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AULA 4
Saiba mais
Com base em um olhar para a criatividade com vistas ao que
estudamos, sobre ações ao
mesmo tempo novas e adaptadas ao contexto, e
considerando as pessoas, o processo, o
produto e o ambiente, David Elliott e
Marissa Silverman (2015) propõem uma discussão de que
as performances/interpretações
musicais também podem ser criativas. Nesse sentido, não
estamos tratando apenas
de obras no sentido estrito da criação dos grandes compositores,
mas também das ações musicais empreendidas pelas pessoas executando sua forma
de fazer
música.
Busque,
então, desenvolver, nas aulas, momentos de escuta reflexiva. Selecione duas ou
mais versões da mesma música/canção e realize um debate com os alunos sobre
como cada
uma das interpretações é e qual delas apresenta elementos que
poderiam ser considerados
mais criativos. Tenha sempre um cuidado de não
centralizar apenas nas obras ou nos
grandes compositores; busque
incentivar uma reflexão sobre as ações musicais na execução
das obras. Esse
exercício pode ser muito interessante para integrar o fazer à escuta musical, o
que abre espaço para se pensar a composição, a performance e a improvisação até
mesmo
como um passo para que outras atividades também possam ser desenvolvidas
nas aulas.
Saiba mais
Se você já
deu aulas de música, já foi estagiário ou já pensou em sua futura atuação como
professor de música, como a criatividade (o ensino criativo e o ensino para a
criatividade)
esteve presente nas suas reflexões? Tente lembrar se, em algum momento,
já articulou essas
ideias ou se já trabalhou com essas questões sem dar um nome
para essas práticas. Com base
em suas experiências e reflexões, você já se
questionou sobre como o ensino criativo e o
ensino para a criatividade foram
abordados em seus planejamentos de aula? Perceba que
esses questionamentos não
podem ser apenas retóricos em nossas formações como
professores de música.
Portanto, o planejamento e a reflexão crítica são muito importantes
para
fundamentar nossas práticas, em diferentes contextos pedagógico-musicais.
Saiba mais
Ao longo do século XX, diferentes educadores musicais também
atuavam como
compositores. Ao pensarmos as propostas de educação musical
criativas (detalhadas nas
próximas aulas), muitos desses
compositores-educadores buscavam propor um ambiente de
criação, improvisação e
exploração musical a seus alunos. Além disso, esses compositores-
educadores
compunham, muitas vezes, com notações gráficas e buscavam incentivar isso nas
suas propostas pedagógicas. Aqui temos uma pequena lista para você entrar em
contato com
as notações gráficas na música do século XX:
a. Aria, de John Cage (1958).
b. Alone
I, de Roman Haubenstock-Ramati (1965);
c. Snowforms, de
R. Murray Schafer (1986).
Você pode utilizar essas músicas como proposições para os
alunos. Pense no papel do
professor de música como aquele que pode fornecer uma
ampliação de possibilidades sonoro-
musicais para os alunos, fazendo com que
eles relacionem essas propostas com suas vidas.
NA PRÁTICA
Nesta aula,
vamos propor uma atividade que explore a improvisação musical de maneira
criativa. Para isso, tenha em mente a visão da criatividade na educação musical
com base no
ensino criativo, no ensino para a criatividade e na aprendizagem
criativa. Portanto, pense em como
esses aspectos podem ser constantemente
inter-relacionados e em como as possibilidades aqui
apresentadas podem
fundamentar sua prática em seu contexto atual ou futuro como professor de
música.
A proposta
que desenvolveremos consiste na sonorização de cenas audiovisuais. A
improvisação musical está presente quando pensamos na possibilidade de
trabalhar com materiais
sonoros e musicais os criando, fazendo e escutando
simultaneamente enquanto realizamos a
atividade. Para que essa atividade seja
realizada, é necessária uma integração das ações do
professor e dos alunos, de
maneira colaborativa.
Em um
primeiro momento, o professor pode discutir com os alunos sobre trilha sonora e
foley.
Nesse sentido, a trilha sonora é todo o conjunto sonoro que
constitui um filme ou outras produções
audiovisuais, tais como peças de teatro,
espetáculos de dança, entre outros, o que inclui a música,
os efeitos sonoros e
os diálogos (Berchmans, 2006). Além disso, Bernardo Alves (2012) destaca
que a
trilha sonora corresponde a tudo o que escutamos num filme, que pode ser composto
por
vozes, ruídos e músicas. Destaca-se que os diálogos/vozes nas trilhas
sonoras geralmente
apresentam três aplicações principais: diálogo, narração e
massa sonora vocal. Já o termo utilizado
para denominar o processo de recriação
de ruídos/sons e criação de sons especiais em estúdio,
principalmente daqueles
sons relacionados a movimentos e ações dos atores (passos, socos,
tapas, os atos
de sentar, lavar louça, arrastar uma cadeira, bater uma porta etc.), é foley
e refere-se
a Jack Foley (1891-1967), um dos pioneiros na arte de (re)criar
efeitos sonoros.
