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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ – UFPI

CENTRO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO – CCE


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO – PPGED
SEMINÁRIO DE INTRODUÇÃO AO DOUTORADO
DOUTORADO EM EDUCAÇÃO

FRANCISCO MARCOS PEREIRA SOARES

REFLEXÕES SOBRE A PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO NO BRASIL:


DESAFIOS E PERSPECTIVAS

TERESINA
2022
Francisco Marcos Pereira Soares

REFLEXÕES SOBRE A PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO NO BRASIL:


DESAFIOS E PERSPECTIVAS

Texto produzido a partir das discussões e reflexões


durante o Seminário de introdução ao doutorado em
âmbito do Programa de Pós-graduação em Educação da
Universidade Federal do Piauí – UFPI, sob orientação dos
Prof. Dr. Elmo de Sousa Lima e da Prof. Dra. Maria Vilani
Cosme de Carvalho.

TERESINA – PI
2022
REFLEXÕES SOBRE A PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO NO BRASIL:
DESAFIOS E PERSPECTIVAS

Francisco Marcos Pereira Soares1


Elmo de Sousa Lima2
Maria Vilani Cosme de Carvalho3

RESUMO: O presente texto é resultado de leituras e discussões realizadas no doutorado em


educação durante o componente curricular de Seminário de Introdução ao Doutorado em âmbito
do Programa de Pós-graduação em Educação – PPGED, da Universidade Federal do Piauí.
Consideramos que, no Brasil, o cenário do processo de implementação da Pós-graduação em
Educação ocorreu para validar um projeto de desenvolvimento de modernização conservadora
demarcado pelo regime militar do pós-1964 que destacava como objetivos principais formar
recursos humanos qualificados para atender as demandas em todos os níveis de ensino, assim
como formar/ preparar pesquisadores/profissionais de níveis avançados que pudessem
contribuir com o desenvolvimento econômico e social do país. Em face destas considerações
introdutórias, questionamos: Quais os desafios que a pós-graduação em educação no Brasil tem
enfrentado ou tem que enfrentar anos depois de sua implementação no Brasil? Que perspectivas
a Pós-graduação em Educação tem assumido e precisa assumir no contexto educacional
brasileiro? O objetivo geral é refletir sobre a pós-graduação em educação no Brasil. Como
objetivos específicos, estabelecemos: os caracterizar desafios da pós-graduação em educação
no Brasil e analisar as perspectivas que a pós-graduação em educação tem assumido no contexto
atual. Evidencia-se que é preciso repensar as finalidade e propostas dos programas de pós-
graduação em educação a partir também de novas estruturas de funcionamento, avaliação e
currículo mais significativos. Além disso, é preciso pensar em uma pós-graduação que se
relacione diretamente com os problemas da educação e da escola, especificamente com
objetivos claros voltados para resolução de problemas que afetam o ensino e a aprendizagem
nas escolas do país. Sendo necessário também divulgar as pesquisas em todos os campos da
vida social e acadêmica tanto a nível nacional como internacional de maneira que a pesquisa
brasileira seja cada vez mais vista e possa contribuir de forma qualitativa com a educação e na
resolução de seus problemas.

Palavras-chave: Pós-Graduação. Desafios e possibilidades. Educação. Pesquisa.

01 INTRODUÇÃO

O Seminário de Introdução ao Doutorado em âmbito do Programa de Pós-graduação em


Educação – PPGED da Universidade Federal do Piauí - UFPI ocorreu de forma remota pela

