Você está na página 1de 22

FACULDADE DE TECNOLOGIA E CIÊNCIAS – FTC

ANA CAROLINA SOUZA NAZARIO SACRAMENTO

PEDAGOGIA DE FREIRE NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE ENSINO


SUPERIOR

SALVADOR

2012
ANA CAROLINA SOUZA NAZARIO SACRAMENTO

PEDAGOGIA DE FREIRE NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE ENSINO


SUPERIOR

Trabalho de conclusão de curso apresentado a


Faculdade de Tecnologia e Ciência como requisito
para conclusão do Curso de Pós-graduação em
Metodologia do Ensino Superior, orientado pelo
Professor André Marcílio Carvalho de Azevedo.

SALVADOR

2012
ANA CAROLINA SOUZA NAZARIO SACRAMENTO

Pedagogia de Freire na formação do professor de Ensino Superior

Trabalho de conclusão de curso apresentado à Faculdade de Tecnologia e Ciência como


requisito para conclusão do Curso de Pós-graduação em Metodologia do Ensino Superior,
orientado pelo Professor André Marcílio Carvalho de Azevedo.

BANCA EXAMINADORA

Orientador: ________________________________

Membro: ________________________________

Membro: ________________________________
Ninguém é sujeito da autonomia de ninguém. Por outro lado, ninguém
amadurece de repente, aos vinte e cinco anos. A gente vai amadurecendo
todo dia, ou não. A autonomia enquanto amadurecimento do ser para si, é
processo, é vir a ser.

Paulo Freire, 1996.


Pedagogia de Freire na formação do professor de Ensino Superior

Ana Carolina Souza Nazario Sacramento*

Resumo

Observa-se que na maioria das IES os professores são Bacharéis sem nenhuma
fundamentação, formação e até mesmo experiência pedagógica. A formação dos
professores é algo preocupante, pois quando estes aprimoram suas práticas na sala
de aula, os alunos aprendem sempre. Paulo Freire, Patrono da Educação Brasileira,
também conhecido como Pai da pedagogia moderna, revolucionou a educação com
métodos inovadores de ensino, que facilitavam o aprendizado permanente, deixando
de lado mecanismos metódicos e robotizados. Por meio de revisões bibliográficas,
este artigo visa a mostrar como os professores de ensino superior podem aprender,
aprimorar e utilizar os métodos freirianos aliados à formação continuada.

Palavras-chave: Formação de professores, Ensino superior, Paulo Freire.

*Professora de Química – Rede Estadual


Licenciada em Ciências Biológicas
Faculdade de Tecnologia e Ciências
E-mail: anacarolinanazario@yahoo.com.br
INTRODUÇÃO

O comprometimento com a educação gera inquietações pertinentes à


formação docente do ensino superior, fundamentadas pelo olhar crítico de quem
atua na área de ensino. É notório que a maioria dos profissionais de docência no
ensino superior não apresenta em sua formação inicial a licenciatura.

Nos cursos de licenciatura, os graduandos a todo tempo são estimulados a


desenvolver suas práticas de ensino, unindo a teoria com a prática, aprendendo a
“desempenhar a sua função com competência técnica e política” (Neto & Maciel,
2009, p. 5).

Em contrapartida, na condição de Bacharéis ‒ sem a intenção, de nossa


parte, de desprezar este tipo de formação ‒, esses profissionais apresentam um rico
domínio do conhecimento específico da área de formação, deixando de desenvolver
competências e habilidades necessárias para a prática de ensino fundamentada
num aprendizado crítico reflexivo. Demo defende esse aprendizado quando destaca
a importância “de aprender pela elaboração própria, substituindo a curiosidade de
escutar pela de produzir” (DEMO, 2001, p.10). Apesar de essas competências e
habilidades serem uma construção individual, beneficiarão o coletivo, professor,
aluno e instituição de ensino.
É notória no Brasil uma preocupação com a formação de professores do
ensino fundamental e médio. Tais profissionais são constantemente incentivados a
fazerem formação continuada, com a finalidade de, principalmente, melhorar as
práticas de ensino. Isto, porém, é observado com mais frequência nos profissionais
da educação infantil, que estão sempre procurando métodos criativos e construtivos
de trabalho em sala. Neste ponto, pergunta-se: por que não se nota a mesma
preocupação com a formação dos docentes de nível superior, no sentido da
aquisição de métodos inovadores e criativos?
Essa dicotomia entre conhecimento específico e prática de ensino, ou o
exercício do magistério como privilégio de apenas uma categoria de professores,
deve ser superada, e tornar-se parte integrante do exercício profissional de toda
classe de professores.
Segundo Freire, a formação docente não pode ser apenas um puro
treinamento. Não há formação docente sem o sentimento e a vontade do ser
professor: o sentimento deve estar aliado à prática, é preciso aprender a ouvir os
discentes:
O que importa na formação docente não é a repetição mecânica do gesto,
este ou aquele, mas a compreensão do valor dos sentimentos, das
emoções, do desejo, da insegurança a ser superada pela segurança, do
medo que, ao ser “educado”, vai gerando a coragem. (FREIRE, 1996)

