez o mesmo. Os outros observaram a cena com os olhos
marejados.

— Tô orgulhoso demais de você. Eu te amo, Seokjin... Amo demais.

— Também te amo. - assentiu.

Namjoon o segurou pela nuca e selou os lábios dele suavemente. Última vez.

— Tchau, Jin.

— Tchau.

Namjoon acenou para os amigos e se dirigiu ao embarque. Seokjin sentiu o


ar lhe faltar, achou que desabaria ali mesmo, mas os braços de Yoongi
estavam o mantendo de pé antes disso. Firmes. Ele abraçou o melhor amigo
e afagou suas costas.

— Calma. Ele vai voltar pra gente. E vai voltar curado de toda dor que um
dia impediu vocês dois de ficarem juntos, hyung.

Namjoon os encarou uma última vez antes de sumir dentro do portão de


embarque principal.

Dias depois.

— Como foi, Seok-ah?

— Acho que nós estamos nos aproximando mais a cada vez, Yoon. - Hobi
sorriu.

— E isso te faz bem?


— Faz. Eu acho que tirar todo aquele rancor de dentro de mim foi bom.
Desde então eu me sinto mais feliz. - ele beijou o pelo de Holly que estava
em seus braços. - Appa disse que seria legal se você e o Tae fossem na
próxima vez. Quer?

— Uhum. Vai ser bom. - Yoongi sorriu.

Os dois franziram o cenho ao ver Jungkook e Jimin se aproximarem de mãos


dadas. Os dois pararam diante dos mais velhos e trocaram um olhar.

— Caralho, juro que imaginei um de vocês dizer: a gente fez um bebê. Aí


lembrei que não dá. Quase desmaiei. - Hoseok estava rindo.

— Hyung... A gente... Resolveu.

— Voltar. Então, queríamos que fossem os primeiros a saber.

— Mas você já tinha contado pro Tae-hyung, Jimin.

— Fica quieto!

Hoseok suspirou.

— A gente fica feliz, mas tenha cuidado, ok?

— Dessa vez tentem ir mais devagar, conversem mais, sejam sempre


sinceros com o que sentem. Respeitem o relacionamento e principalmente
vocês mesmos. - Yoongi aconselhou. - Ferva essa água devagar.

— Obrigado, hyungs. - Jungkook sorriu. - A gente vai devagar, vamos fazer


do jeito certo.

— Dessa vez vai dar certo. - Jimin apertou a mão do namorado. - A gente
vai ter vocês três de exemplo.

O casal sorriu orgulhoso.

— Agora nós vamos comemorar... Vou levar o Jimin-hyung para patinar no


gelo!
— Narrador: Jungkook não sabe patinar no gelo. - Jimin brincou enquanto o
puxava para fora da república.

— Como foi que a gente virou exemplo de relacionamento? - Hobi perguntou


quando ficou sozinho com Yoongi e Holly.

— Quando começamos a namorar. - se gabou. - A gente aprende errando,


Seok-ah. Eles vão aprender também. Agora vamos buscar o nosso tigrão,
está na hora.

Flash Back On

— Yoon, olha só, consegui aquele mangá que você queria ler!

Hoseok parou ao ver o melhor amigo esconder alguma coisa sobre o


travesseiro.

— Ah, legal.

— O que você escondeu?

— Nada!

— Yoongi!

Yoongi rolou os olhos. Fez careta ao subir no leito, as dores estavam mais
fortes graças a última crise. As pernas pálidas exibiam feridas pequenas,
mas que pintavam a pele sensível. Yoongi, já sobre a cama, segurou o
respirador para recomeçar a inalação que sequer poderia ter sido
interrompida.

— Não era para você ter parado a inalação.

— Senti vontade de mijar. - respondeu mal criado.

— O que você tem, ein? Tá distribuindo coice!


— Eu não tenho nada! O que você está fazendo aqui?! Vai pra sua casa! Hoje
tem aquela festa na casa do Minho, ele gosta de você.

— Eu não vou te deixar sozinho, Yoongi. - o ignorou para deixar os mangás


sobre o sofá onde dormia duas vezes por semana. - Vou pedir para a
enfermeira trazer o seu jantar.

— Não quero comer, quero ficar sozinho, Hoseok.

Yoongi não o olhou. Estava irritado. Não suportava mais ficar naquele
hospital sendo tocado o tempo todo, sendo picado por agulhas horríveis, por
toda aquela droga de tratamento inútil.

— Você precisa pelo menos beber alguma coisa. Sabe que o seu rim está-

— Está querendo parar de funcionar. Sinceramente, nada funciona direito em


mim! Sou todo estragado.

— Não diz essas coisas, Yoon. Você vai ficar bom... Estão procurando
alguém que possa te ajudar e daí-

— E você acha que eu duro até alguém aparecer? Para de se iludir, Hoseok.

Hoseok abaixou o rosto. Sentia o peito apertar ao ouvi-lo dizer coisas assim,
mas não sabia o que fazer. Ele caminhou até o leito e enfiou a mão por baixo
do travesseiro para pegar o papel que Yoongi havia escondido, esse por sua
vez, nada disse.

O mais alto leu atentamente as linhas rabiscadas na caligrafia do melhor


amigo.

Então, amassou a folha com raiva.

— Que merda é essa, Yoongi?!

— Você sabe ler. - deu de ombros.

— Para de ser debochado, isso é insuportável!


— Insuportável?! Você sabe o que é insuportável? Isso aqui! - sacudiu o
inalador. - Esse leito, esse quarto, essa comida sem gosto, esse hospital, essa
gente me olhando como se hoje fosse o meu último dia vivo! Você é
insuportável! Porque você é saudável e fica preso nesse lugar comigo, me
esperando morrer!

— Eu não espero você morrer! Não diz isso!

— ENTÃO, VAI EMBORA! VAI VIVER SUA VIDA SAUDÁVEL! EU NÃO


PRECISO DE VOCÊ MESMO, HOSEOK!

— Cala essa boca! Cala a boca Yoongi! - ele estava chorando, Yoongi
também. - Para! Você está me magoando e também magoando os seus pais
toda vez que diz essas coisas! Nós estamos aqui por você!

— Se você está aqui por mim, me faz um favor Hoseok: me deixa morrer.
Porque eu não aguento mais isso.

Hoseok jogou o papel amassado no chão, a carta onde Yoongi dizia o quanto
queria morrer. O quanto queria desistir. Que esperar um doador de medula
era inútil, era perder tempo. Ele só queria que aquilo acabasse de uma vez.

— Você é um idiota.

Hobi saiu batendo a porta.

Naquela noite, exatamente às três e vinte três da manhã, Yoongi, aos quinze
anos, sofreu uma parada cardíaca ocasionada por hipertensão pulmonar. Ao
receber a notícia, pela manhã, Hoseok teve sua primeira crise de pânico.
Semanas depois, quando Yoongi pôde receber visitas, Hobi entrou no quarto
e sem dizer uma palavra deitou ao seu lado no leito, o abraçou com cuidado
e chorou em silêncio.

— Seok-ah... - Yoongi o chamou baixinho.

— Hm?

— Eu 'tô com medo. - confessou também chorando.


— Eu sei. Entendi isso agora. Yoon, eu tô aqui. Eu amo você. As pessoas
dizem que você é frágil, mas elas estão erradas. Porque você é a pessoa
mais forte que eu já conheci.

Yoongi assentiu com lágrimas nos olhos. Naquele dia, ele quis ser forte.

Flash Back Of

— Uma vez você me disse que queria ser uma pedra.

Taehyung se virou para encará-lo. Yoongi estava de olhos fechados, o corpo


nu se esticava sobre um lençol grande. Os dois conseguiam ouvir o som do
chuveiro e a voz de Hoseok cantarolando uma música sobre tomates.

— Ficar parado é muito bom. - sorriu com preguiça.

— As vezes eu te acho feito de pedra, Yoongi. Não no mal sentido, entende?


É que eu só te vi realmente ceder uma vez.

— Tae, sabia que as pessoas me acham mole? Um pouco inútil, mas muito
frágil.

— Te disse uma vez... Estávamos no seu carro, no alto daquela colina que dá
vista para o hospital... Eu te disse que nunca te achei frágil.

— É porque você quis olhar pra mim de verdade. - ele abriu os olhos. -
Sempre pensei no tipo de pessoa que eu sou e queria ser. Sou bom, mas
também sou mau. A avaliação disso pode variar, porque eu sou só isso.
Alguém. Igual à todas as outras pessoas que vivem e amam, que tem
esperança, que esquecem. Hoje eu sei que não posso definir quem eu sou
porque eu mudo um pouco a cada dia... Precisei entender que nada é eterno
nesse mundo pra não ter mais medo de morrer. A minha fragilidade nunca
mais vai me deixar com medo, eu prometi isso a mim naquele hospital.

— Você queria morrer por ter medo?


— É. Pensei que se mostrasse ser forte aquela sombra da morte ia me dar
uma chance. - sorriu outra vez. - Um pensamento bobo, não é? Todos os dias
eu imaginava até onde chegaria, se conseguiria me formar no colégio, se
faria uma faculdade... Se viveria um grande amor. Encarava aquela realidade
de internações e me via definhar numa solidão acompanhada. Tae, era como
se a minha sombra estivesse sempre pronta para me devorar, então mesmo
que eu corresse... Ela estaria bem ali, em mim. Sabe o que eu disse a minha
omma quando acordei da cirurgia de transplante?

— O que?

— Eu nunca mais quero morrer de novo.

Taehyung se aproximou do namorado, também estava nu, mas nenhum deles


se importou. Tae se aconchegou ao corpo menor, apoiou o queixo sobre o
peito de Yoongi e sorriu.

— Se você fosse uma pedra, eu te levaria para todos os lugares onde eu


fosse. Para os lugares mais bonitos do mundo. - Yoongi também sorriu. -
Yoongi, você nunca mais vai morrer de novo daquela forma.

— Você e Hoseok são as minhas vitaminas.

— Você acha que a gente é destinado? Que a gente já se amou antes?

— Eu tenho certeza. Não sei como, mas eu tenho. E a gente se ama durante e
vai se amar depois, Tae. Amor, eu não sou uma pedra... - ele fechou os
olhos. - Mas quero ir aonde você ou o Seok-ah for. Eu sou o escudo,
Taehyung. - bocejou. - Você é a força bruta e o Hoseok é o ataque. Juntos,
nós três somos invencíveis.

O mais novo o viu pegar no sono, assistiu-o com carinho. Por fim sorriu.

Yoongi o fazia sentir tão seguro.

— Obrigado por vir! Entrem!


Syuk sorria enquanto segurava a maçaneta da porta. Hoseok entrou primeiro,
Taehyung veio em seguida e Yoongi foi o último.

O cheiro de comida estava delicioso. Jiwoo estava no sofá ao lado na


esposa, as duas seguravam taças com vinho tinto e sorriram ao vê-los.

Hoseok abraçou o padrasto e depois a irmã mais velha. Ele parecia


confortável naquele ambiente.

— Ah, chegaram! Boa noite!

Yoseob apareceu vindo da cozinha. Yoongi quase não o reconheceu. Não


havia nada daquele homem duro que o repreendia o tempo todo durante a
infância. O pai de Hoseok vestia roupas confortáveis e simples, exibia um
cavanhaque bonito e que combinava com o corte de cabelo jovial.

— Boa noite, appa.

Hobi o abraçou quase sem jeito. O homem, com um pano de prato pendurado
sobre o ombro, o tocou no rosto com carinho.

— Estou fazendo a sua comida favorita! Fica pronto em vinte minutos.

— Obrigado.

— Boa noite, Taehyung... Boa noite Yoongi.

— Boa noite. - o casal respondeu junto, se curvando um pouco.

— Vocês aceitam um pouco de vinho? Esse é maravilhoso, ganhei de uma


amiga quando estive na França.

— É muito bom. - Jiwoo assentiu bebendo.

— Daqui a pouco sua cara fica vermelha, noona.

— Eu disse, mas ela não me escuta. - Mina deu de ombros. - Sentem, não
fiquem aí parados como postes.
Taehyung sentou ao lado da cunhada e aceitou uma taça de vinho. Hoseok
logo começou a conversar com Syuk sobre como andavam as questões do
processo sobre a morte de Taewoo. Então, Yoongi caminhou até a cozinha do
apartamento.

Yoseob estava de costas, mas o viu depois de se virar para picar com uma
tesoura o kimchi sobre a ilha de mármore escuro.

— Posso ajudar em alguma coisa?

— Você sempre gostou de cozinhar. Eu lembro.

— O senhor sempre disse que era coisa de mulher.

— Eu sei. - ele suspirou. - Yoongi, eu sei que te devo desculpas-

— Não. Não deve a mim, devia ao Hoseok... Então, estou feliz por vê-lo
confortável com essa aproximação. As coisas que o senhor me dizia nunca
me machucaram de verdade, o que machucava era ver o Seok sofrendo.

— Você o ama muito. - ele se virou outra vez para mexer a carne na
frigideira. - Também ama o Taehyung.

— Mais do que imagina.

— Termine de cortar o kimchi, por favor, Yoongi. - ele pediu educadamente.


Yoongi assentiu, segurou a tesoura com habilidade e começou a cortar as
folhas pesadas. - Eu devolvi a ele a carta que tomei de você naquela época.

— Ele não comentou sobre isso, mas deve ter os motivos dele.

— E você não quer saber quais são?

— Só se ele quisesse me contar. Eu confio em Hoseok e Taehyung.

Ficaram em silêncio outra vez. O borbulhar da água, o som da fritura e da


tesoura eram os únicos naquela cozinha.

Durou minutos.
— Há uma coisa que eu devo lhe pedir desculpas, Yoongi.

— O que?

— Por muito tempo eu te achei fraco. Acompanhei seus pais durante os anos
de tratamento até o transplante e sempre olhei para você com o pensamento
de que era frágil demais. - Yoseob não se virou, muito menos Yoongi. - Eu
estava errado.

— Muitas vezes a parte mais fraca de um tabuleiro é a mais forte, Yoseob-


ssi. As pessoas apostam sempre na força bruta de um ataque, mas nunca
percebem que o escudo é essencial.

— Agora... Eu te admiro.

— Me admira mesmo sabendo que eu não me arrependo de nada?

Outra vez o silêncio.

— Sim.

— O senhor não espera que eu lhe diga "obrigado" porque sabe que eu não
vou dizer. Fez o que fez para conseguir lidar com ciclo de ódio familiar que
o seu pai iniciou e fico feliz que Hoseok e Jiwoo-noona estejam libertos
dessa quase maldição... Mas, eu não sinto muito, Yoseob-ssi.

— Se você sentisse muito nada faria sentido, Yoongi.

— É verdade. - Yoongi sorriu. Ele deixou a tesoura sobre o balcão e se


virou para encarar o sogro.

— Eu sei que você não se arrepende e que se fosse necessário-

— Eu faria de novo.

— Você ainda se coloca frente aos dois como um escudo, os protegendo.


Porque você não tem medo.
— Só tive medo de verdade uma vez na vida, Yoseob-ssi. Um medo que
consumia a minha existência como um monstro assustador escondido
embaixo da minha cama num hospital. Tive medo da morte. Então, qualquer
outro medo depois disso é pequeno perto da minha coragem. Ninguém vai
machucar as pessoas que eu amo enquanto eu estiver vivo. E eu pretendo
viver por muito tempo.

— Yoon... Tudo bem? - Hoseok entrou na cozinha os encarando com


curiosidade.

— Eu vim oferecer ajuda. 'Tá tudo bem. - sorriu o abraçando. - Posso fazer
alguma coisa a mais, Yoseob-ssi?

— Continue fazendo o meu filho feliz, Yoongi. É o bastante.

Yoseob assentiu para eles..

Hoseok, sem entender o que havia acontecido naquela cozinha, apenas


sorriu.

— Amanhã chegam os dois novatos. - Jimin relembrou.

Estavam ao redor da mesa de jantar dividindo uma pizza tamanho família.

— Soobin e Yeonjun. Um é de Busan.

— Mas eu nasci primeiro. Eu sou o primeiro.

— Claro Jimin, você foi o primeiro morador de Busan. - Tae o provocou,


então recebeu uma azeitona na cabeça.

— Para de brincar com as minhas azeitonas! - Hoseok ralhou.

— Nós vamos ficar com o quarto que era do Jin-hyung, vocês dois podem
ficar com o nosso que é maior.
— Ah, não. A gente prefere o menor, não tem problema. - Jungkook disse de
boca cheia. - Ficamos mais pertinho.

— Começou esse papo de gay. - Tae rolou os olhos. - Namjoon-hyung


mandou uma foto tão bonita no grupo. Quero conhecer o Brasil.

— Vamos para lá na nossa lua de mel, Tae.

— Achei que a gente ia para a Grécia.

— Grécia! Tem de ser a Grécia porque eu quero conhecer Zeus!

— Por que você foi emprestar aqueles livros de Percy Jackson pra ele,
Jungkook?! Olha o inferno que você 'tá fazendo na nossa vida!

— Não fala assim com o meu Jungkook, Yoongi-hyung!

— E você não fala assim com o meu Yoon!

— Taehyung no dia em que eu me tornar delegado vou propor uma lei que te
proíba de direcionar a palavra a mim!

— Aí delegado, delegado, vou ser delegado! - debochou fazendo caras de


bocas. - Acha que eu tenho medo de viadinho? Pois me processe, querido!

— A cada desacato eu vou te prender por cinco dias!

— Certo, vou ver televisão. - Yoongi anunciou.

— Eu vou ligar para a minha, omma. - Hoseok também.

— Vou comer na cozinha. - Jungkook saiu com a caixa de pizza nas mãos e
uma fatia na boca.

— Isso que você tá falando é abuso de poder, Jimin! Eu posso te denunciar!

— Pois denuncie! Eu quero ver Taehyung! Vamos lá!

Os dois continuaram discutindo.


A primeira noite em um quarto que eles já haviam usado algumas vezes para
desespero de Seokjin, foi tranquila. Eles fizeram amor uma vez e depois,
ainda nus, deitaram juntos.

— Lembram da nossa primeira vez aqui? No meu aniversário?

— Apesar de ter sido uma confusão, eu nunca esqueci. - Hoseok, com um


cigarro entre os dedos, tragou demoradamente.

— Naquele dia eu realmente pensei: fodeu. - Tae os fez rir. - Quantas voltas
a gente deu até chegarmos aqui. Até a gente entender que precisava fazer isso
juntos. Quando eu cheguei aqui não queria nada além de criar problemas,
mas eu ganhei um problemão no instante em que vocês dois abriram a porta
pra mim.

— Te chamei de Cinderela.

— Porque você é burro, a Cinderela só virou princesa no final. - Tae o


provocou.

— Eu estava prevendo o futuro. Hoje você é a minha Cinderela, momozinho.

— Ainda bem que já transamos porque eu broxaria. - Yoongi bocejou.

— O amor te assusta, Yoongi. Sinceramente, fiquei louco na sua bunda desde


o primeiro dia. Que bundinha mais gostosa.

— Toda empinadinha.

