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Educação Musical através do Lúdico: Estratégias Significativas de Ensino-

Aprendizagem em Música

Tatiane Souza Cardoso


tatisoumusica@yahoo.com.br

Resumo: O trabalho desenvolvido na EEB. Ary de Souza Borges em São Joaquim - SC tem
como principal característica a busca por estratégias metodológicas para uma educação
musical significativa por meio de atividades musicais lúdicas envolvendo o corpo, o canto
coral, instrumentos produzidos com materiais alternativos e instrumentos como a flauta doce
e o violão. Essas atividades são trabalhadas com base nos princípios teóricos de Keith
Swanwick, referentes à apreciação, execução e composição, valorizando também o jogo
rítmico e corporal, de forma a dinamizar as aulas de musicalização e a promover não somente
o desenvolvimento musical dos alunos, como também contribuir para a aprendizagem de uma
forma geral.

Palavras-chave: Educação Musical; Lúdico; Aprendizagem Significativa.

A proposta Educação musical através do lúdico: estratégias significativas de ensino-


aprendizagem em música é desenvolvida em turmas do 1º ao 5º Ano que fazem parte do
Projeto Escola de Tempo Integral da Escola Estadual Ary de Souza Borges em São Joaquim -
SC, e têm como principal objetivo o desenvolvimento de atividades lúdico-musicais que
envolvam o corpo, a voz, flauta doce, violão e instrumentos musicais alternativos. Objetiva
ainda alcançar uma aprendizagem significativa em música, como proposto por Swanwick em
sua teoria espiral e modelo (T)EC(L)A, e uma desenvoltura na atenção, concentração e
coordenação motora dos alunos.

Preocupados com a maneira com que a criança entra em contato com a atividade
musical, é que se propõe utilizar o lúdico, através de jogos e brincadeiras, encadeado a outras
atividades musicais. Esse processo facilita às crianças o entendimento dos conteúdos
específicos de música bem como das atividades de coordenação motora e ritmo, dependendo
também, do nível da turma e da reação individual de cada aluno.

Segundo Guia e França:

Os jogos pedagógicos consistem de atividades lúdicas coletivas que se apóiam


em material concreto para promover o automatismo gradativo de elementos da
teoria musical, observando-se os pré-requisitos necessários à compreensão dos
diversos conteúdos e respeitando-se as etapas do desenvolvimento cognitivo
da criança. (GUIA; FRANÇA, 2005, p. 11).

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Esta experiência musical de contato direto com o som e o jogo com todas as suas
possibilidades é a base de algumas das tendências principais da música atual. Nessa
perspectiva, a criança vai absorvendo passo a passo as etapas da linguagem musical
“enriquecendo a experiência direta com os elementos musicais dentro de uma visão
abrangente da educação musical” (GUIA; FRANÇA, 2005, p. 11).

Nota-se que na maioria das vezes as crianças apresentam um interesse próprio em


aproximar-se do fazer musical, mas que também têm suas limitações que deverão ser extintos
durante as práticas lúdicas, usando dinâmicas, jogos musicais, exploração sonora com o corpo
e com o ambiente, para que elas se sintam familiarizadas com o processo de criação musical
antes de serem levados a produções musicais um pouco mais elaboradas.

O uso de técnicas de ensino através da ludicidade caracteriza-se por simplesmente


considerar a brincadeira no processo de aprendizagem a partir da perspectiva das crianças.
Para elas “... não se joga ou brinca para ficar mais inteligente, para ser bem sucedido quando
adultos ou para aprender uma matéria escolar. Joga-se e brinca-se porque isso é divertido...”
(MACEDO, 2005, p. 17). O educador apenas faz uso desse interesse simultâneo e voluntário
de seus alunos, para aplicar, dentro da brincadeira, certos conteúdos de interesse educativo, os
quais as crianças irão absorver de maneira simples sem se dar conta de que estão realmente
aprendendo. Segundo Kishimoto:

(...) Piaget adota o uso metafórico vigente na época, da brincadeira como


conduta livre, espontânea, que a criança expressa por sua vontade e pelo
prazer que lhe dá. Para o autor, ao manifestar a conduta lúdica, a criança
demonstra o nível de seus estágios cognitivos e constrói conhecimentos.
(KISHIMOTO, 2001, p. 32)

Dessa forma percebemos que participando das brincadeiras oferecidas pelo professor é
que a criança vai somando pequenos detalhes que no final de um estudo fazem grande
diferença no processo de aprendizagem, pois, “quando as situações lúdicas são
intencionalmente criadas pelo adulto com vistas a estimular certos tipos de aprendizagem,
surge a dimensão educativa” (KISHIMOTO, 2001, p. 36). Apesar de não se ter certeza que o
conhecimento adquirido pela criança é o mesmo desejado pelo professor, esse processo, onde
a criança entra em contato com a atividade a ser desenvolvida através do que é atrativo, de
atividades prazerosas, já é um grande passo em direção à aprendizagem, pois cada criança

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necessita de tempo, espaço e diversidade para absorver as informações que lhe são oferecidas
a todo instante.