É comum observar, nas universidades, professores apenas passando


conteúdos, apropriando-se de uma didática reprodutiva e desatualizada, em que os
alunos simplesmente copiam as informações passadas, tornando-se meros
reprodutores, repetindo conceitos muitas vezes desatualizados. Faz-se necessário
superar esse tradicionalismo e tornar o professor de IES um profissional que viva em
prol da construção de novos conhecimentos, socializando e estimulando os alunos a
fazerem o mesmo.
De acordo com a teoria do desenvolvimento humano de Piaget, o
conhecimento é construído por etapas, sendo que o meio em que o sujeito está
inserido interfere constantemente no aprendizado, precisando o sujeito estar em
contato com o objeto a ser estudado. Piaget explica também que o homem alcança
o conhecimento quando chega a um estágio que ele chama de “equilíbrio”. Para que
haja a construção de novos conhecimentos, o sujeito precisa estar inserido numa
nova situação que gerará inquietações, desestabilizando-o e obrigando-o a procurar
a resposta para a sua inquietação, encontrando novamente o equilíbrio e gerando
novos conhecimentos e aprendizagem.
Os professores podem conseguir estimular os alunos a desenvolver e
produzir conhecimento no momento em que lançam ou promovem dúvidas, gerando
questionamentos, debates e discussões fundamentadas, seja no próprio ponto de
vista, seja no ponto de vista científico.
Assim como Piaget, Freire defende a ideia de que o ser humano constrói
conhecimento mediante o meio em que está inserido. O discente é um ser “social e
histórico” (FREIRE, 1996, p.42). Isso é aprendizagem, resultado do conhecimento
específico aliado ao uso de instrumentos criativos e uma boa prática de ensino que
proporciona conhecimento permanente que jamais sairá da mente dos discentes.
Aprendizagem não pode estar aliada a antigos mecanismos de passar informação,
copiar, decorar e avaliar.
O presente artigo constitui-se uma pesquisa bibliográfica qualitativa, tendo
como base literária principal o livro Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários
à Prática Educativa, de Paulo Freire, publicado no ano de 1996. Neste livro, Freire
aborda questões fundamentais para a formação docente. Busca-se aqui, também,
chamar a atenção dos professores do ensino superior e das IES para a importância
de uma formação pedagógica de qualidade para o ensino superior e como a
metodologia Freiriana pode contribuir para tal feito.

1 PAULO FREIRE

1.1 Sua formação

VAMOS PENSAR EM TÍTULOS MAIS CRIATIVOS, MAS VAMOS DEIXAR ISSO


POR ÚLTIMO

Nascido em Recife em 1921, Paulo Freire teve uma irmã e dois irmãos mais
velhos. Veio de uma família de classe média, porém vivenciou a fome durante a
infância, devido a problemas econômicos no ano de 1929. Alfabetizado por sua mãe
com pequenos galhos de árvore no quintal de casa, com palavras do seu cotidiano
que estava acostumado a ouvir, Freire fala como foi importante esse momento para
sua vida no futuro e como essa forma de aprender interferiu na criação de sua
metodologia de ensino. Valorizando sempre os seus mestres, lembra com carinho
de sua primeira professora, como ela ensinava com carinho e amorosidade.

Devido à crise, a sua mãe teve que se esforçar muito para encontrar uma
escola em que ele pudesse estudar gratuitamente. Os seus irmãos tiveram que
trabalhar desde cedo para que Freire conseguisse dar continuidade aos seus
estudos. Na adolescência, teve o desejo despertado pela língua portuguesa e
ingressou no magistério como professor de Português. Aproveitou ao máximo esse
período para aprofundar a leitura e fazer pesquisas sobre Português e gramática.

