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Seção 2

Definições Básicas, Características e Objetivos


de Termos Encontrados nos Brinquedos,
Brincadeiras e Jogos

Quando falamos de jogo, percebemos que tem alguns conceitos que são
básicos para entendermos mais o contexto dele. Desta forma, trataremos, nesta
seção, de cada um deles com definições, características e objetivos para melhor
entendimento.

2.1 Lúdico

O lúdico vem do latim ludus, que significa brincar. Neste brincar estão incluídos
jogos, brinquedos e divertimento.

O lúdico é uma necessidade básica da personalidade do corpo e da mente,


faz parte das atividades essenciais da dinâmica humana, e caracteriza-se por ser
espontâneo, funcional e satisfatório. É tudo aquilo que leva um indivíduo somente
a se divertir, se alegrar, passar o tempo. Ressaltamos que este estado de espírito
acontece espontaneamente, não podendo ser provocado, talvez estimulado,
ou seja, é quando o indivíduo não quer fazer aquela atividade, mas faz contra
a sua vontade e, ao iniciar, vê que é prazerosa e acaba gostando (CAVALLARI;
ZACHARIAS, 2000).

O lúdico representa o processo de aprendizagem e descoberta do ser humano.


A espontaneidade é o fator primordial para uma existência saudável, na qual o
indivíduo amplia sua capacidade criadora, e um dos objetivos é criar situações de
relaxamento, desenvolvendo sua liberdade de ação e atuação.

Para Marinho et al. (2007, p. 83), “o lúdico tem grande valor educativo e
pode ser utilizado na escola como um dos recursos didáticos no processo
de ensino-aprendizagem, contribuindo com o desenvolvimento de atividades
didático-pedagógicas”.

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2.2 Lazer

O conceito mais aceito a respeito do lazer é do sociólogo francês Dumazedier,


que o caracteriza como:

Um conjunto de ocupações às quais os indivíduos podem


entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para
divertir-se, recrear-se e entreter-se ou, ainda, para desenvolver
sua informação ou formação desinteressada, sua participação
social voluntaria ou sua livre capacidade criadora, após livrar-
se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares
e sociais (DUMAZEDIER, 1980b, p. 23).

O lazer consiste em destacar a questão da busca do prazer enquanto elemento


fundamental que se distingue das demais manifestações sociais. Não haveria, assim,
nenhuma forma de lazer que não inclua a expectativa futura de auferir algum nível
de prazer, independente do fato da expectativa vir a ter sucesso ou não, o prazer é
definido enquanto elemento essencialmente humano, característico da formação
da personalidade e que pode ser percebido em qualquer meio social organizado.

Por sua vez, Marcellino (2000, p. 37) entende que “o lazer é uma cultura
compreendida no seu sentido mais amplo, vivenciada, praticada ou fluída no
tempo disponível”.

O lazer pode ser abordado por dois aspectos: tempo e atitude. O lazer
considerado como atitude tem muito a ver com a postura do indivíduo com relação
à prática da atividade de lazer que buscou, ou seja, o sentimento encontrado
na realização de determinada atividade escolhida. Entretanto, o lazer ligado ao
aspecto tempo relaciona as atividades praticadas no tempo que o indivíduo se
encontra liberado de suas obrigações corriqueiras, desde profissionais, familiares,
sociais e até religiosas.

Portanto, lazer são atividades que se faz dentro do seu tempo livre, em busca
do lúdico; é o espaço de tempo livre entre trabalho e repouso.Buscamos no lazer
e no lúdico sensações que são:

• Aventura: igual à descoberta, revelação de um mistério, um livro que se


aguarda ansiosamente a hora de abrir, a festa etc.

• Competição: motivação de participar de um jogo só é menor que a


motivação de ser o primeiro, o melhor. A competição é um grande
investimento lúdico, que pode ser trabalhado para o bem ou para o mal.

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• A Vertigem: é a grande motivação lúdica dos dias atuais. Os esportes


radicais, as novas salas de cinema, a velocidade, dividem-se em:

1. Vertigens Físicas: esportes de aventura (rapel, escalada etc.).

2. Vertigens Psicológicas: filmes, romances etc.

3. Vertigens Químicas: maconha, crack, heroína etc.

• A Fantasia: o desejo inconsciente de ser o outro. Fantasiando, somos


maisricos, mais predispostos a consumir, a vivenciar situações diferentes.

