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RESUMO:
O presente artigo tem como objetivo trazer à pauta uma reflexão acerca da literatura
e de sua importância para a formação de leitores nos anos iniciais, comentando
sobre a deficiência do trabalho da leitura e escrita nas primeiras fases do processo
de escolarização. Para tal, serão trazidos pontos destacados por autores, tais como
Ferreiro (1985; 2000), Smolka (1994) e Biaggio (2015), que mencionam a
importância da leitura e escrita para a formação das crianças nas primeiras etapas
da vida. O estudo baseou-se em u modelo de pesquisa bibliográfica na coleta de
dados e informações a serem analisadas. Finalmente, a pesquisa mostrou que
existem, sim, vários benefícios para o incentivo ao texto literário n formação de
leitores desde os anos iniciais.
ABSTRACT:
This article aims to bring to the agenda a reflection on literature and its importance
for the formation of readers in the early years, commenting on the deficiency of
reading and writing work in the early stages of the schooling process. To this end,
points highlighted by authors such as Emilia Ferreiro, Ana Luiza Bustamante Smolka
and Angela M. Biaggio will be brought up, who mention the importance of reading
and writing for the education of children in the first stages of life. The study was
based on a bibliographic research model in the collection of data and information to
be analyzed. Finally, the research showed that there are, indeed, several benefits for
encouraging the literary text in the formation of readers from the early years.
A maior parte da leitura nos dias de hoje provém de redes sociais, e nelas a
linguagem utilizada muitas vezes é bastante informal e não segue as normas
gramaticais. Por isso, em determinado grau, as pessoas leem cada vez menos
livros, pois esse hábito se torna cada vez mais esquecido, o que prejudica um
indivíduo desde as primeiras fases dos anos iniciais até sua vida posterior, onde ele
não terá desenvolvido corretamente as habilidades de leitura, escrita e interpretação
de textos.
Partindo desses pressupostos, este artigo tem como objetivo geral refletir
sobre a prática de leitura literária escolar, e como objetivos específicos 1) analisar a
influência do incentivo da leitura literária nos anos iniciais, 2) descrever estratégias
de leitura do texto literário nos anos iniciais e 3) compreender o desenvolvimento da
leitura, escrita e interpretação de texto ao contato cedo com a literatura.
A pesquisa deste trabalho se faz importante pelo pouco valor atribuído pela
leitura, escrita e pela literatura no contexto onde estamos inseridos.
1 A LEITURA LITERÁRIA E FORMAÇÃO DE LEITORES
Há diversos ambientes físicos e virtuais que têm como objetivo reunir jovens
que têm os mesmos gostos para que possam compartilhar experiências, conversas
e até expor suas próprias obras pessoais, o que é uma atividade literária proveitosa.
As próprias escolas muitas vezes têm espaços ou momentos em sala de aula
voltados para a leitura e contação de histórias.
Todavia, por outro lado, entre essas leituras, há uma massa muito grande de
material pobre, tanto em informação e conteúdo quanto em coerência ortográfica, e
apesar de isso não significar que tal escrita não deve consumida, muitas vezes os
jovens acabam não tendo contato com obras feitas com mais esmero, e isso isenta-
os de contato, por muitas vezes, com textos ortograficamente corretos ou materiais
mais produtivos em relação ao desenvolvimento de saberes e conhecimentos para
sua faixa de idade.
Para ficar mais claro, pense da seguinte forma: as crianças são energéticas,
mas às vezes retraídas; falam bastante, mas às vezes são quietinhas; correm muito,
mas às vezes sequer querem se levantar da cadeira. O que estou dizendo é que o
humor e a personalidade das crianças muda muito de uma para outra e depende
bastante do contexto, do dia, da época e até mesmo do horário.
Cada criança é diferente, cada uma é única, então não se deve esperar que
todas tenham os mesmos gostos ou que as mesmas coisas prendam a atenção de
todas. O importante a se fazer é buscar obras, histórias e contos que possam
agradar, procurar conhecer o que mais se adequa à realidade das crianças. Não é
por algo ser intitulado como “literatura infantil” ou ser dito como para criança que vai
servir, às vezes o filtro tem que ser mais fino para que haja melhor aproveitamento.