Ao terminar a educação básica, Freire ingressou na Faculdade de Direito.


Ainda cursando, casou-se com sua colega de trabalho Elza Maria Costa de Oliveira,
professora primária, que despertou em Freire o desejo pela pedagogia. “Ela
influenciou-me enormemente. Assim, meus estudos linguísticos e meu encontro com
Elza conduziram-me à pedagogia.” (Freire, P. e Macedo, D. 1990, p. 109, apud
Centro Paulo Freire Estudo e Pesquisa) Trabalhando juntos, formaram uma ótima
parceria. Durante o tempo em que cursava direito, não exerceu a profissão.
Continuou lecionando e, encantado com a pedagogia, nem sequer concluiu o curso
de direito, abandonado no ultimo semestre.

É notório que o início da vida de Paulo Freire, a forma como foi educado, a
convivência com a pobreza, a relação com sua irmã e sua esposa, ambas
professoras primárias, e suas pesquisas com olhar crítico, durante a faculdade, o
influenciaram bastante para que ele descobrisse um método tão inovador de
aprendizado.

1.2 A metodologia Freiriana

Em 1947, Freire recebeu um convite que daria inicio à sua história como
revolucionário da educação, ao ser chamado a assumir a diretoria do SESI com um
projeto de alfabetizar jovens e adultos da indústria, junto com sua equipe, pôde
exercitar e amadurecer suas ideias revolucionárias.

O método educacional de Freire consiste num “método analítico-sintético, o


da palavração (que já existia), cujos princípios científicos são de ordem psicológica
(capacidade de reter o conjunto, o todo) e metodológica (a globalização do ensino)”
(RAMEH, 2005, p. 2). Paulo Freire é o primeiro a demonstrar interesse pela classe
popular. No seu método, ele ouve o povo e faz uso de palavras do próprio cotidiano
do discente para educar. Quebrou a rigidez do ensino, distribuindo os alunos em
círculo, empregando trabalhos em grupo com debates, conversas e grupos de
estudos que facilitavam o diálogo. Os alunos se sentiam à vontade para expor seus
conhecimentos populares, até então desprezados como conhecimento pela
sociedade; Freire explorava o meio em que os educandos viviam, apropriava-se do
vocábulo dos mesmos para alfabetizá-los e politizá-los. Trata-se de uma pedagogia
dialética e libertadora, em que a troca de sabes entre o educando e o educador é
constante, dando liberdade a este último de criar suas próprias ideias.

O resultado da prática desse novo método de ensino ocorreu em 1963, no Rio


Grande do Norte, quando ensinou 300 adultos a ler e escrever em 45 dias. O
sucesso foi tão grande que Freire foi convidado pelo presidente da época, João
Goulart, a expandir sua pesquisa e pô-la em prática em todo o país com um plano
de ação de alfabetização em massa.

Sobreveio o golpe militar, e o plano de alfabetização de Freire não


interessava aos militares. Desse modo, ele foi acusado de traidor e exilado, mas isso
não abalou o mestre e ele aproveitou o exílio para expandir seu trabalho no exterior.
Durante o período de 1964 a 1980, Freire aplicou e inovou sua metodologia de
ensino, além de publicar livros em diversos países da América Latina, nos Estados
Unidos e principalmente na África, onde ajudou a população pobre.

O método freire não visava apenas a alfabetizar. A meta era o meio social em
que o alfabetizando encontrava-se. O próprio Freire participava dos problemas
vividos por esses alunos e, a partir daí, fazia reflexões mostrando as possíveis
causas. Durante toda a vida, Paulo Freire se mostrou “um pensador, um filósofo da
educação, um educador e, por ser educador, um político” (Centro Paulo Freire
Estudo e Pesquisas).

2 FORMAÇÃO DOCENTE DO ENSINO SUPERIOR

Os problemas na educação persistem devido à dicotomia entre a escola e a


universidade e entre o professor de ensino básico e o de ensino superior. Isto é
notório, pois, quando se faz referência a formação dos docentes de ensino superior,
a própria legislação brasileira deixa lacunas. A LDB (Leis de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional) reconhece a importância da formação docente, porém privilegia
a educação básica. Por que razão, para exercer a profissão na educação básica,
exige-se a licenciatura que está aliada à prática docente, enquanto que, para a
prática no ensino superior, essa exigência não existe?

