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PERIGOSAS NACIONAIS

PERIGOSAS ACHERON
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PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Copyright © 2019, Gamora Black

Capa: Manuh Costa


Diagramação: Greyce Kelly
Revisão: Greyce Kelly

Dados internacionais de catalogação (CIP)


Black, Gamora
Zeus, um beijo roubado
1ª Ed
São Paulo, 2019.
1.Literatura Brasileira. 1. Titulo.

É proibida a reprodução total e parcial desta obra, de


qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico, mecânico,
inclusive por meio de processos xerográficos, incluindo ainda o uso
da internet, sem permissão de seu editor (Lei 9.610 de 19/02/1998).
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e
acontecimentos descritos são produtos da imaginação do autor
qualquer semelhança com acontecimentos reais é mera
coincidência. Todos os direitos desta edição reservados pela autora.

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—Convite, por favor!


Sorrio para o guarda, ou seja, lá o que esse
cara é, acho que é segurança, estendo meu convite e
ele me olha de cima abaixo. Eu já até me preparo
para algo do tipo “Você não é jovem demais para
um evento como este?”.
—Senhorita Irvine, por favor, seja bem
vinda.
E me dá um sorriso, o meu alívio é a coisa
mais estranha que posso dizer que senti hoje, com
tanta correria para conseguir entrar nesse baile, a
última coisa na qual eu poderia imaginar que eu
conseguiria era entrar.
Paguei mil dólares para o Douglas, o
falsificador fazer isso, nas horas vagas ele também
é o meu motorista e meu diário pessoal, de todas as
formas, depois de tanto trabalho, sei que vai valer
apena.

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É hoje que eu descubro o que papai tanto


esconde de mim.
Porque afinal de contas, papai é um grande
conquistador que eu sei, quem não conhece o
grande Seth Azibo em toda a Dubai? Só que papai
nunca me falou de suas aventuras noturnas e este
baile é proibido para menores de 18 anos, então,
meus pobres olhos de virgem nascida em Setembro,
já estão se preparando para a grande merda que
posso presenciar aqui.
É só que hoje é véspera do meu aniversário
de 29 anos, papai ao invés de ficar comigo, mais
uma vez deu a desculpa de que iria viajar, mas
fuçando o celular dele, vi que ele tinha
compromisso marcado nesse baile para hoje à
noite, fiquei tão furiosa que nada mais me vinha à
cabeça se não descobrir o que era mais importante
do que eu para meu pai.
Senti o cheiro de periquita de longe, mas
logo que entro da mansão luxuosa das riquíssimas
Sierra e Lunna Robinson, me sinto transportada
para um mundo totalmente diferente do que estou
acostumada. Ao menos esta festa não tem nada a
ver com a maioria das festas das quais eu participo.
Todo o esplendor da mansão Robinson está
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decorada com castiçais e tem velas por todo o lado,


o tema do baile era estilo século XVII, eu tive que
me virar para conseguir esse vestido, é algo que diz
claramente “não sou vadia, mas por favor, pegue
nos meus peitos”, Douglas não gostou por conta do
decote, o excesso de batom nos meus lábios me
deixou um pouco mais vulgar, eu lutei contra o riso
quando coloquei essa peruca chula, só de lembrar
me vejo sorrindo.
Tem garçons servindo os pequenos círculos
que se formam pela sala, pessoas com roupas de
séculos passados, homens com calças collant, e
botas cano alto, enquanto as mulheres usam
vestidos exagerados e voluptuosos, algumas
inclusive vieram bem preparadas usando
espartilhos com peças mais ousadas por baixo.
Porém todos estão mascarados, um pianista
toca num pequeno palco no canto do salão.
Máscaras grandes, pequenas, com frufrus, com
brilho, glitter, lantejoulas, tem uma senhora de mais
idade que vejo a esquerda que tem uma máscara tão
grande e cheia de penas na cara que mais me
lembra um avestruz.
Eu acho que às vezes o Douglas tem razão
quando fala que eu não cresci.
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Vou fazer 29 anos e ainda consigo rir de


coisas idiotas, não tive sorte de crescer no tamanho,
a genética da minha mãe colaborou muito, a grande
Gisele Wood nunca decepciona, afinal de contas,
tem 48 anos e mais parece uma mulher da minha
idade, eu por minha vez, tenho 29, mas tenho cara e
peito de criança, se é que posso chamar isso de
peito.
Já é muito frustrante ter cara de uma menina
de 18 anos e menos de 1,70 de altura, mas o que me
deixa ainda mais humilhada é o fato de que muitas
vezes por minha aparência — supostamente dócil e
franzina — sou ignorada pela maioria dos homens
com quem convivo, também não sei se é porque
meu pai os intimida bastante.
O mais engraçado no meu pai sempre foi
seu senso de hipocrisia, aquela parte em que ele é
um cara que sai com várias mulheres ao mesmo
tempo, todas mais jovens do que eu, ele pode viajar
e esbanjar com elas em um iate e tudo o que eu
posso fazer é me dedicar aos estudos e aos projetos
de caridade das empresas dele como um robô
programado.
Mas eu tenho um plano.
Eu quero tirar umas fotos dele para fazer
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um terror psicológico, também quero descobrir


quem é a pobre otária da vez, Douglas está apostos
e me espera para que possamos ter que fazer uma
possível fuga.
Olho envolta enquanto me aproximo da
grande massa, aqui não está calor, mas abro o leque
que eu trouxe como parte do figurino, sei que ele
chegou a pouco então não perdi tempo, esperei uns
dez minutos até ter certeza de que ele não voltaria e
entrei.
Agora eu só tenho que achar o meu querido
pai e descobrir o que há por trás desse baile, espero
estar com sorte nessa noite.

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Uns três caras já me convidaram para


dançar, mas recusei, consegui localizar papai
depois de vinte minutos de procura, fui muito
inteligente em vir com sapatos baixos, porque
mesmo vendo essas damas da alta sociedade por
aqui ou seja lá quem forem usando saltos tão altos,
eu jamais conseguiria ficar por mais que dez
minutos andando montada em um.
Tem dia que quando vou a algum evento da
empresa com o meu pai, fico procurando lugar para
sentar, eu já cheguei bem naquele nível da vida em
que sente mais felicidade sentada comendo nas
festas do que na festa em si.
Fiquei feliz de ter ganhado uns quilos mês
passado, mas enfim...
Vejo papai conversando com outro homem,
parece mais novo que ele, também usa máscara, até
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que uma das irmãs Robinson se aproximam e passa


o braço envolta do braço do meu pai, é a Sierra, a
loira, a que eu sei que tem tanto dinheiro quanto
nós, os pais de Sierra e Lunna Robinson são
petroleiros americanos, fizeram fortuna com postos
de combustíveis, pesquisei no Google rapidamente.
Acho que se dependesse do meu pai para eu
me atualizar sobre com quem ele anda, eu teria que
viver na velocidade da luz, troca a cada cinco
minutos, depois que eu achei ele, já cumprimentou
umas quarenta pessoas, vejo papai e Sierra se
afastando dos demais e indo em rumo a escadaria
principal do salão.
Sigo a distância, o outro homem vai com
eles dois logo atrás como um cão de guarda, é alto,
tem cabelos escuros e mais cumpridos, não consigo
ver direito a cor dos olhos por conta da máscara,
mas a postura é bem ereta, ele parece ter um porte
físico até padrão.
Subo os degraus atrás de um casal usando o
leque para esconder meu rosto, com a outra mão
seguro a barra da saia do vestido que uso, é preto e
meio pesado, não é desconfortável, mas também
não é um vestido que eu gostaria de usar em plena
quinta-feira.
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Quando chegamos ao andar de cima os sigo


por um corredor de tapete vermelho e castiçais com
velas acesas para todos os lados, tão logo nos
aproximamos da primeira porta, o som do piano
que tocam lá embaixo vai ficando para trás, e aqui
em cima vou vendo papai se afastar pelo corredor
extenso, tem muitas portas de quartos.
Todas estão fechadas e não tem muito
barulho aqui.
O homem não olha para trás, nem Sierra e
nem papai, o outro casal entra na quinta porta à
direita, mas essa fica escancarada, e tão logo eles
entram, olho para o mesmo sentido, vejo uma
mulher nua sentada numa cama mais a distância,
ela está algemada.
Meu Senhor!
Não acredito que isso aqui é um puteiro!
Vou andando e andando, meus olhos
vidrados no casal que começa a fechar a porta do
quarto, até que esbarro em algo sólido, cambaleio,
me ergo com dificuldade, o homem diante de mim
é o mesmo que estava indo com papai e Sierra.
Ele me olha muito, muito sério.
—Boa noite — digo e abro o leque, tento
não me apavorar. —Acho que você poderia me
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ajudar, meu quarto é um destes mas eu não sei qual,


meu namorado me aguarda.
—Podemos descer e perguntar a senhorita
Lunna Robinsson...
Segurança!
—Olha ali, é o Jorge Cloney!
Aponto para perto da escada e ele olha,
empurro ele e saio correndo para o rumo onde
papai foi, o homem cai estatelado no chão, me
apresso e viro para direita, depois vejo um par de
cortinas vermelhas de camurça, eu as puxo e passo
por elas depressa, quase correndo entro neste lugar
onde tem bastante gente espalhada pelos sofás, no
chão, olho envolta sentindo como se meu coração
estivesse quase pulando pela boca.
Pessoas peladas, mulheres apanhando,
mulheres em gaiolas, homens transando com
mulheres para que outras pessoas os vejam,
mulheres com mulheres, homens com homens, me
sinto tonta, tento respirar, um terror vai me
tomando dos pés a cabeça.
Olho envolta procurando meu pai, demoro
um pouco para achar, até que o localizo sentado em
um dos sofás, Sierra Robinson sentada em seu colo,
ambos vestidos olhando para um casal que faz sexo
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dentro desse circulo.


Perco o ar por mais alguns segundos e um
calor insuportável vai me tomando o corpo, porque
ver tanta gente fazendo sexo para mim não é tão
normal, na verdade não é nada normal, tão logo
saio do transe sinto um puxão firme no braço.
—Você não foi convidada. — diz o
segurança que a pouco derrubei e começa a me
puxar para fora do lugar.
—Algum problema por aqui Almir? —
escuto uma voz rude perguntar.
—Não senhor...
—Não precisa tratar a lady desta forma. —
replica a voz do homem.
Viro o rosto, tão logo vejo um par de olhos
escuros começo a ficar ainda mais apavorada, é o
cara que estava subindo com papai e Sierra, olho
sobre seu ombro, sei que a movimentação pode
chamar atenção de papai e agora que vi isso já não
sei se preciso de alguma foto.
—Disse que estava procurando meu
namorado não disse?—pergunto para Almir e solto
meu braço de sua mão grande e grosseira, me
aproximo do meu defensor. — Amor, este homem
acha que estou mentindo.
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Melhor que eu, só a Nicoly Kidman em


Moulin Rouge.
Ao menos até eu sair daqui é claro.
— Ela está comigo Almir. — diz ele e passa
o braço envolta do meu ombro.
—Sim senhor. — fala o segurança.
Acho que confundi os dois, mas tão logo
Almir se afasta, eu me solto do braço do homem
que acabou de me defender, me aproximo das
cortinas sem olhar para trás, não sinto exatamente
nojo, é só como se uma decepção imensa tomasse
de conta de mim.
—Aceita uma bebida milady?
—Não, obrigada.
—Parece exaltada.
—É apenas um mal-estar.
—Tem certeza de que não aceita ao menos
uma água?
—Olha cara eu agradeço o que fez por
mim...
—Eu não fiz por você, não curto que
ninguém machuque uma mulher perto de mim.
—Mas gosta de ver mulheres nuas
apanhando?
Seu olhar não tem expressão nesse
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momento, meu coração fica saltando no peito feito


louco com o jeito como este homem me olha. Logo
em seguida ele se inclina e do nada me beija, é um
beijo seco e rude, um beijo que toma toda a minha
boca e a invade com uma língua medonha e quente.
Arfo e o empurro, então começo a correr
para longe dele, sigo pelo corredor com um intenso
medo dentro do meu peito, meu coração dispara a
cada passo.
—Eu vou te achar moça. — ele avisa num
tom de ameaça, mas cheia de sadismo, como se
divertisse em me ver correndo.
Não olho para trás tentando me recuperar,
sei que ele não me segue, mas me sinto apavorada
com a hipótese, porque sei que ele deve ser algum
amigo do meu pai e papai nem pode sonhar que eu
estive aqui.
Nem hoje nem nunca.
Irvine esteve aqui, Isis está em casa
dormindo desde as 21:00 da noite.
Bem como seu pai está viajando a negócios
e não numa casa de swing com sua mais nova
conquista.

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—Senhorita Isis, hora de acordar!


A voz do Douglas desde que me lembro é
muito elegante, em alguns momentos tediosa, mas
irritante quando se trata de me acordar, eu o vejo
entrando no quarto, o Douglas está na família a
tantos anos que eu nem sei direito a quanto tempo
ele vem cuidando de mim, ele foi motorista do
papai por uns dez anos, seu segurança, ai papai e
mamãe se casaram e papai começou deixar ele
cuidando de mim.
Douglas tem uns 55 anos, ele é de origem
indiana, tem cabelos escuros com uns fios dos lados
das orelhas brancos, é alto, magro, olhos escuros e
lábios desenhados, ele é até bonito, mas se não
fosse tão chato feito um velho de 90 anos ou tão
reclamão, as coisas entre nós com certeza dariam
certo.
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—Aff!
Ergo-me, na verdade o nome do Douglas
não é Douglas, é Raj Kamadeva Shankar, mas
quando ele começou a trabalhar para o papai, papai
achou adequado mudar o nome dele para ficar mais
fácil, nasci e cresci ouvindo-o chamar de Douglas,
então o chamo por esse nome, só quando eu estou
muito puta é que eu o chamo de Raj.
Tiro minha máscara de dormir e me sento
na cama fazendo uma careta, um dos maiores
benefícios de se ter dinheiro é o fato de que muitas
vezes se tem bastante conforto, mas sua
privacidade pessoal é literalmente uma merda.
—Não posso dormir Douglas? — pergunto
chateada.
—Já acordou azeda assim tão cedo? —
responde ele em contra resposta. — Seu pai disse
que é para ligar para ele.
—Vou ver na minha agenda. — respondo
mal humorada.
É só que depois de ontem, foi como se uma
avalanche de decepção me tomasse, não sou mais
uma criança, claro, eu tenho 29 anos, mas
realmente acho que mais por uma questão moral,
me senti totalmente arrasada com o que vi ontem
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naquele puteiro.
Acho que deveria seguir mais os conselhos
do Douglas em não seguir o papai, ele foi uma das
pessoas que mais me disse para não fazer aquilo,
ainda sim eu teimei, mas bem, ao menos agora eu
sei que papai além de um grande mentiroso de
merda é um pornográfico psicopata que gosta de
sadomasoquismo e sexo ao vivo.
Ou mais ou menos isso.
Nunca pensei que ele fosse desse tipo de
homem, ok, ele tem dinheiro, ok é jovem, ok ele
também é bonito e blá blá blá, só que como eu
poderia imaginar que além de estar namorando — o
que não é nenhuma novidade — ele estaria em uma
casa de swing vendo outros caras transando com
uma mulher?
Eu acho que meus olhos nunca mais serão
os mesmos.
—O que viu naquela festa não te agradou
querida?
O Douglas está tomando um chá numa
daquelas xícaras que a mamãe deixou para trás
antes de ir embora, um conjunto inglês que ela
ganhou de presente de casamento de um marquês
ou coisa assim, eu já quebrei uma xícara desse
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conjunto, desde então só o Douglas usa, porque ele


tem a sutil arte de manter tudo bem bonitinho e
durável por muitos anos, eu sou a prova disso.
—Não — respondo —, mas você já sabia
né? Sabia que o papai é um psicopata viciado em
sexo ao vivo!
Douglas está perto das cortinas já abertas,
ele olha pela porta da sacada do meu quarto assim
como se tudo envolta dele fosse simples, tão
pleno... Queria ser assim como ele, mas
infelizmente nas minhas veias correm o sangue de
um árabe.
—Na realidade eu não queria que a
senhorita tão jovem soubesse de nada que a
afetasse...
—Douglas eu não sou mais uma criança.
—Não é isso o que seu rosto infantil diz
menina Isis!
Ai que ranço extremo!
Eu odeio quando ele me trata feito uma
criança, inclusive às vezes acho que ele me trata
com muito mais cuidado e zelo do que o papai, não
estou brava porque ele não me contou, papai é um
homem de negócios e nem tudo o que ele faz tenho
acesso, mas estou irritada por ter descoberto assim.
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Também, quem mandou ir atrás dele?


—Tenho rosto infantil, mas sou maior e
bem vacinada Raj, obrigada.
—Me preocupo com você menina Isis, o
seu pai às vezes é um homem sem juízo, age como
um adolescente com os hormônios nas alturas.
Admiro a forma como Douglas conversa, é
correto, culto, afinal de contas, ele faz jus ao cargo
que ocupa na casa, é o mordomo, administra tudo
na ausência de papai, inclusive a minha vida, que
pelo visto não tem importância alguma para meu
querido papai.
—Receio que não seja o momento
adequado para uma conversa tão acalorada. —
Douglas diz muito paciente.
—Tá, tá — falo e saio da cama. — Vou
comer alguma coisa e tomar um banho, acho que
vou querer uma omelete bem daquelas grandes
sabe?
Enquanto falo saio do quarto, Douglas vem
atrás de mim ainda com a xícara na mão.
—Senhorita, receio...
—Eu já sei o que você vai falar Douglas e
não, eu não vou dizer para ele, não se preocupe.
Mas vou me vingar, porque não sou
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obrigada a nada.
Papai que se prepare.
Desço a escada rumo à sala, temos uma
cozinheira, duas funcionárias que limpam a casa,
um cara que limpa a piscina, um jardineiro, uma
portaria com vários seguranças e meu digníssimo e
amado guardião, quando paro para pensar que
cresci nessa casa nem acredito, costumo mais ficar
aqui do que no meu apartamento, se é que posso
chamar de meu, papai me deu na época da
faculdade, mas nunca durmo lá só.
Será que ele tinha medo de que eu viesse
para cá e pegasse ele numa suruba braba com
aquela sirigaita?
Olho para o rumo do sofá e faço uma careta
só de imaginar, me arrepio dos pés a cabeça.
Argh, nojo!
Visualizo a poltrona já imaginando a cena,
roupas de couro, várias mulheres, papai e mais um
bocado de empresários sedentos por sexo fácil,
aquela vaca sentada no colo dele alisando-o, olho
para lareira e para todos os atiçadores de ferro que
ele sempre deixa ali, só que ao ver uma figura alta
de costas para mim, minha imaginação é barrada e
travo.
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Ele usa uma calça jeans e uma camisa social


que está para fora da calça, suas mãos estão para
trás e os cabelos brilham úmidos em contraste com
a claridade da sala, tão logo analiso a largura dos
ombros do homem, ele se vira, então fico
paralisada onde estou.
—Olá Milady!

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—O Senhor Collins deseja vê-la Senhorita


Azibo!
O tom de voz de Douglas é cordial, gentil,
como sempre, me trás boas recordações da infância,
mas não gosto nenhum pouco da forma como o
senhor Collins me olha, reconheço esse olhar, esse
“milady”.
—Que seja. — digo.
Não estou nervosa, diria que só chocada
com o fato dele estar aqui, porque não esperava ver
tão cedo esse sujeito em toda a minha vida, ainda
mais depois daquele beijo de ontem, sinto um
calafrio só de lembrar.
—Trarei um café — Douglas fala e bate
duas palmas. — Eunice, Clarissa, temos visitas.
A dupla dinâmica, as fofoqueiras de
Bervely Hills, Eunice e Clarissa Holiday, ambas
trabalham para papai há uns dez anos, são irmãs,
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beatas e segundo o Douglas ainda virgens, Clarissa


tem quarenta e Eunice quarenta e sete, são bem
parecidas, ruivas, bochechas avermelhadas, olhos
claros, mas são boa gente, exceto o fato de que
gostam de ficar cochichando nos corredores da casa
de papai.
Clarissa aparece com um espanador na mão
e Eunice vem trazendo o meu hobe, faz conjunto
com a minha camisola, gosto mais de dormir de
camisa, mas quando cheguei ontem, depois de um
longo banho e horas lavando os meus olhos das
impurezas que vi, decidi dormir com uma camisola
que ganhei a alguns anos de mamãe.
Acho que o Douglas até sabia que eu sairia
do quarto e desceria para tomar café depressa como
faço todas as manhãs, Eunice me entrega o hobe e
eu o visto, fecho dando um no forte na cintura,
então me aproximo dos sofás da sala de visitas, o
senhor Collins me olha daquele mesmo jeito de
ontem, de um jeito tão intenso que mal sei explicar,
fico me perguntando mentalmente quantos anos ele
pode ter, uns trinta quem sabe? Parece jovem, e é
bonito, muito bonito para falar a verdade.
—Bom dia, em que posso ajudá-lo? —
pergunto de forma bem educada.
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—Gostaria de conversar sobre ontem


senhorita Azibo!
Quando ele fala meu sobrenome, fico dura,
porque isso comprova o fato de que ele me
reconhece, sei que não adianta tentar, mas...
—Eu não sei do que o senhor está falando,
já fomos apresentados?—questiono e estendo a
mão. — Isis Azibo Thomas, receio que ainda não
tenhamos sido apresentados.
—Você é a garota, que eu beijei ontem,
Irvine certo? — ele fala e segura a minha mão, a
aperta suavemente. — Collins, Zeus Collins
Kokinos.
Zeus?
—Muito prazer — solto a mão dele. —
Então, em que posso ajudá-lo senhor Collins?
—Você é a garota, que eu beijei ontem. —
ele repete me fitando.
—Eu sou a garota que te beijei? Como
assim?
—Eu não estou perguntando, estou
afirmando, eu te beijei ontem na casa de Sierra
Robinson — ele afirma ainda com o semblante
meio fechado. — Vim para esclarecer algumas
coisas.
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—Não vejo porque esclarecer nada, não sei


do que o senhor está falando. — Vou negar até a
morte, porque papai não pode nem sonhar que eu
segui ele aquela festa.
Preocupa-me que ele descubra porque sei
que ele vai fazer dos meus dias um inferno,
trancada dentro de casa sem direito de sair e
cercada de regras idiotas como se eu fosse uma
criança de 10 anos, da última vez que tentei fugir
não rolou, então...
—Mas preciso esclarecer algo — ele
determina. — Podemos conversar Isis?
—Posso ouvir — respondo incomodada
com seu jeito de me olhar. — O senhor gostaria de
me acompanhar no café?
—Se não for muito incomodo, sim.
—Ótimo.
É que eu acordo cheia de fome.
Giro os calcanhares e me afasto para o rumo
dos corredores que dão para a cozinha, eu nunca fui
uma pessoa muito presa a formalidades
desnecessárias dentro de casa, claro que não
esperava receber visitas logo depois de acordar,
mas ele já está aqui, então, o que posso fazer?
Não sou muito do tipo de mulher que fica
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enrolando, apesar da minha aparência muitas vezes


acabar enganando as pessoas, eu sou muito
autêntica, inclusive acho que papai me subestima
demais em muitos sentidos.
Minha mãe não, ela sempre me estimulou a
ser eu mesma, acho que porque as culturas de
ambos são muito diferentes, papai — até ontem —
sempre foi muito conservador, para o ser árabe ele
muitas vezes exigiu de mim um comportamento
além de religioso, recatado demais, ao menos até eu
fazer dose anos de idade, que foi quando eu decidi
me converter ao cristianismo, ele ficou muito
decepcionado, mas o que ele poderia fazer?
A família do meu pai é toda Islâmica, mas
ele se afastou dela quando se envolveu com a
mamãe, ele é tipo o filho preferido do meu avô que
mais se deu bem na vida, que faz dinheiro, mas que
foi a maior decepção dele por ter escolhido não ter
um casamento arranjado, eu sei que em parte papai
foi expulso do clã dos Azibo por conta disso,
porque quando mamãe e ele se conheceram,
decidiram se casar, mas não acho que seja para
tanto.
—Teremos companhia para o desjejum
senhorita Azibo? — pergunta Douglas tão logo
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entro na cozinha.
—Sim — digo e me sento à mesa. — Por
favor, senhor Collins, fique a vontade.
—Obrigado — ele diz e se senta na cadeira
que fica de frente para a minha. — Então, o que
você foi fazer na festa de Sierra?
—Aprecio sua forma direta senhor Collins,
mas já disse que não estive em festa alguma. —
replico.
—Esteve, não esqueceria esses olhos por
nada no mundo — ele retruca convicto. — Nem os
lábios.
—Sério? — pergunto constrangida. —
Douglas, este senhor insiste que eu estive em uma
festa ontem à noite, poderia dizer para ele onde eu
estava?
—Ah, mas é claro senhorita — Douglas
está colocando a mesa com as louças do dia a dia
enquanto Clarissa e Eunice estão preparando o
café. — Ela estava dormindo.
—Mas que mentira — argumenta Collins e
abre um sorriso pequeno, percebo a cicatriz no
canto de seu lábio posterior — Porque eu vi o
momento exato em que você — ele aponta para
Douglas. — Abriu a porta de um carro de vidros
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escuros para ela!


Douglas não nega, mas sorri, sei que por
dentro ele está contrariado por ter sido descuidado,
eu estou ficando contrariada por não ter visto ele
vindo atrás de mim, estava tão atormentada para
sair dali que só via o rumo da saída da porta, sentia
tanta repulsa, me assustei.
—Quanto quer para ficar calado? —
pergunto de imediato. — Seja quem for e quanto
for, eu pago.
Ele me olha, olhos escuros e sombrios, o
sorriso se desfaz, as sobrancelhas são escuras, o
nariz fino e comprido, os cabelos mais longos
penteados para trás começam a dar sinais de que
quando secos ficam mais rebeldes, ele está com a
barba feita, não é exatamente musculoso, mas tem
certa elegância em seu porte.
—Primeiro eu não vim aqui para te
ameaçar, vim para esclarecer algumas coisas, em
segundo lugar, não acho que aquela festa tenha sido
adequado para uma moça da sua idade.
—E era adequada para o senhor?
Quanta hipocrisia Meu Deus!
—Eu não fui a festa para me divertir Isis, eu
fui à negócios.
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—É cafetão?
Douglas pigarreia, mas não dou à mínima.
—Por quê? Quer ser gerenciada por mim?

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—Estamos falando de quanto senhor


Collins? Porque quero que fique ciente que meu
preço é bem mais alto que de costume.
—Não pagaria 20 pratas por uma pirralha
mimada e mal educada como você.
—Em primeiro lugar eu não sou pirralha —
esclareço e sinto a vermelhidão me subindo as
faces, mas mantenho-me intacta. — Em segundo
lugar, eu não sou mimada.
—Porque tirou conclusões tão equivocadas
ao meu respeito? Não pode praticar mais a sodomia
em paz? Poli amor está na moda!
—Realmente eu adoraria passar o resto do
meu dia discutindo com você senhor Collins...
—É Zeus!
Respiro fundo.
—Zeus — digo seu nome à força, nome
mais ridículo nunca vi na vida. —, mas como eu
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dizia, tenho coisas importantes a fazer.


—Coisas como...
—Isso realmente não é da sua conta.
—Tenho certeza que seu pai adoraria saber
que foi aquela festa usando nome falso e com
identidade falsa.
Merda!
—O café está servido — Douglas fala meio
alto e bate duas palmas secas. — Temos ovos
mexidos, suco de laranja sem açúcar, massa síria à
vontade, café forte e meio amargo e frutas.
Fico calada enquanto Eunice me serve,
Clarissa serve o visitante indesejado, por dentro me
corroo com a hipótese dele falar para o meu pai que
estive lá e eu acho que já passei da idade de levar
surras por desobedecer meu pai. Ele é um ótimo
pai, mas na hora de punir sempre foi um grande
idiota, apanhei muito na adolescência, hoje não
posso dizer que vivo num inferno, estaria mentindo,
mas sei que ele faria da minha vida um infinito
inferno faria, mesmo estando errado.
Papai não é violento, mas ele é um cara
cabeça dura, meio “árabe” às vezes.
—Bem, eu só queria dizer que eu fui aquela
festa à convite de alguns amigos, que eu não fui
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para o andar de cima para me divertir da forma


como você pensou, fui para tentar convencer um
novo cliente a comprar serviços da minha empresa
— escuto Zeus falando. — Meu irmão tirou uma
licença pois a esposa dele acabou de ter uma filha,
então é meio complicado para ele se deslocar de
Palo Alto.
Fico calada, dividida entre acreditar ou não
nessa conversa, mas enfim, do que importa?
Acho que só estou muito zangada com o
meu pai por tudo o que ele fez, eu não merecia ser
tratada com tanta rigidez enquanto ele age como
um hipócrita safado, me prende, me priva, mas ele
vive a vida libertina e coberta de podres pelas
minhas costas.
—Não é do meu feitio ir aquele tipo de
festa.
—Nem do meu — respondo. — Só fui
mesmo por que... Por que...
—Para conhecer? — indaga Zeus Collins.
— É curiosa senhorita Azibo?
— Na verdade fui atrás do meu pai —
confesso. — Porque ele mentiu para mim sobre ir
viajar, então eu soube que ele estava naquela festa e
fui lá para dar um belo susto nele, porém me
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pegaram.
—Entendi — os olhos dele parecem
zombeteiros. — Não gostou do que viu menininha?
—Douglas, diz para ele que eu não sou uma
menininha—peço e começo a comer.
—Ela não é menininha—Douglas fala e
sinto vontade de rir. — Inclusive hoje ela está
completando 29 aninhos!
Reviro os olhos.
—29?—Zeus questiona. — Poxa, pensei
que tinha uns 18 no máximo.
—É a cara de criança, não ajuda — reclamo
e bebo um pouco do café. —, mas é sério que seu
nome é mesmo Zeus?
—É, é sério. — ele coça o queixo.
—Legal. — digo.
A última coisa da qual pensaria é que esse
homem estava perseguindo alguém naquele puteiro
para fechar negócios, não poderia esperar a pessoa
para um dia formal na empresa?
—Seu pai era o meu cliente em potencial,
só para esclarecer, mas ele não quis me ouvir.
—É, com aquelas tetas se esfregando na
cara dele, duvido que ele fosse te ouvir.
—Senhorita estes não são modos. —
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Douglas repreende.
—Me desculpe senhor Collins, me deixe
corrigir o que eu disse, possivelmente com aqueles
seios em meio às faces dele obstruindo suas vias
aéreas e audição, duvido que ele tenha tido a
chance de ouvi-lo.
Zeus começa a sorrir, Douglas nega com a
cabeça e se senta na outra ponta da mesa pegando
um jornal.
—Sua empresa é de que senhor Collins?
—Marketing e propaganda, mas
trabalhamos em muitas áreas de assessoria, e você?
—Eu sou formada em vários nadas, não
tenho empresa nenhuma e meu pai me sustenta...
—Ela tem formações em literatura, letras,
música e dança — Douglas me interrompe e folheia
o jornal atento ao que lê. — E fala 3 línguas, é
embaixadora da ONU em países da África.
Não tenho orgulho de ter nascido rica e ter
tido mais oportunidades na vida do que as outras
pessoas, em nenhum sentido, mas tive uma
excelente educação.
—Então eu beijei uma professora. — Zeus
comenta baixinho.

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—Beijou ele? — Douglas questiona e se


endireita na cadeira.
—Infelizmente ele me beijou — admito. —
Você não ouviu ele falando?
—Ouvi, mas achei que era brincadeira —
Douglas retruca. — Minha nossa!
—Douglas não faz disso uma tempestade
ok? — pergunto e me levanto. — Bem Zeus, foi
um prazer conhecer você, eu vou subir e tomar o
meu banho matutino, tenho algumas coisas a fazer.
Não espero por respostas, saio da cozinha.
Acho que por hoje já deu toda essa coisa de
Zeus, beijos e papai.

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—Eu não acredito que você beijou um


homem!
Analiso o semblante preocupado de
Douglas, reviro os olhos, volto a pintar as unhas
dos pés, realmente não ligo muito para isso, acho
que ele está fazendo uma tempestade num copo
d’água.
—Queria que eu beijasse uma mulher?
—A senhorita sabe muito bem que seu pai...
—Ai Douglas, para começar meu pai não
tem moral alguma, e também, não ligo muito para o
que ele pensa, não depois de ontem.
—Mas o seu pai é...
—Se você disser que o meu pai é homem,
eu vou ficar de mal de você!
Ele sabe que eu odeio essas frases machistas
e sem sentido, quantas vezes serão necessárias para
que Douglas entenda que eu cresci? Será que ele e
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papai não pensam que eu posso viver uma vida


adulta e tentar ser no mínimo alguém normal? Eles
me tratam como uma adolescente imatura.
Claro que eu não beijei outros homens, fiz
um voto de castidade com treze anos, não foi bem
um voto, mas já sabia que estava fadada a me casar
com alguém que fosse da escolha do meu pai,
porque ele pode escolher um marido para mim, ele
pode querer que eu siga as tradições, mas no que se
trata dele, não segue nada do que fala.
Que não prestava sempre soube, nunca foi
monogâmico, mamãe é a prova viva disso, tolerou
demais, só que não pensei que era para tanto.
—Que seu pai nunca saiba. — Douglas está
fazendo cara feia.
—Ai foi só um beijo sem importância —
retruco chateada. — Credo, foi um incidente.
—Para o senhor Collins não foi, ele nos
seguiu, não fui cauteloso, não quero nem sonhar o
que seu pai faria se soubesse que a levei aquela
festa...
—Não era uma festa Douglas, era uma
suruba ao vivo com direito a bebida e
sadomasoquismo.
—Que seja! — Douglas se aproxima e se
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senta na cama. — Acho que chegou o momento de


conversarmos sobre algumas coisas menina...
—Douglas, eu acho que sei muito bem
como funciona o sistema reprodutor de uma
mulher, sexo, e blá, blá, blá!
—Me preocupo com você.
—Eu sei Douglas, mas fica tranquilo, acho
que esse tal de Zeus não contaria para o papai,
afinal de contas, segundo ele eram só negócios.
—Receio que talvez ele volte.
Fecho a tampa do esmalte e estico os pés,
olho para Douglas começando realmente a ficar
chateada, parece que ele me esconde alguma coisa.
—Vai, desembucha.
—Ele quer pedir a sua mão.
—Pedir a minha mão para que?
—Ora, em namoro não acha?
Começo a rir.
—Douglas, que você não gosta de mulher
eu sempre soube, mas não pensei que fosse tão
iludido quanto à natureza masculina.
Ele se endireita, fecha a cara.
—Ás vezes a senhorita passa dos limites.
Acho que o ofendi me estico, abraço ele,
não demorou muito para que eu percebesse que ele
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era diferente, mas infelizmente neste país ainda é


complicado toda essa coisa, o Douglas é reservado
demais, às vezes até força uma masculinidade e tal,
mas sei que ele é gay, ele só não demonstraria perto
do papai porque sabe que papai é nojento, demitiria
ele.
—Eu te amo desse jeitinho Douglas.
Ele suspira, da umas batidinhas nas minhas
costas, depois me espreme com tanta força que fico
vermelha.
Já está quase anoitecendo, foi um dia mais
tranquilo apesar de tudo, eu e Douglas almoçamos
juntos com as fofoqueiras e depois subi para o meu
quarto para responder alguns e-mails e fazer
ligações, decidi pintar as unhas dos pés, porque
aquele sapato maldito estragou as minhas unhas.
Tentei não pensar muito na visita matutina,
mas confesso que fiquei lembrando de Zeus Collins
Miko... Não sei o que lá, não sei falar o último
nome dele, mas pensei muito sobre a conversa.
Porém acima de tudo, ainda continuo
chateada porque papai não telefonou, não está
sendo diferente dos outros aniversários, ele sempre
ausente, mamãe só liga três dias depois dizendo que
não teve tempo e provavelmente o Douglas
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comprou um bolo cor de rosa para que possamos


comer mais a noite.
Depois eu e ele assistiremos Gosth, do outro
lado da vida, eu vou chorar e quando eu dormir ele
me trás para o quarto, todo ano é assim desde que
eu fiz 13 anos, antes disso, eu ia dormir as 21:00
depois de comer bolo com o Douglas, com a
diferença de que eu assistia desenhos, bem, ás
vezes ainda assisto, mas é aquela coisa, eu cresci,
não tem mais graça.
Com sorte papai aparecerá semana que vem
com algum presente caro pedindo desculpas, mas
só que dessa vez ele vai me pagar.
—Convidei ele para o bolo de hoje a noite.
— Douglas fala e continua a bater nas minhas
costas.
—Papai? Você sabe que ele não vai vir
Douglas...
—Não, o senhor Collins, convidei ele.
Afasto-me bem devagar, logo em seguida
respiro bem fundo para não perder o pingo de paz
que consegui adquirir com o silêncio dentro da casa
no dia de hoje.
Depois ele se levanta e checa o relógio de
pulso muito tranquilamente.
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—Ele chega por volta das 18:35hrs, vista


algo decente. — então gira os calcanhares e sai do
quarto assoviando.
Acho que ele consegue ouvir o meu grito de
raiva tão logo sai para o corredor.

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Zeus Collins me espera perto da lareira.


Enquanto desço os degraus da escada, me
sinto muito além de irritada, bastante curiosa, me
aproximo como tinha dúvidas do que usar, coloquei
um vestido floral e sandálias, deixei meu cabelo
solto, não queria sentir que estava me arrumando
demais para receber alguém que não convidei,
ainda estou muito puta com o Douglas por isso.
Pensei que não veria esse homem nunca
mais na minha vida.
Então assim do nada ele se vira, os cabelos
estão penteados para trás, mas bem secos, caem do
lado do rosto, são mais longos, os olhos brilham
ainda que mais escuros à luz da noite, ele usa jeans,
tênis e uma camisa de mangas compridas folgada,
fico bem sem graça com a forma como ele me olha
de cima abaixo.
Ele não é nada discreto.
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—Olá Isis.
—Oi senhor Mikokonos.
Ele sorri, um daqueles sorrisos que me
lembram os caras do ocidente, sorrisos bem
diferentes dos sorrisos que a maioria dos homens
que já conheci em toda a minha vida me dão.
—É Kokinos. — ele corrige.
—Ah, me desculpe — falo e fico vermelha
feito um tomate. — O Douglas já te serviu um
café? Aceita um chá?
—Não, obrigado, ele disse que hoje é o seu
aniversário, te trouxe um presente — Zeus enfia a
mão no bolso de trás e retira de lá uma caixinha
quadrada. —Para a garota mais rebelde que já
conheci em toda a minha vida.
—Não precisava. — digo de imediato.
—Vamos, aceite.
Se não aceitar será pouco educado, então
pego a caixinha de veludo preta e me sento no sofá,
Zeus se aproxima depois se senta ao meu lado, mas
mantém certa distância, confesso que assim que
seguro a caixinha entre as mãos, fico curiosa.
—O que é?—pergunto.
—Abra.
Abro a caixinha não resistindo à
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curiosidade, então me deparo com um colar com


um pingente em formato de uma pedra branca
muito bonito, o calar é de prata e a pedra combina
perfeitamente com ele, não é muito grande, mas é
notável, fico olhando para o presente bem surpresa.
É simples, mas é tão bonito.
—Comprei de um ambulante a caminho
daqui — Zeus fala com sorriso na voz. — Sei que
você deve ganhar coisas mais caras, mas me pegou
desprevenido o convite do seu mordomo.
—É lindo — admito e tiro da caixinha. —
Vou colocar.
Não sou muito exigente quando se trata de
presentes, a verdade é que quando se tem tudo,
raramente algo se torna novidade, papai sempre me
dá joias e aumenta minha mesada, mamãe me
manda uma coleção de inverno inteira com direito a
sapatos e chapéus, meus avós por parte de mãe
quase não me dão presentes mais, já os meus avós
por parte de pai preferem me ignorar totalmente,
então...
—Quer ajuda? — Zeus questiona de forma
educada.
—Sim, por favor.
Acho que fui pega de surpresa por esse
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presente, não esperava que fosse ganhar alguma


coisa de um completo estranho ou quase isso. Puxo
os cabelos para o lado, Zeus pega o colar da minha
mão, então coloca ele no meu pescoço, toco a pedra
que tem formato arredondado.
—Pronto. — escuto ele dizer.
Ergo-me e vou até o espelho que tem junto
a parede lateral da sala de vídeo, ficou perfeito.
—É lindo senhor Mikinos.
—É Kokinos.
—Que seja.
—Só me chama de Zeus, ok?
—Tá, de todas as formas, muito obrigada.
—No próximo aniversário, eu prometo que
te darei flores.
—Não gosto de flores — replico. — Me
deixam deprimida.
—Sério?
—Bem sério, papai me dá flores toda
semana desde que eu fiz 15 anos, quando não está
aqui, ele manda entregar, nos fundos temos um
pequeno viveiro, é lá que eu coloco todas elas,
Douglas gosta de cuidar delas para mim, gosto de
cuidar ás vezes, mas já ganhei tantas que nem sei
mais onde enfiar.
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—Sempre há espaço para mais uma—


escuto a voz do Douglas soando na cozinha. —
Vamos jantar?
—Olha que eu ganhei do senhor Kikonos
Douglas — me aproximo dele toda contente,
seguro a pedra. — Não é perfeita?
—Magnifica — Douglas está sorrindo todo
maravilhado. — Obrigado pela gentileza senhor
Collins.
—Eu agradeço o convite. — ele responde.
Seguimos Douglas até a sala de jantar.
As duas fofoqueiras estão a postos, a mesa
com o melhor aparelho de jantar que temos, os
talheres de prata que só usamos para receber
pessoas importantes, tão logo me aproximo da
mesa, Zeus puxa a cadeira para que me sente, tento
sorrir, acho desnecessário tanta formalidade, mas
agradeço, ele se senta na cadeira que fica ao meu
lado, Douglas olha para as meninas e ambas
começam a servir o jantar.
—Hoje teremos lagosta, camarões
empanados, cozidos e uma massa com algumas
vieiras a gosto, um tinto Château Pétrus para
acompanhar — Douglas fala enquanto as meninas
vão colocando os pratos montados a mesa. —Bom
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jantar.
—Não irá nos acompanhar? — pergunto
confusa.
—Ainda preciso terminar de confeitar o
bolo, esse ano eu mesmo fiz—Douglas fala todo
entusiasmado. — Bom apetite.
Ele então sai rumo à cozinha, as duas
fofoqueiras saem conversando baixinho, suspiro e
pego o quebrador de lagosta.
—Parece delicioso. — Zeus comenta
enquanto coloca o guardanapo de tecido sob as
pernas.
—Pode apostar que sim — abro o meu e
coloco sob as pernas também, mas antes que
comece a comer, prendo os cabelos.
—Você é ruiva natural?—questiona.
—Assim, ruiva, ruiva eu não sou, mas sim,
essa é a cor do meu cabelo.
—Seu pai não vai nos acompanhar no
jantar?
—Meu pai não me acompanha na vida a um
bom tempo Zeus.
Pego o quebrador de lagosta e começo a
abrir a minha, Zeus vira o prato e começa pela
massa.
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—Se você abrir a lagosta e misturar vai


ficar bem melhor. — aconselho e começo a quebrar
a lagosta.
—E você pega assim com as mãos?
—É — digo. — E como com a boca.
—Você não tem papas na língua Isis?
Gosto do sotaque dele quando fala meu
nome, é tão americanizado.
—Te incomoda o fato de eu ser assim Zeus?
—pergunto e abro meu primeiro pedaço, pego um
pouco da carne e devoro. —Hummmmm...
—Não, acho que estou desacostumado em
conversar com garotas mais novas, por isso me
espanto.
—Você fala como se fosse um velho.
—Tenho 44.
Franzo a testa, o fito.
—Sério? — pergunto. — Não te daria nem
35.
—Você não é a única com segredos
garotinha.
Sorrio, provo da massa, está ainda melhor.
—É difícil ter uma cara de criança às vezes
sabe? É meio culpa da minha mãe, as mulheres da
família dela são todas assim, inglesas franzinas e
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baixinhas, tive sorte porque ela tem ascendência


russa, então é isso.
—Nasci na Grécia.
—Eu nasci na Arábia Saudita, quando tudo
isso era só terra papai decidiu investir com outros
empresários em alguns hotéis, mudamos para cá a
alguns anos, Dubai virou meu lar.
—Moro na Califórnia.
—Já fui em Los Angeles para algumas
palestras.
—São Francisco, conhece?
—Aham, fui lá para alguns projetos com
papai, é uma cidade bem bonita.
—Moro com meus pais metade do ano, a
outra metade moro no Canadá, eu quem cuido da
sede da empresa da minha família lá.
—Parece interessante.
Zeus sorri abertamente, logo meu coração
dispara, desvio o olhar para o meu prato de comida
e volto a comer.
—Isis.
—Sim?
—Não precisa ter vergonha por conta do
nosso beijo, não vou contar para o seu pai.
—Não estou com vergonha.
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—Parece encabulada.
Claro, você sorrindo assim para mim.
—Não estou, é impressão sua.
—Espero que seja mesmo, pessoas adultas
não se importam com esse tipo de coisa.
—Pois é.
Eu também não me importo.
Não mesmo.
Será que não?

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—Gostou do jantar Zeus?


—Estava ótimo.
—Que bom que gostou.
Sento-me no sofá, Zeus se senta ao meu
lado, Eunice e Clarissa ainda estão tirando a mesa
do jantar, foi até agradável, não posso negar, às
vezes elas se superam no quesito cozinha, estava
tudo saboroso e macio, amo frutos do mar.
—Que mal lhe pergunte, onde enfia tanta
comida?
Eu o fito, fico de lado e toco a minha
barriga.
—Aqui, olha, minha meta é chegar aos
trinta pesando pelo ou menos 60 quilos.
Toco a minha barriga imitando uma
grávida, Zeus ri apoiando a cabeça na mão, começo
a admirar sua franqueza, ao menos ele não finge ser
um cara super certinho só para parecer bonito na
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fita.
—Eu me alimento muito bem, mas a
genética não ajuda muito a desenvolver, meu
metabolismo é muito rápido — respondo. — Você
é tão educado para comer que eu fiquei agoniada
em te ver quebrando a lagosta.
—Minha mãe me mataria se me visse me
comportando mal na presença de outras pessoas —
ele diz baixinho. — Eu malho quando tenho tempo.
—O único peso que eu pego é o do garfo
para comer e o do controle da tv.
—Você é tão diferente do que eu pensei que
fosse. — Zeus diz estreitando os olhos.
—É mesmo? E o que pensou?
—Se eu dissesse você ficaria brava comigo.
—Eu odeio te decepcionar, mas não
costumo ficar brava com tanta frequência.
—Achei que fosse uma garota mimada.
Bem não é decepcionante, mas não é legal.
Eu sempre soube que a maioria das pessoas
que me cercaram a vida inteira tiveram essa
sensação ao meu respeito, é só uma pena que eu
nunca tenha tido tempo de mostrar para elas quem
eu sou de verdade, porque eu nunca consegui me
relacionar com ninguém verdadeiramente.
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—É por causa da minha aparência. — falo


depois de alguns momentos de silêncio.
—Eu não quis ofender...
—Não, eu entendo — corto. — Eu tenho
uma aparência muito delicada, a maioria das
pessoas confundem isso de uma forma bem
equivocada, mas tudo bem Zeus.
—Parabéns para você...
Não sei se sorrio de alívio ou felicidade ao
ver o Douglas aparecendo na sala com um bolo cor
de rosa cheio de glacê e duas velas da mesma cor,
Eunice e Clarissa vem atrás batendo palmas,
respiro fundo, não sei se nervosa pela quase
conversa que tive a pouco com o visitante ou se
porque no fundo, papai me vem ao pensamento,
mamãe também e mais uma vez nenhum dos dois
está aqui comigo.
Douglas coloca o bolo diante de mim, seu
sorriso largo, os olhos grandes e redondos, desde
que eu ainda era uma menina muito pequena ele
comemorava meus aniversários, alguém que fez um
papel materno e paterno na minha vida.
—Faça um pedido menina. — Douglas fala
contente.
Todos os anos desde que me lembro, faço o
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mesmo pedido, mas nunca se realiza, então acho


que não vai rolar muito, fecho os olhos fingindo
que desejo algo e sopro as velas, bato palmas
mesmo que por dentro esteja estranhamente vazia,
me sentindo mal porque meu pai mentiu para mim,
porque mamãe está ocupada demais para querer
tirar um tempinho para ficar comigo.
Tenho 29 anos e me sinto uma criança de 12
quando se trata deles, a verdade é que o abandono
parental que sofro dos meus pais desde que nasci
me afeta muito, ainda que papai seja mais ou
menos presente na minha vida, pois moro na casa
dele, ainda é complicado conviver com ele por pelo
ou menos uma semana seguida.
—Parabéns menina Isis. — Eunice se
inclina.
—Ah, obrigada Eunice — me ergo e a
abraço, dou um breve abraço em Clarissa também.
— Obrigada pelo jantar, estava formidável.
—Vou buscar os pratinhos. — Eunice avisa.
Clarissa a segue, Douglas coloca o bolo sob
o centro da sala e abre os braços, sorrio e o aperto
com força.
—O bolo queimou viu? — avisa ele. —,
mas eu tentei dar o meu melhor.
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—O que vale é a intenção. — digo em


resposta.
Sinto uma imensa vontade de chorar, não
sei por que, acho que é por causa da pequena
comemoração em si, durante alguns aniversários eu
nem me importava, mas este realmente queria que
papai tivesse passado comigo, foi porque ele
mentiu para mim, preferiu outra mulher a mim,
quantas vezes ele já não fez isso sem que eu
soubesse?
—Eu vou ali nos fundos respirar um ar e já
volto. — aviso e me afasto.
—Mas menina...
—É coisa de cinco minutos Douglas.
E saio pela porta dos fundos, respirar o ar
puro me ajuda a não surtar às vezes, me senti
sufocada, sei que vou chorar um pouco e melhoro,
não é bom se sentir tão frágil emocionalmente,
enquanto caminho para o viveiro me sinto até
ingrata por ter tudo isso só para mim e ainda sim
me sentir mal.
Não cresci na pobreza, nasci num berço
literalmente de ouro, minha mãe apesar de ser
ausente sempre me deu tudo o que eu quis e até o
que eu não quis, meu pai apesar de tudo sempre me
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deu uma vida confortável e boa, mas hoje faço 29


anos sentindo como se nada disso fizesse algum
sentido.
Já viajei para muitos lugares, já conheci o
mundo, estudei nas melhores escolas, nas melhores
universidades, vi um lado muito pobre e carente do
mundo na África nas missões nas quais enfrentei
depois que comecei a trabalhar como voluntária da
ONU, fui a palestras, sempre tento ajudar tudo e a
todos por onde passo.
Mas ainda sim, sou a pessoa mais solitária
do mundo.
Entro no viveiro que o Douglas cultiva há
anos com todas as flores que ganhei de papai nos
últimos 14 anos, claro que muitas morreram, mas
aqui também tem diversas orquídeas e plantas que
o Douglas comprou em nossas viagens pelo mundo,
ele ama cultivar e cuidar de roseiras, suspeito que
se não tivesse trabalhando de segurança ele seria
dono de uma floricultura.
Sento-me no banco onde o Douglas sempre
me deixa ficar quando estou resolvendo alguma
coisa via internet e ele cuidando de suas flores, não
gosto muito daqui, mas é bem cuidado e o único
lugar em toda essa propriedade em que consigo
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respirar ar puro, que cheira bem.


Limpo as faces, não queria estar tão
angustiada, odeio pensar que derramo uma lágrima
se quer pelo meu pai depois de tudo, pela minha
mãe, eles não merecem.
—Então esse é o seu esconderijo!
—Ás vezes...
Deixo a frase morrer, não queria que o Zeus
Mikinos me visse assim, obviamente que não por
vaidade, mas porque estou percebendo que estou
mesmo péssima. Ele se senta ao meu lado no
banco, fico envergonhada.
—Me desculpe senhor Mikinos.
—Eu já disse para me chamar de Zeus.
—Sinto muito, é que eu não estou passando
bem, acho que não sou uma boa companhia.
—Não? Por quê?
—Não estou bem.
—Porque não está bem?
—Queria que fosse simples explicar, às
vezes me sinto tão... Tão... Sufocada e presa.
Zeus me analisa, fungo, limpo as minhas
faces com força.
—Estou indo para Nova Zelândia para uma
viagem de negócios, quer vir comigo?
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Meu Deus!
—Está me convidando...
—Se você ficar pensando demais, não vai
conseguir ir, tem que me responder e vir comigo
agora Isis.
—E se você for um molestador?
—Tenho cara de molestador?
—Bem, não.
—Então?
—Porque o convite?
—Porque não? Você tem 29 anos, pode ir
para onde quiser.
Possivelmente papai me acharia, me
arrastaria pelos cabelos devolta para casa, mas
papai também deixou de ficar comigo não por
negócios e sim por uma vadia e uma suruba então...
—Está bem — levanto. — Ru vou pegar
meu passaporte e uma mochila com algumas
coisas.
—Estarei esperando no meu carro.
—Eu posso levar o Douglas?
—Claro que pode.
—Está bem, estarei pronta em meia hora.
Tento sorrir e me afasto sentindo-me
incerta, nada pronta, mas bem, se papai pode ter as
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aventuras noturnas dele, porque não posso


também?

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—Douglas não quis vir?


—Não exatamente.
É que o Douglas sabe muito bem que
quando papai chegar de viagem e não me encontrar
em casa, talvez as coisas não fiquem tão boas para
o meu lado, por isso ele decidiu que mentirá para
papai, dirá que viajei para mais uma viagem
diplomática na África e tentará enrolar ele o
máximo possível.
Logo que entrei dentro de casa disse que
iria viajar com Zeus, nem esperei por resposta e
subi para o meu quarto para arrumar algumas
coisas, sabia que tinha poucos minutos e não queria
parar para pensar em nada, no segundo seguinte,
esperando a reprovação de Douglas, eu o vi
entrando no meu quarto e indo para meu closet,
pegando roupas de frio e meus documentos, minha
bolsa com cartões, todas as minhas coisas que
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sempre uso para viajar, ele me ajudou a montar


uma pequena mala e uma bolsa com itens de
higiene pessoal, então me deu um beijo na cabeça e
disse apenas um :
—Vai, aproveita, deixa que me viro com
seu pai.
Então me vi correndo para fora de casa
colocando um casaco por cima do vestido, entrando
no carro que me esperava do lado de fora da casa
do meu pai, puxando uma malinha de rodas cor de
rosa e apressada para não perder a hora estipulada
por Zeus.
Há alguns momentos atrás, o carro nos
deixou no aeroporto internacional de Dubai, depois
que apresentei meus documentos e passaporte para
um funcionário do aeroporto viemos para a pista de
voo e entramos em um jatinho particular,
decolamos a uns cinco minutos, uma aeromoça me
trouxe um chá, Zeus está tomando um café, estou
acostumada a viajar em aviões particulares, mas
nunca pensei que faria isso sem o papai ou o
Douglas por perto, sempre viajo acompanhada, essa
é a minha primeira viagem sozinha.
—Não exatamente?
—É que ele sabe que o meu pai vai dar um
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chilique quando chegar de viagem e não me


encontrar em casa.
—Em que época o seu pai vive?
—Em relação a mim ele desperta todo o
lado islâmico dele, em relação as aventuras
noturnas dele, diria que ele desperta a hipocrisia
toda.
Bebo um bocado do meu chá, estava
sentindo um friozinho na barriga até decolarmos,
porque ainda me batia um receio imenso de deixar
Dubai, mas agora estou mais tranquila, ainda que
saiba que essa é a maior loucura que cometerei em
minha vida toda.
—Você nunca viajou sozinha?
—Douglas me acompanha sempre em
minhas viagens.
—Ele parece gostar muito de você.
—Ele gosta mesmo.
Abro a minha bolsa, penso em pegar meu
celular para avisar que está tudo bem, mas vejo
dentro da bolsa uma vasilha com tampa cor de rosa,
retiro ela de dentro e coloco o recipiente em cima
da mesa, tem um bilhete escrito grudado na tampa,
pego o post-it e abro.
“Sei que desejou mais uma vez ter seus pais
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conosco, mas quero que saiba que nem sempre o


que desejamos é o melhor para nós, boa viagem
minha menina, com amor, Douglas”.
Vejo-me sorrindo, dobro o bilhete e guardo
na bolsa, abro a vasilha e me deparo com um
enorme pedaço de bolo.
—Aceita?—pergunto ao Zeus.
—Ainda cabe mais comida em você? — ele
está surpreso.
—Bem, é sobremesa e é do meu aniversário
— sorrio. —Tenho certeza que o Douglas fez com
muito carinho, seria uma desfeita com ele.
—Posso provar um pedaço. — Zeus avisa.
Pego a colher de chá e provo um pequeno
pedaço do bolo, está doce, a massa desmancha na
boca, coloco a vasilha na mesa, olho pela janela e
bebo um pouco mais do meu chá, nunca fui à Nova
Zelândia.
—Não pensei que você fosse aceitar —
Zeus comenta e enfia sua colher de chá no bolo,
depois prova o pequeno pedaço que retira da
vasilha. —Hummm bom!
—Estou cansada — confesso olhando pela
janela, só vejo nuvens e todo o céu escuro. —
Ainda mais depois de descobrir sobre a suruba.
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—Porque se incomoda tanto com o fato dele


ter ido a uma casa de swing?—Zeus indaga.
—Porque eu não posso ir a uma casa de
swing?—contra respondo fitando-o. — Porque ele
pode ter várias parceiras e eu não posso namorar?
Porque ele pode viajar com quem quer e eu só
posso viajar com ele ou com o mordomo? Porque
em cerimônias na Arábia Saudita eu tenho que usar
uma burca e ele não? Você sabe o quanto usar
aquelas roupas é quente? Eu fico toda me coçando!
Zeus me encara assim meio que em choque,
é só que estou lotada de pensar nas chances de
papai realmente me proibir das coisas, toda aquela
história do baile me irritou profundamente, não só
isso, é o fato dele me obrigar e me prender sempre
e não praticar nada do que ele prega para a minha
vida.
—Você é maior não é? — Zeus encolhe os
ombros. — Poderia...
—Têm algumas coisas na vida nas quais
uma mulher como eu não poderia nem se sujeitar a
escolher, não trairia os costumes nem ás vontades
de papai, mamãe fez isso ao se divorciar dele e
pagou muito caro, na época foi tratada como uma
prostituta pela família dele, pela mídia, ele levou
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pelo ou menos dez anos para recuperar a carreira


dela, eles a prejudicaram muito, quais chances eu
teria na vida sendo uma jovem de 18 anos sem
dinheiro vagando por Dubai? Prostituir-me?
—Bem, é só que ainda estou surpreso.
—Eu entendo o que quer dizer Zeus, eu
também pensava assim quando fiz 19 anos, eu já
tentei fugir de papai, mas ele sempre me acha e
acredite, não é tão legal quando ele me acha.
—Ele te bate?
—Antes fosse, ele me prende dentro de casa
e me mantém isolada, toma meu celular, bloqueia
minhas contas, fico sem internet por meses e ou ele
me obriga a viajar com ele para os lugares, para
reuniões extensas com outros sócios.
—Como uma funcionária?
—Antes fosse, ele me obriga a participar
das reuniões como uma escrava que serve água,
entrega pastas, apresenta slides e me obriga a ficar
de pé durante todas as reuniões.
Zeus permanece neutro, seu olhar, no
entanto se torna duro demais.
—Sei que é difícil acreditar, me desculpe se
sou invasiva, mas nem sempre o controle de nossas
vidas está ao nosso alcance.
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—Posso imaginar Isis, eu sou muito


temente aos meus pais, mas não consigo imaginar
uma filha minha passando por isso.
—É complicado.
—Durante esta viagem, você poderá
aproveitar a ilha, estou indo para algumas reuniões
com um dono de hotel.
—Eu preciso mesmo tomar um sol e
descansar.
Acho que vai ser ótimo para mim.
—Quer ir para cama agora? — Zeus
questiona.
—Cama?—pergunto e vou ficando
vermelha.
—É, tem uma cabine com cama aqui, pode
dormir nela, fico por aqui.
—Não quero te causar incomodo, já foi
muita gentileza me trazer Zeus.
—Imagina, pode ir, leve suas coisas, o voo
será meio longo, 17 horas até chegarmos em Piercy
Island.
—Você vai ficar aqui?
—Eu ficarei bem.
—Tem certeza?
—Absoluta, fica ali na frente virando à
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direita, fique a vontade.


