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De acordo com a classificação de textos, existe a divisão entre duas categorias: textos literários e
textos não literários.
Alguns exemplos de textos literários são: peças teatrais, romances, crônicas, contos fábulas,
poemas, etc. Uma das características distintivas dos textos literários é a sua função poética, onde é
possível constatar ritmo e musicalidade, organização específica das palavras e um elevado nível de
criatividade.
O texto não literário tem como objetivo informar, esclarecer, explicar, ou seja, pretende ser útil ao
leitor. O texto não literário é frequentemente visto como um texto informativo, construído de
forma específica, com linguagem clara e objetiva. Alguns exemplos são artigos científicos,
notícias, ou textos didáticos.
Por outro lado, o texto literário é mais artístico, com uma função estética, que tem como objetivo
recreativo, provocando diferentes emoções no leitor. Assim, os textos literários nem sempre estão
ligados à realidade (no caso da ficção) e muitas vezes são subjetivos, podendo existir diferentes
interpretações de leitores distintos. Além disso, o texto literário contém figuras de linguagem,
sentido figurado e metafórico das palavras, que tornam o texto mais expressivo.
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3. Texto literário
Texto literário
O texto literário é um texto que não necessariamente é utilitário e que pode gerar uma
multiplicidade de interpretações, pois é resultado da subjetividade autoral.
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Mas se perguntamos a várias pessoas para que serve um poema, elas vão ter dificuldade
em dar uma resposta imediata. E as respostas que porventura sejam dadas vão ser bem
variadas. Isso porque é a leitora e o leitor que acabam criando uma função para o
texto literário, como, por exemplo, emocionar ou fazer pensar.
poema;
letra de música;
conto;
crônica narrativa;
novela;
romance;
peça de teatro;
roteiro de cinema;
roteiro de telenovela.
ASSIS, Machado de. Um homem célebre. In: ASSIS, Machado de. Várias histórias. São Paulo:
Martin Claret, 2006.
Exemplo 2:
A mãe indicava, no quintal, a galinha para o almoço. A mulher da sombrinha vermelha olhava e
imobilizava a ave pela força única de seu olhar. Indefeso, o animal permanecia parado como se
brincando de estátua. O olhar da mulher não ameaçava como o olhar do pai. Um fazia ficar e o
outro mandava partir. O homem do guarda-chuva preto morreu de nó nas tripas. Ninguém usou de
faca para fatiá-lo e conferir. Era apenas uma suspeita.
QUEIRÓS, Bartolomeu Campos de. Vermelho amargo. São Paulo: Cosac Naify, 2011.
Exemplo 3:
O delegado, com um brilho mau nos olhos, não disse palavra, voltou as costas para o major e foi
dar instruções aos seus guardas. Os quatro genros, atemorizados, pegaram nas alças do caixão da
sogra e puxaram-no do carro fúnebre e, após um instante de hesitação, começaram a andar, muito
devagar, na direção da entrada da necrópole. O povinho que acompanhara o cortejo fúnebre, estava
agora também na esplanada à frente do cemitério, formando um semicírculo irregular, espécie de
anfiteatro em cuja arena estava por se representar o que o Prof. Libindo Olivares imaginava
pudesse ser uma rústica tragédia grega e Lucas Faia, uma comédia provinciana macabra.
Exemplo 4:
FILOMENA — Inda dá pra ver a vontade de sorrir do moleque... isso aqui é buraco de bala... ó o
tamaninho da criança... não devia chegar nem no meu cotovelo.
FILOMENA — Ê rinha tirana, essa vida... Filomena da Cabula devia era lançar lá na Dadivosa
uma banca funerária, vender caixão.
Exemplo 5:
Meti o peito em Goiás e canto como ninguém.
Canto as pedras, canto as águas, as lavadeiras, também.
Cantei um velho quintal com murada de pedra.
Cantei um portão alto com escada caída.
Cantei a casinha velha de velha pobrezinha.
Cantei colcha furada estendida no lajedo; muito sentida,
pedi remendos pra ela.
Cantei mulher da vida conformando a vida dela.
CORALINA, Cora. Cantoria. In: CORALINA, Cora. Meu livro de cordel. São Paulo: Global,
2012.
Exemplo 6:
Como beber dessa bebida amarga?
Tragar a dor, engolir a labuta?
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa?
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta
BUARQUE, Chico; GIL, Gilberto. Cálice. In: BUARQUE, Chico. Chico Buarque. Rio de Janeiro:
Polygram/ Philips, 1978.
função utilitária;
predominância da denotação;
perspectiva objetiva;
caráter não ficcional.
bula de remédio;
receita de bolo;
reportagem;
notícia;
manual de instruções.
De estudante para estudante
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Educacional.
A função poética se direciona para a forma estética do texto. Para isso, utiliza-se figuras de
linguagem ou elementos que conferem expressividade à escrita. Ou seja, uso da musicalidade,
exploração dos significados e ordens das palavras e/ou sentenças.
Note que cada palavra destacada no poema possui um par que compõe uma rima sonora:
serra/desterra, castanheiros/ribeiros, terra/guerra, outeiros/derradeiros, natureza/tristeza,
ofrece/aborrece e magoando/passando. Análises mais profundas também demonstram que todos os
versos desse soneto são metrificados em decassílabos, ou seja, contém dez sílabas poéticas.
Essas observações evidenciam a presença da preocupação formal e estética por parte do autor, o
que confere o caráter literário ao texto.
Aspecto Subjetivo
Essa característica diz respeito ao uso do âmbito pessoal e individual da linguagem. A esfera
subjetiva é caracterizada pelas emoções, sentimentos, valores e crenças do indivíduo ー o que
torna o texto mais personalista.
A seguir, no trecho do poema de Luís de Camões, note a presença da subjetividade, que está
marcada pela expressão dos afetos do eu lírico:
Uso da Conotação
O poema Amora, de Marco Catalão, esteve presente na prova da Fuvest alguns anos atrás, e
apresenta exemplos de conotação. Veja:
a palavra amora
seria talvez menos doce
e um pouco menos vermelha
se não trouxesse em seu corpo
(como um velado esplendor)
a memória da palavra amor
a palavra amargo
seria talvez mais doce
e um pouco menos acerba
se não trouxesse em seu corpo
(como uma sombra a espreitar)
a memória da palavra amar
Devido à alta subjetividade dos textos literários, é muito comum que admitam interpretações
diversas para um mesmo trecho ー o que destaca a importância da visão pessoal para esse tipo
de obra.
O poema de Ana Cristina César, em A Teus Pés, permite várias faces interpretativas. Acompanhe:
O último adeus II
O navio desatraca
imagino um grande desastre sobre a terra
as lições levantam vôo,
agudas
pânicos felinos debruçados na amurada.
E na deck-chair
ainda te escuto folhear os últimos poemas
com metade de um sorriso.
A primeira estrofe, principalmente, possibilita questionamentos, como: “que navio?”, “que
lições?”, “quais felinos?”. As respostas para essas perguntas podem variar conforme o
entendimento do leitor, o que demonstra a plurissignificação do texto.
Ficcionalidade
Esse traço da literatura permite a criação de “novos mundos” em que se localizam as situações
textuais. Assim, os ambientes da história não precisam ser reais e são a base para o
desenvolvimento do enredo.
“SEGUNDA — Sonhava de um marinheiro que se houvesse perdido numa ilha longínqua. Nessa
ilha havia palmeiras hirtas, poucas, e aves vagas passavam por elas… Não vi se alguma vez
pousavam… Desde que, naufragado, se salvara, o marinheiro vivia ali… Como ele não tinha meio
de voltar à pátria, e cada vez que se lembrava dela sofria, pôs-se a sonhar uma pátria que nunca
tivesse tido: pôs-se a fazer ter sido sua uma outra pátria, uma outra espécie de país com outras
espécies de paisagens, e outra gente, e outro feitio de passarem pelas ruas e de se debruçarem das
janelas… Cada hora ele construía em sonho esta falsa pátria, e ele nunca deixava de sonhar, de
dia à sombra curta das grandes palmeiras, que se recortava, orlada de bicos, no chão areento e
quente; de noite, estendido na praia, de costas e não reparando nas estrelas.”
Nesse excerto, ocorre a formação de um cenário que não existe. Apesar disso, dentro do contexto
textual, a ambientação faz sentido e, por isso, é um exemplo de ficcionalidade.
Romance
As literaturas românticas podem abordar histórias de amor, drama, situação histórica, entre outras.
Crônica
A crônica pode ser definida como uma forma de texto direta, simples e breve. A marca principal
desse tipo textual é a exposição de situações cotidianas, as quais são base para reflexões de
diversos temas.
Essa classe, geralmente, utiliza o humor, a ironia e o sarcasmo para a construção de uma análise
crítica do cotidiano. A publicação das crônicas pode ocorrer tanto para o meio literário quanto para
o meio jornalístico, o que mostra a versatilidade desse modelo literário.
Conto
Muito conhecido por todos e frequente nas provas de vestibulares, os poemas são textos dispostos
em estrofes e versos.
Seu caráter mais notável é a presença de rimas, mas, lembre-se, isso não é obrigatório.
A marca do poema é a musicalidade, o ritmo e a estrofação, isso faz com que a forma e a
expressão sejam importantes na produção poemática – característica de texto literário.
Agora você já domina os conceitos e as propriedades do texto literário. Com essas informações,
sua percepção e interpretação textual estão aprimoradas. Para alcançar outras habilidades
linguísticas, acesse o Portal do Estratégia Vestibulares.
Veja também:
Dicas para melhorar sua interpretação de texto para o Enem
Gêneros Textuais: conceitos, exemplos e mais
Tipos de Discurso: classificações, usos e diferenças
Texto Dissertativo: estrutura e exemplos
Texto Expositivo: estrutura e exemplos
Texto Narrativo: vozes narrativas, estrutura e exemplos
Texto Descritivo: estrutura e exemplos
Texto jornalístico: entenda esse gênero textual
Intertextualidade no Enem: conceito, usos e principais exemplos
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Note que cada palavra destacada no poema possui um par que compõe uma rima sonora:
serra/desterra, castanheiros/ribeiros, terra/guerra, outeiros/derradeiros, natureza/tristeza,
ofrece/aborrece e magoando/passando. Análises mais profundas também demonstram que todos os
versos desse soneto são metrificados em decassílabos, ou seja, contém dez sílabas poéticas.
Essas observações evidenciam a presença da preocupação formal e estética por parte do autor, o
que confere o caráter literário ao texto.
Aspecto Subjetivo
Essa característica diz respeito ao uso do âmbito pessoal e individual da linguagem. A esfera
subjetiva é caracterizada pelas emoções, sentimentos, valores e crenças do indivíduo ー o que
torna o texto mais personalista.
A seguir, no trecho do poema de Luís de Camões, note a presença da subjetividade, que está
marcada pela expressão dos afetos do eu lírico:
Uso da Conotação
O poema Amora, de Marco Catalão, esteve presente na prova da Fuvest alguns anos atrás, e
apresenta exemplos de conotação. Veja:
a palavra amora
seria talvez menos doce
e um pouco menos vermelha
se não trouxesse em seu corpo
(como um velado esplendor)
a memória da palavra amor
a palavra amargo
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e um pouco menos acerba
se não trouxesse em seu corpo
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Ficcionalidade
Esse traço da literatura permite a criação de “novos mundos” em que se localizam as situações
textuais. Assim, os ambientes da história não precisam ser reais e são a base para o
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“SEGUNDA — Sonhava de um marinheiro que se houvesse perdido numa ilha longínqua. Nessa
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Nesse excerto, ocorre a formação de um cenário que não existe. Apesar disso, dentro do contexto
textual, a ambientação faz sentido e, por isso, é um exemplo de ficcionalidade.
Romance
As literaturas românticas podem abordar histórias de amor, drama, situação histórica, entre outras.
Crônica
A crônica pode ser definida como uma forma de texto direta, simples e breve. A marca principal
desse tipo textual é a exposição de situações cotidianas, as quais são base para reflexões de
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Letramento literário na escola: o texto poético no processo de ensino-aprendizagem
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Esta prática tem como objetivo promover uma intervenção na leitura de poemas na escola,
proporcionar autonomia na elaboração de sentidos das leituras na perspectiva do letramento
literário significativo e iniciar a formação de uma comunidade de leitores pela socialização de
experiências.
O que é:
A iniciativa não teve como objetivo a decodificação do código linguístico ou a simples
memorização de conceitos e/ou regras descontextualizadas. A intenção foi dar especial atenção à
experimentação da obra poética, por meio do diálogo entre os leitores e deles com as produções.
A exploração de poemas foi realizada para que o contato com as obras ocorresse, inicialmente, de
maneira pessoal, incentivando a construção de sentidos pelos alunos, encorajando-os a atribuir
novos significados à multiplicidade interpretativa que a poesia possibilita no projeto de letramento
literário proposto.
A sequência didática foi o instrumento utilizado para promover a leitura de poemas no ambiente
escolar e em casa, além da posterior socialização das vivências com toda a comunidade leitora.
Como fazer:
Introdução
A turma selecionada para desenvolver o projeto foi a do 7º ano. Era uma turma heterogênea, com
perfis leitores distintos. A maioria, de acordo com os dados coletados num questionário, não
gostava de ler.
Foi necessário direcionar o trabalho para os interesses dos alunos e elaborar uma proposta que ampliasse
seus conhecimentos.
Os conhecimentos dos alunos foram diagnosticados num questionário, o que possibilitou avaliar os
conhecimentos e o perfil de leitor dos participantes das aulas de leitura de poemas.
Após a coleta de dados, foi possível detectar os conhecimentos prévios dos alunos para a
elaboração das propostas das atividades. O diagnóstico foi fundamental para ajustar o planejamento
inicial.
Foi necessário direcionar o trabalho para os interesses dos alunos e elaborar uma proposta que
ampliasse seus conhecimentos.
O diagnóstico foi realizado no segundo bimestre de 2017, com a coleta e a interpretação de dados.
No final do período e nas férias de julho, elaboramos as propostas de atividades que seriam
aplicadas no segundo semestre.
Para a elaboração desta proposta de trabalho, consideramos as relações possíveis entre a linguagem
dos poemas e outras linguagens poéticas, como a música e as artes plásticas, de modo a favorecer a
aproximação dos estudantes com as obras de uma antologia que reúne textos literários dos últimos
100 anos.
Propusemos a leitura de poemas em voz alta e apreciação de textos musicados, pinturas, vídeos e
teatro, entre outras manifestações artísticas. O objetivo foi o de levar a poesia para a vida escolar.
Desenvolvimento
As atividades foram elaboradas ao longo de 13 aulas, com um evento final voltado à socialização
das produções.
Por se tratar de um projeto didático, os produtos construídos foram os portfólios dos alunos, o
caderno de planejamento do professor, o CD de declamações da antologia e o evento de
socialização. Para iniciar a aplicação das atividades, providenciamos os exemplares da antologia
para todos os alunos.
Na primeira aula, após uma conversa, foi apresentada a justificativa para a realização do projeto na
escola. Refletimos sobre a ausência de eventos literários e a importância da leitura de poemas.
Foi um momento também de reflexão sobre o título do poema 1 e sobre o que ele sugeria: O que é
um convite? Para que serve um convite?
Na segunda aula, tivemos informações sobre os poetas, bem como contextos de produção,
características e dados biográficos consideradas relevantes para socialização.
Os alunos foram convidados a ler a pesquisa por meio dos seguintes questionamentos: “Quem
gostaria de ler ou comentar sobre o(a) poeta que pesquisou?” “O que descobriu sobre ele(a), o que
gostou ou não e gostaria de comentar?”
Após a socialização das pesquisas, a professora recolheu as anotações dos alunos para verificar o
registro escrito e intervir na ortografia, para que elas fossem reescritas e expostas no mural da sala.
BRASÍLIA Rádio Justiça de. Programa Entretexto: Entrevista com Fátima Miguez . 11’21’’. Disponível
em:https://www.youtube.com/watch?v=cJtXIxMnQgM. Acesso em 10 de agosto de 2017.
A quarta aula foi muito dinâmica. Levamos os alunos para a biblioteca. O desenvolvimento das
atividades foi bastante produtivo. Os alunos participaram comentando e respondendo a
questionamentos como: “O que é uma paisagem?”, “Alguém já ouviu falar em Brodósqui?”, “E
Cândido Portinari, você conhece?”.
Pedi que, em casa, os alunos lessem os poemas 3, 4, 5 e 6 para a socialização na aula seguinte.
Sugerimos a leitura em voz alta, que o aluno lesse para alguém e que fizesse o registro pessoal
escrito no portfólio. A leitura e o registro poderiam ser por meio de palavras, frases, desenhos ou o
que desejassem explorar no texto.
A quinta aula foi reveladora. Os estudantes foram questionados sobre a leitura de casa. Um aluno
disse:”podemos escrever, desenhar e dizer o que sentimos, foi como ir no psicólogo”.
Essa resposta corrobora o objetivo dessa pesquisa e revela como é importante o professor não dar
respostas/interpretações prontas para os alunos, mas possibilitar que eles elaborem suas próprias
hipóteses e ativem seus conhecimentos durante a leitura.
Os questionamentos usados na leitura compartilhada em sala de aula foram: “Qual o assunto deste
texto?” “O que percebe ao ler/ouvir este poema?” “O que o texto desperta em você?” “Fechando os
olhos, consegue imaginar o que o texto sugere?” “Foi preciso reler o texto para compreendê-lo
melhor?” “Você compreende o assunto do poema da mesma maneira que o poeta?” “Já aconteceu
algo parecido com você ou com alguém que conheça?” “Você se lembra de algum
lugar/pessoa/fato/situação/ sonho/acontecimento/problema parecido?”.
Para o contato com o poema 5, os alunos viram o stop motion do texto, disponível no material
complementar.
Um dos alunos trouxe para a aula um recorte de livro com o poema dizendo: “olha o que encontrei
professora!não parece com o poema 6?”.Essa foi a oportunidade de socializarmos o poema e
discutirmos sobre a intertextualidade.
Houve tempo para assistir ao vídeo do programa de TV “Quintal da Cultura”, sobre o poema 6,
disponível no material complementar.
Como a escola não tem internet, o material de áudio e vídeo foi montado previamente para a
realização plena da aula, em pendrive e CD.
Como leitura de casa, foi solicitada a interação com os poemas 7, 8, 9 e 10 para socialização na
aula seguinte.
CULTURA Quintal da. Quintal de Versos: Quadrilha da Sujeira. Ricardo Azevedo. 18/02/14. 3’24’’.
Disponível em:https://www.youtube.com/watch?v=j3FLV_0feT0 . Acesso em 10 de agosto de 2017.
A sexta aula foi iniciada com os questionamentos detalhados na aula anterior e também com a
sequência didática.
Inicialmente, os alunos puderam socializar suas impressões pessoais de leitura. Em seguida,
empolgados, mostraram para a professora seus registros escritos no portfólio.
Depois da discussão e da apresentação de leituras, a professora deixou tempo suficiente para que os
alunos dissessem o que haviam entendido dos textos, abordagem empregada em todas as aulas.