Essas sensações estão incluídas nas culturas do lazer, que, em Marcellino (1997),
encontramos uma classificação das culturas do lazer baseadas em cinco áreas de
interesse, feitas por Dumazedier (1980a):

• Cultura Física: inclui as práticas esportivas, a pesca, a ginástica e todas as


atividades nas quais prevalece o movimento ou o exercício físico, incluindo
as modalidades esportivas.

• Cultura manual: é delimitada pela capacidade de manipulação, quer para


transformar objetos ou materiais; inclui o artesanato, a bricolagem, a
jardinagem e o cuidado com animais.

• Cultura Artística: o imaginário, as imagens, as emoções e os sentimentos


abrangem todas as manifestações artísticas.

• Cultura Intelectual: busca o contato com o real, as informações objetivas


e explicações racionais. São exemplos: participação em cursos ou leitura.

• Cultura Social: procura fundamentalmente o relacionamento e os contatos


face a face, ocorrendo em bailes, bares e café.

Por fim, podemos concluir que “lazer é um conjunto de atividades gratuitas,


prazerosas, voluntárias e liberatórias, centradas em interesses culturais, físicos,
manuais, intelectuais, artísticos e associados, realizados num tempo livre roubado
ou conquistado historicamentee que interfere no desenvolvimento pessoal e social
do indivíduo” (CAMARGO, 1992, p. 45).

2.3 Tempo Livre

O conceito de tempo livre surgiu com a industrialização das sociedades


contemporâneas, estando por isso ligado às transformações pelas quais passa
o trabalho formal. Passou a ser entendido como o tempo que o trabalhador

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dispõe como seu, ocupando-o da forma como quiser. Isso se deve à conquista
de uma duração menor do tempo de trabalho diário, importante para o equilíbrio
psicológico dos trabalhadores.

Por outro lado, a passagem do modo de produção artesanal para o modo


industrial aumentou muito a quantidade de produtos, e alguém teria que consumi-
los. Sendo que os trabalhadores eram a grande parte da população, os industriais
tinham que lhes dar tempo para consumirem alguns dos produtos que fabricavam.
Para isso, os horários de trabalho foram diminuídos e as férias (remuneradas) foram
expandidas, garantindo mais tempo livre, com rendimentos, de modo a estimular e
a manter o sistema produção-consumo.

Como diariamente surgem novos modos de produção, há autores que


defendem a inevitabilidade do surgimento de uma “sociedade de tempo livre”.

O argumento mais difundido, parte da


constatação que os avanços tecnológicos e os
seus subsequentes aumentos de produtividade
tornarão indispensável à diminuição da jornada
de trabalho. Uns viram neste fenômeno o
fim da atual sociedade capitalista, centrada
na exploração do trabalho, outros apenas
descobriram formas diversas de aumento dos
níveis de consumo por parte da população
mundial (FONTES, 1999, p. 11).

Cavallari e Zacharias (2000) entendem que o tempo total de cada um é dividido


em três partes, sendo que as duas primeiras são o tempo de trabalho e o tempo
das necessidades básicas vitais (sono, alimentação, necessidades fisiológicas).

Se essas duas partes do tempo total estão


ocupadas, o que sobra é tempo livre. Podemos
ainda conceituar o tempo livre da seguinte
maneira: tornando-se o tempo total de uma
pessoa, extraindo-se o tempo de trabalho
e o tempo de necessidades básicas, o que
resta é tempo livre (CAVALLARI; ZACHARIAS,
2000, p.14)

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Até que ponto esse tempo livre é de lazer, cada pessoa é quem sabe. Para o
filósofo Dumazedier (1980b),de acordo com a classe social a qual pertencem, as
pessoas têm diferentes conceitos de tempo livre, por terem diferentes possibilidades
materiais e,consequentemente, várias formas de utilizá-lo.

Por sua vez, Jürgen (1982) vê três formas de comportamento no tempo livre,
estando relacionadas com o trabalho:

1. Regenerativa – nesse processo, o tempo livre serve para recuperar as


forças depois de uma jornada de trabalho fisicamente cansativa. No início
da industrialização, esta forma de comportamento desempenhou um papel
essencial, porém, atualmente, ela se encontra tão somente em grupos
limitados de ocupações, já que muitas profissões não requerem esforço
físico algum.

