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Universidade Estadual do Norte Fluminense – Darcy Ribeiro

Disciplina: Conteúdo e Metodologia das Ciências Naturais


Educadores: Maria Eugênia, Flávia Pirovane e Monique Bessa
. Educanda: Sibele Souza Rodrigues.

CHASSOT, A. Alfabetização científica: uma possibilidade para a inclusão social. Revista


Brasileira de Educação, ANPEd, n. 26, 2003, p. 89-100.

Chassot em seu texto intitulado “Alfabetização científica: uma possibilidade para


a inclusão social” aborda a questão da alfabetização científica, a partir da perspectiva da
instituição escolar como processo de ensino formal impactado pelas novas realidades
trazidas pela globalização. Pontuando que as transformações desencadeadas por esse
processo de globalização promoveram um deslocamento da instituição escolar e do
educador como centro de referência do conhecimento comunitário. Agora a instituição
tem que lidar com a grande mudança no modo de acesso da informação proporcionado
pela tecnologia, que faz a informação ter sua direção invertida, passando, então, a assumir
o sentido: comunidade → escola (CHASSOT, 2003).

Nesse sentido, podemos facilmente perceber que, nos dias que correm, um grande
número de educandos acessa e é atingido por um grande fluxo de informações. Contudo,
em descompasso, Chassot destaca, que essas informações, muitas vezes, estão fora do
alcance de muitos docentes, que foram proletarizados a ponto de serem excluídos dos
mecanismos essenciais para atuar na sociedade da informação. Mecanismos esses, que
atuam como subsídio no processo de promoção de transformações. Passando, portanto, a
impressão que esses profissionais, antes valorizados ao seguir uma lógica conteudista,
estão sendo engolidos pela realidade que se desdobra. Assim, é observado que houve
essenciais alterações na tendência de educação bancária1, evidenciada por Freire, como
bem referenciou Chassot. Diante disso, este autor defende que a transposição do saber
acadêmico em saber escolar ocorra, com vista a observar principalmente as
intencionalidades sociais da educação, levando-se em conta etapas de reconstrução de
saberes de outros contextos sociais Há nessa dimensão a intenção de se investigar um
ensino de ciências que observe perspectivas históricas, ambientais, posturas éticas e

1
Este modelo educacional desenvolve-se com base na – promoção de transmissão de
conhecimento do professor, sujeito ativo que deposita o saber - depositante, ao aluno, sujeito passivo que
apenas recebe o saber - depositário.
políticas, haja vista, saberes populares e aspectos das etnociências –, proposta que traz
vantagens para uma alfabetização científica mais significativa, como também confere
aspectos privilegiadas para a formação de professoras e professores.
Nesse ínterim, é destacado no texto, a linguagem como elemento essencial ao
desenvolvimento da alfabetização científica, a qual constitui na apropriação dos códigos
demandados para buscar compreender a natureza. Enxergando, Chassot, deste modo, a
ciência como uma linguagem facilitadora no processo de leitura do mundo natural,
desenvolvida por homens e mulheres. Sendo sua apropriação, nesta perspectiva, um
caminho a fim de construir entendimentos sobre nós mesmos e o mundo em que vivemos.
Além de poder contribuir para controlar e prever as mudanças que ocorrem na natureza.
Podendo, portanto, proporcionar a chance para possíveis transformações, de modo a
impactar a qualidade de vida das pessoas. Assim, o autor chama atenção que tal como é
necessário a formação de cidadãos críticos no bojo da alfabetização da língua materna, a
alfabetização cientifica também deve transcender sua característica instrumental, como
meio que subsidia entendimentos sobre o mundo em que vivemos. De maneira, a tratar
também sobre a compreensão das necessidades de transformação, lembrando-nos as
ideias de Freire acerca de uma educação transformadora. Capaz de auxiliar os educandos
no processo de transformações do Status quo.