1
Doutorando em Educação pela Universidade Federal do Piauí – UFPI. E-mail: marcosluhan@gmail.com
2
Professor adjunto do Centro de Ciências da Educação da UFPI, com atuação no Programa de Pós-Graduação
em Educação (Mestrado e Doutorado.) da UFPI. E-mail: elmolima@gmail.com
3
Professor adjunta do Centro de Ciências da Educação da UFPI, com atuação no Programa de Pós-Graduação
em Educação (Mestrado e doutorado) da UFPI. E-mail: vilacosme@ufpi.edu.br
plataforma Google Meet4, do dia 14 a 18 de Março de 20221. Em seu corpo de discussão, o
seminário abordou um pouco sobre a estrutura e funcionamento do Programa de Pós-
Graduação em Educação da UFPI. O programa ofertou uma aula inaugural aos novos
doutorandos em educação com o tema A pós-graduação em Educação no Brasil no contexto
da pandemia: desafios e possibilidades com a participação da Prof. Dra. Olívia Morais de
Medeiros Neta, professora do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte e do professor Dr. Claúdio Pinto Nunes, do programa de Pós-
graduação em Educação da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia.
Além disso, os coordenadores trouxeram falas importante sobre o regimento interno da
pós-graduação em educação, trataram sobre o movimento de internacionalização da pesquisa
em educação chamando a atenção para que os doutorandos desenvolvam publicações e pensem
em intercâmbios junto a outras universidades do mundo.
Durante o Seminário também houve trabalhos de grupos com leituras reflexivas acerca
da pós-graduação em educação Brasil e as implicações da pesquisa em educação. Nesta
atividade, dois textos serviram de base para fomentar as reflexões e discussões como “A pós-
graduação em educação no Norte e Nordeste: desafios, avanços e perspectivas”5 dos autores
Betânia Leite Ramalho6 e Vicente de Paulo Carvalho Madeira7 e também o texto “Implicações
e perspectivas da pesquisa educacional no Brasil contemporâneo”8 de autoria da professora
Bernadete Gatti9.
É importante destacar que a partir das atividades e das leituras desenvolvidas em âmbito
do seminário nos colocou em posição de sujeitos reflexivos e, com isso, fomos chamados a
desenvolver um texto elencando nossas impressões sobre as falas apresentadas no doutorado.