Para que pudessem tirar dúvidas, leram os textos em voz alta, e, quando a compreensão de algum
vocábulo ou frase pareceu difícil, partilharam suas conjecturas. Os estudantes fizeram várias
perguntas, e a interpretação pessoal pôde ser ampliada e socializada com o grupo.
Para finalizar a aula, foi realizada a gravação do CD de declamações. Os alunos ritmaram o poema
7. A sala toda participou da gravação dos poemas 8 e 9, com a música ao fundo.
Com a mediação desta aula ficou claro que é possível compartilhar experiências e conhecimentos
entre os alunos e deles com o professor. Na aula, os alunos tiveram acesso à linguagem plástica do
pintor Salvador Dalí.
A professora levou livros de arte com obras do pintor para que os alunos pudessem manuseá-los,
explorá-los e manifestar suas impressões. Na biblioteca, houve uma discussão sobre sonhos e sobre
as percepções da obra de Dalí. Finalmente, fizemos a leitura em voz alta de um poema e a
gravamos em áudio. Para a aula seguinte, foi solicitada a leitura dos poemas 12, 13, 14, 15 e 16.
Os alunos foram colocados em círculo e puderam socializar seus registros de leitura com os
colegas e com a professora. A aula foi interessante porque os jovens declamaram o poema em voz
alta e trabalharam a sonoridade, a combinação das palavras, a musicalidade e os jogos de palavras,
algo que despertou a atenção e o interesse de todos.
Ao final, houve tempo para assistirem ao vídeo do poema 12, disponível no material
complementar. Os alunos puderam brincar com as palavras, ritmaram e encenaram a partir da
leitura.
O momento mais emocionante da aula ocorreu durante a socialização dos poemas 13 e 14, que
falam de medo e obediência. Os alunos expressaram seus medos e descreveram as relações de
obediência que mantêm com seus responsáveis.
Para a aula seguinte, foi orientada a leitura dos últimos poemas da antologia (17, 18, 19 e 20).
Sempre no início das aulas, a professora pedia os registros para verificar o envolvimento e
atendimento do pedido diante de leitura.
Para finalizar, foi possível assistir aos vídeos de exploração dos poemas, disponíveis no material
complementar.
A gravação dos últimos áudios foi assim definida: os poemas 17 e 18 seriam declamados por toda a
turma; os poemas 19 e 20, por um único aluno.
Foi apresentada a estrutura de uma notícia de jornal para fazer a comparação com os textos
presentes na antologia. Foram discutidas as diferenças estruturais e de linguagem.
Para casa, foi solicitado aos alunos que selecionassem um poema do qual tivessem gostado para
relacioná-lo a peças como vídeos, músicas, jogos, paródias passatempos.
Para casa, escolheram um poema para realizar um registro para a exposição no evento de
socialização. A maioria, no momento da discussão, solicitou realizar uma abordagem do poema 17.
Esta etapa proporcionou aos alunos a oportunidade de avaliar individualmente o livro lido e as
atividades desenvolvidas. Foi um momento de refletir sobre as leituras e todos os registros do
portfólio.
Para esta aula, realizamos um jogo intitulado “Pescaria da Criatividade”. Os alunos sentaram no
chão, num círculo ao redor dos “peixinhos da sensibilidade”. Individualmente, foram convidados a
pescar um e criar um verso com a palavra presente atrás de cada peixe.
Também propusemos o “Jogo das Caixas Poéticas” em grupo. Os representantes das equipes
retiraram um item de cada uma das três caixas: uma palavra, um objeto e uma imagem (todos
inspirados na antologia).
Em grupo, foi discutido o evento de socialização para a comunidade escolar e familiar: quais
seriam as atividades desenvolvidas e o nome que receberia.
Ficou definido que seria uma mostra literária, para que toda a comunidade escolar conhecesse um
pouco do que a pesquisa havia produzido. Discutimos a existência da poesia em nossas vidas.
A sugestão de título para nossa antologia foi “Há Poesia em Minha Vida!”. Um exemplar da
antologia foi disponibilizado para cada sala, e todos os alunos puderam conhecer e ler os textos do
projeto e produzir atividades para a mostra.
Avaliação:
A avaliação foi feita tanto das etapas de trabalho da atividade quanto das aprendizagens dos alunos.
Além de principiar a formação de uma comunidade de leitores na escola, constatamos que a
intervenção proposta se consolidou como possibilidade de elaboração de material didático de
literatura no município.
Como atividade docente, o planejamento cumpriu o papel de prever ações coletivas em situações
didáticas concretas, destacando a coerência e a flexibilização das necessidades.
O estudo dos referenciais teóricos, principalmente sobre o letramento literário, dialogou com
nossos interesses em aprender para ensinar melhor.
Foi a partir dessas contribuições que o projeto foi elaborado, pois reconhecemos e valorizamos os
conhecimentos prévios dos sujeitos leitores em seu contato com a poesia presente nas múltiplas
linguagens estudadas.
Foi fundamental iniciar o projeto de leitura discutindo o que seria estudado. Dessa maneira,
focalizamos a atenção dos alunos para a relevância do que seria vivenciado, deixando claro os
objetivos e conquistando o interesse de todos durante a aplicação.
Nesse sentido, a realidade que atrai a atenção dos jovens fora da escola, como as múltiplas
linguagens, pôde ser vivenciada no ambiente escolar em aulas que não se valem unicamente do
quadro, do giz e do livro didático.
Vivenciamos o contato com o livro, com os textos e com as múltiplas linguagens, para que os
sujeitos leitores se interessem e deem significado para os conteúdos estudados.
O trabalho em duplas, trios ou grupos evidenciou que o conhecimento pode ser construído numa
comunidade leitora em formação.
O saber não pode estar concentrado no professor. O docente não é a única fonte do saber. A
interação entre os sujeitos leitores evidenciou que o aprendizado significativo ocorre não só no
ambiente escolar, mas também no social, profissional e familiar.
Outro desafio foi a transposição das dificuldades para a realização de um projeto de leitura na
perspectiva do letramento, pois é necessário superar a falta de tempo.
A realização das atividades influenciou diretamente minha prática docente, já que conheci as
recentes pesquisas sobre letramento literário, leitura, literatura, além dos referenciais estudados em
todas as disciplinas e suas implicações em sala de aula. A partir de agora, esses saberes
direcionarão minhas ações, meu planejamento e os planos de aula.
Antes do projeto, minhas aulas eram elaboradas sem referenciais teóricos. Não havia reflexão que
conduzisse a uma ação e que considerasse o contexto e a readequação necessária para o
atendimento das necessidades de minhas salas.
A falta de embasamento teórico fez que meus planejamentos fossem elaborados apenas por
intuições pessoais, reproduções de exemplos vivenciados como aluna e também pela influência de
outros colegas com mais anos de prática docente.
O projeto promoveu muita pesquisa, e a aproximação com teóricos que desenvolvem trabalhos
semelhantes se tornaram aliados para minha atualização às novas perspectivas do trabalho docente.
A proposta de letramento literário com o texto poético teve como objetivo não se pautar nas
questões estritamente linguísticas, mas sim discursivas, literárias, interativas e dialógicas.
Não pretendíamos resolver todos os desafios do processo de leitura e escrita nas escolas do Ensino
Fundamental, mas conhecer novos embasamentos teóricos que favorecessem a elaboração de
propostas pedagógicas mais significativas na perspectiva do letramento literário.
O trabalho terá continuidade, não só com o texto poético, mas também com as adaptações
necessárias para os diferentes tipos de texto. Os demais professores poderão conhecer as
experiências aqui relatadas e adaptá-las às suas realidades.
O perfil dos alunos participantes da pesquisa foi feito com base em questionários semiestruturados,
aplicados antes da intervenção. Havia perguntas sobre o gosto pela leitura, a quantidade de livros
lidos recentemente e a relação do aluno com a poesia. Outro questionário foi aplicado ao final da
sequência didática, depois da Mostra Literária.
Por meio dos mecanismos qualitativos de coletas de dados, observação, registros da professora e
dos alunos, associados às informações quantitativas coletadas nos questionários, foi possível
verificar a viabilidade do trabalho com poemas na perspectiva do letramento literário.
A aproximação dos leitores com a poesia englobou 100% dos alunos. A ampliação de experiências
e o início de uma comunidade leitora na escola foram os objetivos alcançados.
Essa constatação tem correspondência nos resultados da pesquisa. Segundo o levantamento, num
primeiro momento, 82,4% dos alunos revelaram não ter identificação com os poemas lidos.
Porém, após a realização das atividades, ficou demonstrada a identificação de todos com a maioria
dos textos da antologia.
Outra contribuição foi o incentivo à leitura em casa. Antes da intervenção, 70,6% dos alunos
relataram não ler no ambiente doméstico. Após a aplicação, 94,1% dos estudantes registraram
terem lido em casa durante o projeto de letramento literário.
Com abordagens significativas de leitura, foi possível iniciar a formação de uma comunidade de
leitores.
Finalmente, a prática pedagógica gerou aprendizagens a todos os alunos, de acordo com suas
características individuais, incluindo os que apresentavam dificuldades específicas.
Saiba mais
Leituras em voz alta foram estimuladas e desenvolvidas. Ampliaram-se a fluência, a interpretação do
código, a imaginação e a interpretação.
Literatura
Linguagens
Leitura e escrita
Formação de leitor
Língua Portuguesa
Competência 3
Competência 4
Leitura compartilhada
Produção textual
Poesia
Intertextualidade
Roda de leitura
Ler Liberta: arrecadação de livros literários para a Penitenciária Feminina do Distrito Federal
Início
A Base
Histórico
Implementação
O TEXTO POÉTICO EM SALA DE AULA: IMAGEM, SOM E
SENTIDOS.
Jucileide Maria de Santana
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
jucisantana69@hotmail.com
Resumo: O presente trabalho visa discutir o ensino de literatura, em especial, o
tratamento dado ao
texto poético em sala de aula, a partir do relato de experiência, desenvolvida nas turmas
de 2ª série da
Escola Estadual Dom Nivaldo Monte, em Parnamirim/RN, no ano de 2017. O texto
poético é muito
mais do que um estrato superficial; é imagem, é som, é sentido. É um convite à
apreciação das
imagens poéticas. Sua leitura requer um mergulho nas linhas e entrelinhas da poesia,
através do qual o
leitor, conduzido por sua sensibilidade e pelas imagens poéticas, constrói o sentido do
texto. Ele é de
suma importância para o letramento literário de crianças e jovens, visto que sua
linguagem metafórica
incita os leitores a pensarem, a fazerem inferências, a construírem seu próprio ponto de
vista acerca da
temática abordada nos poemas, de seu eu-lírico, características estruturais e conceituais.
Não há como
conceber que, nos dias atuais, os alunos concluam o Ensino Médio sem saber ler textos
poéticos, sem
entender o que é poesia, sem perceber a poesia presente em suas vidas. Barthes (2008),
Candido
(1999, 2004), Cosson (2012), Pinheiro (2008, 2012) e Silva (2009) serviram de aporte
teórico para a
fundamentação das ideias neste trabalho defendidas, consideradas viáveis, uma vez que
a experiência
relatada promoveu o deleite, a sensibilidade, o envolvimento e o protagonismo dos
alunos nas
atividades literárias propostas, o que contribuiu para a promoção do letramento literário e
formação
humana e social dos discentes.
Palavras-chave: Texto poético, leitura, experiência pedagógica, protagonismo, letramento
literário.
INTRODUÇÃO
É comum ouvirmos alguém dizer que a poesia está em toda parte: no barulho do vento,
no ir e vir das ondas, no balançar de galhos e folhas, na água que escorre cachoeira
abaixo, no
solo rígido e ressecado, no silêncio do respirar. Concordamos. Por este motivo,
defendemos
que o texto poético deve fazer-se presente nas aulas de literatura como poesia viva, que
encanta, atrai e envolve o leitor, o que contribui para o desenvolvimento de suas
habilidades
leitora e interpretativa e de seu senso crítico-reflexivo.
Abordar o texto poético no contexto escolar requer percebê-lo como uma constelação,
através da qual os leitores são convidados a desvendarem cada ponto e a mergulharem
na
infinidade de possibilidades de significação de si, do outro e do mundo ao seu redor. Isso
é
possível, uma vez que o texto verdadeiramente poético é pura poesia.
Contudo, para melhor situarmos o leitor deste trabalho, apresentamos uma breve
distinção entre poema (texto poético) e poesia.
Falar de poesia, em português, apresenta um obstáculo inicial – a
delimitação do sentido dessa palavra. Com frequência, utilizamos
indistintamente poesia e poema, como se fossem sinônimos. Isso não ocorre
em inglês, em que as palavras poetry e poem dificilmente serão confundidas.
Quando se diz: a poesia está em toda a parte, ou quando se ouve alguém
afirmar que um velho cartaz da eleição passada, pendente em um muro, pode
transformar-se em poesia aos olhos do passante, certamente não se está
usando essa expressão em sua acepção de poema. Está-se pensando em
poesia mesmo, algo mais amplo e difuso, uma abstração com muito de
subjetivo e de emocional, que se concretiza como vivência ou descoberta
através do olhar de quem a vê.
[...] E o que é o poema? Comumente associamos o poema a uma
determinada forma gráfica: a de um texto segmentado com ou sem simetria,
em fragmentos denominados versos e estrofes. (SILVA, 2009, p.99)
Nesse sentido, depreendemos que a poesia depende mais do sujeito que a percebe do
que do objeto que supostamente a contém. E o poema, por sua vez, é o lugar privilegiado
onde, segundo o crítico e poeta mexicano Octavio Paz, “a poesia se recolhe e se revela
plenamente” (apud SILVA, 2009, p.99).
Delimitando, portanto, o campo de abordagem, é de interesse deste texto científico não
a abstração da poesia, mas sua mais legítima manifestação, o poema, o texto poético.
A escolha do gênero literário supracitado se justifica por dois motivos: 1) a
necessidade de abordarmos as gerações poéticas do Romantismo Brasileiro,
possibilitando o
desenvolvimento do protagonismo estudantil na prática pedagógica, no tocante ao ensino
de
literatura, em especial, no que diz respeito à poesia presente nos referidos textos
poéticos; e 2)
a urgência em promovermos o letramento literário do alunado através da prática de
leitura de
poemas.
Com o presente trabalho objetivamos discutir o ensino de literatura, em especial, o
tratamento dado ao texto poético em sala de aula, a partir do relato de experiência
desenvolvida em duas turmas de 2ª série do Ensino Médio da Escola Estadual Dom
Nivaldo
Monte, em Parnamirim/RN, durante o período de março a abril de 2017, envolvendo um
total
de 85 alunos. Ademais, visamos: 1) relatar a experiência didática com textos poéticos em
sala
de aula; 2) destacar a importância da poesia no desenvolvimento da sensibilidade
humana e,
consequentemente, para o processo de humanização dos leitores; e 3) enfatizar a
relevância do
uso dos textos poéticos para a promoção do letramento literário e para a formação efetiva
de
leitores.
Os procedimentos metodológicos utilizados no mencionado relato de experiência se
basearam na sequência didática proposta por Cosson (2012): motivação, introdução,
leitura e
interpretação, conforme poderemos acompanhar no tópico posterior.
METODOLOGIA
Fruto de uma pesquisa bibliográfica, de natureza descritivo-explicativa, o presente
trabalho consiste em um relato de experiência pedagógica sobre o estudo de textos
poéticos
em sala de aula de ensino médio. A escolha da natureza da referida pesquisa se justifica
por
esta
basear-se na premissa de que os problemas podem ser resolvidos e as
práticas melhoradas por meio da observação objetiva e minuciosa, da análise
e descrição (...) e por ter como preocupação central identificar e explicar
[grifo meu] os fatores que determinam ou contribuem para a ocorrência dos
fenômenos. (MOREIRA & CALEFFE, 2006, p. 70)
Sendo assim, asseguramos que o ensino de literatura, principalmente no que diz
respeito à abordagem do poema em sala de aula, carece ser repensado e
redimensionado, visto
que não favorece o interesse, o envolvimento dos alunos na prática de leitura de textos
poéticos. O tratamento dado a estes se resume, na maioria das vezes, ao estudo de sua
estrutura e, quando muito, da sua temática, que, de forma superficial, é abordada pelo
professor. Porém, tal realidade pode ser ressignificada através de práticas pedagógicas
inovadoras, como a experiência aqui relatada.
Como mencionamos anteriormente, a referida experiência foi desenvolvida em duas
turmas de 2ª série do ensino médio da Escola Estadual Dom Nivaldo Monte, no período
de
março a abril de 2017, contando com um total de 85 alunos. Ademais, ela foi pensada e
planejada em conformidade com as sequências didáticas propostas por Rildo Cosson
(2012):
1) Motivação: É o núcleo de preparação do aluno para entrar no texto (encontro leitor,
autor e
obra). “A construção de uma situação em que os alunos devem responder a uma questão
ou
posicionar-se diante de um tema é uma das maneiras usuais da construção da
motivação.”
(COSSON, 2012, p. 55); 2) Introdução: É o momento de apresentação do autor e da
obra. No
entanto, essa biografia deve ser breve, pois entre outros contextos ela é uma das que
acompanham o texto. “No momento da introdução é suficiente que se forneçam
informações
básicas sobre o autor e, se possível, ligadas àquele texto.” (COSSON, 2012, p. 60); 3)
Leitura: Etapa essencial da proposta de letramento literário, o acompanhamento da
leitura.
“A leitura escolar precisa de acompanhamento porque tem uma direção, um objetivo a
cumprir, e esse objetivo não deve ser perdido de vista.” (COSSON, 2012, p. 62); e 4)
Interpretação: É o momento de construção dos sentidos, por meio de inferências que
envolvem o autor, o leitor e o texto.
Então, passemos à descrição das etapas realizadas. Elencamos abaixo cada etapa, para
que o leitor deste texto possa identifica-las, uma a uma, com mais facilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
O ensino de literatura, nos dias atuais, ainda insiste em priorizar estudos
historiográficos de movimentos literários e leitura de fragmentos de textos presentes nos
livros didáticos. A leitura de obras pouco é promovida, muito menos a leitura de textos
poéticos. As causas para isto podem estar na dificuldade do professor em trabalhar com
o
poema, na dificuldade do aluno interpretar a linguagem poética ou por outra causa até
então
desconhecida.
Contudo, de acordo com Antonio Candido, a literatura é um direito inalienável do
homem. Por isso, ela deve estar presente de forma dinâmica e efetiva na vida de
crianças e
jovens como ferramenta humanizadora. Isso “porque pelo fato de dar forma aos
sentimentos e
visão de mundo ela nos organiza, nos liberta do caos e, portanto, nos humaniza”.
