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Este artigo tem o objetivo geral de apresentar minha experiência como professora do
componente curricular: Literatura Infantil do Curso de Pedagogia - Campus I, Campina
Grande – PB (semestre 2017.2) da Universidade Estadual da Paraíba oportunizando nas
narrativas para crianças, reflexões voltadas para a inserção de temáticas relacionada ao
preconceito racial na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental.
Essa reflexão fez-se necessária, por entender que, queiramos ou não, a escola é, dentre
as instituições, (enquanto aparelho ideológico do estado), a instituição na qual o
preconceito racial se inscreve e pode ser desconstruída. Considerando que há em
pesquisas, tanto relatos que configuram a existência de preconceito e discriminação
étnica entre crianças, como falas explicitamente preconceituosas no contexto da
instituição escolar. E, em razão disso, a escola deve, necessariamente, privilegiar
narrativas para crianças, a partir da Literatura Infantil para que a história/narrativa possa
ser contada pelo(a) professor(a), de modo que ocupe a mente das crianças de tal modo
que possa modificar o comportamento delas. A experiência de leitura como primeira
etapa para a formação do leitor é de extrema importância para que a escola contribua
para desconstruir o preconceito racial, desde que o(a) professor(a) tome consciência do
quanto a Literatura Infantil pode minimizar essa problemática tão presente no contexto
da escola e da família. Outro fator que merece ser levado em consideração deve-se ao
fato de que quando se trata de leitura, de promovê-la na escola, é importante ter
presentes os diversos estágios por que passa um leitor, já que a sua formação não se dá,
nem de uma só vez, nem de modo único ou mecânico. Vale ressaltar que os discentes do
curso de Pedagogia souberam aproveitar as discussões que se fizeram presentes em sala
de aula, no que concernem as temáticas sobre preconceito racial e discriminação,
sabendo que estes são de fundamental importância para a sua desconstrução no interior
da sala de aula. Para isso, nos ancoramos em autores como: Cadermatori (2008);
Cavalleiro (2014); Cavalcante (2002) e outros.
1. Concepções de Leitura
Ao iniciar essas reflexões no interior do componente curricular: Literatura
Infantil, parto do princípio de que, deve-se em primeiro lugar, pensar da seguinte forma:
como os discentes do curso de pedagogia poderão contribuir para formar o leitor sem
que esses discentes tenham clareza de que a Literatura Infantil para ser lida precisa estar
subsidiada por uma concepção de leitura na qual eles possam formar o leitor para a vida
inteira e não um leitor que reproduz o dito, mas um leitor que pode ir além do já-dito?
Iniciemos pela concepção de leitura, em sentido restrito, entendendo que ler é
codificar e decodificar o código escrito e entendendo, também, que todos nós passamos
necessariamente por ela. No entanto, a meu ver, o problema da escola reside no fato de
que precisa transpor, ultrapassar essa concepção restrita da leitura para que possamos
contribuir para que a escola não “estacione” nessa concepção de leitura que não faz com
que os alunos sejam sujeitos leitores, nem faz com que eles compreendam a si e ao
mundo em que vivem.
Ao refletir com os discentes em relação a um conceito amplo de leitura,
entendemos que, segundo Chartier (2009, p. 77), “A leitura é sempre apropriação,
invenção, produção de significados” e é por esta razão que nos apropriamos dessa
concepção de leitura, por compreender que esta concepção de leitura não representa e
jamais representará a “verdade absoluta”, àquela verdade inquestionável, àquela
verdade intocável. Mas, sim, representa nada mais do que “verdades”, que podem, sim,
ser questionáveis, considerando que a leitura faz parte do campo da subjetividade,
conforme atesta Barthes, quando afirma que (2004, p. 41-42), “o campo da leitura é o
campo da subjetividade absoluta”. Por quê? Porque é o sujeito que se coloca por
inteiro, na leitura, com seus sentimentos e emoções e é também esse mesmo sujeito,
“que depressa se encontra na sua estrutura própria, individual: ou desejante, ou
perversa, ou paranoica, ou imaginária, ou neurótica” (IBIDEM, 2004, p. 42). Basta que
o professor atente com extrema seriedade para esse fato que, queiramos ou não, inicia-
se, sobretudo, na Educação Infantil e perpassa os Anos Iniciais do Ensino Fundamental,
não deixando de se alastrar por sua vida inteira.
Nesse sentido, corroboramos com a ideia de que no âmbito da Literatura Infantil,
“o professor ensina [ou deve ensinar] cada um a perceber que tem uma voz própria, uma
singularidade, e que esse é um dom especial, que ninguém poderá jamais tirar”
(CADERMATORI, 2012, p. 22). Essa voz própria pode se manifestar nas crianças de
diversas formas, seja tendo o direito de gostar ou não, das histórias contadas ou lidas e
isso precisa ser respeitado pelo professor para que as crianças possam, desde pequenos,
posicionar-se, dizendo o que pensa, por intermédio dessa voz própria, dessa
singularidade, que pode e deve se constituir e, ao mesmo tempo, formar esse leitor que a
escola tanto proclama e deseja, mas não consegue, na prática efetivar.
Urge que o professor compreenda que esse conceito de leitura se inscreve numa
perspectiva da Histórica Cultural, que concebe que:
Toda História da leitura supõe, em seu princípio, esta liberdade do leitor que
desloca e subverte aquilo que o livro lhe pretende impor. Mas esta liberdade
jamais é absoluta. Ela é cercada por limitações derivadas das capacidades,
convenções e hábitos que caracterizam em suas diferenças, as práticas de
leitura. Os gestos mudam segundo os tempos e lugares, os objetos lidos e as
razões de ler. Novas atitudes são inventadas, outras se extinguem. Do rolo
antigo ao códex medieval, do livro impresso ao texto eletrônico, várias
rupturas maiores dividem a longa história das maneiras de ler. Elas colocam
em jogo a relação entre o corpo e o livro, os possíveis usos da escrita e as
categorias intelectuais de compreensão (CHARTIER, 2009, p. 77).
Praticar a arte da vida, fazer de sua existência uma ‘obra de arte’, significa,
em nosso mundo líquido moderno, viver num estado de transformação
permanente, auto-definir-se-perpetuamente tornando-se (ou pelo menos
tentando se tornar) uma pessoa diferente daquela que se tem sido até então.
‘Tornar-se outra pessoa’ significa, contudo, deixar de ser quem se foi até
agora, romper e remover a forma que se tinha, tal como uma cobra se livra de
sua pele ou uma ostra de sua concha; (BAUMAN, 2009, p.99
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
DARTON, Robert. O Beijo de Lamourette. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.