4
Google Meet é uma plataforma de videoconferências do Google, pertencente ao Workspace, que oferece planos
gratuitos e pagos para criação de reuniões com até 250 pessoas, com duração de até 24 horas, criptografia e uma
série de recursos disponíveis
5
Texto disponível em file:///C:/Users/oberd/Downloads/Texto%2001%20-%20A%20p%C3%B3s-
gradua%C3%A7%C3%A3o%20no%20Norte%20e%20Nordeste%20-%20Betania%20(1).pdf
6
Doutora em ciências da educação pela Universidade Autônoma de Barcelona, na Espanha, é professora adjunta
no Departamento de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), e atual presidente da
Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisas em Educação (ANPEd) (biênio 2004-2005).
7
Doutor em ciências da educação pela Université René Descartes (Paris V) e com pós-doutorado no Institut
International de Planification de l’Éducation (IIPE/ Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência
e a Cultura – UNESCO), é atualmente diretor de pós-graduação, pesquisa e extensão da Fundação Educacional
Serra dos Órgãos, em Teresópolis, estado do Rio de Janeiro.
8
Texto disponível em file:///C:/Users/oberd/Downloads/Texto%2002%20-
%20Implica%C3%A7%C3%B5es%20da%20pesquisa%20em%20educa%C3%A7%C3%A3o%20-
%20Gatti%20(1).pdf
9
Possui graduação em Pedagogia pela Universidade de São Paulo e Doutorado em Psicologia - Universite de
Paris VII - Universite Denis Diderot, com Pós-Doutorados na Université de Montréal e na Pennsylvania State
University. Docente aposentada da USP, foi professora do Programa de Pós-Graduação em Educação:
Psicologia da Educação da PUC-SP.
Pensando nisso, propomos o presente texto tratando sobre a pós-graduação no Brasil o qual
intitulamos de Reflexões sobre a pós-graduação em educação no Brasil: desafios e
perspectivas.
Para introduzir nossas reflexões, reconhecemos que processo de implementação da
educação superior no Brasil tem se ampliado muito nos últimos e tem passado por mudanças
em suas configurações quando tratamos tanto acerca da graduação como da pós-graduação.
Esse processo tem sido mais latente sobretudo na pós em educação devido a
necessidades que o mundo trabalho e a natureza globalizante da sociedade exigiu do ser humano
para atender ao sistema capitalista cada vez mais em expansão no mundo. Desta forma, o
conhecimento técnico-científico passou a ser supervalorizado como uma forma de promover
desenvolvimento da sociedade e a educação superior se tornou uma um nível de educação
necessário para mudanças e fortalecimento dessa perspectiva.
De acordo com Harvey (1998, p. 151) o conhecimento é uma base importante para o
desenvolvimento econômico o que faz com que se dê ênfase a educação/conhecimento como
força motriz para a ampliação/modernização dos sistemas de produção. Com esse valor
reconhecido, o conhecimento científico e técnico é visto como mercadoria que se produz e se
vende a quem pagar mais passando a atender as concepções capitalista sob condições cada vez
mais organizadas em bases competitivas.
Esse processo implica, sobretudo, na competição entre as instituições educativas seja
por pessoas ou por suas produções e descobertas. Essa situação levou o conhecimento a assumir
uma dimensão comercial e o seu desenvolvimento passou por um processo de expressiva
expansão em todo o mundo.
No Brasil, o cenário do processo de implementação da Pós-graduação em Educação
ocorre justamente para validar um projeto de desenvolvimento de modernização conservadora
demarcado pelo regime militar do pós-1964 que destacava como objetivos principais formar
recursos humanos qualificados para atender as demandas em todos os níveis de ensino, assim
como formar/preparar pesquisadores/profissionais de níveis avançados que pudessem
contribuir com o desenvolvimento econômico e social do país.
Em face destas considerações introdutórias, elaboramos alguns questionamentos acerca
da estrutura e funcionamento da Pós-Graduação em Educação no sentido de fazer um exercício
reflexivo acerca de sua implementação no Brasil, bem como pensarmos nos desafios, nas
possibilidades e nas perspectivas que essa pós-graduação tem assumido ou precisa assumir no
contexto da educação no Brasil. Desta forma, podemos nos questionar: Quais os desafios que a
pós-graduação em educação no Brasil tem enfrentado ou tem que enfrentar anos depois de sua
implementação no Brasil? Que perspectivas a Pós-graduação em Educação tem assumido e
precisa assumir no contexto educacional brasileiro?
É preciso dizer que a presente escrita assume ideias possíveis, não acabadas e que não
pretendemos de forma alguma esgotar respostas, possibilidades reflexivas ou trazer verdades
absolutas acerca da temática, mas trazer um lugar de fala para esse contexto de discussão acerca
da pós-graduação em educação no Brasil.
Desta forma, o objetivo geral é refletir sobre a pós-graduação em educação no Brasil.
Como objetivos específicos, estabelecemos: caracterizar os desafios da pós-graduação em
educação no Brasil e analisar as perspectivas que a pós-graduação em educação tem assumido
no contexto atual.

02 A PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU DO BRASIL: reflexões necessárias e


contextuais

A qualificação profissional, no contexto das novas exigências do capital, tornou-se fator


