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Indaial – 2019
2a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2019
Elaboração:
Prof.ª Luana Ewald
Prof.ª Danielle Vanessa Costa Sousa
EW94s
Ewald, Luana
ISBN 978-85-515-0403-1
CDD 400
Impresso por:
Apresentação
Caro acadêmico, este livro didático pretende oferecer uma porta de
entrada para os estudos sociolinguísticos e sua contribuição para a educação
básica brasileira. A sociolinguística é uma das áreas de conhecimento da
linguística, cuja responsabilidade está ligada aos estudos da linguagem
sob uma abordagem social. Ao pensarmos sobre o olhar que os estudos
sociolinguísticos lançam para a língua, entramos em uma perspectiva que
leva em conta aquilo que os falantes efetivamente usam em seu dia a dia e
que, na maioria das vezes, está bastante distante da prescrição feita pelas
gramáticas tradicionais. Esse distanciamento, no entanto, é natural.
III
pelo ensino tradicional da língua. O que pretendemos, na verdade, é que a
disciplina de língua portuguesa permita ao aluno da educação básica refletir
sobre seus conhecimentos linguísticos, sobre a norma-padrão da língua,
sobre os textos que circulam socialmente e passe a utilizar a linguagem
adequadamente na sociedade, legitimando sua própria variedade e tendo
acesso às variedades prestigiadas do país.
NOTA
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.
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UNI
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LEMBRETE
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
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VIII
Sumário
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS
E À SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA.....................................................1
IX
TÓPICO 2 – ALTERNÂNCIAS DE LÍNGUAS, BILINGUISMO E
ESTRATÉGIAS LINGUÍSTICAS.................................................................................95
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................95
2 ALTERNÂNCIA DE LÍNGUAS........................................................................................................96
2.1 ALTERNÂNCIA DE LÍNGUAS E BILINGUISMO . .................................................................101
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................103
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................105
REFERÊNCIAS........................................................................................................................................175
X
UNIDADE 1
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1
INTRODUÇÃO À SOCIOLINGUÍSTICA
1 INTRODUÇÃO
A sociolinguística é tratada, de maneira geral, como o ramo da linguística
que estuda a língua(gem) a partir de suas relações com a sociedade. Você verá, ao
longo deste tópico, como ocorreu a constituição desse campo científico de estudos.
NOTA
Neste livro, muitas vezes, você se deparará com o termo língua como palavra
equivalente à linguagem. Isto porque estamos entendendo a linguagem como uma forma de
comunicação, seja de modo verbal ou não verbal. A língua, na presente disciplina, é estudada
no seu contexto de comunicação verbal. Por isso, usamos língua(gem) como um recurso
para identificar o estudo da língua socialmente situado.
3
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS E À SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
Talvez seja difícil pensar no estudo da língua como ciência, dada a nossa
tradição escolar pautada exclusivamente nas gramáticas normativas, que tendem
a realizar apagamentos acerca da reflexão sobre fenômenos da fala e da própria
escrita. Nesse sentido, tendemos a simplificar, em contexto escolar, o processo
de compreender fenômenos da linguagem ao apenas prescrevermos de forma
subjetiva regras da gramática tradicional.
4
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À SOCIOLINGUÍSTICA
NOTA
Você deve ter notado o uso dos verbos no pretérito acerca das ações da
linguística estruturalista (como em “ocorreu a autonomia científica”; ou em “muito diferente
do que se fazia na linguística estruturalista”). Isto se deve apenas ao fato de a autonomia da
ciência em questão já ter se concretizado e ao fato de Saussure ter falecido (em 1913), o que
implica o impedimento da continuidade de seus estudos de forma direta. Contudo, vale alertar
que o estruturalismo ainda é uma abordagem importante na linguística e que continuou
em aprimoramento científico mesmo com o surgimento de novas escolas de pensamento.
Por entenderem que o estruturalismo não compreende a linguagem em sua completude,
alguns linguistas passaram a adotar outras perspectivas de estudo, como a abordagem social
da sociolinguística, a fim de responder a novas perguntas de pesquisa que surgiam sobre a
linguagem com o passar dos anos. Para compreender melhor os estudos estruturais, que não
se constituem como foco deste material didático, recomendamos a leitura do texto disponível
on-line “Por que ainda ler Saussure?”, publicado no livro “Saussure: a invenção da linguística”:
FIORIN, José Luiz; FLORES, Valdir do Nascimento e BARBISAN, Leci Borges (Orgs.). Saussure: a
invenção da linguística. São Paulo: Contexto, 2013, 174 p. Disponível em:
<https://editoracontexto.com.br/downloads/dl/file/id/1523/saussure_a_invenc_o_da_
linguistica_apresentac_o.pdf>. Acesso em: 11 jan. 2018.
5
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS E À SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
NOTA
6
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À SOCIOLINGUÍSTICA
E
IMPORTANT
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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS E À SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
O linguista francês Antoine Meillet (1866 – 1936), tido como um dos mais
brilhantes alunos de Saussure (MARRA; MILANI, 2012), é considerado precursor
nesse pensamento social sobre a linguagem. “Entre os anos de 1905 e 1906,
pouco tempo antes de Saussure iniciar o Curso em Genebra, Meillet, enquanto
contribuía com o jornal de Durkheim, definiu linguagem como um fato social
[...]” (MARRA; MILANI, 2012, p. 69).
8
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À SOCIOLINGUÍSTICA
NOTA
Ficou mais fácil de compreender por que existe uma defesa para estudar
a linguagem levando em consideração os seus fatores internos e externos? Mais
adiante, ao longo da Unidade 2, retomaremos esses fatores para que possamos
iniciar nossas próprias análises sociolinguísticas.
E
IMPORTANT
9
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS E À SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
DICAS
SAUSSURE MEILLET
Opõe linguística interna e linguística Associa linguística interna e
ABORDAGEM
externa (focando na interna); desenvolve linguística externa; desenvolve uma
INTERNA E
uma linguística terminológica para linguística programática ao levar em
EXTERNA
embasar teoricamente essa ciência. conta o caráter social da língua.
Distingue abordagem sincrônica de
ABORDAGEM Une a abordagem sincrônica à
abordagem diacrônica (focando na
DA SINCRONIA diacrônica; busca explicar a estrutura
sincrônica); distancia estrutura de
E DIACRONIA da língua pela história.
história.
Ao procurar explicar a estrutura
LÍNGUA: Busca elaborar um modelo abstrato
da língua pela história, se vê em
ABSTRATA OU da língua, separando-a da fala e
conflito entre o fato social e o sistema
SOCIAL estudando exclusivamente sua forma.
linguístico.
É somente em dada comunidade que
O princípio de língua como um fato
a língua é social, pois não analisa as
social é central. A “linguística é uma
marcas sociais que o falante produz
LÍNGUA COMO ciência social, e o único elemento
na língua. A instituição social é um
INSTITUIÇÃO variável ao qual se pode recorrer
princípio apenas geral, pois restringe-
SOCIAL para dar conta da variação linguística
se a uma linguística formal, à língua
é a mudança social” (MEILLET, 1965,
“em si mesma e por si mesma”
p. 17 apud CALVET, 2002, p. 16).
(CALVET, 2002, p. 16).
10
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À SOCIOLINGUÍSTICA
Essa oposição permitiu a constituição, anos mais tarde, de uma nova disciplina
na linguística (a sociolinguística), que, ao insistir nas funções sociais da língua,
funda-se contraditória ao enfoque exclusivo dado à sua forma.
De acordo com Calvet (2002), Meillet não soube perceber esse desafio
nos estudos linguísticos, o qual sinalizava para a necessidade de “explicar todos
os fatos das línguas (tanto sincrônicos como diacrônicos) em relação constante
com a sociedade da qual essas línguas são o meio de expressão. Explicar e
não meramente descrever” (CALVET, 2002, p. 144, grifo no original). Para que
possamos compreender essa realidade linguística, o porquê da variação e
mudança linguística, das atitudes e ações sobre as línguas, precisamos encarar
uma perspectiva social na linguística.
11
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS E À SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
E
IMPORTANT
12
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À SOCIOLINGUÍSTICA
Você já deve ter notado, aqui, que para tratar da variação e mudança
linguística, foi necessário romper com as dicotomias saussurianas para estudar
a língua tanto pela sincronia quanto pela diacronia e unir os fatores externos
aos internos da língua. No próximo tópico, veremos mais detalhadamente as
relações entre língua e sociedade estudadas pela sociolinguística. Mas, antes de
prosseguirmos, vejamos também, de forma sucinta, uma leitura complementar
que poderá contribuir para sua compreensão sobre a sociolinguística, além de
tópicos pontuais do que estudamos até o momento. Por fim, convidamos você a
colocar em prática os conhecimentos construídos por meio de algumas atividades.
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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS E À SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
LEITURA COMPLEMENTAR
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
[...]
A relação entre linguagem e sociedade, reconhecida, mas nem sempre
assumida como determinante, encontra-se diretamente ligada à questão da
determinação do objeto de estudo da Linguística. Isto é, embora admita-se que a
relação linguagem-sociedade seja evidente por si só, é possível privilegiar uma
determinada óptica, e esta decisão repercute na visão que se tem do fenômeno
linguístico, de sua natureza e caracterização. Nesse sentido, a Linguística do século
XX teve um papel decisivo na questão da consideração da relação linguagem-
sociedade: é esta que se encarrega de excluir toda consideração de natureza social,
histórica e cultural na observação, descrição, análise, e interpretação do fenômeno
linguístico. Referimo-nos, aqui, à constituição da tradição estruturalista, iniciada
por Saussure em seu Curso de Linguística Geral, em 1916. É Saussure quem define
a língua, por oposição à fala, como o objeto central da Linguística. Na visão do
autor, a língua é o sistema subjacente à atividade da fala, mais concretamente, é o
sistema invariante que pode ser abstraído das múltiplas variações observáveis da
fala. Da fala, se ocupará a Estilística, ou, mais amplamente, a Linguística Externa.
A Linguística, propriamente dita, terá como tarefa descrever o sistema formal, a
língua. Inaugura-se, assim, a chamada abordagem imanente da língua que, em
termos saussurianos, significa “afastar tudo o que lhe seja estranho ao organismo,
ao sistema” (SAUSSURE, 1981, p. 17) [...].
O esboço feito até aqui pode ser reduzido a uma afirmação muito simples:
a questão da relação é óbvia e complexa ao mesmo tempo. Sabemos que é inegável,
mas também, que a passagem do social ao linguístico – e do Linguístico ao social
– não é feita com tranquilidade. Não há consenso sobre o modo de tratar e de
explicar a questão da relação entre linguagem e sociedade: o fato é que o lugar
reservado a essa consideração constitui um dos grandes “divisores de águas” no
campo da reflexão da Linguística contemporânea.
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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS E À SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
16
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À SOCIOLINGUÍSTICA
origem estrangeira. Três obras referenciais foram organizadas a partir dos trabalhos
apresentados nesse congresso: Ferguson (1965) Directions in Sociolinguistics: reporto
on a interdisciplinar seminar, Lierberson (1966) (ed.) Explorations in Sociolinguistics, e
Schuy (1964) (ed.) Social dialects and language learning.