—Está bem.
Pego minha bolsa e saio do banco, me
inclino na direção dele e lhe dou um beijo na
bochecha em agradecimento.
—Obrigada por tudo Zeus.
Tento sorrir, me afasto.
Será uma longa noite, mas dormirei bem, eu
acho.

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—Acordou?
—Acho que sim.
Ainda sonolenta me ergo, sentado ao meu
lado na cama está Zeus, usa uma calça de malha e
uma camisa meio velha, está com os cabelos
úmidos, acho que inclusive tomou banho, papai tem
um avião maior que esse, mas acredito que tenha as
mesmas acomodações, não fui ao banheiro, eu só
queria dormir e dormir, porque estava exausta.
Sento-me e esfrego as faces tentando realmente
ficar acordada, é difícil, ainda mais porque estou
bem acostumada a dormir cedo.
—Não queria te acordar assim — Zeus
afirma calmamente. — Quero te fazer uma
pergunta, mas não sei como.
—O que é?
—inda teremos mais 10 horas de viagem e
eu estou realmente cansado, posso me deitar na
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cama?
—h, sim, claro me desculpe — começo a
puxar os cobertores. — Podemos revezar, sinto
muito eu dormi demais né?
—Não — Zeus segura a minha mão. —Hei,
calma, pode ficar também, é que eu achei meio
inadequado não te perguntar primeiro, se quiser
pode continuar ai.
—Ah! — exclamo. — Por mim tudo bem.
Não vejo mal nisso.
Ele solta a minha mão, puxo os cobertores
de volta e me deito me esticando para a ponta da
cama, realmente não esperava por isso, mas bem,
ao menos ele teve a decência de pedir e também,
não é nada demais.
O colchão desce e sobe quando ele se deita,
é um homem grande, alto, acho que deve ter seus
1,87 de altura, a cama é king e é bem espaçosa, mas
receio incomodar, estava muito exausta para
pensar, agora já bem acordada me deparo com essa
situação, que é constrangedora, porém muito banal.
—Faz bastante frio aqui. — escuto ele
falando.
—Sim, fizemos alguma parada?—
questiono.
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—Não, o voo é direto — Zeus suspira. —


Me desculpe te acordar mesmo, mas é que estou
muito cansado e aquelas poltronas são muito ruins
para tentar dormir.
—Eu sei, não se preocupe — replico. —
Não acho ruim.
—Seu pai me mataria não é mesmo?
—Meu pai não está aqui. — respondo com
descaso.
—Isis, me diz uma coisa, você ao menos
perdeu a virgindade com alguém?
Meu Senhor!
—Claro que sim — respondo e minhas
bochechas queimam. — Você acha que eu sou uma
garotinha ingênua?
—Não? Tá! — Zeus fala com riso na voz.
—Na verdade isso não te diz respeito —
retruco. — Não te dei liberdade.
—Pessoas adultas falam sobre essas coisas.
— argumenta ele.
—É mesmo? — me viro na cama, Zeus está
deitado de bruços abraçado a um travesseiro. — E
porque eu teria que falar sobre a minha intimidade
com um estranho hein?
—Não se preocupe jovem e imaculada Isis,
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só queria conversar, estou um pouco entediado.


—Você é muito debochado quando quer
Zeus.
—Me desculpe.
É tão sincero que eu quase acredito.
—Desde que começamos essa viagem, só
falamos ao meu respeito, quanto a você Zeus?
—Não sou um grande mistério, meus pais e
avós são todos vivos, tenho dois irmãos, um é
casado e a outra é solteira e mais nova, cuido das
empresas que foram da minha mãe ao lado do meu
irmão do meio, então é isso.
—E namoradas?
—Eu não tenho namoradas.
—Nenhuma?
—Nenhuma.
—Por quê?
—Tem que ter um por quê?
—Bem, é jovem e bonito, qualquer homem
na sua idade iria querer ter ao menos uma amante.
—Se eu te disser uma coisa, você promete
que não vai ficar chateada?
—Porque ficaria?
—Eu gosto de ter relacionamentos com
homens e mulheres, sou bixessual.
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Abro a boca para falar, mas nada me sai


pela garganta, fico muda, é instantâneo, não tenho
nem o que falar, o que devo falar? Não parece, eu
nunca imaginaria que ele é igual a papai, nunca.
—Meus pais não sabem, eu tive um
relacionamento recente com um casal, mas acabou.
—Então naquele dia não foi por papai?
—Fui, mas também sabia que era uma casa
de swing e que poderia rolar de tudo, infelizmente
não rolou, também eu estava meio nervoso naquela
noite.
—Você mentiu para mim então quando
disse que não frequentava aquele tipo de lugar?
—Sabia que não me deixaria me aproximar
e conversar com você se soubesse — Zeus afirma
com rigidez. — Não fica me olhando assim Isis, tão
horrorizada, enojada, eu não gosto de bater em
mulher nem nada daquilo.
—Entendo.
Mas é meio louca essa ideia de poli amor e
relacionamentos bissexuais, estava demorando para
eu acreditar que papai gosta dessas coisas, agora o
cara que se ofereceu para me trazer numa viagem
também gosta? E pior, gosta de homens? Mas que
merda de mundo é esse? Agora eu entendo porque
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papai nunca me deixava sair da bolha na qual me


criou, para não ter que lidar com essas coisas, as
coisas que ele faz.
—Está decepcionada?
—Não, não tenho que ficar decepcionada,
não somos nada um do outro.
O que eu poderia falar?
Ergo-me, começo a sair da cama.
—Isis...
—Preciso de um café, tente dormir,
podemos revezar. — Digo e tento sorrir, mas é em
vão.
Não sei nem porque estou tão decepcionada.
Saio da cama e logo em seguida da cabine,
sigo pelo corredor e vou até os bancos, me sento no
último e olho pela janela, o dia começa em meio ao
pacífico, ainda nem chegamos ao destino da
viagem e já começaram as surpresas ruins.

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—Residência dos Azibo, Douglas, Bom dia!


—Sou eu.
Não sei por que o Douglas age como um
atendente de call center ás vezes, mas enfim, ao
menos uma vez no dia isso me faz sorrir.
—Menina!
—Eeeeeh!
A falsa comemoração arranca um sorriso do
outro lado da linha, chegamos há alguns minutos,
logo, viemos para esse hotel, mas aqui é noite, Zeus
reservou dois quartos, não tinha muito o que falar,
estava completamente sem graça pela nossa
conversa no avião sobre a sexualidade dele e ele se
fechou.
Acho que também ficou envergonhado ou
coisa assim, depois disso, refleti muito e decidi
ligar para o Douglas.
—Chegou bem à Nova Zelândia?
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—Cheguei, mas acho que vou precisar que


reserve passagens para que eu volte.
—Voltar?
—É Douglas, voltar!
Não consigo disfarçar a ponta de raiva na
minha voz, eu acho que no fundo não sou boa em
lidar com coisas diferentes, também porque o Zeus
mentiu para mim, odeio mentira.
—O que houve? Ele te tratou mal?
—Ele é gay Douglas.
—Shiva tenha misericórdia.
Sorrio amargamente, me jogo na cama do
hotel, é um lugar simples, porém requintado.
—Mas ele te disse isso logo de cara?
—Disse, acho que não me sinto bem
também porque ele mentiu para mim, tinha dito que
não foi à casa de swing para se envolver com
ninguém e tal, só que ele foi.
—Está magoada?
—Me sinto enganada Douglas, achei que
essa seria a aventura da minha vida.
—Eu também achei, por isso deixei você ir.
Não pensei que me envolveria com o Zeus,
bem, nem sei o que pensei, mas tudo isso com
certeza não é o que eu esperava, até porque eu me
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baseei numa mentira contada por ele, confiei nele


para vir aqui.
—Não dou sorte mesmo. — suspiro.
—As flores do seu pai já chegaram e as
caixas com a nova coleção da sua mãe também.
—Legal — digo. — Pelo ou menos eu vou
poder ter o resto da semana bastante caixa para
desempacotar e você mais flores para cuidar.
—Quer passagens para que horas?
—As que estiverem mais próximas.
—Está bem, fique calma, sei que está
decepcionada, porque no fundo se encantou com
esse rapaz.
—Eu acho que confundi tudo, ele só queria
ser gentil comigo porque me viu mal por conta do
meu aniversário, uma pessoa sensata não teria
vindo, foi infantil da minha parte ter vindo sem
conhecer ele também, ainda bem que vai dar tempo
de eu voltar sem o papai saber.
—Ele não parece gay.
—Eu sei disso Douglas.
—Está triste?
—Um pouco.
Limpo as faces, é como se um desgosto
profundo me tomasse.
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—Um dia vai aparecer seu príncipe menina,


um rapaz que realmente te mereça.
—Obrigada pelas palavras de apoio
Douglas, quando reservar as passagens me liga tá?
—Está bem.
Escuto batidas leves na porta e logo em
seguida ela é aberta, me ergo, Zeus entra no quarto
carregando duas canecas, já posso sentir o cheiro de
café daqui, limpo os olhos.
—O bolo estava maravilhoso. — digo para
disfarçar.
—Ah, ele está ai — Douglas conclui. — Vou
reservar o mais rápido possível.
—Está bem Douglas, qualquer coisa me
liga.
—Ok, amo você Isis, se mantenha longe
desse safado mentiroso.
—Eu farei isso, te amo, tchau.
Desligo.
É mal do Douglas, ele toma as minhas dores
muito facilmente, acho que até ele se sentiu
enganado depois do que eu disse, deixo o celular de
lado e aceito a caneca de café que Zeus me oferece,
ele se senta na cama de frente para mim e fica me
olhando de um jeito enigmático.
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—Você estava chorando?


—Não — nego e bebo um gole do café. —
É que falar com o Douglas me deixa emotiva.
—Está tudo bem na sua casa? — pergunta.
— Seu pai chegou?
—Não tem que se preocupar Zeus, eu já
disse — falo. — E então, que horas começam suas
reuniões? Eu já posso dar uma volta na ilha?
—Porque está me evitando? Foi pelo o que
eu disse?
—Não estou te evitando Zeus — retruco
séria. — Eu só não esperava que você houvesse
mentido para mim.
—Eu sinto muito, mas com certeza você
não me deixaria me aproximar de você sabendo
quem eu sou de verdade e o que eu fui fazer
naquele lugar.
—Então é mentira sobre querer ser sócio do
papai?
—Não exatamente.
—Defina sua resposta de um jeito mais
objetivo?
—Eu e seu pai dividimos o mesmo circulo
de pessoas há algum tempo, porque temos as
mesmas preferências sexuais e alguns amigos
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incomuns.
—Amigos de Suruba você quer dizer.
—Você é tão mente fechada!
—Ata, quer dizer assim, eu vejo meu pai
numa suruba e tenho que achar isso legal porque se
eu não achar legal eu estarei sendo preconceituosa,
é isso?
Ele fica calado, não tem resposta, me irrita
muito isso.
—Você sabe quem realmente sofre
preconceito Zeus? Pessoas negras, moradores de
rua, travestis, homossexuais, lésbicas, pessoas
obesas, deficientes, o ranço que eu estou sentindo
por você e papai agora não é preconceito, é ranço
mesmo.
—Eu já disse que sinto muito.
—Eu nem sei por que você foi atrás de
mim, estava usando uma máscara, eu nem sei quem
você é de verdade — retruco. — O que queria? Se
divertir as minhas custas?
—Não — ele responde. — Me interessei
por você.
—Ah tá — bebo um pouco mais de café. —
Que mais? Não quer trazer algum casal ou sei lá
para essa cama para começarmos uma suruba?
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—Está sendo infantil Isis — ele replica num


tom irritado. — Eu realmente me sinto mal por ter
mentido, mas eu sabia que você nunca me receberia
sabendo de tudo o que eu sou, nenhuma mulher em
sã consciência deixaria, por isso eu preferi te dizer
a verdade no avião, porque confio em você, pensei
que fosse mais adulta, mas pelo visto você é só
mais uma garota mimada que não suporta a
verdade.
—A verdade? — pergunto. — Olha aqui
Pinóquio quem começou a mentir foi você, eu
nunca prometi ser nem disse que era nada que eu
não sou, que bonito você mentir para mim e depois
querer me culpar pela minha raiva.
—Raiva? Raiva porque Isis? Eu te prometi
alguma coisa?
—Não — respondo, pego meu celular, saio
da cama. —Olha, me desculpe, o convite foi muito
bom e a intenção também, mas não se preocupe eu
acho que é melhor você sair do quarto agora.
Ele se levanta da cama, me encara com
extrema raiva, vejo também que está frustrado ou
coisa assim.
—Você vai embora?
—Eu não te prometi nada Zeus.
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—É uma pena que você seja tão infantil.


—É uma pena que você seja tão mentiroso.
Zeus não diz mais nada, logo em seguida
ele sai do quarto parecendo que vai explodir,
quando passa pela porta bate ela com tanta força
que os quadros pendurados nas paredes laterais
pulam, não me movo.
Não tenho porque me sentir mal, não fiz
nada de errado, pelo contrário e é como ele disse,
ninguém prometeu nada a ninguém, pronto.

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—Não conseguiu passagem para casa?


Não me dou nem ao trabalho de responder.
Douglas conseguiu passagens para daqui a
três dias, porque para cá não é tão comum que as
pessoas venham, decidi não ficar no quarto e dar
um passeio pela ilha, estava me sentindo
claustrofóbica em ter que ficar lá, coloquei short e
uma camiseta, calcei chinelas, peguei meu celular e
protetor a carteira, peguei um mapa na recepção e
sai do hotel para um passeio, depois de alguns
momentos analisando toda a zona matada e os rios
lindos envolta daqui decidi sentar um pouco perto
da margem do rio e pensar, o dia está quente, acho
que já ficou bem claro que quero distância.
—Isis...
—Consegui, só estou esperando o horário
do voo — respondo olhando envolta. — O que
quer?
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—Vim para conversar.


—Ai chega de conversa, não aguento mais
essa ladainha, já entendi que você só queria ser
gentil comigo, o que mais quer que eu diga? Já sabe
a minha opinião, não adianta ficar discutindo por
isso.
—Está bem.
Ele se senta ao meu lado, vim para um
canto mais reservado, li no panfleto que o nome
dessa ilha é na verdade Marlborough, aqui onde
estamos é tipo o interior da ilha, a zona pitoresca e
de montanhas, o clima aqui é mais ensolarado e
quente, mas o lugar é bem silencioso, gostei daqui.
Estamos ao Sul da Nova Zelândia, cercados por
ilhas e lugares para se fazer trilha.
—Gostou do lugar? — Zeus questiona
ainda muito calmo.
Eu acho que ele é assim, alguém bem mais
calmo, queria ser assim em momentos de estresse,
se bem que ele quase derrubou a porta do meu
quarto há alguns instantes atrás.
—Sim — digo olhando envolta. — É
maravilhoso.
—Estou negociando com um grande
hoteleiro daqui, ele fala que não troca esse lugar
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por nada no mundo.


—Eu também não trocaria, aqui é perfeito.
Abraço as minhas pernas, apoio o queixo
nos joelhos, fico olhando envolta apreciando muito
o silêncio do lugar, toda a paz que me transmite,
estou mais calma também depois de ter saído do
quarto, acho até que é melhor assim, o Zeus
mentiu, mas pelo ou menos agora eu sei que ele é
assim como todos os homens que eu já conheci na
minha vida, um mentiroso safado sem vergonha.
—Isis eu...
Estendo a mão e coloco na boca dele, ele
para de falar, eu o fito.
—Eu não quero falar — determino. —
Você não entendeu?
—Mas eu quero falar — ele diz com a voz
abafada. — Não quero que fique irritada comigo,
sinto muito.
—Eu não estou irritada — tiro a mão da
boca dele. — Apenas não quero falar.
—Queria que essa viagem fosse algo bom
para você, como um presente de aniversário, sinto
muito, acho que estraguei tudo — Zeus desvia o
olhar. — Eu só não queria que você continuasse
brava comigo, eu não sou esse cara que você pensa
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que eu sou.
—Eu não penso nada — retruco. — Não
tenho o que pensar porque você e eu somos só um
erro de percurso.
—Isis, olha...
—Ai tudo bem que você é gay Zeus, eu
entendo que você gosta de poliamor, o que mais
quer me dizer? Pelo amor de Deus, eu não aguento
mais esse assunto! — corto.
—Eu não sou gay, eu sou bi...
—Tá, tá, tanto faz, da na mesma —
interrompo de novo. — Eu não quero me desgastar
com esse assunto ok? Já entendi, quero aproveitar
esse tempo para descansar e esquecer os problemas,
ok?
—Tenho um jantar importante com algumas
pessoas hoje à noite, você quer vir comigo?
—Melhor não — respondo. — Fique a
vontade para realizar seus negócios, eu não vou
atrapalhar em nada, faz de conta que foi uma
carona que você deu até aqui.
—Isis! — exclama e percebo sua ponta de
irritação. — Você está sendo infantil de novo.
—Eu não quero ir mesmo — aviso. — Pode
ir, eu vou ficar bem e também eu quero descansar
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um pouco.
Ele suspira, estende a mão na minha
direção, me ergo e levanto, me afasto.
—Vou para o meu quarto, bom jantar e
bons negócios.

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Decidi pintar as unhas, ouvir uma música,


como não tinha mais o que fazer fiquei por horas na
banheira da minha suíte, pedi ao serviço de quarto
comida e bastante chocolate a alguns momentos,
comprei uma garrafa de uísque, queria me sentir
um pouco mais adulta e independente em minha
primeira viagem sozinha.
Não via mais o Zeus pelo resto da tarde e
foi melhor assim, ainda é melhor do que ficar
olhando para a cara dele e pensando no quanto fui
idiota em só por um segundo acreditar mesmo, de
verdade que ele me trouxe aqui sem que fosse por
um grande favor ou pena.
A viagem foi um equívoco, mas bem, já
estou aqui mesmo, o que posso fazer se não esperar
pela viagem de volta?
Acho que já bebi pelo ou menos três copos
de uísque, eu odeio beber, depois da segunda eu
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nem sentia mais a minha língua, acho que ainda


não sinto, comi uns doritos, chocolates, agora estou
roendo aqueles mini salames que o papai adora
comer aos fins de semana.
Já ouvi No Air de Chris Brown com a
Jordin Sparks umas dez vezes, é a música da
derrota, para mim é a música da derrota, mas a
mais fofa que eu conheço desde a minha
adolescência, depois de Too Little Too Late da
Jojo.
Termino de pintar as unhas do pé, sempre
que estou entediada costumo pintar as unhas, estico
as pernas e as analiso, costumo gostar mais de rosa,
mas o Douglas enfiou um vermelho na minha
bolsa, até que não ficaram tão feias.
Escuto o som da tranca da porta e empurro a
garrafa de uísque para debaixo da cama depressa,
arregalo os olhos ao ver o Zeus entrando no quarto
de terno e gravata, ele me olha todo sério depois
fecha a porta atrás de si, carrega uma sacola de
papel.
—Trouxe o jantar, mas pelo visto você já
está bem servida.
—Pois é, eu peguei umas besteiras para
comer.
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Pego o controle da tv em cima da cama e


abaixo o volume, estou usando um camisão desses
de dormir, sei que meus cabelos estão bagunçados
porque eu lavei e sequei, mas não me dei ao
trabalho de prender eles. Ele se aproxima ainda
calado.
—Eu pedi lagosta com camarão para você.
—É muito gentil, obrigada.
Levanto-me e pego a sacola de papel,
coloco em cima do criado e começo a recolher as
embalagens que deixei espalhadas pelo quarto.
—Como foi o jantar?
—O mesmo do mesmo, você parece ter se
divertido mais que eu pelo visto.
—Eles têm uma banheira bem espaçosa, a
água é quente, eu gostei desse hotel.
Coloco todas as embalagens dentro da
sacola e recolho minhas coisas de pintar as unhas.
—Eu achei melhor ficar com uma cópia do
cartão do seu quarto, acho mais seguro.
—Tudo bem, sem problemas.
Pego a sacola e levo para a mesa de
refeições, me sento e começo a abrir, tão logo me
sento, ele já está diante de mim, se senta também
na cadeira ao lado da minha, não chega a ser
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incomodo, eu só não quero ficar falando sobre


aquele assunto, é ruim.
Decidi que não importa o que o Zeus faz na
vida privada dele, eu pensei bastante durante resto
da tarde e acho que o meu susto meio que foi
preconceituoso com ele, porque apesar de tudo eu
não sou uma pessoa que trata ninguém com
preconceito, talvez isso o incomode.
—Sinto muito pelo jeito como te tratei
desde cedo, não queria ter agido daquela forma,
mas me assustei e fiquei brava, foi muito gentil da
sua parte me trazer a essa viagem e você merecia
uma retribuição mais digna, não um tratamento tão
grosseiro. — digo de forma sincera.
—Está tudo bem — Zeus afirma. — Eu
entendo o seu lado.
Faço que sim com a cabeça, abro as
caixinhas de isopor e pego garfos de plástico,
camarão e carne de lagosta desfiada, tudo cheira
muito bem e está quentinho.
—Que dia você vai embora?
—Depois de amanhã pela manhã, o Douglas
conseguiu passagens para as sete, vou de táxi até a
pista de voo.
—Têm certeza de que quer ir embora?
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—Tenho sim e também o meu pai vai voltar


de viagem, foi uma boa aventura enquanto durou.
—É por causa da minha sexualidade que
você não quer me conhecer?
Coloco uma garfada na boca, mastigo a
força com a pergunta, não tem como eu dar uma
resposta sem que eu soe rude, então fico calada
mastigando a comida que tinha me feito salivar,
agora enquanto mastigo parece isopor velho.
—Não sou muito bom nessa coisa de falar
sobre namorar, eu nunca tive uma namorada.
Engulo a comida a força.
—Eu já tive alguns casos, mas não sou a
figura perfeita para se ter um relacionamento.
—Não entendo onde quer chegar com esse
assunto.
—Tem outra forma de eu falar que me
interesso por você?
—Por mim?—franzo a testa.
—Sim, por você.
Fico alarmada, mas tento não aparentar.
—Isis eu sei que você tem todos os motivos
do mundo para não querer ter um relacionamento
comigo, mas antes que novamente você se afaste de
mim quero te pedir que me dê à chance de que me
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conheça primeiro.
—Uma chance?—repito arqueando as
sobrancelhas.
—É — ele diz. —Porque não?
—Porque não?—repito novamente me
sentindo nervosa.
—Não precisa ter medo.
Ele estende a mão e segura a minha, não me
movo, Zeus me olha de perto, fico imóvel, se quer
consigo respirar direito.
—Escuta, que tal você esquecer toda a
merda que eu te disse e me deixar chegar mais
perto de você?
—Bem. — digo baixinho depois não sei o
que dizer.
—O que? — ele aperta a minha mão. —
Você sabe que eu te quero Isis, por isso te trouxe
aqui.
—Para transar? Meu Deus! — arregalo os
olhos horrorizada.
Os lábios dele se abrem em um sorriso
franco e bem-humorado, Zeus vai ficando vermelho
demais de repente.
—Você não filtra o que diz não menininha?
—Eu filtro, mas é que eu estou impactada.
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— confesso chocada.
—Gosto de você, da sua essência, você é
verdadeira.
—Zeus você gosta mais de mulheres ou de
homens?
—Eu não costumo gostar de ninguém pelo
gênero, eu apenas gosto das pessoas e pronto, mas
me atraio mais por mulheres.
Sinto-me curiosa, acho que depois de tudo o
que ele me disse, eu realmente quero saber mais e
está sendo à primeira vez que falamos disso e não
fico brava.
—Você sai com homens com frequência?
—Não.
—Então com que frequência namora um
cara?
—Eu não namoro caras Isis, eu divido a
cama com eles e as mulheres deles.
—Então não entendi nada, você não disse
que é bissexual?
—Bem, eu me considero.
—Mas não sai com homens?
—Não, eu saio com casais.
—Ah, mas e... Quando... Hum...
—Não!—determina ele estreitando os olhos
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para mim. — Você quer saber se eu já transei com


homens?
—É.
—Não exatamente.
—Você está sendo muito evasivo e nada
objetivo.
—Se você me prometer que não vai me
cobrir de julgamentos e parar de me olhar com
tanto nojo, prometo que te explico como tudo
funciona.
—Sinto muito — digo constrangida. —Eu
não queria...
—Está bem, vamos fazer o seguinte, eu
conto sobre a minha história para você e você conta
um pouco sobre você para mim, sem julgamentos,
sem preconceito ok?
—Está bem, feito.

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—Porque a sua suíte é maior que a minha?


—Porque ela é de casal.
Olho envolta muito mais que maravilhada,
Zeus tranca a porta atrás de mim, a suíte dele fica
no final do corredor, ele me convidou para vir até
aqui para conversarmos melhor, decidi que não irei
mais julgar ele antes de ouvi-lo, porque afinal de
contas, ao menos agora ele está sendo sincero
comigo.
Aproximo-me da cama king depois me
sento analisando a mobília mais sofisticada, a
lareira, no quarto onde estou hospedada não tem
lareira, apesar de ter o mesmo modelo deste, de
longe esse é bem maior. Zeus tira a gravata e o
terno, logo em seguida joga na poltrona ao lado da
cama e tira os sapatos, ele começa a abrir a camisa
social branca que usa, desvio o olhar.
—Eu havia alugado só este quarto para
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mim, liguei de última hora para reservar um quarto


para você, por isso o seu é menor.
—Ah.
Ele se senta ao meu lado na cama, fico sem
graça, não tenho assim tanto assunto quanto queria,
estou esperando que ele fale primeiro, minha vida
não é lá essas coisas em nenhum sentido, sou tão
interessante quanto uma vela apagada, não me
considero feia, sei que possuo alguma beleza, mas
isso para mim nunca foi nenhum requisito de
qualidade.
Na verdade, às vezes quando penso na
minha vida me sinto uma afortunada em muitos
sentidos, nasci branca, numa família de milionários,
cheia de privilégios, nunca passei nenhuma
dificuldade na vida, então sim, sou grata aos meus
pais por isso, mas títulos e riqueza para mim e nada
são a mesma coisa.
—Posso começar com as perguntas? —
Zeus questiona.
—Aham — digo um pouco nervosa. — O
que quer saber?
—Você já teve namorados?
—Tive uma criação islâmica, acha que eu
tive namorado Zeus?
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—Seu pai te prende muito!


—É coisa de tradição e também eu dediquei
e dedico a minha vida a muitas causas sociais, não
acho que ter um namorado seja uma prioridade, e
você?
—Eu tive alguns rolos na vida, mas não tive
namoradas sérias, ao menos nenhuma que
apresentei aos meus pais.
—Seus pais sabem da sua vida?
—Não — ele enrijece. — E só de pensar
que eles saberiam, já fico todo nervoso, respeito
muito meus pais, eles são tudo para mim.
Poxa, queria poder falar isso dos meus pais,
ainda mais com tanta paixão na voz.
—Então você nunca namorou ninguém —
ele conclui. —, mas já beijou algum homem.
—Beijei — olho para as minhas mãos. —
Você.
—Que? — berra ele nervoso.
—Ué! — exclamo apavorada. — Você me
beijou, o que queria que eu fizesse?
—Você nunca beijou nenhum homem antes
de mim Isis? — Zeus arregala os olhos todo
agitado.
—Não — respondo. — Porque está assim?
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—Pelo amor de Deus Isis, você tem 29


anos!
—Hei, você disse que não me julgaria nem
eu a você.
Ele franze a testa, me encara negando a
cabeça, eu acho que ele não gostou nenhum pouco
de saber disso, só não sei por que, sou normal e não
tenho mal hálito... Tenho?
—Minha nossa, então você é virgem
mesmo.
—Eu pensei que não haveria julgamentos, é
algum tipo de pecado que meu pai tenha uma
religião e que eu o obedeça?
—Não, mas é que bem, minha nossa Isis —
ele passa a mão no pescoço. — Como faremos
isso?
—Temos que fazer alguma coisa?—
pergunto severa.
—Espero que sim. — ele anuncia.
Minhas faces queimam, porque agora sem
nenhum rodeio Zeus está me dizendo claramente
que quer algo comigo.
—Você não me disse como funciona para
você nos cabarés que frequenta também — insinuo
tentando mudar o foco do assunto. — As surubas e
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tal.
Ele ri, contrariado, mas ri.
—É que bem, não é tão simples explicar —
Zeus coça o queixo. — Como posso de dizer isso
sem que fale nenhum palavrão e a ofenda?
—Hei, eu sei falar palavrão — replico. —
Coisas do tipo “mas que grande merda”, “foda-se
você seu maldito”.
Zeus continua a rir, me esgueiro na cama e
vou para trás me esticando, me encosto nos
travesseiros, ele se estica do meu lado e fica
sentado também me olhando ainda com esse sorriso
que me faz sentir o coração vindo a garganta.
—Não tive muitas oportunidades na vida de
conhecer homens, meu pai me criou para ceder às
vontades de um homem, ele é meio machista sabe?
—pergunto ao concluir algumas coisas. — Eu não
sei me expressar bem porque nunca tive amigos, só
o Douglas, você viu o quão animados são meus
aniversários, por mais mimada que eu pareça, eu
sempre tento ser o melhor que posso para que meus
pais me admirem e me vejam com um pouco mais
de respeito, mas isso não acontece, porque mamãe
foi embora e papai me trata como se eu fosse uma
coisa, então sim Zeus, eu sou virgem, isso para
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mim não faz muita diferença, até porque eu nunca


me senti atraída por ninguém nem nada.
—Eu frequento casas de swing desde que eu
tinha 18 anos, meus pais nunca souberam, eu fui a
primeira vez com um amigo da faculdade depois
aprendi a ir sozinho, no início era mais pela
aventura e para ver, coisa de moleque, depois eu
comecei a me envolver com algumas pessoas e
aprendi a gostar do estilo de vida.
—É mesmo? E como é? É sempre daquele
jeito que eu vi na festa de máscaras?
—Nem sempre — Zeus desvia o olhar. —
Poxa agora estou envergonhado de falar sobre mim
para você.
—Por quê? — indago. — Vai, fala, quero
saber sobre suas aventuras noturnas.
—Gosto de dividir as mulheres com outros
homens, tenho um amigo e fazemos isso com todas
as mulheres que conhecemos nas casas de swing
que frequentamos — seu olhar se torna mais denso.
— É o Thomas, eu o conheci há alguns anos, ele
tem 32 anos, nós dois também nos relacionamos
um com o outro ás vezes.
—Como amantes?
—Eu diria que é uma amizade com muitas
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cores, mas sim, não é como você pensa, é que não é


fácil de explicar.
—O que não é fácil de explicar Zeus?
—Que eu gosto muito dele, é meu melhor
amigo, mas comecei a me sentir atraído por você,
ele é bi também, nós dois nunca tivemos relações,
mas trocamos beijos, carinhos.
—Entendi.
Fico constantemente sem palavras quando
ele me fala essas coisas, nunca vivenciei algo
assim, como poderia saber o que falar?
—Ele é um parceiro formidável na hora do
sexo, gosto disso nele, mas não é como olhar para
você Isis, não sei explicar, coloquei os olhos em
você e não consigo ver mais nada além de você.
—S-sei. — gaguejo.
—Eu não tenho relações monogâmicas, isso
é tão complicado de te contar, apenas gosto de sexo
com outras pessoas na cama.
—Você e esse rapaz, o Thomas, são como
namorados é tipo isso? Namorados que meio que
tem um relacionamento aberto?
—Eu nunca transei com nenhum homem
Isis.
—Eu só não estou entendendo porque você
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está se contradizendo tanto.


—Não houve penetração, mas eu deixo
muitas vezes eles me tocarem, chuparem o meu...
—Tá, tá, entendi, entendi! — berro de
imediato. — Ok, entendi tudo.
Zeus fica calado, me estico na cama e me
deito ficando de lado, é que realmente essa situação
parece bem complicada.
—Vocês dois dormem juntos? — pergunto.
—Só quando saímos para algum encontro
— ele estende a mão e toca minha bochecha com o
indicador. — Dorme aqui comigo hoje?
—Eu não estou te julgando Zeus...

—Eu sei que não, sei que você ao menos


está me ouvindo, mas dorme comigo hoje, ao
menos como minha companhia.
—Sim, claro.
—Tenho certeza de que você adoraria
conhecer o Thomas, ele é um cara legal e divertido,
faz piada de tudo.
—Você está me propondo que eu fique com
vocês dois?
—Por enquanto só comigo.
Engulo a saliva e puxo os cobertores me
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cobrindo até o pescoço.


—Sinto muito Isis, que cara complicado que
você escolheu para viajar hein? — Zeus me dá um
meio sorriso, parece triste.
—Tudo bem — respondo. — Eu entendo.
Agora um pouco melhor.

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Abro os olhos, estou agarrada a um


travesseiro, Zeus está me apertando embaixo de
todos esses cobertores, permaneço do jeito que
estou, o braço dele está envolta de mim, sua mão
pousada em minha barriga, minha cabeça apoiada
em seu outro braço, as pernas dele estão em cima
das minhas, seus pés entre os meus, está quentinho
aqui.
Não posso negar, em minha primeira
experiência dormindo com um homem na cama,
literalmente esta é forma mais gostosa de se
acordar logo pela manhã, ter alguém juntinho, me
esquentando, nunca pensei que seria assim em
nenhum sentido, sinto o calor de sua respiração em
minha nuca, isso causa arrepios no local, em toda a
minha pele me deixando ouriçada.
Olho para baixo e analiso sua mão pousada
em minha barriga, é grande, morena, tem unhas
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arredondadas, algumas veias nas costas das mãos,


os dedos são compridos, nunca se quer deixei um
homem me tocar na vida, acho que se papai visse
uma coisa dessas ele teria um enfarto.
Zeus se move na cama, fecho os olhos e
fico quieta, ele esfrega a barba por fazer na minha
nuca, minha pele é lentamente arranhada e isso faz
cócegas, me encolho oprimindo o riso.
—Então você tem cócegas — escuto ele
falar baixinho. — Acorda dorminhoca.
—Eu já estou acordada para sua informação
—retruco e me viro ficando deitada de costas, ele
não me solta. — Bom dia.
—Bom dia — ele diz e sua mão desliza para
minha cintura. — Vem cá, eu não mordo.
—Sei que não. — concordo e me
aconchego.
Fico de lado e Zeus me abraça com carinho,
beija a minha cabeça, ele é tão carinhoso, acho que
até gosto disso nele, ele é um cara legal apesar de
todos os podres que compartilhamos ontem, ao
menos como pessoa, me trata bem, muito bem.
—Esfriou bastante. — ele diz baixinho.
—Eu também senti a diferença, ontem
estava mais quente. — concordo.
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A pontinha do meu nariz está gélida,


encosto em seu peito e esfrego, ele cheira a algum
tipo de fruta mais cítrica, tem um cheiro bom, acho
que não quero me preocupar com formalidades
agora, o Zeus e eu já somos bem mais que
conhecidos, mais que amigos, não sei o que somos,
mas com certeza somos bem mais que apenas
estranhos.
Sua pele é tão quente, lisa, ele ainda usa as
roupas de ontem, dormiu com as roupas que estava
usando quando chegou, abriu alguns botões da
parte de cima da camisa e tirou a gravata, tirou o
cinto e dormiu assim.
—Acho que preciso de um banho quente —
ele diz baixinho. — Quer vir para banheira
comigo?
—Quanta ousadia. — respondo quieta.
Estou envergonhada com o convite, mas ao
mesmo tempo bem surpresa, ele ri, claro, é homem
vive muitas aventuras e tem toda essa coisa de ser
libertino, para ele deve ser normal ver pessoas
nuas, bem, não é assim no meu mundo.
É natural no ocidente que algumas mulheres
logo de cara transem com um homem no primeiro
encontro, no entanto aqui se uma mulher transar no
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primeiro encontro com um homem em um primeiro


encontro, ela é tarjada como prostituta.
Zeus está me fitando neste momento, ele
toca a minha face e afasta alguns fios de cabelo que
caem no meu rosto, ele olha para a minha boca por
alguns segundos, meu coração fica disparando com
o jeito como ele olha.
A mão dele toca o meu maxilar e sobe para
a minha orelha, ele então a toca com a ponta dos
dedos, fecho os olhos sentindo um friozinho na
barriga por causa do toque e assim de repente sinto
algo quente e úmido de encontro aos meus lábios.
Recuo e abro os olhos, mas a boca dele
explora a minha devagar, primeiro com pequenos
beijos, para logo em seguida a língua se enfiar na
minha boca, ergo a mão e toco sua face tentando
corresponder, beijar é uma sensação estranha, mas
tão... Gostosa.
O frenesi em si de beijar, a emoção, coração
acelerado, frio no estômago, será que demorei
demais para deixar que alguém me beijasse e estou
maravilhada demais com esse momento?
Fecho os olhos e movo os lábios com os
dele, tenho receio de morder a língua dele, é tão
experiente, quente, ele me puxa e rola na cama me
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deixando deitada em cima dele, suas mãos tocam as


minhas costas, sobem e descem por meu corpo me
deixando com calor.
Acabo ficando sem ar devido ao beijo e me
ergo tentando criar forças para me afastar, Zeus me
olha confuso.
—Me desculpe eu acho que passei dos
limites.
—Não passou não — retruco. — Fique sem
ar.
—Ah—ele me dá um daqueles sorrisos
francos. — Isso é ruim?
—Não. — estou envergonhada.
—Me deixa fazer uma coisa, sim?
—O que é?
—Não tem graça se eu falar.
—Pode falar Zeus.
—Quero te chupar.
Minhas bochechas queimam, logo de
imediato penso em recusar.
Poxa, ele é tão direto quanto a isso!
—Quero te mostrar o lado legal de se ter um
namorado Isis.
—Estamos namorando? — arregalo os
olhos.
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—Claro que estamos.

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—Você não vai dizer nada?


—Eu ainda estou absorvendo o que você
acabou de falar.
É que ainda é complicado e complexo a
velocidade de tudo.
Não pensei que iria começar a conhecer um
cara a essas alturas da minha vida tão pouco que ele
fosse querer logo de cara namorar. Também não é
algo ruim e concluir isso me faz sorrir.
—Você quer namorar comigo é? —
questiono.
—Eu já estou namorando com você —
responde ele em tom de esclarecimento. — Ou
você já tem outros pretendentes?
—Bem, é que eu preciso pedir ao Douglas
para olhar, a lista é bem extensa. — retruco
achando graça.
Zeus me dá um sorriso descontraído, algo
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dentro de mim se torna tão vivo perto dele, é


estranho sentir que no meu coração guardei um
pouco de raiva, mas que agora com nossa
aproximação e conversas estou mais segura nesse
sentido.
Porque eu sei que o Zeus tem a vida e o
passado dele, não sei como faremos em relação a
isso, mas ele também me quer com ele, em sua vida
e apesar de difícil de saber como lidar com tudo,
não acho que seja impossível.
—Você é linda Isis — ele toca a minha
face. — Já te disseram isso?
—Não muito, mas obrigada.
Papai fala que sou muito bonita, mamãe me
chama de “boneca” e o Douglas também diz que
sou muito linda, mas não considero a minha beleza
algo extraordinário, me acho comum.
Olhos azuis escuros, cabelos para um tom
mais avermelhado ondulados, mais longos, lábios
pequenos, nariz sem plástica, sobrancelhas
proporcionais e mais grossas e branca que nem uma
vela, tenho 1,63 de altura, também não sou das
mais altas, infelizmente.
—Quero te apresentar aos meus pais—Zeus
diz baixinho e afasta meus cabelos para trás do
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rosto. — O que acha?


—Como eles são? Conservadores ou
liberais? — questiono já curiosa.
—Bom, tem uma coisa, meu pai é mudo e
surdo—Zeus explica mas bem próximo de sentir
orgulho disso. — Mamãe é a mamãe e meu irmão
Hades é casado, a Affie não.
—De onde seus pais tiraram esses nomes?
—pergunto querendo rir. — Pelo amor de Deus.
—Affie é diminutivo de Afrodite e não ria,
papai é historiador com especificações em
mitologia grega, ele sempre amou isso, também é
Grego, ele e mamãe, eu inclusive nasci lá, também
sou da Grécia.
—Poxa! — exclamo maravilhada. — Eu
nunca fui à Grécia, confesso que é um dos poucos
países que não conheci.
—Minha família é toda de lá, mas mamãe
também tem um pé em Gales por parte dos meus
avós.
—Deve ser fascinante ter tantos parentes
por perto.
—Meus avós moram basicamente conosco,
o H construiu uma casa no terreno dos meus pais,
ele e a Viviana moram lá desde que se casaram,
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minha sobrinha nasceu a apenas há um mês, ela se


chama Megan.
—E como ela é?
—Ah, ela é perfeita, tem olhos grandes e é
meio carequinha — seus olhos brilham enquanto
fala da sobrinha. — Ela é muito pequena ainda
sabe? Ela é parecida com o H.
—H é o Hades.
—É, mamãe sabia que tínhamos um pouco
de vergonha na infância então nos colocou
apelidos, o meu é Z, o do Hades é H e o da Afrodite
é Affie, eu nunca me importei com as chacotas,
mas o H meio que se doeu porque ele também
herdou do papai problemas de audição.
—Eu falo a língua dos sinais, aprendi no
curso de letras há alguns anos. — Estou contente
em dizer isso.
—Sério?
—Sim, é matéria obrigatória e também
como eu faço trabalho humanitário eu queria não
me sentir limitada em nenhum sentido.
—A Viviana também fala, foi muito bom
quando ela entrou para família, ela e o meu irmão
são casados a 3 anos se não me engano.
O Zeus realmente gosta das pessoas de sua
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família, ele sorri enquanto fala deles, tem uma


admiração incrível em seu olhar, não dá nem para
pensar que ele é um desses caras que gostam de
ménage, confesso que isso é algo que estou
gostando demais de saber dele, de conhecer, esse
lado dele que tem nítida a ideia de zelar pela
família.
—Você topa esse desafio de conhecer
minha família? Não prometo nada, quando eles se
juntam parece que a conversa é infinita, mamãe fica
gritando com todo mundo como se ainda fôssemos
crianças e meus avós são indiscretos, mas são
pessoas maravilhosas, a Affie é uma intrometida
e...
—Eu topo — corto entusiasmada. —
Quando conhecerei eles?
—Sério? — pergunta surpreso.
—Você vai me apresentar como sua
namorada ou como sua companheira de ménage?—
pergunto em tom de brincadeira.
—Que tal como os dois? — indaga e
começa a me beija devagar.
Fico rindo, minhas mãos se enfiando em
seus cabelos, minha boca se movendo com a dele
lentamente, beijar é muito bom, muito melhor que
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falar.
—Sua sapeca. — ele me aperta e suas mãos
estão descendo para as minhas nádegas.
Ele aperta e meu corpo sobe, deixo seus
lábios e o fito.
—Podemos esperar um pouco mais? —
pergunto incerta. — Eu não sei se estou pronta para
isso.
—Claro que podemos, é que eu sou um cara
bem tranquilo nesse sentido, gosto de ter liberdade
na cama com quem quer que seja.
—É que você falou a pouco sobre aquela
coisa.
—Sobre te chupar?
—Zeus! — exclamo e o calor sobe as faces,
ele começa a rir. — Não têm graça!
—ah, mas eu quero mesmo — retruca. —,
mas eu posso esperar o seu tempo menininha.
—acho que se meu pai nos visse assim,
mataria você.
—Você tem 29 anos Isis, tem que viver a
sua vida, se livrar desse conservadorismo no qual
seus pais te enfiaram.
—Sim, você tem razão.
Muita razão neste sentido, até porque papai
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é conservador, mas de conservador não tem nada.


—Meu banho ainda está de pé. — ele diz
com um pouco de malícia na voz.
—A minha resposta ainda é não. — digo.
—Seria só um banho desses sensuais que
vemos todos os dias na tv, o casal só se lavando e
tal...
—Eu acho que não ando vendo muita tv. —
retruco e ele ri.
Sei que está brincando.
—Gosto de você Isis — ele me encara. —
Gosto de ficar com você, você é tão franca e direta,
nunca encontrei ninguém assim em minha vida.
—Eu também estou aprendendo a gostar da
sua companhia, mesmo que às vezes eu queira te
enforcar pelas coisas que você me fala.
—Não seria eu se não dissesse, não mentiria
sobre isso para você nem para te enganar, seria
muito fácil me aproveitar da sua inocência em cima
de uma mentira, já menti para você uma vez e isso
te afastou de mim, não é isso o que eu quero.
—Não?
—Não.
—E o que quer?
—Quero algo sério, quero você!
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—Tipo namorar sério?


—Sim.

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Zeus pediu nosso café, viemos para a mesa


de refeições de sua suíte e estamos comendo, fico
mentalmente presa às expectativas quanto ao nosso
namoro, estou mesmo levando a sério o que ele me
disse.
Sei que papai possivelmente irá dar um
chilique, mamãe será indiferente, ela sempre é
indiferente, e o Douglas... Torço para ele não
surtar, porque afinal de contas o Zeus é diferente da
maioria dos outros homens no mundo.
Ele não é como os outros, não sei se posso
chamar de defeito o fato dele gostar de transar na
presença de outros caras, mas é complicado demais
quando paro para pensar que tem mais pessoas na
vida dele.
Thomas.
Não gosto da ideia também dele ficar muito
perto do Zeus, como seria isso?
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—E como seria com o Thomas? —


pergunto curiosa.
Não resisto, quero saber sobre isso, como
será, afinal de contas, ele está deixando bem claro
que tem outra pessoas na vida dele, seja parceiro de
sexo ou seja lá o que for, a verdade é que paro para
analisar a situação e me sinto meio louca em aceitar
namorar alguém como Zeus.
Nunca nem tive um namorado na vida e
logo de cara terei que dividir sua atenção com outra
pessoa? Isso é uma hipótese? Não é certo?
—Eu não sei — Zeus responde num tom
franco. — Sinceramente não tenho pensado nisso,
estou deixando as coisas acontecerem.
—Entendo.
—Escuta Isis, nem todas as mulheres com
quem eu sai nos últimos meses dividi com ele, ele é
um amigo que gosta das mesmas coisas que eu,
mas nem sempre estamos juntos, ele tem a carreira
dele e eu o meu trabalho.
—Mas vocês se veem com frequência?
—Só quando vamos a alguma casa noturna
atrás de diversão.
—Mas você vai continuar perto dele mesmo
estando comigo?
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—Eu não fico perto dele 24 horas Isis, nos


vemos de vez enquanto, só te disse sobre nós
termos mais intimidade porque eu não quero que
você saiba por mais ninguém.
—Não é discreto?
—Sou, mas conheço muitas pessoas que
não gostam de mim e que podem falar isso para
tentar me prejudicar.
—É complexo parar para pensar em você
com outra pessoa ou com duas ao mesmo tempo,
não sente ciúmes?
—Como poderia sentir ciúmes de algo que
não é meu Isis? As mulheres são dos outros homens
não minhas.
—Nem do Thomas?
—não amo o Thomas, minha relação com
ele é pura e totalmente de amigos mais íntimos,
tenho um certo carinho por ele, mas nada além
disso.
Zeus é muito verdadeiro agora, está abrindo
o jogo, deixando tudo claro, prefiro assim.
—Ru compreendo que seja diferente —
confesso. — Só me assustei porque eu venho de
uma cultura diferente, fui ensinada que a mulher foi
feita para ser só de um homem e vice e versa.
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—Eu também fui, tive uma educação


Católica, meus pais são agnósticos, mas sempre nos
deram total liberdade para que nós três
escolhêssemos o que queríamos para nossas vidas.
—Não tive muita chance de escolha—
encolho os ombros e bebo o resto do café. —, mas
por conta da minha mãe ter se imposto mais papai
também não me proibiu de seguir o Cristianismo.
—Não tem contato com ela?
—Quase nunca, ela é estilista, não tem
tempo.
—Tenho mais uma reunião hoje pela tarde,
logo em seguida posso ficar de folga.
—Mas nesse frio eu só vou querer ficar na
cama — respondo. — Vou para o meu quarto
tomar um banho.
—Porque não usa meu banheiro?
—Tenho que pegar minhas coisas.
—Vou pedir que alguém do hotel traga para
você.
—Está bem.
Ele se inclina e me dá um selinho.
—Você é um cara muito carinhoso Zeus.
—É mal de família, você não gosta?
Estico-me e o abraço pelo tronco.
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—Adoro.

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—O que está fazendo ai hein mocinha?


Estou escovando os dentes porque dormi a
tarde toda e acabei de acordar, oprimo o sorriso e
lavo a boca, eu a seco com a toalha de rosto e me
viro, Zeus está na porta do banheiro, terno, gravata,
sapatos que reluzem, coisas das quais fazem parte
do mundo do meu pai e que desde cedo achava um
tédio... Até agora.
Ele fica muito bem de terno, sexy e
charmoso, não sei se é porque é mais velho que eu,
mas ele é um cara muito viril, é masculinizado, mas
não em excesso, não sei, ele tem alguma coisa que
me agrada, com ou sem terno.
—Como foi à reunião?
—Chata e aqui?
—Tudo normal, eu acabei de acordar.
—É o fuso, faz isso com a gente.
—Eu acho que sim, mas também porque
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esfriou bastante, pensei em pedir uma sopa.


—É uma boa ideia.
Ele começa a frouxar a gravata, então a tira
e vem desabotoando a camisa, tirando o terno, fico
totalmente sem jeito, me encosto na pedra do
lavatório sem saber o que falar, se devo voltar para
o quarto agora ou permanecer aqui.
—Quer tomar um banho? — pergunta com
naturalidade.
—Melhor não. — fico vermelha, não é
intencional.
—Isis eu não vou tentar nada. — ele
protesta e joga o terno junto com a camisa para
longe.
Ergue-se, ombros largos, peito firme,
barriga definida, braços mais torneados, ele se
aproxima e vou sentindo que meu coração pula
com a visão, exceto pelo Douglas e pelo papai,
poucas vezes tive a oportunidade de ver um homem
sem camisa pessoalmente, melhor, quase nunca e
digamos assim que o Douglas e papai, não são
figuras genuínas de beleza, papai é barrigudo,
Douglas tem peitos caídos, se é que posso chamar
aquilo de peitos.
—Não precisa ter vergonha. — ele insiste e
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desafivela o cinto.
—Eu nunca fiquei nua na frente de ninguém
— confesso juntando as mãos. — Seria estranho.
—Porque seria estranho? — suas
sobrancelhas se erguem.
—Bem, não sei. — meus ombros sobem e
descem e não consigo parar de olhar para ele.
—Você já usou biquíni alguma vez na vida?
—indaga.
—Uso, mas só em casa, quando papai está
por perto uso maiô e um short, só quando ele viaja
que eu nado de biquíni, mas não vou à piscina
regularmente.
—Entendo — ele segura os lados da calça e
a puxa para baixo, tapo os olhos com as mãos. —
Senhor, Isis! Você nunca viu um homem nu?
—Não assim, só em aulas de anatomia —
confesso apertando os olhos. —É melhor eu ir para
o quarto.
—Eu prometo que não vou tentar nada que
você não queira, queria chegar e tomar um banho
com você, na banheira.
Isso é tão imoral e tão tentador.
Escuto os passos dele vindo em minha
direção.
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—Tudo bem Isis, vai para o quarto.


Não é bem uma chateação em sua voz, é
mais como se fosse um tom de tristeza, não sei
explicar, escuto o som da porta do box se fechando
e logo em seguida o barulho do chuveiro, tiro as
mãos dos olhos e fico olhando para o chão do
banheiro, não queria problematizar essa situação
nesse sentido, ou melhor, em nenhum sentido
porque imagino que sejamos como polos opostos,
mas isso não deveria ser um problema para nós
dois.
Estou conhecendo esse cara que me tirou da
casa do meu pai para vir para essa viagem meio
doida, ele quer namorar comigo, quer me
apresentar para sua família, apesar de ter mentido
inicialmente agora ele está sendo verdadeiro e
carinhoso comigo, mas ainda me sinto presa aos
medos que me mantém um pouco afastada dele.
Não quero sentir que em nenhum momento
evito ele por medo, mas também não quero me
precipitar, fico dividida.
Zeus faz isso comigo, ele me faz sentir na
pele o peso de poder escolher as coisas, porque
apesar de ser complicado é mais fácil em muitos
sentidos obedecer às ordens do meu pai, ele manda
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e eu obedeço, é simples, mas o Zeus não, ele me


pede e me da opção de escolha.
Isso sim é um desafio, saber escolher a
coisa certa, o melhor a fazer.
Fico olhando para o chão dividida entre o
certo a fazer o que fazer em si, o que eu posso
considerar certo para a minha vida, porque talvez
esteja tão acostumada a viver a vida da forma que
me foi determinada e imposta que não saiba
exatamente se de fato é o que eu quero ou o que
devo fazer.
Respiro fundo, claro, tenho certeza de que
devo sair desse banheiro agora, é o certo a fazer,
mas me vejo tirando a calça de moletom e a
camiseta, depois o sutiã e a calcinha, porque além
da certeza de sair, muito mais vontade tenho de
ficar, curiosidade eu acho.
Aproximo-me do box e olho o reflexo do
homem alto de costas para mim, não dá para ver
muito por causa da fumaça, o box tem vidros
escuros também, sopro bem devagar, depois
empurro a porta e entro no box, é bem espaçoso e
tem dois chuveiros, estou nervosa, um pouco
trêmula, eu o observo ainda de costas para mim em
meio a fumaça, os cabelos escorrem na nuca dele,
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compridos e lisos, ele tem costas largas.


Dou dois passos e o abraço por trás, eu não
sei bem o que fazer, não tenho experiência, não sei
o que vem a seguir, mas eu confio no Zeus, sei que
ele não vai me machucar nem me olhar de forma
diferente.
Sentir o corpo dele colado no meu é uma
sensação estranha e convidativa, ele é quente
demais, está molhado, meus seios estão encostados
em suas costas, minha barriga em suas nádegas.
Zeus coloca a mão sob a minha e entrelaça
os dedos nos meus.
—Tudo bem. — ele diz baixinho, sua voz
ecoa pelo banheiro.
—Eu sei—digo por mais trêmula e nervosa
que esteja.
Ele se vira ainda segurando a minha mão,
logo, ele me fita, não olha para o meu corpo nem eu
para o dele e ficamos assim por alguns instantes,
meu coração parece que vai sair pela boca.
—Você é perfeita Isis. — fala e então me
beija.
Ele aperta os dedos entre os meus e ergue as
nossas mãos juntas, sua boca devora a minha
lentamente, sua outra mão desliza pelo meu braço e
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me segura pela cintura, ele me puxa e nossos


corpos se encontram, quando meu corpo toca o dele
fico tensa, mas a tensão é abandonada quando sua
mão sobe para a minha nuca e a aperta soltando
meus cabelos do coque, é gostoso, me arrepio toda.
Zeus deixa os meus lábios, ele começa a
beijar meu pescoço, fecho os olhos inclinando a
cabeça para trás, adorando cada pequeno arrepio
que ele me proporciona com seus beijos, um calor
forte vai me tomando o pé da barriga.
—Posso te tocar Isis?
—Pode. — a palavra quase não sai.
—Onde eu quiser?
—Sim.
—Promete que não vai ficar se esquivando
de mim depois?
—Não vou me esquivar.
—Não está pronta Isis...
—Mas eu quero, quero te conhecer melhor,
quero tentar tomar minhas decisões sozinha.
—Não teremos volta.
—Eu aceito.