(CANDIDO,
2004, p. 186). Ademais, “ela age com o impacto indiscriminado da própria vida e educa
com
ela, com altos e baixos, luzes e sombras”, sons e silêncios [grifo nosso]. (CANDIDO,
1999,
p. 84)
Neste aspecto, destacamos que o aluno precisa perceber a importância do texto
literário para a sua vida, uma vez que este promove mudanças ao longo de sua
existência,
como nos assegura Marisa Lajolo: o efeito da leitura, “não se desfaz na última página do
livro, no último verso do poema, na última fala da representação. Permanece
ricocheteando no
leitor, incorporando como vivência, erigindo-se em marco do percurso de leitura de cada
um”.
(LAJOLO, 1982, p. 43). Daí a sua importância para a formação humana e social dos
alunos e
para a libertação destes.
Vale ressaltarmos que muitos alunos não conseguem perceber esse caráter formador e
libertador da literatura porque são carentes de leitura literária, não têm a prática de ler
textos
literários em casa, ou mesmo na escola. Muitos veem a obra literária como algo que
causa
enfado, o que provoca sua desmotivação para a leitura. Eles buscam prazer. Mas como
saber
se um texto pode despertar-lhe prazer sem lê-lo? É preciso abrir-se à leitura e debruçar-
se
sobre suas linhas e entrelinhas. Só assim poderá descobrir que o texto ou a obra literária
pode
sim, ser uma fonte de prazer.
Sabemos que nem todo texto literário, poético está numa relação constante com o
prazer. Entretanto, acreditamos que podemos promover o despertar desta relação a partir
da
mediação do professor com o poema, o poeta e o leitor, uma vez que o texto poético é
como um objeto fetiche e esse fetiche me deseja. Ele (grifo nosso) me
escolheu, através de toda uma disposição de telas invisíveis, de chicanas
seletivas: o vocabulário, as referências, a legibilidade etc.; e, perdido no
meio do texto (não atrás dele ao modo de um deus de maquinaria) há sempre
o outro, o autor. (BARTHES, 2008, p. 35)
Como podemos perceber, o poema é um objeto fetiche que encanta, convida e envolve
o leitor por meio de suas teias linguísticas e imagéticas, construídas através da seleção
do
vocabulário, de sua fruição e da emoção expressada pelo poeta.
Ao considerarmos esse caráter fetiche do texto poético, pensamos em como preparar
os alunos para a recepção dos poemas escolhidos para o desenvolvimento das aulas.
Iniciamos, então, a primeira etapa da sequência didática – Motivação, fazendo alguns
questionamentos aos discente
O TEXTO POÉTICO EM SALA DE AULA: IMAGEM, SOM E
SENTIDOS.
Jucileide Maria de Santana
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
jucisantana69@hotmail.com
Resumo: O presente trabalho visa discutir o ensino de literatura, em especial, o
tratamento dado ao
texto poético em sala de aula, a partir do relato de experiência, desenvolvida nas turmas
de 2ª série da
Escola Estadual Dom Nivaldo Monte, em Parnamirim/RN, no ano de 2017. O texto
poético é muito
mais do que um estrato superficial; é imagem, é som, é sentido. É um convite à
apreciação das
imagens poéticas. Sua leitura requer um mergulho nas linhas e entrelinhas da poesia,
através do qual o
leitor, conduzido por sua sensibilidade e pelas imagens poéticas, constrói o sentido do
texto. Ele é de
suma importância para o letramento literário de crianças e jovens, visto que sua
linguagem metafórica
incita os leitores a pensarem, a fazerem inferências, a construírem seu próprio ponto de
vista acerca da
temática abordada nos poemas, de seu eu-lírico, características estruturais e conceituais.
Não há como
conceber que, nos dias atuais, os alunos concluam o Ensino Médio sem saber ler textos
poéticos, sem
entender o que é poesia, sem perceber a poesia presente em suas vidas. Barthes (2008),
Candido
(1999, 2004), Cosson (2012), Pinheiro (2008, 2012) e Silva (2009) serviram de aporte
teórico para a
fundamentação das ideias neste trabalho defendidas, consideradas viáveis, uma vez que
a experiência
relatada promoveu o deleite, a sensibilidade, o envolvimento e o protagonismo dos
alunos nas
atividades literárias propostas, o que contribuiu para a promoção do letramento literário e
formação
humana e social dos discentes.
Palavras-chave: Texto poético, leitura, experiência pedagógica, protagonismo, letramento
literário.
INTRODUÇÃO
É comum ouvirmos alguém dizer que a poesia está em toda parte: no barulho do vento,
no ir e vir das ondas, no balançar de galhos e folhas, na água que escorre cachoeira
abaixo, no
solo rígido e ressecado, no silêncio do respirar. Concordamos. Por este motivo,
defendemos
que o texto poético deve fazer-se presente nas aulas de literatura como poesia viva, que
encanta, atrai e envolve o leitor, o que contribui para o desenvolvimento de suas
habilidades
leitora e interpretativa e de seu senso crítico-reflexivo.
Abordar o texto poético no contexto escolar requer percebê-lo como uma constelação,
através da qual os leitores são convidados a desvendarem cada ponto e a mergulharem
na
infinidade de possibilidades de significação de si, do outro e do mundo ao seu redor. Isso
é
possível, uma vez que o texto verdadeiramente poético é pura poesia.
Contudo, para melhor situarmos o leitor deste trabalho, apresentamos uma breve
distinção entre poema (texto poético) e poesia.
Falar de poesia, em português, apresenta um obstáculo inicial – a
delimitação do sentido dessa palavra. Com frequência, utilizamos
indistintamente poesia e poema, como se fossem sinônimos. Isso não ocorre
em inglês, em que as palavras poetry e poem dificilmente serão confundidas.
Quando se diz: a poesia está em toda a parte, ou quando se ouve alguém
afirmar que um velho cartaz da eleição passada, pendente em um muro, pode
transformar-se em poesia aos olhos do passante, certamente não se está
usando essa expressão em sua acepção de poema. Está-se pensando em
poesia mesmo, algo mais amplo e difuso, uma abstração com muito de
subjetivo e de emocional, que se concretiza como vivência ou descoberta
através do olhar de quem a vê.
[...] E o que é o poema? Comumente associamos o poema a uma
determinada forma gráfica: a de um texto segmentado com ou sem simetria,
em fragmentos denominados versos e estrofes. (SILVA, 2009, p.99)
Nesse sentido, depreendemos que a poesia depende mais do sujeito que a percebe do
que do objeto que supostamente a contém. E o poema, por sua vez, é o lugar privilegiado
onde, segundo o crítico e poeta mexicano Octavio Paz, “a poesia se recolhe e se revela
plenamente” (apud SILVA, 2009, p.99).
Delimitando, portanto, o campo de abordagem, é de interesse deste texto científico não
a abstração da poesia, mas sua mais legítima manifestação, o poema, o texto poético.
A escolha do gênero literário supracitado se justifica por dois motivos: 1) a
necessidade de abordarmos as gerações poéticas do Romantismo Brasileiro,
possibilitando o
desenvolvimento do protagonismo estudantil na prática pedagógica, no tocante ao ensino
de
literatura, em especial, no que diz respeito à poesia presente nos referidos textos
poéticos; e 2)
a urgência em promovermos o letramento literário do alunado através da prática de
leitura de
poemas.
Com o presente trabalho objetivamos discutir o ensino de literatura, em especial, o
tratamento dado ao texto poético em sala de aula, a partir do relato de experiência
desenvolvida em duas turmas de 2ª série do Ensino Médio da Escola Estadual Dom
Nivaldo
Monte, em Parnamirim/RN, durante o período de março a abril de 2017, envolvendo um
total
de 85 alunos. Ademais, visamos: 1) relatar a experiência didática com textos poéticos em
sala
de aula; 2) destacar a importância da poesia no desenvolvimento da sensibilidade
humana e,
consequentemente, para o processo de humanização dos leitores; e 3) enfatizar a
relevância do
uso dos textos poéticos para a promoção do letramento literário e para a formação efetiva
de
leitores.
Os procedimentos metodológicos utilizados no mencionado relato de experiência se
basearam na sequência didática proposta por Cosson (2012): motivação, introdução,
leitura e
interpretação, conforme poderemos acompanhar no tópico posterior.
METODOLOGIA
Fruto de uma pesquisa bibliográfica, de natureza descritivo-explicativa, o presente
trabalho consiste em um relato de experiência pedagógica sobre o estudo de textos
poéticos
em sala de aula de ensino médio. A escolha da natureza da referida pesquisa se justifica
por
esta
basear-se na premissa de que os problemas podem ser resolvidos e as
práticas melhoradas por meio da observação objetiva e minuciosa, da análise
e descrição (...) e por ter como preocupação central identificar e explicar
[grifo meu] os fatores que determinam ou contribuem para a ocorrência dos
fenômenos. (MOREIRA & CALEFFE, 2006, p. 70)
Sendo assim, asseguramos que o ensino de literatura, principalmente no que diz
respeito à abordagem do poema em sala de aula, carece ser repensado e
redimensionado, visto
que não favorece o interesse, o envolvimento dos alunos na prática de leitura de textos
poéticos. O tratamento dado a estes se resume, na maioria das vezes, ao estudo de sua
estrutura e, quando muito, da sua temática, que, de forma superficial, é abordada pelo
professor. Porém, tal realidade pode ser ressignificada através de práticas pedagógicas
inovadoras, como a experiência aqui relatada.
Como mencionamos anteriormente, a referida experiência foi desenvolvida em duas
turmas de 2ª série do ensino médio da Escola Estadual Dom Nivaldo Monte, no período
de
março a abril de 2017, contando com um total de 85 alunos. Ademais, ela foi pensada e
planejada em conformidade com as sequências didáticas propostas por Rildo Cosson
(2012):
1) Motivação: É o núcleo de preparação do aluno para entrar no texto (encontro leitor,
autor e
obra). “A construção de uma situação em que os alunos devem responder a uma questão
ou
posicionar-se diante de um tema é uma das maneiras usuais da construção da
motivação.”
(COSSON, 2012, p. 55); 2) Introdução: É o momento de apresentação do autor e da
obra. No
entanto, essa biografia deve ser breve, pois entre outros contextos ela é uma das que
acompanham o texto. “No momento da introdução é suficiente que se forneçam
informações
básicas sobre o autor e, se possível, ligadas àquele texto.” (COSSON, 2012, p. 60); 3)
Leitura: Etapa essencial da proposta de letramento literário, o acompanhamento da
leitura.
“A leitura escolar precisa de acompanhamento porque tem uma direção, um objetivo a
cumprir, e esse objetivo não deve ser perdido de vista.” (COSSON, 2012, p. 62); e 4)
Interpretação: É o momento de construção dos sentidos, por meio de inferências que
envolvem o autor, o leitor e o texto.
Então, passemos à descrição das etapas realizadas. Elencamos abaixo cada etapa, para
que o leitor deste texto possa identifica-las, uma a uma, com mais facilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
O ensino de literatura, nos dias atuais, ainda insiste em priorizar estudos
historiográficos de movimentos literários e leitura de fragmentos de textos presentes nos
livros didáticos. A leitura de obras pouco é promovida, muito menos a leitura de textos
poéticos. As causas para isto podem estar na dificuldade do professor em trabalhar com
o
poema, na dificuldade do aluno interpretar a linguagem poética ou por outra causa até
então
desconhecida.
Contudo, de acordo com Antonio Candido, a literatura é um direito inalienável do
homem. Por isso, ela deve estar presente de forma dinâmica e efetiva na vida de
crianças e
jovens como ferramenta humanizadora. Isso “porque pelo fato de dar forma aos
sentimentos e
visão de mundo ela nos organiza, nos liberta do caos e, portanto, nos humaniza”.
(CANDIDO,
2004, p. 186). Ademais, “ela age com o impacto indiscriminado da própria vida e educa
com
ela, com altos e baixos, luzes e sombras”, sons e silêncios [grifo nosso]. (CANDIDO,
1999,
p. 84)
Neste aspecto, destacamos que o aluno precisa perceber a importância do texto
literário para a sua vida, uma vez que este promove mudanças ao longo de sua
existência,
como nos assegura Marisa Lajolo: o efeito da leitura, “não se desfaz na última página do
livro, no último verso do poema, na última fala da representação. Permanece
ricocheteando no
leitor, incorporando como vivência, erigindo-se em marco do percurso de leitura de cada
um”.
(LAJOLO, 1982, p. 43). Daí a sua importância para a formação humana e social dos
alunos e
para a libertação destes.
Vale ressaltarmos que muitos alunos não conseguem perceber esse caráter formador e
libertador da literatura porque são carentes de leitura literária, não têm a prática de ler
textos
literários em casa, ou mesmo na escola. Muitos veem a obra literária como algo que
causa
enfado, o que provoca sua desmotivação para a leitura. Eles buscam prazer. Mas como
saber
se um texto pode despertar-lhe prazer sem lê-lo? É preciso abrir-se à leitura e debruçar-
se
sobre suas linhas e entrelinhas. Só assim poderá descobrir que o texto ou a obra literária
pode
sim, ser uma fonte de prazer.
Sabemos que nem todo texto literário, poético está numa relação constante com o
prazer. Entretanto, acreditamos que podemos promover o despertar desta relação a partir
da
mediação do professor com o poema, o poeta e o leitor, uma vez que o texto poético é
como um objeto fetiche e esse fetiche me deseja. Ele (grifo nosso) me
escolheu, através de toda uma disposição de telas invisíveis, de chicanas
seletivas: o vocabulário, as referências, a legibilidade etc.; e, perdido no
meio do texto (não atrás dele ao modo de um deus de maquinaria) há sempre
o outro, o autor. (BARTHES, 2008, p. 35)
Como podemos perceber, o poema é um objeto fetiche que encanta, convida e envolve
o leitor por meio de suas teias linguísticas e imagéticas, construídas através da seleção
do
vocabulário, de sua fruição e da emoção expressada pelo poeta.
Ao considerarmos esse caráter fetiche do texto poético, pensamos em como preparar
os alunos para a recepção dos poemas escolhidos para o desenvolvimento das aulas.
Iniciamos, então, a primeira etapa da sequência didática – Motivação, fazendo alguns
questionamentos aos discentes: 1) Vocês sabem a diferença entre querer e amar?; 2) Já
se
viram indecisos quanto o que sentem ou sentiam por alguém?; 3) Na opinião de vocês, é
possível querer alguém e não o amar?; 4) E se a pessoa amada dissesse-lhes que não
os ama,
como vocês se sentiriam?; 5) O que vocês entendem por solidão?; 6) O que levaria
alguém ao
estado de solidão?; 7) É possível estar-se acompanhado e mesmo assim sentir-se na
solidão?;
e 8) Será que o fato de se estar com uma pessoa sem amá-la poderia gerar solidão?
Estes
foram os questionamentos iniciais que fizemos, antes de apresentarmos o texto poético
selecionado para o primeiro momento: Não te amo, de Almeida Garret.
Após a distribuição do referido poema, organizamos a turma em círculo. Deu-se,
então, o momento da Introdução, no qual apresentamos uma breve biografia de Almeida
Garret e falamos sobre sua produção literária, destacando Folhas Caídas, obra onde
consta o
texto em estudo Não te amo.
Logo após essa etapa, iniciamos o momento Leitura. Solicitamos que cada aluno lesse
o poema distribuído, silenciosamente. Em seguida, fizemos a leitura compartilhada em
voz
alta. Depois, solicitamos que os discentes fechassem os olhos enquanto declamávamos
o
referido texto. Finalizado esse momento, perguntamos aos educandos: 1) O que vocês
sentiram ao ouvir tal declamação?; 2) Que emoções foram despertadas?; 3) Que
imagens
vocês construíram ao ouvir o referido poema?; 4) Como vocês perceberam o eu-lírico e
como
o caracterizam?; 5) Em sua opinião, qual a provável situação em que o supracitado
poema foi
produzido?; 6) Podemos estabelecer alguma relação entre tal poema e Cem anos de
solidão?;
e 7) Que relações podemos estabelecer entre o texto Não te amo e nossas experiências
de
vida?
Esse momento foi deveras relevante, uma vez que os alunos contribuíram com suas
impressões e opiniões sobre o texto em questão. Eles ficaram eufóricos. Percebemos,
então,
que Eu te amo havia sido bem acolhido, recepcionado pelos educandos.
Faz-se necessário, no entanto, ressaltarmos que a referida etapa teve como motivação a
leitura da obra de García Marquez, Cem anos de solidão, que havia sido trabalhada
anteriormente.
___________________________________
Figura 01 e 02 – Alunos lendo Cem anos de solidão, de Gabriel García Marquez.
Com o intuito de provocarmos ainda mais a euforia discente, distribuímos Este inferno
de amar, do mesmo autor. Após a distribuição, convidamos os alunos a fazerem a leitura
do
referido poema no jardim da escola. Assim todos o fizeram. Passeando pelo citado
espaço,
eles leram Este inferno de amar em voz alta, como se estivessem passando algum
roteiro
cinematográfico, o que chamou a atenção das demais turmas de alunos que estavam em
sala
de aula. Logo após, partimos para a discussão acerca do mencionado poema, na qual
abordamos questões relacionadas à sua temática, ao eu-lírico, ao contexto de produção,
à
linguagem empregada, à estética e fruição.
Contudo, o momento Leitura não se resumiu a estes dois textos. Dividimos as turmas
em seis agrupamentos cada e, em seguida, distribuímos outros poemas, de poetas das
gerações
do Romantismo brasileiro. Os textos selecionados foram: Se se morre de amor, Como eu
te
amo, e Canção do Exílio, de Gonçalves Dias; Se eu morresse amanhã, e Lembranças de
morrer, de Álvares de Azevedo; Marieta, e Navio Negreiro, de Castro Alves; Cântico do
Calvário, de Fagundes Varela; Desejo, e Meus oito anos, de Casimiro de Abreu; Martírio,
O
arranco da morte; e Soneto, de Junqueira Freire, sendo que, cada grupo ficou
responsável
pela leitura e análise apenas de 1 poema, distribuído conforme sorteio.
Dando continuidade, entregamos alguns pontos que deveriam ser analisados no
momento de leitura dos supracitados poemas, questões relacionadas: 1) à estrutura e
composição poética; 2) à temática abordada; 3) ao contexto de produção; 4) ao eu-
poético; 5)
à linguagem empregada; 6) ao público-alvo; 7) ao veículo de divulgação; e 8) ao
estabelecimento de relações e comparações entre os textos em estudo, incluindo a obra
de
García Marquez e os poemas de Garret, anteriormente lidos. Logo depois, os alunos
foram
convidados a produzirem uma resenha, na qual eles deveriam apresentar resposta a
todas as
questões acima elencadas, finalizando com a apresentação do ponto de vista coletivo
dos
componentes do grupo acerca da análise realizada. Após sua produção, a resenha foi
apresentada por cada grupo. Esse momento, que contemplou a análise, produção e
apresentação do referido gênero textual se constituiu a Interpretação, última etapa da
sequência didática proposta por Cosson (2012).
