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IMPROVISAÇÃO MUSICAL

AULA 4

Prof. Anderson Toni


CONVERSA INICIAL
CRIATIVIDADE E IMPROVISAÇÃO: PROPOSTAS PARA AS AÇÕES DOCENTES
Caro(a)
estudante, seja bem-vindo(a) a nossa aula! Hoje, mais uma vez trataremos da
improvisação musical com um olhar voltado para a educação musical e suas
interfaces com outras
áreas, de forma interdisciplinar. Continuamos, portanto,
nossos estudos sobre a improvisação
musical e suas possibilidades ao pensarmos
em nossa atuação pedagógico-musical como
professores de música. Acreditamos que
os temas estudados até o momento tenham fornecido
alguns subsídios para
refletirmos sobre proposições teóricas e práticas para fundamentar nossa
atuação. Nesta aula, apresentaremos discussões sobre uma definição de
criatividade para amparar
nosso entendimento desse constructo em nossos
estudos. Além disso, vamos analisar o ensino
criativo, o ensino para a
criatividade e a aprendizagem criativa, cada um desses processos
envolvendo o
professor e o aluno de formas específicas.
Tenha em
mente que as discussões aqui traçadas buscam ampliar nossas camadas de
entendimento sobre o tema de estudo, de modo que tentaremos sempre relacioná-las
com aquilo
que já sabemos. A presente aula apresenta os seguintes temas de
estudo:
criatividade no ensino e aprendizagem de música;
ensinar música de maneira criativa;
ensinar para a criatividade;
ensinar encorajando o pensamento criativo: a aprendizagem
criativa;
estudos sobre improvisação musical e criatividade.
Além disso,
há uma seção de proposição prática e uma seção de finalização que apresenta a
retomada dos principais tópicos estudados nesta aula.

TEMA 1 – CRIATIVIDADE NO ENSINO E APRENDIZAGEM DE MÚSICA


Definir
criatividade é uma tarefa que não apresenta consenso. Portanto, não há uma
única
definição de criatividade, mas sim diferentes pontos de vistas. Aqui,
estudaremos a criatividade
com base em um olhar para as pesquisas na psicologia
e na educação com interfaces na área da
música. É importante destacar que o
assunto da criatividade pode contribuir para o nosso
entendimento, no ensino e
aprendizagem de música, sobre as improvisações musicais. Ao pensar a
improvisação nos processos de ensino e aprendizagem de música, Flávio Veloso
(2020, p. 196)
reforça que:
(i) A
improvisação é uma forma de tornar o ensino de música mais criativo (com foco
no viés
criativo das ações docentes); (ii) a improvisação pode oferecer suporte
ao ensino com vistas
ao desenvolvimento da criatividade do aluno; e (iii) a
improvisação oferece oportunidades para
que a aprendizagem criativa ocorra (com
ênfase na dimensão criativa das iniciativas e
produções dos aprendizes).
Na tentativa
de buscar definir criatividade, Todd Lubart (2007, p. 16) afirma que “a
criatividade
é a capacidade de realizar uma produção que seja ao mesmo tempo
nova e adaptada ao contexto
no qual se manifesta”. Seguindo uma ideia similar,
o psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi (1990)
propôs o modelo sistêmico de
criatividade. Viviane Beineke (2009, p. 32) indica que esse modelo
“[...] parte
da ideia de que em vez de tentar definir a criatividade, é necessário
compreender onde
ela está, com a finalidade de compreender como um produto
chega a ser considerado criativo e é
incorporado à cultura”. Esse sistema é
composto por três elementos: domínio, campo e indivíduo. O
domínio é entendido
como o conjunto de práticas e regras no qual uma ideia se desenvolve ou é
transmitida; o campo é entendido como o conjunto de pessoas ou instituições que
vão selecionar
as ideias criativas que podem ser incluídas no domínio em
questão; e o indivíduo é aquele que se
apropria de práticas de um domínio e
apresenta alguma mudança que poderá ser considerada
como criativa, pelo campo
(Beineke, 2009; Elliott; Silverman, 2015).

