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Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Centro de Educação e Humanidades


Faculdade de Educação - Licenciatura

CURRÍCULO

Reflexões sobre o capítulo 8, Emancipação e Resistência, pertencente ao livro


Teorias de Currículo, de Elizabeth Macedo e Alice Casimiro Lopes

Professor: William Ribeiro

Evelin Araújo Lima

Rio de Janeiro

2016
Introdução

Este trabalho tem como objetivo trazer algumas reflexões a respeito do tema
apresentado no capítulo 8, Emancipação e Resistência, do livro Teorias de Currículo, de
Elizabeth Macedo e Alice Casimiro Lopes. O texto demonstra como eram as teorias de
reprodução e como essas não dava conta do cotidiano escolar , o foco são as a teorias da
resistência que irão gerar as temáticas de emancipação, que ao contrário das anteriores teorias
da reprodução é elevar a escola a um lugar de pensamento crítico na qual os indivíduos
consigam ter voz e expandir todas as suas potencialidades.

A escola no período do seculo XX, era intensamente marcada pelo desenvolvimento


industrial e atendia ao interesse de seus donos , uma pequena minoria,de certa forma a escola
fazia parte desse sistema produtivo, pois isso a escola estava envolta em uma suposta
“neutralidade”, como sua função era introjetar valores que alicerçavam o sistema produtivo e
reproduzir sua hierarquia social e por consequência as desigualdades sociais, sendo assim uma
pedagogia funcionalista. Como nos fala Gomes (2005), a leitura funcionalista tem vazão a
uma “pedagogia do consenso”. Porém, esse “consenso”, sem o qual a sociedade não poderia
sobreviver, foi erigido a duras penas. Saviani (1995) mostra-nos que os trabalhos
funcionalistas originaram uma “pedagogia não-crítica”.

Essa pedagogia não critica ou pedagogia do consenso, de um viés funcionalista é de


reprodução social e muito criticada por Paulo Freire (2011) “A ideologia fatalista,
imobilizante, que anima o discurso neoliberal anda solta no mundo. Com ares de pós-
modernidade, insiste em convencer-nos de que nada podemos contra a realidade social que, de
histórica e cultural, passa a ser ou a virar “quase natural”. Frases como “a realidade é assim
mesmo, que podemos fazer?”ou “o desemprego no mundo é uma fatalidade do fim do século”
expressam bem o fatalismo desta ideologia e sua indiscutível vontade imobilizadora”.
(FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo,
Ed. Paz e Terra, 2011, pg. 21)

Teorias da reprodução e correspondência são vistas como desmobilizadoras e


produtoras de desesperança. Os autores assumem um tom de dominação completa e
inexorável. Não deixa espaço para o sujeito questionar e resistir à lógica do capital e a seus
domínios sobre as práticas

Criticas a teoria da reprodução

Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron, sociólogos franceses , escreveram a obra


intitulada Os herdeiros (1964), que abriu caminho para o que mais tarde viria a ser
denominado de paradigma do conflito (Gomes, 2005),o referido paradigma constituiu uma
nova postura analítica frente à escola capitalista, no qual os aspectos conflitivos, ignorados
pelos funcionalistas, passam a ser estudados e até certo ponto compreendidos em seu
funcionamento. Suas análises se centram nos princípios tradicionais que regem o
currículo,nos modos de transmissão do conteúdo e na avaliação escolar

Na obra, também dos dois autores denominada:A Reprodução: proposta para o sistema
de ensino, os autores ressaltam á diferença da transmissão de valores culturais entre as classes
sociais. A educação é o instrumento fundamental da reprodução e da estrutura das relações de
poder e das relações simbólicas sobre as classes, dando como chave ao êxito na escola,ao
capital cultural herdado da família .

Os que não adquirem essa formação são excluídos já que o sistema lhes impõe uma
cultura dominante, o que implica em renunciar a sua própria cultura, submeter-se a um
conjunto de regras, valores e crenças que muitas vezes não são concordantes com seu estilo de
vida, mesmo assim não são enquadrados completamente se tornando fracassados.

As noções de habitus e cultura, para Bourdieu , eram muito fechadas, sem


possibilidade de mudanças sociais, “ a descrição de cultura elimina o conflito e homogeniza
cada uma das classes sociais, ignorando diferenças de gênero e raça … desconsidera
comportamentos e ideologias as quais o capital é diferente (Teorias de currículo, pag 168)

A escola, portanto, tem a missão de inculcar, transmitir e conservar a cultura


dominante, ao impor um paradigma cultural e reproduzir a estrutura social e suas relações de
classe e esconder sua falta de liberdade para enquadrar suas ideologias de acordo com o
regime imperante.

