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AULA 5
Saiba mais
Convidamos
você a pensar sobre seus contextos como aluno. Você já realizou aulas de
instrumento? Se sim, como eram organizados os exercícios, as práticas e a
execução musical?
Você tinha espaços para improvisar musicalmente? Era
incentivado a realizar essas práticas?
Pensando em tudo que vimos até agora,
reflita sobre como você acredita que a improvisação
musical pode ser importante
em aulas de instrumento musical.
Visões do
ensino de música como as dos conservatórios de música apontam para uma
educação
musical que busca se conservar em paradigmas tradicionais (Veloso, 2020). Ao se
tecer
críticas ao modelo conservatorial de ensino, é importante se ter em mente
que muitas de suas
contribuições auxiliaram no desenvolvimento de propostas de
educação musical. Trata-se aqui de
entender suas contribuições, mas superar suas
limitações, como as destacadas nas pesquisas de
Pereira (2014) e Veloso (2020).
Esse modelo de ensino será profundamente discutido ao longo da
história da
educação musical no século XX e XXI, uma vez que as tendências subsequentes
apontarão para a sua superação como um modelo demasiadamente tecnicista.
Flávio Veloso
(2020) aponta três críticas ao modelo tradicional de ensino de música comum
em
conservatórios, com possíveis condições de superação de suas premissas. A
primeira delas diz
respeito a uma ênfase quase que exclusiva no domínio
técnico-instrumental, o que poderia ser
superado com um olhar para o aluno como
um ser que também pode ser reflexivo, atuante e
criativo. A segunda está
relacionada com um ensino tutorial, que apresenta uma unidirecionalidade
do
professor para o aluno, por meio da transmissão de ideias, o que poderia ser
superado mediante
interações e construções conjuntas do professor com o aluno,
sobre a prática musical. Por fim, o
terceiro aspecto está relacionado com
visões de ensino fragmentadas e com destaque para um
único repertório, o que
aponta para possibilidades de expandir os olhares sobre educação musical
para
diferentes possibilidades sonoro-musicais. Dessa forma, os professores precisam
pensar
sobre suas condutas e ações – as pedagogias e as reflexões sobre o
ensino de música no século
XX levam-nos a agirem de modo que possam promover a
autonomia dos alunos e incentivar
práticas musicais que vão além de uma
interpretação tecnicista/mecanicista. Nesse cenário, a
improvisação musical
aparece como uma oportunidade para se pensar em ampliações dos
processos de
ensino e aprendizagem de música em diferentes contextos e faixas etárias.
Saiba mais
Nas propostas de Orff, a improvisação possui espaço
determinante em improvisações
melódicas, rítmicas, textuais e corporais (Bona,
2012). Seguindo a divulgação do método de
Orff, o educador musical Jos Wuytack
(citado por Palheiros; Bourscheidt, 2012) também
destaca a importância da improvisação
musical em suas práticas. Com base nessas ideias de
improvisação na educação
musical, podemos pensar em propostas de atividades que
envolvam:
a. jogo de eco, com imitações e variações;
b. jogo de perguntas e respostas rítmicas, melódicas ou
corporais;
c. explorações melódicas e harmônicas livres ou com base em
notas determinadas
em instrumentos de altura definida.
Para pensar
um pouco mais sobre a improvisação musical, destaca-se a importância desse
elemento para os educadores Gertrud Meyer-Denkmann e John Paynter (citados por
Souza, 2012;
Mateiro, 2012), em suas propostas, que incentivavam experimentações
sonoro-musicais e o
exercício da improvisação, o que estava condicionado a um
olhar para as pessoas como agentes
sonoro-musicais em ações experimentais
com os sons.
NA PRÁTICA
Nesta aula,
nossa atividade prática estará relacionada com uma prática musical ativa
pensada
para a musicalização infantil, mas que também pode ser estendida, com
um aumento gradual de
complexidade, a outras faixas etárias. Em nossas experiências
em aulas de musicalização infantil, já
aplicamos a atividade aqui descrita a
crianças de 2 a 5 anos. Cada turma reage de uma maneira
diferente às propostas
e cada professor tem liberdade para adaptar as atividades à necessidade de
seus
alunos.
Para essa
atividade, vamos utilizar instrumentos de percussão sem altura definida. Os
instrumentos de percussão de altura não definida são aqueles que não apresentam
alturas/notas
claramente definidas, como maracas, reco-reco, ganzá, guizos,
triângulo, pandeiro, clavas, caxixi,
entre outros instrumentos. Para a nossa
atividade, também é possível explorar possibilidades com
a percussão corporal e
outros materiais sonoro-musicais (Figura 4).
Figura 4 – Instrumentos de percussão com altura não definida
FINALIZANDO
Recapitulando,
nesta aula foi possível revisar perspectivas de um ensino de música tradicional
e analisar novas perspectivas para uma educação musical ativa no século XX com
a intenção de
elucidar o aspecto da improvisação musical nas pedagogias em
educação musical. Dessa forma,
recomendamos o devido aprofundamento no assunto,
caso seja de seu interesse. Além disso,
buscamos estudar brevemente o modelo
C(L)A(S)P e as possibilidades de pensarmos a
improvisação musical e a
integração da criação, do fazer e da escuta musicais. Por fim, a
proposição
prática, ao final de nossa aula, permitiu estabelecer paralelos com os assuntos
ora
estudados.
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