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Estou um bocado nervosa, Zeus se afasta e


pega um frasco de sabonete líquido na parede
embutida, ergo as mãos e toco os seus braços, tem
pelos mais escuros, mas não muitos, olho para seu
peito e o toco também com a ponta dos dedos, sinto
a firmeza.
—Os peitos do Douglas não são tão
durinhos assim. — digo lembrando daquela visão
infernal.
Zeus começa a rir, ele me dá um selinho.
—Sério? Eu jurava que ele malhava —
Zeus fala todo sorridente.
—Bem, ele faz meditação e ioga, mas acho
que o Douglas não curte muito essa coisa de
malhar. — confesso.
—Eu gosto de me exercitar quando tenho
tempo — ele abre o frasco e coloca um pouco do
liquido na mão. — você não gosta?
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—Não, odeio na verdade — suspiro e


continuo a olhar para o peito, pressiono os dedos.
— Nossa, é durinho mesmo!
Ele sorri devagar, esfrega as mãos e as
coloca nos meus ombros, seus polegares
pressionam os músculos e elas vão descendo para
baixo fazendo espuma, meu coração fica
disparando quando as mãos imensas cobrem meus
seios, cada centímetro da minha pele se arrepia com
o toque, meus mamilos ficam rijos.
Seus lábios tocam os meus, mas é um beijo
breve, sua boca vai descendo novamente por meu
pescoço em beijos e lambidas, a língua dele desce e
desce e alcança um dos meus seios, fecho os olhos
dizendo para mim mesma que isso não é errado,
não pode ser errado num mundo normal.
Deixar que um homem me veja nua, que me
toque, que me beije, não posso ter vergonha disso
para sempre, em algum momento da minha vida
terei que permitir que alguém faça isso comigo...
Quero se seja agora.
A ponta da língua dele atiça meu mamilo,
meu corpo reage quando a boca dele toma meu seio
com mais força, sua mão começa a apertar meu
outro seio devagar, me inclino para frente vendo-o
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descer mais e mais com a língua, toca minha


barriga, se enrosca no meu umbigo e desce um
pouco mais até o meu ventre, Zeus fica de joelhos.
Ele me afasta um pouco segurando meus
quadris, me olha, minhas bochechas queimam tanto
que minhas faces queimam.
—Hummm — esboça. — Você é toda
ruivinha.
—Zeus! — exclamo horrorizada.
Novamente ele ri, assim do nada se inclina e
me beija o lugar proibido, é algo rápido, depois ele
se ergue e meu corpo fica tenso.
—Não tem que ter vergonha, você é uma
mulher linda, seu corpo todo é perfeito Isis.
—Não me sinto uma figura perfeita de
beleza — admito. — Sou toda desengonçada!
—Não é não.
Sorrio, ele me beija sem pressa, me puxa e
sua mão desliza até o meio das minhas coxas, meu
corpo sobe, ele está tocando o lugar proibido, mas
bem, não é tão desagradável, ele toca a área coberta
e seus dedos se movem por cima em gestos
circulares, passo os braços envolta de seu pescoço
correspondendo-o, minha mão se enfia em seus
cabelos e ficamos embaixo do chuveiro assim por
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alguns momentos gostosos.


O toque é tão novo e tão incrível.
Zeus desliza a mão para a parte de trás do
meu corpo e me apalpa depois me puxa para cima,
nossas bocas não se largam por um só segundo, me
seguro nele e subo em seu corpo erguendo a outra
perna, fico pendurada nele, ele me apalpa e nosso
beijo se torna mais agressivo.
—Acho que devemos parar — ele sussurra
entre o beijo. — Isis!
—Hum... — respondo, mas estou beijando
seu pescoço.
—Melhor parar. — Zeus determina e me
solta.
Não entendi.
Eu o olho, a água quente caindo sob nossas
cabeças, desço de cima dele, não consigo entender
porque ele de repente quis parar.
—O que foi? — pergunto. — Não estava
gostando de me beijar?
—Estou sim, mas é que depois eu sei que
não vou conseguir parar — responde e me da às
costas. — Eu sei que você merece uma primeira
vez muito melhor do que isso o que ofereço.
—Zeus eu estava gostando — replico e toco
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as costas dele. — Tudo bem, eu não me importo


com isso, apenas não tinha encontrado cara certo,
você pode ser esse cara.
—Não quero que seja assim — ele responde
de um jeito seco. — Eu gosto de você Isis, mas
nunca te submeteria a algo assim por um capricho
ou por desejo, é banal, passa.
—Você está supervalorizando demais
minha virgindade. — retruco começando a ficar
chateada.
—O que esperava? Que eu normalizasse
isso? Que dissesse que já transei com uma virgem
do nada? Não transo com mulheres virgens com
frequência Isis.
Acho que também não precisava falar isso
como se fosse um problema muito grande, isso faz
me sentir uma retardada, porque se eu fosse mais
jovem tudo bem, mas não sou, tenho quase trinta
anos, eu apenas não tive a mesma educação que
uma mulher do ocidente teria.
Saber que um cara meio que me rejeita por
isso me machuca, porque faz aversão a tudo o que
sempre fui porque meus pais quiseram que fosse
assim, faz com que me sinta estranha, fora da
caixinha como sempre foi.
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Saio do box, recolho as minhas roupas no


banheiro e pego uma toalha nos armários do
banheiro, não tenho muito a falar, estou sendo
rejeitada por um homem porque ele acha que ter
alguma intimidade comigo é errado, é isso! O que
posso fazer?

Meu celular começa a tocar, imaginando


que seja Douglas me questionando sobre o meu não
embarque de hoje cedo, atendo, ainda sonolenta.
—O que diabos você está fazendo na Nova
Zelândia Isis?
Arregalo os olhos.
—Papai?
—Onde você está? Quem te autorizou a
sair?
Endireito-me, me sento na cama, me sinto
travada em falar aqui perto do Zeus, acabou que
ontem pelo resto da tarde ele decidiu sair e fiquei
sozinha, ele chegou no começo da noite, mas não

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quis discutir, fiquei vendo tv, ele tomou outro


banho e colocou um pijama depois veio para cama,
me abraçou e ficamos em silêncio.
—Isis! — papai berra do outro lado da
linha.
—Eu decidi viajar no meu aniversário
papai— saio da cama e me afasto tentando não
fazer barulho, vou para a sala da suíte e me sento
no sofá. — Para comemorar.
—Comemorar na Nova Zelândia? Voltei
até mais cedo da minha viagem para ficar com
você, o Douglas não quer me dizer o que está
acontecendo.
—É que eu decidi fazer essa viagem papai
— respondo sem saber formular uma resposta
decente. — Para comemorar meus 29 anos.
—Sozinha? — papai está furioso. — Isis,
por Ala, o que tem nessa cabeça? Não é seguro!
Respiro fundo e me preparo.
—Conheci um rapaz e ele me convidou para
esta viajem.
—O QUE?—Grita ele.
Afasto o celular da orelha, odeio quando ele
surta, tenho medo admito, mas ao mesmo tempo
acho feio que ele fique gritando com todo mundo e
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tratando as pessoas mal por causa disso, acho que


foi por este e muitos outros motivos que mamãe
não suportou ficar com ele por mais que três anos,
ele é temperamental demais.
—Você enlouqueceu Isis?—papai continua
a berrar.
—Papai...
—Eu não mereço isso Ala, não mereço uma
filha que vive no mundo.
Zango-me com esse falso moralismo.
—E eu não mereço um pai que vive em
casas de swing—respondo irritada. — Como pode
se referir a mim assim papai?
—Que?—papai pergunta engasgando.
—Foi o que ouviu, seu mentiroso — digo
com a voz carregada de raiva. — Como se atreve a
me cobrar as coisas papai? Achou que eu nunca
descobriria sobre as surubas que você se envolve?
—Eu não sei do que está falando...
—Pois eu sei por que eu vi você com aquela
sirigaita num bordel—corto. — E se quer saber
você não tem autoridade alguma sobre a minha
vida.
—Ah, então é assim, vai se revoltar contra
o seu pai por causa de um homem, eu deveria saber
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que aquela vadia da sua mãe enfiaria essas


mentiras insanas na sua cabeça, mas o que eu
poderia esperar de uma filha de uma vadia?
Fico calada porque isso dói dentro de mim,
ouvir isso.
—Eu vou te dar até amanhã para que volte
Isis, se você não voltar, eu vou te deserdar,
cancelarei seus cartões...
—E o que papai? — pergunto magoada. —
Vai cortar a internet? Quantos anos acha que eu
tenho? Eu também quero poder fazer minhas
escolhas.
—Isso é bobagem!
—O que é bobagem papai? Você pode fazer
suas escolhas e eu não posso fazer as minhas?
—Eu já arrumei um casamento para você
Isis.
—Que? Não! — respondo confusa. — Eu
não quero um casamento arranjado.
—Mas é o que vai acontecer e acho muito
bom que você retorne o quanto antes para que
possamos resolver isso, se não vier eu irei te
buscar e eu garanto que não será um castigo tão
legal dessa vez, te dou uma semana para voltar ou
do contrário eu irei te buscar pelos cabelos Isis.
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Então ele desliga.


Começo a chorar, pelas ofensas e pelo
desespero de pensar nessa ideia retrógada e
absurda, minhas mãos tremem, não leva nem dois
segundos até que eu escute o som do meu celular
tocando de novo, é o Douglas.
—Pelo amor de Deus, me diga que você
está voltando menina.
—Você ouviu o que ele falou Douglas? —
pergunto entre lágrimas. — Um casamento
arranjado?
—Menina, seu pai é teimoso, deve ser coisa
temporária.
—Ele é tão hipócrita — fungo. — Eu não
quero voltar Douglas, não dessa forma.
—O que decidir eu te apoio menina.
—Vou para a casa da mamãe na toscana,
estou com todos os meus documentos, preciso
desligar o celular e comprar outro, porque sei que
papai vai vir atrás de mim Douglas, sei que ele vai
me rastrear.
Conheço meu pai.
—Está bem, mande mensagens no celular
da Eunice, podemos nos falar por lá, vou te enviar
os meus dados bancários e colocar um dinheiro
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para você, tenho uma boa quantia.


—Obrigada, eu te amo Douglas.
—Eu também te amo minha menina, fique
bem, que Shiva te proteja.
Desligo a ligação, bastante nervosa me
levanto do sofá, sei que não posso ficar aqui por
mais um dia sem que corra o risco de papai vir me
buscar, eu gostaria que fosse muito simples poder
me livrar dele, mas não é.
—O que houve? — escuto a voz do Zeus
atrás de mim.
Limpo as faces, me viro tentando dar meu
melhor sorriso para ele.
—Nada — respondo. — Desculpe não
queria te acordar.
—Sem problemas, porque está chorando?
—Nada, eu tenho que reservar umas
passagens.
—Por quê?
Penso numa mentira bem conveniente.
—Mamãe me pediu para ir vê-la na Itália.
—E está chorando?
—Não é nada.
Não quero parecer um problema na vida
deste homem, tudo conspira para que não fiquemos
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juntos e acho que é o melhor a fazer, não era para


ser mesmo. Afasto-me e passo por ele, vou para o
quarto e pego a minha mala, minha bolsa, estou tão
alterada em ter ouvido papai falando aquelas coisas
absurdas para mim.
—O que foi Isis? O que está acontecendo?
—Não é nada eu já disse.
—Então porque tem que ir embora assim?
Porque você está chorando? Sua mãe disse algo que
te machucou?
—Não exatamente — suspiro. — Eu vou
para o meu quarto me trocar.
—Não poderíamos esperar até o final da
semana? Eu vou com você, quero conhecer sua
mãe...
—Melhor não — digo interrompendo-o e o
fito. — Sinto muito por todas as coisas que estão
acontecendo desde que você me trouxe para essa
viagem, peço desculpas por todas as coisas que eu
te disse quando você me falou do Thomas e todo o
resto, eu agradeço de verdade pelo convite, foram
os três dias mais legais da minha vida, apesar de eu
ter inicialmente detestado os dois primeiros, bem,
ao menos me tirou da gaiola.
Puxo a mala e me aproximo dele, lhe dou
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um beijo no rosto.
—Obrigada mesmo. — falo e começo a me
afastar.
Não tenho mais nada a dizer.
Agora não sei nem o que devo fazer, porque
devo, mas só sei que não quero voltar para casa e
ter que lidar com o meu pai tão cedo.

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Escuto batidas na porta, imagino que seja o


serviço de quarto avisando que o táxi já chegou,
arrumo o vestido no corpo e puxo a minha mala,
tomei um banho rápido e me vesti, assim que fiz as
reservas no meu celular eu o desliguei, pedi que
chamassem um táxi, não consigo pensar em nada
nesse momento, talvez se eu procurar mamãe quem
sabe ela não convence o papai dessa sandice?
Abro a porta e me deparo com a última
pessoa que pensei que veria pelo resto do dia, eu
tinha pensado em esperar no hotel inicialmente,
mas sabia que ele viria tirar satisfações, então
decidi esperar na sala do pequeno aeroporto da
cidade, assim quem sabe eu não me livrasse da
hipótese de dar alguma satisfação para ele?
Mas então Zeus está diante de mim, olhos
sérios, jeans, um tênis sujo e uma camisa velha toda
cheia de furos, como se dissesse que não terá mais
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um dia de reuniões, ele dá um passo e recuo


abaixando a cabeça.
—Você vai me dizer agora o que está
acontecendo Isis.
—Eu não sei do que você está falando.
—Você não pode querer ir embora só
porque eu discuti com você, as coisas não se
resolvem assim.
—Não é isso.
—Então o que é?
—É coisa de família.
—Eu posso ajudar de alguma forma? Afinal
de contas estamos juntos Isis, você não pode querer
ir para longe de mim sempre que eu disser não.
—Eu já disse que não é por isso — me
irrito. — Você não está ouvindo o que eu estou
falando.
—É porque você não está falando Isis —
ele replica. — Têm que saber falar com as pessoas,
não pode ficar fazendo birra nem se isolando
sempre que as pessoas dizem não para você.
—Não é porque você disse não, é porque
você me rejeitou, supostamente se fosse por isso eu
não iria embora, se eu quisesse ir embora por causa
disso eu teria ido ontem não acha?
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—Eu só penso que não é o momento certo


para fazermos isso.
—Tudo bem.
—E eu não te rejeitei, estava muito
excitado, eu sabia que se eu continuasse eu iria
acabar te levando para cama.
—Você não me perguntou se eu não queria
também.
—Porque eu sei que você cederia muito
fácil porque é sua primeira experiência com um
homem, não quero fazer as coisas assim, você
merece algo melhor do que um momento Isis.
—Porque eu sou virgem?
—Porque eu gosto de você, já te disse isso,
mas parece que você não me escuta não sei por que
você é assim.
—Você é muito confuso Zeus.
—E você é muito teimosa.
Ficamos calados por alguns instantes.
Ele fecha a porta do quarto e se aproxima,
depois pega a mala da minha mão.
—Eu vou com você para conhecer a sua
mãe, já cancelei a minha agenda.
Arregalo os olhos.
—Não adianta você dizer que eu não vou
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porque já mandei ligarem o avião, não tenho


dinheiro para ficar pagando hora para o piloto, nem
vou gastar a gasolina.
—Me desculpe, mas tenho que fazer isso
sozinha Zeus.
—Mas não vai.
—Você não manda em mim.
—Não é uma ordem, encare isso como
coisa de namorado.
—Namorados não rejeitam suas namoradas
porque elas são virgens.
—Namoradas não rejeitam seus namorados
por serem bissexuais.
Fecho a cara, me irrito, sei que com ele as
coisas não serão nada fáceis.
—Não estou indo para Toscana para ver
mamãe, estou indo porque papai me telefonou e me
intimou para voltar para casa e eu não quero.
—Então estava chorando por causa disso?
—E porque ele realizou o sonho dele.
—Qual sonho?
—Me arranjou um casamento.
Ele me encara todo espantado, acho que
nem quando eu disse que era virgem ele ficou tão
assustado, estendo a mão e pego o puxador da mala
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da mão dele.
—Eu preciso mesmo ir — aviso. — Não
posso ficar aqui, papai já sabe que estou aqui e sei
o tamanho do escândalo que ele fará se vier atrás de
mim.
—Isis você tem 29 anos.
—Queria que as coisas fossem simples
assim Zeus, dependo do meu pai para tudo, não
tenho emprego, ele me sustenta, quero conversar
com mamãe e ver com ela se me concede um
tempo na casa dela na Toscana, assim eu poderei
pensar no que fazer.
—Eu vou com você. — ele insiste.
—Zeus eu não quero...
—Você é minha namorada, quero ficar com
você Isis.
—Não quero te prejudicar.
—Então vem comigo para casa dos meus
pais, lá eu tenho uma das sedes da empresa, posso
trabalhar de lá, você pode ficar uns dias comigo até
seu pai desistir dessa ideia maluca, já falou com sua
mãe?
—Ainda não.
—Então vem Isis, eu prometo que lá você
estará segura e bem.
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Não queria ter que ir, mas também não sei


se a Toscana seria o lugar menos óbvio para papai
ir me procurar, qualquer lugar perto de mamãe seria
óbvio demais, então...
—Eu vou, mas eu não quero que você fique
me tratando como ontem, estou aprendendo a tomar
minhas decisões sozinha Zeus, você tem que aceita-
las.
—Como você disse, eu aceito.

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Desconectei todos os dados do meu celular


e todas as contas, tirei o chip e comprei outro
quando descemos para a recepção do hotel, tem
uma lojinha logo ao lado, comprei um outro
aparelho mais barato, mas decidi não ligar ainda
para o Douglas, eu anotei todos os contatos
importantes num bloco de notas e em troca do meu
celular peguei este mais simples, é meio antigo
porém dá para falar e enviar e-mails, sei que papai
me acharia até no inferno se quisesse através do
meu celular.
Logo em seguida o Zeus veio ao meu
encontro, pois estava fechando a conta no hotel,
então pegamos um táxi e fomos para a pista de voo,
embarcamos a cerca de vinte minutos depois disso,
ele me deixou na cabine e saiu, foi falar com o
piloto, com sua tripulação, me sentia nervosa e
agitada então a aeromoça apareceu e me trouxe um
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remédio para relaxar, não sei o que era exatamente


mas acabei dormindo alguns minutos depois.
Quando acordei, Zeus já estava lá me
tocando o ombro e avisando que havíamos
chegado, me senti melhor quando saímos do avião
e havia um carro a nossa espera, tão logo entramos
ele passou o braço envolta de mim e me abraçou,
me deitei com a cabeça em seu colo e pela primeira
vez na vida, desde que me lembro andei de carro
sem por o cinto, sem me importar se deveria ficar
ereta tão pouco se o motorista da frente me via
deitada com a cabeça no colo de um homem.
Sempre me preocupei demais com a forma
como as pessoas me veriam porque foi assim que
papai me educou, em boa parte por causa da
religião da família dele, mas porque ele é muito
conservador, ainda na infância tive inclusive aulas
de bons modos, etiqueta.
Diante de todo o resto sou uma filha
educada, obediente e exemplar, em casa não
costumo colocar em prática tudo o que me foi
ensinado, mas num geral é isso, sou um robô que só
sabe funcionar sob as ordens de um cara machista e
hipócrita.
Tenho tanta raiva quando lembro que papai
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mentiu para mim no telefone, que se fez de coitado,


ele é tão mentiroso.
Mais uma vez quando chegamos era noite,
eu não me atentei ao caminho, mas logo que
descemos do carro percebi o tamanho da casa e a
imensidão daquilo, ele me conduziu até uma escada
lateral e subimos degraus em silêncio, depois ele
abriu a porta de um chalé ou coisa assim, não posso
negar, gostei muito desse lugar.
Cheira a amaciante e chocolate.
Havia uma refeição no forno e o Zeus a
colocou para esquentar para nós dois, não
conversamos, lavei as mãos, me sentei à mesa e ele
nos serviu com dois pratos bem satisfatórios de
quibe, me deu molho de pimenta e ketchup, eu
repeti sob o olhar curioso dele.
Percebi um ou dois sorrisos, acho que ele
não tem mesmo o hábito de ver uma mulher
comendo ou coisa assim, porém nem liguei, o chalé
é pequeno, mas encantador, logo que terminamos
ele me trouxe para essa cama que fica subindo uma
pequena escada dentro do lugar, é como um quarto
de cima sem paredes.
Zeus tirou meus sapatos logo que me sentei
na cama e a blusa de mangas que eu usava, puxei o
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vestido para cima e ele desabotoou meu sutiã, não


foi tão constrangedor como ficar totalmente nua
para ele, também não havia malícia em seus gestos
nem nada, ele queria só se certificar de que eu
estava bem.
Ele trouxe cobertores e tirou a camisa, a
calça então se deitou ao meu lado na cama e me
abraçou, juntei sua mão a minha e entrelacei os
dedos nos meus, ele beijou meu ombro e nos
cobriu, por mais que não quisesse adormeci me
sentindo a garota mais segura do mundo.
Cansada, nervosa, mas um pouco feliz.
***
Acordo e o Zeus não está na cama.
Fico olhando para o teto do quarto e vou me
dando conta de que já é muito tarde, meu primeiro
intuito é pegar o celular em cima do criado, para
poder falar com o Douglas, mas me dou conta de
que troquei de celular e não tive tempo de incluir
nenhum número na minha nova agenda.
Sinto o cheiro de chá e manteiga, reparo um
porta retratos em cima do criado e o pego, tem uma
foto aqui dele com um outro rapaz que parece ser
bem mais jovem que ele e uma menina, ou
adolescente não sei, os três usam roupas leves e
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bonés, estão no meio de uma serra ou coisa assim,


sorrio.
Ele e o outro rapaz seguram a moça que está
pendurada nos colos de ambos de lado, ela é
sorridente e feliz, Zeus também, ele sorri
abertamente na foto, muito mais do que sorri
quando estou por perto.
Queria não parecer um peso que ele carrega
para cima e para baixo, mas no momento não tenho
tantas opções quanto quero. Estou cansada de
pensar em como tentar convencer mamãe de que
papai enlouqueceu com essa ideia de que devo me
casar com alguém através de uma conveniência,
também porque eu sei que ela vai dizer algo do tipo
“querida seu pai só pensa no melhor para você” e
ficar de fora da situação.
Ela é boa nisso.
Às vezes sinto como se mamãe se quer
gostasse de fato de mim, como se o casamento dela
com papai nunca houvesse sido algo verdadeiro e
eu só uma tentativa frustrada de ambos de fazer
seus mundos se encontrarem.
Papai é um homem antiquado demais em
muitos sentidos e mamãe já é mais para frente, mas
ela sempre foi passiva demais, como eu sou, acho
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que a coisa mais importante e difícil que ela fez foi


ir embora e pedir o divórcio, mas em nenhum
momento ela decidiu que queria lutar por mim, que
me queria por perto.
—Trouxe chá e biscoitos. — Zeus avisa.
—Ah, obrigada. — digo e me endireito,
coloco o porta retrato no criado, me sento na cama
cobrindo os seios com o cobertor.
Ele tem essa coisa de querer cuidar de mim,
é fofo, mas acho que não é bem isso o que eu quero
num relacionamento, ser cuidada, passei toda a
minha vida sendo tratada de forma rígida pelo meu
pai sob essa alegação, eu não quero um namorado
que mais se preocupa comigo do que gosta de mim,
só que sei que se eu disser alguma coisa nesse
sentido Zeus irá ficar chateado, então até que eu
consiga resolver tudo de uma forma pacífica, eu
acho que vou permitir que ele fique por perto do
jeito que quer ficar.
Aceito a caneca de chá que ele me entrega,
ele se inclina e me beija devagar, toco sua face,
sinto gratidão, porque ao mesmo tempo é só como
se ele estivesse fazendo isso por mim de uma forma
que nunca ninguém fez, mas também gosto do
Zeus, gosto mesmo dele, é tão rápido, tão diferente,
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uma aventura proibida e complicada, mas muito


boa.
—Bom dia dorminhoca — ele diz e se
afasta um pouco, toca a minha bochecha e arruma
meus cabelos puxando-os para trás. — Que bom
que descansou um pouquinho.
—Sim, estou mais calma. — admito sem
jeito.
—Se sente pronta para conhecer a minha
família? Eu já vou logo avisando que eles não são
normais.
Acho graça mesmo que não queira.
—Para de falar assim deles, você está me
assustando.
—Nunca apresentei nenhuma mulher para
mamãe, quando disse que traria alguém ela quase
soltou fogos de felicidade, disse que te conheci em
Dubai e ela fez quibe, que tipo de pessoa faz quibe
para alguém só porque é meio árabe?
—Estava ótimo, queria que a minha mãe
tivesse ao menos iniciativa de cozinhar para mim,
sempre que vou ver ela, ela coloca alguma
funcionária para cozinhar para nós duas.
—Aqui em casa mamãe cozinha em tempo
integral, não temos funcionários, ela e a vó
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cozinham, a vó e o vô vão para a casa dos idosos


para fazerem exercícios e tal, eles gostam muito de
nadar, mas com a chegada da Megan, mamãe e
vovó não saem da casa do H.
—Seu irmão deve estar muito feliz em ser
pai.
—Ele está, fica babão sabe? Ele e a Viviana
não podiam ter bebês, mas a alguns meses ela
descobriu que estava grávida então a Megan veio,
ela é o sonho deles dois, quero que conheça todos
eles, a casa do meu irmão fica logo ali na frente,
quer ir na casa dos meus pais? Acho que o H e a
Viviana estão lá agora com a Megan.
—Não seria incomodo?
—Claro que não Isis, aliás, eu acho que
todos estão lá.
Sorrio.
—Não seria estranho você me apresentar
logo de cara como sua namorada?
—Não, não seria estranho, eu acho que já
sou bem grandinho para apresentar uma namorada
para os meus pais.
—Está bem.
Bebo um pouco do chá, Zeus se ergue,
ainda está de cueca, suspiro enquanto ele se afasta.
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—Vou fazer melhor, vou pedir que eles


venham aqui, assim almoçamos todos juntos, que
tal?
Gosto da ideia.
—Pode ser.

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—Acha que eles vão gostar de mim?


Zeus me olha meio de lado, ele veste a
camisa, acabo de sair do banho, ele tomou banho
primeiro, peguei um short e uma blusa mais leve
para vestir, deixei tudo na cama e fui para o
banheiro, ele deixou um roupão para mim lá.
—Claro que vão — ele responde. — Porque
não gostariam?
—Por nada — estou insegura.
Eu já conheci muitas pessoas na área
acadêmica, nos jantares de negócios de papai, nas
reuniões de trabalho humanitário, mas confesso que
não pensei que conheceria tão cedo pessoas que me
fizessem uma alusão a figuras de sogro e sogra ou
algo assim.
—Isis.
—Sim?
—Vem cá, quero te contar uma coisa.
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Zeus se senta na cama, me aproximo e me


sento no colchão, rapidamente ele me puxa pela
cintura e me coloca sentada em sua coxa.
—Nunca pensei que traria alguém aqui,
sempre imaginei que se um dia trouxesse seria
alguém muito especial e você é essa pessoa.
—É que não quero que se sinta forçado a
nada.
—Eu não me sinto.
—Parece que as coisas conspiram para que
você meio que faça tudo isso.
—Em qual sentido você fala?
—Bom, é que eu queria ter ido para
Toscana...
—Eu nunca permitiria que fosse sozinha.
—Eu não sou uma criança burra Zeus, é
isso o que estou querendo dizer, queria um pouco
de autonomia.
—Você tem autonomia docinho.
Minhas bochechas queimam, Zeus toca
minha coxa, sua mão sobe e desce por toda ela
expondo a pele, mais que isso, depois ele abre o
roupão que uso e me olha, respira fundo, não me
movo. Cubro sua mão com a minha, ele a ergue e
beija a minha mão.
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—Só quero o melhor para você.


—Eu sei que sim Zeus, me desculpe,
também sou nova nisso tudo.
Sua mão desce e ele me toca o meio das
coxas devagar, meus quadris sobem e fecho os
olhos por alguns segundos, quando ele me toca nem
eu sei bem o que acontece comigo, o calor vai
subindo e subindo e fico toda ouriçada. Zeus faz
círculos vagarosos no meu canto proibido e sua
boca começa a traçar beijos quentes por meu
pescoço.
—Você gosta de me provocar. — sussurro.
—É bom — ele argumenta e sua boca desce
até o meu seio. —, mas agora está ficando mais
difícil pensar em parar.
—Então não pense—argumento—não sou
uma menina indefesa Zeus.
—Não por isso!
Depois que fala ele me empurra, caio
deitada na cama, ele tira a camisa e logo em
seguida se ajoelha diante da cama, fico deitada sem
reação quando ele abre as minhas pernas e puxa
meus quadris para baixo, Zeus coloca minhas
pernas sob seus ombros e começa a beijar a parte
de dentro das minhas coxas com pressa, arfo.
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A primeira lambida me faz perder o ar, a


segunda me deixa toda dura, dai por diante meu
corpo todo começa a se tremer, porque este homem
está me lambendo toda num lugar do meu corpo
que eu nunca pensei que poderia ter outra função se
não reproduzir.
Apoio-me nos cotovelos porque sou curiosa
e o observo beijar minha intimidade como se
beijasse a minha boca, ele aperta meus quadris e
sua língua procura mais e mais por minha
intimidade, me contraio e é um pouco doloroso,
estendo a mão e toco seus cabelos, ele segura a
minha mão e entrelaça os dedos nos meus.
Ele gosta muito do que faz e faz muito bem.
Deito-me na cama novamente e vou ficando
meio descontrolada com a forma como sua língua
brinca comigo, ele descobre um pequeno ponto que
me faz arrepiar toda quando lambe, ele o suga com
gentileza me provocando ainda mais, meu corpo
fica subindo e descendo em movimentos mais
intensos, a boca dele controla meus movimentos,
ele puxa as dobras para os lados e as morde
levemente.
Meu pé desliza por suas costas enquanto o
outro fica todo esticado, me estico na cama perdida
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em sensações, não sei explicar, é um calor


insuportável, uma tremedeira, e essa coisa que me
deixa ansiosa, me faz suar, respiro com dificuldade,
o prazer vai me tomando toda enquanto sua boca
começa agora a me chupar.
Zeus Mikinos... Quer dizer Kokinos... Ah
Droga...
—Kikinos!— exclamo tomada por um
imenso prazer. —Ah!
Escuto seu riso abafado, e a língua dele me
toca o ponto mais sensível de novo me atiçando
toda, me arrepio e sinto como se estivesse
escalando uma montanha bem alta perto de chegar
ao topo, Zeus me dá prazer e me deixa tensa ao
mesmo tempo.
Começo a subir os degraus mais uma vez,
meus quadris se movem involuntariamente, meus
dedos apertam os travesseiros da cama e meus pés
começam a arder, ele me provoca até que eu
comece a ver estrelas, são estrelas!
Sinto seu corpo subindo no meu alguns
instantes depois, suada abro as pernas e recebo ele
em meu corpo, ele me penetra bem devagar, mas
estou muito quente, lubrificada, sua boca toma a
minha em um beijo macio, mas apaixonado.
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Enfio as mãos em seus cabelos e meus


quadris se movem com os dele devagar também,
sinto que quero mais disso, ansiosa toco suas
costas, seu traseiro, Zeus se ergue e faz mais
rápido, na terceira ele entra de vez, mas não sinto
tanta dor quanto pensei que sentiria, é incomodo no
entanto não atrapalha em nada no sexo.
Em algum momento toco seu corpo
enquanto fazemos amor, ele me cobre de beijos nas
faces, nos lábios, é muito carinhoso comigo, me faz
sentir um pouco de prazer em meio à tensão, mas
em outro ele começa a fazer mais forte, tão forte
que me machuca, toco seus braços e me seguro em
seus ombros, começa a arder um pouquinho, a doer.
—Zeus, está doendo. — aviso incerta.
—Dói mesmo — ele fala e me olha todo
suado. —Machuca mesmo.
—Você está fazendo muito forte — replico
e toco sua face. — Calma, o que foi?
Ele para, me fita parecendo perdido em
pensamentos e então me beija, começa a fazer
devagar de novo, eu o abraço com força, eu gosto
dele, estamos juntos.
—Você é muito especial para mim. — digo
baixinho.
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Ele não responde, Eu o aperto.


Ele se ergue e cola a testa na minha, quando
me olha posso sentir algo forte percorrendo meu
corpo, estamos conectados, meus quadris se
movem com os dele, nossos corpos grudam e
escorregam um no outro enquanto fazemos amor.
Seu corpo todo se treme e o meu também,
ele morde os lábios fazendo mais uma vez comigo,
me seguro em seu pescoço e meu corpo começa a
tremer junto com o dele, é maravilhosa a sensação,
Zeus me beija e recebo seu gozo dentro de mim
com abundância, enquanto o meu prazer mais
intensamente o reveste.
Nos beijamos e fecho os olhos me
entregando ao momento, nunca me arrependeria
disso, não quero voltar atrás, é assim que as coisas
devem ser e ponto.

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—Ainda bem que eu não tinha pedido ainda


para eles virem ou do contrário, mamãe teria uma
baita surpresa.
Sorrio, estou deitada com a cabeça em seu
peito, ele faz carinho nas minhas costas, toco seu
peito, estamos ótimos assim, nus, suados, sozinhos,
foi perfeito.
—Eu não tinha camisinha, me desculpe,
vou comprar algumas e um remédio do dia seguinte
para você, mas fique despreocupada, eu sempre me
protejo.
—Eu confio em você Zeus.
Aperto ele.
—Foi perfeito — digo. — Obrigada.
—Não tem que me agradecer docinho —
ele replica e beija a minha cabeça com carinho. —
Acho que perdi um pouco da paciência, é que faz
um tempo que eu não tenho relações com uma
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mulher sem camisinha, me empolguei.


—É muito diferente?—pergunto curiosa.
—Demais, não é do meu feitio, só que é
diferente, não sei explicar, não queria ter gozado
dentro também, mas não resisti.
—É bom. — admito constrangida.
—É?—Zeus segura meu queixo e puxa para
cima, eu o fito. — Eu também gostei muito.
—Que bom. — sei que estou vermelha.
Eu o beijo, Zeus me puxa e fico deitada em
cima dele, me apoio no cotovelo e fico olhando-o,
toco sua face com a ponta do indicador, ele acaricia
minhas costas, minha cintura, minhas nádegas.
—Você é linda docinho — sua voz é calma.
— Perfeita.
—Você vai continuar a me chamar de
docinho? — pergunto envergonhada.
—É um apelido carinhoso, você não gosta?
— Zeus me analisa um pouco embaraçado.
—É engraçado, mas eu topo. — fico rindo
feito boba da reação dele.
—Gosto disso Isis, você é tão carinhosa
comigo. — ele beija a minha mão.
Eu o beijo, Zeus me aperta e rolamos na
cama, meu pé se enrosca em sua perna e sinto os
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pelinhos na panturrilha dele, ele fica em cima de


mim, sua boca explorando a minha de um jeito
íntimo e maravilhoso, toco suas costas, minha
perna sobe e eu a fecho envolta de seu quadril
adorando sentir ele juntinho de mim.
Zeus é dono de uma experiência fora do
comum, algo que eu talvez nunca consiga se quer
alcançar em nenhum sentido, mas quero sim poder
dividir mais momentos assim com ele, gosto disso,
o prazer que ele me proporcionou a alguns
momentos me deixou saciada e feliz, não sei
explicar, apenas adorei minha primeira vez.
Quero mais vezes.
—Quero mais — digo entre o beijo. —
Podemos fazer amor mais vezes?
—Quer mais agora? Assim você quer ficar
viúva antes mesmo que eu consiga te pedir em
casamento menininha.
Sorrio, ele se ergue e se apoia nos
cotovelos, seu sexo repousa sob o meu, estou toda
aberta, não ligo, ele beija os meus seios e coloca a
cabeça entre eles apertando o esquerdo como se
fosse um brinquedo.
—Seus peitos também não se parecem nada
com os do Douglas Docinho.
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Gargalho alto, é involuntário, porque fico


lembrando daquelas tetas do Douglas e o jeito
como o Zeus fala me trás boas recordações das
vezes que eu o vi meditando e fiquei mexendo nos
mamilos dele, acho que tinha uns 7 anos na época.
—Uma vez eu vi o Douglas meditando no
jardim lá de casa, eu tinha uns sete anos, ele achava
que eu estava dormindo, mas eu o segui e fiquei
vendo ele no meio do jardim em cima de um tapete
de ioga em posição de meditação, ele estava sem
camisa, fui até lá e fiquei apalpando os peitos dele,
os mamilos apontavam para baixo, quer dizer,
ainda apontam — relato. — Ele abriu os olhos,
usava um turbante daqueles de indianos e tal, papai
tinha viajado, ele abriu um olho depois o outro e
ficou me olhando com cara de coco.
—E o que seria cara de coco? — Zeus
pergunta risonho.
—É uma mistura de cara de raiva com
chatice, é a cara do Douglas quando fica meio
irritado e meio entediado, não sei explicar, lembro
que ele tirou as minhas mãos e apontou para dentro
de casa, eu fiz que não e continuei a pegar os peitos
dele.
—Docinho você era uma menina arteira? —
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ele ri alto. — Pelo amor de Deus, o que o pobre do


homem não sofreu nas suas mãos?
—Depois disso ele nunca mais meditou sem
camisa, mas eu já vi os peitos dele várias vezes,
apontam para o Sul.
—Então os peitos dele são maiores que os
seus?
—Muito maiores, eu bem queria ter os
peitos do Douglas, ele usa cinta para esconder a
barriga.
—Mas eu gosto dos seus seios — ele toca o
direito e o beija. — São lindos docinho.
—São pequenos demais.
—São como devem ser, não precisa ter
seios grandes demais para que seja bonito, cada
mulher tem uma característica única docinho, é isso
o que torna cada uma bonita, seu diferencial.
Sorrio, o Zeus não é quadrado como o
papai, como os homens da família do meu pai, ele é
tão para frente, tão gentil, ele quer que eu me sinta
bem, não me critica.
—Obrigada Zeus.
—Agora eu não vou nem mais ligar para os
meus pais, porque não quero estragar nossa manhã
nem interrompê-la, vamos aproveitar o dia só nós
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dois, está bem?


—Está ótimo.
Gostei demais da ideia.

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A tarde passou muito rápido, dormi muito,


mas estou muito bem aqui, abraço o Zeus e coloco
um beijo em seu ombro, ele também acabou de
acordar, segura a minha mão e entrelaça os dedos
nos meus com cuidado, beija meus dedos um a um
com carinho, me aconchego, nem lembro em qual
momento eu adormeci, nós dois ficamos
conversando por horas e falando sobre nossas
infâncias, estava confortável na cama com ele,
sorrindo, trocando confidências, muito rapidamente
me sinto familiarizada com ele.
O Zeus é mais velho que eu, mas nem
parece, apesar de que a década da infância dele foi
muito mais interessante que a primeira década da
minha infância, ainda sim falamos a mesma língua,
sobre a MTV, sobre os mesmos desenhos, sobre os
mesmos programas de tv, só muda quando se trata
de música, ele gosta mais de clássicos, eu gosto
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mais de músicas contemporâneas, mas também já


ouvi e ouço demais música clássica.
—Estou com fome. — protesto baixinho.
—Quer ir jantar na casa da mamãe? —
pergunta e beija meu pulso.
—Bom, eu preferia ficar por aqui mesmo,
tomar uma ducha e ver tv, essas são as primeiras
férias que tenho em anos longe da presença
maligna do meu pai.
Escuto sua risadinha.
—O que tem de interessante nesse lugar?
—Construímos uma academia na
propriedade, um salão de jogos e uma pista de
boliche.
—Sério?
—Sério, o H casou e com ele trouxe uma
viciada em jogatina, meus avós também gostam, ele
deu a pista de boliche para ela de presente, esse
condomínio é dos meus pais, mamãe pediu que
cercassem a propriedade porque acha mais seguro,
uma vez o ex-marido da Viviana entrou aqui e
quase matou ela.
—Sério?
—Bem sério — Zeus se vira ele me puxa,
está pensativo. — O H quase enlouqueceu, foi algo
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que nos atingiu muito.


—Porque ele fez isso? — pergunto.
—Na época em que o H conheceu a Viviana
ela tinha acabando de se divorciar do sujeito, ele
não soube como lidar e ficou perseguindo ela,
invadiu essa casa e a sequestrou, não foi muito
longe, era promotor, infelizmente não quis se
render e abriram fogo.
—Nossa!
Estou meio chocada com isso.
—Depois disso mamãe redobrou a
segurança, faz uns três anos desde que isso
aconteceu, ai o H construiu a casa deles a alguns
metros daqui, no fundo ele construiu um espaço
para ele e a Viviana jogarem boliche, mamãe e
papai construíram o salão de jogos quando
souberam que a Viviana estava grávida.
—Que fofo.
—Pois é, mas acho que a desculpa foi
mesmo para poder se aproveitar do lugar dias de
domingos, jogamos bingo, tem uma sinuca, é bem
aqui ao lado, nós usamos muito em dias de sol,
Palo Alto tem dias bem quentes dependendo da
época, meus avós gostaram muito do lugar, são os
que ficam nas mesas de cartas.
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—Como num cassino? — me empolgo.


—É, têm várias mesas de jogos, dois vídeo
games e um lugar afastado para a Affie ler, é onde
nossa família se reúne sempre para comer porcaria
e jogar.
—Deve ser um sonho poder estar perto da
família assim Zeus.
Nem consigo imaginar o papai jogando
alguma coisa comigo, ele nunca gostou se quer de
pegar uma bola, me lembro que uma vez ele me
levou para andar de bicicleta, não durou nem vinte
minutos, logo deu a desculpa de que estava cansado
e entramos em casa, infelizmente ele não é chegado
em nada do tipo.
—Eu moro no Canadá, mas venho em todos
os feriados e ao menos uma vez no mês, é
complicado, mas dá certo.
—Gosta de lá?
—Gosto, mas prefiro ficar aqui porque a
mamãe e o papai estão perto, meus irmãos, somos
muito unidos.
—Que bom.
É tão estranho ouvir isso de um homem,
mas é bom, porque poucos homens são tão
apegados à família assim, talvez a mãe, mas não a
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família totalmente, só pelo jeito que ele fala


imagino que eles sejam pais maravilhosos.
—Você está triste docinho?
—Não — tento sorrir. — É que eu gostaria
de ter uma família assim, é coisa minha.
—Agora você tem docinho, estamos juntos
lembra?
Lhe dou um beijinho, Zeus me aperta com
força.
—Não fica triste, agora você é parte da
minha família, nada nem ninguém vai dizer o
contrário está bem?
—Sim.
Por isso é fácil gostar dele, ele é tão
sensível, caridoso, o Zeus tem tantas qualidades
que aprendo a gostar, claro, é complicado ainda
pensar na outra parte, mas ao mesmo tempo eu
estou muito mais interessada nesse lado dele que
conheço.
Ficamos abraçados por alguns momentos,
até que o celular dele começa a vibrar em cima do
criado, me desvencilho de seus braços, ele vai para
o lado e pega o aparelho, olha para o visor e
silencia rapidamente a chamada.
—É importante? Pode atender, eu vou
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tomar um banho. — aviso me erguendo.


—Não é importante — ele segura minha
mão. — Isis, eu preciso te contar uma coisa.
—O que foi?
—Eu acho que o Thomas vai vir aqui me
ver, tenho que falar com ele, você se importa?
—Não — digo de imediato. — Tudo bem,
ele é seu amigo.
—É que eu tinha combinado com ele que se
estivesse na cidade ele poderia vir me ver, falei de
você para ele, ele quer te conhecer.
—E eu tenho que conhecer ele?
—Não, mas é que eu pensei... — ele deixa a
frase morrer.
Pensou que nos apresentaria e seria
supernormal.
—Isis, ele não fará parte disso tá bem?
Chateia-me pensar que pode ser uma
hipótese.
—Está bem — respondo constrangida. —
Eu entendo que você goste dele.
Só não sei o que falar nesse sentido.
—Como amigo, nós dois não temos nada
docinho, não precisa ficar apreensiva.
—Se te apresentasse um ex-namorado você
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iria gostar?
—O Thomas não é meu ex-namorado, ele é
só o meu melhor amigo Isis, mais íntimo.
Esse íntimo significa amigo de suruba.
—Eu sei — digo — Eu entendo, pode
encontrar ele e conversar, confio em você, já disse.
—Ele virá para cá, meus pais sabem que ele
é meu melhor amigo há anos, ele sempre vem me
ver quando estou na cidade.
—Entendo.
Pego meu celular em cima do criado do
meu lado da cama.
—vou falar com o Douglas, avisar que
estou bem.
—Isis...
Saio da cama.
Acabou o clima.
Vou para o banheiro, começo a digitar o
número da Eunice, fecho a porta, talvez seja melhor
assim, não sei, estou tão... Tão... Confusa.

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—Pedi para o Thomas que não viesse.


Grande coisa.
Visto uma blusa e uma calcinha, não era
bem o que eu queria que fosse para um momento
depois de perder a minha virgindade, mas de
alguma forma depois do banho a raiva passou, a
alguns momentos vi Zeus entrando no box do
banheiro e sai logo em seguida, seguei meus
cabelos e peguei uma roupa, ele saiu agora a pouco
do chuveiro, está se secando, não olho.
Estou chateada com o fato de que ele e o
Thomas vão continuar se vendo, que por algum
momento ele pensou que eu aceitaria isso, porque
mesmo sabendo de sua vida ainda é difícil para eu
lidar com sua liberdade sexual, eu não sei se quero
poder fazer parte de uma orgia ou coisa assim.
Acabou que eu chorei um pouco durante o
banho, nem consegui falar com o Douglas, a
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Eunice não visualizou minhas mensagens, ainda me


sinto meio que estranha, não sei explicar, não me
arrependo de ter perdido minha virgindade com o
Zeus, mas ele é o meu primeiro namorado e não sei
se quero perder ele para qualquer coisa que seja.
Não deveria ser assim, porém é como me
sinto nesse exato momento, uma profunda incerteza
de como as coisas serão e nunca tive que lidar com
incertezas na vida, tudo o que me limita me causa
extrema mágoa, não queria parecer mimada, como
se ele tivesse obrigação de fazer o que eu quero,
mas acho que valeria muito se ele ao menos
respeitasse isso o que estamos tendo.
Para mim é bem mais que sério.
—Eu não vou mais ver ele, está bem assim
para você?
—É o que você quer Zeus?
—Isis não é o que você está pensando, ele
nunca viria aqui sabendo que estou com você e
tentaria alguma coisa.
Não quero aparentar o quanto controladora
posso ser com as minhas coisas, porque o Zeus não
é uma coisa, ele é uma pessoa, mas acho que já tive
tantas coisas só para mim durante a minha vida e
que por ser filha única não tenho a mínima vontade
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de dividir.
—Não temos que discutir sobre isso,
estamos ficando juntos esses dias, mas logo que as
coisas se resolverem eu vou procurar a minha mãe.
—Ficando juntos?—ele repete e se
aproxima, sei que está irritado por seu tom de voz.
— Sério? Você acha que eu traria você aqui se não
fosse sério?
—Trás o Thomas também.
—Isis ele é o meu melhor amigo.
—Sua mãe sabe que você dorme com ele?
Eu o encaro, percebo um medo incomum no
olhar dele, isso o atinge em cheio, Zeus se mantém
firme, inflexível, me olha todo cheio dessa coisa
que vejo em seus olhos neste momento.
—Eu nunca transei com o Thomas e não
Isis, meus pais talvez até desconfiem que eu sou
“gay” ou coisa assim, mas eles me respeitam tanto
que nunca me trataram com indiferença por conta
da minha vida privada, você não deveria agir dessa
forma, já te disse, é só você e ponto! Porque você
continua brava?
—Porque você o convidou...
—Eu não convidei ele — corta áspero. —
Ele sempre vem quando eu chego e ao contrário do
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que você pensa, nem sempre o Thomas e eu saímos


para vadiar e sair transando por ai, ele é meu amigo
a dez anos, eu nunca se quer toquei nele sem que
fosse em algum momento de mais intimidade com
uma mulher, nós dois nos respeitamos muito em
todas as relações que temos com outras pessoas.
Mordo os lábios, indignada, mas contida,
porque não me sinto no direito de chatear ele além
do que disse, o Zeus não quer ter sua intimidade
violada por ninguém e é exatamente isso o que
estou fazendo, estou expondo ele, não é certo,
talvez ele respeite tanto os pais que não os queira
envolvidos nisso.
—Você sabe muito bem quem eu sou e o
que eu fazia antes de te conhecer, eu posso até ter
mentido durante nossa primeira conversa, mas me
abri com você coisa que nunca fiz com ninguém.
—Nem com ele?
—Nem com ele Isis, você acha o que? Que
eu e ele temos um relacionamento? Ele é só um
amigo com quem eu divido as mulheres com quem
saio.
—Mas disse que vocês dois são íntimos.
—É, na hora do sexo somos íntimos, mas eu
não transo com ele nem ele comigo, íntimo é
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apenas uma forma de falar.


Cruzo os braços.
—E o que seria esse relacionamento?
—Eu não quero falar sobre isso agora com
você, estou com a cabeça quente, você me
estressou com os seus ciúmes, não gosto de mulher
ciumenta e controladora, já estou avisando.
Minhas bochechas queimam, Zeus se
aproxima carrancudo.
—Se não estiver pronta para lidar com
quem eu sou acho melhor você ir correndo para o
colo do seu papai, porque de santo, eu só tenho o
nome.
Depois que fala ele se afasta secando os
cabelos, fico parada sem saber se devo continuar a
conversa ou se devo ficar aqui.

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—Vai voltar para casa do seu papai?


—Na verdade eu estou desfazendo as malas.
Zeus está entrando no closet, senti o cheiro
de comida, mas não pensei em ir, discutimos mais
cedo e não gostei do rumo daquela conversa, então
fiquei na minha, também depois do banho ele saiu,
fiquei sem graça de ir atrás porque estamos no
chalé da propriedade dos pais dele, não quis parecer
invasiva, já anoiteceu, fiquei o resto da tarde
sozinha vendo tv, a raiva foi passando aos poucos,
então vim arrumar as coisas, desfazer a mala e
organizar meus pertences.
Ouvi o som da porta da sala sendo fechada a
alguns momentos, mas decidi que não quero brigar,
o Zeus já disse quem ele é e o que quer comigo,
ficou bem claro também que ele me considera uma
mimadinha porque eu me enciumei por mais cedo,
isso agora muito mais me entristece do que me
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irrita.
—Eu trouxe nosso jantar, mamãe fez uma
sopa com torradas — ele avisa. — Você comeu
alguma coisa?
—Estou sem fome—respondo.
Dobro a última peça e fecho a mala, eu
realmente estou meio sem rumo em um bocado de
sentidos da minha vida, mas não gostaria que o cara
que eu tenho certeza que quero estar tivesse uma
percepção tão fútil ao meu respeito.
Eu não sou vazia nem mimada, um pouco
egoísta e conservadora talvez, mas não sou
mimada.
—Eu ajudei mamãe a fazer a sopa — Zeus
fala baixo. — Foi feita com muito carinho, tem
certeza de que não quer comer?
—Tenho sim, eu acho que vou dormir um
pouco. — aviso e me afasto.
—Docinho...
Zeus segura o meu pulso, tento me soltar,
tão chateada porque ele está falando comigo como
se eu fosse um bebê.
Ódio!
—Não me chama de docinho!
—Vem aqui meu docinho—chama e me
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puxa para ele, me abraça.


—Para — fecho a cara, os punhos, ele me
olha cheio de ternura — Para com essa manha, não
quero brigar, me desculpe eu sei que fui grosso —
ele diz procurando meu olhar. — Hei, para! Eu não
quero brigar mais, está bem?
—Você me chamou de mimada. —
protesto.
—Mas que bico enorme! — exclama ele
com um sorriso cativante.
—Ai Zeus, como você é meloso. —
reclamo tentando criar forças.
É meio em vão porque não consigo nem
fazer força direito com esse imbecil me apertando,
me olhando com essa cara de lesado.
—Você não me conhece docinho—ele fala
e me dá um selinho—para!
—Para com o que? — pergunto incerta.
—Para de fazer esse bico de bebezinha —
retruca. — Está tremendo, meu coração fica aflito
quando você faz essa cara de choro.
—Você têm coração? — questiono
magoada. — Eu não sou mimada!
—Não é não, eu retiro o que eu disse — ele
me aperta e me beija com carinho. — Me desculpe
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meu coração.
—Odeio você — digo entre o beijo, mas
minha língua se enrosca na dele. — Imbecil,
grosso...
—Seu! — ele morde a minha boca.
Estico meus braços e o enlaço pelo pescoço,
gosto desse imbecil grosso, gosto tanto dele que me
fez sentir como é amargo o sabor do ciúme, fico na
pontinha dos pés e o beijo sem pressa.
—Não quero mais brigar, está bem?—ele
pergunta e cola a testa na minha. — Me desculpe
por hoje mais cedo, por favor, não pense que eu sou
assim vinte e quatro horas, é que eu odeio falar
sobre minha sexualidade quando se trata dos meus
pais.
—Eu sei que você está acostumado com seu
estilo de vida, mas não sei se estou pronta para
embarcar nisso também, me desculpe se parece que
eu sou preconceituosa Zeus, eu nunca vivi nada
disso com ninguém.
—Eu não queria que as coisas tivessem
chegado nesse ponto, me desculpe, eu vou tentar ter
mais calma com você, ás vezes me esqueço que
você não teve um relacionamento sério também, é a
minha primeira vez nisso docinho, eu também
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nunca tive namorada.


—Zeus eu... Eu gosto de você — confesso
nervosa. — você é especial para mim, não sei
explicar.
Ele respira fundo e me abraça beijando meu
pescoço, meu corpo se enche de boas sensações.
—Não quero que você vá embora, porque
eu sei que se for você vai ficar muito mais
machucada, sei que ainda é cedo demais para
falarmos de coisas sérias Isis, mas eu tenho essa
coisa com você que não sei explicar, se você for
embora hoje eu sei que não vai querer voltar.
Não iria mesmo e me segurei muito para
começar a desfazer as malas e não refazê-las e ir
embora para bem longe dele.
—Hoje eu só sou um cara com um passado
bem complicado nesse sentido, mas nada me
impede de ter um relacionamento comum com
você.
—Não quero que pense que não tenho
vontade própria, nem que sou mimada porque meu
pai me sustentou.
—Foi da boca para fora, me desculpe.
—Você sabe que se eu for ficar aqui terei
que trabalhar, ou em qualquer outro lugar do
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mundo, eu não sou uma pessoa sem iniciativa na


vida Zeus, eu apenas nunca tive as mesmas
oportunidades que outras mulheres têm, não escolhi
ter uma criação assim, ter um pai como o meu, uma
mãe como a minha, meu pai sempre me sustentou,
mas eu sempre soube o valor de cada coisa que tem
na casa dele.
—Não vou mais falar nada do tipo.
—Tenho trauma, as pessoas vivem dizendo
isso de mim, não gosto.
—Eu entendi — Zeus me beija. —Fiz essa
sopa com mamãe, vamos tomar?
—Sim. — respondo.
Ele me abraça de novo e segura a minha
mão.
—Então você sabe cozinhar também?
—Na verdade eu só piquei a cenoura —
esclarece ele e rio. —, mas foi com amor.
—O que vale é a intenção.
Estou rindo enquanto vamos para cozinha,
gosto do Zeus, tenho ciúmes dele, quero ele só para
mim, nem o Thomas nem ninguém vai mudar isso.
Quero ele ao meu lado.
Meu!

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—Tomou o remédio?
—Tomei sim, obrigada.
—A Viviana me arrumou, ela pediu para o
H comprar, fiquei constrangido de pedir que a
mamãe comprasse na farmácia.
Nunca tomei uma dessas pílulas do dia
seguinte, mas jantamos e ele me entregou o
comprimido, concluí bem rápido que é a melhor
coisa que podemos fazer agora, o Zeus é um cara
sensato e responsável, entende muito mais dessas
coisas que eu, viemos para o sofá e estamos vendo
tv, me deitei em cima dele, me sinto confortável,
melhor.
—Tenho certeza que para mamãe não seria
nenhum problema, mas você sabe, serviria para ela
especular a minha vida.
—Sua mãe é fofoqueira?
—Ela é controladora em alguns sentidos,
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mas em outros às vezes ela passa dos limites, não


tenho paciência.
—É por esse lado seria estranho, já pensou?
Nunca trás nenhuma mulher e a primeira que trás é
grávida?
—Acho que ela não se importaria tanto com
isso, no entanto odeio que mamãe de alguma forma
queira opinar no nosso relacionamento.
—Você tem medo de que?
—Que ela te faça se afastar de mim.
—Porque ela faria isso?
—Ela tem um senso protetor muito forte, o
H sempre gostou de mulher mais velhas e tal, ela
nunca aprovou.
—Você gosta de mulheres mais novas?
—Não, gosto de mulheres com a minha
idade aproximadamente, de preferência casadas e
com filhos.
Fico olhando para a Tv, esse documentário
sobre a vida de Hitler não é nada animador, mas
ouvir isso da boca dele ainda é a coisa mais
estranha que já ouvi na vida, bizarro!
—É que mulheres casadas não dão trabalho,
são bem desapegadas, também elas amam os
maridos e não querem nada além da noite.
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—Como pode amar alguém e dividir com


outra pessoa sua atenção?
—Não sei, nunca amei ninguém.
—Você é bem mal amado né?
Ele da aquela risadinha de deboche.
—Não é isso docinho, é que eu realmente
nunca me interessei só por uma mulher.
—Você é de todas.
—Eu nunca fui de ninguém Docinho.
—Entendi.
Acho que ele quer dizer que mesmo que
tenha ficado com diversas mulheres nesses cabarés,
nunca de fato pertenceu emocionalmente a
nenhuma.
—Eu acho que a monogamia é só uma
forma que inventaram de controlar a nossa natureza
— Zeus comenta pensativo. — Já imaginou se
fossemos agir de acordo com nossas necessidades
sexuais?
—Papai provavelmente seria como um
daqueles cachorros quando prendem na cadela. —
respondo.
Zeus dispara a rir, mas o pensamento apesar
de zombeteiro, é bem o que eu penso no que se
trata de papai, ele não merece minha consideração
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em nenhum sentido, de nenhuma forma.