17
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS E À SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
FONTE: ALKMIN, Tânia Maria. Sociolinguística: parte 1. In: MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Anna
C. (Orgs.). Introdução à linguística: domínios e fronteiras. V. 1. São Paulo: Cortez, 2001, p. 21-47.
18
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
19
• Os sociolinguistas contemporâneos entendem que para que possamos
compreender a realidade linguística, o porquê da variação e mudança
linguística, das atitudes e ações sobre as línguas, precisamos encarar uma
perspectiva social na linguística.
20
AUTOATIVIDADE
1 A partir de suas leituras sobre a sociolinguística, você deve ter percebido que
ela se constitui como um campo científico do estudo da língua, associado à
própria linguística. Para auxiliar na sua apropriação de conhecimento acerca
dessa disciplina, montamos para você um roteiro de leitura, com o qual você
poderá registrar suas inferências a partir das seguintes perguntas:
a) Por que houve a necessidade de iniciar uma nova escola de pensamento para os
estudos linguísticos se o estruturalismo já marcava a linguística como ciência?
b) Quando e onde passamos a chamar os estudos que relacionam a sociedade e
a linguística como sociolinguística?
c) Qual é o pressuposto básico da sociolinguística?
d) Qual o objeto de estudos da sociolinguística?
e) Quem é reconhecido como o principal fundador da sociolinguística
variacionista?
f) O que você entende por heterogeneidade e variação linguística?
21
3 Leia o fragmento do texto a seguir a respeito da linguística moderna saussuriana:
FONTE: FIORIN, José Luiz; FLORES, Valdir do Nascimento e BARBISAN, Leci Borges. (Orgs.).
Saussure: a invenção da Linguística. São Paulo: Contexto, 2013.174 p.
5 Neste tópico, você viu que Meillet foi um dos primeiros linguistas a se contrapor
à corrente estruturalista, embora tenham sido os estudiosos estadunidenses,
apenas na década de 1960, que receberam maior destaque para formulação da
nova escola de pensamento denominada sociolinguística. Sobre os principais
pressupostos da sociolinguística, analise as proposições a seguir:
22
a) ( ) I e II.
b) ( ) I, II e III.
c) ( ) II, apenas.
d) ( ) II e III.
e) ( ) I e III.
23
24
UNIDADE 1
TÓPICO 2
1 INTRODUÇÃO
Como falante da língua portuguesa, você já deve ter observado quantas
pessoas, falantes dessa mesma língua, possuem um “sotaque” diferente do seu
(como no exemplo da pronúncia da palavra Pernambuco, mencionada no tópico
anterior). Você também já deve ter percebido que há várias pessoas que fazem
seleções de “palavras diferentes” que você para descrever um mesmo fenômeno
ou objeto (como é o caso da escolha entre as palavras biscoito e bolacha), ou ainda,
que construam “frases cujas formas sejam diferentes” das suas (como em “eu não
falei”, “eu não falei não”, “falei não”...).
25
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS E À SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
Como afirma Silva (2001, p. 11), faz parte do “conhecimento comum” das
pessoas “falar sobre” a linguagem e discutir aspectos relacionados às propriedades
das línguas que conhece[m]. [...] Contudo, há um ramo da ciência cujo objeto
de estudo é a linguagem”. Esse ramo, conforme já introduzido no Tópico 1, é
a linguística, responsável por “determinar os princípios e as características
que regulam as estruturas das línguas” (SILVA, 2001, p. 11). A sociolinguística,
como uma das disciplinas da linguística, entende que uma língua não pode ser
compreendida puramente pelo seu escopo linguístico, pois precisamos da relação
língua e sociedade para explicarmos diversos fenômenos linguísticos.
26
TÓPICO 2 | RELAÇÕES ENTRE LÍNGUA E SOCIEDADE
FONTE: <https://i1.wp.com/starkeycomics.com/wp-content/uploads/2019/04/Prescriptive-
Zoology.jpg?fit=1199%2C1400&ssl=1>. Acesso em: 24 abr. 2019 (tradução nossa)
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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS E À SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
No quadro três, entra a relação de erro: “Isso é um erro. Sua espécie deve ter
apenas nove faixas. Eduque-se”. É comum que subjuguemos como simplesmente
erro uma forma inovadora da língua, que se afasta da norma-padrão, e não
busquemos compreendê-la como regularidade dentro dos aspectos linguísticos
e extralinguísticos. Diante de tudo isso, veja o absurdo que seria pedir para a
língua parar de “evoluir”, ou melhor, parar de mudar, assim como ocorreu no
quadrinho quatro com uma espécie animal.
28
TÓPICO 2 | RELAÇÕES ENTRE LÍNGUA E SOCIEDADE
E
IMPORTANT
Easy segujmos nosso caminho per este mar delomgo ataa terça feira
doitauas de pascoa que foram xxj dias dabril que topamos alguus
synaaesde terá seemdo da dita jlha segundo os pilotos deziam obra de
bjc lx ou lxx legoas . os quaaes herã muita camtidade deruas compridas
aque os mareantes chama botelho [...] (PERO VAZ DE CAMINHA
1500 apud BAGNO, 2007, p. 165).
29
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS E À SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
30
TÓPICO 2 | RELAÇÕES ENTRE LÍNGUA E SOCIEDADE
Diante do que você viu até o momento, já deve ter compreendido que,
para estudarmos a variação linguística, precisamos sempre levar em consideração
a realidade das relações sociais dos falantes. Sempre que um falante utiliza a
língua, o faz dentro de uma variedade linguística relativa ao seu grupo social,
seu contexto comunicativo, sua origem geográfica etc. Continue sua leitura para
refletir, a seguir, a noção de erro construída socialmente sobre certas variedades.
NOTA
E
IMPORTANT
32
TÓPICO 2 | RELAÇÕES ENTRE LÍNGUA E SOCIEDADE
E
IMPORTANT
Como estamos defendendo um posicionamento de que não há formas certas
ou erradas da língua falada, mas adequadas e inadequadas ao seu contexto de comunicação,
levamos em consideração que todo falante de uma língua é capaz de desenvolver sua
competência comunicativa. Todo falante nativo aprende a falar sua língua na convivência
com outros falantes, e por isso mesmo, inserido em algum grupo social (ou melhor,
comunidade de fala), aprende a falar de um determinado modo. No entanto, ao longo da
vida, esse mesmo falante aprende a mudar certos aspectos da forma que fala a língua, de
acordo com suas necessidades sociais.
A essa habilidade, Fishman (1972 apud ALCKIMIN, 2001) atribui a denominação de
competência comunicativa e sociolinguística, adquirida de forma lenta e inconsciente por
cada falante. Dessa forma, é possível afirmar que cada um de nós conhece suficientemente
bem a língua que fala. Diante disso, é capaz de desempenhar, socialmente, habilidades
contextuais e discursivas (estabelecendo sentido na conexão de orações e frases mesmo
que, muitas vezes, não conheça a nomenclatura utilizada na gramática normativa). Os
conhecimentos que temos sobre a língua nos permitem fazer uso da linguagem para dar
uma ordem ou optar por uma expressão equivalente mais modalizada (no sentido de realizar
um pedido), “como em “saiam daqui, já!” ou “por favor, dirijam-se à saída”; se é oportuno dizer
“tô fora” ou “não vai ser possível”; ou, ainda, “a gente não sabia” ou “não sabíamos”, ou ainda
“desconhecíamos”” (ALCKIMIN, 2001, p. 37-38).
Diante do que você estudou até agora, já deve ter percebido que, para
a sociolinguística, não há língua melhor ou pior que outra, não existem formas
da língua que sejam mais evoluídas que outras, tendo em vista que todas elas
permitem a interação entre os falantes quando situadas em seus contextos de
usos. Quando novas demandas sociais surgem, novas palavras ou formas
comunicativas também surgem (o que visualizamos com bastante nitidez nos
meios de comunicação digital), comprovando a mudança linguística como
constitutiva das línguas. As línguas mudam continuamente, conforme você pode
observar também nos estudos da filologia da língua portuguesa.
33
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS E À SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
Nos nossos estudos, como você pode observar, não lidamos com erros, já
que toda variedade linguística utilizada por uma comunidade de fala é reconhecida
e, por tanto, legítima para comunicar. Isso não significa dizer, contudo, que o
falante não se adéque a certos contextos de usos da língua (lembra-se da variação
diastrática? Nela, há a mudança de estilo, por exemplo, que depende do contexto
social no qual o falante se insere).
34
TÓPICO 2 | RELAÇÕES ENTRE LÍNGUA E SOCIEDADE
DICAS
35
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS E À SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
NOTA
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TÓPICO 2 | RELAÇÕES ENTRE LÍNGUA E SOCIEDADE
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RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• Todo falante nativo aprende a falar sua língua na convivência com outros
falantes, e por isso mesmo, inserido em uma comunidade de fala, aprende a
variedade linguística dessa comunidade, embora também aprenda a transitar
entre diferentes modos de falar, conforme sua necessidade social. O falante
desempenha certas habilidades contextuais socialmente, bem como discursivas,
de acordo com sua competência comunicativa e sociolinguística.
39
• A divisão da língua em certo e errado NÃO é utilizada pela sociolinguística
devido à necessidade de investigação de qualquer variedade linguística como
constitutiva da língua. Tratamos, na sociolinguística, de usos adequados e
inadequados da língua para certos contextos comunicacionais. Todo falante
precisa desenvolver a habilidade de adequar a linguagem para cada situação de
uso, desenvolvendo, assim, sua competência comunicativa e sociolinguística.
40
AUTOATIVIDADE
a) ( ) Grupo de pessoas cuja fala seja homogênea entre si, a fim de caracterizar
a variedade linguística em comum.
b) ( ) Grupo de pessoas que vive em uma comunidade e fala a mesma língua,
sem variação.
c) ( ) Grupo de pessoas que fala a língua fazendo uso de normas em comum.
d) ( ) Grupo de pessoas que apresenta a variante padrão da língua
compartilhada entre si.
Contextos linguísticos
[ey] + flap [ey] e [ay] + fricativa palato-
Localidades
(dinheiro) alveolar (beijo, caixa)
Percentual PR Percentual PR
Florianópolis/SC 96% 0,32 48% 0,62
Porto Alegre/RS 99% 0,35 98% 0,46
Curitiba/PR 97% 0,79 94% 0,22
Região Sul 98% 66%
3 (ENADE, 2017)
FIGURA - VARIAÇÃO LINGUÍSTICA
A Verinha é uma gata!
De que raça?
Eu mandei ver!
E foram?
Demorô!
É que a condução atrasou
41
O texto exemplifica a variedade linguística:
a) ( ) Diatópica (geográfica).
b) ( ) Diacrônica (de tempo).
c) ( ) Diafásica (forma/informal).
d) ( ) Diamésica (modalidade oral/escrita).
e) ( ) Diastrática (camada social/profissional).