Em um momento posterior, distribuímos no chão da sala de aula vários papeis
coloridos, contendo algumas características presentes nos poemas lidos e pertencentes
ao
movimento literário Romantismo brasileiro. Em seguida, solicitamos que um
representante de
cada grupo, orientado pelos demais componentes do seu agrupamento, pegasse os
papeis, que
correspondiam às características dos poemas por cada grupo analisado. Depois, cada
um
apresentou as características escolhidas, utilizando ora versos, ora estrofes como
ilustração.
O mais interessante nessa atividade foi a participação ativa dos alunos e a relação que
todos os grupos estabeleceram entre os poemas e suas características, observando
semelhanças e diferenças entre ambas e ambos textos poéticos.
Entretanto, nossas atividades não se encerraram com este momento. Ampliamos o
repertório de desafios dos nossos alunos. Solicitamos que cada grupo elaborasse e
aplicasse
uma sequência didática, com no mínimo 50 minutos de duração, na qual deveria ser
realizada
análise crítico-comparativa entre Cem anos de solidão, de Gabriel García Marquez, com
os
poemas lidos e algumas músicas contemporâneas selecionadas. Na 2ª série B, foram
entregues as seguintes músicas: Você não me ensinou a te esquecer, de Caetano
Veloso;
Flores do mal, de Barão Vermelho; Aquarela, de Ari Barroso; Um dia de domingo, de Tim
Maia. Por sua vez, na 2ª série A, foram distribuídas outras canções, todas de Oswaldo
Montenegro: A lista; Lógica da criação; A vida quis assim; Lua e Flor; Metade; e
Bandolins.
Escolhemos este gênero musical por acreditarmos que
através da música, o professor pode levantar questões para debatê-las e
aguçar a sensibilidade, estimulando a reflexão sobre sentimentos e estados
de espírito. A música eleva a alma e transporta os pensamentos para diversas
situações, típicas das experiências do homem nas muitas fases de sua vida.
(ANDRADE, 2014, p. 32)
A nosso ver, a música, como o poema, traz em si a poesia, o que favorece o despertar
do gosto, do interesse, da participação dos educandos nas atividades a ela voltadas.
Vale ressaltarmos que antes de propormos a produção da aula, trabalhamos os gêneros
textuais: sequência didática e aula, mostrando suas estruturas, finalidade e funções.
Chegado o momento das apresentações, cada grupo ficou responsável por comandar a
aula, desde a sua dinâmica ao comportamento da turma. Pusemo-nos apenas como
espectadores (e expectadores) desses momentos, nos quais o protagonismo estudantil
esteve
em cena.
Como as apresentações totalizaram 12 aulas, decidimos por abreviar a descrição
destas, selecionando aquelas que nos surpreenderam além de nossas expectativas,
sendo uma
por turma. Começamos por falar da aula que tematizou a música: Flores do mal, de
Barão
Vermelho. O grupo iniciou o momento, fazendo uma breve apresentação sobre o que
trataria a
aula. Em seguida, distribuiu a letra da canção à turma e solicitou sua leitura silenciosa e,
depois, em voz alta. Após a leitura, fez alguns questionamentos à música relacionados,
apresentaram a biografia da referida banda musical e o contexto de produção da
supracitada
canção.
Para nossa surpresa, o grupo distribuiu a letra de outra música de mesmo título Flores
do mal, na interpretação de Legião Urbana. Ficamos encantados, pois não conhecíamos
tal
versão. Depois da leitura da referida canção, a turma foi convidada a fazer uma análise
comparativa, estabelecendo um paralelo entre a letra cantada por Barão Vermelho e a
cantada
por Legião Urbana, como podemos perceber na imagem abaixo.
___________________________________
Figura 03 – Análise comparativa entre as versões da música Flores do mal.
Destacamos, contudo, que tal aula não se encerrou após esta atividade. O grupo
ampliou a análise comparativa, observando os pontos convergentes e os pontos
divergentes
entre as supracitadas músicas e a obra Flores do mal, de Charles Baudelaire, analisando
a
simbologia referente às “flores do mal”, fazendo uma alusão às suas experiências de
vida.
Nesse momento, pudemos perceber que os alunos, através da audição das músicas,
construíram imagens a respeito da situação retratada nas referidas canções, atribuindo
sentido
a elas, à situação e ao contexto de produção. Decerto, estávamos diante de um caso
explícito
de letramento literário, no qual os educandos, através de seu protagonismo, construíram
seu
próprio aprendizado sobre a temática abordada, fazendo reflexões a respeito desta em
suas
vidas, delineando com clareza a autonomia didática que se depreendeu a partir do
incentivo
dado nas aulas.
A outra aula, realizada por um grupo da 2ª série A, foi relacionada à música Metade,
de Oswaldo Montenegro. De início, o grupo responsável por tal atividade pedagógica
apresentou o plano da aula que ministraria. Em seguida, promoveu o momento
motivação,
questionando os alunos sobre o que levaria uma pessoa a se sentir pela metade. E se
alguém já
havia se sentido assim. Depois, entregou a letra da música e solicitou que a turma a
lesse
silenciosamente. Após a leitura, exibiu o clip da referida canção. A turma toda colaborou
com
o silêncio e a atenção.
____________________________________
Figura 04 – Apresentação do clip da música Metade, de Oswaldo Montenegro.
Concluída a exibição do referido clip, o grupo fez alguns questionamentos aos alunos,
tais como: 1) Qual o verso ou estrofe que mais gostaram e por quê; 2) O que teria
motivado o
compositor da música em questão a produzi-la; 3) O que eles sentiram ao ouvir a referida
canção; 4) Que imagens construíram sobre o eu-lírico e a situação retratada; 5) Que
relações
estabeleceram entre a letra da música estudada e suas experiências de vida.
Esse momento de interatividade com a turma mostrou o quanto o grupo estava seguro
da temática e da missão que havia assumido.
Seguidamente, um dos componentes do grupo apresentou a biografia de Oswaldo
Montenegro, incluindo vida e obra. Logo após, a turma foi convidada a fazer a análise da
supracitada canção, estrofe por estrofe.
Posteriormente, o grupo fez alguns questionamentos sobre a prática de plágio, se a
turma conhecia alguma situação de plágio envolvendo letras de músicas ou outras
formas
textuais (outros gêneros, outros tipos textuais...). Nesse momento, não compreendemos
o
porquê de tal abordagem. Que relações poderiam ser estabelecidas entre a música em
estudo e
plágio? Não conseguíamos vislumbrar resposta para esta pergunta. No entanto, o grupo
logo
se pronunciou, citando que o supracitado cantor estava sendo questionado por plágio em
relação à canção analisada. Foi nesse momento que um dos componentes distribuiu o
texto
Traduzir-se, de Ferreira Gullar, que também é cantado por Zizi Possi. O grupo solicitou
que a
turma lesse o referido texto, estabelecesse relações com a canção de Oswaldo
Montenegro e
observasse se havia algum verso ou estrofe que pudesse ser configurado como plágio,
fazendo
a análise verso por verso, estrofe por estrofe.
_______________________________
Figura 05 – Momento de leitura e análise do poema Traduzir-se, de Ferreira Gullar.
Após essa análise, o grupo questionou a turma se considerava a música Metade, de
Oswaldo Montenegro como plágio, sendo essa hipótese negada pela maioria dos alunos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao finalizarmos este instrumento de leitura e reflexão, chegamos à conclusão de que,
rompermos com os ditames da tradição transmissiva do ensino de literatura e da leitura
mecânica do texto poético na sala de aula faz-se indispensável nos dias atuais, haja vista
a
necessidade de promovermos o protagonismo do educando em seu processo de
formação
leitora, humana e social, bem como no desenvolvimento de seu letramento literário.
Ademais,
concluímos que se faz necessário tratar o texto poético de forma a promover a recepção
deste
pelos educandos, dando-lhes vez e voz na construção das possibilidades imagéticas e na
produção de sentidos acerca do texto lido.
Vermos nossos alunos assumirem o protagonismo do processo de ensino e
aprendizagem, adotando uma atitude de alteridade, de sensibilidade, de promotor de seu
próprio conhecimento, como pudemos observar com a realização das atividades a eles
propostas é uma satisfação inenarrável, indescritível.
Além disso, ver o entusiasmo deles por terem alcançado os objetivos propostos com a
realização de suas aulas nos fez perceber que é possível despertar o gosto, o interesse,
o
prazer discente pela leitura literária, pela literatura, pelo processo de ensino e
aprendizagem,
no qual se possibilite o protagonismo estudantil, pois, como mencionamos anteriormente,
a
literatura é formadora e libertadora. Ela só precisa ser pensada e ofertada como uma
ferramenta inclusiva, promotora de oportunidades, de possibilidades de significação de
sua
função e de sua importância para a vida de crianças e jovens.
REFERÊNCIAS
01. ANDRADE, Fabiana Andrade. A pedagogia do afeto na sala de aula: A preparação
das aulas; O uso da música na sala de aula. Recife: Prazer de Ler, 2014.
02. BARTHES, Roland. O prazer do texto; tradução: J. Guinsburg. São Paulo:
Perspectiva, 2008.
03. CANDIDO, Antonio. Vários escritos. 4ª ed. São Paulo: Duas Cidades, 2004.
04. _________. A literatura e a formação do homem. In: Revista Remate de Males.
Departamento de teoria literária IEL/UNICAMP, Campinas, 1999.
05. COSSON, Rildo. Letramento Literário: teoria e prática. 2.ed. São Paulo: Contexto,
2012.
06. LAJOLO, Marisa. O que é literatura. São Paulo: Brasiliense, 1982.
07. MOREIRA, H. CALLEFFE, L. G. Metodologia da pesquisa para o professor
pesquisador. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.
08. PINHEIRO, Hélder. A abordagem do poema na prática de ensino: Reflexão e
Propostas. In: Soélis T, Patícia A. (Ogrs.) Práticas de língua e literatura no Ensino
Médio: Olhares diversos, múltiplas propostas. Campina Grande: Bagagem, 2012.
09. PINHEIRO, H., PEREIRA, J. A., DA SILVA, M. V. & ARAÚJO NETO, M. L.
(Orgs). Literatura e formação de leitores. Campina Grande: Bagagem, 2
1.2. A Leitura
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Cada leitura que realizamos tem um objetivo, pois ela varia de acordo com o tipo do texto que
estamos lendo. Para os textos acadêmicos é preciso reconhecer a necessidade de realizar algumas
etapas. Veja a seguir quais são essas etapas:
• Leitura rápida para reconhecimento do assunto;
• Leitura seletiva a fim de identificar as informações de interesse;
• Leitura reflexiva para compreender e poder emitir considerações;
• Leitura crítica para avaliar o posicionamento do autor.
Perceba que cada leitura tem uma característica e um propósito. Você costuma realizar essas etapas
nas suas leituras? Espero que elas ajudem você na sua aprendizagem!
Aproveite para compartilhar esta dica! Se precisar de auxílio, pode nos chamar!
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Esta prática tem como objetivo promover uma intervenção na leitura de poemas na escola,
proporcionar autonomia na elaboração de sentidos das leituras na perspectiva do letramento
literário significativo e iniciar a formação de uma comunidade de leitores pela socialização de
experiências.
Componente(s): Língua Portuguesa.
Quando:
O que é:
A iniciativa não teve como objetivo a decodificação do código linguístico ou a simples
memorização de conceitos e/ou regras descontextualizadas. A intenção foi dar especial atenção à
experimentação da obra poética, por meio do diálogo entre os leitores e deles com as produções.
A exploração de poemas foi realizada para que o contato com as obras ocorresse, inicialmente, de
maneira pessoal, incentivando a construção de sentidos pelos alunos, encorajando-os a atribuir
novos significados à multiplicidade interpretativa que a poesia possibilita no projeto de letramento
literário proposto.
A sequência didática foi o instrumento utilizado para promover a leitura de poemas no ambiente
escolar e em casa, além da posterior socialização das vivências com toda a comunidade leitora.
Como fazer:
Introdução
A turma selecionada para desenvolver o projeto foi a do 7º ano. Era uma turma heterogênea, com
perfis leitores distintos. A maioria, de acordo com os dados coletados num questionário, não
gostava de ler.
Os conhecimentos dos alunos foram diagnosticados num questionário, o que possibilitou avaliar os
conhecimentos e o perfil de leitor dos participantes das aulas de leitura de poemas.
Após a coleta de dados, foi possível detectar os conhecimentos prévios dos alunos para a
elaboração das propostas das atividades. O diagnóstico foi fundamental para ajustar o planejamento
inicial.
Foi necessário direcionar o trabalho para os interesses dos alunos e elaborar uma proposta que
ampliasse seus conhecimentos.
O diagnóstico foi realizado no segundo bimestre de 2017, com a coleta e a interpretação de dados.
No final do período e nas férias de julho, elaboramos as propostas de atividades que seriam
aplicadas no segundo semestre.
A constatação dessas dificuldades despertou a seguinte reflexão: como o letramento literário, pela
mediação do professor, pode favorecer o desenvolvimento da leitura significativa, contextualizada
e colaborativa a partir de poemas nas aulas de Língua Portuguesa?
Para a elaboração desta proposta de trabalho, consideramos as relações possíveis entre a linguagem
dos poemas e outras linguagens poéticas, como a música e as artes plásticas, de modo a favorecer a
aproximação dos estudantes com as obras de uma antologia que reúne textos literários dos últimos
100 anos.
Propusemos a leitura de poemas em voz alta e apreciação de textos musicados, pinturas, vídeos e
teatro, entre outras manifestações artísticas. O objetivo foi o de levar a poesia para a vida escolar.
Desenvolvimento
As atividades foram elaboradas ao longo de 13 aulas, com um evento final voltado à socialização
das produções.
Por se tratar de um projeto didático, os produtos construídos foram os portfólios dos alunos, o
caderno de planejamento do professor, o CD de declamações da antologia e o evento de
socialização. Para iniciar a aplicação das atividades, providenciamos os exemplares da antologia
para todos os alunos.
Na primeira aula, após uma conversa, foi apresentada a justificativa para a realização do projeto na
escola. Refletimos sobre a ausência de eventos literários e a importância da leitura de poemas.
Foi um momento também de reflexão sobre o título do poema 1 e sobre o que ele sugeria: O que é
um convite? Para que serve um convite?
Na segunda aula, tivemos informações sobre os poetas, bem como contextos de produção,
características e dados biográficos consideradas relevantes para socialização.
Os alunos foram convidados a ler a pesquisa por meio dos seguintes questionamentos: “Quem
gostaria de ler ou comentar sobre o(a) poeta que pesquisou?” “O que descobriu sobre ele(a), o que
gostou ou não e gostaria de comentar?”
Após a socialização das pesquisas, a professora recolheu as anotações dos alunos para verificar o
registro escrito e intervir na ortografia, para que elas fossem reescritas e expostas no mural da sala.
BRASÍLIA Rádio Justiça de. Programa Entretexto: Entrevista com Fátima Miguez . 11’21’’. Disponível
em:https://www.youtube.com/watch?v=cJtXIxMnQgM. Acesso em 10 de agosto de 2017.
A quarta aula foi muito dinâmica. Levamos os alunos para a biblioteca. O desenvolvimento das
atividades foi bastante produtivo. Os alunos participaram comentando e respondendo a
questionamentos como: “O que é uma paisagem?”, “Alguém já ouviu falar em Brodósqui?”, “E
Cândido Portinari, você conhece?”.
Pedi que, em casa, os alunos lessem os poemas 3, 4, 5 e 6 para a socialização na aula seguinte.
Sugerimos a leitura em voz alta, que o aluno lesse para alguém e que fizesse o registro pessoal
escrito no portfólio. A leitura e o registro poderiam ser por meio de palavras, frases, desenhos ou o
que desejassem explorar no texto.
A quinta aula foi reveladora. Os estudantes foram questionados sobre a leitura de casa. Um aluno
disse:”podemos escrever, desenhar e dizer o que sentimos, foi como ir no psicólogo”.
Essa resposta corrobora o objetivo dessa pesquisa e revela como é importante o professor não dar
respostas/interpretações prontas para os alunos, mas possibilitar que eles elaborem suas próprias
hipóteses e ativem seus conhecimentos durante a leitura.
Os questionamentos usados na leitura compartilhada em sala de aula foram: “Qual o assunto deste
texto?” “O que percebe ao ler/ouvir este poema?” “O que o texto desperta em você?” “Fechando os
olhos, consegue imaginar o que o texto sugere?” “Foi preciso reler o texto para compreendê-lo
melhor?” “Você compreende o assunto do poema da mesma maneira que o poeta?” “Já aconteceu
algo parecido com você ou com alguém que conheça?” “Você se lembra de algum
lugar/pessoa/fato/situação/ sonho/acontecimento/problema parecido?”.
Para o contato com o poema 5, os alunos viram o stop motion do texto, disponível no material
complementar.
Houve tempo para assistir ao vídeo do programa de TV “Quintal da Cultura”, sobre o poema 6,
disponível no material complementar.
Como a escola não tem internet, o material de áudio e vídeo foi montado previamente para a
realização plena da aula, em pendrive e CD.
Como leitura de casa, foi solicitada a interação com os poemas 7, 8, 9 e 10 para socialização na
aula seguinte.
CULTURA Quintal da. Quintal de Versos: Quadrilha da Sujeira. Ricardo Azevedo. 18/02/14. 3’24’’.
Disponível em:https://www.youtube.com/watch?v=j3FLV_0feT0 . Acesso em 10 de agosto de 2017.
A sexta aula foi iniciada com os questionamentos detalhados na aula anterior e também com a
sequência didática.
Depois da discussão e da apresentação de leituras, a professora deixou tempo suficiente para que os
alunos dissessem o que haviam entendido dos textos, abordagem empregada em todas as aulas.
Para que pudessem tirar dúvidas, leram os textos em voz alta, e, quando a compreensão de algum
vocábulo ou frase pareceu difícil, partilharam suas conjecturas. Os estudantes fizeram várias
perguntas, e a interpretação pessoal pôde ser ampliada e socializada com o grupo.
Para finalizar a aula, foi realizada a gravação do CD de declamações. Os alunos ritmaram o poema
7. A sala toda participou da gravação dos poemas 8 e 9, com a música ao fundo.
Com a mediação desta aula ficou claro que é possível compartilhar experiências e conhecimentos
entre os alunos e deles com o professor. Na aula, os alunos tiveram acesso à linguagem plástica do
pintor Salvador Dalí.
A professora levou livros de arte com obras do pintor para que os alunos pudessem manuseá-los,
explorá-los e manifestar suas impressões. Na biblioteca, houve uma discussão sobre sonhos e sobre
as percepções da obra de Dalí. Finalmente, fizemos a leitura em voz alta de um poema e a
gravamos em áudio. Para a aula seguinte, foi solicitada a leitura dos poemas 12, 13, 14, 15 e 16.
Os alunos foram colocados em círculo e puderam socializar seus registros de leitura com os
colegas e com a professora. A aula foi interessante porque os jovens declamaram o poema em voz
alta e trabalharam a sonoridade, a combinação das palavras, a musicalidade e os jogos de palavras,
algo que despertou a atenção e o interesse de todos.