crucial para atender as novas demandas demarcadas pela produção capitalista no mundo
globalizado e, consequentemente, no Brasil. As novas necessidades demandaram novos perfis
profissionais, formações em níveis mais elevados do ensino atrelado sobretudo a pesquisa e ao
desenvolvimento de novos conhecimentos técnico-científico. Nesse sentido, a pós-graduação,
em especial a educação, precisou ampliar espaços institucionais que dessem conta das novas
exigências. Sobre esse contexto, Castro (2011, p. 22), nos envolve em suas ideias alertando que
essas novidade e exigências “[...] trouxeram consigo a necessidade de graus mais elevados de
qualificação e flexibilização da formação do trabalhador em todos os níveis de atuação”.
Com a expansão do acesso ao ensino superior, em níveis mais elevados, tornou -se
possível também a ampliação significativa da pós-graduação brasileira. Esse movimento
possibilitou a ampliação do número de cursos, vagas, matrículas, titulações e modalidades nas
diversas regiões do Brasil favorecendo também a sua interiorização, anos 2000 e nas duas
primeiras décadas do século XXI, nos governos que subsequenciaram ao de Fernando Henrique
Cardoso (FHC).
Isso nos permite considerar que o processo de implantação e implementação da pós-
graduação stricto sensu no Brasil, demarcada como locus de produção de pesquisa e de elevado
conhecimento – institucionalizada e formalizada a partir de 1965, pelo Parecer de nº 977/1965
do Conselho Federal de Educação – tem uma história muito recente, mas é preciso reconhecer
que ela se apresenta consolidada a partir do Sistema Nacional de Pós-Graduação (SNPG)
atualmente que cria os Planos Nacionais de Pós-Graduação no país.
Sobre o Sistema Nacional de Pós- Graduação é importante destacar que no Brasil tem
sido bastante significativo dentro do sistema econômico, cultural e educacional. De acordo com
alguns autores como Cury (2005), Balbachevky (2005) e Schwartzman (2010) ele constitui
atualmente um sistema de elevada qualidade tendo se assemelhado ao de países com alto
desenvolvimento econômico. Isso quer dizer que é um sistema que tem respondido as demandas
nacionais e tem contribuído com o desenvolvimento da nação a partir dos conhecimentos que
tem sido gerados/elaborados na pós-graduação brasileira devido a elevada quantidade de
estudantes matriculados nos programas de mestrado e doutorado, além disso da quantidade de
significativa de mestres e doutores que são formados anualmente bem como pela produção
científica que eles tem apresentado.
Se analisarmos dados do Sistema de Informações Georreferenciadas – GEOCAPES é
possível identificar que houve a consolidação e a expansão da pós-graduação stricto sensu no
Brasil, porém ainda assim é importante refletirmos acerca dos desafios postos e das perspectivas
que esse processo tem tomado a nível nacional, sobretudo pensando as demandas de cada
programa como no caso dos programas de Educação.
Os dados informam que em 2008 existiam 2.567 programas e no ano de 2017 já eram
4.296. Observa-se que ocorreu um aumento de 67,3% no total de programas de pós-graduação
stricto sensu. Em 2017, dos 4.296 programas, 2.138 são programas de mestrado e doutorado,
1.338 somente de mestrados acadêmicos, 739 de mestrados profissionais e 81 de doutorados, o
que representa um total de 6.434 cursos (GEOCAPES, 2019).
Quando tratamos especificamente dos programas de Educação, de acordo com a
ANPED – Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação o Brasil possui 193
programas de pós-graduação em Educação distribuídos pelas cinco regiões do país. Dados da
GeoCapes informam que em 2018 havia 17.099 alunos matriculados e 5.411 se titulando, com
3.792 docentes permanentes e 658 colaboradores ou visitantes.
Autores como Ribeiro (1980), reconhecem em seus escritos e concepções que a pós-
graduação tem sido um fator de sucesso no Brasil, sobretudo em relação ao fortalecimento da
educação superior bem como aspecto fundamental para o desenvolvimento do país em todos os
sentidos. Desta forma, tratar acerca do desenvolvimento do nosso país é tratar com importância
da expansão e resultados positivos da pós-graduação no Brasil.
Percebemos, portanto, que a implementação da pós-graduação no Brasil tem ocorrido
de forma expansiva, porém é preciso reconhecer as especificidades que essa implementação
aponta em cada região do país, como nos chama a atenção os autores Ramalho e MADEIRA
(2005, p. 74):
Olhando para a área da educação, e especificamente para as regiões Norte e
Nordeste, os desafios são grandiosos. Ao contrário, porém, de outras épocas,
hoje essas regiões dispõem de capacidade instalada em condições de
responder a essa demanda, apesar dos históricos desequilíbrios regionais e
intrarregionais do país, que se reproduzem na mentalidade e na visão da
própria academia. De toda forma, percebe-se um amadurecimento no discurso
das representações regionais. Antes, o enfoque estava muito mais nas
discrepâncias regionais; hoje, volta-se de preferência para as políticas públicas
da educação.

