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LEITURA DE OBRAS LITERÁRIAS INFANTO JUVENIS PARA FORMAÇÃO DE

LEITORES

LUCIO LAGO LOPES*

RESUMO

Pesquisa sobre a leitura de obras infanto-juvenis pelos estudantes do sétimo período do curso de
Biblioteconomia para formação de leitores. Traça um breve panorama acerca da leitura das crianças
e adolescentes, demarcando possíveis ações que o bibliotecário pode estar fazendo para converter
para a mudança da situação. Define literatura infantil e juvenil, estabelecendo as diferenças entre
ambas. Analisa os resultados da pesquisa feita com estudantes do sétimo período do Curso de
Biblioteconomia da Universidade Federal do Maranhão, intercalando com o referencial teórico da
área.

Palavras-chave: Leitura. Obras infanto-juvenis. Formação de leitores.

1 INTRODUÇÃO

É bem-vinda a descoberta da leitura em qualquer etapa da vida. Contudo,


é interessante que esse gosto pelo ato de ler seja iniciado na infância, pois é o
momento de formação da personalidade. Cunha (1998) afirma o quanto é
imprescindível o fomento à leitura ainda na infância para se criar um país leitor. Uma
criança que cresce diante da televisão com certeza construirá uma visão errônea da
leitura e é uma candidata a ser reprodutora do sistema.
Supõe-se adolescente que teve a infância toda distante dos livros, já terá
uma resistência maior à leitura, pois esta não é uma atividade passiva à qual está
acostumada. A leitura exige que o leitor imagine o cenário descrito pelo autor nas
obras contrárias, ao contrário da televisão que já pode apresentar a imagem pronta,
isentando o individuo de possíveis obstáculos que ocorrem no processo de leitura,
como se deparar a uma palavra desconhecida.
Existem diversos fatores que inviabilizam o acesso ao livro, como o alto
preço para a sua aquisição, o despreparo por parte dos profissionais da educação,
etc. Os bibliotecários podem driblar promovendo ações que possam tornar a
biblioteca um espaço sedutor e atraente para as crianças. Nesse momento, esses
profissionais precisam utilizar de estratégias para mostrar que a leitura pode ser tão
*
Alunos do 7º período do Curso de Biblioteconomia da Universidade Federal do Maranhão.
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prazerosa quanto ir à praia, tomar sorvete ou passear no shopping.


Contudo, surgem alguns questionamentos cruciais. Será que os
estudantes de Biblioteconomia do 7º período da Universidade Federal do Maranhão
já leram alguma obra infanto-juvenil? Que tipo de obras? Será que gosta de contar
histórias para outras pessoas? Para quem contam? O artigo visa descobrir por meio
de uma pesquisa se os alunos que estão prestes a se graduar encontram-se aptos
para desenvolver atividades para formar o leitor.

2 A LEITURA DOS LIVROS INFANTO-JUVENIS PARA FORMAÇÃO DE


LEITORES

O que diferencia a literatura infantil e juvenil são as características e a


faixa etária a que é destinada. Uma das definições de Cunha (1998,p.13) para a
literatura infantil restringe a “livros que têm a capacidade de provocar a emoção, o
prazer, o entretenimento, a fantasia, a identificação e o interesse da criançada.” O
livro infantil desperta a atenção mirim, por meio de ilustrações ou pelo aspecto do
livro, como as figuras em relevo que se forma quando folheia o livro. Pelo fato da
criança está em processo de alfabetização e, muitas vezes, nos primeiros anos de
vida não tem o domínio da leitura, estimula-se os sentidos, principalmente a visão
para despertar o gosto pelo livro.
Define-se livros juvenis através de características pertencentes a essa
modalidade. Segundo Cunha (1998), caracteriza-se pelo predomínio de textos mais
longos, com letras em corpo menor, poucas ilustrações, quase sempre em branco e
preto, o uso de papel mais fino e de pior qualidade, a divisão em gênero bem
delimitada e a padronização do temas, como o primeiro beijo, a gravidez indesejada,
etc. Com o público jovem, utiliza-se outras estratégias. É interessante formar o leitor
adolescente estabelecendo um elo de identificação entre ele e os conflitos dos
personagens, típicos dessa fase.
A biblioteca se distancia dos jovens, à medida que não há nada que faça
parte do seu universo e as inquietudes. Ela precisa ser um ambiente onde os jovens
possam se sentir à vontade para descobrir os livros armazenados em sua coleção,
permitindo a expressão das suas idéias em diversas manifestações artísticas
(música, literatura, dança, performance, cinema, teatro, revistinha de quadrinhos), a
fim de estabelecer através de um debate por meio do intercâmbio entre os livros, a
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biblioteca e o universo em que esses adolescentes estejam inseridos, despertando,


por fim, o espírito critico neles.
Gradativamente, os bibliotecários podem estar cumprindo uma das suas
funções sociais: formar o leitor. Silva (1991, p.120) explicita que a formação do leitor

