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ISBN 978-85-7846-455-4

PROJETO DE EXTENSÃO BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS SONORAS:


UM RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE A EDUCAÇÃO MUSICAL
EM UM ESPAÇO LÚDICO NÃO FORMAL DE ENSINO

José Alberto de Andrade de Lima Junior


Universidade Estadual de Londrina
betolimajunior@hotmail.com
Eixo 4: Educação e Estética

Resumo: Este trabalho visa refletir sobre a experiência docente em formação inicial
de professores de música e dos anos iniciais, com atividades lúdico-musicais
orientadas e realizadas no projeto de extensão Brinquedos e Brincadeiras Sonoras
em um Espaço Lúdico não Formal de Ensino, no caso, a Ludoteca da UEL. O
projeto tem como objetivo assegurar um lugar para troca de experiências,
conhecimento e aprendizagem musical em um contexto educativo não formal e
partindo da premissa de que a educação musical e a aprendizagem musical não se
dão somente em contextos formais, mas, sobretudo, em contextos não formais,
especialmente em espaços onde o brincar está presente, desenvolver a
sensibilidade, a criatividade e a expressão musical das crianças atendidas pelo
referido projeto, promovendo um aprendizado musical lúdico através de jogos e
brincadeiras sonoras, aproximando a educação musical infantil com uma concepção
de brincar que a compreende como imprescindível ao desenvolvimento humano,
entendendo o jogo e a brincadeira como elementos promotores do desenvolvimento
do pensamento musical de crianças em idade escolar.

Palavras-chave: Música e Educação; Brincadeiras Sonoras; Brincar e Música.

Introdução

O trabalho com formação de professores tanto para a educação


musical quanto para os anos iniciais de educação básica, em um projeto de ensino
de música para crianças em idade escolar em uma brinquedoteca universitária, nos
proporciona a certeza de que estamos no caminho certo e que fiz a escolha correta
para minha vida profissional. O ensino de música ultrapassa muros, portas, salas,
estando em múltiplos espaços de ensinar e aprender, pois a música está inserida
em praticamente todos os contextos do cotidiano das famílias e da escola regular.
Assim, musicalizar através de jogos e brincadeiras que já fazem parte do
aprendizado das crianças, em um espaço lúdico não formal de ensino, proporciona
também aos nossos alunos uma formação mais completa, para sua atuação no
sistema de ensino regular.
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Este trabalho visa refletir sobre a experiência docente em formação
inicial de professores de música e dos anos iniciais, com atividades lúdico-musicais
orientadas e realizadas no projeto de extensão Brinquedos e Brincadeiras Sonoras
em um Espaço Lúdico não Formal de Ensino, no caso, a Ludoteca da UEL.
A Ludoteca da UEL em funcionamento desde 1990, proporciona um
ambiente lúdico e com qualidade, necessário para o desenvolvimento da criança em
idade escolar, o acesso ao brinquedo, a brincadeira e a atividades que envolvam os
conceitos de brincar e desenvolvimento cognitivo infantil. Acredito que a grande
finalidade do programa é o resgate da importância do brincar e da brincadeira para o
desenvolvimento humano, sendo fundamentais para a saúde física,emocional e
intelectual da criança, desmistificando a ideia de que o brincar é uma atividade
secundária.

Fundamentação:

O Projeto de extensão Brinquedos e Brincadeiras Sonoras em um


Espaço não formal de Ensino, está em execução desde 2016, com atividades
realizadas dentro da Ludoteca da UEL. Tem como objetivo geral desenvolver a
sensibilidade, a criatividade e a expressão musical, através de jogos musicais e
brincadeiras sonoras, especialmente das crianças atendidas pelo Programa
Ludoteca da UEL, contribuindo para o seu desenvolvimento musical. E como
objetivos específicos construir seus instrumentos e brinquedos sonoros, propondo às
crianças um contato inicial com instrumentos de percussão, utilizando-os como
objetos sonoros para emissão de respostas musicais, a exploração de alguns
instrumentos de percussão, como guizos, chocalhos, caxixis, castanholas e
tambores; vivências e experimentações musicais, por meio da improvisação ou
composição, que garantam às crianças os benefícios que a atividade lúdica
proporciona e que, ao mesmo tempo, desenvolvam habilidades, atitudes e conceitos
referentes à linguagem musical.
A música está presente nas tradições e nas culturas dos povos em
diferentes épocas, sendo, portanto, uma manifestação cultural. Nesse sentido, é
uma linguagem que se traduz em formas sonoras, representando uma forma de
expressão pela qual as pessoas podem se comunicar, podendo ser realizada de