2. Suspensiva – nessa forma se executa, durante o tempo livre, um trabalho


sem a determinação exógena e sem a desproporção da exigência do
trabalho profissional. Como exemplos dessa forma de comportamento,
mencionam-se a continuação do trabalho profissional em forma de “trabalho
negro”, o compromisso com grupos religiosos, políticos ou ideológicos
mediante a aceitação de cargos em associações correspondentes.

3. Compensativa – essa forma de comportamento tende à compensação


psíquica das sequelas nervosas do trabalho. Por exemplo, a maior dedicação
à família, ao aproveitamento dos modernos meios de satisfação do lazer
proporcionado pela chamada indústria cultural e, finalmente,a ocupação
em esportes e jogos.

Para Haag (1982), o tempo livre tem sido determinado pelas formas fundamentais
do comportamento de lazer regenerativo, suspensivo ou compensatório. Deve ser
visto em relação às tentativas educacionais de preparar as pessoas para que saibam
dar um conteúdo adequado ao lazer.

Entendemos que o tempo livre pertence a cada um e somente cada um pode


organizá-lo e despendê-lo como bem entende. Mas Carmo afirma que o tempo
livre é um problema assustador para as pessoas comuns e sem talentos especiais,
particularmente se não tiverem mais raízes na terra, nos costumes ou nas sagradas
convenções de uma sociedade tradicional (CARMO, 1989).

De acordo com Tojeira (1992),o tempo livre tem caráter objetivo, mas uma
utilização subjetiva, entendendo-se como o tempo durante o qual o indivíduo está
de fato livre, materiale intelectualmente.

Segundo Granado,

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A adequação do lazer só será possível na


medida em que o homem se convencer a
realizar em seu tempo livre atividades que
efetivamente o gratifiquem, satisfaçam seu
eu, não importando as escolhas, atividades
cuja finalidade seja um benefício no sentido
das reais necessidades individuais (GRANADO,
1990, p. 66).

Com todas essas colocações e pontos de vistas diferentes, concluímos


que tempo livre nada mais é que o tempo que sobra entre trabalho, estudo e
necessidades fisiológicas.

2.4 Atividades Lúdicas

Atividades lúdicas é todo e qualquer movimento que tem como objetivo em si


mesmo produzir prazer na sua execução, ou seja, divertir o praticante. Por ser a
principal ocupação da criança, caracteriza-se pela maneira a qual ela se insere no
contexto social, desenvolvendo capacidades, como a imaginação, a criatividade e
a sociabilidade, além de ser uma forma promissora para compreender e dominar
o mundo em que vive (CAVALLARI; ZACHARIAS, 2000).

Reconhece que a relação da criança


com o seu mundo cultural, a princípio,
é constituída de movimento, atividades
lúdicas, criatividade e fantasia. Por isso, em
qualquer atividade realizada com crianças
pequenas, os jogos deveriam estar presentes
(SANTOS, 1999, p. 44).

As atividades lúdicas (brincadeiras relevantes) correspondem a um impulso


natural da criança que satisfaz às necessidades interiores. Trata-se de um
valor intrínseco (dentro para fora) que acompanha todo ser humano em sua
história de vida.

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Desse modo, Vargas (1990, p. 30) ressalta que “a atividade lúdica é o berço
obrigatório das atividades intelectuais da criança.” Estas não são apenas uma forma
de desafogo ou entretenimento para gastar energia das crianças, mas meios que
contribuem e enriquecem o desenvolvimento intelectual.

Como todas as atividades que fazemos no nosso lazer são atividades lúdicas,
elas se classificam em:

• Ativa: quando o indivíduo ou grupo participa ativamente da atividade.


Exemplo: jogar futebol.

• Passiva: quando o indivíduo ou grupo apenas assiste a uma atividade.


Exemplo: assistir a uma partida de futebol pela televisão.

• Mista: quando o indivíduo ou grupo assistiu e participa da atividade.


Exemplo: num torneio de futebol, uma equipe joga uma partida e espera as
outras equipes jogarem para depois tornarem a jogar.

Como foi dito anteriormente, todas as ocupações que fazemos dentro do


tempo livre são consideradas atividades lúdicas, portanto, os seus conteúdos são:

• Atividades Físicas: jogos atléticos, exercícios ginásticos, esportes.