Ao final, houve tempo para assistirem ao vídeo do poema 12, disponível no material
complementar. Os alunos puderam brincar com as palavras, ritmaram e encenaram a partir da
leitura.
O momento mais emocionante da aula ocorreu durante a socialização dos poemas 13 e 14, que
falam de medo e obediência. Os alunos expressaram seus medos e descreveram as relações de
obediência que mantêm com seus responsáveis.
Para a aula seguinte, foi orientada a leitura dos últimos poemas da antologia (17, 18, 19 e 20).
Sempre no início das aulas, a professora pedia os registros para verificar o envolvimento e
atendimento do pedido diante de leitura.
Para finalizar, foi possível assistir aos vídeos de exploração dos poemas, disponíveis no material
complementar.
A gravação dos últimos áudios foi assim definida: os poemas 17 e 18 seriam declamados por toda a
turma; os poemas 19 e 20, por um único aluno.
Foi apresentada a estrutura de uma notícia de jornal para fazer a comparação com os textos
presentes na antologia. Foram discutidas as diferenças estruturais e de linguagem.
Para casa, foi solicitado aos alunos que selecionassem um poema do qual tivessem gostado para
relacioná-lo a peças como vídeos, músicas, jogos, paródias passatempos.
Para casa, escolheram um poema para realizar um registro para a exposição no evento de
socialização. A maioria, no momento da discussão, solicitou realizar uma abordagem do poema 17.
Esta etapa proporcionou aos alunos a oportunidade de avaliar individualmente o livro lido e as
atividades desenvolvidas. Foi um momento de refletir sobre as leituras e todos os registros do
portfólio.
Também propusemos o “Jogo das Caixas Poéticas” em grupo. Os representantes das equipes
retiraram um item de cada uma das três caixas: uma palavra, um objeto e uma imagem (todos
inspirados na antologia).
Em grupo, foi discutido o evento de socialização para a comunidade escolar e familiar: quais
seriam as atividades desenvolvidas e o nome que receberia.
Ficou definido que seria uma mostra literária, para que toda a comunidade escolar conhecesse um
pouco do que a pesquisa havia produzido. Discutimos a existência da poesia em nossas vidas.
A sugestão de título para nossa antologia foi “Há Poesia em Minha Vida!”. Um exemplar da
antologia foi disponibilizado para cada sala, e todos os alunos puderam conhecer e ler os textos do
projeto e produzir atividades para a mostra.
Avaliação:
A avaliação foi feita tanto das etapas de trabalho da atividade quanto das aprendizagens dos alunos.
Como atividade docente, o planejamento cumpriu o papel de prever ações coletivas em situações
didáticas concretas, destacando a coerência e a flexibilização das necessidades.
O estudo dos referenciais teóricos, principalmente sobre o letramento literário, dialogou com
nossos interesses em aprender para ensinar melhor.
Foi a partir dessas contribuições que o projeto foi elaborado, pois reconhecemos e valorizamos os
conhecimentos prévios dos sujeitos leitores em seu contato com a poesia presente nas múltiplas
linguagens estudadas.
Foi fundamental iniciar o projeto de leitura discutindo o que seria estudado. Dessa maneira,
focalizamos a atenção dos alunos para a relevância do que seria vivenciado, deixando claro os
objetivos e conquistando o interesse de todos durante a aplicação.
Nesse sentido, a realidade que atrai a atenção dos jovens fora da escola, como as múltiplas
linguagens, pôde ser vivenciada no ambiente escolar em aulas que não se valem unicamente do
quadro, do giz e do livro didático.
Vivenciamos o contato com o livro, com os textos e com as múltiplas linguagens, para que os
sujeitos leitores se interessem e deem significado para os conteúdos estudados.
O trabalho em duplas, trios ou grupos evidenciou que o conhecimento pode ser construído numa
comunidade leitora em formação.
O saber não pode estar concentrado no professor. O docente não é a única fonte do saber. A
interação entre os sujeitos leitores evidenciou que o aprendizado significativo ocorre não só no
ambiente escolar, mas também no social, profissional e familiar.
Outro desafio foi a transposição das dificuldades para a realização de um projeto de leitura na
perspectiva do letramento, pois é necessário superar a falta de tempo.
A realização das atividades influenciou diretamente minha prática docente, já que conheci as
recentes pesquisas sobre letramento literário, leitura, literatura, além dos referenciais estudados em
todas as disciplinas e suas implicações em sala de aula. A partir de agora, esses saberes
direcionarão minhas ações, meu planejamento e os planos de aula.
Antes do projeto, minhas aulas eram elaboradas sem referenciais teóricos. Não havia reflexão que
conduzisse a uma ação e que considerasse o contexto e a readequação necessária para o
atendimento das necessidades de minhas salas.
A falta de embasamento teórico fez que meus planejamentos fossem elaborados apenas por
intuições pessoais, reproduções de exemplos vivenciados como aluna e também pela influência de
outros colegas com mais anos de prática docente.
O projeto promoveu muita pesquisa, e a aproximação com teóricos que desenvolvem trabalhos
semelhantes se tornaram aliados para minha atualização às novas perspectivas do trabalho docente.
A proposta de letramento literário com o texto poético teve como objetivo não se pautar nas
questões estritamente linguísticas, mas sim discursivas, literárias, interativas e dialógicas.
O trabalho terá continuidade, não só com o texto poético, mas também com as adaptações
necessárias para os diferentes tipos de texto. Os demais professores poderão conhecer as
experiências aqui relatadas e adaptá-las às suas realidades.
O perfil dos alunos participantes da pesquisa foi feito com base em questionários semiestruturados,
aplicados antes da intervenção. Havia perguntas sobre o gosto pela leitura, a quantidade de livros
lidos recentemente e a relação do aluno com a poesia. Outro questionário foi aplicado ao final da
sequência didática, depois da Mostra Literária.
Por meio dos mecanismos qualitativos de coletas de dados, observação, registros da professora e
dos alunos, associados às informações quantitativas coletadas nos questionários, foi possível
verificar a viabilidade do trabalho com poemas na perspectiva do letramento literário.
A aproximação dos leitores com a poesia englobou 100% dos alunos. A ampliação de experiências
e o início de uma comunidade leitora na escola foram os objetivos alcançados.
Essa constatação tem correspondência nos resultados da pesquisa. Segundo o levantamento, num
primeiro momento, 82,4% dos alunos revelaram não ter identificação com os poemas lidos.
Porém, após a realização das atividades, ficou demonstrada a identificação de todos com a maioria
dos textos da antologia.
Outra contribuição foi o incentivo à leitura em casa. Antes da intervenção, 70,6% dos alunos
relataram não ler no ambiente doméstico. Após a aplicação, 94,1% dos estudantes registraram
terem lido em casa durante o projeto de letramento literário.
Com abordagens significativas de leitura, foi possível iniciar a formação de uma comunidade de
leitores.
Finalmente, a prática pedagógica gerou aprendizagens a todos os alunos, de acordo com suas
características individuais, incluindo os que apresentavam dificuldades específicas.
Saiba mais
Leituras em voz alta foram estimuladas e desenvolvidas. Ampliaram-se a fluência, a interpretação do
código, a imaginação e a interpretação.
Literatura
Linguagens
Leitura e escrita
Formação de leitor
Língua Portuguesa
Competência 3
Competência 4
Leitura compartilhada
Produção textual
Poesia
Intertextualidade
Roda de leitura
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Ler Liberta: arrecadação de livros literários para a Penitenciária Feminina do Distrito Federal
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A Base
Histórico
Implementação
1.2.3. Vantegens e desvantegens do uso do texto poético para o ensino da leitura
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É preciso oferecer poesia desde a infância, além de outros livros, que tornem a leitura mais
agradável e a transforme num hábito.
É importante incentivar as crianças desde cedo a conhecerem este universo poético e apresentar-
lhes livros que despertem o prazer à leitura e à escrita.
Ler poesia pode ser mais eficaz em tratamentos do que os livros de auto-ajuda, segundo um estudo
da Universidade de Liverpool. Isto acontece por que a leitura da poesia afeta o lado direito do
cérebro, onde são armazenadas as lembranças autobiográficas.
A poesia é uma das formas mais radicais que a educação pode oferecer de exercício de liberdade
através da leitura, de oportunidade de crescimento e problematização das relações entre pares e de
compreensão do contexto onde interagem. (Filipouski, p 338 2006)
Quanto mais cedo a criança tiver contato com textos poéticos, maiores chances ela terá de
desenvolver-se intelectualmente dentro de uma maior escala.
Cabe ao professor liderar um trabalho em classe que conduza os alunos ao manuseio de livros, a
conhecerem os seus autores, a participarem de oficinas de textos, rodas de conversa, atividades
lúdicas com palavras, etc.
A poesia tem o dom de nos enriquecer com palavras ao mesmo tempo em que brincamos com elas.
Desta forma, a poesia pode prevalecer em nosso cotidiano como uma importante ferramenta de
ensino, nos proporcionando um equilíbrio em uma sociedade que se apóia em conhecimentos
científicos.
Enquanto os conhecimentos técnicos e científicos nos deixam em terra firme, a poesia nos permite
voar, ultrapassando alguns limites do nosso entendimento costumeiro e humano.
Numa comparação genuína, costumo pensar que a ciência nos aproxima dos médicos, enquanto a
poesia nos aproxima de Deus!
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1. Designação: Estudar a Poesia
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Para além do pressuposto acima avançado, constitui questão de fundo o facto de no funcionamento
da língua eleger-se apenas o estudo dos advérbios, quando na verdade os poetas recorrem a várias
classes de palavras para exprimirem o seu estado de espírito. Ademais, constitui uma das sugestões
metodológicas para o professor, a audição dos textos poéticos, mas a nossa realidade não oferece
condições para que isto se materialize.
- Nota-se, no entanto, que por vezes, usa-se o texto literário como modelo de boa linguagem ou de
correcção gramatical, o que na perspectiva de FONSECA (2000:39), "é uma atitude que o
empobrece, pois, deixa totalmente na sombra aquilo em que realmente reside, do ponto de vista da
língua, a mais valia da criação literária.” Este procedimento amputa a criatividade do aluno na
medida em que se deixa de fora a utilidade do conteúdo desta tipologia textual para com o dia-a-dia
do aluno ou mesmo para a sociedade no geral.
- FONSECA (op.cit: 43) diz que “no ensino do texto literário, deve-se ter em conta a aquisição de
conhecimentos sobre um determinado fenómeno histórico-cultural[1], suas regras convencionais e
as suas realizações, não só, como também alargar a competência discursiva do aluno.”
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Neste âmbito, durante a assistência às aulas, o professor não fez a inscrição do texto na história,
conjugando-o com a vida e obra do autor, o que a nosso modo de ver se resume na falta de criatividade e
dinâmica por parte do professor, pois usa o programa de ensino como instrumento de limitação e não
como instrumento de inspiração.
- Os aluno, ao não compreenderem algumas palavras, tentavam encontrar o seu significado, o que
fazia com que perdessem o sentido global do texto ou pura e simplesmente abandonavam a leitura.
- No domínio referencial (conteúdo, tema abordado, aspectos culturais), os alunos não conseguiam
articular os seus próprios conhecimentos com as novas informações que lhes são fornecidas pelo
texto.
A partir dessas questões expostas, percebemos que o E-A do texto poético é complexo e exige uma
interacção mais profunda envolvendo o professor, os alunos e o texto. Mais ainda, mostra-nos a
necessidade de fazer com que o aluno perceba a relação estreita que existe entre o conhecimento
gramatical, a leitura e a produção escrita. A gramática, não como um fim, mas como um meio
através do qual o aluno deve desenvolver a sua capacidade de expressão, assumindo uma postura
critico-reflexiva do que lê.
Assim sendo, devido à complexidade que o texto poético insere e às características peculiares que o
distinguem dos demais, pretendemos com o nosso trabalho responder a seguinte questão:
1. Objectivo Geral
- Analisar os factores que dificultam a abordagem desta tipologia textual nas aulas de Português;
UM DILEMA EXISTENCIAL
RECENSÃO CRÍTICA DO ARTIGO: “O RUÍDO DOS PSEUDÓNIMOS NAS LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA
PORTUGUESA”- DE MÁRIO REIS.
Por que e como fazer a inclusão escolar diante dos desafios do ensino híbrido no cotidiano educacional em
uma escola pública do município de São Bento/PB
Postado há 1 anos atrás por
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ARTIGOS RECENTES
CONTATO
1 O ENSINO EM MOÇAMBIQUE
Conforme demonstrei na introdução, em Moçambique existe educação formal e tradicional.
Neste trabalho não irei abordar o ensino tradicional por ser mais complexo e deve ser
discutido num fórum a parte. Irei me conter na educação formal, aquela que se realiza em
instituições de ensino reconhecidas pelo Governo de Moçambique. Revista do Difere - ISSN 2179
6505, v. 4, n. 7, jun/2014
3
A LP é a base para o sucesso dos alunos nas restantes disciplinas curriculares, pois é a base
do ensino. Quem não domina esta língua fica condenado ao insucesso nas diversas
disciplinas tais como história, geografia, ciências naturais, matemática, etc. Segundo
Gonçalves e Diniz (2004, p. 2) “se os alunos não dominarem esta língua, a compreensão dos
conteúdos destas disciplinas fica seriamente posta em causa, impedindo o seu sucesso na
vida escolar.” Nas pesquisas de Buendia (2010) confirmam-se os resultados anteriormente
apresentados por Gonçalves e Diniz (204). Neles se confirma que há dificuldades na
aprendizagem do português em Moçambique em todos aspectos não somente pelo fato do
portugues ser linguas segunda, mas também pela fraca formação dos professores. Suas
pesquisas mostraram que os informantes (de 1ª a 5ª classes) alvos da pesquisa (a) não
percebiam quase nada do que era dito em português; (b) apenas reagiam a instruções muito
simples quando acompanhadas de gestos; (c) respondiam sim ou não, por vezes fora do
contexto; (d) diziam palavras soltas, nomeando algumas coisas, por vezes, ao acaso; (e)
reconheciam algumas letras e palavras curtas, mas não liam frases; (f) Apenas faziam
gatafunhos ou escreviam letras formando sequências sem sentido.
Relativamente aos alunos do 2º ciclo (6ª e 7ª classes), os informantes apresentavam as
seguintes situações: Interpretam mal o que se lhes diz em português; Reagem a instruções e
dão respostas curtas às perguntas que se lhes colocam; Não sustentam uma situação de
conversa em Português; Reconhecem algumas palavras, mas não leem a frase completa;
Mesmo quando leem palavras e frases, não percebem o seu sentido; Têm noção de sílabas
pronunciadas e sua representação, mas dificilmente fazem escrita livre; Copiam bem, mesmo
sem conhecer o sentido de algumas palavras; Copiam e escrevem frases ditadas com erros e
não as interpretam; Escrevem sequências de letras e palavras sem sentido. (NHAMPULE;
TOVELA apud BUENDIA , 2010, p.264).
Estes problemas todos são o reflexo de políticas educacionais e da formação de professores.
Se os professores têm dificuldades na língua portuguesa como poderão ajudar melhor aos
alunos. Constata-se que as dificuldades são passadas de professores para os alunos, até
porque os manuais escolares insistem numa educação que aceita a Norma-Padrão europeia.
1.1. Organização do ensino primário
O currículo do Ensino Básico do Sistema Nacional de Educação (SNE) tem sete classes
organizadas em 2 graus. O 1º grau (EP1) compreende cinco classes (da 1ª à 5ª classe) e o
2º (EP2) Revista do Difere - ISSN 2179 6505, v. 4, n. 7, jun/2014
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duas classes (6ª e 7ª). A idade de ingresso para o Ensino Básico é de 6 anos. A organização
da estrutura curricular se resume no quadro abaixo:
Quadro 1: Estrutura curricular por anos
Fonte: MEC (2003, p.25)
O Estado não se responsabiliza pelo ensino pré-escolar. Esse ensino é assegurado por
instituições privadas. No EP1, um só professor leciona todas as disciplinas curriculares
enquanto que no EP2, cada disciplina é lecionada por um único professor (MINISTÉRIO DA
EDUCAÇÃO, 2003, p.16). Gonçalves e Diniz (2004, p.1) falando sobre a dinâmica da língua
portuguesa no ensino primário explicam que
quase totalidade das nossas crianças, quando entra para a escola, não fala Português e,
naturalmente, não lê e não escreve. Esta é a situação típica do meio rural, onde prevalece o uso
das línguas locais, as línguas bantu, e onde o português é praticamente uma língua “estrangeira”:
é aprendido e usado na sala de aula, sobretudo através do contacto com o professor e com os
livros escolares, sendo pouco frequentes as situações de comunicação em que é falado em
ambiente natural. No seu dia a dia, em casa com a família e nas brincadeiras com os amigos, as
crianças comunicam na sua língua materna.
De 2007 a 2008 houve uma melhoria significativa dos índices de aproveitamento escolar nas
duas classes. Depois desse período, a tendência dos dados foi de baixar sistematicamente.
Esse dado mostra que algo está falhando, porque todos nós (professores, pais e mães,
coordenadores, pedagogos, Ministério) desejamos que haja sucesso, pois sabemos que a
educação é a base do desenvolvimento de qualquer país.
Segundo o PNUD (apud, NORTE, 2006, p.32), as ações empreendidas apresentaram bons
resultados nos primeiros cinco anos da independência, visto que o número de alunos
matriculados no ensino primário e secundário cresceu a uma taxa média anual de 24%. A
taxa de analfabetismo caiu de 93%, em 1975, para 72%, em 1980, principalmente nas áreas
urbanas e em setores organizados das zonas rurais. Chama-se atenção ao fato de que
reduzir taxas de analfabetismo e sem qualidade de Revista do Difere - ISSN 2179 6505, v. 4, n. 7,
jun/2014
5
ensino não interessa para qualquer sociedade séria, isto porque, seria uma satisfação política
do que propriamente o interesse em formar “cabeças pensantes” para erguer um país em
todos os aspectos.
A metodologia do ensino predominante nesse período era tradicionalista, visto que
privilegiava a memorização dominada por frases previamente preparadas. A diferença entre
este segundo momento com o primeiro é que se deixou de usar contextos frásicos da
literatura portuguesa. A gramática permanece prioritária e é aprendida de forma sistemática e
com exemplos adaptados da realidade moçambicana. O terceiro momento que
caracterizamos como o atual apresenta avanços muito significativos no ensino, sobretudo no
ensino primário e secundário. É neste período que o Governo moçambicano introduziu as
“Políticas de alfabetização e educação para todos em Moçambique”. Vejamos a seguir a
distribuição das taxas de analfabetismo, por província:
Gráfico 1 : Distribuição da taxa de analfabetismo por província em 2007
Fonte: Instituto Nacional de Estatística (2009)
É notável a baixa taxa de analfabetismo na capital do país (cidade de Maputo), uma vez que
é nesse local onde estão concentradas as oportunidades. As províncias do norte de
Moçambique (Niassa, Cabo Delgado, Nampula e Zambézia) ainda têm elevadas taxas de
analfabetismo, fato que se justifica pela distribuição da população pelas zonas recônditas e
do investimento desigual em infraestruturas por parte do Governo.