Para cumprir sua missão, ela dá ao professor a instância mais direta de transmissão
cultural, a responsabilidade de formador e autoridade pedagógica. Este exerce sua função
mediante suas ações pedagógicas, mas todas elas dominadas e submetidas às classes
dominantes, onde se ensina cultura arbitrariamente, que são instrumentos de dominação e de
reprodução, assim a cultura se reproduz e toda ação pedagógica se converte em violência
simbólica.

Teoria da correspondência (Bowles e Gintis e Althusser)

Associação entre as instituições de produção e as escolares. Transformar os alunos de


acordo com um modelo imposto. Uma série de rasgos de personalidades apropriados para
poder trabalhar numa sociedade industrializada. Os alunos se preocupam sobre como
“sobreviver” e ser aceito. Ambiente que permita a vigilância das autoridades. Na monotonia
cotidiana os alunos aprendem a manterem a ordem, a disputar a atenção das autoridades,
controlar seus impulsos, aceitar sanções, submeter-se a programação das atividades de acordo
com as demandas do relógio, ser avaliado constantemente, subordinar-se aos que detém o
poder, serem pacientes, tolerar frustrações etc. Necessidade de métodos mais altruístas ao
invés de preparar alunos para indústria.

Replicam o modelo atual de sociedade. A análise política de conflito é passada por


alto e não existem as possibilidades de transformação que tanto estudantes quanto professores
possuem.

Althusser tem uma visão restrita e unilateral de poder: tanto poder é conferido à escola
no sentido de contribuir para reproduzir as formações culturais dominantes e nenhum poder
lhe é conferido para desafiar essas mesmas formações culturais.

Teorias da resistência

Voltadas a entender a autonomia relativa da escola na produção de significados e a


combinar discussões de classe e cultura. A escola como lócus de luta por hegemonia e não um
reflexo das relações hegemônicas, sem uma derrota pré-estabelecida sobre essas relações. Por
intermédio do currículo e da organização do trabalho pedagógico a escola difunde normas,
práticas e valores associados à divisão social do trabalho, colocando como marginais os
sujeitos das classes socialmente desfavorecidas. Ao mesmo tempo a escola é um espaço de
contestação onde jovens marginalizados manifestam sua resistência a cultura dominante.

Henry Giroux pensava num currículo que deve dar liberdade individual na formação
de sujeitos críticos e defende a ideia que currículo deve combater os sentidos hegemônicos na
escola, ou seja, questionando a reprodução cultural dominante. Dessa forma, para ele os
processos pedagógicos permitem que as pessoas se tornem sujeitos conscientes a ponto de ser
emancipados ou libertados do controle das instituições e das estruturas sociais que exercem o
poder e o controle.

Influenciado pela escola de Frankfurt, Henry Giroux combaterá a concepção da


reprodução cultural escolar fazendo uma análise de alguns autores da concepção crítica de
currículo e que abordaram sobre a teoria da reprodução. Esses autores são Bourdieu, Berstein,
Althusser, Bawles e Gintis, que de uma forma geral, nenhum desses teóricos disseram como
combater a teoria da reprodução, dando a entender que os alunos são sujeitos passivos e que a
escola é um lugar sem conflito e sem luta.

Giroux, defenderá que o currículo da emancipação, deve levar em consideração as


críticas, as experiências dos alunos e também eles devem ter um pensamento crítico. É
importante dizer que ele receberá a influência de Paulo Freire ,de Michael Apple e de Foucalt.

Em outros trabalhos, Giroux se afasta do movimento de resistência e começa a ter um


foco na emancipação. Ele destacará que o professor deve ser intelectual e político, ou seja,
abordando atividades pedagógicas e políticas para emancipar os alunos e fazendo da educação
um espaço contra injustiça social, exclusão social. Dessa forma, os professores devem instigar
os alunos a participar, questionar e propondo questões para que reflitam.

Para Giroux, os alunos também devem ter um espaço para serem ouvidos e suas ideias
consideradas, como também sua vivencia fora da escola. Com isso, os professores devem
ajudar na formação da consciência do aluno, para que os alunos não só recebam as
informações, mas para que eles reflitam, questionem e até tenham senso crítico para se
posicionar contra uma informação, caso necessário.