Hoje, ainda que a pós-graduação seja marcada por intensas disparidades entre as regiões
e estados devido, a forma como foram implantados inicialmente e a forma de os avaliarem hoje,
o Sistema Nacional de Pós-graduação tem se mostrado eficiente e conquistados grandes
avanços no acesso e na formação de quantidades expressivas de mestre e doutores. Para
Ramalho e Madeira (2005, p. 75) “Basta tomar dois indicadores: a taxa de crescimento (16,1%)
do número de doutores é bem expressiva se comparada com a de outros países; é crescente a
participação relativa de autores nacionais nas publicações em periódicos internacionais
indexados (1,44% em 2001).”
Estes resultados são frutos dos investimentos na educação superior, sobretudo nas duas
primeiras décadas do século XXI, porém é importante analisar que ainda é necessário avançar
bastante, pois os desafios são ainda intensos para se chegar a excelência de qualidade que se
espera e o objetivo geral que é : “o crescimento equânime, com o propósito de atender, com
qualidade, as diversas demandas da sociedade, visando o desenvolvimento científico,
tecnológico, econômico e social do país” (BRASIL, 2004, p. 54).
Um dos desafios imensos a ser pensado e superado é justamente a questão dos
desequilíbrios existentes no funcionamento e nos resultados dos programas de pós-graduação,
em educação especificamente, entre as diferentes regiões e estados do país o que valida e
reafirma as desigualdades, injustiças, ausência de equidade instaurada pelo modelo de
desenvolvimento econômico e social que foi historicamente implantado no Brasil.
Diversas perspectivas que tratam acerca dos desequilíbrios da pós-graduação no Brasil
já reconhecem que enquanto ações não forem pensadas e desenvolvidas em prol da
redução/minimização desse problema, há uma tendência de que os desafios não sejam
superados, pós-graduação estagne e não avance, sobretudo naquelas em que as desigualdades
são mais acentuadas. Porém, é preciso reconhecer o tamanho do problema historicamente
construído em torno desta questão no Brasil passando por causas estruturais decorrentes da
estreita vinculação entre desenvolvimento econômico e implementação de competências.
Desta forma podemos reconhecer como grande desafio para a Pós-graduação brasileira
é a redução das desigualdades regionais que, apesar dos esforços, ainda persiste no Brasil. Além
disso, é necessário compreender como desafio a relação entre a ausência de políticas
institucionais e a maneira como tem ocorrido o processo de crescimento da pós-graduação
brasileira.
Pensamos que são desafios que não são atuais e tem um processo histórico envolvido
como nos aponta Gatti (2001, p. 72):
As universidades brasileiras não nasceram conjugando pesquisa e ensino;
voltavam-se só para o ensino, para dar um diploma profissionalizante, tanto
as de natureza confessional, como as leigas privadas e algumas públicas. Elas
não foram estruturadas para incorporar a produção de conhecimento de modo
sistemático, como parte de sua função, e, sequer, para discutir o conhecimento.
Elas se voltaram para a reprodução de um conhecimento que não produziram,
com a qual não trabalharam investigativamente, mas que absorveram e
transferiram.

Continuando nossas reflexões, consideramos também que é desafio para a pós-


graduação no Brasil dá continuidade ao processo crítico balizado pela avaliação da Capes. O
processo avaliativo não leva e conta as diversidades históricas que marcaram o processo de
implementação de cada programa, por exemplo, e a escassez de recursos que são destinados a
pesquisa em educação, sobretudo.
Citamos também como desafio a questão da internacionalização dos programas. Esse é
um desafio que é bastante divergente entre os programas, pois ao passo que, por exemplo, no
sul e sudeste os programas de educação conseguem melhor desempenho, os programas do
Norte/Nordeste ficam bem atrás devido, sobretudo, a ausência de recursos e também por certos
tipos de preconceitos ou estereótipos regionais que, historicamente se instalaram, no Brasil.
Por últimos, é preciso reconhecer a pós-graduação como um nível elevado de ensino
que deve apresentar pesquisas que impactem e possam ajudar aos profissionais da educação
básica a melhorar os processos educativos a partir de dados e estudos da realidade.
Diante dos avanços já conquistados, mas também dos inúmeros desafios ainda postos e,
especificamente, em educação, o que se esperar da pós-graduação em educação e seus mestres
e doutores que se formam? Para Ramalho e Vicente (2005, 80):