Saiba mais
Com base em um olhar para a criatividade com vistas ao que
estudamos, sobre ações ao
mesmo tempo novas e adaptadas ao contexto, e
considerando as pessoas, o processo, o
produto e o ambiente, David Elliott e
Marissa Silverman (2015) propõem uma discussão de que
as performances/interpretações
musicais também podem ser criativas. Nesse sentido, não
estamos tratando apenas
de obras no sentido estrito da criação dos grandes compositores,
mas também das ações musicais empreendidas pelas pessoas executando sua forma
de fazer
música.
Busque,
então, desenvolver, nas aulas, momentos de escuta reflexiva. Selecione duas ou
mais versões da mesma música/canção e realize um debate com os alunos sobre
como cada
uma das interpretações é e qual delas apresenta elementos que
poderiam ser considerados
mais criativos. Tenha sempre um cuidado de não
centralizar apenas nas obras ou nos
grandes compositores; busque
incentivar uma reflexão sobre as ações musicais na execução
das obras. Esse
exercício pode ser muito interessante para integrar o fazer à escuta musical, o
que abre espaço para se pensar a composição, a performance e a improvisação até
mesmo
como um passo para que outras atividades também possam ser desenvolvidas
nas aulas.

Segundo Veloso (2020), ainda convém


destacar alguns elementos ao se pensar a criatividade,
dispostos na Figura 1.
Figura 1 – Aspectos inter-relacionados com a criatividade

Fonte: Elaborado com base em Veloso, 2020.


As pessoas
destacadas ao se pensar e estudar a criatividade na improvisação, em processos
de ensino e aprendizagem de música, podem ser os professores e os alunos. Em
relação ao
processo e ao produto, estes podem estar relacionados como os
procedimentos em ação e as
consequências desses processos empreendidos. Por
fim, o ambiente corresponde aos espaços de
ensino e aprendizagem de música.
TEMA 2 – ENSINAR MÚSICA DE MANEIRA CRIATIVA
Ao se verificar
as pesquisas existentes sobre a criatividade na educação geral e na educação
musical, parte dos estudos está relacionada ao ensino criativo. Essa proposta
traz luz à figura do
professor e seus processos de ensino, em relação ao “[...]
uso de abordagens criativas para tornar
a aprendizagem mais interessante e
efetiva” (Craft; Jeffrey, 2004, p. 3). Bob Jeffrey e Peter Woods
(2009)
auxiliam na proposição de caminhos para se pensar o ensino criativo (Figura 2).
Figura 2 – Caminhos para se pensar o ensino criativo

Fonte: Elaborado com base em Beineke, 2009;


Veloso, 2020.
Como bem
sintetizado por Beineke (2009) e Veloso (2020), temos os seguintes detalhes
sobre cada um dos três caminhos para se pensar o ensino criativo.
1. Sobre estimular as relações nas aulas de música, a literatura
apresenta a necessidade
de se considerar alguns possíveis elementos: o
compartilhamento de informações entre os
pares (a improvisação toma um espaço
importante de compartilhamento); o professor
atuando como modelo e incentivador
das atividades e conexões afetivo-sociais entre os
alunos; e o incentivo à
colaboração e à socialização de experiências que possibilitem a
integração dos
alunos.
2. Em relação ao engajamento nos interesses musicais e formativos
dos alunos, alguns
elementos podem auxiliar o professor de música: o respeito e
a valorização das contribuições
dos alunos, com base no desenvolvimento do
senso de confiança individual e coletivo; e a
busca por justificar o valor da
atividade que possa promover o interesse do aluno, em sua
ação.
3. Por fim, a valorização das contribuições musicais dos alunos
pode apresentar
aspectos sobre: a voz do aluno, por meio de suas expressões
musicais (novamente, a
improvisação tem seu espaço de importância), da participação
ativa do aluno nas decisões
musicais em sala de aula e do incentivo do
professor à participação musical ativa e da sua
atenção quanto às ações
pedagógico-musicais adotadas durante as aulas.
Convém
destacar a importância de olharmos para a improvisação constantemente como uma
ferramenta que permite o desenvolvimento musical das pessoas em processos que
podem
articular elementos da criatividade como os estamos tratando aqui. Assim,
a integração do fazer,
do criar e do escutar na improvisação musical é de
grande importância e também se reforça a
figura do professor como mediador das
ações musicais realizadas de uma maneira lúdica (como
visto nas aulas anteriores).

