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A LITERATURA INFANTIL NA FORMAÇÃO DE LEITORES DOS ANOS

INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL1

Jordan Natanael Oliveira Nunes2


Lidiany Pereira dos Santos3

RESUMO: O presente artigo, por meio de uma pesquisa bibliográfica de cunho


qualitativo, aborda a importância do professor dos anos iniciais trabalhar com a
Literatura Infantil, a Leitura Literária e a Formação Leitora, pois é necessário motivar
desde cedo as crianças para a leitura. Analisa-se duas obras, em que uma delas é a
adaptação do clássico Dom Quixote de La Mancha e a outra é contemporânea, a qual se
chama Lá e Aqui. O objetivo é apresentar uma proposta de sequência didática para o
professor desenvolver nas suas aulas de leitura, com o intuito de estimular o cognitivo, o
lúdico e a afetividade das crianças. Teve-se como aporte teórico Cavalcanti (2017),
Filho (2012), Grazioli e Leidens (2017), Macedo (2021), Paiva (2019), dentre outros.

Palavras-chave: Leitura literária; Formação leitora; Sequência didática

ABSTRACT: This article, through qualitative bibliographical research, approaches the


importance of the teacher of the initial years to work with Children's Literature, Literary
Reading and Reading Formation, since it is necessary to motivate children to read from
an early age. Two works are analyzed, one of which is an adaptation of the classic Dom
Quixote de La Mancha and the other is contemporary, which is called Lá e Aqui. The
objective is to present a proposal for a didactic sequence for the teacher to develop in
their reading classes, with the aim of stimulating the cognitive, playful and affective
aspects of children. The theoretical contribution was Cavalcanti (2017), Filho (2012),
Grazioli and Leidens (2017), Macedo (2021), Paiva (2019), among others.

Keywords: Literary reading; Reader formation; Following teacher

1
Artigo apresentado ao Curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Federal do Piauí (UFPI) –
Campus Ministro Petrônio Portela (CMPP) na Cidade de Teresina, como requisito parcial para a
aprovação da disciplina Trabalho de Conclusão de Curso (TCC II)
2
Graduanda do 8º bloco no Curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Federal do Piauí
(UFPI) Campus Ministro Petrônio Portela (CMPP) na Cidade de Teresina. E-mail:
jordanstar.2015.jn@gmail.com
3
Professora Adjunta do Departamento de Métodos e Técnicas de Ensino (DMTE), da Universidade
Federal do Piauí (UFPI) – Campus Ministro Petrônio Portela (CMPP), na Cidade de Teresina. E-mail:
lidianysantos1@ufpi.edu.br
1 INTRODUÇÃO

A leitura é responsável por contribuir para a formação do indivíduo, fazendo


com que ele venha ter um outro olhar para a sociedade a qual ele faz parte, criando nele
um senso crítico e uma capacidade de gerar discussões acerca de determinados assuntos.

Para que esse resultado aconteça, é necessário que se inicie um processo de


formação desse leitor e que se saiba como realizar esse trabalho. Assim como qualquer
outra atividade que é realizada no dia a dia, a leitura deve ser estimulada, exercitada e
aplicada no cotidiano. A literatura tem um papel de suma importância nesse processo de
formação de leitor, pois ela desperta através do imaginário o desejo de leitura, que
expande a própria visão da criança.

O objetivo deste artigo é incentivar o ensino da literatura infantil nas aulas de


Leitura para alunos do 2º ano do Ensino Fundamental, através de uma proposta de
sequência didática como prática leitora para dois livros, Lá e Aqui de Carolina Moreyra
que se trata de um livro contemporâneo e Dom Quixote de La Mancha um clássico de
Miguel Cervantes e adaptado por Rosana Rios, o qual contém um jogo educativo. Além
disso, defendemos que a Literatura Infantil pode e deve ser um instrumento para além
de uma ferramenta pedagógica e de caráter obrigatório, pois a partir da imersão do
aluno no “mundo da leitura”, ele adquire conhecimento linguístico, histórico, social e
cultural.

Tendo em vista algumas das nossas observações durante o Estágio Obrigatório,


verificamos que a formação de leitor não é um processo de fácil execução em uma
realidade de escola pública, pois os alunos têm uma certa dificuldade no
acompanhamento da leitura e uma carência no que diz respeito ao seu incentivo. Pode-
se observar que os alunos têm uma vontade de descobrir novos meios de leituras. A
pesquisa se volta como uma sugestão de novas abordagens de formações de leitores e
estende-se para os professores, pois eles podem e devem servir de inspiração aos alunos.
Um professor leitor, que estimula seus alunos a praticar a leitura, está formando um
cidadão leitor e, em consequência, está formando um sujeito pensante e crítico.

A leitura é de suma importância para que o leitor venha descobrir o mundo,


conhecer o seu lugar na sociedade e compartilhar sentimentos e experiências através da

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literatura. Repensar algumas práticas de leituras vigentes e criar até mesmo novas
intervenções se tornam relevantes na atual realidade, apresentar o velho e o novo unidos
em uma só linha de formação. As práticas de leituras devem se desenvolver juntamente
com o futuro leitor e se adequar com a realidade de cada indivíduo.

Dessa forma, a relevância deste estudo está em reiterar a importância da


Leitura Literária e o papel do professor na necessidade de estimular o interesse pela
leitura, ou melhor, que o hábito de ler torne-se como qualquer outro hábito nosso, de
forma espontânea e natural. Eis, então, o maior objetivo a ser alcançado e só se
consegue por meio de muito empenho, dedicação e trabalho com intervenções e práticas
leitoras que visam de fato termos alunos leitores.