Olhando para o país como um todo e comparando com outros países membros da CPLP,
nota-se que Moçambique se encontra numa situação difícil. Por exemplo, a taxa de
alfabetismo de adultos em pessoas com 15 ou mais anos é: 95,2% em Portugal, 90,3% no
Brasil, 89,2% em São Tomé e Príncipe, 58,3% em Cabo Verde, 70,1% em Angola, 58,3% em
Timor Leste, 56,1% em Moçambique e 54,2% na Guiné-Bissau. (MALIK, 2013, pp.173-179).
Os pesquisadores Mário e Nandja (2006, p.4) afirmam que o crescimento da educação
(embora sendo em menor escala no norte do país) é resultado Revista do Difere - ISSN 2179 6505,
v. 4, n. 7, jun/2014
6
da Estratégia nacional de alfabetização e educação de adultos e educação não-formal, cujo
objetivo principal é a erradicação do analfabetismo no país, e o novo programa do Governo
2005-2009, que retoma o objetivo de redução do analfabetismo em 10%. Como se pode
observar no gráfico 1, as províncias do norte de Moçambique têm taxas de analfabetismo
muito altas (entre 60,9% a 66,6%).
Mário e Nandja (2006) afirmam que é preciso “conferir à alfabetização um espaço e um papel
cada vez mais ativo na redução da pobreza e no desenvolvimento do país, conformando-se,
assim, com os compromissos internacionais assumidos a partir das declarações de Jomtien e
de Dakar, entre outros” (MÁRIO; NANDJA, 2006, p.4-5). Desde 1975 (ano da proclamação
da independência) houve vários sistemas de ensino em vários níveis. Em 2004, o Governo
de Moçambique introduziu o novo sistema que é composto por quatro partes principais, tal
como se vê no quadro a seguir.
Quadro 2: FASES CLASSES NÍVEL
Organização do
ensino em
Moçambique
ENSINO
PRIMÁRIO 1º ciclo 1ª e 2ª classes Fundamental 1
(fundamental, no (2 anos)
Brasil)
2º ciclo 3ª, 4ª e 5ª classes Fundamental 2
(3 anos)
3º ciclo 6ª e 7ª classes Fundamental 3
(2 anos)
SECUNDÁRIO 1º ciclo 8ª, 9ª e 10ª Médio 1
(médio, no Brasil) classes
(3 anos)
2º ciclo 11ª e 12ª classes Médio 2
(2 anos)
TÉCNICO- ramos: Profissionalizante Médio
PROFISSIONAL comercial, s profissional
industrial, (3 anos)
agrícola
Formação de professores (2 anos)
SUPERIOR Graduação 1 Bacharelato Superior 1
(2 anos)
Graduação 2 Licenciatura Superior 2
( 2 ou 3 anos)
Pós-graduação 1 Mestrado Superior 3
(2 anos)
Pós-graduação 2 Doutorado Superior 4
(2 anos)
CONCLUSÃO
As estratégias de leitura aqui apresentadas foram desenvolvidas com o
objetivo não apenas de incentivar a leitura, mas de proporcionar aos alunos um
momento único de “mergulho” na literatura. Dessa forma, o projeto de
pesquisa não está acabado, pois tais estratégias devem fazer parte do trabalho
cotidiano com textos literários, no qual o professor mostra a importância da
leitura em diversas situações, além de atrelá-la aos gêneros textuais
trabalhados. Quando se pensa num efetivo trabalho de incentivo à leitura, e
principalmente à leitura literária, não podemos nos esquecer de que este deve
ser contínuo, fazer parte do planejamento e da maneira como o professor
pensa literatura no seu cotidiano.
Penso que o ensino de Língua Portuguesa, hoje, deva abordar a leitura, a
produção de texto e os estudos gramaticais sob uma mesma perspectiva de
língua – a perspectiva da língua como instrumento de comunicação, de ação e
de interação social. A cada bimestre, é necessário o trabalho com vários
gêneros textuais, com o intuito de se trabalhar a oralidade, leitura, escrita e
análise lingüística.
Os alunos da faixa etária com a qual foi desenvolvido o projeto não
possuem hábito de ler os clássicos e este trabalho foi um desafio neste sentido.
Com certeza este é apenas o início de uma longa caminhada, pois há algumas
limitações a serem vencidas, tais como: a falta de interesse dos alunos em
buscar o novo, avançar para o difícil; a burocracia existente em algumas
escolas públicas com relação ao uso da biblioteca, que tem deixado de ser um
lugar de prazer, curiosidade, encantamento e descoberta para ser
simplesmente um lugar onde se cumpre regras e a principal delas: “não mexer
nos livros”. E, ainda, a pouca participação da comunidade escolar no que se
refere ao incentivo à leitura.
Todos esses desafios tornaram-se pequenos quando se ouvia os alunos
comentando sobre obras clássicas como: Dom Quixote, Peter Pan, Reinações
de Narizinho, dentre outros. Além disso, devido ao trabalho paralelo com a
escrita e a oralidade, pode-se observar o crescimento dos alunos nestes
aspectos. A fluência, a entonação, o ritmo da leitura oral e a preocupação com
a estética da escrita e a função do interlocutor no processo foram aspectos que
tiveram uma melhora significativa.
Após o desenvolvimento deste trabalho, constata-se que é possível
promover mudanças no ensino de literatura juvenil para crianças do Nível
Fundamental. Apesar das dificuldades, é necessário aproveitar a criatividade e
energia que os alunos têm nesta fase. A partir de um trabalho contínuo e
planejado, proporcionado por mudanças de atitude com relação à maneira de
se apresentar o texto literário aos alunos, é possível levá-los a um encontro
prazeroso e ao mesmo tempo responsável com obras literárias.
É imprescindível que a escola assuma a responsabilidade que lhe cabe
nesse processo, pois é o único lugar onde a maioria das crianças tem acesso à
literatura. Portanto não se pode poupar esforços nem investimentos neste
sentido
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Escola Superior de Educação | Politécnico de Coimbra
72
Mestrado em Ensino do 1º Ciclo do Ensino Básico e de Português e História e Geografia de Portugal no
2º Ciclo do Ensino Básico
73
Anexos
2 A LEITURA NA ESCOLA
Dentre as pesquisas realizadas no Brasil sobre o ensino de literatura, vale
retomar aqui a pesquisa de Bordoni e Aguiar (1993,22) que aponta para a
surpreendente constatação de que na 1a série do 1o grau, o gênero preferido dos
alunos é o poema [assim como na 5a série]. Esta constatação ecoa o que dizia
Drummond de Andrade (1974, 16):
Por que motivo as crianças, de modo geral, são poetas e, com o tempo, deixam
de sê-lo?(...) não estará na escola, mais do que em qualquer outra instituição
social, o elemento corrosivo do instinto poético da infância (...)?
A metáfora usada por Drummond corrobora a metáfora da escrita como
veneno, usada por Ribeiro a respeito do mito egípcio sobre a invenção da escrita.
O contexto de intervenção de pesquisa desta pesquisa pretendeu colocar a
possibilidade da leitura de poesia como remédio que possibilitasse aos professores
em formação inicial a diversidade de interpretações que pode ser tanto maior
quanto menor for a influência/presença do autor que pode pretender desautorizar
alguns leitores7. A visão de leitura da qual compartilho, na qual há sentido, apesar
7cf. Harold Bloom, Folha de São Paulo, 29/10/1995: pode-se traçar um paralelo entre a
angústia/limitação do autor, descrita por Bloom, com a autoridade excessiva do professor
que desautoriza leituras pouco ortodoxas, porém adequadas, na sala de aula.
138 Revista do Gelne
de ser fonte de problema (REDDY, 1979/1993; SPERBER E WILSON, 1984;
CAVALCANTI, 1989), pois os sentidos são indeterminados, e consequentemente
as divergências de leituras são esperadas, pressupõe que, se há convergência
de leitura, ela deva ser construída com gasto de energia e esforço por parte
daqueles que desejam interagir. Uma vez que o ensino de leitura e, mais
especificamente, de literatura nas escolas é profundamente influenciado por
teorias sobre leitura, é fundamental traçar um breve histórico das concepções
de leitura encontradas nas escolas hoje, enfatizando o contexto brasileiro.
Apresento abaixo posições sobre a leitura na escola encontradas em autores
que focalizam a leitura de diferentes pontos de partida, uns a partir da Lingüística
(ORLANDI, 1983), outros a partir da Lingüística Aplicada (CAVALCANTI,
1992) e alguns a partir da Literatura (PERINI, 1987; LAJOLO, 1993;
ZILBERMANN, 1993).
Para Cavalcanti (op. cit., 224), a leitura, no 1o e 2o graus, tem se pautado
por uma visão tradicional, na qual o texto é focalizado como um objeto
determinado e a leitura consiste na análise e decodificação desse objeto,
não havendo, assim, um espaço para a subjetividade do leitor. Além disso,
como complementa Lajolo (op. cit, 21), é impossível esquecer que somos
herdeiros de uma tradição educacional pobre e improvisada, a qual precisa
ser o contexto de qualquer avaliação do que se tem feito ou dito até agora.
É dentro dessa tradição que se localiza o problema da leitura e, em especial, da
leitura de literatura na escola.
Perini (op. cit.,109-110) lembra que o aprendiz típico já viveu várias
tentativas e fracassos de leitura. E aponta essa história como causa para
conclusões do tipo: não gosto de ler, leitura não é para mim, eu não preciso
ler. Ninguém tem coragem de dizer que não sabe ler. Consequentemente, o
professor que, por seu papel social, é obrigado a cumprir sua tarefa sem admitir
falhas estruturais de formação, refugia-se nos manuais e nos livros didáticos à
procura de guias autorizados que complementem sua formação.
Nem sempre o professor se reconhece na descrição feita acima. É mais
comum encontrar colegas que tentam camuflar, mais para si do que para os
outros, sua frágil formação atrás da roupagem do poder. Dentro da sala de aula,
são suas as primeiras e as últimas palavras. É preocupante o poder do professor
em determinar as “boas e legítimas leituras”. Esse poder baseia-se na relação
necessariamente assimétrica na qual o saber do professor é dominante ao saber
do aprendiz. No entanto, é necessário lembrar que, na maioria das vezes, o
próprio professor representa, não a sua própria voz, mas aquela do crítico ou a
do livro didático. Como muito bem explica Cavalcanti (op. cit., 223):
Enquanto se aceitava que a leitura era unívoca e que o critério para avaliar a
univocidade era o texto na perspectiva do autor do livro didático ou,
eventualmente, na do professor, tinha-se um chão firme para o ensino, embora
fosse este o reflexo de uma visão distorcida de leitura.
Vol. 8 - Nos. 1/2 - 2006 139
Orlandi (op.cit.,70) não esquece do outro lado da questão – a
imprevisibilidade, pois para ela, há algumas leituras previstas, mas há muitas
possíveis. Ou seja: as leituras têm suas histórias no plural. Esses aspectos
são enfrentados cotidianamente pelos professores. Diante deles, muitas vezes
se angustiam, procurando respostas para questões tão antigas como ‘Onde está
o sentido?’, ‘Quem é o autor?’, ‘Qual o papel do leitor?’, etc. Esses
questionamentos são fundamentais e as respostas que cada professor dá a eles
se constitui na sua crença sobre o ato de ler e de ensinar a ler.
Zilbermann, investigando acerca da crise interna do sistema de ensino,
aborda a perspectiva didática da leitura. Para a autora, o maior problema dos
livros didáticos é que eles excluem a possibilidade de interpretação e,
consequentemente, exilam o leitor, posto que a interpretação é imobilizada quer
em respostas fechadas que implicam em geral em escolhas simples, quer em
fichas de leitura, que não levam em consideração a experiência pessoal com o
texto. A autora tenta unir as dimensões cognitiva, social e pedagógica da leitura,
apontando para uma possível solução para a crise que se abate sobre as escolas
brasileiras.
Fica evidente que a leitura ocupa um lugar de destaque no contexto de
aprendizagem e, por conseguinte, a leitura de literatura não poderia deixar de
ser influenciada pela crise atual da leitura na escola. Lajolo (op. cit., 119) afirma
também que a leitura de literatura está ligada aos esquemas prévios dos leitores:
a substituição (...) de certos códigos de leitura por outros, os mais desejáveis
em termos de rendimento e eficiência escolar, tal como ela é concebida (...)
pode se constituir uma violência (...) se na sua prática a escola
desconsiderar as experiências prévias e imagens de leitura e de literatura
que sua clientela alimenta. É preciso, pois, investigar que tipos de problemas
ocorrem no momento mesmo em que se lê literatura durante interação face-aface
levando em consideração as pessoas e seu relacionamento com a leitura.
Uma visão de leitura que produz um ensino que não autonomiza o leitor e
não permite o risco é incompatível com a poesia, pois este gênero textual traz
para a sala de aula um alto grau de indeterminação. Além disso, o texto poético,
lugar-tenente das metáforas não-convencionais, constrange professores e silencia
alunos se encarado na perspectiva da visão decodificadora de leitura, mas ao
mesmo tempo pode instaurar a autonomia e explicitar o processo de
intersubjetividade subjacente a qualquer leitura, se visto de uma perspectiva
interativa.
Permitir a co-construção de leitura de poesia em sala, em pequenos grupos,
sem o controle excessivo do professor, pode ser um recurso rico em
desdobramentos para a pesquisa e para o ensino de leitura de literatura. Por
isso, esta pesquisa observará como aprendizes de Letras lêem um texto poético,
em pequenos grupos, como eles reagem ao caráter eminentemente criativo e
arriscado que se revela mais aparente neste tipo de escrita. Esta pesquisa
140 Revista do Gelne
observará ainda como a especialista/professora assistente intervém durante a
leitura. O texto poético parece ser um local privilegiado para verificar o grau de
autonomia de leitura destes aprendizes. A autonomia pode ser observada,
sobretudo, na co-construção dos enunciados metafóricos.
3 A LEITURA COMO EVENTO SOCIAL
Conceber a leitura como um processo interativo-bidirecional, e também
intersubjetivo e co-construído, no qual os sentidos são indeterminados, implica
ampliar o universo de pesquisa em leitura para incluir o contexto sociocultural
no qual esta leitura ocorre. É imprescindível levar a investigação para a própria
interação entre as pessoas lendo. Por isso, apresento nesta seção a contribuição
que Bloome e colaboradores (1983, 1989, 1991, 1993) trazem para os estudos
sobre leitura ao incorporar e focalizar, no contexto da sala de aula, a interação
entre pessoas durante o ato de ler. Para Bloome e Bailey (1989, 201) não é
mais possível discutir questões lingüísticas sem investigação etnográfica,
sem situar o uso da linguagem, sem ver o evento como primário.
Ao mudar o foco da análise, que não mais se restringe à interação entre
o leitor e o texto, Bloome amplia as possibilidades de pesquisa nessa área. Analisar
a leitura, a partir do modo como as pessoas interagem entre si no momento
mesmo em que estão lendo, é investigar a leitura assumindo sua natureza social.
Em outras palavras, conceber a visão de leitura como interativa preocupando-se
em investigar tanto os componentes lingüísticos quanto a concretude do leitor
leva necessariamente a uma pesquisa aplicada (na LA) ou empírica (como
preferem chamar nos estudos literários). Nesse sentido, é fundamental detalhar
a proposta de pesquisa de Bloome.
Em diversos trabalhos, Bloome explora o conceito de leitura como evento
social. O conceito de evento, resumido em Bloome e Bailey (op. cit., 185-187),
é entendido como
A interação face-a-face de pessoas em uma seqüência discursiva que tenha um
começo, meio e fim reconhecidos. Os eventos são, assim, construídos pelas
ações e reações das pessoas em relação umas as outras. (...) Eventos também se
referem a interação das pessoas com o meio ambiente social (...) Em todo
evento, as pessoas estão negociando suas identidades e relações sociais.
Bloome acredita que os diversos eventos de leitura, na sala de aula, em
casa ou no ambiente de trabalho, são social e culturalmente constituídos e sugere
estudos micro-etnográficos para entender o fenômeno. Para Bloome, o leitor
interage não só com o texto, mas também com o autor, com outros textos e com
as pessoas em volta no momento da leitura, por isso todos esses elementos
Vol. 8 - Nos. 1/2 - 2006 141
devem ser levados em conta na pesquisa sobre leitura. É necessário focalizar a
relação entre as pessoas envolvidas no ato de ler, pois assim, como em outros
atos sociais, a leitura é vista como uma atividade pela qual as pessoas se
orientam em direção às outras, adquirem status ou posição social adquirem
acesso a compensações ou privilégios, e se engajam em vários tipos de
interação social (1983,165).
Bloome sugere que os eventos de leitura se constituem de várias pessoas
interagindo tanto umas com as outras quanto com o texto. Ao encarar a leitura
como evento social, abre-se o campo para o pesquisador observar a relação
entre a forma como os eventos são construídos e os aspectos cognitivos
aprendidos pelos atores através da atuação no evento. Bloome resume em duas
as premissas básicas que embasam o conceito de leitura como evento social: 1)
os processos cognitivos em jogo no evento de leitura se conectam tanto ao
contexto social como à estrutura do evento; e 2) as habilidades cognitivas
aprendidas durante a atuação no evento dependem da natureza do mesmo.
Bloome e Bailey (1989, 183) afirmam que:
por conceber o evento como primário, as pessoas e a linguagem são definidas
como inerentemente sociais e orientadas para o outro; o sentido é localizado
no evento mais do que na cabeça das pessoas. Além disso, ao enfatizar o evento
a pesquisa é forçada a interrelacionar as bases teóricas e as realidades do
evento em si (incluindo as realidades das interpretações).
Como é possível perceber, a posição de Bloome está plenamente de acordo
com os postulados de pesquisa na área da Sociolingüística Interacional, que vê
os eventos comunicativos como construídos pelos participantes engajados em
situações face-a-face. Essa visão de Bloome sobre interação social é ampla e
também abriga a noção de intertextualidade, que descreve um dos processos
sociais e culturais envolvidos na forma como as pessoas agem e reagem em
relação aos textos; Bakhtin, (1935/1981) e Bloome (1983). É na interação que
se encontra a significação mesma do evento, é através dela que alguns sentidos
são mais determinados e é aí que se adquire a consciência da indeterminação do
sentido. A interação busca uma convergência de definições partilhadas sobre o
evento. O contexto do evento tanto é pano de fundo (background) como cena
(foreground), pois o sentido refere-se ao contexto e é construído na evolução
deste. Os eventos de leitura também podem ser inseridos nessa noção de
contexto, já que o sentido em um evento de leitura é construído através da
negociação do contexto do evento.