—Escuta — Zeus me chama me tirando do
transe. — Esquece seu pai, aqui seremos só nós
dois, não permitirei que ele se aproxime de você.
Eu o abraço, Zeus me beija a cabeça.
—Só me diz que você nunca dividiu uma
cama com ele.
—Não, nunca dividi nada com ele, nem vou
dividir.
Ele me espreme, beijo seu peito.
—Que tal nos alegrarmos um pouco? —
sugere. — Acho que tem um vinho na geladeira,
podemos ouvir uma boa música.
Não é uma má ideia.
Ergo-me, Zeus levanta, pego o controle da
tv e procuro algum canal de música ou coisa assim,
ele vai para a cozinha, demoro a achar algum que
passe clipes, faz muito tempo que não vejo tv, tão
pouco aqui dos Estados Unidos.
No meu antigo lar algumas coisas eram bem
limitadas, apesar dos pesares não quero pensar
nisso agora, porque não compensa, o que importa é
que estou aqui agora, mesmo que meio foragida e
longe dos olhos de papai.
Ele retorna com duas taças de vinho numa
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bandeja e um prato com queijo fatiado, azeitonas,


me endireito no sofá deixando no canal de sucessos
latinos, não achei nada melhor, Zeus coloca a
bandeja no centro da sala e me estende uma das
taças, se senta ao meu lado.
—Já pensou como seria sua vida se
houvesse se casado há algum tempo? — ele
questiona reflexivo.
Pensei nisso durante maior parte da minha
adolescência, eu tive uma fase de princesa a espera
do príncipe e outra onde não havia espaço na minha
agenda para um príncipe, por fim concluí que
príncipes não existem, então não, mas sempre
penso em como teria sido, porque afinal de contas,
tenho 29 anos, já sou considerada velha para se
casar, a maioria das minhas colegas de faculdade já
se casaram com homens ricos e importantes, uma
até com alguém da família Real Britânica se casou,
outras já tem três filhos, eu nem quero imaginar
como será daqui a três anos no encontro dos dez
anos.
—Essa é uma boa pergunta. — pego um
bloquinho de queijo e provo o vinho, é ótimo.
—Eu nunca me imaginei casado, não sei,
apenas não aconteceu — ele diz ainda pensativo.
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—, mas também nunca idealizei nenhuma mulher


na minha cabeça.
—Imaginava que se um dia conhecesse o
cara certo eu saberia, os anos foram passando e isso
não aconteceu, mas não sofro por ser solteira, tem
seus benefícios também não consigo imaginar a
minha vida com crianças, amo crianças, mas sei
que ter uma é uma tarefa árdua e complicada.
—É muito sensato da sua parte.
—É que eu faço trabalho voluntário e vejo
muitas mães que sofrem vários tipos de problemas
com crianças pequenas, parece que quando a
criança sai do útero ela se torna o objetivo de vida
da mãe de prosseguir, ou coisa assim, já eu se
trouxesse uma criança ao mundo só iria querer
segurar na parte mais legal.
—E qual seria essa parte? — indaga ele e
bebe um gole do vinho.
—Quando estivesse dormindo
profundamente. — respondo.
Zeus ri, escondo em meu tom de brincadeira
um pouco de receio, porque no fundo eu amaria
muito um bebê, mas não sei que se por minhas
vivências conseguiria dar amor a ele, meus pais
nunca foram presentes nem carinhosos, como eu
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saberia cuidar de uma criança?


—Talvez você fique chateada com o que eu
vou falar, mas eu acredito que toda mulher para ser
feliz tem que trocar de homem pelo ou menos uma
vez no ano.
—Você sabe que eu concordo com você no
sentido de que algumas que vivem relacionamentos
abusivos possam se sentir felizes — começo a
imaginar a coisa. — Tipo, largar o lixo e reciclar
pelo novo? Genial!
Ele continua a rir, me endireito, me sinto a
vontade com o Zeus, é algo que eu não sei explicar.
Ele me dá liberdade para falar sobre o que quer que
seja.
—É que eu sou muito desapegado, eu nunca
consegui me imaginar tendo uma casa com filhos e
uma esposa, eu achava meio egoísta submeter
alguém a uma vida tão medíocre como casamento e
essas coisas, não sei explicar.
Zeus está deixando claro que nunca se
casará com ninguém, isso não é ruim, mas é
estranho, porque nós dois estamos namorando, no
entanto não é algo tão sério ao ponto dele querer
mesmo estar só comigo.
Ele nunca estará só comigo, sempre haverá
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outras pessoas, isso me faz pensar se eu realmente


estou pronta para viver isso com ele. Penso em
dizer algo, sei que ele ficará bem chateado, vou
dizer que acho que não sou a pessoa certa para ele
então, mas então ele volta a falar.
—Mas ai você apareceu e agora eu não sei
exatamente o que fazer. — Zeus me olha de um
jeito diferente, meu coração fica disparando.
Mas que grande merda, ele quis dizer no
passado, “consegui” “achava”, ele não está falando
de agora, está falando da vida dele antes de mim, Já
iria falar besteira, não tinha prestado atenção no
que ele falou.
—Não — pigarreio porque a voz quase não
sai. — Não sei como seria a minha vida se estivesse
casada, mas me acostumei com a vida que levo,
sempre me senti sortuda por ter conforto, papai me
disse uma vez que em algum momento da minha
vida eu teria que me casar com alguém, ele só não
disse que iria querer me obrigar a fazer isso,
mesmo que eu já soubesse que é assim na família
dele desde o início dos tempos.
—Não seria cômodo um casamento
arranjado?—Zeus questiona e pega um bloco de
queijo no prato.
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—Seria, mas não eu nunca me casaria com


alguém por conveniência, nem sem ao menos
conhecer ou gostar da pessoa.
—Se você quiser vir ao Canadá comigo
posso te arrumar um emprego como minha
professora de línguas particular.
Fico vermelha e rio, empurro ele pelo
ombro, Zeus ri e se inclina, seus olhos colados nos
meus, sua boca úmida e vermelha, ah, ele é tão...
Tão... Gostoso.
—Não quer? — indaga cheio de malícia. —
Garanto que pago bem.
Franzo a testa entrando no joguinho.
—E quais línguas você desejaria falar?
—Todas — ele olha para os meus lábios. —
Quero aprender todas as línguas que você quiser
me ensinar.
—O que colocou nesse vinho? — pergunto
e umedeço os lábios tentada.
—Nada — ele volta a me fitar. — Poderia
se despir para mim?
Pisco devagar, ainda não querendo acreditar
no pedido.
—Agora — isso soa mais como uma ordem.
— Tira toda a roupa para mim docinho?
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Devo obedecer?

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—Me despir, você disse?


—Sim.
Zeus me dá um sorriso tão lento que faz
meu coração disparar, seu olhar pousa de novo na
minha boca e fico dividida entre beijá-lo e obedecer
a seu pedido, fico confusa. Ele se inclina depois de
alguns instantes e sua boca toma a minha com
vontade, sua boca tem gosto de vinho bem como a
minha, compartilhamos o mesmo gosto abro os
lábios permitindo que sua língua explore a minha
boca mais uma vez, meu corpo se enche de
arrepios, ele toma a taça da minha mão e coloca em
cima do centro junto da dele.
Inclino-me para trás e toco seus ombros,
Zeus me puxa e suas mãos pousam sob as minhas
nádegas, ele as aperta com força e fico toda
ouriçada. Eu o olho me afastando um pouco, ao
mesmo tempo que tentada em começar a obedecer,
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meu bom senso me dizendo que seria


constrangedor.
—Não precisa ter medo — ele fala. — Você
é tão linda Isis, tem que perder a vergonha, seu
corpo é divino.
Fico mais confiante com a afirmativa, me
ergo sentada sob suas coxas e puxo a blusa que uso
para cima, ele toca as minhas coxas me olhando de
forma atenta, como se apreciasse me ver assim,
meus seios expostos, usando apenas um short de
dormir.
Afasto-me criando coragem e me ergo,
minhas mãos tremem um pouco porque me sinto
nervosa, tiro o short junto com a calcinha, tiro os
pés de dentro da roupa e deixo de lado me
erguendo, solto os cabelos, então fico diante dele
coberta de vergonha.
Ele me olha de cima abaixo devagar, os
olhos escuros reluzem uma admiração, quase um
prazer em me ver nua, junto às mãos na frente do
corpo, sei que estou totalmente vermelha, ele tira a
camisa sem tirar os olhos por um segundo e mim,
depois se inclina na minha direção se sentando
mais na ponta do sofá.
—Pegue a garrafa de vinho na geladeira —
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ele fala com a voz carregada. — Por favor,


docinho.
É só que sei que ele não vai tirar os olhos de
mim enquanto estou me afastando, mas mesmo
assim me vejo indo até a geladeira, logo que abro a
porta da geladeira sinto as mãos firmes me
segurando pela cintura.
Suspiro, fico olhando para a garrafa de
vinho na última prateleira de baixo da geladeira, me
inclino para frente, Zeus aperta a minha cintura
com força e sinto sua ereção encostando na minha
bunda, está quente e úmida, ele me beija o ombro e
fecho os olhos pegando a garrafa, me ergo e puxo a
porta fechando-a.
Ele toma a garrafa da minha mão e a coloca
em cima da pia, então sua mão vem para frente do
meu corpo, cheia de experiência, ela me toca o
meio das coxas com cuidado, mas também de uma
forma mais exigente, encosto as mãos na porta da
geladeira, da minha garganta saem suspiros, porque
sua mão me toca e sua boca deixa um rastro quente
e úmido nos meus ombros, de ponta a ponta, beijos,
chupões, mordiscos.
Sua outra me puxa pelo braço e me vira
para ele, minhas pernas estão bambas, meu
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estômago se enche de uma sensação quente, algo


estranho e maravilhoso, ele ergue a minha cabeça
segurando-me o queixo, eu o olho, sua mão direita
me toca em gestos circulares lentos, mas começam
a se apressar, isso me deixa sem ar, ofegante.
Sua testa se encosta na minha e Zeus fecha
os olhos, posso ver em seu semblante o quanto se
agrada em me tocar, ele gosta, ele morde os lábios
cheio de satisfação quando me contraio e sorri com
o canto da boca, então para de me tocar e ergue a
mão, ele esfrega os dedos como se só quisesse
comprovar algo, não olho para sua nudez.
—Sente-se na mesa — pede. — E abra as
pernas por favor.
—Zeus...
—Confia em mim?
—Confio, mas tenho vergonha.
—Não precisa ter docinho.
Depois que diz isso, ele lambe os dois dedos
sem um pingo de pudor, arregalo os olhos, ele se
afasta indo até a pia, demoro um pouco para
conseguir andar de novo, me aproximo da mesa e
subo nela, é uma mesa maior e quadrada de
madeira com cadeiras estofadas, me sento, Zeus
retorna com a garrafa de vinho.
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—Abre as pernas para mim querida — ele


pede e coloca a garrafa em cima da mesa, me
analisa quando abro as pernas. —Melhor, fica de
quatro.
—De quatro? — me espanto. — Mas...
—Sem mais, vamos, eu garanto que vai
gostar.
—Você não vai enfiar essa garrafa na minha
vagina certo?
Zeus em olha e agora ele quem fica
vermelho feito pimentão, coloco a mão na boca me
dando conta do que acabei de falar, ele segura
minhas pernas e me puxa, faz com que me vire na
mesa e me apoio nas mãos morrendo de vergonha,
ele faz com que dobre os joelhos e empurra a
minha bunda para cima, rapidamente sinto o
líquido frio sendo despejado na minha bunda, me
encolho toda, mas tão logo o líquido começa a
escorrer pela minha parte íntima, ele me abocanha a
bunda com força, vou para frente soltando um
gemido alto.
Uau!
Minhas mãos se fecham nos lados da mesa
e aperto a madeira sentindo a língua dele lambendo
a minha bunda toda, mordo os lábios apertando os
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olhos também, arfo com a sensação, é tão... Tão...


Delicioso.
—Kikinos! —exclamo sem ar. —Ah!
—Bom né? — ele pergunta e se senta.
Ele afasta as minhas nádegas para os lados e
começa a me lamber de novo, meu corpo vai para
frente e me encolho, Zeus desce com a língua para
minha entrada e ela contorna o canto com muito
zelo, ele se demora nessa parte me causando
arrepios quentes pelo corpo.
Estendo a mão fora de mim e meus dedos se
enfiam em seus cabelos, eu os puxo numa tentativa
de punir ele por todo o prazer que me provoca com
algo tão simples, ele se quer me toca, mas as
lambidas me deixam a cada segundo mais próxima
de algo maior do que tudo o que já tenha sentido na
vida.
—Kikinos você me enlouquece. — sussurro
entre gemidos de prazer.
—Você também me enlouquece docinho.
Sorrio, meu corpo indo e voltando cheio de
expectativa, sua língua deliciosa me lambe de cima
abaixo provocando agora esse calor insuportável no
corpo, quando estou prestes a explodir, ele me puxa
pelos quadris e minha bunda fica de fora da mesa,
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estou suada com a atividade, o sexo oral realmente


é algo que me deixa fora de mim.
Zeus sobe e devagar vai me penetrando
toda, minhas pernas escorregam na mesa e fico toda
mole enquanto ele me preenche toda, estou tão
úmida que não consigo sentir dor alguma, um leve
desconforto, o prazer, porém ultrapassa toda e
qualquer dúvida.
Ele segura as minhas mãos e me faz segurar
meus pés, afasta mais minhas pernas e me segura
pelos ombros, me arrepio toda enquanto ele começa
a se mover, aperto os olhos sofrendo com a
quentura que se faz no meu ponto mais sensível, é
algo que me faz tremer, sorrir e tentar suportar,
algo forte demais, tanto que a todo momento sinto
como se não fosse aguentar.
Zeus aperta meus ombros com firmeza e
suas mãos descem para os meus seios, ele os aperta
e beija meu pescoço, eu o olho querendo toca-lo,
mas seu semblante sério deixa claro que não quer
isso agora, aperto meus tornozelos com força e o
beijo, ele continua a me preencher com perfeição, o
vai e vem calmo, lento.
Sinto-me toda queimada de cima abaixo
enquanto o revisto com a minha carne e me entrego
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a essa onda maravilhosa de prazer, Zeus sai e me


pega no colo, ele me joga por cima de seu ombro e
toco sua bunda, beijo suas costas adorando a
sensação de provar o orgasmo rápido, ele me joga
no sofá e vem para cima de mim feito um bicho
faminto, abro as pernas e o beijo recebendo-o mais
uma vez.
Meus quadris se movem com ele e ele dobra
a perna puxando a minha para cima, aperto essa
envolta de seu quadril e nosso beijo se intensifica
enquanto nos movemos mais rápido, toco suas
costas, alcanço sua bunda e o apalpo, ele se ergue e
afunda dentro de mim soltando um gemido alto.
Encolho as pernas suportando o desconforto
mais presente enquanto ele força mais e mais
dentro de mim, eu o fito e beijo, fazemos bem
devagar agora, juntos, a cada metida dele, meu
corpo afunda no sofá, ele é um homem bem grande.
—Você é deliciosa — ele sussurra. —
Buceta selada.
—Ah Kikinos, poderíamos ficar o dia todo
assim — minhas palavras são arrastadas, não
resisto ao prazer que sinto. — Você faz tão bem.
—Você não aprende mesmo não é
menininha?
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Ele me puxa e se ergue, se senta e abro as


pernas me acomodando, ele me segura pelas
nádegas e se move comigo, me seguro nele e o
beijo adorando cada segundo. Eu o encaro porque
novamente me aproximo do orgasmo.
—Goza com essa buceta deliciosa em mim.
— ele pede e começa a morder meus seios — Goza
meu amor.
Sua boca prende meu seio direito entre os
lábios e chupa, me arrepio toda e começo a entrar
nesse mundo maravilhoso que só ele me faz ver, o
prazer me tomando toda, de novo, gozando com
ele, agora seu calor protegido por um preservativo,
mas ainda sim é maravilhoso, estamos conectados,
estamos juntos.
Confio nele, gosto dele, estou apaixonada
por ele!

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—ZZZZZ a mamãe chegou, trouxe café!


O berro me faz despertar, me estico na
cama, mas o Zeus está em cima de mim, toco suas
costas e ele me aperta também se movendo
devagar, mais uma vez escuto o som de batidas na
porta, não são tão fortes, mas presentes o suficiente
para acordar nós dois, Zeus se ergue sonolento e
vai para o lado, ele sai da cama impaciente, me
levanto morrendo de sono, depois arregalo os olhos
ao vê-lo nu descendo as escadas.
—Você não vai vestir nada? — pergunto
agora já bem acordada.
—Ela me irrita às vezes. — pragueja
nervoso e vai até o sofá.
Pulo para fora da cama procurando algo
para vestir, mas só consigo achar uma camisa dele
jogada num canto do chão, coloco rapidamente,
logo em seguida recolho todas as camisinhas que
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usamos ontem e levo para o banheiro, faço uma


careta ao descartá-las no lixo e lavo as mãos,
tomamos um banho quente antes de dormir, mas
tivemos relações duas vezes antes disso, então
trocamos de camisinha duas vezes, o Zeus ficou
com medo de rasgar.
—Ah, pelo amor de Deus mãe...
Escuto enquanto saio do banheiro, me
aproximo da cama e daqui posso ver uma mulher
de cabelos escuros e olhos castanhos colocando a
mesa do café, uma moça de cabelos mais escuros
está sentada na cadeira, arregalo os olhos
lembrando do que fizemos ontem nessa mesa e
minhas bochechas queimam.
—Como conseguiu derramar vinho aqui?—
escuto ela perguntar—você é um desastrado, sabia?
Seu irmão morou aqui por meses e nunca deixou
cair nada no chão.
—Mãe, pelo amor de Deus! — Zeus
pragueja, ele está usando a cueca que usou ontem.
— Dá para vocês irem embora?
—Em que momento vai nos apresentar ela?
Não precisa esconder a sua namorada Zeus, somos
pessoas civilizadas.
—Ah é, estou vendo.
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A mocinha deve ser a Afrodite, se bem que


eu acho que ela já tem uns vinte e poucos anos, ela
está muito bem sentada à mesa mexendo no celular,
sei que talvez não seja o melhor momento, mas...
Porque não?
Desço as escadas tentando arrumar meu
cabelo, não estou assim das mais nervosas, mas
preferia conhecer a mãe dele de um jeito mais
formal, porém eu acho que não estamos tendo
mesmo tempo para formalidades, acho que não
precisamos disso.
—Oi — digo logo que me aproximo. —
Bom dia!
—Eu disse que ela era ruiva não disse? — a
irmã mais nova de Zeus fala toda contente.
—Não liga para a Affie, ela é meio
desatenta ás vezes — a mãe do Zeus fala e estende
a mão para mim deixando o pano de pratos em
cima da mesa. —Sou Kellen, muito prazer e seja
bem vinda.
Ela sorri para mim abertamente, o Zeus é
muito parecido com ela, os cabelos, a cor dos
olhos, o nariz, ela é uma mulher muito bonita e
muito mais jovem do que eu imaginei, tem traços
finos, expressões suaves, é magra e pequena, não
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aparenta ter mais que cinquenta, difícil de acreditar


que seja mãe dele.
—Obrigada, sou Isis — digo apertando a
mão dela. — Sua sopa estava ótima, muito
obrigada senhora Kikinos.
—É Collins — Zeus corrige e percebo seu
mau humor de longe. — Mãe, deixa isso ai, eu faço
o café.
—Mas eu já trouxe tudo, sentem-se, eu
preparo, não vejo problema algum nisso. — insiste
Kellen voltando para perto do fogão.
Acho que ela é mesmo invasiva, mas não
creio que seja para tanto, seguro a mão dele e o
abraço, Zeus me dá um beijo na cabeça, ainda
arisco.
—Viu? Não dá para ter paz nesta família.
— pragueja.
—Tudo bem, não precisa ficar irritado por
isso, sua mãe só quer nosso bem.
—Ai você parece a Viviana falando —
Afrodite diz achando graça. — Que bonitinha ela,
parece um bichinho.
—Ela é bem mais velha que você espertona
— Zeus retruca. — Não é Docinho?
—Espera! — Afrodite diz. — Eu ouvi bem?
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Estou vivendo para te ouvir chamar uma mulher de


docinho?
—Vai se...
—Olha a boca — Kellen corta séria. —
Agora é sério Z, senta ai, vou servir o café.
Zeus puxa a cadeira e me sento, ele se senta
ao meu lado, fico tentando não olhar para a outra
ponta porque ela me trás recordações picantes da
noite de ontem. Eu o olho, percebo que além de sua
irritação inicial por conta de sua mãe ele está um
pouco nervoso, acho que não queria me apresentar
assim para sua família.
—Devo colocar uma roupa mais adequada?
— pergunto constrangida.
—Não — ele me olha. — Não precisa ter
vergonha.
—Nem você irritado, é sua família.
—Mamãe e eu ficamos com medo de que
fosse mentira, até que eu te vi pela janela ali dos
fundos ontem penteando os cabelos, ai eu soube
que não era ficção — Afrodite fala com bom
humor. — Fique tranquila, seremos só nós mesmo.
—Como gosta dos seus ovos Isis?—
questiona Kellen.
—Do jeito que fizer está ótimo —
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respondo. — O que o Zeus comer eu como


também.
Ele coça a barba e afasta os cabelos para
trás, vou ficando vermelha com o jeito como a irmã
dele nos olha, ela parece querer rir, é, realmente,
não esperávamos receber ninguém tão cedo. Fico
me lembrando dos momentos que tivemos ontem e
ainda mais constrangida com tudo o que fizemos
nessa mesa, no sofá e por fim na cama, quando
tudo estava silencioso e escuro ouvi nossos
gemidos se espalhando pelo chalé.
Havia um homem carinhoso demais comigo
na cama, uma parte de mim que não tinha medo
nem receio de se entregar a ele, me sentia pela
primeira vez dona de mim, das minhas vontades,
conhecer um homem na cama é uma coisa incrível,
me fez querer muito mais que apenas aquilo, depois
quando ele dormiu eu estava abraçando-o e me
sentindo alguém querida e especial, porque ele foi
muito carinhoso comigo.
A mãe de Zeus coloca ovos mexidos no
meu prato e umas torradas com geleia de uva no
canto, me serve café, para ele com mais ovos e
mais torradas, não tenho o hábito de comer ovos
todos os dias de manhã, mas cheira bem, pego os
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talheres e inicio minha refeição, Kellen se senta na


cadeira que fica de frente para nós dois, ela me dá
um sorriso toda contente, fico vermelha.
—Obrigada senhora Collins pelo café. —
digo.
—Ah, imagina, é o mínimo que eu posso
fazer por vocês dois, o Z é meio rabugento pela
manhã igual ao irmão dele, mas logo melhora —
Seus olhos me analisam com cuidado. — Então
querida, o que você faz da vida?
—Mãe!—Zeus exclama chateado.
—Sou formada em letras, mas não exerço,
eu moro com meu pai em Dubai, ou morava. —
respondo incerta, provo o café, está ótimo.
—Não tem que dar satisfação da sua vida
para a minha mãe. — Zeus diz com certa irritação.
Kellen para de sorrir, me sinto constrangida
por ela, ela se ergue fuzilando-o com o olhar.
—Só queria ser gentil com sua namorada,
queria que ela fosse bem recebida.
—Eu disse que levaria ela para vocês
conhecerem.
—Depois de quantos dias Zeus? Que falta
de educação, ninguém iriam morder ela não, eu sou
sua mãe, trata de me respeitar ora.
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A irmã dele se ergue fazendo cara de choro,


percebo que muito mais que uma briga, a mãe dele
parece magoada com suas ações.
—Eu quem pedi para descansar mais dias
Kellen, me desculpe, o Zeus não tem culpa. — falo.
—Bão precisa tentar encobrir esse grosso,
conheço muito bem o filho que tenho porque saiu
de dentro de mim, para depois de 43 anos cinco
meses e dois dias, me tratar assim, eu vou falar com
o seu pai, você está merecendo uma corrigida
daquelas Z.
Depois que fala ela se afasta toda nervosa,
Afrodite a segue.
—Mamãe! — escuto a irmã dele chamando.
Arregalo os olhos e não consigo nem me
mover, Zeus continua a comer todo chateado,
estendo a mão e toco seu braço, ele afasta o braço
com toda a brutalidade que me assusto, fico
espantada com o jeito duro no qual ele tratou sua
mãe, em ter visto essa discussão tão intensa e
rápida por algo tão pequeno.
Chego à conclusão de que mesmo que não
tenha a ver exatamente comigo é meio que minha
culpa, pego minha xícara de café e meu prato, saio
da mesa e vou para a sala, melhor não discutir.
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Verifico o chat pela milésima vez e


nenhuma resposta do Douglas através do número
da Eunice, não estou preocupada porque ela
visualiza, apenas não responde e eu acredito que
seja proposital, porque doente como meu pai é
imagino que ele esteja vigiando minunciosamente
cada passo das meninas.
—Eu não costumo tratar a minha mãe
assim, mas ela me estressou hoje.
Zeus se senta no sofá ao meu lado, tomamos
café afastados, depois ele colocou a roupa e saiu do
chalé, imaginei que ele tivesse ido falar com a mãe
dele, não quis parecer impertinente nem
intrometida, claro que odiei o jeito como ele me
tratou, mas preferi me manter afastada porque eu
não faço muito a linha paciente com pessoas assim,
sabia que se insistisse iríamos brigar e realmente
não estou muito afim, ele demorou muito para
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voltar, a visita da mãe dele foi um lembrete para


que eu colocasse uma roupa e parecesse decente e
foi isso o que eu fiz.
Tomei um banho, escovei os dentes e vesti
um jeans e uma blusa mais discreta, peguei o
esmalte porque quero pintar as unhas das mãos, não
faço a dias, não que faça com frequência, mas gosto
de trocar o esmalte de vez enquanto.
—Me desculpe — ele pede. —Eu juro que
nunca tratei mamãe daquela forma, já me desculpei
com ela.
—Desde que não se repita.
—Não era com você tá bem? Nem com ela!
É só que me senti pressionado com o jeito como ela
colocou as coisas, eu sei que ela nunca ficaria tão
feliz em saber a verdade sobre minha vida privada e
ver ela tão feliz porque trouxe uma mulher aqui me
irritou bastante.
Começo a ligar os pontos e isso me
entristece, porque eu sei que o Zeus está se
referindo ao fato de ser bissexual, não é mais como
me sentisse preconceituosa em relação a isso, eu
apenas não queria ter que dividir ele com mais
ninguém, mas essa não é sua realidade.
Acho que ele quer dizer é que seus pais
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nunca ficariam felizes de fato se ele houvesse


trazido um homem... O Thomas, mas que preferem
ter um filho heterossexual que namora alguém
como eu.
—Você nem tentou apresentar ele como seu
namorado?
—Não porque não somos namorados,
porque eu sei que eles nunca aceitariam e porque
não era um namoro, nunca foi, o Thomas e eu
somos aqueles tipos de pessoas que nunca quiseram
compromisso com nada nem ninguém.
—Você poderia tentar, talvez eles
reagissem bem, sua mãe parece uma boa pessoa.
—Poderia tentar Isis?— indaga ele
procurando meu olhar, parece tão infeliz. — O que
está falando? Quanto a nós? Nosso
relacionamento? Você acha que eu trocaria o que
temos pelo Thomas? Para com isso! Eu já disse que
gosto de você.
—É que você faz parecer que eu sou só um
cano de escape para sua sexualidade.
—Que? Não! — retruca de imediato. —
Claro que não, não posso negar que tinha outra vida
antes de te conhecer, mas esses dias tem sido muito
bons com você comigo, você é a mulher que eu
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quero estar, eu não gosto de você pelo fato de ser


mulher Isis, gosto de você por quem você é.
—Eu me sinto estranha às vezes porque
sinto que gosta dele de verdade.
—Gosto, mas como um grande amigo.
Ele segura a minha mão e entrelaça os
dedos nos meus.
Puxa-me e me sento em seu colo, Zeus me
abraça e encosto a cabeça em seu peito me sentindo
protegida e bem.
—Não trocaria o que temos por nenhuma
sacanagem no mundo, nem hoje nem nunca, você é
mulher que eu quero, sinto muito que tenha se
assustado com a forma como agi, eu não sou assim,
só fiquei irritado demais porque minha mãe veio
sem avisar.
—Não gostei do jeito como tratou ela. —
confesso incerta.
—Eu já me desculpei com ela e com a
Affie, mamãe ficou mesmo magoada e se serve de
consolo meu pai acabou com a minha raça, me deu
uma bronca daquelas, me senti como uma criança
insolente acho que nunca me senti tão mal comigo
mesmo como agora a pouco.
—Sua mãe queria ser agradável.
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—E bisbilhotar, acho que ela queria


confirmar mesmo que você é uma mulher isso me
chateia demais Isis.
Eu o fito, toco sua face e decido falar algo
no qual chego a uma conclusão.
—Não tem que esconder dos seus pais isso
Zeus, eles nunca te tratariam mal por ser bissexual,
eles não são como os meus pais que não ligam para
mim, eles te dariam total apoio, eu também apoio
isso, é quem você é!
Ele fica calado, me olha todo sério, logo
desvia o olhar para baixo e me aperta com força.
—Ah, menininha queria que fosse tão fácil
assim, um homem na minha posição não pode
simplesmente se dar ao luxo de falar uma coisa
dessas para dois pais que só esperam orgulho de
seu filho mais velho.
—Você deve ser um orgulho muito grande
para sua família, mas não deve se preocupar com
isso, os olhos da sua mãe brilham quando ela te
olha, se ela viveu todo esse tempo sob a suspeita de
que você era gay e te amou, porque não amaria
agora?
—Não quero que eles me olhem como você
me olhou, que sintam nojo de mim.
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Sinto-me mal em ouvir isso porque eu


nunca queria ter demonstrado o quanto aquilo me
abalou, mas infelizmente sou humana, também
cometo erros.
—Me assustei Zeus, mas isso não mudou a
pessoa que você é para mim, não seria melhor que
dissesse para eles sobre sua sexualidade? Eles vão
entender com certeza.
—Você acha?
—Sim.
—Você vem comigo para o Canadá em
duas semanas ok? Não quero ir sem você.
—Eu irei.
Dou-lhe um sorriso e um beijo, sei que o
Zeus gosta de mim, do jeito dele, mas gosta, não
quero ter que voltar para casa do meu pai, quero
poder tomar minhas próprias decisões e fazer o que
eu considero melhor para mim, acho que também
precisarei de um emprego.
—Vou tentar alguma vaga de professora no
Canadá, para poder ter algum dinheiro, eu vou me
organizar e pedir que o Douglas me mande um
dinheiro para eu ir pagando as contas, acha que
consigo achar algum apartamento por lá Zeus?
—Pode ficar no meu se desejar por agora,
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mas... Está mesmo pensando em ir para o Canadá


morar comigo?
—Se você quiser eu posso ir para a casa da
minha mãe, sei que ela não me negaria moradia.
—Não, não é nesse sentido é que você quer
mesmo ir, confia em mim, isso me deixa muito
feliz Isis, de verdade porque eu já estava
começando a me estressar em pensar que em algum
momento você iria embora.
—Não devo? — pergunto sem jeito.
—Não, de nenhuma forma — responde
ficando sério. — Eu sei que a minha vida é um
rolo, mas eu vou mudar isso.
—Talvez não seja o melhor para você Zeus,
talvez você sinta falta da sua vida nas surubas.
A carranca se desfaz e ele começa a sorrir.
—Docinho, você tem que parar de chamar
de suruba.
—Orgia?
Ele gargalha, encolho os ombros, fico
vermelha, mas encantada com seu riso.
—Tá bem — ele se endireita. —Parei.
—É que é diferente Zeus.
—Eu sei que é, você está bem?
—Porque não estaria?
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—É que transamos bastante ontem, não


quero pensar em ter te machucado.
—Estou bem — fico vermelha. — Não
machucou não.
—Que tal se você for a uma médica e fazer
alguns exames?
—Pode ser Zeus.
—Vou encontrar alguma médica boa e
marcar horário para você.
—Obrigada.
Ainda envergonhada lhe dou um beijo no
rosto, ele me beija com lentidão e sua mão começa
a deslizar para dentro do jeans que eu uso, fico
meio sem ar.
—Cuidar dessa buceta com muito zelo
porque agora ela é só minha.
—Sim.
Ele aperta lá e meu corpo sobe.
—Vem para cama comigo vem? — convida
de forma sugestiva.
—Sim.

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—Você nunca pensou em se casar?


Essa é uma boa pergunta.
Analiso o semblante dele, a barba por fazer,
seus olhos são escuros, os cabelos estão
desordenados, ele está deitado ao meu lado, seus
dedos se enfiam nos meus cabelos numa massagem
gostosa no meu couro cabeludo, toco seu peito, a
cabeça apoiada em seu braço, gosto do jeito como
ele me trata depois do sexo, é muito carinhoso, mas
não é só isso.
—Porque a pergunta? — contra pergunto
incerta.
—Seu pai não quer que você case?
—Se a pergunta é: Isis porque você tem 29
anos e ainda não pensou em se casar? A resposta é:
não sei Zeus, eu realmente nunca me preocupei
com isso, porque na minha vida nunca houve um
real espaço para pensar em relacionamentos.
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—E agora? — ele indaga todo relaxado.


—Não sei — encolho os ombros. — Acho
que meu pai só quer satisfazer algum capricho dele
ao me arrumar um casamento arranjado.
—Mas você não imagina que seja melhor
para você? Apenas não vai viver sua velhice
sozinha.
—Não me casaria com alguém só para não
ficar só.
—Não?
—Lógico que não.
Zeus vem para cima de mim de repente e
me olha de uma forma bem curiosa.
—Posso confessar uma coisa?
—Claro.
—Muitos casais nos quais me envolvi
pareciam sempre em busca disso sabe?
—Disso o que?
—Essa auto confiança, as mulheres
pareciam querer muita atenção, a companhia de
uma terceira pessoa, enquanto os homens iam mais
por vontade de ter liberdade.
Reflito sobre isso, não sei se é algo
negativo, é um mundo que nunca conheci e nunca
vivi, mas ele já é bem entendido.
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—Eu não sei explicar, não sei se é pela


necessidade de atenção ou se pelo prazer em si,
pela adrenalina, todas as pessoas que eu conheço
que estão nesse meio gostam.
—Mas a questão é a pessoa ter maturidade
o suficiente para entender o que ela quer e o que ela
precisa, acho que isso responde a sua pergunta, eu
nunca quis casar e eu nunca precisei, eu nunca vi
no casamento uma necessidade de estar com
alguém ou de viver algo que nunca vivi porque eu
sempre tive tudo o que eu queria, exceto a atenção
dos meus pais, eu sempre me senti feliz em saber
que eu de alguma forma estava ajudando alguém
em trabalhos voluntários, sabia que se me casasse
eu não poderia viajar, eu teria que viver a minha
vida em função de outra pessoa e abriria mão das
minhas necessidades para viver as necessidades de
outra pessoa.
—Mas casamento significa isso Isis,
compartilhar.
—É — concordo. —, mas é muito relativo,
porque na minha cultura a mulher deve ser
totalmente submissa à vontade do homem.
—Não é muito diferente da cultura daqui.
—No entanto lá a mulher não pode
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trabalhar, estudar, ela deve ser dona do lar e encher


a casa de filhos.
—E nunca pensou em ter filhos?
Engravidar?
—Eu não sei se conseguiria ser mãe como
já te disse, eu acho uma grande responsabilidade.
—O Hades mudou completamente depois
que foi pai.
—Em que sentido?
—Eu não sei explicar, mas ele está mais
carinhoso conosco, ele sempre foi é claro, de nós
três ele sempre foi o filho que mamãe mais
protegeu e cuidou, a Affie é a mais apegada a
papai.
—E você?
—Ah, eu sou o filho que eles querem muito
que se case, mas que não consegue se ver preso a
nada nem ninguém.
—Mas sua mãe te ama muito Zeus, pode ter
certeza, ela se preocupa demais com você.
Ele contorna meus lábios com o indicador,
toco sua face afastando o cabelo para trás.
—Eu não sei como meus pais reagiriam se
soubessem a verdade sobre mim.
—Eles te apoiariam, eles amam você, não
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são como os meus pais que me rejeitaram e ficaram


me jogando de um lado para o outro.
—Eles não te merecem, você é boa demais
para eles docinho.
Meu sorriso é involuntário, mas sinto que
pela primeira vez na vida alguém parece realmente
me entender e me escutar — além do Douglas —
sem dar desculpas para justificar a forma como
meus pais sempre me trataram.
—Queria que fosse diferente entre nós dois
sabe? Queria que você fizesse parte do meu mundo
— ele me fita. — Que aceitasse quem eu realmente
sou.
—Eu aceito você...
—Ah Isis, para!—exclama ele e vai para o
lado, me olha de um jeito estranho. — Que mulher
em sã consciência aceitaria alguém que gosta de
transar com outras mulheres na frente dela?
Engulo a seco essa pergunta.
—É o que você quer? — pergunto nervosa.
—Mas é claro que é! Você é livre Zeus, para fazer
o que desejar...
—Como poderia ser livre Isis? — ele
pergunta chateado. — Eu gosto de você.
Ergo-me, fico sentada na cama, ele me dá as
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costas, não sei como agir nem o que falar, tenho


medo do jeito como a discussão toma forma, como
ele se irrita.
—Eu não quero fazer merda em relação
você, mas sempre que eu penso em abrir mão da
minha vida por você eu me sinto chateado demais,
o que posso fazer para mudar isso Isis?
—Nada — respondo magoada. — Basta que
volte para sua vida.
—Não quero você longe de mim.
—Zeus, em algum momento eu terei que ir
para longe.
—Não estou falando fisicamente Isis, tenho
sentimentos por você, nunca senti isso por
ninguém, mas é que eu tenho medo de não
conseguir largar a antiga vida e nosso namoro virar
uma frustração para nós dois.
—Eu entendo.
Isso me entristece.
Nunca me senti suficiente para ninguém em
minha vida, agora o Zeus fala isso e me sinto
menor que um grão de arroz, porque me faz sentir
pequena e não merecedora de nada que venha dele,
enquanto sinto que meu coração fica estranhamente
apertado, chego à conclusão de que nesse sentido é
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algo que não posso mudar ou fazer por ele, é a vida


dele.
É a decisão dele.
—Estou dividido. — ele fala baixo, a voz
cheia de estranheza, se quer me olha.
E eu entendo, e entender isso dói muito,
porque só me vem uma pessoa a cabeça: Thomas.
É isso, ele gosta dele, o suficiente para que
se sinta preso à antiga vida e quem sou eu para
pedir que ele seja diferente? Que haja diferente?
Conheço ele há apenas alguns dias, tudo que
estamos vivendo é bem rápido, mas o que posso
fazer?
Ele não vai mudar por mim e nem deve, é
uma decisão que ele tem que fazer por ele mesmo,
saber o que ele quer.
—Eu vou tomar um banho. — Zeus avisa e
se levanta.
Depois vai para o banheiro, fico sentada na
cama revirada imaginando o quanto isso é
complicado e que se continuarmos talvez fique
ainda pior, meu celular vibra em cima do criado.
Douglas!
Olho às mensagens rapidamente, eu as
respondo e me vejo saindo da cama, porque cada
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mensagem me gera imenso medo dentro do peito,


alguns prints, tudo chegando ao mesmo tempo, me
apavoro.
Olho para a porta do banheiro, escuto o som
do chuveiro, meu coração se contraí, mas
infelizmente agora tendo ouvido essas coisas dele e
ao ler as coisas que o Douglas me enviou, não
posso mais continuar com isso.
Não aqui, não mais, é hora de partir.

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—Isis, o que está fazendo aqui fora?


Não queria me assustar, mas como está um
completo silêncio enquanto eu espero meu táxi,
acabo me assustando, logo de cara vejo Kellen se
aproximando, a mãe do Zeus usa uma calça de
algodão e uma blusa de mangas, chinelas, os
cabelos estão presos num coque mal feito.
—O guarda me avisou que alguém estava
saindo pensei que fosse a Affie — ela olha para a
minha mala e depois para mim. — Posso ajudar em
algo?
—Não — respondo e minhas bochechas
queimam. — Eu já chamei o táxi.
—O Z não nos avisou que você iria partir
hoje — ela comenta confusa. —Na verdade ele
disse que ficariam por mais alguns dias antes de
irem para o Canadá.
—Pois é — realmente não sei o que dizer.
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Ficamos caladas, ela fica me olhando de um


jeito suspeito, aperto a alça da mala entre os dedos,
não consigo me mover direito, não queria me sentir
tão mal em partir assim, já chorei muito desde que
comecei a pegar as minhas coisas e colocar na
mala.
Sei que devo partir, não posso ficar por
muitos motivos, só que eu também sei que se
falasse para o Zeus eu não conseguiria sair daquela
casa, porque ele me convenceria de que eu deveria
ficar, de que seria o melhor, só que depois de nossa
conversa e das mensagens do Douglas, não posso
ficar.
—Vocês brigaram? — Kellen questiona. —
Ele foi grosso com você não foi?
—Não! — digo de imediato. — O Zeus é
muito carinhoso comigo, ele é maravilhoso, ele não
me tratou mal.
Ela me olha de cima abaixo e se aproxima,
seu olhar está cheio de preocupação.
—O que foi Isis?
Parece que tem um caroço na minha
garganta, um entalo que não acaba mais, eu queria
poder ficar, mas sei que não vou conseguir, já é um
peso maior do que eu possa carregar só o fato do
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Zeus ter o passado dele, ter que conviver com o


fato de que ele gosta de outra pessoa é ainda pior.
—Nada. — respondo nervosa.
—Sei que está acontecendo alguma coisa,
se ele tiver encostado em você...
—Não — interrompo seu olhar ameaçador.
— Pelo contrário, o Zeus é um homem muito
carinhoso e atencioso comigo, de verdade, é que eu
tenho que ir mesmo.
—E ele aceitou assim numa boa?
Ela conhece mesmo o filho que tem.
—Ah, você não avisou não é mesmo? — ela
revira os olhos e se aproxima. — Tudo bem, ainda
dá tempo de voltar...
—Eu não quero voltar — respondo e recuo
um passo. — Não posso.
—Besteira, vocês se acertam...
Chateio-me com o pouco caso que ela faz
do que eu acabo de falar.
—Acontece que ele não gosta de mim
senhora Kellen, ele gosta do Thomas.
Kellen hesita, não consigo olhar nos olhos
dela depois disso, escuto o som dos berros, é algo
distante, mas escuto meu nome.
—É o Zeus — Kellen diz de repente. —
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Olha, eu sei sobre o meu filho e a vida dele, mas


não faz mal Isis, sei que ele gosta de você, que ele
sente algo por você, se você for embora agora vai
machucar muito o Z.
—Eu não posso ficar! — exclamo querendo
chorar. — Meu pai está vindo me buscar, ele já
descobriu que eu estou aqui, ele vai fazer um
escândalo.
—Você não precisa ter medo, ele não passa
pelos portões sem a minha autorização — Kellen
responde e toma a mala da minha mão. — Agora
me escuta, o Zeus é meio complicado mesmo, mas
ele ama você querida, ele só precisa de um pouco
da sua paciência.
—Ele não gosta de mim — nego. — Eu
preciso ir embora.
—Claro que ele gosta, não está ouvindo os
gritos dele? Ele está vindo ai desesperado achando
que você foi embora, tenha calma com ele, o Z é
assim mesmo.
—Está falando isso porque tem medo de
que ele fique com o Thomas?
—Thomas? Você acha que o Zeus ficaria
com ele? Ele é muito galinha!
E o Zeus não?
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—Isis! — escuto o grito mais próximo. —


Isissssss!
Kellen olha para os lados desesperada e
logo em seguida joga a minha mala por cima do
muro, se me perguntassem de onde ela tirou tanta
força não saberia explicar, se bem que eu também
nem peguei tudo, ela me puxa pelo braço e me faz
sentar na calçada, se senta ao meu lado.
—O Z adora você, ele não fala em mais
ninguém desde que te conheceu, você devolveu ao
meu filho a alegria que ele perdeu a muitos anos
desde que começou a ir a esses lugares.
—Então vocês sabem?
—Eu sei de tudo sobre os meus filhos, eles
acham que me enganam, pensam que eu e o
Lorenzo somos trouxas, o Hades é chegado numa
erva, uma vez eu peguei ele fumando nos fundos,
ele não sabia onde enfiar a cara, enfim, o que eu
quero dizer é que nem tudo o que parece é!
Quero sorrir, Kellen da umas batidinhas nas
minhas costas e eu a abraço.
—Calma, calma, a vida é assim mesmo
querida, você e o Z vão aprender a se resolver.
—Eu duvido muito senhora Kikinos.
—É Collins.
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—Ah Isis, graças a Deus! — escuto a


exclamação nervosa dele.
Kellen se levanta e me levanto também, mal
consigo olhar na cara dele, fico esperando por uma
bronca quando sinto um abraço apertado, vindo de
braços grandes e quentes.
—O que diabos estão fazendo aqui? —
escuto Zeus perguntar para a mãe.
—Ué, eu estava mostrando o condomínio
para a moça, você vive prendendo ela, queria
conhecer o lugar, dar um passeio — Kellen
justifica. — Que tal uma pizza lá em casa hein
querida? Com direito a um filme e sorvete?
—Seria ótimo. — concordo.
Afasto-me dele, Zeus beija a minha cabeça
e ergue minha face.
—Não faz mais isso entendeu? Fiquei
morto de preocupação.
—Por quê? Não precisa disso!
—Precisa sim! — determina. — Me
preocupo com você.
Estou vendo, ele saiu do chuveiro enrolado
numa toalha, usa chinelas.
—Vamos logo — Kellen chama e começa a
se afastar. — Filho melhor se apressar para não
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pegar um resfriado.
Zeus me puxa para ele e me aperta com
força, sei que a Kellen não tem razão, mas acho que
no fundo ao menos atração ele deve sentir por mim,
estava péssima em pensar que iria embora e não o
veria mais, mas esse abraço me faz querer ficar.
—Não faz mais isso está bem? — ele pede
quando a mãe dele já está entrando pelos portões da
propriedade. — Por favor, não faz mais isso!
—Zeus eu acho que não devo ficar.
—Me desculpe pelo que falei está bem?
—Papai já sabe que estou aqui, ele
conseguiu Zeus, ele vai tornar minha estadia aqui
um inferno.
—Não vai não, calma!
—O Douglas me mandou mensagens, prints
de ameaças que papai fez a ele por e-mail,
mensagens de mamãe, os dois estão vindo me
buscar, não pensei que ela concordaria com essa
sandice, eles estão vindo com o intuito de me levar
devolta.
—Mas não vão! — Zeus determina e fica
sério. — Vamos entrar, não se preocupe, eles não
vão se aproximar de você querida.
Se esse fosse o maior dos problemas que
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tenho na vida... Mas me deixo levar por ele, por sua


promessa, ao menos por enquanto.

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—E então? O que achou da pizza?


—Está ótima senhora Collins. — respondo
sincera.
Eu acho que já estou na terceira fatia,
estamos na sala assistindo um filme, o pai do Zeus
desceu a alguns momentos com a irmã dele, ele se
apresentou usando a língua dos sinais é um homem
muito simpático e sorridente, bonito, apesar de que
ainda acho o Zeus bem parecido com a mãe dele, a
Affie é que se parece com o pai, ela tem os cabelos
como os dele, o nariz, o formato das faces, lábios
mais cheios é verdade, mas fora isso, muito
parecida com Lorenzo.
Zeus voltou ao chalé e colocou uma calça,
está sem camisa mesmo, sentado ao meu lado ele
devora sua fatia de pizza em silêncio, acho que já
está na quarta ou quinta fatia, estou um pouco
envergonhada por mais cedo, porém acho que em
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toda e qualquer hipótese tenho minha razão.


—Muito obrigada. — completo.
A massa é caseira e o molho também, ela
fez de calabresa e quatro queijos, há algum tempo
não como algo tão saboroso, bebo um gole do meu
suco, Kellen colocou tudo em cima do centro da
sala, molhos, a pizzas nas placas, ela é tão mãe!
—Não pai no final eles dois morrem. —
Affie fala gesticulando só com uma mão, a outra
segura a pizza.
—Não fale de boca cheia mocinha—Kellen
repreende. — Me ajudem com o sorvete, preciso
derreter a calda para servir com sorvete.
Affie e Lorenzo se levantam e vão para
cozinha seguindo a Kellen. Zeus estende a mão e
toca a minha face, com o polegar ele limpa um
canto da minha boca, estou sorrindo bastante sem
jeito com a forma como ele me olha, consigo
entender porque ele não sai da daqui, porque
sempre vem ficar com os pais, eles são muito
carinhosos com ele, receptivos e atenciosos, queria
ter tido uma sorte dessas, ao invés disso vivo sendo
perseguida pela lembrança amarga de que meus
pais nunca me deram um terço da atenção que eu
pedi, do amor.
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É estranho ver famílias unidas e perceber


que minha única família não está aqui comigo, o
Douglas.
—Você estava indo embora não é? — ele
pergunta baixinho, seus olhos não saem dos meus.
—Estava — respondo incerta. — Porque é
o certo a se fazer.
—Fazer a coisa certa para você significa me
abandonar?—Zeus indaga ainda bastante calmo.
—Fazer o certo para mim significa te deixar
ser feliz — respondo. — Com sua vida, com coisas
que você gosta, eu não posso fazer parte do seu
mundo.
—Eu odiaria que fizesse, porque eu estou
muito feliz com você ao meu lado, desde que te
conheci meus dias tem sido melhores.
—Mesmo sem “ele” por perto?
—Isis, nunca houve ele.
—Não quero que se arrependa de ficar
comigo.
—Eu não me arrependo.
—Zeus isso é sério!
—Eu sei que é sério.
—Sério de verdade.
—Docinho eu sei.
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Suspiro, ele me analisa e me dá um selinho.


—Não faz mais isso tá bem?
Percebo a súplica em seu olhar, um medo
estranho.
—Você quer que eu more com você?
—Eu quero que esteja comigo sob qualquer
circunstância Isis.
—Eu posso trazer o Douglas e as meninas
para morarem conosco? Ele só tem a mim e elas
também, sei que papai demitirá ele porque ele me
deixou vir com você.
—Docinho você pode trazer quem quiser,
desde que não fuja mais de mim.
—Obrigada Zeus.
—Escuta, eu gosto de você como nunca
gostei de ninguém Isis, mas se sempre que eu tentar
me abrir você fugir as coisas vão sair do controle.
—É que você fez parecer que sua rotina é
incompatível comigo, que gosta mais do que faz
com ele do que quando fazemos amor.
—Não posso negar o meu passado, mas
com certeza quando fazemos amor eu me sinto
muito diferente.
—Também me sinto diferente Zeus, mas
não quero ninguém entre nós, não quero te
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machucar nem vice versa.


—Não há.
—Você parecia chateado.
—E eu estava, porque me senti ingrato em
saber que tenho você ao meu lado e ainda sim
ficava tentando pensar na minha antiga vida.
—Eu confio muito em você.
—Eu também confio muito meu amor, para
com isso!
Acabo sorrindo, Zeus me beija com um
carinho incomum, sei que ele gosta de mim é só
que às vezes é complicado demais lidar com sua
realidade.
—Eu adoro você Isis.
—Eu também adoro você.

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Desperto com o som do celular do Zeus


vibrando em cima do criado, ele se estica e nem se
dá ao trabalho de atender, silencia a chamada, me
estico na cama sentindo o peso e o calor de seu
corpo, aperto a perna envolta de seu quadril e ele
me beija o pescoço se esfregando em mim.
—Você é pesado demais. — protesto, mas
não largo ele.
—Me deixa aqui quietinho. — pede
sonolento.
Beijo sua cabeça, ele se ergue e apoia a
cabeça no travesseiro, abre os olhos todo
preguiçoso, lhe dou um sorriso e toco sua face, o
Zeus é um cara e tanto, ele me trata com muito
carinho e respeito quando fazemos amor, mas
ontem não fizemos amor, comemos pizza e sorvete
depois viemos para cá escovamos os dentes e
dormimos juntinhos, ontem foi uma noite meio
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estressante, mas dentro do possível acabou bem.


Toco seus lábios, seu nariz e seus olhos, ele
beija a palma da minha mão e entrelaça os dedos
nos meus, me sinto tão bem com ele por perto, eu
acho que ele é o único homem na face da terra que
nunca me criticaria por eu ser quem sou e me
comportar como eu quero e isso é muito mais que
bom.
—Gostou da sessão de cinema de ontem?
— pergunta.
—Foi muito legal, espero que participemos
mais vezes — respondo. — Sua mãe é uma mulher
muito receptiva.
—Ela sabe ser legal quando quer.
—Ela é legal.
Ele sorri, os cabelos caindo por cima do
rosto, afasto mecha por mecha com cuidado, os
olhos castanhos se fixam em mim, vívidos,
contentes, o Zeus é um desses homens que tem
quarenta anos e adora a família, mas as vezes dá
uma de durão ou coisa assim, mas depois da
conversa que tive ontem com a mãe dele, tenho
certeza de que ela é uma ótima mãe, eu bem queria
ter uma mãe que me aconselhasse e me escutasse,
mamãe mal fala comigo por mensagem por falta de
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tempo.
—Está calada.
—Pensando aqui nas chances de ter uma
noite em família tão agradável quanto ontem.
—Seus pais não veem filmes com você?
—Você acha que meu pai tem tempo para
mim ou minha mãe?
Ele fica calado.
—Meus pais são muito bons em dar
qualquer coisa para mim que não exija a presença
ou a atenção deles.
—Você merece mais docinho.
—Não sei se é questão de merecimento, me
sinto ingrata ás vezes por não saber gostar só do
que tenho apenas, por querer mais.
—E você merece sempre mais.
Dou-lhe um selinho.
—Você é muito gentil.
—É a verdade, sei que não posso criticar
seu pai, mas sempre priorizo a minha família nesse
sentido.
—É, e papai me troca por uma suruba, o
que esperar da minha mãe? Que seja um tipo de
stripper?
Zeus dá uma risada alta, coloca beijos
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quentes nos meus lábios, logo escuto o som de


batidas na porta.
—Deve ser a sua mãe — cochicho. —
Melhor nos vestirmos e não seja mal educado com
ela.
—Eu não serei — ele avisa e vai para o
lado. — Vou pedir que ela nos espere na casa dela,
vai ligando o chuveiro?
—Tá.
Antes que eu saia da cama, ele me puxa e
me beija, quando me solta estou sorrindo, me afasto
usando uma calcinha, dormimos quase nus ontem,
vou para o banheiro e me aproximo do lavatório,
escovo os dentes, tranquilamente, leva alguns
minutos até escutar o som de uma voz masculina
meio apreensiva.
Lavo a boca e visto uma camisa dele que
acho pendurada no banheiro, logo me aproximo da
porta do banheiro e saio, logo daqui consigo ver o
Zeus usando um jeans e sem camisa discutindo
com um cara que eu nunca vi na vida.
—Você só pode estar brincando comigo...
—Eu não estou, melhor você ir Thomas.
Thomas!
Fico em alerta, me encolho de imediato e
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parece que os músculos do meu corpo doem com a


força da contração.
—Ela sabe sobre nós? — pergunta Thomas.
Ele é moreno, tem olhos castanhos e é um
pouco mais baixo que o Zeus, cabelos cortados e
penteados para o lado, são lisos, ele tem um porte
atlético e usa uma calça de malha, tênis e uma
camisa branca de mangas, ele é lindo.
—O que ela deveria saber Thomas? Somos
amigos!
—Agora somos amigos? Depois de todas as
coisas que passamos juntos nesses dez anos?
—Thomas do que você está falando?
—Você sabe muito bem do que eu estou
falando.
—Se estiver se referindo aos nossos
passeios noturnos não há o que eu possa fazer, não
irei mais.
—Por quê? — Thomas está nervoso. —
Fala sério Z? Buceta tem demais em todo lugar
para aonde formos.
—Não é só por isso, eu e a Isis estamos
namorando sério, não quero meter ela nisso e nem
ela quer participar.
—Ah então agora você virou bibelô da filha
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do seu futuro investidor? O que é hein? Vai se


envolver com ela para chantagear o pai dela?
—Não, eu nunca faria isso com a Isis, gosto
dela.
—Ah, mas ela deve saber que você só
seduziu ela porque o pai dela é um dos seus
investidores.
—Eu não seduzi ela Thomas, eu e ela
começamos a ficar e aconteceu e em segundo lugar
o pai dela não é meu investidor, de onde tirou isso?
—Porque iria atrás dele?
—Eu não fui atrás dele, fui atrás da Isis.
Thomas fica sem reação, eu fico sem
reação.
—Eu já te disse que gosto dela há algum
tempo, eu me interesso por ela e eu te avisei que ela
não seria parte disso, eu não sei o que você veio
fazer aqui.
—Você está tão convicto assim de que não
vai querer mais me ver?
—Thomas eu disse para não vir.
—Eu só queria saber se você estava mesmo
bem.
—Poderia ter mandado mensagem.
—Você nem visualiza as minhas
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mensagens.
—Não ando com tempo.
—Não para mim.
—Sinto muito, por favor, vai embora.
—Ok.
Thomas começa a se afastar todo irritado.
—Quando cansar de comer essa garota
sonsa, me liga, arrumo uma que dá de dez a zero
nessa ninfeta.
Zeus o segue até a porta e a tranca todo
sério, volto para o banheiro e tiro a camisa, coloco
no mesmo lugar então ligo o chuveiro.
Eu espero muito que ele não me omita isso.

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—O Thomas esteve aqui há pouco.


