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Mestrado em Gestão da Informação e Bibliotecas Escolares

Literatura para crianças e jovens |

Ler significa ser capaz de utilizar “ (…) técnicas de decifração gráfica, interpretar, fazer inferências, analisar
criticamente e compreender o conteúdo de um texto” (Santos, 2000, p. 21 citado por Ferreira, 2016). O ato
de ler implica também entender o que se lê.

Para o desenvolvimento da criança, é inegável a importância da leitura pois esta fomenta a capacidade de
imaginar, de criar e de crítica que futuramente possibilita uma participação ativa na sociedade. “O contato
com os livros propicia ao leitor, ter uma melhor compreensão de si e do mundo que o cerca” (Ribeiro,
Bento, Tomé &Farias, s.d.).

A resposta propriamente à questão – A leitura, uma questão de género? A meu ver, é de natureza complexa
e tem de ter um enquadramento histórico, social, politico, cultural e educacional. Ainda nos dias de hoje,
logo a partir do nascimento, é frequente associarmos a cor rosa às meninas e a cor azul aos meninos.
Assim começa a construção da identidade de género da criança. Há certos livros que parecem ser
preferencialmente para meninas (Anita Dona de Casa de Gilbert Delahaye) e outros para meninos (Bob, o
construtor de Keith Chapman), os mesmos espelham estereótipos masculinos e femininos que, de certa
forma, fazem a criança adotar determinados papéis de acordo com o seu género.

A minha perceção enquanto mãe, docente e mais recentemente professora bibliotecária é que os meninos/
rapazes têm menos hábitos de leitura e apresentam gostos muito específicos nos livros que escolhem.
Estudos como os do PISA 2015, comprovam que “Os rapazes portugueses registaram melhores
desempenhos em ciências e em matemática do que as raparigas […], e as raparigas registaram melhores
desempenhos em leitura” (Marôco et al. 2016).

O texto "Noisy boys and invisible girls?" aborda precisamente estudos sobre estereótipos. No primeiro
estudo, os rapazes estão associados à imagem de rebeldia, agressividade e falta de concentração e as
raparigas são calmas, aplicadas e mais inteligentes. Estes comportamentos são tidos como típicos para
ambos os géneros. Ao nível da leitura também há estereótipos associados aos géneros preferidos por rapazes
e raparigas. “teachers believed that boys prefer factual reading and writing and lots of structure, boys
themselves expressed a liking for creative and narrative writing where they had freedom to choose what to
write about and to use their imagination.” (Myhill & Jones, 2004). Mas como é possível constatar, nem
sempre as ideias pré-concebidas sobre algo correspondem à realidade.

No que concerne ao texto "Teens Take Time to listen When You Make Time to Read Aloud" o mesmo
relata uma experiência desenvolvida numa biblioteca escolar (BE) de uma escola em Nova York, que
consiste num workshop de leitura, realizada por uma professora bibliotecária, em voz alta para jovens
ouvintes que inicialmente não queriam participar nesta atividade. Com o decorrer do tempo, esta situação
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acabou por se alterar significativamente. Para além dos alunos demonstrarem interesse em saber o final da
história do livro escolhido, também se veio a constatar o interesse dos jovens em requisitar o livro, bem
como outros existentes na BE. Esta atividade motivou-os para a leitura. O texto demonstra de forma
irrefutável o papel da BE na promoção da leitura,

Na minha opinião a BE em articulação com os docentes e as famílias dos alunos, pode desempenhar um
papel crucial na formação de leitores, se proporcionar, com a devida regularidade, atividades que promovam
a interação entre o texto e o leitor (clubes de leitura, oficinas, concursos) para que se realize o objetivo
primeiro e essencial da promoção da leitura, que é a formação de leitores competentes independentemente
do seu género. Nesse sentido cabe à BE promover, tal como defende António Prole, a leitura voluntária,
continuada e desescolarizada de obras completas, que devem corresponder as problemáticas dos nossos dias,
aos gostos e interesses dos leitores, estar adequadas ao seu desenvolvimento cognitivo e maturação leitora,
sob pena de inviabilizar a fruição da leitura e criar um sentimento de frustração e/ou mesmo rejeição.

Cabe ao bibliotecário promover e divulgar o conteúdo da biblioteca, para que mesmo aquele leitor menos
assíduo se interesse pela leitura. O acervo deve refletir o seu público. Tal como defendia Ranganathan - “a
cada leitor o seu livro”.

O acervo deve também apresentar exemplares de obras, que representem a evolução do papel da mulher e
do homem na sociedade atual. Um bom exemplar, no meu entender, é o livro “Menino brinca de boneca?,”
de Marcos Ribeiro (2011), onde o autor “analisa os diferentes papéis impostos socialmente, mostrando que,
todos têm a capacidade de exercer tarefas impostas como femininas ou como masculinas, independente do
sexo, e a vestir ou usar o que quiser, […] o autor vai desmistificando o que a sociedade rotula, levando o
leitor a refletir que desde novos somos influenciados pela convenção a seguir o padrão de que menino não
brinca de boneca e que homem não chora” (Ribeiro, Bento, Tomé &Farias, s.d.).

Referências Bibliográficas:

Ferreira, J. (2016). Estratégias de promoção do gosto pela leitura utilizadas pela família e professores de
alunos do 1.º Ciclo do Ensino Básico, Dissertação de mestrado, Instituto superior de Educação e Ciências,
Lisboa. Acedido em https://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/20610/1/Relat%C3%B3rio%20Final%20de
%20Mestrado.pdf

 Follos, A. (2007). Teens Take Time to listen When You Make Time to Read Aloud , Estados Unidos da
América: Voya Services Company p.p. 499-503 Acedido
em https://elearning.uab.pt/file.php/9870/VOYA200702teens_take_time.pdf

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Marôco, J., Gonçalves. C., Lourenço, V. & Mendes, R. (2016). PISA 2015 − PORTUGAL. Volume I:
Literacia Científica, Literacia de Leitura & Literacia. Acedido em http://rbe.mec.pt/np4/np4/?
newsId=1869&fileName=Relatorio_PISA2015.pdf

Myhill, D & Jones, S. (2014). Noisy boys and invisible girls?, Estados Unidos da América. Acedido
em https://elearning.uab.pt/file.php/9870/boysandgirls.pdf

Ribeiro, T., Bento, F., Tomé, R. Farias, T. (s.d.). Literatura infantil e gênero: relações em menino brinca de
boneca? E Bibi brinca com meninos. Acedido em
https://www.editorarealize.com.br/revistas/sinalge/trabalhos/TRABALHO_EV066_MD1_SA17_ID1309_23
032017235048.pdf

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