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OS ATUAIS DESAFIOS DA LEITURA NO BRASIL

Maria Alzira dos Santos Mendonça

UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ – CURSO DE PEDAGOGIA / 2019

RESUMO

Este artigo indica dados, reflexões e análises quanto aos desafios que o Brasil vem
enfrentando com a leitura. Essa pesquisa se originou da preocupação em relação ao nível de
leitura da população em virtude da sua aparente deficiência em relação à interpretação e
decodificação, além dos diversos casos de iletrismo e analfabetismo funcional que tem
ocorrido no país, que vem atingindo diretamente tanto no âmbito educacional como no
profissional. A Metodologia utilizada para a realização desta monografia foi de natureza
exploratória e qualitativa, sendo desenvolvido com base em um levantamento bibliográfico e
documental, sendo utilizados textos e artigos de autores da área de educação. Além de
aplicação de estatísticas acerca do tema proposto. O referencial teórico que fundamenta este
trabalho investiga as causas e fatores das dificuldades na formação de leitores, destacando as
seguintes causas como: motivos socioeconômicos e culturais, inadequação e mecanização da
leitura em sala de aula, falta de incentivos do governo em infraestrutura, desmotivação do
profissional educador, despreparo de alguns professores para lecionar, pouco apoio e
participação da família, bibliotecas em estado de precariedade, falta de metodologias
eficientes no âmbito escolar e acesso a conteúdos rasos na internet, como redes sociais e bate
papos. Enfim, este trabalho busca mostrar a importância de desenvolver e incentivar a prática
da leitura, para a construção da cidadania, proporcionando assim uma sociedade de indivíduos
mais críticos e reflexivos.

Palavras-chave: Importância da leitura. Incentivo da leitura. Dificuldades de interpretação e


decodificação.
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ABSTRACT

This article indicates data, reflections and analyzes regarding the challenges that Brazil is
facing with reading. This research originated from the concern about the level of reading of
the population due to its apparent deficiency in relation to interpretation and decoding, in
addition to the several cases of illiteracy and functional illiteracy that have occurred in the
country, which has been directly affecting both the educational field and the professional. The
Methodology used to carry out this work was exploratory and qualitative, being developed
based on a bibliographical and documentary survey, using texts and articles of authors of the
education area. In addition to applying statistics about the proposed theme. The theoretical
framework that underlies this work investigates the causes and factors of difficulties in the
formation of readers, highlighting the following causes such as: socioeconomic and cultural
motives, inadequacy and mechanization of reading in the classroom, lack of government
incentives in infrastructure, demotivation of professional educator, lack of preparation of
some teachers to teach, little support and participation of the family, libraries in a state of
precariousness, lack of efficient methodologies in the school environment and access to
shallow contents on the Internet, such as social networks and chat. Finally, this work seeks to
show the importance of developing and encouraging the practice of reading, for the
construction of citizenship, thus providing a society of more critical and reflexive individuals.

Keywords: Importance of reading; Encouragement of reading; Difficulties of interpretation


and decoding.
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1. INTRODUÇÃO

A leitura é uma prática social de suma relevância e no qual é necessária uma total
atenção, pois é através dela que podemos aprender, ensinar e conhecer outras culturas. É com
a leitura que exercitamos o nosso cérebro a desenvolver raciocínio, a imaginação e a
criatividade. Além disso, aguça o nosso senso crítico e a nossa capacidade de interpretação,
proporcionando o desenvolvimento do intelecto, bem como o aumento do vocabulário e uma
maior habilidade na escrita. Prática essa que no qual é necessário um trabalho conjunto da
instituição e da família, pois apresentam um papel de extrema importância na formação de
futuros leitores/escritores, visto que é a partir do incentivo e da criação de hábitos nas fases
iniciais em que é desenvolvido o gosto pela leitura, auxiliando assim no desenvolvimento
intelectual e social da criança. Sendo então a leitura tão importante, por que o nível de leitores
no Brasil ainda é tão frustrante?