—Ah, mesmo?
É que eu não sei mentir, mas às vezes eu até
consigo fingir surpresa em algumas situações, Zeus
seca os cabelos com a toalha de rosto, estou
secando os meus com o secador, acabamos de sair
do banho, ele entrou no box calado não disse nada
não puxei assunto porque sabia que se tentasse
talvez acabasse falando algo que não queria, quis
esperar ele falar, e pelo visto não demorou muito.
—Sim. — ele afirma todo sério e se encosta
no batente do lavatório secando os cabelos, a toalha
enrolada em sua cintura. — Discutimos e pedi que
ele fosse embora, acho que eu meio que coloquei
um fim em tudo o que andava fazendo com ele nos
lugares onde íamos.
—Porque quis? — desligo o secador e o
fito.
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—Sim, porque eu estou cansado e


francamente, não sei se vale mais apena.
—Isso quer dizer que não vai mais... A
essas casas de suruba? — pergunto envergonhada.
Ele sorri, os cabelos caindo dos lados do
rosto, lábios sexys, olhos afiados, é óbvio que eu
não esperava ouvir algo tão concreto apesar de tê-lo
ouvido mesmo dar um basta na “relação” que
mantinha com o Thomas.
—Gosto disso em você Isis. — fala
calmamente.
—O que?—pergunto confusa.
—Sua descrição. — ele joga a toalha por
cima do ombro. — Eu acho que até a mamãe nos
ouviu discutindo.
Fico vermelha.
—Não vou me meter nas decisões que
tomar para sua vida, serão suas escolhas Zeus —
confirmo. — Eu entendo se você quiser manter seu
estilo de vida, só não quero participar dele.
—Eu não sei mais se quero viver o que
tinha antes, você me sacia.
Fico ainda mais corada.
—Eu também não sei se seria mais
suficiente para mim, não quero te dividir com
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ninguém, então acredito que a monogamia seja algo


que fará bastante parte da minha vida.
—Tipo só nós dois?
—Não tem sido assim?
—Tem, mas é que sei que você gosta de
puteiros.
—Docinho — os lábios se abrem em outra
risada. — Não fala assim dos puteiros onde eu vou.
—Você e o Thomas não vão mais se ver?
—Bom, eu acho que não conheço ele o
suficiente para saber que ele ficará bem irritado por
um bom tempo, o Thomas adora ser primeira opção
na vida de todo mundo, mas sempre trata a todos
que ele conhece como última.
—Eu acho que entendo o que você sempre
disse por “relação”, vocês desenvolveram um
vínculo pelos anos de amizade e safadeza.
—Gosto do Thomas, mas ele sempre foi um
grande amigo, nós dois não passamos disso,
gostamos das mesmas coisas, porém ele é meio
irresponsável.
—Em qual sentido?
—Todos possíveis, ele não consegue se
afeiçoar a ninguém, é um bom administrador, mas
não sabe como gerir a própria vida.
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—Você nunca foi assim?


—Já, mas eu nunca deixaria a empresa, por
exemplo, para ir transar com quem quer que seja do
nada.
—Ele faz isso?
—Faz.
Eu acho que é por isso que a Kellen o
chama de galinha.
Zeus me puxa pelo braço e coloca um beijo
leve nos meus lábios, enlaço seu pescoço.
—Entendo que ele goste de você, mas ele
precisa aprender a respeitar suas decisões Zeus.
—Eu acredito que seja isso também.
—Não importa qual decisão você tome
desde que seja o melhor para você.
—Eu já tomei minha decisão, ela é você
Isis, eu não quero ter que pensar na minha outra
vida, eu gosto do que estamos construindo e não
quero perder isso para nada ou ninguém.
Eu o abraço.
É muito bom sentir-se como primeira opção
de alguém no mundo, mas estar ao lado desse
alguém e ele ser sua primeira e única opção.
—Não sei se posso te garantir felicidade
Zeus, não como a vida que você levava.
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—Não vai, porque eu não ia para me sentir


feliz, eu ia para me sentir livre, para fazer coisas
que me fazem crer que eu sou dono de mim, não
entenderia.
—Não se sente livre ao meu lado?
—Sinto.
Entendo o Zeus, ele quer dizer que talvez
vinculasse a poligamia a algum tipo de liberdade
que a vida monogâmica não lhe oferece, não quero
sentir que prendo ele de nenhuma forma, mas acho
que já chegamos mesmo que no decorrer de poucos
dias, numa nível mais sério do que estamos
vivendo, não apenas pelo sexo, mas porque eu
percebo realmente que gosto muito dele.
Ele é a minha razão para ficar aqui e não ir
embora, para não querer voltar para casa do meu
pai, ele é o motivo pelo qual eu quis fugir e
conhecer o mundo, talvez não deva tanto quanto
penso a ele, mas o Zeus foi uma pequena porta que
se abriu na minha vida.
Claro que quero viver isso com ele, quero
ficar com ele e estar sempre ao lado dele, mas não
sujeitaria ele a nada disso apenas por um capricho,
ele é mais velho e já viveu muita coisa na vida, sou
mais nova e estou começando a encarar tudo agora,
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preciso entender que se eu ficar com ele estarei


exposta e sujeita a um bocado de coisa, inclusive
sua orientação sexual e seu passado.
—Seria clichê se eu dissesse que o que sinto
agora é algo que não senti por mais ninguém Isis?
—pergunta ele me apertando com força. — Não
quero te perder para nada nem ninguém, quero você
comigo.
—Não vai perder — garanto. — Zeus eu
entendo você, respeito sua orientação sexual.
—Eu sei que aos poucos você vai aceitando
— ele concorda. — É que eu não pensei que a essa
altura da minha vida fosse me envolver com mais
ninguém, nunca liguei para isso Isis.
—Eu sei você não é indiferente ao que as
outras pessoas pensam sobre isso, mesmo que diga
sei que isso mexe com você, eu nunca te
machucaria nem te ofenderia propositalmente, é só
que tudo é tão novo para mim Zeus.
—Sim, para mim também.
Ouço o som da porta da sala, tão logo Zeus
se afasta escuto passos rápidos entrando dentro do
chalé, depois de alguns segundos Affie bate na
porta do banheiro.
—Maninho, seu sogro e sua sogra
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chegaram, mamãe mandou eu chamar vocês dois.


—Resolvo isso. — Zeus endurece.
—Eu também quero ir — determino. — São
os meus pais.
—Está bem, mas me deixa fazer tudo do
meu jeito ok?
—Do nosso jeito.
Zeus afirma com um balançar de cabeça.
—Nosso jeito Isis, mas não me impeça de
tomar minhas decisões ok?
—Feito.

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Não estou das mais nervosas quando entro


na casa dos Collins, diria que o Zeus está bem mais
nervoso que eu e entendo um bocado os motivos,
entramos pela porta da cozinha e vamos direto para
a sala. Estamos de mãos dadas, coloquei um jeans e
uma blusa de mangas, sapatilhas, o véu, sei que
papai já deve estar odiando o fato de que estou aqui
sem sua autorização e ainda que eu saiba que não
lhe devo mais satisfações da minha vida, não quero
um escândalo maior do que nos aguarda.
O Zeus ficou me olhando de um jeito
diferente ao me ver com o véu, não está
acostumado é claro, mas é algo que uso muito
frequentemente quando estou perto do meu pai ou
em algum evento com ele, é como usar uma peça
essencial para meu dia a dia.
—Ah, ai estão eles!
É a voz da Kellen, o cheiro de café é forte
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se espalha pelas minhas narinas enquanto entro na


sala, papai se ergue exibindo seu terno impecável
de milhares de libras, ele gosta de se vestir muito
bem e é um homem que se cuida bastante, mamãe é
a primeira a se levantar, observo a cena incomum
diante dos meus olhos, acho que faz uns dez anos
que não os vejo lado a lado.
Mas a pessoa na qual me faz sorrir é o
Douglas, ele está em pé num canto da sala, as mãos
para trás, as mesmas roupas indianas de sempre e
um turbante ridículo que eu sei que ele colocou só
para mostrar que é alguém bem culto.
Solto a mão do Zeus e vou correndo ao seu
encontro, ele abre os braços e me recebe com um
aperto forte, da vontade de chorar porque há poucos
dias eu o deixei para trás para fazer esta viagem e
não pensei que a minha vida fosse tomar esse rumo
tão diferente do que imaginei.
—Ah Menina! — ele exclama aliviado e me
aperta. — Graças a Shiva.
Demoro no abraço, quando me afasto
Douglas limpa as minhas faces, estou chorando
bastante, nunca estive longe do Douglas e nem vivi
tantas coisas longe dele.
—Você está bem? — Douglas pergunta e
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toca meus ombros, aquele olhar preocupado de


sempre.
—Sim — respondo. — Estou ótima.
—Eu acho que as coisas aqui estão
resolvidas — escuto a voz do meu pai ecoando pela
sala. — Hora de irmos Isis.
Viro-me, mamãe está em pé os braços meio
erguidos, acho que ela esperava que eu fosse até
ela, Kellen está sentada numa poltrona e Lorenzo
em outra, papai no sofá maior começa a arrumar os
botões do terno, Zeus permanece sério olhando
fixamente para ele, os braços cruzados e as veias
pulando no pescoço.
Ele está com raiva, papai está no entanto
convicto de que eu irei com ele, mesmo depois de
eu falar que sou dona da minha vida, ele está
ignorando a minha vontade mais uma vez.
—Eu disse que não iria papai — respondo.
— Disse que ficaria aqui.
—Não me recordo disso querida — ele
responde ainda num tom muito educado. — Sua
mãe veio da Rússia para ficar um tempo conosco.
Ele está falando comigo como se eu tivesse
dez anos de idade, mamãe me aproxima sob seus
saltos altos, usa um vestido colado e seus cabelos
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estão presos a uma trança bem feita, mamãe tem 49


anos, ela ainda é a mulher mais linda que eu
conheço e a que tem o gênio mais fácil de lidar,
mas quando se trata do meu pai ela não tem uma
gota de paciência, infelizmente ela terceirizou essa
raiva para mim, sempre que eu a olho parece que
vejo um arrependimento enorme por ter me trago a
este mundo.
É difícil também ser filha de uma estilista
tão conhecida, eu nunca quis viver as sombras dela,
mas aposto que se eu morasse com ela também
seria a mesma coisa, talvez tivesse um pouco mais
de liberdade porque mamãe é daqui do ocidente,
tem uma cultura de vida diferente, mas com certeza
ela ainda sim arrumaria um jeito de me dar uma
criação rígida.
Tenho certeza ainda de que ela não ficará
mais que dez minutos depois que chegarmos em
Dubai, ela ficaria hospedada num hotel e depois de
uma noite de sono partiria.
—Querida o que passou pela sua cabeça?—
mamãe pergunta, os olhos azuis fincados em mim.
— Você nos assustou Isis.
—Eu queria comemorar meus 29 anos
mamãe, o Zeus me convidou para viajar e eu
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aceitei. — respondo sincera.


—Porque desligou o celular? Porque não foi
para uma das minhas casas na Europa? Fiquei
morta de preocupação quando seu pai me
telefonou.
Gisele Thomas preocupada com algo além
de sua carreira e negócios?
—Gostaria de conversar com o senhor a
sós. — Zeus diz olhando fixamente para papai.
—Não temos o que conversar — papai
fecha a cara para ele. — A Isis já tem um noivo que
a espera em Dubai, faremos um grande
casamento...
—Não, não farão porque ela já está
namorando comigo. — Zeus corta ainda todo sério.
Papai fica calado, mamãe me encara toda
nervosa, ela já o conhece o suficiente para saber
que ele fará um escândalo, Douglas segura a minha
mão, mas me solto dela, papai se levanta e ao
mesmo tempo, Lourenzo também se levanta da
poltrona, o clima tão tenso que posso sentir de onde
estou que esta conversa não acabará bem.
—Isis não está namorando com o senhor,
senhor Collins — papai determina. — eu Seth
Azibo a proíbo de namorar com o senhor.
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—E por algum acaso o senhor se acha dono


dela? — Zeus indaga. — Ou algum tipo de Deus
para falar assim em relação a ela?
—Eu sou o pai dela.
Esse tom de posse nunca saiu e nunca sairá
da voz de papai, sei que por mais que ele conviva
em muitas culturas ele ainda se sente como se fosse
alguma espécie de dono de tudo o que ele tem ou
toca.
—Isis e eu decidimos nos casar, eu assumo
ela, nós dois estamos juntos. —Zeus determina
todo rígido.
—Dormiu com esse homem? — papai berra
apontando para mim do nada.
Ele explodiu.
Mamãe recua e entra na minha frente, dou
um pulo, Douglas me puxa para longe dele, eu
duvido que as pessoas de toda a casa não tenham
ouvido esse grito dele, papai começa a se inflamar,
começa a se encher de tanta raiva que irradia todo o
ódio para todos que estão aqui.
—Seth — mamãe chama. — Vamos
conversar sobre isso com a Isis, só nós dois ok?
—Ela se deitou com esse porco imundo. —
papai aponta para Zeus.
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—Abaixa esse dedo — Zeus do nada segura


o dedo de papai e o puxa para o lado torcendo-o,
papai se inclina para o lado fazendo uma careta. —
Não gosto que apontem dedo para mim, não te
ensinaram que isso é falta de educação senhor
Azibo?
Fico dura onde estou, ainda mais tensa,
Douglas está boquiaberto, Kellen não parece
surpresa e Lourenzo está com cara de quem comeu
e não gostou, Zeus solta o dedo de papai e eu vejo
papai encarando ele como se quisesse matá-lo nesse
instante.
—Não pode tratar a sua filha como se ela
fosse um objeto inanimado, nem expor ela dessa
forma — repreende Zeus. — E daí se ela estiver se
deitado comigo? Isso por algum acaso é da sua
conta?
—Você acha que eu quero a minha filha
envolvida com você?
Papai sabe que ele é swinger, papai, por
favor, não fale nada... Não fale!
—Eu não entendo porque o senhor se refere
a mim com tanto nojo senhor Azibo, ora, gostamos
dos mesmos tipos de ambiente.
Papai fica vermelho, parece que vai infartar.
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Empurro Douglas e passo por mamãe, vou


até eles e fico entre ambos, encaro papai de frente,
ele segura o dedo machucado furioso.
—papai eu tenho 29 anos, eu estou
namorando e não vejo nada demais nisso, o Zeus e
eu estamos juntos, não tem porque se opor.
—Mas me oponho.
—Porque papai?
—Porque você está prometida a outro
homem, um homem de boa família.
—Ei, eu sou de boa família, dobra bem essa
sua língua antes de falar alguma coisa na frente dos
meus pais. — Zeus pragueja irritado.
—Isis você vem conosco — papai
determina. — Ponto.
—Não, eu não vou e o Douglas e as
meninas irão ficar comigo. —respondo mesmo que
sinta medo de seu olhar.
—Ah, Graças a Deus. — Douglas diz
aliviado.
—Douglas, de que lado você está? —
questiona papai apavorado.
—Eu só sou o mordomo — Douglas retruca
com deboche. — Eu só cuido da criança.
—Isis você ao menos pode nos ouvir? —
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mamãe questiona.
—Eu não quero ouvir vocês mamãe —
respondo decepcionada. — Vocês dois nunca
tiveram se quer um tempo para me ouvir, porque
deveria ouvi-los? Vocês não ligam para mim desde
que se divorciaram.
Papai e mamãe se entreolham, mas não
falam nada, sabem que é verdade.
—Coelhinha, o papai só pensa no que é
melhor para você, vamos para casa, esqueça esse
homem mundano, ele não tem nada a te oferecer —
papai fala num tom de suplica. — Não irrita o
papai, vamos, prometo que deixo sua mãe ficar
com você por uma semana e te deixo usar o wi-fi.
Ele está falando comigo como se eu tivesse
12 anos de idade, recuo um passo.
—Eu não vou — digo. — Vocês dois estão
perdendo o tempo de vocês vindo aqui e se
prestando a esse papel, eu sou maior de idade e
quero poder seguir com a minha vida.
Mamãe se aproxima.
—Seth, acho melhor...
—Eu não vou embora sem ela. — papai
interrompe mamãe com um berro.
—Você só sabe falar gritando? — mamãe
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berra e ele recua. — Pelo amor de Deus, Seth, ela


tem 29 anos, ela quer ficar com ele, deixe-a, a Isis
não é mais uma criança.
—Mas eu prometi ela ao filho de um amigo
Gisele — papai fala em tom de desespero. — Você
acha que eu gosto dessa situação? Ela nem virgem
é mais!
Meu Deus!
—Ai, santa hipocrisia — mamãe bufa e se
vira para Kellen. — Seria pedir demais que me
deixe ficar hospedada em sua casa hoje? Eu preciso
conversar com a minha filha e sei que quando ela
enfia algo na cabeça, não muda.
—Claro. — Kellen concorda.
—Será que só eu quem estou tentando ser
sensato aqui? — papai pergunta entredentes e fuzila
Zeus com o olhar. — Se você tiver levado ela...
—Eu não levei. — Zeus corta e me puxa
pelo pulso para perto dele.
—Bem, agora que já está tudo resolvido, os
ânimos acalmados, eu vou começar a preparar o
almoço — Kellen fala. — O senhor também ficará
hospedado senhor Azibo?
—Eu tenho dinheiro. — responde papai
com arrogância.
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—Eu também tenho dinheiro, não foi isso o


que eu perguntei ao senhor. — Kellen continua
sorrindo de um jeito cínico.
—Eu não saio daqui sem a minha filha. —
papai me olha todo rígido.
—Bem, agora que todos ficaremos, eu vou
buscar a minha mala — Douglas diz oprimindo a
vontade de rir. — Senhora Collins adoraria ajudá-la
com o almoço.
—Toda ajuda é bem vinda. — Kellen
concorda. — Gisele?
—Eu preciso de um uísque duplo — mamãe
pragueja. — E de um rivotril.
—“Eu também” — Lourenzo gesticula
apressado.
Zeus me puxa para longe de papai,
continuam a trocar olhares com ele feito um cão de
briga enquanto nos afastamos, sei que é quase um
milagre que a conversa tenha acabado sem que
papai desse um escândalo maior, mas isso é só
temporário.
Ao menos por enquanto.

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—Não pensei que ele fosse tão quadrado.


—É, quem vê ele na suruba nem imagina
que ele me obriga a usar véu e nunca me deixou ver
um filme com classificação de 14 anos.
Zeus começa a rir, voltamos para o chalé,
estou mais calma, me sinto bem mais que segura
aqui, me sento no sofá, ele trouxe uma garrafa de
café da casa da mãe dele, vai até a cozinha e volta
com duas canecas e a garrafa embaixo do braço,
acho que até ele está mais calmo depois da
“conversa” que tivemos com meus pais.
Ele se senta ao meu lado no sofá, estou com
vergonha e ao mesmo tempo não sei bem o que
falar, papai é assim, ele fala o que quer, quando
quer e quando se trata de mim ele ainda consegue
ser pior, eu odeio quando ele me trata feito uma
criança.
No início da minha adolescência eu achava
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que fosse passar, mas então completei 18, 19, 22,


24 e até hoje ele ainda me chama de coelhinha e me
trata como ele me tratava desde que nasci, ganhei
esse apelido dele quando tinha 4 anos, papai me
chama de coelhinha quando quer tentar me
convencer de algo ou quando está de bom humor.
Logicamente que nunca vinculei seu bom
humor às casas de swing, eu sabia que ele nunca foi
só de uma mulher e que gostava de sair, é jovem e
solteiro, porém nunca imaginei que papai
escondesse algo assim e isso só reforça o fato de
que além do fato de que sou maior, ele não tem
moral alguma para querer servir de exemplo para
mim, não mais.
Não fiz nada de errado, eu nunca estive tão
bem e melhor longe dele aprendendo a tomar
minhas decisões, sei que se eu voltar para casa será
como tem sido desde sempre, castigos, privações,
um tratamento rígido, não quero isso.
—Você está calada.
—Me sinto constrangida, me desculpe pelo
o que o papai fez a pouco, vou falar para ele se
retratar com seus pais.
—Pela reação da mamãe acho que o meu
segredo não é tão segredo assim, sua mãe também
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não estava surpresa.


—É, eu acho que a única iludida nessa
história sempre fui eu.
Isso me chateia, claro que não esperava que
papai me dissesse sobre sua vida sexual de forma
aberta, ele se quer falou de sexo comigo na vida,
soube através de livros como funcionava a
reprodução humana, mamãe também nunca fez
empenho algum de conversar comigo sobre esses
assuntos, mas é que não saber desse detalhe da vida
dele e ser tratada sempre com muita rigidez me fez
ver o quanto ele é hipócrita.
—Tem sorte de ter pais tão gentis — digo e
o fito. — Queria que meu pai me olhasse com o
senso protetor que o seu pai te olhou a alguns
momentos.
—Papai não gosta de briga, mas ele se incha
quando se trata de mim e dos meus irmãos, ele e
mamãe tem um senso protetor muito forte.
Ele coloca café numa das canecas para
mim, aceito, bebo um pouco sem saber o que fazer
ou o que falar, Zeus falou algumas coisas e sei que
foram no calor do momento para amenizar a
situação, só que não sei bem como tocar no assunto
com ele.
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—Sua mãe é bem jovem, acho que quase


tenho a idade dela.
—Ela me teve com 20 anos, foi um
casamento relâmpago sabe? Eles dois não deram
certo e papai quis ficar comigo, mamãe começou a
estudar e virou estilista, ela é muito bem sucedida.
—Você se parece com ela.
—Você acha?
—Não precisa ter medo docinho, você está
acuada.
—Depois de tudo isso você queria que eu
estivesse bem?
—Você não vai precisar ir se não quiser.
—Eu não quero ficar as custas de um
casamento com você Zeus.
Pronto, falei.
Ele me encara bem surpreso com a minha
resposta, logo que sua face vai endurecendo
percebo que ele não gostou do que eu acabei de
falar.
—Não quer ficar comigo? — questiona ele
todo sério.
—Quero sim, mas não quero me casar.
—Isis, seu pai tem uma cultura diferente da
minha, as coisas em Dubai não são como aqui, tem
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muitas outras coisas em jogo nas quais você não


está pensando.
—É antiquado.
—É a reputação dele, sua reputação.
—Zeus eu não quero acreditar que você está
se importando com isso.
—Me importo com o que as pessoas falarão
de você, esse véu diz muito mais sobre você do que
eu imaginei que fosse.
Nego com a cabeça e começo a tirar o
broche que prende a ponta do véu, esqueci de tirar,
Zeus segura a minha mão me impedindo, ele a puxa
para frente e a ergue depois a beija com cuidado.
—Eu gostar de você não faz diferença Isis?
—Claro que faz.
—Então?
—Zeus, casamento é uma coisa muito séria,
envolve muito mais do que um simples gostar.
—Não é um simples gostar Isis, eu tenho
sentimentos fortes por você, já disse, com você é
diferente.
—Diferente como?
—Não sei explicar.
—Então não sabe o que é, nem o que sente
por mim.
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—Sei que é forte e me deixa bem, me faz


sentir alguém novo e capaz, feliz.
Por mais incrível que pareça, me sinto
assim também em relação a ele.
—Não precisa se casar comigo, mas ao
menos aceite um compromisso mais sério.
—Mais sério que nosso namoro?
—Algo que não torne as coisas complicadas
entre você e seu pai.
—Você está com pena da reputação do meu
pai?
—Eu só quero ficar com você.
Entrelaço os dedos nos dele e deixo a
caneca em cima do centro, puxo ele para perto e
meus dedos se enfiam em sua nuca, toco os cabelos
dele, com sua aproximação meu coração se abre e
dispara todo contente em ouvir isso.
—Grande merda Zeus, não tem que querer
isso só para que eu fique perto, eu vou com você
para onde você quiser desde que você goste de
mim.
—Você tem um coração de ouro docinho.
Dou-lhe um sorriso, me inclino sob ele e lhe
dou um selinho.
—Se formos fazer isso que seja por nós dois
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está bem?—pergunto.
—Está bem, mas tem que me prometer que
vai confiar em mim.
—Eu confio Zeus — garanto olhando-o nos
olhos. — Eu confio.

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—Como foi que surgiu esse apelido


“coelhinha”?
—Do mesmo jeito que surgiu o “docinho”.
Zeus fica rindo enquanto lava os cabelos de
costas para mim, estendo a mão e toco suas costas,
entramos no banho a alguns momentos, só me senti
segura depois que ele disse que trancou a porta do
chalé e ligou para a Kellen pedindo que não
deixasse ninguém vir.
Tenho medo de que papai nos veja tendo
intimidade e acabe fazendo outra ceninha, se ele
sonhar que estamos tomando banho juntos agora
teria um enfarte fulminante depois de morto viria
do inferno só para me buscar.
Eu sei que ele não pensaria duas vezes antes
de vir aqui, eu até prefiro ficar no chalé porque sei
que se estivéssemos dormindo na casa da Kellen
ele iria exigir que nós ficássemos em quartos
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separados, não estou afim.


Termino de me lavar e saio do box
imaginando o quanto as situações que passei no dia
de hoje foram desnecessárias, confesso que estou
tranquila por saber que o Douglas está aqui, ainda
espantada em ver que mamãe também veio, ela não
costuma ter tempo para nada.
Envolvo-me na toalha e seco meus cabelos,
me olho no espelho, não tinha muito apetite durante
o dia, só queria me manter longe dos olhos do meu
pai, agora que o nervosismo passou e que o sol já
está se pondo, começo a sentir um pouco de fome.
—Vou fazer alguma coisa para comer —
digo. — Que tal sanduíches?
—O que preferir amor.
A vontade de rir me vem à mente, mas me
contenho, é bom ouvir ele me chamando de
docinho, mas quando ele me chama de amor, fico
ainda mais derretida, me seco e coloco uma
calcinha, Zeus sai do box secando o rosto, ele se
aproxima se envolvendo na toalha, me abraça por
trás, vejo nosso reflexo no espelho.
—Acha que seria grosseiro não ir lá na casa
dos seus pais? — pergunto sem jeito.
—Não, eu já avisei que não iriamos por
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mensagem, mamãe até prefere assim, acho que ela


quer acalmar seu pai do jeito dela.
—Acho que não tem jeito algum na face da
terra que acalme meu pai, ele é uma pessoa difícil.
—Mamãe também não é flor que se cheire,
ela trabalhou anos na empresa, já vi ela dobrar
velho de 70 anos de forma educada, mas hostil.
—Espero que papai não trate eles mal, já
estou morta de vergonha pela postura dele.
—Deixa ele docinho, ele vai ter que
aprender a aceitar que estamos juntos, que vamos
ficar juntos e você tem que tomar suas decisões.
—Foi à primeira vez na vida que enfrentei
meu pai Zeus, eu já discuti com ele muitas vezes,
mas sempre ele dava a última palavra, dessa vez
não.
—Você é dona da sua vida Isis, ninguém
nem seu pai deve dizer o contrário.
—É difícil crescer numa cultura que protege
tanto o sexo masculino e hostiliza muito a mulher,
eu já vi muitos casos em que a própria ONU se
sentiu intimidada diante de problemas como
apedrejamento ou estupro coletivo, as vezes as
próprias mulheres são as opressoras, é complicado
parar para pensar nisso tudo, eu entendo meu pai,
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mas não quero mais viver do jeito que vivia,


descobrir tudo sobre ele me fez pensar no quando
ás vezes o mundo é hipócrita.
—É uma realidade meio ingrata para
algumas mulheres — ele concorda e beija a minha
bochecha. —, mas você só vai se quiser ir, não é
obrigada.
—Eu não quero — admito. — Seria ótimo
poder morar com você e fazer parte da sua rotina,
posso ver se encontro algum emprego na minha
área, não sei se conseguirei manter meus trabalhos
na ONU, mas quero continuar com o voluntariado
do mesmo jeito.
—E vai — Zeus me vira para ele. — Não
precisa trabalhar se não quiser.
—Mamãe não vai me desamparar — digo
—, mas quero poder ter um emprego sério, papai
nunca quis me deixar trabalhar, tenho me dedicado
aos estudos e aos projetos caritativos, acho que vai
ser um grande passo.
—Quero estar ao seu lado em todos os
passos que der — seus olhos estão fixados em mim.
— Quero fazer parte da sua vida Isis, seria pedir
demais?
—Não — respondo sincera. — Fico
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contente que queira dividir comigo todos esses


momentos.
Eu o abraço e Zeus beija a minha cabeça
com cuidado.
—Eu odiaria que fosse embora com seu pai.
—Eu não vou.
—Tenho medo de que você acabe
convencida por ele Isis.
—Medo?
—Sim, eu não quero que você saia da
minha vida por nada.
Fico calada, balançada com essas palavras.
—Acho que você tem tanto medo de que eu
saia da sua vida, não pensa que eu também posso
sofrer se você for embora.
—Eu também sofreria Zeus.
—Não sei como faria Isis, larguei tudo o
que estava fazendo e estou confinado aqui com
você, nunca estive tão bem.
—Não?
—Não.
—Nem nos puteiros?
—Muito menos nos puteiros.
Fico vermelha, acabamos rindo, Zeus toca a
minha face.
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—Gosto mesmo de você Isis, muito!


—Eu também gosto muito de você Zeus.
—Gosta o suficiente para aceitar ser minha
noiva?

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—Noiva?
—É, noiva.
Não sei o que dizer, por alguns momentos
fico vendo nosso reflexo no espelho e imaginando
o que poderia dar de errado se eu disser um “sim” e
o que aconteceria se eu dissesse um “não”, só que
minha mente se esvazia e não sei o que falar para o
Zeus.
Ficamos calados por mais de alguns
minutos, Zeus me olhando e me olhando, sinto
medo de acabar falando algo que sei que talvez o
machuque, não é uma decisão que tenha que ser
tomada assim do nada.
Sei que não e não é pelo meu pai, é por
mim.
Nunca tive um relacionamento, como posso
noivar dele assim do nada? Esta tudo acontecendo
tão rápido!
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—Não? — Zeus questiona quebrando o


silêncio.
—Podemos falar disso em um outro
momento? — indago nervosa.
—Não pode ser agora?
—Não sei se estou pronta.
—Para aceitar o meu pedido?
—Para você Zeus.
Percebo até um determinado desgosto em
seu jeito de me olhar, só não pensei que uma
“negativa” o deixaria assim, como se fosse algo que
pesa, que machuca muito ele, Zeus me solta e se
afasta, está chateado, constrangido.
—Zeus...
—Ok!
Esse “ok” diz claramente “não quero falar
mais disso”.
—Não quero dizer não — confesso. —, mas
eu não sei se estou pronta para um “sim”.
—Porque não acha que está pronta?
—Eu me apaixonei por você — confesso
tentando encontrar as palavras corretas, ele me
encara como se isso fosse algo de repente bem
grave. — Não deveria?
—Deveria, quer dizer não deveria — ele se
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corrige. — Isis você sabe que antes de você não


havia ninguém certo?
—Porque está reforçando isso?
—Porque não quero te machucar, não quero
que você pense que faço isso por causa do seu pai,
claro que eu iria esperar um pouco mais para pedir
a sua mão, só que as circunstâncias não favorecem.
—Zeus eu acabei de falar que te amo e você
está falando de um jeito tão estranho... Seco.
Ele me encara calado, os olhos escuros se
tornam mais intensos.
—Não disse que não te amava também. —
ele replica direto.
—mas não disse que me amava.
—Você não disse que me ama, disse que
está apaixonada por mim, paixão e amor são coisas
diferentes.
—Não estou equivocada sobre meus
sentimentos Zeus — digo sincera. — Só que não
vou embarcar nisso sem que você tenha certeza de
que não faz isso por coação por parte do meu pai ou
por senso de responsabilidade.
—Não me sinto coagido por seu pai — ele
se encosta na pedra do lavatório. — Talvez um
pouco intimidado, mas não tenho medo dele, tenho
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receios apenas.
—Acha que o que sente por mim é mais que
um gostar? — pergunto. — Porque se for, isso pode
mudar a minha resposta.
—Você quer que eu diga que amo você para
aceitar Isis?
—Eu quero que diga que isso não é apenas
um capricho Zeus, que diga que sempre que
precisarmos um do outro estaremos juntos...
—E blá, blá, blá.
Reviro os olhos, me irrito com o tom de
deboche na voz dele, saio do banheiro e só não me
sinto mais ridícula porque não cabe mais tanta
vergonha em mim.
Declaro-me para ele e o que ganho é isso:
blá, blá, blá.
—Docinho...
—A resposta é não Zeus! — digo e pego
uma calcinha e uma blusa. — E blá, blá, blá.
—Porra Isis, você sabe que eu não sou
romântico nem essas coisas, claro que eu quero
ficar com você desde que te conheci só você ocupa
meus pensamentos 24 horas por dia, eu não consigo
nem pensar em voltar para o Canadá sem que você
não esteja comigo, você é uma mulher maravilhosa
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e carinhosa, eu adoraria que aceitasse ser minha


mulher pelo resto dos meus dias, mas não vou
conseguir te provar nada se você não aceitar o que
tenho a oferecer agora.
Fico calada.
O que dizer depois disso? Tenho que dizer?
—Não tenho um histórico legal na praça
ok? Eu não sou um santo e tem todos os motivos
para não querer aceitar meu pedido, mas eu gosto
tanto de você, não tem ideia! — ele fala e ergue a
minha face. — Talvez bem mais do que você
imagina.
—É amor?
—Se não é amor Isis eu não sei o que é, eu
só sei que só de pensar que você vai embora eu me
sinto mal, parece que alguém fica pisando no meu
peito sabe? É uma sensação estanha e dolorosa, sei
que tem todos os motivos para me recusar na sua
vida, eu sou um cara que tem uma história de vida
bem diferente da sua, mas não acho que é
impossível que fiquemos juntos.
—Talvez você queira ir para um puteiro
quando eu recusar sexo não acha?
—Vai recusar sexo comigo docinho?
Dou-lhe um sorriso, Zeus Collins estende a
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mão e passa o braço envolta de mim, enlaço seu


pescoço.
—Vamos morar juntos não é o suficiente?
—Claro que é Isis, mas não quero seu pai te
enchendo a paciência por isso, é importante
formalizar.
—Eu não sei se quero você como noivo,
você é rabugento quando acorda.
—E você ronca.
Coro.
—Ronco?
—Ás vezes, mas tudo bem, eu te quero
mesmo assim.
—Ah, mas que grande esforço da sua parte,
tão generoso senhor Collins?
—Tem sorte por eu te querer sua porquinha.
Acho graça, ele me aperta e nos abraçamos,
Zeus beija meu pescoço todo carinhoso.
—Isis você aceita se casar comigo?
—E blá, blá, blá?
—A Resposta é sim?
—Sim!

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Levantei primeiro, Zeus continua dormindo,


não tem mais pó de café no chalé, acho que ainda
estão todos dormindo, então decidi ir à casa da
Kellen para pegar um pouco, quero preparar um
café da manhã especial para ele.
Estou sorrindo enquanto atravesso o jardim
e caminho para o rumo da casa dos Collins, vou me
aproximando da porta carregando a vasilha do café
quando escuto múrmuros baixos, mas que bem
conheço.
—... Você enlouqueceu Gisele.
É a voz do papai.
Paro de sorrir, me aproximo da porta e fico
parada vendo-a entre aberta, na cozinha estão
papai, mamãe e Douglas, Douglas está no fogão
preparando o que parece ser um chá, papai usa um
pijama e mamãe um hobbie cor de rosa chá, está
com os cabelos presos num rabo de cavalo bem
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feito.
—Ela deve se casar Seth, você tem que
entender — mamãe insiste. — Ela quer, ela o ama,
você ainda não percebeu?
—Quem é você para falar de amor?—papai
questiona de forma rude e seu semblante está duro.
—Ou esqueceu que quem decidiu nos abandonar
foi você?
—O combinado era eu ter o bebê e te dar a
Isis, o casamento não envolvia nada além do
contrato. — mamãe retruca.
Minhas feições estão duras ao ouvir isso e é
como se jogassem um baita de um balde de água
gelada em mim, meu peito pula incessante.
Contrato?
—Sugiro que vocês não tenham essa
conversa aqui — Douglas diz todo sério. — A
menina...
—Cala a boca Douglas, você não é pago
para falar — papai está exaltado. — Eu sei que o
contrato não incluía nada disso, mas ele dizia que
você deveria ser mais presente na vida dela, você
virou as costas para a Isis, por isso ela se revoltou
contra mim.
—Ela se revoltou contra você porque você é
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um conservador hipócrita que vive uma vida dupla


Seth, não seja medíocre, isso não combina com
você — mamãe retruca do outro lado da pedra de
refeições. — Você queria um filho e eu te dei um
filho, foi isso o que o seu dinheiro comprou, uma
barriga de aluguel, eu precisava do dinheiro para
pagar a minha faculdade, não tenho culpa se você
não soube criar a sua filha.
—Você nunca amou nada além do dinheiro
não é verdade?—papai pergunta indignado.
—Se a pergunta é se eu a amo, eu a amo,
aprendi a amar ela como uma filha, mas na época
eu era muito nova e não pensava direito, a Isis é a
melhor coisa que eu fiz na vida, mesmo que tenha
sido com você.
—Ah, agora o culpado sou eu?
—Ambos são responsáveis por isso. —
Douglas retruca.
—Ela deveria se casar com alguém
escolhido por mim. — papai retruca.
—Ah e com certeza sua escolha seria muito
confiável. — mamãe o olha com deboche.
—Nada disso teria acontecido se você
houvesse ficado conosco. — ele a culpa.
—Eu não sou responsável pelas suas
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escolhas Seth, eu não poderia ficar casada com


alguém como você, não iria abrir mão dos meus
sonhos por você, você é muito machista e narcisista
só pensa em si próprio e no que é melhor para você,
no primeiro ano de nascimento da Isis você mal
ficava em casa, o que esperava de mim? Que eu
ficasse insistindo naquilo? Eu estava adoecendo
com as exigências da sua família eu não quero isso
para ela, não quero que ela se case com um homem
como você, ela é livre.
—Mas não pensou duas vezes antes de
deixá-la para trás.
—foi o acordo, não foi? Você queria um
filho e eu precisava do dinheiro, nada disso teria
acontecido se você houvesse tentado me cativar,
tudo o que tive de você sempre foi indiferença,
nunca me tratou bem você é tão sem noção às
vezes.
Papai fica calado.
Sinto vontade de chorar em ouvir isso, saber
disso, explica tantas coisas...
—Acho que ambos concordam que é o
melhor para Isis, esta é uma boa família senhor
Azibo —Douglas diz me trazendo para a realidade.
— Deixe-a, ela será mais feliz com ele.
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—Ele quer afastá-la de mim — papai diz


com pesar. — Ela é tudo o que eu tenho Douglas,
foi a minha única chance de ser pai, se ela for para
longe de mim eu não sei como farei para viver
naquela casa, ela deveria ficar perto de mim, o
marido que arrumei para ela iria morar na minha
casa com ela, ele estava disposto a fazer isso, não é
tão conservador quanto pensam.
Mamãe e Douglas ficam calados.
—Vocês dois me julgam muito, mas eu só
quis protegê-la, cuidar dela, ela não perdeu nada
por ser criada em Dubai, teve uma boa educação,
posso não ser este pai perfeito que vocês acham,
mas eu amo muito a Isis, ela é tudo o que eu tenho.
—Não pode tentar nenhum tratamento por
inseminação?—mamãe indaga de braços cruzados.
— Foi assim conosco lembra?
—O laboratório onde estavam as minhas
amostras de sêmen queimou, um seguro não paga
as chances de eu ter filhos, eu fiz vasectomia antes
de te conhecer, era jovem demais, não pensava
direito, só queria aproveitar a vida...
—Isso não mudou pelo visto — mamãe
retruca. — Ela até sabe das suas aventuras
noturnas.
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—Ela não sabe que ela é a coisa mais


importante que me restou, meus pais viraram as
costas para mim, só tenho ela Gisele, não poderia
convencê-la a morar perto de mim? Ao menos isso?
Se ela for morar com Collins no Canadá eu sei que
terá filhos e não poderei vê-la sempre.
—Você quase não fica com ela Seth. —
mamãe retruca.
—Nem você. — papai rebate.
—Os dois não ficam, ah que novidade —
Douglas fala cheio de deboche. — Porque vocês
dois não se resolvem logo e tratam essa frustração
sexual de uma vez? As vibrações estão tão fortes
que posso sentir daqui.
—Que?—mamãe faz uma careta forçada.
— Não! Você acha que eu quero alguma coisa com
ele?
Só pela forma como ela fala, eu sei que sim.
—No dia em que eu me deitar com essa
mulher, pode me internar num manicômio — papai
fala do outro lado e começa a se afastar. — Eu não
vou desistir da minha filha, não vou abandoná-la
como você fez, posso não ser um pai perfeito, mas
a Isis é tudo o que eu tenho e eu vou conversar com
ela sobre ela ir para longe de mim.
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—não seria o melhor para ela Seth —


mamãe argumenta. — Seria o melhor para você.
Ele lhe da às costas e sai da cozinha,
Douglas se aproxima de mamãe e ela o abraça.
—Ah Senhora, eu sei como é complicado,
deixa ele.
—Só você mesmo para aguentar ele
Douglas.
Afasto-me da porta e decido voltar para o
chalé, desapontada, magoada, chorosa, minha
mente cheia.
E agora?

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—O que está fazendo ai?


—Ah, nada.
Levanto-me, não quis acordar o Zeus, eu
sabia que se voltasse para o chalé de imediato ele
me ouviria chorando então vim para perto dos
fundos da propriedade, pensei muito sobre tudo, eu
estava decidida a confrontar meus pais no entanto
não parece ser o lugar certo para fazer isso, não é
um problema do Zeus, é algo que eu devo resolver.
E eu vou resolver.
—O que foi? — ele pergunta confuso. —
Demorei muito para te achar, mamãe está
chamando para o café, pensei em falar do nosso
noivado...
—Zeus eu decidi que não quero mais ir para
o Canadá com você — digo e nem consigo olhar
nos olhos dele. — Tenho que resolver umas coisas
com os meus pais, acho que isso vai levar um
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tempo, quero fazer isso por mim.


—Docinho isso não é problema — ele
argumenta surpreso. — Damos um jeito.
—Eu não posso deixar o meu pai sozinho
lá, sei que seus pais precisam de você mais perto,
nunca te pediria isso — confesso tão machucada
que sinto vontade de chorar, mas me detenho. —
Eu amo você Zeus, mas não posso fazer isso com o
meu pai.
—Querida podemos vê-lo sempre — replica
ele e se aproxima. — Hei, o que foi?
—Soube de umas coisas sobre meus pais
hoje cedo, não estou bem.
—Quer conversar?
—Não tem a ver com você, é algo da minha
família.
—Isis eu também sou sua família, o que
houve?
—Não quero te trazer mais problemas.
—Você é a minha mulher, pode sempre
contar comigo, me diz, o que aconteceu?
Cruzo os braços e o vejo se aproximar,
invejo sua calma, sua cautela, queria tanto ter um
pingo de frieza agora, tocar o foda-se, só que eu
nunca fui assim, não sou.
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—Ouvi meus pais falando mais cedo sobre


a minha concepção, não foi tradicional, sou fruto de
uma barriga de aluguel, mamãe me teve em troca
de dinheiro e papai não pode mais ter filhos, o
casamento deles foi tudo uma farsa só para não
chamar atenção para a gravidez — confesso
incerta. — Eles dois fizeram um contrato Zeus, eu
nem se quer fui concebida de um jeito normal, sou
um bebê de proveta.
Pensar nisso me magoa muito, cada parte do
meu coração está despedaçado, em cada pedaço
tem uma mentira que meus pais me contaram e me
fizeram acreditar que era real, me sinto enganada
por eles, pelo Douglas, mas saber de tudo isso sem
sombra de dúvidas me faz pensar cada dia a mais
no quanto fui tola, ingênua, como não percebi que
eles não me amavam? Que eu era só parte de uma
vontade do meu pai de ter filhos?
—Ouviu eles falando isso? — Zeus
pergunta boquiaberto. — Porra!
—Estou arrasada — respondo. — Eu não
queria te dizer assim, nem te trazer mais problemas.
—Estou surpreso meu amor, eu não
esperava ouvir isso as oito da manhã, eu sinto
muito, vem cá.
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Ele estende os braços e me aproximo,


quando me abraça permito que as lágrimas caiam
novamente, Zeus beija a minha cabeça e me aperta
com força, não consigo parar de pensar que devo ir
com meu pai, porque acima de tudo depois do que
eu ouvi se hoje estou aqui é porque ele sempre quis
me ter, eu sou sua única família mesmo que ele seja
daquele jeito não me sinto capaz de virar as costas
para ele.
Por mais que ele negue ficou muito triste
quando mamãe decidiu ir embora, quando se
divorciaram desde então nunca foi o mesmo.
—Vou conversar com seus pais — Zeus diz
e beija a minha cabeça. —Calma.
—Eu me sinto tão mal com tudo —
respondo chorosa. — Me sinto tola e destruída.
—É compreensível — se afasta um pouco.
— Deixa que eu falo com eles está bem?
—Eu tenho que resolver com eles Zeus, eles
me devem isso, ao menos a verdade.
—Eu sei, mas eu não quero que isso te leve
para longe de mim Isis.
—Eu sinto muito Zeus.
—Por isso eu tenho que falar com eles, para
vermos uma forma de não ficarem muito longe.
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—Não quero voltar para casa de imediato,


estou muito chateada, mas sei que em algum
momento papai estará lá e ficará mal se eu não
estiver, pensei que ele não se importava comigo,
mas se hoje estou aqui é porque ele queria muito
ser meu pai.
—Eu entendo, mas eu não quero ficar longe
de você.
—Zeus...
—Não quero Isis — ele corta. — Para com
isso, vamos encontrar uma forma, seus pais tem
que entender que você também tem direito de fazer
suas escolhas.
Toco sua face, Zeus cobre as minhas mãos
com as dele.
—Eu vou dar um jeito — ele promete. —Só
não desiste de nós está bem? Calma!
—Tenho que resolver isso com eles ao
menos.
—Vamos resolver.
—Me desculpe, mas é algo que eu tenho
que fazer sozinha, ao menos conversar com eles.
—Tudo bem, eu entendo amor, só não fala
que vai embora e me deixar para trás ok? Eu não
quero você longe de mim por um segundo Isis, já
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me dói muito pensar em toda a merda que te afasta


de mim às vezes.
—Eu não vou embora assim Zeus, nunca
iria, só me sinto tão perdida.
—Eu sei.
Ele me dá um beijo na testa.
—Vamos, é hora de resolver isso. — ele
diz.
É hora de resolver tudo.

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—Bom dia querida.


—Bom dia mamãe.
Sentia-me muito feliz quando mamãe me
abraçava, quando ela colocava um beijo na minha
cabeça, agora eu não consigo pensar em nada,
sentir nada, lembrar das palavras dela em relação a
mim me machuca muito, eu não quis ir a casa dos
Collins para o café e pedi que o Zeus chamasse
meus pais para cá, o Douglas, eles acabaram de
chegar, não estou muito ansiosa, Zeus os trouxe
aqui e saiu do chalé, sei que ele quer participar
disso só que eu mesma quero poder tomar essa
decisão, esclarecer as coisas.
—Você não nos acompanhou no café —
papai fala enquanto se senta. — O que houve?
—Eu precisava falar com vocês —
respondo e me sento no sofá que fica de frente para
o dele. — Sobre uma coisa.
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—Vou fazer um chá. — Douglas diz


fazendo menção de se afastar.
—Não — digo. —Você fica, se senta ali do
lado da mamãe.
Não tive tempo de sentir raiva no momento
em que ouvi a conversa mais cedo, agora é como se
houvessem me enganado por toda a minha vida,
omitido a verdade.
—Aconteceu alguma coisa que devamos
saber? — mamãe franze a testa toda confusa. —
Pensei que havíamos chegado a um acordo ontem
filha.
—Eu não sou a sua filha — respondo, mas
não choro, eu a fito nesse momento, os olhos de
mamãe se enchem de uma surpresa imensa. — Eu
nunca fui sua filha de verdade e nunca serei.
—Querida, do que está falando? — mamãe
pergunta com um sorriso falho.
—Eu sei que você engravidou só pelo
dinheiro do meu pai.
Douglas não se move, papai fica também
inerte enquanto ela... Ela mal parece estar
respirando, nego com a cabeça, cruzo os braços
fechando as mãos, com medo do rumo da conversa
porque sei que ela é decisiva, Zeus decidiu respeitar
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toda e qualquer decisão que eu tome, então farei o


que é melhor para mim.
—E eu também sei que você pagou para ela
engravidar de mim — digo e me viro para o rumo
do meu pai. — Sei que eu sou fruto de uma barriga
de aluguel.
—Isis... — Douglas se levanta.
—Eu ainda não falei com você — corto
magoada. —, mas não preciso de saber muito para
perceber que é um mentiroso.
—Ás coisas não foram do jeito que você
pensa. — papai retruca nervoso.
—Não? Tem certeza de que não foi assim
que eu fui concebida? Que vivi toda a minha vida?
A base de mentiras e segredos? Ou vocês vão
negar?
—Quem te disse isso filha? — mamãe
pergunta pálida.
—Vocês mesmos e se eu não houvesse
ouvido da boca de vocês eu não acreditaria —
refuto incerta. — Não consigo encontrar palavras
para descrever o quanto estou decepcionada.
—Isis...
—Você me comprou — interrompo papai.
— Como pode? Como pode esconder isso de mim
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todos esses anos? Vocês dois nunca se importaram


comigo, eu só sou um meio para um fim, para você
uma coisa na qual manda e para ela uma fonte de
dinheiro.
—Não foi assim filha. — mamãe se ergue e
vem na minha direção.
Levanto e me afasto, papai se ergue do sofá
e começa a andar de um lado para o outro, mamãe
paralisa, Douglas continua sentado no sofá todo
calado, ele sabe o quanto está doendo, o quanto
estou machucada.
—Foi assim sim — digo. — Você nunca
me quis de verdade Gisele, você sempre foi assim
só se importou com o seu dinheiro, com seu
trabalho.
—As coisas mudaram eu percebi que você
era parte da minha vida Isis — alega trêmula. —
Calma, vamos conversar.
—Já estamos conversando — revido. — Eu
não vou voltar para casa, isso até me passou pela
cabeça mais cedo porque pensei que o meu pai
precisaria de mim, que ele não tem mais ninguém
além de mim, eu cheguei até a pensar em desistir de
ir para o Canadá, mas eu não vou desistir, vocês
dois se merecem, uma oportunista e um egoísta.
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—Por Ala filha, nós não queríamos que


soubesse assim, para nós você foi uma segunda
chance de termos tudo — papai insiste e se
aproxima. — Sua mãe quis sim você Isis e eu
queria sim muito ser pai, você só não foi concebida
de um jeito tradicional.
—Você pagou para ela engravidar Seth! —
berro e papai se assusta. — Você tem noção do que
é isso na vida de uma pessoa? Você acha que o seu
dinheiro pode comprar tudo? Até o amor de um
bebê de proveta?
—Não fala assim filha — mamãe pede e
começa a chorar. — Eu juro que queria você.
—Não, não queria, sabe eu sempre me
questionei porque vocês dois sempre me deixavam
de lado em suas vidas, me desprezavam e não me
davam atenção, hoje eu consigo entender, eu nunca
fui nada para vocês nunca passei da sua chance de
estudar e ser bem sucedida, tenho tanto nojo de
vocês dois —falo olhando para ambos. — Eu os
odeio por tudo no qual me submeteram, por terem
mentido para mim, vocês são os piores pais do
mundo!
—Isis...
—Não importa o que diga Gisele, eu nunca
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vou entender como você pode fazer isso por


dinheiro.
—Eu era órfã, precisava pagar a faculdade
eu e o seu pai admitimos que no começo foi assim,
mas daí você nasceu e tudo mudou filha — mamãe
alega chorosa. — Eu sinto muito por que no
começo tomei essa decisão, eu era muito jovem
querida, eu não pensava no futuro.
—Sua mãe precisava do dinheiro para
comprar comida e se manter Isis, não precisa se
referir a ela dessa forma, eu quem fiz a proposta, se
tiver que culpar alguém culpe a mim — papai
replica. — Eu quem sugeri que ela isso, eu quem
pedi.
—Não disse que você era isento da culpa —
afirmo. — Enfim, não importa, quando eu voltar
para esse chalé eu não quero os dois aqui, nem você
Douglas, quero os dois o mais longe possível de
mim, já que são bons em esquecer de mim e me
trocar por qualquer coisa que seja, que façam isso,
não quero ver vocês dois nem tão cedo.
—Nem eu? — Douglas pergunta.
Começo a me afastar.
—Muito menos você Douglas.

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—A Affie disse que você estaria aqui.


—Este é o seu quarto?
—É, sombrio né?
Começo a sorrir, é um quarto bem grande
com uma cama de casal e dois criados, uma mesa
com notebook e uma tv na parede que fica de frente
para a cama, tem diversos livros espalhados pelas
prateleiras nas paredes, livros de auto ajuda,
religião, sociologia e filosofia, queria ficar longe de
tudo então deixei meus pais lá no chalé e vim para
cá, Zeus não estava na sala quando entrei, mas a
Affie viu o quanto eu estava mal e me trouxe para o
quarto dele, a pouco me deu um chá, o choro
passou, agora sinto que aos poucos dentro de mim
algo se liberta.
—Seu pai me chamou para conversar, ele e
sua mãe vão embora hoje a noite, mas eles me
fizeram prometer que cuidarei de você e que iremos
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visita-los no final do ano.


—Até parece que eles vão conseguir ficar
mais que dois minutos juntos na presença um do
outro.
—Então você vai ficar mesmo?
—Não deveria?
—Se não ficasse eu iria atrás de você de
novo.
Começo a rir, olho para a cama feita, os
poucos móveis que tem no quarto meio escuro,
acho que está fechado a um bom tempo, Zeus
tranca a porta na chave e se aproxima, fico parada
esperando sua aproximação.
—Sei que está magoada e zangada e mais
uma porção de coisas, mas não quero que fique só
por causa disso. — ele fala ainda muito calmo.
—Eu ficaria muito antes e não só por causa
disso — replico. —, mas não vou ficar se você não
estiver pronto para viver um relacionamento sério.
—Eu não estou pronto Isis — ele alega e
fico decepcionada. — Não me olha assim, eu não
posso prometer algo que não sei se vou cumprir,
estamos começando agora esse relacionamento.
—Isso quer dizer que você quer continuar a
viver sua antiga vida?
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—Eu não sei, só não quero fazer promessas.


—Entendi.
É ruim sentir que eu amo um cara que ainda
vive na indecisão, que me apaixonei por ele, mas
nem ele mesmo sabe se vai querer ficar
definitivamente comigo, eu acho que no fundo o
Zeus só me pediu em noivado para me manter aqui,
para que eu não fosse embora com meus pais,
mesmo que eu não soubesse de nada sobre o
passado deles.
—Temos algo muito forte e isso é inegável.
—Mas você não sabe se isso é suficiente
para você largar sua antiga vida não é mesmo?
—Não é isso — ele responde sério. — Para
de falar assim, eu só acho que devemos ter cautela.
—Cautela para que Zeus? Para eu viver
igual uma lesada falando que te amo e você se quer
me dar esperanças quanto a sentimentos? Quanto a
nós dois?
—Eu não disse que não sentia nada. —
reclama.
—Mas não disse que sentia, você é muito
travado, sinto muito, mas eu também não vou ficar
aqui e servir de cano de escape para seu vício em
sexo grupal.
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—Isis não faz isso — ele pede todo


nervoso. — Para de falar essas coisas, eu não sou
viciado nem nada, eu só tinha um estilo de vida
antes de você.
—Não há garantias quanto a isso Zeus, não
há nada que eu possa fazer se você mesmo não sabe
o que quer.
—Eu quero você.
—Mas também quer outras coisas, ou
minto?
—Eu não sei! — responde irritado. — Por
Deus você tem que ter calma.
—Eu estou calma, eu só não quero mais ser
enganada tá bem? — soluço. — Eu não quero
acordar amanhã e sentir que o que temos é uma
merda de uma mentira, que você só me vê como
uma saída para sua vida sexual, eu estou tão
cansada das pessoas me tratarem com descaso, de
fazerem a mim de segunda opção, eu não quero ser
segunda opção de ninguém.
—Você não é — Zeus me fita de um jeito
intenso. — Você é a minha primeira opção em
todos os sentidos, eu nunca faria isso com você Isis,
nunca mentiria nem enganaria você, sabe por quê?
Porque eu amo você! Por mais que eu não fique
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falando a cada dois segundos me importo muito


com você, ofereço pouco agora, mas podemos ter
algo muito maior.
—Poder não é ter Zeus.
—Então você acha que só porque eu vivia
algo antes de você vou acabar te trocando por
aquilo ao invés de vivermos o que temos?
Não tenho resposta.
—Me desculpe se passei essa impressão, eu
sei que você está magoada com os seus pais então
vou te deixar um pouco só, para que pense com
cautela no que quer para sua vida.
—Eu sei o que eu quero Zeus — determino.
— Acho que você quem não sabe o que realmente
quer.
—Você está enganada — ele fica diante de
mim. — Eu sei muito bem o que eu quero.
—Está bem — digo. — Então eu vou
arrumar as minhas coisas e vou arrumar um canto
para mim.
—Não vai não — Zeus me puxa pela
cintura de repente. — Para de rebeldia docinho.
—Eu não vou cair nessa do “docinho”.
—É “da docinho”.
—Que seja.
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Afasto-me, mas ele torna a me segurar pela


cintura e me puxa, me abraça por trás, começa a
beijar meu pescoço, fecho os olhos tentando me
afastar, mas não consigo.
—Eu já te pedi em noivado para os seus
pais e já avisei para os meus, eu não vou voltar
atrás, vamos nos casar e você vai usar um anel com
o meu nome.
—Só isso?
—O que? Você não quer um cachorro e um
gato?
—Ai Zeus, pelo amor de Deus...
—Olha, para! Você está tentando me afastar
e eu entendo.
—Você não quer me dar garantias, que tipo
de pessoa noiva da outra sem garantias?
—Eu só quero que nós dois vivamos bem e
não vamos ficar bem juntos com você me
lembrando a cada segundo do meu passado, eu já
disse que é só você!
—Mas não garantiu que sou só eu.
—Meu Deus do céu Isis, eu GARANTO
que é só você!
Viro-me, eu o fito e cruzo os braços.
—Não precisava ter pedido para eles, eles
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não fazem mais parte da minha vida.


—Precisava sim porque eu quero me casar
com você e não quero que seu pai ache que eu sou
um irresponsável que só vive em puteiro.
—Mas você é um irresponsável que só vive
em puteiro Zeus.
—Ah eu sou é?
Ele começa a me cutucar, tento não rir, mas
é inevitável, Zeus vem vindo na minha direção
enquanto ando para o rumo da cama, rio.
—Agora a mocinha vai precisar de um
tratamento vip—ele diz baixinho e começa a me
beijar devagar.
—Com direito ao que?
—Já vai saber!