2 A LITERATURA INFANTIL E A FORMAÇÃO DE LEITORES

2.1 Por que estudar a Literatura Infantil?

A literatura infantil tem uma grande importância para o desenvolvimento


humano, pois é através desse estudo que nós conseguimos ler o mundo ao nosso redor,
nos dá novas perspectivas. Como explicam Grazioli e Leidens (2017):

[...] a literatura humaniza, sobretudo quando desconstrói o esperado e


constituído e trabalha diretamente com o novo: com novas
perspectivas e desafios, novas tramas e dificuldades, novas formas de
ver o mundo e novos questionamentos sobre o texto, sobre o autor ou
inclusive o leitor...” (GRAZIOLI E LEIDENS, 2017, p. 147).

Como os autores afirmam esse processo de novo, de uma transformação tanto


exterior como interior, a literatura nos deixa mais humanizados fazendo com que a
gente possa ter uma outra visão de mundo, dos problemas de uma sociedade. Além
desse novo olhar de mundo, do enxergar “melhor”, podemos também criar novas
questões em nossa mente, podemos ter a capacidade de discutir com o texto, em outras
palavras, nós problematizamos o assunto que o texto nos traz, as ideias do autor,
passamos a questionar as ideias e ideologias através de uma visão construída por meio
do estudo da literatura, pelo despertar de uma nova mentalidade. A criança quando tem
acesso ao estudo de obras literárias começam a ver o mundo de uma forma totalmente

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diferente, passa a ter uma nova visão do mundo, um novo entendimento da sociedade,
apesar de acharmos que as crianças não percebem tal mudança, mas elas conseguem sim
ter uma nova visão.

2.2 A formação leitora no Ensino Fundamental

A formação de leitores com o uso da literatura infantil já vem sendo estudada


ao longo dos anos, com o objetivo de mostrar como pode despertar no aluno a vontade
pela leitura fazendo com que ele venha se interessar por esse mundo literário tão amplo
e que vai elevar o seu nível de pensamento. Conforme Gregorin Filho (2012) defende:
“tentando fazer da leitura de um livro o diálogo com o próprio universo que nos rodeia e
no qual essa criança também será parte atuante e transformadora” (GREGORIN FILHO,
2012, p. 8).

Não é novidade que o tema já vem sendo trabalhado ao longo dos anos e
muitos podem pensar sobre o motivo de se continuar trabalhando, mas se pararmos para
analisar melhor a forma como estamos lidando com a formação de leitores, podemos
encontrar barreiras nesse ensino que venham desmotivar os nossos futuros leitores.

Mas que barreiras são essas? Se olharmos ao longo dos anos temos um hábito
de leitura em caráter obrigatório e muito pedagógico e que não trabalha os sentimentos
do aluno, ou seja, não visa saber o que a leitura está despertando no aluno, como ele se
sente ao ler um livro e como aquilo vem agregando em seu conhecimento e na formação
como um indivíduo social. Por meio da literatura encontramos essa resposta, segundo
Gregorin Filho (2012):

Os valores discutidos na literatura para crianças são valores humanos,


construídos através da longa caminhada humana pela história, e não
valores que circulam apenas no universo infantil das sociedades
contemporâneas”. (GREGORIN FILHO, 2012, p. 10)

Ao olharmos para crianças com uma mente cheia de infantilização, acabamos


esquecendo que além de um ser infantil a criança também é um ser pensante e um ser

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que possui sentimentos e acabamos restringindo a literatura infantil como um
passatempo que venha distrair sem ter resultados no que está sendo posto para ler. Ao
contar uma história para que a criança venha dormir ou um ato de contação de história
como apenas uma forma de entreter os alunos. Ao longo dos anos muitas coisas foram
mudadas, desde o período em que as crianças eram vistas como uma miniatura de
adultos e passavam a serem moldados dessa maneira, até esse processo de infantilização
que visa não ter nenhum retorno da parte da criança.

Assim como um adulto lê uma determinada obra e se sente vinculado com


aquele livro, como uma pessoa que lê um livro de mistério e fica intrigado e curioso
para saber o que vai acontecer no final, aquele que lê um livro de terror e fica
apreensivo e ansioso com os acontecimentos que podem ter um fim trágico ou um final
feliz, e como aquele que ler um livro voltado para administração, economia, finanças,
etc., que visa buscar conhecimentos e se especializar nessas áreas, da mesma forma é
uma criança quando lê um conto de fadas, como João e Maria, Branca de Neve e os Sete
anões e Chapeuzinho Vermelho. E esses contos de fadas, que tem uma mensagem a ser
passada, podem e despertam nas crianças muitos sentimentos e reações ao lerem e isso
já é um processo transformador na vida desses leitores iniciais, pois eles vão começar a
sentir a história e o que ela tem e pretende oferecer aos que estão lendo.

Cavalcanti (2017) em sua obra Formação do leitor: uma questão de


jardinagem diz que formar leitores é como cuidar de um jardim. E se pararmos para
pensar faz muito sentido, pois para que nosso jardim fique bem florido e transpareça
toda sua beleza ele deve ser bem cuidado e bem tratado: “a terra deve ser bem tratada”,
“as sementes bem plantadas e regadas”, todo um processo com um cuidado enorme.
Trazendo essa ideia para formação de leitor faz muito sentido, pois antes de
apresentarmos uma leitura para as crianças devemos prepará-las para aquele processo e
não empurrar como uma obrigatoriedade, porque isso irá afastá-las, ao contar apenas um
caso, uma história ou uma poesia e fazer com que aquilo chame e prenda a atenção da
criança, despertando nela um sentimento e como consequência ela vai querer embarcar
nessa aventura e ler o que foi colocado e para que esse processo continue, tem que ser
repetido e, assim, vamos “regando” o pensar das crianças.