Ademais, Chassot defende a provável incongruência presente na dicotomia


realizada entre ciências naturais – classificadas como ciências hard – e ciências humanas
– apontadas como ciências soft –, já que, conforme o autor as áreas do conhecimento
vistas como naturais também consistem em ciências humanas, visto que, constituem
construções instituídas por seres humanos. Sublinhando que a ciência não configura lócus
de certezas absolutas e que a linguagem hermética utilizada, principalmente na ciência,
pode representar um instrumento de exclusão do acesso à códigos que possibilitam
compreender o mundo ao nosso redor. Porquanto, demanda-se cada vez mais a transição
de uma abordagem que valoriza o ensino das ciências para um grupo seletos de pessoas,
para uma dimensão que privilegia um acesso democrático à ciência.
Deste modo, o autor calcado nas ideias de Barthes traça um paralelo entre a
ciência e a linguagem. Sublinhando a discussão acerca das relações de poder evidenciadas
por esse autor ao apontar que: a língua compara-se a um código, ao exercer toda a
linguagem, a qual possui caráter de legislação. Articulada a relações de poder
essencialmente fascistas, uma vez que, possui mecanismos que conseguem ser mais
eficazes que a censura, da seara do impedir de dizer, pois seus instrumentos alocam-se no
campo do obrigar a dizer. Chassot destaca que isso pode ser observado na ciência, por
meio, por exemplo, de seus autores ortodoxos, os quais com seu conjunto de regras
também obrigam a dizer ou a fazer, de forma a exercer forte dominação. Então, diante
dessa percepção do conhecimento científico como um campo privilegiado de relações de
poder, o autor parece destacar a demanda por uma reflexão crítica sobre a ciência, que
auxilie-nos a saber usá-la. Direcionando para uma alfabetização científica como provável
meio para isso e para a socialização do conhecimento científico, que faz parte segundo
Chassot, de um patrimônio mais amplo da humanidade.
Nesse ponto o autor retoma a ideia que a ciência não deve ser vista como espaço
de certezas absolutas ao pontuar que esse patrimônio precisa ser compreendido como algo
inacabado. Configurando a incerteza um dos traços mais importantes da ciência atual,
perspectiva esta que se contrapõe ao dogmatismo, ainda muito presente na educação
formal brasileira e que necessita ser combatido. Segundo Chassot é provável que a origem
desse dogmatismo cientifico tenha sua raíz na igreja, que apresenta o histórico de se
comportar como a portadora da verdade. O autor defende essa concepção, de modo
pontuar que a universidade e a escola, no ocidente, possuem suas origens na Igreja.
Chassot ainda assevera, que além desse dogmatismo de berço religioso, o
positivismo comtiano, mesmo com suas especificidades, também se desenvolveu na
educação brasileira. Sobretudo, no começo do século XX, nas escolas militares. Atuando
como um obstáculo para a construção do conhecimento, uma vez que, Comte defendia a
ideia de uma ciência, cujos fundamentos estão consolidados. Interpretando, por
conseguinte, a ciência como algo acabado. Além disso, o positivismo se reverbera, de
modo a legitimar o poder dos tecnocratas, visto que, fundamenta o poder técnico com
suas ideias que privilegiam demais a ação.
Cabe destacar que o texto em alguns momentos parece ter sido desenvolvido, de
modo repetitivo, uma vez que, nota-se que o autor ao começar a versar sobre alfabetização
científica realiza alguns adendos que se prolongam, de modo a considerar necessário
destacar informações, que em significado, já foram apresentadas ao longo do texto.
Contudo pontuamos que talvez seja um recurso utilizado pelo autor para fixação de
determinados pontos, os quais considera importante.

O autor finaliza o capítulo aduzindo que a efetivação da alfabetização científica


está ligada ao ensino da ciência, em todos os segmentos da educação – se possível –,
voltada ao apoio do entendimento de conhecimentos, meios e valores que possibilitam
tomadas de decisões. Além, de perceber os impactos positivos da ciência na qualidade de
vida, assim como seus desdobramentos negativos. Isto é, percebê-la como uma instância
imbuída de ambivalências e que se desenvolve em um intenso contexto de relações de
poder, que agem de maneira contundente para intencionalidade de determinados
interesses, tanto para bom, quanto para mau.

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