Não é absurdo pensar que introduzir a literatura, seja incentivando que ela
leia textos simples e lúdicos, seja lendo para ela, para que a criança comece a ter
apreço pela leitura e dê seus primeiros passos para imergir no mundo da literatura,
uma vez que nas primeiras fases da vida é justamente quando se começa a criar
conceitos de realidade, e se está havendo literatura em sua realidade, ela vai se
integrando a ela.
Como entre tais coisas e tais outros incluem-se também livros e leitores,
fecha-se o círculo: lê-se para entender o mundo, para viver melhor. Em
nossa cultura, quanto mais abrangente a concepção de mundo e de vida,
mais intensamente se lê, numa espiral quase sem fim, que pode e deve
começar na escola, mas não pode (nem costuma) encerrar-se nela
(LAJOLO, 1994, p.7).
É fácil de se entender, através da fala de Lajolo, que leitura é bem mais que
procurar respostas em livros didáticos e deve seguir a vida posterior à vida escolar,
também como o fato de que ela explora a ideia de que as escolas são parte dos
primeiros passos para isso. Ela sugere posteriormente que a precariedade do
trabalho com a literatura gera dizeres como “os alunos só leem porque são
obrigados, e alguns sequer sendo obrigados leem” e “muitos dizem não ter tempo,
sendo que têm para TV”, então tece uma crítica sobre professores que afirmam tais
coisas. Sob um olhar crítico, o professor não pode e não deve culpar um
relacionamento não saudável do aluno com a literatura, visto que muitos dos que se
dizem profissionais da educação simplesmente dispensam quaisquer trabalhos com
literatura em sala de aula e apenas afirmam que é dever dos alunos ler.
O professor, tal como também a figura educadora que um pai ou mãe deve
ser, não pode esperar simplesmente que as crianças desenvolvam a capacidade de
ler e interpretar textos espontaneamente se isso não for incentivado e demonstrado
nos anos iniciais, tanto na escola quanto no ambiente familiar. É nesse ponto que
Lajolo comenta da importância da literatura infanto-juvenil e o que ela tem a
acrescentar à formação do professor, e em seguida apresenta uma série de
documentos que usa para ilustrar a precariedade no trabalho quase atemporal da
literatura.
Para ela, e infelizmente esse quadro é ainda mais atual que nunca, a
preocupação com a base do que seria todo o processo de educação é
negligenciada. Em certo ponto, em especial nos anos iniciais, o trabalho com a
literatura é muito precário, o que acaba não desenvolvendo bem o conhecimento de
linguagem do indivíduo, eventualmente não desenvolvendo a capacidade de
interpretação de texto, que por sua vez interfere em outras disciplinas e esferas
educacionais, o que, por fim, prejudica a vida posterior do indivíduo em sociedade.
Tudo porque não foi bem trabalhado nos anos iniciais, com as crianças.
Reforçando mais uma vez, nesse ponto que a literatura se faz muito
importante. Uma história, um conto, um poema, uma brincadeira com um jogo que
use palavras, textos e figuras, tudo isso pode trazer à tona o interesse de uma
criança para a literatura, e uma vez que uma criança foca sua atenção tão
naturalmente em algo, esse é o ponto em que o educador deve também se focar.
[...] A minha contribuição foi encontrar uma explicação, segundo a qual, por
trás da mão que pega o lápis, dos olhos que olham, dos ouvidos que
escutam, há uma criança que pensa. Essa criança não pode se reduzir a um
par de olhos, de ouvidos e a uma mão que pega o lápis. Ela pensa também
a propósito da língua escrita e os componentes conceituais desta
aprendizagem precisam ser compreendidas (FERREIRO, 1985, p.14).