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Vivemos em um mundo moderno e que facilita a dinamicidade na formação de
leitores que para muitos pode ser um desafio encarar as novas tecnologias e se estagnar
nos antigos processos de leituras, mas isso não deve ser feito, pois

Sabe-se que as crianças estão imersas na realidade digital e várias


campanhas são feitas para a inclusão digital. O contato efetivo das
crianças com o computador acaba ocorrendo, na maioria das vezes,
com os sítios de jogos, e alguns não são muito recomendados.
(GREGORIN FILHO, 2012. p. 61)

É uma realidade atual que estamos vivendo, a literatura agora faz parte de um
mundo virtual e isso facilita o acesso das crianças, pois os livros tornam-se mais
dinâmicos e instigantes para as crianças, que já dominam o meio tecnológico com mais
facilidade. E-books e livros interativos ajudam na dinamicidade da leitura enriquecendo
mais ainda a experiência de leitor. Mas não se restringir somente aos recursos
tecnológicos é algo essencial, pois não se pode substituir as experiências humanas de
compartilhamento de emoções e ideias.

A literatura faz parte de nossa história e vai se modificando a cada contexto em


que vivemos, temos vários tipos de literaturas destinadas a idades diversas e um desses
públicos são as crianças que assim como nós adultos também são leitores pensantes. A
literatura infantil tem um caráter pedagógico, buscando a formação do leitor.

Historicamente, a literatura infantil é um gênero situado em dois


sistemas. No sistema literário, é espécie de primo pobre. No sistema
da educação, ocupa lugar mais destacado, graças ao seu papel na
formação de leitores, que cabe a escola assumir e realizar. Sendo
assim, nas conceituações e definições de que sea literatura infantil não
é raro que encontremos a alternância, ou a convivência, de critérios
estéticos e pedagógicos. (CADEMARTORI, 2017. p. 8).

Como disse Cademarori (2017), temos uma visão de rebaixamento quando


falamos de Literatura Infantil ou como um material para fins pedagógicos. A Literatura
Infantil é uma literatura como qualquer outra e com um público-alvo destinado, onde os
seus textos são endereçados ao leitor preferencial, a idade deles é respeitada tendo em
vista suas diferenças de faixas etárias que também são levadas em conta. Todos os
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elementos que vão compor essas obras devem estar de acordo com a competência de
leitura que o leitor que será destinado alcançou, fazendo com que o autor escolha uma
forma de comunicação adequada para os leitores.

É importante trabalhar essa adequação de comunicação, pois quando falamos


de “literatura infantil” nos recorremos somente para as crianças mais novas, daquelas
cuja faixas etárias só se limitam apenas a livros com maior quantidade de imagem e
pouco diálogo. Esquecemos que na infância possuímos faixas etárias distintas e que
cada uma necessita de uma forma de comunicação diferente, pois à medida que o leitor
vai crescendo sua mentalidade vai amadurecendo e os textos que ele terá que ler vão ter
que ser adaptados para sua faixa etária.

A linguagem utilizada, a forma da escrita e a linguagem visual deve ser


destinada e adaptada para a idade de cada criança, temos que levar em conta também o
contexto social que essas crianças estão inseridas e sua literatura também será
influenciada. Os temas que serão abordados também devem ser relacionados com sua
faixa etária, pois aqui se trata do trabalho com crianças de até dez anos de idade, claro
que não será colocado temas tão complexos para as crianças dessa idade como a teoria
da relatividade, mas histórias e conteúdos que se encaixem na sua faixa etária e no seu
modo de leitura.

Devemos nos lembrar que os livros destinados ao público infantil são feitos por
adultos e muitas vezes, ou melhor dizendo, na maioria das vezes, as ideias de adultos, as
quais refletem nessas obras temas como: sexualidade, diferenças de classes, de raças,
etc., e isso contribui para que as crianças devam pensar em ser na idade adulta. Com
muita frequência vamos nos deparar com essas ideias em livros de crianças, por um lado
refletindo nossos sonhos de criança, e por outro lado, um intuito de formação, ganhando
a forma de uma concepção racional e ideológica que o adulto pesa, do que deve fazer
parte dos conceitos a serem adquiridos na infância.

Uma das melhores coisas que acontecem conosco é quando lemos algo e aquilo
que está escrito faz total sentido para nós, seja um texto acadêmico ou um livro de
ficção, quando isso faz sentido para nós, a leitura se torna mais prazerosa, ou seja, um
deleite. Da mesma forma que devem ser as obras infantis, elas devem fazer sentido para

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o leitor e é isso que vai fazer com que ele venha se interessar ainda mais por esse
mundo. Como afirma Cadermatori (2017):

As obras infantis que respeitam seu público são aquelas cujos textos
têm potencial para permitir ao leitor infantil possibilidade ampla de
atribuição de sentidos aquilo que lê. A literatura infantil digna do seu
nome estimula a criança a viver uma aventura com a linguagem e seus
efeitos, em lugar de deixá-lo cerceada pelas intenções do autor, em
livros usados como transporte de intenções diversas, entre elas o que
se passou a chamar de “politicamente correto”, a nova face do
interesse pedagógico, que quer se sobrepor ao literário.
(CADEMARTORI, 2017. p. 11)

A criança precisa de uma leitura que a posicione no mundo de uma forma mais
ampla, faça com que ela se conheça como uma criança que faz parte do mundo, e isso
será trabalhado como um processo ao longo de cada faixa etária que vai pertencer ao
seu entendimento aproximadamente adequado. O que acontece, atualmente, é termos
livros infantis com mensagens disfarçadas a respeito do que a criança deve ser e pensar,
parece que se esquecem que estão vivendo uma fase de descoberta, uma fase de
crescimento literário e a criança deve se deleitar com a aventura que as leituras estão
para lhe propiciar. Uma coisa é a criança ler um livro e descobrir objetos que tem em
sua casa, sua interação com o mundo, outra coisa é a criança ler algo que venha ditar
convenções baseadas em opiniões e vontades dos autores.