A primeira proposta é lutar pelo avanço de uma cultura pós-graduada (...),


incentivando, desde a graduação, a institucionalização da pesquisa no
processo acadêmico do ensino-aprendizagem, na construção coletiva do
conhecimento histórica, social e politicamente relevante.
Nos propor a refletir acerca dos desafios contemporâneos e das perspectivas das
políticas de pós-graduação, especificamente em educação, requer pensar sobre os seus objetivos
principais para uma construção social mais igualitária e equitativa, construção de uma cidadania
digna para todos a partir da emancipação da pessoa humana, construção da qualidade de vida
das pessoas e da transformação qualitativa da sociedade para melhor.
É preciso analisar e reconhecer que tudo aquilo que for desenvolvido em educação
precisa estar conecetado com a formação qualitativa das pessoas assim como ligado ao
exercício pleno de sua cidadania, vinculação com o mundo do trabalho e suas experiências
extraescolares. Na pós-graduação, essas questões se expressam nos diferentes espaços
educativos, movimentos desenvolvidos pela academia, bem em cada uma das linhas de pesquisa
que o programa de educação desenvolve e trabalha. Pensando nisso, é que justificamos a
existência dos programas de pós-graduação e a qualidade com que eles sejam desenvolvidos,
porque o que está em jogo é a formação das pessoas e a resolução de questões sociais, políticas
e econômicas muito importante para a mudança da sociedade para melhor. Pensar nisso, nos
eleva o pensamento de que é preciso ter pesquisadores comprometidos com o ensino, com a
pesquisa e a extensão universitária mobilizados em prol de causas político-sociais, produção de
conhecimentos de forma ética sem perder de vista as finalidades gerais da pós-graduação:
“contribuir intencionalmente para a emancipação dos homens e para a diminuição das
desigualdades entre eles.” (RAMALHO E MADEIRA, p. 2005, 80).
É preciso abrir um parêntese nessa discussão para falar um pouco sobre a ética na
pesquisa e o comprometimento de pesquisadores com as suas produções. De acordo com o
professor Nunes (2021, p.3), da Universidade Estadual do Ceará:

(...) Mainardes e Carvalho (2019) mostram a necessidade do uso da


autodeclaração de princípios e de procedimentos éticos em pesquisas da
área de Educação. Segundo os autores, essa autodeclaração é ‘[...] a
manifestação escrita pela qual o próprio pesquisador explicita os princípios,
os procedimentos e as demais questões éticas envolvidas no processo de
pesquisa’ (MAINARDES; CARVALHO, 2019, p. 130). Além disso, ela traz
importante contribuição para o fortalecimento da ética na pesquisa em
Educação, pois sua adoção representará um espaço de descrição e de
autorreflexão sobre a conduta ética do pesquisador, materializado em uma
seção nos relatórios de pesquisa, o que favorece a análise dessa conduta pelos
pares para além de normas do Sistema CEP/Conep.

Nesse sentido, a pesquisa aparece como algo imprescindível para o fortalecimento da


pós-graduação, porém questões éticas ainda permeiam como desafios a serem superados nas
publicações acadêmicas. O autor chama atenção para o fato de o próprio autor das pesquisas
realizarem autodeclarações dos princípios e dos procedimentos éticos envolvidos nos trabalhos,
o que é essencial para uma pesquisa a ser publicizada.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As reflexões durante o Seminário de Introdução ao Doutorado em âmbito do Programa