• Atividades Intelectuais: ler um livro, ir ao cinema.

• Atividades Artísticas: pintura, escultura, música.

• Atividades de passar o tempo: xadrez, dominó, dama.

• Atividades domésticas: jardinagem, trabalhos manuais.

• Atividades Sociais: bailes, festas folclóricas ou populares.

• Atividades ao ar livre: trilha em parques e outros acampamentos.

Percebemos que todas as coisas que fazemos no nosso lazer para ocupação do
tempo livre são atividades lúdicas seguindo da classificação e os seus conteúdos.

2.5 Recreação

A palavra recreação provém do latim recreativo, recreationem, e significa


vulgarmente o mesmo que recreio, divertimento, entretenimento; deriva do
vocabulário recreare, cujo sentido é o de reproduzir, restabelecer, recuperar.
Pode-se dizer que é a forma de passar o tempo para obter distração, ou seja,
relaxamento mental ou físico.

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Para Schmidt (1964, p. 43), a “atividade física e mental a que o indivíduo é


naturalmente impelido para satisfazer as necessidades físicas, psíquicas ou sociais
que a realização lhe advém prazer”.

A recreação pode ser passiva e ativa, como vimos em atividades lúdicas. Ao


assistirmos a um jogo de futebol, estamos praticando a recreação passiva; se,
no entanto, sem sermos jogadores profissionais, praticarmos o jogo só para nos
distrairmos, estaremos submetidos a uma forma de recreação ativa.

Em qualquer forma de atividade recreativa, o elemento atuante nunca se


apresenta sob o aspecto apenas físico, psíquico ou social, separadamente, mas
sim em conjunto, sobrepujando-se de ordem psíquica e social, ou seja, se uma
pessoa vai à praia, a atividade recreativa típica sem dúvida é física; entretanto, não
deixa de ser também de ordem psíquica e social.

Dentro desse contexto, dizemos que as características e os objetivos da recreação


são indispensáveis para todas as faixas etárias, estimulando as necessidades de
ordem moral, física ou social, cuja realização dá prazer.

2.6 Brinquedo

É muito simples definirmos brinquedo, pois nada mais é do que um objeto com
o qual se brinca. Objeto é sempre suporte de brincadeira, é o estimulante material
para fazer fluir o imaginário infantil, e tem como função a brincadeira.

O brinquedo é um material de aprendizagem que qualquer que seja o nível


de escolaridade do aluno carece de um conhecimento tal que possibilite a sua
exploração, daí o alto valor educativo que possui.

Os brinquedos podem ser definidos de duas maneiras: seja em relação à


brincadeira, seja em relação a uma representação social, representa uma realidade,
coloca a criança na presença de reproduções de tudo que existe no cotidiano.
Pode-se dizer que um dos objetivos é dar à criança um substituto dos objetos reais
para que possa manipulá-los. Por intermédio do brinquedo, a criança irá explorar,
experimentar e apreender o mundo dos adultos, bem como o meio onde vive a
cultura e os valores aí vinculados.

De acordo com Vygotsky (1994, p. 71), “a criança desenvolve-se, essencialmente,


através da atividade de brinquedo”. Logo, compreendemos que o brinquedo é
essencial para o desenvolvimento da criança, é por meio dele que ela começa a
desenvolver noções básicas relacionadas ao meio social.

A partir destes aspectos, Santos comenta:

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O brinquedo não só possibilita o


desenvolvimento de processos psíquicos,
por parte da criança, como também serve
como um instrumento para conhecer
o mundo físico e seus usos sociais, e
finalmente entender os diferentes modos
de comportamento humano, os papéis que
desempenham como se relacionam e os
hábitos culturais (1999, p. 52).

Na mesma linha de pensamento, e acerca do tema, Kishimoto (1997) classifica


o brinquedo educativo, sendo aquele que ensina, desenvolve e educa de forma
prazerosa. Este assume função lúdica e educativa, pois o brinquedo propicia
diversão e prazer da mesma forma que ensina qualquer coisa que complete o
indivíduo em seu saber, seus conhecimentos e sua apreensão do mundo.

Dentro dessa classificação, se enquadram os quebra-cabeças, brinquedos


de tabuleiro, brinquedos de encaixe, par lendas para expressão da linguagem,
brincadeiras com música, danças, expressão motora, gráfica e simbólica.