2.3 A BNCC e a leitura literária na Educação Básica Infantil

É uma tarefa muito árdua a formação de leitores, pois o professor deve buscar
as maneiras mais adequadas para que ocorra esse processo, mas isso não deve acontecer
de maneira obrigatória. Temos uma cultura de trabalhar a leitura como algo obrigatório,
obedecendo etapas que geram desinteresse por parte dos alunos, por exemplo, a leitura
de um paradidático na escola para que se faça um resumo ou responda a questionários e
até mesmo, a realização de uma prova com base nesse paradidático. Essa metodologia
acaba deixando de lado a ideia de que o aluno teria que ler algo que seja prazeroso e que
venha despertar nele um interesse por aquilo que ele está lendo.

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Se pensarmos sobre a leitura e a forma como adquirimos ela, vamos ter uma
visão mais ampla de como ocorre a leitura dentro da sala de aula. Desde pequenos
começamos a ler o mundo, ler as coisas que compõem ele, até ouvindo histórias
conseguimos ler. Mas como seria possível isso? Quando estamos na leitura de um livro
adquirimos todos os aspectos que fazem parte da história e vamos imergindo no mundo
ao qual estamos lendo, através de nossa imaginação, “mergulhamos de modo profundo”
em muitos mundos, sejam eles fictícios ou acadêmicos, o imaginário toma conta. Da
mesma forma é o ato de ouvir uma história, pois ao ouvirmos, a nossa mente passa a
fazer uma leitura daquela fala e nos leva para aquela situação que aguça o nosso
imaginário e começa a entrar em ação as nossas lembranças e sensações. De acordo com
Cavalcanti (2017):

À medida que crescemos essas leituras se ampliam. Lemos os


ambientes, a cidade, a natureza, as pessoas, e começamos a compor
um repertório de leituras que vai, aos poucos, nos tornando sujeitos de
nossa história. (CAVALCANTI, 2017, p.16.)

Mas para que o processo de leitura venha fluir resultando no interesse do aluno
no ambiente escolar é necessário que o professor venha criar métodos que sejam
eficazes para o andamento de seu processo, para isso é necessário rever como vem
sendo desenvolvida a leitura dentro da sala de aula. Mencionado anteriormente, o ato de
ler não deve ser colocado em caráter obrigatório, isso vai fazer com que o aluno se sinta
desconfortável para ler e não vai ter o interesse e muito menos ver o sentido naquilo que
ele está fazendo, ou seja, vai se tornar algo metódico e sem sentido para ele.

Quando a leitura é incentivada na criança, desde pequena, permite que ela


(criança) comece a ter um gosto maior pela leitura. A infância é o nó inicial para se
estabelecer o gosto pela leitura, pois uma vez despertada essa vontade e sendo
trabalhada aos longos dos anos, vai perdurar até o fim da vida; entretanto, se essa
prática não for estimulada, a aprendizagem estará comprometida. Assim, explica
Cavalcanti (2017):

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Impor uma mesma leitura a diferentes leitores, estabelecer prazos de
leitura, transformando a leitura em obrigação para ser testada em
provas, sem levar em conta o gosto, o fôlego e o ritmo de leitura de
cada leitor é como semear diferentes sementes em um mesmo solo.
(CAVALCANTI, 2017, p.24.)

Acontece que muitos professores oferecem leituras aos seus alunos, as quais
não condizem com a realidade deles, tanto no que diz respeito ao aspecto social e à
faixa etária. Temos que lembrar que uma sala de aula é composta por alunos com
personalidades diferentes e gostos diferentes, e por mais que faça parte do currículo
trabalhar determinadas obras na sala de aula, como os clássicos da literatura, o professor
necessita levar em conta que muitos alunos não vão se sentir atraídos por elas de cara e
causando esse estranhamento pode se tornar difícil o processo de leitura, aqui falando
em uma realidade que não tem o hábito desde os primeiros anos de ler. Então, é
necessário que o professor venha criar formas de se trabalhar isso, mostrando para os
alunos uma maneira de ler aquelas obras de uma forma mais prazerosa. Oficinas de
leituras são essenciais nesse momento, pois podem ocorrer uma troca de experiências
através dos gostos e peculiaridades de cada aluno, isso pode ser feito até mesmo com as
crianças mais novas, como diz Macedo: “não basta formular e implementar políticas
que incidam sobre a disponibilidade de livros; é preciso criar processos de formação e
de mediação que possibilitem o acesso e a apropriação das obras pelos leitores.”
(MACEDO 2021, p. 48)

Como foi dito, anteriormente, estamos acostumados com um processo de


formação a base da obrigatoriedade, sem seguir sequer um processo de familiarização
de obras, isso apenas distancia um novo possível leitor do interesse pela literatura. As
políticas de leituras muitas vezes não conseguem um processo de internalização do
leitor, ainda mais de uma criança leitora, alguns livros não despertam o interesse
literário ou não condiz com a realidade cultural e social da criança, tornando isso uma
realidade bem mais distante do que o normal. A mediação bem conduzida ajuda nesse
processo de interesse ao conhecimento do livro, aproxima mais a criança da obra que
vai ser trabalhada, tendo o papel do professor mediador, como importante para esse
processo de formação da criança.

A obrigatoriedade dessas leituras torna ainda mais desconfortável para os


alunos e o prazo também pode deixar isso mais complicado, pois a leitura bem

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proveitosa deve obedecer ao tempo de cada um. Existem alguns alunos que gostam de
ler mais lentamente e outros que gostam de um ritmo mais acelerado da leitura, têm
aqueles que passam horas lendo e outros que passam dias e até mesmo meses para
concluírem uma leitura. Tudo isso podemos levar em consideração o dia a dia de cada
aluno. Quando um trabalho de leitura feito desde o início mais proveito vai se tornando
aos longos dos anos, mas quando se coloca a leitura como um ato obrigatório e sem
despertar o interesse e os benefícios, além dos acadêmicos, pode se tornar um processo
bem mais difícil de se trabalhar

3 PERCURSO METODOLÓGICO

A pesquisa é bibliográfica, de cunho qualitativo, pois abordamos fenômenos


sociais e do comportamento humano. Tal pesquisa, segundo Paiva (2019), acontece no
mundo real e tem como propósito descrever, compreender, e algumas vezes explicar
fenômenos sociais a partir do seu interior, das suas diversas formas. Neste caso
realizando uma pesquisa de cunho bibliográfico, pesquisando através de textos. E
algumas experiências pessoais da leitura em sala de aula.