de Pós-graduação em Educação na Universidade Federal do Piauí balizaram uma discussão
entre os doutorando em torno dos desafios e das perspectivas da pós-graduação em educação
no Brasil e nos trouxe, além de muitos conhecimentos, muitos questionamentos como: O que
esperar da pós-graduação em educação agora e nos próximos anos? É um questionamento bem
instigante tendo em vista o tamanho da responsabilidade que a educação superior apresenta para
a sociedade.
Sabemos que a expansão ocorreu nos últimos anos a partir da ampliação do número de
vagas e implementação de outros programas no Brasil constituindo o movimento denominado
de interiozação. Consideramos a interiorização como algo positivo, pois muitas pessoas foram
formadas nos níveis mais elevados de educação e ensino deixando de ser ofertada apenas nas
capitais e no sul/sudeste do país. As políticas de investimentos governamentais têm resultados
em saldos positivos para a pós-graduação no Brasil e contribui cada vez para que a educação
seja vista como sinônimo de desenvolvimento.
Porém, vimos que o modelo de desenvolvimento que volta olhares mais significativos
para uma região e se ausenta de outras tem gerado desigualdades no Brasil todos, constituindo
um dos maiores desafios a serem superados na pós-graduação brasileira seja com recursos
financeiros, seja com a visibilidade dos programas e suas produções, avaliações mais
equitativas.
Os debates acerca dos rumos da pós-graduação em educação no Brasil precisam ser
fermentados em todos os programas junto a estudantes, professores e grandes pesquisadores de
forma que os desafios fiquem claros e as novas perspectivas de qualidade sejam realçadas para
que se promova os avanços necessários, melhoria da qualidade da educação do Brasil de hoje,
e sobretudo, na pós-graduação de amanhã.
As perspectivas atuais se encaminham nas ideias de que é necessário repensar as
finalidade e propostas dos programas de pós-graduação em educação a partir também de novas
estruturas de funcionamento e avaliação, currículo mais significativos e que se relacionam com
temáticas cada vez mais atuais. Além disso, é preciso pensar em uma pós-graduação que se
relacione diretamente com os problemas da educação e da escola, especificamente com
objetivos claros voltados para resolução de problemas que afetam o ensino e a aprendizagem
nas escolas do país. Além disso, é preciso divulgar as pesquisas em todos os campos da vida
social e acadêmica tanto a nível nacional como internacional de maneira que a pesquisa
brasileira seja cada vez mais vista e possa contribuir de forma qualitativa com a educação e na
resolução de seus problemas.
É necessário perspectivar estratégias de gestão que se voltem para encontrarmos novos
rumos para a pós-graduação em educação no sentido de que todos possam se envolver num
movimento de desenvolvimento brasileiro mais justo e equitativo, bem como seja capaz de
colocar o Brasil no rol de economias mundiais com pessoas que produzam mais conhecimentos
para melhorar a qualidade de vida das pessoas, tecnologia e inovação nas formas de conhecer,
viver e desenvolver-se com ética e respeito a todos os espaços.
Retomar o questionamento sobre o que esperar da pós-graduação em educação no Brasil
é dizer que se espera muito e as expectativas são grandes em torno deste nível de educação. A
perspectiva, de fato, é que especialistas, mestres e doutores sejam formados para atuar com
consciência socioambiental apurada, consciente da necessidade de qualificar as condições de
aprendizagem em todos os espaços educativos e, sobretudo, atentos as demandas dos novos
tempos com vinculação entre mundo social, do trabalho e estudos. Por fim, dizer que a pós-
graduação deve dar sua contribuição à qualificação consistente dos novos especialistas, mestres
e doutores e possam (re) construir um Brasil mais humano, justo e equitativo a partir da
educação.

REFERÊNCIAS

BALBACHEVSKY, E. A pós-graduação no Brasil: novos desafios para uma política bem-


sucedida. In: BROCK. C.; SCHWARTZMAN, S. Os desafios da educação no Brasil. Rio de
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https://portais.ufg.br/up/67/o/PosGraduacao_Brasil_2.pdf Acesso em: 21 mar. 2022.
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CASTRO, A. M. D. A. A expansão e o acesso ao Ensino Superior: os novos desafios da
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CURY, C. R. J. A globalização e os desafios para os Sistemas Nacionais: agenda internacional
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HARVEY, D. Condição pós-moderna. 7 ed. São Paulo: Loyola, 1998.
NUNES, J. B. C. Ética em Pesquisa nas dissertações e teses da área de Educação: um olhar
para a região Nordeste. Práxis Educativa, Ponta Grossa, v. 16, e2117319, p. 1-22, 2021.
Disponível em: https://revistas2.uepg.br/index.php/praxiseducativa. Acesso em 22 de
marc/2022. https://orcid.org/0000-0002-1270-0026
RAMALHO, B. L.; MADEIRA, V. de P. C. A pós-graduação em educação no Norte e
Nordeste: desafios, avanços e perspectivas. Revista Brasileira de Educação [online]. 2005, n.
30 [Acessado 21 Março 2022] , pp. 70-81. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S1413-
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RIBEIRO, D. Os cursos de pós-graduação. Encontros com a Civilização Brasileira, Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 1980.

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