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—Acho que não fui claro agora a pouco


com você.
—Não?
—Não.
Zeus toca o meu braço e eu o fito, seus
olhos estão nos meus, nossos corpos juntos, nós
trocamos beijos quentes, mas a Kellen acabou de
bater à porta e eu meio que fiquei sem jeito de
acabar fazendo coisas aqui, com todo mundo em
casa.
Ela perguntou se estávamos bem e ele
respondeu que sim, então ela se afastou, acho que
ela pensa que brigamos, mal sabe ela que eu quem
briguei com os meus progenitores, não chamarei
eles de pais, não mais.
—Poderia simplesmente te dar certeza das
coisas, mas eu não sou assim em nenhuma área da
minha vida, mamãe me chama de pessimista — ele
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toca a minha face. — Eu sei que eu não quero


voltar atrás, mas é que eu tenho receio de que isso
não seja suficiente para você, quero te provar que te
mereço.
Estou surpresa em ouvir isso.
—Eu sei que parece meio incerto, mas eu
sempre fui assim, você é a primeira pessoa na
minha vida que me faz querer que seja diferente,
mas tenho medo de falhar com você e prometer
coisas das quais eu possa falhar.
—Você fala em relação aos puteiros?
—Também, é uma mudança bem brusca, eu
mentiria para você se dissesse coisas “eu já mudei”
ou “eu nunca farei isso”, eu não gosto disso Isis.
E isso não é negativo.
—Eu não consigo me imaginar com mais
ninguém, juro que desde que te beijei naquela
festa...
—Suruba! — corrijo.
Ele ri.
—Suruba na qual eu não participei —
esclarece e acabo rindo também. — Eu não consigo
mais pensar em ninguém, sinto que vou para longe
das minhas antigas escolhas, eu costumo ser bem
decidido nesse quesito só que eu não quero falar
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coisas só porque sei que é o que você vai gostar de


ouvir.
—Eu entendo, eu só queria sentir que é
concreto.
—Não sente segurança na nossa relação?
—Sinto sim, mas como eu nunca namorei
ninguém eu não sei bem como lidar, você é um cara
que já viveu muita coisa e bem experiente.
—Você tem medo que eu volte a ir às casas
de swing não é?
—Se eu te dissesse algo do tipo “estou indo
para Dubai com papai”, como se sentiria?
—Eu não sei, eu já estava quase
enlouquecendo quando você falou que queria ir
com ele — Zeus acaricia minha cabeça com
carinho. — É assim que se sente?
—Defina “assim”.
—Como se perdesse algo tão precioso que
não consegue pensar e fazer nada?
Poxa Vida.
—Porque assim eu não quero te encher de
expectativas nem te frustrar, eu não faço promessas
das quais não posso cumprir nem para minha mãe,
só que se você acha que só porque não te prometi
“nada” eu não tenho medo de te perder está
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totalmente enganada.
Toco seu peito, acomodo a cabeça em seu
ombro e puxo o cobertor, eu entendo agora o que o
Zeus fala.
—Uma relação não se constrói com
incertezas, mas nunca temos certeza de nada
quando amamos alguém — ele beija a minha
cabeça. — Eu quero que você entenda isso, não é
porque eu não disse que não iria para casa de
swings que eu irei, nem que eu vou te trair, parece
que você quer ouvir isso da minha boca para ter
certeza.
—Não é comum que te peçam que fale as
coisas?
—É comum, mas isso não deve ser uma
cobrança, quem tem que ter o compromisso de ser
fiel sou eu e não você, se um dia qualquer pessoa
por quem se apaixonasse te traísse você pode ter
certeza que não importava o que fizesse ou
dissesse, ela trairia.
—Você conhece muitos casais assim né?
—O que os casais fazem de forma
consentida numa casa de swing não é traição, mas
sim, já me envolvi com muitas mulheres que me
disseram que foram traídas, mulheres lindas
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fisicamente, brilhantes, inteligentes, mães e donas


de casa, independentes e muitas vezes foram
substituídas por mulheres que você nem poderia
imaginar.
—É diferente pensar que você ir a uma casa
de swing te torna infiel?
—É comum pensar e você não está errada,
até porque uma mulher que vai com o marido a
casa de swing não é considerada uma infiel nem
vice e versa, é uma coisa bem consciente, conosco
seria infidelidade porque estamos tendo um
relacionamento monogâmico.
—O que te atraía nos casais de lá?
—Não quer falar disso, certo?
Decido.
—Eu quero.
—Talvez se machuque. — alerta ele.
—Entendo que você teve outra vida Zeus,
quero entender isso.
—Não sei dizer — ele suspira. — Fazia
com que eu me sentisse livre e eu gosto muito de
saber que outras pessoas me observam na hora da
transa.
—Fetiche? — eu o fito.
—É, há pessoas nesse universo que ás vezes
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vão só para olhar, eu gosto mais da sensação de ser


observado, mas olhando sempre para a minha vida
eu sentia que era mais pelo ego sabe? Sentia que os
olhares me inflamavam.
—Porque é bonito e atraente.
—É e porque eu fodo bem para caralho.
—Meu Deus, mas que bela bosta!
Ele gargalha e me aperta, fico rindo
enquanto nos abraçamos.
—Eu era o homem que muitos homens
queriam ser e o homem que as mulheres desejavam,
já aconteceu de em uma noite eu transar com cinco
mulheres de uma vez — Zeus confessa me olhando.
— Desculpe.
—Eu não me importo — dou de ombros
sincera. — Mesmo você sendo um arrombado e
tendo sido comido por esse tanto de mulher, eu te
valorizo e te aceito.
Escuto outra gargalhada, Zeus me dá um
tapa forte na bunda e me beija com carinho.
—Escuta cabecinha de vento, eu te amo e se
eu tiver que te prometer as coisas para que entenda
isso eu prometo, mas só quero que confie um pouco
mais em mim.
—Confio Zeus, muito — admito feliz em
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ouvir isso. — Eu só tenho receio de talvez se sinta


confuso.
—Não estou, isso ás vezes me assusta,
sentir que de alguma forma você me faz ficar longe
do meu passado, não é que eu não queira, você
entende?
—Se acostumou tanto com o que tinha que
sente medo de se entregar ao que nunca teve.
—Sim, é isso.
Dou-lhe um selinho.
—Minha mãe sempre dizia que um dia
quando eu encontrasse alguém por quem me
apaixonasse eu nunca mais iria querer saber de
mais nada, eu ficava rindo e pensando “como a
minha mãe é iludida”, então eu conheci você e
agora me sinto um boboca te chamando de docinho
e te mimando feito uma criança.
—Eu mereço ser mimada — retruco. —
Você me esgota!
—Ah Isis, eu quero te pegar e te esgotar, só
preciso de um lugar bem longe daqui porque sei
que você vai começar a fazer muito barulho.
Engulo a seco.
—Você fala cada coisas. — sei que estou
muito vermelha.
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—Eu sinto falta de você na cama, de fazer


amor e dos seus carinhos — Zeus aperta a minha
bunda. — Quero você só para mim.
—Me sinto estupida por não ter sido mais
compreensiva com você nos primeiros dias.
—Entendo que se assustou.
—Me desculpe por ter pensado e dito tantas
coisas feias a seu respeito.
—Confesso que me ofendi, mas como você
vai ter o resto da vida para me pagar com sexo, eu
aceito.
—Aceita? — aperto ele. — Ai que gostoso!
—Que bom que você está melhor.
—Quando conversamos me sinto melhor,
sinto que posso falar com você sobre qualquer
coisa.
—Eu também me sinto assim, eu andei
pensando, nunca disse aos meus pais abertamente
sobre minha vida, acha que eu devo contar a eles?
Tenho receio de que o Thomas acabe falando
alguma coisa para me prejudicar.
—Não tem que falar pelo Thomas, fale por
você mesmo, mesmo que não deva satisfação da
sua vida para ninguém, se for para eles saberem
que saibam por você.
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—Quero que você esteja comigo está bem?


—Sim.
***
Desperto com um beijo.
Meu corpo todo se arrepia com o toque a
boca dele busca a minha e não nego o beijo, é
quente e macia, Zeus puxa a minha calcinha para
baixo e ergo as pernas ajudando-o a tirar a peça
rápido, me estico na cama puxando a camisa dele,
ele sobe em cima de mim e ergue os braços
enquanto me ergo, abro os olhos e cubro seus
ombros de beijos, minhas mãos tocam suas costas e
sua bunda, ele já está nu da cintura para baixo.
Minhas mãos deslizam para frente de seu
corpo e toco seu pênis, ele vibra entre meus dedos,
ele me beija enfiando a língua de mansinho na
minha boca, eu o masturbo devagar e o vejo
ascendendo a luz do abajur.
Ele se inclina deixando meus lábios e pega
uma camisinha na gaveta do criado, beijo seu peito,
seu abdômen, não tenho tanta urgência, mas sinto
um pouco de pressa da parte dele, sei que sente
falta de fazer amor comigo, nós não fazemos amor
há dias.
Com tantos problemas não houve tempo
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para isso.
Zeus coloca um beijo gostoso na minha
boca e abre o pacote do preservativo, ele o coloca e
puxa a minha perna para cima se sentando na cama,
ele me coloca sentada em suas coxas e tira a camisa
dele que uso para dormir do meu corpo, toca a
minha face com carinho e me fita.
Dou-lhe um sorriso e seguro seus ombros,
eu o empurro com gentileza e me apoio nas mãos
ficando por cima, ele toca minha cintura e meus
seios, me observa de um jeito que nunca me olhou
antes.
Nossos lábios se unem novamente e abaixo
os quadris deixando que ele entre em mim sem
pressa, ele me aperta a bunda com força e me
preenche toda, me ergo e movo os quadris deixando
que suas mãos me conduzam, ele aperta mais
minhas nádegas enquanto subo e desço nele.
Torno-me mais viscosa e quente, a
penetração mais intensa mesmo que lenta, fico
ofegante e ele também, minha pélvis vai de
encontro a ele numa dança erótica que me estimula,
fico sentada e dobro as pernas me apoiando nos
joelhos, Zeus separa mais as minhas pernas e faz
com que me mova rebolando nele.
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Estendo as mãos obedecendo-o, cubro as


mãos dele com as minhas e fecho os olhos me
sentindo mais que liberta, o prazer se espalhando
por todo o meu corpo dos pés a cabeça, ele mete
tão bem dentro de mim.
É gostoso demais.
Ele solta as minhas nádegas e toca a minha
coxa, me movo sozinha, ele enfia um braço
embaixo da cabeça e o outro aperta meu seio, ele
me olha e me encho desse desejo insano de
satisfazê-lo, de me satisfazer.
Quente deslizo nele, observo ele entrando e
saindo de mim, subindo e descendo e isso me deixa
ainda mais excitada. Ele aperta mais meu seio e
desce a mão até lá, depois com o polegar começa a
estimular meu clítoris sem receio, ele gosta do que
vê, isso o excita também, ver que também sinto
prazer o leva ao extremo.
Inclino-me sob seu corpo e o beijo me
movendo mais depressa, ele toca minhas costas e
afasta meus cabelos para trás tocando minhas faces.
—Eu sou todo seu querida — sussurra
baixinho. — Só seu!
Tensiono e meu corpo estremece com a
onda de prazer provocada pelas palavras, eu o beijo
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e ele inverte as posições ficando por cima, me fita


por alguns segundos e volta a se mover lentamente,
eu o abraço e o aperto, Zeus beija meu pescoço,
meus seios.
Ele se ergue e puxa a minha perna e aperta a
minha nádega com intensidade, sua penetração se
torna mais forte, sua boca explora a minha com
mais desejo, me movo com ele em seu ritmo, ele
mete com mais força e me seguro em seus ombros
adorando cada segundo.
Meu corpo pula no colchão enquanto sou
penetrada com violência, a forma como ele mete
me deixa ainda mais molhada a cada segundo, Zeus
me morde os seios e prendo a vontade insana de
gritar, um prazer poderoso tomando toda a minha
cavidade vaginal, meu clítoris pula.
Agoniada tento empurrar ele e fechar as
pernas porque parece insuportável demais que
consiga me deter, mas ele continua e não para, me
encolho e o fito sentindo as estocadas altas dentro
de mim, os estalos fortes, meus seios pulam, meu
corpo treme e a sensibilidade me causa ondas e
mais ondas de prazer extremo.
Não consigo raciocinar direito, ao mesmo
tempo que quero que ele pare, quero que ele meta
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mais.
—Isso — sussurra gemendo baixinho. —
Isso vai, goza no meu pau todo.
Prendo e ele me puxa pelos quadris ficando
de joelhos na cama, me apoio nos cotovelos e ele
continua a meter abrupto dentro de mim, dobro as
pernas e fico toda aberta para ele, Zeus cospe na
minha vagina me erguendo com mais rapidez, ele
me controla toda, mordo os lábios respirando com
dificuldade.
—Goza! — ordena sem sair do controle.
—Quero mais — respondo arfante. — Mais
forte, por favor.
—Vai ficar toda rasgada amanhã.
—Não importa, mete mais forte.
Ele me vira na cama com facilidade e me
deixa de costas para ele, me apoio nos joelhos
ficando de quatro e assim ele continua a me
penetrar com força, Zeus puxa meus cabelos e
começa a beijar meu pescoço, lamber minha nuca,
aperto os olhos sentindo uma fraqueza intensa nas
pernas, minhas coxas tremem e começo a sentir
uma forma estranha de prazer me tomando a ponta
da virilha.
—Mete — digo de forma impulsiva. —
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Fode comigo!
Estou suplicando, dizendo coisas por puro
impulso, por uma luxúria tão imensa que mal sei
descrever, Zeus lambe as minhas costas e se
encolhe me movendo com ele rapidinho, abro mais
as pernas deixando-o me tomar toda, ele cospe na
minha bunda afastando minhas nádegas para os
lados, ele passa o dedo na minha bunda enquanto
mete em mim.
—Seu cu é tão perfeito querida.
Zeus Collins me faz gozar com palavras
banais e baixas, meu corpo todo entra no frenesi
provocado por ele, por seu membro pulsante dentro
de mim, molhada, quente e toda aberta eu o revisto
pelo meu orgasmo, ele aperta minhas nádegas
enquanto goza também, morde minhas costas quase
me enlouquecendo e eu não consigo pensar em
nada agora.
Agora me entrego a ele, porque o amo,
porque ele é meu.
Quem sabe para sempre?
***
Estou sozinha na cama quando acordo, já
parece ser bem tarde do dia, as roupas do Zeus
estão espalhadas pela cama e os travesseiros
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jogados no chão, me sento na cama olhando


envolta, oprimo a vontade de rir vendo nossa
bagunça e tudo jogado para todos os lados, os
travesseiros, o cobertor, estou nua agarrada a um
dos lençóis da cama dele.
Escuto o som de passos no corredor e me
deito novamente, me cubro até o pescoço e me
aquieto, não demora muito até que eu sinta o cheiro
de café invadindo o quarto, me sinto idiota, só que
não sei, talvez não seja ele, pode ser a mãe dele,
quem sabe?
—Viu? Eu disse que ela estava dormindo
mamãe.
—Tá, fiquei preocupada — escuto a voz da
Kellen. — Vocês estão bem certo?
—Estamos mãe, nossa!
Reconheço o tom de vergonha na voz dele,
logo escuto o som dos passos se afastando e a porta
sendo fechada, sei que ele se aproxima da cama,
Zeus coloca um beijo quente na minha cabeça e
apalpa meus seios enfiando a mão dentro do lençol.
—Acorda meu amor, já está tarde.
Estico-me e me deito de costas abrindo os
olhos, ele está sentado diante de mim usando uma
calça de pijama, os cabelos dele estão úmidos, Zeus
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sorri enquanto me sento, fico vermelha.


—Boa tarde docinho.
—Boa tarde.
—Meu irmão quer te conhecer, ele trouxe a
minha sobrinha e a minha cunhada.
—Achei que nunca os conheceria.
Zeus toca a minha face com carinho.
—É que os pais dela estavam ai e mamãe
não gosta que fiquemos incomodando, Viviana
gosta muito de privacidade sabe? Ainda mais
depois que a Megan nasceu, meus pais não gostam
de parecer invasivos.
—Eu entendo.
—Já tomei banho, eu contei para minha
família sobre mim.
Espanto-me.
—Mesmo?
—Mesmo, agora a pouco, aproveitei que o
H está ai e decidi contar.
—E como foi?
—Mamãe já sabia e papai também, a Affie
ficou rindo e o H ficou zangado por eu não ter dito
antes.
—Até que não reagiram muito mal não é
verdade?
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—É, mas você já sabia disso... Certo?


Fico sem graça.
—Sua mãe já sabia quando eu disse para
ela, foi ela quem me convenceu a ficar e não ir
embora.
—Foi?
—Sim, ela disse que você não gostava do
Thomas, que ele era galinha e que você gostava de
mim.
—Acho que ela tem razão quando diz que
me conhece mais do que eu a mim mesmo.
—Não está zangado?
—Na verdade foi uma conversa de duas
horas bem tensas, não me senti mal, mas me senti
idiota em pensar que eles não desconfiavam que eu
sou bi.
—Entendo.
—Eu não quis te acordar, senti que tinha
que resolver isso o quanto antes, estava
incomodado com isso sabe? Desde ontem,
precisava resolver.
—Tem medo que o Thomas conte?
—Francamente eu tenho muito mais receio
de que eles soubessem disso de um jeito errado,
meus pais mereciam isso desde o início, mas eu
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tinha muito medo de não ser aceito, também porque


eu achava que era dono de minhas ações, das
minhas vontades, por ser maior me enchi dessa
sensação tola de autonomia.
—Eu queria ter tido coragem para sair de
casa antes, vou fazer 30 anos e mal vivi a minha
vida, sempre vivi em função do que meu pai queria
para mim, é muito ruim sentir que eu poderia ter
tomado minhas decisões e ao invés disso só o
obedecia, ele e mamãe mentiram para mim a vida
toda.
—Isis, tudo bem se você não foi concebida
de um modo tradicional, nunca parou para pensar
que talvez essa fosse à única chance do seu pai te
ter?
—Não é por causa disso — replico. — É
porque eles mentiram para mim.
Ele toca a minha face e me dá um selinho.
—Ontem foi fantástico — ele diz me
fitando, a testa colada na minha. — Você é
fantástica docinho.
—Sou é? — sorrio e fico ainda mais
vermelha. — E o que mais gostou? Eu comi você
direito seu fácil?
Zeus ri e vai ficando vermelho até as
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orelhas.
—Eu me sinto usado quando você fala que
me comeu, mas adoro isso sabia? Adoro quando
você trepa comigo feito uma puta enlouquecida,
não pede arrego.
—É porque é bom — confesso e toco seu
peito. — Você sabe como usar bem sua varinha de
condão.
—Nunca me senti tão bem com nenhuma
mulher na cama, confesso que tinha muitos receios
quando nos conhecemos, principalmente de
machucar sua buceta.
—Quando você fala essas palavras eu me
sinto tão criança.
—Por quê?
—Tenho vergonha.
—Não tem que ter vergonha, tem que me
dar a buceta e trepar comigo sempre, vamos nos
casar, gosto de transar sem pudor.
—Eu percebi.
Zeus se afasta um pouco e me olha em
silêncio.
—Eu amo você — ele fala assim do nada.
— Adoro que você me aceite e me entenda, mesmo
eu tendo um passado bem complicado em alguns
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sentidos.
—Ama tipo para sempre?
—Amo tipo para todo o sempre.
Dou-lhe um sorriso e os olhos dele se
enchem de sentimentos fortes.
—Você quer casar comigo Isis? Por amor?
—E blá, blá, blá?
Ele ri e faz que sim com a cabeça.
—Acho que vou pensar bem nisso, vai lá
que o blá, blá, blá não é para valer não é mesmo
senhor Collins?
—É para sempre!
—Então eu aceito!

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—Ah, ai está ela.


Fico rindo de ponta a ponta quando a Kellen
vem ao meu encontro, reconheço que parte do meu
humor matutino é porque ontem tive uma noite
incrível com o meu namorado, ou melhor noivo.
—O Zeus ficou te escondendo de nós, já
estávamos começando a acreditar que você não era
de verdade, tudo bem? Sou Viviana.
Viviana é uma mulher linda, baixinha de
olhos castanhos e lábios rosados, cabelos castanhos
claros e mais franzina, ela segura a minha mão e
me puxa para um caloroso abraço, não estou
habituada a abraçar as pessoas assim, mas é tão
bom.
—Seja bem vinda à família Isis — Viviana
fala com carinho na voz. — Nos desculpe o mal
jeito, é que estou no período de amamentação e a
Megan não foi exatamente planejada se é que me
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entende, mas estou sempre aqui na casa ao lado.


—Ah, obrigada — digo encantada. — Eu
sou meio reclusa, mas seria ótimo conhecer sua
casa.
—Pode me chamar de “H” ou Hades se
preferir — o homem alto e cheio de tatuagens se
aproxima carregando um pacotinho cor de rosa. —
Eu só pareço bandido, mas não precisa ter medo.
—Eu não tenho. — sorrio com a
brincadeira.
—Bem vinda à família. — Hades fala.
Ele é parecido com o Zeus, mas não muito,
o Zeus é mais velho e se parece mais com o pai
deles, o Hades eu acho que é bem mais novo que
ele e se parece bastante com a Kellen, tem cabelos
escuros e um porte mais atlético, um pouco mais
magro talvez, ele é muito bonito também.
—Essa é a Megan — Viviana fala com um
sorriso que vai de ponta a ponta em sua face. —
Nosso pequeno milagre.
Ela é tão linda.
Miúda, bochechuda, tem cabelinhos finos e
compridos, lábios vermelhos e está toda
embrulhada nessa manta cor de rosa, as mãozinhas
juntas, ainda que os olhos estejam bem abertos ela
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boceja, parece uma pequena boneca.


—Quer segurá-la? — Hades questiona.
—Aproveita que ele é ciumento. — Kellen
sugere enquanto se aproxima com uma bandeja
com o café da tarde.
—Tá, eu posso me sentar? Eu tenho medo
de deixar cair. — afirmo sem graça.
Já segurei e dei mamadeiras a bebês em
visitas que fiz a outros países em trabalhos
voluntários, mas não posso dizer que tenho muito
jeito com bebês, não tanto quanto os pais de Megan
parecem ter.
—Claro — Viviana diz. — Nós também
não temos muito jeito, se te conforta, quem deu o
primeiro banho dela foi o Lorenzo.
Vou até o sofá e me sento, Hades me
entrega Megan com muito cuidado, eu a acomodo
entre meus braços e a sensação de segura-la me faz
sentir um friozinho forte na barriga, Viviana se
senta ao meu lado e coloca uma chupeta cor de rosa
na boquinha dela, ela pega com facilidade e suga
devagar, olhos grandes e castanhos me analisam
agora.
—Ela é linda — digo com um sorriso
imenso para a Viviana. — Tem sorte de ter vindo
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para uma família que a ama e que a quer.


Queria que comigo houvesse sido assim,
que nada do que meus pais fizeram para me
conceber no passado fosse de fato verdade, que eu
tivesse sido desejada e planejada como me fizeram
acreditar que sempre fui, não apenas algo que
serviria para suprir a necessidade financeira de um
e a emocional de outro.
—Você é. — escuto Kellen falar.
—Obrigada Kellen, por me receber e por
aturar o meu pai. — digo sincera e olho para a mãe
do Zeus, ele está em pé num canto da sala me
olhando todo retraído.
—Eu e o Lorenzo sempre teremos as portas
da nossa casa abertas para vocês dois — Kellen
afirma com um sorriso imenso. — Vocês já tem
uma data?
—Ainda não pensamos nisso mamãe —
Zeus responde e se aproxima. —, mas não
queremos esperar muito.
—Ficarei feliz em ajudar da forma que
vocês precisam. — Kellen começa a servir café em
xícaras bonitas.
Sorrio, Zeus se senta ao meu lado direito e
passa o braço envolta de mim, ele toca a cabecinha
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de Megan.
—Eu aceito sim sua ajuda Kellen. — digo.
Quero fazer parte dessa família, quero ser
parte de algo maior na minha vida e não saberei se
não tentar, meus pais foram embora ontem e me
deixaram despedaçada, mas agora tenho essa nova
oportunidade de fazer parte da vida do Zeus,
agarrarei com unhas e dentes.
—Bem vinda à família Collins. — Affie
fala toda contente.
—Obrigada Affie.
Sei que é sincero, sei que sou bem vinda e
bem aceita, Zeus me puxa pela cintura colando
mais nossos corpos, Hades abraça Viviana e fico
babando pela Megan, muito feliz de estar aqui e ao
mesmo tempo contente demais porque é a primeira
vez que tenho a oportunidade de fazer as minhas
próprias escolhas.
Elas não incluem meus pais nem o Douglas,
isso me machuca muito, mas por enquanto pelo
menos em relação ao Douglas acho que preciso
desse tempo para assimilar tudo, quando eu estiver
pronta eu irei procurá-lo e conversar com ele, por
hora quero curtir cada pequeno segundo com os
Collins. Com o Zeus.
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—Amor?
Olhou envolta, estou sozinha na cama, Zeus
não está aqui, percebo a luz da sala acesa, me ergo
e saio da cama, escuto o som da conversa baixa e
os sussurros que ecoam pelo chalé, sinto cheiro de
chá, lá fora chove um pouco, conforme vou
descendo a escada vejo logo de cara os dois
homens na cozinha.
Meu coração dispara repentinamente
quando constato de quem se trata, recuo vendo
Zeus só com a calça do pijama atrás da pedra de
refeições e diante dele está Thomas, sentado
também bebendo chá com uma caneca, não estão
muito próximos, mas ele está aqui.
—Então você vai mesmo casar com ela? —
escuto Thomas perguntar. — Tem certeza de que é
isso o que quer?
—Sinto muito que não entenda.
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—O que eu não entendo?


—Thomas fala mais baixo, já é a terceira
vez que você faz isso, se ela acordar...
—O que? Vai fazer ceninha de hétero e
brigar comigo de novo? Isso não combina com
você Z.
Mordo o lábio inferior, ouvir isso é
devastador, mas não consigo me mover.
—Já disse para você não falar assim.
O olhar do Zeus está coberto de seriedade.
—Ela não poderia...
—Não Thomas, ela não poderia e eu não
quero ela metida nisso.
—Então vai largar tudo por ela?
—Já larguei.
—Zeus você tem noção do que está fazendo
com a sua vida por causa dessa garota?
—Cara você acha que eu não pensei nisso?
Que eu não fico lembrando do quanto era excitante
sair com você? Mas não dá, não dá mais.
—Porque ela te pediu?
—Porque eu não consigo mais Thomas,
você é como um irmão para mim, deveria saber
respeitar as minhas decisões.
—Não entendo porque você acha que esse
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casamento com essa garota vai ser uma salvação ou


uma cura gay na sua vida.
O deboche é presente na voz dele, isso
ainda que o Zeus não demonstre o machuca.
—Você acha que eu deixei de ser bissexual
só porque eu me apaixonei por uma mulher
Thomas? Isso não tem a ver com sexualidade, tem
a ver com amor.
—Eu só queria entender porque tomou essa
decisão, agora que sua família sabe você poderia
muito bem convencer ela de que seria legal ter um
relacionamento aberto.
—Não me sinto confortável em saber que
vou dividir a Isis com ninguém.
—Assim do nada?
—O que quer que eu diga? Você quer que
eu minta para você? Não veio aqui para conversar?
Se quiser conversar eu converso com você, mas se
preferir que eu seja ignorante também serei, eu não
quero magoar ela, ela é muito importante para mim.
—Tem pena dela Z.
—Não consigo sentir pena pela Isis, ela é
uma mulher jovem e corajosa, já passou por muitas
coisas na vida, ela não é mimada como você pensa,
você a julga muito mal e ela não tem nada a ver
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com nossa amizade nem com as coisas que eu e


você fizemos juntos.
Ouvir isso me enche de orgulho.
—Não conseguiria dividir ela nem...
Comigo?
Minhas bochechas queimam, o maxilar do
Zeus trinca e as veias do pescoço dele saltam.
—Você quer que eu mate você de qual
forma? Afogado? Queimado? Esquartejado?
—Ohh, ohh, calma aí, foi só uma pergunta.
—Conheço bem suas intenções Thomas e
não, não quero dividir ela com você, chegou a hora
de crescer.
—Então está com ela porque ela faz com
que se sinta responsável?
—Eu estou com ela porque ela me torna
alguém melhor todos os dias.
—Ah, por favor, sem hipocrisia — Thomas
faz uma careta. — Você dando sermão?
—Thomas eu não entendi ainda o que você
pretende vindo aqui encher o meu saco, já disse que
não quero mais poligamia, acabou eu não vou
dividir mais nenhuma mulher com você, arrume
outro parceiro para suas sacanagens.
—Me sinto usado. — Thomas confessa com
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irritação.
—Por mim? — Zeus franze a testa. — Cara
você está se sentindo usado por mim? Você que usa
qualquer pessoa que passa na sua frente? Trata todo
mundo como se fosse uma coisa principalmente as
mulheres com quem se envolve e se sente usado
por mim? Eu que nunca me relacionei com você
Thomas, você quem sempre encarou tudo o que
fazíamos como algo passageiro.
—Eu me equivoquei Zeus, me acostumei
com a ideia de ter você comigo sempre por perto,
como um conselheiro, um parceiro de vida.
—Eu também, mas agora eu tenho outras
prioridades.
—E nenhuma delas me inclui?
—Acho que já priorizei demais você
Thomas, eu tirei você do fundo do poço quando
ficou viciado em cocaína, eu ajudei você a construir
a sua empresa, eu emprestei dinheiro para seus pais
e eu nunca pedi nada em troca, já te ajudei demais,
acho que é hora de eu seguir com a minha vida e de
você parar de se sentir o centro das atenções porque
você não é.
Minha nossa!
Depois dessa até eu ficaria calada, Zeus
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coça a barba e Thomas fica cabisbaixo em silêncio.


—Eu sempre te ajudei, sempre vi em você
um melhor amigo, nem sempre fizemos as coisas
certas juntos Thomas, mas agora não dá mais, eu
estou com mais de 40 anos, eu não tenho mais
pique para viver isso, tem horas que eu penso
“porra o que eu estou fazendo com a minha vida?”
você acha que deixar as casas de swing é uma
escolha fácil para mim? Mas eu não consigo mais
pensar em ir e em deixar a minha própria vida em
segundo plano, eu quero ter filhos e uma família, se
não for agora não será nunca sabe por quê? Porque
essa garota “mimada” a qual você se refere me faz
muito bem, ela me ama e me aceita do jeito que eu
sou, mesmo sabendo de tudo o que eu já fiz e as
coisas que posso fazer ela confia em mim.
—Tem medo de decepcionar ela.
—Tenho medo de perdê-la.
Thomas mais uma vez fica sem resposta,
me encosto na parede perto da escada e fico calada,
os sentimentos saltam dentro de mim, nunca pensei
que ele se sentisse assim em relação a mim, porque
ele não fala.
—Amo a Isis e não posso mudar isso.
—Porque se apaixonou por ela?
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—Thomas você faz umas perguntas tão sem


noção às vezes, como posso saber? Aconteceu!
Eu também acho, que cara mais idiota.
—Tem certeza...
—Thomas eu tenho, melhor você ir embora,
vou pedir que o porteiro não abra mais para você,
ela está dormindo bem ali em cima, não quero que
a Isis ache que estou fazendo coisas erradas por te
receber aqui.
—Ela acha que tivemos um caso?
Acho.
—Exatamente.
—É uma pena que ela não saiba que nunca
tivemos nada além de uma parceria imensa de
transas com outras pessoas em uns cem puteiros da
Europa.
Thomas se levanta e respira fundo, depois
ele pega o que parece ser as chaves de um carro em
cima da pedra de refeições.
—Vê se toma juízo.
—Eu vou superar.
—Vai para casa Thomas e tenta se manter
firme.
—Tá bom, tá bom, já entendi, agora você
vai bancar o meu pai?
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—Tchau Thomas.
Zeus se levanta e o acompanha até a porta,
subo as escadas com medo de que ele note que
estou acordada, me apresso e subo na cama, puxo
os cobertores ouvindo o som da porta sendo
trancada, demora um pouco até que ele volte para a
cama, Zeus me abraça e puxa os cobertores
deixando beijos quentinhos no meu pescoço.
Sorrio de ponta a ponta.
—Quem era? — pergunto baixinho.
—Já te disse que não sabe fingir?
—Eu não sei do que você está falando.
—Eu tenho a impressão de que você me
chamou de amor.
Viro-me na cama e o abraço, Zeus me beija
sem pressa, toco suas costas enquanto nos
beijamos, puxo mais ele para perto colando nossos
corpos. Ele começa a puxar a minha calcinha para
baixo.
—Perdi o sono. — ele sussurra entre o
beijo.
—Eu também.
Devo me sentir grata ao Thomas por isso?
Devo!

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—Bom dia, já acordou?


—Sim.
Aproximo-me, Zeus está perto da janela da
cozinha, está chovendo lá fora, o dia está fechado,
acabo de acordar senti um cheiro maravilhoso de
café, ele segura uma caneca vaporosa, eu o abraço
por trás e ele toca a minha mão, beijo o meio das
suas costas e me encosto nele, ele está de cueca e
eu uso um pijama.
Nossos dias aqui se passaram bem rápido,
tem sido dias muito bons, mesmo que ele tenha
saído cedo e chegado tarde todos os dias, hoje é o
segundo fim de semana desde que meus pais foram
embora com o Douglas, não tive notícias mais
deles, a Kellen tem me mimado muito e nunca me
senti tão livre em bem em toda a minha vida.
O Zeus é muito tranquilo nesse sentido, eu
tenho cozinhado coisa que não fazia quando
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morava na casa do meu pai, limpado o chalé,


confesso que as tarefas domésticas são mais
cansativas do que estou acostumada, mas até gosto.
Acho que hoje será como semana passada,
passaremos o sábado com os pais dele, semana
passada fizemos um piquenique e foi super
divertido passar o dia com os Collins, a Kellen fez
um maravilhoso almoço ao ar livre para nós e tive
mais oportunidade de conhecer a Viviana melhor, o
Hades e a Affie, fiquei vendo a família toda
babando pela Megan, os avós do Zeus também são
bem para frente, dois velhinhos animados e super
competitivos, Domingo nós jogamos boliche depois
do almoço, baralho e vivi para ver o Zeus e o
Hades jogando Mário e brigando por causa de um
pedaço de doritos.
Affie pintou minhas unhas dos pés e eu
pintei as dela, Viviana me levou no meio dessa
semana ao centro da cidade e conheci um dos
shoppings locais, bebemos um capuchino e falamos
sobre a Megan, que ficou com a Kellen e o
Lorenzo, Affie faz faculdade então não pode ir.
—Está cansado?
—Um pouco, estar em casa é bom, mas
significa trabalho em dobro porque eu não estou na
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minha filial então as reuniões são em sua maioria


por vídeo chamada, o H também está meio que de
molho então sobra para mim.

—Posso te ajudar com algum papel hoje?


—Cuido disso mais tarde.
—Acho que hoje não teremos piquenique.
—É verdade.
Percebo que ele está mais sério hoje, ontem
chegou meio cansado jantou, tomou banho e
dormiu.
—Aconteceu alguma coisa?
—Não, porque a pergunta?
—Você está tenso.
Ele suspira, isso não parece ser conivente
com a resposta que ele deu.
—É coisa minha Isis.
—Se eu puder ajudar...
—Não, não pode e eu não quero falar sobre
isso.
Acho que ele não gosta mesmo de se abrir
demais, concordo com um breve assentir e me
afasto, Zeus no entanto se apressa e segura minha
mão, eu o fito confusa.
—Aconteceu uma coisa ontem no
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escritório, foi algo de errado que eu fiz, algo que eu


não deveria ter feito.
—O que foi?
—Thomas foi a empresa e levou uma
garota...
Que?
Solto a mão dele, parece que só dele ter dito
o nome do Thomas meu corpo todo se enche de
raiva, Zeus passa a mão nas faces enquanto eu o
encaro chego a uma conclusão da qual não gostaria
de chegar.
—Não é o que está pensando.
—E o que eu estou pensando Zeus?
—Que eu transei com ela e que eu te trai
com eles dois, eu nem cheguei perto da mulher, só
que acabei fazendo uma merda sem tamanho.
Continuo calada e tensa, dura onde estou.
—Eu fiquei muito perto de ceder ao que ele
queria, só que ele me beijou.
Por alguns segundos fico fora do ar com o
que ele fala, Zeus se aproxima e recuo um passo.
—Você beijou ele?
—Não, ele me beijou, mas não foi bem
assim, ao menos me escuta.
—Eu estou te escutando.
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—Eu não sei como explicar, foi tudo rápido,


apenas aconteceu.
—Entendo.
Eu não sei nem o que falar, porque constatar
isso vai vagarosamente fazendo com que a minha
garganta fique fechada, uma dor estranha vai
tomando meu coração.
—Você não vai dizer nada? — Zeus indaga
nervoso. — Vai ficar me julgando com seu olhar?
—Acho que você se equivocou em pensar
que iria mascarar a sua homossexualidade ao se
envolver comigo — confesso tirando minhas
conclusões, Zeus me encara perplexo. — Você não
sabe nem o que você quer Zeus, ele te beijou e você
ficou balançado.
—Não estou balançado, estou me sentindo
mal — retruca ele sério. — Eu não estou tentando
mascarar nada.
—Não pode permitir que ele te beije assim
e se sentir mal por isso, o que quer que eu diga não
vai fazer com que você se sinta melhor se é isso o
que você quer ouvir, estou decepcionada com você.
—Isis tudo o que temos tem sido
maravilhoso...
—Para de se enganar Zeus, para de mentir
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para si mesmo.
Sei que isso o machuca muito, porque é
evidente em seu olhar, é tão visível o quanto isso
lhe causa dor, me causa muito mais dor perceber
que seu olhar se enche de frustração e sentimentos
ruins, eu já o conheço o suficiente para saber disso.
—Isso nunca vai acabar porque você não
permite que acabe.
—Eu já disse para ele não vir mais, pensei
que ele tinha entendido.
—Acho que quem não entende é você Zeus,
você está tentando com todas forças gostar de mim,
mas não gosta o suficiente para deixar ele ir, se
você quisesse você afastaria ele, mas você não
quer.
—Isis eu nunca faria nada para te machucar,
isso para mim não tem a ver com a minha
sexualidade, eu estou falando a verdade para você
porque não quero que saiba por mais ninguém, me
sinto mal com a situação.
—Eu entendo, mas não posso me submeter
a isso, há duas semanas atrás você me prometeu um
bocado de coisas, ficamos noivos e eu estou
morando com você, mas acho que você mesmo não
tem controle da sua vida Zeus, você não sabe o que
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você quer de verdade.


—Você não entende.
—O que eu não entendo?
—Que eu te amo.
—Ama e beija outras pessoas?
—Eu disse que tentaria, eu não te traí Isis,
eu só estou dizendo que ele me beijou e que me
sinto estranho, que isso me deixou triste, me fez
sentir como se estivesse fazendo algo muito errado,
depois eu não senti nada, só que esconder isso de
você está me fazendo mal, não devo porque
estamos juntos e seria errado esconder isso de você.
—Entendo que tenha sentimentos por ele,
eu aceito que queira ficar com ele. — digo sincera.
—Eu não quero ficar com ele e eu não
tenho sentimentos por ele Isis.
—Você se engana demais.
—E você não me ouve.
Afasto-me dando a conversa por encerrada.
Achava que aquele merda tinha saído de
nossas vidas, mas pelo visto não saiu.

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Meu celular toca e toca e fico olhando para


o visor sem conseguir pensar em atender. Não
conseguia mais pensar em estar ao lado do Zeus
depois do que ele me falou porque eu ficava
pensando no Thomas, ficava imaginando a cena e
minha mente se fechou de novo.
Meu coração se fechou.
Não quis voltar para casa, eu não refiz
minha mala, eu enchi a minha bolsa com meus
documentos e passaporte, peguei minha carteira e
apenas uma muda de roupas, quando ele saiu para a
casa dos pais dele logo depois da nossa conversa
me vesti e sai, pedi ao guarda que não avisasse que
eu estava saindo, pois já havia avisado a Kellen.
Tive que mentir para poder sair da casa dos
Collins, mesmo que naquele momento eu estivesse
engolindo o choro e me segurando para não chorar
eu fiz o que sempre fazia quando papai me
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magoava, sorria e fingia que estava tudo bem, com


o tempo eu fui aprendendo a lidar com isso.
Decidi me afastar porque acho que o Zeus
ao contrário do que ele pensa não está pronto para
viver nada comigo, que ele acha que podemos ter
algo quando na verdade nem ele sabe o que ele
quer, por mais que eu tentasse me apegar a tudo o
que vivemos nesse mês eu acho que não
conseguiria viver com alguém na nossa sombra.
Ou melhor, viver à sombra de alguém.
Comprei passagens para Veneza, quero um
tempo sozinha e longe de tudo isso, não ajuda
também me lembrar dos meus pais, de tudo o que
aconteceu na minha vida, foram muitas coisas que
eu achei que superaria ao lado do Zeus, coisas que
eu sei que não dependem da coexistência de outra
pessoa na minha vida.
Ele já tem os problemas dele, ele já tem o
Thomas, ele deve pensar no que é melhor para a
vida dele, se eu realmente fosse importante ele teria
tido coragem para banir o Thomas de verdade da
vida dele.
Ele está telefonando para mim a duas horas
seguidas, mamãe já telefonou, papai também, até o
Douglas, mas não quero ter que atendê-los, já entrei
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no voo e mais uma vez ao ver o nome dele na tela


do meu celular, além de me sentir péssima, faz com
que me sinta dividida.
Desligo o celular.
Olho pela janela do avião e respiro fundo.
Era o que eu deveria ter feito desde o início,
mesmo que não tenha me arrependido de nada que
fiz com ele, fico me lembrando de todas ás vezes
que o Zeus esteve comigo, de todas ás vezes que
conversamos e rimos de coisas bobas, da forma
como ele era carinhoso comigo, do jeito como ele
se preocupava comigo.
Era bom demais para ser verdade.
Acomodo-me em meu acento e cubro as
minhas pernas com um cobertor, fecho os olhos e
algumas lágrimas caem, realmente me senti em
família com os Collins, senti que havia encontrado
um lugar onde eu poderia fazer o que eu queria, me
divertia muito com o Lorenzo discutindo com a
Kellen enquanto a Affie ficava fazendo escândalo,
foram as duas semanas mais legais da minha vida,
mas... Mas não era para ser.
O melhor que posso fazer agora é isso,
partir.
Seria melhor talvez para o Zeus se eu
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ficasse, seria cômodo, mas eu com certeza não


ficaria bem a longo prazo, ele diria coisas como “te
amo, fica comigo” e eu me sentiria feliz e
lisonjeada com tudo porque nunca ouvi essas coisas
de ninguém, significaria que sou querida e amada
por alguém, desejada e não apenas estaria ali por
estar, mas até que ponto eu suportaria ouvi-lo
falando isso? Vendo-o manter o Thomas por perto?
Eu não conseguiria.
Seria um relacionamento alto destrutivo,
por mais que ele dissesse que era o que ele queria,
eu sei que ele queria mesmo viver tudo comigo,
mas parte dele também talvez queira viver outras
coisas com outras pessoas, que direito eu tenho de
lhe exigir que ficasse só comigo?
Eu tinha muito preconceito com o Zeus no
começo, mas estou aprendendo a entender tudo
isso, só que não dá para conviver com isso quando
ele fala que não quer mais viver as coisas que
antigamente vivia, eu não gosto de pensar que ele
se envolve não só com o Thomas, mas com outras
pessoas também.
Isso me faz refletir muito e me faz me
perguntar como seria se em algum momento ele
fosse realmente aberto comigo sobre tudo, eu acho
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que ele na verdade nunca foi de fato aberto comigo


nesse sentido, ele nunca disse que ficaria com
outras pessoas, mas permitir que alguém do
passado dele esteja perto de nós, não é ter o
passado por perto?
O Zeus merece muito ser feliz, eu jamais
pediria que ele fizesse isso por mim, eu não sou o
caminho para sua felicidade, isso me machuca, mas
é a verdade, mesmo que doa sei que ele nunca seria
realmente feliz comigo, o que eu teria a oferecer?
Sinto-me medíocre, sem graça.
Fico me recordando do que o Thomas falou
sobre eu ser sem graça, insinuando que eu era bem
inferior as mulheres com quem eles saiam e fico
ainda pior.
Amo Zeus Collins com todo meu coração,
mas não posso ficar e não vou ficar. Eu não quero
ficar com alguém sem que a pessoa esteja
realmente envolvida, sem que eu tenha certeza de
que é o que a pessoa quer de fato.
Eu espero que essa viagem me ajude a me
situar, a ficar melhor, que me ajude a esquecer
Zeus.
Principalmente esquecer.

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Não me sinto tão bem quanto pensei que


ficaria se estivesse longe de tudo e todos.
Desembarquei a uma semana e adquiri um resfriado
logo de cara, está meio frio aqui e eu tive que
comprar algumas roupas para mim, botas, casacos,
luvas, nada muito sofisticado, mas comprei, já
conheço Veneza de longa data vim aqui algumas
vezes na adolescência com mamãe, ela promove
alguns desfiles de moda durante um ano.
Hospedei-me num hotel modesto na região
central, é temporada de chuvas então não tenho tipo
à oportunidade de sair tanto quanto quero, mas não
faz mal, porque nem eu mesma sei se conseguiria
me sentir bem andando por essa cidade no estado
psicológico que eu estou.
Mesmo que não queira estou muito
deprimida, me sinto mal.
Não queria que as coisas acabassem da
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forma que acabaram, mas sinto que a cada dia,


mesmo estando longe o Zeus de uma estranha
forma não sai dos meus pensamentos, mesmo que
eu saiba que talvez ele não esteja da mesma forma
por minha causa.
Prefiro não pensar que isso foi ruim, seria
muita tolice da minha parte acreditar que continuar
ao lado dele melhoraria alguma coisa quando nem
ele sabe exatamente se eu devo estar na vida dele,
eu acho que também fui muito precipitada em ter
me entregado da forma que me entreguei a ele.
Apaixonei-me por ele e cai de cabeça no
romance, vivi todos os dias com ele me sentindo
muito feliz porque achava que estávamos
construindo alguma coisa, aprendi a aceitar ele, a
aceitar seu passado, mas pelo visto nada disso
nunca foi e nunca será suficiente para ele.
Estou de cama, tomando chá e pedi alguns
remédios através do serviço de quarto, acordei um
pouquinho melhor hoje, A vista daqui é
privilegiada, mas com a chuva tudo se torna um
pouco mais embaçado, quando o tempo estia a
visão melhora, mas é imprevisível, a chuva retorna.
Fiquei pensando em comprar outro celular
durante esses últimos seis dias, porém preferi não
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comprar, me livrei do meu em Milão, quebrei o


chip e dei meu aparelho para um funcionário do
aeroporto, o homem pareceu muito feliz em ganhar
um celular de boa qualidade.
Eu sabia que papai iria dar um jeito de me
achar, como ele fez da outra vez então estou
incomunicável—eu acho—saquei dinheiro em
Milão, uma boa quantia para não ter que usar o
cartão de crédito que ele me deu, desde então tenho
me mantido com dinheiro, pedi ao gerente do hotel
para que não passassem nenhuma informação
minha para ninguém.
Eu acho que papai deve saber onde estou,
Zeus também, mas não vieram, papai porque sabe
que eu estou ao menos segura, Zeus... Eu acho que
ele também precisava desse tempo, de espaço, eu
sei que se eu estivesse lá estaria quebrando meu
coração aos poucos vendo-o falar coisas do tipo
“ele me beijou”.
Até que eu me sinta segura e bem em saber
como lidar com tudo, prefiro me manter onde
estou, melhorar aos poucos, curar cada ferida que
foi se abrindo com tantos acontecimentos ruins que
me cercaram desde que decidi embarcar numa
viagem com Zeus Collins.
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Escuto batidas na porta, fungo e prendo


meus cabelos para ir pegar o remédio que pedi, me
sinto um pouco zonza, preciso mesmo de alguma
coisa para melhorar porque não consigo nem pensar
em comer, minha garganta está doendo e minha
cabeça também.
Abro a porta e logo de cara fico parada
observando o homem de casaco dourado e turbante
azul na cabeça, sei que por baixo do casaco ele usa
roupas indianas e calça sapatilhas velhas que mais
parecem ter sido feitas de papel, ele segura uma
flor amarela em uma mão e uma sacola de farmácia
em outra.
—Como me achou?—pergunto revirando os
olhos.
—Eu sempre te acho coelhinha.
—Ai Douglas, bancar o pai não combina
com você.
—Tá bom, para começar eu sei que você
procuraria o pior hotel e menos suspeito e também,
eu pesquisei em todos os hotéis da redondeza...
—Foi o meu pai que te mandou não foi?
—Foi, eu posso entrar?
—Tá.
Preciso voltar para cama, espirro, o quarto
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não é tão grande nem luxuoso, mas prefiro assim,


me afasto do Douglas e volto para cama, meus dias
se resumem — em além de chorar é claro — em
tomar banho, beber água, chá e dormir, o resfriado
não poderia ter vindo em pior hora.
—Eu dispensei o serviço de quarto, eu
mesmo irei cuidar de você, não se preocupe, seus
pais não virão, nem o seu namorado.
—Foda-se.
—Minha nossa!
Deito-me puxando os cobertores, Douglas
coloca a mala dele para dentro do quarto e fecha a
porta fazendo um gesto com a mão para que
alguém se afaste, olho para o lado e vejo um par de
sapatos pretos reluzentes que já até conheço a
marca, puxo os cobertores e cubro a minha cabeça
sentindo vontade de chorar.
—Manda ela ir embora Douglas — peço
engolindo o choro. — Por favor, se quiser ficar ela
não deve ficar aqui.
—Eu e o seu pai estaremos no quarto ao
lado. — escuto a voz da mulher que chamei de mãe
por toda a minha vida.
Não respondo.
Odeio que eles façam isso, como se
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importassem comigo, como se eu fosse importante


para eles, eles nunca se quer se importaram
comigo, nunca quiseram meus sentimentos, foram
ausentes, sou um bebê de proveta que foi comprado
por alguém que só queria satisfazer o próprio ego e
as próprias vontades.
Escuto sussurros, mas não entendo o que
Douglas e ela falam, depois sei que do Douglas
fecha a porta, estaria furiosa com isso se não
estivesse com tanta dor de cabeça, na garganta.
—Pedi uma sopa — escuto Douglas falando
depois que a porta se fecha. — Vem tomar os
remédios, vou cuidar para que fique bem minha
menina.
Não respondo.
Sento-me na cama preferindo não bater
boca, até porque não tenho muitas condições, não
estou pronta para ter essa conversa com o Douglas
agora, nem com ninguém.
Ele coloca o comprimido na minha mão e
me entrega uma garrafinha de água mineral, depois
abre o xarope e coloca uma colher diante de mim,
limpo as faces querendo engolir o choro, sentindo-
me sensível e quebrável, alguém que eu nunca quis
ser.
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Estou tentando ser forte agora, eu quero ser


forte, mesmo que tudo conspire para que eu não
passe do que eu sempre pareci ser, uma garota
mimada e rica. Eu sei que sou melhor que isso, eu
sei que eu vou conseguir ficar bem, com o sem
meus pais por perto, com ou sem o Zeus.
—Vai ficar tudo bem minha menina —
Douglas fala calmamente e se senta na cama diante
de mim. — Venha, você precisa de uma
pressionada das minhas tetas na sua cara.
—Isso não tem graça. — praguejo querendo
rir entre lágrimas.
—Meus abraços são gratuitos.
—Eu prefiro meu cobertor.
—Mas meus abraços são quentinhos.
Fungo, mesmo assim Douglas me puxa e
me abraça, como ele faz sempre que estou mal,
como faz em todos os meus aniversários que papai
viaja e mamãe não está por perto, me entrego ao
choro decidindo abraçá-lo também, sentindo que
aos poucos a dor como sempre vai embora.
Mais cedo ou mais tarde eu sei que ficarei
bem, eu sei que sim.

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—Se sente melhor?


—Sim, obrigada Douglas.
Ele me obrigou a tomar antibióticos ontem
pela tarde e noite, chás de gengibre e mel com
própolis e sopa a noite e agora a pouco quando
acordei, ao menos minha garganta não dói tanto
quanto ontem, nem a cabeça, não posso reclamar, o
Douglas sempre cuidou muito bem de mim.
Acabo de sair do banho, coloquei outro
pijama, depois que comi estava um pouco mais
disposta, ele trocou as roupas de cama e pediu
novos cobertores, ligou à tv, aposto que ele mesmo
quem limpou o quarto.
—Como está chovendo pensei em vermos
um filme juntos, o que acha menina?
—Não é má ideia.
Acho que concordamos que não queremos
falar sobre ele ter mentido para mim, eu também
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acho que não quero que o Douglas vá embora


porque apesar de todos os pesares, é melhor ter ele
aqui do que ficar sozinha chorando o dia todo, ele
me distraí e me faz sentir melhor.
Dentro do possível.
Não quero ficar lembrando da minha
decepção amorosa, do final do meu primeiro
relacionamento, ou tentativa de ter um, já me basta
a dor de saber que não deu certo, ficar pensando no
Zeus é ruim, faz com que eu me sinta mal, qualquer
coisa é melhor do que ficar pensando nele.
Sento-me na cama e ele se senta na poltrona
que fica a minha direita, puxa os cobertores
cobrindo minhas pernas e arruma os travesseiros
atrás das minhas costas, me acomodo, Douglas
pega a bolsa com as coisas dele fazer tricô, cruza as
pernas e começa a fazer o que parecer se o início de
um casaco.
Pego o controle e coloco num canal de
filmes, Matrix parece uma boa escolha, qualquer
filme que não lembre algum tipo de romance é bom
nesse momento, Douglas fica me olhando enquanto
seus dedos trabalham rápidos com a linha e as
agulhas de madeira.
—O que foi?—pergunto incerta.
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—Você não quer saber como foram esses


dias longe dos seus pais?
—Na verdade não quero saber da genitora e
do doador, se é isso o que você quer que eu
responda.
—Eles transaram.
Arregalo os olhos, engulo todas as palavras
que estão na ponta da minha língua, Douglas ri
contido, sei que ele adora ficar fofocando da vida
dos meus pais, ele e eu fazíamos isso desde que eu
era criança.
—Ela está morando com ele em Dubai e os
dois estão se acertando, se é que isso te interessa.
—Bom para eles.
Não sei nem o que falar.
Meus pais nunca estiveram juntos antes de
eu saber de toda a verdade, agora sabendo como
tudo aconteceu eu também não sei se isso é bom ou
não, porque não me sinto conectada a eles, na
verdade eu nunca fui, nesse sentido eu acho que
tenho muita dificuldade, acho que se eu não tivesse
sido tão negligenciada emocionalmente por eles
dois eu não seria tão carente, teria sido mais
independente e não estaria sofrendo tanto.
Seth me superprotegeu demais, Gisele mais
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foi ausente que mãe, eu realmente não tenho nem o


que falar porque nunca tive de fato pais presentes
na minha vida, Seth diz que queria muito um filho
que eu fui sua única chance de ser pai, mas nunca
me cativou e nunca me deu atenção os suficiente,
ela fez tudo por dinheiro então...
—Sei que está magoada conosco Isis, não
tiro sua razão, mas não acha que deveria escutá-
los?
—Eu não quero falar sobre isso.
—Isis você tem que aprender a ser adulta e
lidar com tudo.
—Ser adulta implica em aceitar que meus
pais mentiram para mim por toda a vida e dizer
“pai e mãe perdoo vocês por terem me dado
durante toda a vida abandono parental e presentes
caros”?
Douglas fica calado.
—Não importa o que diga Douglas, o que
eles façam, isso não vai mudar a forma como eles
sempre me trataram, como posso dar credibilidade
ao meu pai? Ele disse que tinha sonho de ser pai e
sempre me deixou de lado, só pensava nos negócios
dele, a outra lá barriga de aluguel só queria o
dinheiro, não preciso dizer que ela sempre foi seca
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comigo, se mantinha distante, eu acho que eu nunca


passei de um capricho na vida dele e um lembrete
na vida dela.
—As coisas não foram assim menina.
—Você me criou Douglas, do que você está
tentando me convencer? Você esteve comigo em
todos os meus aniversários desde que eu era
pequena, você quem esteve lá para comprar meu
primeiro absorvente, para me ensinar sobre garotos
e sexo, você sim é mais meu pai e mais minha mãe
do que eles dois juntos, você merece minha
consideração apesar de ter mentido para mim.
—Menina é diferente. — replica Douglas.
—O que é diferente?
—Seu pai tem grandes responsabilidades...
—Ai Douglas, nem vem com esse papo,
você mais do que todo mundo sabe que ele sempre
me colocou em último plano na vida dele, olha o
que ele fez nesse meu último aniversário? Deixou-
me sozinha para ir para uma casa de swing, ele
preferiu qualquer outra pessoa a estar comigo.
Douglas se cala, ele sabe que não tem
argumentos.
—Pode ter certeza Douglas que se eu
quisesse muito ter um filho e não é porque eu sou
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mulher eu cuidaria dele, o que o meu pai queria era


mostrar para as outras pessoas que tinha capacidade
de ter um filho, me tornar alvo de sua exibição, ele
sempre me tratou como uma posse, sempre foi
ausente e nunca foi muito carinhoso comigo, o que
ele diz não condiz com o que ele fez, eu não sou
mais uma criança que vocês podem deixar de lado e
falar qualquer coisa para distrair, eu tenho 29 anos
e eu mal sei como lidar com o meu próprio
relacionamento Douglas, eu não tive namorados e
eu sempre fui o que queriam que eu fosse, você
acha que eu não merecia ao menos um pouco de
atenção e amor por parte dos meus pais? Eu sei que
para eles eu nunca fui alvo de amor, mas ao menos
que eles fizessem o básico, não foi só um
aniversário Douglas, foram mais de 20, quantos
natais? Quantos anos novos? Quantos aniversários
do meu pai que ele não estava “viajando”? Eu acho
que eu fui em três aniversários da minha mãe na
data, ela nunca, nunca se importava comigo, estava
mais preocupada em dar atenção para os
convidados, eu estou cansada de mentiras e
desculpas.
Douglas para de tricotar, não consigo mais
chorar, eu não quero porque não valerá apena, não
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por eles.
—No mínimo que dissessem desde que eu
era pequena que eu fui um bebê de proveta.
—Você não foi um bebê de proveta Isis, seu
pai queria muito você, ele só não soube como lidar
com a paternidade, sua mãe também acabou se
convencendo de que a queria, eles amam você.
—Que jeito mais estranho de amar não é
Douglas?
—É o jeito deles.
—Entendi, você acha que eu estou errada!
—Você está certa como nunca esteve, está
sendo sensata e se auto protegendo, está sendo a
mulher forte e adulta que você nunca foi, mas eu
acho que as coisas nunca irão se resolver se você
não aprender a perdoar eles.
—Não é questão de perdão.
—É questão de que?
—De ser madura...
—Ah Douglas, me poupe, olha eu não estou
afim.
—Está bem.
Ele também não responde mais, me viro
para tv e me aquieto, agora mais zangada do que
magoada.
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Por Zeus...