ORALIDADE E ESCRITA
Oralidade Escrita
O momento de produção e o de recepção do Há defasagem entre o momento de produção
texto são simultâneos. e o de recepção.
O autor deve antecipar possíveis dúvidas
É possível negociar o sentido com o interlocutor
do leitor e tratar de esclarecê-las ainda no
e, também, corrigir-se.
momento de produção.
O texto é coconstruído: para comunicar-se
O autor produz o texto solidariamente
melhor, os interlocutores interagem o tempo
e, depois, o leitor deve reconstruir seus
todo, usando tanto a linguagem verbal quanto
significados também sozinho.
a não verbal.
É possível revisar o texto quantas vezes for
É impossível “voltar atrás” no que foi dito.
necessário.
O processo de produção é transparente: o O processo de produção fica oculto: o leitor
interlocutor “vê” seus erros e correções. tem acesso apenas ao texto final.
É impossível consultar outras fontes durante É possível consultar outras fontes e checar as
a produção. informações.
O planejamento é global: a pessoa planeja
O planejamento é local: enquanto está falando o texto como um todo e, caso se desvie do
uma frase, a pessoa pensa na próxima. plano inicial, pode aceitar a nova ordem ou
voltar atrás.
Tende a haver maior tolerância a erros e, Tende a haver maior cobrança e, portanto,
portanto, mais informalidade. mais formalidade.
A obediência à norma padrão costuma ser
A norma padrão costuma ser seguida com mais
menos rígida. Por exemplo: as marcas do
rigor, até porque é possível revisar o texto.
plural às vezes desaparecem.
Predomínio de frases longas e complexas:
Predomínio de frases curtas e simples: “Bom dia, “Para a primeira aula, está prevista uma
pessoal! Hoje a gente vai dar uma recordada na revisão dos fundamentos de cálculo, a começar
equação de segundo grau. Vamos abrir o livro pela equação de segundo grau. Os alunos
na página 10 que eu já explico”. resolverão uma série de problemas em sala,
sob a supervisão do professor”.
Predomínio da voz ativa e da ordem direta: Uso frequente da voz passiva e da ordem indireta:
“Vamos revisar os fundamentos de cálculo”. “Serão revisados os fundamentos de cálculo”.
A b u n d â n c i a d e “ f r a s e s q u e b r a d a s ” Maior linearidade na composição das frases:
(anacolutos): “Essas optativas, precisa fazer “Para inscrever-se nas disciplinas optativas, é
o pré-requisito primeiro”. preciso ter cumprido os pré-requisitos”.
43
I- Com fundamento na sociolinguística, defendemos que a gramática normativa
se constitui como objeto de ensino da disciplina língua portuguesa
PORQUE
8 Como você está começando a ter contato com uma linguagem científica bastante
específica da área da sociolinguística, sugerimos que inicie a produção de um
glossário. Toda vez que se deparar com uma nova palavra, escreva-a em seu
glossário para futuras consultas ao longo dos seus estudos. Que tal iniciar este
glossário com as seguintes palavras: variação, variedade, variável, variante?
Para isto, construa um quadro que contenha uma coluna para a explicação de
cada um desses termos e uma para seus respectivos exemplos.
44
UNIDADE 1
TÓPICO 3
ESTUDO SOCIOLINGUÍSTICO DO
PORTUGUÊS BRASILEIRO
1 INTRODUÇÃO
A partir dos fundamentos da sociolinguística, estivemos trabalhando
com a identificação da diferença linguística na língua portuguesa. Na presente
disciplina, você começa a observar a variedade linguística inserida na comunidade
de fala, sem julgá-la em comparação com a norma-padrão.
46
TÓPICO 3 | ESTUDO SOCIOLINGUÍSTICO DO PORTUGUÊS BRASILEIRO
47
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS E À SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
NOTA
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TÓPICO 3 | ESTUDO SOCIOLINGUÍSTICO DO PORTUGUÊS BRASILEIRO
49
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS E À SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
E
IMPORTANT
É importante que você não confunda consoantes com letras dentro do contexto
que estamos lhe apresentando. Na fonética e na fonologia, as consoantes são compreendidas
como sons produzidos com alguma obstrução no trato oral (e não corresponderão de modo
direto às letras do nosso alfabeto ortográfico). Vale destacarmos que, em outras línguas, são
encontrados ainda outros símbolos que não estão representados no quadro a seguir.
Articulação Dental
Bilabial Labiodental ou Alveopalatal Palatal Velar Glotal
Maneira Lugar Alveolar
desvozeada p t k
Oclusiva
vozeada b d g
desvozeada tʃ X h
Africada
vozeada dʒ ɣ ɦ
desvozeada f s ʃ
Fricativa
vozeada v z ʒ
Nasal vozeada m n ɲ
Tepe vozeada ɾ
Vibrante vozeada r̆
Refroflexa vozeada ɹ
Lateral vozeada l ʎ lj
DICAS
50
TÓPICO 3 | ESTUDO SOCIOLINGUÍSTICO DO PORTUGUÊS BRASILEIRO
Minutagem:
0:54 O que é o IPA?
2:57 Para que servem os símbolos?
7:30 Como interpretar o IPA?
7:44 Consoantes pulmônicas
13:57 Consoantes não pulmônicas
14:30 Outros símbolos
14:45 Diacríticos
15:16 Suprasegmentos
17:22 Tons
17:47 Vogais
São vários símbolos que podem lhe parecer confusos inicialmente, já que
uma parte deles se diferencia do alfabeto ortográfico que convencionalmente
conhecemos. Por isso, vamos lhe apresentar, no quadro a seguir, exemplos de
usos desses símbolos para representar certos sons da nossa língua.
QUADRO 3 - CONSOANTES
Símbolo Exemplo em
Explicação do símbolo
Fonético palavra
[b] Baba Usado para representar o som do “b”.
Usado para representar o som de “c” e “qu” quando parecem ser
[k] Cuca, quinta, quero
pronunciadas como um “k”.
[d] Dado Usado para representar o som do “d”.
Usado para representar uma variante que parece unir “d” e “j”
[dʒ] Dia
no som de “d”.
[f] Fofo Usado para representar o som do “f”.
Usado para representar o som de “g” quando precede as vogais
[g] Gato, grande
“a, o, u” ou consoantes.
[ʒ] Já Usado para representar o som de “j”.
[l] Lá Usado para representar o som de “l” em início de sílaba.
[ʎ] Palha Usado para representar o som de “lh”.
[m] Mama Usado para representar “m” em início de sílaba.
[n] Nó Usado para representar “n” em início de sílaba.
[ɲ] Manhã Usado para representar “nh”.
[p] Pó Usado para representar “p”.
Usado para representar o “r” entre os dentes, normalmente
[ɾ] Puro, braço, prato pronunciado em palavras que possuem um único “r” entre vogais
ou em encontro consonantal.
Usado para representar o “r” vibrante, como na pronúncia do
político Michel Temer, ex-presidente do Brasil. Normalmente
[r̆] Carro, rato utilizado no encontro de dois “r” ou em “r” em início de palavra,
mas também pronunciado em palavras como porta, carta. O “r”
vibrante normalmente é encontrado no Sul do Brasil.
51
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS E À SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
Regiões Articulatórias
Anterior Central Posterior
Altura:
Fechada i u
meio-fechada e o
meio-aberta ɛ ɔ
Aberta a ɐ
Não arredondada Não arredondada arredondada
Labialização
Símbolo Exemplo em
Explicação do símbolo
Fonético palavra
[a] Pá Usado apenas quando o “a” é tônico.
[ɐ] Madeira Usado apenas quando o “a” não possui tonicidade.
[e] Bebê Usado para representar apenas o “e” fechado.
[ɛ] Pé Usado para representar apenas o “e” aberto, com em “é”.
Usado para representar o som de “i” quando constitui núcleo da sílaba
[i] Vi
(não é semivogal).
[o] Vovô Usado para representar apenas o “o” fechado.
[ɔ] Vovó Usado para representar apenas o “o” aberto, como em “ó”.
Usado para representar o som de “u”, quando núcleo da sílaba (não
[u] Urubu
é semivogal).
[ã] Manhã Usado para representar o som do “a” nasalizado.
[ẽ] Vento Usado para representar o som do “e” nasalizado.
[ĩ] Fim Usado para representar o som do “i” nasalizado.
[õ] Som Usado para representar o som do “o” nasalizado.
[ũ] Mundo Usado para representar o som do “u” nasalizado.
[y] Raiva Usado para representar o som do “i”, quando for uma semivogal.
[w] Louco Usado para representar o som do “u”, quando for uma semivogal.
então, que tenha sempre consigo os quadros que trazem exemplos de cada som
para lhe auxiliar na interpretação da variação e para que você consiga se apropriar
de cada um deles.
54
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
55
CHAMADA
56
AUTOATIVIDADE
6 Ao longo deste tópico você viu alguns conceitos importantes para tratarmos
os diferentes modos de se utilizar a língua, seja na modalidade escrita ou oral.
Assinale a alternativa que apresenta a melhor definição para norma culta:
58
9 Ouça a leitura do texto “Só de sacanagem”, com a interpretação da cantora
Ana Carolina, e preste muita atenção nas palavras destacadas:
Só de sacanagem
Elisa Lucinda - interpretado por Ana Carolina
[...]
Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então
agora eu vou sacanear: mais honesta ainda vou ficar.
Só de sacanagem!
Dirão: "Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo o mundo rouba" e eu
vou dizer: Não importa, será esse o meu carnaval, vou confiar mais e outra vez.
Eu, meu
irmão, meu filho e meus amigos, vamos pagar limpo a
quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês.
Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau.
Dirão: "É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que
veio de Portugal".
Eu direi: Não admito, minha esperança é imortal.
Eu repito, ouviram? IMORTAL!
Sei que não dá para mudar o começo, mas, se a gente quiser, vai dá para mudar
o final!
(Link para ouvir a leitura acesse: https://www.youtube.com/watch?v=cE1VuxpOshI)
59
FONTE: <http://g1.globo.com/sc/santa-catarina/jornal-do-almoco/videos/t/edicoes/v/cacau-
menezes-entrevista-ney-matogrosso/7368434/?mais_vistos=1> Acesso em: 27 ago. 2019.
b) Com base na transcrição fonética de alguns sons produzidos por Ney Mato
Grosso e por Cacau Menezes, responda: As palavras indicadas para observação
das variáveis linguísticas sinalizam para semelhanças ou diferenças entre a
fala do entrevistador e do entrevistado? Explique sua resposta.
60
UNIDADE 2
ESTUDANDO AS VARIEDADES E OS
CONTATOS LINGUÍSTICOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Esta unidade tem por objetivos:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está organizada em três tópicos. Neles, você encontrará dicas,
textos complementares, observações e atividades que lhe darão uma maior
compreensão dos temas a serem abordados.