Em uma pesquisa realizada em 2016 “retratos da leitura no Brasil 4” pelo instituto


pró livro , 30 % dos brasileiros nunca compraram um livro. Um dos problemas mais
apontados por especialistas e educadores em relação à falta de leitura é a “interpretação”.
Dados do ministério da educação apontam que alunos de 14 anos ainda apresentam
dificuldades em identificar com clareza informações que estão em um texto. Essa falta de
leitura acaba refletindo em várias matérias como português, matemática, física e química, no
momento de identificar enunciados-problemas e na compreensão das relações entre os fatos,
culminando em alguns casos em fracasso escolar.

É necessário salientar que para a criança possuir um bom desenvolvimento na


leitura, depende também da influência da família que deve incentivar o hábito do mesmo
desde pequeno, procurando buscar uma parceria entre família e escola com o objetivo
principal de formar leitores. Porém é comum hoje, mesmo com vários incentivos voltados a
leitura ainda haja uma grande predominância de crianças que não gostam de ler, se distraem
com facilidade e demonstram um grande desinteresse pela prática da leitura buscando novas
formas de entretenimento: como o uso de celulares e vídeos-game.

Compreendendo a problemática da leitura no país, vê-se necessário investigar as


causas e conseqüências que essa temática tão importante pode afetar no crescimento
intelectual e social do estudante. Para melhor compreensão do tema cabe perguntar: Para ser
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leitor basta ler? Porque o brasileiro não gosta de ler? Os profissionais educadores estão mal
preparados? A família e a escola tem realizado seu papel de incentivador da leitura?

O objetivo geral deste estudo é compreender a importância da leitura e investigar a


causa dos desafios atuais da leitura no Brasil e as suas consequências. Para isso apresentamos
os seguintes objetivos específicos: refletir sobre a importância da leitura, conhecer o papel da
família e da escola como agentes fundamentais para o incentivo da leitura, analisar os fatores
que impedem a formação de sujeitos leitores e investigar a relevância da leitura no processo
de ensino aprendizagem.

De acordo com um levantamento divulgado recentemente pelo Banco Mundial,


estima que os estudantes brasileiros podem demorar mais de 260 anos para se igualar a leitura
de alunos de países desenvolvidos, que são, por exemplo, em média de 7 livros/ano na França
e 5,1 nos Estados unidos. A situação da leitura do Brasil segundo a pesquisa Retratos da
Leitura vem tendo uma ligeira melhora se comparada com a pesquisa anterior, se em 2011 a
quantidade de leitores era de 50%, em 2016 aumentou e ficou em 56%. Outro avanço
diagnosticado foi o aumento para 4,96 livros lidos por ano, contudo se os livros didáticos
forem retirados da conta, o número cai para 2,9. Sendo assim, se os índices de educação, a
partir dos dados do Programa de Avaliação de Alunos (Pisa) – uma prova organizada pela
Organização para Cooperação e desenvolvimento Econômico (OCDE) – não forem
alavancados, os números apontam uma longa crise na aprendizagem do Brasil.

Sendo assim, sabe-se que a leitura tem muita relevância no processo de


desenvolvimento intelectual e social, pois é através dela que são proporcionados diversos
benefícios tanto no processo da escrita como no desenvolvimento da interpretação e
criatividade. Entretanto, mesmo conhecendo os efeitos que a falta de leitura ocasiona no meio
social e profissional ainda é muito visível à carência da população em relação a esta atividade.
Desse modo, diante da gravidade desta situação é cada vez mais relevante a discussão sobre o
assunto, principalmente diante de casos de iletrismo e analfabetismo funcional que tem
ocorrido no país. Atrair para o centro da questão as causas para o desafio da leitura no Brasil e
como ele é capaz de atingir diretamente no âmbito educacional e profissional, pode ser um
passo crucial para que os grupos sociais se responsabilizem e se comprometam a assegurar
recursos e elaborar novas estratégias, afim de, priorizar a leitura como agente transformador
da sociedade e assegurar assim ao país o seu avanço. A sociedade como um todo pode se
beneficiar com esta discussão acerca da leitura, pois, o projeto tem como finalidade apresentar
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a importância desta em todos os âmbitos, reconhecendo seus reflexos tanto no meio social
como no acadêmico. Desse modo, tanto para o curso de Pedagogia como para outras áreas do
conhecimento que envolva a leitura e a escrita, pesquisas sobre os desafios para a prática da
leitura no Brasil têm sido cada vez mais indispensáveis.

