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AULA 3
Saiba mais
Morato e
Gonçalves (2014) enfatizam a relevância da observação educacional para a
formação de professores de música. Nesse sentido, a observação pode ser um
forte aliado do
professor de música em formação ou já atuante. Procure observar
diferentes contextos em que
ocorram processos de ensino e aprendizagem musical.
Busque notar aspectos que indiquem
uma enculturação musical das crianças ou seu
treino deliberado para a realização de uma
atividade musical. É possível também
perceber confluências entre os dois processos: a
enculturação e o treino. Um
olhar cuidadoso e reflexivo pode nos apontar para práticas de
improvisação,
como elas acontecem, em qual contexto, se há processos de ensino e
aprendizagem, entre outros elementos que possam nos auxiliar a pensar nossa
prática
pedagógico-musical.
Saiba mais
Você já improvisou musicalmente? Se sim,
como você organizou suas ideias musicais
durante sua criação, execução e escuta
simultâneas? Caso ainda não tenha experimentado
improvisar em seu instrumento
musical, voz ou outras fontes sonoro-musicais, busque realizar
esse exercício
com entusiasmo e de maneira exploratória. Se pretendemos articular práticas
pedagógico-musicais com nossos alunos, é importante que nós professores de
música
também tenhamos alguma experiência prática em tal atividade. Isso não
significa que seremos
grandes improvisadores em nossas práticas musicais, mas
significa que já passamos pelo
processo de criação, execução e escuta musical
simultâneas que proporemos para nossos
alunos, em sala de aula.
Ao pensar a
articulação entre os conhecimentos intuitivos e lógicos, Keith Swanwick (1994,
citado por Fonterrada, 2008, p. 112-113) afirma que sua “[...] posição é que o
crescimento do
conhecimento, em qualquer nível, emerge intuitivamente e é
nutrido e direcionado pela análise”, ou
seja, pelos processos lógicos. Nesse
sentido, a interação contínua entre os processos educativos e
reflexivos
mediados pela aprendizagem musical e empreendimentos musicais que emergem do
conhecimento intuitivo é uma constante na improvisação musical. O que aponta
caminhos a
respeito da importância da articulação de explorações
sonoro-musicais e reflexões recorrentes nas
práticas pedagógico-musicais, em
sala de aula, sobre os processos de criação, execução e escuta
musical.
Saiba mais
Lucy Green (2012) propõe que aspectos da aprendizagem
informal de músicos populares
sejam levados a ambientes formais como o da
aprendizagem musical escolar. Para isso, a
autora propõe os seguintes passos
estudados em sua pesquisa, nos quais os estudantes:
a. selecionam as músicas que eles querem tocar, juntam-se em
grupos e direcionam a
aprendizagem aos seus interesses (nisso, a improvisação
também tem seu espaço);
b. recebem materiais musicais escolhidos pelo professor, que
pede para que eles os
escutem e toquem as músicas propostas em seus grupos,
como no estágio anterior;
c. repetem o primeiro estágio com um cuidado maior na escolha
das músicas;
d. envolvem-se em atividades de composição musical, o que
movimenta elementos da
improvisação musical;
e. recebem modelos para escreverem músicas ou canções e são
apresentados a músicos
convidados ou estudantes em estágios mais avançados;
f. são apresentados a músicas de concerto mais conhecidas (como
músicas presentes em
comerciais de TV), para serem trabalhadas, como no
primeiro estágio;
g. são apresentados a músicas de concerto menos familiares e a outros
repertórios.
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A
improvisação musical com atividades que componham momentos das aulas de música
pode ser articulada mediante o uso de tecnologias. O professor de música pode
sugerir
atividades de improvisação musical que utilizem celulares, tablets e/ou
computadores com o
uso de aplicativos musicais. Por exemplo, há aplicativos de
piano, bateria, sons sintetizados,
notação musical, entre outros. Uma outra
possibilidade é a criação de projetos que articulem
diferentes formas de
improvisação musical: com instrumentos, aplicativos, gravação de sons
do
ambiente etc. Há a possibilidade ainda de se realizar gravações para
compartilhar com a
turma, grupos de discussão sobre as práticas musicais dos
grupos e ainda de se propor um
espaço de performance musical que envolva a
improvisação musical no próprio ambiente de
ensino-aprendizagem.