— Calem a boca. - ele riu um pouco. - Sabe, eu amo quando a gente fica
assim.

— Como?

— Tendo nossas conversas de travesseiro depois de fazer amor. Eu subi a


bordo desse amor e senti ele devagar... - olhou para Hoseok. - E rápido. -
encarou Taehyung. - Eu só vi dor por muito tempo e agora a única coisa que
eu vejo é o prazer de ser amado por quem eu amo. O nosso comportamento é
imprudente para tanta gente.

— Puro, sujo e bruto. - Hoseok entrelaçou os dedos com os de Yoongi.

— Mas a gente perde os medos e se livra das lágrimas. - Tae beijou os


cabelos de Yoongi.

— O nosso paraíso é uma zona de guerra. - ele sorriu. - Mas é nosso.


Ninguém vai tirar isso de nós nunca. Eu te amo Taehyung... Te amo Hoseok.
Eu amo estar aqui, entre vocês dois... É o melhor lugar do mundo e o
caminho que a gente trilhou até aqui é tão nosso.

— Nosso caminho de cerejas?

— A gente pisou em cerejas para chegar até aqui, para conversar no


travesseiro enquanto o mundo acontece lá fora. - Hoseok sorriu. - Mas o
nosso mundo tá aqui. O nosso universo.

Eles sorriram juntos. Yoongi segurou suas mãos e entrelaçou os dedos para
depois apoiá-las sobre a própria barriga.

E eram a pintura do amor imprudente e jovem que atravessou existências


para se encaixar dentro da moldura daquela cama onde se exibiam ao
universo.

Sol, Lua e Estrelas.

A soma perfeita, o final do ato principal daqueles que caminharam juntos.

Conversando sobre um travesseiro.

Fazendo planos para o começo do resto de suas vidas.

Porque nunca vai existir um fim.

☀🌙⭐

#PillowFic
hoje ainda tem epilogo!

vai rolar uma live de despedida no instagram keleaomine às 16h!


nós somos à prova de balas: o eterno(epilogo)

CINCO ANOS DEPOIS

A sala de estar daquele apartamento espaçoso no centro da cidade estava


silenciosa até mesmo para Holly que abanava o rabo sem parar enquanto
encarava as cortinas brancas.

Hoseok deu um passo em direção ao sofá grande e olhou ao redor. Havia


uma ruga de curiosidade entre suas sobrancelhas quando apoiou as duas
mãos nos quadris. Não havia mudado tanto, mas o cabelo laranja tinha dado
lugar aos fios naturais que naquele dia caiam num undercut bem marcado.
Ele usava as roupas mais coloridas do closet e isso não era um problema,
sentia-se bem.

O apartamento cheirava a limpeza mesmo que alguns objetos coloridos


estivessem espalhados por todo o carpete que cobria o piso aquecido da sala
e do corredor em direção aos quartos.

— Cadê você?

Ele sussurrou, então Holly latiu em direção a cortina que riu.

Riu baixinho. O tecido pesado se moveu um pouco, contendo a risada


adorável que fez Hobi sorrir se aproximando devagar, pisando com cuidado
para não quebrar outro brinquedo por desatenção. Ele segurou a cortina com
uma das mãos e puxou depressa.

— Te achei!

— Ah!

O garotinho de um ano e meio gritou agarrando a perna do pai, abraçando


com força o suficiente para fazê-lo cambalear para trás. Hobi riu e Holly
passou a latir animado com a brincadeira, pronto para outra rodada.
— Venha aqui, Yohan-ah. - ele se abaixou para segurá-lo nos braços. Yohan
riu mais, as mãos pequenas seguraram o rosto do pai enquanto recebia
beijinhos sobre a bochecha corada. - Você está ficando bom em se esconder,
quase não te achei dessa vez.

— No.

— Não? Não o que? - o garotinho colocou as mãos sobre o peito nu,


mostrando ao pai. - Não quer colocar roupa?

— No. - negou duas vezes, o dedinho indicador se moveu de um lado para o


outro.

— Você não pode sair por aí de fralda, carinha.

Yohan aceitou a chupeta que lhe foi oferecida e bastou Hoseok lhe afagar as
costas para que deitasse contra o peito dele, apoiando a cabeça sobre o
ombro confortável. Ele tinha exatamente um ano e sete meses e mesmo tão
pequeno, era a alegria da vida de seus pais. Dos três.

Kim Yohan era biologicamente filho de Taehyung, mas Yoongi e Hoseok não
se importavam muito com isso. Eram seus pais. O menino nasceu depois de
uma barriga de aluguel que deu certo na primeira tentativa e quase
enlouqueceu o trio nos primeiros meses, porque mesmo com toda a força de
vontade do mundo era difícil cuidar de um bebê sem qualquer experiência.

A ajuda de Hyeri foi indispensável.

— Seok-ah, estamos atrasados... Por que Yohan ainda está de fralda? -


Yoongi parou no meio da sala os encarando. Os cabelos escuros estavam
penteados para o lado, o paletó branco foi deixado sobre o sofá. Yoongi
estava muito mais encorpado, até mesmo a palidez de sua pele se tornou
mais fraca com o passar dos anos. - Ele tomou banho há meia hora.

— Ele correu para se esconder, queria brincar. - Hoseok explicou. - Vou


vesti-lo e a gente sai.
— A roupa está sobre o trocador. O cabelo dele 'tá um ninho. - ralhou
passando os dedos pelo cabelo escuro do filho. Fios grossos e pesados
como os de Taehyung. Yoongi beijou a orelha grandinha do menino e depois
conferiu a fralda limpa. - Vou preparar as mamadeiras. O Tae disse alguma
coisa?

— Não. Ele deve estar fazendo o Jimin-ah não enlouquecer.

— Estou pronto, hyungs. - a voz de Jungkook os fez olhar para o corredor. O


garoto, um tanto mais alto que antes, sorria de um jeito nervoso. Chinrae, ao
lado dele, estava orgulhoso. - Ficou bom?

— Você 'tá lindo, Jungoo. - Hoseok se aproximou. - Lindo.

— Acabei emagrecendo um pouco durante essa semana, não consegui comer


direito. - confessou enquanto passava a mão sobre a barriga, sobre a camisa
de linho branca. - Tive de apertar o cinto.

— Venha aqui, me deixe ajeitar essa gravata. - Yoongi o ajudou com o nó da


gravata amarela, afrouxando antes de esticar um pouco mais o tecido. - Você
'tá lindão. Um noivo lindo.

— Obrigado, hyung. Appa chorou quando me viu arrumado.

— É que eu lembro de quando você ainda era pequeno, filho. Agora você
vai casar e eu fico emocionado. - Chinrae fungou, então usou o lenço da
lapela para secar os olhos rapidamente.

— Se o senhor ficar chorando eu vou chorar também. - Jungkook fez um


bico.

Estava ainda mais bonito. Os anos amadurecem os traços suavemente e até


mesmo as poucas rugas de riso eram bonitas desde que significava alegria.

— Yoon, o presente... - Hoseok, segurando algumas lágrimas, relembrou.

Yoongi assentiu e apressado buscou a pequena caixa sobre o sofá para


entregá-la a Jungkook.
— É o nosso presente de casamento para vocês dois. Espero que gostem e
desejo que sejam ainda mais felizes nessa nossa fase da vida de vocês.

— Hyungs... Não precisava... Eu-

— Abra junto do Jimin depois da cerimônia. - Hobi pediu. - Vou vestir o


Yohan, então nós podemos ir.

Yohan, com a chupeta na boca, acenou para Jungkook.

— Yumi-ah, calce os seus sapatos!

— Qual deles?

— O que a sua omma deixou sobre a sua cama, porquinha.

— 'Tá bom.

Seokjin encarou as duas mudas de roupas limpas sobre o sofá e optou por
colocar as duas dentro da pequena mochila da Dora Aventureira. Ele usava
um terno bonito e sob medida, os cabelos escuros e grandes como nunca
estavam penteados para trás, expondo a testa lisa.

Ainda morava no mesmo apartamento e atualmente exercia a presidência da


construtora da família ao lado de Jisoo enquanto os pais descansavam. Jin
havia se tornado um pai absolutamente presente, participativo e dedicado,
mas não ache que ele se orgulhava dos elogios que recebia graças a isso.

Ele sabia que não fazia nada que não fosse seu dever.

Sunmi terminou a universidade quando Yumi tinha três anos e agora tinha o
seu próprio consultório de odontologia, além de atuar como representante
internacional de uma marca do ramo. Então, Yumi dividia seu tempo entre os
pais que optaram por morar perto para que ela não tivesse de se locomover
longas distâncias três vezes por mês.

— Esses sapatos, appa?


Jin se virou para vê-la. Yumi era linda. Prestes a completar cinco anos, era
alta para a idade e muito inteligente. Herdou a beleza dos pais, seus traços
eram uma mistura adorável dos olhos da mãe e do sorriso do pai. Os cabelos
lisos eram cortados à altura do queixo, então a franja cheia cobria parte da
testa pequena.

— Você é tão linda, meu amor.

— O meu vestido é bonito! O tio Jimin escolhe vestidos bonitos.

— Isso é você dizendo que os que eu escolho são feios, Kim Yumi?! - ele
arqueou uma sobrancelha.

— O senhor está tomando opiniões predicitadas.

— Precipitadas. - ela assentiu. - Quer passar perfume?

— Quero! Sozinha!

— Nada disso! Da última vez você ficou uma semana com aquele perfume
impregnado no cabelo e a sua mãe quase me estrangulou. - ele voltou a
ajeitar a mochila. - Traga o perfume aqui, eu passo em você.

Yumi fez um bico chateado, mas obedeceu.

Ela caminhou de volta para o quarto do pai e entrou no closet organizado


olhando ao redor. O perfume estava sobre a superfície plana anterior a um
dos espelhos. Ela esticou o braço para pegar o frasco cheio de enfeites fofos
e o pegou ao mesmo tempo em que uma foto caiu diante de seus pés.

Era Jin ao lado de um homem alto. Eles sorriam.

Yumi segurou a foto com a mão livre e encarou o homem com curiosidade.
Ele usava óculos e abraçava Seokjin com carinho.

— Appa, quem é esse moço?

Jin franziu o cenho antes de pegar a foto da mão dela. Ele observou o rosto
de Namjoon e sentiu um frio no estômago. Fazia tanto tempo.
— Esse é o Namjoon, Yumi.

— Namjoon? Aquele tio que aparece na tela do compunador?

— É. Que te chama de princesa.

— E como ele fez para sair de lá, appa? Foi por onde?

— Não, ele não saiu com computador. - Jin riu um pouquinho. - Vem cá,
vamos passar o perfume. - depois de sentado, Yumi se aproximou para ficar
entre as pernas do pai, apoiando as mãos cobertas por luvas de renda sobre
as coxas dele. - Essa foto foi tirada antes de Namjoon ir para longe, Yumi-
ah.

— Antes de ir morar dentro do compunador?

— É. Mais ou menos isso. - ele sorriu. - E sabe de uma coisa legal?

— O que?

— Hoje ele está voltando. - dizer aquilo fazia o coração de Seokjin bater
mais forte. Não esperava nada, muitas coisas aconteceram durante esses
cinco anos, ele conheceu outras pessoas e Namjoon também. Nada era certo,
mas saber que ele estava voltando o deixava eufórico. - Para o casamento
dos titios.

— Sério?! Eu vou perguntar como é morar no compunador. Pedir pra ele


ensinar eu.

— Aposto que ele vai adorar te ensinar. Agora vamos, estamos atrasados.

Yumi assentiu depois de ganhar um beijinho do pai na ponta do nariz.

— Os convidados já chegaram?

— A maioria. Vocês não convidaram muita gente. - Taehyung ajeitou uma


mecha do cabelo de Jimin que insistia em escapar do meio coque preso por
grampos quase invisíveis. - Nunca te vi tão bonitão, rabudo.

— É estranho te ouvir falando na televisão, lá você fala parecendo gente.

— Sinto o mesmo quando você tá com aquele distintivo gigante pendurado


no pescoço.

Taehyung sentou ao lado dele no sofá da sala de espera improvisada daquele


hotel cinco estrelas à beira do mar. Jimin bebeu um pequeno gole do
champanhe e respirou fundo.

— Obrigado por tudo, Tae. Você organizou esse casamento em dois meses
mesmo estando ocupado com as coisas da campanha.

— Vocês queriam algo pequeno, não foi difícil e eu quero muito que vocês
possam trazer a Sarang para casa logo. - Tae sorriu para o melhor amigo.

— A gente não ia casar tão cedo, quer dizer... Era um plano, mas não para
agora. Só que Sarang mudou tudo desde a primeira vez que a vimos naquele
evento que o seu partido organizou. - Jimin sorriu de um jeito lindo e
emocionado. - Ela estava tão linda segurando aquelas flores, agradecendo
por minha doação ao orfanato.

— Jungkook disse ao Hobi que sentiu como se a alma dele reconhecesse a


Sarang, como se ele estivesse ligado a ela desde outras vidas.

— Eu sinto a mesma coisa e por isso adiantamos tudo... A advogada disse


que nossas chances de adoção são de cem por cento se estivermos casados.
E não é nenhum sacrifício me casar com o homem que amo.

— Você vai começar a sua família, Jimin. É algo tão especial, sabe?

Tae estava diferente num sentido extraordinário da palavra. Os cabelos


negros, ainda longos, naquele momento estavam penteados para trás e o terno
em um tom de off white o fazia parecer sério. Não havia mais um piercing no
lábio inferior ou na língua e suas mãos tatuadas eram expostas com orgulho a
cada vez que ele discursava ou debatia em uma câmara do estado.
A política o conquistou depois do pequeno ato de manifestação no dia da
morte de Taewoo. Porque Taehyung entendeu que a melhor forma de luta era
lutar por dentro do sistema. Aos vinte e nove anos era o mais jovem
deputado estadual de um partido de esquerda que lutava por minorias e
igualdade.

Orgulhava cada um de seus hyungs e cada uma das pessoas que, assim como
eles, buscavam ser reconhecidas e respeitadas.

Já Jimin, ainda possuía os longos cabelos, mas no tom natural e sempre


presos em coques desajustados para um delegado.

Exercia a função na primeira delegacia daquele país voltada para crimes


contra LGBTQ+. Um projeto formado pelo partido onde Taehyung atuava há
três anos.

Eles eram bons juntos. Sempre seriam.

— Lembra da conversa que a gente teve no dia do meu acidente? Quando eu


te perguntei o que esperava para o futuro, Tae?

— Lembro sim.

— Eu acho que nada que pudéssemos ter dito alcançaria a felicidade de


agora.

— Eu tenho certeza. - ele estendeu o mindinho para Jimin. - Nada se


compara a isso.

— Nada. - Jimin enlaçou o dedo ao dele. - Eu amo você, metido.

Taehyung sorriu. Depois de enlaçar os dedos mindinhos, eles fizeram o


mesmo com o anelar onde a tatuagem simples marcava a pele há cinco anos.
Um fio vermelho. O fio que conectava suas almas.


Namjoon respirou fundo quando saiu do desembarque internacional do
aeroporto. As duas malas grandes estavam sobre um carrinho e mochila
velha pendurada em um dos ombros.

O cabelo castanho estava cortado baixo, os óculos de grau eram diferentes


dos que usava quando foi embora.

Cinco anos.

Ele puxou a máscara preta para o rosto e olhou ao redor em busca de um


táxi.

— O senhor precisa de um táxi?

— Sim, por favor.

— Para onde?

— O hotel The Eternal. Eu pago o que for para que consiga chegar lá antes
das cinco, por favor.

— Ok, vai ser dinheiro ou cartão?

— Cartão.

O taxista assentiu.

Yumi assentiu depois de Sunmi lhe explicar outra vez o que deveria fazer.

Havia poucas pessoas naquele pedaço particular da praia. As duas dezenas


de cadeiras brancas estavam organizadas igualmente ao lado de um tapete
amarelo coberto de pétalas de rosas brancas. Os arranjos delicados se
espalhavam pelo corredor até o altar simples onde um juiz de paz aguardava
ao lado do pai de Jimin.

Todos estavam descalços.


Jungkook, ao lado do pai e de Hoseok, aguardava dentro do carro.

— A sua omma veio, Jungkook.

— Achei que ela viria, eu enviei o convite a casa dela. - explicou ao pai. - O
senhor está bem com isso?

— Sim, respeito a sua vontade. Ela é a sua mãe.

— A sua namorada vem, hyung?

— Sim. Gayun está com a minha irmã. - ele respondeu um pouco sem jeito.

— Appa, eu fico feliz que esteja namorando. O senhor é jovem e bonitão.

— Não é isso... É... Bem... Jungkook... Depois conversamos, acho que Jimin
chegou.

Eles olharam para o outro carro que estacionou atrás do carro de Hoseok.

— Certo, vamos.

Chinrae contaria depois ao filho que em breve ele teria um irmãozinho.

Namjoon chegou atrasado.

Ele deixou as malas na recepção do hotel e não trocou de roupas, não daria
tempo. Antes de pisar na areia da praia se livrou dos ténis e caminhou em
direção a cerimônia que acontecia com o mar e o pôr-do-sol ao fundo.

Jimin e Jungkook estavam de mãos dadas diante do juiz. O mais novo tinha
uma coroa de flores amarelas na cabeça. Taehyung estava ali ao lado de
Hoseok e Yoongi que segurava nos braços um menino de olhos curiosos e
cabelos cheio de cachos que dançavam junto da brisa fresca.

Então, ele viu Seokjin.


O coração quis errar batidas e o estômago revirou um pouco.

Jin estava ainda mais lindo e junto dele, segurando um pequeno buquê que
combinava com seu vestido de renda amarela, Yumi sorria feito um anjo.

Namjoon ocupou a última cadeira do lado direito e tirou do bolso da calça


jeans um bloquinho de notas e um lápis gasto para escrever algumas frases.

Ele sorriu de um jeito lindo e secou uma lágrima ao ouvir Jimin dizer aceito.

A recepção no hotel era pequena como a cerimônia, os convidados se


dividiam em mesas elegantes onde garçons uniformizados serviam um
cardápio variado com destaque em frutos do mar.

— Nem pensar, nada de camarão Taehyung.

— Só um! - ele colocou um camarão na boca.

— Se você começar a peidar hoje à noite te coloco pra dormir no outro


quarto, 'tá avisado. - Yoongi ralhou. - Hey, nada disso... Yohan você não
pode comer camarão, é igual ao seu pai.

— Aqui, filho... Arrozinho, abre a boca pro papa. - Hoseok o serviu com os
hashis. - Quer mais? Quer carninha?

— Qué! - o menininho assentiu, as mãos gordinhas bateram sobre a mesa.

— Tae, pega o suco dele na bolsa. A mamadeira menor. - Taehyung se


esticou para pegar a mamadeira do filho.

— Depois eu vou levá-lo no playground do hotel junto da Yumi. Tem muito


brinquedo divertido, ele vai gostar.