TEMA 3 – ENSINAR PARA A CRIATIVIDADE


Diferentes
pesquisas buscam desmistificar a criatividade como sendo um talento de poucos
privilegiados e a apontam como uma potencialidade humana. A educadora e
pesquisadora Beatriz
Ilari (2019, citada por Veloso, 2020) afirma que a
criatividade não é algo apenas da música ou das
artes, mas uma capacidade
humana e uma potencialidade na vida das pessoas em seu
aprendizado e em seu
desenvolvimento ao longo da vida. Tais indicações nos conduzem a uma
discussão
sobre o ensino para a criatividade, com o foco no aluno e no desenvolvimento de
suas
potencialidades criativas.
O ensino
criativo (a atuação criativa do professor de música) e o ensino para a
criatividade
(com o foco nos alunos e nos seus desenvolvimentos criativos)
estão intimamente relacionados e
compartilham semelhanças entre si. O ensino
para a criatividade pensa no aluno e nas suas
capacidades de agir, refletir e
propor criativamente em determinada situação, de maneira
colaborativa e
integrando na improvisação musical possibilidades de criar, fazer e escutar
música.

Saiba mais
Se você já
deu aulas de música, já foi estagiário ou já pensou em sua futura atuação como
professor de música, como a criatividade (o ensino criativo e o ensino para a
criatividade)
esteve presente nas suas reflexões? Tente lembrar se, em algum momento,
já articulou essas
ideias ou se já trabalhou com essas questões sem dar um nome
para essas práticas. Com base
em suas experiências e reflexões, você já se
questionou sobre como o ensino criativo e o
ensino para a criatividade foram
abordados em seus planejamentos de aula? Perceba que
esses questionamentos não
podem ser apenas retóricos em nossas formações como
professores de música.
Portanto, o planejamento e a reflexão crítica são muito importantes
para
fundamentar nossas práticas, em diferentes contextos pedagógico-musicais.

Em um exercício de síntese, Veloso (2020)


destaca que o ensino para a criatividade integra o
estímulo de conexões e
associações de experiências; os conhecimentos musicais; a realização de
atividades que desafiem os alunos e que os coloque diante de uma reflexão ativa
sobre suas ações;
o questionamento de suas práticas (como as escolhas de
materiais na improvisação musical
proposta); e a colaboração entre os alunos, com
estes contribuindo e pensando em sugestões que
possam melhorar suas práticas
musicais.

TEMA 4 – ENSINAR ENCORAJANDO O PENSAMENTO CRIATIVO: A


APRENDIZAGEM CRIATIVA
O terceiro
aspecto da criatividade nos processos de ensino e aprendizagem de música é a
aprendizagem criativa. Esse aspecto é mais um elemento que integra nossos
estudos sobre a
criatividade na educação musical e realiza a ligação entre o
ensino criativo e o ensino para a
criatividade. Assim, Beineke (2015, p. 44)
afirma que:
A
aprendizagem criativa é um enfoque mais recente, o qual procura capturar a
perspectiva do
professor e a dos alunos. [...] Craft (2005) entende que os três
termos [incluindo o ensino
criativo e o ensino para a criatividade] podem ser
vistos como diferentes aspectos do mesmo
processo, sendo necessário aprofundar
a compreensão sobre como eles se diferenciam e se
relacionam nas pesquisas
sobre a criatividade na escola.
Na
aprendizagem criativa, as figuras dos professores e dos alunos são reunidas na
ideia de
aprendizagem como uma construção e uma criação de significados por
meio do desenvolvimento
de habilidades e conhecimentos. Se falamos de
improvisação musical, também estamos falando de
criação musical, e os aspectos
da criatividade na educação (musical) já mencionados são todos
articulados na
aprendizagem criativa.

Saiba mais
Ao longo do século XX, diferentes educadores musicais também
atuavam como
compositores. Ao pensarmos as propostas de educação musical
criativas (detalhadas nas
próximas aulas), muitos desses
compositores-educadores buscavam propor um ambiente de
criação, improvisação e
exploração musical a seus alunos. Além disso, esses compositores-
educadores
compunham, muitas vezes, com notações gráficas e buscavam incentivar isso nas
suas propostas pedagógicas. Aqui temos uma pequena lista para você entrar em
contato com
as notações gráficas na música do século XX:
a. Aria, de John Cage (1958).
b. Alone
I, de Roman Haubenstock-Ramati (1965);
c. Snowforms, de
R. Murray Schafer (1986).
Você pode utilizar essas músicas como proposições para os
alunos. Pense no papel do
professor de música como aquele que pode fornecer uma
ampliação de possibilidades sonoro-
musicais para os alunos, fazendo com que
eles relacionem essas propostas com suas vidas.