As práticas musicais dos jovens não se
limitam aos espaços escolares e à casa; muitos jovens
buscam, deliberadamente,
uma aprendizagem musical por meio do desenvolvimento de suas
habilidades. Nesse
sentido, diferentes espaços oferecem oportunidades para que o jovem busque
um
treinamento musical, como projetos sociais, escolas de música e demais
ambientes com maior
ou menor sistematização dos processos de ensino e
aprendizagem de música. No cenário
nacional, instituições diversas mantêm
projetos que buscam desenvolver práticas musicais
voltadas à comunidade. Muitos
municípios brasileiros possuem casas de cultura ou escolas
especializadas de
música, públicas e privadas, que desenvolvem práticas musicais individuais e
coletivas, como aulas de instrumento, aulas de musicalização infantil, projetos
de orquestras,
bandas, corais etc. Organizações
sociais como o Instituto Baccarelli e o Olodum também
promovem ações musicais
em comunidades que apresentam vulnerabilidades sociais por meio de
aulas de
musicalização, coral, formação de grupos musicais como orquestras, grupos de
percussão e outras frentes de atuação musical, artística e social. Trabalhos
colaborativos nas
esferas pública e privada, em diferentes frentes e
localidades (Projeto Guri, Grupo Cultural
AfroReggae, para citar outros
exemplos), têm demonstrado a importância desses espaços para
todos os
envolvidos: alunos, professores e comunidade.
NA PRÁTICA
Nesta aula,
vamos focar em duas práticas que movimentam os assuntos estudados. Em um
primeiro momento, práticas musicais com a flauta doce, que desenvolvem a
improvisação em
processos de ensino e aprendizagem de música, são apresentados.
Em um segundo momento,
possibilidades de práticas de improvisação musical com
instrumentos de cordas serão
apresentadas, com um foco em instrumentos como
violão, guitarra e baixo elétrico.
Aspectos
educacionais, sociais e psicológicos podem ser constantemente relacionados com
o
tema estudado nesta aula. Destaca-se o interesse na reflexão do professor de
música sobre
elementos das práticas musicais que os alunos podem apresentar em
suas improvisações e
estudos musicais, com base na enculturação, em seus
contextos musicais (aspectos rítmicos
aprendidos em seus contextos, melodias,
letras de canções etc.). O treino musical também será
constantemente
relacionado nas propostas que apresentamos aqui, o que permite pensar a
movimentação de conhecimentos intuitivos e analíticos/lógicos no
desenvolvimento musical dos
estudantes. Finalmente, as práticas apresentadas
podem ser pensadas para diferentes contextos
de ensino e aprendizagem de
música, bem como para diferentes públicos (crianças, adolescentes
e adultos), desde
que com adequação das práticas ao nível de habilidade de cada grupo ou aluno.
FLAUTA DOCE
A flauta doce
é um instrumento de sopro que costuma ser utilizado como instrumento
musicalizador de crianças, adolescentes e adultos. É comum encontrar diferentes
projetos
educativos que se utilizam desse instrumento. Para além de suas
possibilidades de musicalização,
a flauta doce é um instrumento que apresenta
grande potencial musical e muitos músicos se
aperfeiçoam em sua prática.
Normalmente, a flauta doce mais utilizada nos processos de ensino e
aprendizagem de música é a soprano, a mesma que estamos tomando de base
para a realização
das atividades desta seção. Além da flauta doce soprano, há
uma família de flautas doces das mais
graves até as mais agudas (baixo, tenor,
contralto, soprano e sopranino) construídas de diferentes
materiais.
A primeira
possibilidade de prática de improvisação musical que podemos pensar é a
exploração sonoro-musical do instrumento. Trata-se de um momento importante
para que as
crianças, adolescentes e adultos compreendam as possibilidades de
emissão de som e como o
instrumento funciona. O professor pode orientar essa
etapa por meio de perguntas e
direcionamentos.
Com notas predefinidas,
a flauta doce pode ser utilizada em uma improvisação mais
estruturada. Pode-se
iniciar com as notas Si e Sol em um jogo de pergunta e resposta entre os
alunos. Para professores de música que nunca tocaram a flauta doce soprano,
recomenda-se que
estudem com antecedência como funciona o instrumento, quais
são as posições das notas e como
se produz som nesse instrumento. Essas notas
iniciais para a prática musical podem ser ampliadas
em um trecho melódico que
funcione de base para a improvisação, como no exemplo da Figura 1.
Figura 1 – Base melódica para improvisação na flauta-doce
soprano
FINALIZANDO
Recapitulando,
nesta aula nós estudamos a necessidade de se considerar aspectos físicos,
psicológicos, emocionais, sociais e demais elementos na aprendizagem musical.
Nesse sentido,
discutimos sobre a enculturação e o treino musical, os
conhecimentos intuitivos e analítico-lógicos
na improvisação musical e a
aprendizagem formal e informal em diferentes contextos. O tema da
improvisação
na educação musical conduziu nossas discussões para a brincadeira e a
improvisação musical na infância, bem como para as considerações sobre a música
entre os
adolescentes e jovens. Por fim, a proposição prática, ao final de
nossa aula, permitiu estabelecer
paralelos com os assuntos ora estudados.
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