Trabalhamos com dois livros literários com o objetivo de incentivar o interesse


pela leitura dos alunos do 2º ano do Ensino Fundamental. O primeiro livro é o clássico
adaptado Dom Quixote de La Mancha, do autor espanhol Miguel Cervantes. Esse
livro é uma adaptação de Rosana Rios e faz parte de uma leitura lúdica, haja vista que a
obra é acompanhada de um jogo de tabuleiro e cartas de perguntas e desafios
relacionados ao conteúdo do livro. Trata-se de um brinquedo da fabricante Estrela,
possibilitando uma leitura mais imersiva e bem mais dinâmica do livro. O segundo livro
escolhido é o Lá e Aqui, de Carolina Moreyra e ilustrado por Odilon Moraes, que
aborda a separação dos pais aos olhos de uma criança. Tal obra foi escolhida porque traz
uma temática que é muito recorrente nas famílias brasileiras. Além disso, eu me
identifiquei com a situação, pois vivenciei essa
realidade; assim, escolhi essa obra com a
ideia de despertar na criança o sentido de que a
leitura pode nos trazer reflexões, desafios e

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conquistas diante de contextos novos, ou seja, a leitura possibilita abrir a nossa mente
para novos horizontes.

Figura 1 Fonte:
Livro Dom Quixote de La Mancha (2020)

4. SITUANDO A QUESTÃO

4.1 Apresentação das obras

Quando temos a ideia de que a literatura é uma porta para um mundo de


imaginação e realidade, entendemos que é através dela que podemos conseguir
apresentar uma visão de mundo diferente para as crianças. Quando o leitor consegue
perceber o mundo que o cerca através da leitura de um Conto de fadas, isso significa
que o processo de formação leitora está sendo um sucesso. Daí vem a pergunta: Como
uma criança vai enxergar o mundo através de um Conto de fadas? Vamos partir do
clássico João e Maria, o qual narra a história de duas crianças que são abandonadas
pelos pais na floresta e encontram a casa de uma bruxa feita de doces e, logo, são
capturados por ela e depois conseguem matá-la, mas o que as crianças aprendem sobre o
mundo com isso? Temos aqui muitas lições para se tirar dessa história quando o
intermediador aprofunda ainda mais a ideia da obra, que pode se tratar pelo abandono
dos filhos pelos pais que se encontram em uma situação de extrema pobreza e sem
condições de sustentar a família. Então, decidem deixar os seus filhos para que o mundo
ou outras pessoas o peguem e possam criá-los.
Temos também o Pinóquio que fala sobre uma marionete que quer ser um
menino de verdade, mas possui um comportamento extremamente ruim, desobediente e
que suas atitudes o levam a várias desventuras, disso já se tira uma leitura de mundo a
respeito do menino. Dessa forma, queremos contextualizar que os Contos de fadas
representam um “poço” de lições moralizantes, pois vão além de histórias maravilhosas
que buscam o entretenimento, no seu âmago elas trazem ensinamentos sociais. Contudo,
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os contos de fadas também exercem uma função de experiência com a fantasia e a
imaginação, auxiliando na construção de sentido.
Mas existem também histórias que falam sobre a realidade, mas de uma maneira
mais lúdica, como o livro ilustrado Lá e Aqui de Carolina Moreyra, uma história de
forma simples, delicada e poética e que, em poucas palavras, narra a visão de uma
criança perante a separação dos pais e como essa criança passa a viver uma nova rotina
através da guarda compartilhada. Os autores trazem metaforicamente todo o processo de
como se acabou a família, quando ele diz, por exemplo, em uma passagem do livro
“Um dia, a casa se afogou.”

Figura 2 Fonte: livro Lá e Aqui


(2015), pag. 17 e 18.

O livro possui frases que indicam a cena que é colocada pelas imagens. Essa
frase aqui destacada é acompanhada da imagem de uma chuva e uma casa quase
submersa. Se refletirmos sobre isso, podemos assemelhar muitos problemas com uma
tempestade e que dependendo da firmeza com que enfrentamos esse evento da natureza,
podemos em seu fim ficar de pé ou cair. Aqui, temos uma interpretação minha, mas que
podemos estender para a história como um todo, pois veio a tempestade e levou tudo
embora como nas páginas seguintes vão sendo caracterizadas, como, os cães fugiram, as
flores murcharam e o jardim morreu, peixinhos foram morar nos olhos da mamãe, etc.
Elementos são utilizados para demonstrar que aquela família havia acabado, flores
representam vitalidade e uma vez que murcham chegam ao fim de sua vida, o jardim
representaria um lugar belo, bem cuidado e tranquilo, confortável e agradável, mas
quando não se tem mais o cuidado ele morre.
Nas primeiras páginas somos colocados com temas fortes que são abordados de
maneira lúdica e intimista, que muitas crianças podem interpretar de cara, ou não, o que
está acontecendo nessa história. Temos um livro infantil que nos traz um tema adulto e
ao mesmo tempo infantil, pois tudo que é narrado é na visão de uma criança. Trago esse
livro como exemplo, pois ele diz uma outra lição que a literatura pode trazer para a
formação do leitor, a identificação com a história. Poder se ver em uma história narrada