Na LDB apenas um artigo trata da formação para a docência do ensino


superior, o art. 66, que exige curso de pós-graduação, dando prioridade ao título de
mestrado e/ou doutorado, deixando de lado a experiência profissional:

Art. 52. As universidades são instituições pluridisciplinares de


formação dos quadros profissionais de nível superior, de pesquisa, de
extensão e de domínio e cultivo do saber humano, que se caracterizam por:
(Regulamento)

I - produção intelectual institucionalizada mediante o estudo


sistemático dos temas e problemas mais relevantes, tanto do ponto de vista
científico e cultural, quanto regional e nacional;
II - um terço do corpo docente, pelo menos, com titulação acadêmica
de mestrado ou doutorado;

III - um terço do corpo docente em regime de tempo integral.

Art. 66. A preparação para o exercício do magistério superior far-se-á


em nível de pós-graduação, prioritariamente em programas de mestrado e
doutorado.

Parágrafo único. O notório saber, reconhecido por universidade com


curso de doutorado em área afim, poderá suprir a exigência de título
acadêmico.

(LDB 9.394, 1996.)

É evidente que a docência no ensino superior tem suas particularidades,


ensinar exige mais que conhecimento específico aprofundado, é preciso refletir
sobre a práxis pedagógica aliando questões éticas, sociais, politicas e afetivas. Tais
questões têm que ser abordadas na formação docente.

O mundo e a forma de adquirir conhecimento mudaram. Estando inseridas


nesse contexto mundial, as universidades também passaram por tais modificações.
Não dá para se pensar numa universidade desvinculada das transformações do
atual mundo tecnológico, em que os discentes chegam com informações a todo
tempo. A utilização de recursos tecnológicos pode ser um grande aliado e facilitador
na construção do conhecimento, e o professor precisará estar inovando suas
práticas de ensino e os meios de avaliação, tendo como objetivo a aprendizagem
significativa e centrada no aluno como ser individual que tem suas competências e
habilidades, e social, por estarem inseridos num ambiente coletivo devendo
aprender a respeitar e conviver com as opiniões dos demais.

Os alunos da graduação estão em sala porque têm objetivos a serem


conquistados. A partir do momento em que o professor não os estimula ou os ajuda
a conquistar a cada dia esses objetivos, possivelmente esse aluno irá desistir ou
migrar para outro curso. O professor de graduação está formando futuros
profissionais e faz-se necessário ensinar com uma missão, uma finalidade, pautada
na conquista de objetivos e no progresso.

2.1 Metodologia freireana na formação docente do ensino superior


Paulo Freire dizia: “seguir-me é não me seguir; é reinventar-me.” (Centro
Paulo Freire Estudo e Pesquisas). Inspirou muitos pensadores, pesquisadores,
filósofos e, principalmente, professores. Suas obras serviram de grande contribuição
para a educação brasileira. No método de ensino freiriano, o docente não é mero
transferidor de saber. Consequentemente, o discente também não é mero receptor.
Freire vislumbra a docência como um ato transformador do mundo e o ensino como
um ato de amor, fazendo linkings entre o mundo, a sociedade e o homem.

Pensando assim, o professor precisa estar disposto e aceitar o desafio de


estar constantemente se reavaliando e reinventando através da pesquisa, da prática
e da reflexão. Dessa forma, será algo natural e ficará mais fácil elaborar aulas
criativas que levam o discente a raciocinar, refletir, posicionar-se e desenvolver uma
visão crítica sobre seus atos.

No seu livro intitulado Pedagogia da Autonomia, publicado em 1996, Freire


fala de saberes necessários à formação docente, defendendo que as práticas
sociais são fundamentais para encontrar a autonomia e que é possível aliar
conteúdo com o processo de ensino aprendizagem.

A seguir será feita uma breve reflexão sobre alguns tópicos desse livro
pertinentes à formação docente no ensino superior.

