Você está na página 1de 4

INTOLERÂNCIAS: RACISMO, MACHISMO E HOMOFOBIA

OBJETIVO ESPECÍFICO: apresentar o dever ético dos espíritas diante dos debates sobre a luta das
minorias, lembrando o mandamento do Cristo: “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti
mesmo”.

INTOLERÂNCIAS
Ailton Krenak, um importante indigenista brasileiro, nos relata o seu encontro com um yanomami
em um momento da história em que esse grupo indígena nada sabia sobre a existência de outros povos
além deles mesmos na Terra. É um tempo recente, na década de 1980. Krenak é indagado pelo índio e
responde que há mais brancos sobre a Terra do que as aves do céu ou as formigas sobre a terra. E fica
deveras encantado com as duas interrogações do índio: 1) o que eles comem? 2) Onde jogam fora o seu
lixo? Essas são as perguntas iniciais que gostaria de começar nessa explanação: o que comemos, o que
trazemos para dentro, o que nos serve de alimento para o nosso corpo e para a nossa alma? E o que
jogamos fora, em que excedemos e de que forma estamos contribuindo para a sintonia desse planeta?
Os povos indígenas, que são muitos no Brasil – estima-se que eram 10 milhões antes dos europeus
chegarem e hoje não passam de 500 mil divididos em centenas de tribos –, merecem o nosso respeito e
suportam secularmente o nosso desrespeito. A visão de família, de unidade entre os irmãos, de entender
que família é tudo o que existe – o seu antepassado é também a árvore, os rios e as águas, é incrível. Os
índios que tem a consciência de si percebem-se como grupo. Existem para coexistir. Sobre isso, inclusive,
nos alerta outro indigenista famoso, Kaka Werá, que nos lembra que os grupos do alto Xingu começam as
suas cerimônias dizendo “por todas as nossas relações”. E vocês já repararam se há alguém que fica triste
quando está em volta da natureza? Difícil. A natureza de fora nos traz paz e alegria porque de uma certa
forma, compreendemos a beleza e a harmonia da presença de Deus na natureza. Aprender que os pássaros
voam e não deixam rastros. Aprender que grupos de aves podem estar no mesmo espaço e cada espécie
espera a sua hora específica para o voo é incrível. E nós, os seres pensantes do Planetinha queremos
outras razões para nos explicar nas diferenças e não encontramos. Por quê?
Há exageros muito maiores do que podemos suportar. Ainda assim, suportamos e utilizamos esses
exageros no nosso dia a dia. Carregamos pesos, não nos livramos deles porque não estamos querendo
procurar onde estão esses pesos e, principalmente, não refletimos sobre por que carregamos esses pesos.
E costumamos dizer aos nossos que “é da natureza humana”.
Quando falamos de intolerância o que me vem primeiro é o estudo do seu radical – aliás, essa será
a tônica desses 40 minutos, entender as palavras e seus significados e como depois damos sentidos a elas.
Pois bem, intolerância tem em seu radical a palavra “troll”, suportar em grego. E o in é “não”.
Intolerância, portanto, é “não suportar”. E o que nos leva a suportar/ não suportar algo?
Eu gosto muito do Leonardo Boff. Pra falar de intolerância, não pensei em ninguém melhor do
que ele. Aliás, difícil encontrar na atualidade um religioso tão tolerante. Boff escreveu um artigo em
2015, logo depois do assassinato de jornalistas franceses da revista Charlie Hebdo, especializada em
estereotipar e ridicularizar muçulmanos e trouxe esse caso específico para a realidade brasileira. Então
Boff se pergunta: “será que o povo brasileiro é cordial?” A resposta é “sim”, mas não a cordialidade
humana e empática. A cordialidade passional. De agir com um lado do coração que não pensa. Então Boff
começa a discorrer sobre o ódio de classe que há no Brasil. De classe, racial e sexual, temas da nossa
intervenção. Começou a trazer essa intolerância para os debates políticos que se seguiram no Brasil e que
perduram nas redes sociais. E levanta uma questão muito interessante: nós somos polos, simbólicos e
diabólicos, de luz e de trevas, mas fazemos parte da mesma engrenagem do Universo. Então precisamos
aprender a conviver em harmonia. Os princípios existem para que possamos existir. Os polos diferentes
existem para que precisemos aprender a coexistir.
E aí Boff coloca a intolerância como risco permanente porque assume apenas uma das condições e
nega a outra condição. Coage a assumir o seu polo e anula o outro. Não há nem reconhecimento, nem
respeito. E observa mais, observa por exemplo a existência de uma “tolerância ativa” que aceita que o
outro existe mas simplesmente porque não consegue evitar que esse outro exista – não vê valor nesse
outro.
Então, muito mais do que o exercício da tolerância, precisamos exercitar a tolerância ATIVA, a
que consiste nessa coexistência, o convívio positivo, a diferença valorizada e o enriquecimento que essa
diferença traz às nossas existências.
E aí Boff lança em determinado ponto do artigo uma frase sensacional: “A tolerância é antes de
mais nada uma exigência ética. Ela representa o direito que cada pessoa possui de ser aquilo que é e de
continuar a sê-lo”. É uma regra de ouro o “faça aos outros o que gostaria que fizessem com você” ou
vice-versa. E voltamos aos índios, que entendem essa unidade presente na natureza, entendem esse direito
de conviver, existir. De ser.

