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Além disso, a escrita histórica é fruto das vivencias do profissional da História, as quais
suas idéias perpassam ao texto devido às escolhas existentes dele e do lugar social no
qual está inserido. Podemos concluir que como disciplina a História está submetida ao
contexto social na qual está situada. Sendo vista como prática, ela possuiria um
conjunto de técnicas, que normatizariam a operação historiográfica. Ao seguirmos as
normas estabelecidas, daríamos credibilidade à produção de uma pesquisa histórica.
Assim como a prática, vemos que a escrita possui leis, para legitimarem a sua validade
acadêmica. Após as leituras sobre Certeau podemos perceber que a escrita da História
não pode ser fruto de apenas desejos pessoais sem uma relação com o lugar social onde
estamos inseridos. Nossos escritos necessitam possuir uma relevância para a sociedade,
se for almejado receber um reconhecimento de nossos pares, pela nossa produção do
saber.
Portanto, a operação histórica, se refere a um tripé essencial que estabelece relações
entre as práticas científicas e a escrita; isto tudo combinado a um lugar social. Este
último, sempre submetido de certa forma a particularidades.
A multiplicidade de filosofias individuais em nome de uma história total, na ótica de
Certeau, nada mais é do que um fragmentado quadro demonstrativo que possibilita a
análise de que a relatividade histórica está calçada na fragmentação, caracterizando
assim, o não dito. E o fato, de que os enunciados, na linguagem de análise, são
previamente e|ou anteriormente escolhidos, sem ao menos passarem pela simples
observação, reforça o pensamento do autor no que se refere especificamente a facilidade
de falsificações.
A pesquisa histórica é movimentada pela localização sócio cultural de quem a
realiza, portanto é praticamente impossível examinar um discurso sob a ótica
independente da instituição. Os filósofos divergiam entre si, mas ainda assim, através de
suas poderosas instituições, formava um grupo isolável particular da sociedade. Foi R.
Aron, que acabou substituindo o privilégio silencioso de um lugar, por um outro,
poderoso e discutível de um produto.E foi a instituição do saber (relação de um sujeito
com o objeto), que marcou a origem das ciências modernas. Portanto, a relação
intrínseca entre uma instituição social e a definição do saber, proporcionou a
especialização de instituições políticas, eclesiásticas etc. O que ocasionou a
redistribuição do espaço social, também chamado de fundação de “corpos”.
Um lugar científico foi constituído, após o endurecimento das universidades ao se
fecharem, num momento bastante crítico. E, a relativa retirada dos assuntos religiosos e
públicos, possibilitou a instauração de uma instituição de saber indissociável.
Segundo as pesquisa de Habernas, uma “repolitização das ciências humanas se impõe:
não se poderia dar conta dela, ou permitir-lhe o progresso sem uma teoria crítica de sua
situação atual na sociedade”. Concordo plenamente com o autor, pois na verdade é de
total leviandade toda e qualquer mudança, que não seja antes discutida, avaliada,
principalmente no papel que exerce de positivo na sociedade.
Uma mudança de sociedade, no entanto, permite ao historiador, conforme o texto, um
distanciamento com relação aquilo que se torna globalmente um passado.
De acordo ainda com o seu pensamento, o historiador ao trabalhar nas margens, a vagar
nas sombras, distante do paraíso de uma história global, transita no lado oposto das
racionalizações adquiridas, caminha por desvios, cercados por regiões exploradas,
como: o mundo esquecido dos camponeses, a loucura, a feitiçaria, etc. Transita,
portanto, pelas zonas silenciosas.
As ausências, as ressignificações e as finitudes são inerentes à História. A
história da historiografia é a prova e o relato das mudanças, da finitude, das variações de
sentidos, de valores e de usos da História. Ela é a realização concreta da mudança no
tempo.
Apesar de a história ter sido fragmentada numa pluralidade de histórias, havia
evolução e o conhecimento histórico restabelecia o mesmo pela relação comum.
Atualmente, (para o autor), o conhecimento histórico é julgado melhor por sua
capacidade de medir exatamente os desvios, não só quantitativos, mas também
qualitativos. A operação histórica tem efeito duplo; por um lado, historiza o atual e por
outro lado, a imagem do passado mantém o valor de primeiro representar aquilo que
falta.
A operação que faz passar da prática da investigação à escrita, causa estranheza
ao autor, devido naturalmente ao processo de investigação, por exemplo, poder ser
interminável, enquanto que um texto, obrigatoriamente tem que possuir um final
estruturado. E ainda sob o olhar de suas observações, conclui que a escrita história ainda
hoje permanece controlada pelas práticas, sendo ela própria uma prática social. Confere
ao leitor, portanto, um lugar pré estabelecido, distribuindo o espaço. Mas ao mesmo
tempo, tem o regulamento ambivalente “de fazer história”. E, como disse Jean
-Pierre Faye, de impor violências de um poder e de fornecer escapatórias.
A escrita dispensa na cronologia de todo o relato, a um não dito que é o seu
apostolado. “A lei sempre tira partido daquilo que escreve”. A cronologia tem o papel
de indicar um segundo aspecto do serviço que o tempo presta a história; ela na verdade,
contradiz a possibilidade do recorte em períodos, e a historiografia trabalha para
encontrar um presente que é o fim de um percurso longo, na história cronológica.
Onde se estabelece o lugar do morto e o lugar do leitor? Segundo o texto, marcar um
passado é dar um lugar a morte, mas ao mesmo tempo, é também redistribuir o espaço
das possibilidades, ditar de forma negativa aquilo que está por fazer e por conseqüência,
utilizar a narratividade que enterra os mortos, como um caminho de estabelecer um
lugar próprio para os vivos. “O que é que o historiador fabrica quando se torna escritor?
Seu próprio discurso deve revelá-lo”.
O texto, em si é muito complexo, com citações de vários autores e um tanto
repetitivo. No entanto, foi importante estuda-lo, pois fortificou ainda mais a minha
crença, na complexidade de opiniões entre os autores historiadores e que cada um
possui diferenciados pontos de vista, por vezes, sobre vários assuntos; que divergem
entre se, deixando evidente que não existe verdade absoluta e que a interferência do
homem na natureza e em tudo que ele se propõe a fazer, causa transformações. No caso
especifico de Certeau, a sua projeção aconteceu fora dos muros eclesiásticos, devido a
revolução estudantil de 1968, que ao contrário de muitos intelectuais, Certeau
simpatizou com as reivindicações dos estudantes, com as suas inconformações.
CONCLUSÃO DA QUESTÃO:
Sendo assim, entendemos que a História e a Narrativa se complementam, se intercalam,
se utilizam uma da outra, mas não ensinam ofício e não se findam com o tempo. O que
permite a pesquisa são as questões, as problematizações, como se justificam, quais são
as hipóteses e dúvidas ao longo do percurso. E toda a construção teórico-metodológica
da pesquisa é histórica, datada e faz parte de um lugar, de um tempo, de um meio social
e de situações políticas, ou seja, de condições que não se repetem.