RELATO DE EXPERIÊNCIA

Durante a prática pedagógica do ensino da música em nossa escola utilizamos


procedimentos metodológicos de características lúdicas que servem tanto de apoio ao
entendimento musical quanto de estímulo às crianças que necessitavam de um diferencial para
melhor compreender os conteúdos.
Já no primeiro contato com o grupo executamos atividades que possibilitam a
descoberta e a exploração do mundo sonoro, fazendo com que eles compreendam que a música
não é somente cantar ou tocar, através de uma simples improvisação com alguns materiais
encontrados no local. Assim como diz Schafer (1991):

A música pode também correr, saltar, claudicar, balançar. Pode ser


sincronizada com bolas que pulam, com ondas do mar, com galopes de cavalos
e com centenas de outros ritmos clínicos ou regenerativos, tanto da natureza
quanto do corpo. Cantar é respirar. O universo vibra com milhões de ritmos, e
o homem pode treinar-se para sentir as pulsações. (SCHAFER 1991, p. 295).

Pensando dessa forma buscamos fazer com que cada criança possa ter um contato
significativo com todo conteúdo trabalhado. Através de dinâmicas, jogos e brincadeiras
conseguimos fazer com que nossos alunos prestem atenção em detalhes musicais nunca antes
percebidos por eles, assim como uma simples melodia do pássaro na janela.
Depois de algumas audições explorando a diversidades de sons existentes à nossa volta
passamos a desenvolver atividades que envolvam os sons do corpo, seguindo o que Dalcroze
afirma em (PAZ 2000, p. 10) ser a principal forma de se internalizar a música:

A rítmica de Dalcroze, denominada Eurritmia, entronizou o corpo como catalisador do


ritmo e de todos os fenômenos musicais. A tônica era dizer eu sinto em lugar de eu sei.
Dalcroze trouxe uma contribuição inestimável ao ensino da música, até então
puramente teórico livresco e fastidioso totalmente desvinculado da vivência e da
prática.

Procuramos estimular essa atividade através da apreciação do grupo “Barbatuques”. A


partir daí realizamos então, alguns exercícios e peças musicais ligados à analogia som-
movimento, com atividades de diferenciação de alturas, por exemplo, procurando estimular o
movimento ascendente e descendente das mãos e do corpo, fazendo com que eles possam

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relacionar tais movimentos aos intervalos musicais, visando também trabalhar com isso a
afinação. Nessa integração corpo e música, sempre verificamos um maior interesse das
crianças.
A partir desses primeiros contatos com o grupo, passamos a levar em conta as
características próprias, procurando refletir, compreender e questionar cada decisão
pedagógica tomada em relação à turma. Swanwick (2003) coloca no seu segundo princípio de
educação musical, que devemos considerar o discurso dos alunos. Segundo ele:

Cada aluno traz consigo um domínio de compreensão musical quando chega a nossas
instituições educacionais. Não os introduzimos na música, eles são bem familiarizados
com ela, embora não a tenham submetido aos vários métodos de análise que pensamos
ser importantes para seu desenvolvimento futuro.

Como conseqüência dessa observação, começamos a perceber e a pensar na prática, no