—Você não vai jantar?


—Já vou Affie.
Affie me olha com aquela cara de “sério?”
que ela sempre faz quando está chateada, finjo que
não percebo e volto a analisar os papéis da
empresa. Ainda que escute os passos dela vindo na
direção da minha mesa ignoro.
Sou bom em fazer isso, mas nestes últimos
dias estou conseguindo ser ainda mais competente
em fingir que está tudo bem, em tocar com a vida,
porque é isso o que eu faço desde que me entendo
por gente, quando as coisas não dão certo eu vou
em frente, ignoro tudo e todos e prossigo.
Superar e prosseguir, é isso.
—Z, já faz mais de duas semanas, sério que
você vai ficar trancafiado nesse chalé e não vai
atrás dela?
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—Você quer fazer o favor de sair? Eu tenho


muito trabalho para colocar em dia.
Já tem mamãe, papai, o H e até mesmo a
Viviana me enchendo o saco, não estou nenhum
pouco afim de discutir isso também com a minha
irmã mais nova.
—A quem está tentando enganar? Você
acha que vai conseguir esquecer ela? — Affie
pergunta chateada. — Você é mesmo muito idiota
se acha que ela vai voltar.
—Affie sai daqui!—ordeno tentando
controlar a raiva dentro de mim.
Eu pensei que ela ficaria, que ela
entenderia, que ela aceitaria, mas a Isis não queria
isso porque para ela é sempre mais fácil deixar tudo
e todos para trás e fingir que nada importa.
Ela é mimada, infantil e imatura.
Eu não estava pronto para viver o
relacionamento ok, eu sou um merda que nem
sempre faz as coisas certas ok, mas ela deveria ao
menos ter me poupado o trabalho de ter demorado
mais de sete dias para saber onde ela estava, quase
perdi o juízo colocando investigadores atrás dela.
Achei que ficaria louco, então há cinco dias
recebi a notícia de que ela está em Veneza, Douglas
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me ligou assim que a encontrou, os pais dela já


estão lá e acredito que ela conseguiu enfim o que
queria, toda atenção do mundo para ela, fim.
Estamos ótimos assim, ela com sua
infantilidade sem fim e eu com a minha merda de
vida.
—Se fosse o H não teria deixado ela ir. —
Affie alega.
—Eu já pedi para você sair ok? — retruco
entre dentes.
—Eu acho...
—o que você acha não importa sabe por
quê? Porque você só sabe falar merda, não serve
para nada, é uma inútil que vive nas costas dos
meus pais e nunca se quer se abriu para nada na
vida, infantil e mimada como ela é. — berro
furioso.
Affie arregala os olhos toda assustada, ela
junta as mãos e os lábios começam a ficar trêmulos,
depois ela sai do chalé calada, passo as mãos nas
faces e sinto vontade de quebrar alguma coisa.
Essa porra de angústia não sai de dentro de
mim, esse sentimento de que fiz tudo errado está no
meu coração e não sai, não importa o que eu faça
ou diga, o quanto eu chore e me preocupe, saber
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que ela não vai voltar me quebra numa proporção


imensa.
Amo ela.
Queria não me sentir assim, queria que ela
fosse só mais uma, mas as coisas não são assim,
nunca foram e nunca serão porque não é só sexo,
não é só mais uma aventura, eu comecei a ir por um
caminho que eu não queria e aconteceu, me
apaixonei por ela, me apaixonei por Isis.
—O que está acontecendo aqui? — escuto a
voz de mamãe soando pelo chalé. — Z?
—Nada, melhor a senhora me deixar
sozinho, eu não estou com paciência para as
infantilidades da Affie. — praguejo e continuo a
olhar para os papéis.
Tento me concentrar, mas tudo sai errado.
—Logo irei para o Canadá — digo. — Vou
esperar só mais dois dias, já mandei arrumarem o
jato...
—Filho, você sabe que não quer ir para o
Canadá, você está mesmo esperando que ela volte
não é? — mamãe pergunta perplexa. — Mais uma
coisa Z, ela não vai voltar porque você arruinou
todas as chances dela voltar, você deveria ir atrás
dela.
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—Eu não vou — determino convicto. —


Ela escolheu ir embora.
—Como ela não iria Z? Como poderia pedir
para ela ficar com tudo o que você faz? Você acha
mesmo que uma mulher se sujeitaria a viver na
sombra de outra pessoa?
—Mamãe não há outra pessoa — grito
angustiado. — Eu disse para ela merda, eu falei que
não havia.
—Então porque ela não está aqui Z?
—Porque ela não me ama o suficiente para
me aceitar!
Saber disso me machuca tanto que começo
a chorar, de raiva, de tristeza, estou com os nervos
à flor da pele.
—Não se trata de aceitação Z — mamãe
nega convicta. — Você tem que saber o que você
quer.
—Eu me entreguei a ela mamãe, eu faria
tudo por ela, construiria uma casa aqui, eu queria
filhos e ela me abandonou no primeiro obstáculo.
— retruco limpando as faces com força.
—Não tem como você querer que ela esteja
na sua vida se o Thomas estiver.
—Thomas NÃO ESTÁ AQUI MAMÃE.
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—Claro que não está, ele já conseguiu


afastar ela de você, você não sabe se impor quando
se trata dele, Zeus pelo amor de Deus, você está
insuportável, você não faz a barba, não come, não
dorme, fica o dia todo andando dentro desse chalé e
tratando a todos mal, eu espero muito que você
resolva isso porque ninguém te merece.
—Se ela me quisesse ela teria ficado. —
protesto.
—Se você a amasse iria atrás dela. —
mamãe fala irritada.
Não tenho resposta.
—Se quiser mesmo ficar com essa garota
você vai ter que abrir mão de muitas coisas Zeus,
isso não é como dormir com uma mulher num dia e
nunca mais ver ela, convivência é difícil,
casamento é difícil, ela é mais nova que você e é
bem evidente que ela é muito ingênua e
inexperiente, você assustou ela com o seu jeito de
viver a vida.
—Não tenho culpa se todo mundo me aceita
menos ela.
—Que? — mamãe me olha como se
quisesse me matar. — Zeus, VOCÊ NÃO SE
ACEITA, você não aceita que está apaixonado por
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ela o suficiente para largar tudo, você tem medo de


largar tudo por ela e de se machucar, mas já se
olhou no espelho? Você está a dias andando feito
um zumbi nessa casa.
—Eu disse que a amava.
—E demonstrou muito bem não é mesmo?
—Eu não conseguiria esconder dela que o
Thomas e eu... Você sabe...
—Não, eu não sei.
—Bom, ele levou uma mulher e
basicamente jogou ela para cima de mim, depois
ele me beijou e começou a tirar a minha camisa, me
senti mal e pedi que eles fossem embora, eu contei
para ela sobre isso e ela foi embora no dia seguinte.
—Quer saber Z? Eu estou com vontade de
ir embora!
Mamãe me encara perplexa e raivosa e fico
confuso.
—Não era para eu ter dito?
—Era para você ter ido atrás dela, mas quer
saber? Eu não vou mais falar nada, a Affie estará te
esperando para que se desculpe, acho bom que você
melhore esse seu humor ou então vá embora de vez
para o Canadá, ninguém te merece.
—Mamãe...
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—Eu tenho compromisso, meu voo sai em


três horas.
Fico ainda mais confuso.
—Não me disse que ia viajar.
—Nós todos vamos viajar, porque ninguém
mais suporta ficar aqui com você. — mamãe
gesticula com a mão indicando todo o lugar.
—Vai para Grécia?
—Vou para Veneza.
Ela fala isso e sai do chalé reclamando. Fico
parado por alguns instantes sem saber como reagir.
Meu celular vibra no bolso, checo a ligação, é do
Thomas, fico olhando para a tela por alguns
momentos então decido não atender.
Eles vão atrás dela... Eles vão atrás da Isis.
Respiro fundo e saio quase correndo do
chalé, quando percebo estou na casa dos meus pais,
mamãe está na sala consolando a Affie que chora
sem parar e papai muito bravo dizendo algo como
“ele merece umas palmadas”.
—Eu sinto muito Affie, me desculpe — falo
arfante. — Eu não queria ter dito aquilo, me
desculpe.
—Você vem com a gente? — Affie
pergunta soluçando.
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—Vocês podem esperar que eu resolva uma


coisa primeiro?
—Você tem coisas a resolver filho? Coisas
pendentes?—mamãe pergunta.
Penso por alguns longos momentos em
silêncio e chego a uma conclusão muito óbvia.
—Não, não tenho, vamos para Veneza.

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Por Isis.

—Não quer descer um pouco? O dia está


lindo!
—Só se for para você né Douglas?
—Eu pensei que o mau humor passaria
quando sua menstruação viesse.
—É uma pena que meu mau humor não
depende disso não é Douglas?
Ele me encara me lançando um olhar
reprovador, melhorei da gripe, mas ainda me sinto
um pouco fraca, a verdade é que sei que estou bem
o suficiente para sair, mas não estou afim de ter que
lidar com os meus pais, coisa que eu sei que vai
acontecer mais cedo ou mais tarde, mas não agora.
O Douglas está tentando me tirar da cama
desde ontem só que dou muitas desculpas, até
menti sobre a minha menstruação, disse que ela
desceu e que estava com cólica só para não ter que
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sair do quarto, sei que ele quer a todo custo que me


reconcilie com meus pais, porém não me sinto
pronta, na verdade não acho que isso vá resolver
muita coisa.
Abraço meu travesseiro e puxo meus
cobertores, fecho os olhos, então eu o vejo e me
sinto um pouco pior do que antes, Zeus!
Suspiro porque queria que ao menos uma
vez na vida alguém lutasse por mim, me amasse e
quisesse estar ao meu lado, eu seria muito feliz com
ele se ele me amasse, se ele estivesse disposto a
viver comigo tudo o que uma união oferece,
gostaria de não ter me apaixonado dessa forma por
ele, quero esquecê-lo, contudo o deixei há dias e
isso não é algo do qual eu possa mudar, não tão
rápido.
Queria que ele estivesse aqui.
Começo a chorar porque sei que ele não
está, ele não virá, ele não me ama.
—Menina...
—Eu já disse que não vou sair Douglas,
mas que inferno!—berro me erguendo, me sento na
cama, limpando as minhas faces com as costas das
mãos. —O que você quer de mim?
—Pode deixar Douglas.
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Franzo a testa confusa e fico apavorada ao


ver Kellen Collins diante da minha cama, mas ela
não veio sozinha, fico dura, ele veio!
—O que você está fazendo aqui?—pergunto
de imediato para o Zeus, a raiva vem me subindo à
cabeça.
—Vim te ver — Zeus responde totalmente
sério. — Mãe, Douglas, podem, por favor, nos
deixar a sós?
—Só queria ver se ela estava bem — Kellen
se aproxima da cama e se senta diante de mim. —
Você está abatida querida.
—Não é nada. — respondo sentindo que
meu coração vem na garganta.
Parece que até a mãe dele se preocupa mais
comigo do que ele, do que os meus pais.
—Nós viemos, todos nós — Kellen fala e
fico boquiaberta. — Vamos ficar o tempo que for
preciso, até que se recupere, Douglas disse que
estava com um quadro avançado de gripe.
—Você veio por mim?—pergunto sentindo
uma imensa vontade de chorar. — Não deveria ter
feito isso Kellen, não mesmo, eu acho que não
deveriam ter deixado os negócios assim...
—Os negócios podem esperar querida, a
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família nunca deve esperar, não viemos antes


justamente para deixarmos tudo pronto — Kellen
me interrompe e toca a minha face. — Tenho você
como uma filha Isis, a Affie já estava me deixando
louca de tanto insistir.
Sorrio, ergo os braços e abraço ela deixando
que ás lágrimas saiam, Kellen me aperta e dá
tapinhas leves nas minhas costas, soluço, queria
tanto que ela fosse mesmo minha mãe, sei que a
minha mãe jamais viria de livre e espontânea
vontade, talvez por senso de responsabilidade.
—Você vai ficar bem — Kellen beija a
minha bochecha me consolando. — Rapazes,
podem nos deixar a sós por alguns momentos?
—Mas eu pensei que eu...
—Zeus, nos deixe a sós, depois vocês dois
se resolvem, eu mesma quero conversar com a Isis
ok?
Sinto-me grata por seu pedido, não quero
ter que conversar com ele agora, não consigo nem
olhar na cara dele, mas ao erguer o olhar e fitar
bem sua face noto uma marca arroxeada no canto
de seu olho direito, o Zeus está sem fazer a barba e
tem um corte pequeno em seu lábio inferior, ele se
aproxima da cama e se senta na ponta, não disposto
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a sair feito criança pequena.


—Eu vou trazer um chá — Douglas fala
revirando os olhos — Pelo visto, arrumou um
teimoso como ela. — e sai do quarto.
—Sinto muito ter saído daquela forma, mas
eu realmente não estava bem — confesso limpando
as faces. — Sinto que deveria ter ao menos me
despedido.
—Não deveria ter se despedido porque você
nunca vai sair da nossa família — Kellen me olha
com afeição. — Tem tanto que aprender querida,
eu sei que você tem dado o seu melhor, entender o
cabeça dura aqui não é fácil.
—Eu estou cansada—confesso ignorando a
presença do Zeus, se ele ficou então que ouça. —
Acho que aprendemos uma lição importante com
tudo, eu nunca tive o intuito de ser um problema na
vida de vocês.
—Você não é um problema Isis. — Zeus
pragueja de costas para nós duas.
—Se vocês quiserem ficar juntos as coisas
nunca vão se resolver assim — Kellen responde
irritada, mas não é comigo. — Eu sei que devem ter
uma conversa definitiva a sós, mas pelo bem dos
dois eu quero que parem com isso, vocês dois não
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sabem o que querem.


—Ele não sabe o que quer. — acuso.
—Eu concordo. — Douglas responde atrás
da porta.
—Eu não quero sentir que me meto na
relação de vocês dois, mas sei que se amam, se não
soubesse eu nem tentaria, Isis não vim te persuadir
a ficar com o meu filho, sei que você merece até
coisa melhor do que ele te oferece, como mãe e
mulher me sinto desapontada, mas quero que ao
menos se resolvam, o Zeus não come, não dorme,
ele vive mal humorado, ele nunca foi assim, por
pouco não se matou quando estávamos no
aeroporto, brigou com o Thomas no aeroporto, olhe
você está abatida e doente vocês dois tem que saber
como resolver seus problemas e eu não sou
ninguém para dizer isso, vim mesmo porque eu e o
Lorenzo estávamos muito preocupados com você, a
Affie e a Viviane queriam te ver, você
independentemente do que tem com o Zeus já é da
nossa família.
Sinto-me honrada em ouvir isso e ao mesmo
tempo mal.
—Acho que devem procurar seus caminhos
independentemente que estejam juntos ou
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separados, me preocupo com os dois querida.


—Eu sei Kellen, agradeço seu carinho por
mim, minha mãe mesmo nem se deu ao trabalho de
ser tão atenciosa, sua família se tornou minha
família naqueles dias, me sinto mal em pensar que
preocupei vocês, mas não suportaria ficar lá.
—Tem seus motivos.
—Não são poucos.
—Sabemos que não querida.
Ficamos nos olhando por alguns momentos
até que ela se levanta, Kellen parece que vai chorar
a qualquer momento, estou convencida de que não
posso ficar com o Zeus, não dá para viver um
relacionamento sendo a única parte interessada em
ter um relacionamento.
—Faça suas escolhas, estamos a dois
quartos deste aqui, estamos de braços abertos para
te receber em nossa família sempre que precisar
querida. — Kellen beija a minha cabeça e depois
sai do quarto fechando a porta atrás de si.
Zeus continua de costas para mim.
Ele não se move.
Bem, eu acho que agora é a hora da verdade
para nós dois, eu não sei se estou pronta para um
adeus definitivo, mas não vou mendigar atenção e
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amor dele, eu não quero a metade do amor dele,


nem a metade da atenção, nem metade de nada do
que possa me oferecer.
Eu acho que ele não está disposto a me dar
o que eu quero, então eu também não irei querer
ele.

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Ele respira devagar, os ombros caídos, os


braços para baixo, está de costas para mim, usa
uma camisa de malha folgada e comprida, calça
jeans, os cabelos estão bagunçados, me sinto meio
responsável por toda essa coisa que está
acontecendo, mas não culpada.
O que fiz de errado além de oferecer o que
eu tinha? O que eu poderia dar? Eu nunca prometi a
ele que ficaria com ele as custas de um pouco do
que tinha a me oferecer, o Zeus não sabe nem
metade de todas as coisas ruins que venho sentindo
esses dias, estou péssima.
É muito ruim como se perdesse algo valioso
do dia para a noite, no meu caso eu acho que nem
cheguei a ganhar nada precioso da parte dele, eu o
amo tanto que me sinto machucada todos os dias
desde que vim para cá, mas isso nunca vai ser o
suficiente para viver com ele.
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O que posso fazer? Não posso sacrificar


meu coração de nenhuma forma por quem não me
ama, por alguém que me diz que me ama, mas não
tem atitude de demonstrar se isso de fato é
verdadeiro.
—Eu sei o que você está pensando — ele
fala de repente, de costas para mim, fico quieta. —,
mas eu realmente não pensei que conseguiria
chegar a esse ponto.
—Qual ponto? — indago sem medo.
—Ter conseguido ficar tantos dias longe de
você — ele nega com a cabeça e sei que passa as
mãos nas faces. — Eu sei que deveria ter vindo
antes, mas infelizmente tenho orgulho.
—Entendo.
Nem mesmo eu sei o que falar, não consigo
dizer nada, pensar em nada, não por nervosismo,
mas porque sinto dentro de mim que não me resta
saída se não escutar ele, a súplica no olhar da
Kellen era sobre isso, era como se ela dissesse “por
favor escute ele”, também quero saber o que ele
tem a falar, se veio é porque quer dizer alguma
coisa.
—Esses dias tem sido péssimos — ele fala e
se levanta enfiando as mãos nos cabelos.
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—Sim — concordo. — O que veio fazer


aqui Zeus?
—Não é óbvio? — ele indaga e se vira, seu
olhar está cheio de angústia e lágrimas. — O que
quer que eu diga Isis? Que eu não sei viver sem
você? Que você é o amor da minha vida? Porque eu
sinceramente não sei mais o que fazer desde que
você veio para cá.
—Não é justo que me olhe como se eu fosse
à culpada. — replico concreta, mesmo que por
dentro cada pedaço de mim esteja se quebrando em
vê-lo chorando.
—Eu não estou te olhando dessa forma Isis,
eu só não queria que as coisas tivessem acontecido
dessa forma. — ele retruca choroso. — Eu não sei
nem o que dizer.
—Não tem o que falar Zeus, o que nós
vivemos foi algo que mudou nossas vidas, minha
vida — retruco sincera. —, mas não me peça para
voltar e ter que dividir tudo o que tem a me
oferecer.
—Você não entende que eu nunca me senti
dividido? — protesta ele nervoso. — Isis, você é
tão focada em tentar me convencer de que eu gosto
do Thomas que você nunca percebeu que apesar
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dele estar por perto, eu nunca o amei como eu te


amo, nunca o quis como eu te quero.
—Então admite que sentia algo por ele?
—As coisas não podem acabar bem porque
você sempre mete ele nas nossas conversas, ser
bissexual não é uma indecisão Isis, é apenas uma
orientação sexual não significa que eu vou te trocar
por qualquer um ou uma que aparecer pela frente,
mas apenas que eu já me relacionei com homens e
mulheres.
—Eu não tenho dúvidas disso.
E não me sinto mal quanto a isso, não mais.
—Não posso excluir o Thomas do meu
passado...
—Não pode mesmo, vocês dois não
deixam!
—Eu sinto muito que tenha te sujeitado a
isso, não soube como lidar com a situação, fui
muito leigo em pensar que resolveria conversando
com ele como amigo, mas ele não estava disposto
— ele responde e vai ficando sério de repente. —
Eu descobri umas coisas sobre o Thomas que me
fizeram definitivamente banir ele da minha vida,
agora não tem mais volta.
—Ah, só porque você descobriu sobre ele
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não é mesmo?
—Isis o Thomas não está mais na minha
vida, você pode ter certeza de que ele não vai mais
nos perturbar.
—Não existe “nós”.
—Não fale besteira, não faça com que me
sinta pior do que já estou, eu vim disposto a
resolver nosso problema, preciso de um voto de
confiança.
—Porque eu faria isso? Estamos tentando
desde que nos conhecemos Zeus, não dá certo —
falo magoada. — Nós dois nunca vamos dar certo,
somos diferentes demais, nossa cultura, nosso jeito
de viver a vida, você fala coisas que não cumpre.
—Você sabe que isso não é verdade — ele
fala triste. — Você disse que envelheceria comigo,
disse que queria ter filhos comigo.
Isso é tão triste.
—Não, eu não disse...
—Disse quando aceitou ser minha mulher,
quando aceitou morar comigo, e eu te disse o
quanto te amava, mas parece que você não se
importa com os meus sentimentos, sei que sou
falho Isis, mas meus problemas nunca sumiram
quando eu decidia me afastar deles, as coisas não se
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resolvem assim.
Não há argumento quanto a isso.
—Eu não posso falar que sou um expert em
relacionamentos, eu fiz tudo errado conosco, me
arrependo de não ter sido mais firme quanto ao
Thomas, mas eu não posso permitir que você me
deixe e saia da minha vida assim, eu não consigo
nem pensar em voltar para aquele chalé sem você,
sem que esteja na nossa cama, sem que você diga
todas as noites que me ama e me abrace na nossa
cama.
Desvio o olhar, lembrar dói muito, mas
ouvir ele falando parece ainda pior, porque foram
poucos dias porém os dias mais maravilhosos da
minha vida e ouvir isso da boca dele é ainda mais
forte, real, eu também pensei que envelheceria com
ele, não pensei que ficaria para trás e não quis dar
ouvidos a ele quando ele tentou me explicar as
coisas, ainda que tivesse minha razão.
Eu tenho meus motivos.
—Eu estou implorando Isis, por favor,
repense — ele se aproxima inquieto. — Por favor!
—Zeus eu não posso...
Mas antes que eu complete a frase, ele se
ajoelha diante da cama, Zeus me puxa e me agarra
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com força.
—Por favor, eu suplico — ele pede e
novamente começa a chorar. — Me perdoe.
—Zeus para com isso. — peço engolindo a
vontade de chorar.
—Isis não tenho mais nada a oferecer, eu
estou diante de você com os meus sentimentos,
com tudo o que tenho, te implorando que volte para
mim, não sei mais o que falar e argumentar.
—Você estava errado. — digo começo a
chorar.
—Eu sei que estava errado Isis.
Ele estende a mão e toca a minha face com
carinho, me puxa e cola nossas testas, deslizo a
mão até sua nuca, meu corpo todo se enche dessa
sensação boa que só ele me transmite, mesmo que
tente banir.
—Eu amo você e sempre será só você
docinho.
—Golpe baixo.
Zeus me aperta e eu o fito.
—Tenho que te contar outra coisa. — ele
fala.
—O que é?
—Nunca se tratou de mim Isis, sempre foi
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sobre você.
—Do que está falando?—pergunto confusa.
—Do Thomas.
—Como assim?
—Ele não estava interessado em nos separar
porque queria que eu voltasse a sair com ele, foi
porque ele te viu naquela noite na festa.
—Que?

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—Eu trouxe o chá!


Se o Douglas não entrasse nesse exato
momento eu soltaria um berro, ainda que confusa,
Zeus se ergue e se senta na cama diante de mim, ele
se quer se recompõe ele não se importa de que o
Douglas o veja chorando.
Ele se aproxima da cama todo discreto
como sempre, deixa a bandeja em cima do criado e
nos entrega uma caixa de lencinhos, indica as duas
canecas na bandeja e faz cara feia para nós dois,
depois se afasta e sai do quarto, demoro um bocado
para me recuperar do baque.
Não ouvi errado...
Zeus pega um lenço e limpa as minhas
faces, atento, pensativo, seguro sua mão fitando-o,
esperando que continue a falar.
—Não se sinta lisonjeada, você não é a
primeira mulher com quem flerto por quem ele se
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interessa.
—Como foi isso?
Estou curiosa.
—Ele também estava na festa, mas eu não
sabia que ele estava lá, quando brigamos...
—Ah, vocês brigaram! — exclamo e
começo a ficar nervosa, toco os machucados no
rosto dele. — Ele te machucou muito?
—Não mais do que eu machuquei ele —
Zeus argumenta e fecha a cara. — Fiquei tão puto,
você não tem noção.
—Brigaram quando? Por quê?
—Não é óbvio? — ele pragueja em
encarando.
Vou ficando vermelha feito um tomate,
pego a caneca de chá e entrego para ele, é de
camomila, especialidade do Douglas, pego a outra
para mim, Zeus segura a minha mão parecendo
impaciente.
Brigou por mim!
—Liguei para ele pedindo que fosse ao
aeroporto, mamãe tinha reservado o avião e
estávamos com o voo planejado para sair as 14:00,
queria colocar um ponto final em tudo, dizer para
ele não aparecer mais e não queria mais ter que
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lidar com ele, quando ele chegou a pista de voo e


eu disse que viria atrás de você ele ficou rindo da
minha cara, me chamou de medíocre — Zeus bebe
um gole do chá, ainda carrancudo. — Não esperava
que ele reagisse bem, até ali tudo bem, daí ele
começou a dizer que não esperava que eu voltasse a
sair com ele porque ele já havia conseguido te
mandar para longe, que ele tentaria se aproximar de
você.
Arregalo os olhos, preciso de um gole de
chá também.
—Fiquei confuso, até ele começar a dizer
que foi a festa atrás de alguém e que quando
chegou lá, viu você andando pelo salão de festas e
se interessou por você, ele teria chegado perto se
você não tivesse ido atrás de mim — Zeus afirma.
— Fiquei tão furioso.
—Feriu seu ego?
—Ego? Fiquei furioso com ciúmes,
comecei a bater nele, ele tentou revidar, mas não
foi muito rápido, começamos a trocar chutes e
socos perto da pista de decolagem e os seguranças
do aeroporto tiveram que nos separar, o H e o papai
tiveram que me arrastar para longe daquele
desgraçado.
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—Então... Nunca foi por você?


—Ele não se daria ao trabalho só por mim
Isis, eu acho que no início ele se sentiu ameaçado,
mas quando ele te viu lá em casa e soube que era
você ele faria de tudo para te tirar de mim, ele não
vê limites quando quer uma mulher.
Estou pasma.
—Algumas coisas fizeram sentido depois
disso, ele não foi em nenhum momento tentar me
afastar de você e sim afastar você de mim, porque
ele achava que se conseguisse você seria dele ou
talvez de nós dois.
—Zeus, eu estou sem palavras.
—Achei que pedindo para ele se afastar e
me deixar seguir com a minha vida, dando fim a
nossa amizade ele se afastaria, acho que esse foi o
último apelo dele para tentar fazer com que eu me
sentisse atingido, percebi que o Thomas tem inveja
do que eu tenho com você, de tudo o que temos
desde que você viajou comigo.
—Eu ainda não consigo acreditar que foi
tudo por minha causa.
—Eu não desconfiei porque ele foi muito
astuto, eu sabia que ele estava exagerando em
insistir em continuar com todas as atitudes dele,
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contudo, ele persistia no assunto no que se referia a


nossa amizade antiga e saídas.
Zeus entrelaça nossos dedos e fico sem nem
saber mais o que dizer.
—Foi uma briga feia, eu deixei bem claro
dessa vez que não quero ele perto de você, eu
acredito que agora ele entendeu a mensagem, me
senti tão... Leigo.
—Achou que ele não queria perder sua
amizade de longa data.
—Achei que ele fosse meu amigo.
—Zeus, tem certeza de que era realmente
por minha causa?
—Tenho, quando eu cheguei eu conversei
com seu pai, ele entrou em contato com as moças
que eram donas da casa, elas confirmaram que ele
esteve lá.
Bebo um pouco mais de chá, ele olha para a
minha mão todo reflexivo.
—Sinto sua falta, todos os dias desde que
você me abandonou.
—Zeus, para de drama eu não te abandonei,
eu só decidi fazer o que achava certo.
—Eu estou cansado disso tudo Isis, quero
viver nosso relacionamento longe de tudo, de todos,
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você aceita tentar mais uma vez?


É uma pergunta tão comprida e que exige
tantas decisões importantes, mas a resposta está na
ponta da minha língua.
—Estou disposta — respondo. —, mas não
quero me machucar mais Zeus, não quero pedaços
de sentimentos nem incertezas.
—Não há incerteza quando ao meu amor.
—Talvez...
—Isis não há talvez, há eu e você, agora,
você vem comigo?
—Ir?—me espanto.
—Sim, sem dúvidas, sem destino, eu e você
e mais ninguém, eu juro que vou te provar todos os
dias de hoje em diante que nunca houve nenhum
pedaço de mim que não te amou por completo, eu,
você, uma família, uma vida juntos.
—Eu não posso aceitar — começo a falar e
ele fica decepcionado. —, mas eu prometo que
posso mudar de ideia se você me persuadir durante
essa tal viagem.
Zeus me encara, olhos vividos que se
enchem de uma felicidade estranha.
—Tem que me promete que não vai me
machucar dessa vez Zeus.
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—Eu prometo.
—Mesmo que você não seja um homem que
faz promessas?
—Eu não sou mais aquele homem Isis.
—E que homem você é agora?
—O seu homem.

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O Douglas me ajudou a arrumar minha


bagagem, meia hora depois estava saindo do quarto
de hotel dando abraços imensos na família do
Zeus... Minha família. Eu não vi meus pais e preferi
que eles respeitaram isso, mesmo que eu soubesse
que eles também estavam no hotel, me demorei ao
me despedir do Douglas, mas por fim, ele me disse
apenas um:
“Vai minha menina, vai ser feliz”.
Eu sorri tão feliz que não queria acreditar,
entrei num dos barcos que o hotel disponibiliza
para ida até a estação ferroviária, Zeus não trouxe
muita bagagem também, então trouxemos minha
mala e uma mochila dele, ele pagou por uma boa
cabine e aqui estamos.
Tem uma cama para dois, uma janela com
cortina e um pouco de espaço para guarda a
bagagem, tudo embutido, ele fecha a porta da
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cabine e deixa nossas malas num canto, puxo as


cortinas ouvindo o som da última chamada, nosso
caminho até aqui foi um bocado cansativo, ficamos
quase quatro horas no barco a motor, sentados,
tomei um café para tentar ficar acordada, saímos já
por volta das onze da manhã e senti um pouco de
sono devido aos antibióticos que andei tomando
esses dias.
Agasalhei-me bem, trouxe os remédios com
anotações do Douglas, ele me obrigou a mandar
mensagens durante a viagem, aqui é quentinho.
Abro a cortina e me deparo com uma parede
escura, ainda estamos dentro da estação.
—Dez minutos até sairmos — Zeus diz e se
senta na cama. — Ainda com frio?
—Não, estou bem — respondo e me sento
na cama ao seu lado. — Só um pouco fadigada.
—Eu também, não dormi direito no voo até
aqui — ele tira a camisa de mangas que usa. —
Quer comer alguma coisa?
—Talvez mais tarde. — começo a tirar o
casaco que vesti.
Zeus segura a minha mão.
—Obrigado por ter vindo.
—Não tem que ficar agradecendo.
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Ele beija a minha mão e me puxa, acho que


estava muito ansioso para fazer isso porque quando
me beija parece que o mundo todo está acabando, é
rude e intenso, um desespero inteiro seu beijo,
como se dissesse que enquanto estive fora quisesse
isso tanto quanto eu quero, que sentiu falta dos
meus lábios, da minha boca.
Eu o correspondo e subo em cima dele me
inclinando sob seu corpo, Zeus toca a minha cintura
e sua boca deixa meus lábios descendo rápido por
meu pescoço, deslizando por minha pele, me
deixando arrepiada de cima abaixo.
Beija meu pescoço todo, meus ombros,
tento ficar parada os meus olhos fechados
desejando que me toque mais, eu também o desejo
muito mais do que possa controlar, sinto falta do
que temos, do jeito como ficamos bem quando
fazemos amor.
Suas mãos se enfiam dentro da minha blusa
e meu corpo sobe, mais e mais arrepios se
espalham por minha espinha, nossos lábios voltam
a se tocar mas agora com mais lentidão, nossa
sintonia perfeita, ele me puxa e me inclino em sua
direção sem deixar sua boca, Zeus me apalpa e
meus dedos se enfiam em seus cabelos.
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—Precisamos de um banho — ele sussurra


entre o beijo. — E de camisinhas.
—Humm... — deixo seus lábios e o fito. —
Não trouxe camisinha?
—Não, eu não pensei nisso.
—O sempre tão preparado Zeus esquecendo
de uma camisinha?
—Estava mais preocupado com você.
Dou-lhe um sorriso.
—Senti falta disso — ele toca minha
bochecha admirado. — Eu não consigo mais me
imaginar sem você.
—Tem banheiro nessa cabine?
—Tem sim, mas nossa viagem nela é de
apenas uma hora, logo estaremos no meu avião.
—Acha que seus pais ficaram magoados?
—Acho que mamãe vai adorar uma
temporada em Veneza e também, o Douglas
cuidará bem deles.
—Com certeza, mas você não me disse para
onde vamos.
—pensei em te levar para onde tudo
começou.
—Sério? Eu adoraria.
—Então, é para lá que iremos.
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Nova Zelândia!
Aqui vamos nós... De novo.

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—Você escolheu o mesmo quarto.


—Sim.
É a suíte onde ele ficou da primeira vez que
estivemos aqui.
Poxa, mal acredito.
Parece que faz tanto tempo que estivemos
aqui, com tantas dúvidas e conflitos, não pensei que
voltaria aqui tão cedo depois de tudo. Nem me
passou pela cabeça.
—Banho? — sugere ele me abraçando por
trás.
—Banho! — concluo.
Dormi bastante durante a viagem para cá,
acho até que mais do que deveria, foi um voo
tranquilo e silencioso, Zeus me levou chá e pão
com patê na cabine do avião, flertamos, trocamos
beijos, mas não passou disso acho que ele entende
que precisávamos estar aqui para fazer qualquer
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coisa.
Também me sentia cansada demais, a
mudança de clima meio que me derrubou, aqui está
fazendo sol e é mais quente, estou tomando todos
os remédios corretamente para não ter nenhum tipo
de piora, já melhorei quase completamente da
gripe.
Ele me ergue no colo de repente e rio alto
um pouco surpresa com isso, depois ele me carrega
até o banheiro, me beija e me coloca no chão,
começo a tirar o casaco e ele tira os sapatos que
usa, depois a camisa, percebo algumas marcas
roxas em suas costas, sinais da briga com aquele
homem ruim.
Eu o odeio agora muito além do que já quis
odiar antes.
—Disse que não se machucou. — falo e tiro
os tênis que uso.
—Não tem como entrar numa briga e não se
machucar ao menos um pouco, mas não dói, é
superficial — ele alega. — Te garanto que ele ficou
muito pior.
—Ele é doentio. — consto e tiro o meu
jeans.
—Ele não merece nem que nos lembremos
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dele. — Zeus já está só de cueca.


—É verdade.
—Você está mais magra.
—Você achou?
—Não é um elogio.
—Eu sei que não, quando eu perco peso eu
fico raquítica.
—Você estava até ganhando peso na casa
da minha mãe. — pragueja.
—Eu fiquei doente esqueceu?
—Mesmo assim.
Suspiro, tiro a calcinha e o sutiã, jogo tudo
num canto e vou para dentro do box nenhum pouco
afim de entrar na conversa, preciso mesmo desse
banho, quero relaxar, esquecer os dias ruins, será
como férias para nós dois, agora definitivamente só
nós dois.
Ligo o chuveiro e a água quente jorra no
box, me enfio embaixo da ducha e meus músculos
agradecem, meu corpo todo se arrepia. Zeus me
abraça por trás depois de alguns instantes, ele beija
o meu pescoço, sei que faz cara feia, conheço.
—Teimosa.
—Igualmente.
Viro-me, toco seu peito olhando-o através
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do jato d’água, ele cola nossos corpos mantendo


apenas um braço envolta de mim a mão me apalpa
de forma possessiva, meu corpo todo fica ainda
mais ouriçado.
—Senti muito sua falta. — ele fala.
—Eu também senti sua falta.
—Na cama? Sentiu minha falta como seu
amante docinho?
—Digamos que um pouquinho só.
—Pouquinho?
Zeus começa a me beijar de leve, mas
depois seu beijo se torna lascivo, me seguro em
seus ombros correspondendo-o, ele pega o sabonete
e começa a me lavar a bunda sem pressa, com
muito cuidado e zelo, enquanto seus dedos lavam
todo local tomo o sabonete de sua mão e começo a
lavar ele também, quando eu o toco mesmo que já
saiba que está excitado sinto que é incrível, é
gostoso sentir essa intimidade novamente.
Toco a parte dos pelinhos pubianos e depois
seguro ele, a rigidez e começo a fazer gestos de
baixo para cima, ele toma o sabonete da minha mão
e começa a lavar minha vagina com delicadeza,
deixa meus lábios e beija meu pescoço, a barba me
arranha toda, mas também faz cócegas.
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Ele passa o dedo médio entre minha carne e


se afasta um pouco, fica de joelhos e me puxa de
forma que eu fico embaixo do chuveiro, ele me
observa toda nua, sabe que sou dele de todas as
formas, mas me aprecia como se fosse nossa
primeira vez.
Ele me lava sem pressa, me olha todo
focado depois de alguns momentos calado ele se
levanta novamente e me dá as costas se lavando,
acho que quer que eu saia do banheiro para
terminar o banho.
Saio do box e pego um roupão, uma toalha,
me seco enquanto volto para o quarto, seco os meus
cabelos e ao entrar no quarto puxo as colchas de
cama e me sento, olho envolta e me vejo sorrindo,
lembrando da primeira vez que dormimos juntos
nessa cama, quando eu não entendia bem sobre as
suas escolhas e ele só queria que eu estivesse por
perto.
Acho que o Zeus sempre acima de tudo
gostou de mim, ele se permitiu mais que eu desde o
começo, mas não consigo me sentir culpada por
não ter sido diferente, tudo era tão novo para mim.
No fundo, no fundo, só queria ser amada.
E eu sei que sou.
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Ele vem depois de alguns instantes e se


aproxima da cama calado, envolvido por uma
toalha seca os cabelos, ele se senta ao meu lado na
cama e eu o abraço. Busco seus lábios e ele abre o
meu roupão, toca meu seio com carinho, vem se
inclinando na minha direção.
Deito-me na cama e ele vem para cima de
mim, afasta o roupão para o lado e abre as minhas
pernas deixando beijos quentes nos meus seios, na
minha barriga, e desce até meu vente, me acomodo
entre os travesseiros e o vejo se debruçar na cama
segurando minhas pernas, puxando-as para cima de
seus ombros, ele beija a minha virilha, a parte
interna das minhas coxas, estendo a mão e toco
seus cabelos, ele me beija o clítoris devagar.
Meu corpo sobe, mas ele me segura com o
braço mantendo meu corpo na cama, começa a me
beijar o ponto sensível como se beijasse a minha
boca, meu pé toca suas costas e tento ficar quieta,
mas parece impossível.
Vou ficando viscosa enquanto a língua dele
me chupa toda, os meus mamilos latejam e me
agarro a cama sentindo que a minha virilha
estremece com o prazer que ele me provoca, Zeus
desce mais e brinca com os meus lábios chupando
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um de cada vez, repete o gesto até que eu não


aguente, percebo que estou gemendo alto quando
ele enfia um dedo em mim.
Perco o ar por alguns segundos porque de
repente ele começa a enfiar o dedo rápido, a
sensação de penetração com o dedo é gostosa
demais, estou quente e úmida o que torna mais fácil
a prática, ele morde minha coxa direita e vem
enfiando dois dedos.
—Você está do jeito que eu deixei — ele
sussurra e brinca com o meu clítoris passando o
polegar rapidamente em cima dele. — A buceta
apertada e molhada.
Mordo o lábio inferior e me sinto
impaciente, o prazer é intenso, mas me deixa
ansiosa, empurro ele com o pé e me ergo, engatinho
até ele e Zeus se deita de costas, puxo a toalha dele.
—Você brinca com fogo Kikinos.
Zeus gargalha, mas eu não ligo, o beijo
querendo mais, eu o toco e me inclino, começo a
chupar ele devagar, ele respira fundo e sei que
gosta, Zeus me puxa pelos quadris e fica com a
cabeça entre as minhas pernas, então também
começa a me chupar, eu o masturbo olhando-o todo
nu.
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Ele é tão bom nisso, mesmo que eu ainda


seja muito inexperiente nesse sentido.
Chupo o máximo que consigo e masturbo,
ele respira fundo e me ergue pelos quadris, me tira
facilmente de cima dele, então me coloca de lado
na cama se erguendo, ele fica em pé ao lado da
cama e abre a gaveta do criado, me inclino e volto a
chupar ele devagar.
Acho que ambos estamos um pouco
impacientes com tudo.
—Coloca a camisinha querida?
—Aham.
Sinto-me mais desinibida, mais a vontade,
ele me entrega o pacotinho vermelho, me apoio nos
joelhos enquanto abro, tomo cuidado com a
embalagem, retiro a camisinha do pacote e seguro
sua ereção.
—Eu vou por devagar — aviso. — É que
parece que a cabeça é meio... grande!
—Ela estica. — ele fala com um sorriso
constrangido nos lábios.
—Ah, tá, então vamos lá.
Começo a colocar a camisinha nele,
rapidamente vai desenrolando e quando percebo já
está toda nele, nunca fizemos isso antes, Zeus ergue
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minha face e me beija, se inclina e vem para cima


do meu corpo separando as minhas pernas.
Ele vem me penetrando bem devagar, eu o
fito, Zeus toca a minha face e segura a minha mão,
entrelaça os dedos nos meus e beija os meus dedos
com vagareza.
—Eu te amo, só você Isis, por completo.
Eu o beijo e ele começa a se mover sem
muita pressa, seu corpo todo sob o meu me dando o
calor no qual senti falta, fazendo amor comigo com
um carinho indescritível e intenso, seu movimento
me deixa mais molhada, ele rebola enquanto faz, de
um jeito só dele.
Zeus Collins mete muito bem, mas quando
ele quer fazer amor... Ele se supera.
Seguro-me em seu corpo sem querer soltá-
lo, nosso beijo mais profundo e molhado,
começamos a suar, a ficar arfantes, me movo com
ele em seu vai e vem, sem seu rebolado, gosto
disso.
Da nossa liberdade na cama.
Ele se ergue e toco seus quadris movendo-o
mais intensamente comigo, ele vai mais fundo
beijando meus olhos, minha face toda, eu o aperto
contra meu corpo e apalpo ele, olhos fechados,
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boca com boca, fazendo amor de um jeito único e


só nosso.
Sou puxada e logo seguida estou por cima,
meus quadris se movendo para ele, dobro as pernas
e passo por cima das coxas dele ficando totalmente
sentada, me seguro em suas mãos rebolando para
ele, ele me olha me movendo sob seu membro
rígido sem receio.
Ele puxa as minhas pernas e abre as minhas
coxas me segurando pelos quadris, então mete
comigo me deixando sentir sua pontinha e depois
me colocando devolta até o talo, me seguro em seus
antebraços nos observando de um jeito erótico e
coberto de luxúria.
Zeus se ergue e me beija, meus quadris se
movem e sento nele acocada, ele aperta a minha
bunda e mordisca meus seios depois de alguns
momentos, sinto que minhas pernas doem com o
esforço, mas não consigo parar, minha pélvis se
adequada perfeitamente a nosso sexo.
Eu o fito e meu corpo encontra um prazer
forte demais, me tremo toda, minhas coxas
trepidam e ele me segura se movendo, me
provocando ainda mais orgasmos intensos.
—Isso — diz baixinho. — Isso, goza no
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meu pau, lambuza dele todo querida, ele é todo seu,


só seu.
Solto um grito agoniado e me seguro nele
sem conseguir controlar a força do orgasmo, ele
goza também, ejacula com força dentro da
camisinha, me aperta com vontade e me beija, ergo
meus braços respirando com dificuldade, minhas
mãos se enfiam em seus cabelos e eu os puxo
deixando mordidas leves em seus lábios.
—Só meu. — determino.
—Sempre.

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Beijo a curva do pescoço dele e me


acomodo ao seu lado na cama, arfante, latente,
Zeus beija os meus seios sem pressa, me aperta e
puxa a minha coxa para cima de seu quadril nos
mantendo ainda unidos, nossos lábios encontrando-
se devagar, ele aperta a minha nádega explorando
minha boca com mais profundidade, meus dedos se
enfiam em seus cabelos e ele se afasta um
pouquinho beijando minha bochecha, meu pescoço.
Sinto-me no céu.
Nada nunca vai superar essa sensação, de
proteção, carinho e prazer, tudo o que ele faz com
que me sinta quando estamos juntos. Toco sua face
e nos fitamos em silêncio, quietos, os olhos escuros
pousados em mim, pela primeira vez desde que nos
conhecemos como se estivesse calmo demais, mais
aberto.
—Tive medo de que não me perdoasse. —
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ele confessa baixinho.


Penso bastante antes de falar.
—Vai ter todos os dias da sua vida para
fazer com que eu te perdoe Zeus Kikinos.
Ele me dá um sorriso levado.
—Você não sabe o quanto fica sexy quando
fala “Kikinos”.
—Fico? — vou ficando vermelha.
—Fica — responde. —Você faz um
biquinho cheio de sotaque.
—Faço? — sorrio. — Kikinos.
Rimos juntos, Zeus me dá um beijo leve.
—Ainda não pensei direito sobre como será
quando nossa viagem acabar, mas gostaria de se
casar comigo Isis?
—Casar?
—Eu aceito.
Empurro-o pelo ombro e faço um bico
imenso de choro, Zeus me puxa e me aperta, fico
rindo enquanto as lágrimas caem por minhas faces.
—Adoraria me casar com você, adoraria
que me chamassem de senhora Kikinos.
—Então assim será.
—Mas assim de repente?
—Você quer esperar?
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—Não quero que se precipite.


—Eu não estou me precipitando, era o
nosso plano lembra?
—Eu adoro pensar que estaremos mais
tempo juntos esses dias.
—Não deixei nada combinado com meus
pais, mamãe disse que eu posso tirar quantos dias
eu precisar, então estou afastado da empresa por
tempo indeterminado.
—Acho que uns trinta dias está ótimo.
—Está bem.
—Podemos morar com sua mãe? Eu não sei
se quero ir para o Canadá.
—Eu acho que mais cedo ou mais tarde
mamãe nos arrastaria para lá, podemos construir
uma casa no condomínio, o que acha?
—Mesmo?
—O chalé não vai sempre nos atender,
teremos mais espaço com uma casa só nossa e mais
liberdade.
—Seria um sonho Zeus.
Ele me beija e eu o abraço toda contente,
não sinto que me precipito, se eu quiser que dê
certo tenho que mergulhar fundo no
relacionamento, sem incertezas e medos quanto a
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nós dois.
—Quando voltarmos conversarei com
mamãe, podemos escolher o local já que o
condomínio é bem grande, vou pedir uma mão ao
H ele já tem um bom engenheiro.
—Ótimo.
Aperto ele com força.
De certa forma mesmo que seja estranho
saber que o Thomas nunca se aproximou
exatamente dele me tranquiliza mais, o Zeus veio
atrás de mim, me pediu perdão e quer construir
uma vida ao meu lado, ele me ama, negar isso e
virar as costas para isso seria o maior erro da minha
vida.
—As coisas agora serão bem diferentes
Docinho.
—Serão sim.
Ele me beija de novo com carinho, toca meu
seio, minha cintura, minhas costas, também o toco
onde quero, explorando sua boca mais uma vez, as
coisas agora parecem mais intensas entre nós dois,
mais claras. Vou para cima dele e Zeus puxa os
lençóis da cama nos cobrindo.
—Nunca se tratou do Thomas, nunca iria se
tratar dele — ele fala entre nosso beijo. — Porque
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desde que eu te conheci tudo ficou para trás Isis, eu


te amo tanto, deixei você partir e me senti um idiota
por não ter ido antes atrás de você, mesmo que me
sentisse irritado com tudo.
—Tinha medo de que não tivesse certeza
dos seus sentimentos, de que eu não fosse
suficiente para você — confesso e o encaro. —
Zeus eu nunca me senti assim por ninguém, só
queria que você fosse assim comigo também,
queria você por completo.
—Eu sempre estive completamente
envolvido com você meu amor.
—É que como você gostava de ir a casas de
swing eu me sentia pouca coisa para você, ao
menos no começo, depois com as insistências do
Thomas, pensei que você quem não sabia como
afastar ele.
—Nunca seria pouca coisa para mim Isis,
eu sei que sou meio fechado quando se trata de
sentimentos, mas eu não tenho dúvidas do que sinto
por você, eu adoro estar com você, adoro acordar
todos os dias e te deixar dormindo na cama, chegar
da empresa e saber que você esta me esperando é
uma coisa da qual não tem preço.
—Me acostumei com nossos dias juntos
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também, sinto falta.


—Teremos muitos dias juntos de hoje em
diante, eu quero que você me prometa que quando
estiver com alguma tipo de medo ou receio quanto
a nós dois que vai conversar comigo está bem? Às
vezes você parece que não me escuta Isis.
—Eu escuto, mas eu fico tão magoada.
—Não tinha como eu falar aquilo e não te
magoar, mas me sentiria desleal se não dissesse,
como se omitisse as coisas de você e não quero
isso.
—Eu entendo, mas na hora fiquei muito
chateada porque parecia que você estava balançado.
—Me sentia mal.
Agora consigo entender, pela forma como
ele descreve, Zeus se sentiu culpado pela situação,
ficou com peso na consciência.
—Me precipitei, mas se eu continuasse lá
com tantas incertezas talvez nós destruíssemos o
que sentimos um pelo outro.
—Eu sei, fiquei muito triste Isis, eu não
gosto de te sentir longe de mim, você é a minha
mulher e o seu lugar é ao meu lado.
—É que às vezes você é tão sistemático.
—É o meu jeito.
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—Eu sei, nós conversamos bastante quando


temos tempo, só não falamos de coisas sérias
demais.
—Eu achei que depois da nossa última
conversa, antes da nossa briga eu e você
estivéssemos prontos.
—Tudo estava bem até aquele agouro
aparecer de novo.
Ele sorri, fecho a cara.
—Docinho, já passou.
—Ai eu tenho nojo dele, nojo.
—Eu entendo esse sentimento, mas
esqueça.
—Eu nunca, nunca iria preferir ele, gosto de
homens assim mais velhos sabe? — pergunto
manhosa e começo a beijar o pescoço dele. —
Charmosos e carinhosos na hora do amor.
—Gosta minha docinho?—Zeus se rende e
começa a me apalpar.
—Amo.
Ele ri e me beija, rolamos na cama.
Não quero mais pensar naquele imbecil,
nem em todas as coisas nas quais passamos por
culpa dele, agora tudo o que eu quero é ser feliz.
Eu sei que serei.
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—O que está fazendo ai?


—Arrumando nosso almoço, veja, frutos do
mar.
Zeus me abraça todo quentinho, acabou de
acordar, ele beija o meu pescoço e mordisca meu
ombro com carinho, meu sorriso é instantâneo, ele
se senta à pequena mesa que tem no quarto e me
puxa para seu colo, me sento de lado, mesmo
estando completamente nua não me sinto nenhum
pouco incomodada, ele também está nu, dormimos
a manhã toda... Também depois de uma noite como
a de ontem...
Pedi lagosta e camarões, não pensei que
eles mandariam tanto, mas me sinto faminta,
acordei com muito apetite, abro as garrafinhas de
suco e Zeus puxa a minha perna me virando para
ele, fico sentada de frente em suas coxas, ele me
fita com uma cara de safado.
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—Pedi suco de morango. — falo


constrangida.
É que ontem nós dois fizemos algumas
posições diferentes na cama, eu nunca pensei que
conseguisse fazer tanto sexo na vida, foi... Incrível.
Viro-me e pego a bandeja com camarões e limão,
Zeus estende a mão e pega a garrafinha com suco
de morango abre e bebe dois goles vastos. Começo
a comer os camarões, na primeira mordida me sinto
no céu.
—Quer dar uma saída amanhã? Ir na praia?
—ele pergunta e deixa a garrafinha de plástico em
cima da mesa, depois pega um camarão para si
mesmo e começa a comer.
—Aham — digo mastigando e coloco a
mão em frente a boca. — Vamos sim.
—Você anda comendo feito os caras que
trabalham na empresa. — Ele fala pensativo.
—Ora, mas é claro, você me deixa sem
energias. — retruco e faço cara feia.
Ele começa a rir.
—Sei que adora comida — ele insinua
sugestivo. — Por isso eu dou comida direito.
Rio mesmo sem querer, me inclino e lhe
dou um selinho, ele prende meus lábios num beijo
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quente e lento, quando se afasta está rindo.


O Zeus é daquele tipo de homem que não
aparenta ser safado, não dá pinta, mas na cama não
vale um centavo, ele fala palavrão durante o sexo,
ele é tão intenso, adoro isso nele.
—Podemos fazer um passeio de barco e
conhecer alguma ilha—ele sugere. — Mergulhar,
aqui é um lugar muito bom.
—Eu sei que vou amar — concluo. —
Chegamos a uma semana e mal saímos desse
quarto, tenho até medo de assustar o pessoal do
serviço de quarto.
—Eles sabem que estamos de lua de mel —
Zeus retruca. — O Douglas mandou mensagem e
mamãe também.
—Hummm...
—Eu respondi hoje cedo quando você
estava dormindo, não quis te acordar, avisei que
estamos bem e que fiquem despreocupados, mamãe
ficou feliz em saber que estamos nos resolvendo,
Douglas disse que seus pais estão fazendo um tour
pela Itália com a minha família.
—Nem consigo imaginar sua mãe
suportando o machismo do meu pai.
—Nunca pensei que ele fosse tão machista,
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sempre pareceu um homem muito liberal.


—Hipócrita isso sim.
Devoro mais dois camarões, Zeus pega um
pouco da carne da lagosta e come.
—Acho que toda pessoa que vive esse estilo
de vida de certa forma é hipócrita, eu não sei se iria
gostar de ter um filho vivendo dessa forma, não sei
dizer se é moralmente errado ou se é porque ele
sofreria muito por não estar pronto para viver
assim.
—E se fosse uma menina?
—Seria bem pior, temos a Meagan e eu já
fico todo super protetor com ela, se eu tiver uma
filha nem consigo pensar direito, eu também
sempre super protegi muito a Affie de tudo.
—Ela é um amor de menina.
—Sim, eu andei sendo meio rude com ela
esses dias, perdi a paciência, quando voltarmos eu
quero compensar ela.
—Eu me sinto meio como a Affie sabe? Ela
é tão inocente e gentil, eu sempre fui assim porque
meu pai me super protegeu demais.
—Encara a vida dupla dele como um erro?
—Fiquei magoada por causa do meu
aniversário, mas acho que se ele tivesse sido
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presente eu não me importaria, no mínimo que


tivesse feito o papel de pai.
—Meus pais foram bem presentes, exceto
quando se separaram.
—A Kellen me contou que seu pai e ela se
separaram durante uma época.
—Sim, eu era mais velho e me sentia mais
deslocado, mas foi um período meio complicado.
—Acho que toda separação atinge a criança,
porque pensa é um desmembramento familiar né?
Eu acho que só não sofri muito com a separação
porque eu era muito pequena quando mamãe largou
meu pai, eu não sei se desejaria que morassem
juntos nos dias de hoje, mas acho que seria muito
bom que durante a minha infância e adolescência
eles tentassem estar comigo, no caso deles dois
nem houve briga por custódia, mas tem casos que
tipo, os pais brigam e isso é péssimo para a criança.
—Não pensam na criança.
—É, o Douglas me disse que na índia é
pior, quando os pais se separam a família do pai
não deixa a mãe ficar com os filhos, na minha
cultura uma mulher quando larga o marido é
considerada uma suja, nunca concordei e nunca vou
concordar.
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—Larga a família?
—Marido, marido não é família.
—Nossa que moderna.
Começo a rir.
—Eu só estou tentando dizer que se o
homem largar a mulher por outra os filhos sobram
para a mãe e ele abandona a família, se a mulher
larga o marido por causa de um abuso, traição ou
porque não o ama mais é como se ela abandonasse
todo um continente, somos sempre
responsabilizadas por tudo.
—É tão bom conversar com uma pedagoga.
—É mesmo, eu gasto quando eu quero né?
—Demais.
Ele me puxa pelos quadris e rio, estendo os
braços envolta de seus ombros e começamos a nos
beijar.
—Preciso de umas aulas com a senhora —
ele fala baixinho entre o beijo. — Me ensinar como
é isso.
—Isso o que? — pergunto com certa
malícia.
—Ser um bom marido, um bom homem.
—Você é um bom homem, só me consome
ás vezes.
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Zeus gargalha e me ergue no colo, posso


ouvir nossas risadas ecoando pela suíte, indo para o
quarto, nossos lábios trocando beijos quentes, meu
corpo roçando no dele e causando arrepios em nós
dois.
—Quer ser consumida é?
—Muito.