Nessa mesma linha, algumas pesquisas recentes em LM no Brasil, como
a de Zanotto (1997a) e Canolla (1997) vêm investigando a leitura, sobretudo de
textos literários, como evento social. Esses trabalhos apontam para a filiação
de Bloome tanto às pesquisas em Sociolingüística Interacional (GUMPERZ,
142 Revista do Gelne
1982), como às pesquisas de perspectiva sociointeracional (BAKHTIN, 1981 e
VYGOTSKY, 1991). A forte influência da Sociolingüística Interacional nos
trabalhos de Bloome sobre letramento está ancorada, primeiro, na necessidade
de pesquisas multidisciplinares e, em segundo lugar, na ênfase dada hoje ao
particular, ao invés da ênfase na generalização. Bloome e Bailey (op. cit., 182)
declaram que:
Mais que uma busca por universais, há hoje uma ênfase crescente no específico:
o que acontece em um lugar específico, em um tempo específico, com um grupo
específico de pessoas engajadas em uma atividade e em um evento específico.
O que torna o lugar, o tempo, o grupo, a atividade e o evento específico
importante para a pesquisa é justamente o que isso significa para as pessoas
envolvidas, para os outros e para os outros eventos. Bloome afirma estar
interessado em estabelecer as bases para uma nova direção nas pesquisas em
Lingüística e Educação. Como já foi dito anteriormente, seu projeto de pesquisa
envolve, além das noções de evento e especificidade, o conceito de
intertextualidade (Cf. BLOOME E EGAN-ROBERTSON, op. cit., 308) que é
definido como uma co-construção social, localizada na interação, durante a qual
textos são justapostos em níveis múltiplos. Porém, para que exista
intertextualidade, é necessário que os participantes da interação proponham esta
justaposição e que ela seja reconhecida durante a interação e tenha significado
social. Por exemplo (BLOOME, op.cit., 330), os leitores podem usar a
intertextualidade para 1) auto-definir seus papéis; 2) estabelecer grupos; 3)
identificar e validar eventos prévios como fonte de conhecimento; 4) construir,
manter e contestar ideologia cultural das interações em sala.
4 A INTERVENÇÃO NO CENÁRIO DE PESQUISA
Pela dificuldade de encontrar um contexto de ensino que apresentasse
uma proposta metodológica privilegiando o ensino de literatura centrado no leitor,
optei por uma observação participativa com intervenção tanto na proposta do
conteúdo do curso como na escolha metodológica. Constatei, após observação
em outros contextos de ensino de LE, que a metodologia de leitura de literatura
podia ser definitiva para mudar a situação generalizada de constrangimento e
silêncio, sobretudo, diante de textos poéticos. Tomou-se por base autores como
Lajolo (1993) e Braga e Busnardo (1993) para implementar a proposta de
intervenção.
Lajolo vê, no jogo da leitura, leitor e escritor reunindo-se pelo ato
radicalmente solitário da leitura (op. cit., 52). O que interessa aqui é como os
aprendizes são ajudados a desempenhar seu papel nesse ato, muitas vezes,
solitário. Ou seja, como o professor, considerado um leitor maduro pelos seus
Vol. 8 - Nos. 1/2 - 2006 143
aprendizes, os ajuda a tornarem-se maduros também. Utilizo aqui o conceito de
Lajolo (op.cit.,.53) para “leitor maduro”:
é aquele para quem cada nova leitura desloca e altera o significado de tudo o
que ele já leu, tornando mais profunda sua compreensão dos livros, das gentes
e da vida (...) O privilégio da leitura do mestre decorre do seguinte fato:
geralmente, a leitura do leitor maduro é mais abrangente do que a do imaturo.
No contexto de ensino de literatura em LM, Lajolo acredita que é
necessário que o professor não seja ele mesmo um mau leitor, portanto ele
precisa ter gosto pela prática da leitura. Dentro do contexto de leitura instrumental
de LE, Braga e Busnardo (op. cit., 3) propõem, numa linha Vygotskiana, que
haja intervenção do professor de forma a acelerar e a avançar o processo
de aprendizagem de leitores adultos de LE através de procedimentos em sala de
aula que fomentem o conhecimento metacognitivo e metalingüístico. A proposta
de intervenção do professor, um leitor maduro, objetivando o avanço da leitura
adaptou-se bem à sala de aula de literatura em LE durante a formação inicial
(Curso de Letras) de professores. A formação inicial se constitui num espaço
essencial no qual o futuro professor pode aprender a ser um bom leitor, já que
muitos dos aprendizes desses cursos possuem problemas de leitura decorrentes
do nível anterior de ensino.
No caso específico do contexto de intervenção (leitura de poesia e
discussão em pequenos grupos), devido à falta de familiaridade com a tarefa, a
atividade foi desenhada de forma a proporcionar ajuda do tipo andaime
(“scaffolding” para VYGOTSKY, 1991), na qual os aprendizes atingem objetivos
e resolvem tarefas sendo auxiliados. Nesse sentido, o próprio trabalho em grupo
proporciona a ajuda dos pares, e, além disso, admite também a ajuda concomitante
das professoras. O programa do curso foi sendo re-elaborado durante negociação
e reflexão com a professora responsável, dentro da proposta de pesquisa-ação.
A metodologia privilegiava a leitura de textos poéticos e discussão em grupo,
porém, tanto ficção quanto drama, assim como aulas expositivas, seminários, e
leitura extra-classe também foram utilizados. A discussão de textos poéticos foi
realizada em pequeno e grande grupo. Como já foi dito anteriormente, a
participação de Clara em sala se deu tanto como observadora silenciosa como
colaboradora efetiva (professora assistente) na realização de tarefas que
envolviam leitura e discussão em grupo, desenhadas especialmente para a
pesquisa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A sala de aula de língua estrangeira tem recebido inúmeros pesquisadores
interessados em observar as condições de ensino-aprendizagem. Por sua vez,
144 Revista do Gelne
dentre os pesquisadores de literatura, é muito baixo o número daqueles que
buscam, na sala de aula de literatura, respostas para questões que são comuns à
área de leitura e de literatura, como, por exemplo, conhecidas dificuldades que
os aprendizes de LE têm em relação à leitura de enunciados metafóricos.
Estabeleceu-se aqui uma tentativa de diálogo entre a Literatura e a
Lingüística Aplicada acerca da leitura de enunciados metafóricos em textos
literários em sala de aula. A co-construção deste diálogo não se trata de coisa
óbvia ou de fácil aceitação. Aqueles que hoje estão empenhados nesse diálogo
muitas vezes sentem-se no limbo. Nem estão no ‘centro’ da Literatura, nem no
‘centro’ da LA, mas na própria relação entre as duas áreas. Essa posição remete,
algumas vezes, a flutuações de identidade: os pesquisadores da Literatura os
vêem como lingüistas aplicados que tocam a Literatura tangencialmente, enquanto
os lingüistas aplicados os vêem como estudiosos da Literatura que se desviam
da Lingüística Aplicada. Estar no limbo tem também suas vantagens. Do limbo
se ganha distanciamento do emaranhado das respectivas áreas, repleto de
questões específicas, obtendo-se uma visão mais abrangente, pois a exposição à
multiplicidade leva a um distanciamento tremendamente salutar do
pesquisador em relação ao seu próprio universo de referência (SIGNORINI,
1998,108).
No Brasil, a pesquisa sobre o ensino de literatura em LM tem contribuído
para um entendimento mais amplo sobre a questão da leitura em geral. Esta
pesquisa pretendeu demonstrar como a pesquisa sobre o ensino de LitLE pode
fazer o mesmo. Compreender como aprendizes de graduação lêem literatura
em inglês está necessariamente ligado ao tipo de relação que tiveram com
literatura em língua materna na escola. Por isso, o âmbito desta pesquisa envolveu
um olhar sobre os resultados das principais obras acerca do ensino de literatura
em LM no Brasil.
Esta pesquisa pretendeu ser a concretização de uma espécie de ponte
necessária entre Literatura e Lingüística Aplicada. Outros autores já recorreram
à analogia da ponte (cf. CELANI, 1998) para falar da própria natureza da
pesquisa em LA. Esta pesquisa tentou se pautar pelo princípio de que os estudos
da literatura precisam ser empíricos, por isso envolveu necessariamente fatos
sobre as ações das pessoas durante a leitura, investigando leitores reais e situados.
O contexto de pesquisa delimitou, forçosamente, seu escopo. Foi dentro de um
contexto interventivo de ensino de inglês como literatura estrangeira que esta
pesquisa realizou investigações acerca do ato de ler e de falar sobre textos
poéticos. Partindo de análises preliminares dos dados obtidos neste contexto,
focalizei um dos tipos de evento.
Buscando instrumentos para investigar a questão da leitura no contexto
de sua ocorrência, optou-se por uma adaptação do protocolo verbal em grupo
(Brown & Lytle, 1988), também chamado de discussão espontânea do texto em
grupo (Zanotto, 1990). Nesta pesquisa, o procedimento é denominado de leitura
Vol. 8 - Nos. 1/2 - 2006 145
de poesia e discussão em pequenos grupos. O instrumento permitiu a constituição
de tarefas de leitura nas quais os leitores, em pequenos grupos, liam um mesmo
poema e discutiam sobre esse texto comum. Ou seja, verbalizam para os colegas
como estavam fazendo sentido do texto, explicitando problemas, discutindo
soluções, externalizando opiniões, etc., sem recorrer sempre à professora, que
atuava como facilitadora da tarefa. Gravadas em áudio e/ou em vídeo, tarefas
desse tipo possibilitaram, para fins de pesquisa, investigar os processos dos leitores,
dentro de atividades de leitura que ocorreram naturalmente (Brown & Lytle, op.
cit.). Além disso, esse recurso permitiu aliar a busca por um instrumento que
viabilizasse um grau mínimo de introspecção por parte do leitor investigado, ao
mesmo tempo, que não desvinculasse esse leitor do seu contexto de
aprendizagem.
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42.
148 Revista do Gelne
A LEITURA
Leitura para Solé (2008, p.22), “é um processo de interação entre o leitor e o texto”. É um
momento único em que o leitor deve examinar detalhadamente o texto, identificando as
ideias principais, a mensagem que o autor quer passar. Nesse processo, não se quer dizer
que o significado que o escrito tem para o leitor não é uma réplica do significado que o
autor quis lhe dar, mas “uma construção que envolve o texto, os conhecimentos prévios do
leitor que o aborda e seus objetivos” (SOLÉ, 1998, p.22). Esse significado vai sendo
construído paulatinamente, por meio do contato com o texto, da leitura e da compreensão de
quem lê o texto.
No ato de ler, o leitor deve ler para aprender, gerando uma aprendizagem significativa, que,
para Ausubel (apud SOLÉ, 2008, p.45), “implica em atribuir significado ao conteúdo em
questão”. (83) 3322.3222 contato@conbrale.com.br www.conbrale.com.br
Essa aprendizagem enleia habilidades de compreensão, de leitura, de decodificação, de
procedimentos e de estratégias cognitivas que nos levam a entender o conteúdo do texto.
Desse modo, Solé (2008, p. 46) faz duas afirmações em relação ao procedimento de leitura:
“o leitor que compreende o que lê, está aprendendo, pois a leitura nos aproxima de
múltiplas culturas”; e “inúmeras vezes lemos com uma finalidade clara de aprender. E
quando isso acontece, utilizamos uma série de estratégias de leitura”. Assim sendo, vejamos
as estratégias de leitura apresentadas por Solé a seguir:
ESTRATÉGIA DE ENSINO
Estratégias de Leitura
A leitura é uma prática social proveniente de atitudes, hábitos, que deveriam ser iniciados
no meio familiar ou em outros meios em que a escrita circunda.
Nesse sentido, Solé (2008) sugere estratégias de leitura, as quais definem como
procedimentos que o leitor deve utilizar para ajudá-lo na compreensão do texto. Muitas
vezes, os leitores experientes utilizam as estratégias de forma inconsciente, pois o
processamento da informação escrita se dá de forma automática (piloto automático). Mas
quando o leitor encontra alguma palavra ou frase incompreensível, o estado de ‘piloto
automático’ é abandonado. Nesse momento, entramos em estado estratégico. Estamos
conscientes daquilo que queremos, buscando novas estratégias de leitura. Buscamos
recursos para aprender a aprender.
A mesma autora ainda afirma que o professor tem a função de guia, principalmente porque
exerce o papel de mediador na construção do conhecimento. Este é um processo de
construção conjunta, denominado por Rogoff (1984, apud SOLÉ, 2008, p.75) como
participação guiada. Existe uma semelhança entre a participação guiada e o processo de
“andaimes” descrito por Bruner (1996).
As estratégias propostas por Solé (2008) vêm a auxiliar o aluno no desenvolvimento de suas
habilidades para o processo da leitura. Ela propõe, primeiramente, que o professor incentive
o aluno, desafiando-o com leituras desconhecidas, prática de leitura fragmentada, lendo
duas páginas por dia. A segunda proposta da autora é traçar objetivos de leitura. O leitor
precisa saber os motivos que o levaram a ler aquele determinado texto. Os bons leitores não
leem qualquer texto da mesma maneira, pois cada leitura vai depender do seu objetivo.
Haverá inúmeros objetivos em diferentes situações e momentos. Dentre eles, destacam-se
alguns. (83) 3322.3222 contato@conbrale.com.br www.conbrale.com.br
Segundo Solé (2008, p. 92-99), se lê para obter uma informação precisa ou seguir
instruções, obter uma informação de caráter geral, para aprender, para revisar um escrito
próprio, por prazer, para comunicar um texto a um auditório, praticar a leitura em voz alta e
para verificar o que se compreendeu. Assim, os alunos terão contato com a linguagem
escrita, por meio de variados textos que lhes oportunizem o gosto e o prazer de ler;
precisam ser estimulados, desde as séries iniciais. O professor deve ser o principal agente
incentivador do contato dos alunos com o livro.
A terceira proposta indicada por Solé (2008, p. 101) é ativar o conhecimento prévio, (o que
eu sei sobre este texto?). Se o leitor possuir conhecimento sobre o assunto, terá muitas
possibilidades de atribuir-lhe significado.
A seguir, algumas orientações que podem auxiliar o aluno a atualizar o conhecimento
prévio, explicando o que será lido, indicando a temática aos alunos para relacioná-la a
aspectos da sua experiência prévia, estimulando os alunos a prestarem atenção a
determinados aspectos do texto que podem ativar seu conhecimento prévio, como
ilustrações, títulos, subtítulos, enumerações, sublinhados, palavras chaves e incentivando os
alunos a exporem o que já sabem sobre o tema. Deixar os alunos falarem, reconduzir as
informações e centrá-las no tema discutido.
A quarta proposta de Solé é estabelecer previsões sobre o que sucede no texto. Segundo o
Ministério da Educação (2008, p. 43), “antes de começar a leitura são produtivos alguns
procedimentos ligados à antecipação de conteúdos, como a elaboração de hipóteses (Este
texto trata de que assunto? É uma história? É uma notícia? É triste? É engraçado?)”. Dessa
forma, o aluno irá refletir a respeito do texto e sua curiosidade será aguçada. Por outro lado,
é importante fazer previsões e exigir que a criança corra riscos. “É preciso ter certeza de que
isso é possível, ou seja, que ninguém vai ser sancionado por ter se aventurado,” por ter se
arriscado. (SOLÉ, 2008, p.108).
Até o leitor iniciante pode tentar adivinhar o que o texto diz, através da suposição de
alguma coisa que está escrita, pelo conhecimento do seu suporte, pelo título e ilustrações
(MEC, 2008). Essa prática deve estar presente desde o início da trajetória escolar,
principalmente quando o professor lê em voz alta para as crianças, até a conclusão do
ensino fundamental.
A quinta e última proposta de Solé (2008) é promover perguntas dos alunos a respeito do
texto. Essa estratégia opera durante toda a leitura e auxilia o aluno a melhorar a velocidade
do processamento do texto, a “ler em compreensão, com envolvimento, prevendo o que o
texto vai dizer e verificando se as previsões se confirmam ou não” (MEC, 2008, p.45).
Para Girotto e Souza (2010), aproximando-se da definição dada pela autora, dividem as
estratégias de leitura em sete: conhecimento prévio, conexão, visualização, questionamento,
(83) 3322.3222 contato@conbrale.com.br www.conbrale.com.br
inferência, sumarização e síntese. Para o trabalho prático com a obra escolhida, utilizaremos
três delas: a conexão, a visualização e a sumarização.
Conforme Pinheiro e Marinho (2001, p. 81), as sugestões “são, portanto, ponto de partida, e
servem, sobretudo, para o professor que ainda não tem uma experiência acumulada de
atividade nesse âmbito”. Nessa perspectiva, é preciso levar a sério para não copiarmos
métodos e técnicas de outrem. Precisamos aprender a apreender nosso próprio estilo,
proporcionando aos nossos alunos leituras silenciosas; leitura oral em voz alta com
entonação e expressividade; dramatização para dar tom humorístico à poesia; palestras e
oficinas de criação de poemas; entrevistas com poetas; pesquisas sobre poetas locais,
regionais e nacionais; uso de instrumentos musicais; dentre outros.
INTRODUCAO
Este trabalho tem como objetivo sensibilizar a leitura literária, incentivando docentes a
desenvolver atividades leitoras, tanto em sala de aula quanto fora dela, utilizando estratégias
para uma compreensão efetiva dos textos literários, em especial, o texto poético. Trabalho
este, realizado a partir de uma proposta de intervenção em sala de aula com base na
linguística aplicada. Nessa perspectiva, refletimos sobre a contribuição de estratégias de
leitura para o desenvolvimento da competência leitora dos discentes com textos poéticos,
possibilitando aos mesmos fazer do ato de ler uma condição social e prazerosa. Diante do
exposto, este artigo consiste em um relato de experiência, como professores-pesquisadores,
com a leitura de poemas. Para tanto, realizamos a elaboração de uma proposta metodológica
para o 9º ano do Ensino Fundamental de uma escola municipal, em Areia, Paraíba. Assim
sendo, acreditamos que os alunos, quando motivados, são (83) 3322.3222
contato@conbrale.com.br www.conbrale.com.br
Considerações Finais
O trabalho com gêneros textuais em aulas de Língua Portuguesa pode ser um fator de
motivação decisivo na melhoria do aprendizado. A utilização da poesia em sala de aula, de
forma atrativa, faz com que os alunos se sintam motivados a ler e a expressar seus
sentimentos, através da atribuição de sentidos e significados que o texto poético apresenta.
As propostas apresentadas correspondem a algumas das possibilidades de trabalhar a poesia
em salas de aula. Diante disso, o professor precisa entender que a prática de ensino exige
mudanças, apresentando sequências contextualizadas com a realidade na qual o aluno está
inserido. Nesse sentido, a partir do momento em que o aluno interage com o texto,
participando das aulas, desenvolve o gosto pela leitura do texto poético.
Sendo assim, diante da sequência oportunizada aos alunos, o professor deixará para trás
práticas ultrapassadas de ensino e partirá rumo às propostas desafiadoras, mesmo sabendo
que encontrará dificuldades pelo caminho. No entanto, alguns alunos ainda sentem receio
de ler e de interagir com o texto poético. Nesse caso, o professor deverá ser paciente, pois
nem todos os alunos terão habilidades poéticas.