2.1.1 Ensinar exige respeito aos saberes dos educandos

O ser humano está constantemente adquirindo espontaneamente um modo


de entender, atuar e situar-se no mundo em que vive. Os mais antigos diziam que se
o céu noturno não tem estrelas significa que irá chover; as confeiteiras sabem que
não se pode abrir o forno enquanto o bolo está sendo assado porque, caso
contrário, o bolo “sola”. Tais informações foram passadas de geração a geração,
facilitando as tarefas diárias, contribuindo para melhor interpretação da realidade.
Não se pode negar que o conhecimento científico é construído através das crenças
desenvolvidas a partir do senso comum, e a introdução deste último aliado ao
conteúdo programático facilita o aprendizado.
Enquanto a sociedade desprezava o conhecimento da classe operária, Paulo
Freire, em sua metodologia, valorizava o conhecimento construído das experiências
de vida dos educandos. Segundo Freire, a escola tem “o dever de (...) respeitar os
saberes com que os educandos [...] chegam a ela – saberes socialmente
construídos na prática comunitária [...]” (Freire, 1996, p. 31).

Os alunos da graduação, independentemente do semestre em que estejam,


chegam carregados de informações, sejam elas de experiências vividas ou obtidas
pelos meios de comunicação. Nesse momento, cabe ao professor aproveitar as
aptidões dos educandos, aliando as informações trazidas, transformando-as em
conhecimento por meio de questionamentos e provas científicas, fazendo uma
integração do conhecimento científico especifico com o conhecimento popular.

O professor autoritário, que a todo tempo poda e reprime as ideias dos alunos
só porque são contrárias às suas, está desrespeitando a liberdade de pensamento,
expressão e autonomia do educando, impedindo o seu desenvolvimento crítico e
intelectual, deixando de lado a ética profissional.

Vivemos numa sociedade em que são comuns as divisões de opiniões sobre


o mesmo assunto, principalmente questões polêmicas que envolvem ética e politica,
não sendo diferente nas salas de aula da graduação. O docente precisará saber
administrar tais situações, principalmente quando sua opinião for contrária à dos
discentes; o educador precisará saber conduzir a discussão sem tentar impor as
suas próprias convicções, mas sim deixando os alunos criarem ou até mesmo
reafirmarem suas afirmações.

2.1.2 Ensinar exige risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de


discriminação.

Não cabe mais nas universidades o método tradicionalista ou mecanicista de


ensinar. O professor humanista, humilde e aberto, como agente integrante desse
núcleo, acompanha as mudanças, mantendo-se disponível a repensar o tradicional,
mantendo o que for necessário, e aceitando o novo. Paulo Freire defende a ideia de
que deve haver o equilíbrio entre o velho e o novo:
“[...] a aceitação do novo que não pode ser negado ou acolhido só porque é
novo, assim como o critério de recusa ao velho não é apenas o cronológico.
O velho que preserva sua validade ou que encarna uma tradição ou marca
uma presença no tempo continua novo.” (Freire, 1996, p.36).

Apesar de defender uma educação progressista, Freire, em momento algum,


desprezou ou ignorou totalmente o método tradicionalista de ensino. Apoiava um
ensino humanista, valorizando o discente, pessoa integrante da sociedade. Defendia
a utilização de novas tecnologias com aulas dinâmicas, porém o valor e o respeito
ao professor como profissional educador era mantido.

Os professores da docência de nível superior, apesar de terem formação e


alguns já estarem há certo tempo lecionando, devem espelhar-se no professor
humilde que está disposto a repensar o passado, renovando-se, aceitando novas
metodologias de ensino, seja por meio das novas tecnologias ou das novas formas
de ensinar. O profissional deve estar em constante “metamorfose”, livre de qualquer
preconceito, seja social, racial ou intelectual.

2.1.3 Ensinar exige reflexão crítica sobre a prática

Freire aproveitava a curiosidade dos discentes para incentivá-los a querer


aprender. Ele via “a curiosidade como inquietação indagadora” (Freire, 1996, p. 33),
que levaria à construção de críticas. O ponto principal de sua metodologia é
exatamente uma prática educativa que desenvolva a criticidade, o pensar sobre o
que fazer para isso. A reflexão sobre a prática do docente é fundamental na
formação deste profissional, porque o estimula a compreender a si mesmo e ao
mundo em sua volta. Trata-se de uma prática não meramente descritiva, mas vivida,
posta em prática, em que o educador desafia o educando a estar sempre
interagindo, sendo a comunicação a chave para a produção do conhecimento.

A prática docente de alguns profissionais é algo que surge espontaneamente


e, quando o docente tem a oportunidade de refletir sobre sua atuação de ontem e de
hoje, encontrará o aprimoramento do amanhã; quando reflete sobre o que precisa
melhorar e transformar, este se posicionará criticamente em relação a suas
atividades pedagógicas.