RACISMO
MACHISMO
HOMOFOBIA
ÉTICA
A ética vem do grego “ethika” é a “parte da filosofia que estuda os valores morais e os princípios
ideais da conduta humana”.
Três filósofos contemporâneos nos ajudam a entender a ética. O primeiro deles é Clóvis Barros
Filho. O mesmo diz que a moral é aquilo que não fazemos de jeito nenhum, mesmo que fôssemos
invisíveis ou que ninguém estivesse nos olhando.
Clóvis Barros diz que as questões da filosofia se relacionam ao conhecimento, ao belo e ao moral
– o que devemos ou não fazer. Moral é a liberdade, não a repressão. O bem é o coração da moral.
Já para Leandro Karnal, moral e ética são históricas (como as questões bíblicas – jogar slides). A
moral e a ética falam sobre valores (é preciso fazer uma leitura). Sendo assim, podemos pensar, a partir de
Karnal, o que é histórico no movimento espírita? Por que um Seminário sobre intolerância é histórico, por
exemplo?
Ainda pensando na interpretação de Karnal, de que os valores são acordos sociais e históricos,
simbólicos e não absolutos, podemos pensar a submissão das mulheres a escravidão negra e os
homossexuais na fogueira como a ética do seu tempo. Podemos pensar os avanços nos direitos das
mulheres brasileiras, em 1934, a abolição da escravidão, em 1888, e a homossexualidade não ser
entendida como doença no Brasil em 1985 como um avanço. E podemos, por fim, pensar a Constituição
de 1988 em toda a sua construção como um avanço. Por isso é que, a partir de Karnal, podemos refletir
quanto a importância de discutir princípios no espaço tempo pois eles facilitam a coexistência naquele
espaço-tempo.
Já Mário Sério Cortella entende a ética como um conjunto de princípios que nos ajudam a
entender as 3 grandes questões da vida: quero, devo e posso: tem coisa que quero mas não devo; tem
coisa que devo mas não posso e tem coisa que posso mas não quero. E quando você consegue alinhar
esses 3, você é moral.
Para o autor, não existe ninguém que não tenha ética, pois sabe o que deve ser feito – são os
antiéticos. Cortella explica ainda que a pessoa amoral é aquela que não pode decidir sem julgar (crianças
ou idosos com alzheimeir, por exemplo)
Em suma, para Cortella, a moral é a prática da concepção ética (ética é o princípio e a moral é a
prática).