CHAMADA
61
62
UNIDADE 2
TÓPICO 1
SOCIOLINGUÍSTICA
VARIACIONISTA
1 INTRODUÇÃO
Ao longo dos estudos da Unidade 1 do seu material de Sociolinguística,
você provavelmente notou que esta disciplina está preocupada com a descrição
das diferentes variedades que coexistem dentro de uma comunidade ou
mais comunidades de fala. Nesse sentido, não podemos confundir a língua
portuguesa com a gramática normativa dessa língua, uma vez que buscamos
compreender as variedades do português brasileiro considerando o seu contexto
social de uso. Para essa compreensão, dependemos do campo científico da
sociolinguística variacionista, que apresenta modos próprios de pesquisa. Neste
tópico, pretendemos introduzir, de forma sucinta, a metodologia de pesquisa
da sociolinguística variacionista e apresentar possibilidades para o estudo de
fenômenos linguísticos variáveis do português brasileiro.
63
UNIDADE 2 | ESTUDANDO AS VARIEDADES E OS CONTATOS LINGUÍSTICOS
E
IMPORTANT
64
TÓPICO 1 | SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
E
IMPORTANT
Em nossa sociedade, nós interagimos por meio da língua. É através dela que
a vida acontece. No entanto, isso só é possível porque essa língua é estruturada, possui
uma lógica e todos aqueles que dominam essa língua conseguem se entender, mas, se
existe uma estrutura, como é possível que a língua mude sem que o caos aconteça?
Como continuamos a nos comunicar mesmo diante das variações e das mudanças que
acontecem? Para responder a essas perguntas, a teoria da mudança busca por dados
empíricos variáveis. Para descrever esses dados, contudo, é importante que se tenham
ferramentas adequadas. Nesse sentido, a sociolinguística parte de alguns problemas (que
podem, também, ser entendidos como questionamentos) empíricos, que orientam os
estudos daqueles que buscam conhecer e compreender como é possível que “[...] tanto
língua quanto comunidade permaneçam ordenadas, embora a língua mude” (COELHO et
al., 2015, p. 76). Esses problemas, também chamados de princípios, foram propostos por
Weirich, Labov e Herzog (2006) e guiam ainda hoje os estudos sociolinguísticos.
65
UNIDADE 2 | ESTUDANDO AS VARIEDADES E OS CONTATOS LINGUÍSTICOS
66
TÓPICO 1 | SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
NOTA
67
UNIDADE 2 | ESTUDANDO AS VARIEDADES E OS CONTATOS LINGUÍSTICOS
E
IMPORTANT
68
TÓPICO 1 | SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
NOTA
E
IMPORTANT
69
UNIDADE 2 | ESTUDANDO AS VARIEDADES E OS CONTATOS LINGUÍSTICOS
Como você já deve ter percebido ao longo da sua leitura, nos nossos
estudos, procuramos trabalhar com o falante-ouvinte real, em situações reais
de linguagem, e não com um falante-ouvinte ideal, para o qual se impõe certos
modelos linguísticos. Nesse sentido, ao realizarmos uma pesquisa sociolinguística,
lidamos com gravações de amostras de fala informais e espontâneas de um
número expressivo de informantes, a fim de que seja possível analisar as formas
variáveis dentro de uma comunidade de fala. Salomão (2011, p. 191, grifos nossos)
explica o passo a passo da pesquisa na sociolinguística variacionista:
70
TÓPICO 1 | SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
em pa[s]tel, mê[ʃ]; (2) as consoantes alveolares sonoras [z] e [ʒ], como em me[z]
mo ou pé[ʒ]descalços; (3) a consoante fricativa glotal, como em me[h]mo; (4) e
ainda a possibilidade de não se pronunciar o /s/, o que se identifica como um
zero fonético – me[Ø]mo.
4- Levantamento de hipóteses sobre as variáveis condicionadoras (linguísticas
e sociais): Macedo (2004) considera as variáveis sociais de sexo (feminino e
masculino) e de faixa etária (I – de 13 a 20 anos; II – de 21 a 45 anos; III – de 46 a 70
anos). Como variáveis linguísticas, Macedo (2004) considera a posição da sílaba
(intravocabular – quando o /s/ ocorre dentro de uma palavra, como em pasta;
ou intervocabular – quando o /s/ se localiza no final de uma palavra e na fala
se conecta com o início de outra, como em olhos azuis), a categoria gramatical
(verbo, adjetivo, substantivo, outras), o contexto fonológico antecedente (quais
vogais e consoantes antecedem o /s/), o contexto fonológico seguinte (quais
vogais e consoantes sucedem o /s/), a tonicidade (a sílaba onde se encontra
o /s/ é tônica ou atônica), e a sonoridade (o traço vozeado ou desvozeado da
consoante seguinte).
NOTA
71
UNIDADE 2 | ESTUDANDO AS VARIEDADES E OS CONTATOS LINGUÍSTICOS
NOTA
72
TÓPICO 1 | SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
73
UNIDADE 2 | ESTUDANDO AS VARIEDADES E OS CONTATOS LINGUÍSTICOS
+ PRESTÍGIO
- renda + renda
+ ESTIGMA
- escolaridade + escolaridade
+ rural + urbano
74
TÓPICO 1 | SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
E
IMPORTANT
Para que essas ideias fiquem mais claras, vamos ler o texto “O limoeiro”,
de autoria do cartunista brasileiro Maurício de Sousa, cujo conteúdo contempla
características da fala de Chico Bento, personagem de origem rural, do interior de
São Paulo. Durante sua leitura, preste especial atenção nas palavras destacadas
em negrito.
O Limoeiro
Maurício de Sousa
Chico Bento: — Vixi! Como você cresceu! Inté parece qui foi onte
qui prantei esse limoero! Agora, já ta cheio di gaio! Quase da minha artura!
Como o tempo passa, né? Uns tempo atrais, ocê era deste tamanhico! Fiz um
buraquinho i ponhei ocê inda mudinha dentro! Protegi dos vento, do sor, das
geada... i nunca dexei fartá água! Imagina se eu ia dexá ocê passa sede! Hoje
você ta desse tamanhão! Quero vê o dia im qui ocê tivé mais grande qui eu!
Cum uns gaio cumprido cheio di limão i umas foia bem larga, pra dá sombra
pra quem tivé dibaxo! Aí, num vô percisá mais mi precupá c’ocê, né limoero?
Pruque aí ocê vai tá bem forte! Vai sabê si protegê do vento do sor i da geada,
sozinho! I suas raiz vão tá tão cumprida qui ocê vai podê buscá água por sua
conta! Ocê vai sê dono doce mesmo! Sabe, limoero... Tava pensando... Acho
que dispois, vai sê eu qui vô percisá docê! Isso é... Quando eu ficá mais véio!
Craro! Cum uns limão tão bão qui ocê tem... i a sombra qui ocê dá, pode mi
protegê inté dos pingo di chuva! Ocê vai fazê isso, limoeiro? Cuidá di mim
também? Num importa! O importante é qui eu prantei ocê! I é ansim qui eu
gosto! Do jeito qui ocê é.
Pai do Chico Bento para a Mãe do Chico Bento: — Muié... tem reparado
como nosso fio cresceu?
75
UNIDADE 2 | ESTUDANDO AS VARIEDADES E OS CONTATOS LINGUÍSTICOS
Palavra Explicação
É uma forma arcaica da preposição até. Esse arcaísmo se conservou no polo rural
e praticamente desapareceu dos falares urbanos; por isso foi considerado traço
descontínuo. Observe que muitas formas encontradas hoje no polo rural são
INTÉ arcaísmos que se preservaram e podem ser encontrados em obras literárias antigas,
como Os Lusíadas, poema que foi escrito pelo português Luís Vaz de Camões,
para celebrar as descobertas marítimas de seus patrícios, e publicado em 1572
(BORTONI-RICARDO, 2004, p. 54).
A troca de /l/ por /r/ nos grupos consonânticos, como em bloco/broco, problema/
probrema/pobrema é encontrada em falares rurais e rurbanos e, às vezes, até em falares
urbanos. Preferimos classificar prantei como um traço descontínuo, considerando
PRANTEI
que esse fenômeno é muito estigmatizado na cultura urbana (BORTONI-RICARDO,
2004, p. 54). O falar rurbano é aquele intermediário, situado entre o caracterizado
rural e urbano.
A troca de /l/ pós-vocálico por /r/ é fenômeno típico dos falares rurais igualmente
ARTURA avaliado muito negativamente nas cidades. É, portanto, um traço descontínuo
(BORTONI-RICARDO, 2004, p. 55).
O verbo pôr é irregular e no pretérito perfeito é conjugado assim: pus, puseste, pôs,
pusemos, pusestes, puseram. Nos falares rurais, porém, o pretérito perfeito é formado
em analogia com os verbos regulares (cantei/ casei/ falei etc.), usando-se, como
base, a forma da primeira pessoa do presente (ponho). A forma ponhei é, portanto,
uma regularização que segue um processo de analogia. Observe que formações
PONHEI
analógicas como essa são muito comuns na linguagem de crianças pequenas, que
dizem coisas como: “eu descei”, “já chegui” etc., mas a variante ponhei é uma forma
estigmatizada nas comunidades urbanas e tem o mesmo caráter de um estereótipo
dos falares rurais. Por isso, nós os catalogamos como traço descontínuo (BORTONI-
RICARDO, 2004, p. 55-56).
É variante da palavra sol em que o /l/ pós-vocálico é realizado como /r/. É a mesma
regra fonológica que vimos em artura. A flutuação entre /r/ e /l/ pós-vocálico é
SOR
própria das comunidades situadas no polo rural, onde também podemos ouvir
galfo/garfo; calvão/carvão (BORTONI-RICARDO, 2004, p. 56).
Nesta variante de mulher, típica do polo rural do contínuo, temos a aplicação de
duas regras: a vocalização da consoante lateral palatal /lh/ e a perda do /r/ final.
A primeira regra tem caráter descontínuo e pode ser observada em /filho/ > fio/; /
MUIÉ palha > paia/; /trabalha > trabaia/. A perda do /r/ final é um traço gradual. Observe
que essa perda é mais frequente nos infinitivos verbais, mas também ocorre em
substantivos como mulher; colher e suor ou em adjetivos como maior, melhor etc.
(BORTONI-RICARDO, 2004, p. 58).
76
TÓPICO 1 | SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
Nessa palavra, vemos que o fonema /r/ alterou sua posição no interior da sílaba:
/precisar/ > /percisá/. Essa regra, que é conhecida como metátese, é muito comum
nos falares rurais. Alguns exemplos: “tauba” (< tábua), “partelera” (< prateleira),
PERCISÁ “preguntar” (< perguntar), “vrido” (< vidro). [...] Na evolução do português arcaico
para o português moderno, ocorreram muitos casos de metátese. Exemplos:
semper (latim) > sempre; desvariar > desvairar; depredar > depedrar (BORTONI-
RICARDO, 2004, p. 57-58).
É uma forma arcaica de depois que ainda se conserva nos falares rurais. A palavra
depois se formou da junção de três preposições latinas: de + ex + post, e isso explica
DISPOIS
a presença do “s” na forma arcaica (e rural) despois/dispois (BORTONI-RICARDO,
2004, p. 58).