A resistência está significativamente conectada à emancipação, em trabalhos de Giroux


e McLaren, apresentam que os alunos podem ter contado com a consciência de sua classe e
por isso terem resistência a homogenização realizada pela escola, mas em trabalhos
posteriores, eles apresentam a resistência de modo deferente, como um contra -hegemonia.

Peter McLaren e Paul Willis

A análise dos seguintes autores vem na intenção de deslocar a escola como resultado
de lutas sociais, e entende-la como lócus necessário dessas lutas, um cidadão autônomo é o
objetivo desses estudiosos que com críticas a educação tradicional, propõe uma escola
também com capacidade de debate sobre sua autonomia.

O canadense Peter McLaren em sua obra “A vida nas escolas” analisa as práticas de
desigualdade que a escola reproduz, introduzindo uma proposta crítica de pedagogia em
resposta a esse sistema, sua proposta visa:

“Ilustrar as contradições incorporadas no próprio processo de ensino e mapear a


tensão entre as perspectivas do professor iniciante, e o teórico social, que
presumidamente tem uma melhor compreensão teórica sobre o que deve ser feito, e
tenta estimular o primeiro a apropriar a teoria crítica dentro de sua própria prática”
(McLaren, 1997, p. 189).

O autor aborda os rituais presentes na instituição escolar em seus diversos âmbitos,


entendendo esses rituais como formas culturais, ele se aprofunda em alguns dogmas e busca a
compreensão de ações como a resistência, e o que há por detrás dela em especial nos alunos
das classes mais baixas.

“ A risada de resistência, por exemplo, se distingue de outras possíveis


risadas. É aquela que com sua persistência e capacidade de ridicularizar,
particularmente o professor, redefine a estrutura de poder da sala de aula,
colocando a vítima do escárnio em posição de desvantagem. ”
(McLaren,1997, p.183)

Na presente obra o autor está inserido em uma escola católica, e na junção das práticas
escolares com a religião, entende uma cultura do sofrimento, a resistência desses alunos vem
em um paradoxo, a aceitação das punições de forma ativa, aceitar as humilhações significa
agir como um homem dentro de sua realidade, atitude valorizada não importando o sexo do
jovem.
Paul Willis apresenta uma teoria da resistência, em sua obra Aprendendo a trabalhar
escola, resistência e reprodução social, um grupo de jovens que não se conformam e rejeitam
os valores da escola e suas propostas de trabalho intelectual, seguem para os trabalhos
manuais valorizando a renda que esse gera, abrindo mão assim de melhores oportunidades
que seguem sendo destinadas as classes mais altas.

Willis questiona a importância da construção de uma identidade de classe, entendendo


que a escola muito mais exclui que traz para si, quando em seu currículo ignora a origem e
realidades dos alunos. O contexto apresentado é o de uma cidade majoritariamente operária,
são doze rapazes brancos de classe operária, de uma escola secundarista não acadêmica, que
apresentam comportamentos de oposição na escola. Sua investigação é a transição desses
jovens até o mundo do trabalho, e de mais cinco estudos comparativos com alunos da mesma
e de outras escolas, com características diversas. O objetivo da obra é:

“Entender a complexidade do processo que faz com que jovens de classe


operária, aceitem acabar em empregos de sua classe e em contrapartida não
se rebelarem pelos empregos de classe média serem dirigidos aos jovens
desta classe.” (WILLIS, 1991, p.170)

A fábrica e a escola são comparadas, e o imediatismo não necessário para a classe média,
podendo se qualificar para o futuro é posto em questão. Por fim a escola é posta à prova, e por
mais que apresente seus inúmeros problemas é ainda o lugar em que as culturas se encontram,
em que a cultura oposicionista de classe, realidades daqueles garotos é expressada. É preciso
questionar

"sob que forma, para quem, em qual direção e através de que círculos de
involuntariedade, com que consequências produtivas para o sistema social em
geral, avanços particulares são efetuados"(WILLIS, 1991, p.218).

No campo de estudos no Brasil, a temática da emancipação é trabalhada por Inês


Barbosa de Oliveira, ressaltando as alternativas curriculares emancipatórias a partir dos
estudos do cotidiano escolar.