A improvisação musical está diretamente


relacionada com os assuntos estudados nesta aula,
principalmente se pensarmos
em sua utilização nos processos de ensino e aprendizagem de
música. Compreender
o ensino criativo, o ensino para a criatividade e a aprendizagem criativa nos
fornece mais um elemento para fundamentar nossa prática pedagógico-musical. Sem
dúvidas, a
improvisação é uma habilidade musical que merece atenção em nossas
práticas em diferentes
espaços educacionais articulados para uma aprendizagem
criativa. Para isso, podemos pensar na
integralização da criação, do fazer e da
escuta na improvisação musical de maneira criativa, com
base na discussão de
ideias musicais, na exploração de materiais sonoro-musicais, na reflexão
sobre as
práticas realizadas, na valorização do trabalho colaborativo e nos demais
elementos já
mencionados nesta aula.
TEMA 5 – ESTUDOS SOBRE IMPROVISAÇÃO MUSICAL E
CRIATIVIDADE
Segundo
Veloso (2020), as pesquisas sobre improvisação musical e criatividade apresentam
elementos para se discutir e refletir sobre a aprendizagem criativa. As
pesquisas consultadas pelo
autor nem sempre estabelecem distinção entre
composição e improvisação, muitas vezes se
pautando em termos mais abrangentes
de criação musical. Ao realizar um exercício de síntese,
Veloso (2020)
afirma que, em seu levantamento de pesquisas sobre improvisação musical e
criatividade, os estudos mostraram-se pautados por perspectivas
interdisciplinares e as coletas de
dados costumavam ocorrer em situações de
aprendizagem musical reais. Além disso, as pesquisas
consultadas pelo autor
assumem a criação e a improvisação musical como aspectos de
importância na
aprendizagem criativa em interação constante com o mundo sociocultural das
pessoas, em diferentes formas de ações musicais empreendidas dentro e fora da
sala de aula.
Em uma
pesquisa realizada por Anderson Toni (2020) com o objetivo de investigar a
relação
entre emoção e engajamento em uma disciplina de prática musical com
estudantes de um curso de
licenciatura em Música, foi possível obter alguns
dados que reforçam a importância da criação
musical (entendida de maneira
ampla) na aprendizagem de tais alunos. Nessa pesquisa, os
estudantes relataram
que tiveram autonomia e liberdade para criar, o que foi compreendido como
uma
oportunidade para desenvolver arranjos e adaptações para as músicas trabalhadas
de
maneira coletiva, bem como para trabalhar e propor questões de interpretação
musical antes e
durante a prática musical (inclusive com possibilidades improvisativas).
A autonomia, na sua forma
de liberdade para propor e criar musicalmente, esteve
ligada a experiências emocionais positivas e
ao engajamento musical dos
estudantes.
Os alunos da
pesquisa de Toni (2020) relataram que tiveram a oportunidade de pensar e criar
musicalmente sobre o repertório musical que estavam conhecendo em aula. Dessa
forma, as
possibilidades de criar, fazer e escutar podem ter movimentado um
processo de constante
exploração do que determinado material musical lhes poderia
oferecer, de maneira que tornaram
esses estudantes mais autônomos em relação às
suas habilidades musicais e ao mundo sonoro do
qual eles faziam parte ou ao
qual eles foram apresentados. Ao pensarmos na aprendizagem
criativa, no ensino
criativo e no ensino para a criatividade, os alunos da pesquisa de Toni (2020)
fornecem alguns elementos, em seus relatos, que podem nos auxiliar se relacionados
ao que
estudamos nesta aula. Os alunos relataram um grande desafio no início da
disciplina, ao serem
colocados em uma situação de agentes ativos da criação e
prática musical, além de mencionarem
que a maneira como a professora apresentou
e conduziu o repertório e as ideias musicais foi capaz
de lhes despertar
segurança, reconhecimento das habilidades musicais da professora,
experiências
emocionais positivas e engajamento musical.