— Dindo! - a menina se aproximou correndo. O arranjo de flores em sua


cabeça estava torto porque era difícil fazê-la ficar quieta. - Dindo, me dá um
docinho?
— Você já jantou? - Yoongi ajeitou o cabelo dela. Yohan gritou animado ao
vê-la. Gostava muito de Yumi. - Estou te vendo correr para cima e pra baixo,
mas não te vi jantar.

— Ela não jantou, Yoongi. Estou atrás dela há minutos. - Sunmi apareceu
atrás da filha. Estava deslumbrante em um vestido nude que marcava bem as
curvas de seu corpo. Os cabelos negros se firmavam num coque
despretensioso. - Primeiro ela vai jantar.

— Eu queria comer docinhos. - disse manhosa para o padrinho.

— O dindo vai guardar um prato de docinhos pra você, mas precisa jantar
primeiro ou vai passar mal. Tem camarão, tem carne, tem até aquele kimchi
de repolho que você gosta de comer lá em casa, sabia?

— Tem?! Omma, eu quero o kimchi do dindo! - Yumi se virou para a mãe.

— Então, vamos. Quer que o seu appa coma tudo?!

— Meu Deus! Ele vai comer tudo! - a garotinha correu em direção ao bufê.

— Obrigado Yoongi. - Sunmi agradeceu antes de beijar os cabelos de Yohan.


- Só assim pra ela jantar direito. Queria que ela tivesse puxado ao Jin, nunca
teríamos problemas com alimentação.

Quando ela se afastou, Taehyung estava comendo outro camarão.

— Papa... Bumbu dido!

— Hey! Yohan!

— É filho, o seu pai vai ficar com o bumbum fedido. - Hoseok disse aos
risos o menino riu o imitando, batendo palmas.

— É um motim. Você organizou um motim contra mim, Kim Yohan! Sabe o


que isso significa? - Taehyung ergueu a mão em forma de uma garra, o
menino se agitou. - Que sofrerá as consequências com a garra devoradora de
nenéns.
— Tae... Taehyung, ele vai-

Taehyung já estava brincando com o menino. Enchia a mão com sua


barriguinha para depois os sacudir enquanto o fazia rir alto no colo de
Yoongi.

— Ele 'tá jantando, amor.

— E eu vou jantar esse neném... Vou comer essa barriga! - disse fazendo uma
voz mais grossa. Ele puxou Yohan para o próprio colo. - Meu tigrinho.
Rawn!

— Rawn! Rwan! - Yohan imitou.

— Yohan, aqui... Carninha. Você quer?

O menino assentiu abrindo a boca para Hoseok.

Yoongi sorriu ao observá-los. Eram sua vida inteira.

— Você está feliz, meu menino?

Jungkook apertou mais no abraço para responder a pergunta. Os dois


estavam um pouco afastados da recepção, aproveitando os minutos sozinhos
antes da dança.

Jimin beijou o ombro do marido e respirou fundo.

— Hoje é o dia mais feliz da minha vida, Jimin-ssi.

— Você não me chama assim há um tempo. - observou acariciando o cabelo


alheio.

— É porque eu só tenho te chamado de amor. - ele afagou a cintura do


marido.

— O seu coração sempre acelera... Isso nunca mudou.


— Nem vai mudar. Você sempre vai me fazer isso, amor. - Jimin se virou
para se abraçar por trás. - A gente amadureceu tanto.

— Mais do que imaginamos. E quando a Sarang chegar, vamos amadurecer


mais.

— Eu tô ansioso por isso. - o abraçou mais forte. - Ansioso pro resto da


minha vida do teu lado... Com a nossa família.

— Quatro filhos.

— Um cachorro.

— Uma casa de frente pro mar em Busan.

— A nossa Lua. - sorriu. - Ainda me lembro de você ensopado da chuva na


porta da república dizendo que se chamava Busan e vinha de Jeon Jungkook.

— Ah, bem lembrado. Eu me chamo Busan e vim de Park-Jeon Jungkook.


Por favor, cuide de mim.

Jimin riu baixinho e virou para o marido. A mão pequena fez carinho no
rosto dele, então Jungkook fechou os olhos para senti-lo. Havia uma aliança
dourada no dedo anelar de Jimin e ela significava todo o amor que existia
entre os dois há anos. O amor que ferveu demais, que quase evaporou por
imprudência da paixão e do medo plantado junto dos traumas que os dois
venceram juntos.

O menor o beijou nos lábios e sorriu enquanto esfregava o nariz contra o do


mais alto.

— Eu cuido de você, Jungkook. Para sempre. Você é o meu menino... O meu


homem. Você derrubou aquela ponte...

— E quero mergulhar em você o resto da minha vida. Todo dia. Para


sempre.

Não havia mais pontes, nem segredos e medos que não pudessem lidar.
Havia o amor e a confiança.

E era o bastante.

Yumi observou o copo com suco de laranja sobre a mesa e fez um bico.

— Omma, eu já terminei o jantar, posso pedir docinho pro dindo?

— Pode, mas por favor, não saia daqui ok? Nada de brincar perto da praia,
Yumi. Entendeu?

— Sim! Vou levar o meu suco!

Ela desceu da cadeira e seus avós maternos sorriram ao vê-la caminhar em


direção a mesa de Yoongi. Mas algo chamou sua atenção no meio do
caminho. Algo à beira da praia. Ninguém viu quando Yumi desceu os três
degraus daquele píer para poder ver mais de perto o caranguejo que
caminhava lateralmente para perto das pedras.

— Caguanrejo! - exclamou animada. - Vai pro mar, senhor caguanrejo. Lá é


a sua casa.

O animalzinho não gostou quando o pé descalço da menina lhe chutou areia


na tentativa de ajudá-lo a voltar para a água. Então, quando ele avançou em
sua direção, Yumi deu um gritinho e entornou o suco sobre o vestido bonito.

— Ah, não... Omma vai ficar brava... Sai caguanrejo! - disse ao vê-lo se
aproximar de novo.

— Pronto... Calma, carinha. - um homem alto segurou o caranguejo na mão


grande. A voz dele era familiar a Yumi. - Ele quer voltar para as pedras, ele
mora lá.

— Ele não mora no mar? - se espantou.

— Não. Ele mora com a família perto das pedras e vai para o mar quase
todos os dias.
Yumi estava encantada. Aquele homem colocou o caranguejo entre as pedras
e sorriu.

— Oh! Você saiu do compunador! - apontou para Namjoon.

— O que?

— Lembra de mim? Eu sou filha do meu appa, Yumi! Você é o Namjoon que
mora dentro do compunador!

— Oh, sim. Sou eu. - ele riu um pouco. Yumi era adorável. - Eu te conheci
antes, mas você ainda era um bebê muito pequeno.

— Eu sou uma mocinha. - se orgulhou, mas o vestido coberto de suco de


laranja a fez sentir vergonha. - Meu vestido. Sujou todinho.

— Yumi-ah, a primeira vez que eu vi o seu pai, anos atrás... Ele estava
coberto de café. Igual a você está agora coberta de suco de laranja. -
Namjoon estava agachado diante dela.

— Yumi! Mas o que... A sua mãe te disse para não vir para a praia sozinha!

A voz dele fez Namjoon tremer. Jin desceu os degraus com pressa, mas
parou de uma vez ao vê-lo ali.

O mais novo arrumou a postura. Não estava vestido como os outros


convidados, suas roupas eram simples e, deus do céu, como estava lindo.

— Olha appa, o Namjoon do compunador. Ele saiu de dentro da tela.

— Oi Jin-hyung. - cumprimentou nervoso. As mãos estavam suando.

A brisa da praia sacudiu os cabelos de Yumi. Ela sorriu. Mal sabia que há
anos aqueles dois também trocaram silêncio diante do mar, relembrando o
passado recente cheio de feridas que naquela época ainda doíam.

— Oi, Namjoon-ah. Bem-vindo de volta.

Mas naquele momento, não doíam mais.


— Eu nem pude trocar de roupas, o voo atrasou e-

— 'Tá tudo bem. Vem, eles vão ficar tão felizes por te ver aqui. Eu tô feliz.

— Posso te abraçar, hyung?

Yumi bocejou. Estava ficando com sono.

— Por favor, me abraça.

Namjoon se aproximou para o abraçar forte.

O alívio de Seokjin se manifestou em uma respiração alta.

— Quero abraçar também! - a menina pediu. - Mas o meu vestido 'tá


molhado.

Jin sorriu quando Namjoon se afastou. Ele sentia vontade de chorar.

— Yumi-ah, o que você fez? Olha o seu vestido. Sua mãe vai ter um infarte.

— Eu vou procurar os outros... Vai trocar a roupa dela, hyung.

— Depois... A gente...

— Você está livre amanhã às sete? - Namjoon sentiu as bochechas


esquentarem.

— Uhum.

— Aceita tomar um café comigo? Ou suco de laranja? - eles sorriram, Yumi


não entendeu nada.

— Claro. Amanhã, então. As sete.

— Obrigado, hyung.

Jin lambeu os lábios e assentiu sem jeito.


Tão eufórico quanto um adolescente.

Talvez dessa vez seja a vez certa. Talvez aquele amor com cheiro de café
amargo tenha se tornado doce como um suco de laranja.

Quem sabe? Alguns amores precisam acabar para recomeçar do jeito


certo.

— Ele gosta de dançar. - Taehyung observou abraçado a Yoongi.

Na pequena pista de dança, Yohan dançava junto de Hoseok, e tentava imitar


os movimentos do pai.

— Ele é uma mistura de nós três. Pegou as qualidades e até os defeitos.

— Ele tem a sua mania de não gostar de tomar banho. - provocou o beijando
nos lábios rapidamente. Eles dançavam juntos, lentamente.

— E você gosta mesmo de dormir no sofá, Taehyung. - ele devolveu.

— Amor, você é feliz? - Yoongi assentiu. - Todos os dias?

— Todos os dias. A cada dia um pouco mais. Tae, as coisas estão indo bem.
Muitos de nós ainda precisam de ajuda, mas nada se compara há cinco anos
atrás. Jungkook está bem estabelecido com a empresa que criou, Jimin vai
bem demais na profissão. Seokjin-hyung conseguiu dobrar os lucros da
construtora. Seok-ah está feliz com a escolinha de dança e os trabalhos com
projetos de arquitetura. Você só tem me enchido de orgulho a cada dia
exercendo o seu mandato, sendo o homem íntegro e justo que eu amo.

— Você está concorrendo com o escritório de assessoria. Jungkook quer te


contratar para trabalhar só pra ele. - elogiou com orgulho. - Meu homem de
negócios.

— O Namjoon está feliz. Ele me disse que descobriu a própria força durante
todos esses anos. - disse aliviado. - Nós estamos felizes. Estamos felizes.
— Sabe o porquê?

— Por que?

— Porque estamos juntos.

— Yohan mostra para os papais o que você sabe fazer!

Hoseok se aproximou com o menino no colo, mas o colocou no chão. Yohan


colocou as duas mãos nos joelhos e se balançou para cima e para baixo.

— Você o ensinou a fazer twerk, Hoseok?

— Ele aprendeu sozinho! - Hobi riu. - Esse safado! - o trouxe para os braços
de novo, enchendo-o de beijos. - Nosso tigrinho.

Taehyung abraçou Yoongi e Hoseok, então beijou a testa de Yohan. Os três


juntos continuaram dançando lentamente, presos no próprio mundo. A
própria galáxia onde eram essenciais para que existisse vida. A força, o
ataque e o escudo.

E Yohan se tornara um pequeno planeta que aqueles três homens protegiam e


orbitavam graças ao amor que ele significava.

Tae, Yoon e Seok tinham o amor rindo sem seus braços.

Porque também eram amor.

— Bem, eu estava encarregado de fazer o discurso final desse brinde, mas


acho que dessa vez vou passar a minha vez para alguém que tem muito o que
dizer para os noivos e para outras pessoas desse casamento. - Seokjin
anunciou segurando o microfone com uma mão e uma taça de champanhe na
outra. - Por favor, Namjoon.

Ao ouvir o nome ser chamado, Jimin arregalou os olhos e Jungkook sorriu.

Namjoon subiu no pequeno palco e sorriu.


Tinha nas mãos o bloquinho de notas que guardava no bolso. Yoongi não
conseguiu evitar as lágrimas ao vê-lo.

— Boa noite. Quero me desculpar por minhas roupas, não deu tempo de
vestir algo mais apropriado, não cheguei a tempo.

— 'Tá lindão, hyung! Ainda parece uma geladeira duplex com água na porta!

— Obrigado, Taehyung.

Os convidados riram.

— Eu escrevi uma coisa dois dias antes de vir para cá e finalizei enquanto
assistia a cerimônia. É algo que eu vou usar para finalizar um livro que
escrevi durante esses anos fora do país seguindo o conselho de Jungkook. - o
encarou. O mais novo sorriu. - O nome da república onde morei junto de
Seokjin, Yoongi, Hoseok, Jimin, Taehyung e Jungkook era Bangtan Kappa.
Havia um colete brega no alto da porta principal e a frase "Nós somos a
prova de balas", entretanto não éramos nada disso antes de sermos sete. Nós
éramos apenas garotos, mas juntos nos tornamos sim às provas de balas. Não
havia nada naquela casa além de sonhos e alguns traumas que determinavam
nossas vidas... E eu perdi a conta das madrugadas que ficamos acordados na
sala estar em silêncio sem saber o que fazer... A dor e as lágrimas que
compartilhamos juntos nos tornou mais fortes. E depois de sete invernos e
sete primaveras desde que Taehyung e Jungkook chegaram, nós alcançamos o
céu... Porque nunca mais seremos sete sem um de nós. Yoongi uma vez disse
que era um alívio sermos sete... Ainda me lembro de Jimin e seu rosto fofo,
de Hoseok e sua mania de nos observar em silêncio, de Yoongi e as
conversas tarde da noite, Seokjin e um chá para cada momento... - ele sorriu.
- Taehyung e seu gênio difícil e Jungkook me encarando com seus olhos
grandes ao sentir medo. Hoje, se estivermos juntos, somos à prova de
balas... Fizemos isso enfrentando os olhares negativos, as más lembranças e
as provações. Nós bloqueamos todos eles, nós vamos bloquear para sempre.
Eu viajei o mundo todo durante cinco anos e entendi que aqui é o meu lugar.
Com a minha família. Nós sete somos eternos. Somos uma família. - ele
levantou a taça. - Um brinde a Bangtan Kappa, um brinde a todas as formas
de amor que descobrimos juntos. É um alívio.
Os outros seis, com lágrimas nos olhos, levantaram suas taças para brindar
junto de Namjoon.

Era um alívio.

Sim, eram eternos e à prova de balas.

Juntos.

Estariam juntos até o final da caminhada dessa vida e se fosse possível, de


todas as outras.

O destino faria questão de os juntar outra vez até serem sete.

Que alívio serem sete.

#PillowFic

🧨🧨

muito obrigado por ter caminhado junto de nós por esse caminho, obrigado
por ter deixado essa história entrar no seu coração e ter permitido que cada
um dos personagens pudesse se tornar real na sua imaginação.

muito obrigado por ter lido pillowtalk!

até a próxima!!

FIM
EXTRA - a vida continua

FELIZ ANIVERSÁRIO DE 2 ANOS PILLOWTALK 💜💜💜💜💜💜

⭐🌙☀

Taehyung foi o primeiro a acordar.

O choro manhoso que vinha da babá eletrônica era acompanhado com


pequenos murmúrios ininteligíveis, palavras desordenadas que a prática o
fez decifrar com mais facilidade do que acreditava poder.

— O seu filho acordou, Tae. - a voz grossa e sonolenta de Yoongi abafou um


pouco do choro enquanto ele se movia na cama, trocando a posição para se
agarrar ao corpo de Hoseok.

— Meu filho? - Taehyung bocejou esfregando os olhos, as pernas longas já


empurravam o edredom para longe.

— Somos pais dele durante o dia e você durante a madrugada. - Hobi


resmungou de olhos fechados, a mão carinhosa já dava um jeito de afagar a
barriga de Yoongi, por baixo do pijama.

— Nunca concordei com isso, sabia? Nunca assinei um contrato.

— Assinou sim... Quando aceitou casar com a gente. - Yoongi levantou o


braço para gesticular. - Vai logo, ele deve estar com fome.

— Claro que está... Ele parece até filho de Jin-hyung.

Tae resmungou enquanto erguia o tronco para levantar da cama. Procurou


pelos chinelos confortáveis que usava dentro de casa e depois de os calçar
olhou para trás, para os outros dois que dormiam abraçados. Então, sorriu.
Até quando deveria ficar irritado por ser acordado às duas da manhã,
Taehyung sorria. Essa era a consequência da vida que vivia ao lado de
Hoseok e Yoongi, era sua recompensa depois dos primeiros dois anos
atribulados de relacionamento. Taehyung era feliz. Absoluta, completa e
infinitamente.

Ele saiu do quarto acompanhado de Holly, mas não acendeu as luzes.

Atravessou o corredor, arrastando os pés sobre o carpete que Hoseok


aspirava duas vezes por semana enquanto reclamava da bagunça e Yoongi o
chamava de desequilibrado. A porta do quarto a frente estava entreaberta.

Tae empurrou devagar e foi recebido pelo choro um pouco mais manhoso,
quase sentido.

O quarto, uma suíte grande demais segundo ele, era decorado com inúmeros
animais no que deveria representar uma fazenda animada. Ele acendeu a luz
e Yohan o encarou estendendo os braços para fora do berço.

— Pronto, papa 'tá aqui. - Tae o pegou com cuidado e o menino, ainda
chorando baixinho, apontou para o teto. - O que foi? Ah, eu sabia que isso ia
te assustar.

Ele caminhou até a cômoda onde as roupas do menino ficavam e pegou o


pequeno controle remoto para desligar o abajur que refletia no teto formas
de estrelas, luas e pequenos cometas. Yohan, com a chupeta vermelha na
boca, deitou a cabeça no ombro do pai e continuou manhoso.

— Você não precisa ter medo, tigrinho. - disse baixo para o filho ouvir,
aproveitando para conferir se a fralda estava muito cheia, dando batidinhas
no bumbum do menino. - 'Tá com fome?

— Shim. - a palavra saiu ainda mais enrolada graças a chupeta.

— Acho que o Yoon trouxe bolo do casamento... O que acha de nós dois
quebrarmos as regras? Você topa?

— Topa! - Yohan assentiu o encarando.

Tae, o carregando para fora do quarto, secou suas lágrimas e limpou o


catarro que ameaçava escorrer para o pijama do filho. Holly os seguia de
perto, caminhando de forma adorável graças a roupinha de raposa que usava.
Yohan foi colocado na cadeirinha que usava para as refeições e observou o
pai em silêncio.

Dos três, Taehyung era o mais divertido. Não é que amasse menos os outros
dois, mas ainda era pequeno para compreender as coisas e o fato de Tae
sempre fazer suas vontades ajudava. Yoongi era o mais carinhoso e paciente,
sabia lidar com as malcriações. Já Hoseok era bom com as broncas, mesmo
lamentando minutos depois.

Para Yohan, aqueles três homens significavam carinho, proteção e risadas.

— Achei! - Tae comemorou, então Yohan riu animado. - Vamos comer um


pedaço juntos.

