O Lazer e o Ócio na Cultura Contemporânea: a Felicidade
Integrantes: Alex D’ávila, Jociane Escouto Antunes, Juliana de Andrades Picinatto e
Matheus Krolov
1. Sobre ócio, tempo livre e lazer
Primeiramente, devemos diferenciar ócio e lazer. Rotineiramente esses termos andam juntos, mas há uma diferença sutil entre eles: o ócio remete ao tempo livre relacionado ao trabalho, seu próprio verbete no dicionário Oxford o relata como “cessação de trabalho, folga”; já o lazer remete ao tempo livre fora do trabalho, com sua definição sendo “tempo que sobra do horário de trabalho, sendo utilizado para atividades prazerosas”. É comum a associação negativa com o termo ócio e isso vem da cultura em que o tempo de trabalho é mais valorizado que o tempo dedicado a si mesmo. A parte benéfica do ócio é bastante relevante, já que ele pode proporcionar satisfação, autodesenvolvimento e integração solidária, entre outros aspectos. Ele é amplamente visto como um tempo livre que pode ser utilizado para atividades prazerosas e significativas, que podem contribuir para o bem-estar e a realização pessoal.
1.1 Separação entre ócio e lazer
A separação entre trabalho e lazer surgiu após a Revolução Industrial, permitindo às pessoas desfrutarem do ócio como tempo para descanso e atividades de reposição física e mental. O ócio é uma parte importante da vida humana, proporcionando momentos de relaxamento, diversão e renovação de energia. É saudável reservar um tempo regularmente para o ócio, equilibrando as demandas do trabalho e da vida pessoal e promovendo saúde mental e física. O sociólogo Renato Requixa define lazer como uma atividade opcional e de livre escolha, fora do ambiente de trabalho, que proporciona recuperação e desenvolvimento pessoal e social. Ele ressalta que o ambiente urbano industrial permitiu aos trabalhadores desfrutarem de mais tempo livre. O lazer tem um caráter mais libertador, onde dispomos de um tempo “sem culpa” para nós mesmos. Mesmo sendo libertador, a ideia de lazer também é alterada pelo consumismo. Para muitas pessoas, ir ao shopping é considerado lazer, reforçando a ideia consumista. São várias atividades citadas como “lazer” que fazem fundo ao consumismo capitalista. Ir ao cinema não é só ir ver filme, você vai ver o lançamento do mês, o filme que está em alta.
1.2 O ócio através do consumismo
O consumismo manipula o ócio, já que o mercantiliza e o torna inimigo da produtividade. Isso é fruto de uma cultura capitalista que tem por objetivo maximizar a produção dos funcionários em âmbitos profissionais. Somos preparados para entrar no mercado de trabalho desde a escola, assim esquecendo de nossos pensamentos e desejos pessoais. Essa concepção nos leva a ocupar boa parte de nosso tempo livre com temas amplos, impessoais e sem sentido. Quem não perdeu minutos, ou talvez até horas, rolando o feed das redes sociais; procurando por novos produtos em promoção; vendo vídeos sobre algo irrelevante e desnecessário para nossas vidas. Esses são os produtos que a cultura consumista tenta nos passar e muitas vezes consumimos isso em nosso tempo ocioso. Para Herbert Marcuse (1975), filósofo e sociólogo alemão, o ócio foi manipulado de tal maneira que se tornou um mecanismo gerador de idéias consumistas, ou seja, ócio foi utilizado para a criação de falsas necessidades materiais. A felicidade está em saber como lidar com o ócio, utilizando o tempo ocioso em atividades que nos forneçam uma sensação de aproveitamento de nosso tempo. Não temos tempo infinito neste mundo, então deve haver um balanço entre usar nosso tempo para aprender novos passos de dança no TikTok e fazer uma atividade edificante para nós mesmos.
2. O ócio é livre, o “tempo livre”, não
Frequentemente tempo livre e o ócio costumam estar relacionados às mesmas coisas, mas seus conceitos são bem diferentes. O termo “tempo livre” acaba sendo interpretado de várias formas, levando a muitos mal entendidos. Ao usar o termo “livre” no sentido qualitativo relaciona-se a um tempo de “não-liberdade” ao qual se opõe.
2.1 Tempo livre do quê?
Conforme Aquino e Martins (2007) “[...] o tempo livre, no contexto atual, é uma referência temporal e implica uma divisão da ‘unidade’ do tempo que se opõe ao tempo de trabalho.” Ou seja, no mundo contemporâneo, seria a liberdade do tempo que deveria ser exclusiva do trabalho. Esse conceito, como conhecemos hoje, veio após a Revolução Industrial, entendendo-se o lazer como uma atividade na existência de um tempo livre, reconhecido legalmente e exercido de forma autônoma pelos trabalhadores considerando sua condição socioeconômica e seus valores sociais. Para Bacal (2003) “o tempo livre surge da liberação de parcelas de tempo do trabalho, quando poderiam ser desenvolvidas atividades relacionadas à sobrevivência física e social do indivíduo, mas, ainda assim, atreladas à noção do trabalho”.