A elaboração deste trabalho se constituirá de uma preocupação em relação ao nível


de leitura da população brasileira em virtude de sua aparente deficiência em relação á
interpretação e decodificação. Esta análise vai se configurar numa pesquisa qualitativa, ou
seja, orientada ao estudo de manifestações e aspectos da realidade com o estímulo de elaborar
conhecimento para que haja uma melhor compreensão acerca das situações vivenciadas pelo
indivíduo por meio de investigações na busca de soluções para os problemas expostos. Para
Bell (1997), “uma investigação é conduzida para resolver problemas e para alargar
conhecimentos sendo, portanto, um processo que tem por objetivo enriquecer o conhecimento
já existente”.
Esse artigo será de caráter exploratório, pois, além de assumir a forma de um
estudo de caso ele empregará um levantamento bibliográfico sobre o assunto. Neste caso, vai
ser utilizados textos e livros de autores que abordam o tema da leitura como fator
fundamental.
A análise dos dados será feita a partir de uma revisão sistemática de artigos, em que
o procedimento técnico vai ser realizado por meio de uma pesquisa bibliográfica e
documental, ou seja, utilizará recursos encontrados em reportagens, monografias, livros,
artigos, entre outros. Além da aplicação de estatísticas referentes à leitura. Visando, obter
explicações ás questões inerentes do tema proposto.

2. DESENVOLVIMENTO

2.1 A importância da família no incentivo a leitura

Segundo Souza (1992) A leitura é mais do que um processo de decodificação, ela é


um ato de perceber e atribuir significados através de experiências pessoais seguido pelo seu
conhecimento de mundo, permitindo assim, afirmar que cada um ao interagir com o texto,
obterá compreensões e interpretações diversificadas. A leitura constitui-se também como uma
prática social e cultural, pela qual o indivíduo ao realizar o ato de ler, mergulha no processo
de produção de sentidos.
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Ler implica não só aprender o significado, mas também trazer para o texto
lido a experiência e a visão de mundo do leitor. Existe, portanto, uma
interação dinâmica entre leitor e texto, surgindo da leitura um novo texto
(ZILBERMANN, 1988. P.14)

A leitura como hábito é extremamente fundamental não só para ampliar


conhecimentos, mas também para a formação da cidadania, proporcionando assim uma
sociedade de crianças, jovens e adultos mais críticos e reflexivos, capazes de transformar o
meio em que vivem. É o caso de Barbosa e Nascimento (2006. P.1) ao afirmar que:

O gosto pela leitura está diretamente associado aos estímulos que são
proporcionados à criança desde muito cedo. O contexto familiar é de grande
importância. Quando a criança cresce no meio de livros e vê, à sua volta,
adultos lendo é despertado nela o hábito de ler, considerando que a formação
de um leitor não se dá através de produtos, e sim, de estímulos.
(NASCIMETO; BARBOSA, 2006. P. 1).

Sendo assim, de acordo com o Barbosa (2006) uma criança que cresce em um
ambiente onde os pais têm o hábito de ler constantemente, é naturalmente levada a associar a
leitura como algo legal e divertido, logo, terá maiores chances de se tornar um leitor assíduo,
pois, geralmente os filhos são influenciados pelas práticas de seus pais. De acordo com
Kaloustian (2008):

A família é percebida não como o simples somatório de comportamentos,


anseios e demandas individuais, mas sim como um processo interagente da
vida e das trajetórias individuais de cada um de seus integrantes. (FERRARI;
KALOUSTIAN, 2000, p. 13)

Ou seja, a família é um dos principais agentes socializadores de um indivíduo, pois


é o primeiro espaço de socialização, de construção de valores, afetos, princípios e onde ocorre
o primeiro contato com a cidadania. Sendo assim, fundamental para o incentivo em todo o seu
processo de desenvolvimento.