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que aquela situação é tão real e faz com que o leitor desperte o seu gosto pela leitura e
pela literatura como algo prazeroso.
Essa história me cativou, pois eu passei pela mesma situação do personagem, e
assim como despertou um sentimento de identidade e saber como aquela situação é. A
literatura cumpriu em mim o seu objetivo e é isso que se deve ser feito com todos que
forem ler, é se identificar com a história, é saber que o leitor já passou por aqui, sentiu
aquilo e que sofre ou sofreu com as consequências, trazendo o exemplo do livro, de uma
separação. Esse livro se torna importante pelo simples fato de trazer a visão de uma
criança para toda essa situação e mesmo assim despertar um sentimento forte nos
adultos.
O livro adaptado Dom Quixote de La Mancha do autor espanhol Miguel
Cervantes, já traz um contexto de literatura clássica, apresentando uma forma mais
dinâmica de se entrar na história. Isso ocorreria através do jogo lúdico que acompanha a
versão do livro que poderá ser usada, que é a versão da Estrela 4, nela contém um
tabuleiro onde será feito um percurso e cada casa representa um desafio ou uma
pergunta relacionada a história. Como fazer isso? Pois bem, vamos lá. Tendo em vista
que o livro é grande e poderá ser pensado para um período de um mês, trabalhando essa
obra, sendo assim teria que escolher um número de páginas para se ler por dia. Digamos
que seriam três páginas por dia, tendo em vista que essa adaptação tem oitenta e nove
páginas e se levarmos em consideração o uso durante cinco dias da semana, então o
professor consegue trabalhar essa obra no período estipulado acima. No caso teria que
ser feito constantemente a revisão da história para que as crianças pudessem fixar em
sua mente. Desse modo, poderia ser feita uma dinâmica de repescagem da história
durante o processo, através de atividades de pergunta e resposta, pequenas gincanas em
um dia da semana na sala de aula ou até mesmo como atividade para casa, as crianças
poderiam criar um diário de aventura, ou seja, nos dias que a leitura fosse aplicada, as
crianças iriam anotar os acontecimentos e os detalhes e quem sabe, até mesmo, fazer um
resumo do que foi lido e no fim teriam uma boa construção do que eles entenderam a
respeito da história.
Dom Quixote de La Mancha traz a história de um homem que por acabar lendo
demais entra em uma série de aventuras que fazem parte de sua imaginação. O próprio
autor Miguel Cervantes usa essa história como uma paródia dos contos de cavalaria. A
ideia da obra é mostrar como a literatura pode amadurecer e florescer ainda mais a
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Fábrica brasileira de brinquedos infantis

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imaginação do leitor, fazendo com que o leitor se inspire em suas leituras. A ideia de
apresentar esse conto mais clássico para as crianças é de mostrar como a literatura pode
se comportar de várias maneiras. De um lado, a literatura como algo moderno tratando
de assuntos do cotidiano; de outro, como uma parte mais imaginativa e heroica.
A obra de Dom Quixote de La Mancha nos traz o contexto de que a
imaginação rompe as fronteiras das páginas do livro, mostrando que a leitura nos leva
para lugares que podem não existir no real, mas que seus desafios, perigos e conquistas
podem ser tão reais quanto os do mundo real. O livro já começa, no primeiro capítulo,
com a seguinte frase “Era uma vez... um leitor que leu demais.” Isso já dá a explicação
do que resultou as aventuras do personagem e o que foi comentado anteriormente, mas
essa história vai muito além da ideia de como a leitura pode transcender a imaginação.
Aqui temos uma forma do leitor ver as características do ser humano, tanto o seu lado
negativo como o positivo. Durante a leitura temos as
características humanas negativas, como pessoas
irônicas e gananciosas e temos o lado bom das pessoas,
como a solidariedade e a caridade. A quarta capa do
livro apresenta o seguinte texto: “Imagine um homem
que, de tanto ler, começa a se sentir um personagem
dos livros... ele sai pelo mundo em busca de aventuras,
desejando enfrentar magos, gigantes e dragões! Mas só
encontra aquilo que faz parte de todos os seres
humanos: zombaria, incompreensão, ganância. Apesar
disso, ele também vai encontrar um outro lado da humanidade: o que nos traz amigos,
bondade, generosidade... e histórias, muitas histórias!”

Imagem 03 Fonte: Livro Dom Quixote de La Mancha (2020), contra capa.

Dom Quixote de La Mancha nos traz uma reflexão profunda dentro do ser
humano, por isso, é uma ótima escolha para se trabalhar com as crianças de maneira
lúdica e, ao mesmo tempo, apresentar um clássico da literatura. Aqui, podemos mostrar

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como as pessoas se comportam em uma sociedade, como algumas pessoas pensam e o
que isso reflete na vida delas, ensinando que, por mais, que existam pessoas ruins, vão
existir pessoas que carregam a bondade e outras virtudes em seu coração.

4.2 Proposta de Sequência Didática por meio da Leitura Literária

Conforme as discussões teóricas que trouxemos no que diz respeito à


importância de se estudar a Literatura Infantil, à necessidade da formação leitora no
Ensino Fundamental e à atenção do professor em aliar a BNCC à Leitura Literária para
o incentivo do desenvolvimento da leitura, apresentamos a seguir, 02 (duas) propostas
de prática leitora para os livros Lá e Aqui e Dom Quixote de La Mancha.
Vejamos.