Tae colocou o pote de vidro sobre a ilha da cozinha e abriu revelando alguns
pedaços do bolo de casamento de Jimin e Jungkook. Ele serviu uma fatia
generosa no prato e pegou dois garfinhos infantis para compartilhar com o
menino que arrancou a chupeta e agitou os braços ansioso pelo bolo.

— É segredo nosso, Yohan! Não é pra contar pro seus appas, ok?

— Shim! - o menino assentiu. Usou o garfinho, mesmo atrapalhado, para


pegar um pouco do bolo e por na boca. Sujando o queixo com o recheio
doce. - Huuum!

— Huuuuum! O Papa também ama bolo! Aquele rabudo do teu padrinho


escolheu um recheio gostoso, né filho?

— Abudo! - repetiu de boca cheia. Taehyung começou a rir.

— Hey, não repete isso! Quer me ferrar? Yoongi vai arrancar meu p-

Tae parou de falar quando percebeu os olhos atentos do menino esperando


uma nova palavra para repetir. Ele encheu a boca com bolo e negou. Yohan
riu mostrando os poucos dentes na boquinha pequena.

— Você olha pra mim igualzinho seu papai Yoongi. - observou orgulhoso.
Estava sentado em um dos bancos da ilha, de frente para o filho,
compartilhando do bolo sobre a mesa de sua cadeirinha. - Mas é marrentinho
igual ao appa Hoseok. Você nem deve entender isso ainda, mas você foi a
nossa decisão mais adulta, filho. - Tae penteou para trás os cabelos revoltos
do menino para que ele não sujasse com o bolo. - Principalmente pra mim. -
sorriu. - Me acostumei a ouvir que estava passando dos limites o tempo
inteiro, então o papa tinha muito receio de fazer isso com você... De errar
com você. - Tae suspirou. Ele observou o relógio elegante preso a parede
para confirmar o horário. - Hoje faz seis anos.

— Papa! - Yohan estendeu o braço, entre os dedos segurava um pedaço de


bolo amassado e babado. - Come bolo!

— Ah. - Tae abriu a boca e aceitou o pedaço. Ele sorriu porque costumava
achar nojento quando Jin fazia isso com Yumi, mas ali estava ele fazendo o
mesmo enquanto só conseguia se orgulhar por seu filho ser tão gentil. -
Obrigado, tigrinho. Hoje faz seis anos que o seu pai respirou aliviado pela
primeira vez na vida. - Yohan o encarava com curiosidade, a boca miúda
completamente suja. Os olhos grandes com vestígios de lágrimas atentos ao
pai. - Quando eu pensei sobre ter um filho, disse a Yoongi que era uma ideia
ruim. Como eu ia conseguir ser um pai de verdade sem referências? Como eu
poderia te proteger do mundo se o que me fizeram foi na proteção de uma
casa... Mas, ele e o Hoseok me disseram algo, então aqui está você me
dando bolo babado na boca. - ele aceitou mais um pouco do bolo e beijou os
dedinhos sujos de Yohan. - Nós somos a referência. Você é a minha
referência, Yohan. E eu sou grato por ter me deixado ser o seu pai.

— Eu tenho certeza que ele também é grato por ser teu filho. - Yoongi o
assustou um pouco, mas deixou um beijo no ombro nu dele e afagou os
cabelos amassados com carinho.

— Nós somos gratos por nossa família. - Hoseok beijou os cabelos do filho
e depois os lábios de Taehyung. - Vou até deixar passar o fato de você estar
deixando-o comer açúcar as três da manhã. - reclamou antes de usar um
guardanapo para limpar a boca de Yohan. - Ele não vai voltar a dormir tão
cedo.

— Appa bolo! - Yoongi aceitou o bolo babado e sorriu mastigando. - Appa!


- o garotinho chamou Hoseok que rapidamente abocanhou a mãozinha suja,
fazendo-o rir.
— 'Tá vendo?! Eu te disse que a frescura dele é só com a gente! - Tae
acusou.

— Esse filho da... Mãe. - Yoongi corrigiu antes de continuar. - Enche o saco
se eu peço beijinho de manhã!

— Não beijo ninguém com bafo! A gente tá junto há anos e vocês ficam com
essas coisas de beijar com bafo! - Hoseok ajudou Yohan com um pedaço
maior.

— Mas quando quer fazer momozinho de madrugada ninguém pensa nisso,


né Seok?!

Hobi fez um bico e não respondeu.

— Marrento de merda. - Tae murmurou.

— Ah, seu celular vibrou. É o Jimin. - Yoongi, bocejando, entregou o celular


a Taehyung. - Eu me pergunto o que ele quer te mandando mensagem a essa
hora da madrugada.

— Esqueceu que no Brasil são doze horas de diferença? - Tae desbloqueou a


tela, então Yoongi roubou seu garfinho para comer com o filho. - Eles
chegaram bem, o voo foi tranquilo. - disse deixando o celular de lado outra
vez. - Tomara que o Jungkook tenha levado o meu presente.

— Que presente? - Hobi arqueou uma sobrancelha. Yohan estava feliz por
ver Yoongi servir outra fatia de bolo no prato.

— Meu presente, ué. - deu de ombros, desconversando.

— Conta logo! - o Jung insistiu.

— Para de ser fofoqueiro!

— Se você não me contar também não conto o que Jin-hyung me contou


sobre o Namjoon. - Yoongi provocou de boca cheia.
— O mal da gente é ser fofoqueiro, que inferno. - Tae bufou. - Eu não era
assim! Isso é culpa de vocês dois!

— Conta logo, inferno! Perturbação! - Hobi sentou na coxa dele, dando


beijinhos pelo queixo bonito. - Conta momozão, conta.

— Um homem se humilha por fofoca, como pode?

— Olha quem fala. Min Yoongi, o grande fofoqueiro!

— 'Tá. - ele suspirou. Uma das mãos estava dentro da camiseta de Hobi,
fazendo carinho na curva da lombar. Os dedos quase invadindo o short do
pijama para apertar a bunda alheia. - Eu dei pra ele uma fantasia erótica.

— Ah, mas isso ele e o Jimin usam aos montes. - Yoongi ralhou.

— Eu sei, mas essa é especial porque era pro Jimin, não pra ele. - sorriu
atrevido.

— Pro Jimin? - Hobi o encarou de perto. - Qual?

— De policial. Ele sempre ficava reclamando que o Jimin não usa uniforme,
que delegado não precisa usar de uniforme e sinceramente, teu filho postiço
é muito safado Hoseok, ele faltou pular de alegria quando eu arrumei o
uniforme completo.

— Taehyung... - Yoongi colocou as duas mãos nos quadris. - Onde você


arrumou um uniforme de policial completo?

— Ah... Eu arrumei. - deu de ombros.

— Taehyung. - ele suspirou. - Você não usou seu cargo pra conseguir isso,
né?

Tae, com um bico nos lábios, deu de ombros.

— Eu não acredito nisso! - Hoseok disse mais alto.


— Calma aí! Eu só pedi pra uma pessoa que tinha como conseguir! Não
cometi nenhum crime. Vocês sabem que naquele lugar as pessoas usam
dinheiro público pra manter a boa vida e eu nunca fiz algo assim.

— Nem vai fazer, nunca. - Yoongi assegurou.

— Pedi por um uniforme e consegui. Só isso.

— Não faz mais essas coisas, amor. - Hobi pediu enquanto o cheirava,
abraçado a ele com carinho. - Tá bem?

— Ok. O Jungkook ficou muito feliz, nunca vi alguém tão ansioso pra dar o-

— Hey! O sol nascendo na fazendinha! - Hoseok o cortou.

— Nunca sei se ele te impede de falar essas coisas por causa do Yohan ou
do Jungkook. - Yoongi beijou a bochecha do garotinho. - Chega de bolo, ok?
Agora nós vamos beber um pouquinho de água e escovar os dentinhos.

— Detinho. - repetiu assentindo. Yoongi o tirou da cadeirinha, o menino


logo levou as mãos sujas até seu rosto, para tocar os óculos grossos que o
pai usava.

— Não, nada disso. Você vai sujar. Acho que vou te dar outro banho.

— Quem diria, né Tae? Nosso polenguinho virou um papai cheio de


preocupações com bebês sujos.

— A paternidade mudou, meu Sol.

Yoongi usou uma das mãos para encostar a cabeça de Yohan contra seu peito
e tapar o ouvido dele com cuidado.

— Vão se foder! - ele disse baixinho. - Se virem sem mim.

Ele saiu da cozinha com um bico nos lábios.

— Ah, amor... Gatinho! Yoongi!


— 'Tá vendo o que você fez?! - Tae apertou a bunda de Hoseok.

— Você também falou! Agora a gente vai ficar sem cuzinho.

— Mas, eu ainda tenho o seu meu Sol. Essa minha bundinha de gaveta. -
apertou de novo.

— Vai se foder, Taehyung.

Hoseok o empurrou e saiu pisando forte atrás de Yoongi. Tae, aos risos, o
deixou ir.

Ele limpou a mesinha de Yohan, guardou o que restava do bolo e lavou o que
havia sujado antes de apagar a luz da cozinha e ir atrás de sua família. No
banheiro do quarto de Yohan, encostou o corpo ao batente da porta e o
observou em silêncio.

O menino estava dentro da pequena banheira azul, o corpo nu sendo banhado


por Yoongi que usava a mão em concha para retirar o sabão com o mesmo
cheiro favorito de Jungkook. Hoseok o distraía com alguns patinhos de
borracha, dizendo que eles eram amigos.

Sua referência.

Diante de seus olhos como uma pintura única. Traçados pelos anos juntos e
todos aqueles anos que ainda viveriam juntos.

Sabia que Hoseok faria Yohan dormir logo, que o menino ficaria seguro no
berço tendo sonhos felizes e eles se deitaram na cama feita sob medida para
conversar sobre o travesseiro até o sono os embalar.

O caminho de cerejas se estendia e o garotinho espalhando água pelo


banheiro era um pequeno galho repleto delas, semeado por ele e os dois
homens que amava.

Há seis anos Tae respirou aliviado pela primeira vez e desde então, todos
dias, eram feitos disso.
Naquele momento deixou que uma lágrima rolasse pela bochecha, que
pingasse sobre sua pele nua para desaparecer. Havia chorado muito por
motivos ruins, mas graças a Hoseok e Yoongi todas as lágrimas eram de
felicidade.

Todos os dias.

O lugar não estava cheio.

O dia estava quase acabando, mas o Sol ainda iluminava as ruas e prometia
uma noite abafada. Namjoon bebeu um gole do café gelado e olhou mais uma
vez para o relógio prateado preso ao pulso.

O relógio que usou todos os dias enquanto esteve longe.

Ele, pela quarta vez, organizou a mesa que ocupava como se qualquer coisa
fora do lugar fosse mudar o roteiro que ensaiou por cinco anos. Ainda havia
um pouco do homem inseguro dentro de si, mas nada se comparava a
coragem que o guiava. Observou o lado de fora da cafeteria. Os carros
passando depressa, as pessoas caminhando de um lado para outro seguindo
suas vidas enquanto ele precisava respirar fundo algumas vezes para
acalmar o nervosismo.

Mãos trêmulas e suando mais que o normal.

Aquilo era quase voltar a ser adolescente, era viver o que os traumas lhe
proibiram de viver antes de se tornar um adulto. Esperar ansioso pelo
garoto mais bonito da cidade para segurar a mão dele por uns minutos.
Acabou rindo de si mesmo. Jin provavelmente também daria risada de sua
imaginação um pouco antes de acrescentar mais e mais detalhes à fantasia.
Como se ela nunca pudesse ser verdade. Pensar sobre antes arrancava suas
esperanças, triturava suas expectativas e planos, então Namjoon pensava
sobre o presente.

Horas sincronizadas. O relógio do lado esquerdo usando o coração dele


para funcionar porque se o amor por Seokjin era a bateria, aquele relógio
vai funcionar pra sempre.

— Namjoon-ah?

Ele ouviu a voz familiar e ajeitou a postura depressa, quase como se fosse
flagrado. Jin sentou na cadeira diante dele e colocou sobre a mesa o celular
junto das chaves do carro.

— Desculpa o atraso, eu tive de deixar a Yumi na casa dos meus pais.

— Não tem problema. - Namjoon negou e sorriu sem conseguir controlar os


sentimentos que o bombardeiam por dentro. Eram bons. Eram únicos. Eram
por Seokjin. - Obrigado por vir.

— Obrigado pelo convite.

Jin sorriu. Naquele momento encararam um ao outro de verdade depois de


tantos anos. Jin estava mais velho, mas ainda mais bonito. O corte de cabelo
era diferente, o corpo mais forte graças ao serviço militar e carregava no
olhar experiências que o faziam maduro. Mas, Namjoon não se intimidava,
ele queria tocá-lo.

— Continua lindo, hyung. - elogiou apoiando as mãos na mesa, atrapalhado o


suficiente para quase entornar o café.

— E você continua desastrado. - Jin riu um pouquinho enquanto segurava o


copo transparente, salvando-o do desastre. - Como foi na base aérea?

— Mais tranquilo do que eu imaginei. Descobri que gosto muito de voar por
causa do serviço militar.

— Esses músculos todos são por causa do serviço? - ele brincou, Namjoon
coçou a nuca e assentiu. - Deus abençoe a Coreia do Sul!

Ele riu. A mesma risada única e que fazia Namjoon querer rir também. Como
há alguns anos, eles riam juntos, mas dessa vez sem peso. Jin pediu um
suco de laranja e dois pedaços de torta de chocolate. Ele colocou o celular
em modo avião e em silêncio apoiou os cotovelos na mesa, em silêncio ele
observou Namjoon por alguns minutos.
— Aigo... Você ainda é o mesmo, mas também não é.

— Como assim? - quis saber enquanto mordia o lábio inferior.

— Você ainda é o Namjoon que me abraçou no aeroporto e pediu pra Yumi


cuidar de mim, mas também é um Namjoon que eu não conheço. - Jin sorriu
um pouco. - Ainda tem os olhos de dragão...

— Costumava dizer que eles ateavam fogo e eu nunca soube se isso era bom
ou ruim.

— Os dois. - simplificou. - Acho que a gente não precisa negar as coisas


nessa conversa porque esperamos muito por ela. - Namjoon assentiu. - Os
seus olhos ainda são de dragão, mas eu não vejo mais aquela tristeza dentro
dele, aquela confusão que me confundia e me bagunçava quando te pegava
olhando pra mim depois de transar.

— Eu tinha medo, Jin-hyung. Eu fui feito de medo, mas sequer sabia o que
temia. - Namjoon começou a brincar com o guardanapo, amassando uma das
pontas. - Eu dizia ao meu psiquiatra que você era o meu porto seguro, que
respirar era fácil por sua causa, então usei o que você sentia enquanto me
usava também. Partir o seu coração era igual partir o meu, a mesma
sensação.

— A gente amou do jeito errado, Joonie. - lamentou. - Intensamente, mas


errado. Nós somos a prova viva de que só amor não basta e foi difícil lidar
com isso, entender e aceitar. Aigo, faz tanto tempo que eu não olho pra
você... Eu nunca quis mandar tirar aquela mancha de vinho no meu carpete.

— Você ainda não quer falar sobre como eu parti o seu coração?

Seokjin sorriu um pouco, de lado e quase tímido. Respirou fundo, as mãos


sobre a mesa se moveram um pouco, então Namjoon pode ver o relógio
dourado no pulso dele.

Olharam nos olhos.

— Quero. - assentiu. - Você pode falar, Namjoon.


— Hoje eu sou capaz de olhar para o antes e reconhecer cada falha, cada
erro que eu cometi sobre nós dois e o que poderíamos ter construído
naqueles anos. Hoje eu consigo respirar de verdade e facilmente em
qualquer lugar e o meu porto seguro está sob os meus pés... - Jin assentiu
com orgulho, mas um pouco de receio. E esse receio o fazia sentir egoísta,
ele sabia.

— Você conseguiu terminar o seu cubo mágico?

— Todas as cores. - Namjoon mexeu na bolsa que estava sobre uma das
cadeiras vazias e tirou dela o cubo que Jin havia o presenteado no dia da
morte de sua mãe. Estava terminado. - A minha trivia acabou, hyung. Eu fui
até o final de cada caminho, vi o que podia ver... Escutei e falei. Tudo isso
sozinho.

— Eu sinto muito orgulho de você, Namjoon-ah. - disse um pouco


emocionado. - Ver você sorrir assim de verdade é bom... Esperei por isso
demais.

— Eu não posso te fazer esperar mais. - Namjoon colocou o cubo sobre a


mesa e deixou que seus dedos tocassem os dedos de Seokjin com cuidado,
não queria ser invasivo. - Um dos meus caminhos é você, Seokjin. Eu não
posso voltar e desfazer as coisas que fiz no passado, não posso recolher
aquelas lágrimas ou apagar as palavras... Jin, eu me amo. - ele sorriu. - Me
amo muito... Eu amo o que tenho de bom e amo as minhas imperfeições... Eu
quero amar você do jeito certo. Quero amar o que você tem de errado
também, mas do jeito que você merece.

Seokjin mordeu o lábio inferior e não escondeu as lágrimas que inundavam


seus olhos.

Ele raspou os dedos aos de Namjoon, o coração batia depressa no peito, as


mãos quase tremiam.

Encarou o cubo mágico sobre a mesa e depois os olhos de dragão que


também estavam marejados.
— Você está ouvindo o seu coração? - quis saber, Namjoon assentiu. - Na
última vez, no meu apartamento, eu te pedi pra ouvir o seu coração. Você tem
certeza, Namjoon?

— Você é a minha lagosta, Jin-hyung. - Jin começou a rir baixo.

— Eu sou a sua lagosta? - ele secou as lágrimas e respirou fundo. - Da


última vez que rimos assim estávamos no tapete do meu quarto ouvindo
Roxette nos seus fones de ouvidos e eu te disse que você teria me amado
certo em outra vida.

— Eu quero te amar certo em todas as vidas que eu viver. - Namjoon sorriu,


deu a Jin suas covinhas adoráveis. - Você tem pressa?

— Eu só quero que dê certo. - disse com a voz embargada.

Namjoon secou as próprias lágrimas e limpou a garganta.

— Sem pressa, então. Vamos fazer o que deveríamos ter feito.

— Esse é o nosso primeiro encontro, então?

— É. O primeiro encontro. - ele riu. - Me diga, como vai Seokjin-ssi?

Jin riu mais, ele fungou para controlar o choro e assentiu.

— Eu vou bem, e você, Kim Namjoon?

— Melhor agora.

— Aigo, deixa as cantadas ruins pra mim, você é péssimo nisso.

Ele levantou o copo pedindo um pequeno brinde e Namjoon fez o mesmo.


Café gelado e suco de laranja sem açúcar. Um cubo mágico resolvido sobre
a mesa. Recomeço.

O recomeço feliz porque nem só de finais se conclui uma história.


Jimin estava dentro da banheira.

Ainda era dia e o fuso horário já não o deixava tão enjoado.