[...] não é um produto do acaso; o potencial que todos os seres humanos


possuem para ler o mundo e a palavra (ou qualquer outro tipo de signo) só
vai se desenvolver caso as condições para a produção da leitura se fizerem
presentes no corpo social [...] (SILVA, 1991, p.120)

Se o bibliotecário possibilitar essas condições em uma biblioteca por meio


de atividades, a formação de leitores entre adolescentes e crianças será efetivada,
uma vez que muitas delas não possuem incentivo à leitura em seus lares, pois,
muitas vezes, os pais não contaram histórias antes de dormir na infância e nem
cultivam o hábito de ler.
A escola é designada a fomentar a leitura nas crianças e adolescentes.
Também é necessário que o bibliotecário conheça as obras infantis para promover,
a partir delas, atividades, como a hora do conto, já que o primeiro contato que a
criança pode ter é por meio da contação de histórias, pois “[...] Escutá-las é o início
de aprendizagem para ser um leitor, e ser leitor é ter um caminho absolutamente
infinito de descoberta e de compreensão do mundo [...] (ABRAMOVICH, 1991, p.16).

2.1 Material e método

Foram distribuídos 19 questionários para os alunos da disciplina Leitura e


Formação de Leitores do sétimo período do Curso de Biblioteconomia da
Universidade Federal do Maranhão. A pesquisa teve como objetivo investigar o
conhecimento desses alunos em relação às obras infanto-juvenis para formação do
leitor.
Uma vez que os alunos do sétimo período só precisam do cumprimento
do estágio curricular e a apresentação da monografia para obter a graduação,
espera-se que eles tenham um posicionamento social em relação à importância do
incentivo a leitura e conheçam a literatura infanto-juvenil para promover atividades
que possam fomentar a leitura.
Os questionários continham oito questões, em sua maioria fechada, para
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serem preenchidos pelos alunos. Essa pesquisa ocorreu antes da realização das
oficinas que compunham o projeto de pesquisa e extensão com ações integradas de
incentivo a leitura em São Luís – MA da Universidade Federal do Maranhão.
Utilizou-se nas opções as obras mais divulgadas e os recursos mais
utilizados na impossibilidade de um livro. Permitiu-se por meio de questões abertas
que o aluno respondesse questões como se ele gosta de ler histórias e para quem
contam estas. Também solicitou-se a opinião sobre a literatura infanto-juvenil e a
formação de leitores.

2.2 Analise dos resultados

A pesquisa revelou muitas informações interessantes. Segundo Ferreira


(2002), a profissão de bibliotecário encontra-se no rol das profissões femininas,
como as empregadas domésticas, professoras, enfermeiras e assistentes sociais. O
curso ainda é predominantemente feminino com 89% dos entrevistados sendo
mulheres contra 11% de homens, o que vai traçar a permanência dessa profissão
pertencente ao universo feminino.

Sexo dos alunos sétimo período do Curso de


Biblioteconomia da UFMA
11%

89%

masculino feminino

Gráfico 1 – O sexo dos estudantes de Biblioteconomia.

Todos os estudantes do curso de Biblioteconomia leram obras infanto-


juvenis. A obra mais lida foi o Sítio do Picapau Amarelo de Monteiro Lobato com
68,4% dos entrevistados. O Senhor de Aneís de Tolkien aparece com 5% de alunos
que leram a obra. No âmbito da leitura de obras infanto-juvenis, a literatura brasileira
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prevalece em relação a literatura estrangeira. Isso se deve a intensa divulgação das


obras de Monteiro Lobato. Os 5% podem conhecer o livro de Tolkien, já que a
grande maioria conhece as adaptações dos seus livros no cinema.

Para quem conta histórias


10
9
9
8
7
7
6
5 alunos
4
4
3
2
1 1 1
1
0

Alunos

Gráfico 2 – As categorias de pessoas que os estudantes contam histórias.

Na questão para quem contam histórias infantis, 9 entrevistados


responderam que essa prática ocorre no âmbito familiar, contra 2 entrevistados que
responderam para amigos e idosos e 1, sem resposta. Entende-se o quanto é
importante que o estudante tenha essa prática de contar de histórias em um
ambiente que não seja a biblioteca, para que isso não ocorra de maneira
improvisada. Abramovich (1991, p.18) aconselha que para ler uma história

[...] não se pode fazer isso, de qualquer jeito, pegando o primeiro que se vê
na estante... E aí, no decorrer da leitura, demonstrar que não está
familiarizado com uma ou outra palavra (ou com várias), empacar ao
pronunciar o nome dum determinado personagem ou lugar, mostrar que não
percebeu o jeito como o autor construiu suas frases e ir dando as pausas no
lugares errados, fragmentando um parágrafo porque perdeu o fôlego ou
fazendo ponto final quando aquela idéia continuava, deslizante, na página
ao lado (ABRAMOVICH, 1991, p.18)
O bibliotecário precisa criar métodos para prender a atenção nas
crianças, provocar emoções, sensações, por meio da voz, gestos ou outros recursos
na impossibilidade do livro. O bibliotecário precisa conhecer a obra antes de contá-la
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para que não haja eventualidades, como algo que a criança não pode entender ou
desinteresse par quem está ouvindo.
A pesquisa revelou que na impossibilidade do livro, os estudantes
utilizariam outros recursos como teatro de fantoches, marionetes, teatrinho de vara,
cineminha, quadro de pregas e álbum sanfonado. Isso fica explicito a versatilidade, a
criatividade e o empenho dos estudantes de bibliotecário em atividades para a
formação de leitores. Ficou comprovado que os estudantes não colocam obstáculos
para fazer um ação social.