4.2.1 Prática leitora com o livro Lá e Aqui de Carolina Moreyra e Odilon Moraes

1ª etapa: Lá e Aqui é uma obra que traz um tema que é muito recorrente nos
dias atuais que é a separação dos pais. O livro demonstra como a família se
desestruturou através dos olhos de uma criança, e de maneira lúdica. Tendo em vista
essas informações, o principal objetivo dessa leitura é falar com as crianças sobre a
separação dos pais, tendo em vista que em uma sala de aula pode ser muito comum
encontrar crianças que vivem essa mesma situação. Mostrar que tal fato está sujeito a
acontecer em um ambiente familiar e que isso pode acabar refletindo no processo de
aprendizagem da criança. Pensados dois dias para a apresentação dessa leitura, no
máximo, tendo em vista que o livro é curto, mas sempre é bom o professor reforçar a
leitura cuidadosamente, buscando explicar o que está ocorrendo em cada situação da
história, ou seja, tornar mais claro para a criança do que cada parte lúdica do livro se
refere, por exemplo, digamos que uma parte do livro esteja mencionando uma briga só
que de maneira lúdica a criança de início pode não interpretar assim, cabe ao professor
através desse processo de leitura a explicação para esse momento. O objetivo é deixar a
leitura clara o máximo possível para os alunos. Fazendo isso, automaticamente estimula
uma leitura calma, atenciosa e prazerosa, dando também a oportunidade para a criança
de expressar o que essa leitura lhe causou.

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2ª etapa: Definir os recursos e materiais necessários para o desenvolvimento
desta prática. Pensando numa prática para 2 (duas) aulas, propomos os seguintes:
Cartolinas, coleções com lápis de cor, pincéis, cola, desenhos de famílias e
vários tipos de casa (com algumas janelas, com uma ou duas janelas, com jardim, sem
jardim, casas simples da área urbana ou rural, casas sofisticadas, etc.), notebook e
Datashow.

3ª etapa: Motivação para a Leitura:


O professor vai questionar sobre o tema “separação dos pais” com o intuito de
apreender o nível do conhecimento prévio dos alunos quanto ao tema; em seguida, vai
perguntar se a “separação dos pais” é boa ou ruim na visão deles; depois ele inicia a
leitura do livro e reforça que ao final, irá perguntar se a visão deles (alunos) irá
permanecer a mesma ou se eles irão concordar com a visão dos autores do livro em
relação ao tema abordado (no caso é uma visão positiva, tendo em vista a perspectiva
das duas casas).

4ª etapa: A Leitura:
Após o professor ter feito a sondagem do conhecimento prévio dos alunos, ele
inicia a leitura do livro e pede para que eles fiquem atentos aos detalhes do livro, pois
ele fará a leitura por meio do Datashow, tendo em vista a realidade da escola pública em
que não há exemplares suficientes para todos os alunos. Durante a leitura ele vai fazer
questionamentos sobre o que significa ou como eles compreendam alguns trechos da
obra como, por exemplo: “As flores murcharam, o jardim morreu”; “Os peixinhos
foram morar nos olhos úmidos de minha mãe”; “Os olhos da mamãe secaram e os
peixinhos foram morar no aquário”.

5ª etapa: O pós-leitura
Após a leitura, o professor vai questionar sobre: O que eles acharam do livro? A
opinião deles continua a mesma ou não quanto à separação dos pais? Se é possível ser
feliz com os pais separados? Depois, o professor vai organizá-los em grupo e vai
entregar uma cartolina, os desenhos de pessoas e/ou animais e plantas, cola, lápis de cor
e pincéis para que eles montem os painéis com as famílias de pais separados, mostrando
a casa do pai e a casa da mãe. Esse momento lúdico serve para saber se de fato eles
compreenderam a mensagem do livro.

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4.2.2 Prática leitora com o livro Dom Quixote de La Mancha do autor espanhol Miguel
Cervantes

1ª etapa: Definir os objetivos e a quantidade de aula. Propomos entre 4 e 5 aulas


com os seguintes objetivos:
O livro de Dom Quixote de La Mancha, apesar de ser uma versão adaptada,
ainda sim é um livro grande e requer um tempo maior para o seu trabalho de leitura.
Escolher ler uma grande quantidade de páginas em um dia, visando terminar logo o
livro, pode não ser prazeroso para as crianças e gerar um pouco de dispersão na turma.
Devido ser um livro maior, propõe-se que seja feito um trabalho mais caprichado,
colocando o período de um mês para trabalhar essa obra, criando assim uma sequência
didática. O objetivo é mostrar para as crianças como a literatura pode contribuir para o
desenvolvimento e o estímulo do imaginário e da criatividade.

2ª etapa: Definir os recursos e materiais necessários para o desenvolvimento


desta prática.
Essa edição do livro traz consigo um jogo de tabuleiro que após a leitura do livro
poderá ser utilizado para o desenvolvimento da prática literária. O jogo de tabuleiro
poderá ser aplicado, em regra de jogo ele só permite que participem até quatro
jogadores e cada um escolheria um token 5 para passar pelas casas, mas nesse caso, pode
ser feita uma adaptação. A adaptação poderia ser a seguinte: o professor poderá dividir a
turma, entregando números aleatórios para cada aluno, logo em seguida ela dividiria os
números ímpares e os pares e formaria duas equipes, escolheria um token no tabuleiro
que representaria cada equipe e o jogo iniciaria. O jogo já vem com um dado para
rolagem e a aventura iria começar. Assim que os alunos caíssem em casas que seriam de
perguntas e respostas, já tem cartas no jogo com perguntas prontas, assim poderia se dar
um tempo para cada equipe pensar na resposta, o que seria legal, pois era o uso do
diário de aventuras para realizar uma consulta dentro do tempo determinado. Por fim,
teria uma equipe vencedora e o prêmio ficaria a critério do professor. Mas a ideia é que
todos ganhem, em questão de leitura e conhecimento. O jogo tem o intuito de reforçar a
história para a criança, deixando a leitura mais lúdica e interativa, em que as crianças
podem seguir os passos do próprio Dom Quixote de La Mancha.
5
Token refere-se a figura do personagem que é utilizado no jogo, ou seja, é uma das peças do jogo.