Uma família conhecedora de sua responsabilidade contribui de forma positiva na


criação de hábitos, participando do desenvolvimento da criança desde cedo, antes mesmo de
serem alfabetizadas, através de leituras sensoriais e contos. Levando assim, a cultivar na
criança a leitura como algo prazeroso. Para Bamberger (1991, p. 50) “a criança entra em
contato com a linguagem das gravuras antes da linguagem das letras. Uma vez que ela já
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aprendeu a entender as figuras, é necessário que o material de leitura inicial as contenha em


grande número”.
Uma das primeiras coisas que as crianças devem pegar e ver são livros de
gravuras. Antes mesmo que a criança seja realmente capaz de compreender o
texto, os pais devem ler em voz alta e falar-se sobre o livro, contemplando
com elas as gravuras e nomeando as coisas que nelas vêem (BAMBERGER,
1991, P. 71)

Por motivos socioeconômicos e culturais muitas famílias não dispõem da


oportunidade de fazer com que a leitura se torne um hábito em seus lares, muitas vezes por
falta de instrução dos pais que não completaram sua escolaridade, como também a ”falta de
tempo” e os muitos compromissos que acabam impossibilitando o acompanhamento dos seus
filhos na leitura, sendo assim, deixando a responsabilidade apenas à escola, acreditando que a
escola é capaz de compensar a participação dos pais, porém apenas causa uma carência no
aprendizado do aluno.

O estímulo à leitura deve ser iniciado com o hábito de ler em família,


fazendo da leitura algo cotidiano, pois esse é um processo que a torna algo
simples e natural. Mas a realidade é outra, muitas vezes, a família não
participa da educação para a leitura. (CASSIANO, p. 8, 2009)

Segundo dados da última pesquisa realizada pelo instituto pró-livro, as alegações


para a ausência de leitura são: “54% falta de tempo, 34% outras preferências, 19%
desinteresse, 18% falta de dinheiro, 15% falta de bibliotecas. Assim, 33% das alegações
dizem respeito á falta de acesso real ao livro e 53% dizem respeito ao desinteresse pela
leitura.”. Outra informação importante que diz respeito ás práticas familiares em relação á
leitura é: “86% dos não-leitores nunca foram presenteados com livros na infância[...]. Nos
lares dos não-leitores, 55% nunca viram seus pais lendo”

É importante destacar que com a difusão da internet os livros digitais vêm


ganhando maior acessibilidade na população, ou seja, facilmente qualquer pessoa com um
celular ou computador pode ter contato com os mais diversos tipos de leitura. Entretanto, essa
mesma conexão que possibilita o contato com grandes obras, também possibilitam acesso aos
conteúdos mais rasos, como redes sócias e bate papos. Desse modo, em conjunto com a falta
de incentivo que ocorre no Brasil e a proximidade de conteúdos escritos de mais fácil
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compreensão, vem consequentemente provocando um afastamento de boa parte da população


(principalmente dos jovens) de uma leitura de qualidade.

2.2 Escola

Quando nos referimos a leitura como um elemento essencial da formação humana


estamos nos referindo a uma interação social e cultural no qual se constitui a formação do
indivíduo como cidadão, ou seja, voltado a uma leitura não exclusivamente para obtenção de
informação e de conhecimento, mas também para o entretenimento, para a fantasia, para o
imaginário e para desenvolvimento crítico, enfim, para a liberdade do indivíduo.

A escola é uma aliada importantíssima quando se refere à formação do educando.


Segundo Solé (1998, p.75) o educador: “[..] deve garantir o elo entre a construção que o aluno
pretende realizar e as construções socialmente estabelecidas”. Desse modo, o professor
mediador deve buscar condições que possibilitem uma aprendizagem significativa através de
experiências que direcionem o aluno a uma leitura organizada capaz de despertar nele o gosto
pela leitura.