O que você entende por formação de leitores?


10
9
9

7
6
6

5 alunos

4
3
3

2
1
1

Alunos

Gráfico 3 – A opinião dos estudantes acerca da formação de leitores.


A opinião dos estudantes da formação de leitores terminou se tornando
conceitos os quais percebe-se a presença da expressão “hábito de leitura”, dando
uma conotação mecanicista ao ato de ler. Segundo Silva (2005, p.35), essa reflexão
corre “o risco de eliminar os atos de refletir e de transformar que certamente também
devem fazer parte da atividade da leitura”. Somente um único entrevistado afirmou
que formação de leitores é formar mediador e disseminar a leitura, fazendo uma
alusão aos objetivos da disciplina. Verifica-se nessa opinião uma influência da
função que é propagado ao longo do curso. Em vez de informação, dissemina-se
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leitura.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pode perceber que os estudantes de biblioteconomia conhecem as obras


infanto-juvenis, uma vez que esse critério é crucial para que estabeleça diretrizes
que possam culminar em um único objetivo: formar o leitor. O fato de estudantes
contarem histórias no âmbito familiar ajuda muito quando forem solicitados para
atividades de leitura nas unidades de informação, já que estarão preparados em
lidar com as crianças.
É interessante fazer da biblioteca um ambiente de descobertas literárias,
aliando a oficinas de fotografia, música, “como montar a sua banda?”, franzine, pois,
nessa fase da vida, devido “a aquisição do raciocínio abstrato que permite pensar de
modo lógico sobre idéias e conceitos complexos, como os sistemas filosóficos, as
religiões ou as teorias cientificas. As novas possibilidades intelectuais são
prazerosas.
Muitos adolescentes compõem músicas, escrevem poesias, cartas de
amor, “bolam” experimentos científicos, estudam a história de outros povos e de
outras épocas. Essas aquisições mentais resultam de um longo processo,
construído individualmente, que tem origem na infância.” (RAPPAPORT, 2003, p.13)
Essas oficinas vão auxiliar os jovens para implantar essas idéias que são boladas
nesse período fértil da adolescência.
Esse período é o momento oportuno para fomentar a leitura. Qualquer
ação para a promoção da leitura é benéfica. É importante que essa consciência
social se inicia ainda na academia. Isso foi detectado nos conceitos dados a
formação de leitores pelos alunos de biblioteconomia.

ABSTRACT

Research on the reading of works by children and young students of the seventh period of the course
of training for library readers. Gives a brief overview about the reading of children and adolescents,
demarcating possible actions that the librarian may be doing to convert to change the situation.
Literature defines childhood and youth by establishing the differences between them. Analyzes the
results of research done with students in the seventh period of the Course of Library Science, Federal
University of Maranhão, interspersed with the theoretical framework of the area.

Keywords: Reading. Works for children and young people. Training readers.
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REFERENCIAS

ABRAMOVICH, Fanny. Literatura Infantil: gostosuras e bobices. 2. ed. São Paulo:


Scipione, 1991. 176 p.

CUNHA, Leo. Literatura infantil e juvenil. In: Campello, Bernadete Santos; Caldeira,
Paulo da Terra; Macedo, Vera Amália Amarante (Org.) Formas e expressões do
conhecimento: introdução às fontes de informação. Belo Horizonte: Escola de
Biblioteconomia da UFMG, 1998. p.53-70.

FERREIRA, Maria Mary. A/o profissional da informação no mundo do trabalho e as


relações do gênero. In: CASTRO, César Augusto (Org.). Ciência da Informação e
Biblioteconomia: múltiplos discursos. São Luís: EDUFMA, 2002. p.161-183.

LUCKESI, Cipriano. Fazer universidade: uma proposta metodológica. 7.ed. São


Paulo: Cortez, 1995. 232 p.

RAPPAPORT, Clara Regina. Encarando a adolescência. 8.ed. São Paulo: Ática,


2003. 111p. (Série Jovem hoje)

SANDRONI, Laura C. MACHADO, Luiz Raul. (Org.) A criança e o livro: guia prático
de estímulo à leitura. 2. ed. São Paulo: Ática, 1987. 144 p. (Série Educação em
ação)

SILVA, Ezequiel Theodoro. De olhos abertos: reflexões sobre o desenvolvimento


da leitura no Brasil. São Paulo: Ática, 1991. 128 p. (Série Educação em ação.)

______. O ato de ler: fundamentos psicológicos para uma nova pedagogia de


leitura.São Paulo: Cortez, 2005.

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