2.2 Variáveis dentro do conceito
Dentro desse conceito, existem algumas variáveis: ● Liberdade no sentido de tempo, algo que não podia ser realizado no trabalho: após a Revolução Industrial, com a redução das horas de trabalho e a conquista do tempo livre, surge a noção do lazer que conhecemos atualmente. ● Liberdade para constituir como sujeito alienada a produção capitalista: Atualmente, vivemos em um estilo de vida, onde devemos estar conectados 24 horas por dia, 7 dias por semana, seja compartilhando nossas vidas nas redes sociais ou consumindo produtos classificados “em alta” pelo mercado capitalista. Precisamos consumir o novo, pois há um culto pelo novo e tudo torna-se obsoleto rapidamente.
3. Ócio: uma abordagem a partir da experiência subjetiva
Os filósofos e teóricos tentam precisar a natureza do ócio desde o tempo de Aristóteles (384 a. C.), relacionando-o à percepção de felicidade, porém, do ponto de vista individual, tendo relação com a vivência de situações e experiências prazerosas e satisfatórias para o indivíduo. 3.1 Termo objetivo e subjetivo Quando analisado do ponto de vista objetivo, o ócio pode ser confundido com o tempo dedicado a algo, através de recursos investidos ou atividades. Já em termos subjetivos, a palavra ócio é considerada sinônimo de uma ocupação desejada e resultado da escolha livre do indivíduo, sendo relacionada com o sentido atribuído por quem a vive, conectando-se com o mundo da emotividade.
3.2 Importância social do ócio
Torna-se necessário ressaltar sua importância social e econômica, a partir de suas práticas, vivências e atividades. Devemos estar cientes dos malefícios que uma política econômica centrada apenas no lucro da exploração de atividades consumistas, com a ausência de uma educação para utilização e escolha de ócios positivos, pode levar a práticas consideradas como "negativas" do ócio.
3.3 Funções do ócio
Segundo o teórico contemporâneo Roger Sue (em Cuencas, 2003), as funções do ócio organizam-se em três grupos: psicológicas, sociais e econômicas. Nas funções psicológicas o ócio inclui funções de descanso, diversão e desenvolvimento, compreendendo que estas funções atendem, parcialmente, à compensação das “perdas” humanas pelo trabalho. Na função da socialização, pode-se considerar que as atuais condições de trabalho, como a urbanização intensa e as novas formas de viver, acabaram gerando um “empobrecimento” da comunicação interpessoal que, no ócio, encontra um contraponto, já que sua função simbólica é a percepção de identidade e pertencimento, além de de uma afirmação pessoal com relação aos demais indivíduos, através de escolhas de atividades de diversão. Já no grupo das funções econômicas, é notável o crescente gasto pessoal e familiar, bem como a incidência do ócio na economia e vice-versa.
3.4 O que é ócio? Consumo ou lazer?
Roger Sue destaca que o ócio está completamente colonizado pelo consumismo, caracterizando-o a uma experiência alienada. Por esta razão, a função econômica do ócio é ambígua, no qual os gastos ativam o sistema produtivo, mas as práticas que não implicam custos não são amparadas pela política econômica.
4. Ócio: vivência humanista e integral
Ócio humanista é a experiência dada como fruto de passar tempo consigo mesmo a fim de, não só passar tempo, mas também se desenvolver positivamente, sendo fonte de saúde e bem-estar, além de ser considerado libertador. Toda vez que praticamos o ócio humanista estamos nos libertando de algo negativo e evoluindo como seres humanos. A palavra "livre" nesse sentido também remete ao exercício humano de identidade, reconhecimento, auto- reconhecimento e vontade. É uma atribuição do ócio dada do ponto de vista psicológico e não apenas sociológico. Czikszentmihalyi, pesquisador da Universidade de Chicago, chama a este mesmo fenômeno de "experiência ótima". Também diz em suas pesquisas que uma pessoa, quando passa por uma vivência como essa, passa a buscar experimentá-la novamente ou experimentar experiências semelhantes, agregando na sua maneira de agir e pensar, ou seja, passando a ser uma influência tão significativa quanto a cultura ou a genética.
Mais Esperto Que o Método de Napoleon Hill: Desafiando as Ideias de Sucesso do Livro "Mais Esperto Que o Diabo" - Volume 12: O Valor do Tempo Livre e do Descanso