De onde estava tinha uma vista linda para a praia quase paradisíaca
escolhida por Jungkook para lua de mel. O mar azul fazia um belo par com
as pedras que aguentavam ondas altas e fortes o tempo inteiro.

O banheiro da suíte levava uma temática típica da pequena cidade litorânea


e ele gostava da simplicidade e principalmente do quanto Jungkook se
encantava com cada detalhe.

— Eu pedi lagosta e aquele negócio que você gostou. - o mais novo entrou
no banheiro quase assustado. Jungkook estava vestido em um roupão branco.

— Aipim frito?

— Isso. - ele assentiu.

Jimin o observou caminhar de um lado para o outro. Primeiro cheirando


todos os potes de cremes e sabonetes naturais, depois tirando fotos da vista
com a câmera cara recém comprada. Jungkook, em sua visão, havia
amadurecido muito.

Ainda possuía o olhar doce e as manias únicas, mas aquele menino tímido
deu lugar a um CEO exigente e centrado, mesmo que essa personalidade
seja usada apenas para o trabalho. Jimin o amava mais a cada dia.

— Conseguiu falar com o seu appa, bebê?

— Uhum. Ele disse que minha madrasta está melhor.

— E você? - se moveu um pouco na banheira, mostrando mais do corpo nu e


coberto de espuma. - Como você está com a ideia de ter um irmão ou irmã?

— Fiquei surpreso, Jimin. - confessou antes de passar a mexer na câmera.

— Ficou com ciúmes?


— Não é isso. - sorriu. - Só me preocupo... Não quero que o meu appa sofra
e-

— Vem aqui, meu maridinho gostoso. - Jimin o chamou com a mão. Jungkook
sorriu sem mostrar os dentes e colocou a câmera sobre a borda de mármore
ao redor da banheira. Ele abriu o roupão lentamente, provocando o marido
que sorriu atrevido o admirando. - Você é o homem mais lindo do mundo,
sabia?

— Você me diz isso todos os dias. - lembrou antes de deixar o roupão cair
no chão.

Jungkook estava ainda mais forte, mas os músculos não eram a melhor parte
para Jimin. Ele amava a parte externa, mas nada se comparava a parte
interna. Por baixo das tatuagens, da força que muitas pessoas viam e
admiravam, do físico atlético e invejável havia seu Jungkook.

Seu menino, homem e amante.

Ainda havia momentos em que ele se encolhia dentro de seus braços e pedia
por conforto, que o tomava nos braços afoito e eufórico como se fosse a
primeira vez. Se amavam e além disso, eram completamente apaixonados um
pelo outro. A água fervia devagar e era reabastecida todos os dias.

Jungkook entrou na banheira espaçosa e logo estava nos braços do marido,


com as costas contra o peito dele para ser abraçado forte e protegido. Jimin
deixou um beijinho no ombro dele e depois usou as mãos para prender o
cabelo um tanto longo para o alto, dando um pequeno nó mal feito que não
evitou que os fios escapassem para emoldurar o rosto sereno.

Fecharam os olhos.

Vistos de cima eram a mesma cena de anos atrás na cadeira de um pronto


socorro, prestes a serem consumidos pelo preto que queria os destruir em
bocas famintas.

Dessa vez, não.


Dessa vez eram feitos de muitas cores e os corpos nus, sob a água, exibiam
as tatuagens que contavam suas histórias em cenas boas e ruins, como era a
vida real.

— O seu appa está bem, está feliz. - Jimin sussurrou próximo a orelha
alheia, brincando com o pequeno brinco ali. - Ele vai precisar de você
porque 'tá assustado, bebê. Essa gravidez não foi planejada e faz tempo que
ele passou por isso. Você não é mais um coelhinho.

— Sou um coelhão? - ele sorriu e Jimin riu baixinho. - Nós vamos passar
por isso juntos. Eu e ele.

— Vão? - Jimin estranhou.

— Quando a Sarang puder ir com a gente pra casa de vez. - Jungkook


começou a desenhar círculos no joelho de Jimin, ainda de olhos fechados. -
Acha que a gente dá conta?

— Ter certeza vai me fazer soar como egocêntrico, mas a quem eu quero
enganar? Nós dois somos incríveis juntos. - ele sorriu orgulhoso. - Ela vai
ser feliz, Jungkook. Nós vamos ser ainda mais felizes.

O mais novo se moveu até poder encará-lo, até estar sentado sobre suas
coxas e o tocar no rosto.

— Eu cuidei bem dos hyungs, não cuide? Cuidei de você?

— Você foi e sempre vai ser o melhor maknae, amor. - Jimin espalmou as
mãos sobre a bunda do marido, fazendo carinho. - Olha só pra você agora...
Chegou dizendo que se chamava Busan e tinha tanta vergonha de tomar banho
durante o dia.

— Não fica lembrando. - Jimin mordeu o bico dele.

— Olha só pra você agora. - disse orgulhoso. - Um CEO gostosinho, vai ser
o hyung de alguém e é o meu marido. O amor da minha vida. Minha pessoa.

— Diz aquilo de novo.


Jimin assentiu. A mão pequena tocou o rosto de Jungkook com carinho, o
polegar úmido contornou os lábios finos e depois ele os beijou
demoradamente.

— Pai da nossa Sarang.

— Sarang quer dizer amor. - ele segurou o pulso do marido e sorriu


enrugando o nariz. - Por isso ela é a nossa filha, não é?

— Uhum. É sim. Porque eu te amo demais.

— Você é a minha pessoa. - ele levou a mão de Jimin até o peito. - A euforia
do meu coração. Eu te amo, Jimin-ssi. Vou te amar pra sempre.

Jungkook o beijou devagar. As mãos frias de Jimin contornaram a lateral de


seu corpo lentamente, como se precisasse sentir a textura e o calor alheio.
Seus corações batiam depressa e isso os levou a sorrir dentro do beijo, de
olhos fechados.

Não era infarto, para felicidade de todos, era amor.

A água que fervia, a ponte demolida, um rio para mergulhar de mãos dadas.

O telefone tocou. O celular de Jimin foi deixado sobre a borda de mármore.


Ele ia ignorar, mas Jungkook se afastou um pouco para atender.

— Alô?

Jimin esticou a mão para pegar a garrafa pequena de cerveja que havia
deixado no chão e bebeu dois goles sem encarar o marido. Mas ficou
preocupado porque os olhos de Jungkook estavam arregalados, cheios de
lágrimas.

— Amor? O que foi? Quem é?

— Certo... Obrigado... Muito obrigado... O nosso advogado foi informado?


Certo... Obrigado... Boa noite.

Quando ele desligou encarava Jimin quase sem piscar.


— O que foi?! Aconteceu alguma coisa?!

— A gente conseguiu. - respondeu baixo, lágrimas grossas escapando dos


olhos grandes.

— O que?

— Era a assistente social... A gente conseguiu Jimin-ssi... Sarang vai poder


ir pra nossa casa, pra casa dela.

— Você está falando sério?! - o mais novo assentiu. - A gente conseguiu?

— Uhum.

Jimin o abraçou forte, chorando no ombro dele. Jungkook retribuiu. Ele


beijou o cabelo úmido do marido e fechou os olhos.

Sarang quer dizer amor. Sarang quer dizer Jimin e Jungkook.

MESES DEPOIS.

— Que demora! Eu sou VIP, deveria ter privilégios. - Tae resmungou.

— Eu deveria ter o privilégio de não te aguentar enchendo o saco. - Jimin


devolveu.

— Pelo amor de Deus, calem a boca. - Jin mandou. - Hoje é um dia especial,
não quero barraco!

— Ninguém tá fazendo barraco, hyung.

— Acho maravilhoso que o mais barraqueiro se doeu. - Hoseok debochou e


Yoongi lhe beliscou na cintura. - Hey! Isso dói!

— É pra doer mesmo! Seu appa respondeu a mensagem?


— Respondeu com uma foto do Yohan brincando de montar peças com Syuk-
hyung. - ele ainda fazia careta massageando a área do beliscão. - Tae, o
Yoongi me beliscou.

— Meu marrentinho quer beijinho?

— Começou essa viadagem, puta que pariu! - Jimin descruzou as pernas e


Jungkook riu.

— Dá beijinho no seu malido, Tae.

— A não, terceira pessoa não, Hoseok, se preserve! - Jin negou.

— O hyung é carinhoso... É bonito isso. - Jungkook o defendeu.

— Pronto! Desculpa a demora! - Namjoon ocupou seu lugar na mesa, ao lado


de Seokjin. - Algumas pessoas foram até a mesa e eu tive de dar atenção.

— O braço deve estar doendo depois de autografar tantos livros, Moni. -


Jimin afagou as costas dele e ganhou um sorriso em troca. - Foi um sucesso,
como esperado.

— Vendeu muito... A pré-venda esgotou nas primeiras horas. Nosso


Namjoon é um escritor importante. - Yoongi bebeu um pouco de vinho e
sorriu.

— Assina o meu livro, Namjoon-hyung. - Jungkook pediu depois de


empurrar os óculos para cima. - O meu appa também pediu.

— Assino sim. Como está a Sarang?

— Bem! Ela gostou muito da escolinha, já fez amigos. - Jimin disse cheio de
orgulho. - Jungkook acaba passando mais tempo com ela porque a delegacia
começou adotar o sistema de plantões.

— Ela está animada pro fim de semana. - Jungkook informou.

— Acho que todos nós estamos. Faz tempo que a gente não faz isso de viajar
juntos. Da última vez foi na universidade. - Hoseok abraçou Yoongi pelo
ombro e o menor deitou a cabeça ali. - Agora somos adultos.

— Tentamos ser. - Tae murmurou.

— Eu sou adulto sim! - Jin bateu a mão na mesa os fazendo rir. - E se alguém
discorda cala a boca que sou o mais velho.

— 'Tá assumindo que é uma múmia, hyung?

— Min Yoongi vai tomar nesse seu cu de pombo!

— Não fala assim do cu dele! - Taehyung disse aos risos, abraçando Yoongi
que murmurava. - E você vai logo com isso Jimin, demora da porra.

— Taehyung eu não sou seu empregado e eu ainda tô analisando. - Jimin


procurava algo no cardápio do restaurante.

— Mas por que, caralhos, vocês precisam comer a mesma coisa? - Namjoon
quis saber.

— Porque somos almas gêmeas. - Tae e Jimin responderam ao mesmo


tempo.

— É pra fazer sentido?! - Namjoon insistiu.

— Não. Não tenta entender, Namjoon-hyung. Não tem explicação alguma. -


Jungkook explicou. - É coisa deles.

— Olha quem fala! Você vive por dentro do Hoseok! Esses dias eu o vi
olhando dentro da sua bermuda enquanto fazia voz de bebê! - Yoongi acusou.

— Por favor, não quero falar sobre essas coisas estranhas que vocês fazem. -
Jin fez careta.

— Até porque pescar parece ser muito divertido.

— Ei, ei, ei! Não se mete na minha pescaria com o Gi!

— Caralho, Jimin! 'Tô com fome! Vai logo! - Tae reclamou de novo.
— Você está gritando por que? 'Tá bravo é?!

— Tem de falar baixinho igual o Jimin. - Hoseok disse fazendo voz de bebê.

— Já deu! - ele jogou o cardápio na mesa. - Segura o Jungkook pra mim,


Namjoon-hyung! - o Park disse segurando o riso.

— Briga com alguém do teu tamanho, rabudo! Vai lá mozão! Mostra pra ele!
- disse dando tapinhas nas costas de Yoongi.

— Aparentemente você não gosta de me comer, né Taehyung? - o menor


cruzou os braços.

— E lá vamos nós. - Jungkook disse rindo.

— Eu senti tanta saudade do nosso caos. - Namjoon os fez parar com as


brincadeiras. - Acho que por isso eu escrevi a nossa história no tempo que
fiquei longe. Escrevi como um espectador, mas acho que fiz um bom
trabalho. Senti saudade da minha vida misturada com a vida de vocês.

— Life goes on. - Jin disse o título do livro e sorriu. - A vida continua, mas
ela é mais feliz por ter vocês.

Ele ficou de pé e gesticulou para que os outros também ficassem. Os


envolveu num abraço em grupo, pouco preocupados com as outras pessoas
ali. Sete sorrisos, sete vidas misturadas.

E a vida deles vai continuar depois que a sua leitura acabar.

A vida sempre continua.

Desse jeito novamente.

A república sete, na rua sete, agradece a sua visita e espera que você sempre
se lembre.

FIM

#PillowFic
muito obrigado por amar pillowtalk 💜
Radio Ga Ga - Especial 3 anos

Oi!!

Hoje faz exatamente 3 anos que postei o primeiro capítulo de Pillowtalk.

Depois de Cherry, confesso que tinha medo de começar uma nova história,
com temáticas diferentes porque, apesar de amar escrever, começos são
difíceis. Bem, e aqui estamos, 3 anos depois.

Nossa, que história forte.

Que personagens únicos.

Quanta coisa a gente disse, gritou, se arrependeu, pediu perdão e perdoou


nessa caminhada.

Quantas vidas eu consegui alcançar através dessa conversa de travesseiro


numa república caótica.

Obrigado por tudo e por tanto, pessoal.

Obrigada ♥

Você deu a eles todas aquelas estrelas antigas


Entre guerras de mundos invadidos por Marte
Você os fez rir, você os fez chorar
Você nos fez sentir como se pudéssemos voar

Radio Ga Ga - Queen

☀🌙🌟

Muitas coisas, com o passar dos anos, mudaram as vidas de nossos


personagens.
A República 7 ficou para trás, logo novas gerações, uma após a outra,
viveram histórias parecidas e diferentes na casa espaçosa onde Kim
Namjoon, Kim Seokjin, Min Yoongi, Jung Hoseok, Park Jimin, Kim
Taehyung e Jeon Jungkook foram os protagonistas de tantas experiências e
momentos que os fizeram amadurecer e, consequentemente, se tornaram
quase um só organismo.

Mesmo com a vida adulta, responsabilidades e filhos, nenhum deles


conseguia – ou sentia vontade – de estar longe, por isso era comum vê-los
jantando juntos em fim de semana sem as crianças ou levando todas elas para
passar a suas proles os laços eternos que conectavam sua alma.

Naquela semana, não foi diferente.

Yoongi aprendeu a acordar cedo.

Quer dizer, antes dos outros moradores da casa cogitarem acordar.

Ele se arrastava para fora da cama espaçosa sem acordar os outros dois e
bocejava pelos corredores acendendo um pouco das luzes por saber que
logo teria companhia. Amava sua rotina matinal: ligar a cafeteira, tirar a
mamadeira pronta da geladeira para esquentar, procurar pelo jornal em cima
do aparador ao lado da porta principal e se dirigir até o escritório dividido
em dois para ocupar sua mesa bagunçada e verificar a caixa de e-mail no
notebook.

Aos trinta e seis, Yoongi não usava mais os cabelos coloridos dos anos de
faculdade ou a maquiagem pesada nos olhos felinos, entretanto, ainda sorria
como um gatinho preguiçoso sempre que se sentia bem.

Um economista de renome, optava por trabalhar em casa algumas vezes na


semana graças ao acordo com os outros dois desde a chegada de Luna em
suas vidas.

Ele bebeu todo o café e, como de costume, brincou um pouco com a aliança
dourada ao redor do dedo anelar enquanto sorria das palavras no e-mail de
Kim Seokjin.
De: Seokjin Kim

Para: Yoongi que não ainda toma banho.

Assunto: férias em família

Boa noite, Gi!

Seguem as fotos finais da reforma, você gostou dessa cor na parede da


sala? Sei lá, parece o verde podre do seu cabelo há dez anos. Avisa para o
Hoseok que se ele não levar aquilo não vou deixá-lo entrar!

Estamos com saudades de vocês.

PS: Jimin e Jungkook precisam parar de ter filhos, é caro alugar micro
ônibus.

— Podre é o seu rabo. – Yoongi resmungou.

Então, como o esperado em todas as manhãs, ouviu a porta do escritório


abrir e depois passos abafados. Ele afastou um pouco a cadeira de rodinhas
e pegou a mamadeira já quente que estava no canto da mesa.

— Papa. – a voz sonolenta e manhosa o chamou antes que as mãos pequenas


alcançassem suas coxas, por cima da calça de moletom, a fim de escalar o
corpo pálido até se aconchegar em seu colo. Yoongi sorriu antes de beijar o
cabelo crespo. A mão livre afagou as costas pequenas.

— Bom dia, princesa. – ele desejou enquanto os braços pequenos se


encolhiam ao redor de seu pescoço. – Você anda pontual. – brincou ao
constatar que eram exatamente oito da manhã.

— Bom dia. – a menina, ainda com os olhos fechados, descansou a bochecha


contra o peito nu do pai.

— Está com fome? – ela assentiu. – Quando a minha Luna não está com
fome. – rapidamente, a menina de apenas três, aceitou a mamadeira morna
para deitar de vez no colo de Yoongi. – Muito quente?
— Tá bom. – Luna sorriu com o bico da mamadeira entre os dentes.

Luna chegou a vida deles em um momento complicado.

Todos os dias acreditavam mais um pouco na tal crise dos 10 anos, porque
tudo entre os três estava caótico naquele ano. Taehyung mal parava em casa
por causa do trabalho, Hoseok precisou lidar com a morte da mãe enquanto
Yoongi se sobrecarregava com a sociedade feita com Seokjin e Namjoon.

Estavam há dois anos tentando uma adoção após os meses que passaram no
Haiti prestando serviços comunitários e foi lá que Hoseok conheceu Luna.

Uma menina de apenas seis meses que bastou sorrir para ganhar o coração
derretido do arquiteto.

Quase um ano depois, ainda dentro da crise no relacionamento, receberam a


notícia de que eram aptos para a adoção. Tudo caiu como uma bomba em
suas cabeças. Yohan, aos cinco anos, já entendia que algo estava errado e
chorou nos braços de Taehyung quando este quis sair de casa após uma briga
calorosa com Hoseok.

Nenhum dos três queria negar a adoção da menina, nenhum deles havia
deixado de se amar por um momento sequer. Só estavam exaustos. Os meses
seguintes serviram para alinhar os pensamentos e quereres, então quando
Luna finalmente pode se mudar, as coisas estavam bem.

Luna completou de vez todos os sonhos que sonharam juntos.

— Papa? – ela chamou o encarando. Olhos grandes e quase pretos, eles eram
lindos. – Chae-unnie.

— Oh, sim. Você irá vê-la no fim de semana. – explicou tirando a atenção da
tela do notebook. – Ela e todos os seus amigos.

— Maria-unnie?

— Também. – Luna se esticou mais. Com o braço estendido buscando pelo


celular jogado sobre a mesa, os dedinhos rapidamente desbloqueiam a tela.
– Luna, eles ainda estão dormindo.
— Liga, papa!

— Eu ligo, mas só mais tarde. – decretou e o bico nos lábios carnudos quase
o fizeram descer. – Está muito cedo, todo mundo ainda está dormindo. Vamos
acordar o seu irmão?

— Sim! – Luna assentiu ainda com a mamadeira na boca.