Com base nessa
contextualização, o professor pode propor uma escuta reflexiva a respeito de
trilha sonora e de foley e suas relações com a música. Para isso, o
professor pode selecionar
algumas cenas curtas de filmes que não tenham trilha
sonora. Feita essa seleção, os alunos são
convidados a pensar quais elementos
da trilha sonora poderiam estar presentes naquelas cenas de
filmes. Esses
recortes podem ser acessados facilmente em plataformas como o YouTube. Caso o
professor não tenha acesso à internet em seu local de trabalho, recomenda-se
que leve esses
vídeos disponíveis em algum dispositivo eletrônico em que possa
reproduzi-los para os alunos.
Essa primeira escuta reflexiva das cenas nos
coloca para escutar o que não está soando,
movimentando imaginações e
diálogos. Em seguida, o professor pode passar as cenas dos filmes
selecionados
com a trilha sonora completa, para serem comentadas.
Uma segunda
escuta reflexiva que movimenta a improvisação musical corresponde a
elementos
que constituem o foley. Para realizar essa aproximação, o professor pode
pedir para os
alunos realizarem pesquisas sobre o foley em vídeos de diferentes
plataformas. Assim, os alunos
podem reconhecer como os profissionais improvisam/criam
sons para compor as trilhas sonoras.
Após a pesquisa, o professor poderá
escutar junto com os alunos a música Pas des cinq, de
Maurício
Kagel (1967). Esse compositor propõe uma música com caráter teatral, em um
cenário no
qual os músicos se movimentam criando sons e sobrepondo
possibilidades sonoras. Aquela
composição movimenta aspectos de uma
imprevisibilidade sonora construída com base na
improvisação dos músicos em seu
espaço e pode ser apresentada, em um primeiro momento, sem
imagem, para que
haja um debate sobre que sons são reproduzidos na música. Em um segundo
momento, pode-se pensar na sua escuta com o vídeo. Perceba que essas atividades
podem ser
divididas e abrangidas em diferentes aulas, com diferentes propósitos
pedagógico-musicais,
também. Outros desdobramentos são possíveis e os
repertórios precisam ser variados, para que
os alunos possam entrar em contato
com diferentes materiais musicais. A improvisação musical é
uma constante
quando pensamos no fazer, criar e escutar movimentos simultaneamente, no
momento de uma ação.
Agora, propomos
uma atividade prática que segue os mesmos princípios listados na escuta
reflexiva. A ideia então é sonorizar um pequeno vídeo. Para isso, os alunos
terão que improvisar
sonora e musicalmente para compor a trilha sonora da cena.
Os vídeos podem ser diversos,
conforme o que o professor pretender trabalhar.
Por exemplo, para trabalhar com diálogos e sons
vocais, o professor pode
selecionar uma cena que apresente diálogos e, então, os alunos criam
expressões
vocais e diálogos novos para o que estão vendo (de forma previamente treinada
ou de
forma espontânea). Se for o caso de se trabalhar com trilha musical, o
professor pode selecionar
uma cena e pedir para os alunos recriarem uma trilha
musical com instrumentos musicais, a voz e
outras fontes sonoras.
O nosso foco
da atividade prática aqui é a improvisação sonoro-musical de uma cena. Para
isso, podemos utilizar uma plataforma de compartilhamento de vídeo para
selecionar um bom
material.
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Plataformas
como o YouTube e o Vimeo podem ser interessantes para selecionar cenas de
filmes ou outras cenas para realizar a atividade proposta. Devemos pesquisar
termos, como
stop motion, que apontem algumas possibilidades a serem
exploradas pelo professor de
música nas atividades de musicalizar uma cena,
recriar os sons por meio do foley ou ainda
trabalhar com diálogos.
FINALIZANDO
Recapitulando,
nesta aula estudamos a articulação da improvisação na educação musical com
base
em um olhar voltado para a criatividade. Assim, percorremos caminhos que
permitiram
desdobramentos sobre a construção das figuras do professor, dos
alunos e de suas relações.
Esses desdobramentos associaram-se com o ensino
criativo, o ensino para a criatividade e a
aprendizagem criativa. Buscamos
inter-relacionar os assuntos desta aula com os estudos que já
realizamos sobre
improvisação na educação musical e com outras pesquisas que reforçam a
importância de se criar/improvisar, nos processos de ensino e aprendizagem de
música. Por fim, a
proposição prática, ao final de nossa aula, possibilitou
estabelecer paralelos com os assuntos
estudados.
REFERÊNCIAS
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