Kleiman (2002, p.35) afirma que “[...] a leitura desmotivada não conduz à
aprendizagem”, ou seja, cabe ao educador desenvolver nos alunos o interesse e o hábito, não
priorizando atividades mecânicas e fórmulas decoradas, mas sim valorizando em sua
formação a interpretação e a compreensão do que se lê, que deve ser valorizado na formação
de leitores.
Dessa forma:
Para tornar os alunos bons leitores – para desenvolver muito mais do que a
capacidade de ler, o gosto e o compromisso com a leitura, a escola terá de
mobilizá-los internamente, pois aprender a ler (e também ler para aprender)
requer esforço. Precisará fazê-los achar que a leitura é algo interessante e
desafiador, algo que, conquistado plenamente, dará autonomia e
independência. Precisará torná-los confiantes, condição para poderem se
desafiar a “aprender fazendo”. Uma prática de leitura que não desperte e
cultive o desejo de ler não é uma prática pedagógica eficiente (Parâmetros
Curriculares Nacionais: Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília,
1997, p.58).
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Quando a leitura é devidamente trabalhada nas escolas é perceptível o crescimento


do aluno tanto em seu vocabulário como na sua escrita, porém se a leitura não for uma parte
cotidiana da escola, o desenvolvimento do aluno tende a cair. Nesse sentido, a escola é
valorizada pela sociedade como um essencial formador de conhecimento, sendo atribuído à
mesma o dever e o compromisso com a excelência na educação, uma vez que é da escola que
saem os futuros profissionais. Moura (2008, p.1) ressalta que:

É objetivo da escola e das famílias em geral proporcionar às crianças o


acesso ao conhecimento e a formação de indivíduos críticos, comprometidos
consigo mesmo e com a sociedade, capazes de intervir modificando a
realidade, automotivados e aptos a buscar o aprendizado e o aperfeiçoamento
contínuo, o que passa pela formação de leitores competentes.

Segundo os dados da última pesquisa realizada pelo instituto pró-livro em “Retratos


da leitura no Brasil”, as dificuldades para o processo de leitura de 48% das pessoas declaradas
configura-se de um quadro de má formação das habilidades que são formadas no processo
educacional, de acordo com os dados “17% leem muito devagar, 7% não entende o que lê,
11% não tem paciência para ler, 7% não tem concentração”. Ou seja, a leitura no meio
educacional ao invés de ser utilizada como um meio de interação e construção, esta vem
sendo encontrada mais como um subterfúgio para o ensino da língua portuguesa e dos
conteúdos de diversas disciplinas, fazendo-se prioridade o ensino da ortografia, gramática ou
o vocabulário. Chantier e Hébrand (1989, p. 385) afirmam que:

Contrariamente ao que ela não cessa de afirmar, a escola não prioriza a


leitura por ela ser um instrumento privilegiado das comunicações sociais no
mundo moderno, mas porque ela se tornou um instrumento indispensável e
complexo para todo o trabalho escolar. (Chantier e Hébrand, 1989, p. 385).

A questão, porém não é sobre o fato de escolarizarem a leitura, mas na maneira em


que ela é escolarizada, pois da perspectiva de formação do leitor e da formação humana, o
ensino nas escolas podem ser classificados como inadequados, visto que, a leitura limitada
pelo livro didático é capaz de matar o prazer pela leitura. O fato é que muitas crianças e
jovens chegam às escolas com pouca ou nenhuma experiência de leitura ou escrita - já que a
ausência de leitura no meio familiar ainda é uma realidade – e se deparam com a leitura como
um processo mecânico no qual está relacionada á uma obrigatoriedade escolar e onde não há
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um incentivo do prazer pela leitura, dessa forma, faz sentido o desinteresse de alguns jovens
pela leitura.

A maneira com a qual a escola tem ensinado apenas vem corroborando com a
formação de analfabetos funcionais, ou seja, pessoas que sabem ler e escrever textos simples,
porém não possuem capacidade de interpretação, isto é, não detêm habilidades necessárias
para viabilizar o seu desenvolvimento pessoal e profissional (UNESCO). Foucambert (1994,
p.118) caracteriza o analfabetismo e o iletrismo da seguinte forma:

O analfabetismo caracteriza-se pela impossibilidade de compreender ou de


produzir uma mensagem escrita simples [...] O analfabetismo funcional
refere-se à mesma impossibilidade, porém envolve pessoas com vários anos
de escolaridade que dominaram essas técnicas de correspondências grafo-
fonética num certo período de sua vida, mas que perderam esse domínio por
falta de uso e de exercícios com elas. [...] O iletrismo se caracteriza pelo
afastamento em relação às redes de comunicação escrita, pela falta de
familiaridade com livros e jornais, pela exclusão do indivíduo das
preocupações e respostas contidas na elaboração da coisa escrita.