A história do brinquedo é bastante antiga. Há cerca de seis mil e quinhentos anos


os japoneses já fabricavam bolas utilizando fibras de bambu. Na China, a matéria-
prima era a crina de cavalos, mas os romanos e gregos preferiam confeccionar o
produto com tiras de couro, penas de aves e até bexiga de boi.

Apesar disso os brinquedos só se popularizaram a partir da década de 50, com


a fabricação do plástico em escala industrial. A primeira bola branca, por exemplo,
foi idealizada por um brasileiro – Joaquim Simão – em 1935, com a intenção era a
de melhorar a visualização da redonda em jogos noturnos. Atualmente, existem no
país cerca 300 fábricas de brinquedos que distribuem perto de 2000 brinquedos
para o mercado consumidor.

Enfim, o brinquedo é o incremento da brincadeira e deve ser comprado


de acordo com a idade, capacidade e área de interesse da criança e do
orçamento dos pais.

2.7 Brincadeiras

Constitui-se numa atividade em que o indivíduo, sozinho ou em grupo, procura


compreender o mundo e as ações humanas nos quais se insere cotidianamente.

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Toda brincadeira possui regras que são definidas e respeitadas por aqueles que
brincam e possui três características: a imaginação, a imitação e a regra.

Essas características estão presentes em todos os tipos de brincadeiras infantis,


sejam elas tradicionais, de faz de conta, de regras e podem aparecer também
nos desenhos como atividade lúdica. Cada uma delas aparece de forma mais
evidente ou em um tipo ou outro de brincadeira, tendo em vista a idade e a função
específica que desempenham junto às crianças.

Para Santos (1998), a brincadeira, embora fosse um elemento presente na


história humana desde suas origens, só na atualidade adquire uma nova conotação,
pois antes era vista como fútil e seu objetivo era somente a distração e o recreio.

Brincadeira é criar, desenvolver imaginação, confiança, autocontrole, cooperação,


aperfeiçoamento do corpo e da mente, levando à estabilidade emocional, sem
contar o quanto auxilia no desenvolvimento da linguagem, concentração e atenção.

Por meio da brincadeira, a criança amadurece, realiza sonhos, extravasa seus


medos, imita seus pais e o mundo adulto, testa seus limites e capacidades e sempre
tem um brinquedo como instrumento de ação e de educação.

No entendimento de Almeida (1998), a criança, com a brincadeira, chega à fase intuitiva


através de exercícios psicomotores e do símbolo, transforma o real em função das múltiplas
necessidades do “eu”, as brincadeiras passam a ter serenidade, sentido funcional e utilitário.

Contudo, o correr, o pular, entre outros exercícios, estimulam a coordenação


motora ampla, e as atividades de rasgar papéis, pintar, rabiscar e outras, estimula
os movimentos de coordenação motora fina, necessária para o processo de
incorporação para a alfabetização (ALMEIDA, 1998).

A partir disso é que a criança aprende mais depressa, pois quanto mais
estimulada, mais terá vontade de descobrir novas situações, a linguagem verbal e
escrita ao seu redor é muito mais rica, se explorada.

Brincadeira é tão importante quanto ao ato de estudar,


ajuda a esquecer de momentos difíceis. Quando
brincamos, conseguimos – sem muito esforço –
encontrar respostas a várias indagações, podemos sanar
dificuldades de aprendizagem, bem como interagirmos
com nossos semelhantes. Brincar, além de muitas
importâncias desenvolve os músculos, a mente, a
sociabilidade, a coordenação motora e além de tudo
deixa qualquer criança feliz (MALUF, 2003, p. 19).

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As brincadeiras experimentadas pelas crianças e percebidas pelos pais são uma


representação da evolução do desenvolvimento cognitivo. As primeiras origens da
brincadeira podem ser observadas no comportamento quando os bebês chutam seus pés
enquanto está tomando banho pelo simples prazer de ver a água espirrar, cita Cole (2003).

Como percebemos, desde bebê a criança sente a necessidade de brincar, a


brincadeira faz parte do ser humano e o coloca em estado criativo; entretanto,
a brincadeira que estimula a criatividade só pode florescer num ambiente de
liberdade e flexibilidade psicológica, de busca, de prazer, de autorrealização.
Devemos concluir que o desenvolvimento da criança encontra-se profundamente
vinculado aos objetivos educacionais (SILVA, 1989a).