Uma ótima forma de reflexão é a elaboração do registro da prática docente,


que consiste no registro escrito do planejamento da aula, do momento da aula com
os diálogos e o ocorrido durante a mesma e, por fim, sistematização e autocrítica. O
objetivo principal do registro não é simplesmente escrever, mas socializar com
outros profissionais, a fim de obter opiniões e críticas sugestivas de melhoria e
incentivo à prática.

2.1.4 Ensinar não é transferir conhecimento

A docência humanista pregada por Freire preocupa-se com o aprendizado e


não apenas com o conteúdo especifico.

Quando entro em uma sala de aula devo estar sendo um ser aberto a
indagações, à curiosidade, às perguntas dos alunos, a suas inibições; um
ser crítico e inquiridor, inquieto em face da tarefa que tenho – a de ensinar e
não a de transferir conhecimento. (Freire, 1996, p.47)

No dicionário da língua portuguesa o significado para a palavra professor é


aquele que ensina, porém, na prática, o sentido do vocábulo é bem mais complexo,
muito mais amplo. Ser professor é assumir uma postura pedagógica de investigação
e não mais de mero transferidor e repetidor de conhecimentos. O docente de
instituição superior precisa desmistificar a cultura de que a universidade é apenas o
local de ensinar, que ele não pode aprender com os discentes. Esse deve ser
considerado o mais importante dos saberes docentes para uma prática libertadora e
progressista e, como docente, precisa-se por em prática tal pensamento e não ficar
apenas nas palavras.

Atualmente o professor precisa adaptar suas aulas às inúmeras necessidades


dos discentes. É muito mais fácil uma pessoa se adaptar a vinte do que os vinte se
adaptarem àquele único individuo. O professor da docência do ensino superior e da
pós-graduação têm um desafio ainda maior, pois a cada semestre ou mês está com
uma turma diferente, necessitando de rápida adaptação.
2.1.5 Ensinar exige humildade, tolerância e luta em defesa dos direitos dos
educadores.

A arte do ensino é um ato de humanização, pois através do conhecimento as


pessoas se libertam, aprendem a se posicionar perante a sociedade, deixando de
ser inertes para tornarem-se seres atuantes.

É revoltante o descaso dos poderes instituídos com a educação pública no


nosso país. Apesar da desvalorização profissional antigamente o professor era
valorizado moralmente, tinha um status na sociedade, atualmente além da
desvalorização moral a salarial permaneceu. CAROL, DO QUE VOCÊ ESCREVEU
AQUI DEPREENDES-E QUE O PROFESSOR ANTIGAMENTE GANHAVA MAL (O
VERBO “PERMANECEU” SIGNIFICA ALGO QUE EXISTIA E QUE PERMANECE
EXISTINDO). É ISSO QUE VOCÊ QUIS DIZER? SERÁ QUE OS PROFESSORES
GANHAVAM MAL NESSE TEMPO ANTIGO A QUE VOCÊ ESTÁ REMETENDO O
LEITOR?

Não se pode negar e deve ser incluída na luta contra a desvalorização do


magistério a melhoria salarial, a luta contra salários imorais que levam a cargas
horárias exaustivas. Faz-se importante o entendimento dessa luta por direitos e
deveres no processo de formação docente e na prática educativa, pensando numa
prática voltada para a ética. Afinal, como poderei ensinar meus alunos a posicionar-
se criticamente perante a sociedade, se eu mesmo, na condição de profissional, não
sei dar o real valor que tem a profissão?

Os investimentos para valorização dos profissionais da educação têm sido


bandeira de governos há tempos. Infelizmente, para poderem se manter,
professores têm que trabalhar 60 horas ou mais, acumulando trabalho, dividindo-se
entre o trabalho em várias faculdades e o ensino básico nas escolas. Conforme
registra o relatório da UNESCO, da Comissão Internacional sobre a Educação para
o século XXI,

[...] é preciso, antes de mais nada, melhorar o recrutamento, a formação, o


estatuto social e as condições de trabalho dos professores, pois estes só
poderão responder ao que deles se espera se possuírem os conhecimentos
e as competências, as qualidades pessoais, as possibilidades profissionais
e a motivação requeridas. (DELORS, 2006, p. 153)

Valorizar e aperfeiçoar a formação dos professores é fundamental para


melhorar a qualidade educacional no Brasil e a conscientização, tanto do docente
como do discente, a respeito da diferença entre informação e conhecimento. É
preciso mostrar que, para que haja a construção do conhecimento, é necessária a
intervenção da figura do professor.