É nesse contexto que percebemos os vários equívocos exercidos na execução das


práticas, tal como: fragmentação de textos, textos interrompidos ou sem sentido, predomínio
de alguns gêneros sobre outros, uso restrito apenas á livros didáticos ou apostilas,
mecanização da escrita, dentre outros. Segundo Kleiman (2002, p.30):

[...] o contexto escolar não favorece a delineação de objetivos específicos em


relação a essa atividade. Nele a atividade de leitura é difusa e confusa,
muitas vezes se constituindo apenas em um pretexto para cópias, resumos,
análise sintática, e outras tarefas do ensino da língua. Assim, encontramos o
paradoxo que, enquanto fora da escola o estudante é perfeitamente capaz de
planejar as ações que o levarão a um objetivo pré-determinado (por exemplo,
elogiar alguém para conseguir um favor) quando se trata de leitura, de
interação à distância através do texto, na maioria das vezes esse estudante
começa a ler sem ter ideia de onde quer chegar, e, portanto, a questão de
como irá chegar lá... Nem sequer supõe.

Convém ainda considerar que há outros determinantes para a problemática da


leitura nas escolas, tal como: falta de incentivos financeiros do governo em infraestrutura,
profissionais educadores com os baixos salários, pouco apoio e participação da família,
turmas com excesso de alunos, grande sobrecarga atribuída aos professores, além do
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despreparo de alguns para lecionar no qual foram capacitados apenas para ensinar os
conteúdos escolares, enfim, tudo isso contribui para a desmotivação do profissional educador.

2.3 Biblioteca

A biblioteca escolar é um sistema que pode ser considerado como um recurso


indispensável para o processo educativo, por ser considerado um centro de acesso á
informações e materiais que complementam e enriquecem o programa escolar. Segundo
Perucchi (Revista ACB, 1999) “uma biblioteca estruturada e em funcionamento é condição
básica de sustentação de um ensino de qualidade”, dessa forma, é imprescindível dentro do
contexto educacional que a biblioteca se encontre em um recomendável nível de organização
e estrutura se mantendo inclusive à disposição de alunos e professores para que a experiência
escolar seja completa.

É fundamental que os profissionais vejam a biblioteca como um recurso integrador


e indispensável para o desenvolvimento do processo ensino/aprendizagem, já que desempenha
um papel importante na formação de leitores. Segundo Fragoso (2002, p. 124) a biblioteca
escolar exerce funções de suma importância no qual podem ser encontradas em duas
categorias principais: a educativa e a cultural.

Função educativa:
A função educativa representa um reforço à ação do aluno e do professor.
Quanto ao primeiro, desenvolvendo habilidades de estudo independentes,
agindo como instrumento de autoeducação, motivando a uma busca do
conhecimento incrementando a leitura e ainda auxiliando na formação de
hábitos e atitudes de manuseio, consulta e utilização do livro, da biblioteca e
da informação. Quanto à atuação do educador e da instituição, a biblioteca
complementa as informações básicas e oferece seus recursos e serviços à
comunidade escolar de maneira a atender as necessidades do planejamento
curricular. (FRAGOSO, 2002, p.127)

Função cultural:

A biblioteca de uma escola torna-se complemento da educação formal, ao


oferecer múltiplas possibilidades de leitura e, com isso, levar os alunos a
ampliar seus conhecimentos e suas ideias acerca do mundo. Pode contribuir
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para a formação de uma atitude positiva, frente à leitura e em certa medida,


participar das ações da comunidade escolar. (FRAGOSO, 2002, p.127)

De acordo com Cruz (1979, p.841) uma biblioteca bem estruturada e organizada é
um “instrumento importante para o desenvolvimento satisfatório das atividades de ensino-
aprendizagem”, sendo assim, um requisito básico para desenvolver e estimular a leitura.
Entretanto é analisado que as bibliotecas escolares no Brasil apresentam um estado bem
precário em relação ao seu funcionamento, organização e atualização de acervos o que
demonstra uma falta de conscientização das autoridades no que tange a importância da
biblioteca para o desenvolvimento integral do aluno.