Não basta apenas se certificar que a literatura esteja presente na vida das
crianças, é preciso garantir que ela tenha função, objetivo e seja proveitosa. Não se
trata apenas de contar histórias na hora da historinha nas salas de aula, é preciso
que seja um evento em que a história tenha uma função. Não se deve apenas ler um
conto infantil para a criança para que ela possa ficar quietinha ouvindo com
interesse, é preciso fazer com que esse conto seja utilizado de maneira adequada.
(...) a maior parte dos meninos aprendem a ler sem livros, servindo-se
principalmente nas localidades centrais ou pouco consideráveis, das
cartilhas do Pe. Inácio, de bilhetes e cartas (às vezes, oh Deus! com que
letra e ortografia!) ou de gazetas que seus pais lhes fornecem, ou de velhos
autos, pelo comum indecifráveis, que os próprios mestres alcançam dos
tabeliães do lugar!
E não é por al [sic] que os nossos meninos, geralmente falando,
saem das escolas aos 13 e 14 anos de idade no mais lastimoso estado de
ignorância, sem o hábito de pensarem, e sem ligarem o mínimo valor ao que
leem (LAJOLO, 1994, p.17).
Ler para quê? Para aprender, para que instigue a mente do aluno, para que
ele seja incentivado a desenvolver a própria leitura, eventualmente desenvolvendo
as habilidades e competências que são provenientes desse meio. Para que seja
bem utilizada, a literatura deve ter objetivo, meios de uso e ter importância nesse
processo.
Essa é uma reação de entendimento involuntário por ter tido contato com
esses conhecimentos. Você, enquanto leitor, já deve ter passado por uma situação
parecida. Quantas vezes você já não leu uma palavra ou frase simplesmente por ela
aparecer no seu campo de visão? Até certo ponto, as pessoas são condicionadas a
ter a reação involuntária de ler uma palavra individual instantaneamente logo ao vê-
la. É quase um reflexo.
Desde cedo contamos histórias que começam com “era uma vez”, que
segue uma aventura ou jornada de uma boa pessoa e por fim há uma superação de
todos os problemas e o triunfo contra o mal antes do “viveram felizes para sempre”.
A literatura infantil basicamente retrata realidades metafóricas que ensinam as
crianças determinados valores, seus direitos e seus deveres, entre outras coisas.
Obras literárias não possuem uma limitação tão grande quando os desenhos
infantis, por exemplo, e isso faz com que se possa explorar qualquer área, tema ou
assunto, o que pode ajudar desde cedo a criança a formar seus conceitos próprios,
sua noção de mundo, sua personalidade e seu senso crítico.
Talvez uma das causas desse fenômeno seja pelo pouco incentivo à leitura
e ao contato à literatura em geral, que no início da vida escolar acabou por não
desenvolver as competências e habilidades necessárias, eventualmente fazendo
com que as pessoas leiam cada vez menos no cotidiano, procurem menos
informações e desfrutem de estudos cada vez menos, tudo por uma falha na
condução desse incentivo na base da educação.
Talvez não seja certo dizer que a educação do Brasil não incentive a leitura
e o comprometimento com a literatura, uma vez que vivenciamos na escola vários
momentos em que se trabalha textos literários famosos de grandes autores do
cânon brasileiro, como Machado de Assis, Monteiro Lobado e outros, mas, ainda
assim, a crítica se faz válida. Não o incentivo é deixado de lado, mas a forma como
ele é realizado talvez não seja a mais adequada.
Bamberger (1987) crê que a leitura deve ser algo a ser trazia para a vida
cotidiana, fazer parte da vida além da vida escolar. Para ele, leitura é algo a se ter
como um processo contínuo de desenvolvimento pessoal, algo a se ter prazer e
valor em ter.
Foram utilizados nesta pesquisa livros em formatos digitais, bem como livros
físicos presentes na biblioteca do campus Professor Possidônio Queiroz da
Universidade Estadual do Piauí da cidade de Oeiras Piauí.
104p.
FREIRE, Paulo. Educação Como Prática de Liberdade. São Paulo: Paz e Terra,
2015.
PIAGET, Jean. A Construção do Real na Criança. 3. ed. São Paulo: Editora Átic,
2008.