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diversos modos em cada contexto em que se vive. Enquanto linguagem musical,
está presente na vida dos seres humanos e sempre fez parte da educação de
crianças e adultos.
Desde o nascimento, a criança tem necessidade de desenvolver o
senso de ritmo, pois o mundo que a rodeia se expressa numa profusão de ritmos. A
criança está aberta, intuitivamente, a uma enorme variedade de estímulos sonoros
que lhe chegam naturalmente através de “redes”, ou seja, de maneira não ordenada,
intuitiva e criativa. Por isso, não podemos ignorar o gosto musical das crianças nem
lhes negar a possibilidade de ampliar o seu campo de conhecimento musical.
Segundo Rodrigues (2009), a brincadeira cria laços de solidariedade
e de interação entre os sujeitos que dela participam e também assume importância
fundamental como forma de participação social. Através da brincadeira, as crianças
podem desenvolver seu pensamento, a linguagem, a imaginação e a criatividade.
A educação musical, enquanto área de conhecimento, pode permitir
que as crianças ampliem as possibilidades de criar e vivenciar experiências sonoras
significativas para o seu desenvolvimento.
De forma lúdica, o aprendizado musical que ocorre dentro de um
espaço de brincar, sem a formalização de conhecimentos específicos da área, pode
contribuir para o desenvolvimento de vários aspectos da musicalização infantil, como
por exemplo, a percepção auditiva, a distinção dos elementos da música ou ainda as
diferenças de ritmos.
Sekeff (2007), afirma que, como atividade lúdica, a música se
recorta como um jogo que se realiza na escuta, cuja dinâmica se enriquece com a
aprendizagem, motivando, criando necessidades e despertando interesses.
Portanto, a utilização de jogos e brincadeiras musicais pode
contribuir para a melhora da coordenação motora, visto que através de movimentos
rítmicos corporais, da memória, da atenção e da concentração em atividades
propostas, a criança pode perceber, sentir e ouvir, deixando-se orientar pela
imaginação e pela sensação que a música lhes sugere e comunica.
De acordo com Brito (2003), a escuta é uma das ações
fundamentais para a construção do conhecimento referente à música. Ouvindo, as
crianças podem perceber detalhes: se cantam gritando ou não; se o volume de
instrumentos ou se objetos sonoros estão adequados; se a história sonorizada é

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interessante; se os sons utilizados aproximam-se do real etc. Por isso, o educador
necessita ouvir o que dizem e cantam as crianças, ou seja, a “paisagem sonora” de
seu meio ambiente e a diversidade musical existente: o que é transmitido por rádio e
televisão, músicas de propagandas, trilhas sonoras de filmes, músicas folclóricas,
música erudita, música popular, música de outros povos e culturas. É importante
desenvolver nas crianças atitudes de respeito e cuidado com materiais musicais, de
valorização da voz humana e do corpo como materiais expressivos. Isso porque, por
meio da voz, do corpo, de instrumentos musicais e objetos sonoros as crianças
podem interpretar, improvisar e compor, interessadas pela escuta de diferentes
gêneros e estilos musicais e pela confecção de materiais sonoros.

Metodologia:

Na metodologia, consiste em propor atividades práticas lúdico-


musicais ministradas por estudantes do curso de Licenciatura em Música e
Pedagogia da Universidade Estadual de Londrina, inicialmente, em formato de
Oficinas, onde os estagiários desenvolveram atividades para atingir os objetivos
deste projeto como oficina de apreciação e Percepção Musical, oficina de
construção de instrumentos musicais, oficina de percussão corporal e voz, oficina de
musicalização com copos e oficina de paisagem sonora.

Relato de Experiência:

Este relato de experiência de ensino de música em um espaço não


formal de ensino, no caso a Ludoteca da UEL começa com a apresentação dos
alunos ao espaço, o local que está localizado na parte de baixo da biblioteca central
da universidade, no calçadão, próximo a entrada do CCE. O espaço físico da
Ludoteca é muito bom, com diversos brinquedos tradicionais que podem
proporcionar momentos de diversão e aprendizado para as crianças atendidas pelo
programa. Em torno de 25 crianças, a maioria delas alunos do colégio de Aplicação
campus, em horário do contraturno escolar, frequentam a Ludoteca e aproveitam o
espaço para brincar. As atividades são coordenadas pelos professores e

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acompanhadas por uma brinquedista, funcionária graduada, que permanece no local
durante o período das aulas.
No primeiro momento, percebi que não poderia avançar com as
oficinas sem antes instrumentalizar com conteúdos de música as oito alunas
estagiárias do curso de pedagogia, pois, apesar das atividades serem de fácil
aplicação, achei necessário fazer uma oficina somente com elas antes de iniciar as
atividades com as crianças. Assim, surgiu o evento, em forma de minicurso
“Musicalização para Professores da Ludoteca da UEL”, com duração de 16 horas
onde foram abordados assuntos como metodologias de ensino de música,
conteúdos básicos de música e filmes que exploravam a temática sobre
musicalização na infância. Foi de grande valia, pois as alunas do curso de
pedagogia relatam que não têm em sua grade curricular disciplinas que abordem
conteúdos de música ou artes de maneira geral. Isso me deixa preocupado, pois
estas alunas serão as futuras professoras da educação básica, e se elas não
tiverem contato com estes conteúdos da disciplina de artes, acredito que estas não
poderão ministrar estes mesmos conteúdos, como os de música, por exemplo. Mas
durante o minicurso, participaram ativamente das atividades de musicalização e o
entendimento foi considerável. Uma das primeiras atividades praticas, foi a
construção de objetos sonoros a partir de material reciclado. Instrumentos de feitos
com diversos materiais que poderiam ser utilizados durante as aulas.