Com este pensamento de que o problema da educação e a desvalorização do


profissional são uma questão politica, muitos professores deixaram de acreditar na
educação e têm cruzado os braços, acomodando-se, em uma atitude de descaso
com o magistério, penalizando os alunos com seu desânimo. Para Freire, esse
profissional oprimido e “desrespeitado como gente no desprezo a que é relegada a
prática pedagógica”, não tem por que exercer mal o trabalho educacional, porque,

A minha resposta à ofensa à educação é a luta política, consciente, crítica e


organizada contra os ofensores. Aceito até abandoná-la, cansado à procura
de melhores dias. O que não é possível é ficando nela aviltá-la com o
desdém de mim mesmo e dos educandos. (Freire, 1996, p. 66)

Na formação profissional é importante conscientizar os docentes sobre a


causa e a importância de defender seus direitos e deveres, mas de uma forma
organizada. Como um dos fundadores e idealistas do PT (Partido dos
Trabalhadores), Freire via na organização politica uma das formas de lutar contra o
descaso dos poderes públicos para com a educação.

É como profissionais idôneos – na competência que se organiza


politicamente esta talvez seja a maior força dos educadores – que eles e
elas devem ver-se a si mesmos e a si mesmas. É neste sentido que os
órgãos de classe deveriam priorizar o empenho de formação permanente
dos quadros do magistério como tarefa altamente política e repensar a
eficácia das greves. A questão que se coloca, obviamente, não é parar de
lutar, mas, reconhecendo-se que a luta é uma categoria histórica, reinventar
a forma também histórica de lutar. (Freire, 1996, p. 66)

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Penso que a principal mudança a ser feita no que diz respeito à formação
docente no ensino superior seria na Legislação educacional brasileira, permitindo
apenas que profissionais licenciados exercessem a profissão ou que tivessem uma
especialização em docência ou metodologia de ensino.
No que diz respeito aos cursos de especialização em metodologia ou
docência do ensino superior que as faculdades oferecem, deveriam preparar mais
os profissionais, que em sua maioria não têm experiência em sala de aula ou o
curso de licenciatura, oferecendo menos teoria e mais prática de ensino, tendo em
sua grade curricular algumas horas reservadas ao estágio supervisionado, assim
como ocorre nos cursos de licenciatura.
Fazer mudanças na Legislação e alterações com a inclusão de estágio na
grade curricular dos cursos de especialização é uma solução a ser pensada e que
demandará tempo para ser aplicada. Desse modo, pensando em soluções
emergenciais e próximas da realidade do educador e das instituições de ensino
superior, penso na formação continuada como uma saída para a solução das
questões levantadas neste artigo. É conhecida a dificuldade quando se tem de
trabalhar com a mente e os costumes das pessoas, com a inserção e aceitação do
novo. Fala-se muito em formação continuada para os professores da rede de ensino
básico, mas acredito também nessa formação para os docentes do ensino superior.
Antigamente havia muita resistência no convencimento do professor da
necessidade da formação continuada, mas, devido às mudanças sociais, intelectuais
e politicas dos alunos, os docentes se tornaram mais flexíveis às mudanças quando
se viram inseridos nesse contexto. A arte de ensino não consiste em apenas
ensinar, é uma troca mútua de ensino e aprendizado. Para que o docente exerça
sua profissão, ele precisa estar envolvido também com os estudos. A sua formação
é algo constante e inacabado.
A formação continuada não é para formar, ensinar e até mesmo capacitar o
professor a lecionar. Isso ele já sabe, seja de sua formação inicial ou com a
experiência adquirida ao longo do tempo. A formação continuada visa a fazer uma
reflexão dos saberes docentes, saberes curricular, metodológico e principalmente
dos saberes adquiridos e acumulados ao longo da vida profissional, e de suas
práticas pedagógicas, sobre o que precisa melhorar, transformar.
Outra solução que algumas instituições de ensino superior tem feito com bons
resultados é a criação de um núcleo de orientações pedagógicas com pedagogos
que ficam à disposição dos professores para dar sugestões sobre novas
metodologias de ensino e as diferentes formas de aplicação dos conteúdos.
Segundo Freire “não é falando aos outros [...] que aprendemos a escutar, mas é
escutando que aprendemos a falar com eles.” (FREIRE, 1996, p. 111). Saber
escutar leva ao aprendizado de como saber falar com os discentes, e é uma das
maiores virtudes do professor. Utilizar a educação como instrumento de
emancipação, libertação do indivíduo, sempre foi a bandeira levantada por Paulo
Freire.