77
UNIDADE 2 | ESTUDANDO AS VARIEDADES E OS CONTATOS LINGUÍSTICOS
Palavra Explicação
O sufixo –eiro é pronunciado quase sempre “êro”. Os ditongos ei e ai seguidos
dos fonemas /r/, /n/, /j/ e /x/ tendem a ser reduzidos, tornando-se vogais simples
LIMOERO
/e/ e /a/. Exemplos: cade(i)ra, ca(i)xa, be(i)jo, ribe(i)ra etc. Todos esses são traços
graduais (BORTONI-RICARDO, 2004, p. 54).
O pronome de tratamento você deriva do tratamento antigo “Vossa Mercê”, que
obedeceu ao seguinte percurso: vossa mercê > vosmecê > você > (o)cê. As formas
OCÊ
“ocê” e “cê” são muito usadas em estilos não monitorados por todos os brasileiros
(BORTONI-RICARDO, 2004, p. 55).
Temos um sintagma ou frase nominal, cujo núcleo é um substantivo (vento). Os
sintagmas nominais são formados de um núcleo nominal e de outros elementos
chamados determinantes, que podem ser artigos definidos (o, a, os, as), artigos
indefinidos (um, uma, uns, umas) ou pronomes (demonstrativos, indefinidos,
possessivos etc.). Podem ocorrer também adjetivos no sintagma nominal. No
DOS VENTO português padrão, principalmente na modalidade escrita, os determinantes e os
adjetivos concordam em gênero e número com o núcleo do sintagma (ex.: todos
aqueles cidadãos corruptos serão processados). [...] Mas no português oral, nos
estilos não monitorados, há uma tendência a evitar a redundância, flexionando-
se só o primeiro elemento do sintagma, como ocorreu no diálogo de Chico Bento
que vimos (BORTONI-RICARDO, 2004, p. 58).
Nesta forma verbal, o primeiro ditongo /ei/ foi reduzido a /e/, como em limoero, que
já vimos. Observe que em dexei o ditongo que já está na sílaba átona pretônica foi
reduzido, mas o mesmo ditongo que está na sílaba tônica final se preservou. De
fato, os segmentos fonológicos das sílabas tônicas tendem a ser mais resistentes a
mudanças fonológicas. No entanto, o ditongo /ou/ reduz-se a /o/ tanto em sílabas
DEXEI átonas não finais, quanto em sílabas tônicas não finais e finais. Veja: outro > otro;
outono > otono; entrou > entrô. Se compararmos então o que está acontecendo com
o ditongo /ei/ e o ditongo /ou/, concluiremos que a regra de redução do ditongo
/ou/ se aplica a uma gama maior de ambiente do que a regra de redução do ditongo
/ei/. Isso é um indicador para nós de que a primeira já está mais avançada no
processo de evolução da língua que a segunda (BORTONI-RICARDO, 2004, p. 56).
Esta forma verbal ocorreu no seguinte enunciado: “Quero vê o dia im qui ocê
tivé mais grande qui eu”. Há muitos comentários a fazer sobre esta fala do Chico
Bento, começando pelo tivé. Nesse contexto, a forma tivé é variante de estiver, que
é futuro do subjuntivo do verbo estar, que perdeu a sílaba inicial es- e o fonema /r/
TIVÉ final. A forma tivé também pode ser variante de tiver, que é futuro do subjuntivo
do verbo ter.
[...]
Classificamos tivé como um traço gradual porque a perda – ou aférese, que é a
supressão de fonema(s) – da sílaba inicial es- no verbo estar é um traço generalizado
no português brasileiro, especialmente nos estilos não monitorados. Igualmente
a perda do /r/ final nos infinitivos verbais e nas formas do futuro do subjuntivo
é um traço gradual (BORTONI-RICARDO, 2004, p. 56).
Nessa variante do advérbio debaixo, foram aplicadas duas regras [...]: a redução
DIBAXO de vogal pretônica /e/ > /i/ e do ditongo /ai/ > /a/. Ambas as regras têm caráter
gradual (BORTONI-RICARDO, 2004, p. 57).
78
TÓPICO 1 | SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
79
UNIDADE 2 | ESTUDANDO AS VARIEDADES E OS CONTATOS LINGUÍSTICOS
80
TÓPICO 1 | SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
81
UNIDADE 2 | ESTUDANDO AS VARIEDADES E OS CONTATOS LINGUÍSTICOS
82
TÓPICO 1 | SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
LEITURA COMPLEMENTAR
PRESSUPOSTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS:
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE VARIAÇÃO E MUDANÇA
84
TÓPICO 1 | SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
85
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
• Toda mudança linguística implica variação, mas nem toda variação resulta em
uma mudança linguística.
• Reconhecer que a língua varia não significa dizer que ela é caótica, pois,
conforme os estudos sociolinguísticos têm comprovado, mesmo na variação
existe regularidade e sistematicidade.
• A avaliação das variantes linguísticas é social e tem sido observada a partir dos
traços linguísticos graduais e descontínuos.
86
• Os traços graduais são comuns aos falares de praticamente todos os brasileiros
e os traços descontínuos estão presentes principalmente no contínuo de menor
renda, menor escolaridade, de origem mais rural.
87
AUTOATIVIDADE
a) ( ) Sociologia da linguagem.
b) ( ) Alternância de código.
c) ( ) Sociolinguística variacionista.
d) ( ) Política linguística.
e) ( ) Multilinguismo.
88
( ) A variável de concordância verbal com o pronome TU tem como variantes
a presença de marca de concordância (tu vais, tu foste...) e ausência de
marca de concordância (ex.: tu vai, tu foi).
( ) A Região Sul (Florianópolis, Ribeirão da Ilha/SC e Porto Alegre /RS) parece
avaliar negativamente a ausência de marca de concordância verbal com o
pronome TU, impedindo uma mudança linguística de se completar.
89
a) ( ) Praca (placa); Escrevê (escrever).
b) ( ) Pexe (peixe); pobrema (problema).
c) ( ) Home (homem); Deiz (dez).
d) ( ) Arvre (árvore); Têia (telha).
e) ( ) Os Menino (os meninos); Oro (ouro).
Restos
Minha Nossa Senhora do Bom Parto! O caminhão do lixo já deve
ter passado! Eu juro, seu poliça, foi nessa lixeira aqui! Nessa mesminha! Eu
vim catar verdura, sempre acho umas tomate, umas cenoura, uns pimentão
por aqui. Tudo bonzinho, é só lavar e cortar os pedaço podre, que dá pra
comer… Aí quando eu puxei umas folha de alface, levei o maior susto.
Quase desmaiei, até.
Eu, uma mulher assim fornida que nem o seu poliça tá vendo,
imagina: fiquei de pernas bamba. Me deu até tontura. Acho que também
por causa do fedor… Uma carniça que só o senhor cheirando pra saber. Mas
eu juro por tudo que é mais sagrado! Tinha sim um anjinho morto nessa
lixeira! Nessa aqui! Coitadinho… Deve ter se esgoelado de tanto chorar.
A gente via pela sua carinha de sofrimento. Ele tava com a boquinha aberta,
cheinha de tapuru. Eu nem reparei se era menino ou menina, porque eu fiquei
morrendo de pena… E de medo, também… Os olho… É do que mais me
alembro… Esbugalhado, mas com a bola preta virada pra dentro, sabe? Ai!
Soltei um berro e saí correndo.”
FONTE: SERAFIM, L. Restos. In: SOUTO, A. Variação linguística e texto literário: perspectivas
para o ensino. Cadernos do CNLF, v. XIV, n. 4, t. 4, 2010, p. 3310 (com adaptações).
a) ( ) I, apenas.
b) ( ) III, apenas.
c) ( ) I e II, apenas.
d) ( ) II e III, apenas.
e) ( ) I, II e III.
90
8 (ENADE, 2011)
'Praca cronada'
Ladrão de carros derrapa no Português
e é preso pela polícia por causa de uma
placa clonada
91
9 (ENADE, 2008)
Canção
Em qual das opções a seguir as duas palavras do texto estão sujeitas à redução
do ditongo, fenômeno frequente no português falado no Brasil?
a) ( ) “eu” e “bateu-me”.
b) ( ) “guardado” e “viu”.
c) ( ) “louca” e “beijo”.
d) ( ) “depois” e “sei”.
e) ( ) “ninguém” e “bem”.
10 (ENADE, 2008)
Com relação aos estigmas linguísticos, vários estudiosos contemporâneos julgam
que a forma como olhamos o "erro" traz implicações para o ensino de língua. A
esse respeito, leia a seguinte passagem, adaptada da fala de uma alfabetizadora
de adultos, da zona rural, publicada no texto Lé com Lé, Cré com Cré, da obra
O Professor Escreve sua História, de Maria Cristina de Campos. "Apresentei-
lhes a família do ti. Ta, te, ti, to, tu. De posse desses fragmentos, pedi-lhes que
formassem palavras, combinando-os de forma a encontrar nomes de pessoas
ou objetos com significação conhecida. Lá vieram Totó, Tito, tatu e, claro, em
meio à grande alegria de pela primeira vez escrever algo, uma das mulheres
me exibiu triunfante a palavra teto. Emocionei-me e aplaudi sua conquista e
92
convidei-a a ler para todos. Sem nenhum constrangimento, vitoriosa, anunciou
em alto e bom som: “teto é aquela doença ruim que dá quando a gente tem um
machucado e não cuida direito”.
93
94
UNIDADE 2 TÓPICO 2
1 INTRODUÇÃO
Ao longo desta unidade, temos discutido os processos envolvidos no
estudo da variação e da mudança linguística. Além disso, depreendemos o
quão importante é compreender tais questões para que possamos chegar à
escola munidos de subsídios que nos auxiliem no trabalho com as diferentes
variedades faladas pelos alunos. O que vimos até o momento, contudo, leva
em conta a variação dentro de uma mesma língua. Neste tópico, ampliaremos a
discussão e partiremos para a reflexão sobre alternância de línguas, bilinguismo
e estratégias linguísticas, tópicos de discussão situados na macrossociolinguística
(ou sociologia da linguagem).
95
UNIDADE 2 | ESTUDANDO AS VARIEDADES E OS CONTATOS LINGUÍSTICOS
E
IMPORTANT
2 ALTERNÂNCIA DE LÍNGUAS
Conforme mencionamos no início desta unidade, a alternância de línguas
é uma estratégia linguística em que o sujeito bilíngue insere itens lexicais (ou
sentenças inteiras) de duas ou mais línguas e dialetos.