NA PRÁTICA
Nesta aula,
vamos propor uma atividade que explore a improvisação musical de maneira
criativa. Para isso, tenha em mente a visão da criatividade na educação musical
com base no
ensino criativo, no ensino para a criatividade e na aprendizagem
criativa. Portanto, pense em como
esses aspectos podem ser constantemente
inter-relacionados e em como as possibilidades aqui
apresentadas podem
fundamentar sua prática em seu contexto atual ou futuro como professor de
música.
A proposta
que desenvolveremos consiste na sonorização de cenas audiovisuais. A
improvisação musical está presente quando pensamos na possibilidade de
trabalhar com materiais
sonoros e musicais os criando, fazendo e escutando
simultaneamente enquanto realizamos a
atividade. Para que essa atividade seja
realizada, é necessária uma integração das ações do
professor e dos alunos, de
maneira colaborativa.
Em um
primeiro momento, o professor pode discutir com os alunos sobre trilha sonora e
foley.
Nesse sentido, a trilha sonora é todo o conjunto sonoro que
constitui um filme ou outras produções
audiovisuais, tais como peças de teatro,
espetáculos de dança, entre outros, o que inclui a música,
os efeitos sonoros e
os diálogos (Berchmans, 2006). Além disso, Bernardo Alves (2012) destaca
que a
trilha sonora corresponde a tudo o que escutamos num filme, que pode ser composto
por
vozes, ruídos e músicas. Destaca-se que os diálogos/vozes nas trilhas
sonoras geralmente
apresentam três aplicações principais: diálogo, narração e
massa sonora vocal. Já o termo utilizado
para denominar o processo de recriação
de ruídos/sons e criação de sons especiais em estúdio,
principalmente daqueles
sons relacionados a movimentos e ações dos atores (passos, socos,
tapas, os atos
de sentar, lavar louça, arrastar uma cadeira, bater uma porta etc.), é foley
e refere-se
a Jack Foley (1891-1967), um dos pioneiros na arte de (re)criar
efeitos sonoros.
Com base nessa
contextualização, o professor pode propor uma escuta reflexiva a respeito de
trilha sonora e de foley e suas relações com a música. Para isso, o
professor pode selecionar
algumas cenas curtas de filmes que não tenham trilha
sonora. Feita essa seleção, os alunos são
convidados a pensar quais elementos
da trilha sonora poderiam estar presentes naquelas cenas de
filmes. Esses
recortes podem ser acessados facilmente em plataformas como o YouTube. Caso o
professor não tenha acesso à internet em seu local de trabalho, recomenda-se
que leve esses
vídeos disponíveis em algum dispositivo eletrônico em que possa
reproduzi-los para os alunos.
Essa primeira escuta reflexiva das cenas nos
coloca para escutar o que não está soando,
movimentando imaginações e
diálogos. Em seguida, o professor pode passar as cenas dos filmes
selecionados
com a trilha sonora completa, para serem comentadas.
Uma segunda
escuta reflexiva que movimenta a improvisação musical corresponde a
elementos
que constituem o foley. Para realizar essa aproximação, o professor pode
pedir para os
alunos realizarem pesquisas sobre o foley em vídeos de diferentes
plataformas. Assim, os alunos
podem reconhecer como os profissionais improvisam/criam
sons para compor as trilhas sonoras.
Após a pesquisa, o professor poderá
escutar junto com os alunos a música Pas des cinq, de
Maurício
Kagel (1967). Esse compositor propõe uma música com caráter teatral, em um
cenário no
qual os músicos se movimentam criando sons e sobrepondo
possibilidades sonoras. Aquela
composição movimenta aspectos de uma
imprevisibilidade sonora construída com base na
improvisação dos músicos em seu
espaço e pode ser apresentada, em um primeiro momento, sem
imagem, para que
haja um debate sobre que sons são reproduzidos na música. Em um segundo
momento, pode-se pensar na sua escuta com o vídeo. Perceba que essas atividades
podem ser
divididas e abrangidas em diferentes aulas, com diferentes propósitos
pedagógico-musicais,
também. Outros desdobramentos são possíveis e os
repertórios precisam ser variados, para que
os alunos possam entrar em contato
com diferentes materiais musicais. A improvisação musical é
uma constante
quando pensamos no fazer, criar e escutar movimentos simultaneamente, no
momento de uma ação.
Agora, propomos
uma atividade prática que segue os mesmos princípios listados na escuta
reflexiva. A ideia então é sonorizar um pequeno vídeo. Para isso, os alunos
terão que improvisar
sonora e musicalmente para compor a trilha sonora da cena.
Os vídeos podem ser diversos,
conforme o que o professor pretender trabalhar.
Por exemplo, para trabalhar com diálogos e sons
vocais, o professor pode
selecionar uma cena que apresente diálogos e, então, os alunos criam
expressões
vocais e diálogos novos para o que estão vendo (de forma previamente treinada
ou de
forma espontânea). Se for o caso de se trabalhar com trilha musical, o
professor pode selecionar
uma cena e pedir para os alunos recriarem uma trilha
musical com instrumentos musicais, a voz e
outras fontes sonoras.
O nosso foco
da atividade prática aqui é a improvisação sonoro-musical de uma cena. Para
isso, podemos utilizar uma plataforma de compartilhamento de vídeo para
selecionar um bom
material.