A finalidade das aulas com poesia não é formar poetas, mas despertar a sensibilidade
poética. Cabe ao docente orientar os alunos para que possam perceber a poesia dentro do
contexto social, exprimindo o sentido estético que oportunizará o crescimento como seres
humanos. Assim, entende-se que a prática de ensino junto ao texto poético seja possível
para estabelecer novos paradigmas acerca das atividades em aulas de língua portuguesa.
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115-22.
O excedente de visão é o broto em que repousa a forma e de onde ela desabrocha como
uma flor. Mas para que esse broto efetivamente desabroche na flor da forma
concludente, urge que o excedente de minha visão complete o horizonte do outro
indivíduo contemplado sem perder a originalidade deste. Eu devo entrar em empatia
com esse indivíduo, ver axiologicamente o mundo de dentro dele tal qual ele o vê,
colocar-me no lugar dele e, depois de ter retornado ao meu lugar, completar o horizonte
dele com o excedente de visão que desse meu lugar se descortina fora dele, convertê-lo,
criar para ele um ambiente concludente a partir desse excedente da minha visão, do meu
conhecimento, da minha vontade e do meu sentimento. (BAKHTIN, 2003, p. 23)
Apenas considerada a conexão indissolúvel autor-texto-leitor é que se torna possível
perceber com mais nitidez o prisma de que todo ato de compreensão já é por si só uma
resposta, com poder de interação para fazer pensar um novo contexto. Do mesmo modo,
cabe afirmar que a leitura literária privilegia o processo interacional por representar e
mobilizar uma linguagem interdiscursiva complexa, infinita, em sua dimensão de vozes
múltiplas.
Assim, ao submeter os gêneros do discurso literário à apreciação, por exemplo, no
gênero comentário ou resenha, estamos respondendo a uma linguagem, auxiliada por outra
que é capaz de dialogar com o texto original. Trata-se de promover uma ação responsiva na
condição inicial de língua alheia.
(i) ser compreensível. Nós definimos o prazer de ler como a leitura compreensível,
portanto, não há nenhum problema aqui. Eu gostaria de apontar, contudo, que o prazer
da leitura é feita compreensível pela própria seleção de passagens e textos do leitor, e
pela rejeição do material que é muito difícil de ler. O sucesso do prazer de ler, assim,
depende da disposição do leitor para encontrar material do seu nível e rejeitar o que está
além de sua capacidade.
(ii) ser interessante/ relevante. A leitura aqui definida deve ser interessante e relevante,
uma vez que o aluno tem a opção (que deve ser exercida) de apenas ler as coisas que
são de interesse pessoal.ESTUDOS LINGUÍSTICOS, São Paulo, 43 (2): p. 868-881, maio-ago 2014
874
(iii) não ser sequenciada gramaticalmente. Essa exigência é cumprida, a menos que o
aluno insista na leitura de materiais pedagógicos especialmente preparados.
(iv) ser quantitativa. A leitura certamente tem o potencial para satisfazer esse requisito.
Os únicos problemas são práticos: a disponibilidade de materiais, seu custo e tempo dos
alunos.
(v) fazer refletir o nível de filtro. Se o aluno é capaz de encontrar materiais que são
compreensíveis e que são interessantes, esse requisito é facilmente atendido. Não há
frustração causada pelas mensagens incompreensíveis, sem exigências iniciais para o
output, sem exigências prematuras de apuramento gramatical. O prazer do leitor deve
estar completamente fora da defensiva.
(vi) oferecer ferramentas para a gestão de conversação. A leitura por prazer pode ainda
trazer uma contribuição para atender a esse requisito, se os textos lidos incluírem algum
diálogo1. (tradução minha)
Essas proposições permitem balizar uma didática dos textos literários com base em
uma leitura prazerosa e independente; é claro, dentro dos limites de um recurso de
aprendizagem.
Se a compreensão precede a produção, é natural o processo de entendimento durar
um período maior do que a produção a fim de construir o repertório léxico-gramatical:
munidos das habilidades apreendidas, o aprendiz sente-se mais seguro para produzir seu
texto em língua estrangeira, baixando a resistência de seu filtro afetivo.
O fator afetivo está, de um lado, diretamente relacionado à motivação e atitude que
se conecta a uma aquisição mais natural. De outro lado, uma forma de apreender a língua
nesse processo é, igualmente, ter a possibilidade do prazer na leitura na aprendizagem, fato
que contribui ainda para o desenvolvimento de uma produção escrita.
Apesar de ser uma prática social de interesse entre alunos e professores, vale
lembrar, a leitura literária ainda não oferece contornos palpáveis no processo de ensino e
pesquisa de português para falantes de outras línguas. Visivelmente, suas problemáticas
1 No original: “Requirements for optimal input:
(i) Comprehensible. We have defined pleasure reading as reading that is comprehensible, so there is no
problem here. I would like to note, however, that pleasure reading is made comprehensible by the reader’s
own selection of passages and texts, and by the rejection of reading material that is too difficult. The
success of pleasure reading thus depends on the reader’s willingness to find material at his level and reject
material that is beyond him.
(ii) Interesting/relevant. Reading as defined here is by definition interesting and relevant, since the student
has the option (which must be exercised) of only reading things that are of personal interest.
(iii) Not grammatically sequenced. This requirement is met, unless the student insists on reading
specially-prepared pedagogical materials.
(iv) Quantity. Reading certainly has the potential for satisfying this requirement. The only problems are
practical: the availability of materials, their cost, and the students’ time.
(v) Filter level. If the student is able to find materials that are comprehensible and that are interesting, this
requirement is easily met. There is no frustration caused by incomprehensible messages, no early
demands for output, no demands for premature grammatical accuracy. The pleasure reader should be
completely off the defensive.
(vi) Tools for conversational management. Pleasure reading might even made a contribution
toward meeting this requirement, if the texts read include some dialogue.” ESTUDOS LINGUÍSTICOS, São
Paulo, 43 (2): p. 868-881, maio-ago 2014 875
ainda permanecem obscuras no campo da dicotomia língua/literatura ou na utilização como
pretexto para exercícios linguísticos.
LEITURA
1. PRÁTICA DA LEITURA
Muito se fala de leitura, deste os primórdios da civilização essa atividade faz parte de
nossas vidas. No tempo das cavernas, a leitura evidenciava-se nas pinturas, cada homem
conseguia fazer uma leitura do que estava pintado, ao decifrar os signos. De lá para cá, teve
o surgimento do alfabeto o que possibilitou a decodificação das letras e assim a escrita, mas
mesmo tanto tempo depois, com tantos avanços nesta área ainda existem falhas na
conscientização em relação ao que é ler.
A leitura na escola tem sido um objeto de ensino, todavia é necessário constituí-la também
um objeto de aprendizagem. Para tanto, a leitura deve fazer sentido para o aluno, para que
alcance o seu verdadeiro objetivo. Vários teóricos discorrem sobre o ato de ler, fala-se
muito em como se lê, porém, encontramos falhas na prática dessa atividade, porque embora
nos tenham ensinado a decodificar as letras deste o ensino infantil, pouco nos ensinaram a
ler e compreender o que está sendo lido.
Freire (1989) faz uma compreensão critica do ato de ler, para ele a leitura não se define na
decodificação pura da palavra ou da linguagem escrita, mas se antecipa e se alonga na
inteligência do mundo. Mas o que tiramos do ato de ler? Para a compreensão da leitura é
necessário utilizar um conhecimento de mundo, Daí a necessidade de praticar essa atividade
dia a dia. Acreditamos que quanto mais leitura um indivíduo exercita, maior será sua
capacidade de compreensão.
A aquisição de novas informações e a consequente expansão de horizontes decorrentes de
leitura ecléticas vão se tornar instigadoras de diálogos mais frequentes e de comunicações mais
autênticas. Nesse sentido ler é realmente participar mais crítica e ativamente da comunicação
humana. (Silva, 2005. p. 41)
De acordo com Silva (2005), portanto, podemos concluir que a leitura é uma forma de
encontro da realidade sociocultural e o homem. A prática de leitura está presente em todos
os níveis educacionais de uma sociedade letrada, ao começar pela alfabetização quando a
criança é levada a compreender o significado de textos escritos e assim ao longo de toda
uma trajetória acadêmica. Entretanto a leitura nos dias de hoje não tem sido muito utilizada
pelas pessoas, os meios de comunicação e a tecnologia avançada são muito mais atraentes
do que um bom livro. Assim afirma Melo:
Há uma constatação irrefutável: o uso dos meios impressos de comunicação é hoje reduzido, em
todo o mundo. Tanto o acesso quanto o tempo dedicado pelo público ao radio e à televisão são
maiores que aqueles destinados ao livro, ao jornal e à revista. (MELO. 1999. p. 61.)
Ao falar de leitura é impossível não lembrar de escola, pois é esse ambiente que favorece o
desenvolvimento dessa prática. Assim fica ao educador a oportunidade e obrigação de
despertar nos alunos, a arte da leitura, não apenas como forma de conhecimento, mas
também da imaginação.
Silva (2005) diz que a escola como principal responsável pelo ensino do registro verbal seja
ele ler ou escrever, deve conceber o livro como um instrumento básico, para exercer o
complemento de ações pedagógicas exercidas pelo o professor. Ou seja, simplesmente não
há como conceber uma escola sem a presença da leitura. Sabemos que a leitura é uma
atividade essencial para qualquer área de conhecimento e mais importante ainda para a
própria vida humana.
Como já foi afirmado anteriormente, através da leitura é que o leitor executa o ato de
compreensão do mundo, nesse quesito o leitor é levado não apenas a decodificação dos
sinais e signos, mas é transformado e transforma o texto lido. Para que esse leitor possa
realmente compreender a mensagem e compreender-se dentro dela é necessário antes de
tudo ter o prazer pela leitura. A prática da leitura tem como finalidade a preparação de
leitores competentes e consequentemente a formação de escritores, pois a possibilidade de
produção de textos eficazes tem sua origem na experiência com a leitura.
A leitura nos fornece matéria-prima para a escrita: o que escrever e como escrever, pois ela
é um processo pelo qual o leitor realiza um trabalho ativo de construção do significado do
texto. Não se trata simplesmente de codificar letra por letras, palavra por palavra. Um leitor
competente é alguém que por iniciativa própria, é capaz de selecionar “leituras” que possam
atender a uma necessidade sua.
A ALEITURA
Segundo Koch e Elias (2008), a leitura está além de apenas ocupar um importante espaço na
vida do leitor. Para as autoras, o ato de ler constitui-se da junção entre os sujeitos sociáveis
com a linguagem sociocognitiva, o que lhes possibilita um contato eficaz com elementos
significativos do texto. Sendo assim, o leitor é posto em contato direto com as palavras, de
maneira peculiar, percebendo o elevado grau de sentido que elas preservam.
Notam-se, constantemente, indagações acerca da real importância da leitura para os
membros de uma sociedade. Observa-se também, que o mesmo grupo de indivíduos, anseia
pela necessidade de nutrir o conhecimento, especialmente, por meio da leitura. É fato que
tal lacuna, poderá ser suprida corretamente, por intermédio das diferentes maneiras de
aplicabilidade do elemento de informação. Concebendo que, a leitura decorre do
entendimento entre sujeito, língua, texto e sentido, adotados na respectiva sequência, a
representação do pensamento, estará assegurada e promoverá a captação mental do leitor,
de maneira absoluta.
O mesmo acontecerá com o entendimento da leitura, levada à sério, sem menosprezar as
experiências e conhecimento, próprios do leitor, compreendendo propósitos consolidados ao
longo de sua caminhada, e para tanto, tais suportes, servirão de condução para atividades
interativas entre autor-texto-leitor, servindo muito além de um simples produto codificado
para conhecimento, transmitido ao receptor de forma passiva (Koch & Elias, 2008).
Todo conhecimento que o leitor possa ter, encontra-se armazenado na memória, e esta, por
sua vez, organiza-o adequadamente, gerando espaço para as inúmeras informações que esse
mesmo leitor agregará para si, ao longo de sua rotina como praticante da leitura.
É impreterível que se promova um trabalho produtivo da leitura, a fim de contribuir para a
formação do sujeito leitor, de forma que possa identificar-se no texto, ou nas suas leituras
plurais, não somente como um consumidor de livros, e sim, um produtor destes à 5
medida que preenche as lacunas existentes na obra lida, mergulhando na ambiguidade dos
textos e encontrando significados mais profundos nas entrelinhas dos textos.
Percebe-se, dessa forma, quão importante é a habilidade de leitura, que ultrapassa os limites
da decodificação, efetivando-se como ação, que prepara leitores capazes de participarem da
sociedade na qual estão inseridos e, acima de tudo, exercendo o direito e o dever de
transformá-la. Para que isso ocorra, necessariamente, recorre-se à disponibilidade do
professor, para agir como mediador do processo, atentando para o caráter social do ato de
ler. Com efeito, no momento da leitura, trocam-se valores, crenças, gostos, que não
pertencem somente ao leitor, nem tão-somente ao autor do texto, mas, sobretudo, a um
conjunto sociocultural.
Nos atuais dias, a leitura tão somente abriu-se para receber pesquisadores, como também,
proporcionou lugar amplo para inúmeras discussões, sobre torvações e anseios dos
profissionais da educação, sejam por razões leigas, profissionais ou de cunho institucional.
Prova disso, são os diversos simpósios, sessões, encontros, fóruns e afins dedicados ao
assunto, os quais oferecem propostas teóricas, metodológicas, científicas e políticas,
visando amenizar incertezas dos profissionais da área.
Para Orlandi (1995), o sujeito leitor é quem, em sua preexistência, se torna produtor da
interpretação do texto, ao mesmo tempo em que, coloca-se como contemporâneo a ele,
produzindo leitura, especificamente de sentido, garantindo sua eficácia, organizando-se com
seu conhecimento de um eu-aqui-e-agora, relacionando-se com ele sem perder sua
originalidade.
Conforme observa Lajolo:
A leitura é, fundamentalmente, processo político. Aqueles que formam leitores – alfabetizadores,
professores, bibliotecários – desempenham u papel político que poderá estar ou não comprometido com a
transformação social, conforme estejam ou não conscientes da força de reprodução e, ao mesmo tempo,
do espaço de contradição presentes nas condições sociais da leitura, e tenham ou não assumido a luta
contra aquela e a ocupação deste como possibilidade de conscientização e questionamento da realidade
em que o leitor se insere. (1996, p. 28)
De acordo com Lajolo (1996), a leitura é a estratégia eficaz no processo de ensino-
aprendizagem, sendo praticada pelos alunos de diversas formas e métodos. É possível
orientá-la de maneira que a expanda-se muito além das notas das aulas: sublinhando pontos
importantes de um texto, monitorando a compreensão na hora do ler, empregando técnicas
de memorização, elaborando resumos, planejando e estabelecendo metas, entre outras. Com
6
absoluta certeza, tal mecanismo favorecerá o desenvolvimento da leitura de maneira
produtiva.
A leitura permite o despertar de sentimentos e emoções, inspirando-nos a um ambiente
repleto de possibilidades formuláveis, tantas quantas vezes forem necessárias, haja vista, o
leitor, permitir-se conhecedor da sua aptidão em maior escala de pretensões, estabelecendo
desta maneira, uma sólida relação de dados concisos, permitindo-se inferir, comparar,
questionar, relatar e observar a essência do conteúdo. Justifica-se ainda, que o leitor, é
agente ativo da constante busca de conhecimento, e necessita afirmar sua posição social,
cultural e humana dentro do contexto que preconiza, sem fragilizar a pluralidade intelectual.
Preocuparmo-nos com uma leitura que apenas valorize os elementos formais do texto, é
tratá-la como decodificação de palavras escritas, tornando-nos coniventes com o fracasso
escolar do aluno. Seria o mesmo que pensar o ensino da leitura como não fundamental para
solucionar os problemas relacionados ao pouco aproveitamento escolar dos estudantes,
tratando-a tão-somente como exigência presente no conjunto de disciplinas ofertadas pela
escola, demonstrando, assim, ser a responsabilidade, pela formação do aluno leitor,
exclusiva dos professores de Língua Portuguesa e não, de uma forma geral, por todos os
demais professores em suas respectivas áreas.
Segundo Freire (1994, p.11), a “leitura precede a palavra, daí que a posterior leitura desta
não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem
dinamicamente”. Pensando assim, a leitura da palavra não pode deixar de considerar o
conhecimento de mundo que cada leitor possui, adquirido em seu contexto, suas vivências
sua realidade. Linguagem e realidade se fundem dinamicamente, evidenciando que a
compreensão do texto, de modo crítico, implicará relações entre texto e contexto.
Ao realizar a compreensão e interpretação da narrativa, observados os propósitos do autor, o
sujeito adentrará, letra por letra, mergulhando no enredo lido, permitindo-se avançar,
esclarecer e validar suposições. Acredita-se então, que esse mesmo leitor, seja capaz de
processar, criticar, contradizer e avaliar as informações que estão diante dele, aprumando o
significado obtido (SOLÉ, 2003).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 29. Ed.
São Paulo: Cortez, 1994.
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novas dimensões e configurações. Erechim: Habilis, 2014.
KOCH, Ingdore V.; ELIAS, Maria V. Ler e compreender os sentidos do texto. São Paulo:
Contexto, 2008.
LAJOLO, Marisa. A formação do leitor no Brasil. São Paulo: Ática, 1996.
MANGUEL, Alberto. No bosque do espelho: ensaios sobre as palavras e o mundo. São
Paulo: Companhia das Letras, 2000.
ORLANDI, Eni Pulcinelli. A linguagem e seu funcionamento. São Paulo, Brasiliense,
1995.
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formação de leitores. Revista Ciências & Cognição,2008.
SOARES, Magda. Letramento: como definir, como avaliar, como medir. In: SOARES, M.
Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1999. 13
SOLÉ, Isabel. Ler, leitura, compreensão: “sempre falamos da mesma coisa?” Porto
Alegre: Artmed, 2003.
ZILBERMAN, Regina. Leitura: Perspectivas Interdisciplinares. São Paulo: Ática, 1995
REFERÊNCIAS
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SP: Mercado de Letras: Associação de Leitura do Brasil, 1999. (Coleção Leituras no Brasil)
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler em três artigos que se completam. 23ª. ed.
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GEBARA, Ana Elvira Luciano, IN: MICHELETTI, Guaraciaba (org.). Leitura e
Construção do real: o lugar da poesia e da ficção/ Guaraciaba Micheletti, Letícia Paula
de Freitas Peres, Ana Elvira Luciano Gebara. _ 2. ed. São Paulo: Cortez, 2001. (Coleção
aprender e ensinar com textos; v.4)
MARCUSCHI, Luís Antônio, Gêneros textuais reflexões e ensino. 4. ed. São Paulo:
Parábola Editorial, 2011.
SILVA, Ezequiel Theodoro da, O ato de ler: fundamentos psicológicos para uma nova
pedagogia da leitura / Ezequiel Theodoro da Silva. 10. Ed. São Paulo: Cortez, 2005