Yoongi a pegou no colo direito antes de ficar de pé. A menina deitou o


rostinho em seu ombro enquanto saíam do escritório. A mão grande bateu
duas vezes na porta do primeiro quarto antes de girar a maçaneta devagar. O
abajur de Spider Man era a única luz ali.

— Yohan, está na hora de acordar, tigrinho. – ele se aproximou da cama.


Yohan resmungou antes de abrir os olhos. Iguaizinhos aos de Taehyung. –
Bom dia.

— Bom dia, appa. – coçando um dos olhos, ele aceitou de bom grado o beijo
do pai e da irmã mais nova. – Bom dia, Luna.

Os cabelos escuros, revoltosos em ondas grossas, estavam espalhados pelo


travesseiro branco. Yoongi o ajudou a despertar e logo o menino o obedeceu
ao se levantar e tomar um bom banho.

No quarto deles, ainda protegido da luz natural, Hoseok e Taehyung


acordaram.

O mais novo, beijou a nuca cheirosa do mais velho e sorriu preguiçoso


quando o corpo se encaixou mais contra si até caber no abraço quente. Os
braços fortes e cobertos de tatuagens apertaram com força até fazê-lo
resmungar.

— Bom dia, momozinho. – Tae sussurrou com a voz rouca.

— Bom dia, malido. – Hoseok sorriu. – Yoon já levantou.

— Ouvi a voz da Luna no corredor, ele deve estar os preparando para sair.

— Dormiu bem?
— Como não dormir bem depois da sua de pau que dei em vocês dois?

— Tão romântico logo de manhã. – suspirou preguiçoso.

— É bom fazer momozinho quando tô pilhado.

Hoseok se virou até ficar de frente para Taehyung. A mão, aquela que ostenta
a aliança dourada, fez carinho na lateral do rosto marcado pelo sono.
Quando o polegar tocou seus lábios, Tae o beijou demoradamente.

— Você sabe que não precisa fazer isso, Tae.

— Eu preciso. – assentiu. – Acho que a certeza de ter vocês dois do meu


lado me faz mais corajoso. – sorriu.

— Eu te amo.

— Eu sei. Só sentindo muito amor pra você não reclamar de bafo matinal.

Tae beijou os lábios um pouco ressecados e em seguida os lambeu para


desespero de Hoseok que resmungou o empurrando um pouco.

— Para com isso! Que nojo! – Taehyung deitou em cima dele. – Taehyung!
Caralho, para com isso!

Mas estava rindo alto.

••

Durante o café da manhã, ao redor de uma mesa bem posta, se reuniram.

Hoseok, com a pequena Luna sentada sobre sua coxa, se atentou a alimentá-
la com um pouco de cada coisa que comia. Tae, com Yohan de pé entre suas
pernas, lhe penteava o cabelo úmido graças ao banho.

— Seokjin-hyung enviou as fotos? – Taehyung perguntou.

— Ontem à noite, depois que fomos dormir, ainda parecia o mesmo lugar. –
Yoongi sorriu. Ele serviu mais café gelado para Hoseok. – Ele disse que
você não entra se não levar maconha, Seok.

— Ele esqueceu que agora temos filhos?!

— Cala-a-boca, todo mundo sabe que você aperta um de vez em quando,


marrento. – Tae acusou. – Pronto, filho. Agora vá verificar a sua mochila. –
ele beijou a testa do menino de sete anos.

— Falou com o Jimin? Ele conseguiu a mini Van? – Hoseok ofereceu a Luna
um pouquinho de sua torrada com geleia, manteiga, ovos e alguns pedaços de
banana.

— Acho que você vive em uma larica sem fim, Seok. – Yoongi fez careta.

— Falei com Jimin agora cedo. Jungkook conseguiu uma Van quase temática.
– sorriu.

— Ninguém mandou ter aquele tanto de criança. – o arquiteto deu de ombros.


– Não quer mais? – perguntou a menina que negou. – Agora bebe um pouco
de água, princesa. – ele deu a ela a mamadeira com água. – Tae? Tudo bem?

— Você sabe, eu posso me dar um dia de folga e ir contigo. – Yoongi


ofereceu.

— Não precisa. – ele sorriu fraco. – Tem coisa que preciso fazer sozinho. –
ele se curvou para beijar as mãos pequenas de Luna. Com cuidado, ajeitou
melhor os dois coques laterais, tomando cuidado para não estragar o laço
bonito que Hoseok havia feito. – Eu prometo que se não me sentir bem volto
pra casa.

— Ok. – Hobi suspirou. – Antes, a gente só quer te dizer umas coisas. –


encarando Yoongi, segurou a mão pálida e entrelaçou seus dedos. – Isso tudo
é importante porque de alguma forma você precisa finalizar as coisas. Antes
de perder a minha mãe, eu julguei muito a sua decisão, mas agora eu entendo
e quero te pedir desculpas.

— Meu Sol...
— Desculpa por ter feito pouco do que você sentiu e da sua necessidade de
acertar tudo. – Yoongi apertou a mão de Hoseok o passando força. – Seja o
que for, Tae... O que acontecer lá, não diz nada sobre o homem incrível que
você é.

— Não muda nenhum um pouco do amor que a gente sente por você. –
Yoongi completou.

— Eu não vou me abnegar. – Tae deu de ombros. Ele sorriu um pouco


quando Luna pediu por seu colo. Ela sentou sobre as coxas do pai e logo
passou a desenhar com a pontinha dos dedos, as cores de cada tatuagem
sobre a pele dele. – Dizer que vou até lá para exercer perdão e me gabar por
ser superior. Eu não quero ser superior. – ele encarou os outros dois homens.
– Não tracei planos, mas hoje faz dez anos e meu hyung pediu que eu o
ajudasse com isso.

— Está tudo bem se é isso o que quer fazer. – Yoongi sorriu com carinho. –
Quando voltar pra casa, estaremos aqui te esperando.

Tae sorriu.

Ele beijou o topo da cabeça de Luna e respirou fundo.

••

— Obrigado por vir. – Taeseok agradeceu quando Taehyung travou as portas


do carro.

— Eu não posso demorar muito.

— Tudo bem, já deixaram tudo resolvido. Nós só temos de assinar uns


papéis.

Taeseok, ao contrário do que Tae esperava, não o ignorou depois da morte


de Taewoo. Ele soube de tudo algumas semanas depois, mas não foi atrás do
irmão mais novo, ele sequer sabia o que dizer ao certo diante de tudo.

Ainda assim, era comum receber mensagens esporádicas perguntando como


andavam as coisas. Numa delas, há um ano, informou sobre a morte
prematura do pai, após um derrame.

— Por favor, venham comigo. – uma das enfermeiras da clínica psiquiatra


pediu depois de fazê-los assinar alguns documentos de liberação. O jardim
do lugar era lindo. Algumas pessoas, todas usando roupas de tons claros,
caminhavam de um lado para o outro ou apenas estavam sozinhas em algum
canto.

Chaewon era uma delas.

Taehyung não pode explicar o que sentiu quando a viu.

Aquela mulher vaidosa e de ar arrogante há muito não existia. Cabelos


brancos presos para o alto de qualquer jeito, roupas largas e um livro grande
nas mãos enquanto uma pequena xícara chá jazia esquecida no chão perto de
seus pés.

Taeseok foi o primeiro a se aproximar. Ele se abaixou diante da mãe e sorriu


enquanto palavras gentis saiam de sua boca num tom de voz que Taehyung
nunca conhecera. Chaewon, após alguns segundos, sorriu também e deixou o
livro de lado para abraçá-lo.

Tae, parado no mesmo lugar, engoliu à seco.

— Taehyung, pode vir aqui, por favor? – o mais velho o chamou.

Então, ele foi. Caminhou devagar e ficou de pé diante da mulher que franziu
as sobrancelhas antes de sorrir um pouco mais.

— Como você cresceu. – a voz gentil o fez lembrar de muito antes. De


quando ainda eram ou tentavam ser uma família de verdade. – Taehyung,
quem deixou se tatuar assim? – estava preocupada.

— Omma, Taehyung já tem trinta e quatro anos. – Taeseok explicou com


paciência. – Ele já tem filhos.

— Filhos?! – Chaewon sorriu. – Onde estão seus filhos, Tae? Onde está a
sua esposa?
Taeseok encarou o irmão, ele negou breve e Tae entendeu.

— Meus filhos estão em casa. – ele sentou ao lado dela no banco pintado de
branco. – Se chamam Yohan e Luna.

— Oh, meus meninos cresceram tanto. – a mão trêmula tocou o rosto de


Taehyung. – Sanghun veio me ver ontem, sabia? Ele trouxe flores e prometeu
que logo vamos para casa. – Tae assentiu. – Onde está Taewoo? Ele veio
com vocês?

— Taewoo está morto.

— Tae, não faz isso, por favor... – Taeseok pediu ao perceber o corpo da
mãe ficar tenso.

— Onde está Taewoo? – Chaewon repetiu, a mão já não o tocava mais. –


Ele nunca vem me ver, nunca vem.

— Ele está morto. – Taehyung confirmou outra vez. – Appa também está.

— Taehyung, para com isso! – o outro filho segurou forte as mãos trêmulas
da mãe. – Para de ser cruel assim!

— Você não faz ideia do que é crueldade, hyung. – os olhos já estavam


marejados. Chaewon, trêmula, negou diversas vezes. – Omma, olhe para
mim.

— Você! – ela acusou. – Você o matou! Matou o meu Taewoo!

— Omma, fica calma. – Taeseok estava quase em desespero.

— Omma, olhe para mim! – o mais novo pediu outra vez, com a voz
embargada, então, ela o fez. – Hoje faz dez anos que tudo aconteceu e a
única razão de ter vindo até aqui é para te dizer que nem por um momento me
culpei por algo depois da morte dele. A senhora está aqui e não é minha
culpa, omma. Nunca foi minha culpa. Hoje eu tenho dois filhos e todos os
dias, só de imaginar alguém os machucando, sinto que posso fazer o que
Yoongi fez por mim. – ele secou uma das bochechas. – Fazer aquilo que a
senhora nunca fez por mim.
— Você o matou! – ela repetiu. Havia raiva em sua face retorcida.

— Não, omma. Você o matou quando permitiu que ele se alimentasse de


mim. – Taehyung ficou de pé. – Assinei sua liberação e Taeseok será
responsável por seu tratamento em casa. Longe de mim. Longe da minha
família. – ele lambeu os lábios. – Eu sinto muito que esteja assim, mas não
me arrependo de nada.

••

Quando chegou em casa, logo após abrir a porta pesada, Tae ouviu o riso de
Yohan e precisou parar encostado a ela para respirar fundo.

Ele deixou os sapatos na entrada, caminhou até a sala de estar e riu ao


encontrar Yoseob no tapete entre os sofás com uma Luna sentada sobre sua
barriga. Syuk, no sofá, fingia perder para Yohan em um jogo de cartas.

— Boa noite. – cumprimentou atraindo a atenção de todos.

— Boa noite, Taehyung-ah. – o casal de homens mais velhos desejou.

— Oi, pai! – Yohan gritou. – Eu ganhei do vô Syuk um montão já!

— Ele é um ótimo jogador. – Syuk elogiou depois de abraçar o menino,


fazendo cocegas por cima do pijama do Spider Man.

— Papa Tata! – Luna correu para abraçar as pernas do pai. – Vovô Yo faz
cavalinho.

— Cuidado pra não machucar suas costas outra vez, Yoseob-ssi. – ele pediu
ao sogro que apenas assentiu. – Eles já chegaram?

— Sim, estão no banho. Vai lá, a gente fica de olho nas criaturinhas. –
Yoseob piscou. – Vem Luna, vovô vai ser um dinossauro agora.

Taehyung rumou para o quarto em seguida.

Ele ouviu o som do chuveiro ligado e trancou a porta da suíte antes de se


despir completamente e entrar no banheiro.
Hoseok estava esfregando as costas de Yoongi com uma esponja cheia de
sabonete.

Sem dizer uma só palavra, Tae entrou no box e tomou espaço embaixo do
jato de água quente. De olhos fechados, se permitiu deixar sair o que sentia
desde que saiu daquela clínica.

— Taeseok vai levá-la para Daegu. Para uma antiga casa no interior. – ele
disse.

— Bom. – Hobi assentiu e o abraçou por trás, beijando as costas molhadas


com carinha.

— Acabou, Tae. – Yoongi fez carinho no rosto corado e beijou os lábios


trêmulos demoradamente. – Esse era o último laço.

— O último. – ele repetiu. – Obrigado. – sussurrou encarando os olhos


felinos de Yoongi. – Minha Lua. – depois se virou para receber um beijinho
de Hoseok na ponta do nariz. – Meu Sol.

— Nós faríamos tudo de novo por você, em qualquer vida. – disseram


juntos, sem combinar. Isso arrancou o riso rouco dos três.

— Agora, vamos aproveitar da boa vontade do meu appa. – Hoseok sorriu


mais.

— Depois eu sou o safado. – Yoongi murmurou.

— Mas você é o mais safado mesmo. – Tae o agarrou pela cintura. – O que
preciso fazer para ganhar um quetete?

— Nunca mais falar quequete.

— Não seja mau, Yoon. – Hobi, afinando a voz, ralhou. – Você só precisa
pedir, mauricinho do caralho.

Taehyung sorriu atrevido e Hoseok deu um gritinho quando o outro braço


dele o agarrou. Yoongi, aos risos, reclamou de estar escorregando no chão.
••

A salva de palmas começou logo que a música clássica teve fim.

Todos os presentes ficaram de pé para ovacionar o grupo de meninas que,


adoráveis em seus figurinos de balé, se curvaram para agradecer.

— Ela é a melhor. – Jin sussurrou para a mulher ao seu lado.

— Claro que sim! Ela é minha filha. – Sunmi respondeu cheia de orgulho.

— Por favor, vamos evitar barraco no ambiente escolar. – Michael, o marido


de Sunmi pediu olhando ao redor.

Seokjin parou de filmar a apresentação quando Yumi se aproximou animada.


A roupa cor-de-rosa combinava com as sapatilhas brilhantes e, aos nove
anos, Kim Yumi ainda era uma mistura poderosa dos pais.

— Eu fui legal, omma? – ela abraçou a cintura da mãe.

— Você foi a melhor! A mais legal! – Sunmi se abaixou para beijá-la entre
os olhos.

— Appa, filmou tudinho?

— Tudinho! Assim como você me pediu! – ele fechou a câmera cara e


também beijou o rosto um pouco maquiado da filha.

— Eu gostei muito! Quero dançar de novo! Tio Mike, viu que aprendi a girar
mais vezes?

— Eu vi sim! Uma bailarina nata!

— Agora é melhor irmos antes que fique péssimo para tirar o carro. – Sunmi
se virou para Seokjin. – Tem certeza que o cheiro da tinta já passou?

— Sim, senhora! – ele brincou. – Demos um jeito com alguns ventiladores,


mas eu durmo com ela no quarto de hóspedes se for preciso.
— Ok. Não esqueça de pedir a ela para tirar as fotos do trabalho de artes,
Jin. – Sunmi o abraçou. – Por favor?

— Você sabe muito bem que ele não vai me deixar esquecer. – sorriu um
pouco. – Relaxa, aproveita esses dias com o Mike.

— Oh, meu caro, é o que mais pretendo. – Michael riu. – Amor, vamos?

— Vamos. Yumi, liga pra omma todos os dias, ok?

— Ok! Eu te amo muito, omma! Te amo tio Mike e te amo maninho. –


sussurrou para a barriga um pouco evidente da mãe. – Cuida dele, tá omma?

— Vou cuidar. – Yumi sorriu orgulhosa.

••

Assim que chegaram em casa, sentiram o cheiro de limão e gengibre.

Yumi deixou os sapatos e mochila antes de correr para a sala de estar


seguida por Seokjin.

— Chegaram. – Namjoon sorriu. Ele parecia cansado, mas ainda saudoso


por vê-los chegar. Sem camisa sentado na poltrona branca, havia uma fralda
de pano em seu ombro. – Como foi o seu recital, Yumi-ah?

— Eu não errei nada! O appa filmou tudinho pra você, tio! – a menina, cheia
de orgulho se gabou. – Cadê a minha irmãzinha?!

— Ela acabou de dormir. – Jin beijou seus cabelos. – Oi.

— Oi. – se encararam. – Ela está melhor?

— Sim. Nada de febre. Ela tomou um pouco da sopa que o Jungkook mandou
e dormiu depois do chá que fiz. – Namjoon o tranquilizou.

— Appa, quero tomar banho! – Yumi tirou uma das sapatilhas de qualquer
jeito.
— Vai lá, vou separar o seu pijama. Nada de banheira, Kim Yumi. – avisou
depois de vê-la sair.

— Ah, poxa. Que saco! – a menina resmungou.

— Onde ela aprende essas coisas?! – Jin sentou no sofá maior. – Vem aqui,
me deixa te cuidar um pouquinho.

— Não precisa. – Namjoon, mesmo negando, foi até ele para sentar no
espaço entre as pernas abertas.

— Você não dormiu nada essa noite e passou o dia todo cuidando da Maria.

— Nada que um pouco da sua massagem não resolva. – jogou sorrindo. – A


pediatra disse que é só um resfriado. – os dedos habilidosos de Seokjin
começaram a massagear os ombros tensos. – Hm, isso é tão bom, amor.

Amor.

Depois de quase dois anos após o regresso, Namjoon e Seokjin tiveram o


seu recomeço justo.

Encontros constantes, sexo quase desesperado de tanta saudade, um namoro


tranquilo, união estável e, por fim, a adoção de Maria.

Uma menina brasileira vinda do orfanato onde o mais novo trabalhou como
voluntário por anos.

— Está animada para o fim de semana? – Jin sussurrou. Namjoon assentiu. –


Aigo, está tão bom que nem consegue falar?

— Tá muito bom. – ele moveu a mão para apoiar contra a coxa alheia. O
relógio, aquele de anos atrás, ainda estava em seu pulso. Assim como o de
Seokjin.

Sincronizados.

— Ela fez questão de que filmasse tudo só para te mostrar. – segredou e


ganhou um lindo sorriso. – Obrigado por fazê-la se sentir sua filha também.
— E quem disse que ela não é? Lembra do que dissemos quando contou que
Sunmi-noona estava grávida? Que todos nós seríamos pais também?

— Exceto o Jungkook. – Jin corrigiu. – Ele era o irmão mais velho.

— E agora ele é que mais tem filhos.

— Ainda acho que ele e Jimin estão tentando copiar a Brangelina com tanta
criança. - a piada fez Namjoon rir um pouquinho.

Então, o choro vindo da babá eletrônica sobre a mesinha os fez suspirar.

— Eu vou-

— Fica aqui quietinho sendo lindo. – Jin beijou sua nuca. – Eu vou.

Namjoon assentiu.

Ele viu Seokjin se retirar e voltar minutos depois com Maria no colo.

A menina de cabelos grossos estava agarrada ao pai, usava apenas um


pijama estampado com coalas sonolentos e chorava baixinho enquanto Jin a
ninava com carinho.

Namjoon sorriu.

Olhando para trás, essa cena sequer seria cogitada, mas ali estava ele.