“O objetivo maior é o de pensar os modos como as práticas curriculares cotidianas criam


formas de emancipação social frente à força reguladora das normas e, por outro lado, para não
cair no erro da dicotomização que denunciamos, de que modo as práticas curriculares reais
contribuem para a consolidação da regulação social via escola, imprimindo um ritmo
“conservador” a propostas que visam à emancipação produzidas, muitas vezes, pelas
autoridades educacionais”(Currículos praticados: regulação e emancipação no cotidiano escolar
OLIVEIRA, Inês Barbosa de)

A autora Inês Barbosa, tece criticas as perspectivas acadêmicas, pois defender a


emancipação é defender a realização de experiencias voltadas a um conhecimento
emancipatório , pois essas instituem fazeres/saberes curriculares contra-hegemônicos e que
nesse conhecimento deve ser superado o colonialismo em busca de uma solidariedade. Esse
projeto a ser defendido esta em construção e se faz necessário para a autora é necessidade de
potencializar as utopias emancipatórias, em vista de inventar e produzir novas., pois a escola
é construída no hoje no cotidiano, em sua perspectiva moderna de pluralidade e
imprevisibilidade.

Apesar dos avanços teóricos,não temos como pensar em polos dicotômicos, regulação e
emancipação, reprodução e resistência, opressão e emancipação, conhecimento cientifico e
conhecimento escolar não podem ser separados, em vista que em nossa sociedade
contemporânea pós-colonial, todos os sujeitos sociais em suas relações, são agentes do
colonialismo que tem variados graus processos opressivos, em nosso mundo globalizado,
nenhuma sociedade por mais isolada é imune a dominação cultural.

Para a projeto emancipatório, o sujeito se conscientizar e ter condutas emancipatórias,


ele deve passar pelo projeto de emancipação, como os indivíduos são diferentes e identidades
tão fluidas no existem então variados projetos de emancipatório e todo tem viés politico. Vejo
nisso uma grande barreira pois seriam projetos muito específicos o qual a escola da nossa
realidade , com uma sala de 35 a 40 alunos não conseguiria abarcar. Mesmo se tivesse um
projeto emancipatório universal, ele não daria conta as diversidades.

As ideias de Inês de encontrar no cotidiano praticas para a emancipação é um grande


avanço, mas não é funcional, pois não temos como fazer um currículo emancipatório que
possa ser alcançado em sua totalidade ,isso é perseguir uma utopia como a autora aponta
evidencia isso. Mesmo a própria noção que a escolha reproduz e produz desigualdades social,
nós leva a indagar se podemos realizar algo de diferente, considero que possamos através de
avanços pedagógicos e reformas estruturais, conseguir emancipar mais alunos.
Paulo Freire

“Você, eu, um sem-número de educadores sabemos todos que a educação não é a chave das
transformações do mundo, mas sabemos também que as mudanças do mundo são um quefazer
educativo em si mesmas. Sabemos que a educação não pode tudo, mas pode alguma coisa.
Sua força reside exatamente na sua fraqueza. Cabe a nós pôr sua força a serviço de nossos
sonhos” . (2002, p. 126)

Referências bibliográficas

LOPES, Alice Casimiro; MACEDO, Elizabeth. Teorias de Currículo. São Paulo: Cortez, 2011

MCLAREN, P. A vida nas escolas: uma introdução à pedagogia crítica nos fundamentos da educação.
Artes médicas, Porto Alegre, 1997.

WILLIS, Paul. Aprendendo a ser trabalhador: escola, resistência e reprodução. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1991

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1999.


__________. Pedagogia do Oprimido. 32. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.
Referência audiovisual
Teoria da Correspondência – disponível em https://www.youtube.com/watch?v=dzHioV3432k

ANEXO
Trechos do texto REPRODUÇÃO SOCIAL E RESISTÊNCIA POLÍTICA NA ESCOLA
CAPITALISTA: UM RETORNO ÀS TEORIAS REPRODUTIVISTAS, de Sidnei Ferreira de
Vares. Disponível em https://online.unisc.br/seer/index.php/reflex/article/viewFile/1642/2250
CURRÍCULOS PRATICADOS: REGULAÇÃO E EMANCIPAÇÃO NO COTIDIANO
ESCOLAR OLIVEIRA, INÊS BARBOSA DE - UERJ
http://26reuniao.anped.org.br/trabalhos/inesbarbosadeoliveira.pdf

https://online.unisc.br/seer/index.php/reflex/article/viewFile/1642/2250

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