DEVER ÉTICO ESPÍRITA


Quando li os objetivos gerais e identifiquei na leitura “o espírita tem o dever ético”, eu fiquei
grilada. Primeiro recorri a uma matéria que tinha acabado de ler de um blog chamado “Letra espírita” que
se intitulava “Perfil do Espírita Brasileiro” (falar dessa reportagem em linhas gerais) e recorri ao meu
anjinho guardião. E ele não só me fez fazer essa pesquisa de significados como atribuiu sentidos a esses
significados fazendo com que eu bebesse de outras fontes filosóficas e morais. E atemporais, como o
amor.
A ética cristã é a preconizada por Jesus. Para Jesus, o amor é a moral essencial. A ética cristã,
portanto, reside no amor e na caridade, que nada mais é do que o amor em movimento. Se nos inspiramos
em Cortella, o amor é a ética e a caridade, a moral.
O dever ético espírita reconduz à ética cristã à sua pureza original.
Mas o mais interessante é que em nenhuma obra kardequiana a palavra ética está presente. O
Espiritismo fala de moral. Aliás, tem toda uma parte, a terceira parte falando das Leis Morais, dividida em
10 tomos: Adoração, Trabalho, Reprodução, Conservação, Destruição, Sociedade, Progresso, Igualdade,
Liberdade, Justiça, amor e caridade. Essa última então, vai mais além, onde queremos chegar. Fala do
adiantamento espiritual, e por isso, resume todas as outras, pois se “funda na certeza do futuro”.
Há questões bem interessantes para a análise; Por exemplo, a 629, que entende a moral como regra
do bem proceder; a 630 que diz que o bem são as leis de Deus e o mal tudo que é contrário às leis de
Deus; a 125, que fala dos objetivos da encarnação – evoluir e contribuir com a nossa parte na obra da
criação; a 621, que entende Jesus como guia e modelo, 625, que diz que as leis de Deus estão escritas na
nossa consciência, a 647, que pergunta diretamente se a lei de Deus está toda contida no preceito de amor
ensinado por Jesus, a que os espíritos respondem “Certamente, esse preceito encerra todos os deveres dos
homens uns para com os outros”.
Galera, caridade é mérito. Paixão é excesso (907); Egoísmo e orgulho são chagas e do egoísmo
deriva todo mal (913); o egoísmo só será extirpado com predomínio da vida moral sobre a material e será
combatido pela educação (917).
E por fim, “reconhece o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelo esforço que
emprega para domar suas más inclinações” (ESE., XVII, 4)
O homem de bem (918), “prática da Lei de Justiça, amor e caridade na sua maior pureza”.
É possível? Sim! Olha Chico Xavier aí – ético de valioso concurso moral!
Haroldo Dutra, no final de uma palestra, foi interrogado e a pessoa publicou a resposta no
youtube. A pergunta era se há diferenças entre juízes e juízes espíritas. Haroldo respondeu: “O juiz
espírita não julga o homem, julga o caso” – quem é o juiz de tudo é Deus, ele conhece a amplidão dos
acontecimentos (lembrança do filme “A cabana”)
Para que todos vivam bem, as leis precisam ser cumpridas. Leis Morais

AMAR AO PRÓXIMO COMO A TI MESMO

OBSERVAÇÕES FINAIS

Para finalizar é preciso pensar na construção do autoamor. É legal pensar aqui que o “Amar ao
próximo” nunca foi tão atual. E o “como a ti mesmo”, mais urgente ainda. Amor na lei de amor (e na
beleza dessa palavra por Jesus), próximo a gente pensa no “quem é o meu próximo?” na passagem do
Bom Samaritano e a ti mesmo, no autoconhecimento e, consequentemente, no autoamor.

Divaldo Franco nos auxilia a diferenciar o autoamor do egoísmo. Para o mesmo, o autoamor é a
valorização do lado bom, encontro o egoísmo é o culto ao ego, amor ao ego. Essa valorização do lado
bom está presente, por exemplo, em OLE, questão 919, quando os espíritos respondem à Kardec quando
questiona para ser feliz e dominar as más inclinações, é retomar a fala de Sócrates, quando lê no Oráculo
de Delfos, “Conhece-te a ti mesmo”. Inclusive Santo Agostinho complementa essa mensagem, quando
diz que devemos fazer uma avaliação honesta sobre nós mesmos.

O autoamor é busca profunda e intensa. Ali está ligado ao perdão e a também à estima, à
consideração e ao afeto.

Há um exercício que sempre podemos fazer na vida: andar e olhar no fundo de cada rosto.

É legal entender que o perdoar é o não revidar, no autoperdão, nos ferimos e precisamos parar de
nos ferir.

No autoamor há o despertar da consciência (amor), quer se cuidar. No Egoísmo, há o culto ao ego,


o amor é negociar. Um é o “você pode ser feliz com quem quiser, o que importa é você ser feliz”. O outro
é “você só pode ser feliz comigo”. O amor é negociado porque o egoísmo é querer as pessoas como se
fossem coisas. É querer as coisas para si (posse). No autoamor há a gratidão pela resposta que vem.

A Monja Coen contribui para essa construção em seu vídeo “Como desenvolver o amor próprio,
porque nos faz perguntar para nós mesmos porque temos baixa autoestima. Nos convida também a dizer o
que é bom para nós, a deixarmos de lado nossas comparações, a apreciar nossa vida e a ser quem nós
somos!

Eu, Rosalia, espírita, tenho como dever amar ao meu próximo, seja ele quem for. O cristianismo
não me dá o direito de legislar sobre a vida de ninguém!

Você também pode gostar