E
IMPORTANT
96
TÓPICO 2 | ALTERNÂNCIAS DE LÍNGUAS, BILINGUISMO E ESTRATÉGIAS LINGUÍSTICAS
97
UNIDADE 2 | ESTUDANDO AS VARIEDADES E OS CONTATOS LINGUÍSTICOS
E
IMPORTANT
98
TÓPICO 2 | ALTERNÂNCIAS DE LÍNGUAS, BILINGUISMO E ESTRATÉGIAS LINGUÍSTICAS
E
IMPORTANT
É importante ressaltarmos que a escolha de uma língua pelo falante não ocorre
necessariamente em detrimento de uma outra. Conforme Grosjean (1982), esta escolha,
que acontece por meio ou não da alternância de línguas, se dá através de dois estágios que
envolvem falantes monolíngues e bilíngues:
I- No primeiro, o falante bilíngue, ao interagir com um monolíngue, escolhe inicialmente a
língua que usará na interação.
II- No segundo estágio, o falante bilíngue, que interage com outro falante bilíngue, decide,
mesmo que de maneira inconsciente, se vai ou não alternar entre as línguas.
L1 L2 L1 L2
E
IMPORTANT
E
IMPORTANT
100
TÓPICO 2 | ALTERNÂNCIAS DE LÍNGUAS, BILINGUISMO E ESTRATÉGIAS LINGUÍSTICAS
O que isto quer dizer? É que existe uma diferença marcante entre a
alternância de línguas e a translinguagem, que é a pressuposição de que
as línguas envolvidas na alternância são sistemas autônomos e distintos.
Translinguagem se refere a construções linguísticas criativas por parte dos
falantes bilíngues na produção e negociação de sentido para atingir seus
propósitos comunicativos (GARCÍA, 2009).
101
UNIDADE 2 | ESTUDANDO AS VARIEDADES E OS CONTATOS LINGUÍSTICOS
E
IMPORTANT
E
IMPORTANT
102
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• Atrelado a estes aspectos acerca da alternância das línguas, destacamos dois estágios
que envolvem falantes monolíngues e bilíngues: I. o primeiro voltado à interação
de um falante bilíngue com um monolíngue, que escolhe inicialmente a língua que
usará na interação; II. segundo estágio, voltado à interação do falante bilíngue com
outro falante bilíngue, que decide, mesmo que de maneira inconsciente, se vai ou
não alternar entre as línguas em uma interação comunicativa.
• Grosjean (2010) afirma que o bilíngue é o indivíduo que usa duas ou mais línguas
em sua vida cotidiana, e este uso muda de acordo com os diferentes domínios da
vida, como a casa, a universidade, a interação com familiares e amigos.
103
• Em complementação à definição de alternância de línguas, apresentamos, de
maneira sucinta, o conceito de translinguagem, que se refere às construções
linguísticas criativas, recursos linguísticos, por parte dos falantes bilíngues na
produção e negociação de sentido para atingir seus propósitos comunicativos,
sem a preocupação de possuir uma competência “perfeita” no uso da língua
(GARCÍA, 2009).
104
AUTOATIVIDADE
105
106
UNIDADE 2 TÓPICO 3
O MITO DO MONOLINGUISMO
1 INTRODUÇÃO
No tópico anterior, apresentamos alguns conceitos de alternância
de línguas, dialogando com as definições de bilinguismo e translinguagem,
uma vez que consideramos que este fenômeno é oriundo e está presente nas
interações de sujeitos bilíngues.
107
UNIDADE 2 | ESTUDANDO AS VARIEDADES E OS CONTATOS LINGUÍSTICOS
Artigo 1º
Esta Declaração entende por comunidade linguística toda sociedade
humana que, assentada historicamente em um espaço territorial
determinado, reconhecido ou não, se autoidentifica como povo e
desenvolve uma língua comum como meio de comunicação natural e
coesão cultural entre seus membros. A denominação língua própria de
um território faz referência ao idioma da comunidade historicamente
estabelecida neste espaço (UNESCO, 2006, s.p.).
108
TÓPICO 3 | O MITO DO MONOLINGUISMO
DICAS
Você sabe quantas línguas são faladas no Brasil? O INDL (Inventário Nacional
de Diversidade Linguística) se ocupa com a identificação, documentação, reconhecimento
e valorização das línguas faladas pelos diferentes grupos formadores da sociedade
brasileira. Dentre os diferentes setores da sociedade atuantes para inclusão das línguas
como patrimônio cultural do Brasil, estão as Universidades, que, especialmente por meio de
pesquisas da pós-graduação, levantam os dados sociolinguísticos dos diferentes cenários
nacionais. Acesse o portal do INDL e saiba mais sobre a diversidade de línguas faladas no
nosso país. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/indl.
109
UNIDADE 2 | ESTUDANDO AS VARIEDADES E OS CONTATOS LINGUÍSTICOS
E
IMPORTANT
DICAS
110
TÓPICO 3 | O MITO DO MONOLINGUISMO
E
IMPORTANT
FONTE: <https://redacaonline.com.br/blog/tema-de-redacao-preconceito-linguistico/>.
Acesso em: 15 nov. 2019.
111
UNIDADE 2 | ESTUDANDO AS VARIEDADES E OS CONTATOS LINGUÍSTICOS
FONTE: <https://www.amazon.com.br/Preconceito-Lingu%C3%ADstico-Cole%C3%A7%C3%A3o-
que-Como/dp/8515018896>. Acesso em: 18 ago. 2019.
DICAS
112
TÓPICO 3 | O MITO DO MONOLINGUISMO
113
UNIDADE 2 | ESTUDANDO AS VARIEDADES E OS CONTATOS LINGUÍSTICOS
FONTE: <https://www.amazon.com.br/L%C3%ADngua-Sinais-Brasileira-Estudos-
Ling%C3%BC%C3%ADsticos-ebook/dp/B016UWFVSW>. Acesso em: 18 ago. 2019.
DICAS
O livro “Estudos Linguísticos” é uma das obras mais importantes sobre a Língua
Brasileira de Sinais, pois as autoras descrevem detalhadamente os aspectos linguísticos em
todos os níveis, desmistificando várias ideologias sobre as línguas de sinais.
E
IMPORTANT
Pidgin é uma língua nascida do contato de outras línguas. Ela é criada de forma
espontânea, a partir da mistura de duas ou mais línguas, servindo de apoio e comunicação
para os falantes dessas línguas.
114
TÓPICO 3 | O MITO DO MONOLINGUISMO
DICAS
115
UNIDADE 2 | ESTUDANDO AS VARIEDADES E OS CONTATOS LINGUÍSTICOS
116
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
CHAMADA
117
AUTOATIVIDADE
118
UNIDADE 3
CONTRIBUIÇÕES DA
SOCIOLINGUÍSTICA PARA A
EDUCAÇÃO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está organizada em três tópicos. Neles, você encontrará dicas,
textos complementares, observações e atividades que lhe darão maior
compreensão dos temas a serem abordados.
CHAMADA
119
120
UNIDADE 3
TÓPICO 1
1 INTRODUÇÃO
No Tópico 3 da primeira unidade, vimos que a pedagogia culturalmente
sensível corresponde ao trabalho com as diferenças culturais em contexto escolar,
no qual cabe à professora ou ao professor de língua portuguesa identificar a
variação linguística presente na sala de aula para conscientizar o estudante sobre
as diferenças linguísticas.
121
UNIDADE 3 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLINGUÍSTICA PARA A EDUCAÇÃO
E
IMPORTANT
DICAS
Para saber mais sobre a fala e a escrita, recomendamos que assista ao vídeo
do linguista brasileiro Luiz Antônio Marcuschi, do Departamento de Letras – CEEL UFPE.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=XOzoVHyiDew.
E é por isso que as línguas são sistemas complexos. É que elas são
providas de um componente – digamos – mais fixo que flexível [esse
componente seria as regras gramaticais], e de outro mais flexível que
fixo, à disposição do usuário, na dependência de mil e um fatores
constituintes da situação de interação. Por exemplo, em português, a
posição do artigo faz parte daquele componente rígido: vem sempre
antes do substantivo; ou ainda, o artigo e o demonstrativo nunca vêm
juntos, como em O este livro. Mas, muita coisa na língua se situa naquela
zona de oscilação, cuja escolha por uma ou outra forma cabe ao usuário
(por exemplo, Meu livro ou O meu livro, porcentagem ou percentagem).
Alguém, ainda, dependendo da situação, pode optar por usar um
adjetivo no superlativo (lindíssima) ou, para surtir o mesmo efeito,
repetir o adjetivo, como em Ela é linda, linda! (ANTUNES, 2007, p. 72).
122
TÓPICO 1 | O TRATAMENTO DAS VARIEDADES NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA
E
IMPORTANT
Além disso, vale alertá-lo, caro acadêmico, que nem sempre a noção de
regra gramatical está clara nos materiais didáticos de língua portuguesa. Por isso,
nesta disciplina de sociolinguística, procuramos lhe dar subsídios para reconhecer
as regras gramaticais que se fazem presentes na língua portuguesa padrão e suas
variedades.
123
UNIDADE 3 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLINGUÍSTICA PARA A EDUCAÇÃO
E
IMPORTANT
124
TÓPICO 1 | O TRATAMENTO DAS VARIEDADES NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA
Você já deve ter percebido, até este ponto das suas leituras, que a disciplina
de sociolinguística não está aqui para tirar o espaço que ocupa a norma padrão de
uma língua como registro oficial, mas de oportunizar o estudo da língua dentro
das suas variedades. Para isso, é importante manter o diálogo com as disciplinas
do campo gramatical, sem excluir as influências sociais sobre a variação. Continue
sua leitura para saber mais sobre o tratamento dado à variação linguística nos
livros didáticos de língua portuguesa.
NOTA
E
IMPORTANT
125
UNIDADE 3 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLINGUÍSTICA PARA A EDUCAÇÃO
NOTA
Por isso, Bagno (2007) reconhece que muitos livros didáticos insistem em
apresentar como exemplos de variação linguística uma tirinha do personagem
Chico Bento (de Maurício de Sousa), um poema de Patativa do Assaré ou o
samba de Adoniran Barbosa, isto é, textos literários que apresentam de forma
estereotipada os falares menos urbanos para fins de marcações socioculturais.
126
TÓPICO 1 | O TRATAMENTO DAS VARIEDADES NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA
NOTA
Seu dotô, que é da cidade O Arnesto nos convidou pra um samba, ele mora no Brás
Tem diproma e posição Nós fumos, não encontremos ninguém
E estudou derne minino Nós voltermos com uma baita de uma reiva
Sem perdê uma lição, Da outra vez, nós num vai mais
Conhece o nome dos rios, Nós não semos tatu!