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Deito-me de costas, hoje eu estou um pouco


desconfortável, tivemos um dia maravilhoso com
direito a passeio de barco pela ilha, almoçamos
num dos restaurantes que era ponto turísticos, eu
até consegui convencer o Zeus a tirar algumas fotos
comigo ele não gosta muito.
Desde que chegamos aqui nós temos saído
para nadar, passear e conhecer o lugar, me sinto
lisonjeada de ter todas essas oportunidades, mas os
dias passaram-se depressa e já estamos a quase
cinco dias de voltar para casa.
Queria que não tivesse passado tão rápido,
que durasse para sempre, mas nossa “lua de mel”
está chegando ao fim, não posso reclamar, seria
ingrato da minha parte porque eu acho que enfim
nós dois nos permitimos ter isso juntos como
deveria ter sido desde o começo.
Nos isolamos e isso está sendo maravilhoso.
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Temos conversado e feito tantos planos para


quando voltarmos, ele já até tem uma ideia de
como será nossa casa, fecho os olhos e me lembro
dos nossos passeios, dos almoços e do quanto nos
divertimos, sorrio, ele é tão... Legal.
Não pensei que ele fosse tão divertido e
gentil, estamos mais abertos um com o outro,
conversamos sobre tudo, eu o escuto e ele me
escuta. Na cama então, é maravilhoso dividir todas
as noites com ele, sejam de sexo ou de conversas,
ou apenas de silêncio, olhares e carinho, o Zeus me
respeita tanto, ele me ama e quer que eu fique bem
sempre, zela por mim e eu o amo também, amo
muito.
—Você está cansada?
Ele se deita ao meu lado na cama, escovei
os dentes primeiro, o Zeus estava no telefone com a
Kellen, ela liga quase todos os dias para saber
como estamos, eu sei que ela também precisa dele e
que por isso seria injusto prolongar nossas férias,
mas só de já termos vindo e resolvido nossos
problemas já está ótimo.
—Não sei — faço uma careta. — Acho que
foi o passeio, meu corpo está estranho.
—Estranho? — ele indaga e enfia as pernas
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dentro do cobertor. —Você engordou isso sim


docinho de coco.
—Não quer é? Tem quem queira sabia? —
pergunto revirando os olhos.
Zeus me agarra e começa a me fazer
cócegas, rio a beça porque adoro provocar ele, sei
que ele se sente bem comigo do jeito que eu sou,
mesmo eu achando que engordei uns três quilos
nesses dias, mas não ligo, eu acho que até fiquei
melhor de biquíni. Meus seios estão até mais
durinhos, meus quadris mais largos, as férias
fizeram muito bem.
Dou-lhe um beijo e me deito entre os
travesseiros ligando a tv, ele se aconchega e enfia a
mão dentro do meu short de dormir, começa a
alisar onde ele gosta, ele faz isso toda noite, o
safado não tem vergonha, eu também não.
—Sabia que hoje faz quatro meses que
estamos juntos? — Zeus indaga e puxa a minha
blusa para cima, começa a chupar o meu seio.
—Você contou?—pergunto surpresa.
—Claro, foi o dia em que te beijei na
suruba, lembra?
—E estamos juntos desde aquele dia?
—Estamos, você só não sabia ainda.
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Gargalho, ele suga meu seio devagar, mas a


força machuca um pouco.
—Amor, chupa mais devagar, está doendo
um pouquinho.
—Está? — ele me encara surpreso. — Vou
sugar mais devagar então.
Faço que sim com a cabeça e ele se
acomoda, começa a chupar sem fazer força e me
toca os pelinhos pubianos com lentidão, adoro tanto
isso, nossa intimidade, quando estamos assim a sós
me sinto totalmente à vontade, livre de qualquer
preconceito ou tabu, medo.
—Amor. — ele chama.
—Hummm...
—Não acha que está na hora de começar a
tomar anticoncepcional?
—Não pensei nisso, nós não rasgamos
nenhuma camisinha.
—É, mas sempre tem o risco.
—Quando voltarmos eu procuro algum
médico, vou pedir indicação da Viviana.
—podemos continuar com a camisinha, mas
é que vai lá que estoura e nós não percebemos, não
quero que você pegue barriga agora, quero que
curta nossa casa, que você aproveite bem nosso
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casamento.
—Sim.
Nos beijamos, puxo ele e o Zeus vem para
cima de mim, ele sobe com o corpo colado ao meu,
nossas bocas se perdem no beijo gostoso, quente,
toco suas costas, seus braços, ele é um excelente
namorado, muito carinhoso.
—Estou tão feliz — confesso fitando-o. —
Você não tem noção do quanto esses dias tem sido
fantásticos.
—Eu tenho sim, porque também me sinto o
homem mais sortudo do mundo.
Dou-lhe um sorriso, Zeus toca minha face,
meus cabelos, tem tanto amor em seu olhar.
—eu amo você e me sinto lisonjeado e feliz
que tenha me aceito na sua vida, talvez não fale o
quanto você é importante, o quanto você é preciosa
para mim, mas você é.
Isso me faz sorrir, ficar um pouco
emocionada, porque eu o amo e não pensei que
ouviria algo assim dele.
—Você me faz me sentir bem, a aceitar que
eu também tenho limitações e medos, receios, que
não preciso esconder nada do que sou ou fui de
ninguém.
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—Eu fico feliz de saber que você está feliz


ao meu lado.
—Muito mais que isso Isis, me sinto inteiro,
não sei explicar.
O Zeus é um homem muito fechado às
vezes, mas ele ao menos é humilde, ele é um
homem bondoso em muitos sentidos, não é
perfeito, mas tem um coração enorme.
—Eu te amo como nunca amei ninguém.
—Eu também te amo muito querido.
—Você me faz um bem danado.
—Gosta que eu te cubra de obrigações?
—Docinho, eu gosto de lavar as suas
calcinhas.
Fico vermelha, não me referia a isso, mas o
Zeus é bem desses, eu nem sabia, mas ele também
é bem organizado, quando estávamos na casa dos
pais dele eu quem cuidava disso, mas acordei um
dia e ele estava lavando minhas calcinhas e as
cuecas dele, não foi bem constrangedor, mas fiquei
sem graça.
—Não estou me referindo a isso, me refiro a
você ficar só comigo.
—Isso não é uma obrigação, adoro que seja
só você.
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—Você sempre foi assim?


—Minha mãe nos ensinou a lavar roupa
desde pequenos, nós não temos frescura nesse
sentido, por ela ser do lar sempre tivemos que
dividir as tarefas.
—É, vocês não tem funcionários.
—Sim, na maioria das vezes na
adolescência eu quem lavava as calcinhas da Affie
e as cuecas do Hades, você se importa?
—Lógico que não, me sinto super mimada,
melhor que ganhar uma joia.
—Não me importo de lavar roupa, apesar de
não lavar com tanta frequência eu não dependo de
ninguém, só não sou bom na cozinha.
—Eu sei cozinhar mais ou menos.
—Não teremos esse problema em casa,
qualquer coisa você fica com as cuecas velhas e eu
com as panelas.
Rio, ele me aperta colocando beijos quentes
no meu pescoço.
—Te amo docinho.
—Te amo meu amor.
Acho que bem mais que isso, eu o amo
muito mais do que poderia descrever, agora e para
sempre.
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Não me sentia tão pronta quando pegamos o


voo de volta para casa, dei adeus ao paraíso e aos
dias de lua de mel para voltar para casa, e o meu
único consolo é saber que estou indo para a casa da
Kellen e que eu e o Zeus teremos mais privacidade
lá e que estarei perto de rostos que já conheço.
Estou feliz porque acima de tudo eu e ele
nos acertamos.
Já desembarcamos e o Lorenzo acabou de
nos pegar no aeroporto, fomos recebidos com
sorrisos e abraços, eu adoro saber que sou bem
vinda, que tenho um sogro gentil e bondoso, me
sinto afortunada.
Só estou com sono, é muito cedo, apesar de
termos dormido durante todo o trajeto ainda me
sinto sonolenta e um pouquinho cansada.
—Com sono? — Zeus pergunta.
Estamos no banco de trás, ele com o braço
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envolta de mim, me encosto em seu peito


afrouxando o cinto, faço que sim com a cabeça.
—Mas você dormiu durante todo o voo.
—Ai amor, eu estou cansada, o que posso
fazer?
Zeus beija a minha cabeça e fecho os olhos,
por alguns momentos tenho a sensação de que
estou cochilando, em outros fico despertando e
tentando me manter acordada, quando chegamos
em casa ele me sacode e por fim acordo me
sentindo ainda meio mole.
—Tem certeza de que está bem? — Zeus
questiona tirando o cinto de mim. —Vamos direto
para o chalé, parece que você está doente docinho.
—Estou com sono amor, me desculpe, é a
fadiga — confesso. — Pode pedir desculpas para
seus pais por mim?
—Converso com eles, mamãe pode esperar.
— ele me beija a cabeça.
—Preciso da cama e um café... — começo a
salivar pensando em comer algo gelado também. —
Um sorvete com calda amor, que tal?
—vou pegar na casa dos meus pais, vai lá,
me espera na cama.
Ele fala com um pouco de malícia, mas
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morta como eu estou duvido que consiga transar


hoje, nós dois temos feito muito sexo ultimamente,
é bom, na verdade ótimo, nunca estive com a libido
tão aguçado, mas em compensação tenho comido
mais do que como e dormido muito.
Despeço-me do Lorenzo com um abraço e
peço desculpas, ele não se importa, diz que é
normal que eu esteja cansada, então vou para o
chalé e acho o caminho da cama com um sorriso
imenso, tudo está organizado e a cama cheira a
amaciante.
Tiro as sapatilhas e o jeans que uso, a blusa
e percebo que meus seios doem bastante quando
tiro o sutiã, os mamilos estão inchados e doloridos,
será que é porque o Zeus fica mamando neles a
noite?
Eu os toco devagar e meus mamilos doem
bastante, me estico na cama e me deito de costas
puxando os lençóis de cama, fico de lado abraçando
um dos travesseiros, mesmo assim fico sorrindo.
Sei que agora colocaremos muitos planos
em prática, o primeiro é claro e nos casarmos,
depois construir nossa casinha, já até imagino
nosso canto, o Zeus disse que conversaremos com o
engenheiro e arquiteto juntos, só de saber disso já
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fico feliz.
Ele quer que eu faça parte disso.
—Meu amor, trouxe seu café.
Sento-me na cama ouvindo os passos
apressados do Zeus, logo ele está diante de mim
com uma caneca de café, ele me entrega e começa a
se despir.
—Falou com sua mãe amor?
—Sim, ela disse que entende, nos espera
para o jantar, nos mandou descansar.
—Sua mãe é um amor.
Bebo um pouco do café, Zeus se senta na
cama e toca um dos meus seios com cuidado, deixo
a caneca em cima do criado e me estico puxando a
cueca dele para baixo, ele se ergue e fica de pé,
beijo seu peito e o abraço.
—Vem ficar comigo na cama amor.
—Eu já iria fazer isso.
—Quero carinho.
—É impressão minha ou você está meio
sensível?
Dou-lhe um sorriso e me deito na cama,
acho que voltar é bom, mas pensar que amanhã ele
já estará na empresa me deixa um pouco triste.
Queria que tivesse durado um pouquinho mais.
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—Já sinto saudade amor.


—Ah docinho, não fica assim, vou
conversar com o H para ver se ele me deixa
trabalhar em casa por esses dias está bem?
—Fiquei mal acostumada.
—Eu também, acho que em tantos anos
numa procrastinei tanto um retorno para casa.
Ele se inclina e se deita ao meu lado na
cama, me puxa e me aconchego abraçando-o
também.
—Me sinto grata por nossas férias, mas
voltar me faz pensar que você vai ficar longe de
mim.
—Você está sensível demais docinho, serão
apenas algumas horas por dia.
—Eu sei.
Aperto ele.
Não sei o que me deu, mas realmente, meu
humor oscila bastante.
—Farei o possível para trabalhar em casa
todo o tempo necessário.
—Obrigada por se esforçar amor.

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Não acordei muito bem hoje, mas não quis


deixar ninguém em alarde. A Kellen veio nos
visitar e trouxe café, bolo e todo o resto da família,
ganhei tantos abraços que me senti amassada,
mesmo que por dentro eu estivesse toda enojada
com o cheiro do perfume do Lourenzo.
Nós ficamos toda manhã conversando sobre
a viagem e o Zeus contou sobre nossos planos de
casamento e de construir nossa casa neste lugar, a
Kellen ficou muito feliz e emocionada, mantive um
pouco de distância do meu sogro porque realmente,
ele literalmente fedia.
Parecia frézia e algo doce tipo nada a ver,
não sei explicar, mas a fragrância é de dar nos
nervos, depois do nosso café da manhã em família,
Viviana me chamou para ir até sua casa, pois tinha
que trocar a Meagan, Affie ficou grudada nos
irmãos e Kellen disse que faria nosso almoço.
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Chegamos há alguns minutos e ela está lá


em cima trocando a Meagan, ainda me sinto
indisposta e cansada, mas ao menos aquele cheiro
de carniça que emanava do meu sogro não me
incomoda mais.
Vasculho a geladeira, a casa é bem grande,
espaçosa, já estive aqui antes de toda a confusão,
ela e o H são pessoas simpáticas e que nos deixam
super a vontade em casa, às vezes até mais a
vontade do que na própria casa do meu pai.
Pego um pudim que está numa placa e
coloco sob a pedra de refeições, eu não consegui
comer muito durante o café, parecia que o cheiro de
carniça não saia do meu nariz, corto uma fatia e
coloco em um prato que encontro na pia, pego uma
colher e me sento, ao provar a primeira colherada é
como se eu alcançasse o céu.
Durante a viagem nos alimentamos muito
bem, mas comemos mais frutos do mar e comidas
locais, estar na América é realmente reconfortante,
não que em Dubai eu comesse algo muito diferente,
mas como já conheço minha sogrinha tenho certeza
que foi ela quem fez esse pudim, me acostumei
com a comida dela.
—Acho que estamos prontas. — Viviana se
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aproxima toda contente. — Uauuuuu!


Sorrio, é meio forçado, acho que todos
perceberam que eu engordei bastante durante essa
viagem, o Zeus não se importa é claro, ele até
gosta, mas não posso evitar que as outras pessoas
da família dele não notem, não me importo também
porque me sinto bem como estou.
—Querida. — Viviana fala com gentileza.
—Desculpe, é que parecia delicioso, foi mal
educado né?
Depois que falo tampo o pudim e o levo
para a geladeira.
—Não, não, não é isso — Viviana comenta.
— É só que... Isis, vocês estão se protegendo?
—Aham — digo sem nenhum receio. —
Temos usado camisinha.
—Ufa!
—Ufa mesmo, e não fui só eu quem
engordei, ele também engordou.
—Não é por causa disso querida, é que
sempre há a chance de engravidar.
—Ah! — Exclamo tranquila. — Nós dois
temos usado camisinha, não tem nem chance e
também, a única chance que tinha de acontecer não
existe mais.
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—Por quê? — Viviana coloca o bebê


conforto de Meagan sob a pedra de refeições.
—Você me deu sua pílula do dia seguinte
lembra?
Viviana faz cara de paisagem ainda
sorrindo, cabelos soltos e longos cor de mel, olhos
castanhos e lábios cheios, uma mistura hispânica
com americana, ela sem sombra de dúvidas é uma
mulher linda.
—Estranho... —Viviane começa a falar e
para de sorrir. — Por que...
E se cala, fico olhando para ela sem
entender a mudança de humor repentina.
—Estranho? — questiono e dou de ombros.
— Bom, eu tomei o remédio do dia seguinte, o
Zeus disse que pediu para o H e que ele pediu para
você.
—Querida, acontece que eu não tomo
remédio do dia seguinte — Viviana fala e me dá
um sorriso forçado. — Eu não me lembro de ter
dado um pílula do dia seguinte para o Hades, acho
que uma vez ele me pediu um remédio, eu tinha
entendido que era para dor de cabeça.
Arregalo os olhos, Viviana se aproxima e
fico paralisada sem acreditar no que ela acaba de
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falar.
—Você tem sentido umas coisas estranhas?
—Bem... O Lorenzo fede a carniça para
você?
Viviana começa a rir, fico sem jeito, depois
constrangida, então ela me puxa e me abraça com
força.
—Ah Isis, você está grávida!
—Grávida?
—Vamos confirmar? Tenho um teste de
gravidez guardado.
—Tem certeza que não era remédio do dia
seguinte?
—Absoluta, eu era estéreo querida.

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—Amor.
—Hummm...
—Quando você foi pedir remédio para o H,
para ele pedir para a Viviana, o que você falou para
ele?
Zeus está escovando os dentes, saio do
banho, ele enxágua a boca todo pensativo, acho que
não esperava por uma pergunta dessas a essa hora
da noite. Chegamos a pouco de um dia cheio de
descobertas e novidades, acho que mais para mim
do que para ele.
Não estou tão deslocada quanto pela manhã,
acho que não foi assim um dos piores choques que
eu tomei na minha vida, só fez com que eu me
sentisse uma grande burra, porque estamos juntos a
todo esse tempo e eu se quer percebi se minha
menstruação estava vindo certa.
Eu nem fiz as contas, a Viviana quem pegou
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um calendário e me ajudou a descobrir mais ou


menos o tempo, assim que eu fiz o exame de
gravidez e aquele palitinho apontou que eu
realmente estou grávida fiquei um bocado
incrédula, depois a Viviane me abraçou e me disse
que marcaria com a ginecologista dela, para que eu
realmente faça um exame de sangue e tudo mais.
Fiquei meio sem reação, depois lavei meu
rosto e durante uns dez minutos eu fiquei me
olhando no espelho esperando a ficha cair logo de
uma vez, então depois desses dez minutos eu estava
dentro do possível bem, porque de toda forma, acho
que não é uma coisa ruim.
Agora vou ter que contar para o Zeus, mas
primeiro quero confirmar mesmo o que realmente
houve para que ele não tivesse atenção ao meu dar
um remédio do dia seguinte decente.
—Bom, pelo o que me lembro eu pedi para
ele um remédio para evitar gravidez indesejada.
—Mas com essas palavras? — indago e me
encosto ao lado dele no lavatório. — Tipo, não
disse mais nada?
—Bem — Zeus chega a uma conclusão e
me fita. — Eu disse, “H poderia pedir a Viviana
algum remédio?” dai ele me perguntou qual tipo de
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remédio, então eu falei “Aqueles remédios para


evitar futuras dores de cabeça”, então ele me deu a
pílula.
Reviro os olhos sem conseguir acreditar por
um segundo que eu acabei engravidando por falta
de interpretação de texto, quantos mais erros na
vida não podem ser cometidos pelo simples fato de
dois homens não falarem a mesma língua?
—O que foi? — Zeus pergunta confuso.
—Ai Zeus! — exclamo entediada. —
Aério? Porque você não falou pílula do dia
seguinte?
—Bem, eu acho que ele entendeu o que eu
queria falar, ele não trouxe o remédio?
—Trouxe né?
Eu riria se não estivesse zangada, bem, não
exatamente zangada, mas confesso me chateia,
claro que eu pensei em bebês no último mês, mas
não tão rápido assim.
Bom, mas agora não tem jeito, não adianta
ficar chorando pelo remédio errado.
—Por quê? Ele falou alguma coisa para
você? A Viviana?
—Não, não ele, a Viviana.
—O que houve?
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Ele está intrigado, cruzo os braços.


—Acho melhor você se sentar Zeus.
—Por quê?
Ele franze a testa e começa a ficar
preocupado, não sei se rio ou se ainda consigo ficar
zangada com ele e com o H, porque a história disso
tudo está começando a ficar bem engraçada.
Ora, ele pediu um remédio para evitar
futuras dores de cabeça e o outro entendeu que era
remédio para dor de cabeça? Senhor!
—Do que está rindo? — Zeus pergunta
ainda sem entender. — Docinho...
—O seu irmão não pegou nenhuma pílula
do dia seguinte com a Viviana não Zeus, ele pegou
remédio para dor de cabeça. — revelo achando
graça.
—Sério? — Zeus começa a rir ainda meio
confuso. — Ela te disse isso?
—Nós duas concluímos — gargalho. — E
sabe do que mais? Eu estou grávida!
Zeus vai parando de rir, ele me fita
enquanto ainda rio a beça, ele olha para o rumo da
minha barriga e fica parado cheio de surpresa,
começo a me sentir desconfortável quando ele se
torna muito sério, então saio do banheiro tentando
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dizer para mim mesma que eu deveria ter mantido a


boca fechada.
—Amor...
—Eu também não queria Zeus! —
determino. — Eu nem sonhava com isso.
—Hei, eu não disse que não quero, calma,
respira!
Olho para ele, Zeus está se sentando na
cama e respirando fundo, todo tenso, usa uma calça
de pijama.
—Eu disse para se sentar. — confesso que
começo a ficar nervosa.
—Você nem me deu tempo amor! —
reclama. — Porra Isis, não dá uma notícia dessas
assim tá?
Ele toca o peito e começa a respirar fundo,
me aproximo preocupada, me sento ao seu lado na
cama, ficamos em silêncio, eu também não
esperava por isso.
Acho que se existe alguém mais leiga que
eu na face da terra ainda está por aparecer, eu
deveria ter feito algum tipo de coisa, me precavido
mais, só temos usado camisinha e tudo mais, só
uma vez que ele fez dentro e agora eu descubro que
estou grávida.
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—Tudo bem — Zeus diz baixinho e coloca


a mão em cima da minha. — Você fez algum teste?
—Fiz hoje com a Viviana, deu positivo —
respondo incerta. — Olha, tudo bem se não quiser o
bebê, se quiser seguir com a sua vida Zeus.
—Do que você está falando? — Zeus
pergunta e segura a minha face, eu o fito. — Porra
Isis, você está mesmo grávida?
—O exame de farmácia deu positivo, a
Viviana vai marcar com a médica dela.
Zeus entrelaça os dedos nos meus e me
puxa, ele me aperta com tanta força que vou
ficando sem ar.
—Amor... — chamo e ele solta um pouco
do aperto.
—Porra Isis, porra!
—Você vai ficar xingando a noite toda?
—É que não esperava amor, estou sem
saber o que dizer.
Sento-me em seu colo e o fito, Zeus está
com os olhos marejados por lágrimas, toco sua face
e lhe dou um sorriso.
—Seu burro! — protesto. — É sua culpa.
—Não me arrependo — retruca. — Foi o
melhor deslize que eu cometi na minha vida.
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Rio, olho para baixo e toco minha barriga,


me sinto esquisita.
—Isso explica porque você ganhou peso e
vive com dor nos seios, eu nem liguei as peças
amor.
—E você acha que eu me senti como
quando descobri através da sua cunhada que eu
estou grávida?
Zeus pousa a mão sob a minha e me beija
suavemente.
—Não tem como caber mais amor em você
docinho, por isso ele veio, porra, me sinto um
molenga.
—Deve ser a idade, meu coroa!
Acho que ambos nos assustamos com isso,
não esperávamos, mas o Zeus não está reagindo tão
negativamente, ele me cutuca e começa a me beijar,
caio na cama e ele me beija.
—Então a senhora será mamãe?
—E o senhor papai?
—E seu esposo!
—Ai já melhorou, dois pontos para o
senhor!
Nos beijamos, rimos, nos abraçamos.
Felizes, como sempre deve ser.
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Em breve seremos pais, espero que os pais


dele reajam bem, agora meus pais... Não sei, não
quero pensar nisso agora.

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Confirmamos que de fato eu estou grávida


depois do exame de sangue, o Zeus foi comigo a
consulta com a médica e iniciamos o pré-natal três
meses atrás, eu acho que a melhor parte depois do
susto foi contar para os pais do Zeus e para a Affie.
Nunca vi tanta gente reunida chorando, me
lembro que a Viviana organizou um jantar e nos
reunimos todos na casa dela e do H para dar a
notícia, o Zeus estava se segurando para falar, mas
quem deu a notícia fui eu, eu me senti tão amada e
importante, mas principalmente segura de saber que
ele ou ela chegará numa família que o ama, que o
quer.
Tem sido semanas de muito aprendizado e
de momentos bons seguidos de enjoos, num geral
não vomitei muito, mas meu olfato não me perdoa,
até o Lorenzo parou de usar aquele perfume com
cheiro de carniça a meu pedido, meu estômago fica
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todo embrulhado e tudo mais.


O Zeus está trabalhando na empresa e em
casa, ele reveza, eu e ele começamos a comprar o
enxoval do bebê há duas semanas atrás, hoje é
domingo e tiramos o dia para arrumar o cantinho
dele no chalé.
O engenheiro já veio e já começaram a
construir nossa casa a mais ou menos dois meses
atrás, o projeto está lindo e mal vejo a hora de
estarmos no nosso canto, mas vai demorar, então
talvez tenhamos que ficar aqui até ele ou ela ter
quase seis ou sete meses, queremos uma casa bem
estruturada e bem feita.
Temos ido na obra regularmente, o Zeus
quer uma casa de três andares, porque no último ele
quer construir um terraço com um escritório, não
me opus, teremos cinco quartos, duas salas,
cozinha, uma piscina, será quase no mesmo
formato da casa da Viviana, mas só que um pouco
maior, o Zeus gosta mais de espaço.
Eu também.
Vamos montar o berço ao lado de nossa
cama, a cômoda ficará ao lado do berço, vai caber,
ao menos temos mais espaço e privacidade aqui do
que no quarto do Zeus, a Kellen disse que virá me
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ajudar nos primeiros dias, estar grávida para mim


ainda é meio que uma novidade.
Eu optei por não contar para os meus pais
nem para o Douglas, porque eu sabia que se
dissesse para ele, meus pais saberiam no momento
seguinte, mas eu e ele nos falamos basicamente a
cada meia hora.
Eu meio que me sinto mal com isso, só que
ainda não estou pronta para saber lidar com eles, é
a primeira vez na vida que tomo minhas decisões
sozinha, que sigo meu caminho, não quero ser
super protegida nem viver com uma venda nos
olhos.
Ser dona de casa e grávida é meio que um
desafio estressante, eu estou cozinhando mais
porque sei que não posso ficar pedindo para a
Kellen comida todos os dias, não quero incomodar
ela, o Zeus me ajuda quando tem tempo, aos fins de
semana principalmente.
Minha barriga cresce cada dia mais, estou
no sétimo mês quase chegando ao oitavo, se
alguém me perguntasse como minha vida mudou
tanto num período de menos de um ano eu nunca
saberia responder, mas é algo do qual não me
arrependo.
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Tenho tido dias tão felizes aqui, uma


família e agora independência total, mesmo que por
enquanto quem esteja mantendo a casa seja o Zeus,
quero que assim que o nosso bebê nascer eu tenha a
oportunidade de arrumar um emprego, claro
quando ele estiver independente.
Enquanto isso, quero poder acompanhar ele
integralmente.
—Pronto.
Zeus conseguiu um feito, montar a tábua de
passar roupas, fico vendo ele empilhando as roupas
que eu lavei ontem à mão e as fraldas e ligando o
ferro, estamos na sala do chalé, a tv ligada, eu
decidi já deixar tudo pronto, a médica disse que o
meu parto será provavelmente normal, então nunca
se sabe.
Prefiro pecar peço excesso.
—Cuidado com as fraldinhas amor. — peço
enquanto começo a organizar os convites do chá de
bebê.
—Eu sou um profissional gatinha, pode
deixar.
Sorrio.
É muito gostoso sentir que o Zeus e eu
estamos nessa fase do nosso relacionamento, acho
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que vamos nos conhecendo aos poucos, nós


conversamos sobre tudo agora abertamente e ele
mudou muito comigo, ele é tão mais aberto, ele não
tem medo de me falar sobre seu passado.
Acho que agora sim entendemos mais sobre
sermos companheiros um do outro, ele cuida de
mim e eu cuido dele, ele é carinhoso comigo e eu
com ele, quando ele meio que fala coisas tristes a
respeito de sua vida eu o escuto, assim como ele me
escuta em todos os momentos que eu preciso.
Faremos o chá de bebê no próximo fim de
semana, a Kellen vai chamar alguns parentes que
moram perto, os Avós dele que viajaram para a
Grécia virão, eu mal vejo a hora de poder receber a
família do Zeus nesse momento das nossas vidas.
Nós não sabemos o sexo do bebê porque a
Affie disse que durante o chá de bebê é que
podemos fazer um chá de revelação do sexo, então
deixamos a critério dela para organizar essa parte, é
muito bom ter todos assim interessados na chegada
do nosso bebê.
—Quem te deu a ideia de fazer os convites
a mão? A Affie? — indaga ele enquanto passa a
primeira fralda.
—Achei impessoal, já comecei a montar
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uma lista então a Viviana comprou para mim e eu


estou escrevendo local e data, a Viviana quem vai
comprar as lembrancinhas.
—Tem que dar lembrancinhas?
—Claro amor, você não sabia? Ah e eu
estive pensando, vamos batizar ele ou ela?
—Ainda não pensei nisso, você me pegou!
—É que eu tenho uma inclinação cristã,
quero que a Viviana e o Hades sejam os padrinhos
se formos, acho que meu pai nunca aceitaria que eu
batizasse um filho meu, mas não ligo para isso.
—Você não é batizada?
—Não.
—Nem eu, mas, ao invés disso porque não
nomeamos eles de consideração até decidirmos?
—É uma ótima ideia.
—Você e a Viviana estão inseparáveis não é
mesmo?
—Eu nunca tive uma melhor amiga de
verdade, me sinto uma adolescente sabe? A Affie
também é super amiga, me ajuda com tudo quando
chega da faculdade, me sinto grata encontrei duas
irmãs e uma mãe na sua família.
—Podemos assinar os papéis semana que
vem?
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Eu o fito surpresa.
Zeus passa a roupinha com todo cuidado do
mundo, ele está só de cueca, seria muito erótico se
eu não estivesse acabado de ouvir ele me
perguntando se podemos assinar os papéis do
casamento semana que vem.
—Não?
—Bom, não sei, eu pensei que nos
casaríamos depois que o bebê nascesse.
—Amor já faz mais de três meses que
voltamos, temos que nos casar, eu já entreguei os
nossos documentos e pedi para marcarem.
—Está bem, por mim tudo bem.
—Na segunda?
—Depois de amanhã? Mas eu nem arrumei
uma roupa Zeus!
—Amor, pode ir com qualquer roupa, é só
uma formalidade.
Suspiro, ele é tão prático às vezes.
—Eu vou arrumar um vestido então, já
conversou com seus pais?
—Já, vamos jantar fora todos nós.
—Ah e você só me avisa um dia antes
basicamente?
—Eu convidei o Douglas também e os seus
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pais.
Respiro fundo, porque na verdade eu não
quero eles por perto, Zeus mexe no ferro e dá a
volta na mesa então se aproxima, deixo os convites
de lado, ele se senta ao meu lado no sofá.
—Não acha que está indo longe demais com
isso Isis?
—Acho que quero o meu tempo Zeus, nem
você nem ninguém pode ditar como devo me sentir
em relação a eles.
—É que nosso bebê vai nascer, eles serão
avós também tem direito.
—Amor meus pais nem são meus pais de
verdade, vai saber se eu sai mesmo do saco do meu
pai.
Ele ri, toco minha barriga e a olho, está
redonda e toda grandinha, engordei mais dois
quilos durante esse tempo e meus pés incham cada
dia mais, mas nem ligo.
—Nosso bebê merece todo amor do mundo
Z, ele merece ser amado incondicionalmente por
toda família, não sinto que meus pais possam
oferecer isso a ele.
—Você tem que permitir que eles mostrem
docinho.
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—Eles tiveram quase 30 anos para


demonstrar, não acha que é tarde?
—Acho que você tem que deixar isso de
lado e deixar as coisas acontecerem, eu posso até
pedir que não venham, mas evitar eles para sempre
não vai sarar a dor do abandono parental que eles
deixaram em você meu amor.
Fico em silêncio.
Zeus beija minha cabeça depois se ergue e
volta para trás da tábua.
—Só queria que eles não tivessem mentido
para mim.
—Ás coisas vão se resolver.
Acho muito difícil.

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—Como está se sentindo querida?


—Bem Kellen, obrigada.
Eu acho que ninguém nunca se preocupou
tanto comigo quanto hoje, e olha que eu me casei
semana passada.
Usando um vestido bege que a Kellen
arrumou para mim e sapatilhas, Affie tirou todas as
fotos e a Viviana fez até uma torta, acho que foi
apenas uma formalidade mesmo, foi importante,
mas acho que hoje realmente é um dia e tanto.
Hoje saberemos o sexo do bebê, hoje verei
meus pais depois de mais de quatro meses sem vê-
los, e receberemos a família do Zeus para o chá do
nosso bebê, então estou bem nervosa.
Coloquei um vestido cor de rosa comprido e
calcei sandálias de dedo, pedi a moça que veio
fazer minha maquiagem e meu cabelo que fizesse
um coque porque ando sentindo mais calor que o
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normal, decidi deixar as coisas acontecerem.


Agora oficialmente como senhora Kikinos.
Toco minha barriga, minha aliança de
casamento no dedo esquerdo ao lado do meu anel
de noivado, me sinto muito sortuda porque mesmo
que as coisas tenham acontecido bem rápido está
dando tudo certo.
—Pronto, agora podemos descer para o
jardim, todos te esperam.
—Obrigada Kellen, nem sei como
agradecer tudo o que está fazendo por nós.
—Se vocês estão felizes querida, eu
também estou.
—Amor! — escuto o Zeus chamar do
corredor. — Vem, o pessoal já chegou.
Acho que definitivamente o Zeus embarcou
nessa de “papai”, ele ficou um pouco mais grudado
em mim, se bem que assinamos os papéis no civil
há sete dias e temos tido alguns momentos legais na
cama, acho que nos empolgamos com o casamento.
Saio do quarto e encontro ele no corredor,
todo engravatado e com cara de responsável, ele me
olha de cima abaixo todo maravilhado, sei que
fiquei muito bonita no dia do nosso casamento, eu
também estava maquiada e com cabelo feito, mas
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hoje acho que ele não esperava que eu fosse ficar


tão arrumada.
—Você está maravilhosa meu docinho.
—Estou mesmo?
—Absolutamente.
Ele me beija de leve e toca a minha barriga,
a alegria do Zeus é ficar conversando com nosso
bebê à noite, ele conversa mais do que eu e o bebê
chuta mais para ele, ainda me acostumo com os
chutes que ele vem dando ultimamente.
—Acha que eu estou bem? — ele indaga
arrumando a gravata.
Tiro a gravata e enfio em seu bolso.
—Pronto, agora sim.
—Ótimo, vamos, o Douglas está ansioso.
Eu sei que ele já falou da minha gravidez
para o Douglas e para os meus pais há algum
tempo, que meus pais talvez não tenham se
aproximado porque eu não quero, pela primeira vez
na vida papai respeitou uma decisão minha então
isso é quase um milagre.
Saímos do chalé e vamos para o jardim de
mãos dadas, montaram mesas e uma tenda, tem até
um músico tocando violino, conferi a decoração
duas vezes e enquanto nos aproximamos das mesas
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me sinto satisfeita e grata a Viviana por toda ajuda


com tudo.
Tem um cesto onde os convidados podem
colocar fralda, claro que eu quis pedir roupinhas
também, quis fazer tudo eu mesma dando sugestões
nos convites, é um chá de fralda tradicional assim
como a Affie diz.
—Sei que se esforçou muito amor, então
parabéns, tudo ficou lindo, nosso bebê já terá as
melhores recordações antes mesmo de nascer. —
Zeus fala com carinho na voz.
—Eu devo tudo a Viviana, mesmo ela tendo
a Meagan ela me ajudou muito amor.
—O H também tem me dado uma força
tremenda na empresa, ele me ajuda com algumas
coisas que acumularam nas filiais que administro.
Devemos muito mais do que imaginamos ao
meu cunhado e a esposa dele.
—Da última vez que eu te vi, você não
estava com a barriga deste tamanho.
Meu sorriso é automático, Ergo os braços e
vou logo dar o meu abraço no Douglas, ele me
aperta com força e prendo a vontade de chorar
quando sinto o conforto de sempre, ele me olha de
cima abaixo segurando minhas mãos.
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—Minha menina, você cresceu!


—Isso é um elogio?
—Sim, você está tão adulta de barriga.
—Obrigada Douglas, senti sua falta.
—Eu sei que sentiu.
Nos abraçamos novamente e vejo o meu
marido cumprimentando meu pai com apertos de
mãos firmes, bem ao lado dele está minha mãe, ela
como sempre usando roupas de sua grife e ele terno
e gravata, me afasto do Douglas sem saber o que
falar.
—Oi querida — Gisele é a primeira a falar,
me olha de cima abaixo e seus olhos brilham. —
Você está linda.
—Obrigada — respondo. — Sejam bem
vindos ao chá de bebê do nosso filho ou filha.
Olho para o meu pai e seu semblante está
mais revigorado, preciso olhar duas vezes para
confirmar que ele usa aliança e mamãe usa uma
igual.
—Estamos felizes com o convite — Seth
fala. — Obrigado.
—De nada. — respondo novamente.
Não há muito o que falar não é mesmo?
—Trouxemos fraldas tamanho M — Gisele
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se aproxima. — Vamos ficar na cidade até que


tenha o bebê, queremos conhecê-lo.
—Que bom, a previsão é para daqui a
quatro semanas, já estamos organizando tudo —
digo. — Vocês estão juntos?
—Sim, eu e o seu pai nos casamos há dois
meses atrás, eu deixei Milão e fui morar com ele,
estamos fazendo muitos planos, a porta da nossa
casa está aberta para você querida.
—Fico feliz por vocês dois — admito
surpresa. — E pretendem ter outros filhos?
—Só temos você Isis, não posso mais ter
filhos — Seth responde e me dá um sorriso
contente. — Você vale por mil filhos.
—Eu que o diga — Douglas revira os olhos.
— Me deu tanto trabalho que eu nem consigo me
imaginar cuidando do bebê dela, mas por falar
nisso, vocês dois já pensaram em uma babá? Eu
estou totalmente disponível.
Começo a rir.
—Seria ótimo Douglas — Zeus responde.
— A Isis irá precisa de uma ajuda nos primeiros
meses.
—Eu aceito — Douglas sorri. — Sei que
esse bebê precisará de alguém para ensinar a ele
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sobre a vida.
—Ensinou muito bem. — concordo
achando graça.
—Tá na hora de sabermos o sexo do bebê
— Affie aparece do nada. — Vem, vocês dois tem
que abrir as duas caixas, a que tiver mais balão é a
que determina o sexo do bebê, eu coloquei balões
azuis para meninos e rosas para meninas.
—Tá — afirmo. — Eu já volto.
Eu e o Zeus seguimos a Affie até as duas
caixas que estão posicionadas no meio do jardim,
os convidados vem se aproximando e mantendo-se
perto, Affie indica qual caixa devo abrir e a caixa
que o Zeus deve abrir, sorrio toda feliz.
—Quando eu contar até três, mãe tá
filmando?—Affie pergunta.
—Simmm. — Berra Kellen apontando o
celular para nós dois.
—Que vença o melhor. — Zeus provoca.
—É menina!—determino.
—Se for menino, ano que vem você me dá
uma menina, se for menina ano que vem você me
dá um menino.
—Feito.
Rimos, ele me dá um beijo.
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—Em 3, 2, 1 e vaaaaaaaaaaaaaaaaiiiiiii!
Abro a caixa e Zeus também, os meus
balões são azuis e somente um sai voando para
cima, em compensação os balões cor de rosa que
saem da caixa do meu marido saem aos bocados,
solto um grito todo feliz, não confiava muito que
sentia que era menina, mas no fundo eu suspeitava,
Zeus me puxa para um abraço quente todo
contente.
—Pai de menina senhor Kikinos.
—E que Deus me ajude.
***
—Você está fazendo o que aqui sozinha?
Estou pensando e olhando a vista perfeita
dos fundos da casa dos meus sogros, me sentindo
afortunada e abençoada por tudo, por todos, só não
esperava que papai viesse atrás de mim, nem que
mamãe viesse junto.
Está sendo um dia muito bom com a
família, o chá de bebê, confirmar que de fato é uma
menina para mim está sendo mágico, se fosse
menino também, o Zeus está radiante e os pais dele
também, partimos o bolo com recheio cor de rosa a
alguns momentos então aproveitei para vir aqui e
pensar um pouco em tudo.
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—Só comendo um pedaço do bolo da


Sophie.
Escolhi esse nome porque acho que se
encaixa perfeitamente, ainda nem contei para o
Zeus, mas se conheço ele bem não vai se opor.
—Ah, já escolheu um nome? — Gisele
indaga com um sorriso. — Que bom.
—Sim.
Não tem muito o que falar com eles, estou
longe e isso me ajuda cada dia mais a pensar com
calma em tudo, não sei dizer se o que eles fizeram
não tem perdão mas tudo o que sei é que eu não
quero ter que pensar nisso agora.
Meus pais mentiram para mim sobre muitas
coisas durante toda a minha vida, me negaram amor
e foram totalmente ausentes, mentiram sobre minha
concepção e sobre também o divórcio e todo o
resto.
Não me sinto mimada por não querer que
eles não participem da minha vida, porque não me
sinto na obrigação de tolerar as mentiras e me
submeter a tudo o que eles fizeram e não fizeram
por mim, hoje estou mais consciente e mais calma,
ainda um pouco magoada, porém bem mais
preparada para lidar com tudo.
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—Você vai nos deixar te ver? Ver a


menina? —Seth questiona com um olhar cheio de
receio.
—Claro — respondo. — Eu e o Z vamos
morar aqui.
—Nós vamos comprar uma casa na cidade
— Gisele diz. — Queremos estar perto de você.
—Não entendo — digo um pouco confusa.
— Porque vocês querem isso agora? Tiveram toda
a vida para cuidar de mim, estarem próximos.
—Percebemos tarde, não muito tarde Isis,
eu e a sua mãe fomos muito egoístas quando se
tratou de você, sabemos os erros e queremos nos
redimir — Seth responde. — Eu principalmente,
não fui muito justo com você, eu sei que sou muito
difícil e opressor, mas só queria te proteger.
—Acha que eu fui a sua única chance de ser
pai e que por isso quer me manter por perto?
—Acho que você é o minha única chance
de ser feliz, porque apesar de ser um pai ausente eu
sempre chegava das minhas viagens louco para te
ver, você era a minha companhia e pode ter certeza
de que apesar de tudo eu sempre te amei muito.
—Não quero que a Sophie se sinta
abandonada na vida dela — confesso. — Quero que
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ela tenha tudo!


—E ela vai ter — mamãe garante. — Nós
seremos presentes Isis, claro, se você permitir.
—Eu prometo que eu vou pensar —
garanto. — Só... Só deixem as coisas acontecerem.
—Está combinado — ela se senta ao meu
lado direito no banco. — Posso tocar sua barriga?
—Pode, ela chuta bastante às vezes.
—Você também chutava muito. — ela
responde.
Seth se senta a minha esquerda e passa o
braço envolta de mim, ele me dá um beijo na
cabeça e sorrio olhando-o, seus olhos estão
cobertos por lágrimas, nunca o vi chorar antes em
toda a minha vida.
—Você está chorando Seth?
—É papai!
Reviro os olhos.
—Vai demorar...
—Eu espero.
Eu acho que não muito, mas ao menos um
bocado.

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—Você está super sexy com essa calcinha.


—Para de inventar.
Subo na cama, o Zeus ri e deixa o celular de
lado, eu uso uma das cuecas dele, são confortáveis,
para dormir é ótimo, estou exausta depois de hoje,
quando o último convidado saiu, já passava das seis
da tarde, só vim para o chalé e tomei um banho,
deitei e fiquei vendo tv, os pés inchados, um pouco
indisposta.
Só sinto sono em excesso na minha
gestação.
—Ouvi boatos de que você já escolheu o
nome da nossa filha.
—É, Sophie, com ph para ficar mais chique.
—É francês.
—É lindo.
—Porque não colocamos Isabela?
Penso por alguns momentos.
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—Não gostou de Sophie?


—É que seu nome é Isis, Isabela seria
parecido com o seu.
—Sabe, eu sou tão sem criatividade, nem
parei para pensar que nossa filha pode ter o nome
de uma deusa.
—Ah não... Não... Não e NÃO!
Gargalho me acomodando entre os
travesseiros, olho para minha barriga e a toco.
—Eu vou falar os nomes das deusas, a que
ela chutar primeiro é o nome que ela terá, Sophie
será seu segundo nome.
—Isis... — ele chama de um jeito
ameaçador.
—Demeter — digo mesmo assim tocando
minha barriga e ela nem se move. — Esse não.
Zeus emburra e fica sentado na cama me
encarando carrancudo, ignoro gostando da
brincadeira.
—Hera?— sugiro e nada. — Artêmis,
Afrodite, Héstia!
—Athena!—Zeus fala.
Ela dá um chute tão forte que dou um pulo,
depois ela se revira na minha barriga toda rápida,
consigo ver o pé dela todo formado no canto direito
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da minha barriga, arregalo os olhos.


—Pronto, agora a filha de Zeus se chama
Athena — determino e ele parece se esforçar para
não rir. — Seu pai irá amar a novidade.
—Athena Sophie, mas que nome!
—É o nome da sua filha, e quem falou
Athena foi você espertalhão, ainda tinha Maia, Iris.
—Era para ser uma piada.
O deboche na voz dele me faz rir de novo.
—Igual ao remédio para evitar dor de
cabeça?
—Ai já é golpe baixo!
Ele começa a me cutucar, rio inquieta na
cama, Zeus me enche de cócegas depois me cobre
de beijos, eu o abraço toda contente e feliz.
—Deixa Sophie para próxima, que fique só
Athena mesmo docinho.
—Mas a próxima não é um menino?
—E quem disse que eu quero só dois?
—Desse jeito teremos que esgotar toda a
caixa de remédios da Vih.
—Temos mesmo — ele diz cheio de
malícia. — Você sabe o que eu gosto não sabe?
Nos beijamos.
Eu sei, porque eu também adoro.
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As pessoas que eu conheço, todas me


disseram que eu me sentiria a pessoa mais realizada
do mundo quando fosse mãe, o único problema foi
que a Athena demorou mais de 28 horas para vir ao
mundo.
Num primeiro momento eu estava
entusiasmada e quando demos entrada no hospital
eu já estava começando a dilatar, acordei no meio
da noite achando que tinha feito xixi na cama, o
Zeus não entrou em pânico, mas ele foi esquecendo
de pegar as coisas e quando entramos no carro, me
dei conta que faltava minha bolsa, a bolsa da
Athena e minhas chinelas estavam diferentes, ele
usando short de dormir.
Ele parecia bem, eu estava rindo ainda sem
sentir muita dor, ligamos para a Kellen e ela e o
Lorenzo apareceram para nos salvar, trouxeram
uma calça para o Zeus e uma camisa, as coisas da
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Athena e as minhas coisas, o Zeus ficou com medo


de me deixar sozinha no carro.
Demos entrada no hospital e meus pais
começaram a mandar mensagens, fui para um
quarto e uma enfermeira me fez vários exames, me
sentia ótima apesar de começar a sentir uma dor
mais incomoda do que dor nas costas, parecia uma
cólica ou coisa assim.
Respondi as mensagens dos meus pais, não
os via desde o chá de bebê, mas conversamos por
telefone e via chat, o Zeus saiu do quarto duas
vezes para atender ligações dos pais dele, do
Douglas, a enfermeira colocou um cinto na minha
barriga para acompanhar os batimentos cardíacos
da Athena eu estava bem.
A minha médica chegou quase duas horas
depois e me examinou, é a mesma ginecologista da
Viviana, doutora Cassie, ela disse que iríamos
esperar no hospital, mas que não me mandaria para
casa, que minha dilatação estava vagarosa, mas que
eu estava dilatando, irÍamos tentar o parto normal
assim como estava programado.
Comecei a ficar impaciente depois que já
estava há seis horas no quarto, a dor piorava e o
Zeus me ajudou a andar, a tentar manter a calma.
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Na décima hora de espera eu estava andando pelos


corredores da maternidade procurando acalmar a
dor que sentia, só piorava.
Não podia comer nada, nem beber água eu
bebi nas dez horas que se seguiram, não consegui
dormir, o Zeus ficava tentando me acompanhar e
aquilo me deixou impaciente, por fim, depois voltei
para a cama e a dilatação começou a ficar mais
rápida, a enfermeira checou e a doutora Cassie
voltou e disse que iriam me dar remédios para
acelerar o processo.
Eu deveria ter aceitado, mas eu não quis.
Porque eu não quis?
Eu tive medo, ela respeitou e falou que
esperariam mais no máximo oito horas, ela fez um
ultrassom e a Athena já estava toda encaixadinha,
era só questão de tempo para vir.
E que tempo!
Continuei andando pelos corredores do
hospital, o Zeus me acalentando e me fazendo
massagem nas costas, fingi que não vi que as
enfermeiras ficavam olhando para ele, parecia tão
tenso e preocupado comigo que não notava nada.
Quando percebi que Athena estava vindo,
voltamos depressa para o quarto, me deitei na cama
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e o Zeus chamou por uma enfermeira, a dor se


tornou intensa e meu corpo todo doeu, parecia que
alguém estava destruindo cada pedaço do meu
útero.
A doutora Cassie chegou abrindo as minhas
pernas e me mandando fazer força, me vi cercada
por mais algumas enfermeiras que andavam rápido
pelo quarto, Zeus ficou ao meu lado e me acomodei
na cama, fiz força então ela nasceu.
Ela nasceu caladinha e toda comprida,
quando a doutora me entregou ela, eu estava
chorando muito, o Zeus também, quando eu a olhei
eu sabia que amaria ela para sempre, que cuidaria
dela e que ela seria a melhor coisa que aconteceu
na minha vida até ali.
Eu era mãe, o Zeus era pai e tínhamos nosso
motivo de ser felizes ali.
Ele cortou o cordão umbilical todo choroso,
depois a enfermeira a levou para que fosse limpa, o
Zeus ficou ao meu lado durante todo o momento
em que a médica tirava a placenta, conversando
comigo, ele ainda chorava bastante, eu só estava
cansada.
Não pensei que seria uma dor tremenda.
Mas compensou cada segundo.
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Ele me ajudou a tomar banho e a me vestir a


alguns minutos, ele é o meu companheiro, alguém
que sei que posso contar em todos os momentos e
aqui estou eu deitada super ansiosa esperando que
tragam ela para que eu a veja mais uma vez.
—Isis — escuto o Zeus chamar.
—Sim?
—Obrigado — ele fala me fitando. — Não
tive a chance de agradecer.
—Pelo o que?
—Por ter me dado à oportunidade incrível
de ser minha esposa, a mãe dos meus filhos — ele
sorri e segura a minha mão. — Por me aceitar do
jeito que eu sou, mesmo com todos os problemas e
o meu passado.
—Garotas mimadas também fazem homens
bissexuais felizes sabia?
—Sabia.
Ele sabe que me refiro às dezenas de
péssimas primeiras impressões que ficamos um do
outro quando nos conhecemos.
—Amo cada pedacinho de você senhora
Kikinos e nunca, jamais trocaria o que temos por
nada.
Zeus se inclina e me beija, toco sua face,
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então escuto o som da porta se abrindo e segundos


depois a enfermeira coloca diante de mim, um
pacotinho pequeno de bochechas grandes e cabelos
escuros.
Começo a chorar, o pai dela então, chora
muito, eu a pego para mim e a sensação de segurá-
la me faz sentir um calor forte dentro do corpo, do
coração, Athena me olha e sinto essa conexão
incrível que temos uma com a outra.
Ela será amada.
—Olá — digo e toco o contorno de sua
face, olho para o pai dela. — É uma cópia do seu
pai Zeus, pequena Athena.
—Ela é cabeluda como o papai — Zeus diz
entre lágrimas e ela olha para ele — Não é minha
mini docinha?
Athena pisca, ela reconhece as nossas
vozes, a do pai principalmente, sei que sim, eu
beijo sua cabecinha e a enfermeira começa a
explicar que tenho que amamentar ela.
Ela demora um pouco, mas pega o seio e
mama atenta a tudo, quieta, quentinha, a coisa mais
linda que eu já vi em toda a minha existência. Zeus
segura sua mão minúscula com o indicador e beija,
a enfermeira sai e ele beija o meio dos meus seios,
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depois o meu pescoço e meus lábios.


—Eu te amo muito menininha mimada.
—Você não sobreviveria um dia da sua vida
sem comer o meu arroz queimado, admita.
—Não mesmo.
Rimos.
Só deixei o arroz queimar uma vez, mas ele
sabe do que estou falando, ele sabe que eu o amo e
que sempre foi e sempre será ele.
Meu homem, meu marido, o pai da minha
filha.
—Zeus Kikinos.

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—Athena, não!
Athena me olha, me olha, depois olha para
o pai e vai engatinhando até ele feito um pequeno
foguete. Zeus a pega no colo e a ergue para o alto
todo risonho, ele acoita as traquinagens dela, às
vezes eu não consigo entender como um bebê de
oito meses consegue pular um cercadinho e quebrar
o controle da televisão sem que ninguém perceba.
Agora mesmo ela estava tentando subir a
escada, se eu não tivesse chamado a atenção dela,
ela com certeza teria subido mais, o Zeus acabou de
chegar da empresa, ele está indo duas vezes na
semana para poder me ajudar com ela.
O Douglas também me ajuda, ele está
conosco desde que ela veio para casa, mas hoje é
sexta e ele já foi embora para a casa dos meus pais,
meus pais compraram uma casa aqui por perto e o
Douglas mora com eles, ao menos até minha casa
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ficar pronta, já está na fase de acabamento, mal


vejo a hora de ir para o meu cantinho.
Mas o chalé é... Magnifico.
—A mamãe não te deixa fazer traquinagens
querida? — Zeus pergunta para ela e Athena sorri
toda levada.
—Se eu soubesse que você tinha sido um
peste na infância eu teria pensado bem.
—Não teria não.
Ele tem razão, nós nunca pensamos quando
estamos transando.
Rio e ganho um beijo, um beijo quente e
gostoso, me arrepio toda.
—Papai e mamãe vão ficar com ela para
nós irmos jantar amanhã?
—Ai amor, estou tão cansada, não poderia
ser semana que vem?
—Estamos adiando esse jantar a semanas
querida, temos que sair um pouco.
—É que eu ando muito cansada, cuidar da
casa e da Athena às vezes me esgota, o Douglas
nem tem moral com ela, ela não obedece ele.
—Amor, você está falando como se ela já
fosse um adolescente.
—Zeus, ela entende tudo o que a gente fala
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tá? Você que pensa que ela é bobinha.


Athena ergue as sobrancelhas e olha para o
pai, depois ri, com aquela cara de sapeca que só ela
faz, engordou bastante e agora parece uma bolinha,
seus cabelos cresceram e são cumpridos, os olhos
castanhos como os do pai, a boca como a dele, o
nariz, ela é uma cópia mais que fiel dos Kikinos,
Meagan também se parece muito com os avós.
A Viviana e eu temos ficado mais juntas por
esses tempos, mas ela e o H decidiram adotar duas
crianças, foi um processo lindo e muito feliz para a
nossa família, conheci seus pais há alguns meses,
são pessoas legais e tal, mas eu e ela somos
inseparáveis, desde que ela adotou as crianças
temos passado mais momentos juntas, caminhamos
no fim da tarde, também o Douglas costuma ir
embora às três da tarde, o Z fica mais no escritório
do pai dele trabalhando, então somos eu e Athena.
—Está bem, mas da semana que vem não
passa — garante ele. —Deixa que eu dou banho
nela.
—Ai amor, obrigada!—falo aliviada.
—Ela anda pegando muito nos peitos do
Douglas?
Fico calada.
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A menina dá trabalho, ela fica apertando os


peitos do Douglas, eu acho que é mal de família,
não sei, mesmo que de camisa, ele não sabe como
oprimir aquelas tetas.
—E ela saiu a mim não é mesmo?
—Olha, para começar eu não tenho culpa da
sua filha ser uma traquina Kikinos!
—Kiki! — repete Athena risonha.
Acabo rindo, Zeus também, ele me puxa
pela cintura e me beija novamente.
—Você é uma excelente mãe amor, mas
você anda muito estressada.
—Como se cuidar de uma casa e de um
bebê fosse fácil, você mal fica conosco.
—Amor eu saio as 09:00 e chego as 16:00.
—Sentimos sua falta.
Athena abraça o pai e coloca a chupeta cor
de rosa na boca, faço bico, ele suspira.
—Você sabe o que eu mais amo em você?
—Não senhor.
—É que você adora que eu te dê carinho e
eu adoro te dar carinho.
—Ai, vem cá, você merece mais uns
beijinhos por isso.
Dou-lhe uns beijinhos e ele fica rindo,
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sussurrando sacanagem, o Zeus e eu não temos


muita frescura na cama, se tem uma coisa que eu
entendi durante esse poucos anos ao lado dele é que
ele adora uma sacanagem na cama, aprendi a
gostar, a ver de uma forma diferente as coisas que
fazemos juntos, perdi a vergonha para uma porção
de coisas.
—Valeu apena Zeus?
—O que?
—Deixar as casas de swing por uma vida
monogâmica e simples com uma Isis e uma
Athena?
—Cada segundo. — ele diz com certeza.
Eu também acho que valeu muito apena ter
embarcado naquela viagem com ele, a minha vida
mudou, eu mudei, descobri muitas coisas sobre
mim mesma e sobre meus pais, acho que se eu não
tivesse ido atrás do meu pai naquela noite eu nunca
saberia como era realmente a vida dele, mas não
acabaria beijando o estranho com quem me casei.
A nossa vida conjugal não é perfeita, nós
discutimos às vezes e acabamos ficando horas
emburrados, nos afastamos e depois conversamos
novamente, eu jamais imaginaria que entenderia o
Zeus como eu entendo hoje, nunca pensei que ele
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me falaria coisas sobre sua vida e eu o ouviria,


entenderia ele.
Hoje mais do que nunca sei que ele é
bissexual, que ele já teve uma outra vida antes de
mim, mas que agora somos apenas eu e ele, a nossa
filha e nossa família.
Estou feliz também que as coisas com meus
pais estejam se resolvendo, eles vem aqui uma vez
a cada quinze dias ver a Athena, às vezes saem com
meus sogros, a Affie continua na faculdade, ela se
forma esse ano está super empolgada, o H e a Vih
são como meus irmãos, seus filhos meus sobrinhos.
Não ganhei só um marido, ganhei uma
família verdadeira.
—Podemos falar sobre a possibilidade de
trocarmos os anticoncepcionais por remédios para
evitar dores de cabeça?—Zeus pergunta de um jeito
muito romântico.
—Ah não... Nem vem...
Enquanto eu começo a me afastar ele me
puxa e coloca um beijo na minha cabeça, mas
acabo rindo, vamos juntos com a Athena para o
banheiro.
Nada mais é como antes e nunca será e eu
sou muito feliz com isso.
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—Eu prometo que vou pensar com muito


carinho — digo.
—No próximo, eu te deixo escolher um
nome de deus.
—Se chamará Hércules.
Zeus gargalha.
Que bom que nada é como no começo.
Que bom que nos amamos.
Que bom que eu sou feliz.

Fim.

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