Ali estava o homem que mais amou em toda a sua vida, o único que ainda o
faz sentir vivo mesmo que não precise mais brigar consigo para existir.

Seokjin, com a filha mais nova nos braços, sorriu para antes de beijar a testa
da menina de dois anos.

— Eu amo você. – o advogado sussurrou.

— Aigo, eu também amo você, Namu. – o mais velho piscou. – Pronto,


pronto. – disse a Maria. – Tá tudo bem, chorona do papa. Durma só mais um
pouquinho que eu prometo brincar com você mais tarde. Eu, seu papa Namu
e sua irmã Yumi.

Maria assentiu manhosa. O nariz irritado se enrugou e ela sorriu.

Covinhas lindas e dentes pequenos.

A vida levou um tempo, mas a felicidade tem morada fixa naquela casa.

Naquele amor.

••

— O jantar tá pronto! – a voz alta de Jungkook se espalhou por cada canto da


casa espaçosa.

— Sem correr! – Jimin completou antes de ouvir os passos apressados.

O delegado federal colocou o último par de hashis na mesa e sorriu ao sentir


um beijinho carinhoso em seu ombro depois do marido tirar da geladeira a
jarra de suco natural.

Um a um, as crianças tomaram seu lugar na mesa grande. Sarang, de oito


anos, ajudou o irmão menor, Minho, de dois anos, a sentar na cadeirinha alta.
Ao lado dele, Jihoon, de seis anos, também se acomodou.

— Aqui, deixa o appa te ajudar. – Jungkook pegou Sohye com cuidado e


ajudou a sentar também.

— Obrigado, appa! – a menina, de cinco anos, sorriu.

Tão logo a comida foi servida, as vozes tomaram conta de toda a sala de
jantar. Jungkook e Jimin, um em cada ponta da mesa, revezam entre comer e
ajudar os filhos a fazer o mesmo.

Apesar do caos, para os dois aquilo era o paraíso.

Jungkook, atualmente dono de uma empresa de sistemas de segurança, se


dividia entre o trabalho e os filhos com muita organização e Jimin já
conseguia escolher seus turnos de trabalho graças aos méritos de seu
esforço.

Havia Sarang, Minho, Sohye e Jihoon.

Os Park-Jeon.

Assim como prometido há anos num quarto de motel, moravam perto do mar
e tinham uma casa cheia de crianças.

— Jihoon precisa de sapatos novos. – Jungkook comentou horas depois, já


na suíte ao lado de Jimin. – Ele cresce muito rápido.

— Ele é saudável agora, bebê. Come bem. – Jimin, com uma camisa ao
redor dos quadris, saiu do banheiro. – Podemos levá-los ao shopping.

— Sim, pensei nisso. Pensei de levarmos o Jaehyun também. Appa disse que
ele anda muito sozinho.

— Você sabe que o seu irmão gosta mais de ficar sozinho. – Jimin
relembrou.

— Sim, mas é bom pra ele ficar com os sobrinhos, Jimin-ssi.

Jimin sorriu.

Ele subiu na cama devagar e engatinhou até o mais novo para sentar sobre
suas coxas, embolando a toalha para cima.

— Você já decidiu sobre o pedido de sua irmã Jihyo? – fez carinho nos
cabelos macios.

— Sim. – suspirou. – Mas pedi a Hyo-ssi que não force nada, só aceitei
porque minha sobrinha quer os primos lá para comemorar seu aniversário.
Sarang gosta muito de Yuna.

— Eu acho que você tomou a decisão certa, bebê. – beijou a trave dos lábios
finos. – Agora, você bem que podia me deixar te tomar também, né?
Jungkook sorriu atrevido. Ele se livrou dos óculos e girou até ter Jimin
deitado sobre seu corpo. Os dois riram baixinho com medo de terem
acordado Jihoon que dormia no quarto bem ao lado.

— Não seja barulhento, bebê. – Jimin sussurrou. – Eu sei que você ama fazer
barulho pro seu hyung, mas se o nosso coelhinho acordar já era.

— Tem um jeito de me ajudar a não fazer barulho, hyung. – ele corou.

Anos depois e Jungkook ainda cora por Jimin.

— Qual?

— Empurrando minha cara no travesseiro enquanto me toma por trás.

Jimin riu baixinho de novo.

— Meu menino safado de Park-Jeon Jungkook. – provocou o beijando de


leve. – Eu amo você.

— Eu também amo você.

••

Naquela manhã, após muito tempo, a República 7 voltou a fazer barulho.

Os adultos puxaram suas malas para dentro da casa enquanto as crianças


corriam de um lado para o outro desbravando o território desconhecido que
fazia parte de suas histórias, ainda que indiretamente.

Seokjin, o primeiro a entrar, parou com as mãos na cintura, olhando ao redor


da cozinha. Uma frigideira ainda estava pendurada perto da pia.

Yoongi e Hoseok, de mãos dadas, sorriram ao perceber a mobília ainda


intacta, o sofá velho onde se embolaram para assistir filmes.

Namjoon, com Maria nos braços, encarou a varanda onde enfrentou a


solidão por muitas noites.
Jimin, segurando uma bolsa de viagem, puxou a capa empoeirada que usou
para cobrir sua moto por anos.

Jungkook, com Jihoon pendurado em suas costas, sorriu para a velha


máquina de lavar na lavanderia.

Taehyung observou a porta, a soleira alta e o colete cafona que Seokjin


mandou pintar à mão.

Nós somos à prova de balas.

— Hey, crianças, venham aqui! – Seokjin chamou batendo palmas.

Logo teve os pequenos o encarando de baixo, loucos para correr pela casa
outra vez.

— Foi aqui que a gente morou por anos. – Jin explicou com um sorriso
nostálgico.

— Juntos? Os sete?! – Yumi, surpresa, perguntou ao pai. – Até o tio


Namjoon antes de morar no computador, appa?

— Todos. – Yoongi fez carinho no cabelo curto da afilhada. – Aqui que a


gente virou uma família só.

— E a gente riu muito. – Namjoon ninou Maria. – Brigou também.

— Cada barraco inesquecível, não é rabudo? – Tae estapeou a bunda de


Jimin e gritou quando um amigo atirou uma fralda cheia de xixi em sua
direção. – Aí já é vacilo!

— Fica na sua! – Jimin avisou, mas estava rindo. – Foi aqui que o appa e o
papa se conheceram.

— E ele disse que se chamava Busan? – Sarang riu de Jungkook. Ele fez uma
caretinha.

— Foi aqui que a gente entendeu o que é uma família. – Hobi se abaixou
diante de Yohan. – Por isso vamos passar o Natal aqui, todos juntinhos e
felizes.

— Podem correr por aí, brinquem e também façam memórias aqui. – Jin
gesticulou. – A bagunça tá liberada!

As crianças gritaram ao se espalhar outra vez.

— Confessa que fez isso para que elas fiquem cansadas pra dormirem cedo,
hyung. – Yoongi arqueou uma sobrancelha.

— Yoongi, eu trouxe os ingredientes pro Hoseok fazer brownie batizado,


sem condições de bancar o pai quando estiver chapado.

— Um velho inconsequente.

— E você é um velho resmungão. – Jimin provocou o Min.

— Hey, não fala assim com o meu momozinho! – Tae brigou.

— Ah, começou já essa palhaçada! – o Park largou a bolsa no sofá.

— O nosso amor ainda te assusta, seu viadinho? – Hoseok cruzou os braços.

— Acho que esqueci de trazer as fraldas da Maria.

— Caralho, Namjoon!

— Pode usar as do Jihoon.

— Jimin, o que você trouxe aqui? Um corpo?

— Não! Mas posso socar o seu aí dentro!

— Para de ameaçar o meu malido!

— Tem roupa suja? Tô com vontade de lavar roupa, hyungs.

— Lava o Yoongi, joga dentro da máquina que cabe.


— Tem criança chorando lá em cima já!

— Com certeza é um dos Jikook! A probabilidade é maior, não podem ver


uma criança que levam pra casa.

Namjoon, observando o caos que mais amava, suspirou.

— Porra, é alívio sermos muitos.

Contando que fiquem juntos, sempre será um alívio.

#PillowFic

Obrigado!

República 7 será publicada como livro físico em 2022!


PRÉ-VENDA: República 7 - Pillowtalk

Oi!!

Finalmente a favorita virou livro!

Seguem informações sobre os dois volumes de REPÚBLICA 7 -


PILLOWTALK!

A história foi dividida em 2 volumes, ambos capa dura com ilustrações


internas.
O NATAL DA REPÚBLICA 7 (especial original)

FELIZ NATAL!

Vocês estão bem?!

Esse especial é um diferente, ele traz um pouco do que vocês vão encontrar
nos livros originais de 'REPÚBLICA 7 - PILLOWTALK' que está em pré-
venda até 21 de janeiro pela Editora Euphoria.

Então, para ajudar vocês com a adaptação, aqui vai uma pequena lista de
associações:

Sarang: Sara | Yohan: Gabriel

Ambientação: Rio de Janeiro - Brasil

Para saber mais da adaptação, personagens e novidades sobre os livros é só


me seguir no instagram! @/keleaomine
VAMOS LER?

••

— Bebê, cadê o sal grosso?

João Gustavo, depois de colocar o isopor no chão, olhou ao redor. O pacote


de sal grosso estava no mesmo lugar que antes, mas ele escolheu não
implicar.

— Ali, Rick. Dentro da pia. – sorriu. Henrique, com um lindo sorriso nos
lábios grossos assentiu. – Você tá ansioso, calma.

— Tem de ficar tudo perfeito! É a primeira vez que a gente comemora o


natal aqui na nossa casinha!

— Uai, eu sei! Mas você precisa se acalmar ou vai acabar machucado de


verdade. Deixa eu ver sua mão?

— Não precisa. – o mais velho abriu o pacote de sal grosso com os dentes.
Entretanto, não lutou contra as mãos carinhosas do marido, quando elas
seguraram seus dedos. – Já parou de sangrar.

— Tá feio esse corte, amor. Me deixa colocar um pouco de pomada, vai?

— Não precisa, vai sair de qualquer jeito. – beijou a mão grande e depois os
lábios do outro. – Depois de tomar banho, eu prometo, bebê, vou colocar um
curativo, tá bom? – roubou outro selinho. – Me ajuda com a churrasqueira,
por favor?

— Pai Rick, pai João! Olha só o que o dindo me deu! – a voz de Sara,
eufórica, atraiu a atenção dos dois.

— Sara, cuidado com a piscina, menina! – João, preocupado, ralhou.

A menina de quase quatro anos parou de correr quando se aproximou da


piscina. Os pés pequenos caminharam com cuidado, enquanto os braços
roliços carregaram uma caixa grande. João se abaixou para ajudá-la.
— Eles chegaram? – Henrique franziu as sobrancelhas.

— Ô, pai João! Bebê da Sara!– animada, Sara mostrou a boneca baby


Reborn aos pais.

— Ah, não! Ah não, Thiago! Tu não fez isso, não! – Henrique, com o sal
grosso na mão, se indignou.

— Feliz Natal pra você também, rabudo! – Thiago, com Gabriel nos braços,
sorriu. Estava sem camisa, o cabelo preso para o alto enquanto o filho
tentava arrancar os óculos escuros de seu rosto. - Ela me pediu! Calma aí,
menino! Que agonia!

— Eu tenho PAVOR dessas bonecas! – Henrique ralhou de volta. Sara e João


estavam entretidos com a boneca. – Você fez de propósito, filho do satanás!

— Feliz Natal, Thiago! – João o abraçou apertado. – Feliz natal, Bielzinho!


Vem com o titio, vem?!

— Titio! – o menino, afoito, pulou para o colo de João. – Padinho! – gritou,


quando Henrique o encheu de beijinhos.

— O padrinho comprou um presente bem barulhento pra você, sabia? Pra


alegrar o safado do seu pai. Cadê seus maridos, Thiago?

— Eu carrego a criança e eles carregam o resto.

Thiago abriu o isopor e pegou uma latinha de cerveja. Logo ouviram a voz
de Guilherme reclamando. Ele surgiu segundos depois no quintal espaçoso
da casa, carregando duas mochilas enquanto um bico emburrado enchia seus
lábios.

— Eu te falei mil vezes, Rafael! Tu esquece o sabonete do Gabriel!

— Guilherme, eu vou comprar ali no mercado! Para de drama!

Rafael, também sem camisa e carregando um cooler pesado, respondeu. A


camisa do Flamengo estava pendurada em seu ombro, assim como uma bolsa
pequena da Nike. Ele colocou o cooler ao lado do isopor e correu para
abraçar João.

— Feliz Natal, Guto! Que saudade de você, garoto!

— Feliz Natal, Rafa! – João, com Thiago no colo, riu. – Também estava com
saudade!

— Tu já tá enchendo o rabo, Thiago?! – Guilherme, depois de abraçar


Henrique e Sara, brigou. – Nem tomou café direito! Depois vai ficar
passando mal e enchendo o meu saco!

— Oxente, homem! – Thiago choramingou. – Tô com sede! Rafael tá


bebendo também!

Rafael, que sorrateiramente bebia uma latinha de cerveja, arregalou os olhos


e encarou os outros dois.

— Qual foi, mozinho? É natal! Aniversário de Jesus! Vem cá, vem? Deixa eu
te encher de dengo.

— Vai se foder, Rafael!

— Hey, as proles! – Henrique ralhou. Entretanto, Sara e Gabriel estavam


mais interessados na boneca com feições muito humanas. – Na moral,
Thiago, vai se foder!

— Para de reclamar, essa boneca é cara pra caralho! O que falta fazer? Tô
varado de fome, rabudo.

— Acende a churrasqueira. O João já fez quase tudo, até sobremesa. O


bixinho ficou até tarde fazendo o pudim do Rafael.

— Caô! Tu fez meu pudim?! – Rafael gritou. João assentiu. – Eu te amo


tanto, Guuuuuu!

— Começou. – Guilherme rolou os olhos. – Henriqueta, vou colocar as


bolsas no quarto de hóspedes. Gabriel vai dormir no quarto da Sarinha?
— Vou colocar as crianças lá por causa da câmera, já ajeitei pra eles dois.
Vai lá e volta pra me ajudar com a porra desse pernil.

— Tu colocou pra assar com papel alumínio?

— Mozinho, chegue aqui, chegue! – Thiago, com um sorriso atrevido nos


lábios, chamou por Rafael. – Olha só, você é igual a essa churrasqueira,
sabia?

— Como assim? – franziu as sobrancelhas.

— Só preciso usar as mãos e você fica todo cheio de fogo.

— Deixa de ser besta, Chico! – ele riu, mas abraçou a cintura do mais alto
para beijá-lo no pescoço. – Gostou do seu presente de natal?

— Obrigado, amor. – sorriu mais. Ele limpou as mãos sujas de carvão no


pano de prato sobre a pia e se virou. – Eu te amo demais. – trocaram um
selinho rápido, então viram Guilherme voltar. Ele já estava mais à vontade.
Short curto e sem camisa, expondo o corpo pequeno e atraente. Suspiraram.
– Ei, bicudinho, venha cá!

— Vem aqui, mozinho. – Rafael também pediu.

Guilherme, depois de rolar os olhos, foi até eles. Rapidamente espalhou


protetor solar nos dedos longos e espalhou no rosto de Rafael.

— Cuidado com o Biel na piscina. – avisou. – E, você, Thiago Francisco,


não inventa de comer o pernil e nem linguiça. – começou a espalhar o
protetor na tatuagem mais recente do marido. – Ainda tá ardendo?

— Tá não, mô. Dá um beijinho?

— O João ainda tem o sabonete que o Biel usa. – avisou. – Para a sorte de
vocês dois.

Ele beijou os lábios de Thiago.

— Só tem linguiça de porco? – Rafael ficou confuso.


— Não, mas eu duvido que Thiago, com o cu cheio de cerveja, vai saber
diferenciar. – rolou os olhos. – Amo vocês.

— A gente te ama muitão, mozinho. – Rafael o abraçou. – Cheiroso demais,


puta que pariu!

— Sinceramente, nem no Natal vocês deixam de ser viados?! – Henrique,


sacudindo o pacote de pão de alho, ralhou. – Insuportáveis!

— Cadê a caixa de som? Vou botar só as melhores! – Rafael, já com o


celular nas mãos, seguiu para o lado de João Gustavo que mexia na caixa de
som enorme. – Cadê o casal global?

— Cadu ia tomar café com a Liz e depois buscar o Nico. – Gui explicou. –
Ela adorou os patins, fiquei tão aliviado. - ele começou a ajudar Henrique na
churrasqueira. – Começou. – repetiu.

— Vou te pegar bolado! – Rafael cantou junto da música alta.

— Não ligo! – Thiago, do outro lado do quintal, completou.

— Essa é do João!

— Misericórdia, para com isso! – João Gustavo, segurando o riso, negou.

— Qual foi, Guto?! Faz que nem eu te ensinei, vai! – Rafael, dançando e
puxando o melhor amigo, riu. – Arranhou minhas costas... Vai, Gu!

— Fala baixinho... – o mais novo cantou baixinho.

— Aí, preto! – Henrique gritou. Gargalhando da carinha envergonhada do


marido. – Meu preto gostoso! – mandou um beijo para ele.

— Ain pretooooo!

Os cinco olharam para a entrada lateral do quintal. Carlos Eduardo, com


duas garrafas de Jurupinga nas mãos, cantou. O cabelo loiro estava
molhado, mas um gorro natalino o cobria, assim como a barba branca
escondia parte do rosto bonito. Ele logo se juntou ao Rafael para coreografar
passinhos sincronizados junto da música.

— Feliz Natal, gente! – Nicolas, carregando duas mochilas e uma forma de


alumínio, desejou.

— Feliz Natal, Nini! – Henrique gritou de volta, correndo para ajudá-lo.

João estava dançando junto de Rafa e Cadu.

— Eu trouxe peru pra todo mundo, gurizada! – Cadu gritou.

— Que o caos comece. – Guilherme, quase explodindo de felicidade,


sussurrou.

— Ai, eu quero esse peruzão! – Thiago, agarrado no marido, gritou também.

••

— Gabriel, desce daí! – Thiago pegou o filho no colo, segundo antes dele
cair dentro do isopor. – Garoto, aqui o seu suco! – mostrou a mamadeira.

— Quer coca!

— Não, tá doido?! Seu pai mata nós dois! Aqui, suquinho de maracujá. O
seu padrinho que fez.

— Thiago, não quer dar um banho nele? – Henrique, depois de afastar a


franja escura da testa do afilhado, o encarou. – Isso é sono. Ele brincou o dia
inteiro na piscina e na praia com o João.

— Falando nisso, tá tudo bem?

Os melhores amigos trocaram um olhar cúmplice. Henrique, com uma latinha


de cerveja na mão, assentiu.

— Depois daquela briga, eu acho que a Maria de Lurdes não vai mais tentar
se aproximar à força. – assegurou. – Eu já estava de saco cheio.
— Eu sei, por causa disso vim pra cá. Tu não gosta de se meter, mas quando
se mete é pra sair rodando igual uma beyblade.