Aos 12 ou 13 meses, os bebês usam objetos na


brincadeira de uma maneira muito parecida
com a que os adultos os usam a sério. Ou seja,
eles colocam colheres na boca e batem como
martelos. No entanto, por volta dos 18 meses,
os bebês começam a tratar uma coisa como se
fosse outra, eles mexem o seu “café” com uma
varinha e penteiam o cabelo da boneca com
um lacinho de brinquedo ou, como fazem Jake
e sua prima, agem como se a beirada de um
tanque de areia fosse uma estrada. Esse tipo
de comportamento é chamado de brincadeira
simbólica (COLE, 2003, p. 246).

A criança reproduz na brincadeira a sua própria vida, através dela ela constrói o
real, delimita os limites frente ao meio e o outro sente prazer de poder atuar ante
as situações e não ser dominado por elas. Existe na brincadeira um simbolismo
secundário oculto, bem próximo do sonho.

Para que as brincadeiras infantis tenham um lugar garantido no cotidiano das


instituições educativas, é fundamental a atuação do educador. É importante que a criança
tenha um espaço físico para brincar, assim como opções de mexer no mobiliário, que
possam, por exemplo, montar casinhas, cabanas e mexer em sala de aula, que possam
balançar os pés por baixo das carteiras enfileiradas, que possam trocar seus olhares
marotos entre si sem serem reprimidos em suas manifestações infantis.

Para Schmidt (1964, p. 81), “o tempo que a criança tem à disposição para brincar
deve ser considerado, ou seja, é importante dar tempo suficiente para que as
brincadeiras surjam, se desenvolvam e se encerrem”.

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O adulto deve ausentar-se do comando por momentos e viabilizar à criança


não só a oportunidade de brincar, como também a de escolher seus próprios
brinquedos, na medida do possível, assim como mediar a organização do espaço
e a conservação de seus brinquedos, procurando lugares adequados para que ela
possa guardá-los.

Por sua vez, segundo Silva (1989b, p. 36), “não se deve restringir a liberdade da
criança no que se refere às brincadeiras e nem tampouco interferir na sua atividade,
pois isso pode ter repercussões desagradáveis”.

A brincadeira caracteristicamente espontânea não necessita obrigatoriamente


de objetos prontos, a criança cria e transforma uma tampinha em uma panelinha
com facilidade e brinca.

Na mesma perspectiva, podemos citar o estudioso Paulo Soares Teixeira,que


aborda vários tipos de brincadeiras.

A brincadeira funcional, que domina o


primeiro ano de vida, a brincadeira imaginaria
ou simbólica é aquela que a criança incute
o significado as ações, a brincadeira
construtiva é a relacionada à alegria de
realizar algo, brincadeira solitária quando a
criança brinca sozinha, a observativa quando
ela apenas observa, a paralela que brinca ao
lado da outra criança, a associativa em que
a criança coopera com a outra para realizar
algum objetivo (TEIXEIRA, 1963, p. 4).

O autor afirma que “a brincadeira é a estrada real para a compreensão dos


esforços do ego infantil para chegar a uma síntese, é a função do ego uma tentativa
no sentido de sincronizar os processos corporais e sociais com o eu” (TEIXEIRA,
1963, p. 6).

Quando a criança brinca, ela costuma relacionar as coisas e as pessoas de


uma forma não envolvente e inconstante, ela é movida unicamente pela paixão,
se entretém e é imune a qualquer medo de consequências sérias, é pura diversão,
por isso, quando o tempo é levado em conta, o divertimento desaparece. Não só
o desenvolvimento emocional, o cognitivo e demais domínios são estimulados ao
brincar, seja em que esforço for.

Vargas, por sua vez:

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O brincar é, portanto, sob as suas duas formas essenciais de


exercício sensório motor e de simbolismo, uma assimilação
da real a atividade própria, fornecendo a esta seu alimento
necessário e transformando o real em função das necessidades
múltiplas do eu. Por isso, os métodos ativos de educação
das crianças exigem todos que se forneça às crianças um
material conveniente, a fim de que, brincando, elas cheguem a
assimilar as realidades intelectuais que, com isso, permanecem
exteriores à inteligência infantil (1990, p. 30).