Que corre inriba do chão, O Arnesto nos convidou pra um samba, ele mora no Brás
Sabe o nome de estrela Nós fumos, não encontremos ninguém
Que forma constelação, Nós voltermos com uma baita de uma reiva
Conhece todas as coisa Da outra vez, nós num vai mais
Da história da criação No outro dia encontremo com o Arnesto
E agora qué i na Lua Que pediu desculpas, mas nós não aceitemos
Causando admiração, Isso não se faz, Arnesto, nós não se importa
Vou fazê uma pergunta, Mas você devia ter ponhado um recado na porta
Me preste bem atenção: O Arnesto nos convidou pra um samba, ele mora no Brás
Pruque não quis aprendê Nós fumos, não encontremos ninguém
As coisa do meu sertão? Nós voltermos com uma baita de uma reiva
Da outra vez, nós num vai mais
Por favô, não negue não No outro dia encontremo com o Arnesto
Quero que o sinhô me diga Que pediu desculpas, mas nós não aceitemos
Pruquê não quis o roçado Isso não se faz, Arnesto, nós não se importa
Onde se sofre de fadiga, Mas você devia ter ponhado um recado na porta
Pisando inriba do toco, Um recado assim ói: “Ói, turma, num deu pra esperá
Lacraia, cobra e formiga, Ah, duvido que isso num faz mar, num tem importância
Cocerento de friêra, Assinado em cruz porque não sei escrever”
Incalombado de urtiga, Arnesto
Muntas vez inté duente,
Sofrendo dô de barriga,
Mas o jeito é trabaiá
Que a necessidade obriga.
[...]
FONTE:
Coisas do Meu Sertão: Patativa do Assaré.
SILVA, A. G. da. Cante lá, que eu canto cá. Rio de Janeiro: Vozes, 1978.
Samba do Arnesto: Adoniran Barbosa.
<https://www.vagalume.com.br/adoniran-barbosa/samba-do-arnesto.html>. Acesso em: 9
out. 2019.
127
UNIDADE 3 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLINGUÍSTICA PARA A EDUCAÇÃO
FONTE: SOUSA, M. de. Turma da Mônica. In: CRUZ, A. G. C. da et al. A variação fonológica:
metaplasmos em tiras de HQs. Anais do VII Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA
– UENP/CJ. <https://docplayer.com.br/4276744-A-variacao-fonologica-metaplasmos-em-tiras-
de-hqs.html>. Acesso em: 9 out. 2019.
128
TÓPICO 1 | O TRATAMENTO DAS VARIEDADES NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA
NOTA
129
UNIDADE 3 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLINGUÍSTICA PARA A EDUCAÇÃO
DICAS
• http://museudalinguaportuguesa.org.br/wp-content/uploads/2017/09/menas.pdf.
• http://museudalinguaportuguesa.org.br/wp-content/uploads/2017/09/Saber-uma-
li%CC%81ngua-e%CC%81-separar-o-certo-do-errado.pdf.
• http://museudalinguaportuguesa.org.br/estacao-educativo/biblioteca/lingua/.
• http://museudalinguaportuguesa.org.br/wp-content/uploads/2017/10/Projetos-
cienti%CC%81ficos-sobre-o-portugue%CC%82s-brasileiro.pdf.
130
TÓPICO 1 | O TRATAMENTO DAS VARIEDADES NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA
LEITURA COMPLEMENTAR
131
UNIDADE 3 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLINGUÍSTICA PARA A EDUCAÇÃO
132
TÓPICO 1 | O TRATAMENTO DAS VARIEDADES NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA
VARIEDADES VARIEDADES
NORMA-PADRÃO
+ESTIGMATIZADAS +PRESTIGIADAS
eu FALO eu FALO eu FALO
você [tu] você tu FALAS
ele ele FALA ele FALA
FALA
a gente [nós] a gente nós FALAMOS
eles nós FALAMOS vós FALAIS
vocês eles FALAM
FALAM
eles
133
UNIDADE 3 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLINGUÍSTICA PARA A EDUCAÇÃO
[...]
FONTE: BAGNO, M. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística. São
Paulo: Parábola Editorial, 2007. p. 125-139.
134
RESUMO DO TÓPICO 1
• O ensino de gramática faz parte do ensino da língua, mas não deve se restringir
à abordagem normativa-prescritiva.
135
AUTOATIVIDADE
AZEVEDO, D. G. Palavra e criação: língua portuguesa. São Paulo: FTD, 1996. v. 8, p. 102
(com adaptações).
I- A mesa é branca.
II- A gente comprou uma mesa branca.
136
Explique o componente fixo destacado na sentença I e o componente flexível
destacado na sentença II.
4 Você viu que o estudo das regras gramaticais faz parte do estudo da
língua. Por isso, não pode ser ignorado na escola. No entanto, também
deve-se ter cuidado para não se confundir estudo das regras gramaticais e
estudo das nomenclaturas gramaticais. Explique a diferença entre regras e
nomenclaturas gramaticais.
Patativa do Assaré
137
Que forma constelação,
Conhece todas as coisa
Da história da criação
E agora qué i na Lua
Causando admiração,
Vou fazê uma pergunta,
Me preste bem atenção:
Pruque não quis aprendê
As coisa do meu sertão?
138
UNIDADE 3
TÓPICO 2
AS LÍNGUAS EM CONTATO E OS
COMPORTAMENTOS E ATITUDES COM
RELAÇÃO ÀS LÍNGUAS E SEUS FALANTES
1 INTRODUÇÃO
No tópico anterior, vimos alguns elementos importantes sobre o ensino
de gramática na escola e os problemas que, de modo geral, aparecem nos livros
didáticos de língua portuguesa para a educação básica, apesar da melhora crescente
que apresentam ao tratamento destinado ao estudo da linguagem. No presente
tópico, traremos a você algumas considerações sobre as línguas de contato,
levando em conta que dificilmente você irá se deparar com uma sala de aula
inteiramente monolíngue. Nesse contexto, conceitos sobre diglossia, sabir, pidgin,
línguas crioulas, línguas veiculares serão levantados para a nossa conversa.
139
UNIDADE 3 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLINGUÍSTICA PARA A EDUCAÇÃO
NOTA
140
TÓPICO 2 | AS LÍNGUAS EM CONTATO E OS COMPORTAMENTOS E ATITUDES COM RELAÇÃO ÀS LÍNGUAS E SEUS FALANTES
NOTA
A língua inglesa, nesse contexto, não é a língua materna dos falantes que
precisam estabelecer comunicação mesmo desconhecendo a língua um do outro. No
entanto, é a primeira língua de alguma outra comunidade, como de falantes ingleses,
australianos, canadenses, estadunidenses, entre outros. Nesse sentido, a língua inglesa,
ainda que seja língua materna de alguma comunidade, no exemplo dado anteriormente, é
língua veicular para os falantes sírio e brasileiro
Como você deve ter notado, o sabir e o pidgin não são línguas maternas
de ninguém, uma vez que nascem da necessidade de comunicação imediata. O
sabir, um sistema linguístico gerado por línguas de contato é muito mais restrito
em comparação ao pidgin. A origem do sabir, segundo Calvet (2002, p. 169), vem
da “língua de contato formada por elementos provenientes do italiano, árabe,
grego, turco e espanhol, desaparecida por volta de 1900, e que foi utilizada nos
portos do Mediterrâneo desde a Idade Média”. O pidgin, por sua vez, é uma
língua de contato cujo sistema linguístico já se desenvolveu um pouco mais em
comparação ao sabir, e sua origem pode apresentar algumas controvérsias entre
linguistas (CALVET, 2002).
141
UNIDADE 3 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLINGUÍSTICA PARA A EDUCAÇÃO
142
TÓPICO 2 | AS LÍNGUAS EM CONTATO E OS COMPORTAMENTOS E ATITUDES COM RELAÇÃO ÀS LÍNGUAS E SEUS FALANTES
E
IMPORTANT
Vale alertar que, embora o conceito de diglossia até aqui apresentado tenha
exercido forte influência na sociolinguística, novas pesquisas na área passaram a questionar
um ponto frágil na sua definição: “a relativa estabilidade da variedade alta e da baixa que
a noção desse fenômeno [proposto por Fergunson e ampliado por Fishman] implica”
(FRITZEN, 2007, p. 76). Essa definição é tida como frágil porque o contato sempre gera
conflito, uma vez que as línguas e/ou as variedades linguísticas sempre disputam alguma
legitimidade nos espaços geográficos, o que gera novas mudanças linguísticas ou a
permanência de variações.
143
UNIDADE 3 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLINGUÍSTICA PARA A EDUCAÇÃO
surdo. Além disso, como estudante bilíngue, revela as marcas desse bilinguismo
nos usos do português constantemente, o que também gera conflitos. A língua
portuguesa em uso por um surdo, que apresenta as marcas do bilinguismo, tende
a ser mal recebida, julgada negativamente, desvelando mais uma vez a situação
de conflito na diglossia presente na sala de aula.
TUROS
ESTUDOS FU
144
TÓPICO 2 | AS LÍNGUAS EM CONTATO E OS COMPORTAMENTOS E ATITUDES COM RELAÇÃO ÀS LÍNGUAS E SEUS FALANTES
E
IMPORTANT
Na Unidade 1 deste livro didático, você viu que existem diferentes tipos de
variação linguística: variação diatópica, variação diastrática, variação diacrônica, variação
diafásica e variação diamésica. Nesta seção da terceira unidade, veremos que também
podemos classificar por tipos as diferentes variedades linguísticas: dialeto (tipicamente
visto como variedade regional, embora o uso do termo tenha sido ampliado), socioleto
(variedade social), etnoleto (variedade dos grupos étnicos), cronoleto (variedade de
geração), idioleto (modo particular de cada um falar).
NOTA
145
UNIDADE 3 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLINGUÍSTICA PARA A EDUCAÇÃO
E
IMPORTANT
146
TÓPICO 2 | AS LÍNGUAS EM CONTATO E OS COMPORTAMENTOS E ATITUDES COM RELAÇÃO ÀS LÍNGUAS E SEUS FALANTES
147
UNIDADE 3 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLINGUÍSTICA PARA A EDUCAÇÃO
Como você já deve ter observado, é impossível uma língua ser falada
sem variação. Logo, todo falante, independentemente de grau de escolaridade
ou situação socioeconômica, está sujeito à variação linguística. Diante dessa
realidade, é pertinente questionarmos: se a língua é sempre realizada dentro
de uma variedade, por que então algumas variedades são julgadas (no senso
comum) como mais “erradas” que outras?
148
TÓPICO 2 | AS LÍNGUAS EM CONTATO E OS COMPORTAMENTOS E ATITUDES COM RELAÇÃO ÀS LÍNGUAS E SEUS FALANTES
DICAS
Para assistir a uma introdução sobre o tema preconceito linguístico, acesse o link
https://www.youtube.com/watch?v=TDCcSKl5maI, disponível no canal Brasil Escola, no YouTube.
E
IMPORTANT
149
UNIDADE 3 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLINGUÍSTICA PARA A EDUCAÇÃO
150
TÓPICO 2 | AS LÍNGUAS EM CONTATO E OS COMPORTAMENTOS E ATITUDES COM RELAÇÃO ÀS LÍNGUAS E SEUS FALANTES
DICAS
FONTE: As autoras
151
UNIDADE 3 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLINGUÍSTICA PARA A EDUCAÇÃO
DICAS
152
RESUMO DO TÓPICO 2
• Caso não haja uma língua veicular como opção de comunicação, é possível que
os falantes inventem uma outra língua aproximativa, como o sabir ou o pidgin.
153
• A diglossia é gerada em situação de contato linguístico, como resultado de
um contexto sociolinguisticamente complexo, onde há diferentes línguas e
variedades dessas línguas disputando espaços.