Saiba mais
Plataformas
como o YouTube e o Vimeo podem ser interessantes para selecionar cenas de
filmes ou outras cenas para realizar a atividade proposta. Devemos pesquisar
termos, como
stop motion, que apontem algumas possibilidades a serem
exploradas pelo professor de
música nas atividades de musicalizar uma cena,
recriar os sons por meio do foley ou ainda
trabalhar com diálogos.

Após a seleção do material visual,


parte-se para a escolha de fontes sonoras para (re)criar a
trilha sonora. Para
isso, os alunos poderão selecionar diferentes materiais, como os listados no
Quadro 1.
Quadro 1 – Possíveis materiais para criação de trilha sonora
Materiais escolares: lápis,
apontador, folhas
de diferentes materiais, mobiliário escolar e
outros
elementos possíveis.

Crédito: Photoguns/Adobe Stock.


Instrumentos de percussão: o
professor pode
fornecer aos alunos alguns instrumentos de
percussão como
pandeiros, maracas, clavas,
entre outros.

Crédito: Studio Light & Shade/Adobe Stock.


Outros instrumentos musicais:
também
podem ser utilizados diferentes instrumentos
musicais, com seus sons
característicos ou
criações com a exploração de outras de suas
sonoridades.

Crédito: Xavier Gallego Morel/Adobe Stock.


Materiais recicláveis,
outros materiais, voz e
corpo: garrafas recicladas de diferentes
materiais,
formas de bolo, utensílios que os
alunos possuem em casa ou que encontrem
na
rua, outras fontes sonoras digitais etc.
Crédito: Didecs/Adobe Stock.

Com a cena e os materiais sonoros


selecionados, os alunos recriarão a trilha sonora. A
improvisação entra aqui com
base em tudo que já estudamos: movimentação da escolha de
materiais
sonoro-musicais em um determinado contexto, articulação de fazer, criar e
escutar de
maneira simultânea enquanto executamos uma ação etc. As ideias de
ensino criativo, de ensino
para a criatividade e de aprendizagem criativa
também estão presentes.
Com base na
atividade de sonorização proposta, o professor poderá auxiliar os alunos na
gravação de suas sonorizações e na sobreposição dos sons com os vídeos. Assim,
é possível até
mesmo montar uma exposição sonora com as criações
realizadas pelos alunos. Busque sempre
realizar atividades que permitam uma
criação de significados para os alunos e estimulem sua
autonomia
sonoro-musical. Lembre-se sempre do cuidado com a manipulação de diferentes
materiais para que ninguém se machuque e pense sempre na adaptação da atividade
ao público
que se pretende alcançar.

FINALIZANDO
Recapitulando,
nesta aula estudamos a articulação da improvisação na educação musical com
base
em um olhar voltado para a criatividade. Assim, percorremos caminhos que
permitiram
desdobramentos sobre a construção das figuras do professor, dos
alunos e de suas relações.
Esses desdobramentos associaram-se com o ensino
criativo, o ensino para a criatividade e a
aprendizagem criativa. Buscamos
inter-relacionar os assuntos desta aula com os estudos que já
realizamos sobre
improvisação na educação musical e com outras pesquisas que reforçam a
importância de se criar/improvisar, nos processos de ensino e aprendizagem de
música. Por fim, a
proposição prática, ao final de nossa aula, possibilitou
estabelecer paralelos com os assuntos
estudados.

REFERÊNCIAS
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