Já a professora Teles (1999) classifica as brincadeiras como: funcional,


imaginária ou simbólica e construtiva.

Brincadeira funcional é aquela que domina no primeiro ano de vida, quando


a criança encontra prazer na observação de seus próprios movimentos (olha a
mãozinha, leva o pé na boca, joga coisas no chão repetidamente etc.). A brincadeira
imaginária ou simbólica é aquela em que a criança incute significado às ações,
devendo fazer de conta em relação a qualquer coisa (esse tipo de brincadeira
é típico dos quatro anos). E, por fim, a brincadeira construtiva é aquela que está
relacionada com a alegria de realizar algo para a consecução de algum objeto.

Cita ainda que “segundo o conteúdo social, podemos falar em brincadeira


solitária, observativa, paralela e associativa” (TELES, 1999, p. 17). Por brincadeira
solitária, compreendemos como aquela em que a criança brinca sozinha. Na
brincadeira observativa, ela tende a apenas observar. A paralela é quando ela
brinca ao lado de outra criança. E, por fim, a brincadeira associativa, que é
aquela que a criança coopera com a outra para realizar algo para a consecução
de algum objetivo. Só a criança um pouco mais velha é capaz de participar de
brincadeiras associativas.

Podemos contar também com as brincadeiras tradicionais infantis, que são


consideradas como parte da cultura popular. Esta modalidade de brincadeira
guarda a produção espiritual de um povo em certo período histórico. Tem a função
de perpetuar a cultura infantil, desenvolver formas de convivência social e permitir
o prazer de brincar. Dentro destas se enquadram a amarelinha, jogar pedrinhas
(cinco Marias), empinar papagaio, pular corda, cantigas de rodas, pião entre outros.

As brincadeiras de faz de conta, também chamadas de simbólicas, são as que


deixam mais evidente a presença da situação imaginária. Elas permitem não só a
entrada no imaginário, mas a expressão de regras implícitas que se materializam nos
temas das brincadeiras. Ideias e ações adquiridas pelas crianças provêm do mundo
social, incluindo a família e seu círculo de relacionamentos em suas brincadeiras.

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Brincadeiras de construção enriquecem a experiência sensorial, estimulam a


criatividade e desenvolvem as habilidades da criança. Construindo, transformando
e destruindo, a criança expressa sua imaginação e seus problemas, desta forma ela
está expressando suas representações mentais, além de manipular objetos.

De forma geral, todas as classificações de brinquedos e brincadeiras devem ser


adotadas na escola, para adquirir uma melhora no desenvolvimento motor, afetivo,
cognitivo e social da criança.

Assim, conclui-se que, ao apressar a saída da infância, negando à criança


o direito de ser criança, empurrando-a cada vez mais cedo para o mundo dos
adultos, exigindo que ela deseje estar no futuro, enquanto apenas o presente é
real, certamente estamos ceifando muito cedo o desejo de crescer, sonhar e ser
capaz de realizar.

O jogo e a brincadeira podem ser vistos como um campo de


exercícios das potencialidades humanas, pessoais e coletivas,
na perspectiva de solucionar problemas, harmonizar
conflitos, superar crises e alcançar objetivos?

2.7.1 Brincadeiras Cantadas

A dimensão brincar constitui-se numa atividade de ligação ou vínculo com algo


em si mesmo e com o outro. “Em suma, brincar é um ato de estar descobrindo, e
recriando” (PEREIRA, 2001, p. 62).

O brincar proporciona aquisição de novos conhecimentos, desenvolve


habilidades de forma natural e agradável. Ele é uma das necessidades básicas
da criança, é essencial para um bom desenvolvimento motor, social, emocional
e cognitivo. “O tempo, espaço, acompanhantes, brinquedo, ação e caráter
(formal ou informal), ou seja, o brincar sempre terá um fundo de aprendizagem
independentemente dos objetivos de cada brincadeira” (VELASCO, 1996, p. 35).

A infância tem urgência na vida da criança. É nessa fase que o lugar do brincar,
tem o seu maior projeto: “o ser adulto”.

Há três momentos na infância que diferenciam o brincar infantil: oprimeiro: é


aquele no qual é fundamental a função materna para com o desenvolvimento e a
maturação das estruturas corticais (perceptivas). O segundo: é aquele momento

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