154
AUTOATIVIDADE
155
4 As variedades linguísticas podem ser classificadas por tipos: dialeto
(tipicamente visto como variedade regional, embora o uso do termo tenha sido
ampliado), socioleto (variedade social), etnoleto (variedade dos grupos étnicos),
cronoleto (variedade de geração), idioleto (modo particular de cada um falar).
Assinale a alternativa CORRETA que apresenta um exemplo de cronoleto:
6 (ENADE, 2017)
Texto 1
156
Um dia o Gaúcho chegou tarde na aula e explicou para a professora o que
acontecera.
— O pai atravessou a sinaleira e pechou.
— O que?
— O pai. Atravessou a sinaleira e pechou.
A professora sorriu. Depois achou que não era caso para sorrir. Afinal, o pai do
menino atravessara uma sinaleira e pechara. Podia estar, naquele momento,
em algum hospital. Gravemente pechado. Com pedaços de sinaleira sendo
retirados do seu corpo.
— O que foi que ele disse, tia? — quis saber o gordo Jorge.
— Que o pai dele atravessou uma sinaleira e pechou.
— E o que é isso?
— Gaúcho... Quer dizer, Rodrigo: explique para a classe o que aconteceu.
— Nós vinha...
— Nós vínhamos.
— Nós vínhamos de auto, o pai não viu a sinaleira fechada, passou no vermelho
e deu uma pechada noutro auto.
A professora varreu a classe com seu sorriso. Estava claro o que acontecera?
Ao mesmo tempo, procurava uma tradução para o relato do gaúcho. Não
podia admitir que não o entendera. Não com o gordo Jorge rindo daquele jeito.
"Sinaleira", obviamente, era sinal, semáforo. "Auto" era automóvel, carro. Mas
"pechar" o que era? Bater, claro. Mas de onde viera aquela estranha palavra?
Só muitos dias depois a professora descobriu que "pechar" vinha do espanhol
e queria dizer bater com o peito, e até lá teve que se esforçar para convencer o
gordo Jorge de que era mesmo brasileiro o que falava o novato. Que já ganhara
outro apelido: Pechada.
— Aí, Pechada!
— Fala, Pechada!
FONTE: VERÍSSIMO, L. Pechada. Revista Nova Escola, maio 2014. Disponível em: https://
novaescola.org.br. Acesso em: 9 jul. 2017.
Texto 2
157
Considerando a imagem apresentada, os sentidos estabelecidos pelo texto 1 e
a reflexão provocada pelo texto 2, conclui-se que a professora:
158
UNIDADE 3
TÓPICO 3
1 INTRODUÇÃO
Nos tópicos anteriores, vimos alguns elementos importantes sobre o ensino
de gramática na escola e os problemas que aparecem nos livros didáticos de língua
portuguesa para a educação básica. Vimos também algumas considerações sobre
as línguas de contato, os conceitos de diglossia, sabir, pidgin, línguas crioulas,
línguas veiculares, dialeto, socioleto, etnoleto, cronoleto, idioleto. Agora, para
finalizar esta unidade, apresentaremos alguns conceitos e reflexões sobre a gestão
do plurilinguismo, políticas e planejamento linguístico.
2 A GESTÃO DO PLURILINGUISMO
Quando falamos em gestão do plurilinguismo, estamos nos referindo à
gestão da diversidade linguística, isto é, a pluralidade e a variação das línguas
em contato presentes em contextos diversos. Essa gestão se relaciona com o modo
como instituições, indivíduos e grupos lidam e agem com o plurilinguismo, ou
seja, como administram as situações de uso das línguas. Isso envolve políticas
linguísticas provenientes do Estado, de órgãos relacionados ao governo e de
pessoas ou comunidades que dispõem de recursos, estratégias e autoridade para
concretizar as políticas e gestão das línguas, mobilizadas pelos seus aspectos
ideológicos, políticos e sociais (CALVET, 2007; SPOLSKY, 2009).
159
UNIDADE 3 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLINGUÍSTICA PARA A EDUCAÇÃO
E
IMPORTANT
E
IMPORTANT
O que temos visto é que o Brasil é um país de muitas línguas, e isso fica claro
quando olhamos para o número de línguas que foram e são ainda faladas no país. Você
já leu sobre esse tema neste material didático e viu que, no Brasil, são faladas mais de 200
línguas. Segundo Oliveira (2000), os grupos indígenas do país falam cerca de 170 línguas,
as comunidades de descendentes de imigrantes por volta de 30 línguas e as comunidades
surdas do Brasil usam a Língua Brasileira de Sinais (Libras), a língua de sinais Urubu-
Kaapor, localizada no sul do estado do Maranhão, a Língua de Sinais Cena, utilizada para a
comunicação entre surdos e ouvintes em uma comunidade rural do município de Jaicós,
no Piauí. Essa realidade caracteriza o Brasil como um país de multilinguismo.
160
TÓPICO 3 | POLÍTICA E PLANIFICAÇÃO LINGUÍSTICA
DICAS
161
UNIDADE 3 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLINGUÍSTICA PARA A EDUCAÇÃO
162
TÓPICO 3 | POLÍTICA E PLANIFICAÇÃO LINGUÍSTICA
DICAS
De acordo com Calvet (2007), um dos autores que discute esse conceito,
a política linguística é definida como uma deliberação das grandes decisões com
a relação língua e sociedade. Com a definição de política linguística, o autor
apresenta o conceito de planejamento linguístico, que, por sua vez, trata da
implementação da política linguística.
163
UNIDADE 3 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLINGUÍSTICA PARA A EDUCAÇÃO
E
IMPORTANT
E
IMPORTANT
164
TÓPICO 3 | POLÍTICA E PLANIFICAÇÃO LINGUÍSTICA
DICAS
Para saber mais sobre Políticas Linguísticas, deixamos como referência o livro
de Louis Jean Calvet.
FONTE: <travessa.com.br/as-politicas-linguisticas/artigo/69203fda-54f9-48cd-b1a2-af7b4
c288545>. Acesso em: 20 nov. 2019.
E
IMPORTANT
165
UNIDADE 3 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLINGUÍSTICA PARA A EDUCAÇÃO
166
TÓPICO 3 | POLÍTICA E PLANIFICAÇÃO LINGUÍSTICA
LEITURA COMPLEMENTAR
A maior parte das políticas linguísticas são realizadas sob outros nomes,
embutidas dentro de outras políticas, de modo que podem não ser imediatamente
identificáveis. Isso não ocorre por um suposto secretismo dos agentes de políticas
linguísticas – os Estados, por exemplo – mas porque as línguas e os seus usos
estão conectados a todo o agir social do homem. Assim, uma política de saúde
ou de defesa, de transporte ou editorial pode ter implicações sobre os usos das
línguas e gerar demandas para intervenções sobre as próprias línguas.
Uma grande parte das políticas linguísticas não é feita por linguistas
ou mesmo com a participação de linguistas, e a maior parte dos linguistas
profissionais, por exemplo no Brasil, pode não se envolver diretamente com a
concepção e execução de políticas linguísticas, embora o seu fazer muitas vezes
possa ser usado para determinadas políticas, por exemplo para instruí-las ou
legitimá-las.
167
UNIDADE 3 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLINGUÍSTICA PARA A EDUCAÇÃO
No entanto, dos anos 1980 para cá, a questão tem mudado bastante, e
desde o início do século XXI tem crescido exponencialmente o interesse disciplinar
pela política linguística no Brasil e no mundo em geral, o que chamei em outra
oportunidade de “a virada político-linguística” nos estudos linguísticos.
168
TÓPICO 3 | POLÍTICA E PLANIFICAÇÃO LINGUÍSTICA
169
UNIDADE 3 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLINGUÍSTICA PARA A EDUCAÇÃO
[...]
REVEL – Quais são alguns dos principais temas que ainda precisam ser
discutidos em Políticas Linguísticas, em especial no cenário brasileiro? Como
estão os estudos de Políticas Linguísticas no Brasil?
GILVAN – Políticas linguísticas são uma faceta das políticas públicas dos
países, das organizações internacionais, das corporações e instituições, e nesse
sentido são um fazer permanente do homem, sempre adaptadas a sua época,
aos interesses geopolíticos, econômicos e culturais em jogo numa determinada
fase histórica. Não se esgotam, mudam de foco; não se completam, estão sempre
em construção. Então talvez essa pergunta queira focalizar esse atual momento
histórico do Brasil, os desafios que estamos vivendo neste ano de 2016, ou nesta
segunda década do século XXI.
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TÓPICO 3 | POLÍTICA E PLANIFICAÇÃO LINGUÍSTICA
[...]
FONTE: OLIVEIRA, G. M. de. Políticas linguísticas: uma entrevista com Gilvan Müller de
Oliveira. ReVEL, v. 14, n. 26, 2016. Disponível em: www.revel.inf.br. Acesso em: 20 nov. 2019.
CHAMADA
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RESUMO DO TÓPICO 3
• No Brasil se falam mais de 200 línguas, com destaque para os grupos indígenas,
as comunidades de descendentes de imigrantes, as comunidades surdas.
• Uma política in vivo envolve as práticas sociais por meio das quais os falantes
resolvem seus problemas de comunicação numa língua. Uma política in vitro
representa as intervenções sobre essas práticas sociais.
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AUTOATIVIDADE
5 (ENADE, 2015)
Texto 1
Texto 2
“Olha; essa é pra quem tá arretado para conhecer um pouco mais sobre
Pernambuco”. – Cabeça do VT chamada por apresentadora.
“Então se aprochegue. A repórter Mônica Silveira mostra essa maneira
encantadora de falar”. – Cabeça do VT chamada por apresentador.
“É o mesmo Brasil, mas no meio de um bate-papo descontraído, esse parece
um país à parte” – Texto do off que abre o VT.
Na companhia da citada repórter, o poeta Jessier Quirino percorre um mercado
popular perguntando às pessoas o significado de determinadas palavras e
expressões, em ritmo de poesia falada. Dessa conversa, surgem os sentidos
atribuídos por nordestinos “Pedir pinico” (solicitar ajuda), “Assustado” (festa
surpresa), “Com a gota” (com raiva), “cocorote” (cascudo) e “pirangueiro”
(avarento).
VT produzido pela TV Globo Nordeste/Recife, veiculado no Bom Dia Brasil
em outubro de 2013. Tempo: 3''20'.
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Considerando os excertos, avalie as afirmações a seguir:
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REFERÊNCIAS
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In: RONCARATI, C.; ABRAÇADO, J. (Orgs.). Português brasileiro II: contato
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FRITZEN, M. P. Ich kann mein Name mit letra junta und letra solta schreiben:
bilinguismo e letramento em uma escola rural localizada em zona de imigração
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Linguística Aplicada). Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual
de Campinas, Campinas, 2007.
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em Letras e Linguística, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2004.
Disponível em: <https://repositorio.ufpe.br/bitstream/123456789/7973/1/
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Acesso em: 22 out. 2019.
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ANOTAÇÕES
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