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3ª etapa: Motivação para a Leitura:
O professor irá explicar um pouco do que se trata a história para os alunos.
Logo, em seguida, ele irá falar a importância da literatura para o desenvolvimento da
imaginação e criatividade. O professor poderá perguntar se as crianças já se sentiram
inspiradas por alguma história e se já se imaginaram em uma aventura depois de ler ou
ouvir alguma história. Obtendo essas informações o professor irá convidar os alunos
para uma experiência de aventura nessa leitura.
4ª etapa: A Leitura:
A leitura deverá ser feita de modo dinâmico e objetivo. O professor deverá
realizar a leitura de uma forma calma e atenciosa para que os alunos possam desfrutar
da história e fixar cada detalhe. As crianças poderiam criar um diário de aventura, ou
seja, nos dias que a leitura fosse aplicada, as crianças iriam anotar os acontecimentos e
os detalhes, e quem sabe, até mesmo, fazer um resumo do que foi lido e no fim teriam
uma boa construção do que eles entenderam a respeito da narrativa.

5ª etapa: O pós-leitura

Após a conclusão da leitura e entender que os alunos estão devidamente


fixados com a história em mente, o(a) professor(a) irá questionar aos alunos o que eles
acharam da história. Se de alguma forma, eles foram tocados naquelas aventuras ou se
sentiram empolgados, até mesmo no momento do jogo. O encerramento desse processo
de leitura poderá se dar através do jogo de tabuleiro que acompanha o livro e, até
mesmo, uma dramatização feita pelos alunos, mas de acordo com suas interpretações,
ou seja, os alunos iriam representar a história de acordo com o seu ponto de vista, de
como eles entenderam e sentirem aquela história.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Literatura, não apenas a Literatura Infantil, tem a ação de atingir as emoções,


o psicológico e o comportamento das pessoas. Então, defendemos que essa Literatura já
deva ser estimulada desde as séries menores com o objetivo de tornar o momento de
ensino-aprendizagem como algo prazeroso, lúdico e criativo, ou melhor, como algo que
venha facilitar a formação leitora, mas também a formação humanizadora, linguística e
social do indivíduo, pois ela também cumpre eficientemente esse papel. Através da
Literatura embarcamos em um mundo que pode ser representado de modo mágico,
positivo, negativo, real ou trágico. Tudo vai depender do que está sendo representado.

Adultos tendem a ter uma visão mais objetiva e realista do mundo, entender
como determinada situação acontece, como determinada lição deve ser entendida, mas
tudo se torna mais simples, e até mesmo mais compreensível, quando uma abordagem
lúdica e nova é apresentada. A criança tem uma visão de mundo diferente da que
possuímos. Tomando exemplo do livro desse artigo, Lá e Aqui, é bem mais difícil e
delicado você falar para uma criança, isso em um contexto educacional, sobre separação
dos pais. O processo lúdico ajuda a criança a pensar e a refletir quando esse tipo de
coisa está acontecendo. Dom Quixote de La Mancha, que traz uma proposta de leitura
lúdica, mostrando como a literatura pode dialogar de uma forma mais dinâmica com a
criança, deixando esse momento mais prazeroso e imersivo para a criança leitora.

O objetivo desse artigo foi reiterar a importância da Leitura literária na sala de


aula, principalmente, no Ensino Fundamental, pois ela forma leitores e forma pessoas
para vida. É importante destacar que quando uma criança vai ler um livro, é necessário
que ela esteja entendendo o que está sendo lido, quais lições ela consegue aprender ali,
aquilo deve ter um significado para ela, algo que possa fazer com que ela pense
criticamente e consiga interpretar e extrair as ideias dessa leitura. A leitura de mundo
através das obras literárias, através de um mundo fantástico e real ao mesmo tempo aqui
o aluno não está apenas lendo um punhado de palavras organizadas em linhas, capítulos
e parágrafos, aqui o aluno está lendo o mundo, está pensando a respeito do que ler, está
desenvolvendo o seu caráter cognitivo e aprendendo através do lúdico a enxergar o
mundo, aprender o que a vida lhe traz. A Literatura traz aqui um papel para além do
lazer, o seu papel de auxílio na educação e na formação de leitores e de cidadãos.
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REFERÊNCIAS

CADEMARTORI, Ligia; O que é literatura infantil (Primeiros Passos); EDITORA:


Brasiliense; (8 setembro 2017)

CAVALCANTI, Maria Clara; Formação do leitor: uma questão de jardinagem


(coleção mediações livro 3); Editora: Hum.Publicações. 2017.

GRAZIOLI, Fabiano Tadeu; LEIDENS, Alexandre. Literatura infantil: construção,


recepção e descobertas. Rio de Janeiro: Mares, 2017

GREGORIN FILHO, José Nicolau; literatura infantil: múltiplas linguagens na


formação de leitores; Editora: Editora Melhoramentos. 2012.

MACEDO, Maria Socorro Alencar Nunes. A função da literatura na escola:


resistência, mediação e formação leitora. 1. ed. São Paulo: Parábolas, 2021.

MINAYO, M. C. de S. (org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis:


Vozes, 2009.

MOREYRA, Carolina. Lá e aqui. Ilustrações Odilon Moraes. 1ª.ed. Rio de Janeiro:


Pequena Zahar,2015.

RIOS, Rosana. Tá doido?! uma leitura lúdica de Dom Quixote de La Mancha;


Ilustrações William Yukio.1.ed. Itapira, São Paulo: Estrela Cultural,2020/ adaptado de
Miguel de Cervantes. 1547-1616.

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ANEXOS

LIVRO “LÁ E AQUI”

“Um dia, a casa se afogou.” pag.17 e 18 pag.39 e 40

“As flores murcharam, o jardim morreu” pag.21 e 22

“Os peixinhos foram morar nos olhos húmidos de minha mãe.”

pag.25 e 26

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LIVRO “DOM QUIXOTE” pag.12

Verso do livro
pag. 35 pag.89

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