Constatamos que as bibliotecas escolares estão desaparelhadas, sem acervo


adequado e sem pessoal especializados (MAYRINK, 1991, p. 180).
As bibliotecas escolares encontradas são demasiadamente simples,
consistindo apenas germens de bibliotecas. (MARTINS, 1983, p. 106).
Apesar de uma parte expressiva das instituições pesquisadas afirmarem ter
bibliotecas, as questões seguintes, referentes às instalações, acervos e
serviços, demonstram que estes espaços estão pouco qualificados para serem
considerados plenamente como bibliotecas escolares. (MARTINS, 2011, p.
11).
Existem poucas bibliotecas escolares, e as existentes não satisfazem as
necessidades de seus usuários. (PERUCCHI, 1999, p. 94).
Ao se concluir o relatório [...] tem-se uma convicção assegurada pelos fatos:
na área pesquisada a situação de bibliotecas escolares e públicas é
merecedora de atenção em face às deficiências encontradas. (MACIEL
FILHO, 2001, p. 16).

Diagnósticos também esclarecem que os espaços físicos de grande parte das


bibliotecas do país apresentam deficiências em várias áreas, consistindo muitas vezes em um
espaço inadequado, adaptados ou compartilhados com outros setores da escola. Segundo
Martins (2011, p.10) “... 34% das bibliotecas dividem [...] espaço com outros setores como
secretaria, sala de descanso dos professores, coordenação ou sala de permanência” e de
acordo com Nascimento (2007, p.9) “...em 62,50% das escolas, tais espaços [bibliotecas]
constituíam-se de salas adaptadas e improvisadas... quase sempre salas de aulas, laboratórios e
até mesmo banheiros desativados e adaptados...”.

Além disso, é observado que com o passar do tempo às bibliotecas tem deixando de
realizar seu papel principal de estimular o prazer da leitura e a cultura dos cidadãos para
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adotar uma nova finalidade como um espaço de estudo e pesquisa. Visto que, de acordo com
dados da última pesquisa realizada pelo instituto pró-livro “Retratos da leitura no Brasil”,
70% dos livros lidos mais frequentemente são didáticos e universitários. Milanesi (1983, p.
35), afirma que:

[...] a própria função do livro mudou: de lazer e instrução ele passou a


instrumento quase exclusivo para os trabalhos escolares, as chamadas
“pesquisas”, uma atividade meramente prática, rotineira. A função do
prazer diminui, bem como o papel, a ideia do apostólico ligada à
leitura

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A leitura é a forma mais antiga e mais eficiente de se obter conhecimento, é através dela
que podemos aprimorar nossa capacidade interpretativa e intelectual. Além de ser um dos
principais agentes transformadores da sociedade. Por meio desta pesquisa foi analisado que
tanto a escola como a família são elementos essenciais na construção do hábito da leitura e
consequentemente na criação de indivíduos mais críticos, reflexivos e capazes de transformar
a sociedade em que vivem. Logo é necessário que haja uma relação mútua de parceria e
sintonia entre esses dois sistemas, família e escola.
Sendo assim, esta pesquisa viabilizou a revisão e a reflexão acerca dos atuais
problemas que vem colaborando com o fracasso na formação de sujeitos leitores, tanto no
meio familiar, escolar e governamental, podendo assim auxiliar na criação de novos métodos
e incentivos que serão de grande valia para a sociedade em geral.
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REFERÊNCIAS

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AGRADECIMENTOS

A Deus por cuidar de mim todo tempo, me dando força, saúde e persistência para alcançar
meus objetivos.
Ao meu esposo que muito colaborou em todo esse processo
A minha mãe heroína, que me deu apoio e me incentivou nas horas difíceis.
A minha filha que em todos os momentos esteve comigo me auxiliando.
A universidade Estágio pela oportunidade de fazer o curso.
A minha orientadora, pelo empenho e dedicação na elaboração deste trabalho.
A todos os professores por me proporcionarem conhecimento, apoio e confiança.

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