ensinar e no aprender, condicionando detalhes valiosos em relação ao grupo e às suas
facilidades, dificuldades, e afinidades, ou não, com determinados assuntos, e sempre que
necessário, refazer os planos de aula, que muitas vezes mostrava novas deficiências, lacunas
ou excessos em relação ao andamento da turma, sendo necessário repensar e buscar novos
meios que facilitassem o aprendizado musical daquelas crianças.
Nesse momento passamos também a utilizar as músicas que eles gostam de ouvir,
como por exemplo, o “Funk” que aproveitamos para repensar sobre as letras e também criar
outras, usando o ritmo contagiante do Funk para fazer percussão corporal com ele, e até para
cantar poemas de escritores conhecidos ritmados com o Funk.
Muitas vezes propomos a ação participativa dos alunos, buscando integrar o fazer
musical a um processo de cooperação social. Uma das maneiras que encontramos para
desenvolver isto foi através da apreciação do grupo de percussão de materiais alternativos
“STOMP”, depois de assistir ao vídeo solicitamos que todos os alunos trouxessem de casa
materiais recicláveis para a confecção de instrumentos. Nossa surpresa foi ao vermos a sala de
aula completamente cheia dos mais diversos materiais, desde panelas e chaleiras a peças de
carros e garrafas. Durante esse processo as crianças foram incumbidas da tarefa de pesquisar
todos os sons possíveis de cada material escolhido, sendo que no dia da aula cada aluno já
saberia exatamente qual objeto gostaria de utilizar em seu instrumento. Não esquecendo de
estar sempre instigando à curiosidade, o desejo de fazer e interagir socialmente, apoiando a
autonomia do aluno. (SWANWICK 2003, p. 67) explica que:

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A curiosidade não é despertada ditando-se informações sobre a vida dos músicos ou
sobre história social, nem dizendo sempre aos alunos o que eles precisam ouvir, nem
tratando um grupo musical como se ele fosse uma espécie de máquina. É preciso que
haja algum espaço para a escolha, para a tomada de decisões, para a exploração
pessoal.

Sendo assim, consideramos cada aluno como um agente da construção de seu próprio
conhecimento, integramos a essa proposta de utilização de instrumentos com materiais
alternativos, atividades e dinâmicas onde as crianças podiam improvisar, apreciar e analisar
diferentes formas de fazer música usando uma simples lata. Nesse contexto, alcançamos uma
prática musical extremamente expressiva, devido à totalidade das funções exercidas em cada
atividade, onde muitas vezes conseguimos integrar o corpo, a voz e os instrumentos
alternativos agindo juntos nesse fazer musical.
Outro aspecto importante abordado foi o trabalho de expressão e postura, onde
desenvolvemos exercícios de relaxamento e alongamento. Na visão de SWANWICK (2003, p.
62), “Essa camada do significado musical, que chamo de expressão, não pode ser vivenciada
se nos situamos somente e sempre nos intervalos ou valores rítmicos”, e foi através de jogos de
expressão corporal e facial, com o uso de instrumentos de percussão e canto que buscamos dar
esse significado de expressão ao repertório escolhido.
Quanto ao repertório, sempre selecionamos canções que condigam com a nossa
proposta de trabalho procurando pouco a pouco contemplar todos os conteúdos, ao quais
consideramos mínimos no ensino de música, como o entendimento sobre: altura, ritmo, timbre,
intensidade e andamento. Sempre apreciando, executando, conhecendo um pouco do contexto
da música escolhida e criando.
O trabalho com violão e flauta doce ainda está em fase inicial, pois os instrumentos
foram adquiridos a pouco tempo pela escola, mas, em contrapartida temos um ótimo trabalho
com o coral, onde as crianças já conseguem cantar com até três vozes diferentes.
Por fim, percebemos que a criança quando entra em contato com os jogos e
brincadeiras dentro da sala de aula, mesmo que “coordenado” por um adulto, acaba sentindo-se
mais à vontade e mais próxima da atividade desenvolvida, nesse momento ela percebe a
existência de uma linguagem em comum entre o seu mundo e o mundo dos adultos, o mundo
do aprendizado e da escola. Usando a ludicidade estamos oferecendo um substituto dos objetos
reais, para que a criança possa manipulá-lo e compreendê-lo cada um à sua maneira e ao seu
tempo.

REFERÊNCIAS
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GUIA, Rosa Lúcia dos Mares; FRANÇA, Cecília Cavalieri. Jogos Pedagógicos para a
Educação Musical. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005.

KISHIMOTO, Tizuko Morchida (org.). Jogo, Brinquedo, Brincadeira e Educação. 5. ed.


São Paulo: Cortez, 2001.

MACEDO. Lino. Os Jogos e o Lúdico na Aprendizagem Escolar. Porto Alegre: Artmed,


2005.

PAZ, Ermelinda A. Pedagogia Musical Brasileira no século XX: Metodologias e


Tendências. Brasília: Editora Musimed, 2000.

SCHAFER, R. Murray. O Ouvido Pensante. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1991.

SWANWICK, Keith. Ensinando Música Musicalmente. São Paulo: Moderna, 2003.

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