— Uai, e eu vou deixar os outros acabarem com a paz do meu João?!

— Claro que não. Você fez certo, rabudo. Fosse eu, seria pior. – piscou.

— Papai. – Gabriel, do nada, pediu para descer do colo dele. Thiago o


colocou no chão e observou o menino correr até Rafael, escalando suas
pernas até deitar em seu colo. – Ele está com sono, até procurou o Rafael.

— Sara também já quer dormir.

Os dois observaram a menina brincando com a boneca que continuava muito


bem acomodada nos braços de Nicolas.

••

— Ela chama Fancisca, tio Nini. – explicou. – Dindo... Fancisco!

— Ela é muito bonita, Sarinha. – Nicolas assentiu. Ele sorriu ao ver a


menina usando o seu presente também: o pequeno maiô estampado com luas.

— Sara, aqui. – João, sentado ao lado deles, alimentou a filha com uma
colher de comida. – Come uma asinha. – entregou um pedaço de frango nas
mãos pequenas.

Ela aceitou e mordeu com vontade.

— Henrique disse que sua mãe finalmente parou de insistir com aquele
presente. – Nico encarou o amigo mais novo.

— Depois de infernizar a minha cabeça, né? – suspirou. – Ela achou mesmo


que eu ia aceitar um carro dela? Que eu ia achar isso legal?

— Ela não te conhece, João. – ganhou o olhar um pouco confuso do outro. –


A Maria não sabe nada sobre você e o quanto é maravilhoso, sabe? Por isso,
sim, ela achou mesmo que era uma boa ideia tentar comprar você assim.
— Obrigado, Nico. – deitou um pouco a cabeça no ombro do mais velho.
Então, juntos, viram Guilherme e Carlos Eduardo conversando perto da
churrasqueira. – Vocês estão bem?

— Muito bem. – sorriu. – Eu vou chamar o Cadu pra morar comigo.

João levantou a cabeça de pressa e o encarou.

— Nossa! Que coisa boa!

— Calma, ele pode dizer que não quer.

— Nico, você realmente cogita essa hipótese? Depois de tudo? Sério?

Nicolas encolheu os ombros e sorriu.

— Não. – confessou. – Eu até abri um espaço no meu guarda-roupa. –


sussurrou.

— Pro Cadu? – negou com o rosto. – Compra um guarda-roupa novo, é


melhor.

Os dois riram, então Sara entregou ao pai os ossos da asa de frango.

••

— Eu não acredito que você tá com medo de convidar o Nico pra morar
junto.

Guilherme, depois de abrir outra latinha, debochou.

— Bah, isso é muito sério!

— Tem noção de como está ridículo com essa barba de Papai Noel, Carlos
Eduardo?

— E se eu te jogar nessa piscina, Guilherme? Isso vai te fazer tomar banho e


lavar suas partes?
— Vai se foder!

— Ai, que saudade de ti! – o abraçou forte. – Meu gatinho imundo, amorzão
do Caduuuu!

— Já tá bêbado, já! – ralhou o empurrando. – Larga, Cadu! – riu, sendo


sacudido no abraço.

Rafael se aproximou de ambos, Gabriel chorava em seu colo.

— Mô, vou dar banho nele e colocar pra dormir. – avisou o marido.

— Eu faço isso-

— Relaxa. – ajeitou o menino nos braços. – Ele tá com sono, isso é só


dengo. – beijou o cabelo de Gabriel. – Fica aí, eu já volto. Guto vai colocar
a Sarinha pra dormir também.

Quando ele saiu, Cadu fez um bico.

— Rafael tá gostoso, né? O que você está fazendo, Gui?

— Chá de pica, três vezes ao dia. – piscou.

— Os anos passam e você continua podre, bixa insuportável!

— Guilhermina! – Henrique gritou. – O Thiago disse que você me tirou do


amigo secreto e pagou quarenta reais no presente! Se for verdade, eu te
afogo na piscina.

— Te comprei um pouco de vergonha na cara, Henriqueta!

— E é por isso que eu odeio gays! – Henrique devolveu.

••

— Ei, meu guri, toma.

Cadu entregou uma taça de caipirinha para Nico.


— Obrigado. Ah, eu ainda não te dei o seu presente de Natal.

— Bah, como não? O que a gente fez no carro foi um presentão. – ele
abraçou a cintura do mais novo e sorriu. – Você até colocou um laço pra
mim. – a mão grande espalmou a bunda arrebitada.

— Não foi um presente novo. – envolveu o pescoço macio com o braço


enquanto bebia um pouco da caipirinha. – Hm, tá uma delícia. Você sempre
fazendo tudo do jeito que eu gosto.

— Vai ver, essa é a minha missão aqui. – beijou a trave dos lábios de
Nicolas. – Eu não preciso de presente, eu já tenho você, guri.

— Mas eu quero muito te dar esse presente, Cadu. – ele ficou um pouco
tenso e isso preocupou o mais velho.

Ambos olharam para fora ao ouvir a voz de Thiago no microfone.

— Essa é para os meus dois mozinhos! Ô, bixinho! Eu te conheço de outra


vida...

— Thiago, o Rafael tá colocando o menino pra dormir!

— O caos. – Nico suspirou.

— Que a gente adora. – Cadu fez carinho no rosto alheio. – Agora, me diz
porque ficou tenso assim?

— Ok. – ele se afastou um pouco até conseguir tirar um saquinho de veludo


do bolso da bermuda. – Você pode recusar, Carlos Eduardo. É sério, eu não
vou ficar chateado contigo e-

— Nicolas. – chamou. Então espalmou a mão na nuca macia. – Calma. –


sussurrou. – Tá tudo bem, meu guri.

Então, Nicolas abriu o saquinho e sacudiu até o chaveiro cair na palma da


mão livre de Carlos Eduardo. Uma lua crescente. Uma chave. Cadu sorriu.
— Eu pensei em fazermos o ano novo lá em casa. Nossa casa. Você quer? –
sorriu. – Quer morar comigo, Cadu?

Cadu sorriu muito.

Os olhos azuis brilharam de emoção.

— Guri... Tu sempre queimando a largada, né? – ele usou a mesma mão para
puxar o chaveiro de lua cheia que escondia no bolso. Nicolas arregalou os
olhos. – Ano novo na nossa casa, então? Você escolhe qual delas.

— Porra, eu amo tanto você.

Cadu o abraçou de novo, beijou seus lábios e sorriu ali.

— Meu guri. – sussurrou. – Eu sou completamente louco por você. Eu amo


você. Feliz Natal, Nico.

Lá fora, Thiago cantava sob as reclamações de Henrique.

— O nosso amor é quando você me puxa...

••

— Ela dormiu?

Henrique sussurrou. João, depois de ajeitar Sara na cama pequena assentiu.


Ele sorriu quando o marido o abraçou por trás, quando sentiu o beijo dele
em sua nuca.

— Estava exausta. Brincou o dia inteiro. – suspirou. – Essa boneca


realmente me deixa agoniado.

— O Thiago é um filho da puta! – reclamou.

— Mas ela queria tanto, amor. – deitou a cabeça no ombro alheio. – E você
deu um piano barulhento pro Biel.

— Uai, João! Fica do meu lado!


— Uai, Henrique, tô aqui!

Riram baixinho. Então, em silêncio, observaram a menina dormindo na


cama, agarrada à bonecahumana demais.

— Eu tô muito feliz. – o mais novo sussurrou. – Muito feliz.

— Ah, então estou fazendo um bom trabalho. – o virou um pouco. – Te fazer


feliz é tudo o que eu mais quero na minha vida, bebê.

— Então, se eu disser que quero adotar outra criança... – ele fez carinho no
peito nu do marido. – Você não vai me achar um doido por eu quer um trem
desse? A Sara é pequena e-

Henrique sorriu. Ele beijou a testa de João Gustavo e depois os lábios


macios.

— Espia... Eu te prometi uma casa cheinha de filho, não prometi? – fez


carinho no rosto alheio. – Ainda tem muito espaço aqui, a casa tá muito
vazia. – arqueou uma das sobrancelhas. – Eu amo você, João.

— Feliz Natal. – sorriu, emocionado. – Eu também te amo, amor.

••

— Me dói falar em beber! Bebê era como eu chamava você!

— Meu coração clonou meu chip e só pra te avisar: se essa noite eu te


ligaaaar, não me atendaaaaaaa!

— Se acaso de madrugadaaaaaaaaaaaaaaaa!

— Pelo amor de Deus! – Henrique ralhou. – Quem deixou isso acontecer?! –


apontou para Guilherme e Carlos Eduardo segurando microfones e taças de
caipirinha.

Thiago, perto deles, dançava de olhos fechados.

— Eu nem sei como isso aconteceu. – Nicolas deu de ombros.


— Vem aqui, rabudo! – Thiago o puxou para dançar.

— Dizendo "ainda te amoooooo" é alguém que sabe que eu te perdiiiii!

— Hackearam-meeeeeeee!

Rafael se aproximou deles e pegou outra latinha de dentro do isopor.

— Biel dormiu, moleque abençoado, dorme feito pedra. – ele encarou


Guilherme e sorriu. – Mozinho lindoooooo!

— Joguei as nossas fotos na lixeiraaaaaaaa....

— É a minha vez agora! – João, com sua taça de gin, pediu o microfone.

— Lá vem ele! Querendo humilhar os outros, guri atrevido!

João riu e escolheu a música do celular de Rafael.

— Eitaaaaa, essa pra arrastar o chifre no chão! – Thiago gritou. – Seguraaa,


rabudo!

— Já que devolveu minhas roupas, já arquivou nossas fotos...

— Biel dormiu? – Guilherme sentou na coxa de Rafael e o encarou.

— Como o anjo que ele é! – assentiu. – Você tá bebendo água? Não quero
que passe mal amanhã.

— Tô bem. – sorriu. – Mozinhoooo?! – chamou por Thiago, que veio


dançando. – Me faz outra caipirinha?

— Só se você der um beijinho no seu malido!

— Ai, pelo amor de Deus! – Henrique ralhou. – Chega! – ele foi para perto
de João, cantar junto com ele.

— Beijinho! – Thiago beijou o bico de Guilherme e o mordeu em seguida. –


Aí, Thiago Francisco!
— Que horas vamos fazer esse amigo secreto? – Rafael estava tirando fotos
de João cantando. – Quero o meu presente logo!

— Deixa o João terminar a música. – Nicolas estava fazendo o mesmo.

••

— Tá bom, o meu amigo secreto é um gay! – Cadu, segurando um embrulho


dourado, sorriu.

— Seja mais específico. – Guilherme rolou os olhos.

— Um gay que gosta de infernizar-

— É o Thiago. – Rafael, acendendo o cigarro, murmurou.

— Vai se foder, marrento de merda! – Thiago devolveu, mas estava rindo.

— Continuando! – Cadu gritou. – Ele é mais empático do que parece. Acho


que a chegada dele foi essencial para a reviravolta na vida do meu melhor
amigo e, hoje, sou grato demais por tudo, até pelas brigas que me fizeram
querer quebrar uma frigideira na cabeça dela. Feliz Natal, Thiago Francisco!

Thiago, rindo, ficou de pé e o abraçou forte.

— Obrigado, Cadu! – agradeceu. – Te amo!

— Também te amo!

O pernambucano pegou o embrulho e franziu o cenho ao notar a forma dele.


Abriu depressa, desfazendo o laço dourado até encarar o capacete para
motos. Ficou confuso.

— Você deu uma moto pra ele?! – Guilherme gritou.

— Bah, tá maluco?! – Cadu negou. – Olha dentro do capacete, Thiago.

Thiago o fez. Tirou um envelope branco de dentro do capacete e abriu.


Então, ele gritou.
— Cadu! Não! Tu não fez isso! – a felicidade despertou a curiosidade dos
outros.

— O que é, praga?! – Henrique já estava ao seu lado tentando ver.

— Você ficou triste de não poder ir ao show dela, o Biel ficou ruinzinho
naquele fim de semana, então eu dei um jeito.

— Show de quem? – João quis saber.

— Da Rosalía! – Thiago gritou. – Ele me comprou ingresso para o show


dela em Buenos Aires! E as passagens! – mostrou. – Carlos Eduardo, eu te
amo!

— Saoko, papi! – brincou o abraçando de novo. – Tem pra vocês dois


também. – apontou para Rafael e Guilherme. – Levem o motobaby lá.

— Obrigado. – Gui sorriu.

— Vai, sua vez agora! – Henrique empurrou Thiago.

Thiago pegou o embrulho vermelho e sorriu.

— O meu amigo secreto é um gostoso.

— Sou eu? – Henrique franziu o cenho.

— Tadinho. – Thiago debochou. – Senta lá, Henrique. Meu amigo secreto é


gostoso não só no físico, mas na mente. Ele pode narrar uma receita de
frango com quiabo e, ainda assim, nós vamos achá-lo gostoso.

— É o Nicolas. – João assentiu.

— Uai, João!

— Feliz Natal, Nico! – Thiago estendeu o presente pra ele.

— Ah, sou eu?! Obrigado, Thiago! – o abraçou. – Feliz Natal!


— Falando sério agora: eu sou muito grato por sua existência, Nicolas. Você
não faz ideia do quanto a minha vida se tornou melhor com a sua presença,
com nossas conversas e a nossa amizade. Muito obrigado por tudo.

— Que lindo isso. – Rafael elogiou.

Nicolas o abraçou mais forte.

— Eu também sou muito grato por você. – ele abriu o presente e ficou
surpreso com a pequena escultura. Ele leu a descrição e assentiu. – Você me
levou aquela exposição por isso, não foi? – encarou Rafael.

— Não sei de nada. – Rafa deu de ombros.

— Sua vez, meu guri.

— Ah, tá bom. – Nico pegou seu embrulho. – O meu amigo secreto é... Sabe,
uma vez, há alguns anos, o doutor Sérgio me perguntou o que essa pessoa
significava pra mim e eu não usei um tempo verbal muito certinho para
defini-lo. Eu não consegui dizer que você era algo, porque você sempre está.
Você consiste. Você é um anjo e uma fada. Feliz Natal, Henrique.

Henrique, emocionado, o abraçou forte. Respirou fundo quando sentiu o


beijo carinhoso em seu cabelo. João e Cadu, tão emocionados quanto eles,
trocaram um olhar aliviado.

— Eu amo você, Nini. Sempre. Obrigado. – sorriu entre as lágrimas. – Feliz


Natal.

— Abre o seu presente. – Nicolas sorriu também.

Henrique abriu o embrulho e riu do violão novo ao perceber o pequeno pato


adesivado no corpo do instrumento de cordas.

— Sara vai ficar feliz, ela adora quando Rick toca violão. – João se animou.

— Certo. Minha vez. – Henrique pegou o embrulho um pouco grande. – O


meu amigo secreto tem tudo o que quer na hora que quer. – brincou. – A
nossa Chiara de A Travessia. Mas, eu não consigo imaginar uma vida onde
eu não o tenha para implicar todos os dias. Feliz Natal, Guilhermina.

Guilherme, segurando o riso, o abraçou forte.

— Feliz Natal, Henriqueta. – segurou o rosto alheio e o encarou nos olhos. –


Obrigado por tudo.

— Estou sempre aqui.

Gui abriu a caixa e vibrou de felicidade ao encontrar o par de botas que


tanto queria. Principalmente por serem de uma grife difícil de encontrar.

— Como você conseguiu? – Rafael quis saber, ele estava atrás daquelas
botas há meses.

— Comprei fora do país. – Henrique se gabou.

— Bom, agora é a minha vez. O meu amigo secreto é o meu melhor amigo. –
sorriu, ainda pegando o embrulho cor-de-rosa. – Ele é a cor que completa a
minha paleta, a minha vida. E, sim, às vezes eu sinto vontade de dar um chute
em você, mas passa. Afinal, você me ensinou isso há alguns anos. Tudo
passa. Feliz Natal, Cadu.

— Ah, sou eu?! Você mentiu pra mim! Você disse que tinha tirado o João! –
acusou, emburrado, mas pegou o presente abraçou Guilherme o tirando do
chão. – Feliz Natal, Gui!

Ele abriu o presente e comemorou ao ganhar os dez primeiros números de


Chainsaw Man, além de uma figure action do personagem principal.

Então, Rafael e João Gustavo se encararam, apontando um para o outro.

— Isso daí é marmelada! – Henrique se indignou.

— Vai começar a puxação de saco. – Thiago rolou os olhos.

— Tiramos um o outro! – Rafa gritou. – Feliz Natal, Guto! Te amo muito!


— Feliz Natal, Rafa! Te amo!

Eles trocaram presentes e abriram juntos, sentados no chão como duas


crianças.

— Nossa, muito obrigado! – Rafael vibrou com o par de tênis Adidas novos.
– Lindos pra caralho!

— Olha! Eu queria esses daqui! – João mostrou o par de tênis Nike para
Henrique. – Esse daqui mesmo!

— Vocês dois são o cu e a cueca, como pode. – Guilherme suspirou. – Cadê


o peru? Quero comer peru?

— De novo? Tu comeu peru hoje de manhã, Guilherme! – Thiago riu.

— Ah, gente, sério? Nem no aniversário de Jesus vocês param com essa
putaria?! – Cadu cruzou os braços. – Meu peru não é bagunça.

— Ele virou a noite assando esse peru. – Nicolas serviu mais cerveja no
copo de todos. – Tadinho.

— Meu guri me ajudou a ficar acordado. – sorriu, faceiro.

— Oxente, eu não posso declarar meu amor, mas você pode ficar de
sacanagem, Cadu? – Thiago já de pé, se indignou. – Vacilação.

— O Henrique me deu peru também. – João, do nada, soltou.

Os outros o encararam. Rafael de olhos arregalados.

— Me dá o copo aqui bebê, você já bebeu bastante. – Henrique,


gargalhando, o abraçou. – Vai matar o Rafa.

— Essa daqui vai para os meus mozinhos! – a voz de Rafael veio do


microfone. – Feliz Natal, família! Dingo Bell, dingo bell, dingo, dingo bell!
Me apresento, sou o Rafa, sou o seu papai Noel. Seu presente é piroca e
ela caiu do céu!
— Os vizinhos vão nos denunciar! – Henrique, chorando de rir, caiu do sofá.

— 50% açúcar, 50% mel!

— Rafael, para com isso, caralho! – Nicolas, rindo igual, gargalhou ao ver
Cadu dançando ao lado do amigo. As mãos nos joelhos e rebolando os
quadris.

— Eu quero num laço vermelho, Rafael! – Thiago gritou.

— Vem, Henrique! Coloca esse rabão pra jogo! – Cadu agitou.

— Por que nossos natais são sempre caóticos assim? – Guilherme,


resignado, rolou os olhos para Rafael fazendo quadradinho.

— Acho que é o nosso estado comum. – João deu de ombros. – Nós somos
caóticos. E isso é maravilhoso!

Então, ele foi dançar junto de Rafael.

Guilherme, os observando, suspirou e sorriu mais.

— Feliz Natal. O natal mais caótico de todos.

••

Esse especial é um presente de natal para vocês!

Ele não estará no livro!

Muito obrigada por tanto apoio!

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