FOTO 1: Apresentação dos objetos sonoros

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A partir destes conhecimentos, as estagiárias da Ludoteca poderiam
elas mesmas aplicar alguns dos conteúdos de música propostos no projeto. Depois
deste evento de extensão, começamos efetivamente a praticar com os alunos na
Ludoteca. No primeiro momento também percebi que as crianças também não
tinham conhecimentos musicais, mas nas primeiras atividades de Pulso e Rítimo
estas se sentiram a vontade para aplicar as sugestões de criação e improvisação.
Os processos de criação e improvisação em música tem na metodologia Koellreutter
seu principal defensor, onde o aluno já tem informações musicais, mesmo que não
sistematizadas em um ensino formal, possam fazer música. Neste sentido, as
atividades de criação são um campo fértil para a imaginação das crianças que
participaram do projeto.
Foram desenvolvidas as seguintes atividades: Atividades formativas
que envolveram todos os estagiários, aulas de musicalização, apresentação sobre
os conceitos sobre música e educação musical, exercícios de criação e
improvisação utilizando a metodologia 1Koellreutter, exercícios sobre música e
movimento, seguindo a metodologia 2Dalcroze, construção de instrumentos musicais
com materiais alternativos, apresentação de dois filmes que abordam a temática
sobre educação musical infantil “A Voz do Coração”, 2004, Direção: Christophe
Barratier e “O Som do Coração”, 2007, Direção: Kirsten Sheridan.

1
Hans J. Koellreutter, músico, educador musical alemão, veio para o Brasil nos anos 1930 e defende as
ideias sobre criação e improvisação musical, baseado nos conhecimentos que o aluno já traz em sua formação.
(BRITO, 2003).
2
Emile J. Dalcroze, (1865 - 1950) foi o criador de um sistema de ensino de música baseado no
movimento corporal expressivo, que se tornou mundialmente difundido a partir da década de 1930. Com sua
pedagogia musical, Dalcroze se torna o precursor dos chamados métodos ativos na área da educação musical.
(FONTERADA, 2008).
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Foto 2: Construção de objetos sonoros com material alternativo

Um dos momentos importantes desta fase do projeto foi a realização


do evento de extensão: “Musicalização Para Educadores (as) da Ludoteca da UEL”,
na modalidade de minicurso, no período de 04 a 11/10/2016. Ao Iniciar as atividades
com as crianças atendidas pelo programa, foram desenvolvidas atividades como
exercícios de exploração sonora com objetos e instrumentos musicais alternativos,
exercícios de ouvir o amigo e tocar seu próprio instrumento, teve a brincadeira do
Pulso com tambor de PVC e a brincadeira de Regência, onde os alunos revezavam
o papel do maestro, fazendo as indicações de duração, tempo e intensidade, todos
estes, conteúdos de música.

Foto 3: Atividade: Brincar de Regência

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Foto 4: Atividade de Brincar de Pulso

Resultados obtidos foram satisfatórios tanto para a formação


discente que passaram por um momento de apreensão de conteúdos básicos de
música, que poderão utilizar quando atuarem na escola básica, quanto para as
crianças atendidas pelo programa, que puderam passar por um processo de
aprendizagem musical através do brincar e de atividades lúdicas que envolvem a
música e seus elementos básicos.
Observou-se que a prática diária com crianças nesta faixa estaria
foram importantes no processo de formação dos alunos, tanto do curso de
pedagogia quanto do curso de música. Enquanto as alunas de pedagogia, tem
prática com crianças em idade escolar, mas não tinham os conteúdos de música em
sua formação acadêmica, os alunos de música obtiveram o resultado contrário,
tendo contato com grupo de crianças desta faixa etária.

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Referências Bibliográficas:

BRITO, Teca de Alencar. Música na educação infantil: propostas para a formação


integral da criança. São Paulo: Editora Petrópolis, 2003.

FONTERRADA, Marisa T. de O. De tramas a fios: um ensaio sobre música e


educação. Editora UNESP: São Paulo, 2008.

RODRIGUES, Luzia Maria. A criança e o brincar. (Monografia) Especialização em


Educação. UFRRJ. Mesquita-RJ, 2009.

SEKEFF, Maria de Lourdes. Da música, seus usos e recursos. São Paulo: Editora
UNESP, 2007.

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