Freire's pedagogy in teacher education Higher Education

Abstract
It is observed that most of the teachers are Graduates IES without any reasoning,
even training and teaching experience. The training of teachers is of concern,
because when enhance their practices in the classroom where students learn. Paulo
Freire Patron of the Brazilian Education, also known as the father of modern
pedagogy revolutionized with innovative teaching methods that facilitated lifelong
learning not only superficial, leaving aside methodical and robotic mechanisms by
means of literature review this article aims to show how teachers higher education
can learn, improve and use the methods Freirian coupled with continued training.

Keywords: Teacher Training, Higher Education, Paulo Freire.

REFERÊNCIAS
ALVES, Maria Bernardete Martins; ARRUDA, Sussana Margaret de. Como Elaborar
Um Artigo Científico, 2003. Disponível em: <
http://www.bu.ufsc.br/ArtigoCientifico.pdf>. Acesso em 17 de mai. 2012.
BRASIL. LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996. Brasília, 20 de
dezembro de 1996; 175º da Independência e 108º da República. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/l9394.htm>. Acesso em 02 de ago. 2012.

Centro Paulo Freire Estudos e Pesquisa. Disponível em:


<http://www.paulofreire.org.br/asp/template.asp?secao=biografia&sub=biografia3>.
Acesso em 20 de jul. 2012.

DELORS, Jacques et al. Educação um tesouro a descobrir. Relatório para a


UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. 10. ed.
São Paulo: Cortez; Brasília: MEC; UNESCO, 2006. Disponível em:
<http://ftp.infoeuropa.eurocid.pt/database/000046001-000047000/000046258.pdf>.
Acesso em 19 de ago. 2012.

DEMO, Pedro. Pesquisa: princípio científico e educativo. 12.ed. São Paulo: Cortez,
2006.
FREIRE, Paulo. Carta de Paulo Freire aos professores, 2001. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
40142001000200013&lng=en&nrm=iso&tlng=pt>. Acesso em 26 de Ago. 2012.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários a prática


educativa. São Paulo, Paz e Terra, 2011.

FREIRE, Paulo. Sua Pesquisa, 2010. Disponível em:


<http://www.suapesquisa.com/paulofreire/>. Acesso em: 20 de jul. 2012.

Pensador. Info. Biografia de Paulo Freire. Disponível em:


<http://pensador.uol.com.br/autor/paulo_freire/biografia/>. Acesso em 20 de Jul.
2012.

RAMEH, Letícia. Método Paulo Freire: uma contribuição para a história da


educação brasileira, 2005. Disponível em:
<http://www.paulofreire.org.br/pdf/comunicacoes_orais/M%C3%89TODO%20PAULO
%20FREIRE%20UMA%20CONTRIBUI%C3%87%C3%83O%20PARA%20A
%20HIST%C3%93RIA%20DA%20EDUCA%C3%87%C3%83O
%20BRASILEIRA.pdf>. Acesso em 10 de ago. 2012.

SILVA, Elienice. Paulo Freire o pai da pedagogia, 2009. Disponível em:


<http://profelienice.blogspot.com.br/2009/05/paulo-freire-o-pai-da-pedagogia.html>.
Acesso em 20 de Jul. 2012.

SILVA, Luiz Etevaldo da; KOLTERMANN Solange. A práxis pedagógica de Paulo


Freire, 2011. Disponível em: <http://www.ijui.com/especiais/artigos/21826--a-praxis-
pedagogica-de-paulo-freire>. Acesso em 15 de ago. 2012.
TERRA, Márcia Regina. O Desenvolvimento Humano Na Teoria De Piaget.
Disponível em:
<http://www.unicamp.br/iel/site/alunos/publicacoes/textos/d00005.htm>. Acesso em:
06 de jun. 2012.

UNESCO. Qualificação e capacitação de professores. Disponível em:


<http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/education/education-quality/teacher-
education-and-training/#c169180>. Acesso em: 08 de mai. 2012.

Wikipédia. Método Paulo Freire, 2012. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/M


%C3%A9todo_Paulo_Freire>. Acesso em: 17 de mai. 2012.

Você também pode gostar